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1 Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção MARCELO ALVARES MATIAS A evangelização no grande centro urbano Uma análise da ação evangelizadora na cidade de São Paulo a partir do 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo (2001-2002) Apresentação da dissertação como exigência para obtenção do título de Mestre em Teologia com concentração em Missiologia à banca examinadora da Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção sob a orientação do Prof. Dr. Pe. Ney de Souza. São Paulo - 2006

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Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção

MARCELO ALVARES MATIAS

A evangelização no grande centro urbano Uma análise da ação evangelizadora na cidade de São Paulo a partir do 8º

Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo (2001-2002)

Apresentação da dissertação como exigência para obtenção do título de Mestre em Teologia com concentração em Missiologia à banca examinadora da Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção sob a orientação do Prof. Dr. Pe. Ney de Souza.

São Paulo - 2006

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Aprovação

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dedico este estudo aos evangelizadores da Arquidiocese de São Paulo

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a Deus Pai, que me deu a vida, a Deus Filho, que me chamou, a Deus Espírito Santo, que me iluminou e a todos aqueles que de alguma forma contribuiram para este estudo.

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SIGLAS E ABREVIAÇÕES

CAP Coordenação Arquidiocesana de Pastoral

CEBs Comunidades Eclesiais de Base

CERIS Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais

CIC Código de Direito Canônico

CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CPP Conselho Pastoral Paroquial

CRP Conselho Regional de Pastoral

CSP Conselho Setorial de Pastoral

Fasc. Fascículo

FEBEM Fundação Estadual do Bem Estar do Menor

GS Constituição Pastoral Gaudium et Spes

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA Instituto de Pesquisa Aplicada

OA Octogésima Adveniens

ONG Organização Não Governamental

PAESP Pesquisa sobre a ação evangelizadora da Igreja na cidade de São Paulo

PAMP Projeto de Ação Missionária Permanente

PMSP Prefeitura do Município de São Paulo

PPA Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo

PRNM Projeto Rumo ao Novo Milênio

SAS Secretaria da Assistência Social

SD Conferência de Santo Domingo

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 11

I . CAPÍTULO: A CIDADE, DESAFIO À EVANGELIZAÇÃO 16

1. A urbanização brasileira 22

1.1. Alguns aspectos da urbanização brasileira 23

2. A cidade 27

2.1. A metropolização 28

2.2. O espaço público e o privado 39

2.3. Pobreza e miséria nos centros urbanos 43

3. Alguns aspectos da realidade paulistana 47

3.1. Dados estatísticos recentes da metrópole paulistana 49

3.2. A violência na cidade de São Paulo 49

3.3. O emuralhamento da vida social nos grandes centros urbanos 53

3.4. O individualismo na cidade 56

3.5. A política da mobilidade na cidade de São Paulo 58

3.6. Participação popular na cidade 60

4. A pessoa urbana e a religião 67

4.l. A fé na cidade 68

4.2. O pluralismo religioso na vida urbana 72

4.3. Outros desafios da cidade para a ação da Igreja 75

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II. CAPÍTULO: A MISSÃO DE EVANGELIZAR OS GRANDES CENTROS

URBANOS HOJE 78

1. A missão de evangelizar 82

1.1. Serviço 84

1.2. Diálogo 86

1.3. Anúncio 87

1.4. Testemunho de comunhão 89

2. A finalidade da evangelização 92

3. Conteúdos da evangelização 93

4. Critérios e sinais de evangelização 94

5. Os agentes evangelizadores 98

5.1. Formação dos agentes evangelizadores 100

6. Os leigos na evangelização 101

7. Os Movimentos e as Associações na evangelização 106

8. Proclamação do Evangelho na cidade 107

8.1. Implantar o Reino de Deus na cidade 109

8.2. Riqueza, pobreza e profecia na ação evangelizadora 112

8.2.1. Inclusão de Deus, inclusão do homem 116

8.3. Outros desafios para a evangelização nos grandes centros 118

8.4. O Evangelho deve penetrar nos grandes centros de decisão 120

8.5. Reflexões bíblico-teológicas sobre a evangelização na cidade 122

8.6. Comunidades Eclesiais de Base 124

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III. CAPÍTULO: ELABORAÇÃO, ESTUDOS, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DO 8º

PLANO DE PASTORAL DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO 130

1. Elaboração do 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo 135 2. Pesquisa sobre a ação evangelizadora da Igreja na cidade de São Paulo 139

2.1. Objetivo da pesquisa 141

2.1.1. Objetivos específicos 142

2.2. Metodologia da pesquisa 142

2.2.1. Questionário da pesquisa 143

2.2.1.1. Elaboração do questionário 143

2.2.1.2. Treinamento dos pesquisadores 144

2.2.1.3. Aplicação da pesquisa 144

2.2.1.4. Período de realização da pesquisa 144

2.2.1.5. Amostra da pesquisa 145

2.2.1.6.Observações sobre a aplicação da pesquisa 146

2.3.Conceitos e definições 147

2.3.1. Arquidiocese o que é 147

2.3.2. Região Episcopal o que é 148

2.3.3. Conselho Regional de Pastoral (C.R.P.)o que é 148

2.3.4. Setor o que é 148

2.3.5. Conselho Setorial de Pastoral (C.S.P.) o que é 149

2.3.6. Paróquia o que é 149

2.3.7. Conselho Paroquial de Pastoral (C.P.P.) o que é 150

2.3.8. Pastoral o que é 150

2.3.9. Associação de fiéis o que é 151

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2.3.10. Movimento de apostolado leigo o que é 151

2.3.11. Leigo o que é 151

2.3.12. Leiga consagrada o que é 152

2.3.13. Religioso(a) o que é 152

2.4. Apresentação e análise dos resultados da pesquisa 153

2.4.1. Estrutura organizacional da pastoral da Arquidiocese de São Paulo 154

2.4.1.1. Instâncias pesquisadas da organização pastoral 155

2.4.1.2. Região episcopal a qual pertencem os pesquisados 155

2.4.1.3. Análise da estrutura organizacional da pastoral 156

2.4.1.4. Perfil dos evangelizadores quanto a idade e sexo 157

2.4.1.5. Idade dos pesquisados 157

2.4.1.6. Atuação pastoral dos pesquisados 157

2.4.1.7. Análise do perfil dos evangelizadores quanto a idade e sexo 158

2.4.2. Centralização econômica na Cúria Arquidiocesana 161

2.4.2.1. Análise da centralização econômica na Cúria Arquidiocesana 161

2.4.3. Conhecimento, elaboração, atuação e avaliação Plano de Pastoral 163

2.4.3.1. Conhecimento do Plano de Pastoral por Região Episcopal 163

2.4.3.2. Conhecimento do Plano por instância da organização pastoral 164

2.4.3.3. Conhecimento do Plano por atuação pastoral 164

2.4.3.4. Participação dos pesquisados na Igreja no período de 2000-2002 165

2.4.3.5. Participação na elaboração 8º Plano de Pastoral 165

2.4.3.6. Estudos do 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo 165

2.4.3.7. Participação no processo de avaliação do 8º Plano de Pastoral 166

2.4.3.8. Responsabilidade pelo desconhecimento do Plano de Pastoral 166

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2.4.3.9. Análise do conhecimento, participação e desconhecimento do Plano 167

2.4.4. Igreja profética na cidade de São Paulo 170

2.4.4.1. Profetismo da Igreja para os pesquisados 170

2.4.4.2. Conhecimento da realidade da cidade de São Paulo 170

2.4.4.3. Importância do Plano de Pastoral para a evangelização da cidade 171

2.4.4.4. Ações que sinalizam a ação evangelizadora na cidade de São Paulo 171

2.4.4.5. Análise das ações proféticas, conhecimento da realidade e Plano 172

2.4.4.6. Solidariedade e transformação junto aos marginalizados e excluídos 176

2.4.4.7. Análise das ações solidárias e transformadoras junto aos excluídos 177

2.4.5. Dificuldades para evangelizar na cidade de São Paulo 179

2.4.5.1. Dificuldades encontradas pelos agentes na evangelização da cidade 179

2.4.5.2. Análise das dificuldades encontradas pelos agentes na evangelização 180

2.4.6. Renovação das comunidades, anúncio e testemunho de Jesus Cristo 183

2.4.6.1. Análise das ações de renovação, anuncio e testemunho Jesus Cristo 184

2.4.7. Notas 186

2.4.7.1. Sobre os Conselhos Paroquiais de Pastoral 186

2.4.7.2. Sobre os Conselhos Setoriais de Pastoral 187

2.4.7.3. Sobre os Conselhos Regionais de Pastoral 187

2.4.7.4. Sobre as coordenações dos Movimentos de Apostolado Leigo 188

2.4.7.5. Sobre as coordenações das Pastorais em nível arquidiocesano 188

2.4.7.6. Sobre as coordenações das Associações de fiéis 189

CONCLUSÃO 190

APÊNDICE 199

ANEXO 239

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E BIBLIOGRÁFICA 241

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INTRODUÇÃO

Falar de grandes cidades é falar de perigo, de medo, criminalidade, anonimato,

trânsito. Falar de grandes cidades é falar de oportunidades, cultura, lazer, multiplicidade

religiosa, criatividade. Na cidade, o homem tem a oportunidade de mostrar sua capacidade

ilimitada, dominando o espaço e o tempo. Ali, o espetáculo da vida acontece, seja na mansão

ou debaixo do viaduto. A cidade enigmática que fascina e atrai não é inventada nem nasce da

noite para o dia. É construída pela necessidade do homem, com a sabedoria divina. As cidades

crescem porque fascinam e atraem as pessoas para garantir a vida de seus habitantes, mas

precisam ser repensadas, para garantir não somente a sobrevivência, mas a convivência e

qualidade de vida.

Cidade supõe planejamento. O homem tem capacidade para organizar o espaço em que

vive. Quando há uma aglomeração exagerada de pessoas num espaço, o planejamento e a

organização tornam-se mais difíceis. Cidade supõe geometria, cálculos, beleza, jardim,

pessoas, espaço. A “urbanidade” da cidade moderna pode ser encarada como uma forma de as

pessoas se relacionarem de modo cada vez mais individualizado, livre, escolhido. Esse “modo

de relacionamento” não está preso a um ambiente físico, mas à forma que as relações sociais,

fundadas na atividade econômica assumem. A cidade é um espaço social. Ela é um conjunto

de relações sociais que ocorrem “dentro” de um espaço físico, geográfico. São as relações

sociais que dão forma ao espaço físico. Isso acontece não somente quanto à ocupação, a

disposição espacial, o valor comercial, mas também quanto ao valor simbólico. Morar em

uma determinada rua ou bairro obedece a buscas humanas fundamentais, como ser alguém,

afirmar sua própria identidade e seu valor como pessoa. Na cidade, há espaços ricos e pobres,

há espaços sagrados e profanos, há espaços vazios e espaços completamente ocupados, há

espaços de trabalho e de lazer. Falar de cidade é falar de relações sociais, de certa concepção

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do que constitui o “humano do homem”. Esse humano pode ser afirmado ou negado nas

relações sociais. E, assim também pode ser valorizado ou desprezado na cidade.

No decorrer do primeiro capítulo deste estudo, será apresentado em linhas gerais o

urbanismo no Brasil e a cidade de São Paulo com seus desafios, na qual a Arquidiocese de

São Paulo atua através das seis Regiões Episcopais, setores pastorais, paróquias, comunidades

eclesiais de base, pastorais, associações, movimentos de apostolado leigo, vicariatos, escolas

católicas com inúmeros leigos, leigas, religiosos, religiosas, bispos, arcebispo e padres. O

texto busca analisar a cidade como desafio à evangelização, a partir de algumas características

da vida do homem urbano quanto a espacialidade, uso e conceitos dos espaços urbanos

privados e públicos. São apresentados alguns aspectos da urbanização brasileira e a

metropolização das cidades no Brasil, com ênfase na cidade de São Paulo. O estudo apresenta

alguns dados estatísticos da realidade paulistana e a miséria presente na quarta maior cidade

do mundo. A violência cada dia mais acentuada que provoca o medo nas pessoas faz com que

estas se “emuralhem” para a vida social.

O individualismo característico da sociedade moderna também é um dos assuntos

abordados neste estudo, visto que é uma das dificuldades para que o Evangelho seja

anunciado. A cidade de São Paulo, como tantas outras do Brasil, sofre com muitas

dificuldades para a locomoção das pessoas, que o autor apresenta não só como dificuldade

para a ação evangelizadora, mas como dificuldade para a convivência das pessoas. Embora o

individualismo esteja presente nas comunidades urbanas, ainda há significativo número de

pessoas e grupos que se mobilizam para garantir que o “Estatuto da Cidade” seja colocado em

prática, assim como os direitos básicos dos cidadãos sejam praticados por todos. Há vários

estudos que apontam o crescimento da religiosidade nas pessoas urbanas e o relacionamento

destas com a religião bastante plural que viceja hoje nas cidades modernas. Nesse contexto, o

presente trabalho pergunta: que possibilidades têm a igreja para cumprir a sua missão de

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evangelizar nos grandes centros urbanos? Uma resposta que o autor tenta construir nesta

dissertação a partir de diversos estudos já realizados e que focam, prioritariamente, a cidade

de São Paulo, vista aqui como síntese perfeita dos problemas característicos dos grandes

centros urbanos. Não são apresentados aqui, evidentemente, todos os aspectos da cidade, mas

algumas referências paulistanas que ajudarão a nortear a análise da ação evangelizadora da

Igreja de São Paulo nos anos de 2001-2002, quando esteve em vigência o 8º Plano de Pastoral

da Arquidiocese de São Paulo.

A Igreja tem hoje o grande desafio de evangelizar nos grandes centros urbanos. No

segundo capítulo deste estudo, o autor abordará as quatro exigências da evangelização:

serviço, diálogo, anúncio e testemunho de comunhão, aprofundando, ainda, a explicação

sobre de que consiste a evangelização, a finalidade, os conteúdos, os critérios e os sinais da

ação evangelizadora, descrevendo também o trabalho dos agentes evangelizadores e a

formação para a evangelização.

O mesmo texto destaca como a missão dos leigos e dos movimentos de apostolado e

associações de fiéis proclama o Evangelho na cidade onde a Igreja sempre e cada vez mais

busca penetrar com os ensinamentos evangélicos para implantar o Reino de Deus,

denunciando as injustiças que afastam as pessoas de seus direitos. Incluir Deus é incluir o

homem. Algumas reflexões bíblico-teológicas também são apresentadas para compreender a

missão de evangelizar nas grandes cidades, assim como a missão e as características das

Comunidades Eclesiais de Base aqui vistas, como uma forma de a Igreja cumprir sua missão

evangelizadora. Integra ainda o segundo capítulo uma análise sobre a ação da Igreja com seus

missionários e missionárias em meio à pobreza e contradições na cidade moderna, assim

como do papel do missionário e seu profetismo em São Paulo diante dos apelos de uma

cidade que cresce a cada dia e torna seus habitantes sedentos de respostas religiosas.

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No terceiro capítulo, através de Pesquisa sobre a Ação Evangelizadora da Igreja na

cidade de São Paulo (PAESP), realizada na Arquidiocese, o autor se propõe a verificar o

trabalho evangelizador da Igreja de São Paulo na cidade junto aos evangelizadores que

compõem os Conselhos Regionais de Pastoral, Conselhos Setoriais de Pastoral, Coordenações

de Associações de fiéis, de Movimentos de Apostolado Leigo e das Pastorais em nível

arquidiocesano. A partir dessa observação, o trabalho pretende conhecer o perfil dos agentes

evangelizadores na Igreja de São Paulo, saber quais são as dificuldades para evangelizar na

cidade e quais sinais indicam que a cidade está sendo evangelizada. O pesquisador realizou

um levantamento e chegou a conclusões que podem ajudar a entender a caminhada da

evangelização na cidade de São Paulo. A pesquisa atingiu 1.305 pessoas envolvidas no

processo evangelizador e estes dados serviram de instrumentos para análise do objeto de

estudo: o 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo no período de 2001-2002.

O pesquisador também realizou entrevista com o Monsenhor Sérgio Conrado,

responsável pelo Secretariado Arquidiocesano de Pastoral em 2000, quando o 8º Plano de

Pastoral da Arquidiocese de São Paulo foi elaborado e, com Monsenhor Tarcísio Justino Loro

atual responsável pelo Secretariado. Estas entrevistas fizeram parte do trabalho aqui

apresentado e constam no Apêndice deste trabalho.

Os evangelizadores dos grandes centros urbanos – bispos, padres, diáconos, religiosos,

religiosas, leigos e leigas – deveriam dar testemunho de santidade e ardor missionário, como

pede a sociedade atual, para que suas palavras sejam críveis. O exemplo do cristão de fé firme

e profunda formação pode transformar as cidades a partir dos ensinamentos evangélicos e do

compromisso na construção de uma sociedade mais justa, humana e fraterna, consciente de

sua missão evangelizadora e, capacitado para enfrentar os problemas com a violência,

corrupção, miséria, exclusão, pluralismo religioso e com respeito à diversidade cultural,

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sempre com o coração atento e solidário, aberto aos problemas da crescente pobreza e

exclusão, fazendo de sua vida e da sua ação uma evangélica opção preferencial pelos pobres.

O dialogar com o povo de Deus e o diálogo com Ele ajudam a responder a suas ânsias,

inquietudes e a animá-los na esperança em nome de Jesus Cristo evangelizador e de seu

Evangelho, de vida e salvação: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em

abundância”(Jo 10, 10).

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I. CAPITULO: A CIDADE, DESAFIO À EVANGELIZAÇÃO

Quando falamos em grande cidade, a primeira imagem que vem a mente é a de caos,

de desordem e de confusão. A busca irracional da sobrevivência a qualquer custo e a

associação com o crime, a violência, a insegurança e o medo são imediatas. Um cenário que

trás novos desafios para a Igreja, enquanto espaço de atuação com obstáculos e contornos

específicos. “Hoje, a imagem da missão ad gentes talvez esteja mudando: lugares

privilegiados deveriam ser as grandes cidades, onde surgem novos costumes e modelos de

vida, novas formas de cultura e comunicação que, depois, influem na população”.1

Para realizar uma ação, seja ela evangelizadora ou governamental, em uma grande

cidade, antes de tudo é recomendável elencar e estudar os diferentes aspectos a ela

relacionados, como sua história, geografia, arquitetura, entre outros. “Uma pastoral urbana

que atinja as suas finalidades requer diagnósticos precisos e sistemáticos, análises globais e

setoriais, projeções, integrando fatores seculares e religiosos”.2

Neste contexto, o desenvolvimento de um Plano de Pastoral deve levar em conta a

diversidade e fragmentaridade da cidade, considerando os elementos que a compõem,

sobrepõem e até contrapõem.

Ao mesmo tempo e apesar do peso dos fatores coletivos, o indivíduo, no seu conjunto,

precisa ser valorizado no sentido de sua unidade, pois é ele que forma a diversidade de

culturas. “A Igreja intervém na vida individual dos habitantes da cidade para oferecer-lhes a

Palavra e os Sacramentos que modificam a vida e amparam no caminho para Deus”.3 Nesse

sentido, ação da Igreja deve favorecer a integração das pessoas na cidade.

1 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 37 b. Encíclicas do Papa João Paulo II. São Paulo LTr, 1996. 2 WANDERLEY, L. E. W. Pastoral Urbana: sujeitos e estruturas. In: ANTONIAZZI, A.; CALIMAN, C. (orgs.). A presença da Igreja na cidade. Petrópolis: Vozes, 1994. p. 51. 3 MARTINI, C. M. Levanta-te, vai a Nínive, a grande cidade. São Paulo: Loyola, 1992. p. 23.

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Não há dúvidas, que, pela série de recursos e oportunidades que concentra, a cidade é

um lugar bom para se viver, entretanto, como os direitos não são garantidos para todas as

pessoas, a cidade não é um lugar bom de se viver para todas as pessoas. Num grande centro

urbano, por ser um aglomerado de pessoas, proporciona convivência; é o lugar do encontro,

embora ali as pessoas também possam viver no anonimato, o que facilita fenômenos como o

isolamento e a criminalidade.

Quanto maior for a cidade, mais significativas serão as dificuldades de administração e

a quantidade de recursos financeiros para fazê-la funcionar. Igualmente maiores são as

dificuldades para incluir todos os cidadãos como beneficiários de direitos civis e os idosos, as

crianças e os portadores de necessidades especiais são os mais prejudicados.

As cidades grandes dos países em desenvolvimento são cidades da proibição. Paga-se

por ter feito uma contravenção. Há quantidade significativa de anúncios sobre a proibição e

pouco investimento na educação das pessoas para melhorar a qualidade de vida e a convívio.

Por todo lado se lê “proibido”. Mas não se diz por que é proibido, nem se explicam os

benefícios ao indivíduo, ao coletivo e à cidade de atitudes como respeito à sinalização do

trânsito e a natureza. Na verdade, ninguém aprende a cuidar do verde da cidade com multas.

Cuidar do verde tem que ser aprendido. A cidade é toda pavimentada, a terra, o verde

não tem vez. Todos querem terra pra construir, pra pisar, mas tem que ser pavimentada. Na

cidade terra é sujeira. As pessoas da roça que são obrigadas a mudar para cidade sofrem para

se adaptar a este contexto, mas perseveram porque acreditam numa possibilidade de

oportunidade. Oportunidade de ser feliz, ganhar o pão, ter casa, escola, vida digna para a

família. Para poucas pessoas simples, entretanto, as cidades grandes hoje conseguem oferecer

chances de realizar seus sonhos.

Todos estes motivos, o anúncio do Evangelho nos grandes centros urbanos exige uma

metodologia, um programa, uma linguagem, uma ação estudada e planejada, constantemente

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avaliada e sempre estimulada pelo magistério e, sobretudo, pelos desafios cada vez mais

crescentes.

Na tentativa de trazer para a prática as Conclusões da Conferência de Puebla, a

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) diz que a pastoral urbana, precisa

questionar a realidade da grande cidade e os incentivos à sua crescente expansão, uma vez que

a própria vida na grande cidade constitui especial desafio à vivência cristã. Uma ação pastoral

deve partir da consideração da realidade estrutural, própria da cidade, que funciona como uma

realidade orgânica; de outro modo será difícil evangelizar o homem urbano.4

Os grandes centros urbanos, como a cidade de São Paulo, enfrentam um crescimento

desordenado que traz problemas com o trânsito, a violência, falta de moradia, saúde,

educação, emprego, entre outros. Aglomeração de pessoas, de casas é o que se vê por diversos

bairros da cidade. A indústria automobilística mudou a cidade de São Paulo. A transporte

coletivo que é insuficiente e precário em São Paulo obriga as pessoas irem ao trabalho, escola

ou qualquer outra atividade de carro. A pessoa que enfrenta o trânsito para chegar ao seu

destino também enfrenta outro transtorno para estacionar o carro, principalmente no centro

expandido da cidade. O rodízio tentou resolver a questão, mas muitas pessoas compraram um

segundo carro, mais antigo, o que em alguns aspectos agravou o problema do trânsito com o

número de carros quebrados e mais poluição.

As cidades vivem em constante mudança. O espaço é modificado pelas necessidades

das pessoas. Onde antigamente havia um cinema hoje há uma Igreja Evangélica ou Bingo. Os

shoppings centers também são responsáveis por uma grande mudança no comércio, nas ruas e

no trânsito. A paisagem urbana é modificada com novos anúncios, novas indicações. Roteiros

são alterados, itinerários das linhas de ônibus são modificados para atender aquele novo

“templo”, seja de fé ou de consumo. Com a instalação de um Shopping Center, símbolo da

4 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Subsídios para Puebla. (Documentos da CNBB n. 13) 104. São Paulo: Paulinas, 1978.

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modernidade, os comerciantes vizinhos, às vezes instalados há anos naquele espaço, tem que

se reorganizar, mudar de ramo, calcular estratégias para conseguir sobreviver ou,

simplesmente, fecham suas portas.

A poluição visual torna a cidade mais feia a cada dia, com grande número de outdoors,

placas nas calçadas, cavaletes com propagandas, faixas e pichações. Há um desrespeito

crescente ao cidadão em tempo de campanha eleitoral, quando todos os postes recebem

banners, cartazes e faixas de candidatos que prometem administrar e, ironicamente, cuidar da

cidade.

A violência é um desafio à parte, tanto para governantes quanto para evangelizadores,

pois – espaço – acompanhada da droga vai ocupando os espaços públicos e expulsados os

cidadãos. As praças são um exemplo claro desta situação. Algumas delas, completamente

abandonadas pelo poder público viram espaço da criminalidade e são “administradas” pelos

bandidos dia e noite, tornando-se ponto de encontro para venda, troca de mercadorias e uso de

entorpecentes. A praça perde a condição de lugar de convívio, pois os moradores ficam com

medo e deixam de freqüentá-la.

A função social da praça muitas vezes é cumprida pelas esquinas, onde jovens e

crianças se encontram para conversar e conviver. Afinal, quando a cidade não oferece espaço

para o encontro, para a conversa, para a convivência, as pessoas os criam, mesmo que não

sejam os mais adequados e tragam transtornos aos moradores mais próximos. Isso ocorre em

parte, porque as praças perderam sua condição de “lugar”, que o dicionário Aurélio define

como espaço ocupado.5 Dessa forma, a praça que não é ocupada pelos moradores próximos

deixa de ser um “lugar” e torna-se somente mais uma “área”, facilmente invadida pelo mato

ou usuários de drogas.

5 HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. Novo dicionário Aurélio da língua Portuguesa. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

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Mesmo com esse tipo de dificuldade, a cidade busca resistir como lugar da

convivência, mesmo que seja via cibernética. Várias pessoas se organizam em comunidades

na internet, embora essas comunidades fujam ao padrão de territorialidade, de espaço, de

lugar. Se na cidade real é fácil conseguir o anonimato, muito mais é na comunidade virtual.

“Para muitos se torna o lugar para o desbordo sexual”.6

Muita informação, muitos dados são oferecidos aos cidadãos, porém pouco

conhecimento. Há uma certa padronização nos conteúdos oferecidos pela mídia aos que lêem,

assistem ou acessam os meios de comunicação. Os grupos infinitos de pessoas que se

constituem na cidade devem traduzir toda carga de informação e transformá-la em

conhecimento. A Igreja, como responsável por tantas comunidades na cidade, tem ajudado e

deve cada dia mais oferecer leitura crítica sobre a realidade urbana e elaborar propostas

exeqüíveis para humanizar a cidade, torna-la bela e de todos. “A cidade conta com cristãos

engajados em diferentes atividades. Dessa forma criam espaço para a discussão responsável,

aberta, plural sobre o papel da Igreja na sociedade brasileira em mudanças, na busca de

solução para as desigualdades e os conflitos sociais existentes”.7

O respeito ao espaço público deve ser ensinado. O respeito pela praça, pelas vias

públicas, pelas calçadas, pelos direitos, pela democracia, pelos idosos, pelos portadores de

necessidades especiais, pelo trânsito, pelo verde, pelos rios é um processo educativo. Tem que

ser aprendido na família, na igreja, na escola, na televisão, no rádio, na internet, no outdoor.

Todos devemos aprender que o espaço público não pode tornar-se privado. Ele deve ser

sempre salvaguardado para que todos possam utilizá-lo.

O cidadão poderia receber melhor educação para reconhecer o seu espaço, o espaço

privado e valorizar, cuidar, respeitar o espaço que é comum a todos. Na cidade de São Paulo,

6 LIBANIO, J. B. As lógicas da cidade: o impacto sobre a fé e sob o impacto da fé. São Paulo: Loyola, 2001. p. 46. 7 SANTA ANA, J. de. Economia e política. In: SILVA, A. A.(org.). América Latina: 500 anos de evangelização. Reflexões Teológico-pastorais. São Paulo: Paulinas. 1990. p. 157.

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há várias iniciativas de valorização da cidade, iniciativas de ONGs que em parceria com a

Prefeitura do Município tem avançado nas discussões e cuidados do espaço urbano. Podemos

citar o “Movimento Viva o Centro”, a “Paulista Viva” com suas contradições que se

contrapõem entre o cuidar do espaço público e o torná-lo privado. Há casos de grupos que

tomam conta do espaço e o faz seu, o que de certa forma deixa de ser público. Há uma perda

da noção do espaço público e do espaço privado que precisam ser recuperados. São conceitos

e atitudes que precisam ser aprendidos.

O cidadão urbano que vive atribulado com o trabalho, o trânsito, a velocidade da vida

na cidade que, nos dias de tempo livre, muitas vezes não sabe o que fazer, para onde ir. As

dificuldades financeiras também não lhes dão muitas possibilidades. È contraditório, mas o

Shopping é a opção mais comum para ocupar o tempo livre daqueles que não tem dinheiro,

andar por ele, ver vitrines, paquerar são atitudes consideradas como lazer e diversão.

O lixo é um dos grandes problemas das grandes cidades. A quantidade de lixo

produzida por dia é muito grande. Na cidade de São Paulo os aterros sanitários estão

esgotados. A quantidade de lixo que não é lixo também é muito grande, mas como não há

coleta seletiva, o que poderia ser reciclado vira lixo, salvo a coleta feita por homens e

mulheres que moram na rua e outros moradores da cidade que estão desempregados. São

muitas pessoas: são homens, mulheres e crianças, famílias inteiras que vivem do lixo

produzido na cidade. Estes homens e mulheres são as pessoas mais ecológicas da cidade, pois

recolhem tudo que a sociedade descartou como lixo e transformam em vida, transformam em

sobrevivência. A cidade fica mais limpa e, muito lixo que seria levado aos córregos são

recolhidos evitando enchentes e sofrimento dos cidadãos.

Na cidade há diversas ONGs que trabalham com a reciclagem de material. Pessoas que

formam cooperativas para recolher, armazenar, vender ou reciclar o material coletado. A

Igreja é uma grande incentivadora e motivadora da coleta seletiva e reciclagem de material. A

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Região Episcopal Belém da Arquidiocese de São Paulo há algum tempo ajudou na

organização de uma entidade que tem o nome de “Sapoecológico”, na região do Jardim

Sapopemba. Esta ONG incentiva a separação do material: vidro, alumínio, papel e plástico.

Recolhem o material selecionado, armazenam e vendem. Há também uma ONG que faz

reciclagem de papel. Como gesto concreto da Campanha da Fraternidade de 1999 sobre o

desemprego, a Região Belém apoiou a fundação de uma entidade chamada “Chico Mendes”

no Pró Morar Rio Claro, Parque São Rafael e financiou parte da construção de um centro para

armazenamento e reciclagem de material. Hoje a entidade tem vários cooperados que tiram

dali seu sustento. O lixo hospitalar é outro problema muito grande para a cidade. O esgoto é

outro assunto difícil e muito complicado que as administrações públicas “não querem”

resolver.

Sonhar com uma cidade mais humana é direito e dever de todos que a habitam. Sonhar

com as crianças brincando tranqüilamente nas ruas da cidade. Sonhar com acesso aos direitos

básicos para todas as pessoas. Sonhar com a liberdade na cidade. Sonhar com a valorização

dos idosos, da natureza, do espaço público, sonhar com uma cidade limpa, humana e fraterna.

Sonhar para desafiar o novo. Mudar os paradigmas da administração pública. Construir uma

nova cidade, com valores que respeite cada indivíduo e o seu conjunto.

1. A urbanização brasileira

A história da urbanização brasileira está relacionada a alguns marcos históricos da

nossa sociedade. O Brasil deixou o século XIX com aproximadamente 10% da população nas

cidades. Somente a partir da virada do século XX é que o processo de urbanização da

sociedade brasileira começa a realmente se consolidar. Isso se dá com a emergência do

trabalho livre em 1888 com a abolição da escravidão, com a Proclamação da República em

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1889 e com uma indústria ainda incipiente que se desenrola na esteira das atividades ligadas à

cafeicultura e às necessidades básicas do mercado interno. A privatização da terra em 1850

também é um marco histórico importante para compreender a urbanização brasileira e o

surgimento dos problemas nas cidades.8

1.1. Alguns aspectos da urbanização brasileira

A industrialização no Brasil, que início a partir de 1930 e vai até o fim da Segunda Guerra

Mundial, constitui um caminho de avanço relativo de iniciativas e de fortalecimento do

mercado interno nacional, com grande desenvolvimento das forças produtivas e diversificação

de mercadorias, assalariamento crescente e modernização da sociedade. Em 1950, o processo

de industrialização entra em nova etapa. O país passa a produzir bens duráveis e até bens de

produção. Com a produção de bens de consumo há uma profunda mudança nos hábitos das

pessoas e do espaço que estas ocupam. A arquiteta e urbanista Ermínia Maricato diz que além

dos inúmeros eletrodomésticos e bens eletrônicos, o automóvel, produzido por esta grande

indústria fordista, a partir dos anos 50, iria promover mudanças significativas no modo de

vida dos consumidores (que inicialmente eram restritos às faixas de maior renda) e também na

habitação e nas cidades. Houve mudanças desde a ocupação do solo urbano até o interior da

moradia, a transformação foi profunda, o que não significa que tenha sido homogeneamente

moderna.9

Em 1940, a população urbana era 26,3% do total. Em 2000, passou a 81,2%. Este

crescimento se mostra mais impressionante ainda se lembrarmos os números absolutos: em

1940 a população que residia nas cidades era de 18,8 milhões de habitantes e, em 2000, eram

8 SANTOS, W.G. dos. Razões da desordem. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. p. 49 9 MARICATO, E. Brasil, cidades alternativas para a crise urbana. Petrópolis: Vozes, 2001. p. 19.

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aproximadamente 138 milhões. Constatamos, portanto, que em sessenta anos os

assentamentos urbanos foram ampliados de forma a abrigar mais de 125 milhões de pessoas.10

Esses dados são ainda mais dramáticos quando se analisam exclusivamente as grandes

cidades. Dos 169.544.443 de habitantes brasileiros em 2000, aproximadamente 30% moravam

em nove metrópoles. Duas delas estão entre as maiores cidades do mundo, Rio de Janeiro

(10,7 milhões de habitantes) e São Paulo (16,7 milhões). Um total de 13 cidades tem mais de

um milhão de habitantes.11

O Brasil, por séculos, foi considerado um país essencialmente agrícola. “O urbanismo

é condição moderníssima de nossa evolução social. Toda a nossa história é a história de um

povo agrícola, é uma história e sociedade de lavradores e pastores. É no campo que se forma a

nossa raça e se elaboram as forças étnicas de nossa civilização”. 12

O fator demográfico era considerado primordial para transformar o Brasil rural num

Brasil urbano, mas o processo de urbanização vem acompanhado de problemas para os

governantes das cidades e mais ainda para seus habitantes. “Em 1998, 55% dos domicílios do

país não tinham acesso à água potável. Destes, 11,4% eram urbanos”.13 No Brasil, a

urbanização caracteriza-se por um processo de metropolização, evidenciado pelo “inchaço”

das chamadas regiões metropolitanas.

O inchamento das cidades que não desenvolveram suficientemente sua

capacidade produtiva para atender com emprego a população migrante que

acaba relegada ao terciário informal, “a desarticulação da rede urbana com a

formação de mega-pólos “desproporcionalmente grandes”, o “tecido urbano

10 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por amostra de domicílios 2001: Síntese e indicadores. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. p. 28. 11 FUNDAÇÃO SISTEMA ESTADUAL DE ANÁLISE DE DADOS. O estado dos municípios 2000-2002: Índice Paulista de Responsabilidade Social, Versão 2004. São Paulo: SEADE, 2004. p. 13. 12 SANTOS, M. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993. p. 17. 13 SECRETARIA ESPECIAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Diagnóstico dos Serviços de água e Esgotos. Brasília: 1998. Mimeografado.

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truncado” são teses e conceitos que não disfarçam a matriz em relação ao

qual o desvio é apontado. 14

A dimensão demográfica da urbanização brasileira pode ser detectada em vários

estudos realizados pela ONU em dezembro de 1974.15

A cidade deve oferecer infra-estrutura e serviços para seus habitantes. Rede de água,

esgotos, transporte público, coleta de lixo, varrição de rua, iluminação pública, escolas de

qualidade, posto de saúde e hospitais que funcionem, creches, praças são algumas das

necessidades das pessoas que precisam ser atendidas pela municipalidade para que seja

considerada terra urbana. O contrário disso é aglomeração de pessoas e moradias. Terra

urbanizada é um elemento-chave da política urbana, habitacional e vida na cidade.

As grandes cidades são detentoras de infinitos problemas que dificultam a convivência

e vida saudável de seus habitantes. A poluição do ar, a poluição visual, a poluição sonora são

alguns dos itens do grande elenco de dificuldades enfrentados pelos moradores dos grandes

centros urbanos. A poluição sonora é particularmente preocupante em áreas tropicais e

pobres, como no Brasil, onde as populações estão mais desprotegidas, inclusive porque o

isolamento dos imóveis é frágil. A falta de arborização, que seria uma barreira acústica, e a

prioridade ao transporte individual motorizado são os principais causadores de ruído urbano

vindo dos céus, outro dos problemas crescentes em São Paulo, é agravado pelo tráfego

acentuado de helicópteros e pela falta de normas de controle.

14 PAMPLONA, T. A apoteose dos contrastes. Relatório de Pesquisa. São Paulo: FAUUSP, 2000. p. 57. 15 FARIA, V. E. Cinqüenta anos de urbanização no Brasil. Tendências e perspectivas-Estudos. São Paulo: Estudos CEBRAP, n. 29, p. 112-116, [mar.] 1991.

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No fundo, as grandes cidades brasileiras são reflexos de uma sociedade contraditória e

fragmentada, conseqüência da desigualdade social. Ao lado de pessoas que exibem os mais

caros carros importados, aparelhos eletrônicos de última geração e moram em mansões,

vivem pessoas que não tem o que comer, o que vestir e nem onde morar. Ao lado de quem

esbanja em festas, restaurantes e roupas estão pessoas sem atendimento médico e hospitalar,

freqüentam escolas sem professores e em péssimas condições de educar e de contribuir para a

transformação da sociedade.

As periferias das grandes cidades são os lugares que mais crescem e, com estes, os

problemas causados pela ausência de infra-estrutura para seus habitantes. Há tempos a Igreja

no Brasil alerta para as necessidades e carências das pessoas que moram nessas regiões.

A periferia, como fenômeno de marginalização, salta aos olhos. E esta

periferia tende a crescer, mais como “inchação” que por integração orgânica,

como conseqüência de um processo seletivo de industrialização, e de um

processo global de mudança, baseado na concentração de poder

econômico.16

A Arquidiocese de São Paulo, impulsionada pelo então Arcebispo, Dom Paulo

Evaristo Arns, nos anos 70 e 80 trabalhou num grande projeto chamado “Operação Periferia”.

16 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Pistas para uma pastoral urbana. (Estudos da CNBB n. 22) 11. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1979.

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Houve uma grande adesão de toda a Igreja e os resultados são vistos hoje pela

quantidade de Comunidades Eclesiais de Base e entidades sociais constituídas nestas

localidades. Não vamos aqui aprofundar este período e este trabalho da Igreja de São Paulo.

2. A cidade

A palavra “cidade” sintetiza o interesse da população. “Cidade é a expressão palpável

da necessidade humana de contato, comunicação, organização e troca, numa determinada

circunstância físico-social e num contexto histórico”.17 A palavra cidade vem do latim

“civitas”. Designava as cidades-estados, unidades de exercício do poder, desde séculos antes

de Cristo. A palavra cidade deu origem a termos como cidadão e cidadania. O exercício da

cidadania é fundamental no município, deve ser estimulado para pessoas e entidades.18

Uma série de conceitos vinculam a idéia de cidade: urbanização, civilização,

modernidade, mercado, política (polis), civilidade. A própria semântica expressa, na

dualidade de termos – urbs/civitas (latim); city/town (inglês); cité/ville (francês) com

mudanças expressivas de significação – a multiplicidade de abordagens e de ângulos de visão

da cidade como um todo ou de aspectos do fenômeno urbano.19

Como a cidade foi criada pelo homem por necessidade de sobrevivência, esta deve ser

para o homem um lugar de vida. O teólogo João Batista Libânio diz, utilizando imagens

geométricas, que o ser humano começou seu movimento cultural linearmente. Caçava os

animais e colhia os frutos existentes para sua subsistência em determinado lugar. Terminado

essa faina, prosseguia o caminho em frente. E assim por diante. Descrevia uma linha segundo

as sinuosidades do relevo geográfico. Quando o ser humano deixa sua vida nômade de coletor

17 COSTA, L. Registros de uma vivência. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998. p. 277. 18 CENEVIVA, W. Cinco anos do Estatuto da cidade. Folha de São Paulo. 21 de janeiro 2005. Caderno C. p. 2. 19 BENEDETTI, L. R. Cidade e condição humana. Revista Vida Pastoral. São Paulo, Paulus, n. 225, p. 3, [jul./ago.] 2002.

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e caçador, já não conseguindo superar as limitações da natureza, sedentariza-se, construindo

cidades.20

J. Bronowski, comenta que “após um milhão de anos de andanças, o homem chega à

escolha crucial: abandonar o nomadismo e tornar-se aldeão”.21 Vários estudiosos apontam a

data do início da agrupação de pessoas como sendo também o início da vida urbana. “O

homem começou a viver em cidades há cerca de 5.500 anos”.22

2.1. A metropolização

O crescimento das cidades na sociedade moderna não tem limites. O processo de

urbanização se apresenta como uma máquina de produzir favelas e agredir o meio ambiente.

O número de imóveis ilegais na maior parte das grandes cidades é tão grande que se pode

afirmar que “a regra se tornou exceção e a exceção regra”. A cidade legal (cuja produção é

hegemônica e capitalista) caminha para ser, cada vez mais, espaço da minoria.23

O processo de urbanização, cada dia mais acelerado tem raízes na industrialização,

pois aí estão as oportunidades de emprego que a agricultura não oferece à população. Porém,

o crescimento das cidades é desproporcional à urbanização e do aumento da oferta de serviços

e equipamentos requisitados pelos habitantes. “Bem ou mal, de algum modo, improvisado ou

não, 138 milhões de habitantes moram em cidades”.24

A maioria das grandes cidades no Brasil é construída de forma ilegal, sem a

participação dos governos, sem recursos técnicos e financeiros adequados e proporcionais ao

20 LIBANIO, J.B. As Lógicas da cidade. p.27. 21 BRONOWSKI, J. A escalada do homem. São Paulo: Martins Fontes, 1979. p. 60. 22 SJORBERG, G. Origem e evolução das cidades. In: DAVIS, K. Cidades a urbanização da humanidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. p. 36. 23 SCHWARZ, R. As idéias fora do lugar: Estudos CEBRAP. p 3. São Paulo: Cebrap, 1993. p. 57. 24 MARICATO, E. Brasil, cidades alternativas para a crise urbana. p. 16.

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grande contingente de pessoas que se instalam, por necessidade e falta de opção, nas encostas,

na beira dos córregos, em áreas de mananciais. Na cidade de São Paulo é grande o número de

moradias construídas em áreas de risco ou de proteção ambiental. Na “cidade ilegal”, os

serviços oferecidos à população são precários ou simplesmente não existem.

A “cidade ilegal” é fruto do loteamento de terrenos clandestinos destinados aos

trabalhadores de baixo salário, do mercado informal e ao grande contingente de

desempregados. A ilegalidade da cidade está presente nas zonas periféricas e também nas

centrais, onde estão localizadas as favelas. Enfim, não seria leviano afirmar que se trata de

fruto da desigualdade social da sociedade brasileira.

Os indicadores de moradias urbanas construídas a partir da invasão de terras

mostram que a invasão, espontânea ou organizada, é uma alternativa

habitacional que faz parte da estrutura de habitação no Brasil. Nesse sentido,

apesar de ilegal, ela é institucional: é funcional para a economia

(barateamento da força de trabalho) e também para o mercado imobiliário

privado, e é ainda funcional para orientação dos investimentos públicos

dirigidos pela lógica da extração concentrada e privatista da renda fundiária

[...] A ilegalidade é tolerada porque é válvula de escape para o mercado

imobiliário altamente especulativo.25

São desastrosas as conseqüências da cidade ilegal para a população em geral:

enchentes, desmoronamentos, incêndios. A cada dia, esses acontecimentos são mais

freqüentes, sobretudo nas metrópoles, devido ao mau uso do solo urbano e a clandestinidade a

que as pessoas são submetidas na cidade.

25 BONDUK, N. (org.). Habitat: Contribuição para um plano de ação brasileiro. São Paulo: Nobel, 1996. p. 82.

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As cidades grandes vivem uma crise e carecem de planos e planejamentos para que

possam ser mais humanizadas, transformando-se em espaços de convivência e de igualdade

de direitos, apesar da diversidade de interesses e condições dos cidadãos que nelas habitam.

Por exemplo: nas favelas, além das dificuldades com esgoto, água, luz e telefonia, há também

problemas com a limpeza, coleta de lixo, varrição, iluminação. Esse descaso não se dá

somente nas favelas também é enfrentado por grande parte dos bairros periféricos da cidade,

que são considerados “legais”.

Na cidade “oficial”, isto é, para alguns bairros privilegiados, existe outro padrão de

manutenção: as ruas são varridas com mais freqüência, a iluminação é melhor, o policiamento

existe, há praças e jardins cuidados. Basta uma volta pela cidade para ver a olho nu os sinais

de contradição, de exclusão social, de apartação social que uma sociedade desigual propõe,

impõe e mantém. São conflitos sociais visíveis que a sociedade brasileira ignora ou

simplesmente não reconhece sua existência.

Os serviços de infra-estrutura são sempre garantidos aos moradores dos bairros de

classe alta, enquanto que para os moradores dos bairros da periferia não são assegurados, o

que ocasiona muitos outros problemas de saúde, segurança, educação, emprego, mortalidade

infantil e criminalidade. Em centros como a cidade de São Paulo, há uma separação entre a

cidade que é o centro de negócios ou os bairros de casas luxuosas e a cidade periférica onde

moram os pobres.

Existe ainda a necessidade de reconhecer as diferenças existentes entre a cidade da

noite e a cidade do dia. A cidade do dia é aquela do comércio, dos negócios, do trabalho e a

cidade da noite é aquela da moradia, do descanso, da televisão, do lazer, da comunidade.

Podemos lembrar de uma terceira separação, que é entre a cidade da semana - cheia de

congestionamentos, ônibus superlotados, aulas, filas, creches, consultas médicas - e a cidade

do fim de semana, da cidade “vazia”, sem trânsito, da rua que vira lugar de lavar o carro, da

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feira, dos cuidados com a beleza do corpo. Nos finais de semana, sobretudo nos feriados

prolongados e durante as férias de verão há um verdadeiro esvaziamento da cidade.

A Igreja de São Paulo, há anos tem colocado a moradia como prioridade. O 5º Plano

de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo (1987-1990) já destacou este tema e o 6º Plano

(1991-1994), e o 7º Plano (1995-1998) também apresentaram a grande dificuldade em se

obter uma moradia como prioridade para ação da Igreja. Algumas Paróquias, devido a sua

localização, tem atenção e maior compromisso com esta realidade. A urbanização de favelas é

um dos “gritos” da Pastoral da Moradia da Arquidiocese de São Paulo. Legalização dos

bairros, luta por água, luz, saneamento básico, equipamentos de saúde, escolas e creches são

lutas do povo nas quais vários padres, religiosas, leigos e leigas se inserem para apoiar,

mobilizar e conquistar os direitos básicos da vida de uma pessoa.

Se formos buscar elementos jurídicos para garantir os direitos básicos das pessoas na

cidade, encontraremos leis e mais leis que protegem a cidade e seus habitantes. O Estatuto da

Cidade; Lei Nacional que reconhece o direito às cidades sustentáveis como um dos direitos

fundamentais da pessoa humana; As Diretrizes Gerais da Política Urbana que garantem a

formulação e implementação da políticas urbanas de interesse comum sobre o interesse

individual de propriedade e O Plano Diretor que é exigência constitucional para municípios

com mais de vinte mil habitantes são alguns exemplos das Leis que deveriam garantir e

proteger a vida dos habitantes urbanos.26

Como regulamentadora dos Artigos 182 e 183 da Constituição, em seu parágrafo

único do Capítulo I “estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso

da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos

bem como do equilíbrio ambiental”.27

26 FORUM REGIONAL DE REFORMA URBANA. Reconhecimento do direito à cidade. Disponível em: http://www.forumreformaurbana.org.br/conteudo.asp?cat=fnru_carta_implementação&pg=1. Acesso em: 09 de fevereiro de 2006, 10:15:21. 27 MARICATO, E. Brasil, cidades alternativas para a crise urbana. p. 103.

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O Estatuto da Cidade também não decepciona em garantias jurídicas para que a cidade

seja de todos. Há regulamentação das leis, há os Planos Diretores para cada cidade, Fóruns

para Reforma Urbana e outras organizações que buscam soluções para os problemas das

grandes aglomerações urbanas, que são diversas, múltiplas, e que a cada dia apresenta uma

nova perspectiva, com mudanças na paisagem, perdas, conquistas. A cidade é um processo

contínuo de transformações. E, apesar de todas as aparentes garantias legais muitas

necessidades dos habitantes urbanos ainda não saíram do papel. A Igreja e a sociedade devem

continuar lutando para que todas as normas em benefício da vida da cidade sejam colocadas

em prática.

A paisagem urbana é sempre dinâmica, pois a sociedade é dinâmica e o espaço da

cidade é transformado para atender as necessidades criadas. Cada pessoa, cada sociedade é

que define no seu tempo o espaço que escolheu ou que escolheram para viver. O homem

manipula este espaço ou então é manipulado por ele. O homem cria, transforma, destrói,

constrói o espaço segundo as suas necessidades. Ele tem liberdade para isto, porém, precisa de

normas para que a memória, cultura e o direito de todos sejam salvaguardados. O geógrafo

Milton Santos diz que as cidades são formadas a partir do comportamento demográfico.

As explicações do fenômeno de urbanização variam. Todas, porém, giram

em torno de fatores como o comportamento demográfico, o grau de

modernização e de organização dos transportes, o nível de industrialização,

os tipos de atividades e relações que mantém com os grupos sociais

envolvidos, criação e retenção local do valor adicionado, a capacidade local

de guardar uma maior ou menor parcela de mais-valia gerada, o grau de

distribuição da renda entre os produtores, os efeitos diretos ou indiretos da

modernização sobre a política, a sociedade, a cultura e a ideologia.28

28 SANTOS, M. Espaço e sociedade. Petrópolis: Vozes, 1979. p. 37.

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O ser humano cria o seu próprio ambiente, transforma a natureza, faz dela sua cultura.

Desde há muito tempo o ser humano vem adaptando a ordem das coisas e adaptando-se as

coisas já ordenadas para garantir a sua sobrevivência. “Há um espaço de consumo, mas há

simultaneamente um consumo de espaço, ou seja, o espaço também é propriamente um objeto

de consumo. As relações espaciais estão presentes no modo de produção e o espaço atua,

simultaneamente, como produtor e como produto, como relação e como objeto”.29

Nestes cinco mil e quinhentos anos de agrupamento de pessoas em cidades, o conceito

de “casa” variou consideravelmente. Todas as pessoas querem ou precisam de um lugar que

seja seu, onde possam guardar suas coisas, preservar sua vida, cultivar a sua privacidade.

Hoje, a casa, sobretudo nas grandes cidades, deixou de ser o lugar das relações interpessoais

de seus membros para tornar-se mero lugar de pernoite e espaço aberto para todas as

influências externas: rádio, televisão e, cada dia mais, a internet. Nos grandes centros urbanos,

por exemplo, a cozinha tornou-se um espaço pequeno, pois, quase não é usada devido à

comodidade oferecida pelos fast foods e delyveris, enquanto a televisão ganhou bastante

espaço na sala, nos quartos, na cozinha e até nos banheiros. A casa tornou-se lugar para

dormir, assistir televisão e “conversar”, mas não com aquelas que estão dentro da mesma casa

e sim com aquelas que estão em outros extremos da cidade, em outras cidades e em outros

países, compondo as comunidades virtuais. “O efeito mais grave da cultura virtual sobre a fé é

a sua descomunitarização. Nada substitui a presença física”.30

Os levantamentos demográficos demonstram que as pessoas continuam buscando as

cidades para trabalhar, morar e viver. “Há 60 anos, 30% dos habitantes do país, que então

29 GOMES, P. C. da C. A condição urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. p. 28. 30 LIBANIO, J. B. As lógicas da cidade. p. 135.

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tinha 41 milhões, estavam na cidade e 70% no campo. Agora é mais que o inverso: 80% na

cidade e 20 % no campo. Este é o novo Brasil desafiador”.31

No Brasil são mais de cinco mil e quinhentas cidades, sejam grandes centros urbanos

ou pequenos aglomerados de três mil pessoas. Embora as cidades não ofereçam casa para

todas as pessoas que nelas queiram fixar-se, há novos habitantes a cada dia, mesmo que seja

para viver nas ruas. Na cidade de São Paulo há mais de dez mil pessoas vivendo nesta

situação.

Desta foram, as cidades vão se transformando cada vez mais em aglomerados de

pessoas e carecendo de um redimensionamento para poder crescer e ao mesmo tempo oferecer

melhor qualidade de vida, respondendo a problemas como o tráfego, a poluição, a densidade

populacional e a concentração de atividades urbanas, e tornam os espaços cada vez mais

restritos.

Morar na periferia, na maioria das cidades brasileiras é o destino da população mais

pobre. Existem bairros surgindo dia após dia, muitos destes nas chamadas zonas rurais, longe

do centro e conseqüentemente, sem receber muita atenção pelo poder público. São esquecidos

porque não são vistos, estão escondidos. Populações inteiras ocupam áreas de encostas, de

preservação ambiental, áreas sem a mínima infra-estrutura. Esses novos moradores não

dispõem de serviços sociais ou só podem utilizá-los precariamente, ainda que pagando altos

impostos.

O transporte é caro e ruim, além de demorado. A mobilidade das pessoas na cidade de

São Paulo, em vez de ser um direito, torna-se um verdadeiro castigo. Em decorrência da

privatização destes serviços as linhas de transportes coletivos que dão lucro funcionam

razoavelmente bem, mas aquelas que não são rentáveis estão fadadas ao descaso da

fiscalização pública. De fato, o problema é agravado pelo fato de as cidades terem

31 ISTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Contagem da população. Vol. I. Rio de Janeiro: 1996. p. 52.

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privilegiado, a partir dos anos setenta o transporte individual e também porque o

planejamento do transporte urbano coletivo tem sido fortemente influenciado pela lógica e

pelos interesses dos empresários do transporte.

Os bairros periféricos das cidades são extremamente carentes de serviços e bens que

possam assegurar a possibilidade de sair da situação de pobreza. Há grupos constituídos por

toda periferia da cidade que lutam democraticamente por melhores condições de vida. As

Comunidades Eclesiais de Base tiveram e ainda tem grande responsabilidade na organização

destes grupos, batalham por moradia, saúde, transporte, escolas, creches, água, luz e outras

necessidades básicas do ser humano.32

Na cidade, além da distância geográfica, aqueles que vivem na periferia também

sentem uma “distância política” muito grande. Morar na periferia significa distanciar-se dos

seus efetivos direitos e das instâncias de poder. Vale lembrar que na periferia está a grande

porcentagem dos analfabetos. A dificuldade de acesso à informação também é um fator

importante que desfavorece essa população.

Nesta “cidade periférica” os pobres carecem de saúde, de educação, de transporte, de

moradia, de cultura e de lazer. “As condições existentes nesta ou naquela região determinam

essa desigualdade no valor de cada pessoa, tais distorções contribuem para que o homem

passe literalmente a valer em função do lugar onde vive. Essas distorções devem ser

corrigidas, em nome da cidadania”.33

O espaço geográfico separa aqueles que tem poder de consumo e aqueles que não tem

tal poder. Na cidade, apesar de dividirem o mesmo espaço, as relações sociais são desiguais.

32 CIPOLINI, P. C. Como verificar a veracidade da Igreja nas CEBs? Revista Eclesiástica Brasileira. Petrópolis: Vozes, Fasc. 193, [mar.] 1989. p. 305. 33 SANTOS, M. O Espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987. p. 112.

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De um lado, estão aqueles que são proprietários dos bens de produção, e do outro,

aqueles que são portadores da força de trabalho. Há vários geógrafos e urbanistas, como

Milton Santos, Paulo César da Costa Gomes, Ermínia Maricato, Maria Adélia A. de Souza,

que nos ajudam a perceber esta divisão vivida pelos moradores da cidade. Uma divisão que a

Igreja deve conhecer e ajudar a combater, por meio dos ensinamentos evangélicos.

Na cidade há uma grande delimitação de territórios. Um fenômeno que se torna

primordial compreender, antes de qualquer intervenção.

O território é, pois, neste sentido, parte da extensão física do espaço,

mobilizada como elemento decisivo no estabelecimento de um poder. Ele é

assim uma parcela de um terreno utilizada como forma de expressão do

controle sobre outrem. Por meio deste controle é possível a imposição das

regras de acesso, de circulação e a normatização de usos, de atitudes e

comportamentos sobre este espaço. Este controle do território é a expressão

de um poder, ou seja, ele é aquilo que está em jogo em grande parte das

disputas sociais, aí incluídas aquelas que disputam um direito à cidade.

Finalmente, a territorialidade é vista aqui como o conjunto de estratégias, de

ações, utilizadas para estabelecer este poder, mantê-lo ou reforça-lo. 34

A população de menor poder aquisitivo, sobretudo aquela que paga aluguel para ter

sua moradia é a que mais migra dentro da cidade. O mesmo ocorre com os moradores das

favelas, expulsos eventualmente pela reintegração de posse pelo proprietário ou simplesmente

para dar vazão ao crescimento da cidade e de seus equipamentos urbanos, como avenidas,

praças e viadutos. Outras vezes, o fogo acidental ou provocado é causa destas migrações nas

favelas.

34 GOMES, P. C. da C. A condição urbana. p. 12.

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O espaço urbano é ocupado em função das classes sociais em que se divide a

sociedade. As razões econômicas definem onde habitarão aqueles moradores. Quem tem

dinheiro, mora em bairros próximos ao centro ou planejados para abrigar residências de

médio ou alto padrão. Para quem não tem poder econômico, os bairros distantes e as regiões

centrais mais degradadas surgem como solução, como acontece em São Paulo, onde quem

dispõe de melhores condições financeiras não deseja morar no centro, mas sim, próximo dele,

uma vez que o centro histórico da cidade de São Paulo está deteriorado.

De modo geral, o espaço urbano moderno nas grandes cidades se caracteriza pela

perda dos centros, ou então, por um pluricentrismo simultâneo: são centros de compras,

centros financeiros, centro de lazer. Nas grandes cidades, há diversos centros que se formam

no entroncamento de bairros. Ali existem algumas ruas que concentram lojas, bancos, casas

de lazer e serviços diversos, mas a Igreja nem sempre faz parte destes centros.

Entretanto, há cidades do interior em que ainda se conserva a Igreja num lugar alto,

bem visível, como “o lugar da religião”. Há uma praça e, geralmente, ao redor deste espaço se

desenvolveu o comércio. Essas cidades são chamadas de tricêntricas, ou seja, a praça, a

moradia e a igreja. “A grande cidade desfaz essa lógica. Embaralha fisicamente os centros e

transforma radicalmente os espaços. Ela é policêntrica. Quanto mais se avança a tecnologia,

mais os centros se confundem”.35

Na origem das cidades tricêntricas, a religião exercia claramente o papel normativo.

Nelas, os espaços são de alguma forma delimitados e respeitados. Porém, nas grandes cidades

hoje já não há nenhum espaço absolutamente delimitado. Convém aqui apresentar uma outra

visão de território, na perspectiva da Assistência Social:

35 LIBANIO, J. B. As lógicas da cidade. p. 31.

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Os espaços territoriais são crivados pela significação simbólica e

interpretados pelos sujeitos por meio dos símbolos que lhes dão significados.

Onde eu posso ou não posso transitar. [...] Ser conhecido é sinal de

reconhecimento e, portanto, a certeza de que o outro, “apesar de todas as

injustiças”, não fará com ele atrocidades que faz com outras pessoas.36

De fato muitas coisas podem acontecer no mesmo espaço. Um espaço onde antes era

sala de cinema pode ser transformado num templo religioso. Um grande estacionamento de

veículos pode acolher uma multidão para a missa. O estádio de futebol cede lugar para shows,

comícios, cultos religiosos. No templo religioso católico, o presbitério, espaço antes exclusivo

do padre, hoje é ocupado pelos leigos e leigas com função ou não nas celebrações.

A cidade movimenta-se a partir dos interesses das pessoas. Os interessados nas

cidades são os moradores, os comerciantes, os empresários, o poder público, as igrejas. O

mundo urbano é pluriespacial e regido pelos desejos e escolhas das pessoas, seja de quem

escolhe a cidade para nela viver ou para viver dela.

Não é comum encontrar pessoas que realmente amam a cidade, que cuidam dela

desinteressadamente. Muitos querem aquilo que ela oferece: liberdade e oportunidade de

ganhar o pão e, na maioria das vezes, o lucro. “As chaves do urbanismo estão nas quatro

funções: habitar, trabalhar, recrear (nas horas livres), circular”. 37

Uma das grandes dificuldades de viver na cidade e administrar a cidade são as

diferentes concepções de espaços. Há espaços públicos que não são coletivos e espaços

coletivos que são privados.

36 BAIERL, L. F. Medo social: da violência visível ao invisível da violência. São Paulo: Cortez, 2004. p. 203. 37 SOUZA, M.A. A. de. Governo Urbano. São Paulo: Nobel, 1988. p. 69.

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No próximo item, apontaremos algumas dificuldades de compreensão e respeito pelos

espaços que geram transtornos no convívio urbano.

2.2. Espaço Público e Espaço Privado

O espaço público é simultaneamente o lugar onde os problemas se

apresentam, tomam forma, ganham dimensão pública e, simultaneamente

são resolvidos, ou são despertados para a busca de soluções. Um dos maiores

problemas de nossa cidade foi o de haver transformado o público, ou seja, as

pessoas, em passivos expectadores. Segundo alguns críticos mais radicais, as

sociedades modernas, apesar de proclamarem os valores da consciência

individual e da democracia, estão completamente parasitadas pelo

corporativismo e pela propaganda, e nunca chegam de fato a construir um

espaço público, como aquele idealizado pelo pensamento liberal moderno. 38

Há uma forma largamente utilizada para definição de “público” como aquilo que não é

privado. Porém, esta definição parece não ser muito apropriada, pois existem outras

definições para o espaço, como por exemplo, comum e coletivo. Há quem defina o espaço

público como aquele de livre acesso às pessoas, mas esse pressuposto também não confere um

status público ao espaço.

Vários espaços, como os equipamentos de serviços administrados pelo governo são

como públicos, porém seu acesso não é livre: hospitais, áreas militares, administrativas,

escolas, todos estes espaços não possuem como regra um acesso aberto a todos e nem por isso

perdem sua qualidade de locais públicos. Hoje no Brasil, a idéia de coisa pública se confunde,

em grande medida, como algo de baixa qualidade ou de uso exclusivo das camadas populares.

38 GOMES, P. C. da C. A condição urbana. p. 161.

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A mesma desvalorização ocorre com o espaço público uma vez que o acesso é livre, e a

freqüência majoritária é composta de elementos que tem origem nessas camadas populares.

Assim, vários espaços públicos se transformam cada vez mais numa espécie de

passarela para mendicância, prostituição, comércio ambulante de mercadorias baratas ou

contrabandeadas ou até roubadas. Isso acontece no centro da cidade e em diversos bairros da

periferia. “O encolhimento do espaço público corresponde a um recuo da cidadania”.39 È

necessário ter em mente que as práticas sociais não são independentes de uma organização

espacial e evangelizar neste contexto implica redefinir seus conceitos de atuação,

compreender as dimensões físicas dos espaços onde se que atuar, abrir-se para a dimensão

simbólica dos grupos que aí se reúnem, residem ou freqüentam.

Os processos descritos acima indicam a importância da organização espacial na

constituição e nas dinâmicas sociais da cidade. Para evangelizar na cidade é imprescindível o

conhecimento da sua organização social e conseqüentemente, de suas dinâmicas.

Fisicamente, o espaço público é, antes de qualquer coisa, o lugar, praça, rua, shopping,

praia, qualquer tipo de espaço, onde não haja obstáculos à possibilidade de acesso de qualquer

tipo de pessoa. È justamente nestes espaços que se desenrolam as cenas públicas, compostas

por uma multiplicidade de manifestações que variam bastante entre grupos, roupas,

indivíduos, famílias, acessórios, comportamento entre outros elementos. O estudo do uso dos

sinais serve, na área da comunicação, para falar dessas interações entre a topologia do espaço,

o percurso dos usuários e os signos inscritos nesse espaço. Este estudo é muito utilizado nas

programações dos supermercados, estações do metrô, aeroportos, de acordo com o tipo de

pessoas que freqüentam estes espaços.40 São elementos que podem ser incorporados aos

estudos dos espaços para melhor entender e definir as dinâmicas sociais, sobretudo aquelas

que se desenvolvem nos espaços públicos. Apropriar-se desses elementos da comunicação

39 GOMES, P. C. da C. A condição urbana. p. 188. 40 LIBANIO, J. B. As lógicas da cidade. p. 34-40.

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poderia ser uma estratégia moderna e eficiente para uma efetiva ação evangelizadora na

cidade.

Hoje a idéia de público parece corresponder freqüentemente à idéia de uma pessoa

posta diante de imagens e discursos espetaculares. Ele pode também se associar à concepção

de uma multidão passiva, incapaz de reagir criticamente, prisioneira de uma cotidianidade

niveladora. O espaço público foi, nesse sentido, em grande parte parasitado pela ação

demagógica dos governantes, por uma mídia criticamente dócil e pela “passividade” da

massa, tudo isso resultando na transformação de toda uma discussão social em um espetáculo.

O desafio é, portanto, o de retomar o espaço público como lugar de uma participação ativa,

normatizada e refunda-la como espaço da política.41

A invasão dos espaços públicos cada dia avança mais, com exemplos: como o uso de

barreiras em pequenas vias públicas sem saída, com seguranças particulares; guaritas que

controlam a entrada e saída de pessoas e carros; condomínios clandestinos; ocupações em

áreas de reserva, abertura de janelas sobre paredes “cegas”; muros em área de recuo;

caminhão que estacionam para vender seus produtos apresentando suas promoções por meio

de microfones em níveis altíssimos; pequenos comerciantes que colocam sobre as calçadas

mercadorias e bancas; bares que estabelecem uma projeção sobre a calçada e passam a utilizar

a mesma como extensão física do seu estabelecimento; caçambas são instaladas por dias nas

ruas da cidade e muito mais.

Os camelôs ocupam a calçada da rua através de toalhas no chão, onde espalham seus

produtos e bancas são instaladas para vender seus produtos, dificultando a passagem de

pedestres. Há neste caso uma estratégia de ocupação que começa sempre pelo uso de um

pequeno espaço, que vai se ampliando gradativamente, transformando-se em verdadeiros

assentamentos permanentes. Os terrenos são bastante disputados e sobre eles são

41 GOMES, P. C. da C. A condição urbana. p. 161.

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estabelecidos verdadeiros controles dos “proprietários”, que passam muitas vezes como

legítimos locadores e passam a recolher os frutos do “aluguéis”. Isto acontece também com os

guardadores de carros, que fazem das vias públicas terrenos particulares e sobre estes exercem

poder de cobrar pelo direito de estacionar. Em vários lugares da cidade até as calçadas são

tomadas e destinadas ao estacionamento de veículos. A primeira vista, parecem que todos

ganham: os guardadores, ao se apropriarem e ao explorarem uma área pública; e os

motoristas, por conseguirem burlar a lei e garantir seus interesses imediatos. Na verdade,

todos perdem, pois a cidadania recua. O livre acesso pressupõe a não exclusividade de

ninguém ou de nenhum uso diferente daqueles que são os de interesse comum, mas na prática

o que ocorre é a transformação desses espaços públicos em privados. Essa transformação, ou

melhor, invasão do espaço público, muitas vezes é garantida pela intimidação.

A cidade é hoje concebida como fragmentada, soma de parcelas mais ou menos

independentes, havendo uma multiplicação de espaços que são comuns, mas não públicos; há

um confinamento dos terrenos de sociabilidade e diversas formas de nos extrairmos dos

espaços públicos, como os telefones celulares e fones de ouvido. Além disso, os modelos de

lugares se redefiniram: shopping centers, ruas fechadas, paredes “cegas” permitem que

qualquer pessoa consiga, mesmo num espaço público, sentir-se fora dele. Quando fala ao

telefone celular com alguém num espaço público, o interlocutor não está “presente” naquele

espaço. Ele sai de uma situação pública para uma situação particular. O mesmo se dá quando

alguém se desliga de todas as outras pessoas presentes no espaço e seu interlocutor é o

walkman.

Cidade e civilização, duas palavras de raízes comuns, nas quais podemos ver projetos

associados, mas que são construções históricas e justamente por isso estão sujeitas a

alterações. As categorias podem permanecer, mas as formas que associam a elas estão sempre

em profunda transformação.

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2. 3. Pobreza e miséria nos centros urbanos

As cidades crescem desordenadamente, tornando-se “cada dia mais difícil oferecer

serviços básicos de alimentação, hospitais, escolas, exacerbando-se assim a marginalização

social, cultural e econômica. O aumento dos que buscam o trabalho foi mais rápido do que a

capacidade de dar emprego do próprio sistema econômico atual”.42

O crescimento urbano está muito ligado a exclusão social. Com o surgimento do

trabalho livre na sociedade brasileira, as cidades ganharam novos habitantes e com eles nova

dimensão, iniciando aí também o problema da habitação. Hoje estes problemas ainda estão

presentes nas cidades, sobretudo nas grandes cidades. Joaquim Nabuco já havia previsto que o

peso do escravismo estaria presente, na sociedade brasileira, muito após sua abolição.43

“Segundo estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 33% dos

pobres brasileiros se concentram, no Sudeste, predominantemente nas metrópoles”.44 Na

Região Metropolitana de São Paulo em 2001, havia 1,3 milhão de pessoas vivendo em

domicílios com renda familiar per capta inferior a um quarto de salário mínimo (300 mil

famílias, aproximadamente) e 2,8 milhões de pessoas com renda per capta inferior a meio

salário mínimo, conforme Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada

pelo IBGE.45

Os grandes centros urbanos apresentam realidades bastante diferentes entre si. No caso

de São Paulo não podemos falar de uma única cidade. As realidades são múltiplas. A cidade

está dividida administrativamente em 96 distritos. Podemos constatar pelo Censo 2000 que os

42 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 71. São Paulo: Paulinas, 1979. 43 MARICATO, E. Brasil, cidades alternativas para a crise urbana. p. 22. 44 INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Caracterização e tendências da rede urbana do Brasil. Brasília: IPEA, 1999. p. 22. 45 SECRETARIA MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. Mapa da vulnerabilidade social da população da cidade São Paulo. Vol. 4. São Paulo: Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, 2004. p. 11.

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distritos mais centrais estão sofrendo uma queda de população, enquanto os mais periféricos

recebem todo dia novos habitantes, conforme pode-se observar no anexo (página 237).

O Mapa da Exclusão Social, elaborado pela Professora Aldaíza Spozati, mostra

disparidade das condições de vida entre os distritos, comparando índices e estabelecendo

notas de exclusão/inclusão social a partir de padrões básicos de cidadania. Na cidade os

direitos da população estão ou não garantidos pelo espaço onde estas estão localizadas. Pelo

mapa percebemos que os distritos periféricos são os que apresentam maior grau de exclusão,

pois não oferecem a população os equipamentos públicos de saúde, creche, escolas e outros

serviços. O bairro habitado e o estado de pobreza do morador formam, desse modo as

condições objetivas que levam à exclusão social.

A dimensão territorial deve, assim, ser considerada um dos aspectos

constitutivos da vulnerabilidade social – na medida em que o contexto pode

ter impacto, positivo ou negativo sobre as situações de fragilidade sócio-

econômicas existentes nas famílias. O acúmulo de certas situações de risco

em determinadas áreas, por exemplo, é um aspecto que pode contribuir para

a reprodução do ciclo de pobreza ou para o agravamento de situações de

privação propriamente econômicas. A existência de serviços públicos de

atenção nas proximidades dessas áreas, por outro lado, pode contribuir para

amenizar tais situações.46

A Igreja de São Paulo, que se faz presente em todos os bairros da cidade, seja com

suas Paróquias e Comunidades Eclesiais de Base, muitas vezes constituem entidades que

amenizam esta situação de exclusão, oferecendo creches, cursos profissionalizantes ou

46 SECRETARIA MUNICIPAL DE ASSITÊNCIA SOCIAL. Mapa da vulnerabilidade social da população da cidade de São Paulo. São Paulo: Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, 2004. p. 58.

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alfabetização de jovens e adultos, cursos de cidadania, além de tantas outras iniciativas para

reduzir a segregação que a sociedade impõe aos habitantes da cidade. A Igreja católica

presente na cidade tem se preocupado com a sua ação profética em São Paulo.

O crescimento acelerado da cidade de São Paulo não destoa do que ocorre em outras

partes do mundo. “São Paulo é a quarta maior cidade do mundo. Estamos atrás apenas de

Tóquio, cidade do México e Bombaim. A nossa população é de mais ou menos 10.406.166

habitantes que se distribui em 1525 Km². Estima-se que no ano de 2010 teremos uma

população de 11.400.000 habitantes”.47

O grande desenvolvimento das cidades e da morfologia urbana é o fenômeno que

melhor caracteriza a nossa civilização contemporânea. Nestes últimos cinqüenta anos, uma

população mundialmente rural converteu-se em urbana. Hoje todas as nações industrializadas

são altamente urbanizadas e, em todo mundo, indiscriminadamente, o processo de

urbanização é acelerado. “Torna-se evidente que em breve o mundo estará completamente

urbanizado”. 48 A urbanização e o crescimento das cidades acorrem conjuntamente, o que

ocasiona grandes desafios para a vida da pessoa urbana.

A região rural brasileira expulsa os pobres e trabalhadores do campo. As causas são

distintas, mas dentre elas sobressaem principalmente, a pobreza e o subdesenvolvimento das

zonas rurais, onde frequentemente faltam os serviços públicos, comunicação, estruturas

educacionais e comunitárias. A agricultura está cada vez mais capitalizada. Além disso, a

cidade, apresentada amiúde pelos meios de comunicação social como lugar de diversão e

bem-estar, exerce uma especial atração sobre o povo simples.49

47 SEMINÁRIO DA CARIDADE. Conhecendo São Paulo: Dados sobre a cidade. São Paulo: Loyola, 2002. p. 09. 48 PIQUET, R.; RIBEIRO, A. C. T. (orgs.). Brasil Território de desigualdade: Descaminhos da modernização. Rio de Janeiro: J. Z. Ed. Fund. J. Bonifácio, 1991. p. 14. 49 JOÃO PAULO II. Ecclesia in America 21. 2 ed. São Paulo: Paulus, 1999.

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Os pobres expulsos da zona rural migram para os espaços urbanos, sobretudo para as

grandes regiões metropolitanas. Em contrapartida a industria se desenvolve nas cidades com

número insuficiente de empregos. As cidades grandes estão mais “inchadas” a cada dia e seus

habitantes são submetidos à má remuneração, subemprego ou desocupação dos trabalhadores.

Os problemas urbanos existem apenas por falta de racionalidade e

honestidade do governo ou dos cidadãos. A racionalidade seria alcançada

através de estudos sistemáticos sérios e tão científicos quanto possível, que

dessecaríamos os problemas, indicando-lhes a melhor solução. Desse modo,

a mera ignorância da realidade dos fatos a ser superada através de análise

sistemática seria a causa básica do estado caótico das cidades. 50

No Brasil, nos períodos mais recentes a pobreza está associada ao processo de

urbanização, cuja concentração acontece, sobretudo, nas grandes cidades, que se tornam pólos

de pobreza. A grande cidade é o lugar com mais força para atrair os pobres, ainda que em

muitas vezes em condições subumanas. O grande centro urbano, por sua complexidade, torna-

se criadora de pobreza, tanto pelo modelo sócio-econômico implantado no país, como por sua

organização espacial. A estrutura física das cidades grandes “oferece” as periferias para os

pobres habitarem. As periferias e cortiços tornam os pobres cada vez mais pobres, pois aí

enfrentam os desafios da metrópole: o transporte, o saneamento básico, a poluição, os lixões,

a violência, as drogas, o desemprego, a ausência de equipamentos públicos de educação,

saúde e lazer. “No Distrito de Marsilac, zona sul da cidade de São Paulo, 99,66% dos

domicílios não tem esgoto”.51

50 CAMPOS FILHO, C. M. Cidades Brasileiras: seu controle ou caos. 2. ed. São Paulo: Nobel, 1992. p. 5. 51 SECRETARIA MUNICIPAL DE ASSITÊNCIA SOCIAL. Mapa da Vulnerabilidade social da população da cidade de São Paulo. Vol. 3. São Paulo: Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, 2004. p. 24

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A exclusão social é a cada dia mais agressiva e gritante. Está escancarada a olhos

vistos pela cidade inteira. Os documentos eclesiásticos lembram que “é missão da Igreja

procurar as causas da marginalização, evitando concentrações desumanas, causadas por

imperialismos gananciosos. Denunciar a posse concentrada dos meios de produção, como

instrumentos de marginalização”.52

As metrópoles não conseguem suportar a massa desempregada, a população de rua,

gerando os crimes, os seqüestros, a prostituição. Os governos são incapazes de gerenciar os

grandes centros brasileiros, degradados no seu nível de vida.53 A violência e a insegurança

nestes grandes centros são conseqüências da escassez ou ausência de certos equipamentos e

serviços que poderiam interferir diretamente na qualidade de vida da população. São Paulo é

o caso mais agudo dos problemas urbanos das grandes cidades brasileiras.54

3. Alguns aspectos da realidade paulistana

A cidade de São Paulo apresenta-se em muitos aspectos de forma ambígua. Mostra-se ao

mundo como a quarta maior cidade, situa-se no oitavo colocado entre os países capitalistas em

termos de Produto Interno Bruto (PIB), perto de 400 bilhões de dólares. São mais de dois

milhões e meio de trabalhadores na indústria (este número representa um terço da população

ativa dos paulistanos).

São Paulo é a grande metrópole industrial do Terceiro Mundo. Em São Paulo está

concentrada a importância nas atividades de serviços que respondem às necessidades do

52 CNBB. Subsídios para Puebla. (Documentos da CNBB n. 13) 105. 53 A segregação social está presente também na zona central da cidade. No dia 02 de agosto a Folha de São Paulo noticiou que ao lado do Shopping Tatuapé na zona leste de São Paulo, duas pequenas casas azuis chamam a atenção, esta casinhas, com pouco mais de um metro e meio de altura, feitas de madeira, poderiam ser confundidas com uma casa de boneca ou com uma casa para cães, mas o local, porém abriga três crianças de rua. O Secretario Municipal da Assistência Social do Município de São Paulo, Sr. Floriano Pesaro mandou que aquelas casas e crianças fossem retiradas daquele local. Aquela situação representava a situação em que estão vivendo muitas crianças da cidade. 54 SANTOS, M. A urbanização brasileira. p. 95-97.

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Estado, do País e de relações internacionais que faz a verdadeira metrópole brasileira, do

Mercosul e do mundo. A cidade de São Paulo é formada pelo agrupamento de onze milhões

de pessoas. Junto com as outras cidades que formam a região metropolitana de São Paulo são

cerca de dezenove milhões de habitantes. A cidade de São Paulo é um grande centro de

irradiação cultural: a grande universidade pública USP e diversas faculdades privadas.

Recentemente, foi inaugurada o Campus Leste da USP, um sinal de que a população

periférica tem encontrado maior acesso à universidade pública. Mais da metade das pesquisas

científicas são realizadas na cidade de São Paulo. Também a publicação de revistas científicas

em sua grande proporção acontece na cidade. 55

A ambigüidade está do outro lado da rua na cidade de São Paulo. Um milhão e duzentas

mil pessoas vivem nas favelas da cidade, isto é, 11,12% da população paulistana. A cidade de

São Paulo possui 2018 favelas espalhadas por toda a cidade. Aproximadamente dez mil

pessoas vivem nas ruas da cidade.56

A paisagem urbana é uma fotografia da situação em que vive o Brasil, possuidor de um

dos piores títulos mundiais: o sexto colocado no ranking dos países com maior desigualdade

social, depois da Venezuela, Paraguai, Serra Leoa, Lesoto e Namíbia.57

A cidade de São vive uma expansão vertiginosa, ocupando áreas de mananciais, das

Represas Billings e Guarapiranga. Grande parte da mata da zona leste já não existe mais.Ao

lado oeste já emenda com Jundiaí e quase junta-se à cidade de Campinas, o que alguns

urbanistas estão chamando de “macrometrópole”.

55 ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Relatório Quinquenal 1995-1999. 2000. p. 25. 56 cf. FUNDAÇÃO SISTEMA ESTADUAL DE ANÀLISE DE DADOS. O estado dos municípios 2000-2002: Índice Paulista de Responsabilidade Social, Versão 2004. São Paulo: SEADE, 2004. p. 21. 57 PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS. Informe sobre desenvolvimento da ONU. Disponível em: www.pnud.org.br/pobreza. Acesso em 26 de janeiro de 2006, 17:56:05.

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3.1. Dados estatísticos recentes da metrópole paulistana58 População estimada em julho/2005 10.927.985Eleitores 7.771.503Área territorial 1.523 Km²Área territorial da Arquidiocese de São Paulo 636 Km²Estabelecimentos de saúde l.769Ensino médio fundamental –matrículas/2004 l.576.594Crianças com mais de sete anos fora da escola 46.156Nascidos vivos/dia 600Mortes/dia 250Casamentos 2002 51.117Separações judiciais 2002 6.095Agências Bancárias 1.931Salas de cinema 235Bibliotecas 362Estádios de futebol 13Veículos (frota) 4.174.000Estações de metrô 52Corredores de Ônibus 08Terminais Municipais de ônibus 19Favelas 2.018Moradores em favela 1.160.590Domicílios em área de risco 36.106População sem rendimento 10,43%

A Arquidiocese de São Paulo ocupa aproximadamente um terço do total do Município e

tem uma população estimada de 5.718.000 habitantes perfazendo uma densidade demográfica

de 9.021 hab/Km².

3.2. A violência na cidade de São Paulo

“Inimigos da violência

Guerrilheiros da paz...Armados de consciência Está havendo muita injustiça neste mundo cão

O futuro da nação...Está em nossas mãos A discriminação e o preconceito

Opressão no social no social...Não é direito”. (grupo de rap do Jardim Santo André, 2002)

58 cf. IBGE, FGV, FUNDAÇÃO SEADE, IPEA.

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Temos assistido o crescimento da violência, que coincide com a ascensão do poder da

droga, com a avassaladora onda de corrupção dos órgãos policiais e com a vergonhosa

impunidade dos criminosos. Vale lembrar aqui que a impunidade não se dá somente aos

criminosos das favelas, do tráfico de drogas; a impunidade perpassa os escalões dos governos,

dos partidos políticos, da polícia e da vida social.

Segundo pesquisa de 1999 do Programa de Aprimoramento das Informações da

Mortalidade no Município de São Paulo (PRO-AIM), organismo público municipal que

registra as causas de morte na capital paulistana, as áreas mais violentas são aquelas em

predomina uma conjunção de determinados indicadores: baixa renda, baixa taxa de

escolaridade, maior proporção de negros entre os moradores, maior taxa de desemprego,

maior número de moradores em favelas e piores condições de moradia e urbanísticas.59

São Paulo é uma cidade que cresce desproporcionalmente e produz muitas desigualdades

sociais ou pelo menos não consegue criar estruturas que diminuam essa desigualdade a

números aceitáveis para a convivência humana.

Os índices da criminalidade na cidade de São Paulo são alarmantes há muito tempo.

Durante toda a década de 1990, as taxas de homicídio paulistanas estiveram entre as mais

altas do mundo. Em São Paulo, no período de 1998 a 2000, foram registrados 8.309

homicídios envolvendo pessoas de 15 a 29 anos – fazendo desta a principal causa de morte

entre este grupo etário.60

A Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), do governo do estado tem

notícia animadora para a capital paulistana que em 1999 registrou 6.638 assassinatos e, em

59 DRUMOND Jr., M. Homicídios e desigualdades sociais na cidade de São Paulo: uma visão epidemiológica. São Paulo: PRO-AIM, 1999. p. 34. 60 SECRETARIA MUNICIPAL DE ASSITÊNCIA SOCIAL. Mapa da vulnerabilidade social da população da cidade de São Paulo. Vol. 4. p. 30.

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2004, foram 3.944, redução de 40,6%.61 A redução do número de assassinatos se deu pelos

investimentos em segurança pública e pelo crescimento do número de Organizações Não

Governamentais que oferecem alternativas econômicas e de lazer à população de baixa renda.

Pelo menos 130 ONGs atuam nas regiões mais pobres de São Paulo. Montam cursos

profissionalizantes, oficinas para crianças e adolescentes, centros de convivência para idosos e

creches onde as mães podem deixar seus filhos enquanto trabalham. “Sem uma parceria

efetiva com a comunidade, o governo pode fazer muito pouco”, reconhece o secretário de

Segurança Pública do Estado, Saulo de Castro Abreu Filho.62 Os bairros com mais motivos

para comemorar são justamente aqueles que, nos anos 1990, sofreram os piores índices de

criminalidade. No Jardim Ângela, as mortes vêm caindo ano a ano. Em 1996, foram

registrados ali 385 assassinatos. Em 2004, 172. É uma queda de 55 %. Vale lembrar do

trabalho executado naquela região pelo padre irlandês Jaime Crowe, responsável pela

Paróquia Santos Mártires. É uma prova que não adianta ficar somente rezando para o

problema desaparecer. Os crimes só diminuem após um longo trabalho com a população.

A violência urbana é bastante complexa e exige ações integradas do governo, da igreja e

de todos da sociedade. Também são grandes os obstáculos a serem enfrentados. A causas da

violência devem ser estudadas, compreendidas e combatidas.

Nesta “onda” de violência do contexto urbano, o homem perde sua humanidade e volta a

sua raiz violenta de animal. Os seres humanos nas cidades superpopulosas se tornam mais

agressivos, os jovens se juntam em grupos para viver e formam grupos a partir dos seus

interesses. Estes grupos nem sempre são formados com princípios éticos e morais; neles os

valores da pessoa humana se perdem e tornam-se violentos e preconceituosos.

61 PORTAL DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Governador e secretário anunciam queda de homicídios na Capital. Disponível em: http://www.ssp.sp.gov.br/home/noticia.aspx?cod_noiticia=2802. Acesso em 09 de fevereiro de 2006, 12:58:15. 62 PORTAL DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Governador e secretário anunciam queda de homicídios na Capital. Acesso em 09 de fevereiro de 2006, 12:58:15.

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A vida urbana está brutalizando as pessoas, desumanizando-as. Muitas pessoas sentem-se

mais como objetos que sujeitos na cidade. Para as pessoas que trabalham o dia inteiro, o

grande desejo é chegar em casa e dormir, nada de participar de uma conversa familiar, ver os

vizinhos, se interessar pelos problemas do bairro. Muitos pais não têm paciência para saber do

dia dos filhos.

Quanto mais a cidade cresce, mais a violência é protegida pelo anonimato. Em muitos

casos, o bairro sabe quem é o criminoso, mas o medo da impunidade daquele e a perseguição

levam ao silêncio. A socióloga Luzia Fátima Baierl, com pesquisa científica em Santo André

–SP faz constatação da violência visível ao invisível da violência.

Instala-se uma ambigüidade: medo da violência e medo de denunciar a

violência, pois há um risco real, potencial e imaginário de sermos a próxima

vítima...Esse conjunto de sentimentos – medo, insegurança, impotência – vai

conformando um novo tipo de cidadão, ou melhor, um subcidadão. Uma

nova cultura vai se forjando a partir de valores, normas e regras tecidas nos

espaços privados e não como respostas às necessidades públicas e

decorrentes delas.63

É a polícia envolvida no mundo do crime. Aqueles que deveriam proteger causam medo e

insegurança. “A violência urbana e a criminalidade criam um clima de medo”.64

A cidade é também o lugar da solidão. Qualquer pessoa pode caminhar horas na cidade e

não encontrar realmente com ninguém. O trabalho, a polícia e religião, sobretudo o

pentecostalismo, são ainda força de contenção da violência nos grandes centros urbanos. As

igrejas ainda conseguem colocar valores éticos, morais e cristãos. Nem sempre estes valores

63 BAIERL, L. F. Medo social. p. 64. 64 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil2003-2006. (Documentos da CNBB n. 71) 51. 2 ed. São Paulo: Paulinas, 2003.

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vem pela educação consciente, na maioria das pregações vem pelo medo de um Deus

castigador.

3.3. O emuralhamento da vida social nos grandes centros urbanos

Uma leitura rápida dos jornais revela o lado perverso da sociedade. São várias notícias

associadas ao crime, ao roubo, assassinatos, seqüestros, rebeliões em presídios e FEBEMs,

mortes violentas. Não raras vezes estas notícias sempre são manchetes de jornais e em alguns

canais de televisão, desencadeando um medo crescente na sociedade. “A população à sua

maneira, reage às formas de violência buscando, via de regra, alternativas na esfera do

privado”.65 A violência, nas suas múltiplas faces, introduz conceitos e modos de vida na

realidade urbana. Lipovetski analisa o comportamento humano na sociedade atual a partir

daquilo que a sociedade oferece para viver isoladamente.

O indivíduo não obrigatoriamente contribui para o reconhecimento da

alteridade. Ele pode, e esta parece se uma das tendências que se afirmam

hoje, ter um caráter hedonista e narcísico. Percebemos de diversas maneiras

que o dito homem moderno dispõe de variados recursos pra transforma-se

em invisível e, portanto, inacessível para o contato social.66

Um dos sintomas mais flagrantes desse mundo fechado e egocêntrico foi difundido

pela moda do walkman, símbolo da recusa de estabelecer contatos ou manifestação de desejo

de permanecer distante das situações do dia a dia. Há uma série de equipamentos eletrônicos e

serviços difundidos que facilitam o confinamento social: serviços bancários, de compras, de

65 BAIERL, L. F. Medo Social. p. 25. 66LIPOVETSKY, G. Espace privé, espace public à l’age post-moderne in Citoyenneté et urbanité. Paris: Esprit., 1991. p. 18

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comunicação, de entrega em domicílio, de telefonia, redes de televisão com ofertas de

diversos canais, internet, videocassetes, DVDs entre outros, que penetram em grande parte

das sociedades metropolitanas. Todos eles são transformados rapidamente em equipamentos e

serviços básicos dos domicílios e são adquiridos até pelos baixos extratos das classes médias

urbanas. O “mundo” chega até as pessoas sem que elas tenham sequer que sair de casa.

Segundo o Instituto de Políticas Públicas Florestan Fernandes a percepção da violência

pela população é um dos mais importantes de seus efeitos: 57% dos paulistanos sentem que a

violência afeta a cidade como um todo, enquanto 19% sentem que ela exerce impacto sobre o

bairro onde moram e 13% sobre suas famílias. Ou seja, o fantasma da violência afeta

principalmente a convivência urbana e impessoal – e assim se produz o enclausuramento das

classes média e alta, em seus condomínios fechados e shopping-centers, abandonando

progressivamente o espaço das ruas ou privatizando-as, por meio de vigilância ostensiva. O

espaço público significa para a população cada vez o espaço da blindagem, do perigo, do

abandono. Assim, a violência acaba contribuindo para o esgarçamento do tecido urbano-

social.67 Aqui se reafirma o estudo de Luzia Fátima Baier sobre a violência visível e o

invisível da violência, apresentado no item 3.2 sobre a violência neste estudo.

A violência incide e desqualifica as áreas desfavorecidas, principalmente a periferia.

“O risco de morrer assassinado no Jardim Ângela (94 homicídios para cada grupo de 100 mil

habitantes) é 34 vezes maior do que para um morador do privilegiado distrito de Moema (2,8

para cada 100 mil habitantes)”.68

Na cidade de São Paulo, a especulação imobiliária incentiva o “enclausuramento” das

pessoas. Com a promessa de segurança e tranqüilidade o mercado imobiliário vende a idéia de

ter cinema, ginástica, salão de beleza e tantos outros serviços sem sair do condomínio.

67 SEMINÁRIO DA CARIDADE. Conhecendo São Paulo. p. 18. 68 SEMINÁRIO DA CARIDADE. Conhecendo São Paulo. p. 18.

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As pessoas têm a “neura” de segurança e, em vez de exigir que os problemas da cidade

sejam resolvidos, retiram essa responsabilidade do poder público, passam a viver em espaços

privados e satisfazem seus desejos individualmente. Nestes casos o indivíduo ganha, mas o

cidadão perde.

Repletos de equipamentos de lazer e serviços, prédios em São Paulo em número cada vez

maior permitem o “encasulamento” – termos criado pelos executivos do mercado imobiliário

e criticada por sociólogos e urbanistas que vêem neste isolamento, uma diminuição do senso

de comunidade. A cidade é o lugar onde os diferentes se encontram. Quem deixa de participar

da vida comunitária proposta pela rua, pela cidade como um todo, torna-se cada vez mais

auto-referente. É o “emuralhamento” da pessoa, em que a sensação é de que os problemas da

sociedade não são seus e nem a atingem.

Os edifícios onde moram as pessoas das classes média e alta são fechados, guardados e

vigiados. Na paisagem urbana paulistana, vemos vários prédios construídos com paredes

“cegas” ou com pequenas janelas sobre a fachada, que demonstram um nítido desinteresse

pela abertura para a rua e o convívio social. O uso do transporte particular é quase regra para

aqueles que tem condições de ter um carro. A saída dos veículos se dá por meio de portões

automáticos dos interiores da casa. Dessa forma, ao sair para a rua já estão devidamente

protegidos do relacionamento social.

As grandes cidades, com o crescimento do transporte particular, precisa aumentar

continuamente as ruas e avenidas para a circulação dos carros, em prejuízo assim dos outros

possíveis usos dos espaços públicos.

O medo da violência altera a estrutura arquitetônica da cidade. Verdadeiras prisões são

construídas para proteção das pessoas e defesa do patrimônio. Muitos equipamentos

eletrônicos de segurança de alta tecnologia são instalados nas casas e há uma blindagem de

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carros cada vez mais progressiva. A indústria de vendas de seguros para bens e de vida tem

futuro a cada dia mais promissor.

A segurança privada também tem na violência da cidade a causa do seu crescimento. “Na

cidade de São Paulo, os trabalhadores desse setor correspondem a 150 mil homens, o que

representa três vezes o efetivo da Polícia Civil e Militar”. 69 Enquanto a população rica da

cidade “garante” a segurança de seu patrimônio e proteção de sua vida destas formas, “a

população mais empobrecida, moradora das favelas, cortiços e bairros periféricos da cidade

dá certa cobertura aos grupos organizados e quadrilhas vinculadas ao mundo da contravenção

e o tráfico de drogas em troca de segurança e proteção”.70

3.4. O individualismo na cidade

Na sociedade tradicional, predomina a comunidade rural, relativamente auto-

suficiente, onde as atividades econômicas, políticas, religiosas, de lazer, são realizadas

juntamente, num espaço restrito, familiar e são relações primárias porque são vizinhas. A vida

das pessoas é determinada pela tradição, apoiada e controlada pela comunidade rural. Na

sociedade moderna urbana, a atividade humana tende a dividir em áreas autônomas:

economia, política, ciência, lazer, religião e, as pessoas não estão mais ligadas a uma

comunidade (no sentido tradicional), mas articulam sua vida com diversos ambientes,

multiplicando seus relacionamentos e relações secundárias pela função que exercem. Neste

espaço complexo, abre-se a possibilidade tanto do indivíduo (o indivíduo vive suas relações,

tendo como centro a si mesmo) quanto da adesão no novo tipo de comunidade (religiosa ou

não) que dá apoio ao indivíduo e, às vezes, o controla e absorve completamente.71

69 BAIERL. L. F. Medo social. p. 71. 70 BAIERL, L. F. Medo social. p. 62. 71 TRACY, D. Dar nome ao presente. Concilum. Petrópolis: Vozes, n. 227, [jan.] 1990. p. 71.

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Na cidade as pessoas convivem com o medo: medo de assaltos, roubos, seqüestros,

desemprego, abandono. Esses medos estão cada dia mais desagregando as pessoas, quebrando

vínculos familiares, comunitários e sociais. Uma sociedade mais segregada está sendo

construída. Há distanciamento das pessoas e uma reafirmação de preconceitos e estereótipos.

A vida das pessoas na cidade é construída a partir desses e de tantos outros conflitos e

contradições. “A cidade moderna favorece o contato com uma pluralidade de experiências e

expressões culturais, multiplicando as possibilidades de escolha do indivíduo”. 72 O indivíduo

busca a sua satisfação pessoal e de seus desejos. Busca sempre a paz interior através de

terapias, cura de males, bênçãos especiais, “descarrego”, sucesso na vida e nos negócios,

como prometida pela “teologia da prosperidade”. Neste contexto, a religião é bastante

procurada. O indivíduo busca algo que lhe interessa em uma, em duas e em várias igrejas. São

buscas emocionais que não completam seus desejos, não lhe satisfazem.

O Magistério Eclesial tem feito grande esforço, sobretudo no século XX, para ler a

realidade social à luz do Evangelho e oferecer de forma cada vez mais concreta e orgânica seu

contributo social para a solução da questão social, que hoje está ampliada à escala planetária.

Essa vertente ético-social é uma dimensão imprescindível do testemunho cristão. Na Carta

Apostólica Novo Millennio Ineunte, o Papa João Paulo II alerta para o risco de alimentar uma

espiritualidade individualista e intimista. “Deve-se rejeitar a tentação de uma espiritualidade

intimista e individualista, que dificilmente se coaduna com as exigências da caridade, com a

lógica da encarnação e, em última análise, com a própria tensão escatológica do

cristianismo”.73

72 CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2003-2006. 37. 73 JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte 52. 2 ed. São Paulo: Paulus e Vozes, 2001.

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3.5. A política da mobilidade na cidade de São Paulo

O homem urbano não deveria ser fixado a um único território na cidade. Ele tem direito ao

transporte e movimentação pela cidade e tudo que ela oferece. A pessoa mora num lugar,

trabalha em outro, estuda em um terceiro e ainda tem o seu sagrado direito ao lazer, que pode

ser realizado em um outro lugar da cidade. O Estado deve assegurar esse direito aos

habitantes da cidade. Estudos realizados pela Secretaria da Assistência Social do Município

de São Paulo apontaram que as pessoas que moram nos lugares periféricos da cidade e

desprovidos de equipamentos públicos e infra-estrutura básica são os que estão mais

vulneráveis às drogas, ao desemprego, ao aborto, à gravidez precoce e à morte.

O Estado tem um papel destacado na produção desse tipo de distribuição

espacial. A atuação estatal no ambiente construído, por meio de

investimentos em infra-estrutura e/ou outros equipamento públicos, gera

valorização de certas áreas e desvalorização de outras, fazendo com a

população menos favorecida não possa arcar com os custos das benfeitorias

e seja obrigada a se deslocar para outras regiões, geralmente mais distantes,

desprovidas de infra-estrutura básica e equipamentos públicos, aumentando,

desse modo, seus gastos com transporte sua exposição a variados tipos de

risco.74

Na cidade de São Paulo, o transporte público é precário é muito caro, o que não o

torna um direito de todas as pessoas que nela moram. As pessoas encontram muitas

dificuldades de mobilidade na cidade.

74 SECRETARIA DA ASSISTENCIA SOCIAL. Mapa da vulnerabilidade social da população na cidade de São Paulo. Vol. 4. p. 12.

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Alguns avanços estão sendo dados, porém a cidade está muito aquém de oferecer

transporte digno aos seus habitantes. A segregação social pode ser agravada ou amenizada por

quem consegue menor ou maior mobilidade espacial na cidade. As pessoas, às vezes, estão

tão segregadas em determinados espaços que estes funcionam como estímulos negativos,

reproduzindo mecanismos de exclusão social. O Estado tem poder, com a implantação de

mecanismos que facilitem a mobilidade das pessoas na cidade, de combater essas situações de

segregação sócio-espacial.

Em outras palavras, podemos chamar de democratização do acesso à cidade com tudo

que ela oferece, aos pobres de forma especial, o acesso aos equipamentos públicos de saúde,

educação, lazer, trabalho e convivência.

Com a implantação do Bilhete Único, em 2004, e os novos corredores exclusivos de

ônibus, milhões de paulistanos que utilizam o transporte coletivo para se deslocar na cidade

tiveram uma sensível melhora na qualidade de vida. O Bilhete único permite que uma pessoa

use por um período de duas horas, mais de uma condução (ônibus ou microônibus) para se

deslocar pela cidade. Esta é uma conquista importante na perspectiva da ampliação do direito

à cidade, pois, possibilita, com menos dificuldades, chegar até um amigo, fazer compras,

chegar ao hospital ou participar do culto religioso. Os novos corredores de ônibus, na prática,

priorizam o transporte coletivo, diminuindo o espaço de circulação dos automóveis nas

avenidas e reduzem significativamente o tempo de viagem dos usuários do transporte

coletivo. Depois de longa espera e grande luta, sente-se uma pequena mas sensível

valorização do transporte coletivo na cidade de São Paulo. Apesar desta e de outras iniciativas

isoladas, sente-se uma falta de vontade política e disposição para enfrentar a política pró-

automóvel em todo o país. 75

75 SECRETARIA MUNICIPAL DE TRANSPORTES. São Paulo Interligado: O plano de transporte público urbano em implantação na gestão de 2001-2004. São Paulo: Prefeitura do Município de São Paulo, 2004. p. 5-7, 87-97.

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As calçadas de nossa cidade também estão em péssimo estado de conservação. Os

cidadãos que enfrentam as maiores dificuldades são as pessoas com deficiência e com

mobilidade reduzida. Em algumas ruas não há calçadas. Em várias ruas as calçadas são cheias

de desníveis, pois cada morador sente-se no direito de garantir a passagem do seu carro.

Nestas ruas uma pessoa com mobilidade reduzida não consegue enfrentar os obstáculos, por

isto, muitos idosos não andam pelas calçadas, preferem andar pelas ruas, pois tem medo dos

buracos e desníveis que estas apresentam. Outras pessoas não freqüentam as atividades

religiosas no período noturno, pois temem cair devido ao perigo que as calçadas apresentam e

a má iluminação das ruas.

A cidade também convive com grande número de mortos e feridos no trânsito,

envolvendo principalmente pedestres e motoqueiros. Muitas ruas e avenidas da cidade não

oferecem a faixa de pedestre. Estes, aliás, igualmente precisam ser educados para respeitar as

leis, para sua própria segurança.

A crise de mobilidade na cidade de São Paulo requer ações conjuntas e contínuas para

garantir uma mobilidade sustentável e cidadã, onde o direito ao transporte coletivo de

qualidade e ambientalmente sustentável, assim como a paz no trânsito, sejam políticas que

nenhum partido político ou governante possa negligenciar.

3.6. Participação popular na cidade

Os assuntos do interesse de todos devem ser decididos com a participação da

população, que é a principal interessada. Mas há dificuldade tanto da parte dos governantes

quanto da população em conseguir que esta participação cidadã aconteça. As Conferências, os

Conselhos de Gestão, os Fóruns em níveis municipal, estadual ou federal são meios que os

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movimentos sociais encontram para garantir a participação popular nas decisões que atingem

a vida do povo.

A participação ativa de homens e mulheres que defendem os direitos comuns, na

forma da democracia direta, nos conselhos, congressos, conferências, audiências, referendos,

são conquistas importantes para o avanço da democracia e para a construção de uma

sociedade menos desigual e injusta no Brasil. Estes são os espaços onde se garantem, com

muito diálogo e insistência, as políticas públicas no país.

Nos dias 15 e 16 de julho de 2005, foi realizado o X Encontro do Fórum Nacional de

Reforma Urbana na cidade de São Paulo, com a participação de 450 pessoas oriundas de 22

estados do país. Este Encontro apresentou propostas para serem discutidas e aprovadas nas

Conferências Municipais, Estaduais e Nacional das Cidades. Uma das propostas tiradas deste

Encontro é que os Estados e Municípios assinassem a Carta Mundial do Direito à Cidade de

modo que aderindo desta forma a campanha internacional para o reconhecimento do Direito à

Cidade como um direito fundamental do ser humano e estabelecendo o compromisso dos

governos nacionais com a implementação do direito à cidade.76 A citação deste exemplo é

para mostrar a participação popular num espaço de defesa das ações e medidas em

desenvolvimento para a política nacional urbana.

As sociedades modernas dependem das cidades para sobreviver. É preciso sempre e

cada vez mais organizá-las para que sejam lugares de convivência e de vida. “A cidade é uma

forma necessária a um certo gênero de associação humana, e suas mudanças morfológicas são

condições para que esta associação se transforme”. 77

76 FORUM DA REFORMA URBANA. Diretrizes do Fórum Nacional de Reforma urbana. Disponível em: http://www.forumreformaurbana.org.br/conteudo.asp?cat=fnru_transporte. Acesso em 09 de fevereiro de 2006, 15:37:15. 77 GOMES, P. C. da C. A condição urbana. p. 19.

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Há uma grande dificuldade em conquistar pessoas para participar de uma associação,

movimento ou culto religioso. A resposta ao convite é quase sempre negativa. As pessoas

dizem não ter tempo ou cansadas demais, embora haja provas do contrário.

A partir da década de oitenta, pode-se perceber um esforço generalizado,

envolvendo inclusive instância como a UNESCO e a ONU, no sentido de

promover e viabilizar meios de participação popular, por meio da

institucionalização de canais e órgãos que incentivem e promovam a sua

prática, partindo do princípio de que a sociedade civil, como um todo amplo

e indiferenciado, encontra dificuldades para manifestar-se, tornando

necessário o desenvolvimento de práticas que incentivem, ou pelo pelos não

impeçam, o indivíduo e os grupos de exercerem seus direitos, assumindo a

responsabilidade à manifestação, ou até a gerência, de seus interesses diretos

num processo de ampliação da consciência política e social.78

A cidade engole as pessoas e poucas se sentem responsáveis por ela. Nem percebem

que nela estão concentradas quase todas as obras humanas, que nela se unem milhares - em

São Paulo, milhões - de obras humanas. A vida das pessoas na cidade é marcada de

desencontros, mas não somente disso. Também consiste em encontros e compromissos

pessoais e coletivos para defender direitos particulares e conquistar melhor qualidade de vida

urbana.

78 GUTIERRES, L. G. Porque é tão difícil participar? São Paulo: Paulus, 2004. p. 08.

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Apesar do individualismo, há movimentos sociais que se articulam em favor

de causas mais amplas que a classe ou o interesse local. Assim, a luta contra

as discriminações, a promoção dos direitos das mulheres, a preservação do

meio ambiente, a defesa dos direitos de culturas e etnias específicas tem se

revelado como causas capazes de mobilizar grande número de pessoas. A

busca da justiça social e de um “outro mundo possível” reúne uma

extraordinária e variada adesão de grupos e movimentos. Este fenômeno

manifesta uma consciência planetária e a percepção de que fazemos parte de

uma única família universal.79

A vida urbana permite muitos contatos, nos trens, ônibus, comércio, ruas, praças,

lugares de lazer, porém o medo e a velocidade da vida na cidade não permitem que este tipo

de relação se concretize. Então, o relacionamento entre as pessoas na maioria das vezes se

resume a uma convivência de duas ou três famílias, alguns amigos que se reúnem para beber

ou jogar.

È bastante comum pessoas se organizarem, para num momento específico, participar

com ajuda concreta a uma pessoa ou uma família: sepultamento, concretagem de laje. Como

isso não acontece, a qualidade de vida dos cidadãos também não é garantida. A cidadania não

está colocada em pauta nos encontros das pessoas no seu dia-a-dia.

Indivíduos sujam as vias e prédios públicos, buzinam e aceleram seus carros e

motocicletas, sem nenhuma percepção de que estão em espaços públicos. As ruas tornam-se

espaços de todos e de ninguém. Tranqüilamente jogam aquilo que não serve mais na rua e

também nos rios da cidade.

79 CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2003-2006. (Documentos da CNBB n. 71). 53.

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Há um misto de falta de consciência do espaço público e uma sensação de

superioridade em que cada um se coloca, como se pensasse “alguém inferior a mim irá

limpar”.

A manutenção da limpeza pública é para muitas pessoas responsabilidade somente do

governo municipal. Há necessidade de distinguir morador e cidadão. O morador é aquele que

na cidade garante sobre o seu espaço, a sua sobrevivência. Cidadão é aquele indivíduo que

mora na cidade e ativamente respeita e conquista o direito de outros habitantes.80

Infelizmente a falta de consciência na organização e manutenção do espaço público

causa grandes sofrimentos a todos. Os papéis de sorvete, balas, casca de banana, latas de

refrigerantes, “bitucas” de cigarros e muitos outros objetos que são atiradas pelos transeuntes,

pedestres, motoristas de carros particulares ou coletivos, causam entupimento de bueiros e

“bocas de lobo”, ocasionam enchentes, engarrafamentos, transbordamento dos rios, quedas de

barracos, transtornos na vida familiar, na saúde e nas relações comerciais.

No geral temos a impressão de que os países ricos gozam de maior ordem e

são mais limpos dos que os países pobres. Onde há mais riqueza, há mais

instrução, mais limpeza e organização. Onde há miséria social, o modelo

cultural está mais próximo da natureza e, portanto, deteriora-se mais

facilmente.81

As cidades estão cada vez mais sujas, o problema da limpeza urbana é muito sério.

Uma questão que não pode ser resolvida com apelos à boa educação dos cidadãos ou à

eficácia dos serviços públicos de limpeza. Estes são indispensáveis, porém, como o aumento

do consumo, também aumentou a produção de lixo. Tudo aquilo que o consumidor comprou e

80 WANDERLEY, L. E. W. Pastoral urbana: sujeitos e estruturas. p.52. 81 DELLA PERGOLA, G. Viver a cidade: orientações sobre os problemas urbanos. São Paulo: Paulinas, 2000. p. 77.

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não é constitutivo do produto - embalagens, apresentação do produto, as partes descartáveis -

torna-se excesso. “A sociedade da produção transforma-se naquela do consumo e esta se

transforma na sociedade do lixo urbano”. 82 O gerenciamento da cidade é um dos desafios

mais palpáveis da questão urbana.

O problema urbano e a urbanização devem ser colocados como tema central

da preocupação da sociedade nos partidos políticos, nos sindicatos, nas

universidades, nas associações de todo gênero, pois a colocação correta da

questão urbana poderá evitar que os problemas urbanos não coloquem em

questão toda a sociedade.83

O governo das grandes cidades é preocupação dos partidos políticos sérios, dos

presidentes, governadores, prefeitos e dos cidadãos. No campo do planejamento e gestão das

cidades foi da maior importância a inclusão dos artigos 182 e 183 na Constituição de 1988,

que tratam da política urbana.

A aprovação do Estatuto da Cidade, em 2001; a criação do Ministério das Cidades

pelo governo Lula, bem como a formação do Conselho Nacional das Cidades, todas

iniciativas tomadas em 2003, foram frutos das lutas e pressões populares de muitos atores

durante décadas, com destaque para o Movimento Nacional pela Reforma Urbana.84

82 DELLA PERGOLA, G. Viver a cidade. p. 76. 83 SOUZA, M. A. A. de. Governo Urbano. p. 11. 84 FORUM NACIONAL DE REFORMA URBANA. Reconhecimento do direito à cidade. Disponível em: http://www.forumreformaurbana.org.br/conteudo.asp?cat=fnru_carta_implementação&pag=l. Acesso em 09 de fevereiro de 2006, 17:05:16.

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As lutas, as carências, a vida que é deteriorada nos grandes centros urbanos

manifestam a impotência em gerenciar as cidades. Os governos que se propõem a construir

uma cidade participativa e democrática criam, valorizam e ampliam os conselhos populares.

A questão da participação atravessou todo o século XX e invade o atual

como algo correto, simples e, de certa forma, até uma expectativa natural.

Espera-se que as pessoas sejam consultadas, dentro de limites, antes que se

tome qualquer decisão política ou até mesmo administrativa. È o que se

espera de alguém atual, democrático e justo. 85

Há várias iniciativas de governo para gerenciar melhor as cidades, como por exemplo,

as cidades de Campinas, Santo André, Porto Alegre e, a própria cidade de São Paulo,

governada pela prefeita petista Marta Suplicy (2001-2004). Na gestão da prefeita foram

criados o Orçamento Participativo, o Conselho do Idoso, Conselho de Moradia,

implementados os Conselhos de Saúde, valorizados os Conselhos Tutelares, a elaboração do

Plano Diretor contou com a participação de moradores, comerciantes e, é claro, com a

manipulação dos empresários das grandes construtoras. O Plano Diretor regerá as construções

na cidade de São Paulo nos próximos vinte anos. A prefeita Marta Suplicy criou em junho de

2001, pela Lei 13.165 a Secretaria Municipal de Relações Internacionais, pois a cidade de São

Paulo está inserida no contexto mundial pelo seu porte, estrutura e desafios.86

Ressalta-se que a questão urbana é, antes de tudo, uma questão estratégica. A cidade, a

região metropolitana, cada vez mais se insere num contexto mundial. À medida que o capital

85 GUTIERRES, L. G. Porque é tão difícil participar? p. 09. 86 PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Prefeitura de São Paulo cria a Secretaria Municipal de Relações Internacionais. Disponível em: http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/relacoes_internacionais/organizacao/0001. Acesso em 03 de agosto de 2001, 13:15:25.

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se internacionaliza, os espaços também se internacionalizam. Atenção, contudo, à

internacionalização perversa, à geopolítica do grande capital. 87

Viver na cidade é um desafio que está presente na vida dos cidadãos, do governo e da

igreja. A cidade de São Paulo é o pólo regional, do estado e do país na economia, na cultura e

no poder político. Bastante degradada, é verdade: favelas, cortiços, condomínios fechados,

policiamento de quarteirão, poluição visual que fere o olhar daqueles que apreciam a beleza.

Viver na cidade de São Paulo é uma oportunidade de ser feliz, de ganhar a vida, de obter

conhecimento e cultura. Viver na cidade de São Paulo é estar inserido no mundo.

4. A pessoa urbana e a religião

A vida na cultura urbana debilita as pessoas, deixando-as inseguras e angustiadas. As

pessoas se esgotam e por vezes não sabem o que são nem o que fazem. Há uma grande busca

de tranqüilidade, paz, equilíbrio interior, sentido, valor e identidade. Vem uma certa

insatisfação e as pessoas buscam de alguma maneira sufocá-las nos infinitos recursos de

diversão que o mercado oferece.

Nas cidades, as religiões pós-modernas são atividades de iniciação por meio das quais

o corpo atinge a sua maior perfeição. As igrejas oferecem práticas de auto-ajuda, exercícios

físicos e mentais, recursos milenares das antigas religiões orientais agora oferecidas ao

ocidente. Buscar a perfeição da vida corporal é entrar com fé e abandono num mundo de

forças mágicas. É estar relacionado com as energias do universo e com a Totalidade. Esses

exercícios tornaram-se religiosos.88

87 SOUZA, M. A. A. de. Governo Urbano. p. 9. 88 COMBLIN, J. Desafios da Igreja na cidade atual. Revista Vida Pastoral. São Paulo, n. 225, p. 8-15, [jul./ago.] 2002. p. 11.

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As igrejas sofrem hoje, na cidade, a grande tentação de usar o marketing para

evangelizar. Esse recurso de despertar nas pessoas o desejo é usado por diversas

denominações religiosas para conquistar adeptos. De fato, algumas igrejas que usam,

principalmente a televisão, tem conseguido o seu objetivo. As pessoas são conquistadas, mas

não são evangelizadas.

O motor de toda motivação, atividade, relação humana será o prazer, e ao redor da

felicidade giram as outras instituições. Toda instituição será mais valorizada se defender mais

o indivíduo na realização do seu prazer e gozo.89

4.1. A fé na cidade

A cultura urbana não exclui a religião, mas sim a religião hierarquizada. As religiões

que hoje triunfam são aquelas introduzidas por pessoas com grande capacidade de lidar com a

religião e lidar com as pessoas. Podemos, como exemplo, citar o Bispo Edir Macedo, da

Igreja Universal do Reino de Deus; a Bispa Sonia Hernandes, da Igreja Renascer em Cristo; o

Pastor R. Soares da Igreja da Graça; o Padre Marcelo Rossi, da Igreja Católica Apostólica

Romana.

A cultura em que vivemos é uma cultura de mercado e nela ganham aqueles que

competem, aqueles que sabem vender o seu produto, mas, antes, despertam as pessoas para a

necessidade do produto, que é o chamado marketing.

Percebe-se hoje que o conhecimento religioso é pouco esclarecido e há diversas

maneiras de viver a fé, a religião e a relação com as outras pessoas. Diante de tantas

dificuldades que a cidade apresenta às pessoas, a vida religiosa toma formas sincréticas.

89 BRIGHENTI, A. Reconstruindo a esperança: como planejar a ação da Igreja em tempos de mudança. São Paulo: Paulus, 2000. p. 151.

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As devoções têm caráter sentimentalista. Deus é aprendido como Deus

providente e solucionador de casos, o último recurso do pobre. Deus, nos

meios mais urbanizados e intelectualizados, se reduz a um conceito distante,

nocional, objeto de manipulações, desvinculado da realidade.90

A Igreja enfrenta obstáculos sérios no trabalho evangelizador. É necessário continuar

descobrindo formas criativas de comunhão eclesial para evangelizar a cidade. Há uma

acirrada competição entre as igrejas. Na cidade onde tudo se vende, as igrejas também tentam

vender a fé. “A Palavra de Deus, o batismo e a eucaristia são vistas em função do consumo de

bens religiosos, com pouco significado para a vida das pessoas”.91

O mercado não pode impor, tem que seduzir, convencer. Nesta cultura pós-moderna, a

religião também entra no mercado como um outro produto qualquer da sociedade. Evangelho

é compromisso, porém, as pessoas não querem mais um compromisso religioso, elas querem a

satisfação de seus desejos. A maior procura que as igrejas recebem é por saúde e

prosperidade.

Várias lideranças religiosas sabem despertar nos telespectadores, ouvintes ou

participantes a busca dos seus produtos porque conhecem as necessidades dos seus “fiéis”.

“Deus te espera para realizar em você um grande milagre”, era a chamada, do Pastor R.

Soares na emissora de televisão Rede Gospel para convidar o povo para o seu culto. Aí os

agentes trabalham duro, às vezes mais como atores de palco, que organizam programas de

televisão em seus templos, empregam a alma e fazem da música e gestos um verdadeiro

“serviço” ao Deus Javé. Como a massa urbana não consegue resolver as situações criadas pela

nova cultura, aqueles que necessitam vão ao encontro das manifestações religiosas que

atendem as suas necessidades: íntimas, físicas, morais e espirituais. “Se a cidade é um

90 CNBB. Pistas para uma pastoral urbana. (Estudos da CNBB n. 22). 38. 91 COMISSÃO DE MISSÃO E EVANGELIZAÇÃO DO CMI. Missão e evangelização: um guia para estudo e discussão numa perspectiva ecumênica. São Bernardo do Campo: Metodista, 1985. p. 107.

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espetáculo; como interessar os habitantes por uma religião que não oferece nenhum

espetáculo e também não oferece nenhuma participação no espetáculo? A religião que

oferecer o melhor espetáculo há de vencer um dia”.92

Há grande busca de respostas para as necessidades. Estas respostas não podem

demorar, na cidade não há tempo para esperar. O teólogo Marcelo de Barros diz que nos

últimos trinta anos, surgiram Igrejas neopentecostais e movimentos religiosos independentes

que desenvolveram uma teologia no progresso econômico, ligado a milagres e à intervenção

de Deus. Pregam uma espiritualidade de resultados imediatos. Não se confunda, no entanto,

essa onda de espiritualismo neoliberal com Igrejas pentecostais clássicas, como Assembléia

de Deus, Congregação Cristã no Brasil, Igreja de Cristo e outras que estão inseridas nas

periferias urbanas desde a década de 50.93

Nos cultos destas Igrejas neopentecostais, por sugestão, as pessoas são “curadas”da

dor de ouvido, da dor na perna, do “aperto no coração”. A Bispa Sônia leva as pessoas a

acreditar que, por participar de um culto na “sua” igreja, o fiel prosperará. As pessoas nesta ou

naquela igreja vão buscando a realização das suas necessidades. Várias igrejas vendem a

ilusão de que a felicidade está nos bens materiais, na prosperidade. Vendem muito porque

existe um mercado bastante desejoso de comprar seus produtos. Todos esses “milagres” são

pagos, e muito bem pagos pelo “dízimo” de cada fiel.

Na religiosidade moderna, a verdade já não tem mais grande valor, o que importa é

satisfação pessoal. Pe. José Comblin fala do homem hedonista na sociedade moderna e das

igrejas que tendem erroneamente satisfazer os seus desejos, o que não é nada evangelizador.

92 COMBLIN, J. Viver na cidade, pistas para uma pastoral urbana. São Paulo: Paulus, 1996. p. 42. 93 BARROS, M. Procura-se Deus nas metrópoles do novo milênio. Revista Vida Pastoral. São Paulo: Paulus, n. 224, p. 18-25, [mai./jun.], 2002.

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A religião da cristandade invoca sempre a verdade como argumento

definitivo. No sistema de mercado, a verdade não conta. O importante é a

utilidade, a capacidade de gerar satisfação. Não se compra um objeto porque

é verdadeiro, mas porque é útil, agradável e dá satisfação.94

Os cristãos urbanos precisam tomar parte da vida da cidade, dos seus problemas, dos

seus desafios e comprometer-se em transformá-los. È quase impossível ser cristão sozinho.

Há necessidade de formação de pequenas comunidades, onde se possa partilhar a fé, levantar

os problemas e ação concreta no dia a dia para, junto com outros grupos, ONGs e governos,

solucionar os problemas que afetam todos, especialmente o mais pobres. O diálogo com a

sociedade na cidade é o testemunho do cristão vivendo plenamente o Evangelho.

È verdade que a consciência religiosa do cristão cada dia se torna menos

comprometida com o Evangelho. Cada dia as pessoas estão mais religiosas e menos

evangélicas. Mais produtos religiosos são vendidos em nome da fé. Há uma mistura muito

grande dos valores desta ou daquela religião. São objetos que ao adquiri-los imagina resolver

todos os conflitos existenciais. Há uma fé que aquele objeto lhe trará a felicidade e a

compreensão de todas as coisas. È muito comum nas casas encontrar no mesmo altar santos

de devoção (os mais encontrados são: São Judas Tadeu, Santo Expedito, Santa Edwirges e

Santa Rita de Cássia), um pote com uma cabeça de alho e sal grosso.

Ainda na sala da casa, em cima da mesinha ou estante, vemos três elefantes virados

com a parte traseira para a porta de entrada da casa. São objetos da igreja católica, da

umbanda, do espiritismo que se misturam, sinal da mistura de elementos religiosas das

pessoas que ali moram. Mais coragem, decisão e comprometimento são necessários para

evangelizar a cidade.

94 COMBLIN, J. Os desafios da cidade no século XXI. 2 ed. São Paulo: Paulus, 2003. p. 44.

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Na cidade grande a religião modifica a função. Responde preferencialmente

às necessidades e aspirações de indivíduos. Cumpre papel compensatório

para tantas carências existenciais. Satisfaz às buscas pessoais de consolo,

conforto espiritual, realização afetiva. Por isso, nela proliferam as

denominações religiosas que mais se acomodam a tantas exigências.95

4.2. O pluralismo religioso na vida urbana

A religião quer responder as necessidades das pessoas e a grande necessidade do

homem urbano é falar dos seus problemas, angústias, insatisfações, dúvidas e crenças. Ele

sente-se só nesta cidade de milhões de habitantes. Precisa encontrar alguém que o ouça.

Precisa falar, desabafar. Precisar confiar em alguém. È desejoso de confiar-se a alguém.

As Igrejas Pentecostais tem conseguido, neste mercado religioso urbano, um grande

número de pessoas pelos serviços que oferece aos fiéis. Através dos “obreiros” muitas pessoas

são ouvidas, aconselhadas, “acompanhadas espiritualmente”. Há uma descentralização dos

serviços e uma ruptura na hierarquização religiosa.96

A Igreja Católica ainda não conseguiu preparar leigos e leigas para esta missão porque

não conseguiu descentralizar o poder. Ainda é centralizadora dos sacramentos, das bênçãos,

das orientações, do poder. A cidade moderna policêntrica reage negativamente aos

centralismos religiosos. “Longo caminho, porém, temos ainda a percorrer para superar o

clericalismo subjacente na mentalidade parte dos leigos e parte do clero”.97

95 LIBÂNIO, J. B. As lógicas da cidade. p.54. 96 CONSELHO EPISCOPAL REGIONAL SUL I. Projeto de Ação Missionária Permanente. São Paulo, 2004. p. 13. 97 CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2003-2006. (Documentos da CNBB n. 71). 64.

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Como na hierarquia da Igreja católica o descentralismo não acontece, na prática dos

cristãos isso se dá de forma gradativa e muito livre. Cada pessoa de fé considera-se, em certo

aspecto, um centro irradiador de fé dentro de determinada autonomia. Há leigos e leigas que

vivem a sua fé no trabalho, na família, com os vizinhos. “A ação dos leigos é indispensável

para que a Igreja possa ser considerada realmente constituída, viva e operante em todos os

setores, tornando-se plenamente sinal da presença de Cristo entre os homens”.98

A cidade também influencia na modificação da natureza do espaço da religião. O

espaço da religião não é somente o templo, não é somente o lugar fixo. Como a cidade é

dinâmica, a religiosidade acontece no fluxo da cidade. Esta dinamicidade favorece o

pluralismo religioso. Constantemente aparecem novas igrejas na paisagem da cidade.

Como as igrejas conhecem pouco a cidade e seus desafios, seus pastores e padres

conservam e agem no mundo urbano com mentalidade rural. Apesar do pluralismo religioso e

de certa secularização da cidade, subsistem ainda muitos espaços rurais dentro dela. O risco

da pastoral é concentrar-se neles, esquecendo-se que está dentro do mundo urbano. Continuar

ainda com uma pastoral rural seja por causa de um clero de mentalidade rural, seja por que

ainda se dirige aos resquícios do antigo mundo rural.99

A resposta da pastoral para os desafios da cidade não deve ser a de arrebanhar fiéis

para a Igreja, mas de propor uma mensagem de conversão para as pessoas. Isto somente

acontecerá quando os pastores estiverem inseridos na vida da cidade. As pessoas

comprometem-se com o Evangelho de Jesus Cristo e com a cidade na medida dos seus

pastores.

As comunidades devem pensar a catequese como um processo de iniciação à fé e à

vida comunitária. A fé cristã com o seu realismo pode ajudar as pessoas a superarem as

98JOÃO PAULO II. Discurso aos bispos dos Regionais Nordeste 1 e Nordeste 4. São Paulo: Paulinas, 2002. p. 28. 99 COMBLIN, J. Evolução da Pastoral Urbana. In: PINHEIRO, E.(coord.). Pastoral Urbana. São Paulo: Paulinas, 1980. p.34.

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ilusões da grande cidade. A pastoral no grande centro urbano conseguirá maior referencial

pela participação na comunidade eclesial e a vivência das pessoas em comunidades menores.

Sem referências seguras, o cristão urbano tem mais dificuldades em manter firme a sua

fé, pois a cidade oferece muitas propostas religiosas e a pessoa pode compor a sua própria

vida religiosa com muitos elementos sincréticos100, o que não é religião, muito menos fé.

A religiosidade é uma dimensão humana, antropológica. A fé surge depois

da religiosidade. A religiosidade já existe, depois dela vem a fé. A religião

organiza as práticas religiosas, formata e estrutura. A fé é diferente. A fé

supõe que exista um Transcendente, enquanto a religião não. Esse

transcendente se manifesta e nos diz que é e convida a nos comprometermos

com Ele. A fé pede compromissos e conversão e pode ser organizada pela

religião e práticas religiosas.101

A nova sensibilidade da cidade moderna pede uma percepção diferente da presença de

Deus. A espiritualidade das pessoas das grandes cidades já não se impõe tanto de fora, brota

da própria interioridade. Isso leva a descobrir na própria cidade os sinais da presença de Deus

fora do âmbito eclesiástico e cultivá-lo como sinais de esperança. Teologicamente, à luz do

mistério da Encarnação, todo espaço pode tornar-se sinal da “presença de Deus”.102

100 Sincretismo se configura quando uma religião básica incorpora elementos de outras tradições. 101 LIBANIO, J. B. A religião no início do milênio. São Paulo: Loyola, 2002. p. 37. 102 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1999-2002. (Documentos da CNBB n. 61). 155-165.

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“A nova cultura não exclui a religião, muito pelo contrário, mas exclui uma religião

hierarquizada em tudo depende de uma casta que reproduz por si mesma, sem nenhuma

interferência do povo”.103 A fé cristã tem uma dimensão de comunidade, de celebração

daqueles que crêem, especialmente na Liturgia Eucarística, que não tem sentido de ser

lançada ao grande público pela mídia.

4.3. Outros desafios da cidade para ação da Igreja

A cidade é sedutora, pois nela há um sentimento de autonomia, individualidade e

liberdade que contrasta com a cultura rural, às vezes intolerante. Para quem conhece a vida na

cidade, ainda que pela televisão, fica difícil aceitar o tipo de trabalho, a fadiga do dia a dia e

os limites morais impostos a quem vive na roça, dificultando a convivência, sobretudo com os

jovens.

As pessoas na cidade julgam que podem construir a própria vida, a própria liberdade. Na

cidade tudo parece possível. A cidade representa o lugar de fantasias, sonhos e desejos. “Na

grande cidade ele se torna um “anônimo”, nos momentos em que ele assim o queira,

restringindo ou ampliando seu círculo de relacionamentos, porque também se desloca de um

lugar para outro no espaço urbano”.104 Para lembrar um outro conceito da vida na cidade,

citamos, “O ar da cidade liberta”.105

Várias ciências podem ajudar a Igreja a descobrir os caminhos para a evangelização nos

centros urbanos. A Psicologia, a Geografia Humana, o Urbanismo, a Sociologia, entre outras

são disciplinas que conhecem parte do mistério da vida humana às quais a Teologia deveria

recorrer para ampliar os seus conhecimentos e tornar sua ação mais eficaz nas cidades.

103 COMBLIN, J. Os desafios da cidade no século XXI. p.17. 104 CNBB. Pistas para uma pastoral urbana. (Estudos da CNBB n. 22) 14. 105 CARACCIOLO, A. Dalla cittá preindustriale alla cittá del capitalismo. Bologna: Il Molino, 1975. p. 64.

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“O mundo eclesiástico conhece pouco essa literatura, freqüenta pouco as escolas de

urbanismo ou da sociologia urbana. Muitos pastoralistas ainda permanecem na fase da

improvisação, pensado que a espontaneidade pode substituir a ciência ou que a teologia, por si

só, pode gerar todas respostas pastorais”.106

Vivemos numa concentração física de pessoas, porém, não sabemos quem são nossos

vizinhos, quem mora em cima ou quem mora em baixo, e nem queremos saber para garantir a

nossa privacidade. Existem pessoas que moram a vida inteira na mesma casa e não conhecem

os seus vizinhos. Passam o dia inteiro no trabalho. Á noite, a tarefas domésticas ocupam o

resto do tempo e os laços de amizade e responsabilidade pelos que estão próximos não

acontecem. È comum encontrarmos pessoas que nem ficam sabendo das dificuldades do

vizinho, das alegrias ou até mesmo da sua morte.

Na verdade, pode-se afirmar que a cidade é uma ilustre desconhecida por seus habitantes.

É vista como uma aglomeração urbana, uma série de lugares. Pouquíssimos lugares são

realmente conhecidos. Há pessoas que nasceram e vivem na cidade de São Paulo e não

conhecem quase nada além de seu bairro e alguns “centros” mais próximos à sua casa. “Na

grande cidade, há cidadãos de diversas origens ou classes, desde que, farto de recursos, pode

utilizar a metrópole toda, até o que, por falta de meios, somente a utiliza parcialmente, como

se fosse uma pequena cidade, uma cidade local”.107

Em São Paulo, fica difícil acreditar que muitas pessoas não conhecem a Praça da Sé e

a Catedral, mas isto acontece. Não conhecem o centro histórico da cidade e muitos outros

lugares da cidade que são referências para o país. Há pessoas que não conhecem a Avenida

Paulista, o maior centro econômico da América Latina, o metro quadrado mais caro da

América do Sul.

106 COMBLIN, J. Os desafios da cidade no século XXI. p. 12. 107 SANTOS, M. O espaço do cidadão. p. 112.

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A solidariedade, que é própria no mundo rural, na cidade aparece como ações

esporádicas, muitas vezes para alívio de consciência. Dificilmente o homem urbano consegue

manter relacionamento de boa vizinhança com grande número de pessoas que moram

próximas. O cidadão urbano arruma desculpa para não ser solidário. O medo de colaborar

para o “vício” de algum pedinte ou o “perigo” de contribuir para a acomodação das pessoas

são alguns dos motivos apresentados e devido aos quais a solidariedade tem dificuldade de se

concretizar entre os moradores urbanos.

Na cidade não há muitas pessoas que são capazes de passar horas em conversas. As

visitas familiares ou entre amigos acontecem na mesma velocidade da cidade, são rápidas. Às

vezes preferimos um telefonema ou um e-mail. As cidades estão configuradas de tal forma a

dificultar o relacionamento com os outros. As ruas visam o fluir de veículos e não o contato

das pessoas. Os idosos encontram grande dificuldade em atravessar avenidas largas e

movimentadas, com motoristas nem sempre atentos aos pedestres. Múltiplos são, assim os

fatores que dificultam a ação evangelizadora na cidade.

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II. CAPITULO: A MISSÃO DE EVANGELIZAR OS GRANDES CENTROS URBANOS HOJE

Neste capítulo, são apresentados alguns conceitos, métodos e significados definidos

pelo magistério, pela Teologia e utilizados pela Igreja na ação evangelizadora. Os grandes

centros urbanos são os grandes desafios para a Igreja hoje. Evangelizar nas grandes cidades

requer agentes evangelizadores, conhecimento da realidade, métodos, dinamicidade e abertura

para a ação do Espírito Santo. Como no capítulo anterior, recorremos a outras ciências que

contribuem para a ação evangelizadora, como a antropologia, a geografia humana, a

psicologia, a arquitetura e urbanismo e a sociologia.

O cristão está em São Paulo inserido numa realidade desafiadora para sua vivência

cristã. Todo o dia se depara com situações adversas que exigem dele um testemunho que

prove sua fé e seguimento de Jesus Cristo. A atitude cristã é, necessariamente, empenho

perseverante pela transformação da sociedade rumo à realização dos autênticos valores

humanos e invocação constante, como na oração de Jesus, da vida do reino.108

Falar em missão hoje é falar em diálogo com outras religiões, é falar em inculturação,

é falar de ecumenismo. Ninguém consegue realizar a missão somente por aventura pessoal,

solitária e individualmente. Aquele que parte em missão está sempre ligado a uma

comunidade eclesial. É preciso nela reconhecer os valores do Reino e testemunhá-lo

concretamente na sociedade. O discernimento e testemunho comunitário daquele que sai em

missão edifica a comunidade, amadurece a Igreja e a faz mais completa. Todos os batizados

são convocados a sair em missão. A pluralidade urbana deve sempre ser motivos para a

itinerância do missionário nas grandes cidades. Trabalhos com grupos específicos são

desafios que a cidade impõe para a missão nos dias de hoje.

108 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n. 54). 114. São Paulo: Paulinas, 1995.

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“O fim da evangelização é o mistério trinitário. Isso significa que o Reino na sua

plenitude ‘Deus tudo em todos’ é o caminho da prática missionária”. 109 Por isso, sendo o

projeto missionário o que está na base da evangelização, o missionário deve percorrer um

longo caminho para o coração de Deus. Dom Hélder Câmara escreveu: “Missão é partir,

caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha em nosso eu. È

parar de dar voltas ao redor de nós mesmos como se fôssemos o centro do mundo e da

vida”.110 Missão é não nos deixarmos envolver num ativismo que faz, de novo, da nossa vida

o centro de tudo. Missão é permitir que Deus dirija a nossa vida que certamente nos levará a

um serviço maior. O missionário não inventa a missão e nem é protagonista, somente Deus o

é. Como se diz na língua latina a missão é de Deus (Missio Dei).111

Muitas experiências missionárias não foram escritas. Assim como os discípulos

escutaram Jesus e colocaram seus ensinamentos em prática e somente mais tarde essa prática

foi escrita, principalmente para inspirar nossas ações atuais, muitas ações missionárias

também não são conhecidas. Hoje temos uma possibilidade bastante grande de comunicação:

internet, computador, data show, papel, telefone, site, caneta, filmadoras e máquinas

fotográficas. Mesmo com tantos recursos, não há grande preocupação em registrar as ações de

missionários e missionárias. São projetos evangelizadores, missão efetiva da Igreja, que

acontecem no cotidiano que ficam no anonimato, mas que fazem sem dúvida diferença na

construção do Reino de Deus. Isto se dá porque a missão é obra do Espírito, que inicia na

pessoa a ação evangelizadora. A pessoa do missionário é somente um instrumento da ação, do

protagonismo de Deus na missão evangelizadora. “É o Espírito que impele a ir sempre mais

além, não só em sentido geográfico, mas também ultrapassando barreiras étnicas e religiosas,

até chegar a uma missão verdadeiramente universal”.112

109 PALEARI, G. Espiritualidade e missão. São Paulo: Paulinas, 2001. p. 29. 110 PALEARI, G. Espiritualidade e missão. p. 57. 111 PALEARI, G. Espiritualidade e missão. p. 28. 112 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 25.

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Para incentivar, e sustentar a missionariedade da Igreja, o magistério reúne

experiências missionárias e aprova textos, documentos que orientam as comunidades e seus

agentes no trabalho de evangelização. Recentemente, os Bispos do Estado de São Paulo

aprovaram na 25ª Assembléia das Igrejas Particulares do Regional Sul I o Projeto de Ação

Missionária Permanente (PAMP), em que D. Nelson Westrupp, presidente do Conselho

Episcopal Regional Sul I da CNBB, pede: “Ninguém se exclua da missão permanente de levar

e espalhar as sementes do verbo por todos os ambientes e culturas”.113 O documento trás um

estudo antropológico das necessidades religiosas presentes na cultura urbana, como a sêde de

felicidade, a necessidade de uma experiência imediata de Deus, a expectativa de salvação

como cura e outros anseios das pessoas que podem produzir uma religião instrumental e

individualista.

O PAMP surgiu da reação dos bispos diante dos dados apresentados pelo Atlas da

Filiação Religiosa aos participantes da 41ª Assembléia Geral da CNBB em Itaici (30 de abril a

09 de maio de 2003), quando ficaram impressionados com as mudanças no mapa religioso do

Brasil. De acordo com o Censo referente ao período de 1991 a 2000, o número de católicos

diminuiu de 83,3% para 73,9% perfazendo 125,5 milhões em números absolutos.

Representando 26,4 milhões de pessoas. O número dos que se declararam sem religião

também aumentou de 4,7% para 7,4%, atingindo um total de 12,5 milhões.114

O PAMP descreve também a metodologia utilizada pelos pentecostais, como

linguagem simples, acolhida, descentralização do espaço do culto, doação de bíblias, escolas

dominicais ou bíblicas, grandes caminhadas e concentrações, uso abundante da Sagrada

Escritura, farto emprego da gestualidade, sugerindo que também a Igreja Católica no Estado

113 CONSELHO EPISCOPAL REGIONAL SUL I. Projeto de Ação Missionária Permanente. São Paulo, 2004. p. 01 114 JACOB, C. R.; HEES, D. R.; WANIEZ P.; BRUSTLEIN V. Atlas da filiação religiosa e indicadores sociais no Brasil. São Paulo: Loyola e PUC, 2003. p. 16.

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de São Paulo utilize dessa linguagem para reconquistar os adeptos perdidos.115 Mas também

alerta que “antes de desenvolver atividades missionárias, é necessário que a nossa vida se

torne uma vida em missão”.116 Também é o que propõe as Diretrizes Gerais da Ação

Evangelizadora do Brasil. “A experiência oferecida deve ir além da ‘comunidade emocional’,

que satisfaz os sentimentos, mas que não chega a uma experiência autêntica da fé e do

compromisso”.117

As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2003-2006)

sublinham a importância da missão na cidade. A cidade hoje não é só um espaço social, onde

a maior parte da população se concentra. È também uma nova civilização, um novo modo de

viver. As diversas pastorais, associações de leigos e leigas, os movimentos de apostolado e

vicariatos são tentativas de evangelizar as pessoas nos espaços onde vivem. Daí a necessidade

de compreender a Paróquia como uma “comunidade de comunidades”, como Igreja em estado

de missão.

Até o Concílio Vaticano II, prevalecia ainda a visão tradicional que fazia das

“missões” uma parte marginal da Igreja. O principal era a cristandade tradicional. Pequena

parte dos recursos da Igreja estava destinada a evangelizar os povos situados fora dos limites

da cristandade. Essa atividade estava reservada a institutos específicos de homens e de

mulheres e não atingia a vida das dioceses ou das paróquias.

115 CONSELHO EPISCOPAL REGIONAL SUL I. Projeto de Ação Missionária Permanente. p. 13. 116 CONSELHO EPISCOPAL REGIONAL SUL I. Projeto de Ação Missionária Permanente. p. 28. 117 CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2003-2006. (Documentos da CNBB m. 71). 87.

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Essas mandavam algumas ajudas financeiras, mas a atenção dada às missões era muito

secundária. A obra missionária consistia em reproduzir em todos os territórios do mundo a

estrutura do catolicismo europeu. A idéia era salvar almas.118

1. A missão de evangelizar

Antes do Concílio Vaticano II, a palavra “missão” referia-se tanto à tarefa para a qual

o missionário era enviado quanto ao território ao qual o enviavam. Missão referia-se ao

processo de enviar e indicava um movimento global.119 Com o Papa Paulo VI também se

amplia o conceito de evangelização: “Evangelizar, para a Igreja, é levar a Boa Nova a todas as

parcelas da humanidade, em qualquer meio ou latitude, e pelo seu influxo transformá-las a

partir de dentro e tornar nova a própria humanidade”.120 “Eis que faço novas todas as coisas”

(Ap 21,5).

A ampliação do sentido da missão é talvez indicada pelo uso freqüente do termo

“evangelização”. Apesar de serem muitas vezes usados no mesmo sentido, os dois termos não

são sinônimos: “missão” pode significar “enviar”, enquanto “evangelização” não pode. Ao

contrário, cultura evangelizadora indica um processo.121 O sentido de missão se especifica

melhor como missão ad gentes, para pessoas que ainda não ouviram o evangelho e, missão ad

extra como sendo missão estrangeira. 122

A Igreja precisa ser evangelizada mesmo quando evangeliza.123 Quanto mais a Igreja

ouve a palavra, mais é o seu testemunho profético. A Igreja como símbolo do sacramento de

118 COMBLIM, J. As sete palavras-chave do Concílio Vaticano II. Revista Vida Pastoral. São Paulo: Paulus, n. 243, [jul./ago] 2005. p. 21. 119 AMALADOSS, M. Missão e inculturação. São Paulo: Loyola, 2000. p. 6. 120 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 18. Documentos de Paulo VI. São Paulo: Paulus, 1997. 121 AMALADOSS, M. Missão e inculturação. p. 7. 122 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 41. 123 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 15.

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Reino de Deus, pelo ato de ouvir e proclamar, não deve ser um transmissor mecânico de uma

mensagem, mas sempre testemunhar o que proclama. A índole da Igreja é missionária. Não se

pode interpretar missão como atividades missionárias. A teologia sempre ensinou que a

missão teve origem no mandato de Cristo “Ide, pois, e fazei discípulos meus todos o s povos,

batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo o

que eu vos mandei” (Mt, 28-29).124 O Decreto Ad Gentes afirma que a Igreja é por sua

natureza missionária. Pois ela se origina da missão do Filho e missão do Espírito Santo,

segundo o desígnio de Deus Pai.125 Missão é expressão do desígnio salvífico de Deus, é a

manifestação pública da história da salvação.

Evangelizar é continuar na história a ação, a prática, a ação salvífica de Jesus de

Nazaré, Filho de Deus. Não se trata de comunicar conteúdos doutrinais, que também são

importantes e necessários, mas trata-se de viver uma vida, trata-se não só de confessar a Jesus,

mas de continuar na história do mundo a história salvífica de Jesus, onde a morte do homem

velho e a ressurreição do homem novo, dentro da dinâmica do mistério pascal, se alternam

dialeticamente.126

O progresso da reflexão no Magistério e na consciência da Igreja levou a destacar o

tema da evangelização como o que melhor exprimia a própria missão da Igreja.127 O Papa

Paulo VI, porém, já alertava que nenhuma definição parcial e fragmentária chegará a dar a

razão da realidade rica complexa e dinâmica que é a evangelização, a não ser com risco de

empobrecer e até mesmo de mutilar. É impossível captá-la se não se procurar abranger com

uma visão de conjunto todos os seus elementos essenciais.128 “Missão é chamada à conversão,

124 COMPÊNDIO DO VATICANO II.Lumen Gentium 17. 29 ed. Petrópolis: Vozes, 2000. 125 COMPÊNDIO DO VATICANO II. Ad Gentes 2. 29 ed. Petrópolis: Vozes, 2000. 126 LORSCHEIDER, A. A VI Conferência Geral do Episcopado Latino Americano em Santo Domingo. Revista Eclesiástica Brasileira. Petrópolis: Vozes, Fasc. 209, [mar.] 1993. p. 23. 127 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Missão e ministérios dos leigos e leigas cristãos. (Estudos da CNBB n.77). 47. 2 ed. São Paulo: Paulus, 1998. 128 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 17.

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exortação à mudança, convite para realizar o Reinado de Deus, estímulo para entrar no

dinamismo criativo da ação de Deus no mundo, tornando todas as coisas novas”.129

No Brasil, temos a visão da evangelização amplamente desenvolvidas nas “Diretrizes

Gerais da Ação Evangelizadora”, fruto da Assembléia da CNBB de 1995. Salienta quatro

pontos fundamentais, para a evangelização inculturada: serviço, diálogo, anúncio e

testemunho de comunhão, que correspondem aos quatro termos-chave do Novo Testamento:

diakonia, diálogos, kerigma, koinonia.130 Destacaremos agora cada uma destas exigências na

perspectiva da compreensão da evangelização.

1.1. Serviço

Evangelizar é fazer o que Jesus Cristo fez, quando mostrou na sinagoga que veio para

“evangelizar” os pobres (cf. Lc 4,18-19). Ele nos desafia a dar testemunho autêntico de

pobreza evangélica em nosso estilo de vida e em nossas estruturas eclesiais, tal qual Ele fez.

Descobrir nos rostos sofredores dos pobres o rosto do Senhor (Mt 25,31-46) é algo que

desafia todos os cristãos a uma profunda conversão pessoal e eclesial.131 Para sublinhar este

aspecto, Jesus aproximou-se, sobretudo, daqueles que eram marginalizados pela sociedade,

dando-lhes preferência, ao anunciar a Boa Nova. No início do seu ministério, proclama: fui

enviado a anunciar a Boa Nova aos pobres (cf. Lc 4, 18).132

129 AMALADOSS, M. Missão e inculturação. p. 12. 130 CNBB. Missão e ministérios dos leigos e leigas cristãos. (Estudos da CNBB n. 77) 50. 131 CONCLUSÕES DE SANTO DOMINGO 178. 2 ed. São Paulo: Loyola, 1992. 132 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 14.

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Privilegiar o serviço fraterno aos mais pobres entre os pobres e ajudar as instituições

que cuidam deles: os deficientes, enfermos, idosos solitários, crianças abandonadas, presos,

portadores dos vírus HIV e todos aqueles que requerem a proximidade misericordiosa do

“bom samaritano”. Promover a participação social junto ao Estado, pleiteando leis que

defendam os direitos dos pobres.133

A Igreja pode ser diaconia na cidade através de serviço aos excluídos e marginalizados

da sociedade. Quando ouve o grito e vê as dores dos marginalizados, a Igreja deve seguir o

exemplo do mestre divino, realizando a sua missão (Lc 4, 16-20). A Igreja torna-se profética

numa sociedade surda e cega, que considera os pobres lixo e estorvo que ameaça o progresso

da cidade pós-moderna, e denunciando a política excludente do neoliberalismo.134 Na

sociedade pós-moderna, a Igreja não pode prescindir dos “grandes anseios das camadas

populacionais que estão ligados à busca dos sentido da vida e, ao mesmo tempo, à defesa da

vida, sobretudo quando ela é machucada e ferida”.135

Toda comunidade eclesial deve existir para o serviço aos outros. Esta é a sua

missão. A missão eclesial deriva seu sentido da missão de Cristo: trazer vida

e vida em abundância (Jo 10,10). Se o encontro com o evangelho não

133 SD 180. 134 Neoliberalismo: sistema apoiado numa concepção economicista do homem, considera o lucro e as leis de mercado como parâmetros absolutos com prejuízo da dignidade e do respeito da pessoa e do povo. Por vezes este sistema transformou-se numa justificação ideológica de algumas atitudes e modos de agir no campo social e político que provam a marginalização dos mais fracos. De fato, os pobres são sempre mais numerosos, vítimas de determinadas políticas e estruturas freqüentemente injustas. cf. JOÃO PAULO II. Ecclesia in America. p. 72. 135 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL: Santas Missões Populares: Um jeito novo de evangelizar, hoje. Brasília: Pontifícias Obras Missionárias, 1998. p. 6.

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potenciar acrescentamento de significação, expansão da dinâmica da vida, e

aprofundamento das relações sociais até a expansão suprema da relação que

é aquela com Deus, nada se terá logrado.136

l.2. Diálogo

O diálogo é uma exigência da evangelização que compreende o diálogo interno, o

ecumenismo, o diálogo inter-religioso, o diálogo com os não crentes.137 O anúncio do

Evangelho deve ser dinâmico e aberto a todas as culturas, cidades e nações. Há necessidade

de abertura para o diálogo com as culturas pluralistas do mundo urbano: imprensa, artistas,

políticos, intelectuais, cientistas, formadores de opinião, entre outros agentes urbanos. É

preciso enfrentar o desafio de humanizar os seres humanos urbanos, inculturar o Evangelho

neste mundo de conquistas modernas das cidades grandes sempre no respeito a outras crenças

ou não crenças. A mensagem cristã deve estar sempre fiel ao Evangelho e jamais alheia às

realidades humanas concretas, caso contrário perderia o sentido. O diálogo com as outras

religiões nasce da certeza que o Espírito Santo opera também nelas e nas diversas culturas

humanas.138

O diálogo é constitutivo da missão. Diálogo no seio da Igreja, entre as diversas

pastorais, associações, movimentos, paróquias, setores e regiões. Diálogo dos bispos com os

sacerdotes, com os leigos e leigas, com as religiosas. O diálogo é testemunho de missão. O

diálogo é testemunho na evangelização. Somente uma Igreja que dialoga entre si é capaz de

dialogar com outras denominações eclesiais e com outras religiões. Simultaneamente, o

diálogo com os governantes e tantos outros poderes constituídos na cidade é essencial para a

136 BOFF, L. Nova evangelização: perspectiva dos oprimidos. 2 ed. Fortaleza: Vozes,1990. p. 100. 137 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretrizes gerais da ação pastoral da Igreja no Brasil 1991-1994. (Documentos da CNBB n. 45). 96. São Paulo, Paulinas, 1991. 138 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1999-2002. (Documentos da CNBB n. 61). 169.

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ação evangelizadora no mundo urbano. “Porque não temos aqui cidade permanente, mas

estamos a procura da cidade que está por vir”. (Hb 13, 14).

Neste novo milênio, a Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte apresenta o grande

desafio do diálogo inter-religioso pelo qual temos que continuar empenhando-nos, segundo a

linha traçada pelo Concílio Vaticano II na Declaração sobre as relações da Igreja com as

religiões não–cristãs Nostra Aetate. “O diálogo não pode ser fundado sobre a indiferença

religiosa e nós, cristãos, temos a obrigação de realiza-lo, dando testemunho completo da

esperança que há em nós (cf.1 Pd 3,15)”. A Carta também aponta que a igreja não pode ter

receio de ofender a identidade de outrem, nem pode anunciar Jesus Cristo como uma simples

opinião que pode ser negociada com membros de outras religiões. “Para nós ao contrário é

graça que nos enche de alegria, é notícia que temos o dever de anunciar. O diálogo inter-

religioso não pode de forma alguma substituir o anúncio, mas permanece orientado para o

anúncio. Por outro lado, o dever missionário não nos impede de entrar no diálogo

intimamente dispostos a ouvir”.139

1.3. Anúncio

“Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16, 15) soa aos

ouvidos de todos os cristãos que entenderam o Batismo e tentam responder ao chamado que

Deus lhes faz, principalmente nos grandes centros urbanos.

O primeiro anúncio é o fundamento que provoca conversão e cresce graças à

catequese, fração do pão e oração. Aos poucos, os ensinamentos dados aos apóstolos se

espalham e, por meio destas testemunhas, formam os primeiros cristãos. O primeiro anúncio

deve ser feito, portanto, com o objetivo imediato de levar o homem a ter a experiência

139 JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte 56.

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inquietante e encantadora na vivência comunitária da fé em Jesus. O anúncio está sempre

fundamentado na pessoa de Jesus Cristo. Toda ação evangelizadora deve ser centrada sempre

na pessoa de Jesus Ressuscitado. A Palavra de Deus deve ser anunciada e comunicada a todos

os homens nas culturas presentes na sociedade. A Palavra de Jesus esteve sempre ligada a

uma ação sua. Na dimensão profética e missionária da ação evangelizadora, Palavra e ação

são indissociáveis. Na dinâmica da comunhão e participação, como membros do Povo de

Deus, os participantes e co-responsáveis da missão da Igreja devem sempre pela Palavra

anunciar e denunciar, visando a transformação da realidade de uma sociedade que é marcada

por injustiças e sofrimento. 140

O anúncio de Jesus Cristo não pode ser resumido em aulas, cursos, “cursinhos”,

palestras, quase sempre em função dos sacramentos. O anúncio explícito de Jesus Cristo e de

sua mensagem exige uma pedagogia. Deve atingir o homem em sua situação e conduzi-lo,

sem prender-se a etapas cronológicas, mas progressivamente, à plena maturidade da fé. De

fato, num ambiente não evangelizado, a atuação do cristão pode começar pela simples

presença, por um testemunho silencioso de solidariedade que vai crescendo num empenho

ativo pela justiça e a libertação, num testemunho de oração e de caridade fraterna, para

culminar no anúncio explícito e pleno da riqueza da mensagem evangélica.141 A Igreja vem

perscrutando os sinais dos tempos e está generosamente disposta a evangelizar, a fim de

contribuir para a construção de uma sociedade nova, mais justa e mais fraterna, que é uma

clamorosa exigência dos nossos povos.142

140 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 150-152. São Paulo: Paulinas, 1979. 141 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Igreja: comunhão e missão na evangelização dos povos, no mundo do trabalho, na política e na cultura. (Documentos da CNBB n. 40). 70. 6 ed. São Paulo: Paulinas, 1989. 142 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 12.

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A CNBB afirma que a posição correta do cristão é aquela que une o esforço de

compreensão racional dos acontecimentos com a firme esperança no Senhor da história e na

presença já atuante do Reino de Deus. A atitude cristã é, necessariamente, empenho

perseverante pela transformação da sociedade rumo à realização dos autênticos valores

humanos e invocação constante, como na oração de Jesus, da vinda do Reino.143

Pelo kerigma a Igreja comunica a Palavra, o Plano e a vontade de Deus. “Os

evangelizadores se preocupam demais com as doutrinas, diz também que existe uma

incoerência entre aquilo que o evangelizador prega e aquilo que ele faz. Essa linguagem é

inadequada e faz com que o kerigma não atinja a pessoa”.144

1.4. Testemunho de comunhão

Na cidade, todos são chamados a participar do Reino de Deus, mesmo aqueles que

professam a fé em outras Igrejas ou são de outras religiões. Para evangelizar, é necessário

compreender e respeitar o pluralismo religioso formado pelas diversas raças e culturas do

mundo urbano. Jesus na Parábola do Banquete (Lc 14,1-24) coloca para a Igreja este

imperativo: convidar todos para a festa.

Ao convidar as pessoas para participar deste grande banquete, a Igreja deve

estar consciente de que ela não pode realizar esta tarefa sozinha. Há também

outras comunidades e instituições que estão comprometidas com o anúncio

143 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n. 54). 114. 144 BELTRAMI, A. Comunicação, cultura e evangelização. In: SUESS, P. Culturas e evangelização: São Paulo, Loyola, 1991.

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do Reino que contribuem para fazê-lo mais perceptível aos que vivem nas

cidades. Para evangelizar é necessário ter testemunho de comunhão.145

O grande ministério ou serviço que a Igreja presta ao mundo e aos homens que nele

habitam é a evangelização, que se faz com fatos e palavras no anúncio da Boa Nova de que

Reino de Deus, reino de justiça e de paz, chega aos homens em Jesus Cristo. A Igreja

converte-se a cada dia à palavra da verdade. Segue pelos caminhos da história a Cristo

encarnado, morto e ressuscitado e faz-se seguidora do Evangelho para transmiti-los aos

homens em plena fidelidade.

A igreja evangeliza, em primeiro lugar, mediante o testemunho global de sua vida.

Assim, na fidelidade à sua condição de sacramento, trata-se de ser mais e mais um sinal

transparente ou modelo vivo de comunhão e amor em Cristo que anuncia e se esforça por

realizar. A pedagogia da encarnação nos ensina que os homens necessitam de modelos

preclaros que os guiem.146

Ao anunciar e acolher o Evangelho na força do Espírito, a Igreja torna-se comunidade

evangelizada e, precisamente por isso, faz-se serva dos homens. Nela os fiéis participam da

missão de servir a pessoa e a sociedade.147 É no ambiente de convívio comunitário que o

evangelizador é acompanhado e amadurece dentro de um processo gradativo e progressivo. É

na comunidade cristã que o evangelizador viverá a koinonia, ou seja, a vivência comunitária

da fé. A comunidade é o centro para a formação dos evangelizadores, a fim de que possam

exercer eficazmente a missão de evangelizar a cidade.

145 CASTRO, C. P. de. Os desafios do mundo urbano à Pastoral da Igreja. Pastoralia. Madrid: ano XVI, [mai.] 1995. p. 30. 146 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 679, 349 e 272. 147 JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Christifideles Laici: Vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo 36. 10 ed. São Paulo: Paulinas, 2001.

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É necessário reconhecer todo cristão como sujeito da evangelização, favorecendo o

acolhimento e a participação, estimulando o encontro com a Palavra de Deus e a celebração

vital dos sacramentos. É preciso conhecer as diversas dimensões da pessoa humana e da

família, acompanhar e orientar a experiência espiritual, o empenho na sociedade, a educação,

as associações de fiéis. A dinamização das paróquias em rede de comunidades favorece a

participação e o diálogo das CEBs e dos movimentos eclesiais, na busca da comunhão

fraterna.148

As comunidades descentralizam e articulam as atividades e os ministérios. Por isso,

são espaços excelentes para a experiência comunitária. “Cada batizado é construtor da Igreja,

e não deve ser submisso nem infantil. Deve ser sujeito e cidadão em seu grupo e na sua

pastoral. Com democracia e respeito pelos companheiros e em comunhão com padres, irmãs e

bispos. [...] Queremos construir uma Igreja dos pobres, com os pobres e para os pobres”.149

O evangelizador que vive a fé em comunidade, prepara-se e sai em missão na cidade

testemunhando sua vida cristã na Igreja e no mundo, sendo “luz, sal e fermento na massa”.150

“Como exemplo de koinonia está a partilha para o discernimento espiritual, pelo qual se

tomam decisões nos conselhos pastorais, nas dioceses, paróquias e comunidades.Quando

leigos, juntamente com pastores e religiosos, são convocados para expressar suas posições,

opiniões, a comunhão eclesial cresce”.151

148 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora no Brasil 1999-2002. (Documentos da CNBB n. 61) 169. 149 ALTEMEYER JUNIOR, F. Elementos para uma nova compreensão da atuação da Igreja Católica na cidade de São Paulo. In: VILHENA, M. A. e PASSOS, J. D. (orgs.). A Igreja de São Paulo: Paulinas, 2005. p. 512. 150 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 51. 151 ALMEIDA, L. M. Comunhão e participação no povo de Deus. In: ERNANE, J. E. (org.). O Sínodo e os leigos. São Paulo: Loyola, 1998. p. 47.

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2. A finalidade da evangelização

Para o Papa Paulo VI, “a evangelização tem como finalidade transformar a partir de

dentro e tornar nova a própria humanidade”.152 È através de Jesus Cristo que se renovam as

relações dos homens com Deus, com os outros homens e com toda a criação. Assim, o

anúncio do Evangelho na cidade contribui para a transformação interior das pessoas de boa

vontade, que tem o coração aberto ao Espírito Santo. Aos poucos, a ação evangelizadora vai

chegando aos homens de boa vontade e este conseqüentemente, transformando a sociedade.

O objetivo de toda evangelização é o seguimento de Cristo. É significativo como o

Evangelho de Marcos, após a proclamação sintética da Boa Nova do Evangelho por Jesus,

coloca a vocação dos primeiros discípulos: “Vinde em meu seguimento e eu vos farei

pescadores de homens” (Mc 1, 17). Esse seguimento dará à vida das criaturas humanas outra

visão: outros critérios de julgar, outros valores, outros centros de interesse, outras fontes

inspiradoras e outro modelo de vida. Serão os critérios, os valores, os interesses, os modelos

de vida do Reino de Jesus.153

A finalidade da evangelização, portanto, é precisamente a mudança interior. O mais

exato seria dizer que a Igreja evangeliza quando, unicamente firmada na potência divina da

mensagem que proclama, ela procura converter ao mesmo tempo a consciência pessoal e

coletiva dos homens, a atividade em que eles se aplicam, e a vida e o meio concreto que lhes

são próprios. Estratos da humanidade que se transformam: para a Igreja não se trata tanto de

pregar o Evangelho a espaços geográficos cada vez mais vastos ou populações maiores, mas

de chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os

valores que contam, os centros de interesses, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e

os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contrastes com a Palavra de Deus e

152 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 18. 153 LORSCHEIDER, A. A IV Conferência Geral do Episcopado Latino Americano em Santo Domingo. p. 23.

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com o desígnio da salvação.154 Ao exemplo do mestre, a tarefa de evangelizar constitui a

missão essencial da Igreja. “O termo evangelização, por isso mesmo, expressa a missão global

da Igreja”.155

3. Conteúdos da evangelização

Evangelizar é, em primeiro lugar, dar testemunho, de maneira simples e direta, de

Deus revelado por Jesus Cristo, no Espírito Santo. Dar testemunho de que no seu Filho amou

o mundo; de que no seu Verbo Encarnado Ele deu o ser a todas as coisas e chamou os homens

para a vida eterna. Esta atestação de Deus proporcionará, para muitos, talvez o Deus

desconhecido (cf. At 17, 22-23), que eles adoram sem lhe dar um nome, ou que eles procuram

por força de um apelo secreto do coração quando fazem a experiência da vacuidade de todos

os ídolos. Mas ela é plenamente evangelizadora, ao manifestar que, para o homem, o Criador

já não é uma potência anônima e longínqua: ele é o Pai.156

A Encíclica Evangelli Nuntiandi salienta a necessária ligação com a promoção

humana. Entre evangelização e promoção humana, desenvolvimento, libertação, existe de fato

laços profundos: laços de ordem antropológica, dado que o homem que há de ser

evangelizado não é um ser abstrato, mas sim um ser condicionado pelo conjunto dos

problemas sociais e econômicos; laços de ordem teológica, porque não se pode nunca

dissociar o plano da criação do plano da redenção, um e outro abrangerem as situações bem

concretas da injustiça que há de ser combatida e da justiça a ser restaurada; laços daquela

154 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 19. 155 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Rumo ao novo milênio: projeto de evangelização da Igreja no Brasil em preparação ao grande jubileu de 2000. (Documentos da CNBB n. 56). 61.3 ed. São Paulo: Paulinas, 1996. 156 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 26.

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origem eminente evangélica, qual é a ordem da caridade: como se poderia, realmente,

proclamar o mandamento novo sem promover na justiça e na paz o verdadeiro e autêntico

progresso do homem? Nós próprios tivemos o cuidado de salientar isto mesmo ao recordar

que é impossível aceitar que a obra da evangelização possa ou deva negligenciar os problemas

extremamente graves, agitados sobremaneira hoje em dia, no que se refere à justiça, à

libertação, ao desenvolvimento e à paz no mundo. Se isso porventura acontecesse, seria

ignorar a doutrina do Evangelho sobre o amor para com o próximo que se encontra em

necessidade.157

4. Critérios e sinais de evangelização

Todos os que formam o Povo de Deus - bispos, padres, religiosos, religiosas, leigos e

leigas - são evangelizadores. E, para serem bons evangelizadores, todos eles necessitam de

uma sã consciência social, importância do conhecimento da Doutrina Social da Igreja, de um

sentido evangélico crítico face à realidade, de um profundo senso de justiça, solidariedade,

pobreza evangélica, do amor evangélico, sem ódio, sem rejeição de qualquer setor social,

embora privilegiando os mais pobres, sem julgar, sem condenar, nem apelar para a violência,

vivendo o mais pleno e radicalmente possível o seu Batismo: conversão total ao Pai, ao Filho

e ao Espírito Santo, mergulhados no seio trinitário, na vida íntima divina: “Se alguém me

ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará e a ele viveremos e nele estabeleceremos

morada” (Jo 14,23).158

Hoje, a renovação da consciência eclesial e da responsabilidade missionária do povo

de Deus, que se expressa exemplarmente nas orientações do Concílio Vaticano II, amplia os

sujeitos eclesiais da missão, passando da missão de alguns para a missão de todos. O desafio

157 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 31. 158 LORSCHEIDER, A. A IV Conferência Geral do Episcopado Latino Americano em Santo Domingo. p. 24.

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para a Igreja está em despertar cada batizado e cada comunidade eclesial para essa

responsabilidade primeira e intransferível.159

O evangelizador participa da fé e da missão da Igreja que o envia. Necessita de

critérios e sinais que permitam discernir o que corresponde de fato à fé e à missão da Igreja,

isto é, à vontade de seu Senhor. “Cada um considere como constrói, pois ninguém pode lançar

outro fundamento, além do que foi lançado, que é Jesus Cristo” (1Cor 3, 10-11). “Portanto,

assim como acolhestes a Cristo Jesus, o Senhor, continuai a guiar-vos por ele. Arraigai-vos

nele e edificais-vos sobre ele, perseverai na fé que vos foi ensinada e transbordai em ações de

graça” (Cl 2, 6-7). “Evangelizar não é para quem quer que seja, um ato individual e isolado,

mas profundamente eclesial, a ser exercido em união com a missão da Igreja e em nome da

mesma”.160

Num mundo saturado pela propaganda e por informações de toda espécie, percorrido

por discursos e apelidos religiosos variados e, no mais das vezes, contraditórios; num mundo

cansado de tantos mestres, o evangelizador hoje deve ser, antes de mais nada, testemunha.

Será “pelo testemunho vivido com fidelidade ao Senhor Jesus, testemunho de pobreza, de

desapego e de liberdade frente aos poderes deste mundo” (EN 44), que ele há de evangeliza-

lo.161 Face à responsabilidade da evangelização, a Igreja Católica abre-se para um diálogo de

comunhão, procurando área de participação para o anúncio universal da salvação.162

Para evangelizar é necessário conhecer a realidade, preparar o terreno, desvendar

mistérios da complexa realidade social, cultural, econômica e religiosa da cidade onde a

semente do Evangelho será semeada. O evangelizador deve ir ao encontro dos trabalhadores.

Frei Betto diz que, à medida que os trabalhadores compreendem a ligação da fé e da vida, da

Bíblia e da História, do modo de agir de Jesus e do seu modo é que a Boa Nova se encarna em

159 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n. 54). 102. 160 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 60. 161 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n. 54) 111. 162 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 370, 371 , 1097.

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seus projetos e eles ampliam a solidariedade de classe e fazem a inserção na esfera da

eclesialidade.163

O desafio da ação evangelizadora fica mais evidente quando o agente conhece os

obstáculos que a realidade apresenta e se dispõe a compreendê-los e enfrentá-los na

semeadura da Boa Nova. Conhecendo a realidade do terreno a ser semeado (no nosso caso, as

características da vida urbana), certamente a colheita será abundante. “A posição correta do

cristão é aquela que une o esforço de compreensão racional dos acontecimentos com a firme

esperança no Senhor da História e da presença já atuante do Reino de Deus”.164

O mandato de Jesus não é apenas anunciar e ensinar. Ele espera que seus discípulos

suscitem outros discípulos e irmãos e entrem na comunhão fraterna com os mensageiros do

Evangelho.165 O evangelizador precisa ter uma espiritualidade encarnada. Todos os cristãos

têm a tarefa de se unirem uns aos outros para construir uma sociedade cada vez mais humana

e fraterna. É necessário juntar forças até mesmo com aquele que tudo reclama. A

solidariedade é princípio em toda ação evangelizadora. Ninguém pode ser insensível ao

clamor do pobre, diz a Conferência de Puebla, nas palavras de Jesus: “Cada vez que o fizestes

a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes”.166

Na cidade, as pessoas vivem cheias de problemas, com a auto-estima muito baixa. Na

ação evangelizadora, é preciso lembrar e ser presença na vida das pessoas além das

celebrações comunitárias. As pessoas querem e precisam ser ouvidas. O indivíduo urbano

precisa ser escutado. Ele é vítima da solidão, sente a necessidade de desabafar. A igreja

católica precisa despertar agentes para o serviço de escuta. As igrejas pentecostais e os centros

espíritas conquistam muitos adeptos através deste serviço, atendendo e ouvindo cada pessoa

163 FREI BETTO. Notas de uma pastoral operária. In: BEOZZO, J. O. et al. Vida clamor e esperança. São Paulo: Loyola, 1992. p. 353. 164 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n. 54). 114. 165 CNBB. Igreja comunhão e missão na evangelização dos povos, no mundo do trabalho, da política e da cultura. (Documentos da CNBB n. 40) 31. 166 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 1134.

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individualmente. Este serviço de acolhida e escuta leva esperança à pessoa que se sente

solitária e desesperada na agitação da cidade. O atendimento “personalizado” é indispensável

para ação evangelizadora nos grandes centros urbanos.

Tudo isto deve ser feito gratuitamente, sem esperar nada em troca. A Igreja deve

realizar este serviço aos homens urbanos sem esperar que estes venham fazer parte do “seu”

redil. Este serviço cristão é para a humanização da cidade.

5. Os agentes evangelizadores

A comunhão eclesial é como a comunhão de um corpo orgânico, onde cada membro

tem a sua função. A Igreja é caracterizada por uma presença simultânea de diversidade e

complementaridade de vocações, de condição de vida, de ministérios, de carismas e

responsabilidades. Cada um exercendo a sua função, de acordo com os próprios meios e

carismas, contribui para a edificação do corpo de Cristo, a Igreja. E é claro que todo corpo

possui uma alma que a vivifica. “Na Igreja o Espírito Santo é que renova cada um, sempre

presente na cabeça dos membros, unindo o corpo inteiro, possibilitando a comunhão e

levando a verdade total e na forma do Evangelho”.167

Na sociedade atual, o testemunho do evangelizador é uma exigência para a sua ação. O

evangelizador precisa conhecer e ter discernimento sobre as verdades essenciais e centrais da

fé. Precisa ter conhecimento da linguagem e da realidade em que pretende atuar. O Espírito

acompanha e assiste os missionários. Porém, ninguém está dispensado da preparação para a

missão. As comunidades, paróquias, setores, regiões e dioceses devem oferecer oportunidades

adequadas de formação para seus evangelizadores. Na Igreja de São Paulo, cresce sempre

mais o número de Escolas da Fé, Escolas da Palavra, Cursos de Teologia para Leigos e

167 JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Christifideles Laici 20.

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também há grande incentivo para o curso de Teologia para Leigos na Faculdade de Teologia

no Colégio Marillac. Mas a CNBB diz que nada substitui a experiência do Deus vivo, no

encontro com Cristo, alimentando-se constantemente pela escuta da Palavra de Deus, tanto no

livro da Escritura quanto no livro da vida; pela participação na eucaristia e demais

celebrações; pela oração generosa e abertura a Deus e à sua presença na realidade humana;

pelo abandono ao Espírito que precede a ação do evangelizador, assiste-o cotidianamente

confortando nas dificuldades e mesmo nos fracassos; enfim, pela doação de si mesmo nos

serviço aos demais.168

Para isso é preciso renovar o entusiasmo para ampliar e qualificar a ação missionária

da Igreja, à medida que cada um assumir como prioritária a ação aos outros, para que se

aproximem do seu Senhor. E assim, com fervor missionário, assumir e colocar em prática as

três grandes metas da evangelização: promoção da dignidade da pessoa; renovação da

comunidade, a partir da família; e participação na construção de uma sociedade justa e

solidária.169 O missionário tem uma função na missão evangelizadora e esta nunca pode ser

esquecida:

O missionário não é alguém que dá alguma coisa que o outro não tem, mas

alguém que transmite um chamado de Deus e facilita a resposta do povo,

provocando desse modo o crescimento na experiência de Deus. È essa a

função de um profeta. Ele é portador da palavra de Deus. A palavra tem

poder para efetuar crescimento e transformação. 170

168 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 1999-2002. (Documentos CNBB n. 61). 115. 169 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Projeto Nacional de Evangelização 2004-2007: Queremos ver Jesus, caminho, verdade e vida. (Documentos da CNBB n. 72). 10. 4 ed. São Paulo: Paulinas, 2004. 170 AMALADOSS, M. Missão e inculturação. p. 16.

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A missão do cristão é participação na missão divina, continuando a missão de Jesus.

Sua meta é o Reino de Deus e a Igreja deve ser o seu símbolo e sua serva. No processo de

evangelização no grande centro urbano, a igreja deve atuar nos centros fixos: igrejas, centros

comunitários, capelas e nas infinitas fronteiras abertas: hospitais, FEBEMs, cadeias, escolas e

tantos outros.

Através de diversas pastorais, associações e movimentos, a Igreja de São Paulo se

organiza para ser fiel seguidora de Jesus, para cumprir a missão deixada por Ele aos seus

seguidores. Porém, encontra dificuldades para ser presença nos presídios, hospitais, favelas,

cortiços, mas continua caminhando para construir uma cultura missionária.

Os projetos missionários não nascem do dia para a noite e nem da mente criativa de

um desocupado. Os projetos missionários nascem da prática missionária na realidade em que

se vive, na realidade em que se atua. Os missionários não precisam conhecer tudo sobre o

diálogo, o ecumenismo, a Bíblia, a Igreja, a Teologia e realidade sócio-econômica. É

necessário ter o espírito aberto para o dinamismo de Deus. È no caminho da missão que se

aprende e se ensina.

5.1. Formação dos agentes evangelizadores

A formação dos evangelizadores tem como centro e fonte de dinamismo o mistério de

Cristo e exige principalmente capacidade de “dar conta da própria esperança”. Para cumprir

esta meta, há necessidade de uma formação adequada quanto os conteúdos fundamentais da fé

e da moral católica, que permita aos evangelizadores conhecer a realidade, sem aceitar o puro

empirismo ou as falsas certezas. Capacidade de comunicar, tanto em nível pessoal como

através dos meios sempre mais numerosos que a cultura atual põe à disposição, é uma

qualidade cada vez mais importante para os evangelizadores, que também obtém mais sucesso

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quando tem a capacidade de avaliar e mudar, para medir os efeitos da ação evangelizadora e

orientar os rumos, quando oportuno.171 Todos os batizados, seguidores de Jesus

evangelizador, são chamados a tornarem-se por sua vez evangelizadores.172

A Igreja deve contar com a orientação de especialistas experientes, valer dos meios

adequados; criar adequados organismos de estudo e pesquisa e realizar maiores investimentos

na formação das lideranças.173

Os documentos Lumen Gentium e Puebla apontam que os conteúdos de uma formação

adequada devem se realizar em diversos níveis relacionados entre si. Deve ser, com efeito,

uma formação humano-bíblico-teológica, espiritual (espiritualidade encarnada na vida) e

vivenciada como experiência de Deus e solidariedade com os irmãos.174

A articulação é uma necessidade para estabelecer uma efetiva comunicação entre os

interlocutores que permita o intercâmbio de informações e, eventualmente, através do diálogo,

a elaboração de um consenso. È necessário criar a “rede”, para evitar falhas desnecessárias,

como por exemplo: visão estreita das responsabilidades da missão; acúmulo de trabalhos em

poucos agentes; repetição e desperdício, por um lado, e tarefas não cumpridas, por outro;

preocupação com o imediato, em prejuízo do importante. Do ponto de vista teológico e

eclesial, a articulação é, também, um testemunho de comunhão e participação.175

171 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n. 54). 292 172 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1999-2002. (Documentos da CNBB n. 61). 293. 173 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n. 54) 294. 174 COMPÊNDIO VATICANO II. Lumen Gentium 40-41, 45. 175 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n. 54). 296.

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6. Os leigos na evangelização

Não há dúvida de que a tarefa de promover a justiça e a paz, de prestar solidariedade e

serviço aos irmãos, especialmente aos mais necessitados, é uma responsabilidade dos cristãos

empenhados na economia, na política, nas relações internacionais, no sindicato, nas

organizações assistenciais, nos movimentos populares, nas pastorais sociais.176 O Concílio

Vaticano II tinha consciência disto, tanto é que na Constituição Lumen Gentium afirma que,

na tarefa de impregnar do espírito de Cristo no mundo e fazer que “atinja mais eficazmente o

seu fim na justiça, na caridade e na paz, compete aos leigos a principal responsabilidade” e

reconhece que os leigos são chamados de modo especial a tornar presente e operante a Igreja

“naqueles lugares e circunstâncias onde ela só por meio deles pode vir a ser sal da terra”. A

todos os leigos, portanto, incumbe o preclaro ônus de trabalhar para que o plano divino de

salvação atinja todos os lugares da terra. Conseqüentemente sejam-lhes dadas amplas

oportunidades para que também eles participem ativamente na obra salvífica da Igreja, de

acordo com suas forças e as necessidades dos tempos. 177

Os leigos são congregados no Povo de Deus e constituídos num só corpo de Cristo,

sob uma só cabeça. O apostolado dos leigos é participação na própria missão salvífica da

Igreja. O leigo com sua formação especial no mundo e na sociedade têm diante de si uma

grande tarefa evangelizadora no presente e no futuro de nosso continente.

Os leigos têm se empenhado na participação das instâncias políticas a fim de

garanti a construção de um mundo novo, conforme o Projeto de Deus: são

176 CNBB. Missão e ministérios dos leigos e leigas cristãos. (Estudos da CNBB n. 77). 56. 177 COMPÊNDIO VATICANO II. Lumen Gentium 36b e 33.

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conselheiros ativos dos Conselhos paritários do Município de São Paulo, tais

como os Conselhos do Idoso, da Criança e do Adolescente, do Meio

Ambiente, do Negro, da Mulher, dos Portadores de Necessidades Especiais,

entre outros [...] Os leigos começam a assumir, de forma mais explícita, sua

participação na vida política da cidade, partidária ou não, e lançam-se como

opções novas para a governabilidade com ética e justiça. 178

Por outro lado, o Espírito Santo está suscitando hoje na Igreja uma diversidade de

ministérios, também exercidos por leigos, capazes de rejuvenescer e reforçar o dinamismo

evangelizador da Igreja. Assim, a presença dos leigos em ações evangelizadoras é ampla e

continua crescendo. A Conferência de Puebla tomou consciência da necessidade dos leigos na

missão evangelizadora diante do seu testemunho e dedicação cristã na sociedade para a

promoção da justiça entre os povos.

Desde o princípio, houve na igreja diversidade de ministérios, cuja finalidade é a

evangelização. Os escritos do Novo Testamento revelam a vitalidade da Igreja, que se

manifestou em múltiplos serviços. O apóstolo Paulo menciona, entre outros, os seguintes: a

profecia, a diaconia, o ensino, a exortação, o dar esmolas, o presidir, o exercício da

misericórdia (Rm 12,6-8); e em outros contextos fala de ministérios como as palavras da

sabedoria, do discernimento de espírito e alguns outros (1Cor 12, 8-11; Ef 4, 11-12; 1Ts

5.12s; Fl 1,1). Em outros textos, descrevem-se igualmente vários ministérios.179

A primeira missão e imediata tarefa dos leigos não é instituição e o desenvolvimento

da comunidade eclesial – esse é o papel específico dos Pastores –, mas sim pôr em prática

todas as possibilidades cristãs e evangélicas escondidas, porém já presentes e operantes, nas

coisas do mundo.

178 SILVA, E. G. O. Os leigos na cidade contemporânea. In: VILHENA, M. A. e PASSOS, J. D. (orgs.). A Igreja de São Paulo. Presença católica na história da cidade. São Paulo: Paulinas, 2005. p. 297. 179 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 857-858, 777, 680.

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O campo próprio da sua atividade evangelizadora é o mesmo mundo vasto e

complicado da política, da realidade social e da economia, como também o da cultura, das

ciências e das artes, da vida internacional, dos “mass media” e, ainda, outras realidades

abertas para a evangelização, como seja o amor, a família, a educação das crianças e dos

adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento. Quanto mais leigos houver impregnados

do Evangelho, responsáveis em relação a tais realidades e comprometidos claramente nas

mesmas, competentes para as promover e conscientes de que é necessário fazer desabrochar a

sua capacidade cristã muitas vezes escondida e asfixiada, tanto mais essas realidades, sem

nada perder ou sacrificar do próprio coeficiente humano, mas patenteando uma dimensão

transcendente para o além, não raro desconhecido, se virão a encontrar ao serviço da

edificação do Reino de Deus e, por conseguinte, da salvação em Jesus Cristo.180

Em todos os casos, o leigo deverá buscar e promover o bem comum, na defesa da

dignidade do homem e dos mais fracos e necessitados, na construção da paz, da justiça, na

criação de estruturas mais justas e fraternas.181 Por sua índole secular, os leigos, são chamados

a santificar-se no mundo e “eles têm que se santificar na normal vida profissional e social”.182

No Decreto Ad Gentes e no Documento de Puebla, os bispos afirmam que a principal

missão dos leigos é “dar testemunho de Cristo pelo exemplo e pela palavra, na família, no seu

ambiente social e no âmbito da profissão” e de constituir a Igreja como comunidade de fé,

oração, de caridade fraterna, mas é no mundo que o leigo encontra seu campo específico de

ação. Pelo testemunho de sua vida, por sua palavra oportuna e sua ação concreta, o leigo tem

a responsabilidade de ordenar as realidades temporais para pô-las ao serviço da instauração do

180 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 70. 181 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 792. 182 JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Christifideles Laici 17.

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Reino de Deus.183 Esta missão provém do Batismo e da Confirmação que os incorporam a

Cristo e os tornam membro da Igreja, juntamente com seus irmãos leigos e com os Pastores.

Os protagonistas da evangelização devem estar sempre como novo ardor missionário,

lembrando as palavras de Jesus: “Eu vim para trazer fogo à terra, e como gostaria que já

estivesse aceso” (Lc 12,49). A Igreja não se acha deveras consolidada, não vive plenamente,

não é um perfeito sinal de Cristo entre os homens se aí não existe um laicato de verdadeira

expressão que trabalhe com a hierarquia. Porque o Evangelho não pode ser fixado na índole,

na vida e no trabalho de um povo, sem a ativa presença dos leigos.

Por isso, desde a fundação da Igreja, tem-se o máximo cuidado em constituir um

laicato cristão maduro. Os ministros da Igreja valorizem o operoso apostolado dos leigos.

Formem leigos que, membros de Cristo, estejam conscientes de sua responsabilidade no

mistério de Cristo. Introduzam-nos métodos práticos e assistam-nos nas dificuldades.184

Para todos os obreiros da evangelização é necessária uma preparação séria; e é

necessária de modo muito particular para aqueles que se dedicam ao ministério da Palavra.

Animado pela convicção, incessantemente aprofundada, da nobreza e da riqueza da

Palavra de Deus, aqueles que têm a missão de transmitir devem dedicar a maior atenção à

dignidade, à precisão e adaptação da sua linguagem.185

A Conferência de Puebla diz que para formar os leigos e dar-lhes sólido apoio em sua

vida e ação, procurará incorporá-los às organizações e movimentos apostólicos e potenciará

todos os seus instrumentos de formação, de modo particular os que são próprios do campo da

cultura. Somente assim se obterá um laicato amadurecido e evangelizador.186

183 cf. COMPÊNDIO VATICANO II. Decreto Ad Gentes 21; CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 786-793, 777, 827-828, 524-530; JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Christifideles Laici 29. 184 cf. COMPÊNDIO VATICANO II. Decreto Ad Gentes 21 e 22. 185 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 73. 186 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 155.

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Nesse contexto, parece oportuno que a Igreja ajude os leigos na busca de uma

espiritualidade autenticamente evangélica e missionária, que supera o mero devocionismo,

para sustentá-los em sua atuação humana e cristã e na família, no trabalho, na sociedade e na

vida cotidiana e nas diversas formas de apostolado e evangelização. A espiritualidade dos

leigos alimenta-se nas fontes de toda espiritualidade cristã: a Palavra, a Liturgia, a Comunhão

Eclesial, mas ela procura especialmente a união da fé com a vida. Os leigos encontram-se em

lugar central no diálogo entre Deus e o mundo. Daí a união com Deus, a oração, a vivência

comunitária e o compromisso no mundo, como serviço, diálogo, anúncio, revestem-se para os

leigos de um acento especial.187 Uma formação que é gradual e permanente.

Os lugares educativos da família, da comunidade eclesial, conselhos pastorais,

coordenações e conselhos diocesanos de leigos são a fonte e a origem de todo o apostolado da

Igreja que é Cristo, enviado do Pai. Sendo assim, é evidente que a fecundidade do apostolado

dos leigos depende de sua união vital com Cristo, segundo a palavra do Senhor: “Aquele que

permanece em mim e eu nele produz muito fruto; porque, sem mim, nada podeis fazer” (Jo

15,5).188

7. Os Movimentos e as Associações na evangelização

A missão compete a todos os cristãos, a todas as dioceses e paróquias, instituições e

associações eclesiais. 189 Os movimentos eclesiais trazem contribuições de seu próprio

carisma, integram-se nas Igrejas Particulares e devem assumir a evangélica opção preferencial

pelos pobres, devem valorizar a fé como experiência pessoal, sem esquecer a dimensão

187 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1999-2002. (Documentos da CNBB n. 61). 318. 188 COMPÊNDIO VATICANO II. Decreto Apostolicam Actuositatem 4. 29 ed. Petrópolis: Vozes, 2000. 189 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 2.

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comunitária e social, devem cuidar da formação de seus membros, pondo sua organização à

serviço da evangelização.190

As associações e movimentos vivem um grande momento na Igreja.

Atingem, principalmente, o homem imbuído do espírito da modernidade e

do secularismo. Várias associações e movimentos têm a capacidade de

despertar a fé quase extinta de tais homens, levando-os a reencontrar o

Cristo. Disse também que a espiritualidade de certas associações ou

movimentos, por vezes, leva mais a responder às aspirações pessoais do que

a problemas concretos da vida social. Trata-se de uma espiritualidade

intimista, sem nenhuma interpelação no que se refere à transformação da

própria vida social dos homens no espírito de Jesus Cristo.191

Por ocasião da visita ad limina Apotolorum, em 2001, o Papa João Paulo II no

discurso aos bispos do Paraná, reafirmou a importância dos movimentos de apostolado leigo

para a Igreja: a presença dos movimentos apostólicos, numerosos e dinâmicos, quando atuam

“em plena sintonia eclesial e obediência às diretrizes autorizadas dos pastores” (NMI, n.46),

tem dado particular ajuda à Pastoral diocesana; sua ação pode ser, em muitos casos,

determinante para contribuir para este processo permanente de conversão, que é próprio da

evangelização, e conseguir assim uma sociedade mais justa e reconciliada com Deus. Por isso,

o apostolado leigo vem assumindo uma importância determinante para aproximar Deus de

tantos homens e mulheres, pois é o ambiente que lhes é familiar, no trabalho, no lar e na

190 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1999-2002. (Documentos da CNBB n. 61). 289. 191 No Sínodo dos Bispos de 1987, que trata sobre os leigos, D. Aloísio Lorscheider, falando em nome da CNBB no dia 04 de setembro. In: PINHEIRO, J. E. (org.). O Sínodo e os leigos. São Paulo: Loyola, 1988. p. 39.

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sociedade em geral, onde o papel do leigo se torna imprescindível e, muitas vezes,

insubstituível.192

8. Proclamação do Evangelho na cidade

Teóricos têm apontado, ao longo do tempo, algumas das formas mais apropriadas para

que a Igreja testemunhe o Evangelho nas grandes cidades. “O testemunho pode ser dado pela

palavra, mas é principalmente uma atitude de vida, muitas vezes silenciosa. O mundo de hoje

escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou então, se escuta os

mestres, é porque eles são testemunhas”.193

Esse testemunho pode assumir diversos aspectos. Um ato de solidariedade ou de

serviço, uma atitude de diálogo, uma declaração franca da própria fé, o exemplo de uma vida

fraterna e inspirada pelo amor: tudo isso é testemunho194, que pode chegar à máxima

expressão na doação da própria vida.195

Mas, para colocar em prática esse testemunho, parece ser recomendável que a Igreja

desafie permanentemente a si mesma e, depois, a sociedade paulistana a mudar suas atitudes,

conceitos e preconceitos. E, inclusive, o modo de organização. A própria Conferência

Nacional dos Bispos do Brasil reconhece que a organização da Igreja está muito dependente

do padre e da paróquia.

192 JOÃO PAULO II. Palavra de João Paulo II aos Bispos do Brasil. 2 ed. São Paulo: Paulinas, 2003. p. 15. 193 PAULO VI. Evangelli Nuntiandi 41. 194 No novo testamento, testemunho é martyría ou martýrion (martírio). 195 CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2003-2006. (Documentos da CNBB n. 71). 18.

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Ora, o número de padres não tem crescido no mesmo ritmo da população. Em 1970,

havia um padre para 7100 habitantes; em 1990, um padre para 10.100 habitantes. Desde

então, a proporção padres/habitantes se mantém estável.196

Entretanto, paradoxalmente, nem sempre a instituição assume uma postura mais aberta

ao diálogo com os leigos. A atitude da igreja muitas vezes se mostra centralizadora e a

sociedade moderna rejeita centralismos. “As abordagens e atitudes de autoridade da Igreja

realmente não permitem às Igrejas locais se transformar e ser elas mesmas”.197 “O caminho

missionário é, propriamente, um incentivo para que a Igreja e as comunidades se

descentralizem pela misericórdia. O lugar da Igreja missionária é o ferido do caminho e o

marginalizado na sociedade”.198

Se a Igreja ficar parada, institucionalizada, se ela não sair, certamente não encontrará

ninguém pelo caminho. A Igreja não pode ficar esperando que as pessoas venham ao seu

encontro. A missão não pode ser fixa a um lugar, sobretudo na cidade que é dinâmica, que

nunca pára, que nunca dorme. “A missão, por princípio, é movimento e deslocamento para as

fronteiras”.199 Quando tudo parecer muito seguro na ação evangelizadora, é bom atentar-se

para que não caia no comodismo e venha a morrer. A Igreja, quando sai de si mesma, mostra

sinais de sua maturidade. Em outras palavras, a Igreja nunca pode permanecer fechada,

esperando seus fiéis amadurecerem para sair em missão.

196 CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2003-2006. (Documentos da CNBB n. 71). 43. 197 AMALADOSS. M. Missão e inculturação. p. 32. 198 PALEARI, G. Espiritualidade e Missão. p. 99. 199 PALEARI, G. Espiritualidade e Missão. p. 112.

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O caminho é de mão-dupla. Quando sai para a missão, ela cresce; quando volta da

missão, ela amadurece. O fruto é uma Igreja sempre missionária, nos passos de Jesus e seus

discípulos. O sujeito da evangelização na cidade não é o missionário isoladamente, é toda a

Igreja, de forma especial a comunidade à qual ele pertence e o envia.

8.1. Implantar o Reino de Deus na cidade

Alguns projetos de missão contemporâneos consistem em “implantar a Igreja”. Dessa

maneira, houve uma progressiva identificação entre o Reino, Jesus e a Igreja. “Jesus não só

proclama o Reino, mas também o realiza em sua vida, morte e ressurreição. Portanto, Jesus é

o Reino em pessoa. Assim, o convite, “crede no Evangelho” transforma-se em “crede em

Jesus”. Jesus fundou a Igreja. Por meio da pregação do ministério sacramental, a Igreja

continua a obra de Jesus. Ela é a realização visível do Reino no mundo. Assim, proclamar o

Reino hoje é proclamar a Igreja. “Implantar a Igreja, equivale a instituir o Reino”. Em alguns

projetos missionários há uma série de identificações onde deveria haver somente relações. “O

Reino de Deus não é território nem povo”.200

A Igreja é portadora da mensagem que transforma a vida das pessoas, o Evangelho de

Cristo. “Há necessidade de um conhecimento melhor e pessoal de Jesus e de sua missão. Esse

conhecimento não é simples informação, mas deve ser traduzido numa experiência íntima e

mobilizadora, num encontro que dê sentido à vida das pessoas”.201

Não é bom para a Igreja que haja uma total identificação do Reino com a Igreja.

Quando isso acontece, fatalmente há uma rejeição do Reino, ou seja, da própria Igreja. O

Reino de Deus comporta um universo bem mais amplo do que o conquistado pela Igreja. O

Reino de Deus deve ser entendido como a situação do “já e ainda não”. A Arquidiocese de

200 AMALADOSS, M. Missão e inculturação. p. 48. 201 CNBB. Projeto Nacional de Evangelização 2004-2007. (Documentos da CNBB n. 72). 10.

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São Paulo se coloca em missão na cidade com o propósito de testemunhar e promover os

valores do Evangelho e transformar a cidade no Reino de Deus. Reino de liberdade,

solidariedade e justiça. Todos os batizados são chamados a colaborar na edificação do Reino.

As pessoas devem se organizar em equipes, grupos, entidades, associações,

movimentos para melhor cumprir esta missão. Todos são chamados a semear as sementes da

justiça, do diálogo, do respeito às diferenças e a praticar os ensinamentos do Cristo. “Cada

comunidade eclesial deve ser um espaço propício a esse encontro, um lugar onde as pessoas

experimentam o amor de Jesus em ação”.202 Da mesma forma, o Reino de Deus e sua ação

não se limitam ao grupo das pessoas que participam ou formam a Igreja. A Igreja nunca

substitui o Reino.

O Reino diz respeito a todos: às pessoas, à sociedade, ao mundo inteiro.

Trabalhar pelo Reino significa reconhecer e favorecer o dinamismo divino

que está presente na história humana e o transforma. Construir o Reino quer

dizer trabalhar para a libertação do mal, sob todas as suas formas. É certo

que a Igreja não é o fim em si mesma, uma vez que se ordena ao Reino de

Deus, do qual é princípio, sinal e instrumento [...]. A Igreja está efetiva e

concretamente a serviço do Reino. A Igreja serve ainda ao Reino, fundando

comunidades, constituindo Igrejas particulares, levando-as ao

amadurecimento da fé e da caridade, na abertura aos outros, no serviço à

pessoa e à sociedade, na compreensão e estima das instituições humanas203 .

Transformar a sociedade a partir dos valores evangélicos. Este é o objetivo da Igreja.

O imperativo “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo” (Mc 12,

30-31) conduz os cristãos aos cuidados especiais com os pobres e oprimidos, promovendo a

202 CNBB. Projeto Nacional de Evangelização 2004-2007. (Documentos da CNBB n. 72). 10. 203 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 15, 18 e 20.

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justiça. Todos são chamados a mudar os corações e, conseqüentemente, as estruturas que

causam as injustiças, a dor e o sofrimento das pessoas. Aos poucos, as comunidades cristãs

vão aprendendo com o Cristo que, sem justiça, não há amor. A prática de Jesus que os

Evangelhos relatam motiva os cristãos e cristãs ao exercício do amor, da justiça e da

solidariedade. Cristo (Lc 4,18-19) sentava-se com os pobres e excluídos, não fazia acepção de

pessoas - comia também com os pecadores (Mc 2,15-17). É isso que Jesus espera dos seus

seguidores: dar de comer a quem está com fome, vestir o nu, visitar os doentes e os que estão

na prisão (Mt 25,31-46).

Os sinais dos tempos apontam para a importância de um novo tipo de ação política,

que valorize a iniciativa popular, de grupos e de comunidades que se dispõem a “pôr a mão na

massa” em iniciativas concretas, para responder às necessidades reais do povo sofrido. O Papa

Paulo VI diz que “para os fiéis leigos, o empenho político é uma expressão qualificada e

exigente do empenho cristão a serviço dos outros”.204

Trata-se de incentivar e apoiar o protagonismo social e político dos diversos grupos e

comunidades, no campo e na cidade, para que usem a criatividade e empreguem a fantasia da

caridade para enfrentar os problemas concretos e, a partir de atividades em andamento,

provocar o envolvimento da administração pública.205

8.2. Riqueza, pobreza e profecia da ação evangelizadora

O fosso entre ricos e pobres continua a crescer. Os governos perdem credibilidade,

devido a tantos escândalos de corrupção em nosso país. Podemos dizer que a moralidade

204 PAULO VI. Octogésima Adveniens 46. Documentos de Paulo VI. São Paulo: Paulus, 1997. 205 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Evangelização e missão profética. (Documentos da CNBB n. 80). São Paulo: Paulinas, 2005. p. 65.

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pública está em crise. O mundo necessita de profecias, precisa de profetas que falem em nome

de Deus, pessoas que defendam os direitos dos pobres em nome de Deus.206

A cidade também precisa de profetas. A Igreja precisa de profetas. Pessoas que vivam

o presente da história, os limites, os sofrimentos e anseios de todas as pessoas, especialmente

dos mais pobres e excluídos da sociedade, para que assim a Igreja continue sendo a porta-voz

dos injustiçados e dos oprimidos. A discriminação, o não diálogo, a violência, a morte sempre

incomodarão os cristãos. A solidariedade, a fraternidade, a justiça e o diálogo, em

contraponto, serão o anúncio e testemunho dos enviados à evangelização.

Vinte e seis anos se passaram desde a reunião dos Bispos na cidade de Puebla

(México), porém aquela mesma realidade de extrema pobreza generalizada pela América

Latina que perpassou todo o encontro e inspirou suas decisões continua existindo. O

documento final daquele encontro já dizia que essa realidade representava feições

concretíssimas, nas quais deveríamos reconhecer as feições sofredoras do Cristo, o Senhor:

feições de crianças golpeadas pela pobreza ainda antes de nascer; crianças abandonadas e

exploradas de nossas cidades; feições de jovens desorientados e frustrados nas zonas rurais e

urbanas; feições de indígenas e afro-americanos vivendo segregados e em situações

desumanas; feições de camponeses que vivem relegados em quase todo o continente, sem

terra, submetidos à enganação e exploração; feições de operários mal remunerados e sem

condições de se organizarem para defender seus direitos; feições de subempregados e

desempregados, causa das crises econômicas e dos modelos desenvolvimentistas que os

submetem a frios cálculos econômicos; feições de marginalizados e amontoados das nossas

cidades; feições de anciãos cada dia mais numerosos colocados à margem, pois já não

produzem mais.207

206 CNBB. Evangelização e missão profética da Igreja. (Documentos da CNBB n. 80). p. 73s. 207 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 31-39.

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Este convite a uma ação profética está presente nos documentos da Igreja e também na

atuação concreta das organizações eclesiais para garantir o direito dos pobres da cidade:

A igreja, na sua totalidade e universalidade, tem uma missão a realizar. O

magistério, através de seus documentos, não deixa dúvida sobre a dimensão

evangélica e eclesial de todo serviço aos pobres e excluídos. Reconhece

ainda que a parceria e colaboração com outras forças e organizações da

sociedade civil, bem como o poder político, são um meio e um instrumento

privilegiado para garantir os direitos pessoais e coletivos da população. 208

Os destinatários da união das forças da igreja, poderes públicos e Organizações Não-

Governamentais são todos aqueles que necessitam que seus direitos básicos sejam garantidos,

a começar pelas crianças, adolescentes, jovens, famílias, portadores de necessidades especiais,

doentes, sem teto, negros, presidiários, vítimas de abusos sexuais.

Através da organização, estrutura e dinâmica pode-se assegurar o funcionamento dos

serviços públicos e garanti-los aos cidadãos. “As relações entre a Igreja Católica e as ações

sociais na cidade de São Paulo são genéticas, já que datam da fundação do Colégio

Piratininga pelos Jesuítas”.209

“Do ponto de vista da solidariedade e do serviço aos pobres e excluídos, existe um

apelo para que se renovem as práticas da caridade e da assistência social”.210 As novas

situações de pobreza e sofrimento exigem a criação de novas iniciativas de economia

solidária, de auto-ajuda, de promoção e de transformação social.

208 MEZZARI, A. A. Ação e Propostas das Entidades Comunitárias conveniadas com a SAS da PMSP. In: SEMINÁRIO DA CARIDADE. Presença da Igreja na cidade de São Paulo: Loyola, 2002. p. 90. 209 SPOSATI, A. Um pacto para o terceiro milênio. In: Seminário da Caridade. Presença da Igreja na cidade de São Paulo: Loyola, 2002. p. 71. 210 CNBB. Missão e ministérios dos cristãos leigos e leigas. (Documentos da CNBB n. 72) 133.

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As novas formas de atuação têm suscitado um grande número de voluntários na

Pastoral da Criança, na Pastoral do Menor, na Pastoral da Saúde, na Pastoral Carcerária, na

recuperação dos dependentes químicos e marginalizados. Merece destaque a dedicação de

muitas pessoas nas inúmeras obras sociais.211

O missionário deve seguir sempre o caminho da misericórdia. Jesus teve compaixão

daquela mulher, mãe de um único filho, no povoado de Naim (Lc 7, 11-l7). Ali ele sente uma

compaixão e diz para a mãe desesperada: “Mulher, não chores”. Jesus ressuscita o filho

porque assume o sofrimento humano até as últimas conseqüências. Os Evangelhos

apresentam a compaixão de Jesus em diversos outros textos e situações de sofrimento das

pessoas, como por exemplo, na parábola do Filho Pródigo (Lc 15, 11-32). Ter compaixão é

justamente isto: carregar sobre si o sofrimento, as ansiedades e as limitações humanas. Ter

compaixão é agir junto àqueles que estão esquecidos na sociedade. O missionário deve sentir

compaixão das pessoas que sofrem e deve sustentá-las na esperança e na conquista dos seus

direitos. Na Arquidiocese de São Paulo há tantos missionários e missionárias que através das

pastorais sociais, dos movimentos sociais, acompanham, sofrem, lutam e conquistam

dignidade de vida junto a tantos irmãos e irmãs excluídos da sociedade.212

O missionário é aquele que é capaz de ensinar e de aprender com aquele outro a quem

teve a oportunidade de encontrar. Ensinar e aprender estão sempre juntos. Quem aconselha

também deve estar aberto para receber conselhos. Quem dá é também capaz de receber. Uma

pessoa, por mais capaz que seja, não consegue evangelizar se não for capaz de ouvir, dialogar,

sentir o que o outro sente, como fez Jesus. “Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo

Jesus: Ele tinha a condição divina e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se

apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo, tomando a

211 MEZZARI, A. A. Ação e Propostas das Entidades Comunitárias conveniadas com a SAS da PMSP. p.88. 212 PALEARI, G. Espiritualidade e missão. p. 83.

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semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte,

e morte de cruz” (Fl 2,5-8).

É o caminho da pobreza que levará o missionário a percorrer o caminho dos pobres e

dos despossuídos. Pisar firme na favela e nos cortiços exige grande esforço e dom. Despojar-

se de tudo é grande sinal de testemunho e solidariedade. Interiorizar o sofrimento do outro é

uma capacidade daquele que realmente foi chamado para a missão.

Mesmo numa época como a nossa, em que temos tantos recursos e comodidades, o

anúncio do Evangelho se faz muito difícil. Hoje, a sociedade, de forma especial algumas

empresas especializadas, apresentam vários recursos para o anúncio do Evangelho: filmes,

slides, data show, cartazes, painéis, outdoors, rádios, canais de televisão. Estes recursos falam

de Deus e de seu Reino, falam de Jesus e seus ensinamentos, mas nenhum destes recursos,

nem todos juntos são capazes de convencer, se os testemunhos da Igreja e dos

evangelizadores não forem significativos sinais de que Deus é realmente Pai de todos, ama a

todos e está com todos. “Eu vi a opressão do meu povo, ouvi suas queixas contra os

opressores, conheço seus sofrimentos, por isso desci para libertá-lo” (Ex, 3,7). Sem isto, serão

apenas palavras, filmes e imagens bonitas que a tecnologia apresenta, que impressionam e

emocionam, mas não chamam.

O conhecimento da doutrina, da vida sacramental, da Palavra de Deus é muito

importante para a ação do missionário. Porém, se a humildade lhe faltar, poderá dizer coisas

belas, apresentar o céu, mas não será capaz de fazer crentes a Deus, porque faltou com o

testemunho. O evangelizador conseguirá anunciar Deus e seu Reino se participar da vida do

povo a quem foi destinado a evangelizar. É necessário fazer parte do sonho de um mundo

novo. Há de ter sensibilidade para avançar e recuar em suas idéias para que os evangelizandos

possam encantar-se com o desejo de Deus e comprometerem-se com o seu Reino de justiça,

de paz e de liberdade.

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8.2.1. Inclusão de Deus, inclusão do homem

Segundo a nossa fé, Deus nos confiou este mundo como administradores, não para

construirmos modernas torres de Babel, torres de hegemonia comunicativa que sufocam a

comunicação por meio de versões filtradas de informação, nem torres pós-modernas de

marfim e de anti-comunicação, mas “redes de comunidades” que partilham a palavra e os

bens. Esta comunicação diferenciada e transparente, que supera esquemas maniqueístas do

tipo sim/não, branco/preto, verdade/mentira, inclui sempre o “terceiro” como possibilidade

mediadora e necessidade complementar. Na dialética da autonomia das realidades terrestres,

só conseguiremos superar as dificuldades, tornando Deus o terceiro incluído. A exclusão

silenciosa de Deus deste mundo, sua degradação, a insignificância social e a substituição de

sua lei do amor pela lei do mercado parecem a vingança tardia pela expulsão da humanidade

do paraíso. Esta exclusão de Deus reflete-se na dissolução dos laços de lealdade,

responsabilidade e solidariedade sociais pela “livre concorrência” e pela competitividade do

mercado. A exclusão de Deus é a causa profunda da exclusão social. Se não se relacionam os

“dois excluídos”, Deus e os pobres, e não combatemos as “duas exclusões”, somos como

sanitaristas que combatem apenas as bactérias, sem cuidar da imunidade das pessoas. Cuidar

da imunidade significa cuidar dos pressupostos éticos do bem comum e reconhecer os limites

do discurso meramente antropológico e conceitual-científico, incapaz de sozinho decifrar os

enigmas da realidade humana. 213

A inclusão de Deus tem uma incidência muito concreta sobre a vida humana, como

também a exclusão social determina a “imagem de Deus”. A resposta pastoral à exclusão

cuida teologicamente da ecologia humana, como trata da exclusão de Deus

antropologicamente. A articulação destes dois níveis – do “religioso” e do “social” – exige

213 SUESS, P. Perspectivas pastorais em vista do Terceiro Milênio. Revista Eclesiástica Brasileira. Petrópolis: Vozes, Fasc. 224, [dez.] 1996. p. 856.

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propostas além de um “tratamento sintomatológico” de remédios caritativos ou devocionais.

O culto a Deus que esquece dos excluídos trata Deus como um “sintoma”, socialmente não

relevante, e não como “causa”. A Pastoral em defesa da vida envolve a imagem de Deus, já

que todo homem é criatura à sua imagem. Torna-se apropriado, portanto, avaliar toda ação

pastoral questionando-se se está a serviço da inclusão participativa de Deus na vida da

humanidade.

Vencer a exclusão não é apenas um desafio técnico; é um imperativo ético, moral e

espiritual. Não depende só de mudanças no comportamento individual, por mais importantes e

indispensáveis que sejam. São necessárias decisões e políticas públicas em âmbito nacional e

internacional. Superar a exclusão é um desafio para cada pessoa e para todos os grupos e

entidades. Na raiz das transformações encontram-se os profundos valores humanos e

evangélicos tão importantes como a indignação diante da injustiça e da miséria, o

inconformismo que não teme ir à contramão das ideologias predominantes, afirmando a

justiça, a compaixão, a reciprocidade e a solidariedade.214

8.3. Mais desafios para a evangelização nos grandes centros urbanos

O individualismo crescente é um grande desafio à fé. Para superá-lo a religião, a Igreja

age nas cidades, na sociedade e nas pessoas, buscando superar esta crise que afeta a vida da

humanidade e, conseqüentemente, o projeto de Deus.

Enquanto criatura, o homem experimenta muitas inquietações, sente-se ilimitado nos

seus desejos. Com efeito, no próprio homem muitos elementos lutam entre si. O homem

atraído por muitas solicitações, é ao mesmo tempo obrigado a escolher entre elas renunciando

a algumas. Pior ainda: enfermo e pecador, não raro faz o que não quer, não fazendo o que

214 CNBB. Evangelização e missão profética. (Documentos da CNBB n. 80). p. 85.

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desejaria. O homem sofre uma divisão em si mesmo, da qual se originam tanta e tamanhas

discórdias na sociedade. Muitos homens, pelo materialismo tentam encontrar respostas nas

propostas que o mundo lhes oferece. Outros esperam uma verdadeira e plena libertação

somente pelo esforço humano. Estão persuadidos de que o futuro reino do homem sobre a

terra haverá de satisfazer todos os desejos do seu coração. Diante da evolução do mundo

atual, muitas são as indagações feitas: O que é o homem? Qual o significado da dor, do

sofrimento, da morte? Para que aquelas vitórias adquiridas com tanto custo?215

Ser libertados da miséria, encontrar com mais segurança a subsistência, a saúde, um

emprego estável, ter maior participação nas responsabilidades, excluindo qualquer opressão e

situação que ofendam a sua dignidade de homens; ter maior instrução; numa palavra, realizar,

conhecer e possuir mais, para ser mais: tal é a inspiração dos homens hoje, quando um grande

número está condenado a viver em condições que tornam ilusório este legítimo desejo.216

Pode-se observar na encíclica Populorum Progressio a preocupação do Sumo

Pontífice em evangelizar todas as criaturas nas realidades onde vivem em perspectiva de

“Nova terra e novo céu” (Is 65, 17-21; Ap 21,1). Nesta Encíclica, ele faz apelos insistentes a

uma ação organizada para o desenvolvimento integral do homem e da solidariedade entre os

povos.

As cidades pós-modernas são particularmente sensíveis à autonomia do homem e,

conseqüentemente, ao direito e ao dever, de assumir a vida e a história. De qualquer forma,

não é mais a sociedade que lhes impõe uma única visão de mundo. O indivíduo tem que

construir sua identidade, fazendo escolhas, valorizando experiências, ligando-se a grupos ou

comunidades caracterizadas por uma visão de mundo, por uma tradição e por uma cultura.

A cidade tem poder de atrair pessoas de todos os lugares. Os grandes centros ou os

multi centros das metrópoles, as torres, periferias, distritos industriais, ruas, avenidas e vias

215 COMPÊNDIO DO VATICANO II. Gaudium et epes 10. 29 ed. Petrópolis: Vozes, 2000. 216 PAULO VI. Populorum Progressio 6. Documento de Paulo VI. São Paulo: Paulus, 1997.

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expressas recobrem o solo urbano. São Paulo atrai pessoas das cidades e do campo. “As

incontáveis luzes fascinam pessoas de todas as idades”.217

A cidade que consegue atrair as pessoas, mas não proporciona o relacionamento

fraterno entre elas. No seio da sociedade industrial, a urbanização transforma os modos de

viver e as estruturas habituais da existência: a família, vizinhança e os próprios moldes da

comunidade cristã. O homem experimenta, assim, uma nova forma de solidão, não já frente a

uma natureza hostil, que ele levou séculos a dominar, mas no meio da multidão anônima que

o rodeia e onde ele se sente como um estranho.218

Construir a cidade, lugar de existência dos homens e das suas comunidades

ampliadas, criar novos modos de vizinhança e de relações, descortinar uma

aplicação original da justiça social, assumir, enfim, o encargo deste futuro

coletivo que se preanuncia difícil, é uma tarefa em que os cristãos devem

participar.219

8.4. O Evangelho deve penetrar nos centros de decisão

Há necessidade de fazer com que a força do Evangelho penetre até o centro de

decisão, “às fontes inspiradoras e aos modelos de vida social e política” (EN 19). A partir da

pessoa chamada à comunhão com Deus e com os homens, o Evangelho deve penetrar em seu

coração, em suas experiências e modelos de vida, em sua cultura e ambientes, para fazer uma

humanidade nova com homens novos e caminharem todos na direção de uma maneira de ser,

julgar, viver e conviver. Este é um serviço que a todos nos obriga.220

217 PAULY, E. L. Cidadania e pastoral urbana. São Leopoldo: Sinodal, 1995. p. 160. 218 PAULO VI. Octogésima Adveniens 10. Documentos de Paulo VI. Paulus, 1997. 219 PAULO VI. Octogésima Adveniens 12. 220 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 345 e 350.

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A Igreja pode contribuir eficazmente na transformação da sociedade, com uma maior

presença de leigos cristãos qualificados que, pela sua educação familiar, escolar e

comunitária, promovam os valores como a verdade, a honestidade, a laboriosidade e o serviço

ao bem comum. Para conseguir este objetivo, bem como para iluminar todos os homens de

boa vontade, desejosos de acabar com todos os males derivados da corrupção, é preciso

difundir em larga escala os ensinamentos de Jesus Cristo e os ensinamentos da Igreja contidos

nos documentos do magistério. Os cristãos assim formados contribuirão significativamente

para a solução dos problemas da cidade, esforçando-se por levar à prática os ensinamentos

evangélicos em todos os aspectos que afetam a vida, influenciando aqueles que a

governam.221

A política partidarista é o campo próprio dos leigos (GS 43). Corresponde à sua

constituição leiga constituir e organizar partidos políticos, com ideologia e estratégia

adequada para alcançar seus legítimos fins.222 A América necessita de cristãos em grau de

assumir cargos de dirigentes na sociedade. É urgente formar homens e mulheres capazes de

influir, segundo a própria vocação, na vida pública, orientando-a para o bem comum. No

exercício da política, considerada no seu sentido mais nobre e autêntico de administração do

bem comum, aqueles podem encontrar o caminho da própria santificação.223

A Igreja deve favorecer o amadurecimento da fé e oferecer ao leigo uma

espiritualidade que seja capaz de dar ao mundo cristãos com vocação para a

santidade, sólidos na fé, seguros na doutrina proposta pelo magistério

autêntico, firmes e ativos na Igreja, fundados numa densa vida espiritual

[ ... ] perseverantes no testemunho e ação evangélicos, coerentes e

denotados em seus compromissos temporais, constantes promotores da paz e

221 JOÃO PAULO II. Ecclesia in America 60. 222 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 524. 223 JOÃO PAULO II. Ecclesia in America 44.

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de justiça contra toda violência e opressão, penetrantes no discernimento

crítico das situações e ideologias à luz dos ensinamentos sociais da Igreja,

confiados na esperança do Senhor.224

O estado de direito é a condição necessária para estabelecer uma autêntica democracia.

Com efeito, não há democracia autêntica e estável sem justiça social. Por isso, é necessário

que a Igreja dê maior atenção na formação das consciências, prepare os dirigentes sociais para

a vida pública em todos os níveis, promova a educação cívica, a observância da lei e dos

direitos humanos e dedique um maior esforço para a formação ética da classe política.225

8.5. Reflexões bíblíco-teológicas sobre a evangelização na cidade

Nos primeiros séculos de sua existência, a Igreja “havia erigido estruturas

essencialmente urbanas”.226 A Igreja nasceu e viveu nas cidades. Então, pode-se perguntar:

Por que ainda é tão rural? Por que não evoluiu na sua dinâmica para trabalhar com as

sociedades urbanas? Não fez ela parte da vida da sociedade? Foi sempre uma instituição à

parte? Faltam conhecimentos para lidar com a cultura urbana?

A presença da Igreja nas cidades requer uma mudança do agir rural para um agir

verdadeiramente urbano. A Igreja precisa adaptar-se ao novo estilo de vida dos tempos

modernos presentes nas metrópoles. A Igreja tem que traçar caminhos e critérios baseados na

experiência e na imaginação.227

Para evangelizar as cidades pós-modernas é necessário existir originalidade e uma

ação planejada para as novas realidades urbanas. Uma autêntica ação evangelizadora na

224 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 799. 225 JOÃO PAULO II. Ecclesia in America 56. 226 COMBLIN, J. Teologia da Cidade. Paulinas: São Paulo, 1991. p 14. 227 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 441.

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cidade exige formação integral e permanente de seus membros. A falta de participação mais

ativa dos leigos na sociedade e no governo da cidade se dá pela falta de formação mais

profunda e contínua sobre a Palavra de Deus, o Magistério da Igreja, a Doutrina Social da

Igreja e sobre a interiorização da fé.228

Os desafios da modernidade e do secularismo exigem que os agentes de pastoral:

leigos(as), religiosos(as), padres e bispos sejam abertos, competentes e qualificados para

trabalhar na cidade. Para não se fechar em si mesma, a Igreja tem que investir e valorizar os

diversos ministérios, tanto nas suas ações internas quanto nas ações externas, para melhor

entender o homem urbano, dialogar com a sociedade, participar e interferir na organização da

vida na cidade, para que seja mais humana, fraterna e justa. 229

Para que os projetos missionários, as pastorais, as associações de fiéis, os movimentos

de apostolado leigos e toda estrutura organizacional da Igreja estejam cada vez mais

comprometidos com a cidade, avançando no anúncio da Boa Nova, parece recomendável que

a linguagem e os símbolos da cultura urbana sejam incorporados aos valores autênticos do

Evangelho.

Tendo em vista a pastoral urbana, uma questão maior se situa em termos de

se saber quem são os sujeitos construtores da sociedade, os protagonistas

ativos nas diversas esferas do social, as alianças necessárias, o denominador

comum de interesses que somam mais forças. E, por outra parte, a que

eticamente deve ser dirigido o desempenho e as políticas públicas, a quem se

deve dar prioridade nas atividades considerando os recursos humanos e

materiais e emergenciais.230

228 PONTIFICIA COMISIÓN PARA AMÉRICA LATINA. Los evangelizadores. Cittá del Vaticano: Librería Editrice Vaticana, 1985. p. 127. 229 CNBB. Diretrizes Gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n.54.)140. 230 WANDERLEY, L. E. W. A presença da Igreja na cidade. p. 56.

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8.6. Comunidades Eclesiais de Base É grande a contribuição das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) no processo

evangelizador do Brasil nas últimas décadas. Destacam-se entre essas contribuições a

descoberta de novas formas de evangelização que se complementam às já existentes; uma

consciência mais explicita do que significam os sacramentos para o cristão e a comunidade; a

criação de comunidades que refletem os acontecimentos da igreja universal nessa determinada

Igreja particular; a presença da Igreja na luta pela justiça social; a inculturação, o pluralismo

cultural e seus desdobramentos na evangelização; uma compreensão mais ampla e profunda

do que seja espiritualidade; o desenvolvimento da vida e da consciência comunitária; o papel

dos leigos e a participação das mulheres na vida da Igreja231; o reconhecimento da dignidade e

dos direitos das etnias oprimidas; uma leitura da Bíblia onde exegese e teologia sirvam ao

encontro vivo e familiar com a Palavra232; a presença da Igreja junto aos pobres; a co-

responsabilidade na Igreja; os ministérios leigos; o desenvolvimento do espírito crítico na

Igreja e na sociedade233; as relações entre Reino de Deus e Igreja, entre Reino de Deus e

história do povo brasileiro; a questão ecológica.

Trata-se de grupos de cristãos, em nível familiar ou de ambientes restritos,

que se encontram para a oração, para a leitura da Sagrada Escritura, a

catequese, para a partilha dos problemas humanos e eclesiais em vista de um

compromisso comum. Elas são um sinal da vitalidade da Igreja, instrumento

231 PINHEIRO, J. E. Evolução do Apostolado Leigo no Brasil a partir do Concílio Vaticano II. In: CNBB. Leigos e participação na Igreja: Reflexão sobre a caminhada da Igreja no Brasil (Estudos da CNBB n. 45). São Paulo: Paulinas, 1986. p. 79. 232 MESTERS, C. Círculos Bíblicos. Petrópolis: Vozes, 1973. p. 72. 233 cf. GUIMARÃES, A. R. Comunidades de base no Brasil: uma nova maneira de ser Igreja. Petrópolis: Vozes, 1978. p. 196-215.

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de formação e evangelização, um ponto de partida válido para uma nova

sociedade, fundada na “civilização do amor”.234

Essas afirmações ajudam a compreender e incentivar a formação de Comunidades

Eclesiais de Base nos grandes centros urbanos. As CEBs são uma resposta para os desafios

urbanos. A organização das pessoas em comunidades que rezam, discutem os problemas

como a violência, a falta da creche, a escola sem professores, a rua que não tem asfalto, entre

outros temas, são meios de enfrentar as dificuldades de viver na cidade, principalmente da

cidade periférica, esquecida ou ignorada pela administração pública.

As CEBs são um meio de viver a fé nas megalópoles. As Comunidades Eclesiais de

Base fazem a sintonia da fé com a vida, movidas pelo Espírito Santo. Os problemas do bairro,

das pessoas, os problemas daquela parte da cidade são temas da oração, da reza e da ação. Um

jeito novo de transmitir a fé, uma leitura da Sagrada Escritura a partir da realidade do jovem,

do desempregado, da mulher, do negro, dos marginalizados, dos idosos, dos excluídos da

sociedade são importantes na construção de valores e conquista de dignidade de vida. “As

CEBs constituem lugar de conscientização do pobre da periferia numa reflexão sobre os

problemas da sua vida à luz do Evangelho, para tomar decisões que levam à ação”.235

A Arquidiocese de São Paulo forma um número de 428 Comunidades Eclesiais de

Base espalhadas pelas seis regiões episcopais, sendo: 141 na Região Belém, 140 na Região

Brasilândia, 50 na Região Ipiranga, 30 na Região Lapa, 47 na Região Santana e 20 na Região

Sé. É nas CEBs que os ministérios leigos são mais valorizados. Um dos motivos é a

dificuldade do padre ou religiosa ser presença constante em todas as CEBs. A Arquidiocese

de São Paulo possui paróquias com até dezesseis Comunidades Eclesiais de Base, como é o

caso da Paróquia São Mateus Apóstolo, na Região Episcopal Belém. Nessas Comunidades, os

234 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 51. 235 CNBB. Pistas para uma pastoral urbana.(Estudos da CNBB n. 22). 31.

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leigos – e em maior número as leigas – pela dinâmica do serviço, exercem a função de

presidir a Celebração da Palavra, de ministrar os Sacramentos do Matrimônio e do Batismo.

Pela “ignorância” dos fiéis, ainda se ouve: “Eu gostei muito da ´missa` daquela mulher”. O

grande número de comunidades em um território paroquial e a escassez de sacerdotes

impossibilita a Celebração Eucarística em todas as Comunidades todos os domingos. Há

Comunidades Eclesiais de Base que têm Missa somente um domingo por mês. Para alimentar

a fé dos fiéis, leigos e leigas e religiosas presidem a Celebração da Palavra nos outros

domingos do mês. Por isso, é preciso sempre valorizar a formação dos leigos e leigas, dar-lhes

o devido e merecido preparo para continuar a obra de Cristo e manter a fé sempre viva e

atuante. Inculturar a liturgia e a linguagem pastoral é uma tarefa constante para os agentes de

pastoral que querem se inserir nas comunidades e fomentar a experiência de Deus

misericordioso em suas vidas. As CEBs buscam a integração entre fé e vida, ética e mística,

acentuando a participação sócio-política como exigência intrínseca da fé. No plano da liturgia,

celebram ou tentam celebrar o mistério pascal e a vida da comunidade e das pessoas. Talvez

seja mais correto falar em celebrações onde se faz a inserção da vida, com seus eventos

corriqueiros ou extraordinários, no mistério pascal de Cristo.236

Devido à pobreza dos moradores dos bairros periféricos, onde geralmente estão as

CEBs, encontra-se muitas dificuldades na construção do espaço para a missa ou Celebração

da Palavra. Muitos desses bairros são ocupações clandestinas, são loteamentos feitos por

alguém que se diz dono, demarca o terreno e vende. Nesta situação, não há nenhuma

segurança quanto à escritura; as pessoas tornam-se donas e nunca proprietárias. Pela

“clandestinidade” do loteamento, há morosidade na implantação dos serviços básicos de água,

esgoto, luz, asfalto, que só são garantidos em épocas de eleição, quando candidatos

oportunistas “lembram” daquela população, aliás, daqueles eleitores.

236 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretório para missas com grupos populares. (Documentos da CNBB n. 11) 2-3. São Paulo: Paulinas, 1977.

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Algumas Paróquias já constituídas e relativamente bem localizadas dão uma “ajuda”

para aquelas comunidades da periferia que escolheram. Com muita doação da comunidade

local e a doação em dinheiro de outras Paróquias, muitas vezes o espaço comunitário

lentamente é construído. As crianças podem ser reunidas para a catequese, os pais têm lugar

para batizar seus filhos, têm espaço para a festa. O terreno onde é construído o centro

comunitário ou a igreja nestes bairros clandestinos está na mesma situação de todos os

moradores, na ilegalidade. A Igreja ocupa o espaço que é comprado de vendedores que não

são donos, logo, também a Mitra não será a proprietária, será somente a dona do terreno e da

construção. Na Região Episcopal Belém, esta situação acontece em algumas comunidades,

entre as quais citamos: Nossa Senhora das Flores (Paróquia Santo André Apostolo),

Comunidade Santa Edwirges e Nossa Senhora do Carmo (Paróquia São Miguel).237

O conceito de ajuda financeira das Paróquias mais favorecidas para com as

comunidades das periferias poderia ser encarado como investimento. A anúncio da mensagem

do Evangelho se faz através da partilha de recursos também. A Rádio 9 de Julho diz “quem

contribui para a pregação do Evangelho tem merecimento de pregador”. Várias Paróquias na

Arquidiocese de São Paulo colaboram com o anúncio de Jesus Cristo e sua mensagem através

de investimentos, contribuições financeiras que possibilitam a construção de centros

comunitários e igrejas para que as pessoas desses bairros possam se reunir, receber os

ensinamentos bíblicos e doutrinais e celebrar a vida.

Essas atitudes enriquecem grandemente sacerdotes, religiosos(as) e leigos(as). É

importante aprofundar a reflexão teológica e pastoral sobre a solidariedade com as

comunidades necessitadas, definir os tipos de ajuda com projetos concretos, escolher, formar

237 CONSELHO REGIONAL DE ASSUNTOS ECONÔMICOS. Ata da reunião. Região Episcopal Belém. 14 de julho de 2003.

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e acompanhar os agentes evangelizadores. É necessário abrir-se à reciprocidade na ajuda

fraterna.238

A construção de uma Igreja representa para os moradores de um bairro clandestino

uma certa segurança, uma certa proteção de permanência no local. Imaginam que a Prefeitura

terá mais dificuldades em destruir as casas porque no meio delas está a “casa de Deus”, a

capelinha, ou em outros lugares, a igreja. Ultimamente, as Comunidades Eclesiais de Base

que têm surgido na cidade estão localizadas nestes bairros de ocupação clandestina. São

comunidades pequenas que, aos poucos, vão ganhando força, reunindo pessoas, promovendo

a catequese, celebrações e batizados. A luta pelos direitos básicos à vida urbana é sempre

tema presente nas orações e ações da comunidade presente.

Nas CEBs, os pobres e oprimidos vão criando uma nova linguagem, uma nova

simbologia, novos cantos e orações, nova maneira de ler a Bíblia ou de refletir sobre a fé:

criam novos ministérios, novos serviços e novas formas de compromisso na comunidade. Isto

não se dá certamente em um dia, pois no início o povo repete somente aquilo que escutou,

mas se a participação criativa se mantiver por anos, então o povo começa a criar a partir da

sua realidade cultural.239

As CEBs significam a construção de uma Igreja viva, mais do que a multiplicação de

estruturas materiais, onde cresce a experiência de novas relações interpessoais na fé, o

aprofundamento da Palavra de Deus, a participação na Eucaristia, a comunhão com os

pastores da Igreja particular e o maior compromisso com a justiça. Sem dúvida, o surgimento

das CEBs ajudou a Igreja a descobrir o potencial evangelizador dos pobres. De forma especial

nas Comunidades Eclesiais de Base, os leigos(as) são convocados a participar de forma

238 CNBB. Comunhão e missão na evangelização dos povos, no mundo do trabalho, da política e da cultura. (Documentos da CNBB n. 40) 125. 239 RICHARD, P. Evangelização da Cultura. In. SUESS, P. (org.). Culturas e Evangelização. São Paulo: Loyola, 1991. p. 228.

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solidária nos movimentos e organizações populares.240 As necessidades fazem a Igreja dar

continuidade ao profetismo social, fomentando as pastorais sociais nas paróquias e

comunidades.

240 COSTA, A. A. Os ministérios leigos: contribuição histórico-teológica na formação e acompanhamento dos ministérios leigos. Santa Maria: Biblos, 2003. p. 179.

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III. CAPÍTULO: ELABORAÇÃO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DO 8º PLANO DE PASTORAL DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO

A missão da Igreja de São Paulo é fazer com que o único objetivo do Evangelho

continue a penetrar, como sempre aconteceu, na história de cada realidade eclesial. Sendo

assim, não se trata de inventar um “novo programa”. O programa já existe: é o mesmo desde

sempre, expresso no Evangelho e na Tradição viva. Concentra-se, em última análise, no

próprio Cristo, que devemos conhecer, amar e imitar para viver a vida trinitária e com ele

transformar a história alcançando a plenitude da Jerusalém celeste. È um programa que não

muda com a evolução dos tempos e mudanças culturais, embora se levem em conta o tempo e

cultura para o diálogo verdadeiro e uma comunicação eficaz.241

Preocupada em garantir o cumprimento da missão da Igreja a Arquidiocese de São

Paulo realizou continuamente o processo de elaboração do 8º Plano de Pastoral. No Encontro

Arquidiocesano realizado no dia 05 de agosto de 2000, no Colégio Marillac com as equipes

de coordenação de setor, vicariatos, pastorais, associações e movimentos. O Pe. Júlio

Lancellotti, convidado para assessorar o encontro, expressou sua visão da conjuntura social,

política e econômica da cidade. A grande pergunta era “como ser Igreja no novo milênio?”, a

qual ele considerou que inicialmente se devia perguntar “onde ser igreja no novo milênio?”.

Questão à qual ele respondeu: “é na cidade, pois não somos Igreja para nós mesmos. A Igreja

está na cidade, nos seus serviços, nas suas lágrimas, nos seus desafios. São Paulo é uma

cidade moderna, em transformação, que se prepara para as eleições, que busca nova

correlação de forças na administração”.242

241 JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte 29. 242 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 05 de agosto de 2000.

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O assessor colocou à assembléia vários questionamentos sobre a cidade e seus desafios

pastorais. Lembrou a situação das delegacias abarrotadas, do grande número de

desempregados na cidade, a situação da juventude, o problema das drogas. Questionou sobre

a presença da igreja, das comunidades, na luta por moradia digna.

Estamos vivendo um pasmo pastoral, que a alguns tem causado muita dor.

Outros nem o percebem, e há os que se alegram com ele. As Paróquias não

se bastam a si mesmas. Evangelizar é sentir a caminhada com todos os que

sofrem [...] Qual o espaço que a Igreja ocupa na cidade? Como

evangelizadores, precisamos ter sagacidade, inteligência e coragem para

enfrentar os grandes problemas da cidade, para que Sodoma, Gomorra e

Nínive não se levantem contra nós. A nova cidade que nós queremos

construir, não sozinhos, mas com o povo, que espera de nós uma resposta. A

cidade nos chama, pede de nós que sejamos crucificados, para sermos

ressuscitados. 243

A cidade não pode, pois, ser concebida como uma forma que se produz simplesmente

pela contigüidade das moradias ou pelo simples adensamento populacional; ela é, antes de

qualquer coisa, um tipo de associação entre as pessoas, associação esta que é uma forma física

e um conteúdo.244

O encontro do dia 05 de agosto também contou com a assessoria do Mons. Sérgio

Conrado do secretariado Arquidiocesano de Pastoral, que expressou sua visão sobre a ação da

igreja na cidade dizendo: “Não há dúvida de que a Igreja em São Paulo, através das

Comunidades, Pastorais, Associações, Organismos e outros seguimentos, bem como sua

globalidade e por seus responsáveis maiores, tem buscado evangelizar a cidade. Não é uma

243 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 05 de agosto de 2000. 244 GOMES, P. C. da C. A condição urbana. p. 19.

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Igreja estática, inerte. A Igreja de São Paulo dá respostas a muitos desafios e continua

oferecendo seus serviços para o bem de toda a população”. Ele também comentou o processo

de transição da Igreja de São Paulo, a mudança de Arcebispo, a saída gradativa dos Bispos

auxiliares e nomeação de outros, as Regiões Episcopais sob a jurisdição de Vigários

Episcopais e a centralização administrativa da Mitra Arquidiocesana. Mudanças na estrutura

que aconteciam para intensificar ainda mais o objetivo primordial da Igreja que é evangelizar,

ser fiel ao plano de Deus, ir ao encontro do ser humano em sua situação concreta, procurando

encarnar o Evangelho na cidade. “Isto nós continuaremos a fazer”, disse o Mons. Sérgio

Conrado que também afirmou que o sentimento era de falta de um modo mais global na ação,

que era necessário uma rede de relações que aglutinassem as forças vivas da igreja. A

expectativa de mudança e a vivência das novas estruturas naquele momento implantadas pelo

novo Arcebispo, D. Cláudio Hummes, deixavam a todos perplexos, o que na visão do

assessor, Mons. Sérgio Conrado, era natural.

Mas essa situação, de alguma forma, está atingindo a ação evangelizadora

eclesial, senão no âmbito das paróquias e comunidades, certamente na

Arquidiocese como um todo, propiciando uma certa inércia com

justificativas nem sempre à luz da fé [...] A urgência da evangelização, hoje,

vem ao encontro de nossa situação arquidiocesana e, mais do que em outras

épocas, nos vemos absorvidos e solicitados pela complexidade de novos

contextos.245

Aquele encontro que contava com mais de 200 participantes também ouviu D. Gil

Antonio Moreira, bispo auxiliar para a Arquidiocese de São Paulo, que afirmou que as

colocações feitas por Mons. Júlio Lancellotti e por Mons Sérgio Conrado abordavam

245 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 05 de agosto de 2000.

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problemas sérios e situações negativas que preocupavam a todos. “Essa abordagem realista

revela, por outro lado, a maturidade dos membros presentes a esta assembléia”. Ele disse

ainda que a situação social e eclesial deveria servir como estímulo para a busca da realização

da obra que não é nossa, não é do arcebispo, mas sim de Jesus Cristo. Também convidou a

assembléia à unidade: “Sem unidade não há Igreja. Os problemas da cidade são sérios e

sempre crescentes [...] Somos chamados para dar frutos e não apenas para analisar

problemas”.246

Naquele mesmo encontro decidiu-se elaborar um Plano de Pastoral para Arquidiocese

de São Paulo, levando em conta o Projeto da CNBB: “Ser Igreja no novo Milênio”. A

Coordenação Arquidiocesana de Pastoral faria os devidos encaminhamentos para elaboração

desse Plano. Mons. Sérgio Conrado definiu como Plano de Pastoral: “Instrumento que

promove a integração da Arquidiocese, delineia o seu rosto e se concretiza nas Regiões”,

disse ainda que era “necessário a unidade da Arquidiocese, sobretudo considerando que está

difícil unir as forças dentro da Igreja. O esforço pela unidade deve começar nas Paróquias. É

sempre preciso quebrar o orgulho e a vaidade”.

Plano é o registro das decisões tomadas pelo grupo que esteve

envolvido no processo de planejamento. Planejamento é um processo

de tomada de decisões. Processo significa uma série de ações, de

reuniões, discussões, reflexões e decisões envolvendo todos os

participantes do grupo, do setor ou do serviço que se planeja. È pensar

antes, durante e depois da ação.247

246 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 05 de agosto de 2000. 247 ORFANO, G. Técnicas de planejamento pastoral. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 23.

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Diversas pessoas se manifestaram no momento da Palavra livre, algumas expressaram

o descontentamento com a ausência de D. Cláudio Hummes dizendo que a Arquidiocese não

estava completa e isto era desanimador.

O ano de 2000 era o Ano do Jubileu, por isso diversas categorias tiveram seus

momentos específicos de encontros e celebrações para comemorar os dois mil anos do

nascimento de Jesus. Os encarcerados foi um destes grupos: D. Paulo Evaristo Arns, D.

Cláudio Hummes, D. Gil Antonio Moreira, Mons. Walter Caldeira estiveram no Carandirú,

Penitência Feminina, Penitenciária do Estado, Casa de Detenção das Mulheres para ouvi-los e

celebrar com eles e elas a esperança. Os jovens da Arquidiocese de São Paulo também

tiveram o seu momento de celebração no Ginásio do Corinthians, com muitos outros jovens

da Província Eclesiástica de São Paulo no dia 20 de agosto.248

O ano 2000, ano do Jubileu, também foi marcado pelo Plebiscito da Dívida Externa.

“... era precisamente o tempo em que a comunidade se comprometia em restaurar a justiça e a

solidariedade nas relações entre as pessoas, inclusive restituindo-lhes os bens dos quais

tinham sido privadas”.249

Várias Organizações Não Governamentais, Igrejas, Partidos Políticos realizaram, de

02 a 07 de setembro, em todo o Brasil, uma consulta popular sobre o pagamento ou não da

dívida externa e sobre a necessidade de uma auditoria pública com relação a esta mesma

dívida. O número de pessoas que compareceu às urnas para dar a sua opinião foi grande. No

Brasil 5.287.267 pessoas disseram que o País não deveria continuar pagando a dívida externa

sem realizar uma auditoria pública desta dívida, como previsto na Constituição de 1988. A

participação da Arquidiocese foi bastante grande na divulgação e organização do Plebiscito. A

248 cf. SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 05 de agosto de 2000. 249 JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte 14.

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manifestação popular mostrou um Brasil cidadão e comprovou a capacidade de articulação

dos grupos envolvidos.250

1. Elaboração do 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo

O 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo foi elaborado com a participação

da Comunidade, Paróquias, Setores, Pastorais, Associações, Movimentos e Vicariatos que se

dispuseram a responder as perguntas elaboradas pelo Secretariado, com a colaboração da

Coordenação Arquidiocesana de Pastoral. Inicialmente foi elaborado o Instrumento de

Trabalho n.1 com diversas perguntas sobre a ação da igreja, orientadas pelas quatro

exigências evangélicas para a evangelização das Diretrizes da CNBB: Testemunho

Comunitário “A vida comunitária, alimentada pela Palavra e pelos Sacramentos, que ser

testemunho para ‘que o mundo creia’” (PRNM n. 110); Diálogo “A Igreja dialoga com o

mundo, com as diferentes culturas e religiões, com as outras Igreja cristãs, e incentiva o

diálogo em suas próprias comunidades” (PRNM n. 138); Anúncio “O esforço missionário tem

como objetivo principal a aproximação dos que estão afastados da fé e das práticas

comunitárias” (PRNM n. 146) e Serviço “A ação sócio-transformadora está direcionada a toda

a sociedade, com atenção prioritária ao mais pobres” (PRNM n. 134).251

O levantamento feito pelo Secretariado de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo à

partir do Instrumento n. 1 que continha seis páginas, incluindo a proposta de calendário para

2001, resultou no Instrumento de Trabalho n. 2, com vinte e seis páginas, cotando com quatro

páginas de proposta de calendário para 2001. Este documento é a síntese do levantamento

realizado pelas equipes já mencionadas. Foi este o instrumento de trabalho das 230 pessoas

250 JORNAL O SÃO PAULO. Plebiscito sobre a Dívida Externa revela um Brasil cidadão. 20 de setembro de 2000. p. 11. 251 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Instrumento de Trabalho n. 1 da CAP. 17 de agosto de 2000.

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que participaram da Assembléia Arquidiocesana realizada no Colégio Marillac no dia 21 de

outubro de 2000 quando foi elaborado o 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo

para os anos de 2001-2002. Este Instrumento de Trabalho foi uma forma de levar as

preocupações da Igreja com a cidade e a sua missão de evangelizá-la até as mais diversas

comunidades católicas da Arquidiocese. “A pastoral urbana exige a participação efetiva do

povo na tomada de decisões relativas à própria ação pastoral, de modo que o planejamento

não seja execução de diretrizes vindas de cima e de fora da comunidade cristã, mas

coordenação do esforço conjunto de todos”.252

De agosto, dia 05, quando foi decidido em Assembléia pela elaboração do 8º Plano até

21 de outubro, quando foi aprovado em Assembléia o novo texto do objetivo do Plano, houve

reuniões da Coordenação Arquidiocesana de Pastoral onde o novo Plano era assunto principal.

Houve uma reunião extraordinária da Coordenação Arquidiocesana de Pastoral (CAP)

com D. Cláudio Hummes, onde este manifestou seu desejo de um objetivo mais abrangente

para o Plano, pois “há forças vivas da Igreja e da sociedade que não se sentem convocadas.

Realizam grandes trabalhos, mas não se sentem incluídas”.253 Nesta mesma reunião o

arcebispo sugeriu que a Assembléia já marcada para elaboração do Plano fosse somente o

início de sua elaboração e, só defini-lo meio ano depois. Mons. Sérgio Conrado concluiu e

destacou o grande anseio da Assembléia realizada no dia 05 de agosto de “termos algo que

aglutine as forças da Arquidiocese. É preciso descobrir novas atividades, segundo as

necessidades; é preciso aproveitar os frutos do jubileu”.254

No dia 21 de outubro foi aprovado pelos presentes na Assembléia Arquidiocesana o 8º

Plano de Pastoral para a Arquidiocese de São Paulo com duração de dois anos coincidindo

com o término do Projeto “Ser Igreja no Novo Milênio” da CNBB e das Diretrizes Gerais da

252 CNBB. Pistas para uma pastoral urbana. (Estudos da CNBB n. 22) 35. 253 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 01 de setembro de 2000. 254 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 01 de setembro de 2000.

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Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. Antes da aprovação, houve várias intervenções,

dentre as quais destaca-se a colocação de D. Cláudio Hummes: “Eu não quero ser bispo de um

lado só desta Arquidiocese”255, e sugeriu que ao se afirmar a necessidade da renovação das

comunidades, se ficasse explicito, no texto do Objetivo do Plano, como concretizá-la seja pela

catequese, pela ação missionária, pela pastoral sacramental, pela liturgia, afirmando que desta

forma toda a igreja se sentiria motivada a trabalhar e afirmou que “O compromisso social é

fundamental para a Igreja de São Paulo, mas a realidade interna da Igreja tem que ser

trabalhada, porque temos que dar razões de nosso serviço no campo social”.256

È nas Igrejas locais que se pode estabelecer as linhas pragmáticas concretas

– objetivos e métodos de trabalho, formação e valorização de agentes, busca

dos meios necessários – que permitam levar o anúncio de Cristo às pessoas,

plasmar as comunidades, permear em profundidade a sociedade e a cultura

por meio do testemunho dos valores evangélicos.257

A Assembléia Arquidiocesana é uma forma de participação conjunta de leigos e da

hierarquia nas decisões da Igreja, para tornar palpável a proposta de co-responsabilidade do

Povo de Deus. A Assembléia Arquidiocesana é um organismo de decisão que ilumina e anima

a caminhada evangelizadora da Igreja em São Paulo. As pessoas presentes nesta Assembléia

foram divididas em grupos para estudar o Instrumento de Trabalho n. 2, reformulando,

excluindo, acrescentando propostas. O resultado dos trabalhos em grupo, levado depois para o

plenário sofreu novas discussões, intervenções e enfim, houve votação.

A formulação do Objetivo Geral foi bastante discutida e “decidiu-se por indicar ações

que explicitassem a necessidade da renovação das comunidades e pela manutenção das

255 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 21 de outubro de 2000. 256 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 26 de setembro de 2000. 257 JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte 29.

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prioridades: trabalho, moradia, saúde e educação, que caracterizaram o propósito de dar

respostas aos clamores do povo. No centro do Objetivo, figura o anúncio e o testemunho de

Jesus Cristo e sua mensagem”.258

A Arquidiocese de São Paulo traçou o 8º Plano de Pastoral o Objetivo da Ação

Pastoral da Igreja de São Paulo para os anos de 2001-2002, coincidindo com o término do

projeto da CNBB “Ser Igreja no novo milênio”. Após questionamentos, sugestões, correções e

alterações, as prioridades pastorais permanecem e a assembléia compõe o objetivo do Plano:

Evangelizar a cidade de São Paulo, através da Pastoral Urbana, renovando a

vida das Comunidades Eclesiais, anunciando e testemunhando Jesus Cristo,

com ardor missionário, ouvindo e respondendo, com uma ação solidária e

transformadora, aos clamores do povo, especialmente dos marginalizados e

dos excluídos do mundo do trabalho, da saúde, da moradia e da educação.259

Para o Monsenhor Sérgio Conrado o 8º Plano tem características da pós-modernidade

e “é um texto que procura, antes de mais nada, mostrar a situação da Igreja na cidade [...] e

faz com que a religião ultrapasse os limites das paróquias [...] pois, não há um atendimento

espiritual localizado à pessoa, que tem muito mais liberdade em girar pela cidade”.260

258 JORNAL O SÃO PAULO. Arquidiocese de São Paulo já tem seu Plano Pastoral para o biênio 2001-2002. 25 de outubro de 2000. p. 12. 259 ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo. São Paulo: Loyola, 2001. p. 39. 260 CONRADO, S. Entrevista com o secretário arquidiocesano de pastoral de 2000. Apêndice III Entrevista 1. 09 de junho de 2005. p. 228.

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2. Pesquisa sobre a ação evangelizadora da Igreja na cidade de São Paulo

A Pesquisa sobre a Ação Evangelizadora da Igreja na cidade de São Paulo (PAESP),

nasceu da necessidade de mensurar a ação da Arquidiocese de São Paulo na evangelização da

cidade de São Paulo.

A Arquidiocese de São Paulo está inserida na estrutura organizacional da Igreja

Católica Apostólica Romana, sua missão está em parte da cidade de São Paulo que conta com

população aproximada de 10.435.546 habitantes e em uma base territorial de 1.522,99

quilômetros quadrados, excetuando as regiões que compõem as dioceses de Santo Amaro,

Campo Limpo e São Miguel Paulista e pequena parte da cidade que faz parte da Diocese de

Osasco. Extraindo os habitantes e base territorial dessas quatro Dioceses, Santo Amaro, São

Miguel Paulista e Osasco, a Arquidiocese de São Paulo tem sob sua responsabilidade o

pastoreio de 5.717.343 habitantes, dentro de uma área geográfica de 635,55 quilômetros

quadrados,261 sendo que destes 68 % são católicos262, correspondente a 3.887.793 pessoas.

Dentro desta conjuntura e ainda considerando as complexidades decorrentes de uma

metrópole como São Paulo, como transporte, segurança, educação, saúde e condições sociais,

a Pesquisa sobre a ação evangelizadora da Igreja na cidade de São Paulo se apresenta como

um instrumento fundamental para indicar as dificuldades encontradas pelos agentes de

pastorais da Arquidiocese para evangelizar a cidade, bem como se apresenta como uma

ferramenta para avaliação da atual estrutura organizacional da Arquidiocese, das ações da

Igreja que evangelizam São Paulo, sobre o profetismo da Igreja, solidariedade, renovação das

261 ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. 9º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo 2004-2007. Secretariado Arquidiocesano de Pastoral, 2004. p. 17. 262 JACOB, C. R.; HEES, D. R.; WANIEZ, P.; BRUSTLEIN, V. Atlas da filiação religiosa e indicadores sociais no Brasil. São Paulo: Loyola e PUC, 2003. p. 16.

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comunidades e principalmente para a produção de informações que possam subsidiar a análise

do alcance e efetividade do Plano de Pastoral da Arquidiocese.

A pesquisa sobre a ação evangelizadora da Igreja na cidade de São Paulo (PAESP)

teve sua concepção dentro dos princípios de originalidade e aplicabilidade.

Originalidade porque não consta na Arquidiocese um estudo que contemple a pesquisa

do conhecimento sobre determinado assunto onde o interlocutor manifesta-se

individualmente, diretamente com o pesquisador. As pesquisas na Arquidiocese de São Paulo

são feitas através de formulários que são enviados aos párocos ou administradores paroquiais

e aos coordenadores de Associações, Movimentos e Pastorais. Estes formulários são

respondidos, de modo geral, sobre o que o grupo decide e não sobre o que cada pessoa pensa.

Aplicabilidade porque fornecerá elementos, informações e indicadores ao corpo de

agentes de pastoral da Arquidiocese de São Paulo para subsidiar decisões e novas ações

evangelizadoras na cidade de São Paulo.

As opções feitas para a construção desta pesquisa, e o relatório de seus primeiros

resultados estão apresentados no texto que se segue. As tabelas e gráficos que foram bastante

utilizados para análise da pesquisa estão anexados no final do trabalho. Em algum momento

se levantam suspeitas sobre a adequação de algumas opções tomadas pelo questionário. Entre

estas aparece se a questão da proporcionalidade da amostra estaria respeitando a diferença

entre o número de setores, de paróquias, em cada uma das seis regiões episcopais e o mesmo

se dá sobre a proporcionalidade de pastorais, associações de fiéis e movimentos de apostolado

leigo na Arquidiocese de São Paulo; ou mesmo se o total da amostra pesquisada seria

suficiente para resultados satisfatórios frente ao quantitativo absoluto de fiéis católicos no

território da cidade de São Paulo que compreende a Arquidiocese de São Paulo. Estas

questões são, entretanto, respondidas satisfatoriamente pelos fundamentos da estatística como

ciência. A PAESP se apresenta como uma fotografia de uma área, em busca de compreender

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um campo mais amplo. As conclusões a serem tiradas, de modo geral, passam

necessariamente por tais limites. No entanto, as tendências mais significativas foram

utilizadas para verificar a ação da Igreja na Arquidiocese de São Paulo.

Optou-se por fazer primeiro a constatação dos dados e em seguida a análise dos

mesmos seguindo o método científico utilizado pelo Prof. Dr. Pe. Márcio Fabri dos Anjos na

Pesquisa “Novas Gerações e Vida Religiosa” e também utilizado pelo IBGE na “Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios 2001 – Síntese de Indicadores” utilizados como

referência e fundamentação de afirmações feitas neste estudo.

Como em todas as pesquisas, de modo geral, será sempre possível explorar

posteriormente aspectos específicos não contemplados nesta análise. As tabelas e os gráficos

em anexo são básicos e poderão ser enriquecidos por outros, na medida em que surgirem as

demandas para obtenção de outros resultados.

Há um amplo horizonte de interrogações que se insere na presente pesquisa. A

PAESP, obviamente, não pretende responder a todas as questões sobre a ação evangelizadora

da Igreja na cidade de São Paulo. Para se tornar viável, a pesquisa se restringe à verificação de

alguns dados apenas, dentro do imenso horizonte da ação da Arquidiocese de São Paulo

através de seus evangelizadores. Uma grande falha na pesquisa, foi não verificar a origem dos

pesquisados, dado importante para contribuir no perfil dos evangelizadores da Arquidiocese

de São Paulo, visto que este trabalho estuda as questões urbanas.

2.l. Objetivo da Pesquisa

A realização desta pesquisa tem como objetivo geral conhecer as dificuldades

encontradas no anúncio do Evangelho na cidade e as ações da Igreja que evangelizam a

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cidade de São Paulo, visando a adoção de estratégias para anunciar Jesus Cristo, tornando a

Igreja de São Paulo mais missionária.

2.1.1. Objetivos específicos

• Traçar um perfil dos agentes evangelizadores da Arquidiocese a partir da

idade, sexo e conhecimento do Plano de Pastoral.

• Produzir informações para subsidiar medidas preventivas e corretivas nas ações

pastorais nos diversos níveis de organização da Igreja em face da grande área

geográfica da Arquidiocese e do número populacional.

• Identificar as dificuldades que os evangelizadores encontram ao realizar seu

trabalho na cidade de São Paulo: avenidas largas e movimentadas, a falta de

transporte, violência, má iluminação pública com vista, a dialogar com o poder

público e adotar gestões mais efetivas para melhor viver na cidade.

• Iniciar uma base história de concretividade da execução do Plano de Pastoral

da Arquidiocese de São Paulo. A partir desta pesquisa possibilitar a análise,

acompanhamento e avaliação do atual Plano de Pastoral, com pesquisa por

amostra, para ter novos indicadores e novas ações na evangelização da cidade.

2.2. Metodologia da Pesquisa

A metodologia aplicada na pesquisa foi definida pelo conhecimento que o pesquisador

tem da Arquidiocese de São Paulo e das leituras realizadas para esta dissertação: definição das

perguntas, escolha dos grupos, agendamento, treinamento dos pesquisadores, aplicação da

pesquisa, tabulação das respostas, constatação e análise dos dados.

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2.2.l. Questionário da Pesquisa

O questionário de pesquisa utilizado está dividido em cinco blocos:

• Estrutura organizacional da Arquidiocese de São Paulo, perfil dos

evangelizadores na cidade de São Paulo e centralização econômica na

Cúria Arquidiocesana;

• Estudo de conhecimento, elaboração, atuação e avaliação do 8ª Plano

de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo;

• Ações da Igreja como sinal de que a Arquidiocese de São Paulo está

evangelizando a cidade de São Paulo;

• Indicação das principais dificuldades para evangelizar a cidade de São

Paulo;

• A Igreja de São Paulo nas ações solidárias e transformadoras e nas

ações de renovação das comunidades.

2.2.l.1. Elaboração do questionário

As perguntas foram elaboradas pelo pesquisador depois dos seguintes passos:

• Aplicação de uma pesquisa com perguntas dissertativas em três

Conselhos Paroquiais;

• Reformulação das perguntas e adequação das respostas apresentadas

pelos grupos, ponderação e adequação de termos. Finalmente a

pesquisa constou de quinze perguntas, sendo: quatro de múltipla

escolha, uma dissertativa e dez sim ou não.

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2.2.l.2. Treinamento dos pesquisadores

O pesquisador treinou doze pessoas que contribuíram na aplicação da pesquisa. Este

treino foi realizado em grupo, primeiramente os colaboradores fizeram o papel de pesquisados

e depois tiveram a oportunidade de aplicar a pesquisa juntamente ao pesquisador.

2.2.l.3. Aplicação da pesquisa

Previamente agendada pelo pesquisador (autor desta dissertação), com o coordenador

do grupo, o pesquisador se apresentava, distribuía caneta e folha com as perguntas para todos

os participantes da reunião, fazia a leitura de cada pergunta e cada um respondia

individualmente, num momento coletivo, as perguntas apresentadas. O pesquisador mostrava

o documento em estudo (8º Plano de Pastoral) para que os participantes pudessem dele se

recordar. A pesquisa em cada grupo durou em média quinze minutos.

2.2.l.4. Período de realização da pesquisa

A PAESP foi realizada no período de cinqüenta dias, do dia 11 outubro a 28 de

novembro de 2005. No início do mês de outubro o aluno começou a telefonar para os

coordenadores das regiões episcopais, setores, pastorais, associações e movimentos, assim

como para os párocos ou administradores paroquiais com o objetivo de pedir permissão para

aplicar a pesquisa com o grupo de sua responsabilidade. As pesquisas foram realizadas pela

manhã, pela tarde e noite, de acordo com a reunião ordinária de cada grupo da Arquidiocese

de São Paulo.

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2.2.1.5. Amostra da Pesquisa.

Para dimensionamento da Amostragem da Pesquisa considerou-se a estrutura

organizacional da Arquidiocese de São Paulo dentro da sua divisão geográfica na cidade, com

o objetivo de dar a devida e necessária representatividade e confiabilidade.

Os grupos escolhidos foram: Conselhos Regionais de Pastoral (C.R.P), Conselhos

Setoriais de Pastoral (C.S.P.), Conselhos Paroquiais de Pastoral (C.P.P), Coordenações

Arquidiocesanas de Movimentos, Coordenações Arquidiocesanas de Pastorais, Coordenações

Arquidiocesanas de Associações. Estes grupos foram escolhidos por possuírem um caráter

definido quanto a reuniões, periodicidade e estrutura.

INSTÂNCIA (Organismo Pastoral da

Arquidiocese de São Paulo)

ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

AMOSTRA PERCENTUAL DA AMOSTRA

Conselho Regional de Pastoral 06 04 66,67% Conselho Setorial de Pastoral 45 13 28,89% Conselho Paroquial de Pastoral 280 22 7,86% Associação em nível arquidiocesano

20 04 20,00%

Movimento em nível arquidiocesano

16 07 43,75%

Pastoral em nível arquidiocesano 34 15 44,12%

Para aplicação da pesquisa em nível regional foram escolhidas as seis Regiões

Episcopais, porém somente quatro possibilitaram a PAESP no Conselho Regional de Pastoral.

Em princípio seriam dois Conselhos Setoriais de cada Região Episcopal, mas na prática a

pesquisa foi realizada: em três regiões dois setores; em duas regiões três setores; e em uma

Região um setor. Foram realizadas pesquisas em quatro Conselhos Paroquiais de Pastoral de

quatro regiões e em três Conselhos Paroquiais de Pastoral de duas regiões episcopais.

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O grupo das Associações, Movimentos e Pastorais em nível Arquidiocesano a serem

pesquisados foi definido pelo pesquisador a partir do Guia da Arquidiocese de São Paulo.263

2.2.1.6. Observações sobre a aplicação da pesquisa

• Foram escolhidos os grupos das Associações, Movimentos e Pastorais em nível

Arquidiocesano que tinham atuação em mais de duas regiões episcopais.

Alguns responsáveis dificultaram a realização da pesquisa e a mesma não foi

realizada. Das 20 Associações e dos 16 Movimentos citados no Guia da

Arquidiocese alguns existem somente em uma paróquia ou numa região

episcopal. Também entre 34 Pastorais elencadas pelo “Guia” alguns são

organismos ou equipes de serviço. A Igreja de São Paulo não possui um

documento descrevendo quais as pastorais, associações e movimentos com

atuação em nível arquidiocesano.

• O pesquisador seguiu o mesmo critério em toda a Arquidiocese de São Paulo

para realizar a pesquisa.

• Quanto ao agendamento da pesquisa com os grupos, algumas dificuldades

foram apresentadas por alguns responsáveis, como, por exemplo, que era final

de ano e seu grupo não mais se reuniria em 2005 ou que não dispunha de um

tempo (quinze minutos) para ceder durante a reunião para aplicação da

pesquisa. Alguns padres coordenadores não permitiram a aplicação da

pesquisa, dizendo “não quero me comprometer”, um coordenador de setor

disse “se eu permitir a pesquisa os padres vão ficar bravos comigo”.

263 ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Grandes atividades em âmbito arquidiocesano. São Paulo: Secretariado Arquidiocesano de Pastoral. São Paulo, 2005. p. 180-189.

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146

• Em uma Região Episcopal o coordenador regional de Pastoral disse que

durante o ano de 2005 não foi realizada reunião do Conselho Regional de

Pastoral, as reuniões eram somente com os padres. Mais de um padre falou,

“não adianta se reunir com os leigos, quem decide são os padres”.

• O pesquisador foi muito bem ouvido e de certa forma, convidado a aplicar a

pesquisa por coordenadores leigos ou leigas e padres que o conheciam. Dentre

as pastorais sociais o caminho foi mais fácil.

• O aluno e seus pesquisadores foram, em todos os grupos pesquisados, muito

bem acolhidos e realizaram o trabalho como estava programado. Várias

pessoas que responderam a pesquisa pediram uma devolutiva, o que foi

prometido pelos pesquisadores e será cumprido.

2.3. Conceitos e definições

Aqui são apresentados alguns conceitos e definições importantes e que se relacionam

com os resultados específicos da pesquisa: Arquidiocese, Região Episcopal, Setor, Paróquia,

Pastoral, Associação e Movimento de Apostolado Leigo.

2.3.1. Arquidiocese o que é

A diocese é uma porção do povo de Deus confiada ao pastoreio do Bispo com a

cooperação do presbitério, de modo tal que, unindo-se ela a seu pastor e, pelo Evangelho e

pela Eucaristia, reunida por ele no Espírito Santo, constitua uma Igreja Particular, na qual está

verdadeiramente presente e operante a Igreja de Cristo, una, santa, católica e apostólica. 264

264 CODIGO DE DIRETO CANONICO. Cân. 369. 7 ed. São Paulo: Loyola, 1984.

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2.3.2. Região Episcopal o que é

Pode-se dizer que a estrutura administrativa e pastoral de uma região episcopal, em

linhas gerais, é semelhante a uma diocese. É uma porção do Povo de Deus, dirigida pelo

Vigário Episcopal, com seu presbitério. Tem todos os elementos para ser ou tornar-se uma

diocese, falta-lhe, porém, independência e personalidade jurídica própria. A região episcopal é

interligada com a sede metropolitana em cujo território ela se situa, e depende da mesma ou

lhe é confiada.265

2.3.3 Conselho Regional de Pastoral (C.R.P.) o que é

Em cada Diocese, enquanto a situação pastoral aconselhar, seja constituído o conselho

pastoral, ao qual compete, sob a autoridade do Bispo, examinar, avaliar as atividades pastorais

na diocese e propor conclusões práticas sobre elas. O conselho pastoral consta de fiéis em

plena comunhão com a Igreja católica, clérigos, membros de institutos de vida consagrada, ou

principalmente leigos designados de acordo com o modo indicado pelo bispo diocesano.266

2.3.4. Setor o que é

Setor é uma porção da Arquidiocese de São Paulo, definida por critérios geográficos e/

ou ambientais, com seus pastores, ministros, religiosos(as) e leigos(as), co-responsáveis pelo

anúncio e testemunho da Palavra de Deus e a realização orgânica da Pastoral, capaz de atuar

265 CHANCELARIA DO ARCEBISPADO. Arquidiocese de São Paulo, histórico (José Albanez). p. 55. 266 CIC. Cân. 511 e 512.

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em todos os campos com eficiência e participação crescentes.267 O setor se dá pelo

agrupamento de paróquias para dinamizar, animar e organizar os trabalhos de evangelização

nas Regiões Episcopais da Arquidiocese de São Paulo.

2.3.5. Conselho Setorial de Pastoral (C.S.P.) o que é

Órgão que reúne os membros da coordenação setorial composta por, um presbítero,

dois ou mais leigos e uma religiosa atuante na pastoral e outros membros que representam as

equipes pastorais de cada paróquia que constitui o setor, para animação, dinamização e

organização dos trabalhos de evangelização naquela porção do Povo de Deus da Arquidiocese

de São Paulo.

2.3.6. Paróquia o que é

Paróquia é uma determinada comunidade de fiéis, constituída estavelmente na Igreja

particular, e seu cuidado pastoral é confiado ao pároco como a seu sucessor próprio, sob a

autoridade do Bispo diocesano. Paróquia provém do grego para-oikia, ou seja, aquilo que se

encontra perto ou ao redor de casa (supõe-se “do Senhor”, ou se já da Igreja). A organização

paroquial começou a surgir no século IV, mas sua estrutura definitiva só se deu no Concílio

de Trento. 268

267 ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Diretório da Coordenação de Setor. São Paulo, 1993. p. 03. 268 CIC. Cân. 515.

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2.3.7. Conselho Paroquial de Pastoral (C.P.P.) o que é

Órgão de consulta e ajuda aos párocos no campo das atividades apostólicas da

Paróquia em sintonia com a Arquidiocese. Instância que reúne os agentes evangelizadores da

Paróquia ou representantes dos grupos pastorais com o pároco para em conjunto discernir,

propor, avaliar e encaminhar a ação evangelizadora proposta pela diocese. Favorece a

participação dos leigos e leigas não somente nas tarefas, mas também nas decisões pastorais

da Paróquia.

Seja constituído em cada paróquia, o conselho pastoral, presidido pelo pároco, no qual

os fiéis ajudem a promover a ação pastoral, juntamente com os que participam do cuidado

pastoral em virtude do próprio ofício.269

2.3.8. Pastoral o que é

Pastoral é o agir da Igreja no mundo.270 Pastoral está ligada com a raiz “pastor”. A

Pastoral está sempre comprometida com os dois protagonistas da salvação, Deus e o homem,

e por isso adquire um “caráter estático-dinâmico”. Responsável diante de Deus e da sua

absoluta e válida Revelação, a pastoral deve estar ao mesmo tempo a serviço do homem, na

sua concreta situação histórica. O “estilo da época”, requerido pelo elemento dinâmico da

pastoral, pressupõe uma compreensão “pastoral” do tempo. 271 “A pastoral se entende como

uma presença de Igreja, dentro do conflito, ao lado dos oprimidos e pobres, em vista de sua

libertação”.272

269 CIC. Cân. 536. 270 LIBANIO. J. B. O que é pastoral. 3 ed. São Paulo: Brasiliense, 1986. p.12. 271 FRIEIS, H. Dicionário de Teologia. Vol. IV. São Paulo: Loyola, 1970. 272 LIBANIO. J. B. O que é pastoral. p. 120.

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2.3.9. Associação de fiéis leigos o que é

Na igreja existem associações, distintas dos institutos de vida apostólica, nas quais os

fiéis, clérigos ou leigos, ou conjuntamente clérigos e leigos, se empenham mediante esforço

comum, por alimentar uma vida mais perfeita e promover o culto público, a doutrina cristã ou

outras obras de apostolado, isto é, iniciativas de evangelização, exercícios de obra de piedade

ou caridade, e animação da ordem temporal com espírito cristão.273

2.3.10. Movimento de Apostolado Leigo o que é

Grupos que se fortalecem na sociedade moderna para favorecer a entrada do

catolicismo na classe média urbana. Tem uma mentalidade de mudança da sociedade e não de

transformação. Não se preocupam em ter uma reflexão e não tem uma síntese eclesial. A

orientação destes grupos é internacional, sua ação independe das orientações da igreja local.

Tem força de convencimento e conseguem atrair a juventude. Para estes grupos o amor é uma

experiência individual.

2.3.11. Leigo(a) o que é

Leigo vem do grego laïkos (aquele que pertence ao povo ou provém dele: não oficial,

civil, comum). Leigo é aquele que não pertence ao clero.274 Leigos e leigas são homens e

mulheres co-responsáveis pela missão da Igreja que juntamente com os ministros ordenados,

273 CIC. Cân. 298. 274 LACOSTE, J.Y. Dicionário Crítico de Teologia. São Paulo: Paulinas e Loyola, 2004.

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religiosos e religiosas, protagonizam a nova evangelização, vivendo o Evangelho, servindo a

pessoa e sociedade, transformando a sociedade pela vivência profética.275

2.3.12. Leiga consagrada o que é

A essas formas de vida consagrada se acrescenta a ordem das virgens que, emitindo o

santo propósito de seguir a Cristo mais de perto, são consagradas a Deus, pelo Bispo

diocesano, de acordo com o rito litúrgico, aprovado, misticamente desposadas com Cristo,

Filho de Deus, e dedicadas ao serviço da Igreja.276 A vida das leigas consagradas a Deus a

serviço da Igreja particular está previsto nos termos do Decreto da Sagrada Congregação para

o Culto Divino sob o número 600/70. Na Arquidiocese de São Paulo são vinte e nove leigas

consagradas e oito candidatas à consagração.

2.3.13. Religioso(a) o que é

A vida consagrada pela profissão dos conselhos evangélicos é uma forma estável de

viver, pela qual os fiéis, seguindo mais de perto a Cristo, sob a ação do Espírito Santo,

consagra-se totalmente a Deus, sumamente amado, para assim, dedicados especialmente à sua

honra, à construção da Igreja e à salvação do mundo, alcançarem a perfeição da caridade no

serviço do Reino de Deus e, transformados em sinal preclaro na Igreja, preanunciarem a

glória celeste. Homens e mulheres assumem livremente essa forma de vida nos institutos de

vida consagrada, canonicamente erigidos, os fiéis que por meio de votos professam os

275 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Missão e ministérios dos leigos e leigas.(Documentos da CNBB n. 62) 104-ll0. São Paulo: Paulinas, 1999. 276 CIC. Cân. 604.

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conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência e, pela caridade à qual esses votos

conduzem, unem-se, de modo especial, à Igreja e seu mistério.277

2.4. Apresentação e análise dos resultados da Pesquisa

São apresentados os dados coletados na pesquisa extraídos da tabulação em forma de

tabelas e gráficos que se encontram anexados no final deste trabalho. De posse dos resultados,

o autor da pesquisa faz uma análise dos dados, apresentando dessa forma, o perfil dos

evangelizadores da Arquidiocese de São Paulo, as ações que sinalizam a ação evangelizadora

na cidade, as dificuldades encontradas pelos agentes, os grupos com os quais a Igreja é

solidária e tem ações transformadoras e como se dá a renovação das comunidades eclesiais.

As opções tomadas para a presente pesquisa inserem-se dentro do contexto amplo

mencionado acima. Optou-se por questões de múltipla escolha, afirmativa e negativa, e

dissertativa, a serem respondidas pessoalmente pelos participantes e para não ocupar muito

tempo das reuniões dos grupos pesquisados. A opção favoreceu a coleta de informações que

são apresentadas a seguir. Para facilitar a compreensão da PAESP e análise dos dados foi feita

a seguinte divisão:

• Estrutura organizacional da ação evangelizadora e perfil dos evangelizadores:

Instâncias da ação evangelizadora,

Pertencimento dos agentes evangelizadores por região episcopal,

Idade dos pesquisados,

Atuação/sexo dos evangelizadores pesquisados

• Centralização da administração econômica na Cúria arquidiocesana

• Conhecimento do 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo:

277 CIC. Cân. 573.

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Conhecimento do Plano,

Participação dos evangelizadores na Igreja de São Paulo em 2000-2002,

Participação na elaboração, estudos e avaliação do 8º Plano de Pastoral,

Responsabilidade pelo não conhecimento do Plano de Pastoral,

• Igreja profética na cidade de São Paulo:

Profetismo da Igreja de São Paulo para os pesquisados,

Conhecimento da realidade da cidade de São Paulo,

Importância do Plano de Pastoral para a evangelização da cidade,

Ações da Igreja que sinalizam a evangelização,

Solidariedade e ações transformadoras,

• Dificuldades para a evangelização na cidade

• Renovação das comunidades, anúncio e testemunho de Jesus Cristo

2.4.1. Estrutura organizacional da pastoral e perfil dos evangelizadores

A PAESP buscou atingir os níveis da organização da Arquidiocese de São Paulo mais

significativos. Para que a ação evangelizadora se desenvolva é necessário que se tenha uma

organização administrativa e pastoral. Para coleta de informações o pesquisador foi às

instâncias que coordenam as ações da Igreja na cidade de São Paulo.

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2.4.1.1. Instâncias pesquisadas da organização evangelizadora

INSTÂNCIAS GRUPOS PARTICIPANTES Coordenação Regional de Pastoral 04 143 Coordenação Setorial de Pastoral 13 284 Coordenação Paroquial de Pastoral 22 551 Associação em nível arquidiocesano 04 48 Movimento em nível arquidiocesano 07 100 Pastoral em nível arquidiocesano 15 179

TOTAL 65 1305

Os números apresentados acima são a amostra pesquisada de toda a estrutura

organizacional da pastoral da Arquidiocese de São Paulo já mencionado no item 2.3.1.5. deste

estudo.

2.4.1.2. Região Episcopal a qual pertencem pesquisados

REGIÕES PESQUISADOS PERCENTUAL Belém 284 21,8 Brasilândia 201 15,4 Ipiranga 233 17,9 Lapa 93 7,1 Santana 163 12,5 Sé 323 24,8

Subtotal 1297 99,4 Brancos 8 0,6

Total 1305 100

Cabe observar que este quesito pedia para que as pessoas identificassem a região a

qual pertenciam, porém muitas pessoas não responderam a este item. Em algumas folhas foi o

pesquisador quem assinalou a qual Região Episcopal o pesquisado pertencia, pois ele (o

pesquisador) sabia em que Região estava, isto para o caso dos Conselhos Regionais, setoriais

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e paroquiais, o que não pôde ser feito nas pesquisas realizadas com as coordenações

arquidiocesanas das pastorais, das associações e dos movimentos de apostolado leigo, por isso

oito pessoas não foram identificadas a qual região pertenciam (Tabela B). Deparamo-nos

também com um possível engano quando constatamos o número da Região Episcopal Sé, esta

apresenta o maior número de pessoas pesquisadas (323 pessoas), algumas pessoas podem ter

confundido Região a que pertence com o local onde estava sendo realizada a pesquisa, pois

quase todas as pesquisas realizadas com as coordenações de pastorais, associações e

movimentos de apostolado leigo ocorreram em reuniões acontecidas nos limites da Região

Episcopal Sé .

2.4.1.3. Análise da estrutura organizacional pastoral

Analisando os resultados da pesquisa para os itens acima demonstrados, instâncias

pastorais, aliado à Região Episcopal, podemos concluir que a estrutura organizacional da

Arquidiocese de São Paulo atende de forma satisfatória todos os requisitos conceituais

aplicados nas organizações de mercado e grupos,278 visto que está formalmente representada e

com abrangência territorial , dividida regionalmente, o que permite a participação de todos os

membros (Tabela A): bispos, padres, religiosos(as), leigos(as ), nos processos de trabalho,

delineada de forma a atingir a missão da Igreja, evangelizar e anunciar Jesus Cristo à toda

porção do povo de Deus da cidade de São Paulo.

278 STONER, J. A. F. Estrutura Organizacional: Forma pela qual as atividades de uma organização são divididas, organizadas e coordenadas. Rio de Janeiro: PHB, 1992. p. 230.

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2.4.1.4. Perfil dos evangelizadores quanto à idade e sexo

A PAESP perguntou a idade dos evangelizadores e obteve informações importantes

para análise do perfil dos evangelizadores da Arquidiocese de São Paulo. Quanto ao sexo a

pesquisa não perguntou diretamente, porém pela pergunta sobre a atuação pastoral chegou-se

aos resultados que são apresentados a seguir.

2.4.1.5. Idade dos pesquisados

A faixa etária com maior presença nos conselhos e coordenações de grupos na

Arquidiocese de São Paulo está entre as pessoas que têm entre 46 e 55 anos, 27,51% . O

grupo que vem em seguida é das pessoas entre 56 e 65 anos representando 22,30%. O grupo

que tem menor presença nos conselhos e coordenações de grupos é o grupo dos jovens,

pessoas de até 25 anos de idade representam 6,82%. Quase metade, 49,81% das pessoas que

compõem os conselhos e coordenações de grupos na Arquidiocese de São Paulo está na faixa

dos 46 aos 65 anos de idade. (Tabela C).

2.4.1.6. Atuação pastoral dos pesquisados

A pesquisa obteve a informação sobre a condição hierárquica das pessoas que

participam das coordenações de pastorais, associações de fiéis, movimentos de apostolado

leigo e dos membros dos conselhos pastorais de região, setor e paróquia. A pergunta sobre a

atuação pastoral revela esta informação, assim como o sexo dos pesquisados.

Pela pesquisa observamos maior presença das leigas com 51,7% nos conselhos e

coordenações de grupos (Tabela D).

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Do total dos homens (494, bispos, padres, religiosos e leigos) presentes nestas

instâncias de decisões e encaminhamentos dos trabalhos pastorais na Arquidiocese de São

Paulo, 138 (10,6%) são bispos, padres e religiosos e 356 (27,3 %) são leigos (Tabela D).

2.4.1.7. Análise do perfil dos evangelizadores quanto a idade e sexo

O perfil dos agentes evangelizadores e lideranças da Arquidiocese constantes dos

resultados da pesquisa, nos itens 2.4.1.5 – Faixa Etária e 2.4.1.6 – Atuação Pastoral, retrata a

participação nas comunidades, dando desta forma a devida e necessária representatividade de

todos os fiéis das comunidades, com condições e poderes para examinar, avaliar as atividades

pastorais na diocese e propor conclusões práticas sobre elas.

Esta conclusão pode ser constatada pela própria vivência nas comunidades, onde a

participação nos movimentos, celebrações, a presença de leigas é muito maior que a de leigos,

inclusive, mensurado por este pesquisador, na qualidade de Pároco, que realizou pesquisa

junto a sua comunidade, aplicada nas missas de um final de semana, encontrando quase que a

mesma proporção, 30,4 % de homens e 63,6 % de mulheres. O mesmo para a faixa etária, que

tiveram praticamente o mesmo resultado, excetuando os jovens na faixa de 01 a 25 anos que

tiveram 14,2% de presença na comunidade e apenas 6,82% de representatividade nos

conselhos.

Pode-se concluir que a representatividade nas diversas esferas e fóruns, promovidos de

forma sistemática pela Arquidiocese de São Paulo, assegura a participação de toda a

comunidade e a co-responsabilidade pelo anúncio e testemunho da Palavra de Deus .

Uma outra análise que os resultados permitem é a menor presença dos leigos com

27,3% (Tabela D) proporcional à participação dos homens em nossas comunidades, missas e

grupos evangelizadores. Esta situação pode justificar-se a diversos fatores, por exemplo: não

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se sentem chamados pela Igreja, o peso da função mantenedora do lar. Esta última

caracterizada pela dificuldade de o trabalhador, chefe de família se deslocar para o trabalho,

trabalhar, deslocar-se novamente para sua residência o desmotiva à estar presente nas reuniões

e mesmo assumir compromissos com a missão evangelizadora. É sabido que o transito, o

transporte coletivo desgasta sensivelmente o potencial do ser humano. Outro motivo pela não

participação dos homens que tem peso significativo dentro do contexto das dificuldades de

evangelizar em São Paulo, onde o homem, geralmente chefe de família, responsável pela

manutenção da casa, tem que trabalhar na maioria das vezes em locais distantes de sua

moradia, o que o faz perder três horas ou mais das nove horas de trabalho diário, decorrentes

de trânsito, transporte coletivo cheios e inadequados durante toda a semana, dificultando a sua

participação nos movimentos e celebrações noturnas e aos domingos procuram fazer coisas

que “aparentemente os livram deste stress”, concorridos com os meios de comunicação de

massas , jogos de futebol , clubes e outros, há ainda outros motivos que devem ser mais

estudados.

Outro aspecto a ser destacado e estudado, apesar da pesquisa não retratar este fato, até

porque não fazia parte deste objeto de estudo, é sobre a presença das mulheres na Igreja com

51,7%. É necessário analisar se esta presença corresponde também nas tomadas de decisões e

encaminhamentos de trabalhos ou é somente presença física. As mulheres têm de fato poder

na igreja na qual é maioria? São elas ouvintes ou tem direito a falar e são ouvidas? “O

problema da participação das mulheres na vida da Igreja é de importância primordial para a

vida e o futuro da nossa Igreja. O movimento de promoção das mulheres representa um fato

que assinala a evolução atual, um sinal dos tempos”.279 A Igreja apresenta abertura para o

trabalho da mulher e a presença significativa das mulheres na Igreja abre pistas concretas para

reconhecer o seu contributo cristão nos debates vitais da sociedade como paz, bioética,

279 PINHEIRO, J. E. (org.).O Sínodo e os leigos. p. 76.

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família, aborto, violência. É importante reconhecer, incentivar e animar a participação plena

da mulher na comunidade eclesial. Sua presença, às vezes silenciosa, é conseqüência dos

obstáculos canônicos que ainda bloqueiam seu acesso a diversos serviços e ministérios

eclesiais e sociais. As mulheres estão conquistando espaços e assumindo ministérios

anteriormente ocupados pelos homens: ministério da Palavra, do Sacramento do Batismo, do

Sacramento do Matrimônio, da coordenação, da organização popular, sem deixar aqueles que

sempre assumiram como visitar os doentes, catequizar, cantar, cuidar das alfaias. Elas

constituem a maioria dos membros da Igreja e têm papel essencial na evangelização da

cidade. “Hoje, sobretudo, é indispensável e decisivo seu papel no anúncio e transmissão da

mensagem de Cristo, especialmente no que se refere à promoção e defesa da vida”.280

Nesta mesma linha, apesar da pesquisa não retratar este fato, cabe a reflexão quanto à

efetividade da participação dos leigos e leigas (79 %), em relação aos bispos, padres e

religiosos (10,6%). A condição hierárquica os coloca acima de todos no discurso, de alguma

forma têm o poder econômico em suas mãos, além do tempo e prestígio que gozam nas

reuniões e celebrações. Em suas falas representam mais de uma pessoa, representam muitas

vezes, uma paróquia, um grupo, uma região. “O patriarcalismo é ainda particularmente forte,

uma vez que o poder se encontra concentrado na mão dos homens celibatários; neste contexto,

o espaço das mulheres é estruturalmente limitado e as possibilidades de mudança – que

certamente existem – são inevitavelmente mais lentas”.281

As questões levantadas sobre o perfil dos agentes evangelizadores da Arquidiocese de

São Paulo pretendem suscitar um diálogo e contribuir para uma compreensão mais ampla da

280 PONTIFICIA COMISIÓN PARA AMÉRICA LATINA. Los evangelizadores. p. 202. 281 ANJOS, M. F. dos. (org.). Novas gerações e vida religiosa: Pesquisa e análises prospectivas sobre Vida Religiosa no Brasil. 2 ed. Aparecida: Santuário, 2004. p. 71.

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ação da Igreja na cidade de São Paulo e situá-la no contexto atual de profundas

transformações sociais que vivemos hoje.

2.4.2. Centralização econômica na Cúria Arquidiocesana

Sobre a pergunta: Houve mudança na atuação pastoral da Igreja de São Paulo a partir

da centralização da administração econômica na Cúria Arquidiocesana?

769 (58,9%) pessoas disseram que não têm conhecimento sobre a centralização. 406

pessoas disseram que houve mudança na ação pastoral. Destas pessoas, 218, disseram que as

mudanças foram positivas (Tabela E e E1).

Na tabela sobre a centralização (Tabela G) ‘por instância’ constata-se que o grupo das

Pastorais em nível arquidiocesano foi o que mais sentiu a centralização administrativa da

Arquidiocese de São Paulo na Cúria Metropolitana, pois 60% das pessoas deste grupo

disseram que houve mudanças na ação pastoral e que estas mudanças foram negativas.

Podemos também constatar que as Coordenações de Movimentos em nível arquidiocesano e

os Conselhos Paroquiais de Pastoral são os grupos que apontaram com maior porcentagem

que a centralização foi positiva, 77,78% e 75,61% respectivamente.

2.4.2.1. Análise da centralização econômica na Cúria Arquidiocesana

Aqui devemos analisar que o não conhecimento da centralização é o mais importante.

As mudanças acontecem na organização estrutural da Igreja e as pessoas atuantes não tomam

conhecimento. Sinal de que ainda não é a expressão de uma Igreja que pratica a comunhão e

prioriza a participação. “Decididamente, a Igreja precisa ser comunhão-participação para que

possa ser sinal e instrumento na formação do Povo à imagem da Trindade Santa. Com

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urgência a Igreja precisa lutar por uma ética comunitária, de solidariedade, partilha, em

oposição à ética individualista, liberal, onde o império da liberdade individual se exerce sem

atenção aos direitos dos outros, ao bem comum”.282

Há ainda uma dúvida sobre o real conhecimento da centralização da administração

econômica, pois somente entre os leigos e leigas o número de respostas positivas sobre a

centralização foi maior. Acreditamos que as várias pessoas que participaram da pesquisa não

conheciam a centralização, mas afirmaram conhecer e também afirmaram que esta foi

positiva.

A centralização buscou uma maior partilha, mas é claro que tudo isso criou

um descontentamento de um lado e alegrias de outro, de fato, a gente é mais

habituado a cuidar do próprio, do que é meu e não estamos habituados a

partilhar os recursos, então a centralização teve como objetivo fundamental a

partilha dos recursos, então, a Arquidiocese passa a ter maior força e mais

capacidade de partilhar os bens em dinheiro.283

A Igreja profeticamente precisa ser comunidade. É urgente sua conversão para a

partilha. Para a intensa comunhão, participação, em vivo clima de amor, verdade e justiça. “A

Igreja precisa ter credibilidade, senão como falar dos erros na sociedade, se ela continua

permitindo abusos: não partilha de bens; esmagamentos da liberdade; decisões extremamente

centralizadas, centralizadoras”.284

282 BERNARDINO. A.S. Cultura urbana emergente e urbanização. In: SUESS, P. (org.) Culturas e evangelização. São Paulo: Loyola, 1991. p. 233. 283 LORO, T. J. Entrevista com o secretário arquidiocesano de pastoral. Apêndice III Entrevista 2. 21 de junho de 2005. p. 235. 284 BERNARDINO, A.S. Cultura urbana emergente e urbanização. p. 233.

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2.4.3. Conhecimento, elaboração, atuação e avaliação do Plano de Pastoral

Em oito itens que se seguem são apresentados dados sobre o 8º Plano de Pastoral da

Arquidiocese de São Paulo e em seguida uma análise desses resultados obtidos na PAESP. O

conhecimento do Plano de Pastoral é apresentado por Região Episcopal, estância pastoral e

por atuação dos agentes.

2.4.3.1. Conhecimento do Plano de Pastoral por Região Episcopal

Das 1264 pessoas pesquisadas, que responderam a pergunta sobre a participação nos

trabalhos da igreja durante o período de 2000-2002, 876 (Tabela L) disseram que

participavam da igreja naquele período, porém, somente 431, 33% conheciam o 8º Plano de

Pastoral da Arquidiocese de São Paulo (Tabela H). O plano não chegou ao conhecimento das

pessoas que compõem os conselhos e coordenações de grupos. Deduzimos, portanto, que as

pessoas nas bases, catequistas, ministros, agentes de pastoral das paróquias, comunidades,

pastorais, associações e movimentos também não conheceram o documento que quis nortear

as ações da Igreja na cidade de São Paulo.

Podemos perceber pelo quadro que segue que o 8º Plano de Pastoral foi mais

divulgado na Região Episcopal Ipiranga, seguida pela Região Belém. Das pessoas que

responderam a pergunta 40,44% conheciam o plano no Ipiranga e 39,42% na Região Belém.

A Região que apresentou menor número de pessoas que conheciam o plano foi a Região

Episcopal Lapa, apenas 25% das pessoas que responderam a pergunta conheciam o Plano

(Tabela I).

Segundo informação do coordenador regional da Região Episcopal Lapa não teve

durante ano 2005 nenhuma reunião do Conselho Regional de Pastoral (C.R.P.) o que

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comumente nas outras regiões acontece mensalmente ou bimestralmente. Nesta Região

também encontramos bastante dificuldade para encontrar um setor com reunião, para que se

pudesse aplicar a pesquisa.

2.4.3.2. Conhecimento do Plano por instância da organização evangelizadora

Pelos dados apresentados na pesquisa percebemos que o Plano é mais conhecido entre

as pessoas que participam do Conselho Regional de Pastoral com 57,78% e menos conhecido

nos pelas pessoas que compõem os Conselhos Paroquiais de Pastoral com 23,63%. Já entre as

Associações, Movimentos e Pastorais em nível arquidiocesano constatamos que o Plano foi

mais conhecido entre as pessoas que fazem parte das Pastorais com 44,38% (Tabela J).

2.4.3.3. Conhecimento do Plano por atuação pastoral

Analisando os dados por atuação sobre o conhecimento do Plano, constatamos que o

84,4% dos padres que responderam a pergunta disseram que o Plano era conhecido (Tabela

K). O menor grupo que respondeu ter conhecimento do Plano foi o das leigas, somente

27,74% afirmou conhecer o Plano. O grupo dos religiosos que aparece com 15,38% com

conhecimento do Plano é justificado porque não participavam das atividades da Igreja em São

Paulo naquele período. Entre os religiosos há muitas mudanças, transferências de uma

Diocese para outra.

Dois Bispos responderam a pesquisa, destes, apenas um conhecia o Plano, o outro não

pois na época da vigência do Plano ainda não estava na Arquidiocese de São Paulo.

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2.4.3.4. Participação dos pesquisados na Igreja no período de 2000-2002

67,1% das pessoas que responderam a pergunta disseram que eram atuantes na Igreja

durante o período de 2000-2002 (Tabela L), período em que o 8º Plano de Pastoral esteve em

vigência. Deste número 62,5% não conheciam o plano (Tabela H), 86,2% disseram que não

participaram ou são se lembravam de ter participado da elaboração do plano (Tabela N),

74,8% não estudou ou não lembra de ter estudado (Tabela O) e 85,1% não lembra ou não

participou do processo e avaliação do plano (Tabela P).

2.4.3.5. Participação na elaboração do 8º Plano de Pastoral

Das 1267 pessoas que responderam a pergunta 1.125, ou seja, 86,2% disseram que não

participaram ou não lembram de ter participado do processo de elaboração do 8º Plano de

Pastoral da Arquidiocese de São Paulo (Tabela N). Destas pessoas 876 participaram dos

trabalhos da Igreja em São Paulo nos anos de 2000-2002, período em que o Plano foi

elaborado, executado e avaliado.

2.4.3.6. Estudos do 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo

Das pessoas que responderam a pergunta sobre o estudo do 8º Plano de Pastoral da

Arquidiocese de São Paulo 74,8% disseram que não haviam estudado ou não se lembravam de

ter estudado (Tabela O). As instâncias onde estudaram o Plano foram apresentadas assim:

Paróquia, Região, Setor, Coordenação da Pastoral, Associação e Movimento e outras

instâncias. Somente 293 pessoas disseram em que instância estudou o Plano (Tabela O1).

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2.4.3.7. Participação no processo de avaliação do 8º Plano de Pastoral

Das 1260 pessoas que responderam a pergunta sobre o processo de avaliação do 8º

Plano de Pastoral somente 150 (11,5%) disseram que participaram do processo (Tabela P).

Das pessoas que compõem as coordenações de pastorais, associações e movimentos e

dos conselhos de regionais, setoriais e paroquiais, 73,6% disseram que não participaram do

processo de avaliação do Plano.

Chama a atenção, o fato de 150 pessoas não se lembrarem se participaram ou não do

processo, pois isto aconteceu no segundo semestre de 2003, apenas dois anos antes da

realização da pesquisa.

2.4.3.8. Responsabilidade pelo desconhecimento do Plano de Pastoral

Sobre a pergunta do motivo pelo qual o pesquisado que é atuante nos trabalhos da

igreja e não participa dos trabalhos de elaboração, estudos e avaliação do Plano de Pastoral da

Arquidiocese de São Paulo, está a consciência da pessoa, pois o maior número de pessoas

(660) responderam que elas mesmas são responsáveis pelo desconhecimento do Plano.

A pesquisa aponta que para 238 pessoas os padres são responsáveis pelo

desconhecimento do Plano de Pastoral. Ainda há um grupo de 61 pessoas, que são atuantes na

Igreja de São Paulo, pois, são participantes das reuniões de conselhos ou coordenações,

disseram que o Plano de Pastoral não tem importância para os trabalhos de evangelização na

cidade (Tabela Q).

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2.4.3.9. Análise do conhecimento, participação e desconhecimento do Plano

Analisando os resultados da pesquisa apresentados nos itens 2.4.3.1 ao 2.4.3.8,

relativos ao 8ª Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo, em suas diversas fases:

conhecimento, elaboração, participação e avaliação, que mostra números bastante

significativos de desconhecimento, da não participação seja na elaboração ou na avaliação,

demonstra de forma contundente que a Arquidiocese de São Paulo não conseguiu envolver as

pessoas comprometidas com a evangelização no processo de coleta de informações sobre a

realidade da cidade e da igreja em suas diversas instâncias pastorais, nos estudos das diretrizes

da ação evangelizadora e tão pouco no processo de avaliação dos trabalhos de três anos de

anúncio do Evangelho de Jesus Cristo na cidade de São Paulo. Podemos concluir que o fato

da Arquidiocese de São Paulo contar com uma boa estrutura organizacional e com um ótimo

processo de participação da comunidade nos diversos Conselhos e Coordenações para

examinar, avaliar as atividades pastorais na arquidiocese e propor conclusões práticas sobre

elas, não são suficientes para garantir o sucesso de um Plano de Pastoral.

O Plano de Pastoral tem definido diretrizes para a ação evangelizadora emanadas pela

Arquidiocese de São Paulo, porém não conta com diversas variáveis necessárias a um Plano,

como divulgação, estabelecimento de etapas, metas, cronograma das atividades, constante

processo de avaliação, enfim, caracterizado pela falta de estratégia para atingir o seu objetivo.

“Estratégia é o programa geral para consecução dos objetivos de uma organização e, portanto

para o desempenho de sua missão”.285

285 STONER, J. A. F. Estrutura organizacional. p. 70.

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Neste contexto, cabe analisar que o bom conteúdo do plano de pastoral no processo de

evangelização da cidade, sozinho não atinge seu objetivo, requerendo o uso de técnicas

administrativas e profissionais com formação específica nesta área, o que não é o caso de

bispos, padres, religiosos(as), até porque, o seu preparo acadêmico e enfoque maior é a

evangelização e o anúncio de Jesus Cristo, principalmente em uma cidade com tão grande

número populacional e territorial como o que compreende a Arquidiocese de São Paulo.

Outro enfoque a ser analisado para o “insucesso” do 8ª Plano de Pastoral é que para

atender as novas exigências de uma diaconia é preciso preparar as lideranças. As hierarquias

organizacionais são em geral monoculturais e obstaculizam o fluxo de informações,

comunicação, cooperação e participação. As informações são selecionadas entre os de cima e

os de baixo, entre os de dentro e os de fora. Essas atitudes geralmente geram um clima de

desconfiança e de alinhamento ideológico meramente formal. Percebe-se na Igreja excesso de

atividades institucionais (reuniões sem pauta, encontros “urgentes”) desnecessárias, porque

não contribuem para aumentar a qualidade do serviço em torno das prioridades estabelecidas.

O desconhecimento do Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo por parte dos

agentes evangelizadores, apesar da maioria das pessoas que responderam a pesquisa

assumirem para si a responsabilidade, deve-se a um conjunto de fatores: excesso de trabalho

dos agentes, desconexão do trabalho “paroquial” com as atividades regionais e

arquidiocesanas, priorização dos trabalhos de manutenção da paróquia em detrimento das

ações evangelizadoras, engavetamento de convites para encontros e assembléias, despreparo

dos representantes paroquiais e setoriais que participam das reuniões setoriais, regionais e

arquidiocesanas. Percebe-se em muitos casos que a organização pastoral da Arquidiocese de

São Paulo se desenvolve no geral pelos padres. O papel profético que a Igreja, hoje mais do

que nunca, deve desempenhar, se choca com as estruturas seculares que impedem mudanças

radicais, urgentes e indispensáveis. Valorizar, permitir e apoiar os leigos para que assumam

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funções de coordenação, animação e articulação das ações evangelizadoras fazem crescer sua

consciência ministerial. Uma maior cooperação entre os agentes evangelizadores, inclusive a

circulação dos agentes, a troca de experiências pastorais e a partilha de bens são atitudes que

muito podem ajudar no avanço do anúncio do Evangelho na cidade de São Paulo. Nenhum

grupo pode encerrar-se em si mesmo, nenhum agente poder encerrar seu conhecimento e ação

em si mesmo. Partilhar, cooperar e superar a tentação de que a ação da “sua” pastoral,

paróquia, movimento ou associação basta, podem redefinir a ação evangelizadora da

Arquidiocese de São Paulo na cidade de São Paulo.286

Por último, dentro do princípio da oportunidade, cabe lembrar que toda a igreja precisa

se envolver no processo de planejamento pastoral, verdadeiramente participativo fazendo da

ação pastoral um conjunto de ações que evangelizam. Para fundamentar lembramos do que

disse o Papa Paulo VI no 10º aniversário do CELAM.

Na obra pastoral não se pode andar às cegas: o apóstolo não é alguém que

corre incerto ou se bate contra o ar (cf. 1 Cor 9,26); evita hoje a acomodação

e o perigo do empirismo. Uma sábia planificação, portanto, pode oferecer

também à Igreja um meio eficaz e o incentivo para o trabalho [...] A

planificação impõe opções e comporta renúncias mesmo do que, às vezes,

seria o melhor; e a concentração de esforços, intensiva e extensiva, nos

objetivos essenciais, obriga a deixar realizações que, embora belas, sejam

limitadas ou supérfluas.287

286 PONTIFICIA COMISIÓN PARA AMÉRICA LATINA. Los evangelizadores. p. 183. 287 BERNARDINO, A. S. Cultura urbana emergente e evangelização. p. 233.

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2.4.4. Igreja profética na cidade de São Paulo

Aqui são apresentados os dados obtidos pela PAESP com relação: ao profetismo da

Igreja nas ações de denúncias de injustiças e anúncio da justiça; o conhecimento da realidade

da cidade por parte da Igreja para garantir ações profundas na evangelização; a importância

do Plano de Pastoral para a ação; e também as ações que sinalizam que São Paulo está sendo

evangelizada.

2.4.4.1. Profetismo da igreja para os evangelizadores

Para 965 pessoas (73,9%) das 1227 que responderam a pergunta, a Igreja de São Paulo

tem sido profética nas denúncias das injustiças e no anúncio de uma sociedade humana

fraterna e justa (Tabela R). Para 262 pessoas a Igreja de São Paulo não tem cumprido sua

missão profética. Por atuação pastoral (Tabela S) as leigas aparecem como o maior número

de pessoas que reconhecem o profetismo da Igreja de São Paulo.

2.4.4.2. Conhecimento da realidade da cidade de São Paulo

Em geral as pessoas acreditam que a Igreja de São Paulo conhece a realidade ou pelo

menos tem conhecimento parcial da cidade em que atua. Das 1271 pessoas que responderam a

questão 689 disseram que a Igreja conhece a cidade de São Paulo e 524 disseram que a Igreja

tem conhecimento parcial da realidade, somente 58, isto é 4,4% das pessoas que responderam

a questão disseram que a Igreja não conhece a realidade em que atua. (Tabela T).

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2.4.4.3. Importância do Plano de Pastoral para a evangelização da cidade

O Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo é importante para o trabalho de

evangelização da cidade, responderam 1150 pessoas das 1174 que responderam a questão,

correspondente a 97,95 % dos pesquisados. (Tabela U).

2.4.4.4. Ações que sinalizam a ação evangelizadora na cidade de São Paulo

Das 1305 pessoas que responderam a pesquisa 982 (Tabela V) disseram que as

pastorais e os serviços, incluindo a catequese, a crisma, o batismo, a pastoral vocacional, a

pastoral da saúde e dos enfermos e o trabalho com a juventude são as ações que mais

sinalizam que a Igreja de São Paulo está evangelizando a cidade. Em segundo lugar, com 945

pessoas, estão os Meios de Comunicação (Rádio 9 de Julho, Jornal O São Paulo).

As Pastorais Sociais ficaram em terceiro lugar como ações da igreja que sinalizam a

evangelização na cidade. 915 pessoas acreditam que o trabalho da Pastoral da Criança, da

Pastoral Carcerária, com o Povo da Rua, da Pastoral Afro, Pastoral da Moradia, Pastoral do

Mundo do Trabalho, Pastoral da Terceira Idade, Grupo Fé e Política, e Pastoral do Migrante

são sinais de que a Igreja está evangelizando a cidade de São Paulo. 893 pessoas apontaram

que as visitas às residências, aos hospitais, aos presídios e às escolas são ações da Igreja que

sinalizam que a Igreja de São Paulo está evangelizando a cidade. Apenas 343 pessoas

responderam que a participação política é uma ação da Igreja que evangeliza a cidade.

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2.4.4.5. Análise das ações proféticas, conhecimento da realidade e Plano.

Analisando os resultados do item acima 2.4.4.1 – Igreja Profética, podemos concluir

que a Igreja de São Paulo está cumprindo a sua missão, denunciando as injustiças e

anunciando uma sociedade humana, fraterna e justa, destacando que os agentes de pastoral

acreditam, na sua maioria, que a Igreja de São Paulo está de acordo com os princípios

evangélicos, pois há coerência com a pergunta sobre as ações solidárias e transformadoras da

Igreja diante dos marginalizados e excluídos da sociedade, onde 77,1% dos pesquisados

disseram que a Igreja é solidária com os marginalizados e excluídos e tem ações que

transformam a sociedade (Tabela W). “A dimensão profética instiga o crente a se envolver na

sociedade por amor a seu próximo”.288

Para o resultado do item 2.4.4.2.- Conhecimento da realidade da cidade de São Paulo,

a análise fica prejudicada, pois em geral as pessoas acreditam que a Igreja de São Paulo

conhece a realidade ou pelo menos tem conhecimento parcial da cidade em que atua, mas por

outro lado a grande maioria as pessoas pesquisadas afirmaram não conhecer o Plano de

Pastoral da Arquidiocese de São Paulo (Tabela H). Se não conhecem o Plano da Igreja, que é

o documento que orienta as ações da Igreja, ou melhor, as ações das pessoas que responderam

esta pesquisa, como podem afirmar que a Igreja conhece, mesmo que seja parcialmente, a

realidade da cidade complexa que é São Paulo? Para os pesquisados quem é a Igreja que

conhece a realidade da cidade?

Situação semelhante encontra-se no resultado do item 2.4.4.3. - Importância do

Plano de Pastoral para a evangelização da cidade, pois 97,95 % dos pesquisados afirmaram

que o Plano é importante para evangelização da cidade, porém 62,5% disseram que não

conheciam o documento e também um bom número de pessoas assumiram para si a

288 BOSCH, D. J. Missão transformadora: Mudanças de paradigma na Teologia da Missão. São Leopoldo: Sinodal, 2002. p. 482.’’

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responsabilidade de não o conhecerem (Tabela Q). Se o Plano é importante para os trabalhos

de evangelização da cidade, como os agentes de evangelizadores da Arquidiocese de São

Paulo nortearam seus trabalhos para evangelizar a cidade de São Paulo durante os anos de

2000-2002, se não conheciam o Plano de Pastoral? Ou a cidade não foi evangelizada?

Analisando o resultado do item 2.4.4.4. (Tabela V) - ações que sinalizam a ação

evangelizadora da Igreja em São Paulo, cabe destacar:

• Os meios de comunicação, apontado em segundo lugar pelos pesquisados,

como ação que sinaliza que a Igreja de São Paulo está evangelizando a cidade, logo após das

pastorais e serviços, como não poderia deixar de ser, o maior sinal de evangelização. Os

meios de comunicação apresentados são os de propriedade da Arquidiocese de São Paulo,

mas certamente estão neste número outros meios de comunicação da Igreja que não são da

Arquidiocese, como a Rádio Milícia da Imaculada, bastante ouvida na zona leste, a Rede Vida

de Televisão, a TV Canção Nova e outros meios, sobretudo rádios, onde tem programas com

padres. A missa na TV é um dos programas religiosos que parece suscitar maior interesse dos

católicos. Entretanto, há críticas feitas por estudiosos católicos quanto a esse tipo de

programação na TV, pelo fato que não permite a formação de uma comunidade no sentido

tradicional. Outra crítica é a ausência da sacramentalidade.289 A pesquisa aponta a

importância de se investir nestes meios de comunicação para avançar na evangelização da

cidade. Usar os meios de comunicação para mostrar, apoiar e animar a caminhada do povo.

“O uso dos meios de comunicação é para realimentar a comunicação e perpetuar a

participação. Precisamos valorizar os profissionais da comunicação e os agentes dessa

pastoral. Com eles poderemos melhorar o resultado da evangelização”. 290

289 CENTRO DE ESTATÍSTICA RELIGIOSA E INVESTIGAÇÕES SOCIAIS. Desafios do catolicismo na cidade: Pesquisa em regiões metropolitanas brasileiras. São Paulo: Paulus, 2002. p. 141. 290 BELTRAMI, A. Comunicação, cultura e evangelização. p. 77.

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• As visitas missionárias também merecem destaque, pois 893 pessoas

apontaram que as visitas às residências, aos hospitais, aos presídios e às escolas são ações da

Igreja que sinalizam que a Igreja de São Paulo está evangelizando a cidade. O Regional Sul I

da CNBB tem apontado caminhos e despertado para a presença da Igreja nos diversos espaços

da cidade. Isto se deu depois da constatação dos dados apresentados pelo IBGE no Censo

2000 sobre a diminuição dos católicos em 9,4% em relação ao Censo 1990.291

• As Pastorais Sociais que receberam a indicação de 915 pessoas como sinal de

que ação da Igreja que evangeliza a cidade de São Paulo reflete a ação da pastoral da criança,

do menor, carcerária, do povo da rua, afro, indigenista, da moradia, da mulher marginalizada,

do mundo do trabalho, da terceira idade, dos migrantes e do grupo fé e política da

Arquidiocese de São Paulo. Essas pastorais constituem a melhor expressão da teologia da

libertação. Elas exprimem o compromisso da Igreja no Brasil com situações, problemas e

desafios emergentes. Em regra geral, essas pastorais brotam do encontro entre evangelização,

realidade social e modernidade. É missão da Igreja evangelizar a totalidade da existência

humana, sem deixar de fora qualquer de suas dimensões.

A organização e atuação das pastorais sociais contribuem para fazer surgir

novos projetos políticos que levem em conta a opinião do povo e uma

participação que vai além do ato de votar nas eleições. Os

cristãos participam do rumo da nação, com as demais pessoas de boa

vontade, tendo como base um perene e consistente instrumento, que é a

doutrina social da Igreja [...] As pastorais sociais da Igreja vislumbram o

horizonte de um novo processo civilizatório, em que se valorize o que é

humano, transcendental e ecológico. 292

291 CONSELHO EPISCOPAL REGIONAL SUL I. Projeto de Ação Missionária Permanente. p. 2. 292 STRINGHINI, P. L. As pastorais sociais no contexto da ação da Igreja. In: VILHENA, M. A. e PASSOS, J. D. (orgs.) A Igreja de São Paulo. Presença católica na história da cidade. São Paulo: Paulinas, 2005. p. 549.

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Através destas pastorais a Arquidiocese de São Paulo não apenas exerce o seu papel

crítico e profético, mas, sobretudo influencia positivamente, contribuindo e possibilitando

caminhos ou modelos alternativos mais condizentes com a dignidade humana e com a

vocação do homem em Cristo. “Elas têm o mérito de buscar responder a desafios da

modernidade e da realidade social, constituindo-se numa das formas mais eficazes de

presença da Igreja no mundo”.293

• Outra questão que merece uma maior reflexão, é que ainda há uma distancia

entre a Igreja e a política. Apenas 343 pessoas responderam que a participação política é uma

ação da Igreja que evangeliza a cidade. Com tantos escândalos, corrupção, decepções na vida

dos políticos do país que fazem com que cada vez mais haja um recuo da igreja e seus

membros na vida política e na administração pública. (Tabela V). Uma tentativa de decifrar o

enigma da relação entre evangelização e política é a distinção entre dois mandatos diferentes,

o espiritual e o social. O primeiro se refere à incumbência de anunciar a boa nova da salvação

através de Jesus Cristo; o segundo conclama os cristãos a participarem responsavelmente da

sociedade humana, incluindo o trabalho em prol do bem-estar humano e da justiça, pois, “não

há espaço para um evangelho que seja indiferente às necessidades do homem integral ou do

homem global”.294

2.4.4.6. Solidariedade e transformação junto aos marginalizados e excluídos

A missão da Igreja é anunciar a Boa Notícia de Jesus Cristo a todas as pessoas. Em

grande parte da cidade de São Paulo a Arquidiocese de São Paulo é a responsável por esta

missão.

293 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1991-1994. (Documentos da CNBB n. 45) 216. São Paulo, Paulinas, 1991. 294 BOSCH, D. J. Missão transformadora. p. 484.

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A PAESP perguntou aos evangelizadores sobre as ações solidárias da Igreja e sobre as

ações transformadoras junto aos excluídos e marginalizados da cidade de São Paulo.

Das pessoas que responderam a pergunta, 77,1% disseram que a igreja de São Paulo

tem ações solidárias e transformadoras diante dos clamores do povo marginalizado e excluído

(Tabela X).

Mais da metade das 1006 pessoas que disseram sim apontaram o grupo de

marginalizado e excluído para com os quais a Igreja de São Paulo é solidária e tem ações

transformadoras (Tabela X 1). A pastoral da Moradia da Arquidiocese de São Paulo e o apoio

da Igreja aos Movimentos Populares de Moradia foram reconhecidos por 540 pessoas que

responderam a pergunta. Em seguida foi lembrado o trabalho da Igreja junto ao

marginalizados e excluídos da saúde. O terceiro grupo apontado como aquele que recebe as

ações solidárias e transformadoras da Igreja de São Paulo é o grupo dos marginalizados e

excluídos do mundo do trabalho e em seguida aparece o grupo dos marginalizados excluídos

da educação.

Um grupo de 256 pessoas assinalou que a Igreja é solidária e tem ações

transformadoras junto a outras pessoas. As pessoas ou grupos mencionados foram

encarcerados, população de rua (incluindo as crianças), indígenas, pessoas deficientes,

prostitutas, refugiados e dependentes químicos.

2.4.4.7. Análise das ações solidárias e transformadoras junto aos excluídos

A Arquidiocese de São Paulo possui grupos de pessoas: leigos, leigas, religiosos,

religiosas, padres e bispos que mantêm trabalhos assistenciais, promocionais e

transformadores nas diversas paróquias. São creches, trabalhos com adolescentes, com

moradores de rua, com prostitutas, com dependentes químicos, com famílias sem moradia,

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desempregados, alfabetização de jovens e adultos, luta por melhores e mais postos de saúde e

hospitais, luta por transporte, doação de alimentos, roupas, remédios entre outros. São

diversas entidades sociais ligadas a Igreja que realizam trabalhos com grande número de

pessoas nos três níveis da caridade: assistencial, promocional e transformador. O Seminário

da Caridade realizado pela Arquidiocese de São Paulo e as outras dioceses que estão no

território do município de São Paulo: Diocese de São Miguel Paulista, Diocese de Santo

Amaro, Diocese de Campo Limpo e Diocese de Osasco apresentaram muitos dados

importantes sobre a ação solidária e transformadora da Igreja na cidade.295

Desde o Concílio Vaticano II a Igreja se compromete com a vida econômica, política e

cultural para encontrar a sua plenitude na eternidade. Não há evangelização sem

solidariedade; não existe solidariedade cristã que não implique compartilhar o conhecimento

do reino que é a promessa de Deus aos pobres da terra. Ocorre aqui um duplo teste de

credibilidade: uma proclamação que não exiba as promessas de justiça do reino aos pobres da

terra caricaturiza o evangelho, mas uma participação cristã nas lutas por justiça que não

aponte para as promessas do reino também torna caricatural a compreensão cristã de

justiça.296

A vida de cada pessoa se faz de interação e conteúdo, pois, é real e concreta, situada

em todas as suas dimensões, porque ela é o lugar da experiência, humana sem dúvida, mas

também de Deus – com suas limitações e contradições – que é lugar onde nossa experiência é

posta à prova e onde nossa opção de vida e de sentido é testada, para comprovar se é

autêntica, se é consistente, se tem resistência. Por isso, a vida é o único lugar da integração da

pessoa. À medida que a enfrentamos se manifesta qual é o princípio unificador da existência

295 cf. SEMINÁRIO DA CARIDADE. Presença da Igreja na cidade de São Paulo. p. 7. 296 BOSCH, D. J. Missão transformadora. p. 488.

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da pessoa. A vida não só nos põe a prova, mas nela se comprova e se verifica, se faz verdade,

a qualidade do nosso seguimento de Jesus.297

Na medida em que as pessoas vão conhecendo melhor a realidade social da

comunidade vão se tornando mais sensíveis aos problemas que atingem as pessoas no dia a

dia. Sempre há uma pessoa na comunidade eclesial mais sensível aos problemas enfrentados

pela sociedade e esta sensibilidade é capaz de seduzir outras pessoas que se comprometam

com a causa da justiça e dos direitos básicos do homem. O “serviço aos irmãos” brota

necessariamente desta adesão; não como uma “causa” exterior, mas como algo inerente a

identificação da própria vida com a vida de Jesus. A realidade em questão é a mesma quando

se trata de lutar pela “causa” dos pobres ou de servi-los em nome de Jesus e do Evangelho.

Mas as motivações são diferentes de estar presentes na realidade: lutando por uma

sociedade justa, resistindo a todos os embates ou, tantas vezes, como mostra a história,

capitulando e desistindo, quando a “causa” parece perdida e sem futuro. Identificar a própria

vida com a vida e o destino dos pobres é mais do que uma “causa” e não se pode confundir

com o fazer.298

Num olhar mais abrangente sobre as ações solidárias da Igreja e as ações que

transformam a vida das pessoas marginalizadas e excluídas, o serviço aos irmãos pobres é

testemunho do cristão na vivência dos ensinamentos evangélicos na cidade de São Paulo.

Interessante notar que se por um lado percebemos na sociedade em geral uma perda de

valores religiosos, encontramos um resgate de valores humanos e sociais. Há na sociedade,

independente das religiões, movimentos sociais e de solidariedade.

297 PALÁCIO, C. Novas gerações e o futuro da Vida Religiosa. In: ANJOS, M. F. dos. (org.). Novas gerações e vida religiosa: Pesquisa e análises prospectivas sobre a vida Religiosa no Brasil. 2 ed. Aparecida: Santuário, 2004 p. 159 298 PALÁCIO, C. Novas gerações e o futuro da Vida Religiosa. p. 145.

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2.4.5. Dificuldades para evangelizar na cidade de São Paulo

A PAESP perguntou aos agentes evangelizadores quais são as maiores dificuldades

para evangelizar na cidade de São Paulo. Os itens que seguem mostram os dados obtidos e faz

uma análise dessas dificuldades.

2.4.5.1. Dificuldades encontradas pelos agentes na evangelização da cidade

Violência Distância Medo Despreparo dos agentes

Falta de Comunicação Desemprego

803 355 619 625 585 412

Poucos Recursos

Desigual- dade Social

Comodismo das pessoas

Individua- lismo

Centralização de Poder

Crescimento de outras Igrejas

429 453 969 707 394 503

Falta de Incentivo

Número reduzido de leigos

Estrutura Paroquial

Dificuldade de constituir comunidade Consumismo Outros

431 825 339 510 460 129

2.4.5.2. Análise das dificuldades encontradas pelos agentes na evangelização

O comodismo das pessoas aparece em primeiro lugar (969 pessoas) entre as

dificuldades encontradas pelas pessoas que responderam a pesquisa para evangelizar a cidade.

O comodismo é uma das maiores dificuldades encontradas pelos agentes evangelizadores; é

uma resposta de quem efetivamente vivencia, constata e partilha tal situação. É interessante

notar que a maior dificuldade encontrada para evangelizar na cidade é atribuída à dimensão

pessoal.

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Percebe-se que o comodismo das pessoas, apresentado como dificuldade para

evangelizar a cidade, não está somente entre aqueles que não vão às missas. O comodismo

está presente também entre padres, religiosos(as), leigos e leigas que ministram os

sacramentos, ou catequizam aqueles que procuram as suas igrejas.

O número reduzido de leigas e leigos comprometidos com os trabalhos da Igreja

também recebeu votos expressivos, 825 pessoas acreditam que se houvesse maior número de

leigos e leigas, a cidade estaria mais evangelizada. “Sem dúvida, a escassez de sacerdotes foi

uma bela ocasião para a Igreja recuperar um de seus elementos estruturais, os ministérios

leigos”.299 O número reduzido das leigas e leigos comprometidos com os trabalhos da igreja

aparece de forma expressiva (TabelaW) como dificuldade para evangelizar na cidade de São

Paulo, isso sinal de que os leigos estão assumindo sua missão. Ainda que a presença das

leigas e leigos, sobretudo daqueles que questionam as estruturas da Igreja, não seja aceita em

muitas paróquias e outros grupos eclesiais, não se pode negar sua atuação em muitos setores

da organização estrutural e pastoral da Arquidiocese de São Paulo. A sociedade globalizada

exige também uma diversificação e surgimento de novos ministérios. É um apelo e uma

tendência para que a Igreja assuma a sua missão evangelizadora, reconheça e valorize a

missão dos leigos e leigas na Igreja e na sociedade.

A violência e o medo também são dificuldades apresentadas para o trabalho do

evangelizador, 803 e 609 respectivamente (Tabela W). A violência urbana é um fenômeno

complexo. A violência parece ser, entre os problemas que atingem atualmente os moradores

de São Paulo, um dos que são capazes de suscitar as maiores paixões e de revelar preconceitos

e ódios sobre os quais se costuma calar em outros contextos. È um problema que dificulta a

convivência entre as pessoas como já foi mencionado no primeiro capítulo deste estudo. O

medo da violência tem mudado a paisagem da cidade. Os muros, as grades subiram em toda a

299 DALLA COSTA, A .A. Os ministérios leigos. p. 177

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cidade. As trancas e sistemas de alarme se multiplicaram. Os moradores saem menos à rua,

evitam caminhos e lugares escuros ou “desertos”. Nos edifícios residenciais e comerciais há

necessidade de identificação, apresentação de documentos e tiram-se fotos na entrada da

pessoa. A criminalidade está estampada nas manchetes dos jornais e são aberturas dos

noticiários televisivos. “O remédio para a violência é mais violência. Essa alternativa é

defendida por várias figuras públicas, difundidas diariamente em programas de rádio e

televisão de grande audiência, transformada em programa político por candidatos a postos

eletivos”.300

A estrutura paroquial foi o item que menos votos teve (339 pessoas). As pessoas

acreditam na estrutura paroquial? Estão tão presos a ela que ainda não tomaram consciência

disto? Entendem que evangelizar a cidade não consiste em ficar com as igrejas de portas

abertas e igrejas lotadas nos horários de missa? A renovação paroquial subentende a decisão

do pároco, o conhecimento da realidade, o emprego das potencialidades da paróquia, uma

renovação planejada e continuada e, sem dúvida o protagonismo dos leigos.

A estrutura paroquial, embora ainda válida, vem revelando inadequação para

evangelizar esses grandes centros urbanos, onde os meios de comunicação

social exercem grande influência, freqüentemente conflitante com a

mensagem do Evangelho, e superam em eficácia o magistério da Igreja.301

Num mundo globalizado tal como o que vivemos atualmente, o que parece se destacar

é o fato de que as referências não são mais estabelecidas e fixas, mas encontramo-nos frente a

uma multiplicidade sempre maior de modelos, concepções, apelos, veiculados principalmente

pelos diversos canais da mídia, com um intenso bombardeio de informações, motivações e

300 BRANT, V. C. (coord.). São Paulo trabalhar e viver. São Paulo: Brasiliense, 1989. p. 167. 301 CNBB. Pistas para uma pastoral urbana. (Estudos da CNBB n. 22) 37.

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estímulos. Se, anteriormente, éramos orientados via tradição das instituições (família, religião

e escola, quando a ela se tinha acesso), constatamos, em nossos dias, a imensa gama de

material, apelos, propagandas, comportamentos disponíveis para o encantamento e consumo

e, porque não dizer, para o exercício de sua escolha.302

O individualismo (707 pessoas) também merece uma nota de análise, visto que se

apresenta como uma das dificuldades para a ação evangelizadora em São Paulo. Na sociedade

pós-moderna, há uma crise de ideologias. A liberdade de escolha pressupõe ampla gama de

alternativas, ou seja, o pluralismo. Nos últimos anos, sobretudo nas grandes cidades, há uma

ampla possibilidade de escolhas individuais que contribuem para sufocar ou esvaziar o

impulso para mudar a cidade inteira. O indivíduo hoje pensa, antes de tudo, em mudar a si

mesmo ou em realizar o mais amplamente possível seus objetivos pessoais. Na verdade, a

sociedade garante liberdade meramente na esfera do privado.

No plano privado, a liberdade proposta e permitida, até incentivada pela sociedade

de hoje, é ilimitada e sem ética. O indivíduo é apresentado como senhor absoluto de si

mesmo e de seus atos, pelo menos até quando não queira mudar a “ordem” social capitalista.

O processo de que se serve a sociedade de consumo para criar a ilusão da liberdade ilimitada

do indivíduo é complexo. Hoje a comunicação instantânea, em tempo real (on line), com o

mundo inteiro, permite ao indivíduo prescindir da proximidade física. Há uma espécie de

desenraizamento e “desterritorialização” das relações sociais, econômicas, culturais e

religiosas.303

302 CARDIERI, E. Juventude e Vida Religiosa: Enfoques educacionais. In: ANJOS, M. F. dos. (org.). Novas gerações: Pesquisa e análises prospectivas sobre Vida Religiosa no Brasil. 2 ed. Aparecida: Santuário, 2004. p. 117. 303 ANTONIAZZI, A. Perspectivas pastorais a partir da pesquisa. In: CENTRO DE ESTATÍSTICA RELIGIOSA E INVESTIGAÇÕES SOCIAIS. Desafios do catolicismo na cidade: Pesquisa em regiões metropolitanas. São Paulo: Paulus, 2002. p. 258.

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2.4.6. Renovação das comunidades, anúncio e testemunho de Jesus Cristo

Para 638 pessoas a ação evangelizadora da Arquidiocese de São Paulo é ação que

renova a vida das comunidades eclesiais, anuncia e testemunha Jesus Cristo na cidade. Para

597 pessoas esta ação da igreja se dá parcialmente. Apenas 2% das pessoas pesquisadas

disseram que a ação da Igreja de São Paulo não é ação que renova a vida das comunidades.

(Tabela Y).

Das 1260 que responderam apontando sim ou parcialmente para ação da igreja quanto

à renovação das comunidades, anúncio e testemunho de Jesus Cristo 957 pessoas assinalaram

a Liturgia como sinal mais visível da ação da Igreja na evangelização da cidade. (Tabela Y1).

Os trabalhos sociais realizados pela Arquidiocese de São Paulo apresentam-se em

segundo lugar com 780 pessoas que disseram que esta ação da Igreja renova, anuncia e

testemunha Jesus Cristo na cidade.

Os cursos Bíblicos, Escola da Fé, Teologia para Leigos vem em seguida com 736

pessoas que acreditam que com eles a Igreja se renova.

2.4.6.1. Análise das ações de renovação, anúncio e testemunho Jesus Cristo

O apoio espiritual às pessoas foi o item da pergunta menos lembrado como ação da

Igreja (464 pessoas). Há aqui uma pergunta: o item foi menos assinalado porque é menos

importante, ou porque a Igreja de São Paulo tem pouco trabalho de apoio espiritual às pessoas

e nem é reconhecido? Aquilo que é visto é mais lembrado, pois o item Liturgia (Missas e

Celebrações da Palavra) é vivido e visto em todas as Paróquias e Comunidades, inclusive em

lugares públicos e na televisão.

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Total ou parcialmente a pesquisa mostra que a Igreja de São Paulo renova-se nas suas

comunidades, anunciam e testemunham Jesus Cristo na cidade de São Paulo. Uma ação deve

completar a outra, todas estas ações e outras são importantes para que a cidade se torne cada

dia mais humana, fraterna, justa, cristã.

Não há dicotomia entre a palavra falada e a palavra que se faz visível na vida do povo

de Deus. Os homens olharão ao escutarem, e o que eles virem deve estar em consonância com

o que ouvem. Há tempos em que nossa comunicação pode se dar apenas por atitudes e ações,

e há outros em que a palavra falada estará só: mas precisamos repudiar como demoníaca a

tentativa de colocar uma cunha entre evangelização e a preocupação social. 304 A

evangelização não se faz só de atividades, mas de testemunho de vida, porque, na verdade, “a

participação na missão universal não se reduz a algumas atividades particulares, é sinal da

maturidade da fé e de uma vida cristã que produz frutos”.305

O apoio espiritual às pessoas, item da pergunta menos lembrado como ação da Igreja,

merece ser estudado mais profundamente, pois uma das grandes buscas das pessoas urbanas é

o apoio espiritual. Os párocos sabem muito bem disto.

Muitas pessoas procuram as igrejas para serem escutadas e receberem orientações

espirituais para continuarem sua vida. São pessoas que buscam partilhar sua vida e seus

dilemas existenciais, familiares e sociais. É fundamental que a Igreja não se furte desta

responsabilidade e seja promotora de partilha e escuta. “Escutar é obviamente algo que vai

além da possibilidade auditiva de cada um. Escutar no sentido aqui discutido, significa a

disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta, para abertura à fala do outro, ao

gesto do outro, às diferenças do outro”.306

304 BOSCH, D. J. Missão transformadora. p. 486. 305 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 77. 306 FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997. p. 133.

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Para renovação da comunidade há necessidade de uma autêntica solidariedade entre as

diversas comunidades eclesiais. A capacidade de construir a unidade na promoção dos

diferentes carismas, no respeito a sensibilidades e pontos de vista variados, articulando-os no

enfrentamento de necessidades, problemas e desafios. “A fé em Jesus Cristo e na pertença à

sua Igreja, formam o suporte para a comunidade, o vigor que a envolve na totalidade e em

cada um de seus membros, conduzindo-os à participação, à comunhão e à co-

responsabilidade”.307

A Igreja mais do que nunca, precisa se reformular na cidade, em permanente

evangelização. A pastoral de atendimento e o trabalho de manutenção e conservação da

Igreja, na cidade, só se tornam viáveis se estiverem combinados com a evangelização que

desafia a realidade de violência, medo, insegurança e injustiças. Os conceitos antigos de

evangelização devem combinar com as novas necessidades do homem urbano para que a

Igreja continue sua missão. Esta constante reformulação da Igreja e dos agentes

evangelizadores só acontece quando há uma grande paixão pelo Evangelho. Há necessidade

de superar de forma democrática, os limites impostos pelos agentes coordenadores de grupos

de evangelizadores, para conquistar novos afetos e simpatias e o apoio de maior número de

pessoas, para ampliar o modelo de evangelização urbana praticado na Arquidiocese de São

Paulo a partir das deliberações das assembléias arquidiocesanas, regionais, setoriais,

paroquiais e demais organismos da estrutura pastoral.

2.4.7. Notas

A PAESP coletou informações sobre a Arquidiocese de São Paulo. São dados que

revelam a força da Igreja na cidade de São Paulo. Este trabalho se limita a fazer algumas

307 OLIVEIRA, P. A. R. Comunidade Igreja e poder. Revista Eclesiástica Brasileira. Petrópolis: Vozes, Fasc. 186, [jun.] 1987. p. 302.

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análises destas informações, outras são necessárias e urgentes para que a missão de

evangelizar a cidade seja atingida com eficácia neste nosso tempo.

2.4.7.1. Sobre os Conselhos Paroquiais de Pastoral

Foram 22 Conselhos Paroquiais de Pastoral em que foi realizada a PAESP com

conselhos compostos de 09 a 58 pessoas, incluindo o padre. Quais são os critérios observados

em cada paróquia para compor o Conselho Pastoral Paroquial? As nove pessoas reunidas

naquele conselho representam o todo pastoral daquela paróquia? A mesma pergunta é feita

sobre a Paróquia que reúne 58 pessoas? São todas as lideranças da paróquia?

A Arquidiocese de São Paulo não tem orientações claras para as paróquias sobre a

formação, periodicidade e missão dos Conselhos Paroquiais de Pastoral. A constituição do

Conselho acontece segundo a visão de cada pároco ou administrador paroquial. Por quanto

tempo cada membro deve permanecer no Conselho? Sabemos que em algumas paróquias

estas funções são vitalícias o que trás um prejuízo pastoral para a Paróquia e

conseqüentemente no anúncio do Evangelho na cidade, pois os agentes de pastoral depois de

algum tempo se cansam, se frustram, desanimam e acabam achando que tudo está bom. A

Igreja volta-se para suas atividades rotineiras, paroquiais, se esquecendo da sua grande

missão: anunciar Jesus Cristo a todos os povos.

2.4.7.2. Sobre os Conselhos Setoriais de Pastoral

Entre os treze setores pesquisados, encontrou-se reunidos de 10 a 52 pessoas para a

realização do Conselho Setorial de Pastoral. Na Arquidiocese de São Paulo há setores com

maior e com menor número de paróquias o que resulta no número de pessoas. Encontramos

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reunião do Conselho Setorial com 09 padres e apenas um leigo, que tinha a função de

secretariar a reunião. Em geral os conselhos setoriais se reúnem para refletir as propostas

pastorais encaminhadas pelo Conselho de Pastoral de cada Região e isto acontece

mensalmente. A Arquidiocese de São Paulo tem documentos que pautam orientações para a

organização dos Conselhos setoriais quanto a sua composição, periodicidade, manutenção e

missão.308

2.4.7.3. Sobre os Conselhos Regionais de Pastoral

Quanto às regiões episcopais conseguimos realizar a pesquisa em quatro, uma região

não reuniu o Conselho Regional de Pastoral (C.R.P) nenhuma vez durante o ano de 2005 e em

outra, o bispo disse que não haveria possibilidade, pois teria assembléia regional e que não

dispunha de tempo para que a pesquisa fosse realizada, embora o padre coordenador de

pastoral dissesse que haveria possibilidade de “arrumar” tempo, pois a pesquisa poderia

ajudar trabalhos futuros daquela região.

2.4.7.4. Sobre as coordenações dos Movimentos de Apostolado Leigo

Foram 07 grupos de Movimentos pesquisados. Tivemos facilidade de encontrar os

responsáveis por estes grupos e igual agilidade para agendar nossa presença em suas reuniões

para realizar a pesquisa. São grupos organizados, inclusive com pessoas liberadas pelo

movimento para realizar tais trabalhos. Há movimentos que têm boa formação intelectual e

também espiritual, mas com pouco sentido de comunhão eclesial, sobretudo, com pouco

sentido de inserção na Igreja de São Paulo.

308 ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Diretório da coordenação de setor. p. 4.

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2.4.7.5. Sobre as coordenações das Pastorais em nível arquidiocesano

Quanto as Pastorais em nível Arquidiocesano a pesquisa foi realizada em 15 grupos.

Neste nível encontramos as Pastorais Sociais da Arquidiocese de São Paulo. São grupos que

carregam a incumbência de manter viva a luta pelos direitos básicos: à vida, saúde, moradia,

educação, trabalho. Grupos em que o pesquisador encontrou facilidade em realizar a pesquisa,

pois vários responsáveis eram conhecidos seus. As pastorais específicas são hoje o mais

eloqüente testemunho da Igreja que, nos grandes centros urbanos, compreendem o sentido

histórico da irrupção do Reino e aos poucos vai se comprometendo e levando a outros a se

comprometerem na tarefa de edificá-lo através das conquistas do dia-a-dia, que melhoram e

transformam a vida dos filhos mais sofridos de Deus. A força das Pastorais com grupos

específicos de marginalizados e excluídos da cidade, é reconhecida, embora não seja por

todos, animada e incentivada na Igreja de São Paulo.

2.4.7.6. Sobre as coordenações das Associações de fiéis

Entre as Associações de Apostolado leigo quatro grupos foram pesquisados. Há varias

associações na Arquidiocese de São Paulo, mas poucas têm trabalho em grande extensão, a

maioria são grupos pequenos que são conhecidos somente em uma região ou paróquia.

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CONCLUSÃO

Hoje há uma grande busca da felicidade. Apesar de todo o individualismo presente nas

pessoas há comunidades que se unem para conquistar a felicidade. São práticas individuais

vividas dentro de instituições onde as pessoas se encontram e se estimulam mutuamente. São

realidades praticadas em diversas igrejas, sobretudo nas igrejas pentecostais, em comunidades

virtuais, grupos diversos de gênero musical, cinema, jogos, valorização do corpo e da beleza,

uso de entorpecentes. De forma geral, a sociedade exige que todas as pessoas estejam sempre

felizes.

Estamos vivendo numa sociedade de mercado, onde tudo é vendido. O marketing tem

função fundamental neste mercado. Assim, a religião entra hoje na sociedade também como

um produto que é vendido e, não pode ser imposta, tem que seduzir. Seduzem aquelas que

usam o marketing para descobrir o que as pessoas desejam comprar, o que elas precisam, o

que as satisfaz. A regra do mercado é a competição: ganha aquela que tem “produto” bom e

sabe apresentá-lo às pessoas, isto é, seduzi-las. A religião, se quiser ser “vendida” tem que

atender as regras do mercado: seduzir e satisfazer o “cliente”.

Para muitas pessoas, a felicidade está em conquistar bens, bom emprego, dinheiro. As

pessoas fazem até promessas para atingir seus objetivos: é a Teologia da Prosperidade. Porém,

para a Igreja que acredita no Evangelho e que sempre teve como conceito de religião o

compromisso não aceita as regras do mercado e prefere continuar evangelizando através do

anúncio explícito de Jesus Cristo com visitas missionárias às casas das pessoas, diálogo com

outras religiões e do crescente ecumenismo, presente já em diversas igrejas na pluralidade da

cidade. Exercendo o serviço aos mais sofridos e injustiçados - os sem teto, os encarcerados,

pessoas que vivem nas ruas, menores infratores, desempregados, indígenas, mulheres

marginalizadas - e do testemunho de comunhão que acontece no cotidiano dos cristãos

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urbanos em que se dá a valorização das pessoas e dos diversos grupos que trabalham para

construir uma sociedade mais justa, solidária e humana. Por isso, a Igreja se organiza, se

mobiliza, convoca e se reúne para decisões pastorais que venham de encontros às

necessidades do povo e para o fiel cumprimento de sua missão evangelizadora.

A Igreja de São Paulo enfrenta os problemas sofridos também em outras dioceses,

onde, de modo geral as assembléias de planejamento pastoral pecam por excesso de idealismo

ou irrealismo. São falas, reflexões, exposições para um mundo ideal que não existe. Isso

porque se pensa em uma Igreja ideal, que também não existe. Há uma distância muito grande

entre a Igreja apresentada nos documentos eclesiásticos, nos planos de pastoral e a Igreja real,

que tem ação através dos agentes evangelizadores.

Ao propor os planos de pastoral, as coordenações, conselhos e pessoas “delegadas”

são impulsionados por grande beleza espiritual e motivações que não levam em consideração

outros argumentos e reflexões sobre o homem e sua vida na realidade urbana. Muitas dessas

reflexões são produzidas pelo clero, que vive em realidade bastante diferente da vivida pelo

povo sofrido, carente dos direitos básicos à vida. Por isso, o que é planificado ou planejado,

na realidade não atende às expectativas dos agentes evangelizadores e muito menos das

outras pessoas que os recebem, vêem e julgam as ações da Igreja.

Os bispos e os padres não têm conhecimento de toda a realidade que envolve a vida da

pessoa paulistana em seus aspectos humano-afetivos, existenciais, econômicos, culturais ou,

sociais e devem ser despertados para valorizar as ciências sociais, que muito contribuirão para

decifrar a sociedade, clarear a visão e responder a muitas das dificuldades encontradas pelos

agentes evangelizadores na cidade de São Paulo, para que a ação evangelizadora seja eficaz e

atinja a todos, transformando a sociedade.

Na ação da Igreja no dia-a-dia, as diretrizes pastorais defendidas com tanta convicção

nas reuniões e assembléias pastorais simplesmente não têm poder sobre a ação dos

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evangelizadores e desaparecem, enquanto outras diretrizes e princípios mais urgentes,

concretos e necessários, entram na pauta das reuniões dos conselhos e coordenações pastorais

da Arquidiocese de São Paulo.

O 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo, objeto deste estudo, apresenta o

objetivo da ação pastoral em dois pólos: o da evangelização e o da solidariedade. O pólo da

evangelização define o que é: evangelizar, renovar as comunidades eclesiais e anunciar e

testemunhar Jesus Cristo com ardor missionário. O pólo da solidariedade reflete: a

necessidade de ouvir e responder aos clamores do povo marginalizado e excluído da

sociedade na cidade de São Paulo.

O 8º Plano de Pastoral apresenta fundamentação bíblica e teológica, pois há inserção

de textos bíblicos que justificam a ação proposta pelo Plano com reflexões teológicas

contundentes, trazendo sempre preocupações da realidade da cidade de São Paulo e seus

desafios. São apresentadas ações que “responderiam” aos apelos da sociedade, de forma

especial aos clamores do povo marginalizado e excluído do mundo do trabalho, da saúde, da

moradia e da educação. O documento informa a população de cada região episcopal sobre sua

área geográfica correspondente, apresenta a estrutura organizacional da Arquidiocese de São

Paulo - regiões episcopais, setores, paróquias e Comunidades Eclesiais de Base – e também o

número de padres, religiosos e religiosas presentes na Arquidiocese de São Paulo. O texto não

traz informações sobre: as Pastorais em nível arquidiocesano, os Movimentos de Apostolado

leigo, as Associações de fiéis, os organismos e os serviços que tem trabalhos evangelizadores

na Igreja de São Paulo. Da mesma forma, também não faz referência aos leigos, não sugere

quantos estão comprometidos na evangelização na cidade de São Paulo e nem impulsiona

para o seu protagonismo.

Há a necessidade dos evangelizadores da Arquidiocese de São Paulo tomarem parte de

modo cada vez mais nas atividades sociais, para buscar uma sociedade alternativa àquela

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proposta pelo sistema neoliberal, que exclui Deus e o homem. Uma tarefa que significa

alimentar sempre a esperança do povo, constituindo pequenas comunidades, para que as

pessoas possam se conhecer, aprofundar, conviver e vivenciar os ensinamentos evangélicos na

sociedade. Para isso, é necessário investir na formação de muitos agentes evangelizadores e,

isso só será possível com a valorização dos leigos e leigas e com a co-responsabilidade em

decisões e encaminhamentos hoje reservados quase que exclusivamente ao clero. Enfim, é

desejável enxergar além daquilo que se vê da porta da Igreja, superar os limites paroquiais e

“avançar para águas mais profundas”, influir na administração da cidade, seja no nível

governamental ou através do testemunho de milhares de homens e mulheres que trabalham,

lutam e constroem esta cidade.

A Igreja necessita dar testemunho cristão na sociedade urbana e, ela tem autoridade

para isto, através da presença que tem em toda a cidade e, da comunhão e da participação que

pode proporcionar às pessoas com agentes mais acolhedores, serviçais, ativos e

comprometidos com a missão de anunciar a Boa Notícia, Jesus Cristo a todas as pessoas.

Desta forma, poderá promover a cidadania, agir e interagir em todos os espaços urbanos, não

com a atitude de manipular ou monopolizar os discursos, mas de contribuir com ensinamentos

evangélicos para o crescimento humano das pessoas urbanas.

Várias CEBs e pastorais sociais muito tem colaborado na luta por melhores condições

de vida na cidade. Proteção à natureza, luta por direitos básicos como saúde, moradia,

educação, direitos humanos, transporte e, não discriminação das pessoas são algumas das

participações da Igreja na conquista de dignidade para os moradores da cidade de São Paulo.

Existe aí um amadurecimento da consciência social, da fé e das formas concretas que ela

assume. São dimensões da vida social que se impõem às comunidades cristãs de fora para

dentro, questionam a fé e são concretizadas na solidariedade e em manifestações pela

transformação social.

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O individualismo apontado na PAESP como uma das dificuldades que o evangelizador

encontra para sua ação, está presente também nos diversos grupos que se formam na

Arquidiocese de São Paulo. Há nestes grupos preocupação em cumprir os “seus” objetivos e

atividades, o que dificulta encontrar tempo e despertar pessoas para o compromisso com o

Plano de Pastoral e suas diretrizes.

Permanece, portanto, o desafio de articular toda a estrutura organizacional da

evangelização para dinamizar os trabalhos exercidos com zelo e sabedoria, que perdem sua

força diante da imensidão da cidade e dos desafios que ela apresenta. A unidade da prática

evangelizadora está ameaçada por fenômenos vividos pelas pessoas que agem em nome da

Igreja e que trazem, é claro, características da pessoa urbana, entre elas destacando-se o

individualismo.

A pessoa urbana tem o poder e é capaz de definir o que é importante para si, assim

como o que é importante realizar dentro de uma imensa possibilidade de ações e o jeito como

deve agir na Igreja. Sua fé permite estas atitudes e ela age, assim, sem dramas de consciência.

No passado, a comunidade eclesial era o mesmo lugar da moradia, o território onde

estava localizada a sede paroquial. Hoje, esta não é mais a principal característica da

comunidade. A dimensão social da Igreja hoje está ligada ao “sentir se bem” e, independente

do local onde a pessoa mora. O mundo em que as pessoas convivem não coincide mais com o

território. Há na realidade urbana dos grandes centros uma agrupação de pessoas que sugere

mudanças na estrutura organizacional da Igreja. Mas a comunhão eclesial não está

prejudicada por estas circunstâncias, pois a comunhão é medida pelos atos de fé e pelo

testemunho cristão na sociedade.

Em nossas sedes paroquiais e CEBs, participam dos sacramentos e de outras

atividades litúrgicas ou pastorais pessoas que já residiram naquele território paroquial, mas

agora moram em lugares distantes. Entretanto, preferem continuar freqüentando aquela

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comunidade simplesmente porque ali se sentem bem. Ao mesmo tempo, há pessoas que não

se “identificam” com o padre ou com pessoas daquela comunidade eclesial e decidem migrar

para outras paróquias, onde se sentem acolhidas e valorizadas e, encontram o “seu” espaço.

Além disso, como temos visto nos estudos do CERIS, um trânsito não somente entre as

comunidades católicas, mas igualmente uma migração muito grande para outras igrejas e

religiões, o que é mais grave.

Embora a Arquidiocese de São Paulo tenha acompanhado a crescente urbanização pela

qual a cidade de São Paulo tem passado nas últimas décadas, ainda permanece um ranço rural.

No imaginário dos agentes evangelizadores, talvez ainda exista uma comunidade rural. As

atividades são pensadas para grupos restritos de pessoas que vivem em locais próximos. No

meio urbano, há enorme possibilidade de comunicação, mas ainda há comunidades que tem

vida isolada, independentemente de toda organização pastoral proposta pela Arquidiocese.

Nos centros urbanos, não há mais fronteiras claras que delimitam territórios.

Para o efetivo cumprimento da missão evangelizadora, a comunicação entre os

membros da Igreja poderia tornar-se uma multiplicidade de ligações com diversas expressões

ou instâncias eclesiais, possibilitar a constituição de pequenas comunidades com formação e

compromissos, onde se poderá viver uma eclesialidade rica e profunda, articulada com toda a

Igreja arquidiocesana em sua diversidade. Alguns estudiosos chamam esta possibilidade de

vivência da fé nos grandes centros urbanos de “rede de comunidades”.

Há atualmente um enfraquecimento da política, do interesse de participação nas

funções públicas e pelo bem comum. Cada um procura e defende o interesse do seu grupo. A

sociedade apresenta hoje para o cristianismo, o grande desafio de reconstruir a solidariedade e

a responsabilidade pelo bem comum e público.

A Arquidiocese de São Paulo, por meio das pastorais sociais, vem tentando promover

a justiça e salvaguardar o direito comum a todas as pessoas. Agentes evangelizadores se

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organizam em grupos pastorais para lutar pela moradia, atendimento médico e hospitalar,

educação e outras políticas públicas que contribuam para promover e conquistar a dignidade

das pessoas na cidade de São Paulo. Caminhos são percorridos por diversas lideranças,

inclusive na esfera política, como meio de condução para o Cristo e seu Evangelho. Diversos

grupos evangelizadores estão inseridos na problemática da cidade, na ânsia de levantar os

“derrubados” pelo sistema que fere a dignidade da pessoa e subtrai seus direitos.

A Igreja de São Paulo tem descoberto que não constitui espaço separado do mundo,

mas é parte da história da cidade e constrói história a partir de sua inserção na vida das

pessoas, no governo, enfim, na vida pública da cidade. Para isso, é indispensável conhecer a

realidade e buscar estratégias nas ações com a pedagogia que brota da fé.

Há ainda um longo caminho a ser percorrido na transformação das relações entre

clérigos e o laicato na Arquidiocese de São Paulo. Laicato este que se apresenta muito passivo

em relação à vida eclesial e à ação evangelizadora. A PAESP trouxe dados que revelam a

necessidade de uma participação mais ativa dos leigos nas assembléias arquidiocesanas, nos

planejamentos das ações evangelizadoras e nas outras instâncias de decisão das comunidades

eclesiais, assim como nos encaminhamentos das propostas, apesar de grande presença nos

serviços propostos pela Igreja.

Embora o Código de Direito Canônico determine a criação obrigatória de conselhos

diocesanos e paroquiais para consultas nas decisões, sejam elas administrativas ou pastorais,

ainda há na Igreja de São Paulo paróquias que não constituíram tal conselho. Um fato

constatado pelo pesquisador durante a tentativa de agendamento de reuniões do Conselho

Paroquial para realização da PAESP. Cabe ressaltar que as decisões arbitrárias de clérigos,

que sozinhos decidem a vida pastoral de uma paróquia, empobrecem o potencial

evangelizador não somente de um território, mas de uma porção muito grande da sociedade,

pois quando os leigos não contribuem com suas reflexões teológicas e idéias na elaboração

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195

das diretrizes da ação, perde-se o poder de influir na vida pública da cidade, exatamente onde

os leigos inseridos todos os dias: trabalho, escola, governo, lazer, cultura.

Nas CEBs, os leigos são mais valorizados e tem mais oportunidades para exercer o seu

ministério, primeiro pela própria identidade destas e depois, pelo fato de que o grande número

de comunidades em uma paróquia limita o padre em sua capacidade de interferir em todas

decisões e ações. Deve-se levar em consideração o excesso de trabalho dos párocos e

administradores paroquiais, que tem seu tempo tomado por tarefas rotineiras, freqüentemente

administrativas, e por inúmeras reuniões com os diversos grupos pastorais existentes na

Paróquia. Assim, sobrecarregados e esgotados pelo excesso de tarefas, tem dificuldade para

inovar e, deste modo ajudar a paróquia a obter sucesso em sua missão de evangelizar.

Pensar a reorganização das paróquias no sentido de descentralizar responsabilidades,

conquistar novos ânimos para a ação evangelizadora e chegar às pessoas que não freqüentam

nossas liturgias, suscitando a confiança das pessoas com encanto e, testemunhar na vida

pública o Evangelho de Jesus com atitudes de uma vida verdadeiramente cristã. Estes devem

ser alguns dos caminhos que a Igreja poderia trilhar para adaptar-se às condições objetivas da

sociedade urbana. Há uma necessidade de despertar a consciência para o “coletivo” em cada

fiel, respeitando a sua individualidade através da Palavra, dos Sacramentos, da formação e do

testemunho comunitário. É sempre bom lembrar que as múltiplas experiências na ação

evangelizadora têm várias formas de se apresentar e muitas maneiras de serem vistas pelos

observadores. Inovar e ousar arriscar-se a experimentar novas experiências pastorais é uma

forma de oxigenar a atuação da Igreja nas cidades de grande porte.

A estrutura organizacional da Arquidiocese de São Paulo, no que diz respeito à ação

pastoral, é enorme e tem capacidade para atingir toda a cidade, visto que está presente através

das paróquias e Comunidades Eclesiais de Base em todo o território que a compreende, ao

lado das ações em diversos setores da sociedade por meio de pastorais, associações de fiéis e

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movimentos de apostolado leigo, além de outros organismos, equipamentos e serviços que

não foram abordados neste estudo, mas que tem grande penetração na sociedade paulistana,

como: a Rádio 9 de Julho, o Jornal O São Paulo, escolas e faculdades católicas, hospitais de

congregações religiosas, entre outros. Um comprometimento maior de toda a estrutura eclesial

presente na Arquidiocese de São Paulo, com toda a tecnologia disponível no mercado,

sobretudo na área da comunicação, acarretaria em resultados jamais vistos e ampliaria o

espaço – concreto ou virtual – da evangelização.

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APÊNDICE I - Pesquisa de Campo – Questionário 201 II - Pesquisa de campo – Tabelas e Gráficos 203 l. Estrutura organizacional e perfil dos evangelizadores 203 1.1. Tabela A – Instância da organização pastoral da Arquidiocese 203 1.2. Tabela B – Região episcopal a qual pertencem os evangelizadores 204 1.3. Perfil dos evangelizadores quanto à idade e sexo 205 1.3.1. Tabela C – Idade dos pesquisados 205 1.3.2. Tabela D – Atuação dos agentes evangelizadores pesquisados 206 2. Centralização administrativa na Cúria arquidiocesana 207 2.1. Tabela E – Mudanças na ação evangelizadora da Arquidiocese de São Paulo 207

2.1.1. Tabela El – Mudanças positivas ou negativas 207 2.2. Tabela F – Mudanças na ação evangelizadora por atuação pastoral 208 2.3. Tabela G – Mudanças na evangelização por instância evangelizadora 209 3. Conhecimento do 8º Plano de Pastoral 210 3.1. Tabela H – Conhecimento do 8º Plano de Pastoral pelos pesquisados 210 3.2. Tabela I – Conhecimento do 8º Plano por Região Episcopal 211 3.3. Tabela J – Conhecimento do 8º Plano por instância evangelizadora 212 3.4. Tabela K – Conhecimento do 8º Plano por condição hierárquica 213 3.5. Participação dos evangelizadores em 2000-2002 214 3.5.1. Tabela L – Participação dos pesquisados na vigência do 8º Plano 214 3.5.2. Tabela M – Participação na evangelização em 2000-2002 por atuação 215 3.6. Participação na elaboração, estudos e avaliação do 8º Plano 216 3.6.1. Tabela N – Participação na elaboração do 8º Plano de Pastoral 216 3.7. Tabela O – Participação nos estudos do 8º Plano de Pastoral 217

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3.7.1. Tabela Ol – Estudos do 8º Plano em nível 217 3.8. Tabela P – Participação na avaliação do 8º Plano 218 3.9. Tabela Q – Responsabilidade pelo não conhecimento do Plano de Pastoral 219 4. Igreja Profética na cidade de São Paulo 220 4.1. Tabela R – Profetismo da Igreja para os pesquisados 220 4.2. Tabela S – Profetismo da Igreja por atuação pastoral 221 4.3. Tabela T – Conhecimento da realidade da cidade de São Paulo 222 4.4. Tabela U – Importância do Plano para os agentes evangelizadores 223 4.5. Tabela V – Ações da Igreja que sinalizam a evangelização 224 4.6. Solidariedade e ações transformadoras 225 4.6.1. Tabela X – A Igreja de São Paulo é solidária e tem ações transformadoras 225 4.6.1.l. Tabela X1 – Com quais grupos de marginalizados e excluídos 225 5. Tabela W - Dificuldades para a evangelizar a cidade de São Paulo 226 6. Renovação das comunidades 227 6.1. Tabela Y - Renovação, anúncio e testemunho de Jesus Cristo 227 6.1.1. Tabela Y1 – Sinais de renovação, anúncio de testemunho de Jesus Cristo 227 III – Entrevistas 228 1. Entrevista com Monsenhor Sérgio Conrado 228 2. Entrevista com Monsenhor Tarcísio Justino Loro 232

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I - Pesquisa de campo - Questionário Dissertação de Mestrado em Teologia (Missiologia) de: Marcelo Álvares Matias Pesquisa realizada em: ____/____/2005. Região Episcopal:__________________ Já respondeu esta pesquisa em outra instância? ( ) Sim ( ) Não Idade:______ Instância: Atuação Pastoral: Conselho Paroquial de Pastoral ( ) Bispo ( ) Conselho Setorial de Pastoral ( ) Padre ( ) Conselho Regional de Pastoral ( ) Religioso ( ) Associação em nível arquidiocesano ( ) Religiosa ( ) Movimento em nível arquidiocesano ( ) Leigo ( ) Pastoral em nível arquidiocesano ( ) Leiga ( ) Leiga consagrada ( )

1. Conhece o 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo ( 2001- 2002)?

( ) Sim ( ) Não 2. Participava dos trabalhos da Igreja de São Paulo (Pastoral/Movimento/Associação, Comunidade,

Paróquia, Setor ou Região) na evangelização da cidade no período de 2000 - 2002? ( ) Sim ( )Não

3. Participou da elaboração do 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo?

( ) Sim ( ) Não ( ) Não lembro

4. Estudou o 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não lembro

Se estudou, foi em nível: ( )paroquial ( )setorial ( )regional ( )pastoral/assoc./mov. ( )Outros 5. Participou do processo de avaliação do 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo?

( ) Sim ( ) Não ( ) Não lembro

6. Se você é atuante na Igreja de São Paulo e não participa da elaboração, estudos, e avaliação do Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo isso se deve a que/quem? ( ) ao padre ( ) ao bispo/arcebispo ( ) a você mesmo ( ) ao Secretariado Arquidiocesano de Pastoral ( ) a Coordenação Regional de Pastoral ( ) a Coordenação Setorial de Pastoral ( ) a Coordenação Arquidiocesana da pastoral/associação/movimento que você participa ( ) para a sua comunidade/grupo/pastoral/associação/movimento o Plano de Pastoral da Arquidiocese

não tem importância para os trabalhos de evangelização na cidade

7. A Igreja de São Paulo tem sido profética nas denúncias de injustiças e no anúncio de uma sociedade humana, fraterna e justa? ( ) Sim ( ) Não

8. No seu entendimento a Igreja de São Paulo tem conhecimento da realidade da cidade de São

Paulo? ( ) Sim ( ) Não ( ) Tem conhecimento parcial

9. O Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo é importante para o trabalho de evangelização

da cidade? ( ) Sim ( ) Não

10. Houve mudança na ação pastoral da Igreja de São Paulo a partir da centralização da

administração econômica na Cúria Arquidiocesana? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não tenho conhecimento da centralização administrativa

Se houve mudanças, estas foram: ( ) Positivas ( ) Negativas

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11. Quais ações da Igreja você aponta como sinais de que a Arquidiocese de São Paulo está evangelizando a cidade de São Paulo? ( ) Missas em lugares públicos ( ) Visitas missionárias (Residências, Hospitais, Presídios, Escolas...) ( ) Meios de Comunicação da Igreja (Rádio 9 de Julho, Jornal “O São Paulo”...) ( ) Distribuição de panfletos (Finados, Semana Santa, N. S. Aparecida....) ( ) Presença e apoio aos Movimentos Populares (Saúde, Moradia, Educação, Transporte...) ( ) Diálogo com outras igrejas e religiões ( ) Formação dos leigos e leigas ( ) Participação política

( ) Pastorais e Serviços (Catequese, Crisma, Batismo, Vocacional, Saúde e Enfermos, Juventude, Familiar, Missionária, CLASP, Cáritas, COMIAR, ...) ( ) Pastorais Sociais (da Criança, do Menor, Carcerária, do Povo da Rua, Afro, Indigenista, Moradia, Mulher Marginalizada, Mundo do Trabalho, 3ª Idade, Fé e Política, Migrantes ...) ( ) Associações e Movimentos de Apostolado Leigo (Focolari, Legião de Maria, Damas da Caridade, Fraternidade Cristã de Deficientes, Movimento de Schoenstatt, E.C.C., Apostolado da Oração, Renovação Carismática, Sociedade São Vicente de Paulo...)

( ) Outros______________________________________________________________________ 12. Quais são as maiores dificuldades para evangelizar a cidade?

( ) Violência/insegurança social ( ) Distância/meios de transporte ( ) Medo ( ) Despreparo dos agentes de pastoral (bispos, leigos(as), religiosas(os), padres) ( ) Falta de comunicação na estrutura da Igreja ( ) Desemprego ( ) Poucos recursos financeiros da Igreja ( ) Desigualdade social ( ) Comodismo das pessoas ( ) Individualismo ( ) Centralização de poder na hierarquia da Igreja ( ) Crescimento de outras igrejas cristãs ( ) Falta de um efetivo incentivo/testemunho vocacional ( ) Número reduzido de leigos(as) comprometidos(as) com os trabalhos da igreja ( ) A estrutura paroquial/priorização das atividades paroquiais ( ) Dificuldade em constituir pequenas comunidades e grupos de vivência ( ) Consumismo/cultura do descartável ( ) Outros______________________________________________________________________

13. A Igreja de São Paulo tem ações solidárias e transformadoras diante dos clamores do povo marginalizado e excluído? ( )Sim ( )Não

Se a sua resposta for afirmativa, assinale com quais grupos de marginalizados e excluídos. ( )do mundo do trabalho ( )da saúde ( )da moradia ( )da educação ( )outros

14. A ação evangelizadora da Arquidiocese de São Paulo é ação que renova a vida das comunidades

eclesiais, anuncia e testemunha Jesus Cristo na cidade? ( )Sim ( )Não ( )Parcialmente Se você respondeu sim ou parcialmente, isto se dá: ( ) pela Liturgia (Missas e Celebrações da Palavra) ( ) pelos Sacramentos ( ) pelos trabalhos sociais ( ) pelo apoio espiritual as pessoas ( ) pela acolhida ( ) pela oração ( ) pela valorização dos leigos e leigas ( ) pela solidariedade ( ) pelos cursos: Bíblicos, Teologia para Leigos, Escolas da Fé.... ( )outros_________________________________________________________

15. Deseja comentar algo mais sobre a ação evangelizadora da Igreja na cidade de São Paulo?

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II – Pesquisa de campo - Tabelas e Gráficos

1. Estrutura organizacional e perfil dos evangelizadores

1.1. Tabela A

Instância da organização pastoral da Arquidiocese

INSTÂNCIAS PESQUISADOS PERCENTUAL % VALIDA VÁLIDOS CPP 551 42,2 42,2 CSP 284 21,8 21,8 CRP 143 11 11 ASSOCIAÇÃO 48 3,7 3,7 MOVIMENTOS 100 7,7 7,7 PASTORAIS 179 13,7 13,7 TOTAL 1305 100 100

GRÁFICO A

0

10

20

30

40

50

CPP

CSP

CR

P

ASS

OC

IAÇ

ÃO

MO

VIM

EN

TO

S

PAST

OR

AIS

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202

1.2. Tabela B

Região Episcopal a qual pertencem os evangelizadores

REGIÕES PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA VÁLIDOS BELÉM 284 21,8 21,9 BRASILÂNDIA 201 15,4 15,5 IPIRANGA 233 17,9 18 LAPA 93 7,1 7.2 SANTANA 163 12,5 12.6 SÉ 323 24,8 24,9 TOTAL 1297 99,4 100BRANCOS 8 0,6 TOTAL

GRÁFICO B

0

10

20

30

BE

M

BR

ASI

ND

IA

IPIR

AN

GA

LA

PA

SAN

TA

NA SÉ

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203

1.3. Perfil dos evangelizadores quanto a idade e sexo

1.3.1.Tabela C

Idade dos pesquisados

FAIXA ETÁRIA PESQUISADOS % 01 A 25 ANOS 89 6,8226 A 35 ANOS 97 7,4336 A 45 ANOS 227 17,3946 A 55 ANOS 359 27,5156 A 65 ANOS 291 22,30ACIMA DE 66 ANOS 191 14,64BRANCOS 51 3,91 TOTAL 1305 100.00

GRÁFICO C

050

100150200250300350400

01 A

25

AN

OS

26 A

35

AN

OS

36 A

45

AN

OS

46 A

55

AN

OS

56 A

65

AN

OS

AC

IMA

DE

66

AN

OS

BR

AN

CO

S

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204

1.3.2.Tabela D

Atuação dos agentes evangelizadores pesquisados

ATUAÇÃO PESQUISADOS PERCENTUAL % VÁLIDOS VÁLIDOS BISPO 2 0,2 0,2 PADRE 123 9,4 10,1 RELIGIOSO 13 1 1,1 RELIGIOSA 42 3,2 3,4 LEIGO 356 27,3 29,1 LEIGA 675 51,7 55,2 LEIGA CONSAGRADA 11 0,8 0,9 TOTAL 1222 93,6 100 BRANCOS 83 6,4 TOTAL 1305 100

GRÁFICO D

0

10

20

30

40

50

60

BIS

PO

PAD

RE

RE

LIG

IOSO

RE

LIG

IOSA

LE

IGO

LE

IGA

LE

IGA

CO

NSA

GR

AD

A

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2. Centralização administrativa na Cúria arquidiocesana

2.1. Tabela E

Mudanças na ação evangelizadora da Arquidiocese de São Paulo

PESQUISADOS PERCENTUAL % VÁLIDAVÁLIDOS SIM 406 31,1 32,6 NÃO 71 5,4 5,7 NÃO TEM CONHEC. 769 58,9 61,7 TOTAL 1246 95,5 100BRANCOS 59 4,5 TOTAL 1305 100

2.1.1. Tabela E1 – Mudanças positivas ou negativas

POSITIVAS NEGATIVAS VÁLIDOS 218 138BRANCOS 1087 1167

GRÁFICO E

010203040506070

SIM NÃO NÃO TEMCONHEC.

GRÁFICO E1

0

50

100

150

200

250

POSITIVAS NEGATIVAS

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2.2. Tabela F

Mudanças na ação evangelizadora por atuação pastoral

POSITIVAS NEGATIVAS TOTAL BISBO 1 1 2PADRE 22 47 69RELIGIOSO 1 3 4RELIGIOSA 4 11 15LEIGO 58 25 83LEIGA 117 44 161LEIGA CONSAGRADA 2 2 4 TOTAL 205 133 338

GRÁFICO F

020406080

100120140

BIS

BO

PAD

RE

RE

LIG

IOSO

RE

LIG

IOSA

LE

IGO

LE

IGA

LE

IGA

CO

NSA

GR

AD

A

POSITIVASNEGATIVAS

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2.3.Tabela G

Mudanças na evangelização por instância evangelizadora

POSITIVA % NEGATIVA % TOTAL INSTÂNCIA CPP 93 75,61 30 24,39 123 CSP 51 67,11 25 32,89 76 CRP 26 46,43 30 53,57 56 ASSOCIAÇÃO 8 44,44 10 55,56 18 MOVIMENTO 14 77,78 4 22,22 18 PASTORAL 26 40,00 39 60,00 65 TOTAL 218 61,24 138 38,76 356

GRÁFICO G

0102030405060708090

100

CPP

CSP

CR

P

ASS

OC

IAÇ

ÃO

MO

VIM

EN

TO

PAST

OR

AL

POSITIVANEGATIVA

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3. Conhecimento do 8º Plano de Pastoral

3.1. Tabela H

Conhecimento do 8º Plano de Pastoral pelos pesquisados

PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA VÁLIDOS SIM 431 33 34,6 NÃO 815 62,5 65,4 TOTAL 1246 95,5 100 BRANCOS 59 4,5 TOTAL 1305 100

GRÁFICO H

010

2030

4050

6070

SIM NÃO

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3.2. Tabela I

Conhecimento do 8º Plano por Região Episcopal

CONHECE 8º PLANO SIM SIM% NÃO NÃO% TOTALBELÉM 108 39,42 166 60,58 274BRASILÂNDIA 63 33,33 126 66,67 189IPIRANGA 91 40,44 134 59,56 225LAPA 22 25,00 66 75,00 88SANTANA 61 38,85 96 61,15 157SÉ 85 27,87 220 72,13 305 TOTAL 430 34,73 65,27 1238

TABELA I

0

50

100

150

200

250

BE

M

BR

ASI

ND

IA

IPIR

AN

GA

LA

PA

SAN

TA

NA SÉ

SIMNÃO

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210

3.3. Tabela J

Conhecimento do 8º Plano por instância evangelizadora

CONHECE O 8º PLANO SIM SIM% NÃO NÃO% TOTAL CONSELHO PAROQUIAL DE PASTORAL

125 26,63 404 76,37 529

CONSELHO SETORIAL DE PASTORAL

109 41,44 154 58,56 263

CONSELHO REGIONAL DE PASTORAL

78 57,78 57 42,22 135

ASSOCIAÇÃO EM NÍVEL ARQUIDIOCESANO

15 33,33 30 66,67 45

MOVIMENTO EM NÍVEL ARQUIDIOCESANO

25 26,04 71 73,96 96

PASTORAL EM NÍVEL ARQUIDIOCESANO

79 44,38 99 55,62 178

TOTAL 431 34,59 815 65,41 1246

GRÁFICO J

050

100150200250300350400450

Con

selh

oPa

roqu

ial d

ePa

stor

al

Con

selh

oR

egio

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ePa

stor

al

Mov

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ível

Arq

uidi

oces

ano

SIM NÃO

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211

3.4. Tabela K

Conhecimento do 8º Plano por condição hierárquica

CONHECE O 8º PLANO SIM SIM% NÃO NÃO% TOTAL BISPO 1 50,00 1 50,00 2PADRE 103 84,43 19 15,57 122RELIGIOSO 2 15,38 11 84,62 13RELIGIOSA 20 52,63 18 47,37 38LEIGO 102 29,39 245 70,61 347LEIGA 177 27,74 461 72,26 638LEIGA CONSAGRADA 6 54,55 5 45,45 11 TOTAL 411 35,10 760 64,90 1171

GRÁFICO K

050

100150200250300350400450500

BIS

PO

PAD

RE

RE

LIG

IOSO

RE

LIG

IOSA

LE

IGO

LE

IGA

LE

IGA

CO

NSA

GR

AD

A

SIMNÃO

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212

3.5. Participação dos evangelizadores em 2000-2002

3.5.1. Tabela L

Participação dos pesquisados na vigência do 8º Plano

PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA VÁLIDOS SIM 876 67,1 69,3 NÃO 388 29,7 30,7 TOTAL 1264 96,9 100 BRANCOS 41 3,1 TOTAL 1305 100

GRÁFICO L

01020304050607080

SIM NÃO

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213

3.5.2 Tabela M

Participação na evangelização em 2000-2002 por atuação

PARTICIPAÇÃO SIM SIM% NÃO NÃO% TOTAL ATUAÇÃO BISPO 1 50,00 1 50,00 2 PADRE 95 77,87 27 22,13 122 RELIGIOSO 6 46,15 7 53,85 13 RELIGIOSA 27 64,29 15 35,71 42 LEIGO 230 66,67 115 33,33 345 LEIGA 460 70,34 194 29,66 654 LEIGA CONSAGRADA 10 90,91 1 9,09 11 TOTAL 829 69,72 360 30,28 1189

GRÁFICO M

0102030405060708090

100

BIS

PO

PAD

RE

RE

LIG

IOSO

RE

LIG

IOSA

LE

IGO

LE

IGA

LE

IGA

CO

NSA

GR

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A

SIM %NÃO%

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214

3.6. Participação na elaboração, estudos e avaliação do Plano

3.6.1. Tabela N

Participação na elaboração do 8º Plano de Pastoral

PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA VÁLIDOS SIM 142 10,9 11,2 NÃO 983 75,3 77,6 NÃO LEMBRO 142 10,9 11,2 TOTAL 1297 97,1 100 BRANCOS 38 2,9 1305 100

GRÁFICO N

0

10

20

30

40

50

60

70

80

SIM NÃO NÃO LEMBRO

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3.7. Tabela O

Participação nos estudos do 8º Plano de Pastoral

PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA

VÁLIDOS SIM 293 22,5 23,1 NÃO 846 64,8 66,7 NÃO LEMBRO 130 10 10,2 TOTAL 1269 97,2 100

BRANCOS 36 2,8

TOTAL 1305 100

3.7.1. Tabela O1 – Estudos do 8º Plano de Pastoral em nível

PAROQUIAL SETORIAL REGIONAL PAST/ASSOC OUTROS VÁLIDOS 119 75 76 46 34

GRÁFICO O

0

10

20

30

40

50

60

70

SIM NÃO NÃO LEMBRO

GRÁFICO O1

0

40

80

120

160

PAR

OQ

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L

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L

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PAST

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216

3.8. Tabela P

Participação na avaliação do 8º Plano

PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA

VÁLIDOS SIM 150 11,5 11,9 NÃO 960 73,6 76,2 NÃO LEMBRO 150 11,5 11,9 TOTAL 1260 96,6 100

BRANCOS 45 3,4

TOTAL 1305 100

GRÁFICO P

0

10

20

30

40

50

60

70

80

SIM NÃO NÃO LEMBRO

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3.9. Tabela Q

Responsabilidade pelo não conhecimento do Plano de Pastoral

PADRES BISPOS SECRE. ARQUID.

CRP CSP COORD. ARQUID.

VOCÊ MESMO

SEM IMPORTÂNCIA PARA A COMUNIDADE

Válidos 238 69 660 67 110 107 111 61Brancos 1067 1236 645 1238 1195 1198 1194 1244

GRÁFICO Q

0

100

200

300

400

500

600

700

PAD

RE

S

VO

ME

SMO

CR

P

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OR

D.

AR

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ID.

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4. Igreja profética na cidade de São Paulo

4.1. Tabela R

Profetismo da Igreja para os pesquisados

PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA

VÁLIDOS SIM 965 73,9 78,6 NÃO 262 20,1 21,4 TOTAL 1227 94 100 BRANCOS 78 6 TOTAL 1305 100

GRÁFICO R

0

10

20

30

40

50

60

70

80

SIM NÃO

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4.2. Tabela S

Profetismo da Igreja por atuação pastoral

IGREJA PROFÉTICA SIM NÃO TOTAL

BISPO 2 2 PADRE 84 29 113 RELIGIOSO 9 4 13 RELIGIOSA 36 5 41 LEIGO 273 69 342 LEIGA 492 135 627 LEIGA CONSAGRADA 3 5 8

TOTAL 899 247 1146

GRÁFICO S

0100200300400500600

BIS

PO

PAD

RE

RE

LIG

IOSO

RE

LIG

IOSA

LE

IGO

LE

IGA

LE

IGA

CO

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GR

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A

SIMNÃO

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4.3. Tabela T

Conhecimento da realidade da cidade de São Paulo

PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA

VÁLIDOS SIM 689 52,8 54,2 NÃO 58 4,4 4,6 PARCIAL 524 40,2 41,2 TOTAL 1271 97,4 100 BRANCOS 34 2,6 TOTAL 1305 100

GRÁFICO T

0

10

20

30

40

50

60

SIM NÃO PARCIAL

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221

4.4. Tabela U

Importância do Plano para os agentes evangelizadores

O PPA É IMPORTANTE PARA

EVANGELIZAR A CIDADE SIM NÃO TOTAL

BISPO 2 2 PADRE 116 4 120 RELIGIOSO 13 13 RELIGIOSA 42 42 LEIGO 335 9 144 LEIGA 632 11 643 LEIGA CONSAGRADA 10 10 TOTAL 1150 24 1174

GRÁFICO U

0

100

200

300

400

500

600

700

BIS

PO

PAD

RE

RE

LIG

IOSO

RE

LIG

IOSA

LE

IGO

LE

IGA

LE

IGA

CO

NSA

GR

AD

A

SIMNÃO

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4.5. Tabela V

Ações da Igreja que sinalizam a evangelização

MISSAS EM LUGARES PÚBLICOS

VISITAS MISSIONÁRIAS

MEIOS DE COMUNICAÇÃO

DISTRIBUIÇÃO DE PANFLETOS

VÁLIDOS 624 893 945 496 BRANCOS 681 412 360 809

MOVIMENTOS

POPULARES DIÁLOGO OUTRAS IGREJAS

FORMAÇÃO DE LEIGOS

PARTICIPAÇÃO POLÍTICA

VÁLIDOS 608 665 809 343 BRANCOS 697 640 496 962

PASTORAIS E

SERVIÇOS PASTORAIS SOCIAIS

ASSOCIAÇÕES MOVIMENTOS

OUTROS

VÁLIDOS 982 915 849 150 BRANCOS 323 390 456 1155

GRÁFICO V

0

200

400

600

800

1000

1200

Miss

as e

m lu

gare

s p...

Mov

imen

tos p

opul

ares

Past

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s Soc

iais

Out

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4.6. Solidariedade e ações transformadoras

4.6.1. Tabela X

A Igreja de São Paulo é solidária e tem ações transformadoras

PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA SIM 1006 77,1 84,3VÁLIDOS NÃO 188 14,4 15,7 TOTAL 1194 91,5 100BRANCOS 111 8,5 TOTAL 1305 100

4.6.1.1. Tabela X1

Com quais grupos de marginalizados e excluídos

TRABALHO SAÚDE MORADIA EDUCAÇÃO OUTROS VÁLIDOS 430 506 540 341 256 BRANCOS 875 799 765 964 1049

GRÁFICO X

0102030405060708090

SIM NÃO

GRÁFICO X1

0100200300400500600

TRABALHO

MORADIA

OUTROS

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5. Tabela W

Dificuldades para evangelizar a cidade de São Paulo

Violência Distância Medo Despreparo

dos agentes Falta de comunicação

Desemprego

VÁLIDOS 803 355 619 625 585 412BRANCOS 502 950 686 680 720 893 Poucos

recursos da Igreja

Desigual-dade social

Comodismo das pessoas

Individua-lismo

Centralização de poder

Crescimento de outras Igrejas

VÁLIDOS 429 453 969 707 394 503BRANCOS 876 852 336 598 911 802 Falta de

incentivo vocacioanal

Número reduzido de leigos

Estrutura Paroquial

Dificuldade em constituir novas comunidades

Consumismo Outros

VÁLIDOS 431 825 339 510 460 129BRANCOS 874 480 966 795 845 1176

GRÁFICO W

0

200

400

600

800

1000

1200

Med

o

Desp

repa

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os d

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6. Renovação das comunidades

6.1. Tabela Y - Renovação, anúncio e testemunho de Jesus Cristo

PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA VÁLIDOS SIM 638 48,9 50,6

NÃO 25 1,9 2 PARCIAL 597 45,7 47,4 TOTAL 1260 96,6 100

BRANCOS 45 3,4 TOTAL 1305 100

6.1.1. Tabela Y1 - Sinais de renovação, anúncio e testemunho de Jesus Cristo

LITURGIA SACRAMENTO TRABALHOS SOCIAIS

APOIO ESPIRITUAL

ACOLHIDA

VÁLIDOS 957 658 780 464 522BRANCOS 348 647 525 841 783

ORAÇÃO VALORIZAÇÃO SOLIDARIEDADE CURSOS OUTROS

VÁLIDOS 637 580 568 736 90BRANCOS 668 725 737 569 1215

GRÁFICO Y

0

10

20

30

40

50

60

SIM NÃO PARCIAL

GRÁFICO Y1

0200400600800

10001200

LITU

RGIA

SACR

AMEN

TOTR

AB. S

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IO E

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ACO

LHID

A

SOLI

DARI

...

CURS

OS

OUTR

OS

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III – Entrevistas l. Entrevista com Monsenhor Sérgio Conrado Pe. Marcelo: O que o Senhor pensa, em linhas gerais, sobre 8º Plano de Pastoral? Mons. Sérgio Conrado: Olha, o 8º Plano de Pastoral, ele foi pensado, numa fase de transição. A aposentadoria de Dom Paulo Evaristo e a chegada de Dom Cláudio Hummes. Então já, anteriormente, se estava numa em espécie de expectativa, quando a Santa Sé aceitou a aposentadoria do nosso Cardeal Dom Paulo. Então, me lembro bem que, os agentes de pastoral ficaram numa situação um tanto incomoda: “Vamos continuar?..... Vamos esperar,o que é que vem por ai? O que Dom Cláudio vai querer?........”; agora, não se sabia que era Dom Cláudio. O que o novo Arcebispo vai querer? Então, me lembro bem que seja no secretariado, seja nas coordenações de pastorais das regiões, se falava muito que a igreja tinha que continuar, que não podia parar, né. Então, o 8º Plano de Pastoral surgiu exatamente numa situação: de um lado de uma expectativa e do outro de uma necessidade da igreja caminhar, não parar, - né? - e o valor do plano, exatamente, foi conjugar essas duas, digamos, questões, uma expectativa de um lado e a igreja de caminhar sem ainda saber que Arcebispo que viria. Pe. Marcelo: Tem Fundamentação Teológica e Bíblica o texto do 8º Plano? Mons. Sérgio Conrado: Ah....sem duvidas, porque todo Plano antes mesmo do processo e planejamento isso tem que estar em baseado Bíblico e Teologicamente e na própria situação, e ao se pensar num planejamento se deve pensar:

• Na Situação atual em que a igreja vive em que está inserida • A Situação que se quer projetar, a mudança de situação, e em terceiro • A estratégia, a maneira, o modo, a mediação que vai se usar para esta mudança de

situação, de uma situação tal, para uma situação melhor. Então, o Planejamento e conseqüentemente o plano pastoral se tornam, e sobre tudo o plano, uma mediação muito importante para que seja possível essa passagem de uma situação tal para uma situação diferente. Ninguém vai fazer planejamento ou elaborar um plano se não quer melhorar. Então, o plano em si foi, em vista de tomar a situação na época, na situação de despedida de um Arcebispo e chegada de outro, pegar todos os elementos bíblicos, teológicos, e realmente trabalhar para que a igreja pudesse caminhar ainda mais, né, e sobretudo, a questão da evangelização: qualquer plano, qualquer planejamento, tem que visar a evangelização, a evangelização é plenamente bíblica, não é mesmo? Pe. Marcelo: Teológica também. Mons. Sérgio Conrado: É claro, sem dúvida, quer dizer toda a referência não só bíblica, mas também a telógica, por exemplo: na questão solidariedade, os dois pólos da ação pastoral da evangelização e a solidariedade, então, aspectos bíblicos, aspectos teológicos e naturalmente aspectos pastorais. Pe. Marcelo: O texto 8º Plano ele apresenta características da pós-modernidade? É um texto que ajuda a compreender esta realidade pós-moderna que nós vivemos ele fala essa linguagem? Mons. Sérgio Conrado: Ah.....sem duvidas, porque, é um texto, que procura, antes de mais nada, mostrar a situação da igreja na cidade. E, para mostrar a situação da igreja na cidade em vista, num plano de pastoral, é preciso analisar a situação, o contexto que......... o contexto hoje é urbano e sobretudo, tendo em vista a pastoral urbana. Então, o ... por exemplo, a......as questões, por exemplo, urbanas do mundo do trabalho, da saúde, moradia, educação, mesmo a

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questão da solidariedade um dos pólos da ação pastoral. Isso tudo entra na medida em que por exemplo: a solidariedade vem contra o que? Contra o individualismo, que é uma característica da pós-modernidade. Quer dizer a solidariedade como uma alternativa diante do egoísmo, da falta de identidade das pessoas. Então, que sem duvidas o plano mostra aspectos da pós-modernidade, seja no plano religioso, seja no plano civil. Por que veja, no plano religioso também a pós-modernidade faz com que a religião ultrapasse o limites de paróquias, os limites de comunidades, quer dizer, localizados geograficamente. Hoje numa cidade a pessoa mora em um canto e participa numa comunidade em outro, se diverte no outro, então, não há muito mais essa...,é.... digamos..... atendimento espiritual localizado à pessoa, que tem muito mais liberdade em girar pela cidade. Pe. Marcelo: Não é territorial? Mons. Sérgio Conrado: Não é territorial, tanto, para a igreja responder cada vez melhor as exigências de hoje, da pós-modernidade, ela tem que buscar alternativas nesse sentido, de criar novos núcleos de aquecimento da fé, de formação, fora das paróquias. Pe. Marcelo: O texto do 8º Plano ele tem conceitos urbanos, sim e não? E quais? Quais as características que o texto apresenta, que são características, da realidade urbana? Mons. Sérgio Conrado: Sem dúvida, é... por exemplo, quando fala da evangelização da cidade, né então,...- o que é evangelizar - mas dentro de um contexto urbano. Então, o plano, dentro do objetivo do plano, fala: que é evangelizar a cidade de São Paulo através da Pastoral Urbana. Então, ao tratar da pastoral urbana, sem dúvida aparecem aí elementos, por exemplo, a complexidade da cidade. Não é? Toda questão, por exemplo, da desvalorização da pessoa. No urbano, a máquina tem muito valor, e os números se sobrepõem à identidade da pessoa, criando anonimato. A questão do isolamento. São elementos que estão aí, presentes no plano, que denotam, não só a preocupação da igreja em evangelizar, mas sobretudo, evangelizar dentro de um contexto próprio. Pe. Marcelo: O objetivo do Plano contempla em palavras, contempla em conceitos, a opção preferencial pelos pobres? Mons. Sérgio Conrado: Ah! Sem dúvida. Porque, quando fala, por exemplo, “evangelizar a cidade, através da pastoral urbana renovando a vida das comunidades anunciando Jesus ouvindo e respondendo com ação solidária e transformadora aos clamores do povo”. Quando se fala de clamores do povo seguramente os pobres, os excluídos, estão como exemplo e depois o objetivo continua “ especialmente os clamores dos marginalizados e dos excluídos” . Então, aí você tem uma abrangência tremenda dos pobres necessitados e especifica mais,” excluídos do mundo do trabalho, da saúde, da moradia, e da educação”. Então sem duvida o 8º Plano contempla no seu próprio objetivo, que dizer, não apenas com palavras e termos mas depois também no caderno de atividades, vai contemplar ações que correspondem a esses enunciados de opção preferencial pelos pobres. Pe. Marcelo: Numa palestra, estes dias na PUC, com o Professor Pe. Comblin ele disse “Que a igreja no Brasil esqueceu os pobres, que hoje a sua opção não é preferencial – a ação dela não é preferencialmente para aos pobres, dos pobres”. O senhor concorda com aquela afirmação? Eu estava lá, ouvi isso do professor. O senhor acha que, realmente, no Brasil, a igreja não faz mais a opção preferencial pelos pobres? Mons. Sérgio Conrado: Não. Eu acho que é um tanto exagerada a afirmação do nosso irmão José Comblin. O que, a meu ver, hoje na igreja do Brasil, faz falta, que nós tínhamos em décadas passadas, são profetas, são pessoas que realmente, como no Antigo Testamento,

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alertavam e levavam a população a perceberem sua situação e uma situação desejável a se atingir. Então, o que eu acho falta hoje na igreja do Brasil, não é a opção. A opção existe e nós temos aí toda a ação da igreja nas dioceses, através da pastoral social e tantas outras atividades. O que eu acho que falta é alguns pólos de atração, que mantenham a questão social, a questão dos pobres sempre na berlinda. Então é isso que eu acho falta, mas eu não diria que a Igreja mudou a sua opção. Pe. Marcelo: Em Janeiro de 2001 houve uma centralização da administração econômica na Cúria Arquidiocesana de São Paulo. Esta posição da arquidiocese modificou a caminhada pastoral na cidade de São Paulo? Mons. Sérgio Conrado: Não. Pe. Marcelo: Por que? Mons. Sérgio Conrado: Porque a pastoral continuou. O que ao meu ver o que aconteceu foi mais uma regulamentação, quer dizer, a pastoral teve que ser repensada também em termos financeiros de uma maneira mais global, que todo mundo sabe que as regiões durante muito tempo por questões realmente de ação, Dom Paulo e os bispos auxiliares, as regiões quase que foram se tornando um tanto autônomas e a gente sabe que o dinheiro dá autonomia, então cada região era autônoma na captação e também na gestão do próprio dinheiro Então havia uma certa disparidade entre as regiões. Não é? Com a centralização essa diferença terminou, por que? Pastoralmente falando cada região tem que apresentar o seu balancete, então mesmo na ação pastoral se impediu que muitas ações fossem intempestivamente realizadas, porque a região tinha dinheiro, perdendo um pouco o conjunto da arquidiocese. Eu acredito que, financeiramente a Arquidiocese ganhou um pouco mais o sentido de se sentir Arquidiocese, claro que pastoralmente houve uma certa limitação devido realmente aos gastos que as próprias regiões têm que fazer mediante a um orçamento e depois uma prestação de contas, não é ?- e mais ainda, por exemplo cada região tem uma porcentagem a colocar na caixa comum por mês. Não é? É esse o trabalho das paróquias que dão a sua contribuição, então eu acho que nesse sentido melhorou um pouco mais, também a questão eqüitativa, paróquias mais poderosas estão dando mais do que aquelas que podem menos antes era discriminadamente 10% todas as paróquias, hoje não, hoje há uma diferenciação entre as paróquias. Pe. Marcelo: Antes da centralização da economia na arquidiocese de São Paulo as regiões conseguiam comprar alguns terrenos na periferia para investir na evangelização, construindo centros comunitários, facilitando a vida das comunidades que vão surgindo a partir das ocupações ou das moradias populares dos núcleos habitacionais. Hoje as regiões não conseguem mais fazer isto. O senhor concorda que isto é fruto da centralização? Mons. Sérgio Conrado: Seguramente, agora claro que isso tem que ser pensado no conjunto, colégio episcopal com os vigários episcopais e tal que devem realmente criar um fundo para suprir essas necessidades que são importantes, por exemplo, aquisição de terrenos ou mesmo na questão da ajuda da construção de comunidades de igrejas, mas sobre tudo na aquisição de terrenos, que a população quando tem um terreno aí se esforça, mesmo que demora um pouco, mas se constrói. Então eu em algumas reuniões já ouvi realmente essa preocupação e por outro lado por parte do cardeal e dos bispos também uma busca de solução ou alternativa para esta questão dos terrenos, mais porque também Adveniat e Miserior hoje são muito mais voltadas para o leste Europeu, África do que propriamente para América Latina, que já recebeu muito, que infelizmente muitos aplicaram mal essa ajuda tanto da Miserior como da Adveniat

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Pe. Marcelo: Mons. Senhor Sergio Conrado, o senhor fez parte, estava a frente da elaboração do 8º Plano de Pastoral em 2000. Plano que teve duração de três anos. Ele consta 2001 e 2002, mas na verdade ele foi até 2003, quando foi elaborado o 9o. plano.” O Sr. tem mais alguma coisa a dizer sobre o 8º Plano de Pastoral da arquidiocese de São Paulo? Mons. Sérgio Conrado: Olha, eu digo o seguinte: cada plano tem o rosto da Igreja que está caminhando, então, nós não podemos dizer que tal plano foi melhor ou foi pior, porque é o retrato da caminhada da Igreja. Então claro, que há um crescendo, não há dúvidas que planejamento pastoral é necessário, plano é necessário, para que se realmente vá se criando cada vez mais o espírito da colegialidade, mas nós temos isso como exemplo em alguns planos anteriores um pouco mais a ousadia, talvez exatamente porque a questão do urbanismo, a pós-modernidade estava mais em voga, estava aparecendo mais, então agora, por exemplo com o 9º Plano já se supõe algumas coisas sabidas e etc, então é um outro tipo de plano, mas que cada plano, ao meu ver tem o seu valor, porque retrata a Igreja naquele momento. E o importante é o processo de planejamento. O plano ele se diversifica porque é o conjunto das atividades, mas o espírito evangelizador, a busca de uma Igreja que responda cada vez mais ao contexto que ela está vivendo, então, esse é o planejamento, é o processo de planejamento que não tem fim.

• Entrevista realizada no dia 09 de junho de 2005.

• Prof. Dr. Monsenhor Sérgio Conrado foi responsável pelo Secretariado Arquidiocesano de Pastoral de fevereiro de 1985 a Maio de 2002.

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2. Entrevista com Monsenhor Tarcísio Justino Loro

Pe. Marcelo: Mons. Tarcísio, o senhor tem uma explanação geral do 8º Plano de Pastoral, antes das três perguntas oficiais? Mons. Tarcísio: Oi, em primeiro lugar o 8º Plano Pastoral é a soma de diversos artigos, de diversas pessoas, e por isso já de inicio nós vamos encontrar uma dificuldade de relacionar um tema com outro. A verdade é que o 8º Plano apresenta quatro partes e outros temas. De fato cada autor do tema proposto trabalhou praticamente segundo sua ótica, segunda sua visão. Não houve nenhum momento de busca de uma certa convergência de linha de pastoral, de pensamento, não houve nenhuma..., nenhum acerto prévio do que se queria fazer. Eu mesmo fiquei encarregado de escrever o texto que fala sobre as comunidades: renovando a vida das comunidades eclesiais; e de fato, apenas tive um pedido por telefone, redigi essa parte, que podia ser muito mais aprofundado se eu tivesse conversado com todos os outros membros que elaboraram o 8º Plano de Pastoral. Mas apesar disso o 8º Plano de Pastoral, ele segue os moldes planos, - não é? - Coloca toda a descrição das arquidioceses, setores, das regiões, dados estatísticos aproximados da realidade, isso ajuda bastante. Mas o que eu não percebi no 8º plano de pastoral é a relação entre esses dados e os textos escritos. Na verdade eles não retornam, apenas uma descrição da realidade, mas não é uma descrição em função do 8º plano de pastoral. Então, a impressão que temos é de que os dados serviram apenas para mostrar a cidade, enfim, suas preocupações, a população, mostrar áreas, quantidades de setores, comunidades, santuários, etc, etc. Mas de fato, o 8º plano deveria ter buscado, nesses dados, uma inspiração maior para redação dos textos que depois aparecem. O 2º ponto que me parece assim importante para nossa reflexão é de que apesar de se buscar dois pontos fundamentais da ação pastoral, conforme Dom Cláudio coloca, a questão da solidariedade, e a questão da evangelização, a questão do anúncio, apesar de insistir sobre esses dois pólos da evangelização, de fato, o que se refere ao anúncio, propriamente dito, a evangelização, não aparece bastante desenvolvida aqui nesse texto. É um texto bastante limitado que se refere a ação missionária da igreja. Ao contrário encontramos um desenvolvimento maior no que se refere a solidariedade. Na verdade o que encontramos aqui, as prioridades da ação pastoral segundo a tradição dos planos da igreja de São Paulo. A questão da moradia, questão do trabalho, da saúde, da educação então são prioridades que aparecem praticamente em todos os planos de pastoral, desde que Dom Paulo assumiu como o arcebispo da arquidiocese, já antes aparecia, mas esses temas que predominam neste texto, parece que se volta mais para serviço do que tanto para o anúncio propriamente dito de Jesus Cristo. Então acredito que esse seja um dos pontos que deviam merecer atenção. Comparando o 8 º Plano com o 9º plano, nós vamos ver de fato o 9º plano deu um salto bastante significativo no que significa evangelizar – né - já como proposta criar uma cultura missionária nas comunidades, agentes de pastoral em toda a cidade. Pe. Marcelo: Mons. Tarcísio, o texto do 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo tem fundamentação teológica e bíblica? Mons. Tarcísio: Bom, é claro que se você pegar o plano cada página tem lá a sua citação bíblica, há uma tentativa de se recuperar, frases, chavões da sagrada escritura, por outro lado, não basta colocar de forma contígua um texto da sagrada escritura e depois frases ou explicações pastorais. De fato acho que no que se refere, por exemplo, ao serviço, deveria aprofundar mais a questão teológica do serviço e buscar na sagrada escritura os textos que confirmam isso, como por exemplo, quando Jesus Cristo fala “ Eu vim para servir não para ser servido” portanto toda essa parte teológica do serviço em volta da sagrada escritura sem dúvida nenhuma muitos textos – né - , muitos textos poderiam dar, digamos assim, ao

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documento, ao 8º plano de pastoral maior profundidade, poderia ter ajudado mais nessa compreensão da missão da igreja a partir da própria palavra de Deus inserida e analisada pelo próprio texto. Mas o texto tem muitas citações, diria que não é um texto que ignora a sagrada escritura e nem bem poderia ignorar, mas acredito que faltou um pouco este desenvolvimento entre a palavra de Deus e a proposta concreta da arquidiocese. Pe. Marcelo: O texto do 8º Plano tem características da pós-modernidade? Mons. Tarcísio: Bom, de fato falta aqui um capítulo que pudesse descrever as características da pós-modernidade e quando aparece uma outra frase, assim, mas a pós-modernidade, ela está digamos assim dispersa pelo texto, não há uma apresentação digamos sistemática das características pós-modernidade que de fato isso é a minha maneira de ver muito importante, e, além disso, não só as características da pós-modernidade, as características da pós-modernidade que incidem mais na grande cidade, na megalópole, na metrópole, no qual são essas características e essas características que deveriam preocupar ou, mais, digamos assim os pastores, os bispos, os padres, os agentes de pastoral e assim por diante. Então, quando no capítulo que fala pastoral urbana, de fato fala sobre os desafios da cidade, mas, não apresenta que os desafios da cidade incorporam também características da pós-modernidade, quer dizer, a pós-modernidade, ela somada aos desafios próprios da cidade é que são os grandes desafios da própria evangelização, né? Como por exemplo, a questão do individualismo, do secularismo, então a própria questão da busca do sagrado que é uma característica da pós-modernidade, outra grande característica do próprio subjetivismo, então, de que maneira esses elementos podem impedir uma ação pastoral ou uma evangelização quando a gente prega também uma doutrina que tem corpo, digamos assim, formado já há séculos, de que maneira essa visão subjetiva, essa visão personalista vai agora combinar com uma posição da própria igreja que é uma posição já secular. Então o “creio”, por exemplo, com a influencia da subjetividade, como orientar as pessoas a aderir um código que ultrapasse a dimensão pessoal. Então, parece que na pós-modernidade tudo é subjetivado, - né – tudo é subjetivado, mas a igreja..., a igreja não destrói a subjetividade, só que ela tem mais do que apenas uma proposta subjetiva, ela tem uma proposta de um código já doutrinal, código já estabelecido e por isso é um problema sério para a igreja aproximar uma doutrina como o “creio”, como alguns aspectos da dogmática com uma sociedade subjetiva que se acha no direito de criticar tudo, de analisar tudo, de subjetivar tudo. Então, esses aspectos com isso apenas estou dando um exemplo de fato aqui não aparece, parece que o texto, ele ignora esse grande desafio da cidade ligado esse desafio aos desafios da pós-modernidade, então acho que faltou um pouco uma reflexão mais profunda sobre isso, quando fala por exemplo, sobre a questão do mundo no trabalho, eu tenho a impressão que há uma visão, eu diria uma visão ainda mecânica e quase rural do trabalho quando que de fato deveríamos pensar no trabalho num mundo globalizado e outras dimensões do trabalho, no processo técnico científico da cidade grande, tipo de trabalho, de que maneira agora eu vou evangelizar todo esse campo, também a moradia, a moradia relacionada com o trabalho, então, por exemplo, a pessoa mora num lugar trabalha no outro, então, essa moradia se torna um lugar pesado e assim tantos outros textos que aqui são apresentados, o próprio tema da educação, etc. Tudo isso deveria ser analisado na ótica da pós-modernidade, na ótica dos desafios da cidade não apenas apresentar o desafio mas apresentar as causas dos desafios e mostrar a evolução que aconteceu a partir da Globalização da cidade grande com relação ao trabalho, moradia, assim por diante. Pe. Marcelo: O texto tem conceitos urbanos? Mons. Tarcísio: Não vou dizer que ele esteja totalmente isento de conceitos urbanos porque de fato a igreja de São Paulo, ela tem uma tradição urbana, de refletir sobre a cidade enquanto tal, ela tem isso, ela vai levando isso para frente e ela apresenta uns problemas, desafios da

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cidade, mas eu diria que ainda não, esses conceitos não estão atualizados. Se nós formos buscar, por exemplo, a geografia humana ela vai citar muitos conceitos atuais sobre a cidade como, por exemplo, a questão dos fixos, dos fluxos, o conceito de território. A cidade no fundo no fundo ela esta dividida com colcha de retalhos, cada retalhozinho é um território da concentração do poder, então tudo isso não está presente neste texto, não está presente nesse texto, e esse texto aqui, ele tem apenas quatro anos e esse conceitos novos de pós-modernidade e de cidade são conceitos já dessa ultima década, talvez dessas últimas duas décadas e por isso que eu diria a você que deixa muito a desejar no que se refere a conceitos urbanos. A cidade ela tem características novas e cada dia explode novos elementos urbanos e a gente precisaria sempre estar atentos, por exemplo, a questão da internet traz sem dúvida nenhuma muitas novidades, inclusive o homem, o pai que saía para trabalhar, com internet, agora ele volta para casa e o trabalho, muitas vezes acontece em casa. Existe muitos executivos que não vão mais ao trabalho no sentido de locomoção espacial, mas eles fazem o trabalho em casa, então veja como há uma mudança na estrutura do trabalho até mesmo uma mudança, uma interferência na vida familiar, imagine o pai dentro de casa, agora se torna um quase desconforto para a família, porque de fato, a mulher, a mãe, habituada a gerir a sua casa durante o dia praticamente sozinha, agora, de repente seu marido ali vai, enfim, vai pedir um café, vai criar algumas exigências, o almoço tem que sair tal hora, etc., etc., determinado silêncio, as crianças não terão mais aquela liberdade. Então a transformação social, - não é? -, a partir nesse exemplo da internet vai criar também conseqüências nas relações familiares, então acredito que o 9º plano de pastoral, 8º ano pastoral ignorou esse aspecto importante de uma avaliação mais profunda da cidade enquanto realidade sócio cultural, mas também de uma realidade que desafia a pastoral da cidade. Pe. Marcelo: O objetivo do Plano contempla em palavras, contempla em conceitos a opção preferencial pelos pobres? Mons. Tarcísio: Bom, se você perguntar com relação ao texto escrito, eu respondo que contempla, é o texto enquanto tal, o texto que está aqui. Porque você vê, por exemplo, aqui, fala em ação solidária, clamores do povo, especialmente marginalizados, excluídos do mundo do trabalho, sobre a moradia, quer dizer: é um objetivo um tanto assim, que apresenta todas as preocupações e os caminhos por onde a igreja deve caminhar. Eu diria que apesar de não aparecer a palavra pobres, o texto está na linha da opção, pelos excluídos e pelos pobres, isso não há duvidas nenhuma. Agora se isso daqui de fato tem força para desencadear uma ação transformadora e uma ação que dê respeito aos pobres, é algo a ser pesquisado com uma pesquisa de campo. A minha impressão inicial é de que é o texto que assim segue na linha dos anteriores ele não causa assim um grande impacto, porque desde Medellin e Puebla que aparece essa preocupação fundamental pelos pobres, etc. Sabendo que a opção pelos pobres, fundamental dos irmãos, é evangélica, sem dúvida nenhuma, mas enquanto um elemento fundamental de um plano de pastoral então aparece de Medellín e Puebla pra cá essa grande preocupação pelos pobres, clamores do povo, etc, etc. Então, de alguma forma posso dizer essa preocupação, essa opção está no 9º Plano de Pastoral não usando a mesma linguagem da pobreza, dos riscos, que fala claramente a opção preferencial pelos pobres. Pe. Marcelo: Em janeiro de 2001 houve uma centralização da administração econômica na Cúria Arquidiocesana de São Paulo. Esta posição da Arquidiocese modificou a caminhada pastoral na Cidade de São Paulo? Sim, não e por que? Mons. Tarcísio: Essa pergunta é uma provocação, mas de fato eu tenho a consciência de que a centralização econômica, ela é um benefício, na medida em que a coordenação, digamos assim, dos recursos da arquidiocese passam a ser destinados a todos os setores da vida da igreja na cidade. Antes dessa centralização havia regiões que tinha em caixa um depósito

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muito grande enquanto outras regiões precisavam pedir dinheiro emprestado no exterior para poder manter suas atividades pastorais. Então, a centralização cria uma consciência maior da partilha: regiões mais ricas devem ajudar os mais pobres, então uma região por exemplo como o Centro, Ipiranga, devem olhar com o maior carinho para região Brasilândia, aonde de fato ali as entradas não conseguem pagar as necessidades pastorais, então a centralização nesse sentido ela modificou, porque de fato as pessoas começaram a ver a arquidiocese não mais como pedaços de igreja mas como corpo onde um membro é chamado socorrer o outro no momento das necessidade. Então eu acho que a centralização buscou uma maior partilha etc, mas é claro que tudo isso criou um descontentamento de um lado e alegrias de outro, de fato agente é mais habituado a cuidar do próprio, do que é meu e não estamos habituados a partilhar os recursos, então a centralização teve como objetivo fundamental à partilha dos recursos, então a arquidiocese passa a ser maior força e mais capacidade de partilhar os bens em dinheiro. Pe. Marcelo: As regiões de forma especial a Belém que eu conheço mais, conseguia antes da centralização, adquirir terrenos na periferia, ampliando desta forma, a conquista do espaço, do território, marcando território, marcando espaço religioso, comprando terreno e depois as comunidades com dificuldades levantavam as paredes e ali se fazia presença. Hoje a Região Belém não consegue mais por conta da centralização. O que o senhor pensa disso, o que o senhor acha disso, o senhor sabe disso? Mons. Tarcísio: Eu sei. De fato houve aqui em São Paulo depois da centralização um pedido explícito de Dom Cláudio através de uma carta convocando todos os padres para que colaborássemos com um fundo, e esse fundo se destinava a compra de terrenos, então foi feito este pedido, e eu sei que o resultado foi muito, muito aquém do desejado, mas sei também que quando uma comunidade, grupo pede à cúria, aos seus bispos a compra de um terreno, eu mesmo quando era vigário episcopal da região Lapa participei da aprovação de muitos projetos, então houve de fato ajuda e eu sei que continua havendo e várias comunidades estão conseguindo dinheiro para compra de terrenos, ainda hoje se consegue não é alguma coisa, assim, do passado. Depois da centralização ainda acontece. Agora precisamos tomar consciência também de que a igreja de São Paulo ficou mais pobre, a população de maneira geral está mais pobre e as entradas não estão mais como existia, então a gente também tem que entender que o dinheiro já não é mais tão fácil. Mas quando eu fui reformar a cúria da Lapa, por exemplo, e carregava toda essa reforma, nós enviamos um pedido à cúria central, à procuradoria de R$ 30 mil reais para reformar, o dinheiro foi antecipado e depois fomos pagando, foi mandado este dinheiro e nós recebemos e estamos ainda pagando acho que até outubro terminamos de pagar este empréstimo assim outros trabalhos outras comunidades também têm pedido e na medida do possível tem havido resposta, agora é claro que o solo urbano deu um salto muito grande nessa última década ele se tornou muito precioso e muito caro, não é mais como a 20 anos atrás que um terreninho na periferia custava perto de R$10.000,00, hoje em dia você não compra por R$50.000,00, R$60.000,00 e R$80.000,00 e dependendo do lugar até R$100.000,00. Então com a diminuição das entradas, com a valorização do espaço urbano, é claro que com as dificuldades se tornam muito grandes para aquisição de terrenos, e é uma proposta do 9º plano pastoral a aquisição de terrenos. Então se cada paróquia conseguisse no período de quatro anos comprar um pequeno terreno, adquirir uma pequena propriedade para ali instalar uma comunidade de base ou iniciar uma comunidade, uma futura paróquia seria uma benção de Deus, mas os terrenos de fato estão muito caros, as entradas não conseguem cobrir as necessidades normais de toda uma arquidiocese, por isso tem que fazer muita economia, e talvez valorizar mais o dinheiro que a gente recebe, dar destinos mais evangélicos dentro de uma estrutura de partilha, de ajuda, então as entradas da paróquia por exemplo deveriam ser entradas para manter a vida pastoral,

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manter o sacerdote, manter o culto, renovar aquilo que é possível na paróquia, olhar para os pobres, então são tantas coisas importantes mas essa dimensão ainda é uma conquista que a gente deve fazer durante muitos anos, porque às vezes a gente se preocupa a renovar o carro e comprar coisas que nem sempre são prioritárias numa ação pastoral. Pe. Marcelo: O senhor tem alguma outra consideração sobre o 8º Plano de Pastoral? Mons. Tarcísio: Bom, eu acho que o 8º Plano de Pastoral é o plano que eu chamaria de intermediário, é um plano que de alguma forma reúne as preocupações dos planos anteriores, tantos planos belíssimos foram escritos, especialmente sobre a orientação do Monsenhor Sergio Conrado, mas esse aqui, ele é um plano assim de transição, então apresenta uma mão aos planos anteriores e uma certa abertura para o 9º Plano de Pastoral, e a grande, digamos assim, finalidade desse plano, é ser um plano de transição, senão tivéssemos este plano, acredito que o 9° Plano não seria um plano, assim, na linha missionária, do anúncio com uma preocupação muito forte com o serviço, o diálogo, o anúncio e o testemunho, na linha por exemplo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, diretrizes, que aliás aqui não é tão explícito.

• Entrevista realizada no dia 21 de junho de 2005.

• Prof. Dr. Monsenhor Tarcísio Justino Loro e responsável pelo Secretariado Arquidiocesano de Pastoral desde Julho de 2002.

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Anexos

1. Estimativa populacional da cidade de São Paulo por distritos

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E BIBLIOGRÁFICA

I - Fontes Primárias

8º PLANO DE PASTORAL DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. São Paulo: Loyola,

2001.

1. SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL.

1.1 Atas das reuniões da Coordenação Arquidiocesana de Pastoral (C.A.P.)

• 25 de julho de 2000 – tratou da assembléia de 05/08

• 01 de setembro de 2000 – C.A.P. extraordinário com D. Cláudio Hummes

• 22 de agosto de 2000– tratou da assembléia de 21/10 para elaboração do 8º Plano

• 26 de setembro de 2000 – pensou da assembléia de 21/10

• 24 de outubro de 2000 – avaliou a assembléia e propôs encaminhamentos para o 8º

Plano

• 21 de novembro de 2000 – pensou nas grandes atividades para 2001

• 06 de fevereiro de 2001

• 20 de março de 2001

• 17 de abril de 2001

• 29 de maio de 2001

• 16 de junho de 2001

• 24 de julho de 2001

• 28 de agosto de 2001

• 25 de setembro de 2001

• 16 de outubro de 2001

• 26 de fevereiro de 2002

• 12 de março de 2002

• 12 de abril de 2002

• 14 de maio de 2002 – Reorganização estrutural da Pastoral

• 11 de junho de 2002

1.2 Encontros das coordenações regionais, setoriais, movimentos, associações e pastorais

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• 05 de agosto de 2000

• 07 de março de 2002

1.3 Avaliações

• Avaliação da caminhada Pastoral de 2001 – 2003

• Instrumento de Trabalho n. 01 da CAP – 17 de agosto de 2000.

• Instrumento de Trabalho nº 02 – preparação da Assembléia para o 8º Plano.

1.4 Assembléias Arquidiocesanas

• 21 de outubro de 2000

• 01 de dezembro de 2000 – Definição do Plano: Trabalhos em grupos

• 11 de agosto de 2001 – com Pe. Libânio “As lógicas da cidade”

1.5 Estatutos

• Estatuto do C.A.P. (Conselho Arquidiocesano de Pastoral).

1.6 Cadernos da Ruth Maria (secretária do Secretariado Arquidiocesano de Pastoral)

• Janeiro de 2000 a outubro de 2000

• Novembro de 2002 a junho de 2001

• Junho de 2001 a dezembro de 2001

• Novembro de 2001 a agosto de 2002

• Agosto de 2002 a março de 2003

• Março de 2003 a dezembro 2004

1.7 Equipe de Fé e Compromisso Social (textos diversos)

• Material sobre a semana de 2000

• Material sobre a semana de 2001

• Material sobre a semana de 2002 (cancelada)

• Alca – Plebiscito (setembro de 2002)

• Curso Arquidiocesano de formação política 2003?

• Curso de formação Política (Lapa) – 2003?

• Projeto Subprefeituras

• Texto eleições 2002 CNBB

• Texto Boletim Análise de Conjuntura

• Implantação dos Conselhos de Representantes da Subprefeitura Lapa

1.8 Conselho de Leigos da Arquidiocese de São Paulo (CLASP)

• Carta do Edson Silva (presidente do Conselho) para o Presidente Lula – 21/11/02

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2. CONSELHO REGIONAL DE ASSUNTOS ECONÔMICOS. Ata da reunião 14 de

setembro de 2003. Região Episcopal Belém.

3. CHANCELARIA DO ARCEBISPADO. Arquidiocese de São Paulo; histórico (José

Albanez).

II – Bibliografia

A – Documentos Eclesiásticos

COMPÊNDIO DO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium. 29 ed.

Petrópolis: Vozes, 2000.

___. Constituição Pastoral Gaudium et Spes. 29 ed. Petrópolis: Vozes, 2000.

___. Decreto Ad Gentes. 29 ed. Petrópolis: Vozes, 2000.

___. Decreto Apostolicam Actuositatem. 29 ed. Petrópolis: Vozes, 2000.

___. Declaração Nostra Aetate. 29 ed. Petrópolis: Vozes, 2000.

CÓDIGO DE DIRETO CANÔNICO. 7 ed. São Paulo: Loyola, 1984.

PAULO VI. Populorum Progressio. Documentos de Paulo VI. São Paulo: Paulus, 1997.

___. Octogésima Adveniens. Documentos de Paulo VI. São Paulo: Paulus, 1997.

___. Evangelii Nuntiandi. Documentos de Paulo VI: Paulus, 1997.

JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio. Encíclicas de João Paulo II. São Paulo: LTr, 1996.

___. Ecclesia in América. Exortação Apostólica Pós-Sinodal do Santo Padre João Paulo II. 2ª

ed. São Paulo: Paulus, 1999.

___. Carta Apostólica Nova Millennio Ineunte. 2 ed. São Paulo: Paulus e Vozes, 2001.

___. Discurso aos Bispos dos Regionais Nordeste 1 e Nordeste 4 em 26/10/2002. São Paulo:

Paulinas, 2002.

___. Exortação Apostólica Christifideles Laici: Vocação e missão dos leigos na Igreja e no

mundo. 10 ed. São Paulo: Paulinas, 2001.

CONCLUSÕES DE MEDELLIN. Porto Alegre: Metrópole, 1968.

CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA. São Paulo: Paulinas, 1979.

CONFERÊNCIA EPISCOPAL LATINO AMERICANA. Conclusões de Santo Domingo. São

Paulo: Loyola, 1993.

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CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretório para missas com

grupos populares. (Documentos da CNBB n. 11). São Paulo, Paulinas, 1977.

___. Subsídios para Puebla. (Documentos da CNBB n. 13). São Paulo: Paulinas, 1978.

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http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/relacoes_internacionais/organizacao/0001. Acesso em 03 de agosto

de 2001, 13:15:25.

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