Quem Ajudou Hitler

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. ma s  CIVILIZAÇAO BRASILEIRA UEM J UDO U A ilTLE

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. ma s   CIVILIZAÇAO

BRASILEIRA

UEMJUDOU AilTLE

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QUEM AJUDOU *

AHITLER

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COLEÇÃO

D O C U M E N T O S D A H I S T Ó R I A C O N T E M P O R Â N E Avolume 26

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I, MAISKI

tradução deCRISTIANO M. o i t j c i c a

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Í N D I C E

Prefácio IX

a t é   1939

Instruções do Governo soviético 3O que encontrei na Inglaterra 10" Luta em prol do convênio comercial 16

Breve degêlo e suas causas 25Passos de aproximação 32

Churchill e Beaverbrook 42

Esfriamento 48’ Abaixo de zero 56M i h 67

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P R E F Á C I O

Em certos meios do exterior criou-se uma falsa lenda,  amplamente difundida, sôbre a conduta do Governo soviético às vésperas da Segunda Grande Guerra. Essa tenda consiste, em essência, no seguinte.

 A firm a-se, ardilosamente , que a União Sovié tica jogou  

com pau de dois bicos na primavera e no verão de 1939 (de  março a °agôsto) . Por um lado, man teve neg ociações públicas com a Inglaterra e a França para firmar um pacto de  assistência mútua das três potências contra a Alemanha hi-  tlerista; por outro, sustentou paralelamente, atraiçoando a In

 glaterra e a França, negociações secretas com a Alemanha 

de Hitler com vistas a concluir um  acordo alinhado contra as  "democracias ocidentais" .  A firm a-se também que a União Soviética tomou como pretexto minúcias sem substância para

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merosas variantes e tem sido difundida amplamente por políticos, jornalistas e historiadores do Ocidente. A maldosa  lenda surge ainda em documentos diplomáticos da maior im portância dos governos capitalistas, inclusive algumas notas do Presidente Eisenhower.

 A pesar d e tudo, a lenda em questão é um m odêlo clá ssico de falsificação burguesa da história, destinado aos dcs-  

memoriados e a vastos setores que não conhecem minuciosamente os verdadeiros fato s d as relações internacionais. N es se caso, a falsificação é dupla. Primeiro, distorcem grosseiramente os acontecimentos da primavera e do verão de 1939.  Depois, consideram-nos isoladamente, desvinculados do passado, onde têm suà origem, impedindo assim que sejam com

 preendidos e valorizados como devem . E para que lh es seja  mais fácil, como dizem os norte-americanos,  " vender” esta  falsificação ao grande público seu s autores evitam geral

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Não obstante, para que a verdade que me proponho relatar-lhes constitua a mais* pura verdade, dev o encetar minha exposição não em 1939, mas bastante antes. Essa data está  determinada, naturalmente, pelo limite que serve de linha divisória. na  época compreendida entre  as duas  guerras: a ascensão do nazismo ao Poder na Alemanha.

 Além disso, essa data do início do rela to é muito cô moda para mim. Resolvi dar   a  form a d e recordações ou m emórias 'à minha narrativa, porquanto permite ao leitor com

 preender com maior facilidade   o ambiente e os acontecimentos daqueles anos, já relativamente distantes. Isso porque cheguei  a Londres como embaixador da URSS no outono de 1932, isto é, apenas três meses antes do golpe de Es

tado nazista em Berlim. Assim , tanto do ponto de vista político geral como do  

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Chamberlain e Daladier na década de 1930-40. Pelo visto, os filhos nada aprenderam da experiência dos pais.Não obstante, isto significa que as coisas devam termi

nar também agora em uma conflagração mundial, mais es panto sa ainda que a anterior?

Não, não significa isso, pois a correlação de fôrças no cenário internacional modificou-se apreciávelmente nos últimos vinte anos.

Não havia então mais que um Estado socialista cm nosso   planêta : a U RSS; atualm en te existe tôda uma constela ção dêles. Mais de um têrço da humanidade se encontra em  nossos dias sob a bandeira d o socialismo. Outra têrça parte é integrada pelos países neutros, tambéin defensores da paz  

e inimigos da guerra. No setor do capitalismo militante, há  apenas cêrca de um têrço do gênero humano. Mas incluído  

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Até 1939

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IN S TRUÇÕESD O G O V Ê R N O S O V I É T I C O

^ J o outono de 1932 fui nomeado embaixador daURSS na Inglaterra, e em fins de outubro parti para

Londres após receber o agrémeni  do Governo inglês.Que tarefas me atribuiu o Govêrno soviético? Com que

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daro, que‘se jam  partidários da paz a todo custo! Não, demaneira alguma! Os bolcheviques não são tolstoianos. Comodiz uma conhecida canção soviética, nosso “trem blindado”está sempre pronto no desvio e apetrechado com material bélico o mais moderno. Porém,  pela própria natureza,  não queremos a guerra, odiamo-la e procuramos evitá-la na medida

que o permitem as possibilidades humanas. Estamos empenhados na edificação do socialismo e do comunismo, à qualconsagramos a nossa inteligência e o nosso coração, e nadadesejamos que possa afastar-nos dêsse labor, tão arraigado, emenos ainda que possa desprezá-la sèriamente. Assim temsido e é a todo momento a linha geral do Estado soviético.E se a URSS se viu, não obstante, obrigada a combater —e não pouco — em seus 46 anos de existência, deve-se issoao fato de que a guerra nos [oi imposta pelas fôrças inimi

 gas do exterior,  que pretendiam varrer da face da terra oprimeiro país socialista do mundo. Assim ocorreu nos anos daguerra civil e da intervenção estrangeira. Assim ocorreu também nos dias da Grande Guerra Pátria de 1941-1945.

As causas de caráter mais particular que acentuavam odesejo do Govêrno soviético de viver em paz e amizade com

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pas do seu ressurgimento após a ruína provocada pela guerra civil e a intervenção, bem como pela interferência dos concessionários da Lena Goldfields  na década de 1920-30. Tudoisso tornava extremamente difícil o pagamento pontual damaquinaria importada para a indústria. Recordo que no inverno de 1932 a 1933, encontrando-me já em Londres, houvemomentos verdadeiramente críticos. Não obstante, o Gover

no soviético pagou sempre em dia e na hora. Tínhamos emaltíssima estima a reputação da URSS no mercado mundialcomo pagadora irrepreensível e não poupávamos esforçospara conservá-la. Tudo isso, como é natural, levava o Governo soviético a evitar qualquer complicação no terreno dapolítica exterior que pudesse criar dificuldades ao nosso co

mércio e tornar indispensáveis despesas imprevistas.Era uma política nobre e, além disso, extraordinària-mente inteligente; porém, como era difícil mantê-la naquelesanos!

Passemos agora à Alemanha. Em fins de 1932 era evidente a plena decomposição da República de Weimar. Osnazistas avançavam com rapidez e conquistavam uma apósoutra posição. A cisão nas fileiras proletárias era profundae os sociais-democratas se negavam obstinadamente à uni

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base da nossa política exterior não muda nunca, mas ao pôrem prática essa política há que contar com a situação internacional concreta. A Alemanha é, até agora, o país com quesempre tivemos as melhores relações, e em nossos atos temosprocurado, na medida do possível, manter a frente única comela ou, pelo menos, levar em conta sua posição e seus interesses. Porém se tratava da Alemanha de Weimar, que seencontra agora, como se pode ver, em,agonia. Não se pode

alimentar ilusões a êsse respeito. Hitler subirá ao Poder deum momento para o outro e a situação mudará instantaneamente. A Alemanha deixará de ser nossa "amiga” para írans-formar-se em inimiga. Se essa é a perspectiva, qme dedução devemos tirar? É claro que, agora, no setor da políticade paz, devemos procurar melhorar as relações c o e i   a In

glaterra e a França, sobretudo com a primeira cozo principal potência capitalista da Europa. É certo que êsses doisEstados mantêm, até o momento, uma atitude de hostilidadepara conosco...

Para corroborar suas idéias, Litvínov enumerei: algunsdos fatos mais importantes: participação dominante da Inglaterra e da França-na intervenção de 1918-1920, szitimatum 

de Curzon em 1923, assalto à ARCOS1 e ruptura das relações diplomáticas anglo-soviéticas em 1927, furiosas cam

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mentos. Sua missão consiste em aproveitar ao máximo, a bem

da aproximação anglo-soviética, a situação que possa criar-se na Inglaterra.— Concordo com sua apreciação da situação e suas de

duções — falei; porém, como imagina as ações concretàsimediatas?

— Farei referência ünjcamente à Inglaterra, que é aon

de você vai — respondeu Litvínov. Que devemos procurarconseguir ali, em primeiro lugar? A máxima ampliação dasnossas relações com os consfervadores. Na vida política daGrã-Bretanha dominam duas fôrças: os conservadores e aoposição, integrada por liberais e trabalhistas. Em outrostempos, os liberais constituíam a fôrça fundamental da oposição; porém, êsses tempos passaram: hoje, rolam de encostaabaixo, se fracionam e se enfraquecem. Os trabalhistas desempenham cada dia mais o papel principal na oposição.Observe que todos os atos positivos no terreno das relações anglo-soviéticas partiram, até agora, dos liberais e dostrabalhistas. Por exemplo, o primeiro e importantíssimo convênio comercial concluído entre a Inglaterra e a Rússia So

viética em 1921 foi firmado por um Govêrno presidido porLloyd George; o reconhecimento diplomático da URSS em

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conservadores. E são êles, repito, os verdadeiros “senhores"da Inglaterra! Eis porque sua tarefa primacial e principal

consiste em romper o muro de gêlo que separa nossa Embaixada em Londres dos conservadores e estabelecer contatos mais amplos e firmes precisamente com êles. Se o conseguirmos, teremos dado um passo proveitoso na luta contraa agressão alemã. Medite bem nos primeiros passos quetenciona empreender ao chegar a Londres, informe-me a respeito disso e então voltaremos a falar.

Dois dias depois visitei novamente o Comissário do Povoe dei-lhe a conhecer o plano dos meus primeiros passos naInglaterra. Constava de três pontos principais:

1. Conceder uma entrevista à imprensa britânica logoapós a apresentação das minhas credenciais.

2. Ampliar o mais possível o número de visitas impostas pela etiquêta diplomática a um nôvo embaixador, nãolimitando-as ao reduzido grupo de pessoas vinculadas aoForeign Office,  mas tornando-as extensivas a diversos membros do Govêrno, políticos destacados, homens da City  e personalidades do mundo cultural.

3 . Ressaltar, de modo especial, a expansão do comér

cio anglo-soviético.Litvínov aprovou meu plano e me inquiriu se havia pre

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ferência de Desarmamento inaugurada em Genebra em fevereiro de 1932. Em seguida prosseguia:

“Com muito maior motivo procura a URSS desenvolveras relações de amizade com a Grã-Bretanha, com a qualtantos contatos diversos mantém no terreno econômico. Ofeliz cumprimento do primeiro plano qüinqüenal, que deu origem a um imenso desenvolvimento das fôrças produtivas daURSS, e a próxima realização do segundo plano qüinqüenal,

que terá como resultado ucia grande ascensão do bem-estardas massas trabalhadoras do nosso país, constituem uma boabase para desenvolver e fortalecer as relações econômicassoviético-briíânicas e, em conseqüência, as relações políticas.

Tenho a esperança de que o bom senso, tão próprio dopovo inglês, e sua capacidade, por ninguém superada, para

levar em consideração os fatos (e quinze anos de existência da URSS e seu desenvolvimento são um fato indiscutível e iniludível) facilitarão em grande medida o cumprimento desta missão. A melhoria das relações entre ambos ospaíses, além de representar o maior bem para êles, seria umfator de paz internacional de extraordinário alcance, o quetem singular importância nestes dias conturbados e difíceis” .

Terminava a entrevista com algumas palavras de natureza pessoal.

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nota espedal, o convênio comercial anglo-soviético firmadoem 1930 com o segundo Govêrno trabalhista. Foi um atoinesperado e manifestamente anti-soviético, do qual ocupar-me-ei mais adiante com maiores detalhes. Litvínov chamou-me dois dias depois e disse-me:

— Você se propunha iniciar suas atividades na Inglaterra com uma entrevista cujo texto aprovei... Em geral, se

ria uma declaração acertada se existissem relações normaisentre a URSS e a Gsã-Bretanha. Não obstante, depois dadenúncia unilateral do convênio comercial anglo-soviético, asituação mudou: Londres manifestou-nos publicamente suaanimosidade. Em tal situação, será melhor abster-se de fazer declarações amistosas como as preparadas por você.

Essa foi a causa por que a citada entrevista morreuantes de nascer. Não obstante, reproduzi-a para mostrar claramente o estado de espirito que reinava em Moscou quandotomei o trem a fim de partir para Londres como embaixador da URSS na Inglaterra.

Repito, uma vez mais, com plena convicção: o Govêrnoe o povo soviéticos desejavam sincera e profundamente que

se estabelecessem as melhores relações entre a União Soviética e a Grã-Bretanha.

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dentemente, de mim como pessoa, mas sim como embaixadorda União Soviética e, portanto, da União Soviética comopovo e Estado. Essas recordações mostrarão melhor quequaisquer considerações prolixas como as classes dominàntesda Inglaterra reagiram em face do desejo, absolutamente sincero, de amizade e colaboração que revelavam o Govêrno eo povo soviético.

A primeira lembrança está relacionada com o comércio

anglo-soviético. Já tive títasião de afirmar que, durante ospreparativos da minha viagem a Londres, atribui-me o propósito de dedicar atenção especial, na minha tarefa comoembaixador, a ampliar por todos os meios as operações comerciais entre ambos os países. E um fato casual quis mostrar-me de maneira palpável as dificuldades com que haveria

de esbarrar precisamente nesse terreno.Nã véspera da minha chegada a Londres, o jornal dominical Sunday Chronicle  “descobriu” de imediato um espantoso acontecimento: "Moscou” havia introduzido na Inglaterra, de contrabando, “em ataúdes de procedência estrangeira”, caixas de fósforos de cêra russa nas quais figurava,como marca de fábrica, o Sagrado Coração trespassado porum punhal!” O jornal, num frenesi, exigia do Govêrno queadotasse as medidas mais enérgicas contra semelhante “sa

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Outra recordação apresenta um aspecto algo diverso. Em8 de novembro de 1932 fiz entrega de minhas credenciaisao soberano inglês, formalizando assim juridicamente minha _ situação como embaixador da U R SS na Grã-Bretanha. No tdia seguinte tive que comparecer, já como representante soviético, ao banquete oferecido anualmente pelo Prefeito daCity  londrina ao tomar posse.2 Êsse banquete é uma cerimônia em estilo medieval, pitoresca ao extremo, à qual com

parecem de 500 a 600 pessoas, a autêntica “nata” da In- Lglaterra capitalista. Para se ter uma idéia de até que pontochega a escolha dos convidados para êsse banquete bastarálembrar que do Corpo Diplomático acreditado em Londresconvidam-sa unicamente os embaixadores. A ministres ple-nipotenciários não é dispensada essa honra. O banquete do °

Prefeito é também um ribtável acontecimento político: o Primeiro Ministro ou um ministro de projeção pronuncia umextenso discurso, no qual trata de alguma importante questão política da atualidade. A um banquete dessa naturezaassisti no dia 9 de novembro de 1932. E eis o que nêlesucedeu (cito as notas que fiz então, rigorosamente de acôrdo com os fatos):

"A cerimônia de apresentação dos convidados, à medid h b i i

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Quis o acaso que me coubesse percorrer o tapête vermelho logo após o embaixador japonês Matsudaira, ao qual

se dispensou uma acolhida mais que boa. Foi uma verdadeira ovação: foi êle aplaudido ruidosa, longa e entusiàstica-mente. Via-se que tanto seu país como a sua pessoa erammuito populares nas altas esferas inglêsas. E isso apesardo incidente manchul3  O arauto anunciou a seguir:

— Sua Excelência Iván Maiski, embaixador soviético!Pareceu que uma rajada de ar gelado houvesse percor

rido a sala. Todos se calaram imediatamente. Comecei aandar pelo tapête vermelho. Nem um ruído! Nem um aplauso!. . . Cercava-me um silêncio sepulcral, um silêncio de reserva e hostilidade. A luzidia multidão, alinhada de ambosos lados do tapête, me acompanhava com penetrantes olhares de curiosidade. Damas trajadas luxuosamente me fita

vam ccyn seus lornhões, Cochichavam maliciosamente e riam. No meio dêsse eloqüente silêncio percorri lentamente, compasso firme e a cabeça bem erguida, tôda a extensão do tapête e, como exige o cerimonial, apertei a mão do Prefeito ede sua espôsa” .

Sim, a manifestação de sentimentos da Inglaterra go

vernante para com a União Soviética havia sido clara e ter-minante!... 'Ei i i di D b

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verência, a texto da mensagem da Coroa. O rei põe-se depé e o lê. Depois, os reis fazem uma reverência a todos os

presentes e deixam o salão, considerando-se aberta a sessão do Parlamento.Assisti cora  minha espôsa à abertura do período de ses

sões das Câmaras correspondentes a 1932-1933, que tão dramático havia de ser na história das relações anglo-soviéticas,como veremos mais adiante. De acôrdo com a etiquéta, en

contrava-me com os demais embaixadores à direita do trono, e minha espôsa, com as outras embaixatrizes, à esquerda. A etiquéta também exige que se destine ali o lugar demaior honra às esposas dos embaixadores e, somente depoisdelas, as damas da Côrte de categoria mais elevada. Minhaespôsa era, naquele momento, a mais jovem entre as esposasdos embaixadores,4 motivo por que se encontrava ao seu ladoa mais ilustre representante da aristrocracia inglêsa. Era aduquesa de Somerset, mais velha que Matusalém e feia comoum demônio, mas, mesmo assim, resplandecia coberta de sê-das e brilhantes. Antes de começar a cerimônia, a duquesaentabulou conversa com minha espôsa e, ao dar-se conta queera estrangeira, perguntou-lhe:

— Que país a Senhora representa?Minha espôsa respondeu com serenidade:

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Minha espôsa não se desconcertou e, por sua vez, respondeu asperamente:

— Nesse caso, lamento muito que seu lugar se encontre ao lado do meu.R 'Êsse incidente — pequeno, porém tão sintomático —

veio completar maravilhosamente o ocorrido no banquete doPrefeito. *

Citarei, por último, outra recordação das minhas pri

meiras semanas de trabalho em Londres na qualidade deembaixador soviético.Entre as personalidades oficiais que visitei depois de

apresentar ao rei as credenciais figurava Neville Chamberlain, na ocasião ministro de Finanças e, de fato, líder doPartido Conservador. Durante a palestra que mantivemos,

Chamberlain se lamentou de que a URSS vendia muito àInglatferra, porém lhe comprava pouco e investia os lucrosobtidos em Londres fazendo grandes pedidos na Alemanha. Via-se que o coração do ministro estava aflito e clamava aos céus contra tal “injustiça” . Repliquei-lhe com serenidade:

— Por que se surpreende, senhor ministro? O Govêrno soviético procede como o faria qualquer bom comerciante: vende onde mais lhe convém e compra onde lhe é mais

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Apenas* pronunciei essas palavras, o rosto de Chamberlain adquiriu uma expressão gélida. Voltou bruscamente a sua posição de empáfia e falou com voz sinistra epausada:

— Que querem os senhores? Que concedamos créditosa longo prazo aos nossos inimigos? Não, será melhor queempreguems nosso dinheiro em outras coisas.

Sim, essas palavras mostravam o verdadeiro Chamberlain, o autêntico Chamberlain, destituído de qualquer artifício.

Retruquei-lhe no mesmo tom:— Não quero absolutamente nada, senhor Chamber

lain. Não vim de modo algum pedir-lhe créditos. . . O se

nhor perguntou-me por que a União Soviética faz seus pedidos preferencialmente na Alemanha. Dei-lhe a explicação,e nada mais. O resto é problema seu.

Que dedução podia tirar dos meus primeiros contatos,ainda que superficiais, com a Inglaterra governante daquelesdias? Somente uma: a Inglaterra governante, longe de aspirar a estabelecer relações  de amizade  e colaboração com oPaís dos Sovietes, expressava abertamente sua hostilidade,esquecendo às vêzes até as regras mais elementares de cor

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minar de conservador o Govêrno que se encontrava no Poder em 1932, apesar de chamar-se oficialmente “nacional” e

composto de conservadores, nacionais-liberais (encabeçadospor Simon) e nacionais-trabalhistas (com MacDonald à frente) . Não vacilo, tampouco, em falar assim porque dos 520deputados do Parlamento que formavam a coalizão governamental, 471 eram co»servadores. Formalmente, o Primeiro-Ministro era MacDonald; porém, na realidade, o chefe do

Govêrno era seu vice-presidente, Baldwin.As negociações que tivemos de sustentar em Londres, onosso representante comercial na Inglaterra, A. Ozerski —homem inteligente e flexível — e eu, tornaram-se muito difíceis e duraram nada menos de quinze meses. Por quê? Porque o próprio objetivo das negociações ■—■ a conclusão donôvo convênio — era demasiado complicado? Por que as con

tradições entre a URSS e a Inglaterra na esfera comercialeram extraordinàriamente agudas? Nada disso. As negociações tornaram-se difíceis e demandaram muito tempo porqueo Govêrno britânico procurou sempre aplicar, no tocante àUnião Soviética, uma  política d e discriminação hostil .  Aí estava o que  da questão. Essa era  precisam ente   a origem de

tôdas as disputas e conflitos principais, que adquiriam, àsvêzes, até um caráter dramático.

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ciai da Inglaterra. Êsse método era inteiramente razoável elegítimo, visto que reduzia ao mínimo as dificuldades oriundas da adaptação do comércio inglês com o país em consideração às novas condições.

Mas como procedeu o Govêrno britânico com a UniãoSoviética? De maneira completamente diversa!

Em 16 de outubro de 1932, o ministro das Relações Exteriores britânico, John Simon, enviou inesperadamente à representação plenipotenciária da URSS em Londres uma notanão muito cortês, na qual comunicava que o Govêrno inglêsdenunciava, em um ato unilateral, o convênio comercial an-glo-soviético de 1930. Para nós foi como um trovão num

dia de céu límpido. O Govêrno soviético viu-se diante deum fato consumado, cujo caráter, inamistoso ao extremo, adquiria maior relevância pela circunstância de que Simon nemsequer propunha em sua nota entabular negociações paraconcluir um nôvo convênio comercial. O ministro inglês limitou-se a expressar que estavam dispostos a “examinar asituação criada pela denúncia” do anterior convênio comercial.

Era uma evidente discriminação no tocante à União Sod

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qualquer outro país. Somente com relação à União Soviética voltava a fazer-se uma exceção. Era a discriminação nú

mero três.Não satisfeito com as exigências que acabo de assinalar, o Govêrno britânico complicou extraordinariamente asnegociações, incluindo nelas algumas questões completamente estranhas. %

Como conseqüência das dificuldades que era preciso vencer para cumprir o plano qüinqüenal, naqueles tempos estava muito difundida no mundo capitalista a crença de que havia fracassado a tentativa de industrializar a URSS, de quea terra vacilava sob os pés do Govêrno soviético e podia seesperar muito breve o colapso completo de todo o sistema soviético. Sir   Esmond Ovey, na ocasião embaixador britânicoem Moscou, contribuiu em escala não pequena para que as

referidas opiniões se firmassem na Inglaterra: durante o inverno de •1932 a 1933 enviou a Londres informações cadaqual mais sombria sôbre a situação interna da U R SS . OGovêrno inglês, e sobretudo o ministro do Exterior, Simon,devoravam prazerosamente a informação que lhes enviavaOvey (desejavam tanto que isso fôsse verdade!) e resolveram aproveitar a conjuntura favorável, como êles acreditavam, para ajustar as contas com "Moscou".

Os políticos londrinos atribuíram se portanto o obje

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infelizmente, uma realidade diplomática), fixar nos armazéns

do Torgsín8 os preços dos artigos e produtos em consonância com os do mercado mundial. A êsse extremo de des-plante chegou então o Govêrno britânico! Era a discriminação número quatro.

É de todo evidente que a posição da parte inglesa nasnegociações comerciais dificultava por ela mesma, em me

dida extraordinária, a consecução de um acôrdo. Porém, asituação agravou-se mais ainda em março de 1933, quandoentrou em jôgo um nôvo fator, explosivo ao extremo.

Nos anos do primeiro plano qüinqüenal, o Govêrno soviético firmou tratados de assistência técnica com várias companhias importantes dos países capitalistas. Entre elas figu

rava o conhecido consórcio inglês  M etropolitan~Vickers ,  quetinha um escritório em Moscou e cujos engenheiros trabalhavam em diversas obras soviéticas. Em 12 de março dc1933 foram detidos cêrca de 25 empregados da  M etropolitan-

piorar as jazidas segundo o estilo capitalista e infringia sem cessar  as leis soviéticas, surgiam a cada passo desavenças e conflitos entre a

 companhia e o Govêrno soviético. Em 1930, em consonância com o contrato firmado ao fazer se a concessão chegaram a um acôrdo no

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Vickers,  entre êles seis engenheiros inglêses, acusados de es

pionagem e sabotagem.Êsse fato provocou na Inglaterra uma tempestuosa reação, apoiada e fomentada por todos os meios pelo próprioGovêrno inglês. Nêles voltou a desempenhar um papel extremamente sinistro o embaixador britânico em Moscou, Ovey.Nada ter-se-ia a objetar‘quanto aos seus atos se Ovey, ao

tomar conhecimento da detenção dos engenheiros inglêses.se houvesse limitado a pçrguntar ao Govêrno soviético acausa da mesma e a preocupar-se no sentido de que os detidos se encontrassem em boas condições, de que a instrução do sumário se efetuasse sem mais delongas e fôsse assegurada aos acusados a devida defesa. É dever iniludívelde todo embaixador demonstrar interesse e preocupaçãopelos seus compatriotas objeto de repressão no país onde seencontra»acreditado. Porém, Ovey foi muito mais além. Edu-

8 Em fins de 1932 orgnizaramse na URSS os armazéns do Torgsín  (sigla que em russo significa “Comércio com os estrangeiros”), bem  

abastecidos de víveres e artigos de amplo consumo, nos quais as com-

pras eram pagas em ouro, jóias e moeda estrangeira. O Torgsín   tinha como objetivo concentrar nas mãos do Govêrno o ouro e outros va-

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cado nas tradições britânicas de potência dominante, imagi

nou que podia ditar suas condições ao Govêrno soviético. Eraa discriminação número cinco.Com efeito, no mesmo dia 12 de março, horas depois

de efetuadas as detenções e quando não havia começado sequer a instrução do sumário, Ovey assegurou a Simon queos engenheiros inglsêes eram absolutamente inocentes e re

comendou ao Govêrno britânico que exigisse sua imediataliberdade sem formação de culpa. O Govêrno inglês aceitou a recomendação do seu embaixador e exerceu furiosapressão sôbre o Govêrno soviético, insistindo para que fôs-se sustada a culpa iniciada contra os seis súditos britânicos.Ovey ameaçava com o rompimento das relações anglo-so-viéticas caso nos negássemos a isso. Litvínov, em Moscou,

e eu, em Londres, tivemos de repelir com energia essa pretensão como uma ingerência intolerável em nossos assuntosinternos. Declarou-se com tôda firmeza aos inglêses que seusseis engenheiros compareceriam ante os tribunais soviéticos,qualquer que fôsse a reação do Govêrno britânico.

Os políticos de Londres resolveram então adotar medi

das mais incisivas. Embalados pelas falsas informações deOvey acêrca da situação interna da URSS, assim como pelos

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se chegasse a uma guerra comercial de três meses entre a In

glaterra e a URSS. O Govêrno inglês proibiu a entrada demercadorias soviéticas na Inglaterra, ao que reagiu o Govêrno soviético proibindo a entrada de mercadorias inglêsásna U R SS. Essa guerra comercial somente terminou em l 9de julho de 1933 após ambas as partes haverem suprimido, à base da reciprocidade, a proibição de importar mercadorias e também depois de serem expulsos da URSS, mediante indulto, os dois engeftheiros condenados à reclusão.Em 3 de julho reiniciaram-se as negociações comerciais.

Sem dúvida, as dificuldades durante as negociações foram muitas. Essas dificuldades (que não desapareceram depois de terminada a guerra comercial) tinham sua origem napolítica de discriminação aplicada pelo Govêrno britânico notocante à U R SS . Mas, apesar de tudo, conjugando em suatática a firmeza com a flexibilidade, o Govêrno soviético levou as negociações a bom têrmo. Em 16 de fevereiro de1934 foi firmado o nôvo convênio comercial. É certo que levava a denominação “de provisório", porém, desde então,transcorreu mais de um quarto de século e êsse convênio “pro

visório” continua em vigor, regulando até aos nossos dias odesenvolvimento do comércio anglo-soviético.

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Quanto ao lado inglês, encabeçavam oficialmente as negociações o* ministro das Relações Exteriores, Simon, e o M inistro do Comércio, Runciman. Mas, na prática, êste não tomava parte alguma nas negociações. Durante os quinze meses de sua duração, Runciman participou nelas duas vêzes:11a primeira sessão, ao iniciar-se, e, na última, no momentode ser firmado o convênio comercial. Quanto às outras, nãofoi natada sequer a sua presença, e os funcionários do Mi

nistério do Comércio, que foram os que mantiveram, realmente, as negociações, sustentaram, em sua maioria, uma posição razoável. Desejavam sinceramente o desenvolvimentodo comércio anglo-soviético e procuravam — na medida quelhes permitiam as instruções do Govêrno britânico •—■ nãocomplicar a assinatura do convênio comercial, mas, ao con

trário, facilitá-la.Porém Simon e o seu sistema eram outra coisa. Apesardo seu passado liberal, o Simon da década de 1930-40 eraum dos inimigos mais irreconciliáveis da U R SS . Durante asnegociações esforçou-se constantemente por alongar, e nãoencurtar, o caminho que haveria de levar ao acôrdo. Foi êleprecisamente quem se dedicou a procurar tôda sorte de pretextos para complicar as negociações com diversos problemas

lh i t l d i tã idí l t

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News Chronicle  publicou com grande destaque um virulentoartigo de Cummings, com o seguinte título em letras garrafais: As batatas do embaixador britânico.  Êsse artigo, noqual seu autor explicava os verdadeiros motivos por que seretardara a assinatura do acôrdo comercial, provocou grande celeuma nos meios políticos de Londres. O deputado trabalhista Grenfell fêz uma interpelação no Parlamento, perguntando que relação existia entre a assinatura do convê

nio comercial e os víveres do embaixador inglês em Moscou.A resposta oficial deu-a o próprio Simon. E que disse êle?Textualmente o seguinte:

“Não há uma palavra de verdade nas afirmações de quea assinatura do convênio anglo-soviético foi retardada porculpa dessa questão”.

Até a êsse extremo chegava a falsidade de Simon!É para ter-se surprêsa, portanto, de que êsse fato nãofizesse mais que acentuar a desconfiança da parte soviéticapara com a Inglaterra governante?

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das Relações Exteriores, me disse no verão daquele ano durante uma‘conversa:■— Hitler tem muitas dificuldades e inimigos, tanto in

ternos como externos. . . Os franceses, os belgas, os tchecose os poloneses olham-no com extraordinária desconfiança. . .No seio do partido nazista reina a inquietação. . . Há genteque pretende ocupar o primeiro pôsto em suas fileiras e Hi

tler não conseguirá dominá-la fàcilmente. . . Não está forade cogitações que as lutas internas levem o partido nazistaao desmoronamento. . . Há que esperar e aguardar os acontecimentos .

No que diz respeito aos líderes trabalhistas, estavamêles convictos, na sua maioria, de que o domínio nazista na

Alemanha duraria pouco.Não obstante, em 1934, sobretudo em meados dêsse ano,depois de Hitler haver aniquilado o grupo de Rohm e, emgeral, esmagado a oposição interna em seu partido, os meiosgovernamentais da Inglaterra tenderam a mudar de opinião.Começaram a compreender que o hitlerismo se firmava e queseria preciso levá-lo em conta sèriamente, pelo menos duran

te alguns anos. Êsse fato provocou inquietação e alarma nosreferidos meios Em sua memória ressuscitaram de imediato

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os interêsses o exigem, não há outro remédio senão engolira pílula, por mais amarga que seja. Assim aconteceu que,na época à qual venho me referindo, não só os trabalhistase liberais, como também muitos conservadores, começaram apensar sèriamente na melhoria das relações com o País dosSovietes.

A segunda causa eonsistia em que, após a divergênciarelativa à  M etropolitan-V ickers,  os meios governamentais da

Inglaterra se haviam convencido defintivamente da fôrça eda consistência da URSS e chegado à conclusão de que o "fator soviético” passava a ser um elemento constante da situaçãomundial. Independentemente de sentir-se por êle simpatia ouantipatia, havia que levá-lo em conta em todos os cálculose acordos políticos. E como os políticos inglêses sempre sedistinguiram por sua capacidade de levar em conta os fatos(inclusive os desagradáveis), depois da assinatura do convênio comercial de 1934, passaram a calcular como poderiamaproveitar melhor, em interêsse próprio, o poderio da URSS,que tão inesperadamente haviam descoberto. Começaram,pois, como acabo de dizer, a pensar cada dia mais nos caminhos tradicionais da Entetite  da Primeira Grande Guerra.

1 Uma circunstância fortuita contribuiu em grande escalapara essa mudança do estado de espírito dos meios gover

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possibilidades para salvar os infortunados compatriotas. Homens, recursds, máquinas, rádio, aviões: tudo foi pôsto a serviço dêsse nobre fim. E, em poucas palavras, todos os tripulantes do Cheliuskin   foram salvos. Os aviões transportaram para a terra firme até os oito cães que havia no acampamento .

Os dramas polares sempre têm atraído a atenção e asimpatia dos mais vastos setores humanos. O drama do Çhe- liuskin  atraiu essa atenção com fôrça singular, primeiro, por

que suas vítimas era uma centena de homens, e, segundo,porque o rádio permitiu acompanhar diàriamente todos osfatos, mesmo os mais insignificantes, da vida no acampamento sôbre o gêlo. O valoroso comportamento dos cheliuskia- nos   despertou admiração por tôda a parte, em todos os setores, quaisquer que fôssem as opiniões políticas e o espirito

dos seus componentes. Ao mesmo tempo, a colossal energiae os grandes recursos empregados pelo Estado soviético parasalvar os que se encontravam a bordo do Cheliuskin  surpreenderam o mundo burguês. Lembro-me que Lloyd Geor-ge me disse então:

— É impressionante! Nenhum outro Govêrno teria feito tantos esforços para salvar alguns exploradores do Ár

tico!. . . É muito nobre e. . . e muito inteligente!Os olhos do líder liberal brilharam de imediato com cen

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epopéia facilitou psicologicamente a muitos adversários daURSS a transição para novas posições políticas.

No final das contas, como conseqüência de tôdas ascircunstâncias enumeradas, nos meios governamentais da .Inglaterra predominaram por algum tempo os políticos partidários de ressuscitar a Entente.

Será oportuno acrescentar, a êsse respeito, que, durante o período compreendido entre as duas grandes guerras,a classe dominante inglêsa dividiu-se em dois grupos prin

cipais em tôrno do problema relativo à atitude a adotar perante a União Soviética.

Num, predominava o princípio do interêsse estatal.Êsse grupo via que entre a Inglaterra e a URSS, como potências, não existia nenhuma contradição séria e que, inclusive, podiam ser muito úteis uma à outra no setor da eco

nomia. Por isso, defendia a política de aproximação com aURSS. "Seus representantes mais destacados eram LloydGeorge, Beaverbrook, Eden, Vansittart e outros, aos quaisse acrescentou Churchill após a ascensão de Hitler ao Poder.

No outro grupo, predominava, ao contrário, o ódio cegode classe à URSS como País do Socialismo. Êsse grupo julgava necessário atacar a União Soviética, quaisquer que fossem as condições, inclusive desprezando os interêsses nacio

i d I l t E t d S t t d

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berlain e apenas cêrca de uma quarta parte partilhava aposição de Churchill; os liberais estavam divididos em dois

grupos aproximadamente iguais, embora naqueles anos jáfôsse evidente que se encontravam em descensão e haviamperdido a maior parte da sua anterior influência política. Oque ficou dito mostra com clareza que, no período objeto donosso exame, os chamberlainianos desempenhavam o papeldecisivo nas fileiras da classe dominante, sobretudo se selevar em conta que na época compreendida entre as duasgrandes guerras ficaram demasiado tempo no poder e puderam engrossar suas fileiras com a maior parte dos funcionários públicos.

Claro está que os chamberlainianos viam-se obrigadosa contar com os trabalhistas que, em meados da década de1930-40, já se haviam transformado no segundo partido da

Inglaterra, deslocando dessa posição os liberais.9 Por duas

9 Os resulados das eleições parlamentares de novembro de 1935 podem oferecer uma certa idéia da correlação de fôrças então existente entre  os diversos partidos. Eilos aqui:

Par t i dos Vot os N úm er o de  

(em mi lhares)  deputados 

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vêzes, em 1924 e em 1929-1931, os trabalhistas também for

maram govêrno, embora se tratasse, certamente, de um govêrno minoritário. Os trabalhistas encontravam-se oficialmente em oposição aos chamberlainianos e defendiam a colaboração com a U R SS . Em 1924, o primeiro Govêrno M acDonald estabeleceu relações diplomáticas com o nosso país.Em 1929, o segundo Govêrno MacDonald restabeleceu essasrelações, rompidas pelos conservadores dois anos antes, e fir

mou com a União Soviéti£a o convênio comercial de 1930,benéfico para ambas as partes. A classe operária inglêsaqueria, sem dúvida alguma, manter as relações mais amistosas com o Estado soviético (como o demonstrou com amaior clareza em 1920 ao ser frustrado o intento de intervenção militar da Inglaterra contra a RSFSR durante a guer

ra sovieto-polonesa); não obstante, o Partido Trabalhistaestava Ipnge de refletir plenamente em sua atividade êsse espírito das massas. Onde pior andavam as coisas era nacúpula dirigente do referido partido. Até 1931, Ramsay MacDonald, Philip Snowden, James Thomas e alguns outrospugnavam quase que abertamente por orientar o partido contra a U R SS. Todos êles, expulsos das fileiras trabalhistas

em 1931, abandonaram o campo dos conservadores, formando o efêmero partido “nacional trabalhista” Porém mesmo

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lações anglo-soviéticas durante o período que separa as duasgrandes guerras. Um ou outro grupo (sem perder de vis

ta, é claro, o pêso relativo da oposição trabalhista) deixoua sua marca no tocante às medidas práticas do Govêrnosoviético e tudo o que dizia respeito à União Soviética. Emvirtude das causas indicadas, em meados de 1934, os chur-chillianos conseguiram o predomínio provisório, o que se manifestou por tôda uma série de fatos concretos.

PAS S OS DE APROXIMAÇÃO

Os primeiros dêsses fatos foram, no decorrer do tempo, as longas conversações que mantivemos, Vansittart c eu,na qualidade de embaixador soviético, entre julho e agôstode 1934. As conversações foram iniciadas por iniciativa deVansittart. Por certo é muito curiosa a forma que deu ori

gem a essa iniciativa.Em 21 de júnho de 1934 compareci com minha espôsa a

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Lady Vansittart inclinou-se mais ainda na minha dire

ção e perguntou-me em voz velada:— É o meu vizinho da direita quem cria essas dificuldades?

— Referia-se a Simon, e eu assenti com a cabeça.— Por que não fala francamente de tudo com Van? —

perguntou, aludindo ao seu espôso, a quem chamava fami

liarmente de Van. "Eu sabia que Simon e Vansittart não combinavam politicamente, pois representavam duas correntes diplomáticasdiversas; não obstante, não esperava que lady Vansittart medesse a entender com tanta franqueza, que existiam discre-pâncias entre o ministro do Exterior e seu subsecretário permanente.

■—■ Dada a atmosfera que se criou em tôrno da Embaixada soviética em Londres — respondi — me parecia violento tomar a iniciativa nesta questão.

— Ah, sim?! —■exclamou lady Vansittart. — Pois sese trata somente de quem tem de iniciar a conversação, éfácil superar essa dificuldade. . . Eu me encarrego disso.

Estava claro para mim que pela bôca de lady Vansittart

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Em nossas conversações ocupou lugar muito importan

te o problema do chamado Locaráo Oriental. Com o propósito de fortalecer a segurança européia, o ministro de Negócios Estrangeiros francês, Barthou, defendia então comenergia um projeto de pacto de assistência mútua entre aURSS, Polônia, Letônia, Estônia, Lituânia, Finlândia eTcheco-Eslováquia. A França devia atuar como fiadora do

Locarno Oriental, e a URSS, como fiadora do Locarno Ocidental. A União Soviética simpatizava com o plano de Barthou. A Grã-Bretanha mantinha uma posição nada clara.Durante a primeira conversação com Vansittart procureiconvencê-lo da necessidade de que a parte inglêsa apoiasse o projeto de Barthou. Em 8 de julho o próprio Barthouvisitou Londres e falou sôbre isso com o Govêrno inglês.Durante a segunda entrevista, realizada em 12 de julho, Vansittart disse-me que a Inglaterra apoiaria o Locarno Oriental se nêle fôsse admitida a Alemanha. A União Soviéticae a França aceitaram essa condição, e o Govêrno de Londres pronunciou-se a favor do Locarno Oriental. Contudo, aAlemanha — e, depois dela, a Polônia — negaram-se a

participar na projetada união, com o que assestaram um golpe mortal em todo o projeto Porém o problema do Locarno

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ção da sua integridade e intangibilidade e a defesa das posições mundiais do imperialismo britânico constituíam o sím

bolo da fé de Vansittart. Partindo dêsse fator fundamental,manobrava, orientava-se para a direita ou para a esquerdae, em particular, mudava de atitude no tocante à URSS.

É sabido que Vansittart, à semelhança de outros muitos estadistas inglêses, formou, depois da Segunda GuerraMundial, nas fileiras dos inimigos da União Soviética. Isto

aconteceu porque a luta riao terminou como desejavam oslíderes da classe dominante da Grã Bretanha. Esperavamque a URSS saísse da guerra extraordinariamente enfraquecida, que não pudesse durante longo tempo seguir uma política exterior ativa e que deixasse de perturbar o sonho dospolíticos de Londres, pelo menos, durante tôda uma geração.Quando aconteceu coisa inteiramente diversa, quando se evidenciou "que a URSS do após-guerra era muito mais forteque a de pré-guerra e que, além disso, se havia formado emtôrno dela o poderoso campo socialista, não somente os chamberlainianos, como também os churchilianos, a começar pelopróprio Churchill, lançaram-se furisos contra a URSS. Algumas manifestações de Vansittart contra a URSS no após-

guerra eram tão más e estereotipadas que, ao lê-las, me parecia simplesmente estranho que fôssem dêle Aonde tinham

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de hostilidades, intrigas e maquinações de tôda sorte contra

o Estado soviético. Por volta de 1934, a situação mundialhavia mudado muitíssimo com relação a 1919, o que se refletiu na sorte da Sociedade das Nações. O Senado norte-americano recusou em 1920° a ratificação do Tratado deVersalhes, motivo por que os Estados Unidos não ingressaram na Liga. O Japão e a Alemanha, que seguiram a tri

lha da agressão ativa, desligaram-se da Sociedade das Nações em 1933. Ficaram como “donos” dela a Inglaterra e aFrança, impotentes sob todos os aspectos de governarem suanave num momento em que a tempestade internacional seaproximava com nitidez crescente. Isso obrigou os líderes dobloco anglo-francês a pensarem na conveniência de atrair a

URSS para a Sociedade das Nações. Por sua parte, o Govêrno soviético chegou, em fins de 1933, à conclusão de que, nascondições criadas, era oportuno o ingresso da URSS na referida organização. Isto punha a seu serviço a tribuna internacional mais importante daqueles tempos para defender apaz e combater o perigo de uma Segunda Guerra Mundial e,por sua vez, proporcionava a •possibilidade (embora o Go

vêrno soviético jamais tivesse superestimado a importânciad S i d d d N õ ) d l t t b tá l

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reno, porém, no final das contas, soube vencê-los. Seu companheiro de luta na Inglaterra era então Vansittart. Ambosconseguiram que 30 paises membros da Sociedade das Nações se dirigissem ao Govêrno soviético, em setembro de1934, convidando-o a formar parte da mesma. Por encargodo Govêrno soviético, Litvínov sustentou com grande habi

lidade tôdas as negociações preparatórias e formalizou o próprio ingresso da URSS na^Liga das Nações. Quando issoocorreu, Vansittart me disse durante uma palestra:

— Bem, agora somos sócios do mesmo clube. Esperoque, de agora por diante, nossas relações sejam as que correspondem a sócios de um mesmo clube.

A acolhida que me foi dispensada durante o tradicional banquete do Prefeito de Londres veio confirmar as palavras de Vansittart. Naquela ocasião não se verificou nabiblioteca o eloqüente silêncio com que eu fõra acolhido doisanos antes. Ao contrário, as personalidades do Estado meaplaudiram. Aplaudiram-me com moderação, sem entusiasmo

nem calor; porém, em todo o caso, de uma forma suficientemente ruidosa que permitia comprovar a considerável mu

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<— Em todo o decurso do último século e meio, a In

glaterra <S a Rússia estiveram sempre no mesmo campo aosurgiu na Europa qualquer crise grave. Assim ocorreu naépoca de Napoleão, assim ocorreu nos anos da PrimeiraGrande Guerra. E assim ocorre também agora, nos dias daSegunda. Como explicá-lo? Isto se explica porque a Inglaterra e a Rússia são dois Estados grandes e poderosos emconfins opostos da Europa, que não podem conformar-se aque se estabeleça nela a hegemonia absoluta de nenhuma outra potência. Essa terceira potência, demasiado poderosa,está transformando-se em um perigo tanto para a Inglaterracomo para a Rússia, devido ao qual ambas se unem paralutar contra ela e, em poucas palavras, consegue que se destrua. O mal é que, passada a crise, a Inglaterra e a Rússia

iam cada uma para o seu lado e até começavam a desavir-se.E isso criava a possibilidade de que surgisse um nôvo pretendente à dominação européia e inclusive mundial, A tarefamais importante da diplomacia atual — inglêsa 6 soviética —consiste em impedir que tal se repita depois de terminado oatual conflito.

Infelizmente, Eden não soube frianter essa posição noí d d ó f i d l ti t

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lorde do Sêlo Privado (cargo puramente decorativo) isto é.

ministro sem pasta, mas para o qual, não obstante, foi encarregado de uma missão especial: servir à Liga das- Nações. Como resultado disso, houve, na Inglaterra, durantecerto tempo, dois ministros de Relações Exteriores: o “maior"(Simon) e o “menor" l  Eden) . Um e outro representavamduas correntes diversas — e, numa série de questões, também opostas —■da política externa da Inglaterra. As relações entre êles eram marcantes. Vansittart, que tampoucose dava bem com Simon, apoiava Eden. Dessa forma, noForeign Office   ocorria uma luta interna constante, reflexo daque tratavam, via de regra, nos meios governamentais do paísem tôrno dos problemas de política exterior.

Em inícios de 1935 deveria realizar-se uma visita de Simon e Eden a Berlim para manter negociações com Hitler. Já estaVa tudo acertado e os ministros inglêses se preparavam para a viagem quando, em fevereiro, Hitler desfez deimediato e publicamente os artigos militares do Tratado deVersalhes e declarou que, a partir daquele momento, a Alemanha se rearmaria sem sentir-se coagida por qualquer res

trição. Êsse nôvo “salto” do Führer   nazista levantou enorl I l t F A i it d i i

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è o consideramos como algo natural. Porém naqueles tempos a situação era completamente diversa. Durante os pri

meiros 18 anos de regime soviético, Moscou havia sido tabu para os líderes do mundo capitalista. Moscou era boicotadapoliticamente, se não de maneira formal, mas de fato. Nenhum ministro das grandes potências do Ocidente considerava possível pisar a terra moscovita. E, de chôfre, Eden,membro do Govêrno da Grã-Bretanha ■—•bastante poderosa

ainda na ocasião —> se apresenta em Moscou em março de1935! Foi um acontecimento de grande importância políticae suscitou numerosos comentários da imprensa mundial.

Com a concordância do Govêrno soviético acompanheiEden durante sua viagem de Berlim a Moscou. Estive presente a tôdas as entrevistas de Eden com os dirigentes da

URSS e, em algumas ocasiões, atuei como intérprete. Assisti, em particular, à entrevista de Stalin com Eden e acompanhei êste durante sua visita aos locais de atração da capital soviética. Lembro-me que Eden se interessava especialmente pelas coleções de pinturas francesas existentes emnosso país (Gauguin, Cézanne, Renoir, etc.) e que ainda em

Londres já havia incluído em seu programa ver essas obrasde fama universal "Eden viajou também pela primeira vez

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ram que, atualmente, não existe contradição alguma de interêsses entre ambos os governos em nenhum dos problemasfundamentais da política internacional, e que êsse fato criauma base sólida para o desenvolvimento da proveitosa colaboração entre êles na causa da paz. Estão convictos de queambos os países, conscientes de que a integridade e a prosperidade de cada um dêles, coincidem com os interêsses dooutro, orientar-se-ão em suas relações mútuas pelo espírito de

colaboração e leal cumprimentos dos compromissos assumidos,que se originam da sua participação comum na Liga dasNações”.10

A parte soviética ficou satisfeita com a visita e com ocomunicado. Eden, igualmente. Durante uma conversaçãoafirmou-me êle que estava contente com a sua viagem a Mos

cou e que o comunicado lhe parecia muito bom.O degêlo viu-se confirmado mais ainda por outros doisacontecimentos que se seguiram à viagem de Eden a Moscou.Em 2 de maio de 1935 foi firmado em Paris o pacto de assistência mútua entre a França e a URSS, depois do queo ministro de Negócios Estrangeiros francês, Pierre Lavai,

fêz uma viagem à capital soviética. Em 16 de maio foi assinado' em Praga o pacto de assistência mútua entre a URSS

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Ao despedir-se Eden, que partiu de Moscou para Praga e Varsóvia, procurava eu persuadir-me de que minhas dú

vidas careciam de fudamento. Porém o germe da suspeita,escondido no mais recôndito da alma, não me deixava emp a z . . .

Minhas dúvidas, ah!, tornaram-se mais que justificadas.Assim o demonstraram, e com a maior evidência, os acontecimentos subseqüentes.

CHURCHILL E BEAVERBROOK

Mas, antes de expor êsses acontecimentos, julgo imprescindível mencionar um grande êxito que nos proporcionou obreve degêlo nas relações anglo-soviéticas.

 Já tive ocasião de afirmar que Litvínov, ao enviar-me aLondres atribuiu-me por encargo do Govêrno soviético e

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o leitor mais adiante, se transformasse em inimiga ferrenhada União Soviética. Não obstante, o nome de lady Astornão tinha cotação muito alta nos meios conservadores; con-sideravam-na uma norte-americana rica e   ridícula capaz  dequalquer extravagância, como uma espécie de enfant terrible na política. Por isso, o fato de que o embaixador soviético

tratasse com lady Astor^ ainda não me abria as portas deoutras cidadelas conservadoras.O degêlo fêz mudar tudo isso. Os políticos dirigentes

do campo conservador começaram a procurar relações conosco. Como é natural, tratei de aproveitar ao máximo a con juntura e, com efeito, consegui estabelecer contatos está

veis com tôda uma série de destacadíssimos representantesdo conservadorismo britânico. Êsses contatos eram tão estáveis com tôda uma série de edstacadíssimos representantesconservadorismo britânico. Êsses contatos eram tão estáveisque s e " mantiveram até mais tarde, quando o curto degêlo nas relações anglo-soviéticas cedeu seu pôsto primeiro,

ao esfriamento e, logo em seguida, ao gêlo. Os mais importantes e interessantes dêsses novos conhecidos foram, sem

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Eis aqui a minha suposição. A década de 1929-1939

foi um período de desenvolvimento relativamente tranqüilona vida política inglêsa. Durante êle atuaram na competição da gestão do Estado políticos de segunda e inclusive deterceira grandeza, como, por exemplo, Neville Chamberlain,Samuel Hoare, Halifax, Simon e outros. Não há por queexagerar os dotes políticos de Churchill, como se faz com

freqüência nas publicações do Ocidente. Churchiil equivocou-se repetidas vêzes na apreciação dos homens e dos acontecimentos, como veremos mais adiante, e durante a guerraseguiu uma linha equívoca de longo alcance, equívoca inclusive do ponto de vista dos interêsses inglêses. Mas, apesar de tudo, Churchill era muitíssimo mais inteligente que

todos os personagens que acabo de enumerar e, além disso,se distinguia por seu forte caráter autoritário. Eis porqueos ministros de então o temiam: temiam que, valendo-se dassuas qualidades e do seu prestígio nos meios conservadorese no país, os esmagasse, envolvendo-os e transformando-osem seus peões. Melhor será, pensavam, que êsse astuto buli-

dog   político permaneça à margem do caminho no qual desliza com relativa suavidade a carruagem» do Poder! E so

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Depois do café, obedecendo ao costume inglês, as senhoraspassaram para a sala de visitas e, na sala de jantar, ficamosunicamente os homens. Entabulou-se então uma conversamais séria, durante a qual Churchill me explicou francamente a sua posição. '

— O Império Britânico .— falou — é para mim o co-mêço e o fim de tudo. O que é bom para o Império Britânico, é bom também para mim; o que é mau para o Im

pério Britânico, é mau também para mim... Em 1919 considerava que o seu pais representava o maior perigo para oImpério Britânico; por isso fui então inimigo do seu pais.Hoje considero que o maior perigo para o Império Britânicoé a Alemanha; por isso sou agora inimigo da Alemanha...Ao mesmo tempo, creio que Hitler se prepara para a ex

pansão não somente contra nós, como também no Leste, contra os senhores. Por que não nos unirmos na luta contra oinimigo comum?. . . Sou inimigo do comunismo e continuareia sê-lo, porém estou disposto a colaborar com os Sovietes abem da integridade do Império Britânico.

Compreendi que Churchill falava sinceramente e que os

argumentos que expunha para motivar sua mudança de orientação eram lógicos e levavam a se acreditar nêles

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com os inim,igos de ontem contra o inimigo de hoje se assimo exigem os interêsses do país. Precisamente por isso, nadécada de 1930-40 mantive constantes relações com Churchill, com pleno beneplácito de Moscou, a fim de preparara luta conjunta com a Inglaterra contra a ameaça hitlerista.Sentia constantemente, como é natural, que Churchill pensava em seu fôro íntimo em como melhor aproveitar o “fatorsoviético” para conservar as posições mundiais da Grã-Bretanha. Devia, por isso, estar sempre em guarda. Não obstante, as relações com Churchill tinham um grande valor edesempenharam seu papel nos acontecimentos ulteriores, sobretudo durante o período da Segunda Grande Guerra.

Um tanto diversa foi a forma em que começaram as

minhas relações com lorde Beaverbrook. No verão de 1935,aproximadamente um ano depois da minha primeira entrevista com Churchill, veio visitar-me o líder trabalhista da esquerda, Aneurin Bevan. Éramos bem conhecidos e desde oprimeiro momento me falou "sem rebuços” .

— Vim falhar-lhe de um assunto delicado — começou

Bevan. — Tenho um amigo, lorde Beaverbrook. . . Já oui f l dêl ã é d d ?

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últimos anos, e nos dias da crise anglo-soviética, tendo como

objetivo a  M etropolitan~Vickers,  fêz furiosa campanha contra a URSS e contra mim pessoalmente.. .

E êsse mesmo Beaverbrook me convidava para um almôço em sua casa!

— E quais são agora o estado de espírito e os propósitos de Beaverbrook? perguntei a Bevan.

— Oh!, os melhores! — exclamou meu interlocutor .—Beaverbrook considera que, na situação atual, a Inglaterrae a URSS podem caminhar juntas.

Bem — concluí eu — aceitarei o convite de Beaverbrook. . . Não há por que revolver o passado se no presente podemos marchar juntos contra a Alemanha hitlerista.

Dias mais tarde (em 4 de junho, se a memória não mefalha) sentava-me à mesa na residência de Beaverbrook. Es-távamos os dois a sós e tive a oportunidade de examiná-lode perto. Era um homem de pequena estatura, extraordinà-riamente vivo e inquieto, de rosto redondo e expressivo eolhar agudo e penetrante. De seus lábios escapavam em abun

dância, como verdadeiros fogos de artifício, aforismos, sentenças apreciações e características de homens e aconteci

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glsêes encobriam a vacuidade dos seus sentimentos e inclu

sive suas intrigas anti-soviéticas. O realismo um tanto rudede Beaverbrook me causou uma impressão reconfortadora.Sim, guiava-se pelo interêsse egoísta do seu Estado e apelava para o "interêsse egoísta” (em sua concepção) do E stado soviético: porém nessa base podia erigir-se uma política séria de unidade de ação contra o perigo comum querepresentava o agressor alemão.

Com efeito, minhas relações com Beaverbrook se firmaram depois de forma marcante e com bastante proveito paraa União Soviética. Durante a Segunda Grande Guerra, Beaverbrook, como membro do gabinete militar de Churchill,prestou não poucos serviços ao nosso país nbs suprimentos.

Mesmo desde o início da Grande Guerra Pátria, transformou-se em caloroso defensor da abertura da segunda frentena França. Não foi por acaso que o Govêrno soviético condecorou Beaverbrook com uma das nossas ordens mais altas.

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Primeira Grande Guerra, vendo precisamente nela a garantia

da conservação do Império Britânico. Porém cm 1935, nesses mesmos meios, começou a revelar-se com evidência crescente uma diferenciação entre os partidários do “interesse estatal” e os do "ódio de classe” . O s primeiros continuavamse batendo pelo ressurgimento da Bníente   e, portanto, pelaaproximação da Inglaterra e da Rússia. Os segundos, se

inclinavam cada dia mais em apostar noutro cavalo. Raciocinavam mais ou menos assim: Para o Império Britânico sãoperigosas tanto a Alemanha hitlerista como a Rússia Soviética: há que fazer que entrem em choque (com tantamaior razão porque comunistas e fascistas se odeiam mutuamente) e que nós permaneçamos à margem; quando a Ale

manha e a U R SS se tenham dessangrado bem e se sintammuito enfraquecidas como conseqüência da guerra, chegaráo momento de entrar em cena o “Ocidente”, em primeiro lugar, a Inglaterra. Então o “Ocidente” ditará à Alemanha eà URSS uma paz que garanta por miuto tempo, senão parasempre, a segurança do Império Britânico e, provàvelmente,

sua, hegemonia mundial. Dessa concepção dimanavam, na

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servida à sobremesa, figurava, escrito em inglês, em letras

de açúcar: "Peace is indivisible".  Êsse detalhe provocou evidente impressão em Eden.Os políticos mais perspicazes da Inglaterra também com

preendiam perfeitamente a indivisibilidade da paz. Na primavera de 1935 almocei um dia com Churchiil. Meu interlocutor voltou a falar longa e extensivamente do perigo hi-tlerista sem medir as expressões.

Que é a Alemanha hitlerista? — interrogou Churchill —• Oh, é uma fôrça terrível e perigosa!. . . A Alemanha hitlerista é uma enorme máquina de guerra organizada cientificamente e com meia dúzia de  gangsters  norte-americanos à frente. Dêles pode-se esperar tudo. Ninguém sabeexatamente o que querem e o que farão amanhã. . . Qual ésua política externa?. .. Ninguém o sabe. Não me surpreenderia absolutamente se Hitler não desferisse o primeiro golçecontra a URSS, pois isso é bastante perigoso, senão contraoutros países.

E refeçindo-se depois aos partidários da “segurançaocidental”, prosseguiu Churchill:

•—• Êsses homens raciocinam assim: de tôdas as formas,

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podia ser um bom juiz da sagacidade e capacidade de açãoda classe dominante britânica. . . Porém, como infelizmenteo demonstraram os acontecimentos posteriores, Churchill foidemasiadamente otimista em suas predições. Os chamber-lainianos provaram ser muito mais fortes e obtusos do queêle pensava. Em particular, mal Eden regressara de Moscoucomeçaram a fazer imensos esforços, nada estéreis, para restabelecer sua influência.

O primeiro passo nesse sentido foi a Conferência deStresa, realizada em meados de abril de 1935 para examinar a infração, pela Alemanha, dos artigos militares do Tratado de Versalhes. A ela compareceram: pela Inglaterra,

MacDonald e Simon; pela França, Flandin (Primeiro Ministro) e Lavai (Ministro dos Negócios Estrangeiros); pela Itália, Mussolíni e Suvich (Subsecretário das Relações Exteriores) . Era completamente natural que Mussolíni sabotassetôda manifestação brusca contra Hitler, porém tampouco osinglêses nem os franceses mostraram o menor desejo de indispor-se com o ditador nazista. Em poucas palavras, a Con

ferência de Stresa, que se limitou a uma condenação aca

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0//ice. Até nos meios governamentais começaram a compreender que os quatro anos de permanência de Simon àfrente do Departamento de Relações Exteriores não haviamproporcionado qualquer beneficio ao Estado britânico (noqual não desempenhou papel de pouca relevância sua atuação durante as negociações comerciais anglo-soviéticas) . Porisso foi transferido para o pôsto, mais "neutro", de ministro

do Interior.Quem substituiu Simon no Foreign Office?   Essa desig

nação deu lugar a uma longa luta. Vansittart tinha grandes esperanças de que o nõvo ministro das Relações Exteriores fôsse Eden, e inclusive atuou com afã nesse sentidopor trãs dos bastidores; porém os chamberlainianos se opuse

ram de maneira decidida e, em última instância, conseguiramimpor a sua escolha. Foi nomeado nôvo ministro do E x terior, Samuel Hoare, representante tipico da cúpula governamental inglêsa: estudou em Oxford, aos 25 anos foi "secretário particular” do Ministro de Colônias, Lyttelton; aos42, Ministro da Aviação; aos 51, Ministro Encarregado dos

Assuntos da índia e, por último, aos-55 anos, Ministro dasRelações Exteriores Durante a Primeira Grande Guerra

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ter voluntário, no qual participaram onze e meio milhões de

pessoas. Delas, cêrca de dez milhões e meio pronunciaram-se a favor do emprêgo da fôrça contra os agressores. Issoobrigou os chamberlainianos a mostrarem certa prudência- ea manobrarem. Por isso, mesmo fazendo de Samuel HoareMinistro das Relações Exteriores, conservaram Eden comoMinistro Sem Pasta, porént com o encargo de dedicar-se aos

assuntos da Liga das Nações.O terceiro passo nessa, mesma direção foi o convênionaval anglo-alemão, firmado em junho de 1935. Sabe-se queo Tratado de Versalhes estabeleceu restrições muito rigorosas para o armamento naval da Alemanha. Em fevereiro de1935 Hitler rompeu, por decisão unilateral, todos os artigosmilitares dêsse tratado e estabeleceu a corrida armamentista

alemã em terra e mar. A Conferência de Stresa condenou(embora pão severamente) os citados atos do Führer.  Masapenas dois meses depois, a Inglaterra reconheceu oficialmente o direito da Alemanha dispor de um armamento navalque ultrapassava de muito os limites assinalados em Versalhes! Êsse ato de "apaziguamento” do agressor se tornava

tão provocador que inclusive a França expressou seu prot t à I l t é d i t d ô d P

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tava disposta a aplicar sanções contra a Itália, que se preparava para desfechar a guerra contra a Etiópia. Mas odiscurso não passou de um truque de jogador trapaceiro. Porque quando Mussolíni, apesar de tudo, iniciou, em 3 de outubro, as hostilidades na África, a Inglaterra governante nãomoveu um dedo. E quando em 14 de novembro se realizaram as eleições que deram a vitória aos conservadores (umavitória não tão brilhante como a de 1931, mas que, não obs

tante, lhes assegurou plenamente a permanência no Poder),os chamberlainianos tentaram tomar uma desforra através dodiscurso de setembro de Samuel Hoare.

A guerra na África colocou em tôda acridez o problema das sanções da Liga das Nações contra a Itália. Embora Eden revelasse não pouca atividade em Genebra, exigin

do a aplicação das mesmas, Chamberlain declarava publicamente em Londres que as sanções eram "uma loucura”. Lavai,que encabeçava então o Govêrno francês, sabotava simplesmente sua imposição. Mas como a U R SS defendia com firmeza a política de sanções, secundada por vários Estados desegunda e terceira categoria, Chamberlain e Lavai não conseguiram por completo livrar delas "a Itália. O que conseguiram foi que o compromisso finalmente aprovado pela Liga

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Somente então Eden foi nomeado Ministro das Relações Exteriores, fato que podia ser considerado como um

êxito dos “partidários da Entente".  Não obstante, por trásdos bastidores, os chamberlainianos opuseram-lhe de imediato uma série de obstáculos, transformando-o em um prisioneiro dos caudilhos do^ódio de classe.  Não é difícil imaginar-se o resultado.

Quando Hitler anunciou em 7 de março de 1936 a rup

tura do Pacto de Locarno e voltou a ocupar a região doReno, a URSS propôs que se adotassem medidas enérgicascontra êsse nôvo ato de agressão; porém a Inglaterra e aFrança, apoiadas pelos Estados Unidos, se limitaram a fazer protestos verbais que, como é natural, não causaram aHitler nenhum efeito. E, não obstante, como se soube mais

tarde, os generais hitleristas levavam no bôlso do colête, aoentrar-na região do Reno, a ordem de retirarem-se imediatamente se os franceses opusessem a menor reação.

E quando Franco, com o ativo apoio de Hitler e Mus-solíni, sublevou-se em 18 de julho de 1936 contra o Govêrno legítimo da República Espanhola, a Inglaterra e a Franç a — apoiadas novamente pelos Estados Unidos — tiverama iniciativa da farsa denominada “não-intervenção" que foi

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tos espanhóis. Lembra-me uma conversa que tive com Eden

acêrca dessa questão pouco antes de começar a guerra daEspanha.Para mim está claro — disse eu — que os governos so

viético e britânico focalizam de maneira diversa os acontecimentos da Espanha.. . Nesse terreno existem discrepân-cias entre nós, que podem inclusive aumentar; não obstan

te, a Espanha é apenas um dos problemas  da política externa de ambos os países. Há muitos outros, também mais importantes que êsse, nos quais não existem contradições entrea URSS e a Inglaterra.. . Localizemos, portanto, nossas dis-crepâncias no tocante ao problema espanhol e procuremosfazer com que repercutam o menos possível nas relações an-glo-soviéticas em geral. . . Seria indesejável ao extremo queo comunicado de Moscou se transformasse em um farrapo depapel.

Eden ficou pensativo por um instante e depois respondeu:— Estou completamente de acôrdo com você e, de mi

nha parte, farei todo o possível para que nossa política seatenha aos princípios expostos no comunicado de Moscou...

Isso é muito importante não somente para a Inglaterra e a

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saber dessa notícia, pensei involuntàriamente: “Churchiliequivocou-se no seu prognóstico: não é senão Chamberlainquem empunha o leme. Agora nos espera a confabulação deChamberlain com Hitler. E dep ois? ... •

Neville Chamberlain era, sem dúvida, a figura mais sinistra que se destacava no horizonte político da Inglaterra.Sinistra pelo caráter orgânico, profundamente reacionário, desuas concepções. E sinistra também pela influência de que

gozava no Partido Conservador. O fato de Neville Chamberlain ser um homem de idéias limitadas e faculdades mínimas e de que seu horizonte político não ia além, segundoa expressão de Lloyd George, da de “um fabricante provinciano de camas de ferro” não fazia mais que agravar o perigo que representava sua ascensão ao Poder. O pai de Nevil

le, o famoso Joseph, considerava seu filho (à desemelhan-ça da outro, Àusten) incapaz para a política e preparou-odesde a juventude para a atividade comercial. Porém Nevillenão conquistou tampouco lauréis invejáveis no setor do comércio. Em vista disso, fê-lo seguir a “linha municipal”, naqual, após uma série de degraus intermediários, chegou ao

pôsto de prefeito de Birmingham Em 1917 como conservad d i i t áti N ill Ch b l i f i

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meiro Ministro só poderia acentuar a política de "apaziguamento” dos agressores. Nada de bom podíamos esperar dêle!

Por sombrios que fôssem meus sentimentos, resolvi, apesar de tudo, entrevistar-me com o nôvo Primeiro Ministro esondar seu estado de espírito. Chamberlain recebeu-me em29 de julho em seu gabinete no Parlamento, mantendo-se maissereno e comedido do que durante a nossa primeira entrevista cinco anos atrás. Perguntei-lhe qual era, em linhas ge

rais, a política que se propunha aplicar o Govêrno inglês noterreno das relações internacionais. E Chamberlain explicou-me longa e circunstanciadamente que o problema fundamental, no momento, era, na sua opinião, a Alemanha. Em primeiro lugar, ter-se-ia que solucionar êsse problema, depoisdo que, tudo o mais não apresentaria dificuldades especiais.

Mas como resolver o problema alemão? Ao Primeiro Ministro se lhe afigurava inteiramente possível fazê-lo se se aplicasse um método   acertado.

— Se pudéssemos — disse êle .—•sentar-nos com os alemães à mesma mesa e reexaminar, de lápis na mão, tôdasas suas queixas e pretensões, muito .ficariam esclarecidas as

relaçõesIsto é o que da questão residia unicamente em sentar

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anos posteriores sua verdadeira face e, no fim de contas,transformou-se na "dona” do salão político em que se reu

niam os representantes mais reacionários do Partido Conservador. Em sua suntuosa mansão campestre de Cliveden (nosarredores de Londres), que pretendia ser uma imitação deVersalhes, passavam habitualmente os week-end   personagenscomo Neville Chamberlain, lorde Halifax, Samuel Hoare,Kingsley Wood e outros. Ali bebiam, comiam, se divertiam,

trocavam opiniões e traçavam planos de ação imediata. Comfreqüência, entre duas partidas de gôlfe se resolviam importantíssimas questões de Estado. Quanto mais se aproximavaa guerra, maior era a atividade de Cliveden. O salão delady Astor passou a ser a cidadela principal dos inimigos daUnião Soviética e dos amigos da aproximação anglo-alemã.Dêle partia a propaganda mais vigorosa do conceito da "segurança ocidental”; nêle se saboreavam com singular volup-tuosidade os quadros do extermínio recíproco sovieto-alemão,no qual cifravam suas esperanças os comensais de Cliveden.O salão de lady Astor atuava com fôrça extraordinária nanomeação dos ministros, na formação dos governos e na determinação da linha política dêsses. A subida de Neville

Chamberlain ao Poder significava uma onipotência tal da

Ne ille é um imbecil Pensa que se pode ca algar

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— Neville é um imbecil. . . Pensa que se pode cavalgarum tigrp.

Infelizmente, Chamberlain pensava precisamente assim.E por isso transformou-se em um apóstolo conseqüente dapolítica de “apaziguamento” dos agressores. Para levar essapolítica à prática necessitava de um Govêrno que, por suacomposição, se harmonizasse com tal idéia e, antes de tudo,um ministro “adequado” das Relações Exteriores. Eden nãoservia para isso, menos ainda porque, em Roma e em Berlim, era impopular ao extremo. Chamberlain escolheu paraêsse pôsto-chave lorde Halifax; não obstante, levando emconta o estado de espírito então reinante entre a opinião pública da Inglaterra, não resolveu desembaraçar-se de imediato, de Eden. Havia que preparar o terreno para isso, o queseria melhor, obrigar o próprio Eden a apresentar sua demis

são. Eis por que Chamberlain designara “de momento” lorde Halifax para o cargo, honroso porém puramente decorativo, de vice-presidente do Conselho de Ministros, isto é, deMinistro Sem Pasta, a quem, de quando em quando, se atribuem missões especiais. E como veremos depois, a missãomais importante, especial, que se .atribuiu a Halifax estava

relacionada com a política exterior

Chamberlain e Eden (avivado possivelmente de forma ar

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Chamberlain e Eden (avivado, possivelmente, de forma artificial, pelo Primeiro Ministro), que resultou na demissão de

Eden em 20 de fevereiro de 1938. Juntamente com Edenapresentou também demissão seu subsecretário parlamentar,lorde Cranborne, partidário igualmente, naqueles anos, daaproximação com a U R S S . Pouco antes de ocorrer tudo isso,em l 9 de janeiro de >938, Vansittart deixou de participar ativamente nos assuntos do Foreign Office , tendo sido nomeadopara o cargo, honrosq, porém pouco ativo, de “conselheirodiplomático principal do Govêrno britânico” . Ao dar-me aconhecer sua nova designação, Vansittart observou com umamargo sorriso:

—- Conselheiro diplomático principal.. . Porém não éobrigatório pedir-lhe conselho... Tudo depende dos dese

 jos do Primeiro Ministro. . ..Vansittart predisse com acêrto o seu futuro: Chamber

lain, com efeito, não recorreu aos seus conselhos.Iniciou-se então a rápida ascensão de sir   Horace W il

son como conselheiro autêntico, e cada dia mais poderoso, doPrimeiro Ministro para os assuntos de política exterior. Co-

 jihecia-o bem das negociações comerciais com a Inglaterra.Horace Wilson na ocasião “conselheiro industrial principal

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gem, cuja longa carreira política e administrativa havia cul

minado no cargo de vice-rei da índia. Era um homem alto,magro e lento. Trazia sempre uma luva negra na mão esquerda, defeituosa, e falava pausadamente, com voz surda,sempre com um agradável sorriso nos  lábios. Seu aspectopredispunha a seu favor e dava a impressão de ser um homem profundo ou, em todo caso, que se interessava pelos

grandes problemas. Tinha uma mentalidade filosófica, porém a filosofia própria do seu espírito era místico-filosófica.Pertencia à chamada  A lta Igreja   — isto é, à corrente do an-glicanismo que pouco se distingue do catolicismo — e gostava de falar de temas religiosos e morais. Dizia-se que,quando Halifax foi vice-rei da índia, por trás do seu gabinete havia uma pequena capela. Antes de qualquer entrevista ou discussão séria, encerrava-se durante algnuns minutos na capela e pedia a Deus que iluminasse o seu entendimento. Halifax possuía, sem dúvida alguma, vasta cultura, o que não lhe impedia, contudo (como veremos maisadiante), de revelar com freqüência a mais completa incompreensão da época e das suas fôrças motrizes. Mas nisso se

manifestava a estreiteza de suas concepções de classe

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Naquele momento, desconhecíamos ainda todos os detalhes

desssas negociações, porém seu sentido geral era claro paranós. Outrossim, nos meios políticos da Inglaterra filtrou-sealgo do que ocorria em Berlim e chegou ao nosso conhecimento. Em conseqüência, aumentou em grande escala a desconfiança da parte soviética para com o Govêrno de Chamberlain. Os documentos* do Ministério das Relações E xte

riores da Alemanha encontrados pelo Exército Soviético emBerlim provam hoje que tínhamos motivos mais que sobejospara desconfiar.

Com efeito, as notas de conversação mantida por Hitlere Halifax em 17 de novembro de 1937, publicadas pelo Ministério de Negócios Estrangeiros da URSS em 1948, mostram, com tôda clareza, que Halifax propôs a Hitler, emnome do Govêrno Britânico, uma espécie de aliança à basede um . ‘‘pacto dos quatro” e de deixar-lhe as mãos livresna Europa Central e Oriental. Halifax declarou, em particular, que "não se deve excluir nenhuma possibilidade demudar a situação existente” na Europa. E mais adiante frisou que “entre essas questões figuram Dantzing, a Áustria e

a Tcheco Eslováquia” Como é natural ao apontar a Hitler

fax ser nomeado Ministro das Relações Extriores deu o pri

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fax ser nomeado Ministro das Relações Extriores, deu o primeiro grande “salto”: apoderou-se da Áustria com um golperelâmpago. Como se zombasse dos “apaziguadores” de Londres, o Führer lêz   coincidir a anexação precisamente com odia em que Chamberlain recebia na Inglaterra, com tôda solenidade, o Ministro das Relações Exteriores da Alemanha,von Ribbentrop.  E o que aconteceu? A Inglaterra e a França reagiram perante tão clamante ato de agressão unicamente com protestos verbais, que nem êles próprios, e muito me

nos Hitler, levavam a sério.Por maior e legítima que fôsse, depois de todo o ocor

rido, a desconfiança do Govêrno soviético para com o Govêrno de Chamberlain, os dirigentes da URSS tentaram, naquele momento crítico, apelar para o bom senso dos dirigentes da Grã-Bretanha. Em 17 de março de 1938, cinco dias

após a anexação da Áustria, o Comissário do Povo de Negócios Estrangeiros, Litvínov, fêz, em Moscou, alumas declarações aos jornalistas, em nome do Govêrno soviético, nasquais, entre outras coisas, afirmou:

— "Se os casos de agressão se haviam registrado antes em continentes mais ou menos âfastados da Europa ou

no extremo da Europa desta vez a violência se produ

cente perigo de uma nova guerra mundial O Govêrno so

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cente perigo de uma nova guerra mundial. O Govêrno soviético está disposto a examinar imediatamente, junto com

outras potências, na Sociedade das Nações ou à margemdela, as medidas práticas ditadas pelas circunstâncias" t15Simultâneamente, recebi de Moscou a indicação de en

tregar ao Govêrno britânico o texto das declarações de Litvínov, acompanhando-as uma nota na qual se dizia que ascitadas declarações expressavam oficialmente o ponto devista do Govêrno soviético. Assim o fiz. O mesmo fizeram também, cumprindo as instruções recebidas de Moscou,os embaixadores soviéticos em Paris e Washington. Assim,portanto, a URSS declarou publicamente que estava disposta a adotar medidas enérgicas contra a agressão e exortou a Inglaterra, a França e os Estados Unidos a procederem da mesma maneira. A União Soviética cumpriu com

o seu dever. E os outros?Em 24 de março, o Ministério das Relações Exterio

res da Grã- Bretanha enviou à Embaixada soviética umalonga nota firmada por Halifax. Nela se dizia que o Govêrno britânico “saudaria calorosamente a realização deuma conferência internacional na qual participassem todos

os Estados europeus” (isto é os agressores e os não agres) h l d “

A reação em Paris e Washington ao chamado sovié

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A reação em Paris e Washington ao chamado soviético não foi melhor que a de Londres.

Poderia crer-se que a anexação da Áustria deveria fazer com que Chamberlain agisse dentro da razão, por poucoque fôsse, levando-o a ser mais prudente nas relações comos ditadores fascistas. Nada disso! Cego pelo ódio à UniãoSoviética, Chamberlain nada quis ver. Prosseguiu obstinadamente na sua política funesta (funesta para a própria In

glaterra) e, em 16 de abril, assinou o tratado de amizadee colaboração com a Itália, que buscava tão ansiosamente.Êsse tratado continha, entre outras coisas, o reconhecimentodo Govêrno britânico da ocupação da Etiópia pela Itália.Não obstante, movido pelo desejo de tranqüilizar as massasdemocráticas da Inglaterra, que consideravam a assinaturado tratado anglo-italiano naquele momento como uma traição à República Espanhola, Chamberlain fêz uma ressalvaimportante: comprometeu-se a ratificar o tratado ünicamen-te depois que a Itália evacuasse da Espanha suas tropasem consonância com o plano que então era elaborado pelo“Comitê de não-intervenção nos assuntos espanhóis”. Maisadiante direi como Chamberlain cumpriu êsse compromisso.

Lembro me que na primavera de 1938 encontrei me

Sim em 1934 e 1935 com o concurso do seu ma

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— Sim, em 1934 e 1935, com o concurso do seu marido produziu-se o degêlo nas relações anglo-soviéticas; po

rém agora...•— Agora o quê? — interrompeu-me impaciente..— Agora — concluí — a temperatura nas relações an-

glo-soviéticas está abaixo de zero.Lady Vansittart voltou a juntar as mãos e acrescentou,

com profundo sentimento:

— Em todo caso, Van fêz o que pôde.

M U N I C H

Porém se Chamberlain não soube obter nenhum ensinamento do colapso da Áustria, Hitler mostrou ser muito

mais capaz O “salto” a Viena foi para êle uma prova imt t dit d i t i i

com a Tcheco-Eslováquia e se a Alemanha agredisse a esta

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com a Tcheco Eslováquia, e se a Alemanha agredisse a esta,ela estava obrigada a sair em sua defesa. A Inglaterra não

tinha um pacto formal dêsse tipo com a Tcheco-Eslováquia,porém como aliada imediata da França, não podia tampouco ficar à margem. Em agôsto, a situação tornara-se tãoameaçadora e o alarma e a inquietação das massas francesase inglêsas eram tão fortes que o Govêrno britânico viu-se obrigado a fazer algo para atenuar a tensão criada. Que fêz êle?

Algo que correspondia plenamente ao espírito de Chamberlain :Ao invés de declarar firmemente que a Inglaterra e a

França não permitiriam que Hitler tragasse a Tcheco-Eslováquia (e essa providência tinha então probabilidades dedeter o braço do agressor), o Govêrno de Chamberlain re

solveu enviar à Tcheco-Eslováquia uma missão presidida porlorde Runciman. Quem era lorde Runciman? Um velhodignitário que jamais se havia ocupado dos assuntos internacionais, surdo, lerdo e que não sabia sequer com exatidãoonde ficava a Tcheco-Eslováquia, como pude comprovardurante uma conversação que mantive com êle no verão de

1938 Que objetivo foi atribuído à missão de Runciman?Ofi i l d i " d ” i ã

Baseando-se nessas considerações, Litvínov recebeu em

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2 de setembro de 1938 o encarregado de negócios francêsem Moscou, Payart (o embaixador, Naggiar, encontrava-se ausente), e lhe declarou, com a solicitação de que o transmitisse com urgência ao Govêrno francês, que em caso deagressão da Alemanha à Tcheco-Eslováquia, o Govêrno soviético cumpriria os confpromissos previstos no pacto sovie-to-tcheco-eslovaco de assistência mútua de 1935 e prestaria ajuda armada ao refeçido país. Mas como, segundo es

tipulava o pacto, o compromisso de ajuda soviética entrariaem vigor somente no caso de que a França, unida à Tcheco-Eslováquia também por um pacto de assistência mútua,tomasse armas simultaneamente contra a Alemanha, o Govêrno da URSS queria conhecer os propósitos do Govêrno francês ante a situação criada. Por seu lado, o Govêr

no da JJRSS propunha ao Govêrno francês a realização urgente de uma conferência de representantes dos EstadosMaiores Centrais soviético, francês e tcheco — para adotarem as medidas pertinentes. Litvínov supunha que a Romênia deixaria passar por seu território as tropas e a aviação soviéticas, porém considerava que seria muito conve

niente a fim de influenciar a Romênia nesse sentido apresentar na Sociedade das Nações com a maior rapidez possível o

art Na situação de então era um documento do maior sig

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art. Na situação de então era um documento do maior significado político. Importava dá-lo a conhecer ao máximo,

pois a camarilha de Cliveden   havia levado a cabo durantetodo o mês de agôsto uma campanha de insinuações nos meiospolíticos, cuja essência consistia no seguinte: “Salvaríamoscom muito prazer a Tcheco-Eslováquia, mas isso é difícilsem a Rússia, e esta guarda silêncio e foge evidentemente aocumprimento dos seus compromissos, previstos no pacto so-vieto-tcheco-eslovaco de assistência mútua” .

Naquele mesmo dia, 3 de setembro, visitei Churchillem sua casa de campo de Chartwell e dei-lhe a conhecercom pormenores o conteúdo da declaração de Litvínov a Pay-art. Churchill compreendeu de imediato a importância dessa declaração e disse-me que levaria minha informação imediatamente ao conhecimento de Halifax. Cumpriu sua pro

messa, e nesse mesmo dia enviou uma carta a Halifax   informando-lhe circunstanciadamente da gestão de Litvínov,como confirma em suas memórias de guerra.18 Não me limitando à conversação com Churchill, entrevistei-me também com Lloyd George e Arthur Greenwood, suplente do

is Escreve W Churchill: “E m 2 de setembro depois do jantar re

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líder do Partido Trabalhista no Parlamento, e lhes repeti

o que havia dito a Churchill.Meus cálculos eram os seguintes: os três líderes- daoposição falariam, sem dúvida, com seus companheiros departido da gestão de Litvínov (tanto mais que, ao informar-lhes sôbre ela, não lhes*pedia que mantivesse em sigilo asminhas palavras), e, por conseguinte, nos meios políticos de

Londres conheceriam a verdadeira posição da URSS anteum problema tão sério. E se algum membro do Govêrnofalasse caluniosamente no Parlamento da “passividade" daURSS no problema tcheco-eslovaco, a oposição poderia dar-lhe uma resposta que restabelecesse a verdade. Posteriormente, meus cálculos viram-se justificados plenamente.

E não duvidava então, nem duvido hoje, de que a Tcheco-Eslováquia teria sido salva e todo o curso ulterior dosacontecimentos europeus e mundiais teria tomado outros rumos se o Govêrno francês houvesse apertado a mão que lheestendeu a União Soviética em 2 de setembro, se a Inglaterra e a França tivessem aceito sinceramente, inclusive na

quele momento tardio a unidade de ação com a URSS Po

tigo de fundo, no qual se dava a entender claramente que

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g q qa melhor saída para a situação seria a entrega, pela Tcheco-

Eslováquia à Alemanha, da região dos Sudetos. O Ministério das Relações Exteriores da Inglaterra apressou-se adeclarar que nada tinha a ver com o artigo em questão, porém ninguém acreditou nisso.

Lembro-me que em 8 de setembro, no dia seguinte aoaparecimento do aludido artigo do Times,  Halifax convidou-me a visitá-lo e durante a conversação, na qual tratamos dequestões diversas, manifestou-me que o Govêrno britâniconão tinha nenhuma relação com o que foi mencionado no

 jornal. Porém tampouco eu acreditei nêle. Admitia, é claro, que nem o Foreign Office   nem o Govêrno no seu con junto haviam dado qualquer incumbência direta e formal aoTimes  de publicar o malfadado artigo. Por acaso, são pou

cas as vias indiretas e extra-oficiais de que dispõem as autoridades supremas para verem expressas nas páginas da imprensa os pontos de vista e as opiniões que desejam? Assimocorreu precisamente naquele caso, pois tanto o conteúdocomo o tom do artigo em causa refletiam magnificamente oespírito dos pensamentos e dos atos da camarilha de Cli

d Q ti di t t t d édit

agressão da Alemanha contra a Tcheco-Eslováquia. Até ospacíficos suíços faziam exercícios de defesa antiaérea e ex

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pacíficos suíços faziam exercícios de defesa antiaérea e experimentavam o sistema de black-oat   das cidades.

E Genebra soubemos que Bonnet, ministro francêsdos Negócios Estrangeiros e um dos mais ferrenhos inimigos da URSS, havia ocultado à maioria dos membros doseu Govêrno a declara*ção de Litvínov a P ayart. Bonnet havia explicado sempre a criminosa política da França com relação à Tcheco-Eslováquia invocando a “passividade da

Rússia” na questão tcheco-eslovaca. Eis porque a declaração feita em 2 de setembro pelo Comissário do Povo dosNegócios Estrangeiros da URSS não lhe conviera de modoalgum. Resultou que na França ninguém conhecia, nem sequer os membros do seu Govêrno, o propósito do Govêrnosoviético de defender a Tcheco-Eslováquia. Era necessário

mostrar à França e ao mundo inteiro, custasse o que custasse, a verdadeira posição da União Soviética. Precisamentepor isso, Litvínov repetiu publicamente da tribuna da Ligadas Nações, em seu discurso de 21 de setembro de 1938,tudo o que 19 dias antes havia comunicado por via diplomática ao Govêrno francês através de Payart. A intriga de

B t f d t t d

sôbre a posição do Govêrno soviético). Litvínov comunicoumais adiante que o Govêrno soviético havia feito importan

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mais adiante que o Govêrno soviético havia feito importante advertência ao Govêrno da Polônia: se ocorrer à Var-

sóvia agredir a Tcheco-Eslováquia para tirar-lhe a região deTeschen (do que então se falava muito), a URSS considerará automàticamente anulado o pacto sovieto-polonês denão-agressão.

Butler e De la W arr pareceram interessar-se muitopelas declarações de Litvínov e chegaram a mostrar certa

simpatia pelos atos da U R SS. Prometeram informar imediatamente a Londres do conteúdo da nossa conversação eentrevistar-se novamente conosco enquanto recebessem instruções. Mas, infelizmente, essa nova entrevista não chegou a concretizar-se, e não por culpa nossa, como é natural.Será que podia acontecer de outra forma? Porque, precisa

mente naqueles últimos dias de setembro de 1938, Chamberlain e Daladier ultimavam sua "operação de traição” àT checo-Eslováquia.

Litvínov propôs-me no dia 27 de setembro que regressasse imediatamente a Londres.

<— Sua presença ali .— disse-me êle — é agora muito

i i t t d S í

de avião para conversar com Hitler. A entrevista verificou-

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se nos dias 22 e 23 de setembro em Godesberg. Chamber

lain esperava firmemente merecer a aprovação do Führer  quando pusesse na mesa a aquiescência da Tcheco-Eslováquia, porém se equivocou redondamente. Ao ver em Berch-tesgaden que não se; encontrava perante um cavaleiro deaço, mas sim diante do “homem do guarda-chuva” cobertode trapos, Hitler resolveu que não tinha por que andar cheiode cuidados. Durante °a segunda entrevista com Chamberlain apresentou novas exigências, muito mais duras que asprimeiras. O Primeiro-Ministro britânico sentiu-se muitodesalentado; não obstante, empreendeu a tarefa de “convencer” a Tcheco-Eslováquia de que cedesse mais uma vez.Regressou mais uma vez a Londres e, juntamente com Da-ladier, tentou, outra vez, exercer pressão sòbre Praga. Porém dessa feita o tiro lhe saiu pela culatra: o Govêrno tche-co-eslovaco repeliu o “programa godesberguiano” de Hitler.Nessa decisão dos tcheco-eslovacos desempenhou papel derelevância a assertiva da parte soviética, recebida dias antes,de que estava disposta a prestar ajuda à Tcheco-Eslovãquiaquaisquer que fôssem as circunstâncias, inclusive no caso de

t i ã t d F Hitl fi f i

Quanflo, em 28 de setembro, ocupei meu pôsto na tri

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buna dos embaixadores no Parlamento, Chamberlain, ner

voso e excitado, estava de pé diante da tribuna azul e agitava nervoso a mão direita, mostrando a todos uma fôlha depapel branco que apertava entre os dedos. Era uma cartade Hitler, que acabava de receber durante a sessão do Parlamento em resposta ao seu derramamento de lágrimas pedindo a entrevista dos quatro. Hitler acedia à entrevista eChamberlain não ocultava a sua alegria. A imensa maioriados conservadores tributou-lhe verdadeira ovação. Os trabalhistas e os liberais foram mais comedidos, porém tampouco ocultaram seu regozijo. Nessa situação, Chamberlaindeixou o edifício do Parlamento para empreender de imediato sua peregrinação a Munich.

Tôda essa cena causou-me a mais deprimente impres

são. Tinha a mesma sensação que se experimenta ao verum grande automóvel cheio de gente que roda para o abismo sem que se possa fazer nada para detê-lo. Ao abandonar a tribuna dos embaixadores encontrei nos corredores doParlamento um conhecido trabalhista, que eu tinha vistoaplaudindo Chamberlain.

< P l di ? t i lh

Eslováquia tinha de satisfazer às pretensões territoriais daP lô i d H i f id í O t d

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Polônia e da Hungria ao referido país. O que restava da

Tcheco-Eslováquia, indefesa e humilhada, devia receber garantias do “grande quarteto”, cujo valor, depois de tudo oque havia sucedido, quase não passava de zero.

Para atenuar um  j d o u c o   a deprimente impressão que devia produzir a traição ae Munich aos mais vastos setores daopinião pública inglêsa, Chamberlain convenceu Hitler deque assinassem juntos um papel declarando que daí por diante não devia haver guerras entre a Inglaterra e a Alemanha. Um papel sem valor, útil unicamente, como se comprovou mais tarde, para ser lançado à cesta!. . . Chamberlain agitou ostensivamente êsse papel no areporto de Londres ao regressar de Munich, proclamando em altos bradosque estava assegurada "a paz em nosso tempo”.

O ministro das Relações Exteriores, Halifax, não ficouatrás do seu Primeiro-Ministro. Nas anotações da conversação que o embaixador alemão na Inglaterra, Dirksen,manteve com êle em agsôto de 1939, entre outras coisas,relata:

, “Logo no decorrer da entrevista, lorde Halifax disse-

d j d t lh idéi i

car; anseio'da Grã-Bretanha de assegurar para si através dod d l b h d

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Mediterrâneo, Aden, Colombo e Singapura, o caminho dos

domínios e do Extremo Oriente”.22É difícil afirmar, ao ler essas linhas, o que nelas se encontra em maior quantidade: a contumácia imperialista oua fenomenal cegueira perante a história. Uma coisa estáclara: Halifax não compreendia, em absoluto, o que estava acontecendo no mundo. Quão significativa é, em particular, sua observação de que “a Rússia, situada à margem,é um país grande e difícil de abarcar”! Halifax não encontrou nada mais coerente para dizer de um povo que ha-

í  bita uma sexta parte do mundo e é o porta-estandarte doi futuro da humanidade!

A reação na Inglaterra ante o acôrdo de Munich foimuito violenta. As grandes massas do povo, que compreen

diam a essência dos acontecimentos melhor que Halifax, sentiam-se indignadas pela traição à Tcheco-Eslováquia e alarmadas pelo crescente perigo de guerra. Os círculos mais

t perspicazes da classe dominante compreendiam que o Primeiro-Ministro arrastava o país para* o abismo e se sentiam

! profundamente humilhados pelo triste papel que havia de

h d t t á i hi tó i H i l i

Ao ler nos jornais o discurso de Winterton senti-meprofundamente indignado e pedi imediatamente uma entre

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profundamente indignado e pedi imediatamente uma entrevista com Halifax, a quem expressei meu protesto contraas caluniosas inverdades de Winterton. Ao mesmo tempo,distribuí uma nota à imprensa, em nome da Embaixada soviética, na qual dizia:

“A declaração de "W interton falseia por completo averdadeira posição do Govêrno soviético ante o problemada Tcheco-Eslováquia. Eçsa posição foi formulada com exa

tidão e precisão, sem deixar margem a nenhuma confusão,pelo Comissário do Povo de Negócios Estrangeiros, M.Litvínov, quando do discurso que pronunciou em Genebra,a 21 de setembro, na sessão plenária da Sociedade das Nações. Litvínov resumiu em seu discurso a conversação quehavia mantido em Moscou em 2 de setembro de 1938 com

o encarregado de negócios francês e declarou que a URSStem o propósito de cumprir todos os compromissos decorrentes do pacto sovieto-tcheco-eslovaco e, juntamente com aFrança, prestar à Tcheco-Eslováquia a ajuda necessária portodos os meios ao seu alcance.

, Acrescentou Litvínov que o Comissariado do Povo de

D f d URSS tá di t t b l i dit t

tas fizeram uma interpelação no Parlamento, à qual o prói P i i Mi i t t d d É fá il d

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prio Primeiro-Ministro teve de responder. É fácil de com

preender como isso foi desagradável para êle e os esforçosque fêz para desculpar seu colega de ministério. Apesardisso, Chamberlain viu-se obrigado a desautorizar Winter-ton. Havíamos recebido uma pequena satis façã o.. .

Sim, pequena! Porque o que era verdadeiramente grande, importante e primordial a erguer-se então em tôda suaestatura perante nós, ante o Estado e o Govêrno soviético—■isto é, a posição da Inglaterra no concerto internacional —só podia suscitar em nós (e o suscitava, com efeito) profunda inquietude e indignação. Em Munich, havia tomado forma o decantado “pacto dos quatro”, dirigido contra a URSS,em sua variante mais abominável e repugnante: um "pactodos quatro” no qual os ditadores fascistas eram senhores

absolutos e os representantes da Inglaterra e da França osseguiam cacarejando, diligentes e medrosos. Como foi sintomática, na realidade, a conduta do Govêrno britânico durante os críticos dias de setembro! Não tentou, nem uma sóvez, pelo menos, consultar o Govêrjno da URSS sôbre o problema da Tcheco-Eslováquia e da paz européia. Tôdas as

i õ d Ch b l i M lí i ôd

“Devemos todos levar em conta os fatos, e um dêssesf t é êl ( “êl ” ) b it b

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fatos é, como êle ( “êle” sou eu) sabe muito bem, que os

chefes dos governos alemão e italiano não teriam desejado,nas circunstâncias atuais, tomar parte na conferência ao ladodos representantes soviéticos. Consideramos vital para nós,e creio que também ,para êle, que, com o fim de evitar aguerra, se procure solucionar tôdas as questões litigiosas deum ou outro modo à base da negociação. Precisamente essaconsideração levou o Primeiro-Ministro a dirigir ontem umconvite a Herr Hitler, propondo-lhe a realização de uma conferência para a qual poderão ser convidados outros se HerrHitler o desejar”.24

Era um verdadeiro atestado de pobreza passado ao Govêrno britânico por seu Ministro das Relações Exteriores.Na realidade, como concebia Halifax a situação? Hitler se

ria ò centro de tudo. O Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha a suplicar-lhe a realização de uma conferência. Do próprio Hitler dependia também quem teria de participar dela.Chamberlain nada podia fazer. Não apresentaria condiçãoalguma, não expressaria sequer algum desejo. Limitar-se-iaa aceitar, com gratidão, das mãos do ditador nazista, o que

ê i h d j lh l d d f

Eram simples, porém pouco consoladoras. Disse-me êle:

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Assim cumpre a França de Daladier os compromissos

que assume nos tratados firmados por ela! Assim observa aInglaterra de Chamberlain os preceitos da Carta da Ligadas Nações!

UM A T RAP AÇ ADE CHAMBERLAIN

Em novembro de 1938, quando a agitação motivada porMunich se havia aplacado um pouco, produziu-se nôvo egrave acontecimento.

 Já disse que Chamberlain e Mussolíni firmaram em 16de abril de 1938 um tratado de amizade e colaboração, masque, desejoso de tranqüilizar, por pouco que fôsse, a opi

i úbli i l Ch b l i d

nos. Isto, como é natural, não lhe convinha, motivo por quet d 1938 t l t i d

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no outono de 1938 começou a protelar o assunto, apoiado

firmemente por alemães e italianos. ■Sem esperar que terminassem as negociações do Comitê  de não-intervenção  sôbre a evacuação proporcional dos combatentes estrangeiros de*ambas as partes, em setembro de1938, o Govêrno republicano renunciou, por iniciativa própria, à ajuda das Brigadas Internacionais e solicitou à Ligadas Nações que enviasse uma comissão especial, como assimse fêz, para testemunhar que os republicanos cumpriam literalmente tal decisão. Franco foi pôsto em situação difícil eresolveu "fazer bonito”: declarou que estava disposto a evacuar 10.000 combatentes estrangeiros. Mesmo no caso deque todos êsses fôssem italianos, não representariam maisde 10% do total de italianos que lutavam ao lado de Fran

co. Era vez disso, o plano do Comitê de não-intervenção exigia que 80% fôssem evacuados, isto é, 80.000 italianos.A proposta de Franco era um verdadeiro lôgro, e estavaclaro para todo mundo que de modo algum significava cumprir o plano do Comitê.  Visto que o plano não era cumprido, Chamberlain, de acôrdo com sua própria promessa de

b il d 1938 i h di i d ifi d

I

Tudo estava claro. O Govêrno de Chamberlain queria sufocar o mais rápido possível a República Espanhola e

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ria sufocar o mais rápido possível a República Espanhola e,por isso, estava disposto a fechar os olhos perante o logrode Franco. E foi isso o que fêz, no final das contas. Chamberlain considerou que Franco cumpria o plano do Comitê  ao retirar 10.000 italianos, e o Govêrno britânico, depoisdessa trapaça ratificou, em 16 de novembro de 1938, o   tratado anglo-italiano.

Tive de repetir mais uma vez de mim para mim:

“Assim, a Inglaterra de Chamberlain cumpre suapalavra!”

NO LIMIAR DE 1939

Ao iniciar-se o ano nôvo, 1939,  dei involuntariamenteb l d d d d d

I

depois disso, as relações anglo-soviéticas haviam tido umcaráter que se podia considerar “amistoso” É certo também

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caráter que se podia considerar amistoso . É certo também

que havia conseguido encontrar na Inglaterra não poucas pessoas inteligentes, perspicazes e influentes entre a classe dominante e estabelecer com elas boas relações.. . Tudo issoestava bem e era útil para a URSS, para a Inglaterra epara a causa da paz universal.

Mas, apesar de tudo, o Poder encontrava-se firmemente na Inglaterra em mãos dos elementos mais reacionáriosdo Partido Conservador. Apesar de tudo, o Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha era Chamberlain, e o Ministro dasRelações Exteriores, lorde Halifax. Apesar de tudo, a camarilha de Cliveden   determinava as diretrizes fundamentaisda política oficial do Govêrno. Apesar de tudo, essa política oficial estava dirigida abertamente contra a URSS e os

princípios da segurança coletiva cifrava suas esperanças emsemear a discórdia entre a Alemanha e a União Soviéticae sacrificava diversos países e povos visando alcançar taisobjetivos. Os exemplos da Áustria, da Tcheco-Eslováquiae da Espanha eram extremamente eloqüentes.. .

E o que prometia o futuro?

b d h

perança, senão conjurar a Segunda Grande Guerra, pelomenos retardá-la durante certo tempo. . .

b d

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Não obstante, entrávamos no ano de 1939 com som

brios pressentimentos e com o pesado fardo de uma profunda desconfiança para com o Govêrno inglês de então e,antes de tudo, para com o seu Primeiro-Ministro, NevilleChamberlain. Tal era o fundo psicológico em que desenhavam seus arabescos os acontecimentos daquele ano de infausta memória. . .

Se falo tão detalhadamente dos meus pensamentos, sentimentos e estado de espírito de então não é porque lhesatribua uma importância especial, pessoal. Faço-o única-mente porque refletiam com exatidão o que pensavam e sentiam o povo soviético, o Estado soviético, o Govêrno soviético. Minha psicologia era uma fotografia em miniatura dapsicologia de todo soviético. E somente como tal é merecedora da atenção do leitor.

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Em 1939

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Tudo o que expus nas páginas anteriores não é  mais que a pré-história das negociações tripartidas entre a URSS, a Inglaterra e a França para a assinatura de um pacto de assistência mútua. Por isso, abordei sucintamente os acontecimentos de 1932-1938, pondo  

o de lado muitos detalhes (às vêzes muito significativos) e traçando um quadro cuja escala se mede por meses  e inclusive por anos. Passo agora às minhas lembranças das próprias negociações tripartidas, isto é, ao  tema principal dêste livro, e devo mudar a escala em  que serão representados os fatos e os acontecimentos. Daqui por diante não se tratará de anos nem de meses,  

manha e a Itália haviam feito reiterados protestos de fidelidade à causa da paz e em seguida prosseguiu:

Q t i t bi t d d

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— Que aconteceria se neste ambiente de grande con

fiança se levasse à prática um plano qüinqüenal, infinitamente maior que qualquer outro que tentou realizar nosúltimos anos qualquer país isolado? Que aconteceria se noespaço de cinco anos não houvesse guerras nem rumoresde guerras; se os povos da Europa pudessem descansar doseu recente pesadelo e do ônus esmagador das despesas para

armamento? Não poderiam, nesse caso, aproveitar todos osincríveis inventos e descobertas do nosso tempo para criaruma idade áurea em que a pobreza fôsse reduzida a ummínimo insignificante e o nível geral de vida elevado a umaaltura inusitada?. . . Surge uma grandiosa oportunidade paraos líderes do mundo. Se cinco homens da Europa (Hoare

referia-se aos dirigentes da Inglaterra, França, Alemanha,Itália e da U R S S . — I . M . ) , estivessem coesos pela unidade de ação e de objetivo, poderiam transformar tôda ahistória do mundo em um espaço de tempo incrivelmente curto. . . Nosso próprio Primeiro-Ministro já demonstrou queestá disposto com tôda a alma e dê todo o coração a mar

Cinco dias após o discurso de Samuel Hoare, em 15de março Hitler lançou se como um raio sôbre a Tcheco

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de março, Hitler lançou-se como um raio sôbre a Tcheco-

Eslováquia, ocupou Praga, declarou a Boêmia e Moráviaprotetorado alemão e fêz da Tcheco-Eslováquia um “Estado independente”. A Europa sentiu-se sacudida pelo golpede um terremoto político. O acôrdo de Munich tinha sidoreduzido a farrapos. *

E Chamberlain?

Nesse mesmo dia,» 15 de março, o Primeiro-Ministroteve que falar na Câmara dos Comuns sôbre a anexaçãoda Tcheco-Eslováquia. Viu-se obrigado, é claro, a condenar verbalmente a conduta de Hitler, porém não considerou necessário recomendar ao Parlamento a adoção de qualquer medida prática. Continuou a repetir obstinadamente que

tenderia, como antes, a volta à atmosfera de compreensão mútua e boa-vontade entre tôdas as potências e a solução dos litígios internacionais por meio de negociações.Afirmou também que, apesar de tudo o que havia ocorrido, considerava acertada sua política de Munich e estavacerto de contar com a simpatia da opinião pública mundial.

 juntamente com a França, a U R SS e os Estados Unidos; oYorkshice Post  (órgão chegado a Eden) declarou que não

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se podia confiar tanto nas promessas nazistas como o fizera

o Govêrno britânico durante os últimos tempos. No mesmoespírito manifestaram-se também os demais órgãos da imprensa .

Estava claro que vastos setores sociais e políticos daInglaterra, em particular das massas trabalhadoras, sentiam-se profundamente indignados tanto pela agressão de

Hitler como pelos atos do seu próprio Govêrno. Em talsituação, Chamberlain viu-se obrigado a manobrar. Mudoude tom imediatamente. Já em 17 de março, isto é, dois diasdepois da sua intervenção no Parlamento, pronunciou extenso discurso numa reunião de conservadores de Birmin-gham. Como demonstraram os acontecimentos posteriores, a

"alma” de Chamberlain não havia mudado no mínimo, porém o tom do seu discurso foi completamente diverso do dedois dias antes. Desta vez, o Primeiro-Ministro pediu perdão por sua excessiva moderação no Parlamento, explicando-a pela insuficiência das informações recebidas até aquele momento acêrca dos acontecimentos da Tcheco-Eslová

dres, de modo particularmente ativo, pelo ministro plenipo-tenciário romeno, Tilea. Tão eletrizada estava a atmosfe

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tenciário romeno, Tilea. Tão eletrizada estava a atmosfe

ra, que fàcilmente se acreditava em semelhantes boatos, poiso nôvo “salto”, dessa vez na direção da Romênia, corresponderia, absolutamente, aos apetites agressivos do Führer. Todos lhe admitiam essa possibilidade e até probabilidade.Os boatos em questão chegaram ao conhecimento do govêrno britânico, preocupando-o sèriamente.

Em conseqüência de ludo isso, o embaixador inglês emMoscou, Seeds, visitou, na manhã do dia 18 de março, oComissário do Povo dos Negócios Estrangeiros, Litvínov, e,por ordem do seu govêrno, perguntou-lhe que faria a URSScaso Hitler agredisse a Romênia. Na tarde do mesmodia, Litvínov respondeu, por ordem do govêrno soviético, que

a melhor forma de lutar contra o perigo que ameaçava aRomênia seria convocar, imediatamente, uma conferência derepresentantes da Inglaterra, França, URSS, Turquia, Polônia e Romênia. O govêrno soviético, acrescentou Litvínov,achava que, do ponto de vista psicológico, o melhor seriarealizar essa conferência em Bucarest, mas estava dispostoa aceitar qualquer outro ponto que considerassem convenien

procurar conseguir a colaboração da Inglaterra e da Françapara lutar contra os agressores. Os representantes soviéticos

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para lutar contra os agressores. Os representantes soviéticos

tinham a esperança de que a tragédia da Tcheco-Eslováquiatalvez houvesse aberto os olhos até dos clivedenianos,  fazendo-os ver o perigo que implicava para a própria Inglaterra o “apaziguamento” de Hitler e que, em vista disso, ogovêrno de Chamberlain acedesse, por fim, a colaborar, eficazmente, com a URSS para conjurar a Segunda Guerra

Mundial. Porém, no caso dessa esperança resultar em purailusão, era mister intentar, de tôdas as formas, um acôrdocom Chamberlain e Daladier. Daí ter o govêrno soviéticorespondido com rapidez tão fenomenal (no mesmo dia!) àindagação formulada pelo govêrno britânico em 18 de março e feito proposta que lhe testemunhava a disposição deadotar medidas eficientes contra o perigo que ameaçava aRomênia.

Muito diverso foi o comportamento do lado britânico,isto é, do govêrno de Chamberlain, concretamente. Conforme demonstraram os ulteriores acontecimentos, a tragédia daTcheco-Eslováquia nada, absolutamente, havia ensinado àcamarilha de Cliveden.  A linha geral do govêrno de Cham

Ê

Bretanha. Daí também dimanava a sua conduta durante asnegociações de 1939. Se se houvesse preocupado, efetiva

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mente, com a preservação da paz, conforme declarou emmais de uma ocasião, o Primeiro-Ministro inglês teria aproveitado com alegria a proposta que lhe fêz a União Soviética em 18 de março.»E, se tivesse isso feito, todo o cursodos ulteriores acontecimentos haveria tomado outros rumos.É possível e até provável que, nesse caso, não tivesse ha

vido a Segunda Guerra Mundial. Chamberlain, contudo, talqual um pássaro carpinteiro, continuou repisando, teimosamente, um ponto: a guerra sovieto-alemã! Por isso, em 18de março, longe de apertar com alegria a mão que lhe estendia a URSS, começou a sabotagem sistemática de tôdas as tentativas de colaboração honesta com o govêrno soviético,  sabotagem que informou a conduta da Inglaterra até ofim cias negociações. Chamberlain estava tão fundamentecerto da infalibilidade dos seus cálculos políticos e da inevitabilidade do choque germano-soviético que nem sequerobservou que a guerra se aproximava, furtivamente, de seupaís muito antes de atingir a União Soviética. Disso, entretanto, falaremos mais adiante, com maior detalhe.

Litvínov dissera a Seeds. Halifax me agradeceu a informação e acrescentou que o govêrno britânico examinara, já

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mação e acrescentou que o govêrno britânico examinara, já

na manhã do dia 19, a proposta soviética de realizar, imediatamente, uma conferência das seis potências, chegando àconclusão da sua improcedência.

Perguntei-lhe por quê.A resposta de Halifax foi muito significativa. O Minis

tro das Relações Exteriores britânico expôs dois argumen

tos: primeiro, o Govêrno inglês não poderia, naquele momento, encontrar homem de suficiente responsabilidade paramandar àquela conferência; segundo, era arriscado convocara conferência sem saber como terminaria.

Olhei, surpreendido, para Halifax e não escondi queos seus argumentos nada tinham de convincentes. Exprimi,particularmente, a opinião de que a conferência não podiafalhar, se a URSS, a Inglaterra e a França mantivessem,enquanto ela decorresse, a sua unanimidade. Mas Halifaxnão se pôs de acôrdo comigo e chegui à única conclusão aque se podia chegar: evidentemente, o ministro britânico nãoacreditava possível a unanimidade dg URSS, de um lado, eda Inglaterra e França, de outro. Isso, por si, era sintomá

ração proposta desde que assim o fizessem a França e a Polônia. A essa mesma data, Chamberlain declarou, no Parlamento que era adverso a que se criassem na Europa blo

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lamento, que era adverso a que se criassem, na Europa, blocos de potências que se encontrassem em oposição entresi . 30   Isto diminuiu ainda mais a importância, por si pequena, da declaração dos. quatro, proposta por inglêses e franceses.

Entretanto, a declaração, dessangrada até politicamente, estava predestinada *a não nascer: a Polônia recusou-se

a assiná-la junto com a URSS; e Chamberlain e Daladiernão julgaram necessário exercer sôbre ela a influência devida. No curso da conversa travada em 23 de março, Cado-gan explicou-me que o procedimento do govêrno polonêsresultava do seu temor de que união tão pública com a URSSprovocasse a ira da Alemanha.3 1  Admito que tal motivo pu

desse1  desempenhar certo papel na recusa por parte dos poloneses de assinar a decluaração; mas o principal era, naturalmente, outra coisa: era a profunda hostilidade do govêrno polonês de então (o tristemente célebre “govêrno doscoronéis” ) com relação à União Soviética, hostilidade que,conforme veremos mais adiante, pregou o último prego noféretro das negociações tripartidas de 1939.

Percorw, rapidamente, os olhos nas linhas impressas,Era uma declaração oficial do govêrno britânico, dizendo que,enquanto durassem as negociações em curso com outras po

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enquanto durassem as negociações em curso com outras potências, o govêrno britânico acudiria em socorro da Polônia com todos os meios ao seu alcance se, durante êsse tem-p.*, se  produzisse “alguma ação que ameace, claramente, aindependência da Polônia e que o govêrno polonês consideretão vital que lhe oponha resistência com as suas fôrças nacionais”. A Inglaterra não exigia reciprocidade alguma da Polônia.

— Tornarei pública esta declaração, hoje, às duas horas da tarde, na Câmara dos Comuns — disse-me Chamber-Iain, quando terminei a leitura. Espero que o seu conteúdo não suscite objeções da sua parte, pois o Sr. Stahn prometeu também, no recente Congresso do Partido dos se

nhores, o apoio da União Soviética a qualquer país quefôsse vítima de agressão e opusesse resistência ao agressor...Posso dizer, hoje, no Parlamento, que a nossa garantia àPolônia conta com a aprovação da União Soviética?

Sentia-me indignado com a faltà de circunspecção deChamberlain; mas conservei, aparentemente, a serenidade e

tica; mas disse: “Não duvido que os princípios que servemde base às nossas ações encontrem compreensão e simpatia no govêrno soviético” . O Primeiro-Ministro precisara di

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tia no govêrno soviético . O Primeiro Ministro precisara di

zer isso para criar a impressão (talvez o grande público nãoperceba os detalhes!) de que o govêrno britânico estava emcontato com o govêrno soviético, a fim de elaborar, conjuntamente, as medidas de luta contra a agressão fascista. Asmassas democráticas do país exigiam, então, êsse contato e,naturalmente, o mais estreito possível.

A França deu, simultâneamente, a mesma garantia àPolônia.

Daí a três dias, chegou a Londres o ministro polonêsdas Relações Exteriores, Beck, que era, de fato, o líder do“govêrno dos coronéis” . Permaneceu lá três dias e enta-bulou negociações com Chamberlain e Halifax, negociações

das quais resultou que a garantia unilateral da Inglaterra àPolônia se transformasse em bilateral: no caso de “qualqueração” ameaçar a independência britânica, a Polônia tambémacudiria em socorro da Inglaterra. Resolveu-se, além disso,entabular negociações para a assinatura de um pacto formalde assistência mútua entre os dois países. Adiantando-.me

tes acudiria em socorro da outra, no caso de ameaça “direta" ou‘“indireta” à sua independência. Halifax respondeu,encolhendo os ombros:

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— Sim, trata-se, indubitàvelmente, de questão que deveser esclarecida; mas havemos de conversar a êste respeitocom o govêrno polonês.32

Era evidente que as garantias à Polônia, até aquêle momento, eram, apenas, um pedaço de papel. A sua importância futura afigurava-se nebulosa e enigmática.

r Em 7 de abril, Mussolíni ocupou a Albânia, tambémcom um golpe relâmpago. Correram boatos insistentes deque a isso não se limitaria e de que se apoderaria também dailha grega de Corfu.

Os “meios de Cliveden” foram tomados de pânico. Emapenas três semanas, haviam-se cometido três atos indubi-

táveis de agressão: em 15 de março, contra a Tcheco-Eslováquia; em 22 de março, contra a Lituânia; e em 7 de abril,contra a Albânia. Hitler e Mussolíni, estimulados pelos “apa-ziguadores” de Paris, Londres e Washington, não tinhammais freios. Seria possível que tivesse falido a política cli- vedeniana de confabulação com os a"gressores contra a URSS?

O alarma estendeu-se também à Europa Continental. AFrança, a Bélgica, a Holanda mobilizaram várias classes de

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reservistas; foram minadas as embocaduras do Escalda e doMosa. A Itália aumentou o seu exército para 1.200.000 homens. Washington declarou que os atos dos agressores haviam aniquilado a confiança no terreno internacional e queisso representava ameaça à segurança dog Estados Unidos.

Em tal situação, o govêrno britânico viu-se obrigado a

adotar alguma medida, a fazer alguma coisa que desse asensação de rapidez, decisão e energia. E Chamberlain declarou, a 13 de abril, no Parlamento, que a Inglaterra concedia à Romênia e à Grécia garantia unilateral semelhanteàquela dada, a 31 de março, à Polônia. A França fêz, nesse mesmo dia, declaração análoga.

Só então, quando a Inglaterra contraíra, pressurosamen-te, o compromisso de defender a independência de três países, Chamberlain julgou oportuno lembrar-se da URSS. Nodia 14 de abril, o govêrno britânico propôs, oficialmente, aogovêrno soviético que concedesse à Polônia e à Romênia amesma garantia unilateral que a Inglaterra e a França haviamdado à Polônia, a 31 de março; à Romênia e à Grécia, a 13

que tanto se gabam os inglêses, a conduta de Chamberlain,naquelas semanas criticas, foi uma loucura. Recordo-me deque Lloyd George disse-me em conversa logo após se anun

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que Lloyd George disse me, em conversa, logo após se anunciarem as “garantias” à Romênia e à Grécia:

■— O senhor sabe que nunca tive Chamberlain em altoconceito, mas o que está fazendo, agora, bate todos os recordes de estupidez. . . Damos garantias à Polônia e à Romênia, mas que é que podemos fazer por elas, se forem agredidas por Hitler? Quase nada! Êsses dois paises estão situados, geogràficamente, de tal modo que é impossível chegar a êles. Até o fornecimento de armas e munição só serápossível através do território soviético. A chave para salvar êsses países está nas mãos dos senhores. Sem a Rússia,nada adiantará. . . Por conseguinte, a primeira coisa que sedevia ter feito era entrar em acôrdo com Moscou. E que é

que fêz Chamberlain?. .. Sem chegar a acôrdo com a UniãoSoviética, e de fato à sua revelia, distribui “garantias”, àdireita e à esquerda, a países encravados na Europa Oriental.Escandalosa estupidez! Até onde chegou a diplomacia britânica! .

Nas palavras de Lloyd George, havia muito de razão.

íitê n mim, me pareceu que tudo podia ter, a despeito do próprio Chamberlain, grandes e favoráveis conseqüências para

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a causa da paz. Entretanto, o poder da camarilha de Cliveden e a   sua obtusidade no campo da política externa desvaneceram, ràpidamente, essas idéias. Logo se viu queChamberlain era incorrigível, que a sua linha política principal — atiçar a Alemanha e a U RSS uma contra a outra —-conservava todo o vapor. Como explicar, então, o aparecimento da política de "garantias”?

Quando agora, passados muitos anos, resumo tudo quevi e observei, em 1939, e tudo que tenho sabido pelos livros, memórias e documentos publicados após a guerra, inclino-me a responder a esta pergunta da maneira que sesegue.

Eçi março e abril de 1939, Chamberlain permaneceu tãofiel à sua linha política quanto antes. Por ela, resignou-se,fàcilmente, à hecatombe da Áustria, Tcheco-Eslováquia, Me-mel e Albânia, que já se havia produzido; ter-se-ia resignado,não menos fàcilmente, ao sacrifício da Romênia e da Polônia, que ainda podia produzir-se. Chamberlain — que, comosabemos, obtuso e teimoso ao extremo — marchava em li

govêrno,«que mais não faz do que aguçar o apetite agressivo de Hitler e Mussolíni?. . . E muitas, muitíssimas pessoas(sobretudo, as grandes massas operárias) respondiam: "Não,

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a política do govêrno é injusta e até criminosa. No mundo, existem fôrças suficientes para esmagar os agressoresfascistas ou, pelo menos, para lhes deter a agressão. O queé preciso é unir e organizar essas fôrças. E, em primeiro lugar, criar com a União Soviética uma poderosa coligação dapaz e da resistência aos ditadores fascistas”.

A essas fôrças internas e externas que se opunham àlinha geral de Chamberlain somava-se também a poderosapressão da URSS, que exigia luta decidida contra os agressores germano-italianos como um meio único de conjurar aSegunda Guerra Mundial.

Tôdas essas influências, que se entrelaçavam e cruzavam, criaram, na Inglaterra, uma atmosfera política que fêza camarilha de Cliveden   cogitar se poderia ou não sustentar-se no poder. Foi preciso manobrar para atalhar o perigo da demissão forçada de Chamberlain. Como disse SamuelHoare, jim sábado, à noite, na casa He campo de lady Astor,era necessário atirar um osso qualquer ao cão para que dei

b) exercer certa influência psicológica sôbre Hitler eMussolíni e impedir que realizassem novos atos de agres-.são desfavoráveis à Inglaterra, na esperança de que qual

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quer alteração da conjuntura internacional permitisse, nesseínterim, aos clivedenianos  tornar a aplicar, de modo abertoe conseqüente, a sua linha geral.

A primeira consideração desempenhava, naturalmente, opapel principal; mas também a segunda era tida muito emconta, visto que, com isso,’ os clivedenianos  ganhavam tempo

para elidir a necessidade de colaborar com a U R SS .De mais a mais, conforme provava a proposta feita aogovêrno soviético de concessão de garantias unilaterais à Polônia e à Romênia, os clivedenianos  tinham a vã esperançade obrigar, de um ou outro modo, a União Soviética a lhesservir os interêsses, sem contrair, do seu lado, nenhum com

promisso com a URSS.E, por último, ainda sobrava aos clivedenianos  uma"saída” de reserva para o caso de todo o resto não dar oresultado apetecido: trair a Polônia, Romênia e Grécia, comoacabavam de trair a Tcheco-Eslováquia, Áustria e Espanha.

É claro que a política da camarilha de Cliveden, zelo

que poderiam ser, verdadeiramente, eficazes para impedirnovas agjfessões fascistas.

O que Chamberlain pretendia de nós era inaceitável para

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o govêrno soviético, por duas razões primordiais:a) não poderia impedir o desencadeamento da Segunda Guerra Mundial, e êsse era o nosso objetivo fundamental;

b) colocaria a U R SS em situação de desigualdade comrelação à Inglaterra e à França e aumentaria, enormemente, o perigo de agressão da Alemanha ao povo soviético.

Na realidade Hitler e Mussolíni compreendiam bem umsó argumento: a fôrça. Por conseguinte, para conjurar novasagressões fascistas e a sua inevitável conseqüência — a Segunda Guerra Mundial — era mister criar uma coligação itãopoderosa de países não interessados no desencadeamento dacontenda que fizesse Hitler e Mussolíni perderem a vontadede experimentar a sua fôrça. Achávamos que a Inglaterra,a França e a URSS, tomadas em conjunto, dispunham defôrça suficiente para tanto; mas, para poder sustar o braço dos ditadores fascistas, era preciso que não tivessem amenor dúvida de que essa fôrça se voltaria contra êles àmínima tentativa de nova agressão. 'E isso, por sua vez, impunha que a união das três potências fôsse clara e indiscutí

da agressão. E isso era de capital importância. A União Soviética já tinha, nesse sentido, experiência muito desagradável relativamente à França. Conforme lembramos antes, em

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maio de 1935, concluiu-se um pacto de assistência mútua entrea URSS e a França; mas a redação e a assinatura do convênio militar destinado a reforçar êsse pacto foram transferidas para mais tarde. Entretanto, os governos franceses quese sucederam com rapidez sabotaram, sistemàticamente, a jassinatura do convênio, que continuava inexistente em 1939.

É natural que o govêrno soviético considerasse defeito muito sério da proposta inglêsa o fato de não fazer qualqueralusão à possibilidade de assinatura de convênio militar.Qualquer acôrdo de luta contra os agressores devia ter asprêsas bem afiadas; sem as quais se transformaria em espada de papelão, que se poderia brandir, mas não serviria

para combater.Êsse vazio geral na estrutura das “garantias” tornavainevitáveis a discordância entre os signatários do acôrdo emtôrno da interpretação dos compromissos contraídos, a dificuldade de elaborar estratégia e tática comuns, a lentidãodas ações e muitas outras faltas de coordenação. Em últi

a França. Nem a Inglaterra, nem a Polônia estavam obrigadas a socorrê-la, se fôsse agredida pela Alemanha. E aconcessão de “garantias” à Polônia e à Romênia da parte

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da União Soviética devia piorar, sem dúvida alguma, as relações desta com a Alemanha e aumentar o perigo de agressão hitlerista ao povo soviético, sobretudo através do Bálti-co. Era evidente a desigualdade de direitos da URSS relativamente à Inglaterra e à França em questão tão capitalquanto a segurança nacional e estatal. Isso tinha importân

cia primordial.Tais foram as considerações principais que forçaram ogovêrno soviético a rejeitar a proposta inglêsa. Mas o govêrno da UR SS não se deteve aí. Embora o que aconteceraà Tcheco-Eslováquia e à Espanha lhe houvesse minado aconfiança no propósito da Inglaterra e da França de cum

prir, conscienciosamente, os seus compromissos; embora ocomportamento dêsses países antes da anexação de Memele da Albânia pelas potências fascistas nada prometesse debom, o govêrno soviético, apesar de tudo, não achava prudente desentender-se com êles. O momento era por demaissério e o perigo de uma Segunda Guerra Mundial muitomaior para desprezar, mesmo sob o influxo de emoções mais

2. Assinar convênio militar para fortalecer êsse pacto.3. Conceder garantias de independência a todos os

Estados fronteiriços com a URSS, do Mar Báltico ao Mar

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Negro.Ao entregar a Halifax a nossa contrapoposta, disse-

lhe eu:— Se a Inglaterra e a França querem, de fato, lutar

sèriamente contra os agressores e evitar uma Segunda Guerra Mundial, devem aceitar as propostas soviéticas. E se não

as aceitarem...Fiz, então, um gesto muito eloqüente, cujo sentido não

era difícil compreender.Halifax procurou afiançar-me que os propósitos dos

inglêses e franceses eram dos mais sérios; mas eu disse commeus botões: "Os fatos o demonstrarão...”

Ao mesmo tempo que mandava as nossas contrapropostas, Litvínov chamou-me a Moscou para tomar parte no exame que o govêrno ia fazer do problema do pacto tripartidode assistência mútua e das perspectivas da sua assinatura.Saí de Londres em 19 de abril e lã voltei em 28 do mesmomês. Repugnava-me ver a Alemanha nazi, com a sua suás

vàvelmente, quando os canhões já estiverem começando adisparar.

Em Moscou, assisti a uma rfcunião do govêrno, na qual

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se examinou, com muitas minúcias, o problema do pacto tri-partido. Tive de dar os pormenores e explicações mais circunstanciados sôbre o estado de ânimo reinante na Inglaterra, a correlação de fôrças entre os partidários do pacto e osseus inimigos, a posição do govêrno em seu conjunto e dosseus diversos ministros com referência ao pacto, as perspec

tivas do desenvolvimento político imediato nas Ilhas Britânicas e muitas outras coisas relacionadas, de um modo oude outro, com a provável sorte das contrapropostas soviéticas. Ao informar o govêrno, procurei ser extremamente honesto e objetivo. Sempre achei que um embaixador devedizer a verdade, sinceramente, ao seu govêrno, e não criarnêle qualquer ilusão, seja otimista ou pessimista. O govêrno pode empreender umas ou outras ações práticas, baseadonas informações do embaixador; se, porém, estas forem detom demasiado róseo, ou demasiado sombrio, o govêrno podeficar em situação difícil ou forçada. A observância estritadêsse princípio, às vêzes causou-me até aborrecimentos, mas,de qualquer forma, continuei a fazer o que considerava

— Daladier, apesar de todos os seus defeitos (e temmuitos), iria com mais facilidade que Chamberlain ao encontro das nossas contrapropostas. . . Além disso, a Fran

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ça já tem pacto de assistência mútua com a U R SS . . .■ Pelomenos, no papel. . . Agora, por exemplo, o govêrno francês está insistindo junto ao britânico para que aceite, comobase de discussão, as *nossas propostas de 17 de abril sobre o pacto tripartido de assistência mútua. . . Léger, secre-tário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Fran

ça, redigiu até um contraprojeto de pacto tripartido para apresentá-lo ao govêrno soviético.. . É mais reduzido que o nos-sc, mas tem a mesma b a s e .. . Londres, porém, não quer aceitá-lo e continua a insistir na sua proposta de 14 de abril degarantias unilaterais da U R SS à Polônia e à Romênia. . .Não sei como terminará a disputa anglo-francesa, mas sou

pessimista.. .Sürits fêz um gesto de desalento: depois, continuou:— A desgraça é que hoje, a França não tem política

externa independente. Tudo depende de Londre s... AFrança dos nossos dias é grande potência de segundo plano, que se considera grande potência apenas por tradição. ..E, por estranho que pareça, os franceses se têm conforma

vêrno soviético, sob a máscara de amizade aparente, transformando-se de “amigo” em inimigo, quando se chocou coma resistência do govêrno soviético... E êsse mesmo Bullitt

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representava, então, os Estados Unidos na França!Surits, entretanto, prosseguiu:■— Bullitt mostra grande interêsse pela marcha das ne

gociações, dá conselhos, às vêzes lições, invoca os conhecimentos que tem sôbre a U R SS e o seu gov êrno .. . Como énatural, a sua opinião pesa muitíssimo no espírito de Dala

dier e Bonnet. . . Porque Bullitt os apoiou, enèrgicamente,nos dias de Munich e até recebeu Daladier com um ramode flôres, quando êle regressou, após trair os tchecos.

Posteriormente, quando se desenvolveram as negociações, Bullitt tentou, mais de uma vez, estorvá-las, com os seus"conselhos” a Bonnet e Daladier; o que, naturalmente, nãofêz mais do que acentuar a sabotagem, cujo espirito se apoderara, por completo, dos governos inglês e francês.

No dia seguinte ao meu regresso de Moscou, 29 deabril, visitei Halifax. Ainda sob o efeito das impressões queacabava de receber em Moscou, procurei demonstrar-lhe,longa e ardorosamente, a importância que tinha a conclusão,o mais breve possível, do pacto tripartido de assistência mú

rilha de Cliveden.  Durante a minha viagem a Moscou, tinham ocorrido dois acontecimentos que provavam, claramente, que os agressores, desenfreados, corriam para o seu cri

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minoso objetivo: no dia 28 de abril, Hitler rompeu, simul-tâneamente, o pacto de não-agressão com a Polônia e oacôrdo anglo-germâniço de 1935 sôbre a limitação dos armamentos navais. Os clivedenianos,  contudo, não viam, nãoqueriam ver êsses sinais ameaçadores da época e continuavam, teimosamente, a Sua corrida fatal para o abismo. Eis

um fato, extremamente sintomático, passado durante a minha ausência de Londres: à anexação da Tcheco-Eslováquia,o govêrno britânico chamou o seu embaixador em Berlim,Henderson, “para realizar consultas”; gesto simbólico, destinado a exprimir o seu descontentamento. Mas, a 24 deabril, o govêrno britânico autorizou Henderson a voltar a

Berlim; também gesto simbólico, porém de significação contrária .Em 3 de maio, Litvínov deixou de ser Comissário do

Povo dos Negócios Estrangeiros, ocupando seu pôsto, Mo-lotov. Essa substituição causou, então, grande sensação naEuropa e foi interpretada como mudança de rumo da política externa da URSS.

geiramente modificada, a sua proposta de 14 de abril, istoé, continuava tentando conseguir que a União Soviética concedesse garantias unilaterais à Polônia e à Romênia. Evi

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dentemente, a resistência da França não ajudara. O pessimismo de Surits se justificava.

Claro estava que os clivedenianos  e, particularmente,Chamberlain continuavam a cifrar as suas esperanças-no choque da Alemanha com a URSS, motivo pelo qual não queriam indispor-se com Hitler. Também estava claro que, tôdas

as negociações em tôrno da colaboração da Inglaterra com aURSS, visando à luta contra os agressores, mais não eramdo que uma manobra hipócrita do govêrno, a fim de enganar o povo inglês; cortina de fumaça para ganhar tempo emproveito da aplicação dessa mesma linha geral do Primeiro-Ministro. Não é de espantar que o govêrno soviético rea

gisse com firmeza e decisão à resposta inglêsa. No dia 15 demaio, o Govêrno de Moscou entregou a Seeds uma declaração escrita, dizendo, com tôda a clareza, que a concessão de garantias unilaterais à Polônia e à Romênia era inaceitável para o govêrno soviético e°que a única forma, reale verdadeiramente eficaz, de lutar contra a agressão era o

lain não queria, de modo algum, aceitar a proposta soviética de pacto tripartido de assistência mútua. Não é de es

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pantar que todos os políticos inglêses mais sensatos (semfalar já nas grandes massas) se sentissem extraordinàriamen-te desassossegados e procurassem uma forma de exercer pressão sôbre o govêrno..

A 18 de maio, telefonou-me Churchill.— Amanhã, haverá debates de política externa no Par

lamento. Estou disposto a intervir e chamar a atenção sôbre a forma pouco satisfatória por que se estão levando asnegociações com a R ússia .. . Entretanto, antes de falar empúblico sôbre êste assunto, queria saber do senhor em queconsistem, exatamente, as propostas do govêrno soviéticoque Chamberlain se recusa a aceitar. Na cidade, correm muitos boatos a êste respeito.

Imediatamente, respondi pelo telefone à pergunta deChurchill. Êste escutou-me muito atento e, quando terminei, disse, surpreendido:

— Não compreendo o que é que Chamberlain viu demau nas propostas dos senhores. A meu ver, tôdas sãoaceitáveis.

a Grã-Bretanha e a França, na prevenção de novos atosagressivos.

Referindo-se, a seguir, às afirmativas dos clivedenianos 

d i í l t t i tid d

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de que era impossível o pacto tripartido porque, segundoêles, a Polônia, a Romênia e os Estados Bálticos receavamser "garantidos” por uma aliança da qual participasse aURSS. Churchill ridicularizou êsses argumentos e acrescentou, dirigindo-se aos membros do govêrno:

— Se os senhores estão dispostos a ser aliados da Rús

sia em tempo de guerra. . . se estão dispostos a estender amão à Rússia para defender a Polônia e a Romênia, às quaisos senhores concedem garantias, por que é que não queremser aliados da Rússia agora, quando, graças a isso, justamente, a guerra pode ser, em geral, conjurada?

Nessa mesma sessão, interveio contra o govêrno, com

não menos energia, Lloyd George. Falando dos armamentos da Alemanha e da Itália, disse:■— Não se armam para defender-se. . . Não se prepa

ram para repelir os ataques da França, da Inglaterra ou daRússia. Por êsse lado, ninguém as” am eaça. . . Preparam-separa atacar, êles próprios, qualquer país no qual estejamos

que se levassem a cabo, com urgência, as negociações tripar-tidas.

Ed t bé i l di f di á id i ã d “f t d " E i

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Eden também pronunciou caloroso discurso a favor damais rápida criação de uma “frente de paz" . E, como primeiro passo em tal direção, propôs a assinatura imediata deuma aliança tripartida entre a Inglaterra, a França e a URSSna base da plena reciprocidade e igualdade de direitos.84

A posição firme da União Soviética, de um lado, e osdebates parlamentares de* 19 de maio, de outro, persuadiram Chamberlain da necessidade de nova manobra hipócrita, pois, de outro modo, o govêrno poderia ver-se atrapalhado. E Chamberlain fêz a manobra: dessa vez, porém, emGenebra.

No dia 22 de maio, começou, em Genebra, a sessão ordinária do Conselho da Sociedade das Nações. Cabia a pre

sidência, pelo rodízio, ao representante da U R SS . O govêrno soviético encarregou-me dessa missão, razão pela qual saide Londres para a Suíça a 20 de maio. De caminho, passei várias horas em Paris onde Surits disse-me que o govêrno francês manifestara, ultimamente, grande descontentamento com a lentidão e teimosia dos inglêses nas negocia

Respondi-lhe que reijetávamos a proposta britânica porduas razões principais: a) queríamos conjurar a guerra emgeral, coisa possível, unicamente, com o pacto tripartido de

i tê i út t b itâ i l t á i d i

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assistência mútua; a proposta britânica, pelo contrário, deixava completamente de lado êsse importantíssimo aspecto;b) a proposta britânica colocava a União Soviética em situação de desigualdade relativamente à Inglaterra e à França, coisa que não podíamos, de modo algum, aceitar. E lheexpliquei, brevemente, em que era que víamos essa desigual

dade (disso já falei antes com detalhes).Halifax tentou demonstrar-me que era diminuta a possibilidade de agressão da Alemanha à URSS através dospaíses bálticos e que, mesmo no caso de vir a aconteceressa agressão, a Polônia e a Romênia se veriam também envolvidas, sem dúvida alguma, pelo que entrariam em vigor

as garantias anglo-francesas aos dois referidos Estados. Dessa forma, a Inglaterra e a França acudiriam, de fato, em socorro da URSS.

Divergi de Halifax e disse-lhe que também não me tranqüilizavam as garantias anglo-francesas à Polônia e à Romênia . '

— Imagine o senhor o seguinte caso — continuei. —

cederem o seu território para a passagem das tropas alemãs, nem para a instalação de bases alemãs com fim deagressão contra a terra dos senhores?

Opinei ser pouco provável que os Estados limítrofes

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Opinei ser pouco provável que os Estados limítrofesacedessem a contrair semelhante compromisso; além disso,mesmo no caso de o assumirem, não poderiam cumpri-lo.Tôdas essas combinações complicadas e sinuosas, em cujaelaboração trabalhavam com tanto afã os inglêses, tinhamcaráter ambíguo e rudimentar; e nada podiam resolver. O

único caminho verdadeiramente eficaz para lutar contra aagressão era o pacto tripartido de assistência mútua proposto pelo govêrno soviético.

De repente, Halifax pensou em me intimidar: êsse pacto, disse-me êle, pode enfurecer Hitler, que se porá a gritar que “se está cercando” a Alemanha, se servirá dêsse

slogan   para agrupar à sua volta o povo alemão e desencadeará a guerra. Assim, acrescentou Halifax, nós mesmos provocaríamos aquilo que, justamente, quiséramos evitar com osnossos atos.

Retruquei que Halifax, pelo visto, não compreendia bema psicologia de homens como Hitler. Êste, à sua maneira,

tão não se formulara, nem se discutira, até então; achava,porém, que podia ser examinada e, a meu juízo, não seria difícil chegar-se a acôrdo.

A nossa conversa durou uma meia hora e quando nos

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A nossa conversa durou uma meia hora e, quando nosseparamos, pareceu-me ter impressionado, consideràvelmente,o Ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha. Emtodo caso, dera-lhe a entender, com absoluta clareza,, que ogovêrno soviético poderia fazer concessões em problemas secundários para chegar a acôrdo, mas não aceitaria compro

misso algum em tôrno dos três pontos fundamentais de que já falei (pacto tripartido de assistência mútua, convênio militar e garantias de segurança para todos os pequenos países compreendidos entre o Mar Báltico e o Mar Negro).

Pelos documentos que o Foreign Office tem  publicado,vejo que pensava, então, acertadamente. Halifax termina

com as seguintes palavras as notas da conversa que teve comigo, a 2 2   de maio:“No curso de nossa longa conversa, receio não ter po

dido, o menos que seja, abalar Maiski no ponto principal:a sua insistente exigência de pacto tripartido de assistênciamútua. . . Acho que nos encontramos, agora, diante de al

Daí a dois dias, 24 de maio, Chamberlain fêz ao Parlamento breve declaração, na qual apreciou, em tons muito otimistas, as perspectivas imediatas.

"Tenho tôdas as razões disse Chamberlain •para

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Tenho tôdas as razões — disse Chamberlain —•paraesperar que, em conseqüência das propostas que o govêrnode Sua Majestade est% em condições de fazer, agora, acêrca das questões fundamentais surgidas durante as negociações, se possa conseguir pleno acôrdo em data muito próxima” .30  *

Chamberlain precisava, naquele instante, dêsse otimismo hipócrita para tranqüilizar a “opinião pública” britânica.No dia 25 de maio, o embaixador inglês em Moscou,

Seeds, entregou ao govêrno soviético as novas propostas dogovêrno britânico, mencionadas por Chamberlain no seu discurso perante o Parlamento.

D O I S P R O J E T O S D E P A C T O

garantias ,a   uma série de países que lhes interessam especialmente (Bélgica, Grécia, Turquia, etc.); em princípio, nemêles, nem nós nos opomos a tais garantias, o que significa

não ser dif cil chegar a um acôrdo nesta questão O desejo

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não ser dif.cil chegar a um acôrdo nesta questão. O desejode entrarem em vigor, simultâneamente, o pacto e o convêniomilitar não pode suscitar dúvida alguma; por conseguinte,também será fácil chegar a um acôrdo neste ponto. Daí de-duz-se, com clareza, que as perspectivas são favoráveis, se...,naturalmente, ambos os lados desejam, realmente, êsse acôr

do. Nós o queremos, queremos muito; mas também o querem os inglêses e franceses?”Tínhamos a esperança, ou melhor, queríamos ter a es

perança de que, pelo menos sendo assim, em comêço de junho, os governos da Inglaterra e da França houvessem aprendido alguma coisa e compreendido a necessidade (não muito

agradável para êles, mas, afinal de contas, necessidade) defazer frente única com a U RSS contra a agressão. De qualquer modo, considerávamos um dever político e histórico, apesar de tôdas as desilusões do passado, realizar nova tentativa para encontrar linguagem comum com os inglêses e franceses. E assim fizemos, convencidos de que, com boa vontade de ambos os lados, o pacto tripartido de assistência mú

deu-me, textualmente, o que se segue (cito as suas própriasnotas) :

 A meu ver, será dif íc il a H err H itler com parecer p e

rante a Conferência de Nurember37 sem prèviamente tentarl bl d D t i P i t d

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rante a Conferência de Nurember37 sem, prèviamente, tentar  resolver o problema de Dantzig. Por isto, devemos esperar que julho   e agosto sejam meses tormentosos38  (grifo doautor.) *

Como vemos, o govêrno inglês compreendia perfeitamente que o ar cheirava a„ tempestade e que, dessa vez, ia-se  

decidir o destino da Polônia, cuja integridade   e independência Chamberlain e Daladier acabavam de garantir.  O govêrno inglês não podia deixar de compreender que, sem o acôrdo com a URSS, não poderia salvar a Polônia. E, apesardisso, em lugar de concluir com a maior rapidez o pacto tripartido de assistência mútua, pôs em execução, princípios de

 junhq, o caminho da sabotagem pertinaz do pacto, cuja necessidade acabava de, oficialmente, reconhecer. A dolorosahistória dessa sabotagem será relatada nas páginas seguintes. Quero agora dizer que é difícil encontrar, nos anaisdiplomáticos, exemplo semelhante de hipocrisia e doblez comoas que revelaram Chamberlain e Daladier nas  conversaçõestripartidas de 1939. É também difícil encontrar exemplo

qüenta anos, já era muito rico. Segundo o costume na América do Norte, recebeu a sua "compensação” pelos serviçosprestados a Franklin D. Roosevelt durante a campanha elei

toral e, em 1938, chegou à Inglaterra como embaixador dosEstados Unidos Imediatamente Kennedy tornou se a “sen

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toral e, em 1938, chegou à Inglaterra como embaixador dosEstados Unidos. Imediatamente, Kennedy tornou-se a sensação” da temporada; sobretudo, por ser pai de nove filhos!Tais coisas não são freqüentes entre os membros do CorpoDiplomático. A sorridente fisionomia do embaixador norte-americano adornou, invariàvelmente, durante meses, as pá

ginas dos jornais e revistas; às vêzes, à frente de tôda a família; outras, com os filhos, que eram quatro; e outras, comas filhas, que eram cinco. Depois se iniciou a campanha deconcessão a Kennedy de títulos de Doctor Honoris Causa em Direito; seis (!) universidades — as de Dublin, Edim-burgo, Manchester, Birmingham, Bristol e Cambridge —dispensaram essa honra ao embaixador norte-americano. Ea cada momento se cantavam tôda espécie de loas a Kennedy; e os fotógrafos o apresentavam com a toga universitária ou sem ela, com o barrete de professor ou de cabeçadescoberta. o

Entretanto, o embaixador norte-americano não se dedicava, apenas, à vida mundana e às funções representativas.

preendido quando lhe refutei as afirmações e procurei demonstrar-lhe que nada havia de perdido para a Inglaterraaté aquêle momento; que ela tinha grandes possibilidades de

resistir a repelir a ameaça alemã, se, claro estava, conserdi i ã l t D t i

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resistir a repelir a ameaça alemã, se, claro estava, conservasse a coragem e a disposição para a luta. Destaquei que,a julgar pelas minhas observações, o espírito das grandesmassas populares era firme e que, até na cúpula governamental, havia homens que não se renderiam à insolência dosagressores fascistas. Daí concluía ser errôneo pintar a pers

pectiva com os tons mais negros. Quando terminei, Ken-nedy, abrindo os braços, exclamou:<— Sabe o que lhe digo?. . . Que o senhor é um otimis

t a . . . Nada tenho ouvido de parecido nem sequer dos inglêses!

E como ia ouvi-lo!? Os inglêses com os quais Kennedy

se avistava ostentavam a marca de Cliveden  e nem êles próprios acreditavam no futuro do seu país.Contudo, na Grã-Bretanha encontrava-se no poder, na

quele momento, um govêrno presidido por Churchill. Tinhaos seus defeitos, mas, apesar de tudo, refletia melhor o estado de espírito das massas; daí não ter a Inglaterra capi

te de uma‘potência européia; b) se alguma delas se vir Implicada em operações militares por fôrça da concessão de garantias a qualquer Estado europeu; c) se alguma delas se

vir implicada em operações militares por fôrça da ajuda prestada a qualquer Estado europeu que, embora sem ter garan

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vir implicada em operações militares por fôrça da ajuda prestada a qualquer Estado europeu que, embora sem ter garantias dos signatários do pacto, se dirigir a êles em petição deajuda para lutar contra a agressão (arts. 1  e 2 ) . .

2 . Os três governos deverão examinar, conjuntamente, os métodos a empregar para que o seu apoio e ajuda re

cíprocos possam dar, em caso de necessidade, resultadosmais eficazes (art. 3).3 . O pacto será firmado no prazo de cinco anos .39

Como se compreenderá, êsse pacto de modo algum podia satisfazer a URSS, visto padecer de uma série de defeitos, dos quais eram os principais;

Primeiro, vinculava o pacto tripartido à Sociedade dasNações. Isso significava, na prática, que, dadas as normase regras vigentes nessa organização, o pacto jamais conduziria a ações rápidas e eficientes. Tudo ficaria reduzido aboas palavras e resoluções no papel1.

Segundo, colocava a URSS em situação de desigualdaderelativamente aos outros signatários, obrigando-a a acudir

instrumento de luta contra a agressão, dotada de afiadasprêsas.

Sim, o conteúdo do projeto anglo-francês sugeria tristes reflexões e nada de bom pressagiava. Apesar disso, aURSS resolveu continuar as negociações, na esperança de

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g ç , p çque a situação endireitasse pouco a pouco; pelo que o govêrno soviético entregou, em 2   de junho, aos seus companheirosde negociações um contraprojeto, cuja essência era:

1. A França, a Inglaterra e a U R SS se prestariammutuamente, ajuda imediata e eficaz, se alguma delas se visseimplicada em operações militares com potência européia,nos seguintes casos:

a) agressão dessa potência a um dos signatários dopacto;

b) agressão dessa potência à Bélgica, Turquia, Grécia, Romênia, Polônia, Letônia, Estônia e Finlândia, que a

Inglaterra, a França e a URSS se comprometiam a defender no caso de tal agressão; ec) a ajuda de um dos signatários do pacto a qual

quer potência européia (das não-garantidas) que solicitasseessa ajuda para lutar contra a violação de sua neutralidade.

2 . No caso de se iniciarem operações militares con

recebiam garantias das três grandes potências, inclusive dospaíses bálticos, isto é, criava situação de igualdade de direitos da URSS com os seus sócios ocidentais — e, por fim,

determinava, com tôda a firmeza, que o pacto e o convênioilit t i i i ltâ t D i i

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, , q pmilitar entrariam em vigor simultâneamente. De mais a mais,o projeto soviético obrigava a todos os signatários do pacto,no caso de surgir a guerra, a concertar o armistício ou apaz somente de comum acôrdo (digamos, de passagem, queesta última cláusula não desempenhou papel essencial algum

nas negociações).Se os governos da Inglaterra e da França houvessem aspirado, de verdade, a erguer barreira intransponível dianteda agressão fascista, deveriam ter aplaudido e aceitado, embrevíssimo prazo, o projeto soviético; porque êsse projetogarantia, plenamente, todos os países que lhes interessavam

de maneira especial, conforme haviam dito até então, e porque, além disso, criava autêntico instrumento, eficiente e rápido, de ajuda mútua para a luta contra a agressão.

Essa aspiração principal, contudo, era o que faltava, demodo completo! Chamberlain e Daladier declaravam, hipocritamente, que desejavam o pacto e'até o mais depressa possível; mas na realidade maldiziam o dia e a hora em que a

minha vida, conheci período mais duro. Sentia que o mundo corria veloz para a catástrofe, que eram necessários esforços gigantescos para evitar nova carnificina mundial. Lálonge, porém, à beira do Tâmisa e do Sena, formigavam aosmeus próprios olhos uns anões que não queriam compreen

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p p q q pder, nem compreendiam o que se estava passando na Terrae que viviam, dia após dia, afundados até as orelhas nasmesquinhas jogadas e contra-jogadas da banal rotina diplomática .

MENCIONÁ-LOS OU NÃO?

Façamos justiça aos inglêses e franceses: na questão daSociedade das Nações, fizeram concessões rápidas e tentaram até apresentar as coisas como se as discordâncias houvessem surgido por mera incompreensão. Argumentaram que

Soviética por seus serviços-anteriores, provava o desejo aparente do govêrno britânico de chegar a acôrdo com a maiorrapidez. De outro lado, contudo, vinha a ser um tanto es

tranho que se escolhesse como emissário, para a obtençãode objetivo tão importante, não um político de relêvo, mas um

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q pj p , p ,funcionário (capaz, mas, de qualquer forma, funcionário) dodepartamento diplomático. A notícia de Halifax me pôs emguarda, até certo ponto, mas não quis tirar conclusões prematuras. Por isso, limitei-me a dar-me por informado de haver Strang saído de Londres, de avião, no dia 1 2   de junho.Chegou a Moscou a 14 e tomou parte ativa nas negociaçõesaté princípios de agôsto.

Para assinar o pacto tripartido com verdadeira rapidez(o que constituía nosso objetivo principal) e, ao mesmo tempo, sondar os propósitos autênticos dos nossos companheirosde negociações britânicos, o govêrno soviético resolveu convidar Halifax a ir a Moscou. Entretanto, na dúvida de comoêle acolheria o convite, deu a êste forma mais circunspecta.Na manhã de 1 2   de junho, no mesmo dia em que Strangpartiu para Moscou, recebi instruções -no sentido de visitar,imediatamente, Halifax para recomendar-lhe, amistosa e insistentemente, “em meu próprio nome”, que se dirigisse,

acaso, tarefa digna de um grande estadista? Não conviriafazer todos os esforços possíveis para cumpri-la? Posso afiançar-lhe, com tôda a exatidão, que o govêrno soviético aplau

diria essa sua decisão e que o senhor teria, em Moscou; oacolhimento mais caloroso e cordial.

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Enquanto dizia isso, observava Halifax com atenção.O rosto dêle, alongado e feio, conservou, de comêço, o seuhabitual sorriso de ceticismo. Entretanto, à medida que eufalava, foi adquirindo expressão de crescente seriedade. Halifax era diplomata suficientemente esperto para compreender que o embaixador soviético não podia aconselhá-lo, comtanta insistência, e até “a título pessoal”, a empreender viagem a Moscou sem para tanto contar com a sanção do seugovêrno.

— Se o senhor, lord Halifax — disse-lhe eu, concluindo, »— julgasse possível viajar agora, para Moscou, pe

diria ao meu govêrno que lhe enviasse convite oficial.O rosto de Halifax adquiriu expressão severa e enig

mática. Olhou, atentamente, para o teto, esfregou depois oentrecenho e, por fim, disse, muito significativamente:

7 - Levarei isso em conta.Claro que eu compreendia que Halifax não podia re

figuram umas notas dessas entrevistas, então tomadas pelopróprio Halifax. Como é que nelas se apresenta o meu convite para visitar Moscou? Reproduzo fragmento textual dessasnotas.

" 7 E l ã I M i ki t i

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" . . . 7. Em conclusão, I . Maiski acentuou que seriabom fizesse eu mesmo uma viagem a Moscou, quando as circunstâncias se tornassem mais tranqüilas. Respondi a issoque, conquanto, naturalmente, nada me proporcionasse maiorprazer, sentia, entretanto, que a minha ausência de Londres

era impossível, naquele instante".Fazendo abstração do fato de haver sido a nossa con

versa, bastante longa, reduzida, nesse documento, a umasquantas linhas muito vagas, a exposição de Halifax queacabo de citar contém, pelo menos, duas falsidades evidentes.

Em primeiro lugar, recomendei-lhe, com insistência, que

partisse para Moscou imediatamente, em meados de junho de 1939,  a fim de, sem demora, assinar o pacto e, com isso,criar na Europa “circunstâncias mais tranqüilas” . E Halifax diz, justamente, o contrário: que lhe recomendei ir aMoscou só depois que “as circunstâncias se tornassem maistranqüilas": isto é, pelo visto, depois”da assinatura do pacto.

guinte: como as notas das conversas com os embaixadoressão enviadas, habitualmente, a todos os componentes do gabinete, Halifax quis ocultar a minha proposta até dos seu«

colegas ministros, temendo que suscitasse complicações internas entre os membros do govêrno; porque, àquela altura,d l d l d f

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tôda a política externa da Inglaterra estava, de fato, concentrada nas mãos de tjês homens: Chamberlain, HoraceWilson e Halifax, com a particularidade de que o segundodesempenhava papel muito mais importante que o terceiro.

A justeza da minha Suposição se confirma também poroutro fato surpreendente. Eden, ao saber, então, da má vontade de Halifax de ir a Moscou, dirigiu-se ao govêrno britânico, por iniciativa própria, oferecendo-lhe os seus serviços .

— Tenho razões para pensar — disse êle — que osrussos não têm má opinião a meu respeito. . . Se lord   Ha

lifax nãt> acha conveniente, seja por que fôr, ir agora a Moscou, mandem-me a mim e encarreguem-me de levar a caboa questão do pacto.

O govêrno de Chamberlain, porém, rejeitou a propostade Eden .40

, Assim, pois, já sabemos que o govêrno britânico não

negociações. Direi, apenas, que nunca deixei de ter a sensação de que nós, soviéticos, estávamos abrindo passagempor matagal cerrado e espinhoso, no qual, a cada instante,

se nos deparavam obstáculos de tôda espécie. Apesar detudo, avançávamos com tenacidade para conseguir o obje

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, ç p g jtivo visado. . . Ai de nós, porém! Não pudemos atingi-lo. Porquê? Mais adiante haveremos de ver. Por ora, ficarei, apenas, nas balizas principais das negociações de entãò.

Todo o mês de junho foi dedicado à luta (coisa in

crível!) em tôrno de uma questão: mencionar ou não, nominalmente, no texto do pacto, os países aos quais as trêsgrandes potências concediam garantias. Como jã dissemos,no projeto anglo-francês de 25 de maio, havia um ponto queobrigava a Inglaterra, a França e a URSS a se prestaremajuda mútua, no caso de se verem envolvidas na guerra comogarantidoras de qualquer Estado europeu. Era fórmula pordemais geral e insuficientemente concreta, que se prestava adiversas interpretações, na prática. Poderia ter sido aceita,se as relações entre o govêrno soviético, de um lado, e osgovêrnos inglês e francês, de outro, tivessem como base aamizade e a confiança recíprocas. Na verdade, porém, asrelações entre êles estavam impregnadas de desconfiança e

tra a URSS, sem estender, ao mesmo tempo, a frente aoterritório da Polônia. E se a Polônia se visse envolvida naguerra, entrariam em vigor as garantias que lhe haviam dado

a Inglaterra e a França. É claro que o govêrno soviético-nãopodia aceitar argumentos semelhantes e, na conversa de 1 2

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pod a ace ta a gu e tos se e a tes e, a co e sa dede junho com Halifax, declarei-lhe, categoricamente, que, semas garantias aos três Estados bálticos, não haveria pactoalgum.

Quando se viram fosçados, depois disso, a retirar as

suas objeções contra as garantias aos países bálticos, os inglêses e franceses declararam, inesperadamente, que julgavam desaconselhável a enumeração nominal, no texto do pacto, de todos os Estados aos quais se concediam garantias.Por quê?

Apresentaram êles diversas considerações: a declara

ção pública das garantias feria o orgulho nacional dos países aos quais eram outorgadas; a declaração pública das garantias assustaria os Estados que as recebessem, porque daria a impressão de se haverem êles incorporado à frenteanti-hitlerista; a declaração pública das garantias, sem o consentimento direto dos Estados aos quais eram dadas, con

baixadoreí inglês e francês em Moscou, Seeds e Naggiar,respectivamente, não figurasse no pacto, em geral, garantiaalguma a outros Estados europeus e se assinasse, simples

mente, um pacto tripartido de assistência mútua entre a Inglaterra, França e URSS para o caso de agressão direta

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g , ç p gda Alemanha a uma das potências referidas.

A proposta causou grande desconcêrto em Londres eParis, onde raciocinaram da seguinte maneira: “Se se aceitar a proposta soviética, que é que fica das garantias conce

didas à Polônia e à Romênia pela Inglaterra e pela França,em março e abril de 1939? Ficarão no ar e se transformarão em pedaços de papel, capazes, entretanto, de assestargolpe de não pequena monta no prestígio das potências quederam as garantias". Daí se terem os governos inglês e francês apressado a recusar assinatura a um simples pacto tripartido de assistência mútua e voltado ao pacto tripartidocom garantias a outros países. Durante várias reuniõesrealizadas em Moscou, tentaram êles, sob diversos pretextos, elidir a necessidade de mencionar no pacto os países que recebiam garantias. E, quando se convenceram deser isso impossível, propuseram, em 2 1   de junho (a proposta foi apresentada pelo embaixador francês Naggiar) que a

mas ao fato de que a Alemanha ameaçava a França muitomais diretamente do que a Inglaterra. Em todo caso, o certo é que, não obstante a linha comum a que se atinham Lon

dres e Paris, existiam, entre êles, nas negociações, difèren-ças de matiz que se manifestavam num ou noutro caso. Assim

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ç qse deu, particularmente, ̂ com o problema da enumeração nopacto dos países que recebiam garantias, quando Naggiarpropôs transferir essa enumeração para um protocolo secreto. Conforme veremos adiante, êsse fato se repetiu, depois,

em mais de uma ocasião.Todavia, o problema da enumeração dos países aludidos não terminou com o que ficou dito acima. Decidida aquestão do protocolo secreto, os inglêses e franceses declararam, de repente, que desejavam estender as garantias amais três países que lhes interessavam: Holanda, Luxembur

go e Stiíça. Assim, pois, as três grandes potências deviamgarantir não oito Estados, como até então se havia tratado,mas onze, dois dos quais (Holanda e Suíça) nem sequermantinham relações diplomáticas com a União Soviética.Isso teria, é lógico, de aumentar a carga que os grandeshaviam de suportar; de modo especial, a União Soviética,

Suíça não‘figurassem na lista dos países que receberiam garantias, mas que, no protocolo secreto já mencionado, se dissesse o seguinte: no caso dêsses três países verem ameaça

da a sua independência, os membros do grande tercêto seconsultariam sôbre as medidas a adotar.

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Os inglêses e franceses, entretanto, além de alongarem, a todo momento, as negociações, exigiam da. U R SS“compensações” a cada uma das concessões que faziam:donde resultou forte altercação entre Halifax e eu, no dia 23

de junho. Pediu-me êle que fôsse vê-lo no Foreign Office  e, à minha chegada, começou a queixar-se, amargamente, da"obstinação” e “intransigência” soviéticas. Depois, com expressão severa e enigmática, perguntou-me, subitamente, seo govêrno soviético queria, realmente, assinar o pacto tripartido .

— Por que o pergunta? — foram as minhas palavras.— Sabe muito bem que o govêrno soviético é partidário convicto do pacto tripartido.

Não é o que vejo — declarou Halifax. <— Quandose travam negociações, as duas partes fazem concessões e,no fim de tudo, chegam a compromisso. Nós, inglêses, lhes

dispensável capaz de assegurar a paz na Europa.   Os senhores, pelo contrário, começaram com uma coisa que não podia assegurar essa paz e, por isso, como é natural, tiveram de

ir-se aproximando, paulatinamente, da nossa posição,’ poistambém os senhores devem estar interessados em preservar apa na Europa Não podemos renunciar ao nosso "mínimo

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paz na Europa. Não podemos renunciar ao nosso "mínimodispensável” sem trair a causa da paz. Os senhores, porém,precisam aproximar-se um pouco mais de nós, a fim de estarmos em condições, com os esforços comuns, de pôr diqueà agressão. Portanto, será melhor guardarem o catálogo dasconcessões que têm feito e não nos exigirem por elas compensação alguma. Não o aceitaremos. Somos realistas.Compreenda que o que nos interessa não são as fórmulas

 jurídicas, nem o equilíbrio no balanço de concessões de umlado e de outro. O que nos interessa é a essência da questão,  isto é, conjurar, realmente, a agressão e assegurar a

paz na Europa. Para lograr êsse fim, não há senão um caminho: o caminho seguido pela URSS.  Marchemos juntospor êle.

Halifax escutou-me com atenção, mas nãó se pôs deacôrdo comigo, procurando demonstrar-me que, em tôda negociação, tem grande importância o "elemento humano",

tamente, que se aproximava o momento em que Dantzigfaria parte da Alemanha hitlerista. Nos dias seguintes, milhares de “turistas” alemães inundaram a cidade, e para lá

foram transportados, de contrabando, quantidades imensasde armas de todos os tipos, até artilharia pesada; o lider

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nazista de Dantzig, Forster, incitou a população a não poupar esforços para transformá-la, novamente, em cidade alemã. Sob o influxo de todos êsses acontecimentos, foi crescendo a tensão das relações polono-alemãs e aumentando

cada vez mais a inquietação em Londres e Paris. Daladierdeclarou, em 27 de junho, no Parlamento, que "jamais aEuropa conheceu situação tão delicada, nem tão grave quanto a presente”; daí a cinco dias, em 2 de julho, o Primeiro-Ministro francês fêz constar que “a situação geral na Europa é extraordinàriamente séria” . Churchill disse, em discurso de 28 de junho, em Londres:

— Estou muito preocupado com a situação em que,atualmente, nos encontramos. É muito semelhante à do anopassado, mas com a importante diferença de que, êste ano,não temos a possibilidade de retroceder. Com a Tcheco-Es-lováquia não nos ligavam obrigações contratuais, mas, agora demos garantia absoluta à Polônia Tudo prova que os

imprensa soviética. Pravda  disse, em artigo de 29 de junhode 1939:

“As negociações anglo-franco-soviéticas para a conclu

são de um pacto eficaz de assistência mútua contra a agressão estão num atoleiro...“A intolerá el demora e as interminá eis delongas nas

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A intolerável demora e as intermináveis delongas nasnegociações com a URSS levam a duvidar da sinceridade dosverdadeiros propósitos da Inglaterra e da França, obrigando-nos a perguntar quaLé, exatamente, a base dessa polí

tica: a aspiração real à formação da frente da paz, ou odesejo de servir-se das negociações e da respectiva demorapara outros fins, que nada têm de comum com a criaçãode uma frente das potências inclinadas à paz?

“Esta indagação é tanto mais iniludível quanto, no decorrer das negociações, os governos inglês e francês acumulam dificuldades artificiais e criam a aparência de existiremsérias discrepâncias entre a Inglaterra e França, de um lado,e a URSS, de outro, relativamente a questões que poderiamser, sem demora, nem impedimentos, resolvidas, caso houvesse boa vontade e propósitos sinceros por parte da Inglaterra e da França”.

Depois de referir se a uma dessas "dificuldades arti

URSS, facilitar o caminho para o conchavo com os agressores” .

Era uma verdade dita sem ambages, nem rodeios.

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O P AC T O E O C ONVÊ NIO M IL IT AR

Seja como fôr, o certo é que, em comêço de julho, ficara resolvido o problema da enumeração dos Estados que

receberiam garantias das três grandes potências. Chegarao momento de vencer outras dificuldades que se erguiam nocaminho da assinatura do pacto. A mais importante delasera a ligação existente entre o pacto e o convênio militar  destinado a fortalecê-lo.  Era impossívél dizer que ainda nãose tivesse tocado nessa questão. Absolutamente! Já no mêsde junho dela se falara mais de uma vez durante as ne

do, os nossos interlocutores usavam com cegueira pertinaz,também nessa questão, da tática da sabotagem, embora aêles próprios a terra começasse a arder embaixo dos pés.

A posição de uma lado e do outro acêrca do pactó edo convênio militar consistia, fundamentalmente, no seguinte:O ê iéti i t ê i

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O govêrno soviético opinava que o pacto e o convêniomilitar deviam formar um todo único, ser duas partes de ummesmo acôrdo e entrar em vigor simultâneamente. Em outras palavras, sem o convênio militar, era impossível haver

pacto político. Êsse ponto de vista já tinha sido exposto comclareza em nossas primeiras propostas de 17 de abril e aêle nos cingíamos, estritamente, em tôdas as nossas negociações com os inglêses e os franceses, tanto em Moscou quanto em Londres e Paris. Não falarei'aqui, porque já o fiz,dos motivos que nos impeliam a nos cingor, estritamente, atal critério.

Pelo contário, os governos inglês e francês achavam queo pacto e o convênio militar eram dois documentos diversose que não era oportuno ligá-los de um modo por demaisestreito. Por quê? Quando tratei dessa questão, pela primeira vez, com Halifax, em nossa conversa de 8   de junho, oMinistro das Relações Exteriores britânico disse me:

í

É difícil imaginar exemplo mais patente de fingimentoe hipocrisia!

Qual era a verdadeira causa de semelhante conduta dos

inglêses e franceses?A mesma de sempre: a imutável fidelidade de uns e ouà li h l d li d i h ilid d d í d

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tros à linha geral dos clivedenianos  e a hostilidade, daí derivada, ao pacto tripartido de assistência mútua. Justamente nesses dias me comunicaram que, em princípios de julho,ocorrera a seguinte troca de idéias entre Chamberlain e o seu

íntimo amigo Wood, então Ministro da Aviação:— Que é que há de nôvo quanto às negociações sôbre o pacto? — perguntou-lhe Wood.

Chamberlain fêz um gesto irritado e respondeu:— Ainda não perdi a esperança de conseguir evitar a

assinatura dêsse malfadado pacto.

Se tal era o estado de espírito do chefe do govêrno, nadatem de estranho na indisposição de Halifax e Daladier paraconsiderar um todo único o pacto e o convênio militar.

Como o govêrno soviético, entretanto, abordou, categoricamente, em começos de julho, o prpblema da unidade dopacto e do convênio militar, os inglêses e franceses, de bomou mau grado tiveram de ocupar se dêle

Quer dizer que não têm confiança em nós?Encolhendo os ombros, retruquei:— Se três grandes Estados procuram chegar a um

acôrdo sôbre coisas de muita importância, tudo tem de serclaro e exato, pois, de outro modo, podem surgir as maisindesejáveis incompreensges e conflitos

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indesejáveis incompreensges e conflitos.O govêrno soviético defendeu tenazmente, em Moscou,

o conceito do acôrdo único com duas partes. A fim de ganhar tempo, propôs que começassem, imediatamente, as ne

gociações acêrca do convênio militar sem aguardar que ficasse terminado o pacto. As negociações políticas podiamcontinuar paralelamente, proposta que desagradou muito aHalifax. O govêrno soviético, entretanto, manteve-se firmena sua posição: ou pacto e convênio simultâneos, ou pactoalgum. Daí ter Talifax indicado a Seeds, em meados de julho, que' aceitasse a unidade do pacto e do convênio, assim

como a iniciação das negociações sôbre êste último antes doprevisto, facultando ao embaixador resolver quando deveria informar disso o govêrno soviético. Seeds, de sua parte,esperou uma semana mais e só na reunião de 24 de julho deua conhecer ao comissário do povo soviético que o govêrnobritânico não se opunha ao início imediato das negociações

olhos receosos de Halifax descobriam, a todo momento, emqualquer íórmula soviética, um palavra, uma vírgula que lhecausava reação negativa. As discussões em tôrno da definição de “agressão” duraram todo o mês de julho e pros

seguiram em agôsto sem levar a resultado algum. E ficaramsem terminar, quando falharam, definitivamente, as conversa

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ções tripartidas.Devo relembrar, uma vez mais, a êste respeito, as di

vergências surgidas entre inglêses e franceses no decurso dasnegociações. Em telegrama de Seeds datado de 2 2   de julho,figura o seguinte ponto:

“A opinião pessoal do embaixador francês é que a definição de agressão indireta proposta por Molotov pode seraceita, tendo-me êle dado a entender, em caráter privado,que esta é também a opinião do govêrno francês. Está sendo cada vez mais difícil para o embaixador francês apoiar aoposição do govêrno de Sua Majestade à fórmula de Molotov” . 43

Simultâneamente, no mesmo dia, Halifax telegrafou aSeeds: •

“Em Paris e Londres, têm aparecido informações jornalísticas segundo as quais o govêrno francês está disposto

partido? E nos víamos obrigados a sempre responder: "Não,não pode; é evidente que o govêrno inglês continua a nãoquerer assinar o pacto”.

Em julho, deu-se um importante acontecimento que veioadensar ainda mais as nossas dúvidas acêrca da sinceridadedos negociadores inglêses. Mais ou menos em 20 da agôsto,

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g g g ,avistaram-se o Ministro *do Comércio Exterior inglês, Hud-son, e o conselheiro de Goering, em questões econômicas,W ohlthat. Oficialmente, W ohlthat fôra a Londres tomarparte na Conferência Internacional da Indústria Baleeira; naprática, tinha a incumbência de fazer sondagens a respeitodas possibilidades que existiam de regular em ampla escalaas relações entre a Inglaterra e a Alemanha. Àquele momento, não conhecíamos todos os pormenores das conversações de W ohlthat com os estadistas inglêses. Ignorávamos,particularmente, as suas conversas com Horace Wilson (coi

sa que só se esclareceu quando a guerra terminou). Em notas do então embaixador alemão em Londres, Dirksen, datadas de 21 de julho de 1939, encontramos os seguintes dados sôbre as conversas de Wohlthat com Hudson e HoraceWilson.

Por intermédio do membro norueguês da comissão ba

de participar da exploração das colônias; e e) concurso financeiro recíproco e problemas de comércio internacional.Perguntando Wohlthat se o govêrno alemão podia acrescentar outras questões à ordem do dia, Wilson respondeu queFührer   não tem mais do que pegar uma fôlha de papelem branco e nela escrever as questões que lhe interessarem;

ê b i â i á di i á l ” W il

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o govêrno britânico está disposto a examiná-las” . W ilsonpediu que Hitler designasse uma pessoa munida dos devidospodêres para travar negociações a respeito de tudo quantose relacionasse com a colaboração anglo-alemã.

Dirksen escreve, mais adiante: “Sir Horace W ilson disse, claramente, ao Sr. Wohlthat que a assinatura de um pacto de não-agressão ( com a Alemanha. — I . M .) permitiriaà Grã-Bretanha desligar-se dos seus compromissos com aPolônia” . 45

Wilson propôs a Wohlthat que falasse, imediatamente,

com Chamberlain para se convencer de estar êste de acôrdocom o programa que lhe expusera, mas Wohlthat evitou avistar-se com o Primeiro-Ministro.

Tais foram as conversações entre Chamberlain e a Alemanha, no verão de 1939, nas costas da URSS! Se, em definitivo, delas nada saiu, foi por fatores que não dependiamd P i i Mi i t E hi t i d líti d O i

Como então disseram Os jornais e como Chamberlain reconheceu, na sua declaração de 24 de julho perante o Parlamento, Hudson e Wohlthat trataram da ampliação das relações comerciais e financeiras anglo-alemãs e da concessãode colossal empréstimo inglês à Alemanha, em determinadascondições, empréstimo que poderia oscilar entre 500 e 1.000

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p q pmilhões de libras esterlinas! Tratado comercial de tal magnitude tinha importância política de primeira ordem. Se ummembro do govêrno britânic© julgava possível examinar semelhante projeto com um alto dignitário do Estado hitlerista, isso significava.. . Não tiramos daí deduções de alcance excessivo; mas era natural que crescesse nossa desconfiança quanto aos verdadeiros fins do govêrno britânico,desconfiança alimentada por tôda a experiência do passado;principalmente, pela experiência das negociações tripartidas.

PREPARAÇÃO DASNE G OC IAÇ ÕE S M IL IT ARE S

Isso, significava que as negociações não começariam, defato, antes de duas semanas. Halifax, é claro, não pensava em dar-se pressa.

■— Já foram designados os componentes da sua delega

ção, que vai tomar parte nas negociações militares? — tornei a indagar.

Não por ora não • Fá lo emos nos próximos

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— Não, por ora não. . . —• Fá-lo-emos nos próximosdias — disse Halifax; e acrescentou: — Acreditamos queParis seja o lugar mais adequado para as negociações militares, mas, já que o govêrno soviético desejou que se rea

lizem em Moscou, estamos dispostos a avistar-nos lá.Saí do escritório de Halifax muito alarmado: o velho jôgo continuava, ao passo que a situação internacional seagravava dia a dia. Dantzig se militarizava as marchas forçadas e a tensão das relações polono-alemãs se tornava quase isuportável. Em 2 1   de julho, o Ministério das Relações

Exteriores alemão declarou que Dantzig tinha de ser res-tituída à Alemanha, “sem condição alguma”. O líder doexército polonês, marechal Rydz-Smigly, respondeu que, sea Alemanha tentasse resolver o destino de Dantzig de forma unilateral, a Polônia empunharia as armas. A essa altura,o general inglês Ironside visitou Varsóvia e entrou em negociações com o Estado Maior Central da Polônia No Ex

berais, criticou com dureza a política de Chamberlain e exigiu que se enviasse a Moscou “um homem da mais alta posição política” para levar a cabo as negociações relativasao pacto. Dalton, representante dos trabalhistas, propôs quefôsse a Moscou o próprio Halifax, ou que se convidasse avir a Londres um memljro do govêrno soviético. Eden insis

l

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tiu em que se enviasse, urgentemente, uma missão políticaà URSS sob a presidência de alguém cuja posição lhe permitisse pôr-se em contato direto com o govêrno soviético.No mesmo sentido se manifestaram muitos outros oradores.

Chamberlain teve a idéia de apoiar-se nos precedentesdo passado para se defender dos ataques que lhe eram feitos pela sabotagem das negociações. Disse que as negociações relativas à aliança anglo-japonêsa de 1903 haviam durado seis meses: a Entente  anglo-francesa de 1904 exigiranove meses de negociações e a Entente   anglo-russa de 1907,

quinze meses. . . A conclusão era clara; as negociações que,então, se mantinham com a URSS duravam, apenas,  quatromeses e meio. Que era, pois, que se queria dela? í6   É difícil de imaginar exemplo mais claro de inatividade política do que êsses argumentos do Primeiro-Ministro britânico,em um momento no qual estava a ponto de se desencadear

Dirigi-me a Arthur Greenwood, suplente do líder doPartido Trabalhista no Parlamento, com quem tinha boas relações, e pedi-lhe que fizesse saber, extra-oficialmente, aoGovêrno britânico que a União Soviética nutria a esperan

ça de ver à frente da delegação inglêsa um militar eminente;melhor do que qualquer outro, o general Gort, então chefedo Estado-M aior Central britânico. Sei, com tôda a certe

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za, que Greenwood satisfez meu pedido. Em resposta,,recebeu carta de Chamberlain, (eu mesmo a li ) , na qual o Primeiro-Ministro lhe comunicava que, embora lamentasse, ogovêrno não podia mandar Gort a Moscou por ser demasiado necessário em Londres naquele momento; mas que, noseu lugar, presidiria à delegação um homem que infundiriao "respeito” devido ao Govêrno soviético.

E que aconteceu? Chamberlain declarou em 31 de julhono Parlamento que o gabinete tinha confiado a direção dadelegação militar inglêsa a sir   Reginald Plunkett-Ernle-Erle

Drax. Devo confessar que, nos sete anos que era embaixador soviético em Londres, nem uma só vez ouvi falar nessenome. E nada há de particular nisso: é que sir   ReginaldDrax não tinha então nenhuma relação ativa com as fôrças armadas inglêsas; mas, em compensação, estava perto da Côrtee sustentava as opiniões de Chamberlain De maneira algu

a Moscou. Decidi dar um almôço em honra delas. Por muito que me tivesse desiludido a composição das delegações,um dever de cortesia diplomática exigia de mim êsse gesto.Além disso, desejava falar pessoalmente com seus membros.

O almôço foi servido no jardim de inverno da Embaixada.Além das delegações inglêsa e francesa, a êle compareceramos nossos funcionários miiltares (os adidos miiltar aéreo e

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os nossos funcionários miiltares (os adidos miiltar, aéreo enaval) e os chefes da representação comercial. À minha direita, como hóspede de maior categoria, se sentou o Almirante Drax, inglês alto, magro e encanecido, de movimen

tos lentos e voz pausada. Quando, no fim do almôço, nosserviram o café, tive com êle a seguinte conversa:E u .  Quando partem os senhores para Moscou, al

mirante?Drax.  Ainda não está decidido, definitivamente,

mas nos próximos dias.

E u .  Irão de avião, não?. . . Não há tempo a perder: a atmosfera na Europa está fervendo!...Drax .  Oh, não! As duas delegações, mais o pes

soal auxiliar, somam cêrca de quarenta pessoas. Alémdisso, levamos bagagem muito volumosa. . . Não é cô

modo voar de avião!

E aconteceu o seguinte: as delegações militares partiram de Londres a 5 de agôsto em um navio misto City of  Exeter,  que fazia 13 nós por hora, e só a 10 de agôsto chegaram, afinal, a Leningrado. Levaram nada menos que cin

co dias na travessia, em um momento em que a balança dahistória contava as horas e até os minutos!. ..

Então concluí que a fenomenal lentidão com que se

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Então, concluí que a fenomenal lentidão com que sepreparava a viagem da delegação à URSS era uma manifestação a mais do espírito de sabotagem das negociações, quetão bem conhecíamos. É indubitável que, em geral, estava

pensando certo. Mas hoje, à vista dos documentos diplomáticos publicados pelo Govêrno inglês, pode-se comprovarque a lentidão com que Drax e seus colegas fizeram a viagem a Moscou tinha, além de tudo, sentido especial. Já disse que, quando as partes chegaram a acôrdo no sentido deiniciarem, imediatamente, as negociações militares, o pacto

político não havia sido ainda aprovado por completo: faltava resolver o problema da definição da "agressão” . Pensava-se manter paralelamente as negociações políticas e militares. Pois bem, no ponto 8   das instruções que o Ministério das Relações Exteriores inglês deu por escrito à suadelegação, para que se guiasse por elas durante as negociaõ d M di i

pendentes.. . De outro lado, as instruções recebidas pelogeneral francês prescrevem que procure conseguir o maisrapidamente possível a assinatura do convênio militar. É evidente que estas instruções não coincidem com as que rece

beu o almirante Drax” .Com efeito, a divergência entre Londres e Paris era

evidente E não só entre Londres e Paris mas também (fato

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evidente. E não só entre Londres e Paris, mas também (fatosignificativo em extremo) entre o govêrno britânico e o seupróprio embaixador em Moscou. Por mais treinado que estivesse, nem sequer Seeds pôde resistir, no fim das contas,

ao escárnio que fazia o Govêrno britânico dos interêsses dasegurança européia e das normas elementares do bom-senso.Seeds acrescentava no telegrama mencionado:

“Ser-lhe-ia grato, se me explicasse com urgência se oGovêrno de Sua Majestade faz depender da prévia soluçãodo problema da “agressão indireta" o progresso das negocia

ções militares, acima de vagas generalidades que a nada obrigam. Lamentaria profundamente que fôsse essa a verdadeira decisão do govêrno de Sua Majestade, pois tudo indicaque a missão militar soviética quer resolver o assunto comabsoluta seriedade” . 48

A êsse extremo chegou a miopia política dos líderes de

5

de outras íestemunhas fidedignas dos acontecimentos deMoscou e o que soube mais tarde por diversas publicações edocumentos.

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AS NE G OC IAÇ ÕE S M IL IT ARE S D E M OSC OU

Diversamente dos governos inglês e francês o govêrnoSoviético focalizou as negociações militares com tôda a seriedade que mereciam.

A missão soviética que nelas participou era composta depersonalidades de primeira ordem. Presidia-a o marechal K.Vorochilov, então Comissário do Povo da Defesa da URSS,e integravam-na o chefe do Exército de primeira categoria B. Shaposhnikov, chefe do Estado-Maior Central; o almirante de segunda categoria N. Kuznetsov, Comissário doPovo da Marinha; o chefe do Exército de segunda categoria A Loktionov chefe das Fôrças Aéreas e o chefe de

"O marechal Voroshilov, que antes não havia tido oportunidade de ver, vestia uniforme branco de verão muito bonito e me produziu a impressão mais favorável por sua gen

tileza e vivacidade. Pelo visto, estava realmente contente deentrevistar-se com as missões” . 5 0

O banquete causou grande impressão ao embaixadori lê *

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inglês. *“A recepção — dizia no seu informe — durou até altas

horas da noite. O banquete foi seguido de excelente con-cêrto. Reinou atmosfera cordial e só as dificuldades do idioma atrapalharam um pouco a conversa. Na resenha oficialda recepção, publicada no Izvestia,  a 12 de agôsto, falava-se dos brindes amistosos trocados durante o jantar” .51

Os sovietes fizeram, portante, todo o possível para mostrar a sua seriedade ante as negociações em tôrno do convênio militar e seu sincero desejo de levantar barreira eficaz

que impedisse a repetição da agressão. Assim o testemunhamos próprios inglêses. Mas qual foi a atitude anglo-france-s a ? . . . Tudo, ah! continuou como antes: a sabotagem dopacto tripartido continuou.

Essa sabotagem se fêz evidente já na primeira reuniãooficial das três missões, a 12 de agôsto. Terminadas tôdas

não obstante, o general Doumenc tinha a possibilidade demanter negociações sérias com o govêrno soviético.

A situação do almirante Drax veio a ser muito pior,porque verificou-se não possuir êle credencial escrita algu

ma. Seria preciso prova melhor da falta de seriedade comque o govêrno britânico via as negociações militares? Eraevidente que a missão inglêsa não havia sido enviada a

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q gMoscou para assinar com urgência um convênio militar, maspara falar sôbre êle sem responsabilidade. O almirante Draxprocurou sair da embaraçosa situação em que se encontra

va, declarando que, se a conferência fôsse transferida paraLondres, disporia de todos os podêres necessários. Entretanto, o chefe da delegação soviética objetou, em meio a hila-ridade geral, que “é muito mais fácil trazer uns papéis deLondres a Moscou que ir para lá grupo tão numeroso” . 5 4  Nofim de contas, o almirante prometeu que solicitaria de seugovêrno credenciais escritas, as quais só chegaram no dia 2 1

de agôsto, quando, como veremos mais adiante, já eram desnecessárias .

Assim, pois, a carência de credenciais escritas ao almirante Drax foi a gôta que fêz transbordar o caso dos longosmeses de paciência do govêrno soviético. Êste se conven

d fi ti t d Ch b l i i i í l

Willaume; e da URSS, o chefe do Estado-Maior Central,chefe do Exército de primeira categoria B . Sháposhnikov;o chefe das Fôrças Aéreas, chefe do Exército de segundacategoria A . Loktiónov, e o Comissário do Povo da M a

rinha, almirante de segunda categoria N. Kuznetsov.O quadro geral das fôrças armadas das três potências

era o seguinte: *

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gA França  dispunha de 100 divisões, sem contar a de

fesa anti-aérea, a defesa ^costeira e as tropas aquarteladasna África; havia, além disso, uns 2 0 0 . 0 0 0   combatentes da

República Espanhola55  que haviam entrado na França depoisda vitória de Franco e pedido seu engajamento no exércitofrancês. O armamento das fôrças francesas constava de4.000 tanques modernos e de 3,000 peças de artilharia degrosso calibre, de 150 mm para cima (sem contar a artilharia de divisão). A frota aérea da França tinha 2.000 aviões

de primeira linha, dois terços dos quais eram modernos parao nível daqueles tempos, entre êles caças com velocidade de450 a 500 k/h e bombardeiros cuja velocidade oscilava entre400 e 450 k/h.

A Inglaterra  tinha preparadas 6   divisões, podia transferiroutras 9 para o continente “em prazo brevíssimo" e acres

“ d l ” 6 d d

conjurar a agressão fascista, mas com uma condição iniludí-vel: que os* três governos quisessem, realmente, criar umafrente única eficaz contra Hitler e Mussolíni. O govêrno soviético tinha muita vontade de chegar a essa frente única,

mas não se pode dizer o mesmo, absolutamente, do govêrno da França e, muito menos, da Inglaterra.Eis dois fatos sintomáticos.Na reunião de 14 de agôsto o marechal Voroshilov e

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Na reunião de 14 de agôsto, o marechal Voroshilov eo general Doumenc tiveram a seguinte troca de impressões:

"Marechal Voroshilov : Ontem, fiz ao general

Doumenc a seguinte pergunta: Como imaginam as delegações presentes, ou os Estados-Maiores Centraisda França e Inglaterra a participação da União Soviética numa guerra contra o agressor, se êste atacara França e a Inglaterra, se atacar a Polônia ou a Romênia, ou a Polônia e a Romênia juntas, ou a

Turquia?. . .General Doumenc:  O general Camelin pensa e eu,como subordinado seu, compartilho com o seu modo depensar, que a nossa tarefa principal consiste em quecada um mantenha, firmemente, a frente e agrupe asfôrças nessa frente. Quanto ao que diz respeito aos

í i d id b êl d

Assim, pois, o Estado-Maior Central francês padeciade evidente complexo de passividade. No caso de nôvo“salto” de Hitler, recomendava aos futuros integrantes dopacto "manter firme a frente” e esperar... esperar qué a

vítima pedisse ajuda. Aplicado à URSS, isso significariaque, se Hitler agredisse a Polônia ou a Romênia, o govêrno soviético deveria concentrar as fôrças em sua fronteira

id t l b f i t i d t l d

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ocidental e observar, friamente, o que ocorria do outro ladoda mesma. Só se os governos polonês ou romeno se dirigissem a ela é que poderia acudir e socorrê-los.. . E se não

se dirigissem? E se o fizessem tarde demais? Era indubitãvelque a estratégia recomendada pelo Estado-Maior Centralfrancês podia conduzir, unicamente, ao triunfo do agressor.

Foi mais aguda ainda a divergência manifestada entreo lado soviético e o lado anglo-francês relativamente a outra questão. A URSS achava que, para falar sério dos planos de luta contra os agressores, era indispensável coordenar exatamente, de antemão, as ações práticas, no momento do perigo,  sem esperar que se chegasse à hora crítica. Justamente por isso, considerando que a URSS e a Alemanhanão tinham fronteira comum, o chefe da delegação soviéticaperguntou, claramente, aos chefes das missões inglêsa e francesa nessa mesma sessão de 14 de agôsto:

pois, como havia declarado o general Doumenc, no caso daagressão álemã, "a Polônia e a Romênia lhe suplicarão, senhor marechal, que lhes acuda em socorro” . Quando o marechal Voroshilov, retrucou: “Pode acontecer que não o fa

çam ,59  Drax e Doumenc deram a entender que a questãoformulada pelo govêrno soviético tinha caráter político enão era da competência das missões militares. Todavia, como

h f d d l d URSS d l

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o chefe da delegação da URSS declarara que a passagemdas tropas soviéticas era uma questão de "importância cardeal” 60  e que sem sua solução satisfatória não se podia se

quer pensar em assinar o convênio militar, os chefes de ambas as delegações ocidentais fizeram constar, por escrito, queera preciso dirigir-se aos governos da Polônia e da Romênia para receber resposta à indagação feita pela U R SS . Recomendaram que fôsse o govêrno da URSS que a fizesse,admitindo, ao mesmo tempo, que Londres e Paris podiamenviar a indagação correspondente.

O govêrno soviético, como se há de compreender, nãotinha motivo algum para fazer gestões junto a Bucareste eVarsóvia. Enfim, Drax e Doumenc se comprometeram a pedir aos governos inglês e francês que solicitassem à Polônia e à Rombênia resposta à indagação relacionada com a

d t iéti l t itó i d f id

No dia seguinte, Drax comunicou que ambas as missões haviam pedido informações a Londres e Paris a respeito da questão que interessava à delegação soviética. Como,porém, nem a 16, nem a 17 de agôsto, chegasse respostaalguma de Londres ou Paris, a delegação soviética declarou que, “se durante o dia de hoje e de amanhã, não se receber resposta dos governos da Inglaterra e da França, nosveremos na lamentável necessidade de suspender, por algum

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veremos na lamentável necessidade de suspender, por algumtempo, as nossas negociações, à espera dessa resposta” .62

Combinou-se, em conseqüência, que a reunião seguintedas delegações se realizasse a 2 1   de agôsto.

Todavia, Londres e Paris continuaram aplicando a tática de sabotagem e não se apressaram. As missões inglêsae francesa não receberam resposta ao pedido, nem a 18, nema 19, nem a 20, nem a 21. Daí resultou que, na vésperado dia marcado para a reunião, Drax e Doumenc enviarama Voroshilov uma carta, pedindo-lhe que se adiasse a reu

nião por mais três ou quatro dias. O chefe da delegação soviética não aceitou essa proposta e fêz realizar-se, apesarde tudo, uma reunião na manhã de 2 1   de agôsto. Nela declarou, firmemente, que, à vista das delongas à resposta auma indagação que tinha importância capital para as negociações, era preciso fazer uma pausa mais prolongada, já

“Da mesma forma que as tropas inglêsa e norte-americana não tferiam podido, durante a Guerra Mundial passada, tomar parte no esforço militar conjunto com as fôrças

armadas da França, se não houvesse tido a possibilidadede operar no território desta última, as fôrças armadas soviéticas não poderão colaborar, militarmente, com as fôrçasarmadas da França e da Inglaterra se não lhes permitirem

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armadas da França e da Inglaterra, se não lhes permitirementrar no território da Polônia e da Romênia. Isso é um axioma militar...

“A missão militar soviética não compreende como puderam os governos e os Estados-Maiores Centrais da Inglaterra e da França, ao enviarem à URSS as suas missõesmilitares para negociar a assinatura de um convênio militar,deixar de dar-lhes indicações precisas e positivas acêrca dequestão tão elementar...

“Entretanto, se os franceses e os inglêses transformam

essa questão axiomática em grande problema, que exige longo estudo, isso significa que existe todo fundamento para duvidar de que aspitrem à verdadeira e séria colaboração militar com a URSS.

“À vista do exposto, a responsabilidade da dilação dasnegociações militares assim como a pausa nelas recai como

vernos inglês e francês, que não desejavam, evidentemente, opacto, ou procurar outros rumos para reforçar a sua segurança? •

Vinha à memória, involuntariamente, impressionanteepisódio dos primeiros tempos da União Soviética.

Logo após a Revolução de outubro, o jovem Estado Soié i i d f l id i l d

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viético, ainda não fortalecido, viu-se colocado ante a necessidade de solucionar importante e difícil problema: como pôrfim à guerra em meio à 'qual havia nascido? Da solução que

se desse a êsse problema dependia todo o futuro da revolução e do povo soviético; mais ainda: todo o futuro dahumanidade.

Na verdade, qual era a situação?Na Rússia, acabava de ocorrer a Grande Revolução, que

se chocara com a furiosa resistência das velhas classes do

minantes, apoiadas por todo o mundo capitalista, e que herdara do regime czarista a grave ruína econômica, bem comoa ignorância das grandes massas populares. Para podermanter-se e subsistir, a jovem República dos Sovietes, aindafraca, necessitava, sobretudo, de paz, ou, pelo menos, de"trégua”.

mados “comunistas da esquerda”, nem o de “nem paz, nemguerra”, que lhe recomendava Trotski; escolheu outro caminho. Raciocinou assim: se, por motivos alheios à sua vontade, não se podia conseguir paz democrática geral — queteria sido, naturalmente, o melhor — pelo menos tinha quese preocupar em tirar, o quanto antes, da guerra o própriopaís. Isso tinha excepcional importância para salvar a revo

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p p p plução e preservar a pátria do Socialismo. Se não se podiaconseguir “trégua” mediante a assinatura da paz geral, erapreciso consegui-la, ao menos, mediante paz em separado com

a Alemanha. Sim, a Alemanha era, efetivamente, uma potência imperialista agressiva. Que importava, porém? A Rússiasoviética não existia no vazio, mas se via cercada pelo mundocapitalista hostil. E já que, apesar da aspiração soviética, apaz democrática geral era impossível naquele momento, tinha-se de conseguir, pelo menos, uma “trégua” temporária

mediante acôrdo com o imperialismo alemão (mas com acondição iniludível, é claro, de não se imiscuir nos negóciosinternos da Rússia Soviética).

E Lênin deu o passo decisivo que, para alguns pareceu, então, apostasia dos princípios da Revolução de outubro, mas que foi, na prática, manobra genial, justamente com

Vinte e dois anos depois de se assinar a paz de Brest-Litovsk, em 1939, o govêrno soviético viu-se, de nôvo, à frente de importante e difícil problema. Certamente, durante o

tempo transcorrido desde então, haviam mudado muitas coisas no mundo e, em primeiro lugar, crescera imensamente opoderio da União Soviética. Todavia, na situação de 1939,concorriam não poucos elementos semelhantes aos que havia

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p qpredominado em 1917.

Em 1939, a União Soviética via-se novamente ameaçadat  por grande perigo: o perigo da agressão das potências fas

cistas, principalmente, a Alemanha e o Japão. Ainda mais:existia o perigo de se criar uma frente única capitalista contra o Estado soviético, visto que, segundo mostrava claramente o desenvolvimento das negociações tripartidas, Cham-berlain e Daladier podiam colocar-se, a qualquer momento,ao lade das potências fascistas e apoiar, de uma maneira ou

de outra, a agressão à URSS. Era preciso conjurar êsse perigo a todo custo: mas como?A melhor saída, à qual tendia o govêrno soviético, com

t ‘ tôdas as fôrças e meios, era criar poderosa coligação defensiva dos países não interessados no desencadeamento daSegunda Guerra Mundial Concretamente tratava-se em

das tropaá soviéticas pelo território da Polônia e da Romênianão foi mais que um último e defintivo elo da longa cadeiade desilusões precedentes. Ficou absolutamente claro que o

pacto tripartido de luta contra os agressores era impossível,e não precisamente por culpa da U R SS . Mesmo admitindo que, no fim das contas, êsse pacto pudesse ser assinado,surgia, antes de tudo, uma pergunta: Quanto tempo seria

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g , , p g Q painda preciso para conseguir êsse resultado? Não chegariatarde demais para deter a mão, já levantada, dos agressores?Porque a terra da Europa já ardia debaixo dos pés! Vinhatambém outra pergunta, mais importante ainda: como cumpririam a Inglaterra e a França o pacto assinado? Acabavamde desfilar à nossa vista os dolorosos exemplos da Áustria,Tcheco-Eslováquia e Espanha. Os três países haviam sidosimplesmente traídos pela Inglaterra e pela França. Ondeestava a garantia de que essas duas grandes potências se

portariam melhor, no cumprimento dos seus compromissoscom a URSS? Seria muito mais provável que Chamberlaine Daladier, com um ou outro pretexto, nos voltassem as costas no momento crítico? Todo o fundamento dessas dúvidasse viu confirmado três semanas mais tarde, quando a Alemanha atacou a Polônia

de isolamento era extremamente perigosa, e o govêrno soviético repeliu-a com tôda razão. Restava uma só saída: oacôrdo com a Alemanha. Era possível? Sim, era possível,dado que, mesmo desde o comêço das negociações, Berlimdava mostrar de grande nervosismo e seguia com atençãotôdas as suas peripécias.

Como jã dissemos,,os políticos e historiadores do Ocidente têm criado a lenda de que a URSS jogou com paud d i bi d t i ã d 1939 P

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de dois bicos durante a primavera e o verão de 1939. Porexemplo, Daladier escreveu, em abril de 1946: “Desde omês de maio (de 1939. —< I . M . ) , a U R SS tinha mantido

duas negociações: uma com a França, outra com a Alemanha” . 6 0  Churchill é menos concreto, mas também faz notar,nas suas memórias de guerra: “Não é possível fixar o momento em que Stalin abandonou, definitivamente, a intençãode atuar em comum com as democracias ocidentais e decidiu pôr-se de acôrdo com Hitler” . 6 7  Daí deduz-se que tam

bém Churchill admite a possibilidade de um duplo jôgo porparte do govêrno soviético.Com o fim de demonstrar a existência dêsse duplo jôgo,

o govêrno norte-americano publicou, em 1948, um volume especial acêrca das relações sovieto-alemãs em 1939-1941, volume que contém seleção, tendeciosa ao extremo, de documen

2 . © s documentos que figuram na compilação — correspondência entre o Ministério das Relações Exteriores daAlemanha e a sua Embaixada em Moscou, notas das conversações dos diplomatas alemães com os soviéticos, considerações acêrca da política externa da U RSS, etc. — refletem, unicamente, a opinião de uma das partes : a alemã. É natural que os citados documentos estejam impregnadosd d l

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de tendência anti-soviética e, às vêzes, sejam simplesmentefalseamento da verdade em favor da Alemanha. Se lord Halifax, como já demonstrei, pôde tergiversar por completo.,

nas suas notas, a essência da conversa que tivemos em 1 2

de junho de 1939, por que devemos dar maior crédito aosdocumentos dos diplomatas alemães?

Assim, pois, a compilação do que falamos contém a quintessência do que se pode dizer contra a União Soviética.  Emtodo caso, nas suas páginas, nada se pode encontrar que

favoreça a U R SS . Muito mais curioso é conhecer os documentos que contêm esta "ata de acusação” contra o govêrno soviético. Que diz, pois?

A compilação está dividida em-oito seções, das quais sóa primeira nos interessa neste caso, pois abrange quase com

l t t í d d õ t i tid (d 17

Não se pode falar em duplicidade alguma da política soviética. Vejamos alguns detalhes concretos.

Como acabamos de recordar, só um documento está datado de abril. São as notas das conversações mantidas pelosrepresentantes alemães e soviéticos em Berlim acêrca do es

tatuto da representação comercial soviética em Praga e documprimento das encomendas que a URSS havia feito àsfábricas Scoda, antes da ocupação da Tcheco-Eslováquiapela Alemanha Trata se pois de questão atinente às rela

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pela Alemanha. Trata-se, pois, de questão atinente às relações econômicas rotineftas entre dois países, questão quenada tem contra as potências ocidentais.

A 5 de maio, Karl Schnurre, representante destacadodo Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, quese ocupava, principalmente, de questões econômicas, convidou o encarregado de negócios soviéticos em Berlim, Astájov,a visitá-lo comunicando-lhe que se haviam dado ordens àsfábricas Scoda de satisfazerem os pedidos soviéticos. Astá

 jov, como é lógico, exprimiu a sua satisfação por essa notíciae perguntou se se reatariam, em futuro próximo, as negociações sovieto-alemãs (também sôbre questões econômicas),interrompidas em fevereiro de 1939. Schnurre deu respostaevasiva. Nas suas notas dessa conversação diz mais adiante:

“Astájov referiu-se à demissão de Litvínov (ocorrida

meios governamentais alemães ante as alterações efetuadasem Moscotr. Mas é muito provável que fôsse o próprio Sch-nurre que se interessasse, na realidade, pelo efeito que podia ter a demissão de Litvínov sôbre as relações germano-soviéticas e que, nas suas notas de conversação, apresentas

se as coisas como se a pergunta houvesse partido de Astá- jov (êsses truques são freqüentes na diplomacia burguesa) .De fato, quando, a 9 de maio, quatro dias depois, o mesmoAstájov fêz a apresentação do nôvo correspondente da TASS

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Astájov fêz a apresentação do nôvo correspondente da TASS,Fillíppov, ao funcionário do Ministério das Relações Exte

riores da Alemanha, Braun von Stumm, êste lhe perguntou

que influência exercia sôbre a política exterior da União Soviética a mudança do Comissário do Povo dos Negócios Estrangeiros. E Astájov respondeu-lhe que Litvínov não aplicava política pessoal, mas a política "que dimana dos princípios gerais do Estado soviético” . 70  Seja qual fôr a versãocorreta da conversa citada, não cabe a menor dúvida de que

a sondagem sôbre o efeito da demissão de Litvínov não significava, absolutamente, nada que se parecesse, de perto oude longe, com as negociações em tôrno de acôrdo com a Alemanha . '

Astájov tornou a visitar Schnurre em 17 de maio, falando com êle do estatuto da representação comercial sovié

que “os Sovietes não podem julgar ainda se êsse comedimen-to não é uma pausa temporária com finalidades táticas.72

Astájov citou o exemplo das relações ítalo-soviéticas comoprotótipo do que era possível também nas relações entre aU RSS e a Alemanha. '

Nenhuma das conversações dos representantes soviéticos em Berlim com os diplomatas alemães continha, absolutamente, nada que exceSesse os limites da natural preocupação cotidiana em melhorar as relações entre dois países que

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ção cotidiana em melhorar as relações entre dois países queas têm muito tensas. Nem com microscópio se pode nelasdescobrir sintoma de pérfida conjuração contra a Inglaterra

e a França.A 20 de maio, registrou-se um acontecimento muitissímoimportante: nesse dia, o embaixador alemão em Moscou,Schulenburg, visitou o Comissário do Povo dos NegóciosEstrangeiros da URSS e procurou reatar as negociações comerciais germano-soviéticas, interrompidas em fevereiro. Era

uma evidente manifestação de agrado que a Alemanha fazia à U R SS . Que recebeu como resposta? O Comissário doPovo soviético, longe de manifestar o menor entusiasmo porisso, declarou com bastante rispidez que tôda a história dasprecedentes negociações comerciais entre ambos os países produziam no govêrno soviético impressão de falta de serie

tos do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, tendenciosamente selecionados por incumbência dos nossos adversários nos Estados Unidos. E Daladier atreveu-se, depois disso, a afirmar gratuitamente que "desde o mês demaio, a URSS havia mantido duas negociações: uma com aFrança e outra com a Alemanha”!

Entretanto, as negociações tripartidas inquietaram enormemente a Alemanha hitlerista, e a “espera em silêncio” nãod it W i k S h l b 27

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durou muito. Weizsaecker escreveu a Schulenburg, a 27de maio: "Aqui (isto é, em Berlim, — I .M . ) sustentamosa opinião de que não será fácil prevenir a combinação an-

glo-russa” . 7 5  E a 30 de maio, por indicação especial de Hitler, chamou Astájov e, depois de dizer-lhe que o estatuto darepresentação comercial soviética em Praga afetava grandesproblemas de princípio, formulou-lhe, em tôda a sua importância, a questão das relações políticas entre a Alemanha ea U R SS . Isso fazendo, Weizsaecker desenvolveu a seguin

te concepção: em Berlim, não se quer o comunismo e se acabou com êle dentro do país: em Berlim, não se espera queem Moscou se queira o nacional-socialismo; mas as diferenças ideológicas não devem ser obstáculo a que se mantenhaentre ambos os países relações práticas normais.

Era nova manifestação alemã à URSS mas Astájov rea

Apesar dessa falência, apesar de o govêrno soviéticocontinuar cauteloso em relação à conversa de 30 de maio deWeizsaecker com Astájov, Schulenburg visitou, em 28 de

 junho, o Comissário do Povo dos Negócios Estrangeiros daURSS e voltou a repetir, oficialmente, em nome de seu govêrno, que a Alemanha desejava normalizar as relações entre os dois países. Schulenburg assinalou uma série de fatosque no seu modo de pensar provavam a disposição de Ber

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que, no seu modo de pensar, provavam a disposição de Berlim de ir ao encontro da União Soviética: assinatura de pactos de não-agressão, entre a Alemanha e os países bálticos,

mudança de tom da imprensa alemã relativamente à URSS,etc.Isso coincidia com os desejos soviéticos e significava

progresso, favorável para nós, na política alemã; entretanto,o Comissário do Povo soviético não manifestou, também nesse caso, nenhum entusiasmo especial, mas, a julgar pelas pró

prias notas de Schulenburg, respondeu, serenamente, que recebia as suas palavras com satisfação e considerava necessário sublinhar que a política externa do govêrno soviético, emconsonância com as declarações dos seus dirigentes, tendiaa cultivar as boas relações com todos os países, o que dizia respeito também à Alemanha com a condição é claro

no hitlerista. Êste examinou febrilmente e procurou aplicardiversas medidas que deviam, no seu modo de pensar, frustrar ou, pelo menos, retardar a assinatura do pacto tripartido. Na segunda quinzena de julho, reatamos as negociações

comerciais com a Alemanha, interrompidas três semanas antes; dessa vez, o lado alemão acedeu com agrado aos desejos soviéticos.

A 26 de julho, Schnurre, por indicação direta das. altasf d B li b t h d A táj

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esferas, deu em Berlim um banquete em honra de Astájov edo representante comercial soviético na Alemanha, Babarin.Nêle, Schnurre fêz tudo para demonstrar que eram perfeitamente possíveis as boas relações entre a Alemanha e aURSS e até chegou a apontar, de maneira concreta, as etapas consecutivas da respectiva melhoria. Afirmou, maisadiante, que a Alemanha estava disposta a fazer com a URSSum acôrdo de longo alcance sôbre todos os problemas“desde o Báltico ao Mar Negro".

Que responderam a isso os hóspedes soviéticos deSchnurre? O próprio Schnurre diz, nas suas notas:

“Astájov, apoiado integralmente por Babarin, considerou que o caminho traçado (por Schnurre. — L. M.) paraa aproximação com a Alemanha corresponde aos interêssesvitais dos dois paises Não obstante fêz finca pé para que

Estã aqui, agora, a curiosa apreciação da atitude dogovêrno soviético com relação às manifestações alemães queencontramos em telegrama de Weizsaecker a Schulenburg,datado de 29 de julho: •

"Teria importância esclarecer se encontram eco emMoscou as declarações feitas a Astãjov e Babarin (duranteo banquete de 28 de ^ulho. — I. M .) . Se o senhor tiveroportunidade de falar novamente com Molotov, peço-lhe que

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p , p ç qo sonde nesse sentido. ... E se acontecer que Molotov abandone a reserva que tem mantido até agora, pode dar o se

 guinte passo adiante  ( grifado por mim. — I . M .) , 78Assim, pois, na apreciação feita pelo lado alemão, o go

vêrno soviético não fêz eco, de abril a julho, à ofensiva diplomática alemã.

Uma semana depois, a Alemanha deu nôvo passo, e muito importante, em direção à U R SS . A 3 de agôsto, nos mes

mos dias em que as missões militares inglêsa e francesa sepreparavam sem pressa para partir rumo a Moscou, Ribben-trop convidou Astájov para visitã-lo e lhe fêz uma declaração da maior importância. Na prática diplomática, o fato deqye o “próprio’’ Ministro das Relações Exteriores receba emseu escritório um “encarregado de negócios” significa que a

Depois,, de transmitir a Schulenburg o conteúdo de suaconversa com Astájov, Ribbentrop acrescentou, para conhecimento do próprio embaixador:

“O encarregado de negócios, que parecia interessado,

procurou, várias vêzes, fazer recair a conversa sôbre questões mais concretas. Contudo, dei-lhe a entender que só estou disposto a ser mais concreto no caso de o govêrno soviético declarar oficialmente que reconhece, em princípio, a

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q , p p ,conveniência de dar um nôvo caráter às relações. Se Astá

 jov receber instruções nesse sentido, nós, de nosso lado, es

taremos interessados em concluir o quanto antes um acôrdodefintivo” . 79

No dia seguinte, 4 de agôsto, Schulenburg, cumprindoas indicações de Ribbentrop, transmitiu ao Comissário doPovo dos Negócios Estrangeiros da URSS tudo que Ribbentrop havia dito, na véspera, a Astájov. Como reagiu o Co

missário do Povo soviético às palavras do embaixador alemão?Schulenburg informou a Berlim que o Comissário doPovo lhe havia comunicado a opinião do govêrno soviético,favorável à assinatura de acôrdo econômico entre os doispaíses; havia exprimido o critério de que a imprensa das duaspartes devia abster-se de manifestações que pudessem aze

Alemanha. Como se vê pelas notas posteriores de Schulenburg, esta resposta aborreceu-o muito.

O embaixador alemão não deixou de se referir às ne

gociações tripartidas, ao que o Comissário do Povo soviético respondeu que visavam a fim puramente defensivo.Comentando essa conversa, Schulenburg escreveu a Ber

lim que, a julgar por tôdos os sintomas, "o govêrno sovié

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tico se sente agora mais inclinado à melhoria das relaçõesgermano-soviéticas; entretanto, a velha desconfiança em re

lação à Alemanha continua muito forte " . 8 0Vemos, pois, que durante a primavera e o verão de1939, o govêrno soviético revelou plena lealdade nas relações com as potências que participavam das negociações tripartidas. Não houve confabulação secreta alguma com aAlemanha dirigida contra elas. Não houve, do lado soviético, iitfenção alguma de formar bloco com Berlim por trásda Inglaterra e da França e “trair” a Londres e Paris. Nãohouve nada que recordasse, sequer remotamente, as conversações de Horace Wilson com Wohlthat. Até o mês deagôsto, as relações germano-soviéticas tiveram o caráter derelações diplomáticas corriqueiras, com tintas, certamente,

entre a URSS, Inglaterra e França, o govêrno soviético viu*se obrigado a fazer uma alteração geral de sua política, coisa   plenamente natural e legítima, se um govêrno consideraque circunstâncias alheias à sua vontade o obrigam a fa

zê-lo. Eis porque, na primavera e no verão de 1939, nãoexistia o jôgo com pau de dois bicos de que acusam o go-vêrno soviético os seus adversários estrangeiros, mas um afãclaro, firme e absolutamente leal para com a Inglaterra e a

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p gFrança de concluir com elas um pacto tripartido contra osagressores. E se, em defintivo, a êle não se conseguiu che

gar, não é, em todo caso, sôbre a URSS que recai a culpa.Porém, nem nessa situação, o govêrno soviético quisqueimar, de imediato, as pontes. A 3 de agôsto, a Alemanha (justamente a Alemanha, e não a União Soviética) fêz,oficialmente, ao govêrno soviético, propostas de longo alcance acêrca da transformação radical das relações entre os dois

países. Isso devia levar primeiramente, à sua normalizaçãoe, depois, de modo gradual, ao que, em linguagem diplomática, se chama “amizade” . Semelhante perspectiva correspondia inteiramente às aspirações pacíficas do govêrno soviético e sua realização podia fortalecer, em alto grau, a segurança do povo soviético Contudo “Moscou” também

Por isso, “Moscou” esperou dez dias mais. Berlim, impaciente, queria acelerar, de qualquer modo, os acontecimentos. Uma semana após a conversa de Ribbentrop com A stájov, em 10 de agôsto, Schnurre insistiu, conversando comAstájov, em que se fixasse com a maior rapidez a atitudeda URSS ante as propostas que lhe havia feito a Alemanha.

"Moscou”, porém, continuou a se abster, como vinhafazendo desde a conversa de Ribbentrop com Astájov a 3

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fazendo desde a conversa de Ribbentrop com Astájov a 3de agôsto, de adotar decisão defintiva. " M oscou” esperou, enquanto as missões militares inglêsa  e  francesa faziam a travessia de Londres a Leningrado em navio misto. “Moscou" esperou, enquanto se realizavam, na capital soviética, as primeiras reuniões com as missões militares. Mas, quando  no decorrer dessas reuniões, se formulou o problema da passagem das tropas soviéticas pelos território da Polônia e da  Romênia (questão central de todo   o acôrdo militar); quando se mu claramente que nem as missões militares inglêsa  e francesa, nem os governos inglês e francês davam resposta a esta questão; quando Londres e Paris só reagiram com  longo silêncio aos telegramas que lhe foram enviados, por  êsse motivo, a longa paciência soviética acab ou-se. Ficou  

ij

agôsto, já iiinguém duvidava de que faltavam poucos diaspara que troassem os canhões e caíssem as bombas dosaviões.

Não se podia esperar mais. Só então, em meados de

agôsto, o govêrno soviético viu-se obrigado a resolver, definitivamente, o que devia fazer. O dilema que tinha formulado antes se converteu em amarga necessidade de entrarem acôrdo com a Alemanha. Os cinco meses de sabotagem

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do£ governos da Inglaterra e França, apoiados pelos EstadosUnidos, às negociações tripartidas não deixaram outra saída

à URSS.

F RAC ASSO D AS NE G OC IAÇ ÕE S T RIP ART ID AS

E AC ÔRD O F ORÇ OSO C OM A AL E M ANHA

No dia 14 de agôsto Schnurre telegrafou a Schulen

também que, “a fim de normalizar com a maior rapidez possível as relações germano-soviéticas, estava disposto a visitar, êle próprio, Moscou, mas com a condição de ser rece

bido por Stalin” . 8 3

  .O govêrno alemão tomou, pois, nova iniciativa e deu, já de maneira inteiramente oficial, passo decisivo. Schulenburg cumpriu, a 15 de ‘agôsto, a ordem de Berlim. O Comissário do Povo dos Negócios Estrangeiros da URSS, se

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missário do Povo dos Negócios Estrangeiros da URSS, segundo informou a Berliin o embaixador alemão, “congratulou-se com as intenções alemãs de melhorar as relações com

a União Soviética”, mas opinou que a visita de Ribbentropa Moscou “requer preparação adequada” . Perguntou, alémdisso, se o govêrno alemão estava disposto a concluir com aURSS um pacto de não-agressão, assinar conjuntamente coma URSS uma garantia aos Estados bálticos e influir sôbreo Japão a fim de melhorar as relações sovieto-nipônicas . 84

No dia seguinte, Ribbentrop enviou um telegrama aSchulenburg pedindo-lhe que comunicasse, urgentemente, aoComissário do Povo soviético que a Alemanha estava disposta a concluir pacto de não-agressão com a URSS, dargarantias, conjuntamente, côm a URSS aos Estados bálticos e influir sôbre o Japão para melhorar as relações nipo

relações políticas com a URSS, o govêrno soviético só podiaaplaudir semelhante mudança e, por seu lado, estava disposto a modificar a política soviética, orientando-a no sentido demelhorar sèriamente as relações com a Alemanha.

A resposta declarava que considerava plenamente possível a melhoria das relações sovieto-alemãs, pois a coexistência pacífica dos sistemas políticos diferentes é princípio, hámuito estabelecido, da política externa da U R SS.

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, pPassando, por último, ao terreno das medidas práticas,

a resposta propunha, antes   de tudo, concluir um convêniocomercial e financeiro e, mais tarde, após curto prazo, assinar um pacto de não-agressão. Quanto à visita do chanceler alemão a Moscou, a resposta declarava que o govêrnosoviético a aplaudia como prova dos sérios propósitos do govêrno alemão; mas opinava que essa visita exigia boa preparação prévia e devia efetuar-se com o mínimo aparato público e o menor sensacionalismo jornalístico.

Como vemos, o govêrno soviético, obrigado por Chamberlain e Daladier a modificar o rumo de sua política externa, abordava a viragem inevitável com serenidade, sensateze sangue frio, sem pressa alguma supérflua. O govêrno ale

comercial e financeiro87   e pedindo-lhe, insistentemente, querecebesse Ribbentrop em Moscou, o mais tardar, a 22 ou23 de agôsto . 88

Chegava o momento em que o govêrno soviético .tinha

de adotar uma decisão importante. Até então, havia ocorrido, unicamente, um intercâmbio de opiniões entre Moscoue Berlim, uma sondageta recíproca para conhecer o estadode espírito de ambas as partes. Mas, naquele momento, seformulava na ordem do dia o problema da conclusão do

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formulava, na ordem do„ dia, o problema da conclusão dopróprio pacto de não-agressão. Era necessário apreciar com

 justeza, uma vez mais, a situação criada no terreno das negociações tripartidas, que continuava sendo muito sombria.Em 16 de agôsto, respondendo à proposta do general Doumenc de iniciar a redação do projeto do convênio militar,Voroshilov declarou, categòricamente:

”» . . Não chegou ainda o momento de redigir documen

to algum. Não resolvemos o problema principal para a UniãoSoviética; a passagem das fôrças armadas da União Soviéticapelo território da Polônia e da Romênia para as ações con

 juntas das fôrças armadas das partes contratantes contra oinimigo comum. 89

A indagação das missões militares a Londres e Paris

posta. Ao .mesmo tempo, chegavam de Varsóvia as notíciasmais desalentadoras; o "govêrno dos coronéis” não queria,de modo algum, autorizar a passagem das tropas soviéticaspelo seu território.

Em tal situação, ao govêrno soviético só restava dar o

último passo, o passo decisivo.Em 2 1   de agôsto, à vista de que Londres e Paris es-

tavam, havia uma semana, sem responder a solicitação dasmissões militares de que, por causa disso, Voroshilov pro

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pusera suspensão das reuniões tripartidas, Stalin respondeuà mensagem de   Hitler: exprimiu esperança de que o pacto

germano-soviético de não-agressão significasse reviravoltapara melhoria das relações políticas entre ambos os paísese acedeu a que Ribbentrop fôsse a Moscou, em 23 de agôsto.

Os documentos publicados, depois da guerra, pelo govêrno britânico provam que êsse passo do govêrno soviéticoera mais que justificado. Dêsses documentos se depreende

que Londres não tinha sequer o propósito de responder àindagação de sua missão militar. A sabotagem das negociações sôbre o pacto tripartido continuava inclusive nessafase . 90   •

No dia assinalado, Ribbentrop chegou de avião a Moscou,acompanhado do respectivo séquito. Na capital da URSS,

(art. 2 ) . O art. 3 previa que a Alemanha e a U R SS "continuariam em contato no futuro, para manter consultas,  afim de informar~se  mutuamente das questões que afetassemos seus interêsses” . 91  _ 

Chamo a atenção para as palavras “consultas” e “informar-se”, sublinhadas por mim. Estas palavras, como todoo conteúdo do pacto .em geral, testemunham, de maneiraindubitável, que o documento assinado a 23 de agôsto de1939 era, unicamente, um pacto de não~agressão.  Não era,

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, , p g ,I de modo algum, aliança militar entre os dois países — como

procuraram fazer crer, repetidas vêzes, os políticos e jornalistas do Ocidente nem obrigava a U R SS a prestar al-

•> guma ajuda à Alemanha. Ao assinar o pacto, o govêrno soviético não se iludia, em absoluto, achando que, cedo outarde, Hitler violaria os compromissos nêle contidos. Entretanto, julgava que o pacto permitiria à URSS ganhar tempo para preparar-se melhor com vistas à guerra futura. Sa

be-se que isso assegurou ao povo soviético quase dois anosmais de paz.

. Entretanto, o govêrno soviético não conseguiu só ganhar tempo. Recebeu também do govêrno alemão a segurança de que as operações militares não se transfeririam aos

í bál i N i ã i d d b

O pacto de não-agressão tornou impossível o desencadeamento da Segunda Guerra Mundial com agressão à UniãoSoviética.

A assinatura do pacto significou falência completa dessavergonhosa estratégia de Munique.

O fato desempenhou sem dúvida alguma, importantepapel nos destinos da URSS e de tôda a humanidade.

Segundo, graças ao tratado com a Alemanha, desapareceu a ameaça de agressão à URSS por parte do Japão,

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aliado da Alemanha no bloco anti-soviético. Se não tivesse existido o pacto de não-agressão sovieto-alemão, a UniãoSoviética poderia ter-se encontrado em situação difícil: terde fazer a guerra em duas frentes, dado que, naquele momento, a agressão da Alemanha à URSS, vinda do Oeste,implicaria a agressão do Japão a Este . Precisamente emagôsto de 1939, os combates junto ao rio Halhin-Gol atingiram o maior encarniçamento. O govêrno de Hiranuma senegava, teimosamente, a resolver o conflito por via pacíficae concentrava tropas na fronteira soviética, esperando quea Alemanha se lançasse à luta. Efitretanto, após assinadoo pacto germano-soviético de não-agressão (23 de agôsto),caiu o govêrno de Hiranuma (28 de agôsto), e o govêrno de

Há mais outra acusação que gostam de lançar contraa URSS os seus inimigos do estrangeiro: "Ao assinar oacôrdo com a Alemanha — dizem — os senhores desencadearam a Segunda Guerra Mundial” . Desprezíveis e cegos caluniadores! Como se vê do exposto, a responsabilidade autêntica do desencadeamento da Segunda GuerraMundial recai, por um>lado, sôbre Hitler e, por outro, sôbreChamberlain e Daladier (sirvo-me dêsses nomes com sentido simbólico). Sim, sim, a grave responsabilidade de tôdas

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gas calamidades que acarretou a Segunda Guerra Mundialrecai sôbre os grupos políticos que se achavam no poder,na Inglaterra e na França, na segunda metade da décadade 30; recai sôbre os grupos que, cegos pelo ódio de classe,aplicaram a política de   “apaziguamento” dos agressores econfiaram no desencadeamento de uma guerra de extermínio recíproco entre a Alemanha e a U R SS . Foram, justa-mentè, êsses grupos que colocaram a URSS à beira do cepo

em que, entretanto, êles mesmos caíram, pois a agressão hitlerista, na Segunda Guerra Mundial, não descarregou o seuprimeiro golpe sôbre Moscou, mas sôbre Londres e Paris.Assim aconteceu porque a diplomacia soviética veio a sermais inteligente que a anglo-francesa. Mas não temos por

Londres: "Qs senhores estão de acôrdo?” Mas Londres nadarespondeu à pergunta do seu embaixador em Moscou. Strang(que regressara ao seu país no comêço de agôsto) escreveu de próprio punho, nesse mesmo telegrama de Seeds:

“Foi impossível responder a êste telegrama porque não seadotou nenhuma decisão” . 9 2  Até aí chegou a sabotagem dogovêrno britânico!

Ignorávamos, então, todos êsses pormenores, mas conhecíamos o fato fundamental: que Londres não queria dar

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q qresposta à questão principal das negociações militares. E issosignificava muitíssimo. Em tal situação, o chefe da delegação soviética reuniu, em 2 1   de agôsto, as três missões militares e, como já disse, propôs suspender as reuniões .9 3  Era,simplesmente, uma forma diplomática de dizer: as negociações tripartidas faliram.

As missões militares da Inglaterra e França, do mesmomodo que Seeds e Naggiar, compreenderam perfeitamente

o sentido da declaração feita pela delegação soviética. Eembora os chefes das missões e os embaixadores da Inglaterra e da França continuassem a se avistar e conversar, durante os três ou quatro dias seguintes, com os Comissáriosdo Povo, da Defesa e dos Negócios Estrangeiros da URSS,

À

francesa não se puseram de acôrdo com ela e o govêrno polonês declarou, abertamente, que não precisa, nem aceitaajuda militar da U R S S .. .

Esta é a base das divergências. Êste é o pomo em.que

se suspenderam as negociações”.Respondendo, mais adiante, à pergunta do jornalistase era exata a notícia da agência Reuter, segundo a qual ogovêrno soviético suspendera as negociações tripartidas porter assinado o acôrdo com a Alemanha, o chefe da delega

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, gção soviética declarou:

"As negociações militares com a Inglaterra e a Françanão se suspenderam porque a URSS tenha firmado pactode não-agressão com a Alemanha; pelo contrário, a URSSassinou o pacto de não-agressão com a Alemanha em conseqüência, entre outras coisas, de haverem atolado as negociações militares com a França e a Inglaterra, em virtude

de divergências insuperáveis” . 8 4Com isso se puseram todos os pontos nos i i .

mente com a Inglaterra e a França, barreira segura anteas potênciafs fascistas agressoras: Alemanha e Itália, naEuropa.

2 . Entretanto, os bons propósitos da União Soviética

não encontraram, lamentàvelmente, eco de simpatia na Inglaterra. E claro que, no país, existiam não poucos elementos (operários, grupos consideráveis de intelectuais e os representantes mais perspicazes da burguesia) que simpatizavam com a idéia de levantar barreira tripartida à agressãof b l

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fascista, que ameaçava também a Inglaterra e as suas posições no mundo. Entretanto, no período descrito, o poderpúblico encontrava-se firmemente nas mãos dos setores maisreacionários da burguesia inglêsa, cegos pelo ódio de classeà U R SS como país do socialismo. O centro político dirigente dêsses setores mais reacionários era chamado camarilha de Cliveden,  que se reunia no salão de lady Astor etinha por líder reconhecido Neville Chamberlain. Por causada sua extremada hostilidade à União Soviética, a camarilha  de Cliveden   era resolutamente contra a criação dè barreiratripartida para dafender dos agressores fascistas as posiçõesbritânicas, concebendo a idéia “feliz”, segundo ela, de empurrar a Alemanha contra a URSS, com o propósito de im

são fascista. De fato, a iniciadora dêsse pacto foi, precisamente, a U R SS . Sob a pressão de vastos setores da opinião pública britânica e de alguns Estados estrangeiros quetemiam, de maneira especial, Hitler e Mussolíni, a camarilha 

de Cliveden,  inimiga acérrima de semelhantes planos, viu-seobrigada a manobrar e a aparentar, de quando em quando,estar disposta a criar a . barreira tripartida contra os agressores. Essas manobras alcançaram a sua maior amplitude em1939, depois que Hitler destruiu o acôrdo de Munique. Essa

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foi a origem da concessãb pela Inglaterra (e França), em

março e abril de 1939, de garantias unilaterais à Polônia,Romênia e Grécia para o caso dêsses países se verem atacados pelos Estados fascistas. Essa foi também a origem deque o govêrno de Chamberlain (assim como o de Daladier)considerasse necessário participar das negociações tripartidas para a assinatura de um pacto de assistência mútuacom a U R S S . Mas foram negociações entabuladas contra asua vontade, à fôrça e com o propósito de enganar as massas. Por isso, reduziram-se, de fato, à mais pura sabotagem,da qual tão abundantes exemplos citamos nas páginas anteriores. O que mais preocupava Chamberlain (e Daladier)não era concluir o quanto antes o pacto tripartido, mas en

gerantes a assinatura de uma paz democrática geral, semanexações, nem tributos, vendo nisso a forma mais desejável do povo soviético obter uma "trégua”, capaz até de converter-se em longo período de paz. Entretanto, quando fi

cou claro que o apêlo do govêrno soviético caíra em terreno pedregoso, Lênin decidiu fazer a paz em separado coma coligação alemã. Era, como dizia Lênin, paz "grosseira”,extremamente desvantajosa para a Rússia Soviéticà; mas,em todo caso, proporcionava a esta uma "trégua” temporá

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ria e, como demonstraram os acontecimentos ulteriores, se

 justificava plenamente, do ponto de vista histórico. Recordando êsse magnífico exemplo político, o govêrno soviéticoresolveu segui-lo em 1939. É claro que a situação e as condições eram, àquela altura, um tanto diversas das de 2 2   anosantes (sobretudo porque, desde então, havia crescido, emimenso grau, o poderio do povo soviético); mas, não obstante, na situação mundial de 1939, concorriam não poucoselementos que a tornavam semelhante à de 1917-1918. Eranecessário impedir, a todo custo, a criação de uma frente única capitalista contra a URSS; era preciso conjurar ou, pelomenos, retardar o mais possível a agressão das potênciasfascistas à União Soviética. Assim o ditavam o senso ele

tico; cessar as negociações com a Inglaterra e a França, quecareciam de sentido, e concluir um acôrdo com a Alemanha.Os nossos adversários do estrangeiro puseram em circulação a caluniosa lenda de que o govêrno soviético jogoü com

pau de dois bicos durante a primavera e o verão de 1939;manteve negociações públicas com a Inglaterra e a Françaacêrca do pacto triparíido de assistência mútua contra osagressores e, por trás delas, procurou, em segrêdo, fazeracôrdo amistoso com a Alemanha e, em última instância, pref i Al h “d i id i ” C

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feriu a Alemanha às “democracias ocidentais” . Com o propósito de demonstrar essas balelas pérfidas, o Departamento de Estado dos Estados Unidos chegou inclusive a publicar, em 1948, uma compilação, extremamente tendenciosa,de documentos diplomáticos alemães dos quais se apoderaramos norte-americanos, na Alemanha. Entretanto, a análisecircunstanciada dos citados documentos (correspondentes aoperíodo das negociações tripartidas) que fizemos nas pági

nas precedentes prova, sem dúvida alguma, a completa falsidade de semelhantes afirmações. Pelo contrário, até meados de agôsto de 1939, apesar da flagrante sabotagem dasnegociações tripartidas pelos governos da Inglaterra e daFrança, a URSS foi absolutamente leal aos seus companhei

rem em escravos do hitlerismo, assegurou a reunificação nacional de todos os ucranianos e bielo-russos em uma só família, que marcha, ràpidamente, pela senda do desenvolvimento socialista; e avançou as fronteiras soviéticas váriascentenas de quilômetros na direção ocidental, fato que tevegrande importância estratégica. Conforme mostraram osacontecimentos ulteriores, o referido acôrdo atrasou cêrca dedois anos a agressão da Alemanha à URSS, facilitou, emlarga medida a defesa dos centros vitais do país e a pas

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larga medida, a defesa dos centros vitais do país e a passagem das fôrças armadas soviéticas à vitoriosa contra-ofen

siva, tornou possível a derrota da Alemanha hitlerista e criouas premissas para um restabelecimento mais rápido da URSSem suas fronteiras atuais.

Como remate, quisera reproduzir aqui dois fragmentosde manifestações de dois homens que pertencem a camposopostos.

Em 27 de novembro de 1958, Nikita Kruchov enviou aDwight Eisenhower, então Presidente dos Estados Unidos,extensa nota, na qual se referia, de passagem, à situaçãomundial existente às vésperas da Segunda Guerra Mundial:

"Sabe-se que — dizia nessa nota o chefe do govêrno

ter-se estabelecido muito antes, já nos primeiros anos queseguiram à tomada do poder por Hitler na Alemanha e então não teria havido ocupação da França, nem Dunquerque, nem  Pearl Harbor   (grifo do autor) . 85  Então, teria sido possível preservar os milhões de vidas dados pelos povos da União

Soviética, Polônia, Iugoslávia, Inglaterra, Tcheco-Eslová-quia Estados Unidos, Grécia, Noruega e outros países paradominar os agressores.

W . Churchill diz, nas suas memórias de guerra, referindo-se às negociações tripartidas de 1939:

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"Não pode caber dúvida, inclusive à luz da perspectiva

histórica, de que a Grã-Bretanha e a França deveriam teraceitado a proposta russa . . . Mas M r. Chamberlain e o F o reign Office   pareciam enfeitiçados pelo enigma da esfinge.Quando os acontecimentos se desenrolam com tal rapidez eabundância como aconteceu àquele tempo, o mais acertadoé dar, conseqüentemente, um passo atrás do outro. A aliançada Inglaterra, França e Rússia, em 1939, teria despertado omais profundo alarma no coração da Alemanha, e ninguém  p od e provar que a guerra não teria sido, então, evitada   (grifo do autor). O passo seguinte poderia ter sido dado existindo superioridade de fôrças a favor dos aliados. A diplomacia teria reconquistado a iniciativa. Hitler não poderia

dem na opinião de que a Segunda Guerra Mundial poderiater sido conjurada se a URSS, a Inglaterra, a França e osEstados Unidos, (pelo menos, a URSS, a Inglaterra e aFrança) houvessem criado, com rapidez, firmeza e decisão,uma barreira eficaz contra a agressão das potências fascistas.

Quem impediu a criação dessa barreira? A União Soviética? Não, a União Soviética não tem culpa disso! Pelocontrário, a União Soviética fêz tudo o que era humanamente possível para erguer barreira à agressão. Tudo o que

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mente possível para erguer barreira à agressão. Tudo o quedissemos neste livro não deixa a menor dúvida sôbre isso.

Quem impediu, efetivamente, a criação da barreira tripartida foram a camarilha de Cliveden,  na Inglaterra, e as "du-zentas famílias”, na França. E ao falar-se nas pessoas queajudaram Hitler, que encarnaram em maior grau essas fôrças reacionárias e aplicaram com a maior atividade a política que lhes convinha, ter-se-á de mencionar, principalmen

te, Neville Chamberlain e Daladier. É difícil sobrestimartôda a gravidade de sua responsabilidade histórica pelo desencadeamento da Segunda Guerra Mundial e pelas inumeráveis vítimas, perdas e sofrimentos que acarretou a todo ogênero humano.

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E s t a   o b r a   f o i   e x e c u t a d a   n a s   o f i c i n a s  d a   C o m pa n h ia   G r á f i c a   L U X , r u a   F r e i  C 224 Ri d J i

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Quem Ajudou a Hitlerlivro escrito pelo diplomata

I V A N M A I S K I ,

embaixador em Londres de 1932 a 1943 e participante da faC f ê i d I lt i Q i G d

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    Ã mosa Conferência de Ialta, que reuniu os Quaim Grandes , explica as razões que levaram a URSS a firmar o célebre e atéhoje controvertido tratado de não agressão germano-soviético.

São personagens destas empolgantes e reveladoras memórias,Chamberlain, Lord Halifax, Maxim Litvínov, Winston ChurchilI,Lloyd George, Ànthony Eden, entre outros homens que tiveramem suas mãos a terrível responsabilidade do destino humano

numa hora de mêdo, ameaça e perigo.

Depoimento sereno, objetivo, vivo e dramático, a um só tempo,esta obra lança novas luzes sôbre o discutido comportamentoda União Soviética em grave momento de sua História e daHL tó i d t d

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