Os Mistérios e Lendas do Candomblé

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Os Mistérios e Lendas do Candomblé Divulgação do candomblé como religião e compartilhamento de conhecimentos em odús, ebós, resas, fundamentos, preparo de Omolokum, Amalá, Acarajés, Manjar e outras Oferendas para Exu, Obaluaiê, Xangô, Oxalá, Oyá, Odé, Oxumarê, Ossain, Yansã, Oxun, Obá, Logun Edé, Ògún, Tempo e Egun Nações Candomblé Jêje Dahomé, o berço da nação Ewe e fon, denominados Jêjes, no Brasil, enumeram-se em diversas tribos como os Agonis, Axantis, Gans, Popós, Crus etc. Os primeiros povos jêjes tiveram como destino São Luis do Maranhão, onde ainda se mantém vivas as tradições religiosas trazidas da terra mãe, África. Também se encontra o ritual jêje em Salvador, Cachoeira de São Félix, Pernambuco entre outros estados do Brasil como Rio Grande do Sul e São Paulo, que também importou os rituais desta nação. O negro descendente do Dahomé, hoje Benin, trouxe consigo o culto à suas divindades chamadas Voduns, cujo Deus Supremo é Mawu , a quem são subordinados, assim como Olodumaré o Deus Supremo dos Orixás Yorubás. Diz a Mitologia Fon que Mawu tinha um companheiro chamado Lisa, e são filhos de Nana Buruku (ou Nana Buluku), a grande mãe criadora do mundo. Mawu era a Lua, que teve força ao longo da noite e viveu no oeste. Lisa era o Sol, que fez sua morada no Leste. Quando existia um eclipse dizia-se que Mawu e Lisa estavam fazendo amor. Eles eram pais de todos os outros Deuses. E existem catorze destes deuses, que eram sete pares de gémeos. Este relato é um mito do primeiro povo do Dahomé, os Fons. O culto aos Voduns teve ênfase na Bahia, conhecido como Candomblé Jêje, e no Maranhão Tambor de Mina. Nos terreiros mais influenciados pela mina jêje, o predomínio, em certos grupos, é de mulheres como filhas de santo. Os devotos têm que se submeter a longo processo de

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Os Mistérios e Lendas do CandombléDivulgação do candomblé como religião e compartilhamento de conhecimentos em odús, ebós, resas, fundamentos, preparo de Omolokum, Amalá, Acarajés, Manjar e outras Oferendas para Exu, Obaluaiê, Xangô, Oxalá, Oyá, Odé, Oxumarê, Ossain, Yansã, Oxun, Obá, Logun Edé, Ògún, Tempo e Egun

Nações

Candomblé Jêje

Dahomé, o berço da nação Ewe e fon, denominados Jêjes, no Brasil,

enumeram-se em diversas tribos como os Agonis, Axantis, Gans,

Popós, Crus etc. Os primeiros povos jêjes tiveram como destino São

Luis do Maranhão, onde ainda se mantém vivas as tradições

religiosas trazidas da terra mãe, África. Também se encontra o ritual

jêje em Salvador, Cachoeira de São Félix, Pernambuco entre outros

estados do Brasil como Rio Grande do Sul e São Paulo, que também

importou os rituais desta nação.

O negro descendente do Dahomé, hoje Benin, trouxe consigo o culto

à suas divindades chamadas Voduns, cujo Deus Supremo é Mawu , a

quem são subordinados, assim como Olodumaré o Deus Supremo dos

Orixás Yorubás. Diz a Mitologia Fon que Mawu tinha um companheiro

chamado Lisa, e são filhos de Nana Buruku (ou Nana Buluku), a

grande mãe criadora do mundo. Mawu era a Lua, que teve força ao

longo da noite e viveu no oeste. Lisa era o Sol, que fez sua morada no

Leste. Quando existia um eclipse dizia-se que Mawu e Lisa estavam

fazendo amor. Eles eram pais de todos os outros Deuses. E existem

catorze destes deuses, que eram sete pares de gémeos. Este relato é

um mito do primeiro povo do Dahomé, os Fons.

O culto aos Voduns teve ênfase na Bahia, conhecido como Candomblé

Jêje, e no Maranhão Tambor de Mina.

Nos terreiros mais influenciados pela mina jêje, o predomínio, em

certos grupos, é de mulheres como filhas de santo. Os devotos têm

que se submeter a longo processo de iniciação. Os detalhes dos

rituais são pouco comentados, não há rituais públicos de iniciação; a

cada comunidade, apenas duas ou três pessoas se dedicam ao ritual

completo de iniciação. Em geral as Vodunsis dão poucas informações

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sobre os rituais relacionados com o culto, os segredos são mantidos a

sete chaves.

Assim como os Orixás do Batuque, os Voduns incorporados,

conversam com a assistência, dando bênçãos, conselhos, deixam

recados e mantêm os olhos abertos. È comum no culto jêje fazer

provas com os iniciados incorporados com os Voduns, como, por

exemplo, mergulhar a mão no azeite de dendê fervendo.

Algumas casas de jêje tiveram influencias dos yorubás e vice-versa,

formando o que se chama de cultura Jêje-Nagô. A exemplo do

candomblé, as instalações dos terreiros contam com um barracão

central para as danças, pequenas casas reservadas para as diferentes

famílias de divindades, onde são mantidos os assentamentos. O forte

sincretismo prevê, também a instalação de uma pequena capela com

altar católico, há uma cozinha, quartos para dormir e se vestir e

quarto onde os iniciados ficam recolhidos durante as obrigações. há

também a casa de Legba, onde são feitas grandes obrigações.

A iniciação jêje requer um longo período de confinamento, que pode

durar de seis meses a um ano de reclusão, onde um Vodunsi aprende

as tradições religiosas jêje como: danças, cantigas, preparo das

comidas sagradas, cuidar de árvores e espaços sagrados, votos de

segredo e obediência. As entidades são assentadas, recebem

sacrifícios de animais, comidas, bebidas e outros presentes. Os

assentamentos são preparados em pedras, que representam um

“imã” que tem a força do Vodun, e ficam guardadas no quarto de

segredo recobertos com jarras, louças e ferramentas. Existem,

também, assentamentos em outras partes da casa e do quintal

marcados por árvores como a cajazeira, ginja e pinhão branco. È

comum ter assentamentos no centro do barracão de danças; assim

como em outras nações, no culto jêje também são feitos rituais de

limpezas, banhos com ervas e muitas preces. Nos rituais antigos o

contacto com os voduns dependia muito da vidência das Vodunsis, e

a adivinhação era feita através da interpretação dos sonhos, consulta

com os Voduns e exame da luz de velas, actualmente é comum o uso

dos Búzios para consultar as divindades.

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As casas de jêje, além do culto aos Voduns, também incorporam em

seus rituais alguns orixás nagôs. O panteão jêje é numeroso, sendo os

Voduns agrupados em famílias como: Dambirá, Davice, Savaluno e

Queviossô.

As actividades religiosas requerem um extenso calendário com rituais

reservados aos iniciados, e em festas públicas que duram um, três ou

sete dias; no final das obrigações todos comem as comidas

preparadas com a carne dos animais oferecidos em sacrifício às

divindades.

Mawu é o ser supremo dos povos Ewe e Fon, criador do mundo, dos

seres vivos e das divindades. Mawu (feminino) e Lissá (masculino)

forman a divindade dupla Mawu-Lissá cujos Voduns são filhos e

descendentes de ambos. Os principais Voduns são: Loko; Gu;

Heviossô; Sakpatá; Dan; Agbê; Águé; Ayizan; Agassu; Legba e Fa.

A casa de jêje chama-se Kwe, e o local destinado ao culto dos Voduns

é chamado Hunkpame, que é o templo onde está dentro a divindade;

é chefiado por um sacerdote ou sacerdotisa, que são responsáveis

pelos ensinamentos aos futuros Vodunsis.

No Rio Grande do Sul, os terreiros que ainda mantém firme a cultura

Jêje, nota-se a conservação de certas obrigações, à exemplo, nos

assentamentos de Ogum Avagã cujas ferramentas usadas são as

mesmas para o assentamento de Gu no Dahomé, e algumas não tem

o uso do okutá; e também há nomes de Orixás que usam o mesmo

dos Voduns, como por exemplo Dã, cujo Orixá de uma famosa

Yalorixá da nação Jêje chamava-se Dã e um outro antigo Babalorixá

de Porto Alegre pertencente a esta mesma nação, tinha o

assentamento de Sobô; (Sobô é nome de um Vodun do Dahomé). Dos

pais e mães de santos actuais, da nação Jêje do Rio Grande do Sul,

muitos desconhecem a palavra Vodun; deve-se este fato ao

predomínio da nação Ijexá, de origem Yorubá que acabou absorvendo

as demais, e o termo Vodun com o tempo deixou de existir; mas é

certo que a linguagem usada nos cantos rituais e o uso dos aquidavís

para percussão dos tambores, o uso do Gã (instrumento de

percussão), entre outros fatos reflectem muito os fundamentos do

antigo Dahomé.

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Há casos em que as tradições culturais africanas resistem, mais que

em outros, à mudança, mas em nenhuma instância, nem mesmo nos

terreiros mais antigos e ostensivamente zelosos à suas origens,

deixou de existir, contudo, se tivesse, no sul um maior interesse em

pesquisar a origem dos fundamentos de cada nação é certo que

achariam a ligação directa do jêje praticado aqui, com os povos do

antigo Dahomé, e assim por diante. 

O que sobrevive da vertente jêje como legado cultural acha-se

incorporado ou associado ao acervo Yorubá, embora não se fale em

Vodu no Rio Grande do Sul, certas práticas da religião do antigo

Dahomé, hoje Benin, podem ser detectadas no Batuque do Rio

Grande do Sul, principalmente nos terreiros que fazem parte da raiz

do falecido Joãozinho de Bará (Esú Biyí).

Candomblé de AngolaReligião afro-brasileira, de origem banto, que

compreende as nações de Angola e Congo (Cassanges, Kikongos,

Kimbundo, Umbundo e Kiocos), e se desenvolveu entre os escravos

africanos que falavam a linguagem Kimbundo e Kikongo e são

facilmente reconhecidos pela maneira diferente de cantar, dançar e

percutir seus tambores.

Na hierarquia de Angola o cargo de maior importância é para homem

Tata Nkisi (tata de inquinces) e para mulher Mametu Nkisi (Mametu

de inquices), que correspondem ao Babalorixá e a Yalorixá dos

Yorubás, e o Deus supremo é Zambi (Nzambi) ou Zambiapongo

(Ndala Karitanga).O Candomblé de Caboclo é uma modalidade desta

nação, e cultua os antepassados indígenas. Há uma nação que faz

parte do Batuque do Rio Grande do Sul que descende de Angola, que

é a Cabinda.

Os rituais da nação Angola começam com o Massangá, que é o

batismo na cabeça do iniciado, feito com água doce e Obi; Bori com

sacrifício de animais para o uso do sangue (menga); ritual de

raspagem, conhecido como feitura de santo; ritual de obrigação de 1

ano; ritual de obrigação de 3 anos, onde muda o grau de iniciação;

ritual de obrigação de 5 anos, com o uso de frutas, obrigação de 7

anos, quando o iniciado recebe seu cargo, é elevado ao grau de Tata

Nkisi (zelador) ou Mametu Nkisi (zeladora). Após 7 anos de

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obrigações, será renovado a cada ano com o rito de Obi ou Bori,

conforme o caso, e de 7 em 7 anos se repete as obrigações para

conservar o individuo forte, se transformando em Kukala Ni Nguzu,

que quer dizer um ser forte. Além dos búzios, outro sistema antigo de

consulta é o Ngombo, no qual o adivinhador recebe o nome de

Kambuna.

Os principais Nkisi são: Aluvaiá (também conhecido como: Nkuyu

Nfinda, Tata Nfinda, Tona e Cubango), Bombo Njila(Bombojira),

Vangira(feminino), Pambu Njila, Pambuguera; Nkisi Nkosi Mukumbe,

Roxi Mukumbe, Burê; Nkisi Kabila, Mutalambô, Gongobila,

Lambaranguange; Nkise Katendê; Nkisi Zaze (Nsasi, Mukiamamuilo,

Kibuco, Kiassubangango) Loango; Nkisi Kaviungo ou Kavungo,

Kafungê; Nkise Angorô e Angoroméa; Nkisi Kitembo ou Tempo; Nkisi

Tere-Kompenso; Nkisi Matamba, Bamburussenda, Nunvurucemavula;

Nikisi Kisimbi, Samba; Nkisi Kaitumbá, Mikaiá; Nkisi Zumbarandá;

Nkise Wunge; Nkisi Lembá Dilê, Lembarenganga, jakatamba, Kassuté

Lembá, Gangaiobanda; Nkisi Nwunji, Nkisi Kaitumbá, Mikaiá, Kukueto;

Nkisi Ndanda Lunda; Nkisi Kaiangu; Kariepembe, Pungu Wanga;

Kobayende; Pungu Kasimba; Nkita Kiamasa; Nkita Kuna; Lukankazi,

Luganbe, Nzambi Bilongo; Mutalambô, Katalombô, Gunza, Nkuyo

Watariamba.

Os cargos e divisão do poder espiritual são:

Mam’etu ria Mukixi – Sacerdotisa chefe (Angola)

Nengua ia Nkisi – Sacerdotisa chefe (Congo)

Tat’etu ria Mukixi – Sacerdote chefe (Angola)

Dise ia Nkisi – Sacerdote chefe (Congo)

Tata Kivonda – Pai sacrificador de animais (Congo)

Kambodu Pokó – Sacrificador de animais (Angola)

Muxikiangoma – Tocador de atabaque

Njimbidi – Cantador (Angola)

Ntodi – Cantador (Congo)

Candomblé de Ketu Ketu é o nome de um antigo reino da África, na

região agora ocupada pela República Popular do Benin e pela Nigéria.

Seu rei tem o nome de alaketu, de onde vem o sobrenome da

conhecida ialorixá Olga de Alaketo. Também indica o nome do povo

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dessa região, que veio como escravo para o Brasil. Em termos de

identidade cultural, forma uma subdivisão da cultura iorubana.

Em geral, membros de origem ketu são responsáveis por boa parte

dos terreiros mais tradicionais da Bahia. É a maior e mais popular

nação do Candomblé, e a diferença das outras nações está no idioma

utilizado, no caso o Yorubá, no toque dos seus atabaques, nas cores e

símbolos dos Orixás, e nas cantigas; Os fundamentos são passados

oralmente por sacerdotes de Orixás que são chamados de Babalorixá

(masculino) Yalorixá (feminino).

Os rituais mais conhecidos são: Padê, Sacrifício, Oferenda, lavar

contas, Ossé, Xirê, Olubajé, Águas de Oxalá, Ipeté de Oxum e Axexê.

Uma outra grande diferença é em relação ao culto dos Eguns; existe

um sacerdote preparado para este ritual especifico chamado Ojé ou

Baba Ojé, que faz o uso de um ixãn para dominar os Eguns; conforme

informações de um antigo sacerdote de Ketu, chamado Balbino de

Xangô, quem lida com Orixás não lida com Eguns; Já no Rio Grande

do Sul, é o próprio Sacerdote de orixá quem faz os rituais de Eguns.

Os cargos principais na nação Ketu são:

- Babalorixá ou Yalorixá: autoridades máximas no Candomblé

- Iyakekerê: mãe pequena

- Babakekerê: pai pequeno

- Yalaxé: mulher que cuida dos objetos ritual.

- Agibonã: mãe criadeira supervisiona e ajuda na iniciação.

- Egbomi: pessoa que já cumpriu sete anos de obrigação.

- Iyabassê: mulher responsável pela preparação das comidas de

santo.

- Iaô: filha de santo (que já incorpora Orixá).

- Abian: novato.

- Axogun: responsável pelo sacrifício de animais.

- Alagbê: responsável pelos atabaques e pelos toques.

- Ogan: tocadores de atabaques.

- Ajoiê ou Ekedi: camareira de Orixá.Os Orixás cultuados na nação

Ketu são: Exu, Ogum, Oxossi, Logunedé, Xangô, Obaluayê, Oxumaré,

Ossaim, Oyá ou Iansã, Oxum, Iemanjá, Nana, Ewa, Oba, Axabó (Orixá

feminino da família de Xangô),Oxalá, Ibeji, Irôco, Ifá ou Orunmila. Na

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nação Ketu, predominam os Orixás de origem Yorubá, e os terreiros

mais conhecidos são: a Casa Branca do Engenho Velho, o Ilê Axé Opô

Afonjá, o Gantois; o Candomblé de Alaketu e o Ilê Axé Opô Aganjú

localizado em Lauro de Freitas. O Candomblé de origem ketu já se

espalhou por todos os grandes centros urbanos do Brasil e também

para o exterior, e nota-se um movimento de recuperação de raízes

africanas, que rejeita o sincretismo católico, procurando reaprender o

yorubá como língua original e tenta reproduzir os rituais que estavam

perdidos ao longo do tempo, há casos em que muitos sacerdotes

procuram viajar até África para descobrir mais sobre a cultura dos

Orixás.