PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO...
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
MBA EM JORNALISMO: GESTÃO EDITORIAL
SICILIA VECHI GONÇALVES
O CONSUMO DE CONTEÚDOS JORNALÍSTICOS NA REDE SOCIAL
CURITIBA
2014
SICILIA VECHI GONÇALVES
O CONSUMO DE CONTEÚDOS JORNALÍSTICOS NA REDE SOCIAL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao MBA em Jornalismo: Gestão Editorial, da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito para obtenção do grau especialista. Orientador: Carlos Castilho, MSc.
CURITIBA
2014
RESUMO
Este trabalho identifica como usuários da rede social Facebook em Santa Catarina têm acesso a conteúdos jornalísticos dentro da rede e fora dela. A pesquisa objetivou a descoberta de diferenças relacionadas aos hábitos de consumo da informação, incluindo três faixas etárias de usuários. Outro intuito foi averiguar a ocorrência de padrões de comportamento de leitores do site de notícias Diario.com a partir da rede social, tendo como fonte o relato de jornalistas que trabalham com moderação de redes sociais e produção de conteúdos no jornal Diário Catarinense. Para a obtenção de dados, o estudo envolveu a aplicação de pesquisa quantitativa descritiva por meio de um questionário online sobre consumo de informações de caráter noticioso, que foi publicado em páginas de cinco grupos de interesse no Facebook. A pesquisa teve amostragem não-probabilística intencional. Também foi realizada uma pesquisa qualitativa exploratória por meio de entrevistas em profundidade, na qual foram ouvidos quatro jornalistas do maior jornal de Santa Catarina. Como resultado, a pesquisa revelou que o Facebook é considerado a principal fonte para a obtenção de notícias para a maioria dos entrevistados. Enquanto o maior contingente de usuários acima dos 36 anos sinalizou com a preferência pela TV, os mais jovens declararam optar pela rede social. Tal comportamento justifica o crescimento significativo da audiência do Diario.com, desde que, em 2013, o portal oficializou as funções de moderação de redes sociais, reforçando o processo de convergência da redação e fortalecendo a base do webjornalismo.
Palavras-chave: Webjornalismo. Convergência. Redes sociais. Facebook.
ABSTRACT
This work was designed to identify how users of the Facebook social network in Santa Catarina gain access to jornalistic content inside and outside the network. The research aimed at discovering the differences related to information consumer habits in three age groups of those users. Another intention was to check the occurrence of patterns of behaviour of the readers of the Diario.com news site via this social network, using reports from journalists who work with the moderation of social networks and production of content in the Diário Catarinense newspaper. In order to collect the data the study involved the application of an online questionnaire on the consumption of news information published on the pages of five Facebook interest groups. This descriptive quantitative research used intentional non-probability sampling. Qualitative exploratory research was also carried out through in-depth interviews, where the voices were heard of four journalists from the major newspaper in Santa Catarina. The outcome revealed that for most of the interviewees Facebook is considered to be the main source for obtaining news. While the majority of users above 36 years old marked their preference for TV, the younger ones opted for social networks. Such behaviour justifies the significant growth of the Diario.com audience, since, in 2013, this portal officially announced the moderating functions of social networks, reinforcing the convergence of writing and strengthening the base of web journalism. Key words: Web journalism; Convergence; Social networks; Facebook.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 6
1.1 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA .................................................................. 6
1.2 OBJETIVOS .......................................................................................................... 8
1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................... 8
1.2.2 Objetivos Específicos........................................................................................ 8
1.3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 9
1.4 METODOLOGIA ................................................................................................. 10
1.4.1 Coleta de dados .............................................................................................. 11
1.4.2 População e amostra ...................................................................................... 11
1.4.3 Limitações da pesquisa .................................................................................. 13
1.4.4 Tratamento e análise dos dados ..................................................................... 14
2 CIBERESPAÇO E CONTEÚDO JORNALÍSTICO ............................................... 15
2.1 A RESPOSTA MULTIMÍDIA DOS JORNAIS ...................................................... 17
2.2 O LEITOR NA INTERNET .................................................................................. 20
3 CENÁRIO DE CONVERGÊNCIA ......................................................................... 24
3.1 WEB 2.0 .............................................................................................................. 26
4 REDES SOCIAIS .................................................................................................. 28
4.1 FACEBOOK ........................................................................................................ 30
4.1.1 Primeiros indícios de declínio ......................................................................... 32
5 PESQUISA DE CAMPO ....................................................................................... 34
5.1 PADRÕES NO CONSUMO DE INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA ONLINE ........ 34
5.1.1 Moderação de conteúdos do Facebook pelo Diario.com ................................ 36
5.1.2 Perfil e comportamentos do leitor na rede social ............................................ 38
5.1.3 Transformações decorrentes da interação na rede social .............................. 42
5.2 PESQUISA: PREFERÊNCIAS DE USUÁRIOS DO FACEBOOK NO CONSUMO
DE CONTEÚDOS NOTICIOSOS .............................................................................. 44
5.2.1 Perfil dos usuários .......................................................................................... 44
5.2.2 Acesso aos jornais na web e ao Facebook ..................................................... 45
5.2.3 Fontes de conteúdo jornalístico ...................................................................... 46
5.2.4 As ferramentas da rede social no consumo de assuntos noticiosos ............... 47
5.2.5 Diferenças entre gerações de usuários .......................................................... 50
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 55
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 60
APÊNDICE ................................................................................................................ 63
APÊNDICE A - Conteúdo jornalístico no Facebook – Questionário aplicado aos
usuários da rede social ............................................................................................. 63
APÊNDICE B - Entrevista com Mariana Justina ........................................................ 66
APÊNDICE C – Entrevista Marina Nocetti ................................................................ 68
APÊNDICE D – Entrevista Gisele Krama .................................................................. 71
APÊNDICE E - Entrevista Iana Lua Dias da Cruz ..................................................... 74
ANEXOS ................................................................................................................... 77
ANEXO A – Os desafios do Facebook – reprodução da primeira página da
reportagem publicada pelo Diário Catarinense em fevereiro de 2014 ....................... 77
ANEXO B - Página do Diário Catarinense no Facebook ........................................... 78
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - FAIXA ETÁRIA ........................................................................................................................................... 45
GRÁFICO 2 – ESCOLARIDADE ......................................................................................................................................... 45
GRÁFICO 3 – VEÍCULOS PELOS QUAIS O LEITOR MAIS SE INFORMA ......................................................................................... 47
GRÁFICO 4 - ACESSO A LINKS EM POSTAGENS DE CONTEÚDO JORNALÍSTICO ............................................................................. 49
GRÁFICO 5 – LEITURA DE COMENTÁRIOS EM NOTÍCIAS DE INTERESSE ..................................................................................... 50
GRÁFICO 6 – PREFERÊNCIAS POR IDADE PARA O CONSUMO DE NOTÍCIAS ................................................................................ 53
GRÁFICO 7 - RELEVÂNCIA DO FACEBOOK PARA OBTER CONTEÚDO JORNALÍSTICO ..................................................................... 53
6
1 INTRODUÇÃO
1.1 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA
Este trabalho foi elaborado para obter uma amostra de como usuários da rede
social Facebook consomem conteúdos jornalísticos, ressaltando a relevância da
rede social e incluindo as diferenças de hábitos entre gerações.
O surgimento da internet redefiniu os meios pelos quais o leitor tem acesso à
informação. O universo digital ocupou boa parte do espaço que pertencia ao jornal
impresso e à mídia analógica até o fim do século 20. Hoje os espectadores usufruem
da capacidade de hibridização de formatos e conteúdos na internet e conseguem
concentrar no ciberespaço as reproduções de praticamente todas as plataformas de
emissão de informação conhecidas, notadamente TV, rádio e jornal (LÉVY, 2007).
O surgimento das redes sociais foi um passo além na evolução da internet,
tornando possível ao leitor escolher como quer receber a informação. A necessidade
dos usuários de compartilhar conteúdos e da criação de novas ferramentas
tecnológicas concorda com o termo web 2.0, que define a segunda geração da rede
mundial de computadores (TELLES, 2010). Da nova fase, destaca-se a criação de
páginas pessoais, a interação direta entre os usuários e o protagonismo destes na
produção de conteúdos como forma de expressão.
A informação jornalística encontra espaço em meio a este cenário não
hierarquizado, em que o usuário tem o foco da atenção dividido com diversas
ferramentas online de entretenimento e opinião. Em suma, tal é a liberdade de
escolha e a possibilidade de opções de navegação que quem delimita a relevância
do conteúdo e detém o poder é o próprio usuário.
7
O Facebook destaca-se entre as redes sociais como a que mais têm adesão
no Brasil (WENZEL, 2014). Além disso, avança na oferta de ferramentas e filtros de
mensagens que personalizam a recepção de conteúdos na linha do tempo de cada
usuário e aumentam o poder de escolha sobre que tipo de informação consumir.
Os jornais reconheceram a relevância da rede e seu potencial gerador de
audiência e não apenas criaram páginas no Facebook ofertando conteúdos
jornalísticos, como passaram a produzir conteúdos específicos para quem consome
jornalismo a partir da rede social. Como consequência, veículos de comunicação
experimentaram crescimento relevante de visualizações em seus sites, em virtude
do interesse de usuários pelos links publicados no Facebook, e passaram a utilizar a
ferramenta para atrair novos públicos, se inserindo na rotina virtual dos usuários da
rede social (FERRARI, 2010).
Este estudo pretende revelar preferências e hábitos dos usuários do
Facebook por meio da pesquisa quantitativa descritiva, com amostragem não-
probabilística e intencional, pela seleção de grupos dentro do Facebook que
correspondam aos critérios de variação de faixa etária e interesse por assuntos
relacionados a Santa Catarina, onde a autora da pesquisa atua como jornalista.
Acredita-se que a relação entre a idade do internauta e a forma como ele consome
conteúdos noticiosos pelo grau de familiarização com a internet são
interdependentes e, portanto, fator determinante para esta pesquisa. O formulário
com questões fechadas e de escala de atitudes foi disponibilizado em um link,
publicado nas páginas dos grupos pesquisados.
Para defender os dados obtidos no trabalho e perceber o sentido da
moderação de redes sociais para quem participa do processo na produção de
informações, a pesquisa também conta com uma etapa qualitativa, com
8
depoimentos de profissionais de jornalismo, produtores e mediadores de conteúdo
do portal Diario.com, pertencente ao maior jornal de Santa Catarina em circulação, o
Diário Catarinense, do Grupo RBS. O jornal com 28 anos de existência tem tirag
40 mil exemplares (IVC). No
mês de abril de 2014, o Diario.com alcançou 5,3 milhões de acessos e a página
oficial no Facebook obteve a marca de 500 mil seguidores.
Os relatos das entrevistas em profundidade resultaram na análise que inclui
informações empíricas sobre estrutura para mediação, percepções sobre perfil e
padrões de comportamento usuário do Facebook e colaboração do leitor a partir das
redes sociais. As entrevistas também certificam a importância do Facebook para a
conquista de audiência e o aumento da participação do leitor.
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
Este trabalho tem como principal propósito identificar hábitos de usuários da
rede social Facebook relacionados ao consumo de conteúdos jornalísticos.
1.2.2 Objetivos Específicos
Identificar comunidades de usuários do Facebook que tenham em comum o
interesse por temas ligados a Santa Catarina;
Estudar a relevância do Facebook para o público alvo como ferramenta de
obtenção de conteúdos jornalísticos;
9
Descobrir preferências dos usuários da rede social acerca dos veículos de
comunicação utilizados para a obtenção de conteúdos jornalísticos;
Identificar diferenças e particularidades nos hábitos de consumo de
informação jornalística entre gerações, pesquisando grupos divididos por faixa
etária;
Averiguar tendências do público e padrões de consumo de informação
jornalística a partir do relato de jornalistas que trabalham com mediação de mídias
sociais e produção de conteúdo para jornais nas mídias sociais em Santa Catarina.
1.3 JUSTIFICATIVA
Os jornais descobriram nas redes sociais, especialmente no Facebook, uma
fonte de incremento ao número de visualizações das páginas com os conteúdos
produzidos nos portais de notícia. O comportamento da audiência é observado em
tempo real, de acordo com as interações dos seguidores, e nem sempre posto em
análise. Este trabalho pretende fornecer informações sobre hábitos de consumo de
conteúdos pelo Facebook, inclusive entre diferentes gerações, para confirmar que o
processo de mediação ou moderação de conteúdos não é estanque, mas está em
constante transformação de acordo com o surgimento de novas tecnologias e de
como o usuário da internet conquista habilidades para continuar interagindo.
Em outra perspectiva, pela observação do processo de mediação em um
grande veículo de comunicação no Estado, a pesquisa levanta a reflexão sobre a
emergente necessidade de participação do leitor no jornalismo, inclusive na
produção integral de conteúdos, e sobre a postura do jornalista diante dela.
10
1.4 METODOLOGIA
Para responder aos objetivos desse trabalho e melhor contextualizar o
problema de pesquisa, foi utilizada a pesquisa qualitativa exploratória, por meio de
entrevistas individuais em profundidade. Quatro profissionais de jornalismo que
atuam na produção de conteúdos online e análise de redes sociais foram ouvidos
em Santa Catarina, partindo de um roteiro de questões abertas.
Após as entrevistas, uma pesquisa quantitativa descritiva foi aplicada para
usuários da rede social Facebook, em um questionário estruturado, com questões
fechadas de múltipla escolha e de escalas de atitudes. O formulário online com as
perguntas foi endereçado via rede social a cerca de nove mil usuários do Facebook,
dos quais 48 responderam. O alcance foi medido a partir do link da pesquisa,
publicado em grupos de usuários que têm interesse expresso por conteúdos
relacionados ao Estado de Santa Catarina. Os grupos foram selecionados a partir da
rede de contatos da pesquisadora. A pesquisa quantitativa permitiu neste trabalho a
descrição numérica de tendências e atitudes da amostragem (DUARTE, 2009).
O estudo contou com dados primários externos (ANDRADE, 1993),
levantados pela pesquisadora por meio de questionário, e entrevistas nunca antes
utilizadas. Dados secundários também foram pesquisados, a partir de livros, sites e
informações sobre instituições envolvidas no universo desse trabalho. Estatísticas
do Facebook e informações sobre o Diario.com, site do jornal Diário Catarinense no
qual atuam os profissionais entrevistados, foram dados secundários colhidos.
Orozco (2000), destaca a possibilidade de utilizar os métodos de pesquisa
quantitativa e qualitativa de forma combinada. No caso deste trabalho, a
complementaridade possibilita validar a partir das entrevistas os resultados da
11
amostragem quantitativa, já que não é possível obter uma cota significativa diante do
grande universo que representam os usuários do Facebook.
1.4.1 Coleta de dados
Na etapa da pesquisa qualitativa exploratória, quatro produtores de conteúdo
online e mediadores de redes sociais do site do jornal Diário Catarinense, o
Diario.com, responderam a questões baseadas em um roteiro com perguntas
abertas. Cada um se reuniu individualmente com a pesquisadora, em um encontro
de 30 minutos. As interações foram registradas em áudio e transcritas (ver
apêndice). A captação realizou-se entre os dias 20 e 23 de janeiro de 2014, na sede
do jornal Diário Catarinense, no bairro Saco Grande, em Florianópolis, Santa
Catarina.
Já o questionário online com internautas integrante da pesquisa quantitativa
descritiva foi publicado nas páginas do Facebook mantidas pelos grupos Itajaí de
Antigamente, com 7.427 membros; Camboriú Anos Incríveis, 325 membros; Ex-
integrantes do Coral da Univali, 62 membros; Magistério 98, 24 membros e Festival
de Música de Itajaí, 1.091 membros. O alcance dos grupos selecionados abrange
9.015 contatos da rede social Facebook. A aplicação do questionário foi realizada
em um intervalo de 24 horas, nos dias 12 e 13 de fevereiro de 2014 e obteve 48
respostas.
1.4.2 População e amostra
As entrevistas individuais em profundidade contaram com a participação de
quatro dos sete colaboradores que atuam exclusivamente com a produção de
12
conteúdos online no Diario.com. Foram entrevistadas uma editora, uma repórter,
uma analista de mídias sociais e uma assistente de conteúdo do site do Diário
Catarinense, o maior jornal de Santa Catarina, que possui também a maior estrutura
de acompanhamento e produção de conteúdos jornalísticos para redes sociais em
Santa Catarina.
Sobre a entrevista qualitativa aberta,
essenciais que justificam o seu uso:
a) Os , de modo que . (...) c) Com a entrevista se consegue um emprego mais eficiente do tempo limitado do investigador, habitualmente, por d , 1998, p. 308-309).
Na fase da pesquisa quantitativa, após a coleta dos dados o público,
composto por 48 entrevistados que se dispuseram a responder o questionário, foi
categorizado em três faixas etárias principais, a fim de possibilitar uma análise entre
diferentes gerações. Os cinco grupos do Facebook que receberam o formulário
online tinham interesses diversos, mas, em comum, compartilhamento de
informações sobre Santa Catarina. Eles foram selecionados por integrarem usuários
de diferentes faixas etárias dentro da rede social, e foram encontrados após
levantamento da autora do trabalho, a partir da própria rede de contatos.
Partindo da grande abrangência do público no Facebook e do objetivo de
ressaltar o consumo de conteúdos jornalísticos, a amostragem escolhida foi a não-
probabilística (NOVELLI, 2005), que permite a delimitação do público a partir do
acesso do pesquisador. A amostragem foi também intencional, por selecionar
subgrupos dentro da população, no caso, os grupos de usuários do Facebook, de
13
acordo com a faixa etária, fator determinante, partindo de como
situados
estabelecem entre os usos dos jornais impresso e digital. Obter o equilíbrio na
quantidade de respostas de usuários de diferentes idades permitiu a análise de
diferenças entre gerações no consumo de conteúdos jornalísticos. A amostragem
não-probabilística intencional exige conhecimento prévio dos pesquisados. No caso
deste trabalho, a informação sobre a heterogeneidade relacionada à idade dos
entrevistados foi o fator fundamental para a seleção dos grupos, junto com o
interesse por assuntos ligados a Santa Catarina. As informações sobre a origem e a
temática estavam disponíveis na descrição dos grupos.
1.4.3 Limitações da pesquisa
Uma das preocupações foi que a pesquisa não fosse aplicada a produtores
de conteúdo jornalístico para a internet. Tal participação incluiria na amostragem
respostas de pessoas com conhecimento técnico e hábitos de consumo que podem
não representar a pluralidade composta pelos membros da rede social.
Como grande parte da rede de contatos da autora no Facebook é formada por
jornalistas, estes contatos foram agrupados e, assim, excluídos da amostragem
antes do envio do questionário da pesquisa quantitativa. A segmentação foi adotada
para evitar distorções no resultado e obter a visão do ponto de vista do consumo e
não da produção de informações.
14
1.4.4 Tratamento e análise dos dados
Em fase posterior à coleta de dados da pesquisa quantitativa, as informações
foram categorizadas de acordo com a faixa etária dos pesquisados, divididos em
três grupos para análise.
Já nas entrevistas, os profissionais trouxeram à pesquisa informações de
percepção e padrões sobre o comportamento de leitores do Diario.com no
Facebook. As informações resultam em um breve diagnóstico sobre a produção e
mediação de conteúdos jornalísticos para a rede social e referências identificadas
pelo jornal complementam os resultados da pesquisa.
15
2 CIBERESPAÇO E CONTEÚDO JORNALÍSTICO
Pouco mais de uma década após a virada do século, empresas jornalísticas
estabeleceram plataformas no universo digital e despertam para a nova experiência
de consumo da informação pelo público na internet. A fórmula do portal de notícias
com endereço eletrônico disponível para o leitor procurar o jornal online deixou de
ser interativa o bastante em um cenário virtual que, conforme previu Lévy (1993),
reinventa as relações sociais e de temporalidade, aperfeiçoa a democracia e
desvenda novas formas de linguagem. O autor escreveu sobre o ciberespaço,
terreno fértil para o desenvolvimento da inteligência coletiva, de modo que é quase
impossível ler a descrição e não remeter-se às características do que hoje
conhecemos como redes sociais.
A palavra ciberespaço tem origem americana e foi empregada pela primeira
W G 4 “
universo das redes digitais como lugar de encontros e de aventuras, terreno de
ô ” (LÉVY, 2007, p.105). O autor
reforça que o ciberespaço significa menos a tecnologia e o suporte e mais o modo
como se criam os códigos deste universo, a navegação e as relações sociais
propiciadas pela produção de conhecimento. “ universo
virtual das redes alastrou-se exponencialmente por todo o planeta, fazendo emergir
um universo paralelo ao universo físico nos quais nossos corpos se movem” (2005,
p.3). A autora referencia os princípios de Benedikt (1993), que afirma que tal
realidade é derivada do mundo físico, interconectada por computadores, mas que
“
: ” BENEDIKT, apud
SANTAELLA, 2005, p.3).
16
Ciberespaço é um espaço feito de circuitos informacionais navegáveis. Um mundo virtual da comunicação informática, um universo etéreo que se expande indefinidamente mais além da tela, por menor que esta seja, podendo caber até mesmo na palma de nossa mão (SANTAELLA, 2005, p.8).
Para ressaltar a evolução das relações de interação no mundo digital,
Cardoso (2007) relembra uma crença que parecia o dilema do início da difusão da
informação jornalística pela internet, nos anos de 1990. Aventava-se que, se
tecnologicamente a rede permitiria a todos não apenas consumir, mas produzir
informação e entretenimento, a possibilidade de ir direto às fontes tornaria obsoletos
os mediadores de até então: rádio, jornais e televisão. Entretanto, o caminho
percorrido foi “
nossas sociedades e a maior parte da informação noticiosa que hoje usufruímos
õ ” DO O 2007 .
A atividade jornalística nos meios tradicionais de difusão manteve seu papel
preservado, “
outra, mas constitui-se uma e ” N um
paradigma foi quebrado no contexto do jornalismo online. Cardoso concorda com
Salaverría e Negredo (2009) quando o argumento é que a audiência para quem se
produz conteúdo não é a mesma dos últimos 10 anos. E os dois últimos autores
acrescentam que o conceito unidirecional de informação, no qual o veículo fala e a
audiência apenas escuta, não representa mais a relação existente entre o produtor e
o consumidor dos conteúdos. Os autores destacam que o papel de jornalistas,
fontes e público foi redefinido, sendo que os profissionais da informação não são
mais voz uníssona na produção, desde que a participação dos leitores passou a ser
coordenada e estimulada pelos jornais.
17
Ferrari (2010) adverte que a relação de interatividade com o leitor passa a ser,
nesses moldes, uma negociação constante para que ele corresponda clicando em
k “P
tradicional, o controle da informação está no emissor (jornalista). Na práxis
jornalística digital, deve-se privilegiar o sujeito que decide (emissor-receptor)” (2010,
p.77). Um exemplo de participação em diferentes níveis, citado por Salaverría e
Negredo (2009), é o portal de notícias francês rue89.com, formado por ex-
funcionários do jornal Liberatión. No site, o leitor se transforma em fonte ao incluir
uma informação em determinada reportagem ou fazer uma correção. Ele também
produz conteúdos completos para o veículo e fornece vídeos brutos, produzidos por
dispositivos digitais como câmeras e celulares. “Assim as empresas informativas
assumem um papel de liderança na conversação gerada na comunidade. Têm um
” (2009, p.154).
2.1 A RESPOSTA MULTIMÍDIA DOS JORNAIS
O fenômeno da participação social na produção de conteúdos para a internet
é encarado como uma tendência crescente e irreversível por Shirky (2011), que
atribui a expectativa ao aumento de pessoas conectadas à rede e do uso de
dispositivos móveis, como os computadores de mão e “
em um mundo no qual ser parte de um grupo globalmente interconectado é a
situação normal da maioria dos cidadãos (p.27)” Negredo e Salaverría (2009)
corroboram, afirmando que o público é cada vez mais tecnológico e atuante em
diversas plataformas, o que torna vital para as empresas jornalísticas se apropriarem
da realidade da informação multimídia.
18
Um ponto a favor das empresas jornalísticas na digitalização, conforme os
autores, é que limites territoriais não representam mais uma barreira para os jornais.
Os temas de interesse coletivo abordados pelos veículos e a aproximação
possibilitada pelo idioma ampliam muito, com a ajuda da internet, o raio de emissão
que era antes interrompido pelo alcance das ondas do rádio e da televisão. Isso não
quer dizer que os veículos de comunicação devam perder o vínculo geográfico com
“
‘ ’ ‘ ’
um território e a ” 200 , p.154).
Morais (2010) concorda com a regionalização, e diz que apesar de a web ser
uma mídia de massa, a segmentação é uma tendência muito forte e atrelada ao
sucesso de negócios online. No campo do jornalismo, o autor defende que a
relevância da informação torna-se maior para o público-alvo de uma região e,
consequentemente, para agências e anunciantes (MORAIS, 2010, p. 204).
As afirmações acima levam a crer que as empresas jornalísticas precisam
entender que estão lidando simultaneamente com veículos de informação de curto e
de longo alcance, o que exige estratégias editoriais diferentes para cada um.
A partir de uma pesquisa realizada com jornalistas e profissionais de
marketing e planejamento de mídia na Finlândia, sobre a participação dos leitores na
produção de conteúdo, Villi (2012) destaca, entre as percepções e interpretações
dos entrevistados, que os profissionais e as empresas de mídia se sentem
constantemente pressionados à mobilização rumo a formas mais profundas de
cooperação com o público, mesmo que já mantenham uma notável presença nas
redes sociais. A necessidade da onipresença no meio online justifica-se no discurso
de Lévy (2007, p.105) “ -se
19
”,
reunindo possibilidades de reproduzir em versão digital os conteúdos em todos os
formatos da mídia de massa clássica, como rádio, jornal, televisão, museu, cinema,
telefone e livro. O caráter híbrido, aliado ao hipertexto, à interação multimídia, à
telepresença e a diversos outros dispositivos, tornam a internet o território da
convergência para o leitor, lugar que o mercado da informação também quer habitar
e explorar.
A experiência da produção de conteúdos jornalísticos para a internet tem
avanços. De acordo com Cardoso (2007), as empresas de comunicação social
conseguiram aliar em parte os interesses econômicos e a necessidade dos leitores
de validação de informações organizando-as em portais. Esta lógica de navegação
introduzida permitiu que o usuário não precisasse procurar sozinho, mas realizar
facilmente uma navegação predefinida. Economicamente falando, a forma de
organização também permitiu a delimitação de focos para investimentos em
publicidade, assim como a criação de conteúdos exclusivos pagos pelos usuários
clientes do operador de telecomunicações. Mas os desafios são bem maiores do
que os ganhos. À medida que o meio de comunicação e de pensamento dos grupos
humanos se torna uma importante área de estudo neste século, as empresas
jornalísticas precisam se adaptar como organizações ao trabalho integrado nas
redações. Enquanto não podem deixar de explorar a estrutura dos meios analógicos
e do jornal impresso, precisam lidar com diferentes formas de produção de conteúdo
dentro do mesmo negócio.
Conforme Salaverría e Negredo (2009, p.156) “
”, o que faz as novas redações
necessitarem de adaptação diante das tradicionais e rígidas hierarquias. Em uma
20
rotina integrada, o poder de decisão deve ser cada vez menos centralizado,
independendo de um editor a aprovação sobre a publicação de conteúdos online,
por exemplo. Do contrário, não haverá a agilidade, a instantaneidade que o público
requer.
2.2 O LEITOR NA INTERNET
A ideia de que o promoveria uma revolução em
que o consumo de conteúdos sairia completamente do controle da imprensa é
encarada como coerente para Cardoso (2007), considerando, porém, uma
debilidade. Uma das características básicas da comunicação social nos Estados
democráticos é a credibilidade. E a
ainda é encarado como tal, ou então como verdade. O autor descreve que alguém
ainda tem de assegurar e verificar . Como na internet, na
maioria dos casos, , ele precisa
. Nesse caso, jornalistas e outros mediadores da
imprensa continuam sendo figuras fundamentais para a credibilidade do conteúdo
repassado. Para Heinonen (2011), que fala da co-produção jornalística pelo leitor, a
audiência ainda consome muito os produtos da mídia convencional na internet, em
vez de produzir o próprio conteúdo. O autor analisa que o centro do processo
jornalístico ainda está muito distante, fora do alcance do público.
Na última década, a audiência da mídia estabelecida na internet foi
complementada, às vezes dividida, com outros
. “ taridade,
,
21
sim õ
weblogs ou blogs” (CARDOSO, 2007, p. 198).
Na tentativa de acompanhar as transformações no contexto da recepção da
informação, Santaella (2005) traçou em três perfis históricos as características do
leitor pré e pós-surgimento da internet. O primeiro é o leitor contemplativo, da idade
pré-industrial, da era do livro impresso, da imagem fixa, que surgiu no
Renascimento. O segundo tipo, o leitor imersivo, surgiu em meados do século XIX. É
filho da Revolução Industrial e dos primeiros grandes centros urbanos. Nasceu com
o advento dos jornais, da fotografia, do cinema e da revolução eletrônica, com a
televisão. O terceiro tipo, que emerge dos espaços virtuais com o surgimento das
tecnologias digitais, é o leitor movente. A autora ressalta que, da mesma forma
como as conquistas históricas da humanidade são cumulativas, o aparecimento de
um tipo de leitor não elimina características do anterior.
O , exigindo distintas. “ ” õ - , l bridos – sonoros, visuais e textuais – qu . (SANTAELLA, 2005, p. 10-11)
A autora também descreveu (2004, p. 29) o perfil deste leitor com
características híbridas e conhecimentos múltiplos para navegar na hipermídia como
“ ” Ele carrega a linguagem
do jornal e o tempo efêmero da notícia, tornando- “
22
” Pelo excesso de estímulos e informações que recebe, ele precisa
esquecer É “ ”
Ferrari (2010) concorda que o hipertexto exige conhecimentos e habilidades
específicas do leitor digital, este cidadão que cresceu em meio aos videogames,
consegue distinguir o que lhe é útil na montanha informativa multimídia que polui e
atrapalha a leitura. “ – como um
software de banco de dados relacional – ” (FERRARI,
2010, p.91).
Dentro de uma lógica de “ ”
London (2013) levanta a reflexão de que o valor atribuído não está hoje no conteúdo
produzido, mas em um contexto maior. Ele reforça que as mídias sociais são
ambientes em que rapidamente a informação perde o foco do interesse. O autor leva
em conta que a visitação de um link no Facebook ocorre, em média, até 3,2 horas
“ ”
ciberespaço e tornando- “ ” N w , a retenção
média de atenção do leitor é de três horas, enquanto no YouTube, é de 7,4 horas
(LONDON, 2013, p. 43-44). Pode-se acrescentar que a linearidade proposta pelas
duas primeiras redes torna mais urgente ou relevante a publicação recente. As redes
sociais aparecem em segundo lugar na Europa e nos Estados Unidos, como
responsáveis por 90% do movimento financeiro e do número de acessos da internet.
Antes delas estão os sites de busca. Depois delas seguem entretenimento (incluindo
sites adultos), games e informação (LONDON, 2013, p.144).
Pesquisando o perfil do receptor e algumas variáveis nas narrativas do
jornalismo online, Salaverría e Noci (2003, p. 83-85) estabeleceram quatro tipos de
leitura hipertextual: Scanning ou Rastreo, Exploração, Busca e Divagação.
23
O primeiro perfil, Rastreo, considera o leitor que faz uma leitura rápida da
página, como um escaneamento, prendendo-se aos itens de maior destaque. O
segundo, de Exploração, realiza-se com um leitor que procura informações mais
amplas, não tão específicas, em uma navegação aprofundada. O terceiro perfil, de
Busca, pertence ao leitor que possui um objetivo muito específico e a quem nada
mais interessa, senão o que procura encontrar. Por último, o perfil da Divagação
consiste mais em um movimento, um prazer do leitor em navegar sem objetivos
específicos, do que uma leitura. Deste modo, Salaverría e Negredo (2009) reforçam
a necessidade de as empresas jornalísticas serem multidirecionais, tendo os leitores
como interlocutores e não apenas como remetentes de fotos e comentários perdidos
nas redes sociais. Em um mercado saturado de notícias, outro rumo apontado é
fugir da mera repetição de conteúdos de última hora, investir na presença virtual de
colunistas e na produção de matérias próprias, providas de detalhes e análise.
24
3 CENÁRIO DE CONVERGÊNCIA
O ciberespaço, segundo Lévy (2007), é o universo propício para o
desenvolvimento da inteligência coletiva, lugar de invenção e de novas regulações
sociais. Desse modo, a convergência se constitui do exercício, da ação e do
movimento dentro do ciberespaço. Cardoso (2010) lembra que a conexão entre TV,
internet, SMS e telefone não são apenas produto da convergência tecnológica, mas
“ criada por quem del ” 33 A afirmação é
reforçada por Shirky (2011), ao registrar que a convergência é muito mais do que
uma transformação alicerçada nas novas tecnologias, mas em uma transformação
cultural. Desta revolução resulta o movimento que o autor chamou “
” social para a produção de
conteúdos e trocas no ambiente online. Já Jenkins (2008) expôs que, na cultura da
convergência, velhas e novas mídias colidem e surge a interação de poder entre
produtor e consumidor da mensagem.
O ritmo do imaginante coletivo assemelha-se ao de uma dança bem lenta. L “ â ” -se aos poucos, respondem uns aos outros com infinitas precauções, em que os dançarinos descobrem progressivamente os tempi secretos que os vão pôr no ritmo, destacá-los. Cada um aprende dos outros a entrada em uma sincronia tranquila, tardia e complicada (LÉVY, 2004, p.110).
De acordo com Canavilhas (2012), a convergência envolve a produção de
conteúdos para diferentes plataformas, com linguagens próprias e de forma
integrada, o que contribui com a crença de que só se pode falar em convergência
quando o produto final tem características únicas. O autor defende que a adaptação
da mensagem às características dos dispositivos de recepção diferencia a
convergência da remediação, processo em que os velhos conteúdos são renovados
25
para os novos meios, mas sem o estabelecimento de uma nova linguagem.
Salaverría e Negredo (2009) con “
ú ”
TVs e transportam o produto jornalístico para versões digitais. Para os autores, trata-
se de uma ilusão, uma oferta tripla da mesma informação, e não um processo de
convergência.
Na definição de Mello (2007), “ -se de criar e
experimentar formatos jornalísticos que potencializem as novas tecnologias. E que
sejam capazes de catalisar o saber popular” N os processos
permitem a partilha do conhecimento e estimulam o apetite cognitivo de quem está à
margem da cultura impressa.
No contexto da narrativa digital, Ferrari (2010) afirma a obsolescência da
antiga função do gatekeeper (porteiro), que era selecionar a informação para o leitor
consumir, levando em conta que hoje o poder é dividido entre autor e receptor do
conteúdo. Simultaneamente, emerge a figura do gatewaching, apresentada por
Brambilla (2005) como um observador de conteúdos. A função, hoje também
exercida pelo público, pode ser uma oportunidade para os jornalistas atuarem como
“ ú ” H 20 , mantendo o olhar sobre os temas quentes e
sobre o que conquista as audiências, sem que o público perceba.
A importância do gatewaching se justifica no discurso de Ferrari (2010) em
torno do envolvimento necessário para a convergência, desde o início da produção
do conteúdo, captação da notícia, seleção de informações, publicação e estrutura de
datacenter, que envolve links e ajuda a organizar o presente do internauta. O
processo contribui para implementar ferramentas que aumentem o poder de escolha
do leitor no ambiente digital.
26
3.1 WEB 2.0
O termo web 2.0 foi citado pela primeira vez em 2004 O’ y
consultoria americana O’Reilly Media, para designar a internet compreendida como
uma plataforma para inumeráveis aplicações. Enquanto a web 1.0 foi marcada pelo
surgimento dos portais e sites de busca, como Yahoo e Altavista, O’ y, o
precursor do termo, “ w 2 0
aplicativos que aproveitem os efeitos da rede para se tornarem melhores quanto
” (Vaz apud
Morais, 2010, p.191).
Morais (2010) acrescenta que as aplicações mencionadas passam por
ferramentas como blogs, sites colaborativos, redes sociais, entre outras. No Brasil, o
termo web 2.0 ganhou ênfase em 2006, impulsionado por fenômenos colaborativos
como YouTube, Wikipedia e as redes sociais Orkut e Second Life, projeto que
ofereceu um território virtual no qual usuários interagiam por meio de avatares, como
se possuíssem um corpo virtual para viver em uma sociedade paralela mediada por
computador. Ferrari (2010) acredita que o advento do novo conceito de
interatividade no Brasil tornou-se mais difundido a partir de 2006 e que o conceito
veio a ser divulgado em larga escala a partir de 2010. Por trás de toda a inovação
tecnológica, Morais destaca que a grande revolução da web 2.0 foi dar o poder da
palavra aos usuários. Este poder transformou conceitos e as próprias organizações,
de acordo com Ferrari. No território da hipermídia em que a interatividade é
potencializada, o hipertexto disponibilizado pelos links propiciou ao leitor a
possibilidade de priorizar conteúdos, navegar por caminhos distintos e não-
hierarquizados, à sua preferência. Dentro do contexto, o termo conteúdo diz respeito
27
à comunicação, enquanto informação, termo mais abrangente, é o meio como os
conteúdos circulam pela rede.
Para as empresas de comunicação, a consolidação da web 2.0 foi
responsável pela desconstrução da notícia como era conhecida e pelo fim da pura
reprodução de conteúdos do jornal impresso nos sites para uma geração de
organizações produtoras de informação, diz a autora. Sendo assim, a notícia saiu do
foco como produto final e “ ‘ ’
um produto informativo que também oferece diversão, oportunidade de compra e
” (FERRARI, 2010, p.93).
Tim Berners Lee, o criador da World Wide Web (WWW), avançou até o
conceito de web 3.0, após anos de pesquisas junto ao Massachussets Institute of
Technology (MIT), nos Estados Unidos. A definição dele, segundo Ferrari, é a da
internet como uma rede em que os computadores entendem semântica, onde os
hiperlinks são a conexão principal.
28
4 REDES SOCIAIS
Sistemas que permitem a construção de uma persona através de um perfil ou
página pessoal, a interação por comentários e a exposição pública do perfil definem
as redes sociais, segundo Boyd e Ellison (2007). Para Recuero (2009), as redes
consistem na associação voluntária do usuário, que funcionam tendo como base a
confiança e a reciprocidade. Com esses quesitos e as normas e obrigações a que os
membros são condicionados, as redes sociais seriam um estímulo à cooperação,
fazendo emergir valores sociais. Com as trocas, surgem as comunidades virtuais,
que explicam em parte os agrupamentos no ciberespaço e a mudança na
sociabilidade, muitas vezes desvinculada da localização dos membros desses
grupos. Decorre das redes sociais na atualidade o imperativo de ser visto para ter a
existência percebida no ciberespaço. Para Recuero, a constituição do eu virtual não
somente externaliza o individualismo como expõe o limiar do público e do privado.
A era moderna das redes sociais teve início em 2002, quando foi lançado o
site de encontros Friendster (TELLES, 2010). Do ideal do criador, Jonathan Abrams,
a rede surgiu para ser um site de encontros que não fosse sobre namoro, que era a
proposta do existente Mach.com. Sem adesão massiva, a rede ainda deixou de ser
vendida por Abrams para a gigante Google. Ele rejeitou uma proposta de US$ 30
milhões e o projeto foi superado por outras redes que surgiram depois.
Com o sucesso do Facebook, os veículos de comunicação perceberam, a
partir de 2010, no Brasil, que a rede social era uma aliada no crescimento da
audiência dos sites de notícias e passaram a explorá-la como ferramenta para a
propagação de seus conteúdos (FERRARI, 2010). A iniciativa, segundo Castilho
(2013) mexeu com hábitos de consumo de conteúdos jornalísticos, de modo que os
“ ”
29
Isso se dá principalmente enquanto visualizam ambientes virtuais visitados por
milhares de pessoas, como o Facebook. O pesquisador ressalta que, neste sentido,
“ ”
mútua que liga o poder de disseminação do conteúdo das redes à capacidade dos
jornais de validação de conteúdos relevantes, checagem e contextualização.
Interesses específicos sobre algum tema, produto ou pessoa são o principal alvo dos usuários da internet. O acesso à notícia jornalística passou a ficar condicionado a esses interesses, salvo nos casos de algum acontecimento extremamente importante para a coletividade. (CASTILHO, 2013)
Nas palavras de Recuero (2009), além da vantagem de obter audiência com
custo operacional praticamente nulo, a imprensa tem a oportunidade de captar dos
comentários publicados pelos usuários padrões que ajudarão a influenciar ou definir
o que pode ser futuramente publicado. Ferramentas de interatividade como blogs e
redes sociais permitem a associação. D “
informações que são difundidas na rede a partir da percepção de capital social
const ” 200 7-118).
A autora define como capital social relacional o resultado da interação entre
os atores em uma rede. Já os conteúdos em todos os formatos com apelo
informacional, como vídeos, notícias, áudios e fotos, são considerados capital social
cognitivo. Recuero reconhece que o capital do conhecimento vai além do objetivo de
criar laços sociais. Em um blog ou no Facebook, esse perfil de publicação leva
especificamente à informação. O comparativo traçado pela autora dá conta de que,
enquanto o capital social relacional parece mais valorizado dentro de um mesmo
grupo na rede que possui laços fortes, o capital social cognitivo se espalha entre
diferentes agrupamentos, levando a informação mais longe. Entretanto, enquanto
ele parece perder o valor após a publicação de uma notícia ser exaustivamente
30
repetida, o capital relacional parece mais valorizado quando a informação é
rapidamente repetida entre os mais próximos da rede.
Castilho (2013) sugere, enfim, que a capilaridade e a interatividade das redes
sociais permitem aos jornalistas que atuem como curadores, selecionando entre
“ â
” para gerar conteúdos.
4.1 FACEBOOK
A rede social que atualmente tem o maior número de usuários no Brasil é o
Facebook, com 83 milhões de usuários ativos por mês no país, ante 1,23 bilhão no
mundo. A rede surgiu como experimento em outubro de 2003, desenvolvida pelo
então aluno de Harvard, Mark Zuckenberg (TELLES, 2010). Após invadir o banco de
imagens de nove casas da universidade, ele criou o Facemash, site que permitia
que os alunos comparassem duas fotografias de identidade para escolher a mais
atrativa. Com 450 visitas e 22 mil cliques em fotos em quatro horas online, o site
ganhou visibilidade e Zuckenberg, junto com os sócios Eduardo Saverin, Dustin
Moskovitz e Chris Hughes, criou o Facebook, uma rede social exclusiva para
estudantes da Harvard. Em dois anos, a rede já englobava mais de 25 mil
universidades pelo mundo. A abertura para o público em geral deu-se em 11 de
setembro de 2006, a partir de quando qualquer pessoa que possuísse um e-mail
poderia se inscrever. Desde então, foram muitas inovações, como a possibilidade de
geolocalização, de fazer check in (marcar presença em um ponto do mapa) em
locais desejados, e o uso do dispositivo Live Feed, que permite ver o que os outros
usuários inscritos estão postando em tempo real. Segundo Recuero (2009), a
31
personalização dos perfis com a possibilidade de criação de aplicativos pelos
próprios usuários foi outra iniciativa inovadora.
O site de relacionamentos também avançou expressivamente em criação de
recursos para a compra e venda de produtos e serviços, com anúncios que
possibilitam atingir um nicho de mercado de acordo com os filtros idade, sexo,
localização, interesse por conteúdos e outros. Empresas podem anunciar com alto
poder de alcance e segmentação, utilizando uma ferramenta de leilão exibida no
próprio site (TELLES, 2010).
Em 2010, o Facebook estreou novo layout e promoveu uma integração do
ambiente virtual para o uso em mobile, como smartphones, e tablets. Naquele ano,
segundo Telles (2010), 25% dos usuários ativos, ou 100 milhões de pessoas,
utilizavam a rede em plataformas móveis ao menos uma vez por mês. O
engajamento deste grupo também era maior, com o dobro de visualizações de
páginas e interações. A rede social encerrou 2013 com 945 milhões de usuários
ativos mensais em produtos móveis do Facebook. No Brasil, dos 83 milhões de
perfis ativos por mês, 58 milhões eram adeptos da versão mobile no fim do ano
passado (WENZEL, 2014). Segundo o mesmo levantamento, divulgado pelo
Facebook em fevereiro deste ano, o grupo de usuários que mais cresce no Brasil é o
de jovens de 15 a 24 anos. No último mês de 2012, eram 4,3 milhões de conectados
nesta faixa etária. Um ano depois, eram 9,4 milhões.
Dentro de pesquisa sobre curadoria social em comunidades de audiência, Villi
20 2 F k “ ú ”
essa transformação despontou em um curto intervalo de tempo.
32
4.1.1 Primeiros indícios de declínio
O primeiro sinal de declínio global da rede social surgiu em 2013 quando
pesquisa da consultoria iStrategy (WENZEL, 2014) apontou que a rede social
perdeu 6,7 milhões de usuários de 13 a 24 anos em três anos nos Estados Unidos.
Enquanto índice dos perfis de pessoas mais velhas aumentou 32% no período,
25,3% do público de 13 a 17 anos debandou do site de relacionamentos no país da
América do Norte.
Acompanhando a estatística, a argumentação de London (2013), que aborda
a efemeridade dos conteúdos consumidos atualmente, faz acreditar que o mundo
caminha para uma realidade pós-digital, refletida na montanha-russa dos fenômenos
de mídia de massa como o Facebook, que outrora, a partir de 2011 no Brasil,
desbancou outra rede social, o Orkut, da gigante Google. O site de relacionamentos
também completa 10 anos em 2014, mas com a tímida marca de 6 milhões de
acessos mensais, para quem tinha 32 milhões de usuários cadastrados em 2010.
(WENZEL, 2014). O caminho do Facebook, para London (2013), é semelhante,
deixando de ser o foco e tendo seu papel reduzido na internet.
O autor ainda questiona o sucesso atribuído à internet na função de mídia de
massa como grande inovação, relacionando principalmente o fenômeno das redes
sociais no Brasil. Ele minimiza as mais celebradas iniciativas do século XX,
notadamente as relacionadas com a internet, comparando-as com os feitos que
sucederam a revolução industrial.
33
“ modernizar as cidades e os serviços que nelas são prestados: novas formas de locomoção, novas fontes de energia, limpas e sustentáveis. Quanto à tecnologia da informação, aplicá-la como motor de novas sociedades, dedicadas mais a aplicações coletivas, e não individuais, colaborando para ‘ ’ õ ” (LONDON, 2013, p. 33-34).
London afirma que o atual colapso econômico vivenciado em diversos países
é reflexo de uma estagnação científica e tecnológica no século passado, e que
apenas mudanças econômicas não resolverão o impasse. Ao utilizar o Facebook
como referência de fenômenos de mídia de massa que logo serão esquecidos, o
autor cita os dados de migração dos usuários mais jovens nos Estados Unidos para
outras plataformas, recorre a argumentos de especialistas em tecnologia como o
portal YPulse “ F ssas para que multidões
incluam seus filhos e familiares como amigos, criando uma conversa familiar, e não
” (2013, p.37). A retração de crescimento no número de usuários do
Facebook, de 89% entre 2012 e 2013 para 5% entre 2010 e 2011, é outro indício de
declínio trazido pelo autor. L “
” em que se convertem os conteúdos hospedados na internet, é preciso
refletir sobre oportunidades de negócios e a produção de conteúdos.
34
5 PESQUISA DE CAMPO
5.1 PADRÕES NO CONSUMO DE INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA ONLINE
Facilitar a manutenção de conexões sociais entre o público a partir do
conteúdo e da narrativa digital representa uma operação bem sucedida da indústria
da mídia, que em muito depende das redes sociais pré-existentes para sustentar os
meios de comunicação, segundo Marshall (2009). O autor chama a atenção para a
dimensão comunicativa interpessoal que transforma os elementos de mídia e obriga
as empresas jornalísticas a reconhecerem a necessidade da convergência de mídia
e comunicação.
Para ilustrar os argumentos teóricos deste trabalho e perceber que sentido
tem a moderação de redes sociais para quem participa do processo na produção de
informações, a presente pesquisa utiliza, em sua etapa qualitativa, os depoimentos
de profissionais de jornalismo, produtores e mediadores de conteúdo do portal
Diario.com, pertencente ao maior jornal de Santa Catarina em circulação, o Diário
Catarinense, do Grupo RBS. O jornal tem tirag 40 mil exemplares –
õ
(IVC).
L N (ANJ) baseado na
2012 coloca o i i a a i ense em 26º lugar no ranking dos
maiores jo B paga. O DC
– H
P D G ú (RS) Jornal NH (RS) e Gazeta do Povo
(PR). Com 28 anos de existência, o Diário Catarinense é um jornal ativo no ambiente
online. No mês de abril de 2014, o Diario.com alcançou 5,3 milhões de acessos,
35
ante 3,1 milhões no mesmo período do ano anterior, e a página oficial no Facebook
obteve a marca de 500 mil seguidores. Em abril de 2013, eram 100 mil fãs. Os
seguidores estão espalhados por mais de 40 países.
O jornal possui uma estrutura de redação integrada, em que os profissionais
da edição impressa também produzem conteúdos para o Diario.com. No entanto, o
formato passa por processo de constante adaptação, com o objetivo de aperfeiçoar
a narrativa digital. Atualmente, os conteúdos elaborados para a edição impressa do
Diário Catarinense são publicados também no site, com texto e, quando disponíveis,
fotos e vídeos. Conteúdos específicos para a versão online também são produzidos
em formato próprio, com destaque para os assuntos especiais publicados nos fins
de semana. Diariamente, vídeos próprios ou edição de imagens registradas pelo
leitor e galerias de fotos são produzidos na redação.
O fato de a autora deste trabalho integrar a equipe do jornal, como subeditora
de Geral, fora do núcleo de redes sociais do Diario.com, permitiu proximidade com o
processo e facilitou o desenvolvimento da pesquisa. Ao mesmo tempo, houve
distanciamento para evitar o comprometimento com interesses dos entrevistados e
do grupo.
Foram entrevistadas na sede do Diário Catarinense e do site Diario.com a
editora de capa Gisele Krama, a analista de mídias sociais Iana Lua Dias da Cruz, a
repórter online Mariana Justina e a assistente de conteúdo Marina Noceti. Elas
representam 60% da equipe que trabalha apenas com a editoria online do jornal.
São sete profissionais, que contam com a colaboração de outros 112, na redação.
Os relatos resultaram na análise que inclui informações empíricas sobre
estrutura para mediação, percepções sobre perfil e de padrões de comportamento
usuário do Facebook e colaboração do leitor a partir das redes sociais. As
36
entrevistas também certificam a importância da rede social objeto deste estudo para
a conquista de audiência e o exercício do jornalismo colaborativo.
5.1.1 Moderação de conteúdos do Facebook pelo Diario.com
As ações que envolvem a rotina de atuação junto às redes sociais no
Diario.com convergem para o objetivo de gerar audiência para o site. Entretanto,
para que os resultados sejam sustentados e gerem fidelização do leitor e um fluxo
contínuo de audiência, um processo persistente de monitoramento e contato com os
usuários das redes sociais passaram a fazer parte do dia a dia dos profissionais que
moderam e gerenciam conteúdos.
O Facebook é a rede social que mais tem participação de leitores do jornal e a
que traz o maior retorno em audiência para site. Na mesma proporção, exige o
acompanhamento dos profissionais de jornalismo. “O F k ga mais, porque
é muito rápido. Uma matéria que precisa ficar durante um dia inteiro na capa do site
para alcançar destaque consegue muito mais atenção do leitor em 30 minutos na
” (KRAMA, 2014).
De acordo com Cruz (2014), o trabalho ostensivo de monitoramento de redes
sociais começou ao longo de 2013 no DC. Além do Facebook, foi implementado o
uso sistemático do microblog Twitter, da rede social Instagram e, no início de 2014,
do aplicativo para troca de mensagens WhatsApp. Segundo a entrevistada, quando
ela foi contratada pelo jornal como repórter da editoria online, não havia uma pessoa
responsável pelo Twitter e o Facebook do Diário Catarinense e eles eram
“ ”. A repórter assumiu as mídias sociais em
paralelo à reportagem. “Estamos há quatro meses fazendo um trabalho específico
37
nas redes sociais. Quando os gestores perceberam o tamanho do resultado,
colocaram mais uma colaboradora para cuidar apenas ” (CRUZ, 2014).
O resultado foi que audiência conquistada através das postagens de notícias
no Facebook não parou de crescer desde então. Ela representava 13% dos leitores
do Diario.com no ano passado e, no último trimestre, passou para 25%. A
participação do leitor também aumentou consideravelmente. Passou a ser percebida
pela quantidade de sugestões de pauta e de envio de conteúdo colaborativo, como
artigos, opinião do leitor, fotos, vídeos e pedidos de correção de erros no conteúdo
do jornal.
Justina (2014) destaca como primeira etapa do dia de um analista de redes
sociais a observação de assuntos potenciais para a repercussão e também temas
que merecem continuidade. Este monitoramento gera demanda para a reportagem
do Diario.com, que prepara o conteúdo. A partir daí, analistas de redes sociais
elaboram o texto para as postagens no Facebook, encurtam o endereço eletrônico,
selecionam a imagem mais importante e pensam em ferramentas de interatividade,
tudo para facilitar e atrair a audiência do leitor.
A moderação das redes sociais no Diario.com tem uma rotina estabelecida
para que os profissionais não se percam em meio à grande quantidade de
informações. Começa com a ronda nas redes sociais, em páginas de grandes
jornais do mundo e páginas especializadas em apontar tendências para potencial
audiência, como vídeos, fotos e notícias curiosas. Uma ronda local também é
realizada, várias vezes ao dia, com o monitoramento de uma lista de páginas de
fontes oficiais e da comunidade.
Segundo Cruz, uma particularidade é a importância que as fontes não oficiais
possuem para o jornal nas redes sociais, pela proximidade. Entram na lista, por
38
exemplo, páginas do Facebook de grupos de estudantes, protetores de animais, de
grupos de moradores de cidades catarinenses, de bairros de Florianópolis, entre
“Às vezes percebo que nestas páginas estão sendo tratados assuntos dos
quais não estamos falando no Diario.com (...) ou a repercussão sobre o tema
continua e nós desistimos” U , 2014).
As rondas costumam trazer muitas pautas hiperlocais. Depois do
monitoramento, vem a etapa de resposta aos leitores que estão conversando com o
jornal via comentários e mensagens privadas. Eles procuram desde o endereço de
estabelecimentos comerciais até a resposta para um cumprimento de bom dia do
jornal. A partir daí as redes vão sendo atualizadas. As tarefas da rotina de
moderação têm a ordem invertida de acordo com a demanda do dia.
5.1.2 Perfil e comportamentos do leitor na rede social
O leitor do Diario.com no Facebook é representado em maioria por mulheres.
Em primeiro lugar, de 30 a 40 anos. Em segundo, de 20 a 30 anos. A terceira faixa
etária com mais seguidores da página do jornal na rede social é a de homens de 30
a 40 anos (CRUZ, 2014) O ú F k “ ”
segundo a entrevistada. É possível perceber, através das ferramentas analíticas
disponibilizadas pela rede social, que cada vez menos jovens estão ingressando
entre os seguidores. Apesar da constatação, o grande interesse por conteúdos
jornalísticos dá certa margem de tranquilidade ao jornal, conforme as entrevistadas.
Outra característica relevante é que quem mais faz comentários no Facebook
do Diario.com são os homens. Característica destes usuários, na percepção de Cruz
(2014), é o gosto por polêmicas. Eles também se mostram extrovertidos. “O leitor
39
que comenta no Facebook é muito crítico. Ele consegue criticar até mesmo um belo
pôr do sol, puxando por outros assuntos. Mas nem sempre as críticas são
”
P K 20 4 “ ”
comentários d “ ” “
tem a ver com o porte do jornal. É mais relevante ao leitor apontar e criticar em
público algo que viu no DC ”
Nocetti (2014) “ ”
empresa. Imagina-se que o internauta subestima a própria demanda ou sugestão
“O
verdade, porque também encaminhamos muitas sugestões para a Hora de Santa
Catarina (jornal popular do Grupo RBS que circula na Grande Florianópolis)”.
Krama também percebe que muitos comentários têm cunho conservador,
“ ” “
200, 300 comentários manifestando a mesma opinião, sem que nenhum fuja disto”
O lado religioso é outro ponto que costuma aflorar nos comentários, em orações,
invocações e recomendações de fé para personagens de matérias que vivenciam
situação difícil ou diante de notícias trágicas. K “
como o nosso trabalho atrai leitores com este perfil. Dogmas do jornal e dos
jornalistas ajudam a provocar este tipo de resposta. Devemos apostar em novos
conteúdos para atrair pessoas diferentes”
Os comentários no Facebook quase sempre se apresentam como a
efetivação da proximidade entre leitor e Diario.com. A possibilidade de comentar
uma reportagem também existe no site do Diário Catarinense. No entanto, o grau de
interatividade não é comparável quando o portal possui filtros como a necessidade
40
“N
jurídicas do Grupo RBS, que não permitem ofensas, palavras de baixo calão e
preconceito ou racismo. Uma matéria com muitos comentários tem 10 intervenções
” K M 20 4
A decisão de não eliminar comentários de leitores do Facebook na página do
DC não é um consenso entre as entrevistadas. Duas delas declararam nunca
remover estas publicações, enquanto duas informaram que, se virem algum
comentário que descumpra todas as regras jurídicas do Grupo RBS, ocultam a
publicação, que fica invisível para os demais usuários. Em ambos os
posicionamentos, as entrevistadas declararam que fazem isto intuitivamente e que
ninguém interfere em seu poder de decisão. Dúvidas são resolvidas entre a equipe
através do compartilhamento e do diálogo. Vale ressaltar que o Facebook também
tem regras e oculta alguns comentários automaticamente, por identificação de
palavras.
As entrevistadas relataram durante a coleta de dados o que consideram ser
comentários relevantes e irrelevantes. Na primeira categoria, selecionaram críticas
com argumentação, pedido de correção de erros, questionamentos sobre
reportagens e sugestão de fontes. Há casos em que a própria fonte se apresenta
comentando, como familiares de pessoas envolvidas em acidentes, que podem dar
mais informações nos próprios comentários ou ser entrevistadas pelos repórteres
para atualização do conteúdo. Os comentários irrelevantes são os que fogem a
“ ” “ ”
“ ”, exemplifica Noceti. Mas mesmo estas interações são
observadas, porque ajudam o Diario.com a analisar que tipo de público está atraindo
41
para sua página no Facebook e possibilitam reflexão sobre mudanças. Eles, então,
não são comentários totalmente esvaziados de relevância.
Analisando além de uma relação bilateral entre o jornal e o usuário do
Facebook, é possível perceber cotidianamente como estes leitores interagem entre
si, conectando- “À
parte do próprio espaço de uma rede social. As pessoas têm ideias contrárias e, fica
muito fáci ” NO I, 2014). Nessa relação, também é identificado um
fenômeno típico do noticiário disponível na linha do tempo da rede social, segundo
Krama. São os internautas que promovem um debate baseado apenas na postagem
do Facebook, sem acessar o link onde está a reportagem completa. São os
chamados leitores de títulos.
Eles nos obrigaram a reduzir o tamanho das nossas postagens, porque não estavam acessando as matérias para se informar. Estavam lendo aquilo ali e já começavam a comentar. E, às vezes, a gente acabava recebendo insultos, com as p “ ” quando ela estava disposta no link. Isto nos obrigou até a colocar õ “ ” bem claro que ali vai haver a continuidade daquela informação. Reduzimos a quantidade de linhas nas postagens para cerca de duas, três. Isso apenas dá um start sobre o assunto, porque às vezes uma matéria muito curtida e compartilhada na rede social não tinha acesso nenhum no site. (KRAMA, 2014)
Um fator que limita uma análise quantitativa e aprofundada sobre o conteúdo
dos comentários do Facebook no Diario.com é a propagação de insultos que não
são direcionados especificamente a nenhum dos interlocutores no processo
comunicativo, difamação. Também conhecidos como Troll, em jargão da internet,
estes comentários ofensivos fogem a discussão, normalmente escritos por anônimos
ou usuários com perfil falso. Conforme Castilho (2011), embora a moderação
personalizada seja a mais eficiente, com a aplicação dos filtros adequados, em
“ ”
42
Fato é que, em decorrência do Troll, o portal do Diário Catarinense explora
parcialmente as potencialidades dos comentários na rede social, de acordo com
prioridades do veículo de comunicação.
5.1.3 Transformações decorrentes da interação na rede social
A rede social Facebook oferece ao Diario.com a possibilidade de um link de
“ ” K capa do
portal, após um dia de destaque, o assunto sai de cena e o link desaparece. Mas
com os compartilhamentos na rede social, o link permanece ativo enquanto estiver
sendo enviado. “O seguidor da página pode não ter visto o dia todo, mas quando ele
acessar sua timeline, à noite, as publicações mais ”
explica a entrevistada. Como consequência, o conteúdo do jornal quebra a barreira
territorial e a da factualidade. Entra em cena a curiosidade do internauta.
Outra transformação é a espontaneidade da colaboração do leitor e a posição
dele no ciclo informativo como interlocutor, não apenas como receptor, no processo
de produção de conteúdo jornalístico. O Diario.com ainda não conta com um fluxo
contínuo de colaborações, mas algumas coberturas pontuais demonstram a força
“Na última cobertura de enchentes, planejamos a cobertura
direcionada para o Vale do Itajaí, mas encheu também a Grande Florianópolis. Era
um sábado e eu não estava preparada. Então os leitores começaram a mandar
informações e fotos, criando uma nova cobertura para ” K M 20 4 .
A quebra de tabus também passou a ser observada após o início do
monitoramento de redes sociais no jornal. Um exemplo foi a publicação no site sobre
o suicídio de um estudante da Universidade Federal de Santa Catarina, no início de
43
2014. Com a suspeita de que ele sofria preconceito dentro do ambiente de estudos
por causa da homossexualidade, alunos não paravam de comentar o assunto
cobrando posição das autoridades no Facebook. Segundo Cruz, o jornal fez nota
com esclarecimentos sobre o caso. A entrevistada acrescenta que foi necessário
implementar muitas adaptações no que diz respeito ao padrão de publicações para o
Facebook do Diario.com, depois do retorno negativo dos leitores via rede social, que
“ ” .
Teve uma época em que eles falavam muito mal da gente. (...) um certo tipo de notícia que publicávamos estava trazendo resultados para o site, mas estava fazendo muito mal para o Facebook do Diario.com.Em uma notícia sobre uma celebridade, por exemplo, apareciam vários comentários criticando o jornal. Quando esta notícia está na capa do site, misturada com várias outras, não há problema, porque ela não se destaca no contexto. Agora, quando ela está sozinha, lá na página do jornal no Facebook, gritando para o leitor, é a imagem que a gente passa, que só damos bola para celebridades (CRUZ, 2014).
A resposta do jornal para estas transformações, segundo as entrevistadas,
compreende o monitoramento em tempo real da audiência na rede social e no site, a
preocupação em produzir para o impresso conteúdos que registrem fenômeno de
participação online e o hábito de consultar novas e diferentes fontes, não apenas as
oficiais. O que ainda deve ser melhorado, na avaliação das profissionais, é o
aproveitamento de pautas, o olhar para o potencial de colaboração que reside nos
comentários mais engajados e a melhora da narrativa online. “Descobrir novas
formas de narrativa é o nosso caminho. Temos de ter cuidado para não
superestimar tudo. Não podemos perder o conteúdo em detrimento do formato. Está
tudo mudando tão rápido que não temos mais tempo de dominar uma tecnologia
após a outra. â ” U N 20 4
44
5.2 PESQUISA: PREFERÊNCIAS DE USUÁRIOS DO FACEBOOK NO
CONSUMO DE CONTEÚDOS NOTICIOSOS
5.2.1 Perfil dos usuários
Em uma amostragem composta por 48 usuários da rede social Facebook que
responderam à pesquisa quantitativa descritiva, foi possível angariar a participação
em seis faixas etárias, inicialmente. De: 15 a 20 anos, 21 a 25 anos, 26 a 35 anos,
36 a 45 anos e 46 anos ou mais. A predominância de respostas alcançadas se deu
na faixa de idade intermediária, com 46% da participação entre 26 e 35 anos. A faixa
de público com mais idade, 46 anos ou mais, representa 17%, seguida pelos mais
jovens entrevistados, de 15 a 20 anos, que correspondem a 12%.
Quanto ao gênero, 60% dos participantes são mulheres e 40%, homens. A
maioria, 54%, frequenta ou concluiu Ensino Superior, seguida por 29% com nível de
pós-graduação, 15% que frequentam ou concluíram o Ensino Médio e apenas 2%
com Ensino Fundamental.
45
GRÁFICO 1 - FAIXA ETÁRIA
GRÁFICO 2 – ESCOLARIDADE
5.2.2 Acesso aos jornais na web e ao Facebook
Dos entrevistados, 35% têm o hábito de acessar sites de jornais na internet
mais de uma vez por dia. Pelo menos 19% procuram esses sites uma vez por dia e
outros 19% representam os que raramente acessam. Uma vez por semana ou a
12%
6%
46%
19%
17%
15 a 20
21 a 25
26 a 35
36 a 45
46 ou mais
2%
15%
54%
29%
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Pós-graduação
46
cada dois dias foi a resposta escolhida por 26% dos entrevistados, ao passo que 2%
dizem nunca acessar jornais na internet.
Na comparação, pode-se perceber o poder de retenção da audiência da rede
social Facebook em relação aos meios de comunicação online tradicionais. Ao todo,
71% dos consultados revelaram que acessam a rede três vezes ou mais, todos os
dias. Duas vezes por dia foi a resposta de 21%, ante 8% que informaram acessar o
Facebook uma vez por dia. Ninguém dentre os usuários apontou menos do que a
frequência diária na rede social.
O público se mostrou dividido quando questionado se segue páginas de
jornais dentro do Facebook. No entanto, o sim foi a resposta mais assinalada, por 28
pessoas consultadas. O não foi selecionado por 20.
5.2.3 Fontes de conteúdo jornalístico
A rede social Facebook é o veículo mais citado como fonte de obtenção de
conteúdos noticiosos, entre oito opções fornecidas aos consultados. Impelidos a
escolher duas alternativas que mais representassem a realidade, os entrevistados
citaram em primeiro lugar a rede, com 23% das respostas, em segundo lugar, a TV e
os sites em geral, ambos com 20% do total de escolhas cada. A seguir, os sites
jornalísticos, com 13% da predileção dos usuários. O jornal impresso foi lembrado
em 8% das escolhas, e o rádio, em 7%.
47
GRÁFICO 3 – VEÍCULOS PELOS QUAIS O LEITOR MAIS SE INFORMA
Isoladamente, a rede social também é a mais apontada como veículo de
assuntos noticiosos. Ao perguntar se o Facebook pode ser considerado o meio que
permite acesso ao maior volume de conteúdos jornalísticos, 58% dos entrevistados
responderam afirmativamente. Enquanto 28 concordam, 20 discordam.
5.2.4 As ferramentas da rede social no consumo de assuntos noticiosos
Ferramenta que define a estrutura da narrativa digital, conforme já
conceituaram Recuero, 2009, Ferrari, 2010 e Santaella, 2005, o link disponibiliza não
apenas conteúdos, mas rumos para uma navegação não-linear e contínua pelo
ciberespaço. Mas, para o leitor que navega dentro das redes sociais, ele pode não
ser imprescindível. A pesquisa questionou os usuários se eles costumam clicar em
links nas postagens de jornais no Facebook para ler as notícias completas. O
resultado foi a opção sim para 50% dos entrevistados. Um grupo de 38% respondeu
20%
7%
8%
13% 20%
5%
23%
4%
TV
Rádio
Jornal impresso
Sites jornalísticos
Sites em geral
Blogs
Outros
48
às vezes, enquanto 8% declararam que raramente acessam os links e 4%
assinalaram nunca. Mesmo se tratando de assuntos do interesse do leitor, o
resultado permite duas ponderações teóricas. Primeiro, a relação feita por Santaella
(2005) de que o perfil do leitor imersivo, aquele completamente adaptado à leitura
digital, requer habilidades específicas e conhecimentos adquiridos pela vivência na
navegação pela internet, argumento reforçado por Ferrari (2010). Nas redes sociais,
que conquistam cada vez mais usuários adultos em seu primeiro contato com a
internet (LONDON, 2013), estas habilidades ainda estão em desenvolvimento. A
segunda ponderação parte da natureza do Facebook, como rede que privilegia o
laço social em detrimento do cognitivo, no caso, a notícia, (RECUERO, 2009) e onde
o usuário se sente à vontade para praticar o que Salaverría e Noci (2003)
categorizam como leitura da divagação, mais ligada ao prazer de navegar do que a
algum objetivo específico.
Mas a divagação não isola o usuário da interação. Quando perguntados se
utilizam a “ ” F k demonstra interesse ou aprovação,
em publicações de cunho jornalístico, 60% dos pesquisados assinalaram sim.
Ninguém respondeu não, mas 33% afirmaram que às vezes curtem e 6%, que
raramente usam o curtir para conteúdos jornalísticos, apareçam eles na linha do
tempo do Facebook, publicados por jornais ou compartilhados por amigos.
49
GRÁFICO 4 - ACESSO A LINKS EM POSTAGENS DE CONTEÚDO JORNALÍSTICO
Quando se trata de compartilhar postagens de cunho noticioso na rede feitas
por jornais no Facebook, 15% dos entrevistados responderam não e 13%
informaram que às vezes compartilham. Dos que mais usam a ferramenta
“ ” 27% 4 %
A vocação do Facebook como estímulo para o laço social pode ser observada
na importância dada pelos usuários à opinião dos demais. Na pesquisa, 69%
admitiram ler os comentários feitos por outras pessoas em notícias do seu interesse
postadas na rede social. Entre os demais, 19% apontaram que leem às vezes, 6%,
raramente, e 6% assinalaram que não leem os comentários.
Os entrevistados também demonstraram pró-atividade quando a pergunta foi
se eles fazem comentários na rede social em notícias do seu interesse ali
publicadas. Ao todo, 35% selecionaram a opção sim, enquanto 23% responderam
que às vezes comentam. Dos que se declararam menos predispostos a este tipo de
interação, 29% responderam raramente e 13%, não.
50%
38%
8% 4%
Sim
Às vezes
Raramente
Não
50
GRÁFICO 5 – LEITURA DE COMENTÁRIOS EM NOTÍCIAS DE INTERESSE
5.2.5 Diferenças entre gerações de usuários
Cardoso (2007) confirmou com base na pesquisa As diferentes idades da
mídia que o consumo de informações jornalísticas é diferente de acordo com o
momento histórico em que cada geração se desenvolveu. Ao tratar do nível de
valorização de interesse do leitor, o autor diz, por exemplo, que é possível dividir as
gerações em dois grupos, “as que conhecem computadores pessoais na infância e
consideram a internet no segundo lugar como a tecnologia mais interessante e as
que, não tendo lidado com tecnologias pessoais informatizadas, aponta a leitura de
” 327).
Desde a realização da primeira pesquisa de Cardoso sobre o tema, em 2003,
o consumo de artigos tecnológicos vivencia uma verdadeira explosão, observada
nas vendas de computadores móveis e smartphones. Nos últimos 10 anos, foram
vendidos no Brasil aproximadamente 80 milhões de computadores e 200 milhões de
69%
19%
6%
6%
Sim
Às vezes
Raramente
Não
51
celulares. Em 2013, havia 250 milhões de celulares em uso no país (LONDON,
2013, p.129), o que representa mais de um aparelho por habitante. Refletida em tal
avanço, encontra-se a necessidade de abordar o consumo de mídia como foco de
pesquisa, enquanto a fórmula da comunicação analógica perde adeptos e a
informação digital passa a conquistar mais jovens e mais velhos.
A presente pesquisa sobre o consumo de informações jornalísticas pelo
Facebook revelou que a rede social é considerada o veículo que proporciona o
acesso à maior parte das informações jornalísticas, conforme apontaram 58% dos
entrevistados. Mas ao dividir o público em três faixas etárias, é possível perceber
como a distância entre gerações proporciona diferenças no uso da internet, da rede
social e no consumo de informação jornalística. A divisão compreende as faixas de
15 a 25 anos, de 26 a 35 anos e de 36 anos ou mais. A delimitação dos três grupos,
abrangendo todos os entrevistados, foi feita após a análise dos dados e a
observação das faixas em que as escolhas foram as mais diferenciadas entre um
grupo e outro.
Ao apontarem em uma escala os veículos que consideram os principais para
acessarem conteúdos jornalísticos, os usuários de 26 a 35 anos elevaram para 73%
a relevância do Facebook. No grupo de 15 a 25 anos, a relevância da rede caiu para
45%, ao lado da TV, também com 45% da preferência, porém abaixo dos sites em
geral, que foram apontados como primeira opção para 90% dos mais jovens. No
grupo de 36 anos ou mais, 65% elevam a televisão ao posto de principal fonte de
conteúdos noticiosos. Esta tendência já foi observada por Cardoso (2007, p.327-
328), na pesquisa As diferentes idades da mídia, relacionando a transição entre
faixas etárias no consumo de informação.
52
“ gerações, deve-se notar também que as gerações que conviveram com a internet na sua infância e adolescência têm valorizações muito mais baixas do interesse conferido à televisão do que aquelas que apenas conviveram com a informatização em fases mais avançada ” Cardoso, 2007, p.328).
A pergunta isolada, sem citar outros meios de comunicação, sobre o
Facebook como principal canal de notícias, revela que os grupos de 15 a 25 anos e
de 36 anos ou mais são coesos entre si: 47% dos mais velhos aprovam, ante 45%
dos mais jovens. A faixa intermediária mantém a posição em 73%.
É na faixa de 26 a 35 anos que está o menor número de leitores do jornal
impresso da amostragem, 13,5%. O jornal foi lembrado por 22% dos jovens de 15 a
25 anos e por 23,5% dos mais velhos, de 36 anos ou mais.
Outro aspecto relevante apontado pela pesquisa foi que os sites de veículos
jornalísticos dividem a atenção e até perdem-na para sites em geral, mesmo na
busca por informações de cunho noticioso. É preciso ponderar que a opção sites em
geral é um termo mais abrangente, que abarca qualquer site da internet, podendo
incluir portais de jornais. Os entrevistados mais velhos foram os únicos que citaram
mais vezes na pesquisa os sites jornalísticos (35,5%) do que os sites em geral
(23,5%) para a obtenção de notícias. Já entre os mais jovens, 33% citaram sites
jornalísticos, mas 90% abriram o leque e apontaram para sites em geral como
primeira opção. Na faixa de idade intermediária, os sites em geral também ganham
mais espaço (59%) que os jornalísticos (22,5%).
53
GRÁFICO 6 – PREFERÊNCIAS POR IDADE PARA O CONSUMO DE NOTÍCIAS
GRÁFICO 7 - RELEVÂNCIA DO FACEBOOK PARA OBTER CONTEÚDO JORNALÍSTICO
Quanto à frequência de acessos ao Facebook, se em geral 71% dos
entrevistados acessa de duas a três vezes por dia ou mais, entre os mais jovens
22% entram apenas uma vez por dia. Nas outras duas faixas etárias selecionadas, o
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
15 a 25 anos 26 a 35 anos 36 anos ou mais
TV
Sites em geral
Sites jornalísticos
Jornais
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
15 a 25 anos 26 a 35 anos 36 anos ou mais
Citado isoladamente
Citado entre outros veículos
54
acesso diário é de três vezes ou mais. A observação de que usuários com menos
idade se dividem entre diversas redes, aplicativos e mídias sociais em busca da
informação já foi feita por London (2013). Ele acrescenta que as novas gerações
estão abandonando o Facebook nos Estados Unidos. O autor cita argumentos
difundidos pela mídia na América do Norte, que reforçam que o Facebook está se
transformando em uma rede de contatos cada vez mais vinculados às famílias e aos
mais velhos, o que afastaria os adolescentes, mais interessados em formar grupos
de identificação, fugir do monitoramento adulto e buscar novas fontes de informação.
55
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho resultou na identificação de hábitos de consumo de informações
jornalísticas por usuários da rede social Facebook em Santa Catarina, com a
consulta aos próprios internautas. A pesquisa teve os rumos traçados por dados que
a autora considera certificadores, provenientes do depoimento de jornalistas
atuantes em moderação de redes sociais no jornal com a maior estrutura online no
Estado, o Diário Catarinense.
Desde que implantou as funções de moderação de redes sociais, em 2013,
com duas profissionais de jornalismo atuando exclusivamente na área, o jornal
conquistou um acréscimo de 25% no número de visitantes do site Diario.com em
apenas quatro meses, e a curva ainda é crescente. A participação dos leitores que
se manifestam em comentários na página oficial do jornal no Facebook e o aumento
no volume de conteúdos colaborativos produzidos pelos internautas também são
ativos conquistados nesse processo.
Após as entrevistas e a identificação de grupos de usuários do Facebook com
interesse expresso em conteúdos sobre Santa Catarina, foi possível esclarecer a
relevância da rede social para o público alvo como ferramenta para obter
informações, e não apenas para alimentar laços relacionais.
Os entrevistados em geral dizem acessar a rede social diariamente. Ao todo,
58% dos pesquisados foram afirmativos sobre o uso do Facebook como principal
ferramenta para obter notícias de qualquer formato. Ao mesmo tempo, 69%
admitiram que dão atenção aos comentários feitos por outros leitores em
reportagens do seu interesse. Outra informação relevante é que 58% dos usuários
também comentam nas postagens de notícias que lhes interessam. Os dados
ajudam a consolidar a ideia de que o capital social do conhecimento proporcionado
56
pelo jornalismo não é isolado do capital relacional e das trocas sociais, característica
essencial das redes como o Facebook. Juntos, estimulando a participação do leitor
como interlocutor, e não apenas como receptor, o capital social cognitivo e o
relacional representam uma transformação irreversível no processo comunicativo,
onde o poder de informar da mídia e do leitor é compartilhado.
Assim corroboram os profissionais do site Diario.com entrevistados, que
destacaram propriedades do Facebook complementares ao portal de internet
convencional e que favorecem a interação. Entre elas, estão a linha do tempo
personalizada, em que o usuário pode controlar o que quer ver; a rapidez na
disseminação em massa dos conteúdos; a longevidade concedida ao link, que
quanto mais é compartilhado, mais tempo permanece como postagem relevante nas
páginas pessoais; a quebra da barreira geográfica, mesmo que as postagens sejam
locais; e a dispensa da factualidade, porque os usuários da rede social também são
movidos pela curiosidade.
Na pesquisa com os internautas, foi possível ainda descobrir as preferências
sobre os meios que eles utilizam para adquirir conteúdos dentro e fora da internet,
elencando a importância de cada um. Os dados obtidos também foram desdobrados
e analisados de acordo com a diferença entre gerações: as que acompanharam o
surgimento da internet já na vida adulta, as que cresceram com o acesso à web e as
mais jovens, que não vivenciaram período anterior ao dos telefones móveis e da
rede mundial de computadores.
Ficou confirmado que cada uma das três faixas etárias apresenta
particularidades no uso da internet e na forma de consumir conteúdos jornalísticos.
Dentro do Facebook, os usuários mais jovens apontaram sites em geral como
primeira opção para a obtenção de notícias, colocando em segundo a rede social e a
57
TV. O Facebook foi eleito na preferência dos usuários da faixa de idade
intermediária, com os sites em geral colocados como segunda opção. A rede social
foi a segunda alternativa para os mais velhos, que priorizaram a televisão. O jornal
impresso apareceu para todas as gerações como uma das últimas alternativas
escolhidas, com 8% da preferência, em média. Estas diferenças refletem a
constante transformação exigida do jornalismo online, diante de mudanças que
nunca findam, no tocante à evolução tecnológica e em como cada indivíduo interage
com ela.
Até o presente momento, a chamada web 2.0 une em relação mútua de
dependência as redes sociais e a imprensa como parceiras. As redes, pelo poder de
disseminação. A imprensa, pela capacidade de validação de conteúdos por
relevância e de certificação pela credibilidade. Mas no mar de comentários que
emerge das postagens de cunho jornalístico no Facebook, flutuam incertezas.
Banhadas pela informalidade, a crítica, a divagação e até mesmo a agressividade,
essas intervenções dos usuários merecem uma exploração aprofundada pelas
empresas jornalísticas, que ainda aprendem a se aproximar da vida do leitor, mas
não sabem como ou por que estão atraindo as manifestações acima determinadas
para suas páginas na rede social.
Dos autores e profissionais de jornalismo consultados para este estudo, pode-
se resumir que a evolução no jornalismo online parte de redações que precisam ser
integradas, sem relegar a um segundo plano o mundo digital em detrimento do jornal
impresso. No Diario.com, a equipe online pretende tornar-se efetiva no
aproveitamento de pautas do leitor, na utilização de mais conteúdos colaborativos -
não apenas fotos e vídeos -, na melhoria da narrativa online com o uso de todos os
recursos digitais que permitem autonomia ao leitor, e, por fim, no equilíbrio entre
58
formato e conteúdo online, observando melhor o que não pode ser superestimado e
que a audiência não é o único norteador do jornalismo.
O foco desta pesquisa se voltou aos usuários do Facebook, mas as
entrevistas com os profissionais de uma grande redação evidenciaram quão
importante é o papel dos produtores de conteúdos e mediadores de redes sociais na
função de despertar o interesse dos internautas pelo jornalismo e de exercê-lo com
a maior diversidade possível de fontes e com as versões mais completas para os
conteúdos. Este trabalho pode ajudar jornalistas a encontrar caminhos para
exercerem melhor suas funções, estejam eles em migração para o conteúdo de
internet, ou estejam estabelecidos nela. De fato, a atuação jornalística deve ter um
caráter renovado, que privilegie a observação dos temas e das manifestações da
sociedade emergentes na internet, em vez de fazer uma simples seleção de
assuntos que o profissional acha que devem ser publicados.
Além dos estudos acadêmicos sobre redes sociais que começam a despontar,
se faz necessário que as redações analisem o que chega por estas vias do
ciberespaço não apenas intuitivamente, como fazem diariamente, a partir dos
índices de audiência, mas partindo de metodologias que auxiliem na categorização
de padrões e na observação de tendências, pelo menos de médio prazo.
Conforme descreve e propõe esta pesquisa, é possível acreditar que, no
futuro, a análise mais aprofundada do perfil do usuário do Facebook pelos jornais
poderá, provavelmente, resultar na elaboração de processos aprimorados de
produção de conteúdo e, consequentemente, na melhoria do produto jornalístico
online. Por outro lado, observando a saturação informativa na rede e a
superficialidade na relação entre os interlocutores, virar as costas para o fenômeno
das redes sociais apenas visando a audiência representaria subutilizar um grande
59
potencial de aprimoramento. Ainda que uma rede social decline para o surgimento
de outra, os resultados da pesquisa levam a crer que o poder sobre a informação foi
conquistado por todos os interlocutores e continuará sendo redistribuído a partir da
interação no universo digital.
60
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63
APÊNDICE
APÊNDICE A - Conteúdo jornalístico no Facebook – Questionário aplicado aos
usuários da rede social
Idade
15 a 20
21 a 25
26 a 35
36 a 45
46 ou mais
Sexo
Masculino
Feminino
Escolaridade
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino superior
Pós-graduação
Você tem o hábito de acessar sites de jornais na internet?
Mais de uma vez por dia
Uma vez por dia
A cada dois dias
Uma vez por semana
Raramente
Nunca
Com que frequência você acessa o Facebook?
Três vezes por dia ou mais
Duas vezes por dia
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Uma vez por dia
A cada dois dias
Uma vez por semana
Raramente
Atualmente, qual a sua principal fonte de conteúdos jornalísticos (notícias,
artigos, reportagens, fotos ou vídeos de acontecimentos)? Assinale duas
opções.
TV
Rádio
Jornal impresso
Sites jornalísticos
Sites em geral
Blogs
Outros
Você usa a ferramenta "curtir" em postagens feitas por jornais no Facebook?
Sim
Às vezes
Raramente
Não
Você usa a ferramenta "compartilhar" em postagens feitas por jornais no
Facebook?
Sim
Às vezes
Raramente
Não
Você segue páginas de jornais no Facebook?
Sim
Não
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Você usa o "curtir" em conteúdos de jornais que seus amigos da rede social
compartilham?
Sim
Às vezes
Raramente
Não
Você costuma acessar os links que aparecem junto com as postagens de
jornais no seu Facebook para ver as notícias inteiras?
Sim
Às vezes
Raramente
Não
Você lê os comentários de outras pessoas em notícias do seu interesse no
Facebook?
Sim
Às vezes
Raramente
Não
Você faz comentários em postagens sobre notícias do seu interesse no
Facebook?
Sim
Às vezes
Raramente
Não
Você considera o Facebook, atualmente, o veículo que lhe oferece o maior
volume de conteúdos jornalísticos?
Sim
Não
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APÊNDICE B - Entrevista com Mariana Justina
Entrevista com a jornalista Mariana Justina, repórter do Diario.com, realizada no dia 21 de janeiro de 2014
Qual o perfil do leitor do DC online? O que percebo é que temos leitores cativos de nossos conteúdos, que sempre
acompanham. Sempre curtindo alguma coisa ou comentando sempre. Alguns nomes são muito comuns.
Como é a rotina do DC online na moderação de redes sociais? Como e
quando surgiu esta necessidade?
Trabalho na reportagem do Diario.com. Pela manhã, vejo os assuntos que vão repercutir ao longo do dia e os que precisam de continuidade. Antes de ser repórter, era responsável pelo site da editoria de Variedades e o monitoramento das redes sociais.
De que forma o leitor da versão online do DC pode contribuir com o jornal, na sua visão como jornalista? Quais as expectativas do moderador hoje e para o futuro?
É uma nova fonte de acesso do leitor com o jornalista e vice-versa. Você precisa atendê-los, mas, principalmente tentar entender o que eles querem falar e aproveitar. Chegam muitas sugestões positivas que servem para o jornal. Como podemos fazer para melhorar nosso conteúdo? Na internet, precisamos desenvolver, ter muita agilidade. O ideal seria fazer uma análise dos assuntos, mas em primeiro lugar temos que saber o que está acontecendo. O leitor pode contribuir principalmente mostrando para a gente o que ele quer hoje. Temos mais contato, o leitor não precisa vir aqui, mandar uma carta. A gente publica algo e ele já fala com a gente. Podemos saber em que melhorar. Instantaneidade e proximidade. A ferramenta em redes sociais como Facebook, twitter, faz as pessoas conseguirem contribuir. No twitter Trânsito 24h, por exemplo, do Diario.com, basta as pessoas terem uma foto e incluírem no seu post uma hashtag para colaborarem.
Qual a rede social que mais agrega em leitores/colaboradores para o DC online?
É o Facebook. Não sei por quanto tempo. Mas acho que por bastante. Antes entrávamos em um portal para escolher o que nos interessava ler. Hoje é possível ler as matérias na própria rede social. Está pré-selecionado na timeline. Está ali o resumo das notícias que você quer que cheguem a você. Faz toda a diferença ter uma atualização constante da página. Os leitores vão nos acompanhando. Se você ficar dias sem publicar, não vai ter o mesmo número de acompanhamentos sempre. O Twitter também é muito importante, mas tem um caráter mais de serviço para o leitor. Quando isto fica claro para o leitor, se tem um resultado mais positivo. Não vejo ainda muito isso no Twitter do DC, mas pode ser mais desenvolvido.
Quanto o Facebook acrescenta na audiência do jornal online?
Nos últimos dois trimestres, participei de uma ação para promover o site Variedades com uma página no Facebook. Em agosto do ano passado, tínhamos menos de 4 mil curtidores. No início deste ano, até poucos dias, tínhamos mais de 8
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mil. Em menos de seis meses de trabalho. Só o fato de ter alguém atento, pensando no texto publicado (no post) representa algo. Sentimos que é preciso ter um post que desperte o interesse do leitor para a matéria do site, não apenas para o que está postado ali. Ao mesmo tempo, é preciso ter um conteúdo ali.Durante este período de trabalho no Variedades, sobre a forma de publicar, também mudamos o modo de pensar no jornal online, buscando, por exemplo, informações sobre como ficar mais visível e relevante no google. Então, estas ações juntas proporcionaram este aumento, não apenas as publicações no Facebook. Para pensar bem na divulgação, se relaciona a otimização do todo, da produção, enfim.
Como o DC faz uso dos comentários de leitores do Facebook?
Depende. Muitos assuntos que tem repercussão, a gente sabe. Olhar os comentários é muito importante. Às vezes a gente trata de um assunto e não investe tanto assim. Então quando coloca o conteúdo à disposição na rede social, começa a ver os comentários crescendo e aí a gente percebe que as pessoas querem falar sobre aquele assunto. Querem falar mais. O assunto vai crescendo. Um exemplo recente foi durante publicações sobre a colocação de bicicletas fantasmas (para marcar locais onde ciclistas morreram atropelados em Florianópolis). A participação dos leitores nas redes sociais fez toda a diferença para a cobertura, porque a partir dali fomos pensando em ouvir os leitores, fazer mais enquetes, buscar informações de fontes que a gente não costuma tanto ouvir.
Qual o nível de atenção dado aos comentários do Facebook do DC online? Quais chamam a atenção do jornal, quais são considerados irrelevantes?
Os comentários mais relevantes são críticos, quando a pessoa traz informação, questiona, mostra que é preciso discutir mais sobre aquilo. Por outro lado, tem os comentários “ ” interessante. Sempre vai haver leitor que só vai ler o que está no post (sem acessar o link da matéria). Estas pessoas vão ficar sem saber sobre o assunto e mesmo assim criticá-lo. Quando a gente lê os comentários, em geral, a gente já sabe se a pessoa leu ou não o texto. Em minha visão, as pessoas que comentam no site têm mais cuidado ao postar. Elas têm de parar, preencher um breve cadastro de nome e e-mail. Essa triagem prova que a pessoa está disposta a comentar. No Facebook, as pessoas muitas vezes escrevem o que pensam na hora e pronto.
Em sua visão, há empecilhos para o leitor contribuir efetivamente com o jornal online, de dentro ou de fora das redes sociais? Quais seriam?
Poderíamos abrir mais, deixar um pouco mais claro que esperamos a colaboração. Instigar o leitor. Mas temos de ter um cuidado para não superestimar tudo, não trazer assuntos somente porque as pessoas comentam ou compartilham mais. Isso é investir em assuntos de interesse do público, em vez de serem de interesse público. Temos de trazer o leitor para perto, mas mostrar a ele que, como jornalistas, temos ago para contribuir com ele. É preciso mostrar esta via de mão dupla. Descobrir novas formas de narrativa é o nosso caminho hoje. Não apenas hard news. Mas precisa entender o fenômeno, não perder o conteúdo em detrimento do formato. Está tudo mudando tão rápido que não temos mais tempo de dominar uma tecnologia após a outra. Tudo é simultâneo.
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APÊNDICE C – Entrevista Marina Nocetti
Entrevista com a estudante de jornalismo Marina Nocetti, assistente de conteúdo do Diario.com, realizada no dia 20 de janeiro de 2014
Como é a rotina do DC online na moderação de redes sociais? Como e
quando surgiu esta necessidade? Minha responsabilidade é cuidar das redes sociais do DC, principalmente o
Facebook e o Twitter. O instagram é atualizado pelos fotógrafos. Atualizo alguns blogs pelos quais temos muito contato com o leitor. Quando a função surgiu, foi dito (pela chefia) que a intenção era perceber o que os leitores estão querendo e tentar, quem sabe, gerar uma sugestão de pauta, a partir de um comentário, a partir de uma mixagem que a gente recebe no Face. Mas não tivemos uma orientação sobre o que banir do Facebook. Essa tarefa fica mais restrita ao ambiente do site, que tem outra equipe.
É possível comparar a quantidade de comentários gerados no site do DC e na
página do Facebook do jornal? Não é comparável. No Facebook é bem maior o número de comentários pela
praticidade para o leitor. Ele recebe as notícias na própria timeline, não precisa fazer nenhum cadastro, nem esperar aprovação e ele comenta no mesmo local em que recebeu o conteúdo. Leva menos tempo.
Como moderadora do Facebook do Diário.com, que atividade ocupa a maior
parte do seu tempo? Não temos muito controle do que é publicado nas redes. Em caso de
comentários repetidos, o próprio Facebook nos avisa e podemos liberar, mas, em geral, as pessoas escrevem livremente e publicam. Não é algo que depende da gente. O que a gente costuma responder é quando um leitor nos alerta sobre uma chamada ou matéria com algum erro, uma legenda, enfim. Respondemos agradecendo a este leitor e arrumamos o erro.
Os comentários ofensivos ou outros que precisam ser retirados do ar
representam que parcela do seu trabalho? Não muito. No Facebook, os comentários que contém palavrões, a própria
rede acaba ocultando. Alguns, mesmo ofensivos, a gente deixa publicados. Às vezes eles (internautas/leitores) estão brigando entre eles, porque faz parte do próprio espaço de uma rede social. As pessoas têm ideias contrárias e, como fica muito fácil comentar ali, naquele espaço online, elas se passam um pouco.
De que forma o leitor da versão online do DC pode contribuir com o jornal, na
sua visão como jornalista? Quais as expectativas do moderador hoje e para o futuro?
Pelas redes sociais, posso dizer que eles contribuem muito, enviando fotos, vídeos. Muitas vezes a gente fica sabendo de acontecimentos pelas redes. Um exemplo grandioso foi um incêndio em São Francisco do Sul (SC). Naquele dia eu estava substituindo um colega e cheguei na redação às 6h da manhã. Entrei no Facebook e a primeira coisa que eu vi foi um leitor falando que estava tendo um incêndio e que ele e todos os vizinhos dele estavam precisando sair de casa. Esta
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foi uma informação que não veio dos bombeiros (fonte oficial). Ele enviou por mensagem direto ao Facebook do DC. Mas a gente também costuma monitorar as páginas de alguns grupos, principalmente de Florianópolis, mesmo que eles não enviem pautas para nós.
Qual a rede social que mais agrega em leitores/colaboradores para o DC
online? O Facebook. Quanto o Facebook acrescenta na audiência do jornal online? Com cerca de 25% da audiência do site vinculada a ele. Como o DC faz uso dos comentários de leitores do Facebook? Às vezes eles viram uma sugestão de pauta ou uma nota para colunistas e
blogs. Qual o nível de atenção dado aos comentários do facebook do DC online?
Quais chamam a atenção do jornal, quais são considerados irrelevantes? Os irrelevantes vêm em forma de carinhas, risadas, nos comentários de uma
notícia, por exemplo. E os mais interessantes são os que nos dão uma informação nova sobre aquele fato ou uma correção. Algo que possa agregar realmente para o conteúdo. A gente tem ouvido muito o nosso leitor e praticamente ninguém fica sem resposta quando nos envia uma foto, uma sugestão de pauta. Não sei dizer quantas, mas várias sugestões de pauta já foram geradas do que recebemos pelas redes. Se ouvidos, eles vão enviar outras vezes e porque eles se sentem parte da criação de ú N “ ” -los, saber o que eles querem, o que está faltando na comunidade.Temos um canal.
Como você categoriza hoje para o DC online a importância do aumento das
page views geradas via redes sociais e as sugestões de pauta, tipo de colaboração mais comum antes do advento da internet? O quanto uma sobrepõe a outra?
Em relação à audiência (vinda do Facebok), hoje em dia, é inegável a importância dela para o total (audiência global do DC online. No último trimestre, mais ou menos 25% dos acessos do site vieram do Facebook. Monitoramos o tempo inteiro, em tempo real, quantas pessoas estão em uma matéria. Muitas vezes há muito mais pessoas em uma matéria que postamos do Facebook do que na própria capa do site. Com isso estamos conseguindo alcanár nosso objetivo de trazer o leitor para o portal do DC. O nosso objetivo maior é, tanto fazer com que o site chegue a mais pessoas - porque pelo Face a gente não tem só os leitores catarinenses ou de Floripa. A intenção é trazer esse leitor para o site. Tanto que a gente não costuma dar a informação completa no post do Facebook. Instigamos aquele leitor a ficar curioso sobre o fato e clicar no nosso link. Por que, o que importa - além, é claro – além do crescimento da nossa fan page, é que os leitores acessem e leiam a matéria do site.
Em sua visão, há empecilhos para o leitor contribuir efetivamente com o jornal
online, de dentro ou de fora das redes sociais? Quais seriam? No nosso caso, há certo preconceito. Pelo fato de ser uma grande empresa, o
internauta acha que ela não vai querer tratar de determinado assunto. O que para
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nós acaba não sendo verdade, porque muitas das sugestões que recebemos também encaminhamos para o Hora de SC (jornal de perfil popular do Grupo RBS). Muitas vezes também tentamos contatar pessoas pelas redes, porque queremos saber sobre uma peça de teatro, um evento, para falar com um diretor. Mas a pessoa às vezes não quer falar conosco, porque é uma grande empresa (o Grupo RBS). Acha que pode manchar a imagem deles conceder entrevista.
Qual a sua visão sobre o Facebook como uma ferramenta do jornalismo
colaborativo? Ele ajuda muito, porque a gente consegue aproveitar o conteúdo. Se não é
para uma matéria, é um comentário que vai virar uma carta do leitor. Tentamos o tempo inteiro aproveitar o conteúdo que o leitor manda.
Sobre novas ferramentas. O DC tem alguma iniciativa em redes sociais para
além do Facebook? Uma última iniciativa que surgiu semana passada foi a criação de uma conta
W ’ U D comunidade. Vamos divulgar isto no site. A pessoa poderá mandar uma foto direto, por exemplo. O Facebook para o DC continua crescendo. O número de curtidas e de pessoas que chega ao site por meio da rede social ainda é positivo e crescente.
Como você atua frente aos comentários negativos e diante de
comportamentos do leitor que não considera adequados? Quando postamos matérias de Variedades, como sobre artistas, celebridades,
Big Brother Brasil, as pessoas que comentam são contrárias. A maioria comenta coisas ruins, são contrárias. Porém, monitorando o post, a gente consegue ver que em tempo real muita gente acessou a matéria. Muito mais do que na principal matéria do dia, a aposta do jornal. Lá, as pessoas comentam sem ter acessado o link. As notícias de entretenimento dominam esta peculiaridade. Em outras notícias factuais, há os dois lados nos comentários. Quem defende e quem critica. As pessoas que gostam de uma notícia de entretenimento têm vergonha de curtir. Se você monitorar o link, pode haver mil pessoas acessando a matéria via Facebook, mas dificilmente há uma curtida, um compartilhamento. Não querem mostrar que gostam de novela, de Big Brother. Têm medo de ser julgadas pelo que elas gostam. Atrás do computador, as pessoas não veem problema em mostrar sua opinião, em ofender com xingamentos outra pessoa que fez um comentário, não têm medo de manifestar preconceito, racismo. As pessoas não têm medo de ser punidas pelo que comentam na rede social. Desenvolvemos um padrão para não tratar as pessoas de forma diferente, mas usando uma linguagem mais coloquial, que aproxime o leitor e o deixe à vontade para compartilhar algo com o jornal.
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APÊNDICE D – Entrevista Gisele Krama
Entrevista com a jornalista Gisele Krama, editora no Diario.com, realizada no dia 21 de janeiro de 2014
Qual o perfil do leitor do DC online? Uma característica é que os nossos leitores são bastante duros, implacáveis,
com situações em que se passa do limite, um erro, uma vírgula. Eles respondem, criticam. Acho que isso tem a ver com o porte do jornal, que é cobrado de acordo. É mais relevante ao leitor apontar e criticar em público algo que viu no Diário Catarinense do que em um jornal menor. Uma característica clara é que a maioria dos nossos leitores são conservadores. “ ” s. Aparecem após postarmos, por exemplo, notícias de crimes cometidos por adolescentes. Identificamos o comportamento ao perceber que, em algumas matérias, seguem-se 200 ou 300 comentários manifestando a mesma opinião, sem praticamente nenhum que fuja disso. O lado religioso também aflora muito no nosso leitor do Facebook. Muita gente que comenta uma matéria invoca algo, reza, recomenda fé para alguém em situação difícil ou caso que envolve morte. Algo a se refletir é como o nosso trabalho atrai leitores com este perfil. Os dogmas do DC e dos jornalistas ajudam a provocar esse tipo de resposta. O jornal não aposta na editoria de Mundo, por exemplo. Então deixa de atrair um público distinto e continua apostando no público que já conhece. Algumas experiências com matérias internacionais postadas no Facebook trouxeram um resultado muito satisfatório. Em resposta a um post sobre atentado na Síria, o público abriu uma discussão totalmente fora do habitual, questionando o papel da ONU, levantando outros casos, gerando um conhecimento diferente. É a prova de que devemos apostar para atrair pessoas diferentes. Os dogmas partem de referências antigas do jornal. O localismo fica mais valorizado, a exemplo do que o jornal impresso faz, dentro de seus limites geográficos. Esse tipo de barreira tem de ser superada, mesmo havendo vínculo com os catarinenses. Isso qualifica melhor.
Como é a rotina do DC online na moderação de redes sociais? Como e
quando surgiu esta necessidade? As redes sociais são o termômetro mais amplo com o qual se consegue medir
o impacto da informação na internet. É onde há, além da quantidade de compartilhamentos de conteúdo, o que as pessoas pensam a respeito dele, através dos comentários. No Diário Catarinense, a gente só consegue monitorar, hoje, os comentários que vêm para nossa página. Não vai atrás de quem compartilhou e o que ela pensa a respeito. Não temos essa análise tão aprofundada. O compartilhamento foge ao controle, totalmente. Então, além do nosso relatório pela ferramenta Analitycs e o próprio software Vinas, que mede a audiência em números, as redes sociais trazem essa audiência a partir dos comentários, da opinião das pessoas. Conseguimos saber quem são as pessoas que se relacionam com a gente.
De que forma o leitor da versão online do DC pode contribuir com o jornal, na
sua visão como jornalista? Quais as expectativas do moderador para o futuro? Em primeiro lugar, tornando público o que ele tem como demanda, angústia,
problema. Através do Facebook, Twitter, YouTube. Às vezes o leitor até tenta contatar o jornal por vias convencionais, mas no Facebook dele não tem nada. E
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pela rede social ele pode alcançar o que pretende. Lá a gente pode encontrar este material. Uma mensagem direta para o Facebook do Diario.com é a melhor alternativa. E-mails também ainda são um modo válido.
Qual a rede social que mais agrega em leitores/colaboradores para o DC
online? O Facebook agrega mais, porque é muito rápido. Uma matéria que precisa
ficar durante um dia inteiro na capa do site para alcançar destaque consegue muito mais atenção do leitor em 30 minutos na rede social. Com milhares de compartilhamentos. Outro ponto de destaque é que o Facebook mantém um link vivo, e vivo por dias. Na capa do site, após um dia de destaque, o assunto sai de cena. Aquele link, então, sumiu. Pode haver outras matérias sobre o tema, desdobramentos, mas não é mais aquele o link. Com os compartilhamentos no Facebook isto não acontece enquanto o link estiver sendo enviado. O seguidor da página do Diario.com pode não ter visto a página durante o dia todo, mas quando ele acessar sua timeline, à noite, as publicações mais relevantes do dia vão estar lá, disponíveis. O Facebook faz as pessoas irem descobrindo o conteúdo e quebra a barreira geográfica, local, que a capa do site Diario.com possui. Não se limita a Santa Catarina. O link perde o dono e perde a barreira tanto do localismo como da factualidade. Entra em cena a curiosidade. Falo muito do Facebook, mas ainda há muita discussão sobre o Twitter. Acho que ele vai adquirir um caráter cada vez mais formal. A gente observa pelos comentários, pelo público, mais velho, mais sério do que nas outras redes sociais, mais informais e descontraídas. O público do Twitter do Diario.com parece não ser tão paciente com o excesso de comentários, a ironia, as brincadeiras do Facebook, por exemplo. É uma forma de consumo diferente da informação. O conteúdo disponível é o mesmo, com uma apresentação diferente. Acredito que em médio prazo o Twitter pode vir a se tornar um canal oficial. Para contato com fontes como bombeiros, polícia rodoviária. Enquanto isso, no Facebook o contato é com a população em geral.Também observamos que o Instagram tem um público muito grande, muitas pessoas migrando. Ainda somos coadjuvantes nesta rede, mas ela dialoga com o Facebook. Precisamos descobrir as melhores aplicações para o Instragram.
Como o DC faz uso dos comentários de leitores do Facebook? Ainda é um pouco subaproveitado. Uma boa matéria para o Facebook
receberá na postagem 200, 300 comentários. Olhamos em uma lida rápida e procuramos se há alguma correção a fazer no nosso conteúdo, se há alguma informação grave ali no meio. O restante acaba se perdendo, mas criando uma narrativa própria para quem está comentando. Poderíamos, por exemplo, à procura de ’água, buscar alguém que comentou em uma matéria do DC no Facebook. Fazemos pouco isso. Não deletamos comentários no Facebook. O usuário é quem responde pelo conteúdo que produz. Por isso as pessoas acabam comentando mais no Face, onde elas têm mais liberdade. No site, usamos as regras jurídicas do grupo, que não permitem comentários ofensivos, com palavras de baixo calão e preconceito ou racismo. No site, uma matéria com bastantes comentários tem 10 intervenções do leitor.
Qual o nível de atenção dado aos comentários do Facebook do DC online?
Quais chamam a atenção do jornal, quais são considerados irrelevantes?
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Tecnicamente, todos os comentários são importantes para o DC no Facebook, porque eles geram mais relevância na rede para nós. O algoritmo do Facebook vai subir nossos conteúdos, promovê-los mais. Porém, os comentários que vão contribuir no sentido da informação são os que trazem algum fato novo ou que nos questionam, nos alertam sobre novas fontes a serem ouvidas. Eles são um tipo de feedback quando concordam, discordam. Os irrelevantes são os que não trazem nenhum desses conceitos. Um fenômeno interessante na rede é o dos nossos leitores de títulos. Eles nos obrigaram a reduzir o tamanho das nossas postagens. Há menos de um ano, publicávamos no Facebook pelo menos um lide explicando o que estava acontecendo ali, um conteúdo bem elaborado, umas cinco linhas com uma foto. Mas as pessoas não estavam acessando as matérias para se informar. Elas estavam lendo aquilo ali e começavam a comentar. E, às vezes, a gente acabava até recebendo insultos, com as pessoas nos criticando e dizendo “ ” k õ “ er ” daquela informação. Também reduzimos a quantidade de linhas nas postagens para cerca de duas, três. Isso apenas dá um start sobre o assunto. Outro motivo para mudarmos foi porque às vezes uma matéria muito curtida e compartilhada na rede social não tinha acesso nenhum no site.
Em sua visão, há empecilhos para o leitor contribuir efetivamente com o jornal online, de dentro ou de fora das redes sociais? Quais seriam?
Na rede social, é mais fácil comentar. No site existe um filtro, tem um tempo até o moderador liberar o comentário. Enquanto na rede social você comenta e já compartilha. De um modo geral, o jornalismo colaborativo é bastante refém do factual. Não tem um fluxo contínuo. Se ocorrer um enchente, por exemplo, como no Vale do Itajaí, recebemos grande fluxo de informações, comentários, fotos, que nos ajudam e acabam dando um gás. Muitas vezes salvando uma cobertura ou mudando sua direção. Na última cobertura de enchentes no Vale do Itajaí, planejamos a cobertura direcionada para o Vale, mas encheu também a Grande Florianópolis. Era um sábado e eu não estava preparada. A enchente afetou o município de Antônio Carlos, na Grande Florianópolis, e não estávamos preparados, esperando. Então os leitores começaram a mandar informações, a mandar fotos, criando uma nova cobertura para nós e continuamos focados no Vale do Itajaí, agrupando o conteúdo.
Sobre a narrativa online Vim de uma formação voltada para o jornal impresso e o trabalho com
jornalismo online muda tudo. Não é na apuração, mas no formato. Em uma publicação online, por exemplo, logo após o lide da notícia você precisa entregar tudo ao leitor, a galeria de imagens, o vídeo, as matérias relacionadas. Dali em diante se dá o desfecho. Esta informação é para quem não tem uma hora para a leitura, para quem está lendo pelo celular. A linguagem precisa ser mais clara, simples, e isso exige muito do jornalista. O desafio é maior dentro do online, que deveria contar com os repórteres mais experientes da redação, na minha opinião. Quem produz conteúdo para o online precisa ter a apuração mais rápida, ser extremamente preciso, porque a resposta e a dúvida de quem leu virá na hora, e é preciso ser claro para evitar entendimentos dúbios sobre o assunto.
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APÊNDICE E - Entrevista Iana Lua Dias da Cruz
Entrevista com a jornalista Iana Lua Dias da Cruz, repórter analista de redes sociais do Diario.com, realizada no dia 23 de janeiro de 2014
Qual o perfil do leitor do DC online e do DC nas redes sociais? No Facebook, a maioria dos curtidores da página é mulher, de 30 a 40 anos.
Depois vêm mulheres de 20 a 30 anos, depois, homens de 30 a 40 anos. Apesar de termos este público feminino grande, quem dá as caras e comenta mais na rede social são os homens de 30 a 40 anos. O Facebook permite que a gente veja isto. O que não dá para saber ainda é o perfil de quem compartilha. É difícil destacar características. Vemos apenas as de quem comenta. Normalmente estas pessoas já vêm com o perfil mais polêmico, extrovertido. O leitor que comenta no Facebook é muito crítico, de um modo geral. Ele consegue criticar até mesmo um belo pôr do sol, puxando por outros assuntos. Mas nem sempre as críticas são irrelevantes, porque nos fazem pensar, interagir com o leitor. O público do Facebook está envelhecendo e os jovens estão entrando menos na rede. Isto é possível perceber no dia a dia, mas o interesse por notícias é grande e o jornal ainda tem muita relevância.
Como é a rotina do DC online na moderação de redes sociais? Como e
quando surgiu esta necessidade? Começo minha rotina fazendo uma ronda nas redes sociais, observando o
que está publicado nas páginas de jornais do Brasil e do mundo para saber o que está em evidência nas redes sociais. A seguir, visualizo páginas específicas que concentram as tendências da internet, o que está em destaque e tem potencial para gerar audiência no dia. Pode ser um vídeo, por exemplo. Por último faço uma ronda bastante regional, observando páginas de estudantes e universidades de Santa Catarina, protetores dos animais, de regiões diferentes de Florianópolis, por exemplo. Às vezes percebo que nestas páginas estão sendo tratados assuntos dos quais não estamos falando no Diario.com, como o plano diretor, por exemplo. Ou a repercussão sobre o tema continua repercutindo e nós desistimos. Normalmente encontro principalmente muitas pautas hiperlocais para serem feitas. Feita a ronda, começo a responder todas as mensagens que os leitores estão mandando pelas redes sociais. Eles perguntam de tudo, e eu respondo. Às vezes procuram por uma imobiliária B ú O “ Diário Catarinense” “ M ” trabalho. Depois fico atualizando todas as nossas redes sociais. Quando entrei no Diário Catarinense, tinha feito cursos, estudado sobre redes sociais. Então recebi a proposta de fazer isto. Quando cheguei, ninguém era responsável pelo Facebook do Diario.com nem pelo Twitter. Quando dava tempo, alguém alimentava. Comecei a trabalhar como repórter e assumi as redes. Quando os meus gestores perceberam o tamanho do resultado que isto dava na audiência, colocaram não só a mim, mas também outra colaboradora para cuidar apenas de redes sociais.
De que forma o leitor da versão online do DC pode contribuir com o jornal, na
sua visão como jornalista? Quais as expectativas do moderador hoje e para o futuro?
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Quando envio relatórios de notícias que mais repercutiram e geraram audiência nas redes sociais, tenho retorno da direção e redação, que procura verificar se estamos prevendo para o jornal impresso publicar algo sobre aquilo que os leitores estão buscando na internet. Há um espaço aberto para os internautas no site também, para comentarem. Mas o fato de isso exigir um cadastro e de submeter o texto à nossa aprovação desestimula bastante os comentários dentro das matérias. No Facebook, as pessoas comentam livremente e às vezes não se preocupam nem um pouco com o que estão falando. No Facebook, todos os comentários saem publicados. Eventualmente algum é ocultado, não excluído, se tiver palavrões ou for muito ofensivo. Mas é muito pouco, porque os comentários são muitos. O Facebook, por si só, não aceita algumas palavras e exclui comentários.
Qual a rede social que mais agrega em leitores/colaboradores para o DC
online? O Facebook, atualmente. Quanto o Facebook acrescenta na audiência do jornal online? A audiência que vem do Facebook não para de crescer. Ela representava
13% para o Diario.com no ano passado e, no último trimestre, passou para 25%. Um quarto das visitas vem da rede social. Estamos há quatro meses fazendo um trabalho específico com as redes sociais.
Como o DC faz uso dos comentários de leitores do Facebook? Um exemplo ocorreu há alguns dias, quando um aluno da Universidade
Federal de Santa Catarina cometeu suicídio. A gente não ia falar nada sobre o assunto, mas nas redes sociais as pessoas estavam questionando tanto (havia a suspeita de que o jovem tenha se matado por sofrer preconceito quanto à homossexualidade), a página da UFSC estava fervendo e não tínhamos dado uma linha. Então levamos o caso à direção do jornal e acabamos publicando uma matéria no Diario.com, sem grande alarde, mas esclarecendo aos leitores que nos perguntavam enviando o link do texto. Isto porque não publicamos a matéria em nossa página do Facebook, porque este seria o problema, destacaria algo que não era o objetivo destacar. As pessoas que perguntaram e viram a matéria foram respeitosas. Enfim, era isso o que elas queriam saber, queriam que existisse alguma informação sobre o caso. Concordo com a afirmação de que as redes sociais quebram tabus, como é o caso da publicação de notícias sobre suicídio. Para nós, às vezes, é uma surpresa enorme o que rende notícia no Facebook e o que rende no Twitter. Nem sempre é o que a gente acha que vai valer para a audiência. A notícia sobre a vaca que deu à luz quadrigêmeos, no Oeste do Estado estava esquecida na lista de notícias do Diario.com, nem mesmo foi para a capa do site. Mas eu precisava de algo para postar no Facebook e coloquei a matéria lá. Foi um sucesso. As pessoas comentavam que tinham orgulho de ser de Santa Catarina, felizes pelo fato curioso. Acontece também com fatos de política, que achamos que não serão vistos e acabam gerando discussões, muitos comentários. As pessoas se importam muito com matérias que falem sobre dinheiro público, ou quando trata de figuras públicas como a presidente Dilma, o deputado Marco Feliciano, a ministra Ideli, que as pessoas se sentem no direito de comentar e criticar também.
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Qual o nível de atenção dado aos comentários do Facebook do DC online? Quais chamam a atenção do jornal, quais são considerados irrelevantes?
Os comentários do Facebook são a opinião, a voz do nosso leitor. Então procuro sempre acompanhar, ler, para verificar o que as pessoas pensam e como estão recebendo as nossas notícias. Teve uma época em que eles falavam muito mal da gente. Então me reuni com a equipe e com meus gestores e dividimos que um certo tipo de notícia que publicávamos estava trazendo resultados para o site, mas estavam fazendo muito mal para o Facebook do Diario.com. Em uma notícia sobre uma celebridade, por exemplo, apareciam vários comentários criticando o jornal, dizendo que ele é ruim. E isto é muito ruim para a imagem do jornal. Quando esta notícia está na capa do site Diario.com, misturada com várias outras, não há problema porque ela não se destaca no contexto. Agora, quando ela está sozinha lá na página do jornal no Facebook, gritando para o leitor, é a imagem que a gente passa, que só damos bola para celebridades. É um tipo de notícia muito mal recebido, sempre. Pelas métricas, podemos ver que, no dia em que notícias assim são publicadas, mesmo gerando audiência para o site, mais gente começa a ‘ ’ P F k relevância, então a gente aparece menos na timeline das pessoas. Hoje, procuramos colocar coisas que vão ser bem recebidas. Podem ser fatos curiosos, interessantes, mas não fúteis.
Como você categoriza hoje para o DC online a importância do aumento das
page views geradas via redes sociais e as sugestões de pauta, tipo de colaboração mais comum antes do advento da internet? O quanto uma sobrepõe a outra?
Hoje, via redes sociais, recebemos muitas sugestões de pauta. Procuramos dar o encaminhamento às pessoas certas para que os assuntos não se percam em um limbo. Também aumentou muito o volume de cartas e artigos enviados pelo leitor.
Qual o maior desafio a superar na produção de conteúdo direcionada às redes sociais?
Ainda temos um desafio de publicar mais matérias na linguagem do online. Há muitas matérias grandes, que são cansativas, com um texto muito grande, sem foto. Precisamos avançar na produção de matérias para o online, pensadas desde o começo da concepção da pauta. Outro elemento que ainda falta é o link. Às vezes uma informação que já foi dada não está na nova matéria e o leitor pergunta, fica perdido. Além de construir uma narrativa, temos a chance de ter mais audiência, mais visualizações de página no site quanto acrescentamos links nas matérias.
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ANEXOS
ANEXO A – Os desafios do Facebook – reprodução da primeira página
da reportagem publicada pelo Diário Catarinense em fevereiro de 2014
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ANEXO B - Página do Diário Catarinense no Facebook