Retiro Calabriano - Dezembro/2015

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ROTEIRO DE RETIRO ESPIRITUAL PARA O ANO DA VIDA RELIGIOSA CONSAGRADA Espiritualidade e missão calabriana: uma mensagem de esperança. “Quem é o meu próximo?” “Sede misericordioso como vosso Pai é miseridordioso” (Lc 6,36) Uma retomada... Neste ano tivemos a alegria de celebrar o ano da Vida Religiosa Consagrada: Vida Religiosa na Igreja hoje: Evangelho, Profecia e Esperança. Tempo oportuno para bendizer a Deus que nos chamou ao seguimento de seu Filho Jesus pela adesão ao Evangelho. Somos chamados a sermos testemunhas ao mundo inteiro do seu amor e da misericórdia de Deus 1 . Podemos dizer que este tempo foi um tempo sabático, pois tivemos a oportunidade de refletir sobre o nosso ser consagrados como pertencentes à família calabriana. Nosso desejo foi o de permanecer no caminho com os olhos fixos em Jesus 2 e nossa oração primeira foi a de que o Mestre, caminhando conosco, nos fizesse perceber nosso coração arder 3 . Neste último tema deste roteiro espiritual, nos perguntemos: - Como nossas comunidades viveram esse tempo de graça? - Deixamo-nos iluminar e conduzir pelas moções inspiradoras e criativas do Espírito de Deus 4 ? - Tivemos um espírito de gratidão pelo dom do carisma calabriano que nos exige compromisso com a prática do Evangelho e com a missão de reavivar no mundo a presença paterna e materna de Deus para aqueles e aquelas que somos enviados? - Esse tempo nos ajudou a revitalizar nossa vocação, tomando consciência da sedução de Deus 5 , do entusiasmo inicial, do trabalho criativo e inusitado que só “o divino oleiro” poderia realizar em nós 6 , revivendo a experiência do primeiro amor 7 ? - Esforçamo-nos nesse tempo em ser instrumentos nas mãos do Senhor que continua chamando para estar com ele, concretizando o “vinde e vede”? Nesse sentido, pessoal e 1 Cf. FRANCISCO. Carta Apostólica às pessoas Consagradas para proclamação do Ano da Vida Consagrada. VATICANO, novembro, 2014. 2 Cf. Lc 3,20 3 Cf. Lc 24,32 4 Cf. FRANCISCO. Carta Apostólica às pessoas Consagradas para a proclamação do Ano da Vida Consagrada. Vaticano, novembro, 2014. 5 Cf. Jr 20,7 6 Cf. Gn 2,4b-7; Jr 18,1-6 7 Cf. Ap 2,4

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Retiro elaborado pelo Pe. Osvaldo de Oliveira, PSDP para o mês de Dezembro, encerrando assim, os retiros para o ano de 2015

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ROTEIRO DE RETIRO ESPIRITUAL PARA

O ANO DA VIDA RELIGIOSA CONSAGRADA

Espiritualidade e missão calabriana:

uma mensagem de esperança.

“Quem é o meu próximo?” “Sede misericordioso como vosso Pai é miseridordioso” (Lc 6,36)

Uma retomada... Neste ano tivemos a alegria de celebrar o ano da Vida Religiosa Consagrada: Vida Religiosa

na Igreja hoje: Evangelho, Profecia e Esperança. Tempo oportuno para bendizer a Deus que nos chamou ao seguimento de seu Filho Jesus pela adesão ao Evangelho. Somos chamados a sermos testemunhas ao mundo inteiro do seu amor e da misericórdia de Deus1.

Podemos dizer que este tempo foi um tempo sabático, pois tivemos a oportunidade de refletir sobre o nosso ser consagrados como pertencentes à família calabriana. Nosso desejo foi o de permanecer no caminho com os olhos fixos em Jesus2 e nossa oração primeira foi a de que o Mestre, caminhando conosco, nos fizesse perceber nosso coração arder3.

Neste último tema deste roteiro espiritual, nos perguntemos: - Como nossas comunidades viveram esse tempo de graça? - Deixamo-nos iluminar e conduzir pelas moções inspiradoras e criativas do Espírito de

Deus4? - Tivemos um espírito de gratidão pelo dom do carisma calabriano que nos exige

compromisso com a prática do Evangelho e com a missão de reavivar no mundo a presença paterna e materna de Deus para aqueles e aquelas que somos enviados?

- Esse tempo nos ajudou a revitalizar nossa vocação, tomando consciência da sedução de Deus5, do entusiasmo inicial, do trabalho criativo e inusitado que só “o divino oleiro” poderia realizar em nós6, revivendo a experiência do primeiro amor7?

- Esforçamo-nos nesse tempo em ser instrumentos nas mãos do Senhor que continua chamando para estar com ele, concretizando o “vinde e vede”? Nesse sentido, pessoal e

1 Cf. FRANCISCO. Carta Apostólica às pessoas Consagradas para proclamação do Ano da Vida Consagrada. VATICANO, novembro, 2014. 2 Cf. Lc 3,20 3 Cf. Lc 24,32 4 Cf. FRANCISCO. Carta Apostólica às pessoas Consagradas para a proclamação do Ano da Vida Consagrada. Vaticano, novembro, 2014. 5 Cf. Jr 20,7 6 Cf. Gn 2,4b-7; Jr 18,1-6 7 Cf. Ap 2,4

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comunitariamente fomos entusiasmados, entusiasmando e despertando nos jovens o desejo do seguimento de Jesus pela consagração religiosa8?

Iniciamos nossa trajetória rezando “os feitos maravilhosos9” que nos chama. Mais do que

lembrar como exercício mental, antes de tudo, somos chamados a construir a história, olhando para

o futuro com esperança e compromisso, abandonando-nos nas mãos do Senhor que não nos

abandona10. Por isso, “narremos as maravilhas dos feitos do Senhor”; “exultemos com a glória da

nossa vocação dando graças a Deus que nos chamou11”.

Este tempo, certamente foi um Kairós. Tempo de Deus na vida de cada consagrado e

consagrada, na vida da Igreja, da Congregação e de toda a família calabriana. Tempos que, deixamo-

nos impulsionar pelas moções do Espírito, nos conduzirão a um progressivo crescimento espiritual.

O segundo tema desse caminho espiritual nos ajudou a rezar a necessária busca da

radicalidade da vida cristã; lembrou-nos ainda de que, nascida da interpelação do Espírito Santo, a

Vida Consagrada é chamada a seguir a Cristo na radicalidade, a atualizar o Evangelho12; ser

“Evangelho Vivo13”. É insistente a interpelação de Jesus: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que

possui e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me!” (Mt 19,21).

Percorremos essa trajetória essencialmente a partir da dinâmica do seguimento14. Reapresentamos

Cristo como centro de nossa opção de vida15 e principal tema de nosso anúncio e testemunho. A

vida batismal vivida na radicalidade nos torna livres para deixar tudo e seguir a Jesus: “Eis que

deixamos tudo e te seguimos...”.

O Cristo que seguimos é o fundamento da nossa consagração; o Evangelho do Pai anunciado e que causa grande e real alegria. No terceiro passo desse caminho fomos convidados a ouvir de novo o anúncio do anjo aos pobres pastores: “Não temais! Eis que vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: nasceu-vos hoje um salvador, que é o Cristo-Senhor (...). Os pastores disseram entre si: ‘Vamos já a Belém e vejamos o que aconteceu e o que o Senhor nos deu a conhecer” (Lc 1, 10.15). Com os pastores rumamos também nós “à pequena Belém” e contemplamos o mistério do Verbo encarnado que nasce do olhar compassivo que transborda do coração de Deus Pai.

Jesus Cristo é a “Boa Notícia”. A plenitude da Revelação16: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, nos profetas; nestes últimos tempos falou a nós, no seu Filho” (Hb 1,1). Em Jesus, temos a Revelação por excelência. Ele é ao mesmo tempo mediador e plenitude de toda a revelação17 (Cf. Mt 11,27); anúncio que preenche, irradia e alegra o coração no cotidiano da nossa

8 IDEM. Cf. 1 Jo 4, 8. 9 Cf. Sl. 75. 10 VITA CONSECRATA, n. 110. 11 cf. Missal Romano pg 303. 12 cf. Perfectae caritatis n. 2. 13 Seguida expressão de São João Calábria. 14 PAULO II, João. Vita Consecrata. 1996. (n. 1; 3; 4; 5; 7);cf. LIBANIO. João batista em Bombonatto, Vera Ivanise. Seguimento de Jesus: uma abordagem segundo a cristologia de Jon Sobrino. São Paulo: Paulinas, 2002. 15 Cf. Constituições n. 1 16 BERGANT, Dianne. Comentário Bíblico III: Evangelhos e Atos, Cartas, Apocalipse. Loyola, 1999. 17 Constituição Dogmática Dei Verbum (DV) do Concílio Vaticano II. § 162.

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existência18. Não precisamos mais viver às apalpadelas ao buscarmos Deus, pois ele se dá a conhecer.

“Procurai o Senhor enquanto se deixa encontrar. Invocai-o enquanto está perto” (Is 55,6). Ao contemplar o mistério da encarnação, somos convidados a voltar nosso olhar também ao mundo e aos mistérios da humanidade “com os olhos de Deus”. Para tanto precisamos deixar que o Verbo “arme” sua tenda entre e em nós (cf. Jo 1,14).

Habitando em nós, como religiosos consagrados, seremos anúncio desta boa notícia para o mundo hoje, pois “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou pela unção para evangelizar os pobres, enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4, 18-19). Iluminados por essa passagem contada pelo evangelista Lucas, iniciamos o quarto passo do nosso caminho espiritual.

Propusemos esse momento de oração com a certeza de que a Vida Consagrada na Igreja é evangelho para a Igreja e o mundo sempre que não perde de vista o seu ponto de referência, quando mantém seus olhos atentos (cf. Lc 4,20) naquele que por seu Espírito nos chama e consagra a si: Cristo Jesus. Somente nele é que poderemos viver o grande anseio do Pe. Calábria de sermos “Evangelhos Vivos”. Com o tema: “O Espírito Santo está sobre mim e me consagrou”, rezamos a presença do Espírito Santo que nos consagrada. Ela é obra do Espírito Santo. É Ele quem forma e plasma os anseios e o espírito daqueles que são chamados, configurando-os a Cristo pobre, casto e obediente19.

Fazendo uma leitura orante do programa de vida e missão de Jesus, revisitamos nosso projeto de vida pessoal e comunitário. A unção, consagração e escolha que acontece pela iniciativa divina não nos permite sentirmo-nos privilegiados, mas chamados para em primeiro lugar nos santificar e para, com nossa oração e ação santificar aqueles e aquelas aos quais somos enviados. Quem deixando-nos inspirar em Cristo o nosso programa de vida pessoal e comunitário possamos nos tornar portadores do “ano da graça do Senhor” (Lc 4,19).

Após rezarmos o programa de vida de Jesus, o quinto momento nos sugeriu que “A vida religiosa Consagrada é dom e profecia para o mundo”: “Antes mesmo de te modelar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do ceio, eu te consagrei e te constituí profeta das nações. Eu te confiro autoridade sobre as nações e sobre os reinos, para arrancar e para destruir, para arruinar e para demolir, para construir e para plantar” (Jr 1,5.10). A mística e o fundamento da nossa vocação à Vida Consagrada é fruto do Espírito. Ele é quem unge e consagra. Nossa vocação é Evangelho, Profecia e Esperança. Afinal, como nossa vocação à profecia incide na vida da Igreja e o que tem a contribuir a vida religiosa consagrada para o mundo?

Ser profeta20 é ter a missão de “falar em vez de” e não “antes de” (pré-dizer). Os profetas são pessoas possuídas por Deus e são suscitadas especialmente em tempos difíceis21 (cf. Jr 1,5.19-14). É um chamado “impossível de resistir” (cf. Am 13-4.7). Vocacionados à profecia, não podemos deixar de profetizar. A vocação profética não é um capricho, mas fruto de um impulso interior atribuído ao próprio Deus que chama22. Na vocação do profeta como manifestação divina, a ação de Deus irrompe o coração de que se

deixa seduzir (cf. Jr 20,7-13). Embora a missão profética seja tarefa que exige compromisso e empenho para sua realização a certeza marcante de que o Senhor não abandona aqueles que Ele os sustenta. Neste sentido encontramos a repetida promessa divina: “não temas, eu estarei contigo” (cf.Is 41,10).

Precisamos revitalizar a vocação profética, pois se trata de essencial dimensão e marca identitária da Igreja e da Vida Consagra com fidelidade criativa. Para tanto, retomemos a intuição inicial que nos remete a

18 FRANCISCO. Exortação apostólica Evangelii Gaudium. (n.1). 2013. 19 PAUL II, João. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita Consecrata – Sobre a Vida Consagrada e sua missão na Igreja e no Mundo. São Paulo. Paulinas. 1996. 20 Ver o significado de Profeta em grego: Pro-phetes cf. DE LANCY, J.M. Abrego. Os livros proféticos: Introdução ao estudo da Bíblia V. 4. São Paulo. Ed. Ave Maria. 2006. 21 BORTOLINI, José. Roteiros homiléticos Anos A, B, C, Festas e Solenidades. São Paulo. Paulus. 2007. 22 DE LANCY, J.M. Abrego. Os livros proféticos: Introdução ao estudo da Bíblia V. 4. São Paulo. Ed. Ave Maria. 2006.

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São João Calábria que insistia sempre: “Espírito puro e genuíno”, lançando-nos às novas fronteiras existenciais23, superando imobilismos pessoais e estruturais. Como nos sugere São Paulo, tenhamos os mesmos sentimentos de Cristo (Rm 12,16). Como posso retomar a dimensão profética da minha vida como consagrado? Quais escolhas ou renúncias que precisam ser feitas?

O sexto passo que fizemos rezamos o estilo de vida calabriano como profecia para os tempos atuais. “Profetiza, filho do homem, profetiza” ( Cf. Ez 37,9), foi a insistência da Palavra. Se somos filhos e filhas de um profeta, ai de nós se diluirmos o espírito puro e genuíno da Obra24. Ser profeta como calabriano é recordar a iniciativa divina da mística do chamado em vista de um compromisso com os mais pobres, em qualquer situação, vivendo a simplicidade de verdadeiros servos: “Fizemos o que devíamos fazer...” (Lc 17,7-10). É encontrar o sopro inicial, voltar e deixar-se conduzir pelo primeiro amor que sempre leva à vida e nunca à morte. Precisamos ser portadores da vida e da esperança.

Para sermos profetas nos dias de hoje, é urgente e necessária a conversão à fonte e meta de nossa vida cristã e de consagrados revitalizando nossa paixão pelo Reino e pela humanidade. Só a partir de uma verdadeira experiência de ser amado por Deus é que alguém se torna capaz de arriscar a vida, alimentar a utopia e fazer opções claras e objetivas pelos sem voz e sem vez, pelos crucificados de hoje. Vivamos a alegria

da radicalidade do Evangelho; “retornemos às fontes puras e genuínas do Evangelho25”; Sejamos “Evangelho

Vivos”26. Deixemos brilhar a nossa luz diante dos homens, para que, vendo as nossas boas obras, eles glorifiquem nosso Pai que está nos céus (cf. Mt 5,16); Façamos de nossas comunidades verdadeiras escolas e testemunhas da fraternidade, elucidando o mistério da comunhão trinitária27; Revitalizemos nosso compromisso de consagração reencontrando o sentido da prática dos assim chamados “conselhos evangélicos” à luz da Consagração de Jesus28, Aquele que o Pai “consagrou e enviou ao mundo” (cf. Jo 10,36); retomemos nosso real compromisso de amor e serviço aos pobres: “Ir aonde ninguém vai” 29.

O sétimo momento de nosso itinerário nos ajudou a rezar o tema: renovando nossa esperança para

ser “Esperança para o mundo”. É São Paulo quem nos adverte: “Daí razão à vossa esperança” (1Pd 3,15). A atitude de esperança é essencial para a nossa vida humana e cristã. A esperança como virtude que consiste no desejo de um bem futuro e na tensão voltada para alcançá-lo30 nos exige atitude de compaixão e misericórdia para com nossos irmãos e irmãs, sobretudo para com aqueles que mais necessitam.

“ESPIRITUALIDADE E MISSÃO CALABRIANA: UMA MENSAGEM DE ESPERANÇA”.

Breve fundamentação: Revitalizemos nossa fé, revisitemos o fundamento do nosso entusiasmo no seguimento de Jesus.

Assim seremos profícuos em nosso agir e sermos sinais de esperança para aqueles que o Senhor nos envia. Podemos a partir da nossa espiritualidade e missão ser renovados e entusiastas mensageiros da esperança? Propomos como tema para esse último dia a “Espiritualidade e missão calabriana: uma mensagem de esperança”.

Estava pensando por onde partir para refletir sobre esse nosso compromisso de sermos portadores de esperança no que somos e no que fazemos. Penso que a melhor forma é de rezarmos a partir da nossa missão específica de revelarmos ao mundo a paternidade de Deus considerando particularmente a sua misericórdia, visto que iniciaremos no dia 08 de dezembro deste, o ano da misericórdia.

A misericórdia é um jeito próprio de Deus Pai, que, ao mesmo tempo coincide com o próprio Cristo, o Filho. Quando Filipe dirigiu-se a Jesus pedindo: “Senhor, mostra-nos o pai¸ Jesus lhe disse: “Há tanto tempo estou convosco e não me conheceis...? Quem me vê, vê o Pai” (cf. Jo 14, 8s). De fato, Cristo revela, por suas 23 FRANCICO, papa. Homilia na missa final da jornada mundial da juventude no Brasil. 2013. 24 LONGO, Waldemar. Reencontrando nosso estilo de vida. 25 CALÁBRIA. São João. Retornemos ao Evangelho p. 15-17. 26 Cf. Idem. p. 56. 27 “Comunhão é o outro nome da Igreja” (Paulo VI); XVI, Papa Bento. Deus Caritas est. 2005. 19. 28 Compendio Vaticano II. Constituição Dogmática LG. N. 43. 29 Cf. CALÁBRIA, São João. CR XXIV. 1940. 30 IDÍGORAS, J. L. Vocábulo teológico para a América Latina. São Paulo. Paulinas. 1983.

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ações, palavras e por sua Paixão, morte e ressurreição, o rosto misericordioso do Pai. Deus é RICO EM MISERICÓRDIA (Ef 2,4); é “Pai das misericórdias e Deus de toda consolação”, como afirmou São Paulo em sua segunda carta aos Coríntios (cf. 2Cor 1,3). Neste sentido, Deus não é mais “inacessível” e nem pode ser conhecido apenas por comparação ou parábolas, pois próprio Cristo O revelou. Na encarnação do Verbo se personifica o próprio Pai que é amor e misericórdia31.

Misericórdia não é apenas consideramos o perdão que recebemos de Deus após um coração contrito. MAS É SER PERDÃO. Nem é compreender de forma erronia a mensagem de São Paulo quando afirma que “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5,20), vivendo dessa forma entre o contínuo pecar e a busca descomprometida do sacramento da reconciliação. É viver com pessoas transformadas. A experiência da Misericórdia é antes de tudo sair de si mesmo, parar de circuncidar o próprio umbigo. É deixar o orgulho de lado e reconhecer seus limites; é assumir que muitas vezes as escolhas que fazemos não estão corretas e não nos conduzem para o caminho da vida.

Misericórdia é inclinar o coração para a miséria do outro. Essa sempre foi a atitude de Deus: “Eu ouvi o clamor de meu povo e desci para libertá-lo” (Ex 3,7). Muitos são os sinais da misericórdia de Deus ao longo da história, mas, sobretudo por sua sensibilidade, atenção e cuidado que Deus é Misericordioso. Certamente podemos afirmar que para “encontrar o que estava perdido” (cf. Lc 15,1-10) para aproximar aqueles que estavam distantes, “para iluminar os que andavam nas trevas” (Is 9,2; Mt 4,16) é que brilhou a luz do Filho que se encanou em nossa humanidade, por meio do seio da Virgem Maria.

A misericórdia revelada em Cristo permite-nos vê-lo particularmente próximo do homem e da mulher, sobretudo quando este sofre, quando é ameaçado no próprio núcleo da sua existência e da sua dignidade32.

Diante de tantos males que acometem a humanidade, desde o século passado marcado por sistemas totalitários brutais33 como, por exemplo, as duas guerras mundiais e se considerarmos os primórdios do século XXI, podemos nos lembrar do 11 de setembro ou dos últimos atentados em Paris, fatos que deixam o mundo inteiro em contínua alerta, sob ameaça de um terrorismo sem piedade; Não devemos nos esquecer da violência em nosso país que mata em torno de 135 pessoas por dia; podemos lembrar ainda das injustiças, da corrupção, de crianças e mulheres vítimas de abusos indescritíveis; milhões de pessoas condenas à fome, ao desemprego, suscetíveis a catástrofes naturais ou não como foi o caso de Mariana. Paremos por aqui, pois a lista seria muito longa. Diante de tantos sinais, mais do que nunca se faz tão urgente criarmos uma cultura da misericórdia. De termos a coragem de inclinar o nosso coração às necessidades de tantos irmãos e irmãs. Assim como sempre fez o nosso Deus. Da mesma forma como demonstrou Maria ao permanecer em pé junto ao seu Filho na cruz assumindo cada um de nós como filhos e filhas ao ouvir uma das últimas palavras de Jesus: Mulher, eis aí o teu Filho. Filho, eis aí a tua mãe” (Jo 19,26).

Que o ano da misericórdia que logo mais iniciaremos nos ajude a ”sermos misericordiosos como nosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36); ensine-nos a perdoar e acolher o perdão; a inclinar o coração às necessidades de nossos irmãos e irmãs.

Encontro com a palavra: (Lc 10,25-35) - Leia o texto atentamente - O que diz o texto? - Repetir alguma frase ou alguma expressão significativa

Pistas de reflexão:

O texto de Lucas tem sua raiz na síntese do “sermão da planície”, quer seja: “Sejam misericordiosos como o Pai de vocês é misericordioso” (Lc 6,36).

31 Cf. JOÃO PAULO II. A misericórdia Divina. Paulinas. São Paulo. 1981. 32 Cf. Idem. Pg 10. 33 KASPER, Cardeal Walter. A misericórdia: condição fundamental do Evangelho e chave da vida cristã. São Paulo. Edições Loyola: Portugal: Princípia Editora 2015.

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A misericórdia aqui não pode ser entendida como lei, mas como sensibilidade e amor à vida. Como síntese entre a lei, a religião e à ética. Significa sair de si mesmo e viver o mandamento do amor na prática. Não basta conhecer o mandamento: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, com todo o teu entendimento; e teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10,27). É sair do egoísmo e dedicar-se ao mais importante: a prática que se traduz na misericórdia34.

Reconhecer o próximo Num primeiro momento, o próximo no Antigo e no Novo Testamento se reconhece no contexto social

estreito como o clã, a vizinhança = povo, comunidade (Cf. Lv 19,18); da tradução do hebraico significa irmão, companheiro de tribo parente de sangue, compatriota. Traduz a relação que se deve ter com o estrangeiro (estranho). Neste sentido, havia regulamentos que visava a acolhida e a integração destes como próximos. Isto porque o próprio povo de Israel passou por situação semelhante no Egito: era um povo estrangeiro e escravo. Aqui o amor ao próximo se fundamenta pela convivência e pela memória das próprias experiências (Cf Ex 22,20; Lv 19,34; Dt 10,29)35.

“Um mestre da lei levantou-se e, querendo experimentar Jesus, perguntou: Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?” Essa atitude não revela boas intenções – queria por Jesus à prova. Demonstrou-se conhecedor da lei, mas estava tão agarrado ao código de leis que estava da mesma forma engessado ao ponde de não ao ponto de não entender que a lei sem a prática é morta. Ele se interessava com a letra, mas não com a prática da misericórdia. Jesus quer ampliar seu entendimento e prática da lei. Quer lhe ensinar a ser verdadeiramente próximo dos outros.

Sabendo que a prática da misericórdia passa pela acolhida e sensibilidade para com a miséria do outro: um homem caiou nas mãos dos assaltantes. Ferido, está à beira da morte. Quando entendemos a “prática da religião” trancada no templo não somos capazes de enxergar o rosto de Deus no irmão caído e indiferentes passamos adiante (sacerdote). Quando fechados na lei pela lei, preocupados em saber de cor (apenas na mente) os mandamentos podemos ofuscar nosso olhar e também não enxergar Deus no caído (Levita); ou mesmo selecionar quem é o nosso próximo, priorizando talvez aqueles que nos permitem permanecer em nosso comodismo.

Contudo, quando agimos com misericórdia permitimos que a vida renasça. Agimos como “o bom samaritano”; ultrapassamos a relação que se fundamenta no laço sanguíneo e acolhemos e ajudamos aquele que sofre, independente de quem quer que seja.

Atitudes de misericórdia Como podemos, pela vivência da espiritualidade calabriana ser sinais de esperança? “Um samaritano chegou perto dele; viu, moveu-se de compaixão. Aproximou-se dele, tratou-lhe as

feridas, derramando nelas óleo e vinho. Depois colocou-o em seu próprio animal e o levou a uma pensão, onde cuidou dele...” (Cf. Lc 10,33-34).

Nessas atitudes do “bom samaritano” vejo as atitudes de São João Calábria que deveriam ser também as nossas. Quando ele encontrou-se com o “ciganinho”, à soleira de sua porta o viu, aproximou-se, “sacudiu” com cuidado; se compadeceu dele e o acolheu em sua casa, dando-lhe a própria cama.

Podemos nos perguntar: - Como podemos ter as mesmas atitudes do bom samaritano e do nosso fundador? - Em nosso serviço, na missão que somos enviados, acolhemos, nos compadecemos dos mais

necessitados sem exclusão? - Quem é o nosso próximo? Será que não precisamos amar, acolher, perdoar e se compadecer de

nossos co-irmãos de nossa comunidade e Congregação para sermos testemunhas concretas do amor e da esperança?

34 BORTOLINI, José. Roteiros homiléticos Anos A, B, C, Festas e Solenidades. São Paulo. Paulus. 2007. 35 BERLEJUNG, Angelika e Frevel, Christian. Dicionário de termos teológicos fundamentais do Antigo e do Novo Testamento. São Paulo. Paulus; Loyola. 2011.

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4- Oração: - O que o texto me faz dizer a Deus? - Leia novamente o texto escolhido e deixa o coração falar. Se oportuno reze uma oração à escolha.

5- Contemplação – que novo olhar esse texto produz em mim? - silencie diante da Palavra refletida e rezada. - Coloca-te no contexto do vale e deixa-te “inspirar” pelo sopro de vida do Espírito.

6- O que é essencial registrar? - Após a experiência de oração tomo consciência de que... - Estratégias/compromissos para minha vida de comunidade e missão: - Palavra ou frase inspiradora:.....