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REVISTA Portus Cale Nº 4 – ANO III Junho 2016 EDITORIAL Academia do Conhecimento Portus Cale, quanto à sua miss o, ser no seio da ã á sociedade, a partir da Cidade Invicta , criar um movimento c vico de investigaç o, í ã conhecimento e intervenç o social, que ã aponte para a criaç o de um novo tipo de ã sociedade – uma sociedade que dê valor ao social, às pessoas, ao humanismo integral, tendo por base um escopo de conhecimentos que passa pela vis o ã espiritualista e por uma filosofia cooperativista, nelas concentrando-se princ pios cient ficos, espiritualistas, sociais, í í pol ticos e econ micos, frutos originais do í ó pensamento cultural luso que se tem vindo a projectar ao longo dos ltimos nove ú séculos! N o tememos o futuro, porque ele se ã determina na persistência, que a presente Academia, se imbuiu na Defesa de uma nova perspectiva social para um projecto global, que contemple uma p tria universal á para a L ngua Portuguesa que na sua mais í viva express o ser , a Lusofonia! ã á Corpo Editorial Jacinto Alves Joaquim Paulo Pedro Jorge Pereira Miguel Tato Henrique Doria Neste Número: - Jacinto João - Joaquim Paulo Silva - David Rocha

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REVISTA Portus Cale Nº 4 – ANO III Junho 2016

EDITORIAL

Academia do Conhecimento Portus Cale,quanto à sua miss o, ser no seio daã á

sociedade, a partir da Cidade Invicta , criarum movimento c vico de investigaç o,í ã

conhecimento e intervenç o social, queã

aponte para a criaç o de um novo tipo deã

sociedade – uma sociedade que dê valor aosocial, às pessoas, ao humanismo integral,tendo por base um escopo deconhecimentos que passa pela vis oãespiritualista e por uma filosofiacooperativista, nelas concentrando-seprinc pios cient ficos, espiritualistas, sociais,í í

pol ticos e econ micos, frutos originais doí ó

pensamento cultural luso que se tem vindoa projectar ao longo dos ltimos noveú

séculos!

N o tememos o futuro, porque ele seãdetermina na persistência, que a presente

Academia, se imbuiu na Defesa de umanova perspectiva social para um projectoglobal, que contemple uma p tria universalápara a L ngua Portuguesa que na sua maisíviva express o ser , a Lusofonia!ã á

Corpo Editorial

Jacinto Alves Joaquim Paulo Pedro Jorge Pereira Miguel Tato Henrique Doria

Neste Número:

- Jacinto João

- Joaquim Paulo Silva

- David Rocha

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REVISTA Portus Cale Nº 4 – ANO III Junho 2016

Um Pensamento FilosoficamenteCientífico e Interventivo

A ENTIDADE PORTUGUESA E OPORTUGAL DO FUTURO

1ª. Parte

Há cerca de 23 anos, adquiri uma obraintitulada - "O FATOR MAIA - Um CaminhoAlém da Tecnologia", publicada pela EditoraCultrix – S. Paulo, Brasil - do escritor einvestigador José Arguelles, nascido em1939 em Rochester, - Estados Unidos. Otema do livro em referência é dedicado aoestudo e análise do Povo Maia e da suacultura relativamente ao Estudo doposicionamento da Terra e do Sistema Solarem relação ao CENTRO DA GALÁXIA - anossa Via Láctea!

Trata-se de um trabalho sério e digno deestudo. No final do Século XIX, arqueólogose pensadores mais "científicos", como AlfredP. Maudslay, Ernest Willem e outros,tinham-se debruçado sobre o sistema

matemático e astronómico dos Maias e porvolta de 1927, foi concluída achamada "correlação Goodeman-Martinez eHernandez-Thompson " entre a cronologiaMaia e Cristã. Isto significava que o"começo" do "Grande Ciclo Maia" tinha sidolocalizado entre 6 a 13 de Agosto de 3113a.C. no Calendário Cristão.

Na cronologia Maia a data é escrita:13.0.0.0.0. Essa mesma data - 13.0.0.0.0.,se repetirá novamente em 21 deDezembro de 2012 d.C. De facto, o que vaiexatamente suceder? Eis a grandeincógnita! Alinhamento do nosso SistemaSolar com o Centro danossa Galáxia? Segundo, os Maias,presentemente já estamos "atravessando aradiação galáctica" provindo do Centro daVia Láctea. O "alinhamento" em referênciairá ou já está a perturbar os camposmagnéticos do Sol e de todos os planetasque formam o nosso Sistema? Penso quesim!

A alteração dos "campos magnéticos daTerra, certamente que vão alterar osmovimentos de rotação, translação eoscilação do eixo terrestre e assim osclimas (degelo nos Polos) econsequentemente a subida dos níveis dosmares, cobrindo partes baixas eimportantes das zonas costeiras dediferentes países.

Com a mudança das correntes marítimasinfluenciadas por perturbações dascirculações atmosféricas sem dúvida que jáestão ocorrendo importantes fenómenos nomundo e maiores ocorrências se irão sentira médio e longo prazo que naturalmenteirão"mexer" com a flora e a fauna efinalmente com os próprios seres humanos.

Todos estaremos atentos às mudanças quese estão operando no mundo

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Certamente que todos nós estaremosatentos a todos os fenómenos que estãoocorrendo e que vão ocorrer. Concluindo:Estamos já numa fase avançadade "mudança" para pior e provavelmentepara algumas outras coisas para melhor!

Nós, seres humanos teremos de começar arever as nossas posições perante nóspróprios! Conceitos de religião, de filosofia,política, economia, ecologia estendendo-seigualmente a outros diferentes campos!

É interessante notar de que comas "mudanças" que estão a ocorrer, estas,eventualmente, poderão exercer algumainfluência sobre a nossa formaçãopsicossomática – alguns investigadoresadiantam (a médica brasileira - GlaciRibeiro da Silva, autora do livro “ORacionalismo Cristão e a CiênciaExperimental – edição Centro Redentor –Brasil – Rio de Janeiro nos seus diversostrabalhos de investigação e quando serefere ao estudo da "GlândulaPineal" classificada pela Ciência Médicacomo um órgão residual, contudo eatualmente e por via científica estãosurgindo novas perspetivas sobre ofuncionamento e finalidade daquele órgão!

O Dr. Sérgio Filipe de Oliveira, médico,pesquisador do Instituto de CiênciasBiomédicas da Universidade de S. Paulo –Brasil,em seus estudos sobrea "pineal", chega à seguinte conclusão: -A "pineal" é um "sensor" capaz de “ver” omundo espiritual, associando-o à estruturabiológica, sendo uma glândula, portanto,que VIVE o dualismo espírito/matéria. O cérebro capta o magnetismo externoatravés daquele órgão. É a glândulaPineal que gere a capacidade intuitiva doser humano – possivelmente servindo desuporte à atividade mental dos humanos no

que diz respeito à faculdade "telepática"?! Imaginem só!Que implicações extraordinárias virão aexistir se as pessoas conseguissem captaros pensamentos dumas e doutras? Omundo seria radicalmente virado às"avessas"! Igualmente pela viamental/espiritual o ser humano poderá vir ater acesso anovas formas de energiasuniversais que certamente serão diferentese superiores às energias tradicionais, taiscomo a eletricidade; a energia nuclear e asenergias fósseis!

A origem do povo português representadanas raízes herdadas dos Lusitanos é muitoantiga, estando os Portugueses marcadoscom dois genes muito específicos e únicos.Nós, Portugueses somos os últimossobreviventes de uma antiguíssima raçaibérica pré-mediterrânica. Segundo anarrativa de Paul Le Cour – 1871/1954,escritor, esotérico e astrólogo francês –“Cadernos de Tradição – Ecos Portuguesesda Atlântida, História e Cultura Portuguesae da Lusofonia, publicação de Manuel J.Gandra – Ano de 2004”, dizia-nos quesegundo Platão no Timeu num relato de umsacerdote egípcio que uma potência militarse tinha lançado sobre a Europa e a Ásia eque nesse tempo, podia-se atravessar omar e que havia uma ilha, em frente dasColunas de Hércules, maior que a Líbia e aÁsia reunidas.

Desta ilha podia-se passar para outras ilhase daí alcançar o continente oposto.Convenhamos que há aqui bastantesalusões que permitem atribuir às ilhas dosAçores (ou antes, àquilo que elasrepresentam que são as ruínas da Atlântida! O povo português não é ingovernável emuito menos vive além dos seus recursos(conforme certos políticos nos tentamconvencer) e muito menos aceitar a

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afirmação de que “não se pode esperarmuito dele”. Quando o povo português se tornaingovernável e contrário às políticasvigentes, significa que em Portugal e nopresente a qualquer momento poderáeclodir uma forte reação social, cujasconsequências serão sempre imprevisíveis(e a nossa História o tem vindo a confirmar)e nessas circunstâncias deingovernabilidade terá de emergirnaturalmente princípios paradigmáticos deauto-preservação e de autorregulação,sendo subjacentes a uma sabedoriaancestral gregária que funciona como umcorpo só através do subconsciente coletivodos Portugueses! Os Portugueses são descendentes dosFenícios e filhos originais da casta Lusitana,mas também dos Celtas, tendo ligaçõesÁrabes, judaicas e Cristãs.

Na sua globalização os Portuguesescruzaram-se com os Africanos, com osÍndios Americanos, com os Asiáticos e comos Indianos. Criaram ou ajudaram a criarpaíses com características muito próprias ede certo modo ligadas à nossa CAUSA quena verdade foi e é igualmente a deles! Aglobalização portuguesa, o “Porto do Graal”emergiu de pequenas e grandes colónias efeitorias tornadas mais tarde em provínciasultramarinas espalhadas por todo o mundo,o que se poderá concluir que a partir doConde D. Henrique, pai do Primeiro Rei dePortugal, D. Afonso Henriques havia umProjeto Global de tornar Portugal não numametrópole contida num pequeno retângulogeográfico, mas sim satisfazer umanecessidade imperiosa ao mesmo tempomaterial e espiritual de libertação eexpansão e daí a pretensão histórica de“dilatar a Fé, o Império e as Terras Viciosas”tornando Portugal no Mítico Porto do Graal

e o mensageiro de uma nova ideia, de umanova ideologia para o mundo! Realidadeque agora no Século XXI, a Lusofoniapretende dar continuidade! No plano biológico a maioria dosPortugueses (nomeadamente os dedescendência lusitana, são portadores dedois genes que marcam a diferença emrelação a outros povos de que não dispõemdaqueles mesmos genes e são eles: - A25-BIS-DR2, este gene só foi encontrado nosportugueses de origem étnica lusitana,apesar de também existir no Brasil e naAmérica do Norte, sendo que estapropagação se deve, obviamente àtendência dos Portugueses em emigrarem! O outro gene e o mais particular que provasermos a população mais antiga na Europatem o nome de – A26-B38-DR13,(Universidade de Coimbra). Sobre estemesmo gene só se sabe que terá existidonos primeiros ibéricos ocidentais e daipoder-se concluir de eventualmentepoderem existir ligações com ossobreviventes da Atlântida que quando doafundamento desta chegaram à PenínsulaIbérica há cerca de 11.500 anos. A palavra SAUDADE é efetivamente umapalavra com uma profunda e muito antigasignificação mítica e naturalmente subjaz deforma inequívoca no inconsciente coletivodo povo português e a recordação oculta do“Paraíso Perdido” que foi a Atlântida e essarecordação foi-se cristalizando ao longo demilhares de anos na mente dosPortugueses e daí a causa ou a razãodesse misterioso sentimento que se chama:SAUDADE! O Sentimento da SAUDADE estáintimamente ligado ao conceitode LUSOFONIA e daí ter havido anecessidade da criação de um PROJETO

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UNIVERSALISTA (que nasce com osTemplários em Portugal) que os primeirosportugueses pretenderam desenvolver eesse mesmo PROJETO UNIVESALISTAtem vindo a ser traduzido por portugueses,tais como: Padre António Vieira; FernandoPessoa e Agostinho da Silva. Infelizmenteesse mesmo Projeto corporizado nosLUSÍADAS do nosso épico Luís de Camõese em MENSAGEM do poeta iniciáticoFernando Pessoa e na “História do Futuro”de Vieira tem vindo sistematicamente serdeturpado por maus políticos que emPortugal pretendem transmitir uma falsademocracia que em nada serve o PovoPortuguês e apenas serve os interessesdas elites formadas por falsos portuguesesque apenas visam a defesa dos seusinteresses pessoais e de classe emcompleta oposição às necessidades reaisde um povo simples, honesto e trabalhadorque são os Portugueses! No que diz respeito especificamente naHistoriografia Portuguesa à origem edesenvolvimento do Mito do Quinto ImpérioPortuguês divide-se por aqueles que odefendem e aqueles que o consideram pós25 de Abril de 1974, como meio e fimesgotados e segundo Oliveira Martins,considera que com as liberdades cívicas, oavanço dos costumes e o progresso técnicorealizados pelo Liberalismo deram-no comofindo, considerando-o uma relíquia dopassado ou ainda uma espécie de marcacultural, mítica e mitológica do pretéritohistórico de Portugal! Igualmente nas perspetivas de Lúcio deOliveira e António Sérgio que com asocorrências do republicanismo; opositivismo e o racionalismo, esgotaram emataram o Mito do Quinto Império e comele, naturalmente o Sebastianismo! O nosso ilustre escritor e historiador Miguel

Real, no livro de sua autoria – Nova TeoriaSobre o Sebastianismo – – 1ª. Edição – D.Quixote, faz uma extensa análise na baseda Historiografia Portuguesa sobre o Mitodo Sebastianismo/Quinto Império em queduas correntes de opinião se dividiram entreos investigadores e historiadoresportugueses. Diremos que ambas as partes têm a suarazão, sendo perfeitamente válidas asrespetivas teses que defendem, contudo, nanossa opinião e na realidade configura-seuma terceira via a qual dá plenofundamento ao Mito do Sebastianismo, umavez que historicamente a introdução daInquisição em Portugal por D. João III; asInvasões Francesas, no início do SéculoXIX, dizimaram cerca de 10% da populaçãoportuguesa e a Ditadura de mais de 40anos em Portugal durante o Século XX,pesaram profundamente no espírito coletivodo Povo Português. Na Historiografia Portuguesa quanto àverdade sobre a consistência, natureza erazão válida que defendem tal mito, agoratransformado em teoria e essa teoriaconvertida em doutrina – a Doutrina daCidadania Social versus Doutrina do QuintoImpério ou seja: a Doutrina da Verdade,cuja apresentação e desenvolvimento éfeito no meu segundo livro – “Ensaio Sobrea Doutrina do Quinto Império- Uma NovaPerspetiva Social “publicado em 2013 pelaChiado Editora. Dando a devida razão a ambas as partesdefensoras e não defensoras do Mito doQuinto Império, procurámos desenvolveruma terceira via que efetivamente passapelo desenvolvimento da espiritualidade doser humano que apoiado plenamente pelainvestigação científica procura-se adescoberta e conhecimento do mecanismodas leis universais, as mesmas leis naturais

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que regem o nosso próprio mundo e doUniverso na sua imensidão cósmica,contendo em si um número incontável demundos e sistemas estelares, os quais eem conformidade com essas mesmas leisassistem numa escala própria um número,diremos quase infinito de vidas inteligentes.A transformação e a Evolução, são oselementos básicos que dão sustentabilidadeà Força Criadora ou Inteligência Universalou ainda a ação desencadeada peloGrande Arquiteto do Universo, (Deus) asuprema Causa de tudo quanto existe! O ser humano ao longo de muitos milharesde anos esteve sempre sujeito a umaconstante transformação do seu corposomático e a uma progressiva evolução doseu espírito passou por uma longa edolorosa fase de animalidade compreendidapelo instinto e volvidos esses mesmosmilhares de anos veio a conquistar um novoatributo espiritual conhecido pelo “livrearbítrio”, portanto, passando a ser detentorda capacidade do raciocínio e de ter aliberdade de tomar decisões por si próprio,ultrapassando assim as barreiras naturaisde um universo tridimensional, conseguindocognitivamente alcançar uma novadimensão não já física, mas simpertencente a outras e superioresdimensões do Universo! Em face da constante evolução espiritual doser humano, este já está, agora em plenoSéculo XXI, próximo de se libertar dacondição do “livre arbítrio” não precisandodeste e deixando de se debater entre o sere o não ser; o certo e o errado, pois emtermos de natureza cósmica o espíritohumano atingiu um estado de grandedesenvolvimento moral e intelectual que lhevai permitir pela via da intuição alcançar umconhecimento de si mesmo e do próprioUniverso, sabendo perfeitamente qual a suaresponsabilidade e função na própria

organização universal, o que numaperspetiva maçónica tornou-se por direitopróprio num Arquiteto do Universo! Este tema foi inspirado na base da narrativacontida no meu terceiro livro – o romanceiniciático “ Num Dia do Amanhã” a publicarbrevemente. Seria interessante verificar queo grande projeto do Quinto ImpérioPortuguês, sonhado pelo nosso Rei D.Sebastião que na histórica batalha deAlcácer Quibir para a conquista do Norte deÁfrica – Marrocos, sofreu uma derrota nodia 4 de Agosto de 1578 na Batalha dosTrês Reis que foi travada numa região entreTânger e Fez. Vejamos então o que iremosencontrar em termos de previsõesdesenvolvidas no meu já referido novoromance e relativamente ao ano de 2040sobre Portugal. Portugal passará a disporde uma superfície marítima e terrestrecorrespondente à sua antiga ZEE – ZonaEconómica exclusiva ampliada pelaPlataforma Marítima Portuguesa de mais de3.877.408 kms2, área correspondente àsuperfície da Índia, tornando-se num dosmaiores países a nível planetário! No que se refere à Plataforma ContinentalPortuguesa, a maior do mundo segundoafirmações do Ilustre Professor AdrianoMoreira que no seu livro intitulado– “Memórias do Outono Ocidental – UmSéculo Sem Bússola”, publicado pelaeditora Almedina, em Novembro de 2013, apáginas 212, diz-nos: “ … O seu reconhecimento pela ONUestava anunciado para 2013, mas comovimos já foi transferido para 2015. Aconteceque o Presidente da Comissão Europeiaanunciou, como disse, em discursoproferido em Portugal, o projeto emdefinição de um mar europeu. No caso deeste projeto se concretizar antes daaprovação da Plataforma Continental, logo

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vem à memória 1890, com todos os paísesda União Europeia a exigirem participaçãono património então comum …” Agora em 2016 temos conhecimento de queainda nada foi feito pela Comissão Europeiaquanto ao reconhecimento da soberaniaportuguesa sobre a Plataforma Continental.O Professor Adriano Moreira refere-se aoano de 1890 quando a Inglaterra nos impôsum “ultimato triste e vergonhoso na célebreconferência de Berlim onde a Inglaterra; aBélgica; a Alemanha e a França disputarame dividiram então aquele vasto territórioafricano que ligava o Atlântico ao Índico,saindo Portugal vergonhosamentederrotado com a disputa do “mapa cor-de-rosa”! Nós acompanhamos o pensamentodo Professor Adriano Moreira! Será quevamos ter um segundo “mapa- cor -de rosa”com a nossa Plataforma Continental? Evirmos mais uma vez a sermos esbulhadosno nosso “espaço marítimo” pelos paísespoderosos e gananciosos? É esta a grandequestão que vos deixamos! Pensamos sernecessário e oportuno a partir da cidade doPorto criarmos uma Frente Unida Patrióticamobilizando os Portugueses numa açãonacional no sentido de serem defendidos ossuperiores interesses da Nação e nestecaso muito particular o povo portuguêsexigir ao Governo de Portugal que assumauma postura firme, esclarecida edeterminada na defesa da "PlatafornaContinental Portuguesa"

Jacinto Alves – Escritor e ensaísta emembro fundador da ACPC

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A Construção do Paradigma Eco-Ético e Social

Nas Relações Humanas do Século XXI

Valores Fundamentais:Ética – Humanismo – Espiritualidade –Filosofia Eco-Social - Cultura

“ Procurei saber se Erasmus de Roterdão eradeste ou daquele partido. Mas alguémrespondeu: «Erasmus est homo pro se» “

I O Paradigma Eco- Ético-Social

Abertura

Tenho desenvolvido uma ideia central e chaverelativamente à evolução humana que passa pelaconcretização de um Novo Paradigma, quevenho a designar por Eco- Ético e Social.

Eco, porque implica uma nova e urgente relaçãocom a natureza. Ético porque nos impõe umacentralidade dos valores na ação humana, comum outro rigor e vigor. Social porque não hápossibilidade de salvação ecologógica e ética, nafase de risco total da humanidade, sem umareorganização social real, baseada na economiasuficiente e na abolição da exclusão social.

O século XXI tem de se balizar por estes trêspontos centrais, sob pena da própria existênciahumana.

- A Bifurcação

Um novo Modelo, um outro Pensamento eparadigma diferente, urge desenvolvercomo alternativa à destruição dos laços,das relações, das economias, das culturas;a reformulação pela preservação doessencial da organização ecológico-social,transformando no entanto o caráterdestrutivo que a competição económica efinanceira nos lega como molde desta vaga,numa caraterística cooperativa, partilhada,suficiente, de base económica-social, ou deeconomia social em escala alargada,controlando a erosão dos nichosecológicos, e a ditadura da tecnologia.

Chegamos à situação mundo atual, que

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Lazlo (….) define exatamente como deBifurcação (ponto de escolha entrecaminhos), de bifurcação económica esocial. Porque a origem da bifurcação é aescolha.Escolha entre dois caminhos: - Alterações Climáticas/Do ecosistema bioplanetário/ Fim das Espécies – GrupoHumano em risco

• Transformações, emconsequência: Na dinâmicaPopulacional/Eco-Social/Tecnologização do Mundo:

✔ - Crise demográfica✔ - Crise ecológica✔ - Estado de Carência Recursos(Organização Social)✔ - Disparidades Económicas✔ - Crise Social, Cultural e de Valoresde Civilização✔ - Os quatro mundos ( DesigualdadeGlobalizada)

- Ou se agrupa, reorganiza, transforma osvalores, difunde a cultura e a civilização/ouo caos, a desigualdade de uma novaesclavatura/ os Estufianos e os Habitantesdo mundo Tecnologizado contaminado, tudose tornará num processo gradual debarbárie e fim da civilização.Esse é o momento em que se situa, estabifurcação. Qual dos caminhos, será o idealpara evitar o Caos e potenciar o fim doGrupo Humano?

II. PROBLEMAS DECISIVOS PARA OSÉCULO XXI:

- Agonia Planetária

Ao longo do século XX desenvolveram-seos problemas fundamentais que setornaram, , de um modo, eco-ética crises de

dimensão mundial em função do processode globalização ou de compressão. Naeconomia, na demografia,desenvolvimento/versus/ecologia, nosrecursos energéticos tudo está em crise, oucoloca a humanidade em crise.

➢ A desregulação económica mundial

O mercado mundial pode ser consideradocomo um sistema auto-eco-organizador(Morin, 1993). Ou seja, produz as suaprópria organizações e interage com outrossistemas. O problema é que o mercado,como saber económico, se fechou na suaprópria bolha, ignorando as demaisdimensões antropológicas, sociais,psicológicas e políticas, pelo contrário pelaforça atratora impõe-se ás outrasdimensões, desregulando as mesmas.Numa dialógica mundial a economiamundialização, por entre forças deintegração e desintegração, culturais,psiquicas, sociais, políticas, derivadas dopróprio sistema neo liberal, ou seja desde1973, da crise petrolifera que prenuncioueste nova era mundializada, de economiasinterdependentes, aonde o poder dasnações transita para os grandes centrosfinanceiros, criando, simultâneamenteigualdades e desigualdades, massobretudo as desigualdades de larga escalamundial entre países e zonas do globo,cavando um fosso enorme entre 10% dapopulação mundial e os outros 90%. Semregulação é uma espécie de “cavalo doido”que destrói vidas à toa, culturas, economiasnacionais e o próprio Estado Social...Na verdade o crescimento económico,melhor dos mercados financeiros mundiais,provoca novos desregulamentos financeirospela aumento da imprevisibilidade e docaos, pelo aumento da ganância e do lucro.Criando um processo multiforme dedegradação da psicoesfera (das nossas

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vidas mentais e afetivas e morais), emsimultâneo com a biosesfera. O perigo deuma Economia desregulada que só poderesponder uma regulação Eco-Social.Nas palavras de Edgar Morin (1993), “pôsem marcha uma competição infernal einsensata internacional que visa a procura atodo o custo de excedentes deprodutividade, que em vez de repartidosentre consumidores, trabalhadores einvestidores, são consagrados àcompressão dos custos para novosexcedentes de produtividade, desregulandoos ritmos humanos e os equilíbrioscivilizacionais.

➢ A DesregulaçãoDemográfica Mundial

A desregulação demográfica é um dosfatores mais importantes, neste processocivilizacional agonizante.O crescimento populacional foi de tal ordem– em 1800 a humanidade situava-se nos milmilhões de seres humanos, hoje andarápelos 7 mil milhões, em apenas 200 anoscresceu milhões de vezes mais que toda ahistória humana neste planeta.

As possibilidades de subsistência dahumanidade face aos recursos e exigênciastecnológicas começam a escassear, com aprevisão de fomes generalizadas, falta derecursos potáveis, migrações em massa,convulsões sociais e políticas emconsequência.Esta situação mais grave é quando a subidademográfica se verifica nos países emdesenvolvimento, ou pouco desenvolvidos eportanto “obrigados” a empurrar o mundopara a combustão fóssil, que destrói anossa bioesfera.Na verdade a dimensão da situação daexplosão demográfica ainda incontrolávelno terceiro mundo, que pode atingir no final

deste século uns dramáticos 45 milhões decidadãos planetários!E mantendo-se o nível de

➢ A Crise Ecológica

A Crise Ecológica interliga-se com oparadigma de desenvolvimento humano,que desde o século XIX, através daimplantação da sociedade industrial e docapitalismo acumulativo, gerou uma ideiade desenvolvimento infinito, num contextoplanetário de recursos finitos.Como vimos já, desde o século XIX que asociedade industrial está organizada deacordo com o modelo mecano-produtivistapositivistia: progresso científico=progressotécnico= desenvolvimento económico=progresso socio cultural.A destruição da bioesfera, traduz o aspetometa nacional da destruição do ambiente,planetário do perigo ecológico. A primeiradenúncia ou alerta surge em 1969 com orelatóro Meadows, pelo clube de Roma em1972. A partir daqui as denúncias eprofecias apocaliptícas sucedem-se face áevidências dos resultados de umdesenvolvimento baseado apenas naTecnologia e o grau de destruição quer dasespécies, quer dos recursos, quer dosequilibrios ecológicos, quer da bioesfera.As catástofres ecológicas que seguem sãodeterminantes para o cimentar da ideia docaminho para o desastre: Seveso, Bhopal,Three Miles Island, Chenobyl, seca do MarAral, poluição do Lago Baical, cidades nolimite da asfixia (México, Atenas). Percebe-se que a ameaça ecológica ultrapassafronteiras: p.e. a poluição do Reno dizrespeito à Suiça, à Alemanha, Holanda,França, Mar do Norte. Chernobyl invadiu eultrapassou o continente europeu, etc...

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Contaminação das águas, envenamentodos solos, chuvas ácidas, depósitos deresíduos perigosos, desflorestação,urbanização maçica das zonas costeiras, asemissões de CO2, intensificando de estufae dimuindo a camada de ozono,aumentando o buraco de ozono naantartida, enfim um mundo em completoperigo pela via de uma descontroladatecnologização e em nome de um tipo dedesenvolvimento, de uma via só

➢ Crise do Desenvolvimento

A questão do desenvolvimento, e da crisedo modelo que tem vigorado, pela policriseque criou, é fulcral na mudança quepretendemos operar na existência do serhumano atual, com o paradigma Eco-Social.Esta noção unidimensional dedesenvolvimento está associada àaquisição, ao ter, à matéria, aodesenvolvimento da tecnologia, destruindoséculos de cultura humanística e tradição,de crenças e tudo aquilo que construiu aanima humana e as relações, por umaconceção utilitarista da vida e das relaçõeshumanas e sociais. Uma visão não humanae hiper racionalizada da vida e dassociedades.A Crise da Ideia de desenvolvimento existeporque ao invés de a visão unívoca dodesenvolvimento conseguir unir ahumanidade e colocar os seres humanosem situação de grande felicidade esustentabilidade para o futuro, aliando aciência à tradição.Mas nada disto aconteceu, a Modernidadeseparou tudo, cultura e humanidade,Tecnologia e história, filosofia e ciência,progresso e espiritualidade, açãoinstrumental e ética.Desuniu os seres e colou-os,desamparados sem cimento

ideológico/cultural, mas mãos de umpensamento obsessivo aquisitivo evazio.Porque os dois grandes modelos emque assentou o desenvolvimento partiramde dois paradigmas económicos –capitalismo e sociaslismo – diferentes – umassente no mercado (capitalismo), outroassente no Estado (socialismo) como osgrande motores do desenvolvimento social,cultural, humano. Partiram de uma premissada variedade que o ser humano écomposta, o desenvolvimento económico,portanto unidimensional, capaz de mobilizarum desenvolvimento total. Afirmando-se noentanto totais, como pretendia aModernidade, acabaram por se tornar,ainda que demodo diverso totalitárias eportanto colocando definitivamente emcausa o desenvolvimento global pretendido.De um lado o Mito do Mercado e o outro oMito do Estado,ambos como solução paraos problemas que a Revolução Francesa eIndustrial vieram mostrar ao mundo, como aimensa desigualdade, a injustiça, a pobrezacomo causa divina e não social eeconómica, a doença grassando tambémaos designios divinos. Contrapondo a tudoisto uma nova fé na Ciência nascente eseus derivados as técnicas e tecnologias.A visão Económicista, quinquenal doSocialismo, ou tecnologica/consumista, sãoambos bárbaros na sua aplicação, porquetendo por ideal primeiro a superioridade dopensamento positivo e da Ciência sobre osdemais conhecimentos, eliminando-os demodo bárbaro, erradicando-os lenta masgradualmente das universidades. No casodo capitalismo, ou dos países capitalistas, aespiritualidade e o conhecimento folclórico ea filosofia, ainda impante nos anos 60 doséculo XX, mas acabou derrotadatotalmente pelas tecnologias. No caso doComunismo, a espiritualidade e oconhecimento tradicional foramtransformados em meros mitos explicáveisà luz da razão e do ideário Comunista que,

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como Niecthe expulsou Deus do universoHumano. A submissão da humanidade auma razão mutilada e a um pensamentocego - que tinham por base um grande idealde fraternidade e de abolir a exploração dohomem pelo homem paradoxalmente -conduziu o Comunismo á sua autodestruição por não ter capacidade deregeneração, não abrindo espaços àrespiração do pensamento; ao estadoagónico da outra forma de socialismo, asocial democracia, porque dependente docapitalismo financeiro e da capacidade daeconomia de manter unidos entre si osobjetivos de redistribuição (através davalorização do trabalho e do Estado Socialde suporte na doença e no desemprego),acabando engolida, após o fim docomunismo pela Neo liberalismo que deixapara tráz o ideário fraterno, mas continuacom a destruição das sociedades e danatureza.A grande lição é que tudo o que éeconómico e tecnologico é mais bárbaroque civilizador e portanto deve estarintegrado numa política do Homem e doPlaneta, de uma política de Civilização.O Desenvolvimento terá de outra forma: odesabrochar das autonomias individuais e,ao mesmo tempo, o aumento dasparticipações comunitárias, desde asparticipações proxémicas às participaçõesplanetárias. Mais liberdade e maiscomunidade. Mais ego menos egoísmo(Morin, 1993).Ao contrário do Desenvolvimento total, nospaíses ditos desenvolvidos nos planoseconómico/tecnológicos, osubdesenvolvimento é a característicaprincipal porque ela está no centro do ser,situa-se no plano moral, psíquico eintelectual. Penúria afetiva e psíquica,miséria mental alimentada pelos vorazesfinanceiros, proliferando com as ideias ocase visões sem perspetiva global. O aumentodas qualificações, meramente tecnicas e

especializadas, aumenta em proporção osubdesenvolvimento relacional, ético, dopróprio sentido do ser e do amor. E tudo istoacompanhado pela destruição bárbara doeco-sistema, a que não se correspondeuma emergência fraterna e dedesenvolvimento de uma consciência“simpática”.Enquanto este subdesenvolvimentopsiquico - espiritual durar, as nações quepretendem se desenvolver do mesmo modoque os desenvolvidos cometem os mesmosou piores erros, pois efetuam dumdesenvolvimento desordenado, sem metasideológicas, baseado na exploração edegradação social e ambiental. Em todo omundo cresce, por inverosimel na EraPlanetária, um número crescente deexércitos privados, de retorno dosfanatismos nacionais e religiosos, sem umcentro ou uma organização humanistacapaz de impor o ideal de Civilizaçãoversus Barbárie. A miséria material dosdesenvolvidos contribui para a misériaeconómica dos subdesenvolvidos e tudoisto contribui para a corrupção geral, oavanço do crime global, os políticos dasdemocracias autênticos reféns desta novaordem , dos novos senhores do mundo, quemandando no capital, brincam com adesordem mundial.

➢ A Balcanização do Planeta

Ora a desordem mundial gera uma“balcanização do planeta”, mergulhado emguerras dispersas entre nações, ou novasguerras da Religião, genocídios em série,guerras civis, movimentos desordenados eou desorganizados, guerras “frias” pelodomínio dos recursos energéticos e todosos outros.Não existe um centro em concreto. Mas osgrandes Estados-nação estão confrontadoscom problemas que os ultrapassam.

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Problemas de dimensão planetária como daEconomia, do Desenvolvimento, daCivilização Tecno – Industrial, daDegradação Ambiental, da Escassez deRecursos, do Tráfico de Seres Humanos eda Nova Escravidão, deixam impotentes osgovernos e os Estados, gerando reaçõesem cadeia de novos nacionalismos efascismos, uma recolha sobre si mesmotraz novos perigos de guerras eantagonismos. E os antagonismos entre asnações reativam o antagonismo dasreligiões, principalmente nas “velhas” zonasnucleares do mundo, como a Índia e oPaquistão, ou no Médio Oriente. Oantagonismo entre modernidade e tradição,agrava o antagonismo entremodernidade/fundamentalismo, alimentadois fundamentais : o antagonismo Norte/Sul e Ocidente/Oriente no Planeta (Morin,1993)Estes antagonismos, constituem-severdadeiras zonas sísmicas mundiais,zonas mescladasetnicamente/culturalmente e ao nívelreligioso, como a que vai daArménia/Azerbeijão até ao Sudão, comfronteiras arbitrárias, pseudo Estados,exasperações de toda a espécie.Deste modo, e enquanto durante o séculoXX a globalização económico/tecnológicacriava uma civilização global, a Tecnopolia,também retalhava pela força do Novo sobreo tradicional, um tecido planetário único emNações e Regiões, conduzindo a duasguerras mundiais, à guerra fria, e no séculoXXI a uma espécie de guerra planetáriageneralizada, mas não assumida, pelossenhores da Tecnopolia. Uma Era Bárbarase instala e balcaniza o mundo, confrontadocom a II- Hiper Escolha: Civilizar ou Morrer.

III. A Escolha Eco – Ética e Socia l

Perante esta escolha, expostos, temos deconceber um novo modelo de relaçõessociais, baseado no paradigma Eco- Ético eSocial. Um modelo que deve basear-se nareconstrução dos laços sociais, com anatureza e de economia suficiente.

Como diz Ruffié (1988), daqui para a frentetemos de nos guiar não pelos interesses dedinheiro, mas sim pelos interesses dohomem. Os governos são tentados apenas a gerir asCrises, mas sem êxito apenas asprolongam porque têm de fazer escolhas defundo e de alteração do padrão deorganização, e sózinhos sentem-seimpotentes face à avalanche de poderesmais fortes globalizados.Uma das escolhas essenciais é conseguirque novas formas de cooperação Eco-Socio-Económicas, baseadas nacooperação, ou seja conseguir níveis deorganização transnacionais, reunindoEstados/Sociedades, unidos por fatoresgeográficos/culturais/económicos e ououtros, mas que permitam sobretudo, evitara urgência da disputa, pela emergência deuma Economia Transnacional, Cooperativae Suficiente. Novas organizações quepartilham, e criam redes internas decomunicação rápida, gestão da energia,água, recursos alimentares. Urge a criaçãopois de um paradigma de estrutura orgânicaorganizativa que supere a noção deidentidade nacional, por uma base deidentidade supra nacional ( por exemploEuropa; ou a Lusofonia em países de línguaportuguesa). Um país, mesmo poderoso,

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depressa deparará com o malogro total sequiser mudar a forma como funciona a“máquina mundo sócio-económica epolítica”, devido ao poder dentro damáquina mundo que “a cultura agressiva dolucro e da ação meramenteinstrumental/individual”, possui colocandoos “rebeldes” no plano da exclusão, sejamindivíduos e ou nações.

O Modelo Eco- Ético e Social- O Caminho Múltiplo

1 - Progresso como evolução dos Valores

Toda a conduta humana é manifestação deum propósito e ou intenção de satisfazer umanecessidade em contexto e ou situação, sendoque essa energia deve ser guiada porcaracteres que tornem desejável essarealização. Esses caracteres são chamadosvalores.Os valores expressam a relação que existeentre a pessoa e seus juízos de valor e o objetoem questão. Relação que pressupõe ação, poisao reconhecer esses valores tendemos aaproximar-nos deles.Os valores são sempre vivenciadosindividualmente, mas no contexto socialextraem da cultura as formas decomportamento e as experimentam. Atua nasociedade de acordo com os valores que a suacultura lhe confere. Por isso os valores sãodistintos conforme o ambiente social ecultural dominante olham os atos do Homem.A Ética poderá ser pois um conjunto denormas que dirige o homem para um fim. Afelicidade por exemplo é um fim em si, mas deperspetiva variável culturalmente. Dá sentidoao comportamento do ser humano.Costuma-se classificar os valores em absolutose relativos. Sobre os primeiros pretende-seconstruir uma moral baseada autoridadeabsoluta, exterior ao homem, criadora de

valores universais e permanentementeválidos.A crise de valores da nossa época é negá-los.Os valores absolutos são considerados ideais,abstrações a atingir. Só existem valoresrelativos porque são temporais e próprios dapessoa e ou grupo que os realiza.Na verdade os dois fenómenos derelativização dos valores e a opção por umavida sem reflexão sobre a ação, dominadapela consumo como antivalor decisivo,colocam sobre a Ética uma pressão grandepara ressurgir, tendo sempre como rival amoral, ou a visão acultural da ação humana.A centralidade dos valores, e portanto de umaÉtica, é uma necessidade imanente e de provade vida, face à tecnologização.

A ética, pois, esclarece-nos que valores sãoprincípios ou ideais que se impõem comocategorias que devem conferir sentido aoscomportamentos/condutas do homem na cidade(na polis), por exemplo, os valores da dignidadee da justiça social. O tempo que vivemos é o queLipovetski define como do “Efémero” ou do“Vazio”. Efémero e vazio implicam um declíniodos valores éticos na sociedade, ou no contextodas relações sociais.A centralidade dos valores éticos no campo doServiço Social (como aliás no campo dasrelações sociais), extrai daqui um conflito base, éo novo contexto onde o Serviço Social actua einterage com os campos do conhecimento e daregulação social . E há um novo contexto,derivado da globalização informacional ou dasociedade da informação (Castells), que naspalavras de Fernandes (2007), reforça a cisão(face à tradição e à modernidade), da tríadeverdade - bem e belo, desvalorizando o ideáriodos valores éticos, pelo declínio da modernidade.

O Paradigma Eco-Ético e Social éassumidamente um projeto de Valores (ético),um projeto que questiona o Ser Humano emconstrução, e o mundo (eco) em que se constrói.

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E portanto um processo ao qual não chegaapenas implicar o Código Deontológico, comovimos anteriormente, isto é tem de se implicarnaquilo que se define como a “promoção dobem-estar, o auto conhecimento e a valoraziçãodos indivíduos, grupos e comunidades..”, ouseja, eticamente, tem de definir bem melhor oque é o Bem-estar, partindo de uma perspetivaecologica, ou seja, que não é sem dúvida maismercado, mais consumo, mas mais ser, maisdimensão consciente, outra dimensão que nãoseja de aquisição, mas de encontrar, no processoassociativo e cooperativo, para além do interior,dentro de si próprio, os recursos que acomunidade não consegue já possuir, ouoferecer. Participação consciente na construçãoda vida pessoal e da sociedade.Consciente, ética e ecologicamente envolvidosna participação de uma vida económicasuficiente, espiritual e culturalmente enriquecida,por uma participação política total ecomprometida.

O referencial ético, ou seja, a construção dosujeito ético, presume a atualização do conceitoético, em cada um dos valores que nos implicamnuma nova retórica do Ser, liberto do domíniodo ter, das “coisas”, porque a ética nos convocapara as causas e não por coisas, as coisas tempreço, o homem dignidade (Fernandes, 2007).

Ora a construção dessa dignidade, passa pelacentralidade dos valores, como participaçãoconsciente, na vida em sociedade, comoconsciência vital do mundo, que ultrapassa amera conceção do aumento de renda, e oprocesso limitado ao consumo, como centro deuma economia de “recuperação” da exclusão,que convoca medidas tão imporatantes como oRSI (ou Bolsa família no Brasil), para umavisão, limitadora (de senso comum, mas deencontro ao consenso consumista), em torno, dosgastos com o consumo de bens, como “pequeno

almoço em café”, objeto da critica, pela classemédia (em queda segundo Elisio Estanque,...).O Bem estar, diz respeito á dignidade, que sefunda na liberdade, que tem centro na equidade enão discriminação, cujo foco é a justiça e seuacesso equânime, e cuja responsabilidade socialdos agentes é fundamental, diremos mais,Responsabilidade Eco-Social: com o ser humanoe a natureza.O projeto éticovincula-o a “uma construção daordem societária que permita o desenvolvimentodos seres humanos, salvaguardando o equilíbrioecológico e os direitos das gerações vindouras”.

Pelo que a prática ética, dos valores, e a suacentralidade, é uma prática ecológica, porqueparte, hoje da construção de novas sociedadesbaseadas em recursos escassos, e no risco globalecológico. Os valores em construção, implicam acooperação e associação, a economia suficientesocial, a partilha desses recursos.

Dignidade e não aumento de capacidade deconsumo que pode presumir, colapso imediato einsustentabilidade para as gerações futuras.

Centralidade dos valores e da dimensão eco,global, na prática profissional, e na conceção doethos do serviço social.Ciência e técnica – com consciência e ética,predominando do centro de uma ação, eco-ética.Uma nova Ordem ética, cuja centralidade sejaecocêntrica, visando o equílibrio da comunidadeterrestre. Para isso, o processo dedesenvolvimento ético do serviço social, éorganizar-se de acordo com o paradigma, e ser aponte para a aliança necessária entre entre aspessoas e povos, de modo a serem aliados nesteprocesso de transição dolorosa, para umaeconomia suficiente e de rejeição dosdepradadores do Mercado, aliados uns dosoutros, sob o signo da fraternidade, no campo dajustiça social e da visão eco-social (ecologia-economia e sociedade) como uma reconstruçãoda solidariedade, a partir de baixo, daexperiência ética com o outro (que é também um

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coletivo – comunidades e nações), capaz dereorientar o Estado Social, não para a submissãoa um Estado Privado e delapidado, mas umEstado Gerido, pela comunidade, subjacendo aética do bem-comum, da redistribuição, do PIF,como objetivo, do SER como ómega ponto deasserção.

A ética é central para a recuperação do Ser,como profissional de valores e do cidadão, comocidadão de partilha, averso ao utilitarismo. Umaética, estética.

Sem dúvida que a emergência e a generalizaçãoda tecnociência explicam, a necessáriadeslocação da ciência, para a centralidade dosvalores, ou seja uma ciência também moral.Porque a ação substituiu a contemplação, eportanto a inscrição ética é fundamental, é umamarca que terá definir a centralidade da ação,que sucumbiu, num tempo á neutralidadecientífica.Como nos diz Prigogine, “uma açãomanipuladora, criativa, mas respeitadora danatureza”, ética em suma! Uma ética que serádas coisas, mas também das pessoas.

Uma epistemologia estética, que permite á ética,demonstrar como a centralidade dos valores énecessária para evitar que a barbárie se instale naprodução do sistema científico, e em particular,na construção das tecnologias sociais, como“produtos”, ou evangelhos da comunidadecientífica, porque os objetos empiricos se situamfora da comunidade científica e seu uso e açãoescapam ao próprio controle, Uma epistemologiaestética, porque ética!

2 - Principio da economia suficiente e doconsumo saudável

Contra a economia do crescimento

ilimitado, para uma economia do suficiente,centrada na vida das pessoas, na natureza,portanto não supérflua, que seja ecológica eportanto se interligue e aproveite osrecursos, de forma não exploradora, masintegradora, na participação de todos nasua sobrevivência e meios de vida.Escolher formas ético-eco-solidárias, maisnobres e espirituais, cada satisfação temO foco, é como ir mais além face a este quadroreconhecido e conquistado no propósito doempowerment ecológico, que é sócio-políticodas populações. A reconstrução económica éessencial. Vimos em Boff (1996), que um dosmovimentos essenciais é contra a economia doilimitado, mas por uma economia do suficiente,num contexto de recursos escassos, masilimitadas alianças entre a ciência, a tecnologia,a natureza e o ser humano. O coletivo toma novamente importância pelaorganização de comunidades de “economiasuficiente solidária”, sem desperdicios, avessa áacumulação, á competividade, á exploraçãohumana. Partilha é a base. Atacar a solidão, do idoso abandonado, por umanova política de comunidades, utilizando asredes tecnológicas de alerta, utilizando umaespécie de sentinelas permanentes; mas tambématacar a solidão daqueles que se refugiam porassumirem na psicoesfera dominante que foramos perdedores do mercado; unindo os sobreendividados em grupos de partilha ecomunidades de mercado solidário, assumindoem grupo os processos de mudança para umavida útil, suficiente, não orientada para oconsumo e de combate aos mercados, aosagentes financeiros á agiotagem. Cooperativas,associações, mutualidades, todo o tipo deorganizações, cujo escopo e fim é areintroidução do principio da crença na bondade,na comunidade contra a exploração e pelosprincipios da não acumulação, da liberdade semter como condição a adesão ao mercadousurpador da mesma, da solidariedade real naconquista de processos colectivos identificadoresde pertença. Requalificação humana por um

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ethos consistente que afirme na práxis aalternativa da participação real, da libertação domercado pela construção de mercadosalternativos, de produção conjunta de energiasrenováveis ao serviço de todos e não de élites decondomínio.

Diz, Álvaro Santos (2011), “a ética não é ummero código normativo…Ética é o instrumentopelo qual a profissão reflete sobre o mundo ondeestá inserida”. Nesse sentido e tendo em conta osprincípios éticos, e a análise social, que em TonyJudt (2011), nos indica que “há algoprofundamente errado na maneira como hojevivemos. Durante trinta anos consideramos seruma virtude a procura da satisfação material: defacto, essa procura constitui agora o que resta donosso sentido de vida coletiva”.

Mas, se o que nos resta é só isso, é porqueperdemos a noção do bom, justo, corretoem proveito de um projeto neo liberal queiniciou a ascensão nos anos 70 do séculopassado, e hoje pagamos a longa fatura.Ecologicamente, sociologicamente,politicamente, economicamente, imbricadasque estão as áreas, temos o dever derepensar que o que apresentávamos comoobjetivo, o progresso humano tem de serredefinido, redimensionado, não meramentepara uma conceção materialista, mas acimae sobretudo de realização global do serhumano, que no mínimo passará por ummercado suficiente, controlado porcomunidades exigentes e solidárias eportanto, refundadas. Antes pois, depropormos, deveremos repensar aformulação do que significa progressohumano, hoje, á luz de uma narrativa liberalque oferecia felicidade = consumo,confundindo-se com progresso.

Ora no processo em curso e num modelocentrado nos pressupostos ecologistas,simultâneamente multidimensionais e assentes

no paradigma da complexidade, consumo eprogresso não são de modo nenhum, forma econsequência, não se trata de mecanicismosocial (modelo Newtoniano da Física)! Serámais um pressuposto quântico, aonde convergemos fenómenos mais complexos de auto-eco-organização, que produz autonomia dos própriosfenómenos (Morin, 2001); daí que os fenómenosantropossociais, não poderiam obedecer apenas aum princípio, aparentemente intelegível deprogresso= + consumo = - pobreza e exclusão.Por isso, ainda Morin(2001) é necessárioenfrentar a complexidade e não dissolvê-la ouocultá-la.Sendo verdade, que as definições das finalidadesdo Serviço Social, apontam para uma demandapelo aumento do rendimento disponível, peloaumento da base minima de sobrevivência, pelaeducacação e formação universais, buscando odesenvolvimento individual e colectivo; estasituação não pode ser compaginável com com oideário da economia de Mercado, pois, no seulimite explorativo, não contida pelas barreiras damediação dos Estados, é contraditória com maiorinclusão, e assente numa pedra angular, oConsumo, nas práticas do Serviço Social, nocontexto das democracias representativas,ocidentais e de Estado Social; as finalidades doServiço Social comprometidas com umaeconomia baseada no consumo e uma visãounidimensional da natureza e fenómenoshumanos.

Capacitação para aumentar o consumo, comoempowerment e crescimento, sem perceber, quenuma sociedade que vise o consumo e o lucro, osníveis de consumo desiguais, fazem crescerfossos inultrapassáveis e barreiras, para além dassociais, psíquicas, de descrença e de revolta,contra as formas de democracia, participação esolidariedade apresentadas, porque mais que seaumente o consumo, este nunca alcança o poderde quem faz mover o mesmo. E, de outro modo, esquece, os efeitos nefastosdesta teorização do consumo como processo deintegração, no meio ambiente e nas relações

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humanas baseadas no hedonismo, nadesvinculação e no interesse, na desumanização,na teconologização das relações e dosfenómenos antropossociais.

Antítese da capacitação, envolvimento,participação, solidariedade, auto- construçãodecisória no desenvolvimento bio psico-socioespiritual, porque dependente por essa viaapenas da estreita saída, O Consumo, de umaestrutura não só dominante, como alienante,desviante, eco destruidora, cujas finalidades nãosão as mesmas que as identificadas com as doServiço Social.É o que dizíamos, os interesses dos diversosactores, numa eco-sociedade dominada pelomercado, são tão divergentes, que não permitemmanter o facto do Estado Social, no contexto daterra planagem, nas palavras de Polany (2011..),ou da sociedade de Mercado. Daí que, ao invésde um caminho irreversível para o fim dosfenómenos da pobreza e da exclusão e umcaminho aberto para a participação pró activapara a democracia decisória (governançaparticipada/ substituindo a democraciarepresentativa), e claro para o Ethos fundamentalda solidariedade, temos uma população derendimentos baixos e outros níveis ou camadassociais, ditas da classe média, também emdescenso na escala social, caminhando nairrelevância de um mundo que vai prescindindode milhões de seres humanos, como também daprópria natureza vai prescindindo, como deusesomniscientes. Estes fenómenos criamestupefação, desespero e descrença nosprofissionais de Serviço Social, envolvidos nosanos de formação, pelo manto da mudança etransformação social, pelo carácter contraditório,mas directamente ligados com a ComplexidadeAntropossocial e dos fenómenos que produz.A base, falando do Ethos, que temos de partir éoutra, e remete

Como observamos atrás, mudar a economia, nocampo de uma economia suficiente, é umaescolha política, democrática, terá ir além da

democracia política, reforçando a democraciaparticipativa (decisória), pela democraciaeconómica.A democracia económica e a economiasuficiente são dois elos, deste mesmo processo.Por um lado, democratizar a economia significaretirá-la do domínio dos Grandes gruposMultinacionais que a dominam.

Para isso é necessário é necessário um aumentode consciência da mudança de estilo e padrõesde vida, tomando, simultaneamente consciênciado vazio e possibilidade de radicalempobrecimento que o consumismo doentioconduz cada ser humano nesta sociedade(Fromm).

Esta tomada de consciência está a ser dolorosa,pela via da pauperização de quem antes tinhaacesso a todo o objecto de consumo. Abrutalidade acumulativa, está a criar o axiomafundamental, uma economia suficiente- umaeconomia saudável, uma economia livre doconsumo doentio. Esta mudança não ocorre pordecreto, mas no quadro de um movimento,inspirado nesta nova consciência, movimentoque na prática possa se apropriar dos meios deprodução, ou que possa definir, comoMovimento, influenciar, o que não é maisnecessário como consumo de massas, princípioaliás também a abolir.

3 - A Tecnologia socialmente apropriada

A democratização e solidariedade social só podefuncionar hoje a partir do controle fundamental eapropriado pelos cidadãos das tecnologias, cujaposse está concentrada em poucos setoresmundiais, em conjunto com o financeiro, quetem construido um mundo do consumo e doaprofundamento da exclusão social. ATecnologia domina o mundo e com ela dominamaqueles que controlam de modo não democrático

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o mundo deste e num processo quotidiano.A Tecnologia tornou-se de per si não só odesígnio mais importante ao nível social, comopassou a definir a vida cultural das sociedades,que fatalmente, por falta de alma e ser, se tornanum processo alienante, que desfoca as relaçõeshumanas e sociais. Passando a ser o centro dastrocas, em detrimento da verdade e da ética,fragilizando as trocas emocionais e asorganizações coletivas.A grande questão que se coloca é se a tecnologiaestá socialmente apropriada ou não. Ou seja se adifusão pelo consumo e pela facilidade decontato em rede significou socialmente umaforma clara de democratização das tecnologias?Na verdade, podemos ir além mais, se atecnologia conseguiu mais integração social,menos exclusão social.Ora a Tecnologia, considerando com particularênfase as atuais de informação de acessoindividual, planetário e a qualquer nano segundo,se espalhou a informação e possibilitou partilhado conhecimento, no entanto, e porque geridapor detentores do poder Tecno/financeiro, ela ésobretudo, uma forma de controle e amorfizaçãoso ser humano, que vendo facilitado ao acesso aoconhecimento, produz menos esforço e entregaem troco dessa sublime facilitação, a sua vidatoda a um novo mundo cibernético dominadopor redes complexas tecno-industrais cujoobjetivo último é o domínio financeiro,controlando psicologicamente/socialmente eculturalmente os povos pela uniformização dasnecessidades criadas pelos próprios poderes,com consequente aumento da exclusão social,entre os que detém o domínio tecnológico eaqueles que estão excluídos do próprio acesso,que hoje é de um abismo atroz.A Tecnologia é pois um fator eco-social dedescontrole e produtor de exclusão.Só a a apropriação da Tecnologia pela sociedade,pelo social, de um modo eco-social, ou seja quenão produza danos na natureza e na bioesfera, enão produza mais exclusão, poderá servir delibertação ou motor de liberdade e expansãoespiritual, e não de nova forma forma de

escravidão, como atualmente se apresenta.A apropriação tecnológica passa pelo controlepelos cidadãos, organizados de modoassociativo/cooperativo e partilhado, dosconteúdos e dos proveitos, entre todos.Só deste modo é possível uma Tecnologiasocialmente apropriada e eco-social, semdegradação humano/social e da biosfera.Tecnologia Humanista e Eco-Social, inclusiva econtrolada socialmente por organizações decidadãos e pelos Estados, de modo democrático,associativo e cooperativo.

Em suma a tecnologia deve ser socialmenteapropriada na medida em que deve produzir benspara todos e não apenas para minorias; aomesmo tempo que deve propiciar formas departicipação e controle que escapem daalienação; sendo também ecológicamenteapropriadas, no sentido em que não podemdestruir os ecossistemas regionais e garantir oseu futuro no amor às gerações futuras (Boff,1996).

4 - Reconstruir Comunidades através das redessolidárias

As novas comunidades não podem se basilarapenas numa perspetiva nacional, temforçosamente de se construir a partir do processode globalização, mas numa perspetiva global. Ouseja não se podem confinar a bases estruturaisnacionalistas, mas de comunidades de partilhainternacionais. Ou seja por um lado formam-secomunidades mais pequenas de basecooperativa, por outro se obrigam a partilharrecursos, a partir de um centro Mundial,Governo Mundial Democrático, que estipula oslimites de exploração de recursos e asnecessidades em conjunção com todas as

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comunidades e suas culturas que são patrimóniohumano.São primeiro Comunidades ecológicas, quepercebem que todo o sistema “Gaia”, Planeta,está estruturalmente interligado e não pode haverrupturas locais que não sejam globais.

Por isso os Estados Nacionais, emborafuncionem, serão eles próprios apenas umaestrutura organizativa intermédia, que assegura obem comum, a redistribuição, a justiça próximae uma segurança e serviços de saúdecomunitários, de acesso geral e global, geridoslocalmente, a partir de uma estrutura Estatal quegarante os direitos de cidadania e os deveres docidadão das comunidades.

Na verdade temos de criar alternativas aomodelo social vigente face à tendência deapocalipse social eco-social vigente. Asalternativas passam como vimos atrás, pelascomunidades, como moléculas que se impõecomo atores sociais e se organizam em gruposcriando um outro espaço pós-urbano, nãofragmentado, que quebre e destrua os espaçosestanques eco-sociais, criando espaços vitais decomunicação, ou seja redes entre os “bairros”como vasos aonde o “sangue” humano possacircular com grande fluídez, através dasolidariedade. Retirando do centro os valores do consumo, daacumulução financeira e tecnológica, do lucro eda alienação, comunidades verdadeiras departilha e solidariedade podem ser construídas.Comunidades baseadas no Ser e nas dimensõeseco-sociais-culturais e espirituais dahumanidade.As dimensões da felicidade total, em comunhãoe em modo de realização indívidual. Por issocapazes de serem solidárias ente si, mantendo amaior riqueza: as capacidades de criação humanaexponenciadas e valorizadas até ao limite.

5 - Princípio da não Competição

O princípio da não competição é o princípioessencial ou fundamental que norteia esteParadigma, pois é a partir de um novoinstrumento organizativo, oposto ao atual, oprincípio da competição no seu limite – aexploração -, que se reorganizam todos os outrosinstrumentos de intervenção que são aqui oraexplanados.O principio da não competição organiza-se, nocontexto societal a partir da formação decomunidades alternativas ás do mercado, acomunidade dos indivíduos em relação, emrelação de comutação comunicacional. Substitui-se a compressão, pela mediação associativacompreensiva. O modo associativo como contrapoder do modo lucrativo em que mergulhou todaa sociedade. O modo associativo como forma dereligação social, face à decomposição crescentedo tecido social.Mercados paralelos não lucrativos terão denascer, buscando oferecer justiça e ética narelação económica. Ciência e técnicas espirituaisaparecem juntas como terapia combinada para obem estar individual e grupal. A revolução informática e da net ao serviço desteencontro associativo, aonde toda a informaçãocircula, desvendando a forma como o lucrocorrompe o ser. As verdades mais inconvenientessaem á luz do dia, salta para fora do mundo dacorrupção, do tráfico, dos paraísos financeirosaonde se esconde a ganância que suga 90 % domundo e impõe a grave doença planetária daexclusão social.

6- Prática política com base na democracia emRede, e na defesa das relações saudáveis com anatureza e a sociedade, fim do domínio das eliteseconómicas.

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Sendo de base cooperativa terá de serdemocrática avançada. Deve basear-setambém na reorganização do mundo, emtorno da edificação de uma civilização dohomem, cultura-política e espiritualidadecomuns, uma resposta de união perante odrama da descivilização.

Porque os problemas fundamentais sãoplanetários, conforme Lazlo (1994) nostransmite, a resposta aos mesmos tem deser articulada planetariamente, numa vastarede de organizações supra nacionais.

A disseminação das tecnologias modernasperturba, completamente, o equilíbriodemográfico das sociedades tradicionais(Lazlo, 1994). O aumento da esperança devida, provocou na zona Asiática do Globo,assim como em África, um aumentodemográfico tão significativo (India e China2 biliões de habitantes!!), que os recursosde géneros essenciais escasseiem, edificultem a capacidade de o próprioPlaneta continuar a ser capaz de alimentaresta imensa “espécie”, O Humano. Osproblemas dos recursos alimentares é umadas questões que a Bifurcação de carátereconómico e social no Planeta Global,coloca, com o dramatismo tão intenso,quando associada a outras como, porexemplo o da energia.

A Dignidade Humana, Auto Determinação e aSegurança ficaram ligadas em definitivo noséculo ao consenso sobre o bem comum e ademocracia, enquanto espaço ético-político deliberdade e participação cívica e de protecçãosocial – ligando a aqui com a solidariedade, éportanto a qualidade e capacidade deregeneração da democracia fundamental para osrestantes valores do Serviço Social na descrição,global de de falcão (…).

E na ligação á democracia, uma das Finalidadesessenciais do Serviço Social, A Participação,profundamente correlacionada. Estes saõ outrosdois campos do Ethos que a complexidade damudança alterou completamente a estrutura darealidade social, e por consequência, asfinalidades do próprio Ethos, que não os valoresem si.

Outro do Ethos fundamental é pois o político,ou seja a democracia enquanto valor, etambém enquanto regime político, naspalavras de... “não sendo perfeito, o melhorque a civilização conheceu”. Sim, o serviçosocial se implica socialmente de modo políticoapostando na democracia como valor decisivopara a realização integral do ser humano.Mas que democracia, pretendemos?Eco-democracia, democracia económica,democracia decisória, ou directa por via dociber mundo.Há um consenso, ao nível dos diversosestudos, quer de opinião, quer da investigaçãosociológica e politologa, das insuficiências dademocracia reprsentativa actual (Tony Judt).As instituições parlamentares da “segundavaga” (Alvin Tofler), foram criadas quercomo democracia representativa, quepermitia não anular o conflito mas que eletambém ocorrese em sede de partidosinstitiucionalizados que representariamsectores significativos da sociedade, dosistema produtivo (patrões/operários),cultural e ideológico (conservadores/sociaisdemocratas/marxistas), centrando o conflitona disputa representativa, mas cujas decisõescomeçaram a ficar aquém do que a evoluçãosocial, técnica, ecológica, económicanecessitava.O aparecimento da internet, mundoalternativo, sem representatividade eorientação ideológica, depois dodesaparecimento lento, das ditas classes quecada área partidária representava foi amachadada no sistema democrático, que nãosendo maioritário mundial, era de aspiração

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dos diversos povos. Incapaz de acompanhar amudança fica refém no seu casulo, com osdeputados transformados em meros jogadoresde parca importância, simultaneamente com aqueda da concepção do bem comum, e dosEstados enquanto garantísticos desse bemcomum, as populações sentem que ademocracia representativa pouco asrepresenta e que as decisões que afectam assuas vidas diretamente não passam pelosparlamentos nacionais, e no caso da UniãoEuropeia, muitas vezes nem aí. Formasdiversas, coma base no ciber mundo parecemestar a ser tentadas para substituir, mas osriscos de queda e caos, de retorno ásexperiencias traumáticas do século XX sãoenormes.“ Se não respeitarmos os bens públicos; sepermitirmos ou encorajarmos a privatizaçãodo espaço, recursos e serviços públicos; seapoiarmos entusiasticamente a propensão dasgerações mais novas para cuidarexclusivamente das suas própriasnecessidades (...) então não nos devemossurpreender com a diluição progressiva doempenho cívico nas decisões públicas” (judt,2011).O déficit democrático, é uma consequênciadeste desleixo (propositado nas hostes maisconservadoras), e da relação com astransformações tecnológicas, financeiras, quese interligam com o maior afastamento dosorgãos de decisão, por outro lado, com a asnovas redes sociais mobilizadoras das novasgerações.A insuficiência da democracia representativamanifesta-se neste déficit, que também é umdéficit de representação! O declínio constanteda participação da população nas diversaseleições no Ocidente democrático, mastambém noutras paragens, revela,indiferença e muitas vezes uma crise deempatia em entre os candidatos e eleitores.

- A democracia terá de ser um combate doserviço social pela sua mudança – uma

Democracia Decisória, Participativa emformas diversas, de redes e campos, deafinidades, mas ultrapassando a retóricasimples da representatividade.- A democracia terá de ser um campo de eco-decisão, na medida do que dissemosanteriormente, em que introduz umademocracia económica ou suficiente.Portanto um projeto de progressodemocrático holístico, complexo, global,assumindo não só as decisões polítcas, masclaro, que tudo toca no todo, não há desiçõespolíticas, há eco-democráticas decisões, queafectam todo o universo da tecnologia ásociedade, da biologia, á poesia e cultura.Democracia diversa, decisória, nãorepresentativa, mas participativa, através dosNovos Movimentos das Redes Sociais, que setransformam em eco-ciber-socio-movimentos,passando de papel menor a papel decisivo nasdecisões políticas pela consulta ao quotidianosobre as formas de governança Mundo, eGovernança Comunidades= CiberComunidades= Comunidades reais= Seres emevolução consciente.

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POEMAS:

Como um pássaroperdido

a voz do mar liberta as suas algas omnipotentes

crescendo em direção ao céu.

David Rocha

Poemas Universais

Narciso e biomboUm o outro iluminaBranco no branco

Num atalho da montanhasorrindouma violeta

Matsuo Bashô