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  • Reestruturao Produtiva do Capital no Campo,

    Men principal de Geo Crtica

    Scripta Vetera

    EDICIN ELECTRNICA DE TRABAJOS PUBLICADOS SOBRE GEOGRAFA Y CIENCIAS SOCIALES

    Universidad de Barcelona ISSN: 1578-0015

    Reestruturao Produtiva do Capital no Campo, no Sculo XXI, e os Desafios para o Trabalho

    Publicado en THOMAS JUNIOR, A. Por Trs dos Canaviais os Ns da Cana. So Paulo: Annablume/Fapesp, 2002

    Antonio Thomaz Jnior

    FCT/UNES/Presidente Prudente (Brasil)

    1. Apresentao

    As novas territorialidades que esto sendo engendradas pelo metabolismo do capital e que repercutem no processo social como um todo, especialmente para a esfera organizativa do trabalho, o que nos ocupa. Isto , compreender aspectos importantes do processo social que (re)definem o metabolismo do capital e as mutaes no universo do trabalho.

    O aprendizado fundado nos diversos assuntos sobre a temtica do trabalho tem como parmetro terico-metodolgico, apreender o trabalho por meio da "leitura" geogrfica, sob duplo nvel de existncia. De um lado o metabolismo da relao homem x natureza e, de outro no mbito da regulao espacial, mas por dentro da dinmica territorial dos processos espaciais imanentes que se materializam nas configuraes geogrficas[1].

    Assim, o movimento contnuo de territorializao, desterritorializao e reterritorializao do trabalho a expresso concreta das formas geogrficas que revelam o contedo do metabolismo do capital e sua expresso nos lugares.

    atravs desse movimento dialtico e das mediaes tericas requeridas, que faremos do trabalho um tema permanente para a Geografia, ou para a Geografia do trabalho, um campo de investigao centralmente focado para o entendimento da estrutura de poder e do controle social exercidos pelo capital sobre a sociedade e, em particular sobre o trabalho. O que entendemos por Geografia do trabalho

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    [2] que no se trata de constituirmos mais um recorte disciplinar, ou uma nova corrente na Geografia.

    por dentro da dinmica da luta de classes que nos propomos apreender os desdobramentos da reestruturao produtiva do capital no campo sobre o trabalho, particularmente, os limites que obstaculizam a "leitura" orgnica do trabalho para alm da fragmentao territorial, que restringe o universo da classe trabalhadora aos rgidos limites do estranhamento das corporaes sindicais e associativas. Ou seja, o exerccio do poder do capital se estende para todo o tecido social, impactando, portanto, no somente as relaes especficas atividade laborativa, mas todas as esferas do ser que trabalha, ultrapassando o momento da produo, ganhando a dimenso da reproduo da vida, a subjetividade da classe trabalhadora, as formas de organizao poltica.

    2. Introduo

    Compreender o trabalho, no campo, no Brasil, para alm da fragmentao corporativa e territorial, referenciada nas "determinaes" do regramento sindical[3], nas lutas por melhores salrios, pelo cumprimento dos acordos coletivos de trabalho, pela Reforma Agrria, requer que reconheamos que as mesmas no dialogam entre si. Isto , se expressam somente no patamar das fronteiras previamente delimitadas pelas formas de externalizao do trabalho: assalariados, sem-terras, camponeses, etc.

    importante que possamos, por meio das pesquisas, demonstrar ser possvel compreender tanto as formas de existncia fragmentada do trabalho (por exemplo, as corporaes sindicais), quanto, conseqentemente, as cises nas vias de comunicao entre elas, como forma de apontarmos o restabelecimento da "leitura" orgnica do trabalho, questo central para as nossas pesquisas. H uma complexa trama de relaes que requer, para ser entendida, que consideremos a plasticidade existente entre as diferentes formas de externalizao do trabalho, ou os efeitos do no entendimento da plasticidade rompida.

    No entanto, devemos apelar sempre para o mundo do trabalho real e no para os limites da academia ou ao seu horizonte institucional, pois na qualidade de intelectual orgnico, temos que direcionar nossas crticas ao metabolismo do capital. Esse assunto ganha mais clareza com o desenrolar das investigaes e das nossas aes junto aos pesquisadores das demais reas do conhecimento, do nosso convvio profissional. Isto porque a realidade uma totalidade concreta, um complexo de complexos, como nos lembra Lukcs, e o que recortamos para estudar, por exemplo o trabalho, como sendo Geografia do trabalho, Economia do trabalho, Sociologia do trabalho, so abstraes, so construes disciplinares.

    Sabendo, pois, que tudo isso expressa uma ordenao e sendo o espao a categoria da ordem e a territorialidade sua materialidade, nos colocamos a entender o significado das localizaes por dentro do metabolismo do capital, que afeta e divide a vida dentro e fora do trabalho. Ou seja, tanto no mbito da produo (do trabalho) quanto da reproduo (da morada, do convvio social), o capital influencia decisivamente a prxis social dos trabalhadores, marcada historicamente pela fragmentao do trabalho da totalidade social.

    A esse respeito, pensamos que no interior do processo de auto-realizao da humanidade atravs do trabalho, ao longo dos tempos, que podemos reconhecer o contedo do metabolismo social do capital, que faz com que sociedade e natureza e as mediaes que governam essa relao dialtica sejam "lidas" pela Geografia como base fundante da compreenso da polissemia do trabalho no mundo atual. Ora mais nfase relao homem-meio, ora organizao espacial, a tecitura da sociedade vai sendo construda, sendo que o trabalho enquanto ato teleolgico redefine constante e contraditoriamente o processo social

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    e o espao geogrfico.

    Assim, a Geografia do trabalho deve chamar para si a tarefa de apreender o mundo do trabalho atravs do espao geogrfico, entendido, pois, como uma das caractersticas do fenmeno, e da rede de relaes categoriais/tericas/escalares, ou seja, a paisagem, o territrio e o lugar de existncia dos fenmenos, num vai e vem de mltiplas determinaes.

    3. Processo Social e Trabalho

    A j longa luta dos trabalhadores que tem nos campos sua insero para o trabalho e/ou a morada, ao colocar em questo o poder e o controle exercidos pelos proprietrios de terra, latifundirios, capitalistas e o Estado, seja por meio das ocupaes de terra, de prdios pblicos, caminhadas, atos pblicos, greves, paradeiros, etc., esto acrescentando ao aprendizado da luta de resistncia e qualificao da conscincia de classe, novos elementos para a classe trabalhadora.

    De modo geral, o capital amplia e acentua, neste comeo de milnio, seu arco de efetivao enquanto relao social, no mais restrita ao mundo fabril e nos impe que consideremos um espalhamento de realizaes da expropriao/dominao/apropriao do trabalho. Concentrando-nos, por ora, na amplitude e na complexidade da questo do trabalho sob o capitalismo, especialmente com amparo nas recentes pesquisas, podemos admitir que a sociabilidade contempornea, muito mais fetichizada do que emperodos anteriores, reafirma a lgica destrutiva do sistema produtor de mercadorias[4] ancoradas, pois, na vigncia do trabalho estranhado.

    Assim, imprescindvel lembrarmos das articulaes entre o mundo acadmico e o mundo do trabalho, e suas diversas externalizaes, especialmente o Frum Social Mundial (FSM), nas trs edies realizadas no Brasil[5]. Somos partidrios, de que se trata de um campo de discusses de importncia vital para a reflexo/construo de referenciais para o conjunto dos trabalhadores do planeta, considerando um arco amplo e complexo de entidades ideologicamente afinadas correntes marcadamente de esquerda.

    No entanto, poderamos destacar o FSM (Frum Social Mundial) como aglutinador de uma possvel Internacional Camponesa, tendo em vista a representatividade das organizaes camponesas que, em torno da Via Campesina, constroem vnculos e legitimidade mundial enraizados em referenciais emancipatrios, apesar de descolados do chamamento mais geral em torno da classe trabalhadora.

    At do ponto de vista simblico isso de maneira geral,tem significado especial para os trabalhadores, mas sobretudo, porque esse poder ser um flanco por onde emergiro discusses a respeito da plasticidade do trabalho, ou seja, poderemos apreender as diferentes formas de trabalhoa que o trabalhador tem se submetido para vencer os revezes da reestruturao produtiva do capital, da terceirizao, da intensificao da precarizao, do desemprego, etc., a fim de focar a noo de (des)pertencimento de classe. Essa uma nova janela que se abre para ns pesquisadores, como forma de, efetivamente, nos colocarmos presentes diante das contradies que perpassam o universo do trabalho no Brasil, pretextando somar foras ao sentimento crtico anti-capital.

    A prxis que acreditamos ser o procedimento mais correto para apreendermos essa complexa trama de relaes e de mediaes, tambm o recurso para compreendermos as mutaes internamente ligadas ao universo do trabalho. Mais do que isso, est em questo captarmos as formas geogrficas de

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    externalizao do trabalho, por meio de um movimento duplo, a um s tempo: a plasticidade existente entre as diferentes externalizaesdo trabalho (assalariados, camponeses, sem-terras, seringueiros, informais, desempregados, etc.), e as capilaridades entre as esferas da convivncia em sociedade (social, poltica, econmica, cultural, etc)[6].

    Ento, de um lado, as externalizaes do trabalho (proletrio urbano e/ou rural, campons, arrendatrio, posseiro, sem terra, desempregado), e por outro lado do capital (grande proprietrios de terra, latifundirios, capitalistas), e ainda o Estado (representado pelos ministrios, secretarias, rgos de inteligncia e de fomento, etc.), tm-se os elementos centrais e conceitualmente estruturantes das diferentesformas geogrficas. Assim, o trabalho diante delas, quando territorializado numa determinada condio (ex: campons), desterritorializado e assumindo outra identificao (ex: diarista e trabalho eventual), quando reterritorializa sua identidade em outro momento e sob outras condies (ocupaes de terras pblicas ou improdutivas), expressa, pois, estgios distintos da luta de classe, e nveis diferenciados de conscincia de classe.

    Dessa forma, estaramos colocando em questo a fluidez com que assalariados, subproletarizados, camponeses, posseiros, autnomos, refazem constante e intensamente o desenho societal da classe trabalhadora, no campo, no Brasil, extrapolando os rgidos limites entre o que ser num dia, numa safra, numa temporada, cortador de cana; colhedor de algodo; servente de pedreiro na construo civil; metalrgico e em outros tempos, temporada, ser ocupante de terra, segurana, motorista, catador de papel e papelo, camel, etc.

    Podemos ponderar, tambm, tendo por base nossas investigaes e os trabalhos que so portadores dos nossos pensamentos, que a Luta pela Terra no se restringe ao universo da existncia camponesa[7]. Esse mesmo trabalho, expresso das clivagens oriundas da diviso tcnica/territorial , ento, a chave, para recolocarmos em questo o controle social exercido pelo capital e pelo Estado, os modelos de organizao social vigentes e os paradigmas organizativos dos trabalhadores, esses fortemente fundados nos pressupostos dos setores dominantes.

    Com isso, queremos afirmar que nossa compreenso de classe trabalhadora mais ampla. Portanto, no se restringe somente aos trabalhadores proletrios (urbanos e rurais) ou subproletarizados, no limite, mas a um conjunto de expresses do trabalho que inclui os trabalhadores avulsos, temporrios, diaristas, seringueiros, pescadores, camponeses com pouca terra e que lutam por terra, etc., e que enriquecem e pluralizam a noo do sujeito social que trabalha.

    A esse respeito, importante ponderar que, enxergar o campons no Brasil significa compreender que h uma crescente fluidez de mundos e de relaes no universo do trabalho. E no somente entend-lo como par siams da franja social que engorda com a excluso, como exemplarmente alardeado pela grande imprensa e os intelectuais de planto do planalto, mas que alm de ganhar em quantidade com a complexificao, e com a heterogeinizao do trabalho, sobretudo por meio da consolidao das hordas de desempregados, marca tambm posies polticas afinadas, historicamente, com o campesinato, particularmente com a postura anticapital e a negao ruptura dos valores culturais da famlia.

    A prpria formao do campesinato brasileiro, nos exige ateno para reflexes teoricamente orientadas para a compreenso de sua especificidade geogrfica. Marcado pela intensa mobilidade espacial e pelo acesso a terra historicamente bloqueado, o campesinato, no Brasil, fez com que sua luta para entrar na terra, seu desejo de enraizamento, tenha sido o registro de sua diferenciao em relao ao campesinato de origem feudal, portanto,parcelar do tipo europeu.

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    Dessa forma, a noo de classe social no se resume sua dimenso dada somente pela objetividade, mas nos remete a um amplo espectro de subjetividade, sinalizado pelas esferas da poltica, da ideologia, pelo universo reflexivo, ou como nos dizia Marx, pela atividade humana sensvel, e tudo isso so desafios de grande importncia e significado para a busca do sentido de pertencimento e da conscinciade classe, conseqentemente para a luta emancipatria da classe trabalhadora.

    Isso vale, internamente, aos segmentos mais afeitos s "imposies" do regramento corporativo-sindical, e para aqueles que entendem que a Luta pela Terra e por melhores condies para produzir no campo so assuntos previamente delimitados e restritos aos interesses corporativos dos trabalhadores do campo. Mas vale tambm, externamente, aos segmentos dos trabalhadores que esto inseridos nas atividades urbanas, que so entendidos como distantes do universo societal que compreende o campo.

    Assim, as demandas por melhores salrios, condies de trabalho, Luta pela Terra e poltica agrcola, comparecem em horizontes distintos e diametralmente opostos. Isso repercute na prpria constituio e estruturao das entidades de representao dos trabalhadores inseridos na lavra rural, como tambm na dificuldade de interlocuo com os demais segmentos de trabalhadores urbanos.

    Portanto, o movimento sindical e operrio ao defender melhores salrios, reduo da jornada, participao nos lucros e nos resultados, etc., e os movimentos sociais populares, particularmente as fraes envolvidas com as temticas da Luta pela Terra e pela Reforma Agrria, da moradia, da educao, do gnero, etc., no vinculam essas esferas da luta com o referencial da luta mais geral dos trabalhadores. Assim, cada reivindicao tem sua esfera de identificao fragmentada, territorial, corporativa e socialmente, etc[8].

    Dessa forma, o trabalhador no associa o sindicato com a luta por uma escola de qualidade no seu bairro, tampouco questiona as relaes de trabalho na associao de bairro. Isto , o viver e o trabalhar esto separados nas prticas de luta e de vida, ou ainda, h um hiato entre a vida dentro e fora do trabalho[9].

    O argumento utilizado tanto para defender quanto para atacar a existncia dos sindicatos dos trabalhadores rurais (STR)[10], pode ilustrar essas barreiras compreenso da plasticidade interna ao trabalho. Se para alguns o fato de representar assalariados e pequenos proprietrios argumento para mostrar ineficincia, esse mesmo aspecto entendido como destaque da fora integrada dos trabalhadores do campo[11].

    Diante disso, o referencial que adotamos nos permite visualizar o desenho societal dos trabalhadores sem terra no Brasil, como produto de uma complexa trama de relaes que envolve uma gama de trabalhadores e de movimentos sociais que se dedicam luta de resistncia, de ocupao da terra e pela Reforma Agrria, tais como: posseiros; atingidos por barragens; pequenos produtores desarticulados da estrutura oficial dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STR"s); Sindicato dos Empregados rurais (SER"s); Sindicato dos Trabalhadoras da Agricultura familiar (SINTRAF"s); seringueiros; ndios; pescadores artesanais; Movimento Nacional das Mulheres trabalhadoras Rurais (MNMTR), agora Movimento das Mulheres Camponesas (MMC); Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA); Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST); MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra); MLST (Movimento de Libertao dos Sem Terra); MLT (Movimento de Luta pela Terra); etc.

    A dupla dimenso dos nossos estudos a respeito das diferentes formas de manifestao do trabalho no campo, tanto no mbito da materialidade metablica, quanto da regulao social/espacial (do controle do capital), nos tm possibilitado compreender algumas facetas das contradies do mundo do trabalho.

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    A ttulo de exemplo, poderamos abordar as fragmentaes que ocorrem internamente ao trabalho, produto das dissenses internas FETAESP (Federao dos Trabalhadores Rurais do Estado de So Paulo). A seqncia que inicia em 1989 com a criao da FERAESP (Federao dos Trabalhadores Rurais do Estado de ao Paulo)[12] reforada com a entrada em cena da FAF (Federao da Agricultura Familiar) e dos SINTRAF"s (Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar), em 2000, no mbito da CUT, e ainda as discusses que embasaram as tentativas de criao da FERCANA[13] (Federao dos Empregados Rurais no Setor Canavieiro do Estado de So Paulo) e da FERULCASP (Federao dos Empregados Rurais da Lavoura Canavieira do Estado de So Paulo), em 2001.

    Esse processo de fragmentao, marcado por dissenses polticas, ideolgicas, e tambm de cariz pessoal, internamente ao movimento sindical, reflete to-somente a magnitude das fissuras existentes, que no comeam e nem tampouco terminam nos limites das filiaes dos sindicatos s centrais sindicais.

    Sem contar que comparecem em cena outras movimentaes que partem da Federao dos Trabalhadores nas Indstrias Qumicas do Estado de So Paulo e da FERAESP, com o propsito de sinalizar um campo de discusso marcado pelo desejo de juntar os interesses dos trabalhadores da canavicultura, em So Paulo, mas formulaes ainda restritas ao produto principal (no caso do lcool)[14]. Na mesma direo do que j se sinaliza em Pernambuco atravs da FETAPE (Federao dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco); no Acre nucleada pelas lideranas dos STR"s; as cooperativas vinculadas s Reservas Extrativistas, no Acre, no mbito da CUT; a Federao dos Trabalhadores Rurais do Centro-Oeste, contendo os pequenos proprietrios familiares e assalariados.

    Iniciativa das mais nobres, no , pois, acompanhada de discusso e de trabalho poltico nas bases sindicais, historicamente fragmentadas em diversas atividades e identificadas pelas corporaes sindicais. Portanto, a perspectiva de juno dos trabalhadores, encimada na concepo de ramo, alis, apontamento ainda desconhecido para os trabalhadores brasileiros, poder se consumar como referncia. No entanto, somente o transcorrer histrico nos revelar isso.

    A idia em torno da qual est nucleada a juno dos trabalhadores envolvidos na agroindstria canavieira, em So Paulo e tambm em Pernambuco, no inserena pauta a questo da unificao orgnica dos trabalhadores, tampouco formulaes que contenham enunciados crticos em relao ao processo oposto de fragmentao.

    Nesse processo de disputas polticas que registra as fissuras internas e os desejos de juno de segmentos de trabalhadores, tambm comparece em cena, especialmente no incio dos anos 1990, a Luta pela Terra que, no se restringe somente seara do MST e dos demais movimentos de Luta pela Terra, mas de algumas entidades sindicais diretamente ligadas organizao dos trabalhadores assalariados, especialmente cana-de-acar, como o caso de alguns SER"s ligados a FERAESP, da FETAPE, em Pernambuco, FETAGRI, no Mato Grosso do Sul.

    4. Reestruturao Produtiva e Reorganizao Territorial do Trabalho

    A tentativa de compreender os significados e a magnitude do processo que fundamenta a reorganizao territorial do trabalho no campo poder nos fornecer pistas sobre o contedo polissmico do trabalho e, conseqentemente, para compreendermos seus sentidos no campo, diante das redefinies expressas

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    pela contradio cidade-campo. Tambm nos pecuidadosos em relao s mediaes e aos desdobramentos para as entidades de organizao dos trabalhadores, sejam no mbito sindical, associativo, etc., sendo que os aspectos limitantes que impedem a "leitura" do trabalho para alm das fragmentaes e junes (corporativas) e territoriais fundadas no metabolismo societal do capital, nos coloca frente a frente com a estrutura social mais geral.

    As investigaes direcionadas para apreendermos os desdobramentos territoriais da reestruturao produtiva do capital no campo, tm nos indicado o contedo das aes do capital e do Estado, e os desdobramentos para o trabalho e para a classe trabalhadora: intensificaes da mecanizao, poltica de desenvolvimento rural em detrimento de Reforma Agrria, novas formas de gesto e controle do trabalho pelo capital, polticas pblicas para a agricultura, novas formas de contratao e de pagamento.

    Esses nveis de determinao e as relaes sociais que mediatizam o desenvolvimento das foras produtivas materiais e o processo metablico do capital, nos permitem apreender que a identificao que o trabalho, j fragmentado corporativamente (em profisses identificadas[15] com as dimenses da diviso tcnica), tem com o territrio, referenciada nos limites das determinaes impostas pelo regramento jurdico-poltico[16].

    As conquistas alcanadas pelos trabalhadores no (limitado) texto constitucional de 1988 esto seriamente abaladas por conta das iniciativas de desregulamentar aspectos importantes do contrato de trabalho, como o desnecessrio registro em carteira, em nome do barateamento do custo do trabalho, escudado pela campanha nacional "Custo Brasil", em nome da garantia de emprego, sendo que a segunda metade da dcada de 90foi um dos piores momentos para os trabalhadores brasileiros e para os tais empregos[17].

    Vale notar que, desde ento, esse desenho histrico demarca claramente a transmutao do embate operrio. Isto , da dimenso salarial ganha rapidamente a dimenso da contestao do regime militar e autoritrio de controle social, inclusive com potencialidades para alavancar um salto para a organizao dos trabalhadores como classe antagnica ao capital, nos moldes da "revoluo pacfica", de Gramsci, o que ficou conhecido como novo sindicalismo. Da fase combativa para a fase hegemonizada pelo neocorporativismo e pelo iderio da concertao social, apesar de haver alguns cuidados para precisar essa fronteira, pouco mais de mais 15 anos demarcam mudanas significativas do ponto de vista poltico, ideolgico e organizativo da classe trabalhadora no Brasil, j no sculo XXI.

    Os efeitos desses ajustes no metabolismo do capital esto intensificando a debilitao estrutural do poder dos sindicatos, associaes, cooperativas e, em conseqncia, o acmulo de foras dos trabalhadores assalariados, temporrios, camponeses e demais segmentos e organizaes. Esta , como tudo indica, uma das principais causas da crise do sindicalismo nos pases centrais a partir dos anos 1990 (EUA, Japo e Europa Ocidental)[18] e tambm em pases como o Brasil, a Argentina (com a situao agravada a partir dos efeitos da recente crise que abate sobre os trabalhadores), e outros. Como afirma Alves (2000, p. 83): "O cerne essencial e determinante da crise do sindicalismo moderno no limiar do sculo XXI a instaurao do complexo de reestruturao produtiva do capital".

    No caso brasileiro, especialmente, as novas formas de gesto do trabalho na produo, ao capturar a subjetividade operria como elemento central da lgica do capital, debilita o iderio fundado nas estratgias de classe (ainda que de cariz corporativo), fomentando posturas sindicais neocorporativas e propositivas[19], prevalecendo os interesses por empresas, por setores, e tambm fragiliza consideravelmente a capacidade de negociao e organizao dos sindicatos. Podemos dizer que o capital no somente est roubando a subjetividade operria (ou o saber operrio)[20], mas tambm sua

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    alma, sua capacidade de indignao[21].

    Certamente, estamos diante de um processo histrico que contradiz de forma radical o perodo do ressurgimento do movimento sindical e operrio no Brasil, no incio dos anos 1980[22]. O amlgama de posies conciliadoras hegemonizaa sociabilidade presente no universo sindical brasileiro, repercutindo no cenrio eleitoral, plasmando interesses outrora radicalmente divergentes, mas com sintonia fina na busca do resultado do pleito. ao que se assiste diante das alianas que se processam entre o Partido dos Trabalhadores e os demais partidos conservadores e liberais e, por via de conseqncia, entre a CUT e a Fora Sindical.

    Os ataques demolidores s organizaes polticas dos trabalhadores so um desejo do capital e dos setores dominantes que se renova constante e fortemente nos dias de hoje. Em plena vigncia da mundializao do capital (mundializao das operaes do capital), ou como prope Chesnais (1999), financeirizao do capital, que os mais duros golpes aos trabalhadores e a todas as agremiaes, instituies e relaes sociais que manifestavam obstculos lgica da valorizao do capital.

    Em tempos de globalizao, outros cdigos e arranjos espaciais se apresentam para serdecifrados, especialmente quando consideramos que o capital em seu processo de desenvolvimento histrico cria um mundo sua imagem e semelhana, ou seja, sua mundializao vai caracterizar a nova etapa de internacionalizao capitalista, sendo, pois, identificada tambm como um "processo civilizatrio humano-genrico, um processo scio-histrico, contraditrio e avassalador, de instaurao de uma nova economia e sociedade modernas" (ALVES, 2001, p. 28).

    Isto , as caractersticas espaciais desse processo o que vai nos permitir entender a dinmica territorial da relao capital-trabalho e as demais formas de expresso da luta de classes. Poderamos at ponderar sobre um novo universo das confrontaes e das diferenas radicadas no processo social[23] contra a lgica destrutiva do capital e particularmente a traduo disso em aes concretas e contedos ttico-estratgicos especficos.

    Como sabemos, a partir dos anos 1980 que no Brasil se manifestaram os primeiros impulsos do processo de reestruturao produtiva, mas no princpio da dcada seguinte que atingiram nova amplitude e profundidade, momento em que as inovaes tcnicas e organizacionais assumem um carter mais sistmico em todo o circuito produtivo dos diversos setores econmicos. No entanto, guardaram trao de semelhana em relao busca da competitividade do capital e adoo de novos padres organizacionais e tecnolgicos compatveis.

    O alastramento das tcnicas importadas do Japo e adaptadas consoante os desgnios do comando das empresas, tais como: CCQ"s, (Crculos de Controle de Qualidade) kanban/just-in-time, kaizen, TQC (Total Quality Control), foram se adequando s novas tecnologias microeletrnicas na produo, repercutindo tanto do ponto de vista da concorrncia capitalista, quanto - e o que nos interessa - na nova subordinao forma-intelectual do trabalho do savoir faire lgica do capital, que o fordismo desprezava, e s instncias de organizao poltica, que vivenciaram os desdobramentos da administrao participativa ou de parceria, o sindicalismo de participao.

    escala universal, o toyotismo passa a mesclar-se s objetivaes nacionais, ou seja, com outras formas de racionalizao do trabalho, ou como se identifica como restrito, como parte de um processo contraditrio de continuidade-descontinuidade com o taylorismo-fordismo, porm,procurando manter as novas necessidades da acumulao capitalista. Isto , base da manuteno dos ganhos de produtividade do trabalho para incrementar a acumulao do capital, o referencial produtivista que vigorou durante o

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  • Reestruturao Produtiva do Capital no Campo,

    sculo XX mantido.

    Nesse percurso, como j vimos, quanto mais aumentam a competitividade e a concorrncia intercapitalista, mais desastrosas e cruis so as conseqncias para o trabalho, para a classe trabalhadora.

    Por si s essa referncia que regula a produo mercantil no capitalismo o principal fundamento ou a essencialidade destrutiva da lgica do capital, o que se acentua em grande medida no capitalismo contemporneo, o que levou Mszros (2002) a desenvolver a tese da taxa de utilizao decrescente do valor de uso das coisas.

    importante destacar que a taxa decrescente de utilizao gera uma cultura do desperdcio, que por sua vez uma das principais contradies que o capital encontra para sua realizao. medida que se torna necessrio para o sistema scio-metablico do capital a elevao contnua do consumo para realizao da valorizao crescente do capital, esto dadas as condies para aumentar a capacidade de autodestruio. Essa tendncia da taxa de utilizao decrescente um dos elementos centrais da reestruturao produtiva, e tem atuado eficazmente para ampliar a sobrevida do sistema do capital, postergando o colapso do consumo necessrio ao capital.

    Vale notar que o carter mais sistmico da reestruturao produtiva repercute diretamente sobre o trabalho, produzindo, pois, resultados diferentes para o conjunto dos pases. Mas o estigma de subordinado e dependente enquadra o Brasil numa condio subalterna. Em linhas gerais, poderamos apontar: 1) a desproletarizao do trabalho industrial fabril, tpico do fordismo; 2) a ampliao do assalariamento no setor de servios; 3) o incremento das inmeras formas de subproletarizao, decorrentes do trabalho parcial, temporrio, domiciliar, precrio, subcontratado, "terceirizado"; informal; 4) verifica-se, tambm, que todas essas formas que redimensionam a heterogeinizao do trabalho tm, na crescente incorporao do trabalho feminino no interior da classe trabalhadora, expresso, em especial, quando se pensa em termos da expanso do trabalho precarizado, "terceirizado", subcontratado, part-time, etc.; 5) intensificao da superexplorao do trabalho, atravs da extenso da jornada; 6) a excluso de trabalhadores jovens e "velhos" (acima de 45 anos), do mercado de trabalho; 7) a expanso do patamar de trabalho infantil, em especial nas atividades agrrias e extrativas.

    Os efeitos desse processo se fazem sentir de forma expressiva, de um lado, nas relaes informais de trabalho, que no so simples depositrias de fora-de-trabalho que atua autonomamente[24]. Ao contrrio, essa autonomia cede ao comando do capital que faz com que seu circuito se realize dentro dos marcos do circuito capitalista de produo, diretamente ligado e subordinado ao setor formal.

    5. Sentidos e Significados da Reestruturao Produtiva no Campo

    nessa linha de ao que o Estado brasileiro, amparado pelo pacto de classes que lhe d sustentao poltica, protagoniza polticas em concordncia aos interesses do capital, e as coloca em prtica a fim de exercer o controle social. Ento, ao mesmo tempo em que direciona a ofensiva destrutiva do capital para as reformas na legislao trabalhista, tambm atua para frear o poder de mobilizao e confrontao dos trabalhadores envolvidos na Luta pela Terra e pela Reforma Agrria.

    Vale destacar tambm a agravante representada por alguns assuntos que povoam o momento histrico desse incio de sculo XXI, no Brasil, mais propriamente a partir do governo Lula. A conjuntura atual desperta preocupaes para os trabalhadores brasileiros de maneira geral, tendo em vista os assuntos que

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  • Reestruturao Produtiva do Capital no Campo,

    comparecem em cena no mbito do Frum Nacional do Trabalho[25], e das reformas trabalhista e sindical, e previdenciria, que rondam o Congresso Nacional.

    Nesse mesmo contexto podemos apreender ainda o imobilismo dos partidos polticos progressistas (PT, PC do B e PSB) e a CUT, em relao aos temas centrais para os trabalhadores, particularmente, a Reforma Agrria, a viabilizao de assentamentos e a poltica de emprego no campo, pois evidenciam os vnculos, os interesses e os nexos que soldam as alianas polticas de sustentao do governo, j que so, por exemplo, em torno do superavit primrio, do acordo com o FMI, s reformas, etc.

    Assim, precarizado e complexificado, o mundo do trabalho expe um cenrio polmico. Muito se fala do fim do trabalho, todavia o emprego que est moribundo. Ou seja, com a diminuio do operariado industrial tradicional, temos ao mesmo tempo a desproletarizao do trabalho manual, a heterogeneizao, a subproletarizao do trabalho. Sob o impacto da flexibilizao e dos efeitos das derivaes do talylorismo-fordismo para o toyotismo ou formas combinadas, bem como outras formas de organizao do processo de trabalho, o que Beynon (1998) denomina de operrios hifenizados[26], as marcas da precarizao so ainda, mais expressivas. Importa afirmar que por conta disso h um aumento da classe-que-vive-do-trabalho em bases intensamente precarizadas.

    possvel adiantar que o que deve ser considerado que o metabolismo do capital e sua lei do valor necessitam cada vez menos do trabalho estvel e cada vez mais das diversificadas formas de trabalho parcial, terceirizado, part-time, subproletarizado, precarizado em suas diversas formulaes.

    Nesseaspecto, quando associamos o desemprego (inicialmente movido pela substituio crescente de trabalho no qualificado pelo qualificado), ao processo metablico do capital, no momento atual, diante da tendncia da "modernizao" capitalista, o que se constata que esse fenmeno se generaliza por toda a sociedade.

    Seria o mesmo que dizermos que a sociedade contempornea movida predominantemente pela lgica do capital, pelo sistema produtor de mercadorias e que o trabalho abstrato cumpre o papel decisivo na criao de valores de troca. Ento, quando se fala em crise do trabalho, est se falando da crise do trabalho abstrato. Sabemos, pois, que no universo da sociabilidade produtora de mercadorias, o valor de uso das coisas minimizado, reduzido e subsumido ao seu valor de troca.

    Faz-se necessrio qualificar a afirmao genrica de que h uma crise no trabalho ou uma crise na sociedade do trabalho. Ou seja, temos que esclarecer se se trata de uma crise da sociedade do trabalho abstrato ou se estamos diante de uma crise do trabalho tambm em sua dimenso concreta, enquanto elemento central do intercmbio social entre os homens e a natureza.

    Em sntese, o trabalho, em todas as suas dimenses , pois, a base fundante do autodesenvolvimento da vida material e espiritual, sendo que circunscrito sua forma concreta garantiria a realizao de uma vida cheia de sentidos, emancipada para o ser social que trabalha.

    Diante disso, no podemos concordar com a tese do fim do trabalho ou da perda de sua centralidade[27], tampouco com o fim da revoluo do trabalho. Isso, pois, enquanto perdurarem a sociedade capitalista e os elementos constitutivos da estrutura societria do capital, seria praticamente impossvel imaginar a eliminao da classe trabalhadora.

    Nessesentido, h avanos j revelados em "Territrio em Transe...", que nos autorizam indagar: como

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  • Reestruturao Produtiva do Capital no Campo,

    desconsiderarmos para a explicao da luta dos trabalhadores assalariados no campo e dos conflitos sociais em torno da Luta pela Terra no Brasil, os elementos condicionantes do edifcio social como um todo[28]?

    Ainda que esse processo esteja sendo ampliado com os desdobramentos da reestruturao produtiva do capital, a questo agrria no Brasil tem na estrutura fundiria ou mais precisamente, na concentrao da propriedade da terra, o resultado das desigualdades geradas pelo sistema metablico do capital e um dos principais entraves para o alavancamento da Luta pela Terra por parte dos movimentos sociais e tambm para a Reforma Agrria.

    O cadastro do INCRA (Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria) para 2003, revela que 70.000 imveis (1,6% do total), ocupam quase a metade (43,5%) da rea cadastrada ou 183.000.000 de ha, sendo que quanto ao uso da terra e sua funo social, apenas 30% da rea dos imveis foi como produtiva. No entanto, em relao ao total da rea agricultvel ou 850 milhes de ha, apenas 50 milhes de ha esto ocupados pela agricultura; 120 milhes de ha destinados s reservas indgenas; 110 milhes de ha com reas de preservao, sendo que se estima que h de 100 a 200 milhes de ha de terras no cadastradas ou devolutas. Portanto, a magnitude da quantidade de terras que poderiam ser destinadas para a reforma Agrria no deve ser desprezada, tampouco justificar polticas compensatrias em lugar de projetos consolidados e especficos para tal fim.

    O cuidadoso e instigante estudo de Oliveira (2000)[29], tambm nos mostra, amparado nos dados do Censo Agropecurio de 1995/96 (IBGE), que so as pequenas unidades de produo que produzem a maioria dos produtos agropecurios[30].

    Enquanto as pequenas representam 94,0% do nmero e 29,2% da rea, se responsabilizam, considerando as lavouras temporrias: por 38,0% do rebanho bovino; 71,5% da produo do leite; 79,3% de ovos de galinha; 55,0% do algodo herbceo; 78,5% do feijo; 92,0% da mandioca; 54,4% do milho em gro; 34,4% da soja em gro; 20,0% da cana-de-acar, sendo, pois, esse o nico caso em que as grandes unidades (33,1%) superam as pequenas, com as mdias representando 47,0%, assim como no caso do arroz em casca (42,7%), na soja em gro (43,7%); e na silvicultura[31] base de 65,3%,

    Para os produtos oriundos das lavouras permanentes, as marcas em favor das pequenas unidades de produo tambm so expressivas: 76,0% do algodo arbreo; 85,4% da banana; 70,4 do caf em cco. Tudo isso reflete na superioridade das pequenas unidades de produo (56,8%) no valor da produo (animal e vegetal), e tambm nas commodities (laranja, caf e cacau), enquanto as mdias detm 29,6% e as grandes 13,6%. Em relao ao pessoal empregado, essas grandezas se repetem, pois de um total de 18.000.000 de trabalhadores, as pequenas unidades representam 87,3% e as grandes apenas 2,5%.

    importante enfatizar que mesmo diante da superioridade das pequenas unidades, os latifndios "escondem" a terra improdutiva, sabendo-se que, historicamente, o papel da grande propriedade no Brasil de servir como reserva patrimonial de valor para as elites e setores hegemnicos, ao contrrio das pequenas, que sempre se vinculam produo, da sua participao destacada no agronegcio. (OLIVEIRA, 2004).

    Essa realidade todavia, deve ser compreendida considerando: a) as mediaes que garantem o processo de reproduo do capital; b) a intensificao da mecanizao do processo de trabalho e toda ordem e dimenso do controle social (formas recriadas que revelam a expropriao, a subordinao do trabalho); c) a apropriao da renda da terra pelo capital; d) a execuo e extino das polticas pblicas, etc.

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  • Reestruturao Produtiva do Capital no Campo,

    Por esse vis podemos identificar as contradies que revestem e redefinem o agronegcio no Brasil, e que mistificam a existncia de um campo moderno e um campo atrasado. A esse respeito, o marketing refora os nmeros que engrandecem o significado mercantil e econmico do agronegcio (como sinnimo da supremacia da produo para o mercado mundial), especialmente quando isso tem a ver com os setores que se responsabilizam pelas123.000.000 de toneladas de gros produzidas em 2003, com supervit na balana comercial (US$24,8 bilhes), com destaque para as exportaes do complexo soja (US$7,8 bilhes)[32], carnes (US$4,8 bilhes), acar (US$2,1 bilhes), madeira e suas obras (US$2,0 bilhes), suco de laranja e fumo (US$1,0 bilho), etc.

    Mais ainda, esse quadro que elucida o aporte produtivo da agropecuria e que mostra a superioridade da pequena unidade produtiva, no pode ser entendido desconectado do processo social e, portanto, das referncias e objetivos que guiam o maniquesmo em torno do campo que se modernizou, porque se industrializou/urbanizou, e do campo que se mantm preso subsistncia e, portanto, fora do modelo de desenvolvimento.

    Esse assunto tambm produz dividendos para a idia de que a modernidade no campo permite que alguns acreditem que o campo acabou em vista da urbanizao/industrializao crescente, o que no mais faculta falar-se em rural, ou ainda que no mais exclusivamente agrrio. Ou seja, o setor modernizado e compreendido como extenso da indstria, e o atrasado como facilmente descartvel, ou no limite cumpridor de papis sociais hbridos, mesclados e no mais originais e especficos da lavra agrcola no rural. Isso redefine constante e intensamente a relao cidade-campo para o trabalho.

    Em torno disso h compreenso de que esse novo rural ou rurbano[33] sugere que o campo acabou e que as atividades em tempo parcial e a pluriatividade passam a reger as relaes de trabalho nele. Todavia, a esse respeito, compartilhamos compreenso com Carvalho filho (2001), quando assevera que a grande maioria dos trabalhadores rurais (com pouca terra ou acesso precrio a ela, vive essencialmente das atividades agrcolas, complementando renda com outras atividades, o que via de regra sempre fez parte do conjunto das suas atividades.

    Assim, mais do que qualquer outro momento da histria, a questo agrria se identifica e contm elementos centrais da questo do trabalho, com os assuntos urbanos, etc.

    Apesar desse assunto merecer ateno especial, nos nossos textos[34] temos defendido a idia de que o campo deve ser entendido por dentro das contradies que demarcam a diferencialidade tecnolgica, os conflitos em torno da posse da terra, a relao capital x trabalho, e as diferentes inseres dos agentes produtores no circuito mercantil, que identificam os objetivos, as expectativas e os retornos desejados,das crescentes somas de produtos de origem agropecuria que o pas importa para garantir o abastecimento interno, por exemplo, o arroz (US$180 milhes em 2003), o milho e o leite.

    Esse quadro nos mostra o contedo das contradies vinculadas historicamente na opo latifundista do perodo colonial, que foi capaz de resolver os interesses divergentes entre latifundirios, capitalistas e o prprio Estado. Enquanto em diversos pases capitalistas, optou-se pela reforma agrria e por leis severas contra a concentrao da terra, no Brasil, ao contrrio, essa opo se distancia no horizonte, pois a propriedade e a posse da terra no tm vnculo exclusivo com a produo, mesmo sob a vigncia de governos democrticos, ainda mais em poca de governo popular.

    Nesse sentido, as mudanas de orientao, que passaram a ser implementadas na dcada de 90, por parte do capital, do Estado e dos setores hegemnicos (burguesia agrria, latifundirios), com a participao

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  • Reestruturao Produtiva do Capital no Campo,

    decisiva do Banco Mundial[35], deixam rastros de destruio.

    Na rabeira dessas mudanas de enfoque, a maioria das conquistas dos trabalhadores so eliminadas e/ou modificadas/fragilizadas, tais como: o PROCERA (Programa de Crdito Especial para a Reforma Agrria), substitudo pelo PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), em 1996 e hoje completamente esvaziado e deturpado; o projeto LUMIAR simplesmente abolido depois de ter alcanado resultados importantes na assistncia tcnica; e o PRONERA (Programa Nacional de Educao na Reforma Agrria), duramente fragilizado.

    A estratgia de minimizao do conflito em torno da posse da terra no meio rural, tanto em relao prtica das aes, quanto dos documentos norteadores da poltica fundiria e agrria do Estado, tem como nico objetivo a construo de um consenso social amplo. O Banco da Terra, a Bolsa de Arrendamento so as principais marcas que ainda garantem a vigncia do Projeto Novo Mundo Rural.

    Essa tomada de posio para o delineamento da questo agrria se expressa, concretamente, nos mais alarmantes atos de barbrie praticados pelo capital, pelos latifundirios, e pelos rgos repressivos do Estado, sobretudo com os assassinatos de trabalhadores e lideranas, bem como a parcialidade da justia em favor do latifndio.

    Enfatizando a participao da sociedade civil na gesto dos programas de desenvolvimento, os protagonistas desse projeto atraem a opinio pblica e os trabalhadores para a tese de que a sada para a construo de um consenso entre todos os grupos sociais deve viabilizar o desenvolvimento socioeconmico harmnico e favorvel para todos.

    Ento, a idia do desenvolvimento rural[36] (local) seguido dos adjetivos humano, solidrio, sustentvel, etc., forja os elementos que vo soldar os interesses centrais da sociedade produtora de mercadorias, na qual subjaz a lgica da rentabilidade, da concorrncia e do controle social pelo capital.

    Ficam secundarizadas e mesmo desconsideradas as questes sociais emergentes no campo, que se ligam concentrao da terra, de renda e de capital, pois a questo agrria no mais possui um carter estrutural, como defende Martins (2001), ou no apresenta impasses ao desenvolvimento do capital.

    Assim, se a questo agrria foi resolvida pelo capital e para o capital, a ponto da estrutura agrria no conter elementos que constitussem obstculos ao desenvolvimento do capitalismo, no se estaria mais diante dos antagonismos de classe. De forma muito contundente Germer (2002) critica Martins (2001), por entender que a discusso sobre a questo agrria deve priorizar o entendimento da dinmica das relaes entre as classes sociais, sendo, pois, esse, um dos elementos centrais e no o que identifica sua proposta, como algo exclusivamente vinculado "leitura" da questo agrria para o capital ou classe burguesa. importante notar que esse antagonismo de classe, supostamente superado pela consolidao do capitalismo, no substitudo pela harmonia entre as classes sociais, tampouco pela dissoluo das mesmas, mas sim por novos antagonismos de classe.

    Da, por exemplo, a banalizao da Reforma Agrria, a ponto de ser esquecida das prioridades de governo e das polticas pblicas, tal como assistimos em relao demora e desmobilizao em torno da publicizao do Plano Nacional de Reforma Agrria (PNRA), sua aceitao no mbito do governo e aprovao no Congresso Nacional. Sem contar o distanciamento que o governo mantm dos movimentos sociais envolvidos, historicamente, na Luta pela Terra e pela Reforma Agrria no Brasil, em todo o processo preparatrio do PNRA[37].

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  • Reestruturao Produtiva do Capital no Campo,

    Nesse sentido, a represso e a violncia que engordam as fatdicas estatsticas das torturas, dos assassinatos, dos desaparecimentos de camponeses e lideranas sindicais no campo, bem como o comprometimento da maioria do poder judicirio com os imperativos do capital e do latifndio, no fizeram desaparecer o envolvimento e a luta dos trabalhadores, sintonizada com o desejo do acesso terra, Reforma Agrria, s melhores condies de trabalho, ao cumprimento dos direitos trabalhistas, s denncias de trabalho escravo, etc.

    Ento,se a agricultura capitalista, referenciada no modelo da modernidade e dos requisitos do agronegcio, se expressa tanto na grandiosidade das superssafras, como tambm retrata o suporte dos mais elevados coeficientes de concentrao da terra e de riquezas do planeta, no de se espantar a crueza da barbrie imperante. A ttulo de exemplo, poderamos destacar o desemprego no campo, que j se compara aos elevados nveis urbanos,sendo que s em 2003 foram encerrados aproximadamente 2.500.000 postos de trabalho, como tambm, os conflitos no campo que crescem ano a ano, saltando de 880 em 2001, para 925 em 2002, e at agosto de 2003, 536. Sem contar as mortes, ou mais propriamente assassinatos, como demonstram os dados da Comisso Pastoral da Terra (CPT), que ascenderam de 29 casos em 2001, para 43 em 2002, e at agosto de 2003 mais de 30 trabalhadores haviam sido eliminados fisicamente num pas que se denomina democrtico e de todos.

    Outra forma importante de expresso da dominao de classe, em relao a Luta pela Terra, est a cargo dos meios de comunicao[38]. A esse respeito as pesquisas tm nos mostrado alguns aspectos em relao aos mecanismos ideolgicos da construo da linguagem da imprensa, intrnsecos s ocupaes de terra e as diferentes dimenses do conflito social manifestas territorialmente no Pontal do Paranapanema.

    Nesse particular, a adequao da linguagem ao juridicismo, o que nos revela o comprometimento da imprensa[39] com a formulao da imagem do MST como fora da lei, ilegal, ilegtimo. Isso, pois, ao mesmo tempo em que constri uma imagem da justia como instituio acima do bem e do mal, conferindo-lhe o verniz da imparcialidade e neutralidade, tambm refora as estruturas de poder[40].

    Essas relaes de poder tambm podem ser visualizadas quando dirigimos nossas atenes para refletir a dialtica da produo e reproduo de relaes sociais de gnero presentes na dinmica territorial da Luta pela Terra, particularmente os acampamentos e assentamentos, enquanto formas concretas da organizao espacial do MST no Pontal do Paranapanema.

    Por dentro das relaes de poder, e sendo o gnero uma das expresses, as diferenas entre homens e mulheres construdas social e historicamente, rebatem diretamente nas formas geogrficas, e est nos possibilitando compreender os desdobramentos da interlocuo entre gnero, classe e territrio[41]. Para tanto, tm sido uma constante os exerccios a fim de estabelecermos as mediaes tericas para viabilizarmos a prxis das pesquisas no mbito da Geografia do trabalho[42]. Em vista disso, j nos est sendo possvel, com o andamento das investigaes, desvendar os processos (estruturais e locais) que criam e reproduzem a ideologia hegemnica de gnero, assim como as prticas de resistncia presentes no territrio da Luta pela Terra, no caminho da transformao e superao das contradies sociais.

    Mas quando nos propomos focar a questo agrria no Brasil por dentro do conflito social, estamos preocupados em desenvolver metodologias capazes de indicarem as pistas para o entendimento de uma realidade plural, diversa e contraditoriamente redesenhada. Isto , pretendemos entender de forma imbricada, as formas geogrficas que nos indicam os sentidos, os significados e o contedo daquilo que por meio dos processos de territorializao, desterritorializao e reterritorializao, demarcam os

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  • Reestruturao Produtiva do Capital no Campo,

    mecanismos que expressam as diferentes manifestaes do trabalho no mbito da luta pela terra, pela reforma agrria, por melhores salrios e condies de vida, etc.

    Notas

    [1] Pudemos desenvolver esse assunto em "Por uma Geografia do Trabalho", ver: Thomaz Jnior, 2002; e "O Mundo do Trabalho e as Transformaes Territoriais - Os Limites da "Leitura" Geogrfica", ver: Thomaz Jnior, 2003a.[2] Refletimos sobre esse assunto em diversos textos da nossa produo. Ver: Thomaz Jr., 2002c, 2003a, 2003b, 2004a.[3] Cf. THOMAZ JNIOR, 2002.[4] Cf. MSZROS, 2002.[5] A irradiao dos pressupostos desse evento se reproduz em diversos locais do planeta, inclusive no Brasil, recentemente em Belo Horizonte, no Equador, na Nicargua, sendo que a 4a verso do Frum foi realizado na ndia, em janeiro de 2004.[6] Cf. THOMAZ JR., 2004a.[7] Desenvolvemos essa idia em diversos textos. Ver: Thomaz Jr., 2002c, 2003a, 2003b, 2004a.[8] Pudemos desenvolver essa questo em Thomaz Jnior, 2001 e 2003a.[9] Essa questo foi investigada de forma muito profunda por Fernanda Keiko Ikuta, na sua dissertao de mestrado "A Questo da Moradia para Alm de Quatro Paredes", sob nossa orientao e defendida em junho de 2003.[10] Esse assunto foi investigado e abordado por ns na tese de doutorado. Mais detalhes ver: Thomaz Jr., 2002.[11] Expresso utilizada por dirigente da FETAESP, em entrevista realizada em janeiro de 2003.[12] Esse assunto foi objeto da nossa tese de doutorado. Ver: Thomaz Jr., 2002b.[13] A impugnao da FERCANA em primeira instncia motivou seus articuladores a propugnarem pela criao do Sintagro (Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas Agrcolas, Agroindustriais e Agropecurias). No entanto, depois de seguidas rodadas de negociaes a FERAESP atraiu para o seu arco poltico os quadros da ex-FERCANA/Sintagro"s, particularmente seu expoente maior, Mauro Alves Silva, sob o argumento de que "essa foi a melhor maneira de neutralizar essas aes polticas, e fazer valer a idia do Sintagro para o seu campo poltico de interveno". Ou seja, juntar os trabalhadores da agroindstria numa nica entidade sindical.[14] As primeiras reunies e as discusses acumuladas, at o momento, pelos dirigentes dessas duas corporaes sindicais apontam tambm para a formulao da cadeia produtiva agroalimentar e financeira, que incluiria setores mais amplos do que somente o lcool ou at o acar.[15] Como prescreve a Consolidao das Leis do Trabalho (CLT). Mais detalhes, ver: Thomaz Jnior, A., 2000.[16] No projeto de tese de doutorado, concludo e, 1996, pudemos nos dedicar a essa questo, quando estudamos especificamente a relao capital x trabalho na agroindstria canavieira em So Paulo e os desdobramentos para o movimento sindical. Mais detalhes, ver: Thomaz Jr., 2002a.[17] Cf. DIEESE, 2002.[18] Cf. ALVES, 2000; SANTOS (2001); MOREIRA (2001).[19] Cf. SANTOS, 2001; ALVES, 2000; ARAJO, 2002.[20] Sobre essa questo ver: Antunes, 1995 e 1999, e Alves, 2000.[21] Cf. THOMAZ JR., 2003b.[22] Cf. ALVES, 1999.[23] No o caso de tecer afirmaes, mas de atentarmos para as reflexes que Soja (1996), nos indica em "Third Space", no que se refere diferenas enquanto significado de poder que subjuga o territrio, o trabalho. Sugerimos consultar o captulo "Exploring the Spaces that Difference Makes: Notes on the Margin".[24] Cf. MALAGUTTI, 2001.[25] O texto provisrio j acertado entre os coordenadores do FNT e as trs principais centrais sindicais (CUT,

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    FS e CGT), contm trs elementos centrais: prev o fim do imposto sindical, o reconhecimento jurdico das centrais sindicais, e criao do Conselho Nacional de Relaes de Trabalho de carter triparite. Diante da reforma ministerial, no esto previstas mudanas radicais ao texto original. Aproveitamos para indicar o texto "Unicidade Sindical: Uma Questo Ttica para os Trabalhadores", de autoria do professor Ariovaldo Oliveira Santos. Revista Pegada, Presidente Prudente, v.4, n.2, 2003.[26] So aqueles que se enquadram em trabalho-parcial, trabalho-precrio, trabalho-por-tempo, trabalho-por-hora.[27] Os autores que mais se destacam como defensores da tese do descentramento, so dentre outros: Gorz (1986), que exprime sua posio em adeus ao proletariado; Habermas (1984), em "Crtica a Razo Comunicacional"; Offe (1986), que defende a idia da perda da centralidade do trabalho; Robert Kurz (1993), que polemiza com a idia do fim do trabalho, mas mantendo posicionamento crtico de grande profundidade sociedade do capital.[28] Esse assunto foi abordado por ns em "Desenho Societal dos Sem Terra no Brasil". Ver: Thomaz Jr., 2001.[29] Referimo-nos ao texto "Barbrie e Modernidade: O Agronegcio e as Transformaes no Campo". Cadernos do XII Encontro Nacional do MST. So Paulo: MST, 2004.[30] Considerando-se, pois, a classificao dos estratos de rea da Reforma Agrria, ou seja: menos de 200 hectares (pequenas); de 2001 a menos de 2000 hectares (mdias); e com mais de 2000 hectares (grandes).[31] Considerando-se carvo vegetal (67,8%), madeiras em tora (55,1%) e madeira para papel, (73,1%).[32] Essa denominao indica o conjunto das atividades do processamento da soja.[33] Denominao que demarca no debate intelectual, acadmico e trabalhista a formulao do professor Jos Graziano da Silva, em respeito da perda de importncia das atividades agrcolas propriamente ditas no rural, no Brasil. Mais detalhes consultar o livro de Jos Graziano da Silva "O Novo rural Brasileiro". Campinas: Editora da Unicamp, 1999; e tambm o site: www.unicamp.br/rurbano[34] Referimo-nos, particularmente a dois textos de nossa autoria: 1) Thomaz Jr., 2001, e 2003b.[35] J em 1993 o Banco Mundial, por meio do Relatrio 11738-BR, de 27 de maio, momento em que anunciava o encerramento de algumas linhas de financiamentos, apontava tambm para a necessidade de o Estado mudar radicalmente sua postura diante da agricultura, pois os cenrios apontavam para a retirada total ou para intervenes mnimas ou pontuais.[36] Esse assunto foi cuidadosamente estudado por Jorge Montenegro Gmez, na sua dissertao de mestrado "Polticas Pblicas de Desenvolvimento rural e o Projeto de reforma Agrria do MST no Noroeste do Paran", desenvolvida junto ao Programa de Ps-Graduao em Geografia da Universidade Estadual de Maring, sob nossa orientao, e defendida em abril de 2002.[37] Esse assunto foi abordado por ns em "Jogo de Cena e Poder de Classe no Brasil do Sculo XXI: O Territrio Minado para o Trabalho". Revista Pegada, Presidente Prudente, v. 3, n.1, jun., 2003b.[38] Esse assunto est sendo investigado pela mestranda Snia Maria Ribeiro de Souza, que desenvolve o Projeto de Pesquisa "O MST entre o Fato e a Notcia", junto ao Programa de Ps-Graduao em Geografia, da FCT/UNESP/P. Prudente, sob nossa orientao.[39] Especificamente o Jornal O Imparcial, sendo, que o Jornal Folha de So Paulo tambm foi incorporado ao universo a ser pesquisado.[40] A esse respeito, gostaramos de indicar dois textos em co-autoria com Snia Maria Ribeiro de Souza: 1) "O Discurso Jornalstico e o MST: O Fato e a Interpretao". Revista Cincia Geogrfica, Bauru, ano 8, v.1, n.22, mai. ago., p. 37-48, 2002; 2) "Imprensa, Construo dos Sentidos e "Leitura" do Territrio de Luta pela Terra no Pontal do Paranapanema". Revista Universidade e Sociedade, Braslia, ano 13, n.30, jun., p.177-181, 2003.[41] H dois projetos em consecuo: 1) "Luta pela Terra sob o Enfoque de Gnero: os Lugares da Diferena no Pontal do Paranapanema", sob a responsabilidade da doutoranda Maria Franco Garca, e "A Participao da Mulher na Luta pela Terra: Uma Questo de Classe e/ou Gnero", desenvolvido pela mestranda Renata Cristiane Valenciano, ambas vinculadas ao Programa de Ps-Graduao em Geografia da FCT/UNESP/P. Prudente e sob nossa orientao.[42] A esse respeito, indicamos dois textos em co-autoria com Maria Franco Garca: 1) "Trabalhadoras Rurais e Luta pela Terra: Interlocuo entre Gnero, Trabalho e Territrio". In: Revista Eletrnica Geocritica, v. 6, n.119, 2002. Disponvel em: www.ub.es/geocrit/c4-frtho.htm Tambm foi publicado na Revista Terra Livre, So Paulo, n.19, ano 18, v.2, jul. dez., 2002. 2) "Gnero e Territrio da Luta pela Terra na Era do Fim do Emprego". Revista Abalar, Santiago de Compostela, n.0, primavera de 2003. Atendemos solicitao dos editores da Revista Desenvolvimento Econmico e tambm permitimos sua publicao por se tratar de peridico com insero em

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