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Universidade de Aveiro
2010 Departamento de Economia, Gesto e Engenharia Industrial
Maria do Rosrio
Soares da Costa
Plataforma de Apoio aos Processos de Inovao do
Empreendedor
Universidade de Aveiro
2010 Departamento de Economia, Gesto e Engenharia Industrial
Maria do Rosrio
Soares da Costa
Plataforma de Apoio aos Processos de Inovao do
Empreendedor
dissertao apresentada Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Gesto de Informao, realizada sob a orientao cientfica da Doutora Silvina Santana, Professora Auxiliar do Departamento de Economia, Gesto e Engenharia Industrial da Universidade de Aveiro e da Doutora Ldia Oliveira, Professora Auxiliar com Agregao do Departamento de Comunicao e Arte da Universidade de Aveiro.
Dedico este trabalho aos meus avs in memoriam
o jri
presidente Prof. Doutor Carlos Manuel dos Santos Ferreira professor associado com agregao da Universidade de Aveiro
vogais Prof. Doutor Paulo Jos Osrio Rupino da Cunha professor auxiliar da Faculdade de Cincias e Tecnologia da Universidade de Coimbra
Prof. Doutora Silvina Maria Vagos Santana professora auxiliar da Universidade de Aveiro
Prof. Doutora Ldia de Jesus Oliveira Loureiro da Silva professora auxiliar com agregao da Universidade de Aveiro
agradecimentos
O presente trabalho no seria possvel sem a colaborao de um conjunto de pessoas, a quem comearia por agradecer: s Professoras Silvina Santana e Ldia Oliveira, pela disponibilidade, pacincia e pelos conselhos e orientaes que contriburam para a presente dissertao. A todos os entrevistados, pelo tempo que concederam e pela informao que serviu de suporte em momentos chave da dissertao. Sara Petiz, que prestou um enorme contributo na reviso dos textos e sobretudo pelo seu incansvel apoio e motivao constante. Ao Miguel, pela privao de companhia e apoio que lhe causei. P pelo suporte no tratamento de elementos grficos. A todos os meus familiares e amigos, pela fora e compreenso ao longo deste extenso perodo.
A todos o meu sincero agradecimento e reconhecimento.
palavras-chave
Empreendedorismo, oportunidades, informao, conhecimento, redes sociais, inovao, cooperao, colaborao, biotecnologia, tecnologias da informao e comunicao, comunidades de prticas on-line, Web 2.0.
resumo
Hoje em dia, o grande desafio que os empreendedores enfrentam o reconhecimento de oportunidades, num ambiente confuso e em constante mudana, onde a informao muitas vezes contraditria e onde o tempo e o contexto so cruciais para a identificao de uma oportunidade passvel de dar origem a um negcio de elevado potencial. Falar em bioempreendedorismo ser analisar este conceito, quando a oportunidade de negcio surge nas reas das cincias da vida. Contudo, para lanar uma empresa de biotecnologia no basta apenas ter esprito empreendedor, necessrio tambm um nvel elevado de conhecimentos tcnicos e cientficos especializados, uma percepo das necessidades de mercados muito especficas e a capacidade de interagir com a comunidade acadmica e empresarial. Daqui advm a necessidade de os empreendedores terem de explorar o seu meio ambiente, estar escuta, saber dialogar e informar, favorecendo em simultneo a interactividade atravs da criao de uma rede de informao e conhecimento, formando assim um ambiente propcio inovao. A aco empreendedora pode, ento, ser entendida mais como um fenmeno social do que propriamente individual. O presente trabalho apresenta um modelo conceptual para a criao de um espao virtual, que tem em vista fomentar a construo e o crescimento de uma comunidade de prtica on-line dirigida a especialistas em biotecnologia. Para uma compreenso das suas reais necessidades de informao, foi feita uma anlise rede do primeiro parque de biotecnologia do pas, o Biocant Park e, em seguida, foram realizadas entrevistas, que serviram de suporte conceptualizao da plataforma. Este modelo conceptual ambiciona proporcionar um espao colaborativo, de valor acrescentado para os seus utilizadores, disponibilizando informao til, novidade e dinamismo. De igual forma, pretende aumentar o nmero de ligaes da rede social de cada indivduo e fomentar a colaborao e a cooperao inter-institucional, promovendo a gerao de ideias, de transferncia de tecnologia e de aprendizagem. A actividade iteractiva e interactiva de disseminao, troca e integrao de conhecimento cientfico e tecnolgico podem, desta forma, dar origem identificao e desenvolvimento de novas oportunidades de negcio no campo da biotecnologia, atravs do aproveitamento do potencial e sinergias da rede.
keywords
Entrepreneurship, oportunities, information, knowledge, social networks, inovation, cooperation, colaboration, biotechnology, information and communication technologies, on-line community of practice, Web 2.0.
abstract
Nowadays, the great challenge that entrepreneurs faces is the recognition of opportunities in a confusing and constantly changing environment, where information is often contradictory and where time and context are crucial for the identification of an opportunity that could lead to a business with high potential. Talking about bioentrepreneurship will be to analyze this concept, when a business opportunity arises in life science areas. However, having entrepreneurial spirit is not enough to create a biotechnology company. It is needed to have a high level of technical and scientific expertise, an understanding of the needs of specific markets and the ability to interact with the academic and business community. Hence, entrepreneurs must explore their environment, be available to listen, knowing to dialogue and inform, simultaneously enhancing interactivity through an information and knowledge network, thus shaping a conducive environment to innovation. Therefore, the entrepreneurial action can be understood more as a social phenomenon than individual. The following essay presents a conceptual framework for the creation of a virtual space, which aims to encourage the construction and growth of an on-line community of practice intended for biotechnology specialists. For a comprehension of their real information needs, an analysis was made to Biocant Park, the first Portuguese biotechnology park, which served as support to the conceptualization of the platform. This conceptual model aims to provide a collaborative space, adding value to their users by providing useful information, newness and dynamism. Likewise, pretends to increase the number of connections of each individual social network, nourish inter-institutional collaboration and cooperation, promoting ideas generating, technology transfer and learning. The iteractive and interactive activities of dissemination, exchange and integration of scientific and technological knowledge thus lead to the identification and development of new business opportunities in biotechnology through the use of networks potential and synergies.
i
Introduo 7
Objectivos do estudo 15
Opes metodolgicas 16
Organizao do trabalho 19
Captulo 1 - Empreendedorismo e inovao 23
1.1 Empreendedorismo: origens, conceitos e abordagens 23
1.2 A importncia do empreendedorismo no desenvolvimento econmico 29
1.3 O empreendedorismo e o reconhecimento de oportunidades 34
1.4 Redes sociais e aco empreendedora 40
1.4.1 Definies e tipos de redes 40
1.4.2 Caractersticas e dimenses das redes de relacionamento 45
1.4.3 Proximidade e transmisso de conhecimento nas redes sociais 50
1.4.4 Comunidades de prtica 54
1.5 A informao e a sua importncia no empreendedorismo 60
1.5.1 Informao vs conhecimento: caracterizao e tipologias 60
1.5.2 Necessidades de informao 73
1.5.3 Procura e aquisio de informao 77
1.5.4 Uso de informao 87
1.6 Consideraes finais 90
Captulo 2 - O empreendedorismo, a biotecnologia e a inovao em Portugal 93
2.1 O empreendedorismo em Portugal 93
2.2 A universidade empreendedora 100
2.2.1 A universidade face ao ensino e poltica empreendedora 103
2.2.2 A universidade e o sector empresarial 109
2.3 O modelo da hlice tripla 114
2.4 Cooperao e redes empresariais 122
ii
2.5 O sector da biotecnologia 127
2.5.1 Conceito e suas aplicaes 127
2.5.2 Redes de inovao em biotecnologia 130
2.5.3 Caracterizao do sector da biotecnologia em Portugal 132
2.5.4 Competncias e unidades de investigao em Portugal 140
2.6 O bioempreendedorismo 142
2.7 Consideraes finais 145
Captulo 3 - Boas prticas no desenvolvimento de software social 151
3.1 Enquadramento tecnolgico: A Web 2.0 151
3.2 Design e desenvolvimento de aplicaes Web 156
3.2.1 Sociabilidade 159
3.2.2 Usabilidade 163
3.2.3 Acessibilidade 171
3.2.4 A arquitectura da Informao 173
3.3 Consideraes Finais 175
Captulo 4 - Mtodos e anlise de informao 179
4.1 Caracterizao do estudo 179
4.2 Participantes e procedimentos 179
4.3 Instrumento de recolha de dados 180
4.3.1 Objectivos gerais das entrevistas 182
4.3.2 Objectivos especficos das entrevistas s empresas do Biocant Park 182
4.3.3 Objectivos das entrevistas s unidades de investigao Biocant 183
4.3.4 Objectivos das entrevistas a professores da Universidade de Aveiro 183
4.4 Caracterizao do Biocant Park 184
4.4.1 O parque tecnolgico Biocant Park 184
4.4.2 A unidade de investigao Biocant 185
4.4.3 Apoio financeiro 186
4.4.4 Centro de Cincia Jnior 187
4.5 Anlise de dados e informao 189
4.5.1 Anlise da rede do Biocant Park 189
iii
4.5.2 Entrevista empresa GenePredit 192
4.5.3 Entrevista a indivduos da Universidade de Aveiro 193
4.5.4 Identificao das necessidades de informao 195
4.6 Consideraes finais 201
Captulo 5 - Elaborao do modelo conceptual 205
5.1 Metodologia de desenvolvimento 205
5.2 Estado da Arte 206
5.3 Destinatrios e objectivos 212
5.4 Identidade 214
5.5 Definio do logtipo 215
5.6 Anlise de requisitos 217
5.7 Requisitos de contedo 224
5.8 Taxonomia e organizao da informao 226
5.9 Desenho da arquitectura da informao 229
5.10 Consideraes Finais 247
Captulo 6 - Concluses e desenvolvimentos futuros 249
6.1 Reflexes finais 249
6.2 Contribuies do trabalho 258
6.3 Limitaes do trabalho 259
6.4 Sugestes para trabalho futuro 260
Bibliografia 263
Referncias Web 281
Anexos 285
iv
Figura 1 Modelo e unidades para a teoria de identificao e desenvolvimento da oportunidade 39
Figura 2 Enquadramento das relaes da rede 47
Figura 3 Modelo de desenvolvimento da rede 50
Figura 4 Tipos de proximidade nas redes de relacionamento 53
Figura 5 Os cinco anis de informao de Wurman. 63
Figura 6 A pirmide informacional 73
Figura 7 Estrutura conceptual para o comportamento informacional dos gestores 89
Figura 8 Evoluo das funes das universidades. 101
Figura 9 Universidade tradicional 105
Figura 10 Universidade empreendedora 105
Figura 11 Modelo Estadista (socialista) da relao universidade-indstria-governo 119
Figura 12 Modelo laissez-faire da relao universidade-indstria-governo 120
Figura 13 Modelo hlice tripla da relao universidade-indstria-governo 121
Figura 14 Clusters de empresas de biotecnologia em Portugal. 135
Figura 15 A Web 2.0 como base de converso entre as formas de conhecimento tcito e
explcito 154
Figura 16 The Elements of User Experience 157
Figura 17 Approaches to User Experience Design 158
Figura 18 Dimenses da usabilidade 166
Figura 19 Os trs crculos da arquitectura da informao 174
Figura 20 Os Biocas Mascotes do Centro de Cincia Jnior 188
Figura 21 Rede do Biocant Park 190
Figura 22 Website Biotentrepreneur 207
Figura 23 Website Biopartnering 208
Figura 24 Website Biotec-zone 209
Figura 25 Website Rede Galp Inovao 210
Figura 26 Website Energia Positiva 211
Figura 27 Logtipo biocom 217
Figura 28 Taxonomia e organizao da informao 228
Figura 29 Blueprint de baixo nvel da plataforma 242
v
Grfico 1 Dificuldades na fase inicial de actividade 98
Grfico 2 Mercado Alvo das empresas do sector da biotecnologia 136
Grfico 3 Existncia de parcerias nas empresas no sector da biotecnologia 137
Grfico 4 Tipologia de parceiros das empresas do sector da biotecnologia 137
Quadro 1 Trs tipos de conhecimento organizacional 70
Quadro 2 Categorias de fontes de informao 78
Quadro 3 Evoluo do sector da biotecnologia em Portugal, 2006 134
Quadro 4 Anlise SWOT do sector da Biotecnologia em Portugal 138
Quadro 5 Actores da rede do Biocant Park 191
Quadro 6 Comentrios e sugestes dos entrevistados sobre o tipo de informao a ser
disponibilizada na plataforma 196
Quadro 7 Tipologia de tecnologias colaborativas 226
Quadro 8 Estrutura e organizao da informao da plataforma 230
Quadro 9 Principais funcionalidades e servios a disponibilizar na plataforma 243
vi
Introduo
7
Introduo
Vivemos na era da informao e do conhecimento, um mundo novo, onde o trabalho fsico feito pelas mquinas. Nela cabe ao homem uma tarefa para a qual insubstituvel: ser criativo, ter ideias.
Angeloni e Dazzi (2003)
A rpida (r)evoluo das tecnologias da informao e comunicao (TIC) tm
desencadeado mudanas profundas na estrutura da nossa sociedade, transformando a
organizao do modelo econmico e alterando os comportamentos, as atitudes e os
valores das estruturas sociais e polticas do nosso tempo (Amaral, 2007). Este novo
cenrio, no qual grande parte das actividades humanas se encontram cada vez mais
dependentes das tecnologias electrnicas e informticas, designado como Sociedade
da Informao e , hoje, uma realidade inquestionvel para uma parte significativa da
populao mundial. Entende-se a Sociedade da Informao como um estgio de
desenvolvimento social caracterizado pela capacidade dos seus membros (cidados,
empresas e Estado) de obter e compartilhar qualquer informao, de forma quase
imediata, em qualquer lugar e da maneira mais adequada. Greiner et al. (1995) considera
que a Sociedade da Informao o resultado da generalizao das TIC em condies
acessveis para os seus utilizadores e a existncia de novos modelos de actividade
econmica. De acordo com o mesmo autor, a Sociedade da Informao permite o acesso
informao e aos servios de uma forma rpida, barata, equitativa e eficiente e permite
o acesso ao conhecimento acumulado e a novas formas de aprendizagem e de
colaborao.
A construo da Sociedade da Informao e do Conhecimento no constitui, no
entanto, uma temtica cingida informao e tecnologia. , tambm, um programa
poltico orientado para a conduo da mudana das sociedades contemporneas
relativamente a aspectos fundamentais da sua estrutura tecnolgica, produtiva,
administrativa, educativa e ocupacional (Alves, 2004). Diversas polticas, prticas e
programas governamentais tm contribudo nesse sentido, com destaque para os
objectivos traados na cimeira de Lisboa, em Maro de 2000. Nessa ocasio, os chefes
de Estado e de Governo europeus, reconhecendo que a Unio Europeia deveria ter uma
economia muito mais digital, estabeleceram um novo objectivo: tornar-se a Sociedade do
Conhecimento mais competitiva do mundo em 2010. O Livro Verde para a Sociedade da
Informao em Portugal (1997) reala a importncia crescente das redes digitais de
informao e define a expresso de Sociedade da Informao como um modo de
Plataforma de Apoio aos Processos de Inovao do Empreendedor
8
desenvolvimento social e econmico em que a aquisio, armazenamento,
processamento, valorizao, transmisso, distribuio e disseminao de informao
conducente criao de conhecimento e satisfao das necessidades dos cidados e
das empresas desempenham um papel central na actividade econmica, na criao de
riqueza, na definio da qualidade de vida dos cidados e das suas prticas culturais
(p.5). Neste sentido, esta uma sociedade onde a componente da informao e do
conhecimento desempenha um papel nuclear em todos os tipos de actividade humana. A
informao deixou de ser um mero instrumento de apoio s diversas actividades das
organizaes, para se constituir no prprio objecto de determinadas actividades
econmicas, sociais, culturais, polticas e mesmo militares (Dinis, 2005). Com efeito, a
informao entendida como o recurso fundamental, com um valor e um uso prprio.
A crescente importncia da informao, a proliferao das tecnologias de
comunicao, nomeadamente a Internet e a World Wide Web, a mudana de condies
sociais, como a alfabetizao da populao e o acesso generalizado s tecnologias,
potenciou a participao activa das pessoas na criao e partilha de enormes
quantidades de informao. Por sua vez, essa informao d lugar a novos
desenvolvimentos e descobertas que tornam a originar mais informao, o que provoca
um ciclo repetitivo em espiral que avana atravs do tempo. Apesar da exploso
informacional, o acesso informao deixou de ser a questo, focando a ateno
naquilo que as pessoas fazem com essa quantidade de informao.
A informao pode ser considerada como um recurso supremo em diversos campos
do nosso quotidiano. Na esfera poltica, por exemplo, a informao pode ser encarada
como uma fonte de poder atravs do controlo exercido sobre o processamento da
informao. Na esfera econmica, a informao vista como um recurso que
proporciona uma vantagem para a estratgia, produo e comercializao de bens e
servios. Na esfera social, a informao um bem que pode ser compartilhado
livremente por todos e, na esfera cultural, esta apresenta-se como a base de crenas e
realidade social. A informao tem um valor potencial. Contudo, apenas alcana o seu
valor real quando as pessoas podem aceder a ela, apreend-la, transform-la em novo
conhecimento e actuar em consonncia com o adquirido. A informao algo que deve
ser utilizado e relacionado, no apenas uma acumulao de dados, pois pode-se dispor
de muita informao e ser-se muito ignorante. Esta deve ser utilizada em tempo oportuno
e de forma coordenada, tirando partido do conhecimento que se pode retirar da mesma, o
que requer uma estrutura mental para ser assimilada, assumindo assim uma natureza
diferente, mediante o uso que se faz da mesma.
Introduo
9
As profundas alteraes no mbito da tecnologia, da economia, da cultura, das
relaes entre pessoas entre outros, tm trazido tambm novos conceitos de vizinhana,
de proximidade e de fronteiras. Desta forma, mudam-se os costumes, a cultura, a forma
de educao, o lazer, o entretenimento, o trabalho, o comrcio, os valores, enfim,
estamos perante um mundo diferente, onde quase tudo (sobretudo nos pases
industrializados) mediado pela tecnologia, pela comunicao quase imediata, mesmo
que os participantes estejam em lados opostos do planeta e onde se cultiva uma
vizinhana de interesses, mesmo que no seja geogrfica. Hoje, as comunidades no
tm territrios prprios nem fronteiras visveis. Geram-se e reproduzem-se no interior de
redes.
Ao nvel social, econmico e poltico, a sociedade contempornea tem incrementado a
dinmica de rede em vrias esferas e contextos. No que o conceito seja novo, pois os
relacionamentos e o trabalho em rede de conexes to antigo quanto a histria da
humanidade, mas apenas nas ltimas dcadas as pessoas passaram a perceb-lo como
uma forma poderosa de relacionamento e de ferramenta organizacional. De salientar que
estas formas de organizao humana e de articulao entre grupos e instituies,
denominadas por redes sociais, esto intimamente vinculadas ao desenvolvimento de
redes fsicas e telemticas, os quais possibilitam a criao de redes de comunicao e
actuam como infra-estruturas de criao e partilha de interesses especficos. devido s
actuais possibilidades oferecidas pelo progresso tecnolgico, como a rapidez de
comunicao e o armazenamento de informao, que as redes podem garantir um
espao de excelncia de circulao de informao ao nvel global. Os vertiginosos
avanos das TIC na rea do armazenamento, processamento e transmisso da
informao (ver lei de Moore e lei de Gilder)1 aumentam significativamente o acesso
informao, quebrando barreiras ao conhecimento e levando participao atravs das
redes de comunicao.
Castells (2005) introduziu o conceito de sociedade em rede, referindo-se s novas
formas organizacionais baseadas no uso intensivo de tecnologias de informao e
comunicao e, para este, as redes constituem a nova morfologia social das nossas
sociedades. A difuso lgica de redes modifica de forma substancial, a operao e os
1 A lei de Moore (Gordon Moore, um dos fundadores da Intel) prev a duplicao da capacidade de
processamento informtico a todos os 18 a 24 meses, devido rpida evoluo da tecnologia de micro processamento. A lei de Gilder (George Gilder, autor e consultor norte-americano) prev a duplicao da capacidade de comunicao a todos os 6 meses devido ao avano nas tecnologias de rede de fibra ptica. Ambas so acompanhadas por enormes redues de custos e poderosos aumentos na velocidade e quantidade.
Plataforma de Apoio aos Processos de Inovao do Empreendedor
10
resultados dos processos produtivos e de experincia, poder e cultura (Castells, 1996a).
As redes so constitudas por 3 elementos essenciais: tecnologia, pessoas e espaos. A
tecnologia representa a infra-estrutura da rede, as pessoas so quem a controla e os
espaos so definidos por ns e hubs (Castells, 1996a). As redes podem assumir
diversos tamanhos e, podem existir igualmente, redes de redes ou ainda dentro de uma
rede, a possibilidade de se formar sub-redes, com objectivos especficos. Para Castells
(1996a), as redes so estruturas abertas que tendem a expandir-se, gerando novos ns,
que compartilham os mesmos cdigos de comunicao. Como um espao de interaco,
a rede possibilita, em cada conexo, contactos que proporcionam novas relaes sociais,
econmicas ou profissionais, que essencialmente possibilitam a partilha de informao e
conhecimento. Quanto maior for a interaco com o ambiente, com os actores que
constituem a rede, maior ser a possibilidade de aquisio de informao e expanso do
conhecimento. Dependendo dos interesses que movimentam as interaces na rede,
esta pode ser seccionada em grupos que partilhem o interesse numa temtica especfica,
favorecendo igualmente ligaes entre indivduos com o poder de direccionar os fluxos
de informao a outros que partilham interesses comuns, propiciando, deste modo,
condies que promovam a inovao. Castells (1996a) menciona ainda que a ligao
entre a informao/conhecimento, o seu alcance global e a sua organizao em rede,
que cria um novo sistema econmico distinto.
A construo de comunidades virtuais faz parte, actualmente, de uma nova realidade
dos indivduos, que compartilham interesses comuns, com o objectivo de obter
informaes e partilhar ideias. Nos dias actuais, as comunidades virtuais constroem as
suas identidades e organizam-se a partir de afinidades, interesses e valores comuns,
sem depender de um lugar especfico, podendo ser, por isso, mais abrangentes. Um
website por exemplo, pode ancorar comunidades de interesse, com muito mais gente
envolvida do que seria possvel reunir numa interaco presencial (Filho e Silva, 2003).
No passado, envolver-se numa comunidade era determinado pela cidade ou bairro onde
se vivia, pela famlia ou opes religiosas. Hoje, as TIC permitem a interaco de vrias
pessoas que a partir de pontos geograficamente remotos e de uma forma organizada e
econmica, partilham entre si interesses e objectivos de natureza diversificada. Os
servios suportados pela Internet apenas viabilizaram que um processo natural, que
sempre se deu por proximidade de localizao, se tornasse global. Um e-mail, por
exemplo, pode ser enviado, lido e respondido em diferentes momentos, ajustando-se
disponibilidade de tempo e comodidade dos membros de uma comunidade virtual (Filho
Introduo
11
e Silva, 2003). Vulgariza-se, desta forma, o conceito de comunidades virtuais que
introduz a funcionalidade de interaco mediada por computador e, como tal, de uma
nova forma de sociabilidade e de trabalho. O termo virtual, usado no contexto da
informtica e das comunidades, procura designar algo que assume um papel de
proximidade fsica (Andrade, 2005).
Nestas comunidades, pessoas com diferentes pontos de vista trocam experincias e
aprendem umas com as outras. A riqueza das informaes, experincias, ideias criativas
e conhecimentos que podem fluir dessas comunidades muito grande e a utilizao de
novas ferramentas e instrumentos colaborativos potenciam uma construo social de
conhecimento. Estamos, assim, perante a globalizao e democratizao de
conhecimentos, das fontes de saber, onde cada cidado pode intervir numa escala
mundial. No entendimento de Rheingold (1993, 1998), as comunidades virtuais
sustentam-se pela co-actuao de indivduos que compartilham valores e interesses,
atravs de interaces no universo on-line. A participao nessas comunidades, tende a
ser espontnea e voluntria e os seus membros esto dispostos a compartilhar, a ensinar
e a aprender, gerando, deste modo, uma atitude pr-activa, colaborativa e cooperativa.
Lvy (2004) tem defendido a participao em comunidades virtuais como um estmulo
formao de inteligncias colectivas, nas quais os indivduos trocam informao e
conhecimentos. O conceito de inteligncia colectiva remete ideia de que a interaco
entre sujeitos propicia e gera um resultado mais enriquecido do que a soma dessas
inteligncias individuais. Uma comunidade convenientemente organizada representa uma
importante riqueza em termos de conhecimento distribudo, de capacidade de aco e de
potncia cooperativa: a reciprocidade que faz a comunidade.
No pensamento de Lvy (2004), qualquer indivduo possuidor de algum grau de
conhecimento, mas ningum possui todo o conhecimento existente. A busca por
conhecimento passa pela vivncia de processos colectivos, pois as pessoas so sempre
fontes de conhecimentos (independentemente do seu grau de instruo ou status social),
e as relaes interpessoais representam oportunidades para que umas aprendam
continuamente com as outras. Este autor prope a formao de uma inteligncia
colectiva atravs das tecnologias digitais, a partir das potencialidades interactivas destas
tecnologias, principalmente o hipertexto. O papel da informtica e das tecnologias de
rede, no entendimento de Lvy (2004), no o de substituir a humanidade, nem de se
aproximar de uma hipottica inteligncia artificial, mas o de incentivar a construo de
colectivos inteligentes, em que as potencialidades sociais e cognitivas de cada um poder
desenvolver-se e ampliar-se mutuamente. O ciberespao oferece, deste modo,
Plataforma de Apoio aos Processos de Inovao do Empreendedor
12
instrumentos de construo cooperativa de um contexto comum a grupos numerosos,
como tambm geograficamente dispersos. , portanto, um espao socio-tcnico para
atingir a inteligncia colectiva.
De acordo com a teoria do conectivismo2, o conhecimento no est localizado num
local especfico, mas faz parte de redes de ligaes. O conhecimento interdependente,
est distribudo e reside em diversos suportes. Esta teoria defende que os indivduos
aprendem atravs das conexes/relaes que estabelecem. criando ligaes que o
conhecimento aumenta. Ou seja, no s o conhecimento intrnseco em cada um de ns
que conta, mas o nmero de ligaes que possumos que constitui o nosso
conhecimento. George Siemens reconhece a importncia de estarmos ligados na rede,
da conectividade, referindo que we derive our competence from forming connections
(Siemens, 2004). Este autor destaca a mudana da relao do indivduo com o
conhecimento, defendendo que, na maior parte dos casos, j no mais possvel deter,
antecipadamente, todo o conhecimento necessrio para resolver um problema, mas
necessrio saber onde este conhecimento est e como adquiri-lo. Logo, torna-se
importante reconhecer a importncia de saber onde se encontra a informao e no
apenas o qu e como. Na opinio de Siemens (2006), a aprendizagem o processo de
criar redes e os ns so entidades externas que podemos usar para formar uma rede.
Estes ns podem ser pessoas, organizaes, websites, jornais, bases de dados e outras
fontes de informao. O acto de aprender passa pela criao de uma rede externa de
ns, onde nos ligamos e formamos fontes de informao e conhecimento.
Neste cenrio, o importante para o indivduo a sua rede de conexes e os ns de
conhecimento que pode adquirir, quer pela interaco com os outros, quer com o apoio
de ferramentas tecnolgicas. De acordo com Siemens (2003), a tecnologia, em especial a
Internet, assume um papel facilitador para a aprendizagem e para a criao de
conexes. Assim, as comunidades virtuais para alm de conectar pessoas, constituem-se
como veculos de aprendizagem que potenciam a construo do conhecimento individual
e colectivo.
Para o dinamismo que caracteriza a Sociedade da Informao, a inovao tem
desempenhado um papel determinante na criao e lanamento de produtos e servios
2 O conectivismo um enquadramento terico recente, proposto por George Siemens, desenvolvido com
o objectivo de fornecer uma teoria de aprendizagem orientada para os novos contextos educativos de educao formal e no-formal na era digital.
Introduo
13
que originaram novas formas e estilos de vida (Picoto e Almeida, 2007). Esta uma
sociedade que tende a basear-se numa economia cada vez mais assente em produtos
intangveis, onde a informao e o conhecimento so os factores de produo mais
importantes, deixando para trs o capital e a mo-de-obra (Drucker, 2003) e onde a
educao, a formao e a qualificao da fora de trabalho so, cada vez mais, a
principal vantagem competitiva. A inovao, que consiste no trabalho rduo e sistemtico
de anlise peridica dos produtos, servios, tecnologia, mercado e canais de distribuio,
o que determinar a sobrevivncia das organizaes. A inovao, por sua vez,
depende da eficincia e da eficcia com que o conhecimento tcnico produzido,
transferido, difundido e incorporado nos processos e produtos.
Um dos factores primordiais subjacentes inovao empresarial a existncia de
empreendedores, capazes e dispostos a transformar projectos inovadores em empresas
inovadoras (Castells, 2004). Estimular a capacidade empreendedora passa, ento, por
induzir comportamentos favorveis inovao sistmica, por criar dinmicas de
aperfeioamento contnuo e por acelerar o processo de modernizao e crescimento
econmico. Fazer com que a inovao se transforme em algo significativo e que
responda s necessidades reais dos clientes, utilizadores, consumidores, operrios e
dirigentes implica que haja uma busca e uma interpretao constantes de informao.
Para que a empresa consiga lidar com as incertezas e antecipar-se s mudanas,
necessria uma permanente monitorizao do fluxo de informao de negcios que a
envolve. aqui que o empreendedor tem uma funo de extrema importncia, ao
procurar e explorar oportunidades, obtendo vantagens econmicas em relao aos
concorrentes, atravs do conhecimento que acumula. Este processo pode tambm ser
visto como um processo de aprendizagem, de superar as responsabilidades da
novidade/inovao atravs da aquisio de informao. O que incerto num momento,
torna-se predizvel noutro devido existncia de nova informao (Cooper et al., 1995).
Desta forma, hoje em dia, o grande desafio que os empreendedores e as empresas
enfrentam a capacidade de seleccionar e interpretar, criativamente, a informao
disponvel, reconhecendo as oportunidades passveis de darem origem a um negcio de
elevado potencial, mesmo num contexto confuso e em constante mudana, onde a
informao muitas vezes insuficiente e mesmo contraditria. Para se manterem
competitivos, tm de estar permanentemente escuta do mercado e responder s suas
solicitaes e oportunidades.
Plataforma de Apoio aos Processos de Inovao do Empreendedor
14
A biotecnologia hoje reconhecida com uma das tecnologias com maior potencial de
crescimento e impacto na sociedade. De facto, tem vindo a tornar-se numa tecnologia de
alicerce em sectores to diversos e essenciais como o agro-alimentar, o ambiental, o
farmacutico ou o mdico. Portugal tem conseguido acompanhar a bom ritmo o
desenvolvimento da biotecnologia atravs das suas universidades e centros de I&D,
tendo tambm realizado um importante investimento na formao avanada de recursos
humanos na rea. Contudo, para lanar uma empresa de biotecnologia no basta apenas
esprito empreendedor, necessrio tambm um nvel elevado de conhecimentos
tcnicos e cientficos especializados, uma percepo das necessidades de mercados
muito especficos e a capacidade de interagir com a comunidade acadmica e
empresarial. Daqui advm a necessidade dos seus empreendedores terem acesso a
informao e conhecimento crticos para a prossecuo dos seus objectivos, como
tambm de estarem inseridos em redes que proporcionem o estabelecimento de
relacionamentos inter-institucionais. Nos negcios, muitas vezes o indivduo to bom
quanto as pessoas que conhece. Contudo, a actividade de networking no se reduz a
coleccionar cartes de visitas em festas ou seminrios. Networking significa conhecer
algum bem o suficiente para detectar oportunidades de colaborao quando elas
surgem. As pessoas tm de identificar as competncias e as necessidades dos outros,
proporcionado transferncia de informao e conhecimento que conduza a processos
inovadores.
indiscutvel o potencial das TIC e em particular a Internet, como fonte inesgotvel de
informao actualizada, como meio de comunicao entre pessoas dos pontos mais
remotos do planeta e como ferramenta de partilha e aprendizagem. A conectividade
permitida pelo ciberespao e a participao em comunidades virtuais possibilitam uma
efervescncia de ideias e potencializam a construo de conhecimento em rede, o que
pode originar criaes inovadoras. E a inovao depende da gerao de conhecimento
permitida pelo acesso informao.
Mais do que uma tecnologia, a Internet tambm um espao de interaco e de
organizao social, assumindo um papel de gerador de redes. A Internet est a
transformar a prtica empresarial e empreendedora na sua relao com os fornecedores
e com os clientes, na sua gesto, no seu processo de produo, na sua cooperao com
outras empresas, no seu financiamento e na valorizao das aces nos mercados
financeiros. O uso apropriado da Internet converteu-se numa fonte fundamental de
produtividade e competitividade para todo o tipo de empresas. Paralelamente, pode
Introduo
15
constituir-se como alicerce para a promoo da aproximao e cooperao dos principais
agentes promotores da produo e do conhecimento cientfico, especificamente
empresas e universidades.
Objectivos do estudo
O presente trabalho tem como objectivo conceptualizar um sistema de informao que
sirva de instrumento de suporte a indivduos, empresas e organizaes, promovendo
redes de cooperao e inovao que contribuam para uma melhor articulao e fluidez
dos fluxos de informao e de conhecimento. A realizao deste trabalho teve como
ponto de partida a anlise do Biocant Park, parque tecnolgico que se encontra situado
na regio compreendida entre o Distrito de Aveiro e o Distrito de Coimbra. A escolha do
Biocant Park deve-se ao facto de ter sido o primeiro parque de biotecnologia em Portugal,
sendo composto por plos de desenvolvimento com espaos para a instalao de
empresas, incubadoras e centros de investigao e, ter como associados e promotores
duas universidades, centros de I&D, autarquias e associaes empresariais.
O sistema de informao que o presente trabalho se prope conceptualizar tem como
objectivo o fomento de uma comunidade de prtica on-line vocacionada para o
empreendedorismo na rea da biotecnologia, facilitando o dilogo e veiculando
informao pertinente para o empreendedor. Pretende-se, assim, contribuir para a
dinamizao do tecido empresarial, encurtando distncias e diminuindo custos no
levantamento das necessidades dos agentes e na disseminao da informao
fundamental. A informao a disponibilizar dever ir ao encontro dos interesses,
necessidades e expectativas dos intervenientes.
Atendendo importncia das redes de conhecimento nesta sociedade competitiva,
pretende-se alcanar uma vertente empresarial e institucional, potenciando, desta forma,
a construo de uma rede que tem como agentes dinamizadores empresas, entidades
locais, como autarquias, associaes comerciais ou industriais e universidades e
instituies de I&D envolvidas.
Um dos objectivos a alcanar passa por criar um mecanismo que potencie o
fortalecimento da relao entre estas entidades, intensificando deste modo, a
colaborao, o dilogo e a parceria em projectos de I&D. Pretende-se, igualmente, com
a conceptualizao deste espao, a divulgao das entidades envolvidas, a articulao
entre a oferta e a procura de projectos de I&D e de emprego, a angariao de parceiros
Plataforma de Apoio aos Processos de Inovao do Empreendedor
16
para novos projectos e a disponibilizao e/ou ligao a notcias, eventos e contedos
pertinentes.
Apesar de o estudo incidir sobre uma regio e um projecto especfico, ele pretende
gerar um modelo que permita ser replicado em outro tipo de prtica e de comunidades.
Sendo o sistema de informao um espao digital aberto, o seu alcance ter um carcter
global, permitindo, para alm do reforo do relacionamento das entidades estudadas, o
possvel alargamento da rede a organizaes/comunidades fora desta.
Opes metodolgicas
Como referido anteriormente, a principal finalidade deste estudo centra-se na
conceptualizao uma plataforma de apoio aos processos de inovao do empreendedor,
o que nos leva formulao das principais questes de investigao e para as quais se
procurou resposta:
Qual a importncia do empreendedorismo no desenvolvimento econmico?
Como que os empreendedores detectam novas oportunidades?
Qual a importncia do seu capital social?
Qual o estado da arte da biotecnologia em Portugal?
Como constituda a rede do Biocant Park?
Quais as necessidades de informao dos bioempreendedores e agentes da rede
Biocant Park?
Quais os contedos, ferramentas e servios a diponibilizar na plataforma?
Para obter respostas s questes formuladas anteriormente, foi pertinente estabelecer
uma estratgia que permitisse obter o conhecimento necessrio para responder s
mesmas. A abordagem metodolgica utilizada nesta investigao de cariz qualitativo.
Este tipo de pesquisa justifica-se, sobretudo, por permitir compreender os aspectos
subjectivos da realidade de um conjunto de indivduos, sobretudo quando ela complexa
e, de acordo com Pardal e Correia (1995), operaes que no impliquem quantificao e
medida. O procedimento metodolgico utilizado neste trabalho o caso de estudo. De
acordo com Bell (2008), o estudo de caso proporciona uma oportunidade para estudar,
de forma mais ou menos aprofundada, um determinado aspecto de um problema em
pouco tempo. tambm um estudo aprofundado com reviso bibliogrfica, entrevistas e
conhecimento da realidade do objecto estudado. Este estudo compreendeu as seguintes
Introduo
17
fases: a) reviso da literatura relevante nos campos relacionados s questes de
pesquisa; b) desenvolvimento de fundamentao terica baseada na reviso da literatura
pertinente; c) recolha de dados por meio de entrevistas semi-estruturadas; d) anlise
descritiva dos resultados com base no material obtido na pesquisa de campo; e)
elaborao de uma proposta de ambiente virtual, tendo como fundamento os passos
descritos anteriormente.
Entendendo-se, sobretudo, como foco principal desta dissertao o indivduo
empreendedor, foi necessrio contextualizar no tempo e no espao o fenmeno do
empreendedorismo, perspectivando-se a natureza dos actos empreendedores e os
processos que lhe esto associados, no s como uma consequncia intrnseca
Sociedade da Informao actual, mas tambm com uma nova forma de trabalhar e viver,
onde predomina a fora das ideias audaciosas. Assim, partiu-se de uma abordagem
ampla, de forma a compreender os fenmenos restritos num contexto global, analisando
o empreendedorismo e a inovao nesta sociedade contempornea, informatizada,
cognitiva e conectiva. Dentro desta lgica, o estudo procurou compreender como que o
empreendedor, agente de mudana e crescimento na economia global e competitiva,
intervm na gerao e aplicao de novas ideias, analisando para isso modelos de
identificao de ideias e desenvolvimento de oportunidades. Tendo como foco a
importncia do seu capital social, procurou-se estabelecer uma relao entre a
oportunidade empreendedora e a criao de redes sociais, como factor preponderante.
Dentro desta abordagem social, destacam-se a sinergia entre os actores da rede e, a
fora que as ligaes fracas (weak ties) dos indivduos proporcionam, ao permitir
acesso a nova informao e conhecimento, obteno de recursos e ligaes para outras
redes, que podem ser determinantes para a identificao de novas oportunidades. Como
contributo para o aumento da rede social dos empreendedores, destacam-se as
comunidades virtuais on-line como espaos virtuais onde os indivduos partilham da
mesma prtica e estabelecem actividades de networking. Estas actividades, potenciam a
circulao de informao e conhecimento, o que poder reverter indirectamente em
produtos, servios ou processos inovadores. O acesso informao e a capacidade de, a
partir desta, extrair e aplicar conhecimentos so vitais para o aumento da capacidade
concorrencial e o desenvolvimento das actividades comerciais num mercado sem
fronteiras. Assim, procurou-se compreender de igual forma, a relao entre informao e
conhecimento e, como que os empreendedores e as organizaes gerem a
informao, um processo que envolve a sua obteno, distribuio e utilizao.
Considerou-se tambm importante reflectir sobre o papel que as universidades podem e
Plataforma de Apoio aos Processos de Inovao do Empreendedor
18
devem assumir ao formar e estimular o esprito empreendedor, assim como, na adopo
do modelo da hlice tripla, sendo este formado pelas universidades, indstria e governo
que se constitui numa nova configurao que emerge dentro de sistemas inovadores.
igualmente destacada a importncia no estabelecimento de redes de colaborao e
cooperao entre empresas, sobretudo na rea da biotecnologia, sector com um carcter
integrador com forte cruzamento com outros sectores de actividade.
Uma vez que o estudo se enquadra no panorama nacional, foi pertinente analisar a
realidade do empreendedorismo em Portugal, assim como a anlise do sector no qual se
enquadra o estudo e das dificuldades que os bioempreendedores portugueses enfrentam
na prossecuo das suas metas.
De forma a identificar e analisar as necessidades de informao dos actores da rede
do Biocant Park, foi efectuada uma pesquisa de campo, tendo como instrumento de
colecta de dados entrevistas semi-estruturadas, como forma de obter riqueza de
pormenor e dados pessoais que dificilmente se conseguiriam com inqurito por
questionrio. Para alm das necessidades informacionais detectadas, a anlise das
entrevistas contribui tambm para reflectir e confirmar a importncia da rede social como
factor de incremento na obteno de recursos e deteco de oportunidades
empreendedoras. Por fim, para a concretizao do objectivo primordial deste trabalho,
procurou-se desenvolver um modelo para um servio de informao virtual que teve
como suporte a anlise da literatura e a anlise da pequisa de campo.
Introduo
19
Organizao do trabalho
De acordo com o guio metodolgico anteriormente descrito, estruturou-se a presente
dissertao em duas partes, que integram os seis captulos que a constituem. O primeiro,
segundo e terceiro captulos, que constituem a primeira parte denominada
Enquadramento terico, proporcionam os fundamentos tericos para a orientao deste
trabalho. A segunda parte do estudo, denominada Estudo de caso: Biocant Park
constituda pelo quarto, quinto e sexto captulos, onde se encontram as componentes
relativas parte emprica, a apresentao do modelo conceptual da plataforma e as
concluses finais.
No Captulo I Empreendedorismo e Inovao, efectuado o enquadramento da
temtica do empreendedorismo e da sua relevncia para a competitividade e crescimento
econmico. Analisa-se igualmente, o fenmeno do reconhecimento de oportunidades
empreendedoras, com destaque para o papel e a importncia das redes.
No Captulo II O empreendedorismo, a biotecnologia e a inovao em Portugal,
feita uma anlise da actividade empreendedora em Portugal. Destaca-se a importncia
da qualificao dos recursos humanos e a forma como as universidades, centros de
formao por excelncia, devem rever as suas prticas e polticas de ensino, de forma a
apostarem, cada vez mais, na criao de uma cultura e de um ambiente favorveis
gerao de novos empreendedores. Demonstra-se, tambm, a importncia da
informao e do conhecimento como factores que despoletam o desenvolvimento, a
competitividade e a inovao. So apresentadas, igualmente, as mais-valias das alianas
intra e inter-empresariais, bem como discutida a importncia das redes de cooperao,
enquanto meio de obteno de tecnologia, informao e conhecimento, necessrios para
a descoberta, aplicao e difuso de novos processos, bens e servios. Este captulo
engloba, igualmente, o retrato do sector da biotecnologia em Portugal, assim como a
anlise do perfil de empreendedor desta rea, o bioempreendedor.
No Captulo III Boas prticas no desenvolvimento de software social, so
apresentadas as caractersticas da Web 2.0, assim como, so apresentadas algumas
estapas e processos a seguir no desenvolvimento de aplicaes Web de mbito social.
O Captulo IV Mtodos e anlise de informao dedicado metodologia
adoptada ao longo desta investigao, onde apresentada a caracterizao do estudo,
os procedimentos, a amostra e os instrumentos utilizados no estudo. De seguida
efectuada uma anlise ao primeiro parque de biotecnologia em Portugal, o Biocant Park.
So ainda apresentados os resultados obtidos, atravs da interpretao e anlise da
informao recolhida.
Plataforma de Apoio aos Processos de Inovao do Empreendedor
20
O Captulo V Elaborao do modelo conceptual tem como objectivo a
conceptualizao de um sistema de informao com vista formao de uma
comunidade/rede, constituda por instituies que normalmente operam isoladas:
universidades, empresas e associaes. Este modelo prope uma arquitectura de
informao e de disponibilizao de contedos de forma a contribuir para a diminuio do
tempo gasto, por parte dos empreendedores, em busca de informao til. O estudo
deste sistema partiu da recolha e anlise das necessidades de informao dos agentes
envolvidos no Biocant Park, com base na reviso de literatura e na realizao de
entrevistas, como forma de suporte conceptualizao do modelo do sistema de
informao que o presente trabalho se prope realizar. Este modelo atende a questes
como a usabilidade, a sociabilidade, a estrutura e arquitectura da informao e a
sustentabilidade do sistema.
O Captulo VI Concluses e desenvolvimentos futuros, conclui o trabalho
apresentando as suas limitaes e apontando sugestes para eventual desenvolvimento
ou investigao futura.
21
Empreender um processo que envolve sonhar, descobrir e criar. J no sculo XIII, os
sonhos e as descobertas de Marco Polo conduziram troca de bens e conceitos
(incluindo a forma monetria papel-moeda) entre a Europa e a sia. Mais tarde, em
Portugal, durante o perodo quinhentista, residia uma cultura de curiosidade, de
explorao e de alcance de novos horizontes. A epopeia dos descobrimentos deu origem
a uma vantagem competitiva dos portugueses em relao Europa no que diz respeito
tecnologia de navegao, o que fez com que as estratgias e as estruturas geopolticas
fossem redesenhadas, mudando assim a viso que o Homem tinha em relao ao
mundo. Na era moderna, tambm muitos foram aqueles que, atravs do seu esprito
insacivel de ir mais alm, mudaram a forma como hoje vivem e trabalham bilies de
pessoas. De uma forma geral, empreender um processo que interconecta as ideias, a
motivao e o trabalho de empresrios, empregados, investidores e clientes.
empreendedor aquele que capaz de conceber, de por em prtica e de instilar nos que
o acompanham uma atitude de desafio permanente, de vontade de superao da
indiferena (Azevedo, 2004, pg.3). Se o esprito empreendedor leva, regra geral, ao
crescimento econmico e mudana de uma sociedade para melhor, a ousadia de
empreender deve ser estimulada e cultivada.
A primeira parte deste trabalho visa compreender os conceitos e caractersticas
inerentes ao empreendedorismo e a aco empreendedora como principal motor da
inovao, da competitividade e do crescimento econmico. Discute-se a importncia do
relacionamento em rede e das comunidades de prtica on-line como factores-chave para
Plataforma de Apoio aos Processos de Inovao do Empreendedor
22
o reconhecimento de oportunidades e como fontes de informao para aprimorar o
conhecimento e capacidades. De igual forma, procura-se perceber a importncia das
ligaes mais fracas (na rede) na ligao entre diversas sub-redes e pela disseminao
da informao e do conhecimento. Atendendo importncia da informao como um
forte diferencial competitivo, revista a literatura que estuda as necessidades de
informao e os modelos de ciclos informacionais.
Segue-se um retrato do empreendedorismo em Portugal e uma reflexo sobre o novo
papel que as universidades devem desempenhar, enquanto agentes dinamizadores do
empreendedorismo, ao serem capazes de preparar os futuros empreendedores para uma
maior mobilidade profissional, incerteza e imprevisibilidade que parecem inevitveis no
mundo actual, atravs do ensino e formao de tcnicas, mtodos e estratgias
empreendedoras e na criao de centros de tecnologia ou incubadoras de empresas.
destacada a importncia do incremento das aces cooperativas e colaborativas
inter-institucionais e das redes de inovao, em especial na rea da biotecnologia. Deste
modo, segue-se a caracterizao do sector em Portugal, do ponto de vista empresarial e
cientfico. So, de igual forma, enunciadas as caractersticas inerentes ao perfil do
empreendedor desta rea, ou seja, do bioempreendedor, bem como, as principais
dificuldades com que se deparam na criao do seu prprio negcio.
Esta primeira parte do estudo encerra com uma anlise aos mtodos e processos de
design e desenvolvimento de aplicaes Web, com destaque, aos factores e elementos
que possibilitam ampliar ou potencializar a interaco e as relaes sociais nas
comunidades de prctica on-line.
Empreendedorismo e Inovao
23
Empreendedorismo e inovao
empreendedor, em qualquer rea, algum que sonha e busca transformar seu sonho em realidade.
Fernando Dolabela
1.1 Empreendedorismo: origens, conceitos e abordagens
Desde que o empreendedorismo se tornou num campo de investigao, tem havido
pouco consenso entre os investigadores na formulao de uma definio universal. Sem
uma definio central e exacta, a investigao tornou-se numa actividade caracterizada
pela divergncia da recolha e anlise de factos para a compreenso deste fenmeno. O
conceito de empreendedorismo tem um vasto leque de significados. Se, por um lado, o
empreendedor visto com um indivduo com uma aptido muito elevada para a
mudana, possuindo caractersticas que s uma pequena fraco da populao possui,
num outro extremo das definies qualquer um que trabalhe por conta prpria
considerado um empreendedor.
Segundo Audretsch et al. (2001), o empreendedorismo um conceito
multidimensional. A sua definio depende largamente do foco da investigao levada a
cabo, mas apesar da falta de consenso entre os investigadores a respeito dos diferentes
aspectos do empreendedorismo, estes parecem concordar que o nvel da actividade
empreendedora varia sistematicamente atravs dos pases e atravs do tempo.
Referindo-se notvel confuso que cerca a definio de empreendedor, Filion (1997)
prefere usar o termo diferena. Segundo este autor, os investigadores tendem a
perceber e a definir o conceito de empreendedor usando as premissas das suas prprias
disciplinas. Os economistas, por exemplo, associaram os empreendedores com a
inovao, enquanto que os behavioristas se concentraram nas suas caractersticas
criativas e intuitivas.
No existe uma teoria universal consistente mas, em vez disso, existem vrias
aproximaes de diversas disciplinas como a psicologia, a sociologia, a antropologia, a
economia ou gesto, todas com pontos de vista e anlises diferentes. O
empreendedorismo no pode ser visto unicamente luz de uma disciplina, pois esta
actividade no limitada a determinadas indstrias ou a empresas de determinada
dimenso. uma actividade intercultural, realizada por pessoas de ambos os sexos, de
todas as idades e em todas as reas de negcio. Desta forma, o campo de investigao
do empreendedorismo interdisciplinar e/ou multidisciplinar e est em constante
Plataforma de Apoio aos Processos de Inovao do Empreendedor
24
desenvolvimento. Esta nova rea de estudo, conhecida nos meios acadmicos pelo
termo anglo-saxnico entrepreneurship, abrange, hoje em dia, um alargado leque de
teorias e abordagens e tem sido estudada de variadas formas e com propsitos
diferentes.
Segundo Landstrm (2005), a palavra empreendedor (entrepreneur) originalmente
uma palavra francesa, tendo aparecido, pela primeira vez, em 1437 no Dictionnaire de la
langue franaise. De acordo com o autor, neste dicionrio eram listadas trs definies
de entrepreneur, sendo que a mais significativa era celui qui entreprend quelque chose,
referindo-se pessoa que activa e que consegue algo e sendo entreprendre, o seu
verbo correspondente. A palavra tem feito parte da lngua francesa desde o sculo XII e
alguns autores franceses da altura referiam-se ao termo entrepreneur relacionando-a
com actividades de guerra durante o perodo medieval, sendo os guerreiros vistos como
entrepreneurs. Outros autores referiam o entrepreneur como algum que duro e
preparado para arriscar a sua prpria vida e fortuna. Mais tarde, no sculo XVII, o termo
entreprendre era empregue para definir um indivduo que assumia o risco de criar um
novo empreendimento (Leite, 2000). Porm, Landstrm (2005) refere que nem todos os
indivduos que aceitavam riscos eram considerados empreendedores. Apenas aqueles
que estariam envolvidos em grandes empreendimentos poderiam ser chamados de
empreendedores. A maior parte das vezes, era uma questo de grandes contratos entre
os Estado e algum que fosse competente, uma pessoa rica, com o objectivo, por
exemplo, de fornecer equipamento para o exrcito. O tpico empreendedor era, deste
modo, uma pessoa contratada pelo Estado para concretizar servios especficos ou para
o fornecer com determinados bens. O autor refere, ainda, que o conceito de
empreendedor era nesta altura definido nos dicionrios como entrepreneur, qui
entreprend un bastiment pour un certain prix, o que significa que o empreendedor era
contratado para executar determinada tarefa a determinado preo.
Os termos entrepreneur e entreprendre apresentaram alguns problemas de traduo
para outros idiomas, sendo que, em ingls, as palavras derivaram para entrepreneur e
entrepreneurship e, em portugus, segundo Leite (2000), entrepreneur poderia ser
traduzido como empresrio, todavia refere que, para alguns autores, como Drucker, o
termo empregue para designar empreendedor e no necessariamente um empresrio,
assim como para entrepreneurship a traduo em portugus ser de esprito
empreendedor.
Richard Cantillon, irlands (aprox. 1680 - 1734), foi o primeiro autor a dar ao
empreendedorismo um papel de destaque no desenvolvimento econmico. No seu
Empreendedorismo e Inovao
25
trabalho Essai sur la nature du commerce en gnral (publicado em 1755), verificou que
as discrepncias entre a oferta e a procura num mercado criavam oportunidades para
comprar barato e vender a um preo alto, o que traria equilbrio a um mercado
competitivo. Para Cantillon, o empreendedor era portador da incerteza, como o cita
Schumpeter (1954:pg. 646): buying productive services at certain prices in order to
produce a product whose price is not certain, ou seja, o empreendedor compraria
produtos a um determinado preo e, depois de embalado e transportado para o mercado,
seria vendido a um preo incerto. Aqueles que soubessem tirar partido desta
oportunidade de lucro (por realizar), eram chamados de empreendedores. Empreender
uma questo de viso e vontade para assumir o risco em um dado momento do tempo,
no estando necessariamente relacionado com a produo de bens e criao de
emprego. O entrepreneur passou a designar uma pessoa que identificava uma
oportunidade de negcios, assumindo os riscos inerentes.
Jean-Baptiste Say (1767-1832), economista francs e grande admirador de Adam
Smith, definiu o empreendedorismo como uma combinao de factores dentro de um
organismo e dividiu, segundo Landstrm (2005), o desenvolvimento industrial3 em trs
actividades distintas: 1) investigao que conduzida por investigadores com o propsito
de gerao de conhecimento; 2) ajuste/utilizao desse conhecimento em produtos via
empreendedores, os quais organizam, renem os factores produtivos e 3) produo que
executada pelos trabalhadores. Say tinha uma viso do empreendedor como um
broker, na medida em que organiza e combina os meios de produo com o objectivo
de produzir bens, mas este, para alm de coordenador, tambm acarretava estas
actividades por seu prprio risco. Segundo Schumpeter (1954, p. 555), Say foi o primeiro
a distinguir o empreendedor do capitalista. Filion (1997) refere que Say associou os
empreendedores inovao, vendo-os como agentes da mudana.
No incio do sculo XX, o economista austraco Joseph A. Schumpeter (1883-1950)
apresenta um novo significado para o empreendedor, e aborda o seu impacto sobre a
economia, destacando as suas funes inovadoras e promotoras da mudana. Para
Schumpeter (1934), o crescimento econmico no resulta da acumulao de capital, mas
da combinao de meios de produo, chamando de empreendimento realizao de
combinaes novas e de empreendedores aos indivduos cuja funo realiz-las. A
realizao de combinaes novas pode surgir das antigas por ajuste contnuo mediante
3 Nesta poca a Revoluo Industrial estava em curso. Segundo Filion (1997), Say tinha a esperana que
esta pudesse atravessar o Canal com rumo a Frana.
Plataforma de Apoio aos Processos de Inovao do Empreendedor
26
pequenas etapas, significando o emprego diferente da oferta de meios produtivos
existentes no sistema econmico, originando, desta forma mudana e crescimento. O
acto de empreender coloca o processo de inovao em marcha e o empreendedor
poder ser visto como a personificao do inovador. O empreendedor que realiza estas
novas combinaes no precisa de ser o dono da empresa, ou seja, este poder ser um
trabalhador dependente, como um gerente, membros da direco, entre outros. Segundo
o autor, o empreendedor responsvel por um processo que chamou de destruio
criativa, sendo o impulso fundamental que acciona e mantm em funcionamento a
economia capitalista. Leite (2000) refere que, na percepo de Schumpeter a destruio
criativa um processo orgnico, de permanente mutao industrial, que incessantemente
revoluciona a estrutura econmica a partir de dentro, constantemente destruindo a velha,
constantemente criando uma nova. Para Schumpeter, o conceito de destruio criativa
foi usado para definir a mutabilidade, a natureza dinmica dos fenmenos e para
sustentar que a mudana um ingrediente essencial ao sucesso (Cunha, 2004).
A partir da II Guerra Mundial, emergiu uma nova linha de pensamento, centrada numa
perspectiva comportamental, levando em considerao as caractersticas pessoais, as
motivaes, os estmulos e as necessidades de realizao dos empreendedores. Nesta
corrente de carcter mais psicolgico, McClelland (1917-1998) o mais reconhecido
pioneiro entre os investigadores behavioristas do estudo comportamental dos
empreendedores. Realizou trabalhos sobre a questo da motivao psicolgica, baseado
na crena de que o estudo da motivao contribui significativamente para o entendimento
da capacidade empreendedora. Segundo a sua teoria da motivao psicolgica, as
pessoas so motivadas por trs necessidades: 1) necessidade de realizao, 2)
necessidade de poder e 3) necessidade de afiliao. Para Rego (1995:pg.5) a teoria de
McClelland poderia ser classificada como uma teoria de contedo, na medida em que se
preocupa com o que motiva o comportamento, isto , enfatizando a compreenso dos
factores internos dos indivduos que contribuem para que estes se comportem de
determinada maneira em oposio s teorias do processo (que procuram responder
questo de como as pessoas so motivadas).
McClelland verificou que a necessidade de realizao era um ingrediente essencial ao
sucesso do empreendedor. Segundo Landstrm (2005), McClelland concluiu que os
pases com um melhor desenvolvimento so caracterizados por se dar menos ateno a
normas institucionais e uma maior nfase aos valores das pessoas. Os empreendedores
so pessoas com grande desejo de autonomia, com um optimismo elevado, com
capacidade de persuaso e com grande necessidade de realizao, sendo que esta
Empreendedorismo e Inovao
27
necessidade faz com que o indivduo execute de melhor forma as suas tarefas, atingindo
eficazmente os seus objectivos. Neste contexto, os empreendedores tornam-se numa
fora importante no desenvolvimento econmico de um pas.
Com a globalizao, a figura do empreendedor entra novamente na moda e urge uma
nova anlise sobre o empreendedorismo, numa ptica de gesto. Para Drucker (1909 -
2005), o empreendedorismo uma disciplina que pode ser aprendida, frisando que o
empreendedorismo no uma arte nem uma cincia, mas sim uma prtica. Segundo
Drucker, o surgimento da economia empreendedora tanto um evento cultural e
psicolgico, quanto econmico ou tecnolgico. O empreendedorismo um
comportamento e no um trao de uma personalidade especial, no existindo, desta
forma nenhum pr-requisito para algum se tornar num empreendedor, pois so factores
como a vontade, a persistncia, a responsabilidade, a dedicao e a viso de futuro que
determinam o sucesso do candidato a empreendedor.
De acordo com Drucker, a tecnologia que proporciona o surgimento de uma economia
empreendedora crescente, mudando atitudes e valores a administrao. O que
motivou o aparecimento da economia empreendedora nos EUA tero sido as novas
aplicaes de administrao, que se voltou a novos empreendimentos existentes, a
empresas pequenas e no somente a grandes e, principalmente inovao sistemtica,
atravs da busca e aproveitamento de novas oportunidades para satisfazer as
necessidades humanas. Sobre a inovao, Drucker, (1985:pg.25) refere que o
instrumento especfico dos empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudana
como uma oportunidade para um negcio diferente ou um servio diferente.
Mais recentemente, Audretsch (2002) refere que o empreendedorismo visto como
um processo de mudana e, concordando com a proposta para a definio de
empreendedorismo da OCDE (1998), refere que os empreendedores so os agentes de
mudana e crescimento numa economia de mercado, e que podem agir para acelerar a
gerao, a disseminao e a aplicao de ideias inovadoras. Os empreendedores no s
procuram e identificam potenciais oportunidades econmicas de lucro, mas desejam
tambm arriscar, para ver se os seus palpites esto correctos.
Para Audretsch (2002), o empreendedorismo um conceito multidimensional, que
pode ser encarado numa perspectiva econmica ou de gesto e comporta alguma
complexidade, pois pode ser entendido de diferentes formas, consoante a unidade de
anlise. Por um lado, o empreendedorismo envolve as decises e aces de indivduos
que podero agir sozinhos ou dentro do contexto de um grupo. Por outro, envolve a
anlise ao nvel da indstria e do espao onde se insere, como cidades, regies ou
Plataforma de Apoio aos Processos de Inovao do Empreendedor
28
pases. Desta forma, h a considerar a problemtica do contexto, pois o que pode ser
percepcionado como mudana para um indivduo ou empresa pode no o ser para a
indstria, da mesma forma que o que pode representar mudana para a indstria local,
pode no o ser para a indstria a um nvel global. Assim, o valor do empreendedorismo
contextualizado pelo local onde se apresenta.
Atendendo a esta perspectiva histrica do termo e significado de empreendedor,
verifica-se que a descoberta e a explorao de novas oportunidades de negcio foi desde
sempre importante. Pode-se afirmar que o empreendedorismo uma das actividades
mais antigas na vida do Homem, sendo objecto de interesse, em conjunto com o estudo
de pequenas empresas, desde o sculo XVIII por autores como Richard Cantillon e Jean-
Baptiste Say e mais tarde pelos economistas austracos Carl Menger e Joseph
Schumpeter. O interesse no assunto intensificou-se durante o sculo XX, quando deixou
de ser visto apenas na ptica economicista e passou a ser considerado numa perspectiva
comportamental (behaviorista) e de gesto. A partir da dcada de 70/80 do sculo XX, o
empreendedorismo tornou-se motor do desenvolvimento econmico e social por todo o
mundo, em parte devido s mudanas que ocorreram na sociedade (como a crise
petrolfera, o progresso tecnolgico, a crescente globalizao, entre outros), sendo
considerado uma importante prtica para o desenvolvimento de alguns pases, uma vez
que os empregos tradicionais esto mais escassos e os indivduos sentem a necessidade
de encontrar novas carreiras/oportunidades nesta era competitiva. Desta forma, o papel
que o empreendedorismo desempenhava nas economias tradicionais transformou-
se/adaptou-se drasticamente nova economia.
Ainda sobre as diversas correntes e formas como o conceito de empreendedorismo
percepcionado por diversos autores/campos de estudo, Fillion (1997) escreve:
The economists tend to agree that entrepreneurs are associated
with innovation, and are seen as the driving forces of development.
The behaviourists ascribe the characteristics of creativity,
persistence, locus of control and leadership to entrepreneurs.
Engineers and operations management specialists see entrepreneurs
as good distributors and coordinators of resources. Finance
specialists define entrepreneurs as people able to measure risk. For
management specialists, entrepreneurs are resourceful and good
organizers, develop guidelines or visions around which they organize
their activities, and excel at organizing and using resources.
Empreendedorismo e Inovao
29
Marketing specialists define entrepreneurs as people who identify
opportunities, differentiate themselves and adopt customer-oriented
thinking. For students of venture creation, the best elements for
predicting the future success of an entrepreneur are the value,
diversity and depth of experience and the skills acquired by the
would-be entrepreneur in the sector in which he or she intends to
operate.
1.2 A importncia do empreendedorismo no desenvolvimento econmico
First they laugh at you, then they ignore you, then they fight you...then you win.
M.K. Gandhi
Como o surgimento de novas empresas (em especial as PME e as de base
tecnolgica), a capacidade empreendedora tem ganho destaque em todo o mundo4,
como uma questo de grande relevncia para o crescimento econmico de um pas pelo
seu potencial de criao de emprego, pelo que a figura mstica do empreendedor tem
sido realada em funo da necessidade de gerar novos postos de trabalho5 e de dnamo
da inovao. Contudo, nem sempre o empreendedorismo foi considerado como uma
fora vital na economia dos pases desenvolvidos. De facto, como refere Audretsch
(2002), o papel do empreendedorismo mudou drasticamente ao longo do ltimo sculo.
Aps a II Guerra Mundial, a importncia da actividade empreendedora foi descurada em
favor das grandes empresas e do impacto econmico que estas demonstravam ter
naquela altura. Na poca do ps-guerra, surgiu literatura diversa que acusava as PME
4 Ter em considerao ao facto de que a existncia de uma elevada proporo de PME num pas (ou
regio) no significa que hajam muitos empreendedores. Muitas pessoas criam novos negcios por no existirem melhores alternativas (empreendedorismo de necessidade) e no devido descoberta de uma oportunidade de negcio lucrativa (empreendedorismo de oportunidade).
5 Embora no exista ainda uma comprovao da existncia de uma relao entre o nvel de actividade
empreendedora e os nveis subsequentes da diminuio de emprego, existem vrias teorias e estudos empricos que sugerem que esta relao tende cada vez mais a confirmar-se. Audretsch, Carree e Thurik (2001) sugerem duas relaes diferentes entre o nvel de desemprego e o empreendedorismo:
Refugee effect: baseia-se no facto de que, com o aumento do desemprego, maior ser a actividade
empreendedora. Numa altura de ausncia de emprego no mercado de trabalho, surge a necessidade por parte do desempregado, de procurar rendimento trazido por uma eventual actividade empreendedora.
Schumpeter effect: o aumento dos nveis de empreendedorismo (criao da prpria empresa) leva a
maiores nveis de emprego e crescimento econmico. Tal deve-se a que a gerao de novas firmas leva contratao de pessoas para os seus postos de trabalho, diminuindo desta forma o desemprego.
Plataforma de Apoio aos Processos de Inovao do Empreendedor
30
como menos eficientes que as suas oponentes, tal como estas atribuam remuneraes
mais baixas aos seus colaboradores. Estvamos, ento, na poca de ouro do capitalismo
(modelo do Estado interventor keynesiano), da era da produo em massa e economias
de escala, onde as PME eram tidas como menos importantes para a economia e eram
vistas como um luxo. Contudo, segundo Audretsch (2002), a literatura mais recente viria
a revelar que esta situao se inverteu completamente nos ltimos anos do sculo XX.
Face crise social e econmica que se agravava, s altas taxas de inflao e aos nveis
de desemprego elevados (muitos destes ocasionados pela reduo dos quadros de
pessoal das empresas, em parte devido utilizao intensiva de tecnologias como a
electrnica e a telemtica), surgiu a necessidade de se encontrar alternativas para
recompor a economia.
Hoje em dia, as economias dos pases desenvolvidos esto em transio de um
estado no qual a produo em massa era a base dos negcios para uma economia na
qual as indstrias baseadas no conhecimento formam a pedra angular da actividade
econmica. Audretsch e Thurik (2001) referem-se a este processo como the transition
from the managed to entrepreneurial economy. Isto sugere dois modelos em contraste e
um diferente desempenho do papel do empreendedorismo. No modelo da economia de
gesto, a produo resulta de inputs como o trabalho e o capital e caracterizada pela
estabilidade, pela especializao, pela homogeneidade e pela certeza. Em contraste, no
modelo da economia empreendedora, o conhecimento o factor dominante de produo,
que se caracteriza pela flexibilidade, pela turbulncia, pela diversidade, pela novidade e
pela inovao. Enquanto o modelo da economia de gesto tem o seu foco na
continuidade, o modelo da economia empreendedora provoca e prospera na mudana
(Audretsch e Thurik, 2004).
Assim sendo, h que referir o papel impulsionador que o processo de globalizao tem
desempenhado. Afinal, no actual mercado global, s sairo vencedores aqueles que tm
capacidade de alinhar competitividade e produtividade de modo eficiente e eficaz, sendo
assim o empreendedorismo o elemento motor da economia de qualquer pas, uma vez
que pela iniciativa dos indivduos, que se desenvolvem e empreendem ideias, fazendo
com que a economia se estruture, cresa e se consolide, criando riqueza e gerando
empregos. Existem contudo, determinados aspectos a ter em conta. As taxas de
crescimento diferentes, entre pases ou regies, cujo empreendedorismo est
relacionado, no podem ser justificadas por um maior ou menor nmero de
empreendedores.
Empreendedorismo e Inovao
31
Actualmente, aceite de modo generalizado que a produtividade e o crescimento
econmico dependem, cada vez mais, do processo de inovao, que tem como principal
input o conhecimento. De certo modo, possvel afirmar que o conhecimento, o
ingrediente subjacente competitividade das naes, regies e empresas. desta forma
que Audretsch (2002) sugere que o empreendedorismo ganha nova importncia, uma vez
que funciona como um mecanismo chave atravs do qual o conhecimento que gerado
numa organizao passa a ser comercializado numa nova empresa.
O conhecimento mais do que mera informao e inclui elementos tcitos
incorporados em indivduos, empresas e outras organizaes, atravs dos seus hbitos e
rotinas, no sendo facilmente transfervel de um espao para outro. Por outro lado, a
inovao um processo que se desenvolve em sistemas complexos, envolvendo
feedback e relaes entre os diversos agentes. No seu sentido lato, inclui no s bens,
servios e processos tecnolgicos, mas tambm mudanas organizacionais. Os
processos de aprendizagem ocorrem atravs de intensas interaces mediatizadas por
instituies. De facto, a abordagem dos sistemas de inovao sugere que a proximidade
entre os agentes no contexto de um ambiente scio-econmico comum pode estimular as
relaes interpessoais e inter-organizacionais, criando espaos para troca de informao
e conhecimento e, desperta os processos de aprendizagem, dada a natureza interactiva
e localizada destes processos. A verdade que, como muitos autores afirmam, mais
provvel que a inovao ocorra em reas onde os inputs especializados, servios e
recursos necessrios aos processos de inovao se encontrem concentrados.
Utilizando a terminologia de Audretsch (2002), os knowledge spillovers ocorrem
quando h um transbordo tecnolgico de uma empresa para as circundantes, ou seja,
fluxos de conhecimento gerados sobre uma tecnologia que afecta s actividades de
inovao desenvolvidas por outros agentes em diferentes (mas relacionados) campos
tcnicos. A concentrao espacial da inovao desempenha, nesta situao, um factor
importante. Segundo Conceio et al. (2003), existem limites geogrficos aos spillovers
de conhecimento, definidos como espaos em que a ideia original difundida a um custo
inferior ao custo inicial de desenvolvimento, ou seja, em que as firmas locais beneficiam
desproporcionalmente dos conhecimentos. De acordo com Marques e Abrunhosa (2004)
trata-se aqui de um fenmeno extra-mercado, isto , com uma natureza no pecuniria,
cuja fonte reside na incompletude dos direitos de propriedade em matria de
conhecimento. Grossman (1989 apud Marques e Abrunhosa, 2004), descreve-o nos
seguintes termos: firms that have devoted resources to generating new knowledge
may be unable to prevent others from making use of it. In other words, it may be difficult
Plataforma de Apoio aos Processos de Inovao do Empreendedor
32
for the originator of some technological advance to project his or her property rights, even
though patent or copyright laws have been devised exactly for this purpose.
De acordo com Audretsch e Thurik (2004), como estes knowledge spillovers resultam
de conhecimento gerado endogenamente via I&D, estes aumentam o nvel de
oportunidades a ser identificadas e exploradas pelos empreendedores. Logo, segundo os
mesmos autores, a actividade empreendedora does not involve simply the arbitrage of
opportunities but also the exploitation of new ideas not appropriated by incumbent firms.
Assim, nas externalidades deste tipo, em geral, beneficiam as empresas que operam no
mesmo sector da que se encontra na origem da inovao (empresas que utilizam a
mesma tecnologia que esta ltima e que so seus concorrentes), sendo que o
empreendedorismo serve de mecanismo sob a forma de spillover de conhecimento para
a nova empresa onde o conhecimento poder ser comercializado.
Audretsch e Thurik (2004) referem tambm que os knowledge spillovers tem tendncia
para uma maior dimenso na presena de grandes investimentos, logo, as oportunidades
empreendedoras baseadas na explorao desses knowledge spillovers tendem tambm
a ser maiores. Esta teoria sugere que a actividade empreendedora aumenta em
contextos onde os investimentos em conhecimento (I&D) so intensos, uma vez que
sero geradas novas empresas a partir do conhecimento que se exteriorizou da
empresa que produziu esse novo conhecimento, ou seja, a transferncia de
competncias para novas empresas situadas dentro do mesmo territrio. De acordo com
o Livro Verde do Esprito Empresarial na Europa (Comisso Europeia, 2003), a criao
destas novas empresas aumenta a produtividade, na medida em aumenta a presso
competitiva, forando as outras empresas a reagir mediante o melhoramento da eficcia
ou a introduo da inovao. Em contraste, num contexto pobre em I&D, a falta de ideias
no ir gerar novas oportunidades empreendedoras resultantes da explorao dos
knowledge spillovers. Deste modo, no de estranhar que se atribua uma especial
importncia aos knowledge spillovers enquanto factor-chave para a clusterizao de
empresas inovadoras, contribuindo o esprito empreendedor no s para o crescimento
econmico atravs da criao de novas empresas (logo, contribuindo para baixar os
nveis de desemprego), como tambm para o reforo da coeso social de regies cujo
desenvolvimento sofre algum atraso.
O empreendedorismo define-se, ento, desta forma, como a dinmica de identificao
e aproveitamento econmico de oportunidades e os empreendedores como agentes de
mudana e crescimento numa economia de mercado, contribuindo para possibilidade de
Empreendedorismo e Inovao
33
implementar inovaes radicais6 que criam novas indstrias ou alteram a forma de
fazer negcios nas indstrias existentes.
Um indivduo empreendedor aquele que age. S se aprende quando se pe algo em
prtica. O conhecimento por si s no serve de nada e, s verdadeiramente importante,
quando se faz bom uso dele. Os empreendedores no so pessoas parte com
caractersticas especiais. So pessoas pressionadas pelas suas prprias necessidades
e/ou motivaes ou despertas para carncias que necessitam de respostas organizadas
e consequentes.
Os empreendedores so pessoas capazes de produzir mudanas na sociedade,
muitas vezes atravs das suas ideias ou dos seus sonhos. Dolabela (2005) denomina
estes sonhos como sonhos estruturantes, assim chamados porque podem dar origem e
organizao a um projecto de vida, articulando sinergeticamente desejos e viso do
mundo. O sonho estruturante o sonho que se sonha acordado, capaz de conduzir
auto-realizao. Porm, para alm de sonharem acordados, os empreendedores esto
dispostos a batalhar pela sua concretizao, muitas vezes sem apoios e sem grandes
condies de xito. O talento, a coragem, a audcia, o inconformismo, a criatividade, a
excelncia, a liderana e a persistncia levam a que encontrem solues positivas e
assuma os riscos e desafios com grande determinao. O empreendedor algum que
capaz de persuadir terceiros, scios, colaboradores, investidores e at patres e,
convenc-los de que a sua viso poder lev-los a uma situao confortvel no futuro.
Um empreendedor sabe identificar oportunidades, agarr-las e buscar recursos para
transform-las em algo lucrativo. Como refere Drucker (1985), o empreendedor est
sempre procura da mudana, reage a ela e explora-a como uma oportunidade. Aqueles
que so bem sucedidos, qualquer que seja a sua motivao pessoal (dinheiro, poder,
curiosidade ou reconhecimento) tentam criar valor e fazer uma contribuio. Drucker
(1985) argumenta, ainda, que os empreendedores querem sempre mais. No se
6 As inovaes tambm podem classificar-se consoante o grau de novidade que envolvem. Algumas
inovaes designam-se por incrementais porque envolvem pequenos melhoramentos nos produtos ou processos produtivos. Surgem continuadamente na actividade normal da empresa, geralmente introduzidas pelos trabalhadores. As inovaes incrementais podem ser individualmente pouco significativas mas, quando consideradas cumulativamente, podem ter um grande impacto econmico. Outras inovaes que implicam grandes alteraes no produto ou processo, ou descontinuidades tecnolgicas, so designadas por inovaes radicais. Estas inovaes radicais so quase sempre o resultado das actividades de I&D desenvolvidas nas empresas, em laboratrios de investigao ou nas universidades. As inovaes radicais representam saltos tecnolgicos que implicam descontinuidade com a tecnologia precedente.
Para mais detalhes consultar o trabalho do professor Ado Carvalho (departamento de economia da Universidade de vora):O que a inovao? (2004).
Plataforma de Apoio aos Processos de Inovao do Empreendedor
34
contentam apenas em melhorar o que j existe, ou em modific-lo, mas procuram sempre
criar valores novos e diferentes, combinando recursos existentes numa nova e mais
produtiva configurao. Tambm Murray (1938 apud Virtanen, 1997) descreve a
capacidade empreendedora pelas atitudes e comportamentos destes indivduos:
"They work hard and are driven by an intense commitment and
determined perseverance; they see the cup half full, rather than half
empty; they strive for integrity; they burn with competitive desire to
excel and win; they are dissatisfied with the status quo and seek
opportunities to improve almost any situation they encounter; they
use failure as a tool for learning and eschew perfection in favor of
effectiveness; and they believe they can personally make an
enormous difference in the final outcome of their ventures and their
life.
Porm empreender no s querer. Consiste tambm num elevado sentido de
planificao e organizao do trabalho e da capacidade e responsabilidade de assumir
riscos. Esta dimenso, dos meios e dos recursos, que devem traduzir-se em eficincia
o que distingue o luntico, o sonhador, daquele que quer efectivamente realizar o seu
projecto. Planear e organizar torna-se essencial para uma aco empreendedora eficaz.
1.3 O empreendedorismo e o reconhecimento de oportunidades
O verdadeiro acto de descoberta no consiste em encontrar novas terras, mas em ver com novos olhos.
Marcel Proust
O empreendedor v oportunidades que no so observadas por aqueles que no
possuem a capacidade empreendedora. O ingrediente bsico do esprito empreendedor
o reconhecimento do que realmente uma boa ideia para uma oportunidade de negcio.
Um bem ou servio no tem necessariamente de ser nico, mas deve ser capaz de
fornecer um conjunto distinto de benefcios para o consumidor. Pode ser a percepo de
que algo que j foi previamente desenvolvido por outrm ainda no foi aplicado de forma
correcta e/ou criativa a um mercado de interesse, levando a organizar ou reorganizar
recursos existentes de forma inovadora. Contudo, apesar de o empreendedorismo se
centrar na descoberta de oportunidades e, subsequentemente, na explorao de tais
Empreendedorismo e Inovao
35
oportunidades pelos indivduos, Acs et al. (2005) referem que, l por essas oportunidades
existirem, isso no querer dizer que todos os indivduos as percepcionem. Apenas os
indivduos com qualidades apropriadas que reconhecem tais oportunidades. Logo, a
actividade empreendedora depende da interaco entre as caractersticas da
oportunidade e as caractersticas das pessoas que a exploram.
No so s as habilidades e capacidades cognitivas do indivduo que despoletam o
empreendedorismo. Segundo Shane e Ventakaraman (2000), para que esta aco
ocorra, necessrio que existam oportuni