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 UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA Uma Introdução à Preparação e Avaliação de Projetos Agroindustriais Parte I: Preparação do Projeto Carlos Arthur B. da Silva, Ph.D. Junho de 2001

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

Uma Introdução à Preparação e Avaliação de Projetos Agroindustriais

Parte I: Preparação do Projeto

Carlos Arthur B. da Silva, Ph.D.

Junho de 2001

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Uma Introdução à Preparação e Avaliação e de Projetos Agroindustriais

Parte I – Preparação do Projeto1 

Carlos Arthur B. da Silva2 

Prefácio

A agregação de valor no setor agrícola através da agroindustrialização é

geralmente considerada como uma das políticas mais eficientes que podem ser

implementadas para se atingir o desenvolvimento econômico sustentável. De

fato, investimentos em processamento agrícola são conhecidos por

apresentarem efeitos multiplicadores significativos, devido às chamadas

ligações para frente e para trás dentro da cadeia produtiva do setor. Outros

benefícios trazidos por investimentos agroindustriais surgem do nível de

geração de emprego relativamente alto, do melhoramento na qualidade de

alimentos e fibras, e da possibilidade de operação em pequena escala.

Ao perceberem os benefícios da agroindustrialização, governos e

organizações internacionais têm criado programas de desenvolvimento

agroindustrial. Esses programas tipicamente incluem o fornecimento de crédito

e assistência técnica a investidores em potencial e muitos têm, como alvo

específico, grupos de pequenos produtores e investidores de pequena escala

como seus beneficiários.

No sentido de avaliar a viabilidade de um empreendimento

agroindustrial, um investidor em potencial, seja público ou privado, deveconsiderar um número de tópicos, os quais variam desde estratégias de

marketing até preocupações tecnológicas, financeiras e organizacionais.

Diversas fontes de riscos e incertezas também devem ser devidamente

consideradas, a fim de minimizar a probabilidade da empresa não ser bem

1 Traduzido do original em Inglês por Michelle Oliveira.

2 Economista Agrícola, PhD.; Professor do Departamento de Tecnologia de Alimentos da UniversidadeFederal de Viçosa; Brasil; e-mail: [email protected] 

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sucedida. Por estas razões, formulações e análises adequadas tornam-se

instrumentais para o sucesso de qualquer programa de desenvolvimento

agroindustrial.

Este texto tem por objetivo constituir-se em uma ferramenta para orientar

o processo de preparação e avaliação de projetos agroindustriais. Ele

apresenta os conceitos relevantes e descreve procedimentos metodológicos

normalmente seguidos por profissionais, doadores, organizações internacionais

e instituições de crédito, ao prepararem e avaliarem projetos agroindustriais. O

texto é um material auxiliar do software “AgriVenture”, distribuído pela Food

and Agriculture Organization (FAO) da Organização das Nações Unidas (ONU),

como parte de seu projeto de disponibilizarão de acesso ao conhecimento

denominado INPhO (www.fao.org/inpho).

O trabalho está dividido em 2 partes separadas. Esta primeira parte

descreve os principais conceitos e técnicas relacionadas com a preparação de

um projeto agroindustrial. Já a segunda parte trata dos aspectos de avaliação

financeira.

Sendo uma fonte introdutória, o texto foi intencionalmente mantido o

mais conciso possível. Referências para uma leitura mais aprofundada são

sugeridas ao longo da apresentação. Os leitores são fortemente estimulados a

usar o programa “AgriVenture”, assim como os projetos exemplo nele

demonstrados, para aprimorar o entendimento de conceitos e procedimentos

aqui apresentados.

O autor deseja agradecer as contribuições de estudantes da

Universidade Federal de Viçosa, que leram o primeiro esboço e apresentaram

sugestões valiosas. A assistência de Chris Fields na edição deste texto

também é reconhecida. Deseja-se, também, agradecer ao corpo técnico da

AGSI na FAO, especialmente ao José Machado e François Mazaud, pela

oportunidade de participar no projeto “AgriVenture” e pelas suas contribuições

na revisão deste material. Certamente, quaisquer erros e omissões que tenhampermanecido são inteiramente de responsabilidade do autor.

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Introdução à Avaliação e Preparação de Projetos Agroindustriais

Parte I – Preparação do Projeto

1. Introdução

Ainda que aparentemente auto explicativo, o termo "agroindústria" é

utilizado em múltiplos contextos denotando, desde os mais simples processos

pós colheita às mais elaboradas transformações de matéria-prima em produto

final. Existem muitas definições e classificações para este termo na literatura

especializada.

James Austin, em seu livro "Agroindustrial Project Analysis: Critical

Design Factors” (1), define agroindústria como "... um empreendimento que 

processa matérias-primas de origem animal ou vegetal. O processamento 

envolve transformação e conservação através de alteração física ou química,

armazenamento, embalagem e distribuição ." Ele ainda expande sua definição

para uma classificação de agroindústrias pelo nível de transformação de

matéria-prima. O autor descreve quatro níveis de transformação, que englobam

desde operações simples, tais como limpeza e classificação, a processos mais

sofisticados, como alteração química ou texturização. Quanto mais alto o nível,

mais complexos se tornam os processos a ele associados.

A definição de Austin cria um amplo espectro para a classificação de

empreendimentos como agroindústrias e tem sido adotado por importantes

referências como por exemplo BROWN (1995). Uma vez que estes autorestiveram seus textos publicados pelo Banco Mundial , é admissível que esta

também seja a visão adotada por aquela instituição.

Em uma recente publicação, a FAO apontou que o termo "agroindústria"

comumente se refere a "... o subconjunto de  procedimentos de fabricação  que 

se refere ao processamento de matérias-primas e produtos intermediários 

derivados do setor agrícola " (FAO, 1997). A mesma publicação utiliza o termo"indústria   agro-processadora " como um sinônimo de agroindústria, já que o

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trabalho da indústria agroprocessadora é "...transformar produtos originados da 

agricultura, floresta e pesca ." Enquanto esta publicação apresenta outras

classificações e especificações para este tipo de atividade econômica, ela

adverte que devido a recentes desenvolvimentos em tecnologias e processos,

a separação clara do que pode ser considerado somente indústria do que deve

ser visto como uma agroindústria tem se tornado complexo. Esta preocupação

é relevante, principalmente no setor não alimentício, no qual as cadeias de

produção, que convertem matérias-primas básicas em produtos finais podem

ser muito longas e envolverem variadas transformações.

Em contraste com visões mais amplas da FAO e do Banco Mundial,

outras definições, um pouco mais restritas, têm sido adotadas por autores e

instituições importantes. Por exemplo, a UNIDO (The United Nations Industrial

Development Organization) tem definido agroindústrias como "...indústrias que 

utilizam matéria-prima agrícola como principal material do qual são fabricados 

produtos em escala comercial ." (SRIVASTAVA, 1981). A partir desta

perspectiva, o primeiro nível de agroindustrialização de Austin, que envolve

apenas operações básicas de pós-colheita, seria excluído desta definição.

Apesar desta distinção, há um ponto em comum indiscutível em todos os

significados descritos acima: o termo "agroindústria" se refere, implicitamente,

à agregação de valor à uma matéria-prima de origem agrícola e àquelas

produzidas pelos setores florestal e de pesca. Em suma, este é o maior

diferencial desta classe de empreendimento.

Em face do exposto, o presente texto adotará a visão abrangente de

agroindústrias proposta por AUSTIN (1992).

2. A especificidade de projetos agroindustriais

Projetos agroindustriais possuem um variado número de aspectos que

os diferenciam de outras classes de investimentos. Em sua maioria, as

diferenças estão associadas com o tipo de matéria-prima mais adequada para

a transformação agroindustrial. Por estas características, é recomendável que

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um projeto agroindustrial seja preparado e avaliado por uma equipe

multidisciplinar que considere os aspectos abaixo relacionados.

2.1. Características Específicas de uma agroindústria

As matérias-primas utilizadas em agroindústrias são ou já foram

organismos vivos. Por esta razão, a sua obtenção e processamento estão

sujeitos a limitações que não são comuns em outras indústrias de

transformação.

Austin (1) listou as mais relevantes limitações específicas da

agroindústria:

- Sazonalidade

- matérias-primas agroindustriais não estão regularmente disponíveis

durante o ano. Elas estão sujeitas a oscilações associadas a alguns

fatores, como o clima e ciclos reprodutivos de animais. É comum que o

curto período de safra de uma fruta ou hortaliça ocorra durante o curto

período de alguns meses, impossibilitando a obtenção desta matéria-

prima pelo restante do ano. Em áreas onde o leite é produzido por vacas

criadas no pasto, a produção pode ser consideravelmente maior em

períodos de chuva. A especificidade de matérias-primas biológicas

complica os processos de tomada de decisão, afetando os

procedimentos de obtenção, a definição do mix de produto, o

dimensionamento da fábrica, controle de estoque, etc.

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-  Perecibilidade 

- ao contrário dos demais insumos industriais, matérias-primas

agroindustriais, em sua maioria, não podem ser estocadas por um longo

período. O processamento deve ocorrer de forma rápida, uma vez que

os riscos de deterioração e perda de qualidade ou de nutrientes são

geralmente altos.

-  Variabilidade

- as características das matérias-primas agroindustriais são variáveis,

principalmente em áreas menos desenvolvidas do mundo. Isto ocorre

apesar de recentes desenvolvimentos em genética e biotecnologia e da

implementação de elevados padrões de plantas e animais. Frutas

destinadas ao processamento, por exemplo, podem chegar à fábrica em

variados tamanhos e formas, com diferentes atributos físicos e químicos.

O leite pode ser recebido de produtores em variadas temperaturas, com

diferentes concentrações de gordura e com outras propriedades distintas

que afetam sua qualidade. Esta relativa falta de padronização resulta em

alta complexidade nas operações de processamento de agroindústrias.

Outros aspectos especiais da agroindústria que merecem ser

mencionados são:

- múltiplas alternativas de produto para uma dada matéria-prima; um

laticínio pode se dedicar à produção de variados queijos, manteiga, leitepasteurizado, iogurte, creme de leite, etc. Frutas podem ser

transformadas em sucos, polpa, geléias, pastas e muitos outros

produtos. Estas particularidades fazem com que a tomada de decisão

em relação ao mix de produto ou opções de processamento sejam

bastante complexas;

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- restrições tecnológicas que favorecem a localização da fábrica próxima

às fontes de matéria-prima (instalação em áreas rurais, onde a infra-

estrutura pode ser precária);

- os custos da matéria-prima compõem uma grande proporção dos custos

do produto final;

- a demanda é muitas vezes sazonal, especialmente para alguns produtos

alimentícios, como por exemplo, sucos ou sorvete;

- os produtos finais são, em geral, altamente perecíveis;

- há ocorrência de desperdício e geração de grandes quantidades de

resíduos (ex.: soro do leite na produção de queijo, vinhoto na destilação

alcoólica da cana-de-açúcar, etc.);

- crescimento de inspeção do governo e de agências de proteção ao

consumidor (leis severas e regulamentos que dificultam o planejamento

de projetos, processos, marketing, etc.).

Felizmente os empresários em potencial são conscientizados sobre

estas particularidades das agroindústrias pelas organizações financiadoras e

outras instituições que investem neste setor. Os financiamentos nesta área

podem incluir linhas de crédito específicas para a agroindústria incluindo, a

oferta de assistência técnica, incentivos para fomentar a integração entre

fornecedores de equipamentos e matérias-primas e outras concessõesfinanceiras ou isenção de impostos. Em qualquer caso, o primeiro passo a ser

dado por um investidor é o preparo de um projeto sólido, que considere de

forma apropriada os múltiplos aspectos tecnológicos e econômicos que devem

ser tomados como base para a decisão final sobre o investimento.

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2.2. A necessidade de uma equipe interdisciplinar e de uma visão

sistêmica

Deve-se pensar em um projeto como um grupo de informações

organizadas e coerentes, que permite a caracterização e avaliação da intenção

de investimento, sob perspectivas técnicas e econômicas. Para elaborar tal

grupo de informações, é necessário conhecer um variado número de

disciplinas. A perícia do profissional da área agrícola e dos técnicos de

processamento é necessária para se fazer a determinação das matérias-primas

apropriadas para o processamento. Os técnicos, por sua vez, devem

determinar qual processo é mais apropriado e especificar os equipamentos, o

layout da indústria, as instalações e os operadores. Previsões de mercado,

custo e estimativa do faturamento e uma avaliação financeira do investimento

são de responsabilidade de economistas.

A natureza multidisciplinar da elaboração e avaliação de um

projeto requer sinergia, na qual profissionais de diferentes campos de atuação

contribuem para o resultado final. Por isso, a constituição de uma equipe

interdisciplinar é extremamente aconselhável. Pela mesma razão, é importante

enfatizar que um empreendimento agroindustrial deve ser entendido como um

sistema no qual cada componente afeta e é afetado por outros componentes.

Este sistema engloba não apenas as operações internas da indústria, mas

principalmente as interações entre a indústria e os fornecedores de insumos,

consumidores e os ambientes institucional e de mercado.

Adotando uma visão sistêmica, se reconhece claramente que o seufuncionamento depende da harmonização e coordenação da circulação de

produto e de informação ao longo da cadeia de produção, e que depende

também da operação adequada de cada componente do sistema. Não é

suficiente que cada componente do processamento opere com máxima

eficiência e que os fornecedores ofereçam as matérias-primas apropriadas a

curto prazo; os esforços produtivos se mostram inúteis se os canais de venda

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GITTINGER (12) adota um ciclo composto por 5 estágios: identificação, preparação e análise, avaliação, e

avaliação retrospectiva. Certamente, as 3 fases iniciais correspondem ao estágio de pré-investimento

discutidos neste texto

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não estão claramente definidos.

Em resumo, durante o planejamento e avaliação de um projeto, deve-se

estar ciente da interação que existe entre seus inúmeros componentes. Como se

sabe, "a força de uma corrente depende de seu elo mais fraco”.

2.3. O ciclo de desenvolvimento do projeto agroindustrial

O processo de desenvolvimento de um projeto de investiemnto segue uma

seqüência típica, que é designada na literatura como o “ciclo do projeto”. Este ciclo

é caracterizado de modo distinto por diferentes autores e instituições, mas em

essência, todos eles se referem a mesma sucessão de atividades envolvidas naseleção, avaliação e implementação de uma empresa. A definição de ciclo

adotada por BEHRENS & HAWRANECK (2) está resumida abaixo. Ela divide-se

em pré-investimento, investimento e fases operacionais, as quais podem ser ainda

subdivididas.2 

As atividades de pré-investimento no ciclo do projeto, tipicamente,

consistem da identificação das oportunidades de projeto, a análise das alternativasde projeto, a preparação do projeto e sua avaliação.

Na identificação das atividades, informações são reunidas para se escolher

as oportunidades de investimento que devem merecer um exame mais detalhado

dos perspectivos empreendedores em potencial. Para agroindústrias, estas

oportunidades estão associadas com uma gama de fatores, incluindo a

disponibilidade de matérias-primas a baixos custos, a existência de incentivos do

governo local para a implementação de unidades agroindustriais, a existência de

planos ou

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programas internacionais que favorecem os investimentos no setor e a

atratividade das perspectivas de demanda para produtos processados, entre

outros. Agencias de incentivos a investimentos nos níveis federal e estadual

constituem uma fonte de informação comum que podem ser úteis no estágio de

identificação.

A seleção preliminar de um projeto é conduzida por uma análise dos

projetos alternativos. O objetivo é identificar uma oportunidade de investimento,

que seja potencialmente atrativa, para justificar esforços futuros em termos de

tempo e alocação de recursos para a preparação e avaliação do projeto. Estudos

de oportunidades de investimentos, nos quais perfis básicos dos projetos

alternativos são desenvolvidos, podem ser úteis para classificar as opções deinvestimento em perspectiva. Tais estudos não são detalhados e tendem a ser

baseados em estimativas conjuntas ou em projetos comparáveis de áreas ou

regiões distintas. Em geral, eles também contêm uma avaliação preliminar das

expectativas de mercado e números aproximados para investimentos, custos e

receitas.

Uma série de perfis agroindustriais foi desenvolvida pelo Instituto deDesenvolvimento Econômico do Banco Mundial (4). No Brasil, os Ministérios da

Agricultura e Desenvolvimento Agrário também desenvolveram uma série de perfis

de projetos agroindustriais que podem ser vistos como uma típica fonte para a

observação inicial de idéias para o projeto (15;17).

Depois que uma oportunidade de investimento estiver sido identificada, a

preparação do projeto deve ser executada, envolvendo a coleta, organização e

análise do conjunto de informações, com a finalidade de apoiar, apropriadamente,

a decisão de implantação.

O nível de detalhamento no estágio de preparação irá caracterizar esta

etapa como um estudo de pré-viabilidade ou de viabilidade. A diferença entre

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estes 2 termos é bastante sutil e é comum encontrar diferentes interpretações

para seus limites e objetivos. Tipicamente, ambos terão as mesmas estruturas

básicas, cobrindo informações de mercados, questões tecnológicas,

especificações de localização, estimativas do investimento, dos custos, das

receitas e dos lucros. Como citado anteriormente, o nível de detalhes e

aprofundamento da análise será o fator diferenciador.

Rigidamente falando, os estudos de viabilidade devem ser mais detalhados,

contando mais com números reais do que estimativas aproximadas para os

parâmetros financeiros e tecnológicos. Eles devem fornecer todas as informações

necessárias para uma decisão quanto ao investimento.

O conteúdo deste texto segue de perto a estrutura geral de um estudo de

viabilidade. No entanto, em algumas seções – especialmente nos aspectos

financeiros – as discussões enfatizam os procedimentos de estimativa que alguns

autores classificariam como mais apropriados para aproximações de pré-

viabilidade. Dependendo dos seus objetivos, os leitores devem avaliar a

conveniência de aplicar os caminhos mais curtos para estimar ou empregar

cálculos mais detalhados.

O estudo de viabilidade oferece a base para a avaliação do projeto. Quando

o estudo é completado, investidores, concessores de empréstimos e outras partes

interessadas podem consultá-lo para conduzir análises que sustentarão as suas

decisões em relação à implementação do projeto. Investidores podem estar

primariamente interessados nos seus retornos financeiros esperados, enquanto os

concessores de empréstimos irão examinar a consistência geral dos planos de

investimento, os riscos envolvidos, os aspectos organizacionais e outros

elementos que podem ajudar a justificar o comprometimento de fundos nesta

tentativa. Outras partes, como o governo, podem estar interessadas nos impactos

ambientais ou sócio-econômicos, tais como a criação de empregos, a geração de

receitas fiscais, ingresso de moeda estrangeira, etc.

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O relatório da avaliação conclui a fase de pré-investimento. Neste ponto

uma decisão é tomada quanto a implementação ou não do projeto, isto é, se deve-

se iniciar ou não a fase de investimento.

Na fase de investimento, os seguintes estágios serão considerados:

- definição dos arranjos legais, organizacionais e financeiros para a

implementação do projeto

- aquisição e transferência de tecnologia 

- especificações de engenharia, propostas, negociações e aquisições 

- aquisição de terreno, contratação de trabalhos civis e instalação 

- marketing de pré-produção, incluindo as especificações da função de

suprimento, o que é um problema crítico nos projetos agroindustriais (veja a

Seção 4) 

- recrutamento e treinamento de pessoal 

- autorização da fábrica e início das suas atividades 

Finalmente, o ciclo do projeto é concluído pela fase operacional, na qualocorre a operação normal da indústria.

A principal preocupação deste texto é com as fases de pré-investimento.

Conceitos e técnicas aplicados à preparação e avaliação do projeto serão

discutidos nas seções seguintes e na Parte II deste trabalho. 

3. Avaliação de mercado para o empreendimento agroindustrial 

Para muitos profissionais, o ponto de partida no preparo e avaliação de um

projeto agroindustrial deve ser a identificação dos mercados potenciais.

Considerando-se este fato, muitas perguntas devem ser respondidas: quem são

os consumidores em potencial para o produto; quantos são e o quanto eles estão

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dispostos a comprar; quando, onde e a que preço.   Além disso, deve-se ter

informação sobre os competidores, tanto os atuais quanto os potenciais.

Como componente do projeto, a análise de mercado é um pré requisito para

que este seja bem sucedido. O conhecimento obtido a partir desta análise afetará

as decisões de planejamento relacionadas ao mix do produto, dimensão da

fábrica, o preço de venda e receitas potenciais. De fato, o estudo de mercado

pode ser visto como um ponto crítico no processo de decisão de investimento. Ele

pode indicar a existência de demanda por produtos de primeira necessidades e

supérfluos, ou pode apontar limitações ou ausência de oportunidades de mercado

para os produtos agroindustriais em consideração. Sobre esta última hipótese, não

teria justificativa a continuidade do trabalho de elaboração do projeto.

A análise de mercado visa estimar a demanda atual e futura para a

produção apresentada no projeto. Para fazer esta estimativa, deve-se entender os

fatores que afetam a demanda, uma tarefa para a qual a teoria econômica fornece

algumas diretrizes. Por esta razão, antes de se discutir algumas das técnicas

comuns usadas na análise de mercado, uma breve revisão a respeito de conceitos

econômicos é necessária.

3.1. Conceitos econômicos básicos para a análise de mercado

3.1.1. Demanda

A demanda por qualquer bem é determinada pelas escolhas individuais dos

consumidores. A teoria econômica postula que os indivíduos precisam fazer um

grande número de escolhas para preencher suas necessidades e vontades.

Necessidades biológicas, aspectos culturais, características pessoais e

eventualidades ajudam a determinar estas escolhas, as quais são restringidas

pelo fato de que os consumidores, em geral, possuem renda limitada.

Consequentemente, para um dado nível de renda, o consumidor tentará

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selecionar os tipos e quantidades de produtos que irão proporcionar o nível

máximo de seu bem estar, ou, em termos econômicos, o nível máximo de

utilidade.

A representação matemática do problema de escolha do consumidor

permite aos economistas tirar uma série de conclusões com respeito ao

comportamento do consumidor. Uma conclusão importante é que, tudo mais

permanecendo constante, os consumidores irão preferir mais a menos de um

produto, mas irão adquiri-lo em maior quantidade, somente a preço mais baixo.

Isto implica que existe uma relação negativa entre quantidade demandada e

preços.

Economistas usam a curva de demanda para representar a relação entre

demanda e preços. A inclinação negativa da curva fornece a descrição das

quantidades que os consumidores estão dispostos a comprar a um dado intervalo

de preço. Além disso, a curva permite a determinação de um conceito importante

para a análise de mercado: a elasticidade-preço da demanda.

3.1.2. Elasticidade-preço da demanda

A elasticidade preço da demanda é uma medida expressa em forma de

fração. Esta fração associa a variação percentual em quantidade demandada com

a variação percentual em preço. Quanto mais intenso for o efeito do aumento de

preço na redução da demanda, maior é a elasticidade preço, e vice-versa.

As elasticidades da demanda são geralmente calculadas para cada 1% de

variação no preço. Se a variação percentual em quantidade demandada for maior

que um para uma variação percentual de 1% no preço, a demanda do produto é

considerada elástica. Inversamente, se a variação em quantidade demandada é

menor que um, a demanda do produto é considerada inelástica. A variação

percentual na demanda exatamente igual à do preço indica um caso de

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elasticidade unitária. Note que na visão da relação negativa entre preço e

demanda, as elasticidades estimadas serão negativas. Portanto, devemos

desconsiderar o sinal quando comparamos o valor calculado a uma unidade, ao

estabelecermos se um bem é elástico ou inelástico.

Matematicamente, expressamos a elasticidade preço da demanda como

Ep= ∆Q/Q / ∆P/P = ∆Q/ ∆P . P/Q

onde Q é a quantidade demandada e P é o preço

O grau de elasticidade nos fornece algumas informações sobre a naturezada demanda. Primeiro espera-se que, produtos essenciais e produtos para os

quais existem poucos ou nenhum substituto terão demanda inelástica. Ao

contrário, produtos supérfluos ou aqueles com mais substitutos tenderão a ter

demanda elástica.

3.1.3. Elasticidade-renda da demanda

A relação entre demanda e renda é considerada positiva para a maior parte

dos produtos: um aumento de renda causa um aumento na demanda. Porém, há

alguns bens que não seguem esta regra, os chamados produtos inferiores. Em

algumas economias, produtos usados no cotidiano, como por exemplo, feijão e

farinha de milho são considerados inferiores, uma vez que os consumidores

realmente tendem a reduzir seus consumos quando há aumento de renda.

Os economistas também expressam a relação entre renda e demanda

usando a chamada curva de Engel. A expressão matemática das curvas de Engel

permite a determinação das elasticidades-renda da demanda. Estes valores são

definidos como a variação percentual na demanda dada uma variação percentual

na renda, permanecendo constantes outros fatores.

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Matematicamente temos

Ey= ∆Q/Q / ∆Y/Y = ∆Q/ ∆Y . Y/Q

onde Y representa renda e Q a quantidade demandada.

Na maior parte dos casos, Ey será positiva, mas sabe-se que seu valor

varia de acordo com o intervalo de renda. No caso de alimentos, é esperado que

ocorra redução com o aumento de renda. Consequentemente, o uso de

elasticidades renda na análise de mercado deve ser feito com cautela,

principalmente quando se deseja estimar a demanda futura para determinadaestimativa do crescimento de nível de renda esperado.

3.1.4. Elasticidades cruzadas

Como vimos acima, a redução da demanda é esperada quando o preço do

produto aumenta. Isto é verdade, particularmente quando se trata de produtos

para os quais há substitutos próximos no mercado. Um exemplo clássico para aagroindústria é encontrado na relação entre preços das carnes bovina e suína em

muitas partes do mundo. A demanda por carne suína aumenta quando os preços

da bovina aumentam e vice-versa, já que os consumidores substituem produtos

mais caros pelos mais baratos. Há, também, os produtos complementares, os

quais os consumidores tendem a comprar de modo associado; pão e manteiga, e

leite e café, são exemplos clássicos. Para o analista, estas relações tornam

importante a avaliação não somente do preço dos produtos envolvidos no projeto,

mas também dos seus substitutos e complementares potenciais. Em muitos

casos, esta identificação é direta, porém para alguns produtos, os substitutos não

estão claramente definidos. Um exemplo é a demanda de leite nos Estados

Unidos, a qual descobriu-se estar relacionada aos preços de refrigerantes.

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Elasticidades cruzadas de demanda expressam a relação entre variação de

preço de um artigo com a variação de demanda de um outro artigo.

Matematicamente temos

Eij= ∆Qi /Qi / ∆P j /P j = ∆Qi / ∆P j . P j /Qi 

Produtos substitutos terão elasticidade cruzadas positivas, enquanto os

complementares terão valores negativos. Produtos não relacionados

(independentes) terão elasticidade cruzadas igual a zero.

Elasticidades podem ser calculadas pelo uso de informações de pesquisas

sobre gastos familiares ou de estudos econométricos. A tabela abaixo apresentavárias estimativas de elasticidade de demanda para produtos alimentícios nos

Estados Unidos.

Tabela 1

Exemplos de Elasticidade

Produto Elasticidade

Preço

Elasticidade

RendaCarne bovina -1.66 0.29

Carne de Carneiro -1.42 0.57

Carne Suína -1.03 0.13

Frango -0.90 0.18

Peixe -0.67 -

Fontes: * YOUNG e BURTON (21)

** DAHL e HAMMOND (8)

Preços e renda são apenas duas das variáveis que influenciam demanda;

há outras que também devem ser consideradas no estudo de mercado:

- Tamanho da população e suas características,

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- Uma vez que a demanda total de mercado é a soma das escolhas

individuais dos consumidores, é importante saber o número de

consumidores, suas idades, localizações e a taxa de crescimento

populacional. Estes tipos de informações podem, geralmente, ser

encontradas em agências estatísticas do governo e departamentos de

planejamento;

- Fatores sócio-culturais

- Sabe-se que atributos culturais, tais como religião, formação étnica e

nacionalidade, afetam a demanda, principalmente no caso de produtos

agroindustriais. As quantidades e os tipos de alimentos consumidos, por

exemplo, variam consideravelmente entre regiões culturalmentediferenciadas. Além disso, padrões de consumo podem mudar durante o

ano, determinados por datas religiosas ou outras festividades culturais e

costumes.

- Fatores Geográficos

- Fatores específicos de localização, clima, paisagem, proximidade em

relação ao litoral, altitude, são conhecidos por afetarem o tipo e aquantidade dos produtos consumidos. Este aspecto torna necessária a

separação da análise de mercado em uma base regional.

3.2. Análise de mercado para produtos agroindustriais

Com base no conhecimento teórico sobre demanda e os fatores que a

influenciam, devemos proceder com a análise do mercado atual e suas

perspectivas para os produtos do projeto. Alguns passos que devem ser dados a

este respeito serão discutidos a seguir.

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19

3.2.1. Identificação das informações disponíveis

Esta fase da análise do projeto começa com a identificação e o exame de

informações de mercado existentes, tanto quantitativas quanto qualitativas. Iremos

procurar por dados estatísticos de fontes convencionais (governos, organizações

internacionais, instituições acadêmicas, estudos especiais, etc.). Tentaremos

também identificar estudos similares, informes de mercado, publicações em geral,

matérias da imprensa e qualquer outro conhecimento relacionado ao produto ou

produtos sob análise.

A experiência tem mostrado que o diálogo com profissionais experientes

sobre o assunto em estudo constitui um atalho valioso na análise de mercado.Estes especialistas são geralmente funcionários públicos, gerentes de empresas,

pesquisadores acadêmicos, ou outros analistas especializados. Suas

contribuições, possivelmente na forma de entrevistas, podem ser de grande valor

na identificação de fontes de informação para a análise. A INTERNET também

pode ser uma fonte de conhecimento do mercado. Muitos governos locais,

universidades e organizações internacionais disponibilizam prontamente as

informações que geram. Com os avanços dos mecanismos de busca, hoje, érelativamente eficiente identificar e consultar estes recursos usando a INTERNET.

A FAO mantém um banco de dados completo e acessível pela INTERNET,

cobrindo questões de produção e comércio internacional de vários produtos

agroindustriais na maioria dos países (www.fao.org). O Banco Mundial e suas

instituições associadas também coletam e organizam dados demográficos e

econômicos, tais como renda, população, cifras de comércio internacional

(www.worldbank.org). Há outros sites internacionais importantes que contêm dados e

relatórios de pesquisas sobre assuntos de alimentos e agronegócio: World Trade

Organization (www.wto.org), Organization for Economic Development and

Cooperation (www.ocde.org), os institutos que constituem a rede internacional de

centros de pesquisa agrícola (www.cgiar.org), e em particular, o International Food

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20

Policy Research Institue (www.ifpri.org). O Rabobank (www.rabobank.com), uma

instituição financeira privada, que tem forte presença no agronegócio

internacional, também apresenta um site bastante útil.

3.2.2. Série de dados

O ideal seria que fôssemos capazes de descrever tendências de demanda

e identificar os fatores que a influenciam utilizando tabelas de dados, construídas

com as informações reunidas nos estágios iniciais da análise. Como via de regra,

essa série de dados deve ser de, pelo menos, 10 anos, para que a mesma possa

tanto nos fornecer relatos razoáveis de tendências passadas, quanto nos permitir

aplicar um tratamento estatístico aos dados, principalmente para propósitos deprognóstico.

No intuito de medir a demanda de determinado produto, costuma-se

representá-lo por uma variável: o consumo aparente, definido pela expressão

abaixo:

Cap = P + I – E

onde,

Cap = consumo aparente

P = quantidade produzida

I = importações

E = exportações

Esta simples equação assume que a quantidade demandada de certo

produto pode ser estimada pela diferença entre a quantidade que entra em um

país ou região (via importação ou produção própria) e a quantidade que sai do

mesmo país ou região. Se assumirmos que não há variação nos estoques durante

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21

um dado ano, então o consumo aparente torna-se um substituto aceitável do

consumo efetivo.

Através da combinação entre a estimativa do consumo aparente e dados da

população, podemos calcular estimativas do consumo per capita, os quais são

particularmente úteis para propósitos de comparação. Por exemplo, comparando-

se o consumo per capita de itens alimentícios com a quantidade diária

recomendada, pode-se ter uma noção do potencial de crescimento do mercado

devido a aumentos na renda. A tabela 2 mostra algumas estimativas do consumo

de carne bovina no Brasil, em base per capita.

TABELA 2

Série de dados de tempo sobre o Consumo Per-capita de Carne Bovina:

Brasil (1987 – 1998)

Ano

Consumo Per-capita

(kg/ habitante / ano)

1987 33.4

1988 27.6

1989 33.8

1990 34.61991 35.7

1992 26.8

1993 34.6

1994 35.4

1995 37.9

1996 39.5

1997 37.31998 38.3

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22

A seqüência de dados de consumo apresenta importantes informações

sobre a evolução do mercado de um produto e é particularmente útil no cálculo de

taxas de crescimento do mercado. Dados sobre estas taxas, principalmente

quando comparados, de forma apropriada, com dados de população ou

crescimento da renda, facilitam as previsões de comportamentos futuros da

demanda, como será discutido no próximo item.

3.2.3. Previsões de mercado

Um projeto agroindustrial normalmente visa à construção e operação de

uma nova indústria de processamento. Certamente existem projetos que tratam da

expansão, relocação ou modernização de fábricas já existentes, mas em todos oscasos, alguma estimativa de receitas futuras e custos é essencial, já que as

decisões de investimentos em projetos têm impactos a longo prazo.

Previsões de demanda se fazem necessárias como uma base para o

estabelecimento do plano de marketing do projeto, o qual envolve decisões quanto

ao mix de produto, quantidades a serem produzidas, estratégias de preço e

vendas. Isto deve auxiliar no processo de estimativa de custos e rendas futuras.

As previsões podem ser feitas utilizando-se inúmeras técnicas quantitativas

e qualitativas. A abordagem quantitativa geralmente segue duas linhas

metodológicas principais: uma que baseia-se na observação do comportamento

passado da variável em estudo e a generaliza no futuro (análise de séries

temporais); e a outra que leva em consideração, explicitamente, a relação entre

variáveis previstas e um grupo de variáveis explanatórias (tratamento causal).

Obviamente, há outros métodos quantitativos, porém a discussão dos mesmos

estaria além do objetivo deste breve texto introdutório. O leitor interessado pode

se referir a qualquer livro de econometria e pesquisa de mercado sugerido na

bibliografia.

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23

3.2.3.1. Análise Quantitativa

O método quantitativo de prognóstico mais simples está baseado na

extrapolação do comportamento passado. Para isto, deve-se plotar os números de

demanda em um gráfico no qual tempo é representado no eixo horizontal, como

mostrado na Figura 1 abaixo. Uma curva estatística adequada pode ser usada

para estimar a função que descreve a relação entre demanda e tempo (D = f(t)).

Valores futuros de D podem ser, então, facilmente estimados através da

substituição de t pelos seus valores futuros conhecidos. A forma da curva – linear,

quadrática, exponencial, etc... – deve ser determinada utilizando-se procedimentos

estatísticos apropriados e testes. Na Figura 1, uma tendência linear foi estimada

por motivos de exemplificação.

Figura 1

Consumo Per-capita de Carne Bovina no Brasil (1987-1998)

05

10152025

30354045

1985 1990 1995 2000 

A maioria dos softwares modernos e bem definidos, tais como o MicrosoftExcel ou o Lótus 1-2-3 da IBM, possuem funções intrínsecas que permitem

simples ajustes de curvas para propósitos de previsões. Programas

especializados, como ForecastPro (Palisade Corporation), vão um passo além, ao

fornecerem conselhos de especialistas quanto à seleção de um método e,

automaticamente, calculam os prognósticos.

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24

Taxas de crescimento podem ser usadas como outra ferramenta simples de

previsão. Elas são calculadas a partir de dados observados ou estimados por

análise econômica ou por julgamento do analista. O cálculo de uma taxa de

crescimento geralmente seguirá a fórmula exponencial Dt = Do (1 + i)t , onde Dt é a

demanda prevista para o período futuro t, Do representa o nível de demanda atual,

e i a taxa de crescimento.

Este método foi usado em um estudo que prediz o consumo de carne

bovina no Brasil para 2010 (6), utilizando-se os seguintes dados:

Consumo de carne bovina em 1998 = 6,131 mil toneladas de carcaçaequivalente

Taxa de crescimento = 2,58% ao ano

Consumo em 2010 = 6,131 (1 + 0,258)12 = 8,323 mil toneladas

O estudo brasileiro utilizou uma taxa de crescimento da demanda que havia

sido estimada através de uma fórmula que combina a elasticidade-renda de

consumo de carne bovina com estimativas da taxa de crescimento populacional euma taxa de crescimento da renda per capita esperada. A fórmula abaixo é

largamente usada em previsões de demanda:

I = θ + N • Ey

onde,

I = taxa de crescimento da demanda

θ = taxa de crescimento populacional

n = taxa de crescimento da renda per capita

Ey = elasticidade-renda da demanda

Os autores deste estudo usaram os seguintes dados:

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taxa de crescimento populacional = 1,2% ao ano

taxa de crescimento da renda per capita = 2,76% ao ano

elasticidade-renda = 0,5

Portanto, i = 0,012 + (0,5 x 0,0276) = 2,58% ao ano.

O chamado tratamento causal, uma técnica de previsão quantitativa mais

sofisticada, considera a relação entre a demanda e os fatores que a influenciam.

Equações do tipo:

Dt = f (Preçot, Rendat, Populaçãot, Preço de substitutost, etc...)

podem ser estimadas por métodos econométricos e usados para prever D para

vários períodos futuros. Para obter mais informações sobre o tratamento causal e

outras técnicas quantitativas de previsões, o leitor interessado é estimulado a

consultar as referências de análise de mercado e preço listadas na bibliografia

deste trabalho.

3.2.3.2. Métodos qualitativos

Haverá situações nas quais o analista terá que contar com métodos

qualitativos para estimar níveis futuros de demanda. Este caso é especialmente

  justificado pela ausência de dados seqüenciais ao longo do tempo que sejam

confiáveis. Neste tipo de situação, podemos basear nossas previsões em opiniões

e julgamentos fundamentados, chegando a estimativas razoavelmente aceitáveis.

O método Delphi é freqüentemente utilizado como técnica de prognóstico

qualitativo. Seguindo um processo sistemático, este método depende de

estimativas realizadas por especialistas para que se alcance um consenso. O

primeiro passo constitui a seleção de profissionais especializados no mercado em

questão. Um moderador, então, pergunta a cada indivíduo sua estimativa para

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tendências de mercado, taxas de crescimento da demanda esperadas, e outras

informações. As estimativas são compiladas e retornadas aos especialistas, para

os quais pede-se avaliá-las novamente, desta vez levando-se em consideração

todas as estimativas dos outros especialistas. Esse processo de reavaliação é

repetido até que se atinja um senso comum. Como os participantes responsáveis

pelas estimativas não são identificados, os mesmos não são influenciados por

muitos fatores subjetivos, tais como reputação individual ou posição hierárquica no

grupo, o que contribui para minimizar alguns tipos de preconceitos ou propensões.

Uma técnica qualitativa semelhante é o painel de especialistas, que segue

os mesmos princípios do Delphi, embora difira no fato de que as avaliações são

realizadas em seções de “brainstorming”, nas quais idéias são lançadas ediscutidas até que se chegue a um consenso.

A construção de cenários é um outro método útil de previsão qualitativa, na

qual analistas combinam informações de fontes distintas para construir cenários

que descrevem o ambiente esperado para o mercado. Um cenário pode envolver

a combinação de taxas esperadas de população e renda, o efeito de atuais

orientações nutricionais no consumo per capita, ou dados números de consumoper capita em países e regiões semelhantes. A idéia é desenhar um quadro lógico

e plausível que pode gerar um modelo de comportamento futuro da demanda.

Com a criação de cenários, taxas de crescimento podem ser estimadas mesmo

quando dados de séries temporais não são confiáveis ou estão indisponíveis.

Outros métodos qualitativos são a análise de impacto cruzado de, na qual

prováveis forças que causam impacto na demanda futura são identificadas, e o

analista concentra esforços para determinar como estas forças afetarão umas às

outras. Há ainda o método de analogias históricas, pelas quais estabelecem-se e

avaliam-se trajetos de desenvolvimento comparativos. Analogias podem ser feitas

entre países e regiões diferentes ou produtos semelhantes, em uma dada área.

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27

Em resumo, técnicas qualitativas oferecem procedimentos relativamente

simples e eficientes que auxiliam o processo de previsão de mercado. Detalhes

sobre os métodos discutidos acima podem ser encontrados em FERRIS (11).

3.2.4. Avaliação da concorrência

É tipicamente provável que o empreendimento agroindustrial enfrentará

algum tipo de competição quando apresentar seus produtos a potenciais

consumidores. Rivais podem já estar presentes no mercado alvo, oferecendo os

mesmos produtos ou substitutos bem próximos. Se as oportunidades de um

negócio atraente tornam-se evidentes, novos empreendedores aparecerão no

mercado. Um estudo do ambiente da concorrência ajudará o analista nadeterminação da estratégia necessária para assegurar que o projeto irá manter

sua parcela no mercado alvo e que terá sucesso.

Um primeiro passo na análise da concorrência é uma investigação da

estrutura do mercado. A avaliação desta estrutura requer a identificação do

número de firmas operando num segmento específico, suas respectivas parcelas

do mercado, suas localizações em relação ao mercado final, suas fontes dematéria-prima, o tamanho e nível de utilização das suas fábricas e outras

informações que ajudam a definir o poder de cada uma no mercado. Quanto mais

concentrado o mercado, mais difícil torna-se a inserção no mesmo, pois rivais já

existentes podem exercer seu poder para defender suas respectivas parcelas.

Há também a necessidade de avaliar as chamadas “barreiras à entrada” no

mercado (tecnologia, leis e regulamentos, etc) para determinar a facilidade com

que novos concorrentes podem entrar no mesmo, assim como a possibilidade de

concorrência internacional na forma de importação direta. A conduta estratégica

da concorrência também deve ser analisada. O analista precisará avaliar as

políticas de preços, distribuição e promoção dos concorrentes, e entender seu

posicionamento e objetivos em relação ao mercado alvo.

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28

Concluindo, a análise de mercado fornece uma avaliação do potencial de

venda para o produto agroindustrial em questão. Além disso, se devidamente

desenvolvida, ela constituirá uma base para o estabelecimento do plano de

marketing da empresa. Considerando esta importância, o leitor deve checar a lista

abrangente proposta por compreensão de AUSTIN (1) com questões de análise

de mercado antes de avançar nos próximos passos da preparação do projeto.

4. Planejamento e avaliação da função de suprimentos de insumos

Como citado na introdução deste texto, a característica mais distinta de

projetos agroindustriais, quando comparados a outros ramos industriais, é anatureza de suas matérias-primas. Estas são variadas em larga extensão,

perecíveis, sazonais, e participam da maior parcela do custo total do produto. Num

estudo recente conduzido por este autor, abrangendo a preparação de 15 perfis

interativos de projetos para agroindústrias de pequena escala, a parcela de custo

correspondente à principal matéria-prima foi maior que 50% do custo total, na

maioria das vezes (17). Certamente, sob estas circunstancias, a preocupação com

a função de suprimento de matéria-prima deve-se constituir a consideraçãoprincipal na preparação e análise de um projeto. Livros clássicos sobre projetos

agroindustriais (1;3) apontam as 4 variáveis principais que devem der examinadas;

quantidade, qualidade, tempo e matérias-primas. Além disso, é relevante examinar

a organização desta função.

4.1. A necessidade de suprimentos estáveis

O sucesso e a sustentabilidade de qualquer empresa processadora

dependem da sua habilidade em obter lucro e transformar matérias-primas em

produtos que possam satisfazer os desejos e necessidades dos clientes. Para se

ganhar a confiança e a lealdade do consumidor, é essencial que os produtos

estejam disponíveis regularmente de forma competitiva. Particularmente no setor

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29

alimentício, a necessidade de prazos de entrega estáveis vem se tornando um

pré-requisito para os canais de distribuição, já que as principais cadeias de

supermercados e varejistas ganham crescente poder de mercado no mundo todo.

Até mesmo em canais de distribuição menos sofisticados, a necessidade de

manter parcelas de mercado requer regularidade na produção e nos cronogramas

de atendimento de mercado.

Para uma agroindústria, o pré-requisito para manter estabilidade de saída

de produtos apresenta um desafio não trivial aos gerentes da fábrica. Eles

enfrentam uma necessidade de reconciliar planos de produção com o fato de que

o suprimento de matéria-prima está sujeito aos caprichos da biologia, clima e

mercados. Considere o caso de um produtor de suco de fruta, para o qual aprincipal matéria-prima está disponível por apenas 4 meses no ano. Se a

demanda é estável e o processador quer assegurar um prazo de entrega regular

de seu produto durante o ano, ele precisa criar um estoque de produtos ou de

matérias-primas (ex: polpa de fruta congelada ou enlatada). Se o problema técnico

de perecibilidade não permite esta estratégia, os custos de sustentação de

estoques vão, provavelmente, tornar-se financeiramente expressivos, afetando

negativamente a competitividade. Como uma alternativa à criação de estoques, osgerentes podem tentar garantir um suprimento consistente, obtendo insumos de

regiões e países diferentes, geralmente a custos maiores, ou trabalhando com

fornecedores locais para amenizar as irregularidades da produção local de fruta

através da promoção de práticas agrícolas aprimoradas. Assim, o caso do

produtor de suco de fruta, como um modelo para vários outras agroindústrias,

mostra que a organização da função de suprimento de insumos e matérias-primas

pode vir a ser crucial para o sucesso da empresa. Adiante neste texto, iremos

examinar a “integração vertical” como um método de criação de ligações eficientes

para frente e para trás na empresa agroindustrial.

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30

4.2. Quantidade, qualidade e custos

A definição das quantidades apropriadas de matéria-prima, depende

essencialmente, de planos de produção estabelecidos com base na análise de

mercado. Se o esquema de produção é conhecido, esta definição torna-se uma

simples questão de utilizar a relação entre a entrada de insumos e saída de

produtos (coeficientes técnicos) para estimar as necessidades de matéria-prima.

Sabemos, por exemplo, que 7 litros de leite são necessários para produzir um kilo

de queijo frescal. Um projeto visando a produção de 1000 Kg de queijo frescal por

dia irá, então, requerer 7000 litros de leite diariamente. Devemos determinar se

essa quantidade de leite estará disponível, quais são as suas características

qualitativas, e qual será o preço de compra esperado.

Para avaliar a disponibilidade potencial de matérias-primas, podemos

seguir um processo similar à coleta de dados realizada na fase de análise de

mercado. Devemos examinar informações quanto aos padrões de uso da terra,

número e tamanhos de propriedades, produtividade de plantações, números de

cabeças de gado, etc., para padrões e tendências que ajudam a predizer o

suprimento em relação ao horizonte de planejamento do projeto. Devemos discutiresses rumos com especialistas em commodities (produtos agrícolas passíveis de

classificação segundo padrões internacionais como trigo, açúcar, café, etc.),

pesquisadores, pessoal da extensão agrícola, associações de fazendeiros,

funcionários públicos e quaisquer outras fontes de conhecimento.

A qualidade da matéria-prima disponível também deve ser avaliada. Em

agro-processamento, existe um ditado afirmando que a qualidade do produto

depende diretamente da qualidade de sua matéria-prima. Com isto em mente,

engenheiros de processo definem as especificações de suas matérias-primas

através de considerações das características intrínsecas do material, tais como

contagem microbiológica e teor de gordura, no caso de leite, ou graus Brix, pH,

cor, textura, e graus de maturação no caso de frutas e hortaliças. Essas

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31

características não são afetadas somente pelas variedades de plantas e raças de

gado, mas também por tecnologias agrícolas, práticas de manuseio pós-colheita, e

logística.

Devemos nos esforçar para determinar a medida em que os padrões de

qualidade de matéria-prima atendem nossas especificações. Devemos também

investigar o grau de variação de qualidade, entre fornecedores e em diferentes

épocas do ano. Se qualidade inconsistente torna-se uma preocupação, medidas

próativas deverão ser tomadas para alterar os acordos de coordenação vertical,

como será discutido posteriormente neste texto.

Para complementar nossa avaliação da disponibilidade de matéria-prima,tendo examinado questões relativas à quantidade e qualidade, devemos também

analisar os padrões do mercado atual, já que eles estão relacionados ao tempo e

aos custos. Diversas questões precisam ser respondidas para nos auxiliar a

determinar o custo de um fornecedor de matéria-prima garantido e confiável: Qual

é o nível de excedente no mercado; existe um padrão sazonal no mercado; quais

são os canais de distribuição; quem são os principais compradores; que tipos de

acordos comerciais são feitos entre vendedores e compradores (contratos,licitações, vendas para entrega imediata, etc...); qual é a estrutura de preço

comumente usada; qual é a incidência de impostos e quais são seus níveis; qual a

percentagem de perda pós-colheita; e quais são os custos de transporte?

Por fim, deve-se observar que por discutida apenas uma lista parcial de

fatores que influenciam os custos da matéria-prima. Cada tipo de matéria-prima

agrícola tem suas próprias peculiaridades, e existem muitos acordos diferentes de

sua aquisição.

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32

4.3. Acordos alternativos de suprimento

Os sistemas de suprimento de empresas agroindustriais podem ser

definidos por qualquer uma das formas de coordenação verticais alternativas. De

fato, há múltiplas possibilidades para as firmas de aquisição: matérias-primas

podem ser obtidas de mercados locais ou regionais a pronta entrega, de

produtores independentes através de obrigação contratual, de produtores

individuais estrategicamente aliados à firma agroindustrial, ou numa estrutura

verticalmente integrada, na qual a industria produziria suas próprias matérias-

primas.

Cada um desses modos de suprimentos apresenta vantagens edesvantagens para as partes envolvidas. A escolha de um modo depende de

muitos fatores, dentre os quais estão o tipo de matéria-prima obtida, o ciclo de

produção da matéria-prima, a estrutura legal regulando transações de compra e

venda, a existência de instituições de apoio fornecendo serviços como inspeção e

classificação, e a estrutura de impostos. A formulação de um projeto deve

considerar, cuidadosamente, as alternativas razoáveis de aquisição para delinear

um sistema confiável e estável.

A teoria dos custos transações é uma das estruturas alternativas

conceituais que pode ajudar na análise e recomendação de uma forma eficiente

de coordenação vertical. Conseqüentemente, variáveis dependentes da transação

tais como a sua freqüência, o grau de especificidade dos ativos e o grau de

incerteza, são analisados juntamente com algumas considerações relativas ao

comportamento oportunístico e racionalidade limitada das partes. O exame dessas

variáveis, em princípio, leva à indicação de uma alternativa que minimize custos

de transação. Detalhes sobre esse assunto podem ser encontrados em KILMER

(7) enquanto que uma nota de precaução sobre suas limitações é apresentada por

HOBBS (13).

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33

Enquanto que uma evidência interessante indica que a indústria agro-

processadora prefere adquirir a matéria-prima em mercados de pronta entrega, a

integração de agroindústrias com produtores através de acordos contratuais é

freqüentemente defendida como um meio eficiente de assegurar a entrega de

matérias-primas atendendo exigências de qualidade, tempo e custo. Em alguns

países e para alguns tipos de agroindústrias, contratos de integração são uma

forma de crescente importância na coordenação vertical. Nos Estados Unidos,

92% de todas as operações do setor avícola utilizam contratos de integração. Esta

cifra atinge 88% para hortaliças processadas, 55% para batatas, e 11% para

suínos. No Brasil, a grande maioria das agroindústrias de frango opera sob

contratos de integração, que são freqüentemente feitos com pequenos produtores.

Esses contratos geralmente exigem que a indústria forneça insumos e assistênciatécnica aos produtores, enquanto que estes são responsáveis por investir em

infraestrutura e equipamento e gerenciar o processo produtivo. Um rígido controle

dos processos tecnológicos e administrativos garante uma produção de frangos

que satisfaça os critérios de tamanho e qualidade durante um período previamente

especificado, sob frações otimizadas de ganho de peso por unidade de ração

consumidora. Essa integração contratual é vista como uma força principal atrás da

vantagem competitiva do setor avícola brasileiro sobre carnes substitutas nosmercados interno e externo (16).

No entanto, apesar das suas características desejáveis, a integração

contratual também não escapa de críticas. Freqüentemente, argumenta-se que o

produtor encontra-se numa posição desvantajosa de negociação e pode tornar-se

dependente em apenas uma agroindústria como sua única forma de escoamento.

Poder de barganha desigual pode ser a fonte de termos de troca injustos, os quais

fornecem aos produtores retornos incompatíveis com seus investimentos e

esforços gerenciais. Esse ponto é bastante controverso e não será explorado em

detalhes aqui. O leitor interessado é aconselhado a consultar alguns dos diversos

estudos que discutem estes temas. Uma boa fonte inicial é a coleção de trabalhos

publicados de um recente Seminário em Agroindustrialização e Desenvolvimento

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34

Econômico (14). Os quadros 1 e 2 abaixo foram preparados para ilustrar as visões

atuais sobre as vantagens e desvantagens dos contratos de integração para a

unidade agroindustrial e para os fazendeiros.

QUADRO 1

Vantagens e Desvantagens de Contratos de Integração para Produtores

  Vantagens  Contratos de integração garantem um mercado para os produtos oriundo das fazendas.  

  Contratos fornecem maior estabilidade de renda e redução de riscos, especialmente nocaso de atividades de curto ciclo.

  Contratos favorecem a produção de culturas e de um animal com maior valor comercial.  Assistência técnica é garantida, permitindo melhor qualidade e produtividade.  Há maior acesso a tecnologias modernas de produção e administração, as quais podem

freqüentemente ser transferidas a outras atividades da fazenda.  O número de decisões a serem tomadas é reduzido, principalmente aquelas relativas à

aquisição e aplicação de insumos agrícolas.  Acesso a crédito agrícola é facilitado.  A necessidade de capital de giro é reduzida.  Sub-produtos e resíduos podem ser usados na propriedade ou vendidos para mercados

locais.

  Desvantagens  Dependência excessiva de um único comprador  A empresa de integração pode usar seu domínio tecnológico para influenciar preços e/ou

prazos de entrega de produtos. Dietas de alimentação animal, por exemplo, podem serajustadas para acelerar ou retardar os ciclos de crescimento, afetando os retornos dosprodutores indiretamente.

  Contratos freqüentemente não são transparentes, particularmente com relação a questõesde pagamento.

  Contratos limitam a flexibilidade do produtor, especialmente com relação ao ajuste do mixde produtos agrícolas às oportunidades de mercado.

  Práticas agrícolas tradicionais podem ser abandonadas, o que causa dificuldades no ajustea antigos padrões de produção caso a integração falhe.

  Produtores podem perder contato direto com seus mercados tradicionais.  O contrato apresenta um potencial de indução à monocultura. Isto aumenta a dependência

com a indústria integradora, e também reduz a diversidade de produção, favorecendo avulnerabilidade a doenças e causando degradação do ambiente.

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35

QUADRO 2

Vantagens e Desvantagens de Contratos de Integração para Agroindústrias

  Vantagens  Riscos de instabilidade de suprimento de matéria-prima são reduzidos. 

  Planejamento da produção agroindustrial é feito com maior eficiência através domelhoramento dos prazos de entrega das matérias-primas.

  Se for o caso de empresas integradas verticalmente, a mudança para integração contratualtransfere alguns riscos de produção para os produtores. Problemas relacionados à mão-de-obra também são reduzidos e os custos de insumos agrícolas podem ser bastantereduzidos através de economias de escala nas suas aquisições. Além disso, a quantia decapital imobilizado na terra e outros bens de produção é reduzido. Custos de controle deprodução também diminuem.

  Há um aumento no controle da qualidade do produto. Isto favorece a eficiência doprocessamento e permite melhor serviço ao consumidor.

  Elevações no nível de produção em uma certa área são mais facilmente alcançadasatravés de contrato.

  Introdução de tecnologias melhoradas é favorecida.  Acesso ao crédito e incentivos do governo ou subsídios é aumentado.

  Desvantagens  Há um risco de quebra contratual, especialmente quando as instituições são fracas. Se os

preços de mercado são maiores que os preços do contrato, e se este último é difícil ouimpossível de ser executado, os produtores podem não cumprir suas obrigações para coma firma.

  Risco de mau uso de insumos fornecidos. Os produtores podem utilizar rações,fertilizantes, e outros insumos em atividades que não sejam aquelas especificadas noscontratos.

  Risco de roubo dos produtos. Os produtores podem reter porções da produção contratualpara o consumo próprio ou para venda no mercado.

  Perda da flexibilidade operacional. Adequação às oportunidades de mercado pode serretardada devido a obrigações contratuais em progresso.

  Alguns custos de transação são aumentados, já que as indústrias devem lidar com grandenúmero de fornecedores em termos individuais.

  A imagem da empresa pode ser danificada por preconceitos do público em relação aoscontratos de integração. Em algumas áreas, a impressão geral é que os produtores sãoexplorados pela agroindústria.

Como visto no prefácio, a escolha do sistema apropriado de obtenção de

matéria-prima não é um esforço trivial e deve ser encarado como um elemento

chave na definição da estratégia da agroindústria. A experiência tem demonstradoque haverá situações em que uma mistura de alternativas será a melhor opção.

Para fábricas que processam matérias-primas múltiplas, como é geralmente o

caso da indústria de processamento de frutas e hortaliças, é provável que

esquemas variados de coordenação serão obrigatórios.

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4.4. Aquisição de insumos adicionais

Vimos que as matérias-primas constituem os principais itens de custo para

a maioria das agroindústrias. Discutimos também as características específicas

que fazem da obtenção de matéria-prima uma tarefa bem desafiante. Além disso,

agravando a complexa questão de aquisição de insumos, há a necessidade de

assegurar que outros ingredientes importantes, partes, e materiais estejam

disponíveis quando necessários. Estes incluem embalagens, entre outros

conservantes químicos, flavorizantes e corantes, produtos de limpeza e

sanitização, materiais de laboratório, rótulos de embalagens, açúcar, sal, e

condimentos. Em princípio, a obtenção desses insumos agroindustriais adicionais

pode ser conseguida usando-se procedimentos tradicionais dos departamentos decompra. Conduto, algumas dificuldades podem surgir devido às características

típicas de agroindústrias descritas a seguir:

- Localização em áreas rurais

A tendência de localização de empresas agroindústrias próximas às fontes

de matéria-prima (Veja a Seção 7) geralmente dificulta o gerenciamento daaquisição de outros insumos por parte dessas empresas. Distâncias relativamente

maiores dos fornecedores e deficiências em infraestrutura (transporte,

comunicação, etc...) são apenas alguns dos fatores que podem tornar necessário

o aumento das quantidades em estoque para as agroindústrias, quando

comparadas com as chamadas indústrias urbanas. Para estes fatores, precisa-se

manter altos estoques, acarretando no aumento da necessidade de capital de giro.

Outro efeito adverso é representado pelos custos de entrega às áreas rurais,

tipicamente mais altos.

Quando insumos não estão disponíveis no mercado interno, o tempo entre

o pedido de compra e a entrega é outra fonte potencial de preocupação, em vista

da necessidade de importação. A freqüência de compras terá que ser definida de

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modo que o risco de falta de estoque seja minimizado. Freqüentemente, isto

implicará em maiores lotes de compra, altos estoques e outras pressões sobre a

necessidade de capital de giro.

- Considerações de tamanho e escala

Agroindústrias de pequena escala são particularmente afetadas na compra

de insumos adicionais pela falta de poder de barganha das mesmas. Para itens

como latas, garrafas, e outros materiais de embalagem, o número de fontes

alternativas de suprimento é normalmente pequeno; isto ocorre particularmente

em economias menos desenvolvidas. Ademais, essas fontes de suprimento,

freqüentemente, requerem uma quantia mínima de compra maior que o pedidorazoável de uma empresa pequena. A compra de grandes quantidades claramente

aumenta estoques e conseqüentemente a necessidade de capital de giro.

5. Aspectos tecnológicos

Assim que a disponibilidades de matéria-prima e a existência de um

mercado para os produtos do projeto forem estabelecidos, o analista devedirecionar seus esforços para uma avaliação dos aspectos tecnológicos da

agroindústria proposta. A natureza muito especializada desta tarefa reforça a

necessidade de dar-se um tratamento interdisciplinar à preparação e avaliação do

projeto. Nesta etapa, engenharia agroindustriais, técnicos em ciência de

alimentos, engenheiros civis, e profissionais de administração serão

provavelmente necessários.

Os principais aspectos a serem considerados neste estágio de engenharia

de projeto têm sido apontados em orientações tradicionais de viabilidade de

investimento, tais como em UNIDO (2), e serão discutidos abaixo:

-  avaliação e seleção de processos tecnológicos

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A escolha da tecnologia do processamento tem profundas implicações na

viabilidade de uma agroindústria. O processo selecionado afetará, diretamente, as

necessidades de investimento e a qualidade do produto final e custos. Além disso,

como a tecnologia pode vir a ser o fator diferenciador no ambiente competitivo,

essa escolha é um elemento estratégico, chave na sobrevivência do negócio a

longo prazo.

Os analistas devem esforçar-se para identificar tecnologias de processo

alternativas, tanto as atuais quanto as prospectivas, e avaliar suas vantagens e

desvantagens em relação aos objetivos e recursos do projeto. Uma tecnologia

apropriada terá que ser compatível com as limitações do projeto, tais como adisponibilidade e custos relativos de energia proveniente de fontes distintas,

disponibilidade e custos de mão-de-obra, leis e regulamentos, custo de

licenciamento, patentes e outros itens de direito de propriedade, e requerimentos

gerenciais associados. Para exemplificar este assunto, vamos considerar a

escolha da tecnologia de extração de óleo de uma dada empresa. Opções

alternativas de extração poderiam ser um processo químico envolvendo solventes

ou um processo mecânico utilizando pressão hidráulica. Cada escolha temimplicações em termos de necessidade de investimentos (equipamentos,

construções, área do terreno, etc.), qualidade do produto final, eficiência do

processo, qualificações desejadas para as operações, custos dos produtos,

quantidades de esgoto e resíduos resultantes, etc... Cada uma dessas variáveis

deveria ser meticulosamente analisada e comparada antes que a decisão final

possa ser feita.

Dentro do limite dos programas de desenvolvimento agroindustrial, o que se

percebe com freqüência é que novos empreendimentos são induzidos a

implementarem tecnologias que favorecem a mão-de-obra intensiva, geralmente

através de planos de financiamento preferenciais. Sem menosprezar as

considerações sociais, a força competitiva de tecnologias de mão-de-obra

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intensiva em relação às mais modernas alternativas intensivas, intensivas em

capital, devem ser averiguadas, tanto em termos de qualidade do produto quanto

de custos. Para alcançar isto, deve-se identificar os tipos e níveis de tecnologia

utilizados pelos atuais concorrentes e determinar a força dos mesmos.

Leis e regulamentos podem também ter um impacto na escolha da

tecnologia de processamento. Certos processos produtivos, tais como a produção

de queijo a partir de leite não pasteurizado, podem não estar em conformidade

com a legislação. Diversos governos, no intuito de proteger os consumidores

contra doenças transmitidas por alimentos, têm criado severas para controlar as

operações de processamento, limitando, assim, a escolha da tecnologia; isto

ocorre principalmente no setor agro-alimentar. As normas podem ditar o tipo e aquantidade de ingredientes usados ou especificar o processo de envase. A

legislação pode até mesmo impedir o uso de tecnologias que são conhecidas por

conservar alimentos efetivamente, como por exemplo, a irradiação. Regulamentos

de controle de qualidade também estão tornado-se mais bem definidos,

freqüentemente exigindo a adoção de programas como “Boas Práticas de

Fabricação” ou APPCC (Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle). Estas

normas podem requerer que processos de limpeza e sanitização devam utilizar ométodo “CIP” (Cleaning in-place), conseqüentemente excluindo processos que

utilizam equipamentos não adequados ao CIP. Se pretende-se atingir mercados

de exportação, a legislação do país importador terá que ser examinada.

Claramente, as agências e órgãos públicos responsáveis pelos regulamentos do

produto agroindustrial terão que ser consultados antes que qualquer tecnologia de

processamento seja selecionada.

Como um último lembrete nesta discussão, deve-se estar atento para a

natureza do progresso tecnológico. A história recente da civilização está cheia de

exemplos de mudanças dramáticas ocasionadas pela ciência e tecnologia.

Atualmente estamos presenciando progressos impressionantes no campo da

informática, biotecnologia, genética, nanotecnologia, robótica, e muitos outros. O

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progresso, provavelmente, causará impacto nos processos industriais a médio e

longo prazo. Embora a futurologia é sempre um exercício arriscado e complexo,

os analistas de projeto não podem se dar ao luxo de desconsiderar a avaliação de

previsões tecnológicas. Por este motivo, a seleção do processo tecnológico deve

ser realizado com precaução, caso contrário, a opção recomendada pode estar

obsoleta logo no início.

-  avaliação e seleção dos equipamentos da fábrica

O próprio processo tecnológico selecionado irá fornecer a estrutura

necessária para recomendar o número e os tipos de equipamentos a serem

instalados. A maior parte das considerações relacionadas à escolha da tecnologia,descrita na discussão anterior, será aplicada na avaliação e seleção dos

equipamentos da fábrica. Portanto, com a preocupação óbvia de minimizar as

necessidades de investimento, as seguintes variáveis serão consideradas:

- fontes alternativas de energia e seus respectivos custos: caldeira a óleo x

Caldeira à lenha, secador elétrico x secador solar;

- grau de automação: esteira transportadora automática para linhas derecepção de matéria-prima x linhas operadas manualmente;

- necessidade de técnicas especiais de operação: o nível de treinamento

do operador exigido e o efeito do nível de instrução necessário na

disponibilidade de mão-de-obra e nos custos;

- requerimentos de montagem e manutenção: a necessidade para

montagem especial, disponibilidade local de peças e pessoal de

manutenção, necessidade de estoque de peças extras;

- eficiência do equipamento: número de operadores necessários, consumo

de energia, velocidade de processamento e produtividade;

- compatibilidade do equipamento: problemas que podem ser encontrados

quando da integração à equipamentos diferentes, talvez de fornecedores

distintos, na linha de produção.

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A análise das variáveis acima deve auxiliar na recomendação do

equipamento apropriado para a agroindústria. Para facilitar o processo de

estimativa do investimento (Seção 8), cada tipo de equipamento recomendado

deve ser especificado em detalhes. Essas especificações de equipamentos

também serão requeridas para a determinação do lay-out da planta e para a

estimativa das necessidades de construção.

-  determinação dos coeficientes técnicos (coeficientes insumo/produto)

para matéria-prima e outros insumos

Em nossa discussão sobre a aquisição de insumos, ficou subentendido quedos coeficientes que expressam a relação entre a quantidade dos produtos era

necessário para estimar as necessidades de matéria-prima de outros insumos que

a fábrica irá usar. Isto ilustra um interessante aspecto do processo de preparação

do projeto: nem todas as tarefas podem ser executadas seqüencialmente, como

pode ter sido sugerido anteriormente; algumas devem ser realizadas

simultaneamente. De fato, haverá situações nas quais uma etapa da preparação

de um projeto afeta e é afetada por outras. Este tipo de inter-relação éparticularmente relevante na análise de tecnologias de processamento. No caso

dos coeficientes técnicos, a tecnologia selecionada guiará a sua estimativa; e

estes últimos são essenciais tanto para a definição da necessidade de matéria-

prima quanto para a estimativa do custo de produção, que será discutida na seção

9.

Os coeficientes técnicos devem ser estimados, preferencialmente, para

todos os itens que são direta ou indiretamente usados para gerar o produto final.

Os coeficientes mais comumente calculados são aqueles que relacionam a

necessidade de matéria-prima com uma unidade de produto final (ex.: se 9 Kg de

tomates são necessários para produzir 1 Kg de tomate seco, o coeficiente técnico

estimado é 9.0). Ao multiplicarmos este valor pela quantidade a ser produzida, isto

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será um simples problema aritmético para estimar as necessidades de matéria-

prima e os custos. Outros coeficientes técnicos irão relacionar quantidades

produzidas com a necessidade de mão-de-obra (ex.: x homem-horas de mão-de-

obra qualificada / litro de leite processado), energia e outros utilidades (exemplo:

kwh de energia elétrica / kg de furta seca; litros de água / litro de suco), ou

embalagem (ex.: Kg de filme plástico / Kg de produto processado). Esses índices

podem ser obtidos pesquisando-se o processo tecnológico na literatura ou através

da consulta com pesquisadores e fabricantes de equipamentos. Além disso, eles

podem ser estabelecidos por experimentos em uma planta piloto.

Muitos empreendedores podem se atentar para o inverso deste coeficiente,

isto é, a quantidade de produto final que pode ser obtida a partir de uma dadaquantidade de matéria-prima. Por exemplo, pode-se pensar em X kilos de farinha

de mandioca que podem ser produzidos a partir de uma determinada

disponibilidade de Y kilos de mandioca. É uma simples questão de converter uma

forma de medição para a outra.

-  determinação do lay-out da fábrica

Uma planta baixa mostrando o arranjo físico das linhas de processamento

acompanhadas pelos equipamentos deve ser preparada. Normalmente,

engenheiros determinam o arranjo dos equipamentos seguindo princípios

padronizados que, acima de tudo, procuram evitar cruzamento dos fluxos de

produtos. Não apenas este lay-out ajuda a organizar os fluxos de processamento,

mas também condiciona a estrutura física da construção. Há muitas outras

variáveis de projeto que devem ser consideradas quando for feito o lay-out da

unidade: ergonomia da operação dos equipamentos, dimensionamento ótimo de

linhas de utilidade (vapor, água, eletricidade, etc.), separação da área de

processamento suja da limpa para minimizar a contaminação dos produtos,

isolamento de salas de secagem e congelamento (minimização da perda de frio e

calor), e espaço aberto entre os equipamentos instalados, para procedimentos de

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limpeza e manutenção. O lay-out também deve ser influenciado pela legislação do

meio ambiente e da segurança do produto.

-  determinação das necessidades de edificações, construções

auxiliares e obras

Informações a partir das plantas baixas combinadas com especificações

para as áreas utilitárias (ex.: geração de vapor, geração de frio, etc.) e as leis e

regulamentos que causam impacto nos processos agroindustriais e produtos irão

definir o tamanho da fábrica, layout, e a escolha do material de construção. Há

manuais disponíveis, nas chamadas Boas Práticas de Fabricação, que fornecem

padrões úteis para pintura de paredes e pisos, materiais de revestimento, altura doteto, iluminação e ventilação, localização de instalações sanitárias, tipos de

  janelas, ângulos de inclinação do piso para facilitar a sanitização da fábrica, e

muitas outras considerações técnicas que devem ser devidamente especificadas

para permitir uma boa estimativa do investimento (seção 8).

As necessidades de obra e construções auxiliares também terão que ser

especificadas. Obras incluem preparação de terreno; construções auxiliaresincluem instalações para recolhimento e tratamento de esgoto, áreas

administrativas, depósitos e outras áreas de armazenamento, cercas e linhas de

transmissão de eletricidade, etc...

Finalmente, os analistas devem considerar a possibilidade de uma futura

expansão da operação da agroindústria quando determinarem os parâmetros de

construção. Preferencialmente o projeto da planta deve ser modular e adaptável.

-  determinação da necessidade de área do terreno

A necessidade da área do terreno será uma função combinada do espaço

estimado exigido para edificações e construções auxiliares, fluxos internos de

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veículos e pessoas, distâncias exigidas entre prédios, e outras variáveis

associadas com as particularidades da agroindústria em questão. Por exemplo,

abatedouros irão requerer áreas separadas para o confinamento de animais antes

do abate, enquanto que unidades de processamento de cana de açúcar

demandam áreas relativamente grandes para o tratamento de resíduos. Em todos

os casos, a probabilidade de expansão futura deve também ser levada em conta.

-  determinação do cronograma de atividades para construção,

montagem de equipamentos e operações para o início do

funcionamento da fábrica

Uma tarefa final na fase de engenharia do projeto é a definição docronograma de atividades para aquisição e preparação de terrenos, construção da

fábrica, obtenção e montagem de equipamentos, e operações para o início do

funcionamento normal da agroindústria. Cada uma dessas atividades deve ser

encaixada num período de execução definido (trimestres, semestres) que

especifica o início de uma tarefa e estima sua duração. Essa informação é então

disponibilizada em uma espécie de gráfico de barras conhecido como Gráfico de

Gantt (figura 2). O Gráfico de Gantt é uma ferramenta essencial para a preparaçãoe análise do projeto já que ele guia o delineamento de um plano de desembolso

de capital.

Figura 2

Exemplo de um Gráfico de Gantt 

Tarefa Semestre 1 Semestre II Semestre III Semestre IV

Aquisição do terreno

Preparação do terrenoConstrução

Aquisição dos equipamentos

Montagem dos equipamentos

Testes e início das atividades

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6. Determinação do tamanho da fábrica

O tamanho de uma agroindústria pode ser medido tanto em termos de

capacidade de processamento de matéria-prima quanto de capacidade de

produção durante um dado período de operação. O tamanho de laticínios,

frigoríficos, processadoras de frutas, e outras fábricas de produtos múltiplos,

tipicamente, são expressos pela quantidade de matéria-prima processada durante

um período de tempo (1,000,000 litros de leite / dia; 300 cabeças de gado / dia; 2

toneladas de fruta / dia). O tamanho de unidades com um único produto, como as

refinarias de açúcar, pode ser determinado pela quantidade de produto durante

certo tempo. Estas medidas de tamanho podem ser posteriormente referidas emtermos nominais ou efetivos. Capacidades nominais dizem respeito ao nível

máximo alcançável de produção especificado pela tecnologia aplicada.

Capacidade efetiva, por outro lado, considera as reais condições de operação e

leva em conta o tempo ocioso para manutenção, feriados, sazonalidade de

demanda e matéria-prima, e outros fatores que podem impedir a completa

utilização da capacidade nominal. Esta distinção requer que sejam bem claros

quando da especificação do tamanho da fábrica. Em nossa discussão, a menosque especificado o contrário, estaremos nos referindo a capacidade nominal da

planta.

A determinação do tamanho da fábrica pode ser considerada como uma

classe de problemas de otimização limitada. Pode-se argumentar que a economia

deve ser o principal condutor para este processo de decisão, porém geralmente as

alternativas de tamanho de custo mínimo ou lucro máximo não são compatíveis

com as restrições que um projeto pode enfrentar. No sentido de examinar estas

restrições, de útil dividi-las em 4 classes gerais: restrições tecnológicas, restrições

financeiras, restrições de mercado, e restrições legais. Nossa tarefa é, então,

encontrar a intersecção entre essas classes, isto é, o conjunto no qual todas as

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restrições são atendidas (figura 3). O tamanho de fábrica recomendado deve

pertencer a este conjunto.

Figura 3

Aspectos a serem considerados na determinação do tamanho da fábrica

Iremos examinar agora as questões envolvidas na análise destas 4

dimensões que afetam as decisões quanto à determinação do tamanho da fábrica.

-  Tecnologia do processamento

Já discutimos várias das tarefas que devem ser executadas na fase deengenharia na preparação e análise do projeto. Claramente, o assunto do

tamanho da planta está diretamente associado com os aspectos considerados

naquela fase. Isto novamente ilustra a natureza não seqüencial e sistêmica do

processo de preparação e análise de um projeto.

Embora alguns profissionais prefiram analisar as questões de mercado

como o primeiro passo na determinação do tamanho da fábrica, os fatores

tecnológicos também podem constituir um guia inicial conveniente para estes tipos

de decisões. De fato, engenheiros agroindustriais devem ser capazes de definir a

abrangência de opções de capacidade que podem ser consideradas, dentro dos

limites da disponibilidade de equipamentos e da eficiência tecnológica do processo

sob consideração. O engenheiro terá inicialmente que avaliar os méritos da

Mercado

Tecnologia

 

Financiamento

Legislação

Opções

viáveis

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obtenção das linhas completas de processamento de um único vendedor ou da

instalação peça por peça de cada equipamento de múltiplos fornecedores. Por

causa da indivisibilidade dos equipamentos, a abrangência de opções de tamanho

irá, provavelmente, seguir um padrão de intervalos irregulares. Este seria o caso

por exemplo se a produção mínima de algum tipo de equipamento de

processamento fosse 1000 litros / dia, e a menor unidade de processamento

disponível apresentasse uma produção de 5000 l / dia – e não 1100 ou 1200 l / 

dia. A análise destas opções de tamanhos de linha de processamento fornecerá

um ponto inicial para a consideração das outras 3 restrições de tamanho da

fábrica, que serão discutidas posteriormente nesta seção: finanças, o mercado do

produto, e os regulamentos do governo.

Equipamentos feitos por encomenda ou linhas completas podem ser

contemplados como uma alternativa para o ajuste do tamanho da fábrica a

qualquer nível previamente definido. Isto traria mais flexibilidade para o processo

de seleção. Porém, esta opção não está sempre disponível, pois fabricantes locais

podem não estar dispostos ou ser incapazes de fornecer equipamentos feitos sob

encomenda. Além disso, os custos de pedidos especiais são normalmente

maiores, e máquinas especialmente dimensionadas podem causar ineficiênciastécnicas devido à interdependência com outros equipamentos. Para exemplificar

esta dificuldade, vamos considerar o caso de um tanque de resfriamento comum,

o qual consiste de um container de aço inoxidável com aparelhagem de

resfriamento associada. O componente de resfriamento requer um motor elétrico e

um compressor, ambos dimensionados para uma dada carga de trabalho. Se a

carga ótima de trabalho do sistema de resfriamento de tamanho mínimo disponível

fosse 500 litros, uma construção para um tanque com capacidade de 400 litros

iria, claramente, sub-utilizar o potencial de resfriamento do sistema e levar a

maiores custos operacionais.

A tecnologia também é, acima de tudo, responsável pelo alcance de

economias de escala, um atributo típico da maioria dos processos agroindustriais.

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Economias de escala existem quando o custo médio de produção cai quando a

produção se eleva. Isto ocorre primariamente porque os custos fixos associados

com o uso de equipamento (manutenção, custos do início do funcionamento,

depreciação) podem ser diluídos em mais unidades de produtos. A seleção de

tamanhos de fábricas alternativos deve levar em conta este aspecto importante.

Economias de escala são alcançadas devido a outras razões também: a

capacidade de obtenção de insumos a custos menores devido ao desconto pelo

volume, a capacidade de redução dos custos de distribuição de produtos por

transportar maiores quantidades, e a capacidade de assegurar uma posição de

barganha mais forte nas negociações de compra e venda.

-  Financiamento

As considerações tecnológicas foram de grande ajuda inicialmente para

definir as opções de tamanho da indústria a serem usados na análise do projeto.

Há, agora, a necessidade de investigar quais opções se ajustam às limitações das

restrições restantes do projeto, principalmente as financeiras. A este respeito,

devemos primeiro conhecer a quantidade de recursos que podem ser realmente

comprometidos com o negócio proposto por empreendedores e seus perspectivosfinanciadores. Este nível máximo de capital a ser desembolsado determina um

limite para a variedade de opções tecnológicas a serem consideradas. O

discutiremos os procedimentos da estimativa de investimento em mais detalhes na

seção 8. Por enquanto será suficiente apontar que o investimento total inclui

despesas com terreno, construções de equipamentos, montagem, preparação do

projeto, outros custos pré-operacionais, e a necessidade de capital de giro.

As considerações relativas ao financiamento do projeto, incluindo-se as

exigências de capital próprio mínimo investidor, também devem ser avaliadas, já

que elas freqüentemente limitam a viabilidade de algumas opções. A habilitação

para programas de empréstimo de agroindustrialização rural, por exemplo, pode

depender da criação de grupos de produtores que atendam limitações de tamanho

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específicas. Pré-requisitos dos programas também podem determinar um nível

mínimo de patrimônio de investimento pelo grupo de produtores ou estabelecer

um nível máximo de débito para cada membro da família. Através da combinação

dessas exigências, o problema torna-se uma simples questão de estabelecer

níveis mínimos e máximos de investimento para projetos que se ajustem aos

critérios do programa. O mesmo raciocínio ocorre quando se consideram

esquemas de empréstimo mais convencionais.

Em resumo, ao avaliarmos o nível de investimento que a estrutura

financeira do projeto pode suportar, torna-se possível estreitar a extensão de

opções de tamanho. Entretanto, deve-se notar que em alguns casos a atratividade

de um tamanho particular de fábrica pode justificar a busca por um financiamentoadicional, além do nível originalmente planejado. Na prática, isto implicaria no

relaxamento das restrições financeiras de tal modo que elas não mais restringiam

a decisão.

-  Mercado

Os níveis de demanda que podem ser atendidos pela produção do projeto,estabelecidos durante a fase de análise de mercado, constituem outra restrição

importante do tamanho da fábrica. Evidentemente, o tamanho recomendado deve

ser comensurável com os prováveis padrões de demanda.

Os padrões de demanda anual devem também ser analisados de tal

maneira que seus comportamentos durante o ano possam ser entendidos. Se a

demanda é sazonal, uma decisão deve ser tomada quanto à viabilidade da

operação contínua da indústria durante as estações de baixa venda, mesmo

abaixo da capacidade nominal. Devido aos seus componentes fixos, os custos

médios de operação aumentarão quando a produção diminuir nos tempos de

baixa demanda. Isto acarretará numa queda dos lucros, se os preços dos produtos

não puderem ser aumentados. Como um bom marketing requer a satisfação

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contínua do consumidor para que ele mantenha sua lealdade, seria interessante

optar por uma maior capacidade da indústria, mesmo quando a demanda for

sazonal.

-  Legislação

As leis e regulamentos que afetam as operações agroindustriais afetarão as

decisões de dimensionamento da capacidade da fábrica, particularmente no setor

alimentício. Ainda que tecnologias simples e disponíveis tornem as operações

agroindustriais possíveis mesmo em escalas muito pequenas, muitos desses

processos não atenderão aos padrões cada vez mais severos que muitos países

têm estabelecido para regulamentar o processamento de alimentos. Quando

padrões de sanitização exigirem equipamentos de aço inoxidável ou revestimentosespeciais para pisos e teto, vários dos mais simples processos estarão em

desacordo com a legislação. Os analistas devem estar atentos para todos os

regulamentos que afetam uma certa operação de processamento antes de

recomendar um determinado tamanho para a fábrica.

A legislação ambiental também causará impacto nas decisões de

capacidade da unidade industrial. Quanto mais rígidos os regulamentos, maior oinvestimento em instalações obrigatórias de coleta e tratamento de resíduos.

Como estas exigências elevam a necessidade de investimento total, o leque de

opções de tamanho é afetado.

Em suma, a determinação de um tamanho ótimo da fábrica requer

conhecimento dos vários fatores restringindo o espaço de decisão do analista. É

importante ressaltar que ao tomar esta decisão estratégica, não se deve

subestimar as conseqüências negativas de um tamanho excessiva ou

insuficientemente dimensionado.

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7. Análise da localização

A seleção do local é outro problema que pode ser pensado como uma

classe especial de otimização limitada. Uma unidade industrial deve ser instalada

em um local que permita a empresa maximizar seus lucros, em face de todas as

alternativas possíveis de escolha. Como na caso da determinação do tamanho da

fábrica, a decisão não é irrestrita: o processo de seleção será afetado por muitas

considerações técnicas, institucionais, e até mesmos pessoais.

As variáveis que afetam as decisões de escolha do local são conhecidas na

literatura especializada como “fatores locacionais”. Processos agroindustriais

possuem um número de fatores locacionais claramente definidos, e a suainfluência irá ditar, ao final, o tipo de padrão de localização que um projeto seguirá.

Os fatores locacionais podem atrair as firmas tanto em direção às suas fontes de

matéria-prima, quanto aos seus mercados. Para algumas classes especiais de

indústria, a orientação locacional será mais independente, como será ilustrado

posteriormente.

Os fatores locacionais podem ser relacionados com o conjunto deoperações da agroindústria, ou seja, a aquisição de insumos, o processamento, e

a distribuição. Para cada um desses grupos, a localização da unidade afetará

diretamente seu custo respectivo. Os custos de obtenção de insumos serão

afetados pela sua disponibilidade em um determinado ponto de fornecimento e

pela distância relativa deste ponto até o local de processamento. Custos de

produção, por outro lado, serão afetados pelos custos locais de utilidades, custos

de mão-de-obra, e outros custos fixos e variáveis. Finalmente, os custos de

distribuição serão uma função da distancia até os mercados finais. Estes custos

dependentes da localização serão, posteriormente, afetados pelo ambiente

institucional local, o qual é composto por padrões e regulamentos de

processamento, impostos, leis trabalhistas, etc.

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A lista abaixo contém um número de fatores locacionais gerais que devem

ser considerados na análise da seleção do local.

- disponibilidade de áreas e condições de aquisição

- disponibilidade e custos relativos de matéria-prima

- disponibilidade e custos relativos de outros insumos, incluindo mão-de-obra

- disponibilidade, custos relativos e abastecimento de água, eletricidade e

outros serviços de utilidade da planta.

- Infraestrutura de transporte

- disponibilidade e custos relativos de meios de comunicação ( linhas de

telefone, serviços de correio, conecções de internet, etc.)

- distância a mercados e respectivos custos de distribuição- estrutura tributária afetando as operações no local proposto

- leis e regulamentos afetando as operações no local, incluindo as questões

de proteção ambiental, códigos de construções e zoneamento

- disponibilidade de incentivos para investimentos (isenção de impostos,

baixas taxas de juros, etc.)

- disponibilidade de instalações projetadas para operações industriais

(distritos ou parques industriais)- disponibilidade de serviços públicos (saúde, educação, saneamento, etc.)

- fatores subjetivos relacionados aos valores, crenças, preferências, etc, do

responsável pela tomada de decisão

Na maioria dos casos, ao analisarmos os fatores locacionais acima, tornar-

se-á claro que uma força combinada de atração levará a fábrica para locais

próximos às fontes de matéria-prima. Isto ocorre porque processos agroindustriais

tipicamente reduzem o peso ou o volume de matérias-primas perecíveis.

Conseqüentemente, quanto menor a distância entre os fornecedores e os locais

de produção, menores serão os custos de transporte. Se um produto ganha peso

ou volume após o processamento, como no caso da indústria de bebidas, ou se o

produto final é muito perecível (ex.:panificação; alimentos congelados), os fatores

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acima irão favorecer um local próximo aos mercados finais. A independência

locacional aparecerá quando nenhum fator em particular exercer forte influencia

sobre o mercado final ou às fontes de insumos. Tais casos não são comuns no

setor agroindustrial, mas eles podem ser encontrados em outros segmentos da

economia. O fenômeno recente de companhias “ponto com” é um típico exemplo

de firmas que possuem grande liberdade no processo de decisão locacional.

Logo que a identificação apropriada dos fatores locacionais é atingida, o

analista pode iniciar um procedimento sistemático de comparação e classificação

dos locais propostos. Com esta finalidade, é de grande utilidade dividir a análise

em 2 níveis: a seleção de uma macro área e macro-localização região e a seleção

de um local específico para a fábrica (a micro localização).

A macro localização se refere a um espaço geográfico amplo: um estado,

distrito, cidade, região agrícola, etc. Tipicamente, os investidores terão algumas

macro regiões iniciais ou áreas que eles gostariam de considerar. O analista pode

usá-las como um ponto de partida na avaliação dos fatores locacionais de cada

região em perspectiva.

Do ponto de vista metodológico, classificar os locais propostos associando-

os com os custos em cada opção parece ser o processo ideal de escolha. Aquele

com o menor custo total de obtenção de insumos e matéria-prima, produção e

distribuição, seria, certamente, o preferido. Entretanto, enquanto que alguns

fatores serão adequados para tal comparação quantitativa, outros somente

permitirão uma avaliação subjetiva. Esta característica faz com que seja

necessário o emprego de um método alternativo de comparação, tal como o uso

de pontuação ponderada, freqüentemente recomendado. A tabela 3 ilustra a

aplicação deste método em um problema locacional hipotético.

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TABELA 3

Análise locacional hipotética pelo método de pontuação ponderada

PontuaçãoFatores locacionais Peso

Local A Local B Local C

Disponibilidade de matéria-prima 15 80 70 60

Custos de matéria-prima 15 90 80 80

Custos de distribuição 15 60 80 90

Fornecimento de energia 10 100 100 100

Abastecimento de água 6 90 60 100

Infraestrutura de transporte 4 60 70 90

Infraestrutura de comunicação 5 70 80 90

Serviços públicos 10 90 80 70

Incentivos 10 0 100 0

Legislação 70 70 90

Pontuação ponderada 71 79 76

No exemplo acima, o analista atribuiu notas para cada fator em cada local,

seguindo tanto critérios quantitativos quanto qualitativos. As notas quantitativas

podem ser dadas proporcionalmente aos custos, por exemplo, enquanto notas

qualitativas envolverão um certo grau de subjetividade. Para ambos os tipos de

pontuação, seria útil separar os fatores locacionais em um número de sub-fatores

de tal modo que a nota final seja uma média das notas dos sub-fatores. No caso

do fator “serviços público”, por exemplo, a nota final poderia ser a média das notas

para itens como serviços médicos, serviços de educação, segurança pública, etc.

O peso atribuído a cada fator e sub-fator deve ser estabelecido a partir de um

  julgamento baseado no conhecimento da importância relativa de cada fator em

relação à viabilidade e sustentabilidade da empresa.

Este tipo de análise pode ser usado para indicar tanto a macro região

quanto o local específico dentro desta. No entanto, pode tornar-se cada vez mais

difícil diferenciar alguns dos fatores locacionais em locais específicos dentro da

macro região. Alguns desses fatores, tais como impostos, incentivos, e legislação,

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podem ser totalmente indiferenciáveis no nível da micro região.

Conseqüentemente, haverá uma necessidade de reavaliar a importância de cada

fator, antes de incluí-lo no processo de avaliação do nível micro regional.

O procedimento sistemático descrito acima é um dos métodos alternativos

disponíveis mais simples para análise e localização da agroindústria. Existem

métodos quantitativos mais sofisticados, e os leitores interessados podem se

referir à literatura da Área de Pesquisa Operacional sobre operações para obter

informações detalhadas sobre estes métodos (23).

8. Estimativa do investimento

As informações coletadas e analisadas nos estágios anteriores terão que

ser traduzidas para os fluxos de entrada e saída de recursos financeiros que

entram e saem necessários para determinar a viabilidade financeira de um projeto

agroindustrial. Iniciaremos este processo analisando a estimativa de investimento.

Os recursos aplicados por um investidor para constituir a estrutura física

para seu projeto são conhecidos como investimentos fixos ou capital fixo. Eles

compreendem recursos aplicados ao terreno, construções, equipamentos,

veículos e outros bens físicos. Eles também podem incluir despesas pré-

operacionais, tais como recursos aplicados na preparação do projeto ou juros

pagos durante o estágio de construção da fábrica. Os recursos investidos para

garantir a operação normal da empresa constituem o capital de giro, o qual inclui

investimentos em estoques de matéria-prima ou outros insumos, estoques de

produtos (tanto finais quanto em processo de fabricação), e uma reserva de caixa

para necessidades a curto prazo. A estimativa de ambos os capitais, fixo e de giro,deve ser realizada.

Uma estimativa cuidadosa do capital fixo e de giro é de extrema

importância. Inicialmente, porque o conhecimento dos reais níveis e do

cronograma de gastos monetários determinará a capacidade do empreendedor

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financiar o empreendimento pretendido. Se o nível de fundos disponíveis exceder

a necessidade de recursos financeiros, a quantia requerida de um financiamento

adicional de terceiros deve ser determinada.

Em segundo plano, tem-se o montante e o cronograma de investimentos,

que são componentes chave na construção de fluxos de caixa para análise

financeira. O empreendedor, doadores e fornecedores de empréstimo estarão

interessados em avaliar se este projeto irá gerar retornos suficientes para

assegurar a recuperação do capital investido e querem também saber como a

lucratividade esperada do projeto se compara com investimentos alternativos (ex.:

títulos de dívida pública, cadrnetas de poupança, certificados de depósito

bancário, ações, etc.). Essas preocupações estarão direcionadas para os

resultados da análise financeira, a qual pode ser muito sensível aos níveis eépocas oportunas de investimento. Finalmente, a estimativa do investimento

também ajudará a separar as despesas financeiras em moedas nacionais e

estrangeiras, uma importante consideração no processo geral de avaliação,

principalmente nos países em desenvolvimento.

O nível de detalhamento requerido para estimar o investimento vai

depender da precisão exigida na análise do projeto. A avaliação e preparação de

um projeto podem ser um esforço custoso e demorado. Por esta razão, apreparação e a avaliação serão executadas em níveis variados de

aprofundamento, dependendo da quantidade de detalhes necessários para o

processo de decisão. Isto pode exigir somente avaliações simples de oportunidade

de investimento, nos quais informações básicas são obtidas para lançar idéias

para o projeto; ou pode-se exigir que toda a informação para a real implementação

seja fornecida, incluindo o organograma para funções administrativas e as

especificações técnicas para empreiteiros e fornecedores de equipamento.

Como visto na seção 2.3, diferentes autores e instituições usam

terminologias de modo distinto; o nível intermediário da análise, entre o superficial

e o completo, é geralmente referido como um estudo de pré-viabilidade. Neste

nível, produz-se informação suficiente para orientar uma decisão de investimento,

apesar de alguns valores financeiros comprobatórios serem provenientes de

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procedimentos simplificados de estimativa. Na discussão seguinte, estaremos

primariamente preocupados com este nível intermediário da análise.

8.1. Estimativa do capital fixo 

A informação necessária para estimar o investimento provém,

principalmente, das análises técnicas realizadas durante o processo de

preparação do projeto. As necessidades para terreno, edificações, equipamentos,

e outros bens já devem ter sido estabelecidas naquela fase. Essas especificações

técnicas serão agora utilizadas para obter cotações, notas fiscais para

constatação, orçamentos, e outras informações de custo de potenciais

fornecedores e empreiteiros. Abaixo estão apresentadas algumas diretrizes úteisna estimativa das necessidades de capital fixo:

-  Terreno

Fundos para despesas com aquisição de terreno podem ser facilmente

estimados pela combinação de informações sobre a área necessária com os

preços de venda por unidade. Agências imobiliárias ou governos locais são

algumas das fontes que podem ser consultadas para estes propósitos. Para esta

estimativa básica, deve-se adicionar os custos de preparação do terreno, impostos

de transmissão de propriedade, e quaisquer outros gastos obrigatórios adicionais.

O valor do terreno deve ser levado em consideração mesmo que este já seja

propriedade do empreendedor. Será parte dos seus fundos de ações.

-  Edificações 

As plantas baixas de edificações podem ser apresentadas a empreiteiros

para obter-se propostas de custos de construção. Alternativamente, estimativaspodem ser calculadas pela aplicação de coeficientes técnicos (taxas uniformes),

que são fornecidos por especialistas, literatura técnica especializada e avaliações

de projetos similares. Essas fontes divulgam custos médios de construção por

metro quadrado para os tipos mais comuns de edificações.

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-  Equipamentos

Os fabricantes terão que ser contatados para fornecerem cotações para o

valor do equipamento necessário. Eles devem receber especificações que

detalham as capacidades do equipamento desejado, dimensões, fontes de

energia, e materiais a serem usados na sua fabricação. Além disso, todos os

impostos, seguros, e custos de transporte devem ser incluídos nas cotações.

A experiência tem mostrado que as cotações podem variar

consideravelmente entre fabricantes alternativos. Antes de optar pela alternativa

mais barata, deve-se analisar a reputação particular de cada fabricante em relação

à qualidade do produto, serviço ao cliente, custos de manutenção, tempo hábil deentrega, e assim por diante. Além disso, cotações para linhas completas de

equipamentos podem ser maiores e mais difíceis de serem avaliadas do que

aquelas para equipamentos individuais. Se forem deitas estimativas considerando

equipamentos individuais de fabricantes diferentes, os engenheiros do projeto

devem ser consultados para assegurar que os equipamentos irão integrar-se, sem

problemas, uns com os outros.

Finalmente, quaisquer custos incorridos na instalação, testes, início de

funcionamento de uma linha de equipamento e treinamento do operador devem

ser estimados. Se a cotação do fornecedor não inclui estes custos, uma taxa de

10 a 12% sobre os custos dos equipamentos é usualmente recomendada.

-  Instalações auxiliares 

Investimentos em sistemas auxiliares (água, vapor, remoção e tratamento

de esgoto e resíduos, eletricidade, etc.) irão freqüentemente exigir um método

alternativo de estimativa, porque suas especificações não serão, provavelmente,

muito detalhadas no estudo da viabilidade. Se as especificações estão

disponíveis, empreiteiros e especialistas podem ser consultados para estimar os

custos; caso contrário as estimativas serão baseadas em julgamentos subjetivos.

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Despesas potenciais com instalações auxiliares podem ser associadas aos custos

do equipamento montado, como ilustrado na Tabela 4 abaixo:

TABELA 4

Estimativas de investimentos em instalações auxiliares para projetos

agroindustriais

Item Percentagem do custo doequipamento montado

Instalações elétricas 10 – 12Instalações hidráulicas 20 – 30Pintura e isolamento 3 – 5

Proteção contra incêndio e outrossistemas de segurança

1

Linhas externas (electricidade, vapor,encanamentos, etc.) 1

Outras instalações de suporte(manutenção, escritório, etc.)

5 – 10

Fonte: INDI-MG – Instituto de Desenvolvimento Industrial do Estado de Minas

Gerais, Brasil.

Certamente, as percentagens recomendadas irão variar com o tipo de

planta agroindustrial, legislação vigente e outras condições locais. Os analistas

devem tomar cuidado quando utilizarem estas estimativas, sempre consultando osengenheiros do projeto e outros especialistas no assunto. Por exemplo, no caso

de unidades de pasteurização, instalações de produção de vapor exigirão maiores

estimativas percentuais que as indicadas acima.

-  Outros itens 

Além dos itens listados acima, investimentos serão feitos em outros bens

físicos, incluindo veículos e material de escritório, assim como em itens

intangíveis, como autorização de processos e gastos com a preparação do

projeto. Cotações de preços para veículos e material de escritório são facilmente

obtidos de vendedores e fabricantes locais.

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A estimativas das taxas pagar a título de “ royalties” autorização requer

consulta com os detentores dos direitos de propriedade e o exame de

regulamentos governamentais, incluindo leis tributárias e restrições de câmbio. As

despesas com a preparação do projeto são tipicamente estimadas entre 5 e 10 %

dos custos totais de investimento, dependendo da complexidade do projeto e do

nível de detalhamento exigido. Finalmente, uma reserva para contingências de

outros 5 a 10% será normalmente acrescentada à estimativa à estimativa total do

investimento fixo.

Antes de mover-nos para a estimativa das necessidades de capital de giro,

deve-se notar que a estimativa do investimento deve ser apenas razoavelmente

precisa, já que uma precisão completa é impossível ou muito dispendiosa. De fato,a quantidade de investimento necessária será precisamente conhecida somente

depois da consumação do fato, quando todos os desembolsos forem feitos e as

operações da indústria realmente começarem. Para o propósito de planejamento e

análise financeira, as estimativas iniciais serão suficientes. Erros, omissões, e

incertezas afetando o processo de estimativa podem ser levados em conta

posteriormente na análise financeira, como discutido na seção 12.

8.2. Estimativa do capital de giro 

Em termos contábeis, o capital de giro pode ser definido como a diferença

entre os ativos em conta corrente e as exigibilidades corrente. Como será

explicado abaixo, ativos em conta corrente bens atuais são compostos por

estoques, títulos de crédito de liquidez imediata, itens pré-pagos, contas a receber,

e dinheiro em caixa, enquanto que suscetibilidades atuais incluem as contas a

pagar (2). De maneira mais prática, pode-se pensar em capital de giro como aquantidade de recursos que devem estar permanentemente disponíveis para

cobrir os custos de operações normais. Ele representa os meios de pagamento

para custos de compras e das operações (3).

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A estimativa do capital de giro de um projeto agroindustrial requer

informações tanto sobre especificações técnicas quanto sobre os planos

operacionais, incluindo políticas de venda e a organização da função de aquisição

de matéria-prima e insumos. Os itens seguintes deverão ser considerados:

-  Estoques de matéria-prima 

Um nível adequado de estoque deve ser mantido para evitar o risco de

escassez de matéria-prima levando a uma estagnação da produção. Este nível

será estabelecido de acordo com as características das matérias-primas

específicas, suas estruturas de fornecimento, e os respectivos roteiros de

processamento. Foi visto que matérias-primas agroindustriais são altamente

perecíveis e sujeitas à sazonalidade. Enquanto que os materiais perecíveis nãopodem ser mantidos em armazenamento por longos períodos, por outro lado a

sazonalidade pode demandar a manutenção de elevados níveis de estoques para

alguns materiais. O analista terá que examinar essas forças opostas para

determinar o nível de estoque desejado Como princípio geral, o nível de estoques

deve ser mantido o mais baixo possível, de modo a minimizar a imobilização de

recursos no capital de giro.

Um procedimento comum de estimativa de estoque é primeiro determinar a

necessidade de cada matéria-prima para o processamento de 1 dia. Um número

mínimo de dias, no qual a quantidade de matéria-prima armazenada atenderá a

necessidade da produção, é estabelecido e multiplicado pelo custo da matéria-

prima. Este resultado significa uma estimativa das exigências de capital de giro

para o estoque das matérias-primas relevantes.

-  Estoques de outros insumos 

Um procedimento semelhante pode ser usado para chegar à estimativa do

capital de giro necessário para manter estoques de materiais de embalagem,

ingredientes, material de limpeza e sanitização, combustível e outros insumos. A

necessidade diária de cada insumo para o processamento precisa ser

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estabelecida e o número de dias que os insumos armazenados atenderão a

necessidade da produção é determinado, levando-se em conta aspectos como a

regularidade do suprimento, tempo esperado entre a colocação do pedido e a

entrega e outras preocupações do gerenciamento de estoque.

-  Estoques de produtos em processo (de fabricação) 

Nem todos os produtos agroindustriais podem ser rapidamente

processados e estarem disponíveis para os clientes. Alguns tipos de queijos

especiais, como o italiano parmegianno regianno, são submetidos a um período

de maturação que dura até um ano. O sabor e aroma e o valor de mercado da

maioria das bebidas destiladas são realçados durante o processo de

envelhecimento. Para garantir a segurança do produto, enlatados, geléias, econservantes podem precisar ser estocados por um período de quarentena antes

da venda. Antes que estes produtos sejam vendidos, os mesmos são

considerados como produtos em processo de fabricação e eles representam um

componente importante das necessidades de capital de giro das agroindústrias.

Deve-se estimar a quantidade de produtos em processo e o tempo que os

mesmos permanecerão deste modo. Ao multiplicarmos esses números pelos

respectivos custos de produção, a necessidade de capital de giro correspondenteé estimada.

-  Estoque de peças de reposição 

Programas apropriados de manutenção da fábrica demandam que peças

chaves de reposição devam ser mantidas em estoque. Quais peças devem ser

armazenadas e em quais quantidades dependerão da disponibilidade local e de

outras considerações relacionadas às suas aquisições. O estoque é estimado com

base nos custos de obtenção das peças de reposição.

-  Estoque de produtos acabados 

Estoques de produtos acabados e prontos para a venda deverão ser

mantidos. Estes níveis de estoques serão afetados por políticas planejadas de

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venda, programação da produção, e outras considerações relacionadas ao

mercado. Eles devem ser calculados com base no custo dos produtos.

-  Contas a receber 

Políticas de venda podem exigir que seja prolongado o crédito aos

compradores dos produtos. Os termos de venda podem permitir pagamentos

adiados para períodos de 15, 30, ou mais dias. Se este for o caso, a empresa

agroindustrial terá que imobilizar recursos para financiar a concessão de créditos

aos seus clientes. A estimativa da necessidade de capital de giro correspondente

requer que os produtos sejam estimados quanto aos custos de produção,

excluindo-se a depreciação.

-  Dinheiro em caixa

Para cobrir as despesas operacionais de curto prazo de operação diária, as

empresas precisam de dinheiro prontamente disponível. BEHRENS &

HAWRANECK (2) indicam que as necessidades de caixa podem ser estimadas

com base nos custos anuais de mão-de-obra, despesas gerais com a fábrica e

administração, assim como os custos imediatos de marketing. Um procedimento

de estimativa simplificado considera que as necessidades de caixa são iguais aoscustos de mão-de-obra por 30 dias (INDI-MG).

-  Contas a pagar 

Todos os itens já discutidos nesta seção são adicionados às exigências de

capital de giro. Contas a pagar, por outro lado, reduzem estas necessidades. Elas

compreendem todas as concessões de crédito oferecidas pelos fornecedores de

insumos e matérias-primas. Unidades de processamento de leite constituem um

bom exemplo de uso do crédito do fornecedor. Freqüentemente, os laticinistas

recebem leite dos produtores diariamente ou em dias alternados, mas pagam a

eles somente mensalmente. Os produtores, neste caso, estão efetivamente

concedendo crédito de curto prazo para os processadores. A quantia de crédito

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recebido por fornecedores de matéria-prima e de outros insumos deve ser

estimada e computada como um item que reduz o capital de giro.

-  Descontos bancários

Em algumas economias, procedimentos bancários permitem às companhias

converterem suas contas a receber em concessões de créditos a curto prazo,

deste modo reduzindo a necessidade de capital de giro. A receita de uma empresa

e outros documentos de transações de venda podem ser levados a um banco e

trocados por fundos a um valor nominal menos um desconto. Por exemplo, se um

banco oferece 0,95 unidades monetárias de crédito para cada unidade monetária

das contas a serem recebidas por uma empresa, uma taxa de juros de 5% seria

imposta para esta negociação. Quando operações como estas são possíveis, aquantidade de crédito obtida poderia entrar como um componente negativo na

computação total das exigências de capital de giro.

-  Cálculo das necessidades totais de capital de giro

A tabela 5 apresenta um exemplo de estimativa de capital de giro para uma

unidade de processamento de queijo de pequena escala. Para simplificar, a

estimativa pressupõe que a utilização da fábrica atingirá a sua capacidade máximano primeiro ano de operação. As exigências de capital de giro para projetos que

não se ajustam a esta hipótese terão que ser estimadas comensuradamente com

os níveis de produção para cada ano de operação. Para exemplos de estimativas

de capital de giro mais complexos, os leitores podem se referir ao manual da

UNIDO para a preparação de estudos de viabilidade industrial (2).

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TABELA 5

Estimativa das necessidades de capital de giro para uma fábrica de

produção de queijo de pequena escala

ITEM Dias Valor(R$)

Estoque de material-prima 1 84

Estoque de outros insumos 30 336

Produtos em processo de fabricação Variável 3419

Estoque de insumos especiais 90 685

Estoque de produtos acabados 1 193

Contas a receber 10 1746

Necessidade de dinheiro em caixa 30 6048

Desconto bancário - 1659Total de capital de giro necessário 10852

9. Estimativa do custo de produção

Os custos compõem outra informação essencial para a análise financeira

de um projeto. As suas estimativas vão causar impacto direto na previsão do

escoamento de recursos durante o horizonte de planejamento em consideração.

Além disso, considerando que a lucratividade de qualquer produto específico é

dada, fundamentalmente, pela diferença entre o preço de venda e o seu custo, as

estimativas podem ser usadas para avaliar a adequação do mix de produtos

proposto. Por esta razão, os custos devem ser estimados para cada produto

individualmente.

Os métodos para a estimativa de custo variam consideravelmente. Alguns

profissionais preferem seguir procedimentos contábeis mais rígidos, envolvendo adefinição de centros de custos (veja a seção 9.3) e a classificação de itens de

custo dentro desta estrutura. Outros adotam o método engenharia-econômica, no

qual coeficientes técnicos são usados como base para uma abordagem de

sintetização dos custos. Combinações de características destes dois métodos são

uma terceira alternativa para a preparação do projeto. Neste texto, seguiremos o

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66

método de engenharia-econômica, tendo em vista à sua simplicidade e largo uso

em projetos agroindustriais.

Como as agroindústrias possuem geralmente múltiplos produtos, existe um

certo grau de complexidade na estimativa dos custos. O analista precisa ser capaz

de separar os custos em seus componentes individuais – mão-de-obra direta,

matérias-primas, energia, etc. A maioria destes itens pode ser diretamente

associada a um produto em particular, sendo conhecidos como custos diretos.

Porém, há também componentes que afetam a operação agroindustrial como um

todo. Salários administrativos, impostos sobre a propriedade e depreciação são

alguns desses itens de custos indiretos. As suas alocações a produtos específicos

têm que ser feitas por um método indireto.

Os itens de custo podem também ser separados em custos fixos e

variáveis. Os custos variáveis irão se alterar como uma função direta do nível de

produção, enquanto que os custos fixos permanecerão inalterados,

independentemente do grau de utilização da capacidade. A maior parte dos custos

diretos é variável e a maioria dos custos indiretos é fixo. Embora existam

exceções deste princípio geral, estas duas formas de classificação de custos sãonormalmente usadas alternadamente. Dado que a análise do ponto de equilíbrio

(Parte II) é parte integrante da avaliação do projeto, será preciso classificar os

componentes de custo pela sua característica fixa ou variável.

9.1. Custos variáveis

Matérias-primas, embalagens, ingredientes, mão-de-obra direta, utilidades,

e suprimentos de fábrica são alguns dos típicos itens de custo variável em projetos

agroindustriais. Para cada produto específico, estes custos podem ser estimados

usando uma abordagem de engenharia- econômica, no qual coeficientes técnicos

relacionando insumos e produtos são associados ao custo de cada componente

individualmente.

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67

Na seção 5, o cálculo dos coeficientes técnicos foi discutido. Eles são

expressos em unidades de insumos necessários para produzir uma unidade do

produto final. Para matérias-primas, esses coeficientes têm que ser multiplicados

pelos respectivos preços de aquisição (Seção 4). O resultado será a porcentagem

dos custos de matéria-prima em relação ao custo do produto final, o que, no caso

de agroindústrias, será provavelmente uma proporção considerável.

Conseqüentemente, deve-se tomar uma atenção especial à confiabilidade dos

coeficientes técnicos e dos preços de aquisição usados na estimativa do custo do

produto final.

No caso da mão-de-obra, os custos podem ser divididos em sub-categoriaspor motivos de simplificação. Portanto, especificaremos os coeficientes técnicos

(homem-hora / unidade de produto final) em classes como mão-de-obra não-

qualificada, semi-qualificada e qualificada. A unidade de custo da mão-de-obra

para estes grupos consistirá da respectiva remuneração por hora mais os

encargos sociais obrigatórios e os custos de outros benefícios voluntários. As

exigências legais que dizem respeito à contratação de mão-de-obra em um

cenário específico irão orientar a estimativa dos encargos sociais. Elas envolvem,entre outras cláusulas, o pagamento de férias, contribuições obrigatórias para

fundo de aposentadoria, seguro saúde e seguro desemprego. Em alguns países,

encargos sociais podem representar uma grande parcela da folha de pagamento

de uma companhia; por este motivo, eles não podem ser desprezados na

estimativa dos custos do produto.

Os custos de utilidades também podem ser estimados utilizando-se

métodos de engenharia-econômica. Para alguns itens, os coeficientes técnicos

podem ser prontamente obtidos nos manuais de processamento. A necessidade

de água em laticínios, por exemplo, pode ser estimada por um coeficiente que

expressa uma exigência de 3 litros para cada litro de leite processado. A

estimativa de outros custos de utilidades pode requerer cálculos mais detalhados.

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No caso da eletricidade, o consumo de energia para cada item de equipamento

deve ser estabelecido e relacionado ao nível de utilização no processo produtivo.

Em ambos os casos, as estimativas dos custos de utilidades dependerão das

informações fornecidas por especialistas em processamento que contribuírem

para o esforço de preparação do projeto.

Custos variáveis para alguns itens adicionais podem ser estimados

globalmente, sem o uso de coeficientes técnicos. Materiais de limpeza e

sanitização, por exemplo, são especificados por programas de higienização da

fábrica, os quais descrevem a rotina de limpeza e a quantidade de detergentes e

sanitizantes a serem usadas. Esta informação permite a estimativa das

necessidades anuais dos materiais, fazendo com que o cálculo dos custos sejadireto. Estes custos podem, posteriormente, ser alocados aos produtos

individualmente por qualquer um dos métodos discutidos na Seção 9.3

Os custos associados com a venda e a distribuição dos produtos terão que

ser estimados. Eles incluem o custo de comissões de venda, impostos sobre

vendas, propaganda, e transporte. Em estudos de viabilidade, estes custos podem

ser projetados pela aplicação de fatores porcentuais ao custo total do produto ouao preço final de venda. Estimativas mais detalhadas exigirão uma analise

profunda das funções de marketing.

A estimativa do custo final deverá ser expressa em termos anuais, de

acordo com a programação da produção para cada ano.

9.2. Custos Fixos

A estimativa dos custos fixos também se baseia, primariamente, nas

informações produzida na etapa de preparação do projeto relacionada à

engenharia (Seção 5). Para agroindústrias, os principais itens de custo fixos serão

salários administrativos e despesas gerais, aluguéis, impostos sobre a

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propriedade, seguro de edificações, direitos fixos de patente e outras taxas de

licenciamento e depreciação.

Os custos administrativos são principalmente determinados pela estrutura

organizacional da empresa planejada. Os requerimentos para o número de

gerentes e pessoal de suporte administrativo devem ser especificados e

associados a uma remuneração e a um plano de pagamento, incluindo todos os

encargos sociais pertinentes. Outras despesas gerais incluem gastos com

comunicação e viagens, material de escritório, e outros dispêndios relativos ao

gerenciamento da empresa. Os procedimentos para as suas estimativas são bem

flexíveis, geralmente calculados pela adição de um fator percentual ao total de

todos os outros custos operacionais.

A depreciação é definida como a perda de valor de um bem através do uso

ou obsolência. Apesar de não representar um fluxo de saída de caixa, é

considerado como um custo fixo que deve ser contabilizado nas demonstrações

de lucros e perdas da empresa. A técnica mais simples usada para estimar a

depreciação é o método constante, ou linear, pelo qual a depreciação anual é

dada pela razão entre o custo do bem e sua vida útil ( vida econômica), expressaem anos.

Regulamentos de contabilidade especificam a vida útil do investimento.

Equipamentos e veículos são considerados completamente depreciados após 10 e

5 anos de uso, respectivamente. Para edifícios e outras construções, a vida útil

pode variar de 25 a 50 anos. Terrenos para locais indústrias não são considerados

como bens depreciáveis. Embora existam métodos alternativos de cálculo da

depreciação, o linear deve ser suficiente para a maioria dos propósitos de

preparação de um projeto.

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9.3. Alocação de custos fixos e outros custos indiretos aos produtos

Logo que todos os itens de custo estiverem sidos calculados, eles devem

ser alocados aos produtos específicos do projeto. Os custos diretos, como já foi

visto, são facilmente atribuídos aos produtos individualmente. Já os fixos e outros

custos indiretos, irão requerer um método de alocação indireto.

Alocação de custo por centros de custo é um procedimento contábil comum

utilizado por analistas. Um centro de custo é qualquer unidade lógica de produção

ou serviços auxiliares. Em um processo agroindustrial, a recepção de matéria-

prima e o acondicionamento de produtos finais podem ser definidos como centros

de custos, assim como também podem vê-los serviços de apoio comomanutenção e geração de vapor. Ao classificarmos os custos fixos e indiretos

dentro dos seus respectivos centros de custo, a alocação dos custos a cada

produto, individualmente, pode ser feita através da análise da quantidade de

processamento no centro de custo ou serviços auxiliares fornecidos para cada

produto específico.

A alocação de custos por absorção de matéria-prima é um outro método deestimativa de custo por unidade produzida. Neste caso, a participação percentual

do uso total de matéria-prima é estabelecida para cada produto. Essas cifras

percentuais são, então, aplicadas no sentido de atribuir os custos fixos e outros

custos indiretos aos produtos específicos.

Semelhantemente, se uma matéria-prima comum não é usada para todos

os produtos considerados, pode-se empregar critérios alternativos de alocação,

tais como uso de mão-de-obra ou percentagem da área da fábrica dedicada ao

processamento do produto em questão. Obviamente, todos estes critérios podem

super ou subestimar um produto em particular, atribuindo-lhe uma parcela dos

custos indiretos injusta. O software AgriVenture aloca os custos indiretos pela

porcentagem que cada produto contribui para o faturamento total. Estes chamados

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“critérios de contribuição econômica” garantem que produtos com maiores

rendimentos sejam alocados com as maiores parcelas dos custos indiretos totais

do que aqueles com menores participações.

10. Estimativa da receita

As receitas irão consistir, principalmente, das vendas dos produtos e devem

ser estimadas numa base anual. Já que sabemos os preços individuais dos

produtos e as quantidades a serem produzidas e colocados no mercado em

relação ao horizonte de planejamento do projeto, a estimativa é bastante direta.

Receitas adicionais podem surgir a partir da venda de sub-produtos e

resíduos, uma característica típica do agro-processamento. Podem também incluirreceitas não-operacionais, como aluguéis, juros recebidos, doações e subsídios.

Todas esses rendimentos devem ser devidamente acrescentados ao fluxo de

receita do projeto.

11. Financiamento da empresa agroindustrial

O processo de decisão quanto à realização de qualquer investimento exige,dentre outras coisas, que os usos e as fontes dos recursos financeiros

necessários sejam devidamente avaliados. Os usos de recursos foram tratados na

discussão das estimativas das exigências de capital fixo e de giro. Um

complemento disto – as fontes de fundos do projeto – será examinado a seguir. As

fontes potenciais deverão ser determinadas e uma combinação entre elas

estabelecida, no intuito de constituir o esquema final de financiamento para a

empresa.

Os arranjo financeiros causarão grandes impactos sobre a viabilidade de

um investimento. De fato, suas concepções compõem um instrumento de política

freqüentemente usado por governos locais e organizações internacionais para

incentivar investimentos em áreas prioritárias. Através da oferta de baixas taxas

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de juros, períodos de reembolso a longo prazo, investimento direto do governo e/ 

ou outras condições favoráveis, os elaboradores de políticas tentam elevar a

atratividade de um investimento particular para um certo empreendedor. Portanto,

uma preocupação inicial quanto a determinação de um arranjo financeiro ótimo é

identificar o âmbito de opções disponíveis. Financiadores privados em potencial,

governos, organizações internacionais, agências de desenvolvimento e agências

de promoção de investimentos são algumas das fontes que podem ser

consultadas, para este propósito.

A definição de um arranjo financeiro ótimo irá exigir não apenas a avaliação

de variáveis econômicas, como será discutido posteriormente, mas também o

ambiente institucional (legal) pertencente à estrutura organizacional da empresa.Leis e regulamentos afetando cooperativas, companhias privadas com ou sem

participação pública e companhias estatais, limitarão o número de alternativas de

financiamento a ser considerado.

Na maioria dos casos, porém, a decisão chave será a definição de uma

combinação adequada entre o uso do capital próprio e o de terceiros, uma tarefa

que requer meticulosa investigação, apoiada por análise financeira profissional,conhecimento extensivo de leis e regulamentos bancários, e outros aspectos

técnicos relacionados. Estaria além do alcance deste texto investigar os detalhes

das várias questões a serem considerados quando um arranjo financeiro de um

projeto é determinado. Ao invés disso, uma visão geral é apresentada abaixo.

Para maiores informações, os leitores podem se referir aos manuais da UNIDO

para a preparação e avaliação de estudos de viabilidade de projetos industriais

(20;2).

O capital próprio consiste de recursos a serem disponibilizados para o

projeto pelos controladores e sócios da empresa. Esses recursos podem ser

provenientes de capital de risco, dos ativos fixos do investidor (exemplo: terreno

previamente adquirido), ou ações emitidas e oferecidos para o público. O modo

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pelo qual as ações podem ser distribuídas dependerá da legislação financeira

específica do país. Elas podem ser emitidas como ações ordinárias ou

preferenciais; as primeiras são típicas concessões de direitos plenos de voto e

pagamento de dividendo dependente de lucro, e a segunda constitui uma

concessão normal apenas parcial ou sem direito a votação, e o pagamento de um

dividendo ao menos parcialmente independente dos lucros (2).

Os recursos de terceiros podem ser obtido para ambas as necessidades de

capital fixo e de giro. Exigências iniciais de capital fixo e de giro serão

provavelmente financiadas por empréstimos a longo prazo, porque durante os

anos inicias de operação, um projeto terá provavelmente mais dificuldade em

gerar receita suficiente para cobrir os custos operacionais e os juros doempréstimo e os pagamentos do principal. Tão logo as operações normais tenham

começado, a necessidade de capital de giro adicional pode ser atendida por

empréstimos a curto e médio prazo. Fornecedores também podem oferecer

créditos para financiar as necessidades de capital fixo e de giro.

O equilíbrio entre os recursos próprios e os recursos de terceiros

determinará um índice de dívida/patrimônio do projeto, o indicador maiscomumente aplicado a uma estrutura financeira de certa empresa (20). Este

quociente é dado pela expressão

Rde= L / Q

onde

Rde= Relação dívida/ capital próprio

L = empréstimos a longo prazo

Q= Capital próprio investido

De acordo com a UNIDO (20), a dependência relativamente alta do crédito

apresenta tanto vantagens quanto desvantagens para o empreendedor. As

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principais vantagens são que as taxas de juros de empréstimos podem ser abaixo

da lucratividade esperada do projeto, e o pagamento de juros pode ser deduzido

dos impostos. Por outro lado, as desvantagens de uma posição altamente

alavancada são:

- os juros têm que ser pagos independentemente do projeto lucrar ou não.

- o gerenciamento financeiro pode tornar-se árduo se o pagamento de

empréstimos anuais se aproximam dos custos anuais de depreciação

- a interferência do financiador tende a tornar-se excessiva caso a relação

dívida/recursos próprios aumente.

Ainda que geralmente existam condições favoráveis para o financiamento

de empresas agroindustriais através do uso de recursos de terceiros fundosemprestados, há um número de variáveis que devem ser avaliadas antes de se

decidir sobre a estrutura de capital de um projeto. O analista deve conhecer as

taxas de juros relevantes, as comissões dos concessores de empréstimos, os os

períodos de carência e amortização, e as exigências mínimas de quantias e de

recursos próprios.

Normalmente, as taxas de juros constituirão a maior porção dos custos de

um empréstimo. Elas podem ser fixas para todo o período de reembolso; oupodem incluir um componente variável; isto depende das condições econômicas e

das práticas bancárias de um país específico. Além disso, comissões de

financiadores e outros honorários podem ser acrescentados às taxas. O analista

do projeto deve conhecer precisamente todas as condições que afetam a taxa de

 juros final.

Concessores de empréstimos podem especificar uma exigência mínima de

recursos próprios, freqüentemente na forma de uma relação dívida/ recursos

próprios permissível. Os analistas devem considerar se é desejável manter a

exigência mínima de recursos próprios ou elevar esta parcela no capital total

disponível. Níveis mais baixos de empréstimos implicará em custos menores de

empréstimo para a empresa. No entanto, se as condições de empréstimo são

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suficientemente favoráveis, pode ser desejável maximizar o montante de capital

emprestado e utilizar qualquer fundo excedente em investimentos alternativos.

Para determinar os méritos de qualquer arranjo de crédito, os indicadores da

análise financeira do projeto discutidos na seção 12 deverão ser avaliados.

Financiadores comumente concedem períodos de carência para amenizar

as dificuldades financeiras que um projeto, tipicamente, enfrenta durante o início

de suas atividades nos primeiros anos de operação. Durante o período de

carência, o pagamento do principal é adiado. Porém, as taxas de juros sobre a

dívida são cobradas. Através da redução dos fluxos de saída de caixa nos anos

iniciais do projeto, períodos de carência podem contribuir para a sustentabilidade

geral de uma empresa.

Variáveis associadas ao tempo constituem o período de ressarcimento total

e a freqüência de pagamentos (trimestral, semi-anual, anual, etc.). Quanto maior o

período total, menores as prestações de pagamento e maiores os juros totais

pagos. Quanto mais freqüentes as prestações, maior o impacto no fluxo de caixa

do projeto. Uma limitação no fluxo de fundos de uma empresa, especialmente no

início da sua vida econômica, é uma barreira ao sucesso financeiro a qualperíodos de carência e amortização adequados podem ajudar a superar.

O tipo de serviço de débito exigido pelo financiador é um outro assunto a

ser examinado. Existem 2 principais estruturas de serviço de débito que são

consideradas: serviço de débito periódico com prestações constantes de

amortização e juros decrescente, e serviço de débito periódico com pagamentos

constantes, amortização crescente, e juros decrescente. Conforme BEHRENS e

HAWRANECK (2), o primeiro “...requer menos custo financeiro total mais serviço 

de débito inicial razoavelmente substancial durante   o início das atividades do 

projeto ”, enquanto que a segunda estrutura, “...embora (tendo) um custo financeiro 

total maior, é preferível para a nova empresa porque a carga inicial de serviço de 

débito é menor que no primeiro sistema.”

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Uma consideração adicional quando se analisa um arranjo de

financiamento é a exigência do credor de uma garantia, ou seja, um valor

imobiliário posto à sua disposição como garantia paralela de pagamento da dívida.

No sentido de minimizar a probabilidade de perdas devido a empréstimos ruins,

concessores de empréstimo exigirão algum tipo de caução. Este pode ser na

forma de bens fixos, avais do governo, ou quaisquer outros recursos que possam

ser usados para ressarcir os danos de uma possível inadimplência no empréstimo.

Quanto mais severas as políticas do investidor a este respeito, mais difícil pode se

tornar o acesso a fontes de financiamento.