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1 Os Maias As personagens da crónica de costumes Eusébiozinho Eusébiozinho representa a educação retrógrada portuguesa. Também conhecido por Silveirinha, era o morgado de uma das Silveiras - senhoras ricas e beatas. Amigo de infância de Carlos com quem brincava em Santa Olávia, levando pancada continuamente, e com quem contrastava na educação. Cresceu tísico, molengão, tristonho e corrupto. Casou-se, mas enviuvou cedo. Procurava, para se distrair, bordéis ou aventureiras de ocasião pagas à hora. Dâmaso Salcede Dâmaso é uma súmula de defeitos. Filho de um agiota, é presumido, cobarde e sem dignidade. É dele a carta anónima a Castro Gomes, que revela o envolvimento de Maria Eduarda com Carlos. É dele também, a notícia contra Carlos n'A Corneta do Diabo. Mesquinho e convencido, provinciano e tacanho, tem uma única preocupação na vida o "chic a valer". Representa o novo riquismo e os vícios da Lisboa da segunda metade do séc. XIX. O seu caráter é tão baixo, que se retrata, a si próprio, como um bêbado, só para evitar bater-se em duelo com Carlos. Era baixo, gordo, "frisado como um noivo de província". Era sobrinho de Guimarães. A ele e ao tio se devem, respetivamente, o início e o fim dos amores de Carlos com Maria Eduarda

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Os Maias

As personagens da crónica de costumes

Eusébiozinho

Eusébiozinho representa a educação retrógrada portuguesa.

Também conhecido por Silveirinha, era o morgado de uma das Silveiras - senhoras ricas e beatas. Amigo de infância de Carlos com quem brincava em Santa Olávia, levando pancada continuamente, e com quem contrastava na educação. Cresceu tísico, molengão, tristonho e corrupto. Casou-se, mas enviuvou cedo.

Procurava, para se distrair, bordéis ou aventureiras de ocasião pagas à hora.

Dâmaso Salcede

Dâmaso é uma súmula de defeitos. Filho de um agiota, é presumido, cobarde e sem dignidade. É dele a carta anónima a Castro Gomes, que revela o envolvimento de Maria Eduarda com Carlos. É dele também, a notícia contra Carlos n'A Corneta do Diabo. Mesquinho e convencido, provinciano e tacanho, tem uma única preocupação na vida o "chic a valer".

Representa o novo riquismo e os vícios da Lisboa da segunda metade do séc. XIX. O seu caráter é tão baixo, que se retrata, a si próprio, como um bêbado, só para evitar bater-se em duelo com Carlos.

Era baixo, gordo, "frisado como um noivo de província". Era sobrinho de Guimarães. A ele e ao tio se devem, respetivamente, o início e o fim dos amores de Carlos com Maria Eduarda

Alencar

Tomás de Alencar era "muito alto, com uma face encaveirada, olhos encovados, e sob o nariz aquilino, longos, espessos, românticos bigodes grisalhos". Era calvo, em toda a sua pessoa "havia alguma coisa de antiquado, de artificial e de lúgubre". Simboliza o romantismo piegas. O paladino da moral.

Eça serve-se desta personagens para construir discussões de escola, entre naturalistas e românticos, numa versão caricatural da Questão Coimbrã. Não tem defeitos e possui um coração grande e generoso.

É o poeta do ultrarromantismo.

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Cohen

Banqueiro, representa as altas finanças. Considera que ainda há gente séria nas camadas dirigentes.

É calculista, cínico e embora tenha responsabilidades pelo cargo que desempenha, lava as mãos e afirma alegremente que o país vai direitinho para a banca rota.

Craft

É um personagem com pouca importância para o desenrolar da ação, mas que representa a formação britânica, o protótipo do que deve ser um homem.

Defende a arte pela arte, a arte como idealização do que há de melhor na natureza.

É culto e forte, de hábitos rígidos, "sentindo finamente, pensando com retidão". Inglês rico e boémio, colecionador de brique-a-braque.

Conde de Gouvarinho

Era ministro e par do Reino. Tinha um bigode encerado e uma pera curta.

Era voltado para o passado. Tem lapsos de memória e revela uma enorme falta de cultura. Não compreende a ironia sarcástica de Ega. Representa a incompetência do poder político (principalmente dos altos cargos).

Fala de um modo depreciativo das mulheres. Revelar-se-á, mais tarde, um bruto com a sua mulher.

Condessa de Gouvarinho

Cabelos crespos e ruivos, nariz petulante, olhos escuros e brilhantes, bem feita, pele clara, fina e doce; é casada com o conde de Gouvarinho e é filha de um comerciante inglês do Porto.

É imoral e sem escrúpulos. Traí o marido, com Carlos, sem qualquer tipo de remorsos. Questões de dinheiro e a mediocridade do conde fazem com que o casal se desentenda.Envolve-se com Carlos e revela-se apaixonada e impetuosa. Carlos deixa-a, acaba por perceber que ela é uma mulher sem qualquer interesse, demasiado fútil.

No final, depois de ter levado uma sova do marido, que descobriu a traição, tudo fica bem entre o casal.

Sousa Neto

Deputado, representa os altos funcionários públicos. É inculto, defende a imitação do estrangeiro. Muitas vezes, por falta de cultura, coloca-se à margem das discussões, acatando todas as opiniões alheias, mesmo as mais absurdas.

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Steinbroken

Retrato do diplomata solene, formal, bacoco, sempre receoso de afirmações políticas comprometedoras. É em tudo um medíocre, contribui para a atmosfera de "gentlemanliness" que se vive no Ramalhete.

Ministro da Finlândia, representa o diplomata inútil. É um entusiasta da Inglaterra. É também um grande conhecedor de vinhos.

Palma Cavalão

Cavalão por alcunha, era baixo, gordo, sem pescoço.

É o diretor do jornal "A Corneta do Diabo", cuja redação é um antro de porcaria.

Símbolo do jornalismo de escândalo e corrupto, é um imoral sem qualquer caráter. É ele que publica um artigo injurioso contra Carlos por dinheiro, vendendo mais tarde, a tiragem desse número do jornal, uma vez mais por dinheiro. Publica folhetins de baixo nível.

Cruges

Maestro e pianista patético, era amigo de Carlos e íntimo do Ramalhete. Era demasiado chegado à sua velha mãe.

"De grenha crespa que lhe ondulava até à gola do jaquetão", "olhinhos piscos" e nariz espetado.

Segundo Eça, "um diabo adoidado, maestro, pianista com uma pontinha de génio".

É desmotivado devido ao meio lisboeta - "Se eu fizesse uma boa ópera, quem é que ma representava".

Rufino

"De pera grande, deputado por Monção e sublime nessa arte (...) de arranjar, numa voz de teatro e de papo, combinações sonoras de palavras".

De retórica balofa e oca, faz-se ouvir no Sarau Literário do Teatro da Trindade, o que levou Ega a classificá-lo de "besta" e Carlos de "horroroso". A sua poesia demonstra um desfasamento entre a realidade e o discurso, e uma grande falta de originalidade (recorre a lugares comuns), mas apesar disso é muito aclamado pelo público, tocado no seu sentimentalismo.