Poesia do século XX - 1

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1 | Português – 10º ano | Poetas do Séc. XX Dina Baptista | www.sebentadigital.com EB 2,3/S de Vale de Cambra 2010 /2011 Poesia do Século XX Objectivos a alcançar: . Poesia e Poeta: tentativas de definição . Contextualização: Modernismo/Geração de Orpheu/Fernando Pessoa; Presencialismo e Neo-realismo . Conhecer vários poetas portugueses e de expressão lusófona . Identificar várias temáticas . Identificar recursos estilísticos e saber evidenciar o seu valor expressivo . Saber analisar a estrutura formal de um poema

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Poesia do Século XX: . Objectivos programáticos (10ºano). Poetas portugueses: Florbela Espanca josé Gomes Ferreira, José Régio, Pedro Homem de Mello; Miguel Torga, António Gedeão.

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| Português – 10º ano | Poetas do Séc. XX

Dina Baptista | www.sebentadigital.comEB 2,3/S de Vale de Cambra2010 /2011

Poesia do Século XXObjectivos a alcançar:

. Poesia e Poeta: tentativas de definição

. Contextualização: Modernismo/Geração de Orpheu/Fernando Pessoa; Presencialismo e Neo-realismo

. Conhecer vários poetas portugueses e de expressão lusófona

. Identificar várias temáticas

. Identificar recursos estilísticos e saber evidenciar o seu valor expressivo

. Saber analisar a estrutura formal de um poema

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Definir POESIAnome feminino1.arte que se distingue tradicionalmente da prosa pelacomposição em verso e pela organização rítmica daspalavras, aliada a recursos estilísticos e imagéticospróprios 2. composição literária em verso 3. conjunto das obras em verso, escritas numa língua ou próprias de uma época, de uma escola literária, de um autor, etc. 4. característica poética que pode estar presente em qualquer obra de arte 5. carácter daquilo que, por ser considerado belo ou ideal, desperta uma emoção ou sentimento estético 6. figurado harmonia 7. figurado inspiração (Do gr. poíesis, «acção de fazer alguma coisa», pelo it. poesia, «poesia»)

In Dicionário de íngua portuguesa, 2011, Porto Editora

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Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! É ter de mil desejos o esplendor E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor! É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... É condensar o mundo num só grito! E é amar-te, assim, perdidamente... É seres alma, e sangue, e vida em mim E dizê-lo cantando a toda a gente! Florbela Espanca

Poeta, sim, poeta...

É o meu nome.

Um nome de baptismo

Sem padrinhos...

O nome do meu próprio nascimento...

O nome que ouvi sempre nos caminhos

Por onde me levava o sofrimento...

Poeta, sem mais nada.

Sem nenhum apelido.

Um nome temerário,

Que enfrenta, solitário,

A solidão.

Uma estranha mistura

De praga e de gemido à mesma altura.

O eco de uma surda vibração.

Miguel Torga

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O que é a Poesia?

Ver Claro Toda a poesia é luminosa, até a mais obscura. O leitor é que tem às vezes, em lugar de sol, nevoeiro dentro de si. E o nevoeiro nunca deixa ver claro. Se regressar outra vez e outra vez e outra vez a essas sílabas acesas ficará cego de tanta claridade. Abençoado seja se lá chegar. Eugénio de Andrade, Os Sulcos da Sede

Lavoisier

Na poesia,

natureza variável

das palavras,

nada se perde

ou cria,

tudo se transforma:

cada poema

no seu perfil

incerto

e caligráfico,

já sonha

outra forma.

Carlos de Oliveira

Conselho

Sê paciente; espera

Que a palavra amadureça

E se desprenda como um fruto

Ao passar o vento que a ameaça.

Eugénio de Andrade, Poesia

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Vila Viçosa1894 - 1930

CARAVELAS

Cheguei a meio da vida já cansadaDe tanto caminhar! Já me perdi!Dum estranho país que nunca viSou neste mundo imenso a exilada.

Tanto tenho aprendido e não sei nada.E as torres de marfim que construíEm trágica loucura as destruíPor minhas próprias mãos de malfadada!

Se eu sempre fui assim este Mar morto:Mar sem marés, sem vagas e sem portoOnde velas de sonhos se rasgaram!

Caravelas doiradas a bailar...Ai quem me dera as que eu deitei ao Mar!As que eu lancei à vida, e não voltaram!...

Florbela Espanca, «Charneca em Flor», 1930

Ideias-Chave. Sofrimento, solidão e desencanto; . Imensa ternura e um desejo de felicidade e plenitude que só poderão ser alcançados no absoluto, no infinito;. carácter confessional, sentimental;. Poetisa de excessos, cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina (na qual alguns críticos encontram dom-joanismo no feminino).

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Porto1900-1985

Ideias-Chave:. “Poeta Militante”: representante do artista social e politicamente empenhado nas suas reacções e revoltas face aos problemas e injustiças do mundo. . Influências variadas:- empenhamento neo-realista;-visionarismo surrealista;-saudosismo. Dialéctica constante entre a irrealidade e a realidade, entre as suas tendências individualistas e a necessidade de partilhar o sofrimento dos outros.

"Viver sempre também cansa!O sol é sempre o mesmo e o céu azulora é azul, nitidamente azul,ora é cinza, negro, quase verde...Mas nunca tem a cor inesperada.O Mundo não se modifica.As árvores dão flores,folhas, frutos e pássaroscomo máquinas verdes.As paisagens também não se transformam.Não cai neve vermelha,não há flores que voem,a lua não tem olhose ninguém vai pintar olhos à lua.Tudo é igual, mecânico e exacto.Ainda por cima os homens são os homens.Soluçam, bebem, riem e digeremsem imaginação.(…) José Gomes Ferreira

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Vila do Conde1901-1969

Ideias-Chave:. Fundador da revista "Presença". Conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade;. Consciência da frustração de todo o amor humano;. Orgulhoso recurso à solidão;. Problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.

Ignoto Deo

Desisti de saber qual é o Teu nome, Se tens ou não tens nome que Te demos, Ou que rosto é que toma, se algum tome, Teu sopro tão além de quanto vemos.

Desisti de Te amar, por mais que a fome Do Teu amor nos seja o mais que temos, E empenhei-me em domar, nem que os não dome, Meus, por Ti, passionais e vãos extremos.

Chamar-Te amante ou pai... grotesco engano Que por demais tresanda a gosto humano! Grotesco engano o dar-te forma! E enfim,

Desisti de Te achar no quer que seja, De Te dar nome, rosto, culto, ou igreja... – Tu é que não desistirás de mim! José Régio, in 'Biografia'

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Porto1904-1984

Ideias-Chave:. Tenta conciliar:-a expressão metafórica elaborada com a tradição popular;- o paganismo com a formação católica;-a expressão do corpo - às vezes erótica - com valores religiosos.. Usa uma linguagem próxima da oralidade e com bastante força telúrica;. Manifestou interesse pelo folclore e pelas danças populares.

Encontro

Felicidade, agarrei-te Como um cão, pelo cachaço! E, contigo, em mar de azeite Afoguei-me, passo a passo... Dei à minha alma a preguiça Que o meu corpo não tivera. E foi, assim, que, submissa, Vi chegar a Primavera... Quem a colher que a arrecade (Há, nela, um segredo lento...) Ó frágil felicidade! — Palavra que leva o vento, E, depois, como se a ideia De, nos dedos, a ter tido Bastasse, por fim, larguei-a, Sem ficar arrependido...

Pedro Homem de Mello, in "Eu Hei-de Voltar um Dia"

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Lisboa1906-1997

Ideias-Chave:. Figura de referência incontornável no imaginário colectivo do povo português, principalmente para toda a geração da "Pedra Filosofal”;

. Sonha a harmonia do mundo: igualdade na desigualdade; fraternidade na competição ou na luta de instintos; a liberdade íntima e cívica;

. Crença no aperfeiçoamento incessante e progressivo da espécie humana.

Pedra filosofal

Eles não sabem que o sonhoé uma constante da vidatão concreta e definidacomo outra coisa qualquer,como esta pedra cinzentaem que me sento e descanso,como este ribeiro mansoem serenos sobressaltos,como estes pinheiros altosque em verde e oiro se agitam,como estas aves que gritamem bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonhoé vinho, é espuma, é fermento,bichinho álacre e sedento,de focinho pontiagudo,que fossa através de tudonum perpétuo movimento. (…) António Gedeão

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S. Martinho de Anta-Sabrosa1907-1995

Ideias-Chave:. Poeta do mundo rural, das forças telúricas, ancestrais, que animam o instinto humano na sua luta dramática contra as leis que o aprisionam.. A missão do poeta: -violência com que acusa a tirania divina e terrestre;-ternura franciscana que estende, de forma vibrante, a todas as criaturas no seu sofrimento.

Orfeu rebelde, canto como sou:Canto como um possessoQue na casca do tempo, a canivete,Gravasse a fúria de cada momento;Canto, a ver se o meu canto comprometeA eternidade do meu sofrimento.

Outros, felizes, sejam os rouxinóis...Eu ergo a voz assim, num desafio:Que o céu e a terra, pedras conjugadasDo moinho cruel que me tritura,Saibam que há gritos como há nortadas,Violências famintas de ternura.

Bicho instintivo que adivinha a morteNo corpo dum poeta que a recusa,Canto como quem usaOs versos em legítima defesa.Canto, sem perguntar à MusaSe o canto é de terror ou de beleza. Miguel Torga

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Fontes:

http://www.astormentas.com/http://alfarrabio.di.uminho.pt/

http://cvc.instituto-camoes.pt/index.php