Gazeta Russa

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Roberto Carlos quer mais tempo Balé, política e barracos Jogador dá primeira en- trevista à mídia russa Nua em blog, bailarina é expulsa de partido Página 03 Página 03 Crise da família afeta população País tenta entender baixa demográfica Página 06 AFP/EAST NEWS JULIA VISHNEVETS ITAR-TASS SEGUNDA-FEIRA, 30 DE MAIO DE 2011 NOTAS A gigante da mineração de ferro russa Se- verstal adquiriu 25 % da brasileira SPG Mineração, do Amapá, em meados de maio. O valor da transação chegou a US$ 49 milhões, segundo fontes oficiais. A Severstal também incluiu um acordo sobre direitos opcionais de aquisição, com o objetivo de complementar 50% das ações da SPG. A operação, porém, pode ter mais a ver com as potencialidades da SPG Minera- ção, já que a companhia brasileira tem li- cença para explorar diversas jazidas de minério de ferro na região amazônica. O inventário inicial da companhia reve- lou que o projeto no Amapá tem reservas entre meio milhão de tonelada e 1,5 mi- lhão de toneladas de minério com concen- tração de ferro entre 40% e 45%. O potencial total de mineração está ava- liado de 10 milhões a 20 milhões de tone- ladas de concentrado de ferro. A companhia russa também afirmou que iria desenvolver sua própria solução de lo- gística no Amapá, apesar da existência de malha ferroviária e de um porto nos ar- redores das jazidas. Ria Nóvosti Servestal adquire 25% da SPG Mineração Antimísseis Novos projetos já foram aprovados e devem integrar sistemas de controle do espaço russo Impasse sobre integração da Rússia ao sistema da OTAN não deve frear a instalação das novas divisões DEA (Defesa Espacial e Aérea). Defesa espacial sai até dezembro Se fosse escritor de ficção cien- tífica, o presidente do banco Goldman Sachs, Jim O’Neill, poderia se considerar parte do grupo de autores cujas pro- fecias se realizaram. Cunha- da por ele, a expressão arti- cial Bric (Brasil, Rússia, Índia e China, que tornou-se, “Brics” após a adesão da África do Sul) foi criada para a conve- niência de se escreverem ar- tigos analíticos, mas está se tornando um verdadeiro me- canismo de influência de Brics Finanças globais, consumo de energia e alimentos serão bases para estabilidade dos países do bloco Pioneiro Fazendeiro norte-americano leva técnicas de criação comercial de gado à Rússia Copresidente do Conselho Empresarial Rússia-Brasil, Serguei Vassiliev fala sobre papel dos Brics na economia e sugere adoção de moedas locais e ouro na reforma do sistema financeiro mundial. países em desenvolvimento no sistema econômico mundial. “A crise de 2008 e 2009 foi um divisor de águas tanto dentro do grupo, como em suas rela- ções com o mundo exterior”, disse à Gazeta Russa o copre- sidente do Conselho Empre- sarial Rússia-Brasil, Serguei Vassiliev, que participou de encontros de cúpula dos Brics na China. “Durante a crise, tornou-se claro que esses países são bas- tante estáveis. Os países do G7 deixaram de ser o motor da economia mundial e os membros do Brics e outros pa- íses em desenvolvimento to- maram para si essa função”, acredita. A recente adesão da Repúbli- ca da África do Sul tornou o grupo realmente global. Agora, ele conta com repre- De mera sigla a motor do crescimento “Papel do ouro terá que crescer nas trocas comerciais”, diz Vassiliev Propostas devem ser aperfeiçoadas pelo Conselho Nacional de Segurança VLADISLAV KUZMITCHOV GAZETA RUSSA na cidade de Sôfrino, nos ar- redores da capital. Depois, pronunciou-se a respeito da participação da Rússia no sis- tema antimíssil europeu que a OTAN está criando em con- junto com o país (ou, possi- velmente, sem ele). Declarou ainda que o sistema antimís- sil russo pode colocar sob suas asas toda a Europa Ociden- tal, além das regiões do Mar Negro, Mar Báltico e do Mar do Norte. “Nossa contribuição poderá consistir na destruição de mís- seis balísticos direcionados a alvos localizados na Federa- ção Russa, em Estados vizi- nhos e na Europa Ocidental”, declarou. O comandante afir- sentantes de todos os conti- nentes-chave do planeta. “Como isso é uma associação global, a diferença de interes- ses não é tão importante. Pelo contrário, talvez sua vanta- volvido em um futuro próxi- mo se observarem suas políticas em pelo menos três esferas: finanças globais, con- sumo de energia e mercado de alimentos. “A estabilidade dos Brics acontece no contexto de um enfraquecimento da posição de todos os centros mundiais das principais moedas, ou seja, os Estados Unidos, a Europa e o Japão. Os Brics enfrentam um grave dilema: insistir na reforma do sistema financei- ro mundial e reforçar o papel das moedas dos próprios Brics no FMI (Fundo Monetário In- ternacional) ou criar seu pró- prio mecanismo, uma alter- nativa ao FMI”, afirmou o copresidente do Conselho Em- presarial Rússia-Brasil. CONTINUA NA PÁGINA 5 Antes desconhecido da opi- nião pública, o tenente-gene- ral e comandante do projeto espacial bélico da Rússia, Oleg Ostápenko, passou a fazer aparições constantes na mídia em todo o país nos últimos tempos. Primeiro, Ostápenko conduziu uma conferência e um tour com a imprensa na até então altamente secreta base de radares do sistema an- timíssil Don-2N, localizada CONTINUA NA PÁGINA 4 Meia dúzia de caubóis se senta ao redor de uma mesa comprida em um alojamen- to recém-construído, à es- pera do almoço. Eles passaram a manhã in- teira na rotina de sempre – o rebanho de 1,5 mil bovi- GRUPO VOINÁ HOMOFOBIA Arte celebrada Moscou revoga Parada Coletivo de arte ganha prêmio estatal por protesto Prefeitura cancela autoriza- ção de Parada Gay e LGTB recorrem a tribunal europeu JOGO LIMPO IPO de US$ 1,3 bilhão Yandex, maior site de busca russo, lança IPO, mas alerta investidores sobre riscos PÁGINA 4 PÁGINA 8 PÁGINA 2 VÍKTOR LITÓVKIN ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA CONTINUA NA PÁGINA 2 mou ainda que a eliminação de mísseis lançados contra a Europa será possível por meio de um centro conjunto de ope- rações militares, cuja criação está sendo discutida de acor- do com o projeto desenvolvi- do pela OTAN. Segundo ele, caso as informações a respei- to do alvo sejam recebidas, os sistemas russos de defesa an- timíssil e antiaérea designa- dos para um determinado quadrante poderão abater projéteis lançados por países de fora do sistema e que este- jam em posição de ataque ou em trânsito na zona de res- ponsabilidade russa. Meta do go- verno é pro- duzir pelo menos 85% da carne consumida no país até 2020 PETER VAN DYK ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA Iniciativa pode reduzir dependência do país, que importou aproximadamente US$ 1 bilhão só em carne brasileira no ano passado. NESTA EDIÇÃO Escola para caubóis nos está dando cria e este tem sido um mês cheio. Mas, ao chegar a comida, lembram que não estão em casa, ou seja, em Montana, nos Estados Unidos. “Não temos constrangimen- to em dizer isso. Comemos carne, muita carne”, diz Darrell Stevenson, fazen- deiro norte-americano que se associou a dois empresá- rios russos para criar o Ran- cho Stevenson-Sputnik, na região de Voronej, no sul da Rússia. “Uma das mais difíceis eta- pas de adaptação para esses caubóis tem sido a mudan- ça de dieta”, completa. O almoço é uma sopa, espa- guete e empada de carne. gem seja que cada país vê o mundo sob uma ótica, e a troca de opiniões pode ser muito útil”, afirma Vassiliev. Para ele, os Brics serão autos- sustentáveis no mundo desen- GOVVRN.RU REUTERS/VOSTOCK-PHOTO ITAR-TASS GETTY IMAGES/FOTOBANK AFP/EAST NEWS PHOTOXPRESS

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Page 1: Gazeta Russa

Roberto Carlos quer mais tempo

Balé, política e barracos

Jogador dá primeira en-trevista à mídia russa

Nua em blog, bailarina é expulsa de partidoPágina 03 Página 03

Crise da família afeta população País tenta entender baixa demográficaPágina 06

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A gigante da mineração de ferro russa Se-verstal adquiriu 25 % da brasileira SPG Mineração, do Amapá, em meados de maio. O va lor da t ra n sação chegou a US$ 49 milhões, segundo fontes oficiais.A Severstal também incluiu um acordo sobre direitos opcionais de aquisição, com o objetivo de complementar 50% das ações da SPG. A operação, porém, pode ter mais a ver com as potencialidades da SPG Minera-ção, já que a companhia brasileira tem li-cença para explorar diversas jazidas de minério de ferro na região amazônica.O inventário inicial da companhia reve-lou que o projeto no Amapá tem reservas entre meio milhão de tonelada e 1,5 mi-lhão de toneladas de minério com concen-tração de ferro entre 40% e 45%. O potencial total de mineração está ava-liado de 10 milhões a 20 milhões de tone-ladas de concentrado de ferro.A companhia russa também afirmou que iria desenvolver sua própria solução de lo-gística no Amapá, apesar da existência de malha ferroviária e de um porto nos ar-redores das jazidas.

Ria nóvosti

servestal adquire 25% da sPg Mineração

antimísseis novos projetos já foram aprovados e devem integrar sistemas de controle do espaço russo

impasse sobre integração da Rússia ao sistema da otan não deve frear a instalação das novas divisões dea (defesa espacial e aérea).

Defesa espacial sai até dezembro

Se fosse escritor de ficção cien-tífica, o presidente do banco Goldman Sachs, Jim O’Neill, poderia se considerar parte do grupo de autores cujas pro-fecias se realizaram. Cunha-da por ele, a expressão arti-cial Bric (Brasil, Rússia, Índia e China, que tornou-se, “Brics” após a adesão da África do Sul) foi criada para a conve-niência de se escreverem ar-tigos analíticos, mas está se tornando um verdadeiro me-canismo de influência de

Brics finanças globais, consumo de energia e alimentos serão bases para estabilidade dos países do bloco

Pioneiro fazendeiro norte-americano leva técnicas de criação comercial de gado à rússia

Copresidente do Conselho empresarial Rússia-Brasil, serguei Vassiliev fala sobre papel dos Brics na economia e sugere adoção de moedas locais e ouro na reforma do sistema financeiro mundial.

países em desenvolvimento no sistema econômico mundial.“A crise de 2008 e 2009 foi um divisor de águas tanto dentro do grupo, como em suas rela-ções com o mundo exterior”, disse à Gazeta Russa o copre-sidente do Conselho Empre-sarial Rússia-Brasil, Serguei Vassiliev, que participou de encontros de cúpula dos Brics na China.“Durante a crise, tornou-se claro que esses países são bas-tante estáveis. Os países do G7 deixaram de ser o motor da economia mundial e os membros do Brics e outros pa-íses em desenvolvimento to-maram para si essa função”, acredita.A recente adesão da Repúbli-ca da África do Sul tornou o grupo realmente global. Agora, ele conta com repre-

De mera sigla a motor do crescimento

“Papel do ouro terá que crescer nas trocas comerciais”, diz Vassiliev

Propostas devem ser aperfeiçoadas pelo Conselho nacional de segurança

VladislaV kuzMitChoVgazeta russa

na cidade de Sôfrino, nos ar-redores da capital. Depois, pronunciou-se a respeito da participação da Rússia no sis-tema antimíssil europeu que a OTAN está criando em con-junto com o país (ou, possi-velmente, sem ele). Declarou ainda que o sistema antimís-sil russo pode colocar sob suas asas toda a Europa Ociden-tal, além das regiões do Mar Negro, Mar Báltico e do Mar do Norte.“Nossa contribuição poderá consistir na destruição de mís-seis balísticos direcionados a alvos localizados na Federa-ção Russa, em Estados vizi-nhos e na Europa Ocidental”, declarou. O comandante afir-

sentantes de todos os conti-nentes-chave do planeta. “Como isso é uma associação global, a diferença de interes-ses não é tão importante. Pelo contrário, talvez sua vanta-

volvido em um futuro próxi-mo se observarem suas políticas em pelo menos três esferas: finanças globais, con-sumo de energia e mercado de alimentos. “A estabilidade dos Brics acontece no contexto de um enfraquecimento da posição de todos os centros mundiais das principais moedas, ou seja, os Estados Unidos, a Europa e o Japão. Os Brics enfrentam um grave dilema: insistir na reforma do sistema financei-ro mundial e reforçar o papel das moedas dos próprios Brics no FMI (Fundo Monetário In-ternacional) ou criar seu pró-prio mecanismo, uma alter-nativa ao FMI”, afirmou o copresidente do Conselho Em-presarial Rússia-Brasil.

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Antes desconhecido da opi-nião pública, o tenente-gene-ral e comandante do projeto espacial bélico da Rússia, Oleg Ostápenko, passou a fazer aparições constantes na mídia em todo o país nos últimos tempos. Primeiro, Ostápenko conduziu uma conferência e um tour com a imprensa na até então altamente secreta base de radares do sistema an-timíssil Don-2N, localizada

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Meia dúzia de caubóis se senta ao redor de uma mesa comprida em um alojamen-to recém-construído, à es-pera do almoço. Eles passaram a manhã in-teira na rotina de sempre – o rebanho de 1,5 mil bovi-

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mou ainda que a eliminação de mísseis lançados contra a Europa será possível por meio de um centro conjunto de ope-rações militares, cuja criação está sendo discutida de acor-do com o projeto desenvolvi-do pela OTAN. Segundo ele, caso as informações a respei-to do alvo sejam recebidas, os sistemas russos de defesa an-timíssil e antiaérea designa-dos para um determinado quadrante poderão abater projéteis lançados por países de fora do sistema e que este-jam em posição de ataque ou em trânsito na zona de res-ponsabilidade russa.

Meta do go-verno é pro-duzir pelo menos 85% da carne consumida no país até 2020

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iniciativa pode reduzir dependência do país, que importou aproximadamente us$ 1 bilhão só em carne brasileira no ano passado.

nesta edição

escola para caubóis

nos está dando cria e este tem sido um mês cheio. Mas, ao chegar a comida, lembram que não estão em casa, ou seja, em Montana, nos Estados Unidos.“Não temos constrangimen-to em dizer isso. Comemos

carne, muita carne”, diz Darrell Stevenson, fazen-deiro norte-americano que se associou a dois empresá-rios russos para criar o Ran-cho Stevenson-Sputnik, na região de Voronej, no sul da Rússia.

“Uma das mais difíceis eta-pas de adaptação para esses caubóis tem sido a mudan-ça de dieta”, completa.O almoço é uma sopa, espa-guete e empada de carne.

gem seja que cada país vê o mundo sob uma ótica, e a troca de opiniões pode ser muito útil”, afirma Vassiliev. Para ele, os Brics serão autos-sustentáveis no mundo desen-

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Gazeta Russawww.gazetarussa.com.brPolítica e sociedade

Um novo estudo do centro de pesquisas de opinião pública VTsIOM mostra que 61% dos entrevistados ignoravam fatos políticos – parcela que, em 2007, correspondia a 39%.A principal causa da apatia é simplesmente a “falta de in-teresse”, alegada por 36% dos entrevistados – que em 2007 correspondia a 20% dos pes-quisados. Neste ano, outros 25% acreditam que qualquer ativismo é inútil, enquanto 18% afirmam que simples-mente não entendem de polí-tica o suficiente.Os resultados poderiam ser preocupantes para os atuais líderes políticos, que esperam vencer as eleições para a Duma (câmara dos deputados) em dezembro, e a campanha presidencial, em 2012.Curiosamente, o número de russos que acredita que polí-tica seja um “negócio sujo” permaneceu praticamente inalterado, na faixa dos 58% em 2011 – comparáveis aos 59% de 2007.

apatia Segundo pesquisa, 25% acham ativismo inútil

Dois terços da população não se interessa pelo assunto e o restante não vai além do voto, de acordo com nova pesquisa do VtsIom.

Entre as pessoas que partici-pam da vida pública de algu-ma maneira, 27% limitaram sua atividade política duran-te o ano passado ao voto. Esse índice vem caindo gradual-mente após um pico de 55% em 2004, o que mostra que as eleições para a Duma em 2007 e a votação para presidente de 2008 não conseguiram mo-bilizar os eleitores.Outras formas de participa-ção foram ainda menos popu-lares: 8% afirmaram ter par-ticipado de ações para melhorar seus bairros, en-quanto 4% coletaram doações para os necessitados ou víti-mas de desastres.Somente de 1% a 2% partici-param ativamente de campa-nhas políticas, governos au-tônomos locais, sindicatos, manifestações ou assinaram petições públicas. E os entre-vistados que assumiram ter envolvimento com partidos políticos, greves de trabalha-dores ou eventos organizados por comunidades religiosas não chegaram a 1%.Foram entrevistadas 1,6 mil pessoas em 46 regiões do país, com margem de erro de 3,4 pontos percentuais. Serguei Mitrôkhin, líder do partido de oposição Iábloko, afirmou que as autoridades

estimulam a atitude passiva da sociedade.“A população é desmoraliza-da pelas autoridades que por sua vez preferem manter as coisas deste jeito, pois estão acostumadas a agir sem o con-sentimento público”, disse Mitrôkhin.A apatia pública já está sendo refletida nas avaliações dos atuais dirigentes. O apoio ma-ciço ao presidente Dmítri Me-devdev, ao primeiro-ministro

também possuem um espíri-to ativista, embora uma espé-cie de contrato silencioso com o governo os impeça de se en-volver na política.O analista político pró-Kre-mlin Igor Iurgens sugeriu a mesma coisa em uma entre-vista recente ao jornal The Moscow Times. “Parte da elite não pensa apenas em fazer di-nheiro, mas reflete sobre o fu-turo do país, por mais pom-poso que isso pareça”, disse.

põem de 2% a 5% da popula-ção, mas são capazes de mo-bilizar os outros em prol de suas causas – se eles conse-guirem ao menos chegar a um consenso entre si”, disse Fei-gin, que também é membro do grupo de oposição Solida-riedade. “As pessoas que po-deriam promover mudanças e inspirar os demais ainda estão divididas”, completou. Feigin afirma que alguns in-divíduos da elite de negócios

russos perdem interesse por temas políticos

o desinteresse de grande parte da população pela política já começa a se refletir nos índices de aprovação dos dirigentes

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Vladímir Pútin e ao partido dominante Rússia Unida vem caindo desde janeiro.O Rússia Unida venceu a úl-tima e principal votação re-gional em março, mas com uma margem inferior à dos anos anteriores. Porém, é em relação à minoria ativa, e não às massas passivas que a elite dominante parece estar pre-ocupada, diz o analista polí-tico Mark Feigin.“Os ativistas políticos com-

por cento dos pesquisados de-clararam ao centro de pesqui-sas de opinião pública VTsIOM ignorar fatos políticos - em 2007, eram 39%.

por cento dos pesquisados afirmaram participar da vida pública de alguma maneira. Em 2004, esse índice atingiu um pico de 55%.

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números

“a população é desmoralizada pelas autoridades, que, por sua vez, preferem manter as coisas deste jeito porque estão acostumadas a agir sem o consentimento público”

São compreensíveis os moti-vos pelos quais Ostápenko tem feito tantas apar ições públicas.Até o dia 1º de dezembro de 2011, de acordo com as deter-minações do presidente Dmí-tri Medvedev, devem ser cria-das no país novas divisões de DEA (Defesa Espacial e Aérea). A proposta de criação do sistema, feita pelo coman-dante do projeto bélico espa-cial, já foi aprovada pelo Es-tado Maior e deve ser posta em prática após discussão e aperfeiçoamento no Conselho Nacional de Segurança.As sugestões consistem essen-cialmente na integração de todos os sistemas que atual-mente controlam o espaço aéreo, tanto no território da Rússia quanto de seus aliados e também na total extensão de suas fronteiras.De acordo com a proposta do general, o Estado Maior teria a tarefa de acatar os coman-dos do DEA. Além disso, al-guns especialistas asseguram

sistemas para que o governo tenha tempo de tomar deci-sões. Ou seja, as perspectivas da proposta do comandante em relação a isso não seriam tão garantidas.Resta ainda uma questão: se a criação do sistema europeu de defesa antimíssil contem-plar a Rússia, como a DEA po-derá ser unificada a ele? Por ora, não existe resposta. Ainda não está claro qual papel Washington e Bruxelas con-cederão a Moscou e qual será o nível de participação da Rús-sia no projeto. Na verdade, ainda existem mais pergun-tas que respostas.Os Estados Unidos, contra-riando as resoluções tomadas na reunião de cúpula do con-selho Rússia-OTAN, já estão prontos para instalar seu sis-tema de defesa na Romênia. Se a situação continuar a se-guir este rumo, não será mais possível falar da criação con-junta de um sistema de defe-sa que integre a Rússia. É muito mais provável, isso sim, que se gere uma nova cisão dentro da Europa.

Proteção contra as ameaças do espaçoo que se quer unificarNo sistema de alerta contra ataques de mísseis entrarão as bases de radar de Olenegor-sk, Lekhtusi, Petchora, Armavir, dos arredores de Irkutsk, de Gantsevitchi, na Bielorrússia, Qabala, no Azerbaijão, Balkha-ch, no Cazaquistão e a atual-mente em construção em Kali-ningrado (veja mapa ao lado). Outros componentes serão os satélites de órbitas elípticas ou geoestacionárias e o sistema de controle espacial e cósmico, incluindo a base próxima de Nurek, no Tadjiquistão.Ao sistema DEA também de-ve ser integrado o complexo de defesa antimíssil A-135 de Moscou, que compõe a base multifuncional Don-2N, e os complexos de defesa antiaérea e antimíssil S-300 e S-400 e, possivelmente, o S-500, cujos mísseis poderão interceptar al-vos balísticos no espaço.

“Recentemente o governo de Moscou foi contatado por di-versos órgãos estatais e gover-nantes, membros da Igreja, organizações públicas e indi-víduos, pedindo a suspensão do evento”, diz carta enviada a ativistas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêne-ros), segundo reportou a agên-cia Interfax. O evento, que seria realizado no dia 28 pela prefeitura, foi cancelado no dia 12. Um dia antes, o Tribunal Eu-ropeu de Direitos Humanos reconheceu a ilegalidade das proibições de três paradas gays

Falso alerta prefeitura autoriza e cancela evento em moscouem Moscou, de 2006 a 2008. Segundo o líder do movimen-to, Nikolai Alekseiev, decla-rou à agência, é o próprio go-verno quem incentiva tal atitude da sociedade.

índice homofóbicoO site GayRussia.ru publicou um índice de homófobos, em uma ação conjunta com a or-ganização “Artigo 282” – que remete ao trecho da Consti-tuição russa referente aos cri-mes de incitação de ódio, hos-tilidade e humilhação.Dividida em quatro partes, a lista em ordem alfabética enu-mera 487 políticos, funcioná-rios públicos e figuras públi-cas, 100 juízes, 19 órgãos governamentais, 40 partidos, movimentos e organizações que tenham cometido nos úl-timos anos ações considera-das homófobas. A ideia é pro-por que países europeus e de democracia mais desenvolvi-da rejeitem a entrada desses indivíduos em seus territórios. Em outubro de 2010, o Tribu-nal Europeu dos Direitos Hu-manos multou a Rússia em U$ 41 mil dólares por proibir pa-radas gays em Moscou.

Parada é cancelada e LGBT criam lista negra

lista enumera 646 indivíduos e instituições homofóbicas

em menos de uma semana, prefeitura permite e proíbe demonstração lgbt, alegando que o evento geraria desordem.

Os últimos 15 anos têm sido únicos não só na história do Brasil, mas também na his-tória de toda a América La-tina. Durante os anos de es-tabilidade política no maior país da América do Sul foram realizadas reformas socioeco-nômicas que transformaram radicalmente a cara do Bra-sil e da sociedade brasileira. Essa foi opinião unânime dos participantes do seminário “Modernização no Brasil: Pro-gressos e Perspectivas”, que reuniu economistas e políti-cos russos de relevo em Mos-cou. “O Brasil tem mostrado ao mundo um exemplo de como um país agrário e sub-desenvolvido pode se trans-formar, em um período rela-tivamente curto, em um Estado desenvolvido. E para a Rússia essa experiência é

bilateralidade economistas discutem Brasil em moscou

extremamente interessante”, disse o presidente do Conse-lho de Política Externa e de Defesa, Serguei Karaganov. Comparando as reformas bra-sileiras e russas, o presidente do Conselho Empresarial Rús-sia-Brasil, Serguei Vasiliev,

sublinhou que, em geral, no Brasil elas têm sido mais bem sucedidas. Entre os motivos objetivos para isso estariam as diferenças no desenvolvi-mento histórico dos dois pa-íses. Mas o empresário tam-bém destacou o alto nível de profissionalismo dos econo-mistas brasileiros e a respon-sabilidade das elites.

“Em termos econômicos, a Rússia e o Brasil são muito semelhantes. Nós temos uma população aproximada, um volume de produção industrial e um PIB parecidos. No en-tanto, a eficácia e a velocida-de de transformação nos dois países é muito diferente”, afir-mou Vasiliev.Para ele, as perspectivas de aumento do crescimento eco-nômico do país são grandes por sua situação demográfica favorável, estabilidade políti-ca e institucional, com o de-senvolvimento do sistema de federalismo e de partidos políticos.O evento foi organizado pela Escola Superior de Economia da Universidade Estatal, o instituto de economia de maior prestígio de Moscou, e pelo Conselho de Política Externa e de Defesa, influente asso-ciação não-governamental da Rússia.

Reformas e desenvolvimento brasileiros são elogiados

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tropas espaciais russasentenDa como o equIPamento esPacIal Protege o País De ataques

que o sistema deve integrar o arsenal de mísseis estratégi-cos para que não se retarde um lançamento preventivo caso seja enviado o sinal de alerta de um ataque inimigo contra o país. Aliás, esse ce-nário foi previsto quando, no início deste século, a Rússia empreendeu uma tentativa ini-cial de criar um sistema de

defesa espacial e aérea.Na época, a proposta de inte-gração do arsenal estratégico e do sistema DEA foi consi-derada inconsistente. Andrei Kokôchin, ex-assessor do Mi-nistério da Defesa da Rússia, ex-secretário do Conselho Na-cional de Segurança e atual-mente membro da Duma e da Academia de Ciências, consi-dera que deva haver uma re-lativa separação entre os dois

Se os eua instalarem sistema de defesa na romênia, projeto conjunto que inclua a rússia não é possível

“Nossa população é aproximada, o piB parecido, mas a eficácia e rapidez são muito diferentes”

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NOTAS

O site infantil do presidente Dmítri Medvedev inaugurou uma nova seção para expli-car às crianças o funciona-mento e os benefícios da oposição.“Em latim, essa palavra sig-ni� cava contraste, confron-to. Imagine duas multidões que � cam em frente uma da outra e disputam por algum motivo. Então, a oposição é a multidão que tem menos gente”, descreve o site.Um dos autores do projeto, o escritor Grigori Oster ex-plica que ele é voltado para crianças de 10 a 12 anos. “É claro, a maioria é mais importante que a minoria. Mas cidadãos que querem viver em um país democrá-tico devem aprender a res-peitar a opinião da minoria e ouvi-la atentamente”, diz outro trecho.

Interfax

A biblioteca pessoal de Lev Tolstói foi indicada ao pro-grama Memória do Mundo da Unesco, que lista docu-mentos em situação de risco que tenham valor de patri-mônio documental para a Humanidade.O acervo de Tolstói é vasto e contém manuscritos médi-cos chineses, arquivos do compositor austríaco de van-guarda Arnold Schoenberg, uma cópia da obra-prima do cinema expressionista ale-mão dos anos 20 “Metropo-lis”, livros antigos de mate-mática e astrologia iranianos e um compêndios das prin-cipais diretrizes do zen budismo.

Gazeta.ru

Presidente russo defende oposição em site infantil

Biblioteca de Lev Tolstói é indicada à Unesco

O Ministério da Saúde da Federação Russa pretende lançar um teste de drogas em estudantes russos. “Vamos ter conversações preventivas com os jovens”, explica o especialista em narcóticos do governo, Ev-guêni Brun. Ele destaca prin-cipalmente que não se deve temer que o adolescente que tenha teste positivo tenha o resultado registrado.“Não vamos fazer isso”, garante. Os testes começarão a ser aplicados em alunos a par-tir dos 13 anos de idade. “Se-gundo as estatísticas, é quan-do se dá a pr i mei ra experiência com drogas”, a� rma Brun Em Moscou, diz, há 30 mil dependentes químicos registrados. Entre toda a população da capital, pelo menos 1,5 mi-lhão de pessoas teria expe-rimentado drogas pelo menos uma vez na vida. Entre os moscovitas, as mais popula-res são a maconha, o ecstasy, a s a n feta m i nas e os alucinógenos.

ITAR-TASS

Ministério da Saúde fará teste de drogas em estudantes

Contra todos Bailarina é expulsa do partido Rússia Unida após publicar fotos em seu blog nas quais aparece nua

Mais conhecida pela demissão do Bolshoi por excesso de peso, a bailarina, atriz e política Anastassia Volotchkova agora leva seu estilo verborrágico para a oposição.

Anastassia Volotchkova, 33 anos, não prima exatamente pela discrição. Em seu casa-mento milionário com o em-presário Igor Vdovin, em 2007, ela chegou ao Palácio de Ca-tarina, em São Petersburgo, sentada em uma cadeira presa a um balão, com um vestido de contos de fada � utuando no ar. Antes disso, em 2003, ela havia se envolvido em uma polêmica com o balé Bolshoi, que a demitiu alegando que estava acima do peso, embo-ra ela a� rme se tratar da vin-gança de um ex-amante. Nada disso, porém, se equipara ao seu mais recente escândalo.Ao se sentir preterida pelo partido Rússia Unida, do pri-meiro-ministro russo Vladí-mir Pútin, ela resolveu cha-mar a atenção por meio de uma sessão de fotos nua. As imagens foram publicadas em seu blog e alteradas digital-mente para fazer parecer que o presidente do país, Dmítri Medvedev, do mesmo partido, a olhava com desejo. Ela acabou expulsa do parti-do e seguiu disparando sua metralhadora verbal: “Hoje em dia, integrar o partido Rússia Unida de Vladímir Pútin é um fato muito mais comprometedor para a repu-tação de alguém do que ter fotos nuas publicadas na in-ternet”, a� rmou em seu blog. Agora ela integra o grupo dos críticos do governo.

Anti-heroína russaVolotchkova virou mais uma vez o assunto do momento. E ela está interpretando um papel familiar: o da diva abandonada, sincera e ligei-ramente escandalosa. “Eu sou mais importante do que o seu partido!”, bradou em entre-vista recente. “Mantemos a posição � rme de não fazer co-mentário algum sobre o es-cândalo Volotchkova”, retru-cou a porta-voz do partido no poder, Inna Tchernavina.Em seu livro “A história de

uma bailarina russa”, Volo-tchkova compara os capítulos de sua vida com a trama dos 12 principais balés russos por ela estrelados. Quando adolescente, Volo-tchkova escutou de seus pro-fessores na Academia Vagá-nova – a notoriamente severa escola de balé que também treinou Vaslav Nijínski e Ru-dolf Nureiev – que uma bai-larina de ossos largos como ela jamais dançaria nos me-lhores palcos. Alguns anos depois, ela estre-ava como primeira bailarina de Mariinski, em O Lago dos Cisnes, no Metropolitan House de Nova York.

Expulsa do BolshoiEm seu relato, Volotchkova é sobrevivente de diversas ba-talhas dos bastidores, cerca-das de inveja e insultos. Ela descreve o drama do filme Cisne Negro como “um mar de rosas” se comparado às in-trigas no Balé Bolshoi.Depois de atuar como solista em seis grandes balés e de uma turnê mundial de cinco anos com a companhia, Volotchko-va foi chamada de “bailaria gorda” pelos executivos da companhia mais famosa do mundo. Ela seria demasiada-mente pesada para aparecer em um palco de teatro nova-

Unida como uma das diver-sas celebridades recrutadas para revigorar um partido ge-ralmente associado a burocra-tas insossos.Segundo ela, não faltou dedi-cação. Sua imagem estampou materiais de campanha e ela acompanhou governantes re-gionais em viagens à Europa Ocidental como embaixatriz da cultura. Volotchkova ainda apresentou-se para 6 mil bu-rocratas, magnatas do petró-leo, executivos da companhia de gás e gestores de fundos de investimento no maior salão de concertos do Kremlin. Há poucos meses, dançou entre as mesas de um encontro do Rússia Unida, deslizando entre homens de terno e gar-rafas de vodca. “Durante o tempo em que levantei a ban-deira do partido, eles eram meus amigos, mas agora me viram as costas”, diz.

Profissão oposiçãoA relação com o partido co-meçou a entrar em declínio em 2009, quando “problemas de papelada” levaram a sua exclusão na disputa pela pre-feitura de Sôtchi, cidade que irá sediar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014. De repen-te, performances como solis-ta estavam sendo canceladas por sua impertinência políti-ca em desa� ar um dos esco-lhidos pelo partido.A ruptura � nal, contudo, ocor-reu com a publicação das fotos, em fevereiro. “Minhas fotos na praia cau-saram indignação nas classes do partido. ‘Como isso é pos-sível! Um membro do Rússia Unida mostrando os seios’, as tias do partido gritaram as-sustadas”, ironizou Volotchko-va em seu blog. “De repente lembraram que eu era um membro do Rússia Unida.”Volotchkova foi exonerada pelos membros do alto esca-lão do partido, mas revidou dizendo que em 2005 o parti-do colocou, sem o seu conhe-cimento, sua assinatura em uma carta coletiva apoiando a prisão de Mikhail Kho-dorkóvski. Em comentário, Volotchkova disse que o ex-magnata do petróleo era “mais homem” do que aqueles que ela viu no partido de Pútin. O apoio a ela agora vem da oposição russa.

Balé, política e barracos

Com 49,5kg e 1,68m, a bailarina era “gorda” para o Bolshoi

ANNA NEMTSOVAESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

mente, e foi demitida em 2003, um ano depois de ganhar o prestigioso Prêmio Benois de la Danse.Volotchkova, no entanto, sus-peita da mão vingativa de um ex-amante poderoso, cujo nome ela não revela. Segun-do a própria, ela chorou sob as colunas de mármore do Bol-shoi. “Ninguém me deu uma palavra de apoio”, contou.A bailarina lembra com amar-gura do dia em que foi pega de surpresa por um repórter do New York Times, que levou uma balança para uma en-trevista, sem pedir permissão. O aparelho registrou 49,5 qui-los, peso aceitável para uma bai lar ina de 1,68m de altura.

Dança políticaLogo após o escândalo, Volo-tchkova entrou no Rússia

" Anastassia Volotchkova atraiu a atenção da elite russa ao mostrar o exem-

plo de uma posição civil virtuo-sa. Eu admiro a escolha dela.”

FRASE

Boris Nemtsov EX-PRIMEIRO MINISTRO (1997-1998) E ADVERSÁRIO DO GOVERNO

Contratado no começo do ano, jogador brasileiro agra-dece a hospitalidade e diz que já pensa em morar na Rús-sia por mais tempo do que os dois anos e meio previstos em seu contrato.

Você completou recentemen-te 38 anos. Dez anos atrás imaginava ainda estar jogan-do nessa idade, ainda mais no campeonato russo?Estive aqui mais de uma vez para jogar, tanto pela sele-ção brasileira quanto por clubes. E tinha vontade de voltar para cá, conhecer Moscou. Agora, esse sonho se tornou realidade. Estou morando numa cidade ma-ravilhosa e jogando num

clube maravilhoso, que é o Anji.

O que seus parentes acharam quando chegou a proposta do clube de Makhatchkalá?Para falar a verdade, toda a família � cou muito conten-te. Além disso, sou um joga-dor pro� ssional e, por isso, não devo escolher o lugar em que vou trabalhar. Para minha família, é mais uma oportunidade de conhecer um país novo, uma cultura nova, talvez até uma língua nova. Para nós brasileiros, isso é muito importante.

Alguns estereótipos sobre a Rússia se desfizeram depois que você veio para cá?Ainda é difícil falar algo con-creto sobre isso, mas encon-trei muita coisa na internet

que não correspondia de forma alguma à realidade. Na verdade, tanto Moscou quan-to Makhatchkalá são cidades excelentes para se morar. Tem muita mentira na internet.

Quais foram suas primeiras impressões sobre a capital e seus habitantes?Achei tudo muito bom, para ser sincero. Estou muito feliz de estar aqui. As pessoas na rua tratam a mim e a minha família muito bem. Geral-mente, pedem para tirar fotos e, no trânsito, começam a bu-zinar quando me reconhecem dentro do carro. Para mim, é uma grande honra.

E o metrô de Moscou, você já conheceu?Ainda não. Mas, um dia, sem dúvida irei com o meu tra-

dutor. Sou uma pessoa nor-mal, por que não andaria de metrô? Quero viver do mesmo jeito que os outros.

Você se mudou para Moscou com a família?Sim, com minha esposa e minha filha. Elas gostam muito de Moscou. No come-ço, tivemos algumas compli-cações relacionadas ao lugar onde íamos morar, mas agora já está tudo resolvido.

Ao longo da sua carreira, você jogou em cinco países diferen-tes. Qual é seu preferido?Morei onze anos em Madri. Nesse tempo, passei a gostar muito da Espanha. Na Itália gostavam muito de mim. Eu falava muito bem italiano. Agora vou morar dois anos e meio em Moscou e espero

depois poder responder que meu país favorito é a Rússia. E, para falar a verdade, es-pero passar mais de dois anos e meio aqui.

Os torcedores desses países são muito diferentes?É difícil comparar. Em cada país as pessoas torcem de ma-neiras muito diferentes. Na Turquia, as pessoas são sim-plesmente doentes por fute-

bol. Em Makhatchkalá tam-bém. Os torcedores apoiam o time de uma maneira sen-sacional. É claro que todo jo-gador precisa do suporte da torcida, especialmente jogan-do em casa. Em Makhatchka-lá, eles apoiam o time duran-te os 90 minutos da partida, o que dá uma motivação extra. Eles são o décimo-se-gundo jogador da nossa equipe.

Lateral-esquerdo quer mais tempo na Rússia

Roberto Carlos e a esposa: felizes com mudança para Rússia

ALEKSANDRA VLADIMIROVAR-SPORT

ENTREVISTA ROBERTO CARLOS

EX-CORINTIANO ALMEJA “VIVER COMO OS OUTROS E PEGAR METRÔ”

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Volotchkova postou em seu blog uma foto em que incluiu digitalmente o presidente russo olhando para ela nua

Veja slide show emwww.gazetarussa.com.br

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Gazeta Russawww.gazetarussa.com.breconomia e mercadonotasnegócios

O primeiro-ministro Vladí-mir Pútin declarou, na con-ferência inter-regional do Partido Rússia Unida, em Volgogrado, que a retomada das exportações de grãos devem ser feita de acordo com os resultados da safra deste ano.“Devemos ter a certeza de que com todo o volume vamos abastecer nossas ne-cessidades internas e gerar as reservas exigidas para o país”, disse Pútin.A Rússia impôs o embargo às exportações de grãos em 15 de agosto do ano passa-do, já que com a seca excep-cional do verão a colheita de 60,9 milhões de toneladas de grãos foi 37% menor em re-lação à de 2009.

ria nóvosti

O Ministério do Desenvol-vimento Econômico da Rús-sia propôs que o aumento dos impostos de exportação sobre a gasolina seja pror-rogado até junho, declarou o vice-chefe do ministério, Andrei Slepnev. O imposto de exportação cresceu, desde o início de junho do ano passado, até US$ 462,1 dólares por tonelada.Com o aumento no preço da gasolina e a escassez de com-bustível desde o dia 1º de maio, o governo subiu os im-postos sobre a exportação de gasolina mais do que o pre-visto – em até 90% da taxa do imposto sobre o petró- leo –, prometendo suspendê-lo com o fim do déficit.

ria nóvosti

retomada da exportação de grãos

imposto sobre gasolina pode continuar

O custo da organização do transporte ferroviário na Rússia para a Copa do Mundo 2018 será superior a 1 trilhão de rublos (R$57,8 bilhões). O conceito de desenvolvi-mento da rede ferroviária é composto por quatro pontos: a organização da rapidez do tráfego, o transporte entre aeroporto e cidade, e o de-senvolvimento dos estacio-namentos de trens. O financiamento do governo será usado também para o desenvolvimento de infraes-trutura para os Jogos Olím-picos 2014 em Sôtchi, no sul do país. Segundo os planos iniciais, a Copa do Mundo será rea-l izada em 13 cidades russas.

Lenta.ru

Ferrovias vão consumir r$ 57 bilhões na copa

O primeiro carro híbrido russo, o Io-Mobile teve 41 mil encomendas nas primeiras 24 horas de seu lançamento, segundo o fabricante Io-Au-to. Nos modelos furgão, ha-tchback de cinco portas e crossover, a versão mais acessível custa 360 mil ru-blos (cerca de R$ 20 mil). O Io-Mobile tem 60 cv, motor rotativo de palhetas, gerador e supercapacitores que ali-mentam os motores elétricos de acionamento. Ele conso-me 3,5 litros por 100 km, com reserva de potência de até 1,1 mil km.A entrega dos carros híbri-dos vai começar no segundo semestre de 2012, na cidade de São Petersburgo.

Lenta.ru

em 24 horas, carro tem 41 mil encomendas

Diante desses homens, os pra-tos parecem pequenos. Todos os caubóis norte-americanos emagreceram, mas eles não estão ali de férias. “É tudo di-ferente, desde a comida até a cultura e a estrutura local. Só o clima é o mesmo”, diz Dan Conn, caubói que já concluiu o primeiro dos dois meses que ficará no rancho.O tempo pode ser o mesmo de Montana, mas a terra é muito diferente. “Alguns dos solos mais férteis do mundo estão nessa região. Isso não existe no lugar de onde eu venho”, diz Stevenson.

independênciaO gado angus importado cus-tou aproximadamente US$ 7 milhões e o investimento total no rancho gira em torno de US$ 19 milhões, dos quais quase US$ 15 milhões foram subsidiados pelo governo por meio de empréstimo do Sber-bank, o maior banco de vare-jo da Rússia. “O que a Rússia precisa é de gado vivo e, em relação a isso, eles estão pensando muito a frente e estão bastante empe-nhados”, diz Stevenson. O país importa regularmente de 40 mil a 50 mil bovinos vivos por ano, segundo os EUA. Só durante o ano de 2011, o

país importou mais de US$ 1 bilhão do Brasil, ou quase 300 mil toneladas do produto. O governo quer reduzir esse número, e a Doutrina de Se-gurança Alimentar assinada pelo presidente Dmítri Mede-vdev há um ano define que a Rússia produza domestica-mente 85% da carne consu-mida até 2020.Um dos sócios russos da em-preitada, Serguei Gontcharov afirma que reduzir as impor-tações é tão importante para o governo que os subsídios co-brem um de cada quatro dó-lares injetados no projeto. “Em um gado como o nosso, uma vaca custa de US$ 3 mil

cursos, mas o que eles preci-savam mesmo era de gestão, talvez até mais do que o gado vivo em si”, diz Stevenson. A fazenda tem três veteriná-rios qualificados, mas alguns dos camponeses nunca traba-lharam com gado antes. De-pois de um mês no serviço, en-tretanto, o russo Leonid já se apresenta como caubói. “É a primeira vez que faço esse trabalho. Quando as vacas começam a dar cria, nós as trazemos para dentro e to-mamos conta delas. Se os be-zerros adoecem, nós os aque-cemos”, conta entusiasmado. O chefe dos veterinários, Alek-sandr Narítsin, admite que

empresário pretende ampliar criação de gado

investimento total no rancho russo tocado por norte-americanos chega a us$ 19 milhões. além das técnicas para lidar com o gado, há lições de gestão

teria sido impossível tomar conta do rebanho sem a ajuda estrangeira.

Desafio de caubóiNo início de dezembro não havia praticamente nada na região. Agora, mais de 900 be-zerros já nasceram na fazenda. “Agradecemos imensamente aos norte-americanos. Se não fossem eles, nós estaríamos correndo atrás de uma única vaca o dia todo – eles conse-guem trazê-las de volta em 10 minutos”, diz Narítsin. Quando o gado chegou de Chi-cago ao aeroporto Cheremé-tivo, nos arredores da capital, os funcionários do local não foram tão ágeis. Stevenson recorda que uma vaca escapou na transferên-cia do Boeing 747 para o ca-minhão que as levaria ao ran-cho. O aeroporto ficou fechado para pousos por quase uma hora, até que a fugitiva foi en-curralada e levada para den-tro do transporte. Ensinar os colegas russos a cuidar do rebanho foi a parte mais difícil do trabalho para os caubóis. “Quando a opor-tunidade surgiu, apareceram dois ou três deles sobre seus cavalos em apenas alguns mi-nutos. Tivemos que mostrar a eles como colocar sela em um cavalo – acho que nenhum deles tinha montado realmen-te antes. Um deles caiu de ca-beça no segundo dia”, conta Stevenson. Para o caubói Dan Conn, nem todo trabalhador rural tem o que é preciso para realizar o trabalho. “Nós somos ranchei-ros de nascença, pecuaristas, e ensinar alguém que é rela-tivamente novo no ramo, que nunca teve ao seu redor mais que uma vaca leiteira ou al-guns porcos e ovelhas, é um grande desafio”, diz.Já Stevenson vê o empreen-dimento como uma oportu-nidade de colaborar para o progresso local, além de uma importante troca de cultura. “É uma porção do mundo que tem muitos recursos naturais e que é plenamente capaz de fazer isso”, acredita.

continuação Da página 1

transparência Site de busca lança relatório de 2 mil páginas sobre os desafios no país antes de lançar seu IPO

considerado o “google russo”, Yandex se prepara para abrir capital e espera arrecadar pelo menos us$ 1,3 bilhão, mas sem o uso de artifícios.

má gestão de recursos é maior vilã da capacidade de produção russa e Kremlin muda foco no investimento para competitividade.

Dizer aos investidores como é perigoso trabalhar na Rússia pode parecer uma forma inu-sitada de vender ações de uma empresa, mas foi isso que o Yandex, o site de busca líder na Rússia, fez em sua espera-da oferta pública inicial de ações (IPO). Ao mesmo tempo, em seu pros-pecto de 2 mil páginas, a em-presa se desdobrou para des-tacar os riscos políticos e os perigos da compra de ações por oligarcas próximos às au-toridades. “Empresas de alta penetração na Rússia, como a nossa, podem ser vulneráveis a ações motivadas pela polí-tica”, afirma o relatório. O site apresentou oficialmen-te junto à agência federal nor-te-americana Securities and

Exchange Commission (SEC, a Comissão de Valores Mobi-liários) uma relação de 52,2 milhões de ações a preços de US$ 20 a US$ 22 cada no iní-cio de maio. Isso daria ao Yandex um valor de US$ 6,7 bilhões no topo da

conta da acelerada recupera-ção econômica.

“caixa preta” Nos termos da legislação russa, todos os provedores de inter-net devem permitir que o FSB, o serviço de segurança da Rús-sia, instale uma “caixa preta” em seus servidores, com a fi-nalidade de monitorar todo o tráfego de e-mails. Em abril, o FSB levou a me-dida à risca, afirmando que o Skype e o Gmail representam séria ameaça à segurança e solicitando sua proibição.O presidente Dmítri Medve-dev nega o caso, mas a discus-são coloca em evidência o con-traste das difíceis relações do Estado com as vias de informação. O líder da oposição Boris Nemtsov afirma que o Estado forçou a maioria dos provedo-res de internet a excluir sites da concorrência de seus servidores. No início de maio, quando a empresa anunciou que o FSB tinha forçado a companhia a

dar detalhes dos usuários do Yandex.Dengi, seu sistema de transferência monetária, houve uma grande polêmica. Mais precisamente, o FSB pedia informações sobre os pa-trocinadores do ativista anti-corrupção Aleksei Naválni. Uma semana depois, o Comi-tê Investigativo da Rússia – a mais alta instância de inves-tigação do país – abriu inqué-rito para apurar as atividades de Naválni, alegando que ele usava sua posição de conse-lheiro do governador de Kirov, que exerceu durante o ano de 2009, para forçar uma madei-reira a entrar em um acordo desfavorável. Ainda assim, os investidores parecem não se importar com os riscos – desde que os pre-ços sejam vantajosos. “Os in-vestidores com quem estamos lidando não estão prestando muito atenção ao risco políti-co”, afirma Aleksandr Vengra-novitch, analista de mídia e TI do Yandex. “Eles estão mais interessados no crescimento do Yandex.”

Yandex alerta sobre os riscos na Rússia

gigante da internet no país detém 64% do tráfego de busca. o google é o segundo, com 22%

tim gosLing gazeta ruSSa

Dmítri DovLatovgazeta ruSSa

No fim de abril, o primeiro-ministro russo Vladímir Pútin lançou um desafio em seu re-latório anual para a Duma (a câmara dos deputados na Rús-sia), no qual propõe dobrar a produtividade do país na pró-xima década. Se o governo realizar a proe-za, duplicará o tamanho da

economia da Rússia, cuja pro-dutividade é um terço da nor-te-americana. O grupo de con-sultoria McKinsey, entretanto, aponta em um relatório de 2010 que entre 60% e 80% dessa diferença deve-se tão somen-te à má gestão de recursos. “A Rússia tem que se tornar um país verdadeiramente competitivo. Esse é um re-quisito básico para governo, empresas e instituições so-ciais. Se olharmos para a pro-dutividade do trabalho, esse índice é muito menor na Rús-sia do que nas principais eco-nomias”, afirmou Pútin.

“O mínimo que podemos fazer é dobrar esse número na pró-xima década, ou talvez até tri-picá-lo ou quadrupicá-lo nas indústrias de maior destaque”, completou. Em relatório de abril, a OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvol-vimento Econômico) destaca a baixa produtividade dos mercados emergentes do Oriente como um dos princi-pais problemas enfrentados pelos governos regionais.“A capacidade das políticas fiscais e monetárias para con-tinuar apoiando a recupera-ção está praticamente esgo-

tada, portanto uma ênfase na implantação de reformas es-truturais é a única maneira de impulsionar o crescimen-to”, disse o secretário geral da OCDE, Angel Gurría.“Os EUA sofreram um boom de produtividade por um longo período em virtude de sua ino-vação. A Grã-Bretanha o fez por meio da liberalização. As economias emergentes terão em breve que começar a pro-mover inovações em si mes-mas”, afirma Plamen Mono-vski, diretor de tecnologia da informação do fundo Renais-sance Asset Managers.

O Estado deu início ao pro-cesso de melhoria da gestão na Rússia, com grandes re-cursos destinados à criação da escola de negócios de Skôlkovo, que treinará a nova geração de gestores. O

segundo pilar do programa é promover inovação e alta tecnologia. Pútin afirma que a produção inovadora na pró-xima década irá aumentar dos 12% atuais para 25% ou 35%.

Primeiro-ministro quer dobrar produtividade

pútin cobra que a rússia seja um país mais competitivo

variação, fazendo dele a maior empresa online da Europa, se-gundo analistas do banco de investimento russo UralSib.O Yandex afirma deter 64% de todo o tráfego de busca na internet russa – enquanto o Google tem apenas 22%.

Em termos de receita, o site local é a maior empresa de in-ternet do país. Isso lhe dá grandes chances de desenvol-vimento rápido, já que a banda larga está difundida por todo o território e gastos com pu-blicidade vêm crescendo por

produção Desempenho do país equivale a um terço do norte-americano

a US$ 4 mil, e os touros, de US$ 6 mil a US$ 8 mil”, diz Gontcharov. Parte do valor está relacionado aos custos do transporte, que foi feito por avião ou navio a partir da Eu-ropa, da Austrália ou da Amé-rica. “A esses preços, podemos facilmente pagar o banco e até mesmo lucrar [com a venda]”, completa.

técnica americanaSputnik, a empresa de Gon-tcharov nos entornos de São Petersburgo, já está envolvi-da no processo de transferên-cia de embriões de gado e fer-tilização in vitro. “Queriam o melhor da tecnologia e dos re-

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Page 5: Gazeta Russa

Gazeta Russawww.gazetarussa.com.br economia e mercado

Quando o banco Nomos re-alizou o primeiro IPO de um banco comercial privado na Rússia, no meio de abril, o ano ainda não tinha come-çado para as ofertas públi-cas iniciais de ações. Cinco empresas russas tentaram vender suas ações em feve-reiro, mas os proprietários se excederam no preço, e o re-sultado ficou longe do esperado. Apenas uma oferta de ações secundárias do gigante banco estatal VTB e um pequeno IPO de US$ 16 milhões em Frank-furt pela cadeia de pizzarias Papa John ultrapassaram a arrecadação.Depois do recorde de US$ 54 bilhões na primeira metade de 2008, os 22 IPOs dos últi-

IPo Banco Nomos é a primeira instituição privada do setor a fazer uma oferta pública inicial de ações e desperta o mercado

após começo de ano fraco, o duto russo de ofertas públicas iniciais de ações (IPo, na sigla em inglês) está abrindo rapidamente, e os investimentos inundam o país. são esperados us$ 50 bilhões em dois anos.

mos dois anos levantaram ape-nas US$ 12 bilhões. Um dos maiores bancos rus-sos, o Nomos, angariou US$ 710 milhões na Bolsa de Va-lores de Londres, com 22% das ações flutuando próximas ao índice máximo de sua varia-ção de preço. Com a arrecadação, o Nomos, que apresentava baixos fun-dos após ter adquirido o Banco Khanti-Mansisk, em dezem-bro, será recapitalizado.A demanda reprimida por IPOs entre os empresários está crescendo rapidamente, mas ainda não foi acompanhada pela demanda de investidores internacionais. Analistas afir-mam que pelo menos US$ 50 bilhões devam ser lançados em IPOs nos próximos dois anos.

bom presságioEmbora as ações do Nomos tenham sido fixadas a um valor próximo ao topo da va-riação, o valor foi baixo. O preço do IPO avalia o banco em US$ 3,2 bilhões ou 50% mais que o valor de tabela – que correspondia ao dobro disso antes da crise.“Os investidores não estavam completamente convencidos, então foram diretos em rela-ção ao preço”, afirma um ban-queiro que cuidava do IPO antes do anúncio. “Antes da crise, os proprietá-rios estipulavam o quanto qui-sessem e, para ser sincero, os investidores estavam dispos-tos a pagar. Agora as empre-sas precisam se conter e os in-vestidores estão exigindo um desconto saudável”, completa.Antes da crise, a maioria dos IPOs russos tinha o preço fi-xado pelo rápido crescimento.

cário russo em ativos, e os me-nores Banco Vozrojdenie e Banco São Petersburgo, que têm uma liquidez combinada de US$ 300 milhões e não re-alizaram formalmente IPOs.O IPO do Nomos é uma novi-dade bem-vinda que fica entre esses dois grupos, com US$ 700 milhões no mercado de ações. O Nomos é mais um grupo bancário financeiro-industrial clássico, que dominava os ne-gócios na década de 1990, do que um tradicional banco universal.A maior parte das arrecada-ções do Nomos vem de tran-sações bancárias corporativas, já que 50% de suas ações mais uma pertencem ao Grupo IST, holding de São Petersburgo que tem participação expres-siva em engenharia, minera-ção e transporte de ouro.A maioria dos bancos bem-su-cedidos na Rússia cresceu de-vido ao apoio de grupos in-dustriais relacionados, os quais usam como plataforma para construir um negócio mais diversificado. No caso do Nomos, o retorno sobre capital próprio foi de 18% a 20% em 2010, contra as médias do setor na ordem de 3% a 5%. “O Nomos está em ótima posição, se comparado ao resto do setor”, diz o ana-lista da Uralsib, Leonid Slipchenko.Segundo ele, o Nomos teria sofrido menos que a maioria dos bancos russos durante a crise e possuiria bons ativos, a l é m d e f o r t e b a s e financeira.“Como a economia está se re-cuperando, ele está realmente em uma posição muito forte, o que atrai a atenção dos in-vestidores”, completa.

a retomada das aberturas de capital

Quinto banco a abrir capital no país, Nomos será opção intermediária para o portfólio russo

Em outras palavras, eles eram caros e quase todos apresen-tavam desempenho inferior em sua variação (com algu-mas notáveis exceções). O sucesso do IPO do Nomos destaca a crescente atrativi-dade das ações russas. O país é o único dos Brics a ter en-trada líquida de investimento em carteira desde janeiro. Além disso, o setor bancário em rápido crescimento se man-tém o preferido entre os in-vestidores e foi um dos pri-

meiros a se recuperar da crise de 2008.“Muitos investidores estão olhando para o Nomos sim-plesmente porque ele está no lugar certo na hora certa, e não por sua evolução históri-ca”, diz David Nangle, diretor de pesquisa no Renaissance Capital. “Com o Nomos, criam-se ações de médio porte com liquidez decente, tapando um buraco em muitas carteiras de investidores dedicados à Rús-sia”, analisa. A Rússia tem quatro bancos de capital aberto: os estatais Sberbank e Banco VTB, que juntos somam bem mais da metade de todo o setor ban-

tIm goslINggazeta russa

" A lição extraída dos IPOs de baixo desempe-nho é que o preço não

estava correto. No entanto, co-mo em qualquer outra bolsa de valores, o risco é do comprador e os investidores devem fazer sua lição de casa"

frase

aleksandr Krapivkodiretor de operações do BaNco de iN-

vestimeNtos reNaissaNce capital

agora as empresas precisam se conter e os investidores estão exigindo um desconto saudável

antes da crise, proprietário estipulava o quanto quisesse e o investidor pagava

Dinheiro virtual sistema de pagamento online norte-americano terá concorrência do Webmoney e do local Yandex.dengi

sem medo da corrupção, que afastou outras empresas do setor, empresa está de olho em um mercado cujas vendas cresceram 40% apenas em 2010.

O sistema de pagamento para comércio eletrônico PayPal está planejando sua entrada na Rússia em um momento no qual a modalidade começa a decolar. Só em 2010, as ven-das on-line cresceram 40% no país, segundo o diretor da As-sociação Russa de Comu-nicações Eletrônicas, Serguei Plugotá-renko, e espera-se que esse volume au-mente em 17% neste ano, chegando a 245 bilhões de rublos (R$ 14,2 bilhões).A Rússia possui um dos mer-cados de internet que mais ra-pidamente cresce no mundo, e o número de compradores registrou um aumento expres-sivo nos últimos três anos. “A quantidade de pessoas co-nectadas à internet dobra a cada 18 meses e, no fim de 2010,

at i n g iu a m a r c a do s 57 milhões de usuários no país”, afirma Plugotárenko.

Na sibéria tem, simAs conexões de banda larga crescem cerca de 3% ao mês

e a penetração atingiu 29,7% em dezembro, segundo rela-tório da AC&M-Consulting.A maioria dos novos acessos é de regiões mais remotas da Rússia, onde os moradores ge-ralmente veem a internet como

uma ferramenta educacional e uma forma de mostrar o mundo a seus filhos. O número de usuários na Si-béria cresceu 4,3% somente em dezembro, ultrapassando os índices de Moscou.

O crescimento das vendas on-line, entretanto, tem avanço lento, já que ainda é muito difícil pagar por produtos e serviços. “A baixa penetração de car-tões de crédito faz com que seja difícil receber dos clien-tes, mesmo quando eles estão dispostos a pagar por alguma coisa”, afirma o proprietário da livraria virtual Bookmate.ru, Simon Dunlop. “Em algumas empresas rus-sas como Yandex.Dengi e WebMoney, embora seja pos-sível fazer pagamentos on- line, é necessário antes inse-rir créditos na conta por meio de transferência bancária. A única maneira de fazer com-pras instantâneas é usando o serviço de mensagem de texto [SMS], o que as torna extre-mamente caras”, completa. Por esse método, o cliente envia um SMS para um nú-mero especial com o pedido e a cobrança é descontada do saldo do aparelho. No entan-to, as empresas de telefonia cobram até 40% do valor da compra pelo serviço, segundo Dunlop.

Assim, menos de 25% dos usu-ários de internet na Rússia fi-zeram compras pela internet em 2010, de acordo com Plugotárenko. Paralelamente, a renda total gerada pelos anúncios virtu-ais aumentou 40% no ano pas-sado, passando para 26,7 bilhões de rublos (cerca de R$1,5 bilhão).

mercado a vistaCom esse cenário, o PayPal teria tomado a “decisão estra-tégica” de entrar no mercado virtual russo, de acordo com o periódico de negócios russo RBC. A empresa norte-americana estaria apenas aguardando a aprovação de leis referentes ao sistema de pagamento nacio-nal para abrir seu escritório no próximo ano. A iniciativa do PayPal vai na contramão de outras empre-sas virtuais norte-americanas como a CompuServe, que em 1998 cortou acesso para a Rús-sia alegando que muitos ha-ckers haviam criado contas falsas ou usado números de cartões de créditos roubados ou falsificados, acumulando enormes encargos sobre os serviços. O PayPal está mais confiante em relação ao potencial do mercado e já está em negocia-ções com os provedores de in-ternet locais e empresas de te-lefonia celular. “Em linhas gerais, a empresa não está interessada somente na Rússia, mas na CEI (Co-

munidade dos Estados Inde-pendentes) como um todo”, descreve o RBC.Em 2009, os principais siste-mas de pagamento on-line no país, Yandex.Dengi e WebMo-ney, foram responsáveis por 90% das transações no mer-cado virtual russo, segundo a Associação de Dinheiro Ele-trônico. Portanto, o PayPal terá que enfrentar uma con-corrência já estabelecida. A WebMoney foi fundada em 1998 e registrada em Belize, país da América Central onde seu proprietário e administra-dor vive. Originalmente pro-gramada para atender clien-tes russos, a empresa vem crescendo rapidamente e hoje afirma ter mais de 14 milhões de usuários pelo mundo todo.

PayPal planeja entrada no mercado russo e mira a CEI

cartões não são disseminados no país, o que gera demanda por outras formas de pagamento

serguei Vassiliev, copresi-dente do conselho empresa-rial rússia-brasil

beN arIsgazeta russa

por cento foi o aumento das vendas on-line russas no ano passado. Espera-se que o nú-mero cresça 17% esse ano

bilhão de reais foi a renda to-tal gerada por anúncios virtu-ais na Rússia

40

1,5

Números

O especialista Serguei Vassi-liev acredita que agora os membros dos Brics têm recur-sos financeiros suficientes para tentar criar um meca-nismo alternativo ao FMI. “Não é uma questão de di-nheiro, mas de oportunidade. A criação de um fundo pró-prio significaria o surgimen-to de um órgão supranacional de administração, e isso tam-bém é um sério desafio”, sublinha.

Para Vassiliev, qualquer opção escolhida pelos Brics acarre-tará uma transformação do sistema financeiro internacio-nal e um reforço significativo do papel do ouro.“Já que não há nenhum subs-tituto para o dólar no futuro próximo e as perspectivas quanto a ele não são claras, é muito provável que seu lugar seja ocupado novamente pelo ouro. A China ainda não é um país forte o suficiente para transformar o yuan na moeda internacional, e é improvável

que isso aconteça nos próxi-mos 10 anos. Isso não signifi-ca que o mundo retornará ao sistema anterior do padrão-ouro, que existiu até 1973, mas o papel do ouro terá que au-mentar”, acredita Vassiliev. Sobre o impacto do Brics no consumo de energia, ele ob-serva que a adoção de tecno-logias de eficiência energética pela China e pela Índia de-penderá do balanço de ener-gia do mundo. O atual perigo para o mercado mundial de energia residiria no fato de

que a China e a Índia estão na fase de industrialização primária, na qual não apenas a economia cresce, mas tam-bém o consumo de energia.E o balanço energético global é muito intenso. A taxa de crescimento da eco-nomia chinesa está na faixa dos 10% ao ano, o que duran-te os próximos 10 anos vai sig-nificar um aumento inevitá-vel dos preços do mercado de energia. Diante disso, deve-se lembrar que a Índia, a Rússia, a China e o Brasil são as maiores po-tências continentais em rique-za ambiental, da qual depen-de toda a ecolog ia do mundo. Para Vassiliev, o modo de de-

senvolvimento da dinâmica de produção e consumo de produtos agrícolas nos países dos Brics dependeria, em grande medida, do balanço global de alimentos.Nos países dos Brics vivem 42% da população da Terra, contando com cerca de 26% do território do planeta. E os principais fatores de tensão, na opinião de Vassiliev, são a rápida urbanização da China e da Índia e o forte aumento dos padrões de consumo. Isso causaria um rápido aumento na demanda por produtos agrícolas ao longo dos próxi-mos 5 a 10 anos.

rússiaA Rússia foi o membro mais

afetado do grupo pela crise, e sobreviveu à mais impres-sionante queda do PIB nas úl-timas décadas. No entanto, es-pecialistas acreditam que desde o ano 2000 a Rússia tem demonstrado um aumento constante das taxas de crescimento.Além disso, no que se refere ao nível de desenvolvimento econômico, ela teria ultrapas-sado seus colegas em cinco vezes. “A Rússia continua a deter, como antes, 3% do PIB mundial. Em seus melhores anos, a União Soviética dete-ve 8%, e isso somente porque a maioria dos países em de-senvolvimento estava em es-tado simplesmente deplorá-vel”, diz Vassiliev.

A importância dos BricscoNtINuação PágINa 1

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Page 6: Gazeta Russa

GAZETA RUSSAWWW.GAZETARUSSA.COM.BREspecial

POR UMA FAMÍLIA MAIS CARINHOSA

EDUCAÇÃO

O colapso na comuni-cação entre pais e � lhos na Rússia já se arrasta por déca-

das – e começou muito antes da perestroika. Pelo menos seis gerações de russos não foram ensinadas a criar laços e se tornar amigas de seus próprios � lhos.E não me refiro ao tipo de amizade na qual não existem limites ou controle, mas a uma relação na qual os pais possam curtir e respeitar seus � lhos, permitindo que a in-dividualidade deles � oresça com o passar do tempo.Esse tipo de criação tem sido, até recentemente, ausente na relação entre pais e � lhos na Rússia. Agora, vemos apenas alguns traços dessa relação quando os pais viajam com as crian-ças, leem livros educativos e percebem que existem outras formas de educá-los que vão além dos métodos de antigamente. Entretanto, ainda há uma longa estrada pela frente, a qual eu chamaria de educa-ção saudável e feliz. Por regra, pais russos não elo-g i a m s e u s f i l h o s o su� cente. Depois de determinada idade, quando as crianças entram na escola, os pais dei-xam de ser afetivos no tom e na linguagem usada den-tro de casa. Contudo, o pri-meiro passo para a vida fa-miliar na Rússia é elogiar nossos � lhos de um modo que nunca fomos elogiados quan-do crianças.

Curar o trauma familiarPara essas seis gerações rus-sas, foi ensinado que, para educar os � lhos, era preciso demonstrar poder. Durante os tempos soviéti-cos, a única maneira de um cidadão do país – traumati-zado, se não “assombrado”, pela presença do Estado – sentir-se poderoso era dando ordens aos mais jovens. Os � lhos estavam ali para serem controlados. Como re-sultado, diversas gerações foram criadas como deuses e escravos. Não havia estímulo à comu-nicação entre os membros da família, e a alegria da vida familiar era completamente suprimida.Com o intuito de estabelecer uma ligação com os � lhos, os pais russos precisam co-meçar a desenvolver a ami-zade assim que as crianças nascem, tendo em mente que eles não são piores por pe-sarem menos ou serem mais baixos. Vou ainda mais longe: as crianças são mais esper-tas do que os adultos!Se você puder começar a per-ceber seus � lhos como mem-bros legítimos da sociedade desde o início, também será capaz de se colocar no lugar deles sem ter que � car dando ordens. Assim, será possível discu-tir quaisquer questões que possam surgir escutando os argumentos das crianças e propondo os seus. Temos expectativa de que nossos filhos sejam cópias melhores de nós mesmos, ou uma espécie de troféu. Não aprendemos que eles não devem fazer o que fazemos

ou gostar do que gostamos.Esse conceito de indivíduo é praticamente inexistente na Rússia atual.Mas o que se pode esperar de uma nação que foi privada de seus cidadãos mais instru-ídos, incluindo o clero, du-rante quase todo século 20? O clero foi exterminado en-quanto a “intelligentsia” de todos os setores foi deporta-da logo nos primeiros dias após a revolução. Não acredito que se possam listar todas as razões por trás do mal-estar da família mo-derna. Mas isso envolve uma grande falta de con� ança e, secundariamente, a incapa-cidade de reconhecer os sa-grados direitos dos outros. Essas são as mesmas gera-ções que aprenderam a tomar o que pertence aos outros.O que os bolcheviques � ze-ram em 1917? Implantaram uma política de saque, ao in-ventarem a ideia de que a pro-priedade de alguém é sempre potencialmente sua. Essa é uma das principais causas da perda da nossa moral, do nosso cinismo. Por que estamos falhando em nos tornar um país realmen-te capitalista? O capitalismo se apoia em dois grandes pi-lares: o reconhecimento do direito sagrado de proprie-dade privada e a con� ança. O princípio da con� ança des-moronou completamente e o direito à propriedade priva-

da simplesmente não faz parte de nossa visão de mundo.Na Rússia, alguns pensam que o marido alheio é uma propriedade em potencial, e o mesmo acontece com as mu-lheres de conhecidos. Ainda na escola, as meninas começam a avaliar o que há no bolso dos colegas.Vamos pegar o exemplo de uma mulher que seja jovem, atraente e casada. Na Rússia, ela pode começar a procurar um novo parceiro entre os amigos do seu marido. Se ela entrou no casamento como uma forma de “ascen-são social”, ninguém pode es-perar dela � delidade e, con-sequentemente, não pode haver con� ança. Ela continuará procurando um marido mais rico, en-quanto seu marido poderá se encontrar com mulheres cada vez mais jovens e sexualmen-te atraentes, tratadas como mero objeto.É claro que existem muitas exceções maravilhosas, os chamados românticos russos, que se casam na esperança de passar suas vidas juntos. Esse tipo de amor e con� an-ça existe na Rússia como em qualquer outro lugar do mundo. Mas não com a fre-quência necessária. É hora de difundir a con� an-ça, e repassá-la a nossos � -lhos. Antes que seja tarde demais.

Elena Zaretskaia

ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Elena Zaretskaia é diretora da Escola de Ciências Sociais na Academia Presidencial Russa de Economia Nacional e Adminis-tração Pública e criadora do conceito de “educação comuni-cativa na Rússia”.

Durante a era soviética, fa-mílias grandes eram conside-radas uma anomalia. E essa hostilidade às famílias gran-des se mantém mesmo com os incentivos do governo para enfrentar a queda de natali-dade na Rússia.Maria Ipátova, 25, tem dois � lhos, um de dois anos e outro de seis meses, e planeja um terceiro. Mas ela é uma ex-ceção. Somente 3% de todos os casais têm mais de dois � lhos e 48% não têm nenhum, segundo o serviço federal de estatís-ticas Rosstat. “Ter apenas uma criança a torna egoís-ta, enquanto duas se tornam rivais. Três, contudo, formam uma família”, crê Ipátova.Psicólogos e sociologistas já anunciam a “crise” e até mesmo a “extinção” da instituição familiar. Estatísticas do Rosstat mostram que, enquanto cerca de um mi-lhão de casamentos são registrados na Rússia todos os anos, 700 mil casais de separam. Isso signi� ca que quase três

Baixa natalidade Nem programas de incentivo do governo estimulam aumento da população

a cada quatro casamentos simplesmente não dão certo.Não se trata apenas do núme-ro de divórcios. Mais e mais casais vivem juntos em vez de se casarem, e preferem isso ao registro de matrimônio, algo que era impensável du-rante os anos soviéticos. Mais de 30% das crianças rus-sas nascem de mães solteiras,

segundo estudos do Ministé-rio da Saúde e do Desenvol-vimento Social. Além disso, há uma queda preocupante na taxa de natalidade. O nú-mero médio de � lhos por fa-mília russa é 1,59, compara-do ao índice de 1,9 em 1990.A Rússia ainda está entre os líderes mundiais no número de abortos, com 60% de ges-tações interrompidas, de acor-do com o Rosstat. Pesquisas do VTsIOM, o órgão de estatísticas o� cial do go-verno, mostram que aproxi-madamente 30% dos russos não querem ter filhos por causa das di� culdades � nan-ceiras e pela falta de apoio do governo às famílias. Uma a cada cinco mulheres entre 24 e 35 não está prepa-rada para casar e ter filhos porque quer antes seguir uma carreira, índice agravado pela escassez de creches e os altos custos das babás.

Estímulo estatalO Estado está tentando incen-tivar famílias jovens a ter mais � lhos, sobretudo oferecendo um bônus de 365 mil rublos (R$ 21 mil) concedido no nas-cimento do segundo e do ter-ceiro � lho. Enquanto as me-

didas levaram ao aumento de 22% na taxa de natali-dade desde 2006, segundo mostra o VTsIOM, elas não são suficientes para

resolver por completo a crise demográ� ca.

No ano passado, o partido go-vernante Rússia Unida tomou uma medida desesperada. Os deputados do governo regio-nal de Tcheliabinsk propuse-ram a introdução de um im-posto para famílias sem � lhos - o qual existiu na URSS entre 1942 e 1992. Os homens entre 20 e 50 anos que não possuíssem � lhos e fossem casados com mulhe-res entre 20 e 45 anos deve-riam pagar 6% do salário em impostos até que tivessem um filho ou decidissem adotar uma criança. Os membros da Duma (a câ-mara dos deputados na Rús-sia) cogitaram multar os pais que não tivessem � lhos há al-guns anos, mas uma revolta pública em relação à iniciati-va forçou os deputados a de-

Número de casamentos diminui, uniões terminam mais rápido e casais decidem não ter filhos. O governo cogita até a aplicação de multa por falta de filhos.

ELENA NOVIKOVAGAZETA RUSSA

A cena da foto é raríssima na Rússia. A taxa de natalidade está estacionada em 1,59 filho por mulher

Até que a morte os separe?

entre 10 e 19 anos de casamento

22%

depois de mais de 20 anos de casamento

10%entre 5 e 9 anos de casamento

28%

dos divórcios acontecem nos primeiros quatros anos vivendo juntos

40%

Evolução do estado civil na Rússia*

Estruturaatual dafamília russa

sistir da ideia e procurar mé-todos mais racionais para combater o problema. Victória Iakovleva, 34, foi ca-sada por cinco anos. “Não é que eu seja uma partidária de um movimento de famílias sem � lhos. Pelo contrário, eu sei que as crianças trazem muita felicidade e incorporam o sentido pleno da vida. Mas eu simplesmente não tenho tempo para elas”, diz. “Temos um financiamento imobiliário para pagar e tra-balhamos muito. Eu não quero ter um � lho para que ele seja criado por uma babá. Quero criá-lo eu mesma, mas, infe-lizmente, é muito difícil ser mãe em nossa sociedade”, a� r-ma. Como os números deixam claro, ela está longe de ser a única a pensar assim.

Em Moscou e em outras cida-des russas, as agências espe-cializadas em pro� ssionais de serviços domésticos também estão oferecendo o serviço de pais de aluguel. O custo na capital russa é de 500 rublos (R$28) por hora, e de quatro mil a seis mil ru-blos (R$230 a R$345) por dia. Nas demais regiões, o valor tende a ser menor.“Não tenho � lhos e não sei se jamais os terei, mas precisa-va do dinheiro e estava dis-posto a fazer quase qualquer coisa”, conta Vladímir, 35. Ele conheceu a mãe de Dima em um restaurante so� sticado de Moscou, onde trabalhava como segurança, e aceitou a proposta de emprego inusita-da: � ngir ser pai do garoto. Irina estava desesperada. Seu � lho estava se tornando cada dia mais desobediente e os amigos recomendaram que alugasse um pai para ver se as coisas mudavam.

Disponíveis em agências de serviços domésticos ao lado de motoristas e babás, “pais” de aluguel viram solução temporária.

“Lembro-me do primeiro dia em que encontrei Dima. Nós três andamos juntos pelo par-que. Contei a ele – na verda-de, inventei – algumas histó-rias sobre os prédios pelos quais passamos. Depois fomos a um restaurante. Peguei uma cereja e arremessei nele. Ele amou. Imitava tudo que eu fazia”, diz Vladímir. Então com cinco anos de idade, Dima estava acostuma-do a viver sem a presença do pai, que a mãe dizia trabalhar como espião em Cuba. De re-

pente, ele “voltou para casa”. “O que mais me deixou sur-preso foi que, na primeira noite, levei-o até a cama e ele me abraçou, dizendo: ‘Você é o melhor pai do mundo, bem melhor que o pai do Serguei!’”, conta Vladímir.

Presença paternaMimado pela mãe, Dima não sabia ouvir “não”. Recusava-se a trocar de roupa sozinho ou a escovar os dentes, não escutava a babá e chegou até a trancá-la no banheiro.

O pai de aluguel tinha que acordar às 6h todas as ma-nhãs para estar na casa do “� lho” às 7h, acordá-lo, pre-parar e servir o café da manhã, sair para o trabalho e voltar à noite. Quatro meses se pas-saram assim.

Não dura para sempre“Irina me pagava mil euros por mês, o que era ótimo, mas a criança estava me deixan-do exausto. Ela não queria que eu deixasse o emprego, pois estava muito contente com meu desempenho. Dima tinha mudado bastante: recolhia os brinquedos, obedecia às or-dens da mãe e até começou a estudar inglês”, explica Vladímir. Embora fosse apenas um em-prego, o pai de aluguel esfor-çou-se para que a criança não percebesse que se tratava de uma farsa, e eles disseram ao garoto que Vladímir teria que retornar a Cuba por dois ou três anos.“Ele � cou bastante nervoso e me disse que jamais se torna-ria um espião, porque isso sig-ni� caria ter que abandonar a família”, conta.Um mês depois, o pai de alu-guel se escondeu no parque para observar Dima brincan-do. E também visitou o me-nino algumas vezes, sem que ele percebesse sua presença.O emprego de “pai de aluguel” é diferente de caso para caso. Algumas vezes, eles são con-tratados por um � m de sema-na para brincar com as crian-ças, levá-las ao cinema,

ajudá-las a fazer a lição de casa, ir para o campo ou ao parque. Mas também parti-cipam dos afazeres domésti-cos, levam à escola, saem para caminhadas ou passam tempo com os “� lhos” em casa.Psicólogos, educadores e ou-tros especialistas discordam do uso de serviços de pai de aluguel, e parece evidente que algo está errado na sociedade se serviços como este são necessários. No entanto, alguns psicólogos que apoiam o experimento a� rmam que a comunicação com um homem, mesmo que seja por algumas horas no � m de semana, representa uma experiência importante e po-sitiva para qualquer criança que não vive com o seu pai. Outros acreditam que isso pode gerar um trauma psico-lógico severo, sobretudo se a criança for levada a acreditar que o pai alugado é o verdadeiro.A idade dos homens que tra-balham como pais de aluguel varia de 35 a 40 anos. Geral-mente, são psicólogos pro� s-sionais ou ex-soldados.De acordo com a agência mos-covita Luzes da Capital, mui-tas mães consideram os sol-dados mais confiáveis e, quando têm a opção de esco-lher entre um engenheiro e um médico, elas geralmente perguntam: “Vocês não têm um soldado?”

Mães contratam pais de aluguel para filhos

Entre os candidatos ao cargo, ex-soldados são os preferidos

Natalidade: subsídio para ter mais filhos é insuficiente

ELENA LLORENTEGAZETA RUSSA

Crise familiar afeta demografia russa

Leia mais emwww.gazetarussa.com.br

Há gerações, relação entre pais e filhos russos é apenas entre quem manda e quem obedece

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Gazeta Russawww.gazetarussa.com.br opinião

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analistas políticos na Rússia e em todo o mundo estão se per-guntando quem será

a bola da vez no Kremlin em 2012. E os dois principais mem-bros do alto escalão do gover-no parecem fazer de tudo para manter a tensão. Recentemen-te, o presidente Dmítri Med-vedev declarou que “não exclui a possibilidade” de buscar um segundo mandato. Ele deu a entender também que tem al-gumas diferenças com o pri-meiro-ministro Vladímir Pútin quanto aos rumos para o de-senvolvimento do país. Depois de alguns dias, foi a vez de Pútin. Ele deixou claro, do mesmo modo, que “não ex-clui a possibilidade” de con-correr, e ainda acrescentou que a eleição presidencial “não pre-cisa ser tumultuada”.No entanto, as divergências entre Pútin e a Medvedev têm dado cada vez mais motivos para tumultos. Se no início do mandato presidencial de Med-vedev os dois partilhavam as-siduamente a mesma opinião (se um já havia emitido certa opinião, então o outro não co-mentava o mesmo assunto, como uma regra), agora em suas retóricas políticas apare-ceu sublinhada uma assime-tria. Até mesmo contrastes de-liberados. Mas vale notar que, pelas observações de analis-tas, as discrepâncias não alu-

chefe, em seu estilo, seus de-sejos, seus hábitos, seus humo-res, caprichos, fraquezas e opi-niões. Uma vez que o chefe sai ou dá a entender que está sain-do, ele deixa de existir.Desta forma, supondo que hoje Medvedev anuncie sua não-candidatura, isso significará na prática que a Rússia ficou sem um presidente já um ano antes da eleição. Se Pútin de-

clarar sua aposentadoria da política, na prática isso leva-ria ao cessar completo de toda a hierarquia da máquina do governo. Portanto, estamos fa-lando de uma máquina que foi construída sobre princípios de centralização rígida.Pútin e Medvedev entendem isso muito bem e aparentemen-te não querem correr tal risco. Além disso, cada um deles

pode ter suas próprias ambi-ções políticas e seus próprios pontos de vista do posto presidencial.Outra coisa que não é total-mente clara é como os dois viram esta situação quando ambos a criaram, em 2008. Como Pútin planejou o acon-tecimento? O que Medvedev quis insinuar de fato, anun-ciando e dando a entender que

Pútin ou Medvedev eM 2012?não lutaria por um segundo mandato? Não foi em vão que no início do governo de Medvedev já havia rumores de que ele re-nunciaria cedo para evitar um longo período de existência do “presidente indefeso” . Mas, então, para que aquela descren-ça de Pútin sobre a instituição da presidência, que ele mesmo tão diligentemente reforçou, e para a qual hipoteticamente pretende retornar? Ou Pútin inicialmente não supôs que se sentaria por tanto tempo na cadeira de primeiro-ministro, certificando-se de que Medve-dev executaria todas as obri-gações só até 2012? Então não daria para enten-der essa forma de saída de um político que está cheio de ener-gia e ainda não atingiu a ve-lhice. É possível que o próprio cenário da “tandemocracia” (nome dado à estratégia de Pútin quando apoiou Medve-dev para presidente e esse o apoiou para o cargo de pri-meiro-ministro) e de seu cre-púsculo em 2012 não tenham sido pensados totalmente e em detalhes em 2008.Talvez a própria vida tenha trazido alterações inesperadas. Por exemplo, não está claro se os dois políticos contavam com fatores da política moderna como a fadiga do eleitorado de qualquer regra muito longa, até mesmo das figuras políti-cas de maior sucesso. A men-talidade do homem moderno é construída de tal forma que ele precise de desenvolvimen-

to progressivo, notícias diárias, ainda que pequenas, mas di-ferentes. Ele quer na política, como no seriado de TV, novas histórias constantemente. Agora pesquisas já apontam que 25% dos russos preferi-riam que nem Putin, nem Med-vedev fossem candidatos às eleições de 2012. Amadurece na sociedade a necessidade de uma nova ordem. Ao que parece o principal pro-blema hoje não é exatamente qual dos dois concorrerá, mas qual será a mensagem princi-pal de um novo mandato pre-sidencial deles. Talvez a nova mensagem seja que ambos se candidatarão à eleição. Isto, apesar das preocupações de muitos, não vai conduzir a uma divisão perigosa da elite em dois campos irreconciliáveis, mas, pelo contrário, permitirá que se estabilize todo o siste-ma que está passando agora por algumas dificuldades com a crise mundial e a evidente estagnação do programa de modernização do país. A campanha competitiva de Pútin contra Medvedev, que começa a focar nas diferenças individuais não-essenciais entre eles (e parece que eles não têm diferenças essenciais), permitirá preservar a integri-dade do curso estratégico de desenvolvimento do país como um todo e manter e estabili-zar relativamente o sistema só-cio-político.

gueórgui bovt

historiador

Gueórgui Bovt é um comentaris-ta político baseado em Moscou.

Sergio Caplan é pesquisador do Centro Argentino de Estudos In-ternacionais (CAEI).

sergio caplanespecialista em

seGuranÇa

o terrorisMo Pós-Bin Laden

o anúncio da morte d e O s a m a b i n Laden pelas tropas norte-americanas

no Paquistão abalou o mundo. Enquanto alguns fes-tejam a vitória, outros temem uma nova onda de represá-lias. O que vai mudar no ter-rorismo global após a morte do seu principal líder?A primeira resposta para tal pergunta parece muito sim-ples: nada. O terrorismo in-ternacional em sua vertente do fundamentalismo islâmi-co é um aparato suficiente-mente forte, difundido e, so-bretudo descentralizado. Assim, o desaparecimento fí-sica de seu líder número 1 não interfere em nada em seus principais objetivos. O terrorismo hoje se mostra a principal ameaça à esta-

bilidade do sistema interna-cional. Isso acontece porque ele põe em risco a sobrevi-vência da figura do Estado-nação tal como a conhece-mos atualmente. As redes terroristas não possuem as mesmas qualidades dos Es-tados, como território ou fronteiras. Ainda assim, as potências mundiais não he-sitaram em lhes declarar guerra. Se os Estados Unidos estão liderando a guerra contra o terrorismo, o fato é que não são os únicos nem os primei-ros a sofrer as consequências do fundamentalismo islâmi-co. A Federação Russa tam-bém conhece os efeitos deste mal, provavelmente muito mais de perto, e até mesmo na sua própria sociedade. O que começou como uma dis-puta territorial no Cáucaso do Norte hoje se transfor-mou em um dos focos mais importantes de terrorismo e

em todos os cinco paí-ses do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), acre-

dita-se que o discurso mun-dial é quase monopólio do Ocidente, o que não corres-ponde à atual disposição eco-nômica e política e também gera obstáculos para a toma-da de novas resoluções, que só podem ocorrer com a am-pliação do debate.Já as reuniões de cúpula do Brics produzem dois tipos de comentários. Em primeiro lugar, de menosprezo: é uma organização artificial e sem fu-turo, uma vez que os países que a compõem não possuem praticamente nada em comum. Em segundo lugar, de alarme: seus integrantes fazem oposi-ção aos Estados Unidos e, por

isso, é preciso prestar atenção para que os interesses ameri-canos não sejam afetados. Um ponto contradiz o outro. Afi-nal, se é tudo ficção, qual o mo-tivo para receio?Após a crise financeira mun-dial, a presença da Rússia no Brics gerou desconfiança dos analistas ocidentais: o que um produtor de matérias-primas está fazendo entre os líderes do futuro? O país, de fato, des-toa dos demais. E não apenas pelo ritmo de seu crescimen-to, nitidamente inferior ao chi-nês ou ao indiano. O ponto ne-vrálgico é que os problemas que os russos enfrentam são de um caráter completamen-te diferente dos enfrentados pelos demais integrantes do Brics. A despeito do ritmo im-pressionante de crescimento, essas nações ainda estão em desenvolvimento, enquanto a Rússia é um país desenvolvi-do, que passou por uma deca-

uma nova ordem mundial, e representar uma parte signi-ficativa do planeta dá peso adi-cional a suas aspirações.Para a Rússia, que desde 1991 não consegue criar uma iden-tidade estável em política ex-terna, a ideia do Brics não po-deria ter vindo mais a calhar. Seria difícil encontrar um for-mato mais apropriado para, em primeiro lugar, redirecio-nar a política externa para um sentido menos ocidental; em segundo lugar, relembrar que o país tem um horizonte glo-bal, que após o fim da União Soviética reduziu-se a um al-cance mais regional; e, final-mente, realçar as semelhanças com os países que lideram o ritmo e a qualidade do cresci-mento econômico. E tudo isso é baseado em uma atitude de não confronto, uma vez que todos os integrantes do atual bloco neguem terminantemen-te que sua organização seja de

o BriCs e a ordeM MundiaL

oposição a alguém. O mundo necessita de um novo equilí-brio e, para criá-lo, não é ne-cessário resistir ao surgimento e ao crescimento da influência de outros centros; ao contrá-rio, deve-se estimulá-los e in-duzi-los a trabalhar para a construção de um novo siste-ma. Se alguns trabalharem apenas na manutenção de seus privilégios enquanto outros

cuidarem de limá-los secreta-mente, o mundo seguirá dire-tamente para um novo abalo. E a ordem mundial seguinte surgirá a partir dele e por cri-térios mais compreensíveis (os vencedores sairão fortalecidos), mas a um alto preço.

Fiódor Lukianov

analista político

Fiódor Lukianov é redator-chefe da revista Russia in Global Affairs.

dência sem precedentes e agora tenta recuperar sua posição. Sob alguns aspectos, são tare-fas equivalentes; sob outros, missões opostas.Tal discussão seria legítima se a questão fosse econômica. Mas é nítido que, para os Brics, esse grupo tem conteúdo político, acima de tudo. Isso reflete uma demanda objetiva por uma ordem mundial – que parece cada vez mais estar num beco sem saída – mais diversifica-da e menos ocidental. Em ou-tras palavras: pautados nas instituições existentes desde os tempos de Guerra Fria, não será possível achar as respos-tas para os crescentes temas atuais. Novos processos ainda não surgiram e, por isso, os países descontentes com a si-tuação tentam achar mais con-tornos que saídas.Uma ordem mundial multipo-lar exige formações diferentes daquelas que serviam em um

mundo bipolar. Mas isso não mudou até agora. Não à toa, nas declarações do Brics ecoam dúvidas quanto à legitimida-de do sistema existente. No en-tanto, não se deve presumir, por exemplo, que ocorrerá a refor-ma do Conselho de Segurança da ONU, cuja disposição refle-te as forças tal como eram em 1945: os atuais membros per-manentes, que possuem privi-légios, não pretendem dividi-los. E isso inclui dois dos Brics: a Rússia e a China. Além disso, não existem critérios claros pelos quais se poderia refor-mar o Conselho de Segurança, criado a partir dos resultados da Segunda Guerra Mundial.Os países do Brics sentem-se limitados em suas tentativas de elevar seu peso e sua influ-ência na arena internacional ao agir unicamente nos mol-des das atuais estruturas. Eles buscam meios de fortalecer suas posições na formação de

uma das maiores ameaças para a segurança russa. Os métodos para enfrentá-lo se baseiam na cooperação in-ternacional. Na esfera da Or-ganização do Tratado de Se-gurança Coletiva (OTSC), a Rússia propôs ações pertinen-tes para encarar a questão junto aos outros países-mem-bro. A internacionalização do problema representa para a Rússia a possibilidade de lidar com as possíveis respostas a essa complexa ameaça em vá-rios níveis. Tanto é que a guer-ra contra o terrorismo é o principal motivo de coopera-ção entre o Kremlin e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Depois de décadas de confronto duran-te a Guerra Fria, hoje os dois organismos encontram no ter-rorismo internacional um ini-migo comum. As redes terroristas não estão limitadas à Al-Qaeda. No Cáucaso do Norte, a princi-

pal rede é encabeçada pelo fundamentalista Doku Uma-rov. Autoproclamado “Emir do Cáucaso”, a Umarov são atribuídos os atentados às es-tações Park Kultury e Lu-bianka do metrô de Moscou, em 2010, além da recente ex-plosão, em janeiro deste ano, no aeroporto Domodêdovo. Esses não foram os únicos atentados promovidos pelas redes terroristas que atuam na Rússia, mas ganharam maior visibilidade internacio-nal por terem acontecido na capital do país.A relação entre o terrorismo no Cáucaso do Norte e a Al- Qaeda ficou comprovada de-pois da incursão de mujahi-dins e enviados da Al-Qaeda na guerra da Tchetchênia, a partir de 1999.O contexto social e interna-cional mudou, mas o discur-so e a justificativa para a luta pelo poder continuam os mes-mos em diferentes redes que

perpetram a jihad internacio-nal por meio de atentados terroristas.A principal questão é se a morte de bin Laden vai mudar algo nesse cenário. A princí-pio, o evento não significaria uma mudança de mentalida-de ou alteração na estrutura da Al-Qaeda, já que Osama não cumpria funções de ge-renciamento, mas sim de “guia espiritual” do funda-mentalismo islâmico. O que realmente marca o antes e o depois na luta con-tra o terrorismo acaba sendo o pronunciamento do presi-dente dos Estados Unidos, Barack Obama, na Casa Bran-ca, para confirmar o feito. O acontecimento evidencia a ne-cessidade de uma mudança na política antiterrorista da principal potência mundial, que até então se baseava na busca daquele que era consi-derado a grande ameaça a sua segurança nacional. Durante

o governo Bush, o limite às liberdades cívicas e pessoais dos norte-americanos foi jus-tificado por essa incessante investigação. Agora, cumpri-da a missão, os dirigentes em Washington deverão rever essa política e planejar a con-tinuidade das ações contra o terrorismo internacional. Para o presidente Obama, essa re-visão poderá lhe dar a chave para a reeleição.O Kremlin, por sua vez, rece-beu a notícia com alegria e destacou a importância de continuar a luta, mostrando-se disposto a reforçar a coo-peração internacional. As de-clarações de Obama, definindo o mundo como “um lugar mais seguro” depois de “a justiça ter sido feita”, geraram mui-tas reações na sociedade oci-dental e em seus governos. Al-guns ques t ionaram a legalidade dos atos e outros alertaram sobre a instabili-dade que eles podem gerar no

sistema internacional. Além disso, a própria celebração da população norte-americana poderia aumentar o ressenti-mento por parte do funda-mentalismo islâmico, o que levaria a supor uma nova onda de atentados para vin-gar a morte do seu principal líder. Isso afeta diretamente a Rússia, uma vítima cotidia-na desse tipo de ataque, que não tem intenção de expan-dir o terror, muito menos den-tro de suas fronteiras. Em suma, longe de ganhar a batalha, o futuro do cenário internacional se apresenta ainda mais incerto. É possível que hoje o fundamentalismo islâmico encontre novas justi-ficativas para continuar sua atividade com mais força e vio-lência, multiplicando a possi-bilidade de novos atentados.

dem a todas as questões fun-damentais e estratégicas. Na verdade, Pútin e Medve-dev estiveram em uma situa-ção bastante complexa. A po-lítica russa é tradicionalmente relacionada à primeira pessoa (ou, neste caso, às duas pri-meiras pessoas). Toda infindá-vel burocracia orienta-se não em instituições, leis e regras escritas, mas antes de tudo no

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RECEITA

Ukhá, a sopa mais antiga da Rússia

Jennifer Eremeeva

ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Existem duas maneiras de preparar a mais antiga sopa russa, a ukhá. O primeiro modo (e a ma-neira como eu experimentei pela primeira vez, à beira do Lago Baikal, em 1990) é as-sim: pesque um peixe em um lago ou rio de água cristalina. Coloque-o em uma caldei-ra com a mesma água e fer-va até que os olhos do peixe saltem. Sirva imediatamente. Parece perfeito se você, por ventura, estiver à beira de um rio com água cristalina, souber como pescar e tam-bém fazer uma fogueira em meio ao nada. Porém, se um desses pré-requisitos não for cumpri-do, não se desespere! Você não tem de ir até a Sibéria, aprender a pescar, ou mesmo ter coragem de lidar com o olho do peixe.É, contudo, uma boa ideia fazer amizade com o pesso-al da peixaria local, para que eles o ajudem a conseguir o peixe mais fresco possível para sua versão da ukhá.Além disso, colocar um pei-xe fresco em água fervente não seria bem uma receita. A ukhá foi reformulada e re-finada ao longo dos séculos.

Na mesa do tsar, a ukhá “âm-bar”, impregnada com precio-sos fios de açafrão, era feita com esturjão ou perca. Os chefes franceses que tra-balhavam em cozinhas nobres na Rússia se concentraram no aperfeiçoamento do sabor e da aparência do próprio cal-do, clarificando-o com claras e cascas de ovo e experimentan-do diversos tipos de peixe.Alguns chefs russos insistiram na adição de batatas e raízes leguminosas, enquanto outros se recusam a acrescentar qual-quer outro ingrediente que não seja o peixe e a água. Para esses, a mistura de outros itens resultaria não mais na ukhá, mas sim em uma sopa genérica de peixe. Já ouvi opiniões diversas sobre colocar ou não fatias de limão, e algumas discussões fervo-rosas sobre os tipos de peixe que podem ser usados. Exis-tem muitos peixes no oceano, e muitas receitas para a ukhá.Portanto, se você não estiver partindo para a Sibéria e não for pescador, mas quiser pro-var a ukhá, confira abaixo uma receita que é fruto de nume-rosas histórias, livros de recei-ta e conselhos de pescadores russos.

Ingredientes:• 2 litros de caldo de peixe (re-ceita abaixo) • 750 g de peixe branco sem escamas ou espi-nhas, em cubos de 5 cm (su-gestões: linguado, lúcio ou ha-libute) •750 g de salmão em cubos de 5 cm • ½ salsa ou na-bo em cubos de 2 cm • ½ aipo em cubos de 2 cm • 1 colher de sopa de azeite • 2 alhos-poró ou uma cebola grande • 1 a 2 folhas de louro• 15 bolinhas de pimenta-da-Jamaica • 4 colheres de sopa de sal Maldon • 1 colher de so-pa de pimenta-do-reino • 1 ma-ço de salsinha • 1 maço de dill • Fatias de limão para decorar

Modo de preparo :1. Refogue o alho-poró ou as cebolas em óleo em fogo mo-derado. 2. Quando estiverem macios e com aspecto transparente, adicione a salsinha e os cubos de aipo, e refogue até que também fiquem macios (5-7 minutos). 3. Acrescente o caldo de pei-xe, as folhas de louro, a pi-menta-da-Jamaica, o sal e a pimenta-do-reino. Aumente o fogo e leve à fervura. 4. Reduza o fogo, tampe a pa-nela e deixe cozinhar por 30 minutos. 5. Acrescente o peixe, mexen-do-o levemente em fogo baixo por 7-8 minutos. 6. Remova as folhas de louro, e acrescente a salsinha pica-da e o dill.7. Sirva imediatamente. Por tradição, os russos servem a ukhá com “rastigai” ou tortas de peixe, e este é um acom-panhamento comum para o Salmão Coulibiac.

Caldo de peixe:Ingredientes:• 2 cabeças de peixe sem olhos

• 2 litros de água • 1 talo de sal-são • ½ cebola • 2 colheres de sopa de sal Maldon • 1 colher de sopa de pimenta-do-reino3 alhos amassados • Ervas fres-cas: salsa, dill, cebolinha, es-tragão etc. • 3 claras e cascas de ovo

Modo de preparo:1. Coloque todos os ingredien-tes, exceto os ovos, em uma panela funda. 2. Deixe ferver e depois colo-que em fogo baixo, cozinhando por mais 1 hora e mexendo de tempos em tempos para elimi-nar a espuma que se acumula sobre a superfície. 3. Tire o caldo do fogo. 4. Forre um escorredor com um pano de prato e coe o cal-do. O caldo está pronto, mas você pode incrementá-lo assim: 1. Leve novamente a panela ao fogo até ferver.2. Bata as claras em neve jun-to com uma xícara de caldo quente e, em seguida, despeje a mistura na panela.3. Acrescente as cascas de ovo trituradas e mexa por quatro minutos.4. Reduza a temperatura e co-loque a panela mais para o la-do, de modo que apenas um terço dela permaneça sobre a boca do fogão. Deixe fer-ver por dez minutos. À medi-da que as claras cozinham, a espuma que se forma irá ade-rir a elas. 5. Gire a panela para promover o mesmo efeito no lado que antes não estava sobre o fogo, deixando ferver por mais dez minutos. Tome cuidado para que a mistura não transborde com a fervura.6. Retire a panela do fogo. Passe o caldo por um penei-ra fina, sem deixar que o caldo escorrido encoste na superfície da peneira.

MAKS (AVIAÇÃO)DE 16 A 21 DE AGOSTO, AEROPORTO JUKÓVSKI, MOSCOUUma das principais feiras de aviação e indústria espacial da Rússia, a Maks atraiu mais de 650 mil visitantes na última edição. Organizada pela Aviasalon Plc.

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CALENDÁRIO CULTURA E NEGÓCIOS

TRADIÇÕES NA TERRA DE GAGÁRIN28 DE MAIO, ÀS 15H, PLANETÁRIO DO IBIRAPUERA, SÃO PAULOA palestra dura 1h30min e tem inscrições gratuitas. Ocorre no Auditório da Escola Municipal de Astrofísica Aristóteles Orsini, junto ao planetário do ibirapuera. 100 vagas.

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PANQUECAS BLINI NA TERRA E PÍLULAS NO ESPAÇO18 DE JUNHO, ÀS 15H, PLANETÁRIO DO IBIRAPUERA, SÃO PAULOA oficina de culinária russa ocorre na laje da Escola Municipal de Astrofísica Aristóteles Orsini, junto ao planetário do Ibirapuera. Inscrições gratuitas. 40 vagas.

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A TORRE DE BABEL NO ESPAÇO9 DE JULHO, 15 H, PLANETÁRIO DO IBIRAPUERA, SÃO PAULOPalestra sobre a língua russa, com duração de 1h30min e inscrições gratuitas. Ocorre no Auditório da Escola Municipal de Astrofísica Aristóteles Orsini, junto ao planetário do Ibirapuera. 100 vagas.

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IV AUTOINDÚSTRIA E AUTOCOMPONENTESDE 23 A 25 DE NOVEMBRO, OLYMP, SAMARANeste ano o evento reúne mais de 200 companhias russas e estrangeiras (Alemanha, França, China, Eslovênia e outros).A região de Samara é considerada o coração da indústria automotiva russa.

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Para a pol ícia de São Petersburgo, a noite de verão que coincidia com o 82º aniversário do nasci-mento do revolucionário la-tino-americano Che Gueva-ra acabou sendo bem agitada. Nove jovens, todos vestidos de preto, usando máscaras e armados com tinta branca, invadiram a ponte levadiça Litêinaia, no coração da ex-capita l russa. A ação do grupo Voiná durou somente 23 segundos. Os guardas que protegem a ponte tentaram apanhá-los, mas conseguiram deter ape-nas um jovem. Todos os ou-tros fugiram. Restaram os 65 metros verticais do pênis gigante, bem de frente para o prédio do FSB (Serviço Federal de Segurança) de São Petersburgo e de outras regiões do Estado. A ponte é erguida todas as noites e só volta a baixar ao ama-nhecer. São necessários ape-nas quarenta segundos para que ela seja içada.

O golpe palaciano“Um membro na prisão do FSB” foi o título da obra de arte que apareceu nas pri-meiras páginas de todos os jornais russos.Se outras ações do grupo Voiná – como “Sexo em grupo no Museu de Zoolo-gia” ou “Tempestade da Casa Branca” – passaram despercebidas por alguém, dessa vez todo o país pres-tou atenção no grupo. Criado em 2007, o coletivo inclui mais de 60 pessoas, mas são três os principais mentores: o � lósofo Oleg Vo-rotnikov, a física Natália Sokol, mulher de Oleg, e Le-onid Nikolaev, apelidado de “Liônia Muito Irado”, que trabalhou até recentemen-te em uma empresa de apa-relhos de calefação. Depois da obra da ponte, ele pas-sou 48 horas em uma dele-gacia de polícia, mas foi li-berado depois de ter o ato considerado como “condu-ta desordeira”.Não é fácil intimidar al-guém como ele. Logo após a memorável manifestação, feita na escuridão e na ne-blina, Lênia Mal-Humora-do correu pelas ruas de Mos-cou com um balde azul na cabeça, pulando por cima do carro de um agente do

Surpresa Ministério da Cultura ressaltou que a decisão do júri foi independente

serviço secreto nos arredo-res do Kremlin.A performance foi um pro-testo contra as luzes giro-� ex azuis nos carros o� ciais de funcionários do governo, que gozam de liberdades di-ferenciadas nas ruas da capital. “O Voiná só reflete a opi-

nião do povo”, diz o � lólo-go Aleksei Plutser-Sarno, membro do grupo que se ex i lou na Estônia por precaução. Até hoje, a ação de maior impacto do Voiná foi contra reformas evasivas dos ór-gãos dos Departamentos de Assuntos Internos. O cole-

tivo personi� cou o debate público em uma performan-ce realizada na Praça do Pa-lácio, em São Petersburgo.Enquanto a praça era pa-trulhada pela polícia, o grupo gravou um vídeo em que Oleg e Natália passeiam na praça com o � lho de dois anos e deixam uma bola

rolar para debaixo de uma viatura, que é virada de ca-beça para baixo por quatro membros do coletivo. Não se divulgou quantas viaturas sofreram a ação do Voiná naquela noite. A ideia dos artistas era dar o exem-plo de como é necessário conduzir a reforma da po-lícia: de forma radical. Para o Voiná, a ação teve inevitáveis consequências. A polícia abriu uma acusa-ção de vandalismo e colo-cou Oleg e Leonid em pri-são preventiva durante quatro meses.Se o famoso ativista e ar-tista plástico britânico Banksy não tivesse arreca-dado uma generosa � ança para eles com vendas em seu site, os artistas ainda esta-riam atrás das grades. Agora, eles aguardam o jul-gamento em liberdade.

Discussão acalorada Na Rússia, não são todos que partilham do entusiasmo de Banksy. Na internet, ini-ciou-se uma discussão aca-lorada depois que, há algu-mas semanas, um grupo de artistas resolveu indicar o Voiná como candidato a uma premiação estatal. “Um graffiti gigante é um símbolo de protesto, um prê-mio digno”, declarou, quan-do saía do tribunal, o cura-dor Andrei Erofeev – que também foi julgado recen-temente por sua curadoria na exposição “Cuidado! Religião!”.Os próprios ativistas do Voiná teriam boicotado a entrega do prêmio, que re-presenta um presente do ini-migo, o Ministério da Cul-tura. Os funcionários do Ministério da Cultura, por sua vez, entraram em pâni-co depois da confirmação dos premiados e escreveram uma carta formal para sa-lientar que não tiveram pa r t e n a e scol h a do s vencedores.Muitos artistas de relevo também entraram na polê-mica. “Desenhar um pênis em uma ponte... Como isso pode ser arte?! Não tem nada a ver com arte!”, de-clarou o pintor Iliá Glazu-nov, que tem uma galeria em frente ao Kremlin. “Nem todas as ações de gru-pos de arte têm um único sentido. Muitas apresentam características escandalo-sas e para a Rússia de hoje isso é uma raridade. O Voiná envia para a sociedade im-pulsos importantes”, reba-t e u o c r í t i c o I o s s i f Backstein.“Queremos agitar a socie-dade”, diz Oleg Vorotnikov. “Mas nós não precisamos do Estado, esta forma ultrapas-sada de organização social”. A mulher dele, Natália, é ainda mais especí� ca: “Que-remos derrubar o regime de Pútin.”

ReaçãoJovens na faixa dos 20 anos, ativistas do movimento da juventude pró-Kremlin pro-testaram junto ao Ministé-rio da Cultura contra a en-trega do prêmio ao Voiná.Os membros do Voiná, se-gundo eles, não são artis-tas, mas extremistas. O co-letivo defende o inverso.

Polêmico, grupo “Voiná” ganha prêmio do Estado

Em “baldes azuis”, grupo protestou contra vantagens de portadores de giroflex no trânsito

Banquete em um vagão de metrô foi uma homenagem ao poeta e artista Dmítri Prigov

“Golpe Palaciano” deixou viaturas de cabeça para baixo e levou quatro membros à prisão

Coletivo que desenhou pênis de sessenta metros de frente para prédio do governo e virou viaturas de cabeça para baixo leva prêmio do Estado.

ANASTASSIA GORÓKHOVAGAZETA RUSSA

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