Resenha-A Desumanização Da Arte

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O autor inicia o primeiro captulo nos falando da idia genial do filsofo francs Jean-Marie Guyau de tentar estudar a arte do ponto de vista sociolgico, no que foi infelizmente impedido pela brevidade de sua vida

O autor inicia o primeiro captulo nos falando da idia genial do filsofo francs Jean-Marie Guyau de tentar estudar a arte do ponto de vista sociolgico, no que foi infelizmente impedido pela brevidade de sua vida. O autor tambm comenta que a ele ocorreu inesperadamente um dia escrever sobre a nova poca musical que comea com Debussy e o fato de haver percebido que a partir da sociologia, ao versar sobre a impopularidade da nova msica, ele poderia traar um caminho mais curto at o problema rigorosamente esttico que trata da diferena entre a nova msica e a tradicional.

Neste primeiro captulo, o autor ainda se surpreende com a solidariedade que as diversas manifestaes artsticas, em cada poca histrica, mantm entre si. Em suas palavras ele discorre sobre o fato de que, sem dar-se conta disso, o msico jovem aspira a realizar com sons exatamente os mesmos valores estticos que o pintor, o poeta e o dramaturgo, seus contemporneos.Diz Ortega y Gasset que o que ocorre com a nova arte no que ela no agrade maioria, mas sim que esta maioria no a entende e que esta incompreenso gera uma conscincia de inferioridade que precisa ser compensada mediante a indignada afirmao de si mesmo frente obra. Quando o drama Hernani, de Victor Hugo, foi levado cena em 1830, aqueles que se mantinham fiis esttica anterior, que eram uma minoria, o entenderam e, por isso mesmo, sentiram repugnncia proposta do romantismo, uma arte da maioria, das massas, que entrava em cena. O autor encerra este captulo inicial ao nos convidar a entender e extrair da arte jovem o seu princpio essencial e, portanto, ver em que profundo sentido impopular.

No segundo captulo, o autor nos ensina que o autntico prazer esttico no consiste em nos envolvermos com o que est ali exposto, ou intervirmos naquilo que representado, mas antes acomodarmos nossa percepo visual na transparncia que a obra de arte e compreendermos que o que ali exposto so puras virtualidades e objetos artsticos como tais, consistindo nisso a arte pura. Por isso, a nova arte, nessa busca pela pureza artstica, deixa a massa, que no compreende ser esta a real misso do artista, sem o papel de intervir sentimentalmente e, portanto, humanamente, na obra de arte.

No terceiro captulo, Ortega y Gasset exemplifica a diferena entre viver e contemplar uma situao mediante uma cena na qual um homem ilustre agoniza e na qual tambm se encontram: sua mulher, que est junto ao leito; um mdico, que conta suas pulsaes; um jornalista que assiste a isso por razo de seu ofcio; e um pintor que presencia o mesmo fato. Os dois ltimos personagens esto no fundo do quarto. A mulher do moribundo vive a cena, a qual se apodera de seu corao e de sua alma, ou seja, sua distncia da situao quase nula.

O mdico, um pouco mais afastado, tambm intervm no acontecimento com emoes que partem da sua periferia profissional, dele se interessando seriamente por uma questo de responsabilidade e que talvez possa at colocar em risco seu prestgio.O jornalista ali est, assim como o mdico, apenas obrigado por sua profisso. Porm, ao contrrio do mdico, sua profisso o obriga a no intervir no acontecimento, o qual apenas contempla com a preocupao de ter que referi-lo logo aos seus leitores, aos quais procurar comover fingindo emoo para com ela alimentar a sua literatura. Seu ponto de vista j est enormemente afastado daquela realidade.Com relao ao pintor, cuja atitude puramente contemplativa, chega-se ao mximo de distncia do fato, cujo sentido interno fica fora de sua percepo, uma vez que s atenta ao exterior, s luzes, sombras e valores cromticos.O captulo prossegue com uma advertncia na qual entre esses diversos aspectos da realidade que correspondem aos vrios pontos de vista, h um do qual derivam todos os demais e que em todos os outros est suposto: o da realidade vivida, que a realidade por excelncia, que a realidade humana. Se no houvesse algum que vivesse em pura entrega e frenesi a agonia de um homem, o mdico no se preocuparia com ela, os leitores no entenderiam os gestos patticos do jornalista que descreve o fato, e o quadro no qual o pintor representa um homem no leito rodeado de figuras condodas nos seria ininteligvel.

O captulo finalmente termina com a exposio que o autor faz de nossas idias usadas de forma espontaneamente humana. E conclui a seguir, em suas palavras, que, em vez de ser a idia instrumento com que pensamos um objeto, fazemos dela objeto e termo do nosso pensamento. Logo, ainda consoante o autor, veremos o uso inesperado que a nova arte faz dessa inverso inumana.

No captulo seguinte, o autor nos mostra que a arte jovem foge da realidade, e que esta fuga da realidade a coisa mais difcil do mundo. Segundo o autor, a realidade espreita constantemente o artista para impedir sua evaso. O autor lana mo do exemplo de um quadro maneira nova confrontado com outros de 1860 e nos quais esto representados um homem, uma casa e uma montanha. O artista de 1860 se esforou para que este elementos se paream ao mximo com o que percebemos na realidade vivida ou humana, ao passo que no quadro recente tudo se desvia do natural ou do humano. Nisto constitui a desumanizao da arte.No captulo que se segue, o autor diz que a arte do sculo XIX, enquanto reflexo da vida e representao do humano, foi uma arte vesga, uma vez que props uma dupla viso em que estiveram juntas a percepo da realidade vivida e a percepo da forma artstica, as quais so, em princpio, incompatveis por requererem uma acomodao diferente em nosso aparelho receptor, ao passo que a nova inspirao volta a tocar, pelo menos num ponto, o caminho real da arte, que a vontade de estilo, uma vez que estiliza, deforma, desrealiza, em suma, desumaniza o real.No sexto captulo, o autor nos coloca que a antiga arte era mais ou menos a arte-confisso, por expressar sentimentos, emoes, alegrias e tristezas pessoais e particulares, e que a arte no pode consistir no fenmeno inconsciente do contgio psquico, ou seja, no contagiar-se da dor ou alegria do prximo, uma vez que esse contgio no de ordem espiritual e sim uma repercusso mecnica. O autor proclama que a arte deve ser toda plena claridade, meio-dia de inteleco e lanar mo da inteligncia, da perspiccia, da motivao, da fundamentao, do distanciamento, da sobriedade, da pureza objetiva. Em tudo isso, deve o artista, segundo o proposto pela arte nova, ser mero artista, isto , deve o artista saber isolar-se do seu homem circundante e ser aquele que aumenta o mundo, que acrescenta ao real, que j est a por si mesmo, um irreal continente, j que autor vem de auctor, aquele que aumenta. Os latinos chamavam assim ao general que ganhava para a ptria um novo territrio.No prximo captulo, Ortega y Gasset exalta sobremaneira a arma lrica que a metfora, a qual nos facilita a evaso do real, do que j , e cria, entre as coisas reais, recifes imaginrios, florescimento de ilhas sutis. Ele ainda nos explica que uma das razes da metfora est no esprito do tabu e nos d disso dois exemplos: o do ndio Lillooet, que, para tocar um animal sagrado que no pode ser tocado com as mos, fica de ccoras e coloca as mos sob as ndegas, pois assim so metaforicamente ps e, deste modo, pode com-lo; e do polinsio que no deve nomear nada do que pertence ao rei e que, quando v arderem as tochas em seu palcio-cabana diz: O raio arde nas nuvens do cu. -nos esclarecido, alm disso, que a metfora no apenas pode enobrecer e realar algo, como tambm denigrir, vexar, rebaixar, vulnerar e assassinar as coisas naturais.