PROCESSOS DE MENTORIA COM EDUCADORES MUSICAIS...

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FACULDADE BOA VIAGEM CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO ADILZA RAQUEL CAVALCANTI DOS SANTOS PROCESSOS DE MENTORIA COM EDUCADORES MUSICAIS BRASILEIROS E OFICINEIROS DO PROGRAMA ESCOLA ABERTA RECIFE 2011

Transcript of PROCESSOS DE MENTORIA COM EDUCADORES MUSICAIS...

FACULDADE BOA VIAGEM

CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

ADILZA RAQUEL CAVALCANTI DOS SANTOS

PROCESSOS DE MENTORIA COM EDUCADORES MUSICAIS

BRASILEIROS E OFICINEIROS DO PROGRAMA ESCOLA

ABERTA

RECIFE

2011

ADILZA RAQUEL CAVALCANTI DOS SANTOS

PROCESSOS DE MENTORIA COM EDUCADORES MUSICAIS

BRASILEIROS E OFICINEIROS DO PROGRAMA ESCOLA

ABERTA

Dissertação apresentada ao Centro de Pesquisa e

Pós-Graduação em Administração da Faculdade Boa

Viagem, como requisito parcial para obtenção do

grau de mestre em Gestão Empresarial.

Orientadora: Prof.ª Sonia Maria Rodrigues Calado

Dias, Ph. D.

RECIFE

2011

FACULDADE BOA VIAGEM

CPPA – CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL

CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO A DISSERTAÇÕES

Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas fontes, o acesso à dissertação do Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA – da Faculdade Boa Viagem é definido em três graus:

Grau 1: livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações diretas e indiretas);

Grau 2: com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em conseqüência, restrita a

consulta em ambientes de bibliotecas com saída controlada;

Grau 3: apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o

texto, se confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob chave ou

custódia;

A classificação desta dissertação se encontra, abaixo, definida por seu autor.

Solicita-se aos depositários e usuários sua fiel observância, afim de que se preservem as condições éticas e operacionais da pesquisa científica na área de administração.

Título da Dissertação: “PROCESSOS DE MENTORIA COM EDUCADORES

MUSICAIS BRASILEIROS E OFICINEIROS DO PROGRAMA ESCOLA

ABERTA”.

Nome do (a) autor (a): Adilza Raquel Cavalcanti dos Santos

Data da Aprovação: 22 de agosto de 2011.

Classificação conforme especificação acima:

Grau 1

Grau 2

Grau 3

Recife, agosto 2011.

Adilza Raquel Cavalcanti dos Santos

Dedicatória

À minha família, que sempre esteve comigo compartilhando de

todos os momentos. Em especial a minha mãe, que em todas as horas

cuidou de mim. Ao meu sobrinho Arthur, minha alegria constante.

Ao Daniel Ferreira que sempre foi minha ajuda presente nas

horas difíceis e sempre me alegra com a sua presença.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus primeiramente, pois Ele nos dá pés como os da corça para

podermos andar em lugares altaneiros.

À minha amiga Rilbany,(Kéia), que tem sido mais que uma amiga,tem sido

uma irmã.

A Vera Capucho e ao Genilson Marinho, pelo incentivo e carinho na área

acadêmica e profissional. Meus exemplos.

A Maria Auxiliadora Franza, (Dora), que muito me apoiou na etapa final

desta pesquisa.

À Simone Lyra, coordenadora do Programa Escola Aberta e ao Waldenilson

Costa, presidente da ABANFARE/PE, pela grande contribuição.

Ao oficineiro Adenilton (Nininho) e a oficineira Socorro, que sem eles, a

pesquisa não teria sido feita. Aos oficineiros, gestores e coordenadores das escolas

João Bezerra e Luis de Camões, que me abriram as portas para essa pesquisa.

Aos professores e professoras do mestrado FBV, que passaram em minha vida

deixando marcas positivas. À Albina Simões, pela generosidade e atenção.

Aos meus colegas e minhas colegas do curso, onde aprendemos a viver juntos

com as diferenças, enfrentando momentos de dificuldades e de prazer.

Aos amigos e amigas que me apoiaram nessa caminhada.

Ao professor Ary Júnior e Giselle Diniz, pelo apoio e carinho.

E a todos e todas que me ajudaram de alguma forma e me auxiliaram nessa

nova conquista.

A Professora Lúcia Barbosa, coordenadora do Mestrado e ao professor Marcos

Feitosa que me apoiaram de forma carinhosa.

Em especial a minha orientadora, professora Sônia Calado, pelo estímulo e

orientação durante a pesquisa.

“A Educação, bem compreendida, não é apenas uma

preparação para a vida; ela própria é uma manifestação

permanente e harmoniosa da vida. Assim deveria ser com todos

os estudos artísticos e, particularmente, com a educação musical,

que ocorre à maioria das principais faculdades do ser humano”.

(Willems, 1970, p.10)

RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo investigar como se apresenta o processo

de mentoria sobre os educadores musicais brasileiros, nos seus professores de música, e

em especial, os educadores musicais, denominados oficineiros do Programa Escola

Aberta, um exemplo de ensino não formal no Recife. Esta pesquisa está baseada em um

estudo de caso que procurou verificar a presença do fenômeno da mentoria cujas

experiências estão dentro de relacionamentos. A mentoria se caracteriza entre mentor

(alguém mais experiente) e mentorado (alguém menos experiente), no qual o mentor

serve de modelo para o jovem aprendiz. Trabalhou-se com dois grupos e dois campos de

pesquisa. O subgrupo 1, com educadores musicais brasileiros e o subgrupo 2 de

oficineiros de música do Programa Escola Aberta. Foram utilizados encontros e

entrevistas semi-estruturadas com dois oficineiros do Programa Escola Aberta, e um

questionário com perguntas abertas e “survey” disponível na internet para educadores

musicais de todo o Brasil. A metodologia utilizada foi de natureza qualitativa, um estudo

de caso exploratório e descritivo. A descrição do Programa Escola Aberta foi feita com

base na análise documental, nas avaliações de campo e nas entrevistas. Na análise dos

resultados foram identificados que as funções de mentoria estão intensamente presentes

nos relacionamentos dos alunos com os seus oficineiros. O resultado da pesquisa

contribui para estudos teóricos da mentoria. Nessa pesquisa, utilizou a palavra professor

para mentor e aluno para mentorado.

Palavras-chave: Educação Musical, Educação não formal e Mentoria.

ABSTRACT

This study aimed to investigate how the process of mentoring has on the Brazilian music

educators in their music teachers, and in particular, music educators, workshop

instructors called the Programa Escola Aberta, an example of non-formal education in

Recife. This research is based on a case study that sought to verify the presence of the

phenomenon of mentoring whose experiences are within relationships. Mentoring is

characterized between mentor (someone more experienced) and mentoring (someone

less experienced), where the mentor serves as a model for the young learner. He worked

with two groups and two research fields. The subgroup 1, with Brazilian music educators

and the subgroup 2 of workshop instructors Music the Programa Escola Aberta.

Meetings were used and semi-structured interviews with two workshop

instructors Programa Escola Aberta, and a questionnaire with open and "survey"

available on the Internet for music educators from all over Brazil. The methodology

was qualitative in nature, an exploratory case study and descriptive. The description of

the Programa Escola Aberta was based on documentary analysis, field evaluations and

interviews. In the analysis of the results identified that the functions

of mentoring relationships are intensely present in the workshop instructors with

their students. The result of the research contributes to theoretical studies of mentoring. In

this study, we used the word mentor and teacher to student for mentoring.

Keywords: music education, non-formal education and mentoring.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - onde ocorreu o aprendizado. ..........................................................................48

Figura 2 - formação em música....................................................................................... 49

Figura 3 - especialidade de formação...............................................................................50

Figura 4 – estabelecimento...............................................................................................52

Figura 5 - especialidade na área de música.......................................................................53

Figura 6 - funções artísticas..............................................................................................55

Figura 7 - vida profissional...............................................................................................56

Figura 8 - contribuições da música...................................................................................57

Figura 9 – sexo..................................................................................................................58

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – educadores musicais brasileiros ................................................................... 47

Quadro 2 – respostas abertas ........................................................................................... 47

Quadro 3 – lugar onde ocorreu o aprendizado em música ............................................... 48

Quadro 4 – formação em música...................................................................................... 49

Quadro 5 – especialidade de formação ............................................................................ 50

Quadro 6 - estabelecimento .............................................................................................. 51

Quadro 7 – especialidade na área de música .................................................................... 53

Quadro 8 – funções artísticas ........................................................................................... 54

Quadro 9 – vida profissional ............................................................................................ 56

Quadro 10 – contribuição da música ................................................................................ 57

Quadro 11 – sexo ............................................................................................................ 58

Quadro 1 – idade ............................................................................................................. 58

Quadro 13 – entrevista das 2 escolas .............................................................................. 59

Quadro 14 – oficineiros entrevistados .............................................................................. 60

Quadro 15 – alunos entrevistados .................................................................................... 61

Quadro 16 – pais entrevistados ........................................................................................ 61

Quadro 17 – função de professor de música .................................................................... 62

Quadro 18 – influências de mentores ............................................................................... 63

Quadro 19 – mentoria e suas funções............................................................................... 65

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 13

1.1 Contextualização ...................................................................................................................... 13

1.2 Pergunta de pesquisa ................................................................................................................ 16

1.3 Objetivo Geral ......................................................................................................................... 16

1.4 Objetivos específicos................................................................................................................ 17

1.5 Justificativas ............................................................................................................................. 18

1.5.1 Justificativas teóricas............................................................................................................. 18

1.5.2 Justificativas práticas.............................................................................................................19

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................................... 22

2.1 Mentoria ................................................................................................................................... 22

2.1.1 Conceito e Origens da mentoria ............................................................................................ 22

2.1. 2 Funções da mentoria............................................................................................................ 24

2.1. 2.1 Funções de carreira............................................................................................................ 25

2.1.2.2 Funções psicossociais ........................................................................................................ 27

2.2 Educação Musical ................................................................................................................... 30

2.2.1 Educação Musical no Brasil .................................................................................................. 31

2.2.2 A Educação Musical no ensino não formal: Programa Escola Aberta .................................. 33

2.3 Questões norteadoras................................................................................................................ 36

3 METODOLOGIA ..................................................................................................................... 38

3.1 Delineamento da pesquisa ........................................................................................................ 38

3.2 População e Amostra ............................................................................................................. 41

3.3. Instrumentação das variáveis ............................................................................................... 62

3.3.1 instrumentação da existência de características fundamentais da função do professor de

música à luz da mentoria ................................................................................................................ 62

3.3.2 instrumentação do perfil dos principais mentores dos educadores musicais do caso em

estudo e a influência de mentores no seu papel atual e até que ponto como eles percebem a

mentoria como parte do seu papel. ................................................................................................. 63

3.3.3 instrumentação da mentoria e das suas funções, sua relevância e freqüência. ..................... 64

3.4 Coleta de dados ........................................................................................................................ 65

3.4.1 Instrumento ........................................................................................................................... 65

3.4.2 Processo ................................................................................................................................. 68

3.5 Método de análise .................................................................................................................... 70

3.6 Limites e limitações do estudo ................................................................................................ 71

3.6.1 Limites ................................................................................................................................. 71

3.6.2 Limitações do estudo ........................................................................................................... 72

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO....................................................................................................... 74

4. 4.1 Primeira questão norteadora ................................................................................................. 74

4.1.1 Existência de características fundamentais da função do professor de música .................... 74

4.1.2 Apresentação, análise de dados e discussão dos achados...................................................... 75

4.2 Segunda e terceira questões norteadoras. ............................................................................... 86

4.2.1 Influência de mentores no papel dos educadores musicais em estudo e a mentoria ........... 86

4.2.1.1 Apresentação, análise de dados e discussão dos achados................................................... 87

4.3 Quarta e quinta questões norteadoras ....................................................................................... 92

4.3.1 Funções de mentoria sob a ótica dos Stakeholders (pais e alunos) ......... ........................... 92

4.3.1.1 Apresentação, análise de dados e discussão dos achados................................................... 93

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES ........................................................................................ 99

5.1 Conclusões ............................................................................................................................... 99

5.2 Sugestões ............................................................................................................................... 101

5.2.1Sugestões de ações da pesquisa.............................................................................................101

REFERÊNCIAS............................................................................................................................103

APÊNDICE A- ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS PAIS................................................107

APÊNDICE B- ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS ALUNOS....................................... 108

APÊNDICE C -ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS OFICINEIROS................................109

APÊNDICE D -CARTÕES DAS FUNÇÕES..............................................................................110

APÊNDICE E -QUESTIONÁRIO DO SURVEY MONKEY.....................................................112

APÊNDICE F - CARTAS DE APRESENTAÇÃO E SOLICITAÇÃO.......................................118

ANEXO A- FOTOS DA ESCOLA 1...........................................................................................122

ANEXO B - FOTOS DA ESCOLA 2...........................................................................................124

ANEXO C - SITE DA ABANFARE............................................................................................125

13

1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo introdutório serão abordados os argumentos para análises das

perguntas de pesquisa, bem como será discutido o objetivo geral e os objetivos

específicos para o tema de mentoria na educação musical nos educadores musicais

brasileiros e no ensino não formal sobre os oficineiros de música do Programa Escola

Aberta e também serão apresentadas as justificativas teóricas e práticas, inseridas na

contextualização.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Para que a vivência e aprendizagem da educação musical possam ser de suma

importância na formação de cidadãos é necessário que todos tenham a oportunidade de

participar ativamente como ouvintes, intérpretes, compositores e improvisadores, dentro e

fora da sala de aula. De acordo com Loureiro (2010), a música vem desempenhando, ao

longo da história, uma função importante no desenvolvimento do ser humano, seja no

aspecto espiritual, seja no moral e no social, contribuindo para aquisição de hábitos e

valores indispensáveis ao exercício da cidadania.

A educação musical no Brasil tem enfrentado muitos desafios, no qual se insere o

lidar com a diversidade de vivências musicais no ensino não formal. Por um lado à

diversidade de vivências musicais não escolares propiciadas pela sociedade e por outro

lado, práticas arraigadas de ensino e aprendizagem escolar de música. Entretanto, alguns

processos de articulação entre as estruturas formais e não formais já se realizam através

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do desenvolvimento de pesquisas, grupos de pessoas e organizações governamentais e

não governamentais e nesse processo de transição e articulação, a educação musical está

tendo a oportunidade de ser ampliada, desenvolvendo ações e estruturas pedagógicas

mais condizentes com a realidade brasileira (OLIVEIRA, 2000).

O debate sobre os termos formal e não formal na área da educação musical vem se

discutindo desde o ano de 2000. Oliveira (2000) chama a atenção para a possível

inadequação desses termos para área de educação musical. Para Libâneo (1999), a

educação formal seria aquela estruturada, organizada, planejada intencionalmente,

sistemática. Ele considera a educação não formal aquela que inclui atividades com caráter

de intencionalidade, porém com um baixo grau de sistematização e estruturação e as

atividades extra-escolares que ocorrem na escola. Para Santos (2001), na área de

educação musical, a educação não formal é o espaço que tem caracterizado as diferentes

formas desenvolvidas fora da grade escolar.

A educação não formal é um instrumento de extrema relevância no processo de

formação e construção da cidadania do sujeito, em qualquer nível social ou de

escolaridade. Gohn (2010) conceitua a educação não formal como um processo

sociopolítico, cultural e pedagógico de formação para a cidadania, a educação não formal

trabalha coletivos e se preocupa com os processos de construção de aprendizagens e

saberes coletivos.

Por muitas razões em que se trata a educação musical no ensino não formal, que

envolve educador musical e oficineiro de música, aborda-se-á o processo de mentoria

sobre esses sujeitos. Kram (1985) reconhece a mentoria como uma importante forma de

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socialização que mudam os mentores e mentorados no aspecto fisiológico, mental,

emocional e talvez no aspecto espiritual.

A autora ressalta que a mentoria pode ser um relacionamento capaz de alterar

vidas e de inspirar o crescimento, o aprendizado, e o desenvolvimento mútuo. Seus

efeitos podem ser inesquecíveis, profundos e duradouros. Ela tem a capacidade de

transformar as pessoas, os grupos, as organizações e as comunidades.

O Programa Escola Aberta, um exemplo de educação não formal, se propõe a

promover a ressignificação da escola como espaço alternativo para o desenvolvimento de

atividades de formação, cultura, esporte, lazer para os alunos da educação básica das

escolas públicas e suas comunidades nos finais de semana. Tendo como principal

objetivo contribuir para a melhoria de qualidade da educação, a inclusão social e a

construção de uma cultura de paz. Espera-se então, que o programa tenha como

resultados o fortalecimento da relação entre a escola e a comunidade escolar (diretores,

pais, alunos, coordenadores, professores, assistentes educacionais e comunidade onde a

escola está inserida) bem como a ampliação das oportunidades de acesso a espaços de

promoção da cidadania.

O objetivo desta pesquisa é investigar como a mentoria acontece no processo de

educação musical nos educadores musicais brasileiros, analisando como eles vêem seus

professores (de acordo com os princípios da mentoria da teoria de Kram) Se têm

professores mentores, qual o grau de importância e que valores esses docentes

transmitiram para cada um dos entrevistados. O que da mesma forma será feito, com os

oficineiros do ensino não formal do Programa Escola Aberta, demonstrando A

importância que a mentoria traz para esses relacionamentos ajudando os educadores

16

musicais de forma geral a se desenvolverem e crescerem mutuamente, seja no aspecto

moral, intelectual, espiritual e profissional.

Com fundamento na justificativa, foi delineada a pergunta de pesquisa que a

seguir se apresenta com o objetivo geral e os objetivos específicos.

1.2 PERGUNTA DE PESQUISA

De que modo se apresenta processos de mentoria em educação musical com

educadores musicais brasileiros e no ensino não formal com oficineiros no Programa

Escola Aberta?

1.3 OBJETIVO GERAL

Investigar de que modo se apresenta processos de mentoria em educação

musical com educadores musicais brasileiros e no ensino não formal com oficineiros

no Programa Escola Aberta?

Na seqüência, seguem-se os objetivos específicos:

17

1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Para alcançar o objetivo geral, foram delineados os seguintes objetivos específicos:

Objetivo específico 1: Identificar o que os educadores musicais brasileiros

consideram características fundamentais da função de professor de música à luz da

mentoria ;

Objetivo específico 2: Investigar como os educadores musicais do caso em

estudo, percebem a influência de mentores no seu papel atual;

Objetivo específico 3: Investigar até que ponto os educadores musicais do caso

em estudo, consideram a mentoria como parte de seu papel;

Objetivo específico 4: Identificar até que ponto as funções de carreira estão

presentes no comportamento dos educadores musicais, na ótica dos diversos

Stakeholders do Programa: pais e alunos beneficiados;

Objetivo específico 5: Identificar até que ponto as funções psicossociais estão

presentes no comportamento dos educadores musicais, na ótica dos diversos

Stakeholders do Programa: pais e alunos beneficiados;

18

1.5 JUSTIFICATIVAS

Nesta seção serão apresentadas as justificativas teóricas e práticas que solidificam

a realização dessa pesquisa.

1.5.1 Justificativas teóricas

Esta pesquisa, em aspectos teóricos, despertou o interesse de descobertas e

investigações no terreno da mentoria, ainda em análise e fase de evolução no contexto

acadêmico brasileiro. A pesquisa de Guimarães (2009), fala que o interesse na mentoria

continua a ganhar terreno por conta de sua aplicação prática no cenário organizacional

como também por conta do seu apelo pessoal, tangível e transformador dos

relacionamentos. Ela é acessível quando estruturada dentro das próprias experiências.

Deve considerar que esse campo da mentoria ainda é pouco explorado, pois

Chandler e Kram (2007) salientam para a necessidade de, ao se discutirem as pesquisas,

considerarem os cenários nacionais e a quem são realizadas. Bozionellos (2006) relata

que há escassez de pesquisas de mentoria com amostras que não sejam relacionadas com

a cultura anglo-saxã.

Pode citar algumas pesquisas no campo da mentoria, mas salientando que ainda é

muito escasso esse tema no Brasil. A dissertação de Erlich (2010), cujo objetivo foi

verificar de que modo experiências de mentoria estão presentes nos relacionamentos que

influenciam os indivíduos a aderir à atividade física. Destaca-se ainda a pesquisa de

Guimarães (2009), onde o objetivo foi compreender o papel da mentoria na formação e

na atuação dos professores mentores da FACIPE. Silva (2007), que tem como objetivo da

pesquisa identificar a partir da percepção dos doutores Orientandos de Mestrado e

19

Doutorado no Brasil, um Modelo Brasileiro de Orientação ideal, utilizando como

referencial os modelos internacionais de Mentoria e de Liderança vigentes; ainda, a de

Marques (2006), o objetivo foi investigar como ocorre a mentoria em um programa de

Reforço escolar voltado para crianças e adolescentes carentes de uma comunidade do

Recife/PE. Guimarães (2009) relata em sua pesquisa que, além das dissertações e teses,

ainda existem outros estudos que fazem parte de um projeto maior do Laboratório de

Mentoria e Liderança-LML sob a responsabilidade da professora Sônia Calado (Ph. D),

da Faculdade Boa Viagem em Recife, que um dos objetivos desse núcleo é identificar um

modelo brasileiro de Mentoria, diferente do apresentado por Kram (1985).

De acordo com levantamento bibliográfico realizado, não foram encontrados

pesquisas sobre o tema mentoria, na área de educação musical.

A pesquisa é relevante, pois faz-se necessário, investigar como ocorre a mentoria

no Brasil e quais as suas especificidades, funções e características. Neste sentido, a

presente pesquisa visa oferecer algumas contribuições para área da Música, além de

utilizar dados de educadores musicais brasileiros e oficineiros de música, que será

bastante útil para estudos posteriores na área musical.

1.5.2 Justificativas práticas

Em aspectos práticos, essa pesquisa é destacada pelo fato de ter abordado três

subgrupos: os educadores musicais brasileiros (tanto do ensino formal, como o não

formal incluindo músicos que, de alguma forma ensinam música) e os educadores

20

musicais, denominados oficineiros, do Programa Escola Aberta da Secretaria de

Educação de Pernambuco.

Em relação aos educadores musicais brasileiros essa pesquisa poderá despertar

interesse no núcleo de pesquisa de Educação Musical da Universidade Federal de

Pernambuco; em outras universidades e faculdades nas diversas áreas da Educação, da

Administração, nas escolas específicas de música (ou não), conservatórios, nas

prefeituras que tem educadores musicais no quadro docente, nos Institutos Federais que

ensinam música e nos próprios educadores participantes da pesquisa.

No caso específico, dos oficineiros que fazem parte do Programa Escola Aberta,

despertará aos estudiosos que pesquisam sobre a educação não formal e as Secretarias

de Educação Estadual, Municipais que contém o Programa e os próprios oficineiros,

alunos, pais, voluntários e gestores que contribuíram de alguma forma com a pesquisa.

Do ponto de vista prático,acredita-se que, o trabalho desenvolvido na educação

musical pelos educadores musicais na educação formal e não formal e pelo oficineiro

em sua oficina na educação não formal,pode contribuir decisivamente na construção da

identidade do aluno que poderá fundamentar a sua prática de cidadania sob a

perspectiva da mentoria, dando-lhe uma orientação inclusiva ou atuando no sentido de

erradicar a exclusão e o preconceito na sociedade, comunidade, na sua casa e na própria

sala de aula.

Outra justificativa desta pesquisa é a possibilidade de contribuir com as políticas

públicas voltadas para a inclusão social, no sentido de sugerir uma alternativa de

intervenção na educação de crianças, adolescentes e jovens, em particular as que se

encontram vulneráveis e buscam nessas oficinas de música um refúgio e fortaleza.

21

Assim, o exercício de mentoria desses educadores e oficineiros constituem-se

numa importante fonte de investigação, pois dessa prática vão emergir vários elementos

que nos permitirão compreender a transformação do aluno à luz da mentoria.

Enfim, segundo Erlich (2010), numa perspectiva geral, com este trabalho,

pretende-se contribuir, ainda que em um campo específico, para a redução da lacuna que

Ragins e Kram (2007, p. 11) apontam existir entre pesquisa e prática na área da mentoria.

Neste capítulo introdutório foi apresentado o tema abordado, o objetivo geral e os

objetivos específicos da presente pesquisa e as razões pelas quais o estudo se justifica. No

próximo capítulo será exposta a literatura que fornece as suas bases teóricas.

22

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo, tratar-se-á sobre o conceito e origem de mentoria e suas

especificidades e quais as funções de carreira e psicossocial desempenhadas do mentor

em relação ao mentorado.

2.1 MENTORIA

2.1.1 Conceito e Origens da mentoria

A mentoria pode ser um relacionamento capaz de alterar vidas e inspirar o

crescimento, o aprendizado e o desenvolvimento mútuo. É quando acontecem instruções

do mais experiente para o menos experiente. Ela é acessível quando estruturada dentro

das nossas próprias experiências. De acordo com Santos (2007), mentoria é algo que

sempre esteve presente na história da humanidade de várias formas, manifestadas através

de conselheiros, educadores, orientadores e modeladores de conduta.

Se formos examinar a literatura, esta comumente irá atribuir as origens da

mentoria à Antiguidade Clássica. Costumeiramente na antiga Grécia, com o intuito de

aprender e imitar valores, os homens jovens relacionavam-se com homens mais velhos,

isso acorria geralmente do jovem para com um amigo ou parente do seu pai. Para os

gregos esses relacionamentos poderiam ser um meio pelo qual, as pessoas poderiam

adquirir habilidades, cultura e valores diretamente do outro que eles admiram

(MURRAY, 2001). Desta forma, o mentor era como se fosse um pai adotivo, e era

23

permitido a ele a responsabilidade pelo desenvolvimento físico, social intelectual e

espiritual dos jovens (CARR, 1999).

De acordo com a literatura, mentoria é um termo que surgiu por volta de 800 a.c

na Grécia antiga e é encontrado, mais propriamente, na Odisséia de Homero, poema

épico, em prosa, que relata a respeito de séculos e tradições ancestrais e que serviam de

modelo de epopéia. Tal poema refere-se às batalhas travadas na lendária Guerra de Tróia

vividas pelo rei Odisseu (o mesmo que Ulisses, em latim) personagem principal da

Odisséia e de suma importância da mitologia grega. Odisseu, Rei de Ética, deixou seu

filho Telêmaco aos cuidados de um escravo por nome Mentor, este escravo possuía a

função de aconselhá-lo e de ser seu mestre. Além de ser seu tutor, mentor preparava

Telêmaco para a vida orientando-o e contribuindo para o seu desenvolvimento a fim de

que o mesmo pudesse enfrentar as responsabilidades que teria de assumir no futuro

(KRAM, 1985). Mentor passou a ser o responsável pela preparação de Telêmaco para ser

sucessor de seu pai.

Para Roberts (1999), a origem moderna do uso do termo “mentor” esta

relacionada à obra “Les Aventures de Télémaque” do frances François de Salignac de La

Mhote-Fenelon, que teve sua publicação em 1699, livro este que nos dias de hoje é

considerado pouco conhecido, porém teve a maior tiragem no século XVIII tendo sido

exaltado por pedagogos de todos os tipos. Fénelon era tutor do neto (e possível sucessor

de Luís XIV, o Rei do Sol. Tendo se inspirado na Odisséia, Fénelon escreve o livro que,

alegoricamente, ataca o absolutismo de forma sutilmente velada. Paralelamente seu livro

é uma proposta de um método que irá instruir o jovem herdeiro sobre as

responsabilidades da realeza. Fénelon-continua Roberts (1999), torna-se então uma obra

popularmente conhecida e por este motivo a palavra “mentor” passa a ser utilizada em

24

Francês e inglês como um substantivo comum, no início do século XVIII, e o seu

primeiro registro escrito data de 1750, de acordo com Clark (1984), referido por Roberts

(1999). Apesar de o surgimento da mentoria acontecer em tempos muitos distantes, a

sistematização dos estudos nesta área só veio a ocorrer nas ultimas três décadas.

2.1.2 Funções da mentoria

A seguir se abordará as funções existentes no processo de mentoria conforme

definido no modelo internacional por Kram 1985 e operacionalizado por Noe, 1988.

Os processos de mentoria conforme vistos na literatura sempre são apresentados

como formados por diversas funções, que são aqueles aspectos de um relacionamento de

desenvolvimento que elevam o crescimento e o avanço dos indivíduos.

Essas funções são características essenciais que diferenciam os relacionamentos

de desenvolvimento de outros relacionamentos de trabalho (Kram, 1985).

Ao se falar sobre a mentoria, independente que ela seja vista sob o foco

tradicional ou não, encontra-se um tipo de relacionamento profundamente marcado

provimento de suporte. Os diversos tipos de suporte que o mentor oferece para o

desenvolvimento do mentorado são chamados de funções de mentoria (SCANDURA;

PELLEGRINI, 2007).

25

2.1.2.1 Funções de carreira

Função de carreira ou suporte de carreira inclui a ajuda que o mentor dá ao

mentorado para que este se firme na organização e conheça seus meandros preparando-o

para a ascensão. Este suporte refere-se também às atividades que o mentor desenvolve no

sentido de auxiliar o mentorado em sua carreira profissional. A seguir, encontram-se

características identificadas por Kram (1985) como sendo suporte de carreira: oferta de

tarefas desafiadoras, coaching, proteção, exposição e visibilidade positiva e patrocínio.

Tais funções são abordadas abaixo:

a) Tarefas desafiadoras:

Acontece quando o mentor atribui ao mentorado trabalhos desafiadores apoiado por

treinamento técnico e feedback,visando o desenvolvimento de competências

específicas.A função de prover tarefas desafiadoras é vital para o crescimento

profissional do mentorado preparando-o para posições de maior responsabilidade.

b) Coaching ou treinamento:

Quando o mentor contribui para aumentar o conhecimento especifico sobre como

conduzir seus passos no mundo corporativo. O coaching assemelha-se a um treinador

esportivo. O mentor sugere estratégias especificas para atingir objetivos de trabalho, para

obter reconhecimento, e para atingir as aspirações de carreira. De acordo com Chao et al

26

(1992), o coaching preocupa-se apenas com a tarefa e as informações necessárias para

sua realização não desenvolvendo interesse para com a carreira do jovem aprendiz.

Todavia, para Azevedo e Dias (2002), pode haver o coaching em algumas

ocasiões,quando, por exemplo, o mentor orienta o mentorado no sentido de obter dele o

desenvolvimento de habiidades específicas para o cumprimento de determinada tarefa.

c) Proteção:

Refere-se à função pela qual o mentor protege o seu mentorado colocando-se na

posição de escudo para que para que o mesmo não seja alvo de contatos potencialmente

danosos de outras pessoas normalmente de postos superiores da organização até que o

mentorado atinja níveis de desempenho dignos de exposição e visibilidade, pois existem

momentos que a visibilidade não é benéfica para mentorado principalmente quando ele

não está preparado para, em determinadas situações, alcançar resultados esperados.

d) Patrocínio:

Entende-se por patrocínio o momento no qual o mentor indica formal ou

informalmente o mentorado para promoção. Este tipo de suporte é de relevada

importância para o mentorado quando da sua carreira e diante do seu avanço na

organização. Com isso o mentor viabiliza a ascensão de seu mentorado através desta

indicação podendo também favorecer os recursos necessários para o seu desenvolvimento

profissional.

27

e) Exposição e visibilidade:

A função de exposição e visibilidade ocorre quando o mentor dá tarefas que fazem

com que o mentorado tenha contato direto com pessoas de mais alto nível e estas vêem o

seu potencial, facilitando futuras promoções.

Para Kram (1985) a exposição e visibilidade correspondem à atribuição de

responsabilidades ao mentorado, de modo que ele mantenha contatos e desenvolva

relacionamentos com pessoas importantes que podem influenciar no seu destino

funcional e profissional. Com estes contatos de alto nível e de diferentes partes da

organização (daí, o papel de “força socializadora” exercido por essa função). Ele conhece

melhor o funcionamento corporativo. Também se vai preparando para posições de maior

responsabilidade e autoridade.

2.1.2.2 Funções psicossociais

As funções psicossociais são aquelas, cujos aspectos servem de suporte e

promovem apoio emocional e psicológico ao mentorado ajudando na sua autoconfiança

em relação ao seu papel como profissional. Desta forma, o mentorado é afetado em um

nível mais pessoal em relação às funções de carreira. Tal afetação acontece na relação do

mentorado consigo mesmo e com as pessoas com as quais se relaciona tanto internamente

à organização quanto fora dela. Os benefícios extrapolam a ascensão profissional e

geralmente envolve outras esferas da vida do mentorado, (KRAM,1985) são elas: papel

modelo, aceitação e confirmação, aconselhamento e amizade.

28

a ) Papel modelo:

Quando ocorre a idealização da imagem do mentorado em seu mentor. O mentor

passa a ser um exemplo para o mentorado que irá se identificar com ele que lhe servirá de

modelo de forma consciente ou inconsciente. A partir dessa identificação, o mentorado

passa a admirar respeitar e imitar o seu mentor. As partes conscientes são desenvolvidas

no dia-a-dia do trabalho e permitem ao mentorado aprender certas abordagens, atitudes e

valores pertencentes ao mentor. O mentorado pode ver seu mentor como representante do

seu próprio futuro (RAGINS, 1997). No caso de jovens e adolescentes, os adultos são

vistos como ideais, com os quais aprenderão determinados comportamentos, de que irão

receber colaborações sobre carreiras potenciais e com que irão desenvolver habilidades

especificas (RHODES et al, 2002).

b) Aceitação e Confirmação:

A aceitação e confirmação do mentor resultam no encorajamento do mentorado e

seu apoio no sentido em que ele possa se desenvolver no ambiente profissional. Isso

acontece quando há aceitação, respeito e confiança mútuos capazes de desenvolver a

coragem no mentorado para assumir riscos e tomar atitudes mais ousadas no trabalho.

Lankau e Scandura (2007) afirmam que a aceitação do mentor pode dar suporte ao

aprendizado possibilitando ao mentorado experimentar novos comportamentos, destarte o

mentorado se sente seguro para explorar as suas próprias diferenças diante dos papéis

exercidos na empresas.

29

c) Aconselhamento:

É quando o mentor oferece sua experiência pessoal sugerindo alternativas diante

dos conflitos e ansiedades do mentorado quando este se encontra diante de um cenário e

que tende a prejudicar sua produtividade. Com a confiança depositada em seu mentor o

mentorado encontra ambiente e espaço tranqüilos para falar abertamente de seus

problemas. O mentor assume o papel de “caixa de ressonância” confiável que serve à

exploração e avaliação dessas questões. Apóia através de feedback e escuta ativa. Torna-

se um confidente e ajuda o mentorado sobre a compreensão do mundo e também na

reflexão sobre seus dilemas pessoais. Neste processo o mentorado se sente confortável

por ter alguém com quem pode compartilhar suas preocupações sem se expor a outras

pessoas e abordar problemas que interferem na sua eficiência e auto valoração. Com tudo

isso, o indivíduo se sente mais capaz de lidar eficazmente com suas preocupações e

dilemas (KRAM, 1985).

d) Amizade:

É a função que se caracteriza por interações sociais entre o mentor e o mentorado

resultando em sensação de bem estar diante de trocas de experiências em um contexto

informal, que são vividas no cotidiano, e que trazem alívio para as pressões do trabalho.

Segundo Noe (1988) e Kram (1985), um ambiente mais informal gera um clima de

amizade sincera e melhora significativamente a relação de mentoria, tornando as partes

mais próximas e satisfeitas com o relacionamento.

Johnson e Rydley (2008) consideram que na mentoria se pratica uma “amizade de

colegas mutuamente crescente”. Essa mutualidade pode evoluir, à base de respeito,

30

confiança e afeto, para uma relação que toma novos rumos. Kram (1985) aponta que

amizade é uma das forças que o relacionamento pode tomar na fase de redefinição,

quando as experiências de mentoria já foram amplamente vividas; a amizade segue agora

entre pares, sem distinção hierárquica.

2.2 EDUCAÇÃO MUSICAL

“Tomar o campo do saber pedagógico-musical como absolutamente

aberto, sem fronteiras, mas com horizontes, permitindo trânsitos inusitados e

inesperados, articulações entre os diversos espaços escolares e não escolares,

talvez seja o desafio que temos que enfrentar”. (Souza, 2001, p. 165).

A educação musical é um pilar imprescindível para a transformação da sociedade.

A importância da música tem sido discutida por muitos estudiosos na área da Educação, e

que pretendem identificar o que essa disciplina representa na vida das pessoas. O

desenvolvimento cognitivo, psicomotor, emocional e social é objeto de estudo de

educadores e músicos.

Koellreutter, apud Brito (2001), defende que a educação musical como o meio que

tem a função de desenvolver a personalidade do indivíduo como o todo; de despertar e

desenvolver faculdades indispensáveis ao profissional de qualquer área de atividade,

como, por exemplo, as faculdades de percepção, as faculdades de comunicação, as

faculdades de concentração (autodisciplina), de trabalho em equipe, ou seja, a

subordinação dos interesses pessoais aos do grupo, as faculdades de discernimento,

análise e síntese, desembaraço e autoconfiança, a redução do medo e da inibição causados

31

por preconceitos, o desenvolvimento de criatividade, do senso crítico, do senso de

responsabilidade, da sensibilidade de valores qualitativos e da memória, principalmente o

desenvolvimento do processo de conscientização do todo, base essencial do raciocínio e

da reflexão.

2.2.1 A Educação Musical no Brasil

A Educação Musical, no Brasil, acompanhou o desenvolvimento da educação

brasileira. Existem registros de uso da música na Educação desde a chegada dos jesuítas

ao país. Neste período, a música, era empregada na catequese. Esse quadro permanece

inalterado, com exceção da ampliação do colégio jesuítas, durante os séculos XVI e XVII

e primeira metade do século XVIII.

Na segunda metade do século XVIII, mudanças na legislação educacional são

impetradas pelo marquês de Pombal. São as chamadas “Reformas Pombalinas”, as quais

buscavam adequar o Estado português ao pensamento iluminista. As reformas

Pombalinas desestruturaram o ensino religioso sem, contudo, implementar um sistema

educacional laico, público e gratuito.

Neste período, os músicos organizavam-se nas irmandades. Foram elas que

contribuíram para a difusão da música durante a segunda metade do século XVIII, já que

os padres músicos eram poucos.

32

Durante o Vice-Reinado e o Brasil Império, vamos ter uma política educacional

orientada para formação de nível superior, buscando suprir uma demanda do próprio

Estado no que se concerne às carreiras liberais militares. Registros de Educação Musical

nesta época podem ser encontrados nas Escolas Normais, onde a música sempre foi

considerada parte importante na formação de novos docentes.

Considerado o maior movimento de Educação Musical de massas já ocorrido no

Brasil, o Canto Orfeônico ligava-se ao ideário escolanovista e tem sua imagem

diretamente ligada ao Governo de Getúlio Vargas. Foi durante o Estado Novo que o

Canto Orfeônico se constituiu enquanto movimento liderado pelo maestro Heitor Villa-

Lobos.

O Canto Orfeônico esteve presente nas escolas brasileiras até o final da década de

60, momento em que desaparece paulatinamente da Educação. Isto aconteceu, entre

outras razões, depois da promulgação da Lei nº 5.692/1971, a qual tornou obrigatório o

ensino de artes instituindo a chamada polivalência na disciplina Educação Artística.

A polivalência no ensino de artes se remete a idéia de que um mesmo profissional

poderia dar conta de ensinar Artes Visuais, Teatro, Música e Dança. Alie-se a isso a

formação superior precária deste profissional nos chamados cursos de “Licenciatura

Curta”, muito comuns na década de 70, e o quadro estará completo. Como resultado desta

política e do caráter tecnicista da Educação no período da Ditadura Militar, percebe-se a

predominância do ensino das Artes Visuais e o desaparecimento gradual das artes

coletivas, como o Teatro, a Música e a Dança, do currículo.

Sobretudo, é de extrema relevância ressaltar que, na esteira da Lei nº 5.692/1971,

diversos cursos superiores foram criados para a formação de professores de artes. Com o

33

passar dos anos, as universidades brasileiras foram aperfeiçoando esses cursos. A partir

dos anos 80, os profissionais das áreas específicas de artes começaram a questionar a

polivalência, e outro quadro foi se configurando. A idéia de especialização em uma

determinada área artística foi ganhando espaço.

A partir da Lei nº 9.392/1996, foi possível perceber um gradual retorno das artes

coletivas ao currículo das escolas brasileiras. Uma interpretação possível desta lei

destacava justamente para a presença diferenciada das diversas manifestações artísticas.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais-PCN´s, publicados nesta época e ainda em vigor,

citam quatro modalidades no Ensino de Artes: Artes Visuais, Música, Teatro e Dança.

Estas deveriam estar presentes no currículo. Alguns Sistemas Escolares perceberam um

aceno legal para a especialização dessas áreas, a algumas universidades começaram a

oferecer cursos de Licenciatura específicos. Na área de Música, surgem os cursos de

Licenciatura Plena em Música, suplantando os antigos cursos de Educação Artística.

Devido à necessidade da Música nos currículos, em agosto de 2008, sancionou-se

uma lei que torna obrigatório o ensino da Música na Educação Básica, e para esse fim, as

escolas têm até 2012, para se adaptar às exigências da norma.

2.2.2 A Educação Musical no ensino não formal: Programa

Escola Aberta

Ao pesquisar e revisar a literatura de educação musical é possível encontrar

muitas discussões em torno da temática que envolve os múltiplos espaços e contextos de

aprendizagem musical. Essas discussões defendem a necessidade de conhecer esses

34

espaços e contextos, bem como a realização de pesquisas e mapeamentos sobre os

espaços não escolares, tornando-os objetos de investigação (Hentschike, 2001).

Ao se empreender pesquisas nesses espaços estará se ampliando o conceito de

educação como algo não somente restrito à escola. A escola sempre foi considerada como

responsável pelo processo educativo, o locus do conhecimento, ou seja, a

responsabilidade na tarefa de educar durante muito tempo coube à escola (SOUZA 2001

b). Na área específica da educação musical atualmente percebe-se que o processo

educativo não está mais restrito somente à sala de aula. Ao se referir as práticas ocorridas

dentro e fora da sala da escola, está se considerando, segundo Arroyo (2000, p.78), a

educação [musical] como prática social e cultural que é mais ampla que a escolarização.

De acordo com Souza (2001), a educação não formal possui objetivos

característicos. Assim as atividades desenvolvidas observam as necessidades do grupo

com o qual o trabalho é desenvolvido e também a viabilidade econômica das instituições

que as promovem. A autora destaca o surgimento de instituições que promovem a

educação não formal, denominando-as “associações democráticas para o

desenvolvimento”, que possuem como objetivos proporcionar aprendizagens voluntárias,

como conteúdos que estimulem seus participantes, promovendo “socialização, a

solidariedade, e o desenvolvimento”, sendo associações pouco hierarquizadas.

Um dos grandes desafios da educação não formal tem sido defini-la,

caracterizando-a pelo que ela é. Segundo Gohn (2010, p. 22), usualmente ela é definida

pela negatividade, pelo que ela não é. Demarca-se que a educação não formal não tem o

caráter formal dos processos escolares, normatizados por instituições superiores oficiais e

certificadores de titularidades. A autora define a educação não formal sendo um processo

35

sociopolítico, cultural e pedagógico de formação para a cidadania, entendendo o político

como a formação do indivíduo para interagir com o outro em sociedade. Ela designa um

conjunto de práticas socioculturais de aprendizagem e produção de saberes, que envolve

organizações/instituições, atividades, meios e formas variadas, assim como uma

multiplicidade de programas e projetos sociais.

Nesse intento de educação não formal, o Programa Escola Aberta, se propõe a

promover a ressignificação da escola como espaço alternativo para o desenvolvimento de

atividades de formação, cultura, esporte, lazer para os alunos da educação básica das

escolas públicas e suas comunidades nos finais de semana. Sua proposta não se restringe

aos indicadores clássicos educacionais nem reduz a educação a um instrumento que serve

apenas para ampliar a maturidade intelectual, por meio da aprendizagem de

conhecimentos técnicos e acadêmicos. Vai além, propõe a formação integral, capaz de

desconstruir o muro simbólico entre escola e comunidade e entre educação, cultura,

esporte e lazer.

Assim, o Programa Escola Aberta aposta em uma abordagem metodológica e em

estratégias pedagógicas que privilegiem o conhecimento local, o informal, o saber

popular e a cultura regional para a superação do ciclo de exclusão em que está presa a

educação, colaborando para a reversão do quadro de violência e a construção de espaços

de cidadania.

Dessa forma, a Proposta Pedagógica do Programa Escola Aberta evidencia a

opção política por conceitos como apropriação democrática do espaço público,

valorização das culturas locais, celebração das diferenças no âmbito da igualdade perante

a lei e socialização do saber como promoção de autonomia e de participação social.

36

Portanto, sua presença em áreas urbanas com um alto índice de risco e vulnerabilidade

social ultrapassa a intenção de buscar a simples solução de retirar os jovens das ruas,

ocupando-lhes o tempo. Trata-se de movimentar atores políticos, técnicos, públicos e

privados, de âmbitos federal, estadual e municipal a fim de solidificar as experiências

vividas, de forma a que sejam incorporadas à vida das escolas e promovam

transformações culturais profundas no cotidiano das populações envolvidas. Abrir as

escolas aos finais de semana para que as comunidades as utilizem como locais de

vivência do encontro entre criatividade, lazer e aprendizagem é uma ação aparentemente

simples. Entretanto, se orientada pela intencionalidade educativa, pode repercutir de

maneira duradoura e positiva no ethos e na visão de mundo das pessoas envolvidas.

2.3 Questões norteadoras

Tendo em vista o objetivo geral e os objetivos específicos propostos, e com base

na fundamentação teórica apresentada, as seguintes questões nortearão o processo de

pesquisa:

Questão norteadora 1: Como os educadores musicais brasileiros consideram as

características fundamentais da função de professor de música à luz da mentoria ?

Questão norteadora 2: Como os educadores musicais do caso em estudo percebem

a influência de mentores no seu papel atual?

37

Questão norteadora 3: Até que ponto os educadores musicais do caso em estudo

consideram a mentoria como parte de seu papel?

Questão norteadora 4: Até que ponto as funções de carreira estão presentes no

comportamento dos educadores, na ótica dos diversos Stakeholders do Programa: pais e

alunos beneficiados?

Questão norteadora 5: Até que ponto as funções psicossociais estão presentes no

comportamento dos educadores, na ótica dos diversos Stakeholders do Programa: pais e

alunos beneficiados;

Encerrada a fundamentação teórica desta pesquisa, segue-se para a apresentação do

capítulo que trata dos fundamentos metodológicos que guiaram a pesquisa.

38

3 METODOLOGIA

Neste capítulo serão abordadas aqui as opções metodológicas pertinentes para

usufruir a melhor condução possível desta pesquisa: seu delineamento, população e

amostra, a instrumentação das variáveis, a coleta de dados (instrumento a utilizar e

processo de coleta) e método de análise dos dados levantados. Fechando a seção,

expõem-se os limites e limitações da pesquisa.

3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

Considerando que o objeto da investigação está dividido em três subgrupos,

optou-se por usar uma da abordagem de natureza qualitativa nos grupos.

O subgrupo 1 que está relacionado ao primeiro objetivo especifico, que é investigar

os educadores musicais brasileiros, optou-se pelo Survey que é de natureza quantitativa e

paralelo a esse, questionário com perguntas abertas.

O subgrupo 2 e 3, onde alcança os oficineiros de música e seus Stakeholders ( pais

e alunos)optou-se por usar uma abordagem de natureza qualitativa, utilizando de

entrevistas semi-estruturadas uma vez que, o próprio caráter do objeto a ser estudado,

requer uma análise que se interessa muito mais pelos processos do que simplesmente

pelos resultados ou produtos.

Dessa forma, concorda-se com Minayo (1999), quando afirma que:

39

A rigor qualquer investigação social deveria contemplar uma característica

básica de seu objeto: o aspecto qualitativo. Isso implica considerar sujeito de

estudo: gente, em determinada condição social, pertencente a determinado

grupo social ou classe com suas crenças, valores e significados. Implica

também considerar que o objeto das ciências sociais é complexo,

contraditório, inacabado, e em permanente transformação. (p.22)

Pode-se salientar ainda que um dos motivos de se pesquisar lançando mão da

abordagem qualitativa deve-se ao fato de considerar que as pessoas agem em função de

suas crenças e de seus valores, determinando comportamentos que não são facilmente

interpretáveis. Assim, na tentativa de “desvendá-los” é que optou por essa abordagem

nesta pesquisa, uma vez que vemos nesse enfoque a possibilidade de compreender o

processo de mentoria do educador musical e oficineiro de música na sua realidade social,

que é dinâmica e está em constante transformação.

De acordo com Richardson (2007, p. 80), os estudos que têm base metodológica

qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a

interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por

grupos sociais, contribuir nesse processo de mudança de determinado grupo e possibilitar,

em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento

dos indivíduos.

Há situações em que se evidencia a importância de uma abordagem qualitativa para

efeito de compreender aspectos psicológicos cujos dados não podem ser coletados de

modo completo por outros métodos devido à complexidade que encerram. Nesse intuito,

existem estudos dirigidos à análise de atitudes, motivações, expectativas, valores, entre

outros (RICHARDSON, 2007).

40

Quanto à estratégia da metodologia da pesquisa, constitui-se em um estudo de

caso. Investigou- se duas escolas do Programa Escola aberta.

O estudo de caso, segundo Laville e Dione (1999), pode ser feito com uma pessoa,

um grupo, uma comunidade, um meio, uma mudança política ou um conflito. A escolha

deste tipo de delineamento de pesquisa deu-se devido à possibilidade de avaliar as

diversas dimensões do problema, analisando-o como um todo. Em se tratando de estudo

de caso, a metodologia requer flexibilidade e, portanto, não se tem uma estrutura rígida

quanto aos passos a seguir. Laville e Dione (1999) afirmam que:

... o pesquisador pode, pois, mostrar-se mais criativo, mais imaginativo; tem

mais tempo de adaptar seus instrumentos, modificar sua abordagem para

explorar elementos imprevistos, precisar alguns detalhes e construir uma

compreensão do caso que leve em conta tudo isso, pois ele não mais está

atrelado a um protocolo de pesquisa que deveria permanecer o mais imutável

possível. (p.156)

A pesquisa é de natureza exploratória. Os estudos exploratórios tendem a gerar

estruturas soltas, com intenção de descobrir futuras tarefas de investigação. O objetivo

imediato da exploração normalmente é desenvolver hipóteses ou questões para pesquisa

adicional. (COOPER; SCHINDLER, 2003).

A pesquisa é de natureza descritiva, isso quer dizer que se destaca por conter

transcrições de entrevistas, imagens, vídeos e áudio. Os investigadores recolhem os dados

de maneira minuciosa e a abordagem qualitativa exige que qualquer detalhe seja

examinado, pois nada deve ser considerado trivial. (BOGDAN; BIKLEN, 1994).

A descrição do Programa Escola Aberta foi feita com base na análise documental, nas

avaliações de campo e nas entrevistas.

41

3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA

A seleção dos sujeitos foi feita por acessibilidade e de acordo com objetivo geral.

Lembrando que o objetivo geral abrange três subgrupos:

Subgrupo 1- educadores musicais brasileiros;

Subgrupo 2 - os educadores musicais no caso de estudo, denominados oficineiros,

do Programa Escola Aberta;

Subgrupo 3- Stakeholders do Programa (pais e alunos);

A escolha do subgrupo 1 - dos educadores musicais brasileiros, é pertinente, pois

investigou-se como eles percebem o fenômeno de mentoria nos seus professores de

música.

A opção de escolha do subgrupo 2- oficineiros, justifica-se, se eles percebem a

mentoria como parte do seu papel e se eles percebem a influência de mentores em seu

papel.

A escolha do subgrupo 3-os Stakeholders do programa (pais e alunos), justifica-se

por investigar se eles percebem o fenômeno de mentoria no oficineiro.

Quanto à seleção do campo a ser pesquisado, compreende-se, de acordo com

Minayo (1999, p.105), que este é “o recorte espacial correspondente à abrangência, em

42

termos empíricos, do recorte teórico correspondente ao objeto da investigação”. Diante

disso, o campo de pesquisa foi entendido como a parte de um todo, que possui

características próprias, mas que, ao mesmo tempo, representa essa totalidade.

O campo de pesquisa para o subgrupo 1 - dos educadores musicais brasileiros, foi

por uma amostra de conveniência por acessibilidade. Foi pelo método Survey, o

questionário foi elaborado digitalmente (APÊNDICE E) através do website Survey

Monkey, empresa que presta serviços na elaboração de pesquisas científicas dentre outros

serviços de informática. Após armazenar perguntas e opções de respostas da presente

investigação, o referido website forneceu um endereço eletrônico para ser divulgado via

internet aos respondentes.

O campo de pesquisa do subgrupo 2 e 3- dos oficineiros de música e seus

Stakeholders teve o seguinte procedimento: o pesquisador teve o Programa Escola

Aberta como ponto de partida, pois neste Programa existem muitas escolas com oficinas

de música atuando no ensino não formal e oficineiros que serviriam para investigar sobre

o fenômeno de mentoria. A idéia inicial era pesquisar muitos oficineiros de música,

fazendo-os participar do questionário do Survey Monkey. A pesquisadora conseguiu uma

lista de contatos de escolas com oficinas de música e fez contatos por telefone com

alguns oficineiros, mas foi inviável, pois muitos não tinham acesso à internet ou não

entendiam o questionário. Depois disso, partiu para outra estratégia: Pesquisar só dois

oficineiros e fazer roteiros de entrevista, investigando o processo de mentoria. A

pesquisadora selecionou duas escolas que ficam próximas uma das outras. Tornando as

escolas como um só campo a ser pesquisado, que são os oficineiros de música, na

educação não formal.

43

As escolas estão situadas na comunidade de Brasília Teimosa, no bairro do Pina,

Recife/PE. As escolas possuem características semelhantes, pois todas são escolas da

mesma rede, são consideradas escolas de referência pela Secretaria de Educação de

Pernambuco, possuem uma infra-estrutura de grande porte, possuem quadras e atividades

extracurriculares. As duas escolas escolhidas pertencem à rede estadual. São escolas da

Educação Básica e que oferecem o Ensino Fundamental II (do 6º ao 9º ano) e Ensino

Médio (1º ao 3º ano), elas também suportam programas governamentais como o

Travessia e EJA (Educação de Jovens e Adultos), que abrangem os alunos fora da faixa

etária para o ensino formal, como também o Programa Escola Aberta, que funciona no

final de semana e está inserido na educação não formal.

A Escola 1- possui a oficina de Banda Marcial e Fanfarras. Os ensaios funcionam

normalmente no final da tarde e são todos os dias, inclusive aos sábados. O ensaio é

realizado na quadra do colégio. A banda é formada por aproximadamente 50 pessoas,

incluindo crianças pequenas (a partir de 4 anos de idade), adolescentes e jovens. Essa

Oficina está disponível para escola durante a semana, e final de semana pelo Programa

Escola Aberta. A banda participa dos campeonatos de Bandas Marciais e Fanfarras e

sempre representa a escola.

A Escola 2- tem a oficina de percussão, mas essa oficina é exclusiva do Programa

Escola Aberta. Os seus ensaios acontecem no sábado à tarde das 14h às 17h, na quadra do

colégio. Esse grupo é composto por aproximadamente 35 pessoas, sendo todos

adolescentes e jovens. Esses jovens fazem parte da mesma igreja fora da oficina. Eles se

apresentam em diversos lugares, inclusive na igreja.

44

Ainda em relação ao campo que foi estudado, o Programa Escola Aberta vai além,

propõe a formação integral, capaz de desconstruir o muro simbólico entre escola e

comunidade e entre educação, cultura, esporte e lazer. Assim, o Programa aposta em uma

abordagem metodológica e em estratégias pedagógicas que privilegiem o conhecimento

local, o informal, o saber popular e a cultura regional para a superação do ciclo de

exclusão em que está presa a educação, colaborando para a reversão do quadro de

violência e a construção de espaços de cidadania.

Atualmente, o Programa Escola Aberta (PEA), propõe uma estratégia que

permite coordenar, supervisionar e auxiliar através das seguintes áreas temáticas que

contemplam as comunidades. As áreas temáticas são: Cultura e Arte; Esporte/

Lazer/Recreação; Qualificação para o Trabalho e Geração de Renda; e Formação

Educativa Complementar.

Dessa forma, o Programa Escola Aberta busca contribuir para a construção da

cidadania consciente, responsável e participante, favorecendo a inclusão sociocultural

(particularmente do jovem estudante da educação básica das escolas públicas), a

diminuição da violência e da vulnerabilidade socioeconômica e, por extensão, a

promoção da paz e da melhoria da qualidade de vida da população. Pretende, ainda,

transformar a escola em um ambiente mais atuante e presente na vida dos jovens e suas

comunidades, promovendo maior diálogo, cooperação e participação entre os alunos, pais

e equipes de profissionais que atuam nas escolas, além de contribuir para a

complementação de renda das famílias.

O Programa Escola Aberta, consciente de que o sistema educacional brasileiro

reflete as desigualdades sociais, propõe que a escola seja o lócus de conjunção das

45

diferenças presentes nas comunidades, buscando atender os grupos sociais conforme seus

interesses e necessidades e, ainda, possibilitar o desenvolvimento de habilidades

profissionais, com vistas a contribuir para uma futura geração de renda e à superação das

limitações sociais impostas a pessoas em situação de vulnerabilidade social. Espera,

portanto, que o programa tenha como resultados o fortalecimento da relação entre a

escola e a comunidade escolar, bem como a ampliação das oportunidades de acesso a

espaços de promoção da cidadania (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2007).

Para a seleção do subgrupo 1- educadores musicais brasileiros foi por uma

amostra de conveniência por acessibilidade. Usou-se um questionário que se encontra na

internet no Survey Monkey,(APÊNDICE E). Utilizou-se dos meios de comunicação e

mídia como o facebook, Orkut e o e-mail pessoal, para divulgação do link da pesquisa.

Também a pesquisadora pediu autorização do presidente das Bandas e Fanfarras de

Pernambuco e o mesmo disponibilizou o link no site da ABANFARE-PE (Associação de

Bandas e Fanfarras de Pernambuco), (ANEXO C) também para divulgação.

A seleção do grupo 2 e 3- oficineiros e Stakeholders do Programa- foi feita por

etapas. Foram as seguintes: Primeiramente a pesquisadora pediu autorização à

coordenação do Programa Escola Aberta para a pesquisa, através de uma carta de

apresentação e solicitação (APÊNDICE F), logo após a autorização, foram concedidos os

contatos das escolas e identificadas, observou-se que as mesmas tinham oficinas de

música, e se escolheu as que ficam próximas a residência da pesquisadora por questão de

conveniência, e logo em seguida, fez contato com os coordenadores locais do Programa e

seus gestores, com as cartas de apresentação e solicitação (APÊNDICE F), e após esse

processo se teve os contatos com os oficineiros de música, se pediu autorização, e logo

em seguida, a pesquisadora marcou o horário para fazer as entrevistas.

46

Também solicitou para que os oficineiros escolhessem alguns alunos e pais para

fazer a entrevista com eles. As entrevistas aconteceram normalmente, nos horários

previstos. Também solicitou para os oficineiros responderem ao questionário disponível

pelo Survey Monkey, mas esse processo não foi possível, pois um deles nem possuía e-

mail para repassar o link.

Esta primeira amostra foi composta pelo subgrupo 1- pelos educadores musicais

brasileiros. Os dados descritivos desta amostra são apresentados a seguir:

A pesquisa foi feita em forma de questionário (APÊNDICE E) contendo a primeira

questão com respostas abertas. A pesquisadora solicita na referida questão, que os

educadores pensem nos professores e nas professoras que tem ou já tiveram ao longo de

sua vida, na área musical. Em particular, A pesquisadora pede que analise se algum (a)

teve, ou está tendo, um impacto sobre a sua formação que os educadores consideram ter

ultrapassado o que normalmente se espera de um (a) professor (a) em iguais condições.

Se há ou houve alguém com essas características, os educadores musicais escrevam o

nome dos (as) três professores (as) que mais fortemente afetaram sua vida de forma

positiva, por ordem de relevância ou impacto.

A amostra da pesquisa em relação aos educadores musicais foi de 135

respondentes no qual, cada respondente tinham que falar a respeito de três professores

mentores. O total de professores- mentores citados foram de 315, mas falando das suas

características, apenas 165.

É interessante destacar que os respondentes ficaram à vontade para fazerem seus

comentários em relação aos seus professores. Percebe-se a presença de mentoria muito

constante nessas análises que serão feitas no capitulo 4.

47

Segue abaixo o quadro do percentual e respostas dos educadores musicais.

PROFESSOR % RESPOSTAS Questões respondidas

Questões não respondidas

Primeiro (a): 100,0% 120

120

15

Segundo (a): 87,5% 105

Terceiro (a): 75,0% 90

TOTAL 315

Quadro 1- educadores musicais brasileiros

ANÁLISES DAS RESPOSTAS ABERTAS APENAS 165

FUNÇÕES DE CARREIRA FUNÇÕES PSICOSSOCIAIS

Patrocínio ou apadrinhamento: 13

Exposição e visibilidade: 9

Proteção: 13

Coaching: 114

Tarefas desafiadoras: 31

Papel modelo: 46

Aceitação e confirmação: 7

Aconselhamento: 19

Amizade: 46

Quadro 2- respostas abertas do questionário

Em relação aos dados demográficos, seguem-se as análises com quadros e

gráficos.

É interessante destacar onde ocorreu a vivência musical dos respondentes, pois

mesmo eles atuando em diversos sistemas de ensino, eles tiveram a oportunidade de

aprender ou se aperfeiçoar em alguma escola de nível superior.

a)Quanto ao local onde ocorreu o aprendizado em música dos respondentes, o

quadro 3 e o gráfico 1 indicam que 50,5%, foi em universidade; 45,0% em escola de

música; 39,4% em aulas particulares; 38,5% em conservatório; 33,0% em igreja; 11,9%

48

em escola de ensino regular; 2,8% projeto social; 0,9% instituto federal; 0,0% em ONG; e

20,2% em outros estabelecimentos.

LOCAL % RESPOSTAS QUESTÕES

RESPONDIDAS

QUESTÕES NÃO

RESPONDIDAS

Aulas Particulares 39,4% 43

109

26

Conservatório 38,5% 42

Igreja 33,0% 36

Projeto Social 2,8% 3

ONG 0,0% 0

Escola de Música 45,0% 49

Escola de Ensino

Regular

11,9% 13

Instituto Federal 0,9% 1

Universidade 50,5% 55

Outro 20,2% 22

Se "Outro", por

gentileza, especifique:

31

Quadro3- lugar onde ocorreu o aprendizado em música

Figura 1- lugar onde ocorreu o aprendizado em música

b) Em relação à formação em Música dos respondentes. O quadro 4 e o gráfico 2

indicam os seguintes índices :graduado 45,5%; técnico 20,0%; especialista 13,6% ;

mestre 10,0%; doutor 3,6%; outra área 13,6%; e nenhuma 22,7%. Percebe-se que a

49

maioria dos respondentes possui nível superior em música, pois eles acham necessário ter

uma graduação, para terem acesso às escolas na posição de professor e também acham

necessário terem uma formação na profissão que escolheram.

FORMAÇÃO % RESPOSTAS QUESTÕES

RESPONDIDAS

QUESTÕES NÃO

RESPONDIDAS

Técnico 20,0% 22

110

25

Graduado 45,5% 50

Especialista 13,6% 15

Mestre 10,0% 11

Doutor 3,6% 4

Nenhuma 22,7% 25

Em Outra Área 13,6% 15

Se "Em Outra Área",

especifique:

17

Quadro 4- formação em música

Figura 2- formação em música

c) No que se refere à especialidade de formação na área de Música dos

respondentes, no quadro 5 e no gráfico 3, obtém -se o seguinte resultado: instrumento

61,5%; educação musical 50,5%; teoria, percepção,solfejo e harmonia 25,7%; regência

23,9%; canto 17,4%; história da música 13,8%; e outro 12,8%.

50

ESPECIALIDADE % RESPOSTAS QUESTÕES

RESPONDIDAS

QUESTÕES NÃO

RESPONDIDAS Canto 17,4% 19

109

26

Educação Musical 50,5% 55 História da Música 13,8% 15

Teoria, Percepção,

Solfejo e Harmonia

25,7% 28

Regência 23,9% 26

Instrumento 61,5% 67

Outro 12,8% 14

Se "Instrumento" ou

"Outro", especifique: 57

Quadro 5- especialidade de formação

Figura 3- especialidade de formação

d) No que se refere aos estabelecimentos em que os educadores respondentes

exercem suas funções, no quadro 6 e no gráfico 4, obtém -se o seguinte resultado aulas

particulares 41,2%:igreja 32,0%; escola de ensino regular 28,9%; escola de música

51

24,7%; universidade 12,4%; projeto social 11,3%; conservatório 10,3%; ONG 9,3%;

instituto federal 2,1%; e outros 16,5%.

Esse quadro atrai a questão a seguir, no que se refere à formação de atuação em

Música, viu-se que “instrumento” está com o maior percentual, pois se entrelaça com o

resultado do gráfico e quadro abaixo sobre aulas particulares. Pois, os respondentes

dedicam-se a aulas particulares por darem aula de instrumentos na maioria dos casos.

Dificilmente na área de música, acontece de alguém querer aula particular de outra

disciplina a não ser instrumento. Também existe o caso que já foi comentado, por alguns

educadores não possuírem habilitação especifica em música para o ensino formal, ou

preferirem dar aulas particulares, pela praticidade.

ESTABELECIMENTO % RESPOSTAS QUESTÕES

RESPONDIDAS

QUESTÕES NÃO

RESPONDIDAS Aulas Particulares 41,2% 40

97

38

Conservatório 10,3% 10

Igreja 32,0% 31

Projeto Social 11,3% 11

ONG 9,3% 9

Escola de Música 24,7% 24

Escola de Ensino Regular 28,9% 28

Instituto Federal 2,1% 2

Universidade 12,4% 12

Outro 16,5% 16

Se "Outro", especifique 20

Quadro 6- estabelecimento

52

Figura 4- estabelecimento

e) Em relação à especialidade (s) de atuação na área da Música dos

respondentes. O quadro 7 e o gráfico 5 indicam os seguintes índices : instrumento

57,3%; educação musical 42,7%; teoria percepção,solfejo e harmonia 28,2%; regência

25,2%; canto 22,3%; historia da musica 12,6%; e outro 15,5%.

A pesquisadora faz questão de destacar a especialidade ou área de atuação, pois às

vezes os respondentes preferem ensinar instrumento, pois se da conta de uma afinidade

melhor com o próprio instrumento. Muitos preferem ensinar individualmente a entrar em

uma sala de aula, para ensinar diversos alunos de uma vez. Por outro lado, muitos só

ensinam instrumento, por não terem habilitação específica para ensinar na educação

53

formal (nas escolas), terminando assim, ensinando instrumento, como o ensino não

formal.

ESPECIALIDADE % RESPOSTAS QUESTÕES

RESPONDIDAS

QUESTÕES NÃO

RESPONDIDAS

Canto 22,3% 23

103

32

Educação Musical 42,7% 44

História da Música 12,6% 13

Teoria, Percepção,

Solfejo e Harmonia

28,2% 29

Regência 25,2% 26

Instrumento 57,3% 59

Outro 15,5% 16

Se "Instrumento" ou

"Outro", especifique

48

Quadro 7- especialidade na área de música

Figura 5- especialidade na área de música

54

f) Em relação à ocupação artística dos respondentes, é necessário perceber que a

maioria possui uma atividade, não se limitando apenas ao ensino. No que se refere às

funções artísticas exercidas na área de musica pelos respondentes, no quadro 8 e no

gráfico 6, obtém -se o seguinte resultado:grupo instrumental 35,8%; banda musical

32,1%; solista 27,5%; coro 27,5%; bandas marciais 16,5%; canto 15,6%; orquestra

14,7%; nenhuma 8,3%; e outro 12,8%.

FUNÇÃO % RESPOSTAS QUESTÕES

RESPONDIDAS

QUESTÕES NÃO

RESPONDIDAS

Bandas Fanfarras 6,4% 7

109

26

Bandas Marciais 16,5% 18

Banda Musical 32,1% 35

Orquestra 14,7% 16

Grupo Instrumental 35,8% 39

Solista 27,5% 30

Coro 27,5% 30

Canto 15,6% 17

Outra 12,8% 14

Nenhuma 8,3% 9

Se "Outra”,especifique 18

Quadro 8- funções artísticas

55

Figura 6- funções artísticas

g) Em termos percentuais os índices quanto a vida profissional dedicada a música

dos respondentes de acordo com o quadro 9 e o gráfico 7 foram: mais de 80% de

dedicação responderam 54,1%; entre 50 e 80% de dedicação responderam 19,3% ; 50%

de dedicação responderam 3,7% ; entre 20 e 50% responderam 7,3%; menos de 20%

responderam 15,6%.

Os respondentes possuem uma vida musical muito intensa, ocupando assim muito

tempo na área especifica em música, pois trabalham com música e só com música. A sua

trajetória é bastante interessante, se forma em música para poderem trabalhar com

dedicação nesta área.

56

PERCENTUAL % RESPOSTAS QUESTÕES

RESPONDIDAS

QUESTÕES NÃO

RESPONDIDAS

Menos de 20% 15,6% 17

109

26

Entre 20 e 50% 7,3% 8

50% 3,7% 4

Entre 50 e 80% 19,3% 21

Mais de 80% 54,1% 59

Quadro 9- vida profissional

Figura 7- vida profissional

h) Em termos pessoais, as contribuições que os respondentes acharam que a

musica trazia para suas vidas estão de acordo com o quadro 10 e o gráfico 8 e tiveram os

seguintes índices: prazer 89,1%; realização pessoal 83,6%; cultura 80,0%; comunicação

e expressividade 58,2%; terapia 44,5%; espiritualidade 42,7%; religião 40,0%; projeção

social 34,5%; projeção financeira 32,7%; e outro 11,8%. Neste quadro, percebe-se que a

57

música está presente na vida dos respondentes de uma forma diferente, pois eles têm

prazer em se dedicar à música, não só pelo trabalho, mas sim por algum tipo de

realização.

CONTRIBUIÇÕES % RESPOSTAS QUESTÕES

RESPONDIDAS

QUESTÕES NÃO

RESPONDIDAS

Terapia 44,5% 49

110

25

Lazer 61,8% 68

Prazer 89,1% 98

Religião 40,0% 44

Espiritualidade 42,7% 47

Cultura 80,0% 88

Projeção Social 34,5% 38

Projeção Financeira 32,7% 36

Comunicação e

Expressividade

58,2% 64

Realização Pessoal 83,6% 92

Outra 11,8% 13

Se "Outra"

especifique:

12

Quadro 10- contribuições da música

Figura 8- contribuições da música

58

i) Os índices dos respondentes de acordo com o quadro 11 e gráfico 9 que se

referem ao sexo foram: 71,3% para o sexo masculino; e 28,7% para o sexo feminino.

SEXO % RESPOSTAS QUESTÕES

RESPONDIDAS

QUESTÕES NÃO

RESPONDIDAS

Feminino 28,7% 31 108 27

Masculino 71,3% 77

Quadro 11- sexo

Figura 9- sexo

j) Idade

MÉDIA DAS

IDADES

TOTAL DE

RESPOSTAS

(SOMA DAS

IDADES)

QUANTIDADE

DE

RESPOSTAS

QUESTÕES

RESPONDIDAS

QUESTÕES NÃO

RESPONDIDAS

34,91 3.805 109 109 26

Quadro 12- idade

59

Em relação aos dados citados acima, através dos quadros e gráficos sobre os

respondentes, é necessário destacar que o subgrupo 1- os educadores musicais levam uma

vida bastante semelhante, tem características peculiares.

A segunda amostra foi da pesquisa foi do subgrupo 2 e 3 - os oficineiros de

música e os Stakeholders do Programa. Utilizou-se de um roteiro de entrevistas semi-

estruturadas para todas as categorias de respondentes citadas acima. Foram entrevistados

19 respondentes. Incluindo as duas escolas. Sendo dois oficineiros (APÊNDICE C e

APÊNDICE D); doze alunos (APÊNDICE B); e cinco pais (APÊNDICE A). Os quadros

a seguir mostram o quantitativo. As amostras foram às seguintes:

1.Entrevistados das 2 escolas do Programa Escola Aberta

Teve-se um resultado satisfatório em relação aos respondentes do Programa

Escola Aberta. Os alunos, oficineiros e pais, foram bem solícitos e atenciosos. As

entrevistas foram realizadas com hora marcada nas devidas escolas.

ESCOLA Oficineiros Alunos Pais Total por escola

Escola 1 1 5 3 9

Escola 2 1 7 2 10

Quadro 13- entrevistados das 2 escolas do Programa Escola Aberta

60

2.Oficineiros entrevistados

Os oficineiros entrevistados trabalham finais de semana no Programa Escola

Aberta. A oficineira está estudando e faz graduação e trabalha na área social. O oficineiro

tem um trabalho noturno e está disponível para a escola, fazendo atividades diversas de

acordo com a necessidade da gestora. Ele não possui vínculo formal na escola.

NOME SEXO ESCOLARIDADE ESCOLA

Oficineiro 1 Masculino 6ª série Escola 1

Oficineiro 2 Feminino Graduação em andamento Escola 2

Quadro 14- oficineiros entrevistados

3. Alunos entrevistados

Os alunos entrevistados da escola 1,passam muito tempo no ensaio da banda, as vezes,

ficam na escola para ajudar o oficineiro. A maioria dos alunos está fora da faixa etária

para o estudo formal, estudando assim, nos Programas de aceleração de níveis de ensino,

como por exemplo, a Educação de Jovens e Adultos.

Os alunos entrevistados da escola 2, já concluíram o ensino médio, tendo outras

atividades extra escolares. Eles só ensaiam fins de semana na escola. E fazem atividades

não vinculadas diretamente a oficina durante a semana. A maioria mora perto um do

outro, e fazem parte da mesma igreja, criando vínculos de amizade muito fortes.

61

NOME SEXO IDADE ESCOLARIDADE TEMPO QUE

PARTICIPA

DA OFICINA

ESCOLA

Aluno 1 Feminino 15 1º ano do ensino médio 1 ano Escola 1

Aluno 2 Feminino 12 4ª série 1 ano Escola 1

Aluno 3 Feminino 17 Travessia 2 anos Escola 1

Aluno 4 Masculino 23 EJA 3 anos Escola 1

Aluno 5 Feminino 19 8ª série 3 anos Escola 1

Aluno 1 Feminino 17 8ª série 9 meses Escola 2

Aluno 2 Masculino 15 2º ano do ensino médio 8 meses Escola 2

Aluno 3 Masculino 17 Concluiu Ensino médio 3 anos Escola 2

Aluno 4 Feminino 17 Concluiu Ensino médio 2 anos Escola 2

Aluno 5 Feminino 19 8ª série 8 meses Escola 2

Aluno 6 Masculino 16 7ª série 2 anos Escola 2

Aluno 7 Feminino 22 Concluiu ensino médio 10 anos Escola 2

Quadro 15- Alunos entrevistados

4.Pais entrevistados

Os pais entrevistas forma da escola 1. Todos os respondentes foram do sexo

feminino, enfatizando que muito dos alunos não tem pai presente na escola, ficando assim

o papel da responsabilidade da escola para as mães. Todas as mães entrevistadas não

concluíram os estudos, pois tinham que tomar conta da casa.

NOME ESCOLARIDADE QUANTIDADE DE FILHOS NA

OFICINA

ESCOLA

Mãe 1 EJA 2 Escola 1

Mãe 2 Não estuda 1 Escola 1

Mãe 3 Fun 2 incompleto 1 Escola 1

Mãe 4 Fun 2 completo 1 Escola 2

Mãe 5 Não estuda 1 Escola 2

Quadro 16- pais entrevistados

62

3.3 Instrumentação das variáveis

Nesta seção será apresentada a instrumentação das variáveis da presente pesquisa.

Assim sendo, se mostrará os referidos instrumentos agrupados por objetivos específicos,

para facilitar a visualização:

3.3.1 instrumentação da existência de características fundamentais da

função do professor de música à luz da mentoria.

A primeira questão norteadora (Como os educadores musicais brasileiros

consideram as características fundamentais da função de professor de música à luz da

mentoria?) foi instrumentada através de questões abertas no questionário, conforme o

quadro a seguir:

OBJETIVO ESPECÍFICO VARIÁVEIS INSTRUMENTAÇÃO DAS VARIÁVEIS

1ª - Verificar os que os

educadores musicais brasileiros

consideram características

fundamentais da função de

professor de música à luz da

mentoria

Existência de pessoas

mentores

Questão aberta no questionário

“Pense nos professores e nas professoras

que tem ou já teve ao longo de sua vida, na

área musical.”

Quem são os professores

mentores

Questão aberta do questionário

“Em particular, peço-lhe que analise se

algum (a) teve, ou está tendo, um impacto

sobre a sua formação que você considera ter

ultrapassado o que normalmente se espera

de um (a) professor (a) em iguais

condições.”

Razões que levam os

educadores musicais a

considerá-los dessa forma.

Questão aberta do questionário

“Se há ou houve alguém com essas

características, por gentileza escreva a

seguir o nome dos (as) três professores (as)

que mais fortemente afetaram sua vida de

forma positiva, por ordem de relevância ou

impacto.”

Quadro 17- função do professor de música

63

3.3.2 instrumentação do perfil dos principais mentores dos educadores

musicais do caso em estudo e a influência de mentores no seu papel

atual e até que ponto como eles percebem a mentoria como parte do seu

papel.

A segunda e terceira questões norteadoras (Como os educadores musicais do caso

em estudo percebem a influência de mentores no seu papel atual? e Até que ponto os

educadores musicais do caso em estudo consideram a mentoria como parte de seu papel?).

Foram instrumentadas através de questões abertas no roteiro de entrevista, com

entrevistas semi-estruturadas (APÊNDICE C) e a técnica dos cartões, elaborado pela

professora doutora Sônia Calado Dias e utilizado por Guimarães (2009), em sua pesquisa e

adaptado pela pesquisadora para ser trabalhado em seu estudo- (APÊNDICE D), onde se

utiliza alguns cartões com definições das funções de mentoria, explicando aos

respondentes quais os objetivos dessas funções e em seguidas, pede-se para que o

respondente identifique ou não essas funções na atuação de professor-mentor de seus

alunos. Esses cartões foram elaborados para facilitar a compreensão dos respondentes

sobre mentoria. Esses cartões servem como instrumentação para medir o perfil dos

principais mentores dos educadores musicais do caso em estudo e a influência de mentores

no seu papel atual conforme o quadro a seguir:

OBJETIVOS ESPECÍFICOS VARIÁVEIS INSTRUMENTAÇÃO DAS VARIÁVEIS

2ª- Investigar como os educadores

musicais do caso em estudo

percebem a influência de

mentores no seu papel atual;

Perfil dos principais

mentores dos educadores

musicais do caso em estudo.

Questões abertas no roteiro de entrevista, e a

técnica dos cartões com as definições das

funções de carreira e psicossocial

A influência de mentores no

seu papel atual

Quadro18- influencias de mentores

64

Na próxima seção será apresentada a instrumentação das funções de mentoria

3.3.3 instrumentação da mentoria e das suas funções, sua relevância e

freqüência.

Para medir a importância e a freqüência de mentoria, referente às seguintes

questões norteadoras: (até que ponto os educadores musicais do caso em estudo

consideram a mentoria como parte de seu papel; até que ponto as funções de carreira

estão presentes no comportamento dos educadores, na ótica dos diversos Stakeholders

do Programa: pais e alunos beneficiados; até que ponto as funções psicossociais estão

presentes no comportamento dos educadores, na ótica dos diversos Stakeholders do

Programa: pais e alunos beneficiados);

Foram instrumentadas através de questões abertas no roteiro de entrevista, e a

técnica dos cartões (explicadas no item anterior) com as definições das funções de

carreira e psicossocial como instrumentação para medir a importância e freqüência,

conforme o quadro a seguir:

65

OBJETIVOS ESPECÍFICOS VARIÁVEIS INSTRUMENTAÇÃO DAS VARIÁVEIS

3º-Verificar até que ponto os

educadores musicais do caso em

estudo consideram a mentoria

como parte de seu papel;

Mentoria e suas funções Questões abertas no roteiro de entrevista, e a

técnica dos cartões com as definições das

funções de carreira e psicossocial

4º-Verificar até que ponto as

funções de carreira estão

presentes no comportamento dos

educadores, na ótica dos diversos

Stakeholders do Programa: pais e

alunos, beneficiados;

5º-Verificar até que ponto as

funções psicossociais estão

presentes no comportamento dos

educadores, na ótica dos diversos

Stakeholders do Programa: pais e

alunos beneficiados;

Quadro 19- mentoria e suas funções

3.4 COLETA DE DADOS

3.4.1 Instrumento

Os dados foram coletados a partir de entrevistas e análise documental, onde estes

contribuíram para desvelar a realidade pesquisada.

No subgrupo1 – dos educadores musicais brasileiros, Foi utilizado o método

Survey. O questionário foi elaborado digitalmente (APÊNDICE E) através do website

Survey Monkey, empresa que presta serviços na elaboração de pesquisas científicas

dentre outros serviços de informática. Após armazenar perguntas e opções de respostas

66

da presente investigação, o referido website forneceu um endereço eletrônico para ser

divulgado via internet aos respondentes.

Foram 18 questões. Uma questão aberta e as outras objetivas falando de valores e

personalidade (para pesquisas posteriores) e as outras questões com dados demográficos.

No subgrupo 2- dos oficineiros e Stakehoders do programa, utilizou-se um

roteiro de entrevista (APÊNDICES A, B,C e D) através do contato direto com o

oficineiro de música, os pais e os alunos.

Em relação ao roteiro de entrevista de Minayo( 1996,p.99) afirma:

...deve ser o facilitador de abertura de ampliação e de

aprofundamento a comunicação. Dele constam apenas alguns itens que se

tornam indispensáveis para o delineamento do objeto, em relação à realidade

empírica e devem responder às seguinte condições: a) cada questão que se

levanta faça parte do delineamento do objeto, e que todas se encaminhem para

lhe dar forma e conteúdo; b) permita ampliar e aprofundar a comunicação e

não cerceá-la; c) contribua para emergir a visão, os juízos e as relevâncias a

respeito dos fatos e das relações que compõem o objeto, do ponto de vista dos

interlocutores.

Optou-se por realizar entrevistas semi-estruturadas por possibilitarem abordar

livremente alguns temas e por requererem dos sujeitos algumas respostas previamente

formuladas. Logo, privilegiada “a entrevista semi-estruturada por que esta, ao mesmo

tempo em que valoriza a presença do investigador, oferece todas as perspectivas possíveis

para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a

investigação” (TRIVIÑOS, 1987, p.146).

De acordo com Richardson (2007), a entrevista em profundidade, em vez de

responder à pergunta por meio de diversas alternativas pré-formuladas, visa a obter do

entrevistado o que ele considera os aspectos mais relevantes de determinado problema.

Para esses autores, a melhor situação para participar na mente de outro ser humano é a

67

interação face a face, pois tem o caráter, inquestionável, de proximidade entre as pessoas,

que proporciona as melhores possibilidades de penetrar na mente, vida e definição dos

indivíduos.

As entrevistas foram gravadas por um meio eletrônico e posteriormente

transcritas. Para facilitar a participação dos entrevistados, a pesquisa foi realizada nas

próprias escolas nos horários marcados com os oficineiros fora do horário de aula.

As entrevistas foram apoiadas pelo roteiro, composto de questões de

direcionamento, ou seja, questões que envolvem aspectos investigativos do estudo

específico. Existiram roteiros diferenciados para cada sujeito, ou seja, um roteiro para o

oficineiro, outro para os alunos e outros para os pais. Os roteiros dos alunos e dos pais

foram bem parecidos, por se tratar dos mesmos objetivos. As questões são não-

estruturadas, que não limitam as respostas, mas fornecem uma estrutura de referência

para elas (COOPER; SCHINDLER, 2003).

Os roteiros das entrevistas dos oficineiros foram apoiados por cartões de

definições de mentoria (APÊNDICE D), onde se utiliza alguns cartões com definições

das funções de mentoria, explicando aos respondentes quais os objetivos dessas funções

e em seguidas, pede-se para que o respondente identifique ou não essas funções na

atuação de professor-mentor de seus alunos. Esses cartões foram elaborados para facilitar

a compreensão dos respondentes sobre mentoria.

Outro instrumento de pesquisa que foi utilizado foi a análise documental, pois

como afirma Lüdke e André,

Os documentos constituem também uma fonte poderosa de onde podem ser

retiradas evidências que fundamentam afirmações e declarações do

pesquisador. Representam ainda uma fonte natural de informação. Não são

apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num

determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo contexto.

(1986, p.39)

68

Dessa forma, se elegeu como documentos para análise proposta do Programa

Escola Aberta. A análise desses documentos possibilitou o contato com materiais que

puderam caracterizar-se como fontes para compreender como foi à discussão do

programa.

No tratamento dos dados, no qual se buscou mapear e categorizar as temáticas a

pesquisadora procurou ultrapassar a incerteza, na tentativa de sair do empírico, no esforço

de superar a abstração e subjetividade, a fim de manter uma relação dinâmica e

integradora às descobertas, que no dizer de Minayo (1999) é uma fase que tem por

finalidade ampliar a compreensão de contextos culturais com significações e sentidos que

vão além da dimensão espontânea das mensagens.

3.4.2 Processo

O processo utilizado para o subgrupo1- de educadores musicais brasileiros, foi

uma amostra de conveniência por acessibilidade, através da internet por um link do

Survey Monkey encontrado na internet. Os respondentes participaram do questionário

acessando o link através de e-mails, facebook, Orkut e sites específicos da área. A

pesquisadora enviou convites do link por e-mails pessoais, pelo facebook, Orkut e ainda

conseguiu com presidente da ABANFARE-PE (Associação de Bandas e Fanfarras de

Pernambuco) da Secretaria de Educação de Pernambuco, pusesse o link disponível no site

da associação (ANEXO C).

O processo para o subgrupo 2 e 3- de oficineiros de música e Stakeholders do

programa, foi através de contatos direto com o coordenador do Programa Escola Aberta,

conseguindo com ele a autorização para pesquisa nas escolas(APÊNDICE F). Após esse

69

processo, a pesquisadora entrou em contato pessoalmente com os coordenadores locais

do Programa Escola Aberta e com a gestão das duas escolas, pedindo autorização oficial

(com uma carta de apresentação e solicitação feita pelo programa do Mestrado-

APÊNDICE F). Logo em seguida, conversou diretamente com os oficineiros, de cada

escola, explicando a pesquisa e tendo acesso aos alunos. Assim, a pesquisadora pôde

marcar as entrevistas nos horários previstos. A pesquisadora teve a oportunidade de

assistir os ensaios das oficinas, nessa ocasião a pesquisadora registrou o ensaio com fotos

e vídeos. Lembrando que essas oficinas são de música, por isso a utilização da palavra

“ensaio”. Preferiu fazer as entrevistas fora do horário de ensaio, assim marcando para os

dias da semana e não nos finais de semana (os horários que acontece às aulas).

As entrevistas foram realizadas nas próprias escolas em horários distintos das

aulas das oficinas. As entrevistas foram no período da tarde. Na Escola 1, fez as

entrevistas individualmente na sala de aula. Ocasionalmente estava tendo ensaio da

banda, pois na semana seguinte estariam participando de um campeonato de Bandas e

Fanfarras no interior do Estado. Então, a pesquisadora teve que esperar acabar o ensaio,

para poder conversar com os alunos, pais e oficineiro. As entrevistas foram marcadas de

acordo com os grupos: um dia para o oficineiro e pais e o outro para os alunos. A

entrevista foi realizada na sala de aula, separada para tal atividade.

Na Escola 2, marcou-se as entrevistas com todos os alunos e oficineiro no

mesmo dia. A entrevista foi realizada na sala dos professores, utilizando a gravação.

Não houve critério de seleção. Os oficineiros tiveram liberdade para escolher os

alunos e pais que foram entrevistados. Foram escolhidos os oficineiros de música de cada

escola e os pais e alunos das suas oficinas, pela probabilidade dos mesmos terem contato

com os oficineiros.

70

3.5 MÉTODO DE ANÁLISE

Nesta pesquisa utilizou-se como método a análise de conteúdo. De acordo

com Richardson (2007), a análise de conteúdo, é particularmente, utilizada para pesquisa

qualitativa. Ela deve ser eficaz, rigorosa e precisa. A partir de uma primeira leitura,

organizam-se idéias para analisar os elementos e as regras que o determinam. Refere-se a

organizar melhor um discurso, de aprofundar suas características e retirar os momentos

mais importantes. Assim em termos gerais, a análise de conteúdo é a aplicação de

métodos científicos a uma evidência documentária.

“A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das

comunicações visando obter, através de procedimentos sistemáticos e objetivos

de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não)

que permitam inferir conhecimentos relativos às condições de

produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens”. (Richardson

apud Bardin, 1979:31)

A análise de conteúdo é um conjunto de instrumentos metodológicos que a cada

dia se aperfeiçoa e que se aplicam a discurso diversos. Foi utilizada a análise de conteúdo

para avaliação das respostas as perguntas abertas do questionário.

Do ponto de vista prático, a análise de conteúdo é, particularmente, utilizada para

estudar material de tipo qualitativo. A partir de uma primeira leitura, organizam-se as

idéias para analisar os elementos e as regras que as determinam.

Minayo(1999), afirma que a análise de conteúdo parte de uma literatura de

primeiro plano para atingir um nível mais aprofundado: aquele que ultrapassa os

significados manifestos. Ainda, de acordo com a autora, a análise de conteúdo em termos

71

gerais, relaciona estruturas semânticas (significantes) com estruturas sociológicas

(significados) dos enunciados.

Nesta pesquisa, utilizou-se a análise de conteúdo para a avaliação das respostas às

questões abertas do questionário disponível no Survey Monkey. “Por exemplo,” que

razões o (a) levam a essa escolha? Diante disso, foi estabelecido um sistema de

categorias com o objetivo de obter indicadores que contribuíssem para um melhor

conhecimento da percepção dos respondentes quanto ao assunto pesquisado.

3.6 LIMITES E LIMITAÇÕES DO ESTUDO

3.6.1 Limites

Alguns fatores delimitam esta pesquisa. No subgrupo 1 – dos educadores

musicais brasileiros, o principal fator foi que se teve oportunidade de conectar com os

educadores musicais de todo o Brasil, podendo trocar experiências com as pessoas da

mesma área de atuação. Outro limite interessante nesta pesquisa foi perceber que esse

tipo de questionário foi pioneiro em relação à área de educação musical que ainda é

escassa no Brasil, então os respondentes vibraram com a iniciativa, pedindo para que

depois da pesquisa realizada, fosse divulgada para os mesmos em nível de experiências

musicais.

Já no subgrupo 2 e 3 – dos oficineiros de música e Stakeholders ( pais e alunos), se

tratou de um estudo de caso e 2 escolas do Programa Escola Aberta. , onde se teve

72

oportunidade de conhecer profundamente o programa e criou contatos a posteriores

propostas na área de educação musical. Também aprofundou contatos com os próprios

gestores, oficineiros e coordenadores do Programa.

3.6.2. Limitações do estudo

Em relação ao subgrupo 1 – educadores musicais brasileiros, houve uma

limitação que foi a não participação de todos os educadores musicais que entrou em

contato por telefone, email, facebook, Orkut e site da Associação de Bandas e Fanfarras

Pernambuco. Outra limitação, foi que nem todos os respondentes entendiam o que se

pretendia no questionário, às vezes respondiam só algumas questões e outros não

respondiam, só deixavam o contato.

Se tratando do subgrupo 2 e 3 – oficineiros de música e Stakeholders( pais e

alunos), a pesquisadora teve a primeira limitação na escola 1, onde a gestora não foi

muito receptiva. Na escola 2, o gestor, o coordenador e a professora comunitária o

recebeu muito bem, mas o oficineiro teve resistência no primeiro contato, tendo receio

de expor o grupo. A pesquisadora teve que ir à escola conversar com os alunos para

explicar detalhes da pesquisa, de compartilhar experiências musicais, só assim então, se

adquiriu confiança no grupo para poder marcar as entrevistas.

Outra limitação foi à compreensão das perguntas do roteiro de entrevistas,

principalmente por parte dos oficineiros. A pesquisadora teve que explicar algumas

vezes as perguntas para melhores esclarecimentos.

73

O próximo capítulo consistirá da apresentação dos resultados da pesquisa que

serão analisados e discutidos com base na fundamentação teórica obedecendo a seqüência

das questões norteadoras.

74

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO

Este capítulo apresenta os resultados da pesquisa que serão analisados e discutidos

sob a ótica da fundamentação teórica, segundo os objetivos específicos, obedecendo à

seqüência das questões norteadoras. A pesquisa apresenta 3 subgrupos, no qual se

analisará de forma individual.

4.1 Primeira questão norteadora

Esta seção apresenta os itens e dados que contribuíram para a identificação de

professores mentores e que compõem a resposta à seguinte questão norteadora: Como os

educadores musicais em geral consideram características fundamentais da função do

professor de música à luz da mentoria ?

4.1.1 Existência de características fundamentais da função do professor

de música à luz da mentoria:

Nesta seção serão apresentados os dados coletados e a discussão dos achados para

analisar a existência de características fundamentais da função do professor de música à

luz da mentoria.

75

4.1.2 Apresentação, análise de dados e discussão dos achados:

Obtiveram-se os resultados sobre os professores de música citados em relação às

funções de mentoria, através de análise de questões abertas. Nas respostas abertas

obtiveram-se os resultados de 165 (ver no quadro 2- questões abertas).

Analisou-se que motivos os educadores musicais brasileiros consideram os seus

professores de música com características das funções de mentoria.

A pesquisadora percebeu que nas falas dos respondentes, percebe-se a presença da

mentoria de forma intensa, pois todos disseram que tiveram professores-mentores.

Nas palavras dos entrevistados está uma concepção para o ensino de música apoiada na

importância da experiência musical imediata, na preocupação em despertar no aluno o

prazer pela exploração, através de experiências relevantes que possam favorecer o seu

desenvolvimento cognitivo e aumentar a sua suscetibilidade musical e a mentoria

presente em todos os momentos.

Serão apresentados, a seguir os motivos, agrupados em categorias que levam os

educadores musicais a considerarem a existência das funções de mentoria. Dividiu-se

cada item por funções. Sempre que se fala das funções a mentoria, considera-se nesta

análise o mentor como professor e o mentorado como aluno.

Observam-se características pessoas do mentor, que serão analisadas e discutidas a

seguir:

76

a)Funções de Carreira:

Patrocínio ou apadrinhamento:

Obteve o resultado de 13 respostas das 165. Considerando assim, que nessa função

o professor apóia e confia no aluno, não duvidando da sua competência e caráter. Pode-se

observar essa característica dos depoimentos a seguir:

“... A força e o apoio moral durante os anos de estudo do meu

bacharelado em piano e ainda hoje, sempre acreditando em mim e na minha

capacidade... -o incentivo constante. -a sua indicação variada de repertório e

que impulsiona no desenvolvimento do aluno.... -as aulas em grupo com todos

os seus alunos de piano, regularmente todas as semanas, criando uma

atmosfera saudável e de respeito dos alunos uns pelos outros...”(entrevistado

1) “meu orientador no mestrado, tenho certeza que se tivesse

conhecido antes minha base teria sido muitíssimo mais sólida. detentor de

grande conhecimento sobre música erudita ou popular, compositor e pianista,

grande improvisador. ajudou a fazer com que acreditasse mais em mim, me

orientou sobre aspectos técnicos musicais e de carreira, sobre ética

profissional, sobre saber construir carreira e manter a respeitabilidade,

sempre disponível. de olhar extremamente agudo, visão sistemática e dinâmica

extremamente organizada de trabalho, sempre transparecendo calma e

equilíbrio em suas posturas e atitudes junto a tudo isso, simplicidade extrema,

um guru!” (entrevistado 2)

Percebe-se que os respondentes consideram seus professores como pessoas

altamente confiáveis e que ajudam e o apóiam em todos os momentos. Vêem seus

mestres como verdadeiros orientadores e ajudadores.

Exposição e visibilidade:

O resultado dessa função nas análises foram nove respostas. Assegurando que

nessa função, o professor cria oportunidades para que o aluno demonstre suas

77

habilidades, responsabilidades e competências. A seguir, as frases que demonstram essa

característica:

“Sempre estimulou à descobrir meu próprio caminho artístico. Me abriu portas

em relação à diferentes estilos e conceitos musicais. Era muito dinâmico e suas

frases me levaram sempre para a reflexão...” (entrevistado 3)

“... durante todo tempo que o conheci, sempre acompanhei a sua luta pelos seus

ideais, foi a pessoa que me deu a oportunidade de por em prática tudo o que

aprendi...”(entrevistado 4)

Nesta função, percebe-se que os respondentes observam seus professores e

desejam serem guiados por eles. Fazendo assim que criem respeito mutuo e colaboração.

Proteção:

As respostas das análises a essa função foram totalizadas em 13 respondentes.

Essa função se caracteriza pela proteção que o professor oferece ao aluno, pois ele evita

que o aluno seja exposto, desnecessariamente, a experiências e contatos potencialmente

prejudiciais ao seu desenvolvimento. Percebe-se que é uma das características mais

interessantes que um professor pode ter por seus alunos. A proteção. Vontade de defendê-

los em quaisquer circunstâncias e horas. A seguir as frases que identificam essa

característica:

“esta professora sempre se mostrou interessada em mim como um ser humano, e

também agia assim com seus outros alunos. Cuidava da técnica, mas também da

parte emocional de todos...”(entrevistado 4)

“ foi meu 2º pai que me mostrou o caminho certo a seguir na vida, que

a música é a fórmula para fazer cidadãos de bem. “(entrevistado 5)

“... a música transformou minha vida,vi meu pai ser assassinado em minha

frente , quando eu tinha apenas 6 anos de idade. meu professor de música o

78

considero como meu segundo pai, e a música sempre foi o meu

consolo...”(entrevistado 6)

Coaching (treinamento):

Obteve o resultado das análises de 114 respostas. Essa função tem como

característica o treinamento. O professor treina o aluno em atividades ou desafios

específicos do seu momento profissional. Nessa função foi onde se obteve o maior

número de respostas, pois, por se tratar de respondentes no campo musical, supõe que

todos, ou a sua maioria, passou em algum momento por aulas de instrumentos musicais,

que é onde justamente se destaca pelo treinamento do instrumento. A seguir as frases que

identificam essa função:

“a forma intensa como ela vivia a música e o piano, muitos aspectos técnicos novos e

instigantes que abriram, para mim, uma porta para desenvolver dificuldades apresentadas pelo

instrumento...” (entrevistado 7)

“me ensinou na pratica musica na banda.” (entrevistado 5)

“ele sempre nos ensinou melodia, ritmo e harmonia.” (entrevistado 9)

.

“maior cuidado ao se ouvir, priorizando sempre a perfeição na execução musical.” (entrevistado

11)

Os respondentes percebem também nos seus professores a disciplina e dedicação.

Querem imitá-lo de forma precisa e necessária. Principalmente quando se fala de

instrumentistas, pois tem que ter muita dedicação e disciplina para se tocar um

instrumento musical. De acordo com os respondentes, encarar a música como uma

linguagem tão importante quanta outra qualquer, capaz de contribuir para o

79

desenvolvimento amplo do indivíduo, é um problema que envolve conhecimento,

compreensão musical. É ter a consciência de que a especificidade da música está no seu

entendimento como linguagem, como um sistema de sinais que pode ser vivenciado e

compartilhado.

Tarefas desafiadoras:

Obteve 31 respostas na análise desta característica. Essa função se destaca pelo

fato do professor dar ao aluno desafios viáveis para aumentar as habilidades do mesmo.

Razões as quais os respondentes consideram um professor como mentor são as tarefas

desafiadoras. Em alguns casos observa-se tal característica é de fundamental importância

para o individuo. Essa função é percebida pelos respondentes, segundo depoimentos

abaixo, quando esses professores se dispõem em ajudar, dando tarefas, influenciando e

colaborando com eles. Eis as frases seguintes:

“a responsabilidade com as tarefas executadas, e a criatividade para aplica-las, não deixando perde o

domínio com o programa “(entrevistado 20)

“conhecimento musical, eficiência no ensino, capacidade de levar o aluno a refletir sobre características

da música, formando pensadores.”(entrevistado 35)

“dedicação ao ensino, profundidade dos conhecimentos, estímulo à pesquisa do ouvir, criar e

fazer.”(entrevistado 21)

“exigência na excelência da performance musical...”(entrevistado 86)

80

b) Funções Psicossociais:

Papel modelo:

As respostas analisadas para essa função foram de 46 respondentes. Essa

característica é importante por se tratar de exemplos de vida. O papel modelo é quando

consciente ou inconscientemente, o aluno vê no professor um exemplo a ser seguido. Diz-se

respeito a um processo de aprendizagem baseado no respeito e na admiração. Vale salientar

que nem sempre o professor tem consciência de ser modelo. As seguintes frases

demonstrarão isso:

“com sua simplicidade, rapidez, generosidade, fantástica humildade, me

mostrava o porque de cada detalhe na musica, junto com a técnica. mais que

um professor na verdade pelo menos ao que relacionamos aos deveres de

professores desta cidade e as vezes desse país.”(entrevistado 20)

“dedicação, paciência, simpatia, persistência, esforço, compromisso com o aluno, valoriza o

aluno, calma que acalma um exemplo vivo de educadora.” (entrevistado 41)

“simplicidade ao transmitir a disciplina, seriedade com seu trabalho e amor, esse terceiro

foi o que mais me motivou a está hoje atuando como educadora musical.” (entrevistado 30)

Para alguns respondentes, observa-se que o professor é mentor porque possui

algumas características pessoais que fazem com que o aluno se espelhe nele e use como

exemplo a ser seguido. Diante das razões citadas acima, pode-se perceber que o professor é

visto pelos respondentes como um modelo, um espelho, ou seja, além de ser um profissional

dedicado ao bom desempenho de suas atividades e tarefas como professor, demonstra

excelentes atributos pessoais.

81

Aceitação e confirmação:

As respostas para essa função foram de sete educadores musicais. Essa característica

tem a função do professor demonstrar conhecer, respeitar e aceitar a individualidade do

aluno como digna de desenvolvimento, pois um professor com essa característica não cria

clones de si próprio e sim indivíduos fortes e autônomos. Os respondentes classificaram

algumas razões que demonstram a satisfação dos mesmos em relação aos comportamentos

dos professores. A seguir, as frases com essa característica:

“muito respeito a cada aluno, visando o futuro de cada aluno e transmitindo muita tranquilidade

aos...” (entrevistado 1)

“conhecimento vastíssimo, delicadeza no convívio diário, respeito pelas opiniões do aluno,

capacidade de transformar a produção do aluno em material consistente, dedicação e seriedade.”

(entrevistado 25)

Aconselhamento:

Obteve 19 respostas nessa característica. O aconselhamento se destaca por causa

do auxilio que o professor da ao aluno a explorar questões pessoais e profissionais que

podem interferir na sua auto-estima e no seu sucesso pessoal. Eis as frases seguintes:

“este professor é o que mais me estimulou, ele é que me faz seguir nos

estudos. além de professor, ele ensina várias coisas sobre a vida e a música, que

nenhum professor jamais falou, nem se quer chegou perto...” (entrevistado 4)

“foi uma pessoa muito importante na minha vida por saber me orientar sobre a vida em todos os

aspectos, além de me preparar antes que eu ingressasse na escola. Ela era a minha mãe.” (entrevistado

24)

82

“não só um professor mais também foi um paizão, me educou na vida e na

música, hoje tenho o maior orgulho dele, pois conseguiu implantar na minha

pessoa que a vida é um obstáculo que devemos passar de cabeça erguida, esse

homem duro, de didática dura mais por trás da dureza uma grande compaixão e

desejo de ver todos os seus alunos bem na vida.” (entrevistado 11)

O aconselhamento é uma forma de o professor colaborar no desenvolvimento do

aluno. Esse ato externado pelo professor, indica que ele quer que o aluno cresça e não

cometa os mesmo erros que eles comenteram.

Amizade:

As respostas em relação à amizade foram de 46. Essa função acontece quando o

professor desenvolve uma interação social com o aluno que resulta em afetividade e

compreensão mútua e trocas informais agradáveis sobre o trabalho e fora dele.

Foi comum perceber a amizade que os alunos têm para com os seus professores e

vice versa, pois no campo da educação musical, acontece que os alunos ficam amigos dos

seus professores, por se tratar de aulas individuais ou aulas com poucas pessoas. Esse

ambiente favorece a manter laços fortes de amizade. Na verdade, o professor precisa

reconhecer as características e as necessidades de cada aluno, de maneira que possa

contribuir para o seu desenvolvimento emocional e pessoal. Ao agir assim, está

desempenhando o papel do mentor, que por sua vez, se preocupa também com o lado

psicossocial do mentorado. A seguir as frases com essa característica:

83

“entusiasmo, positividade, prazer no que faz, não apresenta qualquer tipo de preconceito, bom

humor, amigo, sabe ouvir, dedicado, um visionário na arte de ensinar; o cara.” (entrevistado 12)

“... excelente músico e um grande amigo.” (entrevistado 1)

“dinâmico, didático, competente, de ótima formação, procura oferecer o seu melhor, educador,

humilde e amigo.” (entrevistado 100)

No total de 135 educadores musicais respondentes ao questionário, foram

apresentados 315 professores de música com características de função de mentoria na sua

trajetória de ensino. O pesquisador apresentou no questionário, a opção de indicar três

professores que apresentavam as características das funções de mentoria. Na resposta

para o primeiro professor, obteve-se o resultado de 120 respostas; para o segundo, 105

respostas e para o terceiro foram respondidos 90. Analisou que nem todos os

respondentes tiveram três professores que marcaram a sua vida de forma impactante. Do

total de questões respondidas no questionário, para o primeiro professor obtivemos 100%

das respostas. Para o segundo, 87,5%, e para o terceiro 75%. A maioria dos respondentes

teve professores que marcaram as suas vidas e assim, a existência de funções de mentoria

(ver quadro 1).

Percebe-se que, quando alguns dos respondentes falam dos seus professores de

música, e observa-se a paixão entusiasmo.

(...) Minha professora de piano me ensinou a sonhar... Isso estará presente

durante toda a minha vida, em todas as conquistas que eu alcançar. (...)(entrevistado 6)

84

(...) este professor é o que mais me estimulou, ele é que me faz seguir nos

estudos. Além de professor, ele ensina várias coisas sobre a vida e a música, que

nenhum professor jamais falou, nem se quer chegou perto. Uma característica

peculiar que me faz vê-lo como um pai é que ele é muito duro mesmo, ele não

se importa que eu chore após as aulas, mas que eu siga meu caminho e após

uma leve caída, que siga os estudos com mais entusiasmo e dedicação. este

professor ainda toca muito bem, o que me faz querer ser como ele, me traz uma

referência. Infelizmente só tenho aula com ele uma vez por ano.(...)(entrevistado

18)

Neste exemplo acima, percebe-se que o respondente lembra com muito vigor do

seu professor, se refere a ele como um pai que é duro, mas o respondente prefere assim,

pois é assim que ele se mantém mais perto dele.

Percebe que o perfil dos educadores musicais é, na sua maioria, do ensino formal,

diferentemente dos educadores musicais oficineiros que não tem a formação específica

em música. Eles tiveram professores de escolas de música, conservatórios e universidade

de Musica. 45,5% possui graduação 10% mestres e 3,6% doutores. Isso revela o alto

nível de conhecimento musical. Muitos tiveram sua formação musical na universidade. A

maioria dos respondentes trabalha na área de musica, sendo em ensino formal

(conservatórios, escolas específicas de música, escolas particulares ou públicas do ensino

regular) em aulas particulares, em outros locais da educação não formal. A maioria dos

respondentes era do sexo masculino.

Essa pesquisa trouxe algumas reflexões sobre os educadores da área de educação

musical, e se percebeu através dos depoimentos que, na maioria das vezes, eles tiveram

profeesores que os influenciaram na sua trajetória de ensino de uma forma positiva. È

onde entra o fenômeno da mentoria, pois tiveram pessoas que estiveram com eles,

incentivando-os, encorajando-os, e ensinando uma melhor forma de viver.

85

Percebe-se que muitos dos educadores musicais brasileiros quando falam dos

seus professores de música, lembram muitas vezes da sua técnica no instrumento ou a sua

forma de ensinar, mas sempre de uma forma muito carinhosa de amizade.

(...) trata o curso de fato, como um curso de nível superior. está sempre

querendo mais de nós, o que é excelente para o desenvolvimento acadêmico.(...)

(...) as aulas mesmo sendo de assuntos maçantes tornavam-se

agradáveis pelas brincadeiras, pela contextualização. avaliação inteligente. hoje

ao dar aulas muitas vezes me pego sem querer brincando com meus educandos e

me lembro das aulas dele. pra mim foi inevitável a influencia dele no

comportamento em sala de aula como professor.(...)(entrevistado 22)

Foi analisado também que os respondentes gostam de lembrar-se dos professores

que passaram por suas vidas de forma positiva e aproveitam para fazer uma retrospectiva

sobre suas próprias vidas.

(...) Gostei demais de poder contribuir na sua pesquisa, Raquel! Você

não imagina o quanto foi importante pra mim fazer essa avaliação sobre mim

mesma, sobre os professores que mais influenciaram a minha vida e sobre a

importância que a música e o piano tem na minha vida!! Foi extremamente

gostoso e confortante lembrar os motivos que me levaram a seguir esse

caminho! Fica aqui o meu agradecimento à você por me proporcionar tudo

isso(...)(entrevistado 8)

Outros lamentam por não ter o estudo formal de música.

(...) Quando vocês perguntaram qual minha formação na musica, confesso que

fiquei sem jeito, porque eu gosto de musica e não tive como estudar e

aprofundar meus conhecimentos nessa área. Quando eu tiver mais tempo em

minha vida (trabalho), eu irei me especializar na área que, mas gosto que é a

música. (...) (entrevistado 19)

86

De modo geral, os respondentes do subgrupo 1 - educadores musicais brasileiros

tiveram respostas bem diversificadas, pois demonstraram a presença da mentoria na

maioria delas. Percebe-se que os respondentes tiveram professores de música que se

podem considerar mentores.

4.2 Segunda e terceira questões norteadoras

Esta seção apresenta os itens que compõem a resposta às seguintes questões

norteadoras:

Como os educadores musicais do caso em estudo percebem a influência de mentores no

seu papel atual? Até que ponto os educadores musicais do caso em estudo consideram a

mentoria como parte de seu papel?

4.2.1 Influência de mentores no papel dos educadores musicais em

estudo e a mentoria como parte do seu papel:

Nesta seção apresentar-se-á os dados coletados e discussão dos achados para

analisar a influência de mentores no papel dos educadores musicais em estudo e a

mentoria como parte do seu papel.

87

4.2.1.1 Apresentação, análise de dados e discussão dos achados:

Foram entrevistados dois educadores musicais, que atuam como oficineiros de

música, no Programa Escola Aberta. As entrevistas foram realizadas seguidas de um

roteiro contendo a fundamentação teórica em forma de perguntas (APÊNDICE C e D).

Um oficineiro estudou até a 6ª série e o outro está na faculdade. Os oficineiros não

possuem formação específica em música. Eles se enquadram no perfil de educadores do

ensino não formal. Lembrando que a educação não formal é aquela cujo aprendizado

ocorre “no mundo da vida”, via os processos de compartilhamento de experiências,

principalmente em espaços e ações coletivas cotidianas. O aprendizado gerado e

compartilhado na educação não formal não é espontâneo porque os processos que o

produz têm intencionalidades e propostas, ela é construída por escolhas.

Os dois oficineiros são da própria comunidade, e convive com os seus alunos fora

das oficinas. Percebe-se que os dois oficineiros têm relacionamentos profundos com os

seus alunos. Alguns de pai e outros de amigos. Depende muito da convivência que eles

têm com os alunos, alguns alunos têm relacionamento de pai e/ou mãe, e com outros

alunos têm relacionamentos de amigos ou irmãos. O fenômeno de mentoria mais uma vez

é muito forte nesses relacionamentos.

Dos dois entrevistados, percebeu-se que eles demonstram a característica de um

mentor. De acordo com as perguntas, a pesquisadora percebeu que existe uma

preocupação dos dois oficineiros de música, ser exemplo para os seus alunos, ajudando-

os, motivando-os encorajando-os a vencer na vida. As suas falas eram muito semelhantes

e muito pertinentes. Quando se perguntou se eles percebiam que mentores, eles

concordaram, pois havia as características das funções de mentoria latentes nas suas vidas

em relação aos seus alunos.

88

A seguir se destacará algumas falas retiradas dos roteiros de entrevista dos

oficineiros de música e identificando as funções de mentoria. Tanto funções de carreira

como psicossociais. As falas dos oficineiros 1 e 2 estarão sendo analisadas juntas, pois se

percebeu que são as mesmas respostas (APÊNDICE C e D).

Nessas entrevistas pôde se perceber que o oficineiro 1 ficou muito a vontade para

falar. Para identificação das funções de mentoria, as respostas foram às seguintes:

Patrocínio ou apadrinhamento

Considerando assim, que nessa função o professor apóia e confia no aluno, não

duvidando da sua competência e caráter. Analisa-se a frase a seguir:

(...) os alunos é que me motivam a ensinar (...) (oficineiro 1)

Percebe-se que o oficineiro é um verdadeiro patrocinador dos seus alunos, pois ele tem a

maior vontade de estar com seus alunos e cuidando de cada um.

Proteção

Essa função se caracteriza por pela proteção e segurança que o mentor oferece ao

mentorado, pois fazendo isso evita que o mesmo seja exposto, desnecessariamente, a

experiências e contatos potencialmente prejudiciais ao seu desenvolvimento. A seguir, os

depoimentos que demonstram essa característica:

89

(...) Que me faz mais a ter a capacidade de trabalhar com eles. E é uma preocupação muito grande de lês

“tarem” na rua nessa idade né, ‘tá’ junto deles. (...) Tenho medo que eles se percam, por isso eu me

mantenho firme (...) (oficineiro 2)

Amizade

Essa característica acontece quando o mentor desenvolve uma interação social com

o mentorado que tem como resultado afetividade e compreensão mútua e trocas informais

agradáveis sobre o trabalho e fora dele.

(...) É uma satisfação muito grande “ta” junto deles... (...)

(““...) Eu junto” cum” eles, to “tirano” eles das ruas.(...)(oficineiro 1)

Papel modelo

O papel modelo acontece quando consciente ou conscientemente, o mentorado ver

no mentor um modelo a ser seguido. Diz-se respeito a um processo de aprendizagem

baseado no respeito e na admiração. È bom destacar que nem sempre o mentor tem

consciência de que esta sendo exemplo para o mentorado.

Percebe-se no depoimento abaixo, que os primeiros mentores da nossa vida são os

nossos familiares (principalmente os pais), ou em outro momento os nossos professores,

que aparecem como modelo, mas são referenciados pela sua atuação.

(...) para eles, como eles já disseram eu sou tudo (...) (oficineiro 1)

(...) É, é Rubinho, que foi meu professor, Angelita que ta junto comigo é que que é a diretora lá da

escola, e meus pais.(oficineiro 1)

90

(...) me considero um exemplo pra eles... acho que posso sim, me encaixar nesse papel modelo. (oficineiro

2)

Nesse momento em que ele falava, percebeu que se emocionava, pois refletiu

sobre a convivência com seus pais de uma forma bastante intensa e lembrar que seus pais

já faleceram e deixaram marcas muito boas e experiências de alegria e crescimento para

vida dele e do seu único irmão. Falou ainda que ele é exemplo para o seu irmão.

Tarefas desafiadoras

Essa função se destaca pelo motivo que o mentor oferece ao mentorado desafios

ou tarefas viáveis para aumentar as habilidades do mesmo. Observa-se no depoimento

abaixo:

(...) hum.. bem... eles que são a chave desse grande cadeado. Que me incaminhraram pra o sistema da

escola, e isso pra mim é um orgulho (...) (oficineiro2)

A pesquisadora mostrou para o oficineiro uns cartões contendo as informações

sobre a função de mentoria tanto psicossociais como de carreira, e perguntou se ele se

identificava com algumas delas, mas se ele achasse que estava enquadrado em todas as

funções, assim poderia concordar com todas.

(...) papel modelo, atenção e confiança, onde tenho confiança entre a escola e comunidade;

Proteção, tarefas desafiadoras, na realidade todas tem haver comigo, acho q desempenho bem esse papel.

E é bem importante pra mim (...) (oficineiro 1)

91

(...) Aconselhamento, não só os pais têm q dar mais os educadores também. O educador tem que

ser os segundos pais deles. Eles tão aqui aprendendo o que a gente passa pra eles (..).(oficineiro 2)

Mentoria

(...) Me acho um mentor, porque daí que as minhas palavras pra eles são muito de conhecimentos

pra eles que eles tenha a atenção no que eu falo..(... (oficineiro 1).

(...) acho que sou sim mentora... porque sempre que eles tem dificuldades em relação a qualquer

coisa, tipo.. por exemplo... Emocional... eles recorrem a mim(...)(oficineiro 2)

(...) eu tirei Rufai da rua porque ele saiu do quartel e só queria ficar na rua com malandragem ai

eu resgatei ele de que forma.trazendo ele pra escola,trazendo ele pra função da banda(...)(oficineiro 1)

(...) Bem(suspiro).. ajudo eles no que eles precisam... aconselho, repreendo...(...)(oficineiro 2)

Durante uma conversa informal com o oficineiro 1, uma frase chamou à atenção

da pesquisadora quando o entrevistador perguntou se ele queria estar fazendo outra

atividade naquele momento. Ele respondeu emocionado dizendo que não trocaria os seus

alunos por nada, pois eles traziam alegria para sua vida. Que nenhum dinheiro trocava a

experiência que ele estava tendo com aqueles adolescentes e jovens. E disse mais, que

sentia orgulho daquele papel que ele exercia. Disse que essa função de educador só

acabaria na sua morte. Pois tem muito orgulho de ser exemplo para os alunos.

Desta forma, o mentor era como se fosse um pai adotivo, e era permitida a ele a

responsabilidade pelo desenvolvimento físico, social intelectual e espiritual dos jovens

(CARR, 1999).

O contato com o oficineiro 2 foi bem interessante, no inicio da fala ele não entedia

muito qual era o papel do mentor, aos poucos ele ficou muito feliz por descobrir que

possuía algumas das características de mentoria. O seu relacionamento com seus alunos é

muito interessante, pois todos o tratam como um amigo e o respeitam muito. Na primeira

92

vez que a pesquisadora teve contato com o grupo, percebeu-se a disciplina e o carinho

que eles têm com o oficineiro. Observa-se muito nitidamente a presença do fenômeno da

mentoria, Ele tem um relacionamento muito forte de amizade. Se vê que há funções de

aconselhamento, proteção e papel modelo.

4.3 Quarta e quinta questões norteadoras

Esta seção apresenta os itens que compõem a resposta às seguintes questões

norteadoras: Até que ponto as funções de carreira estão presentes no comportamento dos

educadores, na ótica dos diversos Stakeholders do Programa: pais e alunos

beneficiados?e Até que ponto as funções psicossociais estão presentes no comportamento

dos educadores, na ótica dos diversos Stakeholders do Programa: pais e alunos

beneficiados?

4.3.1 Funções de mentoria sob a ótica dos Stakeholders (pais e alunos)

em relação aos educadores musicais do caso em estudo, denominados

oficineiros:

Nesta seção apresentam-se os dados coletados para analisar as funções de

mentoria sob a ótica dos Stakeholders (pais e alunos) em relação aos educadores musicais

do caso em estudo, denominados oficineiros.

93

4.3.1.1 Apresentação, análise de dados e discussão dos achados:

Foram entrevistados 12 alunos das oficinas de música. Cinco respondentes da

Escola 1 e sete respondentes da escola 2. As entrevistas foram realizadas seguidas de um

roteiro contendo a fundamentação teórica em forma de perguntas. Foram sete perguntas

(APÊNDICE B). Os alunos de forma geral são adolescentes. Todos estudam ou já

estudaram em escolas públicas. Nenhum deles estuda ou estudaram em escola especifica

de música.

Os alunos moram próximos da escola. Percebe-se que os alunos têm

relacionamentos profundos com os seus oficineiros. Uns de pai e outros de amigos. O

fenômeno de mentoria mais uma vez é muito forte nesses relacionamentos. Os alunos têm

um bom relacionamento uns com os outros. Convivem fora do espaço da sala de aula

(oficina).

Os pais entrevistados foram três mães da Escola 1 e duas mães das Escola 2. As

mães da Escola 1, levam seus filhos aos ensaios da Banda. Foram sete perguntas no

roteiro de entrevista ( APÊNDICE A). As mães da escola 2 não levam os seus filhos aos

ensaios. As mães concordaram que as oficinas fazem bem aos seus filhos e reconhecem

que os oficineiros são boas influências para os seus filhos, pois complementam na

educação deles.

A seguir destacam-se algumas falas retiradas dos roteiros de entrevista dos alunos

e pais identificando as funções de mentoria. Tanto funções de carreira como

psicossociais. As falas dos alunos da Escola 1 e Escola 2 estarão sendo analisadas juntas,

pois se percebeu que são as mesmas respostas. Em seguida, se analisará a respostas dos

94

pais (de acordo com o roteiro de entrevista no APÊNDICE A), no mesmo intuito de se

discutir as funções de mentoria e seus benefícios.

Nessas entrevistas observa-se que os alunos ficaram muito inquietos, por estar

sendo gravada a conversa. O que se percebe na entrevista é que todos tinham a mesma

resposta. Pareceu que o oficineiro havia feito uma prévia de entrevista com eles.

Analisar-se-á neste momento, as percepções que os alunos e pais têm em relação ao

oficineiro à luz da mentoria.

Para identificação de algumas funções de mentoria, as respostas dos alunos e pais foram

às seguintes:

Tarefas desafiadoras

Essa função destaca-se por pelo fato do mentor dar desafios ao mentorado viáveis

para aumentar as habilidades do mesmo. Observam-se os depoimentos a seguir.

(...) Muito importante para a educação dos meus filhos, porque antigamente

eles ficavam sem fazer nada, e sempre quiseram fazer parte desta banda, pois

adoram música. É melhor aqui do que na rua. De manha na escola, a tarde

aqui ensaiando e a noite em casa. Eles passam o dia na escola e isso é bom,

fico despreocupada (...). (Mãe 1 escola 1)

(...)É ótimo... sou suspeita de falar.... é muito boa... tem me ajudado muito... de

vez enquando a gente passa o dia todo aqui na escola... pintando os

instrumentos, ajudando a diretora quando ela precisa da gente...eu gosto de

ajudar(...) mãe 2 escola 2).

95

Patrocínio ou apadrinhamento

Nesta função, o mentor apóia o mentorado e confia nele, não duvidando da sua

competência e caráter. È o que se percebe no depoimento do aluno logo em seguida:

(...)Qui tirou mai eu da rua.-

Entrevistadora: que tirou o que? Aluno:- Que tirou a gente da rua . –

Entrevistadora: e o que você acha dessa ideia de ``tirar´´ da rua? – pra gente não se envolver em dogas

,dogas... (...) (aluno 2 escola 1)

Proteção

Esta característica de mentoria se destaca pela proteção que o mentor oferece para

o mentorado,evitando, assim , que o mentorado seja exposto desnecessariamente,

podendo não passar por experiências e contatos, potencialmente prejudiciais ao seu

desenvolvimento. Observa-se a seguir:

(...)que influencia os jovens que estão se drogando por ai. e tira da rua que não estão fazendo nada nas

ruas, vadeando por ai sem fazer nada ai vem fazer alguma coisa aqui.(...) (aluno 1 escola 1)

(...)Acho uma coisa boa para tirar as crianças da rua,em vez das crianças ficarem perdendo tempo,

fazendo o que não deve,tá aprendendo música, sabe ?(...)(aluno 3 escola 1)

“ Eu penso que essa oficina é uma forma mais fácil de pessoas das ruas, drogas, da prostituição.”(aluno 2

escola 2)

96

Coaching (treinamento):

Essa função tem como característica o treinamento. O mentor treina o mentorado

em atividades ou desafios específicos do seu momento profissional. Foi muito comum ver

nas falas dos respondentes essa função. A seguir observa-se nos depoimentos:

“Sim, sim. Por eu ficar tocando mais, porque assim que eu entrei que eu aprendi meu instrumento, eu

continuo sempre tocando ele. E até hoje, música pra mim, eu não deixo... ( aluno 3 escola 1)

(...)Muito boa, faz muito bem pra minha vida.. não consigo faltar aos ensaios(...) Aluno 1 escola 2

(...)Incentiva e estimula a gastar nossa energia para a percussão que é algo muito interessante e gostoso

de tocar.(...) (Aluno 3 escola 2)

(...)Melhora na musicalidade e modo de viver(...). (aluno 6 escola 2)

Exposição e visibilidade

Assegurando-se que nessa função o mentor cria oportunidades para que o

mentorado demonstre suas habilidades, responsabilidade e competências.

“Sim. Percebo que a responsabilidade em minha vida hoje é maior. Essa oficina me fez despertar o desejo

de estudar mais e até me formar em um ensino superior”. ( Aluno 4 escola 2)

97

Amizade

Essa característica acontece quando o mentor desenvolve uma interação social com

o mentorado que tem como resultado afetividade e compreensão mútua e trocas informais

agradáveis sobre o trabalho e fora dele.

Sim. As vezes Nininho leva eles pra praia pra jogar futebol e passeia com eles.(mãe 1escola 1)

(...)Amizade... eles são muito amigos(...)

(...)Sim. é ter respeito com as pessoas ter amizade.(aluno 1 escola 1)

“A gente sai pa passear. -Que tipo de passeio? - aluno : a gente vai pa casa dos amigos –entrev: e vocês

se divertem muito? –aluno: sim, se diverte”. (aluno 2 escola 1)

“Convivência de amizade como se fosse família. Fazemos parte da mesma igreja. Ela conhece meus pais e

minha família”. (Aluno 1 escola 2)

“Convivência de irmãs... gosto muito dela”. (Aluno 5 escola 2)

Aconselhamento

O aconselhamento destaca-se por causa do auxilio que o mentor oferece ao

mentorado a levantar questões pessoais e profissionais que podem interferir na sua auto-

estima e no seu sucesso pessoal.

“Por minha oficineira ser também minha líder espiritual. É uma convivência bastante forte é tipo uma

segunda mãe para mim”. (Aluno 2 escola 2)

98

Análise mostrou que as funções de mentoria estão muito fortes nos

relacionamentos dos alunos com os seus oficineiros. Eles demonstram as características

de funções de carreira e psicossocial, como por exemplo: amizade, proteção,

aconselhamento e coaching.

Os resultados obtidos quanto a existência de professores com características de

mentoria na vida desses alunos e pais entrevistados, vem confirmar os achados de

Kram(1985), quando afirma que a mentoria é uma relação que acontece de um mentor

mais velho e um mais novo e menos experiente, denominado mentorado, com o

propósito de auxiliar no desenvolvimento de sua carreira. Na relação professor- aluno

encontra-se bem definido o papel do mentor e do mentorado quando dessa relação pode-

se observar o interesse por parte do professor, não só no desenvolvimento profissional do

aluno, mas também no seu desenvolvimento pessoal.

No próximo capitulo se discutirá as conclusões e as sugestões.

99

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Neste capítulo apresentam-se, conclusões e sugestões que surgem da realização deste

estudo e do aprofundamento de temas para os quais esta pesquisa indica.

5.1 CONCLUSÕES

Com intenção de ampliar a discussão sobre a educação musical no ensino não

formal, se desenvolveu a pesquisa cujo objetivo foi verificar como se apresenta o os

processos de mentoria sobre educadores musicais brasileiros e os oficineiros de música

que atuam no Programa Escola Aberta. A pesquisa foi realizada com três subgrupos. O

subgrupo 1-os educadores musicais brasileiros; o subgrupo 2- os oficineiros e o subgrupo

3 –os stakeholders do Programa- pais e alunos. O lócus de pesquisa do subgrupo 2 e 3

foi o “ Programa Escola Aberta”, (onde é realizado nas escolas), por oferecer entre suas

ações, oficinas de música. Os profissionais nela envolvidos eram os oficineiros de

música. Esses oficineiros então foram o foco dessa pesquisa. Neste sentido, buscou

identificar que funções de mentoria nesses sujeitos.

No ponto de vista da pesquisa, a evidência do objetivo geral se solidifica com a

conclusão de que o subgrupo 1- os educadores musicais brasileiros identificaram

professores de música mentores e que esses trouxeram contribuições positivas, para a sua

formação e atuação como profissionais em música. E os oficineiros de música aos serem

100

entrevistados, reconheceram, explícita ou implicitamente, as grandes contribuições

passadas pelos seus mentores, seja nas relações familiares, seja nos relacionamentos de

trabalho, seja ainda com os seus alunos.

Para responder as perguntas do objetivo geral foi feito um questionário no Survey

Monkey,encontrado na internet através de um link, para os educadores musicais

brasileiros e foram 135 respondentes, com 165 respostas da questão que fala sobre

professores mentores. Nas entrevistas com os oficineiros, pais e alunos, se teve 19

participantes. Dois oficineiros; doze alunos e cinco pais. As respostas foram às esperadas

sobre mentoria. O oficineiro é um mentor e os pais e alunos o consideram como tal.

A concepção dos oficineiros sobre o professor em relação às funções da mentoria

aparece em todas as entrevistas, principalmente a função de amizade.

De acordo com a pesquisa sobre os dados demográficos é que se encontra uma

diferença entre os sujeitos. Enquanto os educadores musicais brasileiros, na sua maioria,

têm um perfil do ensino formal em música e possui formação musical, os oficineiros não

possuem formação musical, e um dos oficineiros não chegou a terminar os estudos,

encontra-se em igualdade em relação ao fenômeno de mentoria.

Os resultados e contribuições desta pesquisa tencionam fertilizar outros estudos que

possam verificar os processos de mentoria nos educadores musicais que participam de

diferentes experiências fora do ambiente do ensino formal.

Como se viu ao longo desta pesquisa, o ensino da música no Brasil passou por

períodos de grande efervescência sonora interrompidos, entretanto, por momentos

angustiante silêncio. À medida que se aprofundava em reflexão sobre o ensino da música

como prática o ensino não formal esses momentos tornavam-se esclarecedores para o

entendimento da função atribuída à música como disciplina de extrema importância na

vida dos indivíduos.

101

Nessa trajetória, marcada por transformações culturais, sociais e políticas, o

ensino da música refletiu a influência de diversas concepções pedagógicas. Esse fato se

evidenciou nas escolas pesquisadas, utilizada, inicialmente, como suporte didático no

processo de alfabetização e como apoio para a manutenção da disciplina escolar.

5.2 SUGESTÕES

Apresentam-se nesta seção final, algumas sugestões de pesquisa podem ser feita a

partir do presente estudo. São as seguintes:

5.2.1 Sugestões de ações da pesquisa:

Alguns temas emergiam dos dados, no decorre da pesquisa, que avalia como

possíveis a serem desenvolvidas em outras pesquisas. Entre eles a investigação das

concepções do professor de música constituídas nos cursos superiores de música, os

fatores ligados a mentoria. Outro fator, ainda nos cursos superiores de música é a

discussão sobre o campo da educação não formal, que ainda hoje não se fala com

atenção. Ainda tem outras sugestões ligadas diretamente a mentoria. São as seguintes:

Investigar quais as implicações de haver dois tipos de relação de mentoria nas oficinas de

música, na qual o mentor tem um relacionamento mais próximo com um mentorado do

que com outro.

Promover um trabalho de mentoria para os educadores musicais, nas instiuições.

102

Oferecer treinamentos de mentoria para profissionais que atuam em programas

públicos, na área de educação.

Oferecer treinamentos para os profissionais em educação.

Estender o treinamento em mentoria aos coordenadores temáticos, oficineiros,

gestores do Programa Escola Aberta.

Estender o treinamento em mentoria para as universidades e escolas da rede

particular e pública de ensino.

Estas sugestões para pesquisa futura encerram este trabalho, mas não os questionamentos

dele advindos.

103

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107

APÊNDICES

APÊNDICE A-ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS PAIS

Nome:

Nome do (a) filho (a) participante da oficina:

Escolaridade dos pais:

Data:

1. Há quanto tempo seu/sua filho (a) faz parte desta oficina?

2. O que você pensa a respeito desta oficina?

3. Seu (sua) filho (a) tem contato (convive) com oficineiro fora das aulas de música?

4. Que tipo de convivência?

5.Com relação à educação de seu/sua filho (a), houve alguma mudança nele (a) depois

de haver entrado na oficina? Qual (ais)?

6. No dia-a-dia, você percebe alguma influencia da oficina de música no

comportamento de seu/sua filho (a)? Qual (ais)?

7.Há mais alguma coisa que você gostaria de falar?

108

APÊNDICE B-ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS ALUNOS

Nome:

Idade:

Grau de escolaridade:

Data:

1. Há quanto tempo você participa da oficina de música?

2. O que você pensa a respeito desta oficina?

3. Você convive com oficineiro fora das aulas de música?

4. Que tipo de convivência?

5. Você percebe se houve alguma mudança na sua vida depois de haver entrado na

oficina? Qual (ais)?

6. No dia-a-dia, você percebe alguma influencia da oficina de música no seu

comportamento? Qual (ais)?

7. Há mais alguma coisa que você gostaria de falar?

109

APÊNDICE C- ROTEIRO DE ENTREVISTA DOS OFICINEIROS

Nome :

Idade:

Grau de escolaridade: Formação: Data:

1- Pensando na sua trajetória de oficineiro. Como surgiu a decisão de ensinar?

2- Alguma(s) pessoa(s) em particular lhe inspirou (raram) nessa decisão?

1.1 -Quem e por quê? (comportamentos, valores, exemplos,...)

1.2 -Até que ponto tinha consciência dessas influencias?

3- Através de um conjunto de cartões, eu vou lhe apresentar as funções de mentoria e

peço que:

2.1-Identifique quais dessas funções considera terem estado presentes na sua formação:

2.2- Avalie quais você reconhece como sendo prioritárias na sua atuação em relação

aos seus alunos (ver cartão funções de carreira)

2.3- reflita sobre aspectos dessas funções que considera merecerem futuras reflexões

(ver cartão funções psicossociais psicossocial)

2.4-Se considera ter percebido benefícios de um ou mais mentores (as) para sua vida

profissional e pessoal, como se resumiria?

4- Até que ponto você tinha/tem consciência de ser precebido(a) como mentor(a) dos

seus alunos? Que exemplo poderia citar? Até que ponto essa avaliação é importante

para você?

5- Até que ponto você acredita que ser mentor (a) é parte da sua missão de educador

(a)? Até que ponto você se esforça conscientemente para ser mentor? Em caso

positivo, de que maneira e com que objetivos?

6- Que avaliação você faria das conseqüências desses seus comportamentos de

mentoria para sua vida profissional?

110

APÊNDICE D- CARTÕES SOBRE AS FUNÇÕES DE MENTORIA

FUNÇÕES DE CARREIRA:

PATROCINIO OU APADRINHAMENTO

Mentor apóia publicamente o

mentorado demonstrando confiança

na sua competência e caráter.

EXPOSIÇÃO E VISIBILIDADE O mentor cria oportunidades

para que o mentorado

demonstre suas habilidades,

responsabilidades e

competências.

COACHING (treinamento)

O mentor treina o mentorado em

atividades ou desafios específicos

do seu momento profissional.

PROTEÇÃO

O mentor evita que o mentorado

seja exposto,

desnecessariamente, a

experiências e contatos

potencialmente prejudiciais ao seu

desenvolvimento.

TAREFAS DESAFIADORAS

O mentor dá ao mentorado desafios

viáveis para aumentar as habilidades

do mesmo.

111

FUNÇÕES PSICOSSOCIAIS:

PAPEL MODELO

Consciente ou inconscientemente, o mentorado vê no mentor

um exemplo a ser seguido. Trata-se de um processo de

aprendizagem baseado no respeito e na admiração. Nem sempre

o mentor tem consciência de ser modelo.

ACEITAÇÃO E CONFIRMAÇÃO

O Mentor demonstra conhecer, respeitar e aceitar a

individualidade do mentorado como digna de desenvolvimento.

Um bom mentor não cria clones de si próprio e sim indivíduos

fortes e autônomos.

ACONSELHAMENTO

O mentor auxilia o

mentorado a explorar

questões pessoais e

profissionais que podem

interferir na sua auto-estima

e no seu sucesso pessoal.

AMIZADE

O mentor desenvolve uma

interação social com o

mentorado que resulta em

afetividade e compreensão

mútua e trocas informais

agradáveis sobre o trabalho

e fora dele.

112

APÊNDICE E-Questionário do Survey monkey:

https://www.surveymonkey.com/s.aspx?sm=J0HLoDakAiV98djtKah7spIqHQfTS3j2u9OGn6JYk4Q%3d

113

114

115

116

117

118

APÊNDICE F - CARTAS DE APRESENTAÇÃO E SOLICITAÇÃO

119

120

121

122

ANEXOS

ANEXO A-FOTOS DA ESCOLA 1

Explicação do roteiro de entrevistas da escola 1.

123

Ensaio da Oficina da Escola 1: Banda Marcial

Ensaio da Oficina da Escola 1: Banda Marcial

124

ANEXO B-FOTOS DA ESCOLA 2

Oficina de percussão da Escola 2

Oficina de percussão da Escola 2

125

ANEXO C-Print do site da ABANFARE/PE (Associação de Bandas e

Fanfarras de Pernambuco), que nos ajudou na divulgação do

link(http://www.abanfare.com.br/)

Figura 2: Site da ABANFARE