PROFISSÕES EM EXTINÇÃO O CASO DO · jÆ com a tØcnica de se fotografar e de revelar fotografias...

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MARCELO H ORTA M ESSIAS F RANCO P ROFISSÕES EM EXTINÇÃO : O CASO DO FOTÓGRAFO L AMBE - LAMBE F F F o o o t t t o o o : : : M M M a a a r r r c c c e e e l l l o o o F F F r r r a a a n n n c c c o o o Belo Horizonte 2004

Transcript of PROFISSÕES EM EXTINÇÃO O CASO DO · jÆ com a tØcnica de se fotografar e de revelar fotografias...

MARCELO HORTA MESSIAS FRANCO

PROFISSÕES EM EXTINÇÃO: O CASO DO

FOTÓGRAFO LAMBE-LAMBE

FFF ooo ttt ooo ::: MMM aaa rrr ccc eee lll ooo FFF rrr aaa nnn ccc ooo

Belo Horizonte

2004

2

MARCELO HORTA MESSIAS FRANCO

PROFISSÕES EM EXTINÇÃO: O CASO DO

FOTÓGRAFO LAMBE-LAMBE

MONOGRAFIA APRESENTADA AO

DEPARTAMENTO DE SOCIO LOGIA E

ANTROPO LOGIA DA FACU LDADE DE

FILOSOFIA E C IÊN CIAS HUMANAS DA

UNIVERSIDADE FED ERAL DE M INAS

GERAIS COMO REQUISITO PARCIAL

PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE

BACHAREL EM C IÊN CIAS SOCIAIS

Belo Horizonte

2004

3

4

Agradecimentos

Aos meus pais , José Mauro e Vera Lúcia em primeiríssimo lugar,

pelo amor incondicional , bom exemplo de conduta e alegria pelo que são;

à minha Ju, com muito amor a toda sua família; aos irmãos para sempre

Daniel e Ana Cristina e, aos tantos outros que agente vai ganhando pela

vida: José, Cristiano, Letícia, Guilherme, Leandro, Pablo, Renato e todo

mundo (“galera”), a todos os primos, tios e tias do coração; aos amigos

da minha primeira e inesquecível turma na UFMG, Marina, Guilherme,

Beatriz, Rosana, Márcio, Cristiano, Pedro, Bira e Jade; aos que mudaram

no meio do caminho... , que tão cedo partiram, Juan, e também Júlio(in

memorian), pelo tempo de convívio e aprendizado mútuo.

Aos amigos da publicidade, aos colegas de música, aos bares dessa

cidade e a todo(a)s colegas de estágio.

Aos amigos Maurício de Jesus, Neuzinha Santos e Beth (PBH-

Regional Noroeste), a todos os amigos do Parque, René Vilela, Marietta

Maciel, à Ana Beltrão, Tatiane, Iolanda, Conceição, S.Manoel e todos

mais.

A ‘Tia’ Hélvia Vorcaro pelo apoio na revisão, e ao Léo, Bela,

Nininha e “Sô Miguel”(in memorian);

À eterna amiga,especialmente, vó Hildette pela convivência, seus

conselhos, nossas conversas, almoços, cestas e festas, será sempre

lembrada com muita alegria e bastante saudade...

Ao Centro de Referencia em Áudio Visual, da Secretaria Municipal

de Cultura, e à Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, à Glória

Amarante, Severino Júnior e a Daniela do CRAV,

E, principalmente, aos Lambe-lambe, amigos e conhecidos, ao

Chico Manco, Tomazinho, e ao seu pai , Camargos, ao José Marcos, Sr.

Severino, Bentão, Wagner, D.Zita, Xavier, Tavinho e todos mais, com

todo o respeito e devida consideração, esse trabalho é dedicado a

preservação de sua memória.

5

Dedicatória

Em memória do meu avô materno Sr.

Hélio Teles Horta, “andarilho” por tantos anos pelas

praças e parques do centro de Belo Horizonte,

intrigado observador da condição humana, meu amor

e minha admiração.

6

Sumário

Introdução...........................................................................................7

1. Histórico, organização e o "mapa da extinção" do Lambe-lambe na

cidade de Belo Horizonte......................................................................9

1.1.Breve nota sobre a origem do ‘Lambe-lambe’...............................21 2. No rastro da extinção: o Lambe-lambe em algumas praças

pelo Brasil........................................................................................ 25

3. "Metamorfose Ambulante": Lambe-lambe - de profissional artístico

a subempregado....................................................................................36

Considerações sobre o trabalho de campo...........................................44

Conclusão.............................................................................................47

ANEXO I - Sistema de rodízio dos lambe-lambes do Parque

Municipal Américo Renné Gianetti....................................................50

ANEXO II - Fotos...............................................................................51

ANEXO III - Documentos..................................................................54

ANEXO IV - Entrevista informal com o fotógrafo José Marcos. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61

Bibliografia..........................................................................................62

7

Introdução

Refletir sobre o antigo e sobre o novo, investigar os rastros do

passado, tão óbvios no presente e, a part ir destes ir reconstruindo os

fatos, a ponto de compreendê-los em sua de forma mais ampliada é algo

que sempre fascina; é como entrar num casarão antigo e a partir daquela

mobília, e de seus traços particulares, simplesmente se perguntar: qual a

sua idade? Tudo aquilo teve sua época, tudo aquilo teve alguma função.

O que um dia esteve no auge, um outro dia caiu em desuso, apesar de ter

persist ido, uma vez estando ali.

O presente trabalho tem como objetivo focar a atividade do

fotógrafo ambulante, popular “Lambe-lambe”, profissional informal que

vem labutando nos jardins, praças e parques públicos do início ao fim do

século XX, persistindo ao século XXI, muito embora já sem o seu velho

equipamento, a máquina Bernardi, t razida da Itália no final do século

XIX e hoje praticamente obsoleta.

Ele fora motivado pela curiosidade acerca do modo como se

mantêm esses profissionais, inseridos na tão aclamada ‘era digital’, onde

a cada dia se alcançam novos recordes de produção e consumo da mais

ampla variedade de preços e modelos de aparelhos fotográficos.

Trata-se de uma monografia final para a obtenção do título de

Bacharel em Ciências Sociais que dessa forma pretende contribuir com

um aproach sociológico (mais especificamente o da área da sociologia do

trabalho) sobre a si tuação dessa categoria profissional , analisando as

transformações nela ocorridas durante as últimas oito décadas.

A pesquisa teve início no final do ano de 2001, início de 2002,

quando me ocupava em entrevistar os trabalhadores ambulantes

concessionários do Parque Municipal Américo René Gianetti , a fim de

produzir um diagnóstico das condições de trabalho dos mesmos, tendo em

8

vista o aprimoramento das relações entre eles e a diretoria daquele

Parque, pela qual estagiei por dois anos.

À produção desse diagnóstico coincidira o período em que a

socióloga Glória Amarante realizava algumas de suas entrevistas que

iriam vir a compor o trabalho “História Social de Belo Horizonte: O

Olhar dos Fotógrafos Lambe-lambes”, pela lei municipal de incentivo à

cultura, sendo que dessa forma a curiosidade sobre os ambulantes do

Parque Municipal, se redirecionou ao trabalho dos fotógrafos Lambe-

lambes, tanto de dentro como de fora do Parque.

Na primeira parte do trabalho estão concentradas as informações

sobre os Lambe-lambes das praças de Belo Horizonte, seu histórico a

partir de relatos orais, sua localização bem como aspectos de sua

organização interna. Em seguida irá uma nota sobre as origens do nome

“Lambe-lambe”, util izado para designar os fotógrafos de praças e jardins

públicos; o segundo capítulo traz a situação da referida categoria

profissional em algumas praças pelo Brasil, a partir de matérias de

jornais e outros artigos, de modo a se ensaiar um estudo comparativo. No

terceiro capítulo é inserida a problemática cara a sociologia do trabalho

que é a da extinção das profissões, apresentando também um quadro da

trajetória profissional dos Lambe-lambes de Belo Horizonte, no intuito de

discutir até que ponto o conceito de profissional artístico e tradicional

vem mascarando a real condição dessa categoria de trabalhador informal.

Há ainda uma parte dedicada às considerações sobre o trabalho de

campo, tão importante no contexto da pesquisa, interessada diretamente

nesses trabalhadores “da rua”, melhor dizendo, das praças, jardins e

locais públicos.

O trabalho se encerra com as conclusões, em aberto, na confiança

em se ter contribuído intelectualmente com a cultura da cidade de Belo

Horizonte, ao exercer com a devida humildade, tão agradável exercício de

Sociologia aplicada.

9

1. Histórico, organização, e o "mapa da extinção" do Lambe-

lambe na cidade de Belo Horizonte

A origem do fotógrafo ambulante na cidade de Belo Horizonte é um

assunto inexistente em registros ou documentos oficiais, tendo que ser

resgatada através dos relatos orais. Todavia, nos remete ela, às três

primeiras décadas a partir da inauguração da capital planejada, décadas

de afirmação econômica e ocupação populacional.

Se por um lado, as at ividades culturais na nova sede não

encontraram dificuldades em desde o início se firmar (LE VEIN, 1977), a

economia por outro, centralizada nos ganhos do funcionalismo público,

veio a se potencializar e se diversificar somente a partir da expansão da

malha ferroviária estadual nos idos de 19221, a qual facili tou o

deslocamento de novos fluxos migratórios.

Não é por acaso que a primeira leva de fotógrafos de rua atuantes

em Belo Horizonte era toda composta por imigrantes. Vinham da Europa

já com a técnica de se fotografar e de revelar fotografias ao ar livre, se

estabelecendo, priori tariamente, no Rio de Janeiro e na região portuária

do estado de São Paulo, e se interiorizando com a chegada das ferrovias.

A Praça da Estação (onde hoje ainda permanecem seis fotógrafos

Lambe-lambes), era a porta de chegada a Belo Horizonte, e a Avenida do

Comércio, atual Santos Dumont, lugar onde se concentravam os

principais estabelecimentos comerciais e também de lazer. Não longe

dali , margeando o Rio Arrudas, fica o Parque Municipal , naquela época

com o triplo da área que tem hoje.

O Sr. José Ferreira de Camargos, ex-fotógrafo e também ex-

presidente da hoje extinta Associação dos Comerciantes e

Concessionários do Parque Municipal Américo René Gianett i , juntamente

1 FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO . Omnibus: uma história dos transportes coletivos em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais. Belo Horizonte,1996.

10

com seu filho Alinto Thomas Neto, Lambe-lambe do referido Parque

Municipal, puderam confirmar, em recente entrevista2 a hipótese da

existência de quatro gerações de fotógrafos Lambe-lambe em Belo

Horizonte.

Segundo documento da referida associação dos comerciantes do

parque, datado de 11 de março de 19933, assinado pelos membros da

então criada (e hoje extinta) “Comissão Consultiva do Parque

Municipal”, fora em 1922 que começaram a trabalhar na cidade os

primeiros fotógrafos ambulantes.

O perfil dessa primeira geração é o de profissionais liberais, com

ganhos relativamente bons dentro dos padrões da época. Eram eles, em

sua maioria, estrangeiros, mais precisamente sírios e espanhóis, havendo

ainda um norte-americano.

São citados na entrevista com o Sr. Camargos como pioneiros em

Belo Horizonte, os seguintes nomes: (a) Luiz Fernandes, espanhol, o qual

vendera posteriormente seu ponto ao próprio José Ferreira de Camargos,

(b)‘João Burro’, de origem síria, que se chamava Armando, o qual,

segundo o Sr.Isaac Requeijo (CRAV,2002) lhe vendera o ponto em 1950,

(c)Salomão José, também de origem Síria, muito amigo do Sr.Camargos

(se pôde notar, durante a entrevista, a comoção de José Camargos ao falar

do velho amigo), e o último da sua geração a deixar o trabalho (segundo

Thomas somente no ano de 1972), (d) Joanin Coelho, o norte-americano

que entrara por volta de 1930, e também o fotógrafo de nome (e)

Moamed, mais conhecido entre os colegas como o “cara de gato”, também

de origem árabe.

Segundo o Sr. Isaac Requeijo, fotógrafo que, aos sete anos de idade

já acompanhava o pai fotógrafo, isto por volta de 1933 (pois ele nascera

em 1926) , naquela época:

- “(. ..) Tinha meu pai, que era espanhol, tinha o meu tio, que

era espanhol, teve um primo meu também, que era espanhol,

2 Realizada na tarde do dia 05 de novembro de 2004 na residência de Alinto Thomas Neto, filho de Camargos; 3 Documento em anexo

11

tinha um… Seu Fariñas também, que era espanhol, que eu me

lembro esse era espanhol. Agora, turco acho que teve uns

quatro ou cinco também.. .”

Conta ainda o Sr.Requeijo, que seu pai, quando veio para o Brasil,

trabalhou de calceteiro na antiga Feira de Amostras:

“É onde hoje é a Rodoviária. Tinha o cinema Paissandu

ali… Então, em volta dali ele trabalhou de calceteiro. Depois

não deu certo, ele foi trabalhar no sul de Minas com martelete,

furar pedra, trabalhar em pedreira. Depois de lá ele

desentendeu com o patrício dele, que era um espanhol, o

encarregado, então ele veio aqui pra Belo Horizonte e tinha um

primo dele, que já era fotógrafo no Parque, então ele ensinou

ele, mas nos anos lá de mil e novecentos e vinte e poucos, eu

não estava aqui no Brasil, eu estava na Espanha, né. E ele

ficou trabalhando. Quando foi na ocasião que ia estourar a

revolução aqui, ele correu, foi embora pra Espanha.”

Fala esta que elucida bem a trajetória profissional de um imigrante

espanhol da década de 1920, além de sustentar a hipótese de que os

Lambe-lambes são uma categoria que transita de um a outro serviço

informal, idéia mais explorada no capítulo 3.

Organização

A primeira lei que regulamenta o funcionamento do sistema de

rodízio dos fotógrafos do parque data de 29 de novembro de 19354. Nessa

época eram contabilizados oito profissionais, que a partir de então

passaram a ter que pagar uma taxa anual à Prefeitura Municipal através

de seu Departamento de Parques Jardins e Arborização.

4 Idem

12

Em 1946, um novo decreto (decreto nº 175 de 2 de maio de 1946-

DPJA/PBH), fixa em 10 o número de fotógrafos com licença para atuar

no parque e em 1968 esse número é fixado em 14, o qual perdura até

1992, quando então cai para treze.

O sistema de rodízio, seguido não só pelos lambe-lambes, mas por

todos os ambulantes em atividade no Parque Municipal (cada categoria

com o seu rodízio), funciona de modo muito simples. Como é de consenso

da classe que há os melhores pontos para se trabalhar, ou seja, aqueles

em que o trabalho é mais rentável, eles movem para o ponto seguinte, no

sentido horário, a cada semana, permanecendo naquele ponto por uma

semana de trabalho. Há o sistema de rodízio também na Praça Rio Branco

em Belo Horizonte e, apenas a título de comparação, vale mencionar a

descrição desse mesmo sistema no Parque Jardim da Luz na cidade de São

Paulo, no ano de 1981:

“(.. .) Até hoje esse processo é seguido, O fotógrafo

permanece em cada área por uma semana, cobrindo todas as

partes: as mais povoadas e as mais desertas, dando a todos a

chance de faturar.” 5

A permissão aos pontos, a princípio livre como vimos, a partir de

1935 se tornou licenciada, sendo que a única maneira de se conseguir

uma vaga era esperando por ela. O candidato, dessa forma, tinha que se

credenciar no Departamento de Parques e Jardins, e quando a vaga

surgisse apenas provar que estava habilitado para o serviço. Conta o

Sr.Severino (CRAV, 2002), fotógrafo ingresso em 1949, que só conseguiu

definit ivamente a sua vaga depois que falecera um fotógrafo mais antigo,

conhecido como Rosa. Severino, entretanto já trabalhava como

fornecedor de material fotográfico para o pessoal do Parque, e fora

através de um fotógrafo espanhol (provavelmente Luiz Fernandes) para o

qual vendia material, ele se informava sobre a si tuação das vagas. 5 Em: PERSICHETTI, Simonetta. Lambe-Lambe: a câmera automática no lugar da velha caixa. In Revista Íris foto n.334, 1981.

13

Também nessa época conta o Sr. Severino que viajou bastante com

os colegas fotografando festas religiosas pelo interior de Minas Gerais,

trabalho que rendia um bom dinheiro.

Por aí se nota a rentabilidade do trabalho na época (década de

1940), o qual conheceu o seu auge mesmo a partir do ano de 1958,

período considerado por alguns Lambe-lambes como o da “febre do 3x4”.

O período do 3x4, talvez o “período de ouro”, para os Lambe-

lambes pode ser explicado pela conversão de dois fatores. Por um lado

um estado al tamente burocratizado que exige fotografia para todo tipo de

documentação, como: título de eleitor, carteira profissional , carteira de

identidade, carteira de saúde, de reservista e a licença de motorista entre

outros e os Lambe-lambes, sem medo da concorrência, já que eram os

únicos no mercado a entregar a foto em 20 minutos ou menos no método

antigo com a chapa de vidro e secagem ao ar livre suprindo muito bem

toda essa demanda.

A “febre do 3x4” também foi observada na capital Vitória

(FREITAS,2001:17,) , sendo mencionados como documentos que

necessitavam de fotos, além do título de eleitor, as carteiras do INPS, as

fichas de empregos e as carteiras escolares. Segundo Vilaça, “a década

de 50 assinala a passagem definitiva do Lambe-lambe para o

3x4(p.17)” 6, afirmando ainda que, naquela época, enquanto os estúdios

pediam três a quatro dias para entregar o material os ambulantes

entregavam na hora.

Segundo o Sr. Isaac Requeijo (CRAV, 2002):

“(. ..) pelos anos de mil e novecentos e quarenta e

poucos, a gente tirava muito pouco retrato pra carteira, não

tirava muito retrato pra carteira profissional, nem pra carteira

de identidade, a freguesia não era muita, não. Às vezes ficava

dois ou três dias sem bater uma chapa. Mas no decorrer dos 6 FREITAS, Adilson Vilaça; BICALHO, Leonardo Os lambe-lambes do Parque Moscoso. 3. ed. Vitoria : Secretaria Municipal de Cultura, 2001. 32 p

14

anos, acho que foi evoluindo, etc, e houve a exigência, todo

mundo tinha que trabalhar fichado tinha que ter a carteira

profissional, e tinha que ter a carteira de identidade, e por aí…

Foi vindo e o povo corria tudo pro Parque, porque os fotos

tiravam fotografia, mas só entregavam no outro dia – eles

tiravam o retrato retocado e nós t irávamos instantâneo, era na

hora, com 20 minutos. Mas às vezes não era vinte minutos

nada, porque às vezes juntava cinco, dez fregueses, então era

20 minutos pra cada um, era… (risos). Ia tapeando e descia”.

A fase do três por quatro, perdurou dessa forma, até final da década

de 1960, período em que os fotógrafos ainda faziam muitas festas

rel igiosas, ou ‘Jubileus’, pelo interior de Minas Gerais.

Outro tipo de produto oferecido pelo Lambe-lambe durante algum

tempo foram as fotos coloridas artif icialmente. Nesse caso o fotógrafo

Lambe-lambe era ajudado por um outro profissional , que cuidava somente

de colorir as chapas em preto e branco. Esse período durou de 1964 a

1977 aproximadamente, e seu término está relacionado à chegada no

mercado do filme colorido.

Não se pode esquecer também da fase dos chamados ‘monóculos’,

pequeno cilindro plástico onde a foto em miniatura é visualizada contra a

luz, também muito em voga até o final da década de 1980, estando sua

decadência relacionada bem mais ao fim da disponibilidade desse tipo de

material nos grandes fornecedores que à vontade do fotógrafo ambulante

de continuar oferecendo o serviço.

O ano de 1983 é marcado por uma polêmica entre a categoria, com

a introdução por Camargos de seu “Mini laboratório”. Desde o início da

era do filme colorido, os Lambe-Lambes passaram a depender totalmente

dos laboratórios externos para revelarem seu material. O ‘Minilab’ dos

Camargos os tornava independentes ao mesmo tempo em que os

permitiam revelar seu material em menos de trinta minutos, e por um

custo ainda mais baixo.

Esse fato novo, ao tecnicamente se atribui o termo “inovação

tecnológica” gerou muita revolta entre os companheiros de trabalho

15

diário, os quais encaminharam ao diretor de do Departamento de Parques

e Jardins da Prefeitura um abaixo assinado7, apoiado por doze dos

quatorze fotógrafos do Parque Municipal Américo René Gianetti.

Conta o Sr. Camargos ter observado a nova tecnologia em viagem

ao Paraguai, tentando, por quatro anos, ele e seu fi lho Thomas

desenvolver o mini laboratório na oficina em sua casa. Apesar dos

protestos, ainda hoje os Minilabs (três máquinas) funcionam dentro

daquele Parque Municipal.

“Mapa da extinção” Figura 1.

* Soma de todas as referências colhidas para os anos entre 1973 a 1999;

7 Documento em anexo

16

Figura 2.

Olhando então para o que chamamos aqui de “mapa da extinção” do

Lambe-lambe na cidade de Belo Horizonte, podemos notar significava

redução no número de profissionais. Se antes eles eram 49, (número que

representa a soma das referências colhidas para todos os anos antes de

2004), no último ano passaram a ser 19.

Poderíamos, além disso, apontar aqui, levantando a hipótese da

“desigualdade de condições”8 que o número de fotógrafos do Parque

decaiu em proporções bem menores que em lugares como a Praça da 8 Me refiro à diferença de condições entre os fotógrafos atuantes no interior do Parque Municipal Américo René Gianetti e os que estão fora dele. Esta hipótese será novamente explorada no capítulo final – “Considerações finais”

17

Rodoviária ou Praça Primeiro de Maio. Se na Praça da rodoviária, até o

ano de 1999 atuavam 9 fotógrafos, onde hoje atua apenas um9, no Parque

Municipal sua base foi mantida.

Outro aspecto marcante é sobre a presença de Lambe-lambes nas

Praças Raul Soares e Hugo Wernek, locais que também fazem parte do

circuito ‘serviços’ de toda a região central 10, hoje “hipercentro” da

cidade, a praça Raul Soares, mais l igada ao lazer principalmente até a

década de 1960, e, a Praça Hugo Wernek, aos serviços, se localizando na

região hospitalar, ponto de trânsito de pessoas de várias regiões da

cidade e também do estado, muito embora o fim do Lambe-lambe neste

local tenha sido por proibição direta do poder público municipal,

diferentemente de na Praça Raul Soares e na própria Praça Primeiro de

Maio, onde o motivo da extinção do Lambe-lambe está bem mais

associado a um processo de descaracterização11 daquelas regiões a partir

da década de 1970.

Os fotógrafos da Praça Rio Branco, (P.da Estação), reclamam bem

mais das condições de seu local de trabalho do que os do Parque

Municipal12:

“Nossa Senhora, essa Praça aqui podia dizer que era a

melhor e a mais bela praça de Belo Horizonte. Hoje é a… pior

pra se conviver dentro dela. Isso aqui é um verdadeiro

banheiro público, né? (.. .) . Está abandonada, não tem

fiscalização, antigamente a Prefeitura tinha fiscal, né? (.. . ) 9 Sr. Wilson Piazza, CRAV,2002; 10 Ainda sobre esse “comércio sobrevivente” olhar ANDRADE,1999 (pag153). Ela fala sobre um comércio tradicional, testemunho de outros tempos, e que ainda permanece no seu lugar de origem, sobrevivendo à fugacidade, “às conseqüências da produção do espaço urbano cada vez mais veloz”. 11 Chamo aqui de descaracterização o processo de mudança na ocupação na região, devido às conseqüências de um intenso processo de ocupação experimentado pela cidade a partir da década de setenta, para ver mais em LEMOS, Celina Borges: “Determinações do espaço urbano: a evolução econômica, urbanística e simbólica do centro de Belo Horizonte”, UFMG 1988. 12 De fato , se nos basearmos exclus ivamente nas ent revis tas fei tas pela socióloga Glória Amarante constataremos que aqueles profissionai s que es tão local izados fora do Parque Municipal es tão “condenados a ext inção”, pois el es se queixaram s is tematicamente de problemas como fal t a de cl ientes e impossibi l idade de pagarem taxas como a de hospedagem em local próximo (a prefei tura não oferece nada) ou mesmo a taxa pelo ponto .

18

Mas hoje não tem mais quem olha, hoje isso aí é abandonado.

Eles vêm cá, de vez em quando, faz uma limpeza, tira o mato e

pronto”13.

Apesar de toda dificuldade que enfrentam os atuais Lambe-lambes,

principalmente aqueles que trabalham fora do Parque, eles conseguem

manter uma certa coesão interna, sendo que, apesar de haver certa

proximidade espacial (vide mapa) e também, ligações de afinidade, por

vizinhança e mesmo parentesco (José Marcos, da Praça Rui Barbosa, por

exemplo, tem dois filhos que trabalham no Parque Municipal) não se

comunicam ou formam associação entre si. Os Lambe-lambes da Praça

Rui Barbosa (Praça da Estação) possuem uma dinâmica de trabalho

diferente dos do Parque,e bem semelhante ao que foi a dinâmica dos da

1º de maio e Rodoviária, hoje solitários (Wilson na rodoviária e João

Gomes na 1º de maio). Levam para o local de trabalho, além da velha

máquina Bernardi , apenas como mostruário, um caixote, o qual além de

servir de assento, serve para guardar seus pertences e material de

trabalho. No Parque Municipal , eles não usam a velha Bernardi , nem

como mostruário; cada um possui um carrinho de rodinhas, semelhante a

um carrinho de pipoqueiro, onde fazem mostruários, além de banquinho,

burrinhos de madeira e outros, para fotos de crianças. Ao contrário dos

que estão na rua, os do parque deixam todo o material de trabalho nas

dependências do mesmo; os da Praça da Estação, por exemplo, contam

com comerciantes próximos para guardarem seu material de trabalho, a

maioria deles pagando uma taxa por isso.

“(.. .)Mas o sistema é esse: a máquina, o caixotinho pra

sentar, pode ter o carrinho, igual no parque tem os

carrinhos, pra guardar as coisas, mas como é a dificuldade

de guardar as coisas aqui, ninguém gosta de guardar, se eu

guardar na caixinha, fica dependendo de favor pra guardar

13 Trecho do dep oimento d o fotógrafo Au gus to (C RAV ,2002) , da Praça Rio Bran co.

19

as coisas. . . (. . .)porque os outros têm as caixas deles, que

eles arrumam a caixa, tem ali . Mas eu não coloco lá, eu não

confio. Já foi arrombado algumas vezes lá, eu guardo aqui

na casa de jogo ali há muitos anos, o pessoal é muito meu

amigo, então quando precisa de mim eu estou lá dando uma

força, então eles guardam pra mim.”

Sr. Augusto, Praça da Estação, (CRAV,2002)

O que se pôde notar sobre o trabalho em praças e jardins públicos

em geral fora o seu aspecto aparentemente tranqüilo, onde o dia “parece

passar mais devagar”, um contraponto à rotina de trabalho dos que estão

em escritórios ou no trânsito diário. A isso se junta o fato de esses

profissionais, principalmente os mais antigos, não sentirem necessidade

de abandonar sua ocupação – eles parecem estar satisfeitos – de fato, a

maior parte deles possui mais de quarenta anos de idade, muitos têm a

sua aposentadoria, outros ainda possuem outra ocupação além de ser

Lambe-lambe14.

Os Lambe-lambes do Parque Municipal consideram ser o seu

ambiente de trabalho bastante prazeroso, de ritmo agradável15,

completamente diferente do da maioria dos trabalhos modernos; chega a

14 Ver em CRAV, 2002 – “História Social de Belo Horizonte, o olhar dos fotógrafos Lambe-lambes”; 15 Diagnóstico da situação e condições de trabalho dos ambulantes do Parque Municipal Américo René Gianetti, administração do Parque – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Saneamento Urbano, Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, coordenadora: Socióloga Ana Maria das Graças Beltrão, fevereiro de 2002. Foram nove fotógrafos entrevistados, todos do Parque Municipal em fevereiro de 2002, apenas dois responderam que não estavam satisfeitos com o trabalho, sendo que com isso estavam se referindo aos baixos ganhos e não ao clima aprazível do mesmo. Ainda sobre esse diagnóstico que visava nada menos que diagnosticar a situação dos ambulantes do Parque o que não se fazia anos,destaca-se que entre os entrevistados, nove, nenhum respondeu estar a menos de dez anos trabalhando no local. O mais velho entrevistado nascera no ano de 1936 e o mais novo nessa enquête em 1953, Rinaldo, há vinte anos no Parque. O primeiro a ser entrevistado foi o fotógrafo Tavinho, isso registrado no dia 17 de janeiro de 2002, sendo perguntado informalmente sobre os pontos dentro do Parque, sobre o sistema de rodízio de pontos acordado entre a categoria, satisfação com o próprio negócio, tempo na atividade, tudo de modo bem sintético, seguindo um roteiro de trabalho.

20

nos dar mesmo a impressão de que o modo de trabalho do Lambe-lambe

do Parque Municipal , e do trabalhador informal que de um modo geral

ali t rabalha se assemelha um pouco ao est ilo de um aposentado ou mesmo

o desempregado; longe de afirmar que não trabalham ou pouco trabalham,

pois há uma rotina diária, preocupações com dívidas etc. como em

qualquer outro tipo de ocupação profissional .

Dentro do que poderíamos chamar de “corredores da

informalidade” na região do hipercentro de Belo Horizonte, o Parque

Municipal é de fato uma região privilegiada, já que é onde ocorre

dispersão populacional dentro de uma área de alta concentração de

pessoas por área, sendo um local também considerado relativamente

tranquilo se comparado com as ruas do hipercentro.

Sobre as novas gerações de Lambe-lambes, se pôde observar que

de fato não está havendo renovação, e tão pouco procura para preencher

os pontos, e, são poucos os jovens que acompanham os Lambe-lambes na

função de ajudantes. O fotógrafo Chico Manco chega a brincar “somos

dinossauros aqui dentro do Parque”; o seu filho, que tem dezoito anos e

que eventualmente trabalha como seu ajudante, já não está mais tão

interessado em ir ao parque, segundo o fotógrafo porque, “está

interessado em outras coisas” como, ingressar na universidade.

21

1.1.Breve nota sobre a origem do ‘Lambe-lambe’

“O Lambe-Lambe é o seguinte: nós tomamos o nome

do Lambe-Lambe pela ant iguidade, por que eu sou

ant igo mas antes de mim tem outros muito mais

ant igos, já morreram. Há 150 anos atrás exis t ia

Lambe-Lambe. Então esses ant igões , mui to mais

ant igos do que eu , t inham a moda de bater a chapa

preto-e-branco e assoprar o negat ivo pra caloria do

nosso ar da boca, né , a judar a secar . Aí o pessoal

passava, olhava ass im: ‘ó é o lambe –lambe, e le es tá

lambendo o f i lme! ele es tá lambendo! , a í colou.” 16

Segundo o historiador da fotografia, Boris Kossoy

(KOSSOY,1980), a origem do termo ‘Lambe-lambe’ está associada a uma

nova fase da expansão da indústria fotográfica no Brasil, sendo o

momento em que os fotógrafos saem dos estúdios e ganham as ruas,

dando assim importante passo rumo ao irreversível processo de

popularização da linguagem das imagens. Foi justamente nessa ‘saída

para as ruas’, que o público batizou o fotógrafo de “Lambe-lambe”. Uma

vez o fotógrafo trabalhando na rua, o público acompanhava o processo de

produção daquelas imagens: “Nos estúdios, eles também lambiam, só que

ninguém via” (VILAÇA: 14,2001).

O termo ‘Lambe-lambe’ se refere a um teste que se faz para

verificar de que lado estava a emulsão de uma chapa, fi lme ou papel

sensível. Para evitar o erro de colocar a chapa com a emulsão voltada

para o fundo do chassi, o que deixaria fora do plano focal e portanto, com

falta de nitidez, costumava-se, (não só o fotógrafo lambe-lambe, mas

como qualquer outro fotógrafo que uti lizava câmeras de grande formato),

molhar com saliva a ponta do indicador e do polegar e fazer pressão com

16 Sr.José Marcos, Lambe-lambe da Praça Rui Barbosa, entrevista à Glória Amarante em 20/02/2002

22

esses dois dedos sobre a superfície do material sensível num dos cantos

para evitar manchas. O lado em que est ivesse a emulsão seria

identificado ao produzir uma leve impressão de "colagem" no dedo.

Segundo a pesquisadora Maria Rita da Silva Lubatt i (LUBATTI,

1982), o termo ‘Lambe-lambe’ provém do costume de se colocar a chapa

de vidro que continha o formato da fotografia a ser batida, entre os

lábios, de modo que o fotógrafo, na hora de bater a fotografia,

reconhecesse facilmente o verso e o anverso da mesma, já que, no método

antigo, a chapa tinha que ser colocada na máquina com o lado sensível

para frente da pessoa que ia ser fotografada.

Afirma ainda Boris Kossoy, que "a origem do termo lambe-lambe é

controvertida. Segundo alguns lambia-se a placa de vidro para saber

qual era o lado da emulsão o que explicaria o nome. Tal fato, porém,

parece pouco viável , pois o simples tato, ou a observação da chapa em

local escuro mostra qual o lado da película sensível . Há quem diga que

se lambia a chapa para fixá-la, porém a origem mais viável parece estar

ligada ainda ao antigo processo da ferrotipia. Este processo envolvia

uma camada de asfalto sobre uma chapa de ferro de mais ou menos 1mm

sobre a qual era aplicada a emulsão. Após a revelação com sulfato de

ferro, o fotógrafo lambia a chapa, fazendo com que a imagem se

destacasse do fundo preto asfáltico pela ação do cloreto de sódio

existente na saliva"(KOSSOY,1974) .

Talvez tenha sido D. Zita (CRAV, 2002), pioneira do sexo

feminino na profissão, quem tenha dado a explicação mais precisa,

exatamente por descrever todo o processo, como ela trabalhava com a

máquina Bernardi:

“(. . . ) O “real lambe- lambe” é justamente o lambe-lambe da

máquina do tripé, é aquele lambe-lambe que fazia a revelação

aqui, na hora. Normalmente, ele marcava 15 minutos depois que

t irava a foto, era foto preto-e-branco, e quando a gente revelava a

foto e colocava ela no f ixador, que estava prontinha e t irava ela

do f ixador e lavava, aí a gente passava ela assim na boca né, que

23

era pra secar a foto, pra não f icar muito molhada pra fazer a

cópia. ( . . . ) Lambiam mesmo, né. A chapa era lambida pra… não se i

se pra clarear, pra t i rar o excesso de água, é , da chapa. Era pra

t irar o excesso. E por isso é que chamava “lambe-lambe(.. ) Mas

com o tempo isso foi assim acabando(. . .) a gente fazia um

foguinho, um fogareirinho com álcool, e secava a chapa no

fogareiro. Aí passou e foi esquecendo de dar a lambida na chapa.

Mas muitos continuaram ainda…”

A jornalista Margareth Grillo, para o jornal nordestino “O

Foco”17, conta que, naquela região, além da terminologia ‘Lambe-lambe’

são usadas as seguintes para distinguir a categoria: Ventania, Mão-no-

saco e Bufete. Ventania vem do fato de o ofício se dar em campo aberto,

e obviamente, ficar exposto ao vento. Mão-no-saco vem de a câmera ser o

próprio laboratório improvisado; na hora de revelar, o fotógrafo enfia a

mão dentro da câmera para fazer a revelação, através de aberturas, como

sacos ou meias, que impedem a entrada de luz, e Bufete, segundo ela,

vem do movimento que o fotógrafo faz enquanto está revelando com a

mão, com o seu braço enfiado na câmera, através do saco ou meia. O

cliente fica sentado em frente a câmera, parecendo que vai levar um soco.

O modelo de máquina inicialmente utilizado (posteriormente

copiado e recopiado) foi o de Francisco Bernardi, introduzido no Brasil ,

aproximadamente no ano de 1915. Francisco Bernardi era em italiano

que, na cidade de Bolonha, trabalhava como fabricante de acessórios

fotográficos. Como também era fotógrafo e precisava se deslocar,tentou

incorporar o laboratório à própria máquina. Desta idéia, resultou a

primeira máquina de jardim que permitia atender encomendas em vários

lugares e atuar como ambulante. Era nada mais que o modelo da caixa

escura, ou câmara escura, o qual alguns dos Lambe Lambes entrevistados

neste trabalho concordaram ser muito fácil reproduzir, não sendo, todavia

o de Bernardi exatamente o único, tão somente o mais conhecido. Ainda 17 Jornal O Foco: “Lambe-lambe, a profissão que a tecnologia desbancou”, por Margareth Grillo - http://www.ofoco.natalrn.net/Lambe.htm, visitado em 30/10/2003.

24

no século X, no oriente médio, um inventor de nome Aihazen, já havia

fei to uma descrição de como se observava um eclipse solar no interior de

uma câmara escura18, que era nada mais que um quarto sem nenhuma luz,

mas com um orifício numa de suas paredes o qual permitia projetar na

parede oposta uma determinada imagem na posição invertida. Tal método

era muito popular na Itália dos séculos XV e XVI entre figuras como

Leonardo da Vinci como recurso para melhor reproduzirem a realidade

em seus desenhos e em sua pintura.

18 SENAC. DN. Fotógrafo: o olhar, a técnica e o trabalho. / Rose Zuanetti; Elizabeth Real, Nelson Martins et al. Rio de Janeiro: Ed.Senac Nacional,2002. 192p.

25

2. No rastro da extinção: o Lambe-lambe em algumas praças pelo Brasil

O Lambe-lambe como profissional das ruas em cidades de médio e

grande porte pelo Brasil vem despertando o interesse de jornalistas e

pesquisadores de diversas áreas das ciências humanas, devido ao fato de

sua atividade passar a ser tida como “em extinção” e sua figura

considerada como a se um “sobrevivente”, frente à expansão da grande

indústria fotográfica mundialmente, a qual não cessa de lançar máquinas

fotográficas a preços populares, o que, teoricamente, “quebrou” o

tradicional Lambe-lambe.

Ao fazer um levantamento de matérias de jornais, t rabalhos

acadêmicos ou mesmo governamentais (FREITAS, 2001) cujo tema é

especificamente o trabalho do fotógrafo Lambe-lambe, entre 1981 a 2004,

pudemos constatar alguns problemas enfrentados por eles, de um modo

geral, bem como, de modo comparativo, compreender porque a situação

vem se tornando desfavorável aos que querem se manter no ofício.

O objetivo do presente capítulo é dessa forma traçar um panorama,

ou seja, traçar em termos bem gerais, a situação do Lambe-lambe pelo

Brasil. As matérias aqui comentadas trataram em geral do Lambe-lambe

como fenômeno em extinção, a maioria delas relacionando o fato à

decadência das praças a jardins públicos em que atuam. Outras irão

relacionar o fim do Lambe-lambe ao advento de novas tecnologias em

fotografia, barateamento e conseqüentemente popularização do aparelho

fotográfico, o que fez com que a clientela certo modo não precisasse mais

do Lambe-lambe. Outros fatores são também recorrentes, ilustrados nas

próprias falas dos fotógrafos, como “a chegada do filme colorido” ou

“essa praça hoje está uma sujeira”.

26

Vitória

Em “Os lambe-lambes do Parque Moscoso”, livro publicado pela

secretaria de cultura do município de Vitória-ES destaca-se a semelhança

no modo como seus autores o tratam aquele Parque Municipal com o

modo como também é descrito o Parque Municipal Américo René Gianetti

em Belo Horizonte: “Ilha Verde no coração da capital” , “aprisionada

entre prédios e avenidas” , “sobrevivendo a uma era moderna em que as

pessoas não o valorizam como antes” etc.

Os Lambe –Lambes são colocados como testemunhos oculares do

processo de modernização mal planejada a qual resultou em de

descaracterização do centro urbano, que antes, segundo o estudo, era

muito bem freqüentado contendo salas de cinema e espaço de lazer para a

população. O l ivro, que fora lançado no ano em que aquela capital

completava seus 450 anos traz a preocupação com projetos de

revitalização e melhoria e é editado juntamente com a re-inauguração de

um parque recém reformado. Os fotógrafos do Parque foram então, na

ocasião, entrevistados, mais uma vez no espírito nostálgico daqueles que

insistem em falar sobre: “Aquele tempo bom que não mais volta.. .”.

Os Lambe-lambes do Parque Moscoso falaram sobre sua história ali

naquele ambiente tranqüilo de parque público, bem como de suas

dificuldades principalmente nas últimas décadas em conseguirem se

manter na profissão hoje tão desvalorizada. Seu autor conta ter

encontrado 6 deles onde em outra época haviam 36; colhera diversas

declarações e lamentos do tipo:

“As lojas tiram fotografia na hora, e coloridas. (. . . ) No tempo

antigo só o Lambe- Lambe entregava foto na hora”

27

“Hoje em dia qualquer um pode comprar máquina

fotográfica”,

“Lambe-Lambe é uma coisa que já passou, mas, ele contribuiu

muito e teve um papel importante para a sociedade”,

entre outras.

Outra semelhança dos entrevistados de Vilaça com os que

entrevistamos no Parque Municipal Américo René Gianetti é o tempo de

serviço como fotógrafo de rua – ninguém com menos de dez anos. De seis

entrevistados por ele dois têm mais de sessenta anos de idade, um tem 30

anos de Parque Moscoso, e o mais novo deles tem mais de 40 anos de

idade.

O Parque Moscoso foi inaugurado em 29 de maio de 1912. Assim

como o Parque de Belo Horizonte, inaugurado em 189619, o Parque

Moscoso também era um parque aberto inicialmente que foi gradeado na

década de 1970. Os primeiros Lambe-lambes daquele parque iniciaram

suas atividades na década de 1930.

Região Nordeste

Margareth Grilo20, em reportagem para o jornal O Foco, especializado em

fotografia, disse que na cidade de Recife chegaram a existir 60 lambe-lambes, e hoje há

apenas quatro deles. Em Campina Grande, dos dez existentes até os anos 90, só resta

um. Em Natal, “a figura do lambe-lambe já está em extinção há mais de quinze anos”,

conta a repórter. Em João Pessoa, dos 40 lambe-lambes que existiam restam apenas

nove. E destes nove, segundo ela, apenas um usa o processo instantâneo, sendo que os

19 Ver em CVRD. Companhia Vale do Rio Doce: Parque Municipal - Crônica de um século. Belo Horizonte: CVRD, 1992. 20 Jornal O Foco – Lambe-lambe, a profissão que a tecnologia desbancou, por Margareth Grillo - http://www.ofoco.natalrn.net/Lambe.htm, visitado em 30/10/2003.

28

demais usam as antigas câmeras “apenas como fachada” para chamar atenção da

clientela.

“Na tentativa de resgatar um pouco da história do

fotógrafo instantâneo, a equipe d’O Foco esteve em João

Pessoa e se deparou com uma infeliz realidade. Dos 40 lambe-

lambes que existiram nessa cidade, há bem pouco tempo,

restam apenas nove. E destes nove, apenas um usa o processo

instantâneo”

Reportagem do Jornal O Foco

Ainda em João Pessoa, na Paraíba, o Lambe-lambe Manuel

Antônio Batista foi entrevistado pela equipe do Jornal O Norte21. Manoel

faz parte de um grupo de oito fotógrafos, que atua na Praça Pedro

Américo, centro daquela cidade. Eles fazem fotos 3X4 ao preço de R$

5,00 o pacote com oito, segundo a matéria.

"Tem dia que a gente não faz nenhuma foto. Mas, isto é raro,

porém vem acontecendo. Com essa tecnologia avançada a

procura por este tipo de fotografia, como a que a gente faz

aqui, vem caindo".

"Não adianta a gente ficar só fotografando em preto e

branco, porque as pessoas pedem foto colorida. Mas, ainda

tem gente que quer do modelo antigo, só que às vezes

também falta material" . 21 Jornal O Norte,edição on-line, 19 de agosto de 2004, “Modernidade versus tradição”, http://www.jornalonorte.com.br/paraiba/?35257 , visitado em 29/09/2004.

29

Manuel, segundo a reportagem, tem 84 anos de idade, e

aproximadamente 60 como fotógrafo.

"Ainda tem gente batendo foto como a gente em muitos locais .

No Rio de Janeiro tem fotógrafo como a gente, por exemplo. Acho

que isso aqui não acaba nem tão cedo"

- disse Manoel que “criou os fi lhos na Praça Pedro Américo” , e

que, um deles, o mais velho, também trabalha na Praça. Contou ainda que

“antes as pessoas faziam até filas para tirar fotografia na Praça Pedro

Américo”. E que muito político já passou pelo banco de fotografia e já

foi clicado por ele: "Já tirei muita foto de gente importante. Hoje,

muitos nem olham para a gente e esquecem que existimos" .

São Paulo

Segundo Maria Rita da silva Lubatti (LU BATTI,1982) :

“Os lambe-lambes são aposentados sem qualif icação

profissional, descendentes de i talianos e de espanhóis. Os que

trabalham com máquinas modernas procedem de vários

estados do Brasil; há predominância de mineiros, nortistas e

nordestinos. Trabalham como operários assalariados; nos f ins

de semana e feriados fotografam empregadas domésticas,

casais de namorados e crianças que costumam passear em

logradouros públicos. Alguns atendem também chamados a

domicílio, para fotografar batizado, aniversário, noivado e

casamento.”

Ela também afirma que eles não gostam de se identificar tampouco

falar sobre a profissão. E que são homens carrancudos, esquivos ao

diálogo. De toda forma a pesquisadora consegui se aproximar de um

30

deles, Ângelo Morais, fotógrafo atuante no Jardim Estação da Luz cidade

de São Paulo. Segundo Ângelo, nas décadas de 1930 e 1940 o Jardim da

Luz e também o Parque Dom Pedro II em São Paulo “eram freqüentados

por moças ricas da Avenida Paulista e Jardim Europa” e agora, conta (o

art igo foi publicado em 1982) “só dá gente de fora, gente esquisita, às

vezes, chego a ter medo de trabalhar por essas bandas, pois aqui tem um

vaivém terrível; gente que namora, que toca violão e canta debaixo das

árvores, largada no gramado ou sobre os banquinhos. Outros trazem

crianças e animais para brincar e passear – há marreteiros que vendem

tudo fazendo uma gritaria dos diabos – mas o problema é que fomos

esquecidos, desde que surgiram os jovens com as máquinas fotográficas e

as lojas. As lojas, essas sim são nossas concorrentes e tiram o pão da

boca da gente – foram elas que liquidaram com o lambe-lambe, pode

crer” 22.

Lubatt i , que nessa época, identificou 10 fotógrafos nos jardins

públicos de São Paulo, conta que seu entrevistado também atuava como

fotógrafo fora dali, cobrindo festas e casamentos. Observa ainda, que

seus fregueses eram “pessoas humildes ou provenientes das cidades

interioranas empregadas domésticas, elementos da classe operária,

moradores dos subúrbios ali a passeio ou a trabalho”.

Boris Kossoy (KOSSOY,1974) conta que na década de 20, trinta

fotógrafos atuavam no Jardim da Luz na e que, entre 1915 e 1955, 50

fotógrafos atuaram no Parque D. Pedro II e outros 50 nas praças públicas

de São Paulo, e que em 1974, apenas 15 fotógrafos ainda atuavam na

cidade, sendo que segundo ele, 8 deles no Jardim da Luz.

Simonetta Persichetti23 contou nove no Jardim da Luz em 1981,

segundo ela “os últ imos remanescentes dos folclóricos lambe-lambes” .

Persichetti , entrevistando Zé Garcia, um veterano, naquela época com 30

anos de Jardim da Luz, observa que ele e seus colegas não mais

22 LUBATTI , Maria Ri ta da Si lva . Vendedor ambulante , profi ssão folclórica: pesquisa nas ruas, parques e jardins de São Paulo . Escola de Folclore: Secretár ia de Estado da Cul tura, 1982 23 PERSICHETTI, Simonetta. Lambe-Lambe: a câmera automática no lugar da velha caixa. In Revista Íris foto n.334, 1981

31

utilizavam a máquina ‘Bernardi’ ou máquina ‘Caixote’, tradicional

Lambe-Lambe para fotografar, permanecendo com ela apenas como forma

de chamar a atenção do cliente, bem como para mostruário. Utilizavam,

já na época, uma máquina comum, recorrendo aos laboratórios

convencionais para revelarem suas fotos. Garcia que antes de ser lambe-

lambe havia trabalhado como sapateiro, conta que quando começou

(depois de ter feito um curso especializado para fotógrafos de jardim),

havia 18 colegas trabalhando com ele no Jardim da Luz. Contou que eles

eram divididos em pontos e faziam rodízio, permanecendo uma semana

em cada ponto, de modo a todos pudessem usufruir dos melhores locais .

O fotógrafo Fefé do Parque da Luz entrevistado pela equipe do

jornal virtual Sampa Centro24 conta que aquele parque nas décadas de 40

e 50 era desprovido de grades, como o Moscoso de Vitória e o Municipal

de Belo Horizonte, ambos gradeados na década de 1970.

A referida reportagem, do ano de 2001, conta o fotógrafo Fefé

como o último remanescente no Parque da Luz.

Aparecida do Norte

Em Aparecida do Norte, pólo do turismo rel igioso no estado de São

Paulo, a reportagem do jornal Notícias de Itaquera25 colheu informações

daquele que seria o último Lambe-lambe de Aparecida, SR.Antonio

Monair. Segundo a reportagem, Sr. Moanir, aos 68 anos de idade,

trabalhava ali , perto da igreja (Igreja Velha de Nossa Senhora Aparecida)

há 45 anos, chegando a ter 80 companheiros de ofício. Conta que muitos

de seus colegas mais recentes passaram a trabalhar com a câmera

Polaroid, tecnologia que ele então passará também a adotar,

argumentando que por tiras fotos instantâneas coloridas, a Polaroid é

mais vantajosa de se trabalhar do que a velha Lambe-lambe, também

instantânea, porém preto e branco.

24 http://sampacentro.terra.com.br/textos.asp?id=430&ph=17, visitado em 08 de2004 25 Jornal Virtual Noticias de Itaquera - Ano XXIV,Edição nº 821, outubro de 2003, em www.notíciasdeitaquera.com.br, visitado em 01/10/2004;

32

“As câmeras lambe-lambe fazem três fotos iguais e em

preto e branco(. ..)Todo mundo que vem aqui pergunta se a

foto é colorida, como não é, perco muito serviço ”

Santos

Segundo o escritor Narciso de Andrade, ao contar a história de

famosa praça pública da cidade de Santos, a Praça dos Andradas, datada

de 182226, e que mais tarde ficou conhecida como “Praça dos Fotógrafos”,

justamente por ter se tornado local de trabalho de fotógrafos de rua,

pioneiros, em sua época e sucessores, segundo o autor de fotógrafos

europeus que ali chegaram no final do século XIX, os Lambe-lambes não

mais existem, perdendo assim o sentido de aquela praça se chamar “Praça

dos Fotógrafos”

“Conhecidos como lambe-lambes, em função de sua

técnica de reaproveitamento das chapas fotográficas

nas máquinas tipo caixão, os fotógrafos de rua de

Santos acabaram se concentrando na Praça dos

Andradas, até desaparecerem na década final do

século XX”

O escritor associa a decadência do Lambe Lambes naquela praça

pública à própria decadência do local, que a partir da segunda metade do

século XX sofreu um processo de descaracterização.

“Durante o dia, os lambe-lambes ainda teimavam em

exercer ali a sua profissão, geralmente único meio de

subsistência, ao lado de ciganas leitoras da sorte,

alguns engraxates tradicionais , bancas de livros e 26 Jornal A Tribuna. Texto publicado na edição de 7 de junho de 1998 do caderno AT Especial.

33

revistas usados e algum ocasional camelô demonstrando

seus produtos com truques circenses para atrair o

público”.

Ainda nessa matéria o escritor Narciso cita matéria da jornalista

Leda Mondin, que, em 3 de março de 1983, ao enfocar o Centro, citava:

"Santos está perdendo mais um pouco da sua tradição: só restam dois

dos tradicionais fotógrafos que retrataram a praça e os visitantes que a

ela acorriam nos últimos 60 anos. Sabe-se lá quanto tempo mais esses

dois últimos vão resistir" . Em 2001, conta Narciso, apraça foi reformada

e revitalizada, e ganhou gradeamento em seu perímetro, e que não haviam

lá os fotógrafos depois dessa última reforma.

Porto Alegre

Na reportagem para o Jornal Já de Porto Alegre Sinara Sandri e

Carlos Carvalho27 a linha é a mesma: “O destino dos fotógrafos

ambulantes não é exceção em Porto Alegre. Assim como aconteceu em

várias outras capitais e cidades brasileiras, a profissão está

praticamente extinta.. .”. Eles entrevistaram o fotógrafo Varceli Freitas

(reportagem consultada em setembro de 2004) o qual afirma ser o último

em atividade naquela cidade. Varceli atua na Praça XV, centro da capital ,

desde aos dez anos de idade, e, conta que na década de 1970, existiam 25

Lambe-lambes trabalhando ali também. Começou como ajudante do Pai,

também Lambe-lambe, quando lavava as cópias que ele fazia; outros três

irmãos também ajudavam.A reportagem destaca ainda o processo de

descaracterização que sofreu aquela praça ao longo dos anos apontando 27 Jornal virtual ‘JornalJá’, “O último lambe-lambe de Porto Alegre”,por Sinara Sandri e Carlos Carvalho http://www.jornalja.com.br/detalhe_fotografia.asp?fid=5, visitado em 22/10/2004.

34

também a mudança da característica do público freqüentador.A exemplo

do Parque Municipal em Belo Horizonte, Parque Moscoso em Vitória ou

da estação da Luz em São Paulo, é descrita, como um lugar “bem

freqüentado” no passado e que se descaracterizou em uma etapa mais

recente.

O “Chalé da Praça XV”, tipicamente um local no centro urbano que

sofreu um processo de desvalorização. O curioso é vê-lo descrito em mais

de uma vez como o “local onde ainda se encontram os últimos Lambe-

lambes”:

“Construção de 1874 em esti lo Romântico normando e traços

art-noveau, fei ta com estrutura de aço desmontável inglesa

adquirida na feira internacional de Buenos Aires em 1915. Era

um restaurante tradicional do centro de Porto Alegre,

freqüentado pela alta sociedade e posteriormente por boêmios e

intelectuais. Tombado como patrimônio histórico em 1998.

Atualmente foi restaurado e reaberto , em 1999 como um

restaurante escola do SENAC, especializado na culinária

gaúcha, mantendo até hoje os i lustres ladrilhos originais. Nele

se concentram os últ imos fotógrafos Lambe-Lambe.” 28

Reclama Varceli:

“Olho em volta e está tudo desfigurado. Só tem

vagabundo. Quem vai vir até aqui para bater fotografia?”

Brasília

Reportagem do Jornal Correio Brasiliense29 de 2001, trata da

“fidelidade” de profissionais como o alfaiate, sapateiro, relojoeiro e

Lambe-lambe, aos seus ofícios “cada vez mais raros”; entrevistado pelo

28 http://www.citybrazil.com.br/rs/portoalegre/turismo.htm, visitado em 27 09 2004 29 Jornal Correio Brasiliense, domingo 29 de agosto de 2001, “Como antigamente”, http://www2.correioweb.com.br/cw/2001-08-26/mat_10256.htm, visitado em 17/08/2004

35

referido jornal , o fotógrafo Geci Amaro de 62 anos, afirma que já tem 54

como fotógrafo. Ele conta que aprendeu a fotografar com a tradicional

Lambe-lambe, com apenas oito anos de idade. Trabalha na praça do

relógio desde 1965;

“Aqui ser Lambe Lambe só serve de chamarisco, mas

quando vou ao Rio de Janeiro a história é diferente”

Geci contou que trabalha de tempos em tempos na Praça Tiradentes, cidade do

Rio de Janeiro, onde segundo ele ainda encontra material para fotografar no método

antigo, bem como clientes interessados em fazer fotografias no autentico Lambe-lambe,

ou seja, em preto e branco e na chapa de vidro. Conta ainda Geci que para sobreviver no

mercado ele adquiriu uma Polaroid sem a qual “não acompanharia a dinâmica atual”:

“O Lambe-Lambe aqui de Brasília que não comprou

uma máquina moderna está morrendo de fome”

36

3. "Metamorfose Ambulante": Lambe-lambe - de profissional

artístico a subempregado

“Todas as grandes descobertas técnicas

são, sempre,origem de crises e

catástrofes. Os velhos ofícios

desaparecem e surgem outros novos. Em

todo caso, o seu nascimento significa

processo , mesmo se as atividades por

eles ameaçadas estão condenadas a

sucumbir” 30

Neste capítulo, além de se colocar em questão a “queda de status”

sofrida pelo Lambe-lambe durante décadas, há também o objetivo de se

questionar o próprio conceito de ‘profissional artístico’ a ele atribuído. A

figura do Lambe-lambe como um profissional tradicional, ou seja, aquele

cujo ofício é passado de pai para fi lho, é perfeitamente questionável, isto

se levadas em consideração as informações sobre a trajetória profissional

da atual geração de Lambe-lambes de Belo Horizonte.

A Sociologia das Profissões(LEITE&SILVA, 1996), de uma

maneira geral, se preocupa com o modo pelo qual transformações na

estrutura produtiva de uma sociedade incidem sobre como vivem as

pessoas que dela fazem parte, se inserindo direta ou indiretamente em

setores de sua economia, se firmando, como uma disciplina que busca

reflexos estruturais para condições de surgimento ou desaparecimento das

diversas atividades econômicas.

O fotógrafo Lambe-lambe, como vimos, é uma categoria

profissional que veio enfrentando no decorrer dos anos, vários tipos de

30 FREUND, Gisèle. Fotografia e sociedade.Lisboa: Ed.Vega, 1974

37

problemas: as praças onde trabalha hoje atraem outro tipo de público, a

antiga máquina caixote se tornou obsoleta, e o termo “Lambe-lambe”, de

certa forma pejorativo. Ele assistiu ao que sociologicamente se pode

chamar de uma “queda de status”. Se, na década de 1940, a sua renda o

enquadrava nos padrões de um profissional liberal , hoje em dia ele é mais

um no setor informal.

Recorrentes são, como vimos no capítulo 2, as matérias e

art igos que enquadram o Lambe-lambe como categoria profissional em

extinção, ou até já extinta, costumando, algumas delas associá-los aos

profissionais de uma era pré-industrial ou artesanal , na qual o comum era

a transmissão de um saber profissional de geração a geração. Francis

Rose, por exemplo, em matéria para o jornal o Estado de Minas31 cita

como profissões tradicionais que estão em fase de extinção: o datilógrafo

(e conseqüentemente o trabalhador ou técnico especializado na

manutenção desse t ipo de equipamento), o alfaiate, o carpinteiro de

aeronaves, o lanterninha de cinema, o ferreiro, e o tipógrafo. O

documentarista Cao Guimarães em seu vídeo sobre profissões em

extinção32,cita: a parteira, o benzedor, o relojoeiro, ascensorista,

lanterninha, faroleiro, engraxate, amolador de facas, recarregador de

isqueiros, um funcionário de uma ferrovia desativada e até um ‘maestro’

de galos, todos eles considerados profissionais em extinção.

O filme de Cao Guimarães, assim como a reportagem de Francis

Rose, deixam transparecer o quanto esses “sobreviventes” estão

associados a uma época de crise do trabalho33, explosão do setor informal

e de falta de oportunidades típicos de uma época pós-industrial e de

capitalismo global . Em tal contexto, parece não haver espaço para o

profissional artístico, não havendo também espaço (ou tempo) para a

31 Jornal Estado de Minas, domingo, 23 de fevereiro de 2003, página 25, edição empressa. 4 “O fim do sem fim” de Beto Magalhães, Cao Guimarães, e Lucas Bambozzi - Brasil 2000, 93 min 33 “(...)O trabalho torna-se cada vez mais raro em nossa sociedade. A desvairada competição que se instala

entre os trabalhadores e entre as nações gera uma grave deterioração nas relações entre as pessoas, e a

microeletrônica representa uma ameaça para a sociedade.”(AWED,1999:5)- ver também em KRISIS,

Grupo, Manifesto contra o trabalho, São Paulo.1999, e também em HOBSBAWM, E. Mundos do

trabalho. Rio de Janeiro. Ed. Paz e Terra, 1987.

38

transmissão dos “saberes tradicionais” aos quais se refere à pesquisadora

Jerusa Ferreira, segundo a qual:

“Um mestre de um ofício é sempre um sabedor,

alguém bastante diferente que encarna um semideus, um

pactuante com o sobrenatural, um detentor de um tipo

de liderança, sobretudo por ser ele aquele que

transforma, que inaugura um novo estado cultural . É da

sua memória que se projeta a construção do

mundo(.. .)”(FERREIRA,1996:103) .

Entre os ofícios tradicionais em vias de extinção acima

relacionados, alguns estão condenados a sucumbir, outros a se

transformar, devido ao processo de ‘modernização’ (CBO 2002

Ministério do Trabalho e Emprego) forçando o trabalhador a se adaptar

ou simplesmente migrar para outro tipo de serviço. Um exemplo: quem

foi datilógrafo se transformou em digitador, mas isso somente porque

restava demanda por aquele tipo de serviço; também o alfaiate e o

sapateiro, profissões tradicionais, são forçadas a adaptações, a medida

que se expande a indústria de confecções. Em todo caso, para esse tipo de

profissional há a opção de ser aquele que oferece um tipo de serviço

diferenciado, e por isso valorizado.

Para Bernadete W.Aued(AUED.1999:7),

“A aceleração do processo de extermínio de profissões

marca com ferro e brasa os profissionais do século em

questão. A profissão de perfurador de cartões, em alta nos

anos 70 do século XX, não encontra guarida no mercado de

trabalho nos anos 90; ou seja, dentro de uma mesma

geração. Ferramenteiros, temporariamente afastados para

exercer mandato sindical, ao retornarem, encontram a

fábrica metamorfoseada. A ferramentaria deste final de

39

milênio é uma sala ocupada por engenheiros e seus

computadores. Em quase nada lembra o tempo social em que

os ferramenteiros tinham importância decisiva na

fábrica(. .. )”

Essa autora introduz o conceito de metamorfose34 para dizer que

nenhuma profissão está imune a crises, à probabilidade de um dia também

sucumbir, pois a “é a própria sociedade que está em constante

movimento”. Ela propõe desse modo uma reflexão histórica acerca das

“metamorfoses sofridas pelas profissões”.

A extinção de profissões, desse modo, evidencia uma sociedade em

movimento, uma sociedade em período de transição AUED (1997:9). Ao

conceito de metamorfose social, se junta o de “época social”35, segundo o

qual “uma época social sucede a outra, cada uma levando com sigo

hábitos e costumes, bem como atividades relacionadas a seu respectivo

modo de produção”.

O Lambe-lambe dessa forma, pertencente ao quadro dos

“resistentes” é mais um que também se adaptou, seja aprimorando o modo

como presta o seu serviço, seja contando com novas parcerias (Projetos

de lei que incentivam a cultura e o turismo, etc. como veremos em

‘Conclusão’) . O romantismo que sua figura inspira, todavia parece não

ter se abalado, pois é geralmente associado a momentos de lazer e

relaxamento, bem como a toda magia em torno do fenômeno da

fotografia. Notório é, dentro da pouca literatura existente sobre o

fotógrafo Lambe-lambe (MESQUITA, 2000) (FERNANDES, 1998)

(LUBATTI, 1982) o tratamento superficial e às vezes romanceado a ele

34 Segundo Bernardete W. Aued, “metamorfose” é a “invenção de situações intoleráveis (...) Dela não escapa o personagem social caixeiro viajante e também a sua família. Ambos precisam conviver com a metamorfose, independentemente de vontade e de aceitação”.(AUED,1999:9) 35 O Brasil do século XVI, por exemplo, se voltava ao comércio exterior extraindo pau-brasil e trabalhando a cana de açúcar. Haviam por aqui nessa época profissionais como serradores, administradores de engenho, caçadores de índios e escravos, artesãos etc. No século dezoito,aqui já se desenvolviam as primeiras indústrias têxteis, e assim por diante até o séculos XX e XXI, entrando em cena indústrias como a automobilística e a eletrônica, surgindo como consequência profissionais tais quais, engenheiros, técnicos em mecatrônica, tecnólogos em informática etc. Profissionais como chapeleiros, alfaiates, costureira, sapateiro e o barbeiro são por ela enquadrados na época entre 1913 (época social do surgimento da indústria automobilística) e início da década de 1970, quando começa também a informatização industrial.

40

atribuído, o que pouco contribui com quem quer compreender o que

significa ser trabalhador informal na conjuntura atual.

Ao analisarmos a trajetória profissional (Quadro 1 .) dos Lambe-

lambes de Belo Horizonte, pudemos notar que poucos deles, de fato a

minoria, se enquadra em um perfi l de fotógrafo tradicional , nos termos de

Jerusa Pires. De fato, o atual Lambe-lambe, passa longe de ser um

mestre, ou de ter aprendizes (não que alguns não tenham sido). São

pessoas provindas de famílias de não al to padrão sócio-econômico, que

vieram para a capital em busca de emprego, tendo exercido ao longo de

sua trajetória outras atividades, informais ou com carteira assinada.

Observou-se que, de quatorze profissionais entrevistados, apenas dois

nasceram na cidade de Belo Horizonte, e que, também apenas dois (por

sinal, exatamente os que aqui nasceram), tiveram como Lambe-lambe a

sua primeira ocupação. Nota-se ainda que todos eles estão há mais de 20

anos na atividade de fotógrafo ambulante, sendo a sua media de idade

também elevada (nenhum entrevistado tinha menos de 35 anos de idade).

As atividades por eles exercidas antes de chegarem a ser Lambe-

lambes, ocupação que em nem todos os casos foi motivada pela paixão

pela fotografia ou pelo estímulo de um pai fotógrafo, independente do

fato de hoje gostarem ou não de ser fotógrafos, vão, desde agricultura e

pecuária, em fazendas remotas de propriedade alheia, até servente de

pedreiro e carpinteiro na capital, o que nos faz associar sua trajetória

profissional aos movimentos migratórios em direção aos centros urbanos

a partir da década de 1960 como à dinâmica da economia informal no

país .

A sua atividade como autônomo e ambulante o enquadra claramente

ao chamado “setor informal”, conceito que para a Organização

Internacional do Trabalho (OIT, 1972) é formado por um conjunto de

característ icas, como: (a) propriedade familiar do empreendimento, (b)

origem e aporte próprio dos recursos, (c) pequena escala de produção (d)

facilidade de ingresso, (e) uso intensivo do fator trabalho e de tecnologia

41

adaptada, e (f) aquisição das qualificações profissionais à parte do

sistema escolar de ensino36.

Para Maria Cacciamali, o trabalhador informal é aquele que além

de possuir as características acima mencionadas, “se orienta ara o

mercado exercendo simultaneamente as funções de patrão e empregado”

(CACCIAMALI,2000:155), não existindo para ele separação entre as

atividades de gestão e produção.

36 Em : CACCIAMALI , M. C. Global ização e processo de informal idade. Economia e Sociedade . Campinas , (14): 153-174,jun.2000

42

Tabela 1. Tra jetór ia prof issional de alguns fotógrafos Lambe-lambes das praças de Belo Horizonte;

F o t ó g r a f o L o c a l A n o / l o c a l d e n a s c .

A n o d e c h e g a d a a B e lo H o r i z o n t e

H á q u an t o t e mp o t r a b a lh a n d o ( o u t r a b a lh o u ) c o mo f o t ó g r a f o

A t iv id a d e s a n t e s d e s e r f o t ó g r a f o / O b s e r v a ç õ e s

A u g us t o P r a ça d a e s ta ç ã o

P a to s de Mi n a s / M G

1 9 6 6 3 4 a n o s F i s c a l d e e mp r es a , e n g r a xa te , c a r r e g ad o r d e ma la e m r o d ov iá r i a , ve n d e d o r , b a l c o n i s t a e m lo j a d e f o to g r a f i a ;

C a ma r g o P a r q ue Ma r t i n s C a mp o s / I b i t i r a / MG

1 9 4 2 4 7 a n o s C o me r c i a n t e

C h i c o Ma n c o

P a r q ue 1 9 5 2 , e m B e lo H o r i z o n te M G

_ _ _ _ ___ _

H á 4 4 a n o s - - - - - - - - - - - - - - - - -

I s a a c P a r q ue 1 9 2 6 n a E s p anh a

1 9 3 2 D e 1 9 5 0 a 1 9 8 9 - - - - - - - - - - - - - - - -

J o ã o G o m e s

P r a ça 1 º d e ma i o

1 9 5 5 e m C o ng o n h a s d o N o r te M G

1 9 7 7 2 0 a n o s V e n d i a “ e r v a s me d i c i n a i s p a r a c a lo s ” e “ m e x ia c o m c o b r a n a p r a ça ”

J o ã o L in o P r a ça d a E s ta ç ã o

1 9 5 5 e m T u r ma l i n a M G

1 9 8 5 1 9 a n o s L a v ra d o r /e m p r e s a d e ô n ib u s ( t r o c a do r ) o b s : V i a j a v a d e s u a c i da d e p a r a S ã o P a u l o e M G p a r a t r a b a lh os e s p o r á d i c os em fa z e n d a s – m e n c io n a v á r i a s v e z e s o “ se t o r d e m ig r a ç ã o ” ; o b s 2: t a mb é m é b o m c a r p in te i r o e d á m a n u te n ç ã o n a s má q u i na s a n t i ga s

J o s é Ma r c o s

P r a ça d a E s ta ç ã o

1 9 2 7 e m T a q ua r a çu d e Mi n a s /M G

1 9 4 4 4 7 a n o s C o mé r c i o , s e r v i d o r p ú b l i c o ( a po s e n ta do )

J o s é P in to

P a r q ue 1 9 3 8 Ma r t i m c a mp o s M G

1 9 6 5 3 9 a n o s C a r p in te i r o e m a r c e n e i r o o b s : C o n f e c c io n a o s c a v a l i n h o s d e o u t r o s La m b e - l a m b e s d o P a rq ue ;

P e d r o P r a ça d a E s ta ç ã o

1 9 4 9 , e m T u r ma l i n a M G

1 9 8 2 2 0 a n o s A g r i c u l t u r a e pe c uá r i a , s e r v en t e d e p e d r e i r o Ob s : e le e o J o ã o L in o c o n h e ce r a m o M a r t i ns , a n t i go f o tó g r a f o d o P a r q u e e v i e r am a p r e n d e r o t r a b a lh o , q u e e r a r e n t á ve l n a é p o c a .

T a v in h o P a r q ue 1 9 3 6 , M a r t i n C a mp o s M G

1 9 5 9 3 9 a n o s T r o ca d o r , s ap a t e i r o O b s : I r mã o d o J o ã o P in t o ;

Wa g n e r P a r q ue 1 9 5 4 , e m B e lo H o r i z o n te M G

- - - - - - - - - - - - - -

3 9 a n o s O b s : f i l ho d o f o tó g r a f o Ma x i mi l i an o

Wi l s o n ( “ P i a zz a ” )

P r a ça d a r o d ov iá r i a

1 9 4 8 , e m S e m P e i x e / M G .

1 9 7 0 3 0 a n o s A g r i c u l t u r a ,m a r c e n a r i a , f a x i n e i r o , c o mp a n h ia d e s e g u r o s ;

X a v ie r P a r q ue 1 9 4 0 , e m Ma r t i m C a mp o s M G.

1 9 5 9 4 0 a n o s G ad o / p ec u á r i a , e m p r e s a d e t r an s p o r t e , c o m o t r oc a d o r e mo t o r i s t a d e ô n ib u s , S L U , s a p a te i r o ; O b s : c o n h e c id o c o m o T o to n h o d a d u p la “ T av i n ho e T o r on h o ” ;

Z i t a P a r q ue 1 9 4 3 B r u ma d o d e P i ta n g u iMG

1 9 5 7 2 3 a n o s S e r v i ç o d o m é s t i c o , l o j a d e t e c i d os . O b s :V iú v a d e L a m b e -l a m b e .

43

Dessa forma, o lambe-lambe da atual geração, trabalhando com

uma máquina convencional e vendendo seu produto - a fotografia – como

quem vende um saco de pipocas, pode ser associado muito mais a um

trabalhador informal ou subempregado, do que a um “mestre de ofício”

pertencente a alguma tradicional família de fotógrafos, ou a um retrat ista

de praças da década de 1940.

É importante se reiterar todavia, que mesmo a atual Lambe-lambe,

salvo o exemplo de São Paulo (PERSICHETTI, 1981), onde chegou a

existir uma escola especializada em ensinar o ofício, tem como modo de

ingressar no trabalho, o mais tradicional, que é, o pai ensinando para o

filho ou, o que é até mais recorrente, um amigo, vizinho ou cunhado

passando aquele saber ao seu companheiro, no intuito de inseri-lo

naquela atividade comercial. O fotógrafo Chico Manco, por exemplo;

conta que aprendeu seu ofício com o Sr. Zizi, que foi marido de D.Zita,

(que por sinal assumiu seu ofício, t rabalhando no Parque ainda hoje)

Chico, que começou aos onze anos de idade, conta que era vizinho de

Zizi , se mostrando interessado em seu ofício:

“O Zizi morava perto da minha casa, no bairro Pirajá.

Então ele me chamou pra ajudar aqui pra lavar retrato pra

ele. Aí eu vim, me adaptei e gostei. (. . . ) Eu trabalhei de

ajudante com ele… Eu trabalhei muitos anos com ele. Até

adquirir uma certa idade… Até aos 15 ou 16 anos, nessa

faixa. E com ele eu aprendi a fazer as fotografias preto-e-

brancas. Eu lembro até qual foto, a primeira foto que eu bati ,

e onde que eu bati a primeira foto aqui no Parque... .”

Obs: os entrevistados de Glória também citam que realizam trabalhos

extra cotidiano como festas de família, festas religiosas, fato que

impressionou a socióloga o que a fez repetir a pergunta outras vezes foi o

fato de alguns deles já haviam tirado foto de “defunto”. (CRAV 2002)

44

Considerações sobre o Trabalho de Campo

Voltar a conversar com os fotógrafos do Parque Municipal, local

em que est ive trabalhando por dois anos , realizando atividades típicas

de um estagiário de educação ambiental , no trabalho com grupos de

crianças e adolescentes, não foi nada complicado, uma vez conquistada a

confiança de alguns dos fotógrafos, principalmente a do Fotógrafo Chico

Manco e a do Thomas , com os quais trabalhei junto na montagem de

exposição em comemoração ao aniversário do Parque , exposição esta que

visou valorizar o trabalho deles e de resultado muito satisfatório , dando

inclusive a oportunidade de estreitarmos as relações e de eu expor para

eles minha intenção de escrever sobre o trabalho deles. Em todo caso

sabia das limitações advindas de uma aproximação que se restringiria a

esses dois fotógrafos. Se por um lado, a convivência estrei ta e cotidiana

nos possibilitou informações raras, por outro o que tínhamos era, para

muitos assuntos, tão somente o ponto de vista daqueles fotógrafos a

respeito da categoria em geral.

Ter acesso às transcrições das entrevistas, (bem como aos

pesquisadores que a realizaram), realizadas por Glória Amarante em 2002

fora de fundamental importância no sentido de se comparar o seu método

de abordagem com o meu, bem como cruzar as informações obtidas.

Glória Amarante por exemplo se quer entrevistou o fotógrafo Thomas,

Lambe-lambe com o qual tive mais contato. A socióloga, por outro lado

teve acesso preferencial aos fotógrafos dos locais que não o Parque

Municipal, enquanto dei preferência ao Parque. Entrevistou por mais

tempo o fotógrafo Severino, já que o filho de Severino, Severino Júnior,

historiador, fazia parte de sua equipe.

De toda forma, as informações dadas pelos fotógrafos em ambas

ocasiões, quando devidamente cruzadas, apresentaram semelhanças (me

refiro a dois casos), e nos depoimentos daqueles dos quais não me

aproximei mas acessei através do trabalho de Glória, t ranspareceram

algumas divergências internas dos Lambe-lambe as quais, apesar de

45

notáveis em documentos pesquisados na Administração do Parque (Anexo

III) , não poderiam vir a tona simplesmente através de dois fotógrafos dos

quais preferi me aproximar, ou seja, o trabalho só se completou ao cruzar

diversas fontes.

No trabalho de campo leva-se em conta, dessa forma, uma série de

problemas metodológicos, como o ci tado acima, que diz respeito a um

problema de aproximação, de interação social com os “estudados”. Se

trata de reflet ir sobre em que condições se dá esta interação social com

os quais se está estudando- o famoso “problema do bias”

(BECKER,1992), segundo o qual o posicionamento do pesquisador em

relação aos próprios pesquisados é fator de prejuízo (por preconceito)

para o resultado final do trabalho37, se torna necessário dessa maneira,

explici tar algum registro do trabalho de campo efetuado, bem como

justificar o método utilizado.

“O observador tem o problema de tentar evitar ver

apenas as coisas que estão de acordo com suas hipóteses

implícitas ou explíci tas(.. . ) Esse tipo de bias pode ocorrer de

várias maneiras. O observador, interagindo com aqueles que

estuda em bases de longo prazo, acaba por conhecê-los como

companheiros seres humanos além de como objeto de

pesquisa; portanto é difícil para ele evitar sentimentos de

amizade, lealdade e obrigação, os quais o fazem querer

proteger alguns membros do grupo, e assim não ver aqueles

eventos que os tornariam passíveis de crí tica.”

(BECKER, 1992:120)

É verdadeiro que este trabalho favoreceu os relatos orais , pois

partiu justamente de um trabalho de história oral (CRAV,2002),

37 A “acusação de bias”segundo Howard Becker(1992, p.31), é aqui encarada como um “problema de organização social de pesquisadores e daqueles que eles estudam”, sendo de toda forma um problema insolúvel uma vez que não está relacionado com o maior ou menor rigor metodológico ou ao fato de se abordar qualitativa ou quantitativamente o processo, mas “com o ponto de vista que parecemos estar assumindo”(BECKER, 1992: 32)

46

permeado pelo trabalho que já vinha sendo desenvolvido paralelamente

junto aos ambulantes utilizando o método do survey..

Desse modo é que, a riqueza de informações que as impressões

adquiridas em um dia de campo proporciona, deve se transformar em

dados, alguns úteis, outros de menor relevância, sobre a estrutura

organizacional ou histórico, por exemplo deles. Já alguns fatores

internos são melhor percebidos a medida em que o poder de inserção e o

fator confiança aumentam, sendo decidido que para esta pesquisa seria

útil passar um dia inteiro ao lado de um fotógrafo Lambe-lambe, no caso

o fotógrafo Chico Manco:

“Na manhã de hoje voltei ao Parque Municipal para, como

combinado anteriormente acompanhar um pouco da rotina de

trabalho do já amigo meu fotógrafo Chico manco. Chico, que

já trabalha no Parque Municipal desde os seus onze anos de

idade, como ele mesmo o disse mais adiante em nossa

conversa, estava ausente quando cheguei; já tinha ido pela

primeira vez ao laboratório. Pois é mais ou menos assim que

funciona a rotina de um Lambe-lambe. O Chico Manco, por

exemplo: acorda todos os dias antes das cinco da manhã,

pega a sua condução, as seis já está no Parque, brinca

‘chego aqui antes do vigilante’, e faz um caminhada antes de

começar a trabalhar.”

- Parque Municipal, 24/08/2004 -

O fato de se estar no local de trabalho, local de rotina do fotógrafo,

no caso o Chico foi de extrema importância no sentido de perceber todo

seu processo de trabalho, utilização de laboratório, relação com os

colegas bem como com os freqüentadores do Parque, suas impressões

sobre as condições atuais dentro do mesmo etc. Sendo que, muito embora

nem todas as impressões terem sido transformadas em dados diretos,

foram úteis posteriormente na elaboração de novas hipóteses.

47

Conclusão

“A autenticidade de uma coisa é a quintessência

de tudo o que foi transmitido pela tradição, a partir

de sua origem, desde sua duração material até o seu

testemunho histórico. Como este depende da

materialidade da obra quando ela se esquiva do

homem através da reprodução, também o testemunho

se perde. Sem dúvida, só esse tes temunho

desaparece, mas o que desaparece com ele é a

autoridade da coisa, seu peso tradicional.”

W.Benjamim38

A indústria fotográfica em expansão, já no final dos anos 1990 em

plena “era” digital coloca nas mãos das pessoas a oportunidade de lidar

com a imagem, que nada mais é que o produto da fotografia, de uma

maneira ainda mais ágil . Quando em 1880 o americano George Eastman

desenvolveu uma máquina que continha a bobina de filme, e começou a

fabricá-la em série comercializando-a por um preço bem acessível39 (um

dólar da época), já se poderia de certa forma antever o que a fotografia

em pouco tempo deixaria de ser um produto de luxo. Com a seguinte

propaganda: "Nossa câmera proporciona uma coleção dessas fotografias,

e pode proporcionar uma história pictórica da vida tal como ela é vivida

por você, e, cada dia que passa, ela terá mais valor”, a Kodak, se torna a

primeira a comercial izar a máquina de retrato em grande escala.

38 BENJAMIN, Walter. “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” in. A idéia do cinema, Ed.Civilização Brasileira, Rio de Janeiro 1969 39 SENAC . DN. Fotógrafo: o olhar , a técnica e o t rabalho. / Rose Zuanet t i ;El izabeth Real , Nelson Mart ins et a l . Rio de Janei ro: Ed.Senac Nacional ,2002. 192p.

48

Os Lambe-lambes modernos não estão alheios ao tempo das digitais

como nunca deixaram de se adaptar. Da máquina tradicional original do

século dezoito passaram às máquinas ópticas na era do fi lme colorido,

aos monóculos quando imposta a nova moda retornando às ópticas quando

a moda passou. Trabalharam com a Polaroid quando foi lançada no

mercado, a utilizando enquanto lhes foi conveniente e hoje alguns já

pensam em investir em equipamento digital e impressoras, se é que já não

estão o fazendo.

Ao se defender das acusações dos colegas de que estariam

“matando o Lambe-lambe” no Parque municipal (Capítulo 1), Camargos e

seu filho se basearam em lei t rabalhista que permite ao autônomo inovar

tecnologicamente em seu ofício, e assim seu mini laboratório instantâneo,

ou melhor seus três equipamentos estão funcionando por lá até hoje.

Os Lambe-lambes não têm altos ganhos, como não os têm quaisquer

trabalhadores do setor informal, e se tinha há sessenta anos atrás é

porque a densidade demográfica nos centros urbanos era bem menor , e a

situação do emprego era bem menos precária.

Responder a todas as questões, i r a fundo em todas as hipóteses

levantadas ao longo do trabalho de modo a “resolver” o problema da

extinção do tradicional Lambe-lambe, seja tentando afirmar que ele não

entrará em extinção ou que, ao contrário, ele realmente está condenado,

tentando o enquadrar em alguma categoria fixa dentro do sis tema social,

seria um grande erro. Não se pode simplesmente encerrar os fotógrafos de

praças e jardins à categoria de ambulantes ou subempregados, como está

errado os classificar como “heróis da resistência” ou teimosos em

demasia, uma vez não esgotada a gama de hipóteses que um trabalho

como esse vem suscitar. Certamente que um estudo mais aprofundado em

cima da clientela desse atual Lambe-lambe nos espaços hoje considerados

descaracterizados e desvalorizados no cenário urbano, bem como um

estudo sobre as transformações destes logradouros ao longo das décadas

será de grande valor para a continuidade deste trabalho. Em algum

momento da pesquisa se pergunta se os Lambe-lambes estão mesmo em

extinção; eles têm mercado – o sub mercado do baixo poder aquisit ivo,

trocas entre as pessoas de baixo poder, preços mais baixos em jogo.

49

De fato que estas e outras hipóteses ganharam força ao longo do

trabalho, como a de os profissionais que atuam no Parque Municipal

Américo René Gianetti em Belo Horizonte, estarem “menos em extinção”

do que os de fora dela, como se constatou.

Pôde-se notar um maior interesse de sua administração na melhoria

das condições tanto dos fotógrafos como dos ambulantes e

concessionários que lá trabalham, através de regras rígidas quanto ao

trabalho não autorizado no seu interior.

Uma outra hipótese levantada ao longo da pesquisa relacionada à

“sobrevida” dos Lambe-lambes do Parque de Belo Horizonte se sustentou

pelo fator “organização enquanto categoria profissional”, ao notar que

aqueles fotógrafos foram os únicos a tomar tal iniciativa, juntamente com

os outros ‘informais’ do parque.

Todas elas precisam ser aprofundadas, de fato; problemas como os

de organização interna da categoria, as projeções que poderiam ter sido

fei tas em relação a outros informais, ou mesmo em relação às estatísticas

para o trabalho no Brasil e no Mundo, enfim, o que só vem a mostrar que

o presente trabalho de pesquisa é como um leque aberto com perguntas,

algumas delas com indicativos de respostas.

Resta falar no projeto de lei 1073/02 (PL 1073/02) do município de

Belo Horizonte que propõe “tornar patrimônio cultural de Belo Horizonte

a atividade de fotógrafo ambulante”. Em fase de discussão, ele se

assemelha ao PL 1783/04, este já aprovado40, que cria “o livro específico

para registro de bens culturais de natureza imaterial da cidade de Belo

Horizonte” que contemplou em seu texto, festas religiosas, manifestações

culturais entre outros, inclusive a at ividade desenvolvida pelos Lambe-

lambe. De acordo com o texto do referido projeto, seriam tombados como

patrimônio cultural não a máquina, nem o local de trabalho, mas a

modalidade de trabalho, sendo o objetivo desse tipo de lei proteger em

certo sentido o que se denomina “patrimônio imemorial”.

40 Jornal Estado de Minas , terça-fei ra , 09 de novembro de 2004, “Câmara de BH aprova projeto de lei para tombamento de bens cul turais” ,

50

ANEXO I -Sistema de rodízio dos lambe-lambes do Parque Municipal Américo RennéGianetti

Figura1: Pontos do rodízio

Tabela 1. Nome dos pontos

Fotógrafos Entrevistado: Tavinho Data: 17 /01/ 02 Pontos:

1. “Banheiro da escadaria” 2. “Coreto” ( saída Bahia) 3. “Bahia descendo” 4. “Debaixo da jaqueira” 5. “Jaqueira” 6. “Portão da Andradas” 7. “Banheirinho”( depois da roda gigante) 8. “Roda gigante” 9. “Encruzilhada” ou “Trenzinho” 10. “Tibal” ( junto aos equipamentos de ginástica ) 11. “Teatro”(Francisco Nunes) 12. “Escadaria” ( perto do teatro )

51

ANEXO II - FOTOS

1.Carrinho de um Lambe-lambe do Parque Municipal Américo René Gianetti. Foto: Marcelo Franco, 2002

2.Chico Manco em atividade no Parque Municipal Américo René Gianetti. Foto: Acervo Pessoal Chico M.

52

2.1.Chico Manco na exposição “História Social de belo Horizonte”, durante a Semana de Meio Ambiente em de Junho de 2003.

Foto: Marcelo Franco, 2003

3. Fotografia tirada por Camargos com chapa de vidro na década de 1940.

Foto: Acervo pessoal José Ferreira de Camargos

53

3.1. Tomas trabalhando no mecanismo do minilab, na década de 1980.

Foto: Acervo pessoal José Ferreira de Camargos

4. Exposição “História social de Belo Horizonte” e do Acervo pessoal dos fotógrafos em comemoração ao

aniversário do Parque Municipal Américo René Gianetti.

Foto: Marcelo Franco

54

ANEXO III – Documentos:

55

56

Doc.1.Documento expedido pela Associação dos Comerciantes e Concessionários do Parque

Municipal Américo René Gianetti, em 11 de março de 1993, descrevendo o histórico de sua presença naquele espaço público.

Fonte: Arquivo PBH

57

58

Doc.1.1. Decreto Nº 59 de 29/11/1935, da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, Depto. de Parques e Jardins, que dispõe sobre os pontos dos fotógrafos ambulantes. Fonte: Arquivo PBH.

59

60

Doc. 1.2.Abaixo assinado de 19/06/1988 dos fotógrafos do Parque Municipal Américo René Gianetti, contra o mini-laboratório dos Camargos. Fonte: Arquivo da PBH

61

ANEXO IV - Entrevista informal no campo com o fotógrafo José

Marcos há 40 anos fotógrafo na Praça Rui Barbosa em 30 / 08 2004:

“Me apresentei ao José (‘Zé guela’) como estudante ele

logo começou a conversar comigo, se abrindo ainda mais

quando disse que era amigo do Chico Manco – ‘há, fala para

ele vir aqui, pois me deve 10 reais !’ - Conta que já por

várias vezes foi a universidades e colégios falar sobre seu

trabalho e que isso lhe rendeu bom dinheiro e, achando

inclusive essa situação engraçada; disse que já fora

entrevistado por vários jornais e revistas lamentando só ter

comprado um exemplar de certa revista; Sr. José chega ao seu

ponto pelas sete da manhã indo para casa às quatro e meia da

tarde; guarda, como muitos outros trabalhadores informais do

centro da cidade, o seu material em um ponto seguro por ali

mesmo, ou seja, não leva para casa o equipamento que

consiste em uma barraca guarda sol, uma caixa que serve de

banco e baú ao mesmo tempo e sua antiga máquina modelo

bernardi a qual só serve de chamariz para o Sr. José trabalha

de segunda a sábado, não indo ao ponto aos domingos, conta,

domingo eu - faz um gesto engraçado”

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