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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
JOGOS E BRINCADEIRAS LÚDICAS E COOPERATIVAS PARA
DISCENTES DO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Domercilia Candida Correa Frison1
Inácio Brandl Neto2
RESUMO Este artigo é resultado de um projeto de intervenção que teve como tema o conteúdo jogos e brincadeiras. O objetivo foi realizar um estudo a partir de aulas de Educação Física ministradas com o conteúdo Jogos e Brincadeiras pautadas em ações cooperativas e lúdicas, para um sexto ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual José de Alencar da cidade de Braganey/PR e, ao final, verificar a opinião dos estudantes. A pesquisa foi descritiva e os sujeitos do estudo foram 25 estudantes. A intervenção proposta teve como pressuposto a necessidade da incorporação de valores e atitudes humanizantes, isto é, trazer a possibilidade real de realizar ações alternativas no cotidiano das aulas, como por exemplo, valorizando mais a aprendizagem e a ajuda do que as manifestações competitivas que impregnam a sociedade, que pode levar ao individualismo e a reações violentas. Neste sentido, foram elaboradas e ministradas atividades de caráter lúdico e cooperativo e ao final os estudantes responderam um questionário demonstrando suas opiniões e considerações sobre as aulas neste formato. Os resultados demonstraram que os estudantes aceitaram e gostaram das atividades, preferindo, a grande maioria (17), jogos e brincadeiras em que todos participam e aprendem sem se preocupar em vencer.
Palavras-chave: Educação Física. Cooperação. Jogos e Brincadeiras. Ensino
Fundamental.
INTRODUÇÃO
O desenvolvimento de atividades na disciplina de Educação Física, esteve
sempre atrelado ao trabalho com as expressões corporais, entendidas estas como
representações dos sujeitos e suas ideias sobre as influências da sociedade em seu
contexto de vida. Assim suas concepções de mundo, de ser humano, de sociedade,
e de educação são demonstradas em seu agir no mundo, que se for pautado na
ideologia dominante existente, podem trazer preocupações sobre o futuro da
sociedade, devido aos valores preconizados por esses pensamentos.
Neste sentido, o trabalho foi desenvolvido, a partir da premissa que “o corpo é
entendido em sua totalidade, ou seja, o ser humano é o seu corpo que sente, pensa
e age” (PARANÁ, 2008, p.54). Desta forma, a ação pedagógica foi realizada no
sentido de valorizar as diversas expressões corporais e atividades lúdicas que
1 Professora de Educação Física da rede pública de ensino do Estado do Paraná, integrante do
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. Atua no Colégio Estadual José de Alencar da cidade de Braganey. - [email protected] 2 Professor Doutor do Curso de Educação Física da Unioeste – Orientador - [email protected]
primam pelo desenvolvimento de conhecimentos significativos juntamente com a
construção de valores humanizantes nos educandos, por meio de jogos e
brincadeiras cooperativas, que não abandonam o viés de estudos e aprendizagens
voltados para a formação humana integral dos alunos.
O desenvolvimento destas atividades com princípios e pressupostos voltados
para a ludicidade e cooperação, além de estimular o interesse dos educandos
quanto à participação destes na execução das tarefas, possibilita também a
ampliação dos conhecimentos sobre a realidade e o estabelecimento de relações
práticas e cotidianas referentes às tomadas de decisões que os alunos são
submetidos em seu cotidiano.
O homem é um ser social por natureza e no desenrolar de sua história,
sempre procurou relacionar-se com outras pessoas, no sentido de viver em
coletividade ou em sociedade. Assim, no ato de relacionar- se com os outros em
sociedade, faz-se necessário estabelecer regras e objetivos a ser alcançado ou
superado para a promoção de um estilo de convivência dentro de uma condição
aceita pelo grupo a qual pertence.
A importância do ensino da brincadeira e do jogo remete-se especificamente
aos elementos culturais associados à Educação Física, como por exemplo, a
brincadeira, o jogo, a dança, a prática de esportes, etc., “no qual os alunos
vivenciem esses conteúdos e saibam defini-los e classificá-los para que
compreendam o que são e não apenas brinquem e joguem” (SCARPATO, 2007,
p.111) de forma descontextualizada da realidade vigente.
Atualmente nas propostas para as aulas de Educação Física vem se
destacando cada vez mais o olhar cooperativo. As orientações contidas na literatura
sobre cooperação (práticas pedagógicas envolvendo valores e ações cooperativas,
como brincadeiras e jogos cooperativos) veem de encontro ao sentido lúdico e de
corporeidade aliadas às práticas efetivadas. Em outras palavras, trazem a
possibilidade real de realizar ações alternativas no cotidiano das aulas, como por
exemplo, valorizando mais a aprendizagem e a ajuda do que as manifestações
competitivas que impregnam a sociedade, que pode levar ao individualismo e a
reações violentas. Mas, as ideias cooperativas carregam consigo também a visão
crítica da sociedade, descartando alguns pensamentos e opiniões, como por
exemplo, de que esta forma de ação seria apenas para “docilizar” os discentes.
De acordo com Brotto (2002, p.45),
Os Jogos Cooperativos surgiram da preocupação com a excessiva valorização dada ao individualismo e à competição exacerbada, na sociedade moderna, mais especificamente, na cultura ocidental. Considerada como um valor natural e normal na sociedade humana, a competição tem sido adotada como uma regra em praticamente todos os setores da vida social. Temos competido em lugares, com pessoas e em momentos que não precisaríamos, e muito menos, deveríamos. Temos agido assim como se essa fosse à única opção.
Assim, torna-se fundamental na escola, espaço legítimo de divulgação de
uma filosofia de emancipação humana, a organização de situações que promovam a
construção de um ambiente mais saudável e humano.
Segundo Soares et al. - Coletivo de Autores - (1992, p. 65),
o jogo (brincar e jogar são sinônimos em várias línguas) é uma invenção do homem, um ato em que sua intencionalidade e curiosidade resultam num processo criativo para modificar, imaginariamente, a realidade e o presente.
Para BROTTO (2002, p.60), podemos vivenciar os Jogos Cooperativos como uma prática re-educativa capaz de transformar nosso condicionamento competitivo em alternativas cooperativas para realizar desafios solucionar problemas e harmonizar conflitos.
Tudo isso, evidencia a necessidade da ênfase no trabalho com os alunos
sobre os processos de socialização e convivência voltados para a cooperação entre
todos. Segue quadro que compara os jogos competitivos e cooperativos.
Quadro 1 - Jogos competitivos e Jogos cooperativos JOGOS COMPETITIVOS JOGOS COOPERATIVOS
São divertidos apenas para alguns. São divertidos para todos.
Alguns jogadores têm o sentimento de derrota. Todos os jogadores têm um sentimento de vitória.
Alguns jogadores são excluídos por falta de habilidade.
Todos se desenvolvem independentemente de sua habilidade.
Aprende-se a ser desconfiado, egoístas ou se sentirem melindrados com os outros.
Aprende-se a compartilhar e a confiar.
Divisão por categorias: meninos x meninas, criando barreira entre as pessoas e justificando as diferenças como uma forma de exclusão.
Há mistura de grupos que brincam juntos criam alto nível de aceitação mútua.
Os perdedores ficam de fora do jogo e simplesmente se tornam observadores.
Os jogadores estão envolvidos nos jogos por um período maior, tendo mais tempo para desenvolver suas capacidades.
Os jogadores não se solidarizam e ficam felizes quando alguma coisa de "ruim" acontece aos outros.
Aprende-se a solidarizar com os sentimentos dos outros, desejando também o seu sucesso.
Os jogadores são desunidos.
Os jogadores aprendem a ter senso de unidade.
Os jogadores perdem a confiança em si mesmo quando eles são rejeitados ou quando perdem.
Desenvolvem a auto-confiança porque todos são bem aceitos.
Pouca tolerância à derrota desenvolve em alguns jogadores um sentimento de desistência face as dificuldades.
A habilidade perseverar face as dificuldades é fortalecida.
Poucos se tornam bem sucedidos. Todos encontram um caminho para crescer e desenvolver.
Fonte: Brotto, 2002, p. 56
Considerando a situação explanada anteriormente, resolveu-se estudar e
verificar a possibilidade de realizar um processo de intervenção num sexto ano do
Ensino Fundamental utilizando jogos e brincadeiras com caráter lúdico e
cooperativo. E, além disso, averiguar os resultados da proposta ouvindo a opinião
dos alunos que participaram efetivamente. Autores como Pozo (2002) e Morin
(1999) explicam que quando se quer mudanças, deve-se iniciar o mais cedo
possível. No caso desse estudo, como docente da rede estadual de ensino, pensou-
se a realização desta atividade com alunos a partir do sexto ano como possibilidade
de intervenção e de aplicação da referida implementação.
Neste sentido, coube questionar: um processo de intervenção com atividades
e jogos com caráter lúdico e cooperativo poderão fazer com que discentes do sexto
ano tenham melhor aprendizagem e incorporem valores e atitudes humanizantes,
como as inerentes às perspectivas cooperativas? Qual a importância de jogos e
brincadeiras da cultura corporal com valores e atitudes humanizantes cooperativas
para os alunos do sexto ano nas aulas de Educação Física?
DESENVOLVIMENTO
Este artigo tem como base as atividades implementadas no Colégio Estadual
José de Alencar, na cidade de Braganey, com alunos do 6º ano do Ensino
Fundamental. As ações desenvolvidas na Unidade Didática foram apresentadas e
repassadas aos alunos de forma dialogada e explicativa quanto aos objetivos e
finalidades da execução e o que se pretendia atingir em cada uma. Para melhor
aproveitamento e aprendizagem das ações que foram desenvolvidas, as atividades
foram ministradas em duas aulas semanais não geminadas, com espaço entre elas
de pelo menos um dia, possibilitando assim, que os alunos tivessem um intervalo
entre as aulas, cuidando para que não ocorresse o cansaço e o desestímulo frente
às situações propostas, tendo uma melhor compreensão dos conteúdos trabalhados.
Metodologia
Inicialmente foi realizado um trabalho de pesquisa bibliográfica sobre o tema,
no sentido de fundamentação e suporte teórico, bem como visando subsidiar aos
alunos na compreensão e interpretação dos objetivos da temática. Para tanto, foi
apresentada a concepção sobre jogos cooperativos e seus principais objetivos
baseados na literatura vigente, mostrando-lhes a importância da cooperação e sua
relevância para o desenvolvimento integral do ser humano, pois segundo Oliveira
(1988, p. 74), as atividades em forma de jogo são as que mais facilitam o
desenvolvimento da criança, devido a riqueza de oportunidades oferecidas pelo
lúdico. “O jogo é um recurso metodológico capaz de propiciar uma aprendizagem
espontânea e natural.”
A pesquisa foi descritiva, e conforme Barros e Lehfeld (2000), nesse tipo de
estudo o pesquisador descreve o objeto de pesquisa e procura descobrir a
frequência com que o fenômeno ocorre, sua natureza, característica, causas,
relações e conexões com outros fenômenos. Os sujeitos que fizeram parte da
pesquisa foram alunos do 6º ano “A” do período matutino, perfazendo um total de 25
(vinte e cinco) estudantes, os quais participaram ativamente de todas as etapas do
trabalho. Na sequência, houve a intervenção pedagógica com as atividades
ministradas aos estudantes com caráter mais prático.
Ao final da implementação os discentes tiveram a oportunidade de expressar
suas opiniões sobre as aulas desenvolvidas com conotação cooperativa e lúdica,
respondendo a um instrumento de pesquisa (questionário) sobre a experiência
vivida. O questionário foi elaborado junto com o professor orientador e se baseou em
outros já testados que fizeram parte de estudos sobre o tema. Ele teve por finalidade
a obtenção de dados referentes a visão dos estudantes com relação aos jogos
competitivos e cooperativos realizados nas aulas de Educação Física. Para Gil
(1991, p.91) um questionário “consiste basicamente em traduzir os objetivos
específicos da pesquisa em itens bem redigidos”. Segundo ele, não existem normas
rígidas a respeito da elaboração do questionário. Entretanto, “algumas informações
podem ser obtidas apenas dessa maneira, então é imperativo que o questionário
seja planejado e preparado cuidadosamente para assegurar os resultados mais
válidos” (THOMAS e NELSON, 2007, p. 235).
A análise da questão aberta foi realizada através da categorização das
informações emanadas dos estudantes. As questões com alternativas foram
quantificadas e apresentadas através de quadros com frequência absoluta (fi). Em
seguida, os dados obtidos foram analisados e discutidos justapondo com escritos
encontrados na Literatura.
Procedimentos
O início das atividades de execução da implementação na escola aconteceu
durante a semana pedagógica do mês de fevereiro, onde o projeto de intervenção foi
apresentado para todos que compõe o quadro de professores e funcionários da
escola, objetivando o conhecimento dos mesmos a cerca do desenvolvimento das
atividades com os alunos. Assim, quando começou as aulas foi dado início às
atividades com os alunos, partindo da exposição e informação sobre o projeto, suas
devidas implicações apregoando-se o necessário compromisso de todos para o
sucesso do mesmo. A dinâmica de desenvolvimento do trabalho com os alunos
caracterizou-se pela realização de atividades envolvendo aulas de vídeo e também a
participação em atividades teórico-práticas desenvolvidas dentro da sala de aula e
também em ambientes externos, como a quadra de esportes e pátio da escola.
As atividades realizadas com os alunos contemplaram aulas com os vídeos
“Ações que Contagiam” e “A Era do Gelo” reportando para a necessidade do espírito
cooperativo na resolução e superação dos obstáculos que se apresentam no
cotidiano e o consequente aprendizado quanto às tomadas de decisões futuras,
principalmente no que se refere às questões voltadas à convivência entre os pares
no dia a dia.
No que se refere à efetivação das atividades práticas realizadas em ambiente
externo, como por exemplo: as atividades com cordas; pega-pega corrente; salve-se
com um abraço; nunca três; rebatida e dança das cadeiras cooperativas, entre
outras, têm como ênfase o desenvolvimento de objetivos que primem pelo estímulo
a cooperação, socialização entre alunos e professor; valorização do trabalho em
grupo; a aprimorar a atenção e a observação; dinâmica para aceitação e cooperação
entre o grupo e o ensino das formas básicas dos fundamentos esportivos.
Apresentação e Discussão dos Resultados
Como atividade de finalização da proposta de intervenção na escola, no final
do segundo semestre de 2015 foi aplicado um instrumento de investigação
(questionário) aos 25 estudantes, com o objetivo destes relatarem suas opiniões
sobre os jogos cooperativos e sua aplicabilidade na prática cotidiana. Com a
finalidade de facilitar a discussão e o entendimento sobre o resultado destas
opiniões, estes foram sistematizados em quadros, possibilitando uma maior
visualização e compreensão acerca das ações investigadas.
A pergunta inicial existente no questionário era sobre o que eles entendiam
sobre cooperação. Ao analisar as respostas, 14 estudantes responderam que
significava “ajudar os outros”, quatro que era “trabalhar em equipe/grupo”, três
entendiam como “ajudar em qualquer momento”, dois opinaram que era “ajudar os
colegas e não xingar”, e dois escreveram que era “manter a amizade”. Pode-se
dizer, de modo geral, que eles entenderam o que era cooperação. Se observarmos
as definições de autores como Brotto (2002) e Soler (2002), veremos que as ideias
coincidem (ajudar, colaborar com os outros), além disso, ambos atentam para a
importância do estímulo à organização de jogos como exercício de experiência
vinculado à própria experiência de vida.
Quadro 2: Opinião dos alunos sobre as aulas Questões Nas aulas com
atividades competitivas, quais atitudes e comportamentos ocorreram?
Nas aulas com atividades cooperativas, quais atitudes e comportamentos ocorreram?
Quais as atitudes e comportamentos que as aulas devem desenvolver?
Alternativas
Frequência (fi)
Frequência (fi)
Frequência (fi)
Participação -- 25 24
Inclusão -- 25 22
Brigas 25 -- --
Trapaças 25 -- --
Individualismo 23 -- --
Respeito -- 25 25
Discriminação 24 -- --
Eliminação 25 -- --
Integração -- 25 24
Confronto 25 -- --
Solidariedade -- 25 23
Cooperação -- 25 25
Exclusão 24 -- --
Violência 23 -- --
União -- 25 25
Divertimento -- 24 25
Descontração -- 23 23
Agressividade 25 -- --
O quadro 2 mostra, na opinião dos estudantes, uma comparação entre
valores, atitudes e comportamentos ocorridos durante as aulas com caráter
competitivo e cooperativo e, além disso, quais destes devem se sobressair durante
as aulas.
Ele se refere às questões 2, 3 e 6 do questionário, e estão na parte superior
do quadro 2 e foram unidas a fim de facilitar a visualização, a comparação, a
discussão e o entendimento dos leitores.
A partir deste quadro, é possível observar que houve um predomínio de ações
positivas quanto aos jogos cooperativos em relação aos jogos competitivos,
enfatizando-se atitudes de valores como o respeito, a participação, a solidariedade,
a integração e o divertimento, como práticas a serem utilizadas pelos alunos no
desenrolar das aulas e do cotidiano de cada um. Percebe-se que os estudantes
reconhecem quais as atitudes que devem acontecer nas aulas, e todas elas estão
associadas a ideia da cooperação. No que se refere às atividades competitivas, fica
claro pelas respostas, que a possibilidade de acontecerem ações negativas como
brigas, trapaças, violências e exclusão são bastante significativas, fatores estes que
contrariam a filosofia de convivência dos alunos entrevistados. Segundo Bregolato
(2005), o ser humano se desenvolve, constrói o conhecimento e se humaniza
através do jogo em seu contexto lúdico de brincar. Para ela, o jogo é um fenômeno
através do qual o ser humano aprende e renova sua cultura, conhece a si mesmo e
o seu meio ambiente, relacionando-se entre si.
O quadro 3 se refere às respostas sobre as percepções e os sentimentos dos
estudantes quando participaram de atividades cooperativas.
Quadro 3: Percepções e sentimentos dos estudantes sobre as atividades PERCEPÇÕES E SENTIMENTOS QUANDO PARTICIPOU
DOS JOGOS COOPERATIVOS - Alternativas
Frequência (fi)
Felicidade 19
Vontade de jogar 21
Tristeza 01
Preguiça 01
Cooperou com os colegas 21
Foi excluído 02
Não gostou do jogo 00
Conseguiu resolver dificuldades quando elas apareceram 21
Gostou de jogar cooperativamente 20
Você foi cobrado para ganhar o jogo 00
Participou o tempo todo do jogo 13
Participou de todos os jogos 18
Respeitou a dificuldade dos colegas 15
Mudou o jeito de ver o jogo 07
Você se sentiu motivado para participar dos jogos 18
Ao analisar este quadro, verificou-se que a maioria dos alunos assinalou
alternativas coerentes com situações cooperativas, uma vez que se sentiram felizes,
motivados, respeitados e estimulados a participar das tarefas, as quais contribuíram
para o seu amadurecimento enquanto ser humano, principalmente no que se refere
à convivência com o outro. Ainda pode-se observar que apenas quatro alunos
alegaram não estar plenamente dispostos à execução das atividades, sendo que um
aluno alegou sentir preguiça, outro sentir tristeza, e ainda outros dois sentiram-se
excluídos. Porém, nenhum deles conseguiu justificar a causa de tais sentimentos.
Segundo Bregolato (2005, p.85),
a cooperação é forma de relação social que não almeja perdedores. Uns ajudam os outros para que TODOS vençam. O objetivo de cada indivíduo é alcançado quando os demais alcançarem os seus respectivos objetivos. Cada parte busca o êxito das demais partes.
Nesse caso, faz-se necessário compreender a atitude dos alunos,
oportunizando a eles o entendimento de que os jogos cooperativos têm a função de
socialização e desenvolvimento do espírito grupal e interação entre os participantes.
Orlick (1989) e Brotto (2002) destacam que a alegria/felicidade é um dos
sentimentos que mais transparecem quando as pessoas participam de atividades e
jogos cooperativos, além da motivação e da vontade de continuar jogando.
Situações que os estudantes responderam em bom número no quadro 3.
Os discentes foram questionados sobre o que seria mais importante para
eles: jogar e vencer ou jogar, aprender e se divertir. A resposta está no quadro a
seguir.
Quadro 4: O que os estudantes consideram importante nas aulas
Alternativas Frequência (fi)
Jogar e vencer 00
Jogar, aprender e se divertir 25
Na indagação seguinte os discentes tiveram que optar sobre a alternativa que
eles consideravam melhor para as aulas de Educação Física em relação aos tipos
de jogos, após terem participado das atividades.
Quadro 5: Preferência do alunado sobre os tipos de jogos Alternativas Frequência (fi)
Prefiro os jogos de vencer ou perder 00
Prefiro os jogos em que todos participam sem se preocupar em vencer ou perder
18
Prefiro os dois tipos de jogos 07
Quando questionados sobre o que consideravam importante nas aulas de
educação física, os alunos foram unânimes em enfatizar que é primordial participar
dos jogos e brincadeiras para se divertir, independente do resultado que se
apresente. Neste sentido, cabe destacar que os alunos consideraram que jogar e se
divertir é o essencial para as aulas de educação física. Para eles jogar e vencer não
tem importância ou tem uma importância menor. O divertimento é uma situação de
destaque apontada por Orlick (1989), como uma das etapas do desenvolvimento
natural dos alunos e uma oportunidade para intensificá-la, exercitando-a durante as
aulas, os movimentos, as ações que se seguirão no desenrolar cotidiano. E nesse
momento de alegria, a aprendizagem acontece melhor, pois os discentes não se
sentem pressionados para vencer ou ser o melhor, e sim aprender para colaborar e
respeitar os outros colegas.
Questionou-se também, após todas as aulas, se os discentes perceberam
que os relacionamentos melhoraram entre eles.
Quadro 6: Opinião dos alunos sobre os relacionamentos Alternativas (melhoraram?) Frequência (fi)
Sim 25
Não 00
Para confirmar a opinião anterior dos discentes, se quis saber se houve
colaboração entre eles durante as atividades. O quadro 7 apresenta o resultado.
Quadro 7: Opinião sobre colaboração entre os/as alunos/as Alternativas (colaboração) Frequência (fi)
Sim 25
Não 00
É importante destacar as respostas encontradas nos quadros 6 e 7, pois se
referem ao relacionamento entre os alunos. Ficou evidente que houve mudanças
significativas no comportamento dos alunos, na socialização entre eles, uma vez que
foi oportunizado, em vários momentos da efetivação da proposta, conversas, diálogo
acerca das necessidades de cada aluno em relação ao cumprimento dos objetivos
propostos. Assim, o auxílio, a preocupação com a participação do outro nas
atividades virou uma constante durante as aulas, demonstrando assim, como
enfatizado em Brotto (2006), a preconização de uma sensibilidade maior quando se
permite pensar a realidade via cooperação, neste caso específico dos jogos
cooperativos. Isto possibilitou o desenvolvimento do sentimento de alteridade, ou
seja, a capacidade de se colocar no lugar do outro, principalmente em momentos
decisivos.
Pensou-se que seria importante que os alunos dissessem se receberam ajuda
ou se ajudaram durante as atividades das aulas. Os quadros 8 e 9 mostram a
opinião dos estudantes.
Quadro 8: Ajuda de colegas nas atividades Alternativas Frequência (fi)
Sim 25
Não 00
Quadro 9: Ajuda aos colegas nas atividades
Alternativas Frequência (fi)
Sim 25
Não 00
O resultado da análise dos quadros 8 e 9 reforça o disposto no parágrafo
anterior, uma vez que se refere ao tema relacionamento e interação entre os alunos,
ou seja, houve uma cumplicidade entre eles no sentido de que ora eles receberam
ajuda no desenvolvimento das atividades, ora foram auxiliados nelas. Destaca-se
que esta é a filosofia dos jogos cooperativos, o de pensar o sujeito enquanto ser
permeado de várias dimensões indissociáveis, contextualizados com sua realidade
vigente. Para Soler (2006, p. 116), “os Jogos Cooperativos são propostas que
buscam diminuir a agressividade nos jogos e na própria vida, promovendo em quem
joga atitudes positivas, tais como: cooperação, solidariedade, amizade e
comunicação”. Brandl Neto (2012) em seus estudos sobre situações cooperativas,
também demonstrou que foram encontradas poucas ou nenhuma situações
violentas em 53 aulas acompanhadas que tinham conotação cooperativa. Logo,
estas atitudes vêm de encontro com os objetivos do trabalho e também da formação
humana dos alunos.
Mesmo que o quadro 2 já tenha demonstrado, questionou-se os estudantes
quanto à percepção da diminuição da violência.
Quadro 10: Percepção da diminuição da briga/violência nas atividades Alternativas Frequência (fi)
Sim 25
Não 00
Os alunos enfatizaram a melhora significativa na forma de se comportar, de
resolver situações de conflito. Houve a disseminação da pedagogia do diálogo entre
os alunos mediados pela professora, fator determinante na condução das situações
e obstáculos que se apresentaram e foram solucionados tendo como base o descrito
anteriormente. Neste sentido, as desavenças, brigas foram cedendo lugar às
conversas, de forma a resolver amigável e consensualmente os momentos de crises.
Todos os autores que escrevem sobre cooperação, como os citados neste estudo,
afirmam, de forma unânime, que a violência diminui consideravelmente quando se
realizam atividades com preceitos cooperativos.
Após a realização das análises já descritas e do resultado em questão,
evidenciou-se que a implementação obteve êxito em relação aos resultados
esperados. A partir dos conhecimentos e informações repassados aos alunos, sobre
os jogos cooperativos, estes entenderam que muitas das regras e limitações
impostas num jogo, são também de alguma forma encontradas no dia-a-dia, e têm
relação com a vida real, assim como a adoção de valores básicos de convivência
entre as pessoas. Para tanto, faz-se necessário um repensar sobre as tomadas de
decisões no sentido de valorizar a coletividade, ideal dos jogos cooperativos, em
detrimento da individualidade, preconizada na sociedade atual.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A problemática a qual permeou este trabalho de implementação partiu do
estudo e indagação sobre como um processo de intervenção pedagógica, com
atividades e jogos de caráter lúdico e cooperativo poderia fazer com que discentes
do sexto ano tivessem melhor aprendizagem e incorporassem valores e atitudes
como as inerentes às perspectivas cooperativas. Qual a importância de jogos e
brincadeiras da cultura corporal com valores e atitudes humanizantes cooperativas
para os alunos do sexto ano nas aulas de Educação Física? Com base nestes
questionamentos, foi elencado o objetivo geral para a consecução do trabalho,
voltado para a realização de um projeto de implementação compreendendo o
conteúdo Jogos e brincadeiras atrelados à organização, realização e participação
efetiva dos alunos em atividades teórico-práticas, fundamentados pela filosofia
cooperativa.
A proposta de implementação foi aplicada para a turma, a qual participou de
forma significativa e estimulante, deixando transparecer durante as aulas o gosto e o
compromisso destes com a educação física, bem como com a proposta em questão.
Prova disto foi o desenvolvimento de atitudes positivas em relação ao
comportamento e sociabilidade dos alunos durante e também ao término das
atividades propostas, conforme análise dos resultados dos quadros anteriores.
Neste sentido, pode-se perceber que a partir dos estudos e dinâmicas realizados
houve melhoria, aprendizagem e a construção de uma visão diferenciada de
valorização do aluno e sua relação com o outro.
A incorporação de novos conhecimentos e informações repassados aos
alunos, através das atividades desenvolvidas, contribuiu para a criação de uma nova
mentalidade de valorização, de humanização e de um sentimento de alteridade, pois
“o ser humano se desenvolve, constrói o conhecimento e se humaniza. O jogo em
seu contexto lúdico de brincar, é um fenômeno através do qual o ser humano
aprende e renova sua cultura, conhece a si mesmo e o seu meio ambiente”
(BREGOLATO, 2005, p.77), propiciando uma convivência melhor entre todos. Ficou
evidente após a realização deste trabalho que os alunos, na maioria das vezes,
posicionam-se frente às situações que lhes são apresentadas, baseados em
conhecimentos pautados por preconceitos e representações equivocadas,
distorcidas pelos interesses postos na sociedade atual, fundamentados na bagagem
cultural a qual pertence. Porém, uma vez que possibilitadas metodologias e recursos
didáticos diferenciados, bem como o espaço para discussão e estudos sobre a
temática, o resultado apresentou-se de forma bastante significativa e participativa
por parte dos alunos.
A partir disto, pode-se afirmar que se conseguiu chegar ao objetivo almejado,
comprovando a ideia de que a dinâmica cooperativa pode ser uma realidade
constante na sistemática das escolas, proporcionando mudanças significativas para a
formação dos sujeitos e da sociedade.
REFERÊNCIAS
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