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Tradução feita por Maly Delitti para fins didáticos.
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Uma interpretação análitico comportamental da relação terapêutica
Rosenfarb, I.S. (1992)The Psychological Record, 42.
Tradução: MalyDelitti*
O trabalho examina, de uma perspectiva analítica
comportamental, os mecanismos através dos quais ocorrem
mudanças dentro do contexto da relação terapêutica em
psicoterapia individual.
A análise se centra na formulação que o behaviorista
modela o comportamento do cliente através dicas não verbais e
de análises verbais explíci tas . Na relação terapêutica os
terapeutas modificam o comportamento que traz dificuldades
para o cl iente no ambiente natural , e a mudança clínica
depende da possibilidade de reforçamento de classes de
respostas funcionalmente similares no ambiente natural. A
distinção de Ferster entre o reforço natural e arbitrário e a
distinção de Skinner entre o comportamento modelado por
contingências e o controlado por regras também são usadas
também descrever a maneira como a mudança ocorre. O
objetivo do estudo é estimular os behavioristas a observar o
relacionamento terapêutico como um mecanismo da mudança
clínica e para ajudar àqueles de outras abordagens a ver como
a relação terapêutica pode ser compreendida usando os
princípios da aprendizagem.
Nos primórdios da terapia comportamental, as variáveis do relacionamento
foram vistas freqüentemente como subordinadas aos mecanismos de mudança
melhor estudados. (cf. Eysenck, 1960; Wolpe, 1954). As variáveis do
relacionamento eram difíceis de especificar objetivamente. Além disso, o
relacionamento terapêutico estava freqüentemente associado à psicanálise e outros
tipos "menos científicos" de terapia. Nessa época, os princípios da aprendizagem
eram raramente utilizados para compreender os processos através dos quais o
próprio relacionamento terapêutico poderia conduzir às mudanças terapêuticas.
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Com o desenvolvimento da terapia comportamental, os terapeutas começaram
a enxergar as mudanças clínicas como mediadas, ao menos em parte, pela relação
entre o cliente e o terapeuta (Wilson & Evans, 1977). Entretanto, pouco foi feito
para integrar os princípios desenvolvidos no laboratório experimental com uma
compreensão dos processos de mudança dentro da relação terapêutica. Ao invés
disso, quando os behavioristas investigaram a relação terapêutica, eles
freqüentemente comparavam técnicas de relacionamento específicas, como empatia,
grau de relacionamento, aceitação incondicional, com técnicas terapêuticas
específicas como sistemática dessensibilização ou modelação, a fim de verificar
qual fator seria mais importante e teria mais peso na mudança clínica (ver Morris &
Magrath, 1983, e Sweetm 1984, para revisão). Os behavioristas, entretanto, fizeram
poucas pesquisas para investigar como a própria relação influencia as mudanças
terapêuticas (Emmelkamp, 1986).
Ainda que muitas mudanças terapêuticas ocorram através do uso de técnicas
comportamentais específicas, a relação terapêutica é sempre uma importante fonte
de resultados clínicos. Além disso, a relação terapêutica estabelece a situação na
qual essas técnicas terapêuticas específicas são implementadas. Parece também
importante compreendermos os processos de mudança inerentes à relação
terapêutica, de modo que a própria relação não seja concretizada e usada como uma
explicação suficiente para a mudança comportamental. Uma análise comportamental
precisa especificar os ingredientes interpessoais críticos de mudança dentro da
relação terapêutica e relacionar aquelas mudanças com outras realizadas em outras
relações interpessoais e a mudanças ocorridas através de outras técnicas
comportamentais específicas. Os objetivos desse estudo são duplos: interpretar
comportamentalmente as mudanças que ocorrem no contexto da relação terapêutica,
e integrar essa análise com a abordagem analítico-funcional da aprendizagem.
Experiências Interpessoais e PsicopatologiaClientes chegam à terapia porque seus comportamentos se mostram
ineficazes no ambiente natural. Freqüentemente, os relacionamentos interpessoais
são problemáticos. O comportamento do cliente pode tanto levar à falta de
conseqüências sociais positivas, como levar a conseqüências sociais negativas.
Grande parte dos psicoterapeutas então se centram nessas dificuldades de
relacionamento social (Goldiamond & Dyrud, 1968; Kohlenberg & Tsai, 1987).
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Muitos casos de experiências anteriores com outras pessoas podem ter
contribuído no desenvolvimento dessas dificuldades interpessoais. Os clientes
podem não ter sido positivamente reforçados por determinado comportamento social
anteriormente em suas vidas (Bowlby, 1988). Aqueles que não aprenderam as
importantes nuances do comportamento social durante seu passado estão em
evidente desvantagem nas interações interpessoais subseqüentes. Ferster (1973)
discutiu a importância dessas experiências interpessoais prévias no
desenvolvimento de um comportamento pró-social:
A criança que não aprendeu ficar sob o controle do
comportamento da mãe tem seu repertório de comportamentos
interpessoais empobrecido e aspectos setores globais de
aprendizagem interpessoal ficam indisponíveis a ele como
meio de troca com o mundo externo, o que nas conotações
clássicas é chamado de personalidade fixada em um estágio
particular do desenvolvimento.
Os clientes podem ainda apresentar uma história de punição excessiva em
suas vidas. A punição não apenas retarda o desenvolvimento de novas habilidades
como leva à tendência de retirar-se de situações potencialmente punitivas (Azrin &
Holtz, 1966). Aqueles que sofreram abuso sexual na infância, por exemplo, não
apenas sofrem as seqüelas dessas interações interpessoais severamente negativas,
como esse histórico pode impedir o indivíduo de buscar oportunidades onde
experiências interpessoais positivas podem tornar-se operantes. Essa punição pode
levar a falhas no aprendizado dessas importantes nuances de relacionamentos
interpessoais adultos desenvolvidos através da interação com membros do sexo
oposto.
Conhecendo a história prévia de aprendizagem do cliente e as subsequentesfalhas interpessoais, um terapeuta, do ponto de vista da relação terapêutica, pode
necessitar desenvolver comportamentos pró-sociais que nunca foram desenvolvidos
no passado. Na relação, a falta de reforço social positivo e a história de excessiva
punição precisam ser revertidas. Os terapeutas podem necessitar encorajar
comportamentos sociais positivos que nunca foram encorajados, e podem precisar
evitar punir comportamentos sociais que outros tenham sido punidos previamente
(cf. Skinner, 1953, p. 371). Ao que parece, o terapeuta precisa reagir para o cliente,
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dentro do relacionamento terapêutico, de modo diferente do que outros tenham
reagido no passado (Alexander & French, 1946; Appelbaum, 1978; Beier & Young,
1984; Ferster, 1979a; Gibbons, 1985; Wolf, 1966).
Assim que começa a reagir ao cliente dentro da relação terapêutica, de modo
diferente do que outros tenham reagido no passado, o terapeuta pode começar a
modelar novo repertório comportamental mais positivo, para o cliente. Assim que
os repertórios adaptativos são desenvolvidos, o cliente pode começar a emitir o
mesmo comportamento funcional no ambiente natural na presença de estímulos
funcionalmente similares. Se outros no ambiente natural também reforçarem as
mesmas classes de respostas que o terapeuta, então as mudanças que ocorrem dentro
da relação terapêutica se generalizarão para o ambiente natural.
A Relação Terapêutica como Processo de Modelagem
O terapeuta começa a modelar o comportamento dentro da relação terapêutica
ao modificar seu próprio comportamento interpessoal em reação ao comportamento
do cliente. Sugestões do feedback interpessoal do profissional são usados para
formatar novas respostas do cliente. Geralmente, sugestões sutis do terapeuta
acabam por reforçar aspectos selecionados do comportamento do cliente. O modo
como o terapeuta vira a cabeça, uma mudança no contato visual, ou uma mudança
no tom de voz, podem reforçar comportamentos selecionados do cliente (Ferster,
1979b). Um profissional, por exemplo, pode inclinar-se para frente em sua cadeira
toda vez que o cliente começar a discutir dificuldades no relacionamento com sua
mãe. Outro profissional pode começar a assentir com a cabeça quando o cliente
começa a discutir determinado assunto. Um terceiro pode manter mais contato
visual. Em todos os três casos, cada comportamento do profissional pode servir
tanto como estímulos reforçadores para comportamentos prévios do cliente como
um estímulo discriminativo para a posterior discussão de determinado assuntorelevante.
A mudança terapêutica dentro da relação, entretanto, ocorre primeiramente
devido ao intercâmbio verbal entre o terapeuta e o cliente (Ferster, 1979b;
Hamilton, 1988). Os profissionais utilizam seu próprio comportamento verbal para
modificar o do cliente durante as sessões. Numerosos tipos de análises verbais são
utilizados para modificar o comportamento e as pesquisas ainda não conseguiram
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delinear claramente os tipos específicos de análise que são mais eficazes
(Greenberg, 1986; Hamilton, 1988; Mahrer, 1988).
Uma forma de mudança especialmente potente de mudança de comportamento
na relação ocorre quanto o terapeuta tenta interpretar o comportamento do cliente
durante as sessões. Alguns terapeutas podem apontar discrepâncias entre o
comportamento verbal e não verbal do cliente. Outros profissionais podem tentar
relacionar o comportamento do cliente durante a sessão ao comportamento com
outros no ambiente fora do consultório. Cada profissional ao que parece, possui o
seu próprio modo de efetivar a mudança, tanto verbalmente como não, e como quase
todos os comportamentos complexos são multideterminados, qualquer número de
reações de terapeutas pode se provar eficaz (Ferster, 1979b).
As reações dos clientes durante a relação também determinam,
freqüentemente, as estratégias terapêuticas específicas usadas para formatar o
comportamento. Alguns clientes, por exemplo, respondem melhor a intervenções
cujo foco está no seu comportamento para com o terapeuta. Outros reagem mais
positivamente ao encorajamento verbal de mudanças feito fora da terapia. Ainda, há
clientes que respondem favoravelmente às tentativas do terapeuta de relacionar o
seu comportamento durante as sessões a comportamentos similares em seu
relacionamento com terceiros. Assim como o terapeuta modela o comportamento do
cliente durante o relacionamento o cliente freqüentemente modela de modo sutil a
estratégia terapêutica específica utilizada.
O Comportamento a ser modelado
No início do processo terapêutico, os profissionais geralmente usam a
relação para identificar as dificuldades interpessoais específicas do cliente. Beier e
Young (1984, p. 129) listam vários exemplos de como a primeira hora terapêutica
pode fornecer dicas para comportamentos clínicos importantes. Um cliente, por
exemplo, pode bajular excessivamente o terapeuta dizendo o quanto seus amigoselogiaram o seu trabalho. Um segundo cliente pode tentar impressionar o
profissional com o seu conhecimento de termos psicológicos específicos. Um
terceiro pode ainda responder secamente as perguntas, com frases diretas e curtas,
deixando no profissional a impressão de que ele fará pouco para fornecer
informações pessoais. Finalmente, um quarto cliente pode parecer querer deixar o
consultório a qualquer momento durante a primeira sessão, dando a impressão de
que sempre foge ou evita encontros emocionalmente difíceis. Em todos os casos, o
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terapeuta pode começar a hipotetizar sobre as maneiras pelas quais os clientes se
relacionam com pessoas significativas em suas vidas.
Shapiro (1989) relatou que o modo como os clientes descrevem a si próprios
e aos outros, geralmente fornece pistas para um material clínico importante. Uma
cliente, diz Shapiro, relatou uma discussão com o namorado como se estivesse
dando um depoimento em um tribunal. Ela descreveu cada detalhe da situação como
se estivesse relatando um caso e revisando as evidências. Um outro cliente se
mostrou muito orgulhoso na terapia. Ele tinha dificuldades para admitir suas
fraquezas e freqüentemente falava sobre o tempo ou sobre os últimos resultados do
futebol. No primeiro caso, o assunto terapêutico foi à necessidade do cliente em
justif icar seu próprio comp ortamento e no segundo caso, a relação se focou na
forçada autoconfiança do cliente e sua artificialidade.
Muitas vezes dicas não-verbais são indicativas de material clínico
importante. Beier e Young (1984) oferecem o seguinte intercâmbio entre cliente e
terapeuta
Cliente: Eu acho que sou o tipo de cara que nasceu para ficar só,
droga! (suspiro profundo).
Terapeuta: quando você suspira e parece tão triste, eu tenho a
impressão de que eu deveria deixá-lo sozinho com a sua miséria, que
eu deveria tomar muito cuidado e não me tornar muito íntimo, ou
que eu fazê-lo sofrer ainda mais.. .
Cliente: Eu me sinto c omo um solitário, eu acho que nem você se
preocupa comigo.. .
Terapeuta: Eu fico imaginando se as outras pessoas também têm que
passar nesse teste?
Nesse exemplo, vemos o profissional não só apontando as mensagens não-verbais do cliente, como também tentando modificar o modo como o cliente se
relaciona com o terapeuta. Além disso, o terapeuta está tentando fazer uma conexão
entre o modo de relatar do cliente para si e a maneira como se relaciona com os
outros em ambiente natural.
Muitos profissionais se focalizam na discrepância entre o comportamento
verbal e não-verbal do cliente durante as sessões. Shapiro (1989) forneceu o
exemplo de uma dona-de-casa que chegou para a terapia reclamando que se sentia
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uma esposa sexualmente inadequada ou incompetente. De discussões posteriores,
ficou claro que a cliente estava simplesmente imitando a descrição feita por seu
marido sobre o seu comportamento. Shapiro afirmou que notou uma falta de
convicção na voz da cliente . Sua voz soou “automática e esganiçada, talvez como a
voz de uma criança fazendo sua lição de casa” (Shapiro, 1989, p.45). A relação
terapêutica assim focalizou-se não nos sentimentos do cliente de inadequação ou
incompetência, mas nas tentativas de reforçar comportamentos indicadores de
desejos e vontades próprias. A relação ofereceu uma oportunidade para a cliente de
desenvolver comportamentos assertivos independentemente da avaliação de seu
marido.
Algumas vezes, os profissionais usam seu próprio comportamento como dicas
para comportamentos relevantes do cliente durante a relação. Yalom (1989, p.95),
por exemplo, usou sua própria irritação como estímulo para começar a confrontar
uma cliente a realizar mudanças na relação. A cliente lidava com informações
pessoais íntimas rindo ou entretendo o terapeuta. A intervenção de Yalom consistiu,
em parte, em simplesmente fazer a cliente perceber quando estava agindo
superficialmente e quando estava revelando informações pessoais relevantes. O
comportamento da cliente rapidamente passou a operar sob controle dessas
contingências e ela começou a discutir assuntos pessoais sérios e dolorosos.
No exemplo a seguir, Shapiro (1989) mostra como quase toda interação
dentro da relação pode ser usada como tentativa de modificação de comportamento
pelo profissional. Um homem que ficava tenso quando estava dirigindo, chegou à
terapia agitado, e começou a se censurar por estar nervoso:
Qual o problema comigo! Eu estava apenas procurando um
lugar para estacionar quando achei um. Um cara veio e me
cortou. Você me conhece! Eu fui até o seu lado e dei um murro
na cara dele só para ele saber o que achei da atitude dele! Eunão consegui deixar pra lá! Eu não consigo deixar nada pra lá!
Olha só o desgaste que eu causo a mim mesmo! Eu não consigo
relevar! (p. 87)
Ao invés de discutir a tendência do cliente de não conseguir relevar, Shapiro
aponta que o comportamento importante expresso na relação foi o da autopunição
do cliente. Assim, como em quase todas as discussões, apesar de o cliente se referir
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a eventos que transcorreram em outro lugar, havia componentes de seu repertório
comportamental que poderiam ser modificados diretamente na situação da relação
terapêutica.
As ausências dos terapeutas devido a férias, doença, ou gravidez, pode
fornecer uma pista para material clínico importante (Gibbons, 1985; Kohlenberg &
Tsai, 1987). Finalmente, términos causados pela saída do terapeuta podem levar a
importantes dicas de como os clientes lidam com o fim de outros relacionamentos
importantes em suas vidas.
Comportamentos de má adaptação, semelhantes àqueles expressos quando
pessoas importantes deixaram o cliente no passado, podem começar a aparecer.
Dentro da relação terapêutica, entretanto, o profissional pode tentar modifica e
mudar essas respostas mal adaptadas e assim, pode ajudar o cliente a aprender a
lidar com perdas significativas.
Generalização para o Ambiente Natural:
I. O Uso de Reforçadores Naturais
A análise se concentra nos modos pelos quais os terapeutas modificam o
comportamento do cliente dentro da relação terapêutica. Ferster (1967) notou que
essa formatação terapêutica é um exemplo de processos de reforçamento natural.
Reforços naturais ocorrem com pouco planejamento ou consciência. Eles estão
intimamente ligados, de maneira momento a momento, a variações no
comportamento de um indivíduo. Quando são liberados reforços naturais ocorre
uma interação perfeita (Ferster, 1979a, p.289) entre o comportamento e sua
conseqüência.
Reforçadores arbitrários faltam nessa relação fina e natural com o
comportamento. Quando reforçadores arbitrários são usados na terapia, os
comportamentos reforçados são geralmente operantes diferentes daquelesreforçados no ambiente natural do cliente. A distinção entre reforçamento natural e
arbitrário, no entanto, é na maioria das vezes, sutil. Ferster (1972) fornece o
seguinte exemplo para ilustrar a “sutileza” da distinção funcional entre
reforçadores naturais e arbitrários. Um terapeuta disse a seu cliente que ela ficava
depressiva quando estava com raiva. Essa intervenção foi arbitrária. Ferster
observou que, devido à habilidade da cliente em observar sua depressão e as
condições antecedentes, sua relação com seu terapeuta estaria prejudicada. O
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controle social é arbitrário quando o ouvinte ajusta sua reação especificamente ao
comportamento requerido pelo falante (Ferster, 1972).
O terapeuta, durante a relação, usa reforçadores naturais quando o
comportamento deles está sob o controle do comportamento do cliente. Terapeutas,
entretanto, podem reagir arbitrariamente quando o comportamento deles está sob o
controle de contingências externas à relação. Um profissional, por exemplo, que
diz, “Bom menino!” para uma criança, não porque a criança mereceu o elogio, mas
porque o supervisor do terapeuta disse que elogios são importantes, reagiu
arbitrariamente ao comportamento da criança. Reforçadores arbitrários geralmente
falam mais às necessidades do terapeuta do que para as do cliente (Ferst er, 1967).
O uso de reforçadores naturais dentro da relação terapêutica ajuda a garantir
que as mudanças realizadas dentro da relação terapêutica se generalizarão para o
ambiente natural. O mais potente reforçador natural dentro da relação e o mais
semelhante ao tipo de reforçamento oferecido no ambiente natural é o reforçamento
social oferecido pelo terapeuta (ver Deitz, 1989, para uma discussão da natureza
“natural” do reforçamento social) . Como disse Skinner (1982), “ao inventar
contingências sociais relativamente não ambíguas, o terapeuta constrói um
repertório que será naturalmente eficaz para a vida diária do cliente” (p. 5).
Reforçadores arbitrários, no entanto, podem servir como procedimentos de
transição úteis para assegurar que o comportamento a ser emitido será
positivamente reforçado no ambiente natural. Algumas vezes, não há intervenção
terapêutica natural que pode gerar comportamento a ser reforçado pelos outros.
Intervenções arbitrárias podem, então, ser requeridas a fim de evocar o
comportamento desejado. Contratos terapêuticos ou “tarefas de casa” , por exemplo,
apesar de arbitrários na natureza, são geralmente importantes no desenvolvimento
de repertórios comportamentais que serão reforçados positivamente por outros na
comunidade natural.
Generalização para o Ambiente Natural:
II. Mudança através de Processo de Modelagem por Contingência
A generalização para o ambiente natural é fortalecida devido à maneira
gradual pela qual o profissional modela o novo comportamento do cliente na
relação terapêutica. Skinner (1969) adicionou uma importante dimensão à sua
análise do comportamento humano quando distinguiu entre comportamento
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modelado por contingências e controlado por regras. Skinner afirmou que o
comportamento modelado por contingências é aquele emitido por suas
conseqüências passadas enquanto no comportamento controlado por regras os
indivíduos estão seguindo uma regra já determinada. Os indivíduos, por exemplo,
podem aprender a jogar bilhar “ intuit ivamente” ao serem modelados pelas
conseqüências de seu jogo. Eles se tornam mais propensos a repetir lances que
colocam as bolas nas caçapas do que lances perdidos. Por outro lado, outros
indivíduos podem aprender a jogar bilhar a partir do cálculo dos ângulos, do peso
da bola, das distâncias e frações de cada jogada. Esses últimos não foram
modelados pelas conseqüências de suas jogadas. Ao contrário, eles aprenderam as
regras sobre o jogo. Embora os comportamentos controlados por contingências e
governados por regras parecerem idênticos, eles são comportamentos funcionais
bastante diferentes. “No prime iro caso, o indivíduo sente a cer teza da força e
direção com a qual a bola foi atingida, enquanto no segundo caso, ele sente a
correção de seus cálculos, mas não do lance em si” (Skinner, 19 69, p. 166).
A literatura operante sobre comportamento humano tem analisado
empiricamente a distinção entre comportamento governado por regras ou modelado
pelas contingências e tem mostrado que enquanto o comportamento governado por
regras pode, às vezes, se tornar “insensível” às contingências , o comportamento
modelado por contingências é mais sensível a mudanças sutis nas contingências e
pode adaptar-se às contingências que se alteram.(ver Hayes, 1989, para revisão).
Quando o terapeuta modifica suas próprias dicas interpessoais para modelar o
comportamento na relação com o cliente, ocorre uma contingência de modelagem. O
cliente entra em contato com as conseqüências sociais, sutis de seu comportamento.
Assim, pode ser que quando estiver em contato com contingências sociais similares
no ambiente natural, fique mais sensível às mesmas e se adapte quando essas
contingências mudarem.Generalização ao ambiente natural é realçada quando o
terapeuta usa reforçadores naturais dentro da relação e quando os clientes entramem contato, através de contingências de modelagem, com as conseqüências sociais
de seu comportamento.
No entanto, algumas vezes pode ser importante os terapeutas usarem regras
ou instruções para obter mudanças clínicas. Quando os clientes são confrontados
com situações de ameaça à vida, por exemplo, os terapeutas podem precisar intervir
diretamente a instruir seus clientes sobre mudanças de comportamento que precisem
realizar. Em outras situações, os terapeutas podem querer superar as contingências
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naturais (Skinner, 1982). Muitos repertórios comportamentais positivos nunca serão
desenvolvidos a não ser que sejam dadas instruções para garantir que o
comportamento seja emitido. Além disso, regras ou instruções terapêuticas podem
ser necessárias para ajudar os clientes a entrar em contato com conseqüências de
longo prazo de seus comportamentos, ao invés de serem controlados pelas
contingências mais imediatas (cf. Rachlin, 1974).
Pesquisa sobre a Relação Terapêutica
Esse estudo se concentrou nas tentativas feitas pelos terapeutas de modificar,
dentro da relação terapêutica, o comportamento que levará a mudanças positivas
externas ao processo terapêutico. Mudanças realizadas dentro da relação
terapêutica, todavia, são difíceis de prever. Resultados clínicos são geralmente
dependentes de mudanças momento a momento na relação (cf. Rice & Greenberg,
1984) e as contingências controladoras desse processo de contingenciamento podem
ser sutis. A pesquisa, conseqüentemente, pode nunca conseguir isolar todos os
fatores relevantes que afetam esse processo de formatação (cf. Skinner, 1969, p.
171). Ainda, a pesquisa pode nos ajudar a encontrar interações terapêuticas
importantes que estão associadas a mudanças terapêuticas.
Pesquisas recentes sobre condicionadores verbais operantes, por exemplo,
demonstraram que o comportamento verbal poderia ser trazido sob o controle de
contingências de reforçamento. Essas pesquisas também sugerem que o
comportamento verbal na psicoterapia foi modificado pelo terapeuta do mesmo
modo que outros comportamentos operantes. A literatura mostra que unidades
verbais a serem reforçadas podem incluir variáveis como o tipo de memória
reportada (Quay, 1959), o tipo de afeto demonstrado (Salzingfer & Pisoni, 1958), e
indicações referentes ao self (Adams & Hoffman, 1960). Além disso, essas
pesquisas demonstraram que o tipo de fatores do terapeuta que podem servir de
reforçadores pode variar de dicas não-verbais (Greenspoon, 1954) a interpretaçõespsicanalíticas (Timmons, Noblin, Adams & Butler, 1965).
Outra pesquisa nessa linha tentou analisar trechos transcritos de psicoterapia
tradicional e procurar pelas contingências controlados do comportamento verbal do
cliente. Tanto Murray (1956) como Truax (1966), por exemplo, analisaram sessões
de terapia de Carl Rogers para determinar as contingências controladoras do
comportamento do cliente. Ambos os estudos concluíram que Rogers tendia a reagir
positivamente a certa classe de comportamentos verbais (como a dependência de
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outros). Com o tempo, aqueles comportamentos que eram aprovados tiveram
aumento de freqüência enquanto aqueles desaprovados diminuíram a freqüência.
Apesar de estar claro, nos dois estudos e na literatura sobre condicionadores
verbais operantes que as mudanças verbais na psicoterapia poderiam ser entendidas
usando-se os princípios de aprendizagem, parece também que esses estudos
falharam ao replicar adequadamente as sutis contingências operativas dentro da
interação terapêutica (Krasner, 1971).
Recentes desenvolvimentos estatísticos ajudaram a desvelar as sutis
interações entre terapeutas e clientes associadas com mudanças clínicas. Técnicas
de análise seqüencial (cf. Gottman, 1982), por exemplo, possuem pelo menos duas
vantagens distintas sobre os modelos lineares tradicionais na tentativa de
compreender a relação terapêutica. Primeiro, a análise avalia mudanças momento a
momento dentro da relação. Compreender a relação nesse sentido molecular parece
crítico para as tentativas de descobrir interações terapêuticas positivas (Mahrer,
1988). Segundo, a metodologia de pesquisa de análises seqüenciais tende a ser
indutiva naturalmente, sem polarizações terapêuticas pré-concebidas (Hill, 1990). A
análise simplesmente avalia como mudanças em certas classes de comportamentos
do terapeuta estão associadas com mudanças em certas classes de respostas dos
clientes, e como mudanças no comportamento dos clientes levam a mudanças nas
respostas dos terapeutas. A análise procura mapear seqüências de interações
terapêuticas e associar essas interações com resultados clínicos. Essa estratégia de
pesquisa indutiva parece uma maneira importante e necessária de explorar o campo
de investigação (Skinner, 1950). Essa pesquisa então, pode nos ajudar a começar a
especificar as formatações que ocorrem entre terapeutas e clientes.
Pesquisas de uma outra perspectiva teórica podem também ser úteis ao
iniciar o desenvolvimento de uma aproximação indutiva para a compreensão das
mudanças dentro da relação terapêutica. Vários pesquisadores trabalhando sob uma
perspectiva centrada no cliente, por exemplo, têm explicado o conceito de“experimentação” (ver Klein, Matieu -Coughlan & Keisler, 1986 para uma revisão).
Em resumo, essa pesquisa indicou que quando o cliente discute pensamentos,
sentimentos, e comportamento no tempo presente, ao invés de se referir a eles como
tendo ocorrido em outro lugar/tempo, essas interações terapêuticas são
positivamente relacionadas a mudanças comportamentais realizadas externamente à
terapia.
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Outros pesquisadores, trabalhando sob uma perspectiva psicodinâmica,
tentaram formular os principais padrões do cliente com o terapeuta e com pessoais
significativas (cf. Luborsky & Crits-Christoph, 1989). Conhecidos como Tema
Conflitivo do Núcleo de Relacionamento (TCNR), Luborsky e seus colegas tentaram
quantificar as necessidades ou desejos dos clientes em relacionamentos
significativos, e o modo como o cliente tipicamente responde nessas situações.
Utilizando o TCNR, Luborsky, Crits-Christoph e Mellon (1986) encontraram que os
padrões de relacionamento reportados com outros significativos perpassam
semelhanças impressionantes com o relacionamento demonstrado dentro da relação
terapêutica. Ainda, embora dados relacionando mudanças nos padrões de
relacionamento a medidas comportamentais do progresso do cliente são limitados.
Luborsky e colegas também tentaram examinar os fatores que cercam as
mudanças nos estados dentro da relação terapêutica. Em um desses estudos
(Luborsky, Singer, Harte, Crits-Christoph & Cohen, 1984), fitas com sessões de
terapia de um cliente, Sr. Q, foram examinadas a fim de se determinar o contexto
no qual o cliente fica mais ou menos depressivo. Os resultados indicaram que o
cliente se torna mais depressivo (mensurado pela qualidade de voz e das afirmações
feitas) quando discutia sentimentos ou falta de solidariedade dentro da relação, e
que se tornava menos depressivo quando o terapeuta fazia comentários
tranquilizadores e de apoio. Essa estratégia de pesquisa, conhecida como método de
contextualização dos sintomas, elucida uma aproximação indutiva para o estudo de
relacionamentos terapêuticos e pode ser adaptado por analistas behavioristas para
explorar fatores que cercam as mudanças no comportamento dos clientes durante a
relação.
De uma perspectiva comportamental, Hayes e seus colegas se focalizaram no
desenvolvimento de uma aproximação contingencial para o treinamento de
habilidades sociais. Apesar de a maioria dos programas de treinamento de
habilidades sociais estar baseado em tentativa de identificar e treinar componentesde habilidades específicas (cf. Bellack & Hersen, 1979), esse trabalho tentou usar
um processo contingencial gradual para ensinar habilidades sociais. No primeiro
estudo, Azrin e Hayes (1984) desenvolveram um tratamento contingencial para
ensinar adolescentes do sexo masculino a discriminar indicadores não-verbais de
interesse entre mulheres. Aos estudantes eram mostrados vídeos de garotas
interagindo com um rapaz invisível e lhes eram pedido indicarem, numa escala tipo
Likert, quanto eles achavam que as garotas estavam interessadas em seu parceiro.
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Tradução feita por Maly Delitti para fins didáticos.
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Aqueles que receberam feedback com precisão nas respostas (comparadas com as
reais escalas das meninas) estavam mais aptos a discriminar dicas de interesse em
garotas, e melhoraram suas medidas de role-play de habilidades sociais que os
outros estudantes.
Rosenfarb, Hayes e Linehan (1989) integraram esse tipo de feedback
contingencial a um pacote de tratamentos para adultos com déficits de habilidades
sociais significativos. Os clientes participaram de um programa de treinamento de
oito sessões individuais de role-playing. Após cada role-play, alguns clientes
receberam “feedbacks experimentais” de seus terapeutas: os terapeutas deram notas
para suas habilidades sociais em um escala tipo Likert. Os resultados indicaram que
os clientes que receberam esse feedback contingencial melhoraram
significativamente tanto no role-play como nas medidas auto-reportadas de
habilidades sociais do que aqueles que não receberam instruções sobre
comportamentos específicos a serem modificados durante o role-playing. O
resultado de ambos os estudos indica, assim, que não é necessário se ensinar
habilidades social pelo isolamento dos componentes específicos a serem
modificados. Habilidades sociais podem ser ensinadas através de um processo
gradual de contingências.
O trabalho de Haynes e seus colegas então, procurou examinar
experimentalmente e validar componentes críticos da relação terapêutica
desenvolvendo pacotes de treinamento específicos contendo os hipotéticos
ingredientes de mudança. Para que a pesquisa em psicoterapia se desenvolva parece
importante não apenas especificar essas interações terapêuticas através de análises
correlacionais associadas a mudanças clínicas, mas também, parece necessário
testar experimentalmente se esses fatores hipotéticos são realmente críticos para o
resultado.
Sumário e ConclusõesO presente estudo procurou, dentro de uma estrutura de análise
comportamental, compreender as mudanças que ocorrem dentro do contexto da
relação terapêutica em psicoterapia. A interpretação se centrou na formatação
gradual do comportamento do cliente. O terapeuta observa ambos os padrões, verbal
e não-verbal, no comportamento do cliente, e procura modificar aqueles repertórios
comportamentais que geraram dificuldades interpessoais para ele. O comportamento
do cliente muda devido a mudanças nas pistas no feedback interpessoal do
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terapeuta. Se repertórios comportamentais funcionalmente similares também são
reforçados fora da terapia, então as mudanças realizadas dentro da relação se
generalizarão para o ambiente natural.
Os objetivos do estudo são de duas naturezas: ajudar a estimular terapeutas
comportamentais a se deter mais a fatores dentro da relação terapêutica como
processos importantes da mudança clínica, e ajudar os terapeutas de outras
perspectivas a ver como a eficiência dentro da relação terapêutica pode ser
compreendida usando os princípios de aprendizagem. A pesquisa da terapia
comportamental tem sido dificultada, em geral, pela falta de explorações críticas
sobre a eficiência da relação terapêutica. A pesquisa em terapia comportamental se
concentrou no desenvolvimento de técnicas terapêuticas para a exclusão da
exploração de processos de mudança dentro da relação. Análise comportamental,
entretanto, parece bem servida para compreender esses processos de
relacionamento. Espera-se que esse estudo ajuda a derrubar a barreira que
impendem os terapeutas comportamentais de investigar os procedimentos de
psicoterapia enquanto tendem a ignorar os processos de mudança dentro do
relacionamento terapêutico.