PESQUISA BÁSICA E PESQUISA APLICADA -...

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E MPRE SA BRA SILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÃRIA DEPARTAMENTO DE QUANTITATIVOS PESQUISA BÁSICA E PESQUISA APLICADA SIU-S EO E Eliseu Roberto de Andrade Alves , •• I '" , I .::. r: o t!' .-._ . ...:; - '-- DMQ/A/S 7 julho, 1982

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EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÃRIA

DEPARTAMENTO DE ~TODOS QUANTITATIVOS

PESQUISA BÁSICA E PESQUISA APLICADA

SIU-SEOE

Eliseu Roberto de Andrade Alves

, •• ~ I

'" , I .::. r: o t!' .-._ . ...:;-'--

DMQ/A/S 7 julho, 1982 • •

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Alves, Eliseu Roberto de Anclrade

Pesqui sa bási ca e pesquisa apli cada .

Brasília, a-tBRAPA-~ , 1982

p. (E~tBRAPA-O~/A/57)

1. Pesqu.i S i! ientí fica 2 . Agricultura - Pcs -qui sa 3 . Pesquisa científic~1 - Apl icação I. Empl'c -sa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Oeparta -mento de ~€todos Quantitativos. Brasília. O.F. lI.

Título 111. Série .

CDO: 001.4

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PESQUISA BÁSICA E PESQUISA APLICADA*

Eliseu Iloberto de Andr ade Alv es **

A qu estão "pesqui sa bá sica versus pesqui sa aplicada" r e --quer um prof und o exa me do que e pes qui sa, do qu e se pret end e atravis

d~ pesquiso e do s i gnifi ca do de m6todo cientifi co . Portanto, ~ um a

ques t ão qlle t oco prorundame nte a filosofia da c iência . Por que real

Ille nt e se separo pesqui s a bá s i ca de pesqui sa aplicada? Na r ea lidade

pode rí amos di zer qu e ex i ste pesquisa, i s to ~ , ex i s te um a atividade

do homem. a qu a l procuro co nh ece r os segredos da nature za atravis da

~plicação do conh ec im e nto cie ntifico. Todas as pesquisas t êm o car~

t e r 6bvio de ajudar o homem, ou do ponto de vista mais utilit tl ri sta,

no sent ido de criar rique zas, ou do ponto de vista mais cultural, no

se n tido de c riar mai s conhecimento, porque o co nhecimento em si ~

uma grande fonte de pra ze r. A experiê nc ia da humanidade tem mo strado

que pe s quisas que apare ntemente não tinham nenhum a aplicação na

ca em que foram dese nvolvidas, acabaram por revelar-se de grande

lidade para a huma nidad e . Vejamos o caso da descoberta das leis

-epQ uti -

da

Il e rança,para Inencionar um exemplo. Um monge •

1850 e se u trabalho permanec e u desconhecido

descobriu por volta de

at~ o início do s~culo .

Foi redes coberto mais tarde e teve a sua

ta de 191 7 , na questão do milho híbrido.

primeira aplicação por - -De la para ca, no que

vol -di z

respeito às ciênc ias agrárias, as leis da herança têm constituído um -dos pontos capitais para a criação de plantas e de animais, e tem

contribuído marca ntemente para o aumento da produtividade da agricul

tura, Se tivissemos vivido à época de

trabalho como pesquisa básica típica.

~ Mendel. terlamos rotulado

Se tivéssemos a capacidade

seu

de

decidir se aquele projeto devesse ser executado ou não. possivelme~

te o considerariamos uma coisa esotérica. e teríamos negado recursos

a Mendel para executar sua pesquisa. No entanto. n6s sabemos quão i~

portante foi aquela descoberta. Na realidade isso indica a respons~

bilidade de escol her prioridades. de aprovar planejamentos de pesqui

* Palestra proferida na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 19/09/8L ** Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

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sa e de respeitar a liberdade do pesquisador. E claro qu e tentos limi

deve .

ta ções de recursos e muitas ve zes nao podemos fazer tudo o que

ríamos, mas, de alguma forma, temos que e ncontr a r r ec ur sos e respe.!.

t a r aquilo que t em um aspecto absolutamente fundamental . Tem-s e oh

servado, dado que a pesquisa r e presenta um sa lt o sobre o desco nh eci

do, que muitos dos pesqui sa dores qu e pro c uraram seg uIr temas e estra

das que se apresentavam ex tr emament e difíceis foram os que trouxe ram

a maior contribuição para a humanidade. Mas , voltando um pouco ao t e

ma des t a confe r ê nci a, por que nós procuramos separar pesquisa básica

de pesquisa aplicada? Dificilmente vamos e ncontrar uma definição qu e

permita separar pesquisa básica de aplicada, porque há uma g rande in

terpenetraç ão entre as duas. Mas, por que es tamos di sc utindo esse

assunto? Por uma mera curiosidade acadêmica, ou porque na di sc ussã o •

podemos encontrar algo importante, no sentido de orga n i za r a

sa no Brasil e torná-la mais produtiva? Quem sabe podemo s di ze r que

algumas instituições deveriam ficar predominanteme nte com o ramo de

pesquisa aplicada e outras instituições predominantemente com o ramo

de pesquisa básica. Seria a iniciativa particu l ar a responsável pe la

pesquisa aplicada? Seriam instituições como a EMBRAPA totalmente ou

em grande parte dedicadas à pesquisa aplicada? E a Universidade , com •

o seu grande direito de liberdade de escolha, seria a instituição

mais apropriada para predominantemente se dedicar ã pesquisa básica ?

Acredito que nes ta divisa0 de atividades existe possivelmente algu -ma razao porque devemos tentar entender o que serIa considerad o pes

quisa aplicada. Um grande esforço da humanidade, em relação ao Gonhe

cimento, está na busca perene da sistematização des se conhecimen~o.

Esta sistemati zaç ão é basicamente feita através da construção de teo

rias e do teste de teorias . Tanto a construção como o teste de teo -• rIas representam -uma area predominantemente da pesquisa básica . Veja

mos um exemplo. No tempo em que Euclides realizou a sua gra nde , Sln

. - -tese, Ja era do conhecimento dos matemáticos gregos o se m-numero de proposições que hoje conhecemos como fazendo parte da geometria eu clidiana. A idéia básica que predominava no pensamento grego

sião era a idéia reducionista. Nós deveríamos ser capa zes de

lher um pequeno número de proposições, baseados nas quai s •

capazes de deduzir todas as outras. Deduzir as prpposições

-da oca

esco -, serlamos

conheci -

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das e outr as qu e po de r ia m se r im ag ina das e desco be r tas co mo co nse -quê nc i a do processo de ded ução . Essas

de axiomas , na geo me t r i a c hama das de

. -pro pos l çoes

pos tul a dos .

b ás i cas tê m o nome

Qua l des t e s post~

l a dos são f o rmul ados? Pr i me iro ~ necessá ri o esco lh er al gun s t e r mos

q ue não são def inidos . Não ~ pos síve l de finir tudo .

p r ob l ema s~ ri o de lin guage m. Ent ão , e m a l gum lugar ,

I sso e nvo l ve um -nos temos que

t omar a l gun s termos não de finid os . No caso da ge ome tri a e uc lidiana, ponto, r e t a e pl a no f ize r am part e do s t e rmos não def in i dos e de po i s,

com ba se ne st es t e rmo s não de finid os , for am e nun c iados pos tul a dos e,

a tr av~s das r eg r as da in fe r ê nc ia ló g i c a , f or am de du zidos t eo r e mas . No

t a - se bas ica ment e que o e s f o r ç o de s ínt e s e foi f e ito depo i s que

se di spunha de um a gr a nde quantid a de de c onh ec imento, obtido na

lidade sem ne nhuma ba se nos po s tulado s e scolhidos. Estes são a

-. -

r ea -ex -

p r es são da ge ni a lidad e de quem e s colhe u exatament e aquel es

dos que pe rmit em de ri va r a s proposi ç õe s já conh ecidas e pos tul~

• e nn qu e

ce r muito mais a t eoria . O que t emos e m uma teoria são os t e rmo s não

definidos, os postulados que foram escolhidos a partir des ses termos

e todas as proposições que foram derivadas atrav~s de um processo de

de duç ão desses postulados ou axiomas. Ess e conjunto fa z parte daqui •

lo que chamamos de "teoria". Na construção desse sistema de du tiv o.

e videntemente há alguns problemas a considerar. Talvez o • mai S - . s e r io

~ que em todo o sist ema axiomático há proposições verdadeir as, mas - -que nenhum homem podera demonstra-las. Esse foi um grande achado •

Ci

entífico, que

mado Gttde l. O

notabili zou um indivíduo especializado

tr a balho de Gttdel colocou por terra um •

- . em logica ,

projeto

-cha -que

-Bertrand Russel vinha seguindo, no sentido de reduzir toda a ma t em~

tica a algumas proposições de lógica e, a partir dessas propos iç ões,

dedu z ir todos os teoremas existentes dentro da matemática. Mas fi cOll

demonstrado, pelo menos em princípio, que al guns dos t eore mas qu e •

são verdadeiros dentro de determinada estrutura de axiomas, não r~

deriam ser demonstrados, isto ~, o próprio m~todo dedutivo te m a s su -as fàlhas, que lhe são inerentes. Outro grande exemplo di z respei t o

aos gregos, que já tinham uma noção muito boa em relação a os -nume -ros. Eles conheciam os números racionais e os números irracionais. No entanto, a humanidade gastou s~culos e s~culos após a cultura gre ga

para conseguir formalizar um sistema chamado "a teoria dos núme ro s" .

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Um ma t emitico i t a li a no. Pea no. escolh e u um co njun to de a x iomas e.

pa rt i r di sso. co ns truIU toda a t eo ri a dos nGm e r os . Nova me n te houve

um processo de r e dução. que r di ze r . os nGm e r os na tur a i s 1. 2.3.e t c ..

fo r am t omados como bas e e. da i par a a fr ent e. se de finir am os -nume

r os r acio na i s . os ir rac i ona i s e os co mpl exos . Novame nt e o processo

usa do f oi uma t ~c n ica ca r acte ri s ti came nt e de r e dução. i s t o ~ . sempr e

te nt ando - se enco ntrar a l go ma i s s i mpl es . Os t e rmos não def in i dos d~

teoria de Pea no são núme r o e sucess o r. os po s tul a dos são cI nco e

da i seg ue - se t oda a co ns truçao , at~ co nseg uirmo s c hega r ao e dif i c i o

dos núme r os compl exos . A influê nci a do r edu c ioni s mo g re go acabo u

permea nd o o co nhec ime nt o do mund o oc ide ntal. e t odo o

em t eo ri a s . No campo da s c i ê ncias

a teo ri a de New t on,t er um si s t ema

i r ea de mat emiti ca . A tr a v~s de um

empiricas . a fisi c a

muit o pare cido co m o

proce s so de deduç ao ,

co nh ec ime nt o • c on seguIu,

r efe r e nt e

com ba s e

com -a

na

teo r ia de Ne wton , f o i- se ca paz de pr e ver co i sa s e x tretame nt e impor

tan t es, tai s co mo a ex i s t ê nc i a de um pl a ne t a , jamais obse rv a do a n

t e ri o rme nte , numa ce rt a posi ç ao da abóboda celeste . Ali estava um

f a to empiri co que confirmava a teoria de Newton . Uma grande respon

sabilidade do p ro ce sso dedutivo é e xatament e encontrar r roposi ç ões

que possam ser r e j e itadas por algum experimento. Posteriorment e , uma

dessas proposições acabou sendo r e jeitada, quando caiu por t e rra a

t eoria de Newton, que previa que um raio de lu z ao passar por um

planeta não de veri a sofrer nenhuma c urvatura. Foi feito um "e xperi

mento" baseado numa id~ia de eclipse e se verificou que o raio se

cur vava. Ora, isso trouxe uma grande crise para a física e outra

s intese foi elaborada a partir desse problema, que ~ a teoria da re

latividade. Quando e stamos trabalhando para a construção de teorias, . .

prImeIro as teorias construi das começam com teorias . ma I S

, simples.

temos que

Não foi o Newton o primeiro a t entar fa zer uma sIntese a •

respeito do sistema planetirio; houve virias outras tentativas ant e

riores, cada uma com s e u m~rito. Segundo, à medida

maior de fenômenos se torna conhecido, ~ claro que em que um -nume ro

substitui outra, esperamos que ela tenha uma capacidade de descre - - .... -ver nao so aqueles fenomenos ja cobertos pela teoria antiga, mas uma

nova gama de fenômenos. Terceiro, uma boa teoria tem que ter propo

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r I ,

, -

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sições que permitam ser testadas por um experimento, de tal forma que a teoria possa ser rejeitada. Se entrarmos no campo da biologia,

a formulação das leis da herança está cami nh ando para se tornar a

grande síntese das ciências biológicas, incorporando inclusive,como

um caso particular, as idéias evolucionistas formuladas por Darwin.

Procura-se uma grande síntese através de um processo basicamente re -ducionista . A idéia de reducionismo é uma idéia permanente e, no caso da genética, começamos com os gens e já enco ntr amos as partíc~

las que compõem os gens . A idéia básica é encont rar alguma coisa

que vamos co nsiderar como um dado, como não definida e, a partir

disso, formular postulados e seguir o processo dedutivo para se en -contrar as proposições que descrevem os fatos conhecidos. Falando

de ciência empírica, uma vez construída uma teoria abstrata segue ­

-se uma operação muito complicada, que é a interpretação. Como va -mos interpretar os termos não definidos e as proposições? Feita

interpretação, que medidas usaremos para testar as proposições?

a

De -pois, como não temos condições

problema da inferência, já que

de conhecer todo o universo, surge o . -temos que testar as proposlçoes a

partir de determinadas amostras. Então o processo de sistematização •

do conhecimento envolve a codificação de determinadas proposições,a

escolha dos termos não definidos e dos postulados, a dedução de pro -posições, a interpretação das proposições, a construção de escalas

numéricas para medições e a inferência, a partir de amostras,de con -•

clusões que vão rejeitar ou aceitar uma determinada teoria. Dentro

desse esquema, todo esse esforço do homem poderia ser considerado

como ciência básica ou ciência pura. Um ponto importante a ser dis -cutido -e se realmente os conhecimentos que fundamentaram a existên -cia do homem seguiram essa sequência de conhecimento sistemati zado

para pesquisa aplicada. Os conhecimentos sistematizados foram esta . -•

belecidos antes do desenvolvimento das máquinas e equipamentos que

constituem uma parte importante da

ciência di z que a não ser a partir

to foi verdade. Isto é, muitas das •

dos recursos que constituem a base

foram construídos com muito pouca

do. Na realidade, . -. essas maquInas,

tecnologia

da segunda

humana? A históri a da

guerra mundial,o opos -máquinas, dos equipamentos e

da vida humana aqui no planeta

ajuda do conhecimento sistematiz~

equipamentos e instrumentos cons -

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truidos muito ajudaram o /l omem a camin/lar na d ireção da sistcm ati z ~ çao da ci~ncia . ~tuito antes de se con/lecerem as leis da herança. o

homem ji tinha sido capaz de se l ecio nar variedades . ~ claro que. com

o conhecimento das leis da hera nça. esse processo de se l eção se tO!

nou muito mais poderoso . E é cla ro que o processo de se l eção de va

ri edades. o processo de hibridaçao. embora com o objetivo típi co de

desenvolve r coisas úteis para o homem. como ci~ncia aplicada. forne

ce u fundamentos importantes pa ra o dese nvolvimento po s terior das lei s

da herança.Portanto, existe na r ea l idade uma interrelação muit o gran

de entre o co nh ecimento dito "básico" e o conhecimento dito " ar li G~

do". Se no começo as máquinas e os equi pamentos foram construídos com

muito pouco uso do co nhecimento sistemati zado.hoj e o conhecimento SlS -tematizado co nst i tui uma poderosa alavanca pa ra aux iliar a pesquisa

aplic ada, que visa evident emente solucionar os problemas mais imedia

tos da humanidade . Eu poderia dizer, hoje. que a pesquisa pura pode

muito bem viver sem a pesquisa aplicada, mas a pesquisa aplicada j a

mais poderá viver sem a pes quis a pura, porque os custos de se reali

zar pesquisa aplicada sem a utilização do conhecimento sistema tizado

serão infinitamente maiores. A pesquisa aplicada é absolutamente es

téril sem a pesquisa básica, e a pesquisa básica, no processo de te~

te das t eorias, deve levar em consideração exatamente os fatos funda

mentais da vida humana. Vejamos o que aconteceu nos Estados Unidos.

O sistema institucional de pesquisa na agricultura naquele paí s é o

sistema de "Land Grant Co.llege", onde a pesquisa, a extensão e o en

sino estão dentro da mesma instituição, a Universidade. Pois bem , a

Academia de Ci~ncias dos Estados Unidos concluiu que o sistema foi

capaz de produzir grandes coisas para a sociedade americana, mas evi

denciou que as taxas de crescimento da produtividade na agricultura

estavam estagnando. A razão principal dessa estagnação foi o fato de

a ci~ncia aplicada ·ter exaurido o poço de conhecimentos criado pela

descoberta das leis da herança, pelas descobertas relacionadas à nu

trição de plantas e pela aplicação de conhecimentos de química na

agricultura, para a produção de defensivos. Por volta de 1973, essas -tres grandes avenidas tinham chegado ao fim e, como consequência, a

nível experimental e a nível de agricultor, as taxas de aumento de

produtividade com~çavam a estagnar e a declinar. Segundo a Academia

de Ciência, a pesquisa na agricultura, face a um grande contato com

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os agricu ltores, o que também é uma virtude, foi pressiona da por uma - . soc iedade extremame nt e pragmática e se tornou ex tr emamente pragmatl ~

ca e ex tremamente avessa ao ri sco, não qu e rendo investir em nova s

ave nidas de co nh ec imento. Portanto, a crítica que se fe z foi que se

investi u muito pouco no cas o das ciências agrárias, em pesquisa bási ~

ca e, como con se qU ênc ia, se propôs produzir novament e conhecimentos

bás i cos que pudessem ter um gra nd e i mp acto na pesquisa aplicada e

ge rar t ec nol ogia com capac idade de realizar uma segunda revolução

verde . Alguns pontos a desenvolver seriam uma investigação maior do

processo de fotossíntese, trabalhos aprofundados na área de fi xação

de nitrogê nio, na área de estimulantes de reprodução e crescimento

de plantas e de animais, e na área de engenharia genética, no senti ~

do de criar uma tecnologia de melhoramento que substituisse os pr~

cessos clássicos até então utili zados. Aqui no Brasil, es tamos

cém começando a explorar aquilo que a ci ê ncia básica foi capaz

es t abelecer . Temos a grande oportunidade de utili za r o que foi

re

de

de se nvolvido pelas ciê ncias mais puras nas ciências aplicadas. a fim

de resolver os problemas da agricultura. Mas, é claro que não pod~

mos deixar para os países avançados a r esponsabilidade de gerar c~

nhecimentos básicos, pois estaremos condenando, no mínimo, nosso

país a um colonialismo científico. Em realidade, o grande imperi~

lismo que caracteriza o século 20 não é um imperialismo de caráter

financeiro, mas um imperialismo de caráter científico. As nações d~

senvolvidas exportam ciência. A única maneira de construir uma s~

ciedade independente no Brasil é investir em ciência. Caso contr~

rio, a despe i to / de todo o esforço nacionalista, vamos ser presa fa ~

ce de dominação de outros países. Portanto, o investimento em c iên ~

cia representa, a par de tudo o que a ciência é capaz de criar de

bom para o homem , também uma ques tão de independência nacional, sen

do evidente que um investimento e m ciência básica

tremamente preponderante nesse sentido. Apesar de

avenidas a serem exploradas, no caso das ciências

' sil, sejam longas,já que a revolução verde está a

tem um papel ex

reconhecer que as •

aplicadas no Br~

começar quando se

encontra numa segunda fase em outros países , acho vital investir em ciência básica. A pesquisa é uma grande aventura sobre o desconheci

do. Portanto, é u~a atividade inerentemente dada a um grau de ince~

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R

te za e. no caso das ci~ n cias bisica s . i claro que es ta aventura 6

muito mais complicada, envolve mais risco e i atempo r al. Portanto,i

fundamental que as instituiç6es que se dedicam ~ c i~nci a pura este

jam ao resguardo das press6es mais imediatistas da sociedade.Do pon

to de vista institucional. dentro do contex to brasileiro , não veJo

outra instituição mais apropriada para se dedicar i ci~ncia bisica do que a Universidade . Com isso não quero di ze r que a Universidade

se dedique exclusivamente i ci~ncia pura . E claro que, como ji foi

referido, i impossivel separar exatament e pesquisa aplicada de pe!

quisa bisica . Mas, numa questão de divisão de tr aba lho, i evident e

que o lugar mais apropriado para um esforço de sistemati zação de co

nhecimento é exatamente a Universidade. Instituiç6es como a EMBRAPA

e os Institutos de Pesquisa, que estão sob grande pressão da soci~

dade brasileira por resultados, preponderant emente terão que se de

dicar i pesquisa aplicada, embora se possa fazer alguma pesquisa bi

sica nessas instituiç6es . No ent anto , apesar de serem instituiç6es

independentes, a Universidade, as Emp resas e os Institutos de Pes

quisa devem trabalhar juntos mas com uma divisão de trabalho inteli

ge nte, onde cada instituição possa cumprir o papel que a sociedade

dela espera . Operando desta maneira, uma instituição fertili zari o

trabalho da outra, e vice-versa . •

E dificil separar exatamente pesquisa pura de pesquisa

aplicada, mas há raz6es para que se possa tentar realmente separar

as duas coisas. E assim faze ndo, poderemos definir melhor a respon

sabilidade das instituições, planejar melhor um esforço de pesquisa

nacional e planejar melhor o entrosamento dessas instituições .