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Relatório de Actividades de 2017 Março de 2018 IDEQ - Instituto de Prevenção e Tratamento da Dependência Química e Comportamentos Compulsivos

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Relatório de Actividades de 2017

Março de 2018

IDEQ - Instituto de Prevenção e Tratamento da Dependência Química e Comportamentos

Compulsivos

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 2

Índice

Introdução…………………………………………………………………………..…..3

Actividades desenvolvidas……………………………………………………………5

Caracterização dos utentes…………………………………………………………..8

A intervenção com pessoas em situação de sem abrigo………………………..19

A Casa dos Corações………………………………………………………………..41

A intervenção com a população adita……………………………………………...57

O programa de prevenção de recaídas……………………………………………59

Outras actividades……………………………………………………………………62

Articulação institucional……………………………………………………………...63

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Introdução

No decorrer do ano de 2017, a intervenção do IDEQ, tem-se tornado bastante

associada à população em situação de sem abrigo, por existir uma maior

sensibilização por parte das instituições, como também pela população em

geral e por este tipo de População despertar os olhares e entendimento das

várias áreas das Ciências Sociais.

Torna-se evidente que a questão habitacional é relevante, mas os problemas

das pessoas em situação de sem abrigo, são bastante mais complexos,

existindo, por detrás desta situação, uma perda de vínculos familiares,

decorrentes do desemprego, da violência, perda de auto-estima, alcoolismo,

toxicodependência, doença mental, entre outros factores, são os principais

motivos que levam as pessoas a viverem na rua. São histórias de rupturas

sucessivas e que, com muita frequência estão associadas ao uso de drogas e

álcool.

Snow e Anderson (1998) afirmam que o mundo social da Pessoa em situação

de Sem Abrigo, constitui-se como uma subcultura. Trata-se de um mundo

social, que não é escolhido pelas pessoas que vivem na rua, ao contrário do

que muitos defendem, que é uma escolha; foram empurrados por

circunstâncias alheias ao seu controle.

Quando se fala da população em situação de sem abrigo, falamos como se

fosse um grupo homogéneo com características comuns. No entanto, devemos

dizer, que não há duas situações iguais, no que as caracteriza, no percurso

que as antecedeu, no tipo de carências, bem como no tipo de medidas

necessárias.

O modo como a vida na rua perturba o equilíbrio psíquico e social de uma

pessoa, nem sempre é evidente, pois na generalidade o que se verifica, é

considerar-se a co morbilidade como o obstáculo principal.

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O impacto, que as problemáticas têm entre si tornam cada caso uma realidade

única. Também a importância que a passagem do tempo tem sobre esse

processo de desvinculação parece ser determinante nas estratégias de

sobrevivência que as pessoas desenvolvem; quanto mais tempo a pessoa

permanece na rua, mais profunda será a sua integração automática às

estratégias na rua, e consequentemente mais difícil a sua integração e adesão

a Projectos de Vida diferentes.

O IDEQ, através da sua equipa de intervenção directa continuou a acompanhar

todas as pessoas em situação de sem abrigo, com as várias problemáticas

associadas bem como todas as situações de adições (drogas e álcool) que

foram sinalizadas ao IDEQ, ou identificadas pela equipa ou em que o pedido foi

feito pelo próprio ou por algum familiar.

Tentaremos com este relatório, descrever todas as actividades, intervenções,

assim como descrever a título exemplificativo alguns dos casos com o objectivo

de se elucidar o tipo de intervenção, bem como a linha condutora da equipa de

intervenção direta.

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Actividades desenvolvidas

A equipa é constituída por duas psicólogas, uma assistente social, uma

animadora sociocultural e uma técnica psicossocial a quem compete

desenvolver as seguintes atividades:

- Distribuição de produtos alimentares à população em situação de sem abrigo

1 vezes por semana;

- Distribuição de kits de higiene pessoal e de roupa, facilitando o acesso às

repostas de cuidados básicos;

- Articulação com as respostas existentes no concelho para a satisfação das

necessidades básicas de alimentação;

- Obtenção de documentação (Cartão do Cidadão, Cartão de Utente e

Renovação de Título de Residência);

- Abordar os indivíduos sinalizados à equipa que se encontram em situação de

sem abrigo no concelho de Oeiras, avaliando quais as problemáticas

associadas à sua condição;

- Assegurar a resposta de emergência possível e adequada ao individuo;

- Estabelecer uma relação de empatia e de confiança com os utentes,

sensibilizando-os para adesão a um projeto de vida;

- Assegurar o acompanhamento periódico do utente, por forma a desenvolver

as diligências necessárias para dar resposta à situação, da forma mais rápida e

adequada;

- Facilitar o processo de encaminhamento, quer para centros de tratamento,

unidades de desabituação, equipas de tratamento, quer para as estruturas de

saúde de cuidados primários, onde se inclui respostas no âmbito da saúde

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mental;

- Manter contactos terapêuticos com os técnicos das instituições para as quais

os indivíduos foram encaminhados, com o objectivo de acompanhar a evolução

do mesmo e estruturar, em parceria, a adequada resposta de reinserção social;

- Planear em conjunto com o individuo a reinserção social e profissional mais

adequada à sua situação, estabelecendo, desta forma, um projeto de vida, que

tenha em conta as suas limitações e as capacidades;

- Apoiar na procura de respostas alternativas de habitação;

- Apoiar os indivíduos que se insiram em quartos, na articulação com o

senhorio, garantindo o pagamento da renda e na gestão das actividades de

vida diária;

- Acompanhar os indivíduos em situação de sem abrigo a consultas de saúde

mental e de medicina geral;

- Distribuição e supervisão na toma de medicação dos indivíduos em situação

de sem abrigo acompanhados em saúde mental;

- Facilitar o processo de obtenção de um rendimento, quer seja por via do

rendimento social de inserção, de pensão social de invalidez ou de velhice,

quer seja por via de emprego, articulando com a Segurança Social e Centro de

Emprego, em todo o processo;

- Disponibilizar alojamento na “Casa dos Corações” visando a sua reinserção

socioprofissional.

-Promoção e facilitação de local de pernoita aos indivíduos em situação de sem

abrigo (sem teto) quando decretado o estado de alerta de vaga de frio, em

articulação com a Camara Municipal de Oeiras, a Policia de Segurança

Pública, a Policia Municipal, os Bombeiros Voluntário do Dafundo e os

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Bombeiros Voluntários de Paço de Arcos.

No ano de 2017, a equipa o IDEQ acompanhou 183 pessoas que se traduziu

em 2183 atendimentos, quer no contexto de rua, quer nas instalações do IDEQ.

Em seguida iremos realizar a caracterização dos utentes, tendo como base

uma análise quantitativa.

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Caracterização dos utentes

A equipa de intervenção directa do IDEQ, ao longo do ano de 2017,

acompanhou, como já foi referido, 183 pessoas, sendo que 67% deste total, ou

seja, 123 pessoas se encontravam em situação de sem abrigo; 30%, 55

pessoas com problemas de adição; e 3%, 5 pessoas são familiares de aditos.

123

55

5

Problemática Principal

Sem abrigo Dependências Familiares

Em comparação com os anos anteriores, pode-se dizer que a problemática das

pessoas em situação de sem abrigo está a aumentar e que o número de casos

de aditos acompanhados mantém-se estável:

Sem Abrigo Adição

2015 104 57

2016 96 58

2017 123 55

No que diz respeito à população em situação de sem abrigo, esta é

maioritariamente do sexo masculino, 108 pessoas (88%), havendo 15 pessoas

do sexo feminino (11%).

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0

50

100

150 108

15

Género da população em situação de sem abrigo

Masculino Feminino

As razões para haver esta discrepância entre géneros prende-se, a nosso

entender, pelo facto de o género feminino ser mais resiliente e de ter mais

recursos, resolvendo de uma forma mais eficaz os seus problemas, não

chegando propriamente à condição de sem abrigo.

As faixas etárias com maior incidência são as do intervalo 35-49 anos (38%) e

do intervalo 50-59 (28%). Apesar de ser considerada a idade activa para

trabalhar, é também a idade onde se dá a grande parte das ruturas

(desemprego, divórcio, morte dos familiares directos, entre outros) atenuando a

desorganização pessoal e social, contribuindo para o chegar e permanecer na

rua.

1

8 9

47

34

107

51 2

Idade

18-24 25-34 35-49 50-59 60-64 65-69 70-79 80-84 Sem Informação

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É também de salientar a faixa etária que compreende o intervalo dos 18 anos

aos 24 anos que corresponde a 8 pessoas (7%) por se tratar de uma franja tão

jovem e que se encontra em crescimento quando comparada com anos

anteriores.

No que se refere à nacionalidade, a grande maioria das pessoas em situação

de sem abrigo são portuguesas (77%), seguindo-se a nacionalidade cabo-

verdiana (12%).

Da população imigrante que necessita de título de residência temporário para

permanecer no nosso país, ou seja, todos os países fora da União Europeia,

63% não têm o referido documento, encontrando-se num estado de ilegalidade,

sendo muito difícil a intervenção, uma vez que para qualquer tipo de

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encaminhamento (desde o acesso à saúde ao encaminhamento para resposta

de alojamento temporário) é necessário a documentação. Por outro lado, o

processo de obtenção da referida documentação é um processo demasiado

burocrático e moroso.

Apesar do fenómeno da população em situação de sem abrigo se tratar de um

fenómeno multiproblemático, pode-se dizer que existe sempre uma

problemática predominante que se trata, normalmente, do foco inicial da

intervenção.

O alcoolismo é claramente a problemática com maior predominância (50%),

sendo os problemas de saúde mental a segunda problemática com maior

incidência (23%), sendo que se achou necessário identificar os casos de

patologia dual (4%) uma vez que é uma problemática que tem vindo a crescer.

De referir ainda que este ano verificou-se uma pessoa que estava em situação

de sem abrigo devido à sua adição a jogo, tendo perdido todas as suas

poupanças e laços familiares, tal como é frequente em outro tipo de adições.

No que se refere aos meios de subsistência da população em situação de sem

abrigo, a grande maioria, 37 %, tem o rendimento social de inserção, sendo

que a maioria tratou da referida prestação já sob o acompanhamento do IDEQ,

tendo sido apoiado em todo o processo. 35% das pessoas em situação de sem

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abrigo vivem de mendigar na rua, 14% têm pensão, 8% vivem de biscates e

4% auferem um salário, sendo minimamente organizados para manter o local

de trabalho mas não resolvendo os problemas de base para conseguirem sair

da rua.

As freguesias onde existe maior concentração de população em situação de

sem abrigo são Oeiras (26%) e Algés (23,5%), o que facilmente se explica por

serem as freguesias mais urbanas, com maior concentração de serviços e

instituições, com maior acessibilidade a nível de transportes, maior número de

possibilidades de conseguir dinheiro. É ainda de referir que as pessoas que se

encontram a pernoitar fora do concelho (1,6%) fazem a sua vida diária no

concelho de Oeiras, onde têm as suas raízes, usufruindo, desta forma, dos

serviços existentes.

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No que concerne à tipologia de alojamento aquando da sinalização à equipa do

IDEQ, 40% encontrava-se em locais precários, como sejam, casas, prédios e

fábricas abandonadas, entradas de prédios, vãos de escadas, carros, entre

outros; 36% encontrava-se em espaços públicos, tais como jardins, paragens

de autocarro, passeios, viadutos, pontes entre outros.

As situações em que as pessoas se encontram em abrigos de emergência

(1,6%), alojamentos temporários (0,8%) e estabelecimento prisional (0,8%)

são, normalmente, sinalizadas por outras instituições e no sentido de se

delinear com a pessoa um projeto de vida e acompanhá-la até à sua

autonomização.

As pessoas que se encontram em quartos (2.4%) ou em casas próprias ou

arrendadas (2.4%) encontram-se em processo de despejo por incumprimento

no pagamento das rendas ou das prestações de casa.

As pessoas que se encontram em casas de amigos ou familiares (16%) estão

de uma forma temporária até encontrarem uma solução que não seja a sua

permanência na rua, o que na maioria das vezes é um processo demasiado

demorado, sendo que a relação existente acaba por sair prejudicada, em

alguns casos acaba por haver mesmo a ruptura da ligação.

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A tipologia de alojamento atual refere-se ao tipo de alojamento em que as

pessoas se encontravam a 31 de Dezembro de 2017, após a intervenção da

equipa do IDEQ. A grande maioria (63%) da população em situação de sem

abrigo encontra-se sob o acompanhamento da instituição. Os restantes 37%

são pessoas que foram encaminhadas para a resposta lar devido à sua idade

avançada (1%), que se organizaram fora do concelho de Oeiras (10%), que

faleceram (2%) ou que despareceram, não estando sob o acompanhamento de

nenhuma instituição do concelho, sendo o mais provável que tenham saído do

mesmo (24%).

É de referir a diminuição substancial das pessoas que se encontram a pernoitar

quer em espaços públicos (10%), quer em locais precários (24%), quando

comparados com o gráfico da tipologia de alojamento inicial, 36% e 40%,

respectivamente. Este facto está directamente relacionado com as restantes

percentagens dos vários tipos de alojamento actuais, uma vez que estas

acabam por reflectir o projeto de vida delineado e acompanhado pela equipa do

IDEQ: 7% encontram-se em quartos arrendados, normalmente pago com a

prestação de RSI ou com o valor da pensão; 5% estão em comunidade

terapêutica, aderindo assim a um programa livre de drogas e álcool, 1% já se

encontra na fase de reinserção social estando num apartamento próprio para

esse efeito; 3% integram a casa de transição “Casa dos Corações”; 8%

encontram-se a pernoitar em casa de amigos ou familiares e 2% foram

realojados em habitações sociais.

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Ainda em relação às pessoas que se encontram em espaços públicos ou locais

precários pode-se concluir que ou são pessoas que se encontram na fase de

delinear o projeto de vida; ou que não aderem a nenhum programa terapêutico

para parar com os consumos de álcool ou de drogas, não se conseguindo

organizar para sair da rua, nem sendo essa uma prioridade; ou que a verba

que têm mensalmente (normalmente o RSI) não lhes permite arrendar um

quarto; ou que a sua descompensação, a nível psiquiátrico, é bastante

acentuada, não havendo condições, quer do próprio quer das respostas

existentes, para a sua saída da rua.

Por último é de referir que as repostas de alojamento temporário e de abrigo de

emergência correspondem a percentagens tão baixas (3% e 2%,

respectivamente), por um lado, por se tratar de uma resposta fora do concelho,

não havendo qualquer tipo de prioridade aquando da existência de lista de

espera, e por outro lado, as pessoas normalmente resistem ao

encaminhamento pois é longe da zona onde estão habituadas a estar e onde

têm uma rede formal de apoio mas também, muitas vezes, uma rede informal

constituída quer por pessoas que já conheciam quer por pessoas que, devido à

sua situação, as ajudam.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 16

Em relação ao tempo de acompanhamento do IDEQ à população em situação

de sem abrigo, a maioria das pessoas encontra-se a ser acompanhada há

menos de um ano (25%) e há um ano (24%). Os casos que se encontram sob

acompanhamento há 9 anos (1%), há 8 anos (3%), 7 anos (1%) e 6 anos (2%)

são casos que terão que ter acompanhamento institucional duradouro, uma vez

que são pessoas com doença mental associada com danos irreversíveis

necessitando de apoio à gestão da vida diária

Em relação às pessoas com a doença de adicção, foram acompanhadas 55

pessoas, sendo que 67% são do género masculino e 33% do género feminino,

estando a maioria (40%) na faixa etária dos 50-59 anos, logo seguido da faixa

etária dos 35-49, com 30% traduzindo ainda o tipo de consumidor que iniciou

os seus consumos no “boom das drogas” nos anos 90, bem como a população

alcoolica. As pessoas situadas nas faixas etárias mais baixas, 18-24 anos

(2%) e 35-34 anos (15%) estão ligadas a consumos de droga associada ao uso

recreativo (como sejam canabis, cocaína e mdma).

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Em relação ao tipo de consumos é de salientar a existência em maior número

de pessoas com problemas de alcoolismo (62%) quando comparada com as

pessoas que consomem outro tipo de drogas (42%). É de referir que este ano

acompanhou-se 1 pessoa (2%) com problemas de adicção ao jogo, sendo que

a abordagem é semelhante, pois o principio da doença é o mesmo.

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Por último, a situação da dependência demonstra que 55% das pessoas se

encontra a consumir, 36% encontram-se em recuperação, sendo a maioria

acompanhados em prevenção de recaídas e 9% encontram-se em quer em

unidades de desabituação física do álcool, quer em comunidades terapêuticas.

0

5

10

15

20

25

30

30

5

20

Situação do Dependente

No Activo Em Tratamento Em Recuperação

Estando a população alvo do IDEQ caracterizada explicar-se-á, em seguida, a

intervenção da equipa do IDEQ com a descrição de alguns casos que estão a

ser acompanhados.

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A intervenção com as pessoas em situação de sem abrigo

Neste capítulo iremos apresentar alguns casos exemplificativos da intervenção

com as pessoas em situação de sem abrigo, organizados pelas diversas

freguesias do Concelho.

Freguesia de Algés

P. (Processo n.º 31/09)

P., 41 anos, sexo masculino, é acompanhado pela equipa de intervenção

direta, desde 2008, altura em que se encontrava indocumentado, em situação

de sem abrigo (sem tecto – local precário), a ocupar uma casa abandonada em

Algés.

Nesta altura, P., encontrava-se descompensado, com comportamentos

agressivos, sendo frequente a necessidade do apoio de um agente de

autoridade na deslocação aos serviços.

A equipa de intervenção direta acompanha P. à Urgência Psiquiátrica, onde lhe

é diagnosticada uma Psicose não especificada, e em que o tratamento é feito

em ambulatório (medicação oral e injectável quinzenal). Foi criado um plano

para toma da medicação oral com o apoio da SCMO, através do Projecto Mãos

Dadas para a Vida e a equipa do IDEQ, acompanhava P., na toma do

injectável, inicialmente também acompanhado por um agente de autoridade,

mais tarde só a equipa e numa fase posterior, P, já o fazia sozinho.

Desde esta fase que foi estabelecida uma relação de confiança entre P. e a

equipa de intervenção direta do IDEQ. Depois de estabilizado, iniciou-se o

processo de obtenção de documentos, processo esse bastante moroso e

complicado uma vez que, P, se encontrava “contumaz”. Para que P,

conseguisse obter o cartão de cidadão, uma das sócias do IDEQ, advogada,

representou-o em Tribunal diversas vezes, dado o número de processos.

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Este acompanhamento, veio reforçar ainda mais a relação de confiança de P,

com a Equipa do IDEQ, e a dada altura P., cumpria religiosamente com todas

as sugestões dadas pela mesma. P., sentiu depois de muitos anos, que alguém

estava de facto disponível para acompanhá-lo. Contudo, mantém a dificuldade

em aceitar a sua doença psiquiátrica, tornando-se este facto pontualmente

motivo de algum constrangimento, principalmente em relação à toma de

medicação oral.

Durante este período de 9 anos, P., continuou sempre com o acompanhamento

do IDEQ, passando por vários quartos em que a supervisão do IDEQ, tinha que

ser bastante intensiva sob pena de os quartos ficarem com problemas ao nível

da higiene (pulgas, acumulação de objectos, etc.).

Em determinada fase do acompanhamento, o facto da equipa de intervenção

direta, confrontar P., relativamente à sua higiene e do espaço habitacional,

tornou-se motivo de algum constrangimento e gerador de conflito, não havendo

qualquer evolução no comportamento de P, relativamente a esta questão. Isto

levou a que a Equipa, tivesse optado em 2014, por procurar um quarto com

menos regras, onde era conhecido que para o dono da casa isto não era um

problema, tendo a equipa deixado de fazer esta supervisão com P, ficando

apenas com a responsabilidade de fazer o pagamento do mesmo.

Em Janeiro de 2016, P., é detido por incumprimento de trabalho comunitário. A

equipa do IDEQ, informou os serviços prisionais do seu diagnóstico

psiquiátrico, da medicação que P., fazia habitualmente e da Equipa de Saúde

Mental onde P., era seguido.

Das várias visitas que a Equipa foi fazendo a P., a mesma foi-se apercebendo

que P., não estava a fazer a medicação e mais tarde foi-nos informado que da

avaliação psicológica feita a P., na prisão, não se tinha verificado a

necessidade de o recluso fazer medicação.

Durante o período em que P., esteve detido, foi-lhe cortado o rendimento social

de inserção, tendo o IDEQ, disponibilizado uma verba para assegurar o

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pagamento do quarto de P., de Janeiro a Abril de 2016, altura em que o mesmo

sai da prisão.

P., sai do Instituto Prisional de Caxias, bastante descompensado, abandonou o

Projecto Mãos Dadas para a Vida, onde fazia habitualmente a sua alimentação

e medicação oral e rapidamente a equipa do IDEQ, apercebe-se de que P., se

encontrava com consumos de Cocaína. O seu emagrecimento foi notório, bem

como a sua desorganização a todos os níveis (higiene, discurso).

Após a saída da Prisão, a equipa de intervenção direta, ainda conseguiu

acompanhar P., a uma consulta psiquiátrica, mas P., refere ao seu Psiquiatra

que não quer fazer mais injectável e vem só com medicação oral, que acaba

por não fazer.

Em Setembro de 2017, a equipa de intervenção direta do IDEQ, apercebe-se

que os comportamentos de P., estão estranhos, P., encontra-se a

descompensar (fala e ri sozinho, mantem rituais de marcha militar no parque de

estacionamento, e o seu discurso é delirante). Esta informação é passada ao

Psiquiatra de P., que fica bastante preocupado, dando algumas indicações à

equipa relativamente à abordagem a fazer na rua, que vão de encontro ao que

a mesma já vinha a fazer e fica combinado que se P., continuar a não aceitar

fazer uma deslocação à Urgência Psiquiátrica, terá que ser feito um mandado

de condução, mas em que P., não pode saber do envolvimento nisto da equipa

de intervenção direta, nem do seu Psiquiatra, de forma a não ser comprometida

a relação de confiança.

Em Novembro de 2017, P., é conduzido à Urgência Psiquiátrica do Hospital

São Francisco de Xavier, por um agente de autoridade e fica internado

compulsivamente, tendo sido uma situação bastante traumática para P.. O seu

Psiquiatra, tinha esta noção e estava a evitar que o internamento fosse feito

desta forma, mas P., não se mostrou disponível para colaborar e estava muito

psicótico, apresentando risco para terceiros.

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Durante o período em que P., se manteve internado, a equipa de intervenção

direta do IDEQ, visitou-o por várias vezes e disponibilizou-se com a equipa de

enfermagem a colaborar com o internamento aquando da alta clínica, por forma

a existir um plano em articulação com as várias instituições que pudessem

acompanhar P., na comunidade para que este internamento não tivesse

acontecido em vão. Isto não aconteceu, e a equipa do IDEQ, só foi informada

da alta de P., no próprio dia, para que o fosse buscar ao hospital, o que a

equipa do IDEQ não fez.

P., sai do hospital sem documentos, e sem todos os seus pertences (óculos,

roupa, chaves de casa), uma vez que o seu espólio tinha sido perdido, como foi

referido a um dos elementos da equipa do IDEQ. Foi-nos também informado

que P., iria mudar de Psiquiatra.

A equipa do IDEQ, ainda acompanhou P., a uma consulta com a sua nova

Psiquiatra, mas P., continua a não aderir a qualquer tipo de medicação, tendo

feito o injectável apenas no início da alta hospitalar.

É de repensar o tipo de intervenção com este tipo de doentes que para além do

diagnóstico psiquiátrico, se encontram isolados, sem qualquer vínculo familiar,

sendo o único vínculo o de uma instituição e em que para a estabilização dos

mesmos, torna-se essencial o trabalho em parceria com os vários técnicos

intervenientes no processo.

MJ. (Processo n.º26/2017)

MJ., sexo feminino, 60 anos, alcoólica, foi acompanhada pelo IDEQ em 2011

por se encontrar na iminência de ficar em situação de sem abrigo após a saída

de comunidade terapêutica. Em 2011, a utente com o apoio do IDEQ, aluga um

quarto, tendo recaído no consumo de álcool ao fim de um mês, recusando a

continuidade do acompanhamento do IDEQ.

A 7 de Junho de 2017, MJ., é despejada do quarto onde se encontrava por

motivo de venda do prédio, ficando então numa situação de sem abrigo na

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 23

zona de Algés.

MJ., permanece na rua por um período de aproximadamente 4 meses,

agravando-se o seu estado de saúde físico e mental, mantendo-se sempre com

os consumos e referindo que assim quer permanecer. Por se tratar de uma

mulher, estar num local bastante exposto e de passagem de muita gente, esta

situação desperta, mais do que outros casos a atenção e olhares não só de

munícipes como de vários agentes com responsabilidades na área social.

Contudo, o processo apresenta-se bastante complicado, inicialmente porque

MJ., não se mostra disponível para uma mudança e para ser encaminhada

para alguma estrutura de tratamento e ainda que se mostrasse seria um

processo moroso, uma vez que não existe uma chamada “ Via verde”, para

estes casos em que a fronteira do consciente e da escolha consciente

apresenta-se muito ténue.

Apesar de em 2011, MJ., ter dispensado o acompanhamento por parte da

equipa do IDEQ, no decorrer do trabalho de rua semanal, a equipa, manteve

sempre um contacto de proximidade com MJ., uma vez que esta não se

encontrava em situação de sem abrigo, mas durante o dia permanecia pelas

ruas de Algés. Esta proximidade foi facilitadora no processo de sensibilização

para mudança e para que MJ., permitisse algumas diligências por parte da

equipa de intervenção direta no âmbito da sua protecção em termos de saúde

e da sua segurança.

No dia 13/07/2017, a Equipa de Intervenção Direta do IDEQ, acompanha MJ., à

Urgência do Hospital S. Francisco Xavier, por esta se encontrar com

queimaduras nos pés devido à exposição solar pelo facto de se encontrar na

rua; A utente, sai com alta clínica e entrevista marcada para 21/07/2017, para o

Centro de Acolhimento da Vitae.

No decorrer do trabalho de rua, a equipa do IDEQ, apercebe-se da evolução da

degradação de MJ. e a 17/07/2017 emite um mandado de condução à

urgência; MJ., volta a ter alta clínica, trazendo consigo uma receita e várias

consultas de seguimento. No dia 20/07/2017, a Equipa, volta a acompanhar

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 24

MJ. à urgência, uma vez que a mesma deixa de conseguir andar, acontece o

mesmo de sempre, MJ., tem alta. No dia 21/07/2017, a Equipa do IDEQ,

acompanha M.J, à entrevista na Vitae, e a utente, embora, não tivesse critérios

para entrar nesta estrutura, a pedido da Equipa do IDEQ, dado a debilidade

física e psicológica que a mesma se encontrava, e dado existir uma vaga, a

Direcção do Centro de Acolhimento da Vitae de Alcântara, aceita acolher MJ.. A

28/07/2017, é feito um pedido de Limpeza ao local, onde Mª J, permanecia,

uma vez que o mesmo se encontrava, em condições de insalubridade pública

MJ., permanece neste Centro de Acolhimento até 1/09/2017, altura em que é

expulsa, por não ter cumprido com o horário de entrada no Centro – hora limite

de entrada seria até às 19h e MJ., chega por volta das 22H. Por esta altura, Mª

J, já se encontrava mais restabelecida e compensada e começa a sair do

Centro, durante o período de dia. Também é regra desta estrutura, as pessoas

poderem sair, desde que não cheguem com consumos muitos exacerbados,

facto que também Mª J, já teria transgredido. A 8/09/2017, a equipa de

intervenção direta do IDEQ, tenta acompanhá-la de novo ao Centro de

Acolhimento da Vitae e a mesma recusa.

Os e-mails de munícipes continuam a chegar quer à União de Freguesias de

Algés/Cruz Quebrada Dafundo, quer à Câmara Municipal de Oeiras, pelas

condições em que MJ., se encontra, mas igualmente pelas condições em que o

espaço se encontra, deixando quem passa chocado com a situação; A

9/10/2017, é feito um novo pedido de limpeza do espaço. No decorrer do

trabalho de rua, de dia 27/09/2017, MJ., aderiu a poder vir a ser encaminhada

para uma Comunidade Terapêutica, autorizando a equipa do IDEQ, a fazer uma

marcação de consulta para a Unidade de Alcoologia, tendo esta consulta ficado

marcada para dia 25/10/2017. É feito um pedido na UDRA, para que neste dia,

perto das 8h30m, da manhã, a utente pudesse tomar um banho, a fim de

comparecer na consulta às 10h30m da manhã, acompanhada pela equipa de

intervenção direta do IDEQ. Desta consulta, resulta então o compromisso de

efectivar todos os exames necessários para a entrada na Unidade de

Alcoologia e posteriormente ingressar em Comunidade Terapêutica.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 25

O estado de saúde física e psicológica de MJ., não lhe permite, reunir

condições para se deslocar para realização dos exames necessários (Rx,

electrocardigrama, ecografia abdominal e análises clínicas). A sua degradação

evolui, ao ponto de MJ., não conseguir andar e ter que rastejar pelas ruas de

Algés, tendo que fazer as necessidades fisiológicas, no local onde se encontra

e à vista de qualquer um que passa. Foi de novo feito um mandado de

condução e estabelecido um plano em reunião de NPISA, com a concordância

dos vários parceiros.

Desta forma, a equipa de intervenção direta do IDEQ, foi avisada pelos agentes

da efectivação da deslocação à Urgência com a utente pelo mandado de

condução e a equipa desloca-se também ao serviço de urgência do Hospital S.

Francisco Xavier, onde permanece, até que se encontre uma resposta para

MJ., e explicando a cada interveniente do processo (Psiquiatra, Médico de

Urgência Geral, Enfermeira, Assistente Social), os passos que já teriam sido

dados com MJ., e a intenção de encaminhamento para Comunidade

Terapêutica. MJ., acabou por permanecer internada e transferida para o

Hospital Egas Moniz, através de quota Social, o técnico da Comunidade

Terapêutica, deslocou-se mais tarde a este Hospital, onde realizou as

entrevistas necessárias para entrada na Comunidade, a equipa do IDEQ,

visitou várias vezes MJ., no Hospital, assegurando-lhe igualmente tabaco,

dinheiro de bolso para café, roupa e sobretudo, continuando a fazer a

sensibilização para que MJ., não desistisse do ingresso em Comunidade

Terapêutica. MJ., entra na Comunidade Terapêutica Vale D´Acór, onde ainda

permanece.

Freguesia de Barcarena

A. (Processo n.º 26/2015), M. (Processo n.º 27/2015), AB (Processo n.º

28/2015)

A., 41 anos, angolano, ilegal, alcoólico, vive numa casa abandonada (no limite

do concelho, junto a Massamá, concelho de Sintra) com M., 42 anos, angolano,

ilegal, alcoólico. Na mesma rua, umas casas mais à frente vive AB, 49 anos,

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caboverdiano, ilegal, alcoólico. Estes três utentes para além das problemáticas

do alcoolismo e da ilegalidade, têm em comum certas características que

tornam a intervenção da equipa do IDEQ difícil, nomeadamente:

- Durante o dia, fazem a sua vida pelos concelhos de Lisboa e Sintra, sendo

impossível o contacto com os mesmos. Na altura encaminhou-se M. para o

Centro Social e Paroquial de Barcarena, com o objectivo de receber apoio

alimentar, e o utente nunca compareceu;

- No trabalho de rua nocturno, quando a equipa se desloca ao local, os utentes

ou não se encontram nas casas ou se estão, já estão bastante alcoolizados,

sendo impossível manter um diálogo;

- Apesar de serem frequentes os furtos naquela zona, não se consegue

associar os mesmos a estas pessoas, já se informou o SEF do seu estado de

ilegalidade (um deles até tem um mandado de expulsão do país) não tendo

havido alterações.

Desta forma, não se percebendo a história de vida destas pessoas não se

consegue intervir para que se consiga a sua legalização, nem os próprios

devido à sua desorganização, conseguem dar os passos necessários para

obter a mesma.

Freguesia de Carnaxide

L. (Processo n.º 53/2015)

L., é sinalizado pela Junta de Freguesia de Carnaxide em Novembro de 2016

por ser alcoólico e necessitar de ajuda para tratamento. L., concorda que

necessita de fazer algo sério em relação ao seu problema de álcool e aceita a

proposta da equipa do IDEQ de realizar uma desabituação física ao álcool

seguido de comunidade terapêutica.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 27

O processo decorre com altos e baixos, até porque com o decorrer do

acompanhamento a L. a equipa do IDEQ depara-se com o facto do mesmo

estar numa situação de sem abrigo, pernoitando num anexo de uma casa sem

água, sem luz e sem qualquer tipo de condições de habitabilidade. A equipa

detecta que a sua adição não é só ao álcool mas também a benzodiazepinas.

Em Junho de 2016 L., entra na Unidade de Alcoologia para realizar a

desabituação física ao álcool e segue directo para a Comunidade Vida e Paz

onde cumpre o programa até ao fim.

O programa de tratamento de L. decorre dentro da normalidade, até à fase da

inserção, onde surgem os primeiros constrangimentos, por falta de resposta

habitacional.

Várias foram as diligências efectuadas e os parceiros envolvidos, não só o

IDEQ mas a Junta de Freguesia de Carnaxide, a equipa de RSI do Centro

Social e Paroquial de São Romão de Carnaxide, a Câmara Municipal de

Oeiras, a Comunidade Vida e Paz, mas na realidade não se encontrou uma

resolução para L.

Sem outra solução em Outubro de 2017 L., ingressa então na casa de inserção

da Comunidade Vida e Paz em Odivelas. O projeto de vida proposto por L., é

sempre com a intenção de começar a trabalhar e voltar a residir na sua zona

de conforto que é Carnaxide.

C. (Processo n.º35/2017)

C. Sinalizado pela Câmara Municipal de Oeiras em Agosto de 2017. C. é

trabalhador do Centro Social e Paroquial de São Romão de Carnaxide. Tem

contrato de trabalho e reside numa casa da entidade patronal a qual deixou de

pagar por não concordar que o tenha de fazer.

C. não concorda com o pagamento da casa e ao sentir-se pressionado para o

fazer, acaba por abandonar a casa e decide ir viver para um carro. Segundo C.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 28

o dinheiro não lhe chega para tudo e prefere viver no carro e ter dinheiro para

as suas coisas.

Em articulação com a Equipa de Tratamento da Parede, onde vai todas as

quintas-feiras para tomar a metadona, percebe-se que C. teve uma recaída e

que foi nessa altura que decidiu abandonar a casa onde habitava. Segundo a

técnica que o acompanha C. já está equilibrado novamente na toma da

metadona, contudo não estranha a decisão de este não querer pagar renda

para ter mais dinheiro, pois foi sempre algo que C. contestou, que não precisa

de casa para nada, precisa sim de dinheiro.

C. foi inscrito na habitação por amigos preocupados com a sua situação, mas

faltou ao atendimento sem ter dado qualquer justificação às técnicas. C.

continua a ir trabalhar, faz as refeições e a sua higiene no centro paroquial

onde trabalha, diz estar a procurar um quarto barato na zona e continua a

dormir no carro ou esporadicamente em casa de amigos.

Freguesia de Caxias

LS. (Processo n.º12/2015)

LS., é sinalizado pela equipa de RSI em 2015 por se encontrar numa situação

de sem abrigo e os seus consumos de álcool terem aumentado o que levou as

técnicas de RSI a suspeitarem de um problema de alcoolismo.

LS., vive preso no passado, todas as histórias e problemas que apresenta

prendem-se com o final do seu casamento, que embora o mesmo relate como

sendo bastante recente já foi há mais de uma década em 2003. Depois do

divórcio LS., muda-se para a casa da mãe, que veio a falecer em 2007, altura

em que L.S. deixa de ter um local de pernoita fixo, entra em depressão e

entrega-se ao álcool.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 29

Em 2010 com o apoio de amigos entra em comunidade terapêutica na Figueira

da Foz, mas não termina o tratamento e volta para Caxias. Quando confrontado

com as datas, não consegue perceber que está na altura de evoluir e continua

a remoer e preso ao passado.

Foram várias as tentativas de encaminhamento para tratamento, LS., nunca diz

que não, mas boicota todas as intervenções, ou adormece, ou tem uma

consulta médica, ou engana-se nos dias.

Vai pernoitando actualmente em casa de uma amiga a quem chama de tia

afectiva. Segundo o mesmo a "tia" perdeu um filho para as drogas e agora

ajuda quem consegue para que tal não volte a acontecer.

Na realidade LS., não se sente sem abrigo nem assume verdadeiramente o

seu problema de alcoolismo, diz que na vida quem tem amigos tem tudo e

enquanto tiver apoio vai ficando assim, continua preso às partilhas do divórcio

que ainda não estão concluídas, embora já se tenha tentado varias vezes os

contactos de referência de quem está com o processo, mas o mesmo nunca

nos facultou essa informação, continuando preso a um passado cada vez mais

distante.

M. (Processo n.º54/2017) G. (Processo n.º53/2017)

M. e G. são mãe e filho de nacionalidade cabo-verdiana, ambos acompanhados

pela equipa de RSI de Carnaxide, que em dezembro de 2017 sinalizou esta

família ao IDEQ por se encontrarem numa situação de sem abrigo e

suspeitarem que a mãe tem um problema de alcoolismo.

G. tem 26 anos, e alega que sozinho se conseguia organizar, mas não tem

coragem de deixar a mãe sozinha uma vez que o resto da família já a

abandonou devido ao seu problema com a bebida. M. de 50 anos, afirma que

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 30

não tem problema nenhum com a bebida e que sempre que quer deixa de

beber, segundo M. quem tem problemas quando bebe é o filho. A relação

familiar está bastante esgotada e tanto o filho como a mãe são bastante

agressivos um com o outro, existindo mesmo violência física.

Após alguma sensibilização M. aceita que se marque um atendimento no IDEQ

para falar com a psicóloga e iniciar um novo processo de abstinência. G.

mostra-se descrente da atitude da mãe, mas oferece-se para a acompanhar

neste processo.

Embora quem tenha um problema de alcoolismo seja M. isso afecta G. que

acaba por culpar a mãe de não se conseguir organizar na vida. A relação

familiar disfuncional dificulta a intervenção da equipa, pois ambos culpam-se

mutuamente.

Freguesia de Cruz Quebrada Dafundo

F. (Processo n.º 44/2015)

F., sexo masculino, 48 anos, encontra-se a pernoitar numa casa abandonada

na freguesia, com a sua companheira, tendo-nos sido sinalizado pela Junta de

Freguesia da Cruz-Quebrada Dafundo após um atendimento na sequência de

um episódio de violência entre ambos. Encontra-se em programa de metadona,

sendo a sua técnica da Associação Ares do Pinhal, deslocando-se diariamente

a Alcântara para levantar a metadona, sendo a sua morada oficial a morada da

sua antiga casa/empresa em Lisboa, onde teve uma casa de sucata mas que

acabou por fechar por má gestão. Refere ter apoio alimentar em lisboa (nas

carrinhas de distribuição), e quando se sugere apoiado aqui no concelho a

esse nível, até por razões de proximidade, rejeita esse apoio pois prefere

deslocar-se diariamente à capital.

A nível familiar, F. tem um filho já maior de idade, que vive com a sua mãe, e

com quem mantém esporadicamente o contacto; tem uma filha, menor, da atual

companheira em que a guarda se encontra entregue à avó materna, visitando-a

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 31

também duma forma esporádica; os irmãos mais novos e a madrasta residem

num fogo camarário mas desde a morte do pai, que não quer ter contacto com

os mesmos e tem outro irmão que já foi acompanhado pelo IDEQ e que se

encontra numa situação precária.

F. demonstra interesse em que o seu projeto de vida se centre na sua inserção

profissional, não sendo de todo um problema continuar a viver naquela casa,

“até porque tem luz e consegue ir buscar água para realizar a sua higiene”.

Neste sentido, apoia-se F. a tratar do cartão de cidadão, alterando a morada

para a morada do IDEQ, agiliza-se a sua deslocação ao centro de emprego

para efectuar inscrição, tratando-se do requerimento do rendimento social de

inserção, com o objectivo de poder ser inserido num contrato de emprego e

inserção +.

No inicio de Novembro de 2016 inscreve-se num curso profissional de artes

gráficas de equivalência ao 3.º Ciclo, sendo seleccionado, iniciando-o em finais

de Dezembro, estando ainda a frequentar o curso, sendo o melhor aluno

havendo perspectivas de ingressar numa grande empresa da área.

Em Março de 2017, contacta o IDEQ pois encontra-se detido no

Estabelecimento Prisional de Lisboa por não ter pago uma multa de utilização

indevida de transportes públicos em 2007, tendo que cumprir 30 dias de prisão

ou efectuar o pagamento da mesma. Uma vez que o mesmo não tem

capacidade financeira de proceder ao pagamento da multa, e tendo em conta

que ao cumprir a pena de prisão o utente iria chumbar por faltas, boicotando

todo o seu projeto de vida, o IDEQ faz o pagamento da multa, sendo que F.

assume o compromisso de pagar em duas vezes, aquando do recebimento do

RSI. F. cumpre escrupulosamente o estipulado com o IDEQ.

Em Agosto de 2017, tem a informação que terá que abandonar a casa que

ocupa até finais de Outubro, uma vez que se trata de um edifício público, sendo

um posto de alta tensão, havendo inclusive risco para a vida humana.

Realizaram-se duas reuniões com a empresa gestora do edifício, o IDEQ e a

junta de freguesia, com o objectivo de acautelar a sua saída: em atendimento,

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 32

F. refere que quando tiver que sair ou ocupa outra habitação abandonada ou

arrenda um quarto, não se mostrando muito preocupado com a situação, sendo

que até ao presente continua a ocupar a mesma habitação.

P. (Processo n.º27/2017)

P. Português do sexo masculino de 34 anos chega ao IDEQ, em final de Julho

de 2017, a pedir ajuda por estar na iminência de ficar numa situação de sem

abrigo devido a uma situação de violência doméstica para com a sua

companheira, teve como medida de coacção por parte do tribunal ordem de

afastamento da residência onde morava com a sua filha e a vítima.

Aquando da decisão do tribunal, P. embora desempregado tinha ainda algum

dinheiro que lhe permitiu pagar uma pensão durante alguns dias, contudo o

dinheiro acabou e pediu ajuda ao irmão (anteriormente acompanhado pelo

IDEQ) que lhe deu a morada do IDEQ e o aconselhou a ir à Segurança Social

onde lhe marcaram atendimento para o dia seguinte.

Após o atendimento, P. procura afincadamente um quarto para alugar pois a

técnica do ISS disponibilizou verba para um mês de renda e respectiva caução.

Encontra quarto em Lisboa onde entra logo no dia 1 de Agosto e continua à

procura de trabalho sendo que consegue rapidamente e começa no seu novo

emprego a 7 de Agosto.

O IDEQ assegura durante este período e no decorrer de todo o mês de Agosto

alimentação e transportes a P. pois, embora a trabalhar, não teria ainda

recebido qualquer remuneração o que vem a acontecer a 8 de Setembro.

Até Dezembro os contactos com P. foram sendo cada vez mais espaçados na

medida em que efectivamente se organizou e apenas necessitou de ajuda

inicial para prosseguir com a sua vida.

Freguesia de Linda-a-Velha

M. (Processo n.º 7/2013)

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 33

M., sexo masculino, 61 anos é acompanhado pelo IDEQ desde 2013 por se

encontrar a pernoitar nas arcadas de uma zona comercial na freguesia. M. é

seguido há vários anos na consulta de Psiquiatria na Equipa Comunitária de

Carnaxide/Dafundo, por ter uma psicose esquizofrénica tipo paranóide, tendo

estado internado na Unidade de Doentes Agudos do Centro Hospitalar de

Lisboa Ocidental em 2012, estando desde então a viver na rua.

A nível familiar, e até à morte da sua mãe, o utente vivia com a mãe e o

padrasto, sendo a progenitora o grande apoio de M.. Após a morte desta, o

padrasto diz não ter forma de apoiar o utente, não o tendo recebido após o

internamento. M. tem uma pensão de sobrevivência no valor de 230,26€ e

desde que é acompanhado pela equipa do IDEQ que esta se encontra sob a

gestão da instituição, uma vez que o utente não tem capacidade de gerir o seu

próprio dinheiro.

Ainda em 2013, e após não se encontrar resposta em nenhuma unidade de

saúde mental, ingressa num quarto arrendado em Linda-a-Velha, tendo sido

necessário contratar uma empresa de limpeza para fazer a manutenção do

espaço, visto que o utente não tem essa capacidade, demonstrando uma falta

de controlo dos impulsos primários, nomeadamente em relação aos seus

dejectos. Uma vez que nunca aderiu a ingressão no Projeto Mãos dadas para a

Vida de Algés, de forma a ter apoio alimentar, e uma vez que tinha verba para

tal faz as suas refeições num café, em que a dona é uma pessoa da sua

confiança, estando sob a responsabilidade desta a toma diária da medicação.

Foram muitas as vezes que M. recusou a toma da mesma, criando também

alguns desacatos com os clientes, boicotando o apoio neste estabelecimento.

Em 2014, transita para um quarto em Algés, uma vez que o senhorio do atual

quarto vê a sua habitação penhorada pela instituição bancária credora do seu

empréstimo. Neste quarto, é o próprio senhorio que apoia a equipa do IDEQ no

apoio alimentar a M. (o utente continua a não aderir ao encaminhamento para

uma resposta alimentar) e na toma diária da alimentação, bem como na

manutenção do espaço e na higiene pessoal do utente.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 34

Neste período de tempo, é frequente M. ser indiciado pelo crime de assalto e

roubo ao interior de automóveis, por objetos, na sua maioria, sem grande valor

como canetas, óculos, cd's.

Em Março de 2016, após várias tentativas frustradas por parte da equipa do

IDEQ de realizar todos os passos para o seu ingresso em comunidade

terapêutica, dá entrada na Quinta do Espirito Santo da Comunidade Vida e

Paz, onde permanece até Julho de 2017, tendo neste período abandonado

várias vezes mas sendo sempre aceite de volta. Nesta última fuga, apesar de

M. ter pedido para voltar, a comunidade refere que terá que iniciar novamente o

processo de triagem – entrevista de triagem, realização de exames e aguardar

pela vaga. O utente encontra-se na rua até ao presente.

Em Setembro de 2017, aquando da sua entrada novamente na comunidade, ao

fazerem-lhe os testes de despistagem de drogas/álcool, dá positivo para

canabinóides e de álcool não sendo aceite. O utente assume o compromisso

de não voltar a consumir para poder entrar mas sempre que lhe fazem testes

dá positivo, boicotando a sua saída da rua.

Freguesia de Oeiras

M. (Processo n.º 08/2009)

M., sexo masculino, de 47 anos, caboverdiano, é acompanhado pela equipa de

intervenção social desde 2009, quando ainda pernoitava em Paço de Arcos nas

traseiras do Palácio dos Arcos, a céu aberto, em conjunto com mais dois

indivíduos em situação de sem abrigo. Em meados de 2010, M. ocupa um local

precário na Estação Agronómica de Oeiras, vivendo em comunidade com mais

7 indivíduos em situação de sem abrigo. A irmã e a mãe vivem em fogo

camarário no concelho, mas a relação com M. é bastante conflituoso, em

grande parte devido ao consumo de álcool abusivo por parte do utente.

No início do acompanhamento, M. encontra-se ilegal, nunca tendo tido a

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 35

documentação, apesar de estar em Portugal desde 1975. Em articulação com o

CLAII, e após várias tentativas de legalização, consegue obter o título de

residência temporária em 2012. Uma vez que M. não adere a um projeto de

vida que contemple a paragem dos consumos de álcool, e visto que também

estava sob o acompanhamento do Projeto Mãos dadas para a Vida, requer o

rendimento social de inserção e através desta medida é inserido num contrato

de emprego e inserção +, tendo abandonado o mesmo a pouco tempo do final

do mesmo.

Desta forma, e não podendo requer do rendimento social de inserção, uma vez

que entrou em incumprimento, M. volta a estacionar carros e mantem-se a

pernoitar na estação agronómica, mantendo um contacto mais permanente

com a equipa do IDEQ no trabalho de rua, sendo que os seus consumos de

álcool acentuam-se.

Em 2014,após muito trabalho de sensibilização, M. adere a parar os consumos

de álcool, aceitando o encaminhamento para a Unidade de Alcoologia e

posterior inserção em comunidade terapêutica. No decorrer do processo para

internamento na Unidade de Alcoologia, inicia-se o processo de renovação do

título de residência, começando o utente a faltar aos atendimentos do SEF,

boicotando desta forma o seu processo para abstinência do álcool, uma vez

que não pode dar continuidade ao encaminhamento estando ele ilegal. Quando

consegue o título de residência temporário, M. já não está motivado para iniciar

tratamento.

Em Janeiro de 2017, mostra interesse em retomar o projeto de vida que

contemple a abstinência do álcool, iniciando-se o processo da unidade de

alcoologia, onde é internado durante quatro semanas para realizar a

desabituação física do álcool e em Março dá entrada na comunidade

terapêutica da Associação Vale de Ácor por um período nunca inferior a 6

meses. M., ao final de uma semana abandona tratamento e regressa à estação

agronómica, sendo novamente englobado no trabalho de rua da equipa de

intervenção directa do IDEQ, recebendo apoio alimentar da Agência Nacional

de Intervenção Social e tratou, pelos seus próprios meios, da prestação de

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 36

rendimento social de inserção.

M. (Processo n.º 16/2017)

M., sexo feminino, 53 anos, portuguesa, sinalizada em Abril de 2017 pela

Segurança Social de Oeiras por estar a viver em casa da irmã, arrendatária

dum fogo camarário, tendo autorização do Departamento de Habitação para

permanecer um mês. É divorciada, foi vítima de violência doméstica, tendo

estado 6 meses numa casa abrigo que abandonou após ter-se

incompatibilizado com outra residente. Tem dois filhos que se encontram

emigrados em França, não tendo forma de apoiar a mãe. É beneficiária de RSI,

estando o processo ainda na morada da casa abrigo. Após atendimento

conjunto com a Técnica da Segurança Social, ficou acordado que se iria

transferir o processo para Oeiras, dando-lhe a indicação para ir alterar a

morada do cartão de cidadão para a morada do IDEQ; apoiá-la na procura de

um quarto em Oeiras com o objectivo de ficar próximo da irmã; activar a

cantina social para não sobrecarregar financeiramente a irmã; agendar uma ida

à urgência de psiquiatria com o objectivo de iniciar acompanhamento na Equipa

de Saúde Mental de Oeiras e de rever a medicação, que irá ser supervisionada

pela equipa do IDEQ.

Ainda em Abril, muda-se para um quarto no bairro da figueirinha, inicia

acompanhamento em psiquiatria, tendo-lhe sido diagnosticado uma depressão,

percebendo-se que já tinha estado internada no serviço de psiquiatria de Tomar

por sintomatologia depressiva com ideação suicida e automutilação.

Em Maio recorrer à urgência a meio da noite, devido a um ataque de pânico,

coincidindo com uma discussão com a irmã, em que esta se queixa que M.

“não faz nada durante o dia, está sempre em sua casa, não vai buscar a

alimentação”, acabando por se zangar com ela, cortando qualquer tipo de

relacionamento.

Desde Setembro que recorre frequentemente à urgência de psiquiatria com

ataques de pânico, ao mesmo tempo que começa a desorganizar-se no quarto,

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 37

havendo várias queixas por parte da senhoria.

No início de Dezembro, após ter sido expulsa do quarto, fica internada no

Hospital São Francisco de Xavier durante 4 dias, data em que é transferida

para o Centro de Alojamento Temporário de Belas, sendo o IDEQ responsável

pela entrega da medicação.

Freguesia de Paço de Arcos

M. (Processo n.º30/2017)

M., 61 anos, sexo masculino, teve um primeiro contacto com a Equipa de

Intervenção Directa do IDEQ, em 2015, sinalizado por um utente acompanhado

em situação de rua pela Equipa. Por esta altura, M., mostra-se pouco

colaborante, referindo que a sua situação é transitária e que precisa só de

encontrar um emprego estável.

Em Abril de 2017, M. é despejado do quarto onde se encontrava, e a Equipa de

Intervenção Direta do IDEQ, no decorrer da sua volta de rua, encontra M. na

zona de Paço de Arcos, e apercebe-se que este estava em situação de sem

abrigo. M. acaba por aceitar que precisa de ajuda, que nunca se tinha visto

nesta situação.

Numa primeira abordagem, não parece que M. tenha consumos associados ou

história de doença mental; Parece-nos mais um dos poucos a casos de

desgoverno após um divórcio de longa data, em que M. nunca conseguiu

reorganizar-se. M. é pintor e sempre viveu da venda das suas obras em feiras

e eventos de rua e de alguns biscates que lhe iam aparecendo.

A Equipa de Intervenção Direta inicia com M. o processo de pedido de RSI, em

Abril, com a aquisição de novo cartão de cidadão com alteração de morada.

Sugere a M. procura de quarto num valor até 200€, perspectivando poder dar

algum apoio financeiro para pagamento do mesmo por se aperceber de que se

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 38

trata de uma pessoa sem grande estrutura para permanecer por muito tempo

na rua.

O pedido de RSI, vem como deferido em Junho de 2017, M. é integrado num

CEI+ em Julho de 2017 e entra num quarto no mesmo mês, sem necessitar de

apoio financeiro do IDEQ. Este CEI+, irá durar até Julho de 2018, e M, tem-se

mantido com a sua vida estabilizada.

J. (Processo n.º25/2017)

J., 61 anos, sexo masculino, é sinalizado à Equipa de Intervenção Direta do

IDEQ, pela Técnica da Junta de Freguesia de Paço de Arcos, em Julho de

2017 por se encontrar em situação de sem abrigo, no largo da igreja de Paço

de Arcos.

A Equipa do IDEQ, desloca-se ao local no decorrer de uma das suas voltas

nocturnas, uma vez que já se tinha apercebido que o senhor, durante o dia não

permanecia no local.

J., quando abordado pela Equipa de Intervenção Direta do IDEQ, refere que é

doente oncológico, mostra muita dificuldade em falar, e diz que já não havendo

nada a fazer, em relação à sua doença, escolheu aquele local para acabar os

seus dias junto de Deus.

À Equipa, pareceu, que para além desta doença, existiria uma história de

alcoolismo, já bastante residual e uma grande desorganização. Sendo toda a

sua documentação com morada de Lisboa, a Equipa do IDEQ, estabeleceu

contacto com o Serviço Social do IPO de Lisboa, que confirma a doença do

senhor, mas refere que o mesmo abandonou os tratamentos.

A Equipa de Intervenção Direta do IDEQ, nas deslocações que faz ao local de

pernoita do senhor, sensibiliza-o para a necessidade de voltar às consultas e

estabelece igualmente contacto com a SMCL, no sentido de se poder encontrar

um alojamento para o J.. Em articulação com o Gabinete de Serviço Social do

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 39

IPO, consegue-se que J., integre a Pensão Social do IPO, em Outubro de

2017,sendo que seria uma solução temporária.

Em finais de Novembro de 2017, J., volta para o largo da igreja de Paço de

Arcos, onde permanece até então.

Freguesia de Porto Salvo

R. (Processo n.º 37/2015), J (Processo n.º 29/2016)

R., 53 anos, português e J., 58 anos, ambos desempregados, foram

referenciados à equipa do IDEQ, em 2015 e 2016 respectivamente, pela equipa

de rendimento social de inserção do Centro Social e Paroquial Nossa Senhora

de Porto Salvo por se encontrarem em processo de requerer a prestação mas

vivendo em casa de amigos e familiares se entregarem o requerimento com

essa morada, o mesmo vem indeferido, uma vez que contabilizam os

rendimentos do agregado dessa morada, boicotando o seu projeto de vida e

respectiva reinserção social.

Desta forma, os utentes alteram a morada para a morada da instituição e todos

os meses vêm ao IDEQ levantar o vale de correio do RSI, encontrando-se sob

o acompanhamento das técnicas de RSI.

Freguesia de Queijas

V. (Processo n.º28/2017)

V. é sinalizado ao IDEQ pela CMO em Julho de 2017 por alegadamente residir

num abarracado em Queijas à cerca de 40 anos e se encontrar ilegal no pais.

V. é alcoólico havendo inclusivamente vários processos na PSP por agressão e

ofensa à integridade física.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 40

V. do sexo masculino, nascido a 23-05-1960, oriundo de Cabo Verde já teve

todos os documentos de identificação válidos, porém por negligência do

próprio, quer o seu título de residência quer o seu passaporte se encontram

caducados. O IDEQ agenda atendimento conjunto com o CLAI e V. de modo a

começar o processo pela legalização do mesmo.

Neste atendimento são pedidas várias diligências a V. de modo a perceber a

melhor forma de começar o processo pois os atendimentos no SEF estão a ser

marcados para mais de 6 meses depois.

Durante sensivelmente dois meses a equipa do IDEQ estava com V. todas as

quartas feiras, deixando-lhe algumas sopas e ia confirmando se estava a fazer

o que lhe tinha sido pedido pelo CLAI, o que nem sempre acontecia. A

determinada altura V. deixa de conseguir ir ter connosco ou porque estava

longe ou simplesmente porque não atendia o telemóvel, sendo que em

Dezembro o tinha permanentemente desligado.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 41

A Casa dos Corações

Cinco anos passados após a inauguração do apartamento de

transição/inserção “ Casa dos Corações”, faz-nos sentido não só a avaliação

do projecto, como também alguma reflexão acerca da necessidade do mesmo,

bem como de outras estruturas com estas características.

Como tem sido referido em relatórios anteriores, salientamos a condicionante

do tempo de permanência neste tipo de estruturas. Os seis meses inicialmente

determinados, não conseguiram ser cumpridos com nenhum dos utentes, à

excepção de dois - um que abandonou o projecto e outro que recaiu no uso de

drogas durante o tempo de permanência na casa.

É necessário tempo, e quando nos referimos a tempo, tem a ver com os

“timings”, de cada pessoa. A dita “inserção”, que no nosso entender passa mais

pela “autonomia”, difere de individuo para individuo, e mesmo com o mesmo

difere do Processo pelo qual o mesmo está a passar, que grande parte das

vezes tem avanços e recuos e todos eles fazem parte do seu processo de

autonomização.

Desde a sua inauguração, a 6 de Março de 2013, passaram por esta casa dez

pessoas. Destas, três permanecem na mesma; quatro, pode-se dizer que se

encontram Inseridos, sendo que, dois não se encontram completamente

autónomos, continuando a beneficiar do acompanhamento de instituições. Um,

voltou à situação de sem abrigo e outro ainda à condição de sem casa.

Tentaremos retratar qualitativamente e evolução das pessoas que passaram

pela “ Casa dos Corações” e a sua situação actual, reflectindo, sobre o que

resultou e sobre o que não resultou.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 42

L. (Processo n.º03/2011)

Entra na “ Casa dos Corações”, em Novembro de 2013. Era acompanhado pela

equipa de intervenção direta do IDEQ, por se encontrar em situação de sem

abrigo. L., quando foi abordado pelo IDEQ, encontrava-se na freguesia de

Algés, com consumos de heroína, cocaína e álcool. Numa primeira fase, o elo

estabelecido, foi o do trabalho de rua (semanalmente na distribuição de sopas).

A sensibilização para a mudança ía sendo feita no decorrer do trabalho de rua,

mas L., mostrou-se resistente durante algum tempo. Decorridos 6 meses desta

intervenção, L, pede à equipa do IDEQ, que o ajude no processo de

encaminhamento para tratamento. A sua degradação física e psicológica era

visível.

Entrou em Comunidade Terapêutica em 2012 e mantém-se durante

aproximadamente 6 meses, sendo expulso por se ter envolvido sexualmente

com uma das pacientes. Quebrou uma das regras dentro da Comunidade

Terapêutica e acaba por ser expulso.

Numa das voltas de rua nocturnas, a equipa do IDEQ, encontra-o de novo na

rua em Algés, L, mostra-se arrependido e pede para voltar. A equipa do IDEQ,

volta a facilitar este processo. Cumpriu este programa de tratamento, tendo

chegado à fase de inserção, onde recai, estando já no apartamento de

inserção. É então expulso desta estrutura e de novo referenciado ao IDEQ.

Nesta altura, e apesar de L., se encontrar no início de uma recaída, foi-lhe

proposto o ingresso na “ Casa dos Corações”, sob o compromisso de L., ir a

reuniões de Narcóticos Anónimos e manter-se abstinente do consumo de

álcool e drogas. A equipa do IDEQ, considerou, tratar-se de um caso de

prevenção, uma vez que L., já teria cumprido um programa terapêutico.

Inserido em reuniões de Narcóticos Anónimos, L., rapidamente arranja um

trabalho, na área de remodelação de habitações. Estaria a fazer dois meses de

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 43

permanência na “ Casa dos Corações”, quando L., recai novamente no

consumo de drogas e é expulso.

A equipa de intervenção direta do IDEQ, tenta encaminhar L., para um centro

de acolhimento mas sem sucesso; volta de novo a cruzar-se com L., no

decorrer do trabalho de rua. A degradação de L., é muito rápida e para além

dos consumos de drogas os consumos de álcool sobrepõem-se. L., pede à

equipa de intervenção direta ajuda para entrar em programa de metadona e

pondera-se essa hipótese, no entanto os seus consumos de álcool estão tão

exacerbados que L., já sofre de síndrome de privação quando não bebe. E

tendo isto em conta, pensa-se de novo em comunidade terapêutica,

nomeadamente, a Associação Lugar da Manhã que o volta a receber.

L., cumpre de novo o programa terapêutico, durante o ano de 2015, passa para

a fase de inserção integrando o apartamento do Lugar da Manhã, em Setúbal

onde permanece actualmente. L., encontra-se inserido profissionalmente,

restabeleceu alguns laços familiares, no entanto, e com a concordância da

equipa terapêutica da Comunidade Lugar da Manhã, continuará no

apartamento de inserção, sem ter para já uma data definida para sair, tendo em

conta todo o seu processo.

A equipa do IDEQ, considera L., um caso de sucesso. Analisando todo o seu

percurso e considerando que nos casos de adição, a recaída não terá que

fazer parte do processo, no entanto, não terá igualmente que determinar a

ruptura no acompanhamento, desde que o utente não o deseje. L., foi um dos

casos que a equipa de intervenção direta acompanhou em várias fases com

resiliência e não só acreditando, como fazendo o próprio acreditar.

V. (Processo n.º 38/2013)

V., 42 anos, sexo masculino, ingressa na “ Casa dos Corações” a 18 de

Novembro de 2013. V. encontrava-se numa situação de sem abrigo, sem tecto,

a viver em local precário – casa abandonada. Foi sinalizado à equipa do IDEQ,

pelo Projecto Mãos Dadas Para a Vida.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 44

Após o primeiro contacto com V., a equipa do IDEQ, percebeu que teria

critérios para entrada na casa. Apesar do seu passado de uso de drogas, V.,

mantinha-se sem consumos há cerca de 8 anos, referindo que bebia

pontualmente, mas que não seria um problema não poder fazê-lo.

Claramente, V. precisava de passar por uma estrutura, onde se pudesse

organizar e estruturar para poder tomar de novo as rédeas da sua vida. V. é

portador do vírus VIH, e à data, estaria sem fazer medicação, por ter

abandonado as consultas. A intervenção começou pela área da saúde,

iniciando-se este processo de remarcação de consultas no Hospital Egas

Moniz de forma a retomar a toma dos retrovirais.

Após este período de estabilização na casa, foi feito um trabalho de muita

persistência na procura de uma ocupação, privilegiando-se a inserção a nível

profissional, uma vez que V. demonstrava capacidades para tal e tinha

experiência na área na hotelaria. As suas dificuldades passavam por quebrar

com alguns registos antigos de falta de horários, consciencialização e

aceitação da sua nova realidade, mas igualmente de confiar e acreditar nas

suas capacidades, sentindo-se com a segurança necessária para conseguir

resgatá-las.

V. começa a trabalhar na área de hotelaria em Abril de 2014, à experiência,

com o objectivo de realizar um contrato de trabalho. As condições começam a

revelar-se diferentes do que lhe foi proposto e V. mostra-se descontente e por

sugestão da equipa, começa a procurar outras opções na mesma área. Até que

inicia o percurso profissional no local onde se mantem até hoje.

Em Junho de 2014, quando se percebe que a sua situação profissional se

encontra estável, a Equipa, começa a preparar V. para o facto de ter que iniciar

o seu processo de autonomização, passando por procurar um quarto, ou

eventualmente um estúdio, de acordo com a sua realidade.

Este processo torna-se bastante complicado, uma vez que para além de se

mostrar resistente a esta condição, V. começa a quebrar algumas regras,

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 45

nomeadamente, levar objetos de mobiliário seus para dentro da casa, mostrar-

se mais descuidado com a higiene do espaço e fazendo sentir à equipa algum

testar de limites.

Esta situação mantém-se até finais de Setembro de 2014, altura em que foi

dado como limite a V. para permanência na Casa dos Corações, uma vez que,

o mesmo se encontrava a auferir um rendimento que lhe permitia pagar um

quarto e com a sua situação profissional estável, havendo outros pedidos para

entrada na Casa dos Corações de pessoas que se encontravam em situações

bastante precárias, quer ao nível do local de pernoita, quer ao nível de

rendimentos.

A equipa, sentiu algum desconforto, na forma como V. teve que sair da Casa

dos Corações, quase que parecendo uma autonomização à “ força”. Dado o

facto de as pessoas se verem confrontadas com os valores a pagar por uma

habitação, resistem bastante, quase que sentindo que é um dinheiro que estão

a desperdiçar, mesmo tendo a capacidade para o fazer. Pensam sempre que

com aquele valor, poderiam adquirir, outros bens, ou terem um modo de vida

mais desafogado, ou mesmo considerar que aquele dinheiro lhes vai fazer falta

para outras coisas, nomeadamente, alimentação, medicação, etc.

D. (Processo n.º12/2018)

D. 57 anos, sexo masculino, encontrava-se a residir na Quinta de Salregos,

sendo um utente já acompanhado pela equipa de intervenção direta do IDEQ,

desde a sinalização deste local.

D. encontrava-se em recuperação há 11 anos. Teria tido, um problema de

alcoolismo, que o levou a perder tudo o que tinha – casa, trabalho, relações

familiares. Após a morte da sua esposa, D. decide parar com os consumos e

mantém-se abstinente.

No meio daquela população tão desorganizada que vivia em “comunidade”, D.

destaca-se por se manter organizado e sobretudo, por se manter em

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 46

recuperação. Durante um longo período de tempo, a equipa do IDEQ, apoiou

D. no inicio de processo para RSI, facilitando-lhe a compra de títulos de

transportes, para que D. se pudesse deslocar para o Centro de Emprego,

Segurança Social, entre outros, bem como com o fornecimento de bens

alimentares e acompanhamento a consultas devido a um problema que tinha

na anca e que o estava a impedir de trabalhar, tendo que recusar alguns

“biscates”.

Assim, que existiu a possibilidade de D. ingressar na Casa dos Corações, foi-

lhe feita a proposta e D. aceita de imediato. A decisão de ter entrado na casa,

possibilitou-lhe ter resolvido o problema da anca, uma vez que foi operado e

após a alta clínica pode regressar para um local condigno, onde conseguiu

recuperar-se.

Após este período de reabilitação, D. sente-se capaz de trabalhar, e inicia a

procura activa de trabalho. Rapidamente surgem os ditos “ biscates”, tornando-

se alguns deles bastante constantes.

Em Agosto de 2014, surge a possibilidade da população da Quinta de Salregos

ser realojada em fogos camarários e a equipa do IDEQ, faz o pedido para D..

Nesta altura, D. não foi considerado uma situação prioritária, por se encontrar

com uma resposta habitacional. Por persistência da equipa do IDEQ, e do

próprio, em Maio de 2015 foi-lhe atribuída uma casa, no Bairro de Outurela,

onde o mesmo se mantém.

D. encontra-se inserido e autónomo, contínua a contactar a equipa do IDEQ,

com frequência e para dar conta das coisas boas que lhe vão acontecendo,

quer se prendam com questões a nível profissional, bem como com questões

de caracter mais pessoal, como seja a ida de D. a Cabo Verde, sua terra natal,

onde já não ía há mais de 30 anos, sabendo a equipa do IDEQ, que era seu

desejo, uma vez que ainda tinha por lá a sua mãe, sempre o ajudou a alimentar

este sonho que se tornou real.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 47

A. (Processo n.º 51/2014)

A. 26 anos, sexo masculino, ingressa na Casa dos Corações em Janeiro de

2015, por se encontrar a pernoitar na Estação Agronómica. A. tinha já sido

acompanhado no IDEQ, em 2011 em contexto de prevenção de recaídas

devido a consumos de haxixe e drogas sintéticas (ecstasy, Mdma). Por esta

data, decide ir para uma Comunidade Budista no Algarve e deixa o Concelho.

Em 2015, numa das voltas de rua, com passagem pela Estação Agronómica, o

responsável (guarda), deste local, refere à equipa, que estaria por ali, um

individuo novo, que se distinguia da restante população que pernoitava na

Estação Agronómica. Percebendo tratar-se de A., a equipa do IDEQ, propõe-

lhe ingressar na Casa dos Corações, ao que o mesmo adere, mas sempre com

muito medo de falhar, sobretudo pela questão dos consumos.

Durante o período que permaneceu na Casa, que foi de apenas 1 mês, A.

restabeleceu contactos com familiares de quem estava afastado, manteve-se

abstinente de álcool e drogas e candidatou-se a um curso de formação

ministrado pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional.

Após ter sido, seleccionado para o curso, A. refere que quer sair da Casa dos

Corações, por não lhe estar a fazer sentido, o facto de estar a iniciar um

processo de inserção numa sociedade com a qual não concordava.

Este processo de saída, foi tranquilo, A. agradeceu à equipa todas as

diligências feitas e a forma como foi recebido, a não permanência dele neste

projecto, teve apenas a ver com o facto de sentir que não estava a ser honesto

com as suas convicções, se se tornasse um membro activo e produtivo, numa

sociedade com a qual não concorda.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 48

B. (Processo n.º 40/2012)

B., 62 anos, sexo masculino, acusado de violência doméstica, com pulseira

electrónica e ordem de afastamento da companheira. É referenciado à equipa

de intervenção directa por se encontrar em situação de sem abrigo – sem casa,

a pernoitar numa pensão com apoio da Segurança Social.

Entra num quarto com o apoio do IDEQ, onde permanece até Abril 2014, altura

em que se torna insuportável o pagamento do mesmo (200€ mensais, quando

a sua pensão seria de 160€).

B. permaneceu na Casa dos Corações, cerca de 13 meses; durante a sua

permanência na Casa, e com o seu precioso contributo os restantes utentes e

a equipa do IDEQ, têm o privilégio de usufruir de vegetais plantados na horta

por B (alface, couve, ervilhas, tomate…).

A equipa do IDEQ, em articulação com as técnicas do Departamento de

Habitação da CMO, ajudam B. a reaver a sua casa, assim que termina a pena

de medida de afastamento.

A ex-companheira de B. continuava a permanecer na habitação, já com outro

companheiro, apesar da mesma pertencer a B.. Foi negociada a saída da

senhora e actual companheiro sem necessidade de recorrer a Policia ou

Tribunal e B. regressa à sua casa em Maio de 2015.

Actualmente, B. contínua a beneficiar do acompanhamento do IDEQ na gestão

da toma de medicação e de gestão financeira. No passado, B. teve uma dívida

de rendas à CMO, que estariam a pôr em causa a sua permanência na mesma,

ainda que não se tivesse verificado esta situação de medida de afastamento do

Tribunal.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 49

M. (Processo n.º12/2009)

M., 56 anos, sexo masculino, é acompanhado pela equipa de intervenção

direta do IDEQ, desde 2008, altura em que pernoitava nas grutas de

Barcarena. A intervenção com M. inicia-se na rua com a sensibilização para

urgência e posteriormente consulta psiquiátrica, tudo isto em forte articulação

com a Delegada de Saúde Pública e com a Psiquiatria.

A toma de medicação, é também feita na rua inicialmente, até posterior

encaminhamento para um local adequado, onde M. pudesse igualmente fazer

as refeições. A par disto, inicia-se o processo de pedido de RSI, após a

aquisição de cartão de cidadão.

Em Janeiro de 2011 M. entra num quarto em Caxias, onde permanece até

2015, altura em que já não consegue fazer face às despesas, uma vez, que a

Segurança Social, deixa de dar o apoio extra para pagamento do mesmo.

No período compreendido entre 2011 e inicio de 2015, M. mantém-se estável,

cumprindo com as suas rotinas, salvo, algumas situações de insistir em

acumular objectos, necessitando a equipa de continuar a fazer essa

supervisão.

Quando, a pessoa que partilha a casa com M. sai, M. desorganiza-se voltando

aos seus hábitos de acumulador, levando tudo o que encontra na rua para

dentro de casa. A supervisão da equipa do IDEQ, torna-se insuficiente, levando

a mesma a ter que passar mais que uma vez por semana e ainda assim o

quarto de M. sofre uma infestação de pulgas, levando a senhoria a convidar M.

a deixar o quarto.

M. entra na Casa dos Corações, em Maio de 2015, onde permanece até então.

M. contínua a frequentar as consultas de psiquiatria da equipa de Caxias, a

fazer a medicação, mas actualmente bastante mais reduzida; contínua a

frequentar o fórum da ARIA.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 50

Durante o período de estadia na Casa dos Corações, M. tem-se mantido

estável, relativamente à acumulação de objectos ou produtos alimentares, bem

como em relação aos cuidados de higiene do espaço. M. percebe que ao ter de

partilhar um espaço com outras pessoas, cada um tem de cuidar o melhor que

consegue do mesmo, tendo todos que fazer um esforço nesse sentido.

E. (Processo n.º17/2010)

E., tem 61 anos, sexo feminino, é acompanhada pela equipa de intervenção

direta do IDEQ, desde 2010 por se encontrar em situação de sem abrigo, junto

ao Centro Comercial Palmeiras em Oeiras.

E. entra num quarto em 2010, continuando com o acompanhamento do IDEQ e

do Projeto Mãos Dadas de Algés, onde E. fazia a alimentação, bem como do

acompanhamento da Equipa de Saúde Mental de Caxias.

E. ingressa na Casa dos Corações, em Abril de 2015, por razões económicas,

onde permanece até existir uma resposta consistente. Apesar de se encontrar

bastante estável e organizada relativamente à sua doença psiquiátrica,

qualquer situação exterior a ela que fuja às suas rotinas, é o suficiente para

que E. possa descompensar, como aconteceu com a crise de pancreatite

aguda de que foi vítima em Março de 2016.

S. (Processo n.º24/2015)

S. tem 46 anos, sexo masculino, ex-recluso. Ingressa na “ Casa dos Corações“,

em Maio de 2015, tendo feito um percurso normal durante a sua estadia na

casa.

S. teve no passado um percurso de uso de drogas, causa que leva à sua

detenção. Quando sai da prisão, vem com indicação para seguimento em

Saúde Mental, vindo inclusivamente com muita medicação psiquiátrica

prescrita pela Psiquiatria do Hospital Prisional de Caxias.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 51

Durante o ano de 2017, S. contínua a ser acompanhado pela Equipa de

Psiquiatria de Caxias, diminuindo consideravelmente a toma de medicação,

bem como na ARIA, onde ingressa como voluntário na ARIA Jardins.

Em Maio de 2017, é finalmente inserido no Programa CEI +. A Equipa do

IDEQ, já vinha a sensibilizar e prepara S. para a sua saída e processo de

inserção, ainda que desde que fosse seu desejo com a continuidade de

acompanhamento do IDEQ, ao nível da gestão da medicação, gestão

financeira como também na sua inserção profissional.

Em Julho de 2017, o IDEQ, encontra um quarto por um valor acessível na zona

de Oeiras e propõe a S. a sua saída, ao que este adere. No decorrer do

mesmo mês, S. contínua a manter contacto com a Equipa do IDEQ,

nomeadamente pedindo ajuda para algumas questões que haveria para tratar

no quarto, mas também continuando com gastos acima das suas capacidades,

facto que já se verificava ainda na “ Casa dos Corações”, estando a ser difícil à

equipa fazê-lo entender que não poderia estar sempre a pedir dinheiro e

mesmo estabelecendo planos semanais com S. os mesmos não eram

cumpridos. Daí, se ter chegado à conclusão que a melhor maneira de lidar com

a questão dos gastos supérfluos seria confrontando-se com a realidade de

pagar uma renda.

Em finais de Julho, S. já evidenciava algumas atitudes menos correctas com a

equipa, nomeadamente, algumas respostas agressivas, até que em Agosto, S.

dirige-se às instalações do IDEQ, muito descompensado e de uma forma muito

agressiva, verbalizando que já não necessitava mais do acompanhamento do

IDEQ, referindo igualmente que iria sair do quarto, por o mesmo não ter

condições. Pediu para levar tudo o que ainda estaria na instituição e lhe

pertencia, dirigindo-se a todas as Técnicas de uma forma agressiva e

grosseira.

Fomos mais tarde informadas que S. teria sido expulso do Programa CEI+,

onde provavelmente ficaria efectivo; essas eram as expectativas de S. da

equipa do IDEQ, bem como do responsável do programa, e durante o curto

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período de permanência de S. no quarto, foi sendo referida essa possibilidade

e planeada a sua mudança para outro espaço quando tal se verificasse.

É quase certo que S. recaiu no uso de drogas. Não o podemos afirmar, uma

vez que nunca o foi confirmado por S. nem foram feitas análises de despiste,

uma vez que S. já não se encontrava na Casa dos Corações.

Em Outubro de 2017, o IDEQ, foi contactado por um técnico da Junta de

Freguesia de Arroios, a pedido de S. para que fosse transferido o seu processo

de RSI, uma vez que S. se encontrava em situação de sem abrigo, nesta

Freguesia em Lisboa.

Este foi um dos casos, em que todo o processo correu bem, enquanto esteve

protegido, contido, controlado. Apesar da sua evolução no que diz respeito à

aquisição de competências e de a equipa o sentir preparado para um processo

de autonomização, S. não sentiu o mesmo, e por outro lado, provavelmente,

sentiu que ao fazer esta transição para um quarto, a equipa estaria a

“abandoná-lo”.

Após o período em que esteve detido (9 anos), esta foi a sua primeira

experiência de “ normalidade”, em que S. apesar de não cumprir com o que lhe

era sugerido, na última fase da sua estadia na “ Casa dos Corações”, precisava

de sentir que teria que dar justificações a alguém, embora os seus

pensamentos lhe estivessem a transmitir persistentemente o contrário (que era

uma pessoa “normal” que tinha direito a ter a sua vida, comprar o que queria,

etc).Ficou por trabalhar, a adequação das suas falsas expectativas à sua

realidade, facto que nunca foi percebido, para que pudesse ser aceite.

Durante o período que habitualmente esta elaboração é feita, S. estava a

consumir drogas e continuou até ser detido e nunca passou por esta

aprendizagem, nem nunca a vivenciou.

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LR. (Processo n.º 20/2016)

LR., sexo masculino, 57 anos de idade, alcoólico em recuperação há 6 anos.

LR. foi acompanhado pela equipa de intervenção direta do IDEQ, em 2011, por

à data se encontrar em situação de sem abrigo, a viver numa carrinha num

bairro em Paço de Arcos.

Por esta altura, LR. mantinha consumos de álcool e foi encaminhado para a

Comunidade Vida e Paz, tendo aí permanecido por um período de

aproximadamente 6 meses.

LR. acabou por não cumprir o programa terapêutico na Comunidade Vida e

Paz, tendo depois emigrado para Espanha, mas manteve-se em recuperação,

ou pelo menos abstinente.

No decorrer do trabalho de rua, LR. é-nos sinalizado por um outro utente, como

estando de novo em situação de sem abrigo, a pernoitar junto de um grupo de

alcoólicos crónicos, conseguindo no entanto manter-se abstinente do uso de

álcool.

LR. não tem meios de subsistência nem forma de os obter, uma vez, que

legalmente estaria “ morto”, dado que alguém usou a sua identidade e morreu.

Este processo, impede LR. de obter cartão de cidadão, RSI, etc. O utente, tem

tido a ajuda do filho para resolver toda esta situação jurídica e a equipa do

IDEQ decide acolher LR. na “Casa dos Corações” como medida de prevenção,

uma vez que apesar de tudo o mesmo se encontra em abstinência.

Durante o tempo de permanência na “Casa dos Corações”, iniciou-se o

processo de pedido de RSI, uma vez que entretanto a sua questão legal de “

usurpação” de identidade também se resolveu. A par deste processo, a equipa

do IDEQ, facilitou e apoiou LR. na procura activa de trabalho, uma vez que o

mesmo tinha competências para tal. Durante este período, LR. foi

estabelecendo alguns contactos com o filho e passou a ser comum, não vir

ficar a Casa.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 54

Estas situações estão previstas, desde que a equipa seja avisada, o que não

foi o caso. LR. passou igualmente a levar para o quarto objectos,

nomeadamente mobiliário, quebrando também desta forma mais uma regra,

bem como deixou de ir buscar a sua alimentação à cantina social, sem pré

aviso e começou a adquirir alguns alimentos para cozinhar em casa, o que

também não seria suposto. Decorridas estas situações, LR. deixa de aparecer

e deixa de atender as chamadas telefónicas. A Equipa do IDEQ, viu-se forçada

a informar LR. por SMS, da sua expulsão da Casa, pedindo-lhe que deixasse

as chaves na caixa do correio, ao que LR. cumpriu e agradeceu igualmente a

disponibilidade da Equipa.

R. (Processo n.º44/2014)

R., sexo masculino, 52 anos de idade, portador de doença mental, foi o último

utente a ingressar na Casa dos Corações”, em Julho de 2017. R. é

acompanhado pela Equipa de Intervenção Direta do IDEQ, desde 2015, altura

em que é despejado da sua habitação por insalubridade, bem como por falta de

pagamento das rendas. Por esta altura, R. permanecia fechado em casa, onde

vivia como um “ bicho”. Era beneficiário de RSI, mas os cheques eram

devolvidos por falta de levantamento. A equipa do IDEQ, deslocou-se à

habitação de R. com o seu psiquiatra na altura, e conclui-se que R. tem que ser

internado na Unidade de Agudos do Hospital Egas Moniz e posteriormente

seguir para a Casa de Saúde do Telhal a fim de trabalhar algumas

competências básicas, no que diz respeito aos seus cuidados de higiene. A

Equipa do IDEQ, acompanha R. em todo este processo. Aquando a sua alta da

Casa de Saúde do Telhal, e não existindo outra resposta, a equipa do IDEQ,

consegue arrendar um quarto para R. em que inicialmente o plano passava

por:

- Banho supervisionado pelas enfermeiras da Equipa de Saúde Mental de

Oeiras;

- Quinzenalmente higiene da cabeça feita num cabeleireiro, por se concluir que

mesmo com supervisão de banho, não estaria a ser eficiente;

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- Supervisão da roupa para lavar, pela equipa do IDEQ;

- Higiene do quarto feita por uma empregada contratada pelo IDEQ;

- Alimentação feita no Projecto Mãos Dadas;

- Medicação supervisionada pelo IDEQ;

R. continua a resistir a frequentar o fórum da ARIA, e a insistir na necessidade

de se inserir profissionalmente, facto que estaria longe de acontecer, por falta

de competências.

As rotinas de R. passam por se deslocar ao Projecto Mãos Dadas Para a Vida

para fazer as refeições e retorna de imediato para o quarto, onde permanece

até à hora de almoço do dia seguinte. Após muita insistência e com a

perspectiva de que a frequência do Fórum lhe poderia abrir portas para o

mercado de trabalho, R. acaba por ingressar nesta estrutura em Outubro de

2016.

Nota-se uma evolução muito significativa no desenvolvimento das

competências de R. e da sua disponibilidade interna para o meio social. Dá-se

esta grande evolução, sobretudo após o reconhecimento e aceitação da

doença.

Em Julho de 2017, R. integra a “Casa dos Corações” não só por falta de

capacidade financeira, uma vez que o custo do quarto era superior ao seu

rendimento, mas igualmente por uma questão de protecção, contenção, e

facilitação do seu processo de desenvolvimento de competências, uma vez que

no sítio onde se encontrava alojado, R. não iria conseguir trabalhar e evoluir o

que seria necessário.

Com a entrada na “Casa dos Corações”, R. aceita o compromisso com a

equipa do IDEQ, de que não só ele como o espaço, terá que estar bem

cuidado. R, terá que quebrar com uma série de hábitos (comer no quarto,

acumular roupa no quarto, etc), ajudar na higiene dos espaços comuns a todos

e continuar a aceitar a supervisão da equipa, mas de uma forma mais

sistemática. R. adere a tudo isto, aceitando que precisa. Aquando do primeiro

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contacto já feito na Casa e após a sua instalação, demo-nos conta de que R.

não sabia lavar a loiça e estava bastante constrangido com esse facto. Foi uma

das primeiras aprendizagens na Casa; Actualmente R. treina a competência de

pôr a roupa na máquina, continua com supervisão também a este nível e por

sistema, falta sempre roupa que era suposto ir para lavar e R. insiste em retê-la

no quarto.

Recentemente R. foi reformado por incapacidade, tendo aceite esse facto de

bom grado, deixando-se de focar na questão do trabalho e o seu processo, tem

sido feito de avanços e recuos estando ainda longe, de uma capacidade para

autonomia, no nosso entender.

Depois de reflectirmos sobre todos os casos que passaram por esta estrutura,

continuamos a defender a máxima de que cada caso é uma caso, e essa

continuará a ser a nossa base de intervenção, analisando cada história de vida

como única e daí partindo para um projecto que cada ser individualmente

adere. Analisando os casos de insucesso, ou que não correram da forma como

gostaríamos, percebemos que, por vezes, e sobretudo, quando os anos de

ruptura com a sociedade são muitos, apesar de alguns casos já parecerem que

têm todas as ferramentas para poderem fazer um processo de autonomização,

fica-lhes sempre a faltar, o sentimento de pertença, pertença nem que seja a

uma instituição, uma vez que a construção de uma ideia de caminhar sozinhos,

leva-os a bloquear e por vezes deitar tudo a perder. Questionamo-nos muitas

vezes se não estamos a alimentar e protelar dependências ou sobre protecção,

se a determinada altura, não fará sentido largar as pessoas, contrariando a sua

vontade e mesmo a nossa. Concluímos que existem pessoas que iram

necessitar durante um longo período de tempo de permanecerem

acompanhadas, ligadas, sentirem-se protegidas, supervisionadas por uma

instituição, sem que esse facto seja sinónimo de uma dependência tóxica. A

verdade é que todos nós sentimos a necessidade de pertencer a algo ou

alguém e com estas pessoas o mesmo se passa, transferindo esse sentimento

para a Instituição com a qual foi estabelecido um elo de confiança, em quem

acreditaram e que acreditou em cada um deles.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 57

A intervenção com a população adita

No âmbito da intervenção com a população adita, O IDEQ continua a

acompanhar pessoas que de encontram no activo do uso de drogas/ álcool que

tem como objectivo parar com os mesmos.

Desta forma, o IDEQ facilita o encaminhamento para as estruturas mais

adequadas a cada situação, acompanhando todo o processo de entrada, do

tratamento propriamente dito e da sua reinserção social.

Em seguida, iremos descrever o caso de uma pessoa adita que se encontra no

processo de encaminhamento para a unidade de desabituação física e

consequente entrada em Comunidade Terapêutica.

A. (Processo n.º 32/2017)

A., 24 anos, sexo masculino, chega ao IDEQ por indicação de um amigo, em

Agosto de 2017. A. consome álcool desde a adolescência, conseguindo

manter-se funcional até iniciar os consumos de cocaína. A. descreve estes

consumos como estando associado a contexto de festas e da noite, mas que

muito rapidamente desgovernam por completo toda a sua vida.

Profissionalmente, só ainda consegue manter o trabalho, porque trabalha para

um amigo na área de remodelações de casas e o mesmo tem sido bastante

tolerante com A.. Foi-lhe, no entanto, dado o ultimato de que ou A. pede ajuda

para resolver o seu problema ou perde o que ainda o mantém com algum

objectivo.

Quando é feito o primeiro atendimento no IDEQ, a sua situação encontra-se

num puro estádio de desgoverno, relativamente aos consumos e A. mostra-se

inteiramente disponível e sem qualquer tipo de reservas ou condições para ser

ajudado e seguir as sugestões que as técnicas têm para lhe dar. Nesta altura,

A. vivia por favor em casa de um amigo, sob pena de ficar em situação de sem

abrigo.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 58

É então iniciado o processo de encaminhamento para tratamento, com tudo o

que o mesmo implica (marcação de primeira consulta na unidade de

desabituação física – realização de análises, electrocardiograma, eco

abdominal, rx). A Equipa de Intervenção Direta do IDEQ, acompanhou A. em

todo este processo, sendo que o mesmo não foi contínuo. Houve fases que A.

deixou de atender o telefone, existiram desmarcações, atrasos. Tudo o que faz

parte da normalidade de quem está a usar drogas. No entanto, A. demonstrou

sempre vontade de continuar apesar destas mensagens ambivalentes e a

equipa continuou a avançar com o processo à medida de que A. iria permitindo.

A. tem entrada prevista na Unidade de Alcoologia para Janeiro de 2018 e

consequente encaminhamento para a Comunidade Terapêutica – Casa da

Barragem.

É previsto 12 meses de tratamento, esperamos que A. venha a fazer parte de

um dos próximos candidatos ao programa de prevenção de recaída do IDEQ

assim que tenha alta terapêutica da Comunidade.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 59

O programa de prevenção de recaídas

No âmbito do acompanhamento de prevenção de recaída, o IDEQ, continua a

ser contactado por pessoas que se encontram em recuperação, ou seja

abstinentes de álcool e drogas e que em determinadas fases da vida

necessitam de acompanhamento psicológico.

A maioria dos utentes chega ao IDEQ, por recomendação de alguém que

beneficia, ou beneficiou deste acompanhamento. O único critério para poder

integrar este programa de prevenção de recaída, é o de estar sem consumir

álcool ou drogas, podendo o tempo ir de dias a anos.

Durante o ano de 2017, chegaram a este serviço do IDEQ, 10 pessoas que vão

desde os 6 meses em abstinência aos que estão com 19 anos de abstinência.

Passamos a descrever um caso a título exemplificativo de alguém que se

encontra a beneficiar deste acompanhamento desde algum tempo e com 10

anos de recuperação.

C. (Processo n.º73/2008)

C., sexo feminino, 52 anos, em recuperação há 10 anos, foi encaminhada para

tratamento através do IDEQ, e logo após a alta terapêutica, manteve-se em

programa de recaída no IDEQ.

No caso de C., o acompanhamento no âmbito de prevenção de recaída não foi

contínuo, ou seja, por diversas vezes, C. teve alta terapêutica, mas por várias

razões que têm a ver com as circunstâncias da sua vida C. acaba por sentir

esta necessidade.

C. tem feito um longo caminho, que inicialmente passou por se manter longe

dos consumos, mas que actualmente vão muito para além deste foco. No

entanto, e passados todos estes anos C., que se mantém atenta à sua

recuperação, consegue identificar alguns comportamentos que têm a ver com a

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adição e se manifestam normalmente em situações de maior exposição a

stress, insegurança, ou solidão. No caso de C. são eles – a compulsão com a

comida e com as compras.

C. estruturou-se não só, em termos de evolução pessoal como igualmente

profissional. Foi convidada a integrar um projecto num Centro de Tratamento

novo, como Monitora. Esta fase foi complicada para C. dado que o seu foco no

afastamento das drogas levou-a a manter-se igualmente afastada e a afastar

não só as pessoas ligadas ao uso, como também as que estavam em início de

recuperação.

C. trabalhou bastante este seu processo de aceitação e respeito pelos “timings”

de cada um e percebendo que o facto de se identificar com alguns destes

processos não significava que estivesse perto deles ou que poderiam voltar a

acontecer.

Quando C. volta a procurar de novo o IDEQ, é um pouco na perspectiva de ir

lidando com o que se passa neste seu trabalho e nos sentimentos que o

mesmo lhe trazem.

C. é mãe solteira de um adolescente de 17 anos e neste momento acumula 3

trabalhos, todos eles distintos mas que foram resultado do seu empenho no

início da sua recuperação. São eles: Monitora num Centro de Tratamento,

Terapeuta Massagista holística e tem igualmente um projecto na área da

culinária (doces e salgados) em que fornece por encomenda alguns

estabelecimentos públicos, eventos e clientes particulares. Tudo isto implica

uma grande capacidade de organização, sentido de responsabilidade e

estrutura para lidar com a pressão.

C. continua a precisar de alguma “ aprovação” e sobretudo sentir que está no

caminho certo e não está sozinha. C. teve que quebrar com alguns padrões

familiares que eram usados enquanto C. era adita e funcionava como o bode

expiatório familiar. Só após o ter feito, tendo sido um processo que implicou

inicialmente muita dor e mais tarde perdão, é que consegue autonomizar-se, no

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sentido de tomar os comandos da sua vida, com responsabilidade sem sentir

que tem que agradar ou esperar sempre aprovação.

Durante o ano de 2017, C. perde o pai, vítima de doença prolongada, tendo

sido um processo que a deixou bastante fragilizada física e psicologicamente.

Este espaço no IDEQ foi bastante contentor e organizador nesta fase da vida

de C..

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 62

Outras actividades

No âmbito do protocolo estabelecido em 1997 com a Divisão de Assuntos

Sociais da Câmara Municipal de Oeiras, o IDEQ continua a colaborar com esta

estrutura sempre que solicitado e disponibilizando semanalmente uma técnica

psicóloga para o Gabinete de Atendimento a Jovens – #CHAT.

O IDEQ continua a integrar a Comissão Social da União de Freguesias de

Oeiras e S. Julião da Barra, Paço de Arcos e Caxias colaborando com esta

freguesia quando solicitado.

Rede Social de Oeiras – CLAS participação em diversas reuniões.

Participação e integração no NPISA do Concelho de Oeiras

Participação dos técnicos da Equipa de Intervenção Direta em diversas

formações ou encontros relacionados com as temáticas da

Toxicodependências, Saúde Mental, Sem Abrigo e Exclusão Social.

Participação em diversas reuniões da Comissão Social da União das

Freguesias de Oeiras e São Julião da Barra, Paço de Arcos e Caxias.

Participação na Convenção de NA - Narcóticos Anónimos, encontro de FA -

Famílias Anónimas e sessão de divulgação de AA - Alcoólicos Anónimos.

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 63

Articulação institucional

O IDEQ mantém uma articulação com as seguintes instituições:

A Barragem – Fundação Portuguesa para o Estudo, Prevenção e Tratamento

das Dependências;

Associação Ares do Pinhal;

Associação Lugar da Manhã;

Associação Nacional de Intervenção Social;

Associação Portuguesa para a Prevenção e Desafio à Sida Ser +;

Associação Reabilitação e Integração Ajuda – Fórum Sócio Ocupacional de

Oeiras;

Associação Renascer;

Associação Vale d’ Acór;

Associação Vitae - Centro de Acolhimento de Alcântara e Xabregas;

Associação Vitae – Centro de Acolhimento de Emergência de Belas;

Câmara Municipal de Cascais;

Câmara Municipal de Oeiras;

Casa de Saúde do Telhal;

Centro de Alojamento de Emergência Social Ponto de Luz;

Centro Comunitário do Alto da Loba;

Centro Comunitário da Paróquia de Carcavelos;

Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental;

Centro Local de Apoio à Integração de Imigrantes;

Centro das Taipas – Unidade de Dia;

Centro da Sagrada Família;

Centro de Saúde de Algés;

Centro Saúde de Carnaxide;

Centro de Saúde de Linda-a-Velha;

Centro Saúde de Oeiras;

Centro de Saúde de Paço de Arcos;

Centro Social e Paroquial Nossa Senhora de Porto Salvo;

Centro Social e Paroquial Nossa Senhora das Dores;

Centro Social e Paroquial de São Romão de Carnaxide;

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IDEQ Relatório de Actividades 2017 64

Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência;

Comunidade Terapêutica O Lugar da Manhã;

Comunidade Vida e Paz;

Conservatória de Registo Civil de Oeiras;

Equipa de Tratamento da Parede;

Equipa de Tratamento de Oeiras;

Gabinete de Inserção Profissional de Algés e de Carnaxide;

lnstituto de Emprego e Formação Profissional – Centro de Emprego de

Cascais;

Instituto Português de Oncologia;

Instituto de Reinserção Social;

Instituto de Segurança Social – Núcleo de Fiscalização;

Instituto de Segurança Social – Serviço Local de Oeiras;

Instituto de Segurança Social – Serviço Local de Sintra;

Junta de Freguesia de Porto Salvo;

O Farol - Associação de Tratamento das Toxicodependências;

Policia Municipal de Oeiras;

Polícia de Segurança Pública;

Refood de Oeiras;

Santa Casa da Misericórdia Oeiras – Projeto Mãos Dadas para a Vida;

Santa Casa da Misericórdia de Lisboa – Unidade de Apoio ao Sem Abrigo;

Santa Casa da Misericórdia de Lisboa – Unidade de Emergência Social;

Serviço de Estrangeiros e Fronteiras;

Unidade de Alcoologia de Lisboa;

União de Freguesias de Algés, Linda-a-Velha e Cruz Quebrada Dafundo

União de Freguesias de Carnaxide e Queijas;

União de Freguesias de Oeiras e S. Julião da Barra, Paço de Arcos e Caxias;

Unidade de Saúde Pública de Oeiras.