Relatorio 2 - Energia Especifica
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UNIVERSIDADE DE BRASILIAFaculdade de Tecnologia
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental
Relatório: Energia específica e Ressalto Hidráulico
Professora Francisca Dariana Gonçalves Lima, professora da disciplina de Hidráulica Experimental da Universidade de Brasília.Esio Wilson Levino de Araujo Junior, estudante do curso de Engenharia Ambiental. Matrícula: 11/0116054.Paula Lacerda Lustosa, estudante do curso de Engenharia Ambiental. Matrícula: 11/0135075.Jose, estudante do curso de Engenharia Civil.
1. Objetivo
O experimento teve como objetivo fornecer dados experimentais aos alunos da disciplina de Hidráulica Experimental, com o intuito de obter a curva de Energia Específica e Força Específica, verificando as condições em que a energia específica e força específica se conservam no escoamento em canais.
2. Introdução
Energia ou carga específica é aquela disponível numa seção, tomando como referencia um plano horizontal passando pelo fundo do canal, naquela seção. Sendo assim, é a distancia vertical entre o fundo do canal e a linha de energia.
Equação 1 – Equação da Energia
H=z+ y+α V 2
2. g
O conceito é necessário para a análise e estudo de problemas em escoamentos através de singularidades em canais, como alteração da cota de fundo, alargamentos e estreitamentos. Portanto, a energia específica para determinada seção de um canal em escoamento pode ser definida como a soma da altura d’água com a energia cinética.
Equação 2 – Energia Específica
e= y+α V 2
2. g
De modo a tornar a compreensão do conceito de energia especifica mais simples, é usual se basear no estudo do escoamento em um canal retangular cujo coeficiente de Coriolis seja igual à unidade. A adoção dessas hipóteses permite o uso da aproximação bidimensional e a possibilidade da utilização da vazão unitária q, definida como a relação entre a vazão Q e a largura do canal b:
Equação 3 – Vazão unitária
q=Qb
=V . y
Rearrumando a equação da Energia Específica,
Equação 4 – Energia Especifica
E= y+ q2
2. g . y2
A Equação 4 pode ser interpretada como a soma de duas funções, E=A+B. Sendo A= y, uma reta a 45° e B=q ²/(2.g . y ²), que é uma curva hiperbólica. Isto significa que a curva (y x E) tem duas assíntotas e somando graficamente as duas funções tem-se o gráfico da Figura 01:
Figura 1 – Gráfico y x E
O ponto (Eo,yc) se refere a energia mínima. A profundidade associada a este ponto
é denominada profundidade crítica yc, a qual é utilizada como parâmetro para a
definição do tipo de escoamento no canal:
1. Se y >yc → V <Vc, Escoamento subcrítico;
2. Se y <yc → V >Vc, Escoamento supercrítico;
3. Se y = yc → V = Vc, Escoamento crítico.
O escoamento crítico pode ser entendido como o estágio em que a energia
específica e mínima para uma dada vazão ou o estágio em que a vazão é máxima para
uma dada energia específica. A classificação do tipo de escoamento pode ser
determinada através do número de Froude.
Diferenciando a Equação 2:
dEdy
=1− q2
g . y3
Equação 5
Como q=V . y, a Equação 05 pode ser reescrita como:
dEd y
=1− V 2
g . y
Equação 6
O número adimensional de Froude é dado por:
Fr= V
√g . HEquação 07
Para uma seção retangular a altura hidráulica (H) é igual a altura d’água. Dessa
forma, a Equação 7 pode ser reescrita como:
Fr= q
√g . y3
Equação 08 – Número de Froude
Substituindo a Equação 8 na Equação 5, tem-se:
dEdy
=1−Fr2
Equação 9
Ao analisar o sinal da derivada da equação acima, tem-se:
1. Se dE/dy> 0. dy/dE> 0 → Fr< 1 → Escoamento subcrítico;
2. Se dE/dy< 0. dy/dE< 0 → Fr> 1 → Escoamento supercrítico;
3. Se dE/dy = 0. dy/dE = ∞ → Fr = 1 → Escoamento crítico.
Com relação ao regime crítico, fazendo dE /dy=0 obtém-se:
yc=( q2
g )13
Equação 10
Sendo assim, para um canal retangular a profundidade crítica depende somente da
vazão por unidade de largura.
Substituindo a Equação 10na Equação2, leva a seguinte conclusão:
Ec=32. yc ou yc=
23. E c
O ressalto hidráulico ocorre em escoamentos com superfície livre e, na maior
parte dos casos, é o fenômeno que acontece na transição de um escoamento torrencial
(regime supercrítico) para um escoamento fluvial (regime subcrítico), sendo
caracterizado pela elevação brusca no nível d’água, a uma curta distância, com grande
turbulência e consequente perda de energia específica, devido à elevada dissipação
localizada da mesma ocorrida no ressalto.
Os tipos de ressalto são:
Figura 2 – Tipos de ressalto
3. Material Utilizado
Canal de aproximadamente 1.5 m de comprimento e 4.0 cm de largura com paredes de acrílico;
Réguas verticais e trena com precisão de 1 mm; Comporta à montante do canal para ajustar profundidade do escoamento; Vertedor à jusante para regular altura e posição do ressalto hidráulico; Bomba hidráulica para realimentação do circuito hidráulico.
4. Procedimento Experimental1) Com o auxilio do técnico e da professora, foi montado o equipamento com o
acionamento da bomba d’água e a abertura do registro do circuito hidráulico;2) Ajustou-se a comporta de montante para abertura de 2,0 cm e foi ajustada a
vazão de modo a obter uma carga constante de aproximadamente 25,0 cm;3) Ajustou-se o vertedor à jusante com o objetivo de obter um ressalto
hidráulico na seção central do canal;4) Registrou-se o nível do escoamento e a leitura do tubo de Pitot nas seções do
canal após a comporta de montante e após o ressalto;
5) Mantendo-se a mesma vazão, elevou-se a comporta de montante em intervalos regulares de 0,3 cm e repetiu-se os passos 3 e 4 acima, até não haver mais ressalto.
5. Resultados, Cálculo e Análises
Resultados do Experimento 2 – Energia Específica
Tabela 1 – Medidas de altura de Tirante e Carga de Velocidade
LeituraAbertura da comporta
(cm)Montante Jusante
Tirante (cm) Pitot (cm) Tirante (cm) Pitot (cm)1 2,00 ± 0,05 1,50 ± 0,05 26,10 ± 0,05 9,00 ± 0,05 9,50 ± 0,052 2,30 ± 0,05 1,80 ± 0,05 17,50 ± 0,05 8,50 ± 0,05 9,30 ± 0,053 2,60 ± 0,05 2,00 ± 0,05 14,70 ± 0,05 7,50 ± 0,05 9,00 ± 0,054 2,90 ± 0,05 2,20 ± 0,05 12,50 ± 0,05 7,30 ± 0,05 8,00 ± 0,055 3,20 ± 0,05 2,40 ± 0,05 10,60 ± 0,05 6,50 ± 0,05 7,80 ± 0,056 3,50 ± 0,05 2,60 ± 0,05 9,30 ± 0,05 6,00 ± 0,05 7,30 ± 0,057 3,80 ± 0,05 2,80 ± 0,05 8,30 ± 0,05 5,50 ± 0,05 7,00 ± 0,05
Largura do canal: 4,0 ± 0,05 cm.
Tabela 2 – Cálculos Específicos do Ressalto Hidráulico
Mon
tant
e
Leitura
y (cm) h(cm) A(cm2) V(cm/s) Q (cm3/s) Ee(cm) M (cm3) Fr
1 1,5 24,6 6,00,3 219,60,0051317,8
960,43426,1
01,239296,
055,36 5,70,025
2 1,8 15,7 7,20,3 175,50,0061263,4
150,93317,5
00,797227,
038,64 4,20,025
3 2,0 12,7 8,00,3 157,80,0071262,5
647,40214,7
00,650204,
233,04 3,60,025
4 2,2 10,3 8,80,3 142,10,0081250,7
344,12812,5
00,533182,
428,24 3,10,025
5 2,4 8,2 9,60,3 126,80,0091217,4
240,66410,6
00,432158,
623,64 2,60,025
6 2,6 6,710,
40,3114,
60,0101192,1
537,928 9,300,361140,
720,26 2,30,025
7 2,8 5,511,
20,3103,
90,0101163,2
235,431 8,300,306124,
617,41 2,00,026
Jusa
nte
Leitura
y (cm) h(cm) A(cm2) V(cm/s) Q (cm3/s) Ee(cm) M (cm3) Fr
1 9,0 0,536,
00,7 31,30,0351127,3
221,627 9,500,344 40,53,83 0,30,044
2 8,5 0,834,
00,6 39,60,0281346,7
425,707 9,300,279 58,75,80 0,40,037
3 7,5 1,530,
00,6 54,20,0201627,1
531,799 9,000,229 93,89,74 0,60,030
4 7,3 0,729,
20,6 37,10,0301081,9
121,807 8,000,254 44,54,48 0,40,0395 6,5 1,3 26,
00,550,50,022 1312,8
227,0797,800,209 70,97,53 0,60,032
6 6,0 1,324,
00,5 50,50,0221211,8
425,773 7,300,198 65,47,07 0,70,032
7 5,5 1,522,
00,5 54,20,0201193,2
426,212 7,000,188 68,87,62 0,70,031
Equações Utilizadas na Tabela 2:
CargaHidráulica :h=p− y
ÁreaMolhada :A=b . y
Velocidade :V=√2.g .h
Vazão :Q=V . A
VazãoMédia(àMontante):Qmon=∑Q
7
VazãoMédia(àJusante) :Q jus=∑ Q
7
VazãoMédia(Geral ):QG=Qmon+Q jus
2
Energia Específica :Ee= y+ V 2
2. g
ImpulsãoTotal (Quantidade deMovimento ) :M= Q 2
g . A+ 1
2y
Númerode Froude :Fr= V
√g . y
Tabela 3 - Classificações de Froude
Fr Escoamento Fr Nome do RessaltoFr < 1,0 Subcrítico Fr < 1,0 Não háFr = 1,0 Crítico Fr = 1,0 Não há
Fr > 1,0 Supercrítico
1,0 < Fr < 1,7 Ondular1,7 < Fr < 2,5 Pré-Ressalto2,5 < Fr < 4,5 Fraco4,5 < Fr < 9,0 Estável ou Permanente
Fr > 9,0 Forte
Tabela 4 – Caracterização por Froude
Tabela 5 – Vazão à montante e à jusante
Vazão a montante (Qmon)
1238,2011,14
Vazão a jusante (Qjus)
1271,5818,51
Vazão (Qg) 1254,8
914,82
Tabela 6 – Valores Críticos (Teórico e Experimental)
Na tabela 4, a
caracterização do ressalto compreende somente no regime supercrítico, ou seja, à montante.
Em uma análise da tabela pôde-se observar que as vazões não se mantiveram constantes. Isso pode ser explicado devido à turbulência na superfície do fluido provocada pelo ressalto que dificulta a precisão da medida do tirante e da carga hidráulica. A turbulência é maior na região à jusante, por esse motivo na região a discrepância entre os valores é mais visível.
Pode-se observar que a medida que a comporta ia sendo aberta (carga potencial ou de pressão foi sendo transformada em carga cinética), o tirante a montante aumenta e o tirante a jusante diminui, ao mesmo tempo que a velocidade a montante diminui (devido a pressão da coluna de água a montante da comporta
Caracterização por Froude
RegimeRessaltoMontante Jusante
Supercrítico Subcrítico PermanenteSupercrítico Subcrítico FracoSupercrítico Subcrítico FracoSupercrítico Subcrítico FracoSupercrítico Subcrítico FracoSupercrítico Subcrítico Pré-Ressalto
Tipo de ValorGráficos
yc (cm) Eec (cm) Mc (cm³)
Teórico 4,65 6,97 126
Experimental 4,00 6,5 94
diminui e o tirante d’água entre essa comporta e o ressalto aumentou) e a velocidade a jusante aumenta (pela diminuição do tirante na mesma região), mantendo-se a mesma vazão por ser um escoamento permanente.
Aumentando-se a abertura, desse modo, o escoamento a montante vai se
afastando cada vez mais do supercrítico e o escoamento a jusante vai se
afastando cada vez mais do subcrítico. Isso ocorre até que o tirante normal seja
estabelecido, não havendo mais ressalto, quando o escoamento é permanente
uniforme. Isto se refletiu no valor do número de Froude a montante, que
diminuiu com a abertura da comporta, enquanto o inverso aconteceu com o
escoamento à jusante. A diminuição do número de Froude também reflete a
diminuição da Energia Específica provocada pelas perdas impostas pelo ressalto.
Como os tirantes a montante e jusante são conjugados, eles deveriam ter
fornecido os mesmos valores da Impulsão (M) para cada abertura da comporta.
Os valores foram próximos, porém houve uma pequena discrepância entre eles,
pelas mesmas dificuldades de leitura apresentadas anteriormente.
Na (Tabela 6) encontra-se os valores críticos com a altura crítica, energia
específica crítica e impulsão total critica. Para os cálculos dessa tabela,
desconsiderou-se a propagação de erros devido a ter superado o valor de 5%. A
estrapolação desse valor pode ser explicada pela dependência de outras variáveis
que contem também as suas propagações de erros.
Tabela 6 – Variação da energia (Ee) e Perda de carga (hp)Montante Jusante
Ee(mca) hp(cm)Ee
hPitot(cm) Ee hPitot (cm)
26,1 26,10 9,5 9,50 16,6 16,6017,5 17,50 9,3 9,30 8,2 8,2014,7 14,70 9 9,00 5,7 5,7012,5 12,50 8 8,00 4,5 4,5010,6 10,60 7,8 7,80 2,8 2,809,3 9,30 7,3 7,30 2 2,008,3 8,30 7 7,00 1,3 1,30
Equações Utilizadas na Tabela 6
Tirante HidráulicoCrítico : yc=3√ QG
2
g . L2
Energia EspecíficaCrítica :Eec= yc+V c
2
2.g
ImpulsoTotal Crítico :M c=QG
2
g . Ac
+12Ac
0.00 2.00 4.00 6.00 8.00 10.00 12.000.0
2.0
4.0
6.0
8.0
10.0
12.0
Tirante hidráulico (y) x Energia específica (Ee)
MontanteJusanteAssintota
Energia específica (Ee)
Tira
nte
hidr
áulic
o y
(cm
)
Figura 3 – Tirante hidráulico (y) x Energia Específica (Ee)
Na (Figura 3) foi confirmado o que se obteve nos cálculos e análise feita na
(Tabela 4), onde foram caracterizados os regimes, supercrítico (montante) e
subcrítico (jusante). O formato do gráfico possibilita compreender que em uma
mesma energia especifica é possível obter dois tipos de escoamentos.
Ainda em uma análise gráfica na (Figura 3), observando o comportamento do
escoamento à jusante, pode-se observar um ponto discrepante que pode ser
excluído para um melhor ajuste dos dados.
0.0 50.0 100.0 150.0 200.0 250.0 300.0 350.00.0
1.0
2.0
3.0
4.0
5.0
6.0
7.0
8.0
9.0
10.0
Tirante hidráulico (y) x Impulsão total (M)
MontanteJusante
Impulsão total M(cm3)
Tira
nte
hidr
áulic
o y(
cm)
Figura 4 – Tirante hidráulico (y) x Impulsão total (M)
Os motivos para a discrepância entre os valores críticos teóricos e experimentais podem estar associados a erros no cálculo da vazão experimental, uma vez que a mesma foi obtida através de uma estimativa, não representando a vazão real do sistema.
6. Conclusão
O experimento foi enorme importância e possibilitou aos alunos uma
compreensão melhor sobre ressalto hidráulico em um escoamento permanente,
considerando as perdas de carga e variação de energia, que estão presentes nas
obras de engenharia como barragens, usinas hidrelétricas dentre outras.
No canal avaliado em questão foi possível constatar o equilíbrio de dois
tirantes distintos por meio de diversos ressaltos hidráulicos testados que, em
regimes de escoamento diferentes (supercrítico ou torrencial à montante e
subcrítico ou fluvial à jusante), convertiam energia cinética em carga de pressão
(e vice-versa), de modo a se dissipar parte da energia específica na forma das
turbulências do ressalto. Desse modo, foi possível obter pontos de mesma
energia específica com tirantes distintos, fenômeno este observado claramente
no gráfico da energia específica em função do tirante hidráulico, cujo ponto
crítico demarcava a região do escoamento de transição entre tais regimes
distintos.
7. Referencia Bibliográfica
- PORTO, Rodrigo de Melo. “Hidráulica Básica”. EESC-USP, 4ª Edição. São Carlos, 2006.
- VASCONCELOS, Jose G. Apostila do Curso de Hidráulica Experimental. 4ª edição. UnB-Faculdade de Tecnologia. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental. Brasília, 2009.