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Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF 16, 17 e 18 de abril de 2013 PERFIL DAS ATIVIDADES DE CAPACITAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL E O ALINHAMENTO ÀS DIRETRIZES DA POLÍTICA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS Diogo Ribeiro da Fonseca

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Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF – 16, 17 e 18 de abril de 2013

PERFIL DAS ATIVIDADES DE CAPACITAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL E O ALINHAMENTO ÀS DIRETRIZES DA

POLÍTICA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS

Diogo Ribeiro da Fonseca

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Painel 04/014 Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal: estudos e reflexões após sete anos de implementação

PERFIL DAS ATIVIDADES DE CAPACITAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO

PÚBLICA FEDERAL E O ALINHAMENTO ÀS DIRETRIZES DA POLÍTICA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS

Diogo Ribeiro da Fonseca

RESUMO A Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal – PNDP, estabeleceu orientações para a implementação de modelos estratégicos de desenvolvimento de pessoas baseados em competências na administração pública federal. Após sete anos de instituição da política, a presente pesquisa visa investigar e descrever as atividades que compõem o processo básico de planejamento, execução e controle da capacitação em organizações públicas de diferentes naturezas jurídicas. O objetivo é identificar em que medida essas atividades configuram um processo mais “estratégico” e quais configuram um processo mais “funcional” de atuação dos setores de capacitação e seu respectivo alinhamento à PNDP. Foram realizadas entrevistas e aplicados questionários para 45 servidores de22 organizações públicas dentre as quais: 08 Ministérios, 04 Agências Reguladoras, 04 Autarquias, 02 Fundações de Direito Público e 04 Instituições Federais de Ensino. Foram encontradas nessas organizações 26 atividades formais que discriminam perfis de capacitação com diferentes graus de alinhamento à PNDP.

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INTRODUÇÃO

A edição do Decreto Nº 5.707/06 marcou o estabelecimento da Política

Nacional de Desenvolvimento de Pessoas – PNDP (BRASIL, 2006). A Política

integrou a estratégia governamental de melhoria da gestão organizacional e

fortalecimento da capacidade do serviço público. O normativo introduziu a gestão

por competências como instrumento de desenvolvimento contínuo dos servidores

públicos para a consecução das mudanças necessárias ao aperfeiçoamento da

Administração Pública no médio e longo prazo (OCDE, 2010; CARVALHO, 2009).

Não obstante os avanços pretendidos pelo Governo com a edição do

Decreto Nº 5.707/06, atesta-se que as teorias de gestão estratégica de pessoas, tais

como a gestão por competências, possuem lacunas com relação à sua aplicação no

contexto específico do setor público (TRUSS, 2008). Em geral, diante dessa lacuna

teórica, os países que buscaram implantar o modelo no serviço público adotaram

uma perspectiva incremental e experimental de implantação, resultando em modelos

específicos a cada contexto nacional (OCDE, 2010). Truss (2008) sugere que, no

setor público, em função do contexto normativo mais rígido (INGRAHAM; RUBAII-

BARRETT, 2007), com a implantação de um modelo estratégico, os processos de

gestão de pessoas assumem um caráter híbrido, no qual processos estratégicos são

adaptados de forma sobreposta aos processos burocráticos previstos em lei.

Após cerca de sete anos de implantação da PNDP, o enfoque

proporcionado sobre a atividade de capacitação pode ter dado origem a modelos

próprios de desenvolvimento de pessoas no setor público brasileiro, contingentes ao

seu ambiente institucional. Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo

descrever o perfil das atividades de capacitação realizadas na Administração Pública

Federal e identificar sua aproximação com modelos estratégicos de desenvolvimento

de pessoas, tendo como referência as diretrizes da PNDP.

A presente pesquisa contribui para a realização de um diagnóstico do perfil

das atividades de desenvolvimento de pessoas e estabelece parâmetros para a

identificação do grau de avanço da PNDP no setor público e em suas organizações.

A elaboração de um índex de atividades de capacitação fornece as bases para a

realização de diagnósticos posteriores. Do ponto de vista teórico a pesquisa visa

contribuir para a elaboração de um modelo teórico de desenvolvimento estratégico de

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pessoas baseado na realidade específica do setor público brasileiro. Nesse sentido,

serão utilizadas apenas teorias básicas de referência, uma vez que, conforme

pressupostos do processo qualitativo de construção teórica, que orienta o presente

trabalho (STRAUSS; CORBIN, 2008), será privilegiada a elaboração de modelos

teóricos a partir dos dados empíricos coletados.

REFERENCIAL TEÓRICO

O modelo de gestão por competências tem sido utilizado como referência

para a realização de reformas estatais em todo o mundo e se insere no contexto da

gestão estratégica de pessoas, dado que se caracteriza pela capacidade de

integração das atividades de gestão de pessoas e dessas com a estratégia da

organização (OCDE, 2010). Os modelos de Gestão Estratégica de Pessoas – GEP

se delineiam a partir da década de 1980visando à gestão do desempenho e

alinhamento do capital humano para a consecução de estratégias organizacionais,

tornando-o uma vantagem competitiva (FISCHER, 2001).

Atualmente as abordagens de GEP têm enfatizado a atividade

desenvolvimento de pessoas, como principal subsistema para a vinculação das

competências individuais aos objetivos organizacionais e das demais atividades de

gestão de pessoas (GARAVAN; COSTINE; HERATY, 1995). Para Becker e Huselid

(2006) a característica essencial dos sistemas de GEP é sua ênfase no desempenho

organizacional em lugar do desempenho individual, assim como a consideração do

sistema de gestão de pessoas como um todo, ao invés de cada subsistema

isoladamente. Assim o modelo estratégico prevê uma arquitetura estratégica de

gestão de pessoas como sendo a combinação de sistemas, práticas, competências

e comportamentos que permitirão o desenvolvimento e gestão do capital humano

(BECKER; HUSELID, 2006).

Sob essa perspectiva, é fundamental a consideração do conjunto de

atividades de gestão de pessoas que compõem a sua arquitetura. A perspectiva

estratégica desse sistema considera-o como elemento fundamental na composição da

organização, possuindo a função de dotá-la de capacidade de mudança estratégica

para a geração de vantagens competitivas e assegurar sua sobrevivência

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(GRATTON et al, 1999). Para alguns autores, a capacidade de transformação advém

da habilidade de criar processos que alinhem o comportamento dos indivíduos à

estratégia organizacional (GRATTON et al, 1999; WRIGHT; SNELL, 1998). Um

modelo estratégico também seria responsável pela rápida adequação das

competências do capital humano diante de mudanças ambientais, possuindo

flexibilidade e prontidão para atendimento de demandas emergentes da organização

(WRIGHT; SNELL, 1998)

PROCESSOS DE GESTÃO ESTRATÉGICA DE PESSOAS

Gratton et al (1999) apresentam uma formulação teórica de processos

estratégicos de gestão de pessoas, os quais foram resultado de estudos

comparativos em seis organizações de grande porte (Figura 1). Segundo os autores,

três grupos de processos constituem o modelo: 1) processos de curto prazo,

constituídos de uma estratégia de curto prazo para a adequação de competências

aos objetivos imediatos da organização; 2) processos de longo prazo, visando à

preparação da força de trabalho e lideranças gerentes para necessidades futuras da

organização; e 3) processos de monitoramento e controle, que fornecemos

feedbacks para a readaptação constante dos demais processos às necessidades

organizacionais e ao ambiente. Nesse modelo há grande relevância das atividades

de treinamento, sendo a análise de lacunas de desempenho seu processo central,o

qual fornece diretrizes para realização de treinamentos de curto prazo, assim como

ações de longo prazo voltadas para odesenvolvimento de perfis ocupacionais

adequados às necessidades e estratégias organizacionais.

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Figura 1: Mapa de Processos de Pessoal. Fonte: Gratton et al (1999).

Dessa forma, o sistema de treinamento é compreendido sob uma

perspectiva estratégica, de influência recíproca de suas atividades com o contexto

organizacional, o ambiente externo e as variáveis individuais, buscando o

alinhamento dessas dimensões por meio do desenvolvimento humano e

organizacional (PILATI, 2006).O alinhamento de competências individuais aos

objetivos organizacionais constitui-se no objetivo do campo específico de

Treinamento, Desenvolvimento e Educação – TD&E.

PROCESSOS DE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO

O campo de TD&E tem como foco o desenvolvimento de tecnologia

instrucional, consistindo de métodos e técnicas científicas, voltados para a

efetividade de ações de educação dos trabalhadores e para a melhoria do

• Desenvolvimento de Lideranças

• Desenvolvimento da Força de Trabalho

• Desenvolvimento Organizacional

Monitoramento de

tendências de longo prazo

Análise de Lacunas

(Gap Analysis)

Estratégia de Pessoal de

Longo Prazo

Ciclo de Longo-Prazo

Monitoramento da

capacidade atual

• Definição de Objetivos • Métricas de

Desempenho • Recompensas • Treinamento de curto-

prazo

Estratégia de Pessoal de

Curto Prazo

Ciclo de Curto-Prazo

Estratégia Organizacional

Desempenho

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desempenho organizacional. A perspectiva sistêmica da ação de treinamento,

exibida na Figura 2, permite a sua compreensão a partir de três processos básicos

coordenados: 1) a avaliação de necessidades de treinamento; 2) planejamento; e 3)

execução e avaliação de treinamento (BORGES-ANDRADE; ABBAD, 1996).

Figura 1: Sistema de Treinamento. Fonte: Borges-Andrade e Abbad (1996)

A Avaliação de Necessidades de Treinamento – ANT é o processo

fundamental que permite o monitoramento das variáveis organizacionais com vistas

ao planejamento de ações educacionais efetivas é (IQBAL; KHAN, 2011; PILATI,

2006; MENESES; ZERBINI; ABBAD, 2010). De forma similar à análise de lacunas

prevista no modelo estratégico, a ANT é o processo central para a realização da

capacitação de forma planejada, com a definição do escopo adequado das ações de

treinamento, priorizadas conforme a sua importância e amplitude das lacunas de

desempenho detectadas.Nas etapas seguintesà ANT ocorre o planejamento dos

cursos com a formatação dos objetivos, conteúdos e metodologias de ensino

eprocede-se à execução de ações educacionais, as quais são avaliadas em seus

aspectos relativos à reação dos participantes, grau de aquisição dos conhecimentos

e impacto no desempenho do trabalho.

O Decreto Nº 5.707/06 estabelece uma clara delimitação da aplicação da

gestão por competências como ferramenta de capacitação (BRASIL, 2006; OCDE,

2010) embora a mesma tenha aplicabilidade teórica nos demais sistemas de gestão

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de pessoas (e.g. recrutamento, seleção, gestão do desempenho, remuneração).

Nesse sentido, conforme Guimarães, Bruno-Faria e Brandão (2010), a ANT e o

Mapeamento de Competências terão metodologias e resultados idênticos, pois no

âmbito apenas da capacitação servem aos mesmos propósitos. Por esse motivo,

será utilizada como referência primária o modelo sistêmico de treinamento do campo

de TD&E.

MÉTODO

A presente pesquisa se caracteriza como um estudo descritivo de recorte

transversal, pois visa à descrição e elaboração de um índex das atividades de

desenvolvimento de pessoas realizadas da Administração Pública Federal em seu

contexto atual. O levantamento utilizou-se inicialmente da abordagem qualitativa

para as duas etapas iniciais, respectivamente de coleta e validação de dados por

meio da aplicação de duas rodadas de entrevistas com o apoio de roteiro semi-

estruturado. A abordagem qualitativa foi utilizada em razão da necessidade de

compreensão em profundidade do processo de capacitação, com vistas à

elaboração de categorias gerais das atividades formais de capacitação (STRAUSS;

CORBIN, 2008). O universo de pesquisa é o conjunto de 192organizações públicas

vinculadas ao SIPEC – Sistema de Pessoal Civil da União e coordenados pela

Secretaria de Gestão Pública – SEGEP do Ministério do Planejamento, Orçamento e

Gestão – MP, estando sujeitas às perspectivas de mudança trazidas pelo Decreto Nº

5.707/06. Para uma melhor abrangência do universo das atividades de capacitação,

a amostragem dos órgãos estudados foi intencional de natureza teórica. A

amostragem teórica, conforme Flick (2009) se define como:

(...) o processo de coleta de dados para a geração de teoria pela qual o analista coleta, codifica e analisa conjuntamente seus dados e decide que dados coletar a seguir e onde encontrá-los, a fim de desenvolver sua teoria quando estar surgir. Esse processo de coleta de dados é controlado pela teoria em formação. (FLICK, 2009, p. 120)

A amostragem teórica teve como objetivo a saturação dos dados,

caracterizada pela não emergência de nenhum dado novo ou relevante, indicando a

validade empírica e a adequada apreensão das categorias e suas variações no

campo de pesquisa (STRAUSS; CORBIN, 2008). Foi utilizado como princípio

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metodológico a comparação sistemática dos casos (STRAUSS; CORBIN, 2008) para

a escolha progressiva das organizações a serem incluídas na amostra, sendo

consideradas principalmente a área de atuação e a natureza jurídica da

organização. Também buscou-se a inclusão de casos extremos, concebidos como

casos de sucesso e fracasso na implantação da gestão por competências. Por fim,

nessa etapa qualitativa foram pesquisadas 17 organizações até que se obtivesse a

saturação dos dados com a detecção de 26 atividades passíveis de serem

realizadas pelas unidades de capacitação. Posteriormente, com vistas à aplicação

direta do índex, mais cinco organizações foram pesquisadas com aplicação apenas

do índex. No total, foram pesquisadas 22 organizações públicas dentre as quais: 08

Ministérios, 04 Agências Reguladoras (Autarquias Especiais), 04 Autarquias, 02

Fundações de Direito Público e 04 Instituições Federais de Ensino.

A amostragem dos participantes das entrevistas nas 17 organizações

iniciais foi de natureza intencional, tendo como critério, na primeira etapa, o

envolvimento cotidiano do entrevistado com processos de capacitação. Essa etapa

consistiu na aplicação de um roteiro semi-estruturado de entrevistas com sete

questões principais e 16 questões de apoio sobre os tipos e variações de atividades

de capacitação realizadas nas organizações. Foram realizadas 17 entrevistas com

um total de 13 funcionários, 15 coordenadores ou supervisores e um gestor de

recursos humanos. A primeira etapa permitiu o mapeamento inicial das atividades

nas organizações e a elaboração da primeira versão do índex, listando as atividades

detectadas na primeira rodada de entrevistas.

A segunda etapa consistiu no retorno às 17 organizações para entrevista

com os gestores de recursos humanos, quando possível, sendo esse o critériode

amostragem intencional desta etapa. Foram entrevistados 13 gestores de recursos

humanos e quatro coordenadores ou supervisores com o objetivo dese validar os

dados anteriormente fornecidos pelos integrantes das equipes de capacitação.

Foram realizadas 19 entrevistas compondo um total final de 36, as quais foram

gravadas e transcritas para análise. A realização de entrevistas com diferentes

atores visou à diminuição do viés pessoal nas opiniões colhidas coma consideração

das visões compartilhadas pelo grupo (FLICK, 2009).O Quadro 1 apresenta a

sequência de amostragem teórica das organizações, sua natureza jurídica, a

denominação que receberá como referência para este estudo e a amostra dos

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respectivos entrevistados nas duas etapas. A coluna “Novas Atividades” demonstra

o surgimento de novas categorias em cada organização e apresenta a progressão

da saturação dos dados, a qual foi constatada quando mais de nove, ou 53% das

organizações pesquisadas, já não tinham apresentado novas categorias para a

pesquisa.

Quadro 1 - Sequência de Amostragem Teórica e Saturação das Categorias. Fonte: Elaborado pelo autor.

Nº Natureza Jurídica Denom.Novas

Atividades

Etapa 01 Etapa 02

Entrevistado Entrevistado

1 Autarquia Especial E01 14 Funcionário Gestor

2 Adm. Direta M01 01Coordenador e

06 FuncionáriosGestor

3 Adm. Direta M02 02Coordenador e

FuncionárioGestor

4 Autarquia Especial E02 04 Coordenador Gestor

5 Adm. Direta M03 01 Coordenador Gestor

6 Autarquia Especial E03 -Coordenador e

FuncionárioGestor

7 Adm. Direta M04 - Coordenador Gestor

8 Autarquia A01 -Coordenador e

FuncionárioGestor

9 Autarquia Especial E04 - Funcionário Gestor

10 Adm. Direta M05 01 Coordenador Coordenador

11 Autarquia A02 -Gestor e

CoordenadorGestor

12 Autarquia A03 02 Supervisor Coordenador

13 Fundação Pública F01 -Coordenador e

FuncionárioGestor

14 Fundação Pública F02 01 Supervisor Coordenador

15 Adm. Direta M06 - Coordenador Gestor

16 Adm. Direta M07 -Coordenador e

FuncionárioGestor

17 Autarquia A04 - Coordenador Supervisor

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A etapa de validação proporcionou a discussão dos dados coletados na

etapa anterior e a composição das categorias de atividades em um índex. Sua

construção foi realizada por meio da análise dos dados concomitantemente à coleta,

visando à emergência da teoria em construção e a seleção dos casos mais

adequados à sua complementação, conforme modelo de amostragem teórica

adotado (FLICK, 2009). Para tanto as entrevistas foram transcritas e analisadas ao

longo da coleta com aplicação de técnicas de analise de conteúdo. A análise teve

como base as etapas previstas por Strauss e Corbin (2008) para a construção

teórica. Primeiramente foi realizada uma categorização em grade aberta das

categorias emergentes sendo reunidas em grupos gerais as atividades semelhantes,

com tolerância para pequenas variações evidenciadas pela comparação sistemática

dos casos (STRAUSS; CORBIN, 2008). O refinamento das categorias foi realizado

com o apoio dos entrevistados, sendo os critérios utilizados para diferenciação das

atividades o seu escopo, procedimento formal e sua finalidade. As atividades,

posteriormente foram sistematizadas em eixos temáticos mais amplos (STRAUSS;

CORBIN, 2008) de: Planejamento; Execução; Incentivo e Controle, tendo em vista,

principalmente, a função da atividade no processo de capacitação como um todo.

O índex, como principal produto teórico dessa etapa de pesquisa

constituiu-se em um conjunto total de 26 categorias de atividades formalmente

realizadas nos setores de capacitação pesquisados. Com as informações do índex,

foi elaborado um formulário o qual foi validado qualitativamente na segunda etapa de

pesquisa com gestores de recursos humanos. A versão final do formulário constituiu-

se em um instrumento consistindo de 30 questões das quais 26 abordavam o

questionamento acerca da realização das atividades mapeadas e quatro questões

se referiam a aspectos da organização como a existência ou não de Planejamento

Estratégico e suas características. O formulário possuía ainda campos abertos para

acréscimo de observações sobre cada uma das atividades e a indicação e

descrição, ao final, de atividades de capacitação que por ventura não fossem

contempladas no índex.

Posteriormente, não sendo parte do desenho original de pesquisa, nova

oportunidade de validação do índex surgiu com a realização de oficina de estudos,

na qual participaram servidores de setores de capacitação de diferentes

organizações. Neste ambiente a pesquisa foi explanada e foi fornecida a versão final

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do formulário do índex como instrumento de coleta de dados, caracterizando uma

abordagem quantitativa de pesquisa. Neste ínterim, foram coletados dados de 04

Instituições Federais de Ensino e 01 Ministério que foram integrados à pesquisa,

ampliando a variedade da amostra. São denominadas, portanto como organizações:

“I01”, “I02”, “I03”, “I04” e “M08”, sendo que os participantes não relataram nas

questões abertas a existência de atividades de capacitação não abordadas no índex.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Conforme mencionado, o produto da pesquisa consiste na enumeração

de atividades de capacitação realizadas na administração publica federal como

referencia inicial para a caracterização do perfil dos setores de capacitação.

As atividades categorizadas são apresentadas no Quadro 2 e estão divididas em

quatro macro-categorias: Planejamento, Execução, Incentivo e Controle.As macro-

categorias podem ser facilmente associadas ao processo básico de treinamento

descrito na literatura de TD&E (Figura 2). Porém o levantamento empírico realizado

termina por incluir tanto atividades típicas, descritas pela literatura de TD&E, quanto

as oriundas rotinas de controles burocráticos ou previsões legais. A princípio,

portanto, parece haver, de fato, uma sobreposição entre atividades técnico-

gerenciais e atividades burocráticas (TRUSS, 2008). Tal variedade de atividades, de

diferentes naturezas e complexidades gerou a necessidade de se fazer uma

categorizaçãoe classificação mais flexível das atividades, tendo como base, além de

aspectos formais dos processos de trabalho, a opinião dos entrevistados e sua

validação.Se o aporte teórico da literatura de TD&E ou Gestão por Competências for

considerado de maneira rígida, muitas atividades sequer comporiam o mapeamento,

ou seriam classificadas de forma diversa. Portanto, é importante ressaltar que o

objetivo do mapeamento foi esgotar a amplitude de atividades que guardassem

relação com o processo de capacitação, fossem estas de natureza técnica ou

normativa, gerencial ou burocrática. Ao considerar-se o ponto de vista empírico e

normativo, as atividades se constituem em processos de trabalho percebidos como

distintos entre si, seja por exigirem diferentes trâmites e procedimentos

operacionais, seja por envolverem diferentes objetivos ou competências das equipes

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de capacitação. Assim, buscou-se a construção de um referencial que privilegie a

realidade das organizações. Considera-se, porém que há espaço para refinamentos

teóricos e conceituais das categorias levantadas.

Quadro 2 - Macro-Cateogrias e Cateogrias de Atividades Mapeadas Fonte: Elaborado pelo autor.

Dentro dos critérios de classificação adotados, as atividades de

“Planejamento” têm como objetivo o levantamento das informações acerca das

demandas de capacitação das unidades organizacionais e sua sistematização em

planos e objetivos que orientarão a execução dos cursos e as decisões de

capacitação ao longo do exercício. As atividades de “Execução” consistem na

PLANEJAMENTO CONTROLES

01LEVANTAMENTO DE NECESSIDADES DE

TREINAMENTO17 CONTROLE DE EXECUÇÃO DE CURSOS

02 MAPEAMENTO DE COMPETÊNCIAS 18 MONITORAMENTO DE ORÇAMENTO

03ELABORAÇÃO DO PLANO ANUAL DE

CAPACITAÇÃO19 AVALIAÇÃO DE REAÇÃO

04ELABORAÇÃO DE PROGRAMAS

PERMANENTES DE TREINAMENTO20 AVALIAÇÃO DE IMPACTO

05OBJETIVOS ESTRATÉGICOS DE

CAPACITAÇÃO21 AVALIAÇÃO DE APRENDIZAGEM

EXECUÇÃO 22MONITORAMENTO DE INFORMAÇÕES DOS

SERVIDORES

06 CURSOS ABERTOS DE CURTA DURAÇÃO 23 BANCO DE TALENTOS

07CURSOS FECHADOS DE CURTA

DURAÇÃO24 RELATÓRIOS DE CONTROLE EXTERNO

08 CURSOS COM INSTRUTORIA INTERNA 25 RELATÓRIOS DE CONTROLE INTERNO

09 PÓS-GRADUAÇÃO ABERTA 26ELABORAÇÃO DE NORMAS DE

CAPACITAÇÃO

10 PÓS-GRADUAÇÃO FECHADA

11CAPACITAÇÃO GERENCIAL

SISTEMÁTICA

INCENTIVOS

12 LICENÇA-CAPACITAÇÃO

13 AFASTAMENTO PARA PÓS-GRADUAÇÃO

14INCENTIVO PARA CAPACITAÇÃO EM

IDIOMAS

15 INCENTIVO PARA GRADUAÇÃO

16 INCENTIVO PARA PÓS-GRADUAÇÃO

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operacionalização efetiva de ações de capacitação, sob diversas modalidades tendo

em vista a demanda das unidades, seja ela planejada ou emergente. As atividades

classificadas como sendo de “Incentivo” constituem-se de normas que prevêem o

fornecimento de benefícios ou vantagens aos servidores como forma de apoio à sua

capacitação. Essas normas se originam de direitos previstos em Lei como as

licenças e afastamentos ou de iniciativas de incentivo da própria organização para o

custeio de ações de capacitação sob uma perspectiva mais dissociada do

desempenho na função atual do cargoe mais relacionadaa uma abordagem de

desenvolvimento humano (MENESES; ZERBINI; ABBAD, 2010). Por fim, as

atividades de “Controle” se definem pelo objetivo de coleta e gestão de informações

com vistas ao monitoramento, regulação e melhoria do processo de treinamento. Os

controles também se destinam à coleta de informações para submissão de relatórios

de controle externo, tais como os relatórios submetidos ao MP e órgãos de controle.

Os controles variam bastante em relação à sua natureza, variando de enfoques

burocráticos e fiscais, até enfoques qualitativos, de teor instrucional quando voltados

para a aferição da qualidade e efetividade de treinamentos, ou ainda gerenciais,

quando voltados para a coleta de informação como suporte a decisões estratégicas

de gestão de pessoas e elaboração de políticas de capacitação.

A consolidação dos dados dos formulários gerou a enumeração das

atividades realizadas por cada organização. Dessa forma foi possível a analise da

ocorrência das atividades entre as organizações e verificar o quão comum ou

incomum eram na amostra. A Tabela 1 apresenta o percentual de organizações que

realizam cada uma das atividades mapeadas, ordenados em ordem decrescente

para melhor identificação de atividades comuns e incomuns.

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Tabela 1. Percentual de organizações que executam atividades mapeadas.

Uma visão geral da Tabela 1 permite entrever a existência de um núcleo

de 15 atividades executadas pela maioria das organizações com mais de 50% de

ocorrência, e de outro grupo de 11 atividades, mais incomuns, realizadas por um

numero reduzido de organizações. As organizações executam, em média, 15

atividades sendo um máximo de 21 atividades e um mínimo de sete. As atividades

mais comuns entre as organizações pesquisadas apresentam-se como processos

básicos de planejamento execução e controle da capacitação, assim como previsões

legais que não podem deixar de ser executadas. As ações mais incomuns, por sua

vez representam atividades relacionadas ao aumento da efetividade do processo de

capacitação, realização de controles qualitativos e vinculação com a estratégia da

organização, podendo se relacionar a um perfil mais estratégico de execução.

Macro

Categ.Categoria de Atividade Realizado Por:

Controle Controle de execução de cursos 100,00%

Controle Relatórios de controle externo 100,00%

Execução Cursos abertos de curta duração 90,91%

Controle Elaboração de normas de capacitação 90,91%

Planejamento Elaboração do plano anual de capacitação 86,36%

Execução Cursos fechados de curta duração 86,36%

Planejamento Levantamento de necessidades de treinamento 81,82%

Incentivo Licença-capacitação 81,82%

Controle Monitoramento de orçamento 81,82%

Execução Cursos com instrutoria interna 77,27%

Incentivo Afastamento para pós-graduação 77,27%

Controle Avaliação de reação 77,27%

Controle Relatórios de controle interno 77,27%

Execução Pós-graduação aberta 72,73%

Execução Pós-graduação fechada 54,55%

Planejamento Objetivos estratégicos de capacitação 40,91%

Incentivo Incentivo para capacitação em idiomas 36,36%

Incentivo Incentivo para graduação 31,82%

Execução Capacitação gerencial sistemática 31,82%

Planejamento Elaboração de programas permanentes de treinamento 27,27%

Incentivo Incentivo para pós-graduação 27,27%

Planejamento Mapeamento de competências 18,18%

Controle Monitoramento de informações dos servidores 18,18%

Controle Banco de talentos 18,18%

Controle Avaliação de impacto 9,09%

Controle Avaliação de aprendizagem 9,09%

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Dentre essas atividades o mapeamento de competências, objetivo da PNDP está

entre as atividades menos frequentes, realizada por menos de 20% das

organizações. Sendo assim, tais atividades são, em geral, realizadas de maneira

bastante restrita e experimental nas organizações demonstrando que o perfil de

execução médio do setor público ainda está mais fortemente atrelado àquelas

atividades mais comuns. No entanto, conforme Truss (2008) há suporte para a sua

afirmação de que os processos estratégicos de gestão de pessoas coexistem com

processos burocráticos, adaptando-se às restrições do setor público. Serão

analisadas a seguir as principais características das atividades definidas como

comuns e tradicionais e, posteriormente a análise acerca do impacto que as

atividades ainda incomuns, geram no perfil das unidades de capacitação. Para fins

de análise serão denominadas as atividades comuns como básicas e as atividades

incomuns serão referidas como atividades avançadas.

ATIVIDADES BÁSICAS E O PERFIL TRADICIONAL DA CAPACITAÇÃO.

O grupo superior mais típico na amostra possui maior número de atividades

cuja realização guarda relação com determinações legais, principalmente em razão do

Decreto Nº 5.707/06 e da Lei Nº 8.112/90. Atividades como: Relatórios de Controle

Externo; Elaboração do PAC; Licença-Capacitação; e Afastamento para Pós-

Graduação. Há também atividades relacionadas ao aspecto funcional de execução,

normatização e controle de treinamentos tais como: Cursos Abertos e Cursos

Fechados de Curta Duração; Controle de Execução de Cursos; Elaboração de

Normas de Capacitação; Monitoramento do Orçamento. Em uma primeira análise, as

atividades mais comuns descrevem um perfil tradicional da capacitação no setor

público, focado na conformidade à legislação e na realização de treinamentos de curto

prazo para atendimento de demandas pontuais, planejadas ou emergentes.

Com base no levantamento realizado, a totalidade das organizações tem

como atividade a criação de relatórios para controle externo. Dentre estes, destaca-

se o Relatório de Execução do Plano Anual de Capacitação, um dos instrumentos

previstos no Art. 5º da PNDP (BRASIL, 2006), o qual é submetido anualmente

ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – MP. Da mesma forma,

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o processo de capacitação realizado pela maioria das organizações está centrado

na elaboração do Plano Anual de Capacitação – PAC, que segundo os

entrevistados, visa atender à citada previsão legal.

Assim, grande parte das organizações elabora o PAC o qual utiliza como

referência a atividade referida como Levantamento de Necessidades de

Treinamento – LNT. As três atividades, portanto, são formas de atendimento às

diretrizes da PNDP. Sua frequência superior a 80% atesta que a política possui

efetividade em gerar a busca de um modelo de capacitação mais planejado, em

oposição a um modelo reativo, sujeito ao atendimento de demandas emergentes e

ainda encontrado em algumas poucas organizações da amostra. Nesse sentido,

apesar da ênfase colocada sobre a realização do PAC pelo Decreto, esse

dependerá da eficácia do LNT sendo esta uma das atividades mais importantes de

todo o sistema de capacitação, pois condiciona a efetividade e os resultados das

demais etapas de planejamento e execução de treinamentos (MENESES; ZERBINI;

ABBAD, 2010).

Os cursos são planejados em função da maior demanda, assim como da

disponibilidade orçamentária e capacidade operacional da unidade de capacitação.

Ao mesmo tempo, parte do orçamento é reservada para atendimento direto de

demandas emergentes que não puderam ser contempladas no PAC, seja por

ineficácia do LNT, por imprevisão das unidades ou por decisão da unidade de

capacitação. Assim, o planejamento consiste, na prática, em uma consolidação da

demanda agregada de cursos solicitados pelas unidades organizacionais e sua

adequação sistematizada ao contexto macro-organizacional e à capacidade

operacional e orçamentária da unidade de gestão de pessoas. Tal modelo de LNT é,

do ponto de vista teórico, inadequado para a captação das reais necessidades de

treinamento da organização. Meneses, Zerbini e Abbad (2010) alertam para o fato

de que muitas organizações compilam listas de temas e oferecem às unidades o

chamado “cardápio” de cursos, ou ainda, realizam o que seria um levantamento de

temas ou cursos que representam antes os desejos e as impressões subjetivas dos

servidores e gestores do que as necessidades reais de treinamento da organização.

Confirma tal fato os relatos de entrevistados de que considera-se de

responsabilidade dos respondentes do LNT a conformidade dos cursos solicitados

às necessidades organizacionais, atuando a unidade de capacitação apenas na

consolidação e programação de tais demandas.

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A atividade de Planejamento, dentro da perspectiva teórica de um sistema

de treinamento consiste na elaboração de estratégias instrucionais adequadas à

diminuição das lacunas de desempenho previamente levantadas na ANT. Esta, por

sua vez é o processo estratégico destinado à análise de lacunas de desempenho,

averiguação das razões para a existência dessas lacunas e proposição de soluções

baseadas em treinamentos ou intervenções mais específicas. No caso de ações de

treinamento o planejamento instrucional determinará a modalidade mais adequada

(IQBAL; KHAN, 2010; MENESES; ZERBINI; ABBAD, 2010).

Sob essa perspectiva, há pouca diferença, portanto, entre a execução de

demandas emergentes ou demandas programadas ao se considerar que essas são

atendidas sem um efetivo processo de levantamento e planejamento instrucional. A

ausência desses processos fundamentais resulta em levantamentos com listas de

cursos a serem realizados, cujos resultados efetivos ou relação com necessidades

organizacionais são normalmente desconhecidos. Em muitos casos o foco das

unidades de capacitação recai, em verdade, sobre a execução orçamentária, tendo

em vista a pressão para utilização da totalidade do orçamento, visando a sua não

redução nos exercícios seguintes. Neste ínterim as unidades relatam que vivenciam

o desafio de equilibrar a qualidade e o custo dos treinamentos, pois em alguns

casos, cursos de melhor qualidade, como os fornecidos pelas escolas de governo,

possuem custo reduzido em relação à média de mercado. As organizações são, no

entanto, incentivadas a elevar os custos, pois do ponto de vista gerencial, o

desempenho da atividade de capacitação é avaliado com base em sua capacidade

de execução orçamentária e quantidade de treinamentos realizados. Não há

mecanismos que se concentrem na consideração do real resultado almejado pelos

treinamentos qual seja o desenvolvimento humano e organizacional.

Tais aspectos consistem na essência do caráter burocrático e funcional dos

processos tradicionais de capacitação e do ambiente institucional do setor público.

A realização das demais atividades de execução, que consistem nas diversas

modalidades de cursos, serão dessa forma apenas reflexos de demandas pouco

articuladas das unidades organizacionais, não sendo possível garantir a sua

vinculação aos objetivos organizacionais. É neste sentido que um dos entrevistados

comenta que “não é por ser uma pós-graduação que o curso será estratégico”.

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Atividades de incentivo como a Licença-Capacitação e Afastamento para

pós-graduação recebem um tratamento igualmente burocrático, sendo apenas em

alguns casos utilizados como instrumentos de incentivo à geração de conhecimento

para a organização. Por fim, os controles listados são orientados ao

acompanhamento operacional dos cursos e ao preenchimento de relatórios anuais,

sendo de teor quantitativo. Apenas a Avaliação de Reação (executada por 77% da

amostra) embora não seja analisada de forma sistemática, em muitos casos,

subsidia a identificação do baixo desempenho de empresas de treinamento e

instrutores, sendo utilizada como base para o planejamento futuro de cursos.

Tal perfil burocrático ou funcional de execução não é, no entanto,

absoluto nas unidades de capacitação, havendo considerável esforço na tentativa de

conquista de maior espaço dentro das organizações para atuar de forma mais

proativa e estratégica. Muitos unidades de perfil funcional ensaiam pequenos

avanços, proporcionados pela execução de atividades ainda pouco difundidas,

porém em desenvolvimento e que foram detectadas no levantamento. Tais

atividadesse caracterizam por instituírem práticas com traços de perfil estratégico

para a capacitação.

ATIVIDADES AVANÇADAS E MELHORIAS NO PROCESSO DE CAPACITAÇÃO.

O grupo das atividades mais incomunspode ser concebido como

inovações atreladas à busca de uma função mais estratégica ou sistemática da

capacitação, seja do ponto de vista do aumento da eficácia do sistema de

treinamento (MENESES; ZERBINI; ABBAD, 2010), do alinhamento às necessidades

organizacionais (GRATTON et al, 1999), ou ainda do ponto de vista da geração de

flexibilidade para maior prontidão e capacidade de atendimento (WRIGHT; SNELL,

1998). Nas poucas organizações em que são executadas, essas atividades

fornecem elementos para a melhoria dos processos mais comuns como o LNT e a

execução de treinamentos, permitindo certa diferenciação do sistema de treinamento

como um todo. Tal constatação apóia a perspectiva de se estudar o conjunto de

atividades de capacitação e não apenas atividades isoladas.

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A principal atividade para caracterização do alinhamento à PNDP, o

Mapeamento de Competências, foi reportado como não substituindo completamente

o LNT, sendo ambos percebidos como atividades diversas e não excludentes, mas

complementares, o que não guarda consonância com as teorias, tendo em vista que

o mapeamento de competências é um diagnóstico amplo e que, em termos de sua

aplicação na capacitação, tem a mesma função do LNT (GUIMARÃES; BRUNO-

FARIA; BRANDÃO, 2010). A atividade de mapeamento de competências fornece

subsídios para formas mais sistematizadas de atendimento às demandas

organizacionais, na qual a unidade de capacitação possui critérios previamente

estabelecidos com base em competências e lacunas de desempenho. Tais critérios

fornecem parâmetros para a análise da conveniência do curso para cada unidade ou

indivíduo, assim como para o planejamento instrucional. Nesse sistema, demandas

emergentes são previamente analisadas e inseridas no contexto do PAC e do

diagnóstico, não sendo tratado de forma paralela. Esse procedimento guarda

semelhança com o processo de Análise da Demanda, descrito por Meneses, Zerbini

e Abbad (2010), porém menos abrangente, pois não é feita uma análise de possíveis

soluções de não-treinamento para a demanda (IQBAL; KHAN, 2011; MENESES;

ZERBINI; ABBAD, 2010).

As atividades de capacitação, do ponto de vista da vinculação estratégica,

são referenciadas pela Elaboração de Objetivos Estratégicos de Capacitação,

definidos na cúpula da organização em conjunto com o setor degestão de pessoas.

A capacitação deixa de perseguir tradicionais metas quantitativas e de execução

orçamentária e passa a considerar o alcance de metas qualitativas e objetivos

organizacionais. Tal vinculação normalmente requer a existência de um

Planejamento Estratégico ou, ao menos, a integração da unidade de gestão de

pessoas em processos decisórios estratégicos. Os programas permanentes de

treinamento, por sua vez, são conjuntos de cursos que criam trilhas de capacitação

ou programas de formação, destinados à qualificação permanente de servidores ou

de cargos e funções especificas, os quais são, normalmente, importantes funções

finalísticas para a organização, como, por exemplo,funções de fiscalização nas

Agências Reguladoras.

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A capacitação gerencial consiste na única modalidade de curso

executado por uma pequena parcela de organizações. O termo sistemático foi

acrescido para caracterizar programas recorrentes baseados na análise do

desempenho gerencial e atuação planejada na formação de gestores com vistas a

processos sucessórios ou preparação de líderes para cargos gerenciais (GRATTON

et al, 1999). A baixa ocorrência dessa modalidade é depreendida do relato dos

entrevistados de muitos gestores não têm interesse ou disponibilidade para

capacitação. Por fim, controles qualitativos como o monitoramento de informações

dos servidores permitem o conhecimento da formação, histórico de capacitação ou

lacunas individuais de competências, como forma de subsidio a oferta e decisões de

treinamento. De forma semelhante, a criação de banco de talento reúne informações

específicas de servidores, sendo nas organizações mais utilizado para cadastro de

instrutores como forma de oferta planejada dos cursos de instrutoria interna pela

própria unidade de gestão de pessoas. A sua utilização tem como suporte a previsão

legal de remuneração de servidores públicos como instrutores por intermédio da

Gratificação de Encargos por Cursos e Concursos – GECC, uma inovação trazida

pelo Decreto Nº 6.114/2007. Segundo os entrevistados, o uso da GECC

proporcionou a maior flexibilização do processo de execução de cursos, tendo em

vista que prescinde do processo de contratação externa.A rigidez dos dispositivos da

Lei Nº 8.666/93, que regulam contratações no setor público é relatada por grande

parte das organizações como uma das principais dificuldades para a realização de

ações de capacitação.

De forma semelhante, a utilização de incentivos educacionais é

considerada pelas organizações como alternativa mais flexível para o atendimento

de demandas de capacitação. As normas de incentivo prevêem o apoio a iniciativas

de capacitação dos servidores, em modalidades específicos e que atendam os

requisitos institucionais, por meio do custeio de cursos escolhidos pelos mesmos. Os

benefícios relatados dessas normas são, primeiramente, o maior alcance de ações

de capacitação nas localidades dos servidores, beneficiando as organizações de

grande porte; o dimensionamento mais preciso do orçamento de capacitação; e a

motivação dos servidores a buscarem seu desenvolvimento permanente em temas

de sua escolha ou previamente definidos pela organização, como em cursos de pós-

graduação destinados à geração de novos conhecimentos. Por fim, as atividades de

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avaliação de impacto e de aprendizagem constituem-se em previsão teórica do

campo de TD&E (MENESES; ZERBINI; ABBAD, 2010) e são extremamente raras.

Porém, demonstram certa tentativa de aperfeiçoamento do sistema de treinamento

com base em quesitos técnicos e científicos, demonstrando a importância de

desenvolvimentos teóricos nessas áreas.

Boa parte das inovações relatadas reflete os meios encontrados pelos

entrevistados para contornar dificuldades tipicamente enfrentadas pelas unidades de

gestão de pessoas no setor público. Muitos têm em vista a perspectiva de

atendimento à PNDP e às necessidades organizacionais. Também é possível

identificar a presença de traços, proporcionados pelas atividades descritas, que

guardem consonância com pressupostos de teorias estratégicas como a vinculação

ao plano estratégico organizacional, assim como a maior efetividade e flexibilidade

do sistema de treinamento (GRATTON et al, 1999; WRIGHT; SNELL, 1998;

GARAVAN et al, 1995).

Considerando o objetivo do índex de se diagnosticar o perfil das unidades

de capacitação em termos de sua associação aos pressupostos estratégicos que

fundamentam a gestão por competências, é preciso identificar se a divisão entre

atividades comuns e incomuns, ou básicas e avançadas, representa a existência de

um perfil tradicional de capacitação e um perfil mais voltado para a vinculação com a

estratégia organizacional nos termos almejados pela PNDP. Com base na noção de

arquitetura estratégica proposta por Becker e Huselid (2006), será averiguada a

ocorrência conjunta de atividades avançadas para a efetiva caracterização de sua

inter-relação como sendo um sistema de atividades e não apenas ocorrências

esporádicas distribuídas em diversas organizações. Dessa forma, propõe-se a

análise da distribuição de atividades avançadas para identificação dos possíveis

perfis de execução de processos de treinamento.

DISTRIBUIÇÃODE ATIVIDADES AVANÇADAS E EMERGÊNCIA DO PERFIL ESTRATÉGICO DE CAPACITAÇÃO.

Tendo em vista que a gestão por competências se insere no contexto da

gestão estratégica de pessoas, ela se caracteriza pela capacidade de integração das

atividades de gestão de pessoas, e dessas com a estratégia da organização (OCDE,

2010). O fato de que apenas um número reduzido de organizações realiza o

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Mapeamento de Competências a despeito de sua previsão legal pode estar

relacionado à necessidade de um sistema mais amplo de atividades integradas. Tais

atividades devem fornecer referências para definição das competências

organizacionais e individuais que, por sua vez, permitirão a avaliação contínua de

necessidades organizacionais para orientação das atividades de desenvolvimento

de pessoas (CARVALHO, 2009). Sob essa premissa as organizações que realizam

o Mapeamento de Competências dependem da criação de um sistema de integração

vertical, com a estratégia organizacional e horizontal, com outras atividades de

gestão de pessoas.

Diante dessas questões, o Quadro 3 busca demonstrar a relação que foi

encontrada entre a existência de planejamento estratégico e a realização de

mapeamento de competências nas organizações. Complementarmente, o quadro

engloba também a análise da distribuição das atividades avançadas para

apresentando aquelas organizações que realizam três ou mais dessas atividades,

comparativamente ao total de atividades mapeadas em suas unidades de

capacitação.

Quadro 3 - Distribuição de Atividades Avançadas, Mapeamento de Competências e Planejamento Estratégico. Fonte: Elaborado pelo Autor.

O primeiro aspecto a ser analisado é a constatação de que o

planejamento estratégico está associado à realização do mapeamento de

competências pelas unidades de capacitação, de forma que o modelo de

competências adotado nas organizações confirma a previsão teórica de que o

sistema é estruturado tendo como referência uma estratégica expressamente

definida (PRAHALAD; HAMEL, 1990). Na opinião dos entrevistados o planejamento

Organizações E02 F02 I03 A03 I04 M07 I01 M08 M05 M01

Planejamento

EstratégicoX X X X X X - - - X

Mapeamento de

CompetênciasX X X - - X - - - -

Atividades

Avançadas08 06 06 05 05 03 04 03 03 03

Total de

Atividades

Realizadas

21 20 17 20 11 17 14 15 16 15

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estratégico é considerado uma condição prévia para a efetividade do Mapeamento

de Competências e sua aplicação, tendo em vista que algumas organizações

reportaram já terem realizado o mapeamento, fosse por iniciativa própria ou com o

apoio de consultorias, mas não tiveram êxito em sua aplicação efetiva. Muitos

entrevistados justificaram a não realização do mapeamento de competências em

função da ausência de planejamento estratégico na organização sendo que, em

alguns casos a aprovação do plano condicionaria o inicio da atividade de

mapeamento.

O planejamento estratégico está presente também em outras cinco

organizações, não contempladas no quadro demonstrativo em função de possuírem

duas ou menos atividades avançadas. Verificou-se que nessas organizações, de

forma geral, a formulação da estratégia não envolve questões de gestão de pessoas

ou ainda, não é realizada com a participação do respectivo setor. Sendo assim, a

mera presença do planejamento estratégico não promove a implantação da gestão

por competências, nem a emergência de novas atividades de capacitação,

resultados que foram potencializados pela inserção da atividade de desenvolvimento

de pessoas nas decisões estratégicas da organização.

Uma segunda análise proposta é a constatação de que as organizações

que executam o mapeamento de competências também tendem a possuir um

número total de atividades acima da média (maior que 15) e de realizar maior

número de atividades avançadas (até 08 atividades). Nesse sentido, há evidências

de que tais atividades se concentram em um pequeno número de organizações,

cujas unidades de gestão de pessoas se caracterizam pelo grande número de

atividades realizadas e pela capacidade de inovação.A concentração e co-

ocorrência das atividades avançadas nessas organizações oferece suporte à

conclusão de que exista uma configuração estratégica em formação no setor

público, caracterizada por um grupo de atividades inovadoras e inter-relacionadas.

Dessa forma, a implantação da gestão por competências está relacionada à

existência de um plano estratégico, mas também à realização de um certo número

de atividades avançadas modificam o perfil do processo tradicional de treinamento

nas organizações. Embora não seja possível afirmar que essas atividades sejam

pressupostos para a ocorrência da gestão por competências, a sua execução pode

ser responsável pelo aumento da capacidade técnica, operacional e vinculação

estratégica das respectivas unidades.

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Uma importante constatação é o fato de que as organizações

caracterizadas pela gestão por competências e/ou maior numero de atividades

avançadas são de diferentes naturezas jurídicas. As organizações são

respectivamente uma agência de regulação, uma fundação pública, uma instituição

federal de ensino e um ministério, ou seja, quatro organizações bastante diferentes.

Compõem ainda as organizações com certa diferenciação das atividades de

capacitação três ministérios, duas instituições federais de ensino e uma autarquia.

As atividades avançadas e a implantação da gestão por competências parecem

depender menos de fatores externos à organização do que de recursos e

capacidades internas.

A PNDP COMO REFERÊNCIA PARA MELHORIAS

Grande parte dos entrevistados consideram que a PNDP representa um

balizador essencial para a legitimação da atividade de capacitação nas

organizações. As diretrizes normativas de capacitação não são compreendidas

pelos entrevistados como sendo restritivas. Ao contrario, o atendimento à legislação

permite o aperfeiçoamento da atividade de capacitação e a obtenção de maior apoio

dos diferentes atores organizacionais. Tal informação confronta parcialmente a

noção de maior restrição no ambiente publico (INGRAHAM; RUBAII-BARRETT,

2007), tendo em vista que, no que se refere à atividade de capacitação, os

entrevistados relatam que, ao contrario dos demais subsistemas de gestão de

pessoas, eles possuem maior autonomia para definir a forma de realização de suas

atividades conforme as particularidades de cada organização.

Constatou-se que a PNDP promoveu uma difusão de atividades de

planejamento caracterizando tornando básica no setor público a orientação para o

planejamento, sistematização das demandas e racionalização de custos. Não são

comuns os setores de capacitação que operam sob uma perspectiva puramente

reativa. No entanto, ainda existe nas organizações forte orientação para o aspecto

fiscal e quantitativo das atividades de capacitação, como resultado do tradicional e

ainda prevalecente teor burocrático das atividades de gestão de pessoas no setor

público brasileiro (PIRES et al, 2005).

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Não obstante, a Política motivou a superação desse papel burocrático,

buscado em algumas organizações por meio da elaboração e realização de

atividades inovadoras de capacitação. Nesse sentido, foi possível caracterizar um

perfil de atividades que se conformam às diretrizes da PNDP, perfil este que se

estabelece com avanços graduais das unidades de gestão de pessoas e sua

capacidade de combinar processos burocráticos e estratégicos, conforme previsto

por Truss (2008). Diversas dessas organizações são tidas como referência para a

implantação da PNDP e são procuradas por outras organizações para apreensão

desse perfil estratégico emergente no setor público.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A presente pesquisa teve como objetivo a elaboração de um índex de

atividades de capacitação realizadas da Administração Pública Federal no contexto

da PNDP. A adoção da metodologia qualitativa por amostragem teórica permitiu uma

grande amplitude de organizações e fontes de dados para o alcance da saturação

das atividades mapeadas. A elaboração do índex privilegiou a realidade e o

testemunho dos entrevistados de forma que carece de maior refinamento teórico e

conceitual. Apesar de suas limitações, o índex demonstrou-se uma ferramenta

passível de ser utilizada para o diagnóstico do avanço de unidades de capacitação

em relação às diretrizes da PNDP. Evidenciou-se a existência de um perfil tradicional

de atividades de capacitação, com traços burocráticos, e um perfil estratégico, em

formação, composto de atividades que legam ao processo de capacitação maior

efetividade, flexibilidade, vinculação estratégica, legitimidade e foco no

desenvolvimento permanente do servidor.

Nesse sentido, a principal conclusão do presente estudo é de que a

PNDP não se trata apenas de aplicar a gestão por competências. Os avanços

proporcionados pelas atividades detectadas representam importantes alternativas de

inovação além do gestão por competências e que permitem o alcance de boa parte

das diretrizes previstas pela PNDP. As atividades podem servir também para

geração de suporte para a institucionalização da gestão por competências. Nesse

sentido, é preciso ampliara concepção dos meios pelos quais as áreas de gestão de

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pessoas e capacitação podem aperfeiçoar suas atividades e assumir papeis

estratégicos nas organizações públicas. A transição para um modelo que

efetivamente alinhe as competências individuais aos objetivos organizacionais

requer a existência de capacidades organizacionais que, muitas vezes, não estão ao

alcance de ações das unidades de gestão de pessoas. Ainda que as unidades

reúnam competências e recursos para atuarem estrategicamente, a realização do

planejamento estratégico, um dos processos organizacionais mais importantes para

a gestão por competências foge à sua governabilidade. Além desse fator, entrevistas

nas organizações revelaram que há consideráveis obstáculos para uma atuação

mais efetiva da capacitação tais como: a insuficiência de pessoal nas equipes de

desenvolvimento; dificuldade de contratação de treinamentos; baixa legitimidade do

setor para proposição de mudanças; baixo apoio da cúpula e de gestores para atuar

na organização; e a excessiva carga de trabalho pelo acúmulo da capacitação com

atividades de avaliação de desempenho, promoção à qualidade de vida no trabalho,

concursos públicos, entre outras.

As dificuldades transversais, crônicas e estruturais vivenciadas pelas

unidades de gestão de pessoas estão ligadas, muitas vezes a fatores

profundamente enraizados na administração pública, de difícil resolução. As

estratégias adotadas pelas unidades de gestão de pessoas para contornar muitas

dessas dificuldades envolvem a relação e a negociação com gestores, servidores,

cúpula organizacional e o próprio Ministério de Planejamento. No entanto, a criação

de condições para maior legitimidade do setor de capacitação na organização passa

necessariamente pela melhoria da efetividade de suas atividades, a despeito de

todas as dificuldades. Nesse sentido, muitas das atividades avançadas mapeadas

na presente pesquisa são inovações incrementais que podem ser implementadas a

despeito das condições de adversidade típicas do cotidiano de gestão de pessoas.

Muitas dessas atividades se destinam justamente à neutralização desses fatores

negativos por meio da geração de maior capacidade de planejamento, de

operacionalização e flexibilidade das atividades de treinamento.

Há evidências de que as organizações estejam convergindo na adoção

dessas inovações, justamente em função do ambiente normativo comum, com igual

perspectiva de atendimento à PNDP e das necessidades organizacionais. Muitos

entrevistados vêem tais avanços como oportunidades de apreensão e difusão

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dessas inovações no setor público. Para tanto, a SEGEP, na condição de órgão

central do SIPEC, sob essa perspectiva, tem condições de aprofundar a

compreensão sobre tais inovações e, sob um enfoque coordenativo, em lugar do

tradicional enfoque supervisor, fornecer condições para a sistematização e

padronização dessas inovações, sem a necessidade de lançar mão de novos

normativos, mas por meio de orientações técnicas e principalmente de sistemas

informatizados transversais. Reforça-se a constatação de Pires et al (2005) da

ênfase do Governo Federal, nos últimos anos, de criação de sistemas de controle

fiscal sem suficiente atenção para criação de sistemas voltados para a gestão de

pessoas sob o ponto de vista da qualificação e gestão da carreira. O esforço de

muitas organizações para superação dessa cultura burocrática tem se mostrado

frutífero e exibe evidências da emergência de um perfil estratégico de capacitação

no setor público federal, a ser melhor compreendido, apoiado e difundido.

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AUTORIA

Diogo Ribeiro da Fonseca – Técnico Administrativo da Agência Nacional de Transportes Terrestres. Mestrando em Administração da Universidade de Brasília.

Endereço eletrônico: [email protected]