O vínculo longitudinal como dispositivo do cuidado: Saúde da … · Figura III- Fluxograma...

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1 O vínculo longitudinal como dispositivo do cuidado: Saúde da Família e doenças crônicas em uma comunidade do Rio de Janeiropor Renata Oliveira Maciel dos Santos Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre Modalidade Profissional em Saúde Pública. Orientadora principal: Prof.ª Dr.ª Elyne Montenegro Engstrom Segunda orientadora: Prof.ª Dr.ª Valéria Ferreira Romano Rio de Janeiro, fevereiro de 2015.

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“O vínculo longitudinal como dispositivo do cuidado: Saúde da

Família e doenças crônicas em uma comunidade do Rio de Janeiro”

por

Renata Oliveira Maciel dos Santos

Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre

Modalidade Profissional em Saúde Pública.

Orientadora principal: Prof.ª Dr.ª Elyne Montenegro Engstrom

Segunda orientadora: Prof.ª Dr.ª Valéria Ferreira Romano

Rio de Janeiro, fevereiro de 2015.

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Catalogação na fonte

Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica

Biblioteca de Saúde Pública

S237 Santos, Renata Oliveira Maciel dos.

O vínculo longitudinal como dispositivo do cuidado:

saúde da família e doenças crônicas em uma comunidade

do Rio de Janeiro. / Renata Oliveira Maciel dos Santos. --

2015.

111 f. : tab. ; graf.

Orientador: Engstrom, Elyne.

Dissertação (Mestrado) – Escola Nacional de Saúde

Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2014.

1. Saúde da Família. 2. Doença Crônica. 3. Atenção

Primária à Saúde. 4. Relações Profissional-Paciente. 5.

Regionalização. I. Título.

CDD - 22.ed. – 362.10425098142

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Esta dissertação, intitulada

“O vínculo longitudinal como dispositivo do cuidado: Saúde da

Família e doenças crônicas em uma comunidade do Rio de Janeiro”

apresentada por

Renata Oliveira Maciel dos Santos

foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:

Prof.ª Dr.ª Marilene Cabral do Nascimento

Prof.ª Dr.ª Maria Helena Magalhães de Mendonça

Prof.ª Dr.ª Elyne Montenegro Engstrom – Orientadora principal

Dissertação defendida e aprovada em 10 de fevereiro de 2015.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................,p.13

2. REVISÃO DE LITERAUTURA.............................................................,p.20

2.1 Atenção Primária à Saúde ...........................................................,p.20

2.2 Vínculo Longitudinal....................................................................,p.27

2.3 Dispositivos relacionais.................................................................,p.31

2.4 O cuidado às doenças crônicas.....................................................,p.35

3. OBJETIVO GERAL..................................................................................,p.42

3.1 Objetivos específicos......................................................................,p.42

4. MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................,p.43

4.1 Delineamento do estudo................................................................,p.43

4.2 Cenário do estudo..........................................................................,p.43

4.3 Participantes da pesquisa..............................................................,p.45

4.4 Coleta de dados..............................................................................,p.46

4.5 Análise dos dados...........................................................................,p.47

4.6 Recursos necessários......................................................................,p.49

4.7 Análise crítica de riscos e benefícios.............................................,p.49

5.RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................,p.51

5.1 Parte I – As práticas das equipes de Saúde da família: entrevista com os

profissionais.......................................................................................................,p.56

5.2 Parte II- Fluxograma descritor da atenção aos usuários com

Hipertensão e Diabetes.....................................................................................,p.89

6.CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................,p.97

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................,p.99

5

ANEXOS

ANEXO I- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido-Profissional, p.107

ANEXO II - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido-Usuários, p.109

ANEXO III- Roteiro de entrevista-Profissional, p.111

ANEXO IV- Roteiro de entrevista-Pacientes, p.112

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LISTA DE FIGURAS

Figura I- Fluxograma Descritor. Fonte: Mehry, 1997, p.47

Figura II- Fluxograma descritor da atenção aos usuários com Hipertensão e Diabetes

pela percepção dos profissionais. Fonte: elaboração própria, 2015. p.90

Figura III- Fluxograma descritor da atenção aos usuários com Hipertensão e Diabetes

pela percepção dos usuários. Fonte: elaboração própria, 2015. p. 92

Figura IV - Mapa Conceitual. Fonte: elaboração própria, 2014.p. 40

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LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabela I. Caracterização dos profissionais de saúde entrevistados em uma Unidade

Básica de Saúde. Município do Rio de Janeiro, Novembro, 2014. Fonte: elaboração

própria.p. 51

Tabela II. Descrição do perfil dos entrevistados, segundo a categoria profissional.

Município do Rio de Janeiro, Novembro, 2014. Fonte: elaboração própria.p.52

Tabela III- Caracterização dos usuários entrevistados em uma Unidade Básica de Saúde.

Município do Rio de Janeiro, Novembro, 2014. P.54

Tabela IV. Listagem das estratégias promotoras de vínculo longitudinal, desenvolvidas

pelas equipes de saúde da família. Fonte: elaboração própria, 2015.p.86

Quadro I- Apresentação das categorias agrupadas nos resultados. Fonte: elaboração

própria.p. 47

Quadro II- Listagem dos fatores dificultadores da construção e consolidação do vínculo

longitudinal. p.87

RESUMO

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A interação longitudinal com o usuário tem contribuído para um cuidado

integral. Entender como se dá esta interação despertou minha motivação para realizar o

presente estudo, devido à importância do vínculo nas relações de cuidado na saúde da

família e seu papel como um dispositivo de organização do processo de trabalho das

equipes.

Estudar um atributo essencial da atenção primária à saúde como o vínculo

longitudinal é legitimar a sua atuação dentro do trabalho das equipes que atuam em uma

comunidade na cidade do Rio de Janeiro. Além de contribuir para o fortalecimento do

campo das relações interpessoais dentro deste cenário e suas peculiaridades.

Neste sentido, surgiu o questionamento de como as equipes de saúde da família

se relacionam com o vínculo longitudinal no cuidado às doenças crônicas não

transmissíveis. Tendo por objetivo de estudo: analisar as estratégias relacionadas à

construção de vínculo longitudinal, desenvolvidas pela Saúde da Família no cuidado das

doenças crônicas, em uma Clínica da Família da área 3.3, na cidade do Rio de Janeiro.

Metodologicamente, trata-se de estudo descritivo, exploratório, de abordagem

qualitativa, tendo como participantes os profissionais que atuam nas equipes de saúde

da família e usuários hipertensos e/ou diabéticos atendidos por estas equipes.

Encontrou-se como resultado a identificação do vínculo como um dispositivo

simultaneamente usual e muito relevante dentro do cotidiano das equipes, sendo

mencionado como fundamental para a realização do trabalho na perspectiva do cuidado.

Além de proporcionar relações de afetividade e confiança entre o usuário e o

trabalhador da saúde, podendo ser entendido também como dispositivo que agencia as

trocas de saberes.

Também foi possível identificar as estratégias realizadas pelas equipes e a

realização dos fluxogramas descritores com o percurso terapêutico dos usuários.

Conclui-se que as estratégias de vínculo longitudinal são reconhecidas como de

vital importância para o trabalho na saúde da família. Entretanto, por muitas vezes e por

diferentes causas, estas práticas estão perdendo espaço e deixando de cumprir com o seu

papel construtor e potencializador do cuidado individualizado.

Palavras-chave: saúde da família; vínculo; cuidado.

ABSTRACT

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The longitudinal user interaction has contributed to comprehensive care.

Understanding how this interaction aroused my motivation to perform this study

because of the importance of the bond in care relations in family health and its role as

an organizing device work teams process.

Studying an essential attribute of primary health care as the longitudinal link is

to legitimize its actions within the work of teams working in a community in the city of

Rio de Janeiro. Besides contributing to strengthening the field of interpersonal

relationships within this scenario and its peculiarities .

In this sense, questions of how family health teams came relate to the

longitudinal link in care for chronic diseases. With the purpose of study is to analyze the

strategies related to the construction of longitudinal link, developed by the Family

Health in the care of chronic diseases, a Clinic of 3.3 Family area in the city of Rio de

Janeiro.

Methodologically treat is a descriptive, exploratory study with a qualitative

approach, whose participants are professionals working in family health teams and

hypertensive patients and / or diabetic patients assisted by these teams.

It was found as a result document the link as a device simultaneously usual

and very relevant in the daily life of the teams being mentioned as essential for carrying

out the work in the caring perspective.

In addition to providing relations of affection and trust between the user and

the health worker, can also be understood as device touting knowledge exchange

It was also possible to identify the strategies used by the teams and the achievement of

flowcharts descriptors with the therapeutic route of users.

We conclude that the longitudinal link strategies are recognized as vital to

work in family health. However, many times and for different reasons, these practices

are losing ground and failing to fulfill with your builder and potentiating role of

individualized care.

Key words: family health; bond ; care.

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DEDICATÓRIA

“Aos meus pais, que me ensinaram e ainda ensinam, todos os dias, o real significado do

cuidado.”

AGRADECIMENTOS

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Agradeço primeiro a Deus por toda proteção, pelas oportunidades e pelas vitórias

conquistadas, durante todo o caminho percorrido.

Agradeço aos meus pais, que sempre cuidaram de mim.

Agradeço aos meus irmãos, Rafael e Maria Clara, por toda alegria que acrescentam à

minha vida.

Agradeço a toda equipe do Marcos Valadão, pela parceria, sem a qual este projeto

não seria possível, mas principalmente a todos da minha equipe Coelho Neto, que

sempre me ajudam e abraçam os meus projetos.

Agradeço as minhas queridas orientadoras, Elyne e Valéria, por toda escuta,

paciência, disponibilidade e trocas nesse período de muito aprendizado.

Agradeço aos usuários que já tive a oportunidade de cuidar e me proporcionaram

sempre o meu crescimento.

Sem vocês, esse sonho não seria possível, amo vocês. Muito obrigada!

12

“Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que

sonhando, vivendo que esperando.” (Sarah Westphal)

1 INTRODUÇÃO

13

A Atenção Primária à Saúde (APS) é entendida como uma estratégia de organização

da atenção à saúde voltada para responder de forma regionalizada, contínua e

sistematizada à maior parte das necessidades de saúde de uma população, integrando

ações preventivas e curativas, bem como a atenção a indivíduos e comunidades.

(STARFIELD, 2002)

Desta maneira, envolve, no Brasil, um conjunto de práticas integrais em saúde,

direcionadas a atender e responder as necessidades individuais e coletivas dos sujeitos,

com a atribuição de ser porta de entrada prioritária, apesar de não exclusiva, para a Rede

de Atenção à Saúde do SUS (Sistema Único de Saúde). (GIOVANELLA e

MENDONÇA, 2012)

Assim, a Estratégia de Saúde da Família (ESF), enquanto modelo preferencial

para orientar a APS em nosso país, se reafirma através dos documentos do Ministério da

Saúde, a exemplo da nova Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2012); como

um novo modelo de atenção primária ou básica à saúde, configurando-se como um

conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção, a

proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a

redução de danos e a manutenção da saúde. (BRASIL, 2012)

Dentro deste contexto, entende-se que a ESF tem o objetivo de desenvolver uma

atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas, nos

determinantes e condicionantes de saúde das coletividades através de uma visão mais

integral do sujeito, da comunidade e do contexto social e familiar que o indivíduo está

inserido. (MENDES, 2012)

Este novo modelo de atenção se orienta pelos princípios da universalidade, da

acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção, da

responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social, promovendo o

desenvolvimento de ações intersetoriais, através da participação da comunidade e

humanização das práticas em saúde (BRASIL, 2012); também se orienta pela

possibilidade de produzir um específico processo de trabalho.

Processo de trabalho onde a adscrição dos usuários se caracteriza como

estratégico tanto para o sucesso da proposta de mudança de modelo de atenção quanto

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para a viabilização de um de seus mais nobres princípios: a vinculação dos usuários às

equipes de saúde.

A asdcrição dos usuários é definida pela Política Nacional de Atenção Básica

(BRASIL, 2012) como um processo de vinculação de pessoas e/ou famílias e grupos a

profissionais/equipes, com o objetivo de ser referência para o seu cuidado. Esta

adscrição tem por escopo proporcionar o desenvolvimento de relações de vínculo e

responsabilização entre as equipes e a população, garantindo a longitudinalidade do

cuidado. (BRASIL, 2012)

Sabendo que o processo de cadastramento dos usuários é feito prioritariamente

pelo critério do espaço geográfico local, entende-se que o mesmo, ao delimitar uma área

de abrangência, agrega à cada equipe uma responsabilidade territorial. Desta forma as

famílias dentro de cada território, tornam-se conhecidas por toda a equipe que, por sua

vez: identifica problemas de saúde, situações de vulnerabilidade e risco existentes,

estabelece estratégias de solução e projetos terapêuticos singulares em equipe; sempre

assumindo o conceito de co-responsabilidade como princípio.

Assim, reafirmamos que um dos objetivos essenciais neste processo é o de

promoção de co-responsabilidade ou co-construção da saúde, visto que esta visa a

autonomia do indivíduo e profissional em graus variáveis, uma vez que estes dependem

de processos dinâmicos que incluem perdas e ganhos para a reformulação de um

cuidado participativo. (CAMPOS, 2010)

Desta maneira, a estratégia de saúde da Família tem por atribuição o

estabelecimento de vínculo com a população, possibilitando o compromisso e a

continuidade da atenção; o que configura um novo modo de agir em saúde em que as

responsabilidades pelos cuidados devem ser compartilhadas entre as famílias e as

equipes. (GELINSKI, 2011)

Por isto o vínculo, que por sua vez, consiste na construção de relações de

afetividade e confiança entre o usuário e o trabalhador da saúde, permite o

aprofundamento do processo de corresponsabilização na saúde, o que, por si só,

configura um sólido potencial terapêutico. (BRASIL, 2012)

A defesa da utilização do vínculo como um dispositivo no cuidado é feita por

Mehry (2003), quando caracteriza as tecnologias dentro do trabalho em saúde e

apresenta as tecnologias leves (relações humanas), leve-duras (saberes estruturados) e

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duras (aparato tecnológico), afirmando que as tecnologias leves devem estar presentes

em todo o momento do trabalho vivo em ato na saúde; se consolidando através da ação

assistencial de um trabalhador de saúde e um usuário, por meio do qual ocorre um

encontro entre duas pessoas atuando uma sobre a outra em um processo relacional e

singular.

Lembramos que o vínculo associado às tecnologias leves dentro do trabalho da

ESF tem por princípio estabelecer responsabilização dos profissionais pela área adscrita

e pelo usuário cadastrado, afim de que essa interação cumpra um dos mecanismos de

trabalho proposto pelas diretrizes que norteiam a prática da estratégia de saúde família.

(COELHO E JORGE, 2009)

Desta maneira, muitos autores do campo da APS, defendem que quanto maior o

vínculo e mais apropriado for, melhor será o resultado da terapêutica proposta, porque

maiores serão as trocas de saberes entre os trabalhadores de saúde, usuários e

comunidade.

Ratificando este argumento, Pinheiro e Oliveira (2011) defendem que para ser

alcançada a humanização do cuidado na saúde da família, torna-se essencial a utilização

de dispositivos relacionais como vínculo, para que haja mudança no processo de

trabalho do profissional da saúde por meio da criação de uma relação denominada por

esses autores de intercessão partilhada, sendo exercida pelo trabalhador e usuário,

família e comunidade.

Neste sentido, o vínculo manifesta-se na relação entre profissional/equipe e

usuário por meio da percepção de segurança e confiança no profissional, facilitando

assim que o usuário exponha suas necessidades ao profissional, se apresentando mais

acessível aos questionamentos, diálogo e às orientações profissionais, o que propicia um

cuidado mais abrangente ao longo do tempo. (BARATIERI et al, 2012).

O vínculo pode ser entendido também como dispositivo que agencia as trocas de

saberes entre o técnico e o popular, o científico e o empírico, entre o objetivo e o

subjetivo, culminando para a realização de atos terapêuticos conformados a partir do

coletivo e do individal, favorecendo a formação de outros significados para a

integralidade da atenção à saúde (SANTOS et al, 2008).

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Assim, como afirmam Monteiro et al (2009), um dos grandes avanços ocorridos

dentro da estratégia de saúde da família, além da mudança alcançada no modelo

assistencial, foi a valorização das relações humanas.

Starfield (2002) defende que a longitudinalidade ou vínculo longitudinal é um

dos atributos da atenção primária sendo considerada como uma característica central e

exclusiva deste nível de atenção, e conceituada pela autora como o acompanhamento

realizado ao usuário ao longo do tempo por um médico de família e/ou equipe de saúde

da família para os múltiplos episódios de doença e cuidados preventivos.

Dentre os diversos conceitos encontrados na literatura, Cunha e Giovanela

(2011) definem o vínculo longitudinal como a relação entre um médico/equipe de SF e

usuário que se estende além de episódios específicos de doença. Esta relação é

fortalecida por um senso de afiliação, frequentemente expresso em termos de contrato

implícito de lealdade por parte do paciente e responsabilidade clínica por parte da

equipe.

É possível encontrar na literatura (CUNHA e GIOVANELLA, 2011) relatos

sobre a dificuldade em mensurar a eficácia do vínculo longitudinal nas ações em saúde,

sendo observada que a maioria dos estudos indica forte associação entre continuidade

do cuidado e resultados positivos, como diminuição da taxa de internações e maior

satisfação do usuário.

Alguns autores (BRUNELLO et al., 2010) defendem o vínculo longitudinal

como base do modelo assistencial, pois acreditam que este apresenta características que

subsidiam a co-gestão do cuidado, facilitando a atenção e promovendo melhor adesão

às estratégias de saúde.

Como enfermeira de família lotada em um bairro do município do Rio de Janeiro

(Acari; A.P. 3.3), acompanhei o processo de implantação da ESF desde seu início: as

modificações estruturais para construção da Clínica da Família, a mudança do processo

de trabalho no novo modelo, o cadastramento e adscrição da clientela do território,

sendo possível participar e observar o processo de vinculação da população às sete

equipes de saúde da família no referido território.

Como resultado da minha prática profissional, percebo o quanto esta interação

longitudinal com o usuário tem sido importante para um cuidado integral. Observo, de

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forma empírica a singularidade de práticas dos profissionais centradas nos dispositivos

relacionais voltadas para construção de vínculos com os usuários. Estudar tais práticas

desenvolvidas pelos profissionais desperta minha motivação para realizar o presente

estudo, por entender a importância do vínculo nas relações de cuidado na ESF e seu

papel como um dispositivo de organização do processo de trabalho das equipes.

Assim, escolhi estudar o cuidado no foco das doenças crônicas, por considerar

que aí poderia identificar claramente dispositivos de cuidado em uma população que

necessita de acompanhamento contínuo, demandando um trabalho sistemático na APS.

Um dos pressupostos colocados foi o de que considerando que o

acompanhamento adequado dos usuários está relacionado a diminuição de

morbimortalidade por meio de uma APS forte e resolutiva, atentando para grupos

vulneráveis como portadores de doenças crônicas não-transmissíveis; supomos que as

equipes de saúde da família se mobilizariam para desenvolver estratégias de

fortalecimento de vinculo com essa clientela.

Entender a influência de estratégias de vínculo no grupo de portadores de

doenças crônicas não transmissíveis se justifica diante da transição demográfica do

Brasil, onde há maior envelhecimento da população, favorecendo o aparecimento das

mesmas; além do que elas representam atualmente 50% das taxas de mortalidade no

Brasil (MENDES, 2012). No entanto, sabemos que adesão a tratamento e mudanças nos

modos de vida neste seguimento, muitas vezes se constituem como dificuldades,

gerando a necessidade de estratégias criativas para mobilizar o tratamento e

acompanhamento dos usuários.

Achamos relevante também, registrar práticas e tecnologias de vínculo, uma vez

que não se apresentam descritas ou instituídas em protocolos de atenção. Por isto,

entender e descrever estas estratégias de cuidado singulares e complexas incorporadas

ao trabalho destas equipes de saúde traduz a proposta deste estudo.

Retomando as justificativas de motivação deste estudo o tema de pesquisa surgiu

logo após minha graduação acadêmica em Enfermagem, quando ingressei na ESF na

cidade do Rio de Janeiro, no ano de 2010, que se apresentava naquele momento em

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crescimento de cobertura populacional, configurando uma proposta no auge de sua

expansão.

Neste momento, pude observar as relações de vínculo estabelecidas na

comunidade com as equipes de saúde, nesta ocasião ainda na modalidade de PACS

(Programa de Agentes Comunitários de Saúde) e posteriormente, no modelo da ESF,

que se perdura até o momento como Clínica da Família.

Diante do visto e do sentido no cotidiano do trabalho, surgiu, enquanto pergunta

de pesquisa:

Como as equipes de Saúde da Família constroem o vínculo longitudinal no

cuidado às doenças crônicas não transmissíveis?

A hipótese deste estudo é que diante da atuação das equipes de saúde da família

na atenção primária do Rio de Janeiro, acredita-se que as mesmas desenvolvam novos

processos, singulares e complexos, a favor do fortalecimento do vínculo longitudinal

nesta população.

A cidade do Rio de Janeiro por ser um grande centro urbano, também possui

áreas dominadas pela violência, o que traduz certa necessidade de realizar medidas de

promoção de vínculo adequadas a este contexto, desta forma, supõe-se que estas ações

sejam diferenciadas para a realização do cuidado na população portadora de doenças

crônicas não-transmissíveis, que necessita de acompanhamento contínuo por estas

equipes.

Precisamos considerar que há heterogeneidade no modelo de atenção em

grandes centros urbanos, onde a implantação da ESF traz enormes desafios para

gestores e profissionais, principalmente devido a iniquidades sociais, econômicas,

ambientais, nas condições de saúde e vida da população. Tais iniquidades estão

fortemente presentes no cenário proposto para o presente estudo: a área de Acari.

Trata-se de uma comunidade empobrecida, dominada pela violência e pelo

tráfico de drogas, dificultando muitas vezes o acesso dos usuários aos serviços de saúde

e a plena atuação da equipe no território.

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Além disto, outra questão é a frequente rotatividade de profissionais dentro das

equipes, principalmente da classe médica e a falta de vínculo empregatício estável

destes profissionais, o que implica diretamente na relação de vínculo entre equipe-

usuário. Outro grande problema é o de falta de profissionais com especialidades dentro

da área de atuação e a frequente ausência de estratégias de qualificação profissional.

Este estudo possui relevância principalmente no âmbito das micropolíticas e em

dispositivos relacionais no trabalho em saúde, uma vez que o uso destes dispositivos e

ferramentas é defendido pelas políticas durante o trabalho em ato.

Além disso, no atual momento que se apresenta a APS na cidade do Rio de

Janeiro, que veio proveniente de uma grande expansão de forma acelerada e rápida

(também desorganizada), se torna imperativo qualificar a atenção prestada nestes

cenários de cuidado, legitimando assim ferramentas relacionais que visam ratificar o uso

destas tecnologias.

Sendo assim, o estudo das tecnologias leves dentro da Saúde da Família traduz

sua importância por ser tratar de dispositivos que são utilizados constantemente dentro

do trabalho em saúde e mais especificamente na SF pela proposta do modelo e pelos

atributos que norteiam esta atenção.

Estudar um atributo essencial da Atenção Primária que é o vínculo longitudinal é

legitimar a sua atuação dentro da prática das equipes da cidade do Rio de Janeiro e

fortalecer o campo das relações interpessoais dentro deste cenário e suas peculiaridades.

20

2. REVISÃO DE LITERAUTURA

2.1 Atenção Primária à Saúde

Atenção primária à saúde (APS) refere-se a uma estratégia de organização da

atenção à saúde, de primeiro contato, ou de primeiro nível, de fácil acesso, voltada para

responder de forma regionalizada, e com a responsabilidade de dar respostas as afecções

e necessidades de saúde mais comuns, sendo destinada a resolver a maioria dos

problemas de saúde de uma população. (OPAS/OMS, 2005)

Historicamente, a ideia de atenção primária foi utilizada como forma de

organização dos sistemas de saúde pela primeira vez no chamado Relatório Dawnson,

em 1920. Esse documento procurou, de um lado, contrapor-se ao modelo biomédico de

cunho curativo, focalizado em intervenções do modelo biomédico, fundado no

reducionismo biológico e na atenção individual, e por outro, constituir-se numa

referência para a organização do modelo de atenção inglês, que começava a preocupar

as autoridades daquele país, devido ao elevado custo, à crescente complexidade da

atenção médica e à baixa resolutividade. (MENDES, 2012)

Em 1978 na conferência de Alma-Ata, assim denominada a Conferência

Internacional sobre Atenção Primária à Saúde, organizada pela Organização Mundial da

Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), realizada na

cidade do Cazaquistão, a APS foi entendida como atenção à saúde essencial, fundada

em tecnologias apropriadas e custo-efetivas, orientada por princípios de solidariedade e

equidade, com o foco na proteção e promoção da saúde e acesso garantido a todas as

pessoas e famílias do território mediante a garantia de plena participação destes.

Neste sentido, a discussão sobre a abordagem da APS ganha força e passa a ser

entendida como o modelo que além de promover saúde deve compreender a saúde como

direito humano, apresentando abordagem para os determinantes sociais e políticos mais

amplos, defendendo a ideia de que as políticas de desenvolvimento devem ser inclusivas

e apoiadas em compromissos financeiros e de legislação para promover a equidade em

saúde. (MENDES, 2012)

Neste momento a APS ainda se apresentava com abordagem pouco resolutiva,

pois focava em restritas ações de saúde voltadas para população de baixo poder socio-

econômico com a utilização de tecnologias de baixa densidade.

21

As discussões sobre a APS evoluíram e apresentaram significativas mudanças

em suas abordagens, pois as discussões sobre uma APS seletiva e não efetiva para

solucionar problemas avançaram de forma que não se encaixava como eficiente para ser

o modelo de atenção a orientar toda a rede de assistência a saúde.

A seguir as abordagens de APS e as evoluções sofridas em seus modelos.

APS Seletiva- Enfoca um número limitado de serviços de alto impacto para

enfrentar alguns dos desafios de saúde mais prevalentes nos países em

desenvolvimento. Os serviços principais eram: monitoramento de crescimento

infantil, terapia de reidratação oral, amamentação e imunização e algumas vezes

incluíram complementação alimentar, alfabetização de mulheres e planejamento

familiar.

Primeiro Nível de Atenção: refere–se à porta de entrada do sistema de saúde e ao

local de cuidados contínuos de saúde para a maioria das pessoas, na maior parte

do tempo. Trata–se da concepção mais comum dos cuidados primários de saúde

em países da Europa e em outros países industrializados. Em sua definição mais

estreita, a abordagem é diretamente relacionada à disponibilidade de médicos

atuantes com especialização em clínica geral ou medicina familiar.

APS abrangente de Alma-Ata: A Declaração de Alma- Ata define a APS como

atenção essencial em saúde com base em métodos práticos, cientificamente

sólidos e socialmente aceitáveis, bem como tecnologia disponibilizada

universalmente a indivíduos e famílias na comunidade por meio de sua plena

participação e a um custo que a comunidade e o país possam manter. É o

primeiro nível de contato com indivíduos, a família e a comunidade trazendo os

cuidados de saúde o mais próximo possível de onde as pessoas vivem e

trabalham, e constitui o primeiro elemento de um processo contínuo de atenção

em saúde.

Abordagem de Saúde e de direitos humanos: Enfatiza a compreensão da saúde

como direito humano e a necessidade de abordar os determinantes sociais e

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políticos mais amplos da saúde. Difere em sua ênfase sobre as implicações

sociais e políticas da declaração de Alma-Ata mais do que sobre os próprios

princípios. Defende que o enfoque social e político da APS deixaram para trás

aspectos específicos de doenças e que as políticas de desenvolvimento devem

ser mais inclusivas, dinâmicas, transparentes e apoiadas por compromissos

financeiros e de legislação. (OPAS/OMS, 2005)

Starfield (2002) defende a abordagem da APS abrangente, e apresenta suas

características específicas para que esta cumpra sua finalidade, sendo: a prestação de

serviços de primeiro contato, ou seja, a porta de entrada do sistema de saúde; o vínculo

longitudinal, que fornece a continuidade da relação equipe-usuário ao longo da vida; o

cuidado integral; a coordenação do cuidado; centralidade na família, competência

cultural e orientação para comunidade.

Estas características são caracterizadas em atributos essenciais e derivados da

APS abrangente, para que atenda às necessidades de saúde da população por meio de

serviços próprios da atenção primária e também de outros níveis de atenção, sendo

estes:

Atributos essenciais:

Acesso de primeiro contato: acessibilidade e utilização do serviço de saúde sempre

que apresentar alguma necessidade de saúde ou para acompanhamento do usuário,

sendo esta a porta de entrada preferencial do sistema de saúde.

Longitudinalidade: existência de uma fonte continuada de atenção, assim como a

utilização do serviço ao longo do tempo, para acompanhamento durante anos. A relação

entre a população e sua fonte de atenção deve refletir em uma relação interpessoal

intensa que expresse a confiança mútua entre os usuários e os profissionais de saúde.

Integralidade: leque de serviços disponíveis e prestados pelo serviço de atenção

primária. Ações que o serviço de saúde deve oferecer para que os usuários recebam

atenção integral, seja em relação ao biopsicossocial do processo saúde-doença, e em

ações de promoção, prevenção, cura e reabilitação. Além de proporcionar cuidado

holístico ao indivíduo, estas ações incluem tanto as ações oferecidas pela APS como

proporcionar o acesso a outros níveis de atenção.

23

Coordenação do cuidado: refere à continuidade da atenção mesmo que transpasse

as competências da APS, é a promoção da integração de todo o cuidado que o usuário

necessita em outros níveis de atenção. Promove o acesso do usuário para outros serviços

de saúde.

Atributos derivados da APS:

Orientação familiar: o reconhecimento do contexto e da dinâmica familiar para bem

avaliar como responder às necessidades de saúde de seus membros.

Orientação Comunitária: a comunicação e o reconhecimento das diferentes

necessidades dos diversos grupos populacionais, sendo facilitadas pela integração da

equipe de atenção primária de membros da comunidade e trabalhadores comunitários de

saúde –ACS.

Competência cultural: reconhecimento de diferentes necessidades dos grupos

populacionais, suas características étnicas, raciais e culturais, entendendo suas

representações dos processos saúde-doença. (OPAS/OMS; HAIZEN 2013)

Durante o período de implementação do SUS (Sistema Único de Saúde), no

Brasil, a APS passou a ter a denominação de Atenção Básica à Saúde, sendo que neste

estudo será utilizado o termo Atenção Primária à Saúde, por ser o termo mais usual na

literatura internacional.

Atenção Primária à Saúde é definida pela política nacional de 2012, como um

conjunto de ações e serviços de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a

promoção, a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, tratamento,

reabilitação e a manutenção da saúde com objetivo de desenvolver uma atenção integral

que ocasione impacto na saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes sociais de

saúde das coletividades. (BRASIL, 2012)

Orienta-se pelos princípios da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do

cuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização e da humanização. Um dos

seus fundamentos e diretriz é adscrição dos usuários que proporciona o

desenvolvimento das relações de vínculo entre a equipe de saúde e a população.

(BRASIL, 2012)

24

No Brasil, a consolidação da Atenção Primária no Brasil foi marcada, em 2006,

com a formulação da Política Nacional de Atenção Básica que reafirmou a Saúde da

Família como estratégia e modelo prioritário para organização da atenção básica. Neste

sentido, como o SUS tinha como princípio ordenar a integralidade da atenção, já não se

podia continuar a ofertar uma APS como programa de atenção primária seletiva e exigia

o fortalecimento desse nível de atenção à saúde. Tratava-se, então, de buscar um modelo

de APS que fosse capaz de concretizar a integralidade das ações de saúde. (MENDES,

2012)

Após décadas de privilégio à atenção hospitalar, herança da medicina

previdenciária, em que a alocação de recursos federais em estados e municípios se dava

com base principalmente na produção de serviços e na capacidade instalada, os

esforços, programas e investimentos públicos passaram a se concentrar na atenção

primária, com a adoção do Programa de Saúde da Família. (ESCOREL et al, 2007)

Inicialmente, a proposta da implantação da Saúde da Família caracterizava-se

como um programa limitado com foco em áreas de maior risco social voltado para a

população de menor nível socioeconômico, e aos poucos, tornou-se a principal

estratégia estruturante dos sistemas municipais de saúde e modelo de APS no Brasil.

(GIOVANELLA E MENDONÇA et al, 2012)

O Programa de Saúde da Família (PSF) foi antecedido pela implantação do

Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Em janeiro de 1994, foram

formadas as primeiras equipes de Saúde da Família, incorporando e ampliando a

atuação dos agentes comunitários. (ABRAHÃO, 2007)

O PACS, tomado isoladamente, constituiu uma proposta de atenção primária

seletiva, incompatível com os princípios do SUS. Sua operacionalização começou a

gerar uma demanda por serviços de saúde que deveria ser respondida com tecnologias

de maior densidade. Caracteriza-se por experiência pioneira de APS que agregava aos

agentes comunitários de saúde e enfermeiros generalistas, formando uma equipe que

trabalhava com populações adscritas territorialmente e organizadas em famílias. Esse

modelo serviu de base para que o Ministério da Saúde lançasse, no início de 1994, como

política oficial da APS no País, o PSF. (MENDES, 2012)

Assim, a Saúde da Família formulada inicialmente como um programa, passa a

figurar no quadro do Ministério da Saúde, como estratégia estruturante dos sistemas

25

municipais de saúde, respondendo as críticas de que a saúde da família fosse um

programa voltado para a população pobre e com baixo investimento tecnológico.

(ABRAHÃO, 2007)

Neste sentido, o ministério da Saúde defende a Estratégia de Saúde da Família,

como o modelo de atenção prioritário para a organização da Atenção Primária em saúde

no Brasil. Este modelo de atenção se propõe a atuar sobre os determinantes sociais de

saúde em seus distintos níveis por meio de ações integradas de promoção da saúde e de

prevenção, cuidado, cura, reabilitação e paliação das condições de saúde. (BRASIL,

2012)

Esta foi a opção estratégica adotada e se orienta pelos princípios da

territorialização, adscrição geográfica da população, atuação intersetorial, trabalho

multiprofissional realizado em equipe por médicos, enfermeiros, técnicos de

enfermagem, odontólogos, técnicos em saúde bucal, agentes comunitários de saúde e,

eventualmente, outros profissionais de saúde. (MENDES, 2012)

Um dos dispositivos essencial para que a saúde da família possa realizar suas

atribuições de vigilância à saúde e acompanhamento integral ao usuário é a formação de

vínculo entre a equipe e a população adscrita, sendo esta definida pela política nacional

de humanização como ferramenta indispensável à estratégia de saúde da

família.(BRASIL, 2004)

As equipes também possuem por atribuição conhecer as necessidades de saúde e

as situações de risco existentes na comunidade dentro de sua área de atuação, elaborar

um programa de atividades para enfrentar os determinantes do processo saúde/doença,

desenvolver ações educativas e intersetoriais relacionadas com os problemas de saúde

identificados e prestar assistência integral às famílias sob sua responsabilidade.

(ESCOREL et al, 2007)

O trabalho das equipes da Saúde da Família é o elemento-chave para a busca

permanente da comunicação e troca de experiências e conhecimentos entre os

integrantes da equipe e desses com o saber popular do Agente Comunitário de Saúde.

As equipes são compostas, no mínimo, por um médico de família de 40 horas ou 2

médicos de 20 horas, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e 6 agentes

comunitários de saúde. Quando ampliada, conta ainda com: um dentista, um auxiliar de

consultório dentário e um técnico em higiene dental. (BRASIL, 2014)

26

Sendo assim, as equipes de ESF da Atenção Primária devem realizar ações

individuais e coletivas situadas no primeiro nível, voltadas à promoção da saúde,

prevenção de agravos, tratamento e reabilitação. Orientando-se pelos princípios da

universalidade, da acessibilidade e da coordenação do cuidado, do vínculo longitudinal,

da integralidade, da co-responsabilização, da humanização, da equidade e da

participação social. (BRASIL, 2006)

O processo de trabalho das equipes de Saúde da família ocorre principalmente

nas unidades de atenção básica de saúde, nas residências e na mobilização da

comunidade, caracterizando-se: como porta de entrada de um sistema hierarquizado e

regionalizado de saúde; por ter território definido, com uma população delimitada, sob a

sua responsabilidade; por intervir sobre os fatores de risco aos quais a comunidade está

exposta; por prestar assistência integral, permanente e de qualidade; por realizar

atividades de educação e promoção da saúde.

Além de estabelecer relações de vínculos de compromisso e de co-

responsabilidade com a população; por estimular a organização das comunidades para

exercer o controle social das ações e serviços de saúde; por utilizar sistemas de

informação para o monitoramento e a tomada de decisões; por atuar de forma

intersetorial, por meio de parcerias estabelecidas com diferentes segmentos sociais e

institucionais, de forma a intervir em situações que transcendem a especificidade do

setor saúde e que têm efeitos determinantes da atenção. (BRASIL, 2014)

Dentro deste contexto, observa-se que dentro do processo de trabalho das

equipes de saúde da família, o vínculo longitudinal é uma ferramenta imprescindível

neste nível de atenção, estando intimamente ligada à adscrição dos usuários.

Uma das principais diretrizes que norteia o processo de trabalho das equipes de

saúde da família é a definição de território adstrito, esta diretriz se caracteriza como

uma estratégia central neste modelo, pois através desta estratégia é possível reorganizar

o trabalho em saúde e das equipes, através da programação de operações intersetoriais e

ações de promoção, prevenção e atenção à saúde dentro do território. (MONKEN E

BARCELLOS, 2005)

A adscrição da população do território por limites geográficos se justifica devido

esse reconhecimento ser um passo básico para a caracterização da população e de seus

problemas de saúde, bem como para a avaliação do impacto dos serviços sobre os níveis

de saúde dessa população. Além disso, permite o desenvolvimento de um vínculo entre

27

os serviços de saúde e a população, mediante práticas de saúde orientadas por categorias

de análise de cunho geográfico. (MONKEN E BARCELLOS, 2005)

Para a organização do trabalho na ESF é importante o reconhecimento dos

territórios e seu contexto de inserção, uma vez que estes materializam diferentemente as

interações humanas e os problemas de saúde, permitindo a gestores, profissionais e

usuários do SUS compreender a dinâmica dos lugares e dos sujeitos (individual e

coletivo), desvelando as desigualdades sociais e as iniquidades em saúde. (GONDIM E

MONKEN, 2012)

Na adscrição territorial, a unidade atende somente a população residente em

determinada área, para isso, delimita-se uma área geográfica de abrangência da unidade

de saúde; os residentes na área são cadastrados pela unidade, e a unidade é de uso

exclusivo desses moradores. (GIOVANELLA E MENDONÇA, 2012)

A recomendação da Política Nacional de Atenção Básica (2012) é que cada

equipe de Saúde da Família seja responsável por, no máximo, 4 mil pessoas, sendo a

média recomendada de 3 mil pessoas ou menos quanto maior o grau de vulnerabilidade.

O território define em si a adscrição dos usuários, propiciando relações de vínculo,

afetividade e confiança entre pessoas e/ou famílias e grupos a profissionais/equipes,

sendo que estes passam a ser referência para o cuidado, garantindo a continuidade e a

resolutividade das ações de saúde e a longitudinalidade do cuidado. (BRASIL, 2012)

2.2 Vínculo longitudinal

Na perspectiva da Atenção Primária a Saúde, deve ocorrer uma íntima relação

do vínculo com as demais dimensões que a integram quer seja o acesso, a porta de

entrada, o elenco de serviços, a coordenação, o enfoque família, a orientação para a

comunidade e a formação profissional e a continuidade do cuidado. (GOMES, 2009)

O vínculo é entendido como um atributo do SUS e deve ser valorizado como um

elo que une o profissional ao usuário promovendo as práticas preconizadas dentro da

política de humanização (MONTEIRO, 2009) e se estabelece na relação equipe de

saúde-usuário, construída ao longo do tempo com base na confiança do usuário nos

28

profissionais e na responsabilização da equipe pelo cuidado e promoção da saúde dos

usuários.

Este também é definido pela Política Nacional de Atenção Básica, como a

construção de relações de afetividade e confiança entre o usuário e o trabalhador de

saúde, favorecendo o aprofundamento do processo de corresponsabilização pela saúde,

construindo ao longo do tempo um potencial terapêutico. (BRASIL, 2012)

O vínculo favorece a referência do usuário ao serviço de saúde, viabilizando que

este reconheça a unidade de saúde a que está vinculado como fonte satisfatória e

habitual de atenção às suas necessidades de saúde (BARATIERI, 2012). O

estabelecimento do vínculo permite que haja uma negociação que caminhe para um

consenso das necessidades e responsabilidades, impossibilitando que o ato terapêutico

esteja centrado apenas no trabalhador de saúde ou apenas no desejo do usuário, mas que

haja a interação entre ambas as possibilidades na busca da melhor conduta cuidadora.

(SANTOS et al, 2008)

Para que se estabeleçam as relações de vínculo, as autoras GIOVANELLA E

MENDONÇA (2012) defendem que é necessário que a APS desempenhe sua função de

porta de entrada do sistema adequadamente, sendo acessível à população, eliminando as

barreiras financeiras, geográficas, organizacionais e culturais, possibilitando a utilização

do serviço por parte dos usuários sempre que este necessite de atenção, seja como no

caso de adoecimento ou para acompanhamento rotineiro de sua saúde.

Ao desempenhar o papel de porta de entrada do sistema de saúde, inicia-se o ato

de acolher, escutar e oferecer resposta resolutiva para a maioria dos problemas de saúde

da população, minorando danos e sofrimentos e responsabilizando-se pela efetividade

do cuidado, ainda que este seja ofertado em outros pontos de atenção da rede,

garantindo a integralidade da atenção. (BRASIL, 2012)

Neste sentido, é fundamental para o fortalecimento do vínculo que aconteça um

bom acolhimento deste usuário. O acolhimento define-se como ato que implica em bem

receber, escutar, oferecer proteção e amparo e dar resposta capaz de resolver o problema

apresentado pelo usuário. (GIOVANELLA E MENDONÇA, 2012)

29

Sendo assim, esta mesma autora defende que a junção destes atributos é

essencial para que seja formada a relação equipe-usuáro e assim possa acontecer o

acompanhamento longitudinal do indivíduo e família através do estabelecimento de

vínculo, que é feito através do acesso disponível à equipe e do acolhimento do indivíduo

para que se estabeleça relação de confiança nestes espaços.

Starfield (2002) defende que a longitudinalidade, que representa a

responsabilidade longitudinal pelo usuário, para com a continuidade da relação

profissional/equipe/unidade de saúde-usuário ao longo da vida, independente de doença

ou ausência desta.

Na literatura especializada brasileira, a palavra longitudinalidade não é

considerada usual, sendo mais utilizado por estudos nacionais os termos vínculo e

continuidade do cuidado.

Nesse sentido, Cunha e Giovanella (2011) propõem que, na literatura referente à

APS no Brasil, se faça a opção pela utilização do termo vínculo longitudinal, sendo este

definido como relação terapêutica estabelecida entre usuário e profissional da equipe de

APS, que se traduz no reconhecimento e na utilização da unidade básica de saúde como

fonte regular de cuidado ao longo do tempo.

Neste estudo considera-se o termo vínculo longitudinal como sinônimo para

longitudinalidade, continuidade da atenção e continuidade do cuidado.

Cunha e Giovanella (2011) afirmam que o vínculo longitudinal se refere à

relação pessoal entre equipe e usuário ao longo do tempo e que a presença deste atributo

dentro das relações terapêuticas favorece uma continuidade do cuidado com a equipe de

saúde da família e o usuário e em muitos estudos indicam associação com a eficiência

na APS.

Starfield (2002) afirma que a ideia de vínculo está relacionada à

longitudinalidade, compreendida como relação terapêutica, estreita e duradoura entre

usuários e profissionais de saúde. O vínculo promove a continuidade do cuidado, evita

desnecessárias intervenções e aumenta adesão do usuário a terapêutica. (BRUNELLO et

al, 2010)

As relações de vínculo longitudinal em muito podem contribuir para o processo

de adesão terapêutica do paciente, uma vez que este passa a entender a significância de

30

seu tratamento, a confiar nas recomendações dos profissionais que o atendem e seguir

corretamente as recomendações prescritas, do mesmo modo que os profissionais passam

a desempenhar suas ações, buscando o bem-estar do usuário do serviço e

proporcionando uma assistência holística. (BRUNELLO et al, 2010)

O vínculo entre profissional de saúde e usuário tem a capacidade de estimular a

autonomia e a cidadania, por ser um recurso terapêutico que promove a participação do

usuário durante a prestação de serviços, viabilizando a atuação deste de forma ativa no

seu plano terapêutico, ampliando a eficácia das ações de saúde. (GUSMÃO, 2006)

Ratificando este argumento, Souza (2010) afirma que o vínculo longitudinal

deve impulsionar o desenvolvimento de práticas que resgatem a autonomia do sujeito,

produzindo através desta negociação um cuidado integral, favorecendo a co-gestão do

cuidado, facilitando a adesão terapêutica do usuário ao tratamento.

A literatura internacional também defende o vínculo longitudinal como um

atributo essencial da atenção primária estando associado fortemente a diminuição de

custos com a saúde, aumento da resposta do usuário aos cuidados de saúde assim como

adesão ao cuidado por ser muito valorizada pelo usuário. (KRISTJANSSON et al, 2013)

Estes autores também associam o vínculo longitudinal a melhores efeitos

positivos com menos custos, tais como diminuição das internações hospitalares, das

visitas às emergências e menos faltas laborais, além disso, afirmam ser o modelo

adequado para o manejo de usuários com doenças crônicas. (KRISTJANSSON et al,

2013)

Gray et al (2003) ratificam as qualidades do vínculo longitudinal ao afirmar que

este maximiza a efetividade da atenção primária, através de menos gastos, melhora a

satisfação dos usuários de doenças crônicas ao melhorar a qualidade do cuidado

prestado.

31

2.3 Dispositivos relacionais

Dispositivo, por definição de Deleuze, (1990) é um emaranhado de tangentes,

um conjunto multilinear, composto de linhas de natureza diferente. E estas linhas do

dispositivo não cercam ou não delimitam sistemas homogêneos, o objeto, o sujeito, a

língua, etc., mas seguem direções, traçam processos sempre em desequilíbrio, podendo

se aproximar, ou às vezes se afastar umas das outras. Cada linha deste emaranhado pode

ser submetida a variações de direção, bifurcante, sendo submetida a inúmeras

derivações para se chegar ao processo.

Estas linhas que emergem deste composto são procedentes de um ponto singular

a outro, traçam tangentes, envolvem os trajetos de uma linha com outra linha, operam

idas e vindas entre o ver e o dizer e inversamente, traçam um mapa, agindo como setas

que não cessam de penetrar conduzindo aos resultados. (DELEUZE, 1990)

Dispositivo pode ser entendido como um mecanismo utilizado para obtenção de

resultados propostos, como veículos desencadeadores de processos através da relação

com o entorno objetivando alcançar a finalidade.

Dentro do trabalho em saúde, existem ferramentas que os profissionais e a

equipe devem desenvolver para que seja desenvolvido um ambiente de cuidado, muitas

vezes sendo necessário que os profissionais valorizem nestes momentos não apenas

saberes, mas que desenvolvam dispositivos relacionais para atingir o indivíduo de modo

que ocasione interferência nas relações de cuidado.

Segundo Mehry (2003), há algum tempo se tem observado que a mudança do

modelo tecnoassistencial para a saúde depende menos de normas gerais, e mais da

produção da saúde que se dá no espaço da micropolítica de organização dos processos

de trabalho. Esta afirmação tem se observado a partir do aumento da produção

acadêmica dedicada a observar e analisar a forma como se produz saúde e indicam que

esse é um campo de atuação onde os sujeitos trabalhadores, individuais e coletivos,

agem de forma a pensar e agir o cuidado em saúde de forma a se utilizar das relações

interpessoais.

As relações interpessoais são influenciadas além das dimensões afetivas e

cognitivas, por aspectos que estão presentes em todas as organizações como

32

econômicas, políticas, psicológicas, e a cultura organizacional. As maneiras como as

pessoas relacionam-se, os olhares, os gestos, as formas de tratamento fazem parte das

relações sociais. Para que em um ambiente onde se desenvolve essas relações alcance

sucesso é preciso que haja diálogo franco entre os envolvidos e que dediquem atenção

ao que lhe são solicitados e se coloquem no lugar do outro. (BRONDANI, 2010)

Desta forma, observa-se que dentro do trabalho em saúde, além da utilização dos

instrumentos e do conhecimento técnico, lugar de tecnologias mais estruturadas, há um

outro, o das relações, que tem se verificado como fundamental para a produção do

cuidado. Assim, partimos do pressuposto que o trabalho em saúde é sempre relacional,

porque dependente de Trabalho Vivo em ato (o trabalho no momento em que este está

se produzindo), ou seja, a vivência da relação interpessoal que se apresenta durante o

trabalho, independe do local de produção. (MERHY, 2003)

O campo relacional nos serviços terapêuticos é traduzido na prática, como

revisitar e utilizar os dispositivos de cuidado – entre estes, acolhimento, vínculo,

corresponsabilização e o acesso produzido no encontro entre as equipes e usuários

caracterizando uma das dimensões da integralidade do cuidado. Isto porque, facilita um

novo modo de se fazer clínica, no qual se inclui, além da doença, a pessoa e seu

contexto socioeconômico e cultural. (JORGE et al, 2012)

Nesse sentido, é mister o conhecimento estruturado (as dimensões teóricas), a

interdisciplinaridade, a intersetorialidade, o respeito às diferenças, a utilização do

acolhimento e do vínculo, tudo isso em prol da construção de sujeitos autônomos e

capazes de co-responsabilidade e co-participação na construção da saúde,

verdadeiramente coletiva. (SANTOS, 2006)

A produção em saúde compartilha características comuns a outras atividades e

perpassa outros saberes. Assim, o fato dela se fundamentar em uma relação interpessoal

intensa, da qual dependem diretamente sua eficácia e efetividade, lhe confere

peculiaridades que marcam sua especificidade e merecem consideração no modo de

produzir e gerenciar os espaços de saúde. (CARDOSO, 2004)

Neste sentido, Cardoso (2004) ratifica este argumento defendendo que entre os

profissionais da área da saúde, é inegável a apreensão do homem como um organismo

unificado, onde mente e corpo, comportamento e emoção são entendidos como aspectos

33

absolutamente interligados do ser humano. Entendendo que fatores biológicos,

psicológicos e sociais interagem de diferentes modos e proporções na gênese e na

manifestação de qualquer enfermidade.

O relacionamento interpessoal profissional-usuário se dá por base na

comunicação de quem cuida e de quem é cuidado, aproximando-os de forma que o

profissional possa compreender a experiência do usuário tendo uma visão holística

acerca do atendimento no processo saúde-doença. (BERTONE, 2007)

O serviço de saúde não se realiza sobre coisas ou objetos, mas sobre pessoas e

com base em uma inter-relação da qual o usuário deve ter uma participação tão ativa,

que o faz co-participante e co-responsável pelo êxito ou insucesso da terapêutica.

(ZOBOLI E FRACOLLI, 2006)

A equipe de saúde deve cultivar a confiança do usuário através do respeito e da

empatia empreendidos durante a assistência, proporcionando um relacionamento que

favoreça as relações de confiança. Assim, para o estabelecimento desta relação se torna

essencial a utilização da comunicação como uma ferramenta adjuvante neste processo,

pois propicia a criação de um relacionamento interpessoal equipe-usuário adequado

favorecendo o cuidado, a autoconfiança, individualidade, ética, compreensão e empatia

pela pessoa assistida. (BERTONE, 2007)

A Saúde da Família possui uma proposta de atuação inovadora, no âmbito do

processo de trabalho em saúde, na medida em que rejeita o conhecimento confinado nos

consultórios e privilegia o conhecimento construído, mudando radicalmente o

paradigma da atenção à saúde em favor do atendimento integral à população, da

descentralização do saber e da proximidade das demandas concretas da população

assistida. (CARDOSO, 2004)

Assim, além de embasar saberes e práticas diversas, esses dispositivos utilizam

as tecnologias relacionais em saúde como acolhimento, vínculo, corresponsabilização

na garantia do acesso e resolubilidade dos serviços. Desse modo, é sobre o campo

relacional que se desdobra tal reflexão, pois, se observa que a ESF tem maior inserção

nas práticas destes dispositivos desenvolvendo um trabalho mais próximo do indivíduo

e comunidade. (JORGE et al., 2012)

Dentro do processo de trabalho das equipes de saúde da família também se faz

presente fortemente as relações interpessoais entre os profissionais que compõem a

equipe, sendo assim, a equipe interdisciplinar dentro da ESF, não se constitui apenas em

34

função da objetividade dos diversos saberes científicos, mas também a partir do

encontro das várias subjetividades das pessoas que a compõem. Portanto, ao falar de

uma equipe interdisciplinar, estamos nos referindo ao encontro de diferenças, tanto

objetivas quanto subjetivas. É a partir desses encontros que o trabalho coletivo se

desenvolve. (CARDOSO, 2004)

Além das relações interpessoais desenvolvidas pela equipe durante o processo de

trabalho para com o usuário de saúde, estas relações também são importantes durante o

desenvolvimento do trabalho entre os profissionais que compõem a equipe, pois as

relações interpessoais no campo do trabalho em equipe exercem influência de modo a

interferir positiva ou negativamente no resultado esperado.

A valorização das relações interpessoais vem tomando força no perfil

profissional que as organizações exigem, onde se buscava acima de tudo experiência

técnica, hoje ganhou espaço para as habilidades comportamentais de flexibilidade,

inteligência emocional, criatividade, entre outras. Sendo assim, a medida que se

apresenta o comprometimento e envolvimento com as atividades é permitido

experienciar momentos de relação interpessoal desnudando a verdadeira habilidade

comportamental. (ALBUQUERQUE, 2010)

É possível observar que dentro do trabalho em saúde, podem-se distinguir três

grandes enfoques: o biomédico, o social e o psicológico, sendo cada uma destas três

abordagens composta de várias facetas; no entanto, pode-se dizer que existe em cada

uma delas uma tendência para valorizar mais um tipo de problema e alguns tipos de

solução, muitas vezes de uma forma excludente. (BRASIL, 2009)

Dentro deste contexto é proposta a utilização de uma ferramenta auxiliar que

visa minimizar esta exclusão e auxilia na atenção conjunta destes fatores, sendo esta

denominada como Clínica ampliada – constitui-se em um dispositivo de articulação e

inclusão dos diferentes enfoques e disciplinas.

A Clínica ampliada reconhece que, em um dado momento e situação singular,

pode existir uma predominância, uma escolha, ou a emergência de um enfoque ou de

um tema, sem que isso signifique a negação de outros enfoques e possibilidades de

ação. (BRASIL, 2009)

35

A clínica ampliada considera fundamental ampliar o "objeto de trabalho" da

clínica. Em geral, o objeto de trabalho indica o encargo, aquilo sobre o que aquela

prática se responsabiliza. O modelo biomédico tradicional se encarrega do tratamento de

doenças; para a clínica ampliada, haveria necessidade de se ampliar esse objeto,

agregando a ele, além das doenças, também problemas de saúde (situações que ampliam

o risco ou vulnerabilidade das pessoas). A ampliação mais importante, contudo, seria a

consideração de que, em concreto, não há problema de saúde ou doença sem que

estejam encarnadas em sujeitos, em pessoas. (CAMPOS et al., 2007)

2.4 O cuidado às doenças crônicas

O Cuidado em saúde se caracteriza por uma série de princípios teóricos e

práticos que se julga relevante para iluminar muitos dos desafios conceituais e práticos

para a humanização das práticas de saúde. (AYRES, 2004)

Assim, as reflexões sobre cuidado em saúde se baseiam nas proposições de que

o cuidado transcende o âmbito técnico do atendimento ou do nível de atenção em saúde,

embora represente a materialidade das relações interpessoais que se estabelecem nesse

campo. (BOSI E UCHIMURA, 2007)

Segundo Ayres, (2004) cuidado o qual realizamos e nos remetemos em saúde diz

respeito ao cuidado como modo de interação nas e pelas práticas de saúde nos seus

moldes contemporâneos, restringindo-nos agora às tecnologias já configuradas como o

campo institucional das práticas de saúde.

O que se busca é potencializar o trabalho cuidador, no qual o profissional, ao se

relacionar com o usuário, no momento da assistência, ou “no espaço intercessor”, que é

o espaço do encontro entre o usuário e o profissional de saúde, libere “trabalho vivo”,

em ato, neste momento singular e “cuidador”. (MALTA E MEHRY, 2003)

Neste sentido, é preconizado na literatura que, para qualificar o cuidado aos

usuários com doenças crônicas, há necessidade de buscar estratégias efetivas mediante

uma abordagem integral, envolvendo os elementos fisiopatológicos, psicossociais,

educacionais e de reorganização da atenção à saúde. (BRASIL, 2011)

Atenção à saúde com oferta abrangente e integral, alicerçados em uma APS forte

são fundamentais para atenção à saúde dos indivíduos e coletividade que sofrem por

36

agravos crônicos, constituindo-se como sério problema de saúde pública na atualidade.

(DIAS, 2011)

As doenças crônicas são caracterizadas por serem enfermidades que iniciam e

evoluem lentamente, usualmente, apresentam múltiplas causas que variam no tempo,

incluindo hereditariedade, estilos de vida, exposição a fatores ambientais e a fatores

fisiológicos. Não é possível definir precisamente os padrões regulares ou previsíveis

que condicionam as doenças crônicas. (MENDES, 2012)

As doenças crônicas constituem um importante problema de saúde pública,

assim como a hipertensão arterial, cuja prevalência estimada na população brasileira

adulta é de cerca de 15 a 20%, sendo que, entre a população idosa, esta cifra chega a

65%. Entre os hipertensos, cerca de 30% desconhecem serem portadores da doença.

(BRASIL, 2014)

Sendo assim, o conhecimento do usuário como portador de doença crônica está

diretamente relacionado à melhora da qualidade de vida, à redução do número de

descompensações, ao menor número de internações hospitalares e à maior aceitação da

doença. (PAIVA et al, 2006)

Medida que pode ter o aumento da eficácia através do acesso e acompanhamento

dessas doenças na atenção primária, uma vez que a dinâmica proposta pela ESF,

centrada na promoção da qualidade de vida e intervenção nos fatores que a colocam em

risco, permite a identificação mais acurada e um melhor acompanhamento dos

indivíduos diabéticos e hipertensos. (PAIVA et al, 2006)

No Brasil é possível observar o aumento das doenças crônicas devido a transição

demográfica, com o aumento progressivo da expectativa de vida e da proporção de

idosos em relação aos demais grupos etários, tem ocasionado o crescimento da

morbimortalidade por DCNT (Doenças Crônicas Não-Transmissivéis) e a ocorrência

destas. (MALTA et al, 2006)

A Transição Epidemiológica, que se caracteriza por esse aumento de mortes por

DCNT, por sua vez, decorre da urbanização acelerada, do acesso insuficiente a serviços

de saúde e aos meios de diagnóstico e das mudanças culturais, expressivos nas últimas

décadas, entre outros fatores. (MALTA et al, 2006).

Dentro deste contexto Mendes (2012) afirma que, o Brasil apresenta um

processo de envelhecimento de sua população e uma situação de transição

epidemiológica, caracterizada pela queda relativa das condições agudas e pelo aumento

37

relativo das condições crônicas e de seus fatores de riscos, como tabagismo, sobrepeso,

inatividade física, uso excessivo de álcool e outras drogas, alimentação inadequada e

outros.

Além disso, também são considerados como determinantes sociais para essas

doenças as desigualdades sociais, as diferenças no acesso aos bens e aos serviços, a

baixa escolaridade, renda e as desigualdades no acesso à informação.

Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que as DCNT já

são responsáveis por 58,5% de todas as mortes ocorridas no mundo e por 45,9% da

carga global de doença, constituindo um sério problema de saúde pública, tanto nos

países ricos quanto nos de média e baixa renda, agravando as iniquidades e aumentando

a sua pobreza. (BRASIL, 2013)

O sistema de saúde atual frequentemente tem atuado apenas sobre as condições

de saúde já estabelecidas, em agravos já decorrentes das condições crônicas, em

momentos de manifestações clínicas exuberantes, quando já autopercebidas pelos

portadores e não nos determinantes sociais intermediários. (MENDES, 2012)

Para a vivência de uma APS de qualidade é necessário que o sistema de saúde

invista em ações focalizando os fatores de riscos biopsicológicos ou ligados aos

comportamentos e aos estilos de vida e o gerenciamento da condição de saúde

estabelecida, através da redução do tabagismo, diminuição do sedentarismo, controle do

peso, da pressão arterial, estímulo à alimentação saudável e no monitora mento contínuo

das intervenções sanitárias. (MENDES, 2012)

Estudos recentes demonstram que as DCNT constituem a iniquidade de saúde de

maior impacto no Brasil. Atingindo fortemente as camadas pobres da população e

grupos vulneráveis, correspondendo a 72% das causas de mortes e de 75% dos gastos

com atenção à saúde no Sistema Único de Saúde. (BRASIL, 2013)

O financiamento para essas ações se torna um desafio para o SUS, pois as

doenças crônicas custam caro para o sistema de saúde e se não forem prevenidas e

gerenciadas adequadamente, demandam uma assistência médica de custos sempre

crescentes para toda a sociedade. O número de mortes prematuras e de incapacidades

faz com que o enfretamento das "novas epidemias", causadas pelas DCNT, demandem

38

significativos investimentos em pesquisa, vigilância, prevenção, promoção da saúde e

defesa de uma vida saudável. (MALTA et al, 2006)

Sendo assim, o Ministério da Saúde (2006) recomenda que para o tratamento do

diabetes mellitus e da hipertensão arterial, são imprescindíveis a vinculação do paciente

às unidades de atenção primária, a garantia do diagnóstico e o atendimento por

profissionais atualizados, uma vez que seu diagnóstico e controle evitam complicações

ou, ao menos, retardam a progressão das já existentes. Além disso, o maior contato com

o serviço de saúde promove maior adesão ao cuidado.

Neste sentido, a definição de adesão ao cuidado varia de acordo com a fonte

pesquisada, porém esta em modo geral reflete o grau de concordância entre a orientação

recebida (em relação à frequência de consultas, aos cuidados, à terapia não

medicamentosa e medicamentosa) e a conduta do paciente. (GUSMÃO, 2006)

Gusmão (2006), também defende que deve ser agregado à definição de adesão, o

reconhecimento da vontade do indivíduo em participar e colaborar com seu tratamento,

para que este processo seja legítimo e realizado e não apenas abordado em algumas

concepções.

A adesão à terapêutica é entendida não apenas como o seguimento correto da

prescrição medicamentosa, mas como a aderência a todo o processo de orientação em

prol da saúde. A forma como é visto o papel do paciente no seu tratamento é refletida

também na forma como são discutidos os fatores relativos ao paciente no processo de

adesão, variando entre a tentativa de compreensão de seus valores e crenças em relação

à saúde, à doença e ao tratamento, até a identificação da não-adesão como

comportamento desviante e irracional. (LEITE E VASCONCELOS, 2003)

A adesão a terapêutica é um fenômeno complexo e influenciado por vários

fatores, sendo estes, fatores socioeconômicos, fatores relacionados ao paciente, fatores

relacionados à doença, fatores relacionados ao tratamento e sistema e equipe de saúde.

(GUSMÃO, 2009).

Além disto, também sob influência da crença do paciente acerca do

medicamento e sobre as informações recebidas em relação à terapia recomendada

influenciando na aderência deste ao tratamento. E quanto se trata de pacientes de

doenças crônicas este fenômeno pode se tornar mais complicado ocasionado muitas

39

vezes pela não aceitação por parte do usuário sobre seu estado de saúde e doença.

(GIMENES, 2009)

O fracasso do acompanhamento destes pacientes pode estar relacionado aos

medicamentos (falta de acesso, custo, tomar várias vezes ao dia, efeitos colaterais), ao

desconhecimento da gravidade da doença e a conhecimentos e crenças de saúde (uso do

medicamento apenas quando aumenta a pressão arterial, falta de cuidado com a saúde,

esquecimento, desconhecimento da gravidade da doença). (PAIVA et al., 2006)

Sendo assim, estudos demonstram que a adesão ao tratamento apresentam

melhores resultados quando o usuário é atendido por uma única equipe de saúde, ou

seja, o que nos faz pensar que o vínculo entre usuário e equipe é uma estratégia

importante para o fortalecimento da adesão. (BARBOSA et al., 2006)

O papel do profissional de saúde deve ser facilitar de forma compartilhada o

processo terapêutico do usuário, desta forma o plano de intervenção deve ser produzido

em conjunto com o usuário de forma que não se reduza a apenas uma prescrição

medicamentosa ou mudanças de hábitos de vida, mas que considere de forma

individualizada as características do paciente e que este possa ter autonomia sobre a

escolha do seu tratamento.

Sendo assim, é possível identificar que o sucesso de uma terapêutica não

depende exclusivamente do paciente e que um dos principais fatores relacionado é a

equipe de saúde ligada aos cuidados deste usuário, e esta apresenta influência direta

para que o processo de adesão ao cuidado das doenças crônicas seja realizado de forma

adequada.

Acreditando que estes dispositivos relacionais são imprescindíveis ao trabalho

da saúde da família para fornecer melhor co-responsabilização e afiliação dos usuários

através da criação de um referencial para seus cuidados, cabe a este estudo descrever

estes dispositivos utilizados de forma a legitimar essas ações para que as equipes

possam se apropriar deste conhecimento empírico.

Entendendo que as equipes de SF do município do Rio de Janeiro utilizam

dispositivos relacionais vitais ao trabalho em saúde que proporcionam maior vínculo ao

40

serviço de forma a promover o tratamento e acompanhamento dos usuários de doenças

crônicas.

Neste sentido, apresenta-se o mapa conceitual que norteia as concepções teóricas

deste estudo:

Figura IV: Mapa conceitual

Fonte: elaboração própria.

Assim, pretende-se neste estudo descrever as estratégias de vínculo e entender

como esses dispositivos acontecem no processo de trabalho na visão dos trabalhadores

que desenvolvem e dos usuários que utilizam este serviço respondendo ao

questionamento de como estas equipes desenvolvem o vínculo longitudinal dentro deste

ambiente específico e como lidam com as situações adversas que apresenta estes

usuários portadores de doenças crônicas dentro desta comunidade.

41

Considerando que o objeto do estudo, o vínculo longitudinal, não se limita a

teoria, cabe realizar uma investigação prática buscando encontrar as percepções a

respeito deste e as estratégias promotoras de vínculo desenvolvidas por estas equipes de

saúde da família.

42

3. OBJETIVO GERAL

Analisar as estratégias relacionadas à construção de vínculo longitudinal,

desenvolvidas pela Saúde da Família no cuidado das doenças crônicas, em uma Clínica

da Família da área 3.3, na cidade do Rio de Janeiro.

3.1 Objetivos específicos

Conhecer a percepção dos profissionais de equipes ESF sobre vínculo

longitudinal no cuidado de usuários hipertensos e diabéticos.

Identificar as práticas de vínculo longitudinal utilizadas pelos profissionais das

equipes.

Analisar a organização do processo de trabalho das equipes para a

longitudinalidade do cuidado de usuários sob sua responsabilidade.

Identificar o fluxo percorrido pelo usuário, portador de doenças crônicas para

alcançar seu cuidado na Clínica da Família, evidenciando possíveis linhas de

tensão.

43

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Delineamento do estudo

Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, de abordagem qualitativa. Tendo

como participantes profissionais que atuam nas equipes de saúde da família, de uma

unidade básica de saúde, situada em uma comunidade do Rio de Janeiro na área

programática 3.3. Além disso, estudou-se também usuários hipertensos e/ou diabéticos

atendidos por estas equipes.

A abordagem qualitativa de uma pesquisa é utilizada quando se considera que

exista uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo

indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito, que não pode ser

traduzido em números (MINAYO, 2004).

4.2 Cenário do estudo

O estudo foi desenvolvido na clínica da família Marcos Valadão, na AP. 3.3 da

cidade do Rio de janeiro.

A Atenção Primária à Saúde no Município do Rio de Janeiro, até o ano de 2009,

apresentava uma organização de seu sistema público de saúde centrado no modelo

tradicional de APS, com baixíssima cobertura da Estratégia de Saúde da Família.

A cobertura da Estratégia de Saúde da Família, na cidade do Rio de Janeiro,

cresceu de aproximadamente 7% em Janeiro de 2009 para 38% em Janeiro de 2014.

(BRASIL, 2013). Este aumento da cobertura ocorreu devido a uma mudança no modelo

de co-gestão da saúde pública no município, baseada na contratação de organizações

sociais em saúde.

Entretanto, essa ênfase não é apenas quantitativa, quer do ponto de vista da

cobertura da ESF, quer do volume de financiamento municipal para APS. O ponto

essencial dessa mudança é a aposta na qualidade. A Secretaria Municipal de Saúde do

Rio de Janeiro (SMS-RJ) investiu na proposta da ESF ao criar as Clínicas da Família.

Estas são unidades de saúde que se caracterizam por grandes estruturas, que concentram

5 ou mais equipes de Saúde da Família, com estrutura física diferenciada, onde a

44

ambiência, o conforto, a beleza e a sustentabilidade são requisitos importantes, aliados à

incorporação de tecnologia apropriada à pratica da APS, fisicamente sofisticadas,

equipadas adequadamente, desde insumos tradicionais a inovações tecnológicas, como

prontuários eletrônicos; e, o mais importante, com condições para atraírem profissionais

de saúde de qualidade. Essas unidades são denominadas como tipo A: unidades de

saúde onde todo o território é coberto por equipes da Estratégia de Saúde da Família.

(HARIZHEIM, 2013)

A Clínica da Família selecionada para a realização do estudo foi a Enfermeiro

Marcos Valadão (CFMV), localizada dentro da área programática 3.3, no bairro Acari

no município do Rio de Janeiro. Segundo dados do IBGE (2013), este bairro possui o

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,72 sendo o terceiro menor do Rio de

Janeiro.

O bairro convive com a forte presença da violência, tráfico de drogas e áreas de

intensa pobreza. A comunidade é cortada pelo rio Acari, do qual se originou o nome da

comunidade; nas áreas próximas às margens do rio podem-se encontrar depósitos de

lixos e infestações de roedores, além de frequentes situações de alagamento que o bairro

enfrenta nas ocasiões de fortes chuvas.

Dentro deste território, no ano de 2004, iniciou o Programa de Agentes

Comunitários (PACS), com 22 agentes comunitários que cobriam todo o complexo de

Acari. Este programa funcionou por 6 anos, até que no ano de 2010 iniciou a migração

para o programa de Estratégia de Saúde da Família. Os 22 ACS foram incorporados ao

novo modelo juntamente com a enfermeira do programa anterior.

Com a implementação da ESF neste território foi construído uma unidade com

infraestrutura de clínica da Família que comporta 7 equipes de Saúde de Família, e

atende oficialmente a uma população de 29.658 pessoas cadastradas, apresenta uma

população de 852 diabéticos e 2.017 hipertensos. Além do complexo de Acari, a clínica

também incorpora à adscrição territórios adjacentes à comunidade.

A escolha deste cenário se justifica por ser este o local de trabalho da

pesquisadora, permitindo maior aproximação com o objeto estudado, facilitando a

coleta de dados, agendamento para as entrevistas e disponibilidade do local. Entretanto,

45

as duas equipes selecionadas foram diferentes da equipe da qual a pesquisadora faz

parte, não havendo qualquer ligação com os usuários entrevistados.

4.3 Participantes da pesquisa

Foram selecionados profissionais de duas equipes de Saúde da Família da CF

Marcos Valadão, de equipes completas que estivessem atuantes no território adscrito

por mais de um ano. Cada equipe é composta por médico (um de 40 horas), um

enfermeiro, um técnico de enfermagem, seis Agentes Comunitários de Saúde e equipe

de saúde bucal (um dentista);

Todos os profissionais aceitaram participar voluntariamente da pesquisa, após

convite pela pesquisadora.

Os usuários (n=4) deveriam ter registro de pelo menos uma consulta médica nos

últimos dois anos para permitir o diagnóstico de Hipertensão e diabetes. Foram

selecionados por indicação das equipes, sendo dois casos complexos (com dificuldade

de adesão ao cuidado e estabelecimento de vínculo) e dois casos de sucesso de

acompanhamento, sendo respectivamente, um usuário de cada equipe.

Para a confirmação destes critérios foi utilizado o sistema de informação do

Prontuário Eletrônico.

4.4 Coleta de dados

Para o procedimento de coleta de dados com os profissionais foi realizada

entrevista semi-estruturada utilizando um roteiro formulado e testado previamente.

Entrevista como técnica de pesquisa é uma interação entre pesquisador e

pesquisado para a coleta de informações sobre um determinado assunto diretamente

solicitadas aos sujeitos pesquisados com intuito de capturar o que estes pensam, sabem,

fazem e argumentam. (SEVERINO, 2007; MINAYO 2004)

A entrevista semi-estrurada se utiliza de questões direcionadas e previamente

estabelecidas, porém colhem-se os dados através do discurso livre do usuário. O

46

entrevistador mantém a escuta atenta, registrando todas as informações. Preconiza-se

que seja estimulado um ambiente confortável em que o informante se sinta à vontade

para expressar suas representações. (MINAYO, 2004)

As entrevistas com os profissionais foram previamente agendadas segundo

disponibilidade dos profissionais e realizadas no espaço da Clínica da Família em uma

sala privativa, sendo utilizados os consultórios fora de horário de atendimento e o

auditório da clínica.

Teve duração aproximada de 20 minutos cada e para a captura dos dados foi

utilizado um gravador de voz, todas as entrevistas foram realizadas pela pesquisadora

com auxílio de um roteiro de entrevista, contendo dados do perfil do participante com

informações de idade, sexo e informações profissionais. (Anexo III)

O procedimento de coleta de dados com os usuários foi realizado através de uma

entrevista, com um roteiro pré-estabelecido diferente (Anexo IV), em uma visita

domiciliar após a identificação dos usuários, com duração aproximada de 25 minutos

cada.

Após a seleção dos usuários, foi realizado uma visita domiciliar prévia junto

com o Agente Comunitário de Saúde responsável pela área do usuário selecionado.

Neste primeiro contato o usuário foi convidado a participar da pesquisa, sendo

orientado sobre as finalidades e os motivos da pesquisa e pactuado uma data para a

realização da entrevista em seu domicílio através do questionamento do seu perfil e das

perguntas contidas no roteiro de entrevista. (Anexo II)

Para elaboração dos roteiros de entrevista foi realizado um pré-teste do roteiro

com 2 Agentes Comunitários de Saúde e com um usuário hipertenso e diabético da

própria equipe da pesquisadora.

Este pré-teste serviu como subsidio para a pesquisadora reformular as perguntas,

de forma que estas fossem claras para os entrevistados que participaram posteriormente

da pesquisa. A participação de todos foi voluntária.

47

4.5 Análise dos dados

Como primeira etapa da análise, procurou-se captar os significados, os pontos

convergentes e divergentes das falas dos profissionais no que se refere às suas práticas

relacionadas ao vínculo com os usuários, utilizando-se a Análise de Conteúdo

(BARDIN, 2011). As seguintes etapas foram executadas:

Pré-análise: foi realizada a leitura exaustiva do material obtido, buscando

a impregnação e domínio do conteúdo; retomada das hipóteses e dos

objetivos iniciais da pesquisa, reformulando-os frente ao material

coletado;

Exploração do material: realizada a identificação e categorização dos

dados, agrupando em informações que permitam uma descrição clara e

representação do conteúdo – no núcleo de compreensão do texto.

Tratamento dos resultados obtidos e interpretação: Os dados foram

interpretados com base no referencial teórico, sendo utilizadas novas

dimensões teóricas que surgiram durante a leitura do material.

A análise de conteúdo é um método de análise que se caracteriza por um

conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos

sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. Não se limita a

simples análise do conteúdo, procura abordar os significados das mensagens, sendo que

a intenção da análise de conteúdo é a inferência (MINAYO, 2004; BARDIN, 2011).

No presente estudo, as entrevistas gravadas foram transcritas pela pesquisadora,

e as falas dos participantes foram organizados pelas categorias profissionais e letras do

alfabeto. Os profissionais de nível superior foram agrupados dentro de um mesmo grupo

de modo a preservar o sigilo, uma vez que havia apenas um profissional dentista.

Considerando as hipóteses do estudo, foram formadas as seguintes categorias da

pesquisa.

48

Quadro I- Apresentação das categorias agrupadas nos resultados

A importância do vínculo longitudinal para o Modelo da Saúde da Família;

Relação Acesso e vínculo;

As tecnologias relacionais como promotoras de vínculo;

Práticas educativas: participativa ou normativa?

A visita domiciliar como um espaço construtor de vínculo?

A organização do trabalho como estratégia de promoção de vínculo;

A violência como complicador do vínculo dentro do território;

Estratégias promotoras de vínculo longitudinal, desenvolvidas pelas equipes de saúde

da família.

Fonte: elaboração própria

Numa segunda fase da análise, os dados dos profissionais e principalmente dos

usuários foram sistematizados e apresentados em dois fluxogramas descritores

(Fluxograma da atenção aos usuários com HA e Diabetes na visão dos profissionais e

Fluxograma segundo os próprios usuários). Estes esquemas seriam, segundo MERHY

(1997), a representação gráfica das etapas que os usuários percorreram no âmbito da

Unidade de Saúde. Este recurso possibilitou demonstrar as linhas de tensão e problemas

encontrados durante o percurso dos usuários para satisfazer suas necessidades em saúde.

Exemplo:

Figura I- Fluxograma Descritor Mehry, 1997.

Entrada Recepção Decisão de ofertas Cardápio Saída

Linha de Tensão.

49

4.6 Recursos necessários

Todos os custos referentes à realização desta pesquisa com cópias de

documentos, impressões, alimentação, transportes e deslocamentos foram financiados

pela pesquisadora. Não foi realizado qualquer pagamento aos participantes da pesquisa,

sendo necessária a aceitação de participação voluntária.

4.7 Análise crítica de riscos e benefícios

Na realização da pesquisa foram contempladas todas as exigências da resolução

466/12 do CNS no que concerne à ética em pesquisa que envolve seres humanos. A

todos os entrevistados foi solicitada a participação voluntária na pesquisa, apresentando

o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexos I e II) e informado os objetivos

do estudo, a não obrigatoriedade de participação e a possibilidade de retirar-se a

qualquer momento. As informações obtidas através dessa pesquisa são confidenciais

sendo assegurado o sigilo sobre a participação de todos os indivíduos entrevistados.

Foi informado aos participantes sobre o sigilo, e os benefícios desta pesquisa

para o serviço, sendo estes a devolução dos resultados para as equipes, serviço e gestão

de forma a qualificar a prática e aprimorar o serviço prestado à população.

Também foram informados os possíveis riscos aos participantes das pesquisas,

tais como constrangimentos e tempo gasto durante a entrevista, porém todas as medidas

foram tomadas para manter o sigilo e minimizar os possíveis danos concernentes à

participação no estudo.

Para a divulgação dos dados foi mantido o sigilo dos usuários, sendo

identificados através de letras do alfabeto e agrupados em categorias profissionais, não

sendo utilizado qualquer dado que os identifiquem individualmente na pesquisa.

Todos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, após a solicitação

de permissão para a gravação das entrevistas. Após o término do estudo, os registros em

áudio e as informações originais ficaram guardados de posse da pesquisadora,

armazenados de forma segura e protegida, não sendo fornecido para outros serviços e

não sendo utilizados para nenhum outro fim senão esta pesquisa.

50

O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da

Ensp/Fiocruz, recebendo aprovação na data de 02/07/2014, CAAE:

30362014000005240. E concedida a autorização da gerência da instituição participante

do campo de estudo.

51

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A coleta de dados foi realizada no período de outubro a novembro de 2014,

tendo como tempo médio de duração das entrevistas de 20 minutos cada. Não houve

recusa na participação de nenhum profissional convidado e todos apresentaram

disponibilidade em participar do estudo.

Perfil dos Entrevistados

No período do trabalho de campo, a Clínica da Família possuía 7 equipes e 71

profissionais atuantes. Destes, foram entrevistados 11 profissionais de saúde, sendo 4

ACS (dois de cada equipe), dois médicos, dois enfermeiros e dois técnicos de

enfermagem e um dentista (o único profissional da categoria atuante). A idade destes

variou de 23 a 63 anos, com média de idade de 40 anos e a grande maioria (n=10) eram

mulheres. Na Tabela 1 e 2, descrevem-se o perfil de identificação dos profissionais

entrevistados (demográfico, profissional) e algumas características específicas da

categoria profissional (formação, experiência).

52

Tabela I- Caracterização dos profissionais de saúde entrevistados em uma Unidade

Básica de Saúde. Município do Rio de Janeiro, Novembro, 2014.

Perfil dos entrevistados Número absoluto

Total de entrevistados 11

Categoria profissional

Agente Comunitário de Saúde

Técnico de Enfermagem

Médico

Enfermeiro

Dentista

04

02

02

02

01

Faixa etária

20 a 29 anos

30 a 39 anos

40 a 49 anos

> = 50 anos

03

03

02

03

Média de idade 40 anos

Gênero

Masculino

Feminino

01

10

Tempo de experiência com saúde da família

Mais de 1 ano

Mais de 3 anos

Mais de 10 anos

01

06

04

Fonte: elaboração própria.

53

Tabela II- Descrição do perfil dos entrevistados, segundo a categoria profissional.

Município do Rio de Janeiro, Novembro, 2014.

Categoria Número absoluto Percentagem (%)

Agentes Comunitários de Saúde

Nível médio completo 4 100,0

Média de idade 34 anos -

Formação prévia em saúde 0 0

Tempo de experiência SF > 3 anos 2 50,0

Tempo de experiência SF > 10 anos 2 50,0

Técnico de Enfermagem

Média de idade 34 anos -

Formação específica em saúde pública 0 0%

Tempo de experiência SF > 3 anos 2 100%

Médicos

Média de idade 47 anos -

Especialização em Saúde Pública 0 0%

Experiência em Saúde Pública 0 0%

Tempo de experiência SF > 3 anos 2 100%

Enfermeiros

Média de idade 54 anos -

Especialização em Saúde Pública 1 50%

Experiência prévia em Saúde Pública 1 50%

Tempo de experiência ESF > 3 anos 2 100%

Dentista

Idade 33 anos -

Especialização em Saúde Pública 0 -

Tempo de experiência com saúde da família 1 ano -

Fonte: elaboração própria.

54

Observou-se que grande parte dos profissionais apresentava mais de três anos de

tempo de experiência em saúde da família, o que aponta vivência com as práticas

realizadas neste cenário de estudo.

Em contrapartida, avaliando-se a especialização dos profissionais é possível

identificar uma escassez de formação na área de saúde pública e saúde da família, sendo

que apenas 40% dos profissionais de nível superior possuíam experiência prévia e 20%

especialização na área, caracterizando uma baixa qualificação na formação destes

profissionais neste campo de atuação.

A análise do perfil dos Agentes Comunitários apresenta peculiaridades na

experiência destes profissionais, pois a metade dos entrevistados já pertenceu ao

programa de Agentes Comunitários de Saúde, que funcionou durante seis anos na

mesma unidade de saúde e foram incorporados à Estratégia de Saúde da Família,

trazendo uma perspectiva comparativa quanto à percepção e construção de vínculo

longitudinal ao longo do tempo.

55

Caracterização dos usuários entrevistados

Tabela III- Caracterização dos usuários entrevistados em uma Unidade Básica de Saúde.

Município do Rio de Janeiro, Novembro, 2014.

Características Usuário aderido Usuário não aderido Total

Faixa etária

35 a 40 anos

>50 anos

0

2

2

0

2

2

Doença crônica

HAS

DM

2

0

2

1

4

1

Tempo de moradia

>10 anos

>20 anos

1

1

0

2

1

3

Tempo de adscrição na clínica.

>4anos

2

2

4

Local de atendimento

Atendimento em outra unidade

básica.

Atendimento pelo especialista.

0

2

2

1

2

3

Fonte: elaboração própria.

Dentre os usuários entrevistados, 3 possuíam hipertensão arterial e apenas um

também possuía Diabetes, todos moravam há mais de 10 anos no local adscrito pela

clínica da família, sendo 3 mais de 20 anos e todos eram cadastrados na unidade há mais

de 4 anos, ou seja, o tempo de implatação da saúde da família.

Todos os usuários conheciam seus agentes comunitários de saúde e mantinham

uma boa relação com o seu agente de referência, mesmo os usuários não aderidos. Entre

os não aderidos os dois apenas frequentavam a clínica esporadicamente, indo à algumas

consultas, buscando medicamentos ou aferindo a pressão arterial

56

5.1 Parte I – Percepção dos profissionais sobre as práticas das equipes de saúde da

família com foco na formação de vínculo longitudinal.

A importância do vínculo longitudinal para o Modelo da Saúde da Família.

O vínculo longitudinal pode ser definido como a relação terapêutica entre

usuário e profissionais da equipe de atenção primária em saúde ao longo do tempo, que

se traduz na utilização da unidade de saúde como fonte regular de cuidado para os

vários episódios de doença, cuidados preventivos e reabilitação. Desta maneira, o a

longitudinalidade contribui para diagnósticos e tratamentos mais precisos, diminuição

dos custos da atenção e maior satisfação do usuário (CUNHA, 2011).

O vínculo longitudinal foi identificado como um dispositivo simultaneamente

usual e muito relevante dentro do cotidiano das equipes, sendo mencionado como

fundamental para a realização do trabalho na perspectiva do cuidado.

Considerando que o vínculo é um atributo essencial da APS, sendo um conceito

preconizado nos referenciais e nas políticas relativas às boas práticas na atenção, nosso

estudo, ao invés de procurar captar a percepção teórica acerca do conceito, procurou

focalizar nas atitudes, nas práticas das equipes, em como estas se organizam para

construir esse atributo relacional com o usuário.

Como categoria analítica inicial, identificou-se a valorização do atributo

“vínculo longitudinal”, sua importância no novo modelo de atenção – a Saúde da

Família – que considera a atenção ao indivíduo, família e comunidade, destacada a

seguir:

“ O vinculo..... possui toda importância. Porque começa

afinidade, o vínculo, a confiança.” (Profissional de nível

superior B)

“A importância é muito grande, gente. Porque a gente

consegue fazer.... Então você fazendo uma amizade com

ele, esse vínculo, a chance de você poder conversar,

transmitir o que ele está passando... é mais fácil pra gente

57

poder ajudar eles, pra eles tomarem remédio, ter um

horário certo, alimentação. Então quer dizer, a gente tem

que formar um vínculo ali muito grande com eles, nesse

ponto.” (Técnico de enfermagem A)

Foi destacado que a formação do vínculo fortalece o processo de trabalho e

singulariza este modelo de atenção, ratificando a importância do vínculo como um

atributo da Atenção Primária.

“Eu acho que é super importante. Se não fosse isso, não

seria clínica da família, seria um posto que você atende

dez, doze pessoas, e vai marcando consulta, e vai

marcando consulta, não é? (Profissional de nível superior

A)

Assim, o vínculo longitudinal parece ser entendido como um instrumento

essencial utilizado pelas equipes de saúde da família, de forma a qualificar a

assistência prestada aos usuários e a direcionar as ações dentro do território para a

população adscrita.

“ Vínculo...Claro que tem muita importância. Você vê..,

mas a gente está buscando, a gente está se envolvendo, a

gente está sabendo o que está acontecendo dentro do

nosso território... (Profissional de nível superior A)

O vínculo é mencionado como um promotor de afinidades, que possibilita ajudar

e melhorar a relação entre equipe e usuário, atuando como facilitador entre as relações

terapêuticas:

“...que mais ajuda é a gente conhecer. Porque eles são

cadastrados há dez anos, mas eu já conheço eles, moram

no mesmo endereço há vinte anos, então quer dizer, já

começa daí a já ter uma afinidade. O vínculo se torna bem

mais fácil...”(Agente Comunitário C)

58

Campos (2007) defende que o vínculo na Atenção Primária promove nos usuários

dos serviços de saúde certa ampliação da eficácia das ações de saúde, favorecendo a

participação do mesmo em seu processo saúde doença, possibilitando a construção de

sujeitos autônomos e aprimorando as relações interpessoais.

Durante o delineamento deste estudo optou-se focalizar a relação do vínculo

longitudinal da equipe em um grupo específico de usuários – portadores de DCNT –

grupo que devido à natureza crônica de seus agravos, necessitaria de atenção

longitudinal, acompanhamento de todos os profissionais para sucesso do tratamento e

prevenção de complicações, recebimento de medicação, assim como seria grupo alvo de

indicadores e metas prioritárias do contrato de gestão.

Dessa forma, acreditava-se que o cuidado longitudinal, ao menos a esse grupo,

estaria mais bem organizado, e poderia fornecer subsídios para se pensar o cuidado a

outros usuários, não portadores de doenças crônicas. Contudo, observou-se que os

profissionais ao falarem sobre suas percepções acerca do vínculo, ao invés de

fragmentar a atenção a este grupo específico, conseguiram abordar o tema de forma

mais abrangente, isto é, refletiram e expuseram as estratégias de vínculo para não

apenas a hipertensos e diabéticos, ressaltando a necessidade de promoção de vínculo a

todos os usuários adscritos.

Dessa forma, independente do usuário ou de sua necessidade de saúde, o vínculo,

no relato dos entrevistados, parece ser essencial para promover o cuidado e o

fortalecimento do modelo de atenção; sendo reconhecido e valorizado como

fundamental para todos os usuários sob seus cuidados.

“Acho que é importante não só para o diabético e o

hipertenso, mas de maneira geral, só que eles já chegam

pra gente com um estado de saúde muito precário. Então

é importante o vínculo como é importante também vínculo

em todas as etapas” (Profissional de nível superior E)

Tal percepção foi identificada em muitos profissionais que valorizavam a

atuação do vínculo como auxiliador do cuidado de usuários que apresentavam

necessidades de saúde diversas, diferente da hipertensão e diabetes:

59

“Na verdade acho que é mais importante o vínculo da

criança. Porque aí você vai evitar, vai prevenir...”

(Profissional de nível superior E)

“...Principalmente usuários de droga. Esse é um exemplo

muito importante. Já teve usuário de droga que eu falei,

“olha, a gente conseguiu uma consulta com um

especialista, a gente conseguiu uma internação”, e o

paciente não veio no dia em que a gente tinha marcado,

não foi na internação. Aí ele teve o tempo dele. Ele passou

muito tempo, sei lá, meses sem comparecer na clínica, ou

comparecendo de uma maneira irregular. Em nenhum

momento a gente largou isso, não é, ele de mão, deixou

ele... E aí quando ele voltou, a gente conseguiu, e ele hoje

em dia não faz uso de droga...” (Profissional de nível

superior C)

Schwartz et al. (2013) demonstram que a relação produtora de vínculo, entre

usuários e profissionais de saúde, gera um melhor ambiente de cuidado, proporcionado

pelo modo como os profissionais se relacionam com os usuários, na abertura que se

estabelece para conversas dentro e fora do espaço da consulta.

Relação Acesso e vínculo

A ampliação do acesso dos usuários aos serviços da Clinica da Família e à equipe

foi identificado pelos profissionais como um princípio que está sendo bem

desempenhado e um dos principais auxiliadores na promoção do vínculo longitudinal.

O acesso é mencionado como uma das principais características que auxiliam na

formação do vínculo, uma vez que o usuário parece possuir, por meio dele, certa

garantia de acesso à rede de atenção à saúde, possibilitando maior resolutividade e

continuidade de seu cuidado.

Os profissionais ao serem questionados sobre as principais estratégias promotoras

de vínculo que são desenvolvidas em seu processo de trabalho relataram:

60

“...eu acho que o acesso. Aqui a gente... pelo

menos nessa clínica a gente tem acesso muito fácil

com o usuário. Eu acho que qualquer problema

que ele tenha ele pode vir aqui...” (Profissional de

nível superior D).

“...acho que é o acesso livre..”(Profissional de

nível superior E)

“...olha é a porta de entrada..., Eu acho que é a

principal diferença de tudo, assim...” ( Profissional

de nível superir A)

Sendo assim, foi ressaltada a necessidade da equipe de saúde se organizar de

forma a proporcionar aos usuários acesso aos profissionais de sua equipe. Este acesso

visa garantir uma diminuição da distância entre profissional de saúde e usuário em prol

de reservar a este a assistência adequada.

Somado a isso, o acesso facilitado aos profissionais de saúde por meio da formação

de referência dos usuários à sua equipe, também facilita este processo de fortalecimento

do vínculo.

“... Acho que a principal diferença de tudo, assim. O

paciente saber quem é o agente de saúde dele, quem é a

enfermeira dele e o médico, e o agente de saúde saber

quem é aquele paciente.. ele já sabe a coisa mais

importante daquilo...¨( Profissional de nível superior C)

“...Então muitas vezes eles tiram as dúvidas com o que tá

ali, é muito mais acessível” (Técnico de enfermagem B)

Neste sentindo, Schwartz et al. (2010) afirma que o acesso pode ser regulado por

meio da oferta de ações e serviços mais adequados, contribuindo para a satisfação do

usuário.

“...Então facilita muito, nossa. Ele faz o que você pede

pra ele fazer. Ele confia em você, não é? Ele sabe que

você está lá todo dia, ele sabe que se não

melhorar...”(Profissional de nível superior C)

61

Acesso ao sistema de saúde pode ser entendido como "porta de entrada", como o

local de acolhimento do usuário no momento de expressão de sua necessidade e, de

certa forma, os caminhos percorridos por ele, no sistema de sistema, na busca da

resolução dessa necessidade. (JESUS E ASSIS, 2010)

O acesso aos serviços de saúde, além de ser uma garantia constitucional, se

constitui como um dos elementos fundamentais dos direitos de cidadania. Nesse caso, o

exercício de cidadania tem um grande potencial de produzir resultados concretos, tendo

em vista as reais possibilidades de mudança e melhora no atendimento aos problemas de

saúde da população. (GIOVANELLA E FLEURY, 1996)

O Acesso Avançado é um sistema de agendamento que consiste em agendar as

pessoas para serem atendidas pelo médico no mesmo dia ou em até 48 horas após o

contato do usuário com o serviço de saúde. Diversos sistemas nacionais de Saúde no

mundo, implementaram o acesso avançado na atenção primaria à saúde com o objetivo

de melhorar o acesso das pessoas aos cuidados em saúde. (VIDAL, 2013)

O Acesso Avançado tem como objetivos diminuir o tempo de espera por uma

consulta, diminuir o número de faltas às estas e aumentar o número de atendimentos da

população. (VIDAL, 2013)

Sendo assim permitir o acesso à equipe e aos profissionais parece levar à

qualidade da assistência, pois ao permitir a formação do vínculo garante a diminuição

do espaço e distância entre profissional e usuário, proporcionando assim melhor

atendimento de suas necessidades em saúde.

As tecnologias relacionais como promotoras de vínculo

Ao perguntar acerca das estratégias desenvolvidas pelas equipes de saúde da

família, as tecnologias leves do cuidar foram destacadas para a promoção e

desenvolvimento do vínculo. Estas tecnologias das relações são essenciais ao ser

humano, e estão relacionadas à produção de comunicação, de acolhimento, de vínculos,

62

de autonomização, denominadas de ‘tecnologias leves’. (MEHRY, 2007; SILVA E

FIGUEREDO, 2008)

Merhy (2007) defende que o cuidado em saúde é realizado a partir das relações

entre os sujeitos, situando-se em torno de tecnologias leves como acolhimento, vínculo

e corresponsabilização o que possibilita ao profissional criar espaços para que sejam

considerados os afetos e sentimentos como a confiança dos usuários.

Assim, estas tecnologias que têm as suas origens comuns nas formas de

organizações humanas, podem ser identificadas como sendo essencialmente questões

relacionais, ou seja, questões originadas a partir das relações estabelecidas pelos seres

humanos com os seus semelhantes. (MORAES, 2001)

Estas também se manifestam nas relações de trabalho dentro do cotidiano

através de mecanismos de confiança, acolhimento, formação de vínculos interpessoais e

escuta ativa, sendo valorizadas como ferramentas essenciais para auxiliar no cuidado.

Este argumento é corroborado dentro do discurso dos profissionais:

“Melhora, muito o cuidado, porque ele vai estar vendo

que tem uma pessoa ali preocupada... E todos os

pacientes, eles gostam de ser ouvidos, eles gostam de ser

cuidados, eles gostam de ver que alguém está ali

‘preocupado com ele, perguntando como ele está, ele

gosta disso, entendeu? E eu acho muito bom o vínculo

relacionado a isso. Ajuda sim. Ponto positivo. (Agente

Comunitário C)

O processo de acolhimento representa a interação entre o profissional de saúde e

usuário e se conforma como uma prática permeada de ações comunicacionais, atos de

receber e ouvir àqueles que procuram o atendimento. E fornece respostas às demandas

de saúde de acordo com a necessidade dos usuários, e na busca de formas de atendê-las,

seja na recepção ou na consulta individual. (TAKEMOTO, 2207)

O Acolhimento, a escuta qualificada e a comunicação aberta é mencionada como

potentes ferramentas que auxiliam na construção do vínculo longitudinal e estas atuam

63

estreitando a relação de confiança entre profissional e o usuário, trazendo minúcias ao

processo de cuidar ao romper com a hegemonia do modelo biomédico.

“Assim, eu não me atento só a medir, pesar e medir

pressão. Quando o paciente não está tomando o remédio a

gente pergunta, “por que você não está tomando

remédio? Não tem remédio? Você não sabe tomar? Você

não sabe ler?”. Eu acho que isso é importante pra

estabelecer o vínculo. Não ficar só na doença, não é? Só

porque é hipertenso, diabético, a pressão está alta, a

pressão está baixa. Mas o que está acontecendo? E as

vezes, já teve caso aqui, de um paciente que tinha

depressão, não tomava remédio porque estava deprimido,

começou a tomar o antidepressivo, a aderência ao

medicamento e as consultas começou a melhorar muito.”

(Profissional de nível superior C)

As tecnologias das relações promovem grande interferência no processo de

trabalho, pois não são apenas as ofertas dentro dos serviços de saúde que proporcionam

maior vínculo, mas como estes profissionais atuam e utilizam as tecnologias do

cuidado.

“...Nós sempre tivemos médico na equipe, porém com a

última médica os pacientes vinham uma vez na consulta

depois não voltavam mais e agora com a outra médica

melhorou muito este vínculo, pois eles se sentiam mais

bem atendidos por ela e aderem mais as consultas, então

assim o vínculo está muito mais forte agora... e isso se dá

por causa da assistência dela. Não da presença, do tipo de

qualidade da assistência que ela começou a implementar

na equipe...” (Profissional de nível superior A)

A utilização das tecnologias leves contempla a existência de um objeto de trabalho

dinâmico, em contínuo movimento, e esse objeto exige dos profissionais de saúde, uma

capacidade diferenciada no olhar e no agir de forma que percebam essa dinamicidade e

pluralidade e que seja materializada durante as relações, permitindo a escuta e a

flexibilidade ao sensível, (ROSSI E LIMA, 2005), como identificado a seguir:

64

“O tipo do médico, do enfermeiro eu acho que

interfere... no cuidado.” (Profissional de nível superior D)

”A gente cria um vínculo de carinho, né? As vezes.

Mesmo as vezes a gente não está nem podendo fazer

alguma coisa além, mas só da gente estar ali, a gente

passa aquela situação junto com a pessoa, a gente cria

aquele vínculo mesmo de carinho.” (Agente comunitário

C)

A qualidade da de interação contribui para o fortalecimento do vínculo, podendo

contribuir na conversa com o usuário dentro de um ambiente terapêutico ou até mesmo

em interações ocasionais, estes momentos podem se transformar em espaços em que o

usuário expressa seus sentimentos, suas dúvidas e suas preocupações, o que é essencial

para a construção do vínculo. (MOREIRA, 2010).

As relações de vínculo e cuidado são mais fortalecidas diante dos mecanismos

relacionais que os profissionais dispõem em seu processo de cuidar com os usuários. E

não apenas a presença ou acesso a estes são suficientes, mas a qualidade das relações

interpessoais que são desenvolvidas durante este processo.

“Mas a relação boa, sincera, facilita muito, assim, é um

diferencial.” (Profissional de nível superior C)

Outro fator que interfere nesta relação é o tempo cronológico, este é citado como

um facilitador para o desenvolvimento da confiança e vínculo. Desta forma, quanto

maior for o tempo de interação das relações entre profissionais e usuários, haveria

maiores oportunidades para o vínculo se aprimorar.

Assim, o tempo pode ser entendido como um fator primordial para a formação do

vínculo, podendo inferir de que é necessário mais do que um primeiro contato para

construção deste.

“Isso. O que mais ajuda é a gente conhecer. Porque eles

são cadastrados meu há dez anos, mas eu já conheço eles,

moram no mesmo endereço há vinte anos, então quer

65

dizer, já começa daí a já ter uma afinidade. O vínculo se

torna bem mais fácil.” (Agente comunitário B)

A formação do vínculo demanda tempo, continuidade, sendo desenvolvido

progressivamente em cada momento de contato, com a formação de espaços de

sensibilidade e confiança nas relações interpessoais.

“Então tem que ter confiança..., eu precisei de um tempo

que foi o vínculo, depois do vínculo, a confiança.”

(Profissional B)

“...Sendo que quando é um morador novo, a gente pega, a

gente senta, a pessoa... a gente vai ganhando as pessoas

aos poucos. Quando as pessoas veem que os outros

cadastrados confiam em você, quando as outras pessoas

da rua veem que você está ali frequentemente, vê que você

está disposta a ouvir, disposta a ajudar. Então a pessoa

vai confiando em você. Eu acho que tudo depende da

confiança que você deposita, e da forma que você se porta

no seu ambiente de trabalho.” (Agente comunitário B)

Além do tempo, outros mecanismos influenciam este processo, ao considerar

que o desenvolvimento da empatia pode ser uma habilidade que é passível de ser

aprendida, esta pode ser incorporada ao processo de trabalho, de modo a fomentar a

formação do vínculo.

Demonstrar interesse em ouvir o usuário, chamar pelo nome, trazer

singularidades para a conversa de forma a deixar a relação mais ímpar são estratégias

que fazem parte das tecnologias da relação e aprimoram o processo de cuidar.

“É importante saber o nome do paciente, não é? Aquilo

que eu falei, saber quem é o filho, quem é o pai, o que

aconteceu na consulta anterior. Isso ajuda muito nesse

vínculo, entendeu? Eles falam, “nossa..., você lembrou”,

não é? As visitas domiciliares. As vezes eu encontro um

paciente na própria comunidade, e eu lembro que ele foi

66

lá, “olha, não deixa de ir na próxima consulta. Fez aquilo

que eu mandei?”. Isso tudo, na estratégia de saúde da

família, cria um vínculo que não tem em nenhuma outra

especialidade.” (Profissional de nível superior C)

Entendendo as tecnologias das relações como uma habilidade, que pode ser

aprendida e aprimorada, demonstrar disponibilidade e comprometimento de forma a

promover um cuidado atencioso é fundamental para a consolidação do vínculo.

“ A gente está sempre ali por perto, conversando,

falando, explicando. Quando procuram a gente aqui, a

gente também tem que ter aquele tempo, por mais que a

gente esteja sobrecarregada, a gente tem que ter um

tempinho pra poder conversar com eles ali, um tempo que

eles vem aqui, porque as vezes só querem verificar

pressão, e daí a gente já vai verificar pressão, ali já

conversa com eles, já acerta tudo... E o que pode

influenciar para o bem? Sei lá... eu acho que uma boa

conversa, você ser honesto com eles o momento todo. E

atenção. Você tem que ter muita atenção em tudo que você

fala com eles, e dar atenção a eles.”(Técnico de

enfermagem A))

Práticas educativas: participativa ou normativa?

A educação em saúde está inserida dentro das práticas do cotidiano das equipes

de saúde da família e se caracteriza por um potente espaço de apropriação de práticas de

saúde e trocas de experiência, transformando a educação em uma potente ferramenta

para afunilar a relação entre usuários e a informação em saúde.

Schimidt (2004) afirma que o vínculo envolve afetividade, ajuda e respeito;

estimula a autonomia e cidadania, visando à identificação das necessidades, com o

objetivo de estimular no usuário à busca pela sua saúde.

Assim, a educação em saúde se constitui por uma estratégia que trabalha no

sentindo de promover a construção do vínculo por meio da emancipação,

67

proporcionando maior valorização das práticas de responsabilização do usuário pela sua

saúde.

A formação do vínculo dentro das estratégias de educação amplia a eficácia das

ações de saúde e favorece a participação do usuário durante a prestação do serviço. Esse

espaço deve ser utilizado para a formação de sujeitos autônomos, pois não se estabelece

vínculo sem que o usuário seja reconhecido na condição de sujeito, que fala, julga e

deseja. (DELL’ACQUA, 1997)

Neste sentido, as práticas educativas parecem ser valorizadas e qualificadas,

contribuindo cada vez mais para a promoção e a apropriação do significado de saúde,

como encontrado a seguir:

“Eu acho que o mais importante pra você promover a

saúde com o paciente, é educação. Eu acho o básico, em

qualquer nível de tratamento.... Então a gente faz os

grupos, e o esclarecimento, o que é a doença, o que a

doença produz em termos...” (Profissional de nível

superior D)

Os grupos como estratégia do processo educativo, constituem importante

ferramenta para a formação do vínculo. Grupo é uma estratégia educativa que tende a

facilitar a participação, comunicação de experiências e dúvidas, além de favorecer a

autonomia para o autocuidado dos sujeitos. (DELL’ACQUA, 1997)

Educação em saúde é desenvolvida na perspectiva de formação de sujeitos

sociais na intenção de promover cidadania e de forma compartilhada propiciar

experiências de aprendizagem e de criatividade. Construindo conhecimentos e

desenvolvendo habilidades, de modo a desenvolver a reflexão crítica, voltada para o

compromisso da transformação social. (ALVES E AERTES, 2011)

Estes espaços são potentes para promover acesso à informação e às práticas

saudáveis, auxiliando na construção da autonomia do sujeito. Também estreitam a

relação com o saber em saúde, propiciando maior autonomia do individuo através do

estímulo ao autocuidado e empoderamento do indivíduo.

68

“As vezes só o fato de você estar conversando, de você

estar ouvindo essa carência que eles tem, você está

conseguindo fazer uma visita, sem ter necessidade você

está passando a saúde, dando informação, você está

ouvindo, deixando a pessoa bem informada, capacitada

pra poder se tratar, se auto cuidar, né, com sua

medicação, com sua dieta, falando sobre sua nutrição e

sobre a sua alimentação, e está ouvindo a pessoa. A

pessoa sai satisfeita, você fez o seu trabalho, todo mundo

fica bem.” ( Agente comunitário C)

Na perspectiva da educação em saúde, as práticas educativas assumem o papel

de fortalecer a capacidade de escolha dos sujeitos, através da adequação da linguagem e

da contextualização do conteúdo para a realidade do indivíduo, adaptando as

informações sobre saúde às necessidades do usuário e, desta forma, instrumentalizando

estes para fazerem escolhas mais saudáveis de vida. (ALVES E AERTES, 2011)

“Aí depois que... “ah, depois que eu vim para o grupo

minha pressão nunca mais aumentou, e não sei o que. Não

estou comendo isso, não estou comendo mais aquele

Sazon, eu tirei isso, eu tirei aquilo. A fulana disse que o

alho poró era bom, que não cortaram não sei da onde”...

aí você tem bastante retorno.” (Profissional de nível

superior B)

Neste contexto, a educação em saúde tem como missão contribuir para a

construção de cenários propícios para compartilhar novas temáticas, experiências e

desejos, promovendo não somente a mudança de atitudes e comportamentos, mas,

principalmente, a constituição de sujeitos/cidadãos portadores de autonomia e direitos

sociais. (VASCONCELLOS, 2001)

“A gente até vê pelos grupos mesmo que os pacientes

que voltaram, que orientou que voltassem no mês seguinte

no grupo, já voltaram com a pressão mais estabelecida, o

exame de laboratório está melhor, já vê uma melhora no

quadro do paciente” (Profissional de nível superior A)

69

A educação em saúde foi mencionada em diversas falas dos profissionais como

um espaço construtor de autonomia e promotor de acesso à informação.

“Eu me identifico muito com a promoção, várias

pessoas, troca de experiência. Eu acho que isso é muito

bom. No grupo então, a troca de experiência, quando um

fala, quando o outro fala, até o profissional, o próprio

paciente está falando, está trocando, o outro está ouvindo,

eu acho que é uma riqueza só.” (Profissional de nível

superior B)

Dentre os discursos dos profissionais foi possível encontrar concepções

divergentes da educação em saúde, podendo ser identificado, muitas vezes, uma visão

prescritiva que ainda reflete um modelo autoritário e dotado de valor punitivo:

“Porque às vezes você começa com muito vínculo, aí

surge até uma amizade, e de repente... é igual aquela

professora que é rígida, não é, todos alunos vão obedecer

ali porque ela é rígida, e outra já, aquela boazinha aí,

“ah, a tia é legal”, entendeu? “Ah, não vai brigar não, se

a gente não fizer...”. Mas eu sei separar, porque também

tem a minha idade, não sou tão novinha. Então eu brinco,

sei hora de brincar e sei hora de chamar atenção. Quando

eu chamo atenção, chamo mesmo.” (Agente comunitário

A)

É possível destacar nos espaços de educação em saúde a supremacia de um

pensamento voltado para a educação normativa com o predomínio do modelo

hegemônico de educação sanitária. A partir de uma visão que educar em saúde é

praticar higiene como forma de mudar comportamentos pessoais, para que não haja o

adoecimento.

A educação em saúde ainda é vista de forma reducionista, cujas práticas são

consideradas impositivas, prescritivas de comportamentos ideais, desvinculados da

realidade e distantes dos sujeitos sociais, tornados objetos passivos das intervenções, na

maioria das vezes, preconceituosas, coercitivas e punitivas. (VASCONCELOS, 2001)

70

Essas características utilizam a metodologia de ensino verticalizada e não

problematizadora.

“...a falta de educação, entendeu... de pessoas que são

muito agressivas, ou muito... tem um comportamento bem

diferente do nosso, mas muita gente já chega

reclamando.” (Profissional de nível superior D)

“E a gente fala também muito sobre a alimentação, como

a pessoa deve se alimentar, os hábitos, a higiene, né? E

mais, basicamente, é isso” (Profissional C)

É possível perceber uma dificuldade em aceitar as práticas que o usuário possui

em seu contexto de vida e que a partir destas, são capazes de produzir conhecimento e

que esse conhecimento está vinculado às suas raízes culturais. Gera um descompasso de

informações e um impasse para atingir o propósito da educação em saúde, uma vez que

a visão dos profissionais está centralizada em normatizar o indivíduo em seus conceitos

preestabelecidos.

“...Eu acho assim, quando a gente fala assim... eu não

gosto de ser piegas, eu estou falando, não sou boazinha.

As vezes eu sou até um pouco impaciente, porque eu sou

assim mesmo, mandona, tem que ser assim e tal. Mas eu

acho que é assim, a base da medicina, aquela coisa

assim...” (Profissional de nível superior D)

“...o paciente tem que ser educado praquilo, para o que

acontece com ele...” (Profissional de nível superior D)

Estas percepções normativas, não são unanimes, havendo a valorização da visão

participativa no discurso de outros profissionais que acreditam na educação em saúde

como forma de promoção da autonomia por meio do protagonismo do usuário.

“Nesse grupo, então primeiro a gente sempre fala a

mesma coisa sempre, de alimentação de três em três

horas, do exercício, os substitutos, todo aquele básico da

nutrição, não é? Entendeu? Do café da manhã, dentro da

71

realidade. Não vai ter nada caríssimo, nada light,

ninguém vai mandar comer tofu, ou não sei o que,

entendeu? ... Adequado para o paciente. Bem dentro da

realidade... É o que conhece, o que vai poder comer, o que

vai cortar. E sempre a gente vai aprendendo...”

(Profissional de nível superior D)

“Além disso, me facilita na abordagem de como eu vou

passar a informação pra ele. Eu sei como falar com ele,

não é? Eu sei quem... que não adianta eu ser duro com

ele... não adianta chegar um paciente de 80 anos e dizer,

“olha só, sua glicose está muito alta, você tem que parar

de comer tudo”. Ele não vai parar de comer tudo. Eu vou

perder aquele paciente. Então eu vou, “olha, vamos parar

de comer aquela coisa. Vamos deixar de fazer aquela

coisa”, entendeu?” (Profissional de nível superior C)

Sendo possível encontrar discursos que defendem a problematização

participativa entre usuário e profissional para que de forma conjunta possam promover a

transformação da realidade, aceitando e respeitando os saberes dos sujeitos envolvidos.

“Eu acho então que a gente tem que ter um pouco mais

de sutileza, não só insistir naquilo que é realmente certo,

tem que fazer ela entender o por que eu acho que ela tem

que tomar todo dia.” (Profissional A)

Desta forma, cabe aos profissionais de saúde, entenderem e respeitarem o

contexto social em que o indivíduo está inserido e utilizar este cenário na sua prática de

educação em saúde, com o objetivo de construir com o usuário espaços de mudanças de

comportamento.

A visita domiciliar como um espaço construtor de vínculo?

Entendendo a visita domiciliar como uma importante ferramenta dentro das

tecnologias do cuidado, sua relevância é destacada nas falas dos profissionais que a

72

valorizam como um espaço promotor de vínculo e de aproximação das práticas de saúde

na população sob seus cuidados.

A visita domiciliar pode ser considerada como um conjunto de ações que

abrange aspectos educativos e assistenciais e possibilita novas oportunidades de

cuidado. Carrega em suas atuações o fortalecimento da confiança e do cuidado familiar

sendo traduzida como um instrumento de construção coletiva de toda a equipe de saúde.

(CRUZ E BOURGET, 2010)

Nos relatos, foi possível identificar a visita domiciliar como um dispositivo

capaz de construir espaços de interação, nos quais se estabelecem relações de confiança

e vínculo.

“A confiança que eles depositam na gente, faz total

diferença... porque a questão, as vezes, não é só a visita

em si, muitas vezes eles só querem conversar...” (Agente

comunitário C)

Assim, este espaço é capaz de potencializar a formação do vínculo, estreitando a

relação interpessoal entre usuário e equipe e aprimora as tecnologias do cuidado dentro

do contexto social em que está inserido o indivíduo.

“Então,... eu vejo que a nossa função é ir fazer visita, na

visita estar olhando pra ver, acompanhando pra ver se ele

está tomando os medicamentos, se é a forma correta como

foi prescrita.”(Técnico de enfermagem B)

“Na visita domiciliar a gente também é muito bem

recebido por todos eles. Já aguardam a gente.” (Técnico

de enfermagem A)

Outro fator importante observado foi a utilização da visita para priorizar os

usuários que necessitam de atendimento, sendo utilizada como um mecanismo para a

estruturação do processo de trabalho.

“Por que você mandou esse cadastrado vir aqui se a

gente pode fazer uma visita na casa dele? Ele teve muita

dificuldade pra vir aqui. Ele está passando por um

momento que não tem como comparecer na unidade. Por

73

que a gente não tenta ir na casa dele?” (Profissional de

nível superior C)

“Bom, acompanhamento que a gente faz é a visita

periódica, né, no caso de hipertenso e diabéticos, a gente

tem um foco maior, não é? Por causa dessa comorbidade”

(Agente comunitário C)

A visita fortalece os pilares das tecnologias leves no atendimento, estabelecendo

um vínculo consistente entre o usuário e o serviço de saúde, sendo esta uma condição

fundamental para a excelência no padrão de atendimento e a garantia de boa qualidade

na assistência em saúde. (LOPES E MASSAROLI, 2008)

A visita também aparece como uma prática rotineira das equipes de saúde,

estando incorporada ao processo de trabalho, e desta forma, necessita de organização e

planejamento de forma a atender as demandas do serviço.

“Eu faço, o médico faz, todo mundo faz VD. O agente vai,

“olha, veio do pronto socorro ontem, está com a pressão

tal, tomou remédio, está medicado, não sei o que...” Vou

marcar uma VD. Marca aí”. Então no melhor dia a gente

vai.” ( Profissional de nível superior B)

Sendo a visita domiciliar uma prática frequente dentro do trabalho em saúde da

família, esta se apresenta comum a todos os profissionais que compõe as equipes, porém

parece não ser valorizada por todos, podendo ser observada a desvalorização deste

espaço por alguns profissionais.

Este argumento foi percebido após o questionamento sobre a prática frequente

da visita domiciliar:

“Posso te falar? Muito pouco. Muito pouco, porque os

pacientes são tão sem estrutura dentro da casa, pra

conversar, ficar, e as vezes o ambiente também não é

assim, muito agradável, eu prefiro aqui, bater um papo,

com conforto. Quer dizer, eu me sentir confortável. Pode

ser até... como que se diz... até pela minha formação,

sempre trabalhei em consultório. Eu trabalhei em serviço

74

público em emergência, mas assim, com paciente eu

trabalhei em consultório, eu gosto de arrumada, limpa,

não é? As vezes na casa, aquele calor, aquele negócio,

você está falando, aí um grita, aquela televisão que eles

não desligam, tem sempre uns deitados no sofá. Então

aquilo me dá uma incomodação. Não consigo

desenvolver, eu vou me distraindo. Aí, geralmente, eu

peço... a não ser o paciente que não possa sair, não é? Aí

é diferente, entendeu?” (Profissional de nível superior D)

Além de fatores individuais aos profissionais, a visita domiciliar têm perdido

suas potencialidades também devido à falta de tempo e a sobrecarga de tarefas,

ocasionando a perda deste rico espaço.

“Antes era um pouco mais fácil pra fazer as visitas, a

gente tinha mais tempo pra fazer as visitas. Aí dava pra

dar um pouco de atenção a mais pra eles... mas é porque

a gente podia se dedicar mais, e aí as vezes é uma coisa

bem corrida, não dá tempo de conversar, saber como a

pessoa está. Fica meio automático”. (Agente comunitário

D)

Em uma revisão sistemática sobre visita domiciliar na atenção primária, Sossai e

Pinto (2010) destacam como principais dificuldades para sua realização, a questão de

infraestrutura na perspectiva dos recursos necessários, o excesso de burocratização do

trabalho e a falta de tempo para realizar as visitas.

Estas dificuldades também estiveram presentes na realidade do grupo estudado,

pois priorizar o vínculo e efetuar as inúmeras atividades das equipes apareceu como

uma dificuldade a ser enfrentada:

“Sim. Eu acho um pouco difícil sim, no momento. Porque

não tem tantos momentos pra poder estar fazendo visita,

não tenho acessos assim, pra gente estar podendo sair da

clínica e fazer a busca ativa do pacientes. São poucos

momentos, e tem que ser assim, algo rápido, porque são

muitos pacientes e em curto tempo. Então tem que ser

algo rápido, e realmente acho que a demanda é muito

75

grande. O fluxo é muito grande, e aí fica meio difícil.”

(Técnico de enfermagem B)

A visita domiciliar é referida no documento executivo sobre o programa de

Agentes Comunitários de Saúde de 2001, como uma das principais atividades

preconizadas pelo Ministério da Saúde para o agente comunitário. Sendo por meio dela

que o agente melhor conhece as necessidades das famílias e, principalmente, desenvolve

o trabalho educativo, citado como a segunda atividade mais realizada. (BRASIL, 2001b)

Em contrapartida, este espaço promissor para a construção de novas práticas de

cuidado e de vínculo tem perdido seu potencial devido ao excesso de tarefas que

permeia o trabalho do agente comunitário.

“Até as minhas VDs, que antigamente eram demoradas,

que as vezes eu ia lá no fundo, hoje eu não tenho mais

esse tempo, porque eu tenho que fazer 144 VDs, eu tenho

que ficar dezesseis horas por semana no acolhimento, eu

tenho reunião de equipe, tenho reunião geral, eu tenho as

vezes um curso, uma coisa que... aí é onde atrapalha o

trabalho que eu aprendi há dez anos atrás. Eu não vejo

mais esse tipo de trabalho” (Agente comunitário C)

Em consequência da perda deste espaço de construção das tecnologias do

cuidado, as relações interpessoais também sofrem perdas, fazendo com que o processo

de formação e manutenção do vínculo seja perdido.

“Vai se perdendo um pouco do vínculo, porque quando

você vai menos a casa das pessoas, faz menos um

trabalho” (Agente comunitário B)

Neste sentindo, se torna necessária a reflexão sobre a falta de tempo para a

realização das visitas domiciliares, pois a sobrecarga de trabalho e a falta do tempo

cronológico têm interferido diretamente na construção de vínculo. (SOSSAI E PINTO,

2010)

76

Cabe ressaltar a necessidade de profissionais e gestores de saúde, de refletir

sobre como tem se dado a organização do processo de trabalho. Sendo necessário pensar

em uma forma de atender as necessidades dos usuários, famílias e profissionais,

proporcionando a valorização da visita domiciliar com a sua real importância para o

cuidado.

A organização do trabalho como estratégia de promoção de vínculo.

Nesta categoria foram identificados elementos inerentes ao processo de trabalho,

que interferem na formação do vínculo longitudinal.

Na visão dos entrevistados, algumas condições que favorecem positivamente

foram destacadas, a saber: o trabalho em equipe, a reorganização do processo de

trabalho valorizando os espaços para escuta do usuário e consequentemente, o exercício

de uma clínica ampliada. Aquelas que influenciam negativamente são: a falta de tempo

para as atividades regulares da equipe; excesso de burocratização e a descaracterização

do trabalho no modelo de atenção à saúde da família, adotado na cidade.

O trabalho em equipe é referido pelos profissionais como um catalisador para a

para a qualidade do trabalho das equipes de saúde da família.

Por meio do trabalho em equipe é possível alcançar resultados mais eficazes das

ações de acompanhamento programado do usuário.

“...se a gente não se ligar, um ao outro, a gente não

consegue fazer o trabalho bem feito. Eles trazem pra

gente, a gente tem que tentar solucionar. Eu tenho que

fazer uma parte, o enfermeiro outra, o médico outro. Cada

um tem sua ação dentro da equipe. Então tem que ser em

conjunto mesmo, senão não anda não...” (Técnico de

enfermagem A)

O trabalho em equipe tem por objetivo a obtenção de efeitos ou resultados sobre

os diferentes fatores que interferem diretamente no processo de cuidar em saúde.

77

A ação interdisciplinar dentro da atuação profissional possibilita o

reconhecimento do trabalho de um membro da equipe dentro da prática do outro e

ambos são transformados através da articulação de saberes. (ROCHA E ARAÚJO,

2007)

Deste modo, a prática interdisciplinar é um dos grandes desafios para os

profissionais que integram a estratégia saúde da família, de forma que esta é necessária

para a obtenção de uma atenção articulada e centrada no indivíduo, trazendo a noção do

que seria uma abordagem integral do usuário. (BORGES E DOHN, 2006). Tal desafio

foi ressaltado por profissionais de diferentes categorias:

“Quer dizer, eu falo que a gente só trabalha, o técnico e o

enfermeiro mesmo, a gente só trabalha por causa do

agente comunitário, porque a gente só sabe o que

acontece na rua por causa deles. Então quer dizer, a gente

tem que dar muito valor ao agente comunitário, porque

eles que vão pra rua e trazem pra gente, “olha, fulana

precisa disso, fulana precisa daquilo”, entende? Então eu

acho que a equipe toda trabalha nesse em prol mesmo, da

gente poder organizar o trabalho e ir atrás daquele

cadastrado que está precisando.”(Técnico de enfermagem

A)

“A gente tem promoção de grupo, não é? Mas aí não

seria uma coisa só minha, individual, seria mais

relacionado a equipe” (Profissional de nível superior C)

Dentro da organização do trabalho em equipe foi possível encontrar espaços que

propiciam melhor a articulação e integração dos profissionais, estes espaços são

comumente nomeados por reuniões de equipe, sendo utilizados para o planejamento do

trabalho das equipes, de forma a alcançar a uniformidade das ações.

“Bom, nas reuniões de equipe a gente discuti tudo, não

é? E esse é o espaço que a gente tem, nas reuniões de

equipe. Apenas na reunião de equipe. Com a equipe

discutindo casos, é só na reunião de equipe mesmo.”

(Profissional de nível superior A)

78

A reunião de equipe desempenha um papel importante, pois possibilita que os

diversos membros da equipe de saúde discutam os problemas que se apresentam na

prática cotidiana. (COLOMÉ, 2008)

Para o alcance de um modelo assistencial que permita a articulação de diversos

saberes, é recomendado que o trabalho em equipe proporcione a construção de uma

prática interdisciplinar, na qual o diálogo conceda a aproximação entre as partes, tendo

a clareza de que todo conhecimento parcial só ganha significado quando referido no

conjunto. (KELL E SHIMIZU, 2010)

“Então, é isso que a gente está observando. A gente está

começando a analisar caso por caso. Depois a gente tem,

nós mesmo, tem a discussão de fulano, aquela de pressão

alta, todinha, separa, “e aí? Mês passado como estava?”,

não sei o que. “Fulano, vai visitar, tem que ver o que

acontece”. E a gente está vendo resultado.” (Profissional

de nível superior A)

Ainda na organização do processo de trabalho no cotidiano dos atendimentos

(nas consultas por demanda livre ou programada, por exemplo), os profissionais citaram

a importância de prover o equilíbrio entre as atividades administrativas e clínicas com

aquelas que propiciam a escuta, o diálogo – este equilíbrio também foi identificado

como um potente fator para a promoção do vínculo e do cuidado integral. Em sintonia

aos conceitos da clínica ampliada e compartilhada ou a medicina centrada na pessoa, a

incorporação de tal tecnologia na organização do trabalho traz influência positiva e

reflete-se diretamente no vínculo longitudinal, como pode ser identificada a seguir:

“Eu tenho na minha cabeça já o que eu faço. Os cinco a

dez primeiros minutos da consulta eu deixo só o paciente

falar. Eu dou bom dia, me apresento, se ele nunca teve

consulta comigo, deixo ele se apresentar, e deixo ele falar.

Ele fala o que ele quiser. E eu filtro o que eu escrevo.

Então dez minutos é pra ele falar de qualquer coisa, não

necessariamente só relacionada a hipertensão e diabete.

Aí nos outros dez minutos eu examino ele, aí realmente eu

examino um pouco mais direcionado, a gente tem que ser

79

um pouco mais objetivo, e nos outros dez minutos eu vou

fazendo a minha receita, meu pedido de exame, e vou

explicando pra ele por que eu estou pedindo. Então isso,

na minha cabeça, já está formado, assim. Hoje eu já faço

exatamente assim. Dez minutos iniciais, examino, e os dez

minutos finais eu passo estratégia do plano de cada

paciente, entendeu?” (Profissional de nível superior C)

Sendo assim, Marques e Lima (2010) propõem que as tecnologias leves sejam

indissociáveis à prática de cuidar, pois acreditam que somente será possível uma

assistência de qualidade se houver uma modificação significativa no campo das relações

entre profissionais, usuários e comunidades, buscando novos elementos norteadores das

práticas de saúde em prol do cuidado compartilhado.

A clínica ampliada também foi valorizada no cotidiano das práticas e ações

ofertadas, sendo considerada como uma potente estratégica para solidificar o vínculo,

pois facilita uma abordagem integral aproximando o usuário do profissional e equipe.

“ A facilidade que o paciente tem de discutir os casos,

assim, não só necessariamente focado em diabetes ou

hipertensão mas que podem influenciar nisso, uma

depressão, uma outra coisa que dificulte o tratamento

dele.” (Profissional de nível superior C)

Além de estar associada à qualidade da atenção, a clínica ampliada proporciona

uma visão integral do sujeito, promovendo ações articuladas e valorizando a

complexidade e singularidade do usuário.

“Porque a gente toda vez vai pesar e medir

circunferência abdominal, entendeu? Se já havia pedido

os exames, de quem precisa. Então a gente está sempre em

dia com os pacientes. Os diabéticos a gente vê, já examina

os pés, faz aquela... Mas o diabético, tem problema de

vesícula, tem hemorroida, tem dor de cabeça, então ele

também vem para as consultas.” (Profissional de nível

superior D)

80

A Clínica Ampliada reconhece a importância de todas as abordagens

disciplinares, buscando integrar várias abordagens para possibilitar um manejo eficaz da

complexidade do trabalho em saúde, que é necessariamente transdisciplinar. Assim,

coloca em discussão a fragmentação do processo de trabalho, defendendo a criação de

um contexto favorável para que se possa falar destes sentimentos em relação aos temas

e às atividades não-restritas à doença ou ao núcleo profissional. (BRASIL, 2009).

A proposta de formação do vínculo retoma o conceito de cuidado e de qualidade

na atenção, visto que permite um melhor acompanhamento do usuário e da família,

permitindo assim melhor controle do processo saúde-doença. No entanto, se por um

lado progride-se na assistência prestada através do acompanhamento, por outro lado,

muitas vezes perde-se tempo em normatizações e burocracias que dificultam e atrasam o

serviço. (ARAÚJO E VERAS, 2009)

A organização do processo de trabalho demonstrou-se como uma estratégia para

estreitar os laços de vínculo com o usuário, porém também foram encontrados

elementos frequentes dentro do trabalho das equipes que muito prejudicam a formação

do vínculo longitudinal.

Na visão dos profissionais, um dos fatores que dificultam o trabalho foi a falta

de tempo para realizar as atividades (consultas, visitas, reuniões, grupos), mencionado

como um vilão à composição do vínculo, uma vez que diminui a disponibilidade dos

profissionais para atendimento ao usuário, proporciona menor contato interpessoal e

entrava o acesso do usuário à equipe de saúde.

“Então eu acho que é mais o nosso horário. O nosso

horário, nosso cronograma, que às vezes é apertado

demais, a nossa escala às vezes está pequenininha, tem

dificuldade, muitas vezes.” (Técnico de enfermagem A)

Resultado semelhante foi encontrado em outro estudo, como o de Ferro et al.,

(2014) que afirmam que o tempo estabelecido para as atividades intersetoriais e

interdisciplinares das equipes de saúde da família é insuficiente. O excesso de demanda

81

e a falta de tempo para a realização de reuniões, de discussão de casos e planejamento

de ações são apontados como barreiras para o exercício do trabalho.

“O tempo. A dificuldade maior é o tempo. Com certeza

absoluta, assim. A gente, na estratégia de saúde da

família, como em outras profissões também, a gente tem

que cumprir algumas coisas que, não necessariamente, a

gente gosta ou a gente tem tempo pra fazer, não é? E aí

você ter que acumular função, não é, aqui minha

especificamente, outras funções que eu tenho aqui dentro

da clínica, é o tempo. Se eu tivesse mais tempo, eu com

certeza não teria esse problema desse

vínculo”(Profissional de nível superior C)

Aliado à falta de tempo está o excesso de burocratização do trabalho. Esta tem

sido uma reclamação frequente dos profissionais, uma vez que estão, cada vez mais,

incorporando novas funções à sua prática na saúde da família.

“Também as vezes também eu até me aborreço aqui

porque.... Eu as vezes marco uma cadastrada que

trabalha, “não, mas tal hora você me acha em casa”, aí

eu vou, marco com aquela pessoa, aí as vezes é uma

reunião que é extraordinária, ou isso, aquilo, aí você é

obrigada a ficar, e eu fico revoltada, porque aí você passa

a perder... “poxa, te esperei e você não apareceu”

(Agente comunitário B)

“Então agora sobra-se pouco tempo pra você fazer o

serviço. As vezes a gente até tenta, as vezes até consegue.

As vezes, serviços que eu acredito que não seja muito da

nossa alçada.... o tempo que eu estou batendo ali eu podia

estar fazendo visita em outra casa. De repente uma pessoa

que está precisando.” (Agente comunitário B)

A burocratização do acesso e a pulverização de outras tarefas agregadas ao

trabalho impedem ao usuário, aos trabalhadores e aos gerentes do sistema de saúde, a

82

visualização das potencialidades assistenciais instaladas dentro do ambiente de cuidado.

(MARQUES E LIMA, 2004)

“O tempo que você fica perdendo aqui com tanta

burocracia, tanto preenchimento de papel, eu acho que

você, se fizesse essa demanda pra dentro da comunidade,

eu acho que seria bem melhor. Bem melhor.” (Agente

comunitário B)

O acúmulo excessivo de atividades dos profissionais das equipes de saúde tem

sido reportado em diversos estudos. (SAKATA et al., 2007; KEBIAN E ACIOLI, 2014)

Os autores referem que o número elevado de atividades e o tempo escasso são principais

complicadores do processo de trabalho das equipes, limitando o desenvolvimento do

mesmo em detrimento da qualidade da assistência.

Sendo assim, a descaracterização do trabalho da saúde da família foi

mencionada como um forte fator negativo, uma vez que a falta de tempo e o excesso de

burocratização transformam o trabalho, ocasionando a diminuição ou perda de tarefas

essenciais para alcançar os objetivos da estratégia de saúde da família.

“porque agora é muitas outras coisas, né? O ACS não

tem só a visita pra fazer, tem as outras atribuições. Então

você acaba tirando um pouco do tempo, fica mais

corrido.” (Agente comunitário D)

Esta afirmação é observada no discurso de todos os profissionais, porém fica

muito forte quando se refere ao trabalho do agente comunitário de saúde. Parece que

durante o processo de evolução da saúde da família o trabalho essencial do agente

comunitário foi o que perdeu mais espaço, sendo referido como o que mais sofreu

distorção da função inicial.

“O que eu vejo dificuldade aqui é que não vejo mais, que

eu tenho dez anos e alguns meses, não é, então quando

nós entramos nós fazíamos trabalho de promoção e

prevenção mesmo. Hoje eu já não vejo mais isso. Hoje eu

vejo isso aqui como uma UPA, uma clínica que você vai,

agenda consulta, vai agendar uma consulta. Não tem mais

a promoção de saúde. Porque quando era PACS, a gente

ia muito pra rua. A gente fazia muito evento, fazia...

83

porque a gente não tinha muita coisa pra oferecer, a gente

tinha isso, informação. Era o mais que a gente tinha pra

oferecer. E isso eu não vejo mais. A gente fica mais presa

aqui, é mais burocracia do que realmente um trabalho de

ACS, que eu aprendi, há dez anos atrás. Entendeu? Isso

que me chateia muito, você está muito ao serviço

burocrático, a preencher ficha, números, e mesmo o

trabalho com a pessoa, com o ser humano, você não está

conseguindo mais. (Agente comunitário C)

Devido à sobrecarga de trabalho que afeta principalmente o agente comunitário,

este refere atuar em diversas funções. Entretanto, percebe-se que o ACS recebe uma

grande demanda de trabalho, com atribuições muito amplas, dificultando que o mesmo

dedique seu tempo à realização da visita domiciliar. (PERES et al., 2010)

“Qual é a dificuldade maior nisso? É o tempo. Hoje em

dia o agente comunitário não tem mais tempo de

trabalhar com a família, ele trabalha com números, com

quantitativo. Isso está dificultando muito nosso trabalho.

E a gente que vem de PACS, a nossa realidade hoje é

muito diferente. A gente trabalhava com cadastrados, tipo

um chá da tarde, um café da manhã, um almoço, como se

estivesse dentro da casa deles. Hoje em dia não. Hoje em

dia você passa, “a sua consulta está marcada, vou lá

passar pra te entregar”. Eu vou lá, passo e entrego

realmente. Dar tempo pra ele falar comigo, hoje em dia é

muito difícil. Entendeu? Porque hoje em dia eu não tenho

mais assim, “ah, hoje eu tenho quinze casas pra fazer”.

Não. Hoje eu tinha eu tenho vinte e cinco consultas pra

entregar. Entendeu? Então fica muito complicado. Aí fica

muito difícil você criar vínculo.” (Agente comunitário A)

“Porque antigamente, “ah, está dando muito surto de...

vamos fazer um trabalho em cima disso”. Eu não vejo

mais isso aqui. Não vejo.... Lá no PACS a gente fazia.

Aqui a gente não está fazendo, entendeu? ... aqui não vejo

fazer isso. Está se perdendo esse trabalho.” (Agente

comunitário B)

84

Considerando os atributos essenciais da atenção primária à saúde, como

diretrizes e princípios a seguir seguidos, observa-se uma estreita relação entre o vínculo

longitudinal e a operacionalização destes atributos dentro do processo de trabalho

desenvolvido pelas equipes de saúde da família.

Neste sentido, Rocha e Araújo (2007) afirmam que é relevante investigar o

processo de trabalho para verificar como se desenvolve o trabalho em equipe, base para

a organização dos serviços, o que pode minimizar a divisão do processo de trabalho e

superar a inércia e a burocracia existentes.

Portanto, é essencial redefinir o núcleo e o campo de responsabilidades da saúde,

sendo o papel da gestão reorganizar a rede e de negociar com as equipes e a população

modos alternativos para superar os problemas; aos profissionais, compete a construção

de novos saberes e pactos para garantir condições de diálogo entre eles e a população.

(ARAÚJO E VERAS, 2009)

Assim, cabe realizar uma análise do processo de trabalho de forma a buscar

medidas que estabeleçam o equilíbrio entre o cuidar e as funções burocráticas, uma vez

que este excesso de tarefas tem diminuído o tempo de consultas e de espaços de

produção de vínculo.

A violência como complicador do vínculo dentro do território.

Considerando que a o cenário deste estudo foi uma UBS situada em uma

comunidade na cidade do Rio de Janeiro de extrema violência, tais iniquidades surgiram

nas falas dos entrevistados, como elementos que interferiram negativamente no

trabalho, prejudicando a formação do vínculo entre a equipe e a população adscrita.

Neste território, são comuns ações articuladas da segurança pública em prol da

repressão do tráfico de drogas que acontece no local, e estas ações se apresentam de

maneira não programada, ocasionando muitas vezes confrontos armados, tensões,

insegurança, caracterizando um ambiente vulnerável e hostil para os profissionais e

comunidade.

85

“O meu grande problema é o problema social do lugar

onde a gente atende. Assim, que às vezes a gente não

consegue sair pra rua por conta da questão social. Tem

polícia, tem tiro, enfim.” (Profissional de nível superior

C)

Devido ao problema social que este território enfrenta, a violência interfere

diretamente no processo de trabalho das equipes, dificultando a execução de atividades

programadas, tais como: ações no território, visita domiciliar, atividade educação em

saúde na escola e muitas vezes, também impossibilita os profissionais de chegarem até a

unidade de saúde, além de provocar um grande número de faltas dos usuários.

“...se acontece alguma ocupação na comunidade, eu não

consigo fazer.... É menos um horário de VD que eu tenho.

Ou então é menos um horário no grupo que a gente acaba

perdendo porque os cadastrados não conseguem vir a

unidade. Então essa é a única coisa que consegue

desmembrar, né, esse vínculo do cadastrado vir aqui, de

participar do grupo.” (Agente comunitário C)

A violência armada é um grave problema que dificulta o trabalho das equipes da

estratégia de saúde da família no território ou nas unidades de saúde. O predomínio de

territórios de maior vulnerabilidade social, onde a presença dos atores armados é

ostensiva, gera temor e medo nos profissionais de saúde e na população. (CANDEIA,

2013)

Estar dentro do território, beneficia a aproximação da comunidade com a equipe

de saúde da família favorecendo a formação do vínculo, porém proporciona maior

exposição dos profissionais a várias situações de risco. (ARAÚJO E VERAS, 2009)

“...quando entra polícia, a gente não consegue sair pra

VD, mas eles estão te esperando e você não consegue.

Eles não entendem isso. Quem conhece , mas quem não

conhece fica com medo, e a gente também não pode

arriscar muito, não é?” (Agente comunitário D)

86

“A única coisa que dificulta, e bastante, é quando tem

operação, porque a minha microárea é dentro da

comunidade. Então quando tem operação...”(Agente

comunitário B)

Neste sentido, o vínculo longitudinal também fica prejudicado com a presença

da violência, uma vez que dificulta a realização das ações planejadas pelas equipes.

“A ação da polícia na comunidade atrapalha muito a

fazer o vínculo Atrapalha demais... Então atrapalha

muito, muito, muito. Tem uns que entendem isso, mas tem

outros que cobram, “poxa, você marcou pra vir aqui em

casa e não veio”. A gente vai explicar, “não, porque teve

ação da polícia, não tem como a gente entrar”. E esses

dias, no mês passado, eles ficaram praticamente o dia

inteiro. Então quer dizer, as vezes quando eles chegam de

manhã, a gente pode sair à tarde, mas nesse dia eles

ficaram o dia inteiro. Foi quase duas semanas direto eles

aí. Então quer dizer, isso dificulta muito nosso trabalho.

Como a gente, em VD, como os agentes

comunitários.”(Técnico de enfermagem A)

A questão da violência tem sido mencionada como uma grande dificuldade à

formação e manutenção do vínculo.

“Atrapalha, porque eles não veem de casa. As vezes eles

não conseguem vir na consulta, aí no dia seguinte eles

vem, “olha, não pude por causa que teve ocupação, não ia

me arriscar”. Entendeu? É a única coisa assim, que

atrapalha. “ (Agente comunitário C)”

Dentro deste território que apresenta tantas vulnerabilidades sociais as equipes

de saúde necessitam pensar e criar estratégias que promovam o vínculo de forma a

contornar as dificuldades encontradas. Assim, cabe aos profissionais o uso da

criatividade de forma a repensar e pactuar com as lideranças, estratégias singulares que

estreitem lanços de vínculo com os usuários.

87

Estratégias promotoras de vínculo longitudinal, desenvolvidas pelas equipes de

saúde da família.

Mediante as peculiaridades da população assistida pelas equipes de saúde

entrevistadas, foi possível sintetizar as estratégias que estas desenvolvem, visando

aumentar o vínculo longitudinal nestes usuários.

No quadro abaixo, segue a síntese das estratégias identificadas.

Tabela IV- Listagem das estratégias promotoras de vínculo longitudinal, desenvolvidas

pelas equipes de saúde da família.

Estratégias promotoras de vínculo

longitudinal

Falas identificadas dos profissionais

Cadastramento “Bom, a gente primeiro faz o

cadastramento...” (Agente comunitário B)

Acesso facilitado “O acesso, até o acesso físico, é muito

fácil, não tem nenhuma barreira.”

(Profissional de nível superior C)

Educação em Saúde “A gente faz, promoção, grupos.”

(Profissional de nível superior C)

Variação do cardápio de ofertas

(valorizando as Visitas domiciliares)

“Visitas domiciliares, que a gente faz.”

(Profissional de nível superior B)

A utilização de tecnologias relacionais “Eles importam até bastante confiança...

cria um vínculo não só de trabalho... cria

um vínculo de carinho...” (Agente

comunitário C)

Planejamento e monitoramento “Bom.. .a enfermeira tem um controle

grande. Quando ela vê que tem alguém

que faltou, quando ele vê que tem alguém

que está precisando...” (Agente

comunitário C)

“...a gente tem uma relação de

cadastrados” (Técnico de enfermagem B)

88

Acompanhamento programado três meses depois vem com a enfermeira, e

três meses depois da enfermeira, vem

comigo. Então eu, pelo menos duas vezes

por ano” ((Profissional de nível superior

C)

“...quando sair lá da clínica, que ela já,

“olha, agendar consulta daqui há três

meses”. (Agente comunitário B)

Fonte: elaboração própria

As estratégias promotoras de vínculo que são desenvolvidas por estas equipes de

saúde da família foram identificadas como auxiliadoras do processo de cuidar, de

maneira a fortalecer as relações entre a equipe e os usuários que estão sob sua

responsabilidade.

Também foram identificados os fatores que dificultam a formação do vínculo

dentro do trabalho das equipes de saúde da família, a partir da visão dos profissionais,

sendo apresentada a síntese destes fatores no quadro abaixo:

Quadro II- Listagem dos fatores dificultadores da construção e consolidação do vínculo

longitudinal.

Práticas prescritivas na educação em saúde;

Falta de tempo para as atividades regulares das equipes;

Excesso de burocratização do trabalho;

Descaracterização do trabalho no modelo de atenção à saúde da família;

A violência dentro do território;

Limitação no acesso.

Fonte: elaboração própria.

89

5.2 Parte II- Atenção aos usuários com hipertensão e diabetes; Fluxograma

descritor na percepção dos profissionais e usuários.

Fluxograma descritor

O fluxograma descritor permite a análise do percurso terapêutico que o usuário

faz dentro da unidade de saúde em busca de seu cuidado. Tal análise além de descrever

o processo, também identifica os locais que apresentam problemas, sendo caracterizado

pelas linhas de tensão.

Sendo assim, o fluxograma descritor foi adaptado de forma a demonstrar os

resultados encontrados neste estudo, descrevendo o caminho percorrido pelo o usuário

na perspectiva dos profissionais das equipes de saúde da família e na perspectiva dos

usuários adscritos nestas equipes.

Entende-se que a análise de percurso auxilia a visualização do caminho que o

usuário faz dentro das unidades de saúde ao qual está vinculado. Neste estudo o

fluxograma proporciona a melhor compreensão das estratégias de vínculo longitudinal

adotadas pelas equipes, através da identificação das ameaças durante o processo de

cuidado dos usuários.

O fluxograma, segundo MERHY, (1997) é representado pela entrada que se

caracteriza pela porta de entrada da unidade de saúde e, por meio dela, alguns usuários

acabam por chegar na etapa da recepção e outros não.

A recepção constitui-se nas diferentes formas de organização do atendimento na

unidade. O cardápio de oferta consiste na oferta de determinados serviços pela unidade

de saúde, ou seja, tanto as consultas realizadas em um consultório quanto os outros

atendimentos que são realizados dentro da unidade.

E por último, os usuários que obtiveram algum tipo de intervenção vão sair ou

retornar à unidade, podendo ser: alta por cura, por óbito ou abandono; encaminhamentos

para exames ou para outros serviços assistenciais; e retornos dos mais diferentes tipos

do próprio serviço.

90

Fluxograma descritor da atenção aos usuários com Hipertensão e Diabetes pela

percepção dos profissionais.

A partir da análise do percursso dos usuários pela percepção dos profissionais,

identificou-se o caminho percorrido desde a entrada do usuário até sua saída ou

reentrada de acordo com o fluxograma descritor apresentando suas linhas de tensão.

Figura II- Fluxograma descritor da atenção aos usuários com Hipertensão e Diabetes

pela percepção dos profissionais.

A entrada pode ser identificada pelo cadastramento na unidade de saúde,

podendo ser realizado dentro do território ou na própria unidade, nos guichês de

atendimento, em ambas as situações este cadastraemento é realizado pelo agente

comunitário de saúde.

Para os profissionais a entrada e recepção do usuário tem ocorrido de maneira

adequada não ocasionando dificuldades no percurso, porém após o cadastramento este

usuário ao procurar a unidade de maneira não programada, ou livre demanda, acarreta

tensão ao fluxo, uma vez que a organização do trabalho não prioriza ou não está

preparado adequadamente para este tipo de recepção.

91

O cardápio oferecido consiste em: atendimento médico e de enfermagem;

grupos de educação em saúde, que se apresentam abundantemente e com acesso

facilitado; e as visitas domiciliares. Esta última apresenta grande tensão, uma vez que

pôde ser identificado dificuldades para sua execução, relacionadas ao tempo,

disponibilidade dos profissionais, organização do trabalho e aceitação pelos prórpios

profissionais que a executam.

O atendimento médico também foi mencionado com tensão, pois a demanda por

consulta se apresenta maior que a oferta, este fato pode ser entendido pela necessidade

de melhor organização do trabalho ou devido a quantidade de usuários com grande

vulnerabilidade social para uma equipe de saúde da família.

Seguindo o fluxo, o produto das ofertas na visão dos profissionais não

apresentam problemas dentro da unidade, pois o serviço de exames laboratoriais e

assistência farmacêutica funcionam adequadamente.

A saída ou reentrada é entendida como um processo contínuo de reprocesso do

fluxo do usuário pelo caminho percorrido. A regulação possui a característica de saída e

reentrada, apresentando grandes dificuldades de execução tanto para o agendamento de

consultas para os especialistas quanto para apoio diagnótico. Esta tensão pode ser

atribuída à falta de vagas, tempo hábil de agendamentos, dificuldade dentro da

organizaçao do trabalho para as etapas de regulação pelo próprio médico que atende,

inserção no sistema, local da disponibilização das vagas para as consultas ou exames e

absenteísmo dos usuários

Considerando o caráter da atenção primária à saúde de acompanhamento

contínuo dos usuários, o acompanhamento programado é necessário e este também

demostrou dificuldades para sua execução adequada, pois a dificuldade de organização

da agenda em tempo hábil e tempestivo apresentou dificuldade dentro do processo de

trabalho.

92

Fluxograma descritor da atenção aos usuários com Hipertensão e Diabetes pela

percepção do usuário.

O fluxograma descritor a partir da percepção dos usuários demonstra muitas

peculiaridades, uma vez que as entrevistas relizadas com estes, basearam-se

exclusivamente em apreender o percursso terapêutico que este realiza para atender suas

necessidades de saúde.

Durante as entrevistas com os usuários foi capturado questões relevantes à sua

percepção sobre o vínculo longitudinal, porém para este estudo será mantido o objetivo

proposto de apenas analisar o percurso terapêutico do usuário através do fluxograma

descritor, evidenciando as linhas de tensão.

.

Figura III- Fluxograma descritor da atenção aos usuários com Hipertensão e Diabetes

pela percepção do usuário.

Acredita-se que um fluxograma apresenta adequadamente o caminho percorrido

e as tensões encontrada pelos usuários, uma vez que as tensões se manifestaram de

maneira uniforme tanto entre os usuários aderidos quanto nos não aderidos, trazendo

uma perspectiva abrangente das tensões entre os entrevistados

93

Sendo assim, o fluxograma acima retrara a visão dos usuários e as tensões

encontradas pelos aderidos e não aderidos, evidenciando assim os pontos de tensão

demonstrado por ambos.

A entrada para a unidade de saúde se dá através do cadastramento pelo Agente

Comunitário de Saúde, podendo ser realizado através da visita domiciliar ou no

atendimento do guichê, que se encontra na unidade, ambos realizado pelo agente

comunitário. A tensão neste ponto se dá pelo fato do usuário não conseguir falar com o

seu agente responsável e assim ter que comprovar sua moradia e muitas vezes seu

horário disponível não congruiur com o horário de atendimento do seu agente de saúde.

Este impasse se repete ao analisar o passo seguinte quando a recepção do usuário

é realizada, sendo uma grande tensão a recepção da demanda não programada. Estes

informam que o grande problema está no guichê de atendimento e que poucas vezes

conseguiram resolução de algum problema, quando não encontrarm seu agente de saúde

no local de atendimento.

“Já até fui à demanda livre com crise de coluna, mas é

muito difícil eles encaixarem na demanda livre.”(Usuário

C)”

No cardápio de ofertas o problema se agrava, pois há dificuldades para o acesso

à todas as consultas e à visita domiciliar, a visita é citada como sendo realizada de

forma frequente apenas pelo agente de saúde e mesmo assim os usuários ressaltam que

estes profissionais demonstram não ter muito tempo para realizar as suas atividades.

Esta percepção pode ser capturada pela fala de um usuário:

“...como os agentes são tudo gente conhecida, mais fácil

de você conversar, às vezes lidar, conseguir alguma coisa.

E a dificuldade é que eu acho que é a gente que não tinha

que estar naquela baia. Eu acho que aquela baia tinha

que ter uma contratação para aquela baia, para a

marcação, para deixar os agentes trabalharem. Porque a

gente não tem o tempo suficiente. A pessoa reclama, ah a

gente não vai na casa. Vai na casa como? Se fica de meio

dia a oito preso naquela baia, gente. Eles ocupam muito

tempo dos agentes naquela baia sem necessidade.

94

...Dificulta. Eu acho que é um dos erros da clínica da

família, do prefeito, foi até uma boa ele ter botado a

clínica da família, mas o erro dele é ter colocado gente

para ser digitador, não tem que ser digitador. Digitador

tem que ser de empresa, contratar alguém para ficar ali

fazendo aquele serviço. E o pessoal trabalhar na rua.”

(Usuário C)

Em relação às consultas médica e de enfermagem os problemas identificados

foram: poucas vagas, difícil acesso e marcações sempre para muito tempo depois de

requisitadas. Alguns afirmam que mesmo considerando ser o acesso à consulta de

enfermagem mais fácil que a do médico, ainda assim o mesmo foi visto como difícil, o

que produz um obstáculo ao acesso.

O acesso aos grupos foi citado como um ponto positivo na atenção. Os usuários

entrevistados afirmaram que não enfrentam dificuldades para frequentá-los e ainda

referem estes espaços como de grande importância para o seu cuidado.

Para o acesso à saúde bucal ou para as salas de cuidados, como a de coleta,

curativo e procedimentos, também não foi encontrado problema.

Os exames laboratorias apresentaram muitas tensões, dentre elas, a dificuldade

para conseguir os resultados dos exames, a impossibilidade de agendar consultas

médicas devido ao atraso destes resultados. Além da necessidade de realizar nova coleta

de sangue, ocasionando muito desconforto.

”...justamente um exame, não é? Aí eu vou para ela

marcar, aí tem que esperar o exame, porque aí é feito

fora, não é feito aí. Aí a gente tem que esperar...”

(Usuário A)

“...quer saber do resultado. E o resultado do tal do

exame..., que fez... E até hoje não achou. Eu fiz um

exame... que tem uns dois anos e eu não recebi o

resultado... (Usuário D)

95

No que se refere ao serviço farmacêutico, não foi encontrado tensão. Parece que

as medicações necessárias ao cuidado das doenças crônicas em questão nunca ficaram

em falta, de acordo com os usuários entrevistados.

O processo de saída e reentrada apresenta um grande problema, pois o

acompanhamento programado parece não estar organizado, mesmo estes usuários

necessitando de atendimento contínuo devido às doenças crônicas, as equipes não tem

conseguindo manter o controle e o refluxo satisfatório destes usuários.

...O que é difícil? Eu acho que o que é muito demorado

são os exames, eu acho... É que faz fora... Aí é muito

demorado. (Usuário A)

Além de se queixarem de não conseguir agendar o retorno e manter o

acompanhamento de forma oportuna:

“...Aí... Voltei para marcar a próxima porque a gente

não sai com a próxima marcada, a gente volta.

(Usuário C)

“...Acho difícil conseguir vaga, acho para poder

ir...(Usuário D)

Este fluxograma demonstra os pontos de insatisfação do usário ao buscar o seu

cuidado na unidade de atenção primária à saúde, denotando a necessidade de maior

aprimoramente, e reorganização do processo de trabalho. Demonstra, ainda, a

necessidade de adequar o serviço de saúde para satisfazer as necessidades destes

usuários, cabendo também aos gestores de saúde a revisão do número de cadastrados em

cada equipe de saúde de acordo com as vulnerabilidades socias, além de proporcionar

maior infraestrutura à saúde da família.

Também foi possível observar a fragilidade da Rede de Atenção à Saúde (RAS)

em busca de fornecer cuidado integral e acesso tempestivo às necessidades dos usuários,

uma vez que a regulação tem apresentado grandes problemas em cumprir seus

objetivos.

96

As Redes de Atenção à Saúde são entendidas como arranjos organizativos de

ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas que, integradas por

meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade

do cuidado (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

Mendes (2011) defende que a organização da RAS deve se configurar em

desenhos institucionais que combinem elementos de concentração e de dispersão dos

diferentes pontos de atenção à saúde e dos sistemas de apoio. Contudo, esses fatores

devem estar em equilíbrio com o critério do acesso aos serviços

Os pontos de tensão encontrados neste estudo apresentam um retrato detalhado

do que tem causado insatisfação recorrente a estes usuários. O que configura uma

lacuna no sistema em proporcionar equilibrio entre demanda, acesso e recursos.

Considerando que estes usuários portadores de doenças crônicas necessitam de

atendimento contínuio e frequente nas unidades, é imperativo rever os pontos

deficientes e adequá-los de forma a melhor atende-los, uma vez que se espera o

aumento desta demanda de acordo com o perfil epidemiológico do país.

Assim considera-se que este estudo evidencia a necessidade de aprimorar a

assistência, de forma a aumentar a qualidade do serviço neste nível de atenção e assim

aumentar a satisfação dos usuários.

97

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa foi realizada em uma Unidade Básica de Saúde da Família do

município do Rio de Janeiro, onde previamente funcionava um Programa de Agentes

Comunitário de Saúde (PACS), o que sugere ter sido construído ao longo do tempo, um

intenso vínculo de relação entre a comunidade e os profissionais de saúde. Teve como

proposta, identificar e entender as práticas de vínculo longitudinal, desenvolvidas pelas

equipes de saúde da família com os usuários portadores de doenças crônicas, dentro

deste território, que apresenta inúmeras peculiaridades, inclusive relacionadas à

violência local.

Foi possível compreender como os dispositivos relacionais construíram as

práticas e de que forma influenciaram o cotidiano de trabalho dos profissionais,

proporcionando mudanças no processo de trabalho dos mesmos.

Por meio da identificação do caminho terapêutico que os usuários percorreram

dentro da unidade de saúde, identificamos os problemas e as insatisfações que estavam

relacionadas à busca pela saúde.

Observou-se que as práticas clínicas e gerenciais baseadas no vínculo indicam

estreita relação com a qualidade da assistência, o que evoca a vantagem de sua

utilização como uma ferramenta norteadora do processo de trabalho; que hoje se

apresenta, dentro da saúde da família, imerso em burocracias e normatizações.

Em geral e como esperado, pode-se dizer que as estratégias de vínculo

longitudinal são reconhecidas como de vital importância para o trabalho na saúde da

família. Sendo identificado que estas equipes de saúde desenvolvem estratégias

promotoras de vínculo singulares a favor do fortalecimento deste na população sob seus

cuidados.

Entretanto, por diversos fatores identificados, estas práticas estão perdendo

espaço e deixando de cumprir com o seu papel construtor e potencializador do cuidado

individualizado.

Uma vez que se encontra dentro deste cenário de estudo, a desvalorização dos

espaços de construção de vínculo, como as práticas educativas e a visita domiciliar;

além do excesso de burocratização do trabalho e diminuição do tempo reservado ás

98

tecnologias relacionais, fazendo com que haja a descaracterização do trabalho dentro

deste modelo de atenção.

Neste sentindo, projetamos a perspectiva de que gestores e profissionais de

saúde repensem sua organização do trabalho; iniciando uma busca por alternativas que

contenham como objetivo regastar e reforçar os espaços construtores de vínculo,

reestruturando os sentidos sobre o cuidado em saúde.

99

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ANEXO I

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido-Profissional

Prezado participante,

Você está sendo convidado para participar da pesquisa intitulada: “Vínculo

longitudinal como dispositivo do cuidado nas doenças crônicas na Saúde da Família em

uma comunidade do Rio de Janeiro” Esta pesquisa está sendo desenvolvida pela

pesquisadora Renata Oliveira Maciel dos Santos que é aluna do Mestrado Profissional

em Atenção Primária em Saúde com Ênfase na Estratégia de Saúde da Família.

O objetivo desta pesquisa é Analisar as estratégias relacionadas à construção de

vínculo longitudinal, desenvolvidas pela Saúde da Família no cuidado das doenças

crônicas;

Você foi selecionando por ser profissional da Clínica da Família Marcos

Valadão e sua participação é voluntária, isto é, ela não é obrigatória e você tem plena

autonomia para decidir se quer ou não participar, bem como retirar sua participação a

qualquer momento. Você não será penalizado de nenhuma maneira caso decida não

consentir sua participação, ou desistir da mesma, contudo, ela é muito importante para

a execução da pesquisa.

Serão garantidas a confidencialidade e a privacidade das informações por você

prestadas, também mantido sigilo absoluto sobre nomes, apelidos, bem como quaisquer

outras informações que possam levar a sua identidade pessoal.

Você pode se negar a responder a qualquer pergunta ou a fornecer informações

que julgue prejudiciais à sua integridade física, moral e social; e pode solicitar que

determinadas falas e/ou declarações não sejam incluídas em nenhum documento;

poderá desistir a qualquer tempo de participar da pesquisa; poderá solicitar escutar a

entrevista que será gravada e desautorizar o seu uso após a escuta.

A sua participação permitirá o maior conhecimento sobre a realidade do

trabalho da Saúde da Família podendo trazer subsídios para tomadas de decisão, se

assim for necessário.

Os benefícios desta pesquisa para o serviço envolve a devolução dos resultados

para as equipes, serviço e gestão de forma a qualificar a prática e aprimorar o serviço

prestado à população. E os possíveis riscos aos participantes podem ser

constrangimentos e o tempo gasto durante a entrevista, porém todas as medidas serão

tomadas para manter o sigilo e minimizar os possíveis danos concernentes à

participação neste estudo.

108

A sua participação consistirá em participar de uma entrevista respondendo às

perguntas de um roteiro pré-estabelecido junto à pesquisadora do projeto. Estima-se que

a entrevista irá durar em torno de 40 minutos.

A pesquisa só será gravada se o Sr. concordar com os termos e autorizar ser

efetuada a gravação, esta que será transcrita e armazenada, mas somente terão acesso às

gravações a pesquisadora e suas orientadoras.

Ao final da pesquisa, todo material será mantido em arquivo em posse da

pesquisadora não sendo utilizada para nenhum outro fim senão esta pesquisa. A

qualquer momento, durante a pesquisa, ou posteriormente, você poderá solicitar do

pesquisador informações sobre sua participação e/ou sobre a pesquisa, o que poderá ser

feito através dos meios de contato explicitados neste Termo. Os resultados caso queira,

serão a você disponibilizado.

Você receberá uma via deste termo e não uma cópia.

“Declaro estar ciente das declarações nesse “Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido”, e entender que serei resguardado pelo sigilo absoluto dos meus dados

pessoais e de minha participação na pesquisa. Poderei pedir, a qualquer tempo,

esclarecimento sobre essa Pesquisa: recusar a dar informações que julgue prejudiciais a

minha pessoa, solicitar a não inclusão em documentos de qualquer informação que já

tenha fornecido e desistir, a qualquer momento, de participar da Pesquisa. Fico ciente

também de que uma cópia desse Termo permanecerá arquivada com o Pesquisador

responsável da Escola Nacional de Saúde Pública e outra será entregue ao entrevistado”.

Rio de Janeiro, ____de _____________de 2014.

Nome do participante: ___________________________________________________

Assinatura do participante: ________________________________________________

Concordo e autorizo a gravação da entrevista: ________________________________

Pesquisadora responsável: Renata Oliveira Maciel dos Santos

Assinatura da pesquisadora responsável:______________________________________

Contato com a pesquisadora responsável:

CF Marcos Valadão / Equipe Coelho Neto

Endereço: Rua Martin Luther King Jr. 10976 – Acari, Rio de Janeiro, RJ CEP: 21530-

015 - Tel.: (21) 33732253. E-mail: [email protected]

Em caso de dúvida quanto à condução ética do estudo, entre em contato com o Comitê de Ética

em Pesquisa da ENSP. O Comitê de Ética é a instância que tem por objetivo defender os

interesses dos participantes da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no

desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos. Dessa forma o comitê tem o papel de

avaliar e monitorar o andamento do projeto de modo que a pesquisa respeite os princípios éticos

de proteção aos direitos humanos, da dignidade, da autonomia, da não maleficência, da

confidencialidade e da privacidade.

Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública:

Endereço: Rua Leopoldo Bulhões, 1480, sala 314 - Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ

CEP: 21041-210 – Tel. e fax: (21) 2598-2863. E-mail: [email protected]

109

ANEXO I

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido-Profissional

Prezado participante,

Você está sendo convidado para participar da pesquisa intitulada: “Vínculo

longitudinal como dispositivo do cuidado nas doenças crônicas na Saúde da Família em

uma comunidade do Rio de Janeiro” Esta pesquisa está sendo desenvolvida pela

pesquisadora Renata Oliveira Maciel dos Santos que é aluna do Mestrado Profissional

em Atenção Primária em Saúde com Ênfase na Estratégia de Saúde da Família.

O objetivo desta pesquisa é Analisar as estratégias relacionadas à construção de

vínculo longitudinal, desenvolvidas pela Saúde da Família no cuidado das doenças

crônicas;

Você foi selecionando por ser profissional da Clínica da Família Marcos

Valadão e sua participação é voluntária, isto é, ela não é obrigatória e você tem plena

autonomia para decidir se quer ou não participar, bem como retirar sua participação a

qualquer momento. Você não será penalizado de nenhuma maneira caso decida não

consentir sua participação, ou desistir da mesma, contudo, ela é muito importante para

a execução da pesquisa.

Serão garantidas a confidencialidade e a privacidade das informações por você

prestadas, também mantido sigilo absoluto sobre nomes, apelidos, bem como quaisquer

outras informações que possam levar a sua identidade pessoal.

Você pode se negar a responder a qualquer pergunta ou a fornecer informações

que julgue prejudiciais à sua integridade física, moral e social; e pode solicitar que

determinadas falas e/ou declarações não sejam incluídas em nenhum documento;

poderá desistir a qualquer tempo de participar da pesquisa; poderá solicitar escutar a

entrevista que será gravada e desautorizar o seu uso após a escuta.

A sua participação permitirá o maior conhecimento sobre a realidade do

trabalho da Saúde da Família podendo trazer subsídios para tomadas de decisão, se

assim for necessário.

Os benefícios desta pesquisa para o serviço envolve a devolução dos resultados

para as equipes, serviço e gestão de forma a qualificar a prática e aprimorar o serviço

prestado à população. E os possíveis riscos aos participantes podem ser

constrangimentos e o tempo gasto durante a entrevista, porém todas as medidas serão

tomadas para manter o sigilo e minimizar os possíveis danos concernentes à

participação neste estudo.

110

A sua participação consistirá em participar de uma entrevista respondendo às

perguntas de um roteiro pré-estabelecido junto à pesquisadora do projeto. Estima-se que

a entrevista irá durar em torno de 40 minutos.

A pesquisa só será gravada se o Sr. concordar com os termos e autorizar ser

efetuada a gravação, esta que será transcrita e armazenada, mas somente terão acesso às

gravações a pesquisadora e suas orientadoras.

Ao final da pesquisa, todo material será mantido em arquivo em posse da

pesquisadora não sendo utilizada para nenhum outro fim senão esta pesquisa. A

qualquer momento, durante a pesquisa, ou posteriormente, você poderá solicitar do

pesquisador informações sobre sua participação e/ou sobre a pesquisa, o que poderá ser

feito através dos meios de contato explicitados neste Termo. Os resultados caso queira,

serão a você disponibilizado.

Você receberá uma via deste termo e não uma cópia.

“Declaro estar ciente das declarações nesse “Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido”, e entender que serei resguardado pelo sigilo absoluto dos meus dados

pessoais e de minha participação na pesquisa. Poderei pedir, a qualquer tempo,

esclarecimento sobre essa Pesquisa: recusar a dar informações que julgue prejudiciais a

minha pessoa, solicitar a não inclusão em documentos de qualquer informação que já

tenha fornecido e desistir, a qualquer momento, de participar da Pesquisa. Fico ciente

também de que uma cópia desse Termo permanecerá arquivada com o Pesquisador

responsável da Escola Nacional de Saúde Pública e outra será entregue ao entrevistado”.

Rio de Janeiro, ____de _____________de 2014.

Nome do participante: ___________________________________________________

Assinatura do participante: ________________________________________________

Concordo e autorizo a gravação da entrevista: ________________________________

Pesquisadora responsável: Renata Oliveira Maciel dos Santos

Assinatura da pesquisadora responsável:______________________________________

Contato com a pesquisadora responsável:

CF Marcos Valadão / Equipe Coelho Neto

Endereço: Rua Martin Luther King Jr. 10976 – Acari, Rio de Janeiro, RJ CEP: 21530-

015 - Tel.: (21) 33732253. E-mail: [email protected]

Em caso de dúvida quanto à condução ética do estudo, entre em contato com o Comitê de Ética

em Pesquisa da ENSP. O Comitê de Ética é a instância que tem por objetivo defender os

interesses dos participantes da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no

desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos. Dessa forma o comitê tem o papel de

avaliar e monitorar o andamento do projeto de modo que a pesquisa respeite os princípios éticos

de proteção aos direitos humanos, da dignidade, da autonomia, da não maleficência, da

confidencialidade e da privacidade.

Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública:

Endereço: Rua Leopoldo Bulhões, 1480, sala 314 - Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ

111

CEP: 21041-210 – Tel. e fax: (21) 2598-2863. E-mail: [email protected]

ANEXO III

Roteiro de entrevista-Profissional

Perfil

Sexo:

Idade:

Profissão:

Formação: Tem especialização ou curso técnico: Ano de graduação:

Tempo de trabalho na ESF : Tempo na cidade do Rio: Tempo na equipe:

1-O que você entende sobre o conceito de vínculo longitudinal (acompanhamento de

usuários ao longo da vida)?

2 – Em sua opinião, como o vínculo pode interferir no cuidado de usuários hipertensos e

diabéticos?

3 - Fale um pouco sobre o seu trabalho, sobre as práticas que você desenvolve para

promover este vínculo neste grupo de usuários?

4. Quais as principais dificuldades que você encontra para construir um bom vínculo

com o usuário?

5-Pensando no trabalho em equipe: como a Equipe se organiza para realizar estas

práticas no dia-a-dia de trabalho para estes usuários?

112

ANEXO IV

Roteiro de entrevista- Usuários

Perfil

Sexo:

Idade:

Quanto tempo Sr. (a) mora neste lugar:

Quanto tempo é cadastrado na CF Marcos Valadão:

1-Sobre sua equipe: sabe o nome dos profissionais? Sobre sua relação com a equipe:

com quem tem melhor e pior diálogo?

2-Vamos falar um pouco sobre como o Sr.(a) faz para cuidar da pressão/diabetes na

Clinica. Como faz para ser atendido?

3-Fale um pouco das facilidades e dificuldades para fazer seu acompanhamento na

clínica?

4-O que foi oferecido pela sua equipe de Saúde da Família para ajudar no seu

tratamento?

5-O que o Sr. (a) acha que falta para que a equipe de saúde ajude a melhorar o seu

tratamento?

6- Após seu atendimento o Sr. (a) se sente satisfeito com as soluções dada pela sua

equipe?