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Abril de 2016 . ANO XVI Nº 147 Retratos da imigração em Pernambuco Retratos da imigração em Pernambuco Na época colonial, o Estado recebeu milhares de africanos e europeus. Atualmente, é anfitrião em um cenário de globalização que impulsiona deslocamentos populacionais Págs. 4 e 5 Pág. 8 Parlamentares avaliam riscos da norma, válida já para o pleito deste ano. Confira a troca de partidos na Assembleia Legislativa Pág. 3 Mudança nas regras da eleição provoca temor de irregularidades Lei agora prevê que restaurantes, bares e lanchonetes informem, em cartazes, sobre Manobra de Heimlich aos clientes Pág. 6 Técnica para casos de engasgo e asfixia ganha divulgação estadual Brasil está entre os 62 países que atingiram o 4º Objetivo de Desenvolvimento do Milênio Estado reduz em quase 80% mortalidade infantil

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Abril de 2016 . ANO XVI – Nº 147

Retratos da imigraçãoem Pernambuco

Retratos da imigraçãoem Pernambuco

Na época colonial, o Estado recebeu milhares de africanos e europeus. Atualmente, é anfitrião

em um cenário de globalização que impulsiona deslocamentos populacionais Págs. 4 e 5

Pág. 8

Parlamentares avaliam riscos

da norma, válida já para o

pleito deste ano. Confira a

troca de partidos na

Assembleia Legislativa

Pág. 3

Mudança nas regras da eleiçãoprovoca temor deirregularidades

Lei agora prevê que

restaurantes, bares e

lanchonetes informem, em

cartazes, sobre Manobra de

Heimlich aos clientes

Pág. 6

Técnica para casosde engasgo e asfixiaganha divulgaçãoestadual

Brasil está entre os

62 países que atingiram

o 4º Objetivo de

Desenvolvimento

do Milênio

Estado reduz em quase 80%mortalidade infantil

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EXPEDIENTE: MESA DIRETORA: Presidente, Deputado Guilherme Uchoa; 1º Vice-Presidente, Deputado Augusto César; 2º Vice-Presidente, Deputado Pastor Cleiton Collins; 1º Secretário, Deputado Diogo Moraes; 2º Secretário, Deputado

Vinícius Labanca; 3º Secretário, Deputado Romário Dias; 4º Secretário, Deputado Eriberto Medeiros. Superintendente de Comunicação Social: Margot Dourado. Chefe do Departamento de Imprensa: Cláudia Lucena. Editora: Christianne

Alcântara e Helena Alencar (interinas). Revisão: Margot Dourado e Natália Câmara. Repórteres: André Zahar, Edson Alves Júnior, Gabriela Bezerra, Helena Alencar, Ivanna de Castro e Luciano Galvão Filho. Gerente de Fotografia: Ro-

berto Soares. Edição de Fotografia: Breno Laprovitera. Fotógrafos: Jarbas Araújo, João Bita e Rinaldo Marques. Tratamento de Imagem: Lucas Neves. Design: Brenda Barros. Diagramação e Editoração Eletrônica: Alécio Nicolak Júnior.

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O Jornal Tribuna Parlamentar é uma publicação de responsabilidade da Superintendência de Comunicação Social da Assembleia Legislativa - Departamento de Imprensa.

02 Abril de 2016

“Viemos aqui lutar

pela permanência

das nossas casas.

Tirá-las não vai

resolver os

problemas do

Complexo Prisional.

Já virou questão de

calamidade pública.

Nós queremos uma

conversa com o

Governo. O presídio

não pode estar mais

no nosso meio social.”

Valquíria NascimentoServidora pública, estevena Alepe para participar daaudiência que debateu adesapropriação deresidências no entorno doComplexo Prisional doCurado, no dia 25 de abril.

“O Proupe é um

importante

mecanismo do ensino

superior. Estou aqui

na luta pela

permanência dele

diante dos recorrentes

cortes feitos pelo

Estado e pelo

aumento do número

de verbas de que o

programa necessita

imediatamente.”

Stallone LimaEstudante, duranteaudiência pública, no dia 18de abril, sobre aregularização do repasse dasbolsas de estudo doPrograma Universidadepara Todos (Proupe), doGoverno do Estado.

“Por causa dessa

milícia, estamos

sendo tratados como

bandidos, agredidos

verbalmente e

fisicamente.

Estamos aqui para

acabar com isso e

poder trabalhar em

paz. Queremos lutar

por nosso direito,

como qualquer

trabalhador

honesto.”

André TauannVendedor ambulante, nodia 30 de março, emaudiência pública paraapurar a denúncia de queuma milícia estaria atuandona fiscalização do comércioinformal no Recife

Aniversário da AlepeEm abril, a Assembleia Legislativa comemorou

181 anos em cerimônia solene no Museu PalácioJoaquim Nabuco. O presidente da Casa, deputadoGuilherme Uchoa (PDT), discursou sobre aimportância de os poderes constitucionaisatuarem de forma independente para garantir orespeito ao regime democrático, em especial noatual cenário de acirramento político. A ocasiãoainda foi marcada pelo lançamento da cartilhadigital “Síndrome de Down”, produzida peloGrupo de Trabalho de Inclusão da Pessoa comDeficiência da Alepe. Houve tambémapresentações musicais e queima de fogos.

Três visitas a unidades de saúde e umaaudiência pública fizeram parte da agenda de abrilda Comissão Especial de Acompanhamento aosCasos de Microcefalia. Para conhecer os serviços queestão sendo oferecidos a essa geração de bebês coma malformação, o colegiado foi à Associação deAssistência à Criança Deficiente (AACD) e aoInstituto de Medicina Integral Professor FernandoFigueira (Imip), no Recife, bem como ao ServiçoMunicipal de Referência à Microcefalia, em Ipojuca.Já a audiência pública ouviu as mães, queexpuseram necessidades mais urgentes das famílias.

Caso Arena repercuteAlvo de vários debates e polêmicas, a Arena

Pernambuco foi tema de audiência públicapromovida pela Comissão de Administração Pública,em abril. O procurador-geral do Estado, CésarCaúla, detalhou a decisão do Executivo de rescindiro contrato com o consórcio liderado pelaConstrutora Odebrecht que, até o momento,administra o empreendimento. Ele informou que ogoverno estadual está trabalhando para chegar a umentendimento e evitar o pagamento de multas.Também anunciou a abertura de uma concorrênciainternacional para contratar uma nova empresa.

As prefeituras de Paulista, Bonito, Vitória deSanto Antão e Cabrobó receberam, no dia 30 demarço, o Prêmio Prefeitura Amiga das Mulheres2016. A iniciativa do Poder Legislativohomenageia os gestores municipais que mais seesforçaram pela igualdade de gênero emPernambuco. O prêmio, que está na terceiraedição, é concedido anualmente para uma cidadede cada região administrativa do Estado. Osganhadores são definidos por um comitê formadopor integrantes da Comissão de Defesa dosDireitos da Mulher da Alepe e da SecretariaEstadual da Mulher.

Prêmio pela igualdade de gênero Haiti visto daqui

Os desafios dosestrangeiros que buscam oBrasil na tentativa derecomeçarem suas vidas -tema de capa desta edição doTribuna Parlamentar - éabordado no documentário“Migrantes do Haiti”,produzido pela TV Câmara edisponível no site da instituição. O programa, que pode ser acessadopelo QR Code abaixo, retrata, em pouco mais de 30 minutos, a rotinae o caminho percorrido por milhares de haitianos que fugiram damiséria que assolou sua terra natal após o terremoto de 2010. Contaainda as dificuldades enfrentadas por esses indivíduos que nãofalam português e que sofrem com a saudade dos familiaresdeixados para trás. As ações de acolhimento promovidas pelo PoderPúblico e por organizações não governamentais também sãocontempladas na narrativa, permeada de depoimentos de esperançade um amanhã mais promissor e de menos preconceito.

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/DOCUMENTARIOS/489277-MIGRANTES-DO-HAITI.html

Microcefalia: ações recentes

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03Abril de 2016

LEGISLAÇÃO

Novas regras irão conduzir aseleições municipais desteano, no próximo mês de

outubro. Depois de longas dis-cussões, o Congresso Nacionalaprovou, no final de 2015, um con-junto de mudanças na legislaçãoque ficou conhecido como “minir-reforma eleitoral”. Além de alterarprazos para o registro de candi-datos, as modificações reduzirampela metade o período de campa-nha e o horário eleitoral gratuitona TV e no rádio. Após intervençãodo Supremo Tribunal Federal,também ficaram proibidas as doa-ções de empresas a partidos po-líticos e a candidatos.

As medidas apontam para adiminuição dos custos da batalhapelo voto: com restrições na ofertade recursos e menos tempodisponível para campanha, osgastos para ser eleito chefe degoverno ou conseguir uma cadeirano parlamento devem cair. Naúltima disputa para prefeito, em2012, as chapas vencedoras naRegião Metropolitana do Recife(RMR) dispenderam, em média,R$ 1,3 milhão, em valores atuali-zados, segundo dados do TribunalSuperior Eleitoral (TSE). A cam-panha mais cara para a prefeiturada capital ultrapassou os R$ 9milhões, também em númeroscorrigidos.

Para o historiador e cientistapolítico Michel Zaidan, da Uni-versidade Federal de Pernambuco(UFPE), as normas criadas são “re-publicanas”, porque agregam oscandidatos em torno dos partidos,que detêm, agora, a principal fontede financiamento eleitoral: osrecursos do Fundo Partidário. Naopinião de Zaidan, campanhassuntuosas tornam “fictícios” osprogramas das legendas e pri-vilegiam a influência do podereconômico na política. “Quantomais franciscana a campanha,melhor”, garante.

As mudanças, no entanto,também provocam desconfian-ças. A principal delas é o possívelaumento do uso de dinheiro nãocontabilizado para driblar as li-

mitações de despesas - o chama-do “caixa dois”. “Campanha sóse faz com dinheiro, e as em-presas vão continuar querendoparticipar do processo eleitoral.Isso pode ser perigoso, porqueantes todas as doações ficavamregistradas. Porém, agora não sesabe como vai ser”, considera odeputado Álvaro Porto (PSD).“Promover igualdade de disputaentre os candidatos é importante,mas requer fiscalização. Sempunição, cresce o risco de haverdesvios”, concorda Miguel Coe-lho, deputado pelo PSB.

O jurista e cientista políticoJosé Mário Wanderley, professor daUniversidade Católica de Per-nambuco (Unicap), não faz umarelação direta entre o endureci-mento das regras de financiamentoe um eventual incentivo a condutasilícitas. “O caixa dois, infelizmente,já é uma prática frequente, e o

combate passa pela previsão deprocedimentos cada vez maissimples e transparentes e por ins-tituições de fiscalização indepen-dentes”, avalia. Para ele, as mu-danças tampouco devem aumen-tar o número de casos em que aJustiça intervenha no resultadodas eleições. “A tendência doJudiciário brasileiro em matériaeleitoral tem sido de autocon-tenção, de reservar interferênciassomente para situações graves eextremas.”

As restrições ao financiamentotambém devem causar incertezaspara a próxima disputa peloparlamento estadual, em 2018.Ainda de acordo com o TSE, em2014, obter uma cadeira naAssembleia Legislativa custou aoscandidatos, em média, R$ 457 mil,

sendo a maior parte dos recursosoriginária de doações de pessoasjurídicas. As campanhas mais carassuperaram R$ 1 milhão.

Apesar de expressar ceticismoquanto aos efeitos positivos daslimitações de custos, Edilson Silva(PSOL) vê com bons olhos a proi-bição da participação de empresasnas eleições. “Hoje existem polí-ticos que são verdadeiros lobistasdas corporações”, denuncia. TeresaLeitão (PT), que segue enten-dimento parecido, acredita que “senão serão capazes de impedir apresença do poder econômico nadisputa, as mudanças, pelo me-nos, nos forçarão a estar mais pró-ximos dos eleitores, a gastar solade sapato.”JANELA

Na esteira da minirreforma, oCongresso aprovou também aabertura de prazo, encerrado em19 de março, para que deputadosestaduais e federais, além devereadores, mudassem de legendasem a possibilidade de perder omandato – punição prevista paracasos de infidelidade partidária.Na Alepe, a autorização resultouem dez trocas (ver quadro), que,em alguns casos, significaramtambém a saída da bancada deOposição para a de Governo e vice-versa.

“É a janela da infidelidade edo oportunismo”, classifica TeresaLeitão, que entrevê na medidadistorções que fragilizam aslegendas e enfraquecem a repre-sentação popular. Já o líder do Go-verno na Alepe, Waldemar Borges(PSB), classifica a abertura comouma “deformação” que surgediante da obrigatoriedade defiliação aos partidos e do mau usodas agremiações pelos candidatos.“Pertencer ou não a um partidodeveria partir da compreensão decada político”, opina.

Álvaro Porto, que deixou ooposicionista PTB para integrar abase do Governo na Casa, não vêproblemas na possibilidade detrocar de sigla. “Foi umaoportunidade para mudarmos casonão estivéssemos satisfeitos”,considera. Raquel Lyra (PSDB), quefoi filiada ao PSB, argumenta quea regra evidencia uma dasfraquezas da minirreforma: “Antes

de aprovar alterações na legislação,seria preciso decidir que modelo deeleições queremos. Como dizer quea ideia é fortalecer os partidos secriamos uma janela para trocas?”

Sempre lembrada em épocasde crise, mas nunca concretizada,uma reforma política mais pro-funda costuma esbarrar na faltade consenso a respeito do temadentro do parlamento. Políticos eespecialistas concordam que épreciso aperfeiçoar a forma comoa população escolhe seus repre-sentantes, a partir de um modeloque garanta novas opções aos ci-dadãos e que torne o processo maissimples de ser entendido pelo elei-tor. As maneiras de alcançar esses

objetivos, contudo, geram di-vergências difíceis de conciliar.

Mas, se existe unanimidadesobre o tema, ela diz respeito àdesconfiança com a minirreformaeditada pelo Congresso, descritacomo “arremedo” de reforma pelamaioria dos deputados ouvidos peloTribuna Parlamentar. “Oscandidatos terão de ampliar adiscussão dentro dos partidos, masisso é na teoria. A prática, a gentesó vai conhecer depois da campa-nha”, conjetura Miguel Coelho. “Damaneira que esta minirreforma foifeita, sem apontar rumos claros,certamente haverá modificaçõesmais à frente, ao bel-prazer doslegisladores”, adverte Raquel Lyra.

Luciano Galvão Filho

Minirreforma eleitoral gera incertezas

Duração de

campanha e tempo

do horário eleitoral

gratuito caíram

pela metade

Para deputados, medida que visa à redução de custos demanda mais rigor na fiscalização

Mudanças na Alepe

Deputados Partidos

Álvaro Porto PTB PSD

André Ferreira PMDB PSC

Beto Accioly SD PSL

Claudiano M. Filho PSDB PP

Eduíno Brito PHS PP

João Eudes PRP PDT

Joel da Harpa PROS PTN

Raquel Lyra PSB PSDB

Romário Dias PTB PSD

Sílvio Costa Filho PTB PRB

Partidos do Governo Partidos da Oposição

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04 Abril de 2016

IMIGRAÇÃO

Em todo o mundo, 244 milhões de pessoasmigraram somente em 2015, de acordocom a Organização das Nações Unidas

(ONU). Cerca de 20 milhões são refugiados, oque significa que deixaram suas casas fugindode guerras ou perseguições raciais, religiosase políticas. O destino preferencial é a Europa,que recebe quase um terço dos migrantes, masa América Latina também recepcionou 9milhões de pessoas no ano passado.

Os números representam, com relação a2014, um aumento de 41% no fluxo. “Pareceque estamos voltando ao tempo dos povosbárbaros no Império Romano”, observa o pro-fessor doutor Nilo Américo Lima, que ensinaa disciplina de Geografia da População na Uni-versidade Federal de Pernambuco (UFPE). Elesitua os deslocamentos populacionais no con-texto da globalização, preferindo usar a expres-são “globaritarismo”, cunhada pelo geógrafoMilton Santos.

“Seria um autoritarismo global que produzfragmentações. É o que vemos na Síria: um paísforjado de fora para dentro por ingleses efranceses, em uma área estratégica. O EstadoIslâmico é composto por pessoas que nasceramna extrema pobreza, mas receberam treina-mento militar de nações poderosas. Depois,os países perderam o controle, e a Síria se tor-nou o que vemos hoje”, explica Lima.

Em um cenário de migração massiva de re-fugiados oriundos, principalmente, de paísesárabes e africanos, os casos de xenofobia semultiplicam. “Nota-se primeiro a presençados imigrantes em atividades econômicas, porisso vemos reações negativas. No mundo in-teiro, são sempre eles os primeiros para quemse aponta o dedo em momentos de crise”,analisa o geógrafo e pesquisador da FundaçãoJoaquim Nabuco (Fundaj), Wilson Fusco. “Sa-bemos que não é isso. Como qualquer migrantena história, só estão tentando levar uma vidamelhor do que no lugar anterior. No Brasil,

somos todos descendentes de imigrantes, ex-cetuando os índios, que já estavam aqui.”

Em outubro do ano passado, Pernambucose tornou o novo lar de uma família síria. O ca-sal, que trouxe o filho ainda bebê, não concedeentrevistas por questões de segurança. Os três

foram recebidos pela advogada Bruna Guedes,fundadora da organização não governamentalMãos Unidas. “É uma iniciativa livre e informal.As pessoas doam o que podem: tempo, dinheiro,serviços ou espaço”, diz.

Segundo ela, outros refugiados estão che-gando ao Estado. As dificuldades que enfrentamvão da falta de recursos para comprar passagensaéreas até o domínio da língua, passando pelopreconceito. “Enquanto religião, cor da pele oupreferência política forem mais importantes queuma pessoa, as previsões não serão otimistas.Estamos fazendo nossa parte para isso setransformar”, considera. “Eu ajudei, mas oque aprendi foi infinitamente maior.”EMPREGO ALÉM-MAR

No levantamento sobre a imigração emPernambuco, os dados são escassos. Respon-sável pela documentação e regularização depessoas de outros países, a Polícia Federalinforma apenas que há 2.988 estrangeiros comvisto de trabalho atualmente no Estado, alémde 15 pedidos de refúgio de cidadãos da Guiné-Bissau. Em todo o País, o Comitê Nacional paraos Refugiados (Conare) computa 8.400 pessoasreconhecidas nessa condição até agosto do anopassado - o dobro da quantidade que haviaem 2011, sem incluir as mais de 45 mil solicita-ções de haitianos.

Quanto às autorizações de trabalho, 573foram concedidas no Estado em 2015, sendoquase metade delas para italianos, segundo oMinistério do Trabalho e Emprego (MTE). Emsua maioria, são homens solteiros, entre 35 e55 anos, que buscam uma qualidade de vidamelhor do que aquela possível na Itália com amesma renda. É o que analisa o sociólogo epresidente do Comitê dos Italianos no Exterior(Comites), localizado no Recife, Daniel Taddone.

“Esse italiano é seduzido pela possibilidadede, mesmo não sendo rico, dar-se ao luxo decertas coisas no Brasil”, alega. Outro perfil éde profissionais liberais de alta qualificaçãoque atuam em empreendimentos como a fá-brica da Fiat, em Goiana. “Esses saem muitoem jornais e revistas, mas são numericamentepouco significativos.”

Existem mais de 12 mil italianos inscritosno Consulado da Itália no Recife, que atendea todo o Nordeste, um terço dos quais vivendoem Pernambuco. Estima-se que outros 6 milmorem na região sem registro consular, porquetemem perder benefícios, como a seguridadesocial italiana. “Isso não procede - quandopisam na Itália, voltam a ter todos os direitos”,garante Taddone.

Estabelecida em Pernambuco há 7 anose meio, a professora Anna Pegoretti destoado perfil médio. Como muitos estrangeiros,veio inicialmente de férias. Depois atuoucomo voluntária em uma creche, em Ta-mandaré. Voltou pela terceira vez com o en-tão marido e aqui ficou - hoje ensina italianoem uma escola na Boa Vista, no centro do Re-cife. “Não vou conseguir um trabalho comoesse na Itália. Talvez a situação econômicaesteja melhorando um pouco por lá, masainda tem muito desemprego.”

Ao mudar de país, as diferenças culturaisimpactaram Anna. “Todo mundo fala quebrasileiros e italianos são parecidos, mas nãoconcordo totalmente. Venho de Trento, aonorte, região que tem uma grande influênciaalemã. São exageradamente rígidos”, explica.O trânsito e as dificuldades de mobilidadeassustaram. “Também achei difícil o hábitode adiar as coisas, de ter que repetir muitasvezes para que algo fosse feito. É preciso seacostumar a outro tipo de mentalidade.”

Se faltam dadossobre a imigraçãoem Pernambuco,sobram histórias.Pessoas quedeixaram seuspaíses vítimas deperseguição ou,simplesmente, embusca de sonhosrevelam acontribuição decada cultura aodesenvolvimentodo Estado

Adaptada ao estilo local, Anna acha conterrâneos “exageradamente rígidos” Amadou pensa em voltar ao Senegal: “Quero pôr em prática o que aprendi”

Estigma de comerciantes preocupa Liu Zhegn

Com quatro filhas brasileiras, Li Li pretende ficar

Pai de Tânia trouxe doces europeus ao Recife

Terra de estrangeiros

Helena Alencar

GIOVANNI COSTA

GIOVANNI COSTA

GIOVANNI COSTA

RINALDO MARQUES

JARBAS ARAÚJO

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05Abril de 2016

Mais recentemente, um fenômenopassou a ser observado na capital pernam-bucana: a presença de comerciantes deorigem chinesa e africana no Centro. Nafalta de estatísticas oficiais, as estimativasficam por conta de organizações sociaisque oferecem apoio a esses imigrantes, aexemplo do Escritório de Assistência à Ci-dadania Africana em Pernambuco (Eacape).Diretor da entidade fundada há quatroanos, o pernambucano Altino Mulungufala de 130 a 150 senegaleses atualmenteno Estado. A nacionalidade é maioria entreos africanos que emigram por razõeseconômicas e trabalham no comércioinformal do Recife.

“O perfil é de rapazes jovens que saemdo Senegal em busca de novos horizontes.A realidade mudou um pouco por causa daatual conjuntura econômica do Brasil, maseles vinham com a ideia de que era um el-dorado”, comentou. Em razão da crise e dafiscalização constante, muitos também têmdeixado o Recife rumo ao interior do Estado.

O senegalês Amadou Tourée mora noBrasil há dez anos, cinco deles no Recife. Ésoldador naval por formação, mas trabalhavendendo artesanato em feiras. Em 2015,montou a Associação dos Senegaleses dePernambuco, com o objetivo de orientar osconterrâneos recém-chegados, e tem semovimentado em busca de apoio para aprimeira comemoração do Dia Internacionalda África, em maio.

“Existe uma conexão de muito tempoentre Pernambuco e o Senegal. Em 1895, umnavio brasileiro escrito ‘Pernambuco’ foialugado pelos franceses para levar o xeiqueAhmadou Mbacké para o exílio. Por isso, opovo senegalês conhece esse nome”, narraTourée. “A religião de matriz africana, agastronomia, tem muita coisa parecida.”

Apesar de elogiar a hospitalidade dospernambucanos, ele ainda sonha em voltarpara casa e aplicar os conhecimentos deagropecuária que obteve no Brasil nosnegócios da família. “Meu pai foi engenheiroambiental, meus irmãos se formaram emveterinária. No Senegal, tenho um sítioonde quero colocar em prática o que aprendiaqui”, planeja.

A imigração chinesa é mais antiga etem um perfil diferente, explica Nilo Amé-rico Lima. “Não são refugiados. São famíliasque discordam ideológica e economicamenteda Revolução Cultural Chinesa [liderada porMao Tsé-Tung, em 1949]. Já chegam comocomerciantes, têm dinheiro para montarum negócio”, diz o geógrafo.

Diplomata aposentada e pesquisadorada história da imigração chinesa na Américado Sul, Liu Zheng Qin frisa que a amizadesino-brasileira soma mais de 200 anos,

quando os primeiros imigrantes iniciaramas plantações de chá nas regiões Sul eSudeste. Na década de 1920, teriam chegadoas primeiras levas ao Nordeste. “Houve umauge entre 1960-70, principalmente dechineses vindos de Taiwan. Depois daabertura da China, vieram outros”, relata.

Ela acredita que cada um sai do país deorigem por razões particulares, mas com umobjetivo comum: conquistar uma vida me-lhor. “O Brasil é grande e, em relação àChina, pouco povoado. Hoje, calculamosmais de 5 mil chineses no Recife e 10 milem todo o Nordeste”, acredita. Liu Zhengnão percebe discriminação racial contra oschineses, porém reclama do “retrato nega-tivo que a imprensa local faz”. “Falam queos comerciantes não pagam impostos, masmuito poucos fazem isso. E são vítimas deextorsão, tanto de fiscais quanto de poli-ciais”, observa. Para ela, a instalação deum Consulado Geral da China no Recife,anunciada neste ano, deve melhorar a si-tuação.

As mais de duas décadas no País, con-tudo, são suficientes para que ela e a filha,Li Li Chen, não pensem em retornar. “Aquijá existe uma segunda geração, os filhosdos chineses, que são médicos, professores,funcionários públicos brasileiros. Minhasquatro filhas nasceram aqui. Eu não vouvoltar para a China”, garante Li Li. “Oschineses não se movimentam muito.Querem firmar alicerces, manter uma vidapacífica e feliz”, acrescenta Liu Zheng.

Diante das demandas advindas dosmovimentos migratórios recentes, aComissão de Assuntos Internacionais daAssembleia Legislativa de Pernambuco temse movimentado para ampliar o diálogocom as comunidades. O presidente,deputado Joaquim Lira (PSD), anunciou quevai propor uma mudança no RegimentoInterno da Casa para que o colegiado possaabranger atribuições sociais, e não apenaseconômicas e comerciais.

“Sentimos a necessidade de começar adiscutir a questão, até pela posição geo-gráfica do Estado”, justifica o parlamentar.“Precisamos observar com cuidado. A imi-gração atinge o mundo e mexe com a reali-dade de muitas pessoas que deixam sua fa-mília e história em busca de uma qualidadede vida melhor. Temos que ponderar, pararecebê-los sem marginalizar quem é daqui.”

SERVIÇO:

Para contribuir com as instituições citadas nareportagem e/ou obter mais informações sobre otema, entre em contato:- Organização Mãos Unidas - (81) 97312.3677(WhatsApp)- Escritório de Assistência à Cidadania Africana emPernambuco (Eacape) - (81) 3424.1012

Diferentes caras noCentro do Recife

Deixar o país de origem por opção acaba setornando, para muitos estrangeiros, a opor-tunidade de realizar sonhos. Foi assim que o sul-coreano Kong Pil Choi, que já era formado emDireito e Economia, conquistou o desejado diplo-ma de Música. “Meu pai era maestro e nãodeixava, dizia que a profissão era precária. NaCoreia, palavra de pai é palavra de rei”, lem-bra. Quando deixou a terra natal, há 50 anos,a renda per capita da Coreia do Sul era de 210dólares (hoje, alcança os 33,2 mil dólares anuais),o que justificaria a preocupação do genitor.

Choi veio ao Brasil como correspondentedo Diário Central, mas, após escrever mais de55 reportagens, além de uma série especialsobre a Superintendência do Desenvolvimentodo Nordeste (Sudene) que ganhou fama inter-nacional - “o governo coreano comprou quatroprojetos de recalcamento de água ao economistaCelso Furtado” -, decidiu largar o jornalismo.Cursou duas faculdades de Música e tornou-seregente de três corais, no Recife. “O Coral Diás-pora tinha 72 canções coreanas no repertório.Recebemos prêmios, demos três voltas aomundo”, conta satisfeito.

Homenageado com oTítulo de Cidadão recifenseem 1998, Choi atua na di-fusão cultural: ensina oidioma nativo, possui umrestaurante típico com aesposa no bairro do Espi-nheiro, pratica e ensinaacupuntura e, em 2013,comemorou a aprovação daLei Estadual 15.114/2013, que criou o Dia da Cul-tura Sul-Coreana em Pernambuco. Desde en-tão, organiza um festival anual, sempre no úl-timo domingo de setembro. Também articulaatividades com outros coreanos que moram noEstado. “São 14 famílias na capital, mais oitoem Caruaru, oito em Santa Cruz do Capibaribee quatro em Toritama. Têm uma história di-ferente da minha, trabalham principalmentecom confecção.”PONTO DE CHEGADA

Historicamente, grandes deslocamentospopulacionais são associados a conflitos bélicose momentos de expansão colonial. No século XVI,Pernambuco era um dos importantes núcleossociais do Brasil Colônia, com uma populaçãoescrava de mais de 20 mil pessoas, além deportugueses proprietários de engenho e profis-

sionais liberais de várias nacionalidades. A ocu-pação holandesa, a partir de 1630, causou im-pacto na cultura e no urbanismo, particularmen-te do Recife, e no século XIX, a presença inglesadeixou suas marcas.

Ao longo do século XX, as grandes guerrasmundiais fizeram da Europa, mais uma vez,um grande polo de emigração - ingleses, ale-mães, italianos, espanhóis e japoneses vieramem massa para o Brasil. Parte deles, para Per-nambuco. A herança pode ser facilmente notadanos sobrenomes e nas instituições - HospitalPortuguês, Clube Alemão, Cemitério dos Inglesese tantas outras.

Quando se fala em diáspora, porém, a traje-tória do povo judeu é emblemática. “A imigraçãojudaica para Pernambuco se concentrou nacolonização e no entreguerras, embora saídasde refugiados fossem constantes. O eixo co-mum era a intolerância religiosa e política, emcada época com suas características”, explicaa historiadora de origem judaica Tânia Kaufman.

Os pais da pesquisadora chegaram entre osanos 1930 e 1940 - a mãe vinda da Bessarábia,

que atualmente faz parteda Romênia, e o pai, da Ale-manha. “Essa leva dejudeus da década de 1940era mais letrada, pro-fissionalmente capacitada,com especializações e ideiasde modernidade”, conta. Acomunidade, que tra-balhava no comércio, comlojas no bairro da Boa Vista,

estabeleceu um sistema de crediário e influen-ciou nas artes. “Meu pai tinha uma confeitariana rua da Glória e introduziu os doces finos dapastelaria europeia no Recife.”

Ela calcula que haja 300 famílias de des-cendentes de judeus em Pernambuco, mais umgrupo de cerca de 80 pessoas que reivindicamessa identidade - são da linhagem de cristãos-novos, judeus que, durante a Inquisição Católica,levavam uma vida clandestina. “Hoje busco ainfluência judaica nos costumes desses que seespalharam no Sertão: na forma de sepulta-mento com mortalha e sem caixão, na cura dasdoenças, no que é interditado na alimentação,na religiosidade e no linguajar popular. É co-mum, por exemplo, alguém reclamar de umaconversa barulhenta dizendo ‘pensam que estãona sinagoga?’”, revela Tânia.

Sobrenomes,

instituições e

costumes são

marcas da imigração

em Pernambuco

Como regente de coral, Choi realizou sonhos: “demos três voltas ao mundo”

RINALDO MARQUES

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06 Abril de 2016

Imagine que você está em umrestaurante com amigos. De re-pente, um deles começa a ficar

agitado, sem conseguir falar e tos-sindo muito. Dá para perceber queele está engasgado, mas o que fazer?

A situação é mais comum do quese imagina, mas a demora na pres-tação do socorro ou a realização deprocedimentos errados, como tapasnas costas, podem gerar sequelas eaté mesmo resultar em morte. Parainstruir a população sobre como rea-gir, restaurantes, bares e lanchonetesdo Estado deverão cumprir a Lei Es-tadual nº 15.714/2016, que determinaa afixação de cartazes com o pro-cedimento correto para essa situação:a Manobra de Heimlich (ver info-gráfico).

Caracterizado por compressõesabdominais, o procedimento foidesenvolvido, há 42 anos, pelo mé-dico estadunidense Henry Heimlich.Estima-se que, no início da décadade 1970, cerca de 4 mil pessoas mor-riam, por ano, vítimas de asfixiacausada por alimentos e pequenosobjetos nos Estados Unidos. Pelascontas do médico, mais de 100 milpessoas foram salvas pela manobra.

Após aproximadamente 15 se-gundos sem conseguir respirar, o

engenheiro Marcelo Pinheiro foi res-gatado graças à realização do pro-cedimento por um colega de trabalho.“Fiquei engasgado ao rir enquantocomia. Por sorte, a empresa ondetrabalho realiza treinamento deprimeiros socorros. Assim, todomundo estava apto a realizar aManobra de Heimlich”, conta. Aotomar conhecimento da lei, Pinheiroa avaliou como “importantíssima”.“É muito válida uma legislação quedissemine esse conhecimento, capazde salvar vidas”, ressaltou.

Tenente-coronel do Corpo deBombeiros, Edson Marconni Almeidajá executou a manobra várias vezes,sendo, inclusive, criador de um apli-cativo de primeiros socorros que acorporação disponibiliza à sociedade.“No caso de engasgo, quem prestao socorro deve se posicionar por trásda vítima, como se as estivesse abra-çando, e comprimir a região abdo-minal para cima. Isso fará com queo volume do tórax seja diminuído eo ar dos pulmões impulsionado paracima, fazendo pressão para expulsaro objeto”, explica. Ele também cha-ma atenção para o cuidado com osbrinquedos das crianças: “Os casosde engasgo não ocorrem apenas du-rante a alimentação. É preciso ficaratento na hora de comprar brinque-dos, respeitando sempre o indicativode idade do Inmetro”.

Quanto mais rápido a manobra for

aplicada, maior a chance de resolvero engasgo sem danos. “A depender dasituação, o indivíduo engasgado poderásobreviver por um período de 30 se-gundos a quatro minutos. As sequelastambém podem ir de lesões neuroló-gicas, motoras e neurosensoriais, ouaté mesmo resultar em morte, infe-lizmente”, ressalta o médico Eduar-do Figueiredo, do Hospital das Clínicasda Universidade Federal de Pernam-buco.

Autor do projeto que deu origemà Lei 15.714, o deputado Beto Accioly(PSL) ressalta a importância dadivulgação do procedimento. “Comose trata de uma técnica de emer-gência simples, qualquer pessoa con-segue executar a Manobra de Heim-lich, desde que orientada. Ao tornarobrigatória a disseminação dessainformação nos estabelecimentos deconsumo de alimentos, nosso obje-tivo é contribuir para o salvamentode vidas”. Em vigor desde o dia 3 demarço deste ano, a norma determinaque os cartazes, em tamanho A3(420x297 mm), devem ser afixadosem local de fácil visualização e emnúmero compatível com as dimen-sões do estabelecimento.

Presidente da Associação Bra-sileira de Bares e Restaurantes emPernambuco (Abrasel-PE), AndréAraújo relatou que, em conversa comalguns membros da entidade, ob-servou uma recepção positiva da le-gislação. Por outro lado, o grupo la-mentou o fato de não ter sido ouvidono processo de elaboração da regra.“Gostaríamos de ter contribuído coma iniciativa, num processo constru-tivo para enriquecer a legislação”,comentou.

Gabriela Bezerra

Primeira regra sobretransporte de

passageiros data de 1914

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Superintendência de Preservação do Patrimônio Histórico do

Legislativo. Lei nº 1.234 de 06 de junho de 1914. Acervo do Arquivo

Geral Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco.

O documento supracitado pode ser consultado no Arquivo Geral

da ALEPE, custodiado pela Superintendência de Preservação do

Patrimônio Histórico do Legislativo.

Norma alerta para condutaem casos de engasgo ou asfixiaBares e restaurantes deverão conter cartazesorientando a execução da Manobra de Heimlich

O Museu Palácio Joaquim Nabuco recebe iluminação na cor amarela,no mês de maio, em alusão ao movimento que visa alertar a sociedadesobre o alto índice de mortos e feridos no trânsito, o Maio Amarelo. Étambém no dia 13 desse mês que se comemora, no Brasil, o Dia doAutomóvel e da Estrada de Rodagem, instituído por Getúlio Vargas atravésdo Decreto nº 24.224/1934.

O motivo da homenagem foi a construção da primeira estrada derodagem, inaugurada em 13 de maio de 1926, entre as cidades do Rio deJaneiro e Petrópolis, por iniciativa do Automóvel Club do Brasil e patrocinadapelos poderes públicos, conforme o Decreto. A construção da estradaobjetivava possibilitar a comunicação rodoviária entre a capital do Brasil- na época, Rio de Janeiro -, o centro e o norte do País.

Antes disso, porém, em Pernambuco, o governador Emygdio DantasBarreto sancionou a Lei Estadual nº 1.234, de 6 de junho de 1914, criadapelo Congresso Legislativo do Estado, então presidido por GonçalvesMaia, autorizando a concessão a Clicério Nogueira Bandeira (ou à empresaque este organizasse) do transporte de cargas e passageiros por meio deautomóveis entre as localidades de Rio Branco, Alagoa de Baixo, Ingazeira,Buíque, Flores, Vila Bela, Belmonte e Salgueiro.

Um auxílio quilométrico, que não poderia exceder um conto de réispor quilômetro, foi legalmente previsto para a empresa. O governoestabeleceria as cláusulas do contrato, segundo os interesses do Estado,e definiria os preços de passagens, fretes e condições de auxílio. No prazode sete meses, após a assinatura do contrato, seria iniciada a construçãode estradas, que deveriam ser concluídas no prazo máximo de três anos.

A concessão duraria 25 anos e garantiria isenção de todos os impostosestaduais para a companhia responsável pela execução do contrato. Nofim do prazo da concessão, as estradas seriam revertidas para o Estado,sem o pagamento de indenização de qualquer espécie à concessionária.Esse movimento, iniciado na década de 1910, permitiu a expansão da co-municação rodoviária e o tráfego de pessoas e produtos no Interior dePernambuco.

A iniciativa já havia sido colocada em prática na capital e visava fa-cilitar o deslocamento da população nas áreas urbanas, desde os anos de1860, quando foram instaladas ferrovias para o transporte de passageirossobre trilhos no Recife. O crescimento da cidade e o desenvolvimento docomércio exigiram transformações na forma de locomoção. Foi assim que,posteriormente, surgiram os ônibus e automóveis que passaram a circularnas várias pontes dos centros urbanos e estradas estaduais.

http://app.vc/primeiros_socorros

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Em 2015, os índices de vio-lência em Pernambuco ti-veram o segundo ano seguido

de aumento, com o número deassassinatos crescendo 13,3%.Foram 3.888 mortes, 454 a maisque em 2014. Com isso, a quan-tidade de Crimes Violentos Letaise Intencionais (CVLIs) - que en-globam homicídios, latrocínios elesões corporais seguidas de morte- superou os números de 2010,quando ocorreram 3.508 mortesintencionais no Estado. Os dadossão da Secretaria de Defesa Social(SDS).

No entanto, a geografia daviolência mudou. Se, em 2010,metade dos CVLIs se concentravana Região Metropolitana do Recife(RMR), no ano passado, 58% dessasmortes aconteceram no Interior. Das454 mortes ocorridas em 2015 quesuperaram o quantitativo do anoanterior, 56,4% se deram no AgresteCentral, Mata Norte e Sertão do SãoFrancisco, enquanto o entorno dacapital respondeu por apenas 24,9%desse aumento.

Na comparação com 2010, oAgreste Central e a Mata Norteregistraram índices de assassinatosmaiores que os da RMR. Já a regiãodo São Francisco alcançou o mes-mo nível de violência do AgresteCentral há seis anos (ver info-

gráfico). Por outro lado, as regiõesdo Pajeú e do Moxotó, no Sertão,apresentaram diminuição no totalde CVLIs, enquanto outras ficaramestáveis.

Durante os primeiros anos deexecução do Pacto pela Vida, aredução global do número de as-sassinatos no Estado foi conse-quência de uma queda significativana Região Metropolitana, onde oíndice de CVLIs diminuiu de 73,4a cada 100 mil pessoas, em 2006,para 36,95 em 2013. Essa melhoranos índices também aconteceu noInterior, mas com menor in-tensidade. A partir de 2014, porém,as mortes violentas voltaram asubir, com um aumento menor naRMR e maior no Interior.

A discussão sobre o tema mo-biliza o debate na Assembleia Legis-lativa de Pernambuco. Para o líderda Oposição, Silvio Costa Filho (PRB),“o crescimento da violência no In-terior é fruto do desaparelhamentodas forças de segurança do Estado”.“Falta infraestrutura para trabalhoem todas as unidades, como com-bustível, manutenção das viaturas emunição. Os coletes à prova de balasestão vencidos. Se a situação é críticana capital, no Interior é ainda maisgrave”, considera.

Já o líder do Governo, Walde-mar Borges (PSB), interpreta osdados de modo diferente. “Nãopodemos falar que voltamos aonível de 2010, mas que, em algunsmeses, tivemos um índice de as-

sassinatos que foi pior do que antesdo Pacto Pela Vida”, observa. Eleressaltou ainda as dificuldadesadvindas da crise econômica na-cional e o esforço orçamentáriofeito para o aumento do salário depoliciais e bombeiros militares,neste ano, além de concursos rea-lizados para a área.CENÁRIO NACIONAL

A tendência de interiorização daviolência vem sendo detectada emtodo o País desde o início deste sécu-lo. No Mapa da Violência de 2012, deabrangência nacional, o pesquisadorJulio Jacobo Waiselfisz identificouum fator importante nessa migração:novos polos de desenvolvimentoatraem também a violência, semque haja a mesma estrutura das ca-pitais para que os agentes da segu-rança pública combatam o crime.

Para a cientista política Ana Ma-ria de Barros, professora do Mes-trado em Direitos Humanos da Uni-versidade Federal de Pernambuco(UFPE), há, no Agreste, um aumentoda violência relacionada ao desen-volvimento de cidades como Torita-ma, Caruaru e Santa Cruz do Capi-baribe. “São crimes contra o patri-mônio que acabam ocasionandolatrocínios”, explica.

O estudante Matheus ViníciusVasconcelos sente a escalada daviolência no bairro do Salgado, emCaruaru, onde mora. “Vimos osassassinatos aumentarem em 2015,na maioria das vezes relacionadosao tráfico de drogas. Só os assaltos

vêm diminuindo”, relatou. Na opi-nião dele, o município sofre coma falta de um policiamento rotinei-ro. “Só observamos vigilância os-tensiva quando há grandes eventosna cidade, como o São João. Foradesses momentos, vemos um nú-mero de policiais muito pequenopara o porte da população”.

A SDS informou que, “por ques-tões estratégicas de segurança, nãodivulga o quantitativo de efetivos”,o qual é planejado semanalmente.Ainda segundo a Secretaria, em 2015,100 novos soldados foram alocadosnas cidades da área integrada desegurança que compreende Caruarue outros 13 municípios vizinhos.

Para melhorar os resultados doPacto Pela Vida em 2016, o Estadoaposta em um reforço do efetivopolicial. Foram anunciados con-cursos com 1.500 vagas para a Polí-cia Militar, 650 para a Polícia Civile 316 para a Polícia Científica, a fimde recompor os quadros dessasinstituições. O índice de assassi-natos chegou a diminuir em feve-reiro deste ano, com uma queda de5% em relação ao ano anterior (de325 para 308 homicídios), mas vol-tou a aumentar em março - foram335 mortes violentas, 18% a maisque o mesmo mês de 2015.

O delegado da Polícia Civil Bru-no Vital, responsável pelas in-vestigações no Agreste Central, ga-rante que o trabalho da segurançapública na região já traz algunsresultados, com redução de 4,6%

nos assassinatos. “Também conse-guimos, em 2015, uma taxa deresolução de homicídios da ordem de62%, quase a mesma dos EstadosUnidos (65%), enquanto no Brasil amédia é de 5%”, afirma. Por outrolado, houve um aumento de 14,3%nos assassinatos na cidade de Carua-ru. “Nosso plano de ação estabele-cido para conter os crimes contra avida em algumas localidades maisviolentas está apenas no início, co-meçou a ser executado em março”,justifica.

Apesar do aumento no númerode assassinatos coincidir com a criseeconômica no País e no Estado, aprofessora Ana Maria de Barros con-testa a relação que comumente se fazentre desemprego e aumento da cri-minalidade. “A maioria, quando per-de o emprego, vai trabalhar na eco-nomia informal. Quem comete deli-tos, normalmente, já tem uma vidaligada ao crime”, aponta a profes-sora. “Essa associação pode se tornaruma forma de segregar os maispobres”.

A pesquisadora avalia ainda queo formato do Pacto Pela Vida,articulando instituições como polí-cia, Judiciário e Ministério Público,foi interessante de início, mas chegouao limite. “A política de segurançaprecisa ser repactuada com novosatores. O Governo poderia trabalharcom processos educativos para aprevenção da violência, envolvendomovimentos sociais e prefeituras,por exemplo”, sugere.

07Abril de 2016

Número deassassinatosvoltou aaumentar emPernambuco em2015. Mais quena RMR, onúmero decrimes violentosem municípiosdo Interiorcontribuiu parao cenário

Edson Alves Jr.

Um novo mapa da criminalidadeSEGURANÇA PÚBLICA

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Moradora da região doPlanalto, em Abreu e Lima,a diarista Numeci Ferreira

da Silva, de 52 anos, foi a segundaentre os dez filhos da empregadadoméstica Iracema. Um dos irmãos,Marcelo, morreu de meningite comum ano e dois meses e outra, Fátima,foi vítima de sarampo aos dois anosde idade. Há 26 anos, ela própriaperdeu um de seus três filhos,Wesley, de um ano e seis meses, pordesidratação. “Estava trabalhandoe deixei com uma amiga. Quandovoltei, à noite, ele estava cominfecção intestinal e vomitava. Leveipara o hospital, mas não deu tempode socorrer”, conta.

A história pessoal da pernam-bucana se relaciona com estatísticasque, nas últimas décadas, vêm sendorevertidas de forma gradual em todoo mundo, e de forma ainda maisacentuada no Brasil. Conforme es-tudo da Organização das NaçõesUnidas (ONU) publicado ano passadopela revista científica inglesa Lancet,todas as regiões do planeta tiveramredução de, pelo menos, 50% nastaxas de mortalidades na infância(óbitos de me-nores de 5 anospor mil nascidosvivos) e infantil(taxa referentea menores deum ano) no pe-ríodo de 1990 a2015.

Em 1990, ataxa nacionalera de 53,7 pormil, conformedados do Minis-tério da Saúde.Em 2013, caiupara 16,7. Com isso, o Brasil estáentre os 62 países, de 195 pesquisa-dos, a atingirem o quarto Objetivode Desenvolvimento do Milênio, queconsistia em reduzir em dois terçosesse indicador. Vale destacar que oresultado brasileiro (73%) ficouacima das médias global (53%) e da

América Latina e Caribe (67%).Para a oficial do Programa das

Nações Unidas para o Desenvolvi-mento (PNUD) no Brasil, a lituanaIeva Lazareviciute, o crescimentodo atendimento pré-natal, do acessoà vacinação, do aleitamento maternoe da atenção ao recém-nascido foiessencial para o alcance da meta.Ela destaca também a ampliação dalicença-maternidade e a melhorados indicadores sociais em geral,como a redução da pobreza. “Al-gumas iniciativas brasileiras foram,inclusive, exportadas para outrospaíses como a criação de um bancode leite humano na cidade de Ma-puto, capital de Moçambique, pormeio de projetos de cooperação”,frisa.

O Nordeste, que em 1990 tinhao pior indicador entre as regiões doPaís, apresentou a redução maissignificativa. De acordo com Rela-tório Nacional de Acompanhamentodos Objetivos de Desenvolvimento doMilênio 2014, do Instituto de Pesqui-sa Econômica Aplicada (Ipea), ocoeficiente foi reduzido de 87,3 para17,7 óbitos por mil nascidos em 2011.A taxa, que era 2,5 vezes maior quea do Sul, passou a ser 1,6 vez maior.Em Pernambuco, os dados maisrecentes do Ministério da Saúde

apontam que ataxa de mor-talidade na in-fância caiu de88,7, em 1990,para 18,1 em2011. Nesse pe-ríodo, o Estadopassou daquarta taxamais alta dopaís para a 17ª.

A SecretariaEstadual deSaúde (SES)atribui o resul-

tado, entre outros fatores, aoaumento na cobertura da Estratégiade Saúde da Família e ao ProgramaMãe Coruja. Segundo a médica dagerência de Saúde da Criança e doAdolescente, Madalena MonteiroOliveira, o avanço é uma vitória paraa população. Ela adverte, entretanto,

que quanto menor o patamar, maisdifícil se torna reduzi-lo. “Nossosonho é cair abaixo dos dois dígitos”.

Segundo a SES, o desafio agoraé fortalecer ações regionais. Umlevantamento do órgão sobre amortalidade infantil, realizado dejaneiro a setembro de 2015, mostraque as maiores taxas persistem noSertão. Elas aparecem nas divisõesadministrativas sediadas em Ar-coverde (Moxotó), Salgueiro (SertãoCentral), Petrolina (São Francisco),Ouricuri (Araripe) e Serra Talhada(Pajeú). Na avaliação de Madalena,pesam nessa desigualdade regionalcondições socioeconômicas. “Exis-tem bolsões, com menores índicesde desenvolvimento humano,limitado acesso à água e períodosde seca extrema”, explica.

O presidente do ConselhoRegional de Medicina de Pernam-

buco (Cremepe), Sílvio Rodrigues,acrescenta que, na área rural, fatorescomo escolaridade, renda e acesso asaneamento básico agravam asituação, e aponta possíveis retro-cessos nas políticas públicas. “Temosidentificado falta de insumos e me-dicamentos nas unidades básicas desaúde e, inclusive, de vacinas e sorooral. É uma situação que não ocorriahá três anos. Também estamospreocupados com o fechamento deleitos em hospitais de pequenoporte”, adverte.

A Secretaria Estadual de Saúdealega que a desativação de leitos temocorrido nas redes municipais e nãoafetou as unidades do Estado. Já aredução na aquisição de remédiosseria causada pela falta de repassedo Governo Federal.

Integrante da Comissão de De-fesa dos Direitos da Mulher emédica pediatra, a deputadaSocorro Pimentel (PSL) acrescentaa assistência materno-infantilcomo um dos maiores gargalos nasaúde em Pernambuco. “Temosaltos índices de mortalidade ma-terna e de crianças com sequelaspor complicações do parto, e issoprecisa ser enfrentado de formaefetiva. Também é preciso haveruma política para o parto huma-nizado. Ainda há um número exor-bitante de cesarianas no Brasil”,avalia a parlamentar, que apontatambém a dificuldade de fixar mé-dicos no Interior.

Também médica e membro daComissão de Saúde da Alepe, adeputada Simone Santana (PSB)pondera que, apesar da falta depolíticas nacionais para incentivar aformação e interiorização de pedia-tras, a superação da meta esta-belecida pela ONU indica que Per-nambuco caminha no sentido certo.“Com o Programa Mãe Coruja, queinduz o fortalecimento da atençãoprimária e promove o trabalho deproteção e cuidado materno-infantil,avançamos. Menos bebês morremno Estado, e o Governo demonstravontade política e seriedade paraerradicar o problema”, argumenta.

Apesar dos avanços no mundotodo, 236,3 milhões de criançasmorreram, entre 1990 e 2015, antesde completar cinco anos de idade.Essa quantidade equivale a mais doque toda a população brasileira.

O Fundo das Nações Unidas paraa Infância (Unicef) elogia os resul-tados do Brasil, mas indica algumasmedidas que ainda precisam serreforçadas (ver na tabela). Segundoo órgão, hoje as maiores vítimas damortalidade infantil são as criançasindígenas: elas têm duas vezes maisrisco de morrer antes de completarum ano do que as outras criançasbrasileiras, por causas como des-nutrição. Essas comunidades aindaenfrentam dificuldades de acesso àatenção primária e pré-natal, à co-bertura vacinal e ao saneamentobásico.

08 Abril de 2016

Brasil atinge antecipadamente meta global de redução

da mortalidade na infância. Pernambuco teve

melhora de aproximadamente 80% em duas décadas

André Zahar

JOÃO BITA

Esperança para os que vão nascer

Relato de Numeci, que perdeu dois irmãos e um filho, se torna mais raro

OBJETIVO DO MILÊNIO

Apesar dos avanços,

236,3 milhões de

crianças menores de

cinco anos morreram,

entre 1990 e 2015,

no mundo todo

O QUE FOI FEITO

Sistema Único de Saúde (SUS)

Maior cobertura de vacinação

Estratégia de Saúde da Família

Programas de aleitamento

materno

Políticas de transferência de

renda

Rede Cegonha

O QUE FALTA FAZER

Priorizar a busca ativa de

gestantes para um pré-natal de

qualidade.

Criar leis e políticas diferenciadas

para as populações indígenas,

ribeirinhas e quilombolas.

Ampliar e adaptar a Rede

Cegonha para atender a

gestantes e crianças mais

vulneráveis

Incentivar a amamentação e

ampliar o aleitamento materno

exclusivo até o sexto mês

Fortalecer as políticas públicas

municipais, incluindo populações

de áreas distantes.

Valorizar e estimular o parto e

o nascimento humanizados

Fonte: Ipea/Unicef