OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · presença do lúdico faz parte de nosso...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS – DPPE
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDEd
JOGOS MATEMÁTICOS: IMPLICAÇÕES E POSSIBILIDADES PARA O
ENSINO DE MATEMÁTICA
MARIA APARECIDA DE LIMA FERREIRA
Artigo Final apresentado à Universidade Estadual do Paraná, Campus de Campo Mourão e à Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED, como requisito para conclusão da participação no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, Sob a orientação do Prof. Me. Wellington Hermann.
CAMPO MOURÃO
2014
JOGOS MATEMÁTICOS: IMPLICAÇÕES E POSSIBILIDADES PARA O ENSINO DE
MATEMÁTICA
Autora: Maria Aparecida de Lima Ferreira1
Orientador: Wellington Hermann2
RESUMO Este trabalho realizou-se no Colégio Estadual Dom Bosco do município de Mariluz/PR e objetivou Investigar a concepção dos professores e sua evolução ao longo de um curso a respeito do uso dos jogos para ensinar matemática, bem como oferecer um ambiente para o estudo e desenvolvimento de jogos pedagógicos para ensinar matemática. A aplicação do projeto ocorreu em 32 horas, com professores da educação básica do referido município, por meio de um curso de extensão. Para desenvolvimento desse trabalho foi elaborada uma Unidade Didático-Pedagógica, na qual foram apresentados encaminhamentos para a compreensão dos professores a respeito do desenvolvimento da prática pedagógica utilizando jogos. Como suporte teórico, nos orientamos em: Borin (1996); Lopes (1996); Lorenzato (2010); Vigotsky (1991); Diretrizes Curriculares de Matemática (2008), dentre outros. Com o estudo realizado foi possível perceber que, apesar de reconhecerem a importância e potencialidades do jogo no processo de ensino e aprendizagem no ensino de matemática, muitos educadores não o utilizam pela dificuldade que encontram em manuseá-lo, percepção que se abrandou no decorrer do curso. Palavras Chave: Jogos; Concepção dos Professores; Prática Pedagógica.
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos tem-se observado, por meio de avaliações de amplo alcance
(Prova Brasil, SAEB), que os resultados relativos à matemática têm sido insatisfatórios,
1Professora da Rede Pública do Estado do Paraná, Especialista em Educação Matemática e Graduada
em Matemática pela UNIPAR/Umuarama, atua no Colégio Estadual Dom Bosco – Ensino Fundamental e Médio no município de Mariluz. 2Professor Orientador do PDE 2013/2014, atua como Professor do Departamento de Matemática da
UNESPAR/FECILCAM – Campo Mourão.
diante desse fato há urgência em estabelecer um trabalho, em que a prática
pedagógica seja relevante para aprendizagem dos conteúdos básicos de matemática.
Acreditamos que os jogos matemáticos possam auxiliar na superação de alguns
problemas relacionados à aprendizagem.
Em minha trajetória profissional no Colégio Estadual Dom Bosco - Mariluz foi
possível observar e constatar concepções divergentes quanto ao uso de jogos
matemáticos como apoio para o ensino da disciplina. Alguns não sabem como utilizá-
los e, na maioria das vezes, os jogos são levados para sala de aula em dias com
poucos alunos, servindo para lazer ou sem um objetivo pedagógico claro. Outros
compreendem a importância que os jogos têm no processo ensino e aprendizagem,
porém não se sentem seguros para utilizá-los como estratégia pedagógica. Diante
desse fato, percebemos a necessidade de discussão e reflexão em torno da temática.
Observando o ambiente escolar mencionado, verificamos a preocupação dos
professores em relação à defasagem de aprendizagem em matemática, estes procuram
diversificar suas aulas, mas nem sempre conseguem mesclar sua prática pedagógica
com atividades lúdicas. Muitos são os entraves que favorecem essa situação: pouco
tempo para preparação de atividades; ausência de tempo para os professores de
matemática, da mesma escola, para se organizarem e, em conjunto discutirem e
elaborarem estratégias de ensino que possibilitem uma aprendizagem satisfatória da
disciplina.
Desse modo, após discutir com a direção, equipe pedagógica e professores de
Matemática do Colégio Estadual Dom Bosco, do município de Mariluz- PR, optamos
pela elaboração de um trabalho que venha contribuir para discussões, troca de ideias e
elaboração de jogos diversificados que proporcionem maior dinamismo em sala de
aula. Ainda, por compreendermos a importância e a real necessidade da formação
continuada dos professores, estes terão chance de refletir coletivamente sobre sua
prática pedagógica podendo transformar a escola em um espaço de aprendizagem, de
fato, como constata Pimenta (2005) quando relata a necessidade de transformar as
escolas em ambientes de aprendizagem onde os professores passem a apoiar uns aos
outros. Porém, para que o uso de jogos possa auxiliar na aprendizagem dos alunos
temos que compreender o que os professores pensam a respeito das potencialidades
dos jogos como recurso pedagógico. Dessa forma, objetivamos com esse trabalho
investigar a concepção dos professores e sua evolução ao longo de um curso a
respeito do uso dos jogos para ensinar matemática
Nesse artigo, após a experiência compartilhada por meio do ambiente para o
estudo e desenvolvimento de jogos pedagógicos para ensinar matemática, relataremos
as discussões com os professores de matemática acerca das implicações e
possibilidades do uso de jogos para o ensino de matemática e a evolução das
concepções deles a respeito do uso dos jogos para ensinar matemática.
• A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO ENSINO DE MATEMÁTICA
Desde o início dos tempos, o homem já fazia registros de suas caçadas,
representava nas paredes das cavernas tudo o que ocorria na sua vida; contava a sua
maneira o seu cotidiano; com agrupamento de pedrinhas ou gravetos elaborava suas
somas naturalmente, assim pode-se dizer que:
[...] o jogo é um fenômeno natural que desde o início tem guiado os destinos do mundo: ele manifesta-se nas formas que a matéria pode assumir, na sua organização em estruturas vivas e no comportamento social dos seres humanos. (NETO, 1998, p. 61).
As atividades lúdicas sempre se fizeram presentes na vida do homem: quem
nunca brincou de roda, de soltar pipa, dançar? São por essas e outras atividades que a
presença do lúdico faz parte de nosso cotidiano, tal como explica Grando (2000, p.1):
Exercer as atividades lúdicas representa uma necessidade para as pessoas em qualquer momento de suas vidas. Se observarmos nossas atividades diárias, identificamos várias atividades lúdicas sendo realizadas. Por exemplo, ouvimos música, cantamos, brincamos com o nosso bicho de estimação, caminhamos pela rua, às vezes nos equilibrando no meio fio ou saltamos nas pedras das calçadas, pisando sempre nas que têm a mesma cor, ou, ainda controlamos os nossos passos segundo um ritmo que determinamos. Todas essas atividades representam brincadeiras que fazemos com nós mesmos, como os jogos que criamos.
Consideramos o jogo, como algo que possibilita o desenvolvimento de atividades
de maneira prazerosa e, como tal, pode ser adotado como encaminhamento
metodológico para o processo de ensino e aprendizagem, recurso este que vem sendo
discutido desde a antiguidade, como explica Chateau (1975) ao mencionar que Platão
já defendia que aprender brincando tinha mais importância do que o aprender forçado.
Diante do exposto, percebemos que a atividade lúdica é um instrumento que
auxilia no estímulo à aprendizagem, no entanto se percebe no ambiente escolar que
poucos professores utilizam essa ferramenta para auxiliar na prática pedagógica,
mesmo sabendo que a rotina da criança é marcada pelas brincadeiras.
A criança sempre brincou. Independentemente de épocas ou de estruturas de civilização, é uma característica universal; assim sendo, se a criança brincando aprende porque então não ensinar a criança da forma como ela aprende melhor, de uma forma prazerosa para ela e, portanto eficiente? (LOPES, 1996, p.21).
No contexto escolar, os jogos muitas vezes não são bem interpretados, sendo
pouco utilizados ou, quando utilizados, sem objetivos claros, como salientam Smole,
Diniz e Milani (2007, p.10):
O jogo na escola foi muitas vezes negligenciado por ser visto como uma atividade de descanso, ou apenas como passatempo. Embora esse aspecto possa ter lugar em algum momento, não é essa a ideia de ludicidade [...] porque esse viés tira a possibilidade de um trabalho rico, que estimula as aprendizagens e o desenvolvimento de habilidades matemáticas por parte dos alunos.
Assim, e compreendendo que o raciocínio lógico nada mais é do que uma
habilidade que se desenvolve no decorrer de um processo, há necessidade de reflexão
no ambiente escolar a respeito dos jogos no ensino de matemática, uma vez que esta
atividade tende a ser um encaminhamento metodológico que auxilia na prática
pedagógica.
O paradigma educacional baseado em jogos destaca-se como um elemento educacional pelos seus aspectos interativos, que proporcionam aos alunos a geração de novos problemas e de novas possibilidades de resolução, constituindo-se dessa forma, em um suporte metodológico que possibilita ao professor resgatar e compreender o raciocínio do aluno e, dessa maneira, obter
referências necessárias para o pleno desenvolvimento de sua ação pedagógica. (GRANDO, 2004, p. 15).
Desse modo, o uso de jogos pode auxiliar o trabalho do professor com os alunos
que têm bloqueio com relação à matemática. Os jogos visam a diminuir esses
bloqueios, proporcionando a aprendizagem, como salienta Borin (1996, p. 9):
Outro motivo para a introdução de jogos nas aulas é a possibilidade de diminuir bloqueios apresentados por muitos de nossos alunos, que temem a Matemática e sentem-se incapacitados para aprendê-la. Dentro da situação de jogo, onde é impossível uma atitude passiva. Notamos que, ao mesmo tempo em que estes alunos jogam apresentam um melhor desempenho e atitudes positivas frente a seus processos de aprendizagem.
Borin (2002, p. 4) ainda ressalta que o jogo enquanto
[...] instrumento pedagógico é uma das preocupações fundamentais do ensino moderno, dar a possibilidade a cada aluno de progredir, segundo seu próprio ritmo, valorizando assim a motivação pessoal permitindo-lhe concluir a importância de se aplicar preferencialmente uma pedagogia de níveis a uma pedagogia orientada para classes da mesma idade.
No entanto, compreendemos que, para que o uso do jogo tenha resultado
esperado o professor deve ser criativo, prático, comprometido e querer inovar suas
aulas, pois a partir do momento que é imposto, não terá um resultado satisfatório.
Kamii e Housman (2002, p. 240) pontuam que
[...] o papel do professor é crucial para maximizar o valor dos jogos matemáticos, e questionando e sempre expondo que são as crianças que devem chegar a uma solução, desde quem começa primeiro o jogo e quais são as regras que determinam esta ação pedagógica. Ao elaborar suas regras de participação as crianças já estão desenvolvendo a atitude de refletir diante das diversas situações que lhes forem apresentadas.
Diante do exposto, confirmamos a necessidade de discussão/reflexão no interior
da escola para que os professores possam conceber os jogos como aliados da
aprendizagem.
• PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA: EXPERIÊNCIA VIVENCIADA
Este artigo tem início na implementação do projeto de intervenção pedagógica do
PDE (Programa de Desenvolvimento da Educação), que trata de um curso envolvendo
a utilização de jogos no Ensino da Matemática, para professores da Educação Básica
do município de Marilz/PR.
Desse modo, ao elaborarmos esse projeto intencionamos refletir um
encaminhamento metodológico que nos auxiliasse na prática pedagógica, assim, com
esse trabalho foi possível oferecer aos professores cursistas momento de reflexão
sobre a importância de se utilizar e como utilizar os jogos nas aulas de matemática
como subsídio para a prática pedagógica.
Os sujeitos da pesquisa foram os professores de Matemática do município de
Mariluz. Estes participaram de um curso em que foram investigadas as concepções que
estes têm sobre jogos no ensino de matemática, discutindo as implicações e
possibilidades do uso de jogos para o ensino da disciplina. Também foi proporcionado
aos professores cursistas um ambiente para o estudo e desenvolvimento de jogos
pedagógicos para ensinar matemática.
Para efetivação desse trabalho foi proposto um curso de extensão sobre jogos
como encaminhamento em aulas de matemática, realizado no Colégio Estadual Dom
Bosco de Mariluz, com carga horária de 20 horas, complementado com 12 horas de
acompanhamento de dois professores de matemática em sala de aula na execução do
trabalho com jogos para coleta de dados. A seguir relataremos o resultado da
implementação do referido projeto.
• COLETA DE DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Iniciamos o curso de extensão com a apresentação do projeto intitulado Jogos
Matemáticos: Implicações e Possibilidades para o Ensino de Matemática relatando
como estavam organizados os encontros e o objetivo deste. Neste primeiro encontro foi
aplicado questionário para levantamento de dados, objetivando investigar a concepção
dos professores a respeito do uso de jogos no ensino de Matemática. Todos os
professores cursistas já utilizaram jogos em sua prática pedagógica e, apesar de alguns
não o utilizarem com frequência, afirmam que os resultados com essa dinâmica foi
muito satisfatória.
Percebemos que os professores conhecem e concordam com a eficiência dos
jogos no ensino de matemática, mas alguns relatam que sua aplicação demanda
tempo, é uma dinâmica desgastante para o professor, pois para o aluno essa atividade
não é vista como um momento de aprendizagem, mas sim de "matação de aula", ou
ainda por não saberem como fazer uso do mesmo, como podemos observar na tabela
1.
Tabela 1: Comentários dos professores cursistas em relação ao seu conhecimento sobre a utilização de jogos matemáticos em sala de aula.
Professores Cursistas
COMENTÁRIOS
P 1 Tenho pouco conhecimento, ou seja, não uso jogos matemáticos.
P 2
Tenho conhecimento de jogos desde a faculdade e sempre tive interesse no trabalho em sala de aula com o auxílio de jogos. No decorrer da minha profissão sempre que necessário utilizo jogos, principalmente quando o conteúdo envolve tabuada. No entanto, apresento dificuldades no decorrer da aplicação no que diz respeito organização da sala e atendimento aos alunos. Outra dificuldade Que encontro é na aplicação dos jogos nas séries finais (8º e 9º anos), devido ao conteúdo ser muitas vezes abstrato.
P 5
Acho bem interessante e desperta o interesse de aluno, mas não tenho muito conhecimento, mesmo assim é sempre prazeroso trabalhar com jogos.
P 6
O trabalho com jogos é muito válido mas desgastante, até que os alunos percebam que aquilo é o momento de aprendizagem e não matação de aula, o tumulto é grande.
P 8
Não tenho muito conhecimento, mas o que aprendi e participei foi na prática de Estágio da Formação de docentes, quando participei de uma oficina de jogos matemáticos que foi ofertado aos alunos do 3º e 4º ano de formação de docentes.
P 9
Não muito, porque acho o tempo muito curto e para utilização dos jogos muitas vezes não é possível, porque gosto de utilizar jogos quando estão atrelados ao conteúdo do momento.
P 10 Já fiz alguns cursos sobre jogos, é relevante o resultado quando se aplicam jogos em uma sala problema.
P 11
Já utilizei jogos matemáticos na sala, principalmente relacionados a tabuada, 4 operações entre outros. Hoje utilizo jogos em minha disciplina sempre que possível, pois enriquece as aulas e os alunos assimilam melhor o conteúdo.
Para dinamizar o primeiro encontro foram também realizadas: exposição oral
sobre os princípios básicos da educação matemática e jogos na perspectiva da
educação matemática; Leitura de textos sobre jogos matemáticos, discussão e troca de
ideias sobre os materiais apresentados.
Para aprofundarmos o conhecimento, iniciamos o segundo encontro dialogando
sobre a importância dos jogos para o desenvolvimento do aluno, logo após os
professores fizeram leitura e reflexão de textos específicos ao tema e, a partir destes
elaboraram questionamentos para discussão entre o grupo. As discussões estavam
pautadas em dialogar sobre a organização, finalidade e objetivos dos jogos no ensino
de matemática. As contribuições dadas por cada participante dinamizaram a atividade e
possibilitaram troca de experiência entre os professores, estes deram exemplos de
situações já vivenciadas em sala de aula, otimizando o trabalho com jogos.
No terceiro encontro apresentamos aos cursistas alguns jogos objetivando
possibilitar aos professores conhecerem vários jogos, jogar e discutir sobre as
potencialidades pedagógicas de cada jogo.
Na apresentação aproveitamos o momento para mostrar a diferença de jogos
didáticos e jogos não didáticos, ou seja, jogos didáticos são comercializados e, em sua
embalagem vem especificado o conteúdo a ser explorado, já os não didáticos são jogos
usados para diversão, que podemos utilizar como instrumento de ensino, modificando
as regras ou simplesmente usando com o objetivo de explorar o conteúdo, situação que
se torna possível no jogo. Para concretizar o exposto, foi oportunizado aos cursistas
visualizar os dois tipos de jogos.
Após essa explanação, os cursistas se organizaram em equipes e escolheram
um jogo e, após jogarem e analisarem, realizaram a identificação do jogo com base nos
seguintes questionamentos:
• Quais conteúdos de Matemática podem ser explorados por meio de cada
jogo apresentado/escolhido;
• Como utilizar o jogo para ensinar matemática;
• Em que momento utilizar o jogo para ensinar matemática.
• Caso acredite que não dê para utilizar alguns dos jogos apresentados,
justifique.
Como nos grupos havia professores de outras disciplinas estes realizaram
análise interdisciplinar, possibilitando a todos a verificação da versatilidade desse
instrumento pedagógico. Após avaliarem o primeiro jogo, fizeram a troca com outro
grupo. Cada grupo analisou dois jogos. A análise foi muito produtiva, os grupos
apresentaram aos demais os jogos escolhidos, o (s) conteúdo(s) que poderiam ser
abordado(s) e qual (is) disciplina(as) poderia(m) utilizá-los. A troca realizada pelos
grupos permitiu a verificação e confrontação de ideias para o trabalho com o mesmo
jogo de forma diversificada, possibilitando aos cursistas compreenderem a importância
de um planejamento prévio antes de efetivar o trabalho com os alunos. Neste encontro,
os professores discorreram sobre a aprendizagem que estavam conquistando e
previram trabalho com determinados conteúdos utilizando jogos, além disso
perceberam o ambiente descontraído que o jogo proporciona e o quanto é
enriquecedora a troca de conhecimento entre os jogadores.
No encontro seguinte os professores foram orientados para a elaboração de
novos jogos e manual de instrução, tendo como base o jogo escolhido no encontro
anterior. Para efetivação deste, os grupos deveriam observar os seguintes itens:
• Escolher o conteúdo a ser trabalhado;
• Analisar as possíveis dificuldades enfrentadas pelos alunos para
compreensão do conteúdo;
• A partir das dificuldades detectadas, elaborar o jogo, apontando as regras
para jogar, priorizando o trabalho com os obstáculos apontados;
• Depois de confeccionado o jogo, manusear com outro professor, a fim de
verificar as adaptações necessárias para atingir o objetivo previsto.
Os jogos elaborados pelos grupos foram variados, tais como: quebra cabeça,
dominó, baralho, entre outros. Em seguida, os cursistas apresentaram o trabalho
elaborado aos demais, apontando o(s) conteúdo(s) que poderiam ser abordados e as
instruções para encaminhamento do jogo. Ocorreu uma troca de experiência
significativa nesse momento, os cursistas colaboraram uns com os outros, dando
sugestões para o trabalho com os jogos apresentados, levantamento de hipóteses a
respeito do processo de ensino e aprendizagem e a possibilidade de melhor
compreensão do aluno sobre determinados conteúdos.
Para finalizar a prática desse estudo foi proposto o acompanhamento de dois
professores cursistas que utilizaram jogos para introduzir um conteúdo. Os alunos (5º e
6º anos) ficaram empolgados com a atividade. As professoras organizaram a sala em
grupo, a princípio, acreditamos que devido à empolgação gerada pela atividade,
ocorreu pequeno tumulto nas salas, todos falavam ao mesmo tempo, saiam de seus
lugares para verificar se os jogos eram iguais, porém, no momento em que as
professoras iniciaram os encaminhamentos necessários para a condução do jogo, os
alunos prestaram atenção, vez ou outra percebiam-se os olhares de entendimento ou
não entre os membros do grupo. Ao comando das professoras para início do jogo, em
cada grupo havia um aluno que "liderava" a situação e conduzia os demais.
Caminhamos (professora regente e professora PDE) entre os grupos para observar o
desempenho dos alunos; quando havia dúvidas as professoras faziam as intervenções
necessárias, bem como auxiliavam na resolução das divergências entre os alunos do
grupo, explicando e dando dicas de como poderiam resolver a situação criada.
Analisamos que algumas decisões tomadas pelos alunos foram importantes para
o sucesso do uso dos jogos, percebemos que estes faziam alusões entre o conteúdo
explorado e os caminhos que seguiam para realizar as jogadas.
Os jogos aplicados foram os seguintes:
No 5º ano, foi trabalhada a tabuada, com os jogos: pega pega tabuada e jogo da
memória. Ao distribuir os jogos nas equipes, os alunos começaram a relacioná-los com
o conteúdo já trabalhado e surgiram algumas discussões entre os alunos:
Aluno 1: Quem sabe a tabuada tá feito, vai ganhar todas;
Aluno 2: Professora esse jogo tem que saber a tabuada para ganhar, então
quem não sabe não joga?
A professora explicou que todos iam jogar e quem não soubesse a tabuada, o
parceiro poderia ajudar. Durante a realização da partida, a diretora ficou observando
alguns alunos que apresentam dificuldades na aprendizagem de matemática e fez o
seguinte comentário: “Olha a aluna 3, ela sempre fala que não gosta de matemática,
mas veja como está interessada!”. Passamos a observar mais de perto a aluna e foi
possível perceber que durante as jogadas, aos poucos, a aluna demostrava
compreender o conteúdo.
No 6º ano foi trabalhado o jogo: Bingo das expressões. O jogo foi escolhido
porque, segundo a professora titular, a turma apresentava dificuldade em compreender
a resolução desse conteúdo.
Antes de distribuir as cartelas do bingo, foi dialogado com os alunos repassando-
lhes as regras do jogo. Cada expressão sorteada era exposta em voz alta para em
seguida ser fixada no quadro negro para que os alunos pudessem resolvê-la e, assim
procurar na cartela e marcar o resultado.
Acompanhamos a resolução das expressões caminhando entre as carteiras,
observamos que a maior dificuldade dos alunos estava na tabuada, pois era comum
entre eles perguntarem ao colega os resultados de multiplicação.
Para surpresa da professora um dos alunos que apresenta sérios problemas de
disciplina e, normalmente durante as aulas se recusa a resolver as atividades
propostas, durante toda atividade mostrou-se concentrado na resolução das
expressões sorteadas. Quando indagado sobre a aula, respondeu:
Aluno 3: Tô gostando sim, mas tá difícil de resolver.
Então perguntei: mas sua professora já ensinou esse conteúdo?
Aluno 3:Sim, mas não entendi como faz, não prestei atenção, mas agora tô
fazendo, eu vou prestar mais atenção, quero ganhar o jogo.
Nessa atividade foram utilizadas 02 horas aula e percebemos o envolvimento
dos alunos, mesmo os que, em aulas tradicionais mostram-se desinteressados.
Dialogando com as professoras estas relataram que apreciaram o resultado da
atividade, pois descobriram habilidades em alguns alunos que, até então eram
desconhecidas. A esse respeito Moura (1996, p. 74) pontua que:
[...] o professor deve estar consciente de que o inesperado e situações previsíveis poderão ocorrer em classe com seus alunos, estando atento para aproveitá-las da melhor maneira possível, explorando novas possibilidades do jogo com seus alunos, antes não imaginadas, contribuindo para a construção da autonomia, criticidade, criatividade, responsabilidade e cooperação entre os participantes.
Para finalizar o curso de extensão realizamos entrevista com os professores
cursistas, por meio de questionamentos escritos, a fim de investigar a evolução na
concepção dos professores a respeito dos jogos em matemática e a aplicabilidade
desses em sala de aula.
Comparando com a primeira entrevista, a forma como cada um relatou os
questionamentos, nesse momento demonstrava maior segurança e conhecimento. Em
relação à utilização dos jogos em sala de aula, todos afirmaram que as discussões e
reflexões ocorridas durante o curso os orientavam para melhor direcionamento da
atividade e que a utilização dessa ferramenta "aproxima o aluno do conhecimento
científico; pois os jogos levam o aluno a vivenciar situações problemas que são
vivenciados pelo homem" (NASCIMENTO, 2014).
Em relação aos aspectos negativos quando da utilização de jogos como
ferramenta de apoio a aprendizagem os cursistas não apontaram nenhum, porém
salientaram que para que o objetivo seja atingido o professor deve ser orientador e
planejador dessa atividade. Já os pontos positivos foram inúmeros; auxilia no raciocínio
lógico, desperta curiosidade e a reflexão, busca por estratégias, atenção, enfim
[...] é uma metodologia valiosa, pois desperta o interesse e raciocínio de nossos alunos. Sabemos que a Matemática é uma disciplina 'temida' por muitos, e com os jogos os alunos passam a resolver as atividades propostas de uma maneira que no final o aprendizado é satisfatório. (LUCACIN, 2014).
Como podemos observar os relatos dos professores cursistas vêm culminar com
o exposto por Moura (1996, p. 80).
[...] o jogo, na Educação Matemática, passa a ter o caráter de material de ensino quando considerado promotor de aprendizagem. A criança, colocada diante de situações lúdicas, apreende a estrutura lógica da brincadeira e, deste modo, aprende também, a estrutura matemática presente.
Ao final do curso os professores cursistas fizeram um relatório sobre suas
impressões a respeito da utilização de jogo no ensino da matemática, confirmando suas
concepções apresentadas no questionário inicial. Na tabela a seguir encontram-se
alguns trechos que evidenciam essas concepções.
Tabela 2: Concepção dos professores cursistas sobre a utilização de jogos no ensino de matemática ao final do curso.
Professores cursistas
Relatos sobre a utilização de jogos no ensino da matemática
P 1
Quando me propus a fazer este curso foi para me aprofundar nas diversas maneiras de utilizarmos os jogos em todas as disciplinas e percebi que a utilização dos jogos na aprendizagem tem papel relevante para o desenvolvimento do educando levando- o a construir a capacidade de criar soluções lógicas e coerentes para ampliar seu conhecimento.
P 1
Ao aplicar o projeto no começo percebemos o interesse de uns e o isolamento de outros, mas o jogo e suas regras faz com que todos se interessem, pois para eles jogar não é estudar, nem trabalhar, mas nós sabemos que jogando o aluno aprende, sobretudo a conhecer e compreender o mundo social que o rodeia, assim a criança tem oportunidade de vivenciar situações ricas e desafiadoras.
P 5
[...] procurar novas saídas para suprir as carências encontradas em nossas escolas, pois atualmente a maior luta é por um ensino voltado para o real interesse dos alunos, e a utilização dos jogos pode promover um contexto estimulante para o aluno.
P 10
Eu sempre soube da importância dos jogos na vida da criança, mas este curso me mostrou que podemos trabalhar jogos em todas as disciplinas. É fundamental que os jogos façam parte do dia a dia do educando e do educador, pois visa a amenizar as dificuldades que as crianças apresentam no decorrer da sua vida escolar.
P 10
E cheguei à seguinte conclusão: o ser humano necessita de atividades físicas e sociais e o jogo é uma atividade criativa e curativa, pois permite à criança reviver ativamente as suas dificuldades, sejam elas de ordem afetivas, cognitivas ou psicomotoras.
P 11
O jogo abre o raciocínio, faz com que os alunos reflitam sobre o próximo passo a ser dado e isso só ajudará a desenvolver também o
raciocínio lógico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise da prática desenvolvida e reflexão dos apontamentos de
estudiosos consideramos que a visão que os professores de Matemática têm a respeito
da utilização dos jogos na prática pedagógica decorre, na maioria das vezes, da falta de
planejamento e conhecimento do jogo que vai ser utilizado em sala de aula. Em
consequência disso, muitos educadores deixam de utilizá-lo alegando não considerar a
potencialidade do mesmo para a aprendizagem dos alunos.
Essa foi a percepção que tivemos no início do curso de extensão, no decorrer
dos trabalhos percebíamos os olhares atentos e preocupados, às vezes a pouca
credibilidade, no entanto, ao conhecerem alguns jogos, analisarem e adequarem a
situações de aprendizagem, o ambiente se modificou. Todos os encontros se tornaram
em debate e em construção de encaminhamentos metodológicos que poderiam ser
utilizados em sala de aula.
A experiência vivenciada foi muito valiosa, os professores cursistas
compreenderam a essência educacional dos jogos no ensino de matemática e, a
necessidade dessa ferramenta para auxiliar na compreensão dos conteúdos.
Reconheceram que devemos ter clareza dos objetivos que se quer atingir ao
escolhermos um jogo para realizar a prática pedagógica, não podemos nos deixar levar
apenas pelo caráter motivador do jogo ou ainda, por conjecturar que este transformará
a sala de aula em ambiente descontraído. Nada disso auxiliará na compreensão da
matemática se os encaminhamentos e intervenções dos professores não forem
pontuais. Desse modo, faz-se necessário que o professor, ao planejar uma aula,
considere todas as possibilidades que possam ocorrer durante uma partida e, a partir
dessas transformá-las em aprendizagem, assim ele conduzirá o aluno a uma
aprendizagem significativa da matemática.
Isto posto, necessitamos, enquanto professor de matemática, refletir que ensinar
essa ciência é desenvolver o raciocínio lógico, estimular a criatividade e o pensamento,
bem como fortalecer a capacidade dos alunos no manuseio e resolução de situações
problemas dentro ou fora da escola. O jogo é um instrumento que auxilia na
potencialização dessas ações, pois ele permite o aprender a relacionar-se com o outro
além de desenvolver a capacidade de pensamento.
Desse modo, consideramos essencial a utilização dos jogos no ensino de
matemática, salientando que esta deve ser uma prática desde o início da escolarização,
para que o raciocínio lógico e dedutivo dos alunos seja estimulado de forma natural.
Para isso, os professores necessitam de melhor preparo e informação quanto à
utilização de tão rico recurso.
REFERÊNCIAS
BORIN, J. Jogos e resolução de problemas: uma estratégia para as aulas de matemática. São Paulo: IME-USP, 1996. __________. Jogos e resolução de problemas: uma estratégia para as aulas de matemática. USP/SP, 2002. CHATEAU, J. A Criança e o jogo. Coimbra Atlântida editora, 1975. GRANDO, R. C. O conhecimento matemático e o uso de jogos na sala de aula. Tese de doutorado. Campinas, 2000. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/artigos_teses/2010/Matematica/tese_grando.pdf>. Acesso em: 02 de jun de 2013. __________. O jogo e a matemática no contexto da sala de aula. São Paulo: Paulus, 2004.
KAMII, C.; HOUSMAN, L. B. Crianças pequenas reinventam a aritmética: implicações da teoria de Piaget. Porto alegre: Artmed, 2002. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1991. LOPES, M. G. Jogos na educação: confecção, modelos, objetivos, regras. Brasil: Hemus, 1996. LUCACIN, Rosilene Aparecida Ferneda. Professora de Matemática - Participante do curso de extensão: Jogos Matemáticos: Implicações e Possibilidades para o Ensino de Matemática, 2014.
MOURA, M. O. de. A construção do signo numérico em situação de ensino. São Paulo: USP, 1996. NASCIMENTO, Sueli Terezinha do. Professora de Matemática - Participante do curso de extensão: Jogos Matemáticos: Implicações e Possibilidades para o Ensino de Matemática, 2014. NETO, C. O desenvolvimento da criança e a perspectiva ecológica do jogo. In R. Krebs, F. Copetti& T. Beltram (Eds.). Discutindo o Desenvolvimento Infantil (pp. 161-164). Santa Maria - Brasil, SIEC - Santa Maria. 1998. PIMENTA, S. G. Professor reflexivo: construindo uma crítica. In: PIMENTA, S. G.; GHEDIN, E. (Org.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. 3. ed.São Paulo: Cortez, 2005. SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I.; MILANI, E. Jogos de Matemática de 6º ao 9º ano. Porto Alegre: Artmed, 2007. (Série Caderno do Mathema – Ensino Fundamental). TURRIONI, A. M. S; PEREZ, G. Implementando um laboratório de educação matemática para apoio na formação de professores. In: LORENZATO, Sergio (org.). O laboratório no ensino de matemática na formação de professores. 3. ed. Campinas/SP: Autores Associados, 2010. Coleção Formação de professores.