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UNIVERSIDADE POTIGUAR PRÓ-REITORIA ACADÊMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO RICARDO ALADIM MONTEIRO PERFIL EMPREENDEDOR E CAPACIDADE DE INOVAÇÃO DAS INDÚSTRIAS BONELEIRAS DA REGIÃO SERIDÓ DO RIO GRANDE DO NORTE. NATAL/RN 2016

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UNIVERSIDADE POTIGUAR

PRÓ-REITORIA ACADÊMICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

RICARDO ALADIM MONTEIRO

PERFIL EMPREENDEDOR E CAPACIDADE DE INOVAÇÃO DAS INDÚSTRIAS

BONELEIRAS DA REGIÃO SERIDÓ DO RIO GRANDE DO NORTE.

NATAL/RN

2016

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RICARDO ALADIM MONTEIRO

PERFIL EMPREENDEDOR E CAPACIDADE DE INOVAÇÃO DAS INDÚSTRIAS

BONELEIRAS DA REGIÃO SERIDÓ DO RIO GRANDE DO NORTE.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Administração, da Universidade Potiguar, como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração na Área de Concentração Gestão de Negócios.

Orientadora: Profª. Liêda Amaral de Souza.

NATAL/RN

2016

RICARDO ALADIM MONTEIRO

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PERFIL EMPREENDEDOR E CAPACIDADE DE INOVAÇÃO DAS INDÚSTRIAS

BONELEIRAS DA REGIÃO SERIDÓ DO RIO GRANDE DO NORTE.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Potiguar, como requisito para obtenção do título de Mestre.

Aprovado em:____/____/_____

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Profª. Drª. Lieda Amaral de Souza

Orientadora Universidade Potiguar - UNP

______________________________________________ Prof. Dr. Felipe Nalon Castro Membro Examinador Interno Universidade Potiguar – UNP

______________________________________________

Prof. Dr. Rodrigo José Guerra Leone Membro Examinador Interno Universidade Potiguar – UNP

______________________________________________ Profª. Drª. Isabel Cristina Amaral de Sousa Rosso Nelson

Membro Examinadora Externa UniFacex

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Aos meus pais, Tarciso e Nereide, pois

devo tudo que sou a eles que sempre

torcem por mim. Ao meu irmão, que

durante muito tempo foi minha fonte de

inspiração. À minha esposa, Karla, e aos

meus filhos, Lucas e Maria Luíza que

sempre me apoiaram e me ajudaram em

todos os momentos de que precisei nessa

jornada de estudo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a meu bom Deus que nunca me abandonou um só

segundo durante toda a minha vida, ajudando-me a levantar sempre que eu pensei

em fraquejar. Aos meus pais, Tarciso Aladim e Nereide Monteiro, por terem me dado

e dom da vida e por me dedicarem a maior parte das suas vidas me dando amor,

carinho e me incentivando e aconselhando para que eu trilhe o caminho correto.

Agradeço a meu irmão Clovis que me questionava e me desafiava a terminar meus

projetos, sempre torcendo por mim. A minha esposa, Karla, e a meus filhos Lucas e

Maria Luiza que são meus portos seguros, meus tesouros, minha vida. Além de

agradecer, peço mil desculpas pelas noites que passei fora de casa, viajando para

Natal, pelos dias dedicados a projetos profissionais, pelas horas que “roubei” do

nosso convívio familiar para me dedicar ao mestrado. Amo muito toda a minha

família e sei que vocês torciam a cada dia para que eu vencesse essa batalha. Até

hoje meu coração fica apertado quando me lembro de Luquinhas me abraçando

antes deu sair para Natal e perguntando: “Papai quando é que esse mestrado

acaba? Você volta amanhã?”.

Ao ouvir essas perguntas, saía para Natal com um aperto no peito e os olhos

cheio de lágrimas. Mas na viagem encontrei uma grande pessoa que me ajudou a

superar esse desafio, que além de ser meu motorista era um ombro amigo que

escutava minhas lamentações, angústias, alegrias e histórias vivenciadas durante

esses longos dois anos. Esse cara é Neto Bololo, ele se tornou muito mais que um

motorista, ele se tornou meu grande amigo. Quando a coisa estava muito apertada,

Neto sempre me chamava para conversar e tomar uma Samanaú. Teve também

meu compadre Ney que quando não dava para eu viajar com Neto, ele estava

sempre pronto para me levar para o mestrado, e sempre me dava forças e me

encorajava dizendo que ia dar tudo certo.

Não posso deixar de agradecer às pessoas que me aguentaram esses dois

anos, dando-me mais que comida, dormida, carona e roupa lavada. Kátia Ferreira e

Jadeco Aladim (O Gigante) abriram muito mais que a porta da sua casa, abriram os

seus corações e fizeram eu me sentir em casa, deram-me outra família: Maria Júlia,

a pequena Maria Helena, Consessa, enfim, todos me acolhiam com carinho e

alegria.

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Agradeço também a todos os meus amigos e colegas de trabalho da UFRN e

da SEDIS e em especial a Sócrates, Isabel e Carlos que foram um grande

incentivador desse objetivo. E falando em incentivador, não posso esquecer-me de

Francinaldo e Djanir que corrigiram meu projeto inicial para a seleção do mestrado e

me deram dicas importantíssimas. Agradeço demais ao casal Gisonal e Maria José

que cuidarão de toda a correção ortográfica com o maior carinho. Agradeço ainda a

meus alunos que torciam por mim a cada passo que eu dava. Agradeço a minha

equipe RK Contabilidade que na minha ausência conseguiu levar o escritório e dar a

assistência merecida aos clientes. As minhas amigas Econat (Neves Batista,

Adriana, Tatiane, Alcivânia, GG, Larissa) enfim, a todos os amigos que ajudaram

direta ou indiretamente.

À minha orientadora, Professora Lieda Amaral, pela sua competência,

paciência, puxões de orelhas e carinho por seus orientandos. Admiro muito o seu

profissionalismo. Orgulho-me demais por tê-la como orientadora. À professora Laís

Barreto que me ajudou a iniciar minha dissertação, dando as primeiras orientações.

Aos professores Felipe e Manoel, que muito contribuíram com suas colocações na

qualificação. Ao amigo Rafael Andrade, meu companheiro da dupla R e R, que

assim, como eu, lutava para conseguir chegar a Natal, dividindo-se entre o trabalho,

a família e o mestrado. À amiga Lúcia Leandro que sempre alegrava a todos com

sua irreverência e me deu alguns conselhos pedagógicos, quando meu filho estava

sentindo minha falta. A todos os boneleiros que abriram as portas das suas

empresas para me receber e responder meus questionamentos. Em especial, aos

amigos Arlúcio e Agripino que dedicaram muito do seu tempo para explicar tudo

sobre o processo de fabricação do boné. Ao amigo Anderson (Galeguinho) que me

acompanhou em várias entrevistas. Ao amigo Saul, que fez a entrevista com a

bonelaria de São José do Seridó e a amiga Letícia, que aplicou os questionários em

Serra Negra do Norte. Agradeço muito também a professora Tenesse que me

ajudou demais na parte estatística e de análise de dados. À secretária de Pós-

Graduação em Administração, Glícia Xavier, por toda a dedicação pelo curso e pelo

apoio e atenção durante todo o mestrado.

Aos professores do mestrado com quem aprendi muito. Para todos os amigos

do mestrado, os que terminaram e os que por um motivo ou outro seguiram outro

percurso ao logo da nossa caminhada. A todas as pessoas que direta e

indiretamente me auxiliaram no mestrado e as que não me auxiliaram também, pois

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essas pessoas fizeram com que eu me esforçasse e adquirisse novos

conhecimentos. Por muitas vezes pensei em desistir, passei por alguns problemas,

pois não estava dando a atenção merecida para meus filhos, mas graças a todos

vocês, eu consegui. Agradeço as pessoas que me deram carinho e apoio nesse

momento para o término deste projeto profissional. Obrigadão. Todos vocês fazem

parte desse sonho que se tornou realidade!

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"Todos os seus sonhos podem se tornar realidade se você tem coragem para persegui-los".

(Walt Disney)

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RESUMO

Durante muitos anos, a indústria têxtil no Brasil viveu momentos de conforto frente à concorrência internacional, pois o Brasil estabelecia várias barreiras para proteger o país da entrada dos produtos importados. Com a quebra de algumas barreiras protecionistas, o Brasil sofreu grande impacto da concorrência internacional, principalmente, da China. Os produtos têxteis importados preocupam devido a sua grande proliferação que impacta diretamente no comércio brasileiro, fazendo com que muitas empresas percam mercado ou até mesmo fechem as portas. Buscando compreender o desempenho das indústrias têxteis de bonés do Polo Seridó frente à internacionalização da concorrência. A presente pesquisa traçou o perfil socioeconômico dos gestores das bonelarias e investigou a orientação individual empreendedora, a capacidade de inovação e o desempenho desses pequenos fabricantes de bonés da região do Seridó do Rio Grande do Norte. Para isso, o instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário fechado adaptado de Maske (2012) com questões que buscaram compreender o perfil empreendedor e a capacidade de inovação dos gestores das bonelarias, investigando a Orientação Individual Empreendedora – OIE e o desempenho dos pequenos fabricantes de bonés da região do Seridó do Rio Grande do Norte em escala Likert, contendo sete pontos. Após a aplicação do questionário, optou-se por realizar as análises na feição da estatística descritiva, utilizando parâmetros como mediana, média e os coeficientes de concordância e discordância, além do alfa de Cronbach. Os resultados foram satisfatórios, tendo em vista que, através da presente pesquisa foi possível verificar que os administradores das indústrias de bonés do polo Seridó apresentam poucas características de orientação individual empreendedora e não apresentam comportamento inovador. Com relação à verificação do desempenho das bonelarias, tanto com relação à concorrência nacional, como com relação à concorrência internacional, concluiu-se que ausência de um comportamento inovador e de atitudes relacionadas à OIE, apesar de não influenciarem no desempenho dessas pequenas fábricas de bonés frente à concorrência nacional, influenciam negativamente seu desempenho junto à concorrência internacional.

Palavras-Chave: Bonelarias. Concorrência. Desempenho. Inovação Orientação

individual empreendedora.

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ABSTRACT

For many years, the textile industry in Brazil experienced moments of comfort on the competition, as Brazil established several barriers to protect the country from the entry of imported products. With the breaking of some protectionist barriers, Brazil suffered great impact of international competition, especially from China. Imports of textile products concerned due to their great proliferation that directly impacts on the Brazilian market, making many companies lose market or even close the doors. Trying to understand the performance of embroidered textiles Polo Seridó forward the internationalization of competition. This research traced the socioeconomic profile of the managers of bonelarias and investigated the entrepreneurial individual orientation, innovation capacity and performance of these small caps manufacturers of Rio Grande do Norte region Seridó. For this, the data collection instrument was a closed questionnaire adapted from Maske (2012) with questions that sought to understand the entrepreneurial and innovative capacity of the managers of bonelarias investigating the Individual Guidance Enterprising - OIE and the performance of small caps manufacturers of the North of Rio Grande Seridó region Likert scale, with seven points. After the questionnaire, it was decided to carry out the analysis on the feature descriptive statistics, using parameters such as median, mean and coefficients of agreement and disagreement, in addition to Cronbach's alpha. The results were satisfactory, given that through this study we observed that the directors of Seridó polo caps industries have few characteristics of entrepreneurial individual guidance and show innovative behavior. Regarding the verification of the performance of bonelarias, both with respect to the national competition, as in relation to international competition, it was concluded that the absence of an innovative behavior and attitudes related to the OIE, although they do not affect the performance of these small caps factories forward to the national competition, negatively influence their performance in the international competition.

Keywords: Bonelarias. Competition. Performance. Innovation. Single Orientation

Enterprising.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Matriz de características de empreendedor e empreendedorismo ........ 22

Quadro 2 – Variáveis da orientação empreendedora. ............................................... 25

Quadro 3 – Elementos que representam as dimensões das orientação

empreendedora. ..................................................................................... 28

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Estrutura da cadeia produtiva têxtil e de confecções. .............................. 37

Figura 2 – Localização da Região do Seridó no Território do RN . ........................... 46

Figura 3 – Escala do tipo Likert com 7 pontos........................................................... 47

Figura 4 – Escala do tipo Likert com 7 pontos adaptada. .......................................... 47

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Importação de produtos do vestuário ...................................................... 41

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Maiores produtores têxtil e maiores produtores do vestuário .................. 39

Tabela 2 – Análise do fator orientação individual empreendedora ........................... 57

Tabela 3 – Análise do fator comportamento inovador .............................................. 60

Tabela 4 – Análise das ações desenvolvidas para se manter no mercado ............... 63

Tabela 5 – Análise do crescimento da participação no mercado .............................. 66

Tabela 6 – Resultado do coeficiente de Cronbach e da purificação da escala ......... 68

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIT Associação Brasileira de Indústrias Têxtil e de Confecções

ASFAB Associação dos Fabricantes de Bonés

BNB Banco do Nordeste do Brasil

C Concordo

CNPJ Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica

CP Concordo Parcialmente

CT Concordo Totalmente

D Discordo

DP Discordo Parcialmente

DT Discordo Totalmente

I Indiferente

OE Orientação Empreendedora

OIE Orientação Individual Empreendedora

SEBRAE Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMÁTICA ....................................................... 17

1.2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 18

1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 18

1.2.2 Específicos ..................................................................................................... 19

1.3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 19

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 20

2.1 EMPREENDEDORISMO: ORIGENS E CONCEITOS ........................................ 20

2.1.1 Evolução dos estudos sobre empreendedorismo ...................................... 22

2.2 ORIENTAÇÃO EMPREENDEDORA (OE) .......................................................... 23

2.3 ORIENTAÇÃO INDIVIDUAL EMPREENDEDORA E SUAS DIMENSÕES ......... 26

2.4 VARIÁVEIS DA ORIENTAÇÃO INDIVIDUAL EMPREENDEDORA .................... 30

2.4.1 Assunção a riscos .......................................................................................... 30

2.4.2 Inovatividade .................................................................................................. 31

2.4.3 Proatividade .................................................................................................... 32

2.5 INOVAÇÃO ......................................................................................................... 33

2.6 DESEMPENHO ................................................................................................... 35

2.7 SETOR TÊXTIL ................................................................................................... 36

3 METODOLÓGIA ........................................................... Erro! Indicador não definido.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA .................................................................. 45

3.1.1 Local da pesquisa .......................................................................................... 45

3.1.2 Participantes da Pesquisa ............................................................................. 47

3.1.3 Instrumento de Coleta de Dados .................................................................. 47

3.2 TIPO DE PESQUISA ........................................................................................... 48

3.3 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS .......................................................... 49

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................................... 51

4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS RESPONDENTES ....... Erro! Indicador não definido.

4.2 ANÁLISE DO FATOR ORIENTAÇÃO INDIVIDUAL EMPREENDEDORA. ......... 56

4.3 ANÁLISE DO FATOR COMPORTAMENTO INOVADOR. .................................. 59

4.4 ANÁLISE DAS AÇÕES DESENVOLVIDAS PARA SE MANTER NO

MERCADO...........................................................................................................62

4.5 ANÁLISE DO CRESCIMENTO DA PARTICIPAÇÃO NO MERCADO ................ 65

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4.6 RESULTADO DO COEFICIENTE DE CRONBACH E DA PURIFICAÇÃO DA

ESCALA .............................................................................................................. 69

5 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 72

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 75

APÊNDICE A – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS..................................... 82

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1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMÁTICA

Durante muitos anos, a indústria têxtil, no Brasil, viveu momentos de conforto

frente à concorrência internacional, pois o Brasil estabelecia várias barreiras para

proteger o país da entrada dos produtos importados. No entanto, segundo Veiga

(2000), no início da década de 90, o governo brasileiro abriu, abruptamente, as

barreiras comerciais, revogando a Lei do Similar Nacional e reduzindo as alíquotas

de importação, assim houve uma ampliação do grau de exposição dos produtos

domésticos à competição internacional. Com isso, a indústria têxtil brasileira sofreu

um forte impacto da concorrência internacional, principalmente, dos países do

sudeste asiático, particularmente, a China.

Segundo dados da revista eletrônica da Associação Brasileira de Indústrias

Têxtil e de Confecções - ABIT (2015), as empresas asiáticas dominam mais de 50%

do setor têxtil mundial com o destaque especial para a China, que é o país asiático

com a maior parcela dessa dominação. Os asiáticos estão no topo de todas as

estatísticas do setor como, por exemplo: maiores exportadores; maiores produtores;

maiores empregadores; maiores investidores e maiores empresas. Essa dominação

asiática vem afetando, significativamente, algumas das indústrias de bonés da

região do Seridó do Rio Grande do Norte localizada na mesorregião Central Potiguar

composta de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística por

17 municípios, cuja produção de bonés situa-se especificamente nos municípios de

Caicó, Serra Negra do Norte e São José do Seridó.

O boné chinês constitui a maior preocupação de alguns industriários

caicoenses. Conforme Lins (2011), devido à mão de obra barata, o preço do boné

chinês é, relativamente, baixo e o produto apresenta qualidade, algumas vezes,

superior ao boné nacional. Segundo Silva (2011), o setor industrial têxtil do Brasil

vem sofrendo grandes perdas no mercado, devido ao aumento do número de

compras dos produtos chineses no mercado nacional.

Assim, o mercado interno tem muitos motivos de preocupação com a entrada

dos produtos chineses. Essa preocupação ocorre devido à proliferação desses

produtos impactarem diretamente no comércio brasileiro, fazendo com que muitas

empresas percam mercado ou até mesmo fechem as portas. Segundo Araújo

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(2004), é incontestável que as empresas internacionais invistam bem mais em seus

produtos e processos, pois isso determina que na cadeia têxtil busque

exaustivamente inovações e novos modelos de processos que tornem as empresas

mais competitivas, internacionalmente, impactando, diretamente, no volume de suas

exportações.

De acordo com dados do Banco do Nordeste do Brasil - BNB (2006, p. 27), “a

cadeia têxtil possui três fragilidades fundamentais que são a gestão e a qualificação

de mão-de-obra, a obtenção de matéria-prima e a necessidade de constante

renovação da tecnologia utilizada”. Apesar de tudo isso, observa-se que algumas

bonelarias conseguem se manter nesse mercado altamente competitivo. Covin e

Miles (1999) afirmam que o empreendedorismo apresenta grande impacto no

desempenho empresarial e é uma das mais importantes fontes de vantagem

competitiva.

A orientação individual empreendedora oferece às empresas meios que

possibilitam estender a capacidade de reconstruir a gestão de seus recursos

(KNIGHT, 1997). A orientação empreendedora pode ser conceituada como um

constructo da gestão estratégica das empresas. Conforme Rauch, Wiklund, Lumpkin

e Frese (2009), orientação empreendedora é um conceito que tem emergido no

contexto organizacional com a finalidade de investigar o espírito empreendedor nas

empresas e como isso influencia nos processos estratégicos e de desempenho.

Partindo desse pressuposto, surge a seguinte problemática: Qual o efeito da

orientação individual empreendedora e da capacidade de inovar no desempenho

das fábricas de bonés frente à internacionalização da concorrência?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Compreender o perfil empreendedor e a capacidade de inovação dos

gestores das bonelarias, investigando a Orientação Individual Empreendedora –

OIE, e o desempenho dos pequenos fabricantes de bonés da região do Seridó do

Rio Grande do Norte.

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1.2.2 Específicos

Como consequências para o alcance do objetivo geral, foram definidos os

objetivos específicos elencados abaixo:

a) Identificar o grau de orientação individual empreendedora e de inovação

das fábricas de bonés;

b) Verificar a percepção dos gestores sobre o desempenho dos negócios.

1.3 JUSTIFICATIVA

O município de Caicó é o maior produtor de boné do polo Seridó. O Sebrae

(2014) aponta o Polo Seridó como sendo o segundo maior produtor de boné do país,

perdendo apenas para Apucarana, no Paraná, que é responsável por mais de 50%

da produção brasileira.

De acordo com a revista Sondagem especial da Confederação Nacional da

Indústria (2007), a concorrência com produtos da China afeta uma em cada quatro

empresas industriais brasileiras. Ainda segundo seus resultados, uma em cada

quatro empresas no Brasil concorrem com produtos chineses no mercado doméstico

e metade das empresas brasileiras que competem com empresas da China

perderam participação no mercado para os produtos chineses. Isso mostra a força

dos produtos asiáticos, no Brasil.

Observando a expressividade das bonelarias do Polo Seridó, no contexto

nacional e na economia do Seridó, ressalta-se a relevância dessa pesquisa para o

desenvolvimento dessa região, tendo em vista que, a partir do presente estudo

verificar-se-á se existe relação entre a orientação individual empreendedora, a

inovação e o desempenho das bonelarias. Os resultados obtidos com a pesquisa

servirão para que os empresários desse setor, juntamente com entidades como

Associação Brasileira de Indústrias Têxteis – (ABIT), Associação dos Fabricantes de

Bonés – (ASFAB), Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas –

(SEBRAE) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – (SENAI) possam

desenvolver ações de fortalecimento para as bonelarias conseguirem se manter no

mercado frente à concorrência.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 EMPREENDEDORISMO: ORIGENS E CONCEITOS

Schumpeter (1988, p. 46) é um dos pioneiros no estudo do

empreendedorismo e descreve as ações empreendedoras como sendo aquelas que

“[...] destroem a ordem econômica existente através da introdução de novos

produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização, ou pela

exploração de novos recursos ou materiais [...]”. Com essa afirmação, Schumpeter

(1988) buscava traduzir o sentido de empreendedorismo descrevendo o processo de

destruição criativa na formação da riqueza. O referido autor acredita que a base para

o empreendedorismo está relacionada à utilização dos recursos de forma inovadora

criando e explorando novas oportunidades de negócios. Para Schumpeter (1988),

não existem empreendedores sem inovação nem retorno de capital sem

investimentos. Segundo Filion (1999), vários autores associaram o

empreendedorismo à inovação antes mesmo de Schumpeter. Através de uma

revisão bibliográfica, Filion (1999) chegou à definição de que um empreendedor é

uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões.

Pesquisadores tendem a definir empreendedorismo usando as premissas de

suas próprias disciplinas. Isso faz com que surjam algumas divergências nos

conceitos de empreendedorismos. Filion (1999) cita como exemplo os economistas

que, segundo ele, tendem a fazer a junção do empreendedorismo com a inovação,

enquanto que os comportamentalistas ligam mais o empreendedorismo a ações

intuitivas e criativas. Lumpkin e Dess (1996) ressaltam que não há um consenso

com relação à conceituação de empreendedorismo e isso de certa forma dificulta a

construção de uma teoria geral sobre o tema. De acordo com Gonçalves Filho, Viet

e Gonçalves (2007), os economistas estão interessados na concepção de

empreendedorismo como um motor do sistema econômico, enquanto que os

comportamentalistas, psicólogos, psicanalistas, sociólogos e especialistas do

comportamento humano tentam entender o empreendedor a partir de suas atitudes

e comportamentos. Observa-se que tanto os economistas quanto os

comportamentalistas dão ênfase ao sujeito empreendedor. Para Gomes, Lima e

Cappelle (2013) essas teorias, de certa forma, implicaram no processo de

naturalização do empreendedorismo, pois provocou a crença de que um indivíduo

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para ser empreendedor deve possuir no seu cerne determinadas características,

seja como sujeito que move os sistemas econômicos ou através de atitudes e

comportamentos empreendedores.

Os estudos que buscavam definir o que são empreendedores a partir das

suas características e dos traços da personalidade dominaram o campo de pesquisa

até o início dos anos 80. Após esse período, dois importantes eventos ampliaram o

campo do empreendedorismo, passando a se preocupar também com as ciências

humanas e gerenciais. Um dos eventos foi a criação de uma enciclopédia contendo

tudo que havia de mais moderno sobre empreendedorismo e o outro foi a primeira

conferência anual de Babson College sobre novos negócios que trouxe grande

contribuição para o estudo do empreendedorismo (GUIMARÃES, 2004).

Para Guimarães (2004), essa grande diversidade de conceitos sobre

empreendedorismo se dá devido ao empreendedorismo ser um fenômeno muito

heterogêneo, complexo e multidirecional ligado ao regionalismo que envolve culturas

e hábitos de uma determinada população. Herron e Sapienza (1992) apresentam um

padrão conceitual de empreendedorismo, focado no indivíduo como peça

fundamental do negócio, e de fato considera traços de personalidade e de

comportamentos que influenciam no contexto organizacional, incluindo valores,

habilidades e o potencial de aprendizagem.

Segundo Knight (1997), a atividade empreendedora é fundamental porque

estimula o desempenho superior e pode muito bem ser o elemento chave na

aquisição de vantagens em relação aos concorrentes. Já Shane e Venkatraman

(2000) descreveram o empreendedorismo como sendo um processo de identificação

e exploração de oportunidades econômicas fazendo um elo entre oportunidades e

indivíduos. De acordo com Klapper (2004), a melhor definição de empreendedorismo

foi proposta pela Comissão das comunidades europeias, em 2001, como sendo um

agrupamento de ideias e processos com o objetivo de criar atividades econômicas,

reunido dimensões como prospecção a riscos, criatividade, inovação e qualidade no

gerenciamento de uma nova organização ou de uma já existente.

Souza (2005) faz uma revisão sobre da literatura e apresenta um quadro

resumo com os conceitos de empreendedorismo de diversos autores e as principais

características abordadas por eles em seus estudos, conforme apresentado no

Quadro 1.

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22

Características

Autores

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TO

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Buscar oportunidades X X X X X x x x x X X 11

Conhecimento do mercado X x X x X 5

Conhecimento do produto X x X x X 5

Correr riscos X X X X X x x x X X 10

Criatividade X X X X x x x X X 9

Iniciativa X X X x X x 6

Inovação X X X X X X x X x x x x X X X x 16

Liderança X X X X X x x 7

Necessidade de realização X X x X x 5

Proatividade X X X X x 5

Visionaridade X x X X x 5

Quadro 1 – Matriz de características de empreendedor e empreendedorismo Fonte: Souza (2005).

O quadro 1 apresentado por Souza (2005) demonstra uma significativa

variedade de características, sendo a inovação o único consenso entre todos os

pesquisadores. Observa-se também como características aceitas pela maioria dos

pesquisadores, a busca por oportunidades, correr riscos e criatividade. De maneira

geral, a inovação e a oportunidade estão presentes na maioria das definições de

empreendedorismo (MARTENS; FREITAS; ANDRES, 2011).

2.1.1 Evolução dos estudos sobre empreendedorismo

Existem pesquisas nos mais diversos setores abordando os mais variados

aspectos do empreendedorismo, tanto no exterior como no Brasil. Esses

pesquisadores analisam a origem do empreendedorismo e os limites do

conhecimento sobre o assunto. Isso mostra como o tema vem sendo estudado no

Brasil e no mundo, destacando os estudos comportamentais sobre

empreendedorismo, a inovação nos serviços, as redes de relacionamento, o gênero

dos empreendedores e o ensino e aprendizado do empreendedorismo (MASKE,

2012).

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Segundo Escobar (2012), devido à preocupação com o desenvolvimento

econômico e social nas últimas décadas, o empreendedorismo é um assunto que

provoca o surgimento de novas pesquisas nas mais diferentes áreas do

conhecimento. Com o passar do tempo, as pesquisas na área de

empreendedorismo foram se intensificando e os conceitos sobre o tema foram

evoluindo. Conforme Fernandes e Santos (2008), a atividade empreendedora é

compreendida como uma ação de criação de novos produtos, serviços ou até

mesmo de um negócio inteiro. Baseando-se nessa citação, pode-se conceituar

empreendedorismo como sendo a movimentação das ações empreendedoras. Para

Brush e Duhaime et al. (2003), uma das principais características do

empreendedorismo é o foco em inovação, seja analisando, individualmente, o

empreendedor ou toda a sua equipe, seja em organizações já existentes ou em

novas organizações.

Com o aprofundamento dos estudos sobre empreendedorismo, surgiu o

conceito de orientação empreendedora (MARTENS; FREITAS, 2007). Morris e

Kuratko (2001) defendem que a orientação empreendedora é proveniente do campo

do empreendedorismo unido com o conceito de estratégia.

2.2 ORIENTAÇÃO EMPREENDEDORA (OE)

A noção de orientação empreendedora é aplicável a qualquer empresa,

independentemente do seu tamanho e tipo. Segundo Knight (1997), a atividade

empreendedora é muito importante, pois estimula tanto o desenvolvimento

econômico geral, como o desempenho econômico das empresas individuais e é o

elemento fundamental para a obtenção de vantagem competitiva e,

consequentemente, de maiores recompensas financeiras. Covin, Green e Slevin

(2006) veem a orientação empreendedora como um modo de gerenciamento focado

no crescimento dentro de uma organização; já Rauch e Wiklund et al. (2009)

descrevem OE como sendo a capacidade distintiva que foca no crescimento

constante e na rentabilidade. Rauch e Wiklund et al. (2009) ainda afirmam que OE

tem emergido no contexto organizacional com o objetivo de investigar o espírito

empreendedor, influenciando nas estratégias e no desempenho da organização. De

acordo com as citações de Knight (1997), Covin, Green e Slevin (2006) e Rauch e

Wiklund et al. (2009), observa-se que o conceito de orientação empreendedora (OE)

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surge através da identificação de características ou comportamentos organizacionais

que propiciam maior ou menor capacidade de empreender.

Pesquisas realizadas por Mckee, Varadarajan e Pride (1989) já revelavam

que empresas que tinham uma orientada empreendedora se apresentavam

superiores aos outros tipos de organização em ambientes voláteis. Eles também

observaram que as empresas com forte orientação empreendedora eram mais

adaptáveis e apresentavam melhores desempenhos que as conservadoras em

ambientes turbulentos. De acordo com Maske (2012), a maioria das análises sobre

orientação empreendedora analisam o tema, isoladamente. No entanto, segundo o

mesmo autor, foram encontrados alguns trabalhos que consideram uma relação

entre orientação empreendedora e as seguintes variáveis: orientação para o

mercado, inovação, competências distintas de marketing, cultura de grupo,

estratégia da empresa, intensidade da concorrência e desempenho nos negócios.

O pioneiro nos estudos sobre OE foi Miller (1983) que através de proposição

contemplou três dimensões que foram: inovatividade, que é a tendência das

organizações de apoiarem novas ideias, experimentos e processos criativos,

podendo resultar em novos processos, produtos ou serviços; proatividade, que está

relacionado com novas perspectivas de futuro, onde a empresa busca se antecipar

visando obter vantagens competitivas; e assunção de riscos, que reflete o grau de

risco nas decisões de alocação de recursos e na escolha de novos produtos ou

processos. Para Miller (1983), uma organização empreendedora é aquela que se

empenha nessas três dimensões, caso contrário, essa organização não seria

considerada empreendedora

Baseados no estudo de Miller, os pesquisadores Lumpikin e Dess (1996)

propuseram mais duas dimensões para a OE que são agressividade, que é a busca

por uma maior participação de mercado a qualquer custo; e autonomia, que se

revela como sendo uma certa liberdade que deve existir dentro da firma, permitindo

o surgimento de novas ideias, seu desenvolvimento e aplicação. Embora Lumpkin e

Dess tenham atribuído mais duas dimensões a OE, a grande maioria dos

pesquisadores usam como referências às dimensões de OE proposta por Miller.

Essa afirmação fica clara, quando observado o Quadro 2, que apresenta os diversos

autores, os temas abordados por eles e as variáveis utilizadas nas pesquisas, de

acordo com os estudos de Miller (1983).

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Autores Tema abordado Variáveis Escalas

Miller (1983)

Os correlatos de empreendedorismo em três

tipos de empresas

Proatividade, Inovatividade e

tomada de risco

Miller e Friesen (1982)

Covin e Slevin (1991)

Um modelo conceitual de empreendedorismo como comportamento da firma

Proatividade, Inovatividade e

tomada de risco

Modificação de Miller (1983) e Covin e

Slevin (1989)

Zahra e Covin (1995)

Influência contextual sobre o empreendedorismo

corporativo – relação de desempenho: uma análise

longitudinal

Proatividade, Inovatividade e

tomada de risco

Miller (1983)

Lumpkin e Dess (1996)

Clarificar e construir orientação empreendedora e vinculá-la ao desempenho

Proatividade, Inovatividade,

tomada de risco,

autonomia e agressividade

Os trabalhos de Miller; Covin e Slevin

foram o ponto de partida.

Wiklund e shepherd (2005)

Orientação empreendedora como preceptor do

desempenho e comportamento em pequenas

empresas

Proatividade, Inovatividade e

tomada de risco

Miller (1983)

Ferreia (2003)

Orientação estratégica empreendedora: processos,

práticas e atividades de tomada de decisão que

conduzem ao crescimento

Proatividade, Inovatividade e

tomada de risco

Miller (1983) e outros itens

Mello et. al. (2004)

Maturidade empreendedora e expertise compasso de

inovação e risco: um estudo em empresas de base

tecnológica.

Proatividade, Inovatividade e

tomada de risco

Os trabalhos de Miller; Covin e Slevin

foram o ponto de partida

Mello et. Al. (2006)

Orientação empreendedora e competências de marketing

no desempenho organizacional: um estudo em

empresas de base tecnológica.

Proatividade, Inovatividade e

tomada de risco

Modificação de Miller (1983); Covin e Slevin

(1989) e Lumpkin e Dess (1996)

Santos e Alves (2009)

Dimensões das orientações empreendedoras e seus diferentes impactos no

desempenho de empresas instaladas em incubadoras

tecnológicas da região Sul do Brasil

Proatividade, Inovatividade,

tomada de risco,

autonomia e agressividade

Modificação de Miller (1983); Covin e Slevin

(1989) e Lumpkin e Dess (1996)

Martens (2009)

Proposição de um conjunto consolidado de elementos para guiar ações visando à orientação empreendedora

em organizações de software

Proatividade, Inovatividade,

tomada de risco,

autonomia e agressividade

Modificação de Miller (1983); Covin e Slevin

(1989) e Lumpkin e Dess (1996)

Martens et. al. (2011)

Desenvolvimento da orientação empreendedora em empresas de software: proposições preliminares

Proatividade, Inovatividade,

tomada de risco,

autonomia e

Modificação de Miller (1983); Covin e Slevin

(1989) e Lumpkin e Dess (1996)

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Autores Tema abordado Variáveis Escalas

agressividade

Mariano (2011)

Orientação empreendedora ambiente e desempenho

organizacional: um estudo nas unidades operativas do

Senac na região Sul do país.

Proatividade, Inovatividade e

tomada de risco

Miller (1983)

Quadro 2 – Variáveis da Orientação Empreendedora. Fonte: (ESCOBAR, 2012)

Observa-se que as pesquisas relacionadas à OE preocupam-se,

principalmente, em demonstrar e influenciar o desempenho da empresa, sua

rentabilidade, crescimento e inovação de produtos em empresas empreendedoras.

2.3 ORIENTAÇÃO INDIVIDUAL EMPREENDEDORA E SUAS DIMENSÕES

Shane (1996) fez uma pesquisa voltada para o empreendedorismo do

indivíduo, incluindo as seguintes variáveis que influenciam os níveis de

empreendedorismo: os traços e atributos dos fundadores da organização, fatores

internos da empresa e contexto externo ou fatores ambientais. Ele ofereceu um

processo integrado de teoria e teste relativo ao indivíduo, para o comportamento

empreendedor em termos de orientação empresarial. Apesar de existirem outras

pesquisas como a de Shane (1996) acerca de empreendedorismos do indivíduo,

Bolton e Lane (2012) afirmam que não existe clareza nesta área, e isso é

proveniente da análise das tendências empreendedoras a partir de várias

perspectivas, incluindo a investigação de traço de personalidade, estudos de atitude

empreendedora e estudos de atributos empresariais vagamente definidos, não

especificamente olhando para o OE de um indivíduo que é um resultado direto dos

traços e atitudes medidos através das escalas de OE originais.

De acordo com Bolton e Lane (2012), as pesquisas relacionadas à OE por si

só não avaliavam completamente a Orientação Individual Empreendedora – OIE.

Preocupados com preencher o vazio da literatura sobre o tema, Bolton e Lane

(2012) desenvolveram uma escala para identificar a OIE e a sua relação com o

sucesso ou fracasso das organizações. Segundo os referidos autores, a

disponibilidade dos empresários para assumir riscos, ser proativo e inovador nas

organizações são comportamentos importantes para o sucesso ou fracasso da

organização, baseado nesse pensamento, eles aplicam as definições de orientação

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empreendedora antes restritas às organizações, aos indivíduos. Bolton e Lane

(2012) buscaram saber quais são as características pessoais ou atitudes que uma

pessoa possui que podem aumentar a propensão a ser bem sucedido em atividades

empreendedoras.

Conforme Bolton e Lane (2012), para que uma pessoa seja bem sucedida em

atividades empreendedoras depende-se de três fatores que são em primeiro lugar,

os fatores ambientais; em segundo lugar, a personalidade do indivíduo; e em

terceiro lugar, as atitudes empreendedoras impactadas pelas influências sociais. Da

pesquisa de Bolton e Lane (2012), surge o primeiro constructo que merece atenção

especial no presente trabalho, que é a Orientação Individual Empreendedora, a qual

buscará as características ou atitudes pessoais que possam influenciar no sucesso

ou fracasso das fábricas de bonés do polo Seridó.

A grande maioria das pesquisas que abordam a orientação empreendedora

preocupam-se com apenas três dimensões que são inovação, pró-atividade e

propensão ao risco como se pode observar no Quadro 2, apresentado,

anteriormente. Para Miller (1983), Covin e Slevin (1989), a orientação

empreendedora representa um construto unidimensional, ou seja, inovação, pró-

atividade e propensão de riscos colaboram de forma semelhante para a sua

existência e para que a organização seja considerada empreendedora deve

apresentar um elevado grau de todas essas dimensões. Já Lumpkin e Dess (1996)

discordam e afirmam que não é necessário que essas dimensões colaborem de

forma semelhante para que exista uma orientação empreendedora, pois as

dimensões são independentes e dependendo do contexto e da técnica utilizada pela

empresa, algumas posturas serão mais necessárias que outras. Para os referidos

autores, os constructos não são multidimensionais. Para Hughes e Morgan (2007),

essa divergência no estudo dos constructos de OE quanto à unidimensionalidade ou

muldimensionalidade pode ter levado as pesquisas a conclusões discrepantes,

quando analisados os constructos com o desempenho das empresas.

Depois de um estudo detalhado sobre OE com 51 trabalhos, Rauch et. al.

(2009) observou que 37 deles classificaram a OE como sendo unidimensional e

apenas 14 deles consideraram OE como sendo multidimensional. A pesquisa ainda

demonstrou que as variáveis tendem a mover-se conjuntamente na maioria das

vezes. Martens, Freitas e Andres (2011), baseados em estudos clássicos, criaram

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um modelo para observação da Orientação Empreendedora em organizações,

contemplando cinco dimensões e os respectivos elementos que as caracterizam:

Dimensões da OE Elementos das dimensões da OE

INO

VA

TIV

IDA

DE

Produtos e serviços

Produtos/serviços novos. Linhas de produtos/serviços novas. Mudanças em produtos/serviços. Mudanças frequentes em linhas de produtos/serviços.

Processos Inovação administrativa e tecnológica em produto e mercado.

Recursos financeiros

Recursos financeiros investidos em inovação. Investimento em P&D mesmo em períodos de dificuldade econômica. Investimento em novas tecnologias, P&D e melhoria contínua. P&D, liderança tecnológica e inovação.

Pessoas Recursos humanos comprometidos com atividades de inovação.

Processos criativos Criatividade e experimentação. Ideias, novidades, experimentos e processos criativos.

Diferenciação Iniciativas inovativas de difícil imitação por parte dos fornecedores.

AS

SU

ÃO

DE

RIS

CO

S

Risco geral Comportamento de assumir riscos. Operações caracterizadas como de alto risco. Tendência forte a projetos de risco.

Risco na decisão

Visão pouco conservadora nas decisões. Postura agressiva nas tomadas de decisões. Ações ousadas para atingir objetivos organizacionais. Comportamento de assumir risco pessoal.

Risco financeiro Comportamento de assumir risco financeiro.

Risco em negócios

Comportamento de assumir risco formal em negócios. Necessidade de ações de grande porte para alcançar os objetivos da organização.

PR

OA

TIV

IDA

DE

Monitoramento do ambiente

Monitoramento contínuo do mercado. Antecipação de necessidades dos clientes. Antecipação de mudanças no mercado. Antecipação de problemas. Busca constante de novas oportunidades. Busca constante de negócios para aquisição.

Atitude de antecipação

Inovação em produtos/serviços, em técnicas administrativas, em tecnologias operacionais, em antecipação à concorrência. Empresa criativa e inovativa. Ações às quais os competidores respondem. Ideias ou produtos novos, em antecipação à concorrência. Expansão de capacidades, antecipando-se à concorrência. Ataques competitivos. Produtos e serviços mais inovativos.

Participação e resolução de problemas

Procedimentos de controle descentralizados e participativos. Planejamento orientado para a solução de problemas e para busca de oportunidades. Eliminação de Operações em avançados estágios do ciclo de vida.

Flexibilidade tecnológica

Disponibilidade e acessibilidade a pessoas, recursos e equipamentos necessários para desenvolver novos produtos e serviços. Múltiplas tecnologias. Pessoas com habilidades tecnológicas.

AU

TO

NO

MIA

Equipe

Líderes com comportamento autônomo. Times de trabalho autônomos. Coordenação das atividades autônomas. Monitoramento das atividades autônomas. Centralização.

Centralização Centralização da liderança. Delegação de autoridade. Propriedade da organização.

Empreendedorismo Pensamento empreendedor. Iniciativas empreendedoras.

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Dimensões da OE Elementos das dimensões da OE

Ação independente

Pensamento e ação independente. Pensamento criativo e estímulo a novas ideias. Cultura que promova a ação independente.

AG

RE

SS

IVID

AD

E C

OM

PE

TIT

IVA

Reação à concorrência

Movimentos em função de ações dos concorrentes. Resposta agressiva às ações dos concorrentes. Empresa muito agressiva e intensamente competitiva. Postura muito competitiva, desqualificando os competidores.

Competição financeira

Posição no mercado à custa de fluxo de caixa ou rentabilidade. Preços baixos para aumentar participação no mercado. Preços abaixo da competição. Preços baixos para entrar no mercado.

Postura competitiva

Postura agressiva para combater tendências que podem ameaçar a sobrevivência ou posição competitiva. Práticas de negócios ou técnicas de competidores de sucesso. Métodos de competição não convencionais.

Marketing

Marketing oportuno de novos produtos ou tecnologias. Gastos agressivos em marketing, em qualidade de produtos e serviços, ou em capacidade de manufatura.

Quadro 3 – Elementos que representam as dimensões da orientação empreendedora. Fonte: (MARTENS, FREITAS e ANDRES, 2011)

Uma vez que as dimensões de Orientação Empreendedora aplicadas às

empresas foram testadas com sucesso e correlacionadas positivamente com a

melhoria do desempenho das organizações por pesquisadores como (COVIN e

SLEVIN, 1989); (LUMPKIN e DESS, 1996); (MARTENS; FREITAS; ANDRES, 2011),

os pesquisadores Bolton e Lane (2012) utilizaram esses construtos para examinar a

Orientação Empreendedora dos indivíduos. Eles adaptaram as medidas de OE em

nível organizacional para o indivíduo e reformularam as medidas de validade

fornecidas por Lumpkin e Dess (1996) para analisar os indivíduos. Após a avaliação

e verificação da consistência das dimensões, duas variáveis foram descartadas por

Bolton e Lane (2012) sobre orientação individual empreendedora: autonomia e

competitividade. Após descartadas a autonomia e a competitividade, Bolton e Lane

(2012) definiram como três dimensões da Orientação Individual Empreendedora

apenas assunção a riscos, inovatividade e proatividade. Este trabalho utilizará como

dimensões para a pesquisa as mesmas propostas por Bolton e Lane (2012).

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2.4 VARIÁVEIS DA ORIENTAÇÃO INDIVIDUAL EMPREENDEDORA

2.4.1 Assunção a riscos

Segundo Martens e Freitas (2008), desde muito tempo, a literatura trata o

empreendedor como uma pessoa disposta a assumir riscos. Isso ocorre devido à

implantação de um negócio que por si só já traz a ideia de riscos pessoais. Lumpkin

e Dess (1996) veem a assunção de riscos como sendo o comportamento que

envolve a predisposição para correr riscos que podem fazer com que a organização

decline para o fracasso ou ascenda ao sucesso. Venkatraman (1989) analisa essa

dimensão como sendo a que reflete o grau de risco envolvido na alocação de

recursos e na escolha de novos produtos ou mercados, ou seja, um critério para a

tomada de decisões. Para Lumpkin e Dess (1996), a assunção a risco está,

fortemente, relacionada com a inovatividade, isso, segundo os autores, ocorre

devido à propensão da empresa de comprometer boa parte do seu capital ou de

assumir dívidas para obter retorno financeiro.

Lumpkin e Dess (1996) apontam três tipos de risco que são os riscos de

negócios, riscos financeiros e riscos pessoais. O primeiro diz respeito aos riscos

relacionados ao próprio negócio, ou seja, a probabilidade de falhar em um mercado

ainda não testado, o segundo diz respeito ao risco envolvendo os investimentos

financeiros e o seu retorno. Esse risco pode afetar, significativamente, os ativos da

organização e o terceiro risco está relacionado à pessoa, é o risco que o gestor

assume ao adotar padrões e tomar decisões estratégicas. Martens, Freitas e Andres

(2011) acrescentam mais um tipo de risco que é o risco geral que diz respeito às

operações caracterizadas como de alto risco ou uma tendência forte a projetos de

risco.

Conforme Martens, Freitas e Andres (2011), pode-se dizer que assunção ao

risco é a propensão de assumir riscos, ou seja, o engajamento em projetos

arriscados por parte da organização. Bolton e Lane (2012) usaram os mesmos

conceitos aplicados à assunção de riscos para as organizações, mas aplicaram-no

para criar um construto voltado para a Orientação Empreendedora Individual.

Segundo Bolton e Lane (2012) a assunção a risco tem uma forte correlação com a

proatividade e inovatividade. Os autores, após a análise fatorial, chegaram a uma

escala com dez itens derivados das três variáveis. Derivados da assunção de risco,

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o estudo de Bolton e Lane (2012, p. 10) deu origem aos três seguintes

questionamentos: “Eu gosto de me aventurar no desconhecido?; Estou disposto a

investir muito tempo e ou dinheiro em algo que trará um alto retorno?; Tende a agir

corajosamente em situações que envolve risco?”1.

2.4.2 Inovatividade

Os primeiros estudos que trataram sobre inovação no processo

empreendedor foram feitos por Schumpeter (1988) que defendia a teoria da

“destruição criativa”, a qual diz que o empreendedor destrói a ordem econômica

através da introdução de algo novo. Para ele, inovação está relacionada a novas

combinações que envolvem o lançamento ou o melhoramento de um bem ou a

criação de um novo processo de produção. Lumpkin e Dess (1996) veem a

inovatividade como sendo a tendência de uma organização em desenvolver novas

ideias ou criar processos que resultem em novos produtos ou serviços. Para Wiklund

(1999), a postura inovativa relaciona-se com a performance da organização, pois

aumenta as chances da mesma mover-se primeiro para captar recursos do mercado.

Observa-se que a inovatividade está, intrinsecamente, ligada à capacidade de

desenvolver algo novo para se destacar no mercado.

Segundo Oliveira Jr. (2009), a inovatividade é uma das características mais

marcantes da atividade empreendedora e é considerada como um fator essencial

para a competição nos mercados locais ou globais, pois gera vantagem competitiva.

Oliveira Jr. (2009) ainda afirma que existem diversas maneiras de analisar e

identificar o quanto uma organização é inovadora, como, por exemplo: analisando a

quantidade de recursos financeiros investidos em inovação, verificando os recursos

humanos focados nas atividades de inovação, o surgimento de novos produtos ou

serviços na organização e as mudanças nas linhas de produção.

De acordo com Dess e Lumpkin (2005), para se inovar são necessários

esforços como, por exemplo: a inovatividade em tecnologia que envolve os esforços

em pesquisa e desenvolvimento; a inovatividade em produtos que exige pesquisa de

mercado, design de produto e marketing; a inovatividade de atividades

1 Tradução livre.

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32

administrativas que necessita de novos sistemas gerencias, treinamentos, técnicas

de controle e nova estrutura organizacional.

Martens e Freitas (2008) veem a inovatividade como uma das dimensões

mais importantes na pesquisa sobre Orientação Individual Empreendedora. Segundo

os autores, essa afirmação é um consenso na literatura sobre o tema. Para analisar

essa dimensão, o presente trabalho utilizará os questionamentos desenvolvidos por

Bolton e Lane (2012, p. 10) que são: “Experimenta novas e inusitadas atividades?; É

original, único?; Prefere tentar da sua própria maneira, ser único?; Experimenta

novas abordagens e ou produtos?”2.

2.4.3 Proatividade

A proatividade está ligada as ações de antecipação e de busca de novas

oportunidades para atuar em mercados emergentes. A proatividade é uma atividade

contínua cujo oposto é a passividade ou a falta de habilidades para aproveitar as

oportunidades e se manter no mercado. As organizações que apresentam

comportamentos proativos monitoram as tendências e os clientes antecipando-se as

demandas ou aos problemas e gerando novas oportunidades (LUMPKIN; DESS,

1996).

Em sentido semelhante, Miller (1983) considera a proatividade como sendo a

tendência da organização de se manter à frente dos concorrentes na produção de

novas tecnologias e na criação de novos produtos ou serviços, ao invés de seguir o

tradicionalismo imposto pelo mercado. Venkatraman (1989) amplia o conceito

proposto por Miller (1983), dizendo que a proatividade é manifestada pela busca de

novas oportunidades que podem ou não gerar novos produtos ou serviços.

Já para Sandberg (2002), a proatividade é a capacidade de criar

oportunidades e de agir sobre elas quando os perigos se apresentam. A proatividade

não é a mesma coisa de reatividade. Para Sandberg (2002), reatividade é uma

reação ao ambiente, ou seja, a empresa reage após uma mudança do ambiente

onde está inserida, enquanto que proatividade implica em uma ação antes das

mudanças do ambiente, pois ela influencia o ambiente organizacional e inicia as

mudanças agindo antes das alterações no ambiente externo fazendo com que a

2 Tradução livre.

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33

organização mantenha-se a frente dos concorrentes. Corroborando com o

pensamento de Sandberg (2002) Martens e Freitas (2008), eles afirmam que a

proatividade sempre implica na ação antes que as mudanças ambientais exerçam

impactos diretos na organização.

Escobar (2012) define proatividade como sendo uma técnica que foca no

ambiente de negócios buscando interpretar oportunidades e fomentar o

desenvolvimento para que a organização diferencie-se da concorrência. Observa-se

que a proatividade é muito importante para a orientação empreendedora, pois ela

sugere uma perspectiva de olhar, além das paredes da organização acompanhada

por ações inovadoras. Baseados nas construções de Orientação Empreendedora e

nas dimensões apresentadas por Lumpikin e Dess (1996), as pesquisadoras Bolton

e Lane (2012) desenvolveram os seguintes questionamentos para verificar a

proatividade dos indivíduos: “Antecipa-se a futuros problemas?; Planejar os projetos

com antecedência?; “Preferência pelo desenvolvimento de algo novo?”3. Esses

questionamentos serão utilizados no presente trabalho.

2.5 INOVAÇÃO

A inovação é o segundo constructo a ser aprofundado. Schumpeter (1982)

introduziu o conceito fundamental para a explicação do desenvolvimento econômico

e da inovação. Ele ressalta a importância do papel do empreendedor no processo de

inovação e atribui a este o poder de trazer estímulo para o desenvolvimento,

gerando novas inovações através de seus conceitos, produtos e ideias, mudando

assim as aspirações e preferências do mercado. Para Dosi (1998), no sentido amplo

a inovação remete a um processo de busca de algo novo, descobertas,

experimentações, desenvolvimentos, imitações e adoção de novos produtos,

processos de produção e arranjos organizacionais. Observa-se que o conceito de

inovação, apesar de manter a base do pensamento de Schumpeter (1982) evoluiu

ao longo dos anos. Conceição (2000) destaca que novos estudos têm dividido

autores em duas correntes teóricas: a primeira considera a inovação sobre uma

ótica microeconômica e a segunda visualiza o processo de inovação como um

3 Tradução livre.

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34

paradigma econômico, onde suas implicações afetaram o ambiente social e ou

econômico.

Para Hall e Willians (2008), inovação está ligada à implantação, geração e

aceitação de novas ideias, processos, produtos ou serviços. A inovação é um

processo contínuo de reorientação que capacita as empresas para conseguir

vantagens competitivas e maior desempenho no mercado (TAJEDDINI, 2010).

Conforme Pinheiro e Rocha et al. (2009), o conceito de inovação pode ser resumido

em três grandes esferas que são produtos, processos e organizacional. De acordo

com esses autores, a inovação nos produtos é caracterizada pela introdução de um

novo produto, de uma modificação em produtos já existentes ou de apenas um

melhoramento significativo. A inovação em processos refere-se à criação de novos

métodos de produção ou de melhorias significativas no modelo de produção já

existente, como por exemplo, a introdução de novos equipamentos ou sistemas que

aumentem a eficiência do processo produtivo. Já a inovação organizacional é a

implementação de uma nova abordagem gerencial ou um novo arranjo na gestão

empresarial.

Maske (2012) apresenta a existência de diversas categorias de inovação,

como a inovação em produtos ou serviços, a inovação no processo gerencial e a

inovação para o mercado. Maske (2012) também cita em sua pesquisa o estudo de

Vale, Wilkinson e Amâncio (2008) que defende a existência de cinco tipos de

inovação que são: introdução de novos produtos no mercado ou melhoramento de

produtos já existentes; criação de novos processos ou métodos de produção;

abertura de novos mercados; utilização de novas matérias primas e novas formas de

gestão.

Observa-se que a inovação não é uma variável que atua sozinha, pois está

ligada a outras variáveis, as quais ela influencia ou é influenciada (MASKE, 2012).

Ao analisar diversos trabalhos, Maske (2012) observou que os pesquisadores

encontraram relação da inovação com o desempenho, cultura corporativa e

orientação para o mercado. O autor ainda observou em alguns trabalhos um forte

relacionamento entre a inovação, orientação para o mercado, orientação

empreendedora e rentabilidade.

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35

2.6 DESEMPENHO

Pace, Basso e Silva (2003) conceituam desempenho como sendo o grau de

desenvoltura que uma entidade tem sobre algo, seja sobre o mercado onde está

inserida, sobre o trabalho desenvolvido ou sobre seus concorrentes.

Para que a empresa desenvolva um ambiente de gestão eficaz, é necessário

a implantação de um sistema de medidas de desempenho que assegure o

alinhamento das atividades empresariais com o objetivo principal da organização

(PACE; BASSO; SILVA, 2003). Neely, Mills et al. (2000) veem o sistema de medidas

do desempenho como um processo para se quantificar uma ação. Segundo Kaplan

e Norton (1992), para melhorar o desempenho da organização é preciso

desenvolver e ampliar esse conjunto de medidas do sistema de mensuração.

As medidas de desempenho podem ser de caráter financeiro ou não

financeiro, conforme explica Pace, Basso e Silva (2003). De acordo com esses

autores, as medidas de desempenho de caráter financeiro são aquelas referentes ao

sistema tradicional de mensuração que nem sempre evidenciam a verdadeira

situação da empresa devido a distorções nas informações contábeis ou difícil

mensuração em números de elementos intangíveis como satisfação dos clientes,

qualidade dos produtos e inovação. Baseados em Kaplan e Norton (1992), Pance,

Basso e Silva (2003) descrevem medida de desempenho não financeira como sendo

aquela capaz de delinear estratégias que criam valor, que ligam ativos tangíveis com

ativos intangíveis. No entanto, eles reconhecem que apesar dessa medida de

desempenho apresentar qualidades para fins de uso interno e divulgação externa,

ela não é a melhor opção para atender aos investidores e analistas que estão muito

mais preocupados com relatórios financeiros do que estratégicos.

Existe ainda uma distinção entre medidas objetivas e subjetivas. As medidas

objetivas incluem faturamento, número de funcionários na organização, resultados

operacionais, entre outros. Já as medidas subjetivas são coletadas através de

pesquisas de opinião (SCHMIDT; BOHNENBERGER, 2009). Venkatraman e

Ramanujam (1987) já apontavam para uma convergência entre esses dois métodos,

uma vez que, segundo esses autores, os dois tipos de medidas se correlacionam e

podem ser usados de acordo com as necessidades do pesquisador. Conforme

Rauch, Wiklund et al. (2004), essa convergência já foi observada no campo do

empreendedorismo. Esses autores fizeram uma análise para verificar a associação

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36

da orientação empreendedorismo com o desempenho organizacional e chegaram à

conclusão de que o efeito da orientação empreendedora no desempenho objetivo

possui uma diferença não significativa em relação a seu efeito no desempenho

percebido.

2.7 SETOR TÊXTIL

O tema empreendedorismo vem sendo estudado em todos os campos das

ciências humanas, de forma crescente (MASKE, 2012). No setor têxtil, não é

diferente. De acordo com dados da Tex Brasil (2014), a produção média do setor

têxtil é de 6 (seis) bilhões de peças que incluem vestuário, acessórios, cama, mesa

e banho. Essa produção gera 1,6 milhões de empregos diretos e 8 (oito) milhões de

empregos indiretos. Ainda conforme dados da Tex Brasil (2014), esse setor é o

segundo maior empregador da indústria de transformação, perdendo apenas para o

somatório do setor de alimentos e bebidas. Esses dados mostram a força do

empreendedorismo na indústria têxtil.

A cadeia produtiva têxtil de confecções é formada por uma série de

segmentos autônomos, cuja interação é fundamental para a organização do setor

(COSTA; ROCHA, 2009). De acordo com Costa e Rocha (2009), a estrutura da

cadeia têxtil inicia-se com a matéria-prima, sendo transformada em fios nas fábricas

de fiação, após a fiação seguem para a tecelagem onde são fabricados os tecidos

de panos, ou para a malharia onde serão fabricados os tecidos de malhas.

Posteriormente, são acabados e chegam à confecção. Nessa etapa, os produtos

podem chegar ao consumidor em forma de vestuário (roupas) e acessórios (bonés,

chapéus, lenços, etc) ou em forma de artigos para o lar (cama, mesa e banho). A

Figura 1 apresenta, detalhadamente, a estrutura da cadeia têxtil, através de um

organograma.

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37

Figura 1 – Estrutura da cadeia produtiva têxtil e de confecções

Figura 1 – Estrutura da cadeia produtiva têxtil e de confecções

Fonte: (COSTA; ROCHA, 2009)

De acordo com Prochnik (2003), as empresas de fibras são em sua maioria

de capital estrangeiro, enquanto os demais setores predominam o capital nacional.

Observa-se que a cadeia têxtil de confecções é muito grande e composta por um

amplo numero de segmentos diferenciados. Para Prochnik (2003), essa

segmentação é decorrente das estratégias empresárias adotadas pelos gestores e

também da variedade de insumos utilizados na fabricação dos mais diversificados

produtos. Essa segmentação do processo produtivo têxtil resulta em uma cadeia

produtiva integralizada, internacionalmente, e comandada por grandes empresas

que se especializam em comercialização e gestão de marcas, ou por empresas

varejistas que transferem algumas etapas do processo de produção que necessitam

de mão de obra intensiva para países em desenvolvimento com baixos custos

salariais (HIRATUKA; VIANA, et al., 2008).

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Prochnik (2003) chama a atenção para a diminuição dos preços dos produtos

têxteis e para as mudanças na organização mundial da produção. Segundo o autor,

isso foi decorrência da acelerada integração dos mercados mundiais e do aumento

da concorrência internacional, com a redução progressiva das barreiras

alfandegárias. As indústrias têxteis de confecções localizadas em países

desenvolvidos começaram a deslocar sua produção para países emergentes da

Ásia, Leste Europeu, Norte da África e Caribe. Segundo Prochnik (2003), esse

deslocamento se deu em busca de redução de custos de produção, principalmente,

de mão de obra. Conforme Costa e Rocha (2009), a migração da produção têxtil é

uma realidade marcante no setor, e isso ocorre em virtude da busca de mão de obra

mais barata em países emergentes, junto à baixa qualificação da força de trabalho e

dos poucos requisitos de infraestrutura necessários para a instalação de fábricas.

O aumento da concorrência internacional fez com que os produtores dos

países centrais buscassem novas estratégias de produção e novas formar de

inserção no mercado. Dentre as estratégias utilizadas, Hiratuka, Viana et al. (2008)

destacam as seguintes: concentração em produtos com maior valor agregado,

diferenciados, com novos design; redução no tempo de produção e comercialização,

seguindo as variações da moda para se afastar da concorrência; deslocamento de

etapas da produção que necessitam de intensa mão de obra para países com mão

de obra mais baratas como Japão, Tigres Asiáticos, China, Indonésia, África,

Bangladesh e Vietnã; e utilização de técnicas modernas de gestão da cadeia de

suprimentos combinadas a tecnologia da informação para gerenciar rapidamente

toda a cadeia de suprimentos e captar as tendências do mercado consumidor.

Para Prochnik (2003), existem quatro características marcantes nos padrões

de consumo e produção internacional. A primeira é a tendência para um maior

consumo de fibras químicas e produção de tecidos mistos. A segunda é uma maior

tendência à variação dos produtos com a moda valorizando a produção próxima aos

centros consumidores. A terceira é a crescente difusão da gestão da cadeia de

suprimentos onde as empresas se relacionam ao longo da cadeia, deixando de ser

consideradas individualmente, e a quarta é a constante relocalização de atividade da

cadeia têxtil. De acordo com Prochnik (2003), as atividades da cadeia têxtil migram

de uma região para outra em busca de incentivos fiscais e redução de custos

trabalhistas. Prochnik (2003) ainda chama a atenção para o declínio no consumo de

fibras naturais e para um problema do Brasil que se encontra distante dos principais

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39

centros consumidores em relação a seus concorrentes. O autor também ressalta

que a indústria têxtil brasileira ainda encontra-se bastante atrasada na adoção de

técnicas de gestão da cadeia de suprimentos em relação ao mercado internacional.

As empresas do setor têxtil brasileiro, segundo Costa, Conte e Conte (2013)

passaram por inúmeras transformações, desde a última metade dos anos 90,

principalmente, após a abertura dos mercados e o fim dos acordos têxteis que

regulavam o setor até 2005. A indústria têxtil brasileira foi obrigada a mudar suas

estratégias que antes focava no preço e na demanda interna. Com a competição em

nível global essas indústrias foram obrigadas a modernizar suas fábricas, qualificar

seus funcionários e prepara-se para a concorrência internacional.

De acordo com dados da Tex Brasil (2014), o Brasil é o quarto maior parque

produtivo de confecções do mundo e o quinto maior produtor têxtil. Essa afirmação

pode ser confirmada na Tabela 1, apresentada de acordo com dados do IEMI

(2015).

Tabela 1: Maiores produtores têxtil e do vestuário

Maiores produtores têxtil Maiores produtores do vestuário

País Produção (mil ton) % mundial País

Produção (mil ton) % mundial

1º China 38.561 50,70% 1 º China 21.175 46,40%

2º Índia 5.793 7,60% 2 º Índia 3.119 6,80%

3 º EUA 4.021 5,30% 3 º Paquistão 1.523 3,30%

4 º Paquistão 2.820 3,70% 4 º Brasil 1.271 2,80%

5 º Brasil 2.249 3,00% 5 º Turquia 1.145 2,50%

6 º Indonézia 1.899 2,50% 6 º Coreia do Sul 990 2,20%

7 º Taiwan 1.815 2,40% 7 º México 973 2,10%

8 º Turquia 1.447 1,90% 8 º Itália 935 2,00%

9 º Coreia do Sul 1.401 1,80% 9 º Malásia 692 1,50%

10 º Tailândia 902 1,20% 10 º Polônia 664 1,50%

Fonte: (IEMI, 2015)

O Brasil possui uma das últimas cadeias têxteis completas do ocidente,

responsável por produzir desde as fibras até as confecções, com 33 mil empresas

em todo o país, é referência mundial em design de moda praia, jeanswear e

homewear, tendo crescido também os segmentos de fitness e lingerie (TEX Brasil,

2014). De acordo com ABIT (2013), o mercado nacional é responsável por 97,5% do

consumo dos produtos têxteis brasileiros e apenas 2,5% dos produtos são

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destinados à exportação. A produção física brasileira vem caindo tanto nas

empresas têxteis, quanto nas confecções nos últimos dois anos, paralelo assim,

observa-se um crescimento nas vendas do varejo, substituindo, paulatinamente, o

produto nacional por importados (ABIT, 2013).

Para Costa e Rocha (2009), a China é o principal país do mercado têxtil

global e tem elevada competitividade. Costa e Rocha (2009) atribuem essa grande

competitividade da China a ao setor têxtil que é considerado de baixa tecnologia e

não impõe fortes barreiras, visto que a tecnologia é difundida e disponível no

mercado mundial, e entre as empresas líderes dos diversos países não existe um

distanciamento tecnológico radical. Devido a isso o que desempenha um papel

fundamental na competitividade desse setor é o custo de mão de obra e a matéria

prima. Na China, a mão de obra, além de ser abundante tem um baixo custo. Com

relação à matéria prima como algodão e poliéster esse país é privilegiado,

principalmente, com relação ao poliéster que é abundante na China (RANGEL,

2008).

Costa e Rocha (2009) demonstram que esse crescimento da China no

mercado mundial é decorrente da adoção de políticas extremamente agressivas

para conquistar novos mercados. Segundo os autores, a estratégia utilizada por

esse país é de concorrência via preço, com exportação de grandes volumes de

produtos padronizados, porém, não, necessariamente, de baixa qualidade. Segundo

a ABIT (2015), toda a indústria está sofrendo com a concorrência internacional,

prova disso é o déficit da balança comercial que não para de crescer e ameaça

empregos e empresas no setor têxtil. De acordo com o relatório da ABIT (2015), a

balança comercial brasileira do setor têxtil apresentava um saldo positivo de 292

milhões de dólares em 2005 e hoje apresenta o saldo negativo em torno de 5.822

milhões de dólares. A importação de produtos do vestuário da China aumentou 23

vezes em uma década. Através do Gráfico 1, pode-se ver o aumento dessas

importações que saltou de 100 milhões em 2003 para 2.285 em 2013, conforme o

relatório da ABIT (2013).

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Gráfico 1: Importação de produtos do vestuário no Brasil

Fonte: (ABIT, 2013)

Os asiáticos para fugir da recessão nos mercados consumidores tradicionais

focaram nos países emergentes como Brasil para escoar o excesso da sua

produção têxtil. Essa participação dos vestuários importados vem crescendo de

forma preocupante e ocupando o lugar dos produtos brasileiros nas grandes e

pequenas lojas varejistas (ABIT, 2013). De acordo com o relatório da agenda de

prioridades têxtil e confecções (ABIT, 2015), o Brasil está perdendo a

competitividade devido a uma série de questões macroeconômicas e estruturais. O

relatório aponta 12 temas que precisam ser analisados e enfrentados para que a

empresa nacional torne-se competitiva no mercado internacional e nacional.

A ABIT (2015) destaca os 12 temas que afetam a competitividade brasileira

como sendo: a legislação trabalhista que é complexa e ultrapassada; a insegurança

jurídica do país que reduz os investimentos e causa inúmeros problemas às

industrias e ao ambiente de negócio; a inflação, câmbio e juros; a alta carga

tributária; a dificuldade de financiamentos e os créditos caros; a infraestrutura do

país ineficiente e precária; a educação de baixa qualidade e o grande índice de

analfabetismo, dificultando a qualificação profissional; falta de políticas públicas que

incentivem a inovação; o crescente déficit da balança comercial; legislação

complexa e difusa, relacionada ao meio ambiente, deixando os industriários

vulneráveis à interpretação dos fiscais; grande burocratização dos processos

gerando altos custos e um mercado formado, fundamentalmente, por micro e

100 148 227

347 487

694 767

1073

1721

2177 2285

0

500

1000

1500

2000

2500

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Importação de vestuário (em US$ milhões)

Importação de vestuário

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pequenas empresas com poucas políticas públicas que deem um tratamento

diferenciado para essa indústrias. De acordo com a Company (2004), a economia é

afetada pela informalidade, através do PIB e da produtividade, prejudicando a

economia formal por diversas formas, por isso, tornou-se fundamental a criação de

métodos para legalização da economia, indispensável para o avanço

socioeconômico.

Costa, Conte e Conte (2013) retrataram o comércio internacional da cadeia

têxtil do vestuário, destacando a participação da China. Eles evidenciaram que este

país vem tomando espaço e tornando-se um dos principais fornecedores mundiais

no mercado, antes ocupado por outros países como Alemanha, Itália e Estados

Unidos. Os autores destacaram que o Brasil é o terceiro maior importador de

produtos têxtil da China, chegando a importar cerca de US$ 293 milhões. Segundo

Costa, Conte e Conte (2013), a China saltou de uma exportação de US$ 7 bilhões

em 1990 de vestuários de malha, em outras fibras e outros confeccionados para

uma exportação de US$ 117,3 bilhões, em 2009. Diante dessa grande evolução, nas

vendas do produto chinês, muitos países estão procurando ajustar seus negócios

para diminuir o impacto causado por essa importação de produtos chineses na

cadeia do vestuário. As empresas estão se especializando em marketing de nichos,

visando enfrentar os baixos preços dos produtos de origem chinesa, como também

buscando inovação e diferenciação (COSTA; CONTE; CONTE, 2013).

Costa, Conte e Conte (2013) concluiu sua pesquisa, afirmando que são

necessárias políticas públicas para a redução da carga tributária, além de políticas

monetárias, onde o governo possa controlar o câmbio, criar barreiras comerciais

para a entrada do produto chinês, melhorar as exportações nacionais, bem como,

criar mecanismos para desonerar os encargos de folha de pagamento da mão de

obra de todos os elos da cadeia produtiva. Caso isso não ocorra nos próximos anos,

poderá haver um aumento do portfólio de produtos importados causando ainda mais

prejuízos para a cadeia têxtil brasileira.

Uma organização enfrenta uma série de desafios determinados pelo

ambiente. Todas as mudanças ambientais afetam de alguma forma o

comportamento dos administradores e, consequentemente, o comportamento das

empresas no ambiente onde estão inseridas. As transformações econômicas no

mundo, como crises financeiras, transformações tecnológicas, políticas e sociais

alteram o comportamento das empresas forçando-as a se adaptarem à nova

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realidade ou estarão fadadas ao fracasso (GARDELIN; ROSSETTO; VERDINELI,

2011). Miles, Snow et al. (1978) afirmam que toda organização está inserida em uma

complexa rede de influências externas, as quais se relacionam com fatores como

produtos, mercado, costumes e práticas industriais, regulamentações

governamentais, relacionamento com fornecedores, entidades financeiras, matérias-

primas e prestadores de serviço.

Para Montana e Charnov (2003), as organizações existem dentro de vários

ambientes que influenciam seu comportamento. Para esses autores, as

organizações necessitam dar respostas rápidas às forças que exercem influências

sobre elas, mantendo um relacionamento cuidadoso com cada um dos fatores

fundamentais, principalmente, com a sociedade onde está inserida. Carrol e

Buchhoultz (2003) veem o ambiente como um fator essencial para o entendimento

das relações entre as organizações e a sociedade. Gardelin, Rossete e Verdineli

(2011) chamam a atenção para a importância do monitoramento do ambiente onde

as organizações estão inseridas, tendo em vista que este tem caráter mutável e

descontinuado. É importante que a organização saiba conviver com essas

incertezas ambientais. Dess e Beard (1984) conceituam incerteza como sendo um

componente imprevisível que está relacionado à percepção administrativa do

ambiente em geral. Dill (1958) é um dos pioneiros na pesquisa sobre incertezas

ambientais e, segundo esse autor, a interpretação das incertezas ambientais é

função essencial dos executivos de topo da organização.

Rossetto e Rossetto (2005) afirmam que o ambiente de incertezas associado

à crescente competitividade obriga os administradores a moldarem-se de acordo

com as transformações ambientais para adequar-se à realidade do ambiente onde

está inserida a organização. Buccelli, Costa Neto e Vendrametto (2014) contribuem

com o pensamento de Rossetto e Rossetto (2005), afirmando que as organizações

são controladas pelo seu ambiente e não há racionalidade que elimine essa

vulnerabilidade. Para Hatch e Cunliffe (2012), essa vulnerabilidade da organização

ao ambiente onde está inserida é proveniente da sua necessidade de recursos como

matéria prima, mão de obra, capital, conhecimento, equipamentos, entre outros.

Ruenda-Manzanares, Aragón-Correa e Sharma (2008) conseguiram confirmar

a hipótese de que as incertezas do ambiente geral de negócio aumentam a relação

positiva entre o desenvolvimento de capacidade de integração entre os stakeholders

e a gestão estratégica ambiental proativa. Segundo esses autores, quando as

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organizações operam em ambientes muito incertos sua capacidade de integração

com os stakeholders tende a aumentar gerando estratégias ambientais proativas.

Esses ambientes cercados de incertezas influenciam os gestores a serem mais

proativos, estabelecendo uma melhor e maior relação com stakeholders, adotando

estratégias inovadoras para se antecipar a futuras tendências de mercado.

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3 METODOLÓGIA

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

3.1.1 Local da pesquisa

Assim como os outros municípios do Seridó, Caicó, Serra Negra do Norte e

São José do Seridó tiveram sua ascendência marcada pela criação de gado.

Segundo Morais (2005) até o final do século XIX, a economia do Rio Grande do

Norte esteve firmada na criação de gado e o Seridó era uma das mais promissoras

áreas de criação. Nos municípios seridoenses o gado era abatido, sua carne

vendida e o couro do animal eram utilizados para a produção dos mais variados

produtos. Dentre esses produtos, surgiu da necessidade dos agricultores e

vaqueiros de se protegeram do sol e dos espinhos da mata caatinga o chapéu de

couro.

O chapéu de couro foi o precursor do boné na região do Seridó. Segundo

Femerik (2010) no final do século XIX a economia algodoeira sobrepõe a pecuária

bovina transformando-se em uma das mais importantes fontes de renda da região

Seridó com a produção do algodão mocó. O Seridó foi responsável pela produção

de 40% de todo o algodão exportado pelo Rio Grande do Norte e Caicó estava entre

os maiores produtores de algodão da região, nessa época a produção deixava de

ser artesanal e dava lugar para o aparecimento das maquinas de beneficiadoras de

algodão. Surgia ai as primeiras indústrias têxteis em Caicó e região. Conforme

Marcêdo (1998) em meados de 1910 o algodão do Seridó começava a perder

mercado. Consequentemente as indústrias têxteis tiveram que inovar para se manter

no mercado e em 1984 começam a surgi as primeiras confecções de bonés como

uma atividade inovadora. “O setor têxtil incorporou novos equipamentos à fabricação

de redes e panos de pratos e teve na bonelaria uma promissora alternativa de

produção.” (MORAIS, 2005, p. 292).

Caicó juntamente com São José do Seridó e Serra Negra do Norte faz parte

do polo de produção boneleiro do Seridó Norte-rio-grandense. Após o surgimento

das primeiras bonelarias em 1984 a produção foi se expandindo rapidamente devido

as vaquejadas, pois houve a união da tradição do chapéu de couro com a

criatividade e modernidade da confecção do boné (MORAIS, 2005). Segundo Lins

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46

(2011) a produção cresce com a imagem do piloto de Fórmula 1, Ayrton Sena

usando boné para fazer propaganda do Banco Nacional e com a comercialização

dos bonés nas vaquejadas, então em 1994 esse produto se tornou líder absoluto na

área de brindes promocionais em razão de seu preço acessível e da divulgação de

logomarcas feita pela mídia.

Este trabalho foi desenvolvido em empresas têxteis do segmento de bonés,

localizadas no Polo Seridó, estado do Rio Grande do Norte, durante os meses de

janeiro e março de 2016. A pesquisa contemplou algumas empresas situadas nos

municípios de Caicó e Serra Negra do Norte, localizadas na Microregião Seridó

Ocidental e em São José do Seridó, inserida na Microregião do Seridó Oriental,

conforme pode-se observar na Figura 2.

Figura 2: Localização da Região do Seridó no Território do Rio Grande do Norte

Fonte: (SEBRAE, 2008, p. 32)

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47

A Figura 2 mostra de forma clara a localização da região Seridó no território

do Rio Grande do Norte, dando destaque aos municípios produtores de bonés do

Polo Seridó.

3.1.2 Participantes da Pesquisa

Os questionários foram aplicados entre os administradores das empresas,

fossem eles gerentes ou proprietários. Ao final, chegou-se a uma amostra contendo

36 respondentes. Essa amostra corresponde a 52,2% da população de fabricantes

de Bonés, tendo em vista que de acordo com dados do ASFAB (2016) hoje o polo

Seridó é composto por 69 bonelarias distribuídas entre as cidades de Caicó, Serra

Negra do Norte e São José do Seridó.

3.1.3 Instrumento de Coleta de Dados

O instrumento para a coleta de dados constou da aplicação de um

questionário adaptado de Maske (2012) com questões fechadas, contendo

afirmativas que buscaram mensurar as variáveis: orientação individual

empreendedora, grau de inovação e desempenho organizacional em escala Likert

contendo sete pontos, construída conforme a figura 3.

Figura 3 – Escala do tipo Likert com 7 pontos

Discordo

Totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

Totalmente

Fonte: (Likert, 1976)

Figura 4. Escala do tipo Likert com 7 pontos adaptada

Discordo

Totalmente

DT DP D I C CP CT Concordo

Totalmente

(CT= Concordo totalmente, CP= concordo parcialmente, C= concordo, I=indiferente, DT=discordo totalmente, DP= discordo parcialmente e D=discordo.) Fonte: Elaborada pelo próprio autor.

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48

A pesquisa foi dividida em 6 (seis) blocos. Os dois primeiros blocos buscaram

traçar o perfil socioeconômico dos respondentes da pesquisa e das bonelarias do

Polo Seridó. O terceiro mediu o nível de orientação individual empreendedora dos

administradores das indústrias de bonés através do modelo de Bolton e Lane (2012)

com 10 itens que determinaram o nível de assunção a riscos, a inovatividade e a

proatividade dos gestores das bonelarias. O quarto bloco foi utilizado como apoio à

pesquisa de Maske (2012) que fundamentou-se em Hurley e Hult (1998) para

examinar a procura dos gestores por ideias inovadoras, a inovação na empresa, o

incentivo à inovação e à penalização por ideias que não funcionam. O quinto bloco

buscou verificar as ações desenvolvidas pela empresa para se manter no mercado

frente à concorrência. O sexto e último bloco utilizou o modelo de Gonçalves Filho,

Viet e Gonçalves (2007) que serviu para verificar o crescimento da participação de

mercado.

3.2 TIPO DE PESQUISA

Foi realizada uma abordagem quantitativa, pois conforme Trujillo (2001), esse

tipo de pesquisa oferece uma representatividade estatística para o trabalho. Para

tanto, a pesquisa constou de um levantamento (survey) de coleta de dados através

de um questionário fechado, uma vez que o método mostra-se adequado a esse

propósito, pois permite obtenção de dados e informações sobre características,

opiniões e ações dos grupos pesquisados com a finalidade de descrever, explicar e

explorar um determinado fenômeno (BARBBIE, 1999).

Essa pesquisa é caracterizada como descritiva, pois esse tipo de pesquisa

expõe características de determinada população ou de determinado fenômeno

(VERGARA, 2005). Além disso, essa pesquisa também é do tipo explicativa, pois

buscou identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos

fenômenos envolvidos nas variáveis estudadas, bem como, o porquê de algumas

questões que ocorreram ao longo do delineamento do estudo.

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49

3.3 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

Após a coleta dos dados, aplicou-se a metodologia adaptada de Batista

(2004) para transformação das percepções dos avaliadores em índices de

conformidade para cada bloco de percepção. A atribuição de valores para converter

a escala nominal (likert) para uma escala numérica realizou-se da seguinte maneira:

questões com resposta “Concordo ou discordo totalmente DT ou CT”, recebem valor

1; questões com resposta “Concordo ou discordo parcialmente CP ou DP”

receberam valor 0,75; questões com resposta “apenas concordo ou discordo D ou C”

recebem valor 0,5; questões com resposta “Indiferente I”, recebem valor 0 (zero).

Após a conversão da escala nominal (likert) para uma escala numérica,

calculou-se o índice de confiabilidade das questões através do alfa de Cronbach.

Esse índice é uma ferramenta estatística que quantifica, numa escala de 0 a 1, a

confiabilidade de um questionário. O valor mínimo aceitável para se considerar um

questionário confiável é 0,7. O coeficiente é estimado considerando-se x como

sendo uma matriz n x k que corresponde às respostas quantificadas de um

questionário. Cada linha de X representa um sujeito e cada coluna representa uma

questão.

O coeficiente alfa de Cronbach foi mensurado de acordo com a Equação (1)

proposta por Leontitsis e Pagge (2007):

(1)

Onde é a variância de cada coluna de X, ou seja, é a variância relacionada

à cada questão de X, e é a variância da soma de cada linha de X, ou seja, é a

variância da soma das respostas de cada sujeito. Também deve ser observado que

k deve ser maior do que 1 para que não haja zero no denominador e n deve ser

maior do que 1 para que não haja zero no denominador no cálculo do e do

.

Tendo em vista as avaliações de confiabilidade das questões, logo em

seguida, avaliou-se o padrão de respostas obtidas, através da contagem dos

diferenciais semânticos. Os diferenciais semânticos desta pesquisa foram: CT=

Concordo totalmente, CP= concordo parcialmente, C= concordo, I=indiferente,

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DT=discordo totalmente, DP= discordo parcialmente e D=discordo. O questionário

continha sempre 36 respostas, das quais foram anotadas as quantidades para cada

diferencial semântico.

Já o “sentido geral” das respostas foi obtido através da resposta equivalente à

posição mediana. Para este cálculo, buscou-se a opinião do respondente 36/2=18 a

partir da coluna da esquerda.

Por exemplo, na primeira linha da tabela 1, temos os valores

6+5+7+7+4+2+5. O respondente 18 encontra-se na coluna D, então podemos dizer

que a mediana da primeira proposição é D, de “discordo”. Este mesmo procedimento

foi feito para todas as afirmativas em todos os blocos de perguntas.

Para se calcular os discordantes de cada proposição utilizou-se a proposta de

Macnaughton (1996). Assim, foram somados os valores das colunas DT, DP e D e

adicionou-se 50% do valor obtido como indiferente. De forma semelhante,

calcularam-se os concordantes da proposição: C+CT+CP+0.5 I de acordo com as

equações (2) e (3).

(2)

(3)

Além da quantidade de respostas discordantes e concordantes, para cada

proposição estabeleceu-se o indicador do “grau de concordância” para saber até que

ponto os respondentes tinham segurança ao afirmar determinada proposição como

sendo crucial para o item avaliado.

O grau de concordância de cada proposição (GCp) foi determinado pelo

oscilador estocástico de Wilder Jr. (1981), também conhecido como indicador de

força relativa através da equação (4):

Finalmente, a interpretação do grau de concordância das proposições foi feita

utilizando a escala proposta por Davis (1976) contida no quadro 1.

(4)

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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS RESPONDENTES

A presente pesquisa inicialmente buscou traçar o perfil socioeconômico dos

respondentes dos administradores e das bonelarias pesquisadas. Desta feita, os

dados foram então avaliados, separadamente, através da construção das

frequências de respostas obtidas para cada item perguntado.

A pesquisa mensurou que 75% dos respondentes afirmaram que a empresa

possuía CNPJ, enquanto que 25% não tinham o referido registro. De acordo com

REDESIM (2015), as entidades domiciliadas no Brasil, inclusive as pessoas jurídicas

por equiparação, estão obrigadas a inscreverem no CNPJ, antes de iniciarem suas

atividades em todos os seus estabelecimentos localizados no Brasil.

Com esse dado, observa-se que ¼ (um quarto) das bonelarias trabalha de

forma clandestina e ilegal, sem emissão de notas fiscais, sem o registro e carteira

assinada dos funcionários e sem acesso a financiamentos e créditos bancários. Isso

dificulta o desenvolvimento dessas bonelarias, tendo em vista que elas não

apresentam nenhuma segurança jurídica. A ausência de formalidade nessas

empresas aliada aos fatores que afetam a competitividade brasileira destacados

pela ABIT (2015) limita o crescimento empresarial, fazendo com que muitas dessas

bonelarias percam o foco e comecem a trabalhar com produtos falsificados.

De acordo com a Company (2004), a economia é afetada pela informalidade

através do PIB e da produtividade, prejudicando a economia formal por diversas

formas, por isso, tornou-se fundamental a criação de métodos para legalização da

economia, indispensável para o avanço socioeconômico. Como observado, a

informalidade não oferece vantagens para a sociedade, pois acarretam problemas,

os quais prejudicam a economia e acabam por influenciar de forma negativa o setor

dos negócios formais, impedindo-os de se desenvolver diante das oportunidades

que surgem.

Todo empreendedor antes de abrir um negócio deveria inteirar-se de todos os

trâmites e registrar a formalização da empresa, mas isso nem sempre acontece.

Muitas vezes, o empresário, primeiramente, abre o negócio e apenas quando esse

se apresenta lucrativo é que o mesmo busca legalizar-se.

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A pesquisa revelou que 75% dos administradores de empresas de bonelaria

do polo Seridó são do sexo masculino, enquanto que 25% desses eram do sexo

feminino. Esse resultado difere do encontrado em outras pesquisas, em que se

afirmava que, atualmente, as mulheres empreendedoras encontram-se no mercado

em maior quantidade em relação aos homens, e, ainda nesse sentido, o SEBRAE

(2014) realizou um levantamento que mostrava as principais atividades de mulheres

donas de microempresas ou que trabalham por conta própria.

Em primeiro lugar, estavam os negócios na área de beleza, como salões e

centros de estética, seguidos do ramo de alimentação, e em quarto lugar aparece a

área de confecção de roupas e acessórios em outros segmentos que não o

especificado neste trabalho. De acordo com os dados da pesquisa, observa-se na

administração do setor têxtil de bonelarias do Polo Seridó o predomínio da presença

masculina, com 75%, diferente de outros ramos do setor têxtil, como é o caso do

setor têxtil de facções, onde de acordo com o SEBRAE (2014) existe uma

predominância de mulheres que são empreendedoras e decidiram abrir oficinas de

costura para atender a grandes marcas.

Não foram apresentadas relações entre o gênero nos gestores e o

desempenho das bonelarias. Os dados revelam que existe uma tendência maior no

Polo Boneleiro Seridó das empresas trabalharem com produtos promocionais.

Analisando os esses dados, pode-se verificar que 41,67 % das indústrias trabalham

apenas com o segmento de produtos promocionais, 27,11% trabalham apenas com

produtos de magazine e mais 30,55% dessas bonelarias trabalham tanto com o

produto promocional, como com o produto de magazine. Se somadas todas as

empresas que trabalham com bonés promocionais, chega-se a um percentual de

72,22%, ao mesmo tempo que se somarmos todas as empresas que trabalham com

produtos de magazine, teríamos um percentual de 57,66%.

Há equilíbrio entre os tipos de produtos fabricados pelas empresas avaliadas

nesta pesquisa, com ligeira vantagem para as empresas que trabalham com

produtos promocionais. Na verdade, este tipo de empresa costuma produzir sob

encomenda, sendo que neste nicho de mercado encontram-se aqueles produtos

personalizados pelo próprio cliente, brinde e de propaganda. Um fator importante a

ser destacado é que esses produtos não concorrem diretamente com os produtos

importados. De acordo com ASFAB (2016), os grandes exportadores de bonés para

o Brasil, como a China, mandam para o país contêineres fechados de produtos e

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não se interessam pelo segmento de produtos promocionais que é um mercado

pulverizado, com muitos clientes que compram em pequenas quantidades de

produtos personalizados, diferente do segmento de magazine que é composto por

uma menor clientela, mas que compram grandes quantidades de um mesmo

produto.

Observou-se que as empresas que trabalham com os produtos promocionais

apresentam um melhor desempenho frente à internacionalização, concorrência, se

comparadas com as empresas que trabalham apenas com produtos de magazine.

Nesta pesquisa, verificou-se que 50% das empresas avaliadas pelo

questionário possuíam mais de 10 anos de atuação no mercado. Enquanto que

apenas aproximadamente 8,5% delas tinham de 1 a 3 anos de existência, 5,5%

tinham entre 3 até 5 anos e 36% mais de 5 e até 10 anos.

Para Oliveira (2006), administrar uma organização é conduzi-la por caminhos

cheios de obstáculos e perigos a cada instante, pois, com o passar dos anos

aumentam cada vez mais as incertezas sobre a sobrevivência organizacional. Estar

ciente dos riscos das mudanças temporais é uma característica primordial que o

empresário deve ter para fixar-se e persistir no seu ramo de atuação.

Durante a aplicação dos questionários, observou-se que muitas empresas

fecharam ou mudaram de ramo de atividade. Na cidade de São José do Seridó,

hoje, só existe uma bonelaria, as outras indústrias de bonés que existiam na cidade

fecharam as portas ou transformaram-se em facções. Em Caicó e Serra Negra

muitas indústrias boneleiras também fecharam ou mudaram de ramo de atividade. A

pesquisa não teve como quantificar, exatamente, o número de bonelarias que

fecharam ou mudaram de ramo de atividade devido à ausência de um levantamento

cadastral formal de todas as bonelarias. Mas de acordo com a ASFAB (2016), em

média, 30% das bonelarias existentes, no polo, fecharam as portas ou mudaram de

ramo ou atividade nos últimos 10 anos.

Com relação às linhas de produtos fabricadas pelas empresas avaliadas

nesta pesquisa. Pode-se verificar uma grande variabilidade entre os tipos de

produtos ofertados, pois não se consegue fixar um item com maior relevância entre

os demais citados como produzidos.

Esse cenário levanta a hipótese de que os fabricantes trabalham sob

demanda, ou seja, o produto ‘sairá’ com a frequência relativa ao pedido e à

necessidade do cliente. Em termos numéricos, observou-se que 33% deles

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afirmaram que produzem, ao mesmo tempo, bonés, chapéus e viseiras, enquanto

que 19% trabalham exclusivamente com bonés.

Já os demais produtos, aparecem sempre com valores inferiores a 10%.

Verificou-se que algumas empresas fabricam alguns produtos que fogem do padrão

de segmento das bonelarias, que são bonés, chapéus, viseiras, boinas, cumbucas e

toucas. Observou-se que, algumas fábricas produzem tapetes, mangas de braço,

avental, mochilas e bermudas. De acordo com alguns administradores, esses

produtos estão em fase de teste como é o caso da fabricação de bermudas pela

indústria Companhia do Boné de São José do Seridó. Analisando o atual cenário,

surgem duas hipóteses para essa produção de novos produtos: ou essas bonelarias

estão tentando ampliar seu ramo de atividade dentro da indústria têxtil ou estão

pensando em mudar de atividade como aconteceu com outras indústrias do Polo

Seridó.

A faixa etária dos empresários abordados nessa pesquisa foi bastante

variável. O maior índice de incidência das idades deu-se no intervalo entre 40 a 49

anos com cerca de 47% dos respondentes, seguido por 27% deles com idades entre

30 a 39 anos e 17% dos empresários com idades entre 20 e 29 anos. Apenas 8%

dos empresários tinham idades acima de 50 anos.

Apesar de alguns trabalhos relacionarem a idade como sendo importante para

a experiência e competência na gestão empresarial, não foram encontradas

relações entre a idade dos respondentes e o seu desempenho no mercado.

Aproximadamente, 60% dos empresários abordados, nesta pesquisa, tinham

escolaridade relativa ao ensino médio completo, 25% tinham ensino fundamental

completo e os demais entre ensino superior incompleto e completo.

O aperfeiçoamento pessoal e de formação profissional é um fator que auxilia

na condução dos negócios. É fato que a literatura afirma a existência constante da

necessidade dos empreendedores reciclarem seus conhecimentos, pois as cadeias

produtivas, as necessidades dos consumidores e as tendências de mercado são

algumas das áreas que mais sofrem mudanças ao longo do tempo, e, portanto, o

empresário que não se aperfeiçoa, nesse sentido, pode ficar defasado no quesito

inovação ou conhecimento.

Segundo Previdelli e Côrtes (2004), inicialmente, a relevância dada à

capacitação fez surgir com força a ideia de que essa procura deveria partir do

indivíduo, tendo como principais argumentos a busca pela melhoria de posição no

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mercado, pela manutenção nesse, ou mesmo por uma vaga de emprego. Entretanto,

com o passar dos anos, as transformações da globalização no mercado consumidor

fizeram com que surgissem, a cada dia que passa, consumidores cada vez mais

exigentes, que demandam produtos e serviços de qualidade.

Para Knight (1997), quanto maior a qualificação, melhor será o desempenho

do individual na atividade empreendedora, sendo esse um dos elementos chaves

para aquisição de vantagem competitiva em relação aos concorrentes.

O conceito de aprendizado contínuo tem sido visto pelos educadores como

uma plataforma constante para comunicar às pessoas a necessidade de,

ininterruptamente, procurarem se reciclar, aprenderem novos conhecimentos para

acompanhar as mudanças no mercado e na sociedade.

Hatch e Cunliffe (2012) afirmam que um dos fatores que afetam a

vulnerabilidade da organização ao ambiente onde ela está inserida é a necessidade

de conhecimento e capacitação dos seus administradores. Após a análise dos

dados, observou-se que todas as empresas onde os gestores tinham nível superior

apresentaram uma tradição de mercado de mais de 10 anos.

A pesquisa demonstrou que cerca de 44% dos gestores das empresas

avaliadas pelo questionário estão no cargo entre 2 a 5 anos, enquanto que 33%

estão há mais de 10 anos e por último 22% estão entre 6 e 10 anos na função. Esse

cenário pode ter diversas explicações, entre elas, a rotatividade de cargos, ou a

mudança de planejamento, adaptando as funções às situações pontuais de cada

época das empresas.

No ambiente de incertezas que se presencia, atualmente, a sobrevivência

empresarial está ligada às definições claras de seus objetivos e ao traçado

antecipado dos possíveis caminhos a serem percorridos para atingi-los. Segundo

Ruenda-Manzanares, Aragón-Correa e Sharma (2008), as incertezas do ambiente

geral do negócio aumentam a relação positiva entre os stakeholders (Pessoas

interessadas nos resultados da empresa), gerando estratégias ambientais proativas.

Segundo os dados da pesquisa, a maioria, ou seja, mais de 88% dos

empreendimentos entrevistados enquadra-se na categoria de microempresa.

Apenas 5,5% são empresas de pequeno porte e 5,5% são empresas de grande

porte.

Um dado que chama atenção nesse quesito é a apresentação de 5,5% das

empresas serem consideradas Empresas de Grande Porte-EGP pelos

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respondentes. Talvez esses respondentes não entendam perfeitamente o que são

Microempresas, Empresas de Pequeno Porte e Empresas de Grande Porte, pois de

acordo com dados (SEBRAE, 2014), o polo Seridó de Bonelarias é composto

apenas por ME e EPP.

Este cenário corrobora com os resultados das pesquisas de outros autores

como Paes (2014) que afirma que as microempresas e as pequenas empresas

(MPEs) possuem uma importância significativa para a economia na maioria dos

países ocidentais. Já segundo a OCDE (2009), em seus países membros, as MPEs

representam 94% das empresas industriais e mais de 95% das empresas de

serviços.

A grande quantidade de MPE´s em nosso país é proveniente de uma série de

benefícios fiscais e simplificações administrativas concedidas pelo governo para as

pequenas e microempresas desde a criação do Simples pela Lei n. 9.317/96. Houve

redução da carga tributária, simplificação da escrituração fiscal, pagamento em um

único documento de vários tributos federais e a possibilidade de se inserir também,

mediante convênio, os tributos estaduais e municipais.

4.2 ANÁLISE DO FATOR ORIENTAÇÃO INDIVIDUAL EMPREENDEDORA.

A Tabela 2 apresenta a análise dos fatores relacionados à OIE dos

administradores das fábricas de bonés do Polo Seridó. Ao analisarmos o bloco de

respostas referentes à orientação individual empreendedora, verifica-se que houve

um grau de concordância considerado substancial (GC Acima de 80) para a

proposição “Estou disposto a investir muito tempo e ou dinheiro em algo que trará

um alto retorno.” Isso indica que os respondentes desta pesquisa entendem a

importância do investimento monetário na orientação empreendedora, considerado

crucial para o sucesso em novos negócios.

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Tabela 2 – Análise do fator Orientação individual empreendedora.

Proposições DT DP D I C CP CT QT Mediana

observada

Discordantes da

proposição (DPr)

Concordantes da proposição

(CPr)

Grau de concordância da proposição

(GCP)

2.1 Eu gosto de me aventurar no desconhecido.

6 5 7 7 4 2 5 36 D 21,50 14,50 95,30

2.2 Estou disposto a investir muito tempo e ou dinheiro em algo que trará um alto retorno.

0 0 2 9 7 10 8 36 C 6,50 29,50 81,94

2.3 Tendo a agir corajosamente em situações que envolvem risco.

7 5 3 6 5 7 3 36 I 18,00 18,00 50,00

2.4 Gosto de experimentar novas e inusitadas atividades.

1 2 8 5 5 9 6 36 C 13,50 22,50 62,50

2.5 Sou original, único. 7 3 7 8 2 5 4 36 I 21,00 15,00 41,66

2.6 Prefiro tentar da minha própria maneira, ser diferente.

3 1 4 5 9 7 7 36 C 7,50 25,50 77,27

2.7 Gosto de experimentar novas abordagens e novos produtos.

4 1 4 6 8 4 9 36 C 12,00 24,00 66,67

2.8 Antecipo-me a futuros problemas na empresa.

1 2 6 4 8 8 7 36 C 11,00 25,00 69,44

2.9 Planejo os projetos com antecedência.

4 2 5 6 7 5 7 36 C 14,00 22,00 61,11

2.10 Tenho preferência por desenvolver coisas novas

1 5 4 6 5 7 8 36 C 13,00 23,00 63,88

Concordantes do Fator (CF) 219 360 µ1= 0,383 µ2= 0,608

Discordantes do Fator (DF) 138

Legenda: Lista de dez proposições para avaliar a orientação individual empreendedora em empresários de bonelaria. Colunas DT, DP, D, I, C, CP, CT: quantidade de respondentes que optaram pelas colunas do diferencial semântico. QT= quantidade total de respondentes; Mediana= coluna dentro do referencial semântico na qual se encontra o respondente 18 (=36/2); Dp=Discordantes da proposição: quantidade de respondentes discordantes= (D+DT+DP+0.5*I); Cp=Concordantes da proposição: quantidade de respondentes concordantes= (C+CT+0.5*I); GCp=Grau de concordância da proposição calculado de acordo com a equação (3); Df=Discordantes do Fator;Cf=Concordantes do Fator; μ2= crença de que as proposições como um todo sejam verdadeiras (219/360); μ1= descrença de que as proposições como um todo sejam verdadeiras (138/360). Fonte: Dados da pesquisa (2016).

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Bolton e Lane (2012) apontam esse fator como determinante na variável da

OIE relacionada à assunção de risco. Diversos autores têm sugerido ainda que a

Orientação Empreendedora aliada à disposição em realizar investimentos

monetários pode influenciar positivamente a performance de uma organização,

apontando para o fato que organizações com maior OE tendem a serem mais bem

sucedidas que organizações com uma menor OE (MILLER, 1983; COVIN; SLEVIN,

1991; ZAHRA et al; 1999; WIKLUND; SHEPHERD, 2005).

Por outro lado, verificou-se que outro item determinante na variável da OIE

relacionada à assunção de risco apresentou uma tendência central de discordância

considerada muito forte (Mediana de respostas centralizada na resposta

D=discordo). E como houve neste quesito um grau de concordância da proposição

de 95,30, isso significa dizer que neste caso, eles não aceitam bem a ideia de

“aventurar-se no desconhecido”. De uma maneira geral, o campo do

empreendedorismo envolve o estudo de fontes de oportunidades; o processo de

descoberta, evolução e exploração de oportunidades; e o conjunto de indivíduos que

descobrem, arriscam-se evoluem e exploram-nas (SHANE; VENKATARAMAN,

2000).

Com relação ao quesito que verificava a tendência dos administradores de

agir, corajosamente, em situações que envolvem risco, observou-se um equilíbrio

entre a concordância e a discordância.

Ao analisar essas três proposições que segundo Bolton e Lane (2012) são a

base para a variável da OIE de assunção de risco, pode-se afirmar que os

fabricantes de bonés, apesar de estarem dispostos a investir muito tempo e ou

dinheiro em algo que trará um alto retorno, não estão dispostos a correr riscos e não

gostam de se aventurar no desconhecido. Pode-se então afirmar que eles

apresentam apenas, parcialmente, a característica da OIE de assunção a risco.

A proposição que mais nos chama atenção ainda na tabela 2 é com relação

ao item “Sou original, único” com uma tendência de respostas centrada no

“indiferente” e com um grau de concordância considerado “desprezível”. Para

Wiklund (1999), uma postura estratégica inovativa é relacionada com a performance

da organização, uma vez que ela aumenta as chances para que a organização

perceba vantagens em mover-se primeiro (antes que seus concorrentes) e capitalize

em oportunidades de mercado. Dess e Lumpkin (2005) apontam que o

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desenvolvimento bem sucedido e a adoção de novas criações podem gerar

vantagem competitiva e prover uma maior fonte de crescimento para a organização.

Quando analisada a característica da OIE relacionada à inovatividade,

observa-se que, apesar da mediana apresentar uma concordância em três quesitos,

em nenhuma deles apresenta-se um grau de concordância substancial. Com isso,

pode-se observar que os administrados das fábricas de bonés do Polo Seridó,

apesar de em sua maioria concordarem com as afirmações da inovatividade, eles

não têm conhecimento da importância dessas ações para o seu negócio.

Com relação à característica da OIE relacionada à proatividade, ocorreu o

mesmo, pois se observou em todas as proposições um baixo grau de concordância

da proposição. Com isso, pode-se inferir que apesar da maioria dos administradores

das bonelarias concordarem com as afirmações relacionadas à proatividade, eles

desconhecem a importância dessas ações.

Após as análises estatísticas, observou-se que os fabricantes de bonés do

Polo Seridó, no geral, apresentam um baixo grau de Orientação Individual

Empreendedora. Esse é um dado de grande relevância, tendo em vista que,

segundo Bolton e Lane (2012), a disponibilidade dos empresários para assumir

riscos, serem proativos e inovadores nas organizações são comportamentos

importantes para o sucesso ou fracasso da organização.

4.3 ANÁLISE DO FATOR COMPORTAMENTO INOVADOR.

Com relação à avaliação das proposições referentes ao comportamento

inovador dos empresários de bonés do polo Seridó (Tabela 3), verificou-se que este

foi o bloco onde houve mais oscilação no padrão das respostas.

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60

Tabela 3 – Análise do fator Comportamento inovador.

Proposições DT DP D I C CP CT QT Mediana

observada

Discordantes da

proposição (DPr)

Concordantes da proposição

(CPr)

Grau de concordância da proposição

(GCP)

3.1 Em nossa empresa buscamos ativamente por ideias inovadoras.

3 2 3 6 8 9 5 36 C 11 25 69,44

3.2 Em nossa empresa costumamos inovar com base em resultados de pesquisa.

19 4 3 4 3 3 0 36 DT 28 8 22,22

3.3 Os gestores de nossa empresa aceitam prontamente as inovações

2 5 6 7 5 7 4 36 I 16,5 19,5 54,17

3.4 Em nossa empresa as pessoas são penalizadas por novas ideias que não funcionam.

28 5 2 0 0 0 1 36 DT 35 1 2,77

3.5 Em nossa empresa incentivamos a inovação.

4 5 4 5 6 8 4 36 I 15,5 20,5 56,55

Concordantes do Fator (CF) 106 180 µ1= 0,588 µ2= 0,411

Discordantes do Fator (DF) 74

Legenda: Lista de cinco proposições para avaliar o comportamento inovador em empresários de bonelaria. Fonte: Dados da pesquisa (2016)

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61

O item 3.1 “Em nossa empresa buscamos ativamente por ideias inovadoras”

apresentou uma tendência central de concordância, ao mesmo tempo que os itens

“Em nossa empresa costumamos inovar com base em resultados de pesquisa.” e

“Em nossa empresa as pessoas são penalizadas por novas ideias que não

funcionam.” (3.2 e 3.4 respectivamente) apresentaram tendência central de

discordância total por parte dos respondentes. Esse padrão de respostas acabou se

revelando como situações totalmente opostas, sendo que se no item 3.1 as

respostas direcionam para uma busca por ideias inovadoras, no item 3.2 a resposta

direcionada nos leva a inferir que os empresários não estão buscando inovações ou

pesquisas e ao cruzar com a informação do item 3.4 percebe-se que apesar de não

buscarem isso, não punem ou não proíbem que outros funcionários assim o façam.

Seguindo ainda com o mesmo bloco de questões, percebe-se uma

incoerência ao analisar o item 3.3 “Os gestores de nossa empresa aceitam

prontamente as inovações”, o padrão de respostas foi dado como indiferente.

De acordo com Hall e Willians (2008), a inovação está ligada a implantação,

geração e aceitação de novas ideias, processos, produtos ou serviços. Analisando

as respostas dos administradores, conjuntamente com a citação de Hall e Willians

(2008), observa-se que para esses administradores não fazem diferença as novas

ideias, processos e produtos sugeridos pelos empregados e eles não estão

preocupados em implantar ações inovadoras baseadas em resultados de pesquisas.

Ou seja, as respostas não têm coerência entre si, isso leva a perceber que

esse bloco de questões não foi efetivo para avaliar o comportamento inovador, ou o

perfil de pessoas que responderam às afirmações não tiveram habilidade técnica

para responder às perguntas com critério avaliativo. Esse padrão acaba por

comprometer o grau de confiabilidade dessas respostas, o que foi mais adiante

reforçado com o valor do coeficiente de Cronbach abaixo dos 0,7 (Tabela 6).

Essa ausência de comportamento inovador observado nas respostas pode se

dar devido ao fato de que esses empresários consideraram a atividade que realizam

relativamente simples e não perceberem a necessidade de esforços maiores para se

manterem atualizados ou de aprenderem novas técnicas gerenciais. Essa

observação pode ser confirmada com a citação de Costa e Rocha (2009), quando

afirmam que essas empresas do setor têxtil não necessitam de uma alta qualificação

da força de trabalho e necessita de poucos requisitos de infraestrutura para sua

instalação e funcionamento. Outra necessidade observada é quanto à sua

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62

percepção de que o gerenciamento de empresas de pequeno porte é considerado

essencialmente prático, isto é, a melhor maneira de aprender a gerenciar é fazendo.

Essa ausência de preocupação com ações inovadoras é um fator

preocupante para o desempenho dos fabricantes de bonés, frente à

internacionalização da concorrência, tendo em vista que, segundo Tajedini (2010), a

inovação deve ser vista como um processo contínuo de reorientação que capacita

as empresas para conseguir vantagem competitiva e maior desempenho no

mercado.

4.4 ANÁLISE DAS AÇÕES DESENVOLVIDAS PARA SE MANTER NO

MERCADO.

Pela tabela 4, pode-se analisar as ações desenvolvidas pelos administradores

das fábricas de bonés do Polo Seridó para se manter no mercado frente à

internacionalização da concorrência, que segundo dados da ABIT (2013), vem,

paulatinamente, substituindo o produto nacional pelo importado.

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63

Tabela 4 - Análise das ações desenvolvidas para se manter no mercado.

Proposições DT DP D I C CP CT QT Mediana

observada

Discordantes da proposição

(DPr)

Concordantes da

proposição (CPr)

Grau de concordância da proposição

(GCP)

4.1 Conhecemos bem os nossos concorrentes.

0 1 1 6 7 12 9 36 CP 5 31 86,12

4.2 Desenvolvemos produtos com qualidade superior aos dos nossos concorrentes.

0 0 1 5 9 10 11 36 CP 3,5 32,5 90,28

4.3 Somos mais focados nos clientes que nossos concorrentes.

0 0 1 3 6 10 16 36 CP 2,5 33,5 92,66

4.4 Competimos com produtos diferenciados e exclusivos.

1 3 4 6 10 7 5 36 C 11 25 69,75

4.5 .Temos um excelente controle financeiro.

0 0 3 6 9 13 5 36 C 6 30 83,33

4.6 A empresa se preocupa e investe em campanhas publicitárias

15 5 6 5 0 3 2 36 DP 28,5 7,5 20,83

4.7 A empresa busca fechar novas parcerias

2 4 2 5 12 7 4 36 C 10,5 25,5 70,83

4.8 A empresa investe em pesquisa e desenvolvimento

23 2 1 6 3 1 0 36 DT 29 7 19,44

4.9 A empresa elabora e executa planejamentos estratégicos

6 4 9 10 4 3 0 36 D 24 12 33,33

4.10 A empresa adota estilo gerencial participativo; nossa equipe é altamente motivada e envolvida com os objetivos e metas da empresa.

5 3 4 9 9 4 2 36 I 16,5 19,5 54,16

Concordantes do Fator (CF) 223,5 360 µ1= 0,379 µ2= 0,621

Discordantes do Fator (DF) 136,5

Legenda: Lista de dez proposições para avaliar as ações desenvolvidas para se manter no mercado por empresários de bonelaria. Fonte: Dados da pesquisa (2016)

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Com relação às ações previstas na tabela 4, verifica-se que os respondentes

deram ênfase às afirmações sobre um bom conhecimento sobre os concorrentes

(4.1), qualidade dos produtos ofertados (4.2); maior foco no cliente que os seus

concorrentes (4.3) e controle dos gastos financeiros (4.5). Esses itens apresentaram

grau de concordância das afirmações, todos entre relevante e muito forte. Para

Araújo (2004), é incontestável que as empresas internacionais investem bem mais

em seus produtos e processos e isso faz com que a cadeia têxtil brasileira busque

focar em processos que tornem a empresa mais competitiva e impacte diretamente

no seu volume de vendas. Corroborando com o pensamento de Araújo (2004), os

administradores das bonelarias do Polo Seridó preocupados em tornar a empresa

mais competitiva buscam conhecerem bem seus concorrentes, preocupam-se com o

produto ofertado aos seus clientes e com a satisfação final destes com os

resultados.

Observa-se também que há uma preocupação com o controle financeiro

dentro da empresa. Esse comportamento é uma resposta à estratégia utilizada pelos

países asiáticos, principalmente, a China, que de acordo com Costa e Rocha (2009),

utiliza como estratégia a exportação para o Brasil de uma grande quantidade de

bonés padronizados e com baixos preços. Na China, a mão de obra, além de ser

abundante, tem um baixo custo. Com relação à matéria prima, como algodão e

poliéster, esse país é privilegiado, principalmente, com relação ao poliéster que é

abundante (RANGEL, 2008). Para enfrentar essa concorrência, é necessário que as

indústrias de bonés tenham um controle financeiro bem elaborado. Como disse o

administrador da empresa AG Bonés, durante a aplicação do questionário, uma das

estratégias utilizadas contra a concorrência é “[...] manter uma boa gestão de custos

e um controle financeiro na ponta do lápis, isso ajuda a empresa na tomar decisões

e a manter seus preços competitivos no mercado”.

Essas ações de mercado podem ser consideradas um diferencial utilizado

pelos fabricantes de bonés, pois de acordo com o SEBRAE (2014), as indústrias

estrangeiras mandam para o Brasil contêiner fechado de mercadorias e não se

preocupam em atender o mercado pulverizado com empresas que compram em

pequenas quantidades. Também não atentam em conhecer bem todo o mercado

consumidor brasileiro e não se preocupam com o pós-venda.

Segundo Tang et al (2007), os momentos de retração econômica fazem

muitos empreendedores pensarem apenas em corte de custos de maneira isolada,

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como se esse fosse uma espécie de mantra a conduzi-los incólumes pela

tempestade da recessão.

Porém, essa medida, quando tomada sem a devida reflexão, costuma

desenhar-se apenas como um paliativo, incapaz de garantir solidez financeira para

que a organização se prepare de fato para as oportunidades futuras. O foco, nesse

quesito, não deve ser a redução de custos deliberada, mas um redesenho de toda

sua estratégia de negócios, criando novos paradigmas em gestão financeira (TANG,

TANG, et al., 2007).

Costa e Rocha (2009) verificaram ainda um padrão de comportamento

diferenciado em empresários chineses que optaram pela melhoria da qualidade dos

seus produtos em relação aos padrões já estabelecidos, anteriormente, o que pode

ter levado o mercado Chinês a um crescimento no período de recessão econômica,

vivido pelos grandes centros industriais do mundo.

Verificou-se que os administradores das bonelarias buscam fechar novas

parcerias (3.7). Para essa proposição, obteve-se um grau de concordância

moderado. No polo Seridó, a maioria das bonelarias buscam se unir e ficar mais

fortes para enfrentar a concorrência internacional e para isso essas indústrias

buscam parcerias com entidades de classe e órgão de apoio tais como ASFAB,

SEBRAE, SENAI e ABIT.

De acordo com os dados coletados, verificou-se ausência de investimentos

em campanha publicitárias e em pesquisa e desenvolvimento constatou-se também

que a empresa não executa planejamento estratégico.

No tocante ao estilo de gestão participativa (item 4.10) (Tabela 4), os

respondentes apresentaram-se indiferentes a este estilo de gestão. Este pode ser

um ponto a ser melhorado nas ações de administração das empresas avaliadas,

pois verifica-se que hoje a tendência de gestão é aquela onde há maior junção de

ideias e aproveitamento dos talentos dos funcionários. Nesse modelo de gestão, os

funcionários são vistos como colaboradores, uma vez que tem um caráter mais

descentralizado e mais participativo.

ANÁLISE DO CRESCIMENTO DA PARTICIPAÇÃO NO MERCADO

Na tabela 5, encontram-se as proposições relacionadas à análise de

crescimento de mercado das bonelarias do Polo Seridó. Verificou-se que para os

respondentes da pesquisa, praticamente, todos os itens propostos tiveram aceitação

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ou concordância como sendo fundamentais para essa questão, à exceção dos (5.2;

5.3 e 5.4).

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Tabela 5 - Análise do crescimento da participação no mercado

Proposições DT DP D I C CP CT QT Mediana

observada

Discordantes da

proposição (DPr)

Concordantes da proposição

(CPr)

Grau de concordância da proposição

(GCP)

5.1 Nossa empresa tem apresentado crescimento na participação de mercado.

1 2 2 6 11 7 7 36 C 8,00 28,00 77,78

5.2 Nossa empresa tem alcançado uma posição competitiva frente à concorrência nacional.

5 1 4 8 9 5 4 36 I 12,00 24,00 92,30

5.3 Nossa empresa tem alcançado uma posição competitiva frente à concorrência internacional.

12 5 2 5 5 4 3 36 D 21,50 14,50 40,27

5.4 Nossa empresa tem alcançado crescimento dos lucros nos últimos períodos.

1 3 9 6 7 9 1 36 I 16,00 20,00 55,55

5.5 Nossa empresa tem obtido retorno sobre o capital aplicado ou recursos investidos no negócio.

0 0 7 10 8 9 2 36 C 12,00 24,00 92,30

5.6 Nossa empresa tem demonstrado capacidade de manter os clientes leais e fiéis.

0 1 0 3 7 17 8 36 CP 2,50 33,50 93,05

5.7 As vendas da nossa empresa vem aumentando.

0 3 5 6 8 7 7 36 C 11,00 25,00 69,44

5.8 A nossa empresa vende tudo que produz 5 2 3 5 6 8 7 36 C 12,50 23,50 65,27

5.9 A nossa empresa consegue manter todas as suas obrigações financeiras em dia

0 3 3 3 6 6 15 36 CP 7,50 28,50 79,16

5.10 Os gestores recebem salários satisfatórios 0 0 1 2 8 9 16 36 CP 2,00 34,00 94,44

Concordantes do Fator (CF) 255 360 µ1= 0,291 µ2= 0,708

Discordantes do Fator (DF) 105

Legenda: Lista de dez proposições para avaliar o crescimento da participação no mercado por empresários de bonelaria. Fonte: Dados da pesquisa (2016)

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Os maiores graus de concordância parcial encontrados neste bloco de

proposições foram referentes às afirmações “Os gestores recebem salários

satisfatórios” e “Nossa empresa tem demonstrado capacidade de manter os clientes

leais e fiéis” com um GCP de 93,05 e 94,44 respectivamente.

De acordo com os respondentes, a empresa consegue manter seus clientes

leiais e fiéis. Isso pode estar ocorrendo devido aos administradores das bonelarias

do Polo Seridó preocuparem-se com o produto ofertado aos seus clientes e com a

satisfação final destes com os resultados, como foi demonstrado na Tabela 4.

Para os administradores, os seus salários são satisfatórios. Com isso, pode-

se aferir que, apesar de muitos boneleiros reclamarem da situação da empresa, eles

estão, parcialmente, satisfeitos com seus salários.

Entretanto, como o padrão central de respostas para esses itens foi dado

como CP – concordo parcialmente, nem todos os gestores acreditam que recebem

remuneração justa ou ainda que nem todos os gestores façam fidelização de seus

clientes.

Ao analisar a proposição 5.5 que apresenta um elevado grau de

concordância, pode-se observar que de acordo com os respondentes, as bonelarias

têm obtido retorno sobre os investimentos no negócio. Isso demonstra que apesar

da concorrência acirrada, a maioria das bonelarias conseguem obter lucros, contudo

não podemos afirmar se esse retorno sobre o investimento é satisfatório para essas

empresas.

Um dado que chama atenção na tabela 5 é a proposição 5.2 “Nossa empresa

tem alcançado uma posição competitiva frente à concorrência nacional”. Nessa

proposição, a mediana observada é Indiferente e apresenta uma concordância muito

forte. Essa indiferença indica que esses administradores não se preocupam tanto

com a concorrência nacional. Já com relação à proposição 5.3 “Nossa empresa tem

alcançado uma posição competitiva frente a concorrência internacional,” a mediana

foi D (Discordância). Com isso, pode-se verificar que existe uma preocupação

relacionada à concorrência internacional.

Nas proposições 5.1 “Nossa empresa tem apresentado crescimento na

participação de mercado” e 5.9 “A nossa empresa consegue manter todas as suas

obrigações financeiras em dia,” o grau de concordância dessas proposições não é

substancial, tendo em vista que as duas apresentaram índices abaixo de 80.

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A proposição 5.9 teve como mediana CP (Concordo Parcialmente). Diante

disso, pode-se aferir que os respondentes conseguem manter, parcialmente, as

obrigações financeiras em dia. Isso pode ser explicado devido à maioria das

bonelarias do Polo Seridó apresentarem um excelente controle financeiro, conforme

foi apresentado na Tabela 4.

4.5 RESULTADO DO COEFICIENTE DE CRONBACH E DA PURIFICAÇÃO DA

ESCALA

De acordo com os dados da tabela 6, verificou-se que as proposições

contidas nos blocos III, V e VI apresentaram α acima de 0,7, ou seja, demonstrando

que há confiabilidade na sua aplicação quanto à aferição do questionário.

Tabela 6 - Resultado do coeficiente de Cronbach e da purificação da escala. Blocos de

percepção

Alfa

inicial

Total de

itens

Total de

removidos*

Remoção

(%)

Alfa após

remoção

Incremento da

confiabilidade

(%)

Bloco III –

OIE

0,7111 10 1 10,00 0,8212 15,49

Bloco IV –

CI

0,6272 5 2 40,00 0,5263 -16,08

Bloco V –

Ações

0,7324 10 3 30,00 0,7990 9,09

Bloco VI –

Cresc.

0,7214 10 3 30,00 0,8003 10,93

Fonte: Dados da pesquisa, 2016. *Eliminação dos itens discordantes da proposição.

A intensidade da correlação entre os itens deste questionário foram

verificadas, observando-se se o coeficiente de Cronbach aumentou ou diminuiu

depois de eliminar um ou mais itens da escala de medição (questionário). Seguindo

a sugestão de Leontitsis e Pagge (2007), optou-se por eliminar os itens onde a

posição mediana indicou tendência à discordância da proposição.

Nos blocos onde houve aumento após a eliminação dos itens, pode-se

assumir que esse item não estava correlacionado com os outros itens da escala, ou

seja, aquele padrão de respostas não era representativo do todo avaliado. Isso

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70

ocorreu nas respostas referentes ao bloco III, V e VI. Já para o bloco IV, a retirada

dos itens discordantes revelou diminuição do coeficiente de Cronbach,

demonstrando que estes itens têm forte relação com as questões avaliadas, no

referido bloco.

Pode-se observar que a quantidade de questões removidas para incremento

do coeficiente de confiabilidade foi variável. No bloco III – OIE, com a remoção de

apenas 1 item (10,00% do total de itens do bloco), o coeficiente passou de 0,7111

(valor já considerado confiável) para 0,8212, ou seja, um incremento de 15,49% na

confiabilidade, antes da purificação, após a eliminação do padrão discordante de

respostas.

Ainda na tabela 6, o caso que mais se destaca é o bloco IV - CI, onde o

processo de purificação aponta que removendo 40% dos itens do bloco ocorre

diminuição do coeficiente de Cronbach de 0,6272 (índice abaixo do considerado

como confiável) para 0,5263, representando uma redução de 16,08%.

O comportamento inovador, considerado item essencial presente em todas as

formas de empreendedorismo (COVIN; MILES, 1999), representa o desenvolvimento

de novos produtos, processos, tecnologias, sistemas, plantas ou mercados pela

organização. Pode ser visto como a propensão da firma em se comprometer com

novas ideias e processos criativos (LUMPKIN; DESS, 1996), tanto em termos

tecnológicos - pesquisa & desenvolvimento - quanto mercadológicos - pesquisa de

mercado, propaganda e promoção.

Este fenômeno que acontece com o bloco IV pode ser justificado ou pela

inabilidade dos avaliadores em não serem aptos a avaliar as questões propostas ou

por estas não estarem associadas ao fenômeno de Orientação Individual

Empreendedora. Esse fato pode ser reforçado ao analisar a Tabela 3, e verificar-se

que apenas para a proposição 3.1 houve padrão de concordância.

Com relação aos itens propostos em cada bloco de questões, verificou-se

uma maior consistência no bloco de questões relacionadas às ações desenvolvidas

para se manter no mercado (Bloco V), pois o resultado do índice de confiabilidade

desse bloco nos leva a inferir que os respondentes sentem-se mais seguros quanto

ao entendimento do que é ou não vantajoso como atitude para manter-se

competitivo frente às mudanças de mercado.

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71

Ao analisar os dados da Tabela 6, conclui-se, portanto, que com exceção do

Bloco IV, todos os demais blocos mostraram-se favoráveis e com grau de confiança

acima de 70%.

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5 CONCLUSÕES

A consistência interna das respostas obtidas por meio da aplicação de um

questionário nas fábricas de bonés do polo Seridó revelou que este instrumento de

medição apresentou alta confiabilidade no espaço onde foi aplicado. Apenas no

tocante ao bloco IV, observou-se que as respostas são incoerentes entre si, pois o

coeficiente de Cronbach apresentou índices abaixo 0,7 que é o índice mínimo

considerado confiável. Acredita-se que essa inconsistência não prejudicou o

trabalho, pelo contrário, pode-se atribuir essa inconsistência a inabilidade dos

respondentes com relação ao comportamento inovador, tendo em vista que as

atividades desenvolvidas nas indústrias de bonés são, relativamente, simples e

esses respondentes não percebem a necessidade de agir de forma inovadora.

O presente trabalho analisou todas as hipóteses levantadas e cumpriu todos

os objetivos propostos. Após essas análises, verificou-se que os fabricantes de

bonés do Polo Seridó apresentam poucas características da OIE, ou seja, no geral

esses empresários não são inovadores, proativos e não estão dispostos a assumir

riscos.

Constatou-se também que inexiste um relacionamento positivo entre as ações

de inovação e a OIE, tendo em vista que, apesar desses administradores das

bonelarias apresentarem algumas poucas características da OIE, eles não

apresentaram características e ou habilidades fortes relacionadas ao

comportamento inovador. Isso é um fator preocupante tendo em vista que a história

das bonelarias

A pesar das bonelarias terem surgido como uma atividade inovadora em

meados de 1910 quando o algodão do Seridó começou a perder mercado. Verificou-

se que na atualidade a ausência desse comportamento inovador em produtos e

processos impacta negativamente no desempenho dos fabricantes de bonés, frente

à concorrência internacional, pois de acordo com as respostas dos administradores,

as bonelarias não conseguem uma posição competitiva frente à concorrência

internacional. Verificou-se ainda que, apesar dos administradores perceberem as

incertezas do ambiente empresarial, eles não adotam comportamentos e atitudes

inovadoras.

A falta de inovação aliada a ausência de formalidade e de inscrição no

Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica - CNPJ por parte de um quarto das bonelarias

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afeta o crescimento do setor, fazendo com que muitas dessas indústrias percam o

foco, partam para a ilegalidade e comessem a trabalhar com produtos falsificados.

De acordo com a percepção dos gestores, constatou-se que a maioria das

bonelarias do Polo Seridó apresenta retorno sobre seus investimentos. Contudo, não

podemos afirmar se esse retorno sobre o investimento é satisfatório para essas

empresas.

Respondendo ao segundo objetivo do trabalho que era verificar a percepção

dos gestores sobre o desempenho dos negócios, pode-se concluir que na percepção

deles, com relação à concorrência nacional, as bonelarias apresentam um bom

desempenho, mas essas indústrias não conseguem o mesmo desempenho nos

negócios, quando expostos à concorrência internacional.

Apesar desses fabricantes de bonés apresentarem uma fraca Orientação

Individual Empreendedora e, praticamente, nenhuma inovação, eles conseguem um

bom desempenho no mercado, frente aos concorrentes nacionais.

Com relação ao desempenho frente à concorrência internacional,

principalmente, advinda da China, esses mesmos fabricantes de bonés perdem

competitividade, sentindo assim, um maior impacto nos desempenho dos seus

negócios. Prova disso é que aproximadamente 30% das bonelarias do polo Seridó

fecharam ou mudaram de atividade nos últimos anos.

A maioria dos administradores das bonelarias afirmaram que não conseguem

alcançar uma posição competitiva, frente à concorrência internacional. Algumas

fabricas de bonés para conseguir se manter no mercado optaram por trabalhar

apenas com o seguimento de produtos promocionais, devido a esses produtos não

concorrerem diretamente com os produtos Chineses. Observou-se ainda que as

empresas que trabalham com os produtos promocionais apresentam um melhor

desempenho frente à internacionalização da concorrência, se comparadas com as

empresas que trabalham apenas com produtos de magazine.

Assim, conclui-se a pesquisa, mostrando que o objetivo geral proposto foi

atingido, ou seja, com base na percepção dos gestores, pôde-se observar que a

ausência de um comportamento inovador e de atitudes relacionadas a OIE

influenciam, negativamente, o desempenho dos pequenos fabricantes de bonés

junto à concorrência internacional.

Essa pesquisa cumpriu seu papel perante a sociedade, pois traz observações

relevantes que serão apresentadas, tanto para os administradores e proprietários

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74

das bonelarias, como para as entidades representativas e órgão de classe dessas

do setor têxtil, para que sejam tomadas algumas medidas para fortalecer e melhorar

o desempenho das empresas, junto à concorrência internacional, principalmente, a

advinda da China.

Este estudo não se esgota por aqui, uma vez que várias nuances podem ser

aprofundadas a partir das evidências constatadas. A pesquisa pode ser aplicada em

outros ramos de atividades dentro do setor têxtil do Polo Seridó. Essa pesquisa pode

ser adaptada e aplicada, por exemplo, no ramo de atividade de facções ou de teares

que também são atividades têxteis de grande relevância para a economia e

desenvolvimento do Seridó. A partir de futuras pesquisas, poderão se verificar se

esses ramos de atividade apresentam comportamento similares aos apresentados

pela bonelarias.

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APÊNDICE A – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

PESQUISA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE ORIENTAÇÃO INDIVIDUAL

EMPREENDEDORA E A CAPACIDADE DE INOVAR NO DESEMPENHO NAS

INDÚSTRIAS DE BONÉS FRENTE À INTERNACIONALIZAÇÃO DA

CONCORRÊNCIA.

Esta é uma pesquisa acadêmica da Universidade Potiguar – UNP sobre a relação

entre orientação individual empreendedora e a capacidade de inovar no

desempenho nas indústrias de bonés frente à internacionalização da concorrência.

Por se tratar de uma pesquisa científica, a identidade do entrevistado e o nome da

empresa serão mantidos em total sigilo.

Instruções de preenchimento do BLOCO 3 até o BLOCO 6.

Considerando a realidade da sua empresa, utilize a escala ao lado das afirmativas

para assinalar a sua concordância ou discordância das mesmas. O numero 1

corresponde a discordo totalmente e o numero 7 corresponde a concordo

totalmente.

Bloco 1 – Caracterização da empresa

1.1 A empresa tem CNPJ

( ) Sim ( ) Não

1.2 Porte da empresa.

( ) Microempresa ( ) Empresa de pequeno porte ( ) Empresa de grande porte

1.3 A empresa trabalha com qual(is) segmentos?

( ) Fabrica apenas produtos promocionais (brinde)

( ) Fabrica apenas produtos de magazine (marca própria)

( ) Fabrica produtos promocionais e de magazine

( ) Outros _____________________________________

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1.4 Produtos fabricados pela empresa

( ) Bonés ( ) Chapéus ( ) Viseiras ( ) Boinas

(...) Outros ________________________________

1.5 Tempo de existência da empresa.

( ) Menos de 1 ano. ( ) De 1 a 3 anos. ( ) Mais de 3 anos até 5 anos.

( ) Mais de 5 anos até 10 anos. ( ) Mais de 10 anos.

1.6 A empresa possui filial? ( ) Sim ( ) Não

1.6.1 Se sim. Quantas?__________

Bloco 2 – Caracterização do entrevistado

2.1 Gênero

( ) Masculino ( ) Feminino

2.2 Idade

( ) Menos de 20 anos ( ) De 20 a 29 anos ( ) De 30 a 39 anos ( ) De 40 a 49

anos ( ) 50 anos ou mais

2.3 Escolaridade

( ) Primeiro grau completo ( ) Segundo grau completo

( ) Nível superior. Qual?_________________________

2.4 Há quantos anos é gestor da empresa?____________________

Bloco 3 OIE

Afirmativas 1 2 3 4 5 6 7

3.1 Eu gosto de me aventurar no desconhecido.

3.2 Estou disposto a investir muito tempo e ou dinheiro em algo que

trará um alto retorno.

3.3 Tendo a agir corajosamente em situações que envolvem risco.

3.4 Gosto de experimentar novas e inusitadas atividades.

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Bloco 4 Comportamento Inovador

Bloco 5 Ações desenvolvidas para se manter no mercado.

Afirmativas 1 2 3 4 5 6 7

5.1 Conhecemos bem os nossos concorrentes.

5.2 Desenvolvemos produtos com qualidade superior aos dos nossos

concorrentes.

5.3 Somos mais focados nos clientes que nos nossos concorrentes.

5.4 Competimos com produtos diferenciados e exclusivos.

5.5 Temos um excelente controle financeiro.

5.6 A empresa se preocupa e investe em campanhas publicitárias

5.7 A empresa busca fechar novas parcerias

5.8 A empresa investe em pesquisa e desenvolvimento

3.5 Sou original, único.

3.6 Prefiro tentar da minha própria maneira, ser diferente.

3.7 Gosto de experimentar novas abordagens e novos produtos.

3.8 Antecipo-me a futuros problemas na empresa.

3.9 Planejo os projetos com antecedência.

3.10 Tenho preferência por desenvolver coisas novas

Afirmativas 1 2 3 4 5 6 7

4.1 Em nossa empresa buscamos, ativamente, por ideias inovadoras.

4.2 Em nossa empresa costumamos inovar com base em resultados

de pesquisa.

4.3 Os gestores de nossa empresa aceitam, prontamente, as

inovações

4.4 Em nossa empresa as pessoas são penalizadas por novas ideias

que não funcionam.

4.5 Em nossa empresa incentivamos a inovação.

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5.9 A empresa elabora e executa planejamentos estratégicos

5.10 A empresa adota estilo gerencial participativo; nossa equipe é

altamente motivada e envolvida com os objetivos e metas da

empresa.

Bloco 6 Crescimento da participação de mercado

Afirmativas 1 2 3 4 5 6 7

6.1 Nossa empresa tem apresentado crescimento na participação de

mercado.

6.2 Nossa empresa tem alcançado uma posição competitiva frente à

concorrência nacional.

6.3 Nossa empresa tem alcançado uma posição competitiva frente à

concorrência internacional.

6.4 Nossa empresa tem alcançado crescimento dos lucros nos

últimos períodos.

6.5 Nossa empresa tem obtido retorno sobre o capital aplicado ou

recursos investidos no negócio.

6.6 Nossa empresa tem demonstrado capacidade de manter os

clientes leais e fiéis.

6.7 As vendas da nossa empresa vêm aumentando.

6.8 A nossa empresa vende tudo que produz

6.9 A nossa empresa consegue manter todas as suas obrigações

financeiras em dia

6.10 Os gestores recebem salários satisfatórios