Resenha-O viés da comunicação
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7/29/2019 Resenha-O vis da comunicao
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RevistadaAssociaoNacionaldosProgramasdePs-
Grad
uaoem
Comunicao|E-comps,
Braslia,
v.1
5,
n.3,
set./dez.
2012.
www.e-compos.org.br
| E-ISSN 1808-2599 |
Resenha
INNIS, Harold. O vis da comunicao. Trad. Luiz
Martino. Petrpolis, RJ: Vozes, 2011.
1/6
Leonel Aguiar | [email protected] em Comunicao e Cultura pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). Proessor do Programa de Ps-graduao em
Comunicao Social da Ponticia Universidade Catlica do Rio de
Janeiro (PUC-Rio).
Uma das obras que compem o pensamento
comunicacional do canadense Harold Innis
(1894-1952), proessor do Departamento de
Economia Poltica da Universidade de Toronto,
est recm-traduzida, em um primoroso trabalho
de Luiz Martino, para a coleo Clssicos da
Comunicao Social, da editora Vozes.O vis
da comunicao, publicado originalmente em
1951, rene oito artigos que apresentam os
conceitos principais para a concepo terica
innisiana de que as tecnologias da comunicao
no s criam as condies de possibilidades
para as conguraes da cultura como tambm
so dispositivos de produo de subjetividade.
Ainda que o autor no utilize essa terminologia
conceitual e arme que seus trabalhos seguem
uma obsesso pela abordagem poltica, Innis
discute como a materialidade dos meios de
comunicao aeta o modo de estruturar o
conhecimento; portanto, simultaneamente,
o prprio processo cognitivo e as ormaes
culturais. Ou, diria Guattari (1992), como asmquinas inormacionais operam, ao mesmo
tempo, nas dimenses da subjetivao nos
A Comunicao como
perspectiva de anlisepara a cultura
Leonel Aguiar
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aetos, nas sensibilidades, na memria e
nas interaes sociais, recongurando outra
ecologia dosocius.
Innis, entretanto, est mais ocado em
estabelecer as relaes entre a materialidade
dos meios, os monoplios do conhecimento, as
relaes de poder e as conguraes da cultura.
The Bias of Communication (1951) compem,
junto comEmpire of Communications (1950)
e Changing Concept of Time (1952), o perodo
que Marshall McLuhan denomina o ltimo
Innis. Principal divulgador dos trabalhos de
comunicao de Innis, McLuhan nunca escondeu
a orte infuncia da concepo innisiana de
que o processo de transormao cultural est
implcito nas ormas da tecnologia dos meios.
J bem conhecida a reverncia que ele presta
ao seu inspirador emA galxia de Gutenberg,
quando arma que este seu livro [...] representa
apenas nota de p de pgina sua obra, visando
explic-la (McLUHAN, 1972, p. 82).
Foi exatamente essa proximidade de perspectiva
terica, na qual se demonstra que a emergncia
de uma nova tecnologia de comunicao implica
em mudanas na esera cultural e alteraes
nas ormas de sociabilidade, que possibilitou
a alguns estudiosos reunir Innis, McLuhan
e ainda Eric Havelock, outro intelectual
canadense, tanto sob a denominao de Escola
de Toronto quanto serem qualicados comopesquisadores da Teoria do Meio. Esses trs
autores se debruaram sobre o processo de
alabetizao na Grcia Antiga, discutindo
as implicaes do letramento e da cultura da
escrita em relao ao primado da oralidade.
Ou seja, de como os modos de comunicao
aetam as conguraes culturais e implicam em
transormaes sociais (GOODY; WATT, 2006).
A edio brasileira de The Bias of
Communication apresenta trs precios
extremamente elucidativos sobre a vida e a obra
de Innis. O primeiro desses textos, do proessor
Luiz Martino, destaca como Innis passou das
pesquisas histricas em economia para os
estudos de comunicao, enatizando o papel dos
meios de comunicao nas ormaes culturais
e nas relaes de poder. Para Martino, esse
o melhor signicado do conceito de bias: uma
perspectiva de anlise que coloca omedium como
determinante para as abordagens explicativas
de longa durao da histria empreendidas
pelo pesquisador canadense. O que realmente
motiva Innis a realizar essas pesquisas histricas
so as tenses entre a tradio e a atualidade,
expressas no plano da comunicao pelos embates
que acontecem entre a ora da oralidade e o
processo de mundializao das tecnologias
comunicacionais. A motivao poltica em relao
ao papel da cultura e da tecnologia na sociedade
contempornea parece ser marcante nos trabalhos
de histria da comunicao desenvolvidos por
Innis. Nesse sentido, ele realiza uma histria do
presente, tal como armava Michel Foucault sobresua prpria obra, escrevem Paul Heyer e David
Crowley no precio para a edio em ingls de
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1995. Como diria o lsoo rancs em relao
a seu mtodo arqueolgico de historiograar o
passado para diagnosticar o presente:
[...] a anlise do arquivo comporta uma regio
privilegiada: ao mesmo tempo prxima de ns,
mas dierente de nossa atualidade; trata-se da
orla do tempo que cerca nosso presente, que o
domina e que o indica em sua alteridade (FOU-
CAULT, 1997, p. 151).
A ormao de arquivos como uma metodologia
para os estudos de comunicao tambm
ressaltada por Alexander John Watson, o
principal bigrao de Innis. Autor do precio
para a segunda edio inglesa (2008), Watson
detalha como Innis mudou seu mtodo de
pesquisa ao se deslocar da histria econmica
para o campo comunicacional, realizando uma
anlise macro-histrica sobre o papel dos meios
de comunicao e sua relao com os imprios
do passado para reletir sobre os eeitos dos
monoplios de comunicao no presente. Esse
precio traz ainda dois quadros sinpticos,
nos quais so sintetizadas as caractersticas
dos meios de comunicao e suas inluncias
nas coniguraes dos imprios que os
utilizavam. O undamental, para Watson, o
desaio enrentado por Innis de ormular uma
sntese que reunisse uma teoria da cultura,
da tecnologia e do Estado. Esse argumento,
detalhadamente explanado emMarginal
Man (WATSON, 2007) visa criticar leituras
reducionistas da obra innisiana ao plano dosensorial em relao ao seu entendimento do
papel dos meios de comunicao na histria,
evitando o determinismo tecnolgico e a
despolitizao do conceito de monoplio.
Os ensaios que compem O vis da
comunicao, classicados pelos preaciadores
como de notria complexidade e de dicil
leitura, so apresentaes orais realizadas
no perodo de 1945-1950. No primeiro artigo,A
coruja de Minerva conerncia eita na posse
da presidncia da Royal Society o Canada, em
1947 , Innis traa um vasto panorama histrico
de como a civilizao ocidental oi infuenciada
pela materialidade domedium. Nesse texto, o
autor divide os perodos histricos a partir da
hegemonia dos meios. Essa periodizao vai da
argila e da escrita cuneiorme na Mesopotmia,
passa pelo papiro, pergaminho e papel, continua
atravs inveno da imprensa tipogrca e do
celuloide na expanso do cinema at chegar ao
aparecimento do rdio. O artigo seguinte, com o
mesmo ttulo do livro e apresentado na University
o Michigan em 1949, demonstra a relao entre
as caractersticas do meio de comunicao e a
sua infuncia na disseminao da inormao,
sendo que a nase no espao ou no tempo vai
determinar um vis de signicao para a
cultura na qual est inserido (INNIS, 2011, p.
103). Esses dois artigos resumem as principais
ideias do autor, dentre as quais se destaca a de
monoplio do conhecimento.
Os dois prximos captulos Uma defesa dotempo e O problema do espao discutem
a noo de bias enquanto tendncia de uma
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cultura para o tempo ou para o espao,
vinculando-a as caractersticas materiais
dos meios de comunicao. Isto , se uma
determinada sociedade possui um modo de
comunicao dominante, sempre existir
uma tendncia de orientao cultural: ou
um vis para o tempo, como os antigos
imprios babilnicos e egpcios, as sociedades
europeias medievais e as civilizaes baseadas
na oralidade; ou um vis para o espao,
exempliicado pelos imprios expansionistas,
como o imprio romano e as naes coloniais e
neocoloniais europeias modernas.
Os trs captulos seguintes discutem a imprensa
por um diagrama que traa relaes entre
tecnologia, construo da opinio pblica,
inormao como commoditie e valores culturais.
EmIndustrialismo e valores culturais,
apresentado em 1950 no encontro da American
Economic Association, esto presentes as
ideias de que as tecnologias de comunicao
so extenses das sensorialidades humanas. A
inveno da imprensa implicou o incio de uma
retomada de um tipo de civilizao dominada
pelo olho, mais do que pelo ouvido (INNIS, 2011,
p. 222). Ainda que Tremblay (2003) arme no
encontrar na obra de Innis reerncias de uma
teoria da percepo ou domedium como extenso
dos sentidos, esse captulo do livro est repleto
de passagens demonstrando essa implicao. J
os textos a seguir, O comrcio editorial ingls nosculo XVIIIassim como Tecnologia e opinio
pblica nos Estados Unidos, abordam, atravs
de uma minuciosa descrio das mudanas de
comportamento dos polticos nesses dois pases
em uno do mercado editorial e dos jornais,
os eeitos que as tecnologias da comunicao
produziram nos processos de interaes sociais e
na sociabilidade dapolis.
A edio brasileira contm ainda Uma reviso
crtica, na qual Innis declara que seu vis
a tradio oral presente na civilizao grega
e prega a necessidade de recuperar o contato
pessoal para a discusso de ideias, e um
apndice voltado para a ormao universitria,
no qual destaca a importncia do proessor
vincular os livros com a conversao, a
universidade com a comunidade e a pesquisa
com as questes sociais. Tais questes so,
certamente, menos conhecidas da obra tardia
innisiana, mas nada dspares, se as olharmos
com a viso atual de um imperativo tico de
reinventar a educao para superar a crise de
valores decorrente do impacto dos meios de
comunicao de massa.
Em suma: o legado terico de Innis procuo
para as cincias da comunicao. Uma de suas
ideias mais apreciadas a de que as caratersticas
materiais do meio de comunicao no s
determina o modo de produo da inormao a
ser comunicada como tambm acaba induzindo
a mudanas culturais. Outro ponto de destaque
na teoria innisiana, bem menos reconhecido, a noo de que a comunicao um dispositivo
de controle do tempo e do espao, pois todo
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medium implica em bias. Innis enatiza como,
em cada poca histrica, o meio de comunicao
dominante gera monoplio de saber exercido por
um grupo social, reorando o poder hegemnico.
Ou, no enoque oucaultiano: [...] no h relao
de poder sem constituio correlata de um
campo de saber, nem saber que no suponha
e no constitua, ao mesmo tempo, relaes de
poder (FOUCAULT, 1977, p. 30). Portanto, as
relaes de poder/saber que Innis denomina
monoplio do conhecimento so imanentes
a outros tipos de relaes sociais, possuindo
um papel produtor em todas as instncias onde
atuam. Essas perspectivas tericas parecem
convergir, apontando que a comunicao, mais do
que produzir uma representao da realidade,
um dispositivo de construo social da realidade
atravessado por relaes de poder/saber. Por
esse aspecto, Innis talvez merea ser tambm
entendido como um pesquisador prximo ao
campo da economia poltica da comunicao.
Referncias
FOUCAULT, Michel.A arqueologia do saber. Rio de
Janeiro: Forense Universitria, 1997.
______.Vigiar e punir: nascimento da priso.
Petrpolis, RJ: Vozes, 1977.
GOODY, Jack; WATT, Ian.As conseqncias do
letramento. So Paulo: Paulistana, 2006.
GUATTARI, Flix. Caosmose: um novo paradigma
esttico. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.
INNIS, Harold. O vis da comunicao. Trad. Luiz
Martino. Petrpolis, RJ: Vozes, 2011.
McLUHAN, Marshall.A galxia de Gutenberg: a
ormao do homem tipogrco. So Paulo: EdUSP:
Nacional, 1972.
TREMBLAY, Gatan. De Marshall McLuhan a Harold
Innis ou da aldeia global ao imprio mundial.Revista
FAMECOS, n. 22, p. 13-22, 2003.
WATSON, Alexander John. Marginal man: the dark
vision o Harold Innis. Toronto: University o Toronto
Press, 2007.
Recebido em:21 de agosto de 2012
Aceito em:17 de setembro de 2012
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CONSELHO EDITORIAL
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Denilson Lopes,Universidade Federal do Rio de Janeiro, BrasilEduardo Peuela Caizal,Universidade Paulista, BrasilEduardo Vicente,Universidade de So Paulo, BrasilEneus Trindade,Universidade de So Paulo, BrasilErick Felinto de Oliveira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Florence Dravet,Universidade Catlica de Braslia, BrasilGelson Santana,Universidade Anhembi/Morumbi, BrasilGislene da Silva,Universidade Federal de Santa Catarina, BrasilGuillermo Orozco Gmez,Universidad de GuadalajaraGustavo Daudt Fischer,Universidade do Vale do Rio dos Sinos, BrasilHector Ospina,Universidad de Manizales, ColmbiaHerom Vargas,Universidade Municipal de So Caetano do Sul, BrasilIns Vitorino,Universidade Federal do Cear, BrasilJay David Bolter,Georgia Institute o TechnologyJeder Silveira Janotti Junior,Universidade Federal de Pernambuco, BrasilJohn DH Downing,University o Texas at Austin, Estados UnidosJos Afonso da Silva Junior,Universidade Federal de Pernambuco, BrasilJos Carlos Rodrigues,Ponticia Universidade Catlica do Rio de Janeiro, BrasilJos Luiz Aidar Prado,Ponticia Universidade Catlica de So Paulo, BrasilKelly Cristina de Souza Prudncio,Universidade Federal do Paran, Brasil.
ExpedienteA revista E-Comps a publicao cientfca em ormato eletrnico daAssociao Nacional dos Programas de Ps-Graduao em Comunicao
(Comps). Lanada em 2004, tem como principal fnalidade diundir aproduo acadmica de pesquisadores da rea de Comunicao, inseridos
em instituies do Brasil e do exterior.
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Revista da Associao Nacional dos Programas
de Ps-Graduao em Comunicao.E-comps, Braslia, v.15, n.3, set./dez. 2012.A identifcao das edies, a partir de 2008,
passa a ser volume anual com trs nmeros.
Laan Mendes Barros,Universidade Metodista de So Paulo, BrasilLance Strate,Fordham University, USA, Estados UnidosLorraine Leu,University o Bristol, Gr-BretanhaLucia Leo,Ponticia Universidade Catlica de So Paulo, BrasilMalena Segura Contrera,Universidade Paulista, BrasilMrcio de Vasconcellos Serelle,Ponticia Universidade Catlica de MinasGerais, Brasil
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Propaganda e Marketing, Brasil
Maria Ataide Malcher,Universidade Federal do Par, BrasilMaria das Graas Pinto Coelho,Universidade Federal do Rio Grande do Norte, BrasilMaria Immacolata Vassallo de Lopes,Universidade de So Paulo, BrasilMaria Luiza Martins de Mendona,Universidade Federal de Gois, BrasilMauro de Souza Ventura,Universidade Estadual Paulista, BrasilMauro Pereira Porto,Tulane University, Estados UnidosMirna Feitoza Pereira,Universidade Federal do Amazonas, BrasilNilda Aparecida Jacks,Universidade Federal do Rio Grande do Sul, BrasilOsvando J. de Morais,Universidade de Sorocaba, BrasilPotiguara Mendes Silveira Jr, Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil
Renato Cordeiro Gomes,Ponticia Universidade Catlica do Rio de Janeiro, BrasilRobert K Logan,University o Toronto, CanadRonaldo George Helal,Universidade do Estado do Rio de Janeiro, BrasilRose Melo Rocha,Escola Superior de Propaganda e Marketing, BrasilRossana Reguillo,Instituto de Estudos Superiores do Ocidente, MexicoRousiley Celi Moreira Maia,Universidade Federal de Minas Gerais, BrasilSebastio Guilherme Albano da Costa,Universidade Federal do Rio Grandedo Norte, Brasil
Simone Maria Andrade Pereira de S,Universidade Federal Fluminense, BrasilTiago Quiroga Fausto Neto,Universidade de Braslia, BrasilSuzete Venturelli,Universidade de Braslia, BrasilValerio Fuenzalida Fernndez,Puc-Chile, ChileVeneza Mayora Ronsini,Universidade Federal de Santa Maria, BrasilVera Regina Veiga Frana,Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
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EDIO DE TEXTO E RESUMOS | Susane Barros
SECRETRIA EXECUTIVA | Juliana DepinEDITORAO ELETRNICA | Roka Estdio
TRADUO | Sieni Campos e Markus Hediger
COMPS| www.compos.org.br
Associao Nacional dos Programas de Ps-Graduao em Comunicao
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Julio PintoPonticia Universidade Catlica de Minas Gerais, Brasil
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Secretria-Geral
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