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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS REMBERTO MAURICIO DE LA CRUZ VARGAS VILTE SOROPREVALÊNCIA DE TOXOPLASMOSE, SÍFILIS, HEPATITE B, HEPATITE C, RUBÉOLA, CITOMEGALOVIROSE E DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA EM GESTANTES ATENDIDAS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTONIO PEDRO, NITERÓI, RJ. Niterói - RJ 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE MEDICINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS

REMBERTO MAURICIO DE LA CRUZ VARGAS VILTE

SOROPREVALÊNCIA DE TOXOPLASMOSE, SÍFILIS, HEPATITE B, HEPATITE C,

RUBÉOLA, CITOMEGALOVIROSE E DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA

IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA EM GESTANTES ATENDIDAS NO HOSPITAL

UNIVERSITÁRIO ANTONIO PEDRO, NITERÓI, RJ.

Niterói - RJ

2015

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REMBERTO MAURICIO DE LA CRUZ VARGAS VILTE

SOROPREVALÊNCIA DE TOXOPLASMOSE, SÍFILIS, HEPATITE B, HEPATITE C,

RUBÉOLA, CITOMEGALOVIROSE E DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA

IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA EM GESTANTES ATENDIDAS NO HOSPITAL

UNIVERSITÁRIO ANTONIO PEDRO, NITERÓI, RJ

Dissertação submetida ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Médicas da

Universidade Federal Fluminense, como

parte dos requisitos necessários à obtenção

do Grau de Mestre. Área de Concentração:

Ciências Médicas

Orientadora: Profª Dra. Solange Artimos de Oliveira

Coorientadora: Profª Dra. Kátia Martins Lopes de Azevedo

Niterói - RJ

2015

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V763

Vilte, Remberto Mauricio de la Cruz Vargas

Soroprevalência de toxoplasmose, sífilis, hepatite B, hepatite C, rubéola, citomegalovirose e da

infecção pelo vírus da imunodeficiência humana em

gestantes atendidas no Hospital Universitário Antonio

Pedro / Remberto Mauricio de la Cruz Vargas Vilte. –

Niterói, 2015.

102f.

Orientadora: Solange Artimos de Oliveira

Coorientadora: Kátia Martins Lopes de Azevedo

Dissertação (Mestrado em Ciências

Médicas)Universidade Federal Fluminense, Faculdade de

Medicina, 2015.

1. 1.Toxoplasmose. 2. Gestantes. 3. Soroprevalência de HIV. 4. Estudos Soroepidemiológicos. 5. Síndrome

de Imunodeficiência Adquirida. 6. Rubéola. 7.

Hepatite B. 8. Hepatite C. 9. Sífilis. 10.

Citomegalovírus. I. Título.

1.

CDD 616.9

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REMBERTO MAURICIO DE LA CRUZ VARGAS VILTE

SOROPREVALÊNCIA DE TOXOPLASMOSE, SÍFILIS, HEPATITE B, HEPATITE C,

RUBÉOLA, CITOMEGALOVIROSE E DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA

IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA EM GESTANTES ATENDIDAS NO HOSPITAL

UNIVERSITÁRIO ANTONIO PEDRO, NITERÓI, RJ

Dissertação submetida ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Médicas da

Universidade Federal Fluminense, como

parte dos requisitos necessários à obtenção

do Grau de Mestre. Área de Concentração:

Ciências Médicas

Aprovado em 15 de abril de 2015

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________

Profa. Dra. Claudete Aparecida Araújo Cardoso

Universidade Federal Fluminense

__________________________________________________________

Profa. Dra. Elba Regina Sampaio de Lemos

Fundação Oswaldo Cruz

__________________________________________________________

Profa. Dra. Fernanda Campos da Silva

Uiversidade Federal do estado de Rio de Janeiro

NITERÓI – RJ

2015

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Aos meus pais Juan de la Cruz e Blanca que

sempre me apoiaram e incentivaram.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me guiado e acompanhado sempre, mesmo nas horas difíceis e de

ansiedade.

Agradeço a minha orientadora Profª Dra. Solange Artimos de Oliveira pela excelência

profissional e dedicação acadêmica, pelo grande apoio, atenção e paciência na

realização deste trabalho.

Agradeço a minha coorientadora Profª Dra. Kátia Martins Lopes de Azevedo, exemplo

de sabedoria, incentivadora deste projeto, pelo convívio e aprendizado nas muitas

horas do ambulatório e pela confiança em mim depositada.

A todos os Professores da Disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias da

Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense, Antônio Carlos de

Medeiros Pereira, Ianick Souto Martins, Luiz Sergio Keim, Marcos Oliver Dalston, Ralph

Antônio Xavier Ferreira e à Dra. Patrícia Yvonne Maciel Pinheiro pelos ensinamentos

transmitidos e pelo cordial trato que sempre recebi.

Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas por ter me acolhido

como aluno bolsista/CAPES. Agradeço aos professores, em especial ao Professor

Sérgio Setúbal pelo incentivo e ensinamentos não só de medicina. À secretária

Orlandina da Silva e Souza Alvarenga pela gentileza e eficiência no atendimento.

Agradeço aos funcionários do Arquivo Médico do Hospital Universitário Antonio Pedro,

que foram incansáveis na localização dos mais de 1000 prontuários médicos utilizados

nesta dissertação e motivaram o surgimento de novas amizades.

A Carmem Jane, Milena e Marcel, pela carinho e amizade com que sempre me

brindaram. A Max Marcelino Rocha de Oliveira pela ajuda na formatação deste texto.

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.... Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a

minha fortaleza, e nele confiarei.

Salmos 91: 2b

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RESUMO

Os testes sorológicos efetuados de janeiro de 2008 a dezembro de 2012 foram

estudados com o objetivo de determinar a soroprevalência de toxoplasmose, sífilis,

hepatite B, hepatite C, rubéola, citomegalovírus e de infecção pelo vírus da

imunodeficiência humana (HIV) em 1038 gestantes acompanhadas no Hospital

Universitário Antônio Pedro, da Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de

Janeiro, Brasil. As prevalências encontradas foram: 61,4% (IgG) e 2,4% (IgM) para

toxoplasmose; 95,1% (IgG) e 0,5% (IgM) para rubéola; 95,1% (IgG) e 1,2% (IgM) para

citomegalovírus; 0,9% para hepatite B (HBsAg); 1,6% para hepatite C; 1,5% para sífilis

e 5,6% para infecção pelo HIV. Não houve, entre gestantes HIV positivas e negativas,

diferenças estatisticamente significativas nas frequências das infecções estudadas. As

taxas de transmissão vertical foram de 4,2% (2/48) para o HIV; 33,3% (5/15) para

toxoplasmose e 22,2% (2/9) para sífilis. Foram detectadas alterações compatíveis com

rubéola congênita em 1/5 criança cuja mãe apresentava IgM e IgG positivas para esta

infecção durante a gestação. Receberam vacina e imunoglobulina hiperimune 7/9

crianças expostas ao VHB. A coinfecção HIV/toxoplasmose ocorreu em uma criança. O

número de gestantes susceptíveis a toxoplasmose (38,8%) e ao VHB (66,3%) revela a

necessidade de medidas diagnósticas e preventivas da toxoplasmose durante a

gestação e vacinação para o VHB, visando diminuir o risco dessas infecções durante a

gravidez, melhorando assim a saúde materno-infantil.

Palavras-chave: Soroprevalência. Gestante. Infecção congênita.

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ABSTRACT

Serologic tests performed from January 2008 to December 2012 have been studied in

order to evaluate the seroprevalence of toxoplasmosis, syphilis, hepatitis B, hepatitis C,

rubella, cytomegalovirosis and human immunodeficiency virus (HIV) infection among

1038 pregnant women followed up at the Hospital Universitário Antônio Pedro,

Universidade Federal Fluminense, Niteroi, Rio de Janeiro, Brazil. The seroprevalences

found were 61.4% (IgG) and 2.4% (IgM) for toxoplasmosis; 95.1% (IgG) and 0.5% (IgM)

for rubella; 95.1% (IgG) and 1.2% (IgM) for cytomegalovirosis; 0.9% for hepatitis B

surface antigen; 1.6% for hepatitis C virus; 1.5% for syphilis and 5.6% for HIV infection.

There were no statistically significant differences between seroprevalences of patients

with or without HIV infection. The rates of congenital transmission were 4.2% (2/48) for

HIV; 33.3% (5/15) for toxoplasmosis and 22.2% (2/9) for syphilis. There were congenital

abnormalities in 1/5 newborn whose mother was soropositive for rubella IgG and/or IgM

in the prenatal routine. Newborns exposed to HBV (7/9) received hepatitis B

immunoglobulin and HBV vaccine. Co-infection HIV/toxoplasmosis was found in one

newborn. The large proportion of pregnant women susceptible to toxoplasmosis

(38.8%) and hepatitis B (66.3%) shows the necessity of diagnostic and preventive

measures for toxoplasmosis and HBV vaccination, in order to decrease the risk of these

congenitally transmitted infections, thus improving the health of mother and newborn.

Key-words: Seroprevalence. Pregnant. Congenital infection.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Características sociodemográficas da população de acordo com o

resultado do exame sorológico para o HIV.......................................................... 46

Tabela 2 – Soroprevalência de toxoplasmose, rubéola, CMV, hepatite B,

hepatite C, sífilis, e HIV em gestantes atendidas no HUAP no período 2008 a

2012..................................................................................................................... 48

Tabela 3 – Frequência das infecções estudadas de acordo com o resultado da

sorologia para o HIV............................................................................................ 51

Tabela 4 – Frequência das infecções estudadas (rubéola, CMV,

toxoplasmose, sífilis) de acordo com o resultado com a faixa etária das

gestantes ............................................................................................................ 52

Tabela 5 - Frequência das infecções causadas pelo vírus da hepatite B e C de

acordo com a faixa etária das gestantes ............................................................ 53

Tabela 6 – Desfecho das crianças expostas à infecção por toxoplasma,

rubéola, hepatite B, hepatite C, sífilis, CMV e HIV.............................................. 56

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LISTA DE ABREVIATURAS

Anti-HBs – anticorpo contra o antígeno de superfície da hepatite B

CMV – citomegalovírus

DNA – ácido desoxiribonucleico

EUA – Estados Unidos de América

IgG – anticorpo da classe imunoglobulina G

IgM - anticorpo da classe imunoglobulina M

IMC – Índice de massa corporal

HBsAg – antígeno de superfície da hepatite B

HIV – human imunodeficiency vírus; vírus da imunodeficiência humana

HPV - human papiloma virus

HUAP - Hospital Universitário Antônio Pedro

PCR - polimerase chain reaction; reação em cadeia da polimerase

RNA - ácido ribonucleico

SRC – síndrome de rubéola congênita

SUS – Sistema Único de Saúde

TARV – Terapia antirretroviral

UFF – Universidade Federal Fluminense

VDRL - Venereal Disease Research Laboratory

VHB – vírus da hepatite B

VHC – vírus da hepatite C

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 15

1.1 TOXOPLASMOSE .................................................................................... 15

1.2 RUBÉOLA ................................................................................................. 18

1.3 HEPATITE B ............................................................................................. 20

1.4 HEPATITE C ............................................................................................. 23

1.5 SÍFILIS ...................................................................................................... 25

1.6 CITOMEGALOVÍRUS ............................................................................... 27

1.7 VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA ............................................. 30

2 JUSTIFICATIVA .......................................................................................... 32

3 OBJETIVOS ................................................................................................ 33

3.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................... 33

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................... 33

4 CASUÍSTICA E MÉTODOS ........................................................................ 34

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4.1 DESENHO, PERÍODO DE ESTUDO E POPULAÇÃO ENVOLVIDA ....... 34

4.2 AMBIENTE DO ESTUDO ......................................................................... 34

4.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO ..................................................................... 36

4.4 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO................................................................... 36

4.5 COLETA DE DADOS ................................................................................ 37

4.6 VARIÁVEIS ESTUDADAS ........................................................................ 37

4.7 TESTES LABORATORIAIS ...................................................................... 37

4.8 DEFINIÇÃO DE CASO ............................................................................. 39

4.8.1 Transmissão vertical do HIV ............................................................... 39

4.8.2 Sindrome de rubéola congênita ......................................................... 40

4.8.3 Toxoplasmose congênita .................................................................... 41

4.8.4 Citomegalovirose congênita ............................................................... 42

4.8.5 Transmissão vertical da hepatite B .................................................... 43

4.8.6 Transmissão vertical da hepatite C .................................................... 43

4.8.7 Sífilis congênita ................................................................................... 43

4.9 ANÁLISE ESTATÍSTICA ........................................................................... 44

5 RESULTADOS ............................................................................................ 45

5.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA POPULAÇÃO .................................... 45

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5.2 ESTUDO DE SOROPREVALÊNCIA ......................................................... 47

5.3 COMORBIDADES ..................................................................................... 50

5.4 TRANSMISSÃO VERTICAL ...................................................................... 54

6 DISCUSSÃO ................................................................................................ 57

7 CONCLUSÕES ............................................................................................ 68

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ………………………………………….. 69

APÊNDICE 1 ................................................................................................. 86

APÊNDICE 2 .................................................................................................. 88

ANEXO ............................................................................................................ 102

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1 INTRODUÇÃO

A toxoplasmose, a rubéola, a hepatite B, a hepatite C, a sífilis, a citomegalovirose

e a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) são doenças infecciosas que

podem acometer gestantes e ser transmitidas por via vertical ao concepto. Essas

infecções, na maioria das vezes assintomáticas no adulto, inclusive na gestante,

podem determinar graves consequências quando contraídas pela criança durante o

período grávido-puerperal, seja no decorrer da gestação, seja no momento do parto ou

durante o aleitamento materno. Portanto, a realização de testes sorológicos no período

pré-natal é essencial, independentemente da sintomatologia, permitindo o diagnóstico

dessas infecções e a adoção de condutas que possibilitem reduzir os malefícios à

saúde neonatal (Figueiró-Filho et al., 2007).

1.1 TOXOPLASMOSE

A toxoplasmose é causada pelo Toxoplasma gondii, um protozoário que infecta

seres humanos na forma de oocistos (excretados nas fezes dos gatos) ou de cistos

(presentes em músculos e vísceras de animais). As vias mais comuns de aquisição da

doença são o contato com gatos e a ingestão de carnes mal cozidas ou de verduras

mal lavadas. Nas últimas décadas, evidenciou-se a importância da disseminação desta

infecção pela contaminação da água potável (Bahia-Oliveira et al., 2003). A prevalência

da infecção varia dependendo de fatores sociais, culturais, econômicos e climáticos em

diferentes regiões. Inquéritos sorológicos realizados nos EUA revelam que a

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soroprevalência varia de 5% entre índios Navajos no Arizona a 40% ou mais em Nova

Orleans e outras regiões (Montoya et al., 2010). Na Espanha a soroprevalência entre

gestantes varia de 14,4 a 44% (Sampedro et al., 2010). No Brasil, a soroprevalência

em gestantes varia de 31% no Rio Grande do Sul, segundo Detanico e colaboradores

(2006) até 91% no Mato Grosso do Sul, em estudo realizado por Figueiró-Filho e

colaboradores (2007).

A transmissão vertical da toxoplasmose pode provocar aborto, prematuridade ou

baixo peso ao nascer, sendo a gravidade da doença inversamente proporcional à

precocidade da infecção. A infecção congênita pode ser inaparente ou manifestar-se

por combinações variadas de anemia, trombocitopenia, icterícia, hepatomegalia,

pneumonia, coroidorretinite, estrabismo, cegueira, microftalmia, encefalite, retardo

mental e malformações do sistema nervoso central, como microcefalia, hidrocefalia,

calcificações intracranianas e retardo psicomotor (Montoya et al., 2010).

O diagnóstico é feito mediante pesquisa, no soro da gestante, de anticorpos do

tipo IgM e IgG específicos para T. gondii, devendo ser solicitada na primeira consulta

pré-natal. A presença de Imunoglobulina (Ig) M, com ou sem valores crescentes de

IgG, sugere infecção recente. A infecção identificada durante a gestação ou no recém-

nascido deve ser tratada com antimicrobianos (Olbrich Neto & Meira, 2004). O teste de

avidez de anticorpos IgG é um método empregado para o manejo de gestantes com

toxoplasmose aguda e analisa a força de ligação do complexo antígeno-anticorpo. Na

fase aguda da doença, uma vez que a síntese de anticorpos é recente, a ligação do

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complexo antígeno-anticorpo (Ag – Ac) é facilmente dissociável, concluindo que a IgG

tem baixa avidez pelo antígeno. Já na fase crônica, formam-se complexos Ag – Ac de

difícil dissociação, representando um resultado de IgG de alta avidez, ou seja, síntese

já antiga dos anticorpos. Esse teste é útil para estimar a época aproximada em que

ocorreu a infecção e só tem validade quando realizado em soros que apresentem

reações positivas para os anticorpos IgG e IgM. Valores de avidez dos anticorpos IgG

inferiores a 30% (baixa avidez), sugerem que a infecção tenha ocorrido em prazo

inferior a 12 semanas. Valores superiores a 60% (alta avidez) indicam que infecção

pelo T. gondii ocorreu há mais de 12 semanas (Figueiró-Filho et al., 2005).

A maneira mis eficaz e simples de diminuir a ocorrência de toxoplasmose

congênita é orientar as gestantes, especialmente às susceptíveis (que apresentem

reações negativas para os anticorpos IgG e IgM), a respeito das medidas preventivas

para evitar a aquisição da doença durante a gestação. As orientações higieno-

dietéticas recomendadas às gestantes nessa situação são: lavar cuidadosamente

frutas e verduras antes do consumo; não ingerir qualquer tipo de carne crua ou mal

passada; não consumir agua que não seja fervida ou filtrada; evitar contato com fezes

de gatos; evitar mexer em areia, terra ou jardins (usar luvas caso necessário);

higienizar muito bem as mãos após o manuseio de carnes cruas e vegetais e proteger

os alimentos de insectos como moscas e baratas (Brasil, 2011a).

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1.2 RUBÉOLA

A rubéola é infecção causada por um vírus pertencente ao gênero Rubivírus,

família Togaviridae, transmitido por meio de secreções nasofaríngeas. Trata-se de uma

virose exantemática benigna, mas assume potencial gravidade para o feto quando

ocorre durante a gestação, podendo causar malformações congênitas e infecção

crônica no concepto. O recém-nascido pode apresentar uma síndrome multissistêmica

denominada síndrome da rubéola congênita (SRC), caracterizada por retardo do

crescimento intrauterino e acometimento de vários sistemas orgânicos, com

microftalmia, catarata uni ou bilateral, cardiopatia, alterações auditivas e retardo mental

(Oliveira & Setúbal, 2012).

Os efeitos do vírus da rubéola no feto dependem do momento em que a infecção

ocorre: quanto mais precocemente o feto é afetado, mais grave a doença. Geralmente

a infecção materna é assintomática e o diagnóstico é estabelecido pela pesquisa

sorológica de anticorpos do tipo IgM e IgG específicos. É importante ressaltar que IgM

negativa não afasta a doença , uma vez que a duração da positividade do teste

usualmente é de 12 semanas . Não há tratamento específico para a infecção, mas a

mesma pode ser evitada pela vacinação da mulher antes da gestação (Oliveira &

Setúbal, 2012).

O resultado da vacinação contra rubéola em diversos países está refletido na

prevalência de anticorpos contra rubéola que pode alcançar 100%, em estudo realizado

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em mulheres grávidas na Espanha por Gutierrez-Zufiaurre e colaboradores (2004) e de

94,3% em Samsun, na Turquia, segundo Uyar e colaboradores (2008). No Brasil,

campanhas de vacinação contra a rubéola tiveram início em 1992 com o uso da vacina

tríplice viral (VTV) (sarampo, caxumba e rubéola), que no ano de 2000 já estava

instituída em todos os estados. A prioridade foi, naquela ocasião, imunizar as crianças

de um a 11 anos. No calendário vacinal do Ministério da Saúde foi também introduzida

uma dose da VTV aos 15 meses de vida. Entre os anos de 2001 e 2002 fez-de, com o

objetivo de controlar a doença e prevenir a SRC, uma campanha de vacinação em

massa em duas fases. O objetivo desta vez era imunizar mulheres de 12 a 30 anos de

idade, o que teve como resultado a diminuição de notificação de casos de SRC. A

notificação compulsósia dos casos de rubéola congênita passou a ser feita em 1996 e,

a partir de 1999, houve uma redução de aproximadamente 95% no número de casos

de rubéola em crianças até 2002. Houve, a seguir, uma elevação dos casos entre

adultos jovens entre os anos de 2003 e 2007, fato que motivou a intensificação da

vigilância epidemiológica, assim como a vacinação para as mulheres em idade fértil,

que passou a abranger também homens de até 39 anos (Brasil, 2008a). Inagaki e

colaboradores (2009) encontraram uma prevalência de anticorpos contra a rubéola em

71,6% entre gestantes com idades de 10 a 53 anos em Aracajú, Sergipe, e Gonçalves

e colaboradores (2010) de 93,1% entre gestantes de 13 a 44 anos atendidas em

unidade de alto risco gestacional em São José do Rio Preto, São Paulo.

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Em estudo realizado na Argentina, a prevalência de anticorpos IgG para rubéola

foi de 98%. Essa alta prevalência pode refletir uma cobertura vacinal de longa data,

resultado de campanhas de vacinação de cobertura nacional (Pedranti et al., 2007).

1.3 HEPATITE B

A hepatite viral é uma doença de distribuição mundial e de alta morbidade,

constituindo um importante problema de saúde pública. Causada pelo vírus B (VHB), a

hepatite do tipo B é a principal causa de hepatopatia crônica em todo o mundo.

Acredita-se que cerca de 400 milhões de pessoas estejam infectadas por esse agente

e que 15 a 40% dos indivíduos com a infecção irão desenvolver cirrose, insuficiência

hepática ou carcinoma hepatocelular (Gonçalves Junior, 2007). Como o VHB está

presente no sangue, na saliva e no esperma, sua transmissão ocorre por via sexual,

vertical ou parenteral. Dados epidemiológicos demonstram que a transmissão vertical é

responsável por 35 a 40% dos novos casos de hepatite B em todo o mundo e é por

meio dela que o vírus é mantido na população. A transmissão vertical ocorre

geralmente com exposição ao sangue durante o trabalho de parto, sendo que a

transmissão do VHB no útero é rara (inferior a 2% das infecções perinatais). O risco de

transmissão vertical do VHB é de 70 a 90% para os bebês nascidos de mães HBsAg e

HBeAg positivas, e de 5 a 20% para bebês nascidos de mães HBsAg positivas e

HBeAg negativas, e que não receberam profilaxia pós-exposição em ambos os casos.

Aproximadamente 45% da população mundial vive em regiões com alta endemicidade

do VHB (prevalência acima de 8%) como na África, sudeste Asiático e algumas ilhas do

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Pacífico. Nessas regiões, a transmissão vertical é a principal via de infecção do VHB.

Em regiões com endemicidade intermediária (prevalência entre 2 e 7%) como no norte

e sul da Ásia e o leste Europeu, as vias de transmissão do VHB são a vertical, sexual e

parenteral. Em regiões com baixa endemicidade (prevalência inferior a 2%) como nas

Américas, Europa ocidental, Caribe, Austrália e Nova Zelanda, onde se tem

implementado programas de vacinação contra o VHB, o pico das infecções pelo VHB

acontece em pessoas não imunizadas (American Academy of Pediatrics, 2012).

No Brasil, a prevalência é considerada como intermediária, apresentando níveis

elevados (5 a 15%) na região amazônica e pequena taxa de prevalência na região sul

(0,5 a 1%). Nas regiões do nordeste, centro-oeste e sudeste há variação de 1 a 3%

(Marinho et al., 2012).

No período de 2005 a 2012 foram notificados ao Sistema Nacional de Agravos de

Notificação (SINAN) do Estado do Rio de Janeiro, 5.226 casos confirmados de hepatite

B, sendo que 72,1% dos casos foram classificados como forma crônica, 19,2% como

forma aguda e 0,2% como forma fulminante. Nos casos agudos, a frequência foi maior

nas faixas etárias de 13 a 19 anos (30,4%) e de 25 a 29 anos (27,9%). Nesse período,

a taxa de detecção de hepatite B foi de 3,4 casos para cada 100 mil habitantes em

2005 elevando-se para 4,6 casos por 100 mil habitantes no ano de 2012 (Secretaria de

estado da Saúde de Rio de Janeiro, 2014).

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A hepatite B é considerada doença crônica quando a infecção dura mais de seis

meses. Em geral, 5 a 10% dos adultos infectados evoluem para a forma crônica.

Práticas adequadas para prevenção e detecção de gestantes infectadas podem

contribuir para evitar a transmissão da mãe para filho e reduzir o impacto dessa

infecção. A infecção pode ser prevenida pela vacinação. Se a gestante estiver

infectada, há indicação de imunoglobulina hiperimune anti-hepatite B e vacina da

hepatite B para o recém-nascido, aplicadas em locais diferentes até 12 horas após o

nascimento, para evitar que este se infecte (Marinho et al., 2012).

No Brasil a vacinação contra hepatite B foi instituída gradativamente pelo

Programa Nacional de Imunizações no final da década de 1980. Até o ano de 2010 a

vacinação era indicada na rotina para menores de 20 anos, no ano de 2011 foi

estendida aos menores de 24 anos. Em 2012, foi ampliada para os jovens com até 29

anos, e desde 2013, ampliada até 49 anos (Brasil 2013a). A vacina contra a hepatite B

está indicada para gestantes em qualquer faixa etária e idade gestacional. Nas

crianças, deve ser administrada a partir do nascimento, preferencialmente nas

primeiras 12 horas para evitar a transmissão vertical da doença. A vacinação contra a

hepatite B é também recomendada para grupos priorizados com alto risco de

exposição ou maior vulnerabilidade à transmissão, mesmo fora da faixa etária (Brasil,

2014a).

Entre gestantes, a prevalência da hepatite B (identificada pela presença do antígeno de

superfície do VHB – HBsAg) varia de 0,3% no Mato Grosso do Sul (Botelho et al.,

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2008) a 1,8% em São José do Rio Preto, SP (Gonçalves et al., 2010). Inquéritos

sorológicos feitos na Espanha demonstraram uma prevalência de 0,4 a 2,6%

(Sampedro et al., 2010), estes percentuais atingem 12,9 a 19,5% em Burkina Faso, na

África (Collenberg et al., 2006), e até 31,3% no Sudão (Ahmed et al., 2008).

1.4 HEPATITE C

A hepatite C é causada pelo vírus da hepatite C (VHC). A transmissão ocorre por

via parenteral e o maior risco de infecção ocorre com o emprego de hemoderivados ou

com uso de drogas endovenosas. Nos EUA, a prevalência da infecção pelo VHC é

estimada em 1,3% na população em geral, 0,2% entre menores de 12 anos de idade e

de 1 a 2% entre as gestantes. O risco de transmissão vertical do VHC varia de 5 a 6%,

e ocorre apenas em mulheres que são VHC-RNA positivas na época do parto. A

coinfecção materna VHC-HIV tem sido associada com risco elevado de transmissão

vertical do VHC, o que depende, em parte, dos títulos séricos maternos de VHC-RNA.

As crianças nascidas de mulheres infectadas pelo VHC devem ser testadas para

anticorpos anti-VHC após 18 meses de vida, considerando que a duração dos

anticorpos maternos passivos no recém nascido é de aproximadamente 18 meses

(American Academy of Pediatrics, 2012). A transmissão intrauterina do VHC é 50%

mais frequente que a do VHB, causando retardo no crescimento intrauterino,

prematuridade ou risco de desenvolver hepatopatia crônica. O diagnóstico é realizado

mediante detecção do genoma do vírus pela reação em cadeia da polimerase

(polymerase chain reaction – PCR) ou pela pesquisa de anticorpos anti-VHC utilizando

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testes sorológicos. Atualmente, o interferon–alfa e a ribavirina estão sendo utilizadas no

tratamento que, acima de tudo, tenta inibir a replicação viral e a progressão para

cirrose e câncer de fígado, mas não cura da doença. Estes medicamentos são, no

entanto, contraindicados em gestantes (Le Campion et al., 2012). Mais recentemente

introduziu-se no arsenal terapêutico o telaprevir e o boceprevir, ambos inibidores da

protease (Brasil, 2012a). No início de 2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA) registrou um novo medicamento, o daclatasvir, de uso oral e com maior

eficácia, além de reduzir o tempo de tratamento. Outros dois medicamentos, o

sosfosbuvir e o simeprevir, ainda estão sendo avaliados para o tratamento da hepatite

C (Brasil, 2015). Não existe vacina que possa ser usada na prevenção e a

administração de gamaglobulina hiperimune não tem eficácia comprovada (American

College of Obstetricians and Gynecologists, 2007).

No período de 2005 a 2012 foram notificados 6.162 casos confirmados de

hepatite C em residentes no Estado do Rio de Janeiro. No ano de 2012, a taxa de

detecção de hepatite C foi de 10,1 por 100 mil habitantes, sendo que taxas mais

elevadas foram registradas nos municípios de Niterói (25,6) e Maricá (11,1) (Secretaria

de estado da Saúde de Rio de Janeiro, 2014).

A prevalência de hepatite C em gestantes na Europa varia de 0,08 a 0,8% no

Reino Unido (Ades et al., 2000) e 0,38% na Espanha (Gutiérrez-Zufiaurre et al., 2004).

Na Itália observou-se uma prevalência de 24,4% entre gestantes infectadas pelo HIV

(Floridia et al., 2010). A prevalência nos países da África varia de 2% em Uganda e

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Ruanda (Pirillo et al., 2007) até 5,1% em Burkina Faso (Simpore et al., 2005). No Egito,

a prevalência é notavelmente mais alta, variando de 12 a 30% (Stoszek et al., 2006).

No Brasil, inquéritos sorológicos demostram prevalência de 0,2% no Mato Grosso

do Sul (Gardenal et al., 2011) e de 2,7% no Rio Grande do Sul (Peixoto et al., 2003).

1.5 SÍFILIS

A sífilis é uma doença infecciosa causada pelo Treponema pallidum, uma

espiroqueta que pode ser transmitida por via sexual, por transfusão de sangue

contaminado ou da mãe infectada para o bebê durante a gestação ou o parto. O T.

pallidum tem a capacidade de infectar o feto independentemente do período

gestacional e causar abortamento, morte intrauterina, má formação fetal ou morte ao

nascer (Szwarcwald et al., 2007).

Segundo dados do Ministério da Saúde do Brasil (Brasil, 2011b) a incidência da

sífilis passou de 1,3 casos/1000 nascidos vivos em 2000 para 1,9 casos/1000 nascidos

vivos em 2005, variando com a região do país. Em 2011, foram notificados no país

mais de nove mil casos de sífilis congênita, com uma taxa de incidência de 3,3 casos

por 1.000 nascidos vivos, com a concentração de casos nas regiões sudeste e

nordeste. O estado do Rio de Janeiro, com 12,7 casos por 1.000 nascidos vivos, em

2012, representou a maior incidência do país (Secretaria de estado da Saúde de Rio de

Janeiro, 2014). A sífilis congênita pode se manifestar logo após o nascimento, durante

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os dois primeiros anos de vida da criança ou mesmo depois. Ao nascer, a criança pode

apresentar pneumonia, lesões cutâneas, cegueira, alterações ósseas, surdez ou

deficiência mental. O diagnóstico se dá por meio do exame sorológico e deve ser

realizado no primeiro trimestre da gravidez. O recomendado é fazer o teste duas vezes

durante a gestação e repeti-lo antes do parto, na maternidade. Se a gestante não fez

acompanhamento pré-natal, o exame deve ser realizado imediatamente antes do parto.

O principal problema da sífilis é o curso assintomático da infecção, cujo diagnóstico

baseia-se na realização de exames laboratoriais. Uma vez identificada a presença da

infecção, está indicado o tratamento antimicrobiano com penicilina G benzatina para a

mãe e penicilina G cristalina para o recém-nascido e, posteriormente, a realização de

controle mensal, para comprovar a diminuição do título de anticorpos no sangue até a

cura (Tramont, 2010).

Estudos realizados na Espanha, identificaram que a prevalência de sífilis em

gestantes variou de 0% em Salamanca (Gutiérrez-Zufiaurre et al., 2004), 0,3% em

Alicante (Ramos et al., 2007) e 0,1 a 3,5% em Granada (Sampedro et al., 2010).

Países da África apresentam níveis baixos de prevalência de sífilis em grávidas,

tais como 0% na República Democrática do Congo (Moleka et al., 2008) e na Etiópia

(Ramos et al., 2011), 3% na Nigéria (Taiwo et al., 2007) e 2,5 a 7,3% em Malaui,

Zâmbia e Tânzania (Potter et al., 2006).

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Na América do Sul, inquéritos sorológicos realizados em gestantes mostraram

prevalência de 0,6% em Lima, Peru (Alarcon et al., 2003) e 4,5% em Cochabamba,

Bolívia (Vargas et al., 2009).

No Brasil, um estudo realizado por Miranda e colaboradores (2001) no Espírito

Santo demonstrou que a prevalência de sífilis entre gestantes era de 3%, valor próximo

ao observado por Lima e colaboradores (2009) também no Espírito Santo (3,6%) e por

Botelho e colaboradores (2008) no Mato Grosso do Sul (2,7%). Já em São José do Rio

Preto, São Paulo, a prevalência encontrada para sífilis foi de 0,9% (Gonçalves et al.,

2010), similar à prevalência encontrada em Aracaju, Sergipe (Inagaki et al., 2009) e em

Botucatu, São Paulo (Olbrich Neto et al., 2004). No Amazonas, a prevalência

encontrada foi de 1% (Machado Filho et al., 2010).

1.6 CITOMEGALOVÍRUS

O citomegalovírus (CMV) é um beta-herpesvírus humano que pertence ao gênero

Cytomegalovirus, da família Herpesviridae (International Committee on Taxonomy of

Viruses, 2015), presente em todas as regiões do mundo. A prevalência da infecção

varia com as condições socioeconômicas locais e apresenta taxas de 60 a 70% nos

EUA, atingindo quase 100% na África. O CMV pode permanecer no hospedeiro por

toda a vida, o que pode resultar em manifestações clínicas graves, especialmente nos

indivíduos imunodeprimidos, tais como os infectados pelo HIV, os receptores de

transplante de órgãos, as pessoas que estão em uso de drogas imunossupressoras,

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com câncer ou durante a gestação. O CMV pode causar diversas manifestações

clínicas como pneumonia, esofagite, encefalite, hepatite, pancreatite, gastrite, enterite,

colite e retinite. O CMV se replica nas células epiteliais da árvore respiratória, das

glândulas salivares e dos rins e está frequentemente presente nas secreções

biológicas como sêmen, saliva, urina, leite materno e secreção cervicovaginal,

especialmente na fase final da gestação. A transmissão horizontal se dá geralmente

por contato íntimo com essas secreções, mas pode dar-se também por transfusão de

sangue ou por transplante de órgãos. Já a transmissão vertical é a que se dá durante a

gestação, ora por via transplacentária, ora no momento do parto, ora no período pós-

natal, pelo aleitamento materno (Lima, 2012).

A prevalência da infecção congênita por CMV varia de 0,2 a 2,6%. Cerca de 90%

das crianças são assintomáticas ao nascimento. A doença disseminada intrauterina

caracteriza-se por retardo no crescimento intrauterino, hepatoesplenomegalia, icterícia,

envolvimento pulmonar e prematuridade. A infecção é mais grave quando o primeiro

contato materno com o vírus ocorre durante a gestação. A doença que surge no recém-

nascido manifesta-se por sepse, colite ou hepatite e por infecção dos sistemas retículo

endotelial e nervoso central. Este último acometimento pode resultar em atraso mental

e surdez neurossensorial. Existe também risco de cegueira cortical, atrofia óptica,

cicatrizes da mácula, estrabismo, calcificação cerebral, microcefalia e convulsões

(Crumpacker & Zhang, 2010).

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Em Nagasaki, Japão, um estudo soroepidemiológico da infecção pelo CMV em

gestantes demostrou 87,2% de soropositividade de anticorpos IgG anti-CMV (Tagawa

et al., 2010). No Panamá, a soroprevalência de CMV entre gestantes foi de 83,9% e

não houve associação significativa entre a prevalência e a idade, paridade, nível

socioeconômico ou escolaridade (Estripeaut et al., 2007). Na cidade de Turku,

Finlândia, a soroprevalência de CMV em gestantes foi de 56,3%. Não houve influência

significativa da área de residência (urbana ou rural). Estes resultados foram tidos como

concordantes com os descritos na Europa (Alanen et al., 2005).

Em um estudo realizado em Vitória, Espírito Santo, Brasil, a soroprevalência de

CMV em gestantes foi de 98%, mostrando variações relacionadas ao baixo nível

socioeconômico (Spano et al., 2004).

O diagnóstico pode ser feito por isolamento viral em cultura de fluidos corporais,

principalmente urina; pela detecção de anticorpos IgM e IgG no sangue, através de

métodos sorológicos; ou pela detecção do vírus pela PCR. O tratamento das formas

graves é feito com drogas que inibem a DNA-polimerase viral como ganciclovir,

foscarnet e cidofovir. A gestante com infecção primária pelo CMV pode ser tratada com

imunoglogulina anti-citomegalovírus para reduzir a gravidade da infecção fetal. Até o

momento, o tratamento é de suporte e multidisciplinar. Assim, a melhor forma de

combater a infecção fetal é a prevenção da infecção materna com medidas como

lavagem das mãos, e evitar contato com secreções corpóreas contaminadas

(Crumpacker & Zhang, 2010).

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1.7 VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA

A epidemia de HIV/aids constitui um dos mais importantes problemas de saúde

pública das últimas décadas no mundo. Houve, desde o início da década de 1980, uma

mudança no perfil epidemiológico inicial, cuja característica era a de acometer

particularmente grupos vulneráveis como homossexuais masculinos, usuários de

drogas injetáveis e profissionais do sexo. A partir dos anos 1990, no entanto, as taxas

de transmissão heterossexual elevaram-se progressivamente (Brasil, 2012b).

O HIV é transmitido principalmente por via sexual. No Brasil, a prevalência da

infecção é de 0,4% na população geral, com uma tendência de taxas mais altas entre

os mais jovens em populações de maior risco e vulnerabilidade, tais como as

profissionais do sexo (prevalência de 4,9%) e os usuários de drogas injetáveis

(prevalência de 5,9%). A taxa de mortalidade por HIV/aids em 2012 foi de 5,5

óbitos/100.000 habitantes (Brasil, 2013b).

Aproximadamente 80% das pessoas com aids encontram-se na faixa etária

reprodutiva. Segundo estudo realizado por Szwarcald e Souza-Jr (2006) com

parturientes de 15 a 49 anos de idade oriundas de todas as regiões do país, a taxa de

prevalência de mulheres portadoras do HIV no momento do parto era de 0,4%. Entre

2008 e 2009, cerca de 6.000 mulheres que sabidamente viviam com HIV engravidaram

(Brasil, 2010).

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Em estudo mais recente envolvendo parturientes, observou-se uma prevalência

de HIV de 0,4%, o que correspondia, no ano do estudo (2010) a 12.177 gestantes

infectadas pelo HIV. A maior parte dessas gestantes tinha entre 20 e 29 anos de idade.

A taxa de detecção de casos de HIV em gestantes no Brasil em 2012 correspondeu a

2,4 casos/1.000 nascidos vivos. Entre 2003 e 2012 houve um aumento de 26,3% na

taxa de detecção de HIV em gestantes (Brasil, 2013b). No período de 2000 a 2012, no

Estado do Rio de Janeiro, as maiores proporções de casos de aids em parturientes

estavam concentradas na faixa etária de 20 a 29 anos (3.108 mulheres - 52,9% do

total). A segunda faixa etária de maior frequência nesse período foi a de 30 a 39 anos

(1.475 mulheres -25,1%) (Secretaria de Estado da Saúde de Rio de Janeiro, 2014).

Na ausência de qualquer tratamento, a taxa de transmissão do HIV de mãe para

filho durante a gravidez, pode variar de 25 a 30%, sendo que deste percentual 25%

correspondem à transmissão intrauterina e 75% à transmissão intraparto. O

aleitamento materno está associado a um risco adicional de transmissão vertical do

HIV de 7 a 22%. Portanto, toda mãe infectada pelo HIV deve ser orientada a não

amamentar (Brasil, 2010). É importante ressaltar que a puérpera soronegativa para o

HIV deve ser orientada sobre a prevenção da infecção após o parto, principalmente

com o uso de preservativos, a fim de se evitar a infecção da criança em caso de

primoinfecção da mãe no período de lactação (Brasil, 2014b). Com a implementação

de medidas profiláticas, a taxa de transmissão vertical caiu a menos de 1% (Brasil,

2010). A taxa nacional de transmissão vertical apresentou redução de 67,8% entre

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1988 e 2007, porém com ampla variação regional. No Brasil, a taxa de transmissão

vertical em 2000 foi de 8,6% caindo para 7% em 2004 (Brasil, 2008b).

A testagem para HIV é recomendada no primeiro trimestre da gravidez. Se a

gestante não teve acesso ao pré-natal adequado, a testagem deve ser feita no terceiro

trimestre da gestação, na hora do parto ou mesmo no puerpério. Os medicamentos

antirretrovirais devem ser prescritos para a gestante, durante a gravidez e o parto, e

para o recém-nascido, a fim de reduzir a possibilidade da transmissão do HIV para o

bebê (Brasil, 2010). Está recomendado o início de TARV para todas as gestantes,

independentemente da presença de sintomas ou da contagem de linfócitos T-CD4+.

Recomenda-se também a manutenção da terapia antirretroviral após o parto,

independentemente do nível de linfócitos T-CD4+ no momento do início (Brasil, 2013c).

2 JUSTIFICATIVA

Considerando a importância do conhecimento das principais doenças infecciosas

em gestantes que podem ser transmitidas para o feto e a escassez de publicações

nacionais sobre prevalência das infecções de transmissão vertical, é de grande

relevância um estudo que possa auxiliar no planejamento de ações preventivas e na

elaboração de políticas de saúde materno-infantil. Os resultados deste estudo podem

contribuir na elaboração de medidas preventivas ou na adoção de condutas que

possibilitem diminuir o risco da transmissão vertical dessas infecções, mediante um

melhor conhecimento do perfil sorológico das gestantes durante o período pré-natal.

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3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Determinar a prevalência de anticorpos para toxoplama, sífilis, hepatite B, hepatite

C, rubéola, citomegalovírus e HIV em gestantes, durante o atendimento pré-natal

realizado no Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) no período de janeiro de

2008 a dezembro de 2012.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Verificar a possível associação da prevalência de anticorpos para as infecções

avaliadas com variáveis sócio-demográficas e clínicas;

Comparar a soroprevalência dos anticorpos para toxoplasma, rubéola, sífilis,

hepatite B, hepatite C e citomegalovírus entre as gestantes infectadas pelo HIV com as

gestantes não infectadas com o HIV;

Determinar frequência de gestantes HBsAg positivas e a instituição da profilaxia

nos recém natos nestes casos;

Determinar a frequência de transmissão vertical das infecções estudadas.

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4 CASUÍSTICA E MÉTODOS

4.1 DESENHO, PERÍODO DE ESTUDO E POPULAÇÃO ENVOLVIDA

Trata-se de um estudo de corte transversal, feito por meio de revisão dos exames

laboratoriais registrados nos prontuários médicos de gestantes atendidas no

ambulatório de Pré-Natal do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) no período

de 01/01/2008 a 31/12/2012. Nos casos em que houve suspeita clínica e/ou laboratorial

de transmissão vertical das infecções estudadas procedeu-se a um estudo descritivo

dos casos, mediante a revisão dos prontuários médicos dos recém-nascidos.

4.2 AMBIENTE DO ESTUDO

O HUAP está vinculado à Universidade Federal Fluminense (UFF) e é a maior e

mais complexa unidade de saúde situada no centro da cidade de Niterói e, portanto,

considerado na hierarquia do Sistema Único de Saúde (SUS) como hospital de nível

terciário e quaternário, isto é, unidade de saúde de alta complexidade de atendimento.

O HUAP atende a população da Região Metropolitana II do estado de Rio de Janeiro

que engloba, além de Niterói, as cidades de Itaboraí, Maricá, Rio Bonito, São Gonçalo,

Silva Jardim e Tanguá. Pela proximidade com a cidade do Rio de Janeiro, atende

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também parte da população desse município. Nesse contexto, o serviço de Pré-Natal

do HUAP presta atendimento a pacientes com fatores de risco à gravidez. Tais fatores

podem ser divididos nas quatro seguintes características:

(a) Características individuais e condições sociodemográficas desfavoráveis, isto é,

idade menor que 17 e maior que 35 anos; ocupação com esforço físico, exposição a

agentes físicos, químicos, biológicos e estresse; situação conjugal insegura; baixa

escolaridade; altura menor que 1,45 m; peso menor que 45 kg e maior que 75 kg

(IMC<19 e IMC >30); anormalidades estruturais nos órgãos reprodutivos; dependência

de drogas lícitas ou ilícitas, fumo e álcool;

(b) Características da história reprodutiva anterior: morte perinatal explicada ou

inexplicada; recém nascido com crescimento retardado, pré-termo ou malformado;

abortamento habitual; esterilidade e/ou infertilidade; intervalo interpartal menor que dois

ou maior que cinco anos; nuliparidade e grande multiparidade; síndrome hemorrágica

ou doença hipertensiva e cirurgia uterina anterior (incluindo duas ou mais cesáreas

anteriores);

(c) Doença obstétrica na gravidez atual: desvio quanto ao crescimento uterino, número

de fetos e volume de líquido amniótico; trabalho de parto prematuro e gravidez

prolongada; ganho ponderal inadequado; pré-eclâmpsia e eclâmpsia; amniorrexe

prematura; hemorragias da gestação; isoimunização; óbito fetal;

(d) Intercorrências clínicas: cardiopatias; pneumopatias; nefropatias; endocrinopatias

(principalmente diabetes e tireoidopatias); hemopatias; hipertensão arterial; epilepsia;

doenças infecciosas; doenças autoimunes e ginecopatias.

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As necessidades de saúde destes grupos de alto risco geralmente requerem

técnicas mais especializadas e de cuidados mais complexos disponíveis nos níveis

secundário e terciário de atendimento, com equipes multidisciplinares constituídas por

vários especialistas.

3.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

A seleção das pacientes foi feita mediante a consulta ao livro de Registro do

Ambulatório de Pré-Natal do HUAP, em busca dos primeiros atendimentos. Todas as

pacientes registradas no período de 01/01/2008 a 31/12/2012 foram incluídas na

pesquisa.

4.4 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Foram excluídos do estudo os casos que se encontravam na seguinte situação:

(a) ausência do número do prontuário no livro de registro; (b) prontuário indisponível

das gestantes e dos recém-nascidos no Arquivo Médico do HUAP; (c) não continuidade

da gestante à consulta pré-natal por abortamento ou mudança de Serviço; (d) ausência

de resultados para sorologia de HIV nos prontuários consultados; (e) pacientes com

gestação anembrionada e mola hidatiforme.

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4.5 COLETA DOS DADOS

Os dados clínicos e epidemiológicos foram coletados através de revisão de

protuários médicos das pacientes e dos recém-nascidos. Os dados de interesse foram

registrados no Protocolo elaborado para esta pesquisa (Apêncide 1).

4.6 VARIÁVEIS ESTUDADAS

As variáveis estudadas foram: idade, nível de escolaridade, município de

residência, número de gestações anteriores, número de abortos anteriores,

comorbidades e resultados qualitativos dos testes sorológicos para a detecção de

anticorpos para toxoplasmose, sífilis, hepatite B e C, rubéola, citomegalovírus, HIV e

detecção do HBsAg (Apêndice 1).

4.7 TESTES LABORATORIAIS

Os exames sorológicos foram realizados no laboratório do HUAP de acordo com

as recomendações dos fabricantes e os resultados classificados como: positivo,

negativo ou indeterminado:

a) Toxoplasmose: Detecção de IgM (LIASON – Toxo IgM, DiaSorin S.p.A, Italy) e IgG

(LIASON – Toxo IgG, DiaSorin S.p.A, Italy).

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b) Rubéola: Detecção de IgM (LIASON – Rubella IgM, DiaSorin S.p.A, Italy) e IgG

(LIASON – Rubella IgG, DiaSorin S.p.A, Italy).

c) Hepatite B: Detecção do antígeno de superfície (HBsAg) (ADVIA Centaur CP Anti-

HBs, Siemens Healthcare Diagnostics Inc, USA;) Detecção de anticorpos para o

antígeno de superfície da Hepatite B - anti-HBs (ADVIA Centaur CP Anti-HBs, Siemens

Healthcare Diagnostics Inc, USA).

d) Hepatite C: Detecção de anticorpos da hepatite C (anti-VHC) (ADVIA Centaur CP

HCV, Siemens Healthcare Diagnostics Inc, USA).

e) Sífilis: VDRL (WAMA Diagnóstica, Brasil).

f) Citomegalovírus: Detecção de IgG (LIASON – CMV IgG II, DiaSorin S.p.A, Italy) e

IgM (LIASON – CMV IgM II, DiaSorin S.p.A, Italy).

g) HIV: Detecção de anticorpos do HIV-1/HIV-2 (ADVIA Centaur HIV 1/0/2 Enhanced

Healthcare Diagnostics Inc, USA).

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4.8 DEFINIÇÃO DE CASO

4.8.1 Transmissão vertical do HIV (Brasil, 2009)

a) Gestantes, parturientes e nutrizes infectadas: todas as que apresentassem resultado

reativo ou confirmado em um exame laboratorial para o HIV.

b) Criança exposta: todas nascidas de mãe infectada pelo HIV ou amamentada por

nutriz infectada por HIV.

c) Criança infectada: toda criança com 18 meses ou menos com resultados positivos

em duas amostras obtidas em momentos diferentes e testadas pelos seguintes

métodos, sendo um deles após o 4º mês de vida: quantificação do RNA viral plasmático

(“carga viral”) ou detecção do DNA proviral entre 1 e 6 meses, sendo um destes após o

4º mês de vida.

d) Criança não infectada: toda criança com idade menor que 18 meses que tenha duas

amostras em que a carga viral estivesse abaixo do limite de detecção ou criança maior

que 18 meses com sorologia anti-HIV negativa.

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4.8.2 Sindrome de rubéola congênita (Brasil, 2009).

a) Caso suspeito: todo recém nascido cuja mãe foi caso suspeito ou confirmado de

rubéola durante a gestação, ou toda criança de até 12 meses de idade que,

independentemente da história materna, apresentasse sinais clínicos ou complicações

isoladas ou associadas (como catarata, glaucoma, cardiopatia, surdez, prematuridade

e baixo peso) compatíveis com infecção congênita pelo vírus da rubéola.

b) Caso confirmado por laboratório: todo caso com malformações congênitas

confirmado por um dos seguintes métodos: presença de anticorpos IgM específicos ou

títulos de anticorpos IgG persistentemente elevados ou acima do esperado em

decorrência da transferência passiva de anticorpos maternos, detectados em amostras

pareadas, com intervalo de seis meses.

c) Caso confirmado pela clínica: todo o caso cujos resultados laboratoriais não

permitiram a confirmação do diagnóstico em um recém-nascido ou criança de até 12

meses de idade que apresentasse prematuridade e/ou baixo peso mais os seguintes

sinais clínicos ou complicações, de forma isolada ou associada: catarata/glaucoma

congênito, surdez ou cardiopatia congênita sugestiva de rubéola congênita (estenose

de ramo periférico da artéria pulmonar ou persistência do canal arterial).

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d) Aborto ou perda fetal devido à infecção pelo vírus da rubéola: todo caso de

abortamento ou de natimorto resultante da gestação durante a qual se comprovou a

ocorrência de rubéola materna, independentemente de confirmação da infecção fetal.

e) Caso descartado: todos os que satisfaziam as seguintes condições: títulos de IgM e

IgG ausentes em menores de 12 meses de idade; títulos de IgG ausentes na mãe;

títulos de IgG diminuindo em velocidade compatível com a degradação dos anticorpos

maternos passivamente transferidos.

f) Desfecho não identificado: todos os casos cujas informações disponíveis não

permitem classificá-los; resultados do exame sorológico do recém-nascido

indisponíveis por qualquer motivo.

4.8.3 Toxoplasmose congênita (Fonturov RM, 2011).

a) Caso suspeito: toda criança sintomática ou não cuja mãe tenha recebido o

diagnóstico de toxoplasmose aguda/recente durante a gestação; toda criança com

sinais ou sintomas da doença: hepatesplenomegalia, icterícia, anemia, linfadenopatia,

baixo peso, prematuridade, coriorretinite, nistagmo, estrabismo, iridociclite,

microcefalia, calcificações cerebrais, hidrocefalia, convulsões e alterações do liquor.

b) Caso confirmado: todo recém-nascido exposto à toxoplasmose durante a gestação,

com ou sem manifestações clínicas, com títulos de IgM positivos após a primeira

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semana de vida e/ou títulos de IgG persistentemente elevados ou em ascensão, ou

ainda com a presença de T. gondii no tecido placentário.

c) Caso descartado: recém-nascidos com IgG e IgM negativos.

4.8.4 Citomegalovirose congênita (Burchett & Dalgic, 2011).

a) Caso suspeito: todo recém-nascido com sintomas típicos ou história materna de

soroconversão na gravidez.

b) Caso confirmado: todo o caso em que o CMV foi identificado na urina, na saliva, no

sangue ou em secreções respiratórias do recém-nascido mediante cultura viral ou

PCR. Os títulos dos anticorpos IgG e IgM anti-CMV no soro do recém-nascido são

sugestivos de infecção, mas devem ser sempre confirmados por meio de sua detecção

viral mediante cultura ou PCR da urina ou da saliva.

c) Caso descartado: todo recém-nascido com suspeita de infecção congênita com

declínio dos títulos séricos de IgG no primeiro mês de vida e títulos de IgM

indetectáveis.

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4.8.5 Transmissão vertical da hepatite B

Caso confirmado: recém-nascido de mãe portadora de HBsAg ou HBeAg positivos

no qual a pesquisa de HBsAg tenha sido positiva (Brasil, 2011a).

4.8.6 Transmissão vertical da hepatite C

Caso confirmado: todo recém-nascido de mãe portadora do vírus, ou seja, com

anti-VHC positivo e com VHC-RNA detectado, no qual o VHC-RNA qualitativo é

positivo e o anti-VHC permanece positivo após os 18 meses de idade. O RNA viral

pode ser detectado intermitentemente, e, portanto, um único teste negativo não afasta

a infecção da criança, motivo pelo qual é necessário realizar a sorologia anti-VHC entre

18 e 24 meses de vida da criança (Brasil, 2011a).

4.8.7 Sífilis congênita (Brasil,2009).

a) Sífilis em gestante: todos os casos em que houve evidência clínica de sífilis e/ou

sorologia não treponêmica reagente durante o pré-natal, com teste treponêmico

positivo ou não realizado.

b) Sífilis congênita: toda criança, aborto, natimorto ou produtos da concepção de mãe

com evidências clínicas para sífilis e/ou sorologia não treponêmica reagente em

qualquer titulação no momento do parto, mesmo na ausência de teste confirmatório

treponêmico, e que não tenha sido tratada ou tenha recebido tratamento inadequado.

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4.9 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados de interesse foram registrados, armazenados e analisados no banco de

dados próprio desenvolvido no Programa Statistical Package for the Social Science

(SPSS) versão 17. A descrição das variáveis categóricas e contínuas foi realizada

através do cálculo das frequências, médias e medianas. A diferença entre as

proporções das variáveis categóricas foi avaliada pelo teste do qui-quadrado de

Pearson, com significância estatística ao nível de 5%.

O estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do HUAP

(CEP/HUAP) 140/2011 (Anexo).

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5 RESULTADOS

5.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA POPULAÇÃO

No livro de primeiro atendimento do Ambulatório Pré-Natal do Hospital

Universitário Antônio Pedro, foram registradas 1112 pacientes no período de

01/01/2008 a 31/12/2012. Deste total foram excluídas 74 (6,7%) pacientes de acordo

com as seguintes situações: ausência de prontuário médico (36 casos); não

continuidade do comparecimento da gestante às consultas do pré-natal (24 casos);

ausência de resultado da sorologia para o HIV (6 casos); aborto (4 casos); mola

hidatiforme (2 casos) e pseudociese (2 casos). Portanto, o universo de estudo foi

constituído de 1038 pacientes com resultados sorológicos devidamente documentados.

A idade das gestantes variou de 13 a 46 anos (média: 26,9 anos; mediana: 27

anos), sendo a faixa etária mais frequente a de 21 – 30 anos (507 casos - 48,8%),

seguida por a faixa de 31 a 40 anos (279 casos - 26,9%). Duzentos e dezessete

(20,9%) pacientes eram menores de 20 anos e 35 (3,4%) tinham idade acima de 41

anos (Tabela 1).

As gestantes foram classificadas conforme o resultado da sorologia para o HIV e

avaliadas considerando as seguintes variáveis: faixa etária, nível educacional e

procedência. As diferenças de frequência observadas entre esses dois grupos não

foram significativas (Tabela 1).

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TABELA 1. Características sociodemográficas da população de acordo com o resultado

do exame sorológico para o HIV.

Características

HIV

Positivo

N=58 (%)

Negativo

N=980 (%)

Total

N=1038 (%)

Valor de p

Faixa etária (em anos) 0,3662

< 20 11 (19) 206 (21) 217 (21)

21-30 33 (56,9) 474 (48,4) 507 (48,8)

31-40 14 (24,1) 265 (27) 279 (26,9)

≥ 41 0 (0) 35 (3,6) 35 (3,3)

Nível educacional 0,0921

ensino fundamental 31 (53,4) 360 (36,7) 391 (37,7)

ensino médio e

superior 13 (22,4) 280 (28,6) 293 (28,2)

ignorado 14 (24,1) 340 (34,7) 354 (34,1)

Procedência 0,1129

Niterói 23 (39,7) 456 (46,5) 479 (46,1)

São Gonçalo 30 (51,7) 365 (37,2) 395 (38,1)

outros 4 (6,9) 111 (11,3) 115 (11,1)

ignorado 1 (1,7) 48 (4,9) 49 (4,7)

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47

A média de gestações foi de 2,4 (variação de 1-13), sendo que 33% (344/1038)

das pacientes eram primigestas. Observou-se que 26,9% (279/1038) das pacientes

tinham história prévia de aborto. A média de idade gestacional no momento da primeira

consulta ao pré-natal foi de 20,9 semanas, sendo que 47% (487/1038) estavam no

segundo trimestre, 25,6% (266/1038) no primeiro trimestre e 27,4% (285/1038) no

último trimestre de gestação.

5.2 ESTUDO DE SOROPREVALÊNCIA

Anticorpos IgG anti-Toxoplasma foram detectados em 624 (61,4%) das 1017

gestantes cujos resultados eram conhecidos. Em 24 (2,4%) pacientes os anticorpos

IgM também foram positivos (Tabela 2). A suscetibilidade à toxoplasmose, isto é, IgG

negativa, foi observada em 393 (38,6%) gestantes (Tabela 3). Não houve associação

estatisticamente significativa da frequência de IgG anti-Toxoplasma com variáveis

sociodemográficas (dados não apresentados). Verificou-se uma associação entre o

aumento da idade e os valores das frequências dos anticorpos contra o Toxoplasma, e

este resultado foi estatisticamente significativo (p< 0,0001) (Tabela 4).

Os anticorpos IgG contra a rubéola foram detectados em 95,1% (951/1000) das

gestantes cujos resultados eram conhecidos. Havia anticorpos da classe IgM em cinco

(0,5%) casos (Tabela 2).

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Tabela 2 – Soroprevalência de toxoplasmose, rubéola, CMV, hepatite B, hepatite C,

sífilis, e HIV em gestantes atendidas no HUAP no período 2008 a 2012.

Infecção Sorologia Prevalência (%) Casos/Total

Toxoplasma IgG + 61,4 624/1017

IgM + 2,4 24/1017

Rubéola IgG + 95,1 951/1000

IgM + 0,5 5/1000

CMV IgG + 95,1 897/943

IgM + 1,2 11/943

Hepatite B HBsAg + 0,9 9/1004

Hepatite C Anti-VHC + 1,6 15/922

Sífilis VDRL + 1,5 15/1034

HIV Anti-HIV + 5,6 58/1038

Das 943 gestantes testadas para os anticorpos IgG e IgM contra o CMV, 897

(95,1%) e 11 (1,2%) eram positivas, respectivamente (Tabela 2).

Foram detectadas nove gestantes portadoras do antígeno HBsAg das 1004

testadas, resultando em uma prevalência de 0,9% (Tabela 2). A positividade para este

marcador ocorreu em todas as faixas etárias estudadas, sendo encontrada apenas no

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grupo de gestantes não infectadas pelo HIV (Tabela 3). Os anticorpos anti-HBs

estavam presentes em 296 (33,7%) das 879 gestantes testadas. A frequência destes

anticorpos diminuiu com o aumento da idade, sendo esta associação estatisticamente

significativa (p<0,0001) (Tabela 5).

Quinze das 922 pacientes testadas para o anti-VHC eram positivas, o que

resultou em uma prevalência de 1,6%. Deste total, duas gestantes eram infectadas

pelo HIV.

Em relação à sífilis, 15 (1,5%) pacientes foram positivas das 1034 amostras

sanguíneas testadas pelo VDRL. Em nenhum caso o teste FTA-ABS foi realizado para

confirmar a infecção (Tabela 2).

A positividade para o HIV foi encontrada em 58 (5,6%) das 1038 gestantes

testadas. Dentre estas, uma (1,7%) apresentava coinfecção HIV/toxoplasmose, uma

outra (1,7%) tinha co-infecção HIV/toxoplasmose/rubéola/herpes/HPV, duas (3,4%)

gestantes apresentavam coinfecção HIV/VHC e outras duas (3,4%) co-infecção

HIV/sífilis. Oito (13,8%) eram primigestas. Desse total, 37 (63,8%) gestantes tinham

conhecimento prévio de sua condição de infectadas pelo HIV e 21 restantes (36,2%)

souberam do diagnóstico na gravidez estudada. Dos 58 casos de gestantes infectadas

pelo HIV, 10 (17,2%) apresentavam aids e 48 (82,8%) eram assintomáticas. O uso de

TARV (terapia antirretroviral) foi identificado em 56 (96,6%) gestantes, sendo o

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esquema terapêutico AZT/3TC/LPVr (zidovudina, lamivudina, lopinavir e ritonavir)

utilizado na maioria (39 casos - 67,2%) das pacientes.

Embora tenham sido detectadas diferenças nas frequências estudadas nas

gestantes infectadas e não infectadas pelo HIV, tais diferenças não foram

estatisticamente significativas (Tabela 3).

5.3 COMORBIDADES

As comorbidades mais frequentemente apresentadas pelas 1038 gestantes

estudadas foram: hipertensão arterial (187 casos - 18%), alterações gineco-obstétricas

e fetais (151 casos - 14,5%), diabetes tipo II e/ou gestacional (126 casos - 12,1%),

obesidade (50 casos - 4,8%) e disfunção da tireoide (29 casos - 2,8%). Trezentos e

vinte e um casos (30,9%) eram gestantes de baixo risco que foram atendidas no HUAP

por diversos motivos: tinham algum vínculo empregatício no HUAP e/ou UFF, eram

parentes de funcionários, ou foram referenciadas de outros serviços por falta de

obstetra nas unidades básicas de saúde, ou ainda que, por algum outro motivo já

tinham prontuário no HUAP.

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Tabela 3 – Frequência das infecções estudadas de acordo com o resultado da

sorologia para o HIV

Sorologia

HIV

Positivo

N=58 (%)

Negativo

N=980 (%)

Total

N=1038 (%)

Valor de p

Toxoplasmose (IgG) 0,9684*

Positivo 34 (58,6) 590 (60,2) 624 (60,1)

Negativo 22 (37,9) 371 (37,9) 393 (37,9)

Ignorado 2 (3,5) 19 (1,9) 21 (2)

Rubéola (IgG) 0,1184**

Positivo 49 (84,5) 902 (92,0) 951 (91,6)

Negativo 5 (8,6) 44 (4,5) 49 (4,7)

Ignorado 4 (6,9) 34 (3,5) 38 (3,7)

CMV (IgG) 0,5538**

Positivo 48 (82,8) 849 (86,6) 897 (86,4)

Negativo 2 (3,4) 44 (4,5) 46 (4,4)

Ignorado 8 (13,8) 87 (8,9) 95 (9,2)

Sífilis (VDRL) 0,1983**

Positivo 2 (3,4) 13 (1,3) 15 (1,4)

Negativo 55 (94,9) 964 (98,4) 1019 (98,2)

Ignorado 1 (1,7) 3 (0,3) 4 (0,4)

Hepatite B (HBsAg) 0,5896**

Positivo 0 (0,0) 9 (0,9) 9 (0,9)

Negativo 57 (98,3) 938 (95,7) 995 (95,9)

Ignorado 1 (1,7) 33 (3,4) 34 (3,2)

Anti-HBs 0,1141*

Positivo 24 (41,4) 272 (27,8) 296 (28,5)

Negativo 30 (51,7) 553 (56,4) 583 (56,2)

Ignorado 4 (6,9) 155 (15,8) 159 (15,3)

Hepatite C (anti-HCV) 0,2237**

Positivo 2 (3,4) 13 (1,3) 15 (1,4)

Negativo 53 (91,4) 854 (87,7) 907 (87,4)

Ignorado 3 (5,2) 113 (11,5) 116 (11,2)

*Qui-quadrado de Pearson; ** Teste de Fisher

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Tabela 4 - Frequência das infecções estudadas (rubéola, CMV, toxoplasmose, sífilis)

de acordo com o resultado com a faixa etária das gestantes

Faixa etária IgG anti-rubéola + a IgG anti-rubéola - Valor de p

<20

155 (93,4%)

11 (6,6%)

0.573*

20-29 471 (95,2%) 24 (4,8%)

30-39 278 (95,5%) 13 (4,5%)

≥40 47 (97,9%) 1 (2,1%)

IgG anti-CMV + b IgG anti-CMV -

<20

148 (96,7%)

5 (3,3%)

0.609*

20-29 445 (94,7%) 25 (5,3%)

30-39 262 (94,6%) 15 (5,4%)

≥40 42 (97,7%) 1 (2,3%)

IgG anti-Toxoplasma + c IgG anti-Toxoplasma - <0,0001*

<20

90 (53,6%)

78 (46,4%)*

20-29 294 (55,9%) 213 (46,6%)

30-39 205 (69,7%) 89 (30,3%)

≥40 35 (72,9%) 13 (27,1%)

VDRL + d VDRL -

>20

6 (3,5%)

164 (96,5%)

0.0455**

20-29 8 (1,5%) 507 (98,5%)

30-39 1 (0,3%) 299 (99,7%)

≥40 0 (0,0) 49 (100%)

*Qui-quadrado de Pearson **Teste de Fisher

a) Em 38 casos o resultado do IgG anti-rubéola era ignorado

b) Em 95 casos o resultado do IgG anti-CMV era ignorado

c) Em 21 casos o resultado IgG anti-toxoplama era ignorado

d) Em 4 casos o resultado do VDRL era ignorado

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Tabela 5 - Frequência das infecções causadas pelo vírus da hepatite B e C de acordo

com a faixa etária das gestantes

Faixa etária anti-HBs + a anti-HBs - Valor de p

<20

75 (54,0%)

64 (46,0%)

<0,0001*

20-29 172 (38,6%) 273 (61,4%)

30-39 45 (17,8%) 208 (82,2%)

≥40 4 (9,5%) 38 (90,5%)

HBs Ag + b HBs Ag -

<20

1 (0,6%)

165 (99,4%)

0.0538**

20-29 2 (0,4%) 498 (99,6%)

30-39 4 (1,4%) 287 (98,6%)

≥40 2 (4,4%) 45 (95,7%)

anti-VHC + c anti-VHC -

>20

0 (0,0%) 151 (100%) 0.1638**

20-29 7 (1,5%) 453 (98,5%)

30-39 7 (2,6%) 259 (97,4%)

≥40 1 (2,2%) 44 (97,8%)

* Qui-quadrado de Pearson; ** Teste de Fisher

a) Em 159 casos o resultado do anti-HBs era ignorado

b) Em 34 casos o resultado do HBs Ag era ignorado

c) Em 21 casos o resultado anti-VHC era ignorado

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5.4 TRANSMISSÃO VERTICAL

Das 24 crianças expostas à toxoplasmose durante a gestação, 15 foram

acompanhadas no HUAP. Em 10 crianças, a infecção congênita foi afastada devido ao

declínio quantitativo dos valores de IgG e ausência de anticorpos IgM quando os

exames sorológicos seriados foram realizados após o nascimento. A toxoplasmose

congênita foi confirmada em cinco crianças, sendo que uma delas também apresentava

coinfecção toxoplasmose/HIV. Um recém nascido apresentou graves alterações do

sistema nervoso central, hepatomegalia e cardiomegalia, evoluindo para óbito com

apenas 40 horas de vida. As outras quatro crianças foram tratadas com sulfadiazina,

pirimetamina e ácido folínico, e a que tinha sido coinfectada pelo HIV fez uso

concomitante de zidovudina, lamivudina e nevirapina (Tabela 6).

Dos cinco recém-nascidos expostos à rubéola, a infecção foi excluída em dois por

apresentarem exames sorológicos negativos para anticorpos IgG e IgM contra rubéola.

Em uma criaça foi evidenciado macrocefalia e retardo no desenvolvimento psicomotor,

durante o acompanhamento no Serviço de Neuropediatria do HUAP. Embora as

sorologias tenham sido negativas para os anticorpos do tipo IgM e positivas para

anticorpos do tipo IgG contra rubéola, esta criança foi confirmada como caso de

síndrome de rubéola congênita pelo critério clínico-epidemiológico (Tabela 6).

Das 11 crianças expostas ao CMV, em seis a infecção congênita foi afastada

durante o acompanhamento clínico e laboratorial (Tabela 6).

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Dos 15 (1,5%) recém-nascidos expostos à sífilis, a infecção congênita foi

constatada em dois recém-nascidos, que foram tratados com penicilina cristalina

(Tabela 6). Após seguimento clínico e laboratorial (radiografia de ossos longos,

ultrassonografia transfontanela, fundoscopia, VDRL e análise do liquor), a infecção foi

excluída em sete, de acordo com critérios do Ministério da Saúde (Brasil, 2009).

Das nove crianças expostas ao VHB, sete receberam vacina contra hepatite B e

imunoglobulina anti-hepatite B nas primeiras 12 horas de vida após o parto (Tabela 6).

Devido à ausência de dados nos registros médicos não foi possível avaliar a

ocorrência de transmissão vertical em : nove crianças expostas a toxoplasmose; duas

expostas a rubéola; cinco expostas ao CMV; seis expostas a sífilis e 15 crianças

nascidas de mães anti-VHC positivas (Tabela 6).

Quarenta e nove crianças, nascidas das 58 gestantes infectadas pelo HIV foram

acompanhadas no Serviço de Infectologia Pediátrica do HUAP. Em 46 delas, a

infecção pelo HIV foi excluída através de exames sorológicos anti-HIV negativos após

os 18 meses de vida e carga viral indetectável em dois momentos, após um mês e

quatro meses de idade. Foi constatada a transmissão vertical do HIV em duas crianças

(2/48 – 4,2%), uma delas também com infecção congênita de toxoplasmose. Não foi

possível estabelecer o desfecho em 10 crianças (9 acompanhadas em outro serviço e

uma no HUAP) por falta de dados nos registros médicos (Tabela 6).

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Tabela 6 – Desfecho das crianças expostas à infecção por toxoplasma, rubéola,

hepatite B, hepatite C, sífilis, CMV e HIV.

Infecção Crianças

expostas

Infecção

excluída

Transmissão

vertical Ignorados

Toxoplasmose 24 10 5 9

Rubéola 5 2 1 * 2

Hepatite B 9 ** - 9

Hepatite C 15 - - 15

Sífilis 15 7 2 6

CMV 11 6 - 5

HIV 58 46 2 10

*Diagnóstico clínico. ** Profilaxia em 7 crianças.

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6 DISCUSSÃO

Os resultados de nosso estudo demonstram que embora existam programas

nacionais dirigidos para o controle dessas doenças (entre as quais as doenças

sexualmente transmissíveis), as mulheres em idade fértil são ainda susceptíveis às

infecções estudadas, com risco de transmissão da mãe para o filho, resultando em

perdas fetais, malformações congênitas e óbito do concepto. Estudos nacionais e

internacionais têm demonstrado a importância da triagem pré-natal das doenças

infecciosas transmissíveis verticalmente, possibilitando o tratamento precoce e a

introdução de medidas preventivas destinadas ao controle das infecções congênitas

(Figueiró-Filho et al., 2007).

A soroprevalência de anticorpos da classe IgG anti-toxoplasma em nossa

pesquisa foi de 61,4%. Os valores descritos em gestantes em estudos nacionais variam

desde 31% em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul (Detanico et al., 2006) a percentuais

mais elevados como 74,4% no Recife, Pernambuco (Porto et al., 2008), e 91% no Mato

Grosso do Sul (Figueiró-Filho et al., 2007). De acordo com os autores, a

soroprevalência é mais elevada em gestantes com mais de 30 anos de idade (Detanico

et al., 2006) e quando há manuseio de carnes cruas, consumo de vegetais ou carnes

crus ou mal cozidos, leite cru não pasteurizado, contato direto com o solo (Cademartori

et al., 2008), contato com gatos e/ou cães, baixos níveis socioeconômico e de

escolaridade e o pouco conhecimento sobre a doença (Barbosa et al., 2009).

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Nos trabalhos internacionais os valores da soroprevalência de anticorpos da

classe IgG anti-toxoplasma em gestantes também são variáveis: 18,8% na Espanha

(Gutierrez-Zufiaurre et al., 2004), 35,6% na Arábia Saudita (Ghazi et al., 2002), 80,3%

no Congo (Doudou et al., 2014), e os fatores associados a maior prevalência são

semelhantes aos descritos pelos autores nacionais.

Em nosso estudo, os anticorpos IgM para toxoplasmose foram detectados em

2,4% (24) das gestantes, sugerindo infecção atual ou recente por esse protozoário,

com possibilidade de transmissão a fetos. A transmissão vertical ocorreu em cinco

(33,3%) dos 15 casos acompanhados, confirmando a gravidade das consequências

para o feto quando a infecção ocorre durante o período gestacional. Em trabalhos

nacionais, a positividade para anticorpos classe IgM variou de 0,4% (Inagaki et al.,

2009) a 3,4% (Gonçalves et al., 2010).

Nossos resultados demonstraram que ainda há uma grande proporção (38,8%) de

gestantes susceptíveis à toxoplasmose (IgG negativa) e portanto expostas ao risco de

uma primoinfecção durante o período gestacional, indicando a necessidade de

implementar medidas para prevenir e controlar a toxoplasmose durante a gravidez.

A soroprevalência de anticorpos da classe IgG contra rubéola nas gestantes

avaliadas nesta pesquisa foi de 95,1%. Este resultado é superior aos percentuais

encontrados em outros estudos nacionais: 89% no Paraná (Reiche et al., 2000), 93,1%

em São José do Rio Preto, São Paulo (Gonçalves et al., 2010), e 92,5% em Niterói, Rio

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de Janeiro (Oliveira et al., 2011). Os elevados valores de soroprevalência podem estar

associados à implantação no Brasil do Plano Nacional de Controle da Rubéola e da

Síndrome da Rubéola Congênita a partir de 1998 (Brasil, 2003), o qual contempla,

entre outras estratégias, a vacinação de mulheres em idade fértil. A manutenção de

altas taxas de cobertura vacinal é fundamental para o controle da síndrome da rubéola

congênita. Embora não seja esperado, a síndrome da rubéola congênita pode ocorrer

em locais com baixas taxas de susceptibilidade, como demonstrado por Désinor e

colaboradores (2004) em uma região do Haiti, onde somente 4% das gestantes eram

susceptíveis.

A soroprevalência para o CMV observada em nosso estudo foi de 95,1%, superior

aos valores (76,6%) encontrados em gestantes por Inagaki e colaboradores (2009) em

Sergipe e inferior aos 97,5% observados por Spano e colaboradores (2004) em Vitória,

Espírito Santo. No estado do Mato Grosso do Sul, Figueiró-Filho e colaboradores

(2007) detectaram soroprevalência de 82%, inferior à constatada no presente estudo.

No entanto, ao contrário do que se observou em nosso estudo, a infecção crônica pelo

CMV associou-se estatisticamente com a idade mais alta das gestantes.

Embora alguns trabalhos tenham demonstrado percentuais de soroprevalência

para o CMV em gestantes mais baixos dos que o encontrado em nossa pesquisa, ou

seja, de 46,8% na França (Picone et al., 2009) e de 68,3% na Itália (De-Pashale et al.,

2009), valores semelhantes ou mais elevados são geralmente encontrados na literatura

internacional em geral: 92,6% em Havana, Cuba (Correa et al., 2010), 87,3% em

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Nagasaki, Japão (Tagawa et al., 2010), 92,1% na Arábia Saudita (Ghazi et al., 2002),

97,3% em Samsun, Turquia (Uyar et al., 2008), 95% em Santiago, Chile (Yamamoto et

al., 2009), e 98,1% na Coreia do Sul (Seo et al., 2009). De acordo com Yamamoto e

colaboradores, a alta prevalência sugere que a reinfecção seria a principal forma de

infecção congênita, o que obrigaria pesquisar o vírus diretamente nos fetos ou recém-

nascidos mediante sua detecção no sangue, urina e saliva por meio de cultura viral ou

pela PCR.

A soropositividade para sífilis detectada em nosso trabalho foi de 1,4%, valor

semelhante aos encontrados por outros autores em estudos em gestantes no País:

1,6% no Paraná (Reiche et al., 2000) e 3% em Vitória, Espirito Santo (Miranda et al.,

2001). Diferentemente do observado no presente estudo, o trabalho de Reiche e

colaboradores (2000) demonstrou uma associação estatisticamente significativa entre o

aumento da soroprevalência e a idade das gestantes. Outros estudos em gestantes

realizados na América do Sul, demonstraram também frequências semelhantes: 4,5%

em Cochabamba, Bolívia (Vargas et al., 2009) e 0,6% em Lima, Peru (Alarcon et al.,

2003), sendo ambas mais altas em gestantes com história prévia de doenças

sexualmente transmissíveis.

Pesquisas realizadas na África demonstraram soroprevalências variáveis para

sífilis em gestantes: desde 0% na República Democrática do Congo (Moleka et al.,

2008) a 6,6% em países como Malaui, Zâmbia e Tanzânia (Potter et al., 2006).

Diferentemente do que encontramos nesta pesquisa, Potter e colaboradores

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observaram que a positividade para sífilis foi mais elevada nas gestantes infectadas

pelo HIV (7,3%) do que nas não infectadas (2,5%). Sete fatores independentes e

estatisticamente significativos foram correlacionados, no trabalho de Potter e

colaboradores, com uma maior prevalência de sífilis: 1) diferentes cidades nos países

estudados; 2) infecção pelo HIV; 3) idade entre 20 a 24 anos; 4) ser viúva, separada ou

divorciada; 5) ter feito tratamento de úlcera genital no último ano; 6) ter história de

natimortalidade ou 7) de parto pré-termo.

A presença do antígeno de superfície do vírus da hepatite B (HBsAg) foi

detectada em 0,9% das gestantes, o que está dentro da faixa de positividade em

gestantes (0,3 – 1,8%) descrita em estudos nacionais (Reiche et al., 2000; Miranda et

al., 2001; Figueiró-Filho et al., 2007; Botelho et al., 2008; Lima et al., 2009; Gonçalves

et al., 2010). Valores semelhantes aos observados no Brasil também são descritos na

literatura mundial: 0,1% na Catalunha, Espanha (Salleras et al., 2009), 0,2% em

Córdoba, Argentina (Trenchi et al., 2007), 0,6% em Granada, Espanha (Sampedro et

al., 2010), 0,9% na Índia (Dwivedi et al., 2011) e 1,5% em Trípoli, Líbia (El-Magrahe et

al., 2010). Estudos realizados em gestantes de países africanos e China detectaram

frequências mais elevadas, como 6,1% na Etiópia (Ramos et al., 2011), 6,7% em

Jiangsu, leste da China (Zhang et al., 2010), 8,2% na Nigéria (Olokoba et al., 2011) e

9,2% no Gabão (Makuwa et al., 2008). As discrepâncias encontradas estão

relacionadas principalmente às diferenças regionais e à idade em que ocorreu a

infecção (World Health Organization, 2006).

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Considerando o elevado risco de transmissão vertical do vírus da hepatite B, a

profilaxia com a vacina e a imunoglobulina hiperimune nas 12 primeiras horas de vida

foi realizada em sete das nove crianças expostas neste estudo. No entanto, não foi

possível afastar a ocorrência de transmissão vertical, já que os recém-nascidos não

foram devidamente acompanhados após o parto. Resultados semelhantes aos nossos

foram descritos por Perim e colaboradores (2005) em um estudo sobre a prevalência

do HBsAg em gestantes de Ribeirão Preto, São Paulo: dentre as 26 gestantes positivas

somente em 18 recém-nascidos a profilaxia para a hepatite B foi realizada

adequadamente.

Um achado do presente estudo foi a menor frequência de anticorpos anti-HBs nas

faixas etárias mais altas. Estes anticorpos estavam presentes em 296 (33,7%) das 879

gestantes testadas. A frequência destes anticorpos diminuiu com o aumento da idade,

e esta associação foi estatisticamente significativa (p<0,0001). Presume-se que este

achado esteja relacionado com o programa de vacinação contra a hepatite B instituído

pelo governo, considerando que a maior predominância deste marcador em nossa

pesquisa ocorreu em gestantes jovens (com menos de 30 anos de idade).

A frequência de anticorpos antivírus da hepatite C (anti-VHC) em nossa pesquisa

foi de 1,6%, superior aos valores encontrados em outros estudos nacionais em

gestantes, a saber: 0,3% no Mato Grosso do Sul (Botelho et al., 2008), 0,6% no Espirito

Santo (Lima et al., 2009), e 0,7% em São Paulo (Gonçalves et al., 2010). No Reino

Unido, a soroprevalência para o VHC em gestantes variou de 0,1% a 0,4% (Ades et al.,

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2000), de acordo com a região de moradia das mulheres, com valores mais elevados

para aquelas que residiam em regiões metropolitanas. Frequências mais elevadas de

anti-VHC em gestantes são descritas na literatura internacional: 2,1% no Gabão, África

Central (Atome et al., 2008) e 15,8% no Egito (Stoszek et al., 2006).

A transmissão do VHC da mãe para a criança não é um evento comum. As

estimativas do percentual de transmissão vertical variam de 3 a 10% (Cottrell et al.,

2013). Em grandes estudos, o risco parece não ultrapassar 4% (Fischler, 2007; Ray &

Thomas, 2010). Em certas circunstâncias (gestantes infectadas pelo HIV), a taxa de

transmissão pode chegar a 17% (Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, 2015).

Entre os fatores de risco estariam a coinfecção pelo HIV; a alta carga viral materna; o

uso intravenoso prévio ou atual de drogas ilícitas; o parto vaginal; a amamentação ao

seio materno, em vigência de lesões cutâneas sangrantes na região dos mamilos; e o

fato da criança ser do sexo feminino (Fischler, 2007). Muitos destes fatores de risco

nunca se confirmaram. O risco de transmissão é máximo em mães que são co-

infectadas pelo HIV (Cottrell et al, 2013). A alta carga viral no momento do parto é

também um fator de risco, especialmente quando o vírus está associado às células

mononucleares do sangue periférico. As lactentes do sexo feminino têm duas vezes

mais chances de adquirir a infecção de suas mães, quando comparadas aos do sexo

masculino (Fischler, 2007). O momento em que ocorre a transmissão é incerto, mas as

evidências falam a favor da transmissão intra-uterina (Resti et al., 1988; Mok et al.,

2005). O VHC está presente no leite materno, mas a incidência de infecção do lactente

é, entre os amamentados ao seio, semelhante à dos amamentados com mamadeira

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(Cottrell et al., 2013; Ray & Thomas, 2010). No entanto, um estudo sistemático recente

foi incapaz de identificar qualquer medida (modalidade do parto, tipo de amamentação)

capaz de reduzir a transmissão da mãe para a criança (Cottrell et al., 2013).

Embora o presente estudo tenha constatado uma frequência mais elevada de

anti-VHC em gestantes infectadas pelo HIV (3,4%), em comparação com a observada

nas não infectadas (1,3%), este resultado não foi estatisticamente significativo.

Frequências mais elevadas em gestantes infectadas pelo HIV também foram

observadas por outros autores. Jamieson e colaboradores (2008), em Bangkok,

Tailândia, constataram que a frequência do VHC foi de 3,8% em gestantes infectadas

pelo HIV e 0,3% nas gestantes não infectadas. Os fatores de risco identificados para

infecção pelo VHC foram uso de drogas injetáveis, parceiro com história de uso de

drogas injetáveis e história prévia de transfusão de sangue.

A frequência de soropositividade para o HIV em nosso estudo foi de 5,8%,

quatorze vezes maior que o valor estimado nacional (0,4%) (Brasil, 2013a). No entanto,

deve ser considerado que o HUAP é um centro de referência para o acompanhamento

pré-natal de gestantes infectadas pelo HIV e que, por esta razão, o hospital concentra

um grande número de gestantes referenciadas de outras unidades de saúde. Portanto,

a frequência encontrada não expressa o valor real da população geral. Em um estudo

com características semelhantes às da nossa pesquisa, Gonçalves e colaboradores

(2010) encontraram uma soroprevalência de 2,1% para HIV em 574 gestantes

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atendidas na unidade de Alto Risco Gestacional do Hospital de Base em São José do

Rio Preto, São Paulo, no período de janeiro de 2006 a dezembro de 2007.

Outros estudos nacionais têm relatado prevalências variadas entre gestantes,

dependendo do local e das características da população de estudo. Na região

metropolitana de Vitória, estado de Espírito Santo, Lima e colaboradores (2009),

avaliaram 332 puérperas e 202 gestantes, no período de fevereiro a outubro de 1999.

As prevalências de infecção pelo HIV obtidas para ambos os grupos e na totalidade

delas (534 mulheres) foram respectivamente de 0,9%, 0%, e 0,6%. Os fatores de risco

associados à infecção pelo HIV foram o relato de doença sexualmente transmissível e

ter um parceiro com história de transfusão sanguínea, usuário de drogas ou

soropositivo para HIV. Em outro estudo, também realizado em Vitória no período de

janeiro a dezembro de 1999, Miranda e colaboradores (2001), encontraram uma

prevalência de 0,8% para o HIV entre as 1068 gestantes avaliadas. Os fatores de risco

associados foram a história prévia de doenças sexualmente transmissíveis, a

negligência com o uso de preservativos, a prostituição, as transfusões sanguíneas e o

uso de drogas injetáveis. Um caso de coinfecção pelo HIV e VHB foi identificado em

uma das gestantes, pelo HIV e pela sífilis em uma outra e pelo VHB e pela sífilis em

outras cinco.

Em um estudo da estimativa da prevalência de HIV, feito por análise espacial em

gestantes de Porto Alegre, RS, foram avaliados todos os nascidos vivos registrados no

banco de dados do Sistema Nacional de Nascidos Vivos (SINASC) e todos os nascidos

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vivos expostos ao HIV durante a gestação registrados no banco de dados do Sistema

Nacional de Agravos de Notificação (SINAN) durante o ano de 2003. Esses dados

foram georreferenciados e as estimativas de soroprevalência de HIV obtidas em

gestantes variaram de 0 a 8%. As áreas com alta prevalência de gestantes infectadas

pelo HIV foram aquelas próximas a favelas, onde há menor renda, nível de instrução

mais baixo e elevadas taxas de fecundidade (Barcellos et al., 2006).

Considerando a particularidade do nosso estudo, a soroprevalência de HIV

observada neste trabalho também é alta quando comparada aos valores observados

em diversos países, a saber: 0,5% de soroprevalência para o HIV em gestantes de

Lima, Peru (Alarcon et al., 2003) e 0,54% em Córdova, Argentina (Trenchi et al., 2007).

Outros estudos apresentaram frequências ainda mais baixas, como 0% na Arábia

Saudita e na Espanha em trabalhos realizados por Ghazi e colaboradores (2002) e

Ramos e colaboradores (2007), respectivamente. Ainda na Espanha, soroprevalências

de 0,15% e 0,16% foram descritas por Gutierrez-Zufiaurre e colaboradores (2004) e

Sampedro e colaboradores (2010), respectivamente.

O estudo da soroprevalência e principalmente a identificação da transmissão

vertical e acompanhamento dos recém-nascidos tiveram as limitações inerentes a um

estudo retrospectivo. Um estudo que envolve revisão de prontuários pode ser afetado

pela dificuldade de localização dos prontuários, pela qualidade dos registros médicos,

pelo eventual extravio de resultados de exames e, principalmente, pelo não retorno dos

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responsáveis para confirmação ou exclusão da transmissão vertical das infecções

avaliadas.

Ainda assim, nosso estudo foi capaz de detectar importantes taxas de

transmissão vertical para o HIV, toxoplasmose e sífilis. Uma criança apresentou

alterações compatíveis com rubéola congênita e cinco delas apresentaram

toxoplasmose congênita, uma das quais teve coinfecção congênita pelo HIV e por T.

gondii. O grande número de gestantes susceptíveis a toxoplasmose reforça a

necessidade de medidas diagnósticas e preventivas contra esta infecção durante a

gestação.

Os resultados do presente estudo demonstram a importância do rastreamento

sorológico precoce das infecções pré-natais com o objetivo de diminuir a incidência da

sua transmissão congênita. Além disso, deve-se ampliar a divulgação de informações

sobre a prevenção dessas infecções e sobre hábitos higiênicos, assim como incentivar

e aumentar as coberturas vacinais contra rubéola e hepatite B, visando diminuir o risco

dessas infecções durante a gravidez, melhorando assim a saúde materno-infantil.

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7 CONCLUSÕES

As prevalências de toxoplasmose, sífilis, hepatite B, hepatite C, rubéola,

citomegalovírus e da infecção pelo HIV entre gestantes encontradas neste estudo é

semelhante aos trabalhos com as mesmas características descritos na literatura

nacional.

Com base nos resultados deste estudo deve ser ressaltada a importância do

rastreamento sorológico precoce dessas infecções durante o pré-natal para uma

abordagem materna precoce e adequada, visando diminuir a incidência de transmissão

congênita das mesmas.

Constatou-se uma diminuição significativa da frequência dos anticorpos anti-HBs

de acordo com o aumento da idade, presentes em 296 (33,7%) das 879 gestantes

testadas. É possível que este achado esteja relacionado com o programa de vacinação

contra hepatite B instituído pelo governo, considerando que a predominância deste

marcador nesta pesquisa foi em gestantes jovens (menores de 30 anos de idade).

É necessário melhorar a divulgação das informações sobre prevenção dessas

infecções, assim como aumentar a cobertura de vacinação contra hepatite B

objetivando diminuir o risco dessa infecção durante a gravidez.

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APÊNDICE 1

PROTOCOLO DE PESQUISA

Nome: Nº. do prontuário: Nº caso:

Data de nascimento: Data da 1ª consulta no pré-natal:

Cor: ( ) branca ( ) preta ( ) parda ( ) outras ( ) ignorada

Idade gestacional na 1ª consulta: Risco:

Menarca: Sexarca: Gravidez: Gesta: Para: Aborto:

Município onde mora: urbano ( ) rural ( ) ignorado ( )

Tipo de moradia: Alvenaria ( ) madeira ( ) pau-a-pique ( ) ign ( )

Saneamento básico: sim ( ) não ( ) ign ( )

Animais domésticos: sim ( ) não( ) ign ( ) espécie:

Renda (em salário-mínimo): escolaridade: atividade profissional:

Tem companheiro: sim ( ) não ( ) ign ( )

Transfusão sanguínea: sim ( ) não( ) ign ( ) data:

Toxoplasmose: IgG: positivo ( ) - título: negativo ( ) ign ( ) método:

IgM : positivo ( ) - título: negativo ( ) ignorado ( ) método: data:

Sífilis: VDRL positivo ( ) – título: negativo ( ) ign ( ) data:

FTA-abs positivo ( ) negativo ( ) ignorado ( )

Hepatite B: HBsAg pos ( ) neg ( ) ign ( ) Anti-HBs pos ( ) neg ( ) ign ( )

HBeAg pos ( ) neg ( ) ign ( ) Anti-HBe pos ( ) neg ( ) ign ( )

Anti-HBc IgG pos ( ) neg ( ) ign ( ) Anti-HBc IgM pos ( ) neg ( ) ign ( )

data:

Hepatite C: Anti-VHC pos ( ) neg ( ) ign ( ) data:

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Rubéola: IgG: pos ( ) neg ( ) ign ( ) IgM pos ( ) neg ( ) ign ( ) data:

HIV: ELISA : pos ( ) neg ( ) ign ( ) data:

Western blott: pos ( ) neg ( ) ign ( ) data:

HIV: Detectado antes do pré-natal ( ) durante o pré-natal ( ) ign ( )

assintomática ( ) AIDS ( ) TARV: não ( ) sim ( ) esquema:

CMV: IgG: pos ( ) neg ( ) ign ( ) IgM: pos ( ) neg ( ) ign ( ) data:

Doenças associadas: DM ( ) HAS ( ) outra:

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APÊNDICE 2

RELATO DE CASOS

Caso 1.

Mãe: DA, parda, 21 anos, residência em Araruama, analfabeta, gesta 4, para 2,

abortos 1, HIV (+) diagnosticado na primeira gravidez em 2003 (aos 16 anos de idade),

sem TARV e sem pré-natal, primeira consulta no HUAP em fevereiro/2008 com 33

semanas de gestação, com sorologia para toxoplasmose positiva para anticorpos IgG

(204 UI/mL) e inconclusiva para anticorpos do tipo IgM. Em março/2008 (36 semanas

de gestação), apresentou prurido e alterações visuais no olho esquerdo, o exame

oftalmológico demostrou uveíte por toxoplasmose. A sorologia para anticorpos IgG

contra Toxoplasma gondii foi positiva (198 IU/mL) e inconclusiva para IgM. O teste de

avidez IgG para toxoplasma foi alto (0,391). Na ocasião fez tratamento com

sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico para tratar a toxoplasmose ocular e

zidovudina (AZT) para profilaxia de transmissão vertical do HIV. A contagem de

linfócitos T CD4+ foi de 171 /mm3 e a carga viral era 333.129 cópias/mL (log: 5,523).

Dados do RN: parto cesáreo em março/2008 com 38 semanas de gestação, a

mãe fez profilaxia de transmissão vertical com AZT endovenoso periparto, nasceu uma

menina com 2250 gr. de peso, APGAR 9/9, com sinais de prematuridade ao exame

físico. Ficou internada na UTI-Neonatal por 8 dias para ganho de peso, usou AZT

solução oral e não amamentou ao seio materno. Nesse período teve sorologia positiva

para anticorpos IgG e IgM contra Toxoplasma gondii, o exame do líquor revelou

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pleocitose (20 células/mm3 100% predomínio de neutrófilos) e proteínas elevadas (129

mg/dL), o exame oftalmológico e a tomografia de crânio não apresentaram alterações.

Em maio/2008, com dois meses de vida, apresentava carga viral de 163.000

cópias/ml (log:5,21), foi internada no HUAP durante 13 dias com diagnóstico de

pneumonia, gastroenterite e candidiase oral. Em junho/2008 persistia a candidiase oral,

a contagem de linfócitos T CD4+ foi de 1.407 /mm3 (22,19%) e a carga viral >500.000

cópias/mL, o anti-HIV foi positivo em dois métodos sorológicos. Foi iniciado tratamento

para toxoplasmose congênita com sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico. Em

julho/2008 (3 meses de idade), iniciou TARV com zidovudina (AZT), lamivudina (3TC) e

nevirapina (NVP), com baixa adesão devido a problemas sócio-econômicos da família.

Em fevereiro/2009 (1 ano e 11 meses) foi internada durante nove dias para

investigação de crises convulsivas e suspeita de encefalopatia pelo HIV. A tomografia

de crânio, a fundoscopia e o exame de líquor não mostraram alterações. Foi medicada

com fenobarbital e continuou usando sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico. Em

outubro/2009 a carga viral foi de 73.816 cópias/ml (log:4,86) e a contagem de linfócitos

T CD4+ foi de 1.329 células/mm³ (21,08%). Suspeitou-se de falha terapêutica,

virológica e imunológica devido a problemas de adesão, mas a genotipagem não

mostrou resistência às medicações em uso. Em setembro/2010 foi trocada a nevirapina

pelo lopinavir/ritonavir (LPVr). Em dezembro/2010 foi reduzida a dose de fenobarbital e

iniciado ácido valproico para controle das convulsões. Em abril/2011, com três anos e

um mês de idade, atinge pela primeira vez níveis indetetáveis de carga viral (<50

cópias/ml) e contagem de linfócitos T CD4+ de 1.259 células/mm³ (36,6%). Em

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julho/2011 foi internada com diagnóstico de anemia, neutropenia, síndrome convulsivo,

SIDA e neurotoxoplasmose. O hemograma apresentava hemoglobina de 3,5g % e

hematocrito de 10,2%. Recebeu transfusão de hemácias e sulfato ferroso. Por suspeita

de mielotoxicidade medicamentosa foram suspensos a sulfadiazina e a pirimetamina, o

AZT foi trocado por abacavir (ABC).

Em 2011 foi internada duas vezes por pneumonia e crises convulsivas e outra em

2013 também por pneumonia. Acompanhou regularmente o ambulatório de

neuropediatría e infectologia pediátrica do HUAP usando o esquema ABC/3TC/LPVr e

ácido valproico.

A mãe, DA, com sérias dificuldades psico-socio-econômicas, sem acompanhar

regularmente o serviço de infectologia e oftalmologia, com péssima adesão ao TARV,

faleceu em outubro/2009 durante a internação em outra unidade hospitalar, com os

diagnósticos de neurotoxoplasmose e SIDA, tinha 22 anos de idade.

Conclusão do caso: Transmissão congênita de HIV e toxoplasmose em criança nascida

de mãe infectada pelo HIV sem TARV e sem pré-natal, com possível reativação da

toxoplasmose devido a imunossupressão acentuada.

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Caso 2.

Mãe: MAL, negra, 19 anos, gesta 3, para 2, abortos 0. Diagnosticada de

toxoplasmose aguda em fevereiro/2008, na 32ª semana de gestação, com sorologia

para toxoplasmose IgG positiva: 938 UI/mL e IgM positiva: 1,14 UA/mL. Apresentava

negatividade para anticorpos contra HIV, VHC e VDRL. Rubéola e CMV com IgG

positiva e IgM negativos respectivamente. O exame ultrassonográfico demostrava

hidrocefalia fetal. Foi indicado tratamento com espiramicina, mas não tomou a

medicação por não consegui-la na rede pública de saúde e sem condições financeiras

para poder comprá-la.

Dados do RN: menino nascido de parto cesárea eletiva, em 01/04/2008 com 38

semanas de gestação, apresentando desconforto respiratório e apnéia, precisou

oxigênio suplementar com unidade ventilatória e máscara, tendo recuperação lenta,

APGAR 5/6/7, 3305 gr. de peso, estatura 49 cm, perímetro cefálico 36 cm, perímetro

torácico 34 cm, perímetro abdominal 31,5 cm, ao exame físico: hepatomegalia e hérnia

inguinal à direita. Foi internado na UTI-Neonatal e acoplado a ventilação mecânica. A

ultrasonografia transfontanela evidenciou hidroanencefalia e a ultrasonografia

abdominal mostrou hepatomegalia e veia cava de pequeno calibre. Observou-se

aumento da área cardíaca e dilatação de alças intestinais na radiografia

toracoabdominal. O hemograma não apresentava alterações. Não foi possível realizar

punção lombar nem sorologias devido à gravidade do quadro.

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Apresentou instabilidade hemodinâmica e crise convulsiva, sendo medicada com

dobutamina e fenobarbital. Iniciou sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico para

tratamento de Toxoplasmose. Após 40 horas de vida apresentou bradicardia

importante, sem resposta às aminas vasopressoras nem às manobras de reanimação,

evoluiu para o óbito, sendo atestados os diagnósticos de toxoplasmose congênita,

hidroanencefalia, hepatomegalia e falência múltipla de órgãos. Os pais não autorizaram

a realização de necropsia.

Conclusão do caso: Diagnóstico clínico de Toxoplasmose congênita com alterações

orgânicas graves, resultado de infecção aguda durante a gravidez que não foi tratada.

Caso 3.

Dados da Mãe: MPM, 18 anos, negra, residente em São Gonçalo, estudante,

gesta-3, para-2, abortos-1. Recebia ajuda financeira do governo (Bolsa Família). Iniciou

o pré-natal no HUAP com 25 semanas de gestação. HIV (+) diagnosticado na primeira

gravidez em 2008 (aos 14 anos de idade), em uso irregular de TARV (AZT/3TC/LPV/r),

acabou abandonando o tratamento. Foi reintroduzido o mesmo esquema de TARV em

30.08.12 para profilaxia de transmissão vertical do HIV. O companheiro também era

HIV (+). Durante o pré-natal apresentou VDRL: Reativo (1/64) em 30.10.2012, e

tricomoniase vaginal. A paciente teve uma relação extraconjugal neste período.

Recebeu tratamento com penicilina benzatina 2.400.000 UI dose intramuscular

semanal, durante 3 semanas (09.11.12; 16.11.12; 23.11.12) e metronidazol óvulos.

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Em 30.08.12 apresentava carga viral: 5.846 cópias/ml e contagem de linfócitos

TCD4: 464 células/ml (28,73%). Entrou em trabalho de parto e foi internada no HUAP

em 04.12.12, foi administrado AZT endovenoso para profilaxia de transmissão vertical

do HIV. Orientada a não amamentar ao seio materno.

Dados do recém-nascido: parto vaginal sem intercorrências em 04.12.12, sexo

masculino; APGAR: 9/9; peso: 2605 g; estatura: 47 cm; idade gestacional de 37- 38

semanas. Iniciou AZT oral. VDRL sérico negativo em 04.12.12. Alta hospitalar em

06.12.12 com encaminhamento ao ambulatório de Infectologia Pediátrica do HUAP. Em

18.01.13 (1 mês e 14 dias de vida) assintomático, é internado para investigação de

sífilis congênita, consideru-se a mãe inadequadamente tratada para sífilis pois tomou a

última dose de penicilina benzatina menos de 1 mês antes do parto. Durante a

internação, o hemograma, radiografia de ossos longos e fundoscopia foram normais,

VDRL sérico negativo; sorologia para toxoplasmose: IgG (+) IgM (-). Exame do líquor:

VDRL negativo e proteínas aumentadas (59 mg/dl). Diagnosticado neurosífilis, foi

tratado com penicilina cristalina 50.000 UI/kg/dia durante 9 dias (no decimo dia perdeu

acesso venoso). Teve alta hospitalar em 02.02.13 em uso de

sulfametoxazol/trimetoprina (SMZ/TMP) profilático e foi pedido a primeira carga viral do

HIV. Acompanhou irregularmente o ambulatório de infectologia e dificilmente fazia os

exames laboratoriais solicitados. A primeira amostra de carga viral foi indetectável (< 50

cópias/ml) em 24.01.13. A segunda amostra de carga viral: 62 cópias/ml em 01.08.13.

Em 24.09.14 com 1 ano e 9 meses de vida, ainda não tinha feito a terceira carga viral

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nem o anti-HIV solicitados, convocado novamente a consulta, se aguardava esses

resultados para definição diagnóstica.

Conclusão do caso: Sífilis congênita em criança cuja mãe apresentava coinfecção

HIV/sífilis, ainda sem definição diagnóstica para infecção pelo HIV aos 21 meses de

vida.

Caso 4.

Dados da Mãe: MLS, 33 anos, branca, residente em Niterói, gesta-3, para-2,

abortos-1. Mora em casa de alvenaria com saneamento básico e teve contato com

cães no domicilio. Transferida da unidade básica de saúde por apresentar viragem

sorológica para toxoplasmose no terceiro trimestre da gestação. Iniciou o pré-natal no

posto da saúde em 24.02.12 (fez 10 consultas) tendo realizado em 05.03.12 os

seguintes exames: VDRL (-); HIV (-); Toxo IgG (-) IgM (-); Rubéola IgG (+) IgM (-); CMV

IgG (-) IgM (-). Em maio/2012 apresentou quadro de febre, exantema e tosse seca,

com diagnóstico de dengue na ocasião. As sorologias realizadas em 23.05.12

mostraram positividade para toxoplasma: IgG (+) 14,3 UI/ml; IgM (+) 99,5 UA/ml, e

negatividade para HIV, HBsAg, anti-VHC e CMV. Em 05.07.12 iniciou tratamento com

espiramicina. A primeira consulta no HUAP foi no serviço de DIP em 19.07.12, com 33

semanas de gestação, foi repetida a sorologia para toxoplasma mostrando positividade

para IgG (2775,0 UI/ml) e para IgM (52,9 UA/ml) e foi mantida a espiramicina. Em

26.07.12 a espiramicina foi substituída por sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico.

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Em 30.08.12 foi trocado a sulfa por clindamicina. Em 16.09.12 teve parto normal em

outro hospital.

Dados do recém-nascido: parto vaginal (fora do HUAP) 19.09.12, sexo feminino;

APGAR: 6/9; peso: 3470 g; estatura: 50 cm; idade gestacional; 39 semanas. A

ultrassonografia transfontanela (USTF) evidenciou dilatação ventricular em cornos

temporais e occipitais. Em 21.09.12 a TC de crânio revela múltiplos focos de

calcificação em ambos os hemisférios cerebrais, a sorologia para toxoplasma mostrou

IgG(+) e IgM (+) e o exame do líquor com proteínas elevadas (142,7 mg/dl). Em

22.09.12 foram iniciados sulfadiazina, pirimetamina, ácido folínico e prednisona. Em

25.09.12 teve alta hospitalar com o diagnóstico de toxoplasmose congênita com

acometimento grave do sistema nervoso central, sendo encaminhada para o HUAP.

Em 05.10.12 (19 dias de vida) na primeira consulta no serviço de infectologia pedriática

do HUAP, se evidenciou microcefalia e o lactente foi internado para avalição

oftalmológica, audiológica e neurológica, se manteve mesmo esquema de tratamento.

Em 11.10.12 teve alta após realizar triagem auditiva e exame clínico nerológico que

foram normais, a fundoscopía evidenciou lesão cicatricial na retina de olho direito. Foi

programado a realizar essas avaliações ambulatorialmente. Em 17.01.13 o BERA

sugeriu sinais de comprometimento retrococlear. Em 14.12.12 (2 meses e 28 dias de

idade) foi suspenso a prednisolona após redução progressiva da dose. Em 20.02.13 (5

meses de idade) a neuropedriatia evidenciou atraso motor e sinais de piramidalismo, foi

programado acompanhamento trimestral e fisioterapia. Em 08.10.13 a fusdoscopía

evidenciou cicatriz hiperpigmentada ocupando grande área do polo posterior do olho

esquerdo, sem sinais de atividade da doença. Em 16.10.13 (1 ano e 1 mês de idade)

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foram suspensos a sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico. Em 17.12.13 a

fundoscopia evidenciou pequena cicatriz hipopigmentada em arcada temporal do olho

direito, e grande cicatriz em polo posterior do olho esquerdo, sem sinais de atividade da

doença, foi programado acompanhamento semestral. Em 11.02.14 (1 ano e 4 meses)

teve alta da infectologia pediátrica e foi encaminhada para acompanhamento pela

pediatria geral. Em 17.11.14 a pediatria geral iniciou novamente avaliação auditiva da

criança devido a surdez.

BERA: Exame do potencial evocado auditivo do tronco encefálico. Trata-se de um

registro da atividade elétrica da via que o estímulo auditivo percorre desde o labirinto e

nervo auditivo até o tronco encefálico, região esta, responsável pela integração das

informações para o cérebro.

Conclusão do caso: trata-se de um caso de toxoplasmose congênita com

acometimento importante do sistema nervoso central, com sequelas oftalmológicas e

auditivas devido à infecção aguda de toxoplasmose durante o período gestacional.

Caso 5.

Dados da Mãe: LRA, 23 anos, parda, residente em São Gonçalo, gesta-1, para-0.

Usuária de drogas ilícitas (maconha e cocaína), história de distúrbio do comportamento

desde a infância (agressividade), abandonou acompanhamento psiquiátrico aos 13

anos de idade. Em 21.02.10 foi transferida do Hospital Municipal de Itaboraí por

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gestação menor que 34 semanas, aminorrexe prematura, sem pré-natal e sem exames

laboratoriais. Resultados de exames realizados na admissão no HUAP: VDRL (-); Toxo:

IgG (-) e IgM (-); rubéola: IgG (+) e IgM (-); CMV: IgG (+) e IgM (-); HBsAg (-); anti-VHC

(-); teste rápido anti-HIV (+); USG: 31 semanas e 1 dia. Foi iniciado corticoide para

maduração pulmonar fetal. Resultados de ELISA para HIV foram positivas em duas

amostras e confirmadas pelo Western blot. O teste anti-HIV do companheiro foi

negativo. Em 25.02.10 foi submetida a parto cesárea por ruptura prematura de

membranas e carga viral desconhecida, recebeu AZT endovenoso periparto. Alta

hospitalar em 01.03.10.

Dados do recém-nascido: nasceu de parto cesárea em 25.02.12, sexo masculino;

APGAR: 8/9; peso: 1900 g; estatura: 44 cm; idade gestacional; 31 semanas e 3 dias.

Apresentou desconforto respiratório leve e foi internado na UTI-neonatal, ficou 15 horas

no CPAP com boa evolução. Iniciou AZT oral, recebeu ampicilina e gentamicina

durante 7 dias devido a sepse suspeita além de nistatina oral por apresentar

candidíase oral. Foi realizado hemocultura, cultura de líquor, todas negativas.

Ultrassonografia transfontanela e fundoscopía normais. Resultado das sorologias em

11.03.10 foram negativas para HBsAg, anti-VHC e anti-HBs. Toxoplasma IgG (-) e IgM

(-). Rubéola e CMV apresentavam IgG (+) e IgM (-) respectivamente. Após ganho

ponderal satisfactório recebe alta hospitalar em 31.03.10, mas continua internado na

enfermaria de lactentes por motivos sociais (avó materna solicitou na justiça a guarda

da criança, arguindo falta de condições psicológicas para cuidados com o lactente por

parte da mãe biológica). Em 09.04.10 (1mês e 13 dias de idade), recebe alta hospitalar,

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após definida guarda para avó, peso: 3115 g, foi suspenso AZT oral e iniciado

sulfametxazol/trimetropina (SMZ/TMP) para profilaxia de pneumocistose. Foi orientado

a realizar acompanhamento ambulatorial na infectologia pediátrica.

No período de 19.04.10 a 01.05.10, foi internado em Hospital de São Gonçalo

com quadro de insufuciência respiratória por bronquiolite e pneumonia, ficou 7 dias em

ventilação mecânica. Apresentou crise convulsiva que foi controlada com fenobarbital,

fez 10 dias de cefepime e vancomicina e recebeu um concentrado de hemácias. Teve

boa evolução. Recebeu alta em uso de fenobarbital e SMZ/TMP profilático.

No período de 07.05.10 a 21.05.10 (2 meses e 12 dias de idade), foi internado no

HUAP para investigação de crise convulsiva, suspeita de pneumocistose (taquipnéia,

FR: 62 irpm) e para definição diagnóstica do HIV. A radiografia e TC de tórax,

gasomatria arterial e LDH foram normais, hemocultura e sorologia para toxoplasma

negativos, a TC de crânio evidenciuo lesão hipóxico-isquêmica focais, foi mantido o

fenobarbital. O resultado da primeira carga viral foi >500.000 cópias/ml em 06.05.10.

Com diagnóstico de aids, iniciou TARV com AZT/3tc/LPV/r em 18.05.10.

A criança consultou-se regularmente no ambulatório, com boa adesão à TARV.

Houve diminuição progressiva da carga viral chegando a ser indetectável em 13.01.11

mantendo-se assim por diante. A contagem de linfócitos T CD4 sempre foi acima de

40%.

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Conclusão do caso: Caso de transmissão vertical do HIV e aids em criança cuja

mãe não fez pré-natal, com graves problemas psico-sociais e obstétricos, sem chance

de realizar medidas profiláticas adequadas para evitar a transmissão vertical.

Caso 6.

Dados da Mãe: DPS, 22 anos, negra, residente em Santo Antonio de Pádua,

gesta-1, para-0. Mora em casa de alvenaria com saneamento básico e teve contato

com cães no domicilio. Tinha tatuagens no corpo e piercing na língua, negava uso de

drogas, mas o companheiro era usuário de cocaína. Foi transferida da unidade básica

de saúde por apresentar viragem sorológica para toxoplasmose e rubéola no primeiro

trimestre da gestação (IgG negativas e IgM positivas respectivamente em 17.03.11).

Primeira consulta de pré-natal no HUAP em 11.05.11 com 25 semanas de gestação, ao

exame ginecológico foi evidenciado condilomatose e herpes. As sorologias realizadas

no HUAP em 19.05.11 foram discordantes às anteriores realizadas no posto: Toxo IgG

(+) e IgM (-); Rubéola IgG (+) e IgM (-). O resultado das outras sorologias foram: CMV

IgG (+) e IgM (-); VDRL (-) e HIV (+), este último foi confirmado pelo Western blott. Não

fez o teste de avidez de IgG para toxoplasma que foi solicitado e devido ao risco de se

transmitir o HIV pela amniosentese, para detectar infecção fetal, foi decidido iniciar

tratamento para toxoplasmose com sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico, e após

as 35 semanas de gestação, espiramicina. Em 03.06.11 (27/28 semanas de gestação)

iniciou profilaxia com AZT/3tc/LPV/r. Em 02.06.11 a carga viral foi de 11.386 cópias/ml

e o CD4: 906 células/mm³ (37,18%). Em 11.07.11 (36 semanas de gestação) foi

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internada por três dias para tratamento fetal com digoxina devido a insuficiência

cardíaca fetal provavelmente secundária a infecção viral, (descoberto pelo ecodoppler

fetal). A contagem de CD4 foi de 996 células/mm³ (42,68%) e a carga viral idetectável

em 14.07.11. Foi submetida a cesárea eletiva em 11.08.11, fez AZT endovenoso

periparto.

Dados do recém-nascido: Sexo feminino; peso: 2770 g; estatura: 49 cm; APGAR:

9/9; idade gestacional; 37 semanas e 6 dias. Foi iniciado AZT oral e internada para

investigação de infecções congênitas. Os exames de bioquímica sanguínea,

hemograma, radiografia de crânio, ultrassonografia transfontanela, fundoscopía e

ecocardiografia foram normais. As sorologias para toxoplasmose, rubéola e CMV foram

positivas para IgG e negativas para IgM respectivamente. O exame do líquor

apresentou proteínas elevadas (968 mg/dl). Iniciou tratamento para toxoplasmose com

sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico em 13.08.11. Uma nova punção lombar foi

realizada em 15.08.11, as proteínas do líquor foram de 1259 mg/dl, sendo iniciado

corticoide devido à toxoplasmose congênita com acometimento neurológico. Recebeu

alta em 19.08.11 para acompanhamento ambulatorial.

Após seis semanas de uso, foi suspenso o AZT oral. Em 13.10.11 (2 meses de

idade) a primeira carga viral foi indetectável e foi iniciada retirada gradual do corticoide.

Em 16.12.11 (4 meses de idade) apresentou dermatite atópica devido à sulfadiazina,

que foi suspensa. Em 31.01.12 foi internada para realizar dessensivilização à

sulfadiazina, que ocorreu com sucesso, recebendo ao fim do processo dose plena do

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medicamento. O resultado da segunda carga viral foi de 335 cópias/ml e o CD4:2881

células/mm³ (49,18%) em 12.01.12. A terceira carga viral foi de 109 cópias/ml em

10.05.12.

Em 17.08.12 (1 ano de idade) assintomática, foi suspenso o tratamento de

toxoplasmose, Em 18.01.13 (1 ano e 5 meses de idade) foi excluída a infecção pelo

HIV por ter resultado de anti-HIV negativo.

Conclusão do caso: Criança que teve exposição vertical a toxoplasmose, a

rubéola, ao HIV, a herpes e ao HPV. Foi comprovado acometimento neurológico por

toxoplasmose congênita que foi adequadamente tratada. Foi excluída a infecção pelo

HIV, decorrente de uma adequada profilaxia durante a gestação, no periparto e após o

nascimento.

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ANEXO Parecer de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa