Salário de ingresso para quem tem curso superior diminui...

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Página 1 Boletim 462/14 – Ano VI – 07/02/2014 Salário de ingresso para quem tem curso superior diminui 2,1% Por Camilla Veras Mota | De São Paulo O salário médio real dos brasileiros contratados com carteira assinada em 2013 foi 2,59% maior do que no ano anterior. O ganho, porém, não foi disseminado entre todas as categorias de trabalhadores. A remuneração média dos admitidos com diploma de nível superior foi de R$ 2.683,19, valor 2,14% menor do que em 2012. O grupo com nível superior completo foi o único entre os nove listados no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) a registrar perda real nos salários de novos empregados no ano passado. A maior valorização foi registrada entre trabalhadores com ensino fundamental completo, de 3,69% (R$ 981,41). Em 2012, o quadro se repetiu, mas sem redução real dos salários. O ganho médio dos admitidos com nível superior foi o menor registrado naquele ano, de 0,31%, contra uma média geral de 4,69%. O cenário, para os economistas consultados pelo Valor, pode ser explicado principalmente pela valorização do salário mínimo e uma maior oferta no mercado de trabalho de pessoas com nível superior.

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Boletim 462/14 – Ano VI – 07/02/2014

Salário de ingresso para quem tem curso superior di minui 2,1% Por Camilla Veras Mota | De São Paulo O salário médio real dos brasileiros contratados com carteira assinada em 2013 foi 2,59% maior do que no ano anterior. O ganho, porém, não foi disseminado entre todas as categorias de trabalhadores. A remuneração média dos admitidos com diploma de nível superior foi de R$ 2.683,19, valor 2,14% menor do que em 2012. O grupo com nível superior completo foi o único entre os nove listados no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) a registrar perda real nos salários de novos empregados no ano passado. A maior valorização foi registrada entre trabalhadores com ensino fundamental completo, de 3,69% (R$ 981,41). Em 2012, o quadro se repetiu, mas sem redução real dos salários. O ganho médio dos admitidos com nível superior foi o menor registrado naquele ano, de 0,31%, contra uma média geral de 4,69%. O cenário, para os economistas consultados pelo Valor , pode ser explicado principalmente pela valorização do salário mínimo e uma maior oferta no mercado de trabalho de pessoas com nível superior.

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Hélio Zylberstajn, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), explica que, quando o nível de escolaridade do brasileiro começou a aumentar e o país passou a ter mais acesso ao ensino superior, o trabalho teve um ganho expressivo de produtividade, o que se refletiu, por sua vez, em valorização mais significativa dos salários. Nos últimos anos, porém, a maior oferta de mão de obra com diploma, de um lado, e a deterioração da qualidade do ensino superior, de outro, pode ter afetado a remuneração dos contratados com maior grau de instrução, afirma o economista. Muita gente com nível superior pode estar aceitando vaga com perfil e remuneração inferiores à respectiva formação, diz Rodrigo Leandro, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Isso poderia acontecer tanto por conta da geração de vagas com perfil salarial menor como devido a eventual queda de qualidade no ensino superior, afirma Leandro. "Os postos estão sendo direcionados principalmente para quem tem ensino médio, que é o grupo que mais cresce na força de trabalho, e em menor grau para quem têm ensino superior - e esses, às vezes, acabam aceitando uma vaga com menor salário." A composição da geração de vagas em 2013 por nível de escolaridade segue nesse sentido. Do total de postos abertos, 82,1% foram ocupados por pessoas com ensino fundamental completo e incompleto - 760,5 mil. Para trabalhadores com ensino superior completo e incompleto foram abertas 165,4 mil vagas. Leandro observa ainda que, de acordo com o quadro mostrado pelo Caged - e que leva em contato, portanto, apenas o emprego formal -, as vagas para pessoas menos escolarizadas "estão desaparecendo". No ano passado houve 195,2 mil demissões líquidas entre os estratos que vão de analfabeto a ensino fundamental completo. Isso pode ocorrer, afirma o professor, tanto por haver menos pessoas disponíveis com menor escolaridade como por se tratar de um registro de vagas com carteira assinada e, por isso, com maior exigência de escolaridade. Os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram panorama semelhante ao do Caged. Na passagem de 2012 para 2013, o rendimento médio real da população ocupada com nível superior caiu 3%, a retração mais intensa desde o início da série, 2003. Na divisão por anos de estudo, o grupo com 11 ou mais anos viu o salário médio encolher 0,1% no ano passado. Aqueles que estudaram por oito, nove ou dez anos, na contramão, tiveram valorização real de 3% na remuneração média. Para aqueles com até oito anos, os ganhos foram ainda maiores, de 4,5%. Em 2013, 63,6% da população economicamente ativa (PEA) tinha 11 anos ou mais de estudo - dez anos antes, o percentual era de 45,8%. A PME monitora o emprego formal e informal em seis regiões metropolitanas. A valorização do salário mínimo, por sua vez, tem contribuído para o avanço mais significativo dos salários para os recém-contratados com menor escolaridade. Os ganhos reais do mínimo pressionam as negociações salariais, especialmente a dos pisos, muitas vezes recebidos por trabalhadores com menor escolaridade, explica Zylberstajn, da USP. O

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avanço das contratações no grupo do ensino médio completo, para o professor, reflete também outra característica marcante do mercado de trabalho brasileiro - a demanda por trabalhadores técnicos. Há uma escassez de mão de obra com menor escolaridade, mas altamente especializada, afirma. Também por conta da dinâmica do salário mínimo, a geração de emprego no ano passado, apesar de ter predominado em faixas de escolaridade mais alta, de um lado, concentrou-se em faixas salariais ainda menores, em relação ao que ocorria pelo menos desde 2006. De acordo com dados disponíveis no sistema do Caged, a grande maioria das vagas com carteira assinada criadas em 2013 pagava entre 0,5 e 1,5 salário mínimo. Entre 2006 e 2012, a faixa chegava a até dois mínimos. Apesar da compressão salarial, o cenário é melhor do que nos anos anteriores, avalia João Saboia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "O mínimo cresceu cerca de 30% entre 2007 e 2013, o que não é pouca coisa. Um salário e meio no ano passado equivalia a quase dois salários cinco anos antes." A dinâmica de abertura de postos também ajuda a explicar a mudança, já que os setores que mais contrataram foram comércio e serviços, em que a produtividade é menor e os salários, também. "O que mais me surpreende é o fato de que, após três anos de baixo crescimento, o país ainda consegue gerar tantos empregos com carteira assinada e com salários em crescimento", diz Saboia. Entre as faixas salariais que registraram saldo positivo, só houve crescimento em relação a 2012 no corte entre 1,01 e 1,5 salários mínimos, de 3,2%. A criação de empregos com remunerações mais baixas foi menor que no ano anterior. O saldo de empregos que pagavam meio salário mínimo teve retração de 11,9%, e aquele com remuneração entre 0,51 a 1 salário mínimo caiu 8,4%.

Alta da massa salarial é a menor em 9 anos Por Tainara Machado | De São Paulo O ritmo lento de abertura de novas vagas ao longo do ano passado, combinado à inflação mais alta em 2013, levaram a massa salarial real habitualmente recebida a avançar 2,6% em 2013, menor taxa de crescimento desde 2004, quando a alta foi de 1,6%. O aumento observado no ano passado foi resultado da combinação da variação de 0,7% do nível de emprego com o aumento de 1,8% da renda real (descontada a inflação). Em 2012, quando a massa salarial avançou expressivos 6,3%, tanto a população ocupada quanto o rendimento real tiveram avanços bem maiores, de 2,2% e 4,1%, respectivamente, sempre entre janeiro e dezembro, na comparação com igual período do ano anterior. O

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levantamento foi feito com base na Pesquisa Mensal do Emprego (PME) pelo economista Rafael Bacciotti, da consultoria Tendências.

Para Bacciotti, a renda perdeu força por causa da inflação mais alta no início de 2013, mas o principal fator para a desaceleração da massa salarial foi o comportamento da ocupação, resultado da perda de dinamismo da atividade nos últimos anos. Ainda que a taxa de desemprego no ano passado tenha atingido nova mínima histórica, ao ficar em 5,4%, o

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avanço da população ocupada, de 0,7%, ficou abaixo da média de crescimento observada desde 2007 (2,4%). Já Fernanda Guardado, do Banco Brasil Plural, nota que, embora a ocupação e a renda tenham desacelerado na média do ano, o comportamento das duas variáveis mostrou tendências divergentes no quarto trimestre. Enquanto a ocupação caiu 0,5% sobre igual período do ano anterior, a renda teve aceleração. Para Fernanda, esse é um sinal de que o mercado de trabalho segue bastante aquecido. Não deixa de ser uma surpresa, na avaliação de João Saboia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que o mercado de trabalho tenha se mantido estável no ano passado, apesar da atividade econômica bem mais fraca. Em sua avaliação, isso pode ser explicado pelo fato de que os empregos têm sido criados majoritariamente no setor de serviços, onde os salários e a exigência de qualificação são menores. De acordo com os dados da PME compilados pela Tendências, entre os segmentos que sustentaram o avanço da ocupação no ano passado estão justamente comércio, outros serviços e administração pública (ver tabela). Por outro lado, nesses setores o avanço da renda foi mais moderado do que em 2012, o que levou o crescimento da massa salarial a passar de 6,6% para 2,6%, no caso do comércio, e de 3,8% para 0,6% em outros serviços, que incluem alojamento e serviços pessoais. Para Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), o avanço menor da massa nesses ramos de atividade pode se refletir em menor inflação desse grupo em 2014, embora faça a ressalva de que esse movimento era antecipado para 2013 e não se concretizou. A estimativa do Ibre é que a alta de 8,7% nos serviços no ano passado, dê lugar a um aumento de 7,4% neste ano. Pessôa avalia que pode estar ocorrendo uma mudança de preços relativos, que tende a favorecer o setor industrial, no qual os salários já avançaram mais em 2013,, com alta de 2,7% entre janeiro e dezembro, na comparação com igual período do ano anterior. A desvalorização da taxa de câmbio nos últimos dois anos e certo esgotamento do ciclo de consumo, impulsionado pelo crédito e pela renda, devem favorecer essa quadro, diz. A retomada do setor manufatureiro, no entanto, ainda esbarra em outros entraves. "A demanda externa precisa voltar com mais força para que o setor se recupere e, nesse sentido, a derrocada do modelo de política econômica perseguido pela Argentina nos últimos anos é muito ruim para o Brasil", afirma Pessôa. Para Bacciotti, o segmento industrial está procurando realizar ajustes na folha de pagamentos para tentar ganhar competitividade. A população ocupada na indústria caiu 0,9% entre janeiro e dezembro, na comparação com igual período do ano passado, o que

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levou a massa de rendimentos do setor industrial a crescer 1,5% no ano passado, bem menos do que o avanço de 3,3% observado em igual período do ano anterior. O único segmento a encerrar o ano com queda da massa salarial foi o de serviços domésticos, com retração de 2,1%, em relação a alta de 5,4% em 2012. O setor, no entanto, responde a questões bastante específicas. A aprovação, no ano passado, de uma lei que ampliou os direitos dos trabalhadores domésticos acentuou movimento que já era observado há alguns anos, de redução do contingente empregado no ramo de atividade.

DESTAQUES Danos morais A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) foi condenada pela Justiça do

Trabalho a pagar danos morais de R$ 50 mil a um empregado de banco postal em Goianira

(GO). Em apenas dois anos, a agência foi assaltada seis vezes, e os acontecimentos

teriam levado o trabalhador a sofrer de síndrome de pânico e depressão por estresse pós-

traumático. A 4ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho manteve decisão de segunda

instância contra a ECT. No recurso para o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Goiás, a

ECT se defendeu alegando que o banco postal não pode ser considerado uma instituição

financeira propriamente dita, uma vez que seu objetivo não é captar recursos. Mas,

segundo o TRT, a ECT, ao iniciar a prestação de serviços tipicamente bancários, passou a

exercer atividade de risco, capaz de causar dano. Além disso, foi omissa na obrigação de

assegurar a integridade física de seus empregados.

(Fonte: Valor Econômico dia 07/02/2014).

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Revolução na produtividade Basilio Jafet é presidente da Federação Internacion al das Profissões Imobiliárias (Fiabci/Brasil) Salários em alta e desemprego em baixa. A combinação parece perfeita para os trabalhadores brasileiros, se comparada à situação de países como Espanha e Portugal, onde as taxas de desemprego chegaram a níveis superiores a 20%. Mas será que o cenário é realmente sustentável? Isoladamente, talvez. Mas quando se leva em consideração o baixo crescimento da economia brasileira, o quadro pode não ser tão favorável. Em uma empresa, por exemplo, um dos indicadores para medir a produtividade é obtido dividindo-se sua receita pelo número de funcionários. Da mesma forma, a produtividade de um país é definida pelo quociente entre o Produto Interno Bruto (PIB) e o pessoal ocupado. Neste sentido, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a produtividade do trabalhador brasileiro tem crescido a taxas menores do que o PIB per capita. Entre 2000 e 2012, enquanto o PIB per capita subiu 29,4%, a produtividade média do trabalhador subiu 19%. Ou seja, paga-se mais sem a contrapartida da eficiência. Esse descompasso tem rendido debates importantes, pois a mão de obra mais cara, aliada aos baixos níveis de crescimento e investimento, contribui para um aumento do custo dos produtos, tornando o País menos eficiente e competitivo. De acordo com o Índice de Competitividade Mundial 2013, do International Institute for Management Development (IMD), o Brasil perdeu espaço no cenário internacional, passando para a 51ª posição, cinco abaixo do 46ª lugar anterior. Para o Brasil ser mais atrativo aos investimentos e competitivo, é imprescindível uma revolução na produtividade, que dependerá da qualificação da mão de obra, progresso tecnológico e nova forma de organização. Outro ponto é a complexidade dos negócios no Brasil, pela legislação pouco favorável à livre iniciativa, morosidade judiciária e procedimentos regulatórios ineficientes. No curto prazo, é imperativo que aconteçam simplificação de processos e reformas para a redução de custos e incentivos à produção. Assim, o País se fortaleceria perante a concorrência internacional e não desperdiçaria o atual bônus demográfico. (Fonte: DCI dia 07/02/2014).

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