Resenha 9 - Sabljo e Antunes

4
UFOP – ICHS – Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos da Linguagem Disciplina: PGL202 – Teoria da Tradução Professor: José Luiz Vila Real Gonçalves Aluno: Leandro Moura Resenha Antunes (2010), ao apresentar um breve percurso acerca da história da autotradução à luz dos casos de André Brink e João Ubaldo Ribeiro, comenta que como não há uma historiografia da tradução, a solução seria fazer um registro de fatos, isto é, um estudo dos casos. Tanto a obra de André Brink como a do autor brasileiro foram autotraduzidas, ainda que por motivos diferentes: o escritor sul-africano foi influenciado pelo contexto histórico, pois sua obra havia sido proibida na África por denunciar o apartheid, enquanto Ribeiro motivou-se por não encontrar um tradutor que aceitasse realizar o trabalho devido ao “sergipês” usado em seus textos. Todavia, apesar de não compartilharem das mesmas razões, ambos os autores tinha um objetivo comum: atingir um número maior de leitores fora de seus países de origem. Sabljo (2011) escreve um artigo sobre a autotradução do autor bilíngue irlandês Samuel Beckett. A autora nos diz que o bilinguismo de Beckett fora involuntário, pois ele havia nascido na Irlanda e, posteriormente, migrado para a França. Beckett escrevia em inglês e em seguida – ou às vezes ao mesmo tempo – traduzia para o francês, revisando,

Transcript of Resenha 9 - Sabljo e Antunes

UFOP ICHS Programa de Ps-Graduao em Letras: Estudos da Linguagem

Disciplina: PGL202 Teoria da Traduo

Professor: Jos Luiz Vila Real Gonalves

Aluno: Leandro Moura

ResenhaAntunes (2010), ao apresentar um breve percurso acerca da histria da autotraduo luz dos casos de Andr Brink e Joo Ubaldo Ribeiro, comenta que como no h uma historiografia da traduo, a soluo seria fazer um registro de fatos, isto , um estudo dos casos. Tanto a obra de Andr Brink como a do autor brasileiro foram autotraduzidas, ainda que por motivos diferentes: o escritor sul-africano foi influenciado pelo contexto histrico, pois sua obra havia sido proibida na frica por denunciar o apartheid, enquanto Ribeiro motivou-se por no encontrar um tradutor que aceitasse realizar o trabalho devido ao sergips usado em seus textos. Todavia, apesar de no compartilharem das mesmas razes, ambos os autores tinha um objetivo comum: atingir um nmero maior de leitores fora de seus pases de origem.Sabljo (2011) escreve um artigo sobre a autotraduo do autor bilngue irlands Samuel Beckett. A autora nos diz que o bilinguismo de Beckett fora involuntrio, pois ele havia nascido na Irlanda e, posteriormente, migrado para a Frana. Beckett escrevia em ingls e em seguida ou s vezes ao mesmo tempo traduzia para o francs, revisando, durante esse processo, seu prprio texto. Emergem aqui algumas questes: o que seria esse novo texto? Algo indito, paralelo ou uma continuao da obra original? O produto da autotraduo seria diferente daquele da traduo? Se Beckett foi um autor bilngue, seus leitores, crticos e tradutores precisariam, tambm, ser bilngues? Seria interessante, no entanto, retomarmos o comentrio de Brian Fitch, citado por Sabljo (2011): a autotraduo pode ser vista como uma espcie de comentrio crtico criativo em relao ao texto original.

A autotraduo remete-nos, sem dvida alguma, s questes outrora levantadas por Venuti (1998). Em Escndalos da Traduo, o autor nos guia em direo problemtica envolvida, entre outras questes, no que tange s definies de autoria em traduo. Neste sentido, volta-se a discusses que envolvem a melhor maneira de definir uma traduo e se um texto traduzido seria algo superior, inferior ou estaria em um mesmo nvel em relao ao texto original. Ora, as discusses do autor nos conduzem a pensar que, grosso modo, a traduo no seria simplesmente uma prtica, pois lida com questes amplas, alm de ser, no obstante, crucial para a definio de certos parmetros em uma determinada cultura. Autoria estaria, portanto, condicionada originalidade e autoexpresso em um texto nico, associada ao conceito de erudio. Pensando nesses conceitos, qual seria, ento, o lugar ocupado pela autotraduo? Como ela se insere dentro dos Estudos de Traduo? guisa de concluso, parece-nos que motivaes diferentes levam o escritor a optar por essa prtica: contexto scio-histrico, falta de confiana, por parte dos autores, nos tradutores etc. interessante observarmos que um dos objetivos dessas autotradues compartilhado, ainda que as razes no sejam as mesmas: aumentar o nmero de leitores de determinada obra em culturas estrangeiras. Deste modo, a autotraduo, assim como a traduo, capaz de perpetuar uma obra, difundindo-a por essas diversas culturas, nas quais os textos circulam.Referncias BibliogrficasANTUNES, M. A. G. Breve histria da autotraduo: os casos de Andr Brink e Joo Ubaldo Ribeiro. In Traduo em Revista,1, 2010, 1-11.

SABLJO, M. S. Becketts bilingualism, self-transtion and the translation of his texts into the Croatian language. (disponvel em: http://www.uab.ro/cercetare/ciel/jolie/JoLIE%202011/pdfs/12.sindicic_sabljo.pdf).