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Instituto de Economia da UFRJInstituto de Economia da UNICAMP
Mecnica
07Sistema ProdutivoPerspectivas do Investimento em
EdmarCaixa de textoVerso Final para Editorao - Documento No Editorado
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Aps longo perodo de imobilismo, a economia brasileira vinha apresentando firmes
sinais de que o mais intenso ciclo de investimentos desde a dcada de 1970 estava
em curso. Caso esse ciclo se confirmasse, o pas estaria diante de um quadro efeti-
vamente novo, no qual finalmente poderiam ter lugar as transformaes estruturais
requeridas para viabilizar um processo sustentado de desenvolvimento econmico.
Com a ecloso da crise financeira mundial em fins de 2008, esse quadro altamente
favorvel no se confirmou, e novas perspectivas para o investimento na economia
nacional se desenham no horizonte.
Coordenado pelos Institutos de Eco nomia da UFRJ e da UNICAMP e realizado com o
apoio financeiro do BNDES, o Projeto PIB - Perspectiva do Investimento no Brasil tem
como objetivos:
Analisar as perspectivas do investimento na economia brasileira em um
horizonte de mdio e longo prazo;
Avaliar as oportunidades e ameaas expanso das atividades produtivas
no pas; e
Sugerir estratgias, diretrizes e instrumentos de poltica industrial que
possam auxiliar na construo dos caminhos para o desenvolvimento
produtivo nacional.
Em seu escopo, a pesquisa abrange trs grandes blocos de investimento, desdobrados
em 12 sistemas produtivos, e incorpora reflexes sobre oito temas transversais, con-
forme detalhado no quadro abaixo.
ESTUDOS TRANSVERSAIS
Estrutura de Proteo Efetiva
Matriz de Capital
Emprego e Renda
Qualificao do Trabalho
Produtividade, Competitividade e Inovao
Dimenso Regional
Poltica Industrial nos BRICs
Mercosul e Amrica Latina
ECONOMIA BRASILEIRA
BLOCO SISTEMAS PRODUTIVOS
INFRAESTRUTURA EnergiaComplexo UrbanoTransporte
PRODUO AgronegcioInsumos BsicosBens SalrioMecnicaEletrnica
ECONOMIA DO CONHECIMENTO
TICsCulturaSadeCincia
EdmarCaixa de textoVerso Final para Editorao - Documento No Editorado
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COORDENAO GERAL
Coordenao Geral - David Kupfer (IE-UFRJ)
Coordenao Geral Adjunta - Mariano Laplane (IE-UNICAMP)
Coordenao Executiva - Edmar de Almeida (IE-UFRJ)
Coordenao Executiva Adjunta - Clio Hiratuka (IE-UNICAMP)
Gerncia Administrativa - Carolina Dias (PUC-Rio)
Coordenao de Bloco
Infra-Estrutura - Helder Queiroz (IE-UFRJ)
Produo - Fernando Sarti (IE-UNICAMP)
Economia do Conhecimento - Jos Eduardo Cassiolato (IE-UFRJ)
Coordenao dos Estudos de Sistemas Produtivos
Energia Ronaldo Bicalho (IE-UFRJ)
Transporte Saul Quadros (CENTRAN)
Complexo Urbano Cludio Schller Maciel (IE-UNICAMP)
Agronegcio - John Wilkinson (CPDA-UFFRJ)
Insumos Bsicos - Frederico Rocha (IE-UFRJ)
Bens Salrio - Renato Garcia (POLI-USP)
Mecnica - Rodrigo Sabbatini (IE-UNICAMP)
Eletrnica Srgio Bampi (INF-UFRGS)
TICs- Paulo Tigre (IE-UFRJ)
Cultura - Paulo F. Cavalcanti (UFPB)
Sade - Carlos Gadelha (ENSP-FIOCRUZ)
Cincia - Eduardo Motta Albuquerque (CEDEPLAR-UFMG)
Coordenao dos Estudos Transversais
Estrutura de Proteo Marta Castilho (PPGE-UFF)
Matriz de Capital Fabio Freitas (IE-UFRJ)
Estrutura do Emprego e Renda Paul Baltar (IE-UNICAMP)
Qualificao do Trabalho Joo Sabia (IE-UFRJ)
Produtividade e Inovao Jorge Britto (PPGE-UFF)
Dimenso Regional Mauro Borges (CEDEPLAR-UFMG)
Poltica Industrial nos BRICs Gustavo Brito (CEDEPLAR-UFMG)
Mercosul e Amrica Latina Simone de Deos (IE-UNICAMP)
Coordenao TcnicaInstituto de Economia da UFRJInstituto de Economia da UNICAMP
APOIO FINANCEIROREALIZAO
PIB_IE_UFRJ_programa_GERAL.indd 4 02.06.09 19:20:13
diascarolinaText BoxEste trabalho realizado com recursos do Fundo de Estruturao de Projetos do BNDES (FEP). O contedo dos estudos e pesquisas de exclusiva responsabilidade dos autores, no refletindo, necessariamente, a opinio do BNDES. Informaes sobre o FEP esto disponveis em http://www.bndes.gov.br
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Este trabalho foi realizado com recursos do Fundo de Estruturao de Projetos do BNDES (FEP). O contedo dos estudos e pesquisas de exclusiva responsabilidade dos autores, no refletindo, necessariamente, a opinio do BNDES. Informaes sobre o FEP esto disponveis em .
Este relatrio est em fase de editorao no formato de livro. Para fazer citao ou referncia a este material: SABBATINI, R. (Coord.) Perspectivas do investimento em mecnica. Rio de Janeiro: UFRJ, Instituto de Economia, 2008/2009. 252 p. Relatrio integrante da pesquisa Perspectivas do Investimento no Brasil, em parceria com o Instituto de Economia da UNICAMP, financiada pelo BNDES. Disponvel em: http://www.projetopib.org/?p=documentos . Acesso em 10 out. 2009.
FICHA CATALOGRFICA
CDD 338.43531
P467 Perspectivas do investimento em mecnica / coordenador Rodrigo Sabbatini; equipe Beatriz Bertasso... [et al.]. Rio de Janeiro: UFRJ, 2008/2009.
252 p.; 30 cm. Bibliografia: p. 240-246.
Relatrio final do estudo do sistema produtivo Mecnica, integrante da pesquisa Perspectivas do Investimento no Brasil, realizada pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro em convnio com o Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, em 2008/2009, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social.
1. Indstria mecnica Investimentos. 2. Economia industrial. 4. Relatrio de Pesquisa (IE/UFRJ/UNICAMP/BNDES). I. Sabbatini, Rodrigo. II. Bertasso, Beatriz. III. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Economia. IV. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Economia. V. Perspectivas do investimento no Brasil: relatrio de pesquisa.
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PROJETO PERSPECTIVAS DO INVESTIMENTO NO BRASIL
BLOCO: PRODUO
SISTEMA PRODUTIVO:
MECNICA
Coordenador:Rodrigo Sabbatini (NEIT-UNICAMP)
Equipe:Beatriz Bertasso (NEIT-IE-UNICAMP)
Carlos E. de Freitas Vian (GEPHAC-ESALQ-USP)Enas Gonalves de Carvalho (NEIT-IE-UNICAMP)
Fernando Henrique Lemos (NEIT-IE-UNICAMP)Jos Augusto Ruas (NEIT-IE-UNICAMP)
Marcelo Pinho(DEP/UFSCar)
Campinas, agosto de 2009
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ndice
1. Introduo....................................................................................................................................... 3 2. Dinmica dos investimentos no Brasil e no mundo .................................................................. 7
2.1 Introduo................................................................................................................................. 7 2.2 Desafios e oportunidades associadas s mudanas nos padres de demanda mundial e nacional ...................................................................................................................... 16 2.3 Desafios e oportunidades associadas s mudanas nos padres de concorrncia e regulao...................................................................................................................................... 19 2.4 Desafios e oportunidades associadas s mudanas tecnolgicas .............................. 24 Concluso: respostas crise de 2008-2009.............................................................................. 26
3. Dinmica dos investimentos no setor de Bens de Capital Seriados.................................... 29 3.1 Introduo............................................................................................................................... 29 3.2 Dinmica Global do Investimento ...................................................................................... 33 3.3 Tendncias do investimento no Brasil ................................................................................. 38 3.4 Perspectivas de mdio e longo prazo para os investimentos........................................ 56 3.5 Propostas de polticas setoriais............................................................................................. 67 3.6 Concluses .............................................................................................................................. 70
4. Dinmica dos investimentos no Complexo Automotivo ....................................................... 72 4.1 Introduo............................................................................................................................... 72 4.2 Dinmica Global do Investimento ...................................................................................... 74 4.3 Tendncias do investimento no Brasil ................................................................................. 95 4.4 Perspectivas de mdio e longo prazo para os investimentos...................................... 111 4.5 Propostas de polticas setoriais........................................................................................... 124
5. Dinmica dos investimentos na Indstria Naval e Offshore................................................ 131 5.1 Introduo............................................................................................................................. 131 5.2 Dinmica Global do Investimento .................................................................................... 134 5.3 Tendncias do investimento no Brasil ............................................................................... 142 5.4 Perspectivas de mdio e longo prazo para os investimentos...................................... 147 5.5 Propostas de polticas setoriais........................................................................................... 165
6. Dinmica dos investimentos no sub-setor de Mquinas Agrcolas.................................... 171 6.1 Introduo............................................................................................................................. 171 6.2 Dinmica Global do Investimento .................................................................................... 173 6.3 Tendncias do investimento no Brasil ............................................................................... 188 6.4 Perspectivas de mdio e longo prazo para os investimentos...................................... 201 6.5 Propostas de polticas setoriais........................................................................................... 207
7. Sntese analtica: perspectivas de mdio e longo prazo .................................................... 210 7.1 Introduo............................................................................................................................. 210 7.2 Perspectivas para 2012 ....................................................................................................... 212 7.3 Perspectivas para 2022 ....................................................................................................... 221
8. Sntese propositiva: polticas para o desenvolvimento produtivo ..................................... 229 8.1 Introduo............................................................................................................................. 229 8.2 Bens de capital seriados ..................................................................................................... 233 8.3 Complexo automotivo ........................................................................................................ 234 8.4 Construo naval e offshore.............................................................................................. 235 8.5 Mquinas agrcolas.............................................................................................................. 237
9. Concluses .................................................................................................................................. 240 Referncias Bibliogrficas ............................................................................................................. 242
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1. Introduo
Este estudo apresenta parte dos resultados de um amplo projeto de pesquisa
intitulado Perspectiva do Investimento no Brasil. O objeto da anlise que se segue o
sistema produtivo de equipamentos mecnicos. O objetivo central identificar desafios e
oportunidades para o desenvolvimento deste sistema no Brasil, numa perspectiva de mdio
e longo prazo.
Para alcanar este objetivo, o estudo se debruou por quatro dos mais importantes
subsistemas desta indstria, a saber, as mquinas e equipamentos identificadas como bens
de capital seriados, o conjunto do complexo automotivo (includo veculos leves,
comerciais e autopeas), a indstria de construo naval (incluindo a instalao de
plataformas e outras instalaes offshore) e as mquinas e implementos agrcolas.
Em cada um deles, uma equipe de pesquisadores se lanou ao exerccio de traar
inicialmente um panorama dos movimentos competitivos e da recente dinmica dos
investimentos, no Brasil e no mundo. Em seguida, cada equipe analisou as perspectivas do
investimento em dois momentos. No primeiro, esperava-se identificar as decises de
investimento no mdio prazo, isto , analisar os projetos anunciados, sua configurao e
seus efeitos sobre a estrutura de cada subsistema no Brasil. Num segundo momento,
procurou-se uma anlise mais ousada, em que cada especialista apontou qual seria a
configurao desejvel para o subsistema num prazo mais longo, convenientemente
estipulado em 2022. Por fim, foi discutido o estado-da-arte das polticas estratgicas de
apoio ao subsistema no Brasil, procurando apontar os gargalos, os acertos e as
modificaes necessrias para que este conjunto de aes pblicas pudesse maximizar as
oportunidades e, desta forma, tornar real o cenrio desejvel.
Este estudo procura sintetizar a discusso de cada um dos subsistemas, alm de
apontar estratgias, oportunidades e desafios comuns ao conjunto do sistema produtivo
mecnico, ainda que pese a forte heterogeneidade entre os segmentos analisados.
Dentre os resultados comuns importante observar que este sistema produtivo
vital para o futuro da indstria e da economia brasileira. um sistema estratgico e
relativamente competitivo e, portanto, seu desenvolvimento deve continuar a ser objeto de
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ao do Estado, de forma conjunta, ou atravs de polticas especficas para cada
subsistema.
Este sistema estratgico por trs razes principais. Em primeiro lugar, tem uma
forte presena histrica na estrutura industrial brasileira, que resistiu s muitas presses
competitivas dos ltimos anos de maneira relativamente articulada e integrada como
cadeia, ao contrrio de outros sistemas. Por exemplo, desde os anos 90, o sistema se
manteve responsvel, em mdia, por cerca de 9% do valor adicionado da indstria
brasileira, criando efeitos de encadeamento que abrangem de forma significativa
praticamente todos os segmentos econmicos brasileiros, da siderurgia ao comrcio
varejista.
Em segundo lugar, este um sistema que, justamente pela sua densidade estrutural
no pas, tem grande capacidade de gerar empregos diretos e indiretos. Por exemplo, o
sistema emprega, apenas na produo, mais de 500 mil trabalhadores diretos, ou quase 8%
do total da indstria nacional. Alm disto, so empregos cujo rendimento mdio cerca de
1,5 vezes maior que para o total da indstria. De fato, em moeda de 2006 (deflacionada
pelo IPCA), o rendimento mdio no sistema produtivo mecnico foi de R$ 2260/ms, na
mdia 1996-2006. No mesmo perodo, com o mesmo deflator, a mdia para o total da
indstria nacional foi de R$ 1430/ms1. De acordo com Modelo de Gerao de Emprego
do BNDES2, cada um dos segmentos da indstria gerava mais de trezentos empregos para
cada R$ 10 milhes de variao na produo (ver Tabela 1.1)
Tabela 1.1 Sistema Produtivo Mecnico: empregos gerados para cada aumento de R$
10 milhes na produo (preos mdios de 2003)
Mquinas e Equipamentos Automveis, caminhes e nibus Peas e outros veculos
Empregos Diretos 62 16 37Empregos Indiretos 80 108 117Efeito Renda 278 203 234
Total 420 327 388
Fonte: MGE-BNDES apud Najberg e Pereira (2004)
Em terceiro lugar, o sistema estratgico para o Brasil porque vigora, de maneira
geral, uma estrutura patrimonial diversificada, que inclui empresas de capital nacional de
1 PIA-IBGE, diversas pesquisas. 2 Najber e Pereira (2004)
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diversos portes, e filiais de grandes empresas transnacionais. Ou seja, um espao que
expe as empresas brasileiras a riscos competitivos significativos, mas, ao mesmo tempo,
permite oportunidades para as firmas que enfrentam esta adversidade. Oportunidades que
podem encadear ganhos competitivos, inclusive em capacidade autnoma de inovao
tecnolgica, no apenas para as empresas do sistema, mas para os demais segmentos
fornecedores ou consumidores da estrutura econmica nacional. um sistema estratgico,
pois exige defesa e desenvolvimento competitivo das empresas, com resultados, positivos
ou negativos, com grande potencial de transbordamento para outros segmentos.
Por fim, este segmento relativamente competitivo pela convergncia das
seguintes caractersticas:
Presena de custos competitivos, seja de insumos (siderrgicos, energticos, por exemplo), seja pelo custo da mo de obra, tanto no cho de fbrica,
quanto nos departamentos administrativos e de desenvolvimento
tecnolgico3;
Presena de ativos intangveis, tais como o conhecimento acumulado pela mo de obra em vrios nveis, com destaque para engenharia a custo baixo;
Pela retomada de aes de poltica pblica, tais como a PDP e o PAC, que identificam a importncia econmica deste sistema, e garantem, ao menos
no mdio prazo, apoio significativo para seu desenvolvimento competitivo;
Pela relativamente elevada escala do mercado, sobretudo associada demanda interna, que o principal vetor dinmico dos investimentos,
ainda que a cadeia tenha capacidade exportadora.
Tomando estas caractersticas estratgicas e competitivas, o estudo discutir a
seguinte perspectiva para o futuro do sistema no Brasil. A dinmica dos investimentos no
passado recente e no futuro motivada, em grande medida, por condies prprias da
economia brasileira. As motivaes do investimento neste sistema recaem, sobretudo, na
necessidade de atender um mercado domstico em expanso, e com potencial de
sustentao deste crescimento por vrios anos. Por esta razo, os efeitos negativos da crise
econmica que eclodiu em 2008 poderiam ser minimizados, fortalecendo a indstria
3 Segundo BLS (2009), os gastos totais com empregados na indstria por hora 76% menor no Brasil do que nos EUA. Dentre os principais parceiros comerciais dos EUA, este custo s supera os de Mxico e China.
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nacional num momento de uma inevitvel reconfigurao da estrutura industrial mundial.
Ou seja, esta reconfigurao poder implicar em grandes oportunidades para o sistema no
Brasil, que, fortalecido pelo mercado domstico em expanso, poder ocupar espaos
tambm na rede internacional de produo, em condies mais favorveis do que
vivenciou at agora. Poucos so os sistemas produtivos brasileiros que podem ocupar
espaos dinmicos na produo internacional. Este livro procurar mostrar que o sistema
produtivo de equipamentos mecnicos pode lograr tal objetivo, liderando assim uma
indstria brasileira com aspiraes de competitividade e liderana mundial.
Para discutir tais aspectos, o presente livro conta, alm desta introduo, com
outros seis captulos. No captulo 2 sero discutidos, em resumo, as principais tendncias
do investimento no Brasil e no mundo, elencando as principais oportunidades e desafios
atuais. Nos captulos 3 a 6 sero apresentados os estudos sintetizados de cada um dos
subsistemas, a saber, bens de capital seriados, complexo automotivo, construo naval e
mquinas agrcolas. Na seqncia, o captulo 6 far a sntese analtica das perspectivas do
investimento de mdio e longo prazo. J o captulo 8 sintetizar as polticas pblicas
necessrias para lograr os objetivos e metas para o sistema produtivo, definidos a partir das
reflexes do captulo 7.
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2. Dinmica dos investimentos no Brasil e no mundo
2.1 Introduo
O sistema produtivo de equipamentos mecnicos o corao da indstria mundial.
Representa entre e 1/5 do valor adicionado total da indstria. Representa mais de 1/3 do
comrcio exterior mundial e mais da metade do comrcio de bens manufaturados, com
mais de US$ 4,4 trilhes em exportaes (ver Tabela 2.1). Produz as mquinas, produz os
equipamentos de transporte que servem ao restante do tecido produtivo de uma economia.
Atendem a prpria indstria, facilitam a expanso da infra-estrutura, determinam a
competitividade da agricultura. So bens de capital, mas so tambm os bens de consumo
durveis mais globais do mundo.
Tabela 2.1 Mundo e pases selecionados: exportaes do sistema de equipamentos
mecnicos, 1996 e 2006
Exportaes (US$ bilhes correntes) Crescimento Mdio anual
Participao no total mundial (%)
Participao na pauta de exportaes totais (%)
1996 2006 (% ao ano) 1996 2006 1996 2006
BRIC 53,8 516,2 25,4 2,6 11,6 16,8 33,6 Brasil 9,5 33,4 13,4 0,5 0,8 19,9 24,2 Rssia 6,2 12,4 7,1 0,3 0,3 7,0 4,1 ndia 2,7 14,1 17,8 0,1 0,3 8,2 11,1 China 35,3 456,3 29,2 1,7 10,3 23,4 47,1
Mxico 51,2 135,2 10,2 2,5 3,0 53,5 54,1 Coria do Sul 67,6 192,4 11,0 3,3 4,3 52,1 59,1 EUA 306,2 494,5 4,9 14,9 11,1 49,2 47,7 Alemanha 251,0 550,9 8,2 12,2 12,4 47,9 49,1 Japo 285,8 412,0 3,7 13,9 9,3 69,5 63,7
Mundo 2.049,4 4.450,4 8,1 100,0 100,0 38,9 37,3
Fonte: elaborao NEIT-IE-UNICAMP a partir de COMTRADE
um sistema composto por segmentos maduros tecnologicamente4. Maduros, mas
onde a inovao se faz presente como importante ferramenta competitiva. Inovao em
produtos, por exemplo, atravs da introduo de componentes eletrnicos, seja para
melhorar desempenho (tratores com instrumentos eletrnicos permitindo uma agricultura
de preciso, mais produtiva; mquinas-ferramenta com controle numrico
4 De acordo com UNCTAD (2005: 108) os setores mecnicos aqui estudados seriam considerados de mdia-alta intensidade tecnolgica (entre 1,5% e 5% de gastos em P&D sobre o valor bruto da produo) ou de mdia-baixa intensidade tecnolgica (0,7% a 1,5%, caso da indstria de construo naval).
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computadorizado), seja para diferenciao mercadolgica (apelo de veculos equipados
com GPS), seja para atender necessidades ambientais (motores menos poluentes).
E inovaes em processo, principal espao para a atividade inovativa das empresas
do sistema mecnico. Toda a revoluo na gesto da produo e da cadeia de suprimentos
que se difundiu nas ltimas dcadas, com destaque para a chamada produo enxuta,
flexvel e verdadeiramente internacionalizada, foi gestada, desenvolvida e levada ao
extremo da eficincia produtiva nos diversos subsistemas de equipamentos mecnicos, em
especial no caso do complexo automotivo.
um sistema cuja oferta de seus produtos cresce de maneira consistente nos pases
desenvolvidos e de maneira exponencial nos pases em desenvolvimento. Por exemplo, o
valor adicionado na indstria de mquinas equipamentos nos pases em desenvolvimento
cresceu 2,1% ao ano entre 1995-2000 e pulou para 8,9% ao ano entre 2000-2006. Nestes
mesmos perodos, o valor adicionado neste segmento cresceu nos pases desenvolvidos
0,9% e 2,1% ao ano (ver tabela 2.2). Este crescimento diferenciado provocou um forte
aumento da participao dos pases em desenvolvimento na produo mundial (ver Tabela
2.3).
Tabela 2.2 - Pases selecionados: taxa de crescimento mdio anual do sistema de
equipamentos mecnicos, 1995-2006 (em % ao ano)
Mquinas e Equipamentos 1995-2000 2000-2006
Pases desenvolvidos 0,9 2,1
Pases em desenvolvimento 2,1 8,9
Mundo 1,1 3,5
Veculos automotores 1995-2000 2000-2006
Pases desenvolvidos 4,5 2,6
Pases em desenvolvimento 2,9 8,6
Mundo 4,3 3,6
Outros equipamentos de transporte 1995-2000 2000-2006
Pases desenvolvidos 3,9 1,9
Pases em desenvolvimento 9,1 16,0
Mundo 5,4 7,7
Fonte: elaborao NEIT-IE-UNICAMP a partir de UNIDO
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Tabela 2.3 - Pases selecionados: distribuio do valor agregado industrial no sistema de
equipamentos mecnicos, 1995-2006
Mquinas e Equipamentos 1995 2006
Pases desenvolvidos 82,2 74,8
Pases em desenvolvimento 16,3 23,7
Veculos automotores 1995 2006
Pases desenvolvidos 85.0 80.7
Pases em desenvolvimento 14,3 18,5
Outros equipamentos de transporte 1995 2006
Pases desenvolvidos 71,0 48,4
Pases em desenvolvimento 27,0 50,2
Fonte: elaborao NEIT-IE-UNICAMP a partir de UNIDO
E mais, um sistema em que a oferta se deslocou de forma intensa para os pases
em desenvolvimento, em princpio apenas como receptores de etapas finais de montagem,
em funo de custos menores de mo de obra, mas que crescentemente assumiram
posies mais sofisticadas na rede internacional de produo, inclusive no que tange ao
desenvolvimento tecnolgico e, recentemente, no que se refere estrutura patrimonial. De
fato, de forma crescente empresas do sistema originadas nos pases em desenvolvimento
assumiram estratgias ativas de internacionalizao, inclusive adquirindo ativos (tangveis
e intangveis) em pases centrais. Por exemplo, de acordo com os dados de WIR-
UNCTAD, capitais originrios do bloco BRIC participaram como adquirentes de cerca de
2,3% de todas as aquisies transfronteirias realizadas no perodo 2000-2006, totalizando
quase U$$ 100 bilhes em compras. No perodo 1990-96, os quatro pases que formam o
bloco adquiriam US$ 760 milhes em ativos no exterior, ou 0,6% do total. Alm disto, em
2007, 7 das 100 maiores empresas transnacionais no-financeiras do mundo eram
originrias de pases em desenvolvimento, num total de US$ 214 bilhes em ativos
externos (UNCTAD, 2008).
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Tabela 2.4 Pases em desenvolvimento: participao nos fluxos e estoques mundiais de
IDE, 1990-2006 (em % do total mundial)
Estoque recebido Estoque Enviado
1990 2006 1990 2006
Total 18,5 22,5 1,1 11,0
Indstria total 19,4 20,4 0,9 3,9
Mquinas e equipamentos 14,4 13,4 0,0 0,4
Veculos e outros equipamentos de transporte 14,9 12,3 0,0 0,2
Fluxos recebidos Fluxos enviados
1989-1991 2004-2006 1989-1991 2004-2006
Total 18,6 29,2 2,7 8,8
Indstria total 25,3 43,3 4,2 4,8
Mquinas e equipamentos 38,0 36,2 0,3 0,3
Veculos e outros equipamentos de transporte 8,5 28,0 - 0,5
Fonte: elaborao NEIT-IE-UNICAMP a partir de UNCTAD
Enfim um sistema em que a internacionalizao da produo, seja em seu matiz
comercial (ver Tabela 2.1), seja em seus aspectos de exportao de capitais (ver Tabela
2.4), se faz cada vez mais presente.
Tal internacionalizao difundiu-se para os pases em desenvolvimento por fatores
associados a custos de produo (no caso dos pases que operam como plataformas de
exportao) e/ou por causa das perspectivas de crescimento de seus mercados domsticos
ou regionais. A descentralizao da produo foi comandada pelas empresas de capitais
originrios dos pases desenvolvidos que, desta forma, foram ampliando uma rede
internacional de produo que inclua suas filiais descentralizadas, mas tambm um
conjunto de fornecedores com atuao local ou global que, crescentemente, assumiram
maiores responsabilidades na cadeia de produo (UNCTAD, 2002).
Este processo redistribuiu as competncias corporativas na cadeia (agora global) de
valor. As grandes corporaes dos pases centrais, lderes do oligoplio mundial,
concentraram-se na fronteira do desenvolvimento de inovaes, no design e no projeto de
produtos, alm de outros ativos estratgicos (e.g. marketing, finanas), enquanto seus
fornecedores mundiais, muitas vezes localizados nos pases em desenvolvimento, passaram
a comandar a produo bsica, agregando menos valor do que no passado5.
5 Para uma discusso terica deste processo, ver, por exemplo, Oman (1994), Chesnais (1996), Feenstra (1998) ou Sturgeon (2002). De qualquer forma, vale destacar que estes processos no ocorreram do forma exclusiva no sistema de equipamentos mecnicos, mas para grande parte das atividades industriais.
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Verso Final para Editorao Documento No Editorado
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Este processo de desverticalizao foi observado para o conjunto da indstria, mas
foi na de equipamentos mecnicos que se difundiu de maneira mais explcita. O atributo
tecnolgico de competitividade, antes disponvel apenas para os produtores lderes nos
pases centrais, foi flexibilizado pela desverticalizao da produo associada ao uso
crescente de contedo importado, em especial de controles/processo eletrnicos. A difuso
de kits de eletrnica embarcada, cada vez mais commoditizados, permitiu a difuso
espacial das operaes de montagem e produo bsica dos equipamentos mecnicos, com
manuteno dos padres de qualidade tcnica dos produtos finais, independentemente do
local de produo.
Esta reestruturao da indstria em nvel global confere, a um s tempo,
oportunidades e riscos para a indstria mecnica de pases em desenvolvimento. Por um
lado, permite a manuteno da estrutura industrial (nos pases j industrializados, como o
Brasil) e a insero (no caso de pases asiticos, do Mxico e do Leste da Europa) numa
rede internacional de produo descentralizada e intensiva em comrcio intra-industrial e
intra-firma. Isto amplia as possibilidades de industrializao rpida e, em alguns casos
(pases e setores), de posterior adensamento da estrutura industrial, incluindo o
desenvolvimento autnomo de capacitaes tecnolgicas.
Por outro lado, a reestruturao via desverticalizao com contedo importado,
dissociada de polticas ativas de desenvolvimento industrial, impe aos pases em
desenvolvimento riscos relacionados a uma nova forma de deteriorao dos termos de
troca. Na verdade, esta industrializao rpida voltada s exportaes, com produo
concentrada apenas na montagem ou na produo bsica com insumos importados e
comandada pelas corporaes globais desverticalizadas, implicaria numa estrutura
produtiva rarefeita, com baixa capacidade de promover encadeamentos setoriais e gerar
emprego e renda nos pases em desenvolvimento6. Alm disto, as empresas locais teriam
baixa capacidade de inovao (ficam restritas montagem, com baixos nveis de
aprendizado e adaptao), de expanso de suas escalas econmicas e de sua rentabilidade.
A indstria perderia sua capacidade de agregar valor, tanto nas exportaes, quanto na
gerao de riqueza nos pases em questo.
6 Ver Aykyz, 2005, para uma discusso abrangente deste tema.
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Mas e o sistema no Brasil? O sistema produtivo mecnico crucial para a indstria
nacional. Representa, desde 1996, cerca de 9% do valor adicionado, 8% do pessoal
ocupado e 12% das vendas lquidas (ver Grfico 2.1 e Tabela 2.5, para os dados absolutos).
Tabela 2.5 Brasil: fatos estilizados do sistema de equipamentos mecnicos, 1996-2006
Ano Nmero de Empresas Pessoal Ocupado
Salrio Mdio
Receita Lquida de Vendas
Valor Bruto da Produo Industrial
Valor da Transformao Industrial
Unidades Unidades R$/ano* R$ milhes** R$ milhes** R$ milhes**
1996 3.550 393.709 27.871 101.807 95.496 39.3541997 3.469 400.310 27.764 108.185 101.243 41.0541998 3.616 362.089 29.902 98.726 91.149 37.7271999 3.833 360.288 27.369 90.694 85.892 31.9772000 3.821 380.468 27.241 104.180 98.046 37.6802001 3.961 397.186 27.420 115.142 107.359 39.7422002 4.667 421.999 25.219 123.503 115.830 44.3762003 4.831 489.020 26.036 138.190 129.746 47.2932004 4.770 526.843 25.208 155.696 147.784 51.5732005 5.138 518.508 26.262 163.211 153.609 50.4512006 4.852 520.825 27.566 162.308 149.008 52.178CM (% ao ano) 3,2 2,8 -0,1 4,8 4,5 2,9
*A valores de dez/2006, corrigidos pelo IPCA. **A valores de dez/2006, corrigidos pelo Deflator Contas Nacionais (indstria)
Fonte: elaborao NEIT-IE-UNICAMP a partir de PIA-IBGE
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Grfico 2.1 Brasil: participao do sistema de equipamentos mecnicos no conjunto da
indstria de transformao, mdias anuais 1996-98 e 2004-2006 (em %)
3,3
8,0
12,5
12,1
11,9
9,4
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0
Nmero de Empresas
Pessoal Ocupado
Gastos de Pessoal
Receita Lquida de Vendas
Valor Bruto da Produo Industrial
Valor da Transformao Industrial
1996-1998 2004-2006
Fonte: elaborao NEIT-IE-UNICAMP a partir de PIA-IBGE
Alm disto, cerca de 1/3 das empresas do sistema podem ser consideradas
inovadoras, o que acompanha a mdia da indstria nacional. No entanto, mais da metade
das empresas inovadoras no sistema promoveu inovaes de produto no perodo 2000-
20057. E mais, as empresas do sistema representaram, em 2008, 18% das vendas externas
totais do Brasil e 40% das exportaes de manufaturados, inclusive com exportaes para
mercados maiores e mais dinmicos (36% das exportaes do sistema vo para o NAFTA
ou para a UE:). Ainda assim, so os pases da Amrica Latina que concentram os
supervits comerciais do sistema, configurando-se com os mais importantes destinos destas
exportaes (ver tabela 2.6)
7 Alm disto, o conjunto de empresas do sistema produtivo mecnico gastam 0,9% da receita lquida de vendas com P&D interno s empresas. Todos os dados extrados da PINTEC-IBGE, vrios anos.
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Tabela 2.6 Brasil: comrcio exterior do sistema de equipamentos mecnicos, por
captulos NCM e regies, 2008 (em US$ milhes)
EXPORTAES NCM Descrio Mercosul Nafta Aladi UE sia Resto do Mundo Total
84 Reatores nucleares, caldeiras, mquinas, aparelhos e instrumentos mecnicos
3.048 3.259 1.429 2.373 538 1.901 12.549
85 Mquinas, aparelhos e materiais eltricos 2.546 1.512 1.053 758 214 809 6.892
87 Veculos automotores, tratores 6.669 2.194 1.584 1.904 180 2.141 14.672
89 Embarcaes e estruturas semelhantes 26 867 0,2 3,4 628 16 1.541
Total Sistema 12.289 7.832 4.067 5.039 1.560 4.868 35.654 Total Brasil 26.934 33.604 11.414 46.409 35.220 44.622 198.203
IMPORTAES NCM Descrio Mercosul Nafta Aladi UE sia Resto do Mundo Total
84 Reatores nucleares, caldeiras, mquinas, aparelhos e instrumentos mecnicos
553 6.457 22 8.814 8.526 1.274 25.645
85 Mquinas, aparelhos e materiais eltricos 177 2.603 4 3.233 13.157 787 19.962
87 Veculos automotores, tratores 4.297 1.778 40 3.528 3.012 218 12.873
89 Embarcaes e estruturas semelhantes 2,0 47,3 0,2 15,1 4,8 2,1 72
Total Sistema 5.030 10.885 66 15.591 24.700 2.281 58.553 Total Brasil 15.445 31.953 8.816 36.181 43.003 37.729 173.127
SALDO NCM Descrio Mercosul Nafta Aladi UE sia Resto do Mundo Total
84 Reatores nucleares, caldeiras, mquinas, aparelhos e instrumentos mecnicos
2.495 -3.198 1.407 -6.441 -7.988 628 -13.096
85 Mquinas, aparelhos e materiais eltricos 2.368 -1.091 1.049 -2.475 -12.944 22 -13.070
87 Veculos automotores, tratores 2.372 417 1.544 -1.624 -2.832 1.923 1.799
89 Embarcaes e estruturas semelhantes 24 819 0 -12 624 14 1.469
Total Sistema 7.260 -3.053 4.000 -10.552 -23.140 2.587 -22.898 Total Brasil 11.490 1.651 2.599 10.228 -7.783 6.893 25.077
Fonte: elaborao NEIT-IE-UNICAMP a partir de SECEX
O sistema de equipamentos mecnicos no Brasil logrou atingir, ao longo dos
ltimos 20 anos, um padro de qualidade global no que tange montagem destes produtos.
A modernizao das plantas, a adoo de novos processos produtivos, incluindo a
desverticalizao e outras formas de integrao com a cadeia de fornecedores, e o
crescente uso de insumos tecnolgicos importados, permitiu que as empresas brasileiras
remanescentes do duro processo de liberalizao comercial dos anos 90, sobretudo as
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filiais de empresas transnacionais, se aproximassem do estado-da-arte nos processos de
montagem industrial no sistema mecnico8.
Esta reestruturao defensiva preservou uma estrutura produtiva menos densa do
que nos anos 80, mas relativamente competitiva nas etapas finais das cadeias de produo.
Isto foi particularmente explcito no caso do complexo automotivo e no caso de mquinas
agrcolas. A indstria de bens de capital seriados tambm se beneficiou deste processo,
mas com resultados heterogneos em seus diversos subsegmentos. J o subsistema de
construo naval, que iniciou uma ainda incipiente re-industrializao apenas no incio
desta dcada, ainda no logrou atingir tal estado-da-arte.
importante ressaltar que o desadensamento da indstria pode ter ocorrido de
forma seletiva. Pode-se formular a hiptese de tenha ocorrido um desadensamento
horizontal no sentido em que foram preservadas todas as etapas da produo industrial no
Brasil, mas que, em cada uma delas h uma reduo de linhas de produtos produzidas
localmente. Ou seja, os elos fornecedores atendem aos elos a jusante atravs de um mix de
produtos com maior e menor contedo importado. Produzem algumas linhas, importam e
estocam outras linhas (em geral, mais sofisticadas) de produtos finais e/ou de
componentes. E fornecem estes conjuntos ou peas isoladas de origem diversas aos seus
clientes montadores sempre a partir de operaes localizadas no Brasil. Este processo no
facilmente captado pelas estatsticas industriais, mas pode ser observado pela pesquisa
qualitativa que, em parte, este estudo realizou.
De qualquer forma, possvel observar qualitativa e quantitativamente que houve,
de maneira geral, um ganho de competitividade nas etapas de montagem final. Ganho que
se revelou no apenas no atendimento da crescente demanda interna num contexto de
maior liberalizao comercial com cmbio quase sempre valorizado (1993-99 e 2005-
2008), mas tambm na ampliao das exportaes de manufaturados, ocupando, sobretudo,
mercados na Amrica Latina9, mesmo sem se configurar como uma plataforma de
exportao (como o caso do Leste europeu, pases do sudeste da sia e mesmo o
Mxico).
8 H ainda espao para catch-up no que se refere automao eletrnica de alguns processos. Outra exceo marcante, no caso dos subsistemas aqui estudados, a indstria de construo naval, que iniciou seu processo de reestruturao em direo montagem com contedo importado e novos processos produtivos pelo menos uma dcada aps os outros segmentos. Ver captulo 5 para uma discusso mais completa deste tema. 9 Entre 1998 e 2008 as exportaes do sistema mecnico cresceram 12% ao ano para Mercosul e Aladi (excluindo Mxico). Estas regies responderam, em 2008, por 46% das exportaes do sistema (ver Tabela 2.6).
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Ou seja, a demanda interna e a externa localizada permitiram que a indstria
mecnica brasileira, reestruturada, focada na montagem e relativamente menos densa,
resistisse s adversidades da liberalizao com valorizao comercial. Cabe perguntar se
esta competitividade limitada a uma etapa da cadeia de valor suficiente para capturar as
oportunidades de crescimento da demanda na prxima dcada. Vale discutir se esta
configurao suficiente para afastar os principais riscos da advindos, a saber, a baixa
capacitao tecnolgica, o posicionamento em segmentos de menor valor agregado,
enfraquecimento das empresas de capital nacional, a ameaa crescente da concorrncia
internacional, e o risco de desnacionalizao.
Respostas a estas perguntas comearo a ser discutidas no restante deste captulo e,
em especial, no captulo 8, onde ser debatido um balano das oportunidades e riscos que
esta estrutura da indstria mecnica brasileira enfrentar na dinmica do investimento dos
prximos anos.
2.2 Desafios e oportunidades associadas s mudanas nos padres de
demanda mundial e nacional
O sistema de equipamentos mecnicos relativamente maduro em termos
tecnolgicos e parece ter esgotado sua capacidade autnoma de dinamizar seus
investimentos. De maneira geral, os investimentos deste sistema so demand pull. a
demanda que se configura como o principal driver dos investimentos.
A demanda por bens de consumo durveis, associados ao crescimento da renda e
expanso e acessibilidade ao crdito, crucial para a dinmica dos investimentos no
complexo automotivo. O crescimento da renda e o aumento da formao bruta de capital
fixo tm efeito sobre os investimentos em bens de capital seriados. Neste mesmo sentido, a
demanda por alimentos tem significativos efeitos sobre o subsetor de mquinas agrcolas.
Por fim, a demanda por meios de transporte de mercadorias, associada ao crescimento da
demanda mundial, descentralizao da produo e ao aumento do comrcio exterior,
interferem ativamente na configurao da oferta de equipamentos de transporte, tanto os
martimos como os rodovirios.
Portanto, o aumento da demanda agregada o principal vetor dinmico dos
investimentos no sistema de equipamentos mecnicos. Investimentos que se concentram,
sobretudo, no aumento da capacidade produtiva. Tal expanso da oferta pode vir
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acompanhada do investimento em modernizao e internacionalizao da produo, assim
como de investimentos em desenvolvimento de inovaes (especialmente em processo),
que continuaro a cumprir papel crucial na reduo dos custos de produo.
Diante deste quadro espera-se que, na prxima dcada, a demanda pelos produtos
mecnicos cresa de maneira elstica nos pases em desenvolvimento e de maneira
marginal nos pases centrais. Os principais vetores deste crescimento da demanda, que por
sua vez comandaria a dinmica dos investimentos no setor mecnico, poderiam residir nos
seguintes processos:
1. Crescimento da renda e da renda per capita em pases em
desenvolvimento: o crescimento sistemtico da renda nos pases perifricos
ampliar o consumo agregado de bens de consumo durveis e no-durveis
(e/ou de bens-salrio), inclusive de alimentos, criando oportunidades para a
expanso (e relocalizao na periferia) da capacidade produtiva de bens
mecnicos, seja de forma direta (como no caso de automveis), seja
indiretamente, como no caso das mquinas agrcolas (via expanso da
agricultura), bens de capital (via investimentos de outros setores) e
construo naval (via aumento das necessidades de transporte martimo).
2. Expanso da oferta de infra-estrutura: o crescimento sustentvel nos
pases perifricos passa pela ampliao dos investimentos em infra-
estrutura. O mesmo vale para nos pases centrais que, imersos em profunda
recesso, podero encontrar nos gastos com a renovao e a modernizao
da infra-estrutura um importante espao para as polticas anti-cclicas que
devero conduzir nos prximos anos. Em ambos os casos, surgem
oportunidades para um crescimento significativo da demanda por
equipamentos mecnicos (sobretudo bens de capital sob encomenda) e,
desta forma, por ampliao dos investimentos neste sistema.
3. Ampliao do consumo ecologicamente sustentvel: um novo padro de
demanda que criar ou expandir novos mercados de bens de consumo
durveis (e.g. carros com nova motorizao) e no-durveis (e.g. alimentos
orgnicos, embalagens reciclveis); em ambos os casos, haver necessidade
de reconverter parte da oferta de equipamentos mecnicos, o que dever,
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por sua vez, provocar rodadas de investimento neste sistema, tanto nos
pases centrais, quanto nos emergentes.
4. Busca por segurana energtica: a expanso de demanda por energia
tradicional com novos mtodos de gerao e extrao (e.g. hidrocarbonetos
em guas ultra-profundas) e por novas fontes de energia renovveis,
provocar efeitos na indstria de mquinas e equipamentos, inclusive
mquinas agrcolas (destinadas, por exemplo, expanso da produo de
bioenergia) e construo naval.
Todos estes casos apontam para oportunidades significativas para investimentos no
sistema de equipamentos mecnicos nos pases desenvolvidos e, especialmente, nos pases
em desenvolvimento. No caso do Brasil, todos os vetores da demanda se fazem presentes,
tanto no que respeita ao mercado domstico (crescimento da renda e da demanda por bens
de consumo, investimentos em infra-estrutura e energia, com destaque para o pr-sal),
quanto no que se refere s oportunidades com drivers de demanda externa (por alimentos,
bioenergia, e equipamentos de transportes, neste caso, destinados para pases em
desenvolvimento).
Como ser melhor discutido nos captulos 7 e 8, o desenvolvimento competitivo do
sistema brasileiro de equipamentos mecnicos seria crucial para que as empresas do pas
possam capturar estas oportunidades associadas expanso da demanda, interna e
externa. Na viso deste estudo, investimentos em aumento da capacidade, modernizao e
ampliao da capacidade de inovao da indstria mecnica brasileira seriam cruciais para
que o pas transformasse estas oportunidades em crescimento concreto e desenvolvimento
scio-econmico sustentvel na prxima dcada.
Em outras palavras, um sistema de equipamentos mecnicos fortalecido por
investimentos estratgicos seria o eixo fundamental para que a expanso inexorvel da
demanda por bens de consumo, o crescimento do setor agrcola e a exploso do setor de
energia no Brasil possam, de fato, alavancar a gerao de emprego e renda no pas e
transformar sua estrutura scio-econmica. Ou seja, investimentos neste sistema poderiam
evitar tanto o crescimento da oferta atravs de importaes e/ou de produo local com
elevado contedo importado de bens de consumo, quanto a especializao regressiva em
direo produo de bens primrios agrcolas e energticos, incapazes, per se, de
ampliarem a agregao de valor no pas.
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Por outro lado, os riscos associados a esta configurao da demanda residem no
forte aumento da concorrncia tanto de pases centrais, quanto de pases em
desenvolvimento, em especial para os potenciais rivais da produo de bens de consumo e
bens de capital destinados produo dos ltimos. Um mercado domstico em expanso e
uma ampliao dos investimentos agrcolas e em energia certamente ampliaro a
concorrncia externa, consubstanciada pelo aumento das importaes e/ou pela massiva
desnacionalizao e desadensamento da indstria nacional. A inexistncia de
conglomerados e/ou de empresas de capital nacional detentoras de vantagens de
propriedade e com capacidade de competir globalmente fragiliza as empresas nacionais, do
ponto de vista produtivo, mercadolgico e financeiro. Sem os investimentos adequados no
sistema nacional de equipamento mecnicos, inclusive fortalecendo empresas de capital
nacional, tais riscos seriam potencializados.
2.3 Desafios e oportunidades associadas s mudanas nos padres de
concorrncia e regulao
Mudanas nos padres de concorrncia e de regulao tero nos prximos anos um
papel menos importante do que a demanda como vetor do investimento no sistema de
equipamentos mecnicos. No entanto, preciso reconhecer que pode haver influncia
significativa em alguns dos subsistemas. Se no, vejamos.
Em primeiro lugar, a crise financeira de 2008-2009, seguida por forte recesso nos
pases desenvolvidos e nos pases que atuam como plataformas produtivas para a
exportao para estes mercados centrais, provocaro efeitos na dinmica concorrencial
do sistema como um todo. Haver excesso de capacidade em relao demanda em queda,
o que implicar nos efeitos abaixo, isoladamente ou em conjunto:
a) reconfigurao patrimonial, em direo concentrao do capital. No caso
de oligoplios globais (como o complexo automotivo) este processo de
ajuste ser mais rpido e abrangente10;
b) reestruturao da rede internacional de produo, com fechamento ou
relocalizao de plantas, de modo a reduzir a capacidade instalada e/ou 10 Por exemplo, a dbcle da GM e da Chrysler foi rapidamente equacionada no primeiro semestre de 2009 com a venda de ativos para outras empresas automobilsticas lderes (FIAT adquirindo Chrysler ), para produtores independentes (Saab-GM para Koenigsegg da Sucia) ou para produtores de autopeas (Opel-GM para Magna do Canad e Hummer-GM para Sichuan Tengzhong Heavy Industrial Machinery Company da China). Ver New York Times (2009a, b, c, d).
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racionaliz-la em termos globais. Pode haver, inclusive, redirecionamento
da produo para os pases centrais, nos quais as polticas de gerao de
emprego no podero prescindir de alguma forma de re-adensamento
industrial, caso especial dos EUA;
c) arrefecimento da liberalizao comercial, to importante para a
descentralizao da produo, que poder promover tambm alguma forma
de redistribuio da produo mundial de equipamentos mecnicos. Notar
que construo naval e indstria automobilstica so dois dos segmentos
industriais mais comercialmente protegidos, inclusive em pases
desenvolvidos (especialmente na UE), e, portanto, os coloca como
protagonistas neste processo de interrupo da liberalizao ou mesmo de
recrudescimento de protecionismo.
Em segundo lugar, com a ascenso do governo Obama parece haver um maior
consenso para a implementao de maior regulao econmica no mundo, seja dos fluxos
financeiros internacionais, seja dos padres de emisses de poluentes, por exemplo. Tais
regulaes tero efeitos sobre a dinmica de todos os investimentos transfronteirios, por
exemplo, se isto implicar em limitao de parasos fiscais, sede contbil de muitas das
maiores empresas transnacionais11, e sobre a oferta de equipamentos mecnicos, em
especial aqueles ligados ao complexo automotivo e construo naval.
A regulao sobre os fluxos financeiros e sobre a alavancagem pode ainda
promover mudanas significativas na dimenso financeira das decises de investimento e
produo. Por um lado, pode diminuir a presso que os blocos de capitais financeiros
exerceram nos ltimos anos sobre a gesto das empresas produtivas, direcionando-as para
processos que maximizassem a valorizao das aes em detrimento da expanso
sustentada da competitividade. Esta financeirizao da atividade produtiva teve grande
influncia na desverticalizao e descentralizao da produo. Um recuo neste processo
pode, tal como no item b) acima, promover uma nova reconfigurao da indstria mundial,
uma vez que a presso sobre reduo de custos (que havia sido facilitada pela
desverticalizao internacionalizada) poder ser um pouco menor. A construo de
capacitaes competitivas de longo prazo poderia se tornar novamente o objetivo central
da gesto das empresas produtivas, inclusive naquelas de equipamentos mecnicos. Neste
11 Ver Zeleny (2009).
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caso, a propriedade de ativos produtivos pode voltar a cumprir papel central na cadeia de
valor, o que, por sua vez, poderia promover esta reconfigurao na estrutura industrial
mundial.
J regulao ambiental, em direo a maiores controles sobre a emisso de
poluentes, por exemplo, ter efeitos sobre os mercados de veculos como um todo e sobre
bens de capital. Haver presso para a acelerao de pesquisas e introduo nos mercados
de solues de motorizao menos intensivas em combustveis fsseis. A busca por novas
fontes de energia renovveis ter efeitos importantes sobre a demanda por mquinas e
equipamentos, inclusive mquinas agrcolas. Na verdade, uma mais intensa regulao
ambiental poder catalisar os efeitos discutidos anteriormente no item 2.2, em que a
demanda crescente por produtos e solues de gerao de energia ecologicamente
sustentveis acelerar os investimentos em P&D. A introduo macia de novos produtos
poder gerar reflexos na produo (e nos investimentos) do complexo automotivo
(investimento em P&D e expanso de capacidade para renovao de frota), da construo
naval (motores mais eficientes, reciclagem de navios sucateados, cascos duplos) e, em
menor grau, dos bens de capital seriados.
Em suma, mudanas no padro de concorrncia (associadas reconfigurao
patrimonial ps-crise) e nos marcos regulatrios (das finanas globalizadas e do meio
ambiente) podem ter efeitos sobre a estrutura produtiva do sistema mecnico. As
oportunidades para os pases em desenvolvimento neste ambiente de reestruturao
derivada de mudanas nos padres de concorrncia e regulao podem ser associadas a:
a) Aproveitar a reestruturao patrimonial global e possibilitar que empresas
de capital nacional adquiram ativos produtivos, mercadolgicos e
tecnolgicos de empresas desvalorizadas nos pases centrais e mesmo em
outros em desenvolvimento. Neste contexto de reestruturao, empresas
capitalizadas de pases em desenvolvimento encontrariam espaos propcios
para uma internacionalizao estratgica, que v alm da aquisio de
capacidade produtiva no exterior;
b) Aproveitar a reconfigurao produtiva global para que tais pases se
reposicionem ativamente nas redes globais de produo, seja atravs de
ganhos de importncia das filiais locais de empresas transnacionais, seja
atravs do adensamento da cadeia produtiva;
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c) Aproveitar a mudana em direo a uma matriz energtica menos
dependente de combustveis fsseis e dinamizar os investimentos
associados gerao de bioenergia, em especial alguns bens de capitais
mecnicos e mquinas agrcolas.
No entanto, estes mesmo processos impem riscos aos pases em desenvolvimento.
Empresas de muitos destes pases no podero adquirir ativos tangveis e intangveis,
ampliando sua competitividade. Antes, devem se tornar alvos de aquisies,
desnacionalizando-se ainda mais o tecido produtivo local. Alm disto, as filiais locais das
empresas transnacionais podem perder relevncia na corporao global, esvaziando a
produo domstica e as exportaes.
O recrudescimento do protecionismo comercial tambm pode frear exportaes e
ampliar conflitos comerciais. Num contexto de deflao dos preos e possvel aumento
das importaes industriais, este efeito de penetrao no mercado domstico e na estrutura
patrimonial da empresas de capital nacional ser ainda maior, oferecendo riscos aos
investimentos e incipiente oportunidade de internacionalizao destas empresas.
Alm disto, uma nova finana internacional mais regulada poderia promover o
encolhimento dos mercados de capitais, com menores espaos para emisses primrias de
aes e com relativa contrao crdito (intermediado por bancos, ou atravs de captao
direta), fato que alteraria as condies de financiamento ao investimento produtivo, o que,
por sua vez, pode adiar projetos de expanso de capacidade, de internacionalizao ou de
modernizao, inclusive na indstria mecnica dos pases em desenvolvimento, mais
dependente de capital de terceiros.
Por fim, uma regulao que consolide e amplie o uso de novas fontes de energia
pode ampliar a importncia da periferia como exportadora de bens primrios energticos
(no caso do Brasil, associados ao etanol), sem que se crie uma estrutura produtiva
associada ao crescimento desta fonte de divisas. O mesmo vale para o petrleo leve a ser
extrado de guas ultra-profundas e cujo marco regulatrio se encontra em discusso em
2009: h risco concreto de o Brasil tornar-se um exportador de petrleo bruto, criando
baixos encadeamentos para a indstria domstica, na qual o sistema de equipamentos
mecnicos claramente se beneficiaria.
Ser discutido, sobretudo nos captulo 7 e 8 que este risco poderia ser minimizado
pela adoo de polticas de apoio que, a um s tempo, explorem esta riqueza energtica e
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criem condies de internalizao de equipamentos mecnicos a serem utilizados pela
indstria de energia e seus elos a jusante.
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2.4 Desafios e oportunidades associadas s mudanas tecnolgicas
Como j foi discutido, o sistema de equipamentos mecnicos relativamente
maduro em termos tecnolgicos. O esforo inovativo concentra-se majoritariamente em
processos produtivos, conferindo menor importncia relativa mas no desprezvel - para
a inovao em produtos. H esforo de adaptao e modernizao de produtos, mas a
dinmica do investimento neste sistema no ser afetada de forma significativa por
mudanas tecnolgicas nos prximos anos.
Por exemplo, o crescente uso de novos materiais sintticos em substituio ao
ao, em todo tipo de equipamento. Nos veculos comerciais, esta uma tendncia
consolidada. Mas h pouca evidncia que este uso alterar as perspectivas de investimento
no setor, justamente porque no promoveu, at o momento, nenhuma mudana
significativa na forma de produzir os equipamentos12.
O mesmo vale para o uso de eletrnica embarcada, que foi includa em todos os
equipamentos de forma crescente. Mquinas-ferramenta com controle numrico
computadorizado, veculos com telemetria, sofisticados controles de navegao ou ainda
equipamentos que aumentem a preciso das mquinas agrcolas. Todos os subsistemas
incluram, nos ltimos anos, componentes eletrnicos que aumentaram a preciso, a
produtividade e a eficincia dos produtos para seus usurios. Mas pouco destas inovaes
alteraram a dinmica do investimento no sistema de equipamentos mecnicos. As empresas
do sistema so usurias desta tecnologia, seu desenvolvimento no endgeno mecnica.
A possvel exceo a esta baixa influncia da tecnologia sobre a dinmica dos
investimentos ocorreria apenas em um dos subsistemas estudados, a saber, o de
autoveculos. Em funo de mudanas nos padres de demanda e por fora da regulao
ambiental, h uma premente necessidade de substituir as formas tradicionais de propulso
nos equipamentos de transporte, usurios de combustveis fsseis. Por esta razo,
praticamente todas as empresas lderes, e mesmo produtores independentes (e.g. Tesla
Motors13), tm empenhado grandes esforos de P&D em busca de novas solues que,
12 Uma exceo possvel a crescente exigncia de montagem em salas limpas, sobretudo para equipamentos de preciso, o que pode motivar investimento.
13 Em maio de 2009, a Daimler-Benz adquiriu 10% de participao nesta empresa antes completamente independente da Califrnia que, at 2009 havia vendido mais de 500 veculos esportivos movidos inteiramente motores eltricos, na faixa de US$ 50 mil a US$ 100 mil cada.
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muitas vezes, so excludentes entre si. O captulo 4 lista trs cenrios provveis para as
prximas dcadas:
a) Transio para novas tecnologias com a difuso de uma motorizao mais
eficiente com combustveis fsseis e motorizao flexvel com uso puro ou com
possveis combinaes de combustveis e motores (baterias, clulas de
combustvel e combustveis renovveis como o etanol), mas sem a
predominncia de um tipo sobre o outro;
b) predominncia dos veculos hbridos eltricos um motor eltrico e um motor
de combusto interna de combustvel fssil;
c) difuso de tecnologia de clulas de combustvel, a partir de reaes
eletroqumicas de hidrognio.
No estaria claro qual dos cenrios seria predominante, mas possvel perceber
estas novas tecnologias alteraro o produto e a forma de produzi-lo, o que certamente
implicar em mudanas na dinmica dos investimentos e na estrutura da concorrncia no
segmento. Neste contexto de indefinio tecnolgica, ainda que haja espao e
oportunidades para empresas independentes (inclusive de pases emergentes) romperem
as barreiras entrada tradicionalmente elevadas do complexo automotivo, pouco
provvel que a dinmica do processo no seja comandada pelas lderes do oligoplio
mundial, que tm participado ativamente do esforo inovativo (com pouca disperso de
projetos, isto , todas estariam com presena na tecnologia dominante) e, portanto, estaro
em melhores condies para se aproveitar da consolidao da nova tecnologia.
Os riscos para os pases em desenvolvimento que tm estrutura produtiva no
complexo automotivo (como o Brasil) estariam associados perda de importncia das
filiais locais das montadoras, uma vez que a produo poderia se relocalizar neste novo
contexto tecnolgico (que exigiriam plantas com escalas menores, por exemplo). Tambm
os fornecedores de autopeas tradicionais poderiam ser prejudicados, sobretudo porque os
novos carros empregariam menores quantidades de peas e teriam menor complexidade
mecnica de seus componentes (insumos eltricos, eletrnicos e de software seriam mais
relevantes que os controles mecnicos e hidrulicos, por exemplo).
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Concluso: respostas crise de 2008-2009
Como foi observado, este um sistema que, tanto no Brasil, como no resto do
mundo, estar no centro das transformaes econmicas que se seguiro ecloso da crise
econmica mundial de 2008. Dentre as dvidas e efeitos podem ser destacados:
a) Haver recrudescimento do protecionismo?
b) Haver nova relocalizao da produo nos pases centrais, em detrimento dos
pases em desenvolvimento?
c) A consolidao de um novo padro de consumo, mais tico e responsvel,
inclusive em termos ambientais, implicar em inovaes tecnolgicas de
processos e produtos (e.g. em direo a produtos ecologicamente corretos)?
d) Haver uma crise de super-oferta que levar a uma intensa rodada de
concentrao de capital?
e) Neste sentido, que papel tero as empresas de capital originado na periferia,
mas supostamente mais capitalizadas do que as lderes mundiais?
Estas e muitas outras perguntas sobre os efeitos da crise surgiro nos prximos
anos. Suas respostas ajudaro a compreender quais as reais oportunidades e desafios que
empresas brasileiras do sistema mecnico enfrentaro no mdio e no longo prazo.
Acerca deste debate, este trabalho considera que:
a) O mundo enfrentar, nos prximos anos, uma possvel interrupo da marcha
liberalizante que se intensificou desde os anos 80, o que resultar em riscos e
oportunidades para a indstria brasileira de equipamentos mecnicos. Por um
lado, o protecionismo poder inibir as exportaes de manufaturados, em
especial para a Amrica do Norte. Por outro lado, prolonga-se no tempo o
espao relativamente protegido destas indstrias no Brasil (com exceo de
autopeas e alguns bens de capital beneficiados com ex-tarifrios), o que pode
estimular a consolidao competitiva de filiais locais de empresas
transnacionais e mesmo de empresas de capital nacional.
b) possvel que tambm seja interrompida o deslocamento da produo de
equipamentos mecnicos para os pases em desenvolvimento especializados em
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montagem e exportao para os mercados centrais. A necessidade de gerar
empregos industriais nestes pases, em especial nos EUA, dever conter este
amplo deslocamento, que parecia inexorvel at a ecloso da crise e do desenho
preliminar das polticas de recuperao anunciadas. No entanto, pases que j
consolidaram uma densa estrutura industrial e que tm amplos mercados
domsticos/regionais podero permanecer como loci privilegiados da produo
industrial mundial. So exemplos destas possibilidades os pases do chamado
BRIC, com destaque para a China e o Brasil.
c) bastante provvel que haja uma crescente mudana dos padres de consumo
nos pases centrais, em direo ao consumo ambientalmente mais responsvel,
o que pode retrair a demanda por equipamentos mecnicos, em especial
equipamentos de transporte com motores de combusto interna. O mesmo deve
ocorrer, em muito menor escala, nos pases em desenvolvimento. Tal mudana
deve acelerar o desenvolvimento de novas tecnologias, o que deve alterar a
dinmica dos investimentos, sobretudo no complexo automotivo.
d) Certamente os efeitos da crise promovero rodadas de concentrao do capital
em nvel mundial, devido ao encolhimento da demanda e s conseqentes
dificuldades econmicas das corporaes. Por exemplo, um dos mais atingidos
setores, o complexo automotivo, inaugurou em 2009, uma onda de
consolidao de alcance global, com a dbcle de Chrysler e da GM, e o
crescimento da FIAT, de empresas de autopeas (MAGNA) e de empresas de
pases em desenvolvimento. O mesmo deve ocorrer na indstria naval,
duramente atingida pela retrao do comrcio exterior e nos bens de capital
seriados. As fuses e aquisies redesenharo os oligoplios mundiais, o que
abre oportunidades para as corporaes que sarem vitoriosas deste processo.
e) Neste sentido, as empresas de capital originrio de pases em desenvolvimento
se depararo com oportunidades associadas a esta rodada de consolidao
patrimonial. Corporaes capitalizadas (por exemplo, na ndia, China e Brasil)
encontrariam excelentes oportunidades para consolidar e ampliar sua incipiente
capacidade de internacionalizao, adquirindo ativos estratgicos em pases
centrais. Ativos que permitiro aumento de competitividade, seja porque
ganharo escala internacional, seja porque tero a acesso a ativos tangveis e
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intangveis de cunho comercial (marcas, canais de distribuio) e/ou
tecnolgico.
Enfim, a viso deste trabalho o que sistema de equipamentos mecnicos crucial
para que a indstria brasileira possa se aproveitar de maneira plena dos eixos do
crescimento e do investimento nos prximos anos. O eixo crescimento da renda e expanso
do consumo de bens durveis e no-durveis, o eixo agronegcio, que consolidar o Brasil
como lder mundial; o eixo energia, motivado no apenas pelas descobertas no pr-sal, mas
tambm no que respeita aos bicombustveis e outras fontes de energia, e o eixo infra-
estrutura, cujos prementes investimentos podero sustentar a demanda por equipamentos
mecnicos por muitos anos. Como isto poder ser realizado o objeto de discusso dos
prximos captulos.
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3. Dinmica dos investimentos no setor de Bens de Capital Seriados14
3.1 Introduo
Reconhecendo a profunda heterogeneidade do subsetor em anlise neste captulo,
optou-se aqui por restringir a denominao bens de capital ao setor produtor de
mquinas e equipamentos, em que seus produtos so comumente classificados segundo as
suas especificidades tcnicas. Os bens de capital seriados seriam aqueles produzidos em
larga escala, com padronizao de projeto. Por outro lado, os bens de capital sob
encomenda seriam aqueles produzidos segundo caractersticas tcnicas associadas a cada
processo produtivo, projetados e fabricados sob medida. O objeto de anlise do presente
estudo sero os primeiros.
Ainda que a denominao seriados sugira certa homogeneidade dos bens em
questo, na verdade trata-se de um segmento ainda bastante heterogneo em termos de
produtos e de estrutura de oferta. Os equipamentos se prestam a diversos usos, utilizando
diferentes paradigmas tecnolgicos, o que acaba acarretando na convivncia de empresas
produtoras com os mais variados perfis grandes e pequenas, modernas e antiquadas.
Por produzir especialmente bens de tecnologia madura, as barreiras entrada so
relativamente baixas e a concorrncia entre produtores se d prioritariamente em preos,
fazendo das economias de escala um importante fator competitivo. A heterogeneidade dos
produtos, entretanto, confere maior ou menor grau de importncia tecnologia como fator
competitivo dependendo do segmento de atuao das empresas (Santos e Piccinini, 2008).
A fronteira tecnolgica estaria na mecatrnica - a incorporao da eletrnica aos
bens mecnicos. A ampliao do contedo eletrnico e de software dedicado em todos os
segmentos do setor teria elevado ainda mais a heterogeneidade entre os fabricantes e o
espectro de oferta de produtos (Alm e Pessoa, 2005).
Segundo Avelar (2008), este setor se destacaria pela importncia do aprendizado
tecnolgico no ato de fazer (learning by doing) e pelo desenvolvimento com pesquisas
internas firma, ou com parcerias, de novos produtos e processos (learning by searching),
de forma que o esforo tecnolgico das empresas estaria, em grande parte, relacionado ao 14 Este captulo uma edio do trabalho realizado por Beatriz Bertasso (NEIT-IE-UNICAMP) no mbito da pesquisa Perspectivas do Investimento no Brasil.
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dinamismo mercado demandante de mquinas. Compradores que atuam em mercados em
expanso e fortemente competitivos naturalmente questionariam a capacidade inovativa
dos seus fornecedores.
Outra fonte de aprendizado relevante no setor a engenharia reversa quando se
adapta as mquinas e os equipamentos para a produo local (Avelar, 2008). Por esse
comportamento de engenharia reversa, as firmas constituram em seu interior corpos
tcnicos altamente qualificados que sustentariam o desenvolvimento tcnico dos produtos e
processos, como por exemplo, a busca pela reduo de custos e a diversificao da linha de
produtos. Ressalte-se, no entanto, que a engenharia reversa pode ser passiva ou ativa. No
primeiro caso, em que h pequenas adaptaes e cpias, h pouco desenvolvimento de
capacidade aprendizado. No caso de uma engenharia reversa ativa, o foco no a mera
cpia em busca de barateamento para adaptao ou simplificao, mas a cpia em busca de
aprendizado que, em muitos casos, est associado a polticas industriais e tecnolgicas,
desde incentivos fiscais at a formao de mo de obra qualificada. Historicamente, a
engenharia reversa no Brasil se aproximou mais do caso passivo, ao contrrio dos casos
tpicos de Japo e Coria do sul, em que o processo de cpia levou efetivamente ao
aprendizado tecnolgico.
O esforo tecnolgico dos fornecedores de peas e componentes tambm seria
fundamental para o ritmo de inovao das empresas de bem de capital (Avelar, 2008). A
existncia de um setor fornecedor de insumos adequado considerada importante no
apenas para que se suporte o processo inovativo, mas mesmo para que o induza. A
proximidade geogrfica dos fornecedores, neste caso, seria muito importante no apenas
pela rpida prestao de servios e manuteno, mas especialmente para a troca de
conhecimento no codificado entre as firmas. No caso brasileiro, entretanto, h poucos
indcios da ocorrncia desta integrao intangvel.
Alm disto, h, em termos mundiais, um grande volume de comrcio intra-
industrial de mquinas e equipamentos seriados, assim como uma dada diviso
internacional de trabalho: a produo de bens de capital tecnologicamente densos se
concentra nos pases desenvolvidos com destaque para Estados Unidos, Japo, Alemanha
e Itlia - e, a de bens menos sofisticados em pases em desenvolvimento - em que se
destacariam o Brasil, a Coria do Sul, Taiwan, China e Mxico (Alm e Pessoa, 2005). As
barreiras entrada nos segmentos explorados pelo ltimo grupo de pases seriam
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relativamente baixas e, devido relevncia macroeconmica do setor, os pases tenderiam
a promover polticas para resguardar e ampliar a produo local.
A especializao em equipamentos mais sofisticados dos pases centrais poderia ser
associada exigncia do mercado consumidor, existncia de uma indstria de
componentes amplamente desenvolvida e mesmo ao pioneirismo e s escalas timas de
produo.
As vantagens que os pases em desenvolvimento disporiam para manter parte da
indstria nos mercados locais seriam, alm dos prprios mercados consumidores e da
expanso de polticas de financiamento, a disponibilidade da matria prima tradicional
(ao) e de mo-de-obra a baixo custo, tornando-os naturalmente especializados em
produtos intensivos nesses fatores. A abertura das economias e o acirramento da
concorrncia, entretanto, vm fazendo da capacitao tecnolgica e dos servios ps-venda
estratgias de diferenciao cada vez mais importantes tambm nos pases em
desenvolvimento, em especial na China.
Segundo as caractersticas citadas, ento, poder-se-ia afirmar que os setores
produtores dos pases em desenvolvimento, de economia aberta, que concentram sua
produo em paradigmas tecnolgicos mais defasados, precisariam manter uma insero
internacional positiva no apenas para ampliar os ganhos de escala, mas tambm para
manter certa atualizao tecnolgica, seja pelo acesso indstria de componentes, seja
pelo contato com clientes mais sofisticados. O grau de proteo do setor produtor de
mquinas e equipamentos, desta feita, refletiria a relativa fragilidade dos produtores dos
pases em desenvolvimento e uma das armas das autoridades locais para manter o setor em
operao.
Por fim, vale ressaltar de forma que, como discutem Vermulm e Erber (2002), o
entorno sistmico tem grande influncia na competitividade dos produtores de bens de
capital seriados, com destaque para trs variveis, a saber, o juro, a taxa de cmbio e a
tributao do investimento.
O juro, alm de ser uma referncia expectativa de valorizao do capital,
condiciona o financiamento tanto da produo, como e principalmente da
comercializao das mquinas e equipamentos, cumprindo papel decisivo nas condies de
competitividade de uma empresa e de um inteiro subsetor nacional.
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No toa, portanto, que as empresas que vendem bens de capital
tecnologicamente mais sofisticados, caros, em geral nicho das empresas de capital
estrangeiro radicadas no Brasil, reclamam especialmente das altas taxas de juros
praticadas internamente. Essas empresas concorrem no apenas com a eficincia de
fabricao (associada, inclusive, s economias de escala) e com o contedo tecnolgico
incorporado aos produtos comercializados pela indstria do Centro, mas tambm com as
condies de financiamento que vm junto com o equipamento. (...) Em maro de 2008,
quando a taxa mdia de juros de financiamento de mquinas e equipamentos pelas linhas
do BNDES era de 14% ao ano, a praticada no exterior seria de 3%, ou menos. (Gandra,
2008).
Como ser visto, estes diferenciais na estrutura de financiamento cumprem
importante papel na determinao dos principais riscos ao pleno desenvolvimento da
indstria de bens de capital seriados brasileira.
O captulo que se segue est distribudo em mais 5 sees. A seo 3.2 trata das
perspectivas da dinmica global do investimento, destacando o recente deslocamento da
indstria para a sia, com destaque para a China. A seo 3.3 discute as perspectivas do
subsetor de bens de capital seriados no Brasil, apontando que o principal driver dos
investimentos , e ser nos prximos anos, a demanda interna do conjunto da economia
brasileira que amplia seus prprios investimentos, demandando mquinas e equipamentos.
A seo 3.4 debate as perspectivas de mdio e longo prazo para o subsetor no Brasil, luz
de um cenrio em que a economia brasileira reagiria melhor aos desafios da crise
financeira global contempornea, fazendo prevalecer as oportunidades sobre os riscos
deste ambiente instvel. A seo 3.5 apresenta sucintamente algumas estratgias polticas
setoriais necessrias para atingir os objetivos discutidos na seo anterior. Por fim, a ltima
seo apresenta breves concluses sobre as perspectivas de investimento deste setor.
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3.2 Dinmica Global do Investimento
Neste item, sero apresentados os movimentos recentes da indstria de bens de
capital mundial, com destaque para o macio deslocamento da produo para pases em
desenvolvimento, em especial para a China.
De fato, segundo dados da UNIDO, os pases em desenvolvimento absorveram a
forte queda de participao dos pases desenvolvidos no valor adicionado mundial da
indstria de mquinas e equipamentos (ISIC 29, Rev. 3) - que passou de 82,2% em 1995
para 74,8% em 2006. Os pases em desenvolvimento, assim, j agregam quase um quarto
do valor gerado nessa indstria (23,7%).
Dados da mesma instituio, apresentados pelo Export-Import Bank of ndia
(2008), para o ano de 2005, do como grandes produtores os EUA (19,4% da produo
mundial), o Japo (15,6%) e a Alemanha (14,9%). Entre eles, as participaes do setor
produtor de mquinas e equipamentos nas indstrias locais tiveram movimentos
diferenciados.
Na economia norte-americana, o setor perdeu a sua importncia relativa em grande
proporo em 1995 era responsvel por 8% do valor agregado da indstria como um todo
e em 2006, 4%. Na economia Alem, em que o setor produtor de mquinas e equipamentos
tem um forte peso na produo industrial, a queda de participao foi muito tnue de
14,7% em 1995 para 14,3% em 2006. No Japo, h uma ligeira elevao da participao
das mquinas e equipamentos no valor agregado da indstria como um todo de 10,0% em
1995 para 10,7% em 2006.
Esses dados sugerem uma mudana na geografia dessa indstria com maior
participao dos pases em desenvolvimento que pode decorrer do prprio deslocamento
da produo manufatureira como um todo para a periferia capitalista. Assumida a diviso
internacional do trabalho tradicionalmente associada ao setor possvel inferir que o
deslocamento da indstria esteja se dando nos segmentos mais tradicionais - com grande
peso para os bens de capital seriados.
Pode-se tomar o exemplo da indstria norte-americana, na qual se deu a mudana
mais significativa em termos de perda de gerao de valor. As duas possibilidades que se
apresentam so a da simples desindustrializao ou a da transferncia da capacidade
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produtiva do pas para outras partes do mundo, na forma de investimentos estrangeiros
diretos (IEDs) para regies em que as vantagens locacionais tpicas como mercados com
taxas relativamente aceleradas de crescimento, a disponibilidade da matria-prima bsica,
o ao, e de mo-de-obra a baixo custo. A resposta mais provvel de que tenham ocorrido
os dois movimentos.
A tabela 3.1 a seguir traz dados de produo da indstria norte-americana de
mquinas e equipamentos entre 2000 e 2006 - informaes de quantidade produzida e de
preos de alguns sub-segmentos selecionados, tradicionalmente relacionados indstria de
bens de capital seriados, indicando distintos padres de comportamento. Os nmeros
indicam forte queda na quantidade produzida de mquinas e equipamentos e elevao dos
preos.
Tabela 3.1 EUA: variao da produo e dos preos da indstria de mquinas e
equipamentos, 2000-2006 (em %)
2000-2006 (%) Segmento Quantida
de Preo
s Vlvulas Metlicas -1,1 23,2 Mquinas para plsticos e borracha -14,4 8,2 Mquinas para a indstria de papel -28,4 10,5 Mquinas para a indstria txtil -39,7 5,0 Mquinas para a indstria de impresso -23,0 6,0 Mquinas para a indstria alimentcia -4,4 17,5 Mquinas para a indstria de moldagem 3,1 -3,8 Mquinas-ferramenta com remoo de cavaco 1,8 2,3 Mquinas-ferramenta por deformao -37,7 11,4 Ferramentas de corte e acessrios para mquinas-ferramenta -19,7 10,5
Mquinas e equipamentos para a indstria de celulose 3,6 14,7
Compressores a ar e gs 62,8 14,0 Fonte: Bureau of Economic Analysis (U.S. Department of Commerce). Elaborao: NEIT/UNICAMP
A elevao de preos pode justifica-se, em parte, pela elevao do custo do
principal insumo (o ao), em parte pelo crescimento da demanda, mas as diferentes
trajetrias tambm podem estar associadas a diferentes mix de produtos comercializados.
Variaes negativas de produo e fortemente positivas de preos, como
observadas nos setores produtores de vlvulas e de mquinas produtoras de equipamentos
para a indstria alimentcia, por exemplo, podem significar a especializao em produtos
tecnologicamente mais sofisticados. A produo de mquinas para os setores txtil, de
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papel e impresso, por outro lado, apresentam uma queda muito grande na quantidade
produzida e uma elevao de preos relativamente baixa, eventualmente indicando a a
desestruturao e a perda de competitividade da indstria local neste segmento.
O setor produtor de compressores se destaca fortemente dos demais, com
crescimento tanto de produo fsica, como de preos. Numa verso bem menos positiva,
os que fabricam moldes industriais e mquinas-ferramenta com remoo de cavaco,
tambm mantiveram um desempenho relativamente positivo.
Dos dados de IEDs norte-americanos, num nvel de agregao bem maior, pode-se
destacar a elevao do estoque de investimentos no exterior do setor produtor de
equipamentos bem acima ao apresentado pelo setor manufatureiro como um todo no
perodo recente. Entre 2004 e 2007 a indstria manufatureira norte-americana exportou
capitas na forma de IEDs em volume suficiente para elevar o estoque existente de
investimentos norte-americanos no resto do mundo em 28%, enquanto o segmento de
maquinrio teve essa participao elevada em 71%. O ritmo de exportaes de capitais
do setor de mquinas e equipamentos significativamente maior que o da indstria
em geral.
No grfico 3.1 abaixo apresentada a evoluo do estoque acumulado de capital
norte-americano no segmento de mquinas e equipamentos, na forma de IED, no Brasil e
em economias em desenvolvimento cujo crescimento do estoque desses capitais se
destacou. Por exemplo, a China dispunha, em 2006 um estoque de capitais norte-
americanos de US$ 1.067 milhes, Cingapura US$ 997 milhes (em 2005) e a ndia US$
726 milhes. As taxas de crescimento desse estoque, entretanto, como sinalizado no
grfico 3.1, revelam um fluxo fortemente direcionado a esses pases. Enquanto o estoque
no Brasil caiu em 30%, na China se elevou em 400%, em Cingapura 205% e na ndia
184%.
Ainda que esses nmeros possam estar contaminados pela evoluo das taxas de
cmbio dos respectivos pases, as discrepncias impedem que se credite valorizao da
moeda brasileira essa perda relativa de recursos aplicados no setor.
interessante notar que, ainda se tome a indstria de bens de capital mexicana
como razoavelmente bem constituda (Alm e Pessoa, 2005), a despeito do acordo
comercial existente entre aquela economia e os Estados Unidos (o NAFTA), pouco evoluiu
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o estoque de capitais norte-americanos no setor produtor de mquinas e equipamentos
Mexicano dos US$ 988 milhes em 1999, passou-se a US$ 1.066 em 2006.
Mais uma vez, forte a possibilidade do crescimento econmico dos asiticos ter
sido o principal atrativo destes investimentos o que deixou a desejar tanto no caso
mexicano como no brasileiro.
Grfico 3.1 EUA: evoluo do estoque de Investimento Estrangeiro Direto em economias
em desenvolvimento selecionadas, 1999-2007 (em ndices)
0
100
200
300
400
500
600
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
1999:100
Brasil China ndia Cingapura
Fonte: Bureau of Economic Analysis (U.S. Department of Commerce). Elaborao: NEIT/UNICAMP
Essa prevalncia dos fluxos de IED norte-americanos aos Asiticos pode ser
qualificada, ainda, com o contexto relativamente diferenciado que a qualidade de
investimentos tem sido realizada ali e na America Latina.
A mesma tendncia pode ser observada a partir da anlise de dados de comrcio
internacional (ver Tabela 3.2 abaixo), que ilustra a relativa queda de imp