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h ipertext o Jornal dos alunos da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, junho 2009 – Ano 11 – Nº 72 ANO 11 Profissão de risco JORNALISMO SUPERIOR Páginas 6 e 7 Páginas 2, 3 e 4 Lívia Stumpf/ Hiper Nenhum tribunal vai tirar de nós a vocação, a opção profissional e o diploma universitário em jornalismo; nem o compromisso com a verdade, a ética, o meio ambiente e humanidade; os conceitos de neutralidade e objetividade; muito menos a linguagem universal, a criatividade, o espírito crítico, a coragem, a cultura, o empreendedorismo de risco e o direito a um salário. Acompanhe o dia-a-dia dos alpinistas industriais que trabalham nas alturas Jonathan Heckler/ Hiper Manifestação de estudantes, sindicalistas, profissionais e jornalistas históricos no centro de Porto Alegre em favor do diploma, acompanhados dos rostos de ministros do Supremo que votaram contra

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hipertextoJornal dos alunos da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, junho 2009 – Ano 11 – Nº 72

ANO11

Profissãode risco

JORNALISMOSUPERIOR

Páginas 6 e 7

Páginas 2, 3 e 4

Lívia Stumpf/ Hiper

Nenhum tribunal vai tirar de nós a vocação, a opção profissional e o diploma universitário em jornalismo;nem o compromisso com a verdade, a ética, o meioambiente e humanidade; os conceitos de neutralidade e objetividade; muito menos a linguagem universal, a criatividade, o espírito crítico, a coragem, a cultura, o empreendedorismo de risco e o direito a um salário.

Acompanhe o dia-a-diados alpinistas industriais que

trabalham nas alturas

Jonathan Heckler/ Hiper

Manifestação de estudantes, sindicalistas, profissionais e jornalistas históricos no centro de Porto Alegre em favor do diploma, acompanhados dos rostos de ministros do Supremo que votaram contra

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Porto Alegre, junho 20092 abertura/ DIPLOMA hipertexto

Jornal mensal dos alunos do Curso de Jorna-lismo da Faculdade de Comunicação Social (Famecos), da Pontifícia Universidade Cató-lica do Rio Grande do Sul (PUCRS).Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil.E-mail: [email protected]: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hiper-texto/ 045/ index.php

Reitor: Ir. Joaquim ClotetVice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira

Diretora da Famecos: Mágda CunhaCoordenadora de Jornalismo: Cristiane FingerProdução dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia.Professores Responsáveis: Tibério Var-gas Ramos e Ivone Cassol (redação e edição), Celso Schröder (arte e editoração eletrônica) e Elson Sempé Pedroso (fotojornalismo).

Estagiários matriculados e voluntários:Gerente de produção: Rodolfo Soares

Manfredini Editores: André Di Giorgio Mantese, Pedro Palaoro, Joyce Copstein e Mariana Pires.Editor de Fotografia: Bruno Todeschini e Camila Domingues.Redação: Cássio Hübner Santestevan, Danielle Brites Rodrigues, Eduardo Silveira, Fernando Soares, Flávia Drago Gordim, Joyce Copstein, Júlia Schwarz Moreira, Júlia Souza Alves, Lorenço Oliveira Borba, Marcus Perez, Marina

Sant’Anna de Oliveira, Mariana de Mattos Pires, Morgana Laux, Natalia Rech, Rodolfo Soares Manfredini, Shaysi Melate, Stéfano Aroldi Santagada, Tiago Kern do Amaral. Repórteres Fotográficos: Ana Maria Bicca, Bernardo Ribeiro, Bolívar Abascal Oberto, Bruno Todeschini, Clarissa Leite Caum, Diogo Lucato Oliveira, Fernanda Vergara Grabauska, Guilherme Santos, Henry Soares, Jonathan Heckler, Lívia Stumpf, Maria Helena Sponchiado, Maria-na Gomes da Fontoura e Tatiany Lukrafka.

Hipertexto Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000

EDITORIAL/ carta aberta

A IMAGEM

Protesto contra a decisão do Supremo na Esquina Democrática

Lívia Stumpf/ Hiper

Por Tibério Vargas Ramos (*)

Não basta ser curioso e boca grande para trabalhar na im-prensa. Quando entrei no curso de Jornalismo da Famecos, em 1968, não era obrigado a ter di-ploma para exercer a profissão. Eu gostava de ler, escrever e queria trabalhar em jornal. Fui em busca de um curso universitário na área que desse formação e condições para me apresentar em busca de um emprego. No segundo ano da faculdade, já era repórter da Zero Hora. Podia ter me inscrito como “prático licenciado”, mas continuei estudando. Em 1971, concluí a graduação e me registrei no Ministério do Trabalho como “jornalista diplomado”, com mui-to orgulho.

Passados 40 anos, voltamos à estaca zero. O justicialismo do Su-premo, arbitrário, revanchista ou subserviente, acabou não só com a obrigatoriedade do diploma, mas com a própria profissão.

O argumento mais calhorda é de que a Lei de Imprensa e a re-gulamentação do jornalismo eram os últimos “entulhos” do tempo da ditadura. Cometeríamos a mesma injustiça se fizéssemos igual ra-ciocínio em relação aos veículos

de comunicação. Aqueles criados ou que se expandiram após 1964 teriam sido coniventes ou par-ceiros dos militares. Assim como todas as falências ocorreram por perseguições como o foi, sem dú-vida, a do Correio da Manhã, do Rio. A movimentação e acomoda-ção do mercado têm muito a ver com inovações na administração, estratégias, oportunidades e pre-enchimento de espaços vazios.

O regime militar tinha um pro-jeto de poder a longo prazo, que se estendeu por 20 anos. Sempre que cresciam tensões, reagiam com cassetete e pau-da-arara, ou faziam concessões. A Lei de Imprensa foi uma delas. Entre-tanto, se tinham de enquadrar um jornalista, não utilizavam-na por ser muito benigna. Valiam-se da Lei de Segurança Nacional. Aconteceu comigo.

Nos anos 70, fiz uma repor-tagem na Folha da Tarde denun-ciando que um barbeiro estava preso há 18 anos por ter dado um tapa na mulher. Ele foi ime-diatamente solto e quiseram me botar na cadeia no lugar dele. Não podiam me acusar na Lei de Imprensa porque eu relatei um erro judiciário inquestionável. O Ministério Público, guardião

dos direitos civis, me denunciou, então, na LSN. Respondi por ter “indisposto o povo contra um poder da União”. Bem assim. O ex-ministro do Supremo, Paulo Brossard, cita em seu livro O Balé Proibido como uma das maiores aberrações jurídicas cometidas pelo autoritarismo. Sentei junto com o fotógrafo Damião Ribas, já falecido, diante de um tribunal militar, todos de verde, e fomos absolvidos por unanimidade. (Nunca entrei com pedido de indenização, como tantos ícones.)

Nos anos de chumbo, o mi-nistro Mário Andreazza viajava de avião com repórteres e copa franca. Durante conflitos com es-tudantes, iniciados em 1968, a di-tadura assinou a regulamentação do jornalismo, em 69. Para nós, doses de uísque e piso salarial.

Impossível negar. Mas não confundir, de propósito, direito à informação, matéria-prima da imprensa, com liberdade de expressão. Essa constitui-se prer-rogativa da sociedade. O mais in-teressante: a decisão de publicar ou não é dos donos dos veículos, não dos jornalistas. Quem sabe a gente começa a discutir a pauta da liberdade de expressão? Me serve.(*) Jornalista desde 1969, professor desde 1977

A profissão e a liberdade

Os professores da Faculdade de Comu-nicação Social (Fa-mecos) da PUCRS repudiam a decisão do Supremo Tribu-nal Federal (STF) que terminou com

a obrigatoriedade do diploma para o exercício da atividade profissional dos jornalistas. Ao contrário dos argumen-tos contidos no voto do relator, ministro Gilmar Mendes, os docentes acreditam que a regulamentação da profissão não compromete a liberdade de expressão e

de opinião. Defendem, sobretudo, que as escolas de jornalismo são o ambien-te adequado para o desenvolvimento profissional. As universidades têm vocação não apenas para a construção do conhecimento, mas para o exercício da crítica.

Este campo profissional é de tal complexidade que requer o desen-volvimento de princípios eticamente corretos, habilidades e técnicas especí-ficas. Desprezar esta condição significa um retrocesso. A postura do STF não reconheceu a dimensão pública e a im-portância do exercício do jornalismo.

Ao mesmo tempo, desprezou o conhe-cimento, o ensino e a pesquisa, além de ignorar a trajetória da categoria no país que construiu uma das mais públicas formas de acesso à profissão – a formação acadêmica.

A PUCRS tem uma longa tradição na defesa de um ensino pautado pela qualidade, pela postura crítica, pela excelência técnica e pelo cuidado ético. Em 57 anos, o curso de Jornalismo da Famecos formou milhares de bacharéis que exercem digna e competentemente a profissão. Os professores desta fa-culdade, portanto, solidários com os

jornalistas brasileiros e sintonizados com a opinião pública, apostam em uma legislação contemporânea e de-mocrática, fruto de negociação com a sociedade e que retome a formação acadêmica específica como princípio de acesso ao jornalismo. Essa legis-lação precisa ser construída no local apropriado – o Congresso Nacional – e deve responder não somente aos direi-tos dos jornalistas. Mais do que uma discussão de categoria, está em jogo o direito à informação de qualidade, que é uma das garantias fundamentais da democracia.

Famecos defende diploma de Jornalismo

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Porto Alegre, junho 2009 3DIPLOMA/ abertura hipertexto

Por Eduardo Silveira

A decisão do Supremo Tribu-nal Federal (STF) de extinguir a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão gerou preocupação e reações por parte dos estudan-tes, profissionais, sindicalistas e professo-res de cursos u n i v e r s i t á -rios. Acatada pela maioria dos ministros (oito votos a um), a decisão se baseou no entendimento do relator do pro-cesso, ministro Gilmar Mendes, que considerou o decreto de re-gulamentação da profissão (Lei 972/69) contrário à liberdade de expressão, estabelecida pela Constituição Federal de 1988.

Durante sua manifestação Gilmar Mendes ressaltou que o jornalismo e a liberdade de ex-pressão são atividades que não podem ser pensadas e nem trata-das de forma separada. Mendes comparou ainda o jornalismo a outras categorias como culinária, moda e costura, se referindo ao fato destes profissionais exerce-rem suas atividades sem diploma. Contrariada com as declarações do ministro, a diretora da Facul-dade de Comunicação da PUCRS, Mágda Rodrigues da Cunha, espe-ra que a categoria se mobilize, no

próximo período, para garantir que a profissão não se torne ape-nas uma especialização. “Tenho receio de que comecem a existir cada vez mais cursos técnicos na área de jornalismo, o que vai prejudicar a qualidade e formação dos profissionais”. Segundo Mág-da, a formação profissional deve

continuar sendo exi-gência bá-sica para a entrada nos meios de comu-

nicação. “Acredito que as empre-sas devem honrar o que dizem e manter, nas redações, profissio-nais qualificados com formação em jornalismo”, ressalta.

No entendimento da jornalista e diretora, a exigência do diploma está diretamente ligada à boa prá-tica do jornalismo. “O que dife-rencia o jornalista do generalista é que o profissional de jornalismo tem responsabilidade ética e moral de aprofundar o problema e buscar entender muito bem do assunto. Um jornalista, diferen-temente de outros profissionais, deve saber perguntar, conhecer o conteúdo em investigação para questionar, aprofundar os fatos e mostrá-los à sociedade. Nesse sentido, as universidades têm pa-pel muito importante na formação profissional”, explica Mágda.

O vice-presidente da Fede-

ração Nacional de Jornalistas (Fenaj) e atual superintendente de Comunicação da Assembléia Legislativa, Celso Schröder, con-testa o argumento do ministro de que a exigência do diploma restringe a liberdade de expressão na comunicação social do país. “Em nenhum momento a Cons-tituição Federal faz ressalva ao exercício profissional como algo que venha a tolher a liberdade de expressão”, disse. Para Schröder, a decisão de Gilmar Mendes foi orientada por uma ideia que se apropria de uma reivindicação democrática e neces-sária para democracia que é a de liberdade de expressão, transferindo o conceito para a liber-dade dos indivíduos obterem informação. Assim não caberia ao jornalista profissional formado prestar in-formação para a so-ciedade, mas, sim, as empresas de comuni-cação. Essa inversão no conceito poderá justi-ficar a ação desregula-mentadora da profissão e restringir ainda mais a ação dos jornalistas”, acrescentou.

Schröder considera que o fim da obrigatoriedade do diploma poderá comprometer a regula-mentação profissional. “Nossa

regulamentação deve continuar, o que não sabemos é como ficará a partir da decisão do Supremo, ou seja, quais serão os critérios adotados para a exigência do exercício profissional. Saberemos disso somente após a publicação do acórdão do STF. O que se sabe hoje é que as cinco horas de trabalho e as garantias de salário permanecem.”

Celso Schröder acredita que a situação ainda pode ser rever-tida. “Estou otimista em função dos últimos acontecimentos de mobilização dos jornalistas e

dos professores. Nossa catego-ria, por exemplo, que estava um tanto amortizada, após esses acontecimentos demonstrou força e reação ao sair às ruas. O

movimento estudantil também reagiu se posicionando favorável ao diploma. Acho que as mobili-zações ajudarão na construção de uma opinião pública favorável”. A Fenaj, acolhendo as sugestões de deputados e senadores, está negociando a constituição de uma frente parlamentar, além de um grupo de estudo constitucional com a participação da OAB e de constitucionalistas que avaliarão o melhor caminho para a retoma-da da questão do diploma: se um projeto de emenda constitucional ou de lei ordinária. “Já temos

apoio de mais de 100 parlamenta-res, entre deputados e senadores, e devemos obter outras adesões”, informa o jornalista com esperan-ça de uma virada de mesa.

Estudantes e jornalistas reagemManifestação dos alunos de Jornalismo da Famecos no saguão da faculdade em defesa do diploma Protesto chega à pista da avenida Ipiranga, na frente da PUCRS

Professores Cristiane Finger e Marco Villalobos garantiram caráter pacífico

Academia e Federação Nacional de Jornalistas se posicionam contra o julgamento do Supremo

Comunicação direta no centro de Porto Alegre

Ministro Gilmar Mendes comparou o jornalismo à culinária, moda e costura

Fotos Elson Sempé/ Hiper

Lívia Stumpf/ Hiper

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Porto Alegre, junho 20094 abertura/ DIPLOMA hipertexto

Por Joyce Copstein Dia 17 de junho ficou marcado

como uma data especial para os 49 alunos da Famecos que, neste semestre, concluem o curso de Jornalismo. Neste dia, eles entre-garam a monografia, símbolo da conclusão do curso de quatro anos de dedicação e esforço. Olhando para o sonho concretizado nas vias encadernadas e de capa azul, muitos deles se perguntavam: o ministro Gilmar Mendes não po-deria ter escolhido outro dia para proferir a decisão que dispensou a obrigatoriedade do diploma que estamos prestes a receber?

“A sensação foi de tristeza ab-soluta”, conta a formanda Bruna Longaray, que vê na faculdade a base para a prática profissional. “É aqui que aprendemos se o que estamos fazendo está certo. Temos na PUCRS os melhores profissionais do mercado”, ava-lia, sem conseguir entender a mudança. “Como um país em de-

senvolvimento pode menosprezar assim a qualificação do seu povo? Ninguém sai de uma universida-de do mesmo jeito que entrou”, afirma. No momento, a estudante divide-se em dois sentimentos: “É um misto de felicidade, pela formatura, e de humilhação, por estarem desqualificando a classe desse jeito”, desabafa.

A indignação e a decepção são compartilhadas por quase todos os colegas que se tornam bacha-réis em agosto, como conta Greta Mello, integrante da Comissão de Formatura. “Justo agora que muitos realizam um sonho de in-fância, como eu, ele desmorona”, lamenta. Na visão dela e de vários outros que ficaram insatisfeitos com a desregulamentação, apare-ce, ainda, uma preocupação com o público do jornalismo: “A po-pulação merece uma informação de qualidade. Não é todo mundo que deveria exercer a profissão”, destaca.

Para a graduanda Yara Tro-

pea, porém, a questão é mais simples. Ainda que não concorde com a decisão do STF – “os argu-mentos de liberdade de expressão foram uma besteira” –, ela não considera necessário ter o diplo-ma para trabalhar na área. “O que precisa é saber observar o que acontece e reportar, com todos os lados”, observa. Ela considera ter feito uma boa faculdade, mas pen-sa que o jornalismo poderia ser oferecido como pós-graduação. “Para reportar com todos os lados, é importante ter uma formação, mas não necessariamente os quatro anos do curso. Quem tem essa habilidade, já a tinha antes de tirar o diploma; quem não tinha, terminou a faculdade e continua não tendo”, opina. Da turma de formandos, ela é uma das poucas que permaneceu tranquila com o novo cenário. Assinala que muitos dos colegas que se revoltaram são pessoas que pouco frequentaram as aulas. “Não é o diploma que vale, e sim o que se aprende”.

Por Marcus Perez e Pedro Palaoro

Os primeiros protestos contra a decisão do STF surgiram logo após a divulgação da informação. Em Porto Alegre, no dia 19 de junho, representantes do núcleo estudantil do Sindicato de Jorna-listas Profissionais do Rio Grande do Sul e estudantes de jornalismo da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS protestaram no portão de acesso da Universida-de e interromperam por alguns minutos parcialmente o fluxo de veículos na avenida Ipiranga. Alguns dias depois, uma nova manifestação reuniu centenas de pessoas na Esquina Democrática, no Centro de Porto Alegre.

Diante da manifestação e da interrupção do trânsito no dia 19, na Ipiranga, a diretora da Famecos, Mágda Rodrigues da Cunha, comentou: “Como pro-fissional formada na área, apoio os movimentos contra o fim da obrigatoriedade do diploma. Agora, como diretora da Famecos não compactuo de manifestações como essa ocorridas na avenida Ipiranga, afinal qualquer atenta-do contra a integridade de nossos alunos, nos afeta diretamente.” O ato terminou de forma pacífica dentro da própria universidade, com os estudantes se dirigindo para o prédio da Faculdade de Di-reito, como uma forma simbólica de demonstrar indignação para com a decisão do Supremo.

Representantes do Movi-mento Estudantil Independente também apoiaram o protesto, dizendo que os futuros jornalistas exerciam o direito democrático de se manifestarem e que qualquer

classe que se sentisse ameaçada deveria fazer o mesmo.

No dia 24 de junho, estudan-tes e profissionais da área do jornalismo, com o apoio de ve-readores, deputados e principal-mente do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, se reuniram na avenida Bor-ges de Medeiros, esquina com a Rua dos Andradas, para protestar. Munidos de cartazes com as fotos dos ministros do STF que votaram pelo fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício da pro-fissão de jornalista, os manifes-tantes se dirigiram ao Palácio da Justiça e à Assembléia Legislativa, na Praça da Matriz.

Na Assembléia Legislativa, os manifestantes foram recebidos pelo presidente da Casa, Ivar Pavan, que disse ser favorável à causa jornalística. O vereador de Porto Alegre Carlos Todes-chini, do PT, também deu seu apoio. “Com muito orgulho, fui presidente do DCE da UFPEL (Universidade Federal de Pelotas) e conheço esse assunto há muito tempo. A desregulamentação profissional serve apenas para baratear a mão de obra por parte das grandes corporações”, falou Todeschini.

O presidente do Sindi-cato dos Jornalistas, José Maria Nunez Rodriguez, elogiou a atu-ação de estudantes no protesto, dizendo que é importante para que a situação seja revertida. “É importante mostrar que a queda do diploma é um prejuízo para a sociedade e vai abrir espaço para que outras profissões sejam des-regulamentadas”, lamentou José Maria.

Dia de alegria e tristeza para formandos da PUC

Enquanto entregavam trabalho de conclusão,futuros jornalistas ficaram sabendo da decisão do STF

O senador Antônio Carlos Va-ladares (PSB-SE), que protocolou uma Proposta de Emenda à Cons-tituição Federal (PEC), no dia 23 de junho, para tornar obrigatória a exigência do diploma de nível superior para o exercício da pro-fissão de jornalista, já conseguiu juntar 40 assinaturas de apoio. Para poder apresentar o PEC, eram necessárias 27. Segundo a Agência Brasil, a proposta de Valadares torna obrigatório o diploma para exercer o Jornalis-mo, além de tornar facultativa a exigência do diploma para cola-boradores.

“Com todo o respeito que tenho ao Supremo Tribunal Fede-ral, foi uma decisão equivocada. O jornalista é um profissional cujo trabalho é reconhecido. É uma tradição a legitimidade. O Brasil não pode retroceder. Como um senador socialista, não poderia deixar de recolher as assinaturas e protocolar a PEC”, declarou o senador.

PEC que tornaobrigatóriaexigênciado diploma

O protesto do “cozinheiro diplomado”, como comparou Gilmar Mendes

Protestos em Porto Alegre contra a decisão do STF

Presidente do Sindicato dos Jornalistas empunha cartaz

Fotos Lívia Stumpf/ Hiper

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Porto Alegre, junho 2009 5feminismohipertexto

Por Danielle Brites Rodrigues

Começa a terceira onda na emancipação feminina. Pri-meiro venceu o preconceito. De-pois buscou a igualdade. Agora, a mulher no século 21, além de se organizar, deve estudar, se apropriar dos conceitos e não ficar isolada. Essas ideias resumem o que foi debatido no 2º Encontro de Mulheres UFRGS, nos dias 5 e 6 de junho, no auditório da Facul-dade de Economia. O evento reu-niu 250 pessoas, entre estudantes, professores, servidores da UFRGS e representantes de movimentos sociais.

Organizado pelo Coletivo de Mulheres da UFRGS e por mem-bros do Diretório Central (DCE) da UFRGS, os debates contaram com a presença da comunicóloga social Elenara Iabel, da professora e pesquisadora Jussara Reis Prá e de Saraí Brisxner, representante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). A história do feminismo e discussões a respeito de como a mulher vem sendo tra-tada pela sociedade foram desta-ques para que a luta feminista seja valorizada e melhor entendida.

A vereadora porto-alegrense Fernanda Melchionna (Psol) disse que ainda existe muito preconcei-

to com a presença de uma mulher. “Lá vai ela fazer beicinho”, dizem seus colegas quando ela reivindica algum assunto na Câmara. Bárba-ra Sabrini, estudante de medicina da UFRGS, uma das coordena-doras gerais do DCE, desabafa: “Dentro do próprio movimento estudantil ainda existe muito machismo... a mulher tem que exigir seu espaço”. O machismo está presente na universidade e em todas as esferas da sociedade.

Mais que um simples encon-tro, o que ocorreu foi um pedido de reformulação do papel da mulher na sociedade. Segundo Cristiane Pegoraro e Ezequiela Scapini, estudantes da UFRGS e duas das organizadoras do Coletivo, o objetivo do evento é fomentar o debate sobre a condi-ção feminina na sociedade como um todo e encaminhar a resolução para problemas como o abrigo de estudantes grávidas na Casa de Estudante.

Jussara Reis Prá, professora e pesquisadora do núcleo in-terdisciplinar de estudos sobre mulher e gênero da UFRGS, fez comentários sobre a história do feminismo e críticas à sociedade atual. Segundo ela, existe muito preconceito com a mulher ainda: “Somos caracterizadas pelo sexo

frágil, o sexo oposto”. Mas apon-ta: “O aumento da participação na vida pública tornou o século 20, o século das mulheres” Abor-dando a luta das feministas no Brasil, ela observou a evolução do movimento: antes, se queria emancipação feminina, e hoje, fala-se em igualdade.

O direito à educação e voto eram os objetivos num primeiro momento. Nos anos 40 e 50, as primeiras escolas mistas apa-recem, mas a mentalidade não muda muito, pois as mulheres ainda são educadas para o lar, com aulas como a de costura. Dos anos 60 aos 80, deu-se a segunda onda do feminismo, com “reivin-dicações aliadas a movimentos de protesto”. Na terceira onda, cursos sobre mulher constituem um marco.

A palestrante Jussara Reis ainda fez uma crítica ao papel da publicidade: “A publicidade é difusora da venda de opiniões racistas e sexistas”, mostrando apenas a mulher sensual. Diz que a própria “homenagem” ao Dia Internacional da Mulher é preconceituosa, pois as pessoas mostram como ainda assimilam a mulher, representada pelos presentes de cozinha e objetos para a casa.

Encontro debate papel da mulher no século 21

Evento mobiliza mais de 250 pessoas na UFRGS

Por Julia AlvesOBSERVATÓRIO DO SAGUÃO

Elenara Iabel, Jussara Reis Prá e Saraí Brisxner estiveram na universidade

O evento reuniu a comunidade para debater a atuação das mulheres

filhasdapuc.com

Elas são jovens e cheias de disposição. As quatro gurias do 1º semestre de Jornalismo estão mostrando a que vieram e ser-vem de exemplo para estudantes de todas as idades. Com sede de botar em prática o que aprendem na faculdade no turno da noite, são recordistas de acesso (em um só dia receberam 10 mil visitas!), compraram o domínio “.com” com a verba arrecadada em publicida-de online e deixaram para trás a curta fase de “blogspot”.

Escrevem sobre comporta-mento, cultura e dão dicas de programação. O quarteto com-prova que, quando se faz o que gosta, os resultados aparecem. O hábito de aparecer por todas as mídias populares entre a galera (msn, orkut, twitter...) ou como elas mesmas brincam “divulgação agressiva” ajuda e muito. Atua-lizações diárias e possibilidade de interação com o público-alvo também. Enquetes, promoções,

entrevistas, elas correm atrás do que acreditam.

E vão longe.

Vai para onde?

Semestre acabando e uma pergunta inevitável: Para onde ir quando as provas acabarem?

Aqui vão boas sugestões de colegas que indicam lugares in-críveis:

Pedro Henrique Faustini foi para Salt Lake (EUA) aprender inglês em um programa do Yazigi, com um grupo de estudantes e ficaram em casas de família. Além de assistir a jogos de basquete e praticar snowboard, encontrou um grego em um bar que conhecia o Renato Gaúcho, do Grêmio: “Foi a melhor viagem da minha vida, a primeira vez que tive contato com a neve. Apesar do frio, foi muito legal e meu inglês melhorou muito”.

Para quem quer ver neve, mas não tem como ir tão longe, uma opção legal de esquiar é ir até San

Martin del os Andes, estação de Chapelco (Argentina), como conta Ernesto Pletsch. “A cidade é bem acolhedora, e não é tão cheia de gente quanto Bariloche”. Greta Paz, aluna de Jornalismo, indica Buenos Aires: “é bom porque é mais barato do que roteiros tra-dicionais, fazer comprar, comer bem... A vida noturna é bem agi-tada e a programação cultural dos argentinos é riquíssima. Ficar em albergues é garantia de diversão e pouca despesa.”

Um lugar inusitado é o que pode dizer das férias de Marco Antonio Souza, que foi até Ara Cruz, no Espírito Santo. “A cida-de cresceu devido à exploração da celulose, e tem uma boa rede hoteleira. É legal de ver os índios nativos da região, eles preservam suas tradições até hoje e vendem artesanatos. As praias do Espírito Santo são lindas, a mais famosa é a de Guarapiri, onde fica o Projeto Tamar.”

Uma alternativa para os gaú-chos é curtir a nossa serra. Gra-

m a d o , n a região das Hortênsias, pode ser um e x c e l e n t e p r o g r a m a em família. João Henri-que Willrich a c o n s e l h a os turistas que gostam de natureza a conhecerem o Parque do Caracol, com cachoeiras e trilhas. Além da comilança de chocolates e café colonial, quem tem parentes mais novos precisa visitar a Casa do Papai Noel. Segundo João, uma caminhada pelo centro da cidade já vale a saída de Porto.

Chimarrão do bem

Desenvolvido pela Fundação Thiago de Moraes Gonzaga, o Programa Vida Urgente visa mobilizar a sociedade através de ações educativas e culturais.

Com QG na PUCRS, o objetivo é aproximar os universitários com a instituição que presa o consumo responsável do álcool através do ícone de integração dos gaúchos: nosso querido mate! Mania entre os estudantes, os cinco kits estão quase sempre emprestados. A prática, além de saudável, alivia os efeitos do frio e esquenta o corpo nos dias gelados que tem feito aqui em Porto. Fica bem na frente da Famecos, no prédio 8. Legal conferir o trabalho do pes-soal, passa ali e te informa com os voluntários do Vida Urgente.

Fotos Bruno Todeschini/ Hiper

Ana Maria Bicca/ Hiper

Promoção da Vida Urgente no campus da PUCRS

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Porto Alegre, junho 20096 reportagem hipertexto

Um trabalho preso em cordas A atividade com risco calculado, onde desafiar a altura faz parte de seu dia-a-dia

Por Fernando Soares

O cidadão caminhava va-garosamente por uma rua do bairro Moinhos de Vento quando subitamente parou para olhar dois homens no topo de um prédio, pendura-dos nas cordas, retocando a pintura. Por alguns minutos, permaneceu inerte e com a cabeça em riste na direção do céu azul, fitando os movimen-tos da dupla. A expressão facial revelava sua perplexidade com a situação.

O espanto do cidadão se justifica. Afinal, trabalhar como alpinista, pendurado a 50 metros do chão desperta, no mínimo, curiosidade. O que para muitos inspira medo e aflição é o ganha-pão de Luis Eduardo Machado e Roque Nedel. Eles são alpinistas in-dustriais e a rotina de ambos consiste em encarar a altura diariamente. Atividade que

executam com naturalidade e, principalmente, prazer. “Es-pecialmente no começo tem muita adrenalina e emoção. Trabalhar na altura é viciante, tanto que quando tu entras de férias, na volta tu estás louco pra subir e começar a trabalhar novamente”, relata Machado.

Técnica e disciplina são vir-tudes necessárias para realizar serviços na altura. Apesar de não terem uma preparação físi-ca específica, é possível afirmar que os alpinistas industriais praticam esporte no trabalho. No entanto, Machado explica que existem diferenças entre o alpinismo convencional e o alpinismo industrial. “Várias técnicas que utilizamos quem pratica só o esporte não sabe fazer. O alpinismo industrial abrange muito mais coisas, como, por exemplo, se lo-comover em uma estrutura. Também utilizamos bastante a parte de pendular, para ter

acesso ao local”, esclarece.O fator climático influencia o

exercício da profissão e, por vezes, é a principal dificuldade encontra-da. Em geral, somente o mau tem-po pode impedir a realização das atividades, ocasionando o cance-lamento ou adiamento. “Chuva e vento muito forte atrapalham. Quando o tempo está ruim, não há condição e os trabalhos externos são abortados”, afirma Nedel.

Nesta profissão, as adversida-des aparecem com frequência e o perigo é desafiado constantemen-

te. Entre os maiores obstáculos estão os espaços confinados, onde a dificuldade de locomoção, temperatura elevada e pouca ven-tilação aumentam o grau de risco. O receio é tido como salutar pelos próprios alpinistas. Eles alertam que o excesso de confiança pode ser nocivo. “O medo te protege. É bom que tu temas e respeite aquilo que está fazendo. Às vezes, quando tu chegas num local des-conhecido e que o acesso é difícil, tu vais indo com tranquilida de e usando o teu conhecimento. Sempre se confia no equipamento. Além do mais, a técnica supera qualquer dificuldade”, reconhece Machado.

Papai Noel sem barbaMesmo um trabalho cercado

de tensão rende histórias e fatos inusitados. Nas atividades ex-ternas em locais movimentados é comum a formação de plateia. Na montagem da árvore de Na-tal de Porto Alegre, na Usina do

Gasômetro, centenas de pessoas tiravam fotos e assediavam os al-pinistas. A descida do Papai Noel na chaminé do Shopping Total, ano passado, também rendeu um acontecimento incomum. “Eram dois Papais Noel. Um era o alpinista fantasiado que trocaria de lugar com o Papai Noel do sho-pping ao chegar ao chão. Quando ele estava descendo, a barba postiça ficou presa no descensor (aparelho anti-queda) e trancou. Ele precisou descer o restante do percurso na mão e sem barba”, relembra o alpinista Roque Nedel, às gargalhadas.

Devido à cor chamativa do uniforme (laranja com preto), Ma-chado conta que os alpinistas são alvos de brincadeiras e recebem apelidos como homem-aranha, robocop e astronauta. “Não nos consideramos homens-aranhas ou algo do gênero. Mas temos orgulho do que fazemos e somos conscientes que não é qualquer um que faz”, alega embevecido.

Na Igreja das Dores, na Capital, os alpinistas urbanos realizam trabalhos em locais de difícil acesso, sempre tomando cuidado com o excesso de confiança na hora de exercer a prática profissional

Jonathan Heckler/Hiper

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Porto Alegre, junho 2009 7reportagemhipertexto

O uso do alpinismo para a realização de serviços de risco é recente. Com o objetivo de facilitar acessos, reduzir custos e economizar tempo utiliza-se técnicas de acesso por cordas para atividades diversas na altu-ra. Assim, extingue-se o uso de andaimes e aumenta-se a segu-rança. O número de alpinistas em cada trabalho varia de acordo com sua dimensão. Mas sempre se atua no mínimo em dupla, por precaução. Para efetivar as tare-fas, os treinamentos são muito importantes. Através deles são si-muladas situações ocorridas com assiduidade, dando experiência ao trabalhador. Todo cuidado é pouco, qualquer deslize pode ocasionar um acidente fatal.

“A maior parte dos acidentes

acontece por falha humana”, ar-gumenta Antonio Gadenz, dono da Executar, empresa que presta serviços de alpinismo industrial há 10 anos. Eles tentam eliminar o erro através de treinamento, que é fundamental, pois possi-bilita o conhecimento e domínio da técnica, além da percepção dos riscos iminentes. As con-dições de trabalho também são importantes. “Não podem faltar equipamentos e ferramentas. Minimizar as condições adversas deixa o alpinista 100% concentra-do e sem preocupações para que execute bem sua função”, destaca Gadenz.

A seleção para integrar a equi-pe da Executar ocorre de duas formas. Uma delas é contratar al-guém que seja alpinista e ensinar

o trabalho feito pendurado por cordas: pintura, limpeza, solda, ligação elétrica, entre outros. Uma segunda opção é escolher o profissional específico de cada área e orientá-lo sobre as técnicas de escalada e acesso por corda.

Com um mês de treinamento o alpinista está apto para realizar tarefas. Inicialmente, ele apenas acompanha a equipe, onde estão pessoas mais habilitadas, na função de auxiliar. Durante um período de dois a três meses, permanece sob orientação de um supervisor e começa a de-senvolver atividades com corda. Os profissionais são classificados em três níveis. Entre os requisitos necessários para evoluir de etapa estão experiência e grau de de-sempenho.

Treinamento e muito cuidado para evitar acidentes

Os repórteres fotográficos do Hipertexto se posicionaram em andaimes e torres da igreja para registrar a atividade dos profissionais que recebem muito treinamento para poder trabalhar nas alturas

Bruno Todeschini/Hiper

Jonathan Heckler/Hiper

Jonathan Heckler/Hiper

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Porto Alegre, junho 20098 saúde hipertexto

Por Morgana Laux

Em 2003, com a ajuda da internet e do programa de bate-papo ICQ, Debora e Diego tro-caram as primeiras palavras, lembradas pelo casal até hoje. Moradores de Sapiranga, pequena cidade do Rio Grande do Sul, com 70 mil habitantes, eles utilizaram o bate-papo para confirmar o in-teresse um pelo outro. Depois de descobrirem afinidades – gremis-tas, apreciadores oficiais de um bom churrasco e internautas de-clarados –, os dois resolveram trocar fotografias. Surpre-so, Diego descobriu, no instante em que visualizou a imagem da amiga virtual, que conversava com Debora. “Só me dei conta de que falava com aquela menina linda que já tinha visto quando ela mandou uma foto. Vibrei como se tivesse acertado na loteria”, conta, emo-cionado.

O primeiro beijo entre o casal demorou a acontecer, pois a ami-zade, que se fortalecia no bate-papo, permaneceu até dezembro de 2004, quando os dois trocaram a primeira carícia. Quatro meses depois, o relacionamento foi oficializado. Por coincidência, a internet foi o meio para declarar o amor que nascia. “Nunca vou esquecer que o início do namoro foi na época em que começava o contato do mundo com o Orkut. Um dia após pedir ela em namoro, eu ainda não conseguia acreditar no que acontecia. Então, liguei para ela, para perguntar se podia colocar o status de namorando no meu perfil do Orkut. Desde então, o “namorando” nunca mais saiu de lá”, relata Diego.

A descobertaDurante um ano de namoro,

Debora e Diego não se enquadra-ram no rótulo de namorados ca-seiros, pois aproveitam as festas, jantavam com amigos e, sempre

que podiam, saiam para se di-vertir. O relacionamento parecia normal: eles não brigavam e com-preendiam um ao outro no perío-do de estudos e quanto a saídas e compromissos pessoais. Mas, em uma quinta-feira de setembro de 2006, dia calmo e com tempera-tura amena, Debora compareceu a um clínico geral para receber resultados de exames realizados em razão da permanência de uma dor próxima as costelas do lado esquerdo do tórax. O diagnóstico surpreendeu. Debora estava com

o tamanho do baço alterado, mas tam-bém anêmica, com leucopenia (redução do número de leu-cócitos no sangue, responsáveis pelas defesas do organis-mo) e com tromboci-topenia (redução do

número de plaquetas no sangue, que leva a uma maior tendência de apresentar hemorragia).

Debora foi aconselhada a pro-curar imediatamente um hemato-logista, e a gravidade do problema a fez correr contra o tempo. Em busca de ajuda, ela voltou ao trabalho para cancelar qualquer atividade, mas também para marcar uma consulta o quanto antes. A única médica que se prontificou a atender Debora na mesma tarde, que se tornava opa-ca aos olhos da jovem, foi Ângela Warlet, do Hospital Regina, em Novo Hamburgo. Debora repetiu os exames feitos e fez punções na medula óssea e uma biópsia. Era noite quando o seu mundo veio abaixo. Debora estava com leucemia linfóide aguda (LLA), mais comum e com maior chance de cura em crianças.

Após o diagnóstico, ela co-nheceu as dificuldades que teria de enfrentar em pouco tempo. Foi internada na mesma noite. O que parecia ser uma simples gripe se transformou em doença assustadora para uma jovem cheia de planos. Protocolos de quimio-terapia, mesmo sendo menos

agressivos que um transplante de leucemia, passaram a ser a reali-dade de Debora. Uma realidade longe dos colegas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, que teve de suspender, assim como a convivência com os amigos. Dia 21 de setembro de 2006 ficou

marcado pelo choque da notícia que, contudo, só chegou a Diego horas depois. A jovem decidiu não contar ao namorado a descoberta da leucemia, pois, no momento da revelação, ele enfrentava uma prova. “Ela ficou sabendo da

doença na tarde de quinta-feira. Nesse dia, eu tinha prova na fa-culdade, e estava tranquilo quanto ao que ela tinha, pois imaginava que era uma forte gripe. Ela só me contou à noite, já internada no hospital, para que eu não ficasse nervoso e não perdesse a prova”,

relembra o emo-cionado jovem.

Compreendi-da melhor a doen-ça, após pesqui-sas na mesma in-ternet que uniu o casal, Diego ficou sensibilizado, não conseguiu dormir nas noites seguin-tes e, até mesmo, comer. “No mo-mento em que ela me contou, não entendia bem o

que se passava. Fui direto para o computador para tentar entender do que se tratava. Nesse momen-to, perdi meu chão. Fiquei quatro noites sem dormir, e perdi cinco quilos logo na primeira semana, já que não tinha vontade de comer.

Ao mesmo tempo, sabia que teria que ser forte e passar força para ela, por mais difícil que fosse o momento”, revelou Diego.

Nos primeiros 15 dias de tra-tamento, com a ajuda da mãe, Debora penteava o cabelo e o tran-çava, para esconder os fios que caíam insistentemente e para não aceitar a realidade. Cansado de ver a tristeza da namorada, Diego não hesitou ao raspar a própria cabeça, incentivando a namorada a enfrentar o obstáculo e cortar as longas mechas loiras que afina-vam o rosto delicado. “Pedi uma máquina para as enfermeiras e raspei o cabelo dela também. Foi marcante. Ela chorou por três dias, mas depois se acostumou”.

O corpo de Debora também reagia as fortes quimioterapias de outras formas. Além da queda dos cabelos, as sobrancelhas tam-bém desapareceram. Quando não estava internada, Debora usava chapéus, lenços e boinas, aces-sórios que realçavam sua beleza, pois mesmo doente, os olhos da jovem continuaram belos e rosto mantinha as feições delicadas.

Jovens descobrem que é possível namorar e conviver com a leucemia

Um amor à prova de todos

Pouco antes de comemorar o quarto dia dos namorados ao lado de Diego Schuh, Debora Amanda Ostjen, 23 anos, com feições delicadas e olhos que mais parecem bolitas verdes, planejou um dos dias mais importantes de sua vida. Para 12 de junho de 2009, ela não marcou jantar român-tico em restaurante italiano, não assistiu a comédia com o companheiro e também não dormiu abraçada a ele. No dia dos namorados, Debora estava em um quarto branco e frio de hospital, sozinha, esperando a resposta positiva do transplante de medula que tenta salvar sua vida.

Débora luta contra a leucemia há três anos. Seu namorado Diego permanece ao lado dela e faz planos para o futuro

Fotos Arquivo Pessoal

Os olhos da jovem continuaram belos e rosto mantém as

feições delicadas

Diego e Debora, uma história que emociona

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Porto Alegre, junho 2009 9saúdehipertexto

Os encontros de Debora e Diego se reduziram a momentos no hospital ou a pequenos espa-ços de tempo em que o jovem de-veria entender as consequências que a doença trazia ao corpo da namorada, como enjôo e baixa imunidade. Se Diego ficasse gripado, por exemplo, precisava esperar a gripe passar para ver Debora. Fora os fatores relacio-nados à saúde, por precaução ela também evitava ambientes fechados, com aglomeração de pessoas.

Sempre ao lado da namorada, o jovem encontrou outras formas de levar a felicidade a ela du-rante as fases de internação. No primeiro Natal em que Debora passou hospitalizada, Diego co-locou em prática a idéia de uma

amiga do casal. Os dois arrecada-ram centenas de presentes entre conhecidos. Na noite de 24 de dezembro, ele entrou fantasiado de Papai Noel na instituição e entregou presentes. “Foi um dos Natais mais felizes da vida dela, mesmo estando trancada em um quarto de hospital”.

Questionado sobre o fato de permanecer ao lado de alguém doente na juventude – fase de diversão e descobertas –, Diego lembra que namoro é o primei-ro passo para o casamento. Na religião católica, os noivos ao se casarem prometem estar unidos “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”. O casal deve seguir desde o início esse princípio, pois o primeiro passo para o casamen-to, sem dúvida, é o namoro.

os desafios

Próximo passo, transplante

Após árdua batalha, com tratamentos e quimioterapia inten-sificada, Debora se prepara para o transplante de medula. O do-ador será seu irmão, Yuri, de 19 anos, cem por cento compatível. Passados três anos de luta contra a doença, Debora conta com a ajuda do namorado, que sempre se mostrou atencioso. Agora, ele está preocupado com os riscos da cirurgia e com o afastamento da namorada, que terá de enfrentar pela primeira vez em mais de quatro anos de namoro.

O procedimento exige isolamento completo, e somente os pais de Debora poderão vê-la num período de 40 dias. Mesmo acredi-tando que a espera será longa e angustiante, Diego faz planos não só para o momento que o casal vive, mas para a vida toda. “Não escondo de ninguém que meus planos são de formar uma família muito feliz com ela. Uma família que saberá enxergar o mundo de maneira diferente. Não podemos prever o que acontecerá no futuro, mas podemos planejar. Em nossos planos uma certeza: fomos feitos um para o outro”.

Hoje, Diego vê Débora como uma pessoa linda por dentro e por fora, com um coração gigante, que sempre soube compreender suas preocupações, alegrias e tristezas. Nos quatro anos de relacio-namento, nunca marcado pelo ciúme, cada um entendeu o espaço do outro. Os dois, embora rodeados de dificuldades, mantêm a confiança como uma chama acessa.

Por Flávia Drago

Um caminhoneiro de 29 anos foi a primeira vítima fatal da nova gripe no Brasil. Vanderlei Vial morreu, em Passo Fundo, no final de junho, depois de apresentar sintomas da doença 13 dias antes de seu óbito.

Vial foi para Argentina a tra-balho por duas semanas. Quando voltava de Buenos Aires, ligou para a família e disse que sentia os sintomas característicos da enfermidade (febre, tosse). Dias depois, quando procurou um hos-pital em Erechim, foi internado e transferido posteriormente para Passo Fundo.

Considerado um homem forte e com bastante massa muscular, a morte do caminhoneiro ocorreu devido à pneumonia viral seguida de coma, tendo passado ainda por hemodiálise. A notícia causou espanto por se tratar de uma pes-soa jovem e saudável. Parentes e amigos compareceram ao velório usando máscara protetora e ou-tros nem foram devido ao medo de contágio da gripe.

Trazida pelos viajantes que voltam principalmente de Buenos Aires, a nova gripe causa preocu-pação nas cidades da fronteira, como São Gabriel, que decretou quarentena total. Mas o vírus não veio somente dos hermanos. A gripe também chegou à Capital com os viajantes que regressaram da Europa, como um estudante do Colégio Farroupilha, recém chegado da Alemanha. Agora o medo não se direciona somente às

viagens cujos destinos são Méxi-co, Argentina e Chile. Inclui hoje a própria Capital e um sentimento, dito por alguns, de que não há mais como “fugir” do problema. O quadro se assemelha com outros episódios históricos do passado.

Gripe EspanholaPandemia é a denominação

para um surto de doença in-fecciosa que toma proporções continentais e até mundiais. O termo lembra tempos obscuros, antigos, em que a qualidade sa-nitária era arcaica, e permitia que males se espalhassem de maneira fulminante. Mesmo em período de grandes avanços médicos, a pandemia se incorpora ao voca-bulário comum e causa receio e insegurança geral.

Em 1918, a Europa saía da 1ª Guerra Mundial não somente de-vastada pelos confrontos bélicos, mas também estava completa-mente suscetível a doenças e epi-demias. Os soldados enfrentavam situações climáticas nada favorá-veis, desenvolvendo tifo e febre quintana. Aquilo que parecia ser uma simples gripe, depois de al-gumas horas, produzia manchas marrom-avermelhadas no corpo do doente. As marcas se espalha-vam de tal forma que tomavam conta de toda a pele e deixavam os pés pretos. Em questão de ho-ras a falta de ar causava o óbito. O vírus era letal: se propagava pelo ar e dificilmente o infectado conseguia sobreviver. A Gripe Espanhola teve dois momentos: no primeiro, atacou a Espanha e

os Estados Unidos e, no segundo, assolou Índia, Sudeste Asiático, Japão, China e Américas Central e do Sul.

Ainda é oculta a origem exata da pandemia, mas há especialistas que dizem serem as sucessivas mutações do vírus influenza que deu o poder quase que indestru-tível ao agente transmissor. Mais ou menos 18 meses foi o tempo de sua permanência, sendo que em apenas seis deles, 25 milhões de pessoas morreram.

Ainda hoje, depois de um grande salto tecnológico na medi-cina, o vírus influenza segue sem cura. Após 90 anos, o influenza voltou a colocar o mundo em aler-ta, com a sua rápida expansão no México. Ao se avaliar a situação sanitária do México hoje e da Eu-ropa quando da Gripe Espanhola, eram semelhantes. A Cidade do México não tem referências po-sitivas quanto à higiene de suas ruas e avenidas. A contaminação dos lixos e do ar são fatores cru-ciais para a vulnerabilidade do organismo humano, assim como a falta de organização sanitária que os europeus encaravam após a primeira Grande Guerra, dizem os especialistas.

Comparando a pandemia de 1918 e a atual, o escritor e médico sanitarista Moacir Scliar observa que naquela época a “microbiolo-gia não estava tão avançada. Não era possível isolar o vírus – o que agora é feito com razoável rapidez – e, consequentemente, não se podia preparar uma vacina como as que temos agora.”

Nova gripe faz primeiravítima fatal no Estado

Transplante de medula, a esperança de cura

Jewel Samad/ AFP

Pandemia assusta o mundo e é comparada à Gripe Espanhola, que apareceu após a Primeira Guerra

Caminhoneiro trouxe a doença de viagem à Argentina

Maurício Lima/ AFP

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Porto Alegre, junho 200910 esporte hipertexto

Por Stéfano Aroldi Santagada

Em cinco anos, atletas, jor-nalistas, turistas e torcedores de diversas nacionalidades visitarão Porto Alegre para os jogos da Copa do Mundo de 2014. Se to-dos os planos derem certo, eles conhecerão uma cidade muito diferente da atual. Mais do que um grande evento, a realização do Mundial é vista pelos governantes e especialistas como uma grande oportunidade para concretizar obras e projetos há anos sonha-dos pela população. Para Ricardo Gothe, gestor interinstitucional da Secretaria Extraordinária da Copa de 2014 (Secopa), a realização de partidas na Capital ajudará a im-pulsionar os investimentos.“Com a Copa, vamos fazer em quatro anos o que não faríamos em 30”, prevê.

Apesar do otimismo, passa-dos quase dois anos da escolha do Brasil como sede do evento, as obras ainda não passam de projetos e ideias. De concreto, até agora, nada foi feito. A principal preocupação das autoridades, tendo em vista o Mundial, é com a infraestrutura e a mobilidade urbana. Em discussão estão diver-sas obras que prometem mudar a fisionomia da cidade.

A principal promessa é a cons-trução da primeira fase da Linha

2 do metrô, também chamada de Linha da Copa. Orçada em R$ 2 bilhões, terá 15,3 quilômetros de extensão – a maior parte do trecho subterrâneo –, com 16 estações ligando o Centro à Zona Leste e passando pelos estádio do Beira-Rio e pelo Olímpico. Desejo antigo da população, a implantação do metrô espera por financiamento para se tornar realidade. A expectativa é de que

o Governo Federal, responsável pela obra, garanta os recursos por meio do PAC da Copa, que será lançado em breve.

Gothe afirma que possuir me-trô não é condição para uma cida-de ser sede da Copa, mas o objeti-vo é garantir os recursos em razão do evento. Ele ressalta, contudo, que o metrô não significará o fim dos congestionamentos. “Quem achar que investir no metrô vai

resolver os problemas do trânsito da cidade está enganado”, alerta.

Além do metrô, outras obras são previstas na área de trans-porte. Para melhorar o acesso ao estádio Beira-Rio, escolhido para a Copa, está planejada a du-plicação das avenidas Beira-Rio e Moab Caldas (antiga Tronco, na Vila Cruzeiro). Na entrada da cidade, próximo à futura Arena do Grêmio, a Prefeitura promete

prolongar a Voluntários da Pátria, e o Governo Federal anuncia a construção da nova Rodovia do Parque, alternativa à saturada BR-116. Até a Copa, também deve ocorrer a construção de uma segunda ponte sobre o Guaíba e a ampliação da pista do Aeroporto Internacional Salgado Filho (de 2.280 para 3.200 metros de com-primento, permitindo o pouso de aviões de maior porte). Outra aposta do prefeito José Fogaça para melhorar o transporte pú-blico da Capital é a implantação do projeto Portais da Cidade, que diminuirá o contingente de ônibus na região central.

O grande desafio é realizar todas as obras, que serão o grande legado da Copa para a população. A FIFA é rigorosa em suas exi-gências e implacável com cidades que não cumprem o cronograma. Gothe lembra que, das 11 cidades escolhidas na África do Sul para a Copa de 2010, quatro foram eli-minadas por não obedecerem aos prazos determinados pela entida-de máxima do futebol. “A escolha (de Porto Alegre como sede dos jogos) não encerra o trabalho”, afirma. E acrescenta que, para ele, a luta maior será seguir os curtos prazos estabelecidos. Afinal, o tempo está passando, o trabalho e a dificuldade são grandes – e 2014 é logo ali.

Os dois maiores clubes de futebol da cidade também en-xergam na Copa do Mundo uma grande oportunidade para o futuro. Grêmio e Internacional têm projetos de construção e reforma de seus estádios. Nessa disputa, o time colorado parte em vantagem: o Beira-Rio foi vistoriado pelos inspetores da FIFA e escolhido para receber as partidas de Porto Alegre.

De acordo com Emídio Fer-reira, vice-presidente de patri-mônio do Inter, o clube faz obras em seu estádio há sete anos, e muitas das solicitações já foram atendidas. O dirigente afirma que, para se adequar às normas, ainda é preciso colocar o restante das cadeiras (cerca de dez mil), melhorar o sistema de ilumina-ção e aumentar a área de esta-cionamento, além de melhorias

para a imprensa e nos vestiários. O custo total do projeto, que in-clui a colocação de cobertura nas arquibancadas e o aumento da capacidade do estádio, de 54 para 62 mil lugares, será de R$ 100 a 130 milhões. Os recursos virão da venda do antigo estádio dos Eucaliptos e da venda antecipada de camarotes, ao custo de R$ 1 milhão cada, por dez anos de uso.

Ferreira explica que a cober-tura e o aumento das arquiban-cadas não são condições para a Copa, mas as obras são para proporcionar conforto aos tor-cedores colorados. Ele assegura que, em dezembro de 2012, prazo dado pela FIFA para a conclusão dos estádios, o “novo” Beira-Rio será realidade. “As obras devem se iniciar ainda no segundo se-mestre”, promete.

Apesar da confirmação do

estádio do rival, o Grêmio aposta na construção da Arena na Zona Norte como alternativa. O estádio será erguido no bairro Humaitá, em um terreno às margens da Freeway. Fará parte de um com-plexo que contará também com hotel, shopping center e um cen-

tro empresarial e habitacional. O custo total do projeto é de R$ 1 bi-lhão – só a arena custará R$ 300 milhões. Sem dinheiro em caixa, o clube firmou parceria com a construtora OAS, que executará a obra e receberá 35% das receitas oriundas da Arena pelo período

de 20 anos – além de explorar os empreendimentos do entorno do estádio. A construção deve ser iniciada no primeiro semestre do ano que vem e concluída até 2012 – a tempo de, quem sabe, conquistar os fiscais da FIFA e sediar jogos da Copa.

Copa do Mundo vai mudar Porto Alegre

No Parque da Redenção, populares festejam a confirmação da cidade como uma das sedes da Copa de 2014

Inter vence Grenal dos estádios

Diogo Lucato/ Hiper

Prefeitura da capital acredita que pode fazer em quatro anos o que não faria em 30

Internacional projeta cobrir o estádio Beira-Rio para os jogos da Copa. Remodelações custarão mais de 100 milhões

Maria Helena Sponchiado/ Hiper

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Porto Alegre, maio 2009 11última horahipertexto

Por Shaysi Melate

Elas são cinderelas que so-nham em se casar com príncipes encantados e viver em um castelo chamado Europa. Mas, devido a suas profissões, quem tem maior interesse nas moças são os lobos maus. Essa é apenas uma das abordagens apresentadas no do-cumentário “Cinderelas, Lobos e Um Príncipe Encantado”, de Joel Zito Araújo. O cineasta percorreu cidades brasileiras, como Fortale-za, Salvador e Rio de Janeiro, em busca de declarações de pessoas diretamente relacionadas a três grandes problemas do país: o turismo sexual entre brasileiras e estrangeiros, o tráfico de mulhe-res para o continente europeu e a exploração sexual de menores.

Famílias desestruturadas, escassez de dinheiro, dificuldade em consegui-lo com outras ocu-

pações, desejo de poder comprar o que quiser, dívida por drogas, formação educacional precária ou inexistente. Muitos são os motivos que levam meninas e mulheres brasileiras a utilizarem seus cor-pos como fonte de renda. Algumas têm suas fantasias transformadas em pesadelos quando são levadas ao exterior e obrigadas a trabalhar na máfia da prostituição interna-cional. Os programas a que são forçadas a fazer não resultam em pagamento. Aprisionadas, a maio-ria sofre torturas e não consegue fugir. “Eu estava indo atrás de so-nhos que não existiam”, declarou Ana Madonna, recifense que virou notícia nos jornais do Brasil após conseguir escapar do cárcere em que estava no Suriname.

Uma das cenas mais intensas do filme flagra, nas ruas de Forta-leza, à noite, uma menina muito pobre, de 13 anos, procurando

clientes em busca de dinheiro para saldar com o traficante uma dívida por entorpecentes. A mãe, que está ciente do que acontece ao seu redor, conta ao roteirista que já implorou para que não vendessem drogas à sua filha, mas os apelos teriam sido inúteis. O trecho aborda a problemática da exploração sexual de menores.

Nesse contexto, o depoimento da senadora cearense Patrícia Saboya (PDT-CE), presidente da CPMI da Exploração Sexual, representa momento de ten-são para quem assiste ao longa-metragem. Entre 2003 e 2004, casos de abuso sexual de crianças, adolescentes e mulheres foram investigados pela comissão. Cerca de 250 pessoas foram indiciadas, entre políticos, juízes, empresá-rios, policiais, líderes religiosos. A maioria dos acusados não foi punida. Patrícia emociona-se ao falar da luta contra a pedofilia e a exploração infantil e indigna-se ao comentar que, no país, alguns juízes culpam meninas por sedu-zir homens mais velhos.

Perfil de turistaAos olhos do mundo, Brasil é

sinônimo de praias paradisíacas, lindas mulheres, carnaval, fute-bol, luxúria, violência e pobreza. Tornou-se, assim, ponto de refe-rência para o turismo sexual, um comércio que movimenta milhões de dólares no país e só perde, em lucros, ao tráfico de armas e dro-gas. Homens de classe média, en-tre 20 e 40 anos, de nacionalidade italiana, portuguesa, holandesa

e norte-americana: é o perfil do turista que vem ao país em busca de sexo, conforme pesquisa patro-cinada pela Organização Mundial do Turismo (OMT). Em sua esta-da na Europa, Joel Zito Araújo ficou surpreso com a publicidade explícita de pacotes para viagens do gênero, vendidos, em geral, a homens de baixa renda. No do-cumentário, os gringos afirmam que as europeias “estão sempre insatisfeitas”. Já as brasileiras são carinhosas e sensuais.

O apreço é recíproco: as pro-fissionais do sexo, como muitas preferem ser intituladas, admi-tem a preferência por clientes estrangeiros. De acordo com declarações, eles aceitam pagar o que as moças exigem e “não pe-chincham”. Além disso, compram presentes, gostam de andar de mãos dadas na rua e convidam-nas para viagens. Desse modo, tais mulheres, majoritariamente negras e humildes, frequentam lugares e ganham mimos pelos quais nunca teriam condições de pagar com salários advindos de outros empregos.

“Quanto mais o homem paga a gente, mais a gente se apaixona”, conta uma travesti, em um dos momentos de maior descontra-ção do filme. Nem todas, porém, interessam-se apenas pela remu-neração. Grande parte das entre-vistadas sonha em casar com um homem europeu, deixar o Brasil e viver um conto de fadas. Para o telespectador, a surpresa: muitas prostitutas recebem pedidos de casamento de estrangeiros. O

diretor foi a Roma e Berlim en-trevistar brasileiras que seguiram esse destino.

Entretanto, a expectativa de viver feliz para sempre não se cumpriu como esperado. Uma delas percebeu que não passaria seus dias desfrutando da riqueza, já que seu marido, aposentado, não ganha muito dinheiro. Outra se deparou com o choque cultural, uma vez que percebeu o desinte-resse do marido pelas relações conjugais. Apesar de saber que os casais europeus são mais “dis-tantes”, a moça alega sofrer pela falta de carinho e “calor humano”. A vivência da última entrevistada do longa-metragem, contudo, é a que mais se aproxima de um verdadeiro conto de fadas: uma brasileira que largou a prostitui-ção, casou-se com um alemão, foi morar na Europa e afirma que é muito feliz. “São poucas as histórias bem-sucedidas, mas elas existem”, opina o cineasta.

MORRE MICHAEL JACKSON

Cinema denuncia a ilusão das cinderelas Documentário monta um panorama do comércio e da exportação de sexo

O documentário foi lançado nacionalmente em 18 de maio – Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes – e estreou nos cinemas de Porto Alegre dia 29 do mesmo mês. A primeira exibição do filme inaugurou a campanha “Faça bonito: proteja nossas crianças e adolescentes”. O símbolo da mobilização, uma flor, lembra os desenhos produzidos pelas crianças na infância. Denún-cias podem ser feitas para o conselho tutelar mais próximo ou para o Disque Denúncia Nacional (Disque 100).

Faça Bonito

Guilherme Santos/ Hiper

Prostituição na Zona Norte de Porto Alegre, o início do fim

Por Shaysi Melate

O cantor pop Michael Jackson, 50 anos, morreu em 25 de junho, em Los Angeles, Estados Unidos, após sofrer um ataque cardíaco em sua casa. Estava inconsciente e já não respirava, em um qua-dro de coma profundo, quando chegou ao hospital. Médicos da Califórnia anunciaram o óbito às 18h26min (horário de Brasília).

No dia seguinte, iniciou-se o procedimento de autópsia do corpo. Autoridades alertaram que pode levar de quatro a seis semanas até que se descubra a causa da morte do astro. O resul-tado dos exames toxicológicos vai determinar se o cantor tinha dro-gas, álcool ou medicamentos em

seu organismo, substâncias que poderiam ter provocado o infarto.

Em julho, o cantor iniciaria sua última turnê mundial, com cerca de 50 apresentações em Londres. Os ingressos da tem-porada esgotaram-se em tempo recorde. Para reduzir o estresse e o desgaste físico, Michael utili-zava muitos remédios, o que leva diversas pessoas a especularem que foi a ingestão excessiva de analgésicos o motivo da parada cardíaca do ídolo. Os shows, que marcariam seu retorno aos palcos, eram aguardados por centenas de milhares de fãs.

A carreira começou com apre-sentações em que o artista mirim cantava com seus irmãos no grupo Jackson Five. Thriller, sucesso de

1982, ficou 37 semanas consecuti-vas no primeiro lugar das paradas musicais e é considerado o álbum mais vendido de todos os tempos, consagrando o talentoso cantor e dançarino. Excêntrico, o astro causava polêmica: foi acusado por abuso sexual de menor, era fasci-nado pelo personagem Peter Pan, construiu uma mansão chamada Terra do Nunca, teve três filhos, apesar de ser posta em dúvida sua real paternidade, fez diversas plásticas no nariz, alegava que sofria de vitiligo, uma doença que destruía o pigmento de sua pele. Entretanto, sua escandalosa vida pessoal não o destronou e, se depender de seus admiradores, Michael Jackson será eternamen-te o Rei do Pop. Jackson morreu aos 50 anos de idade, deixando orfãos milhões de fãs

Timothy A. Clary / AFP

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Porto Alegre, junho 200912 ponto final hipertexto

Por Lorenço Oliveira

Durante os meses de outubro e novembro, porto-alegrenses e visitantes terão a oportunidade de apreciar a 7º Bienal do Mercosul. Grito e escuta são a ênfase da edi-ção. As exposições têm o propósito de centrarem-se nos processos de criação, mais do que em temas específicos. Buscam explorar a co-municação multidirecional, a rela-ção de um mundo em conflito com artistas que escutem e respondem, tal como o próprio título explica.

A 7º Bienal do Mercosul quer romper com as faixas de espaço e tempo. No espaço, porque os limi-tes físicos não são apenas contidos em Porto Alegre, no Brasil ou no Mercosul. No tempo, pois a Bie-nal, mesmo por um curto período residindo em uma cidade, nunca termina. No caso de Porto Alegre, a Bienal do Mercosul trouxe para a capital gaúcha obras permanen-tes.

Os armazéns do Cais do Porto, o Santander Cultural e o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Mar-

gs) serão os espaços usados para as exposições, além dos diversos locais públicos da capital gaúcha. Serão expostos os trabalhos dos artistas Carmela Gross, Mauro Fuke, José Resende e Waltércio Caldas que convidam a população a interagir com o espaço na beira do Guaíba, onde estão as obras permanentes. Elas foram cons-truídas durante a 5º Bienal do Mercosul, em que José Francisco Alves, o curador daquela Bienal, dizia que o objetivo da exposição na orla é “servir como instrumen-

to de reflexão sobre as questões da arte pública”.

Segundo o site da Funda-ção Bienal do Mercosul, as obras permanentes integram o núcleo Intervenções de Caráter perma-nente, do vetor Transformações no espaço público. Desde 2005, as obras tornaram-se parte do passeio no local. Este ano, cerca de 70% das obras serão produzidas pelos artistas especialmente para essa Bienal. A lista completa dos artistas da 7º Bienal do Mercosul será divulgada em julho.

BIENAL DO MERCOSUL

Vestígios de artes radicais Marcas deixadas por antigas bienais na Orla do Guaíba

são um convite para uma reflexão sobre a arte pública

Ponte no Gasômetro: de lugar algum para lugar nenhum.A obra em aço de José Resende, Olhos Atentos, de 2005,é um ótimo mirante do rio

Mariana Fontoura/ Hiper