Reflexões para o capítulo provincial de 1997

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Reflexões para o capítulo provincial de 1997 Tema: A formação permanente Dia 4 Introdução Ao iniciarmos a tarefa de reflexão, que queremos trabalhar nesses dias, já dentro do Capítulo Provincial de 1997, dias que antecedem à eleição do novo governo provincial,, vamos determinar melhor o que devemos e podemos fazer, para que o trabalho não fique sem rumo e sem concentração devida. O trabalho de reflexão, que queremos fazer, se refere à preparação para o bom desempenho do capítulo provincial. Por isso, antes de entrar na labuta da reflexão, é útil e necessário ponderar melhor o que é preparação e o que é reflexão. Preparação Preparação é sempre preparação para ... É um ajeitar-se, dispor-se, munir-se de, para um determinado objetivo. Assim, uma preparação tem de antemão um objetivo à sua frente, para o qual nos encaminhamos, em nos preparando . É pois o objetivo que comanda o que e como devemos fazer a preparação. O objetivo de nossa preparação é o Capítulo Provincial. Perguntemos: qual é o objetivo que eu tenho, em referência ao Capítulo Provincial de 1997? Essa pergunta diz: o que você quer com, o que você espera de, qual a finalidade que você dá, e o

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Reflexões para o capítulo provincial de 1997

Tema: A formação permanente

Dia 4

Introdução

Ao iniciarmos a tarefa de reflexão, que queremos trabalhar nesses dias, já dentro do Capítulo Provincial de 1997, dias que antecedem à eleição do novo governo provincial,, vamos determinar melhor o que devemos e podemos fazer, para que o trabalho não fique sem rumo e sem concentração devida.

O trabalho de reflexão, que queremos fazer, se refere à preparação para o bom desempenho do capítulo provincial. Por isso, antes de entrar na labuta da reflexão, é útil e necessário ponderar melhor o que é preparação e o que é reflexão.

Preparação

Preparação é sempre preparação para... É um ajeitar-se, dispor-se, munir-se de, para um determinado objetivo.

Assim, uma preparação tem de antemão um objetivo à sua frente, para o qual nos encaminhamos, em nos preparando. É pois o objetivo que comanda o que e como devemos fazer a preparação. O objetivo de nossa preparação é o Capítulo Provincial.

Perguntemos: qual é o objetivo que eu tenho, em referência ao Capítulo Provincial de 1997? Essa pergunta diz: o que você quer com, o que você espera de, qual a finalidade que você dá, e o que você está disposto a dar de si ao Capítulo Provincial de 1997?

Na preparação de um capítulo provincial, o que por primeiro nos vem à fala, o que mais nos atinge, o que mais nos interessa é essa expectativa, esse objetivo, essa finalização. É o que diz respeito ao nosso ou ao meu interesse pessoal ou grupal, a partir de nós. É o que chamamos de subjetivo. É a projeção do nosso interesse, o projetado a partir do nosso interesse subjetivo, quer particular, quer grupal.

Um capítulo, realizado somente a partir de uma tal colocação, se transforma num aglomerado de interesses subjetivos, quer particulares, quer grupais. O capítulo deixa de ser assim uma busca, um empreendimento objetivo, realmente comunitário e comum.

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Para que um objetivo, que comande o que e o como devemos fazer a nossa preparação, seja realmente objetivo e não se transforme em aglomerado de interesses subjetivos, é necessário ver claramente que algo como capítulo provincial tem um interesse próprio, dele mesmo, anterior a todos os nossos interesses subjetivos. É que o capítulo provincial é uma realidade dentro de uma realidade mais abrangente, mais profunda e superior, chamada Ordem ou Congregação Religiosa; mais profunda e superior, chamada Igreja ou o Povo de Deus. E este, por sua vez, está todo ele, de corpo e alma, engajado no, está todo ele, profunda e intensamente a serviço do supremo projeto universal, vivido, trabalhado, testemunhado por Jesus Cristo e seus seguidores, e entregue a nós aqui reunidos, como herança, tarefa e programa de vida do povo cristão.

Existe, portanto, para esse nosso capítulo provincial, antes de mais nada, um fim supremo, anterior a tudo, dado a nós como uma incumbência, como tarefa e ideal, que nos obriga, a nós, não como a escravos, não como a empregados ou funcionários públicos, mas sim a nós como uma comunidade de adultos livres, que assumiram, através de juramentos livres e cordialmente proclamados diante da assembleia do povo cristão, a honra, a missão, sim a vocação de colocar todas as nossas potencialidades à disposição na realização desse supremo fim: viver o projeto de vida que vem de Jesus Cristo, para nós como vida religiosa consagrada.

Esse projeto de vida cristã é como a estrela polar, orientadora que comanda todos os fins e todos os objetivos que possam ocorrer no percurso da nossa vida cristã. Por isso, tenha eu expectativa que tiver para esse nosso capítulo provincial, essa expectativa deve antes de mais nada estar orientada pelo supremo fim, orientador de todo o encaminhamento do projeto da vida cristã.

Esse fim supremo pode ser dito numa única expressão: o crescimento na vida religiosa consagrada da nossa província. Crescimento esse que não é outra coisa do que o crescimento, o aumento da fidelidade no Seguimento de Jesus Cristo no seu Discipulado.

Sem uma ideia clara desse discipulado e sua formação, sem o conhecimento do seu modo próprio de ser e de sua estruturação interna, tudo que fazemos e não fazemos na Vida Religiosa Consagrada, inclusive o Capítulo Provincial, fica sem rumo, indeterminado e confuso. Por isso, nesses dias de preparação, vamos refletir acerca do Discipulado enquanto Formação no Seguimento de Jesus Cristo, i. é, acerca da assim chamada Formação Permanente.

Uma preparação pode ser imediata ou remota. A preparação imediata é o que estamos fazendo, i. é, a preparação que desemboca diretamente na

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ação para a qual nos estamos ajeitando. Existem coisas que se podem obter e fazer de imediato, sem grandes dificuldades, contanto que se tenham recursos para isso. Essas coisas são realidades que não exigem um crescimento humano, p. ex. arrumar lugares, organizar agendas, fazer programações, e até certo ponto, fazer propagandas eleitorais, fazer o boca a boca de urna etc...

Mas quando se trata de atitudes, de modos de ser e pensar, capacidade e habilidade de discernir o essencial do acidental, do senso de responsabilidade, da maturação pessoal, da competência em compreender a situação concreta do momento, da habilidade em discutir etc., enfim tudo que exige um real crescimento humano, i. é, tudo que exige uma longa preparação remota, trabalhada, assimilada, conquistada, portanto quando se trata de habilitação humana, você não consegue obter nem fazer bons frutos em pouco tempo, logo, durante a preparação imediata. A eficiência nesse tipo de coisa pressupõe que você tenha feito um bom trabalho , consciencioso, responsável na assim chamada preparação remota .

Aqui a preparação remota não é bem a preparação que está remota, longe da preparação atual. É antes, o que você vem trabalhando desde o início da sua entrada na Ordem ou na Congregação, todos os dias, continuamente, como a sua tarefa essencial e fundamental de toda a sua Vida Religiosa Consagrada, como a tarefa de um crescimento paulatino que permanece. Portanto, o que você fez de você mesmo na Formação Permanente.

Por melhor que seja a preparação imediata, se essa preparação remota estiver ausente em mim ou na comunidade, se não há uma percepção nítida da importância vital e necessidade urgente desse tipo de trabalho essencial e radical, um capítulo não traz frutos reais duradouros, por mais que no momento imediato se pense euforicamente que se realizou mudanças estruturais ou se fez uma revolução ou uma eleição ótima. É como querer injetar de uma vez, para fins imediatos antibióticos, vitaminas, soros e fortificantes num corpo doente, agonizante e esgotado, do qual antes nunca se cuidou, o qual se deixou na míngua, por negligência, descuido e indiferença, sim, por burrice, e pela ausência de um engajamento responsável e assumido no concreto real do dia-a-dia.

Se, porém, a preparação remota estiver presente como um trabalho pessoal e comunitário, bem consciente, assumido, como a tarefa elementar e essencial de cada um e de toda a Ordem ou Congregação, então mesmo que a preparação imediata para o Capítulo fracasse ou mesmo que no Capítulo não aconteça nada de revolucionário, ou até ocorram coisas aparentemente ‘desastrosas’, o todo da comunidade religiosa, assim sabiamente inserida no cultivo do seu vigor radical e

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fontal, crescerá para sempre o melhor, mesmo que dê galho ou se quebrem galhos da copa, uma vez que o tronco e as raízes estão bem cultivados.

Por isso tudo, mesmo nessa preparação imediata, vamos estudar e refletir acerca desse trabalho fundamental da vida religiosa consagrada, trabalho esse que recebe o nome de FORMAÇÃO PERMANENTE.

Reflexão

O nosso trabalho nesses dias de preparação para o Capítulo Provincial é uma reflexão. Há muitas interpretações acerca do que seja a reflexão. Uns contrapõem a reflexão à informação e dizem que reflexão é viver, é sentir, meditar, amar e participar da vida, ao passo que informação é algo externo, intelectualizado, dados gerais que enchem a cabeça de erudição, mas não nos conduzem à realidade. Para outros, reflexão é um raciocinar intelectualmente muito complexo e sofisticado, ação de fazer arrazoados racionais, ao passo que informação é notícia concreta sobre a realidade etc. Deixando de lado essas interpretações contradicentes, nós, nesses dias de reflexão, vamos entender a reflexão da seguinte maneira, a partir de uma questão.

Como a palavra reflexão nos indica, refletir é re-flectir, i. é, flectir-se, flexionar-se, dobrar-se de volta, de novo. Mas dobra-se de volta, de novo sobre o que? Sobre nós mesmos?!...

Tentemos nos dobrar sobre nós mesmos...O que vemos? Temos a impressão de ver uma porção de coisas: o nosso corpo com tudo que sabemos acerca dele a partir da biologia, zoologia, fisiologia; as faculdades de intelecção, de volição, de sentimento; ideias, opiniões, conhecimentos, o nosso psiquismo, o eu e as suas potencialidades, as nossas qualidades, positivas e negativas, a nossa própria existência no tempo e no espaço, em resumo, vemos um ente chamado homem com tudo que sabemos a seu respeito. E sabemos também, ao mesmo tempo, que esse homem sou eu mesmo. Vemos também outros homens e as coisas ao nosso redor, o universo com tudo que nele está. Ao nos dobrarmos sobre nós mesmos, não voltamos de novo a nós mesmos, mas antes nos achamos no meio de mil e mil conjunturas de saberes acerca de nós mesmos, dentro de uma bem determinada representação da realidade. Temos assim desdobrado diante de nós, todo um mundo de explicações, conceitos, hipóteses e teorias que adquirimos bem ou mal na nossa formação científica, informações colhidas da mídia, informações dadas como realidades ali presentes diante de nós, ao redor de nós como o mundo universo. E então, a partir desse saber, falamos da nossa vida religiosa, da Igreja de hoje, da missão do religioso no tempo presente, das necessidades de nos aggiornarmos, dos diferentes tipos de

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espiritualidade, da vida de oração, da vida ativa e contemplativa, da pastoral, do celibato, da sexualidade, da ecologia, da paz, enfim de tudo.

Mas tudo isso que dizemos e vemos, o estamos vendo realmente, imediatamente, evidentemente? Ou não é assim que todas essas coisas, ou a maioria dessas coisas que vemos, passam por cima do que realmente, imediatamente, bem proximamente sentimos e vemos; coisas que o encobrem, fixando o nosso olhar e a nossa atenção para longe de nós, como no caso de alguém que ao olhar na tela de televisão as cenas de um drama policial, esquece totalmente, olhos fixos na tela, que ele ali está bem perto de si, sentado sobre si mesmo, na poltrona. Com outras palavras, não estamos nós como que prisioneiros de um mundo de representações que em ultrapassando o que realmente vemos, sentimos e somos, encobre um saber que mora bem perto de nós, um saber elementar, vigoroso, imediato e simples, concreto na evidência existencial, um saber do toque corpo a corpo?

Refletir é, em suspeitando, sim em já de alguma forma se apercebendo do toque desse saber originário e imediato, rastrear, investigar em tudo que sabemos, o fio condutor ali oculto, em cuja seqüência, voltamos de novo ao primeiro conhecimento, ao conascimento, grande, profundo, saudável e belo de tudo que se nos desvela, ele mesmo a partir do mistério da vida. É na medida em que assim recuperamos o olhar aberto, claro e cheio de pudor e reverência ao Mistério da Vida, teremos cada vez mais acesso direto, simples e grande à verdade da nossa Vida Religiosa Consagrada, sem precisar reduzi-la a uma outra explicação, que por ser menor, menos profunda e derivada, não nos conduz à verdade ela mesma no âmago da sua essência da Vida Religiosa Consagrada.

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Dia 5

I

1. Usualmente se entende por Formação Permanente atualização ou aggiornamento e revigoramento ou revitalização. Os meios usados para atualização e revigoramento são cursos e encontros de diversos tipos e conteúdos: cursos de informação e técnica, psicológicas, sociológicas, e também espiritual-religiosas, teológicas; cursos da pastoral, da didática, da culinária, do cuidado da saúde etc.; cursos de vivências, experiências, de animação comunitária, sim até de parapsicologia, de hipnotismo, yoga, herbática etc.

Em todos esses cursos e encontros o objetivo ou o móvel que os anima é tirar o atraso e recuperar o sujeito que não evoluiu e ficou para trás. Daí os termos: atualização/aggiornamento e revigoramento/revitalização. Formação Permanente assim entendida nos pode trazer benefícios.

2. Recentemente, há indícios de uma renovação de mentalidade em diversas ordens e congregações religiosas, na qual se entende a Formação Religiosa bem de outro modo. Aqui, a Formação Permanente não é nem aggiornamento nem revitalizarão, mas sim permanência na formação.

- O que é permanência: Per = Manência: Permanere; maneo, mansi, mansum, manere: ficar, durar, restar como sobra, mas também: estar na espera; estar prestes a; morar, habitar (mansão).

- Formação: essencialização; nascimento, crescimento e consumação; não fôrma, encaixe, padrão; Franciscus, forma Minorum; estar em forma, a saber, no pique.

De que se trata?

Textos (Apocalipse de João: 2,1-7; 3,14-22)

Beato Frei Egídio de Assis, Ditos notáveis, Capítulo VII: Da santa solicitude e vigilância do coração:

O homem ocioso perde este mundo e o outro, não se frutificando nem a si nem a outros. (...).

Se podes estar no seguro, não te ponhas no dúbio; está no seguro, aquele que trabalha por Deus e pelo reino eterno.(...).

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Muito deveria ser o homem solícito para guardar a graça por Deus a ele dada e para, com ela, trabalhar fielmente, porque muitas vezes o homem perde fruto por folha e grão por palha.

A alguns Deus dá frutos e os faz carecer de folhas; a alguns porém dá tanto de uns como de outros; e alguns carecem de ambos.(...).

Reputo ser melhor conservar os bens dados por Deus do que os adquirir. Quem sabe adquirir e não sabe repor, nunca ficará rico; saber, porém, repor e não saber adquirir não é grande. Muitos lucram grandes bens, mas nunca se fazem ricos, porque não guardam o que lucraram; e alguns aos poucos lucram e se fazem ricos, porque guardam bem o que lucram. O rio Tibre, quanto acúmulo de água teria, se continuamente não defluísse! (...).

Se alguém fosse paupérrimo e lhe dissessem: “Irmão, te alugo esta minha coisa para que a explores por três dias e por meio disto terás o infinito tesouro: esse pobre, depois de ter averiguado tudo isso, não exploraria aquela coisa solicitamente? A coisa a nós alugada por Deus é nossa carne e os três dias são todo o tempo da nossa vida.

Eu posso verazmente jurar que quem alivia a si o jugo do Senhor, mais o agrava a si; e quem o agrava a si, o alivia a si.(...)

Então disse-lhe um certo irmão: “Talvez morra antes que experimente algo de bom”. Respondeu frei Egídio: “Os curtidores conheceram acerca das peles, os sapateiros, acerca dos calçados, o ferreiro acerca do ferro e assim de outras artes; como pode, porém, o homem saber a arte, a qual nunca estudou? Crês tu que os grandes senhores dão grandes dons aos homens estultos e insanos? Não, não dão!”

Chuang-tzsu, Cap. 19:

Confúcio contemplava a catarata de Lu-Liang. A cortina de água tem a altura de dez homens em pé, um em cima do outro. Depois da queda, a corrente impetuosa de águas espumantes se precipita ao longo de quarenta milhas, entre as rochas. Nem tartarugas, peixes ou crocodilos podiam nadar nesse turbilhão. Viu, porém, um homem nadando na torrente. Crendo tratar-se de um suicida, cansado dos sofrimentos da vida, mandou que seus discípulos o salvassem da morte.

A uns cem passos abaixo, porém, o homem saiu da água, sacudiu alegre os cabelos molhados e cantarolava.

Disse Confúcio: “Pensei que você fosse um espírito. Vejo, porém, que é mortal. Diga-me, por favor, em que consistem a técnica e o método de sua natação?”

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Respondeu-lhe o mortal: “Não sei. Instalei-me na terra, enraizei-me no hábito do quotidiano; no desempenho recolhido do habitat diário, alojei-me na fluência da vida; aos poucos a fluência da vida se tornou o habitáculo da minha natureza como a lei perfeita da regência do corpo. Caio na água, desço e subo com ela, na correspondência à sua doação. Não há técnica nem método”.

Perguntou-lhe Confúcio: “O que significa instalar-se no hábito do quotidiano, alojar-se na fluência da vida, tomar corpo na regência da lei perfeita?”

Respondeu-lhe o homem: “Sou campônio. Nasci na terra. Moro nela. Isso se chama paz, recolhimento do diário. Da paz flui a vida. Deixar fluir a vida no recolhimento diário é o hábito. Isso se chama: ser. Com o tempo, o ser toma corpo, cresce como fruto da vida, prenhe de vigor. Tudo é uno. Cada caminho é ressonância da vida. Isso se chama: liberdade ou espírito. É só isso, nada mais”.

E. HEMINGWAY. O velho e o mar. comentário:

“A figura do velho pescador é um corpo talhado na situação. O vento, o mar, as tempestades, a fome, a morte, triunfos e derrotas, alegrias e sofrimentos: todas essas situações formam os anéis inexoráveis da facticidade que o pressionam, o compenetram de todos os lados. A resistência e a luta que o pescador oferece ao cerco da situação o faz afundar cada vez mais na realidade situacional do seu destino. Quer resigne, quer triunfe, quer sucumba na luta, está implacavelmente inserido, sim, cravado na sua situação. Mas esse processo, que forja a história da sua vida, vai aos poucos articulando as contradições e as vicissitudes, as durezas da sua situação numa totalidade compacta, coesa e coerente, fazendo surgir o corpo encarquilhado do velho pescador, qual cristalização do mistério do mar, transparente e luminosa na sua profundidade cósmica”.

Analisar a estrutura do salto da projeto da vida.

Exemplificar, descrevendo o tipo do(a) religioso(a) atualizado(a) e revigorado(a) e o modo de ser do(a) religioso(a) formado(a) na permanência da formação.

3. A formação permanente: o modo de ser, a abordagem e o método todo próprio, inteiramente diferente ao da atualização e do revigoramento.

Texto

Ludwig Wittgenstein (fal. 1951), no Prefácio do seu livro Observações filosóficas:

“Este livro foi escrito para aqueles que se colocam com coração amigo diante do espírito deste livro. Esse espírito é diferente daquele,

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pertencente à grande corrente da civilização européia e americana, na qual todos estamos. Este se externa e vem a si num progresso, numa construção de estruturas cada vez mais gigantescas e complicadas. Aquele outro, no empenho pela clareza e transparência, sejam quais forem as estruturas. Este quer compreender o mundo na sua exterioridade periférica - na sua multiplicidade - aquele, no seu núcleo, no seu centro - na sua essência. Daí, este enfileira e acrescenta um sistema ao outro, sobe sempre adiante de degrau em degrau, enquanto aquele lá permanece onde ele está e quer sempre de novo compreender o mesmo”.

Martin Heidegger (fal. 1976), no livro Interpretação fenomenológica da Crítica da Razão Pura, p. 1-2 diz:

“A originariedade dos empenhos realmente autênticos originários jamais deixa de lado a questão: volta sempre de novo ao mesmo ponto e ali haure o seu vigor. A sua consistência não está numa regularidade progressiva de um “ir-adiante” no sentido do progresso. Progresso só acontece na área da existência humana onde reina a superficialidade sem importância, sem um “atingimento” pessoal”.

Jo 15, 1-17: A permanência na verdadeira videira.

4. Atualização e formação permanente, duas pressuposições de fundo diferentes acerca da Vida Humana:

- Atualização: Vida = começo, evolução, pique, decadência: juventude, idade madura, velhice.

- Formação permanente: nascimento, crescimento e consumação como contínuo renascimento.

Texto

Ef 3, 14-21; Mt 13, 31-32; Jo 3, 1-21

BEATO EGÍDIO DE ASSIS, Ditos notáveis, Cap. XXIII: Da perseverança na oração:

Alguém disse a frei Egídio: “Que posso fazer para sentir alguma suavidade de Deus?” Este respondeu: “A ti, Deus, já alguma vez, inspirou boa vontade?” Disse aquele: “Muitas vezes”. Disse-lhe frei Egídio, vociferando em altas vozes nestas palavras: “Por que não guardaste aquela boa vontade e não te conduziste para um bem maior?”

Um outro disse: “Que farei, já que sou árido e indevoto?”. Respondeu ironicamente frei Egídio: “Não rezes a Deus nem ofereças oblação ao altar”. “Quando o ímpeto da água da inundação destrói o fosso e o canal de água do moinho, o moleiro se empenha em consertar aos poucos o que foi destruído, e de modo semelhante quando as mós do

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moinho não fazem boa farinha, o moleiro não as quebra imediatamente com o marrão, mas as bate com pequeno martelo planamente, pouco a pouco, até que elas sejam consertadas”.

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Dia 6

II

A forma, a essência da vida religiosa e a formação permanente

1. Introdução: Dissemos que a formação permanente é a permanência na formação. Dissemos também que formação aqui significa essencialização. Forma é pois Essência. E a essência não é outra coisa do que vigor-fonte da nossa vida, o móvel fundamental e principal, o Primeiro Amor!

O grande problema da Formação Permanente está nisso que hoje, muitos de nós, para não dizer a maioria, na Vida Religiosa Consagrada vivemos esquecidos da Forma, da Essência da Vida Religiosa. É que há muito tempo viemos entendendo a Vida Religiosa, a Vida Espiritual, a Vida Interior como Vida de Piedade e de Devoção particular, no sentido do pietismo, algo que diz respeito somente à minha vida pessoal subjetiva. Nessa colocação usual, no fundo, tanto faz que espiritualidade temos; tanto faz se estudamos ou não a concepção, a idéia mestra da Vida Religiosa Consagrada. Aqui, basta viver, simplesmente, a meu modo, interiormente a vida, piedosa, devota e moralmente, na intimidade com Deus e amando o próximo. E quando, acionados pelos apelos de um engajamento mais social, dizemos que essa espiritualidade pietista, privativa e intimista não basta; quando insistimos que devemos ter mais abertura ativa para a pastoral, para a ação social, para o engajamento político, a idéia e a concepção que temos da Vida Religiosa Consagrada continua intocada, continua pietista, devocional, espiritualista. Por isso tentamos complementá-la com a exigência da ação de engajamento pastoral, social etc.; ou a criticamos como sendo modo de ser obsoleto da vida religiosa da ala tradicionalista etc.

Assim, na prática, reduzimos a Vida Religiosa Consagrada a uma espécie de vida intima espiritual, devocional, religiosa de cristãos piedosos a serviço mais intenso da ação pastoral da Igreja. E esquecemos completamente a Forma, a Essência da Vida Religiosa Consagrada como Vocação, Missão, Profissão toda própria dentro do Corpo Místico de Cristo, tão própria que nos devemos preparar anos a fio, para assumirmos publicamente sob o juramento essa profissão. Esquecemos o que a Igreja na Renovação da Vida Religiosa Consagrada destaca com clareza e insistência que aqui não se trata de piedade, devoção, mas sim de um projeto de vida todo especial que é incumbência, vocação, tarefa e compromisso público.

2. Forma da vida religiosa consagrada: Assim diz o documento da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de

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Vida Apostólica, intitulado A VIDA FRATERNA EM COMUNIDADE (Congregavit nos in unum Christi amor), Paulinas, p. 9-11:

“Foi o desenvolvimento da eclesiologia que influiu, mais do que qualquer outro fator, sobre a evolução da compreensão da comunidade religiosa. O Vaticano II afirmou que a vida religiosa pertence “firmemente” (inconcusse) à vida e à santidade da Igreja e a situou justamente no coração de seu mistério de comunhão e de santidade” (LG 44d).

A comunidade religiosa participa, portanto, da renovada e aprofundada visão da Igreja. Daí algumas conseqüências:

a) Da Igreja-Mistério à dimensão mistérica da comunidade religiosa

A comunidade religiosa não é um simples aglomerado de cristãos em busca da perfeição pessoal. Em sentido muito mais profundo, é participação e testemunho qualificado da Igreja-Mistério, enquanto expressão viva e realização privilegiada de sua peculiar “comunhão”, da grande koinonia Trinitária de que o Pai quis fazer participar os homens no Filho e no Espírito Santo (cf. Vita Consecrata, do Papa João Paulo II).

b) Da Igreja-Comunhão à dimensão comunional-fraterna da comunidade religiosa

A comunidade religiosa, em sua estrutura, em suas motivações, em seus valores qualificantes, torna publicamente visível e continuamente perceptível o dom da fraternidade feito por Cristo a toda a Igreja. Por isso mesmo, ela tem como compromisso irrenunciável e como missão: ser e aparecer como uma célula de intensa comunhão fraterna que seja sinal e estímulo para todos os batizados (cf. PC 15 a; LG 44 c).

c) Da Igreja animada pelos Carismas à dimensão carismática da comunidade religiosa

A comunidade religiosa é célula de comunhão fraterna, chamada a viver animada pelo carisma fundacional; é parte da comunhão orgânica de toda a Igreja, sempre enriquecida pelo Espírito com variedade de ministérios e de carismas.

Para entrar e fazer parte de tal comunidade faz-se necessária a graça particular de uma vocação. Concretamente, os membros de uma comunidade religiosa aparecem unidos por um comum chamado de Deus na linha do carisma fundacional, por uma típica comum consagração eclesial e por uma comum resposta na participação “na experiência do Espírito” vivida e transmitida pelo fundador e na participação em sua missão na Igreja (cf. MR 11).

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Esta quer também receber com reconhecimento os carismas “mais comuns e difundidos” (cf. LG 12), que Deus distribui entre seus membros para o bem de todo o Corpo. A comunidade religiosa existe para a Igreja, para significá-la e enriquecê-la (cf. MR 14), para torná-la mais apta a cumprir sua missão.

d) Da Igreja-Sacramento de unidade à dimensão apostólica da comunidade religiosa

O sentido do apostolado é reconduzir a humanidade à união com Deus e à unidade, mediante a caridade divina. A vida fraterna em comum, como expressão da união realizada pelo amor de Deus, além de constituir um testemunho essencial para a evangelização, tem grande importância para a atividade apostólica e para sua finalidade última. Daí a força de sinal e de instrumento da comunhão fraterna da comunidade religiosa. A comunhão fraterna está, de fato, no início e no fim do apostolado.

O Magistério, do Concílio em diante, aprofundou e enriqueceu com novos contributos a renovada visão da comunidade religiosa (cf. ET 30-39; MR 2,3 10-14; EE 18-22; PI 25-28; cân. 602)”.

3. Importância da formação permanente para a permanência na essência da vida religiosa: Por isso é de im-portância decisiva sabermos sobre que ponto essencial devem incidir os empenhos da Formação Permanente, sobre que ponto nevrálgico deve permanecer o acento da formação.

Podemos entender a Formação Permanente de vários modos. Usualmente, num certo nível superficial de compreensão, podemos entendê-la como permanente necessidade de nos informarmos acerca de nossas coisas e também acerca de tudo que vai pelo mundo afora. Nesse caso, para nós religioso(a)s, a Formação Permanente significa o dever de não ficarmos bitolados, estacionando-nos no nosso saber tradicionalista, mas de, sempre de novo, através de diversos cursos, nos renovarmos no saber de informação e adquirirmos técnica acerca de tudo quanto nos interessa na nossa vocação ou profissão.

Mas podemos também entender a Formação Permanente num nível de compreensão mais profundo. Nesse caso, a palavra formação não significa informação. Não se trata de adquirir ou renovar saberes sobre isto ou aquilo. Aqui, nesse sentido mais profundo, a forma-ção, deve ser entendida a partir da palavra forma no sentido antigo, medieval. Forma aqui significa essência, vigor originário e fundamental do nosso ideal. Formação seria pois a ação de estar em forma, isto é, entrar, crescer, e conservar e permanecer no vigor originário e fundamental do nosso projeto de vida: a saber da Vida Religiosa Consagrada. Permanente então significa a continuidade do que se inicia, cresce e se consuma

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sempre novo e sempre de novo num processo mais profundo, e, perfeito na maturação de nossa identidade.

Formação Permanente nesse último sentido não se refere às coisas acidentais, externas e passageiras do processo da nossa caminhada, mas sim ao âmago, à essência daquilo que perfaz o vigor originário e fundamental do nosso projeto de vida como Vida Religiosa, i. é, do Discipulado no Seguimento de Jesus Cristo.

Formação Permanente significa agora: a tarefa e o dever de nos empenharmos sempre de novo, continuadamente em despertar, conservar e fomentar o élan e a necessidade de querer aprender a ser cada vez mais discípulo de Jesus Cristo; de querer aprender a estar em forma na aprendizagem dessa nobre e sublime arte de ser religioso(a)s franciscano(a)s de (... nome da Ordem ou Congregação), no contexto e na situação em que estamos inseridos.

4. As dificuldades dessa maneira de entender a Formação Permanente: Nessa abordagem surgem várias dificuldades. Dificuldades que estão também presentes em toda e qualquer aprendizagem séria e bem trabalhada, p. ex., a falta de perseverança, a ausência de ânimo para assumir o árduo trabalho, a dificuldade de compreender a importância da repetição e do começar sempre de novo.

Existe, porém, para nós religioso(as) hoje, uma dificuldade especial, a qual, se não for percebida e enfrentada inteligentemente pode impossibilitar o bom desempenho na Formação Permanente no sentido mais profundo, acima mencionado. Trata-se do seguinte: a nossa compreensão da Vida Religiosa Consagrada hoje não é suficientemente clara, profunda e vigorosa para permitir o élan adequado de busca e investigação do aprendizado cada vez mais intenso e empenhado, digamos num nível profissional.

É que, sem perceber, classificamos, vagamente, o discipulado no Seguimento de Jesus Cristo como uma vida de religiosidade do tipo piedade devocional e edificante. Assim o relacionamento com Deus, a oração, a meditação, a ascese, o amor fraterno, as liturgias, retiros, vigílias etc... são sem dúvida realidades boas e importantes, mas tidas como coisas do tipo “vida interior” e privativa da “pessoa” (leia do subjetivo), na qual a abordagem é mais de “vivência”, “religiosidade”, “experiência íntima” (leia subjetiva), individualista-pessoal (estendida depois para os outros como dever comunitário), uma “realidade” vaga, não trabalhada, “místico-espiritualista”... Falta-nos uma visão e concepção, experiência artesanalmente adquirida e trabalhada, mais vasta, aberta, profunda e bem assentada, digamos mais universal, ou melhor, essencial, sim até “técnico-objetiva” do que seja espiritual.

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Admitimos p. ex. sem mais como uma abordagem nossa, séria e competente, quando ao falarmos da medicina, exigimos para os médicos uma formação técnico-científica, cheia de exercícios, estágios e intenso estudo para habilitação, em etapas de acompanhamento, exames e averiguações rigorosas, passo a passo, anos a fio, num confinamento de estudo, disciplina e concentração. Quando falamos, porém, da essência da Vida Religiosa Consagrada, do Seguimento de Jesus Cristo, i. é, da aprendizagem discipular dessa arte dificílima de ser um(a) competente religioso(a), achamos que tudo isso que exigimos da aprendizagem para o médico no que toca ao estudo, engajamento para sua vocação e profissão, é algo das coisas do mundo, algo para as ciências, para o trabalho das profissões materiais. Não, porém, para a Vida Interior, Vida Espiritual ou Vida Religiosa, pois tudo isso é demasiadamente “intelectual”, “racional”, “técnico”, portanto não suficientemente espiritual, vivencial. E nos iludimos pensando que com a boa vontade, compreensão fraternal, amor e paz, espiritualidades vivenciadas espontaneamente num clima carismático, muita religiosidade e “doação” aos irmãos, nos preparamos, nos fazemos para ser discípulos intrépidos, tenazes, que em seguindo a Jesus Cristo para valer, tem a capacidade bem exercitada e conquistada na graça bem aproveitada, de em tudo discernir e fazer a Vontade do Pai como o fez Jesus Cristo.

Na exigência de uma vida religiosa nova, na conscientização da inserção para valer, da evangelização, da nova pastoral, na urgência de estarmos presentes nos lugares os mais necessitados da sociedade de hoje, exigimos uma habilitação e competência para podermos enfrentar preparados para uma tal tarefa nova, grandiosa mas altamente difícil, exigente e perigosa. Mas na prática e na mentalidade usual da formação, quer institucional quer da Formação Permanente, no fundo, estamos vagos, sem muita exigência, confusos, em exigindo coisinhas acidentais como importantes e deixando de lado as coisas essenciais, seguindo sem querer uma mentalidade pedagógica usual de todo mundo da sociedade de consumo, a qual criticamos veementemente em palavras, quando se trata do mundo secular. Falta-nos até muitas vezes a seriedade e o engajamento profissionais que todo e qualquer profissional leigo bom possui de uma forma bem consciente. A descrição é um tanto exagerada. Mas parece existir uma certa tendência nesse sentido descrito.

Tudo isso, porém, parece não vir da falta de empenho ou de falta de boa vontade, como costumamos nos censurar muitas vezes. Vem sim, disso que nós não consideramos a nossa profissão religiosa, o discipulado no Seguimento de Jesus Cristo, como uma profissão e uma vocação altamente exigente, sim objetiva e técnica, i. é, exigente na aquisição do trabalho de habilitação e competência, talvez mais do que qualquer outra profissão e vocação secular.

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Falta-nos, pois, uma tomada de consciência mais real e comprometida da exigência profissional e vocacional da nossa própria profissão, para a qual nos doamos através até de juramento solene e oficial dos votos.

Mas tão logo comecemos a tomar mais a sério a necessidade de realmente nos habilitarmos para a Vida Religiosa Consagrada, começamos a perceber como somos indiferentes, pouco interessados, pouco inclinados para estudar. Sem dúvida, estudamos muito isto e aquilo. Fazemos muitos cursos, tiramos até títulos da escola superior, mas tudo isso o fazemos para um determinado objetivo imediato de ação, de pastoral ou de ensino, o fazemos em função de uma função. Falta-nos muitas vezes quase por completo o espírito do estudo, o espírito da “ciência” (cf. Beato Egídio de Assis, Cap. XV: Da cautela espiritual, a qual deve-se ter continuamente; Cap. XVI: Da Ciência útil e inútil), no sentido de realmente buscarmos com inquietação e investigarmos arduamente a Verdade humana e divina referente ao caminho da Vida Religiosa Consagrada como Discipulado no Seguimento de Jesus Cristo.

Estamos certamente bitolados no modo de pensar de todo o mundo, que entende por estudo o estudo dos cursos acadêmicos. E pensamos: estudar é ir para a escola. Escola do primeiro grau, do segundo e terceiro grau, cursos acadêmicos, universidades, pós-graduação, mestrado, doutoramento, diplomação, títulos etc. Quem assim se atrelou ao estudo é competente. Há certamente ao lado de tudo isso um saber natural, a sabedoria do pobre, do simples, espontânea, sem busca árdua nem conquista, uma espécie de instinto natural e dom. Mas tudo isso é coisa particular, pessoal etc. etc.

Nessa maneira superficial e facilitada de pensar da sociedade de consumo, não percebemos que não compreendemos nem a essência do estudo acadêmico nem a essência da sabedoria do simples. Pois, no estudo acadêmico, trabalhado e conquistado para valer, está uma seriedade de busca pela verdade, que exige do profissional um engajamento de busca, total e absoluto, semelhante à doação de um(a) religioso(a) à sua causa. Mas o mesmo engajamento de busca está presente na iluminação conquistada por um analfabeto, que na luta de sobrevivência no cumprimento da sua tarefa da vida, através de mil e mil sofrimentos, humilhações e lutas, vence-se a si mesmo, se transforma e emerge de todas as vicissitudes da sua situação como um sábio iluminado na sabedoria do simples.

Mas, tanto no sábio acadêmico como no sábio simples, o que acontece e deve acontecer como estudo, busca e investigação não é nem estudo acadêmico escolar, nem vivência espontânea, fácil e instintiva, mas sim o grande desempenho do trabalho árduo, assumido como uma tarefa de busca para toda a vida, uma aprendizagem da verdade que aos

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poucos se lhes revela, os conduzindo no caminho da vida. Esse modo de buscar a verdade da vida, como estudo concreto, vivido e trabalhado, em usando de tudo que vem ao nosso encontro, é o estudo que devemos querer, exercitar como discípulo(a)s da Vida Religiosa Consagrada na sua Formação Permanente.

Por isso, ao entrarmos na Vida Religiosa Consagrada, tudo, quer seja as vicissitudes do cotidiano, quer as lutas internas particulares extraordinárias, quer exigências sociais do meio ambiente, quer as dificuldades provenientes das mudanças históricas, quer os estudos pertencentes à nossa vida religiosa, sim literalmente tudo e cada coisa, são momentos de um imenso, vasto e profundo aprendizado no Seguimento de Jesus Cristo.

Para que a nossa Formação, e principalmente a Formação Permanente receba um elã e um vigor mais interessante para a nossa vida, é necessário que tenhamos na nossa vida religiosa, uma visão assim universal do estudo como discipulado, i. é, como aprendizagem do Seguimento ao melhor, ao mais profundo, ao maior, e ao mais sábio dos mestres de todos os tempos. E a partir de uma tal visão do estudo originário e concreto, a partir de uma tal dinâmica de investigação, agilizar, inquietar e coagitar todas as nossas potencialidades, para rastrear em tudo que fazemos e não fazemos na nossa vida, a verdade do Senhor Jesus Cristo que se revela ao mesmo tempo que se oculta no Mistério e na Aventura de um caminho maravilhoso da Vida Religiosa Consagrada.

5. Ambigüidade na compreensão da palavra “profissão”, “profissional”: Aqui a palavra profissão e profissional podem ser mal entendidas, pois usualmente na prática da nossa formação, entendemos por profissão e profissional aquela educação para certos ofícios, trabalhos e encargos da vida civil secular, a modo de treinamento ou adestramento. É que a palavra profissão e profissional é ambígua. Pois chamamos também o engajamento e compromisso na vida religiosa, proclamados publicamente por juramento, de profissão religiosa.

Por que chamamos de profissão algo tão pessoal, único e profundamente comprometedor? Você como religioso(a) pode estranhar uma tal pergunta. Se estranha, é porque você entende a profissão como algo muito mais do que geralmente costumamos entender por profissão, quando dizemos que o nosso vizinho finalmente arranjou uma profissão. É que muitas vezes se usa a palavra profissão indevidamente para indicar o emprego, o ganha-pão. Uma profissão quase sempre serve também para ganhar o sustento da vida. Mas nem todo emprego nem todo ganha-pão é uma profissão, i. é, tem a convocação de uma profissão.

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O emprego é um trabalho. Trabalho que não é casual e esporádico, mas estável. A estabilidade do trabalho, enquanto emprego ou ganha-pão, vem do contrato, vem do asseguramento jurídico. Você recebe como seu dever uma incumbência de trabalho. Você dá. Mas, em troca, você tem o direito de receber o salário correspondente ao seu trabalho. Você recebe.

A profissão é também trabalho. Trabalho não casual e esporádico. Ela pode funcionar também como emprego. Como tal vale o que dissemos do emprego. Mas nela mesma, a profissão é um trabalho todo próprio ou melhor, na profissão se tem uma outra concepção e atitude de trabalho, diferente a do emprego. Sua estabilidade não vem do contrato, pois não está no nível do contrato jurídico. Sua estabilidade vem antes de uma dimensão toda própria do compromisso pessoal. Atrás do trabalho lá como emprego e atrás do trabalho cá como profissão, estão diferentes modos de ser humano.

Concentremo-nos apenas no trabalho chamado profissão e examinemos a sua estrutura, pois ela nos interessa nessa reflexão acerca da identidade da nossa profissão religiosa. Para isso vamos apenas examinar o processo como entramos numa profissão.

Digamos que você desde a sua infância tem uma forte inclinação para a música. Essa inclinação natural é na realidade um vigor, uma virtude. É natural porque é uma vitalidade, uma forma de energia, uma força que recebeu com o nascimento (natural > natureza > natura, em latim = nasci, em latim = nascer). Esse vigor, no início, aparece no folguedo, espontaneamente, no gosto, no prazer.. Brinco com os instrumentos e tenho prazer em tirar sons. Aos poucos, porém, aumenta o gosto, o prazer, o vigor cresce, começo a querer mais, surge a ambição, e então começo a ultrapassar o nível do espontâneo e natural. Começo a me exercitar, a estudar, buscar uma orientação de quem mais sabe do que eu. O vigor musical cresce, a vontade pela música cresce, a habilidade também cresce, e aos poucos começa a surgir, primeiro o desejo, depois a vontade firme de ser músico, i. é, ser alguém que de corpo e alma escolhe a aprendizagem da música como o único trabalho vitalício de sua vida. A vontade firme de assim ser músico um dia chega à intensidade de uma decisão por um projeto de vida, a música se transforma agora no projeto de vida, no meu ideal. Trabalho, luto, me limo, me exercito, me disponho, e aos poucos eu me transformo, eu me torno um profissional. Alguém que assim se tornou, assim se transformou, assim se colocou na vida, chamamos de profissional, e o seu trabalho assim vitalício, de profissão.

Nós religioso(a)s fazemos profissão. Faz profissão aquele que transforma a vida, no trabalho assumido, amado, querido, buscado por

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toda a vida de uma vocação; aquele que se doa, dá a sua vida por um ideal, projeto de vida, por uma vocação.

A profissão religiosa é profissão de uma vocação; o(a) religioso(a) é profissional da sua vocação religiosa.

6. Conclusão: Definamos, pois, o que é a Profissão da Vida Religiosa Consagrada e a Vida Religiosa Consagrada como Profissão. A Profissão da Vida Religiosa Consagrada é a alegre disposição, cheia de grande desejo e ação (cf. Beato Egídio de Assis, Ditos Notáveis, Cap. I: Da Fé) em transformar toda uma vida no absoluto engajamento de inserção; inserção no trabalho livremente assumido para toda vida de seguir a Jesus Cristo. Um tal trabalho vitalício criativo e livre profissional de perfeição, i. é, do perfazer-se é a Vida Religiosa Consagrada como profissão.

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Dia 7 e 8

III

O Encontro com Jesus Cristo, Teoria e Práxis da Formação Permanente

1. Introdução: O que refletimos ontem, acentuando o caráter profissional da Vocação, Missão, da Incumbência de Ser Religioso(a), causa sempre de novo uma confusão. Pois, apesar de todo o cuidado em compreender bem o que significa dentro da Vida Religiosa Consagrada o termo profissão e profissional, volta sempre de novo o pré-conceito já formado da profissão e profissional como sendo aquela parte da formação do(a) religioso(a) que pertence à sua capacitação de exercer no mundo secular e civil, encargos e trabalhos pertencentes ao funcionamento social, e se for dentro da própria Ordem ou Congregação, encargos e trabalhos pertencentes ao funcionamento doméstico da Ordem ou Congregação. P. ex. o trabalho e o encargo da enfermagem; da cozinha; da portaria; do ensino, primário, secundário, universitário; o cargo de diretor(a) de um grande colégio ou hospital; o trabalho de contabilidade, de administração etc. etc. Ao lado dessa “formação”, temos então a formação espiritual, toda própria atinente à “religião”, onde falamos da pessoa, das suas virtudes, seus vícios a serem corrigidos, da oração, da vida interior, e principalmente do encontro íntimo com Jesus Cristo etc. Dizemos que esses dois tipos de formação devem ser bem equilibrados; dando-se porém preferência à formação religioso-espiritual, pois em primeiro lugar somos religioso(a)s e somente depois profissionais. Mais ou menos nesse sentido acima esboçado, pode-se ler uma apostilha, feita como anotação de uma discussão feita por ocasião do Capítulo Geral das Irmãs Franciscanas de São José. O texto da apostilha nem sempre garante que está reproduzindo fielmente o pensamento da discussão, pois na anotação, tudo depende, de como quem anotou entendeu o que ouviu.

2. Um texto acerca do essencial da Formação Permanente:

O trabalho de ser irmã: Na discussão, falando-se sobre a FORMAÇÃO CONTINUADA, se fez a seguinte explicitação: A formação religiosa nos últimos tempos está muito batida. Reiniciou-se com uma tomada de Formação inicial, dando importância à formação humana, cristã e espiritual. Este é um trabalho grande que se fez, na Igreja e nos Institutos, nos últimos 10 anos.

No início se dava uma tonalidade muito humana à formação. Hoje, se coloca como centro da formação religiosa, o encontro pessoal com o Senhor. Este é o fim de toda a vida e de toda a formação. E por isso,

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para um processo de formação são importantes elementos como: fé, confiança, fidelidade, generosidade.

Na medida em que a Irmã cresce nesta disposição fundamental e neste encontro com Cristo, cresce no seguimento e na sua vocação religiosa.

O encontro pessoal de cada Irmã com o seu Deus e o esforço por imitá-Lo é o ponto fundamental da formação. Para isso o elemento Fé é vital para iniciar o processo de Formação.

A partir daí vem que o seguimento, sequela, é a contínua disposição de querer e de dever seguir.

Formação é um seguir incessantemente; é um processo contínuo de crescimento e de conversão; um caminho, um itinerário de toda vida; um processo de conversão.

Esta compreensão é completamente diferente da humana-profissional, onde se alcança e existe alguém formado. Essa idéia veio também à Vida Religiosa. Alguém que fazia Votos Perpétuos considerava-se pronta na Vida Religiosa. Depois cada uma vivia como tinha aprendido “e tocava o barco” para frente. Depois da Profissão Perpétua a questão de Vocação era como que questão privada da Irmã. Nenhuma Superiora se interessava se a Irmã estava crescendo. No fundo era considerada “adulta”. E na vida Religiosa o grande interesse se colocava no aprofundamento profissional, acadêmico.

O encontro pessoal com Deus é fundamental. Tem como conseqüência, a responsabilidade pessoal por sua Vocação.

Esse texto é muito bom. Vamos usá-lo, portanto, para a reflexão. Só que antes, devemos cuidar de detalhar mais a colocação, para o texto não ser entendido dentro de um pre-conceito já formado de formação como acima mencionamos.

A observação do texto se refere à mentalidade do(a)s Religioso(a)s de pensar(em) que na formação da Vida Religiosa Consagrada, uma vez absolvidas as etapas da formação inicial, a pessoa está pronta. Essa mentalidade faz com que a formação posterior do(a)s religioso(a)s, no que se refere à vida religiosa, passa a ser algo particular subjetivo, pessoal, de tal modo que aqui não há mais exigência comum de estudo e de empenho na busca do crescimento.

Esse modo de pensar, no entanto, não é típico da formação humano-profissional! Antes, pelo contrário, é exatamente na formação humano-profissional que se exige um tipo de formação continuada e renovada, para que o profissional esteja atualizado e no pique do compromisso com a sua própria profissão. Aqui, para um profissional na área profissional humano-secular, negligência e descuido no crescimento da

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sua profissão significa ameaça à própria sobrevivência. Nesse ponto, se a exigência da Formação tanto Inicial como Permanente da Vida Religiosa Consagrada, se equiparasse ao menos um pouco com a exigência dessas profissões humano-seculares na sua ética profissional, estaria muito melhor do que é atualmente. Aqui, no modo de conceber tanto a Formação Inicial como a Formação Permanente no que se refere à vida religiosa, paradoxalmente em se apelando para o caráter espiritual dessa formação própria religiosa, se contenta com tão pouco, com uma formação inteiramente diletante, que de espiritual e religioso tem pouco. E faz-se uma mistura confusa e superficial de colocações, tiradas de outras áreas e de “experiências” pouco examinadas individuais e particulares de cada formador(a) e formando(a). Assim, essa Formação Inicial e Permanente na vida religiosa não consegue nem acompanhar nem se confrontar com as colocações e as exigências críticas da formação humano-profissional, de tal sorte que, se se engaja e cresce na formação humano-profissional, se faz perigar a formação espiritual-religiosa; e se se entoca na formação espiritual-religiosa diletante e amadora, forma-se um religioso(a) estranhamente alienado da realidade terrestre.

Nessa perspectiva defasada da colocação da formação espiritual religiosa, não basta pois acentuar a necessidade de “colocar como centro da formação religiosa, o encontro pessoal com o Senhor. Pois todo o pivô da questão hoje está nesse ponto, que entendemos o encontro pessoal com o Senhor num sentido vago, indeterminado, ou se determinado, prefixado dentro de uma doutrinação ideologizada ou totalmente pessoal-subjetiva, de sorte que não leva as pessoas realmente à essência do espiritual-religioso portanto, ao encontro pessoal com o Senhor.

Isto significa que devemos entender tudo o que o texto diz acerca do encontro pessoal com o Senhor e tudo o que para isso se exige e se pressupõe, de modo todo próprio, essencial e realmente espiritual, na sua vastidão, profundidade e originariedade. Por isso, diz o texto: “o elemento Fé é vital para o processo de formação”.

O problema todo é, porém, o que entendemos por Fé quando afirmamos tudo isso.

3. Fé, o desvelamento da essência do ser-cristão

Costumamos entender Fé como adesão de nossa crença a uma ou mais verdades que nós mesmos não verificamos. Entendemos também por Fé a Confiança. Tudo isso, porém, não é ainda Fé no sentido aqui colocado. É que crença e confiança são atos humanos usuais, certamente muito importantes, mas que não caracterizam a fé cristã. A fé cristã é aquilo que me é dado de graça, o qual acolhemos com a nossa

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disponibilidade de recebê-lo com amor e gratidão. A fé cristã é primeiramente a Revelação Cristã: tudo que Jesus Cristo nos veio revelar como a Boa-Nova; é Ele mesmo com tudo o que a Ele se refere. E ao mesmo tempo, a graça de poder acolhê-Lo, conhecendo-O e amando-O, no encontro pessoal e de total engajamento por Ele e por sua causa.

Vamos falar um pouco desse modo de ser do Encontro, no engajamento e na doação de si, no conhecer e amar e se identificar com.

Conhecer e amar é o modo de ser e tornar-se que caracteriza o Encontro.

No encontro o conhecer não é propriamente saber. Não é possuir a certeza do saber. Portanto, não se trata de informação, de know how, de habilitação ou de competência. Não se trata de “saber é poder”, de “pode quem pode”. Trata-se antes de se dispor à revelação, trata-se de abrir-se à afeição do toque primeiro, anterior a mim, diferente de mim, que vem ao meu encontro, se desvelando na intimidade do seu mistério; é conascer para dentro do movimento condutor desse desvelamento.

No encontro o amar não é cobiça da posse. É antes a atinência pura e afinada à grata recepção do que me vem de encontro como o inesperado do desvelamento do mistério e lançar-me de corpo e alma na disposição de identificação com o Radical Outro.

Conhecer e amar portanto pressupõe como condição da sua possibilidade o Outro. O Outro não é nenhuma coisa à mão, ou nenhum prolongamento de nós mesmos, mas sim Pessoa. A essência da pessoa é Tu. Quem é e como é Tu como Pessoa, i. é, o Outro, só se pode “saber” com precisão na radicalidade do encontro corpo a corpo, i. é, imediato com Deus. É que o modo, o mais evidente e intenso, sim claro desse modo de ser do encontro se dá no relacionamento pessoal de Deus com cada um de nós. Deus é o Radical Outro, que é o “mais íntimo do que o meu mais íntimo”, “o mais sublime do que o meu mais sublime” (S. Agostinho), por Ele nos ter amado primeiro (1Jo 4,19).

Essa “realidade” a mais íntima, a mais alta, a mais imensa, na intensidade radical de doação do encontro como Tu, constitui uma totalidade sui generis que inclui tudo, abrange tudo, abraça tudo na sua abissal intimidade de contato imediato corpo a corpo. Por isso, essa “realidade” íntima, pessoal é ao mesmo tempo a presença a mais vasta, a mais profunda, a mais fontal da Vida, de tal sorte que aqui se trata de nossa imersão no abismo do Ser. Essa catolicidade da presença de encontro é o que chamamos de espiritual, essencial. Abre-se assim aqui uma realidade realíssima, anterior a toda e qualquer realidade, cuja investigação exigiria de nós o engajamento de toda uma vida, para podermos conhecer e amar. O estudo de uma tal realidade, nada tem a

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ver com “piedade” ou “devoção” no sentido pequeno do subjetivismo pietista. É absolutamente pessoal, e por isso mesmo universal.

Todos os outros variantes de encontro, mesmo na sua forma a mais deficiente e “decadente”, recebem o seu fascínio e o seu atrativo, porque de alguma forma são ecos e repercussões do Encontro, no conhecer e amar, do Radical Outro com cada um de nós.

Assim, no ser humano, Formação significa, na sua última instância, ser e tornar-se de corpo e alma “conhecer e amar” a Deus, recebendo com gratidão o “Conhecer e Amar” do Deus que vem ao encontro de nós, se dando a nós inteiramente, amando-nos primeiro, para que fôssemos e nos tornássemos como Ele no “Conhecer e Amar”.

Essa identificação, no “conhecer e amar”, com Deus implica “conhecer e amar” todos os homens, i. é, cada um, um por um, i. é, o próximo como a mim mesmo (cf. o modo de ser da totalidade do encontro) i. é, como Deus me “conhece e ama”. Daí o mandamento universal que expressa o ser e o tornar-se próprio do Homem: “Amarás ao Senhor teu Deus, com todo teu coração, com toda tua alma e com toda tua mente” e “amarás o próximo como a ti mesmo” (Mt 22,37-40).

Esta última parte, “amarás o próximo como a ti mesmo”, pertence ao ser e tornar-se próprio do Homem, no sentido geral. No ser e tornar-se próprio do ser cristão, ela se radicaliza e se transforma no Novo Mandamento: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”(cf. Jo 13,1-5; 12-17; 34-35). Esse ser e tornar-se próprio na radicalização cristã se chama Seguimento de Jesus Cristo como o processo de identificação com o Deus de Jesus Cristo: a Filiação Divina. A aprendizagem da Teoria e Praxis, o grande estudo e a imensa investigação dessa Realidade, a mais vasta, a mais profunda, a mais abissal se chama: Discipulado. Nesse sentido Formação na Vida Religiosa Consagrada não é outra coisa do que essencialização, i. é, ser e tornar-se próprio no Seguimento e Discipulado de Jesus Cristo.

Este é o sentido da Intimidade, i. é, essencialidade, da Vida Religiosa Consagrada: é por isso O ENCONTRO PESSOAL COM O SENHOR é o centro da Formação Religiosa.

Tudo que o (a) religioso(a) consagrado(a) faz e não faz, é e não é, seja qual for o nível de ser em que se ache, está a serviço de, em referência a, ou melhor, não é outra coisa do que exercícios, concretizações, momentos do ser e tornar-se próprio desse Seguimento e Discipulado.

A Formação Permanente na Vida Religiosa Consagrada é, portanto, permanência na forma, no vigor essencial do Seguimento e Discipulado

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de Jesus Cristo, no “conhecer e amar”. Permanecer, no sentido de entrar cada vez novo e de novo na ação de ser e tornar-se e firmar-se, assentar-se no crescimento para “idade madura da plenitude de Cristo” (Ef 4, 13).

Se tudo isso é o encontro pessoal com o Senhor, então a Vida Religiosa Consagrada é um projeto de Vida, i. é, programa de Vida no “conhecer e amar”, no qual se nos oferece, mais do que em qualquer outra profissão secular, todo um mundo de Teoria e Práxis acerca de uma Realidade realíssima que constitui como diz Beato Frei Egídio a Ciência Útil, para cujo estudo e investigação não bastariam mil anos (cf. Cap. XV: Da Cautela espiritual; Cap. XVI: Da Ciência útil e inútil). Esse estudo e essa pesquisa que exigira o engajamento de toda nossa vida no “conhecer e amar”, seria então ao mesmo tempo “um convívio” de intimidade do encontro que nos convocaria para uma doação absoluta de si ao Radical Outro, a tal ponto que o nosso eu pessoal estaria à disposição dessa inaudita caminhada de Aventura sem fim.

Por isso, formar-se assim, tornar-se assim propriamente seguidor(a) e discípulo(a) de Jesus Cristo no “conhecer e amar” é uma tarefa e um engajamento altamente pessoal, e em sendo altamente pessoal, doação livre, de corpo e alma, incondicional à pessoa de Jesus Cristo e à sua causa na sua totalidade.

O que, porém, deve ser entendido definitivamente e com precisão é o seguinte: essa doação, esse engajamento incondicional é a tarefa oficial, a incumbência pública, dada pela Igreja (Corpo Místico de Cristo = o Povo de Deus) ao(à) religioso(a) através do ato público de juramento na profissão dos votos religiosos. Portanto, na nossa vida, na vida consagrada, a saber, em tudo que a ela pertence de espiritual e religioso, não se trata de uma devoção ou piedade particular. Antes pelo contrário é o nosso trabalho oficial, público e profissional dentro da Igreja. Isto significa que o nosso primeiro e fundamental trabalho não são atividades “pastorais”, mas sim ser e tonar-se religioso(a) consagrado(a). Isto significa: a nossa ação pastoral originária dentro da Igreja consiste em ser e tornar-se próprio(a) como religioso(a) consagrado(a). É o que sugere o título da apostilha acima mencionada O Trabalho de ser irmã.

Isto significa, por sua vez, que todas as nossas atividades referentes à nossa vida espiritual religiosa, todas elas, as orações, meditações, a vida “interior”, relacionamento pessoal com Deus, a busca da perfeição, a aquisição das virtudes, tudo são tarefas específicas, oficiais e públicas, sim profissionais do nosso engajamento social, comunitário na Igreja e no Mundo.

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No momento em que nós religioso(a)s negligenciamos esses exercícios espirituais, por mais “pessoais, interiores, particulares e individuais” que eles sejam, estamos prejudicando a Comunidade Universal, a Comunidade do Corpo Místico de Cristo, a Communio Sanctorum.

Isto significa que o(a)s religioso(a)s não possuem mais a sua vida privativa no sentido usual. Tudo, quer vida particular, quer vida comunitária, quer vida pública, tudo, não é mais privativo e pessoal no sentido de ser meu ou minha: Tudo é de Cristo, i. é, do Corpo Místico de Cristo.

Ser em tudo assim comunitário é a nossa realização pessoal. (O que jamais deve ser confundido com: ser “fraternal” e “comunitário” como eu gosto e sonho, eu que deixei a família, portanto viver a comunidade consagrada para preencher a minha carência pessoal, pois cada qual tem o direito de se realizar pessoalmente. Pois ser assim “comunitário” é ser particular, privativo “grupamento”. Ou colocar a comunidade à serviço de seus interesses particulares).

4. Conclusão

Hoje a compreensão da Formação Permanente é de preferência a da Complementação da Formação, no sentido e no modo de ser da “Fôrmação” técnico-científica. É a formação continuada. Continuada, porque continua, complementa, renova, aggiorna a formação inicial. Nesse sentido, ninguém chamaria a formação inicial de Formação Permanente. Enquanto formação continuada da formação inicial, a formação “permanente” é acionada como cursos e encontros de aggiornamento e revitalização. Essa maneira de entender a Formação Permanente como continuada e de agenciar a sua realização em cursos e encontros de aggiornamento e revitalização pode ser muito útil, sim até necessária sob diversos aspectos. Só que talvez com essa impostação e compreensão não consigamos nos dias de hoje, de maneira bem profunda e duradoura, nos renovar essencialmente na nossa Vida Religiosa Consagrada. E se não ficarmos vigilantes, podemos até nos desviar da questão crucial e vital da essencialização na forma, i. é, na essência da Vida Religiosa Consagrada.

Por isso, nessa preparação para o Capítulo Provincial, na qual queremos focalizar a Formação Permanente como um dos temas importantes para o futuro da Província, antes de mais nada, devemos nos por de acordo, se continuamos entendendo a Formação Permanente como Formação Continuada no sentido comum e usual, ou partimos para iniciar uma “operação-resgate” do sentido mais elementar e fundamental da Formação como essencialização na forma, i. é, na essência da Vida Religiosa Consagrada. Pois, conforme a nossa decisão de buscar a melhoria da situação, baseando-nos ora naquela, ora nesta acepção da

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Formação e da permanência nela, mudarão o objetivo e o método de abordagem do assunto e as dificuldades concernentes à nossa busca.

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Dia 9-10

IV Formação Permanente, o que podemos fazer?

1. Introdução: Na reflexão anterior nos conscientizamos da importância de se ter clareza de decisão acerca da compreensão da Formação Permanente, ora como Formação continuada no sentido usual, ora como Essencialização. E dissemos: Conforme a nossa decisão de buscar a melhoria da situação, baseando-nos ora numa, ora noutra acepção de formação, mudam o objetivo e o método de abordagem do assunto e as dificuldades concernentes à nossa vida e a tentativa de vencê-las.

Suponhamos que começamos a compreender a importância da nova colocação a respeito da Formação Permanente, como ela vem sendo acentuada recentemente em algumas ordens e congregações. E que começamos a sentir então a necessidade de concentrar-nos sobre isso e fazer alguma coisa, a fim de descobrir caminho(s) para despertar no âmbito provincial nas fraternidades a nova compreensão e a nova consciência da Formação Permanente: portanto despertar na província esse modo todo peculiar de ver e “encarar” a Vida Religiosa Consagrada como Formação, como Essencialização, i. é, ser e tornar-se próprio(a)s no Seguimento e Discipulado de Jesus Cristo. Se assim nos colocamos, nesse capítulo, para fazer alguma coisa de concreto nesse sentido, pode ser que caímos na perplexidade e no sentimento de desânimo, por não sabermos bem o que e como fazer. Por um lado talvez estejamos até pensando que nesse sentido de Seguimento e Discipulado já estamos bastante conscientizados. Talvez pensemos que o que nos falta é organização, dinamização, mais técnica e mais adaptação. Talvez descubramos que apesar de se falar tanto da Vida Religiosa Consagrada, do Seguimento e do Discipulado, na prática, quer na vida concreta, quer na mentalidade, nem sequer temos consciência do mais elementar da vida religiosa, por vivermos a Vida Religiosa Consagrada, a partir de concepções muito subjetivas, de modismos, de necessidades de carências pessoais, enfim, a modo de um aglomerado de cristã(o)s piedosos na busca da perfeição. E talvez sintamos em nós mesmos uma enorme indiferença a respeito de temas como esses, preguiça mental de pensar e refletir, sofrendo em fim, opacidade, fixismo e superficialidade espirituais muito grandes, a ponto de não acreditarmos muito na eficácia e na validade de querer inovar alguma coisa.

Por outro lado, talvez estejamos pelo contrário, entusiasmados pela nova compreensão da Formação Permanente como essencialização na Vida Religiosa Consagrada. Dispostos a fazer muita coisa; de ser radical; de desencadear um movimento dentro da Província.

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Seja como for, o que devemos, o que podemos fazer é animar-nos, nos dispormos, e realmente fazermos o que podemos agora, aqui.

2. Examinemos o que podemos fazer agora, aqui

a) Fazer um levantamento, examinando a situação da Província sob os seguintes interrogatórios:

Como está a mentalidade da Província, em referência à Formação Permanente?

- O que a gente pensa da Formação Permanente?

- O que se faz na Província de Formação Permanente, seja qual for a sua

acepção?

- Como as irmãs participam das propostas da Formação Permanente?

Quais as dificuldades existentes na Província contra uma conscientização e realização de Formação Permanente como Essencialização?

Quais os recursos já existentes para uma tal conscientização e realização da FP. Formação Permanente como Essencialização? E como são usados os recursos?

Você tem sugestões concretas para um modo como fomentar a Formação na Província. Permanente como Essencialização?

b) Um esboço de sugestão, permanecendo na concepção usual da Formação Permanente:

A. Deixar a compreensão da Formação Permanente como formação continuada no sentido usual. Apenas enxugá-la, no sentido de distinguir e até separar nitidamente o planejamento da formação continuada dentro da formação profissional civil e o planejamento da formação continuada como formação religiosa espiritual, seja qual for a acepção dessa expressão. Nesse Capítulo Provincial somente concentrar-se na discussão e no planejamento da formação continuada dessa formação religiosa espiritual.

B. Fazer um levantamento do que já existe na Província de recursos para a formação continuada na formação religiosa espiritual:

a) Na Província, no âmbito geral e oficial.

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b) Nas fraternidades, no âmbito particular de cada comunidade ou grupo de comunidades.

c) Examinar:

aa) Se os recursos estão sendo usados adequada e inteligentemente.

bb) Quem são o(a)s orientadore(a)s de cursos, encontros e retiros no âmbito provincial e quais o estilo e o conteúdo de suas orientações.

aaa) Há unidade básica e elementar nas orientações? (NB: não confundir unidade básica e elementar com igualdade!).

bbb) Há dispersão, até fragmentação?

ccc) As orientações conduzem para uma maior e mais consciente engajamento e pertença à Província, no que se refere à Vida Religiosa Consagrada?

ddd) Ou conduzem para o individualismo espiritual, ‘pessoal’ e grupal?

d) Examinar realisticamente o grau de participação, ao usar esses recursos.

aa) Estilo desobriga?

bb) Grau de seriedade no engajamento do trabalho espiritual.

C. Examinar, se não aparecem na Província graves sintomas de:

a) Espírito de consumismo materialista hedonista no viver e no pensar.

b) ‘Erotização’ e ‘permissibilidade’ da vida: confusão e idéias mal assimiladas acerca da virgindade consagrada da vida religiosa.

c) Desessencialização da vida espiritual, devido à falsa concepção ‘espiritualista’ e ‘intimista” e também “psicologista” da vida espiritual e interior.

d) Despersonalização da vida espiritual, principalmente pela negligência no relacionamento pessoal com Deus; e pela falsa concepção ‘ativista’, e ‘politizada’ da pastoral e das atividades apostólicas; e concepção ‘mundana” das atividades profissionais civis.

e) Infantilização do Voto da Obediência Evangélica pela falsa compreensão da obediência como acomodação à “obediência caseira” a modo de crianças dóceis, mas sem a autonomia e autoresponsabilidade adulta na participação comunitária de uma Província.

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f) Buscar meios de despoluir a Vida Religiosa Consagrada dessas toxinas.

D. Conscientizar-se da importância da correção fraterna na dinamização da formação continuada.

a) Há omissões e abusos autoritários no exercício da correção fraterna?

aa) Da parte da coordenação provincial? Em que sentido? Da parte da coordenação local? Em que sentido?

bb) Da parte das fraternidades e das irmãs, em referência à coordenação provincial ou local?

cc) Quais os equívocos básicos existentes na compreensão da correção fraterna na Vida Religiosa Consagrada?

dd) Como podemos melhorar o desempenho da correção fraterna e da sua compreensão adequada dentro da Província?

E. Conscientizar toda a Província de que a participação pessoal na vida comunitária é um dos elementos básicos da formação continuada.

a) Conscientizar todas as fraternidades de que essa participação não é opcional, mas é da tarefa elementar da Vida Religiosa Consagrada Regular. (NB: Não somos religioso(a)s de um Instituto Secular!).

b) Limpar as concepções infantis, ideologizadas, ‘subjetivistas’, psicologistas da essência da Vida Comum e sua Participação dentro da Vida Religiosa Consagrada.

c) Melhorar no que é possível o ambiente material e humano das fraternidades. Principalmente cuidar na escolha do(a)s coordenadore(a)s, para que sejam pessoas que saibam criar essa atmosfera fraternal na vida cotidiana das comunidades.

F. Os membros da coordenação provincial devem conscientizar-se de que a tarefa principal da coordenação provincial é orientação espiritual na formação continuada. Por isso, fazer periodicamente encontros, somente para estudar e refletir juntos os textos básicos importantes para a Vida Religiosa Consagrada. Criar portanto na Província o hábito de estudar “coisas” básicas da Vida Religiosa Consagrada.

a) A coordenação provincial que cuide de fornecer às fraternidades textos básicos para estudo e reflexão, incentivando o cultivo da formação continuada, quer em grupos, quer em particular.

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b) Fomentar os encontros periódicos extra-oficiais das fraternidades vizinhas para confraternização de estudo e reflexão das ‘coisas” básicas da Vida Religiosa Consagrada.

c) A coordenação provincial escolha algumas irmãs idôneas para que procurem dedicar-se mais plenamente à reflexão e ao estudo da espiritualidade da Vida Religiosa Consagrada, para que se tornem aptas para dinamizar na Província a formação continuada. Nesse sentido, tornar-se cada vez mais ‘independentes” dos outros (sacerdotes, clérigos, religiosos de outras Ordens e Congregações); assumir a tarefa de se educar a si mesmo(a)s dentro da Ordem e da Congregação.

V

A atitude básica do Espírito da Formação Permanente como Essencialização no Seguimento e no Discipulado durante o Trabalho do Capítulo Provincial de 1997

1. Viver os trabalhos, as dificuldades, as angústias, mas também os encontros e as alegrias desses dias do Capítulo Geral como preciosos exercícios da Formação Permanente como Essencialização na Vida Religiosa Consagrada.

2. Limpar a cada momento a minha atitude de disposição em colocar todos os meus interesses particulares dentro da perspectiva do fim supremo do Capítulo Geral, a saber: o crescimento na fidelidade à Vida Religiosa Consagrada.

3. Nessa limpeza de minha atitude de disponibilidade, vigiar-me a mim mesmo, para que não racionalize como causa de Deus, como causa da Congregação, interesses particulares ou grupais, meus defeitos ocultos, minhas ideologias.

4. Por outro lado, porém, não ter medo de dizer a minha própria convicção, lutando contra a tentação de me omitir nas discussões, pretextando ignorância, timidez; ou de calar-me por acepções de pessoas, respeito humano; ou pelo receio de ‘estragar a minha imagem’.

5. Não manipular, não me deixar manipular, nas minhas convicções, quando se trata de dar os meus pareceres e meus votos nas decisões capitulares.

6. Não me deixar envolver, quando as discussões entram no calor emocional apaixonado, a ponto de não se decidir mais o destino da Província no “conhecer e amar” clarividente e bem trabalhado, mas na confusão de emoções mal assimiladas e soltas. Antes, tentar me acalmar

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e acalmar a outros, para conduzir o trabalho e sua decisão ao modo de ser mais adequado para uma comunidade do Seguimento de Jesus Cristo.

7. Não me deixar abater pelo derrotismo nem pelo desânimo, quando as coisas não andam como deviam ou como podiam. Animar-me, sempre de novo, e animar os outros, tendo sempre presente que o Senhor ama os que dão com alegria. Alegria cristã não é euforia, nem sentimento de bem-estar porque as coisas vão como queremos, mas sim ânimo intrépido, cheio de confiança na força de Deus e cordialidade de se doar, sempre de novo, sem esmaecer.

8. Durante todo o tempo do Capítulo Geral, pedir ao Senhor com toda a confiança, com a confiança de quem espera mesmo contra toda a esperança, i. é, com a confiança de quem jamais dúvida que o Senhor nos ouve, mas quando e como Ele acha melhor. Pedir que tudo aconteça como o Senhor quer, para que a Vida Religiosa Consagrada cresça cada vez mais na Província. E em assim pedindo, me dispor cada vez mais a trabalhar do melhor modo possível os assuntos, as discussões e as decisões do Capítulo.

9. Quando as discussões entalarem num impasse, parar e me acalmar em Nome do Senhor, e procurar encaminhar a discussão, não para soluções fáceis, definitivas ou a contento de todos, mas para uma direção que por menor que seja o seu resultado, sirva realmente para o crescimento de fidelidade na Vida Religiosa Consagrada da Província.

10. Na escolha das pessoas para cargos e encargos oficiais dentro da Província, somente levar em consideração o aumento da Vida Religiosa Consagrada na Província. Não me deixar confundir com falsas compaixões, com inadequada compreensão de caridade ou de fraternismo, misturando o interesse da Província com os interesses e problemas particulares e subjetivos das pessoas que escolho.