Revista Indústria & Competitividade - FIESC
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IndstriaCompetitividade
&
N 6
> S
anta
Cat
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Mar
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201
5
N 6 > M
aro > 2015
NEGOCIAO FUNCIONAPaternalismo da CLT complica vida do trabalhador e da indstria
MQUINAS INTELIGENTESSetor de bens de capital descobre oportunidades na crise
CONCRETO VERDEEdificaes sustentveis convivem bem com recursos escassos
IndstriaCom
petitividade&
Esta poderosa ferramenta de inovao pode transformar a sua empresa. Saiba como
DESIGNA EVOLUO DA INDSTRIA
-
CARTA DO PRESIDENTE
Chega de massacraro setor produtivo
O Brasil vive um momento decisivo para a competitividade e para a prpria sobrevivncia da indstria, que foi colhida por uma enxurra-da de medidas duras do Governo Federal, em nome do ajuste fiscal. Ainda que o ajuste seja necessrio, em funo de polticas erradas implan-
tadas nos anos anteriores pelo prprio Governo, e que tornaram a indstria
brasileira menos competitiva nos ltimos 10 anos, no aceitvel que o setor
produtivo pague uma conta que inclui novos aumentos da carga tributria,
que j uma das mais altas do mundo, e altera regras que orientaram o pla-
nejamento das empresas para 2015. O aumento dos juros e dos combust-
veis e a impressionante elevao dos preos da energia tambm atingiram
a indstria no contrap, num cenrio em que os custos industriais j haviam
crescido 41% entre 2006 e 2013 (CNI, Indicador de Custos Industriais). Como
se tudo isso no bastasse, o setor produtivo sofreu os efeitos dos protestos
de caminhoneiros que paralisaram boa parte do Pas em fevereiro, resultando
em prejuzos entre R$ 400 milhes e R$ 500 milhes apenas para as indstrias catarinenses
diretamente afetadas, segundo clculo conservador.
A indstria defende que as medidas de ajuste fiscal venham acompanhadas de uma
agenda para a competitividade capaz de restaurar a confiana do setor produtivo e dos in-
vestidores. Tais medidas que criaro as condies para a retomada do crescimento e o au-
mento da arrecadao. Essa agenda inclui pontos como a modernizao das relaes traba-
lhistas, a manuteno do Reintegra e da desonerao da folha de pagamento, a reforma do
sistema tributrio e um modelo de concesses que viabilize a participao do setor privado
nos investimentos em infraestrutura. Sem avanos nessas reas, o enorme sacrifcio imposto
ao setor produtivo e aos brasileiros ser intil.
Ao mesmo tempo em que a FIESC luta para melhorar o ambiente institucional, o industrial
catarinense se esfora para tornar a sua empresa mais competitiva. Nessa arena, uma de suas
armas mais eficazes a inovao. Nesta sexta edio da revista Indstria & Competitividade o tema abordado de diversas formas. A reportagem de capa, sobre design industrial, demons-
tra como um processo elaborado de concepo de produtos pode revolucionar empresas dos
mais variados portes e segmentos. Outras reportagens mostram o esforo da indstria de bens
de capital em produzir equipamentos inovadores e de alto valor agregado, e a oportunidade
que a escassez de gua e energia abre para a inovao na construo civil.
Mais do que nunca, a indstria precisa de espao para trabalhar, com menos interferncia
do Governo e maior eficincia das aes do setor pblico. A FIESC est ao lado da indstria
para apoi-la e defend-la das iniciativas que, na prtica, so barreiras aos investimentos,
produo e gerao de empregos.
Glauco Jos CrtePresidente da FIESC
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Indstria & Competitividade 54 Santa Catarina > Maro > 2015
EntrEvistaO paternalismo nas relaes trabalhistas resqucio de outra era e precisa acabar, afirma o economista Hlio Zylberstajn
BEns dE capitalMquinas inteligentes desenvolvidas em Santa Catarina resolvem problemas da indstria local
sustEntaBilidadE Cenrios de escassez de gua e energia valorizam edificaes que economizam recursos
agEnda da indstriaA formao dos engenheiros e os protestos dos caminhoneiros em debate
pErfilA WEG, fundada no dia do aniversrio de cinco anos de Dcio da Silva, tornou-se uma companhia global pelas suas mos
dEsignA indstria catarinense descobre esta ferramenta para inovar com baixo custo e alta taxa de retorno, e ser destaque na Bienal Brasileira do Design de Florianpolis
planEjamEntoPrograma de Desenvolvimento Industrial Catarinense (PDIC 2022) define estratgias para 16 setores
nEgciosA histria de Volmir Meotti, que de comerciante passou a fazer pes e se tornou um importante industrial
EducaoSENAI-SC usa at salas de aula montadas em caminhes para expandir o ensino tcnico
gEntE da indstriaA paixo pela cerveja do jovem mestre Andr Buitoni, de guas Mornas
artigoArmando Monteiro Neto, ministro do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior
IndstriaCompetitividade
&
Federao das Indstrias do Estado de Santa Catarina
PresidenteGlauco Jos Crte
1 Vice-PresidenteMario Cezar de Aguiar
Diretor 1 SecretrioEdvaldo ngelo
Diretor 2 SecretrioCid Erwin Lang
Diretor 1 TesoureiroAlfredo PiotrovskiDiretor 2 Tesoureiro
Egon Werner
Diretoria executiva
Carlos Henrique Ramos FonsecaCarlos Jos Kurtz
Carlos Roberto de FariasFabrizio Machado Pereira
Jefferson de Oliveira GomesNatalino UggioniRodrigo Carioni
Silvestre Jos Pavoni
6
10
18
26
32
56
60
68
70
64
36
SUMRIO
Direo de contedo e edioVladimir Brando
Jornalista responsvelElmar Meurer (984 JP)
Coordenao de produoMarcelo Lopes Carneiro
Edio de arteLuciana Carranca
Edio de fotografiaEdson Junkes
Produo executivaMaria Paula Garcia
RevisoLu Coelho
Colaboradores da edioDigenes Fischer, Fabrcio Marques,
Maurcio Oliveira e Mauro Geres (textos); Eduardo Cesar
e Ivan Ansolin (fotos)
Apoio editorialIvonei Fazzioni, Elida Ruivo,
Miriane Campos, Dami Radin, Leniara Machado, Fbio Almeida
e Heraldo Carnieri
ComercializaoAlexandre Damasio/CIESC
[email protected](48) 3231 4670
www.fiescnet.com.br
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Indstria & Competitividade 76 Santa Catarina > Maro > 2015
ENTREVISTA
buies para o INSS e o Fundo de Garantia por Tempo de Servio (FGTS). Mas a previ-dncia no faz parte da CLT, nem o FGTS. A CLT detalhista. Veja o caso do descanso se-manal remunerado. O trabalhador da indstria tem direito a descansar no domingo e receber o salrio de um dia. Isso, desde que no tenha faltado durante a semana. Por que isso foi fei-to? Porque, naquela poca, a mo de obra no tinha a disciplina da vida industrial. A CLT deu um prmio para quem no falta. Hoje isso no tem o menor sentido. Muita gente costuma di-zer que o 13 encarece o salrio. No verda-de. Joo Goulart era o presidente da Repblica em 1963 e criou de repente o 13 salrio. Mas isso foi ajustado no preo. A inflao de 100%
naquele ano ajudou a diluir o custo. O salrio mensal caiu para acomodar o 13. Mas veja o paternalismo. O Estado estava dizendo o se-guinte: trabalhador, voc um irresponsvel, ento eu vou guardar um salrio para voc. As-sim, voc pode comprar uma boneca para sua filha no Natal. Essa a CLT. Mas ela no enri-jece o mercado de trabalho, porque a qualquer momento se pode demitir.
Qual o impacto da legislao trabalhista
na competitividade da indstria brasileira?
Ela um problema. A Consolidao das Leis do Trabalho (CLT) foi criada nos anos 1930,
1940. O Brasil era um pas agrcola iniciando
a industrializao. A mo de obra vinha do mundo rural e no estava acostumada disci-plina da vida industrial. O presidente Getlio Vargas no queria passar por uma crise pol-tica, com sindicatos nas ruas pedindo legisla-o, e se antecipou. Fizemos a industrializao com um olhar protetor, paternalista, interven-cionista e cooptador do Estado. Hoje, o Pas
outro. Nossos trabalhadores no precisariam desse carinho que sufoca, que a CLT. Est mais do que na hora de pensar numa legisla-o alternativa.
Qual o prejuzo dessa rigidez?
Os empresrios dizem que a CLT enrijece o mercado de trabalho, que muito onerosa. Na verdade, o salrio em si baixo. Mas sobre o salrio se recolhem tributos, como as contri-
Menos paternalismo, mais negociao
A legislao trabalhista do Brasil precisa ser revista em nome da competitividade da indstria e uma alternativa substituir a proteo da lei pela proteo das
negociaes entre patres e empregados, capazes de eliminar amarras obsoletas e prevenir litgios. o que afirma, nesta entrevista exclusiva, o economista Hlio Zylberstajn, professor livre-docente da FEA-USP e presidente da
Associao Instituto Brasileiro de Relaes de Emprego e Trabalho (Ibret).
Por Fabrcio Marques
ser substituda pela fonte de proteo negocia-da. Contratos poderiam ter validade legal sem estar sob o guarda-chuva da CLT. preciso ter
cuidado, para no corrermos o risco de trans-formar o mercado de trabalho numa selva.
Como seria na prtica?
H uma proposta do Sindicato dos Metalrgi-cos do ABC, de um contrato coletivo especfi-co, em que o sindicato pudesse negociar com a empresa alguns pontos da CLT. As meta-lrgicas, quando engravidam, tm seis meses de licena maternidade. Elas gostariam que o sexto e o stimo ms fossem meses de tran-sio. Em vez de ficar em casa o sexto ms
inteiro, ficariam meio dia em casa e meio dia
no trabalho durante dois meses, porque a fa-riam a transio da desamamentao do beb. A CLT no permite essa meia licena. Estou pensando em algo mais ousado: a substituio da CLT pela forma negociada de proteo. A negociao que substituiria a lei teria de obe-decer Constituio e o resto seria regulado
No custa caro?
Para quem trabalhou um ano, a demisso custa um salrio e meio. Aparentemente no cara porque milhes e milhes de demisses ocor-rem. O Brasil, por ano, contrata 20 milhes de
trabalhadores e demite 19 milhes. O uso da demisso virou um instrumento de gesto. No nosso modelo, no h espao para dilogo no local de trabalho. O dilogo ocorre litigiosa-mente na Justia do Trabalho. So 2,3 milhes
de reclamaes por ano. Essa a disfunciona-lidade do sistema: uma legislao paternalista e obsoleta, que acaba induzindo o litgio. Muitos
advogados trabalhistas tm espies nos depar-tamentos de RH e vo atrs dos demitidos. Em geral, o nosso juiz enviesado. Vai procurar uma indenizao, uma conciliao, mesmo que no seja o caso. A liberdade de demitir sai caro. Mas o sistema no rgido. ineficiente.
Como evoluir?
No d para revogar a CLT, mas poderamos
permitir que a fonte de proteo da lei pudesse
Schwartsman: produtividade
requer investimento em infraestrutura,
retomada de reformas e melhor educao
Zylberstajn: sem um espao para terceirizao na indstria, ela perder competitividade
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Indstria & Competitividade 98 Santa Catarina > Maro > 2015
pela negociao. Os conflitos poderiam se re-solver por sistemas de mediao, de arbitragem.
E quanto terceirizao?
Quando se comeou a terceirizar no Brasil,
embora o discurso fosse a busca da eficincia e
da especializao, a realidade era diferente, pois o sindicato que representa os terceirizados em geral mais fraco. Mas se no encontrarmos no Brasil um espao para a terceirizao, va-mos perder competitividade. A tecnologia, o satlite, o computador e a internet permitiram a coordenao da produo de forma horizon-tal e global. Vou reduzir custos espalhando a produo, terceirizando partes do que eu fao e coordenando essa cadeia. Se no pudermos fazer isso no Brasil, estare-mos fora desse bonde. Mas mudanas recentes,
como a da Norma Regula-
mentadora n 12, no so
animadoras.
Esta NR-12 uma coisa
brutal. Est impondo um custo insuportvel para a adaptao das mquinas do parque industrial brasileiro. O argumento : a vida humana no tem pre-o. verdade. Mas at hoje a gente trabalhou
assim. E de repente a minha mquina no ser-ve e eu tenho que trocar? Algum ponto mdio deveria ser encontrado, mas o dilogo difcil.
Como a questo do seguro-desemprego entra
nessa discusso?
O seguro-desemprego uma conquista impor-tante, mas precisa ter um desenho que reduza o uso excessivo e incentive a busca de empre-go. Se for muito generoso e for pago durante muito tempo, ele desestimula a procura por
trabalho. H uns 20 anos era complicado obt--lo. O trabalhador era desligado e enfrentava filas enormes no Ministrio do Trabalho. O
Governo, em vez de melhorar isso, obrigou as empresas a preencherem a requisio. Virou uma coisa automtica. O trabalhador demi-tido e vai Caixa Econmica. Ningum per-gunta se ele tentou arrumar emprego. Estamos gastando muito com o seguro. Para o Gover-no, a causa era a rotatividade. Ela aumentou, mas por iniciativa do trabalhador, que quando pede as contas no o recebe. O que aumentou a despesa foi a maior formalizao e o cresci-mento do salrio mnimo. Agora que entramos
em uma estagnao, talvez recesso, haver de-misses e vai se precisar gastar com o seguro-
-desemprego. Mas os cor-tes do Governo nessa rea atingiro os trabalhadores mais jovens e mais vulne-rveis. O ideal seria pensar em alternativas.
De que tipo?
Em vez de demitir, a em-presa mantm os traba-lhadores. Eles trabalham a metade ou dois teros da
jornada, com reduo proporcional do sal-rio. O seguro-desemprego poderia aportar um complemento de salrio. O Governo gastaria menos e os trabalhadores seguiriam emprega-dos. medida que se recuperasse a produo, isso poderia ser eliminado. No fundo, ns te-mos dois seguros-desemprego no Brasil, por-que o FGTS tambm um seguro-desempre-go. Ele foi feito para substituir a indenizao em caso de demisso para quem tinha muito tempo de casa. E depois ns criamos o segu-ro-desemprego. Parece-me bvio que o que a gente precisa fundir os dois num s.
Fizemos a industrializao com um olhar paternalista
e cooptador do Estado. Hoje, o Pas outro. Est mais do que na hora de pensar numa legislao
alternativa CLT
ENTREVISTA
A PORTONAVE EST EM UMA LOCALIZAO PRIVILEGIADA:
EM PRIMEIRO LUGAR NA MOVIMENTAO
DE CONTINERES EM SANTA CATARINA.
M A I S Q U E U M P O R T O , U M P O L O L O G S T I CO CO M P L E T O .A Portonave o porto responsvel pela movimentao de 45% das cargas conteinerizadas de Santa Catarina e est preparada para aumentar cada vez mais esse nmero. Com investimentos em infraestrutura e equipamentos, est inserida em um complexo porturio consolidado e com servios integrados. Venha crescer com a Portonave.
POR 0002-13HX AN FIESC 175x255MM.pdf 1 02/03/15 11:29
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Indstria & Competitividade 1110 Santa Catarina > Maro > 2015
Robustas,
Assim so As mquinAs industriAis de novA gerAo produzidAs
em sAntA CAtArinA. Com AltA teCnologiA embArCAdA e voltAdAs A
demAndAs espeCfiCAs, elAs Conseguem suplAntAr As importAdAs
por Digenes Fischer
Bens de capItal
na indstria de confeco, o bom aprovei-tamento da matria-prima e a qualidade do corte do tecido so cruciais para ga-rantir economia de custos e qualidade do pro-
duto final. Com setores de corte ainda baseados
em processos manuais, muitas pequenas e m-
dias confeces costumam enfrentar um dilema
quando surge uma oportunidade de aumentar
a produo. mais encomendas implicam na con-
tratao de mais pessoas para trabalhar no corte,
mas cada vez mais difcil encontrar cortadores
capacitados no mercado. uma soluo para esse
gargalo da produtividade destas indstrias surgiu
h pouco mais de seis anos nos laboratrios de
uma empresa catarinense.
lanada em 2008, a Audaces neocut foi a
primeira mquina de corte automatizado de fa-
bricao brasileira. At ento, o investimento
necessrio para adquirir e manter uma mquina
importada praticamente inviabilizava a automa-
o industrial nas confeces de menor porte. o
equipamento importado s vivel para quem
produz no mnimo 500 mil peas/ms. no nosso
caso, temos muitos clientes que compraram uma
mquina e comearam cortando 10 mil peas/
ms, afirma Cludio grando, presidente da Au-
daces, empresa especializada em solues de
automao para a indstria com sede em floria-
npolis. As empresas menores que investem em
um equipamento desses buscam uma produo
extremamente enxuta, flexvel e gil. percebe-
mos que 100% das empresas que automatizaram
sua sala de corte cresceram. Hoje temos muitos
clientes que conseguem perceber uma tendncia
nova e em uma semana ter um produto na rua,
observa grando.
progresso tecnolgico
Alm de ser um exemplo de como a chegada
de uma nova tecnologia capaz de alavancar o
desempenho de uma indstria, o caso da mqui-
na de corte da Audaces mostra o papel essencial
do segmento de bens de capital nos esforos para
aumentar a competitividade das empresas catari-
nenses. As mquinas e equipamentos impulsio-
nam a produo e impem o progresso tecnolgi-
co aos demais segmentos industriais, assim como
as inovaes tecnolgicas elevam a qualidade dos
produtos, diz silvio Cario, professor do departa-
mento de economia da universidade federal de
santa Catarina (ufsC).
importante ter essa indstria no estado na
medida em que ela produz efeitos sobretudo para
trs na cadeia produtiva, alm de gerar novos pro-
dutos, renda e emprego, ressalta. o estado de san-
ta Catarina um dos principais produtores brasilei-
ros de mquinas e equipamentos, responsvel por
6% do valor bruto da produo industrial do pas,
segundo o ibge. o setor enfrenta a forte concorrn-
cia de mquinas importadas, que se tornaram mais
competitivas graas ao cmbio nos ltimos anos
(veja os quadros).
parte das indstrias ainda est voltada produ-
o de mquinas padronizadas, com pouco apor-
te tecnolgico e baixo nvel de automao, mas E inteligentes
porm flexveis.
Grando, da Audaces: ambiente multitecnolgico favorece o setor
EdSo
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kES
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Indstria & Competitividade 1312 Santa Catarina > Maro > 2015
cada vez maior o nmero de empresas catarinen-
ses que investem na produo e desenvolvimento
de mquinas com tecnologia embarcada, produ-
zidas sob encomenda e voltadas para demandas
especficas. so as chamadas mquinas inteligen-
tes, com elevado valor agregado. um segmento
onde a concorrncia ocorre via personalizao e
diferenciao produtiva, e no apenas pelo preo,
diz Cario, ressaltando que para isso so necessrios
investimentos em pesquisa e desenvolvimento, la-
boratrios de testes, consultorias externas, alm de
manter uma relao prxima com universidades e
centros de pesquisa.
santa Catarina se destaca pelo seu ambiente
multitecnolgico, com uma
diversidade muito saudvel
para as indstrias de bens de
capital. Alm de pessoal alta-
mente capacitado, ns temos
muitos polos de tecnologia
de software, eletrnica e me-
catrnica, acrescenta Cludio
grando. Acabamos formando
uma rede de conhecimento,
com empresas trocando mui-
ta informao entre si e s ve-
zes at se tornando fornece-
doras umas das outras. Antes
de comear a fabricar plotters
Lichtblau, da Automatisa: foco em calados e confeces
industriais e mquinas de corte, a Audaces se es-
pecializou no desenvolvimento de softwares para
empresas do setor txtil, mercado que atende
desde 1997, quando deu seus primeiros passos na
incubadora Celta, da fundao Certi. em 2001 co-
meou a produzir os primeiros plotters para con-
feco at lanar sua primeira mquina de corte,
sete anos depois.
passar de desenvolvedor de software para
fabricante de mquinas e equipamentos exigiu
muita pesquisa e investimento, com a agregao
de conhecimentos de eletrnica, mecnica e en-
genharia de produo. A tecnologia foi trabalhada
internamente por trs anos antes do lanamento
da primeira mquina. os in-
vestimentos incluram a inau-
gurao de um parque fabril
em palhoa, na grande flo-
rianpolis, para a montagem
das mquinas. desde ento
somos capazes de automati-
zar todo o processo da inds-
tria de confeco, dos dese-
nhos do estilista at o tecido
cortado, conta grando. Hoje
o setor txtil ainda respon-
svel por 80% da carteira de
clientes da Audaces, mas ela
tambm vende verses adap-
tadas de suas mquinas de corte para as indstrias
automobilstica, aeronutica e naval, bem como
para fabricantes de blindados, bolsas e estofados.
ps-venda
Com uma trajetria semelhante, a Automati-
sa tambm comeou sua trajetria incubada no
Celta e teve como primeiros clientes indstrias do
ramo txtil. sediada em so Jos e especializada
em mquinas de corte e gravao a laser, a empre-
sa cresceu atendendo encomendas de mquinas
customizadas, com ateno especial para o servio
pr e ps-venda, incluindo consultoria no processo
produtivo que o cliente pretende implantar, treina-
mento de operadores e garantia de at dois anos.
oferecemos todo esse servio acoplado ao bem
de capital, o que d ao nosso cliente uma posio
muito mais tranquila, explica marcos lichtblau,
presidente da Automatisa. Atualmente, 50% dos
clientes ainda so do setor de confeco. A outra
metade composta principalmente por inds-
trias de calados e de processamento de acrlico
para comunicao visual e brindes, alm de alguns
clientes do ramo automotivo e metalmecnico.
A inovao e o desenvolvimento de novos
produtos so pontos-chave na estratgia de cresci-
mento. em setembro passado a Automatisa lanou
uma verso de mquina de corte a laser adaptada
para processamento de jeans. o equipamento
capaz de reproduzir as tcnicas mais comuns bi-
gode, lixado, used, destroyed, pudo , assim como
estampas e gravao de imagens e cenrios. Alm
de padronizar e agilizar o beneficiamento das pe-
as, a tecnologia traz um benefcio ambiental ao
reduzir o volume de efluentes
emitidos pela indstria. Com
o uso do laser, os processos
Bens de capItal
Desempenho estvelVBPI da indstria de mquinas e equipamentos de Santa Catarina
(em R$ bilhes)
Fonte: IBGE PIA, 2012; FGV, 2012. Valores deflacionados pelo IPA-oG a preos de 2012obs: VBPI (Valor Bruto da Produo Industrial)
5,36,13
6,69 6,83
2009 2010 2011 2012
A forA DAs mquinAs Brasil santa Catarina participao de sC
* VBPI (2012) R$ 105,6 bilhes R$ 6,3 bilhes 6,0%Empresas (2013) 14.712 1.556 10,6%Empregos (2013) 428.140 43.527 10,2%Exportaes (2014) US$ 10,3 bilhes US$ 928,6 milhes 9,0%Importaes (2014) US$ 28,9 bilhes US$ 1,8 bilho 6,4%
Fonte: IBGE PIA, 2012; FGV, 2012; TEM RAIS, 2013; MdIC. (*) VBPI (Valor Bruto da Produo Industrial)
edso
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kes
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Indstria & Competitividade 1514 Santa Catarina > Maro > 2015
Schmidt, da Indumak: primeiro rob paletizador fabricado no Brasil
de lavanderia ficam mais rpidos, o consumo de
gua reduzido metade e o uso de qumicos
pode ser evitado, acrescenta lichtblau.
A diversificao da linha de produtos com
solues ambientalmente responsveis tambm
foi o caminho adotado por uma veterana no seg-
mento de bens de capital. prestes a completar 45
anos, a Albrecht, de Joinville, tem sua trajetria
ligada ao fornecimento de mquinas para inds-
tria txtil, mas seus equipamentos para secagem
de lodos tm alcanado destaque expressivo no
mercado nacional, principal-
mente nos segmentos de
saneamento e tratamento
de resduos industriais. o
segmento txtil trouxe-nos
o reconhecimento como fa-
bricante de mquinas e nos
apresentou uma oportuni-
dade quando identificamos
a necessidade de reduzir o
volume de lodo gerado nas
estaes de tratamento de
efluentes, conta Waldir Al-
brecht, diretor-presidente da
empresa. A partir do desen-
volvimento do secador de lodos, em 2000, abri-
ram-se portas de outros segmentos geradores de
resduos, incluindo indstrias de papel e celulose,
curtumes e frigorficos. Hoje a Albrecht mantm
trs linhas de produtos para diferentes aplicaes:
a linha azul, que inclui mquinas para beneficia-
mento txtil; a linha verde, voltada para a rea am-
biental; e a linha amarela, focada em sistemas au-
tomatizados de movimentao e armazenagem.
produto ecovivel
na rea txtil, a Albrecht pioneira na fabrica-
o de equipamentos contnuos de lavao, com
mquinas capazes de processar tecidos com con-
sumo de gua 80% inferior aos processos conven-
cionais. um produto ecovivel, representando
um ganho produtivo com economia de gua e
energia, observa Albrecht. no setor de papel e
celulose, ele destaca o equipamento para seca-
gem de lodos que reduz drasticamente a quanti-
dade de resduos destinados a aterros sanitrios.
esse projeto nasceu em 2003, nos ensaios de
prototipagem da empresa, e evoluiu em parceria
com os clientes, alm da ufsC e da finep, em-
presa de inovao e pesquisa vinculada ao minis-
trio da Cincia e tecnologia.
no segmento de saneamen-
to, h outro projeto com alto
grau de p&d e pioneiro no
brasil: um secador de lodos
combinado com gerador de
calor para secagem trmica
e cogerao de energia el-
trica a partir do biogs.
outra empresa catari-
nense com grande tradio
no mercado brasileiro de
bens de capital a indumak,
de Jaragu do sul, espe-
cializada em solues para
empacotamento, enfardamento e paletizao
de produtos industriais. fundada em 1963, co-
meou como uma oficina de tornearia e hoje
conta com mais de 8,5 mil mquinas instaladas
no brasil e no exterior, e um parque fabril de
5.150 metros quadrados. desde o incio nossa
caracterstica foi trabalhar com produtos da cesta
bsica: arroz, farinha, acar, etc. Atendamos ba -
sicamente agroindstrias, diz gelson schmidt,
diretor-presidente da empresa. mas como o
mercado de produtos agrcolas sofre muita os-
cilao, acabamos dependendo muito do rumo
do agronegcio. mais uma vez, a soluo para
crescer foi diversificar a produo, buscando
clientes na rea de construo civil (com mqui-
nas para acondicionamento de produtos como
argamassa, rejunte e tinta em p) e tambm na
indstria de componentes eltricos e hidrulicos
(plugs, adaptadores, interruptores).
A inovao e a prospeco de novos mer-
cados mantiveram a empresa competitiva ao
longo do tempo. H dez anos, um segmento
at ento inexplorado pela empresa comeou
a migrar fortemente do trabalho manual para a
produo automatizada: a indstria de empaco-
tamento de gelo. na avaliao do presidente da
indumak, existem hoje cerca de 130 mquinas
instaladas em empresas fabricantes de gelo em
todo o brasil. dessas, 115 foram fabricadas pela
empresa de Jaragu do sul. A indumak comeou
a explorar este segmento h dez anos e hoje
detm cerca de 90% do market share nacional.
A quantidade de mquinas instaladas ainda
pouca, mas so equipamentos de grande valor
agregado que custam entre r$ 200 mil e r$ 230
mil, diz schmidt.
A necessidade de agregar mais tecnologia
e valor a seus produtos fez com que a indumak
investisse na criao de
uma diviso especfica de
robtica para desenvolver
o primeiro rob paletizador
fabricado no brasil. lanado em 2011, o rob vem
com um software que prev a real aplicao do
cliente, sugerindo e definindo a melhor forma de
empilhamento e organizao dos produtos sobre
o pallet. Alm de ser capaz de giro em 360, o bra-
o robtico permite a troca do sistema de garras,
o que possibilita seu uso com fardos, caixas ou
sacarias. A exigncia dos clientes por uma solu-
o na fase final de empacotamento, somada
dependncia de um fornecedor para importao,
fez com que optssemos por desenvolver nosso
prprio projeto, afirma schmidt.
percebendo a mesma necessidade junto a
seus clientes na indstria agroalimentar do oes-
te catarinense, Claudimar bortolin, fundador da
torfresma industrial, chegou mesma concluso
que schmidt: a paletizao robotizada era uma
tendncia que vinha para ficar. tive essa per-
cepo ainda em 2009, quando a agroindstria
Bens de capItal
ren
Ald
o J
un
kes
BurACo nA BAlAnASaldo do comrcio exterior de bens de capital (exportaes menos importaes) em US$ milhes
Ano Brasil santa Catarina
2011 -17.603,8 -646,7
2012 -18.475,5 -632,7
2013 -21.944,9 - 809,9
2014 -18.552,5 - 917,6Fonte: MdIC
-
Indstria & Competitividade 1716 Santa Catarina > Maro > 2015
mentos para desenvolver
uma cadeira ergonmica
para os trabalhadores que
faziam funes repetitivas
na empresa. Com o sucesso do produto, Claudi-
mar passou a oferec-lo para outras companhias
alimentcias e conhecer de perto o ambiente de
produo. eu ia demonstrar a minha
cadeira em uma sala de corte de carne
e ficava s imaginando quantas opor-
tunidades havia ali para desenvolver
novos equipamentos.
essa aproximao fez com que, a
partir do ano 2000, ele decidisse mu-
dar o foco e se dedicar inteiramente a
solues para o segmento frigorfico.
tudo corria bem at 2008, quando a
empresa chegou ao seu pice de capa-
cidade produtiva depois de assinar um
contrato para equipar um complexo
da sadia em lucas do rio verde (mt).
mas a a crise atingiu a agroindstria e
tivemos que buscar uma sada no de-
Bortolin (esq.), na linha de produo da Torfresma: crise abriu oportunidade
entrou em crise e tivemos que inovar em nossos
produtos ao mesmo tempo que atendamos a
uma demanda por mais produtividade e eficin-
cia na cadeia produtiva, conta bortolin. ex-aluno
do senai, ele criou a empresa em 1993 para pres-
tar servios de tornearia, fresagem e manuteno.
em 1998, recebeu uma encomenda da Aurora Ali-
senvolvimento de novas linhas de produtos mais
de acordo com os novos tempos, conta bortolin.
Com o desenvolvimento de um rob paletizador
especfico para o setor, a empresa conseguiu no-
vamente a ateno do mercado, e acabou se tor-
nando a propulsora da automao no segmento
frigorfico no pas.
emirados rabes
Contando atualmente com 210 colabora-
dores e uma rea fabril de mais de 6 mil metros
quadrados, a torfresma tem ampliado sua atu-
ao para alm dos frigorficos, atendendo ou-
tras reas da indstria alimentar com lavadoras
e esterilizadoras, mquinas para produo de
alimentos industrializados, transferncia e logs-
tica de caixas, empacotadoras e encaixotadoras
automticas. As solues so modulares e custo-
mizveis a todo tipo de estrutura produtiva. pos-
so dizer que a cada 10 agroindstrias brasileiras,
pelo menos seis tm hoje algum equipamento
da torfresma instalado.
no ano passado, a empresa fechou contrato
com a brf para fornecer mquinas para a fbrica
de Abu dhabi, nos emirados rabes unidos. so
mquinas para a linha automtica de hambr-
gueres, steaks e empanados. primeiro fomos cha-
mados para projetar o fluxo do processo de em-
balagem dos hambrgueres. depois, a brf pediu
oramento a fabricantes de mquinas de diversos
pases e acabamos conquistando tambm o pe-
dido de parte das mquinas da planta no oriente
mdio, conta bortolin, que mesmo assim prioriza
95% das suas vendas para empresas brasileiras.
temos um grande mercado no brasil para aten-
der e muito espao para implantar a automao
em diversos setores produtivos.
Bens de capItal
ivA
n A
nso
lin
/Ag
nC
iA iA
f
EUA Mxico Argentina Paraguai China
China Alemanha Itlia EUA Noruega
18 13 8 7 5
48 10 7 7 4
prinCipAis Destinos DAs eXportAes De sC (% - 2014)
prinCipAis oriGens DAs importAes De sC (% - 2014)
obs: de bens de capital
-
Indstria & Competitividade 1918 Santa Catarina > Maro > 2015
Diante De perturbaDores cenrios De escassez De recursos e Da
possibiliDaDe De proporcionar mais conforto, a construo civil
avana no conceito De green builDing
por Maurcio Oliveira
Marcelo Gomes e o Office Green:
conceito ampliado de construo
sustentvelEdSo
n J
un
kES
SUSTENTABILIDADE
prdios futurodo
Osj esto de p
impulsionado pela vulnerabilidade hdrica que atingiu em cheio o brasil, o conceito de green building como so conhecidas internacional-mente as edificaes sustentveis ganha espao
na construo civil. so projetos que incorporam
uma srie de benefcios ambientais, a exemplo
de reuso de gua, gerao prpria de energia e
aproveitamento da iluminao natural. alm de
se habilitar a enfrentar os desafios da escassez,
esse mercado se alimenta do fato de que inves-
timentos na sustentabilidade das construes se
relacionam com o conforto e a sade de quem vai
ocupar os imveis.
um estudo divulgado no final do ano passado
pelo World green building council, que concede a
certificao leeD (leadership in energy and envi-
ronmental Design), considerada a mais importante
do setor, relacionou atributos do projeto e dos ma-
teriais usados em edifcios comerciais ao desempe-
nho dos profissionais e aos ndices de absentes-
mo, licenas mdicas e at nveis de rotatividade.
De acordo com o estudo, a melhoria do ar interior,
com altas taxas de ventilao e baixas concentra-
es de dixido de carbono, pode ser responsvel
por elevar a produtividade em at 11%. algo seme-
lhante ocorre em relao poluio sonora, que
irrita e provoca distraes. mas o fator considerado
-
Indstria & Competitividade 2120 Santa Catarina > Maro > 2015
naturais. Do custo total de um prdio em seus 50
anos de vida til, apenas 20% esto na construo
e 80% estaro na manuteno ao longo do tempo.
Quem conhece e entende esse grfico percebe o
quanto importante investir em sustentabilidade
na fase da construo, diz gomes.
a evoluo tecnolgica e a maior escala de
adoo das tcnicas e equipamentos relacionados
sustentabilidade levaram a uma queda dos pre-
os na ltima dcada. o custo de construo de
um prdio sustentvel fica ainda em torno de 15%
acima do cub, mas essa diferena j foi bem maior
e agora pode ser recuperada num horizonte de cin-
co anos, diz o diretor administrativo e de qualidade
1.060empreendimentos
possuem certificao LEED no Brasil.
S os EUA e a China tm mais
balhadores, seguindo a proposta de construir um
bairro em que as necessidades principais da vida
se concentrem numa rea reduzida e verticaliza-
da, tendncia do urbanismo contemporneo.
a sustentabilidade dos prdios comerciais
um atributo essencial do empreendimento, mas
nem sempre fcil convencer os clientes em po-
tencial de que vale a pena pagar um pouco mais
por detalhes que no do retorno imediato. um
exemplo so os ps-direitos altos, com 2,95 metros
do piso laje 35 centmetros acima do padro do
mercado , fator que contribui para o isolamento
acstico entre os pisos e maior conforto trmico,
com aproveitamento de ventilao e iluminao
comerciais do prdio j foram vendidas.
o atrium, outro prdio de escritrios que est
em construo na pedra branca, com 192 salas e
entrega prevista para setembro de 2016, foi proje-
tado para chegar categoria ouro da leeD, faixa
de pontuao que vai de 60 a 80. os principais
ganhos em relao ao office green
esto na otimizao da performan-
ce energtica, com um sistema de
ar-condicionado capaz de atingir a
mesma eficincia utilizando menos
energia, e o melhor desempenho
dos vidros na misso de reduzir o
calor sem prejudicar a luminosida-
de. Dentro do conceito ampliado de
sustentabilidade que o projeto ado-
ta h tambm a preocupao em
contemplar expectativas dos novos
profissionais, como a de desfrutar
ambientes de trabalho mais flex-
veis, descontrados e conectados a outras dimen-
ses do cotidiano por conta disso, o hall de en-
trada do atrium ter lojas, cafs e salas comerciais.
Queda de preos
iniciado h 14 anos e impulsionado pela insta-
lao do campus da universidade do sul de santa
catarina (unisul), o projeto da cidade criativa pe-
dra branca tem perspectiva de mais duas dcadas
de desenvolvimento at alcanar o potencial de
1,7 milho de metros quadrados de rea constru-
da, suficiente para abrigar 40 mil moradores e 30
mil trabalhadores a inteno que haja a maior
interseo possvel entre esses grupos. cerca de
12 mil pessoas j circulam diariamente pelo bairro,
entre moradores, trabalhadores e estudantes. os
prdios residenciais vo do luxo aos mais popula-
res, diversidade que permite o convvio de classes
sociais e a disponibilidade de diversos tipos de tra-
mais decisivo para a produtividade a proximida-
de com grandes janelas, especialmente quando
voltadas a paisagens agradveis da natureza.
J foram emitidos 1.060 certificados leeD
no pas, a maior parte para imveis de natureza
comercial, a exemplo de prdios de escritrios,
shoppings e hotis. o primeiro
edifcio comercial catarinense
a obter o certificado o office
green, localizado na praa cen-
tral da cidade criativa pedra
branca, um bairro planejado de
palhoa que tem como prin-
cpio possibilitar que moradia,
trabalho, estudo e lazer se con-
centrem em um mesmo ncleo
urbano, reduzindo a necessida-
de de deslocamentos. o bairro
incorpora um conceito mais am-
plo de construo sustentvel,
que abrange todo o ambiente em torno dos im-
veis. o escritrio sustentvel apenas parte de
uma vida sustentvel, um elemento que precisa
estar integrado s outras dimenses do cotidia-
no. De pouco adianta sair de um prdio bem pla-
nejado e pegar quilmetros de engarrafamento
para chegar em casa, afirma o diretor-executivo
do empreendimento, marcelo gomes.
inaugurado no ano passado, o office green
obteve 57 pontos num total possvel de 100, o
que o colocou na categoria prata da certificao
do leeD. contriburam para o reconhecimento
aspectos como o uso de materiais ambiental-
mente corretos tintas base de gua, cermica
nas fachadas, ao reciclado, madeira certificada
e a utilizao consciente da gua e da energia
eltrica, com lmpadas ecoeficientes, sensores
de presena, elevadores inteligentes, aprovei-
tamento da chuva e sistemas hidrulicos que
proporcionam economia. Duzentas das 180 salas
SUSTENTABILIDADE
EdSo
n J
un
kES
Baptista, diretor da Dgitro, e desenho
do prdio da empresa: vidros com pelculas
barram o calor
-
Indstria & Competitividade 2322 Santa Catarina > Maro > 2015
para uma semana de uso a iniciativa compro-
vou ser to vantajosa que a capacidade est sen-
do ampliada para 100 mil litros. alm da diminui-
o dos custos, a estrutura livra a empresa e seus
funcionrios de sofrer com as crises sazonais de
fornecimento de gua.
os vidros do prdio tm pelculas que deixam
passar praticamente 100% de luminosidade, mas
apenas 30% do calor, combinao que represen-
ta uma reduo considervel na necessidade de
aparelhos de ar-condicionado. para melhorar ainda
mais o desempenho do sistema, clulas fotovoltai-
cas em implantao vo produzir energia suficiente
para a iluminao interna diurna. outro truque a
cor branca escolhida para as
paredes do prdio que so
revestidas de pastilhas, para
reduzir o custo da manuten-
o com tinta e tambm
para o telhado, o que aumen-
ta o ndice de reflexo da luz
solar. esses detalhes fazem a
temperatura interna ser redu-
zida em um grau e meio.
atento crescente de-
manda por construes
sustentveis, o sindicato da
indstria da construo civil
(sinduscon) da grande flo-
rianpolis criou no final do ano passado o selo
verde, em parceria com a fatma, para certificar
empreendimentos com planos adequados de
gesto ambiental e facilitar, nesses casos, o tr-
mite das documentaes e licenciamentos. para
o vice-presidente de meio ambiente e susten-
tabilidade do sindicato, olavo Kucker arantes,
a construo civil j evoluiu muito em relao
a essas questes, mas a fase agora de investir
na especializao dos profissionais envolvidos.
estamos em um processo de franco amadureci-
conceitualmente as duas grandes vocaes eco-
nmicas da capital catarinense: o turismo, que est
diretamente relacionado preservao do meio
ambiente, e a tecnologia, setor de atividade da D-
gitro, descreve baptista.
no projeto da Dgitro, a captao da chuva
supre todos os sanitrios, detalhe que contribui
para que a conta de gua do prdio, frequentado
por 500 funcionrios, no chegue a r$ 2 mil por
ms. Duas horas de chuva abundante abastecem
os 60 mil litros do reservatrio, volume suficiente
R$ 16,6 bi Valor total das construes sustentveis no Brasil em
2013, correspondente a 10% do PIB de edificaes
da Dgitro, luiz aurlio baptista. incluem-se nessa
projeo a queda das despesas com energia e gua
e a economia com a manuteno do prdio.
a Dgitro construiu a nova sede, na entrada de
florianpolis, com base em uma srie de princpios
pesquisados com cuidado ao longo de dois anos,
que incluiu uma anlise criteriosa do know-how e
da reputao dos fornecedores. alm da perspec-
tiva de obter vantagens financeiras a longo pra-
zo, o projeto foi desenhado tambm pelo ganho
institucional que representaria. Decidimos fundir
mento do setor, diz. Quem toma conhecimento
das vantagens de um imvel verde percebe o
real valor disso.
Normas mnimas
fornecedores da construo civil j percebe-
ram. a tigre tem linhas de produtos sustentveis
para prdios comerciais e industriais, que vo da
canalizao de gua e esgoto rede de energia
eltrica e telefonia. J a Docol, fabricante de me-
tais sanitrios, lanou no fim do ano passado uma
linha de torneiras e misturadores, a blend flex,
que possibilita at 70% de economia de gua.
a tecnologia Docolpresen-
ce possibilita o acionamento
de torneiras e descargas sem
contato fixo e a interrupo
do fluxo assim que o usurio
se afasta. com essas e outras
tecnologias, a Docol se gabari-
ta como a maior fabricante de
produtos economizadores de
gua do brasil.
J no plano institucional, o
conselho brasileiro de cons-
trues sustentveis (cbcs)
lanou recentemente um am-
plo estudo com sugestes de
polticas pblicas e diretrizes para incentivar pro-
jetos que promovam uso racional de gua, efici-
ncia energtica e seleo adequada de materiais.
as iniciativas consideradas mais importantes so o
treinamento e a capacitao de projetistas e cons-
trutoras; a ampliao das alternativas de incenti-
vo e financiamentos; e a adaptao da legislao
para estabelecer padres e normas mnimos de
desempenho da construo civil. os desafios cada
vez mais urgentes sugerem que no se perca tem-
po em adotar as resolues.
SUSTENTABILIDADE
A fbrica 100%Na GM de Joinville no h gerao de resduos e a gua reciclada volta ao processo industrial
As plantas industriais tambm esto se adaptando tendncia das construes susten-tveis. um bom exemplo catarinense a fbrica de motores e cabeotes da General Motors em Joinville. Inaugurada em 2013 aps investimen-tos de R$ 350 milhes, a unidade recebeu no ano seguinte a certificao LEEd categoria ouro, tornando-se a primeira fbrica do setor automo-tivo a obter a distino na Amrica Latina.
um sistema de energia solar com 1.280 m-dulos fotovoltaicos foi instalado para aquecer 15 mil litros de gua por dia e iluminar a fbrica e os escritrios, o que evita um consumo equivalente ao de 220 residncias e a emisso anual de 17,6 toneladas de dixido de carbono. outro desta-que o sistema de osmose reversa para filtrar a gua reciclada e permitir seu uso industrial, re-sultando na economia de 22,9 milhes de litros por ano, volume de nove piscinas olmpicas. Cem por cento dos resduos industriais so reciclados, enquanto o esgoto e efluentes so tratados ini-
FoTo
S: d
Ivu
LGA
o G
M
Panorama da fbrica de motores (no alto), jardins filtrantes e mdulos fotovoltaicos: LEED categoria ouro
cialmente por meio de jardins filtrantes, que re-movem 90% dos poluentes sem utilizar produtos qumicos apenas a prpria vegetao e redu-zindo em 60% o consumo de energia eltrica.
-
Indstria & Competitividade 2524 Santa Catarina > Maro > 2014
MaiS Calor, MenoS gua e ConSuMo eM alta requereM inovaeS eM larga eSCala da indStria de ConStruo Civil
Tecnologia para tempos fechados
Nos ltimos 50 aNos multiplicou-se por 3 a quantidade
de gua retirada da natureza
A disponibilidade hdrica no Brasil 4,5 vezes maior que a dos EUA e 21,5 vezes maior que a da China.
Porm, 81,8% das guas disponveis se encontram na Amaznia
Fontes: CBCS, Data360.org, Dgitro, EPE, GBC Brasil
Consumo per capita de gua (litros por dia)
O custo de implantao de um prdio sustentvel at 15% mais caro, mas as vantagens so evidentes
seriam necessrios para suprir o consumo de gua
da populao mundial, se todos consumissem tanto quanto os norte-
americanos
36,4%ndice de perdas na distribuio de
gua tratada na Regio Sul do Brasil
Aumento da temperatura mdia
no Sul do Brasil previsto at o fim
deste sculo
3oC3,5 PLANETASTERRA
Bens escassosgua e energia |
Custo x Benefcioresultados |
Como fazerPrdio sustentvel |
ClulaS fotovoltaiCaS Convertem energia solar em eletricidade e contribuem com o sistema energtico do prdio du rante o dia
BRiSeS Instalados nos beirais, bloqueiam o excesso de luz solar e atenuam a entrada de calor
aqueCimento SolaR Utiliza a energia do sol para aquecer a gua usada nas pias e chuveiros
vidRoS eSpeCiaiS Bloqueiam at 70% do calor, sem reduzir a luminosidade natural. Cumprem tambm a funo de isolamento acstico
pintuRa ClaRa O uso de tinta branca nos telhados contribui para a reflexo da luz solar e reduz a absoro de calor
paRede ReveStida de CeRmiCa O uso de pastilhas claras nas paredes externas contribui para refletir a luz solar e reduz custos com pintura
Captao de gua Apro veitamento da gua da chuva para fins no potveis, especialmente descarga de sanitrios
BeiRaiS amploS Facilitam a captao de gua da chuva e a manuteno externa do prdio
Coleta Seletiva Separao por tipo de resduo, incluindo postos de coleta de materiais como leo de cozinha, lixo eletrnico, pilhas e baterias
tRatamento de eflu enteS Processo biolgico que possibilita purificao de at 90%, com utilizao da gua resultante na irrigao dos jardins
(*) caractersticas do prdio da Dgitro, em Florianpolis
575
366
187
eua
374Japo
mxico287
frana
O Brasil o quinto maior mercado mundial de condicionadores de ar
A mdiA de 0,23 ApArelhos por domiClio.
Em 2050 SEro 0,65
30 %35 %50 %80 %
8 % queda nos custos operacionais
reduo mdia no consumo de energia
diminuio de emisses de gases de efeito estufa
reduo no consumo de gua
diminuio no descarte de resduos gerados
Brasil
SUSTENTABILIDADE
63 mILhESnmero de residncias no Brasil
98 mILhESnmero estimado para 2050
Consumo mdio residencial de energia (kWh/ms)
Ano Brasil Santa Catarina
2009 150,1 195,82010 154,0 195,2 2011 155,8 196,12012 158,9 199,12013 163,0 201,8
do consumo total de energia eltrica do pas
realizado pelas edificaes (incluindo residncias, edifcios
comerciais e pblicos)
48%
Indstria & Competitividade 2524 Santa Catarina > Maro > 2015
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-
Indstria & Competitividade 2726 Santa Catarina > Maro > 2015
De acordo o Ministrio da Educao e do IBGE,
h 680 mil engenheiros empregados no Pas, mas
apenas 42% atuam em sua rea de formao e pou-
co mais da metade est na indstria. Cerca de 5%
dos diplomados no Brasil so formados em enge-
nharia, enquanto nos pases desenvolvidos a mdia
de 12%. Sete em cada dez indstrias apontam a
falta de pessoal qualificado como principal barreira
para desenvolver inovaes, segundo a Pesquisa de
Inovao Tecnolgica (Pintec) de 2011.
para atender a essa demanda que a FIESC rea-
liza em Lages, com a Universidade do Planalto Cata-
rinense (Uniplac), um curso de engenharia de abor-
dagem mais prtica, contando com o suporte dos
laboratrios do SENAI. A escassez de profissionais
especialmente sentida em perodos de crescimen-
to econmico. A demanda por engenheiros cresce
a um ritmo duas vezes maior do que a expanso
do PIB industrial. Infelizmente, nos ltimos trs anos
a demanda no vem sendo pressionada no Brasil,
O ENSINO DE ENGENhArIA DEvE
CONTEMPLAr COM MAIS INTENSIDADE
AS DEMANDAS DA INDSTrIA E A
vIvNCIA PrTICA DOS ALUNOS. A
ACADEMIA, OS PrOFISSIONAIS E AS
EMPrESAS TM A GANhAr COM ISSO
Por Fabrcio Marques
Lugar deestudante
na fbricaMotivao do aluno depende da aplicao do conhecimento terico
AgendA dA IndstrIA
SHU
TTER
STO
CK
AConfederao Nacional da Indstria (CNI), por meio do movimento Mobilizao Em-presarial pela Inovao (MEI), lanou uma srie de recomendaes para modernizar os curr-
culos dos cursos universitrios de engenharia, cuja
configurao atual apontada como um gargalo
no esforo da indstria brasileira para ampliar sua
competitividade. Entre as mudanas propostas
destaca-se o fortalecimento do vnculo entre a for-
mao dos engenheiros e as demandas da inds-
tria, criando disciplinas voltadas para a resoluo de
problemas prticos j nos primeiros anos da gradu-
ao e intensificando os estgios profissionais e a
formao acadmica em parceria com empresas
(veja o quadro).
hoje, os estudantes passam geralmente os dois
primeiros anos de faculdade envolvidos com disci-
plinas tericas, com pouca ou nenhuma vivncia
prtica, embora sejam forados a escolher j no
vestibular entre mais de 30 especializaes na car-
reira. Com dificuldade para perceber a aplicao
do conhecimento, o aluno se desmotiva facilmen-
te, afirma Paulo Ml, superintendente do Instituto
Euvaldo Lodi (IEL), vinculado CNI. Esse problema,
associado a deficincias no ensino de matemtica e
fsica, produz um dramtico ndice de evaso: entre
2001 e 2011, mais da metade dos alunos abando-
nou os cursos de engenharia, segundo a CNI.
-
Indstria & Competitividade 2928 Santa Catarina > Maro > 2015
Lezana, da UFSC: currculos esto sobrecarregados
Paulo Ml, do IEL: residncia para engenheiros
e trabalho em grupo. Para Ml,
o exemplo da carreira de medi-
cina inspirador: a formao
consolidada com o perodo de residncia, quando
os jovens profissionais se especializam realizando
atividades remuneradas sob acompanhamento di-
reto de mdicos especialistas.
novos contedos
lvaro Lezana, professor do departamento de
engenharia de produo e sistemas da Universida-
de Federal de Santa Catarina (UFSC), v com bons
olhos uma aproximao mais estreita entre acade-
mia e indstria. J temos contato com todos os se-
tores industriais de Santa Catarina, que so bastante
diversificados, diz, mas aponta alguns entraves para
implementar as recomendaes da CNI. Um deles
a sobrecarga dos currculos, que tm de contemplar
exigncias estabelecidas pelo MEC e pelos conse-
lhos de engenharia. Da forma como funciona hoje,
h dificuldade em introduzir novos contedos vin-
culados s demandas da indstria, explica.
Ele observa que as prprias indstrias aprovei-
tam pouco a capacidade prtica dos jovens enge-
nheiros. medida que os engenheiros mostram
servio no cho de fbrica, costumam ser rapida-
mente deslocados para funes gerenciais, que
nem sempre tm vnculo com suas habilidades
tcnicas. A indstria, lembra Lezana, enfrenta a
concorrncia do setor de servios, que recruta en-
genheiros para funes que, originalmente, seriam
mobilidade. Apenas ao final do
segundo ano eles escolhem en-
tre duas vertentes: veculos ou
transportes. No final do terceiro ano, podem deixar
o curso, recebendo diploma de bacharel interdis-
ciplinar em mobilidade. Quem no sai e escolhe a
rea de veculos tem, ento, cinco opes pela fren-
te: engenharia automotiva, ferroviria e metroviria,
naval, aeroespacial e mecatrnica. J quem prefere
a linha de transporte deve
optar por engenharia de in-
fraestrutura ou de transpor-
tes e logstica. No quarto
ano de graduao, o aluno
pode ingressar diretamen-
te para o mestrado e seu
trabalho de concluso de
curso da graduao vale
como projeto de mestra-
do. Esse projeto poder ser
feito dentro de uma empresa. O primeiro curso de
mestrado comeou a ser oferecido em 2015.
terceira lngua
Enquanto a maioria das faculdades de enge-
nharia prev estgios em empresas perto da forma-
tura, o curso de engenharia de materiais da UFSC
tem uma experincia diversa. Os quatro primeiros
trimestres so dedicados ao conhecimento bsico,
mas depois disso o aluno alterna um trimestre de
teoria com um trimestre de estgio em indstrias
de administradores e economistas. Ultimamente,
tambm significativo o nmero de estudantes
que optam por criar startups, em vez de procurar
emprego na indstria. O compromisso da univer-
sidade formar engenheiros que saibam lidar com
problemas complexos e no somente com deman-
das das empresas, afirma Lezana.
Uma experincia em implantao no campus
Joinville da UFSC promete tornar a formao dos
engenheiros mais prtica. No lugar da especializa-
o precoce, os 200 alunos que ingressam a cada
ano so admitidos no curso de engenharias da
EDSO
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ULO
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A engenhAriA nA prticAAlgumas propostas da CNI para mudanas no ensino
Introduzir, desde o incio do curso, disciplinas que explorem conheci-mentos prticos
Intensificar os estgios profissio-nais e a formao acadmica em cooperao com empresas
Instituir programas de bolsas para ps--doutores das enge-nharias para desen-volverem trabalhos nos departamentos de P&D das empresas
Fonte: Documento recursos humanos para inovao: engenheiros e tecnlogos
Estimular a criao de novos cursos de mestrado profissionalizante em engenharia
Estimular que os trabalhos de con-cluso de mestrado e doutorado en-volvam a colaborao com empresas
Modernizar os currculos para uma abordagem in-terdisciplinar, que integre elementos de design e empreendedorismo, bem como aprendizagem ba-seada em projetos
mas se quisermos voltar a crescer precisaremos de
engenheiros em quantidade, diz Ml.
Os recm-formados chegam s empresas com
escassez de vivncia nos problemas concretos. Os
engenheiros tm conhecimentos tcnicos slidos,
mas frequentemente precisam de um treinamen-
to adicional que dura at mais de um ano para se
adaptar ao cho de fbrica. No incomum, por
exemplo, que um engenheiro eletricista comece
a trabalhar sem nunca ter operado equipamentos
eltricos, afirma Ml, que aponta outras lacunas na
formao em habilidades como gesto de projetos
680 milEngenheiros empregados
no Brasil
42%atuam em suas
reas de formao
SHU
TTER
STO
CK
-
Indstria & Competitividade 3130 Santa Catarina > Maro > 2015
Ramos: professor tambm deve ter tempo dedicado indstria
uma terceira lngua, alm
do portugus e do ingls,
diz a professora. O curso
mantm parceria com empresas que oferecem os
estgios, como a ArcellorMittal, a Whirlpool e a Por-
tobello, alm de empresas menores, inclusive de
outros estados. Snia hickel ressalta que a organi-
zao dos estgios bastante trabalhosa, mas os re-
sultados compensam. A prerrogativa da formao
dos estudantes da universidade. voc no vai ter
um bom engenheiro se ele no tiver uma formao
terica slida. Mas se a academia ficar no seu caste-
lo sem ver a evoluo das profisses e a demanda
do mercado, vai se tornar obsoleta.
Segundo Mozart Neves ramos, engenheiro
qumico e ex-reitor da Universidade Federal de Per-
nambuco, a experincia internacional mostra que
possvel aperfeioar a formao do engenheiro
tornando-a mais prtica. h um movimento cha-
mado Tuning, com mais de 500 universidades, que
adota o chamado ensino por competncias, no
qual as habilidades que o aluno precisa desenvol-
ver so estimuladas desde o incio do curso, afirma.
Mozart, que j presidiu o Movimento Todos pela
Educao e parceiro da FIESC no Movimento A
Indstria pela Educao, cita o exemplo da Univer-
sidade de Tecnologia de Compigne, na Frana, na
qual a formao dos engenheiros feita num am-
biente de forte cooperao com indstrias.
Ele adverte, porm, que esse modelo exigiria
uma grande adaptao das empresas e das univer-
sidades brasileiras. Antes de pensar em residncia,
preciso aperfeioar os estgios curriculares. Muitas
indstrias usam o estgio para obter fora de tra-
balho barata e as universidades no acompanham
a qualidade do estgio. Tambm seria necessrio
criar um plano de carreira que permitisse ao profes-
sor dedicar parte de seu tempo indstria, o que
hoje no possvel. Se o professor no pode sair da
universidade, como o aluno ter um acompanha-
mento complementar estagiando na indstria?
ou at instituies no exterior, num total de seis es-
tgios ao longo dos cinco anos de formao. in-
teressante porque o aluno fica mais motivado, per-
cebe logo se a profisso vai lhe agradar e traz para
discusso nas aulas tericas problemas prticos
que vivenciaram no estgio, afirma a professora S-
nia hickel Probst, coordenadora do curso. Para fazer
um estgio no exterior, preciso ter feito pelo me-
nos dois estgios no Brasil. Os institutos Frauhofer
da Alemanha e laboratrios na Frana so os desti-
nos internacionais mais frequentes dos estudantes.
Os alunos tambm so estimulados a aprender
Se a academia ficar no seu castelo sem ver a evoluo
das profisses e a demanda do mercado, vai se tornar obsoleta
Snia hickel probst, coordenadora do curso de engenharia de materiais da UFSC
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MANIFESTAES DE CAMINhONEIrOS COLOCArAM UMA BOA PArCELA DA
ECONOMIA CATArINENSE EM rISCO. A CAUSA JUSTA, MAS A FOrMA EQUIvOCADA
DE PrOTESTO PODE AGrAvAr AINDA MAIS A SITUAO
processados deixaram de ser escoados. Em funo
do desarranjo, aps o fim dos protestos mais de um
ms ainda seria necessrio at que o sistema produ-
tivo se normalizasse.
As paralisaes expuseram ao risco esse patri-
mnio catarinense que o modelo agroindustrial,
baseado na parceria entre produtores rurais e in-
dstria, diz Crte. O prolongamento da situao
poderia at levar o Estado a perder o status sanitrio
de zona livre de febre aftosa sem vacinao, ates-
tado que permite a exportao de alimentos para
o Japo e Estados Unidos. Fato que tornaria ainda
mais crtica a situao do setor de transportes.
A FIESC defende o direito manifestao e s
reivindicaes, desde que o dilogo e as negocia-
es orientem a resoluo de conflitos. Nessa linha,
a FIESC apresentou proposta ao Governo Federal
para que tributos incidam somente sobre o valor
do diesel praticado em 2014, livrando de impostos
a parcela do aumento de preo aplicado em 2015.
uma forma de ao menos atenuar a asfixia do setor
produtivo, para que o Pas no pare de vez.
Com os recentes tarifaos seguidos aumen-tos de preos da energia e dos combustveis e carga tributria crescente combinados a um cenrio de recesso e inflao, a indstria vive
um de seus momentos mais difceis em dcadas.
Sujeitos mesma lgica perversa, caminhoneiros
tm protestado, no sem razo. Mas o mrito da
questo no justifica a forma de protesto: os blo-
queios de estradas em fevereiro causaram prejuzos
de r$ 400 milhes a r$ 500 milhes em Santa Cata-
rina. No se pode fazer um movimento que cause
um abalo econmico e social dessa magnitude,
afirma Glauco Jos Crte, presidente da FIESC.
A indstria de alimentos foi especialmente pe-
nalizada. Organizado em uma complexa cadeia de
suprimentos e logstica que envolve fornecimento
de insumos para criao de animais em milhares
de propriedades rurais e processamento de carne
e leite em dezenas de indstrias, o setor paralisou
as atividades por vrios dias na regio Oeste. Milha-
res de frangos e sunos morreram nas propriedades
e milhes de litros de leite estragaram. Produtos j
O Pas no pode parar
AgendA dA IndstrIA
-
Indstria & Competitividade 3332 Santa Catarina > Maro > 2015
Dcio Da Silva, preSiDente Do
conSelho De aDminiStrao
Da WeG, aprenDeu com o pai
que para realizar objetivoS
GranDioSoS preciSo
aSSentar um tijolinho toDo
Dia. aSSim ele conStruiu uma
DaS maioreS empreSaS Do
munDo em Seu Setor
e realizaesPERFIL
Silva: receitas no exterior j
superam as obtidas no Brasil
aos 58 anos, Dcio da Silva o elo entre o passado, o presente e o futuro da WeG, uma das maiores fabricantes mundiais de equi-pamentos eletroeletrnicos. Filho de eggon joo
da Silva, um dos trs fundadores, Dcio passou por
diversos cargos at chegar presidncia, funo
que exerceu por quase duas dcadas. em 2008, as-
sumiu o comando do conselho de administrao,
de onde continua a ter atuao decisiva na defini-
o dos rumos e estratgias da corporao catari-
nense de maior presena global, com unidades fa-
bris ou comerciais instaladas em mais de 20 pases.
Fundada na pequena jaragu do Sul exata-
mente no dia em que Dcio completava cinco
anos 16 de setembro de 1961 , a WeG surgiu
de uma tpica identificao de oportunidade. ao
conversar com um amigo que fabricava pequenos
refrigeradores artesanais e lamentava a dificulda-
de para obter os motores, vindos de So paulo,
eggon, insatisfeito com o emprego numa meta-
lrgica, decidiu se lanar ao desafio de fabricar
motores. com vocao para vendas, saiu procu-
ra de scios que fossem capazes de levar a ideia
adiante e chegou ao expansivo mecnico Geraldo
Werninghaus, que trabalhava na oficina do pai em
joinville, e ao tmido eletricista Werner ricardo
voigt, proprietrio de uma oficina de recuperao
de motores eltricos. a mescla de experincias,
estilos e personalidades to diferentes se revelaria
uma combinao vencedora. a base dessa frmu-
la era o respeito que cada um tinha pelos demais.
os trs sabiam que construir uma sociedade de-
pende de um esforo rduo e que destru-la pode
ser muito rpido, afirma Dcio.
Base do xito
alm de representar a combinao das ini-
ciais dos nomes dos fundadores, a palavra esco-
lhida para batizar a empresa significa caminho
em alemo idioma dos colonizadores de jara-
gu do Sul e dos antepassados dos dois scios de
eggon. apenas ele fugia ao padro da cidade, com
pai tipicamente brasileiro e me de ascendncia
hngara. nico homem ao lado de quatro irms,
Dcio buscava nos funcionrios da WeG a com-
panhia para praticar a grande paixo da infncia:
o futebol. era figurinha carimbada nas peladas da
turma. aos 12 anos, a doce rotina foi interrompida
pela responsabilidade de integrar a turma inau-
gural do centro de treinamento da empresa, que
se mantm at hoje em parceria com o Senai
como a espinha dorsal da estratgia de formao
de pessoal. j naquele tempo meu pai e os scios
dele consideravam que ter colaboradores bem
formados e motivados a base do xito de qual-
quer organizao, lembra Dcio.
ele completou o colegial na
escola tcnica tupy, em joinvil-
le, e partiu depois para Florian-
polis, onde cursou simultanea-
mente engenharia mecnica na
universidade Federal de Santa
catarina (uFSc) e administrao
EdSo
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Fundao: 1961Sede: Jaragu do Sul, SCFuncionrios: 31 mil (7.600 deles no exterior)receita lquida (2014): R$ 7,8 bilhes (+15% sobre 2013)lucro lquido (2014): R$ 954 milhes (+13%)
Sobre sonhos
por Maurcio Oliveira
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Indstria & Competitividade 3534 Santa Catarina > Maro > 2015
Fabricao de motores eltricos: produto est na origem da empresa
marketing e design de
produtos da oxford, e joa-
na, que estudou naturolo-
gia e se especializa em ioga e acupuntura.
reforando sua misso de ser o elo entre o
passado e o futuro da WeG, Dcio empenhou-
-se pessoalmente na reformulao do museu da
empresa, instalado no endereo em que tudo
comeou. os equipamentos e recursos utilizados
para contar a histria da companhia e introduzir
os visitantes no universo da eletricidade so com-
parveis aos dos mais modernos museus brasilei-
ros. outra atividade qual ele tem se dedicado
bastante passar um bom tempo com o pai, que
est com 86 anos. nossa relao costumava se
dar muito mais em outros planos, como a ao
e o exemplo. agora adoramos conversar, descre-
ve. o pioneirismo e a dedicao de eggon foram
sempre uma inspirao para o filho. aprendi com
ele que muito importante ter objetivos grandio-
sos, mas que para construir o caminho at esses
objetivos preciso colocar um tijolinho todo dia.
em sntese: sonho e realizao. Duas palavras que
traduzem bem a histria da WeG.
de empresas na escola Superior de administrao
e Gerncia (eSaG). aps as formaturas, comeou
a trabalhar na WeG como engenheiro do setor de
controle de qualidade. trs anos depois, aos 25,
foi convocado para assumir uma gerncia na f-
brica, liderando mais de 700 funcionrios. como
acontece com todo herdeiro, ter a capacidade re-
conhecida era um desafio que o acompanhava
o antdoto para eventuais resistncias, ensinou-lhe
o pai desde cedo, seria demonstrar humildade e
provar dia aps dia que estava preparado para o
cargo que ocupava.
Depois de passar trs meses num estgio na
alemanha, Dcio seguiu para trs anos de traba-
lho no escritrio de So paulo. em 1989, quando
se deu o processo de sucesso dos fundadores,
coordenado por consultores externos, seu nome
foi o escolhido para assumir a presidncia. ele es-
tava com 33 anos, mesma idade do pai quando
criou a empresa. na primeira reunio no cargo, fez
um pronunciamento que entrou para a histria da
companhia. Disse que a WeG nasceu com o sonho
de se tornar relevante
em jaragu do Sul,
depois em Santa ca-
Parque fabril em Jaragu do Sul: WEG possui unidades em mais de 20 pases
tarina, em seguida no brasil. como todas aquelas
etapas j haviam sido alcanadas, o nico cami-
nho para continuar sonhando era se tornar uma
empresa mundial. esse foi o ponto de partida do
processo de internacionalizao da WeG, baseado
na ideia de que no bastaria exportar, e sim fincar
p para valer em outros pases, com abertura de
representaes comerciais e fbricas. os resulta-
dos esto no recm-anunciado balano de 2014:
pela primeira vez, as receitas internacionais da em-
presa superaram as nacionais 51% contra 49%.
Legado a celebrar
muitas dificuldades tiveram que ser superadas
nessa trajetria, contudo. Dcio enfrentou uma
greve logo que assumiu a presidncia e seu pri-
meiro ano no cargo, transcorrido em meio a altas
taxas de inflao, foi o nico em toda a histria
da empresa que terminou em prejuzo. no ha-
via outro caminho para superar as turbulncias a
no ser seguir com determinao. Dezoito anos
depois, quando Dcio deixou o cargo, havia um
belo legado a celebrar: crescimento mdio anual
de 21% na receita, 22% nas exportaes, 25% no
PERFIL
ebitda e 30% no lucro lquido.
para quem estava habituado a colocar a mo na
massa, deixar o comando executivo foi um baque.
preocupado em no virar uma sombra para o novo
presidente, harry Schmelzer jr., que comeara na
WeG como estagirio, Dcio optou por dividir sua
ateno com outras companhias. passou a integrar
diversos conselhos de administrao, a exemplo
do Grupo algar, iochpe e perdigo. aos poucos, no
entanto, ele foi eliminando os interesses paralelos
e voltou a se dedicar com intensidade aos neg-
cios da WeG ocupando no apenas a presidncia
do conselho da empresa, como tambm da Wpa
participaes, criada para gerir o patrimnio em
comum das trs famlias e assegurar que 50,1% das
aes da WeG permaneam com os descenden-
tes dos fundadores. a Wpa passou a fazer investi-
mentos em conjunto, como a aquisio de 3% das
aes da brF e de 78% da oxford porcelanas.
entre trabalho e lazer, os passaportes de Dcio
somam exatos 135 pases visitados at o momen-
to. um dos mais recentes, o buto, resultou de um
pedido da esposa, a artista plstica Denyse meri,
unio que deu ao casal as filhas zaira, gerente de
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Indstria & Competitividade 3736 Santa Catarina > Maro > 2015
Uma usina EmprEsas dEscobrEm o potEncial dEsta podErosa fErramEnta dE inovao, capaz dE alinhar os
Esforos dE todos os sEtorEs E
EspEcialistas dE uma companhia no
objEtivo dE dEsEnvolvEr as mElhorEs
soluEs dEsEjadas pElos cliEntEs
DesIgn
Indstria & Competitividade 3736 Santa Catarina > Maro > 2015
solUesindstriapara a
de
o incomum que design seja
associado a sofisticao e estilo,
conceitos que podem ser reco-
nhecidos, por exemplo, numa
ferrari de us$ 1 milho proje-
tada pelo estdio italiano pininfarina, ou numa
cadeira desenhada pelo badalado designer bra-
sileiro jader almeida, que pode valer us$ 25 mil.
Este o universo do design exclusivo, autoral, que
por consequncia muito caro e inacessvel
ainda que bastante conhecido. mas o que dizer
do design aplicado a uma simples vassoura com
produo da ordem de milhes de unidades por
ano, cujo pblico-alvo so as donas de casa bra-
sileiras? ou a uma mquina de lavar roupas toda
feita em plstico, vendida por r$ 200, destinada
aos consumidores das classes c e d?
Esse o territrio do design industrial, onde
a esttica tambm se faz presente a seu modo,
associada a condicionantes crticas para o suces-
so como a funcionalidade do produto, os mate-
riais utilizados, o desenvolvimento de processos
industriais compatveis com o perfil de manufa-
tura de cada indstria e custos adequados. uma
equao que, se bem resolvida, revela-se uma
poderosa ferramenta de inovao e competitivi-
dade que cada vez mais utilizada pela indstria
catarinense. boa parte da indstria j percebeu
que o design faz a diferena, e por isso o perfil do
por Vladimir Brando*
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Indstria & Competitividade 3938 Santa Catarina > Maro > 2015
mentos tcnicos que o projeto ficou inopervel. a
proposta parecia invivel tecnicamente, diz Ehrat,
que hoje reconhece que se tratava de uma atitude
carregada de preconceito.
logo eles perceberam que o design uma
abordagem multidisciplinar, que envolve marke-
ting, engenharia, processos industriais, logstica,
comercial e ainda outros setores da indstria. E
a Wanke, finalmente, ocupou-se de pesquisar as
necessidades dos usurios, considerando costu-
mes, aspectos de ergonomia, os possveis locais
de instalao das mquinas e muitos outros de-
talhes que iriam orientar a concepo dos novos
produtos. o design tem por funo transformar
esse briefing em algo palpvel, define Ehrat.
dito e feito. ao longo dos anos, o processo
ajudou a conceber um portflio de 20 famlias
de produtos, que incluem lavadoras, centrfugas,
cooktops, fornos, secadoras, aquecedores, san-
duicheiras, umidificadores e ventiladores. volta-
Indstria & Competitividade 3938 Santa Catarina > Maro > 2015
DesIgn
Ehrat, da Wanke: aps superar o preconceito, a indstria de Indaial atingiu um novo patamar no mercado
Design uma atividade pro-
jetual que consiste em determinar as propriedades for-
mais dos objetos a serem produzidos industrialmente. No s as caracte-rsticas exteriores, mas as relaes estruturais e funcionais que do coe-rncia a um objeto tanto do ponto de vista do produtor quanto do usurio
Toms Maldonado, 1961
investimento em santa catarina vem mudando
nos ltimos anos, com mais nfase em projetos de
design, pesquisa e desenvolvimento e novos pro-
cessos produtivos, afirma glauco jos crte, pre-
sidente da fiEsc. mas ainda precisamos avanar.
por isso a fiEsc uma das promotoras da
bienal brasileira do design 2015 floripa, que ser
realizada entre maio e julho em florianpolis
(mais detalhes na matria subsequente). o tema
da bienal, design para todos, decerto ajudar a
desmistificar a ideia do de-
sign elitista, demonstrando
o quanto ele pode melho-
rar a qualidade de vida das
pessoas comuns. Esse , ao
fim das contas, o papel da
indstria. E ns queremos
que o maior nmero pos-
svel de empresas perceba
a relevncia do design no
processo de inovao, diz
natalino uggioni, supe-
rintendente do instituto
Euvaldo lodi (iEl/sc). o
mais interessante que o
design, por depender essencialmente da criativi-
dade das pessoas, uma ferramenta de inovao
relativamente barata, em comparao, por exem-
plo, com a inovao tecnolgica. dependendo
do produto, a taxa de retorno do design pode
situar-se entre 200% e 500% do valor investido,
diz freddy van camp, curador da bienal, citando
pesquisas da finep.
o conceito tem, literalmente, chacoalha-
do empresas de diversos setores. foi o caso da
Wanke, de indaial, uma indstria familiar j quase
centenria que produzia implementos agrcolas
at o fim dos anos 1990, quando resolveu fo-
car em eletrodomsticos ela j produzia uma
mquina de lavar roupas em madeira. seus exe-
cutivos buscaram fazer produtos em plstico,
baseados no que j havia no mercado. o desen-
volvimento ficava a cargo dos engenheiros, que
s vezes recebiam algumas dicas da agncia de
publicidade. no foi suficiente. no trazamos
diferenciao alguma e o nosso desempenho
agradava menos que o dos concorrentes, conta
rogrio artur Ehrat, diretor da Wanke.
da surgiu a necessidade de trabalhar com
design, conta o executivo.
mas a essa altura eles com-
partilhavam da mesma viso
estreita que muita gente do
ramo ainda carrega: queriam
apenas novas solues es-
tticas para as engenhocas
que projetavam ou copia-
vam. desconfiados, os enge-
nheiros da empresa bateram
de frente com os designers
logo no primeiro projeto
encomendado ao estdio
design inverso, de joinville.
colocamos tantos impedi-divu
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Edso
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Indstria & Competitividade 4140 Santa Catarina > Maro > 2015
onde j possui um centro de distribuio. desde
2006 a empresa cresce a um ritmo de 20% a 25%
ao ano, com faturamento de r$ 130 milhes em
2014 e mais de 300 funcionrios.
Funcionalismo
considerando tal grau de abrangncia e efi-
cincia, o conceito de design pode parecer no-
vidade a muita gente que o associa somente
aparncia dos produtos. na verdade, essa ideia
to disseminada quanto imprecisa tem mais a ver
com o conceito de estilo, que ligado s quali-
dades expressivas de um produto. pode-se dizer
que, em muitos casos, o estilo um elemento
complementar de uma soluo de design. Esse,
por sua vez, sinnimo de concepo e plane-
jamento, essencialmente focado na resoluo de
problemas (funcionalismo) e na simplificao de
produtos e processos.
trabalhamos com o ser humano, com pes-
soas. o design liga todos os diferentes interesses
existentes em uma indstria, como as reas de
marketing, industrial e contbil, para focar nas
necessidades das pessoas, define marcos sebben,
diretor da design inverso, escritrio de joinville
que contabiliza mais de 3 mil projetos executa-
dos. o designer anglo-egpcio karim rashid, um
dos mais badalados da atualidade, que j assinou
uma coleo da cermica oxford, de so bento do
sul, tambm j expressou opinio nesta linha: de-
sign resolver problemas, moldar o futuro, no
uma questo de estilo.
mas o fato que quase sempre as duas coisas
esto associadas. o primeiro a notar isso foi um
aristocrata italiano do sculo 16, baldassare cas-
tiglione, que ficou famoso por escrever a obra il
libro del cortegiano, um guia dos valores e cos-
tumes da alta sociedade renascentista. o livro traz
Ao gosto das freguesas
Tradicional fabricante de eletrodomsticos de linha branca, a Mueller, de Timb, que produziu sua primeira mquina de lavar em 1951, se baseia no resultado de pesquisas e demandas dos clientes para orientar as solues desenvolvidas pelo design. Os foges com trs queimadores e a lavadora de roupas Special Easy Dry a primeira de carga frontal que lava e seca desenvolvida e produzida no Brasil so dois exemplos da estratgia. Percebemos que o consumidor, na maioria das vezes, no usava os quatro queimadores do fogo. Em vez disso, prefere ter uma opo com maior potncia. Ento desenvolvemos o fogo com trs queimadores, um deles ultrachama, conta o diretor de vendas e marketing da unidade de foges, Alexandre Pires da Luz.
As inovaes da Special Easy Dry foram adotadas em funo das dificuldades das usurias para colocar as roupas no cesto. A mquina ganhou um cesto removvel e inclinado, facilitando o processo de carregar e esvaziar a lavadora, e passou a contar com uma porta de acesso rpido. O sistema permite a colocao de mais roupas mesmo aps o incio da lavagem. A soluo permitiu Mueller conquistar mais consumidores e ganhar terreno junto s classes A e B de consumidores. Alm de conquistar prmios de design como o Museu da Casa Brasileira e o Idea Awards.
40 Santa Catarina > Maro > 2015
uma definio pioneira do que viria a ser conhe-
cido, no sculo 20, como design: independente-
mente do que se estude, descobriremos sempre
que aquilo que bom e til tambm agraciado
pela beleza. mesmo que seja uma vassoura.
a condor, de so bento do sul, fabricante de
produtos de limpeza, higiene bucal e outros arti-
gos, era lder nacional justamente no mercado de
vassouras, at que h cerca
de 10 anos perdeu o pos-
to para uma fabricante
gacha. decidiu inves-
tir em design para
recuperar a posio.
o incio do proces-
so foi o dever de
casa: a anlise do
que as consumido-
ras de fato desejam
dos aos consumidores da classe c, so produtos
simples e fceis de usar, que consomem pouca
energia e gua. ou, por outra, segundo definio
do papa do marketing philip kotler, o design con-
feriu seus cinco principais atributos aos produtos
da Wanke: performance, qualidade, durabilidade,
aparncia e custo. alm dessas necessidades vi-
tais dos usurios, os produtos atendem s neces-
sidades da indstria em relao a quesitos como
baixos custos de produo, reduo do nmero
de peas, adequao ao fluxo produtivo, armaze-
nagem e transporte. o que significou uma verda-
deira revoluo para a indstria de indaial.
graas ao redesenho, a Wanke passou de uma
discreta atuao regional para nacional, com for-
te presena na regio nordeste,
DesIgn
Com um novo projeto que incluiu um cesto removvel, ficou mais fcil usar a mquina de lavar da Mueller
Quiosque multimdia da Specto, de So Jos: reunio de utilidade e forma
O design par-te integrante
de uma atividade mais ampla deno-minada desenvolvi-
mento de produtos. Sua maior contri-buio est na melhoria da qualidade de uso e da qualidade esttica de um produto, compatibilizando exign-cias tcnico-funcionais com restri-es de ordem tcnico-econmicas
Gui Bonsiepe, 1982
Indstria & Competitividade 41
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Indstria & Competitividade 4342 Santa Catarina > Maro > 2015
Nova linha de vassouras da Condor: ateno aos atributos mais valorizados pelos consumidores
de uma boa vassoura. aps analisar at filmes rea-
lizados em pontos de venda, chegou-se conclu-
so de que os problemas iam do nmero aparen-
temente insuficiente de cerdas at a aparncia,
passando pelo excesso de peso e baixa durabili-
dade. alm de tudo a vassoura era cara, por uti-
lizar muita matria-prima na fabricao. Era um
projeto repleto de desafios, resume o gerente de
marketing denis bover. mas o design conseguiu
dar resposta a todos os pontos.
dentre vrias modificaes desenvolvidas,
destacou-se o redesenho do corpo da vassoura.
antes havia uma capa de plstico colorido co-
brindo a base de fixao das cerdas, esta mais
robusta, feita em material reciclado. s que as
batidas nos cantos durante a varrio acabavam
quebrando a capa. a soluo foi deixar exposta
uma parte da base de material reciclado, que pas-
sou a funcionar como um para-choque. a capa,
feita em material mais caro, ficou menor, limitada
poro superior do corpo da vassoura, ganhan-
do ainda uma pequena sobrecapa, permitindo o
uso de mais cores: o preto do para-choque, que
ganhou estilo com um desenho mais moderno,
e mais duas cores das capas, gerando um bonito
efeito. resultado: a vassoura ficou mais leve, mais
barata, mais resistente e mais bonita. E, como era
de se esperar, vende muito mais que o modelo
antigo, mas a almejada liderana ainda no foi
reconquistada.
a evoluo continua. o modelo 2015 incor-
pora o uso de plsticos transparentes e de ni-
chos vazados, combinando um pouco mais de
estilo com menos material. outros produtos da
empresa foram redesenhados ou desenvolvidos
pelo design, como a escova de dentes trip, para
viagens, que lder de mercado. o apreo pelo
design coincide com um perodo de profissiona-
lizao e crescimento da condor, que faturou r$
300 milhes em 2013. a empresa tinha um dna
fabril, era mais preocupada com os maquinrios
e com a produtividade, acostumada a empurrar
para o mercado o que produzia, descreve bover.
passamos a olhar muito mais atentamente para
o consumidor para identificar os nossos prxi-
mos passos.
Campo perigoso
no novidade que a tradio fabril da con-
dor semelhante de vrias das principais em-
presas do Estado. com foco na produtividade, a
indstria catarinense esqueceu o design durante
muitos anos, afirma roselie lemos, presidente
do centro design catarina e coordenadora exe-
cutiva da bienal. isso levou a um campo perigo-
so, o do preo baixo sem diferenciao, diz. foi o
caso do setor txtil, que investiu na robustez de
seu parque fabril mas nem sempre deu impor-
tncia criao de novidades. at que nos anos
1990, com uma maior abertura comercial brasi-
leira, muitas indstrias sucumbiram diante da
concorrncia asitica. Em funo de fatores no
gerenciveis pelas empresas brasileiras, como o
cmbio e os fatores do custo brasil, os tecidos
e as confeces chinesas invadiram o pas com
preos muito baixos, mergulhando o setor txtil
em uma profunda crise.
os chineses copiam a moda da Europa e jo-
gam seus produtos aqui.