PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PAULO AOS CORÍNTIOS CAP. 9-16

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1° CORÍNTIOS - caps. 9-16 (é continuação do arquivo de 1° Co. 1-8) Capítulo 9 Paulo O Servo Livre De Cristo. 1.Co. 9. 1-27. Defendendo sua liberdade cristã: V. 1) Não sou eu, porventura livre? não sou apóstolo? não vi a Jesus, nosso Senhor? acaso não sois fruto do meu trabalho no Senhor? 2) Se não sou apóstolo para outrem, certamente o sou para vós outros; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor. 3) A minha defesa perante os que me interpelam é esta: 4) Não temos nós o direito de comer e beber? 5) e também o de fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas? 6) Ou somente eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar? 7) Quem jamais vai à guerra à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho? Paulo afirmara o princípio orientador de sua vida: Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas são convenientes, cap. 6. 12. Seguindo este princípio ele praticava autonegação por amor ao Senhor e aos seus irmãos, com isto ele renunciara seus próprios direitos e privilégios com o fim de ganhar almas para Cristo e para a propagação do evangelho. Agora, por isso, numa das mais dignas e belas passagens de todo o Novo Testamento, defende sua posição e sua liberdade cristã. Ele tem os mesmos direitos como outros cristãos e como outros apóstolos. Se escolheu não exercer estes direitos, então este fato não o privou de seus direitos, mas, ao contrário, devia levar os cristãos de Corinto a estimá-lo tanto mais por seu altruísmo em favor deles. Estes foram suas prerrogativas: Esteve livre; tornara-se participante da liberdade com que Cristo o libertara, e no exercício desta liberdade não precisava prestar contas a ninguém. Era apóstolo, e isto apesar do fato que alguns caluniadores estivessem lançando suspeição sobre a certeza de seu chamado, 2.Co. 11. 13. No que diz respeito aos coríntios, seu apostolado está substanciado de duas maneiras: Ele, com os olhos do seu corpo, viu ao Senhor, que era seu Senhor comum, Jesus Cristo, At. 6, quando o Senhor lhe apareceu no caminho a Damasco. Os próprios coríntios são obra sua, sendo a evidência concreta de seu chamado, porque por seu agir o Senhor os criara para serem novas criaturas, sendo que no caso deles a pregação do evangelho fora efetiva, sendo o que receberam foi a graça e a bênção do Senhor que é concedida pela palavra e a obra de Seus servos. O apóstolo se sente constrangido para enfatizar este ponto: Se aos outros não sou apóstolo, de qualquer modo, com toda certeza, o sou para vós. Em outras congregações, onde os mestres judaizantes eram muito fortes, podiam negar seu apostolado, visto que não podiam estar bem fundamentados no seu ponto de vista ou opinião. Mas quanto aos coríntios, estes certamente não podiam agir diferentemente do que reconhecê-lo, visto ser o simples fato de sua conversão uma constante confirmação de sua asserção: eram o selo de seu apostolado no Senhor. O Senhor colocou Seu selo no trabalho de Seu servo tornando poderosas as suas palavras para a conversão dos coríntios. Cf. Jo. 3. 33. Paulo estivera entre os cristãos de Corinto com os sinais dum apóstolo, 2.Co. 12. 12, e o Senhor dera de modo tão maravilhoso o crescimento a ponto de confirmar, à vista de todas as pessoas não cegadas por preconceito, o comissionamento de Paulo. Esta é a apologia, a resposta a seus críticos, ou seja, aos que questionavam seu apostolado e que queriam investigar suas reivindicações. Ele simplesmente aponta para a congregação de Corinto, mostrando que não precisa de outra defesa. Agora Paulo vindica outros direitos: Será que é assim que não temos direito de comer e beber? Alguém põe em dúvida nosso direito ao sustento? Mc. 6. 10; Lc. 10. 7; 22. 30. Ele tinha o direito de esperar que o povo que servia apropriadamente provesse por seu sustento, ou seja, que ele pudesse viver às expensas da congregação em cujo interesse trabalhava. Outro direito: Acaso não temos o poder de levar conosco uma irmã cristã como esposa? Ele sustenta seu direito de casar,

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1° CORÍNTIOS - caps. 9-16(é continuação do arquivo de 1° Co. 1-8)

Capítulo 9

Paulo O Servo Livre De Cristo. 1.Co. 9. 1-27.

Defendendo sua liberdade cristã: V. 1) Não sou eu, porventura livre? não sou apóstolo?não vi a Jesus, nosso Senhor? acaso não sois fruto do meu trabalho no Senhor? 2) Se não souapóstolo para outrem, certamente o sou para vós outros; porque vós sois o selo do meu apostoladono Senhor. 3) A minha defesa perante os que me interpelam é esta: 4) Não temos nós o direito decomer e beber? 5) e também o de fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como fazem osdemais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas? 6) Ou somente eu e Barnabé não temos direitode deixar de trabalhar? 7) Quem jamais vai à guerra à sua própria custa? Quem planta a vinha enão come do seu fruto? Ou quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho?Paulo afirmara o princípio orientador de sua vida: Todas as coisas me são lícitas, mas nem todassão convenientes, cap. 6. 12. Seguindo este princípio ele praticava autonegação por amor ao Senhore aos seus irmãos, com isto ele renunciara seus próprios direitos e privilégios com o fim de ganharalmas para Cristo e para a propagação do evangelho. Agora, por isso, numa das mais dignas e belaspassagens de todo o Novo Testamento, defende sua posição e sua liberdade cristã. Ele tem osmesmos direitos como outros cristãos e como outros apóstolos. Se escolheu não exercer estesdireitos, então este fato não o privou de seus direitos, mas, ao contrário, devia levar os cristãos deCorinto a estimá-lo tanto mais por seu altruísmo em favor deles. Estes foram suas prerrogativas:Esteve livre; tornara-se participante da liberdade com que Cristo o libertara, e no exercício destaliberdade não precisava prestar contas a ninguém. Era apóstolo, e isto apesar do fato que algunscaluniadores estivessem lançando suspeição sobre a certeza de seu chamado, 2.Co. 11. 13. No quediz respeito aos coríntios, seu apostolado está substanciado de duas maneiras: Ele, com os olhos doseu corpo, viu ao Senhor, que era seu Senhor comum, Jesus Cristo, At. 6, quando o Senhor lheapareceu no caminho a Damasco. Os próprios coríntios são obra sua, sendo a evidência concreta deseu chamado, porque por seu agir o Senhor os criara para serem novas criaturas, sendo que no casodeles a pregação do evangelho fora efetiva, sendo o que receberam foi a graça e a bênção doSenhor que é concedida pela palavra e a obra de Seus servos.

O apóstolo se sente constrangido para enfatizar este ponto: Se aos outros não sou apóstolo,de qualquer modo, com toda certeza, o sou para vós. Em outras congregações, onde os mestresjudaizantes eram muito fortes, podiam negar seu apostolado, visto que não podiam estar bemfundamentados no seu ponto de vista ou opinião. Mas quanto aos coríntios, estes certamente nãopodiam agir diferentemente do que reconhecê-lo, visto ser o simples fato de sua conversão umaconstante confirmação de sua asserção: eram o selo de seu apostolado no Senhor. O Senhorcolocou Seu selo no trabalho de Seu servo tornando poderosas as suas palavras para a conversãodos coríntios. Cf. Jo. 3. 33. Paulo estivera entre os cristãos de Corinto com os sinais dum apóstolo,2.Co. 12. 12, e o Senhor dera de modo tão maravilhoso o crescimento a ponto de confirmar, à vistade todas as pessoas não cegadas por preconceito, o comissionamento de Paulo. Esta é a apologia, aresposta a seus críticos, ou seja, aos que questionavam seu apostolado e que queriam investigarsuas reivindicações. Ele simplesmente aponta para a congregação de Corinto, mostrando que nãoprecisa de outra defesa.

Agora Paulo vindica outros direitos: Será que é assim que não temos direito de comer ebeber? Alguém põe em dúvida nosso direito ao sustento? Mc. 6. 10; Lc. 10. 7; 22. 30. Ele tinha odireito de esperar que o povo que servia apropriadamente provesse por seu sustento, ou seja, queele pudesse viver às expensas da congregação em cujo interesse trabalhava. Outro direito: Acasonão temos o poder de levar conosco uma irmã cristã como esposa? Ele sustenta seu direito de casar,

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caso assim o escolhesse. Não é somente um direito dos ministros cristãos que entrem no santocasamento, mas o apóstolo, até, declara ser da liberdade cristã que um pregador itinerante, ou a ummissionário, esteja casado e levar consigo uma esposa para os vários lugares. Quando umacongregação prefere um pastor solteiro, porque seu sustento não requer tanto dinheiro, significaimpor uma condição que não é possível conformar com as Escrituras. Os outros apóstolos seusaram deste direito, sendo que suas esposas, via de regra, os acompanhavam. Os irmãos (meio-irmãos, primos) do Senhor Jesus seguiram o costume dos judeus e casaram, e de Pedro éexpressamente afirmado que teve esposa. Nota: A expressão “irmãos do Senhor” pode ser tomadaliteralmente. Pois, como o diz certo comentarista, “a afirmação ‘nascido da Virgem Maria’, é umartigo do credo da igreja; mas a questão se ela, mais tarde, deu à luz filhos não envolve qualquerponto da fé cristã.” Um último direito: Será que é assim que somente eu e Barnabé não podemosparar de trabalhar, de desistir do trabalho manual para o nosso próprio sustento? Barnabé, queacompanhara com Paulo em seus antigos labores na Ásia Menor, At. 4. 36; 11. 22; 13. 14,empregara sua propriedade em Jerusalém para o proveito da congregação e seguira o exemplo dePaulo, até quando em viagens missionárias, sustentando-se pelo trabalho de suas mãos, o que é umfato que Paulo aqui reconhece. Incidentalmente, esta referência ao seu antigo colega mostra que suadiferença de opinião, At. 15. 37, 38, não resultou numa desavença duradoura, mas que os doislíderes ajustaram sua dificuldade, mesmo que mantivessem sua opinião individual quanto a suapreferência sobre o assunto. Paulo insiste que não tiveram a obrigação de trabalhar por suasubsistência, enquanto trabalhavam, o que supõe que não deviam entendê-lo mal, mas, pelocontrário, deviam perceber que sua intenção foi não lhes ser um fardo, 2.Co. 12. 16. Desta forma,estes três direitos pelos quais Paulo luta “realmente redundam neste um pelo Paulo lutasubseqüentemente: ele podia ter exigido com justiça seu sustento pessoal, e isto no jeito mais carode um homem casado, da congregação cristã pela qual trabalhou, poupando-se, desta forma, dasdesvantagens e durezas do ofício manual.”1)

O apóstolo, usando três parábolas, ilustra seu direito e poder de receber sustento àsexpensas da congregação, sendo que as figuras são tomadas do acampamento, da vinha e dorebanho: Quem, caso, serve no exército à sua própria expensa? Quem planta uma vinha e não seufruto? Ou quem age como pastor dum rebanho e não como o leite do rebanho? No caso que alguémservisse como soldado às suas próprias custas pessoais, no caso que alguém se metesse napreocupação de plantar uma vinha mas não usar seu fruto, no caso que um pastor tivesse a guardadum rebanho e não usasse parte do leite que lhe pertencia, então faria algo fora do normal e poderiaostentar uma bondade que ninguém lhe exigiu, pois a regra sempre foi o contrário. Notamos que astrês figuras encontram sua aplicação no trabalho dum ministro fiel: o soldado valoroso, lutandopelo Senhor; o viticultor incansável, ocupado com as plantas da vinha do Senhor; o pastor fiel,sentindo a responsabilidade de cada ovelha e cordeiro do rebanho do Senhor.

A prova das Escrituras e sua aplicação: V. 8) Porventura falo isto como homem, ou não odiz também a lei? 9) Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi que debulha.Acaso é de bois que Deus se preocupa? 10) Ou é seguramente por nós que ele o diz? Certo que épor nós que está escrito; pois o que lavra, cumpre fazê-lo com esperança; o que debulha, faça-ona esperança de receber a parte que lhe é devida. 11) Se nós vos semeamos as coisas espirituais,será muito recolhermos de vós bens materiais? 12) Se outros participam desse direito sobre vós,não o temos nós em maior medida? Entretanto não usamos desse direito; antes suportamos tudo,para não criarmos qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo. Aqui o apóstolo comprova, pormeio duma passagem da Escritura, o princípio que os servos do Senhor têm o direito de esperar desuas congregações o sustento material. Pois ele diz expressamente que não arrazoa o assuntoconforme qualquer pessoa o faria, ou seja, conforme a usual prática humana, e acrescenta umaexpressa ordem divina. Desta forma ele previne o argumento que está tirando exemplos da vidadiária para suportar seu direito ao sustento dos pastores. Está escrito, e por isso está sempre de pé,na lei de Moisés, no livro que levou o nome de Moisés, Dt. 25. 4: Não amordaçarás um boi que

1) 49) Expositor’s Greek Testament, 2. 847.

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debulha. Cf. 1.Tm. 5. 18. No Antigo Testamento esta é uma das passagens que prescrevem um tratohumano de animais. A debulha, via de regra, era feita assim que um boi pisava as espigas para tiraros grãos, Mq. 4. 12, 13, ou prendendo-as a um pesado malho que arrastavam sobre a eira, 2.Sm. 24.22. A lei proibia amordaçar os bois durante este trabalho, que assim estavam livres para apanhartalos de grãos sempre que tivessem fome. Paulo defende sua aplicação da passagem do AntigoTestamento ao ponto em disputa, perguntando: É com bois que Deus se preocupa, ou, sem dúvida,o diz por causa de nós? “É um dito proverbial, que Paulo expõe um tanto, assim que diz: Preocupa-se Deus com bois? Como se dissesse: Mesmo que Deus tome conta dos bois, Ele, ainda assim, nãofaz que isto seja escrito por causa dos bois, visto que não sabem ler; é isto o que Paulo quer dizer:Este versículo deve ser entendido não só de bois, mas dos trabalhadores em geral que devem viverde seu trabalho.”2) Por isso Paulo está correto quando faz a aplicação: Pois isto está escrito poramor de nós, por causa de nós, a saber, que é necessário ao lavrador lavrar em esperança, e que oque debulha faça seu trabalho na esperança de compartilhar. Tanto o lavrar como a debulha étrabalho árduo, e por isso a figura se adapta bem ao contexto; apresenta de modo típico as lidas dosmestres cristãos na linguagem da lei e sob as formas do trabalho agrícola. A expectativa departicipar dos frutos é um direito do trabalhador, seja ele uma besta ou uma pessoa, e, por isso, aaplicação é óbvia. A esperança daquele que lavra ou debulha no mundo espiritual, de fato, se dirigea um fruto espiritual, Jo. 4. 36, mas, tendo em vista que, em sua vocação, ele se utiliza do trabalhode seu corpo, de sua vida física, tem direito para, segundo a lei de Deus, esperar que a fé segue àpregação também será ativa no amor, e, desta forma, de modo apropriado, se tomará cuidado dasnecessidades físicas dos trabalhadores espirituais.

O apóstolo faz francamente a seguinte dedução: Se em vosso benefício semeamos coisasespirituais, será muita coisa, será demais, que colhamos vossas coisas carnais? Esta questão sechoca com a imaginação daqueles cristãos que colocam um alto valor nos dons que participam aosseus pastores, visto que pessoalmente dão pouco valor ao que deles receberam. Pois todas as coisasespirituais que se encontram em meio a uma congregação: os dons do Espírito, a fé, o amor, aesperança, o conhecimento, o zelo, o fervor na oração, etc., todos são fruto do evangelho tal comofoi semeado pelo ensino do pastor, tanto em público como em particular. Com toda certeza ocristão que percebe, mesmo de modo fraco, o valor inestimável destes dons, não hesitará em, aomenos, tentar restituir as bênçãos espirituais, pela oferta do fruto de suas mãos, visto que éimpossível uma restituição plena. Lutero diz: “Não gosto de explicar aqueles textos que são a nossofavor, como servos da palavra que somos. Pode parecer que seja por causa de ganância, que taistextos são expostos apropriadamente ao povo. É, porém, necessário que o povo seja instruído paraque saiba que honra e suporte deve sob a obrigação de Deus a seus mestres.”

Agora Paulo destaca seu próprio caso com mais clareza, quando se compara com outrosmestres que se utilizavam do suporte das congregações: Se outros compartilham deste poder, fazemuso de seu direito sobre vós, por que antes disso não nós? Paulo tinha mais direito em participar dasposses deles, de em algum modo exercer domínio sobre eles, como primeiro mestre que fora dacongregação de Corinto, visto que fora ele o homem que lavrou a terra e foi quem plantou. Mas, dizele, não fizemos uso deste direito, não porque fosse vaidoso demais ou porque não o necessitasse,mas porque em silêncio quis suportar a tudo, escolheu agüentar sem lamúria, para que nãooferecesse algum impedimento ao evangelho de Cristo. No mundo gentio era exposto como sendoavareza, quando um professor itinerante aceitava pagamento, sendo um caso que, como era natural,prejudicava a causa. Além disso, Paulo não quis estar ligado a certa congregação, visto que seuchamado incluiu o cuidado a todas as congregações que foram fundadas por ele e, quando a ocasiãose oferecia, da fundação de outras. Temos aqui uma prova excelente do altruísmo de Paulo, a qual,até, o moveu a desistir dum direito que tinha, para que não compreendido de modo errado e paraque, em conseqüência, a pregação do evangelho não sofresse.

O dever dos ouvintes: V. 13) Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados, dopróprio templo se alimentam; e quem serve ao altar, do altar tira o seu sustento? 14) Assim

2) 50) Lutero, 3. 1592.

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ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho, que vivam do evangelho; 15) eu, porém,não me tenho servido de nenhuma destas coisas, e não escrevo isto para que assim se faça comigo;porque melhor me fora morrer antes que alguém me anule esta glória. O apóstolo, mais uma vez,se refere à regra fundamental que sempre deve ser observada, a saber, que em condições normais ascongregações devem suprir todas as necessidades corporais de seus pastores, para que nenhum dosmembros da congregação de Corinto o entenda mal e faça questão em insistir sobre o altruísmo dospregadores. Ele busca do serviço do templo mais outra razão para seu argumento: Não sabeis queos que estão empregados nos ofícios sacros, ou seja, aqueles que estão ocupados nas coisas santasno templo, como o que vem do lugar sagrado? O apóstolo fala do serviço no templo, em especialcom aquele que está ligado à oferta de sacrifícios. As pessoas de qualquer lugar empenhadas nestetrabalho, por isso não só entre os judeus, mas também entre os gentios, obtinham seu sustento dotemplo, dos dons e das ofertas do povo. Cf. Nm. 18. 8ss; Dt. 18. 1ss. E aqueles que servem juntoao altar, que de fato estão ocupados na realização dos ritos de sacrifício, têm participação no altar,sendo reservada uma parte do sacrifício para o uso dos sacerdotes, Lv. 10. 12-15. Conforme esteprecedente, a regra também vale para o Novo Testamento: Desta forma o Senhor tambémdeterminou que os que pregam o evangelho que vivam do evangelho. Marquemos: Esta é umaordem do Senhor, e não fica sem castigo se deixada de lado. Visto que todas as coisas que há nomundo são, realmente, Sua propriedade, sendo no tempo presente meramente confiadas aos quedelas se utilizam, é, por isso, função e privilégio Seu decidir a forma em que os bens deste mundodevem ser usados. O Senhor quer as necessidades físicas dos pastores, por estarem ocupadosexclusivamente nas tarefas que dizem respeito à pregação do evangelho, por devotarem todo seutempo ao estudo da gloriosa mensagem da salvação e à aplicação de suas verdades confortadoras,sejam supridas pelo povo que servem com o evangelho; os meios, não só para uma mera existênciaou subsistência, mas para uma subsistência decente, devem provir do rico depósito das bênçãos deDeus concedidas aos Seus filhos.

Paulo se apressa em acrescentar que o seu próprio caso é uma exceção: Mas no que dizrespeito a mim, não fiz uso de qualquer dessas coisas. Conforme o expusera acima, tinha o direito ea autoridade de esperar o sustento da congregação de Corinto, vv. 4-6. Deliberadamente se privaradesses privilégios. Algumas razões pessoais haviam-no levado a este procedimento, em especialseu desejo de servir de modo mais eficiente ao evangelho. E assim ele expõe ainda: Contudo, nãoescrevi isto para que no meu caso assim ocorresse, ou fosse feito assim. Ele não fala a favor de simesmo, ou em seu próprio interesse. Enfaticamente declara: Pois, ao contrário, me é bom, honrávele vantajoso morrer, do que – minha ostentação ninguém anulará! O apóstolo, em sua emoção, atéesquece a construção gramatical. Sentimento forte, impaciência e indignação, muitas vezes,influenciaram assim a Paulo. Havia colocado seu empenho na pregação do evangelho, sem esperarqualquer remuneração das congregações, e seu desejo foi morrer mas não ter esta glória arrebatadade si. Fora da perda deste orgulho especial que tencionava levar consigo para além do túmulo,julgava sem maior valor qualquer perda ou necessidade material. Não que Paulo se quisessedestacar sobre os demais apóstolos, mas sua humildade foi assim que aquilo, que exigia como certopara eles, considerava uma ingratidão em seu próprio caso.

Sua glória não está em sua pregação: V. 16) Se anuncio o evangelho, não tenho de que megloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho! 17) Seo faço de livre vontade, tenho galardão; mas, se constrangido, é, então, a responsabilidade dedespenseiro que me está confiada. 18) Nesse caso, qual é o meu galardão? É que, evangelizando,proponha de graça o evangelho, para não me valer do direito que ele me dá. Aqui Paulo, mais umavez, obvia um possível mal-entendido. Foi humilde demais para se sentir digno da pregação doevangelho, muito menos iria fazer de sua pregação um assunto de vaidade: Pois se prego oevangelho, então isto não é motivo algum do qual me orgulhe. Sua vantagem está nisso, querenunciou seu direito ao sustento mas pregou sem qualquer remuneração. Pois quanto à pregação,fora-lhe imposta a necessidade, fora premido para o serviço do evangelho, sendo que a vontadesoberana do Senhor determinara seu apostolado e, além disso, estava sob imensuráveis obrigaçõespara com o Senhor por causa de Sua graça perdoadora. Mas, sendo seu serviço feito sob estas

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condições, então não pode haver qualquer pergunta quanto a qualquer orgulho. E mais: Pois, ai demim se não prego o evangelho! No espírito estava obrigado, penhorado, como servo de Cristo, eisto até ao limite de seu poder e habilidade, para louvar a Deus por meio de seu ministério doevangelho. E, caso se aventurar a desobedecer ao chamado divino, precisa esperar que sobre elecaia o juízo do Senhor. A atitude de Paulo foi completamente diferente daquela de muitospregadores e mestres de nossos dias que aproveitam qualquer desculpa para desistir do serviço doSenhor.

O apóstolo expõe sua atitude: Pois, se o faço voluntariamente, se por minha espontâneavontade estou empenhado nesta obra, então tenho recompensa. O próprio fato que uma pessoa estáempenhada no glorioso ministério de ensinar e salvar almas para Cristo faz com que ele valha àpena e se constitui numa recompensa. Além disso, há, porém, uma recompensa graciosa, Mt. 19.28, 29, a qual o Senhor intentou para aqueles que permanecem fiéis na realização de seu ofício atéao fim. Por outro, porém, se ele trabalhar involuntariamente e sob constrangimento, então ele, aindaassim, foi incumbido da mordomia deste ofício. O mordomo ocupava uma posição de confiança nacasa do dono. Sua atitude para com seu trabalho não fazia qualquer sentido, este lhe foi destinado,e dele se esperava uma fiel obediência. Cf. 1.Tm. 1. 12, 13. Não podia esperar qualquer galardãomeritório pelo trabalho feito com fidelidade, visto que isto não passava dum dever seu, mas, nocaso de fracasso, podia esperar punição. Incidentalmente, parece que está incluída a idéia, comocerto comentarista o coloca: “Servo de Cristo, não requeiro qualquer salário para a minhamordomia; basta-me a confiança de Deus.”

Paulo explica em que consiste seu galardão: Sendo assim, qual é minha recompensa, minharecompensa graciosa, a recompensa que faz que a obra sempre valha à pena? E ele responde: Que,pregando o evangelho, eu apresente o evangelho sem ônus. A gratidão que sente quando realiza umserviço real e a satisfação de conceder este serviço livre de quaisquer ônus, de oferecer a salvaçãosem dinheiro e sem preço a todos quantos se dirige, isto por si mesmo é um galardão. E ele faz istonão com o propósito de abusar de seu direito no evangelho, direito que está ligado à proclamaçãodo evangelho. Foi-lhe algo uma alegria e honra, não só ser considerado digno da pregação doevangelho, mas também realizar este trabalho sem qualquer ônus. Os coríntios não tiveramqualquer despesa com ele, mas, por eles, ele dispendeu tudo, inclusive a si mesmo. Uma atitude dedevotamento abnegado como este à causa de Cristo bem pode inspirar a todos os pastores e a todosos cristãos de todos os tempos.

Um trabalho devotado pela causa do evangelho: V. 19) Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. 20) Procedi, para com os judeus,como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmoassim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. 21)Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei deCristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei. 22) Fiz-me fraco para com os fracos, como fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvaralguns. 23) Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele. Aqui oplano de ação da renúncia pessoal de Paulo é exposto em detalhe. Retomando o pensamento do v.01, afirma: Pois, enquanto estou livre de todas as pessoas, fiz-me servo de todas as pessoas, paraque conseguisse tanto mais. Um verdadeiro servo de Cristo usa sua liberdade no evangelho denenhum outro modo se não tão só para a edificação de seu próximo e para o louvor de Deus. Pauloesteve livre, não esteve ligado ao regime arbitrário de qualquer pessoa, mas seguiu seu caminholonge do juízo das pessoas, sendo impelido e controlado tão somente pelo Espírito de Cristo quenele vivia. Ele, porém, por meio duma maneira muito peculiar, sustentou esta liberdade, do pontode vista do homem, a saber, em completa renúncia pessoal. Pelo amor cada cristão é o devedor deseu próximo, e se coloca ao serviço de seu próximo, tendo sempre em mente o verdadeiro bem-estar dele, Rm. 13. 8. E o objetivo único de Paulo foi ganhar por meio deste serviço tanto maisalmas para Cristo. Esta foi uma busca de lucro que também ganhou a aprovação daqueles quesempre estiveram inclinados para suspeitar de seus motivos. Aplicou-se com uma energia e umasabedoria que lhe eram únicas a esta tarefa, fazendo uma análise cuidadosa da situação e lançando

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conforme isso seus planos. Para os judeus tornou-se como se fosse judeu para ganhar os judeus.Sem negar ou deixar de lado uma só palavra da verdade eterna, acomodou seus métodos àscircunstâncias, tendo sempre a intenção de ganhar almas para Cristo, At. 16. 3; 18. 18; 21. 23ss.Aos que se colocavam sob a lei, pertencessem eles à nação judaica ou aos gentios (principalmentegentios circuncisos), ele se tornou como alguém sob a lei, para ganhar aqueles sob a lei. Estevedisposto a se conformar com os costumes, com o modo de vida, e com os métodos de instrução emvoga entre eles, enquanto estas coisas eram, de fato, indiferentes. Aos sem lei, ou seja, aos gentiosno sentido mais restrito da palavra, tornou-se um sem lei, ainda que quanto a si mesmo fosseescravo da lei de Cristo, a fim de ganhar os sem lei. Paulo, quando numa comunidade gentia, nãopraticava os costumes judaicos, visto ser um fato que só teria despertado a oposição dos gentios.Omitia qualquer referência aos preceitos do Antigo Testamento que em seu caráter eramrigidamente judaicos. E ele fez isto, porque esteve sob a lei de Cristo, visto que sua vida era oRedentor, o Cumpridor da lei. O amor de Cristo foi o motivo para todas as suas ações, vivendo umviver que estava implantado Nele e que estando ansioso para se mostrar no serviço aos gentios.Paulo encontrou, no meio da idolatria do paganismo, pontos de contacto para a aplicação dapalavra da graça. Para os fracos o apóstolo se tornou fraco para ganhar os fracos. Seudiscernimento amável capacitou-o para compreender os escrúpulos e as fraquezas daqueles que nãohaviam progredido muito no conhecimento cristão. Cf. 2.Co. 11. 29. Todo verdadeiro servo deCristo precisa aprender do apóstolo a não desprezar a ninguém, nem permitir que em seu coraçãopenetre repulsa sobre fraquezas ridículas. Pode haver muita inabilidade espiritual, mas, na maioriados casos, persiste a capacidade de ouvir a história do evangelho, como também o objetivo deganhar ao fraco. Por isso Paulo resume: Tornei-me tudo para com todos para, por todos os modos,ganhar alguns. Foi desta forma que reluziu a sabedoria prática do amor pastoral e da renúncia dePaulo. Isto não foi duplicidade, como alguns alegaram, 2.Co. 1. 12; 4. 2; 12. 16; Gl. 1. 10, mas aexpressão dum coração que agia sob a disciplina do Espírito santificador. Mas assim procedeu poramor ao evangelho, para que nele fosse co-participante. Cada nova alma ganha para Cristo exibiaao apóstolo a glória do Deus trino e a formosura do Redentor, e as bênçãos do evangelho atuaramsobre ele na comunhão de todos estes santos, ou seja, permitiram-lhe participar de modo mais plenodos efeitos vitalizadores do evangelho. O servo fiel do evangelho irá colher pessoalmente os ricosbenefícios de seu trabalho.

A necessidade de autodisciplina: V. 24) Não sabeis vós que os que correm no estádio,todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. 25)Todo atleta em tudo se domina; aqueles para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, aincorruptível. 26) Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpesno ar. 27) Mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros,não venha eu mesmo a ser desqualificado. Não se adquire uma atitude e um hábito de renúnciacomo os que Paulo praticou, mas se exige a aplicação da mais rija disciplina pessoal, e ele ilustracom seu próprio caso como um cristão pode alcançar e manter este estágio. Para tornar evidente aoscoríntios o que queria dizer, Paulo usa a figura de competições atléticas, com as quais estavamfamiliarizados pelo fato que os jogos ístmicos eram realizados a cada três anos na vizinhança: Nãosabeis que os que correm no estádio, na raia, na verdade, todos correm, mas tão somente um recebeo prêmio? Por isso correi para que, com certeza, o ganheis. O ponto de comparação é a aplicaçãoconstante do pensamento de vencer, de ganhar, o prêmio. Nos jogos ístmicos o prêmio era somenteuma coroa de pinheiro grego, aos gregos, porém, seu valor não podia ser avaliado em termos dedinheiro. O prêmio pelo qual os cristãos devem lutar com cada nervo e fibra de seu ser éincomparavelmente mais maravilhoso, e, por isso, devem recordar que entrar na luta ainda não éganhá-lo. Não se devem dar por satisfeitos com o simples correr, mas devem estar certos dealcançar o prêmio. A corrida a pé ensina uma lição, a luta de Box outra: Cada lutador, cada atleta,pratica temperança em tudo; eles, como é fato, para receber uma coroa perecível, nós, porém, umaimperecível. Todos os atletas dos jogos gregos, não interessando onde estivessem, em especial osboxeadores, não se regalavam com nada que pudesse enfraquecer seus músculos ou seu poder deresistência. Praticavam uma austera severidade que se abstinham, até, da menor quantia de

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alimento ou bebida que pudesse os pudesse atrasar um só dia em seus treinamentos. E tudo isto poruma coroa que fenecia em pouco tempo, unicamente pela honra de ter seus nomes cantados nasodes dos festejos. Quanto mais, por isso, deviam os cristãos, que têm ante seus olhos o prêmioincorruptível de sua vocação celeste, lutar com toda força de seus corações e mentes santificadospara alcançar essa recompensa gloriosa! Bendição e glória eterna são a recompensa da graça, 2.Tm.4. 8; Tg. 1. 12; 1.Pe. 5. 4.

O apóstolo apresenta seu próprio exemplo aos cristãos de Corinto: Por isso, quanto a mimcorro numa maneira que não é de modo algum incerta; boxeio assim, não como quem soqueia o ar.Assim como o corredor só tem uma coisa em mente, que é vencer a corrida; assim como conservaseus olhos fixamente no alvo, assim o apóstolo conserva sua mente firmemente dirigida ao prêmioque espera ao cristão fiel quando seu curso acabou. Assim como o pugilista não gasta sua forçanum fútil soquear do vento, mas tenta fazer valer cada soco, assim o apóstolo, em sua luta comSatanás, o mundo e com sua própria carne, não acertou de modo gentil com luvas de pelica aoinimigo, mas desferiu socos decididos, sabendo que sobre seu vencer da batalha dependia a certezade sua salvação. Por esse motivo Paulo, (literalmente) também amorteceu seu corpo, ele o soqueouaté ficar roxo, ele, na busca de seu alvo, se submeteu à mais severa disciplina corporal. Ele obrigouseu corpo para que realizasse as ordens de sua vontade. Esta é uma das razões por que esteapóstolo, cuja constituição física parece ter sido tudo menos robusta, foi capaz para alcançar tantoem sua obra do Senhor. Mas ele o fez para que, pregando aos outros, ele próprio se mostrassedesaprovado, isto é, fosse excluído, rejeitado, conforme as leis que governavam a competição, ou,caso fosse admitido na competição, fosse sem sucesso em sua tentativa para ganhar o prêmio. “Queargumento e que repreensão! Os coríntios descuidados e desatentos pensaram que com segurançase podiam entreter até chegar à beira do pecado, enquanto este devotado apóstolo se consideravaempenhado numa luta vitalícia por sua salvação.... É o cristão indolente e amante da boa vida quesempre está em dúvida.” (Hodge)

Resumo: O apóstolo defende seu apostolado e seu direito à manutenção pelascongregações e mostra que seu caso, por causa da pregação do evangelho, é uma exceção; expõeaos seus leitores, para emulação, o exemplo de sua própria disciplina pessoal.

Capítulo 10

Uma Advertência Contra A Segurança Carnal. 1.Co. 10. 1-13.

A apostasia de Israel: V. 1) Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveramtodos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar, 2) tendo sido todos batizados, assim na nuvem,como no mar, com respeito a Moisés. 3) Todos eles comeram de um só manjar espiritual, 4) ebeberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E apedra era Cristo. 5) Entretanto, Deus não se agradou da maioria deles, razão por que ficaramprostrados no deserto. Nesta passagem o apóstolo oferece algumas páginas da história do antigoIsrael, como um advertente exemplo para aqueles que estão no perigo de se renderem à segurançacarnal. De todo o número de israelitas adultos, que deixaram a terra do Egito, somente dois, asaber, Josué e Calebe, entraram na terra prometida. Por isso a lição devia ser guardada: Não quero,pois, irmãos, que ignoreis todos os nossos pais estiveram sob a nuvem, e que todos passaram pelomar. Paulo fala de modo franco em “nossos pais”, identificando, desta forma, a igreja do NovoTestamento com o verdadeiro Israel, Rm. 4. 1, 11; 11. 17, 18. Quando os filhos de Israel deixaramo Egito, a terra de sua servidão, então o Senhor ia à sua frente durante o dia numa coluna denuvens para lhes mostrar o caminho, Ex. 13. 21. E toda a congregação também passou pelo MarVermelho como em terra seca, porque o próprio Senhor fez que a água parasse qual parede de cadalado, Ex. 14. 22. A presença misericordiosa de Deus os rodeou e acompanhou em cada passo de suajornada. Notemos que todos os israelitas, sem qualquer exceção, escaparam da casa da servidão,que todos eles estiveram incluídos na libertação maravilhosa pelo Mar Vermelho; mas que, ainda

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assim, a maioria deles pereceu depois! Paulo, além disso, afirma que todos eles receberam seubatismo com respeito a Moisés, tanto na nuvem como no mar. A nuvem e o mar juntos se tornaramos elementos pelos quais os filhos de Israel foram purificados para o Senhor, e separados como opovo da promessa. Foi assim que a nuvem e o mar foram tipos do sacramento do batismo do NovoTestamento. Foram os selos de Deus e os penhores de Suas promessas misericordiosas, tal comohoje os sacramentos o são. Deus salvou Seu povo por meio da nuvem e do mar da tirania de Faraó eo guiou para a liberdade. E Deus, desta forma, resgata pelo batismo a nós do poder de Satanás e nostransporta ao Seu reino, para sermos para sempre Seus filhos livres e benditos. Quando o apóstolodiz que os filhos de Israel foram batizados com respeito a Moisés, ele indica que eles entraram norelacionamento íntimo ou em comunhão com Moisés, que foi o mediador das manifestaçõesdivinas. Eles assumiram a obrigação de segui-lo fielmente como o líder que Deus lhes deu, Ex. 14.31, assim como um cristão batizado em Cristo O faz o grande Líder de sua vida, Gl. 3. 27.

Mas a enumeração das misericórdias de Deus aos Israelitas de modo algum se esgotou: Etodos comeram o mesmo alimento espiritual, e todos beberam a mesma bebida espiritual. Foi destemodo que suas vidas foram mantidas. Todos eles comeram alimento espiritual, alimento do céu,maná dado por Deus para este propósito exclusivo, Ex. 16. 13ss. Não só uma vez, mas duas, deu-lhes a beber água duma rocha, por meio dum visível milagre do Senhor, Ex. 17. 1ss; Nm. 20. 2ss.Tanto alimento como bebida, contudo, não só tiveram o objetivo para lhes manter a vida física, mastambém para lhes manter a vida espiritual. Neste sentido o alimento e a bebida da Eucaristia sãoantítipos, que até mesmo os ultrapassam, do alimento e da bebida milagrosa de Israel no deserto.Agora, tal como então, é a palavra de Deus que dá eficácia à refeição, mas com efeito diferente emcristãos e incrédulos. A água milagrosa é por Moisés (Paulo?) ainda explicada: pois eles beberam,durante todo o percurso de sua jornada pelo deserto, da Rocha espiritual que os acompanhou; masessa Rocha foi Cristo. Enquanto suas bocas participavam da água que fluía a seus pés, seusespíritos foram refrigerados pela fé em Cristo, que esteve com eles como a Rocha de sua salvação.“Isto é, eles creram no mesmo Cristo, ainda que Ele ainda não aparecera em carne, porém deviaaparecer mais tarde: e o sinal dessa sua fé foi a rocha física, da qual beberam água, tal como nóscomemos e bebemos no pão e vinho físicos sobre o altar espiritualmente o próprio Cristo, isto é,comendo e bebendo externamente nós exercitamos nossa fé espiritualmente. Pois se aqueles nãotivessem tido a palavra de Deus e a fé, enquanto bebiam água da rocha, o fato não lhe teria tidovalor para suas almas.”3)

Mas, e como o povo retribuiu a maravilhosa bondade de Deus? Deus, porém, não seagradou da maioria deles, pois ficaram prostrados no deserto. Por causa da incredulidade e dainsensibilidade deles, Hb. 3. 19, foi provocada o desagrado de Deus, ou seja, Sua ira e indignação.Deus tiveram paciência com eles, sempre de novo se voltou para eles, mas não Lhe quiseramconceder a obediência total que deles exigia, e por isso sobreveio-lhes Seu castigo. Toda a geraçãomais velha foi destruída por meio de vários juízos, como Paulo afirma depois, falhando em alcançara Terra Prometida, com a única exceção de Josué e Calebe. “Que espetáculo para os olhos doscoríntios enfatuados: todos estes corpos, plenamente fartos com o alimento milagroso, espalhadospelo chão do deserto!” (Godet)

Advertência contra a corrupção da idolatria e os pecados relacionados: V. 6) Ora, estascoisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como elescobiçaram. 7) Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles; porquanto está escrito: O povoassentou-se para comer e beber, e levantou-se para divertir-se. 8) E não pratiquemos imoralidade,como alguns deles o fizeram, e caíram num só dia vinte e três mil. 9) Não ponhamos o Senhor àprova, como alguns deles já fizeram, e pereceram pelas mordeduras das serpentes. 10) Nemmurmureis como alguns deles murmuraram, e foram destruídos pelo exterminador. O apóstolocomprova sua advertência com a referência a certo número de incidentes que aconteceram nodeserto, mostrando a razão porque o desagrado de Deus feriu os filhos de Israel: Ora, estas coisas,estes juízos, estão registradas nas Escrituras como tipos ou exemplos de advertência; eles

3) 51) Lutero, 12. 403; cf. 7. 2051.

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representam o nosso quinhão caso não atendermos a voz de Deus que ecoou na história do deserto.Não devemos ser cobiçosos de coisas más, não devemos ter o desejo ansioso para realizar o quedesagrada ao Senhor, assim como eles também cobiçaram. Recém os israelitas haviam sido salvosdas mãos de Faraó e dos egípcios, quando se desagradaram de sua jornada pelo deserto e desejarampelas panelas de carne do Egito, Ex. 16. 3. Sempre de novo, na medida que continuaram em suajornada, ergueram suas vozes em murmuração rebelde e exigiram mais dons da benignidade ebondade do Senhor, Nm. 11. 5-20. Sua revolta, sempre de novo, tomou a forma de pecadosespeciais de infidelidade, de ofensas que foram particularmente odiosas aos olhos de Deus.

Agora são enumeradas algumas das ocasiões que cabem sob este título: E não vos torneisidólatras como alguns deles, tal como está escrito: O povo sentou-se para comer e beber e levantou-se para folgar em danças. Este comportamento foi só uma manifestação externa da apostasia deseus corações, Ex. 32. 18, 19. Propositalmente prepararam uma refeição sacrificial em honra dobezerro de ouro que Arão fizera por ordem deles, e deram expressão dos seus sentimentos idólatraspor meio do canto e da dança ao redor do ídolo moldado pelas mãos dum homem. “Foi uma sena dediversão selvagem e despreocupada, sob tais condições chocante e muito perigosa, a que Moiséstestemunhou quando desceu, trazendo consigo as taboas da lei.”4) Havia, sem dúvida, também nacongregação de Corinto pessoas que tentavam desculpar sua participação em banquetes nostemplos gentios com a alegação de que só tenham em mente a glória de Deus. Mas pelo própriofato que se nivelaram com os deleites gentios, tornaram-se culpados de idolatria. Uma segundaofensa: Nem suceda que cometamos fornicação, como alguns deles cometeram fornicação, e numsó dia caíram vinte e três mil, Nm. 25. Seguindo o maldoso conselho de Balaão, Nm. 31. 16, osmoabitas e os midianitas convidaram os israelitas para as suas festas, nas quais era praticada a maisdesavergonhada imoralidade em honra aos seus deuses. O resultado foi uma corrupção e umacontaminação que se espalhou por todos os filhos de Israel e resultou no castigo de Deus sobre eles,sendo que vinte e três mil deles foram abatidos num mesmo dia. Nota: Não há qualquerdiscrepância entre esta passagem e o texto de Números, visto que Paulo dá expressamente os dadosde um só dia, enquanto que o relato histórico menciona o número total de mortos. A advertência foiespecialmente apropriada no caso dos coríntios, que estiveram expostos às práticas impudentesligadas ao culto de Vênus que ocorriam em sua cidade. Que ninguém deles pensasse que estivesseimune contra esses vícios imorais, quando deliberadamente participasse com os gentios em suasfestas. E que nenhum dos cristãos de hoje pense que esteja seguro contra as lisonjas e osestratagemas do mundo, quando tiver a prática de sentar-se nos lugares onde os pecados daimoralidade são apresentados de forma mais ou menos oculta.

Um terceira ofensa: Nem tentemos ao Senhor, como alguns deles tentaram e foram mortospelas serpentes, Nm. 21. 5, 6. Quando disseram a respeito do pão que o Senhor lhes davadiariamente do céu que sua alma odiava este pão fraco, então afrontaram a Deus e cometeram opecado da presunção e desafiaram Seu juízo. Sua insatisfação com o alimento que Deus fornecerase deveu à sua incredulidade, e esta incredulidade foi punida por meio das serpentes abrasadorasque Deus enviou. O mesmo pecado, que é o da presunção sobre a paciência e a paciência divina, écometido pelos coríntios que não estão satisfeitos com o alimento sólido e nutritivo que lhes foidado pela pregação do evangelho, mas insistiam em freqüentar os lugares de idolatria do mundo naesperança de obterem o alimento que serviço melhor aos seus embotados apetites. Uma condutacomo esta é tentar a Cristo e será devidamente punida. Uma quarta ofensa: Nem concordeis emmurmurar, assim como alguns deles murmuraram, e pereceram pelo destruidor, que foi o anjo doSenhor que executa as ordens de Deus, 2.Sm. 24. 16; Is. 37. 36. Toda a história da viagem pelodeserto é de murmuração, mas várias ocasiões se destacam de modo ainda mais forte, sendo notávela revolta de Core e seus amigos, e a subseqüente revolta de toda a congregação, Nm. 16. Se nãofosse por causa da posição de Moisés naquela ocasião entre os mortos e os vivos, e todo o povopoderia ter sido varrido da terra. A lição devia ser aplicada em tempo pelos coríntios, visto estaremdispostos a manifesta oposição contra os mestres que Deus lhes dera, uma oposição que acertava

4) 52) Expositor’s Greek Testament, 2. 860.

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diretamente ao próprio Senhor. E em nossos dias só precisamos referir-nos ao geraldescontentamento e insatisfação com os caminhos e o governo de Deus, tanto na igreja como noestado. Chegou a hora de relembrarmos o que o Senhor diz em Lm. 3. 39.

A aplicação da lição: V. 11) Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos, e foramescritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado. 12)Aquele, pois, que pensa estar em pé, veja que não caia. 13) Não vos sobreveio tentação que nãofosse humana; mas Deus é fiel, e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelocontrário, juntamente com a tentação vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar. Damesma foram como todos os outros assuntos relatados nas Escrituras têm mais do que um merointeresse arqueológico ou histórico para nós, assim também estes incidentes da viagem pelo desertosobrevieram como exemplo aos israelitas; a lição deles serve como lição para todos os tempos. E osfatos foram escritos tendo em vista a nossa admoestação, para que não nos entregássemos aospecados dos quais eles se tornaram culpados. Sobre nós já vieram os fins dos tempos. Vivemos notempo que precede a crise judicial. Cf. Hb. 9. 26; 1.Pe. 1. 20; l.Jo. 2. 18. Este é o tempo deprovações severas e por isso também de apostasia geral. Por isso é nesse tempo que precisamosestar vigilantes contra os perigos que nos rondam, e não permitir que qualquer familiaridade comeles nos cegue contra a sua emboscada. “Disso Paulo também nos recorda e o destaca, quando dizque está escrito para a nossa admoestação, sobre quem vieram os fins do mundo. Isto é, estamosagora no tempo final e mais perverso, que traz perigo bem maior e mais pernicioso, e castigo muitomais horrendo; pois, de ante-mão está anunciado nas Escrituras e profetizado por Cristo e pelosapóstolos que viriam tempos horríveis e perigosos, em que aconteceria uma grande apostasia dadoutrina verdadeira e uma terrível desolação da igreja, tal como, infelizmente, acontece aos nossosolhos, que tanto por meio de muita heresia como por meio de Maomé e do papado foi cumprida demodo muito horrível.”5)

Paulo conclui destes fatos: Assim, pois, aquele que pensa que está de pé, que se cuide, queesteja de espreita, para que não caia. Os coríntios realmente estavam de pé na fé, pela graça deDeus. Estavam edificados sobre o fundamento de Jesus Cristo e dos apóstolos. Contudo, tão logoque, por causa dessa graça, a soberba assume o coração duma pessoa, acontece uma falsasegurança, que deliberadamente ignora os perigos e as tentações e desta forma, comumente,precede a queda. Conforme o exemplo de Paulo, a corajosa certeza de sua salvação que precisacaracterizar um cristão está, ainda assim, intimamente ligada com uma vigilância humilde ecuidadosa, para que uma avaliação excessiva de sua própria força não dê aos inimigos a aberturapela qual buscavam. Mas o apóstolo acrescenta para o consolo dos leitores sinceros e humildes:Não vos sobreveio tentação que não fosse humana. As fascinações do pecado que lhes sobrevieramforam aquelas que procedem das pessoas, da vida gentia ao seu redor. Mas Deus é fiel nisso quenão permite que sejais tentados além da vossa capacidade, mas vos dará, junto com a tentação,também um meio de escapar, de sair, para que se seja capaz de suportar. Se nós cristãos ao menosconfiarmos no poder todo-poderoso do Deus fiel, então não há tentação que nos possa derrotar,pois Ele não permitirá que a tentação assuma tais proporções que não nos reste uma saída. Somoscapazes de suportar a tensão, porque existe uma clara promessa que finalmente nos livraremos daluta. De nossa parte, porém, precisamos fixar nossos olhos firmemente Nele por auxílio. “Pois sãoPaulo tensa nestas duas coisas: em primeiro lugar, que Deus, nosso amado Senhor, em meio datentação quer ajudar-nos a carregá-la; em segundo lugar, que também haverá um fim para atentação, que não ficaremos nela; verdadeiramente Ele é um Deus fiel.”6)

Conduta Para Com Os Fracos. 1.Co. 10. 14-33.

Uma referência à Ceia do Senhor: V. 14) Portanto, meus amados, fugi da idolatria. 15)Falo como a criteriosos, julgai vós mesmos o que digo. 16) Porventura o cálice da bênção que

5) 53) Lutero, 12. 809.6) 54) Lutero, 12. 1622.

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abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos, não é a comunhão docorpo de Cristo? 17) Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porquetodos participamos do único pão. As primeiras sentenças têm a natureza duma transição entre asduas partes do capítulo. A sorte triste dos israelitas no deserto, a similaridade entre as provaçõesdeles com as dos cristãos de Corinto, a possibilidade de oferecer resistência eficaz a todas astentações, o alívio certo que podemos esperar de nosso Deus fiel – todos estes fatos se juntam paradar peso e ênfase ao apelo de fugir da idolatria, que é a base de todo pecar. Paulo estáprofundamente movido, e ele deseja que seu apelo faça uma impressão profunda sobre seusleitores, visto que se dirige a eles como seus “amados”. Agora, porém, passa para o outropensamento, que é o da necessidade de guardar impoluta a Santa Comunhão. Suas palavras ecoamqual desafio: Falo como a pessoas que tem senso; julgai vós mesmos o que digo. Ele os preveniracontra a segurança baseada sobre um falso conhecimento. Aqui os pede a aplicarem seu saberespiritual de modo correto, visto que o assinto que está por mencionar pertence àquelas coisas quea pessoa espiritual é capaz de julgar, cap. 2. 15. São pessoas inteligentes, são talentosos, sãosagazes. Por isso tem fé ilimitada para ser capaz de confiar uma verdade tão palpável à decisãodeles.

O mistério da Eucaristia: O cálice da bênção que abençoamos, que na Santa Comunhãodestacamos por meio de oração para um uso santo, não é, acaso, a comunhão do sangue de Cristo?O pão que partimos (depois de termos de modo semelhante pronunciado sobre ele a oração delouvor e agradecimento), acaso, não é a comunhão do corpo de Cristo? A passagem inteira respira aconvicção, a certeza, da comunhão cristã, primeiro com Cristo em quem participam por meio dovinho e do pão, e segundo com os outros comungantes que participam do mesmo pão e mesmocálice. Temos aqui numa única frase a essência da Ceia do Senhor: Estão presentes os elementosterrenos e visíveis, que são pão e vinho; estão presentes as bênçãos invisíveis, a presença real docorpo e do sangue de Cristo. Os dons celestes estão presentes em, com e sob os elementos terrenos,pois há uma comunhão dos dois, em ambos os casos, e nada é dito duma mudança outransubstanciação. A comunhão é com Cristo, como o autor e consumador de nossa salvação. Nãohá uma presença sacramental fora do sacramento. É preciso que pão e vinho sejam abençoados edeles se participe conforme a instituição de Cristo para que a presença real seja efetiva. Aquele queparticipa do pão participa do corpo de Cristo. E aquele que participa do cálice participa do sanguede Cristo. “No que concerne à transubstanciação, temos em nada a sutil sofistaria de ensinarem quepão e vinho abandonam e perdem sua substância natural, ficando apenas a aparência e a cor do pão,não pão verdadeiro. Pois harmoniza-se perfeitamente com a Escritura que o pão esteja e permaneçapresente... Cremos, ensinamos e confessamos que o corpo e o sangue de Cristo são recebidos, emvirtude da união sacramental, com o pão e o vinho não só espiritualmente, pela fé, mas tambémoralmente, não, porém, de modo cafarnaítico, mas de maneira sobrenatural, celeste, segundomostram claramente as palavras de Cristo.”7)

A comunhão, a unidade, dos cristãos com Cristo, por meio da Eucaristia, é expressa: Poisnós muitos somos um pão, um corpo, pois participamos deste um pão. Este é o parentesco maisíntimo, a fraternidade mais vital que Paulo aqui declara que existe. Todos os comungantes comemdeste um pão que é a comunhão do corpo de Cristo, e por isso estão unidos do mais íntimo, não sócom Cristo, mas também um com o outro. Paulo por suas palavras expressa com a maior ênfase afraternidade dos cristãos. Ao mesmo tempo pode ser notado que os hipócritas e os descrentes quevêm à mesa do Senhor, sendo como tais desconhecidos pela congregação, comem do corpo ebebem do sangue de Cristo em e com o pão e o vinho, mas realmente não participam da SantaComunhão, pois sua incredulidade os exclui da comunhão dos santos, e recebem o corpo de Cristocomo seu Juiz e o Sacramento para sua condenação, cap. 11. 29.

A aplicação destas verdades às práticas idólatras: V. 18) Considerai o Israel segundo acarne; não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar? 19)Que digo, pois? que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? ou que o próprio ídolo tem algum

7) 55) Art. Esm. 3ª Parte VI. 5; F.C.Epit. VII. 6. Cf. Conc. Trigl. 977, 991, 993, 1001; Lutero 11. 616.

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valor? 20) Antes digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam, e não aDeus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios. 21) Não podeis beber o cálice doSenhor e o cálice dos demônios: não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dosdemônios. Agora o apóstolo, no empenho de fixar nos coríntios o fato que uma participação emfestas idólatras era equivalente ao culto dos ídolos, introduz a analogia da forma do culto judeu:Notai o povo de Israel como nação. Acaso não são os que comem o sacrifício participantes doaltar? não entram eles em comunhão com o altar? Este fato se manifestou especialmente de modoforte nas grandes festas, entre as quais a festa da páscoa, quando a congregação inteira de Israeldemonstrou sua comunhão quando se associou no sacrifício da páscoa, e quando se juntou, aomesmo tempo e na mesma maneira, na refeição que lhe estava ligada. Foi provável que, nesteponto, os leitores percebessem as observações de Paulo, de que se referia à participação deles nasfestas gentias. Mas, antes que pudessem apresentar a objeção que provavelmente fariam, o apóstoloos desarma: O que digo agora? Contradigo a mim mesmo (cf. cap. 8. 4-6) dizendo que o sacrifícioidólatra é algo, ou que um ídolo é algo? Ele negara a real existência e personalidade de ídolos, e,desta forma, desacreditara, quais ritos sem sentido, os ritos ligados ao seu culto. Ele conservou estaposição tão firmemente como sempre.

Houve, porém, mais outro aspecto ao qual quis chamar a atenção dos seus leitores: Antes, oque sacrificam, eles o sacrificam a demônios, e não a Deus. Virtualmente se adora diabos na festaidólatra, e desta forma, participando nas festas gentias, entraram em comunhão com diabos, e elenão quer que entrem em comunhão com diabos. O tumulto e a devassidão que acompanhava asfestas gentias, sem falar das coisas piores, mostraram que os espíritos perversos do mal osdominavam. E, por isso, Paulo faz sua aplicação da verdade que a inteligência deles, certamente,lhes mostrou como verdadeira: Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice de demônios; nãopodeis participar da Mesa do Senhor e da mesa de demônios. Na celebração da Eucaristia o cálicedo Senhor é a comunhão com o Senhor e por isso requer a mais íntima fidelidade a Ele; aparticipação nas festas de ídolos, por isso, o lugar onde o cálice dos diabos estava em uso e eracelebrada a comunhão com diabos, precisa romper o laço que une com o Senhor. E bem assim acomunhão com o Senhor, que é estabelecida junto à mesa da Santa Comunhão não podia serconservada quando um cristão participava em festas gentias; era um impossível moral. Cada fibrado ser regenerado dum cristão precisa bradar contra uma tal confusão blasfema. Nota: Tal como emCorinto, as palavras do apóstolo encontram hoje sua aplicação. Quando cristãos se juntam àsselvagens e devassas folias e devassidões do mundo, particularmente nas que são feitas em louvor apessoas ou a princípios anticristãos, então não são menos culpados do que foram os vaidososcoríntios em seus dias.

Os princípios cristãos envolvidos:V. 22) Ou provocaremos zelos no Senhor? somos acasomais fortes do que ele? 23) Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas,mas nem todas edificam. 24) Ninguém busque o seu próprio interesse; e, sim, o de outrem. Aqui oapóstolo menciona um pensamento que pode ter existido nos corações de alguns dos coríntios: Éassim, que queremos provocar o Senhor à inveja? Terá sido esta a idéia que os fez participar emambas as mesas? Deveriam cristãos aventurar-se a um tal caminho? Cf. Dt. 32. 21. Podiam estarcertos que o Senhor seria capaz de sentir a mais profundo desagrado diante duma tal ostentação deamor adúltero da parte deles. E: Somos mais fortes do que Ele? Presumiremos em provocar Seudesagrado até esse ponto? Podemos evitar o poder de Sua ira? O próprio fato que Paulo se incluiuno problema devia encorajar e admoestar seus leitores para ficar ao seu lado e responder com umenfático: Jamais! Mas ele também urge uma consideração que ele apresentou mais uma vez: Todasas coisas estão em meu poder, mas todas as coisas não são oportunas, não vantajosas, quando obem-estar de meu próximo é tomado em consideração. Há uma grande diferença entre ter o direitode fazer algo e a insistência de fazer uso deste direito sempre em sob todas as circunstâncias. Poroutro: Todas as coisas estão em meu poder, mas não edificam todas elas. Um ato que sei que estácerto e bom pode ser considerado muito impróprio por um irmão, e por isso o meu fazê-lo resultaráque ele será ofendido em vez de ser promovido em piedade e no viver justo. Cf. cap. 6. 12.Avançar sempre em presunçosa segurança sem exercer cuidado carinhoso, pode ter como resultado

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o comprometimento da alma imortal do cristão. Mas um princípio básico do amor cristão é: Queninguém procure seu próprio interesse ou benefício, mas antes o do outro, de seu próximo, de seuirmão cristão. Fazer de seu próprio deleite, de seus próprios direitos, de sua própria liberdade aconsideração única e soberana, sem tomar em consideração o bem dos outros, é a essência doegoísmo, e uma violação da grande lei do amor. Até mesmo coisas neutras se tornam pecaminosasquando resultam no dano do próximo.

Normas de conduta: V. 25) Comei de tudo o que se vende no mercado, sem nadaperguntardes por motivo de consciência; 26) porque do Senhor é a terra e a sua plenitude. 27) Sealgum dentre os incrédulos vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que for posto diante devós, sem nada perguntardes por motivo de consciência. 28) Porém, se alguém vos disser: Isto écoisa sacrificada a ídolo, não comais, por causa daquele que vos advertiu, e por causa daconsciência; 29) consciência, digo, não a tua propriamente, mas a do outro. Pois por que há deser julgada a minha liberdade pela consciência alheia? 30) Se eu participo com ações de graça,por que hei de ser vituperado por causa daquilo de que dou graças? Não foi muito difícil aaplicação dos princípios do amor cristão à situação de Corinto. Podiam comer tudo, todo alimentoque era oferecido à venda nos mercados de alimento. Mas, fazendo-o, por causa de seus irmãosfracos, não deviam perguntar sobre donde o alimento proviera, se ou não fora enviado do templo.Assim evitariam algum embaraço se quanto a isso fossem perguntados. Paulo comprova estalargueza de ação com uma passagem das Escrituras: Pois do Senhor é a terra e sua plenitude,qualquer coisa que nela se encontra, todo seu conteúdo, Sl. 24. 1. Por isso os cristãos podem usar,sem a menor hesitação, todos os dons de Deus que se encontram no mundo, desde que nenhumentrave exista, tal como aqui é referido. O apóstolo também insinua que a ansiosa procura porescrúpulos de consciência, que algumas pessoas consideram como a essência do cristianismo, nãose baseia na vontade de Deus.

A mesma regra geral devia ser aplicada, no caso de algum cristão ter sido convidado poralgum descrente e achou conveniente ir, de aceitar o convite. Devia comer tudo que eraapresentado, mas, de novo, não fazer quaisquer perguntas. Há a possibilidade que ter sido vigiadode perto não só por não-cristãos, os quais provavelmente usariam comida sacrificada, mas tambémpor qualquer cristão fraco que pudesse estar presente na ocasião. Mas, caso alguém na ocasiãoobservasse que foi servida comida sacrificada, então o cristão já não mais devia comer dela. Fossea informação motivada por um espírito de civilidade e com o desejo de se colocar a serviço dosescrúpulos cristãos, ou por um espírito de zombaria, e para o perturbar; seja qual fora a ocasião ouo motivo, ela muda a situação e faz que o cristão decline de carne, isto não por causa de sua própriaconsciência, mas por causa da de seu irmão mais fraco. Sob estas circunstâncias o cristão se absteráde comer carne, motivado pelos escrúpulos de seus colegas cristãos. E quando é feita a objeção deque a decisão sobre o que é bom e não bom precisa ficar com o cristão individual, o apóstolo lhelembraria: Pois com que finalidade minha consciência é julgada por uma outra consciência? quevantagem terei disso, se insistir em comer nestas circunstâncias e então preciso esperar a censurados escrúpulos de outra pessoa a qual simplesmente não consegue enxergar que meu procedimentoestá totalmente de acordo com a palavra de Deus? Em vez de receber benefício do uso impensadode sua liberdade, poderá resultar verdadeiro prejuízo: Se eu participo com agradecimento, por quesou blasfemado e condenado por causa daquilo pelo qual dou graças? Será considerado como umato de hipocrisia, seja pelos gentios ou pelos demais que não têm a correta compreensão do fatoque um cristão, em tal situação, não só come, mas pelo alimento também dá graças a Deus. Esta é arazão por que um cristão, por deferência à consciência do irmão mais fraco, e para evitar darofensa, há de recusar participar de carne sacrificada.

A conclusão: V. 31) Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer,fazei tudo para a glória de Deus. 32) Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem paragentios, nem tão pouco para a igreja de Deus, 33) assim como também eu procuro em tudo seragradável a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos, para que sejam salvos.O apóstolo, quando faz a aplicação do amor cristão, declara uma máxima do dever cristão. Nãointeressa a situação particular da vida diária em que se encontra um cristão, se está comendo ou

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bebendo ou em qualquer outra atividade, seu objetivo deve ser a glória de Deus. “Que a própriapessoa seja esquecida. Que o teu olho se fixe em Deus. Que em tudo o que fazes o teu objetivo sejaa promoção de Sua glória. Empenha-te em tudo para agir de tal modo que as pessoas possam louvaro Deus que tu professas servir.” (Hodge) E a segundo regra geral é: Sede sem ofensa tanto a judeus,como a gentios e à igreja de Deus. Não dai a qualquer um ocasião para ser ofendido contra areligião cristã. Comportai-vos em tudo de tal modo que não causeis blasfêmia contra o santo nomede Deus. Fazer uso despreocupado da liberdade cristã pode se tornar o clímax de tolice e resultarem sério prejuízo à causa do Senhor. Sejam as pessoas em questão judeus, com seu ponto de vistalegalístico, ou gentios, como suas práticas idólatras, ou irmãos mais fracos, com seus escrúpulosparticulares, agi de tal forma o bem-estar de vosso próximo não seja posto em perigo, e, acima detudo, que a glória do Senhor não sofra por causa de vossa instigação. E nisso Paulo, mais uma vez,cita seu próprio exemplo: Assim como também eu em tudo agrado a todos, no procurando minhaprópria vantagem, mas a muitos, ou seja, a tantos quantos possível, para que possam ser salvos. Cf.cap. 9. 22. Do ponto de vista humano, Paulo desistiu de tudo, de honra, posição, riqueza e todas asvantagens deste mundo, para se entregar inteiramente ao serviço do Senhor e do próximo, nãointeressando a condição em que os encontrasse. E não se preocupou com o fato que muitosfizessem mau juízo dele em sua atitude, mas se conservou fiel no trabalho pelo bem deles. “Porisso, quando são Paulo diz: Que cada um agrade no bem a seu próximo, então não quer quetrabalhemos para que agrade ao próximo; pois isto não nos cabe; mas que, conforme o amor,ajamos assim que lhe deva agradar, e não é falta nossa se não lhe agrada.”8) O decoro nobre edelicado de Paulo em qualquer situação imaginável obrigava as pessoas a respeitá-lo, e, em muitasocasiões, abriu caminho para a obra do Evangelho.

Resumo: Paulo adverte os coríntios contra a falsa segurança e participação em festasidólatras, mostrando que a glória de deus e o bem-estar de seu próximo precisam ser os motivosque em tudo movem o cristão.

Capítulo 11

A Conduta No Culto Público. 1.Co. 11. 1-34.

Uma admoestação preliminar: V. 1) Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.2) De fato eu vos louvo porque em tudo vos lembrais de mim, e retendes as tradições assim comovo-las entreguei. O versículo inicial realmente pertence ao capítulo anterior, visto que se refere aoexemplo dado por Paulo quando em todas as circunstâncias fez uso do tacto cristão apropriado. Eleaponta através de seu próprio padrão seus leitores ao padrão de seu Mestre que também era o deles:Tornai-vos imitadores de mim, assim como eu o sou de Cristo. Quer que eles sigam o exemplo quelhes deu pela sua conduta, em que renunciou quaisquer interesses pessoais com o fim de ganharalmas para Cristo. Incidentalmente, porém, não quer que se tornem apegados à sua pessoa, masdeviam reconhecer em sua conduta a influência do Cristo exaltado. Deviam imitá-lo até onde lhesexpusesse a imagem de Cristo. Isto iria envolver tempo e aplicação constante, visto que um cristãosempre está na formação, mas o modelo deles devia ser um que sempre os colocasse nacompetição, estimulasse sempre sua ambição cristã. O apóstolo, para inspirá-los em seus esforçosmais persistentes, não hesita em dar aos cristãos de Corinto todo crédito pela sua atitude em certosassuntos: Louvo-vos, porém, que recordais todas as coisas que por mim vos foram dadas, que emtodas as coisas estais guardando a lembrança de mim, e que estais observando as instruções talcomo vo-las apresentei. Os coríntios, ainda que no geral muito distantes do apóstolo na renúncia,ainda assim estavam em geral cônscios dos regulamentos divinos que lhes entregara. Estasinstruções, 2.Ts. 2. 15; 3. 6, que foram transmitidas tanto oralmente como por escrito, diziamrespeito à doutrina e à vida, e incluíam também costumes de culto e cerimônias. Ainda que os

8) 56) Lutero, 12. 30.

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últimos de modo algum equivaliam aos anteriores, ainda serviam para a edificação da igreja, e suaadoção pode ser aconselhável até em nossos dias. Marquemos: O papa não tem qualquer apoionesta passagem por sua insistência sobre o valor da tradição oral, pois na Bíblia a palavra é usadaunicamente para as instruções imediatas de homens inspirados e nunca duma aglomeração dedogmas sobre os quais o papa reclama o direito de ser seu único árbitro.

O véu da mulher: V. 3) Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem,e o homem o cabeça da mulher, e Deus o cabeça de Cristo. 4) Todo homem que ora, ou profetiza,tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça. 5) Toda mulher, porém, que ora ouprofetiza, com a cabeça sem véu, desonra a sua própria cabeça, porque é como se a tivesserapada. 6) Portanto, se a mulher não usa véu, nesse caso que rape o cabelo. Mas se lhe évergonhoso o tosquiar-se, ou rapar-se, cumpre-lhe usar véu. Aqui o apóstolo qualifica o louvorque recém expressou. Ouvira que algumas mulheres falavam no culto público da congregação deCorinto, e isto de cabeça descoberta. Por isso ele continua instruindo-os sobre a inconveniênciadesta conduta: Quero, porém, que saibais que a cabeça de cada homem é Cristo, enquanto que acabeça da mulher é o homem, mas Deus a cabeça de Cristo. Este é o fundamento doutrinário dainstrução prática que está para dar. A noção especial da liberdade cristã que ganhara pé nacongregação de Corinto se manifestou também nisso, que as mulheres deixaram o costume quereinava no Leste, conforme o qual eram obrigadas a usar véu em público. Cristo é o cabeça de cadahomem. O homem ocupa esta posição, em especial no culto e em sua família, não ocupandoqualquer liderança visivelmente superior, e só sendo diretamente responsável a Cristo. O homem,por este motivo, é o cabeça da mulher, ocupando esta última uma posição de subordinação emrelação a ele, o que é um fato que de modo algum significa inferioridade, mas unicamente umrelacionamento que o decreto de Deus fixou. A mulher, quando é esposa, em sua relação ao esposo,ou em relação à sua dignidade no culto público, tem no homem seu apoio, seu destino e suadignidade. E que este status de modo algum é depreciativo ao intelecto, habilidade ou caráter moraldela, é mostrado no fato que, na clausula paralela, Deus é chamado o cabeça do Cristo exaltado.Neste caso há absoluta igualdade na essência, e ainda assim a perfeita obediência de Cristo ao Paiconsente numa submissão em ofício. Cf. cap. 15. 28; Gl. 4. 4; Hb. 5. 5, 8.

Uma inferência desta doutrina: Cada homem, quando ora ou profetiza, carregando um véusobre sua cabeça, enquanto está empenhado neste ato de culto, envergonha ou desonra sua cabeça.Quando um homem fala ou lidera em culto público mas tem velada ou coberta sua cabeça, estedesonra sua cabeça, porque só tem a Cristo sobre si e, visto que sua conduta o subordina à suaesposa que dele depende, o fato traz desonra a Cristo. Doutro lado: Mas cada mulher que ora ouprofetiza com a cabeça desvelada desonra sua cabeça, pois ela é uma e a mesma coisa com, ou seja,ela está no mesmo nível com aquela que tem o cabelo raspado. Enquanto mulheres não erammestres na congregação, cap. 14. 34; 1.Tm. 2. 12, não estiveram excluídas dos extraordinários donsdo Espírito, Jl. 2. 28, 29; At. 2. 17, 18; 21. 9. Por isso também podia acontecer que elas oravam ouprofetizavam numa reunião pública, sem com isto assumir a liderança. Quando, num caso assim,uma mulher jogassem para a nuca o véu que lhe cobria a face e, assim, ficava de cabeça descoberta,ela envergonhava sua própria cabeça, sendo que a desonra que fizera ao sexo dominante caia sobreela própria. Colocou-se no mesmo nível com as mulheres liberais e imorais (heterae) que nascidades gregas eram tão numerosas. A conseqüência é que, neste caso, que uma mulher que insisteem andar sem véu, bem podia conservar sua cabeça tosada, colocando-se assim totalmente no nívelda mulher escrava e de outras cuja cabeça tosada proclamava a todo o mundo sua vocação. Mas queela esteja com véu, se é uma desonra para uma mulher estar tosada ou raspada; isto é, se umamulher prefere uma cabeça descoberta, que seja raspada. Mas, visto que o sentimento feminino iriaobjetar sobre o último caso, vale o mesmo argumento quanto ao caso anterior, visto que a mesmavergonha está ligada a ambos os casos. O desnudamento físico do rosto levava as pessoas a fazerconclusões sobre a moral duma mulher, especialmente numa cidade como foi Corinto. E para umamulher cristã estava claro que devia evitar, até mesmo, qualquer aparência de mal.

O apóstolo apresenta mais um argumento em favor do véu da mulher: V. 7) Porque, naverdade, o homem não deve cobrir a cabeça por ser ele imagem e glória de Deus, mas a mulher é

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glória do homem. 8) Porque o homem não foi feito da mulher; e, sim, a mulher do homem. 9)Porque também o homem não foi criado por causa da mulher; e, sim, a mulher, por causa dohomem. 10) Portanto, deve a mulher, por causa dos anjos, trazer véu na cabeça, como sinal deautoridade. 11) No Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem, nem o homem,independente da mulher. 12) Porque, como provém a mulher do homem, assim também o homem énascido da mulher; e tudo vem de Deus. A posição referente aos sexos aqui está baseada sobre orelato bíblico da criação: Pois um homem realmente não devia cobrir a cabeça, visto que ele é aimagem e a glória de Deus. Cf. Gn. 1. 26. Ele foi criado na imagem de Deus, e por isso arepresenta, e nesta semelhança ele também carrega o visível esplendor de Deus. Ele governa em suaprópria esfera em virtude do poder e da liberdade que lhe foram dados por Deus, e esta condutaredunda na glória de Deus. A mulher, contudo, é a glória do homem. Ele recebeu do homem adignidade de sua posição. Ela representa a majestade do homem no ofício que ela tem no lar. Nota:Desta afirmação segue que o respeito mostrado às mulheres é a medida e a salvaguarda dadignidade humana. Que a distinção feita no tempo da criação também deve ser observada na igrejacristã, aparece, além disso, na história da criação de Eva, Gn. 2. 18-25. Pois não é o homem quevem da mulher, mas a mulher do homem. E não foi o homem criado por causa da mulher, mas amulher por causa do homem. No caso de todas as demais criaturas orgânicas, o Senhor as criou deuma vez em dois sexos, Adão, porém, no começo foi criado sozinho, e tão somente mais tardeaconteceu que a mulher foi criada, tendo sido feita duma de suas costelas. E o Senhor, quandotalhou a mulher desta forma, teve como alvo ir ao encontro da necessidade do homem; devia ser-lheuma auxiliar. É uma subversão da ordem da criação quando uma mulher considera seu esposocomo o servo de seus prazeres, ou seja, como o instrumento de sua subsistência.

O apóstolo considera tão importante a manutenção e a observação do relacionamento entreos sexos assim como Deus as estabeleceu, assim que também deseja ver conservado o sinal externoda posição auxiliar da mulher: Por este motivo é a mulher obrigada a ter “um sinal de autoridadesobre sua cabeça”. Ela devia carregar o sinal, ou o emblema, de seu status, que é o véu, o qualdenota o poder que ela deriva do homem, e isto por causa dos anjos. Os anjos, porque estãopresentes no culto público, são ofendidos por meio duma irreverência e conduta errada. Mesmoquando homens, em certas circunstâncias, não possam achar ofensivo ou escandaloso para umamulher se livrar da dignidade de sua posição, a presença dos santos anjos de Deus deve impediruma mulher sincera desse comportamento não feminino.

Paulo, quando discute tão francamente a posição delas, não tem a intenção de menosprezara posição das mulheres ou em atribuir-lhes alguma inferioridade: Todavia, ainda assim, no Senhor,nem mulher sem homem, nem homem sem mulher. Pois, do mesmo modo como a mulher veio ouderivou do homem, assim também o homem provém da mulher. Mas tudo provém de Deus, que é aOrigem de tudo. No Senhor a mulher não existe sem o homem, sendo que ela não tem qualquermerecimento para si mesma: o mesmo Cristo é o Senhor de ambos, sendo este um fato que tambémse aplica ao homem. No reino de Deus ambos estão lado a lado, tendo direitos iguais. A mulher foicriada do homem, sendo este a causa inicial da existência da mulher. Do outro lado, porém, amulher, conforme a ordem de Deus na natureza, é a causa instrumental da existência do homem.Estes fato, todavia, não dão a qualquer das partes algum direito de orgulho, visto que, depois detudo, deus é a fonte, o Criador, de todas as coisas. Ambos devem dar reverência a Ele. Isto éespecialmente verdade na vida no lar. O homem devia considerar-se como vivendo no Senhor porcausa de sua mulher, e de modo semelhante a mulher por causa de seu esposo. Os casadospertencem juntos na casa do Senhor, juntos na ceia do Senhor, juntos nas devoções no lar, juntosem todas as coisas em que a vida no Senhor é promovida. Juntos são herdeiros da graça da vida,1.Pe. 3. 7.

O senso natural de propriedade apóia ao apóstolo: V. 13) Julgai entre vós mesmos: épróprio que a mulher ore a Deus sem trazer o véu? 14) Ou não vos ensina a própria natureza serdesonroso para o homem usar cabelo comprido? 15) E que, tratando-se da mulher, é para ela umaglória? pois o cabelo lhe foi dado em lugar de mantilha. 16) Contudo, se alguém quer sercontencioso, saiba que nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus. Sem se apoiar em

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quaisquer autoridades externas, o apóstolo apela agora ao sentimento natural de seus leitores.Deviam decidir por si mesmos se o senso inato de decência e modéstia não dá a impressão derequerer, ou seja, não o acha conveniente ou apropriado que uma mulher se una corretamentecoberta na oração pública. Ou não vos ensina isto a natureza, que se um homem usa cabelo longo,é-lhe isto desonroso, mas se uma mulher usa cabelo longo, é-lhe isto uma glória? É algosignificativo que praticamente todas as nações do mundo concordam que os homens usem cabelocurto enquanto que as mulheres o usam longo. O cabelo longo dum homem é considerado um sinalde efeminação, enquanto que o cabelo longo duma mulher é visto como sua suprema beleza. Eainda que a vaidade perversa das mulheres, apoiada pela tola admiração dos homens, colocou seucabelo ao serviço do pecado, 1.Pe. 3. 3; 1.Tm. 2. 9, é ainda assim verdade: Este lhe é concedidopara servir como cobertura, semelhante a um capelo. A própria natureza insistiu que a mulhercobrisse seu cabelo, e por isso é-lhe correto expressar esta intenção conservando coberta suacabeça.

Tendo em vista que alguns dos coríntios se podiam sentir inclinados a objetar contra estasafirmações de Paulo, ele conclui a discussão com uma dura palavra de advertência: Mas se alguémpensa, presume, se dispõe a ser contencioso, (que saiba que) nós não temos este costume, e nem asigrejas de Deus. Paulo esteve acostumado com a disposição contenciosa de alguns dos coríntios.Soube que podia esperar ser atacado por causa de sua posição neste assunto. Por isso simplesmentedeclara que ele e seus colegas de ministério não tiveram um costume dessa espécie. Paulo nãoachou bom estender a liberdade cristã para além dos limites de usual decência, como também nãona prática específica de as mulheres participarem descobertas no culto público. Por isso eliminaqualquer disputa adicional sobre o assunto mas apela para o uso cristão universal. Nota: Oprincípio afirmado pelo apóstolo vale até hoje, e se o decoro e a decência em determinado assuntorequerem alguma acomodação por parte dos cristãos, eles, por amor do evangelho, estarãodispostos a conceder o ponto.

Comportamento impróprio no culto público: V. 17) Nisto, porém, que vos prescrevo, nãovos louvo, porquanto vos ajuntais, não para melhor; e, sim, para pior. 18) Porque, antes de tudo,estou informado haver divisões entre vós quando vos reunis na igreja; e eu em parte o creio. 19)Porque até mesmo importa que haja partidos entre vós, para que também os aprovados se tornemconhecimentos em vosso meio. 20) Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é ceia do Senhorque comeis. 21) Porque, ao comerdes, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e háquem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague. 22) Não tendes, porventura, casaonde comer e beber? Ou menosprezais a igreja de Deus, e envergonhais os que nada têm? Que vosdirei? Louvar-vos-ei? Nisto certamente não vos louvo. O assunto que o apóstolo agora expõe nãoum que seja um mero costume ou uso, o qual um adequado juízo cristão pode adaptar para que asnecessidades da situação, mas uma norma para a qual ordena assentimento: Mas quando vos douesta ordem não vos louvo, nisso que, quando vos reunis, não é para melhor, mas para pior. Aacusação diz respeito à forma correta do culto público, em especial quando ligado com a celebraçãoda Ceia do Senhor. Ele não os louva, não pode conter sua insatisfação, sua censura: Porque não épara melhor, mas para pior, que vos reunis. Em lugar de serem edificados, socorridos em seucrescimento espiritual, foram prejudicados em sua fé. Suas reuniões eram realizadas num espíritode frivolidade, que não se preocupava com a santidade da ocasião. A razão para tanto foi, antes detudo: Continuamente chega aos meus ouvidos que, sempre que vos reunis, ocorrem entre vós cisõese dissensões. E, em parte, dou crédito a estas histórias. O culto do qual Paulo fala é aquele queesteve ligado com a celebração da Eucaristia, a qual era celebrada seguidamente, no mínimo a cadadomingo. Este culto era completamente fechado na congregação, não sendo admitido qualquerestranho, não estando presente qualquer descrente ou gentio. Primeiro era servido uma ceia comum(o assim chamado ágape), à qual seguia a Santa Comunhão. A congregação de Corinto se haviadividido em facções, que estavam separados um do outro, em parte, por distinções sociais, e, emparte, pelo sentimento causado pelas divisões em seu meio. Em vez de celebrar uma refeiçãocomum, cada facção escolhia um canto para si, deixando o outro completamente a sós. Como o dizPaulo, ele muito bem podia crer que isto era verdade, visto que isto parecia ser uma necessidade

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causada pela situação: Pois, de fato, também precisam existir entre vós heresias e partidos, para queos realmente aprovados pudessem ser evidentes em seu meio. Isto esteve de acordo com aadministração divina que faz com que o mal, longe de ser um empecilho, é tornado um servo dobem. Deus, finalmente, entregará os altercadores obstinados, que sentem prazer na ira, na briga, nassedições e heresias, à sua mente perversa, sendo o resultado que os verdadeiros cristãos nacongregação, que são aprovados por Deus, sejam tornados manifestos. De modo muito apropriadodiz Agostinho: As heresias são a pedra de amolar da igreja. Seu pecado serve para revelá-los, e,desta forma, para limpar e purificar a congregação cristã do desagradável elemento discordante.9)

Agora o apóstolo faz uma acusação específica: Quando, pois, vos reunis num mesmo lugar,então não um comer da Ceia do Senhor. Parece que a congregação de Corinto, mesmo nesta épocatão antiga, teve um lugar definido para se reunir, visto que Paulo evidentemente não fala decongregações que se reuniam em casas. Seu objetivo, sem dúvida, foi celebrar a eucaristia, e oselementos terrenos que são pão e vinho não faltavam, mas a maneira em que se reuniam tornava acelebração numa farsa e blasfêmia. Pois, quando se aproximava a hora da refeição, cada umseparava, ou rapidamente apresentava, sua própria ceia, escolhendo e sentando-se com seus amigosparticulares. Este costume anteriormente servira para que os membros trouxessem o quedesejassem, o que podiam arranjar para este fim, sendo a seguir o alimento dividido de modoigualitário entre todos. Agora, porém, quando o costume egoísta se tornara predominante, o povopobre só tinha pouco ou nada, e por isso partia com fome, enquanto os membros mais aquinhoadostinham mais do que suficiente para suas necessidades e se embriagavam. “Esta cena de sensualganância e de orgulho só pôde culminar em bebedeira.” Realmente um espetáculo triste para umacongregação cristã até aos nossos dias!

Por isso a repreensão de Paulo não careceu de sarcasmo: Não tendes casas em que podeiscomer e beber? Com certeza não podiam estar na situação de precisarem satisfazer seus apetites noculto público. Ou, por outro, desprezais a congregação de Deus e envergonhais aqueles que estãosem meios? Caso isto tiver sido sua deliberada intenção, ou seja, cumular escánio sobre a igreja deDeus e fazer com que os membros pobres sentissem sua pobreza, ou seja sua incapacidade parapersistir no alvo dum comportamento tão devasso, então sua ação foi tanto mais condenável. O que,nestas circunstâncias, podia e devia dizer-lhes o apóstolo? Teria-lhe sido possível louvá-los poreste comportamento? Francamente lhes disse que isto era impossível. Como poderia desculpar umafrivolidade tão inescusável, em especial, visto que ela ocorria em ligação com a celebração daeucaristia!

A revelação do Senhor da instituição da eucaristia: V. 23) Porque eu recebi do Senhor oque também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendodado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória demim. 25) Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Estecálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória demim.” Cf. Mt. 26. 26-28; Mc. 14. 22-24; Lc. 22. 19, 20. O apóstolo, mesmo se só tivesse ouvido orelato das bocas dos apóstolos que haviam presenciado sua instituição, teria sido plenamentejustificado quando disse que recebera a doutrina sobre a Santa comunhão. Mas seu objetivo,quando menciona uma comunicação direta e imediata de Deus, é para enfatizar seu chamadoapostólico e a autenticidade e autoridade de sua pregação. O Senhor lhe dera a informação pormeio duma revelação direta, e como tal deviam aceitar seu ensino. Cf. Gl. 1. 12. Fora assim quelhes ensinara quando esteve com eles em Corinto, e lhes recordava os fatos, tal como o Senhor ostornara conhecidos a ele. Foi na noite em que foi traído, literalmente, enquanto a traição estava emevolução, que o Senhor instituiu a ceia maravilhosa de seu corpo e sangue. Enquanto seus inimigosestiveram ativamente ocupados na preparação de Sua captura, o Salvador preparava a ceia celestialpara o conforto dos fiéis. Pegou pão, um dos pedaços de pão asmo que eram usados na ceia pascal.E tendo dado graças, não meramente a oração usual de graças que o costume judaico estabelecerapara esta ceia, mas uma bênção especial sobre o pão como o portador de dons celestes. A seguir,

9) 58) Cf. Lutero, 11. 1423.

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enquanto ia de uma para outro dos discípulos, quebrou pedaços de tamanho adequado de pão e osdistribuiu, pedindo-lhes que pegassem e comessem, e declarando que este pão que recebiam eraSeu corpo, o mesmo corpo que por eles, em lugar deles e para o benefício deles, foi quebrado edado. Naquela ocasião, como hoje, o pão trouxe em si, ofereceu e concedeu aos discípulos o corpodo Salvador e selou aos cristãos todos os benefícios da salvação que Ele realizou.

E exatamente na mesma maneira, como uma parte essencial do novo sacramento, Jesuspegou o cálice, depois que haviam jantado, ou depois que o cordeiro pascal e a parte principal daceia fora servida. Enquanto andou de um discípulo ao seguinte, alterou só um pouco a forma dedistribuição, como vemos da concordância final entre os quatro relatos. Chamou o cálice com ovinho que continha como o novo testamento em Seu sangue, a nova aliança estabelecida peloderramamento de Seu sangue. Por meio dele Ele entrou numa aliança de misericórdia com todos osparticipantes deste novo sacramento. Um fato se destaca com força inegável, a saber, que todos ospresentes participaram do cálice do mesmo modo como do pão, e que não pode haver verdadeiraeucaristia sem que ambos os elementos sejam recebidos por todos os comungantes.10) Marquemosque nos dois casos o Senhor diz: Fazei isto em lembrança de Mim, pela comemoração de Mim. Eno caso do cálice ele acrescenta: Tantas vezes quantas o bebeis. Sempre que um cristão tem umanseio e desejo pela garantia do perdão de pecados, não interessando quantas vezes, esta écertamente sua na santa comunhão. Certamente não devia ser exigido mais do que esta promessaclara para induzir um cristão a receber freqüentemente o sacramento. “E agora considera, meu caroamigo, que devemos pensar daquelas pessoas que se orgulham ser cristãos mas, ainda assim,passam um ano inteiro, ou dois, três anos, a até mais tempo, e não recebem o santo sacramento.Com toda certeza o diabo se apossou tanto deles que ou não prestam atenção aos seus pecados epor isso não pensam sobre como se livrar deles, ou sentem mais prazer na vida atual do que naeterna. Em ambos os casos é coisa horrível ouvi-lo. Por isso aquele que seja ser cristão e tambémdeseja conduzir-se de modo cristão, de acordo com o nome que leva, não se devia omitir desta ceia,mas usá-la muito seguidamente. Pois, tal como aqui somos informados, dele temos grandenecessidade.”11)

Comungantes dignos e indignos: V. 26) Porque todas as vezes que comerdes este pão ebeberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. 27) Por isso, aquele que comero pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. 28)Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice; 29) pois quemcome e bebe, sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Agora o apóstolo dá aos cristãos deCorinto e de todos os tempos algumas regras quanto ao correto preparo para a santa comunhão esobre sua celebração. Um dos objetivos, como recém afirmado por Paulo, foi que devia servir paraa comemoração do Senhor. Mas a freqüência da celebração e a familiaridade com a eucaristia nãodeviam embotar a reverência por sua santidade. Por isso o apóstolo diz: Pois quantas vezes comeiseste pão e bebeis o cálice, proclamais a morto do Senhor até que Ele vem. Cada celebração daeucaristia é uma proclamação pública, uma publicação da morte do Senhor, do fato que pelaentrega de Seu corpo e pelo derramamento de Seu sangue Ele trouxe redenção. De fato, a atitudecorreta para com o sacramento é aquela em que o coração está completamente cônscio das bênçãosque a boca confessa. Este fato fará cada comungante humilde e desejoso pela maravilhosa graça deDeus, assim como concedida na santa comunhão. O sacramento de seu corpo e sangue deve ser omeio de comunicação Dele para nós, até que Ele vem, até que Ele retorna em glória.

Mas o maravilhoso conteúdo e propósito da santa comunhão exige, ao mesmo tempo, umapreparação muito cuidadosa por parte do comungante: Assim que qualquer um que come o pão, oubebe o cálice do Senhor, de modo indigno, é culpado do corpo e sangue do Senhor. Comer de modoindigno é estar numa tal situação espiritual ou conduzir-se de tal modo que não se harmoniza com adignidade e santidade da ceia celeste. Quando uma pessoa comparece à ceia do Senhor como secomparecesse a qualquer outra refeição, considerando suas ações como um mero comer pão e mero

10) 59) Cf. Apol. XXII (Liv. Conc. Pág. 250ss.)11) 60) Lutero, 13a. 309.

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beber vinho, se não sente nem desejo pela graça de Deus nem devoção diante do prospecto departicipar na festa maravilhosa, então uma tal pessoa será culpada, não meramente dum comer ebeber impensado, mas de profanação do corpo e do sangue do Senhor. Mostrará que não tem nemuma concepção de sua pecaminosidade e nem um desejo pela graça de Deus. E, desta forma, suaculpa consistirá em sua obstrução da graça de deus no sacramento, que está pronto para derramarsobre ele remissão de pecados, vida e salvação.

Então decorre para cada cristão sincero: Mas que a pessoa se examine, faça um testecuidadoso de seu própria mente e atitude, vasculhe todos os cantos secretos de seu coração, não,como dizem alguns comentaristas, para ver se está religiosa e moralmente qualificado,pessoalmente digno de ser um hóspede do Senhor, mas, como nossa fórmula litúrgica diz commuita propriedade, para ver se sinceramente se arrepende de seus pecados, crê em Jesus Cristo, esincera e honestamente deseja emendar sua vida pecaminosa. Um cristão, tendo feito este exame,preferivelmente com o auxílio das perguntas da Quinta Parte Principal, na Taboa dos Deveres, e noQuestionário Cristão oferecidos em nosso Catecismo Menor, pode comparecer e participar da ceiada graça de Deus. Por isso o objetivo da admoestação não é barrar e espantar aqueles cristãos emque o auto-exame revela muitos pecados em pensamentos, palavras e ações, mas estimular o desejocorreto pela graça de Deus, da qual se mostrou necessária esta auto-investigação.12) Aqui, por isso,devíamos aprender com diligência e observar que tais pessoas, que dizem e confessam que sãopobres pecadores, e sentem várias tentações, não recebem o sacramento de modo indigno.... Se nãodesejas receber o sacramento sem estar livre de todos os pecados, seguiria que jamais irias aosacramento. Mas aqueles que conscientemente continuam em pecados recebem indignamente ovenerável sacramento; tais como ódio mortífero contra o próximo, assassinato, fornicação,adultério, e outras semelhantes transgressões públicas, e não têm o propósito de cessá-las. Pois osacramento foi instituído por Cristo o Senhor, não para que as pessoas permanecessem em pecados,mas que obtivessem perdão e crescessem em santificação.... Posso falar com autoridade daquiloque segue se uma pessoa se priva por algum tempo do sacramento. Também já estive num tal fogodo diabo que fiquei longe do venerável sacramento, e que, quanto mais isto durou, e participavacom crescente indisposição. Deves estar certo de precaver-se disso e entrar no hábito de participarmuitas vezes, em especial se estás preparado para ir, isto é, se achas que teu coração, por causa deteus pecados, está oprimido e envergonhado, para que não esqueças nosso Senhor e Salvador JesusCristo, mas recordes Seu sacrifício e morte; pois Ele não requer nada diferente de ti.”13)

Dos indignos o apóstolo, porém, diz: Pois aquele que come e bebe indignamente, esse comee bebe para si mesmo juízo e condenação, porque não discerne, discrimina, o corpo de Cristo. Nãofaz qualquer distinção entre uma refeição ordinária e esta refeição celeste. Não percebe que aquiestão presentes o verdadeiro corpo e sangue de seu Salvador, e que por este motivo um usodespreocupado do sacramento é blasfêmia e que resulta no justo juízo final de Deus. Pois aqueleque se achega da mesa do Senhor num tal espírito de frivolidade efetivamente também receberá ocorpo e sangue de Cristo em, com, e sob o pão e o vinho, mas não como os de seu Redentor, masantes como os de seu Juiz, que no último dia dele exigirá um duro ajuste de contas, visto que ocomportamento exterior é tão somente uma indicação e demonstração da falta de fé que há nocoração. “Cremos, ensinamos e confessamos também que existe apenas uma espécie de convivasindignos, a saber, os que não crêem. A respeito deles está escrito (Jo. 3. 18): ‘O que não crê já estájulgado’. Poe uso indigno do santo sacramento esse juízo cresce, torna-se maior e é agravado, l.Co.11. 29”14)

Uma admoestação final para ter cuidado em participar no Sacramento: V. 30) Eis a razãopor que há entre vós muitos fracos e doentes, e não poucos que dormem. 31) Porque, se nosjulgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. 32) Mas, quando julgados, somos disciplinadospelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo. 33) Assim, pois, irmãos meus, quando

12) 61) Cf. Lutero, 12. 1342-1351.13 ) 62)c Lutero, 13a. 311, 315.14) F.C. Epit.. VII, 521, 18. Cf. Concórdia de Wittenberg, 977; F.C. Sol. Decl. VII. 620, 57ss.

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vos reunis para comer, esperai uns pelos outros. 34) Se alguém tem fome, coma em casa, a fim denão vos reunirdes para juízo. Quanto às demais coisas, eu as ordenarei quando for ter convosco.Praticamente todos os comentaristas concordam em entender v. 30 como de aflições e fraquezasfísicas, de fraquezas e saúde abalada, acrescentando muitos deles que estas condições foram oresultado da falta de temperança que foi aludida no v. 21. Outros sugeriram que tais visitaçõesextraordinárias e diretas e tais castigos corporais por causa de falhas espirituais foram um aspectoda era apostólica. Mas o texto em si não sugere nada neste sentido, e a idéia de crer que algunscristãos de Corinto dormiam em morte física não concorda como a compreensão do termo e nemcom a doutrina das Escrituras sobre o assunto. Está claro o significado do apóstolo: Muitos dosmembros estavam fracos em sua própria mente, careciam de força espiritual, Mt. 26. 41; Rm. 14. 1,2; 1.Co. 1. 27; 9.22. Outros estavam muito mal no espírito, carecendo da força e vigor do cristãoideal, Mt. 9. 12; Lc. 5. 31. E outros ainda cochilavam em sono espiritual, Ef. 5. 14; 1.Ts. 5. 6, e porisso careciam de vigilância, da vigilância espiritual, que sempre devia identificar ao cristão, paraque não caia nas armadilhas do diabo, 1.Pe. 5.8. Em outras palavras, muitos dos cristãos deCorinto, ainda que cristãos nominais e considerados como membros de bom conceito dacongregação, realmente estavam num estado espiritual que mostrava que eram necessárias medidasfortes para reconduzi-los à verdadeira fé e à vida ativa em Cristo. Naquele tempo, como hoje, estacondição foi o resultado do mau uso do sacramento, do comer e beber indigno, de não fazer acorreta discriminação entre a ceia do Senhor e qualquer outro comer e beber.

Este triste estado e coisas poderia ter sido evitado por meio da vigilância que deviacaracterizar os cristãos de todos os tempos: Se, contudo, nos discriminamos, não devíamos serjulgados. Um sincero auto-exame antes de cada comunhão, junto com uma honesta condenação detudo que nos pode desviar da norma da santa vontade de Deus, salva os cristãos do juízo de seremcomungantes indignos. Mas estando sob julgamento, visto que o Senhor critica e condena nossalassidão e irreverência em relação ao uso de Sua santa ceia, o seu objetivo é pedagógico. Oapóstolo do Senhor, por meio de sua severa repreensão, estava castigando, disciplinando, oscristãos de Corinto, para que não continuassem em seu sono espiritual e no fim caíssem sob aproclamação da condenação eterna.

Desta forma, o apóstolo, tendo citado todos os argumentos que eram necessários paraconduzir os coríntios à percepção de sua situação, em conclusão, repete sua admoestação: Por isso,meus irmãos, quando vos reunis para comer, esperem um pelo outro. Que não continuassem naprática de dividir-se em partidos e facções e que, como conseqüência, haviam mudado os ágapesque precediam a ceia do Senhor em devassidão, mas que celebrassem também estes juntos e comdecência, para que a eucaristia não fosse profanada. Também deviam evitar a aparência do jejum.Caso alguém estivesse com fome, que satisfizesse sua fome em casa, para que não se reunissempara o que é pior, ou seja, para juízo. Outros assuntos que pertenciam à correta ordem e decência nacelebração da eucaristia e ao culto público, Paulo queria regular devidamente quando pudesse vir aeles. Naquele tempo ainda não sabia, quando seria capaz de visitar Corinto, mas estava resolvido avir tão logo como as circunstâncias lhe permitissem fazer esta viagem.

Resumo: O apóstolo discute a cobertura com véu das mulheres no culto público, junto coma posição delas na congregação, ele ralha os cristãos de Corinto pelas evidências de divisões entreeles, assim como elas até se mostravam na celebração da eucaristia, e apela longamente para apreparação para a ceia do Senhor e sua correta celebração.

Capítulo 12

Do Uso E Objetivo Dos Dons Espirituais. 1.Co. 12. 1-31.

Todos os dons espirituais são de Deus: V. 1) A respeito dos dons espirituais não quero,irmãos, que sejais ignorantes. 2) Sabeis que, outrora, quando éreis gentios, deixáveis conduzir-vosaos ídolos mudos, segundo éreis guiados. 3) Por isso vos faço compreender que ninguém que fala

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pelo Espírito de Deus afirma: Anátema Jesus! por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!senão pelo Espírito Santo. 4) Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. 5) E tambémhá diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. 6) E há diversidade nas realizações, mas omesmo Deus é quem opera tudo em todos. Outros assuntos podiam ser adiados até que o apóstolopudesse ser capaz de realizar seu plano de visitar Corinto, mas o assunto abordado por ele nestasecção precisava ser resolvido logo: Mas sobre as coisas espirituais, isto é, os dons e poderes,irmãos, não quero que sejais ignorantes. Queria ensinar os uso correto dos dons espirituais,exatamente assim como lhes dera a informação correta sobre a celebração da ceia do Senhor. Poiscom estes dons estava ligada certa porção de perigo, visto que eram, falando de modo mais geral,fenômenos sobrenaturais que precediam do Espírito e que pertenciam à Sua esfera. Ele, paracolocar seus ouvintes na posição correta frente à admoestação que está para fazer, e para conservá-los no adequado estado de humildade quanto à sua total falta de mérito na aceitação destes dons,lembra-os de sua anterior situação gentia: Sabeis que uma vez éreis gentios, sendo levados aosídolos mudos, do modo como éreis conduzidos. Aqui estão expressos dois pensamentos, a saber,que o paganismo é uma alienação do verdadeiro Deus, e que ele é uma escravidão da pior espécie.Ser conduzido ao culto de ídolos, os quais o apóstolo caracteriza como mudos, sem voz, Sl. 115. 5;135. 16, caracteriza todo o mundo pagão. Os gentios são levados a este culto tolo e fútil. Seussacerdotes sabem muito bem do fato que o que afirmam não tem fundamento. Conservam, porém, opovo sob supersticiosa escravidão. Segundo o aceno de seus sacerdotes os gentios ignorantes seprostravam em culto aos seus ídolos mortos, cuja mudez fazia parte de sua nulidade, e que jamaisretornaram com uma só resposta, não importando quão urgente fosse a súplica. O conhecimento desua situação anterior foi assim como sempre, fazendo, por meio do contraste, aparecer em suasmentes a graça de Deus de modo ainda mais maravilhoso.

Os coríntios, porém, ainda não entenderam exatamente a maneira como o Espírito de Deusrealizou Sua obra em seus corações, como exercia Seu poder. Isto levou Paulo a prosseguir nainstrução deles. Por isso, para que pudessem formar um juízo correto das operações e dos dons doEspírito, ele os informa que ninguém quando fala no Espírito de Deus diz: Jesus está amaldiçoado;e ninguém pode dizer: Jesus é Senhor, se não somente no Espírito Santo. Os espíritos da falsidade eo da verdade estavam lutando entre si em Corinto, e aqui está registrado o grito de guerra de cadapartido. Aquilo que estava amaldiçoado ou anátema, no sentido como usado pelos judeus, eravotado a Deus para a destruição, como estando sob Sua maldição. Dizer que alguém ou algumacoisa era anátema foi pronunciar o juramento da execração sobre a pessoa ou coisa em questão. Osjudeus fanáticos fizeram este seu brado em seu ataque incessante contra a religião cristã, e aexpressão tão chamativa foi capaz de ser abarcada pelas hordas gentias sempre que foi colocada emmovimento qualquer demonstração contra os cristãos. Desde o princípio estava, pois, certo queninguém que usava esta forma de blasfêmia podia ser considerado como alguém que falava peloEspírito de Deus. Sem interessar qual fosse neste sentido sua pretensão, o fato permaneceu que umtal blasfemador estava e precisava permanecer fora do âmbito do cristianismo até que mudassecompletamente. Nesse ponto também merece ser considerada a observação de Lutero: “Pois o queele aqui chama ‘amaldiçoar Jesus’ não é somente isto, que uma pessoa blasfema publicamente eamaldiçoa o nome ou a pessoa de Cristo, como o fizeram os judeus ateus ou os gentios.... mas [istotambém é feito] quando qualquer um dentre os cristãos louva o Espírito Santo, mas não pregacorretamente a Cristo como o fundamento de nossa salvação, mas o negligencia e o rejeita em favorde algo diferente, com o pretexto que isto se deriva do Espírito Santo e é muito melhor e maisnecessário do que a doutrina comum do evangelho.”15) Por outro, a sincera confissão: Jesus éSenhor, é um produto de verdadeira fé, e por isso não pode ser feito pela razão e força de qualquerpessoa. Cf. 1.Jo. 4. 2ss. É um reconhecimento de Cristo com a plena percepção de Sua obra daredenção, tal como operada pelo poder do Espírito Santo. Mas, visto que esta confissão pública é aobra principal dos pastores cristãos, segue que estas obras do apóstolo se aplicam a estes com forçainvulgar. “Chamar Jesus o Senhor é confessar-se Seu servo e só buscar sua honra, como alguém

15) 64) Lutero, 12. 1821.

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que foi enviado por Ele ou que tem Sua palavra e mandamento. Pois aqui ele fala principalmente doofício que prega de Cristo e que traz Seu mandamento. Onde este ministério está em uso e dirige aspessoas a Cristo (como para o Senhor), isto com certeza é a pregação do Espírito Santo.... Destaforma também não pode ser feito sem o Espírito santo, quando qualquer cristão em seu labor ou emsua situação chama com toda sinceridade Cristo seu Senhor, isto é, conclui com certeza que nissoO está servindo.”16)

Esta unidade na fé na confissão traz agora ricos frutos em “distribuições de dons da graça,serviços e trabalhos”: Mas há distribuições, diversidades, variedades de dons, mas o mesmoEspírito; e há variedade de ministérios, mas o mesmo Senhor; e há variedades de efeitos, mas omesmo Deus que opera, que realiza, tudo em todos. Aqui o apóstolo contrasta os ídolos mudos dosgentios com o Deus trino onipotente dos cristãos, sendo que o primeiro é incapaz de falar ou deexercer qualquer poder, mas o último se revela com onipotente poder na igreja e na congregaçãodos santos. O Espírito, o Senhor e Deus Pai estão incessante e graciosamente ativos na edificaçãoda igreja por meio dos talentos que concederam aos cristãos individuais. Todos os eminentes dotes,qualificações, capacidades dos cristãos, e que são algo particular à sua condição como cristãos,sejam os de curar, de milagres, de línguas, de profecia, de excelente exposição da Bíblia, deedificante aplicação da palavra, são concedidos pelo Espírito Santo, por aquele um Espírito. E estesdons maravilhosos da graça são aplicados na igreja nos vários ofícios e ministérios, que são asmúltiplas funções e esferas de trabalho, Ef. 4. 12, mas sempre sob a direção do único Senhor, JesusCristo, o Rei da Igreja, e a feitos a Ele. É no interesse Dele que os cristãos sempre deviam usar seusdons, cada um sem exceção qualquer na forma como Cristo lhos repartiu. Pois, somente quando osvários dons, nos multiformes ofícios e postos, forem usados no serviço do único Senhor, seráalcançado o propósito do Senhor quando concedeu os dons. Desta forma há, finalmente váriosefeitos das atividades dos cristãos, proporcionais aos dons e à sua posição de trabalho. Mas é um sóDeus que constantemente efetua tudo quanto é necessário para o bem de Sua igreja, e Ele reparte atodos os verdadeiros cristãos incessantemente do rico tesouro dos Seus dons. Desta forma o Deustrino é o manancial de toda graça e poder na igreja, sendo o despenseiro imediato de todo bem edom perfeito. “O Espírito acende o fogo dos dons da edificação, o Filho direciona os raios dosministérios da edificação, o Pai cria o calor das forças de edificação: Numa essência indivisa oDeus trino governa Sua igreja; que insulto causar divisões em seu meio!”17)

A verdadeira operação dos vários dons: V. 7) A manifestação do Espírito é concedida acada um visando a um fim proveitoso. 8) Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra dasabedoria; e a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento; 9) a outro, no mesmoEspírito, fé; e a outro, no mesmo Espírito, dons de curar; 10) a outro, operações de milagres; aoutro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um variedade de línguas; e a outro,capacidade para interpretá-las. 11) Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas,distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente. Agora o apóstolo mostra como semanifestavam os vários dons do Espírito, nos quais a congregação era tão rica, e qual o propósitoque eles deviam guardar em mente: Mas a cada um (cristão) está sendo dada a manifestação doEspírito visando o proveito comum. Ele fala de modo muito geral, afirmando que cada cristãopossui algum dom da graça, um dom que não foi meramente derramado sobre ele em certa ocasiãono vago e distante passado, mas que lhe é concedido dia após dia. Por isso, seu alvo e objetivo nãoé servir ao engrandecimento e gozo pessoal, mas ser colocado à disposição e ao ministério doproveito espiritual da congregação inteira e da igreja. Cada cristão devia revelar-se um bomdespenseiro da multiforme graça de Deus, 1.Pe. 4. 10; Mt. 25. 14-30.

Paulo mostra por meio de certo número de exemplos como exatamente os talentosespirituais dos cristãos individuais deviam servir para o benefício da congregação toda: A um foidada pelo Espírito, por meio do Seu poder, a palavra de sabedoria. Teve um saberexcepcionalmente completo das grandes verdades da Escritura, ou seja, do mistério do evangelho,

16) 65) Lutero, 12. 823.17) 66) Besser, Biibelstunden, 8. 596.

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da palavra da cruz, e de modo claro e convincente pôde expô-las em seu conjunto. Mas a outro foidada a palavra de conhecimento, segundo o mesmo Espírito, orientado pelo Seu poder. Teve o domde aplicar a palavra de Deus a casos individuais na vida, lançar de modo apropriado luz sobre eles,fazer as conclusões corretas na base dum claro conhecimento. O saber é mais teórico,conhecimento é mais prático. São estas em especial as qualificações do professor e pastor.

Na segunda série de dons, a um outro é dada fé, no mesmo Espírito, unicamente no Seupoder e outorga. Não é aquela fé que aceita a salvação em Cristo, ou seja, não a fé que justifica,mas uma confiança forte e inabalável no Deus onipotente ou no poder de Cristo, como algo capazde se revelar em feitos extraordinários e realizar o que aos homens parece impossível.18) Este domde fé heróica foi especialmente necessária nos dias antigos da igreja, mas desde então apareceu emmuitos servos do Senhor, que, com a assistência do Senhor, realizaram o aparentementesobrenatural. A um outro foram dados na concessão do mesmo Espírito os dons das curas. Nos diasantigos houve cristãos que foram capazes de curar os doentes sem o uso de medicamentos e pararealizar outras coisas milagrosas, como sejam: ressuscitar os mortos, castigar os maus por meioduma manifestação extraordinária da ira de Deus, como no caso de Ananias e Safira, Elimas, etc.Com estes dons estiveram intimamente ligados os atos de poder, e a operação de milagres em geral.

Paulo menciona no terceiro grupo de dons, que a outro cristão é dada profecia, o que não sóinclui a habilidade de ver o futuro e pré- anunciar eventos vindouros, mas também a de aplicar apalavra de Deus no ensino e na admoestação. “A profecia é que alguém pode interpretar e explicarcorretamente a Escritura, e dela comprovar, de modo vigoroso, a doutrina da fé e a doutrina falsa;por meio dela também admoestar o povo, ameaçar ou fortalecer e confortar, indicando, enquantoisto, a ira vindoura, o castigo e a vingança sobre os descrentes e desobedientes, e, por outro, osocorro divino e a recompensa para os cristãos e piedosos; assim como os profetas o fizeram à baseda palavra de Deus, tanto da lei como das promessas.”19) A outro é dado o discernir espíritos, que éa capacidade de, rapidamente, distinguir entre verdadeiros e falsos mestres, 2.Ts. 2. 9; 1.Jo. 4. 1.Quando Satanás descobriu que aberta inimizade e perseguição não tiveram o sucesso que seusplanos quiseram, então ele empregou a astúcia e atuação escondida, fazendo surgir falsos mestresexatamente no meio das congregações cristãs, cujas línguas fluentes muitas vezes conseguirintroduzir doutrinas diferentes do puro evangelho pregado pelos apóstolos. Por isso uma pessoa quetem a capacidade para logo discriminar, para desmascarar a posição dúbia e perigosa dos falsosmestres, foi uma valiosa aprovação na congregação. A mais outro cristão foram dadas tipos delínguas, sendo ele capaz para falar as grandes coisas de Deus em línguas estranhas, que jamaisestudara, Mc. 16. 17, ou ele podia louvar o Senhor numa língua totalmente nova e desconhecida,virtualmente na língua dos anjos, cap. 13. 1. Contudo, visto que estes dons em si mesmo teriamsido inúteis, o Senhor também havia concedido a um outro a interpretação de línguas, ou seja, acapacidade de traduzir a língua desconhecida para o benefício da congregação, para a edificaçãodos ouvintes.

Claramente o apóstolo lembra seus leitores que, não importando a imensa diferença entreeles, não importando a inclinação que houve entre os detentores dos diferentes talentos para exaltarseus dons pessoais, todos estes dons haviam sido operadas por um e o mesmo Espírito, quandodistribuiu a cada pessoa individual exatamente como Sua vontade o ditava. Aqui se destacam doispensamentos: Que é tão somente o Espírito que lida com cada indivíduo, que é Sua escolha e juízoque determinam os dons, mas também que não podia haver qualquer idéia de mérito da parte dequem os recebeu; a medida do Espírito Santo é a sua vontade e seu conselho pessoal e gracioso.Nota: Dos dons aqui mencionados pelo apóstolo, “quatro desapareceram completamente do meioda igreja cristã, os outros cinco ainda são encontrados, ainda que em medida menor.Desapareceram completamente o dom de curar sem a aplicação de remédios, o dom de operaroutros milagres, o dom de falar línguas estranhas sem algum estudo e uso prévio, e por último odom de interpretar tais línguas que jamais se estudou. Este, porém, não é o caso com os outros dons

18) Cf. Lutero, 12. 827.19) 68) Lutero, 12. 827.

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mencionados pelos apóstolos, a saber, com os dons de falar pelo Espírito com sabedoria e comconhecimento, com o dom de profetizar, isto é, de expor as Escrituras, com o dom de uma féexcepcionalmente alta, forte e heróica, e por fim com o dom de distinguir entre os espíritos.”20) Seestes dons ao menos tivessem sido empregados mais vezes, em toda humildade, para o benefício daigreja!

O corpo de Cristo e seus membros: V. 12) Porque, assim como o corpo é um, e tem muitosmembros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeitoa Cristo. 13) Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quergregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito. 14) Porquetambém o corpo não é um só membro, mas muitos. 15) Se disser o pé: Porque não sou mão, nãosou do corpo; nem por isso deixa de ser do corpo. 16) Se o ouvido disser: Porque não sou olho,não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser. 17) Se todo o corpo fosse olho, onde estaria oouvido? Se todo fosse ouvido, onde o olfato? 18) Mas Deus dispôs os membros, colocando cadaum deles no corpo, como lhe aprouve. O fato que o Espírito de Deus opera na igreja através demultiformes dons da graça, em várias pessoas, e ainda assim sempre para o mesmo fim que é aedificação do corpo todo como uma unidade, é aqui ilustrado com a referência à analogia de umcorpo. A unidade da igreja não é a da natureza inorgânica, em que muitos corpos semelhantes ounão semelhantes são amontoados sem uma conecção orgânica. Antes é a unicidade dum organismovivo, o emprego de cujos membros são diversificados, mas ainda assim todos servem ao mesmofim, que é a saúde e bem-estar do corpo todo: Pois tal como o corpo duma pessoa é um e ela temmuitos membros, mas todos os membros do corpo, sendo tanto, são um só corpo, assim também éCristo. A unicidade do corpo humano revela uma pluralidade de membros, mas por maior que sejaa variedade das partes é ainda assim um único sistema. Exatamente assim Cristo inclui cabeça ecoração e todos os membros do corpo em um só sistema, sendo cada parte e membro necessáriopara a integridade ou inteireza do todo, mas sendo o corpo inteiro governado pela uma cabeça, queé Cristo.

A unidade deste um imenso sistema eclesiástico é efetivado por meio do batismo: Poistambém nós todos fomos batizados em um Espírito para um corpo, sejamos judeus ou gregos,escravos ou livres, e todos nós fomos levados a beber de um Espírito. O Batismo é o lavar deregeneração e renovação do Espírito Santo. É ele o poder que influenciou nossos corações e mentese os trouxe para o correto relacionamento com Cristo, juntou-nos como membros ao Seu corpo,selou e certificou-nos nossa salvação. A nacionalidade e o status social do indivíduo não qualquersignificado neste processo, pois o Espírito não faz distinção entre judeus e gregos, entre escravos elivres. Todos receberam o mesmo Espírito análogo, todos foram imbuídos com a mesma vida deCristo. E, incidentalmente, todos fomos levados a beber do mesmo Espírito. Ele foi e é o refrigérioespiritual que nossas almas recebem pela fé. Pois o beber inclui a alimentação toda da alma, talcomo é recebida para o bem do corpo todo e de todos os membros.

Esta idéia, que a unidade da organização corporal, em vez de excluir, inclui umapluralidade de membros, é agora exposta em detalhes: Pois também o corpo não é um membro, masmuitos. Falar do corpo como um membro é uma contradição em si mesmo: muitos membros, oumuitos órgãos, formam um corpo. Mas, ainda assim, nenhum destes está completo em si mesmo, enem poderia existir por si mesmo, tal como cada um tem a exercer sua própria função, fazer seupróprio trabalho no corpo, que não poderia ser realizado sem ele. O pé argumentar que não é ummembro do corpo porque não a mão, seria tão tolo, como a orelha argumentar que não pode ser ummembro do corpo porque não é o olho. A função de cada órgão e de cada membro estádefinitivamente estabelecida, e por isso o pó ou a orelha não se cortam do corpo porque sediferenciam da mão e do olho. Seu argumento tolo deixa o assunto exatamente como foi antes. Oolho é de fato um membro mais nobre do que a orelha, assim como a mão é um membro mais nobredo que o pé, mas todos os membros do corpo servem mutuamente um ao outro. Nota: “A tarefaóbvia que aqui é inculcada é a do contentamento. É exatamente tão irracional e absurdo para o pé

20) Walther, Epistel-Postille, 334.

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se queixar que não a mão como para um membro da igreja se queixar que não aquele outro. Isto é,um professor se queixar que não é um apóstolo, ou uma diaconisa se queixar que é um presbítero,ou um que teve o dom de curar se queixar que não teve o dom de línguas.” (Hodge)

O apóstolo expressa de modo muito enérgico que todos os membros e órgãos devem servirao corpo todo, o sistema inteiro, cada um sem sua própria esfera: Se o corpo inteiro fosse olho,onde estaria o ouvir? Se corpo inteiro fosse ouvir, onde ficaria o sentido do olfato? Agora, contudo,todas as coisas ocorrem pela vontade de Deus, sendo que ele designou os membros, cada um deles,no corpo assim como Ele o quis. A satisfação com o dom particular da graça, com o statusparticular na igreja que alguma pessoa tem e ocupa, é rebelião contra a vontade de Deus, contra ogoverno do Senhor na igreja. É infidelidade contra Ele e desconfiança em sua sabedoria. Deusestabeleceu as coisas desta forma, sendo um assunto de Sua vontade firme, e o cristão submissonão será encontrado a se queixar e questionar.

O fim de todos os membros: V. 19) Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria ocorpo? 20) O certo é que há muitos membros, mas um só corpo. 21) Não podem os olhos dizer àmão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós. 22) Pelo contrário,os membros do corpo que parecem ser mais fracos, são necessários; 23) e os que nos parecemmenos dignos no corpo, a estes damos muito maior honra; também os que em nós não sãodecorosos, revestimos de especial honra. O apóstolo desenvolve seu argumento em todas asdireções, mostrando aqui que é necessário certo número, uma variedade, de membros e órgãos parao organismo do corpo e também da igreja. Aquele que fosse insistir que todos os seus membrosfossem os mesmos, destruiria a unidade do corpo e com também o seu organismo. Paulo afirma istocom profunda seriedade: Agora, pois, há realmente muitos membros, mas um só corpo. Nenhummembro do corpo tem a capacidade de realizar todas as funções que estão dentro da esfera docorpo, mas todos são mutuamente interdependentes. E é só assim que o corpo alcança seu objetivono mundo.

A seguir é expresso que todos os vários membros, que recebemos, são necessários ao corpocomo um todo, e conseqüentemente são necessários um ao outro, sendo que não podem operarcorretamente sem a assistência um do outro. Se o corpo inteiro fosse realizar corretamente seutrabalho, olho não pode negar que a mão é indispensável para o seu serviço. O mesmo é verdade darelação dos pés com a cabeça. O corpo, de fato, poderia viver sem os pés, mas o organismo estariaaleijado. Os membros mais nobres precisam dos menos nobres, se o sistema do corpo deve executarsuas funções para as quais foi projetado e destinado. Por isso, o orgulho na igreja é tão condenávelcomo o é a insatisfação.

O apóstolo tem algo a dizer àqueles membros superiores que olham em complacentepresunção sobre os companheiros inferiores: Muito antes precisa ser considerada esta situação:Como parecem ser, os membros mais fracos do corpo são necessários, e aqueles membros do corpoque nos parecem ser mais desonrosos, nós nos preocupamos em honrá-los de modo mais abundante,e nossas partes indecorosas nós as conduzimos com mais decência. Alguns órgãos do corpo sãoextremamente fracos e delicados, com o coração, o olho, o ouvido; mas sua utilidade não pode serquestionada. Outros órgãos, como os do abdômen, são ignóbeis, ainda que sua função por si mesmanão é impura; nós, porém, provemos suficiente vestimenta para eles. Outros órgãos, ainda, ou seja,aqueles ligados com a procriação das espécies, por causa do pecado, têm sido cobertos com omanto do pecado e da indecência, ainda que nenhum outro podia ser mais sacro na função queDeus lhes deu; por isso os ocultamos contra a visão, sendo o objetivo das vestes servir de decoro.Nota: A proposital insinuação de atração, que está associada com a procriação das espécies, talcomo ela sucede na vestimenta indecente de nossos dias, não só está fora da lei de Deus, mastambém da decência natural que a consciência exige.

A aplicação da figura: V. 24) Mas os nossos membros nobres não têm necessidade disso.Contudo Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra àquilo que menos tinha, 25) paraque não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, emfavor uns dos outros. 26) De maneira que, se um dos membros sofre, todos sofrem com ele; e, seum deles é honrado, com ele todos se regozijam. Não incluímos na cobertura e adorno das partes

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desonrosas e indecorosas do corpo as partes decorosas, como a cabeça e o rosto, a não ser quequeiramos ostentar tendências bárbaras. Sua distinção é tão evidente que qualquer adornodesagrada ao observador. Mas Deus achou por bem misturar as coisas. Ele formou os membros docorpo, atribuindo mais honra à parte que dela necessita. A palavra grega significa a mistura deingredientes como é feita no laboratório, e indica “um tal ajuste das partes que há no corpo quepodiam contrabalançar as diferenças, assim que uma parte qualificasse a outra.” Não é assim que osmembros belos e honráveis estão todos em um lugar e as ignóbeis e indecorosas em outro, mas quehá uma completa harmonia na aparência e na função do corpo, junto com uma agradáveldiversidade e intercâmbio. E o objetivo é: que não existem quaisquer dissidências, quaisquerdivisões, no corpo, mas que os membros têm o mesmo zelo uns pelos outros. Obviamente o corpotodo sofreria, se os órgãos principais do corpo se recusassem realizar corretamente seu trabalhoenquanto os membros desonrosos ainda estivessem ligados ao corpo. A vontade do Criador é quecada parte contribua com algo para a proporção, simetria e beleza do corpo. Muito logicamentetambém seguirá: Se um membro sofresse, todos os membros sofrem com ele, e se um membro églorificado, todos os membros se regozijam com ele. Há aqui uma ilustração do cuidado esolicitude desinteressada dos membros do corpo entre si. Estão tão intimamente unidos com esteum organismo do corpo que a dor de qualquer órgão naturalmente é sentida pelo corpo todo. Poroutro, uma honra especial demonstrada a qualquer um dos membros, em especial aos membrosgraciosos, faz que o corpo todo se encha de alegria, sendo a atitude da mente refletida na atitude,nos gestos e em todas as feições do corpo.

O significado espiritual da comparação: V. 27) Ora, vós sois corpo de Cristo; e,individualmente, membros desse corpo. 28) A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramenteapóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro lugar mestres, depois operadores de milagres,depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. 29) Porventura são todosapóstolos? ou todos profetas? são todos mestres? ou operadores de milagres? 30) Têm todos donsde curar? falam todos em outras línguas? interpretam-nas todos? 31) Entretanto, procurai, comzelo, os melhores dons. E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente.Começando com o v. 12, Paulo dera o relato detalhado da inter-relação dos membros e órgãos quehá no organismo humano, indicando, contudo, mesmo no v. 13, que quis que a aplicação fosse feitaao caso da igreja. E aqui ele afirma que toda esta passagem deve ser aplicada à congregação cristã:Vós sois o corpo de Cristo, e muitos membros. Em relação a Cristo tendes a relação dum corpo, emrelação de uns aos outros tendes a relação de membros. Por isso na igreja deviam ser levadas emconta as lições dos membros descontentes e menos nobres, o orgulho dos membros mais corretos, edo cuidado mútuo e da solicitude dos membros em geral. E Paulo francamente afirma que há defato uma diversidade de talentos, de ministérios, de realizações na igreja. Foi Deus quem operouestas distinções. Foi Ele quem escolheu e estabeleceu certos funcionários na igreja, sendo que elesdetiveram um ofício pela Sua vontade, At. 20.. 28. Havia, primeiro, os apóstolos, que constituíramos mestres de toda a igreja até o fim do tempo, originalmente por meio da palavra proclamada,depois por sua doutrina transmitida de forma escrita. Havia, em segundo lugar, profetas, que foramhomens que tinham o dom da profecia, vv. 8, 10. Em terceiro lugar, havia os mestres, homens queforam capazes de ensinar a doutrina transmitida, e de aplicá-la aos casos individuais. Estes trêsrepresentaram as ordens de ensino. E na congregação em geral, e sem distinção devida ao cargo, seencontravam poderes milagrosos, dons de cura, vv. 9, 10; socorros, que era a tarefa queprincipalmente era feita pelos diáconos; governos, que era a obra que foi realizada pelosfuncionários executivos na organização da congregação; e, por fim, variedades de línguas, v. 10.Nota: Aqui evidentemente o apóstolo se refere à organização visível da igreja, à qual Ele confiara aadministração dos meios da graça. Quando uma pessoa que se chama cristã evidencia o espírito deindependência, mantendo que pode ignorar o trabalho do ministério, então este não está emconformidade com esta passagem das Escrituras.

Deus concedeu os ofícios e distribuiu os dons, mas Ele em pessoa fez a distinção,escolhendo os veículos de Sua graça assim como Ele o julgou melhor. Insatisfação com a posiçãodesignada a qualquer um na igreja é rebelião contra o Seu governo: São todos apóstolos? todos

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profetas? todos mestres? todos poderes? Possuem todos dons de curas? Falam todos em línguas?Todos interpretam? Na igreja todos os cristãos não podem ser tudo, não podem deter todos osofícios, não podem possuir todos os mesmos dons; o Senhor distribuiu os dons, e todos sãoresponsáveis a Ele, seja o dom que lhes foi confiado grande ou pequeno em sua apresentação diantedas pessoas. Que o apóstolo, o profeta, o mestre, o curador, o intérprete, o diácono fazer, semciúme, cada um seu trabalho no lugar que lhe foi indicado, como também se estar descontente comseu fardo. Todas estas posições são necessárias e mutuamente são interdependentes; todas elasdevem servir para glória do Senhor e para o bem-estar de Seu povo. O auto-engrandecimento e ociúme são a morte do verdadeiro trabalho da igreja.

Em lugar de fomentar o orgulho e a vaidade, os cristãos de todos os tempos devia, aocontrário, empenhar seus esforços em outro sentido: Mas sede zelosos pelos dons melhores, lutaipor aqueles dons do Espírito que são para o melhor benefício da obra do Senhor na igreja. Quandoos cristãos são realmente ansiosos para estarem dispostos na obra do Senhor, por meio dumempenho totalmente altruísta, então o Senhor há de recompensar este zelo devoto. A tais pessoasserá concedida a oportunidade de dispor seus talentos para o Rei da graça. Paulo não só querexortar seus leitores para este fim, mas também deseja mostrar-lhes uma maneira excelente, ummeio impar, por meio do qual poderão alcançar o cumprimento de seu desejo e serem colocadosnuma posição em que podem servir a igreja em todos os seus membros, para a glória de Deus.

Resumo: O apóstolo discute a diversidade dos dons do Espírito, assim como sãodistribuídos para a vida da igreja, sendo todos necessários e sendo todos honrosos quando usadosapropriadamente, como ele o mostra por meio duma comparação detalhada dos membros doorganismo humano e suas funções, mas que nenhum deve ser buscado num espírito de emulação.

Capítulo 13

Um Salmo De Amor. 1.Co. 13. 1-13.

O elevado valor do amor: V. 1) Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, senão tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. 2) Ainda que eu tenhao dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha féao ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. 3) E ainda que eu distribua todosos meus bens entre os pobres, e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, senão tiver amor, nada disso me aproveitará. Paulo escrevera, a guisa de introdução a estemagnificente peã em louvor do perfeito amor cristão, em que quis mostrar aos seus leitores osobremodo excelente meio para se tornarem participantes dos melhores dons espirituais, daquelesque são de valor maior para a edificação da congregação, que são os do saber, do conhecimento eda profecia. Este meio, que se empenha pela posse dos dons que farão mais em favor do serviço aocolega cristão e para a igreja, é o caminho do amor. A suprema excelência deste dom de Deus éexpresso de modo maravilhoso: Se eu falar em línguas de homens, e de anjos, mas estou sem amor,tornei-me um bronze soante e um címbalo tilintante. O apóstolo, quando compara os vários dons daépoca apostólica com os dons melhores que encontram sua expressão pelo amor, menciona, emprimeiro lugar, o dom de línguas. No caso daquele que possuía este dom, um êxtase peculiar tomouconta da função ordinária da razão, e nesta condição o Espírito de Deus fez uso da língua emlínguas novas e estranhas para louvar as grandes obras de Deus. Mas, quando uma pessoa possuíaeste dom num modo muito extraordinário, quando incorporou não só o milagre de pentecoste, masde formas estáticas e inarticuladas de falar que precisavam de intérpretes especiais; sim, quandoeste pronunciamento místico alcançou tais alturas que ela podia falar nas formas inexprimíveis dalinguagem divina; quando, contudo, em seu coração não teve amor a seus irmãos, então este dommaravilhoso não lhe teve valor. Teria-se tornado semelhante ao um frio instrumento de bronze,semelhante a um tilintante címbalo, sendo que ambos emitem um som quando batidos, sendo que o

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de um é um som monótono e profundo, e o do outro um som agudo e penetrante, mas que sãototalmente sem vida. Observamos que é expressa a idéia de instrumento. O cristão que possuiquaisquer dons é um instrumento do Espírito Santo no uso desses para o serviço de seu próximo.Alardear quaisquer dons perante outros com o fim de se engrandecer é vaidade, visto que ostentar,tendo a esperança de louvor, é provocar a mais severa censura de Deus.

Paulo fala dum segundo dom: E quando tenho profecia, e quando conheço todos osmistérios e todo conhecimento, - então a profecia em sua mais ampla extensão redunda em nadasem amor. O dom da profecia é um dom mais elevado do que o de falar em línguas, visto que seuobjetivo é diretamente edificar a congregação pela revelação do futuro e a junção de admoestaçõessérias com esta forma de proclamação dos segredos de Deus. Alguns dos primeiros cristãospossuíam este dom em tal medida que tiveram uma introvisão nos mistérios de Deus e puderamexpor as glórias de Sua essência. “Alguém pode ser um profeta e conhecer bem poucos mistérios; ealguém pode conhecer todos os mistérios e ainda assim carecer de algum ponto deconhecimento.”21) Se uma pessoa assim não fosse acionada pelo amor que encontra seu prazersupremo no serviço ao próximo, então seu agir poderia realmente ter efeitos salutares, mas elapessoalmente seria lançado fora como alguém indigno. O mesmo sucede com o dom do coração: Seeu tivesse toda fé, para remover uma montanha após a outra, mas não tivesse amor, novamentenada somaria na vista de Deus. Alguém pode ter uma fé heróica, ter a confiança que operamilagres, Mt. 17. 20; 21. 21, e ainda assim ser pessoalmente sem valor. Pois uma fé assim apreendeCristo somente em Seu poder que opera milagres, e não precisa provir necessária da fé salvadora.Mas sem amor, mesmo que dotado com estes dons mais notáveis, que também são muito apreciadose podem ser de valor tão maravilhoso e que parecem indicar um favor divino especial, uma pessoaé realmente uma mera pessoa sem importância aos olhos de Deus.

Pode haver mesmo manifestações que parecem ter os sinais inequívocos de verdadeiracaridade: E se eu distribuísse toda minha propriedade aos pobres, se a entregasse, pedaço porpedaço, até que nada me sobrasse; e se o sacrifício que faço chega ao auge de oferecer minhaprópria vida, de sofrer martírio em sua forma mais horrível, mas o motivo para tudo isso não fosseo amor, então isso absolutamente não teria qualquer valor à vista de Deus. Como Jerônimo escreve:“É horrível dizer, mas ainda assim é verdade: Se suportamos o martírio com o fim de sermosadmirados por nossos irmãos, então nosso sangue foi derramado em vão.” Que uma pessoa dá todosos seus bens aos necessitados, que ela sacrifica corpo e vida, para parecer como um ato de puroamor, mas também pode provir de motivos egoístas e buscar os fins da própria pessoa, e, por isso,resultam em sua condenação.

Nota: O que o apóstolo aqui ensina e exorta de modo muito forte, os cristãos de nossos diastambém deviam acatar. Os dons mais extraordinários dos dias apostólicos não se encontram maisem nossas congregações de hoje, mas são ainda os dons mencionados no capítulo anterior. Alguémpossui um rico tesouro de conhecimento cristão, alguém outro tem o dom de falar das coisasdivinas de modo claro, atraente e confortador, um terceiro recebeu uma medida extraordinária deforça de fé, de vigor cristão. Por isso facilmente pode acontecer que um cristão ou um pregador ouprofessor cristão sinta certa some de orgulho de seu entendimento e conhecimento, certa medida degratificação de sua habilidade para causar impressão sobre o seu falar, sobre suas boas obras, seusdons dados aos pobres, seu zelo pelo reino e a honra de Deus, em vez de tão somente ter em mentea edificação de seus irmãos. Uma pessoa dessa devia recordar-se que ante Deus, mesmo com todoseu conhecimento e suas obras, é nada, lucra nada, e não ganhará nada, a não ser que seu únicomotivo é o amor desinteressado, que provém da verdadeira fé.22)

Uma descrição do verdadeiro amor: V. 4) O amor é paciente, é benigno, o amor não ardeem ciúme, não se ufana, não se ensoberbece, 5) não se conduz inconvenientemente, não procura osseus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; 6) não se alegra com a injustiça, mas seregozija com a verdade; 7) tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Aqui o apóstolo retrata

21) 70) Lenski, St. Paul, 127.22) 71) Cf., sobre toda a passagem, Hom. Mag., XVII (1893), 40.

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o amor fraterno, personificando-o, tanto do lado negativo como do positivo. Não dá uma definiçãoabstrata, mas descreve o amor em sua substância, conduta e em suas ações. Em meio aos pecados,males e provações do mundo caído, o amor é longânimo, é temperado com paciência, sendopaciente para com pessoas difamadoras e provocadoras. Como Lutero escreve: “Em primeiro lugar,o amor é longânimo, isto é, paciente, não é apressada e ligeira à ira, vingança, impaciência e queinsiste sobre seus próprios direitos; mas é paciente e suporta aos injustos e fracos até que,finalmente, se aproximem.” O amor é afável, benigno; trabalha de modo gracioso e bem-intencionado para os outros, está cheio de boa vontade para com todos em obras, palavras e naconduta. Assim como o Senhor foi paciente com os pecadores, com as fraquezas dos Seus eleitos,2.Pe. 3. 9; Lc. 18. 7; assim com ele é bom e amável, 1.Pe. 2. 3, e mostrou Sua benignidade emCristo a todas as pessoas, Tt. 3. 4, assim também todos os cristãos deviam ser encontradosempenhados nas virtudes do Senhor.

As sentenças seguintes mostram que o amor se absterá de todas as formas de conduta quepossam ferir e danificar o próximo da gente. O amor não sente inveja, não está cheio de zeloegoísta, de impulso violento. Quando é preciso lutar em favor da verdade, nunca o fará por meio deexplosões violentas. Quando outros possuem excelências de pessoa ou de fortuna, o amor só éestimulado a uma admiração cheia de regozijo. O amor não faz um desfile de si mesmo,cuidadosamente evita a ostentação, a jactância e o engrandecimento de suas vantagens reais ousupostas. A ostentação de superioridade, em especial duma suposta superioridade, é bem ocontrário do amor. O amor não é vaidoso, não é culpado de indecência moral, de mau gosto, não évaidoso aos seus próprios olhos, encarando os outros como sendo inferiores. O amor não age demodo indecoroso. Possui o instinto correto para o que é decente para o próximo. Sempre ostentauma conduta digna e nobre. Nunca é culpado duma falta de tato que esquece seu correto lugar edever pessoal, falhando em dar aos outros o devido respeito, honra ou consideração. Uma condutaassim é contrária à essência do amor, que requer um comportamento sereno, meigo e humilde,procurando ressaltar-se, no interesse do próximo, naquilo que é virtuoso, honrável e que buscarconquistar o coração do colega cristão.

Agora o apóstolo continua sua descrição do amor apresentando a maneira de pensar doamor, ou seja, seu caráter íntimo. O amor não buscar suas próprias vantagens, seu próprio prazer,proveito e honra; está disposto a renunciar seu próprio ganho caso o próximo for beneficiado. Porisso o amor não se torna amargurado; recusa irritar-se com a demonstração de ingratidão quepessoas retornam benignidade que lhes foi demonstrada. Pelo contrário, bem sob estas condições oamor não toma em conta o mal, não o lança contra qualquer um, não o guarda na memória, masperdoa de modo disposto e gracioso. Em geral, o amor não se regozija diante do erro, nunca segratifica diante do mal que sucede ao próximo, nem diante do fato que este persiste em seus mauscaminhos. Ao contrário, o amor se regozija com a verdade, com aqueles que estão no lado do que écerto e da verdade; quando a verdade de Deus avança sobre os poderes das trevas e liberta aspessoas de todas as injustiças e erros, então é isto motivo de grande alegria para todos osverdadeiros cristãos. Particularmente quando um irmão cristão recebe aquilo que lhe é justo, entãoo amor sente o prazer da simpatia.

Neste ponto o apóstolo alcança o auge em sua caracterização do amor em quatroafirmativas positivas. O amor tolera todas as coisas; não no sentido de encobrir e proteger o erro,mas no sentido de suportar aquilo que pode ser imposto de fora. A ênfase está em “tudo”. Nãointeressa quão grave foi o insulto da parte daqueles que o amor envolveu, o amor irá continuar comforça inabalável. O amor crê todas as coisas. Simplesmente se recusa render-se à suspeição dedúvida e ao conseqüente desencorajamento. Sempre acha uma desculpa para o amado, sempre odefende, fala bem dele, e colo a melhor explicação para tudo. Mesmo que sua ingenuidade econfiabilidade sejam abusados sempre de novo, ele ainda crê que as coisas chegarão ao fim quedevem. Isto não significa que o amor seja cego diante das faltas das pessoas que ama, ou que nãofosse reprimir os pecados do irmão. Mas, fazendo-o, o amor espera todas as coisas. O amor sempreolha para o futuro com a certeza que os amados irão render-se à persuasão do bem. Toma sobre sitodas os aspectos desagradáveis, todas as dificuldades, sempre com a esperança que o esforço do

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amor não pode ser sempre em vão. E, desta forma, o amor suporta todas as coisas, nunca desistequando em frustração. “Aqui vemos o poder interno do amor: sua cabeça erguida, seus olhos vivose brilhantes, sua mão constante e veraz, seu coração forte com o poder do alto.”23) É assim quePaulo descreve o amor fraterno, que é ao mesmo tempo o modelo daquele amor que devemos atodas as pessoas, mesmo aos nossos inimigos. Se em todos os tempos, ao menos guardarmos estacaracterística em mente, então não pode deixar de acontecer que o quadro estimulará em nossoscorações o desejo de possuirmos o verdadeiro amor nesta forma suprema e melhor, e evitar tudoque não concorda com a figura gloriosa aqui esboçada.

A duração eterna do amor: V. 8) O amor jamais acaba; mas, havendo profecias,desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará; 9) porque em parteconhecemos, e em parte profetizamos. 10) Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é emparte será aniquilado. 11) Quando eu era menino, falava com menino, sentia como menino,pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino. 12)Porque agora vemos com em espelho, obscuramente, então veremos face a face; agora conheçoem parte, então conhecerei como também sou conhecido. 13) Agora, pois, permanecem a fé, aesperança e o amor, estes três: porém o maior destes é o amor. A primeira sentença é o tópico daúltima secção deste capítulo: O amor jamais acaba, ele dura mais que todos os dons, nunca seesgota sua existência; tal como o Deus eterno, ao qual deve sua existência, dura para sempre. Odom de profetizar, de inspiração da parte do Senhor, de predizer os acontecimentos futuros e deexplicar a Palavra de Deus ligado a isto, chegarão à ruína, serão tornados sem sentido e nulos, serãoabolidos. Eles prescreveram e acabaram quando seu objetivo foi atingido, quando o conteúdo detoda profecia será revelada em sua plenitude, quando tudo o que esteve oculto será claramenterevelado, então não haverá mais necessidade de profecia. O dom de línguas, de pronunciamentosextáticos em línguas estranhas e desconhecidas, cessará, acabará, visto que só teve um significadotemporário. O dom do conhecimento, da compreensão das coisas reveladas, será removido. Virá umtempo quando este, como o resto, terá servido ao seu propósito e por isso será abolido para sempre.

Visto que a asserção que os dons de conhecimento e de profecia cessarão podia parecerestranho, Paulo explica sua afirmação: Pois em parte conhecemos, e em parte profetizamos; masquando vier o que é perfeito, então o imperfeito será abolido. Nosso conhecimento é imperfeitoneste mundo, inadequado para um entendimento completo de Deus, de Sua essência, de Suavontade. Entendemos somente partes pequenas da verdade eterna e celeste, mesmo tendo nós umarazão cristã iluminada. Não temos uma visão compreensiva do total, da ligação dos pensamentos econselhos divinos. A plenitude da magnitude e majestade de Deus ainda nos é desconhecida.Sabemos unicamente tanto da essência e da vontade de Deus quanto é necessário para a nossasalvação. E os comentaristas mais iluminados e inspirados da Bíblia são capazes de conseguirlampejos dos mistérios do mundo espiritual, das glórias celestes, por meio da revelação que nos foidada pelo evangelho. Todavia esta condição de imperfeição cessará, o conhecimento e a profeciaterão seu fim, tão logo que o que é perfeito aparecer, do mesmo modo como o rubro do amanhecerdesaparece quando o sol surge em pleno esplendor no horizonte. Quando Cristo há de retornar emglória, quando nós havemos de ser glorificados com ele no céu, então todas as imperfeições desteconhecimento atual serão deixadas para trás.

A grande diferença entre a condição presente e a futura é ilustrada no texto pela diferençaentre a condição da criança e a condição do homem: Quando fui criança, falei como uma criança,pensei como uma criança, raciocinei como uma criança; minha fala, meus objetivos, e minhaatividade mental eram as duma criancinha, sendo imaturos e imperfeitos. No tempo atual nossasidéias das coisas celestes e divinas não alcançam a glória e a dignidade do assunto. Agora quecheguei a ser homem, aboli as coisas da criança, sendo que o adulto não se apega mais às opiniõese idéias imperfeitas e imaturas da criança. Do mesmo modo o conhecimento pleno, madura ecompleto de Deus está reservado ao mundo do além. Marquemos, contudo, que teremos exatamenteas mesmas coisas divinas, belas e espirituais para nos alegrarem no céu que agora temos no mundo:

23) 72) Lenski, St. Paul, 135.

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aquilo que agora só compreendemos e conhecemos em parte então nos será revelado em suainteireza, na glória total de sua substância. Assim como a flor perde suas pétalas, mas retém seucentro, que eventualmente amadurecerá numa fruta perfeita, assim nós despiremos as opiniõesimperfeitas de nossa compreensão, enquanto reteremos o núcleo em sua condição totalmentedesenvolvida e veremos sua fruição no céu.

O contraste entre o presente imperfeito e o conhecimento futuro perfeito é ilustrado pormeio de outro quadro: pois agora enxergamos por meio dum espelho, num enigma; contudo, então,face a face. No tempo antigo os espelhos eram feitos de metal polido, que refletia sóindistintamente a imagem, sem contornos fortes e distintos. Assim é a nossa contemplação dasglórias de Deus, tal como nos é apresentada em Sua Palavra, e isto, não porque a Palavra sejaobscura, mas porque nosso entendimento não é suficiente para captar as maravilhas de Suasubstância e de suas qualidades. Nós enxergamos num enigma, ou seja, o que muitas vezesconsideramos uma charada. Por causa de nosso entendimento obscurecido, mesmo em nosso estadoregenerado, a fraseologia do Senhor em Sua Palavra apresente muitas vezes dificuldades, muitasvezes só conseguimos uma idéia obscura e incerta de Seu significado. É isto que são Paulo afirmacom franqueza, fazendo de sua própria pessoa um exemplo da cristandade em geral: Agoraconheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Porque o Senhor precisouadaptar os mistérios celestes à fala imperfeita dos seres humanos, porque precisou vestir seuspensamentos eternos e divinos em palavras, expressões, figuras e parábolas buscadas deste mundoperecível, por isso a perfeição da glória divina precisa estar oculta aos nossos olhos. No céu,porém, cada cristão verá, conhecerá e compreenderá a plenitude da essência, dos atributos, planos econselhos divinos numa compreensão perfeita e bendita, de modo tão completo como ele mesmofoi conhecido por Deus, quando o Senhor mudou na conversão seu coração. É um conhecimentoperfeito e bendito de Deus. Então Deus não mais verá algo esquisito, estranho e hostil entre ele enós. Todos os nossos pecados terão sido plenamente removidos de Sua visão. Como escreveLutero: “Então O conhecerei de maneira mais clara possível, sem qualquer cobertura; pois acobertura não foi tirada Dele, mas de mim, pois Ele não alguma sobre Si.” No céu, finalmente,conheceremos em amor a Deus por meio de contato direto, e todo o conhecer mediato e imperfeitoque agora nos é possível será deixado bem longe atrás e totalmente esquecido na ventura daperfeita salvação. Cf. Sl. 17. 15.

O prospecto desta dentição maravilhosa leva o apóstolo a concluir seu salmo de amor numamaravilhosa irrupção de alegria triunfante: Mas, como acontece, permanecem fé, esperança e amor,esses três. Todos os demais dons, as demais virtudes, passam, mas estes três permanecem sempre.Fé, esperança e amor permanecem na eternidade, porque o que o cristão crê, espera e amapermanece para sempre, visto que Deus é eterno, com quem estamos unidos na fé, na esperança eno amor. Esta conclusão é praticamente exigida pela afirmação que todas as coisas imperfeitasserão abolidas. Pois o apóstolo não diz destes três que são imperfeitos, ou seja, que cremos emparte, que esperamos em parte, que amamos em parte. A fé, mesmo a fé fraca, ainda que conhece aDeus só em parte, aceita, porém, como fé salvadora, o Deus inteiro, o Cristo inteiro, a redençãointeira em Cristo, e o pleno perdão dos pecados. Também a esperança, mesmo vendo e conhecendosomente alguns raios da glória vindoura, tem, ainda assim, o futuro total como seu alvo. E o amorse concentra sobre o inteiro Deus trino de nossa salvação, e não sobre algum restinho miserável.Mas o amor não é mais duradouro, mas maior entre eles, sendo o maior dos três. Fé e amortambém permanecem para sempre, visto que aquilo em que cremos e aquilo que esperamos durapara sempre. Mas a natureza da fé e da esperança cessará; pois o que aqui cremos e esperamos(pretérito) lá possuiremos e gozaremos. Nossa fé alcançará a perfeição de sua condição noenxergar. Nossa esperança será aperfeiçoada no usufruir. Mas nosso amor a Deus e Cristo, e porisso também a todos os nossos irmãos, permanecerá absolutamente imutável, sendo tão somentepurificado, visto que todos os obstáculos que aqui entravam a atividade do amor lá serãoremovidos. No céu o amor será completamente livre e destravado em sua capacidade de semevidenciar, e encontrará em todos os lugares amor em retorno e assim será bendito na companhiade Deus, dos santos anjos, e de todos os santos.

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Nota: O fato que aqui o amor é chamado a maior das virtudes de modo nenhum está emdesacordo com o fato que a fé é o único meio de obter a salvação. “Objetam, porém, que o amor éposto acima da fé e da esperança. Pois Paulo diz: ‘O maior destes é o amor.’ Ora, é razoável que avirtude máxima e principal justifique, ... Todavia, concedemos inteiramente aos adversários que oamor a Deus e ao próximo é a virtude máxima, pois que o preceito supremo é este: ‘Amarás oSenhor Deus’, (Mt.22. 37). Mas como inferirão daí que o amor justifica? A virtude máxima, dizem,justifica. Pelo contrário: assim como nem a maior ou primeira lei justifica, assim também nãojustifica a virtude máxima da lei. O que justifica é aquela virtude que apreende a Cristo, que noscomunica os méritos de Cristo, virtude pela qual recebemos graça e paz de Deus. Mas esta virtude éa fé. Pois, como muitas vezes se disse, fé não é apenas notícia, senão, muito mais, querer receberou apreender aquilo que se oferece na promessa referente a Cristo.”24)

Resumo: O apóstolo louva o alto valor do amor, dá uma descrição de seus aspectosessenciais, e descreve sua duração eterna.

Capítulo 14

O Uso Dos Dons Espirituais No Culto Público. 1.Co. 14. 1-40

O dom de profetizar é maior do que o de línguas: V. 1) Segui o amor, e procurai com zeloos dons espirituais, mas principalmente que profetizeis. 2) Pois quem fala em outra língua, nãofala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios. 3) Mas oque profetiza, fala aos homens, edificando, exortando e consolando. 4) O que fala em outra línguaa si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja. 5) Eu quisera que vós todos falásseisem outras línguas; muito mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao quefala em outras línguas, salvo se as interpretar para que a igreja receba edificação. 6) Agora,porém, irmãos, se eu for ter convosco falando em outras línguas, em que vos aproveitarei, se vosnão falar por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina? Paulo, continuandosuas admoestações, reporta-se mais uma vez ao seu grande salmo em louvor ao amor: Buscai oamor! Esta deve ser a maior preocupação deles, pois, como expressa certo comentarista: O amor é apatroa; os demais dons espirituais são servos, criados. Por isso, enquanto continuam no empenhoproposital de ir após o amor, os coríntios deviam lutar com dedicação pelos dons espirituais, sendoo uso de todos eles, em sua dedicação à congregação, regulado pelo padrão estabelecido pelo amor.E neste sentido o dom da profecia está acima dos demais, pois seu objetivo principal foi ensinar einstruir outros nas coisas de sua salvação. Deviam cobiçar este dom mais do que todos os outros,até mais do que o de línguas, que naturalmente fazia uma profunda impressão sobre os coríntios eera considerado especialmente desejável.

O apóstolo dá os motivos de sua preferência: Pois aquele que fala em língua, incitado peloEspírito nalguma língua estranha, em especial se isto acontece no culto público, então ele não fala apessoas, mas a Deus. As pessoas não têm benefício do seu falar, porque não conseguem entendê-lo.Ouvem os sons de sua voz, mas não têm qualquer idéia sobre o significado de sua elocução, vistoque no espírito fala ministérios, os segredos de Deus continuam encobertos, ocultos aos ouvintes, eprovavelmente também a quem fala. Doutro lado, aquele que profetiza, a pessoa que tem o dom daprofecia, de fato fala às pessoas. Sua fala, sendo por eles entendida, serve como meio decomunicação; Comunica-lhes idéias, edificação e exortação e consolo. A fala daquele que profetizaserve para fazer os cristãos crescer em conhecimento, promovendo assim o progresso da igreja. Elaos admoesta, os estimula para se aplicarem mais sinceramente ao seu dever cristão. Dá-lhes força econsolo espiritual quando estão em perigo de serem dominados pelo medo. Esse, pois, é opropósito principal do culto público, que a Palavra de Deus seja pregada e aplicada, que as pessoaspossam entender o que é dito e sejam edificadas, admoestadas e confortadas. Este objetivo não é

24) 73) Apol. IV. 143, 225-227 (obs.: No texto inglês há dois parêntesis no texto da Apologia; veja).

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alcançado no caso daquele que fala em língua. Na melhor das hipóteses ele edifica a si mesmo,enquanto que aquele que profetiza edifica a assembléia da igreja. Era fato que aquele que falou emlínguas foi confirmado em sua fé, visto que deve ter sentido o poder do Espírito, o qual fez uso desua boca com um instrumento de sua declaração. Foi, porém, o único que foi atingido desta forma,enquanto que no caso daquele que profetizou a congregação reunida recebeu o benefício.

Paulo, fazendo esta afirmação, não quer se entendido erradamente como se subestimasse ovalor do dom de línguas: Não obstante desejar que todos vós falásseis em línguas, desejo muitoantes que profetizásseis. Desta forma ele não faz quaisquer medíocres concessões aos coríntios,mas está bem consciente do fato que o dom de línguas poderia ter uma profunda impressão sobreum ímpio que chegasse à reunião deles e que poderia abrir caminha para sua conversão. Mas sabe,devido ao uso efetivo e prático, que o dom da profecia deve ser preferido. Além disso, aquele queprofetiza é maior do que aquele que fala em línguas. Ocupa uma posição de maior utilidade e porisso também de maior dignidade, a não ser que, aquele que fala em línguas tem também, ao mesmotempo, o dom e a capacidade de interpretar suas extáticas elocuções, de forma que todas as pessoaspossam entendê-lo e a congregação receba, desta forma, edificação.

Numa pergunta dirigida a todos eles, Paulo à sua decisão sobre o assunto: Agora, porém,irmãos, sendo tal a situação atual em Corinto, se viesse a vós falando em línguas, que proveito, queajuda vos seria, se não vos falasse em revelação, ou em sabedoria, ou em profecia, ou em ensino?Se Paulo tivesse sido só um orador em línguas, e incapaz para interpretar os mistérios que oEspírito Santo exprimia através de sua boca, então o seu trabalho evidentemente não teria tidoqualquer valor, a não ser que ele, de fato, se pudesse fazer entender por meio duma fala inteligível,em revelação e profecia, pelo ensino dos grandes mistérios que compreendeu, trazendo juntos tantoo conhecimento como a doutrina. A profecia se refere a fatos particulares, para cuja compreensãoera precisa luz adicional, a mistérios que só por revelação podiam ser conhecidos. Doutrina econhecimento foram deduzidos do credo dos cristãos e foram usados para confirmar os cristãos noassunto de sua salvação. Este apelo ao senso comum dos coríntios não podia deixar de convencê-los da verdade do argumento de Paulo, visto que sabiam que ele sempre buscou o bem-estarespiritual deles, e não sua própria satisfação e edificação espiritual.

Uma elocução pública é sem valor sem uma clara compreensão: V. 7) É assim queinstrumentos inanimados, como a flauta, ou a cítara, quando emitem sons, se não os derem bemdistintos, como se reconhecerá o que se toca na flauta, ou cítara? 8) Pois também se a trombetader som incerto, quem se preparará para a baralha? 9) Assim vós, se, com a língua, não disserdespalavra compreensível, como se entenderá o que dizeis? porque estareis como se falásseis no ar.10) Há sem dúvida, muitos tipos de vozes no mundo, nenhum deles, contudo, sem sentido. 11) Seeu, pois, ignorar a significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala; e ele, estrangeiropara mim. 12) Assim também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para aedificação da igreja. 13) Pelo que, o que fala em outra língua, ore para que a possa interpretar.Aqui o apóstolo tira uma conclusão a partir do menor para o maior: Da mesma forma coisasinanimadas, ainda que produzam um som, tais como a flauta ou a harpa, mas, caso não haja umadiferença em seus tons ou sons, como será diferenciado o que é soprado ou tocado? Aqui oapóstolo se refere tanto à qualidade como aos sons ou aos intervalos ou à distinção da altura, aquiloque distingue a música de vários instrumentos. Quando os músicos permitem que as notas ecoemjuntas em total confusão, com um total desrespeito às leis da harmonia e às limitações dos váriosinstrumentos, como conseguirá aquele que ouve distinguir a toada? Escutará, em vez dumamelodia, nada mais do que barulhos confusos. Da mesma maneira, quando uma trombeta, que dá ossinais na guerra ou na batalha, emite uma voz incerta, então os soldados não serão capazes paradistinguir se devem avançar ou recuar ou executar algum outro movimento: será uma situaçãodesastrosa.

É fácil a aplicação das duas figuras de comparação: Da mesma forma também vós, a nãoser que com a língua, quando fazeis uso do dom de línguas, emitis um discurso nítido, que contenhapalavras cujo sentido está claro aos ouvintes, como poderá o que é dito ser distinguido oucompreendido pelos ouvintes? Pois sereis como aqueles que falam ao vento. Todo o excelente

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discursar nas reuniões da igreja, seja isto feito em línguas estranhas ou nas que as próprias pessoassolicitaram, fica sem valor e é pior do que sem sentido, se seu conteúdo não está claro para acongregação e quando os ouvintes não alcançam as palavras tão bem articuladas e as sentenças bemformadas do orador. Nota: Há muitíssima pregação em nossos dias que engloba todas asexcelências dos livros escolares, como disposição, elocução, tópico, etc., mas que carece daqueleum ponto mais importante: clareza construtiva. A máxima de nossos dias parece ser: Lave-me, masnão me molhe. Isto significa: ou alisa o texto áspero aos ouvidos educados, e espertamenteconserva a condenação distante dos olhos, ou empenha-te no máximo para conservar longe do amorde Deus, e espertamente oculta dos olhos a salvação.

Tendo o objetivo de tornar clara a situação, o apóstolo acrescenta um exemplo da multidãode línguas e dialetos humanos: Sendo tantos, como sucede, os tipos de vozes no mundo, nenhumdeles está destituído de voz. Em todo o número imenso de línguas pelo mundo fora, onde quer queas pessoas usem sua voz como meio de comunicação, não há uma única que não tenha asexigências básicas duma língua: Possui um significado para alguém; pode ser entendida pelos quelhe são familiares. Por isso segue, que se não tenho o significado da voz, se não entendo seusignificado, então serei um bárbaro ao que fala, e aquele que fala será um bárbaro em relação amim. A palavra bárbaro foi pelos gregos e romanos aplicada a todas as pessoas não falavam sualíngua. Uma língua estranha me será um jargão confuso de sons, e não consigo entender seusignificado; não é possível qualquer entendimento. É desta forma que todas línguas nãointerpretadas no culto público da congregação não têm sentido, e o próprio falto que a línguaestranha possa comunicar um significado valioso poderá ser tanto mais provocativo.

Agora o apóstolo faz a aplicação à situação de Corinto: Semelhantemente vós mesmos, emvosso caso; visto serdes ansiosos por dons espirituais, pela edificação da congregação fazei todoesforço que neles sobrepujeis. É este o zelo apropriado na busca de dons espirituais, não cobiçá-lospara sua gratificação e glorificação pessoal, mas ter sempre em mente o verdadeiro objetivo detodos os dons espirituais, que é a edificação da congregação, o servir à igreja. Por isso, que aqueleque fala em língua suplique que a possa interpretar. Impressão e prestígio exterior não valem naigreja, e, até, podem causar grande dano. Por isso, quando o orador em línguas depois poderiarecordar algumas das coisas que proferiu quando sua boca foi o instrumento do Espírito Santo epudesse traduzir os enunciados numa conversa racional comum, então isto teria valor, e tornariaeste dom valioso à congregação. Por isso ele deveria sinceramente desejar, por meio de oração, estainterpretação de seus enunciados.

Só pela compreensão do ouvinte o enunciado do Espírito resulta em edificação: V. 14)Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera.15) Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com oespírito, mas também cantarei com a mente. 16) E se tu bendisseres apenas em espírito, como diráo indouto o amém depois da tua ação de graças? visto que não entende o que dizes; 17) porque tude fato dás bem as graças, mas o outro não é edificado. 18) Dou graças a Deus, porque falo emoutras línguas mais do que todos vós. 19) Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com omeu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua. 20) Irmãos, nãosejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homensamadurecidos. Tendo em vista que o objetivo de cada função no culto público deve ser o benefícioespiritual dos assistentes, o dom de línguas deve, por isso, ser considerado de valor secundário:Pois se oro nalguma língua, então meu espírito ora, mas meu entendimento fica sem efeito. Como oexpressa certo comentarista: O resultado do orador se encontra no proveito do ouvinte. Quandouma pessoa se ergueu no culto público em Corinto e orava na elocução extática de seu domparticular, então seu espírito, de fato, teve o benefício de se sentir o instrumento do Espírito Santo,mas os demais presentes não tiveram qualquer benefício de sua prece, visto não ter havido qualquerponto de contacto entre eles, não puderam entender ao que falava, a não ser que ele tambéminterpretou suas elocuções. Sendo este o caso, qual a conseqüência? O apóstolo escreve: Orareicom o espírito, mas também orarei com o entendimento, ou com a mente; cantarei salmos com oespírito, mas também cantarei salmos com o entendimento, ou com a mente. As maravilhosas

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formas de expressão que haviam sido dadas ao apóstolo para que as usasse, ele também as quistornar acessíveis aos seus ouvintes, fosse elas na forma de oração ou de cantos, e para fazê-lo, foipreciso que ele expressasse o conteúdo do falar em línguas na forma da linguagem comum. Amente e o coração do ouvinte não podia ser alcançado sem a interpretação, e sem isso não podiahaver edificação.

O apóstolo apresenta este fato de mais outro lado: Por isso, se, nestas circunstâncias,bendizes no espírito, se o teu louvor subiu em louvor a Deus enquanto estiveste nesta situação deêxtase que acompanhava o falar com línguas, então aquele que ocupa o lugar de leigo, aquele quenão têm conhecimento, como irá ele dizer seu amém ao teu bendizer, à tua doxologia? O orar e ocantar duma pessoa que fala numa língua desconhecida podem ser do mais rico conteúdo possível,mas ainda assim a pessoa na audiência que não estava versada no significado não saberia do que setratava, e por isso não podia dar seu assentimento com o familiar “amém” adotado do culto nasinagoga, por meio do que expressava sua aceitação da oração ou da doxologia como sendotambém sua confissão. Por isso o louvor daquele que fala por ser sem defeito, como um produto doEspírito está obrigado a ser excelente, mas é desperdício quando se considera a edificação dacongregação.

E para que ninguém pensasse que a repreensão de Paulo fosse movida pelo mais tênue fiode competição, ele observa: Agradeço a Deus, a quem incidentalmente, assim concede todos osméritos pelo dom, que falo em língua mais do que todos vós. Paulo vivenciou muito maisexperiências de êxtase do que as concedidas ao cristão em geral. Experimentara num grau muitomaior o poder deste dom da graça do que os coríntios. Mas, apesar deste fato, ele afirma comfranqueza que na assembléia da igreja ele antes preferiria falar com seu entendimento cincopalavras, o que significa na língua inteligível de cada dia, para que possa ensinar também a outros,do que dez mil palavras nalguma língua. O falar em línguas podia indicar um poder extraordinário,uma intimidade extraordinária com o Espírito, mas elas não eram aproveitáveis, e não resultavamno melhoramento da congregação. O alvo de Paulo sempre foi “catequizar”, conceder por meio deinstrução oral, o que os cristãos precisavam para a fé e para a vida, e para tanto cinco palavrasnuma língua ordinária eram mais aproveitáveis do que qualquer soma de articulações numa fala emêxtase.

Agora Paulo apela, de modo muito convincente, ao bom senso comum dos leitores: Irmãos,não sede crianças no entendimento, na mente, no julgamento, na faculdade de pensar; usai vossobom senso corretamente, como fazem os adultos, e não como crianças imaturas. Como o expressacerto comentarista, é característico de crianças que preferem a diversão com o que lhes trazproveito, a inclinação para o que é sólido. Na malícia, ao contrário, agi como criancinhas, no juízo,porém, mostrai-vos perfeitos. Em relação a todas as maldades, os cristãos deviam conservar-selivres de qualquer corrupção moral do mundo e não buscar uma aquiescência experimental comela.Caso alguns dos coríntios receberam o dom de línguas, deviam usá-lo como crianças o fariam,sem qualquer tentativa de convencimento e alarde, Mt. 18. 2. Cada cristão, contudo, num sadiojuízo cristão, devia tentar progredir, crescer dia a dia, até que seja alcançada a perfeição noconhecimento, até onde isto for possível nesta vida. O grande problema da santificação consiste naimplantação simultânea de inocência infantil e também maturidade de compreensão no coração. Cf.Sl. 19. 8.

Línguas estranhas se podem tornar perigosas: V. 21) Na lei está escrito: Falarei a estepovo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz oSenhor. 22) De sorte que as línguas constituem um sinal, não para os crentes, mas para osincrédulos; mas a profecia não é para os incrédulos, e, sim, para os que crêem. 23) Se, pois, todaa igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso deentrarem indoutos ou incrédulos, não dirão porventura, que estais loucos? 24) Porém, se todosprofetizarem, e entrar algum incrédulo, ou indouto, é ele por todos convencido, e por todosjulgado; 25) se lhe tornam manifestos os segredos do coração, e, assim, prostrando-se com a faceem terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está de fato no meio de vós. Agora Paulointroduz uma passagem da Escritura, para dar aos coríntios a correta compreensão do dom de

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línguas: Está escrito na lei, no livro das Escrituras do Antigo Testamento: Falarei a este povo pormeio de homens que falam uma língua estranha e em lábios de estrangeiros, e mesmo assim nãohão de escutar-me, não me darão ouvidos atentos, diz o Senhor, Is. 28. 11, 12. Na passagemoriginal “os israelitas embriagados estão debochando em seus cálices o ensino do Senhor por meiode Seus profetas, como se isto se prestasse só a uma escola de crianças; por isso, em ira os ameaçaafirmando dar-lhes Suas admoestações por meio dos lábios de conquistadores estrangeiros.” Paulocita a passagem para mostrar que o falar em línguas pode operar prejuízo na igreja: Por isso aslínguas estranhas são um sinal, ou servem de sinal, não aos que crêem, mas aos que não crêem; poreste dom Deus manifestou Sua presença, não tanto por causa dos membros da congregação comopor causa daqueles que ainda eram descrentes. Quando Deus fala numa maneira não inteligível,então Ele se manifesta “não como aquele que revela Seus pensamentos aos fiéis, mas como aqueleque se oculta diante daqueles que não querem crer.” Assim, por meio deste fenômeno, osobstinados descrentes, tendo rejeitado a pregação clara e inconfundível da cruz, conforme suaprópria opinião, se acham confirmados, e mesmo justificados. Poro outro, o dom da profecia não épapa os descrentes, mas para os cristãos. Não somente acontece que a correta exposição doevangelho da salvação opera a fé e a fortalece, mas também que serve como um sinal damisericórdia de Deus e transforma descrentes em cristãos. Desta forma Paulo desacredita o dom delínguas e desaprova seu uso nos cultos públicos, porque por meio de seu exercício não é alcançadoo objetivo da edificação.

Agora o apóstolo mostra a impressão desastrosa que o exercício do dom de línguasnecessariamente faz sobre as pessoas que de não possuem quaisquer conecção com a congregação:Sendo este o caso, se a congregação inteira está reunida num mesmo lugar e se todos estiveremfalando em línguas, e entrarem pessoas não versadas e não familiarizadas com o que acontece, ouseja, que são gentias, acaso elas não dirão que sois loucos, que todos vos tendes afastado de vossossentidos? Este quadro não é em nada exagero, mas muito bem pode ser imaginado nascircunstâncias que reinavam em Corinto, ou como aqueles que por esta possa ansiavam aspoderiam ter tornado, a saber: Um culto regular, com ensino, louvor e oração, e todos os cristãosativamente envolvidos em línguas estranhas na oração e no louvor, então entram gentios, oudescrentes, que ainda não estavam versados com a situação, - o que, nesta situação, foi mais naturaldo que a suposição de que estas pessoas todas estavam falando sob os efeitos da demência? Poisaos visitantes era algo próprio esperar uma exposição clara de alguma doutrina cristã, e nãotagarelar infindo, incoerente e heterogêneo. Nota: Este pensamento podia ser aplicado a muitascongregações de hoje, em que o culto da pregação se tornou um tagarelar infrutífero sobre tópicosmal amadurecidos, que só remotamente, caso o forem, estão ligados à doutrina das Escrituras.

Mas o efeito do dom da profecia é totalmente diferente: Mas se todos profetizam, e entraalguma pessoa descrente ou ignorante, esta por todos será persuadida, por todos julgada. O dom daprofecia incluía uma explanação e exposição clara e inequívoca da Palavra de Deus na línguacomum, seguida pela aplicação apropriada às circunstâncias reinantes. Por isso um visitante casualdo culto, ou alguém que estava preso em incredulidade, podia ser persuadido pelo testemunho daEscritura Sagrada quando aplicadas ao seu caso, acontecendo que podia ser tornado cônscio de seupecado e de sua incredulidade. E, incidentalmente, podia ser examinado pelas palavras de saberonisciente, sendo reveladas as coisas secretas, ou os pecados ocultos, de seu coração. E o resultado,evidentemente, podia ser que uma pessoa assim iria prostrar-se sobre seu rosto e adorar a Deus,admitindo publicamente que Deus estava em meio á congregação cristã. Nada é mais poderoso doque a viva Palavra de Deus, pela qual Ele examina os corações e as mentes, Hb. 4. 12, e discerne ospensamentos e as intenções do coração. Desta forma o dom da profecia resultaria não só no ganhode almas para Cristo, mas também no dar glória ao Senhor.

A aplicação prática destas verdades em culto público: V. 26) Que fazer, pois, irmãos?Quando vos reunis, um tem salmo, outro doutrina, este traz revelação, aquele outro língua, eainda outro interpretação. Seja tudo feito para edificação. 27) No caso de alguém falar em outralíngua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três, e isto sucessivamente, e haja queminterprete. 28) Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com

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Deus. 29) Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem. 30) Se, porém,vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro. 31) Porque todos podereisprofetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem consolados. 32) Os espíritos dosprofetas estão sujeitos aos próprios profetas; 33) porque Deus não é de confusão; e, sim, de paz.Como em todas as igrejas dos santos. Aqui o apóstolo dá instruções sobre a organização dos cultos,para que seja atingido melhor o seu objetivo que é a edificação congregação. O que devia ser feitoem Corinto e, sendo as coisas as mesmas, o que deve ser feito em todas as congregações a respeitoda ordem no culto público? Tal como as coisas estavam naquele tempo em Corinto, cada umcontribuía com algo em suas reuniões, conforme o dom espiritual especial que lhe foi dado: Umtem um salmo para cantar; outro tem uma doutrina, outro uma revelação a comunicar; outro temuma língua, outro uma interpretação a dar. Não havia qualquer falta de dons e nem algumaindisposição para comunicar os dons; ao contrário, todos estavam ansiosos para falarimediatamente, tanto mulheres como homens. Os dons existiam, e não deviam ser desprezados; oEspírito, ao contrário, tinha utilidade para todos eles. Mas tudo devia ser feito para a edificação,tendo em vista a construção da congregação. Se continuassem a conduzir os cultos sem ordem, ofinal seria uma confusão irremediável, caso não disputas desagradáveis.

Por isso o apóstolo propõe a seguinte ordem para suas reuniões: Caso estivessem pessoaspresente que tivessem o dom de línguas, devia ser dada a oportunidade de falar para dois, quandomuito, a três, e sucessivamente, um após outro, que todos não falassem ao mesmo tempo, gerandoconfusão para si e para a congregação. Depois disso, quem tivesse o dom que interpretasse amensagem que fora recebida. Empregando somente um intérprete para vários discursos feitos emlínguas, seria poupado tempo para outras partes edificantes do culto. Mas, não estando presentesintérpretes, a pessoa que desejou falar em línguas devia abster-se de falar na assembléia e, em vezdisso, ter seu discurso somente com Deus; na conversa secreta com Deus ela ainda podia sentir oprazer de ser um vaso do Espírito Santo.

A seguir, as pessoas que tinham o dom da profecia também podiam falar sucessivamente,dois ou três por reunião, e os demais deviam apreciar, isto é, aqueles que ajudavam com pregaçõese que tinham o juízo com referência ao assunto que era discutido, como diz Lutero. Procedendoassim, estas pessoas exerciam um dom que também é muito necessário na igreja, cap. 12. 10; Rm.12. 7. Se, enquanto isto, o Espírito Santo fosse dar uma revelação especial a algum dos profetas oumestres e este se erguesse de seu assento em sinal desse fato, então o orador devia ceder a palavra aesta nova pessoa, encerrando o mais rápido possível seu próprio discurso. Deste jeito, havendorotação, todos podiam profetizar, e trazer sua palavra de ensino e de admoestação, para que todosos membros da congregação aprendessem e fossem encorajados, exortados a avançar no trilho dasantificação, sendo que todos os ouvintes recebiam, desta maneira, benefício. E para que ninguémpensasse que a insistência sobre a ordem iria interferir na obra do Espírito, o apóstolo conta aoscoríntios que a natureza da inspiração profética não impedia a manutenção dessa ordem, mas antesfavorecia sua promoção: Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. O dom divino nãoalgum controle irresponsável e errático, mas pode ser exercido com discrição e amor fraterno pelavontade de quem o possui. Pessoas que afirmam a posse dum espírito, mas não são capazes paracontrolar suas elocuções, carecem da marca necessária da posse do Espírito Santo. Pois Deus não éum Deus de desordem, mas de paz. A hipótese que Deus inspira dois ou três de Seus profetas aomesmo tempo, e desta forma cria confusão no culto público, é contrária a Sua natureza. E para queos coríntios não pensassem que Paulo lhes impunha um fardo do qual ele excluía as outrascongregações, ele acrescenta: Como acontece em todas as igrejas dos santos. Em todas asassembléias dos antigos cristãos era observada uma ordem decente, conforme o mesmo princípioque Paulo aqui anunciou. Sem uma tal ordem, com a qual todos concordaram e aceitaram, oresultado certamente seria confusão e dissensão, e isto o apóstolo quis evitar por todos os meios,como contrário à vontade de Deus.

Disposições finais: V. 34) Conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhesé permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. 35) Se, porém, queremaprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seus próprios maridos; porque para a mulher é

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vergonhoso falar na igreja. 36) Porventura a palavra de Deus se originou no meio de vós, ou veioela exclusivamente para vós outros? 37) Se alguém se considera profeta, ou espiritual, reconheçaser mandamento do Senhor o que vos escrevo. 38) E se alguém o ignorar, será ignorado. 39)Portanto, meus irmãos, procurai com zelo o dom de profetizar, e não proibais o falar em outraslínguas. 40) Tudo, porém, seja feito com decência e ordem. Tanto o costume grego-romano como ojudaico proibia a aparição pública das mulheres, especialmente sua participação no falar empúblico. Parece que as mulheres cristãs de Corinto tinham uma idéia errada do significado daliberdade cristã, assumindo que houvesse sido ab-rogada a antiga distinção feita por Deus. Mas estaregra feita por Deus, de que o homem é a cabeça da mulher, se mostra boa para todos os tempos esob todas as circunstâncias. Isto não uma questão de superioridade ou inferioridade, mas deliderança e de governo nos assuntos da igreja. Que as mulheres guardem silêncio nas congregações;não devem tomar parte no ensino público na igreja, a elas não se deve dar uma direção deautoridade. O falar e ensinar em público na congregação, tendo por base a Palavra de Deus, é umdirigir e governar que não se coaduna com a posição que Deus deu à mulher, e sito não só desde aqueda, mas também antes. E uma mulher cristã, conhecendo a alta estima em que ela está colocadaconforme a Palavra de Deus (cf. Ef. 5. 22-33), não tentará romper esta ordem, Gn. 3. 16, mascordialmente concorda com Sua vontade, sabendo que não lhe é permitido ser um mestre no cultopúblico da congregação, 1.Tm. 2. 12, mas se conservará obediente, deixando a liderança, o ensino eo governo aos homens. Com isto as mulheres cristãs não estão excluídas da aprendizagem, aocontrário, são encorajadas a ter um interesse inteligente no trabalho da congregação; francamentedeviam fazer em casa, com seus esposos, perguntas e discutir os assuntos do reino de Deus.Mulheres cristãs, longe de, por meio desta disposição de Deus, ocuparem uma posição de desonra,sabem que é vergonhoso, e que choca o sentimento moral, quando mulheres aspiram e assumemposição igual aos homens no falar e ensinar em público, bem como na liderança da igreja. Nota:Aqui, como nas passagens paralelas, o apóstolo se refere ao ensino público perante toda acongregação. O trabalho de professores femininos em escolas e colégios não é condenado aqui, eem outras passagens, Tt. 2. 3; At. 18. 26, mas antes, por dedução, é louvado.

No caso que alguns dos coríntios poderiam pensar aqui que o apóstolo estava excedendosua autoridade, quando lhes deu estas regras, ele enfatiza o valor delas, caso forem usadascorretamente: Ou foi de vós que ecoou a Palavra de Deus? Ou vale ela só para vós? A tendênciareinante entre os cristãos de Corinto foi serem tão cheios de si que davam a impressão de seremeles os primeiros cristãos e que o vasto mundo devia aprender deles. Precisavam, porém, lembrar-seque não eram nem a primeira e nem a única congregação cristã. O evangelho não havia ecoado deCorinto, como se ali fosse seu manancial, e também não havia alcançado só a eles. Competia-lhes,por isso, ajustar o regimento de sua igreja ao das outras igrejas, bem como conforma-se com amaior experiência daqueles que haviam tido oportunidade de experimentar as regras do cultodivino. E caso alguém deles fosse persistir na ilegalidade, caso supusesse possuir uma visãoprofética ou espiritual dos assuntos, que esse soubesse e, caso fosse um verdadeiro profeta, deveadmitir como correto que as coisas que o apóstolo escreve são um mandamento do Senhor. JesusCristo, o Senhor da igreja, não só deu aos apóstolos a capacidade de julgar todas as coisas, cap. 2.15, mas também lhes confiou aquelas regras que redundarão na edificação da congregação.Contudo, quando alguma pessoa persiste em sua ignorância, que seja ignorante. Sua ignorânciavoluntária move o Senhor a rejeitá-lo, assim como ele também será desconsiderado, abandonado,pelos membros da congregação ao seu próprio egoísmo.

E desta forma o apóstolo, em conclusão, resume mais uma vez: Por isso, meus irmãos,buscai ansiosamente pelo dom de profetizar, e não impeçais o falar em línguas. Este último deveser permitido na congregação, mas não encorajado como a profecia; não lhe deve ser colocadoalgum obstáculo, mas ao dom cujo poder de edificação era tão óbvio devia ter a preferênciadecisiva. E no que diz respeito aos cultos públicos em geral: Deixai que todas as coisas sejamrealizadas no apropriado gosto, conduta e ordem cristã. Numa assembléia cristã tanto a falta dedecoro como o tumulto são alheios à vontade do Senhor da igreja. Leis e regras podem ser

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mecânicas, mas sua tendência é servir à pregação do evangelho e à edificação da congregação, e,por isso, de modo algum devem ser desconsideradas.

Resumo: Entre todos os dons espirituais Paulo comenda a profecia como a que serve para aedificação da congregação, sendo preferível ao dom de línguas; propõe uma ordem de culto, proíbeo ensino público às mulheres, e enfatiza o fato que Deus é um Deus de paz e ordem.

Capitulo 15

Sobre A Ressurreição Dos Mortos. 1.Co. 15. 1-58.

Os fatos da ressurreição de Cristo: V. 1) Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vosanunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; 2) por ele também sois salvos, seretiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. 3) Antes de tudovos entreguei o que também recebi; que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo asEscrituras, 4) e que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. 5) Eapareceu a Cefas, e, depois, aos doze. 6) Depois foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma sóvez, dos quais a maioria sobrevive até agora, porém alguns já dormem. 7) Depois foi visto porTiago, mais tarde por todos os apóstolos, e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim,como por um nascido fora de tempo. 9) Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não soudigno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus. 10) Mas, pela graça de Deus, souo que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã, antes trabalhei muito mais doque todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus comigo. 11) Portanto, seja eu, ou sejam eles,assim pregamos e assim crestes.25) Parece que havia falsos apóstolos ou membros muitoimportantes em Corinto, que eram homens que sustentavam que não havia uma ressurreição dosmortos. Por isso Paulo inclui uma defesa e exposição detalhada desta doutrina em sua carta. Asecção é a glória que coroa a epístola, sendo a demonstração da verdade duma futura ressurreição.A dúvida que o apóstolo aqui combate é uma que fere a raiz da cristandade, que diz respeito ao fatofundamental da verdade do evangelho. O mestre paciente, numa irrupção de eloqüência altiva econtínua, dá, novamente, aos coríntios instruções sobre as primeiras coisas, ou seja, a doutrina sema qual o cristianismo seria um enigma: Mas eu vos faço saber, eu vos declaro, irmãos, o evangelhoque vos proclamei. As palavras trazem em si certa medida de censura, de acusação, porque tãorapidamente lhe foi preciso repetir alguma informação que pertencia aos princípios fundamentaisda fé deles. Marquemos que aqui Paulo, como em outras ocasiões, não remete seus leitores asentimentos ou opiniões humanos, mas a um repositório estabelecido de conhecimento cristão, aoevangelho que é a boa nova da redenção da humanidade, assim como ele sendo levado pelosapóstolos pelo mundo. Deste evangelho ele diz: Que vós também recebestes, em que também estaisfirmes, pelo qual também estais sendo salvos. Estes são os passos na vida cristã: A fé é acesa nocoração, a notícia do evangelho é aceita; a fé continua no coração, o cristão lança, dia após dia,toda sua esperança de salvação no evangelho, e desta forma os benefícios do evangelho, que sãocontínuos, são também progressivos, ao cristão a salvação está completamente certa, possui seusbenefícios, e os desfruta dia após dia. O evangelho é o meio de nossa salvação; é o princípio, meioe fim de nossa redenção para a vida eterna, visto que ela nos apropria as riquezas da graça de Deusem Cristo Jesus. Fé no evangelho, convicção na ressurreição de Jesus, ainda se encontrava nacongregação de Corinto, do contrário o apóstolo não teria edificado seu poderoso argumento sobreeste fato.

Mas os coríntios precisavam duma advertência: A palavra em que vos preguei, se vosapegardes com firmeza, a não ser que prestes em vão. Dera-lhes o conteúdo do evangelho, tal comoeles bem o sabiam estavam aderindo a ele assim como deviam. A força desta palavra era tão forteque em suas mentes podia operar convicção, dar-lhes o benefício contínuo da salvação que lhes foi

25) 74) Cf., sobre este capítulo, a extensa exposição de Lutero, 8. 1094-1351.

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proporcionada. Certamente não podia acontecer que tivessem crido em vão, que sua aceitação dapalavra do evangelho fora uma mera aceitação externa, ou em indiferente leviandade, sem umaséria apreensão dos assuntos incluídos! Pelo evangelho são concedidos a plenitude da salvação etodos os seus benefícios, mas insensatez e frivolidade irão perder suas glórias.

Paulo se refere com grande ênfase à autoridade de seu evangelho, ao fato que só Deus foiseu autor: Pois, em primeiro lugar, vos entreguei, entre as coisas de primeira importância, quepertencem aos artigos mais essenciais da fé, aquilo que também eu recebi. É irrelevante, se Pauloaqui se refere a uma revelação direta ou às suas primeiras lições na fé cristão da boca de seusmestres. Estes primeiros e mais importantes artigos de são, que Cristo morreu por nossos pecados,conforme as Escrituras, e que Ele foi sepultado, e que Ele ressuscitou no terceiro dia, conforme asEscrituras. Notemos a repetição da referência que mostra que a morte vicária de Cristo, Seusepultamento e Sua gloriosa ressurreição foram o cumprimento da profecia e do tipo do AntigoTestamento, exatamente como Cristo tinha o costume de apontar de volta para as Escrituras escritascomo as que falavam de Seu sofrimento, morte e ressurreição, Lc. 24. 46, 47. Cristo pagou pormeio de sua morte plenamente a dívida do pecado e da transgressão, Seu sepultamento estabeleceucomo indubitável sua morte, e Sua ressurreição no terceiro dia provou a completeza de seusesforços redentores. Se por um pecado não tivesse sido feito a paga, se uma só transgressão nãotivesse sido expiada, então não poderia ter ocorrido a ressurreição de Cristo, a justiça de Deus nãoteria permitido o retorno à vida para aquele que teria falhado em redimir o mundo. Todavia, Suaressurreição é um fato, e por isso a nossa salvação também é um fato.

Em favor deste fato o apóstolo traz o testemunho das testemunhas oculares, de pessoas quehaviam visto o Senhor vivo, pois Ele fora visto por Cefas, que é Pedro, nalgum momento do dia dapáscoa, Lc. 24. 34, provavelmente durante a tarde. A seguir fora visto pelos doze, isto é, pelos onzediscípulos ou apóstolos, no entardecer do dia da páscoa, Lc. 24. 36; Jo. 20. 19, estando incluída aaparição do entardecer do domingo seguinte. Algum tempo depois disso Cristo foi visto por maisdo que quinhentos irmãos ao mesmo tempo, de uma vez, numa única grande reunião,provavelmente na Galiléia, pelo número total de homens e mulheres que haviam chegado à fé Neledurante Seu ministério terreno. Cf. Mt. 26. 32. Os cento e vinte que estiveram presentes pelo tempode pentecoste inclui os irmãos que viviam em e ao redor de Jerusalém. A maioria daquelasafortunadas quinhentas testemunhas oculares ainda estava viva quando ele escreveu esta carta, oque ocorreu uns vinte e cinco anos depois do evento aqui enfatizado de modo tão proeminente, masalguns já haviam adormecido. Estes, como filhos da ressurreição, haviam fechado seus olhos paraeste mundo, sabendo que agora já estariam com seu Senhor eternamente. Depois disso Jesus foravisto por Tiago, o irmão do Senhor, depois associado com Pedro como um pilar da congregação deJerusalém, Gl. 1. 19; 2. 9, 12. Depois Ele apareceu a todos os apóstolos, At. 1. 1-13. E cada umdestes discípulos foi uma testemunha da verdade da ressurreição de Cristo.

Paulo acrescenta seu próprio testemunho: Mas, depois de todos, Ele também apareceu amim, por assim dizer, a este aborto. Sua profunda humildade leva o apóstolo a referir-se a si nestamaneira descortês, como uma criatura inapta e repulsiva, trazida ao mundo antes do tempoapropriado. Como o expressa um comentarista, Paulo se descreve assim em contraste com aquelesque, quando Jesus lhes apareceu, já eram irmãos ou apóstolos, já haviam nascido como filhos deDeus para a vida da fé em Cristo. E ele repete esta opinião depreciadora sobre si, com umaconfissão de sua própria indignidade: Pois eu sou o último dos apóstolos, que não sou digno decarregar o nome de apóstolo, porque persegui a igreja de Deus. O fato que ele havia sido, nacegueira de seu orgulho farisaico, um blasfemador e perseguidor e alguém prejudicial semprecausou grande tristeza ao apóstolo, Gl. 1. 13; 1.Tm. 1. 13-16, levou-o a afirmar enfaticamente suaindignidade, sua falta de qualificação moral, de aptidão, de competência. Ainda assim, eleacrescenta sua palavra de testemunho à dos outros discípulos, visto que ele realmente viu ao Cristoressuscitado, At. 9. 5; 22. 7-9; 26. 15. E ele louvou e magnificou ao Senhor por considerá-lo dignopara ser uma testemunha da ressurreição e de seus gloriosos benefícios: Mas, pela graça de Deus,sou o que sou, e Sua graça que me foi mostrada não foi em vão, vazia de realidade. Pauloconsiderou o fato que foi contado entre as fileiras dos apóstolos, como uma misericórdia, como um

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favor totalmente imerecido, em especial porque isto implicou em prévio perdão e adoção. Não segloria de si mesmo, de suas próprias conquistas, mas só teve um pensamento, a saber, magnificar agraça de Deus, Rm. 1. 5. E o efeito que ele trabalhou mais abundantemente do que todos eles. Foiuma labuta pesada, penosa e exaustiva, mas que também trouxe ricos resultados. Paulo alcançara,por meio de sua aplicação constante e sistemática, mais no âmbito do reino de Deus do que todosos demais apóstolos até este momento. E ainda assim, mais uma vez, ele afasta o pensamento devalor ou mérito pessoal: Mas, não eu, porém, a graça de Deus, que esteve comigo. Paulo foiunicamente o instrumento da misericórdia e do poder de Deus em benefício de muitas pessoas,tanto judeus como gentios. Desta forma e pode concluir esta passagem com as afáveis palavras:Tenha, pois, sido eu quem pregou ou eles, que são os outros apóstolos que haviam sido colocadosneste ofício: assim pregamos, e assim vós crestes. Havia uma perfeita concordância entre todos osapóstolos quanto à necessidade de apresentar antes de tudo os grandes feitos da redenção dohomem, de apresentar primeiro as doutrinas fundamentais. E os próprios coríntios, quandoaceitaram a doutrina, assim como pregada por Paulo e pelos demais apóstolos, testificaram arespeito da pureza de sua fé.

A ressurreição de Cristo é básica para a fé do cristão: V. 12) Ora, se é corrente pregar-seque Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não háressurreição de mortos? 13) E, se não há ressurreição de mortos, então Cristo não ressuscitou.14) E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e vã a vossa fé; 15) e somos tidos porfalsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou A Cristo, aoqual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam. 16) Porque, se os mortos nãoressuscitam, também Cristo não ressuscitou. 17) E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, eainda permaneceis nos vossos pecados. 18) E ainda mais: os que dormiram em Cristo, pereceram.19) Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todosos homens. Todos os coríntios precisaram admitir que na doutrina da ressurreição de Cristo (comoem todas as demais doutrinas da fé cristã) os apóstolos ensinavam em perfeita harmonia. Cristo foipregado como aquele que ressuscitara dos mortos, e este fato histórico eles aceitaram comoverdade. Ao mesmo tempo, todavia, no meio deles havia alguns que afirmavam que não havia algocomo uma ressurreição de pessoas que morreram. Esta foi uma contradição muito estranha, sendoaquela que não lhes cabia no conhecimento. Uma tal negação avassaladora deste grupo da serenaaceitação do glorioso fato da ressurreição de Cristo foi tão estranha a ponto de causar umaexternamento de irritada surpresa da parte do apóstolo.

Imediatamente começou a esclarecê-los por meio dum argumento duplo, mostrando que, sea posição deles era correta, a doutrina cristã precisava ser falsa, e a fé precisava ser sem sentido.Qual a conseqüência da posição que estes irmãos de Corinto assumiram? Se a ressurreição corporaldos mortos é uma impossibilidade, então nem Cristo ressuscitou; então a idéia dum Cristoressuscitado e vivo é um absurdo, pois a negação duma ressurreição corporal precisa atingir tanto aCristo como a todos os demais mortos, visto que Ele morreu como um verdadeiro homem. Outroefeito: Contudo, se Cristo não ressuscitou, então também é vá a nossa proclamação, e vã também avossa fé. Esta seria a segunda conseqüência da negação: Se, de acordo com o primeiro argumento,desistimos do fato da ressurreição de Cristo, então o testemunho da ressurreição também precisaser desacreditado; e, sendo a mensagem inverossímil, então segue que a fé que se baseia sobre umarepresentação falsa não tem base alguma, é oca, ineficiente e sem sentido. Teria alguém dos deCorinto se preocupado em manter que o evangelho com todos os seus efeitos gloriosos era umailusão? E qual seria o resultado quanto ao que dizia respeito ao caráter, à veracidade, do apóstolo?Seríamos encontrados, descobertos, colocados em vergonha, como testemunhas mentirosas deDeus, porque testificamos contra Deus que Ele ressuscitou a Cristo, a quem Ele não ressuscitou,caso valer a contenção sobre a ressurreição corporal. Quando uma pessoa afirma de Deus que Estefez algo que, aliás, não fez, ainda que fosse capaz de fazê-lo, então ela dá falso testemunho contraDeus. A conseqüência seria que os apóstolos não somente teria sido tolos varridos, mas tambémenganadores e impostores. É este o único resultado quando se insiste sobre a negação daressurreição do corpo.

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Agora o apóstolo reafirma a contenção dos mal-orientados cristãos de Corinto a fim de lhesmostrar uma segundo e inevitável conseqüência dessa posição, a saber, que toda a estrutura da fé evida cristãs são uma irrealidade e um deboche. Ele principia mais uma vez com a afirmação que, senão há uma ressurreição corporal, então pode ser mantido o fato da ressurreição de Cristo. Aconseqüência? Se Cristo não ressuscitou, então vossa fé é inútil, vã, sem resultados benfazejos, eum engano. E, porque essa fé essencialmente é confiança no perdão de pecados que, por sua vez,foi tornado uma possibilidade por meio da obra de Cristo a qual foi selada por Sua ressurreição,segue que ainda estais em vossos pecados; a expiação é um deboche. E no que diz respeito aos queadormeceram em Jesus, porque confiaram em Sua perfeita redenção, estes morreram numaesperança vã; em vez de obterem a bendição duma perfeita salvação na presença de Deus, o seudestino é o da perdição. “Se Cristo não ressuscitou pela nossa justificação, então aqueles, cujamorte pareceu um sono bendito para um feliz acordar na companhia de seu Redentor vivo eglorificado, foram fadados a habitar ainda sob o desgraçado domínio da morte.”26) E o apóstoloacrescenta para martelar a verdade que deseja fixar nos coríntios: Se confiamos em Cristounicamente quanto a esta vida, se toda esperança quanto ao futuro é vã e um engano tolo, se não háperdão dos pecados, nem esperança numa herança futura no céu, então nós cristãos somos de todasas pessoas as que precisam de mais pena. Pois insistir numa esperança que não tem base, que nuncase cumpre, e negar todo e qualquer bem material por uma tal esperança, isto daria aos descrentesalgum direito para nos considerarem imbecis tolos, dos quais se deve ter pena por causa de seutriste engano. O argumento de Paulo é tanto mais forte visto que praticamente forçou a todoverdadeiro cristão da congregação de Corinto concluir: Sei que minha fé não alguma confiançafútil; a doutrina cristã não está baseada sobre algum engano; estou certo do perdão dos meuspecados tal como me está assegurado no evangelho; os apóstolos precisam ser testemunhasverdadeiras; Cristo ressuscitou da morte; deve haver uma ressurreição do corpo.

Uma linha vitoriosa de argumentação: V. 20) Mas de fato Cristo ressuscitou dentre osmortos, sendo ele as primícias dos que dormem. 21) Visto que a morte veio poro um homem,também por um homem veio a ressurreição dos mortos. 22) Porque assim como em Adão todosmorrem, assim também todos serão vivificados em Cristo. 23) Cada um, porém, poro sua própriaordem: Cristo, as primícias; depois os que são de Cristo, na sua vinda. 24) E então virá o fim,quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem comotoda potestade e poder. 25) porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigosdebaixo dos seus pés. 26) O último inimigo a ser destruído é a morte. 27) Porque todas as coisassujeitou debaixo dos seus pés. E quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas, certamenteexclui aquele que tudo lhe subordinou. 28) Quando, porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas,então o próprio Filho também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deusseja tudo em todos. Agora Paulo, em contraste aos deploráveis efeitos que seguiriam da suposiçãosustentada pelos ignorantes negadores da ressurreição do corpo, coloca, de modo triunfante,perante seus leitores o fato da ressurreição e de suas conseqüências gloriosas. Não tivesse Cristoressuscitado, todos os acontecimentos desastrosos logicamente deviam ter seguido.Mas, tal comoas coisas estão agora, se olhamos a situação como ela realmente é: Cristo foi ressuscitado dosmortos, como uma primícia daqueles que dormem. O fato de Sua ressurreição está acima dequalquer dúvida ou disputa, nem mesmo é colocado em dúvida por aqueles cristãos de Corinto quemantinham uma visão errada quanto a esta doutrina. E por isso Cristo nos é apresentado como asprimícias, a primeira oferta, da nova colheita, Lv. 23. 10, sendo um sinal e um penhor de que toda acolheita está santificada ao Senhor. Ele foi a primeira pessoa morta que colocou de lado toda amortalidade e que assumiu um corpo espiritual que por toda a eternidade não mais podia sersujeitado à morte. E desta forma aqueles que adormecem em Cristo na esperança da vida eternatambém irão ressuscitar da morte. O primeiro feixe de colheita será seguido por todos os demaisfeixes. Os corpos de todos os cristãos largarão a mortalidade. Consagrados a Deus, como realmentesão, se tornarão participantes desta mesma espiritualidade, Cl. 1. 18; Ap. 1. 5.

26) 75) Lange-Schaff, 1.Corinthians, 314.

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O apóstolo explana como foi obtido este efeito: Pois, visto que por um homem aconteceu amorte, também por meio dum homem aconteceu a ressurreição dos mortos. Um homem, Adão, foio meio, o instrumento, pelo qual a morte entrou no mundo. Ele comeu o fruto proibido e assimcausou que a maldição de Deus entrasse em efeito. Ele sujeitou a humanidade à morte física.Doutro lado, por meio dum homem também aconteceu a ressurreição dos mortos. Jesus, verdadeirohomem, por sua ressurreição quebrou a maldição da morte, e se tornou o primeiro da novahumanidade sobre a qual a morte já não poder, Rm. 6. 9. Pois assim em Adão, nesse um homemque representa as pessoas do mundo todo, todas as pessoas morrem, assim também em Cristo, noMessias prometido, todos serão vivificados. Assim como em todos os casos a morte se fundamentaem Adão, assim a vida em todos os casos se fundamenta em Cristo. Assim como em Adão todosquantos pertencem a Adão, isto é, que são seres humanos pecadores, morrem, assim em Cristoserão vivificados todos quantos são de Cristo porque crêem Nele.

A natureza da ressurreição será a mesma, mas haverá uma diferença na seqüência e nograu: Cada um, porém, no seu próprio grau, em sua própria seqüência – Cristo as primícias, entãoaqueles que pertencem a Cristo, em Sua vinda. Esta afirmação tem o objetivo de remover algumaobjeção que as pessoas possam fazer ao apontarem ao fato que os crentes em Cristo repousam emsuas sepulturas lado a lado com aqueles que estiveram sujeitos à morte por causa da maldição queem Adão sobreveio ao mundo. Paulo unicamente diz que o Senhor conforme Seu plano observauma devida ordem. Cristo, como as primícias, entrou na plenitude da vida, sua natureza humanaassumiu a imortalidade, um corpo incorruptível. E todos aqueles que pertencem a Cristo pela fé hãode entrar no mesmo estado glorioso quando Ele retornar no último grande dia.

Quando Cristo vem desta forma, então é o fim. Seu retorno para o juízo final significa aconclusão da história do mundo, quando Ele entrega o reino ao seu Deus e Pai, quando Elederrotou e aboliu todas as leis e todas as autoridades e todos os poderes. Agora Cristo é o rei noreino do poder e no reino da graça. E Ele continuamente realiza as obrigações de seu ofício; juntamais almas ao Seu reino da graça, faz intercessão por aqueles que pela fé foram admitidos ao seugoverno. Esta obra de misericórdia continua até ao último dia, quando a história deste mundo atualchegará ao fim, quando o último dos eleitos será acrescentado ao número estabelecido pelo Senhor.Por aquele tempo Ele também abolirá todas as forças do mal que se opõem à Sua obra da graça, nãointeressando quão firmemente estabelecido esteja o governo delas, ou quão extensa for suaautoridade, ou quão grande parece ser presentemente o poder deles. E então Cristo depositará oreino aos pés de Seu Pai. Este será o fim do reino da graça, visto que naquele dia a igreja militanteserá mudada na igreja triunfante, e o reino da glória terá seu começo. Este não será um cessar dogoverno de Cristo, mas será a inauguração do reino eterno de Deus. Como o vitorioso Príncipe daVida Ele deposita os espólios, o poder e reino de todos os Seus inimigos, aos pés do Pai, e então,junto com o Pai, e com ele em perfeita unidade e essência, continua a reinar por toda a eternidade.Quanto ao mundo atual, ou o atual período de tempo, Cristo precisa reinar até que Ele colocoutodos os Seus inimigos debaixo dos Seus pés, Sl. 110. 1. Satanás, o arquiinimigo de Cristo, e todosos poderes aliados com ele em oposição a Deus, precisam ser obrigados à mais perfeita submissão,à mais profunda humilhação. O último inimigo que será derrotado completamente, sendo-lhearrebatado seu poder, é a morta; a morte é o último inimigo a encontrar seu fado. Quando noúltimo dia a ressurreição for total, então o poder da morte terá sido anulado para sempre, e nãohaverá mais algo como morrer ou estar morto. O último baluarte de Satanás será destruído depoisque ele tiver entregue suas armas. O que o apóstolo aqui profere é um grito de vitória quandoalcança o auge desta mensagem.

Finalmente é retratado o domínio ilimitado que, com a remoção de todos os inimigos,pertencerá a Cristo: Pois “todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés.” Mas quando Ele diz “todasas coisas lhe estão sujeitas,” – obviamente com a exceção daquele que Lhe sujeitou todas as coisas,então também o próprio Filho se sujeitará a Ele (ao Pai) que sujeitou a Ele (ao Filho) todas ascoisas, para que Deus possa ser tudo em tudo. Aqui o apóstolo aplica a Jesus, o Homem acima detodos os homens, as palavras do Sl. 8. 6. Cf. Ef. 1. 22. Deus deu a Cristo, conforme Sua naturezahumana, poder e domínio sobre todas as coisas, sujeitou tudo à Sua vontade. Este “todas” é tão

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total e envolvente, que tão somente o próprio Pai está excluído, visto que Sua supremacia éilimitada. E, incidentalmente, o Filho então se sujeitará ao Pai, não como alguém que em essênciaLhe é subordinado, mas na livre submissão de amor. Em todas as Suas obras como Redentor, foiem perfeita obediência leal a Seu Pai, e agora o Filho, em Sua condição de Filho, se sujeita a SeuPai, como Pai, para que Deus seja tudo, em tudo o único objeto de louvor, glória e adoração,dando-lhe os cristãos a jubilosa reverência por sua bendição, e os infiéis e as demais criaturas a sedobrar perante Ele como seu Senhor supremo. Marquemos: Estas palavras, de modo algum,ensinam a inferioridade do Filho ao Pai na essência, ao contrário, de modo tanto mais claro econspícuo se destaca a absoluta unidade na distinção das pessoas. Toda e qualquer glória que oFilho conquistou é devotada à glória e ao poder do Pai, que, por sua vez, glorifica o Filho. Cf. cap.3. 22; 11. 3.27)

O resultado da descrença na doutrina da ressurreição: V. 29) Doutra maneira, que farão osque se batizam por causa dos mortos? Se absolutamente os mortos não ressuscitam, por que sebatizam por causa deles? 30) E por que também nós nos expomos a perigos a toda hora? 31) Diaapós dia morro! Eu o protesto, irmãos, pela glória que tenho em vós outros, em Cristo Jesus nossoSenhor. 32) Se, como homem, lutei em Éfeso com feras, que me aproveita isso? Se os mortos nãoressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã morreremos. 33) Não vos enganeis: as másconversações corrompem os bons costumes. 34) Tornai-vos à sobriedade, como é justo, e nãopequeis; porque alguns ainda não têm conhecimento de Deus; isto digo para vergonha vossa.Agora o apóstolo, tendo sido levado por seu argumento sobre as conseqüências da ressurreição deCristo a uma triunfante irrupção de vitória, retorna à sua proposição geral, sendo seu objetivomostrar aqui a futilidade de toda devoção cristã, caso a morte seja o fim último. Nalgumascongregações daquele tempo havia um rito em que pessoas eram batizadas em benefício, emsubstituição, de falecidos, na tola crença que os benefícios do sacramento poderiam ser creditadosaos mortos, ou que alguns cristãos escolhiam ser batizados sobre as sepulturas dos mortossantificados, sendo uma confissão de sua crença que as bênçãos da ressurreição de Cristo eramtransmitidas no batismo, e que os crentes batizados ressuscitarão para a vida eterna com Cristo.Referindo-se a este rito, Paulo afirma que este costume não teria sentido e razão de ser se não háressurreição do corpo. Pois a divisa dos descrentes foi: A idéia da ressurreição corporal écompletamente falsa! Referindo-se ao seu caso pessoal, Paulo pergunta: E por que corremosperigos a cada hora? Que objetivo existiria ao ele arrostar, dia após dia, a morte, se não há qualqueresperança de galardão para os apóstolos, no estado da ressurreição para as aflições da resignaçãodeles? Remove a esperança dum cristão sobre uma vida futura com Cristo, e tornas insuportáveis amiséria e a tribulação da vida presente. Paulo enfatiza este ponto com a maior veemência: Morrodiariamente; por causa dos muitos perigos que me ameaçam estou sempre à beira da morte. Nãohavia um só dia, nem mesmo uma só hora do dia, em que ele não podia esperar ser capturado e serlevado para sua execução. E para despertar os coríntios para a compreensão do significado quedeseja comunicar, acrescenta o solene voto: Pelo vosso gloriar-se, irmãos, que tenho em CristoJesus, nosso Senhor. Os próprios cristãos de Corinto eram a glória de Paulo que, como seuapóstolo, ele teve em Cristo Jesus, cap. 9. 1, 2, que ele guardara como uma posse valiosa nas mãosde seu Salvador.

Paulo cita uma ocasião especial em que sua esperança numa vida futura o susteve: Se àsemelhança de pessoas lutei com bestas feras em Éfeso, o que me valeu isto? Se os mortos nãoressuscitam (então só há uma coisa a fazer): Comamos e bebamos, pois amanhã morreremos!Alguns eruditos, inclusive Lutero, acreditam que o apóstolo foi realmente condenado a ser atiradoàs bestes feras no estádio de Éfeso e que foi salvo por um milagre.28) É, porém, provável que Paulofalou figurativamente, e que se refere ao tumulto de Éfeso que foi provocado pelos fabricantes denichos, At. 19. 23-41, ou aos judeus que sempre estiveram de tocaia para o matar, At. 20. 19. Casotivesse suportado todas as durezas envolvidas nesta batalha, assim como, via de regra, as pessoas o

27) 76) Cf. Lutero, 8. 1187.28) 77) Barton, Archeology and the Bible, 224.

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fazem, por causa dos aplausos, do dinheiro, da glória, etc., então neste caso isso não lhe teria sidode proveito nenhum, se o argumento dos ignorantes coríntios fosse lógico. Pois, se não háressurreição do corpo, então a gente se pode juntar acertadamente à máxima dos zombadoresfrívolos do mundo: Comamos e bebamos, pois amanhã morreremos, Is. 22. 13. Se a morte é o fim,se a morte física é equivalente à aniquilação, então o cristão pode viver conforme o adágio: Umavida curta mas divertida!

Paulo, contudo, ergue um dedo de advertência: Não sejais seduzidos! Não aconteça quealguém vos engane! Más conversações, más companhias, corrompem bons costumes. Quando umapessoa corteja a tentação na companhia de pessoas relaxadas, então sua conduta moralobrigatoriamente sofre. Seu caráter será solapado por conversas más; sua honestidade serávencida pela malandragem. O apóstolo cita isto como uma espécie de provérbio, como uma palavraque provavelmente estava na boca de todos, ainda que também esteja incluído na poesia clássicagrega, originalmente em Eurípides, como também em Menandro.29) Paulo se volta a congregaçãointeira de Corinto numa exclamação cheia de majestade apostólica: Sede ajuizados e parai depecar! Deseja que todos eles retornem e cultivem uma mente cheia de sobriedade, de sensatez, desenso comum, e que visando isto, também reconheçam a perversão desta posição doutrinária, assimcomo mantida em seu meio, visto que doutrina falsa é um pecado contra a primeira taboa da lei.Visto que alguns de seus membros deliberadamente se apegavam a uma posição de ignorância,como Paulo se vê obrigado a dizer, isto lhes serviu a todos como vergonha. Com toda sua exibiçãode sabedoria deliberadamente haviam aderido a opiniões erradas, que subverteram toda estrutura dadoutrina cristã. O mal tão somente podia ser corrigido por meio duma reação sadia baseada sobreum franco reconhecimento das opiniões erradas que existiam em seu meio, e por meio da prontaaceitação da verdade revelada.

A natureza da ressurreição: V. 35) Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? e emque corpo vêm? 36) Insensatos! o que semeias não nasce, se primeiro não morrer; 37) e quandosemeias, não semeias o corpo que há de ser, mas o simples grão, como de trigo, ou de qualqueroutra semente. 38) Mas Deus lhe dá corpo como lhe aprouve dar, e a cada uma das sementes o seucorpo apropriado. 39) Nem toda carne é a mesma; porém uma é a carne dos homens, outra a dosanimais, outra a das aves e outra a dos peixes. 40) Também há corpos celestiais e corposterrestres; e, sem dúvida, uma é a glória dos celestiais e outra a dos terrestres. 41) Uma é a glóriado sol, outra a glória da lua, e outra a das estrelas; porque até entre estrela e estrela hádiferenças de esplendor. 42a) Pois assim também é a ressurreição dos mortos. Para um cristão évergonha e humilhação não saber a respeito e não crer na ressurreição do corpo. Mas a maneira daressurreição é um segredo que, quando muito, pode ser ilustrado por processos análogos nanatureza. É neste sentido que Paulo enfrenta a pergunta: Como são ressuscitados os mortos? Alémdos mais, com que espécie de corpo vêm eles? São retomadas ambas as idéias ocultas daimpossibilidade e da inconceptibilidade da ressurreição do corpo. Pois o apóstolo percebe quealguns ainda possam argumentar: É um absurdo a ressurreição tal como é proclamada peloapóstolo; como pode qualquer pessoa pensar num novo corpo que deve ressuscitar dum cadáverque foi devorado por vermes ou que se reverteu em pó? No que diz respeito ao primeiro argumento,Paulo não hesita um momento para acusar seu defensor de estupidez mental, visto que a naturezainteira ensina que a morte é uma transição para uma vida posterior: O que semeias não torna a viverse não morre. O mistério da ressurreição está incluído em cada semente que brota. A casca que lheserve de invólucro, como um suporte para o germe da semente, há de morrer e morrer, Enquanto osconteúdos do caroço, quando sob as condições apropriadas para germinação, nascem, por meiodum processo químico que só o Criador consegue explicar, para uma nova vida.

Paulo responde ao argumento que é impossível compreender um processo como este com aanalogia da mesma figura: E o que semeias, não foi o corpo que há de ser que semeaste, mas osimples grão, não havendo qualquer diferença se foi de trigo ou algum outro grão. Aquilo que anoapós ano vemos acontecer perante nossos olhos nos pode ser impossível compreender, mas já não

29) 78) Cobern, The New Archeological Discoveries, 43.

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ser mais dito que seja algo irracional. O agricultor ou horticultor, quando coloca a semente na terra,sabe que não está plantando um novo ser, que só precisa crescer. Ela deposita o grão nu e despidode qualquer espécie de semente na terra e não se dá ao luxo de ser desencorajado pela objeção dealguma pessoa estúpida que nunca viu as coisas brotar, que sua semente irá apodrecer no solo. Aexperiência ensinou ao agricultor que o grão de trigo, mesmo que em si mesmo sem vida como umgrão de areia, ainda assim, sob as condições apropriadas, produzirá um novo ser. É Deus quem dá aforça para a semente que brota e que dá à planta seu corpo, de acordo com Seu decreto da criação,pelo qual foi desta forma determinada a continuidade da vida. E Ele concede a cada semente umcorpo que é exclusivamente seu. Isto é em tudo Seu milagroso agir, mas este mesmo poder é capazde devolver nossos corpos na ressurreição.

Agora Paulo usa uma segunda comparação para mostrar a forma com os corpos dos mortosaparecerão: Nem toda carne é a mesma, mas é diferente a carne das pessoas, diferente a das bestas,dos quadrúpedes, diferente a carne das criaturas aladas, diferente a dos peixes. Todas estascriaturas têm carne em seus corpos, mas ainda assim não é a mesma. Não só há variedade naorganização, mas também na composição, como o podem testemunhar tanto o sentido do tactocomo o do gosto. O mesmo Deus que atestou um poder tão maravilhoso na produção destavariedade, certamente será capaz para prover um corpo para cada pessoa na ressurreição. Mais umavez argumenta o apóstolo: Há também corpos celestes e corpos terrestres, mas a glória dos corposcelestes é uma e a dos corpos terrenos é outra. As estrelas e todos os corpos celestes, por criação deDeus, possuem uma glória que é diferente da dos corpos que há neste mundo, ainda que a belezados últimos pode ser comparada com eles por meio dos multiformes milagres da natureza.Finalmente, os corpos celestes diferem entre si em beleza e brilho, exibindo o sol, a lua e as estrelasuma variedade de glória que imediatamente precisa ser reconhecida: todos são gloriosos, mas emgrau. E o mesmo Deus que produziu todos estes milagres é plenamente capaz para produzir corpospara os Seus santos no tempo da ressurreição que serão totalmente adaptados à glória do reinovindouro de Cristo. Por isso Paulo resume tudo quanto adiantou em toda esta passagem: Assim é,exatamente, a ressurreição dos mortos. É um milagre tão racional como o é repetido milagre dagerminação e novo crescimento, e os corpos que isto exige podem ser providos pelo mesmo Deusque faz chegar a existir todas as criaturas maravilhosas aos nossos olhos. Unicamente porquenossos corpos agora são flagrantemente materiais, seria um engano concluir que, ao comando deDeus, eles não possam existir num estado inteiramente diferente e muito superior.

Um contraste entre o estado presente e futuro: V. 42b) Semeia-se o corpo na corrupção,ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita em glória. 43) Semeia-se emfraqueza, ressuscita em poder. 44) Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Se hácorpo natural, há também corpo espiritual. 45) Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão,foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante. 46) Mas não é primeiro oespiritual, e, sim, o natural; depois o espiritual. 47) O primeiro homem, formado da terra, éterreno; o segundo homem é do céu. 48) Como foi o primeiro homem, o terreno, tais são tambémos demais homens terrenos; e como é o homem celestial, tais também os celestiais. 49) E, assimcomo trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a imagem do celestial.Enquanto o apóstolo desenvolve este contraste lindo, ele retém a imagem das figuras usadas nasecção anterior e desta forma torna sua apresentação concreta, facilmente entendida, num exemplolindo e simétrico. Tal como acontece com a semente, acontece também com o corpo humano,especialmente com o dos cristãos: É semeado em corrupção, e ressuscita em incorrupção. O corpofalecido é colocado em lugar de repousa que é a sepultura. Semeamo-la qual semente no campo deDeus, sabendo que brotará numa vida imperecível. A deterioração pode ocorrer ao invólucro semvida, e a putrefação pode resultar em total decomposição do corpo, mas o poder onipotente doSenhor o levantará para uma condição gloriosa e celeste. É semeado em desonra, e é ressuscitadoem glória. O corpo terreno, devido à ação do pecado e seus efeitos, é indecoroso e vol, Fp. 3. 21, eno tempo de seu sepultamento se foi a pequena atração e encanto que o corpo pode ter tido. Precisaser encoberto da visão humana. Mas quando o chama da sepultura, ele há de ressuscitar em glória,mais uma vez renovado ao brilho da imagem Daquele que o criou, moldado conforme o corpo

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glorioso do próprio Cristo. “O corpo da ressurreição, qual cristal transparente, irradiará a glória queo Espírito de Cristo lhe concede. A carne, já não mais será como uma cobertura deslustrada, masserá uma lâmpada de luz espiritual, conforme a maneira em Cristo foi transfigurado no montesanto.”30) É semeado em fraqueza, e ressuscita em poder. O corpo que entregamos à sepultura paraque retorne ao pó do qual foi feito; foi-se toda e qualquer pequena força física e intelectual quehabitou nessa desprezível estrutura; mas é uma massa inerte e impotente de carne corruptível. Masquando convocação da trombeta do Senhor reunir os ossos, então este mesmo corpo será revestidocom poder do alto, sua natureza participará da do corpo de Cristo. E todos estes fatos sãoresumidos por Paulo: É semeado um corpo natural, carnal, sendo o corpo controlado em todas assuas ações pela alma, mas ainda assim sujeito à corrupção, desonra e fraqueza. E é ressuscitado umcorpo espiritual, um corpo que participa das qualidades dum espírito, com incorrupção, glória epoder. Pois, se há um corpo natural, um corpo em que a alma é a agência da vida natural, então nãohá razão para assumir que também não há um corpo espiritual, um corpo que está possuído peloespírito, que é espiritualizado pelo poder de Deus. Assim é correta a comparação: O corpo daressurreição realmente não é o mesmo corpo fraco e corrupto que foi depositado na sepultura, eainda assim não há dois corpos diferentes, sendo o corpo natural aniquilado, e sendo o corpoespiritual enchido com a alma do anterior ser humano. Antes, o corpo espiritual, o corpo cristão daressurreição, é a conseqüência do novo homem que, por Palavra e sacramentos, foi plantado nocristão como o gérmen do futuro corpo glorioso.

O apóstolo comprova esta doutrina por meio duma citação da Escritura: O primeirohomem, Adão, foi tornado alma vivente, Gn. 2. 7. Este foi o estado natural de Adão, como orepresentante e ancestral de toda raça humana. Ele foi criado para ser um ser corporal que eraanimado com uma alma vivente, e como tal ele existiu durante seu viver terreno. Paulo, emcontraste a isto, diz que o último Adão, o progenitor da nova humanidade espiritual, se tornou umespírito doador de vida, pois Cristo é o antitipo de Adão. A raça humana recebeu de Adão, comoseu ancestral, unicamente alma, vida terrena e natural. Mas de Cristo, o ancestral da raça espiritualda humanidade, os cristãos recebem a verdadeira vida espiritual, que se estende para além dasepultura e nos torna possuidores da glória divina. Ele é o manancial da vida celeste e eterna.

Caso alguém quisesse objetar perguntando por que Deus não criou imediatamente cada serhumano de tal modo de imediatamente tornar o corpo espiritual, de dar à alma, ao corpo e aoespírito a vida eterna e celeste, então Paulo responde: Contudo primeiro não é o espiritual, mas ofísico ou o natural, e então o espiritual. Até mesmo Adão, o primeiro homem, não foi espiritual,mas natural, sendo a intenção de Deus que a condição espiritual devia ser realizada pelapermanência do homem em permanente comunhão com o Senhor, algo para o qual Adão receberaforça. Mas a intenção de Deus foi frustrada pela queda, e agora, mais do que nunca, é o corpo dopecado um corpo natural, que realmente nasceu da carne. A vida espiritual é plantada em nósunicamente pelo poder do Espírito que está nos meios da graça, e unicamente pela aplicação domesmo poder Ele nos acordará como corpos espirituais. Segue, então, que o primeiro homem é daterra, é terreno, participando seu corpo da natureza do pó do qual foi formado. O segundo homem,Cristo, não teve uma origem como essa, mesmo que assumisse natureza humana no corpo daVirgem Maria. A partir do exato momento de sua concepção Ele foi o Senhor do céu, o Filho dohomem que está no céu, Jo. 3. 13. Desta forma Ele teve sucesso e substituiu o primeiro pai dahumanidade. Ele veio do céu, sendo o Deus-homem. Como os terrenos, eles também são terrenos,sendo que todos aqueles que descenderam da Adão são, tal como ele, duma natureza terrena. Adão,em vez de ascender a um estado espiritual, caiu em pecado. E nós, que somos seus descendentescorporais, caímos em sua queda, e carregamos sua mera vida natural e terrena. Como os celestes,são também celestes; tal como o Cristo exaltado, que é o primogênito de muitos irmãos, participada plenitude da glória divina em Seu corpo espiritual, assim também acontece com os seguidoresressurretos de Cristo, sendo que seus corpos serão tornados semelhantes ao Seu próprio corpoglorioso. E tal como por nascimento temos a imagem do que é terreno, ou seja, a forma exterior e

30) 79) Besser, Biibelstunden, 8. 758.

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corpórea de nosso progenitor, Adão, que assim também carreguemos em nos Daquele que é celeste.Arrastamos conosco este corpo do pecado, tendo em todo nosso viver terreno saudade daverdadeira vida lá de cima. Olhamos, porém, para frente para o dia feliz de nossa final redenção,quando seremos restaurados à Sua imagem e mais uma vez, de acordo com alma e corpo,entraremos na categoria de filhos de Deus, 1.Jo. 3. 2; Cl. 3. 4. “O estar revestido aqui dasemelhança moral de Cristo traz consigo o estar vestido da Sua semelhança corporal futura.”

A transformação do último dia e a vitória sobre a morte: V. 50) Isto afirmo, irmãos, quecarne e sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção. 51)Eis que vos digo um mistério: Nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, 52) nummomento, num abrir e fechar dolhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortosressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. 53) Porque é necessário que este corpocorruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. 54) Equando este corpo corruptível se revestir da incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir deimortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória. 55)Onde está, ó morte, a tua vitória? onde está, ó morte, o teu aguilhão? 56) O aguilhão da morte é opecado, e a força do pecado é a lei. 57) Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio denosso Senhor Jesus Cristo. 58) Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis, e sempreabundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão. Aqui oapóstolo apresenta um argumento final em favor da ressurreição do corpo. Pois o sepultamento dosmortos, com sua imagem de decomposição e corrupção, longe de abalar nossa fé na realidade daressurreição, antes nos ensina que o corpo em seu estado atual precisa perecer e ser mudado antesque possa herdar as glórias do céu. Com grande ênfase escreve Paulo: Isto, porém, vos digo,irmãos, que carne e sangue, ou seja, o corpo natural, não podem herdar o reino de Deus; erealmente nem o perecível pode herdar a impericibilidade. Quando seres humanos desejam tornar-se possuidores da glória celeste, com toda a bendição que está inclusa em seu gozo, então éabsolutamente necessário que passem pela mudança por meio da qual é removida a vestimentaterrena e esta servidão de corrupção.

No caso de pessoas que ainda vivem, esta mudança indispensável é o objeto dumamaravilhosa revelação, que Paulo passa a comunicar, incidentalmente, chamando atenção à suaimportância: Vede, conto-vos um mistério! Abre diante dos olhos deles um dos segredos que oSenhor lhe fez conhecer. Não todos nós dormiremos; não todos os cristãos estariam repousando nosono da morte no último dia; mas todos seremos transformados. Nosso corpo perecível, seja pelamorte ou não, precisa passar pela mudança pela qual se torna espiritual. A mudança será universal eserá estendida a todos os que ainda vivem quando amanhece o dia do juízo. Isto aconteceria nummomento, literalmente num átomo de tempo, num piscar de olhos, durante o soar da últimatrombeta. Este será um dos sinais inconfundíveis do advento do Senhor: Soará a trombeta final, eos mortos, todos eles, ressuscitarão, serão ressuscitados com corpos incorruptíveis. Neste instantetambém ocorrerá a mudança peculiar nos vivos, pela qual seus corpos mortais e corruptíveis setornarão imortais e incorruptíveis. Esta mudança precisa ocorrer, conforme a vontade de Deus ela énecessária: Este perecível está obrigado a vestir o imperecível, e este mortal precisa vestir aimortalidade. Notamos que Paulo, em toda esta passagem, pressupõe que os cristãos sintam acerteza da vindoura imortalidade.

As glórias que então se abrirão diante dos nossos olhos o apóstolo retrata numa irrupçãotriunfante dum grito vitorioso: Quando isto foi alcançado, como é preciso que aconteça, quandoeste corpo perecível tiver sido investido com a incorrupção, e quando este corpo mortal tiver sidoinvestido com a imortalidade, então a palavra que está escrita em Is. 25. 8 e em Os. 13.14,encontrará seu cumprimento, sendo que Paulo a cita do texto grego, mas de forma correta. Amorte foi tragada em vitória; o inimigo guloso e insaciável foi forçado a sucumbir, e, por sua vez,foi devorado; o último baluarte do inimigo foi destruído, v. 26. Em triunfante exultação ecoa odesafio: Onde, ó morte, está a tua vitória? Onde, ó morte, está o teu ferrão? Ora, o ferrão da morte éo pecado, e a força do pecado é a lei; mas a Deus sejam os agradecimentos, que nos dá a vitória pormeio de nosso Senhor Jesus Cristo! A morte, que, qual serpente venenosa, empregou seu ferrão

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para matar as pessoas, perdeu este ferrão. Aquele que foi acostumado a sempre ter a vitória, foidefinitivamente vencido. Pois o ferrão da morte é o pecado, pelo qual ela entrou no mundo, Rm. 5.12, e Jesus carregou todos os pecados, pagou toda culpa, afundou todas as transgressões nasprofundezas do mar. E a força do pecado é a lei, Rm. 8. 2, porque ela promete salvação aos homenssob termos que eles não conseguem cumprir, e assim faz que o pecado abunde; Jesus, porém,cumpriu a lei e assim removeu a força do pecado. Por isso, a Deus, ao Deus trino, ao autor de nossasalvação, sejam dados os agradecimentos, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor JesusCristo! Por meio de Cristo foi alcançada uma vitória plena e completa, e sua inteireza e plenitudepertence a nós em virtude da obra de nosso Salvador, que aceitamos pela fé. Como cristãos mesmoagora já possuímos a vida eterna. Como cristãos, a morte já não mais nos tem o gosto amargo da irade Deus. Junto às sepulturas daqueles que adormeceram em Cristo cantamos este glorioso hino devitória, sabendo que a morte e a sepultura perderam seu poder sobre os que estão em Cristo Jesus, eque a morte é para os cristãos a entrada para as alegrias eternas.

Paulo conclui o capítulo aplicando este maravilhoso ensino à situação da congregação deCorinto, cujos membros se podem ter tornado lassos na obra de Cristo, por causa das dúvidas quehaviam inundado suas mentes. Ele escreve aos rogos e com insistência: Por isso, meus amadosirmãos, sede firmes, mostrai-vos inabaláveis, e não permiti que o fundamento de vossa fé sejaremovido. Sede inamovíveis, não vos deixeis desviar por outros. Este é um dos lados da tarefadeles. Mas o outro irá seguir: Sede sempre abundantes na obra do Senhor, na obra que Deus realizapor vós e que vós realizais para Sua glória; sabendo que vossa labuta, vosso trabalho fatigante, nãoé vazio no Senhor; não ficará sem fruto e efeito se iniciado em Seu nome, realizado em Sua força, eprojetado para Sua glória.

Resumo: O apóstolo apresenta a prova histórica e lógica a respeito da ressurreição docorpo, descreve a natureza desta ressurreição, revelas o fato da transformação do último dia, eencerra com um triunfante hino de vitória.

Capítulo 16

Admoestações conclusivas. 1.Co. 16. 1-24.

A respeito da coleta em favor de Jerusalém: V. 1) Quanto à coleta para os santos, fazei vóstambém como ordenei às igrejas da Galácia. 2) No primeiro dia da semana cada um de vós ponhade parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletasquando eu for. 3) E, quando tiver chegado, enviarei, com cartas, para levarem as vossas dádivas aJerusalém, aqueles que aprovardes. 4) Se convier que eu também vá, eles irão comigo. Desteparágrafo se vê que Deus, de modo algum, está indiferente sobre o modo como é realizado aquiloque é feito do trabalho da congregação. Enquanto Paulo esteve em sua terceira viagem missionária,esteve dedicadamente empenhado com a tarefa de coletar dinheiro para os irmãos pobres deJerusalém, como mostram as referências em suas cartas, Gl. 2. 10; 2.Co. 8 e 9; Rm. 15. 25, 26. odesejo do apóstolo foi trazer uma rica oferta de gratidão dos cristãos das terras gentias àcongregação de Jerusalém. Aqui, por isso, ele lembra dos coríntios desta “coleta” que devia serfeita em favor dos santos.31) Pouco tempo antes, em sua viagem de visitação pelo sul da Galácia,At. 18. 23, dera regulamentos às congregações desta região, expondo-lhes o assunto e conseguindoa voluntária adesão deles ao plano. E quis que os cristãos de Corinto adotassem este mesmo plano,e que agissem rapidamente.

O plano do apóstolo foi: Que no primeiro dia da semana cada um de vós guarde umaquantia definida (fazendo dela uma reserva), qualquer quantia que pudesse juntar, conforme suasentradas, para que a coleta não precise ser feita quando eu vier. Temos aqui a menção mais antigado domingo cristão como um dia apropriado para obras de caridade, ainda que não seja o dia

31) 80) Cobern, The New Archeological Discoveries, 35, 125.

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exclusivo para serviços de igreja, e não tenha sido separado por indicação divina. Cada um doscristãos devia participar nesta obra de caridade, como mostra o contexto, cada um que de algumaforma teve algum ganho pessoal. O apóstolo não restringe ás pessoas adultas a sua instrução. Denenhuma forma houve qualquer compulsão, contudo, a obrigação para um ofertar voluntário foitanto mais enfática. Cada um por si mesmo devia decidir a quantia, assim como seu coração diziaque podia dar. E o tamanho de sua doação devia ser medida pela bênção que Deus lhe dera em seutrabalho ou negócio. Desta forma o tesouro do Senhor com o templo se iria multiplicar, e quandoPaulo viesse a quantia total deveria ser entregue. Concordando com este plano, os coríntiosevitariam a necessidade de fazer coletas com a vinda de Paulo, visto que poderia haver dificuldadequanto a junção rápida duma grande quantia de dinheiro, além do fato que Paulo preferia devotarseu tempo aos assuntos de seu ministério de ensino. Nota: Um ofertar regular e sistemáticoconforme este plano de Paulo tem a sanção do próprio Senhor, e tem sido achado como o métodomais eficiente para reunir fundos para a obra do Senhor.

O plano de Paulo também incluiu o cuidado necessário sobre o dinheiro coletado, para quefossem afastados quaisquer motivos de suspeição. Quis que a congregação de Corinto elegessedelegados do meio dela, que fossem homens aprovados, irmãos de confiança, e que fornecessem aestes homens as credenciais próprias. Tudo o que caberia a Paulo, depois de sua chegada, foiorientar estes homens, enviá-los com a carta de recomendação, como os portadores dos donativos, aJerusalém. Aqui, porém, não parou seu interesse por este assunto importante, mas se lhe fossepreciso viajar com eles, tinha a intenção de fazê-lo. Há aqui uma indicação de que Paulo nãodesejava comprometer-se com uma caridade pequena e medíocre. A quantia precisava ser tãogrande que exigisse sua participação no caso. Isto não foi orgulho, mas uma avaliação correta dosnegócios do Senhor. Nota: Visto que somos unicamente mordomos dos dons de Deus, nos énecessário guardar sempre em mente que nossas contribuições para qualquer objetivo mencionadona Bíblia deve ser na proporção da prosperidade que Sua bondade nos concedeu. Avareza nosnegócios da igreja e na verdadeira caridade reagirão desfavoravelmente sobre a pessoa sovina.

A sugerida visita de Paulo a Corinto: V. 5) Irei ter convosco por ocasião da minhapassagem pela Macedônia, porque devo percorrer a Macedônia. 6) E bem pode ser que convoscome demore, ou mesmo passe o inverno, para que me encaminheis nas viagens que eu tenha defazer. 7) Porque não quero agora ver-vos apenas de passagem, pois espero permanecer convoscoalgum tempo, se o Senhor o permitir. 8) Ficarei, porém, em Éfeso até ao Pentecoste; 9) porqueuma porta grande e oportuna para o trabalho se me abriu; e há muitos adversários. 10) E, seTimóteo for, vede que esteja sem receio entre vós, porque trabalha na obra do Senhor, comotambém eu; 11) ninguém, pois, o despreze. Mas encaminhai-o em paz, para que venha ter comigo,visto que o espero com os irmãos. 12) Acerca do irmão Apolo, muito lhe tenho recomendado quefosse ter convosco em companhia dos irmãos, mas de modo algum era a vontade dele ir agora; irá,porém, quando se lhe deparar boa oportunidade. O plano anterior de Paulo parece ter sido irprimeiro a Corinto, e então viajar para o norte para a Macedônia. Ainda tinha a intenção de visitá-los, mas só depois de fazer uma viagem missionária pela Macedônia, viajando por toda este região.Esta excursão evangelística, aliás, como Paulo indica, ocupou uma grande parte do verão e dooutono, pois ele penetrou para além da Macedônia, para a Ilíria, Rm. 15. 19, o que o trouxe aCorinto não muito antes do inverno. Caso lhe fosse possível, se assim o pudesse arranjar, Pauloquis ficar em Corinto durante todo o inverno, ficando na metrópole em vez de percorrer aprovíncia, e esperando, por sua vez, ser acompanhado por uma delegação deles, para que eles oenviassem adiante para onde quer que quisesse ir, provavelmente, ainda que não com certeza, paraJerusalém. Notemos quão cuidadosamente o apóstolo se expressa sobre seus planos, visto estavamtotalmente nas mãos de Deus, e com quanto tacto se dirige aos coríntios, para assegurar a boavontade deles e não em lhes aparecer como um dominador: Pois agora não queria ver-vos só depassagem; sentia que uma visita fugaz não seria aceita. Esperou, em vez disso, ficar com eles pormais tempo se o Senhor assim o permitisse. Esta é a linguagem dum cristão que coloca tudo semprenas mãos de Deus.

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Paulo diz com franqueza aos coríntios a razão por que não começou imediatamente suaproposta viagem: Ficarei, porém, permanecerei em Éfeso até o Pentecoste. O tempo em queescreveu esta carta pode ter sido próximo à páscoa. Sentiu que lhe convinha permanecer na Ásiapor mais ou menos dois meses: Pois me foi aberta uma porta grande e promissora, mas há tambémmuitos adversários. O Senhor abrira uma porta imensa ao evangelho, ou seja, o Senhor tornaramuitos corações dispostos a ouvir as gloriosas verdades da salvação; e esta porta escancaradaprometia muito, e a influência do evangelho se espalhava. Incidentalmente, contudo, havia muitosinimigos, At. 19, tal como mostrou o tumulto a seguir, que tornou necessária a mais sinceradedicação da parte do apóstolo.

Neste ponto o apóstolo acrescenta algumas palavras com respeito a Timóteo e Apolo.Assim como em outra ocasião admoestara seu jovem ajudante a não permitir que alguémdesprezasse sua juventude, 1.Tm. 4. 12, assim também adverte aqui a congregação a não pensar demodo leviano a respeito de Timóteo por causa de sua juventude. Timóteo e Erasto foram enviadosnuma missão para a Macedônia, ou foram, talvez, os portadores desta carta, At. 19. 21, 22. Por isso,com sua chegada os coríntios deviam cuidar que Timóteo estivesse com eles sem qualquer temor,que pudesse cuidar do trabalho de sua vocação entre eles sem a depressão causada por um tratodesdenhoso da parte da congregação. Pois, como diz Paulo, ele estava realizando a obra do Senhor,estava empenhado em levar avante o ministério do evangelho, tal como o próprio apóstolo. Porisso, ninguém devia menosprezá-lo, pretendendo dizer que ele não possuía plena autoridade daparte de Deus para realizar a obra dum evangelista. Ao contrário, depois que tivesse realizado otrabalho que lhe fora confiado, deviam enviá-lo adiante em paz, despedi-lo pacificamente, semaborrecimento, mas com cordial afeto. Deviam recordar que Paulo estava esperando por Timóteo eos irmãos que estavam com ele, esperando o retorno deles para Éfeso antes que de lá ele partisse. Equanto a Apolo, que trabalhara em Corinto com notável sucesso, Paulo o admoestara seriamentepara viajar com os irmãos a Corinto; não tivera qualquer dificuldade para que ele fosse, mas plenaconfiança nele. Apolo, contudo, que naquele tempo deve ter estado em Éfeso, não se queria deixarpersuadir; era totalmente contrário que ele fosse agora. Foi, porém, vontade sua ir tão logo que selhe oferecesse uma boa oportunidade. Tendo em vista a atual situação reinante em Corinto, pode tersido que não teve o desejo de ser envolvido nestas dificuldades, ou que outras circunstâncias ouocupações o detiveram.

Uma admoestação de encerramento: V. 13) Sede vigilantes, permanecei firmes na fé,portai-vos varonilmente, fortalecei-vos. 14) Todos os vossos atos sejam feitos em amor. 15) Eagora, irmãos, eu vos peço o seguinte (sabeis que a casa de Estéfanas é as primícias da Acaia, eque se consagraram ao serviço dos santos): 16) Que também vos sujeiteis a esses tais, comotambém a todo aquele que é cooperador e obreiro. 17) Alegro-me com a vinda de Estéfanas, e deFortunato e de Acaico; porque estes supriram o que da vossa parte faltava. 18) Porque trouxeramrefrigério ao meu espírito e ao vosso. Reconhecei, pois, a homens como estes. O apóstolo, comoera seu costume, dá aqui em breves sentenças os pontos principais de todas as suas admoestações.Os dons incomuns e abundantes da graça que o Senhor concedera à congregação de Corintoproduziram um atordoamento carnal e perigoso em suas mentes. Por isso o brado: Vigiai, sedefirmes na fé, provai que sois homens, sede fortes, viril e poderosamente ativos. É necessária avigilância, para que não se rendessem mais uma vez aos pecados que Paulo reprovou na carta quelhes escreveu, ou ao ataque de oponentes traiçoeiros, tanto de dentro como de fora. Esta vigilânciaanda de mão em mão com a constância na fé, uma fé que não depende da sabedoria do homem, masdo poder de Deus. Esta fé foi um dom da graça de Deus, e, como tal, precisa ser conservada comtoda firmeza. Esta ocasionou, por sua vez, uma atitude corajosa e viril, e numa junção de forçaspara resistir ao poder de cada adversário. Esta mesma admoestação encontramos em Ef. 6. 10-17.Doutro lado, contudo, competia aos coríntios recordar que todos os seus atos deviam ser realizadosem amor. Quaisquer divisões e brigas precisam ser abandonadas onde vive o verdadeiro espírito deCristo, onde o espírito dum servir desinteressado tem o indisputado domínio.

Conforme a exortação de Paulo, os cristãos de Corinto teriam uma boa oportunidade paraexercer o correto amor fraterno no caso dos domésticos e da família de Estéfanas, a quem ele

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chama as primícias da província de Acaia. Já havia outros convertidos individuais na província, At.17. 34, mas esta família foi a primeira entre elas que foi recebida pelo batismo na igreja cristã,tornando-se, assim, o núcleo duma subseqüente congregação cristã.32) O apóstolo testemunha delesque todos eles, todos quantos pertenciam à casa e à família, se colocaram à disposição doministério aos santos, sempre estiveram prontos a conceder suas habilidades e tempo ao interessede qualquer serviço pelos irmãos. Como retorno por estes serviços que os coríntios haviamrecebido, o apóstolo deseja vê-los dispostos a se submeter a pessoas como estas, visto que elas,provavelmente, exerciam ofícios na congregação, Hb. 13. 17, bem como a cada um que participa naobra e que trabalha. Esta admoestação não estabelece uma hierarquia, mas simplesmente“recomenda uma submissão espontânea à direção daqueles que são capazes e dispostos a conduzirpor boas obras”. O dom dum servir correto e cortês deve ser reconhecido por cada congregação, eos irmãos e as irmãs que o possuem devem ser honrados de acordo.

Quanto à ida de Estéfanas e Fortunato e Acaico, causaram grande alegria ao apóstolo.Atualmente estavam, como delegados da congregação de Corinto, em Éfeso, e Paulo muito felizcom o fato. Quando estes voltassem à Corinto, os irmãos, com certeza, lhes evidenciariam aquelerespeito que no amor lhes convinha. Estes homens provavelmente foram os portadores principais,caso não os únicos, desta carta aos coríntios. O apóstolo se alegrou com sua presença, porque esteshomens haviam suprido sua carência deles (dos coríntios). Aqui há mais outra prova do tacto ternode Paulo. Pois suas palavras deixam entrever que os cristãos de Corinto, se estivessem presentes, oanimariam com seu amor e benignidade. Sendo isto impossível no caso presente, os seus delegadosos representaram também neste sentido, preenchendo o lugar de sua congregação em todos osmodos possíveis. Procedendo assim, concederam prazer tanto ao espírito de Paulo como ao dosirmãos que representaram. Pois este é o efeito duradouro duma conversa pacífica e da simpatia:anima a quem recebe e reage sobre o doador. Os coríntios, por isso, certamente, reconhecerão ahomens como estes, de não só considerá-los de acordo com suas habilidades, mas também tratá-loscom o devido afeto e respeito, servindo de belo exemplo às congregações cristãs de todos ostempos.

Saudações finais: V. 19) As igrejas da Ásia vos saúdam. No Senhor muito vos saúdamÁqüila e Priscila e, bem assim, a igreja que está na casa deles. 20) Todos os irmãos vos saúdam.Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo. 21) A saudação, escrevo-a eu, Paulo, de própriopunho. 22) Se alguém não ama ao Senhor, seja anátema. Maranata! 23) A graça do Senhor Jesusseja convosco. 24) O meu amor seja com todos vós em Cristo Jesus. (Amém). Como conclusão desua carta, Paulo envia saudações, antes de tudo, da parte das congregações na Ásia, que era aprovíncia romana junto ao Mar Egeo. Mesmo que não tivesse visitado pessoalmente todas ascongregações que haviam sido fundadas na província e no distrito do qual Éfeso era o centroirradiador, Ap. 1. 11, estava ele em contacto com todas elas e conhecia seu sentimento para comos irmãos na Grécia. Áqüila e Priscila, que naquele tempo moravam em Éfeso, onde haviam atuadode modo muito fiel, foram mais uma vez, como acontecera em Corinto, os hospedeiros dumacongregação doméstica. Cf. At. 18; Rm. 16. 4. Este casal tão valioso enviou por meio do apóstolomuitas e ardentes saudações à congregação de Corinto, não só por causa de sua amizade pessoalcom muitos dos cristãos de Corinto, mas por causa de seu desejoso interesse pelo bem-estar e ocrescimento da obra do Senhor, como parece indicar o acréscimo “no Senhor”. Em terceiro lugar,todos os irmãos em grupo de Éfeso enviaram saudações, ou seja, não somente a pequenacongregação doméstica recém citada. Como um sinal da correta aceitação destas saudações, Pauloinsiste que os cristãos de Corinto se saúdem uns aos outros com ósculo santo, com o beijo que ésanto, em que os homens saúdam aos homens e as mulheres, às mulheres. Este costume do ósculosanto foi retido por certo número de séculos durante a celebração da Santa Comunhão.

Até este ponto Paulo ditara a carta. Mas agora pega pessoalmente a caneta e autentifica acarta com sua assinatura autográfica, 2. Ts. 3. 17. Acrescenta um mote duplo e sua saudaçãoapropriada: Se alguém não ama nosso Senhor Jesus Cristo, seja maldito. Vem, Senhor! ou, O

32) 81) Ramsay, The Bearing of Recent Discoveries, 385-411.

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Senhor vem vindo. Maldito e condenado está não somente aquele que odeia ao Senhor Jesus, mastambém aquele que não tem real amor ao Salvador em seu coração, mas, em vez disso, oferece umamor pretenso e espúrio. “Aqueles que dobram o joelho diante Dele com um coração fingido sãoanátema,” ou seja, sob maldição. Doutro lado, o brado ardente: Vem, Senhor! ou: O Senhor vem,foi na igreja antiga uma oração favorita, como se fosse um suspiro por pronto resgate. Cf. Fp. 4. 5;ap. 1. 7; 3. 11; 22. 20. Esta foi tanto uma palavra de vigilância como uma senha entre os antigoscristãos, que sempre soava através de suas almas e era expressa com crescente fervor.

O desejo pessoal do apóstolo aos coríntios é que a graça, o perdão de pecados, o plenofavor divino do Senhor Jesus Cristo, esteja com eles, e que o amor deles, igual em constância paracom todos eles, seja com todos eles. Este foi o amor que havia exaltado em seu santo salmo, quesuporta todas as coisas, crê todas as coisas, espera todas as coisas, suporta a todas as coisas, cap.13. 7. Foi este o amor que fez com que Paulo desejasse que quaisquer divisões e facções fossemcolocadas de lado e fosse alcançada uma perfeita unidade em Cristo Jesus.

Resumo: O apóstolo recomenda à congregação de Corinto o plano dum coletar regular esistemático em favor dos pobres, discute seu plano de visitá-los em futuro próximo, inclui tudoquanto dissera numa admoestação à vigilância e ao amor, e envia saudações e votos pessoais.

09.03.05.