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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

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A metodologia da problematização e a temática indígena no contexto escolar

Celma Regina Baggio1

Wanirley Pedroso Guelfi2

RESUMO

A lei 11.645/08 institucionaliza a inclusão da história e cultura indígena no currículo escolar.

Com o objetivo de implementar ações assertivas, na inclusão da temática indígena na disciplina de

ciências, foi desenvolvido um projeto de intervenção pedagógica numa escola da rede pública, com

uma turma de 7° ano. Foi utilizada a Metodologia da Problematização, aplicando as cinco etapas do

Arco de Maguerez: Observação da realidade, pontos-chave, teorização, hipóteses de solução e

aplicação à realidade. As etapas apresentadas descortinam um encaminhamento metodológico,

adequado, na condução do desenvolvimento de propostas que buscam a solução de problemas.

Instiga o estudante a refletir e desenvolver atitude crítica frente à realidade em questão. Foram

investigadas as representações dos alunos, acerca do sujeito socialmente conhecido como indígena.

Num movimento contínuo de teorizações e diálogos, os estudantes foram instigados a proporem

soluções para o problema identificado. Entre as várias ações propostas e realizadas, destaca-se a

produção de um vídeo documentário. Este, trás entrevistas que revelam o pensamento de vários

indivíduos da escola acerca dos indígenas. Paralelamente a aplicação da metodologia da

problematização, foram desenvolvidos conteúdos específicos da disciplina de ciências, relacionando-

os com elementos e saberes da cultura indígena.

PALAVRAS – CHAVE: Metodologia da Problematização; Temática Indígena;

Disciplina de Ciências.

1. INTRODUÇÃO

A educação eurocêntrica, presente no cotidiano escolar, evidencia considerável

dívida histórica, com os povos indígenas e negros, que formam a matriz cultural

brasileira. Decorrente dos movimentos de luta, desses segmentos sociais, subjugados

pela política nacional, se institucionaliza a inclusão da diversidade étnico cultural no

currículo escolar, com a promulgação das Leis 10.639/03 e 11.645/08. Dessa forma,

todas as escolas públicas e privadas são obrigadas a incluírem a história e cultura e

africana, afro-brasileira e indígena no contexto da educação escolar.

1 Licenciada e Bacharel em Biologia. Especialista em Educação Ambiental. Atuação em projetos com diversos povos indígenas no amazonas pela, nos campos da educação, saúde e demarcação de terras. Professora de ciências pela SEED- PR. 2 Graduada em História e Ciências Sociais. Mestre em Educação. Doutoranda em Educação. Professora da UFPR – PR.

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De acordo com a tendência emergente, a Secretaria de Estado da Educação

do Paraná – SEED, implementa ações visando suprir a lacuna, existente no espaço

educacional, no que diz respeito a superação do currículo eurocêntrico. No âmbito

da formação continuada, entre os cursos ofertados para a formação de professores,

cita-se as equipes multidisciplinares. Essas equipes contribuíram para

institucionalizar e fomentar a implementação das leis, bem como, promover as

discussões da diversidade étnico cultural nas escolas, com maior propriedade.

Discute-se a inclusão da temática no Projeto Político Pedagógico (PPP), nas

Propostas Pedagógicas Curriculares (PPC) e nos Planos de Trabalho Docente

(PTD).

Entretanto, percebe-se no contexto escolar, que a abordagem da questão

indígena, está pautada, muitas vezes, na superficialidade de conhecimentos. Os

docentes, na sua maioria, se percebem despreparados para relacioná-la com o

conteúdo trabalhado, no cotidiano de sala de aula, espontaneamente, sem o peso

de uma lei que obriga fazê-la. Outros se limitam, apenas, em desenvolver atividades

no dia do índio, reforçando estereótipos que devem ser abolidos. Muitos ainda

ignoram a relevância da abordagem, não reconhecendo a possibilidade de

estabelecer um diálogo intercultural, e quanto, os etnoconhecimentos, enriquecem o

processo de ensino e aprendizagem.

Enfim, pode-se afirmar que as iniciativas nas escolas, ainda são embrionárias,

e muitas vezes, tomadas apenas para cumprir protocolo, planejamento e execução

da lei, desconsiderando o rico e vasto legado cultural dos povos nativos brasileiros.

Diante desse contexto, foi implementado um Projeto de Intervenção

Pedagógica, com a proposta de subsidiar a inserção de elementos da cultura

indígena, na disciplina de Ciências, com perspectivas de valorizar, respeitar,

conhecer e divulgar a diversidade étnica brasileira. Contudo, nos deparamos com o

desafio, de primeiramente, investigar as representações dos alunos, do sujeito

socialmente conhecido como indígena. Posteriormente, buscamos desconstruir

conceitos equivocados, preconceituosos, discriminatórios e etnocêntricos,

construídos historicamente sobre eles, que fazem parte do imaginário da grande

massa.

Utilizamos o recurso denominado Metodologia da Problematização, como

método de estudo, ensino e trabalho. Os subsídios teóricos, que fundamentam essa

metodologia, está dentro da perspectiva da Educação Humanizadora e

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Problematizadora, se constituindo numa proposta adequada, para implementar

ações e discutir pressupostos teóricos, que concernem à temática indígena na

escola.

2. METODOLOGIA DA PROBLEMATIZAÇÃO

O recurso utilizado para o desenvolvimento do Projeto de Intervenção

Pedagógica foi a Metodologia da Problematização, com o Método do Arco de

Maguerez (BERBEL, 1999). Os fundamentos e aplicações desse método são

discutidos pela professora, Neusi Berbel, da Universidade Estadual de Londrina –

UEL, se iniciando em 1992. O método apresenta cinco etapas de aplicação:

Observação da realidade, pontos-chaves, teorização, hipóteses de solução,

aplicação à realidade.

Fonte: Bordanave e Pereira (1995), modificado.

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Conforme a autora, essas etapas foram apresentadas primeiramente por

Bordanave e Pereira (1995). Esses autores se utilizaram desse esquema, elaborado

por Charles Maguerez, denominado Método do Arco. As etapas apresentadas

descortinam um encaminhamento metodológico, adequado, na condução do

desenvolvimento de propostas que buscam a solução de problemas. Instiga o

estudante a refletir e desenvolver atitude crítica frente à realidade em questão.

Como a própria autora afirma, é um método de estudo, ensino e trabalho. De acordo

com Vasconcelos (1999), esse método auxilia os alunos, não só a compreenderem,

mas interpretarem e a explicarem a realidade, assim como, possibilita intervenção

sobre ela.

Ao nos remetermos às práticas vigentes, que sustentam o processo ensino

aprendizagem, nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, a Metodologia da

Problematização se apresenta como uma alternativa inovadora, diferindo dos

preceitos da educação tradicional, baseada na transmissão de informação. Assim,

como discute Berbel (1999), esse discernimento, perpassa pela concepção de

educação bancária, de Paulo Freire, onde esse teórico afirma: “O conhecimento é

um dom concedido por aqueles que se consideram como seus possuidores àqueles

que eles consideram que nada sabem” (FREIRE, 1979), ou seja, alunos

considerados, apenas, como receptáculos de informação, o que se distancia e

muito, do aluno que produz conhecimento, com a mediação de um professor.

Sendo assim, com o objetivo de problematizar questões, que concernem aos

povos indígenas brasileiros, a aplicação da Metodologia da Problematização é

bastante adequada, uma vez que, os estudantes são conduzidos, num movimento

contínuo de perguntas, respostas, teorizações que culminam em ações. Nesse

movimento, eles percebem incoerências e inconsistências. São capazes, então, de

reformular e ressignificar concepções prévias, elaborando seu próprio conhecimento,

acerca da temática.

3. APLICAÇÃO DAS ETAPAS DA METODOLOGIA DA PROBLEMATIZAÇÃO

E RESULTADOS

3.1 Etapas preliminares

Na intervenção pedagógica, foi aplicada as cinco etapas do Arco de Maguerez

(BERBEL, 1999), para discutir a temática indígena. O projeto foi desenvolvido com

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alunos da 7ª ano do Ensino Fundamental, num colégio da rede pública estadual de

ensino, no município de Colombo (PR).

Antes de desenvolver as etapas específicas da Metodologia da Problematização,

procedeu-se a aplicação de um instrumento de coleta de dados, com 10 questões

para 100 estudantes do 7° ano do ensino fundamental. Da análise de quatro

questões aplicadas, identificou-se que:

54% dos estudantes desconsideram que havia indígenas, habitando o Brasil,

antes da chegada dos Portugueses. Aprenderam que o Brasil foi descoberto

por Pedro Álvares Cabral;

63% dos estudantes consideram que os indígenas vivem nus na floresta,

moram em ocas, falam tupi e guarani, usam cocares, e arco e flecha para

caçar.

91% dos estudantes têm interesse em conhecer e estudar a cultura dos

povos indígenas. Eles consideram importante e curioso esse tipo de estudo e

reconhecem que há desconhecimento acerca do tema.

76% dos estudantes oscilam, entre: às vezes, raramente, dificilmente e

nunca, no que se refere à frequência com que os professores, discutem e

desenvolvem atividades, referente cultura indígena em sala de aula.

Para introduzir e iniciar o desenvolvimento do projeto, como recurso

pedagógico, houve a apresentação do filme Avatar. O filme foi escolhido por ter um

enredo factível de se estabelecer um paralelo com a colonização do Brasil. Sendo

uma ficção científica, repleta de efeitos especiais, é atrativa ao público jovem,

portanto, de fácil aceitação pelos adolescentes.

Antes da apresentação do filme, algumas recomendações foram

encaminhadas, entre elas, para que os estudantes ficassem atentos à possibilidade

de estabelecer um paralelo, entre a história do filme, com a história das conquistas

no período das grandes navegações. Para perceberem que nos processos de

conquistas territoriais, ao longo da história humana, quase sempre, se constata o

desrespeito à cultura do outro e a imposição da cultura do colonizador sobre o

colonizado. E também, que observassem os interesses econômicos dos

conquistadores, na exploração dos recursos naturais e interferência nos

ecossistemas. Após a apresentação do filme, em grupos, os estudantes

sistematizaram as percepções, que posteriormente, foram discutidas entre todos.

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3.2 Aplicação da Metodologia da Problematização propriamente dita

1ª ETAPA - Observação da realidade

Esta etapa consiste em perceber a realidade vivida, olhar para o que está

acontecendo no entorno. É o momento da problematização. Para iniciá-la,

primeiramente, foi solicitado aos estudantes que produzissem ilustrações,

representando os indígenas. Os resultados dessas representações foram os

seguintes:

Elementos que aparecem nas representações dos indígenas, produzidas por 25 estudantes do 7° ano.

arco e flecha

64% caça e pesca 16%

floresta 64% cachimbo

8%

fogo 20% cocar

36%

pouca roupa 72% homens

64%

artesanato, balaio 8% mulheres

16%

maloca típica 28% sem humanos

25%

rios ou lagos 44% homens e mulheres

8%

maloca típica de nativos norte americanos

28%

paisagem com sol, nuvens e pássaros

56%

Com a proposta de coletar informações e instigar os estudantes, a

expressarem seus conhecimentos acerca dos indígenas, estabeleceu-se um diálogo.

Seguem as questões com as devidas respostas:

Quem são os índios? Pessoas que vivem nas matas, pessoas selvagens e

guerreiros, protetores das florestas, caçadores e curandeiros, possuem

cultura diferente, crêem em deuses diferentes e também crêem no deus Tupã.

Quando questionados sobre a origem da crença no deus Tupã, se remeteram

à televisão, livros infantis, desenhos da turma da Mônica e do pica-pau.

Onde eles vivem? Nas florestas, nas cidades. Ao serem indagados: No

Paraná existem indígenas? Tiveram dúvidas, não sabiam ao certo.

Onde moram? Em ocas e casas. Essas informações foram obtidas pela

televisão, no programa do Richard, desenhos dos três porquinhos, na escola

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e em revistas. Citaram casas como, moradias indígenas, porque viram no

noticiário enchentes que estavam atingindo-as.

Como vivem? Vivem felizes, dançando, caçando, coletando, protegendo a

floresta, trocando mercadorias, dormindo em rede.

Eles estudam? Segundo os estudantes, existem salas de aulas, nas aldeias,

devido a presença de pesquisadores.

Eles escrevem? Alguns alunos disseram que os índios escrevem com

carvão, outros citaram grafite e caneta, acrescentando que, agora estão mais

evoluídos.

Como a mídia retrata o índio? Disseram que os indígenas são retratados

como selvagens. É mostrada a invasão e posse de terras indígenas por

fazendeiros, os protestos dos indígenas em Brasília solicitando melhor infra-

estrutura e os campeonatos de futebol entre diferentes etnias.

Após essas reflexões, foram apresentados e discutidos dois vídeos

documentários: Índios no Brasil: Quem são eles? Esse documentário, narrado por

Ailton Krenak, teve como objetivo demonstrar o pensamento do brasileiro,

apontando o desconhecimento, o preconceito e a discriminação da sociedade sobre

os indígenas (https://www.youtube.com/watch?v=HA_0X2gCfLs).

O segundo documentário discutido foi: Índios na Cidade. Esse vídeo traz

depoimentos de indígenas que vivem nas cidades, mostrando uma realidade

desconhecida, pela maioria dos estudantes, no que concerne aos indígenas

brasileiros. (https://www.youtube.com/watch?v=M0mrQZ5IqB4).

Com devida mediação do debate, os estudantes tiveram oportunidade de

rever e ressignificar suas concepções anteriores.

2ª ETAPA - Identificação dos problemas: os pontos- chave

Partindo das reflexões da etapa anterior, os estudantes foram instigados a

levantar e definir, algumas questões, para pesquisar acerca dos indígenas. Eles

foram questionados, sobre o que e como estudar. Conforme as discussões

evidenciou-se, que a situação problema, era a visão deturpada que a população tem

sobre o indígena. Formularam-se as seguintes questões: Como o indígena é visto na

nossa sociedade? Por que o indígena é visto de forma deturpada e preconceituosa?

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3ª ETAPA - Teorização

A teorização é o momento da investigação, do estudo propriamente dito.

Consiste na obtenção de subsídios teóricos, por meio da pesquisa, tendo como

ponto de partida a identificação da situação problema.

Para iniciar essa etapa, procederam-se leituras e debates de textos da

Produção Didático - Pedagógica. Os textos trouxeram informações básicas, para a

reformulação das representações iniciais, dos estudantes. Dados sobre a população

indígena no Brasil e noções gerais da contribuição destes, para a cultura brasileira

foram enfatizados. A pergunta, o que vamos estudar e como vamos estudar, retorna.

Portanto, em trabalhos de grupo, no intuito de trazer à discussão a primeira questão

os alunos sugeriram alguns tópicos:

O que estudar? Estudar as diferentes culturas das etnias; como eles vivem;

como eles se vestem; sua alimentação; sua religião; seus rituais; seus

costumes; seu cotidiano e como se relacionam com a tecnologia.

Como estudar? Assistir documentários, animações, TV, analisar fotos, fazer

entrevistas, pesquisar em livros, internet, artigos, jornais, visitar uma aldeia,

conversar com as pessoas mais velhas e professores.

Dando prosseguimento à teorização, os estudantes em grupos, partiram para

a pesquisa fora da sala de aula. Eles entrevistaram várias pessoas na escola, tanto

com uso de filmadora, quanto do celular. Pesquisaram em sites da internet e

analisaram livros didáticos adotados no colégio.

As entrevistas abrangeram 34 pessoas, sendo, 24 estudantes do Ensino

Fundamental e Médio, oito professores, duas pessoas da comunidade e uma

funcionária. Entre as questões realizadas estão seguintes:

Qual sua visão sobre os índios?

Os índios sofrem preconceitos?

Como os índios vivem atualmente?

Seguem as respostas dos entrevistados e os respectivos questionamentos:

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Questão 1 - Qual sua visão sobre os índios?

Visão etnocêntrica preconceituosa e estereotipada

Visão romântica Visão realista

Eram mais pobres que atualmente

Preservam a natureza São desvalorizados

Possuem cultura esquisita São cuidadores da floresta

São importantes por ser parte da matriz cultural brasileira

São pessoas que não querem ser ajudados

Por viverem livres representam liberdade

São os habitantes nativos do Brasil

São muito folgados e ricos porque fazem desmatamentos e conhecem o dólar e, desconhecem o real

Vivem em contato com a natureza

Diferem de nós por possuírem características culturais diferentes

Possuem coisas mais modernas Vivem em sociedade perfeita

Possuem interessante riqueza cultural

Tinham menos tecnologias que atualmente

. São desvalorizados pela modernização

Vivem na floresta

Vivem distantes de nós

Antigamente moravam em casas de madeira e hoje eles têm casa de alvenaria

Vivem quase pelados com pinturas corporais

Questão 2 - Os índios sofrem preconceitos?

Sofrem preconceitos porque possuem

outra cultura e são diferentes

Porque moram longe das cidades

Porque eles têm pouca cultura Sim porque andam nus

Se vestem de forma diferente Por ser àquele que vive no mato

Sofrem preconceitos devido a

visão deturpada que se propagou

sobre eles

Sofrem preconceitos porque a cultura

européia predomina prevalecendo a ideia

da cultura indígena como inferior

Eles não têm acesso às coisas que nós

temos

Porque são negros

Eles não têm contato com tecnologias Sofrem preconceitos pelo simples fato de

serem índios

Porque eles não têm moradia

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Questão 3 - Como os indígenas vivem atualmente?

Eles estão mais atualizados Vivem diferente de antigamente

Vivem nas cidades Usam roupas

Vivem na floresta Vivem melhor que antigamente

Atualmente eles têm tudo de mão beijada,

porque o governo dá de tudo para eles

Vivem muito limitados porque antes tinham

tudo e agora eles não têm nada

Vivem bem mal porque não têm ajuda de

parte nenhuma

Atualmente usam celular computador e

internet

Sofrendo pressão daqueles que querem se

apossar de suas terras

No que se referem às pesquisas realizadas na internet, estas, foram

socializadas na sala de aula. Da análise dos livros didáticos, os estudantes

constataram escassez de informações sobre os povos indígenas brasileiros, exceto

os livros de história e de geografia.

4ª ETAPA - Hipóteses de solução

Nesta etapa a criatividade é estimulada. Os estudantes são instigados a

pensar estratégias de ação, para intervir na realidade da qual se extraiu o problema.

Em grupos, os estudantes foram orientados para que sugerissem ações de

intervenção na realidade. Estas deveriam ser viáveis, dentro das possibilidades de

execução deles, enquanto, estudantes de 7°ano. Seguem as propostas.

Solicitar aos professores que desenvolvam mais atividades em sala de

aula sobre os indígenas; Redigir uma carta para editora; Produzir um vídeo documentário expressando a visão de alunos,

professores e funcionários sobre os indígenas; Convidar um representante indígena para uma palestra; Produzir uma peça de teatro; Elaborar cartazes com mitos indígenas ilustrados e sobre astronomia

indígena; Expor cartazes com informações sobre indígenas e em diversos espaços

da escola; Fazer palestras para outras turmas do colégio; Divulgar informações em redes sociais; Criar de um blog.

A partir dessas sugestões, elencaram-se, junto aos estudantes, as ações

mais viáveis, em consonância, com tempo, espaço e recursos disponíveis:

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a) Produção de um vídeo documentário. b) Produção de uma história em

quadrinhos. c) Redação de uma carta para a editora. d) Exposição de cartazes. e)

Criação de um blog. f) Palestra com indígena

5ª ETAPA - Aplicação à realidade

Esta etapa consiste na aplicação das hipóteses de solução, de ações

concretas, conforme as sugestões de interferência propostas pelos estudantes. Para

iniciar a implementação das ações, organizei uma oficina, formando grupos de

trabalho. A partir da oficina as atividades prosseguiram em sala de aula. Sendo

assim, seguem os resultados alcançados.

a) Produção do vídeo documentário: O vídeo foi intitulado: A temática

indígena na escola e tem duração de 23 minutos. Apresenta entrevistas de 28

indivíduos, sendo: 17 estudantes, 9 professores e duas pessoas da comunidade. A

edição, de minha autoria, partiu das entrevistas realizadas pelos estudantes na

etapa da teorização. No decorrer do processo da edição do vídeo, a turma toda teve

contato com as diferentes versões, com oportunidade de tecer comentários,

participando assim, do processo de criação. Com propósito didático, na edição do

vídeo, erros conceituais foram mantidos, no intuito de gerarem discussões e

reflexões em relação à temática abordada. Segue link:

https://www.youtube.com/watch?v=2QpObaBK6uE

Até o momento, o vídeo foi apresentado: a) Na Semana Interação

Comunidade – Escola, com presença de pais, professores, e estudantes de várias

turmas do colégio. b) Na reunião pedagógica e abertura das atividades da equipe

multidisciplinar de 2014. c) No Seminário Integrador do PDE da Área Norte (Turma

2014- 2015) como produção didática pedagógica bem sucedida. d) Na abertura de

duas palestras do representante da Etnia Guarani, com a presença estudantes de

diferentes turmas (conforme explanação abaixo, item f).

b) Produção da história em quadrinhos: Das entrevistas de áudio, com o

uso do celular, duas estudantes, produziram uma história em quadrinhos em

cartolinas. Utilizaram o personagem Guaranito, criado para a Produção Didático –

Pedagógica, como o entrevistador. Para tal, elas transcreveram as falas e

sintetizaram as respostas. A produção foi exposta nos corredores da escola tendo

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como título o questionamento: O que as pessoas pensam sobre os índios? Essa

indagação possibilita pensar e repensar o conceito que se tem sobre os indígenas

do Brasil e no Brasil. A escolha do título teve como base o conteúdo apresentado

nas entrevistas, uma vez que, as respostas dos entrevistados, em alguns casos, se

mostraram preconceituosas.

c) Redação de carta para a editora: Da análise dos livros didáticos,

realizada na etapa da teorização, os estudantes constataram escassez de

informações referentes à cultura dos povos indígenas. Partindo dessa perspectiva,

redigiram uma carta para a Editora Ática, citando a lei 11.645/08, solicitando que a

editora contemple mais informações sobre os povos indígenas em suas obras. Após

a redação da carta, efetuei devidas correções, adaptando-a nas normas cultas da

língua portuguesa. Todos os estudantes da turma assinaram e a seguir fiz a

postagem.

d) Exposição de cartazes: Esta foi organizada a partir da seleção de

sentenças, afirmações, informações e questionamentos sobre os povos indígenas.

Os cartazes foram ilustrados com grafismos de várias etnias indígenas brasileiras,

desenhadas pelos estudantes. Foram expostos nos corredores do colégio,

abrangendo vários espaços de circulação. Além dos cartazes, os estudantes

escreveram o nome de várias etnias indígenas brasileiras, com diferentes tipos de

letras e dimensões, para representar a sociodiversidade nativa. Estas tarjetas

fizeram parte da exposição.

e) Criação do blog: Esse tem o objetivo de divulgar todas as produções do projeto,

entre outras, que serão futuramente desenvolvidas na escola. O blog intitulado: A

Temática Indígena na Escola, possui um menu com os seguintes itens: Quem

somos, Projeto, Leitura, Imagem (desenho, foto, vídeo). Informações e registros das

diversas etapas da implementação do projeto foram postadas. Segue link do blog:

http://tematicainigenaescolaviniciusdemoraes.wordpress.com/

f) Palestra com indígena: Esta foi proferida por um representante da etnia

Guarani, para estudantes de duas turmas do 7° ano. Mais que uma palestra, o

palestrante estabeleceu um diálogo com os estudantes, com abertura para

questionamentos e curiosidade referentes diversos aspectos da cultura Guarani.

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Esse tipo de evento é relevante para desmistificar os estereótipos associados aos

indígenas.

3.3 A disciplina de ciências e os saberes indígenas

Simultaneamente à aplicação das etapas da Metodologia da Problematização,

conteúdos da disciplina de ciências, que estabelecem diálogo com a cultura

indígena, foram trabalhados com a respectiva turma. Ao desenvolver os conteúdos,

origem do universo e da vida, paralelamente, foram trazidos mitos de criação de

alguns povos indígenas, entre eles: Mito de origem dos Pareci, Enawenê-nawê,

Karaja e Makurap. Procedemos a leitura e reflexões do significado dos mitos para

essas diferentes culturas. Enfatizei o aspecto da riqueza literária que os mitos

representam para a cultura brasileira. No conteúdo referente à astronomia, foram

discutidos, conhecimentos dos povos indígenas em relação a interpretação do céu e,

a importância destes conhecimentos para a sobrevivência, orientação, agricultura,

pesca e coleta, tendo como base os estudos do professor e físico Germano Bruno

Afonso. Foi realizada uma atividade no planetário do Parque da Ciência Newton

Freira Maia, com explanação sobre as constelações indígenas.

4. DISCUSSÃO

Conforme esperado, a escolha do filme Avatar, cumpriu com a proposta de

introduzir o estudo da temática indígena de forma gradual, espontânea e motivadora.

Com devida mediação didática, os estudantes foram capazes de estabelecer

comparações entre a história do filme e a conquista territorial brasileira. De acordo

com a análise dos estudantes, “as semelhanças que a história do filme tem com a

história do Brasil é de que os colonizadores chegaram e quiseram se apossar das

terras e banir os habitantes naturais. Eles conquistaram a confiança do povo e

depois os atacaram” (fragmento de texto redigido por estudantes do 7° ano).

Conforme o resultado verificado, a utilização do filme auxiliou no processo de

desenvolvimento do senso crítico, dentro da temática proposta, proporcionou

reflexões e análises, para além do entretenimento, agregando novos conhecimentos.

A análise dos resultados, da aplicação do instrumento de coleta de dados,

reflete o quanto a educação eurocêntrica se faz presente no ambiente escolar.

Informações propagadas pelos livros didáticos de História, ao longo dos anos, como

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por exemplo, a descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral, se perpetua de forma

acentuada. O expressivo interesse dos alunos do 7° ano, em estudar e conhecer a

cultura dos povos nativos brasileiros, se contrapõe a falta de abordagem da temática

no cotidiano escolar. Esse dado deve estimular os docentes a desenvolver essa

temática, com mais empenho, afinco e criatividade.

Os professores participantes do GTR destacaram que, para efetivar a

proposta de inserção da temática indígena, no plano de trabalho docente, falta

embasamento teórico. Há necessidade de realizar pesquisas aprofundadas para

fundamentar um trabalho de qualidade. Esse obstáculo, segundo os docentes, é

decorrente da falta de oferta de cursos para formação, e da escassez de material

didático direcionado. Contudo, o papel das equipes multidisciplinares é exatamente o

de promover discussões dos assuntos relativos à diversidade, orientando, a escola

como um todo, a desenvolver uma linha de trabalho articulada, envolvendo todas as

disciplinas. No entanto, segundo os professores participantes do GTR, essa

proposta não está efetivada de maneira satisfatória. Há certa desarticulação entre os

docentes das diferentes disciplinas. As reflexões sobre a temática indígena, não

estão presentes nas escolas, com a mesma intensidade das discussões

relacionadas aos afros descendentes. A questão indígena, ainda, está restrita aos

professores de história e nas comemorações do dia índio.

O interesse em contribuir com ações assertivas, utilizando-se de estratégias

de trabalho, para reconhecimento, compreensão e valorização dos saberes

indígenas na escola, e, pela escola, se constitui em primeira instância num

comprometimento individual, ou seja, não basta fazer cursos de formação

continuada para que esta proposta se efetive.

Da análise da pesquisa de coleta de dados, das entrevistas realizadas e, dos

desenhos produzidos pelos estudantes, verifica-se uma forte evidencia de

estereótipos, de etnocentrismo e da visão romântica do índio. O cenário, do índio nu,

vivendo na floresta, coletando, caçando, dançando, com pinturas e cocar na cabeça,

envolto numa paisagem idílica, faz parte do imaginário dos estudantes de uma forma

geral. A concepção da cultura indígena, como inferior, descrita na afirmação de

alguns alunos, que “hoje eles estão mais evoluídos, mais modernos, mais

atualizados” está presente. Essa visão linear, restrita e etnocêntrica, que considera o

indígena num estágio anterior, tomando como parâmetro, apenas, as tecnologias

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advindas da cultura não indígena, ignora valores humanos, intrínsecos a todas as

culturas, em detrimento aos bens materiais.

A questão que busca saber como os índios vivem atualmente, apresenta uma

variedade de respostas, que no seu conjunto, acaba por passar a noção da

diversidade de contextos vividos, pelos povos indígenas contemporâneos. O

discurso estereotipado e deturpado está refletido, na opinião tanto de alunos quanto

de uma funcionária. Para ela, “os índios são muito folgados, só sabem falar em dólar

e não conhecem o real, muitas pessoas querem os ajudar, mas eles não querem a

ajuda de ninguém”. O discurso etnocêntrico aparece nas falas de estudantes e

também, de uma professora que lecionou próximo de uma aldeia indígena,

localizada em Curitiba no bairro Caximba. Segundo ela, “nas aulas de ciências e

biologia, procuravam orientar as alunas indígenas para que não casassem cedo,

esperassem mais maturidade física, emocional e espiritual”. Na fala dela, está

explícito o etnocentrismo. Como se os indígenas fossem desprovidos de cultura, de

conhecimento do seu corpo, de suas emoções e espiritualidade e, precisassem ser

orientados pela cultura escolar, que se considera superior a deles.

Há concordância em 100% dos entrevistados, do preconceito sofrido pelos

indígenas. Respostas contundentes podem ser observadas. “Sim! Sofrem

preconceitos pelo simples fato de serem índios”. Ou seja, está intrínseca a relação

entre, sofrer preconceito e ser indígena. Quantas vezes ouvimos a denominação

índio, se referindo ao atraso, ao mau comportamento e a ignorância de alguém? A

afirmação de que sofrem preconceitos por viverem no mato, sem as tecnologias

típicas da nossa sociedade, incorre no desconhecimento de que muitas aldeias

possuem rede de computadores com internet, placas solares, uma série de

equipamentos eletrônicos e eletrodomésticos que facilitam as tarefas cotidianas da

comunidade indígena.

As concepções equivocadas, esbarram na denominação genérica, índio e, na

ignorância da noção da sociodiversidade nativa, detentoras de multiplicidades de

culturas e níveis de contato. O conceito do indígena congelado no tempo está bem

presente entre os estudantes. Contudo, é possível averiguar, nas entrevistas

apresentadas no vídeo, as mudanças de concepções conforme, a escolaridade dos

entrevistados. A opinião, refletida pelos alunos do ensino médio, é mais condizente

com a realidade indígena, comparado aos alunos do ensino fundamental. Atribuo

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esse evento, resultado do trabalho realizado pelo corpo docente da escola, em anos

anteriores.

Ao percorrer as cinco etapas da metodologia da problematização verificou-se,

que o método é recurso valioso e eficiente. Uma ferramenta que torna a

aprendizagem significativa, que envolve os alunos tanto nas reflexões quanto na

busca de soluções. Pelo uso do método do Arco, os alunos foram conduzidos

gradualmente, por meio do diálogo, num movimento contínuo de reflexões, que

culminaram em ações transformadoras. Os estudantes refletiram, reavaliaram suas

concepções, reformulando-as e ressignificando-as. O resultado evidencia-se numa

entrevista, com uma das estudantes, participante ativa do projeto. Ela afirma, que

não tinha conhecimentos sobre os indígenas, não sabia absolutamente nada. Foi a

partir do seu envolvimento com as atividades, que tomou ciência da relevância

deles, como parte integrante de cultura e história brasileira. Segue o link da

entrevista < http://www.youtube.com/watch?v=Te_O74Jl8Z4 >

Por fim, de acordo com os encaminhamentos e abordagens realizadas, com a

aplicação da metodologia da problematização, a inserção dos saberes indígenas,

concomitantemente, aos conteúdos de ciências, que permitem dialogar com a

temática indígena, passaram a ter um significado maior. Isso porque, quando

incorporamos um novo conhecimento a uma estrutura que já possuímos, isso passa

a configurar o que Ausubel, (1982) denomina, aprendizagem significativa.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na busca de saber, por meio de entrevistas, como o sujeito, socialmente

conhecido como indígena era visto na escola, os estudantes reformularam suas

próprias concepções acerca do tema. Eles descobriram e redescobriram seus

conhecimentos. Foram protagonistas de seu próprio processo de aprendizagem de

uma forma eficaz e prazerosa.

Discutir e problematizar para desconstruir estigmas consolidados, na

estruturação da imagem do indígena, mais próxima à realidade, é crucial. Ignorar a

existência das sociedades indígenas, bem como, suas contribuições, seguindo com

visões estereotipadas e cristalizadas no tempo, valorizando a cultura eurocêntrica

em detrimento a riqueza cultural, advinda dos nativos, é desvalorizar a própria

cultura do povo brasileiro.

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Os professores devem se instrumentalizar, compreender quem são os

indígenas, ressignificando, reformulando conceitos junto aos educandos, para

avançar nas reflexões em direção à educação intercultural.

Durante o processo de implementação do projeto verificou-se muitas outras

possibilidades de interlocução, entre a disciplina de ciências com os diversos

conteúdos. Ciências e saber indígena têm mais conexão do que se imagina a

primeira vista. É legítimo se deparar com dificuldades de abordagem, afinal não é

tradicional da disciplina estabelecer essa relação. Percebo que quando começamos

a pesquisar e estabelecer conexões entre o saber indígena e a disciplina de

ciências, um leque gigantesco de possibilidades se abre. Como por exemplo: A

relação dos indígenas com o ambiente, ar, água, solo, com os animais e plantas;

práticas agrícolas e utilização do solo; a exploração de minérios e minerais; a

construção de hidrelétricas em áreas indígenas; seleção genética de plantas; as

viroses e bacterioses e o genocídio de povos indígenas; a etnoclassificação e os

vocábulos relacionados à nominação de flora e fauna; a influência da cultura e

indígena na gastronomia brasileira; os venenos utilizados para caça e pesca; os

estimulantes e narcóticos (tabaco, rapé, bebidas fermentadas, erva mate, guaraná) e

alucinógenos utilizados em contextos específicos, como por exemplo rituais. Em

relação à sexualidade humana, pode ser desenvolvido conteúdos referentes aos

ritos de passagem, os cuidados parentais, os rituais de casamento e a noção de

estética para as diferentes culturas indígenas.

Trazer para o chão da sala de aula, elementos da cultura de diversas etnias

indígenas, estabelecer um diálogo entre esses, e os conteúdos específicos da

disciplina de ciências, é perfeitamente possível. Se os conteúdos estiverem

desarticulados, descontextualizados para, apenas, atender um protocolo, um

planejamento e o cumprimento da lei, pode simplesmente, contribuir para reforçar

estereótipos.

REFERENCIAS

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