Paisagem e ensino de geografia na educação basica

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1 2 PAISAGEM E ENSINO DE GEOGRAFIA NA EDUCAçãO BáSICA Joana Celia Moraes Rodrigues 1 Universidade Federal do Pará [email protected] Indiara da Silva Oliveira 2 Universidade Federal do Pará [email protected] Márcia Aparecida Silva Pimentel 3 Universidade Federal do Pará [email protected] Introdução “As paisagens trazem a marca das culturas e, ao mesmo tempo, as influenciam” (Augustin Berque) A importância do estudo da paisagem reside no fato de que “se, de um lado, as formas visíveis da paisagem podem dirigir as transformações sociais ou limitar as alterna- tivas de organização do território, de outro lado, as modificações da estrutura social criam sempre novas necessidades, sugerem novas formas e redefinem os valores da paisagem visível” (LEITE, 1994). Um processo educativo que deseje transformar seus educandos em cidadãos conscientes, atuantes, questionadores e agentes da construção da paisagem, deve empreender esforços na direção do conhecimento e apreensão da paisagem (MYANAKI, 2003). É essa a intenção do Projeto “Um olhar geográfico sobre a cidade de Belém” em sua atuação na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Deodoro de Mendonça. O projeto tem no estudo da paisagem, desenvolvido nas turmas do Projeto Aceleração ¹, a possibilidade de contribuir de forma positiva na formação do alunado, como cidadãos críticos e conscientes da realidade que os cerca, a partir da prática educativa, fugindo do método estipulado pela Pedagogia Tradicional, que ainda se faz presente nas escolas, onde o 1. Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Pará, bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência-PIBID. 2. Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Pará, bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência-PIBID. 3. Profª. Drª da Faculdade de Geografia e Cartografia – UFPA, coordenadora do Projeto “Um olhar geográfico sobre a cidade de Belém – PIBID. professor é o detentor e transmissor de todo o conhecimento e de verdades inquestionáveis, e o aluno, o mero receptor desse conhecimento, sem que haja interação entre as duas partes. Deste modo, as atividades desenvolvidas pelo referido projeto na Escola Deodoro de Mendonça, buscam uma forma de conceber o processo educativo fugindo da “relação professor – aluno – quadro – giz”, através de palestras, oficinas, trabalhos de campo e etc., e este ensaio é fruto da primeira parcela a ser colhida do trabalho desenvolvido com esses alunos. Objetiva-se iniciar uma discussão que há muito necessita ser travada, a da aplicação do estudo da paisagem na educação básica. Não só da paisagem, como dos demais concei- tos/categorias da geografia, e depois analisar a forma como isto vem se dando no contexto das escolas publicas do país. Assim, este ensaio está divido em três partes imprescindíveis. No primeiro tópico se estabelece uma breve apresentação acerca da conceituação da pai- sagem ao longo da história. No segundo, discute-se a inserção da paisagem no contexto do ensino de geografia na Educação Básica. No terceiro tópico, apresenta-se a experiência do referendado projeto na escola Deodoro de Mendonça, por intermédio do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID. Algumas considerações acerca da conceituação da paisagem A geografia adquiriu status de ciência no século XIX, porém o conceito de paisagem é anterior à organização da ciência geográfica. Em Portugal, a palavra paisagem, apareceu pela primeira vez em 1608, na Itália paessaggio surgiu também no século XVII, na Espanha paisaje é de 1708 e o registro mais antigo das línguas latinas é de 1551, do francês paysage, segundo Myanaki (2003) apud Holzer (1999, In ROSENDAHL & CORRÊA, 199,P.153). Os termos paysage, paesaggio, paisaje e paisagem são contemporâneos ao momento em que a paisagem, como gênero da pintura, começa a ser explorada por artistas, portanto, muito mais próximo das artes plásticas do que da geografia. É do século XIX o maior numero de expedições multidisciplinares enviadas ao Brasil com o objetivo de investigar e conhecer detalhadamente o Novo Mundo. Essas expedições eram compostas por cientistas, profissionais de varias áreas e artistas. Os artistas eram os responsáveis pelo registro das paisagens, flora, fauna e di- versidade da população brasileira, num momento em que a fotografia ainda não era uma tecnologia amplamente disponível. Os desenhos e pinturas realizadas por esses artistas compunham, em parte, o material cientifico produzido pelos pesquisadores, naturalistas e viajantes. É assim que a pintura da paisagem esteve junto da investigação cientifica. Não raro, os geógrafos dessa época, também desenhavam e pintavam. Já no século XX, Pierre Deffontaines (1894-1978) realizou mais de 3000 desenhos de paisagens (MYANAKI, 2003 apud HERODOTE: REVUE DE GÉGRAPHIE ET DE GÉOPOLITIQUE, 1987, p. 66).

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Teorias e práticas de ensino

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Paisagem e ensino de geografia na educação básica

Joana Celia Moraes Rodrigues1

Universidade Federal do Pará[email protected]

Indiara da Silva Oliveira2

Universidade Federal do Pará[email protected]

Márcia Aparecida Silva Pimentel3

Universidade Federal do Pará[email protected]

Introdução

“As paisagens trazem a marca das culturas e,

ao mesmo tempo, as influenciam” (Augustin Berque)

A importância do estudo da paisagem reside no fato de que “se, de um lado, as formas visíveis da paisagem podem dirigir as transformações sociais ou limitar as alterna-tivas de organização do território, de outro lado, as modificações da estrutura social criam sempre novas necessidades, sugerem novas formas e redefinem os valores da paisagem visível” (LEITE, 1994). Um processo educativo que deseje transformar seus educandos em cidadãos conscientes, atuantes, questionadores e agentes da construção da paisagem, deve empreender esforços na direção do conhecimento e apreensão da paisagem (MYANAKI, 2003). É essa a intenção do Projeto “Um olhar geográfico sobre a cidade de Belém” em sua atuação na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Deodoro de Mendonça. O projeto tem no estudo da paisagem, desenvolvido nas turmas do Projeto Aceleração ¹, a possibilidade de contribuir de forma positiva na formação do alunado, como cidadãos críticos e conscientes da realidade que os cerca, a partir da prática educativa, fugindo do método estipulado pela Pedagogia Tradicional, que ainda se faz presente nas escolas, onde o

1. Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Pará, bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência-PIBID.2. Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Pará, bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência-PIBID.3. Profª. Drª da Faculdade de Geografia e Cartografia – UFPA, coordenadora do Projeto “Um olhar geográfico sobre a cidade de Belém – PIBID.

professor é o detentor e transmissor de todo o conhecimento e de verdades inquestionáveis, e o aluno, o mero receptor desse conhecimento, sem que haja interação entre as duas partes.

Deste modo, as atividades desenvolvidas pelo referido projeto na Escola Deodoro de Mendonça, buscam uma forma de conceber o processo educativo fugindo da “relação professor – aluno – quadro – giz”, através de palestras, oficinas, trabalhos de campo e etc., e este ensaio é fruto da primeira parcela a ser colhida do trabalho desenvolvido com esses alunos.

Objetiva-se iniciar uma discussão que há muito necessita ser travada, a da aplicação do estudo da paisagem na educação básica. Não só da paisagem, como dos demais concei-tos/categorias da geografia, e depois analisar a forma como isto vem se dando no contexto das escolas publicas do país. Assim, este ensaio está divido em três partes imprescindíveis. No primeiro tópico se estabelece uma breve apresentação acerca da conceituação da pai-sagem ao longo da história. No segundo, discute-se a inserção da paisagem no contexto do ensino de geografia na Educação Básica. No terceiro tópico, apresenta-se a experiência do referendado projeto na escola Deodoro de Mendonça, por intermédio do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID.

Algumas considerações acerca da conceituação da paisagem

A geografia adquiriu status de ciência no século XIX, porém o conceito de paisagem é anterior à organização da ciência geográfica. Em Portugal, a palavra paisagem, apareceu pela primeira vez em 1608, na Itália paessaggio surgiu também no século XVII, na Espanha paisaje é de 1708 e o registro mais antigo das línguas latinas é de 1551, do francês paysage, segundo Myanaki (2003) apud Holzer (1999, In ROSENDAHL & CORRÊA, 199,P.153).

Os termos paysage, paesaggio, paisaje e paisagem são contemporâneos ao momento em que a paisagem, como gênero da pintura, começa a ser explorada por artistas, portanto, muito mais próximo das artes plásticas do que da geografia.

É do século XIX o maior numero de expedições multidisciplinares enviadas ao Brasil com o objetivo de investigar e conhecer detalhadamente o Novo Mundo. Essas expedições eram compostas por cientistas, profissionais de varias áreas e artistas.

Os artistas eram os responsáveis pelo registro das paisagens, flora, fauna e di-versidade da população brasileira, num momento em que a fotografia ainda não era uma tecnologia amplamente disponível.

Os desenhos e pinturas realizadas por esses artistas compunham, em parte, o material cientifico produzido pelos pesquisadores, naturalistas e viajantes. É assim que a pintura da paisagem esteve junto da investigação cientifica. Não raro, os geógrafos dessa época, também desenhavam e pintavam. Já no século XX, Pierre Deffontaines (1894-1978) realizou mais de 3000 desenhos de paisagens (MYANAKI, 2003 apud HERODOTE: REVUE DE GÉGRAPHIE ET DE GÉOPOLITIQUE, 1987, p. 66).

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A Geografia firma-se como ciência organizada principalmente a partir dos tra-balhos de intelectuais alemães como Ritter e Humboldt. E é do alemão que vem o termo landschaft, um vocábulo medieval, mais antigo que paysage e que significa natureza como evento visual, total e unido, uma associação entre sitio e habitantes. Portanto, um termo mais abrangente e complexo a partir do qual a ciência acadêmica formulou o conceito de paisagem geográfica, que até o inicio do século XX esteve no centro das investigações geográficas e chegou a ser considerado como objeto da geografia.

O conceito de paisagem como o de espaço que se observa de um golpe de vista, foi adaptado pelos geógrafos como sendo uma área fisicamente e culturalmente reconhecível e com algum grau de homogeneidade, podendo ser cartografável e com extensão além de onde a vista alcança. Este seria o conceito de paisagem geográfica adotado pela ciência acadêmica no século XIX.

Mas a geografia como ciência tem uma historia de transformações e re-elaboração do seu objeto de estudo e a noção de paisagem passou a ser insatisfatória no século XX, quando outros conceitos como região, território, espaço e lugar tomam o centro das discussões e investigações geográficas, deixando a paisagem à margem dessas discussões até por volta da década de 1970, quando será retomada dentro da ciência geográfica no contexto da chamada Geografia Cultural, instituída por Carl Ortwin Sauer, de acordo com Myanaki (2003). Este teórico é considerado o precursor da conceituação da paisagem, em duas tipologias, sendo elas; paisagem natural e paisagem cultural e/ou artificial.

São notórias as modificações pelas quais a ciência geográfica passou, assim como, o fato de o conceito de paisagem ter acompanhado o ritmo dessas transformações. Deste modo, o conceito de paisagem irá se modificar conforme as abordagens por quais perpassa.

Assim, sob égide da chamada Geografia Marxista pelo geógrafo Milton Santos, a paisagem será conceituada como

tudo que nos vemos, o que a nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. É formada não apenas de volumes mais também de cores, movimentos, odores, sons etc.

E ainda,

A paisagem é um conjunto heterogêneo de formas naturais e artificiais; é formada por frações de ambas, seja quanto ao tamanho, volume, cor, utilidade ou por qualquer outro critério. A paisagem é sempre heterogênea. A vida em sociedade supõe uma multiplicidade de funções, e quanto maior o numero destas, maior a diversidade de formas e de atores. Quanto mais complexa a vida social, tanto mais nos distanciamos de um mundo natural e nos endereçamos a um mundo artificial. (SANTOS, 2008).

Deste modo, compreende-se como paisagem cultural e/ou artificial a aparência do espaço geográfico, ou seja, aquilo que é visível, fruto da intervenção humana na natureza por meio do trabalho, o conjunto dos objetos construídos pelo homem em sociedade para

atender as suas necessidades. Já por paisagem natural, compreende-se o aspecto visível daquela natureza “natural”, ou seja, aquela porção de natureza ao qual não sofreu ainda nenhuma intervenção humana.

Entretanto, segundo o referido geógrafo, se no passado havia paisagem natural, hoje essa modalidade de paisagem praticamente já não existe. Se um lugar não é fisica-mente tocado pela força do homem, ele é, todavia, objeto de preocupações e de intenções econômicas ou políticas. Tudo hoje se situa no campo de interesse da historia, sendo desse modo, social (SANTOS, 2008).

Além de Milton Santos, outros renomados geógrafos se destacaram na conceituação da paisagem; como George Bertrand e Aziz Nacib Ab’Sáber. Ab’Saber conceitua a paisa-gem como produto e herança das sociedades que, historicamente, a ocuparam enquanto território de atuação (AB’SABER, 2003). Já para Bertand (1971) a paisagem não é a simples adição de elementos geográficos. É o resultado da combinação dinâmica, portanto instá-vel, de elementos f ísicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução. Não se trata somente da paisagem “natural”, mas da paisagem total, integrando todas as implicações da ação antrópica. A paisagem é uma entidade global, portanto, todos os seus componentes participam de uma dinâmica comum, definida pelo sistema geral de evolução.

Tais conceituações denotam a multiplicidade de formas de se conceituar a paisagem, sobretudo, a partir do olhar geográfico, e, além disso, exprimem o quanto este conceito tem sido discutido ao longo da história.

A paisagem no contexto do ensino de geografia

Apesar de se tratarem da mesma área de conhecimento, há diferenças entre a Geografia como ciência e o conteúdo de Geografia desenvolvido no ensino fundamental. No contexto do ensino fundamental, a formação do educando é um referencial forte que impede a simples transferência de métodos da ciência geográfica (MYANAKI, 2003). Tal problemática é facilmente identificável no contexto das escolas publicas, sobretudo na cidade de Belém (PA), mais precisamente na escola Deodoro de Mendonça, onde se tem atuado por intermédio do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência -PIBID - com as turmas do Projeto Aceleração do Governo do Estado. Esta problemática, na maioria dos casos consiste na forma como os livros didáticos são elaborados e tratam os conteúdos, sobretudo ao que condiz a categoria paisagem, ou mesmo na própria formação do professor de Geografia.

De acordo com Myanaki (2003), em sua dissertação de mestrado, foi verificado na prática do magistério e confirmado através de pesquisas acadêmicas realizadas, é comum o conceito de paisagem receber tratamento superficial ou mesmo equivocado nos livros didáticos. O trabalho de campo desenvolvido durante essa pesquisa detectou uma maioria de adolescentes e adultos que entendem que paisagem é sinônimo de beleza e natureza, sem

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distinguir paisagem como gênero da pintura de paisagem geográfica (MYANAKI, 2003). E ainda, conforme os dizeres da referida autora

Na perspectiva dos jovens no ensino fundamental é comum a noção de paisagem se confundir com o conceito de natureza. Se paisagem é um conceito que implica a existência humana, então a ação de enquadrar e olhar a paisagem é uma forma de intervenção cultural que anula a idéia de paisagem natural como é apresentada nos livros didáticos. A paisagem que não foi tocada pelo olhar humano é natureza e não paisagem, como afirma o neurologista Oliver Sachs “[...] tudo o que vejo é modificado pelo conhecimento, pelos desejos, pela alma [...]. (MYANAKI, 2003).

Assim é nítido perceber que a paisagem tem sido abordada sob a ótica do senso comum na educação básica, e isso se reflete como uma grave deficiência ao que se remete a alfabetização geográfica, não só no que condiz a categoria paisagem como também as demais categorias de análise dessa ciência. Essa preocupação foi alvo de pesquisa realizada pela professora Lana de Sousa Cavalcanti (1998), onde foi constatado que tanto os profes-sores das series iniciais quanto o alunado apresentam dificuldades quanto à formulação de conceitos referentes a essas categorias, não conseguindo representá-las de forma condizente com o estipulado na Geografia.

Ao que se remete ao estudo da categoria paisagem no ensino fundamental, a referida autora revela que “a imagem da paisagem sugerida pelos alunos, na pesquisa de campo, é a de uma vista, uma estampa de um lugar bonito. As professoras entrevistadas, sobretudo as da 1ª fase, compartilham dessa imagem, pois também fizeram associação entre paisagem e lugar bonito ou uma vista bonita. Um outro elemento importante de suas representações diz respeito à referencia mais forte ao que se poderia denominar de paisagem natural (as-sociação entre paisagem e natureza) do que à paisagem cultural. É interessante notar que os alunos não fizeram distinção entre esses dois tipos de paisagem e enfatizaram justamente a paisagem natural,praticamente desaparecida na atualidade e, além disso, pouco presente nas suas “vidas urbanas”. Parece que esse conceito fica associado a algo distante de seus lugares, de suas vidas, de suas realidades, pertencendo mais a um mundo de sonho, místico, sagrado. Esse paradoxo,no entanto, encaixa-se bem nas características convencionais do ensino: é tão formal e tão estático que a paisagem é “transmitida” como conteúdo de ensino, não como algo vivo e construído pelo homem, mas como conceito, não importando a sua correspondência com o real. Por essa razão pode-se dar ênfase a paisagens naturais, apesar de tão distante da experiência dos alunos e professores. Mas, caberia ao ensino trazer a “paisagem” para o universo do aluno, para o lugar vivido por ele, o que quer dizer trazer a paisagem conceitualmente como instrumento que o ajude a compreender o mundo em que vive” (CAVALCANTI, 1998).

Com base nos pressupostos acima citados, verifica-se que a problemática do estudo da paisagem na educação básica, constitui-se em uma questão de método de ensino e de tendência pedagógica a ser seguida pelo professor de Geografia.

Experiência com os alunos da Escola Deodoro de Mendonça

As atividades realizadas pelo projeto “Um olhar geográfico sobre a cidade de Belém” na referida escola por intermédio do PIBID, busca uma tentativa de fuga do tradicionalismo que ainda se faz presente no ensino publico atualmente, onde o papel do professor é o de mero “transmissor de conhecimentos e/ou de conteúdos”, como o estipulado pela Pedagogia Tradicional. Para tal, busca-se a realização de atividades como oficinas, palestras, trabalhos de campo etc., com o intuito de ultrapassar essa concepção de professor como transmissor de conhecimentos e de verdades inquestionáveis, além de tornar a relação ensino – apren-dizagem uma troca de experiências por meio da interação entre professores e alunos, onde ambas as partes têm papel fundamental no processo educativo.

A escolha da paisagem como tema deste ensaio, consiste no fato de essa categoria ser o ponto de partida do referido projeto, haja vista que o mesmo constitui-se em “Um olhar geográfico sobre a cidade de Belém”, e esse é olhar se dar a partir da paisagem.

Num primeiro momento, algumas categorias de analise em geografia foram discutidas com o publico alvo do referido projeto (os alunos do Projeto Aceleração) por intermédio de uma oficina ministrada na escola. A partir disto, foi realizado um trabalho de campo com o alunado, para observar in locu a dinâmica da paisagem, assim como as profundas transformações por quais Belém passou desde sua fundação, no centro histó-rico da cidade (Fotos 1 e 2). Posteriormente, foi proposto aos alunos que representassem através de desenhos duas formas de apresentação da paisagem da cidade, uma retratando a paisagem contemporânea e outra retratando como a cidade se apresentava no passado, a partir das rugosidades contidas na paisagem (Figuras 1 e 2).

Foto 1: Alunos em trabalho de campo no centro histórico da cidade de Belém – Pa; Foto 2: Alunos resolvendo atividade referente a paisagem da cidade, durante o trabalho de campo.

Fonte: Joana Rodrigues (24/11/2010).

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Figura 1: Desenho produzido pela aluna Beatriz Caroline B.Rosa da turma 03 do Projeto Aceleração da Escola Deodoro de Mendonça, representando distintas paisagens da cidade de

Belém, uma paisagem passada e outra contemporânea.

Figura 2: Desenho produzido pela aluna Karoline Bianchi da turma 04 do Projeto Aceleração da Escola Deodoro de Mendonça, representando distintas paisagens da cidade de Belém,

uma paisagem passada e outra contemporânea.

Num segundo momento, foi realizada uma atividade de campo na Ilha de Cotijuba, Distrito de Belém-Pa, com o intuito de mostrar a cidade de outro ângulo, diferentemente da forma como eles comumente a vêem, a fim de captar como esses alunos vêem a cidade de dentro e de fora, fato facilitado pelo registro fotográfico. Assim, ao longo da atividade de campo, foi desenvolvido um questionário por eles, onde se tinha varias questões rela-cionadas à cidade e a ilha, contrastando ambas a partir da paisagem e do modo de vida. Além disso, foi realizada uma trilha ecológica, objetivando mostrar as diferentes paisagens da Ilha de Cotijuba, instigando os diferentes olhares do alunado sobre a cidade e a Ilha em questão (Foto 3 e 4).

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Foto 3: Alunos em atividade de campo na Ilha de Cotijuba, Distrito de Belém-Pa. Foto 4: Alunos fazendo trilha durante a atividade de campo. Fonte: Joana Rodrigues (24/11/2010).

Considerações

Ao discorrer sobre essa temática percebe-se a necessidade imediata da reflexão sobre a forma como as categorias da ciência geográfica vem sendo ensinada na sala de aula, mais precisamente o estudo da paisagem no ensino fundamental, haja vista que esta se constitui no ponto de partida para a compreensão do espaço geográfico, objeto da Geografia.

É nítida a deficiência a qual perpassa o estudo da paisagem atualmente, sobretu-do pela forma como esta é repassada nos livros didáticos. Por essa razão, pretende-se a partir desse ensaio avançar nas discussões acerca dessa temática, e contribuir a partir da experiência com os alunos da aceleração para o aperfeiçoamento da prática educativa e da forma de trabalhar com a categoria paisagem na educação básica, levando em considera-ção as diferenças entre a Geografia desenvolvida na academia e o conteúdo de geografia desenvolvido na sala de aula do ensino fundamental. Para isso é necessário esclarecer a polissemia do conceito de paisagem, para que possa ser possível ao aluno identificar a diferença da paisagem geográfica da paisagem como gênero de pintura, referente à idéia de “lugar belo, bucólico”.

Espera-se que ao se olhar para a paisagem geográfica o aluno da educação básica possa apreendê-la como tal, vendo desta forma, mais que um conjunto de objetos des-conexos, sem relação entre si e com ele próprio, apreendendo a paisagem como ela é em essência, na sua totalidade.

REFERÊNCIAS

AB’SABER, A. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas.

São Paulo, Ateliê Editorial, 2003. p. 160.

BERTRAND, G. Paisagem e geografia f ísica global. Esboço metodológico. Caderno de Ciências da Terra, São Paulo, n. 13, p. 1-27, 1971. CARLOS, A. F. A.(Org.). A Geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2005.CAVALCANTI, L. S. Geografia: escola e construção de conhecimento. Campinas-SP: Papirus, 1998.GUERRA, A. J. T. et all. Geomorfologia ambiental. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.LUCKESI, C. C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994.MYANAKI, J. A paisagem no ensino de Geografia: uma estratégia didática a partir da arte. (Dissertação de mestrado). São Paulo, 2003.PONTUSCHKA, N. N. et all. Para ensinar e aprender Geografia. São Paulo: Cortez, 2007. SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológi-cos da Geografia. São Paulo: Edusp, 2008.SANTOS, M. Pensando o espaço do homem. São Paulo: Edusp, 2007.ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: ArtMede, 1998.