Relatório 4 – Aromas, sabores e fragrâncias

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Autoria e Edição de Bain & Company 1ª Edição Maio 2014

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Este trabalho foi realizado com recursos do Fundo de Estruturação de Projetos do BNDES (FEP), no âmbito da Chamada Pública BNDES/FEP No. 03/2011. Disponível com mais detalhes em <http://www.bndes.gov.br>.

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Índice

1. Escopo ............................................................................................................................................ 4

2. Condições da demanda ............................................................................................................... 5

2.1. Mercado global ..................................................................................................................... 5

2.2. Mercados consumidores ..................................................................................................... 6

2.3. Mercado brasileiro ............................................................................................................. 10

2.4. Balança Comercial .............................................................................................................. 11

2.5. Sofisticação da demanda ................................................................................................... 13

3. Fatores de produção .................................................................................................................. 14

3.1. Matérias-primas ................................................................................................................. 14

3.1.1. Óleos Essenciais e Extratos Naturais ........................................................................... 16

3.1.2. Aromas Químicos .......................................................................................................... 17

3.2. Tecnologias e suas tendências .......................................................................................... 19

3.3. Ambiente regulatório ........................................................................................................ 20

3.4. Disponibilidade de recursos humanos e qualificação dos profissionais .................... 22

3.5. Disponibilidade e custo de capital ................................................................................... 22

3.6. Infraestrutura ...................................................................................................................... 22

4. Características da indústria ...................................................................................................... 23

4.1. Estratégia de atuação dos players ..................................................................................... 23

4.2. Escala e perfil dos investimentos ..................................................................................... 28

4.3. Principais players ............................................................................................................... 28

4.3.1. Compostos de Aromas e Sabores e Compostos de Fragrâncias .............................. 28

4.3.2. Óleos Essenciais e Extratos Naturais e Aromas Químicos ....................................... 30

5. Indústrias relacionadas ............................................................................................................. 31

6. Diagnóstico ................................................................................................................................. 32

6.1. Oportunidades .................................................................................................................... 33

6.2. Linha de Ação ..................................................................................................................... 36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 37

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1. Escopo

O segmento Aromas, Sabores e Fragrâncias compreende os compostos utilizados para caracterizar o odor ou o gosto de um produto. Nesse segmento, incluem-se os seguintes subsegmentos: (i) Óleos Essenciais e Extratos Naturais, (ii) Aromas Químicos, (iii) Compostos de Aromas e Sabores e (iv) Compostos de Fragrâncias (Quadro 1).

Quadro 1: Descrição dos subsegmentos

Este Relatório não aborda os aditivos alimentícios, que nesse Estudo são tratados no Relatório: ‘Aditivos alimentícios’. Como parte desse grupo, encontram-se ingredientes como: potencializadores de sabor, adoçantes, aminoácidos, conservantes, corantes, emulsificantes e texturizantes. Para fins de nomenclatura, o subsegmento de Compostos de Aromas e Sabores, nesse Relatório, é designado apenas como “Aromas e Sabores”, e o subsegmento de Compostos de Fragrâncias como “Fragrâncias”.

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2. Condições da demanda

2.1. Mercado global

A Figura 1 esclarece o modo com que a cadeia de valor se organiza até o momento em que os produtos finais são repassados às indústrias consumidoras, incluindo os principais players.

Os compostos de cada subsegmento são utilizados em diferentes indústrias. Para Fragrâncias, as principais indústrias consumidoras são: HPPC (higiene pessoal, perfumaria e cosméticos) e produtos de limpeza. Já para Aromas e Sabores, as principais são alimentos e bebidas.

Figura 1: Cadeia de valor de Aromas, Fragrâncias e Sabores

Os mercados de “Aromas e Sabores” e de “Fragrâncias” movimentaram, em 2012, 11,2 bilhões de dólares e 12,2 bilhões de dólares, respectivamente. Conforme indicado na Figura 2, entre 2007 e 2012, o subsegmento de Fragrâncias apresentou maior crescimento relativo e, até 2017, espera-se aceleração em ambos os subsegmentos. A aceleração deverá ocorrer devido às tendências dos mercados consumidores, descritas nos capítulos 2.2 e 2.5, como o aumento do consumo de alimentos processados.

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Figura 2: Mercado global de Aromas, Sabores e Fragrâncias

Com a expectativa de crescimento superior ao do PIB global e perspectiva de se atingir um valor de mercado superior a 30 bilhões de dólares em 2017, o segmento é visto como atraente e promissor.

2.2. Mercados consumidores

O padrão de consumo e o crescimento do segmento em questão são estimulados pelas indústrias consumidoras, principalmente: cosméticos e higiene pessoal, produtos de limpeza e alimentos e bebidas, conforme ilustrado na Figura 3.

Fonte: Lucintel (2013); BCC Research (2012)Nota: Os mercados de Óleos Essenciais e Extratos Naturais e Aromas Químicos estão incluídos como parte dos ingredientes finais

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Figura 3: Previsão de consumo de Aromas, Sabores e Fragrâncias por indústria

Cosméticos e higiene pessoal

A indústria nacional de cosméticos e higiene pessoal1 movimentou, em 2012, 41,8 bilhões de dólares, e deve manter altas taxas de crescimento (média de 8,9% ao ano até 2017) na maioria das categorias de produto dessa indústria (Figura 4). No cenário mundial, o Brasil ocupa a posição de terceiro maior consumidor global, posicionando-se apenas atrás dos Estados Unidos e do Japão2.

1 Mais detalhes no Relatório do segmento de Cosméticos 2 Fonte: Euromonitor International (2012)

Fonte: BCC Research (2012); Lucintel (2013); Análise Bain/Gas EnergyNota: Outros produtos domésticos incluem purificadores de ar e perfumaria fina; alimentos incluem lácteos

COMPOSTOS DEFRAGRÂNCIAS

COMPOSTOS DEAROMAS E SABORES

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Figura 4: Faturamento da indústria de cosméticos no Brasil

Produtos de limpeza

A segunda maior indústria consumidora de Fragrâncias é a de produtos de limpeza. Desde 2008, tal indústria mantém crescimento médio de 5,9% ao ano. Contudo, afetada pela provável desvalorização do real frente ao dólar, deverá crescer cerca de 2,3% ao ano até 20173 (Figura 5).

Figura 5: Faturamento da indústria de produtos de limpeza no Brasil

3 Em moeda local, a previsão de crescimento é de 7,3% ao ano, em média, até 2017

Faturamento da indústria de cosméticos no Brasil, por aplicação Em US$ bilhões

Nota: A categoria “Outros” inclui aplicações fora do escopo deste Estudo (kits, produtos para bebês e depilatórios)Fonte: Euromonitor International; Análise Bain / Gas Energy

HISTÓRICO DO MERCADODE PRODUTOS DE LIMPEZA

PREVISÃO DE CRESCIMENTOPARA PRODUTOS DE LIMPEZA

Fonte: Anuário Abipla 2013; Euromonitor International; Análise Bain/Gas EnergyNota: Os dados sofrem a interferência da previsão da taxa de câmbio

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Alimentos e bebidas

As duas maiores indústrias consumidoras de Aromas e Sabores são: alimentos e bebidas. O mercado nacional de alimentos processados representou 112 bilhões de dólares, e deve crescer até 179 bilhões de dólares em 2018, apontando um crescimento esperado de 8,2% ao ano. O mercado de bebidas, por sua vez, é de 49 bilhões de dólares (2012) e deve crescer 5,4% ao ano até 2017, atingindo 5,4%. (Figura 6 e 7).

Figura 6: Tamanho do mercado brasileiro de alimentos

Figura 7: Tamanho do mercado brasileiro de bebidas

ProjeçãoFonte: Euromonitor International

ProjeçãoFonte: Euromonitor International

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O comportamento dos mercados consumidores, mostrado anteriormente, está relacionado com as expectativas de consumo de Aromas, Sabores e Fragrâncias. É esperado que os mercados de maior crescimento sejam o de higiene e beleza pessoal, devido ao crescente cuidado da população com saúde e aparência, e o de alimentos, devido a mudança de hábitos da população urbana, como o maior consumo de alimentos processados.

2.3. Mercado brasileiro

Os mercados nacionais de Aromas e Sabores e de Fragrâncias movimentaram, em 2012, 1,2 bilhão de dólares (Figura 8). O subsegmento de Fragrâncias se mostra mais expressivo, com faturamento de 700 milhões de dólares em 2012, e com perspectiva de crescimento anual médio de 5,2% até 2022. O de Aromas e Sabores, de porte um pouco menor, com faturamento de 500 milhões de dólares em 2012, deve crescer de maneira um pouco mais acelerada, com crescimento anual médio de 6,1% até 2022. Esse panorama se mostra em linha com as expectativas globais para o segmento.

Figura 8: Tamanho do mercado brasileiro de Aromas, Sabores e Fragrâncias

Fonte: Freedonia (2012); Análise Bain/Gas Energy

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2.4. Balança Comercial

A balança comercial do segmento foi superavitária em qualquer dos anos analisados entre 2008 e 2012 (Figura 9). No ano de 2012, o valor do superávit alcançou cerca de 21 milhões de dólares, devido a exportações de 317 milhões de dólares e importações de 295 milhões. Ao longo do período, o valor das importações aumentou continuamente: um crescimento médio de 14,3% ao ano, enquanto, no mesmo período, o valor das exportações cresceu cerca de 10,8% ao ano, embora com algumas oscilações.

Observa-se que as importações possuem alto grau de diversificação, não havendo dependência significativa destas em relação a qualquer produto, ao passo que as exportações se concentram em poucos produtos para os quais o País é capaz de sustentar vantagem competitiva. O óleo essencial de laranja, que representou 40% das exportações em 2012, e o terpeno cítrico, com representatividade de 20% ilustram tal concentração.

Figura 9: Balança comercial de Aromas, Sabores e Fragrâncias

Os subsegmentos possuem impacto distinto na balança. Ao passo que os Óleos Essenciais e Extratos Naturais e os Aromas Químicos operam com superávit, os Aromas e Sabores e as Fragrâncias apresentam déficit (Figura 10). As Fragrâncias, apesentam o maior déficit dentre os subsegmentos estudados devido, principalmente, à grande importação de mentol, no valor de 32 milhões de dólares em 2012, proveniente de países como China e Índia.

O Brasil chegou a ser líder mundial na produção de menta até o final da década de 70, entretanto, a produção foi reduzida de maneira drástica devido ao monocultivo, que

Imp.

Exp.

Diversos produtos com baixa representatividade

de valor

Fonte: Aliceweb; Análise Bain/Gas Energy

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gerou problemas de fertilidade do solo como, por exemplo, baixo teor de matéria orgânica e deficiência nutricional4.

Por outro lado, o subsegmento de Aromas Químicos em 2012 apresentou exportações com valor oito vezes superior às importações. Esse subsegmento abrange itens produzidos em larga escala no Brasil, como terpenos cítricos e terpeno de laranja, responsáveis por, respectivamente, 62 e 31 milhões de dólares em exportações durante 2012. Essas matérias-primas são produzidas em alta escala no Estado de São Paulo, que concentra 28,8% da produção mundial de laranja, uma que vez que o clima é favorável e o custo de produção é baixo5. O mesmo ocorre para Óleos Essenciais e Extratos Naturais, subsegmento onde o óleo essencial de laranja gerou exportações de 125 milhões de dólares durante 2012.

Figura 10: Balança comercial de Aromas, Sabores e Fragrâncias

A balança comercial apresenta contrastes na comparação entre o valor agregado dos produtos importados e o dos exportados (Figura 11). Em média, as exportações são realizadas a 4,1 dólares por quilo e as importações a 18,5 dólares por quilo. Essa disparidade é replicada para todos os quatro subsegmentos com diferentes intensidades.

4 Fonte: Maia (1994) 5 Fonte: Laranja – Agência paulista de promoção de investimentos e competitividade (2013)

US$ 32M de Mentol

US$ 93M de TerpenoCítrico e de Laranja

Fonte: Aliceweb; Análise Bain/Gas EnergyNota: Não foi possível classificar em subsegmentos um grupo de produtos equivalente a US$ 0,7M de exportação e US$ 13, 0M de importações

US$ 125M de ÓleoEssencial de Laranja

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No subsegmento Óleos Essenciais e Extratos Naturais há a maior diferença de preço médio: 4,5 dólares por quilo para as exportações e 33,6 dólares para as importações6. Isto é justificado pelo baixo valor médio do óleo essencial de laranja (4,1 dólares por quilo), o qual foi responsável por 79% das exportações desse subsegmento em 2012. Com relação às importações, tem-se como destaque o óleo essencial de menta japonesa, que em 2012 apresentou em valor médio de 31,2 dólares por quilo e foi responsável por 14% das importações.

O preço inferior do óleo essencial de laranja se justifica pela alta produtividade do processo produtivo, no qual o aproveitamento da matéria-prima é muito alto7. Outras matérias- primas, como óleos extraídos de flores, têm aproveitamento muito inferior, justificando o preço médio mais alto. Soma-se a isso, o fato de que o driver de produção dos óleos de laranja e terpenos cítricos não é o subproduto em si, mas sim o suco de laranja, composto que representa fração muito mais relevante do faturamento dos grandes produtores de laranja. Dessa forma, a produção dos óleos essenciais de laranja pode aumentar, mesmo se o preço desse ingrediente estiver em patamares pouco favoráveis. Em 2012, o País exportou cerca de 30 mil toneladas de óleo essencial de laranja, sendo esse produto o mais relevante na balança comercial nacional.

Figura 11: Comparação do preço médio em 2012

2.5. Sofisticação da demanda

A sofisticação da demanda de Aromas, Sabores e Fragrâncias é alta e pode ser observada em dois pontos centrais. Primeiro, o ciclo de vida dos produtos do segmento é curto, com cerca

6 Dados referentes ao ano de 2012 7 Fonte: Entrevistas com especialistas

Principal diferençaOl. E. de Laranja (US$ 4/kg)

Ol. E. Menta (US$ 31/kg)

Fonte: Aliceweb; Análise Bain/Gas Energy

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de 20% do portfólio dos grandes players sendo renovados anualmente. Segundo, a variedade de ingredientes é ampla, com produtos de características e usos bastante específicos.

Apesar de as indústrias consumidoras apresentarem maior grau de sofisticação nos mercados desenvolvidos em comparação ao Brasil, com relação aos Aromas, Sabores e Fragrâncias utilizados no segmento, a demanda possui grau de sofisticação similar. Esse padrão pode ser observado na indústria brasileira de cosméticos, que demanda compostos de fragrâncias similares aos utilizados na indústria europeia, de forma geral.

Ainda assim, a condição do País em antecipar tendências de consumo é baixa, uma vez que a propensão dos consumidores para arcar com o custo adicional de produtos inovadores é inferior se comparada a dos países desenvolvidos. Nos países europeus, por exemplo, o consumo de alimentos mais avançados, como os com baixo teor de gordura ou baixa composição de carboidratos cresce de maneira mais acelerada que no Brasil8.

As mudanças nos padrões de consumo são frequentes no segmento e as empresas de Aromas e Sabores realizam investimentos altos em P&D para acompanhar as tendências. No exemplo abordado (alimentos), os players têm buscado meios de produzir ingredientes de origem natural e capazes de tornar os produtos finais saudáveis mais atraentes ao consumidor.

Outro exemplo de tendência de sofisticação de demanda é o consumo de produtos processados e embalados. Indivíduos residentes em centros urbanos necessitam, com frequência, alterar seus hábitos de alimentação, devido à baixa disponibilidade de tempo para preparar as refeições. Para alimentos com baixo tempo de preparação, como pré-cozidos, é necessário desenvolver Aromas e Sabores que garantam a liberação do sabor no tempo apropriado e se mantenham no alimento durante toda a sua vida útil.

3. Fatores de produção

3.1. Matérias-primas

Conforme já citado, as principais matérias-primas do segmento são: (i) Óleos Essenciais e Extratos Naturais e (ii) Aromas Químicos. Esses insumos são essenciais ao segmento em estudo, compondo parcela substancial do custo de produção de Aromas e Sabores e Fragrâncias. A balança comercial se caracteriza como exportadora em ambos os casos.

8 Fonte: entrevistas com especialistas

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Os dois subsegmentos de matéria-prima têm mercados de porte inferior em relação aos outros dois (consumidores), tendo movimentado 8,1 bilhões de dólares em 2012. É esperado que tais subsegmentos atinjam 10,7 bilhões de dólares em 2017. O subsegmento de Óleos Essenciais e Extratos Naturais tem maior representatividade e deve crescer de maneira mais acelerada, 6,5% ao ano, e o de Aromas Químicos, menos representativo, 5,7% ao ano. (Figuras 12 e 13).

Figura 12: Mercado global de Óleos Essenciais

Figura 13: Mercado global de Aromas Químicos

Fonte: BCC Research (2012)

MERCADO DE ÓLEOS ESSENCIAIS DETALHAMENTO TOP-10

Fonte: BCC Research

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O leque de matérias-primas utilizadas no segmento é diversificado, uma vez que a produção de um aroma ou sabor demanda, em média, de 50 a 100 ingredientes, e uma fragrância, de 100 a 150 ingredientes9. Conforme apresentado, o Brasil não possui produção suficiente de boa parte desses ingredientes, de modo que os mesmos acabam sendo importados pelo País. Essa necessidade de importação, entretanto, não tem impedido o crescimento e a geração de novos investimentos no setor. Uma característica do segmento no Brasil é a existência de empresas especializadas na importação de ingredientes, as quais distribuem insumos para players menores, sem capacidade de importação direta.

A seguir, apresenta-se uma breve descrição dos subsegmentos de Óleos Essenciais e Extratos Naturais e Aromas Químicos, os dois grandes grupos de matérias-primas nesse segmento.

3.1.1. Óleos Essenciais e Extratos Naturais

Os Óleos Essenciais são produtos voláteis de origem vegetal, obtidos por processos físicos de diversas partes da planta. Exemplos desses processos são a destilação por arraste com vapor d’água e a destilação a pressão reduzida. Os Extratos Naturais são ingredientes obtidos, por esgotamento a frio ou a quente, de produtos de origem animal ou vegetal com o uso de solventes que, posteriormente, podem ou não ser eliminados. Somados, estes dois grupos constituem o subsegmento Óleos Essenciais e Extratos Naturais.

Entre os principais Óleos Essenciais, o da laranja é aquele para o qual o Brasil apresenta maior competitividade, embora os do limão, do cravo e do eucalipto apresentem potencial para produção relevante (Figura 14). No mercado de óleo essencial de laranja, o País já é o maior exportador global, superando outras regiões de alta produtividade, como a Flórida (Estados Unidos). Três players de grande porte concentram 85% da produção mundial: Cutrale, Citrosuco e Louis Dreyfus.

9 Entrevistas com especialistas do setor

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Figura 14: Competitividade nacional dos Óleos Essenciais

Esse subsegmento é composto por diversos produtos, nos quais o Brasil apresenta, na maior parte dos casos, déficit comercial por produção interna insuficiente. O País poderia alavancar sua vocação agrícola para ganhar relevância na produção de produtos nos quais possui maior competitividade. No caso do eucalipto, por exemplo, o Brasil apresenta a maior produtividade mundial, equivalente a cerca de 60m3/ha10, demonstrando potencial para produção e exportação dos derivados desse produto.

3.1.2 Aromas Químicos

O subsegmento de Aromas Químicos pode ser dividido em três grupos principais: benzenóides, terpenos e almíscares. Em todos os grupos, há ingredientes naturais ou sintéticos (Figura 16).

10 Sistema Nacional de Informações Florestais

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Figura 16: Distribuição do mercado global de Aromas Químicos

Os ingredientes naturais são ecologicamente sustentáveis e isentos de efeitos colaterais aos consumidores, mas o seu custo de produção é alto e constitui um fator restritivo para alavancar o consumo e produção. Além do mais, a oferta de fontes naturais é limitada e a quantidade produzida é dependente de condições climáticas, umidade e solo propícios. Os produtos sintéticos, por outro lado, podem ser desenvolvidos em volumes previsíveis e padrões de qualidade controlados.

Pela dificuldade de produção e pela tendência dos consumidores em buscarem produtos ambientalmente sustentáveis e que tragam menos riscos à saúde, os ingredientes naturais são vendidos com um premium de preço considerável frente a seus similares sintéticos, podendo chegar a um valor quatro ou cinco vezes superior.11

Os benzenóides são estruturas químicas que contêm um anel de benzeno, podendo ser de diversos grupos funcionais, tais como álcoois, ácidos, éteres, aldeídos, cetonas, fenóis e lactonas. Em 2012, foram comercializados globalmente 760 milhões de dólares em benzenóides, sendo 730 milhões de origem sintética (96%)12.

A vanilina13 é um benzenóide de destaque, com alto uso em algumas indústrias consumidoras, como a de alimentos e bebidas. A produção global é concentrada no México, na Polinésia e em Madagascar. A EMBRAPA tem buscado meios de tornar viável a produção brasileira de vanilina na região da Amazônia. Hoje, o País não possui produção local relevante, e necessita

11 Entrevistas com especialistas 12 Fonte: BCC Research (2012) 13 A vanilina é o principal componente do extrato da semente de baunilha

Fonte: BCC Research (2012)Nota: o grupo outros inclui produtos de menor volume comercial, como compostos alifáticos, alicíclicos e heterocíclicos

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importar cerca de 550 toneladas anuais do produto, o que equivale a cerca de 8,4 milhões de dólares14.

Os terpenos são originados da fusão de duas ou mais moléculas de isopreno. Se apenas dois se fundem, recebem o nome de monoterpenos; se três, são chamados sesquiterpenos. Quando ocorre a fusão de quatro moléculas são conhecidos como diterpernos. Como já mostrado, o terpeno de laranja e os cítricos são os principais responsáveis pelo superávit da balança comercial brasileira de Aromas Químicos: representaram conjuntamente exportações de 93 milhões de dólares durante 2012. Neste ano, o mercado global de terpenos foi de 944 milhões de dólares, dos quais 769 milhões são relativos aos terpenos sintéticos (81%)15.

Por fim, o almíscar é utilizado principalmente como ingrediente para fragrâncias, tendo sido, historicamente, obtido com base em substância secretada por uma glândula do cervo-almiscarado, hoje ameaçado de extinção. Atualmente, a extração natural é feita em baixo volume da malva almiscarada (Mimulus inoschalus) ou da semente do Hibiscus, mesmo porque a extração animal é proibida. Um dos principais produtores do almíscar sintético é a Givaudan, que o comercializa com o nome de Nirvanolide para produtores de perfumes. Em 2012, foram comercializados 469 milhões de dólares mundialmente16.

A produção de Aromas Químicos no Brasil foi prejudicada pela crise da cadeia de química fina no País a partir do início da década de 90, fato que levou ao fechamento de diversas unidades produtivas que desenvolviam ingredientes sintéticos utilizados no segmento. Como exemplo, pode-se citar o caso da Givaudan, possuidora de uma fábrica de químicos sintéticos no Brasil e que foi fechada em prol de um investimento semelhante no México. A reestruturação dessa cadeia é apontada por especialistas como vital para o segmento, pois hoje quase todas essas matérias-primas são importadas pelas empresas, embora pudessem ser produzidas, localmente, com os derivados da cadeia petroquímica nacional, em especial com o benzeno.

3.2. Tecnologias e suas tendências

O fator tecnológico não representa uma barreira competitiva relevante para as atividades de produção do segmento. O maquinário utilizado pelas empresas é de tecnologia acessível ao mercado nacional e o processo produtivo envolve a mistura de ingredientes em máquinas como reatores, tanques e spray dryers, fazendo com que empresas menores ou de nicho consigam operar mesmo com capacidade financeira inferior.

14 Fonte: Aliceweb 15 Fonte: BCC Research (2012) 16 Fonte: BCC Research (2012)

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O investimento em pesquisa e desenvolvimento, por sua vez, é relacionado à tecnologia de produto e é essencial para a ascensão de players e para manutenção da competividade. O segmento tem suas demandas continuamente modeladas pelas necessidades das indústrias consumidoras, como a de Alimentos e Bebidas. O maior consumo não só de comida embalada e processada bem como o de produtos mais saudáveis têm impulsionado o desenvolvimento de químicos capazes de tornar os produtos finais mais atrativos ao consumidor.

Por fim, a biotecnologia se mostra como uma das maiores tendências da indústria. A biotecnologia é o uso de organismos vivos para a produção de compostos por meio de reações, enzimação ou fermentação. A tendência é uma alternativa para produzir ingredientes naturais que são utilizados em forma sintética. Essa substituição confere valor adicional (premium) ao ingrediente, uma vez que produtos com origem natural têm escala de produção limitada por fatores naturais e geográficos.

Como mostrado no capítulo 3.1, é necessária a importação de matérias-primas complementares, não só devido ao foco do País na produção de itens que apresentam vantagens competitivas, mas também em decorrência das características geográficas inerentes a cada cultivo. Como há produtos nacionais com propriedades similares àquelas presentes nos importados, é possível utilizar a biotecnologia para torná-los substitutos naturais.

3.3. Ambiente regulatório

No escopo industrial, o Brasil possui um ambiente regulatório similar à Austrália e Canadá17. Esses países definem os Aromas, Sabores e Fragrâncias proibidos e os que devem ser usados de maneira limitada. Desta forma, as substâncias não listadas não têm qualquer limitação e o sistema se mostra bastante eficiente no uso de ingredientes naturais. Entretanto, há dois entraves à competitividade no País. O primeiro se refere à pesquisa e à utilização de matérias-primas locais ainda não exploradas comercialmente, e o segundo à definição do prazo de validade de produtos químicos junto a de alimentos pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC).

Com o objetivo de proteger o patrimônio genético de atividades de biopirataria, o governo federal promulgou, em 2001, a Medida Provisória 2186-16. Entretanto, o efeito prático desta medida foi a redução de investimentos voltados à exploração da biodiversidade: muitos estudos foram interrompidos ou não se concretizaram, devido aos entraves burocráticos criados pelo marco regulatório.

17 BCC Global Markets for Flavors and Fragrances (2012)

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Os empecilhos criados pelo governo se centram na obtenção de autorização prévia para toda e qualquer atividade de acesso, remessa, uso e desenvolvimento tecnológico, que venha a utilizar recurso genético nacional. Há apenas duas instituições autorizadas pelo governo federal a concederem tal autorização: o IBAMA e o CNPq. Especialistas do setor estimam que o tempo necessário para tal concessão às empresas seja de 1 a 1,5 ano, fazendo com que o início da exploração comercial do produto a ser desenvolvido seja prorrogado por até 518 anos desde o pedido de autorização prévia.

Um exemplo de exploração bem sucedida e que demonstra o potencial econômico do patrimônio genético é a do guaraná, feita pela Ambev. Em 2003, a empresa iniciou o projeto Zona Franca Verde 19 , em parceria com o governo do estado do Amazonas, como contrapartida aos 3 bilhões de litros de refrigerantes produzidos a partir da extração da matéria-prima20. Entretanto, é um desfecho raro, devido aos fatores regulatórios. O comum é a replicação de casos como o da castanha-do-pará, nativa da região, mas com óleo essencial importado do Peru e da Bolívia por empresas de Aromas e Sabores, mesmo com a possibilidade de desenvolvimento em território nacional21. De acordo com as empresas do setor, o Brasil apresenta as condições naturais e tecnológicas necessárias para a exploração local, porém os entraves burocráticos limitam o desenvolvimento local do setor.

Por isso, é unânime a visão de que tal legislação e o relacionamento com os órgãos fiscalizadores representam grandes obstáculos para o desenvolvimento pleno deste segmento no Brasil. O valor da exploração comercial do potencial genético, de acordo com o IBAMA, seria superior a 4 trilhões de reais, o que representaria um diferencial competitivo relevante a partir de uma mudança nos marcos regulatórios.

No panorama jurídico atual, são considerados alimentos os aditivos intencionais, definidos pela legislação como substâncias com a finalidade de impedir alterações, manter, conferir ou intensificar qualquer aroma. Por isso, o CDC é aplicado ao segmento, mesmo que o foco das empresas seja em pessoas jurídicas (business to business) e não em consumidores finais. A Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, estende o uso das normas de validade e considera impróprio todo aroma ou sabor com prazo de validade expirado.

De maneira paralela, a Lei no 6.437, de 20 de agosto de 1977, impede a importação, exportação, exposição e entrega para consumo de aromas ou sabores com prazo de validade expirado: esses atos são considerados infrações sanitárias. As empresas do segmento, na presença de mercadorias com prazo de validade expirado, arcam com o custo de descarte feito, geralmente, por meio da queima.

Na maioria das regiões do mundo, não é obrigatória a estipulação de um prazo de validade para Aromas, Sabores e Fragrâncias. As legislações, em geral, estipulam um prazo recomendado para uso (best before) e oferecem a possibilidade de extensão do prazo por meio de reavaliação. Durante 2012, a ANVISA tomou uma atitude similar em relação a insumos farmacêuticos ativos por meio da RDC no 45. A resolução apresentou

18 Entrevista com especialistas 19 O projeto já realizou investimentos de 70 milhões de reais na criação de 12 polos agrícolas, construção de moradias, entre outros 20 Fonte: Acritica de Humaitá 21 Entrevistas com especialistas

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

regulamento técnico para os testes de estabilidade dos insumos e serve como benchmark para o segmento em questão. Resguardados os critérios técnicos para garantir a qualidade e a segurança dos produtos para os consumidores, a mudança seria uma oportunidade para ganho de competividade.

3.4. Disponibilidade de recursos humanos e qualificação dos profissionais

Especialistas afirmaram que o País possui oferta de mão-de-obra gerencial qualificada, e que a demanda destes profissionais por empresas locais e entrantes internacionais possa ser atendida. O mesmo ocorre para cargos de nível técnico, para os quais o Consórcio não identificou qualquer barreira competitiva relevante.

A mão-de-obra especializada, por outro lado, tem disponibilidade restrita, com destaque para as posições de perfumistas e aromistas. Essa restrição leva as empresas a criarem programas internos para o desenvolvimento das competências necessárias ou contratarem profissionais com formação em outros países.

3.5. Disponibilidade e custo de capital

O nível de investimentos no segmento é alto no Brasil. Empresas internacionais de grande porte buscam se estabelecer por meio da abertura ou expansão de plantas e ampliação das equipes, incentivando a crescente expansão do mercado.

As empresas participantes do setor possuem oferta satisfatória de crédito, que podem vir de instituições como bancos privados ou instituições públicas, com o BNDES. Empresas globais, com frequência, financiam os projetos com capital concedido pela matriz, dado o grande potencial do mercado nacional. Com isso, o setor não encontra, na disponibilidade ou no custo de capital, barreiras para seu crescimento.

3.6. Infraestrutura

De maneira análoga aos outros segmentos da indústria química priorizados pelo Estudo, o de Aromas, Sabores e Fragrâncias é afetado pela ineficiência da infraestrutura do Brasil. Por um lado, diversas matérias-primas são importadas e o recebimento delas depende dos processos de desembaraço aduaneiro. Por outro, os produtos exportados, muitas vezes de origem natural ou de baixo valor agregado, têm sua competitividade internacional afetada pelo custo de logística e transportes no Brasil. Entretanto, apesar das dificuldades estruturais citadas, comuns à maioria dos setores da indústria, não há problemas específicos que possam conferir desvantagem adicional ao segmento.

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

4. Características da indústria

4.1. Estratégia de atuação dos players

Os dois subsegmentos possuem alto nível de concentração. Em Aromas e Sabores, os cinco maiores players da indústria dominam 60% do mercado e, em Fragrâncias, 53%. Esses players são: Givaudan, Firmenich, IFF, Symrise e Takasago (Figura 17). No Brasil, empresas locais, com porte inferior, oferecendo um portfólio restrito e especializado em algum nicho, completam o mercado. Há, entretanto, uma particularidade no mercado local: um grande competidor nacional, a Duas Rodas é líder no subsegmento de Aromas e Sabores.

Figura 17: Participação de mercado global de Aromas, Sabores e Fragrâncias

Os subsegmentos de Óleos Essenciais e Extratos Naturais e Aromas Químicos, por sua vez, se caracterizam como mercados mais pulverizados. Ainda, como já visto no capítulo 3, a dimensão destes mercados produtores de matérias-primas, é inferior ao dos subsegmentos consumidores, fator que limita o porte dos competidores.

Além de porte limitado, as empresas destes dois subsegmentos possuem portfólios limitados a uma pequena variedade de produtos. A produção global de matérias-primas é também concentrada em poucas plantas industriais, que têm o papel que atender a demanda em nível global. A Rhodia, por exemplo, mantém sua produção de Aromas Químicos em três fábricas, localizadas nos Estados Unidos, França e China – esta última inaugurada recentemente. A Figura 18 traz a descrição de alguns players que se posicionam como líderes nestes mercados.

SEGMENTO DE FRAGRÂNCIASSEGMENTO DE AROMAS E SABORES

Top 5 2012:~60%

Top 5 2012:~53%

Fonte: Relações com Investidores; Lucientel (2013); Análise Bain/Gas Energy

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Figura 18: Competitividade nacional dos Óleos Essenciais

Junto à expectativa de crescimento futuro, o segmento em análise mantém um histórico de alta rentabilidade, muito superior à maioria dos demais priorizados na fase II do Estudo. O EBITDA médio deste segmento foi de 20% em 201222. Ao longo dos últimos anos, o subsegmento de Fragrâncias registrou margens superiores ao de Aromas e Sabores, com Óleos Essenciais e Aromas Químicos aparecendo na sequência, embora com margens também elevadas.

A alta lucratividade do segmento pode ser vista nos resultados de grandes players, que foram capazes de mantê-la de maneira consistente e com poucas variações (Figura 19). Entre 2008 e 2012, a Symrise obteve um EBITDA médio de 19,7%, a Givaudan de 19,8% e a IFF de 19,5%. A manutenção das margens de lucro ocorreu mesmo em períodos de crise, uma vez que a demanda de diversos produtos finais, como alimentos e bebidas, é pouco elástica e os indivíduos não reduzem drasticamente o consumo de produtos finais mediante alterações de preços ou renda.

22 Média dos três maiores competidores de capital aberto

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Figura 19: Lucratividade dos players globais

Esta rentabilidade se deve à baixa proporção do custo de Aromas, Sabores e Fragrâncias em relação aos produtos finais (cerca de 4% 23 ), o que significa que o papel essencial desempenhado por esses ingredientes na aceitação dos produtos finais pelos consumidores é desproporcional ao seu custo. Portanto, as indústrias consumidoras aceitam que esse segmento mantenha margens de lucro substanciais. Essa rentabilidade, entretanto, é ameaçada por fatores como: (i) queda da produtividade de P&D, que consome em média 8% da receita dos grandes players; (ii) aumento e volatilidade dos preços das matérias-primas, principalmente as derivadas de petróleo e (iii) aumento da concorrência dentro da indústria, com surgimento de players locais e especializados em nichos de produtos. Ainda assim, essas ameaças não têm mostrado impactos relevantes no desempenho das empresas do setor.

Os players, atraídos pelo porte do mercado, têm realizado investimentos relevantes no Brasil e é esperado que esse movimento se mantenha nos próximos anos, acompanhando as expectativas de crescimento do mercado local.

23 Entrevistas com especialistas

OS PLAYERS TÊM SE EXPANDIDODE MANEIRA SÓLIDA

AS EMPRESAS MANTIVERAM ALTASMARGENS DE LUCRATIVIDADE

LUCROS APRESENTAMCRESCIMENTO SAUDÁVEL

Fonte: Relatórios anuais

Givaudan

Symrise

IFF

Givaudan

Symrise

IFF

Givaudan

Symrise

IFF

Margens muitosuperiores à

média dos demaissegmentosestudados

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

A proximidade com o cliente é um item prioritário na atuação dos competidores. Como a diversidade de compostos produzidos no segmento é alta e a demanda é bastante sofisticada, é necessário acompanhamento contínuo das expectativas dos consumidores, principalmente no desenvolvimento de novos produtos. Além disso, como as indústrias consumidoras são concentradas em players de grande porte, que consomem Aromas, Sabores e Fragrâncias em larga escala, elas realizam acompanhamento frequente dos processos produtivos. O poder de barganha dos consumidores para negociação de preço existe, devido ao alto volume de consumo, mas é equilibrado pela especificidade e constante modificação dos produtos consumidos.

No grupo consumidor de Aromas e Sabores, a indústria de bebidas apresenta alto nível de concentração no Brasil: a AB InBev detém 56% do faturamento do mercado de bebidas alcoólicas e a Coca-Cola 36% do mercado de refrigerantes. A indústria de alimentos, por sua vez, não segue o mesmo padrão, uma vez que os cinco maiores players são responsáveis por 23% do faturamento de alimentos industrializados. Esses players são: Nestlé (8,9%), Brasil Foods (4,7%), Mondelez (4,0%), Danone (3,1%) e PepsiCo (2,5%). No grupo consumidor de Fragrâncias, as indústrias de cosméticos e a de produtos de limpeza e cuidados com a casa também apresentam alto grau de concentração (Figuras 20 e 21).

Figura 20: Participação de mercado de cosméticos no Brasil (2012)

Fonte: Euromonitor International; Análise Bain/Gas Energy

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Figura 21: Participação de mercado de limpeza doméstica no Brasil (2012)

Três fatores propiciam a criação de barreiras de entrada no segmento: processos de certificação, padronização global de fornecimento e ciclo de vida curto de produtos. Esses fatores restringem a atuação de players menores, de modo com que eles atuem focados em clientes de menor porte ou em nichos de mercado.

Como a maioria das indústrias consumidoras é concentrada, as empresas consumidoras criam processos de certificação para os fornecedores de Aromas, Sabores e Fragrâncias, conhecidos como core list. Esse processo visa garantir a confiabilidade da produção no volume e especificidade necessários, assim como realizar o desenvolvimento de novos produtos de maneira eficaz.

Junto a core list, os consumidores de porte global buscam padronizar a compra e a utilização de insumos nos locais em que atuam. Para tanto, eles utilizam fornecedores também com operações de grande abrangência geográfica, reduzindo a competitividade de players locais do segmento. Esse segundo fator é ainda mais presente no mercado de Fragrâncias, uma vez que os mercados a jusante possuem concentração ainda mais elevada.

O terceiro fator é o curto ciclo de vida dos produtos, estimado entre 5 e 6 anos24. Para acompanhar a velocidade com que o mercado altera sua demanda, as empresas necessitam realizar investimentos altos em P&D que, como já citado, consomem cerca de 8% da receita dos grandes players. Empresas locais, por sua vez, encontram dificuldade de realizar esse acompanhamento com a mesma intensidade, uma vez que não possuem a mesma estrutura e recursos disponíveis que os concorrentes globais.

24 Mais detalhes no capítulo 2.5 Sofisticação da Demanda

Fonte: Euromonitor International; Análise Bain/Gas Energy

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

A Duas Rodas se apresenta com um caso à parte ao padrão global, pois é líder em Aromas e Sabores no País, mesmo com a presença dos grandes competidores. Devido às barreiras citadas, como core list e porte global dos consumidores, ela possui uma carteira de clientes bastante pulverizada, atendendo a demanda de diversas empresas locais, assim como exportando para 29 países.

4.2. Escala e perfil dos investimentos

Entrevistas com especialistas indicam que os players têm realizado investimentos relevantes no Brasil, atraídos pelo porte do mercado nacional. Há empresas globais, por exemplo, que têm entrado no mercado doméstico por crescimento orgânico ou via aquisições. Exemplos recentes dessta última tendência, são a Symrise, que comprou a divisão brasileira de fragrâncias da Belmay e construiu uma nova fábrica, e a Frutarom, que adquiriu a Mylner Indústria e Comércio.

O Consórcio não teve acesso a dados específicos quanto à estimativa de investimento e tempo para implantação de plantas no setor. Sabe-se, entretanto, que houve a transferência da produção de aromas da Symrise para Sorocaba-SP com a construção, entre 2011 e 2012, de uma nova planta, com capacidade de cerca de 6 mil toneladas por ano. O investimento realizado foi de cerca de 100 milhões de reais.

Ao realizarem investimentos, as empresas do segmento costumam desenvolver plantas de capacidade local para Aromas, Sabores e Fragrâncias e plantas de capacidade global para produção de Óleos Essenciais e Extratos Naturais e Aromas Químicos. Isto decorre do fato de que os dois primeiros subsegmentos apresentam produtos de demanda altamente específica e necessitam de interação próxima com os clientes, enquanto os dois últimos envolvem insumos com aplicação em diferentes mercados e regiões geográficas.

Algumas das empresas com maior capacidade instalada no Brasil, em 2012, eram: a Givaudan, capaz de fabricar por ano 23,9 mil toneladas de Aromas e Sabores e 9,5 mil de Fragrâncias; a Symrise, com capacidade anual de 8,4 mil toneladas de Aromas e Sabores e 2,4 mil de Fragrâncias; e a L’Essence, capaz de produzir 3,8 mil toneladas de Fragrâncias por ano25. O Consórcio não teve acesso aos dados de capacidade das demais empresas

4.3. Principais players

4.3.1. Compostos de Aromas e Sabores e Compostos de Fragrâncias

Givaudan

A Givaudan, presente no Brasil desde 1949, é a líder global do segmento, com uma participação do mercado global de 19% em Aromas e Sabores e 16% em Fragrâncias. Entre 1963 e 2000, fez parte da Roche, até que se tornou uma empresa de capital aberto e sem

25 Fonte: Guia Abiquim

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vínculo com o grupo. Posteriormente, importantes aquisições foram realizadas, como a compra da FIS (Food Ingredients Specialities), a IBF (International Bioflavors) e a Quest. Em 2013, as vendas globais e o EBITDA26 alcançaram, respectivamente, 4,4 bilhões e 970 milhões de francos suíços. Do montante de vendas, 13% teve origem na América Latina, 52% foi gerado por Aromas e Sabores e 48% foi gerado por Fragrâncias27.

Firmenich

Com atuação no Brasil desde 1953, a Fimenich é a segunda maior empresa do segmento, com participação de mercado de 13% em Aromas e Sabores e 14% em Fragrâncias. Entre os quatro líderes globais, ela é a única de capital fechado. A posição de vice-líder foi alcançada em 2007, após a compra da divisão de Aromas e Sabores da Danisco, por 450 milhões de euros. Em Cotia-SP, a empresa possui planta fabril e, no Norte e no Nordeste do País, realiza distribuição exclusiva de seus produtos por meio da VitaSense. Em 2012, a Firmenich obteve um faturamento de 2,9 bilhões de francos suíços, dos quais 55% foram gerados pelo subsegmento de Fragrâncias e 45% por Aromas e Sabores28.

IFF

A IFF é a única, entre as quatro líderes, com origem não europeia. Sua sede está localizada em Nova York. A empresa tem foco em países emergentes, sendo que 49% de seu faturamento tem origem nestas regiões. Em 2013, não só foi aberta uma nova planta em Guangzhou (China), mas também foi expandida a de Gebze (Turquia) e outra na Indonésia. Ainda em 2013, a soma dos investimentos realizados em mercados emergentes foi superior a 250 milhões de dólares. A empresa obteve um faturamento de 2,8 bilhões de dólares (51% gerados por Fragrâncias e 49% por Aromas e Sabores), e um EBITDA de 579 milhões de dólares, ambos em 2012. A participação de mercado é de 11% em Aromas e Sabores e 12% em Fragrâncias29.

Symrise

A Symrise é a empresa mais nova entre as líderes globais, tendo sido fruto de uma fusão, em 2003, entre a Haarmann & Reimer (H&R) e a Dragoco, ambas localizadas em Holzminden (Alemanha). A empresa é listada na Bolsa de Valores de Frankfurt desde dezembro de 2006, quando realizou o maior IPO30 alemão do ano. Em 2013, obteve um faturamento de 1,8 bilhões de francos suíços (51% gerados pelo subsegmento de Fragrâncias e 49% por Aromas e Sabores) e um EBITDA de 373 milhões. A participação de mercado é de 10% em Aromas e Sabores e 9% em Fragrâncias31.

26 EBITDA: Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização 27 Fonte: Relações com investidores; Lucintel (2013); Análise Bain/Gas Energy 28 Fonte: Relações com investidores; Lucintel (2013); Análise Bain/Gas Energy 29 Fonte: Relações com investidores; Lucintel (2013); Análise Bain/Gas Energy 30 IPO: Oferta pública inicial (Initial Public Offer) 31 Fonte: Relações com investidores; Lucintel (2013); Análise Bain/Gas Energy

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Takasago

A Takasago é a quinta maior do segmento de Aromas, Sabores e Fragrâncias, possuindo sede no Japão e ações listadas na Bolsa de Valores de Tokyo, desde 1969. Em 2013, o faturamento alcançou 118,9 bilhões de ienes (62% por Aromas e Sabores e 29% por Fragrâncias). A empresa realiza 59% das vendas no Japão e exporta 8% para o continente americano, obtendo participação do mercado global de 8% em Aromas e Sabores e 3% em Fragrâncias32. A Takasago utiliza o café brasileiro como fonte de matéria-prima e exporta Mentol para a indústria brasileira.

Duas Rodas

A Duas Rodas é uma empresa nacional, com sede em Jaraguá do Sul (SC), e líder nacional em Aromas e Sabores. Seu faturamento, em 2013, atingiu 550 milhões de reais, sendo parcela deste atribuída a atividades de exportação para 29 países. A empresa possui sete unidades de produção no Brasil e em outros países da América Latina. Para superar barreias como a utilização de core list por grandes empresas consumidoras e padronização do fornecimento por empresas globais nas subsidiárias internacionais, a empresa busca diversificar sua carteira de clientes.

4.3.2. Óleos Essenciais e Extratos Naturais e Aromas Químicos

Beraca

A Beraca é uma empresa nacional com sede localizada em São Paulo e foco no desenvolvimento e produção de matérias-primas para Aromas e Sabores. Nove unidades (sete no Brasil, uma na França e uma nos Estados Unidos) lhe garantem atuação abrangente. Em 2012, o seu faturamento alcançou 138 milhões de reais, dos quais 34,1% são oriundos da divisão de negócios Food Ingredients, que também inclui produtos como oleoresinas, corantes e xaropes. O objetivo estratégico da Beraca é ganhar mercado pela maior utilização de ingredientes naturais, em detrimento dos sintéticos.

Citrosuco

A Citrosuco é a maior produtora mundial de suco de laranja, originária da fusão entre a Citrovita e a Citrosuco, em 2010. Possui capacidade para processar mais de 40% de todo o suco de laranja processado e exportado pelo Brasil, mas também atua nos segmentos de Óleos Essenciais e Extratos Naturais, entre os quais se inclui o terpeno cítrico D-Limoneno. Em 2012, a empresa gerou uma receita de 1,2 bilhão de dólares por meio de suas 6 plantas industriais e da exportação para mais de 100 países. Os óleos essenciais e terpenos cítricos, especificamente, geraram uma receita de aproximadamente 70 milhões de dólares, com uma

32 Fonte: Fonte: Relações com investidores; Lucintel (2013); Análise Bain/Gas Energy

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

produção próxima a 17 mil toneladas33. No processo produtivo, são empregados mais de 15 mil funcionários em períodos de colheita, e utilizados 150 mil acres produtivos próprios.

Rhodia

A Rhodia atua no segmento de Aromas Químicos e, neste segmento, obteve faturamento de 365 milhões de euros em 2013. No Brasil, está presente desde 1919 e, em 2011, foi adquirida pelo Grupo Solvay por 3,4 bilhões de euros. Há cinco plantas fabris localizadas no País, sendo todas no estado de São Paulo: Santo André (duas), São Bernardo do Campo, Jacareí e Paulínia. Atualmente, a empresa é a maior produtora global de Vanilina e busca desenvolver a produção local deste ingrediente por rota biotecnológica a partir do ácido ferúlico34.

BASF

A BASF é um dos maiores produtores globais de Aromas Químicos como os terpenos geraniol, citronellol e lilalool. Os ingredientes produzidos e comercializados são apenas sintéticos, baseados em matérias-primas petroquímicas. A empresa possui a maior planta industrial de mentol, construída em setembro de 2012 em Ludwigshafen (Alemanha). A BASF possui receita global de 73,9 bilhões de euros e EBIT de 7,3 bilhões de euros35.

5. Indústrias relacionadas

O segmento em estudo se posiciona, na cadeia produtiva, como produtor de intermediários, de modo a fornecer insumos para indústrias de bens de consumo. Nesse contexto, é relevante a relação com segmentos que compartilhem ou forneçam matérias-primas e outros insumos.

O segmento Aromáticos fornece matérias-primas utilizadas no processo químico de síntese de Aromas Químicos, como benzeno, tolueno e xileno. A capacidade doméstica de produção de benzeno é de cerca de 1000 kta, concentrada na Braskem e Petrobrás, e suficiente para satisfazer a demanda nacional, que foi de 655 kta em 2012. Para tolueno, há também capacidade instalada suficiente no País, de modo que em 2012 foram exportadas 50 kta. No mercado de xilenos, o principal produto comercializado é o p-xileno, onde a produção atual é de 185 kta e integralmente exportada (2012). Iniciativas voltadas à produção de aromas químicos e benzenóides para o segmento no Brasil podem orientar-se em caráter de cluster junto à cadeia petroquímica.

33 Análise Bain / Gas Energy 34 Fonte: Relações com investidores 35 Fonte: Relações com investidores. Refere-se a todo o grupo e não especificamente à unidade de aromas

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Outra relevante cadeia relacionada ao segmento é o agronegócio, uma vez que diversos Óleos Essenciais e Extratos naturais tem como origem direta o cultivo agrícola. O volume ofertado desses óleos e extratos é dependente da demanda por produtos in natura e derivados do processamento, como o suco. Os óleos essenciais são subprodutos desse processamento e não se apresentam como drivers na decisão da quantidade a ser processada.

Por fim, com relação a maquinário, os players globais atuam no Brasil seguindo o modelo estabelecido pela matriz, com alta utilização de equipamentos importados. Entretanto, empresas locais competitivas, como a Duas Rodas, mantêm sua produção baseada em máquinas produzidas no Brasil. Como a tecnologia necessária ao processo produtivo de ingredientes é acessível aos competidores nacionais, os players de menor porte ou de nicho são capazes de atender seus consumidores adequadamente. Nesse item, não há grandes pontos de vantagem ou desvantagem competitiva relevante para o País.

6. Diagnóstico

O segmento de Aromas, Sabores e Fragrâncias possui grande potencial de crescimento no Brasil nos próximos anos, 5,6% ao ano até 2022, e possui balança comercial superavitária, com 90 milhões de dólares em 2012.

As principais indústrias consumidoras desses compostos são: alimentos e bebidas, cosméticos e higiene pessoal. Assim como em países desenvolvidos, no Brasil essas indústrias também apresentam demanda sofisticada por Aromas, Sabores e Fragrâncias, necessitando de ingredientes bastante específicos.

O Brasil produz e exporta um portfólio restrito de ingredientes baseado em culturas nas quais o País apresenta vantagens competitivas. Já as importações possuem valor médio por quilo superior ao das exportações (18,5 contra 4,1 dólares por quilo) e envolvem uma série de produtos diversificados nos quais o Brasil não possui produção interna suficiente para suprir a demanda local.

Por exemplo, o Brasil produz grande volume de alguns Óleos Essenciais e Extratos Naturais, como os subprodutos do processamento da laranja. Esses produtos são exportados em alto volume e responsáveis pelo superávit da balança comercial do segmento. No entanto, o País importa insumos complementares, geralmente de origem petroquímica, que localmente são produzidos em menor quantidade.

O segmento é dominado por poucos players, geralmente empresas multinacionais, que atuam em mais de um subsegmento, devido à existência de sinergias principalmente em custos. Esses players têm obtido lucratividade superior à média dos demais segmentos da indústria química priorizados nesse Estudo. Devido às margens EBITDA médias dos líderes do setor serem próximas a 20%, as empresas têm buscado realizar investimentos constantes no País para acompanhar a evolução da demanda e esses investimentos não são inibidos mesmo diante de eventuais fatores de produção desfavoráveis no Brasil.

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 4

Atualmente, a legislação brasileira influencia negativamente o desenvolvimento desse segmento no País. A Medida Provisória 2186-16 cria empecilhos que muitas vezes desestimulam investimentos locais, visto que há excesso de burocracia para a autorização prévia de atividades que envolvam a exploração da biodiversidade nacional. Com isso, o patrimônio genético brasileiro, que poderia ser um diferencial competitivo para o País nesse segmento, acaba sendo subutilizado.

Tendo em vista o panorama brasileiro atual para esse segmento, destacam-se a seguir três oportunidades de investimento e quatro políticas de desenvolvimento.

6.1. Oportunidades

A alta atratividade do segmento tem incentivado os players a investirem no País de modo a atender a evolução da demanda local. Nesse contexto, foram identificadas três oportunidades principais que carecem de incentivo para que possam concretizar-se no Brasil. Essas oportunidades estão associadas a matérias-primas naturais, à cadeia de química fina e à biotecnologia.

Matérias-primas naturais

Dentre as matérias-primas naturais, o Brasil apresenta potencial de agregar valor a algumas matérias-primas já produzidas localmente, de aumentar a produção de Óleos Essenciais, e de produzir novos insumos locais que ainda são subaproveitados ou inexplorados no segmento.

Sobre o potencial de maior agregação de valor, destacam-se os óleos essenciais e terpenos derivados da laranja, os quais representaram quase 70% das exportações brasileiras no segmento em 2012. Esses produtos são exportados a um valor unitário médio de aproximadamente 3 a 4 dólares por quilo. Entretanto, esses compostos poderiam ser processados localmente em novas etapas de fracionamento, gerando a produção de compostos com valores até 9 vezes maiores, como o aroma de laranja, produto com valor de cerca de 28 dólares por quilo.

O Brasil é o maior produtor mundial de laranja e os subprodutos do processamento dessa fruta estão disponíveis em abundância no Brasil. A concentração da produção de laranja em apenas três players e as características de seus derivados indicam oportunidade de converter a exportação de commodities na produção de especialidades químicas de maior valor.

No panorama atual, a fruta é exportada principalmente na forma in natura, como óleo essencial e como terpeno cítrico. O D’Limoneno, terpeno contido nas cascas e sementes de frutas cítricas, possui oferta elevada, pois equivale a 72% dos subprodutos do processamento da laranja (Figura 15). Esse produto poderia, ao invés de ser diretamente exportado por cerca de 3 dólares por quilo 36 , ser utilizado para desenvolvimento de produtos de maior valor agregado, uma vez que apresenta grande capacidade de solvência e,

36 Fonte: Aliceweb

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ao contrário de outros solventes, possui baixa toxicidade, baixa inflamabilidade e é biodegradável.

No segmento de Aromas, Sabores e Fragrâncias, há diversas aplicações industriais para o D’Limoneno, entre as quais podem ser destacadas a produção de: purificadores de ar, doces/balas, sabonetes e produtos de limpeza específicos (para janela, banheiro, carpete, etc). Em segmentos adjacentes, ainda podem ser ressaltados: produção de resinas e plásticos, defensivos agrícolas, aplicações em E&P, limpeza de pistas de decolagem de aeronaves, polimento de metal e solubilização de isopor para reciclagem, dentre outras.

Figura 15: Subprodutos do processamento da laranja

O estabelecimento de um player focado em trabalhar no processamento desses derivados para a geração de compostos de maior valor agregado poderia contribuir para melhorar a posição competitiva do Brasil no segmento, direcionando as exportações para produtos de maior preço médio. Além destes derivados da laranja, um player local poderia, por meio de um processo de internacionalização associado a alianças ou aquisições, atuar também em outros segmentos dos aromas naturais, aumentando seu controle sobre os canais de distribuição globais.

Como exemplo de oportunidade para expansão da produção de óleos essenciais, o Brasil apresenta potencial de atuar como exportador de outros óleos essenciais em culturas nas quais é competitivo. O País é o terceiro maior produtor mundial de cravo, com base no cultivo de mais de 5.000 pequenos agricultores no Sul da Bahia, única região do Ocidente a cultivar o cravo-da-índia. Quanto ao limão, os estados da região sul, em especial, apresentam condições climáticas e de solo necessárias para tal cultivo. Já com relação ao óleo essencial de eucalipto, não há uma exploração intensiva, mas o País cultiva a segunda maior floresta global de eucalipto (20% da área mundial37) e a utiliza, sobretudo, para extração de

37 Fonte: FIT Forestry Consulting`s Global Eucalyptus Map (2009)

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madeira e celulose. Esses óleos representam oportunidade interessante de exportação, pois possuem preço médio consideravelmente superior ao da laranja: 27, 24 e 13 dólares por quilo para os óleos de cravo, limão e eucalipto, respectivamente.

O óleo de eucalipto, em especial, possui outra aplicação potencial que pode ter impacto significativo na redução das importações brasileiras no segmento. Em 2010, pesquisadores do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveram uma rota alternativa de produção de mentol sintético 38 por meio da transformação do citronelal, componente presente no óleo de eucalipto. A tecnologia desenvolvida compreende uma única etapa química, o que revelou potencial de produção com custo inferior a concorrentes internacionais, que utilizam seis etapas para a transformação. O mentol é o principal item importado atualmente pelo Brasil no segmento de Aromas, Sabores e Fragrâncias e, caso essa rota tecnológica se prove viável no Brasil, haveria um aumento na demanda do mercado interno por óleo de eucalipto.

Por fim, existe potencial para exploração de matérias-primas locais ainda subaproveitadas ou inexploradas no segmento devido ao baixo incentivo às pesquisas e projetos de exploração da biodiversidade local, uma riqueza estimada em R$4 trilhões de reais. Especialistas entrevistados afirmam que o Brasil poderia ganhar mercado com matérias-primas naturais já estabelecidas na indústria, como, por exemplo, caso passasse a explorar plantas nativas com propriedades substitutas ao karité africano, ingrediente de amplo consumo no mercado mundial. O potencial genético nacional representa um diferencial competitivo decisivo para o País no segmento e precisa ser mais bem aproveitado.

Cadeia de química fina

A reestruturação da cadeia de química fina no Brasil se apresenta como oportunidade para a rota tradicional sintética, pois tornaria possível a produção de aromas químicos e outros compostos derivados de insumos petroquímicos. Com isso, seria eliminada a necessidade de importação desse tipo de insumo, culminando em ganho de competitividade para as empresas locais e desoneração dos tributos de importação associados.

Biotecnologia

A biotecnologia se apresenta como rota alternativa de alto potencial para a substituição de matérias-primas sintéticas atualmente importadas. Como exemplo, pode-se citar o caso da vanilina, principal componente do extrato da semente de baunilha, a qual é integralmente importada no Brasil atualmente, mas que poderia ser produzida a partir de uma rota natural no País, como, por exemplo, a partir do ácido ferúlico. Esse ácido é extraído da parede celular de produtos agrícolas como o arroz e a cana-de-açúcar e apresenta-se como um substituto local para a vanilina devido a propriedades em comum. A produção de compostos naturais em substituição a produtos sintéticos envolve um prêmio de valor, posto que os consumidores de aromas e fragrâncias estão dispostos a pagar um preço mais elevado para o consumo de produtos naturais (os quais podem chegar a um valor 4 ou 5 vezes superior).

38 Fonte: Centro de Inteligência em Florestas (02/08/2010)

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6.2. Linha de Ação

Há seis principais políticas públicas identificadas que podem acelerar o desenvolvimento local do segmento nos próximos anos, sendo todas relacionadas à melhoria em fatores de produção:

• Financiamento para incentivo aos óleos essenciais: Por meio de financiamentos atrativos, devem ser incentivados projetos para exploração de óleos essenciais com potencial local. A realização efetiva desses projetos pode promover a substituição de matérias-primas importadas e gerar ganho de competitividade ao segmento no Brasil;

• Garantir acesso a matérias-primas petroquímicas: Garantir acesso a matérias–primas essenciais à cadeia de química fina do segmento, como benzeno, tolueno e xileno;

• Promoção de benefícios fiscais para polo petroquímico: Propiciar benefícios fiscais temporários que permitam o estabelecimento do polo petroquímico que irá suportar a produção de produtos sintéticos no segmento39;

• Incentivo a linhas de pesquisa em biotecnologia: A produção de compostos por reação, enzimação ou fermentação é facilitada pela disponibilidade de produtos naturais e deve ser incentivada pelo potencial econômico para a indústria brasileira;

• Adequação do Marco Regulatório de Acesso ao Patrimônio Genético: revisão da Medida Provisória 2181.16 para que o País possa utilizar sua biodiversidade como vantagem competitiva, flexibilizando os requisitos necessários para pesquisa e desenvolvimento com a biodiversidade nacional.

• Revisão da regulação sobre prazos de validade: Revisão da classificação de Aromas, Sabores e Fragrâncias estabelecida pela legislação no tocante à questão de prazos de validade. Os compostos, hoje considerados alimentos, devem ser classificados em categoria específica de acordo com benchmarks internacionais. Dado que esses compostos são ingredientes industriais não vendidos diretamente aos consumidores finais, uma possibilidade seria permitir que os prazos pudessem ser prorrogados após reavaliações por empresas e profissionais qualificados. Tal alternativa ao segmento já foi aplicada com êxito no mercado de insumos farmacêuticos ativos.

39 Maiores detalhes sobre o tema fornecidos no Relatório do segmento de Aromáticos

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