Perfeccionismo - Gazeta do Sul

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14 Aline Schultz é uma perfec- cionista assumida. “Nunca fui o tipo de pessoa que ficava feliz com a média na escola ou na fa- culdade. Se eu tirar menos do que 8,5 eu fico muito chateada”, con- ta a servidora pública. “Eu cobro muito de mim mesma, a ponto de ficar acordada as madrugadas in- teiras, fazendo tudo com o máxi- mo de antecedência e ainda assim ficar com o coração na mão an- tes de receber as notas.” No trabalho, a situação se re- pete. A jovem, que é natural e mora em Candelária, faz horas extras para entregar o serviço da melhor maneira possível. Aline conta que o hábito surgiu ainda na infância e que, com o passar dos anos, aumentou. No último domingo a estudante, que cursa Produção e Mídia Audiovisual na Unisc, passou por mais uma situ- ação que prova o quanto ela bus- ca dar o seu melhor. “Saí da uni- versidade à 1h30 da madrugada. Tinha um trabalho para entregar na terça-feira e, por ser em gru- po, acabou atrasando um pouco. Para que eu pudesse entregar um trabalho 100% benfeito, passei o fim de semana inteiro dentro da universidade.” É claro que ela reconhece que isso, muitas vezes, atrapalha. “Essa cobrança excessiva gera so- frimento. Noto que cobro a per- feição dos outros também, o que é horrível, pois crio expectativas em relação a eles. Cada um tem uma forma de agir, de estudar, de trabalhar, mas eu sempre espero mais.” Além disso, em relaciona- mentos afetivos, a síndrome tam- bém é um empecilho. “Eu detesto meio termo. Ou faço o melhor que posso ou nem começo. Isso tam- bém acaba muitas vezes em sofri- mento, pois me entrego de corpo e alma e muitas vezes a pessoa não faz o mesmo.” Gazeta do Sul GERAL SÁBADO E DOMINGO 12 e 13 de julho de 2014 Abertas as inscrições para nova turma de Arrais Amador e Motonauta em Sta Cruz. Curso inicia dia 31/7/2014. Inscrições: c/ Jonathan 51 98087789 / [email protected] Garanta sua vaga! Garanta sua vaga! Agora Assessoria Náutica tem nome e se chama Bombordo, o seu representante legal junto à Marinha do Brasil. Agora Assessoria Náutica tem nome e se chama Bombordo, o seu representante legal junto à Marinha do Brasil. Abertas Agora A Ag A Ago go ora ra A e se ch ama se cham a l ega g - 1ª habilitação - Renovação - Adição de categoria - 2ª via de documentos - Registro de embarcações - Seguro obrigatório anual - 1ª habilitação - Renovação - Adição de categoria - 2ª via de documentos - Registro de embarcações - Seguro obrigatório anual Ser o melhor aluno da classe, o melhor funcionário da empre- sa ou manter um relacionamen- to sem briga alguma. A busca desenfreada por ser, fazer e dar o melhor possível em tudo pa- rece ter, cada vez mais, um úni- co fim: a frustração. Basta parar para pensar. Você realmente co- nhece alguém perfeito? Sem ne- nhum defeito? Que só tenha acer- tos na vida? Segundo a coaching Jaqueline Weigel, é impossível. Isso porque, lembra a santa-cru- zense, o próprio dicionário afir- ma que a perfeição é “um atribu- to de Deus”. “Não é para nós, hu- manos imperfeitos.” Essa busca, no entanto, tira o sono de tantas pessoas que já se tornou conhecida por “síndrome da perfeição”, o que, seria uma grande defeito e não uma virtude, como já se pensou. “A vida, cada vez mais complexa, nos fez acre- ditar que poderíamos nos tornar super pessoas, capazes de bus- car 100% em todas as ocasiões e jornadas”, diz. “Parece fanta- sioso, mas é com essa falsa ver- dade que tomamos decisões pes- soais e profissionais e nos colo- camos em ciclos de extremo so- frimento.” A coaching – que possui es- pecialização em Gestão de Pes- soas e Gestão por Competências pela Fundação Getúlio Vargas, é formada em Empreendedorismo pelo Empretec e atua no desen- volvimento estratégico de pesso- as – salienta que a mania pode es- tar diretamente relacionada à in- segurança, baixa autoestima, dú- vida de capacidade real e desejo imenso de ser aceito, aprovado e reconhecido pelos outros. “A ne- cessidade de ser perfeito emerge do desejo de dar certo como pes- soa e como profissional. De saber que tem valor, relevância e capa- cidade”, afirma. Mas Jaqueline destaca que as pessoas não precisam seguir re- gras para serem socialmente acei- tas – nem para mostrarem, de fato, seus valores, relevâncias e capacidades. “Padrões sempre foram tentativas sociais de colo- car as pessoas dentro de caixas pré-determinadas. Hoje, preci- samos nos libertar disso mais do que nunca. Não existe forma de padronizar seres humanos. So- mos unidades diferentes, com ca- racterísticas comuns, mas com si- milaridades.” Assim, o grande desafio, de acordo com a consultora, é se li- bertar dos conceitos de “certo” e “errado” – até porque eles são relativos – e de padrões conside- rados ideais. “A necessidade de ser perfeito e de ser reconhecido é algo negativo. Mostra imaturi- dade, insegurança e talvez alguns problemas que deveriam ser en- tendidos com maior profundida- de numa terapia ou num processo de coaching”, alerta. E, por isso, é preciso estar atento aos limites. “Quando minha necessidade é um desejo de validar minha per- cepção, tudo bem. Quando não é isso, vira dependência e nos leva a uma zona de sofrimento que ativa emoções negativas e afeta nossa performance como pessoa JEITO DE SER Pessoas que exigem demais de si mesmas – a chamada síndrome da perfeição – podem sofrer com frequente frustração “O verdadeiro reconhecimento vem de dentro” Luísa Ziemann [email protected] Aline: “cobro de mim mesma” Jaqueline lamenta que um dos fatores da con- temporaneidade que potencializam a busca pela perfeição sejam as redes sociais, onde um mundo perfeito – recheado de momentos felizes e pesso- as boas – é colocado na vitrine. “Se permitirmos, as redes sociais ativam nosso processo ansioso. Elas usam as mesmas estratégias que o marketing, nos seduzindo com vidas falsamente coloridas”, explica. “O verdadeiro colorido da vida está na imperfeição. Ser feliz não é um estado de alegria temporário, é sentir-se bem, em paz e satisfeito com a jornada na maior parte do tempo.” E se engana quem pensa que tais sentimentos, sobressaltados com o uso do Facebook, do Ins- tagram ou do Twitter, sejam exclusivos de ado- lescentes ou de adultos que ainda iniciam suas carreiras profissionais, engatam o primeiro rela- cionamento sério e afins. Jaqueline frisa que não existe alguma faixa etária ou sexo mais suscetí- vel a desenvolver a “síndrome da perfeição”. “É claro que a maturidade vai criando consciência. Mulheres têm essa tendência mais aguçada que os homens, porque são estimuladas a isso desde crianças”, reitera. “Homens desenvolvem muito conflito entre o certo e o errado e no fundo tam- bém mostram muito receio em errar.” O mundo colorido das redes sociais Reprodução Facebook a- as e- i- de e re o- as i- o e o- a- i- de i- oo e- de o i- ns n- e como profissional.” A santa-cruzense ainda diz que, sim, o desejo de ser perce- bido, de ser importante para al- guém ou para alguma história, é algo natural no ser humano. “Essa é a nossa natureza. Ter a opinião do outro para comparar com minhas percepções me aju- da a crescer. Mas depender dis- so chega a ser patológico em al- gumas pessoas”, frisa. Portanto, nada adianta o elogio se você tem dúvidas. “O verdadeiro reconhe- cimento vem de dentro, de você, e ele surge quando sabemos que fizemos o melhor que podería- mos ter feito em cada situação, tanto na vida profissional quan- to na pessoal.” Jaqueline: “atributo de Deus” Especialista alerta que as pessoas não precisam seguir regras para serem socialmente aceitas Perfeccionista assumida diz que isso, às vezes, atrapalha Divulgação/GS

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Aline Schultz é uma perfec-cionista assumida. “Nunca fui o tipo de pessoa que ficava feliz com a média na escola ou na fa-culdade. Se eu tirar menos do que 8,5 eu fico muito chateada”, con-ta a servidora pública. “Eu cobro muito de mim mesma, a ponto de ficar acordada as madrugadas in-teiras, fazendo tudo com o máxi-mo de antecedência e ainda assim ficar com o coração na mão an-tes de receber as notas.”

No trabalho, a situação se re-pete. A jovem, que é natural e mora em Candelária, faz horas extras para entregar o serviço da melhor maneira possível. Aline conta que o hábito surgiu ainda na infância e que, com o passar dos anos, aumentou. No último domingo a estudante, que cursa Produção e Mídia Audiovisual na Unisc, passou por mais uma situ-ação que prova o quanto ela bus-ca dar o seu melhor. “Saí da uni-versidade à 1h30 da madrugada. Tinha um trabalho para entregar na terça-feira e, por ser em gru-po, acabou atrasando um pouco. Para que eu pudesse entregar um trabalho 100% benfeito, passei o fim de semana inteiro dentro da universidade.”

É claro que ela reconhece que isso, muitas vezes, atrapalha. “Essa cobrança excessiva gera so-frimento. Noto que cobro a per-feição dos outros também, o que é horrível, pois crio expectativas em relação a eles. Cada um tem uma forma de agir, de estudar, de trabalhar, mas eu sempre espero mais.” Além disso, em relaciona-mentos afetivos, a síndrome tam-bém é um empecilho. “Eu detesto meio termo. Ou faço o melhor que posso ou nem começo. Isso tam-bém acaba muitas vezes em sofri-mento, pois me entrego de corpo e alma e muitas vezes a pessoa não faz o mesmo.” ■

Gazeta do Sul

GERALSÁBADO E DOMINGO

12 e 13 de julho de 2014

Abertas as inscrições para nova turma de Arrais Amador e Motonauta em Sta Cruz. Curso inicia dia 31/7/2014.

Inscrições: c/ Jonathan 51 98087789 / [email protected]

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Agora Assessoria Náutica tem nomee se chama Bombordo, o seu representante

legal junto à Marinha do Brasil.

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Abertas

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- 1ª habilitação - Renovação - Adição de categoria- 2ª via de documentos- Registro de embarcações- Seguro obrigatório anual

- 1ª habilitação - Renovação - Adição de categoria- 2ª via de documentos- Registro de embarcações- Seguro obrigatório anual

Ser o melhor aluno da classe, o melhor funcionário da empre-sa ou manter um relacionamen-to sem briga alguma. A busca desenfreada por ser, fazer e dar o melhor possível em tudo pa-rece ter, cada vez mais, um úni-co fim: a frustração. Basta parar para pensar. Você realmente co-nhece alguém perfeito? Sem ne-nhum defeito? Que só tenha acer-tos na vida? Segundo a coaching Jaqueline Weigel, é impossível. Isso porque, lembra a santa-cru-zense, o próprio dicionário afir-ma que a perfeição é “um atribu-to de Deus”. “Não é para nós, hu-manos imperfeitos.”

Essa busca, no entanto, tira o sono de tantas pessoas que já se tornou conhecida por “síndrome da perfeição”, o que, seria uma grande defeito e não uma virtude, como já se pensou. “A vida, cada vez mais complexa, nos fez acre-ditar que poderíamos nos tornar super pessoas, capazes de bus-car 100% em todas as ocasiões e jornadas”, diz. “Parece fanta-sioso, mas é com essa falsa ver-dade que tomamos decisões pes-soais e profissionais e nos colo-camos em ciclos de extremo so-frimento.”

A coaching – que possui es-pecialização em Gestão de Pes-soas e Gestão por Competências pela Fundação Getúlio Vargas, é formada em Empreendedorismo pelo Empretec e atua no desen-volvimento estratégico de pesso-as – salienta que a mania pode es-

tar diretamente relacionada à in-segurança, baixa autoestima, dú-vida de capacidade real e desejo imenso de ser aceito, aprovado e reconhecido pelos outros. “A ne-cessidade de ser perfeito emerge do desejo de dar certo como pes-soa e como profissional. De saber

que tem valor, relevância e capa-cidade”, afirma.

Mas Jaqueline destaca que as pessoas não precisam seguir re-gras para serem socialmente acei-tas – nem para mostrarem, de fato, seus valores, relevâncias e capacidades. “Padrões sempre foram tentativas sociais de colo-car as pessoas dentro de caixas pré-determinadas. Hoje, preci-samos nos libertar disso mais do que nunca. Não existe forma de padronizar seres humanos. So-mos unidades diferentes, com ca-racterísticas comuns, mas com si-milaridades.”

Assim, o grande desafio, de acordo com a consultora, é se li-bertar dos conceitos de “certo” e “errado” – até porque eles são relativos – e de padrões conside-rados ideais. “A necessidade de ser perfeito e de ser reconhecido é algo negativo. Mostra imaturi-dade, insegurança e talvez alguns problemas que deveriam ser en-tendidos com maior profundida-de numa terapia ou num processo de coaching”, alerta. E, por isso, é preciso estar atento aos limites. “Quando minha necessidade é um desejo de validar minha per-cepção, tudo bem. Quando não é isso, vira dependência e nos leva a uma zona de sofrimento que ativa emoções negativas e afeta nossa performance como pessoa

JEITO DE SER ■ ■ Pessoas que exigem demais de si mesmas – a chamada síndrome da perfeição – podem sofrer com frequente frustração

“O verdadeiro reconhecimento vem de dentro”Luísa Ziemann

[email protected]

■ ■ Aline: “cobro de mim mesma”

Jaqueline lamenta que um dos fatores da con-temporaneidade que potencializam a busca pela perfeição sejam as redes sociais, onde um mundo perfeito – recheado de momentos felizes e pesso-as boas – é colocado na vitrine. “Se permitirmos, as redes sociais ativam nosso processo ansioso. Elas usam as mesmas estratégias que o marketing, nos seduzindo com vidas falsamente coloridas”, explica. “O verdadeiro colorido da vida está na imperfeição. Ser feliz não é um estado de alegria temporário, é sentir-se bem, em paz e satisfeito com a jornada na maior parte do tempo.”

E se engana quem pensa que tais sentimentos,

sobressaltados com o uso do Facebook, do Ins-tagram ou do Twitter, sejam exclusivos de ado-lescentes ou de adultos que ainda iniciam suas carreiras profissionais, engatam o primeiro rela-cionamento sério e afins. Jaqueline frisa que não existe alguma faixa etária ou sexo mais suscetí-vel a desenvolver a “síndrome da perfeição”. “É claro que a maturidade vai criando consciência. Mulheres têm essa tendência mais aguçada que os homens, porque são estimuladas a isso desde crianças”, reitera. “Homens desenvolvem muito conflito entre o certo e o errado e no fundo tam-bém mostram muito receio em errar.”

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que, sim, o desejo de ser perce-bido, de ser importante para al-guém ou para alguma história, é algo natural no ser humano. “Essa é a nossa natureza. Ter a opinião do outro para comparar com minhas percepções me aju-da a crescer. Mas depender dis-

so chega a ser patológico em al-gumas pessoas”, frisa. Portanto, nada adianta o elogio se você tem dúvidas. “O verdadeiro reconhe-cimento vem de dentro, de você, e ele surge quando sabemos que fizemos o melhor que podería-mos ter feito em cada situação, tanto na vida profissional quan-to na pessoal.”

■ ■ Jaqueline: “atributo de Deus”

Especialista alerta que

as pessoas não precisam

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