OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO ... · A Constituição Federal...

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A ESCOLA E A FAMÍLIA: a relação dialógica frente aos desafios da

educação atual

Roselaine Marin da Silva1

Saulo Rodrigues Carvalho 2

RESUMO

O presente artigo apresenta um relato de experiências sobre o Projeto de Intervenção “A Escola e Família: A Relação Dialógica Frente aos Desafios da Educação Atual”, realizado na Escola Estadual Érico Veríssimo – Ensino Fundamental. Este surgiu da necessidade apresentada pela comunidade escolar, em articular a relação dialógica entre escola e família, ampliando os espaços de interação e contribuindo assim, para o melhor desenvolvimento escolar dos alunos. A troca de experiências e a busca de intervenções, amparadas por teorias que aprofundaram o assunto, contribuíram significativamente para que o objetivo proposto fosse alcançado. A fundamentação que respaldou o trabalho foi embasada em teóricos que se posicionam a favor de uma gestão democrática de educação progressista. De acordo com a proposta do tema, destacou-se: a pesquisa-ação para análise do contexto; entrevistas com representantes dos órgãos colegiados, pais/ responsáveis, alunos dos 8º anos, equipes diretiva e pedagógica; grupos de estudos com socialização do Caderno Informativo e Caderno Pedagógico; reuniões debate e divulgação junto à comunidade escolar de uma Rede de Relacionamentos Virtual, ampliando-se as possibilidades de enriquecimento mútuo dentro do espaço democrático na escola.

Palavras Chave: Escola. Família. Participação. Aprendizagem.

INTRODUÇÃO

A Constituição Federal Brasileira contempla um item de relevante importância

que fundamenta as demais diretrizes da educação do país: “A educação, direito de

1 Professora Pedagoga PDE 2013/2014 – Universidade Estadual do Centro Oeste, Unicentro, email

institucional: [email protected]

2 Professor Orientador do PDE. Professor Colaborador da Universidade Estadual do Centro Oeste –

UNICENTRO/Guarapuava - Sta.Cruz. Doutorando e Mestre pela Universidade Estadual Paulista

“Julio de Mesquita Filho” – UNESP/FCL- Araraquara, email: [email protected]

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todos e dever do Estado e da família” (BRASIL, 1988). Nossa carta magna

demonstra claramente que a responsabilidade pela educação das crianças e

adolescentes, é da família, da sociedade e da escola. No entanto, o sentimento de

frustração e impotência, é presenciado muitas vezes no cotidiano das escolas,

quando não se encontra, com efetividade, um caminho de integração entre esses

segmentos.

De acordo com a Concepção Progressista de Educação, que se estabeleceu

nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, no processo pedagógico, o

professor é um dos principais responsáveis para que o aluno se aproprie do

conhecimento (PARANÁ, 2008), por outro lado, conscientizar os alunos da

importância de sua apropriação e garantir as condições para frequentarem

efetivamente a escola, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e

Constituição Federal, é compromisso e responsabilidade das políticas públicas do

Estado e das famílias. A pouca participação dos pais nas reuniões e eventos da

escola, revelou, porém, a falta de conscientização da importância desta intervenção.

Considera-se que este distanciamento nem sempre é intencional. São muitas as

dificuldades que os pais e responsáveis encontram em meio a uma realidade social

excludente e desigual.

Diante de observações empíricas no ambiente escolar da Escola Estadual

“Érico Veríssimo”, sentiu-se a necessidade de analisar os motivos que tem

distanciado a família dos alunos da escola. Cada vez mais notamos o conflito que se

estabelece nesta relação. De um lado os profissionais da escola, cansados ou

doentes física e mentalmente, que questionam a ausência dos responsáveis pelos

educandos na escola, pois acreditam que a participação efetiva destes, interfere de

forma positiva no desenvolvimento escolar dos alunos; de outro, famílias aflitas e

desorientadas, que em sua maioria, acreditam na função social da escola e

desconhecem formas de inserirem-se neste processo.

Pensar a educação hoje significa pensar a formação humana em meio a uma

sociedade em constante mudança. “Um sujeito é fruto de seu tempo histórico, das

relações sociais em que está inserido, mas é, também, um ser singular, que atua no

mundo a partir do modo como o compreende e como dele lhe é possível participar”.

(PARANÁ, 2008, p.16)

O processo de evolução humana, em sua historicidade, nos apresenta

grandes transformações, impulsionando novas exigências em relação ao processo

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educacional e a apropriação e construção do saber. Novas questões surgem, nos

levando a uma postura reflexiva sobre a função social da escola e o papel da

educação frente às contradições sociais. Como cita Saviani, “Se educação é

mediação, isso significa que ela não se justifica por si mesma, mas tem sua razão de

ser nos efeitos que se prolongam para além dela e que persistem, mesmo após a

cessação da ação pedagógica”. (2009, p.69)

Promover a aproximação das famílias com a escola é contribuir com a

democratização do saber. Sendo assim, o presente trabalho está organizado da

seguinte forma: São apresentadas as conceituações que basearam a

fundamentação teórica e a revisão de literatura do tema em estudo, o relato da

Pesquisa-ação na efetivação da intervenção Pedagógica na escola e finalizando, as

considerações finais sobre todo esse processo.

1. A INSTITUIÇÃO FAMILIAR E O PROJETO EDUCACIONAL MODERNO

Para compreendermos o termo “família” podemos descrevê-lo, pois nem

sempre este é passível de conceituação. Precisamos de um olhar aberto e

desprovido de preconceitos e estigmas, pois devido às transformações que

advieram em sua organização, relacionadas ao contexto social, político e econômico

e às muitas estruturas assumidas pela instituição familiar ao longo dos tempos,

adquiriu diversas funções, às quais precisam ser contextualizadas nos dias atuais.

Entre tantos conceitos que podemos encontrar sobre o termo “família”, a

seguinte definição parece se encaixar em qualquer linha teórica:

Família é todo conjunto de pessoas unidas por interações sociais com certo grau de coesão entre seus membros, com graus de parentesco artificiais ou concretos, declarados ou ocultos, com ou sem ligação genética. (RAMOS, 2011, p.02)

Muitas são as evidências das transformações ocorridas no seio familiar.

Desde o grupo primitivo, que procurava garantir a sobrevivência, até chegarmos à

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família atual, foram milênios de história. O século XX, por exemplo, é destacado pelo

processo de globalização da economia capitalista, o qual geram grandes

transformações no modo de organização da sociedade e da família. Orsi destaca

que, “a família foi marcada pela passagem de uma estrutura patriarcal para um tipo

de organização nuclear, como resultante (…) do crescimento rápido e desordenado

dos centros urbanos e o ingresso da mulher no mercado de trabalho”. (2003, p. 44)

De forma mais intensa, em meados dos anos 80, começaram a se legitimar

as famílias reconstituídas, com novos arranjos familiares, devido à legalização do

divórcio, a mudança de valores na forma de educar os filhos, a divulgação da pílula

anticoncepcional, onde a mulher pôde ter maior controle sobre seu corpo. “Este fato

criou condições materiais para que a mulher deixasse de ter sua vida e sua

sexualidade atadas à maternidade como um “destino”, (...) e, ampliou as

possibilidades de atuação da mulher no mundo social.” (SARTI, 2000, p.21).

Já ao final do século XX e início do século XXI, o acesso à tecnologia,

acentuam-se as transformações na família. Na história destas, observamos muitas

fases, entretanto, Ariès esclarece “O dossiê está longe de ser fechado. A história da

família está apenas se iniciando, e mal começa a despertar o interesse da

pesquisa”. (1981, p. 25)

Atualmente, a família enfrenta crises e conflitos. Dada à conjuntura que se

expressa pelo crescimento da pobreza, do desemprego, da marginalização social,

enfim, fatores diversos que podemos observar em meio às dinâmicas sociais, ela

configura-se de diferentes formas. Parafraseando José Filho (1998), o espaço

familiar é privilegiado por ser lugar de socialização, divisão de responsabilidades,

prática de tolerância e busca de sobrevivência. Em meio a tantos efeitos das

transformações sociais que se manifestaram nos modelos de famílias,

reconhecemos que ela perdeu muito das suas funções. Para Nunes (2003), o

espaço familiar passa a ser apenas lugar de residência e consumo, dividindo

responsabilidades financeiras e educacionais com instituições públicas ou privadas.

“As principais funções que permanecem são socializar e garantir equilíbrio

psicológico.” (NUNES, 2003, p.44)

Entre as várias funções das famílias, educar os filhos de forma que sejam

comprometidos com o desenvolvimento de uma sociedade mais justa, solidária e

humana, destaca-se entre os anseios do mundo atual. O consumismo, a violência, o

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individualismo e outros fatores negativos, tem preocupado parte da população, que

ainda tem esperança em um mundo melhor para as futuras gerações.

Para Maldonado, “Da falta de um contato mais próximo e afetuoso, surgem às

condutas caóticas e desordenadas, que refletem em casa e quase sempre, também

na escola em termos de indisciplina e de baixo rendimento escolar”. (1997, p.11).

Percebe-se desta maneira, que o papel da família é essencial para as mediações

que permitem o desenvolvimento humano. Tanto na educação formal (a dita

escolar), quanto na educação não formal (atividades educativas realizadas fora do

sistema oficial). “Esses (…), constituem o caldo de cultura da proliferação de novos

espaços educacionais deslocados do estritamente escolar”. (TRILLA, 2008, p. 20)

Consideramos, porém que dada à estrutura de sociedade e fatores de ordem

social ou econômica , nem sempre o indivíduo se desenvolve inserido na “família”

que o gerou, podendo estar vinculado neste processo de socialização a outras

instituições. As experiências educativas são intensas, variadas e em contextos

sociais distintos – família, escola, comunidade, (órgãos assistenciais, organizações

não governamentais, entre outros).

Para Paro a educação é “(...) condição imprescindível, embora não suficiente,

para que ele, pela apropriação da cultura produzida historicamente, construa sua

própria humanidade histórico-social.” (2007, p.16).

A família, durante o processo de desenvolvimento da criança e do

adolescente, pode com sua intervenção, gerar segurança e apoio a eles. Em

estudos a respeito, Sawaia cita que, “uma pesquisa realizada pela UNICEF em

2002, com parcela representativa da população jovem de diferentes condições

sociais e de todas as regiões do Brasil, indica que 95% percebem a família como a

mais importante das instituições”. (2012, p.41) Outra pesquisa organizada pela

Fundação Getúlio Vargas, “(...) mostra que os efeitos da presença dos pais na vida

escolar se fazem notar por toda a vida adulta. Na infância e na adolescência, a

participação da família está associada a notas até 20% mais altas e riscos de

evasão até 64% inferiores”. (GOULART, 2012)

Entendemos desta forma, que a intervenção familiar envolve conhecimentos

que, mesmo não sendo formais ou sistemáticos, são construídos socialmente e não

se podem desconsiderar as dimensões afetivas e relacionais advindas dos núcleos

familiares, pois estas são complexas. Quanto mais eficiente à atuação dos

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educadores, melhores instrumentados os filhos para participarem das esferas

sociais.

2. E A ESCOLA, QUAL SEU PAPEL NO PROCESSO EDUCATIVO?

Trilla (2008) aponta que,

A escola é uma instituição histórica. Não existe desde sempre nem nada garante sua perenidade. Foi e é funcional a certas sociedades, mas o que é realmente essencial a qualquer sociedade é a educação. A escola constitui apenas uma de suas formas, e nunca de maneira exclusiva. (p.17)

Etimologicamente, a palavra “escola” deriva do grego e significa “lugar do

ócio”. Na Grécia Antiga, poucos podiam manter a sobrevivência, caso usassem o

tempo livre com o saber. A escola de ensino primário surge em Atenas por volta do

ano 600 a.C. Segundo Brandão “Só depois do advento do Cristianismo, no século

IV, é que surge e se espalha por todo o Império Romano, a schola publica mantida

pelos cofres públicos” (2007, p. 51). No período medieval, em meio à sociedade

europeia, com o processo de ruralização, a escola restringiu-se a poucos, sendo

estes, ligados ao clero. Somente com o renascimento dos centros urbanos, que

articulavam atividades comerciais, que o ensino se estende para o público leigo,

mas ainda mantém-se restrito. No século XVIII, com o surgimento do Iluminismo, a

necessidade da escola se torna indispensável, mesmo entre tantas dificuldades de

se estabelecerem espaços escolares. No século, passado com a expansão do

ensino, o acesso à escola começou se tornar acessível e democrático.

Ciente de que a escola veio a existir muito mais por interesses econômicos e

políticos do que propriamente sociais, como é observado em sua historicidade,

Brandão explica que, “apenas quando a democratização da cultura e da participação

na vida pública coloca a necessidade da democratização do saber, é que surge a

escola aberta a qualquer menino livre da Cidade-Estado.” (2007, p. 39)

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Parafraseando Manacorda (2010), podemos compreender que as instituições

educativas aparecem historicamente vinculadas à necessidade da sociedade, e o

que parecia luxo das elites privilegiadas, torna-se uma exigência de massas.

Saviani considera que “(...) a escola é uma instituição cujo papel consiste na

socialização do saber sistematizado.” (2005, p.14) Compreendemos assim, que a

escola tem sua especificidade, mas devido à realidade atual, os educadores

confrontam-se diariamente além de suas próprias dificuldades profissionais, como

baixa remuneração, pouca valorização profissional, com obstáculos advindos das

condições de vida dos alunos, que se apresentam na escola. Parece-nos que muitos

pais não têm disponibilidade de tempo e condições materiais e culturais para educar

seus filhos, que ficam muitas vezes, desprovidos de apoio emocional, instrucional e

psicológico. Um dos motivos desta situação pode ser apontado devido à necessária

ausência de suas casas, o que nem mesmo é uma escolha possível, como podemos

observar nas palavras de Enguita, “(...) enormes massas de pessoas veem-se

obrigadas, não só economicamente, mas também pela força da lei, a vender, para

subsistir, (...) a única mercadoria de que ainda dispõem: sua força de trabalho.”

(1993, p.177)

No interior da escola também podemos observar que há problemas gerados

pelas concepções de educação, que assumem alguns profissionais e gestores

envolvidos na efetivação das políticas educacionais, e que muitas vezes incentivam

uma estrutura de escola pautada simplesmente em assimilação de conteúdos e em

resultados de provas, onde a preocupação maior é o ingresso do aluno no mercado

de trabalho, potencializando a marginalização e a segregação social.

Libâneo, (1990) alerta, “a escola é o lugar de ensino e difusão do

conhecimento. (...) A contribuição da escola para a democratização está no

cumprimento da função que lhe é própria: a transmissão/assimilação ativa do saber

elaborado.” (p.75)

Inúmeras são as possibilidades, no processo educativo escolar, de se

contribuir com o desenvolvimento dos alunos. Observa-se que, conforme eles

atravessam períodos de mudanças, principalmente de ordem neurológica e corporal,

são afetados pela insegurança das novas vivências e por sentimentos diversos.

(LOSACCO, 2010, p.68) A maneira como as crianças são preparadas para estas

fases e o modo como serão acolhidas na adolescência, em meio a variações de seu

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desenvolvimento, pode determinar muito as condições psicológicas, emocionais e

cognitivas no futuro.

O adolescente é um viajante que deixou um lugar e ainda não chegou ao seguinte. Vivem um intervalo entre liberdades anteriores e responsabilidades/ compromissos subsequentes antes dos sérios compromissos da fase adulta. É um período de contradição, confuso, ambivalente e muitas vezes doloroso. Às vezes, eles se refugiam em seu mundo interno e, através do jogo da vivência das situações fantasiosas, preparam-se para a realidade. (LOSACCO, 2010, p.68-69)

Tanto a escola quanto a família, devem estar cientes, preparadas e unidas

para lidar com estas fases de desenvolvimento, para que, o aprendizado do aluno

não seja prejudicado por fatores de ordens diversas aos da escola. Como Paro

expressa, “grande parte do trabalho do professor seria facilitado se o estudante já

viesse para a escola predisposto para o estudo e se, em casa, ele tivesse quem o

estimulasse a esforçar-se ao máximo para aprender.” (2000, p.16). Em uma

educação onde há espaço para atitudes positivas e apoio incondicional, o

crescimento e os avanços na vida das crianças e dos adolescentes são visíveis.

(...) Trata-se de tornar a unidade escolar um lugar agradável e atrativo a seus usuários, dotando-a dos competentes mecanismos de participação capazes de atrair pais e demais componentes da comunidade externa, na convicção de que sua participação não é apenas um direito, (...) mas uma necessidade da escola, se esta quer fazer-se de fato educativa. (PARO, 2007, p.116)

Sendo assim, todo esforço para superação das dificuldades relativas aos

condicionantes da falta de interação entre escola e família e a luta pela participação

coletiva, deve compor um só processo, de forma que avanços possam ser vistos de

forma interdependente e contínua.

3. RELATOS DA PESQUISA-AÇÃO NA EFETIVAÇÃO DA INTERVENÇÃO

PEDAGÓGICA NA ESCOLA

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Promover a aproximação das famílias com a escola é contribuir com a

democratização do saber, pois cada um dos atores envolvidos no processo de

ensino e aprendizagem tem incumbências que lhe são próprias, e se atuantes e em

sintonia, podem colaborar significativamente para o enfrentamento das dificuldades

que eventualmente venham surgir.

Seguindo esta compreensão e procurando atender os anseios dos

professores, dos pedagogos e da direção da Escola Estadual Érico Veríssimo,

planejou-se a realização da Intervenção Pedagógica na escola, no primeiro

semestre de 2014.

Em reuniões pedagógicas, Conselhos de Classe e espaços formativos,

evidenciou-se a questão que norteia este trabalho: ”Como envolver as famílias na

organização do trabalho pedagógico de forma a contribuir para a melhoria do

desenvolvimento escolar dos alunos?”.

Este trabalho teve como principal objetivo analisar se a relação família-escola

pode interferir ou contribuir para a melhoria do desenvolvimento escolar e na

construção da identidade e cidadania dos alunos.

Algumas ações contribuíram para efetivação deste: 1. Análise do Plano de

Ação da escola, considerando se este pode reforçar as possibilidades de espaços

de interação dos pais com a comunidade escolar; 2. Discussões e reflexões acerca

das problemáticas do processo de ensino e aprendizagem no cotidiano escolar e

familiar; 3. Desenvolvimento de atividades motivadoras.

Com o objetivo de promover a ampliação de espaços de interação e diálogo

entre a família e a escola, o trabalho realizado teve a reflexão como base

metodológica em todas as atividades propostas. O Grupo de Trabalho em Rede

(GTR), parte integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional, também foi

fundamental para esta implementação.

Por meio de reflexões com o coletivo escolar e com base em teóricos da

“Pedagogia Histórico Crítica”, foi possível criar ações planejadas para detectar a

causa do distanciamento das famílias nas atividades escolares e promover a

interação dos pais e responsáveis. Utilizou-se de forma colaborativa, a pesquisa-

ação através de entrevistas, grupos de estudos, seminários e reuniões debate, com

pais/ responsáveis, alunos dos 8º anos (matutino e vespertino), órgãos colegiados,

equipe pedagógica e diretiva da escola. O Grupo de Trabalho em Rede (GTR), parte

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integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional, também foi fundamental

para esta implementação.

Buscando promover a ampliação de espaços de interação e diálogo entre a

escola e a família, o trabalho realizado teve a reflexão como base metodológica em

todas as atividades propostas.

3.1. Análise dos Questionários

A população pesquisada foi composta por familiares e alunos dos 8º anos e

equipes diretiva e pedagógica da Escola Estadual Érico Veríssimo. Os questionários

foram estruturados com questões mistas, que contemplaram a análise da

participação dos pais na vida escolar dos filhos, a função social da escola e

compreensão dos papeis educacionais.

Dos 113 pais entrevistados, 100% consideram importante o filho frequentar a

escola. 45% relataram que a escola representa a educação formal, onde seus filhos

aprendem, socializam-se e se formam cidadãos. 55% porém, ainda acreditam que a

escola tem como principal objetivo, definir o futuro dos alunos, preparando-os para

bons empregos. Quando questionados sobre a responsabilidade da educação dos

filhos, 74% afirmam que cabe à família esta tarefa. 25% delegam-na à escola e

família. Apenas 1% a atribui à sociedade ou aos professores. 74% dos entrevistados

relataram que conhecem pouco a escola de seus filhos, 25% dizem conhecê-la

muito bem e 1%, diz que não possui qualquer conhecimento da escola.

Quanto à participação das famílias nas reuniões escolares, 76% responderam

que participam sempre que possível 19%, em poucas oportunidades, 2% preferem

pedir que alguém os represente e apenas 3% não participam.

Ainda em relação às reuniões, 63% as veem como ótimas oportunidades de

dialogar com os profissionais da escola, 35% acham-nas boas e apenas 2%

consideram que as reuniões são pouco proveitosas. Do total destes entrevistados,

80%, dizem que a maior dificuldade de participarem destas reuniões, é a falta de

tempo e que dificilmente conseguem priorizá-las diante de outros compromissos e

responsabilidades.

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Ao serem questionados sobre quais situações costumam comparecer à

escola, 70% respondeu que somente quando convocados pela direção ou equipe

pedagógica. 20%, na entrega dos boletins de notas e 10%, disseram que

constantemente, para saberem do desenvolvimento escolar do filho. 58% entendem

a importância do acompanhamento escolar e de sua interação com a escola. 34%

relataram que o fazem mais por obrigação e 8% desejam apenas serem informados

sobre os assuntos escolares, não achando necessária sua participação.

Outro item abordado foi em relação ao conhecimento e participação na

elaboração do Projeto Político Pedagógico. No gráfico abaixo é possível,

visualizarmos o pouco conhecimento que os familiares possuem a respeito deste

documento.

Figura 1. Quanto ao conhecimento do Projeto Político Pedagógico pelos familiares

A maioria dos pais tem conhecimento do desenvolvimento escolar do filho,

principalmente em relação às disciplinas que apresentam maiores dificuldades. 30%

destes pais, entretanto, não tem conhecimento de como solucionar estas

dificuldades. Eles compreendem que precisam acolher seus filhos de forma estável

e amorosa, mas reconhecem também que as condições de vida e a realidade que

muitos enfrentam, é cruel e desumana. Relataram inclusive que o bom

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relacionamento com os filhos, dada às mudanças sociais e culturais, não está sendo

só uma opção de escolha. As influências externas e a busca de independência nesta

idade se sobressaem paralelamente à educação dos pais.

O Adolescente provoca uma verdadeira revolução em seu meio familiar e social, e isto cria um problema de gerações nem sempre bem resolvido. Enquanto ele passa por uma adaptação para a fase adulta, seus pais vivem a ruptura do equilíbrio do desempenho do papel de pais de criança, para adquirirem, também com mais ou menos esforço e sofrimento, um novo papel, o de pais de adolescente, situação que lhes exigirá novas respostas. (LOSACCO, 2010, p.70)

Os alunos também foram entrevistados e, quando questionados sobre seus

estudos, desenvolvimento escolar e acompanhamento dos seus pais/ responsáveis

observou-se que 97% sabem que os estudos são de grande importância para suas

vidas. Somente 3% dizem estudar por imposição dos pais. Mas, dos 114 alunos

pesquisados, 65% revelam que seu desenvolvimento escolar é razoável, 33%

consideram ótimos e para 2%, os resultados são abaixo da média esperada.

Pontuaram inclusive, que quando os familiares são informados dos resultados, 69%

deles, procuram rever sua organização escolar e buscar mudanças significativas em

seu aprendizado. Já 31% disseram que seus pais somente cobram que resolvam

seus problemas, já que a responsabilidade para eles é do filho.

Dos entrevistados, 42% relataram que quando surgem problemas de

aprendizado ou indisciplina, conversam com sua família buscando auxílio. 31%

resolvem sozinhos, mesmo que 60% destes alunos tenham conhecimento que

quando incluem o adulto, recebem o apoio necessário e há melhorias de seu

desempenho escolar e os outros 27%, recorrem à Equipe Pedagógica ou

professores para ajudá-los.

A Diretora e as quatro pedagogas, ao serem entrevistadas, relataram que há

avanços a serem conquistados em relação à efetivação da gestão democrática, pois

mesmo com as práticas utilizadas, somente uma pequena parcela da comunidade

escolar participa efetivamente das atividades relacionadas aos órgãos colegiados.

Questionou-se também sobre sugestões para o enfrentamento destas

dificuldades ou para aprimoramento desta relação, 17% sugeriram criar espaços de

lazer para a interação família e escola; 33% acreditam ser necessários registrar os

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atos ao convocar os pais, ou seja, responsabilizá-los, e 50% sugerem a promoção

de encontros de formação com psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais

que contribuam no esclarecimento e definição dos papéis e funções.

Em uma das questões da pesquisa, com a Equipe Pedagógica e Diretiva,

encontramos o retrato desta realidade:

Figura 2. Dificuldades encontradas pela comunidade escolar na interação com os familiares.

Quando o trabalho ou compromisso dos pais os impedem de se fazer em

presentes na escola;

A inversão de valores. Quando os pais não se sentem inteiramente

responsáveis pelos problemas dos filhos;

Quando a escola convoca os pais para ouvirem as dificuldades encontradas

com seus filhos, e eles demonstram não saberem como agir.

50%

17%

33%

Qual a maior dificuldade que você encontra em sua relação com os pais/ responsáveis dos alunos?

Abrir as portas da escola, criar espaços de discussão e compartilhar as

responsabilidades, democratizando a educação, sem dúvida, é hoje uma

necessidade real e concreta no ambiente de aprendizagem. Identificar as falhas

deste processo que se revela negligenciado e aquém do que se espera de uma

educação integral, é um desafio.

3.2. Relato das reuniões debates, grupos de estudos e seminários.

Com intuito de reforçar as possibilidades de espaços de interação, foram

realizadas as reuniões debates entre a escola e os familiares dos alunos, sobre

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temas que contemplaram conhecimentos e leis sobre “Educação e dignidade

Humana”, “O papel dos pais e da escola no processo educativo” “A contribuição da

família no desenvolvimento escolar dos alunos”.

Assim, a escola que toma como objeto de preocupação levar o aluno a querer aprender, precisa ter presente à continuidade entre a educação familiar e a escolar, buscando formas de conseguir a adesão da família para sua tarefa de desenvolver nos educandos atitudes positivas educadoras com relação ao aprender e ao estudar. (PARO, 2007, p.16)

Já nos grupos de estudos com a comunidade escolar, buscou-se criar ações

para interação. Os temas contemplados foram: “Ações possíveis para a participação

dos pais no desenvolvimento escolar de seus filhos”; “O trabalho da equipe diretiva e

pedagógica em favor da democratização do ensino e das relações democráticas”;

“Atuação dos órgãos colegiados na gestão democrática”; “Valorização da família e

da escola em sua função de educadores” e “Vivenciando valores através da

educação”. Utilizou-se, além de recursos multimídia, a Cartilha Informativa: “Como

os pais/responsáveis podem contribuir para a melhoria do desenvolvimento escolar

dos alunos”.

Os simpósios com os temas, “Interagindo nos espaços dialógicos”, a

divulgação da rede de relacionamento virtual “Érico Pais” e a mostra artística

“Vivências educativas”, possibilitaram a efetivação dos espaços dialógicos,

sugeridos durante a pesquisa-ação. Nos depoimentos apontaram-se possíveis

causas da problematização em pauta, o que possibilitou o planejamento de

atividades para contribuírem com a superação da mesma. Uma das causas que se

destacou, é de que as famílias, devido a pouca escolaridade, não se sentem aptas a

acompanhar as atividades realizadas na escola. Outra seriam as constantes

convocações aos pais, que na maioria das vezes, são por problemas disciplinares

ou de baixo rendimento de seus filhos, gerando uma situação tensa entre escola e

família.

Nas socializações realizadas com professores pedagogos da Rede Pública

Estadual, no Grupo de Trabalho em Rede, destacou-se, como uma das dificuldades,

a falta de frequência dos alunos à escola, devido à precariedade de transporte,

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alimentação, vestuário, e outros fatores que se inter-relacionam em sua condição de

marginalização, a qual pode impossibilitar o desenvolvimento escolar adequado.

Apontou-se ainda que se faz necessária a participação efetiva do coletivo

escolar, na construção e efetivação do Projeto Político Pedagógico, dando clareza

aos objetivos do trabalho educativo, pois esta conscientização da importância da

gestão democrática, ainda precisa aprimorar-se. Também foi destacado durante os

debates que a escola precisa continuar ensinando com grande competência sem

distinção e discriminação a todos os sujeitos, e que os profissionais que fazem parte

desta escola, não podem negar a seriedade de sua atuação e de toda a comunidade

escolar frente às questões de seus interesses.

Em relação aos alunos, propõe-se que a equipe pedagógica e diretiva, realize

grupos de estudos como os desenvolvidos na intervenção pedagógica. Estes

apresentaram resultados muito significativos, levando os alunos a reconhecerem

que a escola é um local de trabalho, onde precisam remir o tempo, tirando o máximo

de proveito dele. Reconhece-se que realizando as atividades com responsabilidade

e valorizando o conhecimento ministrado por seus professores, ampliam-se as

possibilidades do aproveitamento e sucesso escolar.

Há muitas ações também no cotidiano de vida do aluno que delineiam

posturas que irão se refletir no interior da escola. Os pais e/ou responsáveis devem

lutar para garantir o acesso e permanência de seus filhos na escola. Nunes afirma:

“trata também do dever da sociedade, da família e do poder público assegurar, com

absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à

alimentação, à educação.” (NUNES, 2003, p.121)

Considera-se que um dos possíveis caminhos para amenizar a distância, ou

seja, a escassa participação dos pais e responsáveis em reuniões e espaços

formativos seria reorganizar as reuniões com o coletivo escolar, com horários

diferenciados para permitir a participação de todos e planejá-las de forma que sejam

espaços mais formativos que informativos, promovendo discussões para busca da

consciência de que, sendo os pais, o primeiro agente socializador da vida do aluno,

são, portanto, corresponsáveis por sua formação escolar. Gadotti nos traz algumas

reflexões a respeito disto,

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Como equilibramos nosso tempo de trabalho como o tempo de ficar com eles, na presença deles? (...) Porque ter pai significa estar amparado em alguém, contar com ele, ter um vínculo seguro, não sentir-se desamparado, abandonado. (GADOTTI, 1997, p.14-15)

Após as análises, conclui-se que é de suma importância a participação dos

pais/ responsáveis na vida escolar dos filhos em relação ao acompanhamento do

processo de ensino e aprendizagem. Quando demonstram interesse por seu

desenvolvimento, percebe-se em meio à prática pedagógica, que eles se percebem

mais encorajados e estimulados à superação das dificuldades que surgem, assim

como, valorizam mais a escola e os estudos, pois se sentem amados e protegidos

por seus responsáveis.

Para que os filhos tenham garantido seu acesso à escola e lá permaneçam

com as condições necessárias para o desenvolvimento integral de sua escolaridade,

as famílias não devem se isentar de lutar por estes direitos. Desde o momento que

as famílias buscam informações sobre o calendário de matrícula do ano letivo, e a

efetivam, até o acompanhamento constante para que seus filhos não faltem à escola

sem justificativa, e usufruam integralmente do que lhe é necessário para a formação

escolar, esta participação começa se configurar.

O aluno precisa não somente ser inserido nos processos de ensino, mas

permanecer no espaço escolar. Por isso, a atenção dada pelas famílias e pelos

responsáveis às condições de higiene, nutrição, vestimenta adequada e segurança

quanto ao transporte ou locomoção até a escola, são fatores primordiais, que

possibilitam ao aluno estudar com tranquilidade, sem distrações e desconfortos.

Dar credibilidade aos educandos ao valorizar a capacidade de compreensão e

participação contribui-se com novas possibilidades de superação da distância entre

escola e família. Como cita Szymanski, (...) Não significa ausência de conflitos, pois

eles estão presentes na dialética entre o vivido e o pensado. (2010, p. 35)

Entre as muitas ações possíveis para o estreitamento da relação entre a

escola e os familiares dos alunos, apontamos: a gestão democrática como uma

possível alternativa. Na organização da escola, os Órgãos Colegiados, existem para

subsidiar o trabalho escolar “a prática social coletiva – isto é, os homens produzindo

e agindo conjuntamente na produção de sua existência material – é o fundamento

básico do desenvolvimento histórico.” (LIBÂNEO, 1990, p.69)

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A maior divulgação quanto à importância e função do Projeto Político

Pedagógico, pois quando utilizado como instrumento diagnóstico e norteador,

respalda as ações da escola e os demais documentos que legitimam o trabalho

escolar. Toda a comunidade escolar e os familiares dos alunos podem sentir-se

inseridos à escola e motivados a participar com mais empenho das funções que lhe

são postas; a atuação do pedagogo que pode, “[...] promover a articulação com as

famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a

escola” (ESCOLA ESTADUAL ÉRICO VERÍSSIMO-EF, 2013, p. 55), assim como,

auxiliar as famílias, mantendo o fácil acesso às informações pertinentes a vida

escolar do aluno. Como expressa Szymanski, “o diálogo cumpre sua função na

práxis libertadora quando é instituído como caminho para a constituição de sujeitos

num processo de humanização”. (2011, p.35); Destaca-se ainda que, atualmente há

muitos recursos tecnológicos que podem alimentar os processos coletivos que

configuram a prática pedagógica. Parafraseando Morin (2005), a educação precisa ir

além, ela deve buscar desenvolver saberes para poder incorporar e acompanhar as

inovações tecnológicas e suas repercussões sociais necessárias à educação do

futuro.

Segundo Gimeno, “as escolas são agentes provocadores de vínculos sociais

de caráter simbólico que colaboram, ao lado de outros, para cimentar as bases de

entendimento entre os seres humanos”. (2002, p.95) Enquanto a escola proporciona

experiências enriquecedoras em espaços dialógicos e a família se posiciona como

suporte, o aluno compreendendo seu papel na construção do conhecimento pode vir

a motivar-se, investindo em sua escolarização.

Como faz parte de uma etapa do seu desenvolvimento, experimentar e

exercer a independência emocional, social e intelectual, o aluno pode ainda, com

responsabilidade, encontrar o seu lugar na sociedade, e assumir uma postura crítica

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presença da família na escola tende a refletir o empenho pelo compromisso

com o desenvolvimento dos alunos e se efetiva nas oportunidades de troca de

informações e experiências. Gimeno esclarece: “A essência da educação é a

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comunicação, a mediação.” (2002, p.42) Intervenções planejadas e conscientes,

criadas em espaços de estudo e reflexão sobre temas que envolvem o processo

educativo, pode oportunizar a estas instituições, a discussão de assuntos como:

aproveitamento escolar, práticas educativas, a qualidade da realização dos trabalhos

e tarefas, a estruturação do aprendizado em casa, comportamento moral,

desenvolvimento de virtudes, o respeito e cumprimento às normas e leis que

organizam a vida social, a participação efetiva em espaços democráticos, o cuidado

com o meio ambiente, o respeito à diversidade étnica e cultural, entre tantas outras

que se configuram no dia-a-dia.

Este projeto evidenciou como a falta de um núcleo familiar que contribua para

a defesa dos direitos humanos, para a inclusão de valores, para a construção da

cidadania e ainda, para o equilíbrio emocional, pode acarretar instabilidades,

traumas e problemas dos mais diversos na vida da criança e do adolescente. O

baixo rendimento escolar é um, entre tantos efeitos deste desajuste.

À medida que a escola e as famílias se harmonizam, são visíveis os

benefícios trazidos para os processos de aprendizagem. Os pais ou responsáveis

pelos alunos podem colaborar e opinar sobre questões que aprimorem o processo

educacional, pois são detentores de deveres junto ao processo de formação de seus

filhos. Em Faria (2010, p. 01), compreendemos que,

Essa conversa entre escola e família, sem defesa, sem ataque, sem julgamentos, nem culpados ou vilões é premissa indispensável. (...) E esta manifestação só poderá se tornar realidade se considerarmos, família e escola, tais como grandes parceiros.

Portanto, para que os vínculos entre a família e a escola realmente

aconteçam, é necessário dispor de ações que busquem sintonia entre estas

instâncias educativas. Desde o planejamento da escola, onde a mesma viabiliza

horários, datas, linguagens e temas adequados em reuniões e espaços formativos,

até a promoção de atividades onde os pais e os profissionais da escola possam

trabalhar juntos, assumindo responsabilidades agregadas a seus papeis de

educadores, adotando assim, posturas que contribuam para a melhoria da qualidade

do aprendizado dos alunos.

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Reitera-se ainda que, quando os envolvidos em um processo emancipatório

de educação compreendem sua função e lutam pelos mesmos objetivos, constroem-

se enquanto sujeitos de deveres e direitos, contribuindo para mudanças

significativas em sua realidade.

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