Publico-20150305.pdf

112
 dabf2fbe- c845-4a37-993c- f9b054237598 Ano XXVI | n.º 9090 | Directora: Bárbara Reis | Directores adjuntos: Nuno Pacheco, Simone Duarte, Pedro Sousa Carvalho, Áurea Sampaio | Directora de Arte: Sónia Matos ISNN:08721548 DAR TEMPO  A O TEMPO “Como seria um  jornal se o tempo fosse mais como o espaço, algo com recantos e cantinhos por explorar? Um cataclismo narrativo, por certo. Ou talvez não”  João Magueijo  Director por um dia Com a participação especial de: Marina Cortês Rui Cardoso Martins  Vítor Cardoso Carlos Fiolhais  Alexandre M elo Bárbara Reis Lisboa Especial Aniversário 5 de Março de 2015  V eja mais em: www .publico. pt/2 5anos  EDIÇÃO GRÁTIS

Transcript of Publico-20150305.pdf

  • dabf2fbe-c845-4a37-993c-f9b054237598

    Ano XXVI | n. 9090 | Directora: Brbara Reis | Directores adjuntos: Nuno Pacheco, Simone Duarte, Pedro Sousa Carvalho, urea Sampaio | Directora de Arte: Snia Matos

    ISNN:0872-1548

    DAR TEMPO AO TEMPO

    Como seria um jornal se o tempo fosse mais como o espao, algo com recantos e cantinhos por explorar? Um cataclismo narrativo, por certo. Ou talvez noJoo MagueijoDirector por um dia

    Com a participao especial de: Marina Corts Rui Cardoso Martins Vtor CardosoCarlos FiolhaisAlexandre Melo Brbara Reis

    Lisboa Especial Aniversrio 5 de Maro de 2015 Veja mais em: www.publico.pt/25anos

    EDIOGRTIS

  • o Ano Internacional da Luz e dos 100 anos da teoria da relatividade geral de Einstein, o PBLICO escolheu o Tempo como tema para celebrar os 25 anos do jornal e convidou o fsico terico Joo Magueijo para director por um dia desta edio especial.

    A festa vai concentrar-se em quatro dias, de quinta (dia 5) a domingo (dia 8), mas vai prolongar-se at 2016.

    Quando decidimos celebrar a cincia, rea de saber qual o PBLICO sempre deu enorme valor, percebemos que amos mergulhar num processo de desmultiplicao. Mas no antecipmos que o tempo, to abstracto e avassalador, nos levasse a caminhos to radicais. Nem o gra smo resistiu.

    Como se tivssemos parado o tempo, esta edio um caso nico e talvez uma antecipao do futuro. Prepare-se para a viagem. No ser preciso um cinto de segurana. Mas a experincia deste jornal exige um manual de instrues novo. No vai encontrar as seces tradicionais, mas sim trs grandes blocos tempo de tudo, tempo de agora e tempo das ltimas 24 horas. As notcias de ontem, o breaking news, esto no m.

    Estamos a preparar esta edio de 112 pginas desde o ano passado. Este o nosso presente de anos para si. Inclui textos e entrevistas dos convidados de Joo Magueijo, um generoso presente do arquitecto lvaro Siza, Histria aos quadradinhos (ou rectangulozinhos) aberta interpretao de quem os aprecie, um conjunto de desenhos que ver no topo de vrias pginas. Experimente folhear o jornal como se fosse um ipbook. H ainda uma seleco de 25+1 momentos

    do ltimo quarto de sculo. O +1 refere-se ao ano em que o PBLICO fez jornais antes de sair para as bancas, fazendo nmeros zero, como aquele que registou a queda do Muro de Berlim. Temos muito orgulho nesse zero que os leitores nunca viram. Ficou-nos atravessado. Estes 25+1 so momentos em que o tempo histrico acelerou ou regrediu. Ou simplesmente parou. O jornalista e escritor Rui Cardoso Martins, que fez parte da equipa fundadora do jornal, escreve sobre a nossa histria. A cosmloga Marina Corts conta como quase morreu a pensar em Einstein. O astrofsico Vtor Cardoso leva-nos num passeio sobre a nossa viso do Universo ao longo do ltimo sculo. O fsico Carlos Fiolhais faz luz sobre o grande legado de Einstein. Alexandre Melo junta pera, futebol e folclore num momento s. Brasil, claro. Como a velocidade de rotao da Terra est a abrandar, de vez em quando os relgios atmicos de todo o mundo precisam de ser atrasados um segundo o que voltar a acontecer este ano. Explicamos como. Hoje viver sem luz no romntico. uma realidade dura que alguns portugueses conhecem. Procure a reportagem.

    O caminho longo. Trabalho. Apostas na bolsa. Os recordes desportivos. E j foi ao site do PBLICO? Vale a pena. Espreite o vdeo Um dia normal. Nunca zemos nada assim. O vdeo tem 1440 minutos, tantos quantos os que cabem em 24 horas. um mosaico de Portugal em 2015. H um minuto de uma cirurgia ao corao, um minuto de algum que faz as malas antes de uma volta ao mundo, um minuto de Adriana Calcanhotto, directora da edio de aniversrio do PBLICO de 2014, antes de entrar no palco na Gulbenkian, um minuto de um sem-abrigo a dormir na rua. E a festa no acaba hoje. Amanh, o psilon publica um longo texto sobre The Clock, de Christian Marclay (hoje, temos uma entrevista ao artista); no sbado a Fugas d uma volta ao mundo em 27 dias e mergulha no futuro. E no domingo a revista 2 entrevista 11 portugueses fora do tempo, escolhidos pelo fsico Carlos Fiolhais, e antecipa, pela voz de 22 especialistas, Portugal em 2040. A propsito do futuro, vamos enterrar, em parceria com a EDP, uma cpsula do tempo para ser aberta no 50. aniversrio do jornal. Vhils comear a levantar a ponta do vu de um projecto que culminar no Vero com 25 desenhos que o artista fez a partir de 25 capas do PBLICO. Se tiver tempo.

    Por Direco Editorial

    Um guia para uma edio diferente

    PUBLICIDADE

    Contribuinte n. 502265094 | Depsito legal n. 45458/91 | Registo ERC n. 114410 | Conselho de Administrao - Presidente: ngelo Pauprio Vogais: Antnio Lobo Xavier, Cludia Azevedo, Cristina Soares E-mail [email protected] Lisboa Edifcio Diogo Co, Doca de Alcntara Norte, 1350-352 Lisboa; Telef.:210111000 (PPCA); Fax: Dir. Empresa 210111015; Dir. Editorial 210111006; Redaco 210111008; Publicidade 210111013/210111014 Porto Praa do Coronel Pacheco, n 2, 4050-453 Porto; Telef: 226151000 (PPCA) / 226103214; Fax: Redaco 226151099 / 226102213; Publicidade, Distribuio 226151011 Madeira Telef.: 934250100; Fax: 707100049 Proprietrio PBLICO, Comunicao Social, SA. Sede: Lugar do Espido, Via Norte, Maia. Capital Social 50.000,00. Detentor de 100% de capital: Sonaecom, SGPS, S.A. Impresso Unipress, Travessa de Anselmo Braancamp, 220, 4410-350 Arcozelo, Valadares; Telef.: 227537030; Lisgrfica - Impresso e Artes Grficas, SA, Estrada Consiglieri Pedroso, 90, Queluz de Baixo, 2730-053 Barcarena. Telf.: 214345400 Distribuio Urbanos Press Rua 1. de Maio, Centro Empresarial da Granja, Junqueira, 2625-717 Vialonga, Telef.: 211544200 Assinaturas 808200095 Tiragem mdia total de Fevereiro 34.181 exemplares Membro da APCT Associao Portuguesa do Controlo de Tiragem

    N

  • PBLICO celebra hoje 25 anos de vida nas bancas; h poucos meses cumpria eu as minhas bodas de prata de emigrado em Inglaterra. Tirando esta tangencial coincidncia, h muito pouco em comum entre mim e este jornal.

    Achei pois surpreendente terem-me escolhido um mero cientista para fazer de senhor director por um dia, especialmente havendo pelo burgo tanta gente muito mais habilitada do que eu para cagar postas de pescada. O email de convite prometia ainda completa liberdade para fazer o que me desse na real gana com o jornal. Um sorriso maroto deve ter-me aparecido no rosto.

    Suponho que se quisesse dar cincia mais protagonismo (para usar um vocbulo Lus Figo) num pas com mais orgulho, e com razo, nas suas proezas futebolsticas e tauromquicas. Um pas tambm onde a cincia continua a ser o parente pobre da produo intelectual, recheada de ilustres msicos e escritores, poetas e malucos vrios. S que a cincia que eu fao e amo no so telemveis nem foguetes poesia. E depois tenho um segredo vergonhoso: antes de ser cientista, tive pretenses jornalsticas, num sentido muitssimo lato do termo. Ao pedirem-me um editorial acerca das minhas relaes com a imprensa senti pois um certo dj vu.

    Recordo aqui a minha adolescncia lusitana e um certo pasquim de bno Lounica, onde escrevinhvamos uns quantos sobre coisas como a legalizao do aborto (quando isso ainda era monoplio de esquerdelhos), num estilo cheio de parvoces e bacoradas. Mas esses desbragamentos foram sol de pouca dura e em breve ca no buraco negro que fazer cincia. O universo d-me uma enorme trabalheira, uma estopada, no deixa grande tempo para fazer outras coisas. No admira que tanta gente deixe os mesteres csmicos para a religio, Deus que se amanhe enquanto ns mortais nos dedicamos comunicao social.

    No incio dos anos 1990 mudei-me para Inglaterra, com uma jura a ps juntos de que mulheres

    portuguesas nunca mais. Enquanto por l, perdi completamente o respeito pela imprensa. A grande maioria dos media ingleses uma desgraa, e isto vai muito para l dos infames tablides. A receita simples: aferir o que deixa o bife tradicional indignado e seguro da sua superioridade, inventar histrias que sirvam o ngulo, procurar factos que as assistam, invent-los se no os h, suprimi-los se as contradizem... e pronto, vendas asseguradas, e tudo com in nitas pretenses de objectividade meditica.

    A generalizao injusta, claro est, alis como em tudo, tambm no jornalismo os britnicos tm o pior e o melhor. Mas a nica coisa que hoje leio com regularidade por terras de Sua Majestade o Private Eye, uma espcie de Charlie Hebdo mas muito melhor, mistura de humor custico e jornalismo de investigao do mais no. Que haver assunto h: corrupo o que no falta em Inglaterra. Corrupo perfeitamente legalizada, entenda-se, no como em Portugal ou Itlia, povos muitssimo inferiores Europa Nazi-de-Esprito-do-Norte.

    Quis entretanto o acaso trazer-me de regresso pena, desta vez em fainas de divulgao cient ca. Entre coisas menos laudatrias, chamaram a um dos meus livros uma biogra a gonzo, de outro disse-se que era onde Medo e Delrio em Las Vegas se cruza com Uma Breve Histria do Tempo. Eu nem sabia o que queria dizer o termo gonzo ou que tinha a ver com jornalismo, j disse que para cagar de alto erudio o PBLICO podia ter escolhido melhor. Foi um amigo de Roma, adepto de cocana e alucinognios, que me corrigiu o d ce cultural, obrigando-me a ler uma catrefada de livros de Hunter S. Thompson e Acosta, alguns em traduo italiana.

    Fiquei deslumbrado com aquilo. E se em vez de os jornalistas ngirem que so objectivos, coisa que nem a cincia , exibissem os seus preconceitos na montra, polvilhados com drogas duras? E se os jornais ingleses dissessem abertamente somos uma cambada de porcos xenfobos que andam alegremente a inventar histrias? No mereceriam nalmente uma pitada de respeito? O jornalismo gonzo certamente que me surgiu como um antdoto a muita hipocrisia. Por isso quando me convidaram para ser director por um dia do PBLICO foi isso que me ocorreu: fazer uma edio gonzo do jornal. A nal tinham-me prometido a mais completa liberdade no aliciante email de convite. Por um dia.

    Mas claro que isso da liberdade completa coisa que no existe. Nem em utopias nos despimos de constrangimentos. Seria porventura razovel exigir redaco do PBLICO que passasse um dia a tripar com LSD e a escrever sobre a situao econmica da Grcia em textos onde deveriam misturar relatos da prpria vida sexual? Talvez sim, talvez no. A nal uma festa de anos.

    H uma na linha entre ser-se uma gura decorativa e um tirano. Um jornal bem-sucedido um trabalho de grupo, onde o colectivo mais importante do que qualquer ronldico ponta-de-lana. A redaco do PBLICO fugiu com as minhas sugestes e fez com elas o que quis. Que festejem bem. Que continuem assim at s bodas de ouro.

    Editorial

    Por Joo Magueijo

    25 anos sem dormir

  • TEMPO DE TUDO

    Quanto tempo que o tempo tem? O tempo e tudo o que existe tem 13.800 milhes de anos. a idade do prprio Universo, o tempo desde o Big Bang, a grande exploso criadora de tudo. Estes 13.800 milhes de anos resultam dos clculos mais recentes baseados em observaes do telescpio espacial Planck, que afi nou a idade do Universo com um nvel de pormenor que permitiu atribuir--lhe mais 100 milhes de anos do que antes. Para nos situarmos, o nosso sistema solar, incluindo a Terra, formou-se h 5000 milhes de anos, tinha ento o Universo j 9000 milhes de anos de existncia. E, depois, a Terra ainda teria um longo caminho pela frente at ao dia, h uns meros seis milhes de anos, em que surgiram os primeiros homindeos. Comeamos esta edio de aniversrio olhando para o tempo a grande escala. o tempo do espao, o tempo do tempo, o tempo de tudo.

  • Dar tempo ao tempo

    Por Joo Magueijo

    Celebra-se o centenrio da teoria da relatividade geral, neste ano denominado da luz, mas oculta-se do pudor pblico o lado negro dessa bonita arte mgica. A relatividade geral pode ter dado femininas curvas ao espao e ao tempo, atribuindo-lhes

    maleabilidade e vida prpria, mas o que raramente se diz que essa nobre cincia tambm retirou ao tempo o seu predicado mais bvio: o uir.

    Ao embrulhar na mesma trouxa o espao e o tempo, negando-lhes natureza independente em favor de um hbrido o espao-tempo , a teoria da relatividade roubou ao tempo o seu brotar. Da mesma forma que o eixo do xis (esse terror que aprendemos na escola) no ui, o tempo da relatividade tambm no escorre. Ao longo de uma linha espacial h ordem h o equivalente da organizao de um presente, passado e futuro , mas no h nada que se assemelhe a um ponto particular e nico que vai escoando ao longo dessa linha, o equivalente do presente. Dando direitos e deveres iguais ao espao e ao tempo, amalgamando-os num ser nico, a relatividade nega igualmente a existncia de um presente que ui activamente do passado para o futuro. Ordem, sim. Fluir, no. Esse tempo, meus amigos, morreu.

    pois singular que num ano de efemrides e de luz nos procuremos encavalitar na teoria da relatividade, demolidora como ela do comum tempo. A prpria luz esse andaime absoluto da teoria da relatividade s pode ter um papel orientador porque est fora do tempo. A luz equilibra-se na fronteira entre o espao e o tempo, portanto o tempo est paralisado ao longo de um raio de luz. E o pior que analisando a relatividade geral mais de perto encontramos horrores ainda piores l escondidos. At a ordem desse tempo que no ui pode ser destruda pela curvatura espaciotemporal e levada a aberrantes contradies. Maliciosas mquinas do tempo consentem-nos dar um tiro na avozinha antes de a nossa me ter nascido. Laadas espaciotemporais permitem-nos ser pai e me de ns prprios, um exagero de minimalismo familiar e incesto. A ordem e a lgica so ameaadas pela curvatura do espao-tempo. Proteja-se de contradies: evite espaos-tempos com um rabo demasiado ondulado.

    Claro que nesta pasmaceira em que vivemos, longe de buracos negros e Big Bangs, ningum se deve preocupar indevidamente com tanta patologia. Mas o mal est feito a nossa metafsica est minada pela dvida. Como funcionaria um jornal, se o tempo acabasse amanh? Ou se o tempo comeasse a andar para trs mais logo, quando a lua cheia nascesse e a mar mudasse? Ou se fssemos uma linha j pre gurada e sem uir, sem edies matutinas e vespertinas? Como seria um jornal, se o tempo fosse mais como o espao, algo com recantos e cantinhos por explorar? Um cataclismo narrativo, por certo. Ou talvez no. Esta edio o dir.

  • Cem anos a deitar a lngua de fora

    Por Joo Magueijo

    No h verdades eternas, cada santo tem seu dia. Se, por um lado, Einstein nos deitou uma malcriada lngua de fora, por outro, espera-se de todos os fsicos igual pose fotogr ca. No h teorias nais h, sim, coisas que vo funcionando at

    ver, e nem sempre to bem como se gostaria, se as vamos esmiuar melhor.

    O epteto de Novo Einstein (que a imprensa sensacionalista tanto aprecia) aplicado a quem prope uma teoria que pretende suplantar a teoria da relatividade claramente ou ridculo ou um pleonasmo.

    Como cientistas somos todos novos Einsteins e Einsteinas: uma deformao pro ssional. Somos pagos deduzidos de impostos para fazer esse papel, no das nove s cinco em horrio continuado (porque isso no se ajeita ao per l pro ssional), mas de noite e dia, at enquanto estamos a sonhar, eroticamente quem sabe. Ningum duvida que a teoria da relatividade uma obra de gnio, entenda--se bem, mas a maior prova de respeito que lhe podemos oferecer precisamente p-la em causa.

    O tempo-que- ui tem entrado e sado da cincia, recauchutado ou modi cado, ao ritmo das revolues que vo e vm. Saliente-se que o tempo que a teoria da relatividade enxovalhou o tempo fundamental, associado aos processos elementares, s micropartculas puras, limpas de confuses. No o tempo sentido pelos sistemas complicados (como ns), que pela sua complexidade exigem outras estruturas, emergentes chamamos-lhes, para as opor a fundamentais. Em sistemas com tantas partes elementares que a oresta mais importante do que as rvores, necessitamos de conceitos como a entropia, esse pesa-balbrdias to til quando tudo ao molho e f em Deus. A entropia, como medida da confuso que sempre aumenta, d-nos um tempo derivado, emergente, que sem dvida sentimos or da pele, mas que sabemos resultar de uma iluso criada pela multido, pelo esprito de rebanho do universo. um tempo que as partculas elementares nunca sentiro; se calhar por isso que lhes faltam os sentimentos. No h electres apaixonados.

    Mas e se esta teoria da relatividade geral centenria fosse ela prpria emergente e no-fundamental? E se a descrio da gravidade como as curvas e contracurvas do espao-tempo fosse apenas uma mdia estatstica, uma medida aplicada a uma multido de entidades mais fundamentais, tal como a entropia?

    Uma das lacunas mais agrantes da teoria da relatividade geral a sua incapacidade para namorar com o resto da fsica. A relatividade geral um elemento francamente anti-social dentro da confraria das nossas outras teorias. No fala com a fsica quntica, esse outro pilar da fsica do sculo XX, e segrega a fora da gravidade (que venera) das outras foras da natureza: a electricidade, o magnetismo e as foras nucleares. Tanta soberba agasta os fsicos e da as inmeras tentativas de construir uma teoria de gravidade quntica, combinando a relatividade geral com a teoria quntica, e uni cando a gravidade com as outras foras da natureza.

    A haver namoro entre a relatividade geral e a fsica quntica, o espao-tempo deveria no s ser curvo, como existir na forma de tomos (no sentido grego do termo, de peas indivisveis ou quanta). Deveria haver incertezas e utuaes qunticas no seu tecido. Pavores qunticos, de todas as formas e feitios, deveriam a igir os fenmenos gravitacionais, tal como afectam os outros: deveria haver gatos de Schrdinger a miarem em buracos negros, Big Bangs virtuais a saltarem do vcuo, ou maradices ainda piores. E obviamente o prprio tempo e o espao poderiam car equiparados a conceitos emergentes, como a entropia, mdias que se tornam relevantes simplesmente porque no temos microscpios su cientemente nos para sentir a natureza atmica da realidade subjacente.

    Mas a verdade que tudo isto so quimeras. Ao m de vrias dcadas em demanda da teoria da gravidade quntica, a realidade que ela continua a ser uma miragem. Ideias no faltam, mas, sejamos honestos, cordas ou laadas so todas uma bela porcaria. No h mal nenhum nisso, desde que a busca seja honesta; censurvel apenas a auto-importncia sentida por alguns fsicos: h quem insista que estamos no caminho certo, s uma questo de seguir em frente a fazer contas pela mesma receita durante 200 anos...

    Que estupidez! Que rigidez de esprito! Ser que se acha mesmo que em 200 anos ningum iria arranjar nada melhor para fazer do que re nar as nossas ideias? como esperar que o fado daqui a 200 anos seja uma Gisela Joo de bengalinha. Daqui a 200 anos muito provavelmente nem haver fado, ou se o houver, s-lo- insonhavelmente diferente.

    Entretanto, e com menos arrogncia, a infrutfera busca continua. No reino do faz-de-conta em que os fsicos vivem tudo possvel. O Big Bang pode ser um mero biombo que tapa um alm. As constantes universais podem ser uidas e variveis. O espao-tempo pode ser uma mdia de algo mais fundamental, polvilhado de quanta, espao em gro, tempo em colar de prolas. Tudo possvel.

    Tudo possvel, tudo pode estar errado. Fica esta sensao de que andamos a fazer literatura de cordel ao p do gadelhudo. No que a relatividade geral no tenha de cincias, mas o que temos feito para as colmatar bem pior. Ao longo destes 100 anos deitmos-lhe a lngua de fora vezes sem conta, e no m acabmos aos molhadssimos beijos na boca ao homem.

    AFP

    Ao ver escoar-se a vida humanamenteEm suas guas certas, eu hesito,E detenho-me s vezes na torrenteDas coisas geniais em que medito.Mrio de S-Carneiro

    No percebo porque se perde tanto tempo a discutir o tempo, que no nenhuma entidade metafsica, apenas uma empresa de demolies.Antnio Lobo Antunes

  • Sabemos hoje que o Universo est em expanso. Que nasceu a partir de um momento zero e, desde a, tem evoludo. A descoberta desta expanso, do fi nal dos anos 1920, baseou-se em observaes de que as galxias se estavam a afastar umas das outras. Na realidade, o espao entre as galxias que est a aumentar e, em consequncia disso, as galxias esto a afastar-se entre si. Imaginemos um balo em cuja superfcie, o tecido do espao-tempo, pintmos vrios pontos: medida que o enchemos de ar, expandindo-o, o espao entre os pontos vai aumentado. isso que est a acontecer ao Universo. Escolhemos aqui alguns momentos da sua longa existncia ou, por outras palavras, da histria de tudo

    A histria do Universo em 13 momentos

    o incio do Universo, que comea com o Big Bang, uma grande exploso que d origem ao espao e ao tempo. o incio de tudo o que existe. E que surgiu de uma concentrao inimaginvel de energia. A fsica actual incapaz de descrever as fraces de segundo imediatamente seguintes ao Big Bang, quando o Universo era incrivelmente denso e quente.

    Teresa Firmino (texto) Ctia Mendona (infografi a)

  • 2700 celsius -240 celsius

    BIG BANG

    Momento 0 1043 1036 1032 104 0,01 3 minutos

    mil anos milhes de anos milhes de anos milhes de anos

    Infla

    o

    csm

    ica

    Form

    ao

    de

    prot

    es

    e ne

    utr

    es

    Fus

    es d

    e pr

    ote

    s e

    neut

    res

    Form

    ados

    nc

    leos

    do

    s t

    omos

    leve

    s

    Form

    ados

    os

    tom

    os le

    ves

    e os

    fot

    espo

    dem

    via

    jar

    pelo

    cos

    mos

    Primeiras estrelas Primeiras galxias O nosso sistema solar e expanso Fim

    da

    Infla

    o

    csm

    ica

    ERA TRANSPARENTEERA OPACA

    ERA DAS TREVAS

    Fonte: PBLICO

    seg.

    10-43 segundoEste tempo considerado a fronteira a partir da qual a noo de tempo (e o espao) tem sentido. O tempo no tem provavelmente pores mais pequenas do que esta. Entre o Big Bang e os 10-43 segundo de existncia do Universo a chamada poca de Planck, indescritvel pelas teorias cientficas actuais: a temperatura era to elevada que as quatro foras fundamentais da natureza (gravidade, electromagnetismo, fora nuclear forte e fora nuclear fraca) estavam todas juntas numa s fora. A partir dos 10-43 segundo, o Universo j se tinha expandido e arrefecido o suficiente uma bola de fogo com uns incrveis 1032 graus Celsius para que a gravidade se separasse das outras trs foras. Criadas, e destrudas ao mesmo tempo, surgem as primeiras partculas e antipartculas elementares, como quarks e electres ou positres. A luz j existia como fotes.

    10-36 segundo o incio do que se pensa ter sido a inflao, um crescimento brutal do Universo, que numa fraco de segundo cresceu enormemente. Esta expanso exponencial permite explicar por que que o Universo que vemos hoje tem um padro global homogneo: h galxias e espaos vazios, galxias, espaos vazios... de uma maneira quase uniforme por todo o lado para onde quer que olhemos. Nesta altura do Universo, j um pouco menos quente, tambm a fora nuclear forte pde separar--se da fora nuclear fraca e do electromagnetismo.

    10-32 segundoA inflao csmica ter terminado. Acabado um crescimento brutal durante uma fraco de segundo, o Universo volta a expandir-se mais lentamente. A inflao csmica ter gerado ondas gravitacionais, perturbaes no prprio tecido do Universo, o espao-tempo, que podemos imaginar como uma folha de borracha elstica onde uma pedra que algum atirasse para l provocaria oscilaes. At agora, ningum conseguiu detectar essas ondas. O Universo ficou nesta altura povoado por uma sopa de quarks e glues, que colam os quarks entre si. Estes constituintes primordiais da matria vagueiam livremente num estado desordenado (o plasma de quarks e glues).

    10-4 segundoPor esta altura, formam-se os protes e os neutres, os constituintes dos futuros ncleos dos tomos. Com a continuao do arrefecimento do Universo, os quarks, unidos pela fora nuclear forte, puderam comear a ligar--se, formando os protes e os neutres. Cada neutro e proto tem trs quarks. a altura do chamado confinamento dos quarks. A criao dos protes significa tambm a criao do ncleo do hidrognio, que composto por um nico proto.

    0,01 segundoIniciam-se as fuses de protes e neutres, que vo depois dar origem aos ncleos de outros tomos.

    3 minutosCriados os ncleos atmicos de deutrio (um proto e um neutro), de trtio (um proto e dois neutres) e de hlio (dois protes e dois neutres).

    380.000 anosFormao de tomos leves hidrognio, deutrio, trtio e hlio. A temperatura do Universo baixa ainda mais ronda agora os 2700 graus Celsius , o que permite que os ncleos atmicos e os electres, at a separados, se juntem, formando os tomos. Antes disso, os fotes (a luz) chocavam com frequncia com os ncleos atmicos e os electres, o que impedia a luz de viajar. Por essa razo, entre o Big Bang e os 380.000 anos, o Universo opaco, sendo impossvel v-lo directamente. A juno dos electres volta do ncleo dos tomos deixa o caminho livre para a passagem dos fotes e o Universo fica transparente luz. A matria e a radiao separam-se ou, como dizem os fsicos, desacoplam-se. A luz desses tempos, a mais antiga que vemos e que se chama radiao csmica de fundo, banha todo o Universo. Hoje na forma de microondas, permite inferir algo que se passou nos primrdios do Universo. , pois, uma radiao fssil, um eco do Big Bang.

  • milhes de anosmilhes de anos

    Universo actual acelerada do Universo Aparecimento da vida na Terra (as primeiras clulas)

    550 milhes de anosNascem as primeiras estrelas, iluminando o Universo. Este, em mdia, j arrefeceu bastante e est muito abaixo do zero usual: tem volta de 240 graus Celsius negativos. Para trs ficou a era das trevas, a altura em que o Universo no tinha estrelas. Anlises s observaes do telescpio espacial Planck, divulgadas em Fevereiro de 2015, revelaram que as primeiras estrelas surgiram cerca de 100 milhes de anos mais tarde do que se supunha, portanto 550 milhes de anos aps o Big Bang. As estrelas so essenciais qumica da vida: no seu interior, nas reaces de fuso nuclear, que se formam tomos mais pesados como o carbono ou o ferro. Ao morrerem, h estrelas que atiram para o espao as suas camadas exteriores, incluindo tomos que fabricaram e que entraro em novas estrelas e os seus planetas. Ns e a Terra temos p de estrelas, como o ferro que transporta o oxignio no nosso sangue.

    700 milhes de anosSo formadas as primeiras galxias do Universo incluindo a nossa Via Lctea, que tem pelo menos 100.000 milhes de estrelas, uma delas o Sol, que fica num dos braos da espiral. No centro da Via Lctea existe um buraco negro monstruoso (como, alis, em muitas outras galxias), com quatro milhes de vezes a massa do Sol. A nossa galxia to grande que a luz demora 100 mil anos a atravess--la de uma ponta outra.

    9000 milhes de anosForma-se o Sol a partir de uma nuvem de gs e poeiras, composta sobretudo por hidrognio e hlio, mas com alguma contaminao por elementos pesados criados por geraes de estrelas anteriores. No disco de gs e poeiras que restou da formao do Sol ir-se-o formar os planetas, incluindo a Terra, h cerca de 4500 milhes de anos, quando o Universo tinha 9300 milhes de anos. tambm por essa altura que no Universo em expanso desde o Big Bang se manifesta uma fora antigravtica. No se sabe que fora essa os fsicos chamam-lhe energia escura , mas sabe-se que contraria a gravidade exercida pela matria e que provoca a expanso acelerada do Universo.

    10.200 milhes de anosSurge a vida na Terra, mais exactamente as primeiras clulas. Ainda no tm ncleo, tal como, alis, as bactrias actuais, mas a vida seguir o seu curso at chegar a ns. Os primeiros humanos ou seja, os primeiros membros do gnero Homo apareceram h cerca de dois milhes de anos apenas, quando o Universo tinha 13.798 milhes de anos. Se pensarmos na nossa espcie, o Homo sapiens, s aparecemos h cerca de 200 mil anos.

    13.800 milhes de anos o Universo actual. A sua temperatura, de 270 graus Celsius negativos, est perto do zero absoluto (menos 273,15 graus). E aqui estamos ns, a olhar para trs no tempo, atravs da luz (em todo o seu espectro, desde os raios gama s ondas de rdio, passando pela luz visvel aos nossos olhos) que nos chega dos mais variados fenmenos e objectos que povoam o cosmos. Desde galxias, enxames de galxias, supernovas, estrelas de neutres, buracos negros, ans castanhas, matria escura, energia escura e planetas em redor de outras estrelas que no o Sol, onde talvez algum esteja tambm a perscrutar o cosmos como ns. O futuro do Universo parece ser o de expanso eterna: as galxias ficaro to dispersas que nem se veriam, uma paisagem triste e fria. Mas o nosso destino na Terra depende do destino do Sol, que ainda vai durar cerca de 5000 milhes de anos.

  • TEMPO DE AGORA

    Chegados aos actuais 13.800 milhes de anos da histria de tudo, aqui estamos agora s voltas com o tempo, humanos de uma espcie surgida h singelos 200 mil anos. Neste tempo de agora, que o nosso calendrio assinala como 2015 d.C., refl ectimos, vivemos e sentimos o tempo de muitas formas. Podemos analis-lo de um ponto de vista fsico, lembrando Einstein, do ponto de vista da histria da cincia ou da experincia pessoal de uma cosmloga pra-quedista a braos com a gravidade. Fomos ainda ver como o contamos com relgios atmicos e na bolsa, em que um milissegundo vale milhes. Visitmos uma loja em Lisboa que arranja relgios antigos, onde se conserta o tempo dos outros. Ouvimos quatro centenrios, que desafi am o tempo e, ainda, quem d o seu tempo aos outros. Continuamos esta edio olhando agora para o tempo a uma escala mais humana.

    2015

  • novobancocrowdfunding.pt

    Juntos ajudamosa mudar vidass com um dedo.A plataforma Crowdfunding Social do agora NOVO BANCO foi criada com o objetivo de apoiar projetos de carter social de IPSS e ONGs. Com dois anos de existncia, angariou mais de 140.000 em donativos atravs da contribuio solidria de quase 4000 pessoas, viabilizando 46 projetos, provando que basta um dedo para dar a mo a algum.Conhea a plataforma em novobancocrowdfunding.pt e saiba de que forma pode contribuir para apoiar uma destas causas.

    Afc_Pub_257x310_CrowdSocial.ai 1 02/03/15 12:01

  • Christian Marclay Nada to cinematogrfi co quanto um bom tiquetaque

    The Clock, o fi lme do norte-americano Christian Marclay, dura 24 horas mas o artista diz que no existe uma hora ideal para v-lo. A pea hoje inaugurada no Museu Berardo, em Lisboa

    Por Kathleen Gomes

    Queda do Muro A 9 de Novembro de 1989, a televiso da RDA divulga a deciso do Governo comunista de acabar com as restries a viagens para a Alemanha Ocidental. De imediato, os alemes do Leste dirigem-se aos postos de fronteira e trepam o Muro. Da reunificao alem os factos sucederam-se em cascata veloz. A moeda ocidental (marco) alarga-se a todo territrio (1/07/1990). Seguem-se os tratados entre as duas Alemanhas (31/08) e o destas com as quatro potncias da ocupao em 1945 (12/09). A 3 de Outubro de 1990, e aps quase cinco dcadas de diviso, a integrao foi plena e a Alemanha voltou a ser una. S.J.A.

    >>>>>>>>>>>>1989

  • The Clock no tem um incio nem um m. No existe uma hora ideal para assistir. O Museu Berardo vai pro-porcionar algumas sesses contnuas de 24 horas (hoje, a partir das 22h) e de 33 horas (este m-de-semana e nos ns-de-semana de 28 de Maro e 18 de Abril), que permitiro, a quem quiser, v-lo inteiramente. Marclay recomenda que se v e volte em diferentes alturas do dia, porque os segmentos e a representao do tempo so diferentes conforme a hora.

    Meio-dia e meia-noite costumam ser as horas mais procuradas pelo pblico porque so intensas, sente-se um crescendo. Eu tinha imenso material disposio relacionado com a meia-noite. Das trs s cinco da manh capaz de ser mais interessante porque o perodo que menos pessoas viram.

    Marclay tambm gosta da ideia de a correspondncia entre o que se v no lme e a experincia dos especta-dores ser mais intensa nessas horas da madrugada por-que estamos a ver algum a bocejar s trs da manh e muito provvel que a essa hora tambm estejamos a bocejar de sono. A diferena entre a realidade e o mundo imaginrio do lme torna-se menos ntida.

    Christian Marclay recusa a ideia de que um videas-ta. A sua primeira exposio de trabalhos feitos depois de The Clock pode ser vista actualmente em Londres, na galeria White Cube, perto da Tate Modern. Uma das maiores impresses que ela deixa de que uma reaco a, ou mesmo contra, The Clock: a rea rmao de Marclay como um artista multidisciplinar (tudo foi convocado: performance, pintura, vdeo, instalao, colagem, som) e, se existe algum tema, o da ressa-ca, literal e metaforicamente (uma das enormes salas brancas da White Cube tem uma estante ao longo das quatro paredes s com copos de cerveja de todos os feitios).

    Uma das salas contm um contentor com uma pren-sa de discos vinis, lembrando que Marclay j foi um DJ nas primeiras dcadas da sua carreira artstica no um artista e um DJ, mas um artista que usou o sample e a remistura, a manipulao e a transformao de discos, e com isso fez obra. The Clock produto dessa experincia a obra de um DJ visual, por assim dizer, mais do que de algum que vem de uma tradio ci-nematogr ca, o que talvez explique por que que crticos e historiadores de cinema tendem a ser os mais cpticos perante The Clock.

    Marclay reconhece que The Clock , j, uma pea algo anacrnica. A seleco de lmes citados foi feita a partir dos ttulos disponveis em lojas de vdeo londri-nas entre 2007 e 2010 e visionados por nada menos do que sete assistentes de pesquisa. Se fosse feito hoje, teramos trabalhado de outra forma, se calhar teramos usado downloads de lmes.

    Os relgios que aparecem o tempo todo em The Clock tambm so uma tecnologia ultrapassada, de certo mo-do, medida que passmos a ver as horas nos nossos telemveis, iPhones e ecrs de computador. E horas mais precisas. Voc sabe a que horas chegou um email ou a que horas recebeu uma chamada. Tudo tem um tempo exacto, de uma forma que no existia antes, nota Marclay. Antes, quando ainda mandvamos car-tas pelo correio, o tempo de espera entre uma aco e o seu resultado era maior. Agora esperamos que a resposta a um email seja imediata.

    Existem alguns clipes com iPhones em The Clock, garante Marclay. Mas no so to cinematogr cos quanto um bom tiquetaque, diz, fazendo estalidos com a lngua. Alm disso, no se pode dizer a algum: Oh, o meu iPhone est atrasado. Pode dizer isso sobre o seu relgio de pulso. Christian Marclay ainda usa um. uma espcie de re exo. Sinto-me nu sem ele. Tenho-o usado a vida toda.

    The Clock no pode ser visto de outra forma, a no ser ao vivo. Marclay no est a planear nenhuma edio em DVD, por exemplo. No iria caber num DVD, ri-se. Chegmos a pensar criar uma app onde se pudesse ver as horas tal como no lme. Mas a dimenso sonora caria comprometida, diz o artista, sublinhando que The Clock tanto uma pea sonora como uma obra vi-sual. Alm disso, ia criar um problema em termos de direitos de autor porque, a partir do momento em que zesse uma app, passaria a ser uma obra comercial. o que . A melhor maneira de ver cinema numa sala escura com outras pessoas. Palavra de DJ.

    m 2007, o artista Christian Marclay atribuiu a si pr-prio uma misso impossvel: criar um lme sobre o tempo que representasse todos os minutos do dia e da noite.

    O resultado, que demorou trs anos a ser produzido, a um ritmo obsessivo de dez a doze horas por dia, foi The Clock (o relgio), um lme feito de milhares de clipes de outros lmes. Num plano, podemos ver trs negros a atravessar a Baixa de Nova Iorque em Shaft (1971) e, no plano seguinte, Jean-Pierre Laud/Antoine Doinel coca nas ruas de Paris em Beijos Roubados (1968), de Franois Tru aut, e, logo depois, um ho-mem de gabardina fugindo por um beco num qualquer lm noir. The Clock sugere uma continuidade entre eles, como se zessem parte do mesmo lme. Agora imaginem isso durante 24 horas. Eis The Clock. Misso cumprida.

    The Clock chega a Lisboa, depois de um percurso bvio (Londres, Nova Iorque, Paris...) e no to b-vio (Winnipeg) que o tornou uma sensao global e Marclay uma celebridade. No Museu Berardo, onde fez uma apresentao para a imprensa, um dia antes da sua inaugurao (hoje, s 22h, integrado na festa dos 25 anos do PBLICO), Christian Marclay exibia a contradio de um artista simultaneamente grato e de certo modo ultrapassado pela sua criao, que ganhou vida prpria. Quarenta anos de trabalho an-corado nas vanguardas artsticas e no experimenta-lismo para, agora, dar nisto: ser conhecido, primeiro, sobretudo ou apenas, como o autor de The Clock onde quer que v.

    No admira que Marclay se sinta um pouco como os Pink Floyd, obrigado a repetir o seu xito nmero um o tempo todo. Suponho que isso que acontece quan-do uma obra tem sucesso. As pessoas querem mais do mesmo. Querem mais Clocks, disse ao PBLICO.

    s um desabafo. Marclay alto, magro, olhos glaciais contrastando com uma calma gentil, cabelo aparado muito rente, sem que ningum lhe d os 60 anos acabados de fazer diz que continua a descobrir coisas novas em The Clock at hoje e parece ter prazer em falar da sua instalao-vdeo.

    The Clock uma compilao de cenas de lmes con-tendo toda a espcie de referncias ao tempo e sua passagem sejam elas um pndulo ou os ponteiros de um relgio, um cigarro a arder, uma espera ansiosa, uma corrida para apanhar um comboio, um desper-tador a tocar.

    Mas The Clock tambm um relgio, sincronizado com o tempo real. Sempre que se v as horas no lme, elas coincidem com a hora do dia em que estamos a ver essa imagem. 2h22 em The Clock so 2h22 na sala do Museu Berardo onde o lme est a ser exibido. Es-sa a magia da pea, diz o artista. Apesar de vrias pessoas lhe terem dito que tinham visto The Clock na sua totalidade ou quase, Marclay diz que no encoraja isso. A deciso vossa, se querem ver oito minutos ou duas horas. A vida do espectador torna-se parte da experincia porque ele tem de ir buscar os lhos escola, ou ir casa de banho.

    ESuponho que isso que acontece quando uma obra tem sucesso. As pessoas querem mais do mesmo. Querem mais Clocks

    RUI GAUDNCIO

  • odemos chamar-lhe, simpli cando, o maior relgio do mundo. Quem entra na sala apenas para espreitar um lme (dos muitos que vemos nas exposies contemporneas), contando demorar-se apenas uns minutos, depressa se desengana. No leu sequer a descrio entrada da sala, entrou apenas por entrar, uma sala escura, deve ter um lme, e ento? Ento o que v verdadeiramente inesperado. H um lme, na verdade, e o ambiente parece tenso, mas num repente a imagem muda, o cenrio outro. S que parece tudo combinado, sai a diva e entra o gangster, a comdia cruza-se com a tragdia, mas o som de ambos parece fundir-se sem causar estranheza, h imagens a preto e branco e outras a cores, mas nem por um s momento isso atrapalha a narrativa, porque parece haver uma narrativa, e h um homem sentado, a comer, ao balco de um bar e olha de repente o relgio de sala, esperem, o homem Robert Redford, mas antes que se pense sei qual o lme j outro relgio surge, este a preto e branco, ao lado de um cinzeiro onde uma mulher esmaga o cigarro, olha o espelho e contempla pensativa algo que no vemos, talvez uma parede em frente dela, mas em lugar da parede surge um homem, e vemo-lo a cores, parece um episdio televisivo da Misso Impossvel, e havemos de ver que , mas no isso que importa, importa o relgio que outro homem segura e que no tem a hora certa, h um mistrio e vo desvend-lo, nisso que centramos a ateno at que surge outro relgio, um despertador, voltmos ao preto e branco e o despertador cede o lugar a um fragmento ampliado de um relgio de parede, ouve-se o tiquetaque sonoro dos ponteiros. E h um homem que se vira na cama para continuar a dormir (ao fundo vemos os nmeros a vermelho de um relgio digital, 2:25), h outro que come com pauzinhos num restaurante chins (na parede, o relgio marca duas horas e vinte e seis minutos) e voltamos ao mistrio do relgio que no bate certo (agora con rmamos: mesmo a Misso Impossvel), h um dilogo e um jogo de xadrez, mas eis que surge, num pice, Harold Lloyd pendurado nos ponteiros do enorme relgio do

    Crnica Nuno Pacheco

    So horas, dizem eles

    edifcio que escalou, regressmos aos anos 20, mas os ponteiros no param e a aco tambm no. E eis que Redford reaparece, ainda sentado no mesmo stio, volta a olhar o relgio, deixa o prato semicheio no balco, bebe um gole da caneca sua frente e sai do restaurante. Mas quando queremos saber para onde ele vai, tudo o que vemos uma corda emaranhada no cho (a imagem voltou a ser a preto e branco, mas nisso j ningum repara) e Harold ainda a espernear dependurado no relgio e a tentar agarrar a corda ao lado para no se estatelar no cho, muito l em baixo. At que surge, num carro topo de gama, Frank Martin, o invencvel do Correio de Risco, o que est ele aqui a fazer? A olhar o relgio, claro, h uma entrega com hora marcada, naturalmente, j devamos esperar por isso. Harold safa-se, j sabemos, Frank h-de safar-se tambm, s o relgio no pra, seja em que formato for, at porque logo em seguida h um relgio sem relgio, o do agente especial Dale Cooper de Twin Peaks a ditar a ltimas novidades para o gravador e a dizer, em voz alta, as horas.

    Aqui chegados, j perdemos a noo do tempo. Queremos ver o que se segue, para onde vai aquele homem apressado, o que move aquela mulher que olha na penumbra um espelho, o que trama aquele grupo fechado numa sala. Que horas marca aquele relgio l ao fundo? As de uma partida? De uma chegada? De um encontro secreto? De uma deciso fatal? De uma execuo? Estamos no labirinto do tempo, absorvidos pela cadncia dos ponteiros sem olhar a cenrios ou pocas, to depressa estamos num western como num drama italiano, e tudo parece ter sentido, e lgica, e rumo, neste emaranhado de gente movida a relgios, vamos com eles at ao virar da esquina, at porta da sala, e o relgio deles tem os ponteiros na mesma posio dos do nosso, as horas ali so as de c, por mais dcadas que nos separem.

    sada, nem vale a pena perguntar que horas so. Por um tempo, passaremos a ver relgios onde sempre existiram, mas onde sempre os ignormos. Apaziguamo-nos, ao ver The Clock, com a sua presena, o seu rigor. So horas, dizem eles. E ns retribumos, agradecidos.

    Guerra do GolfoA 2 de Agosto de 1990, Saddam Hussein, o ditador que governava o Iraque, invadiu e, em 48 horas, anexou o Kuwait. A coligao ocidental liderada pelos EUA e com mandado do Conselho de Segurana da ONU responde invadindo o territrio e procede libertao do Kuwait. Foi uma operao militar de larga escala, a maior desde a Segunda Guerra. Ao fim de sete meses a coligao sai do territrio, mas sem depor o ditador. Ficou assim adiada para uma dcada mais tarde a resoluo de um problema chamado Saddam. S.J.A

  • Um minuto sob a gravidade

    de Einstein

    Abstraces de uma fsica pra-quedista a estudar

    gravidade e o tempo em queda livre

    Crnica Marina Corts

  • PUBLICIDADE

    Os acontecimentos que se seguem decorreram no espao de 3 minutos apenas.

    Na porta do avio mesmo antes de saltar, fazemos os exerccios de check up. Estou em instruo e tenho dois instrutores comigo,

    durante a primeira parte do salto. Tudo a postos: arqueia o corpo ao mximo contra a fora do ar e... saltar! Estou no ar! Ajusta o equilbrio, estamos a cair a 190km/h, no balances mais, estabiliza o corpo. Parece tudo bem. Agora os exerccios. Um dos instrutores solta-me como previsto. L vai ele. Agora o outro tambm me solta. Ai-ai, agora estou mesmo por minha conta, cruzes. A voar sozinha! Argh, o que que suposto fazer agora? No h problema, procura um ponto no horizonte para xar direco. Aquelas montanhas parecem boas, vo servir. Hmm.. as montanhas esto a girar para a esquerda, acho que vou fazer aqui uma pequena volta. Inclino o brao na direco oposta... Muito ligeiramente. O qu?!? O que foi isto? Que aconteceu? Estou de pernas para o ar, a olhar para o cu! Perdi a estabilidade. Altitude: 3,6 quilmetros. Bonito servio. Agora estou a olhar para o cu azul acima. Terra vista: nada. Vejo os dois instrutores l no alto, altssimos, a olhar para mim. Credo, esto a diminuir to depressa, quer dizer que estou a cair muito mais rapidamente. Como perdi a estabilidade vou a muito maior velocidade que eles. Estou totalmente sozinha, por minha conta, a cair para o planeta a toda a fora, e a girar numa espiral. Como estou a girar sem parar, no consigo puxar o pra-quedas. Cada vez perco mais altitude, a velocidade agora so 260 km/h. Cada segundo que passa menos 70 metros e comeo a ver tudo l em baixo as casinhas e as estradas cada vez mais perto... Isto est bonito, est...

    Entretanto no gabinete: quando estou a estudar relatividade geral pergunto-me sempre se o Einstein

    Sendo a fsica a disciplina mais ambiciosa da descrio da Natureza, no peculiar a falta de explicao para a uni-direccionalidade do tempo?

    Voltando queda livre.Continuo em espiral no ar e o planeta a aproximar-

    se cada vez mais. Por um momento consigo virar-me de costas, e tento alcanar o pra-quedas, mas perco logo o equilbrio. Meu Deus, estou mesmo, mesmo em sarilhos. O que que se est a passar, como que eu pro isto? Um dos instrutores desce disparado para me alcanar e tenta voltar-me para baixo. No funciona, agora estamos os dois de barriga para o ar! E depois eu viro-me, e agora volta-se ele. Estamos numa dana no ar, como uma mquina de lavar, como o vira. Ele perde-me de novo e l vou eu s cambalhotas mais uma vez. O cho a aproximar-se. Ele consegue alcanar-me. Porque que ele no me puxa o pra-quedas? Por que diabo que ele no me puxa o pra-quedas?! Desisto, penso para mim, ele no consegue, vamos morrer os dois. Estou feita, o m. Adeus mundo. Olha ali o cho, j to perto.

    1500 metros. Sinto um forte puxo para cima, as pernas para o ar, cabea voltada para baixo. As correias de suporte no peito a esmagar as costelas. Ele puxou o pra-quedas! ELE PUXOU O PRA-QUEDAS! Olho para cima e vejo um pra-quedas perfeito, quadrado, abertura sem problemas! O silncio total o paraso, em contraste com o barulho ensurdecedor da queda livre. S oio o bater leve da borda do pra-quedas. Pra-quedas saudvel, vou viver. Sobrevivi! J passou. Respira, respira. Respira, rapariga. O que que acabou de acontecer!?!

    Bem, olha para baixo, descobre onde que vieste parar, ainda tens de aterrar isto. Onde est a dropzone, onde est a pista do avio, onde que eu estou? L esto o semi-crculo da aldeia de Empuria Brava e a praia, mesmo ao p de Barcelona. A dropzone est por ali algures, ao lado. 1200 metros, est tudo xe, respira fundo, relax, ests viva! Sobreviveste!

    Excepto que...Ao descer sinto os ventos a levantar. Meu Deus,

    alguma vez ter pensado em estudar a gravidade ao vivo! Parece-me que estudar a gravidade no gabinete muito diferente de estud-la a saltar de um avio, em queda livre! No s isto, mas nada melhor que um salto de pra-quedas para vivenciar a relatividade do tempo que ele advogava. Um segundo em queda livre parece-nos horas. O planeta l em baixo a aproximar-se a viva fora. Nunca o tempo nos parece mais real, e mais inevitvel do que quando estamos numa situao de vida ou morte. E no entanto, em fsica, a disciplina que ambiciona descrever a natureza na sua totalidade, no estamos muito habituados a levar o tempo a srio. Para a generalidade das teorias em fsica o tempo tanto pode avanar como recuar: a direccionalidade do tempo um acidente que no explicado de forma clara. As solues nas quais o tempo recua so descartadas mo sem explicao.

    Ou seja, as nossas teorias mais fundamentais da natureza ignoram o facto de que o tempo anda sempre para a frente! Isto contra tudo o que observamos no dia a dia. como os fsicos estarem de costas voltadas para a natureza, ignorando o facto mais fundamental do mundo que nos rodeia: o tempo nunca anda para trs. Porque que somos ns, os fsicos, os nicos cientistas que no incorporamos a irreversibilidade do tempo nas nossas teorias?

    A qumica, biologia, antropologia, climatologia, etc., so todas cincias nas quais o tempo tem uma direccionalidade bem de nida. As reaces qumicas s ocorrem num sentido, nunca desocorrem (qumica); os organismos s cam mais velhos, nunca mais novos (biologia); em antropologia estudamos os fsseis do passado (nunca os do futuro); os climatlogos tambm tm bem presente que o tempo s tem uma direco, eles podem olhar para o passado mas no sabem (ou muito difcil) prever o futuro, por causa da teoria do caos.

    Porque que ns os fsicos continuamos absorvidos na procura de equaes congeladas no tempo, nas quais todo o passado e o futuro existem no mesmo instante e a passagem do tempo uma mera iluso?

  • no estava tanto vento quando levantmos no avio. O pra-quedas comea a abanar desenfreadamente e a fazer o que bem lhe d na cabea. Agora est-me a arrastar de lado. Vira esquerda, depressa! Oh meu Deus, agora estou na zona dos avies!! Pe-te a andar daqui! Olha volta, h avies a vir? Pe-te mas a andar! Pra-quedas dum raio vais fazer o que eu te mando. Agora, ouviste? 500 metros. Bonito, devia estar a comear a descida nal, neste momento! Onde que suposto eu estar? Ah, l est o campo de aterragem, s a dois quilmetros distncia. Ok, esquece isso, improvisa, improvisa. Aquele espao ali ter de servir. Comeo a descer tenho de ir na direco do vento. Mas no h direco do vento. S a vento a abanar, vento a chocalhar, vento para cima, vento para baixo, vento de lado. Devia chamar isto de trajectria perturbativa. O meu trajecto tem incerteza quntica! Ok, ok, vai com calma, v o altmetro. 250 metros, estou muito alta, j devia estar a 150! Vou chocar contra aquelas casas! Depressa, faz uma volta 360, perde altitude. Oh que coisa, tambm no funcionou, agora estou em cima da auto-estrada!! Vejo os carros a acelerar nas duas vias. D outra volta, pira-te mas daqui. Comeo a descida nal, aqui mesmo vai ter de servir. Tento domar o pra-quedas, navegar em linha recta mas no h de qu. Estico para a esquerda, estico para a direita, O pra-quedas no reage, avana ao acaso, num caos os ventos mudam a cada segundo. Olho para baixo, o cho a aproximar-se vertiginosamente. Consigo ver as pedras de cascalho a passar aceleradas, como se estivesse num carro. Meu Deus que velocidade, tenho de abrandar, e rpido. Isto vai doer!!! Quando que travo? A altura de puxar os traves ainda mais crucial neste salto mirabolesco com ventos descontrolados. Quando que suposto travar?!?! Agora? No tenho a certeza. Ser agora,

    NUNO FERREIRA SANTOSespero mais? uma questo de segundos. Agora!! Puxa os cabos, com toda a fora, puxa, puxa! Mais fora! Tenho de puxar os cabos at s ancas e ainda esto altura nos ombros. Com mais fora! Tenho a cara azul do esforo, as veias a pulsar. Os ventos no me deixam puxar os cabos. Oh meu Deus, ainda estou demasiado alto, travei muito cedo. O que vai acontecer agora? O impacte est perto, prepara-te rapariga isto vai ser uma aterragem dos diabos! Crash!!!

    Ligeiramente nos joelhos, caio para a frente, para cima do pra-quedas. Estabiliza, pra. Wow! Nada mau, que xe. Que xe! Cheguei ao cho. Estou no cho! De volta ao planeta! Estou a salvo! Apetece-me beijar a terra e saltar. Mas como os ventos esto muito fortes tenho de puxar o pra-quedas para baixo de mim, porque esta a in acionar e pode levar-me no ar de novo. Como se tivesse adivinhado, num instante o pra-quedas in aciona como um balo. Sinto um estico forte a puxar-me para trs e para cima, a arrastar pelo cho. Est bonito, a nal ainda no desta. No tenho tempo para cortar os cabos. Para onde que isto me est a levar? Olho minha frente, o pra-quedas est-me a arrastar para a pista dos avies!! Tenho de puxar um dos cabos para o colapso. No funciona, os ventos esto demasiados fortes, o resto do pra-quedas como um balo, a puxar-me com a fora de um gigante. Levanto-me e atiro-me para o ar, para cima do pra-quedas. Consigo en ar um pouco mais debaixo de mim mas a parte in ada ainda forte e continua a arrastar-me. E agora reparo que estou mesmo beira da pista de avies com o pra-quedas a puxar-me para o meio. Olho para a direita horrorizada e... claro, com a minha sorte de hoje, vem um avio no ar prestes a aterrar, talvez a 500 metros de distncia. Dentro de segundos vai passar no centro da pista em frente de mim, o local exacto para onde o pra-quedas me est a arrastar. Nem consigo acreditar no que se esta a passar?!? Isto algum lme do Bruce Willis?! Estou a segundos de ser atropelada por um avio, arrastada por um pra-quedas! Muito bem, vou-te puxar para baixo de mim, e agora!! Estou de rastos na berma da pista a puxar o pra-quedas freneticamente e a olhar para o avio a aproximar-se cada vez mais ntido. Puxo o mais depressa que consigo, agora com o avio no canto do olho. Est quase, ainda falta um bocado. VEM C PRA-QUEDAS DUM RAIO! Queres-me matar!

    Consegui. Estou estendida sob o pra-quedas com a cabea enterrada no tecido. Oio o avio disparado passar minha frente. O avio no me atropelou. Estou colapsada, nem consigo pensar, totalmente exausta. Sem energia. Oio os ventos, assim que ouvir um abrandar salto num pice, agarro tanto quanto posso, diminuo o volume e atiro-me de novo para cima do pra-quedas. Funcionou. Algumas partes ainda esto a voar ao vento mas nada de grave. Apanhei-te, meu pra-quedas idiota. Pego em todo o tecido agora entrelaado, atiro para cima do ombro e comeo a regressar ao hangar. Olha para isto, onde aterrei quase a 3 quilmetros de distncia!

    Comeo o caminho de volta com passos longos e espaados. Respira fundo. As pernas a tremer e os joelhos a ceder. Estou estupefacta. No consigo acreditar em tudo o que acabou de acontecer. Olho para baixo e co surpreendida por os ps acharem o caminho de volta, um aps o outro, devagar. O que que aconteceu?! Ando e ando, com as duas toneladas de pra-quedas s costas, e nalmente chego dropzone. H uma multido de pessoas estupefactas, a olhar para mim, com a boca aberta. Respiro fundo e volto para o outro lado. Vou para o hangar, en ar a cabea entre os joelhos!

    Volto para a fsica. Equaes so muito mais fceis de escrever do que lutar com um pra-quedas. Uma das grandes motivaes para transformar o papel do tempo irreversvel na fsica fundamental vem destas experincias to vivas. Nas quais segundos parecem horas, e a realidade do tempo, e como avana s numa direco mais berrante que nunca. Ns os fsicos que escrevemos equaes em que o tempo no real e tanto avana como recua devamos deixar a secretria e vir olhar para o mundo c fora. Pode ser que cssemos convencidos do contrrio.

    Cosmloga, Observatrio Real de Edimburgo

    Hubble A 24 de Abril de 1990, a bordo do vaivm Discovery, a NASA lana o telescpio espacial Hubble. Foi o primeiro telescpio espacial que permitiu observar o Universo tanto na mesma luz que os nossos olhos captam, como na radiao infravermelha. Com um limite de vida temporal por volta de 2020, o Hubble tem cumprido aquilo que se lhe pede: permitir que a relao da humanidade com o Universo desse um salto, j que, pela primeira vez, foi possvel ver o cosmos com uma nitidez sem precedentes. S.J.A.

    >>>>>>>>>>>>1990

  • Visite www.clubmed.pt,contacte-nos para o 21 330 96 96 ou contacte o seu agente de viagens.

    Club Med Viagens, Unipessoal, Lda. - Sociedade por Quotas Rua Andrade Corvo N 33 B 1050-008 Lisboa Conservatria do Registo Comercial de Lisboa - 4 SecoMatricula n 261/19910131 / NIPC: 502502720 Capital social: 50.000,00 Euros CAE (Cdigo Actividade da Empresa): 79110-R3 N de Alvar: 592/91

    *Reduo Early Booking Bonus por pessoa para uma estadia de 7 noi-tes com ou sem transporte. Oferta sujeita a disponibilidae vlida at dia 27/03/2015.

    FRIASTUDO INCLUDONO CLUB MED

    REDUO AT

    20%*POR PESSOA

    Este VeroCOMECE J A SONHAR

  • Em 2015, Ano Internacional da Luz, celebra-se o centen-rio de uma das teorias fsicas mais formidveis e tambm um dos picos mais altos do intelecto humano: a teoria de relatividade geral de Albert Einstein. A 25 de Novembro de 1915 o sbio suo nascido na Alemanha escrevia a equao fundamental que junta matria, energia, espao e tempo para explicar a gravitao, descrevendo no s a queda de uma ma e a rbita da Lua mas tambm os bu-racos negros e o Big Bang. Se a sua teoria da relatividade restrita de 1905 tinha juntado a matria energia (falamos de matria-energia) e o espao ao tempo (falamos de espao-tempo), a teoria da relatividade geral rene todos esses conceitos ao a rmar que a matria-energia deforma o espao-tempo. volta de um astro o espao e o tempo so distorcidos, deixando de valer a geometria euclidiana e a mecnica newtoniana a que estamos habituados. E os corpos caem porque o espao curvo.

    O espao-tempo pode acabar ou comear. Os buracos negros so estrelas que, aps violenta imploso, caram reduzidas ao seu caroo extremamente duro. O espao-tempo volta to deformado que o nosso mundo aca-ba a, isto , terminam a as nossas possibilidades de conhecer. Tudo cai para um buraco negro, incluindo a luz. Segundo Einstein, a luz pesa! Podemos imaginar o inverso de um buraco negro? Sim, se um buraco negro o stio para onde tudo vai, o buraco branco o stio de onde tudo vem (h quem especule que, associado a cada buraco negro, h um buraco branco, com a matria a ser sorvida por um lado, no nosso mundo, e a jorrar do outro, sabe-se l onde).

    O fsico Stephen Hawking, cuja biogra a o argumento do lme A Teoria de Tudo, apostou um dia com um cole-ga uma assinatura da Penthouse que no havia buracos negros e perdeu ( irnico um especialista em buracos negros ter apostado na no existncia do seu objecto de estudo.) Existiro buracos brancos? Vivemos no interior de um: o Universo, provavelmente in nito, o qual, de acordo com a teoria da relatividade geral, teve o seu incio no Big Bang, h 13.800 milhes de anos. Esta grande ex-ploso inicial pode ser imaginada como o evento em que tudo apareceu, o espao e o tempo, a matria e a energia, tendo comeado tudo com a luz, que energia.

    Einstein teve que por ar antes de chegar frmula que encerra os segredos da gravitao. Cedo percebeu que a teoria da relatividade restrita, segundo a qual as leis da fsica so as mesmas para todos os observadores em repouso ou em movimento com velocidade cons-tante, devia tambm ser aplicada a observadores com velocidade varivel, isto , acelerados. esse o salto da relatividade restrita para a relatividade geral. Se Newton imaginou uma ma a cair, Einstein imaginou-se a si pr-prio a cair. A epifania ocorreu em 1907 quando Einstein teve o que chamou o pensamento mais feliz da sua vi-da, quando, sentado numa repartio de patentes na Sua, se apercebeu de que, se estivesse em queda livre, um movimento acelerado, no sentiria o seu prprio peso, uma vez que a cadeira cairia com ele. Embora a cair, o sbio estaria parado relativamente cadeira. O princpio que a rma a queda idntica de todos os corpos tinha sido descoberto por Galileu.

    A luz de EinsteinSe a teoria da relatividade restrita de 1905 tinha juntado a matria energia (falamos de matria-energia) e o espao ao tempo (falamos de espao-tempo), a teoria da relatividade geral rene todos esses conceitos ao afi rmar que a matria-energia deforma o espao-tempo. volta de um astro o espao e o tempo so distorcidos

    Por Carlos Fiolhais

  • Em 1971, um astronauta deixou cair na Lua um mar-telo e uma pena para mostrar que os dois objectos che-gavam ao solo ao mesmo tempo. Se tudo cai do mesmo modo, podemos intuir que a fora gravitacional uma propriedade do espao: nas vizinhanas de um astro, o espao possui certas propriedades. S faltava saber que propriedades so essas. Uma consequncia imediata da generalizao do princpio da relatividade era que um raio de luz vindo do espao longnquo encurvaria ao passar perto do Sol. O efeito era minsculo e no pde ser logo con rmado. E ainda bem, pois o primeiro valor calculado por Einstein para o encurvamento dos raios de luz estava errado. No admira que a matemtica da relatividade geral seja incompreensvel para um leigo, pois o prprio autor demorou uma dcada a l chegar. Precisou de uma geometria curva em vez da geometria plana de Euclides. Geometrias ditas no euclidianas j existiam nos livros de matemtica, dando razo a Galileu, que tinha dito que o Livro da Natureza est escrito em caracteres matemticos. No longo caminho para a equa-o que descreve a gravitao, Einstein, melhorando a matemtica, chegou nalmente a um valor para o ngulo de de exo da luz que era o dobro do anterior. A equao era bela, mas faltava saber se era verdadeira.

    A Primeira Grande Guerra impediu a realizao de ex-pedies de observao de eclipses, ocasies favorveis para medir de exes de raios de estrelas por trs do Sol. Uma observao de um eclipse total do Sol s pde ser realizada no ps-guerra. Foi em 29 de Maio de 1919 que uma expedio inglesa, dirigida por Arthur Eddington, se deslocou ilha do Prncipe para fotografar um desses eclipses. Os astrnomos obtiveram algumas imagens do Sol, numa aberta de um aguaceiro tropical. Einstein em breve recebeu um telegrama de um colega, felicitando-o pela previso certeira. Nunca temeu estar errado. Chegou at a dizer que teria pena de Deus se a realidade fosse diferente do previsto (Deus para ele, esclarea-se, era a harmonia universal e no o autor do Fiat Lux). Nenhum cientista portugus participou na expedio a um terri-trio sob administrao lusa. Os portugueses estavam to afastados da cincia que, em 1925, Einstein, j nobe-

    lizado, passou por Lisboa sem ser reconhecido.A 6 de Novembro de 1919, numa sesso da Royal Socie-

    ty e da Royal Astronomical Society em Londres, com a presena das maiores sumidades da cincia (na parede Newton assistiu impvido, pois s estava em retrato), os resultados da observao solar foram anunciados e Eins-tein foi aclamado. O Times de Londres titulou Revoluo na Cincia. Newton tinha dito: Se consegui ver mais lon-ge foi porque estava aos ombros de gigantes. A revoluo signi cava que Einstein tinha subido para os ombros de Newton, conseguindo ver ainda mais longe.

    A fama mundial obtida num pice facilitaria a sua mudana para Princeton, nos EUA. Em 1932, Einstein, pressionado pela perseguio nazi aos judeus, disse em Berlim sua mulher: Olha bem para a tua casa. No mais a voltars a ver. E assim foi. Transposto o Atln-tico, nunca mais voltaria Europa. Foi simbolicamente a passagem da cincia do Velho para o Novo Mundo. Os gnios tambm tm vida privada. No incio de 1915 Einstein deixou Zurique para ocupar uma ctedra em Berlim. Nessa altura deixou tambm a primeira mulher, Mileva (ela ainda fez o gesto de se mudar para Berlim, mas j no havia fora de atraco entre eles). Einstein logo encontrou afecto numa prima berlinense, Elsa, com quem se viria a casar pouco depois do eclipse de 1919. Foi Elsa que o acompanhou para Princeton.

    O Nobel da Fsica Richard Feynman a rmou um dia que a descoberta, h 150 anos, das equaes de Maxwell, que uni cam a electricidade e o magnetismo, esclare-cendo que a luz uma onda electromagntica, sero lembradas daqui a dez mil anos como o acontecimento mais relevante do sculo XIX. Na mesma linha, atrevo-me a conjecturar que, daqui a dez mil anos (uma insigni -cncia quando comparada com a idade do Universo), a descoberta da equao da relatividade geral feita por Einstein h cem anos ser um dos marcos mais notveis do sculo XX. E s no a singularizo mais porque, uma dcada volvida, cou pronta a teoria quntica, a espan-tosa teoria dos tomos e partculas atmicas. As duas so expresses mximas do pensamento humano. Arrisco esta profecia apesar de recear que pouca gente a entenda.

    Atrevo-me a conjecturar que, daqui a dez mil anos, a descoberta da equao da relatividade geral feita por Einstein h cem anos ser um dos marcos mais notveis do sculo XX

  • PUBLICIDADE

    Pode ser que mais gente a procure entender.Por ter alcanado uma frmula mgica com o poder

    de explicar os mistrios do cosmos, o crebro de Einstein tornou-se um mito para o homem comum, que sem con-seguir ver a beleza das equaes no poder mais do que vislumbrar esses mistrios. Roland Barthes no seu livro Mitologias escreveu sobre esse crebro: Quanto mais o gnio do homem era materializado sob a espcie do seu crebro tanto mais o produto da sua inveno assumia uma condio mgica, reincarnava a velha imagem eso-trica de uma cincia inteiramente encerrada nalgumas letras. H um nico segredo no mundo, e esse segredo condensa-se numa palavra, o Universo um cofre-forte de que a humanidade procura a cifra. E acrescenta: esse o mito de Einstein; a se nos deparam de novo todos os temas gnsticos: a unidade da Natureza, a pos-sibilidade de uma reduo fundamental do mundo, o poder de abertura da palavra, a luta ancestral entre um segredo e uma linguagem, a ideia de que o saber total no pode descobrir-se seno de um s golpe, como uma fechadura que cede bruscamente depois de mil tactea-mentos infrutuosos.

    O crebro de Einstein simboliza a capacidade humana de compreender a natureza. Todas as observaes e ex-perincias realizadas nos ltimos cem anos con rmaram a teoria da gravitao einsteiniana, que concorda com a teoria de Newton no limite de foras gravitacionais pequenas. At h aplicaes tecnolgicas, como o GPS. Resta um problema, cuja soluo espera por um novo gigante. A teoria da gravitao ainda no foi satisfato-riamente unida teoria quntica, a outra grande teoria fsica do sculo XX (uma teoria em relao qual Eins-tein sentiu algumas di culdades). Passaram 228 anos de Newton a Einstein e no sabemos quanto vai demorar at surgir um gnio comparvel. Se Einstein fez luz sobre as questes da gravidade, incluindo o magno problema do incio do mundo, um novo Einstein acabar, mais cedo ou mais tarde, por fazer mais luz sobre o Universo.

    Professor de Fsica da Universidade de Coimbra ([email protected])

    WWWSo trs letras cuja real importncia ningum podia perceber de incio, mas representam uma das maiores revolues no que a dimenso de espao e de tempo: WWW. As trs letras significam World Wide Web e foram e so a chave para abrir o que se convencionou chamar auto-estradas da comunicao ou seja, so o suporte tecnolgico que, com a sua linguagem informtica prpria, constri uma rede ou uma teia (web) que permite navegar na Net e chegar aqui e agora a todo o lado, quebrando as barreiras do espao e do tempo. S.J.A.

    >>>>>>>>>>>>1990

    DR

    Edio Comemorativa do Centenrio da Aviao Militar PortuguesaCoragem, arrojo, sabedoria e esprito inovador. Estas so algumas

    qualidades que distinguiram os pioneiros heris do ar que destemidamente construram a histria da aviao militar

    em Portugal. A Edio Especial Breitling, numerada e limitada a 100 peas, um tributo a todos aqueles que, no

    passado e no presente, construram um verdadeiro smbolo da identidade nacional.

    NAVITIMER 01

  • Quando o tempo j

    0,1Vdeos Vine

    Os criadores da rede social Vine queriam que os vdeos dos seus utilizadores fossem

    muito curtos, para no deixarem de ser vistos. Depois de alguns ensaios, fixaram a

    dimenso mxima em seis segundos.

    60Uma hora

    Dividir a hora em 60 minutos algo que, no fundo, devemos aos sumrios, que h milnios j contavam em lotes de seis dezenas. Depois, a base 60 chegou

    geometria, astronomia e finalmente ao tempo.

    2400Semana de trabalho

    A reivindicao pela semana curta tem origem na Revoluo Industrial, quando se trabalhava at 96 horas. Henry Ford era um defensor de peso: o industrial queria

    que os trabalhadores tivessem tempo para consumir.

    518400Um ano

    Dividir o ano em doze meses foi uma opo inspirada, desde a Antiguidade, pela observao dos ciclos lunares, que

    duram 29,5 dias. A ideia resistiu ao tempo, mas com muitas adaptaes na extenso dos meses.

    2102400Eleies legislativas

    Um deputado em Portugal eleito por quatro anos. Mas a legislatura j teve outros prazos, como trs anos na alvorada da Repblica ou dois anos no

    princpio da Monarquia Constitucional.

    9460800Maioridade

    Baixou de 21 para 18 anos em Portugal na reviso de 1977 do Cdigo Civil, quando se considerou que os jovens se achavam ento sujeitos a um mais rpido processo de desenvolvimento psquico e cultural.

    14400Prazo para tirar um passe

    No h aparentemente nenhuma razo objectiva para que sejam necessrios dez dias teis para se emitir um carto Lisboa Viva. Mesmo porque quando

    paga a taxa de urgncia, o carto fica pronto no dia seguinte.

    90Jogo de futebol

    A limitao de uma partida foi introduzida em Sheffield, na Inglaterra duas horas. Mas, em 1868, a Associao de Futebol

    britnica optou pelos 90 minutos para evitar a fadiga dos jogadores (cujo nmero foi reduzido de 20 para 11 por equipa).

    480Horas de sono

    Oito apenas o ponto intermdio entre sete e nove horas de sono recomendadas por mdicos

    e investigadores. Estudos recentes dizem, no entanto, que o melhor nmero sete.

    0,4Shot clock

    O tempo mximo para se fazer um lanamento ao cesto no basquetebol foi adoptado pela NBA em 1954, resultado da diviso dos 48

    minutos, que ento durava uma partida, por 120 arremessos, a mdia de um jogo movimentado.

    1Um minuto de silncio

    uma derivao dos dois minutos de silncio, uma homenagem aos soldados

    mortos na I Guerra Mundial adoptada ainda antes do final do conflito. Generalizou-se para

    outras situaes, com metade do tempo.

  • vem prontoNo dia-a-dia convivemos com intervalos de tempo que esto pr-fi xados. Mas nem sempre sabemos quem os estabeleceu, quando e porqu. Eis alguns exemplos.Por Ricardo Garcia e Hugo Torres

    13140000Pena mxima

    O reformismo dos sistemas penais europeus levou Portugal, em 1884, a abolir a priso perptua. Foi o primeiro pas a faz-lo, considerando que os condenados deviam ser reabilitados e devolvidos sociedade num prazo que ainda lhes permitisse contribuir para a comunidade.

    259200Receita mdica

    Uma receita mdica normal tem um ms de prazo de validade. Os seis meses das receitas triplas esto previstos para facilitar a vida de

    doentes com tratamentos prolongados, mantendo o controlo mdico.

    1440Um dia

    No Egipto antigo, os nmeros contavam-se em dzias, e no em dezenas. Da ter-se ento dividido o perodo diurno

    em 12 parcelas, com relgios de sol. A noite foi tambm repartida em 12 com base nas estrelas.

    5D-me cinco minutinhos

    Uma das expresses clssicas de quem quer dizer que logo, logo vai fazer algo que deveria ser feito imediatamente.

    Normalmente, os cinco minutos so uma iluso e so mais longos do que o prometido.

    12Limite de publicidade por hora

    Impedir interrupes prolongadas e fomentar a televiso de qualidade eis as causas da directiva

    comunitria de 2010 que impe este limite aos Estados-membros da UE. A RTP, por acordo com as estaes privadas, tem um limite de seis minutos.

    A Pinto Lopes Viagens um operador turstico e agncia de viagens com mais de40 anos de experincia, especializado emviagens culturais e de autor, em grupo.

    WWW.PINTOLOPESVIAGENS.COM

    RUA PINTO BESSA, 466 4300-428 PORTO 222 088 098 [email protected] RUA VIRIATO, 1A (PICOAS) 1050-233 LISBOA 213 304 168 [email protected]

    WWW.FACEBOOK.COM/PINTOLOPESVIAGENS

    viagens com autores

    GONALO CADILHEEscritor Viajante

    Queda do Imprio: Itlia Bizantina e Longobarda 8 a 14 outLigria: O Mediterrneo em Vertical 15 a 20 out

    No Kalahari! Botsuana, Zmbia, Zimbabu 20 jun a 3 julNa sia com FernoMendes Pinto 7 a 22 set

    RAQUEL OCHOAEscritora

    OVento dos Outros: Amrica do Sul(Peru, Bolvia e Chile) 6 a 23 outndia Portuguesa: Memria(s) para

    sempre 21 nov a 6 dez

    JOS LUS PEIXOTOEscritor

    Malsia, Bornu e Singapura 29 ago a 9 set

    Dentro do Segredo: Pequim, Coreia doNorte e Coreia do Sul 3 a 17 out

    HLIO LOUREIROChef

    Pesca do Bacalhau na Noruega: DeOslo s Ilhas Lofoten 27 abr a 2 mai

    HENRIQUE S PESSOAChef

    Copenhaga 11 a 14 outPas Basco 1 a 4 nov

    RUI MASSENAMaestro

    Msica em Amesterdo 21 a 24 mai

    EM PREPARAO AINDA EM 2015: PROMS LONDRES,

    BERLIM, PRAGA

    JOS RODRIGUES DOS SANTOS

    Escritor e Jornalista

    AIlha das Trevas: Indonsia eTimor-leste 2 a 17 set

    FEVEREIRO 2016: ANTRTIDA

    Consulte tambm a nossa programao cultural nos cinco continentes.

  • Vtor CardosoHouve um dia em que no houve ontemDesafi mos o fsico portugus a fazer um passeio pelo Universo e pela forma como a nossa viso sobre ele se alterou ao longo do ltimo sculo. Passmos de um Universo parado para um Universo em ebulio, elstico e humano: nasce, cresce e, quem sabe, morre

    Entrevista Teresa Firmino Fotos Miguel Manso

    Fim da URSSA 19 de Agosto de 1991, a tentativa de golpe de Estado na URSS ameaa fazer regredir o tempo e anular a aco libertadora que levara Perestroika de Mikhail Gorbatchov. O presidente preso na sua datcha de Vero na Crimeia. A reaco nas ruas, liderada em Moscovo por Boris Ieltsin, faz falhar a tentativa de regresso ditadura comunista. Da ao fim da URSS foi um instante. A 25 de Dezembro, Gorbatchov assinava a dissoluo da Unio Sovitica e demitia-se, pondo fim a 70 anos do mais emblemtico regime comunista. S.J.A.

    >>>>>>>>>>>>1991

  • COMPANHIA NACIONAL DE BAILADOTEATRO CAMES 12 MAR 29 MAR

    TREZE GESTOSDE UM CORPOOLGA RORIZ

    TWILIGHTHANS VAN MANEN

    SER QUE UMA ESTRELA?

    VASCO WELLENKAMP

    MINUS 16OHAD NAHARIN

    BG PROGRAMA DE HOMENAGEM AO

    BALLETGULBENKIAN

    WWW.CNB.PT // BILHETEIRAS: TEATRO CAMES, TEATRO NACIONAL DE SO CARLOS, TICKETLINE, LOJAS ABREU, WORTEN, EL CORTE INGLS, C.C. DOLCE VITA // ESPETCULO M/6EM ASSOCIAO COM A FUNDAO CALOUSTE GULBENKIAN

    APOIOS DIVULGAOMEDIA PARTNER

    EST

    DIO J

    OO C

    AMPO

    SFO

    TOGR

    AFIA

    B

    RUNO

    SIM

    O /

    2015

  • Polar est onde sempre esteve desde que nascemos. O que quero dizer com isto que as observaes de Hubble, que so so sticadas e precisam de telescpios poderosos, nos dizem algo que difcil de ver e representam um choque com aquilo em que acreditvamos h milnios. Ora, quando Einstein soube disto, percebeu logo a asneira que fez, e percebeu que a realidade o veio desmascarar. Nessa altura a rmou que o maior erro da sua vida foi tentar mudar as equaes para se adaptarem ao que ele pensava... E, realmente, um erro histrico!

    As implicaes da expanso do Universo so muitas. No s destroem por completo a ideia de que est tudo parado, mas tambm nos permitem fazer um jogo interessante: se o Universo est em expanso, signi ca que medida que ca mais velho tambm maior. O que signi ca que o Universo jovem cada vez mais pequeno, e portanto o Universo teve uma data de nascimento. Depois de Hubble, estas e outras coisas fantsticas puseram todos a mexer e a querer saber ao certo de que forma que o Universo se expande. Um dos melhores instrumentos que orbitam a Terra desde 1990 o telescpio Hubble. Graas a essas e outras observaes, sabemos que o Universo nasceu h quase 14.000 milhes de anos. Em menos de 100 anos, passmos de um Universo parado para um Universo em ebulio, onde estrelas nascem, morrem, chocam umas com outras e onde o prprio Universo elstico e humano: nasce, cresce e, quem sabe, morre.A partir do momento em que se percebeu que o Universo se expandia, ento, se andssemos para trs no tempo, houve uma altura em que tudo esteve junto. No havia estrelas ou galxias...... No havia nada, o Universo era um ponto. Nessa altura, a matria como a conhecemos hoje no existia. No existiam tomos nem sequer protes ou electres, que estavam completamente desintegrados. Claro que isto extremamente difcil de comunicar ou compreender, j que foge experincia do dia-a-dia. Na realidade, nem sequer temos uma teoria su cientemente forte para compreender o nascimento do Universo. A teoria da relatividade geral falha e no temos forma de pensar nesse Universo-embrio.Ainda antes das observaes de Edwin Hubble, j tinha havido teorias que sugeriam a existncia de um incio do Universo, no ?Desde h muito tempo que um Universo esttico causava incmodos. No havia teoria nenhuma, propriamente dita, que sugerisse o nascimento do Universo. Contudo, um meteorologista e matemtico russo, Alexander Friedmann, tinha descoberto em 1922 uma soluo da teoria de Einstein que descrevia um Universo em expanso. Em 1927, o padre e astrofsico belga Georges Lematre chegou tambm a um modelo de um Universo em expanso. Lematre compreendeu at as implicaes dessa descoberta, quando a rmou que houve um dia em que no houve ontem, isto , que o Universo teve um incio.

    E, contudo, o trabalho de ambos foi praticamente ignorado na altura: no eram cientistas de renome no local certo, e em cincia, por vezes, isto importante: h que lutar pelas ideias persistentemente, at serem aceites pela comunidade. At os resultados de Hubble encontraram resistncia e durante dcadas muitos no acreditaram neles. A primeira reaco de um cientista a uma descoberta tentar mostrar que est errada. Talvez seja por isso que a cincia funciona to bem: duas partes disputam com argumentos lgicos e lutam pela verdade at o assunto car esclarecido. Infelizmente, Friedmann no pde lutar pela sua ideia, j que morreu pouco depois, aos 37 anos.A grande descoberta de Einstein foi que o espao e o tempo so uma entidade nica o espao-tempo , que deformada pela presena da matria e da energia. Como que isso mudou a nossa viso do tempo?Em 1905, Einstein entendeu que o tempo no absoluto, e que relgios iguais podem ter tiquetaques diferentes conforme a velocidade a que eles se movam: no problema nenhum com o relgio, o prprio tempo que ui de forma diferente... Isto vai at raiz da nossa existncia: a nal de contas, o que o tempo?! O tempo relativo, pode mover-se mais ou menos rapidamente. Todos os dias no CERN

    ACientificamente, ter havido um ponto de partida libertador. No nascemos escravos de um Universo que j c estava. Pelo contrrio, evolumos com ele

    os 40 anos, Vtor Cardoso professor e investigador do Centro Multidisciplinar de Astrofsica e Gravitao (Centra) do Instituto Superior Tcnico, em Lisboa. Tambm professor na Universidade do Mississpi, nos Estados Unidos, e investigador do Instituto Perimeter, no Canad. Nos ltimos cinco anos, ganhou duas superbolsas no valor total de 2,5 milhes de euros, que tem utilizado na investigao das equaes de Einstein, com a ajuda de um supercomputador chamado Baltasar Sete Sis. Dedica-se fsica terica, nomeadamente compreenso dos buracos negros, da matria escura e das ondas gravitacionais.Toda a gente aceita hoje a ideia de que o Universo teve um incio o Big Bang e que, desde ento, o Universo est em expanso. Por que que Einstein se recusou a aceitar esta realidade, que, alis, uma das suas prprias equaes da teoria da relatividade geral lhe indicava?Temos de tentar perceber o que ele fez com as mesmas barreiras psicolgicas que imagino que existissem na altura: o Universo era simplesmente pensado como algo imutvel, que sempre foi e sempre ser. Einstein acreditava, portanto, num Universo esttico. Ora, a fsica tem esta coisa extraordinria de prever coisas que nunca tnhamos imaginado quando a construmos, isto , quando a passamos para a linguagem matemtica. E os resultados de Einstein diziam-lhe que o Universo no devia ser esttico. Mas at Einstein, que j tinha derrubado a barreira do tempo imutvel, sucumbiu e se recusou a deixar isto acontecer: mudou um pouquinho a matemtica para que as equaes se adaptassem sua interpretao da realidade. Fez batota para satisfazer o seu preconceito. Este tipo de actos, o de tentar subjugar a realidade aos nossos preconceitos, acontece no s em cincia, mas na poltica, na economia e no dia-a-dia. Na cincia, a realidade fala sempre mais alto e acaba por ganhar.Quando se fala de um Universo estacionrio, isso quer dizer que se pensava que as estrelas no morriam? Que o nosso Sol se mantinha igual?As estrelas no nasciam nem morriam e no evoluam. De alguma forma, isso dava-nos uma certa paz de esprito: o Universo era assim no tempo dos nossos avs e vai continuar assim no tempo dos nossos netos. Mas, por outro lado, o que aceitamos hoje ainda mais bonito: as estrelas nascem, morrem e algumas explodem. O resto de algumas destas exploses de estrelas mortas forma planetas, alguns dos quais vo ter vida, como a Terra. Portanto, a vida resulta da morte, e muito mais interessante pensarmos que j fomos estrelas e que provavelmente vamos voltar a ser daqui a muitos milhes de anos...O momento-chave da mudana na nossa viso do Universo foi quando o astrnomo Edwin Hubble descobriu, em 1929, que as galxias se estavam a afastar umas das outras?Edwin Hubble descobriu que, em geral, todas as galxias se esto a afastar de ns e que quanto mais longe de ns est uma galxia, mais rapidamente ela se afasta. Portanto, o Universo est em expanso no verdadeiro sentido da palavra. Hoje to normal ouvirmos estas palavras que at parecem dizer algo fcil de entender. Mas no . Quando olhamos para os cus, vemos sempre a mesma coisa, a Estrela

  • Do momento zero do Universo at aos 10-43 segundo, podemos dizer que h tempo?Do zero at aos 10-43 segundo no se pode dizer que no haja tempo. H tempo, mas talvez seja de natureza diferente. No se pode dizer mais nada. um tempo diferente. H efeitos de mecnica quntica que no conhecemos. Talvez o tempo utue e d saltos, talvez no ande sempre para a frente... Julga-se que nestas alturas o espao-tempo como espuma, tudo se mistura. a partir de 10-43 segundo que a teoria de Einstein aplicvel.E antes do Big Bang? o campo da especulao e da metafsica. A cincia pra a.Em 1999, Joo Magueijo props uma alternativa ao modelo da infl ao csmica para explicar a homogeneidade do Universo a grandes escalas. Teriam sido os fotes (a luz) que puseram todo o Universo primordial em contacto e o tornaram uniforme. Para isso a luz teria de ter sido mais rpida no passado, o que questionava a constncia da sua velocidade. H hoje alguma observao astronmica que fundamente esta proposta?Ele tentou mudar as regras do jogo, para encontrar uma alternativa ao processo de in ao, que, como j disse, sugere que o Universo passou por uma fase de crescimento muito rpido, quando era criana. Em vez de ser a velocidade de expanso do Universo que mudava, era a prpria velocidade intrnseca das coisas, neste caso da luz, que mudava ao longo da histria do Universo. A luz punha tudo em contacto e a homogeneidade cava mais ou menos explicada. Do ponto de vista terico, nada probe que isso tenha acontecido. Mas Einstein acreditava que a velocidade da luz era constante, um postulado da teoria dele. assim que a fsica funciona: propem-se alternativas para resolver problemas e fazem-se observaes para ver qual a que o Universo escolheu. Parece hoje que o Universo escolheu a in ao e que a velocidade da luz mais ou menos constante ao longo da sua histria. Portanto, a proposta de Joo Magueijo interessante, mas a natureza no optou por ela. Contudo, ao explorar essa possibilidade, camos a saber algo mais sobre o Universo. Fazer cincia testar hipteses.A descoberta das ondas gravitacionais dos primrdios do Universo, anunciada em 2014, teria sido a prova fi nal de que o modelo da infl ao csmica estava certo. Mas esse anncio foi desmentido este ano por anlises posteriores das observaes, nomeadamente do telescpio espacial europeu Planck. Ficou muito desiludido?As ondas gravitacionais so distores do espao-tempo que transportam informao sobre a gravidade. Viajam velocidade da luz e foram previstas por Einstein h 100 anos, mas nunca foram detectadas directamente na Terra. O anncio da descoberta matava dois ou trs coelhos de uma cajadada: se estas ondas tivessem mesmo sido vistas, signi cava que a gravidade tambm tem natureza quntica, j que estas ondas seriam geradas por efeitos qunticos no incio do Universo; signi cava tambm a veri cao do mecanismo que mencionei, a in ao, j que s atravs da in ao que as ondas gravitacionais so su cientemente fortes. Finalmente, a deteco das ondas signi ca que elas existem.

    Quanto ao episdio do anncio da (falsa) descoberta em si, uma ilustrao perfeita de como a cincia (e o ser humano) funciona. Um grupo, da experincia BICEP2 no Plo Sul, a rmou [em 2014] ter descoberto as ondas gravitacionais, talvez um pouco precipitadamente, para car com a fama e o proveito que adviriam se estivessem correctos. A reaco da maior parte de ns ao anncio de qualquer descoberta tentar provar que est errada. E, realmente, h cerca de um ms, a equipa do Planck, em colaborao com o BICEP2, mostrou que o anncio foi precipitado. Mas repare: h agora um consenso entre os cientistas, portanto o mtodo cient co est a funcionar bem.Pode explicar um pouco mais o que so as ondas gravitacionais? E acha que vamos detect-las?A teoria da relatividade de Einstein diz que espao e tempo so um nico tecido, e que as ondas gravitacionais so utuaes desta entidade medida que o tempo passa. As ondas na superfcie de

    [Laboratrio Europeu de Fsica de Partculas, em Genebra] se veri cam estas previses, algo j aceite por todos ns e que at passou para a cultura popular, mas era uma barreira imensa.

    Em 1916, Einstein percebeu que o tempo e o espao so elsticos e duas faces de uma mesma entidade: o espao-tempo. Pela primeira vez, o tempo no uma entidade imvel, algo que pode ser distorcido. Isto permitiu-nos trabalhar a noo de tempo: o tempo pode uir mais devagar ou mais depressa. A teoria da relatividade foi importante para termos at uma noo do incio do tempo, tnhamos de quebrar primeiro a noo de que o tempo uma coisa esttica e imvel e eterna. Creio que a noo do Big Bang s possvel depois de termos quebrado a barreira do tempo e de sabermos que podemos mexer no tempo.Que implicaes fi losfi cas e religiosas teve o facto de sabermos da existncia do Big Bang?Imagino que deve ter sido um grande choque saber que o Universo est a evoluir e que ns, enquanto parte do Universo, estamos a caminhar para algum ponto enquanto espcie e enquanto ser vivo no cosmos. Qual o nosso papel no Universo? H algum propsito na nossa existncia? Qual o futuro da humanidade? Quem criou o Universo? Estas perguntas devem ter ganho nova relevncia.

    Mas, cienti camente, ter havido um ponto de partida libertador. No nascemos escravos de um Universo que j c estava. Pelo contrrio, evolumos com ele. Se o Universo no esttico e est a mudar, ento talvez possamos compreender as estrelas, como deitam tanta luz c para fora, o que acontece no interior delas... Como que se formaram, como morrem, como que a vida nasceu... tudo isto! Tem de ter sido uma coisa bonita saber que, a nal, h alguma dinmica no stio onde vivemos.Em 1965, descobriu-se uma radiao fssil, que a luz mais antiga que conseguimos ver dos primrdios do Universo, quando tinha s 380 mil anos, e que se chama radiao csmica de fundo. Esta foi a derradeira prova do Big Bang?A teoria de um Universo esttico ou estacionrio prev que o Universo hoje como foi h milhes de anos. Por outro lado, a teoria de que o Universo teve um incio prev muitas outras coisas: toda a matria

    estava concentrada inicialmente num nico ponto e toda a matria estava esmagada porque a temperatura era enorme. Mas, medida que o Universo expande, arrefece e permite a criao de estrutura. Quando o Universo celebrou um segundo de vida, estava su cientemente frio para ncleos de tomos. E aos 380 mil anos a luz conseguiu nalmente libertar-se da matria: esta luz a que chamamos a radiao csmica de fundo, um eco do Big Bang. Mas um eco que tem toda esta evoluo subjacente. uma fotogra a lindssima do Universo jovem-adulto, s possvel num cenrio em que existe Big Bang.

    E um pormenor interessante que esta fotogra a foi descoberta por acaso por Penzias e Wilson em 1964. Enquanto instalavam antenas muito sensveis, detectaram um rudo que atriburam a... coc de pombos. E que se veri cou ser radiao csmica de fundo existente em todo o lado e em todas as antenas.Hoje vemos galxias pelo Universo todo. O que mais nos disse a radiao csmica de fundo sobre o Universo que vemos hoje? O que permite saber sobre os primeiros 380 mil anos do Universo, que no vemos directamente?A radiao csmica de fundo quase isotrpica, isto , a mesma em todas as direces para onde olhemos. Isto faz sentido, dado que o Universo era o mesmo em todas as direces quando esta luz foi libertada. Mas esta luz antiga, est a viajar h muitos milhes de anos e j viu muita coisa. Desde os quase 14.000 milhes de anos que passaram desde que a radiao csmica de fundo foi criada, muita coisa aconteceu: a gravidade atrai tudo o que pode, e a tendncia comear a formar cogulos de matria, que so as sementes das futuras galxias, estrelas ou mesmo buracos negros. Ora como esta luz viaja h tanto tempo, foi afectada por todos estes acontecimentos. Por isso, quando olhamos para a radiao csmica de fundo, vamo