LÚCIA HELENA RIOS BARBOSA DE ALMEIDA SER MULHER...

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM LÚCIA HELENA RIOS BARBOSA DE ALMEIDA SER MULHER NO CLIMATÉRIO: Uma análise compreensiva da vivência de mulheres pela Enfermagem TERESINA 2009

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM

LÚCIA HELENA RIOS BARBOSA DE ALMEIDA

SER MULHER NO CLIMATÉRIO: Uma análise compreensiva da

vivência de mulheres pela Enfermagem

TERESINA 2009

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Almeida, Lucia Helena Rios Barbosa de,

Ser mulher no climatério: Uma análise compreensiva da vivência

de mulheres pela enfermagem/ Lucia Helena Rios Barbosa de

Almeida. Dissertação de mestrado, Teresina: UFPI, 2009

p. 72

Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Universidade Federal

do Piauí, Departamento de Enfermagem.

PALAVRAS CHAVE: 1. Climatério 2. Menopausa 3. Ser Mulher

4. Enfermagem.

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SER MULHER NO CLIMATÉRIO : Uma análise compreensiva da vivência de mulheres pela enfermagem

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação Mestrado em Enfermagem da UFPI como requisito necessário à obtenção do grau de mestre.

Aprovada pela Banca Examinadora:

___________________________________ Prof. Dra. Maria Helena Barros Araújo Luz.

Orientadora/Presidente

___________________________________ Prof. Dra. Célia Pereira Caldas - UERJ

1ª Examinadora

__________________________________ Prof. Dra. Inez Sampaio Nery

2ª Examinadora

Suplente:

__________________________________ Prof. Dra. Maria do Livramento Fortes Figueiredo

TERESINA 2009

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A meu marido e grande amigo que está sempre incentivando o meu crescimento pessoal e profissional.

A minha orientadora Maria Helena, que com sua inteligência, sensibilidade seu conhecimento e sua amizade me fez despertar para um mundo novo e acreditar que eu podia.

.

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Agradeço a Deus, inicio e fim de todas as coisas. Às mulheres que partilharam suas experiências de vida comigo e que

enfrentam o desafio de lutar sempre por uma vida melhor A Universidade Federal do Piauí, que me proporcionou esta oportunidade tão

enriquecedora para o desenvolvimento de minhas atividades de ensino e pesquisa. Ao Departamento de Enfermagem . Aos funcionários, tão queridos, Chico, Junior, Reginaldo, Mônica e Valdira,

que foram incansáveis na disponibilidade em me ajudar. As minhas colegas nesta caminhada que me proporcionaram momentos

maravilhosos de convívio e troca de experiências; vou sentir saudades. A professora doutora Claudete Ferreira de Sousa Monteiro e Inez Sampaio

Nery pelas observações valiosíssimas que fizeram a este trabalho. A minha família que soube compreender e me apoiar neste momento.

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“Cada indivíduo tem uma perspectiva de vida, que é como um fio condutor que liga sua origem e seu destino, percebe, sente e age de uma maneira própria, particular e singular. A vivência de cada situação se faz no agora, é única, ímpar, irrepetível.”

Maria Helena Luz

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ALMEIDA, L.H.R. B. de SER MULHER NO CLIMATÉRIO: uma análise compreensiva da vivência de mulheres pela enfermagem. Dissertação de mestrado, Teresina –Pi: Universidade Federal do Piauí, 2009

RESUMO O climatério , faz parte da vivência de uma fase na vida da mulher silenciada, permeada de preconceitos, tabus, à qual se atribui manifestações complexas de alterações físicas, psicoemocionais e sociais. Este estudo teve como objeto os significados atribuídos ao climatério no cotidiano de mulheres que vivenciam esta experiência. Utilizou-se a abordagem qualitativa na perspectiva fenomenológica, fundamentada nas idéias de Heidegger. Foram entrevistadas 10 mulheres na faixa etária de 45 a 65 anos em Teresina – Piauí. A análise dos relatos obtidos permitiram construir quatro Unidades de Significação que conduziram a compreensão de que a mulher vivencia o climatério com sintomas desagradáveis que modificam seu cotidiano; diminuição da libido, perda da capacidade reprodutiva, negação da sexualidade e início do processo de envelhecimento; obscurecida nas ocupações e problemas do dia-a-dia que roubam da mulher o cuidado com sua própria saúde;. A interpretação compreensiva mostra que as mulheres no climatério se encontram na inautenticidade quando vivenciam a cotidianidade dominada pelo falatório, curiosidade e ambiguidade e se conduzem para a autenticidade, quando se abrem à novas possibilidades, ao se sentirem livres das menstruações, com maior disponibilidade de tempo para se autocuidar e capazes de buscar e desenvolver novas relações com os outros e com o mundo para a conquista de uma melhor qualidade de vida. A enfermagem engajada nos programas de atenção à saúde da mulher tem oportunidade de ampliar sua atuação junto a essa clientela, através do desenvolvimento de ações que conduzam a reflexões e superações na perspectiva da promoção de um climatério saudável,

PALAVRAS CHAVE: 1.Climatério 2. Menopausa 3. Ser Mulher 4. Enfermagem

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SUMÁRIO

I – INTRODUÇÃO .....................................................................................................11

1.1 – CONTEXTUALIZAÇÃO DA PROBLEMÁTICA DO ESTUDO ..................12

1.2 – O OBJETO E OBJETIVOS DO ESTUDO ................................................18

1.3 - CONTRIBUIÇÃO DO ESTUDO ................................................................19

II - MARCO REFERENCIAL ............................ ........................................................21

2.1 - O CLIMATÉRIO E A MENOPAUSA .........................................................22

2.2 O CLIMATÉRIO E AS ALTERAÇÕES BIOPSICOSOCIAIS .......................23

2.3 O CLIMATÉRIO E A REPOSIÇÃO HORMONAL........................................28

2.4 A INSERÇÃO DO ENFERMEIRO NA ASSISTÊNCIA AO CLIMATÉRIO ...30

III – ABORDAGEM METODOLÓGICA....................... ..............................................33

3.1 - APROXIMAÇÕES COM A FENOMENOLOGIA .......................................36

3.2 A FENOMENOLOGIA DE HUSSERL A HEIDEGGER ...............................37

3.3 FENOMENOLOGIA E ENFERMAGEM ......................................................40

3.4 - TRAJETÓRIA DO ESTUDO .....................................................................41

IV- APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS .................... ........................................46

4.1 AS UNIDADES DE SIGNIFICAÇÃO...........................................................47

4.2 A COMPREENSÃO VAGA E MEDIANA DA VIVÊNCIA DO CLIMATÉRIO 50

4.3 A INTERPRETAÇÃO COMPREENSIVA ....................................................54

V- CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................ .....................................................58

REFERÊNCIAS.........................................................................................................62

ANEXOS APENDICE A - Roteiro para entrevista ANEXO A - Termo de consentimento livre e esclarecido ANEXO B - Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa

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I – INTRODUÇÃO

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1.1 – CONTEXTUALIZAÇÃO DA PROBLEMÁTICA DO ESTUDO

Desde os tempos mais remotos, a busca do saber tem se constituído uma

aventura no viver cotidiano do ser humano, como um empenho pessoal ou

profissional que dá sentido, orientação e direção à nossa existência.

O saber se desenvolve a partir de uma questão singular de curiosidade,

que como diz Santos (1997) expressa o desejo de saber, que tem uma implicação

psicoafetiva associada à busca de transformar e melhorar o mundo.

À medida que avançamos no conhecimento, nas conquistas sociais e

tecnológicas, ampliam-se os meios de diagnósticos eficazes na detecção precoce de

doenças, surgem novas possibilidades terapêuticas como os transplantes de

órgãos, assim como maior acesso a educação, a saúde, verificando-se um

crescente aumento da expectativa de vida da população em geral. A este fato,

estatisticamente comprovado, encontra-se implícito um fenômeno novo: a

expectativa de envelhecer (IBGE, 2004).

Faz parte do senso comum que todos querem viver mais, ter longevidade,

e questões associadas à saúde, dignidade de viver, direitos de cidadania, ética,

solidariedade e qualidade de vida, têm merecido destaque dentre as questões

relacionadas ao envelhecer. O envelhecimento humano, por ser um fato novo em

nossa sociedade, vem sendo alvo de estudos cada vez mais relevantes

(FRANCIONI, 2003, FIGUEIREDO, 2004).

O estatuto do idoso através da Lei 10.741/03, representa uma merecida

conquista como instrumento para garantia dos direitos sociais da população idosa,

em relação à implementação de programas de assistência à saúde, estímulo para

acesso ao trabalho, cultura e lazer, inclusive prevendo punições para omissões e

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transgressões , aumentando a expectativa de que se venha a ter um envelhecimento

saudável com dignidade e melhor qualidade de vida (BRASIL,2003).

A longevidade, muitas vezes, pode se apresentar como uma situação

ambígua para o ser humano, pois embora desejada é também temida pelas

circunstâncias a ela associada. O processo de envelhecimento tido como natural,

fisiológico e inexorável, reflete uma condição orgânica, enfrentada de diferentes

modos pelas pessoas, principalmente, quando associado à presença de limitações e

enfermidades.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2003) entre 1950 e

2025 a população de idosos no Brasil crescerá 16 vezes, sendo estimada alcançar

32 milhões de pessoas acima de 60 anos, levando-o a ocupar assim a 6ª posição no

mundo.

Diante dessa constatação, cresce em várias áreas do conhecimento, o

interesse pela temática acerca da pessoa na terceira idade. Na área de saúde,

encontram-se, principalmente, estudos relacionados à incidência e tratamento das

doenças mais freqüentes como as doenças cardíacas, neoplasias, infecções

respiratórias, diabetes, entre outras.

Neste sentido Roses (2005) falando sobre o futuro da saúde pública alerta

para o impacto do crescimento, envelhecimento e urbanização acelerada da

população latino-americana, onde cada dia torna-se mais comum encontrarem-se

pessoas centenárias, refletindo o resultado da mudança do enfoque do controle das

doenças para o controle de riscos, em que a questão não é ”morrer de”, mas

“sobreviver com” e, a busca não é tanto a perspectiva da “cura”, mas a da

convivência, eliminando a dor e o sofrimento para as pessoas terem qualidade de

vida, serem funcionais e produtivas apesar da doença.

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Verifica-se também que vêm merecendo destaque na literatura trabalhos

abordando a questão de gênero, no qual se sobressai a mulher, pela maior

representatividade quantitativa e o papel social que desenvolve na procriação e

preservação da família (MILANEZ e NERY, 2004; LIMA 2002; NEGREIROS, 2002).

Por ser a expectativa de vida da mulher cerca de oito anos maior que a do

homem, e no caso da mulher brasileira chega hoje a 75 anos de idade, há a

perspectiva de que ela possa vivenciar além do climatério, período que tem início em

torno dos 45 anos de idade, a possibilidade de viver mais de 1/3 da vida,

aproximadamente 25 anos, após essa fase, que pode se constituir, muitas vezes,

uma condição de agravo à saúde da mulher (BRASIL, 2008).

O climatério é o período fisiologicamente, relacionado à diminuição

progressiva da produção hormonal do estrogênio, geralmente, permeado de

manifestações e sintomas em que se sobressai objetivamente, a menopausa,

caracterizada, pela cessação definitiva da menstruação e ao qual se atribuem

perturbações biopsicossociais (HALBE, 2000).

Por ser o climatério um período que toda mulher vivencia e no qual cessa

a fase reprodutiva, é também uma fase da vida da mulher na qual ela inicia

questionamentos acerca dos sintomas, das transformações e alterações que

ocorrem no seu corpo e sua mente. Essa vivência, que é única e singular precisa ser

compreendida principalmente, por profissionais de saúde, em especial os

enfermeiros, para ajudar esta mulher a ultrapassar esta etapa da vida e chegar aos

75 anos com mais saúde e qualidade nos relacionamentos.

De acordo com Pinho Neto (1989) essa é uma forte razão para buscar

ajudá-las a planejar e enfrentar essa experiência, entretanto essa situação

existencial na vida da mulher é pouco ou mal conhecida, às vezes negada, cheia de

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preconceitos e tabus, que pode conduzir a sentimentos negativos, baixa auto-

estima, improdutividade e isolamento social.

O desconhecimento e o silêncio acerca do climatério geram medo,

alimentam o preconceito, estimulam a fuga e a não aceitação. Questiona-se que

significados têm as mulheres climatéricas a respeito dessa sua vivência? O que elas

percebem, sentem e manifestam no decorrer dessa fase? Como são orientados e

direcionados seus pensamentos, atitudes, ações e decisões diante dessa situação?

O conhecimento científico produzido sobre o climatério, decorre

principalmente, de uma abordagem biologicista, impessoal, a partir de dados

característicos do contexto de vida da mulher, apontando aspectos fragmentados

sob perspectivas diversas, como: alterações físicas, fisiológicas, psicoemocionais e

sociais do climatério, que submetidos a tratamentos estatísticos conduzem a

generalizações, porém deixam lacunas que podem ser preenchidas com novas

abordagens permitindo uma visão holística e humanística do climatério como

fenômeno situado em quem o vivencia (NEGREIROS, 2002; SOARES,2000; DE

LORENZI et al, 2005).

As mulheres no climatério convivem com dúvidas, anseios e desejos de

superação de problemas de saúde e sócio-econômicos que se agrupam em

conseqüências dos conflitos e precárias condições de vida pois, como diz Milanez e

Nery (2004) o climatério ainda é pouco esclarecido, por diversos fatores como: baixa

escolaridade, preconceitos e tabus culturais que são reproduzidos pela relação de

submissão da mulher na sociedade.

Em geral, as imagens veiculadas em propagandas, filmes e televisão,

raramente enaltecem a idade madura, privilegiando o ser jovem, forte e bonito,

desconsiderando as peculiaridades inerentes a cada fase do ciclo vital do ser

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humano, conduzindo ou reforçando preconceitos e frustrações, em que se observa

nas crianças o desejo de ser jovens e no idoso o medo e a rejeição social. Desse

modo a mulher climatérica se encontra ameaçada diante da perspectiva do padrão

de saúde, beleza, produtividade e adequação às exigências sociais, podendo gerar

uma crise existencial.

Ferreira (2003) destaca que os fatores ambientais e sócio-culturais podem

influenciar a reação emocional das mulheres climatéricas, principalmente no mundo

ocidental, em que se valoriza mais a juventude, na qual pode haver uma associação

com um sentimento de inferioridade, historicamente, construído.

O climatério se constitui em importante aspecto a ser considerado na vida

da mulher, tendo em vista a necessidade de se desconstruir pré-conceitos, re-

construir conceitos e construir uma nova imagem da mulher no climatério,

fundamentada em valores pessoais, sociais e estéticos, na perspectiva deste novo

século e milênio.

Embora o climatério corresponda a uma fase fisiológica do ciclo vital da

mulher, ainda é encarado de forma estigmatizada, discriminatória e depreciativa da

condição feminina, semelhante ao que acontece às pessoas em algumas condições,

como: câncer, impotência sexual, Aids dentre outras, em que se evidenciam

esforços de superação.

No que diz respeito ao estigma do câncer e também da Aids, observa-se

que este vem mudando com apoio da mídia em campanhas publicitárias,

socialização de informações científicas, com participação de atores e jornalistas que

vivenciaram a experiência das doenças. Deste modo o câncer deixa de ser referido

como “doença ruim” ou “aquela doença”, modo tão freqüente de se referir a ele há

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uns 20 anos atrás. Atualmente, já se assume mais claramente essas condições, seja

no plano pessoal, familiar ou dos amigos.

O estigma da impotência sexual também vem merecendo atenção nos

meios de comunicação e pelos órgãos de saúde, em que são observadas pessoas

de destaque na sociedade para veicular propaganda de medicamentos eficazes no

combate à disfunção erétil do pênis. Cabe ressaltar a proibição da divulgação do

nome comercial dos medicamentos no sentido de coibir a auto-medicação, a

utilização indevida dos produtos e a interpretação errônea das pessoas sobre a

importância da disfunção erétil como uma condição que pode afetar qualquer

indivíduo.

E o climatério, por que não se buscar trabalhar mais? Observa-se, na

prática cotidiana dos serviços assistenciais à mulher que entre elas e até mesmo

com os profissionais que prestam atendimento, existe um constrangimento em falar

sobre o climatério em si, talvez por desconhecimento de que estejam vivendo este

período ou por sua negação.

As mulheres comentam nas salas de espera sobre “ os calores “ que

sentem nesta fase, a angústia, o nervosismo, mas nada falam sobre sexualidade,

nem com as outras nem com os profissionais. Quando falam é quase sempre na

terceira pessoa: “ dizem que sente isso“, “ dizem que a mulher esfria “, “ dizem que

ataca um nervoso...”. Muitas vezes se percebe a insatisfação delas com o

atendimento, quando os profissionais não dão a devida atenção a suas queixas mais

subjetivas; “ o doutor disse que isso não é nada, que é assim mesmo.”, “ele não quis

nem escutar.”

Percebo que os serviços de saúde ainda não atentaram para este aspecto

da atenção à saúde da mulher, pois geralmente, privilegiam a função reprodutora,

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com ações voltadas prioritariamente, para o ciclo gravídico-puerperal. Muito se fala

de humanização da assistência nos serviços, mas pouco se faz em termos de ouvir

não somente as queixas, mas os problemas comuns desse grupo de mulheres, que

vão em busca de atenção e cuidados.

Desse modo, surgiu meu interesse em estudar o significado atribuído

pelas mulheres ao climatério, buscando compreender como olham para si mesmas,

como vivenciam este período e que perspectivas apontam no direcionamento de

suas vidas.

Como docente engajada na disciplina Fundamentação Básica de

Enfermagem, por mais de vinte anos, vivenciando nos campos de prática

pedagógica e atividades de extensão, na assistência a clientes mulheres na clínica

ginecológica de um hospital de referência no tratamento de câncer em Teresina,

capital do estado do Piauí, interagindo com alunas do curso de graduação em

Enfermagem, onde ainda predomina o sexo feminino, esses questionamentos me

desafiam a vencer a questão de como prover melhores condições de assistência a

este grupo, e como levar os alunos a assistirem de forma humanizada e

tecnicamente competente durante sua formação.

Será que o Estado, a sociedade, os serviços e os profissionais de saúde

estão dando o devido valor e conseqüentemente a especial atenção às mulheres

nesta fase de suas vidas? Como as mulheres pensam, percebem, sentem e se

manifestam diante de si mesmas e nas suas ralações com os outros e o mundo?

1.2 – O OBJETO E OBJETIVOS DO ESTUDO

Desta forma o objeto de investigação deste estudo são os significados

atribuídos ao climatério pelas mulheres que vivenciam esta experiência.

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Os objetivos traçados foram:

• Descrever os significados atribuídos ao climatério por mulheres que

vivenciam essa fase da vida.

• Compreender o vivido das mulheres mediante os significados

atribuídos por elas ao climatério.

1.3 - CONTRIBUIÇÃO DO ESTUDO

Com a realização deste estudo espero contribuir para a ampliação e

aprofundamento acerca das questões relacionadas à saúde da mulher através da

perspectiva apontada pelas próprias mulheres a partir de sua vivência do climatério.

Espero oferecer subsídios para a melhoria da qualidade da assistência

à saúde da mulher no climatério despertando a sensibilidade dos profissionais de

saúde, particularmente, os de enfermagem para a perspectiva do cuidar/cuidados

fundamentado numa visão holística e singular do ser humano, que defende acima de

tudo sua dignidade, integridade e identidade.

Acredito vir a ajudar no fortalecimento das atuais iniciativas de

humanização da assistência nos serviços de saúde, com a dimensão das ações de

promoção da saúde e qualidade de vida, voltados para a co-responsabilidade das

mulheres no autocuidado com a sua. Saúde.

Em relação ao ensino pretendo contribuir para a reflexão sobre uma

prática pedagógica crítica-reflexiva e problematizadora a partir de discussões,

encontros baseadas em situações reais, despertando para ações criativas e

construtivas direcionadas para uma atuação efetiva de enfermagem com

competência técnica, política e humanística.

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Destaco também a contribuição social deste estudo no sentido de trazer

para reflexão e discussão esse tema, que ainda se mostra revestido de sentimentos

preconceituosos e tabus, que representam limitações, obstáculos e desafios ao

existir da mulher.

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II – MARCO REFERENCIAL

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2.1 - O CLIMATÉRIO E A MENOPAUSA

A palavra climatério provém do grego: klimactoni que significa crise e é

definida pela Sociedade Brasileira para estudo do Climatério (SOBRAC, 1993) como

o conjunto de alterações orgânicas e emocionais, cujo início se confunde com o

final do período reprodutivo, as quais tendem a desaparecer à medida que surgem

as adaptações necessárias para a manutenção da saúde .

Como ressalta a Organização Mundial da Saúde (OMS), o climatério

corresponde à fase da vida da mulher onde ocorre a transição do período

reprodutivo até a senectude, variando de 40 a 65 anos de idade (BRASIL, 2008).

Para Pinho Neto (2002) o climatério representa a transição entre o

menacme e a senectude e caracteriza-se pela crescente diminuição da função

reprodutiva, com conseqüências para o equilíbrio metabólico e endócrino.

Segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e

Obstetrícia (FEBRASGO), a fase do climatério pode ser dividida em: pré, peri e pós

menopausa (FEBRASGO , 2004).

A pré- menopausa inicia-se, em geral, após os 40 anos, em mulheres com

ciclos menstruais regulares ou com padrão menstrual similar ao que tiveram durante

sua vida reprodutiva, em que há uma diminuição da fertilidade.

A perimenopausa ou transição menopausal começa dois anos antes da

última menstruação e se estende até um ano após sua ausência, geralmente, as

mulheres apresentam ciclos menstruais irregulares e alterações endócrinas.

A pós-menopausa começa um ano após o último período menstrual. É

subdividida em precoce, quando decorre até cinco anos da última menstruação e

tardia após mais de cinco anos de sua ocorrência.

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O climatério e a menopausa são terminologias bastante confundidas, não

raramente sendo utilizados como sinônimos, inclusive em artigos científicos, porém

vale destacar que a primeira se refere a um período relativamente indefinido

enquanto, a segunda, menopausa, é utilizada para designar a última menstruação.

A menopausa ocorre em torno dos 50 anos de idade e apesar de

caracterizar uma data precisa, só pode ser definida com a cessação definitiva das

menstruações, após transcorrido o período de um ano, definida como mediata nos

dois primeiros anos e tardia nos anos subseqüentes ( HALBE, 2000).

2.2 O CLIMATÉRIO E AS ALTERAÇÕES BIOPSICOSOCIAIS

Segundo o Ministério da Saúde o climatério traz, pelas modificações

hormonais e metabólicas, alterações que nesta fase tem como queixas mais

freqüentes: ondas de calor, sudorese, calafrios; cefaléia, tonturas, parestesia,

palpitações, depressão, insônia, fadiga e perda de memória, assim como, as

alterações menstruais (BRASIL,2008).

São descritos como sintomas relacionados à síndrome do climatério além

dos anteriormente descritos a atrofia vaginal, incontinência/urgência urinária,

disfunção sexual, atrofia da pele e sintomas psicológicos ( PINHO NETO, 2002 ).

A longo prazo tem-se também comprometimento uretral, cardiovascular e

a osteoporose, que do ponto de vista epidemiológico, é considerado um problema

de saúde pública pela taxa de morbiletalidade registrada nesta fase da vida,

acarretando grande ônus à sociedade (FEBRASGO, 2004).

De Lorenzi (2005) demonstrou em seu estudo sobre a sintomatologia

climatérica que as ondas de calor, a irritabilidade e a insônia sofrem influência dos

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fatores psicossociais e da atividade física, relacionados a comportamentos e estilo

de vida próprios de cada mulher.

.Ferreira (2003) também destaca que os sintomas neuropsíquicos que

comumente aparecem nesta fase são restritos aos países ocidentais e a mulheres

caucasianas, comprovando que o hipoestrogenismo é universal, mas a

sintomatologia que o acompanha, não.

Estudos têm demonstrado que sintomas relacionados à depressão,

ansiedade e alterações da sexualidade são freqüentes em casos de expectativas

negativas do climatério (MORSE, 1994), enquanto Lima, 2002, diz que na realidade,

a visão que a mulher tem deste período será determinante do seu comportamento.

Lima (2002) acrescenta que nunca é demais reforçar que nos seres

humanos os fatores psicológicos e sociais têm um papel na determinação do

comportamento sexual. A visão que a mulher tem do climatério, assim como sua

vida pregressa e, logicamente, sua saúde, serão determinantes da maneira como

enfrentará os próximos anos.

A perimenopausa é considerada um período de maior risco para o

surgimento de transtornos mentais particularmente a depressão, entretanto as

mulheres que apresentam depressão têm mais problemas de ordem afetiva e social

e queixas psíquicas e somáticas do que as que não apresentam (BALLINGER,

1977).

Soares & Almeida (2000) demonstraram em estudo, que a depressão na

perimenopausa estaria associada a alterações funcionais do eixo

hipotálamo/hipófise/gonadal e que as fases do ciclo reprodutivo da mulher são

fatores geradores de estresse relacionado ao período pré-menstrual, puerperal e o

climatério, aumentando a morbidade psiquiátrica.

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Entretanto, Harlow (1995) em estudo populacional realizado com 10.000

mulheres em Boston EUA, identificou uma associação de historia prévia de

depressão com menopausa precoce, mostrando assim, a possibilidade dos quadros

depressivos desencadearem o processo de falência ovariana, independente da

idade cronológica..

Lee (1993) corrobora com a idéia de que a menopausa, assim como, a

puberdade são eventos acionados pelo cérebro, que junto a essas alterações

hormonais, desencadeiam manifestações psicológicas diversas, e em relação à

mulher climatérica essas podem estar relacionadas à expectativa de envelhecer, à

preocupação com a auto-imagem e o medo da perda do companheiro.

Brunner e Suddarth (1998) enfatizam que

Com freqüência, o climatério é o período na vida de uma mulher em que os filhos já cresceram e deixaram a casa, por isso, ela pode não se sentir mais necessária.

Essa afirmação adicionada à conscientização aguda do processo de

envelhecimento pode ter algum efeito sobre os sintomas, tais como sentimentos de

solidão, inutilidade , depressão e outros.

Segundo a FEBRASGO (2004), a sexualidade das mulheres no climatério

sofre transformações decorrentes de alterações anatômicas que modificam a função

sexual, como: a diminuição do tamanho dos ovários, trompas, útero e colo uterino;

atrofia da mucosa do endométrio, colo e vagina; vagina mais curta, menos elástica,

menos lubrificada e atrofia dos grandes lábios.

Desse modo a resposta sexual das mulheres pode se manifestar através do

intercurso sexual mais difícil e doloroso, diminuição da freqüência e intensidade do

orgasmo; menor sensibilidade e tumescência do clitóris; menor rubor e tônus

muscular vaginal.

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A função sexual da mulher menopausada tem assim, um tipo de resposta

mais lenta e menos intensa devido a diminuição do estrogênio, mas, nem por isso

menos prazerosa, pois, muitas mulheres, pelo fato de não correrem mais o risco de

uma gravidez indesejada, se liberam mais (LOPES,2000 ).

Por outro lado, algumas mulheres relatam sintomas sugestivos de níveis

estrogênicos elevados que refletem a intensa flutuação hormonal que ocorre nesta

fase, justificando assim o medo que elas têm de uma gravidez extemporânea assim

como, a necessidade de anticoncepção neste período (FERREIRA, 2003).

Falando sobre a sexualidade, Lima (2002), refere que o sexo, afora os

aspectos reprodutivos e prazerosos, é uma forma de expressar a afetividade em que

homens e mulheres sentem-se valorizados pelo desejo despertado e ficam tristes

quando isto não mais ocorre.

Desse modo, com o avançar da idade, a sexualidade pode ficar

comprometida, velada, oprimida e recriminada, não sendo raro, que pessoas idosas

sejam ridicularizadas, quando a manifestam.

Aron Hutz, geriatra e sexólogo riograndense, apud Lima (2002) refere

que:

... as pessoas de forma geral entendem o idoso como não mais interessado e ou capaz de realização sexual. Os velhos são considerados assexuados... Por vezes, os próprios gerontes absorvem estas idéias e se auto-preconceituam.

.

Pode-se observar que o manual de orientação sobre o climatério da

FEBRASGO (2004) ressalta que modificações significativas na resposta sexual,

acontecem também nos homens nesta etapa da vida, sendo as mais comuns: a

ereção mais lenta e menos rígida; menor sensibilidade peniana; menor sensibilidade

do mecanismo ejaculatório; menor volume de esperma; menor força ejaculatória e

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aumento do período refratário pós-coito, destacando que a maioria dos estudos

sobre a sexualidade no climatério, mostram que o motivo mais comum de diminuição

da freqüência das relações sexuais, nesta fase da vida deve-se ao fator masculino e

não à mulher.

De Lorenzi (2009) afirma que os homens tem pouco conhecimento sobre o

climatério e as suas implicações para a saúde da mulher, dificultando sua

compreensão do processo pelo qual a ela está passando.assim como chama a

atenção para o fato de que após os 50 anos, o homem sofre um declínio natural dos

níveis de testosterona, está mais susceptível a ocorrência de neoplasia de próstata

cujo tratamento pode comprometer sua libido e potência sexual.

Vale também ressaltar que o manual de assistência ao climatério do Ministério

da Saúde, destaca dois conceitos importantes o de que não existe perda da

sexualidade com a idade, a qual pode sofrer apenas modificações qualitativas e o de

que o climatério não é sinônimo de velhice. No climatério faz-se a prevenção das

patologias próprias da velhice, possibilitando melhor qualidade de vida (

BRASIL,2008).

Segundo Halbe (2000), o estilo de vida depende de condições sociais e

econômicas: educação, idade e outros fatores, que podem retardar ou prevenir o

aparecimento das enfermidades, assim como, facilitar a adaptação do indivíduo às

diversas fases da vida.

Em pesquisa desenvolvida por Souza (2002) em um serviço de saúde para

verificar o que leva as mulheres a se inscreverem para atendimento psicológico, foi

constatado que não havia diferença de faixa etária nas queixas apresentadas pelas

mulheres a partir de dezesseis anos não se podendo associá-las ao climatério.

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A qualidade de vida é determinada pelo estilo de vida, que caracteriza um

modo singular de ser e prepara o indivíduo para o enfrentamento das adversidades

, assim como, a auto-estima de uma pessoa, tem influência direta em seu

comportamento, seus valores, emoções, desejos e metas.

2.3 O CLIMATÉRIO E A REPOSIÇÃO HORMONAL

A terapia de reposição hormonal é geralmente desejada, buscada e

utilizada pelas mulheres como recurso não só para o enfrentamento das alterações

dessa fase, como também para atuar na promoção e prolongamento da juventude.

Melo, (1999) relata que a terapia de reposição hormonal (TRH), quando

utilizada nos primeiros anos da menopausa, atua profilaticamente contra o

envelhecimento da pele, propiciando aumento do colágeno e estabilizando o

termostato.

Soares (2000) em seu estudo observou que a reposição hormonal se

mostrou eficaz no tratamento das queixas depressivas e vasomotoras, constatando

que o risco para o desenvolvimento da doença de Alzheimer também foi reduzido.

A TRH pareceu melhorar a função cognitiva em mulheres na pós-

menopausa, principalmente, nas áreas da memória verbal, vigilância, raciocínio e

velocidade motora como demonstrou Carvalho (2002) em seus estudos.

Pinho Neto (2002) também defende a reposição hormonal com o

argumento de que ela evita que a mulher atinja a senilidade com elevado grau de

dependência, não apenas como forma de tratamento de algumas doenças mas,

atuando na prevenção de moléstias do sistema nervoso central, o que

proporcionaria a elas melhor qualidade de vida.

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Para tratar os efeitos do hipoestrogenismo sobre os distúrbios sexuais

femininos que podem ocorrer nesta fase, diminuição da libido, diminuição da

lubrificação e elasticidade vaginal e anorgasmia, está se utilizando a reposição

hormonal que associa o estrogênio ao androgênio, com resultados superiores à

estrogenioterapia isolada, na melhora da qualidade de vida da mulher (HAIDAR

2004; MAMERI FILHO 2005).

Neste sentido, as divulgações na mídia dos resultados do estudo

“Women`s Health Initiative” (WHI), realizado nos Estados Unidos da América, que

incluiu mais de 27000 mulheres americanas pós-menopáusicas, com o objetivo de

avaliar os riscos e benefícios da terapia de reposição hormonal, gerou uma

inquietação a mais para as mulheres que viam nessa terapêutica uma forma de

enfrentar esse período tão conturbado. O referido estudo tinha tempo de duração

previsto para oito anos mas, após cinco anos teve de ser interrompido, pela

incidência de câncer de mama ter ultrapassado os limites de segurança

(SOBRAC,2003).

Pinho Neto (2004) critica a propaganda negativa que tem sido feita à

terapia de reposição hormonal e a apologia exagerada ao uso dos fitoesteróides

inclusive, com slogans enganosos sobre seus benefícios, acarretando à mulher outra

preocupação e conflito no caso de real necessidade do uso da reposição hormonal,

pois gera dúvidas quanto a utilização ou não desses fitoesteróides e sobre sua

eficácia.

Em estudo realizado por Sousa et al (2002) que avaliou a eficácia da

isoflavona de soja sobre a sintomatologia depressiva de mulheres climatéricas,

concluiu que apesar de ter havido redução dos sintomas depressivos ainda foi

pequena a diferença em relação ao grupo controle, porém mesmo assim, muitas

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vezes a paciente prefere um alívio parcial da sintomatologia a tomar estrógenos, por

medo das conseqüências tão difundidas na sociedade.

Desse modo, baseado na definição de saúde da Organização Mundial de

Saúde (OMS), que coloca saúde como um completo bem-estar físico, mental e

social e não apenas a ausência de doença, pode-se classificar o climatério não

como uma fase normal na vida das mulheres, como que desprezando e

desvalorizando todo esse contexto que o cerca, mas uma possibilidade de gerar

desequilíbrios, que agravam ou perturbam a percepção da saúde.

As atuais recomendações sobre a terapia de reposição hormonal,

baseadas no Consenso da International Menopause Society (IMS, 2007) preconiza

que sua utilização, quando necessária, seja individualizada, utilizando-se a menor

dose terapêutica, pelo menor tempo possível, ajustada às necessidades e aceitação

da mulher, fazendo parte de um conjunto de estratégias como dieta, exercício físico,

laborterapia, acompanhamento médico periódico sem imposição de limites na

duração do tratamento.

2.4 INSERÇÃO DO ENFERMEIRO NA ASSISTÊNCIA À MULHER NO CLIMATÉRIO.

Em 1983 o Ministério da Saúde criou o Programa de Assistência Integral à

Saúde da Mulher (PAISM), que prevê o atendimento da mulher em todas as fases de

sua vida, porém se observa na realidade, que a prática de atendimento privilegia a

fase reprodutiva, não se verificando iniciativas e esforços para o desenvolvimento de

ações especificamente direcionadas às mulheres no climatério, ficando a depender

da boa vontade de alguns profissionais de saúde, que enfrentam muitas dificuldades

neste sentido. (NERY,2002).

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Conforme as diretrizes curriculares durante o processo de formação

profissional do enfermeiro esses desenvolvem assistência direta à mulher em

unidades de saúde, hospitais e ambulatorios em diferentes situações de saúde-

doença em todas as fases do ciclo vital. Entretanto, França (2007) adverte que há

lacunas na formação desses profissionais, principalmente, sobre a educação

sexual, que precisam ser corrigidas para que se possa assistir melhor seus clientes

desmitificando os mitos e preconceitos ligados à sexualidade.

Berni (2007) destaca a importância do papel do enfermeiro mediante sua

posição na equipe de saúde para ajudar a minimizar atitudes e crenças negativas

que cercam o climatério, agindo como facilitadoras do processo de ressignificação e

direcionamento da mulher nesta etapa de vida.

De Lorenzi (2009) refere que no Brasil, a mulher climatérica nem sempre

encontra o acolhimento necessário ao atendimento de suas necessidades sendo a

assistência geralmente reducionista, fragmentada, com foco em consultas médicas,

solicitação de exames e prescrição medicamentosa, reforçando nas mulheres a idéia

climatério como um estado mórbido.

Milanez e Nery (2004) destacam em estudo com mulheres climatéricas,

que é significativo o numero de mulheres na fase pré, intra e pós-menopausa,

referindo-se a queixas com características semelhantes de doenças

psicossomáticas, sem, contudo serem atribuídas às alterações decorrentes do

climatério descompensado. Suas atitudes e expectativas eram voltadas mais para

intervenção medicamentosa, não associando os possíveis problemas vivenciados a

essa fase da vida da mulher.

É preciso que os profissionais de saúde especialmente, o enfermeiro

busquem o que está oculto por trás da queixa referida, quais os seus anseios e

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necessidades não explicitados pela mulher climatérica que os procura, como esta

vive e quais as suas expectativas nos anos que se seguem a menopausa o que

constitui uma perspectiva de atuação distante da realidade dos serviços de saúde

públicos e privados.(DE LORENZI, 2009).

Berni (2007) ressalta a importância da abordagem de caráter

multidisciplinar e interdisciplinar nessa fase, por permitirem considerar a

multiplicidade de fatores envolvidos no climatério além de favorecerem o intercâmbio

de saberes e habilidades, com vistas a promover mais saúde e qualidade de vida a

essa parcela crescente da população por meio de um cuidado mais integral e

individualizado,

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___________________________________________________________________

III – ABORDAGEM METODOLÓGICA

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Por se tratar de um estudo cujo objeto são os significados atribuídos ao

climatério pelas mulheres que o vivenciam, adotei a abordagem qualitativa e como

método de investigação a fenomenologia, que nos permite apreender o fenômeno

na singularidade de cada pessoa e na complexidade das circunstâncias do mundo

em que ambos se encontram envolvidos.

As pesquisas de natureza qualitativa trabalham com o universo de significados,

motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes e dentre essas, a fenomenologia tem

tido grande relevância na área da saúde, por desvelar a essência dos fenômenos que

determinam padrões culturais envolvidos no processo saúde-doença (MINAYO, 1998).

Husserl define a fenomenologia como “a ciência descritiva das essências da

consciência e de seus atos”( DARTIGUES,2003).

Segundo Moreira (2002)

O termo fenomenologia deriva de duas outras palavras de raiz grega: phainomenon (aquilo que se mostra a partir de si mesmo ) e logos ( ciência ou estudo ). Portanto, etmològicamente, Fenomenologia é o estudo ou a ciência do fenômeno, sendo que por fenômeno, em seu sentido mais genérico, entende-se tudo que aparece, que se manifesta ou se revela por si mesmo.

Para Capalbo (1996) a fenomenologia define-se como ciência descritiva,

rigorosa, concreta, que mostra e explicita o ser nele mesmo, que se preocupa com a

essência do vivido.

Como método a fenomenologia procura não priorizar o objeto ou o sujeito,

mas sim a relação sujeito-objeto-mundo e para isto busca interrogar a experiência

vivida e o significado que o sujeito lhe atribui (MERIGHI,2003).

Segundo Buzzi, (2002),

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A fenomenologia não tem um objeto determinado de pesquisa como, por exemplo, os tem a biologia, a teologia, a sociologia. Ela apenas é um método que tem por objetivo o estudo dos fenômenos e diz que estes devem ser tratados de modo descritivo. Uma descrição que mostra a coisa do fenômeno.

A fenomenologia busca conhecer os significados atribuídos à experiência

vivida, que se revelam a partir das descrições dos sujeitos. Ela procura interrogar

a experiência vivida e o significado que o sujeito lhe atribui, centrando-se na

relação sujeito-objeto-mundo ( MERIGHI,2003).

Neste estudo me proponho à compreensão do fenômeno da vivência do

climatério, tal qual ele se mostra à mulher, não se tratando, portanto de explicá-lo,

pois como diz Biffi (1991) na abordagem fenomenológica o investigador está

preocupado com a natureza do que vai investigar, no sentido de compreendê-la e

não explicá-la.

Como diz Forghieri (1993) para compreender a “expressão viva” de uma

pessoa é necessário tentar captar, intuitivamente, a sua vida, conforme é por ela

própria vivida; ou, em outras palavras, é preciso procurar penetrar no existir da

pessoa, para descobrir além das palavras e dos gestos, o sentido que se encontra

contido na sua comunicação.

De acordo com Heidegger (2002, p.30)

Todo questionamento é uma procura. Toda procura retira do procurado sua direção previa. Questionar é procurar cientemente o ente naquilo que ele é e como ele é.

Martins; Bicudo (2006) ao se referir à posição prévia diz que o paradoxo na

fenomenologia está expresso no fato de que embora ela não inicie o seu inquérito

com pressupostos ou hipóteses, necessita de um idéia geral sobre o que olhar e

como olhar o fenômeno.

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Na visão de Martins (2006) Heidegger propôs-se a descrever a experiência

humana como ela é vivida e,a medida que se faz esta descrição se diferencia a

existência humana que, nunca poderá ser sinônimo de vida, pois sòmente o homem

tem a capacidade de projetar-se, lançar-se , situar-se e fazer escolhas.

3.1 - APROXIMAÇÕES COM A FENOMENOLOGIA

A minha opção pela fenomenologia teve início quando comecei a pensar o

tema para a seleção do Programa de Pós–Graduação - Mestrado em Enfermagem,

ao expor meu desejo de discutir as questões relacionadas ao climatério mais

profundamente, não me limitando a perspectivas fisiopatológicas relacionadas a

sintomas ou queixas, e sim à compreensão da vivência da mulher nesta fase de

vida.

Neste sentido me foi apontada a perspectiva do método fenomenológico que

inicialmente, mostrou-se algo novo e complexo, porém aceitei o desafio como uma

oportunidade de realizar um estudo que propiciasse uma aproximação às mulheres

que na prática eu atendia, mas de certo modo, não as compreendia em suas

dificuldades.

A idéia de estudar o existir cotidiano da mulher na vivência do climatério na

perspectiva de evidenciar os diversos aspectos contrastantes e conflitantes como é o

nosso próprio existir, estimula e fascina.

Forghieri (1993) demonstra estes contrastes, quando diz que somos racionais

e livres, mas não podemos negar que também somos determinados pelos

condicionamentos; vivemos, mas também morremos, numa paradoxal

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simultaneidade, pois, a cada dia que passa estamos caminhando tanto no sentido de

viver mais plenamente como no morrer mais proximamente.

Gradativamente, vai-se compreendendo o enfoque fenomenológico como

aquele que trata o existir humano em sua “totalidade” de relações. Temas como as

relações entre o ensinar e aprender, o professor e o aluno, a tristeza e a alegria, a

angústia e a tranqüilidade, a raiva e o amor, vida e a morte, são alguns exemplos do

que se pode compreender com o auxílio da fenomenologia ( FORGHIERI, 1993).

A mesma autora relata um sentimento inicial semelhante ao meu, quando diz

que a maioria dos textos de fenomenologia embora pareçam muito difíceis e

desafiem o nosso raciocínio, paradoxalmente, também proporcionam um sentimento

de certa familiaridade, como se os autores revelassem, em suas formulações, certo

saber elementar, já vislumbrado vivencialmente (FORGHIERI, 1993 ).

Desse modo a decisão pelo método fenomenológico dependeu, não apenas,

do objeto de estudo mas, principalmente, da minha postura diante do que eu queria

ver esclarecido, pois como nos diz Luz (2001), o sujeito questionador tem, antes de

mais nada, uma postura diante do mundo, uma atitude de abertura do ser humano

para a compreensão da vivência a partir do outro.

3.2 A FENOMENOLOGIA DE HUSSERL A HEIDEGGER

A fenomenologia surgiu como um movimento da filosofia, amparado na crise

do conhecimento do final do século XIX, que criticava a ciência fundamentada no

positivismo, que reduz o ser humano à perspectiva de generalização ignorando a

singularidade de cada um e não conseguindo resposta para todos os

questionamentos.

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No inicio do século XX Husserl (1859 – 1938), matemático e filósofo alemão,

entra em contato com as idéias de Franz Brentano (1838 - 1937), filósofo e

sacerdote alemão, que propunha um novo método de conhecimento do psiquismo

estabelecendo a relação da consciência com o objeto e a partir daí surge a

fenomenologia como método de apreensão da realidade que se manifesta por si

mesma (DARTIGUES,2003).

Husserl propôs assim a fenomenologia como uma volta ao mundo da

experiência, do vivido, das coisas mesmas. Ele a define como ciência dos

fenômenos, radical, rigorosa, mas não exata, que tem como principio básico a

intencionalidade da consciência, onde a consciência é sempre de alguma coisa e o

objeto é sempre para um sujeito, que lhe atribui significados.

Husserl propõe um método de alcançar o conhecimento radical em que os

dados absolutos genéricos, constituem as medidas fundamentais e universais pelos

quais há que medir todo o sentido (LYRA,1999).

O método fenomenológico abrange três momentos: a descrição, a redução e

a compreensão. A forma mais comum de obtenção das descrições é a entrevista

que não pode jamais ser vista como um procedimento mecânico, mas sim como um

encontro social, uma relação pesquisador – pesquisado mediada pela empatia,

intuição e imaginação.

Na redução selecionam-se as partes essenciais da descrição. Para que essa

essência seja alcançada faz-se necessário colocar entre parênteses os

pressupostos ou teorias sobre o fenômeno, (epoché) dirigindo-se a investigação

para a vivência cotidiana (CORRÊA,1997).

O mesmo autor diz que a compreensão se dá junto à interpretação. O

pesquisador tenta obter o significado essencial construindo as unidades de

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significados assumidas na linguagem do sujeito (discurso ingênuo) que são depois

transformadas em expressões próprias do discurso que sustentarão o que foi

buscado.

Husserl é a figura central da fenomenologia e a partir dele outros filósofos

continuaram evoluindo suas idéias como Heidegger (1889-1976) na Alemanha,

Merleau – Ponty (1908 – 1961) na França, entre outros.

Heidegger é considerado o maior filósofo do século XX como afirma Boff e a

utilização do seu pensamento filosófico e metodológico neste estudo ocorreu em

função do próprio objeto de investigação que pretende buscar uma visão existencial do

modo de ser mulher vivenciando o climatério. O método em Heidegger se constitui de

três momentos distintos em que se questiona o ser, interrogando o ente e buscando o

sentido do ser (HEIDEGGER,2002).

Segundo Heidegger (2002 p. 13),

o pensamento não é privilégio de ninguém, pois “pensador é todo homem”. Todos tem gosto pela revelação do mistério no des-velamento do não saber. A arte de pensar é dada por um modo extraordinário de sentir e escutar o silêncio dos sentidos, nos discursos das realizações.

Prosseguindo ele acrescenta, que “a fala do pensamento é escutar.

Escutando, o pensamento fala. A escuta é a dimensão mais profunda e o modo mais

simples de falar”. No pensamento, a fala nunca é primeiro. O pensamento nunca fala

de modo próprio sempre responde por já ter escutado (HEIDEGGER. 2002).

Forghieri (1993) discutindo as posições de Husserl e Heidegger destaca

que a consciência é sempre intencional e que a intencionalidade é essencialmente,

o ato de atribuir um sentido; é ela que unifica a consciência e o objeto, o sujeito e o

mundo. Com a intencionalidade há o reconhecimento de que o mundo não é pura

exterioridade e o sujeito não é pura interioridade, mas a saída de si para um mundo

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que tem uma significação para ele – eu e o mundo. Prossegue afirmando, que só

refletindo sobre o nosso cotidiano ela poderá se revelar à nossa consciência, em

cuja dimensão, no dizer de Heidegger, o ser humano se encontra consigo mesmo,

se reconhece, decide, realiza escolhas e se direciona para a autenticidade ou

inautenticidade..

Certamente é a consciência/intencionalidade que orienta, direciona e dá

sentido à existência do ser humano, constituindo o modo próprio de ser si mesmo,

ser-com-os-outros e ser-no-mundo, ou seja, sendo mulher em sua vivência do

climatério.

O ser-no-mundo, e com isso o próprio mundo, é uma dimensão da análise

na fenomenologia. Heidegger (2002) diz que para se ver o mundo é necessário

investigar o ser-no-mundo cotidiano em sua sustentação fenomenal.

3.3 FENOMENOLOGIA E ENFERMAGEM

Pesquisadores e estudiosos em enfermagem têm se utilizado da

fenomenologia como uma alternativa metodológica uma vez que esta abordagem

busca ver o sujeito integralmente, sem dissociá-lo do mundo, em sua singularidade.

Desse modo esse método possibilita a ampliação do conhecimento na

perspectiva do sujeito cliente/profissional envolvido na prática do cuidar em

enfermagem e como oportunidade do enfermeiro constantemente descobrir sua

consciência do mundo (CORRÊA, 1997).

Merighi (2003) ressalta que por ser a orientação aos indivíduos e

comunidade uma das maiores responsabilidades do enfermeiro, o método

fenomenológico propicia maior participação intersubjetiva das pessoas, facilitando

assim a escolha de possibilidades para obtenção da saúde.

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Enfocando a assistência de enfermagem nessa visão do homem como ser,

sujeito de possibilidades, rompe-se com a visão do cotidiano fundamentado na

doença e na rotina assistencial, preconizada nos programas de assistência à saúde,.

Tem-se a possibilidadede dos profissionais voltarem-se para o outro, para relações

humanas melhor compreendidas, gerando um atendimento mais humanizado.

Desse modo o ser é um projeto inacabado, em construção, que se faz e se

realiza no mundo- da- vida, na vivência e como um ser de possibilidades, corre o

risco tanto para a abertura de novas perspectivas, como para o fechamento e

insucesso dos projetos existenciais.

Segundo Luz,(2001),

Cada um tem uma perspectiva de vida, que é como um fio condutor que liga sua origem e seu destino, percebe, sente e age de uma maneira própria, particular e singular. A vivência de cada situação se faz no agora, é única, ímpar, irrepetível.

O olhar compreensivo que essa abordagem possibilita não é só um

conhecimento objetivo através da capacidade de sentir o que o outro experiencia,

mas sim o poder de captar as possibilidades que cada um é, no contexto do mundo

em que cada presença existe e compartilha experiências (LOPES,1997).

Após estas leituras, senti a necessidade de ouvir as mulheres sobre sua

vivência do climatério, em uma busca da essência deste viver.

3.4 - TRAJETÓRIA DO ESTUDO

O Cenário

Este estudo foi desenvolvido no ambulatório e na unidade de internação de

ginecologia de um hospital geral, filantrópico, de referência no tratamento do câncer

desta capital.

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A seleção desta instituição de saúde para a realização dessa investigação

científica foi feita por ser este o local onde desenvolvo atividades de ensino e

supervisão no decorrer das práticas na disciplina Fundamentação Básica e Estágio

Curricular II, no 5º e último período do curso, tendo assim facilidade de interação

com a equipe de saúde, que me permitiu fácil acesso e um clima de maior

privacidade e intimidade com os sujeitos deste estudo, disponibilizando uma sala,

para esses encontros.

Ao vislumbrar que poderia estar enriquecendo mais o meu estudo busquei

também conhecer a experiência do climatério entre as mulheres com as quais

mantinha uma certa convivêncial. Foi surpreendente a forma como eu consegui

esses relatos, que ora ocorreram em suas residências, ora no meu próprio local de

trabalho, tornando-se momentos ímpares de estreitamento dos laços afetivos já

existentes.

Os sujeitos

A investigação contou com a participação de dez mulheres que convidadas, e

devidamente informadas sobre a pesquisa e seus objetivos, dela aceitaram participar.

Os encontros e as entrevistas foram gravados, após concordância das mesmas, com a

assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO A), sendo-lhes

assegurado o anonimato quanto aos resultados do estudo, conforme a Res. 196/96 do

CNS.

Essas dez mulheres encontravam-se na faixa etária de quarenta e cinco a

sessenta e cinco anos de idade, sete delas não menstruavam mais, duas

apresentavam irregularidades menstruais e uma ainda apresentava menstruação

normal. Em relação à vida afetiva, duas eram viúvas, cinco tinham companheiro e

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três não tinham parceiro. Quanto à escolaridade, quatro tinham curso superior, uma

nível médio e cinco apenas o nível fundamental.

Pude perceber que a maioria delas encarou o nosso encontro como uma

oportunidade de refletir e se abrir, querendo realmente falar sobre seus sentimentos,

uma vez que no dia a dia isso não acontece, principalmente em consultas

ambulatoriais onde os atendimentos são muito rápidos e objetivos.

A obtenção dos relatos das mulheres

A obtenção dos relatos das mulheres deu-se a partir das entrevistas, as quais

foram agendadas e realizadas conforme disponibilidade e os locais previamente

acertados com as entrevistadas, buscando criar um ambiente privativo, tranquilo,

propício à livre e descontraída manifestação, escuta e observação atenciosa da

entrevistada/entrevistadora.

Na condução do método fenomenológico o pesquisador/observador põe em

suspensão qualquer teoria, crença, concepção, conhecimento prévio sobre o

estudado para ir em busca da pré-compreensão, denominada por Heidegger (2002)

de posição prévia.

A entrevista se desenvolveu a partir das seguintes questões norteadoras:

• Que significa para você o climatério?

• Como é o seu cotidiano nesta fase?

• Que mudanças em sua vida você atribui ao climatério?

• Que mecanismos você utiliza/utilizou para o enfrentamento do

climatério?

A experiência da entrevista na abordagem fenomenológica foi gratificante, um

momento de grande crescimento pessoal, onde busquei me aproximar e prestar mais

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atenção no outro, compartilhando sentimentos e vivências que no dia-a-dia

profissional, deixamos de observar e refletir.

Segundo Simões (1997) os relatos não devem ser direcionados pela quantidade

de entrevistas realizadas, mas pela busca da qualidade nas quais os depoimentos

empáticos possam levar à compreensão do fenômeno vivido e não à sua explicação.

Conforme recomendam Carvalho (1991) e Minayo (2007) quando se referem à

entrevista, após a realização das mesmas, os depoimentos foram ouvidos e

posteriormente, transcritos na íntegra, para leitura e releitura atentiva das falas,

procurando resgatar o momento em que foram realizadas, garantindo a fidedignidade

dos depoimentos.

A análise dos relatos

Após a transcrição das falas, fiz leituras e releituras dos relatos buscando

apreender os significados atribuídos pelas mulheres à sua vivência do climatério,

destacando em cada uma das entrevistas os trechos que expressavam sua

compreensão. Fui identificando estruturas convergentes, que pouco a pouco se

agrupavam e articulavam, evidenciando assim unidades comuns, aos relatos de cada

uma das entrevistadas.

Dessa etapa emergiram quatro Unidades de Significação que representam a

compreensão do climatério pelas mulheres e foram então construídas a partir do que

pude apreender das falas em que elas relataram o que pensam, como sentem,

percebem, se comportam e expressam a vivência do climatério na cotidianidade.

Heidegger (2002) denomina esta compreensão mais imediata, de compreensão

vaga e mediana, uma compreensão pré-reflexiva que se dá no cotidiano, como nós

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somos antes de tudo e na maioria das vezes e não faz distinção entre o que é mera

repetição e o que foi conquistado, mas tudo compreende.

Após este momento de apresentação das unidades passei à interpretação do

significado atribuído pelas mulheres.

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IV- APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

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4.1 AS UNIDADES DE SIGNIFICAÇÃO

A compreensão vaga e mediana da vivência do climatério expressa pelas dez

mulheres que participaram deste estudo foram agrupadas em quatro Unidades de

Significação:

1. A vivência do climatério se dá com sintomas desa gradáveis como: calor,

sudorese, insônia, dor nas pernas, sangramento vagi nal, aumento de peso e

angústia que modifica de imediato, o cotidiano das mulheres.

“ Quando começou a parar a menstruação... eu senti assim... aquela angústia, sabe... aquele suor... aquela falta de ar... que eu sentia também, mas foi pouco tempo não foi muito tempo, foi na base de 3, 4 ou 5 meses que isso passou ... agora o suor ainda hoje eu suo muito, mas no começo eu tomei remédio...” Dep. 01. “ Essa fase não foi muito boa não porque eu senti muita coisa, senti muita dor no corpo, dor de cabeça, era calor, uma quentura muito grande, mas hoje eu não sinto mais nada.” Dep. 04 “ A gente fica muito pesada, as roupas começam a ficar muito inadequadas no corpo da gente, principalmente quem tinha um corpinho escultural que nem eu tinha; ali a gente começa assim uma coisa que a cabeça da gente tem que se controlar” Dep.05 “ Aumentei um pouco de peso, eu era bem magrinha e aumentei uns 6 quilos.” Dep.06 “...uma coisa que eu percebo que aumentou foi a sudorese, agora eu nunca tive problema de depressão “ Dep. 07 “ Em termos biológicos eu acho que foi uma situação não muito agradável porque havia muito sangramento, dor na perna...”Dep. 08 “..., é uma fase muito complexa....Eu engordei demais, foi um problema...” Dep.09 “ ...O que eu sinto é um mal-estar, eu não tinha ânimo, só queria ficar deitada, mal-estar mesmo de não conseguir

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nem me levantar(...) A gente começa a tomar remédio, passa a engordar mais” Dep. 10

2. A vivência do climatério associada a diminuição da libido, a negação da

sexualidade, a perda da capacidade reprodutiva e ao início do processo de

envelhecimento.

“ As pessoas pensam que eu estou mentindo, mas não é não, é verdade, eu não sinto um pingo de vontade (referindo-se ao sexo). Quando eu era mais nova eu sentia vontade, mas depois, pronto, acho que eu cansei...” Dep. 01 “Eu não quero mais, abusei mesmo, mas detesto... não sinto mais apetite, eu tinha relações com meu marido mais assim para servir, aí, depois que a regra foi embora, pronto, acabou a vontade mesmo.” Dep.02 “... É o começo do fim, como é que se diz, a produtividade da mulher já começa a cair, fica, né, difícil de engravidar” Dep. 05 “É, a idade... tem que respeitar o organismo, que já não responde tão bem, já não tem o ritmo de trabalho como tinha antigamente, a própria idade vai modificando certas coisas. O que eu percebi foi uma certa dificuldade quanto ao relacionamento sexual, é preciso mais cuidado,mais um aconchego pra você realmente estar a fim.” Dep.07 “ ... quando você descobre que aquele processo ( referindo-se ao climatério) faz parte do teu envelhecimento você passa a ter uma outra cabeça, você vê que você muda vários valores, psicologicamente, é uma fase muito complexa” Dep. 09 “ ... o que eu sinto é uma sensação de uma flor que estava murchando, era isso a sensação que eu sentia,que eu estava murchando...” Dep. 10

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3. A vivência do climatério é obscurecida nas ocupa ções e problemas do dia-a-

dia, que retiram da mulher o cuidado com a sua saú de.

“ Eu nunca me cuidei na época que parou ( referindo-se à menstrução), mas, agora eu senti que preciso me cuidar, que eu estou sentindo umas coisas que eu acho que é porque eu não me cuidei...” Dep. 02 “...eu nem senti (o climatério), talvez porque não tenha prestado atenção, porque eu não senti nada , apesar de estar enfrentando outros problemas com outras coisas, de família, de doença na família ... Dep.06 “...porque eu trabalho muito, e acho que isso ajuda a não pensar, que eu estava entrando na menopausa.” Dep.07 “...Eu acho que é porque a vida da gente é tão atribulada, tão cheia de atividades, que a gente não sente... talvez se eu tivesse pouca atividade,”....Dep.08

4. A vivência do climatério abre novas possibilidad es de vida para as

mulheres.

“ Meu dia-a-dia é muito bom ( risos ), agora eu fico mesmo só em casa, não tem mais filho pequeno, é muito bom...” Dep.04 “... mas para surpresa minha o climatério foi um momento muito gostoso, porque parece até brincadeira, mas eu nunca aceitei a idéia de menstruar... para mim menstruar sempre foi um problema, para começar era doloroso, menstruar para mim era uma doença.”. Dep.07 “ … agora eu me tornei mais vaidosa, excessivamente mais vaidosa. Até com a casa; mudou tudo, eu passei a me cuidar mais, do meu físico, da minha pele, da casa, tudo depois dos 40.” Dep.09 “ Eu acho até que eu melhorei, eu sentia antes era enxaqueca, eu tinha muito problema por causa da TPM, eu era mais irritada, brigava por tudo e melhorei um pouco.”Dep. 10

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4.2 A COMPREENSÃO VAGA E MEDIANA DA VIVÊNCIA DO CLI MATÉRIO

A organização e articulação das Unidades de Significação conduziram a

compreensão da vivência do climatério a partir dos discursos das mulheres, que

expressam o que pensam, como significam e vivenciam no cotidiano essa

experiência, que se constitui o foco deste estudo.

Elas mostram a vivência do climatério associada ao aparecimento de sinais e

sintomas desagradáveis como: calor, sudorese, falta de ar, insônia, dor nas pernas,

sangramento vaginal, aumento de peso e depressão, caracterizado mais

especificamente pelas ondas de calor e sudorese reconhecidos como próprios desta

fase, que mesmo quando ainda não estão presentes, referem-se à expectativa de vir

a apresentá-los, como se observa no relato abaixo:

“Eu não sinto essa quentura, nunca senti a quentura, pode ser que eu ainda venha mas até agora eu nunca senti.” Dep.05

As mulheres se referem a essa expectativa de apresentar sinais e sintomas

desagradáveis no climatério, a partir de informações, experiências e conhecimentos

adquiridos e assimilados ao longo da vida, bem como os repassados através dos

meios de comunicação e no convívio familiar, social e profissional, como esclarece

o relato a seguir:

“A gente cresce sempre com aquela idéia que quando chegar o climatério você vai ter mil e uma dificuldades, mil e uma transformações... “ Dep.07

Neste sentido as mulheres também relatam manifestações de intercorrências

relacionadas a outras condições de saúde ou tratamentos associados a essa fase

como: hemorragia decorrente de miomas uterinos e o aumento de peso pelo uso de

medicamentos e da reposição hormonal. Este é tido como uma ameaça concreta e

constante, quer atribuída ao uso de medicamentos, ou ao avanço da idade,

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modificando sua imagem corporal e trazendo uma sensação de perda das “boas”

condições físicas anteriores.

Em uma sociedade que cultua o jovem, o belo, o magro, e nós ainda somos

considerados um país jovem, é muito difícil para a mulher ver seu corpo se

transformando o que pode representar um maior risco para o surgimento de

transtornos mentais e depressão (BALLINGER,1977).

O ganho ponderal no climatério chega a 0,8 Kg/ano; podendo haver um

aumento de 20% na gordura corporal após a menopausa, o que pode significar

riscos para a saúde relacionado ao câncer de mama, endométrio e cólon assim

como implicações funcional e estética. (DE LORENZI, 2009)

Sabe-se que em relação às alterações da imagem corporal, hoje se dispõe de

recursos cosméticos e cirúrgicos que possibilitam à mulher não só conservar seu

corpo como, muitas vezes, tê-lo melhor que em outras épocas, uma vez que a

mulher madura tem maiores probabilidades de ter recursos financeiros e tempo

disponível para se cuidar.

Talvez por isso as classes sociais tenham diferenças quanto à visão do

climatério conforme constatou uma pesquisa de opinião, realizada pelo Instituto

Brasileiro de Opinião ( IBOPE) e exibida na televisão, na qual se evidenciou que as

classes menos favorecidas têm uma visão mais crua e pessimista, enquanto as

mais abastadas, lidam melhor com este período de suas vidas, provavelmente pelo

maior acesso à informação e condições financeiras para minimizar seus efeitos

(FANTASTICO,2005).

Algumas mulheres não reconhecem as manifestações relacionadas ao

climatério e as interpretam como sintomas representativos de doença, que as levam

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a buscar tratamento nas mais diversas especialidades médicas como expressa o

relato a seguir...

“Eu vivi o climatério precocemente, eu andava no ginecologista, no angiologista, neurologista ...um dizia que era uma coisa outro dizia que era outra mas no final era o danado do climatério..” Dep.09

Para as mulheres deste estudo a cessação da menstruação é vista como um

marco que caracteriza a perda da capacidade reprodutiva, a diminuição da libido,

negação da sexualidade e início do processo de envelhecimento, que se refletem

no próprio desempenho da vida cotidiana.

Neste sentido vale questionar o conceito da OMS, que define o climatério

como período de transição entre a fase reprodutiva ou menacne e a fase não

reprodutiva ou senilidade, que assim também corrobora com a associação dessa

fase da vida à velhice (BRASIL, 2008).

Entretanto atualmente, com a expectativa de vida da mulher em torno de 75

anos e com a evolução das técnicas de reprodução assistida, que permitem a

gestação em mulheres climatéricas, a ocorrência desse marco aos 45 anos idade,

seria uma precipitação, pois o climatério não pode ser encarado como velhice e sim,

como definiu Lazznik (2000), a segunda parte da vida.

Algumas mulheres relatam limitações e restrições na sua atividade sexual,

relacionadas a ausência ou falta de interesse do companheiro, a sua própria

indiferença, falta de desejo, enquanto outras, mostram-se ativas e, mesmo ainda não

percebendo nenhuma alteração, temem vir a apresentar algum distúrbio na sua

sexualidade, tal como se evidencia nos relatos..

“...tomara que não aconteça comigo, que não vá influenciar na minha vida sexual, que eu não vá, como se diz, esfriar.”Dep. 03

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“... ainda não mudou nada em termos de sexo; o medo é esse, né? O maior medo da mulher é que não faça mais... (referindo-se a relações sexuais)” Dep. 10

Observa-se que a sexualidade ainda é expressa de forma velada, vista com

um certo receio, acanhamento e negação, referindo-se a esse aspecto como

problemas relacionados a outras mulheres, nem sempre assumidos e reconhecidos

como próprios.

Freud apud Laznik (2000) alerta que os momentos mais difíceis da mulher

são a puberdade e o climatério por causa dos picos de aumento da libido em que na

puberdade é difícil e assustador porque é cedo demais, e, no climatério, porque ela

considera tarde demais para vivê-lo em sua plenitude.

Outras mulheres relatam que a vivência do climatério motivou/estimulou a

descoberta de novas estratégias de enfrentamento de suas dificuldades, buscando

cuidar melhor da sua aparência e criar adequações ao desempenho sexual,

melhorando seus relacionamentos.

Algumas mulheres relatam buscar alternativas diversas para enfrentamento

do climatério através de tratamento medicamentoso, alimentação e produtos

naturais...

“ No começo eu tomei muito hormônio...tomava, usava, aplicava.” Dep.01 “ eu uso muito floral, eu sou adepta; alimentação que foi radicalmente mudada e faço exercício .” Dep.09

Por outro lado parece haver uma conformação ou um caráter de autopunição;

quando as mulheres apontam abrir mão de certos prazeres para “merecer” um

climatério tranqüilo, pressupondo o conceito de bem e mal, prêmio e castigo, tão

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enraizado em nossa cultura; ao se impor restrições de lazer e atividades da vida

cotidiana,

“ Eu não tenho parceiro, esporadicamente saio, eu não bebo, durmo cedo, todo mundo lá em casa se admira; eu acho que ajuda muito, meu lazer é o trabalho.” Dep.06

Há também nas falas das mulheres um certo sentimento de culpa, ao

responsabilizarem-se pela ausência do cuidado durante o climatério, podendo

acarretar o aparecimento de doenças, como um castigo por não terem dado

atenção, no devido tempo, ao próprio corpo.

Em alguns relatos as mulheres expressam que o climatério passa

desapercebido quando elas se encontram imersas nas atividades laborativas

profissionais ou domésticas e/ou com problemas pessoais, tornando-as, muitas

vezes indiferentes e desatentas às manifestações do próprio corpo.

Segundo Boltanski (1989) as mulheres parecem mais atentas que os homens

às sensações doentias; dores indeterminadas, perturbações psíquicas, doenças

vagas que só são percebidas com grande atenção concedida ao corpo, entretanto

os relatos das mulheres mostram que as ocupações da vida cotidiana, rouba-lhes

essa condição, quando elas mesmas associam a ausência de sintomas à falta de

tempo de percebê-los e se cuidar.

4.3 A INTERPRETAÇÃO COMPREENSIVA

Ao mergulhar mais atentivamente na compreensão vaga e mediana das

mulheres na vivência do climatério, expressa através das Unidades de Significação,

busquei desvelar o sentido que direciona o modo de ser, que se encontra velado nos

significados.

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Observa-se que as mulheres na vivência do climatério se mostram na

inautenticidade que é o modo próprio de ser da compreensão e da presença. na

cotidianidade, em que nós nascemos e vivemos na maioria das vezes, um ser aí

lançado em um mundo, que já estava aí e que estará aí depois dele. Assim sendo, a

presença, entregue a um aí, é sempre um ser-em situação: ser mulher na vivência

do climatério.

Na linguagem heideggeriana o homem é o ser-aí ou “dasein” que significa

presença, aquilo que é, e ao mesmo tempo é modo de ser, sua maneira de ser em

seu cotidiano que é um ser no mundo, consigo mesmo e ser com o outro. (

STEIN,1993).

Desse modo elas se encontram na cotidianidade, expostas ao falatório de

tudo que se diz sobre o climatério, que não se restringe apenas à repetição oral da

fala, ele assume um caráter autoritário e se expande ao que se escreve. A fala se

funde no que se lê e no que se ouve dizer. O impessoal prescreve a disposição e

determina o que e como se vê ( HEIDEGGER, 2002).

“ ... tem gente que falta sono, sente dor nas perna... as vezes que até se interna, vomita, tem aquelas tonturas ...” Dep.01 “ Eu não sei até que ponto essas ondas de calor, que todo mundo atribui ao climatério, foi em mim mais intensa ou não ... Eu conversei com a obstetra e ela disse: não, se você não está mais sentindo nada tudo bem, não tem porque você achar que é diferente...” Dep.07

Para Heidegger, (2002) não existe um sujeito sem mundo, também não existe

um eu isolado, sem os outros. Estamos sempre sendo-uns-com-os-outros nas

diversidades possíveis da solicitude, esta relação entre homem e os outros implica o

ato de cuidar.

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Carvalho (2003), interpretando o pensamento de Heidegger diz que o fato do

homem estar no mundo compreendido como possibilidade de ser, gera a angústia,

que pode ser entendida como sentir-se no mundo em estado de carência ou de

temor indeterminado, enquanto o medo é uma localização da angústia, mas tem

também a finalidade de mascará-la.

O desconhecimento do que nos cerca gera medo, insegurança e ameaça

nossa integridade, prejudica a adaptação e desempenho no mundo, tal como se

mostram as mulheres quando se sentem desorientadas diante das manifestações

que apresentam e procuram atendimentos em várias especialidades médicas.

Também se observa que elas temem por problemas que possam vir a

apresentar em decorrência do climatério, pois não conseguem se dissociar de tudo o

que ouvem, do que foi passado culturalmente sobre o climatério e projetam para o

futuro as expectativas de sensações e manifestações desagradáveis, mas que,

muitas vezes, no presente não se concretizarem. Temem pela perda da identidade

feminina e o início do envelheciemnto.

A pre-sença é sempre temerosa e ambígua presente na convivência onde o

falatório mais intenso e a curiosidade mais aguda controlam o mundo de todos, onde

cotidianamente tudo e no fundo, nada acontece.

Segundo Heidegger (2002), o tempo para o homem tem significado peculiar: a

temporalidade humana não é uma soma de momentos, mas uma extensão

compreensiva do passado, do presente e do futuro.

Desse modo pude perceber o movimento de transformação que as mulheres

realizam, da inautenticidade para a autenticidade, em um tempo próprio, quando

elas se liberam do aprisionamento e do encobrimento de si mesmas através dos

sinais e sintomas do climatério e buscam alternativas para o enfrentamento e

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superação de seus problemas e dificuldades, através dos recursos disponíveis, suas

possibilidades, assumindo seu modo de ser mais próprio, um poder-ser e

redirecionando suas vidas.

É o momento que a pessoa aceita, reconhece e busca superar suas

limitações e se adaptar a uma nova realidade, como se observa no relato a seguir,

“ Eu vivenciei o climatério precocemente, eu sentia um fogo tão grande... tinha insônia, taquicardia-... eu andava no ginecologista, no angiologista, no neurologista ...e ninguém sabia o que era ... uns diziam que era uma coisa, outros que era outra mas, no final era o danado do climatério ,,, fiz reposição hormonal e melhorei 100% . Depois dos 40 foi uma coisa mais controlada, eu já sabia o que era, né?... depois que eu tomei consciência que era do climatério, pronto... não tomei mais nenhuma medicação, só adequei a alimentação e o estilo de vida” Dep. 09

A compreensão do ser é uma possibilidade da existência, isto é, do Ser do

ser-aí. O ser-aí é sempre a sua possibilidade ( HEIDEGGER, 2002). E como

possibilidade para as mulheres o climatério pode ser pesarosamente vivido ou ao

contrário ser um tempo de encontros e descobertas íntimas.

Boff (2000) diz que o ser humano é um ser nunca pronto e que nós reagimos

de acordo com os intimidamentos do real, assim como, acrescenta Carvalho (2003)

o modo de ser do homem é poder-ser, isto é, fazer da vida sempre um projeto.

Surpreendentemente a vivência do climatério mostrou-se para as mulheres

deste estudo como abertura de novas possibilidades, libertando-as de ciclos

menstruais dolorosos e indesejáveis, reconhecendo-as mais tranqüilas, mais

vaidosas consigo mesmas, desenvolvendo melhores relações com os outros e o

mundo.

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V-CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Ao finalizar este estudo pude ainda realizar algumas reflexões e perceber

que as mulheres expressam a vivência do climatério como um resgate da lembrança

da menarca, ou seja, como possibilidade de “adoecimento existencial”, tal como,

historicamente, aconteceu com a menstruação, anteriormente, interpretada como

“adoecimento”, quando as mulheres se referiam a este período, também cercado de

restrições e “pré- conceitos”, mas que atualmente é encarado sob outras

perspectivas.

Percebe-se que embora a associação da sexualidade com a reprodução

tenha sido rompida a partir dos anos 60 com o advento dos anticoncepcionais, as

mulheres desse estudo demonstram certo alheiamento ao funcionamento do próprio

corpo e suas possibilidades.

Acredito que precisa haver uma mudança de imagem da mulher no climatério

a começar pela mídia, propagandas, novelas, filmes; mostrando mulheres maduras

assumindo papéis de heroínas, vivendo grandes paixões, desfrutando a vida

plenamente. Observa-se que algumas iniciativas vêm sendo feitas, principalmente

nas novelas, que tem utilizado atrizes maduras em seus melhores papéis.

Em recente pesquisa realizada pelo IBOPE com mulheres sobre o prazer na

menopausa e exibida em programa televisivo, verificou-se que 30% das

entrevistadas responderem que a televisão é onde elas mais se informam sobre a

menopausa, o que mostra como é importante a utilização deste meio de

comunicação .

Apesar da realidade da longevidade das mulheres e da evolução da ciência e

da tecnologia atual, as mulheres deste estudo mostram a vivência do climatério

inicialmente, dominada pela publicidade, relacionando uma série de manifestações

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desagradáveis, ditas e apresentadas por outras pessoas, nem sempre assumidas e

reconhecidas como próprias,

As mulheres referem a alteração da imagem corporal como problema capaz

de transtorná-las, quando vêem o seu corpo se modificando e têm uma expectativa

negativa quanto à diminuição da libido ao mesmo tempo em que a buscam se

adaptar às peculiaridades deste período.

Para o enfrentamento do climatério a mulher lança mão de várias alternativas:

hormônios, dietas, exercícios físicos, florais de Bach e até “vida regrada” como

alternativa para enfrentá-lo melhor. Os profissionais de saúde precisam buscar

compreender as mulheres nesta fase da vida para melhor orientar suas ações no

sentido de dar apoio e suporte ao atendimento de suas necessidades, estimulando

suas potencialidades.

Os serviços de saúde relacionados a assistência à mulher parecem não estar

desenvolvendo efetivamente o programa direcionado a assistência de mulheres no

climatério, quando se evidencia que elas ainda se encontram pouco ou mal

informadas, assim como mostram dificuldade de acesso e acolhimento dos

profissionais, apresentando dúvidas e conflitos.

Mas, como o ser humano é um ser de possibilidades vemos que a mulher

climatérica se abre a novas possibilidades achando ótima a idéia de não mais

menstruar, tornando-se mais vaidosa e reconhecendo-se mais tranquila. Giannett (

2002 ) diz que a aceitação dos nossos limites pessoais e humanos, são o segredo

de uma existência plena, harmoniosa e serena.

Souza ( 2001 ) ressalta em seu trabalho desenvolvido no Programa de

climatério e menopausa do hospital universitário do Espírito Santo a importância da

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atuação de psicólogos para uma abordagem multidisciplinar integrada na atenção a

esta mulher e a estes profissionais.

FEBRASGO (2004) coloca que em uma medicina do mundo moderno é

fundamental que o profissional ajude a promover a sexualidade no climatério, seja

com TRH, palestras, informações, ou acompanhamento profissional.

O Ministério da Saúde (Brasil, 2008) ressalta a importância de serem

desenvolvidas atividades educativas que ofereçam às mulheres conhecimento sobre

as modificações biológicas que ocorrem nesta fase. Há, portanto a necessidade de

falar abertamente sobre o climatério, desmistificá-lo, informando corretamente às

mulheres., evidenciando-se aí o enfermeiro como um grande facilitador deste

processo.

A principal meta a ser alcançada pela enfermagem é o de oferecer uma

assistência de qualidade ao ser humano atendendo-o em todos os seus aspectos.

Portanto, torna-se relevante subsídio esta perspectiva de abordagem que buscou

mergulhar nos pensamentos, sentimentos, percepções e atitudes do ser mulher

vivenciando o climatério.

O processo de envelhecer não é um evento pontual, mas seqüencial e

contínuo, a partir do final da idade reprodutiva que, como as demais fases da vida,

precisa ser compreendido existencialmente, assumido por todos nós.

Desta forma compreender o vivido das mulheres no climatério para nortear os

profissionais envolvidos, abre assim novos horizontes para a assistência a essas

mulheres em programas de atenção à saúde e promoção da qualidade de vida,.

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