Resíduos Sólidos Industriais do Processo de Fabricação de ...

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  • Novembro 2008

    Celso Foelkel

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    Resduos Slidos Industriais do Processo de Fabricao

    de Celulose e Papel de Eucalipto

    Parte 02: Fatores de sucesso para seu gerenciamento

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    Resduos Slidos Industriais do Processo de Fabricao

    de Celulose e Papel de Eucalipto

    Parte 02: Fatores de sucesso para seu gerenciamento

    Celso Foelkel

    CONTEDO INTRODUO

    RESDUOS & RESDUOS: QUANTO TEMOS REALMENTE DELES EM NOSSAS FBRICAS?

    PONTOS CHAVES NA GESTO DE RESDUOS SLIDOS NAS FBRICAS DE CELULOSE E PAPEL

    ETAPAS PARA UMA ESTRATGIA DE SUCESSO PARA A GESTO DOS RESDUOS SLIDOS INDUSTRIAIS DA FABRICAO DE CELULOSE E

    PAPEL

    MINIMIZAO DA GERAO DE RESDUOS SLIDOS EM NOSSAS FBRICAS DE CELULOSE E PAPEL

    FATOS RELEVANTES PARA O GERENCIAMENTO DE RESDUOS SLIDOS INDUSTRIAIS

    DISPOSIO FINAL EM ATERROS DOS RESDUOS SLIDOS INDUSTRIAIS

    RESDUOS SLIDOS NO PROCESSUAIS

    ALGUNS CASOS DA VIDA REAL EXEMPLIFICANDO SITUAES DE GESTO DE RESDUOS DA FABRICAO DE CELULOSE E PAPEL DE

    EUCALIPTO

    CONSIDERAES FINAIS

    AGRADECIMENTOS

    REFERNCIAS DA LITERATURA E SUGESTES PARA LEITURA

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    Resduos Slidos Industriais do Processo de Fabricao

    de Celulose e Papel de Eucalipto

    Parte 02: Fatores de sucesso para seu gerenciamento

    Celso Foelkel

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    INTRODUO

    Resduos slidos: sempre tenho boas histrias vivenciadas para contar sobre eles

    Todos conhecemos a enorme capacidade que nossa sociedade

    humana conseguiu desenvolver para gerar resduos. Diz-se mesmo, que no

    futuro, com o aumento vertiginoso da populao mundial, que o lixo e suas

    conseqncias devero ser um dos grandes problemas a ser administrado

    pelos humanos.

    Resduos so gerados em praticamente todas as operaes (agrcolas,

    industriais, minerao, servios, etc.), bem como em nossas atividades

    caseiras e profissionais. Isso porque so rarssimos em nossa sociedade os

    balanos de massa que no gerem ineficincias e perdas. Esses nossos

    desperdcios ocorrem at mesmo naturalmente, inocentemente ou

    deliberadamente. Toda perda, toda ineficincia, gera maiores consumos de

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    matrias-primas e oferece parte delas como resduo ou poluio. O

    fenmeno conhecido e at mesmo passivamente aceito pelo homem. Em

    funo de nossa cultura perdulria e desperdiadora em relao aos recursos

    naturais, fomos aceitando o lixo como algo inevitvel, at mesmo como algo

    natural dentro de nossa sociedade.

    Hoje, com mais de 6 bilhes de pessoas vivendo no planeta, com os

    srios sinais de degradao da natureza que vamos encontrando no nosso

    dia-a-dia, as coisas comeam a nos forar a novos rumos, novas posturas,

    novas maneiras de se fazer o que estamos fazendo de forma ineficiente. A

    sujeira nossa de cada dia precisa ser diminuda, retrabalhada, gerenciada e

    at mesmo reaproveitada. Qualquer lixo tende a ocupar espao na natureza

    e a consumir recursos naturais ao longo de sua existncia. Alm disso, por

    mais aterrado ou protegido que esteja, o lixo consiste em um passivo

    ambiental para ser administrado e monitorado pelo resto de sua existncia.

    O encapsulamento do lixo em aterros industriais ou sanitrios, o

    monitoramento continuado em termos de gases liberados ou lenis de gua

    contaminados, os efeitos sobre a sade da populao circunvizinha e sobre

    a biodiversidade, tudo isso passa a virar obrigaes do gerador do lixo e de

    quem o depositou para guarda eterna. Ainda pior, sabemos hoje que a taxa

    de degradao de resduos aterrados muito lenta, faltam condies

    adequadas para que ocorra uma compostagem natural eficiente. Por isso, o

    lixo tanto se degrada como se mumifica nos aterros. Dizem isso os

    praticantes de uma nova cincia, a garbologia (originria de garbage =

    lixo), ou lixologia para ns brasileiros.

    muito comum vermos reportagens sobre os diversos tipos de lixo e

    mostrando tempos de decomposio para o papel, o plstico, a madeira, etc.

    Entretanto, esses tempos relatados so vlidos quando estamos tendo

    mecanismos estimuladores para essa degradao. Por exemplo: diz-se que

    um cigarro quando jogado ao lixo demora de 4 meses a 2 anos para ser

    totalmente decomposto por fungos e bactrias. Contudo, se esse mesmo

    cigarro for jogado em um lixo ou aterro com baixa taxa de degradao, ele

    pode durar dezenas de anos intacto, mantendo at mesmo seu formato

    original. Inacreditvel, mas exatamente isso que as pesquisas dos

    garblogos tm demonstrado em muitos lixes.

    Resduos para serem decompostos naturalmente necessitam de luz

    solar, umidade, microrganismos, abraso, eroso, reaes qumicas, etc.

    Quando esses fatores de degradabilidade no so oferecidos, o lixo tende a

    se mumificar. Por essas razes, muitas pesquisas tm surgido sobre a

    problemtica do lixo, em como trat-lo, disp-lo, recuper-lo e reduzi-lo.

    Os resduos slidos representam quase sempre grandes problemas de

    diversas conseqncias negativas que podem representar contaminaes do

    solo, da gua, do ar, doenas para a populao e riscos para a vida vegetal e

    animal. A contaminao ao ar ocorre pela liberao de gases da

    decomposio, especialmente o gs carbnico e o metano. Esses gases so

    resultado da decomposio da matria orgnica. Alm de serem gases

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    causadores do efeito estufa, podem trazer incmodo, doenas e at mesmo

    causarem exploses, j que o metano altamente inflamvel.

    O solo outro patrimnio natural que mais agredido em processos

    envolvendo resduos slidos. A percolao de lquidos na forma de chorumes

    contaminados colocam metais pesados e compostos txicos em direta

    penetrao ao solo. Como as argilas conseguem reter muitos desses

    elementos, eles se concentram no solo. As plantas vo encontr-los e

    absorv-los por suas razes. Com isso, cria-se um problemtico ciclo de

    danos, no apenas ao solo, mas s plantas, animais e aos prprios humanos.

    Isso porque os poluentes acabam se incorporando na cadeia alimentar que

    tem o homem em seu pice.

    Outro grande problema causado pelos resduos slidos a

    contaminao do lenol fretico, ou at mesmo de aqferos, com o chorume

    contaminado e percolado. Esses chorumes so imprevisveis, difcil garantir

    sua composio e difcil antever por onde ele correr dentro do solo, caso

    encontre maneiras de penetr-lo. A gua contaminada do solo acabar

    chegando s nascentes, aos rios e ao consumo humano.

    O quadro desenhado bastante crtico e ele pode ser parte integrante

    do setor de papel e celulose, pois nosso setor grande gerador de resduos

    slidos industriais. Eu at mesmo diria mais: somos geradores de uma

    enormidade de resduos que no podem de forma alguma serem

    negligenciados por nossos tcnicos.

    A outra grande conseqncia dos resduos slidos so os recursos

    econmicos envolvidos. Na maioria das vezes, o gerador considera os

    resduos como inevitveis e se preocupa mais em quanto tem que gastar

    para dispor ou tratar os mesmos conforme manda a legislao. Ao pensar de

    forma to restrita, o administrador do resduo est enxergando apenas a

    ponta do iceberg. Como muitos gestores so orientados para cortar custos,

    eles focam suas baterias para diminuir a ponta visvel do iceberg e

    convivem com a enorme parte imersa e invisvel do mesmo.

    Resduos so coisas boas que foram jogadas fora, na maioria das

    vezes, por nossa incapacidade de gerenciar ou de aproveitar as mesmas em

    nossos processos. J escrevi muito sobre isso em captulos anteriores de

    nosso Eucalyptus Online Book. Procurei lhes mostrar como somos muitas

    vezes ingnuos quando nos posicionamos em relao poluio. Quase

    sempre nossos tcnicos e gestores se orgulham de seus fantsticos

    investimentos em controle ambiental, por seus tratamentos primrios,

    secundrios, tercirios, por seus magnficos e bem cuidados aterros de

    resduos, por seus filtros de gases, etc. Tudo em perfeito cumprimento s

    severas legislaes aplicadas s fbricas. Com isso, garantem sua

    certificao IS0 14.001 e se mostram responsveis em relao ao meio

    ambiente. O problema que em muitas situaes no otimizadas, as

    milhares de toneladas de resduos slidos industriais geradas continuam

    sendo aterradas e consumindo recursos econmicos, humanos e naturais.

    Para aqueles que acham que estou exagerando, ao longo desse captulo lhes

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    oferecerei uma srie de exemplos de valorao para que possam visualizar

    com mais clareza o problema.

    Tenho muito gosto por essa cincia de preveno e reciclagem de

    resduos slidos nas fbricas de celulose e papel. H razes histricas e

    profissionais para isso, pois em grande parte de minha carreira estive

    aprendendo a administrar esses resduos. Inicialmente, de forma ingnua e

    primitiva, at mesmo acreditando que os resduos eram inevitveis, que

    fossem parte integrante de nossos processos industriais. Sequer eu

    questionava de onde vinham e como eram gerados. Tinha isso sim que achar

    maneiras seguras de se disp-los, j que eram inevitavelmente gerados.

    Depois, com o crescimento dos problemas para disposio, passei a buscar

    formas de se recicl-los, procurando descobrir usos para os resduos. Isso

    me permitiu mudar de patamares tecnolgicos e de obter novos

    posicionamentos em nosso setor em relao reciclagem de resduos slidos

    em fbricas de celulose e de papel de eucalipto. Finalmente, h mais de uma

    dcada, passei a combater os resduos em sua origem, nos pontos de suas

    geraes. Fui-me aperfeioando nesse tema e aprendendo a gostar de

    conhecer os resduos em sua intimidade. Passei a estudar cada um, a ver

    como so formados, como minimizar sua gerao ou ento em como reciclar

    as sobras. Procurei entender onde as matrias-primas so perdidas no

    processo e os exatos pontos onde mudam de status de material til para

    poluio ou resduos. exatamente a que devemos comear a focar nossa

    gesto.

    Vou-lhes conduzir a um exemplinho simples em uma fbrica de

    celulose kraft. Para diminuir a gerao de lodo secundrio, temos que reduzir

    o envio de material orgnico dissolvido para a ETE - Estao de Tratamento

    de Efluentes - muito simples e bsico isso. Basta descobrir em nossa fbrica

    onde estamos perdendo demasiado licor ou filtrado contaminado para

    efluentes. Os efluentes de alta carga so letais como causas de poluio.

    Devemos encontrar onde fogem e descobrir maneiras de reter essas fugas

    no processo. No se trata muitas vezes de encontrar reciclagens internas,

    basta apenas evitar que fujam como transbordos, derrames, vazamentos de

    gaxetas, tubos furados, etc. Como diria o admirvel Sherlock Holmes a seu

    amigo, o Dr. Watson: Elementar, no mesmo, meu caro Watson ? (Autoria

    do escritor britnico Arthur Conan Doyle). Vejam s o exemplo da gua de lavagem de efeitos da evaporao de

    licor preto. Se forem inadvertidamente despejados para o efluente causaro

    desbalanceamentos na estao de tratamento, afetaro as colnias de

    microrganismos pelas alteraes em concentraes e o resultado ser um

    pior resultado do tratamento e um pior efluente tratado. Alm disso,

    estaremos jogando licor preto e sais de sdio para o lixo, como resduos.

    Piora no apenas o tratamento industrial dos efluentes, mas tambm piora a

    qualidade do efluente tratado. Como presente de grego indesejvel, aumenta

    ainda a gerao de lodo secundrio pela maior carga de material orgnico

    dissolvido a ser tratado. Alm disso, aumentam os custos pelas nossas

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    ineficincias e trabalhos adicionais requeridos. Para solucionar o problema,

    basta a colocao de um tanque especial para receber essas guas de

    lavagem ricas em lignina e compostos sdicos. Mais tarde, ocupando o

    prprio sistema de recuperao, esses lquidos de lavagem podero ser

    reincorporados ao processo. Estaremos com isso reduzindo a poluio

    hdrica, a gerao de resduos slidos, facilitando a vida das mquinas e

    economizando recursos econmicos para a empresa. Em geral, os pay-back

    desses tipos de investimentos so rpidos. No mesmo, meu caro Watson?

    Efluente rico em material orgnico:

    riquezas produzidas pelas florestas que se convertem em poluio a ser tratada

    Cascas e toretes de madeira perdidos no ptio de toras:

    matria-prima que vira resduo como por um passe de mgica

    Gostaria de lhes colocar um outro exemplo muito relevante em nossas

    fbricas de celulose e de papel. Fbricas que possuem alta gerao de lodo

    primrio devem com certeza estar com a sade afetada. Vejam porque... O

    lodo primrio o somatrio de trs tipos de perdas em nossas fbricas:

    fibras, cargas minerais e terra. As fibras podem estar sendo perdidas em

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    inmeros locais de nosso processo, basta apenas descobrir onde e reintegr-

    las ao processo. Afinal, elas so carssimas, so nossos produtos finais ou

    nossas principais matrias-primas. Jamais deveriam deixar nosso processo.

    Escrevemos um captulo todo em nosso livro sobre elas.

    Vejam em: http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT06_fibras_refugos.pdf

    O mesmo raciocnio vlido para as cargas minerais da fabricao do

    papel. Caulim, carbonato de clcio, dixido de titnio, etc. ao efluente

    demonstram at mesmo falta de responsabilidade tcnica de quem opera

    nossas fbricas. Terra no uma perda de processo, mas ela sai de nossos

    ricos solos florestais ou dos ptios de nossa fbrica. comum que se tenham

    contaminaes de terra nas toras de madeira: elas podem vir do ptio de

    madeira ou das nossas prprias florestas, em ambos os casos como

    contaminantes indesejveis. Quanto representa essa terra toda que sai como

    lodo primrio e somos obrigados a aterr-la, gastando dinheiro para isso ?

    Uma terra de solo bom, quando sai como lodo primrio vira resduo

    industrial, muda de classificao. Uma coisa boa, vira de imediato poluio.

    No contente s com isso, a terra sai como lodo mido, aumenta

    dramaticamente de peso e de volume para ir ao aterro.

    Mais uma vez a soluo est em:

    Reduzir perdas de fibras no processo industrial; Reduzir perdas de cargas minerais no processo industrial; Reduzir a entrada de terra na fbrica, junto s toras de madeira; Reduzir a entrada de material orgnico como galhos, folhas, etc. que

    chegam junto s toras e que acabam se incorporando no efluente

    bruto;

    Reduzir a remoo de solo na rea de ptio de toras.

    Algumas coisas ficam para serem resolvidas na fbrica de celulose ou

    papel, outras na rea florestal. Os florestais possuem responsabilidades na

    qualidade da madeira, mas no apenas na densidade bsica, dimetro das

    toras, etc. Devem cuidar de entregar madeira limpa, isenta de terra e de

    resduos da colheita. Portanto, a limpeza das toras e a gerao de uma

    poro do lodo primrio nas fbricas de celulose precisam ser resolvidas de

    alguma forma na rea florestal. Vejam s que rede essa nossa de gerao

    de resduos, inimaginvel, enorme, intrincada e complexa. A rea florestal

    pode e deve melhorar a colheita e o transporte das toras para entreg-las

    mais limpas. H muitas formas para se reduzir a presena de terra, argila,

    folhas e galhos nas toras:

    Uso de toras grossas como travesseiros no solo para as pilhas de toras;

    Cuidados nas operaes de baldeio;

  • 10

    Realizar uma pequena movimentao com a grua de carregamento de toras nos caminhes para permitir que parte da terra aderida s toras

    caia no prprio solo florestal;

    Uso de caminhes com carrocerias abertas por baixo, com fundo falso para permitir que parte da terra v caindo ao longo da estrada

    florestal, no saindo do campo e no entrando na fbrica.

    Observem em nmeros a enormidade do problema que a entrada de

    terra nas fbricas de celulose junto s toras de madeira. Suponhamos que

    tenhamos uma contaminao de 0,05% em peso seco de terra (areia, argila)

    junto s toras de madeira. Seja isso acontecendo em uma fbrica de celulose

    kraft de 2.500 toneladas por dia. Isso significa que aproximadamente 2,5

    toneladas secas de terra entram para a fbrica ao dia. Acontece que essa

    terra se molha na lavagem das toras e sai muito mida como lodo primrio.

    Com isso, aumenta em 4 a 5 vezes o seu peso seco. Logo, a terra que chega

    quase invisvel com as toras, resultar em cerca de 12,5 toneladas ao dia

    como lodo primrio. Acreditam agora na enormidade do problema? Por essas

    e outras razes, como terra terra, melhor mant-la no campo. Seno, sair

    como lodo primrio que resduo industrial legislado.

    De qualquer forma, sempre uma certa quantidade de terra entrar

    nas nossas fbricas. Aquilo que entrar poderia receber um tratamento

    especial e no ser direcionado para a estao de tratamento de efluentes,

    onde acaba sendo misturado com outros contaminantes de maior toxicidade

    e periculosidade. Por essa razo, prefiro um tratamento tipo kidney (rim)

    para a rea de lavagem de toras. Com isso, recicla-se grande parte da gua,

    repem-se as perdas de gua com algum filtrado limpo ou gua servida,

    removem-se resduos de terra e de restos vegetais (casca, folhas, galhos) e

    esse material slido pode perfeitamente ser usado na jardinagem da fbrica,

    aps compostagem. Dessa forma, no estaremos misturando coisas boas da

    natureza com poluio industrial que geramos nas outras fases qumicas do

    processo.

    O excedente de gua dessa rea e que se tiver que eventualmente ser

    tratado como efluente, poderia receber tambm um tratamento especfico do

    tipo correspondente a um wetland ou leito cultivado ou construdo

    (http://images.google.com.br/images?um=1&hl=pt-

    BR&q=leitos+construidos+efluentes+celulose ). Para esse wetland a gua do

    ptio de madeira e da lavagem das toras poderia ser levada para tratamento

    natural. Ali teria sua toxicidade reduzida e sua qualidade melhorada. Sairia

    limpa para ser de novo reutilizada na prpria seo de lavagem de toras, ou

    poderia entrar junto com a gua na captao para ser tratada na ETA -

    Estao de Tratamento de guas e passar ao status de gua industrial

    limpa. Ou seja, tudo fcil, simples, natural e limpo. E tambm,

    ambientalmente correto.

    Espero que esses pequenos exemplos tenham servido para clarificar o

    conceito de que a soluo para o problema dos resduos slidos no est

  • 11

    apenas e to somente em se encontrar uma forma correta e legal de se

    aterr-los convenientemente. Tampouco a construo de enormes estaes

    de reciclagem podem ser a soluo mais recomendada para seu problema.

    Tanto estaes de reciclagem como aterros industriais so peas necessrias

    no processo de gesto de resduos. Entretanto, a ferramenta inicial, aquela a

    ser utilizada em primeiro lugar, deve ser exatamente a da preveno da

    gerao. Devemos assim buscar matar a gerao, eliminar a fonte ou se

    reduzir as quantidades nos pontos onde os resduos surgem. Chamemos a

    isso de ecoeficincia ou de preveno gerao da poluio.

    A poluio que no conseguirmos evitar deve ser tratada e eventualmente virar

    matria-prima para subprodutos em estaes de reciclagem

    Antes de entrar com mais intensidade nesse captulo, gostaria de lhes

    relatar algumas experincias vividas por mim ao longo de minha carreira,

    onde tive muitos envolvimentos com os resduos slidos industriais. Essa

    histria de vida muito rica em aprendizados e em agregao do esforo de

    muitas pessoas que me ajudaram a compreender e a agir de forma

    diferenciada em relao aos resduos. Por essa razo, gostaria de

    compartilhar isso com vocs. Relatarei 4 historinhas de fatos vividos. A cada

    uma, vou-lhes sumarizar o que aprendi com ela.

  • 12

    Historinha 01: Os leitos de secagem na CENIBRA

    Leitos Secagem

    Foto histrica da planta industrial da CENIBRA em 1977

    Quando em 1976 comecei a trabalhar na Celulose Nipo-Brasileira

    (CENIBRA), uma empresa de produo de celulose kraft branqueada de

    eucalipto, a fbrica ainda estava em construo. Ao assumir o cargo de

    Chefe do Departamento de Controle de Qualidade DEQUA, tinha sob minha

    responsabilidade tambm a Diviso de Meio Ambiente DIAMBI, cujo

    gerente era o meu estimado amigo Hans Jurgen Kleine. O Kleine j estava

    por l quando eu cheguei, era um brilhante jovem engenheiro cheio de boas

    idias. Uma delas, que ele me trouxe logo que cheguei, foi a de criar uma

    CIMA Comisso Interna de Meio Ambiente. A CIMA tinha o objetivo de

    colocar os tomadores de deciso da empresa para tratar de assuntos

    ambientais. Um grande sucesso que se propagou por outras empresas

    tambm.

    Estvamos comeando no setor naquela poca, eu com 28 anos de

    idade, o Kleine ao redor disso tambm. Tudo era novo e desafiador. A

    CENIBRA foi a primeira grande empresa brasileira de celulose branqueada

    com a finalidade de exportao (Europa e Japo). Ao olharmos o processo

    industrial, que foi desenvolvido com base na experincia do scio japons da

    empresa, vimos que a fbrica possua um tratamento primrio de efluentes e

    uma enorme rea para desaguamento e secagem do lodo primrio. Era a

    realidade daquela poca, trinta anos atrs. Eu e Kleine estranhamos isso,

    no entendamos a razo daquela enorme rea para secar o lodo ao natural

    e denominada de leitos de secagem (vejam a foto da poca logo acima).

    Como a regio do Vale do Rio Doce em Minas Gerais, onde est a fbrica at

    hoje, muito quente o ano todo, a secagem do lodo pelas leis da natureza

    foi a forma projetada naquela poca. Nosso surpresa foi ainda maior quando

  • 13

    a fbrica comeou a operar. Com muitos problemas no seu incio de

    operaes, os primeiros meses de operao e produo foram difceis e at

    certo ponto muito sofridos. As perdas de fibras eram enormes, vitimadas

    pelas dificuldades operacionais. Em pouco tempo, tanto os leitos de

    secagem, como a rea externa para disposio do lodo adensado, estavam

    transbordando e repletas. De imediato, nossa preocupao foi encontrar

    outras reas para dispor o lodo. A questo que tnhamos era: onde colocar

    aquela enormidade de resduos? Naqueles longnquos anos dos 70s, os

    aterros industriais eram precrios e primitivos, a legislao ambiental

    brasileira tambm. Tnhamos pouca experincia industrial em fbricas de

    celulose e os conceitos de ecoeficincia ainda no existiam. Aceitamos que o

    lodo primrio continuaria sendo gerado como coisa normal do processo.

    Samos em busca de alternativas para disp-lo da melhor e mais segura

    maneira. Para essa rea de disposio ainda eram enviados rejeitos e palitos

    do cozimento, resduos dos centricleaners, casca suja, etc. Muito material

    bom era simplesmente aterrado de forma misturada e com enormes

    dificuldades.

    Naquele momento, uma pequena luz apareceu para ns na rea de

    pesquisa que foi buscar alternativas de uso para esses resduos, tais como

    produtos de polpa moldada, fabricao de papelo ou papel tissue. Algum

    sucesso conseguimos com o desenvolvimento de poucos clientes locais para

    algum dos resduos. Lembrem-se que isso ocorria no final dos anos 70s e

    incio dos 80s.

    Lodo primrio rico em fibras

    Qual nosso comportamento com aquilo que aconteceu naquela poca:

    Aceitvamos que a gerao de resduos era normal, algo das prticas industriais do prprio processo kraft. Tnhamos que buscar alternativas

    seguras para se dispor e para eventualmente reciclar algo.

    A disposio do resduo era ineficiente e cara, difcil de ser realizada pela precariedade das condies da poca.

  • 14

    No conseguimos enxergar com clareza solues para minimizar a gerao e no conseguamos vislumbrar o futuro, como ficariam esses

    resduos aterrados para as futuras geraes.

    Tnhamos expectativas que ao alinhar, a fbrica poderia gerar bem menos resduos slidos, mas desconhecamos quanto.

    A reciclagem externa aparecia como uma alternativa potencial, mas ainda difcil de ser implementada pela falta de cultura em se usar

    resduos como matria-prima industrial.

    Historinha 02: A fortssima nfase na reciclagem de resduos slidos

    industriais na Riocell Rio Grande Cia de Celulose do Sul

    Livreto que coordenei a edio na Riocell sobre os aspectos ambientais e a empresa

    Quando em 1979 comecei a trabalhar na Riocell, recebi dois enormes

    desafios, compatveis com minha vontade de realizaes. O primeiro era

    para a gerao de conhecimentos tecnolgicos e know how para a fbrica

    de celulose kraft branqueada de eucalipto, pois durante alguns anos a

    empresa tinha dependido das suas razes norueguesas para o aporte de

    tecnologias. O segundo desafio era ajudar na mudana da imagem e da

    performance ambiental da empresa, ambas machucadas pela desastrosa

    entrada em operaes em 1972. A empresa vivia enormes dificuldades em

    suas relaes com a comunidade, vtima de seus problemas ambientais que

    a tecnologia que utilizava na poca favorecia: tinha problemas de odor,

    efluentes hdricos, resduos slidos, fumaas, esttica, etc.

  • 15

    Quando comecei, tnhamos uma fbrica incompleta de celulose kraft

    no-branqueada de eucalipto e um projeto de branqueamento e

    modernizao a caminho. Um bem-equipado centro tecnolgico foi

    rapidamente construdo e uma equipe de pesquisas montada para oper-lo.

    Devamos, com o centro tecnolgico, auxiliar no desenvolvimento das

    tecnologias em uso ou potenciais para a fbrica. Tivemos uma produo

    fantstica de conhecimentos, desde qualidade da madeira, cozimentos,

    polpao solvel, branqueamento da celulose, propriedades das fibras,

    tratamento de efluentes, etc., etc. Nossa equipe tcnica liderava a produo

    de conhecimentos tecnolgicos setoriais e fazamos isso de forma aberta e

    compartilhada com a sociedade.

    A empresa optou por tecnologias de tratamento de efluentes

    inovadoras na poca: tratamento primrio, secundrio com lodo ativado e

    tercirio com clarifloculao com sulfato de alumnio. As exigncias para

    qualidade do efluente eram bastante restritivas, talvez as mais severas do

    mundo para uma nova linha de branqueamento a ser iniciada em 1983. O

    rgo de fiscalizao, controle e licenciamento do estado do Rio Grande do

    Sul FEPAM (http://www.fepam.rs.gov.br) havia colocado restries to

    severas que os prprios fabricantes de equipamentos e de tecnologias

    ambientais no queriam se comprometer a garantir performances.

    Aceitamos o desafio de implement-las graas s simulaes realizadas no

    centro tecnolgico. A expectativa era de serem gerados lodos primrio,

    secundrio biolgico e tercirio com a nova Estao de Tratamento de

    Efluentes (ETE). Esses seriam misturados e dispostos em enormes jazidas

    que se denominavam aterros industriais de resduos slidos. Essas jazidas

    consistiam de enormes escavaes onde havia sido colhida terra para as

    obras da fbrica. Controlava-se a profundidade do lenol fretico e as

    possveis infiltraes de chorume. O fundo era de argila compactada e as

    laterais revestidas de membranas de borracha ou mesmo de argila

    compactada. Eram a cincia e a tecnologia do incio dos anos 80s. Havia

    muito a melhorar, por isso nosso entusiasmo era enorme.

    Lodos e lodos

    Nossa equipe logo se surpreendeu com a enorme gerao de lodos e

    tratou de buscar alternativas para transformar isso em oportunidades e no

  • 16

    em problemas a serem convertidos em passivos ambientais. Fizemos

    inmeros testes pilotos de compostagem e vermi-compostagem, de

    incorporao em solos agrcolas e florestais, na utilizao do composto como

    substrato na produo de mudas florestais, etc. etc.

    Contvamos com gente brilhante, inovadora e comprometida. Poderia

    citar muitos, mas lembro-me com muita certeza dos esforos inovadores e

    competentes dos amigos: Jorge Herrera, Cludia Steiner, Vera Bottini

    Gallardo, Nei Rubens Lima, Jorge Vieira Gonzaga, Cludia Alcaraz Zini, Celso

    Copstein Waldemar, Edvins Ratnieks, Juarez Grehs, Rosane Monteiro Borges,

    Clvis Zimmer, Renata Maltz, etc., etc. Praticamente, todos tiveram

    importante participao nesse enorme projeto de reciclagem, que tinha a

    coordenao do engenheiro qumico Jorge Herrera e os entusiasmos meu e

    da Cludia Steiner como foras motrizes. Alm deles, uma enorme

    quantidade de parceiros em universidades, institutos de pesquisas,

    agricultores, fornecedores, etc. Buscamos em poucos anos entender de tudo

    que se relacionava aos nossos resduos slidos: legislao internacional e

    brasileira, toxicologia, composio, decomposio e compostagem,

    anaerobioses e aerobioses, teores de poluentes orgnicos persistentes

    (dioxinas, furanos, POPs, etc.) e poluentes prioritrios (metais pesados,

    etc.). Ao mesmo tempo, buscamos a compostagem como a alternativa de

    maior chance de sucessos. Todos os resduos foram dissecados e avaliados

    em suas oportunidades para serem convertidos em subprodutos da

    fabricao de celulose.

    Produtos obtidos na Riocell a partir de resduos slidos industriais (em composteiras

    e hortas experimentais dentro da prpria fbrica)

  • 17

    Em 1988, apresentamos para o pblico tecnolgico um trabalho

    tcnico que at hoje constitui-se em referncia mundial para a reciclagem de

    resduos da fabricao de celulose. Seu ttulo Resduos slidos

    industriais ou bens de produo: o conceito da Riocell mostrou no XIX

    Congresso Anual da ABTCP Associao Brasileira Tcnica de Celulose e

    Papel nossos primeiros resultados, tanto laboratoriais como de efetiva

    reciclagem por diversos consumidores dos produtos da reciclagem.

    Leiam o artigo em:

    http://www.celso-

    foelkel.com.br/artigos/ABTCP/1988.%20Res%EDduos%20ou%20bens%20de%20produ%E7

    %E3o.pdf

    Os primeiros passos para a reciclagem de quase 100% de todos os

    resduos gerados em uma fbrica de celulose kraft branqueada de eucalipto

    estavam dados. Faltava agora desenvolver o mercado e a confiana dos

    clientes. A nossa prpria rea florestal apresentava restries ao uso de

    resduos e quase no se interessava pela sua utilizao. Como convencer

    ento os agricultores que os produtos davam resultados e eram sadios e

    seguros? Por minha iniciativa, decidi que eu seria um dos primeiros a usar

    esses produtos e sempre pagaria por eles, independentemente de minha

    posio na hierarquia da empresa. Se eu no acreditasse nos produtos dos

    resduos, como convencer algum para usar, comprar e pagar por eles?

    A misso para desenvolver o mercado surgiu de forma inesperada e

    inusitada. Passamos a contar com a viso de futuro e com a genialidade de

    um dos nossos mais srios adversrios do passado: o conceituado

    ambientalista e engenheiro agrnomo Jos Lutzenberger (http://www.pick-

    upau.org.br/mundo/jose_lutzenberger/jose_lutzenberger.htm).

    Eu o conheci pessoalmente por uma daquelas coincidncias que

    ajudam a melhorar o mundo. Quando cheguei Riocell em 1979, comecei a

    lecionar em um curso de ps-graduao que a Riocell ajudou a montar na

    Universidade de So Paulo, a partir de 1980. Em uma de minhas viagens de

    avio a So Paulo sentou-se a meu lado o professor Lutzenberger. Ele na

    poca era forte e intransigente adversrio da Riocell, talvez o maior e mais

    temido. Comeamos a conversar, disse a ele que estava indo a So Paulo

    para lecionar sobre celulose e papel. Sem saber que eu era da Riocell,

    comeou a disparar sua eficiente e calibrada metralhadora contra a empresa.

    Como sempre gostei do dilogo e ele tambm, depois que eu lhe disse que

    era gerente na Riocell, onde tnhamos acabado de montar um centro

    tecnolgico para estudar tecnologias inclusive ambientais, o discurso mudou

    para uma busca de entendimentos e pontos comuns. Convidei-o para visitar

    a Riocell e ele no deixou por menos, levou uma srie de oponentes de peso,

    os mais temidos por ns na poca: professor Flvio Lewgoy e engenheiro

    agrnomo Sebastio Pinheiro. Como tnhamos ideais comuns e ramos

    ambos agrnomos, foi fcil florescer uma boa amizade e respeito mtuo. At

    mesmo acredito que a admirao era recproca entre ns. Ele com sua forma

    http://www.celso-

  • 18

    de enxergar a Natureza e eu com a necessidade de otimizar o uso dos

    recursos naturais.

    Logo no incio da operao do tratamento de efluentes e do

    branqueamento, a Riocell props uma parceria ao professor Lutzenberger,

    que seria a reabilitao das margens do rio/lago Guaba no local da fbrica.

    Essas margens estavam degradadas e com inmeros restos de materiais de

    construo das obras da fbrica. Nesse trabalho j passou a utilizar de

    alguns resduos da fbrica, tanto de sucatas de construo, como de lodos

    que haviam se compostado naturalmente pelo tempo de estocagem. Sua

    colaboradora direta no desenho e implantao do parque ecolgico, hoje da

    Aracruz Celulose, foi a engenheira agrnoma Cludia Steiner. Cludia logo se

    encantou com o potencial dos resduos e ao trmino da parque ecolgico,

    juntou-se nossa equipe de pesquisas na Riocell para a viabilizao de usos

    dos resduos slidos industriais atravs da reciclagem externa. Da amizade

    de Cludia e Lutzenberger, surgiu o apoio do mesmo para as primeiras

    tentativas de se colocar compostos orgnicos e dregs/grits em algumas

    propriedades de agricultores da regio. O nome e o prestigio do agrnomo

    Lutzenberger abriam as portas para os bem-sucedidos ensaios de avaliao e

    demonstrao.

    O clmax da parceria entre professor Lutzenberger surgiu quando ele

    foi visitar a rea de disposio de resduos e l se apaixonou pelo lodo em

    compostagem anaerbica nas grandes jazidas onde era disposto. Sua paixo

    foi imediata, viu ali no um resduo em um aterro, mas hmus quase pronto

    para servir agricultura.

    Foto histrica: Jos Lutzenberger ao lado de antiga jazida de disposio e

    compostagem anaerbica do lodo da Riocell

  • 19

    A cincia e a experimentao tecnolgica de nossos laboratrios

    haviam indicado as alternativas de compostagem mista com

    anaerobiose/aerobiose, secagem e aplicao agrcola para o composto dos

    lodos. As pesquisas tambm tinham comprovado as qualidades qumicas,

    ecotoxicolgicas, bem como a sanidade dos produtos da reciclagem.

    A parceria para a reciclagem dos resduos com as empresas de

    Lutzenberger comeou em 1988. Inicialmente com a empresa Tecnologia

    Convivial (que havia construdo o parque ecolgico) e depois com a Vida

    Produtos Biolgicos (nome da empresa na poca - visite-a hoje em:

    www.vida-e.com.br ). A empresa Vida se estruturou com pessoas qualificadas e com mquinas. Continuou a desenvolver tecnologias e a aperfeioar aquelas

    desenvolvidas nos laboratrios e experimentaes piloto. Passou a contar

    com jovens agrnomos e tcnicos que compartilharam de imediato os

    mesmos ideais, tanto da equipe da Riocell, como os de Jos Lutzenberger.

    Dentre os muitos, citaria os agrnomos Fernando Noal Bergamin , minhas

    estimadas amigas Renata Maltz e Susana Burger e os dedicados amigos Jos

    Carlos Harlacher e Flvio Klein.

    Produtos e divulgao da reciclagem de resduos slidos industriais

    (incio anos 90s)

    http://www.vida-e.com.br

  • 20

    Pessoas que ajudaram a fazer as coisas acontecerem:

    Jos Harlacher e Renata Maltz

    A partir daquele momento, a empresa Vida com sua equipe passou a

    gerenciar o processo e a colocar quantidades crescentes de seus produtos de

    reciclagem no mercado. O aval de Jos Lutzenberger havia sido o selo verde

    que os produtos precisavam. Hoje, mesmo aps sua morte, sua atuao

    sempre lembrada e reverenciada nesse tpico. Com isso, aps 20 anos de

    reciclagem desse tipos de resduos, a Vida Produtos e Servios em

    Desenvolvimento Ecolgico tem estaes de reciclagem similares em outras

    fbricas do setor, cada qual adaptada s realidades locais. Atua na Aracruz

    Celulose unidade Guaba (ex-Riocell), na Veracel, na Rigesa e j teve

    estaes de reciclagem na Klabin Correia Pinto, Celulose Cambar, Santher e

    Bahia Pulp.

    Importante ressaltar que quando a Aracruz Celulose adquiriu a

    empresa Riocell em 2003, continuou a valorizar o processo de reciclagem de

    resduos ali desenvolvido, levando-o inclusive para sua subsidiria Veracel

    Celulose, uma parceria que tem com a Stora Enso. Vejam os bons resultados

    que vem alcanando em termos de taxas de reciclagem em alguns de seus

    Relatrios de Sustentabilidade - Sustainability Reports, disponibilizados sobre

    os anos de 2004 e 2007:

    http://www.aracruz.com.br/minisites/ra2004/localaracruz/ra2004/en/rsa_ambientais_indust

    riais_geracao.html

    e

    http://www.aracruz.com.br/minisites/ra2007/section/pt/download_pdf/RA_Port.pdf

    http://www.aracruz.com.br/minisites/ra2004/localaracruz/ra2004/en/rsa_ambientais_indust

  • 21

    Estao de reciclagem da Aracruz Celulose / Vida no Horto Florestal Jos

    Lutzenberger em 100 hectares de rea Eldorado do Sul/RS/Brasil

    (inaugurada em 2003 com capacidade para reciclar cerca de 200.000 toneladas

    anos de resduos slidos)

    Estao de reciclagem de resduos slidos Veracel Vida / Bahia / Brasil

    (entrada em operaes em 2005 com a posta em marcha da fbrica de celulose)

    A soma de viso, inovao, cincia, determinao, crena e f, mais a

    vontade de fazer do grupo envolvido levou ao caso de sucesso na gesto de

  • 22

    resduos slidos industriais da fabricao de celulose kraft branqueada de

    eucalipto. A taxa de reciclagem hoje praticada na estao da Vida/Aracruz

    de 99%, um marco a nvel mundial. Mais um pioneirismo notvel do Brasil foi

    alcanado, comprovado e praticado. Hoje, existem muitas fbricas do setor

    de celulose e papel, cada uma com seu modelo, trabalhando na reciclagem

    de seus resduos slidos industriais. A semente plantada nos anos 80s

    germinou, cresceu e fortificou-se. O curioso que ainda existem muitas

    empresas a aterrar todo resduo gerado na sua fabricao. Seus argumentos

    so frgeis para assim agirem, parece-me mais falta de viso ou de vontade

    de mudar. Entretanto, os altos custos de engenheirar e construir aterros

    industriais e de monitorar o passivo ambiental esto sendo foras motrizes

    aceleradoras para que mudem, e isso deve acontecer rpido.

    Curiosamente, ao longo de todo esse processo por mim vivenciado at

    sair da Riocell em 1998, sempre enxerguei os resduos slidos como

    matrias-primas teis e requeridas para os produtos da reciclagem.

    Encantavam-me os produtos ali desenvolvidos sendo vendidos para

    agricultores, para paisagistas e mesmo nos supermercados das grandes

    redes em Porto Alegre/RS. Alm disso, outros resduos tambm tiveram usos

    desenvolvidos para eles, tais como dregs e grits (corretivo da acidez e

    reteno de gua e nutrientes no solo), lama de cal (substituto do calcrio),

    etc. A nossa meta estava em reciclar 100% ou prximo a isso, no

    colocamos muito foco na reduo ou mesmo eliminao dos resduos onde

    estavam sendo gerados.

    O que aprendi com aquilo que aconteceu naquela poca:

    Dilogo, parceria, vontade de fazer e confiana entre as partes so foras alavancadoras fortes para a soluo de problemas ambientais,

    por maiores que eles sejam.

    A busca da reciclagem externa e do uso dos resduos para fabricao de produtos uma forma eficiente para a reduo da quantidade de

    resduos a aterrar ou dispor/monitorar pelo resto da vida.

    Os custos ambientais e os impactos so minorados, mas ainda so importantes com a reciclagem dos resduos. As empresas recicladoras

    tambm tem seus impactos ambientais tais como emisso de metano,

    de gs carbnico, efluentes contaminados a tratar, odor, etc.

  • 23

    Historinha 03: A chegada dos conceitos de P+L, ecoeficincia e

    soluo do problema de resduos na origem

    Quando em 1998 decidi por iniciativa prpria me desligar da Riocell,

    depois de 19 anos na empresa, optei por aprender mais sobre conceitos

    novos que apareciam na poca com mais intensidade. Tratava-se da P+L

    (Produo mais Limpa) que passara a ser transferida para a indstria em

    termos de conhecimentos e prticas atravs do CNTL Centro Nacional de

    Tecnologias Limpas (http://www.senairs.org.br/cntl), um rgo do sistema

    SENAI em Porto Alegre/RS/Brasil. O know-how era oriundo da parceria do

    CNTL com a UNEP/UNIDO, rgos das Naes Unidas, cuja meta era a

    reduo de gerao de resduos nas empresas industriais em pases em

    desenvolvimento. Como uma de minhas fortalezas sempre havia sido os

    aspectos ambientais da fabricao de celulose, decidi refor-la com esses

    novos e modernos conhecimentos. Foi uma das melhores coisas que eu

    poderia ter feito em termos profissionais. Em 8 meses de curso, pude

    aprender o conceito bsico da P+L que o seguinte: quase tudo que vira

    resduo ou poluio matria-prima desperdiada, jogada fora por ns

    mesmos ao longo do processo industrial. Isso tem um enorme valor,

    primeiro como matria-prima jogada fora; depois pelo valor desperdiado no

    processo que foi a ela agregado; e finalmente, os custos de controle da

    poluio e de manuseio e disposio dos resduos gerados. Para mim,

    quando minha estimada amiga Marise Keller dos Santos deu sua aula no

    curso e mencionou isso, eu me levantei e disse: esse conceito j me fez

    valer o que paguei pelo curso. Foi o ponto de virada na minha carreira com

    os resduos, mesmo com o muito que eu j conhecia sobre eles.

    A metodologia de P+L, pacientemente transferida pelos tcnicos do

    CNTL naquela poca, entre os quais as engenheiras Rosele Neetzow e Marise

    Keller dos Santos, se baseava em um conjunto de metodologias

    desenvolvidas pela empresa de consultoria Stenum (ustria) e cujo resultado

    foi um conjunto de material de treinamento disponibilizado pela UNIDO em

    seu website como um CP Cleaner Production Toolkit

    (http://www.unido.org/index.php?id=o86205). Veja isso tudo com devidos links na

    seo de referncias bibliogrficas.

    A partir desse momento histrico para mim, passei a olhar a

    reciclagem como uma medida ambiental de segunda categoria. A reciclagem

    aceita e convive com as perdas e com os desperdcios. Ela depende disso.

    Quando o negcio da reciclagem vai bem, podemos chegar situao

    esdrxula onde os recicladores pedem que sejam geradas mais

    perdas/resduos para aumentar suas matrias-primas. O mais lgico e o

    mais vital seria estancar a gerao do resduo. No que a reciclagem seja

    ruim, no isso. S que a ela s deve ir o que no consigamos reter no

    processo interno de fechamento de circuitos e de otimizaes processuais.

    Durante dois anos fui consultor para a gesto de resduos slidos na Riocell

  • 24

    (entre 1999 e 2000), s que agora a meta era no de garantir material para

    a estao de reciclagem, mas sim de bloquear ao mximo a sua gerao. As

    questes passaram a ser: se a gerao de lodo primrio exagerada, porque

    razo? Fibras? Terra? Areia? Minerais? Onde reduzir as perdas disso tudo ao

    longo do processo industrial? Como reduzir essas perdas?

    Alm da Riocell, muitos outros clientes surgiram para mim e esse

    conceito foi-se solidificando e sendo aplicado nos locais onde tenho

    trabalhado. Com muita facilidade fomos conseguindo ganhos expressivos e

    com amplo envolvimento de todos os quadros operacionais das fbricas. Algo

    muito gratificante de ser trabalhado: um benefcio econmico e ambiental

    para as empresas, um benefcio Natureza e um benefcio sociedade que

    passa a aprender a respeitar o ambiente e a viver em meios melhores e mais

    saudveis.

    O que aprendi com aquilo que aconteceu naquela poca:

    Mesmo que tenhamos eficientes e modernos sistemas de tratamento e combate poluio, a gerao dos resduos precisa ser evitada em

    suas origens. Isso pode ser conseguido de inmeras maneiras, muitas

    delas simples e de baixo nvel de investimentos econmicos.

    preciso saber valorar muito bem os desperdcios para despertar a ateno dos principais executivos quanto ao valor correto dos resduos.

    muito gratificante se trabalhar em benefcio do meio ambiente, na origem dos problemas ambientais e no apenas em seu controle e

    mitigao.

    Historinha 04: A clusterizao no setor como ferramenta de gesto

    de resduos slidos industriais

    Fala-se muito hoje em dia em grandes aglomerados tecnolgicos no

    setor florestal; em arranjos produtivos e no mais em cadeias produtivas.

    Essa temtica vem crescendo em teoria e prtica. J existem diversas

    experincias de sucesso no Brasil e no hemisfrio norte. A idia muito

    simples: uma rede de empresas prximas e afins trocam fluidos, energia e

    materiais entre si. A busca de mxima ecoeficincia. O que sobrar como

    resduo em uma empresa pode ter valor em outra como matria-prima ou

    biocombustvel. Isso deve inclusive se ampliar com a chegada das

    renomadas biorefinarias ao setor. Apenas os materiais impossveis de serem

  • 25

    aproveitados no cluster devero ser encaminhados para estaes de

    reciclagem de resduos ou para aterros industriais de disposio final.

    Um exemplo apenas para consolidar conceitos:

    Uma serraria produz madeira serrada para a indstria moveleira.

    Tanto a serraria como a indstria de mveis geram resduos de madeira que

    podem abastecer fbricas de celulose como material fibroso ou como

    biomassa energtica. Por sua vez, a fbrica de celulose gera lodos no seu

    tratamento de efluentes. Esses, depois de compostados, podem fertilizar as

    mesmas florestas que fornecem madeira para a serraria. O ciclo se fecha em

    materiais e em energias. Garantem-se menores consumos de matrias-

    primas fibrosas, de combustveis fsseis, de fertilizantes qumicos, etc.

    Geram-se menores quantidades de poluentes e de resduos slidos.

    A ecoeficincia global do sistema definitivamente favorecida. A ACV

    Anlise do Ciclo de Vida ir revelar menores impactos sobre o meio ambiente

    e um menor efeito sobre os fenmenos conhecidos como Global Warning.

    Uma beleza.

    O que estamos aprendendo com aquilo que est comeando a acontecer:

    Resduos so matrias-primas perdidas por um processo produtivo, mas que podem se converter em material til em outros processos

    industriais ou para servios comunidade.

    A integrao favorece os 4 Rs: Reduzir, Reusar, Reaproveitar e Reciclar.

    Empresas ecoeficientes e conglomeradas geram arranjos produtivos limpos, de excelente performance ambiental e com certeza, econmica

    tambm.

    Fonte: UNIDO CP Toolkit

  • 26

    Meu propsito com esse captulo do Eucalyptus Online Book no o

    de lhes trazer historinhas de minha vida profissional, mas sim de lhes

    apresentar como minha experincia foi sendo construda em cerca de 40

    anos trabalhando no setor e sempre envolvido em solues de otimizaes

    para perdas e desperdcios.

    Em captulos anteriores escrevi sobre formas de gesto para reduo

    das perdas de fibras e da gerao de refugos na fabricao do papel

    (http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT06_fibras_refugos.pdf); sobre o

    reaproveitamento de resduos orgnicos fibrosos do processo de fabricao

    de celulose (http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT05_residuos.pdf) e de resduos

    florestais (http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT07_residuoslenhosos.pdf). Nesse

    captulo minha meta lhes apresentar conceitos acumulados por mim para

    uma gesto ecoeficiente dos resduos slidos industriais em fbricas de

    celulose e papel. No quero que esse captulo possa lhes parecer aborrecido,

    cheio de leis e de conceituaes meramente tericas. O que desejo

    transferir a vocs, e com muita clareza, toda minha experincia prtica e

    meus conceitos sobre o tema gesto de resduos slidos industriais. Se voc

    tem esse tipo de problema e se os resduos slidos lhe aborrecem e lhe tiram

    o sono na sua vida profissional, o que estou a escrever pode ser muito til.

    J se voc trabalha em uma fbrica de celulose e/ou papel de eucalipto e

    acha que no tem problema algum acerca de resduos slidos industriais,

    que tudo est resolvido e que sua empresa de mnimo impacto ambiental,

    ento s tenho uma sugesto: acorde e rpido. Vocs podem estar muito

    bem, mas o sentimento de que somos os bons nos acomoda, nos

    entorpece e nos cega. Com muita certeza, com poucas caminhadas pela sua

    fbrica e com poucas medies para quantificaes de seus desperdcios,

    voc j vai notar que precisa se mexer para corrigir alguns desperdcios que

    geram resduos e poluies.

    Os custos de implantao de unidades de combate poluio e de

    estaes de reciclagem de resduos so onerosos e muitas vezes

    exageradamente desnecessrios. Todas as aes que vierem para reduzir as

    cargas poluentes a tratar e os resduos slidos a dispor so muito bem-

    vindas, sob a tica ambiental (e tambm empresarial).

    Na maioria das vezes, o tcnico da rea ambiental se v incapacitado

    de agir sobre as demais reas da empresa. Sob a desculpa que a fbrica no

    pode de forma alguma perder produo, o pessoal operacional muitas vezes

    no est to atento s quantidades de cargas poluentes que geram para as

    estaes de tratamento de efluentes e de disposio de resduos slidos. H

    sempre as desculpas de que a rea no pode parar, de que as perdas de

    material orgnico e qumico se devem a problemas causados pela equipe da

    manuteno, ou pelas exigncias de se ter que atender demandas de

    produtos para os clientes, ou mesmo de se querer bater um recorde de

    produo. Esse rosrio de explicaes e justificativas s atestam a falta de

  • 27

    compromisso para enfrentar esse problema ambiental de frente, com

    audcia, coragem e determinao.

    Tenho visto muitas coisas boas no setor, mas tambm tenho visto

    coisas at mesmo horrveis na gesto de resduos slidos industriais. Hoje

    cada vez mais comum as fbricas disporem de excelentes unidades de

    tratamento de efluentes e estaes de resduos, todas limpas, organizadas e

    de acordo com a legislao e os preceitos na norma IS0 14.001. As reas de

    disposio dos resduos utilizando bem planejados aterros industriais, com

    boa gesto e monitoramento, tambm so comuns. Entretanto, isso no a

    maioria. Em muitas empresas, o conceito de gesto de resduos slidos

    industriais ainda absolutamente precrio. H situaes em que a empresa

    diz aplicar resduos em suas florestas como fertilizantes, mas o que se v o

    uso inadequado do solo para receber lixo industrial, sem cuidado algum.

    Felizmente, esses casos so a minoria.

    Resduos industriais (dregs e grits; cinzas de caldeira de biomassa)

    dispostos de forma inadequada em solo florestal

    Muitas empresas terceirizam as operaes de gesto, manuseio e

    disposio de seus resduos slidos. Usam algum aterro industrial autorizado

    pelo rgo ambiental, ou at mesmo um aterro de resduos da

    municipalidade. Os custos em geral so caros e sempre h reclamos da

    gesto industrial de que eles encarecem os custos de produo e que devem

    ser diminudos. Ao invs de se cuidar para reduzir a gerao dos resduos,

    prefere-se apertar firme na negociao com o terceiro que trata os resduos

    para que ele baixe seus preos. Uma lgica inversa e perversa. A postura

    gerencial portanto contemplativa e reclamativa. As fibras, as cargas

    minerais, os compostos qumicos que se perdem so enormes e que faz o

    gestor? Reclama que os custos de disposio de tudo que ele joga fora so

    exagerados. Muita ingenuidade? Falta de entendimento da realidade das

    coisas? Talvez...

    Atentem amigos, que se uma empresa pagar 40 dlares por tonelada

    mida (tal qual) para transportar e aterrar seu logo primrio, seu valor

  • 28

    perdido muito maior que esse. Se for o caso de uma fbrica de papel

    branco que compra celulose de mercado e cargas minerais para a

    manufatura do papel, esse lodo primrio pode conter muitas fibras de

    celulose e muita carga mineral. Suponhamos que o lodo primrio disposto

    contenha 40% de material seco e que desse material seco 70% sejam fibras

    e 20% cargas minerais. Ambos desperdiados pelo processo industrial. Logo,

    aos 40 dlares pagos para dispor o lodo, precisamos somar o valor dessas

    fibras e dessas cargas minerais jogadas fora. Elas tm um custo e encarecem

    nossos custos unitrios de produo. Os 280 kg de fibras secas por tonelada

    de lodo primrio mido podem valer por exemplo 200 dlares e os 80 kg de

    cargas minerais poderiam valer 25 dlares, hipoteticamente. Pasmem,

    poderiam dizer vocs, mas isso no tudo. Ao se usar as fibras e os

    minerais no processo antes de perd-los, fomos agregando valores em

    trabalho, energia eltrica, vapor, etc. Tudo que foi agregado em valor e em

    custos se perdem tambm. Portanto, aquilo que j parecia caro com 40

    dlares por tonelada, passa a valer cerca de 280. Surpresos? Mas essa a

    realidade dos fatos...

    Qualquer gestor que olhar esses dados singelos e preliminares ver

    que algo precisa ser feito e de forma rpida. So excelentes oportunidades

    para que os tomadores de deciso sejam informados para agir.

    H anos atrs, ainda em minha poca de Riocell, tnhamos tamanha

    ingenuidade em relao a isso como acabei de lhes mencionar, que em um

    de nossos relatrios de pesquisa, quando analisamos o lodo primrio,

    conclumos:

    O lodo primrio material predominantemente fibroso e que auxilia no desaguamento dos lodos filtrados juntos a ETE (Estao de Tratamento

    de Efluentes), reduzindo os custos com polmeros;

    O lodo primrio testado como fonte de celulose mostra excelente potencial papeleiro, podendo ser vendido para a fabricao de papis

    tipos embalagem, tissue ou polpa moldada, j que contm muitas

    impurezas.

    Uma ingenuidade enorme, mas era a realidade que vamos na poca,

    h mais de 20 anos atrs. Nem sequer conclumos que deveramos reduzir as

    perdas de fibras... Curioso que esse tipo de concluses tenho visto em

    trabalhos tcnicos recentes e mesmo em teses acadmicas universitrias.

    Parece at mesmo que os que fazem essas pesquisas esto impedidos por

    algum motivo de enxergar as causas das fugas desses fibras todas. S se

    preocupam em tentar achar solues para o problema do lado de fora da

    empresa e no dentro dela.

    Minha mensagem tem sido clara, mas gosto de reforar: as perdas

    dos sistemas produtivos precisam ser identificadas e tratadas onde nascem,

    j que a maioria delas se convertem em resduos slidos. Isso ainda fica

    mais evidente, conforme vamos fechando mais e mais os circuitos de guas

  • 29

    das modernas fbricas de celulose e papel. No passado, muitos dos resduos

    orgnicos e qumicos inorgnicos se perdiam junto aos 80 a 100 metros

    cbicos de efluentes por tonelada de celulose/papel produzidos. Hoje, com

    20 a 30 m/adt, cerca de 4 vezes menos, os contaminantes se concentram

    mais, acumulam-se no processo e precisam ser removidos para no trazer

    problemas de incrustaes nas mquinas, contaminaes na celulose ou

    papel, etc. Uma das formas de se remov-los na forma de resduos slidos

    (precipitao, converso a lodo, purgas, etc.)

    Nesse captulo, concentrarei energias em lhes apresentar como

    identificar, entender, agir e buscar solues para seus resduos slidos

    industriais. No vou detalhar os resduos slidos em si, nem formas e

    utilizaes para cada um deles. Isso ser tema de dois outros captulos: um

    sobre lodos e cascas e outro sobre resduos slidos industriais de carter

    mineral (dregs, grits, cinzas, cal, lama de cal, etc.). Nesses captulos

    pouco lhes falarei sobre resduos orgnicos fibrosos (serragem, ns e palitos

    do digestor, fibras, etc.). Eles todos j foram bem dissecados em outros

    captulos de nosso livro.

    Deve tambm ser bem entendido que existem nas empresas diversos

    tipos de resduos slidos. H os tpicos do processo produtivo, gerados por

    ele, em algumas de suas fases: resduos slidos industriais do processo.

    Existem tambm os resduos slidos no processuais: bombonas de plstico,

    leos e graxas, tambores, caixotes de madeira, arames, sucata metlica,

    restos de obra, lmpadas fluorescentes, baterias, etc.). Tambm no me

    deterei sobre eles. Apenas darei alguns exemplos e breves palavras sobre

    sua gesto. Tambm vale para eles a meta de se resolver o problema na

    origem. Para esse tipo de resduos existe muita literatura publicada, pois so

    comuns em todas as indstrias. Por essa razo, por ser esse captulo

    especializado, concentrarei foras nos resduos industriais do processo kraft

    de fabricao de celulose e papel. Isso vlido para processos usando os

    eucaliptos como matrias-primas, ou mesmo outras madeiras ou no-

    madeiras.

    Os resduos slidos industriais do processo kraft e sobre os quais

    escreverei esse e mais dois captulos do nosso livro so os seguintes:

    Resduos slidos orgnicos:

    Lodos secundrios; Cascas sujas.

    Resduos slidos semi-orgnicos:

    Lodos primrios; Lodo tercirio da clarifloculao com sulfato de alumnio ou policloreto

    de alumnio (PAC);

  • 30

    Lodo do tratamento de gua (lodo da ETA); Lodos da fabricao de papel (em especial os lodos da produo de

    papel reciclado).

    Resduos slidos industriais inorgnicos ou minerais:

    Dregs; Grits; Lama de cal; Cal queimada ou cal virgem; Cinzas da caldeira de recuperao; Cinzas da caldeira de biomassa; Cinzas da caldeira de fora a carvo mineral; Sulfato cido de sdio da gerao do dixido de cloro; Lama de brio.

    Estou partindo do pressuposto de que ao trmino da leitura de meus

    captulos anteriores sobre resduos orgnicos fibrosos e sobre perdas de

    fibras, vocs reavaliaram toda a problemtica desses tipos de resduos de

    seu processo e tiveram solues preciosas e corajosas para eliminar o que

    poderia ser eliminado. Como o prprio nome indica, esses resduos possuem

    fibras, nossa mais preciosa matria-prima ou nosso produto final. Ento,

    jogar materiais fibrosos fora deve ser um sacrilgio tecnolgico, concordam?

    Curiosamente, um dos maiores pecados cometidos em nossas fbricas.

    Naqueles captulos ofereci inmeros exemplos e mostrei oportunidades para

    fechar as torneiras que geram esses desperdcios.

    A maior ou menor gerao de resduos slidos industriais de processo

    est associada a algumas causas principais que so as seguintes:

    Estado tecnolgico disponvel na fbrica (nvel de modernizao das mquinas);

    Idade da tecnologia; Uso da capacidade instalada da fbrica e gargalos operacionais de

    produo;

    Ritmo de produo (variao, instabilidades, paradas, etc.); Eficincia operacional; Cuidados da operao (ateno e qualificao dos operadores); Qualidade da manuteno das mquinas e sistemas; Compromissos e conceitos da equipe gerencial.

    Quanto mais atrasada for a tecnologia empregada, menos ecoeficiente

    ela . Logo, se cuidados extras no forem tomados, mais resduos e mais

    poluio sero gerados. Uma caldeira que queima mal sua biomassa gera

    mais cinzas do que uma caldeira mais eficiente que consome melhor o

    carbono do combustvel. Um mau lavador de dregs entrega o resduo com

  • 31

    muito maior teor de soda custica residual e com uma consistncia muito

    mais baixa que um moderno sistema de lavagem desse material. Ser ento

    um dregs mais problemtico e em maior peso mido.

    Algo interessante a mencionar a vocs antes de continuarmos

    avanando nesse captulo o seguinte: os resduos so quantificados e

    medidos na maioria das vezes na umidade que apresentam. Paga-se para

    manusear, transportar, dispor os mesmos nas umidades que eles mostram

    nesses momentos de suas vidas.

    Vejam um exemplo: se um resduo constitudo da mistura de dregs e

    grits sai com 30% de secos, a cada tonelada seca da mistura teremos 3,33

    toneladas midas. J se formos mais eficientes em lavar e drenar o resduo e

    a sua consistncia passar a 45%, o mesmo peso seco de resduos passar a

    eqivaler a 2,22 toneladas midas. Uma diferena de 1,11 toneladas midas

    para cada tonelada seca. Imaginem ento quanto gastamos a mais em

    manusear, transportar e dispor com esse resduo apenas por lav-lo e

    desagu-lo mal. O mais curioso de tudo que poucos, eu diria at mesmo,

    quase ningum, tem especificaes srias e acompanhadas para a umidade

    desse e de outros resduos. Praticamente inexistem cuidados de se evitar

    que os resduos se molhem com a gua da chuva, ou com as guas de

    lavagem de pisos fabris, etc.. Percebo at mesmo um comportamento que

    corresponde a uma espcie de desateno ou mesmo de dio aos resduos,

    pois eles complicam a nossa vida e geram custos altos e indesejados.

    Exatamente por essas razes, existe muito desperdcio de dinheiro na

    gesto de resduos das fbricas. Em geral o empresrio no gosta de gastar

    com resduo slido, j que o resduo no d retorno ao capital investido, s

    destroi valor. Acontece que essa destruio de valor pode ser minimizada.

    Com isso, a boa gesto dos resduos aumenta a margem de contribuio

    unitria e aumenta os resultados lquidos da empresa. Ficou claro ento que

    podemos ganhar dinheiro pelo gerenciamento dos resduos. Ganhamos por

    perder menos, dentre outras formas de ganhar.

    Resduos slidos sempre significam custos, eles encarecem nossos

    custos de produo, quanto a isso no tenho dvidas. Entretanto, reduzi-los

    melhora nossos resultados especialmente no menor desperdcio de matrias-

    primas, menores custos com manuseio e disposio, menos trabalho

    envolvido, etc., etc. Sempre vale a pena reforar o que importante,

    portanto, no me considerem repetitivo. A idia essa mesma.

    Apesar de todos esses valores envolvidos, muitos gestores de fbricas

    teimam em enxergar os custos dos resduos slidos apenas como os custos

    de seu manuseio, transporte e disposio. Ficam muitas vezes contentes

    quando conseguem vender um resduo de seu processo por um valor, eu

    diria simblico, de to irrisrio que . Eu j lhes alertaria sobre o seguinte:

    se algum quer comprar o seu resduo porque ele oferece vantagens, um

    lixo bom. Se no fosse, se voc tivesse extrado tudo de bom dele, seu

  • 32

    destino seria o aterro industrial. Logo, se voc gerente de fbrica notar que

    existe uma disputa no mercado por seu lodo primrio, ATENO, alguma

    coisa de errado est acontecendo em seu processo. Voc est jogando muita

    fibra boa fora e sequer percebeu. Mas seus clientes de resduos, eles sim j

    notaram a sua ingenuidade e querem ganhar com ela.

    Definitivamente, resduos slidos industriais so gerados por quaisquer

    tipos de atividades de fabricao. Costumam demandar gesto e tecnologias

    em dosagens maiores do que muitos oferecem em suas fbricas. Toda

    tecnologia apresenta um certo nvel de perdas e de gerao de resduos.

    Algumas bem menos, outras mais. Acontece que mesmo a mais moderna e

    mais ecoeficiente tecnologia se mal operada vai perder muito mais e acabar

    virando eco-ineficiente. Cabe a ns gestores de fbricas entender muito bem

    isso e abraar a gesto dos resduos como se fosse algo to importante como

    a gesto da prpria fbrica. Os resduos so sintomas das doenas de

    nossa fabricao. Revelam tambm as mazelas de nossos tcnicos e as

    nossas ineficincias (tanto das mquinas, como das pessoas).

    Produzir com perdas como participar de um campeonato disposto a

    levar muitas bolas na prpria rede. Eventualmente pode-se at mesmo

    ganhar o campeonato, mas a um nvel de sacrifcio muito maior. Ou porque

    os adversrios so muito piores. Portanto, vencer vai depender de

    circunstncias que no esto s em nossas mos e controle.

    Por muitos anos as empresas acostumaram a encaminhar seus

    resduos slidos aos aterros industriais e sanitrios, respeitando as

    exigncias legais e as orientaes emanadas dos rgos de controle e

    fiscalizao. Os objetivos eram os de evitar conflitos com a fiscalizao,

    manter saudvel a licena de operao da empresa e minimizar os riscos

    ambientais. Essa fase de apenas conformidade legal pode e deve ser

    melhorada. Podemos continuar cumprindo a lei e atendendo todas as

    exigncias dos fiscalizadores, porm, podemos fazer isso tudo de forma

    muito melhor.

    Quando a partir de 1984 privilegiamos na Riocell o conceito da fbrica

    isenta de resduos slidos, focamos nossas artilharias na reciclagem. Quando

    a partir de 1998 nossa meta se voltou para a reduo ou eliminao de

    resduos na origem, passamos a valorizar mais a preveno ou reduo.

    Porm, sem descartar a reciclagem para os resduos impossveis de serem

    eliminados aps as otimizaes para redues. Mais uma vez os Rs

    ambientais reunidos (Reduzir, Reusar, Reaproveitar internamente, Reciclar

    externamente e nessa ordem de prioridades).

    Reduzir consiste em:

    Prevenir a gerao; Otimizar a seleo e o consumo de matrias-primas; Racionalizar o uso dos insumos;

  • 33

    Reduzir perdas e desperdcios, focando os pontos onde elas esto ocorrendo.

    Reusar significa:

    Detectar onde esto ocorrendo as perdas e reintroduzi-las no processo de forma que sejam consumidas como deveriam s-lo.

    Exemplo, uma perda de licor preto devolvida ao processo,

    seguindo para a evaporao e caldeira de recuperao.

    Reaproveitar (internamente) consiste em:

    Utilizar um material descartado em alguma outra operao. Exemplo - uma gua recuperada em uma rea sendo utilizada por

    outra e para outra finalidade. Outros exemplos: varreduras de

    material orgnico sendo enviados para queima na caldeira de

    biomassa; recuperao de fibras perdidas no branqueamento e

    enviadas para a fabricao de um papel de segunda dentro da

    prpria fbrica; recuperao dos restos de obras para aterros

    internos dentro da empresa, etc.

    Reciclar (externamente) significa:

    Desenvolver subprodutos ou vendas a partir dos resduos gerados de forma que possam ser comercializados externamente a clientes

    interessados, atendendo todos os requisitos legais para essas novas

    destinaes.

    Exemplos: composto produzido a partir de lodos; lama de cal vendida

    como corretivo de acidez do solo; resduos da depurao sendo

    comercializado com fbrica de papel tissue; aplicao das cinzas das

    caldeiras de biomassa como fertilizante nos solos florestais; venda de lama

    de cal e cal queimada para fabricantes de argamassa; etc.

    Esses procedimentos quando praticados nos garantiro:

    Muito menor gerao de resduos slidos nos processos industriais; Reduo nos gastos de matrias-primas, insumos e energia, com

    conseqentes menores custos de fabricao;

    Aumento da vida til dos aterros industriais de disposio final de resduos slidos;

    Reduo das fragilidades potenciais de passivos ambientais; Maiores garantias de atendimento s exigncias legais; Reduo de gastos com remediao de reas degradadas;

  • 34

    Respeito cidadania dos indivduos que trabalham com os lixos e das comunidades circunvizinhas;

    Garantia de menores impactos ambientais e sociais na rea de influncia do empreendimento;

    Diversificao na cadeira produtiva, gerando novos negcios a partir da comercializao dos resduos;

    Maior respeito Natureza e aos recursos naturais; Etc., etc.

    Considerando as enormes evolues que vm ocorrendo na aplicao

    desses conceitos e das melhores prticas ambientalmente corretas, bem

    como de tecnologias mais limpas, eu gostaria de reforar alguns pontos

    chaves para a gesto desse sistema intrincado. Existem algumas bases

    fundamentais para que a gesto dos resduos slidos seja bem sucedida. So

    elas:

    Vontade poltica dentro do plano de sustentabilidade empresarial de se resolver a problemtica dos resduos slidos, valendo-se de

    medidas eficazes e eficientes;

    Conhecimento tcnico sobre os resduos e sobre os limites das tecnologias disponveis na empresa;

    Capacidade de medir e quantificar o que precisa ser feito para que se possam ter valoraes fsicas, ambientais, sociais e econmicas

    da situao presente;

    Postura pr-ativa e responsvel em relao legislao, ao meio ambiente, segurana dos cidados circunvizinhos e dos

    empregados da empresa;

    Capacidade de privilegiar o simples, de inovar e de ousar; Capacidade de lanar um bom plano de gesto integrada de

    resduos slidos, mas de p-lo em prtica de forma ecoeficiente;

    Desenvolvimento de conscincia coletiva para a segregao dos resduos slidos nos locais de sua origem;

    Investimentos em aperfeioamentos capazes de permitirem otimizaes e flexibilidades na preveno da gerao e na

    reciclagem dos resduos slidos;

    Obteno de apoio e envolvimento das reas crticas da empresa (florestal, operaes industriais, logstica, meio ambiente,

    manuteno, etc.);

    No ter preconceitos em relao aos resduos. Lembrar que um resduo nada mais que uma matria-prima boa que foi disposta

    como poluio por nossas prprias aes operacionais.

    Acreditar e confiar (com base nas avaliaes feitas) nos produtos gerados pela reciclagem, tanto em sua qualidade de utilizao,

    como na segurana para os usurios;

  • 35

    Capacidade de desenvolver mercados para os produtos da reciclagem, inclusive dentro da empresa ou do grupo de empresas

    (exemplo: rea florestal, caldeira de biomassa, etc.).

    Acreditar, trabalhar duro e ter a capacidade de criar envolvimentos e relaes confiveis.

    Apenas uma breve referncia sobre o item acreditar nos produtos da

    reciclagem. Como j lhes disse, em toda minha vida na Riocell, trabalhando

    no desenvolvimento tecnolgico de produtos da fbrica de celulose e na

    qualidade ambiental, sempre, absolutamente sempre, comprei o composto

    orgnico produzido pela empresa Vida para uso em minhas hortas e nos

    jardins de minha casa. At hoje fao isso. Dele sempre tirei flores e

    alimentos para uso em casa com minha famlia. Eu sempre acreditei na

    sade ambiental desse processo, por isso, jamais temi os produtos da

    reciclagem, pelo contrrio, sempre me encantaram. Minha teoria foi sempre

    a seguinte: se eu no acreditar, se eu for eventualmente temeroso em no

    uso deles, como vend-los ento a terceiros? At hoje, 20 anos depois do

    composto orgnico ter sido lanado no mercado com o nome Humoflor pela

    empresa Vida Produtos e Servios em Desenvolvimento Ecolgico, sou fiel

    usurio do mesmo. At mesmo porque de baixo custo, alta eficincia e

    disponvel em qualquer boa floricultura ou supermercado no municpio de

    Porto Alegre e vizinhanas. Um produto que a cada vez que utilizo,

    principalmente na entrada da primavera para renovar meus jardins e pomar,

    fico muito orgulhoso por ter sido parte dessa histria de reciclagem e de

    respeito Natureza. Um produto que surgiu da f, determinao e trabalho

    de uma enorme equipe de entusiastas pela conservao dos recursos

    naturais e pela sade ambiental dos empreendimentos industriais.

    =============================================

    RESDUOS & RESDUOS: QUANTO TEMOS REALMENTE DELES EM

    NOSSAS FBRICAS?

    J comentamos para vocs sobre os diversos tipos de resduos slidos

    industriais que so gerados em uma fbrica de celulose e papel. Tambm

    salientamos diversas vezes que eles representam quantidades muito grandes

    em nossas fbricas.

    Em captulo anterior sobre os resduos orgnicos fibrosos mostramos

    como eles podem e devem ser eliminados atravs formas inovadoras e

    audaciosas para se recuper-los no prprio processo, ou atravs de

    reciclagem externa. Afinal, eles so as fibras de nosso processo, o mais

    valioso material de nossas fbricas.

  • 36

    Esse captulo destinado a lhes apresentar os diversos tipos de

    resduos slidos industriais que ocorrem na fabricao de celulose e papel.

    Procurarei lhes apresentar tambm uma proposta de gesto integrada, sobre

    os pontos chaves a se concentrar para um trabalho ecoeficiente nessa

    gesto. Em tipos, esses resduos no so muitos, mas em volumes e pesos,

    isso eu posso garantir que so significativos. Conforme o processo industrial,

    a gerao pode variar de 40 a 850 kg de resduos (peso mido tal qual) por

    tonelada de celulose ou papel produzido. Isso significa, que ao mesmo tempo

    que se produz nossa celulose de mercado, ou nosso papel, temos uma

    fbrica oculta simultaneamente produzindo resduos. Tudo isso precisa ser

    muito bem avaliado, quantificado, otimizado e resolvido da melhor e mais

    correta maneira ambiental. Essa fbrica oculta demanda equipamentos

    pesados, reas enormes de espao fsico, construes, estradas, pessoas,

    controles, monitoramento, fiscalizaes, documentao, etc. Enfim, uma

    atividade que ocorre paralela atividade fim da empresa de celulose e papel.

    Em geral, a maioria dos gestores da fbrica no est atenta a ela, embora

    nossos clientes, investidores e acionistas possam considerar o fato de sua

    gesto como muito relevante. Muitos gestores tcnicos s descobrem essa

    fbrica oculta quando sentem-se absolutamente atolados de resduos, no

    encontrando mais onde dispor os seus resduos gerados nas suas operaes

    industriais.

    O charme da linha de fibras de qualquer fbrica praticamente aniquila

    a ateno sobre os resduos. Tanto fato, que na reunio diria de produo

    falam quase sempre (e muito), os gerentes de produo (linha de fibras e

    mquinas de produtos finais), de manuteno e das utilidades (caldeiras,

    guas e efluentes). Em geral, o setor de resduos tem pouco espao, ficando

    para falar algo ao final da reunio. Sempre comenta que as coisas correm

    bem, apenas tendo mais espao quando algo anormal ou algum acidente

    ocorreu. Muitas vezes, as empresas comportam-se em relao aos resduos

    da mesma forma que muitas famlias em relao ao seguro de seus lares

    contra roubos. S fazem o seguro depois de terem sido roubadas. H

    empresas que s descobrem o problema dos resduos depois que rompe uma

    barragem de um aterro e os resduos contaminam grande extenso das

    reas vizinhas ou algum rio da regio.

    No entendo como algo que chega a ser gerado em quantidades to

    expressivas e em tamanha diversidade de tipos e necessidades ganha to

    pouco espao nas atenes de muitos gestores empresariais.

    interessante se mencionar o caso da CENIBRA, empresa de

    produo de celulose de mercado, que assumiu em evento tcnico da UFV

    Universidade Federal de Viosa - a gerao de cerca de 850 kg de resduos

    slidos por tonelada de celulose produzida. Nesse evento que ocorreu em

    2005, a empresa (atravs de se engenheiro de meio ambiente Alexandre

    Landim) detalhou o problema e a soluo do problema. A empresa tinha

    baseado sua matriz energtica no consumo da casca como biomassa

    combustvel. Por essa razo, todas as toras de madeira eram trazidas para a

  • 37

    fbrica e ali descascadas. A casca separada da madeira seguia para as

    caldeiras de biomassa e a madeira para o processo de produo de celulose.

    Acontece que as modernizaes tecnolgicas implementadas na empresa a

    tornaram mais eficiente em uso de energia. Tambm, nos balanos de

    energia ocorria grande aporte de madeira (serragem, cavacos sobre-

    espessos, lascas) como biomassa energtica. Em resultado disso, a casca

    comeou a sobrar na rea do ptio de madeira, transformando-se no

    principal resduo slido da fbrica. Surgiram montanhas de casca e as

    alternativas para compost-la foram as que apareceram em primeiro lugar

    nas avaliaes. Mas isso no era para resolver o problema em sua raiz, mas

    sim para usar o resduo como fonte de matria-prima em um processo de

    compostagem. Apesar de boa para o meio ambiente, essa no era a melhor

    soluo ambiental. Sabiamente, os tcnicos da empresa optaram por

    descascar parte da madeira no campo, deixando de trazer volumes

    significativos de casca para a fbrica. Resolveu-se o problema de excesso de

    resduos slidos na fbrica e ao mesmo tempo se agregou qualidade fsica,

    qumica e microbiolgica dos solos florestais. Definitivamente, a melhor e

    mais ecoeficiente soluo naquele momento presente. O resduo diminuiu e a

    Natureza ganhou em qualidade.

    J a empresa Riocell (hoje Aracruz Celulose Unidade Guaba), a qual

    lhes relatei como uma das mais eficientes em reciclagem de resduos,

    apresenta tambm uma elevada gerao de resduos slidos industriais,

    cerca de 400 450 kg (peso tal qual) por tonelada seca ao ar de celulose de

    mercado produzida. Essa enorme quantidade de resduos que levou a

    empresa a buscar solues no desenvolvimento da reciclagem.

    A gerao elevada de resduos slidos na Riocell da minha poca tinha

    as seguintes razes principais:

    A serragem da classificao dos cavacos era separada e vendida como resduo j que a empresa no optara por caldeira de

    biomassa. A serragem era gerada na proporo de 40 a 60 kg/adt

    (peso tal qual) ou 20 a 30 kg secos por adt de celulose. (adt =

    tonelada seca ao ar de celulose)

    A caldeira de fora era alimentada por carvo mineral gacho, fonte de combustvel abundante na regio. Entretanto, apesar de

    conveniente energeticamente, esse carvo rico em cinzas

    minerais (35% em mdia). As geraes de cinzas leves bastante

    secas (80 a 130 kg/adt) e de cinzas pesadas midas (30 a 40

    kg/adt) ocorriam em grandes quantidades em funo da qualidade

    do carvo e da opo de combustvel.

    A empresa possui tratamento tercirio de efluentes, com uma etapa final com clarifloculao com sulfato de alumnio para

    reduo de cor e de DQO - Demanda Qumica de Oxignio. Essa

    etapa gera grandes quantidades de lodo tercirio rico em sulfato

  • 38

    de alumnio devido sua ao precipitante. Todos os trs lodos so

    misturados e desaguados a cerca de 18 - 20% de consistncia. As

    quantidades de lodos gerados em seus pesos midos eram as

    seguintes:

    Lodo primrio: cerca de 20 kg/adt

    Lodo secundrio: cerca de 35 kg/adt

    Lodo tercirio: cerca de 105 kg/adt

    Lodo total = cerca de 160 kg/adt de celulose de mercado

    produzida

    Com muita determinao a empresa desenvolveu mecanismos de

    reciclagem da praticamente a totalidade desses resduos volumosos:

    serragem de madeira, cinzas da caldeira de carvo e lodos da estao de

    tratamento de efluentes. De qualquer forma, o que eu queria lhes mostrar

    que a cada tonelada de celulose seca ao ar (900 kg de celulose

    absolutamente seca) se geravam 400 - 450 kg de resduos slidos (peso

    mido), sendo alguns desses resduos preferencialmente gerados pelas

    opes tecnolgicas feitas pela empresa.

    Nessa seo pretendo lhes mostrar os tipos e as quantidades desses

    resduos slidos industriais do processo de fabricao de celulose.

    Entretanto, antes disso, importante saber como esses resduos so

    classificados no Brasil. Com isso, poderemos comentar logo a seguir cada

    tipo de resduos com suas particularidades, periculosidades e classificao.

    De acordo com a ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    so considerados resduos slidos industriais todos os desperdcios ou perdas

    do processo fabril que se encontram em estado slido e semi-slido,

    incluindo-se os lodos das estaes de tratamento de efluentes. Incluem-se

    tambm nessa classificao, quaisquer lquidos pastosos, cujas

    caractersticas os impeam de serem considerados efluentes a tratar na ETE.

    Nessa situao, podem-se at mesmo encontrar suspenses de lodos

    diludos a cerca de 1 a 3% de consistncia, em fbricas que no dispem de

    prensas ou centrfugas para desagu-los.

    A principal das normas da ABNT aquela que classifica os resduos

    slidos industriais: NBR 10.004 Resduos Slidos Classificao. Essa

    norma visa a separar os resduos conforme os seus riscos potenciais ao meio

    ambiente e sade pblica, indicando formas de manuseio e gesto a cada

    tipo, conforme a classificao.

    De uma maneira bem simplificada, os resduos slidos no Brasil so

    separados em 3 grupos:

    Resduos Classe I Resduos Perigosos

    Resduos classe II Resduos No Perigosos (com duas sub-divises)

    Resduos Classe IIA No Inertes

    Resduos Classe IIB - Inertes

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    Os resduos perigosos (isolados ou misturados) so aqueles que, por

    suas caractersticas, podem significar riscos graves sade pblica (doenas,

    mortalidade, acidentes). Dentre as caractersticas consideradas destacam-se:

    toxicidade, inflamabilidade, corrosividade, reatividade qumica,

    patogenicidade, etc. Para serem classificados como perigosos, os resduos

    so submetidos a ensaios de lixiviao, corrosividade, toxicidade, contedo e

    componentes qumicos, etc.

    Os resduos no perigosos no inertes (classe IIA) so resduos ou

    misturas de resduos que no oferecem riscos de perigo populao, mas

    que apresentam caractersticas qumicas ou fsicas que no os colocam como

    inertes. Possuem propriedades tais como: sofrem biodegradao, liberam

    gases de odor, apresentam solubilidade em gua e portanto liberam chorume

    qumico escuro que pode ter odor forte e desagradvel, podem ter risco de

    auto-combusto, etc.

    Os resduos no perigosos e inertes (classe IIB) como o nome diz so

    inertes quando submetidos a testes de solubilizao, lixiviao, no liberando

    constituintes qumicos acima dos limites estabelecidos por outras normativas

    da prpria ABNT. Como exemplos de resduos inertes podemos citar: pedras,

    rochas, vidros, plsticos, borrachas, pneus, sucatas, etc. Todos so de difcil

    decomposio em condies naturais e pouco liberam de gases ou de

    chorume ao ambiente circunvizinho.

    Todo resduo industrial no Brasil precisa ter sua classificao

    estabelecida com base nessas avaliaes de composio, toxicologia e

    periculosidade. Existem diversas normas da ABNT para isso. S a partir

    dessa classificao que se podem estabelecer programas de disposio,

    compostagem, reutilizao, aplicao em solos agrcolas ou florestais, etc.

    Nossa legislao brasileira e os rgos de controle, licenciamento e

    fiscalizao so muito cautelosos em relao ao aproveitamento de resduos

    slidos - nada melhor e mais correto. preciso muita segurana com o trato

    e com a disposio dos resduos slidos industriais. Qualquer resduo no

    inerte jogado em terreno sem preparo adequado pode liberar um chorume

    qumico que vai penetrar no perfil do solo, podendo atingir o lenol de guas

    subterrneas. Pode tambm ser arrastado para longe desse local em dias de

    chuva forte, contaminando rios e solos. Admitindo que existam captaes

    dessa gua contaminada para abastecimento humano, mesmo os resduos

    no inertes podem oferecer riscos.

    Por isso tudo, o rigor necessrio e desejvel. Quem gera resduos

    slidos deve entender e exercer seu papel de gerenci-los de acordo com a

    lei e mesmo muito alm dela (a conhecida beyond compliance).

    A maioria dos resduos slidos industriais gerados no processo de

    fabricao de celulose e papel so Classe IIA No Perigosos - No Inertes,

    logo no so considerados da classe dos perigosos. Entretanto, existem

    resduos que so considerados perigosos (Classe I) pois so altamente

    custicos e podem oferecer problemas para a populao circunvizinha. o

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    caso dos rejeitos do digestor (chorume muito alcalino, escuro e corrosivo),

    da cal virgem (alcalinidade elevada e corrosividade). Alm disso, temos como

    perigosos os resduos de leos e graxas, baterias, lmpadas fluorescentes,

    lixos radioativos, lixos hospitalares, embalagens com resduos de produtos

    qumicos, etc.

    Como resduos i