pre-projeto de pesquisa - Anabel - em 15 de abril 2009

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Universidade Estadual de Santa Cruz Mestrado em Cultura e Turismo RESUMO : Este trabalho pretende fazer uma análise das imagens divulgadas via internet de duas fazendas que oferecem turismo rural organizado formalmente: A Fazenda Yrerê e a Fazenda Primavera, ambas na Rodovia Jorge Amado, BA 415, comparando-as com imagens produzidas em visitas in loco. As fotografias serão produzidas nas duas fazendas em estudo e também em duas outras fazendas de cacau não utilizadas como pólos de turismo rural. Essa análise pretende identificar a imagem que a região cacaueira tem no universo externo a ela, comparando-a ainda com a realidade das fazendas de cacau não-turísticas, levando em conta o imaginário criado pela literatura Amadiana. Com esse estudo imagético, objetiva ainda ratificar a importância da fotografia como dado social e objeto de pesquisa no turismo. Pretende também estudar o turismo rural como um agregador de valor ao agronegócio do cacau, e a renda adicional gerada por ele, uma vez que essas fazendas continuam tendo a produção de cacau como principal fonte de renda. Ao final do projeto, espera-se sugerir possibilidades de dar mais visibilidade à atividade turística nas fazendas, numa abordagem de marketing, valendo-se das novas tecnologias de comunicação Palavras-chave: Ilhéus, Turismo rural, Cacau, Fotografia. 1. INTRODUÇÃO A crise da lavoura cacaueira, iniciada na década de 80 e que perdura até os dias atuais fez o Brasil cair de segundo para quinto lugar na produção mundial de cacau em 2008, segundo dados da CEPLAC. A partir de então, foi desaparecendo a figura do grande fazendeiro, Coronel do Cacau, tanto pela “pulverização” das propriedades – divididas entre os herdeiros, e muitos não assumindo o lugar de seus pais – como também pela diversificação de atividades dentro das fazendas:

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Universidade Estadual de Santa Cruz

Mestrado em Cultura e Turismo

RESUMO : Este trabalho pretende fazer uma análise das imagens divulgadas via internet de duas fazendas que oferecem turismo rural organizado formalmente: A Fazenda Yrerê e a Fazenda Primavera, ambas na Rodovia Jorge Amado, BA 415, comparando-as com imagens produzidas em visitas in loco. As fotografias serão produzidas nas duas fazendas em estudo e também em duas outras fazendas de cacau não utilizadas como pólos de turismo rural. Essa análise pretende identificar a imagem que a região cacaueira tem no universo externo a ela, comparando-a ainda com a realidade das fazendas de cacau não-turísticas, levando em conta o imaginário criado pela literatura Amadiana. Com esse estudo imagético, objetiva ainda ratificar a importância da fotografia como dado social e objeto de pesquisa no turismo. Pretende também estudar o turismo rural como um agregador de valor ao agronegócio do cacau, e a renda adicional gerada por ele, uma vez que essas fazendas continuam tendo a produção de cacau como principal fonte de renda. Ao final do projeto, espera-se sugerir possibilidades de dar mais visibilidade à atividade turística nas fazendas, numa abordagem de marketing, valendo-se das novas tecnologias de comunicação

Palavras-chave: Ilhéus, Turismo rural, Cacau, Fotografia.

1. INTRODUÇÃO

A crise da lavoura cacaueira, iniciada na década de 80 e que perdura até os dias atuais

fez o Brasil cair de segundo para quinto lugar na produção mundial de cacau em 2008,

segundo dados da CEPLAC. A partir de então, foi desaparecendo a figura do grande

fazendeiro, Coronel do Cacau, tanto pela “pulverização” das propriedades – divididas entre os

herdeiros, e muitos não assumindo o lugar de seus pais – como também pela diversificação de

atividades dentro das fazendas: cultura de outras frutas, criação de peixes e camarões,

pecuária e o nascimento de uma atividade completamente nova: o Turismo Rural.

Tulik (2003) trata a expressão “Turismo Rural” como uma expressão empregada

geralmente de modo extensivo a qualquer atividade turística no espaço rural. Identifica-se

com Turismo no Espaço Rural e Turismo em Áreas Rurais, ambos utilizados como

sinônimos.

Desta forma, o turismo rural objetiva proporcionar aos visitantes a oportunidade de

participar das atividades do meio rural, como: andar a cavalo, ordenhar vacas, passear de

carroça, tomar banho de rio ou cachoeira, caminhar pelos campos, além de conhecer as

técnicas de cultivo e produção de produtos agrícolas ou criação de animais, entre outros.

“A Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) chegou ao seguinte conceito de

Turismo Rural: um segmento turístico que proporciona conhecer, vivenciar e

usufruir as práticas sociais, econômicas e culturais próprias do meio rural de cada

região de forma sustentável.” (JAPPE, 2005:26)

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Definido no Portal Brasil Turismo como “Conjunto de atividades turísticas

desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a

produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da

comunidade,” o Turismo Rural valoriza diversos aspectos do ambiente do interior, como

culinária, manifestações folclóricas, modos de vida em geral, e não apenas a natureza, como

pode parecer à primeira vista.

As atividades associadas ao Turismo Rural podem ser consideradas uma estratégia de

diversificação produtiva das propriedades rurais, com atividades não-agrícolas

complementares à renda agropecuária. Entre elas estão o pesque-pague, a fazenda-hotel

(distinta de hotel-fazenda), o restaurante típico, as vendas “direto do produtor”, o artesanato, a

industrialização caseira e outras atividades associadas ao estilo de vida do homem do campo.

“O importante é que se constituem em atividades internas à propriedade – on farm – , que

geram ocupações complementares às atividades agrícolas, as quais continuam a fazer parte do

cotidiano da propriedade em maior ou menor intensidade” (SILVA, VILARINHO e DALE,

2000).

É considerado um modelo turístico definido como brando, artesanal, de baixa

intensidade, com predomínio de pequenos negócios com base local e familiar, atraindo uma

menor quantidade de turistas, geralmente em pequenos grupos. Consome um menor espaço,

aproveitando alojamentos já existentes ou funcionando apenas durante o dia. Também requer

menos infra-estrutura, integrando-se aos meios social e natural sem provocar conflitos.

O Ministério do Turismo, em suas Diretrizes para o Desenvolvimento do Turismo

Rural no Brasil apresenta alguns benefícios trazidos por essa atividade, como: diversificação

da economia regional, pelo estabelecimento de micro e pequenos negócios, melhoria das

condições de vida das famílias rurais, interiorização do turismo, difusão de conhecimentos e

técnicas das ciências agrárias, diversificação da oferta turística, diminuição do êxodo

rural,promoção de intercâmbio cultural, conservação dos recursos naturais, reencontro dos

cidadãos com suas origens rurais e com a natureza, geração de novas oportunidades de

trabalho, criação de receitas alternativas que valorizam as atividades rurais, melhoria dos

equipamentos e dos bens imóveis, integração do campo com a cidade, agregação de valor ao

produto primário por meio da verticalização da produção, promoção da imagem e

revigoramento do interior, integração das propriedades rurais e comunidade,valorização das

práticas rurais, tanto sociais quanto de trabalho e resgate da auto-estima do homem do campo.

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Os exemplos que serão estudados nesta oportunidade são as Fazendas Primavera, de

propriedade do Sr. Virgílio Amorim e Yrerê, do Sr. Gerson Marques que oferecem visitas

guiadas onde dão informações sobre as técnicas de cultivo, a exportação, a crise financeira

(que deu origem ao aproveitamento da polpa do cacau para suco e não apenas da amêndoa

para fabricação do chocolate), o processo da clonagem dos cacaueiros para se tornarem

resistentes à praga da vassoura de bruxa e permitem degustação de suco de cacau e chocolate

caseiro. Na Primavera, além de mostrar o passo-a-passo do cultivo do cacau, o proprietário

mantém um museu particular, com documentos e objetos dos seus antepassados, que

desbravaram as terras e plantaram as primeiras mudas de cacau.

Estas atividades oferecidas integram o que Fucks (2002) chama de Turismo Cultural

Rural, e define como “o movimento de volta ao passado que emerge na atualidade,

despertando o interesse pela cultura rural, não deixando de ser uma reconciliação com a

própria história, numa tentativa de resgatar as raízes culturais e a identidade brasileira”

(FUCKS apud CAIRO, 2003:22).

O caso das fazendas escolhidas, que não oferecem alojamento de qualquer espécie,

mas apenas visitas programadas com duração de até quatro horas, foge à exatidão do termo

“turismo”, que segundo a OMT, está vinculado ao pernoite, mas na literatura revista continua-

se a usar a nomenclatura Turismo Rural para esse tipo de atividade.

Para Ruschmann (1991) o produto turístico é um bem abstrato, e não pode ser avaliado

a não ser por descrições e representações. O valor se apresenta nas promessas de satisfação. A

maneira como o produto é apresentado ou a promessa retratada nas ações publicitárias é

fundamental para a decisão de compra por parte do turista (RUSCHMANN apud ALMEIDA

e BLÓS, 2000). É aí que aparecem, têm seu lugar e valor as fotografias do ambiente turístico.

Essas imagens representativas do produto turístico, para cumprir sua finalidade de

“bem vender”, deveriam atender o propósito apontado por Flusser (1985) na sua Filosofia da

Caixa Preta:

“As imagens técnicas (e em primeiro lugar a fotografia) deviam constituir

denominador comum entre conhecimento científico, experiência artística e vivência

política de todos os dias. Toda imagem técnica devia ser, simultaneamente,

conhecimento (verdade), vivência (beleza) e modelo de comportamento (bondade).”

(FLUSSER, 1985:24)

Durante a pesquisa serão coletadas imagens disponibilizadas livremente na internet,

em álbuns online, blogs e fotologs, identificadas como sendo das fazendas Yrerê e Primavera

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e analisadas à luz das Teorias da Imagem e dos Estudos Culturais. Na continuidade do estudo,

serão produzidas, com uma câmera Nikon D40, fotografias das duas fazendas turísticas e de

outras duas fazendas, não preparadas para a atividade de turismo rural. Também serão

recolhidas, catalogadas e digitalizadas fotografias do acervo particular dos proprietários das

fazendas estudadas.

Dentro dos resultados esperados, planeja-se sugerir uma melhor exposição das

imagens, que possibilite resultados mais consistentes no que se refere à visitação das fazendas

pelos turistas.

A análise aqui proposta é, a princípio, essencialmente imagética, embora não deixe de

abordar o lado econômico, ao enxergar o turismo como um sistema aberto, isto é, sujeito às

influências do meio ambiente e ao mesmo tempo afetando o meio ambiente. Esse trabalho se

apresenta como alternativa, pois ao estudar as imagens das fazendas de cacau no sul da Bahia,

poderá ser utilizado como fonte para futuros pesquisadores.

2 OBJETIVO GERAL:

Estudar as imagens do turismo rural na região cacaueira disponibilizadas na internet,

comparando-as com fotografias feitas in loco nas fazendas Primavera e Yrerê, e em duas

outras fazendas não preparadas para receber turistas, com vistas a sugerir uma nova maneira

de dar melhor visibilidade aos empreendimentos, mais afinada com as novas tecnologias da

comunicação.

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

Relacionar a quantidade de visitantes nas duas fazendas, desde que iniciaram suas

atividades no ramo, à quantidade de turistas no município de Ilhéus em igual período.

Identificar o percentual de aumento na renda dos fazendeiros e os novos empregos

gerados pela atividade turística.

Levantar a motivação dos turistas em conhecer as fazendas.

Trazer à tona as diferentes visões e opiniões sobre o turismo rural, do ponto de vista

dos visitantes, com base em suas fotografias disponibilizadas na internet e seus

comentários ao lado delas.

Recolher, catalogar e digitalizar fotografias do acervo particular dos proprietários das

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fazendas estudadas.

Identificar a representação da cultura cacaueira criada no imaginário coletivo extra-

regional a partir das imagens divulgadas via internet.

Fotografar duas fazendas com atividade turísticas e duas fazendas não preparadas para

esta atividade.

Comparar as imagens divulgadas na internet com fotografias documentais do cultivo

do cacau em situação real, obtidas nessa pesquisa no agronegócio cacaueiro.

Ratificar a importância da fotografia como dado social e objeto de pesquisa no

turismo.

Oferecer uma alternativa para dar visibilidade a esse tipo de empreendimento turístico.

Realizar uma exposição fotográfica virtual com as imagens antigas das fazendas e as

produzidas no decorrer da pesquisa.

PROBLEMA

A primeira indagação diz respeito à representação da região cacaueira e do cultivo do cacau

no Brasil. Pretende-se questionar se a representação cultural hoje veiculada pela internet, na

forma de fotografias e filmes, desde o cultivo do cacau à produção do chocolate, objetiva

corroborar o imaginário gerado pela produção cultural de escritores como Jorge Amado e

Adonias Filho durante o século XX, quando a descrição literária era mais acessível do que a

representação imagética.

A segunda diz respeito à relação que essas imagens tem, ou não tem, com a realidade

cotidiana de uma fazenda que sobrevive apenas do agronegócio do cacau.

JUSTIFICATIVA

Estudar o turismo rural como um agregador de valor ao agronegócio do cacau, e a

renda adicional gerada por ele, é uma importante forma de apontar alternativas de renda e

emprego, sobretudo pela possibilidade de aliar o negócio turístico à cultura regional.

As fazendas escolhidas buscam sua divulgação na internet através de agências de

turismo e sites de dicas de viagens e passeios. Além disso, a Yrerê mantém o seu próprio blog

onde disponibiliza muitas fotografias. A divulgação, porém, tem maior força quando é feita

por “testemunhais” nos blogs e fotologs dos turistas que por elas passam trazendo suas

inseparáveis câmeras fotográficas. Esses novos instrumentos de visualidade desempenham o

papel antes reservado aos cartões postais, que propiciavam viagens imaginárias a qualquer

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parte do mundo sem sequer sair de casa.

A internet tornou o homem contemporâneo não mais limitado ao espaço. Ela o

convida a ser espectador de sua própria cultura, da sua própria cidade e de outras, antes até de

visitá-las, ou mesmo que nunca as visite, acessando virtualmente seus simulacros na rede. “A

interatividade da internet desterritorializa” (CANCLINI, 2008:52).

A região cacaueira teve como grande canal de divulgação durante o século XX a obra

literária de Jorge Amado, que construiu no imaginário coletivo a cena da fazenda de cacau,

tendo como pano de fundo as rixas eternas entre os coronéis pela posse das terras e o domínio

político. Esta cena foi reproduzida em imagens dinâmicas em novelas como Gabriela, Terras

do Sem Fim e mesmo no filme Gabriela. Com o advento da fotografia digital e a

popularização dos equipamentos e do acesso à internet, esta imagem literária, antes descritiva,

foi se tornando plenamente visual. Sites de agências de turismo, homepages de pousadas e

hotéis da região, blogs pessoais que contam como foram as férias e sites com dicas de

passeios e viagens se encarregam de tornar os locais que o turista ainda não conhece e

gostaria de conhecer acessíveis a partir de uma simples pesquisa em mecanismos de busca

Este relativamente novo meio midiático produz uma imensa quantidade de

informação, disponibilizada livremente a cada segundo. O marketing turístico produzido na

rede tem como vantagens imediatas o baixo custo, a rapidez de veiculação e o fato de ser não-

invasivo, isto é, visita o site aquele que se interessa por ele, aquele que o procura. Além disso,

pode ser dinâmico e interativo, permitindo comentários e opiniões pessoais, possibilitando ao

internauta um caminho não-linear por entre as informações disponíveis.