O USO DO JORNAL EM SALA DE AULA: SUA IMPORTÂNCIA … · e Tecnologia, UNESP/FCT ... jornal em sala...

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ELAINE CRISTINA ANHUSSI O USO DO JORNAL EM SALA DE AULA: SUA IMPORTÂNCIA E CONCEPÇÕES DE PROFESSORES FCT/UNESP Presidente Prudente 2009

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ELAINE CRISTINA ANHUSSI

O USO DO JORNAL EM SALA DE AULA: SUA

IMPORTÂNCIA E CONCEPÇÕES DE PROFESSORES

FCT/UNESP

Presidente Prudente

2009

2

ELAINE CRISTINA ANHUSSI

O USO DO JORNAL EM SALA DE AULA: SUA

IMPORTÂNCIA E CONCEPÇÕES DE PROFESSORES

FCT/UNESP

Presidente Prudente

2009

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Ciências

e Tecnologia, UNESP/FCT - Campus de Presidente

Prudente, como exigência para obtenção do título de Mestre em Educação.

Orientadora: Prof. Drª. Claudia Maria de Lima.

Linha de pesquisa: Tecnologia de Informação,

Comunicação e Educação.

3

Anhussi, Elaine Cristina. A613u O uso do jornal em sala de aula: sua importância e concepções de

professores / Elaine Cristina Anhussi. - Presidente Prudente: [s.n], 2009.

xiv, 156 f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista,

Faculdade de Ciências e Tecnologia Orientador: Claudia Maria de Lima

Banca: Mirza Seabra Toschi, Maria Suzana de S. Menin Inclui bibliografia 1. Formação de professores. 2. Uso do jornal em sala de aula 3.

Prática docente de leitura e escrita. Autor. II. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências e Tecnologia. III. Título.

CDD(18. ed.) 370

Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação –

Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Presidente Prudente.

4

EDICATÓRIA

5

DEDICATÓRIA

Aos meus pais Valdomiro e Maria

Pelo amor e respeito que tenho por eles.

6

AGRADECIMENTOS

À Profª. Drª. Claudia Maria de Lima, pela orientação e paciência;

À Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, pela oportunidade;

Às Professoras Doutoras Mirza Seabra Toschi e Maria Suzana S. Menin, pelo empenho e

carinho;

Aos meus pais Valdomiro e Maria, pela vida;

Aos meus irmãos Creuza, Aderson, Célia e Ivone, pelo companheirismo;

Aos meus amigos Tarcísio Luiz Pereira e Rafaella Nabas, pela motivação;

À Lilian de Fátima da Silva pela colaboração;

À Maria Aparecida de Campos, pelo apoio;

Aos professores da Rede Municipal de Ensino de Andradina (SP), pela participação e

contribuição.

7

“Que pedagogos éramos, quando não tínhamos

a preocupação da pedagogia!”

Daniel Pennac

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RESUMO

Esta dissertação insere-se na linha de pesquisa Tecnologias de Informação, Comunicação e

Educação e tem como objetivo geral analisar as concepções de professores sobre o uso do

jornal em sala de aula, tratando-o como meio de ensino e aprendizado. Ao mesmo tempo,

pretende caracterizar as práticas docentes direcionadas para o ensino e aprendizado da leitura

e escrita em escolas públicas municipais das séries iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º

ano) do município de Andradina – SP. Os objetivos específicos consistem em: 1- Explorar e

analisar as concepções dos professores sobre o jornal como meio de ensino e aprendizado; 2-

Identificar as concepções de práticas de uso do jornal em sala de aula e 3- Explorar e analisar

a formação do professor sobre o uso do jornal em sala de aula. A metodologia adotada para a

realização desta pesquisa é de caráter qualitativo, com delineamento descritivo-explicativo.

Foram utilizados como instrumentos de coleta de informações um questionário e uma

entrevista estruturados. A escolha desses instrumentos ocorreu em razão de eles

possibilitarem o acesso a diversas informações dos professores analisados sobre suas

concepções a respeito do uso de jornais impressos e digitais em sala de aula. Os dados obtidos

foram tratados sob a técnica da análise de conteúdo. A partir da análise, podemos dizer que o

uso do jornal é pouco praticado pelos professores da rede de ensino, embora eles reconheçam

que seu uso pode contribuir para a formação de alunos críticos e para dinamizar práticas que

envolvem o ensino e o aprendizado de leitura e escrita, porque permite a diversificação de

textos e torna as aulas mais participativas e significativas. Os resultados apontam para a

necessidade de investimento, por parte da Secretaria de Ensino do Município de Andradina

(SP), para dinamizar formação continuada aos professores da rede para o uso do jornal, assim

como para criar, nos cursos de formação inicial (licenciaturas), um espaço para uma reflexão

sobre a presença do estudo de mídias, em especial, o jornal.

Palavras-chave: formação de professores, uso do jornal em sala de aula, prática docente de

leitura e escrita.

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ABSTRACT

This dissertation is inserted in the research line of technologies of information and

communication and education and has the general goals of analyzing teachers‟ conceptions

about use of newspaper in the classroom, treating it as means of teaching and learning. At the

same time, it‟s intended to characterize teaching practice direct to the teaching and learning of

reading and writing in the public schools of initial grades of “Ensino Fundamental” (first to

fifth grades) in the city of Andradina – SP. The specific goals consist of: 1- Explore and

analyze teachers „conceptions about the newspaper as means of teaching and learning; 2-

Identify the conceptions of practice in the use of newspapers in the classroom and 3- Explore

and analyze teacher formation about the use of newspaper in the classroom. The methodology

adopted for carrying out this research was qualitative, with a descriptive-explanative line. A

questionnaire and a structured interview were used as instruments to collect information. The

choice for these instruments was made considering that they make it possible to have access

to a lot of information on the teachers analyzed classroom. The data obtained was treated

under the content analysis technique. The data obtained was treated under the content analysis

technique. From this analysis, we can say that teachers hardly ever newspaper in the

classroom in public schools, although they recognize that a wider use of newspapers can

contribute to the formation of crucial students and to make practices involving the teaching

and learning of reading and writing more dynamic, because it allows teachers to have more

diversified texts and to make classes more participative and meaningful. The results point to

the necessity for investment, from the Education Secretary of the city of Andradina (SP), to

allow continuous formation of teachers in public schools on the use of newspapers,, as well as

to create, in the initial undergraduate courses (formation of teachers), space for reflection

about the presence of the study of medias, specially the newspaper.

Keywords: teacher formation, use of newspapers in the classroom, teaching practice of

reading and writing.

10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Participação dos professores por escola.................................................................61

Tabela 2 – Distribuição de professores por faixa etária ..........................................................64

Tabela 3 – Tempo no magistério..............................................................................................64

Tabela 4 – Carga horária dos professores ...............................................................................65

Tabela 5 – Carga horária em escola municipal .......................................................................65

Tabela 6 – Distribuição de carga horária por escola particular e estadual...............................66

Tabela 7 – Série que leciona....................................................................................................66

Tabela 8 – Formação acadêmica dos professores....................................................................67

Tabela 9 – Curso dos Professores............................................................................................67

Tabela 10 – Ano de Formação Acadêmica..............................................................................68

Tabela 11 – Curso de Pós- Graduação.....................................................................................68

Tabela 12 – Panorama geral dos professores...........................................................................69

Tabela 13 – Livre associação de idéias sobre jornais..............................................................70

Tabela 14 – O professor lê jornais...........................................................................................71

Tabela 15 – Jornais mais lidos pelos professores....................................................................72

Tabela 16 – Periodicidade de leitura realizada pelos professores...........................................73

Tabela 17 – Onde o professor costuma realizar leituras de jornais.........................................73

Tabela 18 – Tipo de notícia preferida pelos professores ........................................................74

Tabela 19 – Se o professor usa o jornal em sala de aula..........................................................75

Tabela 20 – Frequência de uso em sala de aula.......................................................................75

Tabela 21 – O que o professor entende sobre o uso de jornais em sala de aula......................76

Tabela 22 – Quais práticas o jornal pode contribuir no trabalho docente...............................80

Tabela 23 – Formas de utilização dos jornais nas aulas...........................................................82

Tabela 24 – Como a aula do professor pode ficar ao utilizar jornais......................................84

Tabela 25 – O uso do jornal pode contribuir para a formação de alunos................................85

Tabela 26 – A utilização de jornais pode contribuir para leitura.............................................87

Tabela 27 – Os jornais podem contribuir para o enriquecimento do conteúdo escolar...........90

Tabela 28 – Contribuição dos suplementos infantis................................................................91

Tabela 29 – Existe algum projeto pedagógico que faz uso de jornais em sua escola..............93

Tabela 30 – Justificativa pelo não uso de jornais.....................................................................93

Tabela 31 – Orientação sobre o uso dos jornais na formação inicial.......................................95

11

Tabela 32 – Como se deu a orientação sobre o uso dos jornais...............................................96

Tabela 33 – Se o professor participou de algum curso de formação continuada.....................97

Tabela 34 – Orientação sobre o uso de jornais....................................................................... 98

Tabela 35 – Observações apontadas pelos professores........................................................... 98

Tabela 36 – Jornais mais lidos entre os professores..............................................................103

Tabela 37 – A frequência de leitura de jornais......................................................................104

Tabela 38 – Concepções dos professores sobre o jornal impresso........................................104

Tabela 39 – Concepções dos professores sobre Internet .......................................................106

Tabela 40 – Frequência de acesso à Internet .........................................................................108

Tabela 41 – Jornais mais lidos através da Internet ................................................................109

Tabela 42 – Por que os professores lêem jornais pela Internet .............................................110

Tabela 43 – Concepções dos professores sobre as diferenças entre jornais da Internet .......111

Tabela 44 – Concepções negativas sobre os jornais da Internet ...........................................113

Tabela 45 – Frequência de uso de jornais impressos.............................................................115

Tabela 46 – Práticas docentes utilizadas pelos professores...................................................115

Tabela 47 – O que é um aluno crítico?..................................................................................118

Tabela 48 – Concepções de professores de como os jornais da Internet podem contribuir na

formação de alunos críticos.....................................................................................................121

Tabela 49 – Concepções dos professores de como os jornais da Internet podem contribuir na

formação de alunos críticos ....................................................................................................124

Tabela 50 – Você teve orientação sobre o uso das mídias?...................................................126

Tabela 51 – Conteúdos dos cursos frequentados pelos professores.......................................129

Tabela 52 – Possíveis soluções para suprir a falta de formação para o uso de jornais..........131

Tabela 53 – Expectativas dos professores sobre os cursos de formação continuada.............134

12

LISTA DE QUADROS

Quadro 1.............................................................................................................................. ....59

Quadro 2..................................................................................................................................61

13

Sumário

RESUMO .............................................................................................................................. 8

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 15

Caminhos percorridos ...................................................................................................... 17

Delimitação do problema ................................................................................................. 18

Justificativa e relevância da pesquisa .............................................................................. 18

CAPÍTULO I ...................................................................................................................... 21

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................... 21

ENSINAR E GERAR CONHECIMENTOS NA NOVA SOCIEDADE MARCADA

PELA PRESENÇA DAS MÍDIAS ..................................................................................... 21

1.1- Sociedade em constante transformação............................................................ 22

1.2 - Mudanças nos modos de produção ................................................................. 23

1.3 - Mudanças ocorridas na sociedade devido às tecnologias de informação e comunicação .............................................................................................................. 25

1.4 – A educação nesse novo cenário de transformação ........................................ 27

1.5- As Mídias e a possibilidade de um ensino crítico ........................................... 32

1.6- Mídias e Educação .............................................................................................. 34

1.7 A formação da criticidade ................................................................................... 35

1.8- Uso do jornal impresso e digital em sala de aula: possibilidades de um ensino crítico .............................................................................................................. 38

1.9 – Jornais em sala de aula: um instrumento do professor nas práticas de leitura e escrita em sala de aula ................................................................................ 40

1.10- Uso de jornais digitais em sala de aula: uma realidade a ser construída .... 44

CAPÍTULO II ..................................................................................................................... 46

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E A INTEGRAÇÃO DAS MÍDIAS NA

EDUCAÇÃO...................................................................................................................... 46

2.1 Mídias e formação de professores ...................................................................... 46

2.2- Formação crítica de professores para o uso das informações jornalísticas impressas e digitais: possibilidade a ser construída ............................................... 50

CAPÍTULO III ................................................................................................................... 55

DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA E DOS SUJEITOS PESQUISADOS ..................... 55

3.1 Um breve olhar sobre a realidade pesquisada .................................................. 55

3.2-Pesquisa qualitativa em educação: caminhos metodológicos ......................... 55

3.3 – Coleta dos dados ............................................................................................... 56

3.4- Composição dos instrumentos de coleta de dados ......................................... 57

3.5 Procedimentos da coleta de dados ..................................................................... 61

14

3.6 – Análise dos dados coletados ............................................................................ 62

3.7 Caracterizações dos professores (Primeira fase: Questionário) ....................... 63

3.8- Caracterização dos professores (Segunda fase da pesquisa: entrevista) ....... 69

CAPÍTULO IV ................................................................................................................... 70

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS............................................... 70

4.1 O uso de jornais em sala de aula: concepção de professores ........................... 70

4.2- Concepções de práticas de uso de jornais em sala de aula ............................. 79

4.3- A formação do professor para o uso crítico de jornais em sala de aula......... 95

4.4- Jornais impressos e digitais: fonte de informação ......................................... 102

4.5 Jornais impressos e digitais: possibilidade de um ensino crítico .................. 114

4.6 A formação do professor neste contexto de informação ................................ 126

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 137

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 142

ANEXOS .......................................................................................................................... 150

Questionário aplicado aos professores do Ensino Fundamental ........................ 151

Roteiro da entrevista realizada com os professores ............................................. 154

Carta-convite............................................................................................................ 155

Termo de consentimento livre e esclarecido ......................................................... 156

15

INTRODUÇÃO

“A capacidade de aprender, não apenas para nos adaptar, mas,

sobretudo para transformar a realidade, para nela intervir, recriando-

a”.

(Paulo Freire, 1996)

O presente trabalho analisa as concepções dos professores sobre o uso do jornal em

sala de aula. Investiga também a relevância atribuída a esse instrumento como meio de ensino

e aprendizagem de leitura e escrita em escolas públicas municipais do ensino fundamental (1ª

ao 5ª ano) do município de Andradina.

O cenário educacional brasileiro, em razão de avaliações nacionais, como o Sistema

de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP), que avalia o sistema

de ensino paulista para monitorar as políticas públicas da educação e o Sistema de Avaliação

da Educação Básica (SAEB), também conhecida como Prova Brasil, que permite acompanhar

a evolução da qualidade da educação, demonstra o empenho do incentivo à leitura dos textos,

de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN de Língua Portuguesa para o

Ensino Fundamental (1997), os quais preconizam “à escola viabilizar o acesso do aluno ao

universo dos textos que circulam socialmente, ensinar a produzi-los e a interpretá-los” (p.30).

Tal orientação deve-se também à propagação que os meios de comunicação, as

mídias e as tecnologias de informação e comunicação atingiram após a revolução industrial e

mais fortemente na década de 1990 com a chamada revolução informacional. Em

consequência, o fácil acesso à informação, que pode gerar conhecimento, deixa de ser

exclusividade da escola e passa a dividir espaços com as informações propagadas pelos mais

diversos meios de comunicação.

Dessa forma, como relatou Freire (1987 e 1997), é preciso ler o mundo para ler os

textos em um caminho de descompasso entre um cenário enciclopédico e livresco de

educação, em contraponto ao universo tecnológico e midiático com possibilidade de inúmeras

fontes de informações. Atualmente, temos fácil acesso para lermos o mundo na tela do

computador, na tela da televisão ou nas páginas de jornal, revista ou outdoors. Nesse contexto

em que as informações circulam livremente, o cidadão que não teve uma formação crítica

sobre o que os meios de comunicação divulgam pode correr o risco de sofrer o poder

manipulatório do que foi dito ou escrito como verdade, ou seja, o que foi muitas vezes editado

pelas mídias.

16

Nesse cenário de mudanças na forma como as informações são transmitidas, segundo

Belloni (1998), cabe à escola não só assegurar a democratização do acesso aos meios de

comunicação, mas ir além, preparando as novas gerações para a apropriação ativa e crítica

dessas mídias.

Assim, no Brasil, são evidentes os esforços de pesquisadores, estudiosos, jornalistas

e educadores para desenvolver trabalhos no campo do estímulo crítico à leitura e à escrita por

meio de jornais. Várias são as iniciativas, citemos: Ferreira (2007), Ijuim (2005), Pastorello

(2005), Faria (1999 e 2004), entre outros.

A Associação Nacional de Jornais (ANJ), por exemplo, estimula as empresas

jornalísticas associadas a implantar programas voltados para o uso do jornal impresso em sala

de aula, incentivando assim, a leitura das informações jornalísticas no contexto escolar.

Em 2008, as escolas de Rede Pública Estadual de São Paulo receberam o Jornal do

Aluno, elaborado pela Secretaria de Estado da Educação. O objetivo do projeto é tentar

desenvolver as habilidades dos alunos tanto para a leitura e escrita quanto para o cálculo. O

jornal faz parte da nova proposta pedagógica estadual em implementação. Porém, é

importante destacar que o uso do jornal funcionou apenas como instrumento de escolha de

uma linguagem, a jornalística, para difundir os conteúdos escolares e não o trabalho

específico com ela. Não se pode negar que, de qualquer maneira, o jornal em sala de aula

pode ser entendido como uma legitimação de um meio de comunicação como fonte de

informação escolar e de trabalho específico com o texto.

Nesse contexto de discussões na sociedade sobre o uso do jornal, em 2007, iniciamos

a pesquisa: “Uso de jornal em sala de aula: sua importância e concepções de professores” com

o objetivo de identificar e analisar as concepções dos professores sobre o uso do jornal em

sala de aula, para precisar o grau de relevância atribuída por eles ao ensino e aprendizagem de

leitura e escrita em escolas públicas municipais paulistas.

Na primeira parte da dissertação, descreveremos os caminhos pessoais e profissionais

que nos conduziram à realização desta pesquisa. Para tanto, apresentaremos como ocorreu o

primeiro contato com o jornal e os momentos significativos que marcaram a nossa trajetória

como professora e pesquisadora. Apresentaremos também o problema, os objetivos e a

justificativa desta dissertação de mestrado.

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Caminhos percorridos

Em 1993, no final do terceiro ano de estudos no Centro Específico de Formação e

Aperfeiçoamento do Magistério (CEFAM), resolvemos prestar vestibular para a área de

Letras na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), já que tínhamos afinidades

com a área de humanas.

Cursamos então, em 1994, o último ano do CEFAM, paralelamente com o primeiro

ano de Faculdade de Letras na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), em

Três Lagoas.

No terceiro ano de faculdade, participamos de um projeto de pesquisa financiado

pelo CNPq. Essa experiência abriu-nos a porta para adentrar no universo magnífico de

pesquisa científica. O título do trabalho foi Ensino de leitura: implicações para a formação

do professor de Língua Estrangeira (LE) Inglês, sob a orientação da Drª professora Márcia

M.S. C. Moura de Paula.

Ao final do curso superior, concluímos duas especializações na UFMS, uma Lato

Sensu em Língua Portuguesa no ano de 1998: Avaliação em Inglês: “It is right or wrong?”. E

a outra também Lato Sensu em Educação no ano de 1999: “Relações sobre a Concepção da

Leitura e da Escrita na Educação Infantil”.

No ano seguinte, em 2000, cursamos Pedagogia e, ao mesmo tempo, conseguimos

aprovação no concurso de ingresso ao ensino fundamental municipal de Andradina (SP), onde

atuamos até hoje. Foi então que pudemos perceber como o uso do jornal pode contribuir para

uma prática pedagógica diferenciada e significativa. Começamos a usá-lo de maneira

empírica, sem formação, mas questionando suas possibilidades.

A formação em Letras, aliada ao curso de Pedagogia e à prática docente de nove

anos no ensino fundamental, proporcionou-nos reconhecer, nesses anos, que o uso do jornal

em sala de aula pode contribuir para o aperfeiçoamento da leitura e escrita dos alunos,

desenvolvendo o prazer e hábito pela leitura e escrita e a formação de alunos críticos. Nessa

direção, o jornal representa um funcional auxiliar do material didático para um ensino

interdisciplinar, possibilitando, assim, um ensino de melhor qualidade que estimula a

pesquisa.

Tais descobertas não aquietavam as indagações: por que é tão difícil encontrar

professores que fazem uso do jornal? Qual é a prática dos que o fazem?

18

Com o objetivo de esclarecer tais incertezas, a pesquisa foi conduzida para a seguinte

direção: Quais as concepções dos professores sobre o uso do jornal em sala de aula e qual

relevância atribuída a ele para o ensino e aprendizado de leitura e escrita?

Delimitação do problema

Em busca de respostas, buscamos fundamentos teóricos que nos possibilitassem o

levantamento de princípios norteadores para a realização de uma análise a partir das seguintes

questões:

- Quais as concepções dos professores sobre o jornal?

- Quais as concepções de práticas de ensino do professor sobre o jornal em sala de aula?

- Os professores possuem uma formação inicial ou continuada para uso do jornal na sala de

aula?

Esses questionamentos definiram o objetivo geral:

Analisar as concepções de professores sobre o uso do jornal em sala de aula

como meio de ensino e aprendizado e sobre práticas docentes decorrentes desenvolvidas

para o ensino e aprendizado da leitura e escrita em escolas públicas municipais das

séries iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano) do município de Andradina – SP

O trabalho foi orientado a partir da definição dos seguintes objetivos específicos:

Explorar e analisar as concepções dos professores sobre o jornal como meio de ensino e

aprendizado;

Identificar as concepções de práticas de uso do jornal em sala de aula;

Explorar e analisar a formação do professor para o uso do jornal em sala de aula.

Justificativa e relevância da pesquisa

As inúmeras informações veiculadas pelos meios de comunicação na atualidade

clamam por mudanças inadiáveis na educação. Os educadores não podem simplesmente

reproduzir ou aceitar o que é divulgado pela mídia. É indispensável questionar, debater e

19

incentivar a criticidade dos alunos em relação aos apelos de consumo de produtos,

reproduções de comportamentos e padrões de beleza ditados pelas mídias. Essa criticidade do

professor pode possibilitar a escolha daquilo que realmente é relevante para o

desenvolvimento dos alunos como leitores-cidadãos, conscientes de que fazem parte de uma

sociedade que é influenciada por esses meios.

Essa mudança só será possível, quando a Educação deixar de ser conservadora em

suas práticas e se voltar para a contemporaneidade, o que exige, cada vez mais, leitores dos

meios de comunicação, mais críticos e participativos, os quais saibam discernir a grande

quantidade de informação e, assim, criar condições de construir um conhecimento

significativo.

Em consequência, o uso do jornal em sala de aula, como meio de comunicação,

torna-se relevante no âmbito pedagógico na medida em que o professor o utiliza em suas

práticas como meio de ensino e aprendizagem da leitura e escrita, possibilitando a construção

do conhecimento dos alunos e contribuindo para a formação de leitores críticos, criativos e

autônomos.

Cabe ressaltar que o jornal trabalhado em sala de aula tem sido objeto de estudos e

pesquisas há vários anos. Baltar (2003) relata que o trabalho com produções de jornais além

de possibilitar a interação entre escolas e colegas, “deu mais legitimidade à atividade de

linguagem, o que acabou afetando positivamente a sua produção escrita” (p.130).

L. Silva (2005) argumenta que a utilização de informações de jornais ou revistas

“torna a aula mais dinâmica e participativa, favorecendo o debate e a troca de opinião, tirando

o aluno da posição de receptor inativo de novas informações para um sujeito mais ativo do

processo” (p.148).

Pastorello (2005) constatou que “além de o trabalho com o jornal envolver práticas

de aquisição de técnicas, habilidades e estratégias necessárias à leitura, também insere o aluno

em seu grupo social” (p.218).

Ferreira (2008) investigou a leitura de jornais de estudantes de escola pública,

observando que a prática da leitura em situações significativas pode possibilitar “progressos

tanto às alunas quanto aos seus familiares, demonstrando que o jornal inserido no contexto

familiar é um instrumento capaz de ampliar a cultura e a noção de realidade social, aspecto

essencial na formação do leitor” (p.124).

Diante dos resultados obtidos pelos pesquisadores, realço a relevância desta

investigação uma vez que é necessário analisar as concepções dos professores sobre o uso do

20

jornal em sala de aula e as práticas docentes daí decorrentes desenvolvidas nas escolas

públicas municipais para o ensino e aprendizado da leitura e escrita.

A investigação também poderá contribuir para a comunidade científica, visto que o

uso do jornal em sala de aula ainda é pouco explorado. São necessários, portanto, estudos

mais aprofundados voltados para o uso do jornal impresso ou digital como fonte de ensino e

aprendizagem no cotidiano escolar. E, por fim, é importante caracterizar a realidade do

interior do Estado de São Paulo, mais especificamente da região do extremo oeste paulista,

distante da capital e com problemas típicos da periferia do território brasileiro.

Assim sendo, esperamos que este trabalho possa contribuir, de forma direta ou

indireta, aos professores que buscam no jornal a oportunidade de um ensino diferenciado.

Este documento está organizado por capítulos.

No capítulo I, apresentaremos a fundamentação teórica sobre as tecnologias de

informação e comunicação e as mídias na educação, em especial, os jornais impressos e

digitais em sala de aula.

No capítulo II, abordaremos a necessidade de os cursos de formação inicial e

continuada de professores incluírem em seus currículos espaços para a discussão do uso das

mídias na educação, bem como a importância de os órgãos públicos ou privados garantirem a

formação continuada dos educadores com cursos atualizados de acordo com as necessidades

dos educandos e da sociedade emergente.

No capítulo III, descreveremos a metodologia da pesquisa que assumiu a abordagem

qualitativa com delineamento descritivo-explicativo. Lançaremos um breve olhar sobre o

panorama dos sujeitos pesquisados, com a caracterização em relação à idade, tempo no

magistério, carga horária de trabalho, série em que leciona e formação pedagógica.

No capítulo IV, apresentaremos os resultados e as análises dos dados obtidos.

E por fim, nas considerações finais desta pesquisa, podemos avançar que os

professores demonstram uma concepção positiva com relação ao uso de jornais em sala de

aula, mas sua prática com os jornais é pouco explorada nas escolas, indicando que a maioria

dos professores da rede não obteve em sua formação acadêmica inicial e nem continuada o

preparo suficiente para incluí-lo em suas aulas. Ainda assim, sob condições adversas, eles se

mostram favoráveis a esse meio, apontando aos responsáveis pela Rede Municipal de Ensino

da cidade de Andradina um espaço de formação que parece ser rico em busca de melhores

resultados na qualidade do ensino.

21

CAPÍTULO I

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

ENSINAR E GERAR CONHECIMENTOS NA NOVA SOCIEDADE

MARCADA PELA PRESENÇA DAS MÍDIAS

“A consciência do mundo e a consciência de si como ser inacabado

necessariamente inscrevem o ser consciente de sua inconclusão num

permanente movimento de busca".

(Paulo Freire, 1996)

A fundamentação teórica deste capítulo está articulada com a importância do uso das

mídias na educação, em especial, com o uso do jornal em sala de aula. Assim, o presente

capítulo está estruturado nos seguintes tópicos:

1.1- Sociedade em constante transformação e 1.2 Mudanças nos modos de produção, em

que refletimos sobre a necessidade de acompanharmos as mudanças ocorridas na sociedade

emergente;

1.3- Mudanças ocorridas na sociedade em razão das Tecnologias de Informação e

Comunicação, quando demonstramos que uma sociedade em constante transformação desafia

sem cessar a nossa maneira de pensar e atuar;

1.4- A educação nesse novo cenário de transformação, em que evidenciamos como a

escola deve acompanhar as mudanças ocorridas na sociedade midiática;

1.5- As mídias e as possibilidades de um ensino crítico, quando salientamos a contribuição

delas para a disseminação e distribuição da informação na construção de conhecimentos na

educação;

1.6- Mídias e Educação, em que discutimos a importância do ensino crítico das mídias nas

escolas;

1.7- As mídias como recurso pedagógico, quando demonstramos que as mídias podem ser

utilizadas dentro das salas de aulas;

1.8- Uso dos jornais impressos e digitais em sala de aula: possibilidade de um ensino

crítico, em que destacamos que o uso dos jornais em sala de aula pode ser um recurso a mais

a ser utilizado pelo professor, que pode contribuir na formação de leitores críticos;

1.9- Jornais impressos e digitais em sala de aula: um instrumento do professor crítico

nas práticas de leitura e escrita, em que ratificamos a relevância do uso de jornais no

trabalho docente e,

1.10- Uso de jornais digitais em sala de aula: uma realidade a ser construída, em que

destacamos os jornais da Internet como uma ferramenta significativa para um ensino crítico

22

das mídias digitais, embora se descortine ainda um longo caminho a ser percorrido, devido à

falta de recurso e orientação do uso da Internet na educação.

1.1- Sociedade em constante transformação

Vivemos numa sociedade em constante transformação, tanto no âmbito do uso

tecnológico, quanto no informacional, caracterizada por mudanças de diferentes modelos e

pelo uso das mais variadas fontes de informação e comunicação. Tais transformações

implicam alterações na maneira de pensar e atuar na sociedade emergente que, por sua vez,

provocaram significativas alterações no modo de vida de seus componentes, ainda que em

ritmos distintos para cada segmento dessa população.

Nesse contexto de mudanças, os jornais também acompanharam e se adaptaram às

transformações ocorridas na sociedade emergente. Com o advento da Internet, que se

expandiu e se consolidou entre a classe média, da qual também fazem parte consumidores e

leitores dos jornais impressos. Com a criação dos jornais virtuais, surgiram novos hábitos de

leituras chamadas virtuais. Em consequência, os ávidos leitores passaram também a ler as

informações dos jornais da Internet (denominados jornais on-line, digital, eletrônico ou

virtual) que se adaptaram e passaram de meras reproduções diárias para fornecedora de

conteúdos digitalizados, com informações divulgadas em tempo real dos acontecimentos.

Alguns jornais digitais oferecem a publicação do seu noticiário nos telefones celulares

habilitados, quando as notícias são enviadas por mensagem de texto (SMS) para seus leitores.

Com toda essa evolução informacional, o uso do jornal da Internet em sala de aula

pode indicar um novo direcionamento nas práticas que envolvem leitura e escrita por meio da

manipulação das informações jornalísticas na escola. Permite, para os educandos, a chance de

acesso ao recurso jornal virtual, como um estímulo a mais ao prazer de ler, cujas informações

contidas em tempo real dos fatos podem ser transformadas em conhecimento, por se

vincularem à realidade social dos acontecimentos.

Mas, diante de todos os benefícios citados, atualmente muitas escolas não oferecem o

uso da Internet, o que dificulta seu acesso. Cabe ressaltarmos que até mesmo os jornais

impressos por circularem muito antes dos jornais digitais em nossa sociedade, pouco são

utilizados em sala de aula por falta de formação inicial ou continuada dos educadores ou por

falta de recurso, já que muitas escolas não possuem assinaturas periódicas dificultando seu

23

acesso aos professores e alunos para desenvolverem um trabalho voltado para as informações

jornalísticas.

Concordamos com Pastorello (2005), quando afirma que o jornal impresso, como

referência de trabalho pedagógico, ainda é pouco explorado pelos professores que lidam

diariamente com alunos em fase de aprimoramento de aquisição da leitura e escrita. E, os

jornais da Internet ainda não dominam um uso efetivo na educação por falta de recurso como

computadores.

Assim, Libâneo (2003) propõe que é preciso destacar as implicações que a revolução

informacional está gerando, em decorrência do avanço das telecomunicações e da criação de

novas tecnologias de informação. Nesse novo contexto, as distâncias encurtam-se e o tempo

reduz-se. Em razão da multiplicação dos meios, dos modos com que são propagadas ou

acessadas, as informações, as mídias funcionam como veículo de mediação e de tradução da

realidade social. Nesse sentido, elas contam o que acontece no mundo, embora a realidade

possa ser percebida de forma virtual. A escola não pode ficar a reboque de todas essas

evoluções surgidas em razão das novas necessidades da sociedade emergente.

Portanto, entre os muitos setores em que ocorreram mudanças, há dois nos quais os

processos de transformação afetaram diretamente a sociedade, citemos: o modo de produção e

as tecnologias de informação e comunicação (TIC).

1.2 - Mudanças nos modos de produção

As alterações que se deram no modo de produção surgiram com a rápida e profunda

transformação tecnológica e a propagação da informação difundida pelas mídias. O que há de

novo no atual processo de transformação é o papel que desempenham a informação e o

conhecimento tanto na própria produção como no consumo. Dessa forma, faz-se necessário

que a informação faça parte dos conteúdos escolares não apenas para cumprir as demandas do

mercado de trabalho, mas para atender as necessidades da sociedade emergente que necessita

de cidadãos críticos e informados.

Conforme analisa Ferreira (2008), muito se tem estudado no campo da Lingüística

em torno dos usos de jornais em sala de aula, para ressaltar a importância dos textos não

escolares, já que em razão da globalização, os veículos de comunicação têm elevada

participação na formação do cidadão, independentemente de sua qualidade. Desse modo, cabe

24

ressaltar que, para elevar a qualidade dessa formação, faz-se necessário que as informações

jornalísticas integrem os currículos escolares, dentro de um contexto pedagógico do conteúdo,

visto que, em alguns casos, o texto jornalístico é muito mais bem sucedido do que aquele do

livro didático. Esse instrumento pedagógico pode contribuir para a formação de cidadãos mais

informados, críticos e participantes atendendo às necessidades da sociedade atual.

Dentro desse contexto de mudanças no modo de produção e de necessidades da

sociedade emergente, Valente (1999) representa um dos que analisam a evolução dos sistemas

de produção. No processo artesanal, a informação não era tão privilegiada, da mesma forma

que na produção em massa, quando os cidadãos não precisavam pensar, apenas executar suas

funções sem questionar. Em seguida, vem produção enxuta da atualidade, em que a

informação transformada em conhecimento torna-se fundamental para compor o novo perfil

de seres humanos que vivem numa sociedade em constante transformação e a informação

cada vez mais ganha papel de destaque. O que ocorre no mundo contemporâneo representa o

resultado da passagem do paradigma da produção em massa para o da produção enxuta.

Aquela se refere ao chamado “fordismo”, em que o controle da produção está centralizado nas

mãos de especialistas que planejam a tarefa, cuja execução cabe a trabalhadores com pouca

qualificação e informação. A produção enxuta da atualidade, ao contrário, exige trabalhadores

mais bem qualificados, ou seja, profissionais capazes de refletir, comparar e analisar as mais

variadas fontes de informações adquiridas pelos meios de comunicação para transformá-las

em conhecimentos. Por isso, acreditamos que os jornais impressos ou digitais em sala de aula

desde as séries iniciais podem contribuir para uma formação voltada para a competente

atuação do educando, possibilitando-lhe capacidade crítica e argumentos necessários para

viver no espaço em que se insere.

Assim, formas da produção enxuta começam a fazer parte do nosso cotidiano,

criando, conforme Rosini (2007), uma visão ecológica aplicada aos fenômenos físicos,

biológicos, sociais e culturais, cuja origem envolve não apenas a natureza, mas também a

cultura e a sociedade. Assim tudo se relaciona com todos como parte de uma totalidade.

A outra mudança de modelos ocorrida na sociedade foi ocasionada pelas tecnologias

de informação e comunicação as quais repercutiram também na educação.

25

1.3 - Mudanças ocorridas na sociedade devido às tecnologias de informação e

comunicação

Uma segunda mudança de modelos ocorrida na sociedade está ligada às Tecnologias

de Informação e Comunicação. Numa tentativa de definir o que entendemos por tecnologia de

informação e comunicação, utilizaremos a reflexão proposta por Brajnovic (apud Medina,

1998), que define informação como o conjunto de formas, condições e atuações para tornar

públicos, contínua e periodicamente, os elementos do saber, ou seja, fatos, acontecimentos e

especulações, mediante uma técnica especial, elaborada. Por exemplo: a técnica jornalística

torna a informação pública. O conjunto de instrumentos utilizados nesse processo recebe a

denominação de tecnologia da informação.

Nesta dissertação, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) serão

entendidas como formas de comunicação surgidas no contexto dos anos 1990, conhecidas

como Sociedade do Conhecimento. A TIC tem por objetivo agilizar o conteúdo da

comunicação, que pode ser, ou não, mediada pelo uso de computadores para transmissão e

distribuição das informações por via de imagem, texto, vídeo ou som. A consolidação da

Internet e a utilização das tecnologias de informação por governos, setores empresiais e

usuários do mundo todo possibilitaram o surgimento da sociedade do conhecimento. De

acordo com Martinez (2004), não se pode confundir informação com conhecimento, pois o

acesso à grande quantidade de informação não assegura a possibilidade de transformá-la em

conhecimento. Construí-lo é uma tarefa complexa. Exige-se um conhecimento básico do tema

investigado, assim como estratégias e referenciais que permitam identificar quais fontes são

confiáveis. Por outro lado, não devemos esquecer que, para transformar a informação em

conhecimento, exige-se pensamento lógico, raciocínio e juízo crítico.

Brunner (2004) enfatiza que informação é diferente de conhecimento, sendo que,

uma parte importante da educação tem a ver com informação sobre o mundo que nos rodeia,

sobre os outros e sobre nós mesmos. É certo que informação e conhecimento não compõem o

mesmo significado, mas tampouco se deve exagerar tal distinção. O conhecimento sempre

implica informação (embora vá além dela). Por outro lado, o manejo de informação sobre o

conhecimento, que é uma espécie de conhecimento especializado, está ganhando uma

importância crescente. Os jornais trazem a informação, mas são as práticas dos professores

que poderão contribuir para que elas sejam transformadas em conhecimentos sistematizados

pelos educandos.

26

Não se pode negar que, com toda essa tecnologia disponível no mercado, as formas

de construção de conhecimentos e hábitos começam a mudar. Segundo Tedesco (2006), a

acumulação de informação, a velocidade na transmissão, a superação das limitações espaciais,

a utilização simultânea de múltiplos meios (imagem, som, texto) são, entre outros, os

elementos que explicam a enorme fertilidade de mudança que apresentam essas tecnologias.

Sua utilização obriga a modificar conceitos básicos como os de tempo e espaço.

Porém, cabe ressaltarmos que, em meio a essa revolução tecnológica e

informacional, a maioria das escolas públicas continua com um ensino livresco, no qual

predomina o giz e a lousa, por não oferecer aos professores recursos necessários para uma

prática diferenciada. Em decorrência dessa limitação, desenvolve-se um descompasso entre as

práticas escolares e as mudanças ocorridas na sociedade emergente, porque elas não priorizam

as informações propagadas pelos meios de comunicação como fonte que pode gerar

conhecimento.

Thompson (1998) aponta que há três desenvolvimentos interligados que tiveram

particular importância nas transformações ocorridas em nossa sociedade. O primeiro é o uso

mais extenso e mais sofisticado de sistemas de cabo que fornecem uma capacidade muito

maior de transmissão de informação eletricamente codificada. O segundo envolve o crescente

uso dos satélites para fins de comunicação a longa distância. O terceiro, o mais fundamental, é

o crescente uso de métodos digitais no processamento, armazenamento e recuperação de

informação. A digitalização da informação, combinada com o desenvolvimento de

tecnologias eletrônicas relacionadas, aumentou grandemente a capacidade de armazenar e

transmitir informações e criou a base para convergência das tecnologias de informação e

comunicação, permitindo que a informação seja convertida facilmente para diferentes meios

de comunicação disponíveis a todos os usuários de forma imediata.

Dessa forma, é inegável que as transformações ocorridas na sociedade têm efeitos

poderosos em nosso padrão de conduta. Apesar das mudanças ocorridas nas formas de

transmissão da informação em nossa sociedade, devido ao uso intensivo das mídias e das TIC,

os jornais impressos ou eletrônicos, embora constituam uma mídia e uma tecnologia, cuja

função é a distribuição e a disseminação da informação, ainda são pouco explorados nas

instituições escolares. No século XX, o uso das informações divulgadas pelas mídias

impressas e virtuais desempenhou um papel importante na globalização das informações

veiculadas pelos mais diversos meios de comunicação. A escola, portanto, necessita

possibilitar o seu acesso, bem como desenvolver práticas educativas voltadas para a formação

de um leitor crítico capaz de romper com a visão fragmentada e livresca dos conteúdos

27

escolares, assim como estabelecer relações entre sua realidade cotidiana e o mundo,

possibilitando a compreensão dos fatos sócio-históricos.

No contexto da velocidade de informação, alunos e professores se relacionam de

forma diferenciada com o conhecimento e com a escola, em razão do novo cenário de

transformação. Uma sistemática diferenciada de diálogo pode permitir a compreensão das

novas relações do mundo moderno, dentre elas as questões que envolvam as mídias e as TIC.

Nessa direção, nos questionamos: qual o papel da escola nesse novo cenário de

transformação?

1.4 – A educação nesse novo cenário de transformação

Independente do grupo em que vivem, é de suma importância a todas as pessoas

compreender a realidade com que deparam, para melhor se relacionar, interpretar, atuar e,

principalmente, discernir o que querem em um mundo em que cada vez mais as informações

difundidas pelas mídias impressas ou eletrônicas se fazem presentes. Diz Ghilardi (2006) que

o professor pode preparar seus alunos para “filtrar” todas as informações disponíveis em

nossa sociedade e que um dos papéis dos educadores é oportunizar um diálogo com a mídia,

criando situações para reflexão e participação do aluno de forma ativa e crítica.

Ao contrário dos séculos anteriores, em que o conhecimento era privilégio de poucas

famílias influentes e de uma parte da Igreja, a informação tomou novos rumos a partir do

século XX, com o advento das mídias como rádio, televisão, jornais e, mais recentemente,

Internet, porque a informação se tornou acessível a todos com maior velocidade e menor

custo. Dessa forma, segundo Citelli (2006), à escola coloca-se o desafio de trabalhar num

universo marcado pelas diferentes linguagens inclusive a impressa ou digital, cujos crescentes

processos de integração acentuam e intensificam as migrações do conhecimento e da

informação, facilitando aos jovens vivenciar experiências com linguagens que não se bastam e

tampouco se confinam à tradição verbal. Essa evidência transforma a sala de aula em espaço

cruzado por mensagens e códigos que não se ajustam ou se limitam à tradição conteudista e

enciclopédica que rege a educação formal. É nesse contexto que se estabelece para cidadãos o

desafio de adquirir competências indispensáveis para transformar as inúmeras informações

fornecidas pelos mais diversos meios de comunicação em conhecimento.

28

Mas, para que esse desafio seja superado, diferentes condições são necessárias,

citemos: acesso às informações das diferentes mídias impressas ou digitais e das tecnologias

de informação e comunicação, assim como, a convivência em diferentes grupos sociais e o

principal acesso à escola e aos recursos, como jornais e Internet, que permitam aos cidadãos a

conquista a sua cidadania. Ratificam esse raciocínio Guareschi & Biz (2005), porque

enfatizam a necessidade de transformar a educação num processo de libertação, de visão

crítica da realidade, o qual está associado à questão da cidadania, com destaque para a

participação de todos no processo de decisões que são tomadas na construção de uma nação.

Fica evidente, portanto, que necessitamos de uma escola que permita a formação de pessoas

capazes de compreender e atuar nesse novo cenário de maneira integral, visto que é no espaço

escolar, que a educação torna-se um fator determinante na construção de uma sociedade que

se fundamenta no conhecimento e na totalidade do ser humano.

Brunner (2004) confirma que educação é mais que apenas a transmissão de

conhecimentos e a aquisição de competências valorizadas no mercado de trabalho. Ela

envolve valores, forja o caráter, oferece orientações, em suma, introduz as pessoas numa

ordem moral. Desse modo, a escola representa uma das instituições encarregadas de

proporcionar oportunidades a todos e de desenvolver habilidades e capacidade de aprender

nesse novo cenário de difusão e uso intenso das informações. Nesse ambiente de mudanças

sociais aceleradas, os ambientes escolares podem adotar práticas que incluem o uso de jornais

impressos ou digitais em sala de aula como atividades significativas na vida dos educandos.

Semelhante exigência não pode representar tão somente um recurso de retórica, porque

vivemos em uma sociedade marcada pelo uso da informação geradora de conhecimento e os

jornais, como recurso didático, podem contribuir para firmar a formação de leitores críticos.

Outro aspecto importante que não podemos esquecer é que nossos alunos nasceram e estão se

constituindo enquanto cidadãos nessa nova realidade.

Nesse contexto que, segundo Baccega (2006), alguns denominam sociedade da

informação, outros, sociedade do conhecimento ou infoera, os valores de compartilhamento,

de interação e o relacionamento humano estão se modificando velozmente. Recebemos uma

gama de informação em escala muito maior do que podemos absorver. E, nessa escalada

estonteante, o conhecimento, com sua percepção de totalidade, pode ajudar na seleção do que

é efetivamente importante e necessário para as mudanças históricas e sociais.

Assim, a educação também passa a sentir o impacto das mudanças causadas pelo uso

intensivo da informação e pelas tecnologias de informação e comunicação. Em uma sociedade

que valoriza a informação, os comportamentos e saberes se alteram com extrema velocidade.

29

Desta forma, de acordo com Kenski (2007), um saber ampliado por rápidas mudanças

caracteriza o estágio do conhecimento na atualidade e reflete sobre as tradicionais formas de

pensar e fazer educação. Em consequência, emerge a necessidade de abrir-se para novas

linguagens, inclusive a jornalística, resultante de mudanças nas formas de ensinar e aprender

possibilitadas pela atualidade tecnológica e midiática. Esse é um dos desafios a ser

considerado pela escola, uma vez que o uso das informações jornalísticas na educação não

pode ser entendido apenas como técnica para ensinar como manusear os jornais impressos ou

digitais, o chamado uso tecnicista, com práticas vazias sem significados claros percebidos

pelos alunos. A introdução dos jornais impressos ou digitais na escola requer professores com

formação cultural e base teórica para desempenhar sua função de possibilitar a interação entre

conhecimento, tecnologia e as mídias.

Dias & Filho (2003) são autores que manifestam preocupações sobre o uso tecnicista

dos jornais. Eles propõem que o professor deve refletir e discutir criticamente as diferentes

funções das tecnologias e das mídias, relevando a necessidade de tematizar e questionar os

meios tecnológicos e midiáticos de informação e comunicação não como meros recursos

técnicos que veiculam conteúdos pedagógicos por meio atraentes e coloridos desenhos, sons e

animações, mas como meios que podem ser concebidos como um instrumento de mediação,

através dos quais qual é possível provocar novos modos de produzir e gerar conhecimentos.

Dessa maneira, podemos mencionar vários aspectos importantes a serem levados em

conta para a incorporação das TIC e das mídias.

Segundo Tedesco (2004), em primeiro lugar, existe uma grande demanda social para

incorporar as tecnologias e as mídias na educação, o que muitas vezes ocorre sem

informações suficientes sobre sua funcionalidade. Planejar estratégias de comunicação

destinadas a qualificar as demandas educativas pode ajudar a criar um contexto mais

favorável para as incorporações. Em segundo lugar, as estratégias relativas às tecnologias e às

mídias exigem alianças no interior do próprio setor público, particularmente entre os órgãos

de Educação, de Comunicação e as universidades. Nessas alianças, é fundamental que o setor

público represente o interesse geral, que se sobrepõe à lógica de mercado. Em terceiro lugar,

as estratégias devem considerar, de forma prioritária, os professores. As pesquisas realizadas a

esse respeito mostram que, embora a maioria dos professores manifeste atitudes favoráveis à

utilização das informações midiáticas e das TIC, existem aspectos culturais que merecem

atenção, pois modificam significativamente o papel do professor no processo de ensino e

aprendizagem. As pesquisas disponíveis, porém, não indicam caminhos claros para enfrentar

o desafio da formação e do desempenho nesse novo contexto de bombardeio de informações.

30

Nessa perspectiva, com a mudança tecnológica e informacional, o homem foi

inserido num novo contexto, numa nova maneira de viver a vida, alterando valores, crenças e

hábitos. As informações jornalísticas difundidas pelas diferentes mídias sempre representaram

instrumento de inclusão ou exclusão social, mas agora adquirem um novo contorno. Não mais

apenas como incorporação ao mercado, mas como incorporação à cidadania, garantindo

acesso à informação que amplia o potencial crítico do cidadão. Desse modo, de acordo com

Pretto e Pinto (2006), somos cidadãos e consumidores, emissores e receptores de saber e

informação, ou seja, seres, ao mesmo tempo, autônomos e conectados em rede. Caracteriza-

se, portanto, a nova forma de viver na coletividade. O espaço da escola representa o contexto

para essa revolução.

Como ressalta Pimenta (2002), a finalidade da educação escolar na sociedade

tecnológica e multimídica é possibilitar aos alunos o acesso aos conhecimentos científicos e

tecnológicos desenvolvendo habilidades para operá-los, revê-los e reconstruí-los com

criticidade. O que implica analisá-los, confrontá-los, contextualizá-los, o que exige os

articular em totalidades que permitam aos educandos irem construindo a noção de cidadania

mundial. Porém, como ensinar e gerar conhecimentos nessa nova sociedade marcada pela

transformação tecnológica e pela presença das mídias, na qual os meios de comunicação

circulam livremente interferindo na formação de crianças, jovens e adultos? Esse é mais um

dos desafios da educação, pois segundo Gomes (2002), somente a inserção da TIC e das

informações midiáticas na escola não garante mudanças na qualidade da educação. Urge

repensar os modelos existentes para a adoção de novas práticas, que contribuam efetivamente

para a formação de cidadãos capazes de construir uma sociedade mais justa e igualitária.

Kenski (2007) acredita que não há dúvidas de que a TIC e o uso das informações

midiáticas trouxeram mudanças positivas para a educação por conter informações atualizadas,

imagens, sites educacionais, softwares diferenciados, os quais transformaram a realidade da

aula tradicional, dinamizando o espaço de ensino-aprendizagem, onde anteriormente,

predominava a lousa, o giz, o livro e a voz do professor. Mas, para que haja uma integração

efetiva da TIC e das diferentes linguagens que circulam no ambiente social, elas carecem ser

compreendidas e incorporadas pedagogicamente pelos educadores, respeitando as

especificidades do ensino e da própria tecnologia ou mídia escolhida para poder possibilitar

que o seu uso possa trazer modificações em sala de aula. Diante dessa situação, não basta

apenas os educadores utilizarem a TIC e as diferentes linguagens impressas e digitais. Urge

saber usar de forma pedagogicamente correta a tecnologia ou mídia escolhida para não cair no

chamado tecnicismo.

31

Relata Belloni (2001) que as informações que circulam o social estão presentes e

influentes em todas as esferas da sociedade, cabendo à escola, especialmente à escola pública,

atuar no sentido de compensar as terríveis desigualdades sociais e regionais que o acesso a

essas informações estão gerando. Pois, todos os alunos devem ter o direito à liberdade de

expressão, com acesso às mais variadas fonte de informações quer sejam: Internet, jornal,

revista, televisão ou rádio. Da mesma forma, o direito à educação inclusiva, principalmente

com qualidade, possibilitando o uso das informações jornalísticas como recurso para a

construção do conhecimento.

Atualmente, percebemos que as informações jornalísticas principalmente as

veiculadas pela Internet estão abrindo possibilidades e oportunidades, antes até então

inexistentes para pôr em prática o direito básico dos nossos aprendizes, que é o acesso à

informação sem fronteiras para a construção do conhecimento. Segundo Belloni (1998), cabe

à escola não só assegurar a democratização do acesso aos meios de comunicação os mais

sofisticados, mas ir além e estimular, dar condições, preparar as novas gerações para a

apropriação ativa e crítica dessas informações. É função da escola formar cidadãos livres e

autônomos, sujeitos do processo educacional: professores e estudantes identificados com seu

novo papel de pesquisadores, num mundo cada vez mais informacional e informatizado.

O que cabe às nossas escolas nessa sociedade que privilegia as informações

difundidas nas mídias e nas tecnologias de informação e comunicação? Gadotti (2000)

responde-nos a questão ao considerar que cabe a ela organizar um movimento global de

renovação cultural, aproveitando-se de toda essa riqueza de informações. A escola não pode

ficar a reboque das inovações tecnológicas ou midiáticas. Temos uma tradição de dar pouca

importância ao que circula no social para integrá-lo à educação.

Assim, conforme Martín-Barbero (1999), a escola deve abrir-se para as novas

linguagens, inclusive a jornalística, oferecendo condições para os alunos irem além da

formação para o consumo. Mas, ao contrário, promover práticas educativas significativas que

contribuam para que os nossos aprendizes atuem, de forma crítica e participativa, diante das

possíveis mudanças e influências ocorridas na sociedade. Desse modo, acreditamos ser

necessário refletir sobre o uso das mídias na possibilidade de um ensino voltado para a

formação de alunos críticos.

32

1.5- As Mídias e a possibilidade de um ensino crítico

Nesta parte da pesquisa, faremos uma reflexão sobre as mídias, como um

instrumento pedagógico a favor da educação que pode possibilitar um ensino voltado para a

formação de alunos críticos. Conforme Seligman (2008), ao se tornarem educados para ler a

mídia, os seres humanos podem reverter o processo de manipulação da sociedade por meio

dos meios de comunicação. Ao invés de se tornarem “reféns” das mensagens midiáticas, a

leitura crítica oferece-lhes condições de tomar decisões de forma livre e autônoma.

O termo “mídia” será entendido nesta pesquisa, segundo T. Silva (2005) como:

“conjunto de veículos e linguagens para a realização da comunicação humana para o

cumprimento de diferentes interesses e propósitos” (p.33).

A grafia predominantemente, segundo Santaella (2003), é no plural “as mídias” e

será empregada quer no sentido estrito de jornalismo impresso ou digital, quer no sentido de

meios noticiosos e informativos em geral, incluindo o rádio, televisão e Internet.

Como apontam os estudos de Guareschi & Biz (2005), Ghilardi & Barzotto (2002) e

Santaella (2003), a educação para a mídia resulta de uma leitura crítica, quer seja, da mídia

visual, da impressa ou da eletrônica.

Nessa direção, Belloni (2001), uma das precursoras a defender um ensino crítico das

mídias na educação, analisa que é a escola que tem condições teóricas e práticas para executar

um trabalho significativo voltado para o uso crítico das informações jornalísticas. Afinal, a

escola é responsável pela elaboração do ensino/aprendizagem e pela coerência da informação

nela transmitida, detendo as condições das práticas educativas voltadas para a criticidade das

novas gerações. Dessa maneira, a integração da educação para o uso de jornais impressos e

digitais pode se realizar em dois níveis: como instrumento pedagógico fornecendo apoio para

a melhoria da qualidade de ensino e como objeto de estudo, dinamizando condições para o

entendimento crítico dessa linguagem presente em nossa sociedade, cada vez mais

influenciada por esses meios.

Portanto, cabe aos professores formar seus alunos para o uso crítico e ativo dos

meios de comunicação, pois eles são constantemente bombardeados com inúmeras

informações oriundas das mídias. As informações jornalísticas em sala de aula podem

contemplar o desenvolvimento acadêmico pela informação e tem como foco originar uma

leitura crítica, assim como, esclarecer ao educando a realidade dos problemas sociais e, ao

mesmo tempo, propiciar o desenvolvimento do raciocínio, o aumento da capacidade de

questionamentos e abrangência do conteúdo escolar e cultural.

33

Desse modo, Caldas (2002) defende que ao decodificar, interpretar e encontrar

sentido no que foi escrito e divulgado nos meios de comunicação, os alunos compreendem

que as relações com os meios não se dão de maneira unívoca e que quem controla os meios de

comunicação tem o domínio de seus efeitos, daí a importância de múltiplas visões para a

formação das opiniões. O aluno só conseguirá converter as inúmeras informações jornalísticas

impressas ou digitais em conhecimento com muita reflexão. Essa operação mental não se dá

automaticamente pela repetição mecânica da informação apreendida, mas pela informação

discutida e contextualizada. É a possibilidade de se transformar a sala de aula em produção do

conhecimento, o aluno mero receptor em um aluno crítico e criativo.

Estudiosos como Belloni (2001 e 2002), Citelli (2006) e Martín-Barbero (1999) vêm

tentando compreender como e o que se aprende por intermédio das mídias e como incluí-las

como ferramenta pedagógica na educação, para a melhoria da qualidade do ensino na escola

pública, contribuindo para a formação de alunos críticos e inclusão de todos na sociedade do

conhecimento.

Acreditam Di Giorgi, Leite & Ferrari (2005) que uma escola preocupada em realizar

uma verdadeira inclusão social deve educar a todos com qualidade, propiciando-lhes uma

consciência cidadã, que assegure as condições de enfrentamento aos desafios do mundo

contemporâneo, o que inclui o acesso a inúmeras informações dos meios de comunicação com

um ensino voltado para a criticidade do aluno. Temos, portanto, além de uma nova clientela, a

necessidade de assumirmos novas características organizacionais e pedagógicas frente às

atuais demandas oriundas do processo de desenvolvimento econômico, científico e

tecnológico.

No contexto de uso das mídias, a escola não pode ignorar todas as informações

propagadas pelos meios de comunicação. Martín-Barbero (1999) acredita que a escola deve

abrir-se para as novas linguagens, visto que os alunos chegam à escola com novos modos de

ler. O problema básico da escola é abrir-se para as novas linguagens de forma crítica. Não de

forma instrumentada, mecânica ou modernizante. A idéia é abrir-se com temas que interessam

à juventude. Não se pode tangenciar a questão de que a escola está perdendo importância na

medida em que é incapaz de interagir com o horizonte cultural dos jovens. Ou seja, a escola

vai continuar a ser necessária na medida em que for ao encontro desses novos modos de ler,

de escrever.

Assim sendo, as mídias podem ser utilizadas como recurso pedagógico a favor da

educação, na direção de motivar a formação de alunos críticos, facilitando um ensino de

melhor qualidade.

34

1.6- Mídias e Educação

Diversas são as propostas para sistematizar um ensino crítico do uso das mídias na

escola, porém suas mensagens implicam a formação de milhares de pessoas no mundo.

Assim, não podemos ignorar que as mensagens difundidas pela mídia exercem influências na

formação de nossos alunos, principalmente os das séries iniciais. Eles, entretanto, não são

passivos; pois convivem com a mídia a partir de suas crenças, sua realidade e seus valores,

produzindo novas formas de compreender o mundo, como vêm sendo demonstrados por

autores como Martin-Barbero (1999) Thompson (1998), Guareschi & Biz (2005) entre

outros. O aluno, como outra criança, não é um ser passivo diante das mensagens apelativas

de consumo, de sexualidade ou de manipulação política. Cabe à escola formar seus alunos

para uma leitura crítica das mídias.

Contudo, T. Silva (2005) analisa que os conceitos de alfabetização e de letramento

midiático abarcam as várias mídias. Uma política bem informada de alfabetização-letramento

deve levar em consideração as potencialidades de todas as mídias, inclusive as digitais

existentes em nossa sociedade. Uma preocupação com os destinos e a qualidade da educação

precisa ser estendida à compreensão e ao manejo da mídia indistintamente, sob o risco de,

com a superação ou o apagamento de um ou outro recurso ou tecnologia no âmbito do

trabalho pedagógico, levarmos adiante uma educação fora do seu tempo. Além, é claro, de

não aproveitarmos as características dos diferentes veículos e linguagens para a melhoria dos

processos de ensino-aprendizagem. A escola e os professores devem selecionar criticamente

os meios comunicacionais conforme a natureza do objeto ou conteúdo a ser ensinado, sabendo

justificar os porquês dessa seleção. O letramento midiático inclui, portanto, a capacidade que

temos de nos instruir por meio da leitura e de selecionar, entre muitas informações, aquela que

mais nos interessa. As mensagens divulgadas pelas mídias também representam uma

necessidade a ser interpretada, pois os meios de comunicação também fazem parte da vida de

uma pessoa letrada.

Levando em consideração esse enfoque, Ribeiro & Siqueira (2007) pontuam que

hoje não é mais possível deixar as experiências dos indivíduos com a mídia fora das instâncias

de educação formal. Em um mundo marcado pela alta reflexividade das identidades e das

relações com outros, a subjetividade vai se tecendo influenciada por representações

simbólicas: Quem sou eu? Como posso me relacionar com outro? Que papéis devo assumir na

sociedade? Como e em que posso me modificar? Essas são questões para as quais ao longo da

35

vida as pessoas buscam respostas, muitas vezes oferecidas pela mídia, e que, queiramos ou

não, influenciam as vivências e as aprendizagens dentro das escolas.

Outro autor que defende a idéia de que a instituição escolar já não é considerada o

único meio de socialização dos conhecimentos e de desenvolvimento de habilidades

cognitivas e de competências necessárias na vida prática é Libâneo (2003). Segundo o

estudioso, a tensão em que a escola se encontra, no entanto, não significa seu fim como

instituição social educativa. Indica, isso sim, o início de um processo de reestruturação dos

sistemas educativos e da instituição de como a conhecemos. Portanto, a escola carece não

apenas conviver com as modalidades de educação como a informal, a formal e a profissional,

mas também integrar-se a elas, a fim de formar cidadãos mais críticos, participativos e

qualificados para um novo tempo. As práticas educativas que utilizam jornais por ser uma

mídia e uma tecnologia, podem contribuir para essa criticidade de ensino. Mas o que é ser

crítico na sociedade atual?

1.7 A formação da criticidade

Para responder à questão, faz-se necessária uma breve discussão do termo crítico.

Dessa maneira, para concretizá-la, nós nos fundamentaremos nos estudos de Freire (1987 e

1997), o qual propõe alguns conceitos que se tornaram fundamentais para a leitura crítica,

principalmente, das mídias. Suas contribuições teórico-metodológicas têm sido incorporadas

aos debates e reflexões sobre a pedagogia de um ensino que forme leitores críticos.

Conforme Freire (1987), vivemos em uma sociedade dividida em classes, sendo que

os privilégios de uns impedem que a maioria usufrua dos bens produzidos no coletivo dentro

da sociedade. Assim, a educação também se divide em dois tipos de pedagogia: a pedagogia

dos dominantes, na qual quem detém o poder são os que possuem domínio das informações

dos meios de comunicação. Nesse contexto, a educação existe como prática da dominação

pelas mídias que ditam regras de comportamentos, modos e estilos. Já o segundo modelo

corresponde à pedagogia do oprimido, que precisa ser superada. Nesse contexto, a educação

surgiria como prática da liberdade dos opressores por meio das informações adquiridas do

meio social transformadas em conhecimento adquirido.

Cabe ressaltar que não é suficiente que o oprimido tenha consciência crítica da

opressão, mas, que se disponha a transformar essa realidade; trata-se, portanto, de um

36

trabalho de conscientização que poderá ser iniciado dentro das escolas com um ensino

voltado para a criticidade das mídias e, conseqüentemente, pelo uso dos jornais impressos e

digitais em sala de aula. Esses representam instrumentos de divulgação e propagação das

informações que circulam no social. Seu papel é contraditório, porque tanto pode manipular

ou libertar leitores-consumidores desse tipo de comunicação.

Sendo assim, no que se refere à pedagogia do dominante, fundamentada em uma

concepção bancária de educação, predominam o discurso e a prática. O sujeito da educação é

o educador, sendo os educandos meros receptores e memorizadores de uma prática verbalista

sem sentido, dirigidos para a transmissão de conhecimentos abstratos para a vida prática.

Nessa pedagogia do dominante, o educando em sua passividade, torna-se um objeto para

receber pacificamente as informações do educador, sujeito único de todo o processo. Esse tipo

de educação pressupõe um mundo sem contradições, daí a conservação da ingenuidade do

oprimido, que, como tal , acostuma-se e acomoda-se ao mundo muitas vezes editado pelos

meios de comunicação no seu contraditório mecanismo de libertação ou opressão.

Em razão desse fundamento, idealizamos um ensino voltado para a criticidade como

meio de libertação dos cidadãos, abandonando, assim, a repetição de uma pedagogia

opressora. Conforme mencionado por Freire (1997), a tendência progressista libertadora na

educação, tem como foco problematizar o ensino-aprendizagem, valorizando os estudos

cognitivos sobre a crítica e a reflexividade. A educação não está reduzida em sua função

capitalista do chamado “Fordismo”, comentado por Valente (1999) de mero treinamento para

o trabalho. A função da educação reside em auxiliar o processo de transformação da

sociedade, que só será possível por meio de um autêntico diálogo crítico e reflexivo que se

origina em um processo de conscientização, motivando o homem a enxergar sua realidade

criticamente.

Então, a partir de uma perspectiva crítica Freiriana, a educação é concebida como ato

político, com uma prática voltada para a libertação e a superação da opressão, que só será

possível mediante relações sociais dialógicas entre professores e alunos, que trabalham o uso

livre e libertador da palavra escrita e falada. Toschi (2004) referenda essa idéia, valorizando a

educação para mídia como uma forma de evitar a característica manipuladora dos meios de

comunicação.

À luz desse argumento, Soares (1984) também acredita que os meios de

comunicação têm a função de informar, oferecer opção de lazer e denunciar. Mas, faz um

alerta de que no cumprimento dessas funções, muitas vezes, a manipulação ideológica confere

à mídia um tom negativo.

37

Assim, uma das tarefas mais importantes da crítica é propiciar as condições em que

os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ensaiem a

experiência profunda de assumir-se. “Assumir-se como ser social, histórico, como ser

pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva

porque é capaz de amar” (FREIRE, 1996, p. 46).

Portanto, podemos dizer que a Pedagogia Crítica Freiriana representa uma proposta

engajada nos dilemas sociais. Os jornais tanto impressos como os digitais por divulgarem os

acontecimentos históricos da atualidade podem se tornar um recurso para o educando

construir seus conhecimentos por meio das informações, inserindo-se de forma crítica e

participativa no ambiente social do qual faz parte. Recusando, por assim dizer, a idéia de que

a escola é uma instituição neutra, que utiliza conteúdos imparciais, pois uma das funções do

ensino é não reproduzir práticas de ensino que estimulem os fundamentos da sociedade

desigual e injusta.

Mas, o que significa um aluno crítico? Quais práticas de ensino podem levar a essa

criticidade?

Nesta pesquisa, o conceito de aluno crítico engloba o cidadão participativo que sabe

formar sua própria opinião e expor suas idéias, não sendo influenciado pela opinião de outras

pessoas e nem pelos apelos, muitas vezes sensacionalistas, das mídias.

Há muito tempo tem se demonstrado o empenho em torno da formulação do ensino

crítico no Brasil, visando à formação de um cidadão mais crítico, capaz de atuar na sociedade

emergente, consciente de seus direitos e deveres. Na Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96)

buscou atender às necessidades da sociedade contemporânea, com um ensino que possa

garantir além da aquisição de conteúdos programáticos essenciais para a contextualização dos

conhecimentos científicos, uma formação crítico-social para dar ao aluno condições de

enfrentar o mundo com mais segurança, visando ao “aprimoramento do educando como

pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do

pensamento crítico” (LDB 9394/96; p.11).

Cabe ressaltar que apesar do empenho à busca da criticidade levada a efeito por

autores e leis que regem a educação, como Freire (1987 e 1997) e LDB (9394/96), ainda há

necessidade de desafiar os alunos e professores para uma leitura crítica das mídias, já que os

usos dos jornais impressos ou digitais em sala de aula podem contribuir nessa direção.

38

1.8- Uso do jornal impresso e digital em sala de aula: possibilidades de um

ensino crítico

Os jornais impressos ou da Internet representam mais um entre tantos recursos que o

professor tem disponíveis em sala de aula entre livros didáticos, cartazes, lousa e giz. O

educador pode utilizá-los em suas aulas, gerando informações que poderão promover

aprendizagem e favorecer o desenvolvimento crítico e cognitivo dos aprendizes. Afirma

Pavani (2002) que a incorporação, ocorrida há pouco mais de 15 anos, dos meios de

comunicação nas escolas, vem de certo modo, trazer ao leitor-professor e ao leitor em

formação (aluno) a atualização e o questionamento dos acontecimentos que compõem uma

visão de mundo. Os jornais, tanto os impressos quanto os digitais, constituem um instrumento

de fácil acesso, atraente, de grande atualidade e com uma cobertura rica de assuntos atuais. O

professor tem nos jornais um meio para vitalizar os conteúdos escolares relevantes, pois o ato

de ler continuará sendo um meio de apropriação de conhecimentos e ampliação de horizontes.

Destaca T. Silva (2008) a importância do discurso jornalístico, de que enaltece três

vertentes para o ensino. Na vertente linguística, podemos verificar que o jornal é constituído

por ricos e diferenciados tipos de escrita (argumentativa, dissertativa, narrativa e descritiva)

dentro de uma gramática que lhe é exclusiva. Além disso, relações internas entre as partes ou

seções ou cadernos apontam para intertextos, relações entre palavra e imagem etc., que em

muito enriquecem o potencial de leitura de uma pessoa. Dentro da vertente cognitiva, o jornal

acompanha o desenrolar dos acontecimentos do dia, trazendo possibilidades de atualização de

conhecimentos, novos posicionamentos, análise e crítica. Do mesmo modo, há que lembrar

que os fatos aparecem em versões do próprio jornal, impondo a criticidade, a descoberta e a

recriação pela análise dos textos, entre outros. Isso significa que o jornal estimula a

curiosidade e a vontade de aprofundar os fatos pela leitura das versões. Dentro da vertente da

cidadania, devemos lembrar que o jornal, palavra cujo radical vem do francês jour-dia,

representa sempre uma janela para o mundo que se abre diariamente. Ainda que existam

veículos mais velozes do que ele, como a televisão e a Internet, o tratamento dos fatos pela

escrita exige um modo específico, mais reflexivo e seletivo de recepção. A partir desses

horizontes, o leitor enxerga melhor as fronteiras da sua comunidade, compreende melhor os

limites das suas participações e intervenções sociais. Enfim, conviver com jornais, ler jornais,

é sempre um modo de participar de nosso tempo e intervir na mudança do rumo dos

conhecimentos.

39

Comparando o jornal impresso às demais mídias, conforme Toschi (1993, p.104),

“enquanto a TV é sincrônica, isto é, simultânea aos fatos, é instantânea, o jornal impresso é

acrônico, isto é, não tem tempo próprio, é duradouro e ao mesmo tempo contemporâneo”.

Segue a autora (1993):

Por não ter a instantaneidade da TV e do rádio, o jornal possibilita a revisão da

matéria em outros horários onde o educando estiver mais livre e predisposto. Serve

também como ponto de apoio ao trabalho independente do aluno, pois é dinâmico,

variável, e mais atualizado dos materiais gráficos à disposição dos alunos (p.104).

O jornal impresso subsistirá ao tempo e a toda tecnologia disponível enquanto

permanecerem inalteradas tais condições, segundo os estudos de Dines (1986): 1- A

personalização da informação, 2- O ponto “ótimo” da periodicidade, 3-Amplitude. Com

relação à personalidade da informação, também conforme Dines (1986), apesar das grandes

tiragens, o jornal é um produto dirigido a cada leitor em separado. Mesmo que cada exemplar

seja lido em média por três leitores, cada um deles encontra algo muito seu e muito próprio.

Sobre o ponto “ótimo” da periodicidade, o autor revela que o ritmo diário é o único capaz de

resistir ao desgaste do tempo, conservando concomitantemente ingrediente da curiosidade. Já

com relação à amplitude, para o autor, o livro é dirigido, a revista tem o número de temas

limitado, a TV – a não ser na programação jornalística- apresenta no vídeo um tema de cada

vez. Esse é o problema dos veículos temporais, que só podem apresentar uma mensagem a

cada momento. Já o jornal é amplo e universal. Ele retrata a vida em todos os seus aspectos. A

leitura por alguns minutos da primeira página, ou a concentração mais atenta por uma ou mais

horas seguintes, são escolhas que cada um pode fazer. O leitor, nesse sentido, governa a

leitura do seu jornal. O fácil manejo e relativa perenidade permitem que os jornais sejam

guardados por momentos, horas ou dias.

Já os jornais da Internet podem ser acessados a qualquer momento e o professor ou

aluno poderá ter na tela do computador uma série de fontes. Caberá a cada um fazer uma

busca crítica sobre o que melhor se enquadra para a construção do conhecimento.

Mas, mesmo diante do inegável valor do uso dos jornais em sala de aula apontado

por diversos autores mencionados, ainda há uma parcela significativa de professores que não

os emprega nas suas práticas docentes que envolvem leitura e escrita ou ainda que faz dele um

uso inadequado.

Ferreira (2008) critica a forma como os jornais são trabalhados por alguns

professores, porque os trabalhos realizados pelos alunos envolvendo pesquisas em jornais

constituem atividades mecânicas, quando os alunos recortam textos, gravuras, espalham na

40

cartolina e colam. As informações selecionadas, em sua grande maioria, não são lidas pelos

alunos, não são comentados pelos professores, nem com os outros alunos da sala para gerar

uma discussão prévia para introduzir um conteúdo escolar. Fica evidente que a leitura, o

entendimento e compreensão dos textos selecionados não fazem parte das práticas educativas

de muitos professores, apesar de reconhecerem no jornal uma fonte rica de informação.

Com relação aos jornais digitais, apesar do acesso facilitado pela Internet, muitos

professores não o utilizam em sala de aula, em razão de as escolas não oferecerem este

recurso o que dificulta seu uso em sala de aula, além da falta de formação para sua utilização.

Cabe ressaltar que o jornal impresso e, principalmente, o digital, como referência de

trabalho pedagógico, ainda é pouco explorado pelos professores. Conforme Pastorello (2005),

o que ocorre é uma falha em nossos currículos, pois o professor pode apresentar ao aluno a

linguagem trazida pelos jornais, para que ele se aproprie dela em seu processo de

desenvolvimento e de transformação da cultura de seu meio. Os jornais trazem as

contradições presentes no contexto histórico-social em que o aluno vive, e por meio delas os

signos verbais tomam forma e conteúdo, possibilitando o diálogo entre as classes sociais.

Evitar o uso dos jornais é desvincular o aluno de seu contexto histórico cultural, retardando o

desenvolvimento de habilidades que favorecem a apropriação crítica do conhecimento social e

historicamente produzido. Para que isso ocorra é necessário que as escolas facilitem o acesso

aos jornais impressos e digitais. Assim, acreditamos ser necessário ampliarmos as discussões

sobre os usos dos jornais impressos e digitais em sala de aula como prática docente de leitura

e escrita, contribuindo para um ensino de melhor qualidade e para a construção de um leitor

crítico sobre o uso das mídias.

1.9 – Jornais em sala de aula: um instrumento do professor nas práticas de

leitura e escrita em sala de aula

Vários estudiosos vêm tentando compreender o uso dos jornais em sala de aula e

como incluí-los como ferramenta pedagógica na educação, como Faria (1999), Pavani (2007)

Zanchetta (2007) e Toschi (1993). Desse modo, essa ferramenta pode auxiliar o professor na

sua prática educativa, pois um professor crítico pode formar leitores críticos, conforme

Libâneo (2002). Se aspiramos a um aluno crítico, é preciso contar com um docente com essa

habilidade.

41

Nessa direção de leitura crítica, a escola sofreu mudanças significativas com os

avanços tecnológicos que ocorreram após a Revolução Industrial que se difundem muito mais

nos dias de hoje com a propagação do uso da Internet. O leitor competente domina

habilidades que vão além da capacidade de decodificar os códigos da leitura e da escrita.

Concordamos plenamente com Ghilardi (1999) quando avalia que:

O acesso à leitura – um bem cultural – deve ser oportunizado a todos os cidadãos.

Ler a palavra escrita, a palavra oral, a palavra não-dita, implícita no contexto ou em

imagem, e depreender o sentido que emana de fatores lingüísticos e extralingüísticos

torna-se prioridade na escola e fora dela. O analfabeto, hoje, não é simplesmente

aquele que não sabe ler ou escrever, mas o que não compreende os textos que

circundam (p.107).

Os jornais merecem destaque nas escolas pelo fato de estimular a prática de leitura

quer seja por lazer ou satisfação pessoal, pois, de acordo com Goumelot (2001) “a leitura é

sempre produção de sentido” (p.107).

Pavani (2002) é outra autora que ressalta que o uso de jornais em sala responde à

necessidade de estimular a prática de leitura não apenas na escola, mas no lar, nas bibliotecas,

tanto para fins práticos como por lazer ou satisfação pessoal, porque o aluno de hoje é bem

informado. Com pesquisas bem fundamentadas em acontecimentos atuais na comunidade

local e mundial, ele será um leitor crítico, criativo, visto que saberá fundamentar suas opiniões

e críticas, contextualizá-las, destacando-se do alienado senso comum.

Assim, para que a leitura do mundo ocorra de forma significativa é necessário que os

textos jornalísticos sejam levados na sala de aula de forma integral, sem recortes, como ocorre

em vários livros didáticos. Zanchetta Jr (2007) avalia que no livro didático, os textos surgem

ajustados à “cultura do fragmento”, que, mesmo sendo uma das únicas alternativas para

acesso a determinados conteúdos jornalísticos, incentiva o desprezo pela origem, pela história,

pela integridade da informação.

Essa afirmação torna-se mais sólida com os estudos de Silva & Lima (2008), pois, de

acordo com a análise dos autores, o ritmo acelerado de atividades muitas vezes impossibilita o

professor de reservar um tempo durante o dia para acompanhar a notícias veiculadas pelos

meios de comunicação. Da mesma forma, muitas vezes, na correria entre múltiplas atividades

não disponibiliza tempo para elaborar atividades diversificadas para serem utilizadas em suas

aulas. “Na maioria das vezes, ele se limita a apresentar para os alunos o currículo mínimo

trazido nos livros e apostilas” (p.147). Concordamos ainda com Silva & Lima (2008) quando

consideram que:

42

A utilização de materiais com potencialidade significativa em substituição ao livro didático coloca o professor diante do desafio de se orientar por outros recursos. Ele

passa a ter uma nova função no processo de ensino, tornando-se, com isso, um

constante pesquisador de novas formas e situações de aprendizagem (p.148).

Contudo, acreditamos que o uso de jornais abordado de forma significativa poderá

desenvolver nos alunos maior entusiasmo e autonomia em relação às estratégias de leitura

para se tornarem leitores críticos das mídias. Conforme Pastorello (2005), ao usar os jornais

nas aulas, o professor pode enriquecer os conteúdos escolares, de tal modo que os alunos

aguçarão importantes capacidades para o desempenho crítico, como, relacionar, comparar,

selecionar e levantar hipóteses. Assim, as práticas docentes que envolvem leituras

jornalísticas têm grande influência na formação do gosto pela leitura crítica.

Em consequência, ao desenvolver a empatia entre aluno e jornais, o docente

possibilita ao estudante manipular o material e se familiarizar com ele, estimulando-o para a

discussão de sua realidade, desenvolvendo, conforme L. Silva (2005), o espírito crítico, tendo

em vista a formação de um cidadão participante e consciente da sociedade em que está

inserido. A importância das atitudes de leitura e de questionamento no processo ensino

aprendizagem por parte do professor é vital. Dessa maneira, o professor, quando utiliza as

informações jornalísticas em sala de aula para maior entendimento do aluno, contextualiza o

ensino, torna suas aulas mais motivadoras e o conteúdo mais próximo da realidade dos

educandos, aperfeiçoando, assim, as argumentações e as produções textuais.

Nessa mesma direção, segundo Pavani (1999), com a leitura de jornais em sala de

aula, pode-se comprovar ao aluno a importância da linguagem nas diferentes áreas do ensino.

Desse modo, serão boas as informações dos jornalistas bons narradores, isto é, que dominem

o manejo da nossa língua; assim também o aluno reconhecerá a mesma necessidade para

redigir bons argumentos. Esse processo encadeado colaborará para que os aprendizes fiquem

mais receptivos aos novos conteúdos escolares a serem abordados pelo professor de forma

crítica, pois este já deve ter analisado o material antes de aplicá-lo em sala de aula,

contribuindo para um conhecimento gerado de forma mais significativa.

Toschi (1993) analisa que os proprietários de empresas jornalísticas procurando

ampliar o universo de leitores têm elaborado programas de unir jornal impresso e educação,

auxiliando a prática do professor para desenvolver os conteúdos de forma crítica e

contribuindo na formação de leitores. De acordo com o levantamento da ANJ realizado em

setembro de 2007 dos 132 jornais associados à entidade, 59 desenvolvem projetos de Jornal e

Educação. Há programas em 19 estados brasileiros mais o Distrito Federal, sendo que as

Regiões Sudeste e Sul detêm o maior número de iniciativas.

43

Dessa forma, segundo Borelli (2002), os jornais impressos chegam às salas de aula

para ajudar os professores a desenvolver os componentes curriculares. Não se pretende brigar

com o livro didático, que continua como um suporte. Porém, o jornal também é um suporte

que auxilia o professor no desenvolvimento das competências e das habilidades dos nossos

alunos e assim o faz em decorrência de sua instantaneidade. No dia seguinte, os

acontecimentos das variadas áreas da vida humana podem estar publicados no jornal. Quanto

ao livro didático, é necessário mais de um ano para que as informações cheguem, nesse

suporte específico, às mãos dos alunos e professores.

Nessa perspectiva, as dinâmicas de cada projeto variam de acordo com a região

geográfica em que circula e a parte da empresa responsável. Os programas têm o objetivo de

fornecer os jornais às instituições e às escolas, veiculando orientação aos professores quanto

ao aproveitamento da leitura dos jornais cedidos. De modo geral, alguns dos objetivos dos

programas do jornal impresso na escola de acordo com Pavani (2002) são:

- Desenvolver o gosto e o hábito de leitura de jornal;

- Estimular o aluno a se manter informado sobre assuntos de interesse particular e comunitário;

- Estimular o aluno à discussão de sua realidade, desenvolvendo espírito crítico,

pensamento lógico e criativo, tendo em vista a formação do cidadão consciente e

participante;

- Viabilizar a utilização do jornal como recurso de apoio didático para todas as

disciplinas curriculares;

- Promover a integração entre currículo escolar e a realidade do dia-a-dia;

- Conscientizar e promover o exercício da cidadania, discutindo os problemas da comunidade e buscando soluções;

- Atender à proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que indicam

a utilização dos “Textos do Mundo” nas salas de aula (p.22).

Dentro ou fora da escola, independente dos recentes progressos tecnológicos em

matéria de comunicação, a habilidade de ler continua sendo componente essencial para todo e

qualquer tipo de aprendizagem e o uso de jornais digitais na escola pode contribuir para

ampliação dessa habilidade.

44

1.10- Uso de jornais digitais em sala de aula: uma realidade a ser construída

O acesso às informações ficou mais fácil para professores e alunos que têm a

possibilidade de acessarem a Internet. Ao fazê-lo, os leitores têm variadas fontes de

informação de qualquer lugar do mundo, o que não seria possível sem a ajuda da rede. Textos

com características distintas, fotografias e recursos tecnológicos, os jornais digitais são fonte

respeitada para pesquisa e para a obtenção de informação sobre o mundo atual. Os professores

também podem fazer seu uso em sala de aula.

Em consequência de toda essa revolução tecnológica, a educação começa a se

modificar de acordo com os novos pontos de vista. Morán (2003) faz uma crítica sobre as

“velhas” mídias, que não foram utilizadas na educação. O livro, a revista e o jornal são mídias

e tecnologias fundamentais para a aprendizagem e ainda não sabemos utilizá-las

adequadamente. O gravador, o retroprojetor, a televisão, o vídeo também representam

tecnologias e mídias importantes que também foram muito mal utilizadas em sala de aula.

Ressaltamos que cabe aos professores não repetirem os mesmos erros do passado, em

que as ditas “velhas tecnologias”, como os jornais impressos, foram mal empregadas na

educação, conforme enfatizado por Pastorello (2005). Por isso acreditamos ser necessário o

professor ter uma formação inicial e continuada sobre as melhores formas de utilização das

tecnologias e das informações jornalísticas a favor de um ensino de qualidade voltado para o

aprendizado contínuo dos alunos. As mudanças sociais decorrentes do uso e do acesso às TIC

e das informações difundidas pelas mídias atingem todos os espaços sociais e a instituição

escolar não pode ignorá-las, devendo abrir-se para os novos meios de comunicação como

forma de construção de conhecimento.

Não se deve esquecer que o jornalismo digital no Brasil, conforme Reis (2007), não

exercitava uma linguagem própria para sua produção que se adequasse às peculiaridades da

nova mídia. Em consequência, as matérias eram transpostas do jornal impresso para a tela

sem alteração do conteúdo. Com o passar do tempo, as redações foram explorando as

oportunidades tecnológicas e as possibilidades informativas da Internet, culminando no que

conhecemos por webjornalismo. Professores e alunos conectados conhecem as diferentes

linguagens de conteúdos multimídia compostos nos jornais digitais como: a escrita, o áudio, o

vídeo e a imagem, permitindo-lhes explorarem os diversos níveis de interatividade. Assim, os

leitores da era digital, demonstram a necessidade de estar atualizados para buscar com

liberdade informações sem fronteiras, com as possibilidades de interagir e opinar. As TIC

45

trouxeram para os educandos e educadores a possibilidade de acessar informações de forma

ativa, diferente dos meios de comunicação tradicionais impressos.

Destaca Ostrovsky (2009) que a interação dos jornais, via Internet, aguça o interesse

do aluno em buscar conhecimentos, estimula a investigação pela informação e propõe uma

visão crítica. Alunos e professores aprendem a utilizar a rede, encontrando caminhos para

explorar essa ferramenta em sala de aula. Sabemos que há escolas que ainda não possuem

nem computadores, quem dirá Internet. Mas, se estamos buscando uma educação com

qualidade, os usos dos jornais digitais são inevitáveis para contribuir, assim para formação de

alunos críticos, nas práticas de leitura e escrita e para exercitar nos estudantes o poder de

argumentação, embora seu uso não seja tão frequente ainda por falta de equipamentos

necessários para seu uso significativo nas escolas.

Portanto, as indagações se impõem e não se calam. Os cursos de licenciatura incluem

um espaço para o uso dos jornais impressos e digitais em seus currículos? Os jornais são

elementos presentes nos cursos de formação inicial e continuada dos professores? Perguntas

como essas serão eixos centrais do próximo capítulo.

46

CAPÍTULO II

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E A INTEGRAÇÃO DAS MÍDIAS NA

EDUCAÇÃO

“Quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-

se e forma ao ser formado. Quem ensina aprende ao ensinar e quem

aprende ensina ao aprender”.

(Paulo Freire, 1996)

A fundamentação teórica deste capítulo está articulada com a importância da

orientação do uso funcional das mídias na educação, tanto na formação inicial como na

continuada, quanto no uso do jornal em sala de aula. Em consequência, o presente capítulo

está estruturado nos seguintes tópicos: 2.1- Mídias e a formação de professores no qual

demonstramos que o uso das mídias na educação é uma questão em aberto com poucos

empreendimentos significativos. 2.2- Formação crítica de professores para o uso das

informações jornalísticas impressas e digitais: possibilidade a ser construída em que

salientamos a necessidade de os cursos de formação de professores abordarem em seus

conteúdos o uso crítico das mídias na educação e a importância do investimento na

formação inicial e continuada.

2.1 Mídias e formação de professores

O uso das mídias, no seu aspecto científico e pedagógico, ainda necessita ser

repensado e, em alguns casos, implementado, nos cursos de formação inicial de professores,

uma vez que as práticas formativas nessas instituições ainda não respondem às necessidades

sociais, contribuindo para uma profissionalização inadequada para utilizar as informações

jornalísticas em sala de aula. A sociedade do conhecimento desafia os cursos de formação de

professores a construir uma nova configuração nos conteúdos de formação, alicerçada no

suprimento das necessidades da sociedade emergente.

Nesse contexto, em que há necessidade de explorar as informações jornalísticas nos

cursos de formação inicial e continuada de professores, conforme Melo & Silva (2008), urge

uma revisão sobre as concepções dos futuros professores em relação às mídias e, também,

sobre as metodologias de ensino propostas aos futuros licenciados, bem como a revisão de

materiais e recursos didáticos, a incorporação de experiências e modalidades formativas

47

diversificadas. Esse não é, naturalmente, um trabalho fácil, ao contrário, exige uma

reconstrução das práticas de formação docente. Assim, o uso das informações jornalísticas na

educação, apesar de ser um tema de destaque, merece maior abrangência nas discussões dos

cursos de formação de professores, por constituir uma questão em aberto com muitas

possibilidades anunciadas e poucos empreendimentos significativos desenvolvidos.

Zanchetta (2005) apresenta uma crítica sobre a inserção da mídia, em particular

relevando o papel das informações jornalísticas impressas nos cursos de formação inicial de

professores. Ela ainda não faz parte do ideário das universidades, quanto ao seu uso. Mesmo

diante de uma cultura de prestígio que reforça o papel dos meios de comunicação na vida da

sociedade contemporânea, no plano político universitário, o estudo desses meios acaba

secundarizado.

Outra pesquisadora que acredita na necessidade de se incluir aos cursos de

formação inicial de professores conteúdos e disciplinas que formem para as informações

jornalísticas, não apenas como orientação para sua utilização na educação, mas também

como análise crítica de seus componentes ideológicos, é Toschi (2003). Ela reivindica que é

imprescindível fortalecer o papel dos professores no processo de incorporação das mídias na

educação, principalmente porque as mudanças realmente significativas que transformam a

escola ocorrem graças aos professores. Nesta mesma direção de formação inicial de

professores, os cursos de licenciaturas poderiam disponibilizar aos futuros educadores

espaços para os conteúdos específicos das informações jornalísticas impressas e digitais que

circulam no âmbito social, contribuindo para o exercício da profissão de educador, além de

reunir as habilidades e competências necessárias na atuação docente para desenvolver,

elaborar, acompanhar e avaliar projetos e ações educacionais, com base nos fundamentos

científicos, sociais, humanísticos e éticos. Esses cursos podem atender às necessidades da

sociedade do conhecimento, formando docentes para lidar com as informações jornalísticas

por meio de uma matriz curricular que possibilite conteúdos específicos para seu uso, com

disciplinas voltadas para Mídia e Educação, como apontam os estudos de Belloni (2001).

Mídia e Educação, para Fantin (2006), dizem respeito à dimensão de ter a mídia

como “objeto de estudo e tem importância crescente no mundo da educação e da

comunicação” (p.31). Para a autora, é um campo metodológico a ser construído, que permite

um espaço para reflexão teórica sobre práticas culturais.

Outros estudos na mesma direção estão sendo enriquecidos por Soares (2008),

denominados como Educomunicação. Segundo o autor, Educomunicação é o conjunto das

ações inerentes ao planejamento e avaliação de processos e produtos destinados a criar e

48

fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos que podem possibilitar o

desenvolvimento do espírito crítico dos usuários dos meios de comunicação, aproximando

os recursos da informação das práticas educativas para ampliar a capacidade de expressar

das pessoas. Portanto, dessa forma, a Educomunicação (Educação e Comunicação), passa

pela formação dos professores, que são os principais mediadores entre o que os meios de

comunicação propagam e o que os alunos apreendem.

Na perspectiva educacional, conforme os estudos de Tosta & Santos (2000), entre os

que abriram caminhos para a construção da relação entre educação e comunicação, Freire

(1971) apontou para o caráter essencialmente dialógico dos processos comunicacionais,

porque as pessoas produzem conhecimento coletivamente e interagem embasadas na idéia de

diálogo. Dessa maneira, um dos primeiros passos para se pensar em utilização das

informações jornalísticas na educação poderia ser dado a partir dos currículos dos cursos de

formação de professores. Contudo, predomina nas políticas de ensino, uma dicotomia que

mantém em universos estanques, a Comunicação e a Educação. Tal descompasso precisa ser

superado pelos cursos de formação de professores.

Rezende e Fusari (1995), no final da década de 1980, já alertava para a necessidade

de inserir o estudo das mídias na formação inicial e continuada de professores, pois sua

contribuição para a educação precisava ser praticada nas escolas. Para a autora, não bastava

colecionar imagens ou saber sobre suas técnicas de utilização, era necessário “aprender a

elaborar e a intervir no processo comunicacional que se dá entre professores e alunos com

essas mídias, para ajudar na realização da cidadania contemporânea” (REZENDE E

FUSARI,1995, p.68).

O tempo passou e o uso das informações jornalísticas ainda não teve tantas

mudanças significativas, pois elas continuam a ser tratadas nos cursos de formação para

professores de forma superficial. É preciso organizar melhor o debate, pois sabemos que

muitos professores que estão dentro das salas de aulas não foram formados e nem

preparados para utilizar as mídias nas escolas. Faz-se necessário além de incluir os jornais

impressos e os digitais na educação, fornecer ao educador acompanhamento e uma formação

continuada.

Conforme Zanchetta (2007):

No tocante à formação de professores, a preparação para lidar com a mídia é ainda

objeto ensaístico. Entre as tendências pedagógicas em evidência nos cursos de

licenciatura, não existe espaço definido para lidar com os Meios de Comunicação.

No terreno das publicações, há poucos estudos acerca da inserção dos Meios de Comunicação na escola, ainda que existam incursões significativas (p.1462).

49

Além disso, constatou Zanchetta (2007) que alunos que frequentam cursos de

formação de licenciaturas, em razão de receber rara orientação no período de formação

primeira, sua experiência com mídia é desprezada. Outra análise relevante sobre os cursos de

formação inicial de professores segundo, Silva & Lima (2008), é que: “além da formação

inadequada para o uso das mídias, o professor sente-se inseguro para fazer uso do jornal e da

revista nas aulas” (p. 157). Tal insegurança decorre de não ter sido oferecido nos cursos de

formação um espaço para discutir seu uso na educação.

Em todas as atividades, quando o profissional tem uma formação inadequada sente-

se sozinho, por que não na Educação? Rosado (1998) caracteriza com pertinência essa

situação conflituosa, quando afirma que o professor:

... frequentemente apontado como divisor de águas, limitador na implementação de

um ensino de melhor qualidade, criticado com aspereza por vezes por pesquisadores

e estudiosos de educação e comunicação, mas sem que esses acadêmicos ofereçam

alternativas, pistas que orientem e sustentem formas de operacionalização, de

construção desse novo papel de professor que integre e utilize de maneira otimizada

os recursos tecnológicos disponíveis (p.229).

Assim, há um grande desafio a ser superado na formação de novos docentes para

lidar com as diferentes linguagens presentes nas mídias impressas ou digitais, de modo que

estimulem ações para gerar mudanças significativas. Santos (2003) afirma que é preciso

modificar desde a reestruturação da instituição escolar até a formação de docentes, que são

também cidadãos, comprometidos com a capacitação das novas gerações.

Nessa direção, “quem educará os educadores?”, pergunta Morin (2005, p.23). O

questionamento do autor remete-nos a uma constatação quase que imediata: precisamos

alterar os cursos de formação inicial dos futuros educadores para atender às necessidades da

atual “Sociedade do Conhecimento”, em que as mídias fazem parte da disseminação das

informações.

Portanto, restam-nos algumas indagações: como os cursos de formação de

professores podem contribuir para uma formação voltada ao uso crítico das informações

jornalísticas impressas e digitais? Se os jornais sabidamente colaboram para um ensino

crítico, por que os docentes não o usam? Falta orientação? Há falhas em sua formação inicial

e continuada? Qual será o motivo?

50

2.2- Formação crítica de professores para o uso das informações jornalísticas

impressas e digitais: possibilidade a ser construída

Há vários obstáculos que dificultam a integração crítica das informações

jornalísticas impressas e digitais nos cursos de formação inicial ou continuada, segundo

Zanchetta (2005). Um deles que impossibilita uma abordagem mais propositiva sobre o

trabalho crítico com a imprensa é que o texto jornalístico precisa antes se mostrar como

prática social de professores e alunos. Assim, cabe ressaltar que nenhuma mudança ocorrerá

somente ao implementar o acesso aos jornais impressos e digitais, se a criticidade a ser

formada no hábito de leitura desses veículos de comunicação não fizer parte de uma prática

social dos educadores e educandos de forma significativa, como apontam também os

estudos de Kleiman (2002).

No contexto do uso crítico das informações jornalísticas na educação, as orientações

oficiais, como a do PCN e outros documentos produzidos nos últimos anos pelo Ministério da

Educação e Cultura (MEC) não trazem devidas orientações sobre seu uso. Deixam o trabalho

sob a responsabilidade do professor que, por sua vez, não tem formação inicial ou continuada

suficiente para explorar de forma crítica os jornais impressos ou digitais em suas

potencialidades em sala de aula. Reproduzindo, assim, práticas insignificantes e o pior de

tudo, fazendo com que o aluno crie antipatia por esse gênero. Segundo Zanchetta (2005), as

propostas oficiais para a atuação crítica dos professores, tendo como expoentes os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN) transformam-se em referencial obrigatório, pela consistência

(até certo ponto avalizada pela academia), pela força política (são cobrados em concursos, por

exemplo) e pela frágil cultura pedagógica por parte dos estados e municípios.

Zanchetta (2005) também pondera:

Esses documentos reforçam a funcionalidade e instrumentalização dos

conhecimentos. Observados a partir de alguns gêneros de maior trânsito, como a

notícia, a reportagem e o texto opinativo, e não pelo seu conjunto e dinâmica, meios

audiovisuais ou marcados por relações gráficas diversas, como o jornal impresso,

vêem dificultada a sua abordagem. Deixa-se ainda para um segundo plano a

dimensão simbólica e histórica do discurso, inviabilizando uma proposta de análise

mais orgânica desses veículos (p.1501).

Cabe ressaltar que, nesse contexto de uso das informações jornalísticas, a escola

ainda não encontrou meios de integrar as mídias de forma crítica e significativa nas salas de

aula. Não raro são as empresas jornalísticas que oferecem programas com propostas

pedagógicas associados aos comerciais. Conforme Zanchetta (2007), incentivar professores e

alunos por programas de formação de leitores financiados por empresas jornalísticas pode não

51

ser a melhor solução para desenvolver a criticidade dos alunos, pois a ideologia implícita no

jornal atende uma lógica mercadológica que não condiz com a Educação necessária hoje, na

chamada “Sociedade do Conhecimento”. Tais programas são positivos por poder sanar

lacunas deixadas pelas universidades que não deram a formação suficiente para o uso dos

jornais aos educadores. Por outro lado, se os professores estivessem preparados para trabalhar

com a linguagem jornalística de forma crítica, esses programas seriam bastante

enriquecedores, uma vez que possibilitariam o acesso a essa mídia que, muitas vezes, não

chega à escola por questões econômicas. O estudioso conclui que diversos são os programas

de formação de leitores financiados por empresas jornalísticas. Entretanto, embora tais

iniciativas tenham visibilidade, partem de fora para dentro da escola. Sendo que o melhor

seria o movimento oposto, em que as leituras dos jornais fizessem parte das práticas sociais da

escola.

Assim, percebemos que a formação inicial poderia contemplar de forma mais

abrangente o uso crítico de jornais tanto impressos como os digitais, o qual seria ampliado e

discutido na formação continuada, atendendo à necessidade da sociedade emergente. De

forma geral, a formação continuada tem a função de proporcionar ao educador a atualização

com as mais recentes pesquisas sobre educação, envolvendo reflexões críticas sobre a prática

educativa. Esse atendimento pode ocorrer na própria escola ou ainda por meio de programas

oferecidos pelo MEC, pelas secretarias estaduais ou municipais e outras modalidades.

De acordo com o MEC (2008):

A formação continuada é uma exigência da atividade profissional no mundo atual

não podendo ser reduzida a uma ação compensatória de fragilidades da formação

inicial. O conhecimento adquirido na formação inicial se reelabora e se especifica na

atividade profissional, para atender a mobilidade, a complexidade e a diversidade

das situações que solicitam intervenções adequadas. Assim, a formação continuada

deve desenvolver uma atitude investigativa e reflexiva, tendo em vista que a

atividade profissional é um campo de produção do conhecimento, envolvendo

aprendizagens que vão além da simples aplicação do que foi estudado (Brasil, p.1).

Diante do posicionamento do Ministério da Educação e Cultura, a formação crítica

para uso de jornais impressos e digitais deve ser objeto da formação continuada, uma vez

que muitos professores não tiveram essa oportunidade na formação inicial. Sabemos que os

educadores, principalmente os de Ensino Fundamental enfrentam dificuldades no que se

refere ao uso das mídias. Uma das origens desse problema está ligada às deficiências em sua

formação inicial, as quais permanecem em sua formação continuada.

Adequar o uso crítico das informações jornalísticas à educação representa uma

tarefa que exige disciplina e espírito de pesquisa. Uma formação crítica do professor para o

uso de jornais tem constituído um referencial na busca de ofertar uma educação de

52

qualidade. Segundo Silva & Lima (2008), uma consideração a ser levada em conta é que o

professor, na maioria das vezes, não teve uma formação crítica inicial e nem continuada,

voltada para a utilização pedagógica das informações dos meios de comunicação em suas

aulas. Essa formação inadequada para o uso das mídias muitas vezes faz com que esse

professor não considere questões importantes como as ideologias e a tentativa de alienação

presentes nas mensagens desse veículo de comunicação.

Nesse sentido, Freire (1987) contribui com a idéia de que é preciso que os cursos de

formação inicial busquem reagir à manipulação do pensamento ideológico das mídias e sua

tentativa de alienação, de modo a conquistar uma real liberdade de pensamento.

Então, a formação crítica de professores leitores-consumidores das mídias consiste

em não permitir que a opressão, isto é, as estratégias utilizadas pelas opressoras “mídias” se

firmarem e se perpetuarem no poder. Assim, a Pedagogia do Oprimido permanece atual,

inclusive como referencial nos cursos de formação inicial e continuada de professores, na luta

contra a opressão que os meios de comunicação possam utilizar. Essa orientação crítica e

libertadora à qual se refere Freire (1987), nos cursos de formação inicial e continuada é uma

realidade a ser considerada, para fortalecer no futuro educador uma visão crítica do que é

divulgado pelas informações jornalísticas, para questionar o papel que os meios de

comunicação vêm exercendo na sociedade. Se pretendemos que os futuros educadores não

reforcem o processo de alienação, conformismo e aceitação passiva dos conteúdos divulgados pelas

mídias, urge instrumentalizá-los para fortalecer a capacidade de atitude e reação necessárias diante dos

problemas sociais contemporâneos. Não podemos descartar que os meios de comunicação vêm

se apoiando em interesses capitalistas (dominantes), de modo que as mídias não são

imparciais, o que expressa a não-neutralidade das informações jornalísticas. Desta forma, os

cursos de formação de professores podem preparar para sua criticidade.

Contudo, evidenciamos que para se ter um uso pedagógico crítico das informações

jornalísticas na educação é necessário pensar tanto na formação inicial do professor, como na

formação continuada desse profissional que muitas vezes enfrenta dificuldades devido às

lacunas em seu processo de formação.

Conforme Porto (2003), a formação crítica do uso das mídias proporciona ao

professor uma aproximação entre a ação e a reflexão, entre sujeito e objeto. Porém, muitos

deles admitem terem dificuldades para lidar de forma crítica com situações conflituosas

devido a falhas observadas em seu processo de formação/trabalho.

Completando essa idéia, Rezende e Fusari (2001) acredita que deve haver uma

articulação do uso crítico dos jornais entre a formação inicial e a formação continuada por

53

intermédio de pesquisas argumentando que “a formação inicial de professores precisa estar

„de olho” no que está acontecendo no exercício da docência, mas o docente em exercício

tem de estar „de olho‟ nos cursos de formação inicial dos professores” (p.215).

Nessa direção, segundo os documentos do Ministério da Educação e Cultura:

(2008), o processo formativo constante do docente deverá estar vinculado a uma formação

contínua de caráter crítico reflexivo em que o professor é o sujeito da ação, que valoriza suas

experiências pessoais e inclui em sua prática as teorias aprendidas. De modo que, ele próprio

atribua novos significados a sua prática e enfrente as dificuldades com as quais se depara no

dia-a-dia. Não se pode perder de vista a articulação entre formação e profissionalização, na

medida em que uma política de formação implica ações efetivas, no sentido de melhorar a

qualidade do ensino e as condições de trabalho.

Sendo assim, as vivências com as informações jornalísticas na formação docente

fazem com que o professor tome consciência de que os parâmetros de referência para sua

profissão, conforme Porto (2003) advêm não só dos conhecimentos teóricos, mas dos saberes

de suas práticas e dos estímulos do mundo exterior, como exemplo, do contato com outras

pessoas e com as diferentes linguagens impressas ou digitais. Produzindo, ainda, relações de

aprendizagens significativas.

Rosado (1998) relata que o professor precisa de formação crítica para o uso das

informações jornalísticas em sua prática pedagógica, mas não nos modelos de cursos

esporádicos e descontextualizados da prática docente, uma vez que os cursos oferecem

somente um grande volume de informações declarativas, não contextualizadas e passadas a

esses profissionais num intervalo de tempo bastante curto, sem levar em conta as

necessidades dos docentes. Por esse motivo, a formação crítica de docentes para o uso das

informações jornalísticas deve estar centrada na escola, nas necessidades da sociedade

emergente e na realidade do professor que tem o ensino e aprendizado críticos do aluno

como foco de seu trabalho em sala de aula.

Incentivar o professor a refletir de forma crítica sobre o papel dos meios de

comunicação dentro do atual contexto tecnológico e informacional, segundo Guimarães

(2004), poderá vir seguido de uma política voltada para a formação inicial e continuada de

professores, que invista na preparação destes não para introduzir um programa específico,

mas permitindo-lhes repensar sua prática de forma crítica.

Outra consideração importante sobre a formação crítica dos professores para o uso

das informações jornalísticas em sala de aula pode permitir que não ocorra, o que previa

Rosado (1998), quando o professor pode ter ao alcance de sua mão uma variedade de

54

recursos (mídias impressas ou eletrônicas) e não utilizar nenhuma delas. Conforme a autora,

os argumentos, com frequência de peso, para sustentar esse posicionamento vão desde a

falta de recursos, a dificuldade de acesso a ele, a falta de segurança, de formação, de tempo

disponível para conhecer o material e, o mais grave de todos os argumentos, está no uso

inadequado efetuado pelo docente, que deseja simplesmente cumprir as exigências externas.

Em termos de obrigação, o profissional serve-se de um material, cuja pertinência não

reconhece em sua prática pedagógica ou não se interessa em buscar seu potencial.

Nessa perspectiva, para tentar suprir a ausência de uma formação crítica para o uso

das mídias, como apontam os estudos de Rezende e Fusari (1992), torna-se essencial e

urgente atualizar docentes no desempenho profissional, mas embasando-os de sólida

formação desde a graduação Por conseguinte, a formação crítica dos professores, para que

seja funcional, deve estar atualizada com as necessidades da sociedade emergente incluindo

as informações jornalísticas impressas e digitais, pois, ao analisar esse recurso e seu uso de

forma crítica, o professor pode intervir por meio de uma reflexão crítica, teórica e prática da

sua adequação para a melhoria da qualidade de ensino. Cumpre-se a posição de Belloni

(2002), segundo a qual a formação de educadores deve estar sintonizada com as novas

linguagens presentes nas mídias.

Diante do exposto, as universidades devem direcionar propostas para a formação

crítica quanto ao uso das informações jornalísticas, porque, segundo Ferreira (2008), a falta de

formação crítica dos professores faz com que as informações jornalísticas recebam o mesmo

tratamento proposto tradicionalmente, ou seja, a mesma abordagem daquela recebida pelos

textos literários.

Neste momento da reflexão, o leitor deve ter identificado que o estudo dos textos até

agora apontados motivaram os dois eixos do nosso estudo: ensinar e gerar conhecimentos na

nova sociedade marcada pela presença das mídias e buscar a formação do professor para a

integração das informações jornalísticas na educação. Para manter sua unidade, tivemos a

preocupação de estabelecer a importância da inclusão do uso de jornais impressos e digitais

na sala de aula, bem como sua inserção nos cursos de formação inicial e continuada de

professores.

55

CAPÍTULO III

DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA E DOS SUJEITOS PESQUISADOS

“Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser

condicionado, mas consciente do inacabamento, sei que posso ir mais

além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser condicionado e o ser

determinado”.

(Paulo Freire, 1996)

3.1 Um breve olhar sobre a realidade pesquisada

A pesquisa aqui descrita foi desenvolvida no município de Andradina. Localizada a

oeste do Estado de São Paulo, na divisa com o Estado do Mato Grosso do Sul, situa-se a 640

km de São Paulo. Suas principais fontes de economia são o gado e a cana de açúcar. Abriga

aproximadamente 60 mil habitantes. Seu acesso principal é a rodovia Marechal Rondon e um

pequeno aeroporto.

Para compor esta pesquisa foram visitadas sete escolas de ensino fundamental do

município (1º ao 5º ano). A rede de ensino pública municipal possui uma média de 25 alunos

por sala, reunindo um público das várias classes sociais, com predomínio da classe média

baixa. Esse universo é formado, em sua maioria, por filhos de autônomos, comerciários,

funcionários públicos, especialmente da penitenciária de Andradina, bem como industriários

de empresas, como a Citroplast e do Frigorífico Friboi.

3.2-Pesquisa qualitativa em educação: caminhos metodológicos

Nesta etapa do trabalho, explicitamos a base metodológica que deu suporte à

pesquisa, para analisar o material coletado e alcançarmos os objetivos propostos na

investigação.

Para atingir esse ideal, a opção metodológica que norteou a elaboração e a confecção

do instrumento de coleta de dados fundamentou-se nas contribuições de Alves-Mazzotti &

Gewandsznajder (1998), Gil (1993), Triviños (1987) e Chizzotti (2006) na direção de precisar

o caráter qualitativo da investigação.

56

A pesquisa qualitativa aqui demonstrada recolheu em Chizzotti (2006) definição e

orientação metodológicas:

O termo qualitativo implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que

constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados visíveis e

latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível. Após este tirocínio, o

autor interpreta e traduz em um texto, zelosamente escrito, com perspicácia e

competência científicas, os significados patentes ou ocultos do seu objeto de

pesquisa (p.29).

A abordagem metodológica adotada nesta pesquisa foi descritivo-explicativa. Ao

desenvolver um trabalho baseado no estudo descritivo, buscamos conhecer as concepções dos

professores sobre o uso do jornal em sala de aula, quais os tipos de utilização realizados e se o

docente recebera alguma orientação para o manuseio em sala de aula, seja na formação inicial

ou continuada, pois, segundo Gil (1991), “as pesquisas descritivas têm como objetivo

primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno, ou então, o

estabelecimento de relação entre as variáveis” (p.46).

Ainda de acordo com Gil (1991), as pesquisas descritivas são “as que habitualmente

realizam os pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática. São também as mais

solicitadas por organizações educacionais” (p.46).

Com relação ao estudo explicativo, tivemos o cuidado orientado por Triviños (1995)

para não eximir a revisão da literatura e o emprego de questionário e entrevista “tudo dentro

de um esquema elaborado com seriedade característica de um trabalho científico” (p.110).

3.3 – Coleta dos dados

Para a realização desta pesquisa foram adotadas as etapas para a coleta de dados:

1ª Etapa: Estudo Exploratório: na primeira fase da pesquisa foram coletados dados por

meio de um questionário (Anexo I, p. 151). Essa fase foi chamada de estudo exploratório,

uma vez que possuíamos pouca ou nenhuma informação a respeito das concepções dos

professores sobre o uso do jornal em sala de aula do município de Andradina.

2ª Etapa: Aprofundamento das concepções: entrevista. Na segunda fase da pesquisa,

contamos com sete professoras que foram entrevistadas de maneira a aprofundarmos a

respeito das concepções dos professores que utilizam jornais em sala de aula. O critério para a

escolha foi a disponibilidade dos informantes. Cabe ressaltar que os sete professores

entrevistados fizeram parte da primeira parte da pesquisa.

57

Optamos pela entrevista, porque, conforme Szymanski (2002), esta representa um

instrumento que há anos vem sendo empregado em pesquisas qualitativas, como

aprofundamento de significados subjetivos e de tópicos complexos para serem investigados

num formato padronizado.

3.4- Composição dos instrumentos de coleta de dados

1ª Etapa: Estudo exploratório

O desenvolvimento de um instrumento de coleta de dados deve seguir regras

definidas e responder aos objetivos pretendidos. Assim, para que o questionário final fosse

elaborado, vários procedimentos foram trabalhados e respeitados.

Inicialmente, procedemos à construção de uma versão piloto do questionário de

maneira a identificar se o instrumento permitia obter respostas sobre as concepções dos

professores do Ensino Público Municipal de Andradina a respeito do uso do jornal em sala de

aula. A versão foi aplicada a uma professora da rede municipal de ensino de Andradina. Ela

nos ajudou a avaliar a composição do instrumento, uma vez que possuía características

semelhantes às das participantes da pesquisa. .

O instrumento original tinha 24 questões, sendo três fechadas, uma associação livre

de palavras, doze mistas e oito abertas. A parte do questionário foi facilmente respondida pela

professora, sem nenhuma pergunta, em cerca de 20 minutos. Após a aplicação do questionário

piloto, a professora opinou sobre ele, sugerindo alterações em algumas questões, para

compreensão mais precisa. A principal alteração sugerida foi para que fizéssemos junção de

algumas perguntas, já que elas se cruzavam na informação. A intenção primordial era facilitar

a compreensão e posterior análise. Após a análise das respostas e de suas observações,

procedemos às alterações sugeridas.

O instrumento original foi aperfeiçoado. A versão final organizou-se com 21

questões, três fechadas, uma associação livre de palavras, catorze mistas e três abertas (Anexo

I, p.151).

O objetivo, a finalidade de cada indagação, bem seu formato podem ser esclarecidos

nas descrições que se seguem:

58

A primeira parte do questionário teve como finalidade obter informações gerais sobre

sexo, idade, tempo no magistério, carga horária de trabalho e formação.

O segundo bloco de questões (02 e 07) foi referente às concepções dos professores

sobre o uso do jornal em sala, se eram favoráveis ou contrários quanto ao uso do jornal e

quais os motivos desse comportamento. O objetivo consistia em verificar as crenças, os

comportamentos, as concepções e as teorias dos professores que utilizam ou não o uso do

jornal em sua prática e, se não o fazem, qual o motivo pertinente.

O terceiro bloco de questões (08 a 15) possibilitou um levantamento da importância

atribuída ao uso do jornal. A intenção era verificar a presença/ausência de práticas dos

professores que faziam uso do jornal, para poder descrevê-la nos seus elementos

caracterizadores. Se existia alguma parceria com os jornais da cidade ou se existia algum

projeto pedagógico que usava os jornais na escola.

O quarto e último bloco de questões (16 a 20) procurou caracterizar a formação do

professor em relação ao uso das mídias (se o professor teve preparação inicial ou continuada

para o uso do jornal).

E, por fim, a questão número 21 foi aberta para corrigir possíveis falhas ao elaborar o

questionário. A opção pela elaboração de perguntas abertas e fechadas teve como objetivo

coletar o maior número possível de impressões pessoais acerca do uso do jornal em sala de

aula como meio de ensino e aprendizado na formação de um aluno crítico. De maneira a

facilitar a composição do questionário e direcionar as análises dos dados, construímos um

quadro de sua composição.

Segue o quadro que nos direcionou para a composição do questionário:

59

Fonte organizada pela autora em 2007.

Objetivo

específico Variável Indicadores

Questões

Abertas

Questões

Fechadas

- Caracterização dos

54 professores do

ensino fundamental

que aceitaram fazer

parte da pesquisa do município de

Andradina.

- Informações gerais sobre, sexo,

idade, tempo no magistério. 1

.1- Explorar e

analisar as

concepções dos

professores sobre o uso do

jornal em sala

de aula como

meio de ensino-

aprendizagem.

-Posicionamento do

professor sobre o uso do jornal em sala

de aula (favorável ou

contrário).

-Utilização do jornal como orientação

teórica:

1- Quais suas crenças, seus

procedimentos e teorias que utilizam

para nortear seu trabalho.

2- Se não incluem a utilização em sua

prática educativa do jornal, qual o

motivo dessa ausência? Será que falta teoria sobre seu uso?

-Levantamento do posicionamento

dos professores sobre a utilização do

jornal como orientação prática:

1- O que pensa sobre sua prática e

como é essa prática com o uso do

jornal?

2- Por que usar o jornal em sala de

aula? (para estimular quais práticas educativas: leitura/escrita).

2- 7 2-3-4-5-6

2- Identificar as

concepções de

práticas de uso

do jornal em

sala de aula.

- Tipos de uso

realizado pelo

professor.

- Verificação de presença/ausência de

práticas dos professores que fazem

uso do jornal em sala de aula. Dos que

a utilizam, como é sua prática?

-Práticas de uso (frequência,

conteúdo, especificações,

planejamento, esporádico).

-Identificação dos conteúdos

utilizados (se há presença dos cadernos infantis) ou algum projeto

em execução no município.

8-9-10-11-12-

13-14-15

8-9-10-11-

12-13-14-

15

3- Explorar e

analisar a

formação do

professor para o

uso das mídias

em foco, o

jornal.

-Verificação se o

professor recebeu

em sua formação

inicial e contínua

preparo para o uso

do jornal.

- Verificação se o professor foi

preparado para o uso do jornal em

sala de aula (se teve curso de

capacitação, como foi este curso, o

que aprendeu e o que ainda falta

acrescentar? Como os cursos

funcionam e o que pensam sobre).

18-19-20-21 16-17-18-

19-20

60

Durante a aplicação do questionário aos professores, não houve qualquer

interferência do pesquisador, para que eles se sentissem livres para responder às perguntas

que lhes foram propostas.

Em cada etapa do trabalho desenvolvido, tivemos sempre presente o objetivo geral

de analisar as concepções de professores de escolas públicas municipais das séries iniciais do

ensino fundamental (1° ao 5º ano) do município de Andradina- SP sobre o uso do jornal em

sala de aula.

2ª Etapa: Aprofundamento das concepções

Após a primeira etapa, emergiu a necessidade de aprofundar as reflexões em torno

das concepções dos professores sobre o uso dos jornais impressos e digitais em sala de aula.

Para a realização dessa segunda fase, contamos com sete professores que se disponibilizaram

a dar a entrevista, a qual foi gravada para posterior transcrição. O roteiro para entrevista

contou com 17 perguntas (Anexo II, p. 154).

O primeiro bloco de perguntas da entrevista (01 a 09) tinha por indicadores, verificar

se o professor fazia uso de jornais digitais e impressos em suas aulas e se ele considerava que

o uso dos jornais digitais e impressos em sala de aula poderia contribuir para a formação de

um aluno crítico.

O segundo bloco de perguntas da entrevista (10 a 15) tinha por indicadores, verificar

como o professor compreendia que sua prática poderia contribuir para a formação de um

leitor crítico, verificar como o professor se referia ao o uso de jornais em sala de aula e como

ele avaliava sua prática na direção de ela contribuir para formação de um leitor crítico.

O terceiro bloco de perguntas da entrevista (16 e 17) visou a verificar como o

professor avaliava sua formação sobre o uso das mídias e quais as possíveis contribuições de

que ele necessitava para suprir a falta de formação para o seu uso.

Segue o Quadro II que nos orientou para a realização das entrevistas:

61

Fonte organizada pela autora em 2009.

3.5 Procedimentos da coleta de dados

A coleta de dados foi realizada na HTPC (Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo),

quando propusemos um convite aos professores presentes do ensino fundamental de

Andradina para participarem da pesquisa (Anexo II, p.154). Em cada unidade visitada, a

sistemática foi a mesma: proposição do convite, apresentação e esclarecimento sobre os

objetivos .

O quadro geral de aceitação e recusa é o seguinte:

Tabela 1 – Participação dos Professores por escola

Escola Total de Professores Total de Participantes %

1 18 8 44,44

2 13 7 53,85

3 21 7 33,33

4 12 11 91,67

5 21 8 38,1

6 10 6 60

7 14 7 50

*Total 109 54 *Total refere-se ao número de participantes da pesquisa.

Objetivo específico Variável Indicadores Questões

1- Explorar e analisar as

concepções dos professores

sobre o uso do jornal em

sala de aula como meio de

ensino-aprendizagem

-Concepções dos

professores ao utilizar

jornais on line e

impresso, em sala de

aula.

-Verificação se o professor faz uso de

jornais on-line e impresso em suas aulas.

-Verificação se o professor considera que

o uso dos jornais on- line e impresso em

sala de aula pode contribuir na formação

de um aluno crítico.

01 a 09

2- Identificar as concepções de práticas de uso do jornal

em sala de aula.

-Concepções dos

professores com

relação a sua prática com o uso de jornais:

metodologias

utilizadas.

-Verificação de como o professor

compreende que sua prática pode

contribuir na formação de um leitor

crítico; -Verificação de como o professor refere-

se ao o uso de jornais em sala de aula;

-Verificação de como o professor

compreende sua prática, se pode contribuir

na formação de um leitor crítico.

10 a 15

3- Explorar e analisar a

formação do professor para

o uso das mídias, o jornal.

-Concepções dos

professores a respeito

do que pode ser feito

na sua formação

continuada sobre o

uso das mídias na

educação.

-Verificação de como o professor vê a sua

formação sobre o uso das mídias e quais as

possíveis soluções que o professor

necessita para suprir a falta de formação

para o seu uso.

16 e 17

62

Assim, conforme descrito na Tabela 1, a rede municipal de ensino de Andradina é

composta por 109 professores, dos quais 54 aceitaram participar da nossa pesquisa na

primeira fase. Na segunda fase, sete dos 54 originais participaram.

É importante ressaltar que, após o esclarecimento sobre os fundamentos da pesquisa,

os interessados em participar da atividade investigatória aceitaram os termos do Termo de

Consentimento Livre Esclarecido. O uso desse instrumento sob a perspectiva ética, manifesta

a concordância do sujeito em participar, voluntariamente, da pesquisa. O termo atende a uma

das normas regulamentadoras de pesquisas definidas pela Resolução 196/96 do Conselho

Nacional de Saúde e visa garantir o respeito à dignidade dos sujeitos, à sua autonomia e à

defesa em sua vulnerabilidade (Anexo III, p. 155).

A escola em que houve maior participação dos professores foi a Escola4, na qual

apenas um professor não aceitou participar de nossa pesquisa (92%). A escola com menor

aceitação foi a Escola3 (com apenas 33%), sendo que era a que possuía o maior número de

professores. Mas, de forma geral, fomos muito bem recebidas tanto por parte da coordenação,

como pelos próprios professores.

3.6 – Análise dos dados coletados

Para análise dos dados, contamos com a técnica de análise de conteúdo proposta por

Bardin (2007) e Franco (2007). A intenção de análise de conteúdo, conforme Bardin é “a

inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente de

recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não)” (p.40).

Essa orientação possibilitou-nos a sistematização dos dados obtidos por meio do

questionário e das entrevistas estruturadas, das questões abertas e a associação livre de

palavras. A organização sistematizada do material coletado ajudou-nos a compreender a

concepção dos professores sobre o uso dos jornais em sala de aula

Para Bardin (2007) análise de conteúdo é:

Um conjunto de técnicas de análises das comunicações visando obter por

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens

indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos

relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens

(p.44).

63

Essa descrição correspondeu ao encontro da opção metodológica da pesquisa,

embasada nos estudos de Alves-Mazzotti & Gewandsznajder (1998), Gil (1993), Triviños

(1987) e Chizzotti (2006). Ao optar pela abordagem qualitativa, procuramos compreender as

concepções dos professores sobre o uso do jornal em sala. A reflexão sobre o material

coletado foi facilitada pela riqueza das informações obtidas nas respostas.

A análise de conteúdo orientou todo o processo de análise das respostas às questões

abertas. Descreveremos como foram construídas as categorias que nortearam o nosso

trabalho.

A categorização, conforme Bardin (2007, p.145), “é uma operação de classificação

de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, seguidamente, por

reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos”. As

categorias são classes que reúnem um grupo de elementos sob um título agrupado devido às

razões das características em comum. (FRANCO, 2007). No nosso caso, em particular,

optamos pelo critério da categorização semântica (categorias temáticas).

As perguntas fechadas foram trabalhadas por meio do programa Microsoft Office

Excel for Windows, o qual possibilitou a construção de tabelas e gráficos, facilitando a

compreensão e demonstração das porcentagens, das categorias e frequências obtidas na

pesquisa.

3.7 Caracterizações dos professores (Primeira fase: Questionário)

Como já vimos no Quadro I, a primeira questão do questionário teve como

preocupação principal oferecer um panorama geral dos dados pessoais dos professores

pesquisados, como sexo, tempo no magistério, carga horária de trabalho, série que leciona e

sua formação. Dos 109 professores que atuavam na rede de ensino, 54 aceitaram participar da

pesquisa, portanto podemos dizer que tivemos a participação de quase 50% dos professores

do município. Aos professores ausentes no dia em que foi realizada a coleta de dados, foi

entregue, através do coordenador de ensino, a carta convite com o questionário, para que o

professor ausente, caso quisesse participar de nossa pesquisa, pudesse fazê-lo. Porém, cabe

ressaltar que nenhum desses questionários foi devolvido à pesquisadora. Com relação ao sexo

dos professores, apesar de a rede possuir professores do sexo masculino, somente as

professoras aceitaram participar da pesquisa.

64

A Tabela 2 complementa as respostas à questão número um do questionário, a qual

apresenta a faixa etária dos professores pesquisados.

Tabela 2 - Distribuição de Professores por faixa etária

Idade Quantidade de professores %

20 a 34 22 40,74

35 a 40 10 18,51

40 a 40 19 35,18

Mais de 50 3 5,57

*Total 54 100 *Total refere-se ao número de participantes.

Percebe-se, com base nos dados expostos, que há professores prestes a encerrar sua

carreira e outros que estão iniciando sua profissão. A profissional mais velha tem 60 anos,

sendo que também é a que mais tempo tem no magistério, já à beira da aposentadoria, e a

novata tem 24 anos, iniciando assim, neste mesmo ano suas atividades profissionais. Esses

dados evidenciam que se trata em sua maioria de professores jovens, provavelmente leitores-

consumidores dos meios de comunicação, o que justifica a necessidade de compreensão

desses meios entre esses professores.

A Tabela 3 ainda complementa as respostas à questão um do questionário e indica o

tempo de atuação dos professores pesquisados:

Tabela 3 – Tempo no magistério.

Tempo de serviço Quantidade de professores %

1 a 10 anos 18 55,55

11 a 20 anos 30 33,33

mais de 20 anos 6 11,12

*Total 54 100 *Total refere-se ao número de participantes.

Os dados obtidos informam que o universo pesquisado engloba um grupo de

profissionais dentro da idade considerada produtiva para o Magistério por parte dos órgãos

públicos municipais. Eles revelam que a maioria detém experiência prática de sala de aula.

A Tabela 4 complementa as respostas à questão um do questionário e indica a carga

horária de exercício profissional:

65

Tabela 4- Carga horária dos professores

Carga horária Quantidade de professores %

30 38 70,37

55 8 14,81

52 5 9,26

50 3 5,56

*Total 54 100

*Total refere-se ao número de participantes.

A carga horária no ensino fundamental é constituída de 30 horas/aulas semanais (25

com alunos + 2 HTPC + 3 HTPL “horas de trabalho pedagógico livre”). Há professores da

rede de ensino que conseguem dobrar sua carga horária em Escolas Municipais de Educação

Infantil “E.M.E.I”, cuja carga horária é constituída de 25 horas/aulas ( 20 com alunos + 2

HTPC + 3 HTPL). O dado relevante é que 71% dos professores têm dedicação exclusiva

apenas em escolas municipais.

A Tabela 5 complementa as respostas à questão um do questionário e indica a carga

horária dos professores em escolas municipais:

Tabela 5 - Carga horária em Escola Municipal

Carga horária em escolas municipais Quantidade de professores %

30 46 85,19

55 8 14,81

*Total 54 100 *Total refere-se ao número de participantes.

Portanto, 86% dos professores lecionam apenas um período, enquanto 15% exercem

dois cargos no município.

A Tabela 6 apresenta uma complementação das respostas à questão um do

questionário e indica a carga horária dos professores em escolas particulares e estaduais:

66

Tabela 6 - Distribuição de Carga horária por Escola Particular e Estadual:

Carga horária em escolas particulares Quantidade de professores %

22 5 9,26

20 2 3,7

Carga horária em escolas estaduais

20 1 2

*Total 8 14,96 * Total refere-se à quantidade de professores que lecionam em escolas particulares e estaduais.

Dos professores pesquisados, apenas um leciona em escola estadual, representando

2%. Outros sete trabalham em particulares, totalizando 13% dos professores.

A Tabela 7 corresponde às respostas que complementam a pergunta um do

questionário. O referido quadro aponta a série na qual trabalha cada professor:

Tabela 7- Série em que leciona:

Série que leciona Quantidade de professores %

1ª 14 25,93

2ª 12 22,22

3ª 10 18,52

4ª 18 33,33

*Total 54 100 *Total refere-se ao número de participantes.

De acordo com os dados da Tabela 7, podemos dizer que, entre os professores

pesquisados, a maior quantidade deles leciona na 4ª série do ensino fundamental, perfazendo

um total de 33,33%. Em segundo lugar, vem a primeira série, com 14 profissionais,

totalizando 25,93. Em terceiro, está a segunda série, com doze, totalizando 22,22%. E, em

quarto, temos a 3ª série com nove, totalizando 18,52%.

De acordo com os dados descritos na Tabela 7, podemos observar que os professores

lecionam apenas em série, pois somente em 2009 devido à Lei nº 11.114/2005, do dia 16 de

maio de 2005 que torna obrigatória a matrícula das crianças de seis anos de idade no Ensino

Fundamental, o município de Andradina aderiu a seus termos (a coleta de dados foi realizada

em 2008).

A Tabela 8 corresponde às respostas aos complementos da pergunta número um do

questionário e esclarece qual é a formação dos professores:

67

Tabela 8 - Formação Acadêmica dos Professores

Formação Professores %

Superior Completo 50 92,6

Superior Incompleto 2 3,7

Sem curso Superior 2 3,7

*Total 54 100 *Total refere-se ao número de participantes.

Os dados mostram que rede de ensino é constituída em maioria por professores com

superior completo, totalizando aproximadamente 93%. Entre os restantes, apenas dois

possuem curso superior, aliás, eles são os mais velhos e dois ainda o estão cursando. Esse é

um dado relevante para a pesquisa, visto que indica que a maioria dos professores detém a

formação inicial exigida à docência.

A Tabela 9 apresenta mais complementos às respostas da pergunta um do

questionário e assinala os cursos de formação inicial (faculdades de ensino superior) mais

freqüentados pelos professores:

Tabela 9 - Curso dos Professores

Curso Quantidade

de professores %

Pedagogia 28 51,87

Letras 11 20,37

Com 2 cursos 10 18,51

Matemática 1 1,85

Geografia 1 1,85

Não respondeu 3 5,55

*Total 54 100

*Total refere-se ao número de participantes.

Podemos notar que o maior percentual dos professores é formado em Pedagogia,

totalizando 51,87% e o segundo curso mais freqüentado pelos professores foi o de Letras com

o percentual de 20,37%. È válido ressaltar que o pré-requisito para o concurso municipal para

atuar nas séries iniciais é ter cursado o magistério no ensino médio ou Pedagogia.

A Tabela 10 corresponde aos complementos às respostas da pergunta um do

questionário e esclarece o ano de formação dos professores:

68

Tabela 10 - Ano de formação acadêmica

Ano de Formação Quantidade de professores %

1987 a 2000 13 24,07

2001 a 2008 24 44,46

2 cursos 4 7,4

Sem resposta 13 24,07

*Total 54 100

* O total refere-se ao número de participantes.

Podemos constatar, de acordo com os dados da Tabela 10, que o tempo maior de

formação entre os professores é de 22 anos (ano de formação 1987), indicando que há a

necessidade da rede de ensino oferecer cursos de formação continuada para seus profissionais

continuarem atualizados em suas práticas docentes.

A Tabela 11 corresponde aos complementos às respostas da pergunta um e indica

quais professores têm pós-graduação e qual curso mais freqüentado:

Tabela 11 - Cursos de Pós - Graduação.

*Total refere-se ao número de participantes.

Nesse setor, a especialização mais freqüentada pelos professores foi o curso de

Psicopedagogia, totalizando quase 52%. Em segundo lugar, ficou a Educação Inclusiva com

5,56%. Percebe-se, com base nos dados expostos, uma polarização na formação no que se

refere ao nível pós-graduação, merecendo destaque o direcionamento para o aprofundamento

dos conhecimentos referentes ao ensino fundamental (1º ao 5º ano de escolaridade).

Curso Quantidade de professores %

Psicopedagogia 28 51,85

Educação Inclusiva 3 5,56

Interdisciplinaridade 2 3,7

Metodologia e Didática 2 3,7

Gestão Escolar 1 1,85

Sem resposta 18 33,34

*Total 54 100

69

3.8- Caracterização dos professores (Segunda fase da pesquisa: entrevista)

Com a necessidade de nos aprofundarmos quanto o conteúdo das concepções dos

professores sobre o uso dos jornais em sala de aula, contamos com sete professores que se

prontificaram a dar a entrevista que foi gravada para posterior transcrição e análise.

A primeira questão da entrevista teve a preocupação principal de oferecer um

panorama geral dos professores que participaram da segunda fase da pesquisa. Cabe ressaltar

que todos fizeram parte da primeira fase da coleta de dados através do questionário.

Os dados descritos na Tabela 12 demonstram a série em que leciona cada professor

entrevistado, tempo no magistério e formação:

Tabela 12: Panorama geral dos professores

Série que

leciona

Tempo no

magistério Formação

Professor 1 4ª série 9 anos Pedagogia

Professor 2 3ª série 15 anos Pedagogia e História

Professor 3 2º ano 20 anos Pedagogia

Professor 4 1º ano 9 anos Pedagogia

Professor 5 4ª série 9 anos Pedagogia

Professor 6 2ª série 12 anos Pedagogia

Professor 7 2º ano 20 anos Pedagogia e Letras

*Total 7 *Total refere-se ao número de participantes da segunda fase da pesquisa.

De acordo com os dados descritos na Tabela 12, podemos observar que temos

professores que lecionam em série e professores que lecionam em ano. Isso é possível devido

à Lei nº 11.114, de 16 de maio de 2005, que torna obrigatória a matrícula das crianças de seis

anos de idade no Ensino Fundamental. Em consequência, o município de Andradina aderiu a

seus termos no ano de 2009.

Todos os entrevistados possuem curso superior completo, cuja graduação mais

frequentada pelos professores foi o curso de Pedagogia. Aqui temos um dado interessante:

não são professores iniciantes na carreira, pois o mais novo tem nove anos no magistério.

Após a caracterização geral dos professores pesquisados, o próximo capítulo IV

aponta os resultados obtidos na pesquisa, identificando e analisando as concepções dos

professores sobre o uso de jornais em sala de aula, as práticas docentes que fazem seu uso e a

formação do educador para a utilização das informações jornalísticas.

70

CAPÍTULO IV

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas sim criar as possibilidades

para a sua própria produção ou a sua construção”.

(Paulo Freire, 1996)

4.1 O uso de jornais em sala de aula: concepção de professores

Esta parte da apresentação e discussão dos dados coletados responde ao objetivo

específico de analisar as concepções dos professores sobre o uso de jornais em sala de aula

como meio de ensino e aprendizado. Na mesma sequência, o questionário (conforme o

Quadro I, p.59 as perguntas 2 a 7) procurou explorar e verificar as concepções dos

professores a respeito da utilização das informações jornalísticas em sala de aula.

A Tabela 13 corresponde às respostas dos professores para pergunta dois do

questionário. Ela propõe uma livre associação de idéias, através da qual os profissionais

puderam expressar suas concepções sobre o uso do jornal em sala de aula:

Tabela13- Livre associação de idéias sobre os jornais

Categorias Frequência

1-Fonte de informação 155

2-Fonte de informação de conteúdos escolares 21

*Total 176 *Total refere-se ao número de argumentos e não o número de participantes.

As respostas foram organizadas em duas categorias. A primeira, denominada fonte

de informação, agrupa argumentos de que o jornal é visto pelos professores como um meio

de comunicação que permite o acesso às mais variadas fontes de informação, as quais

contribuem para a construção de conhecimentos. A segunda, intitulada fonte de conteúdos

escolares, engloba argumentos de que o jornal é avaliado pelos professores como um meio de

comunicação que pode contribuir para o enriquecimento e dinamização dos conteúdos

escolares, articulando-os à vida concreta dos educandos.

De acordo com os dados apresentados na Tabela 13, a primeira categoria com um

alto índice de argumentos denominada, fonte de informação, contempla as opiniões dos

71

professores de que os jornais podem contribuir como fonte de disseminação da informação

para a construção de conhecimentos.

Em consequência desse enfoque, fica evidente um excesso de informação em nossa

sociedade. Todavia, como foi analisado por Brunner (2004), não podemos confundir

informação e conhecimento, visto que este ultrapassa o âmbito daquele. Baccega (2006)

também distingue essas duas áreas. Só o conhecimento, com sua percepção de totalidade e

crítica, contribui para a seleção do que é importante e necessário para as mudanças históricas

em nossa sociedade e são os professores que podem ajudar os alunos a transformar as

informações veiculadas pelas mídias em conhecimento.

Desse modo, a escola e, principalmente, os educadores não podem ignorar a fonte de

informação que são os jornais impressos e digitais, já que, como demonstrado por Kenski

(2007), na era da informação ou conhecimento, os saberes se alteram com extrema

velocidade. A escola, em decorrência, necessita refletir sobre as tradicionais formas de pensar

e fazer educação.

A segunda categoria, denominada fonte de conteúdos escolares, contempla os

argumentos dos professores de que os jornais podem funcionar como fonte de acesso e

enriquecimento dos conteúdos escolares. Para os docentes pesquisados, as informações

jornalísticas podem contribuir para o enriquecimento dos conteúdos escolares, na medida em

que ampliam o que está sendo discutido ou ensinado em sala de aula, suscitando nos alunos a

ligação do conteúdo escolar com a realidade na qual eles estão inseridos, como foi

argumentado por Toschi (1993).

A Tabela 14 apresenta os resultados da pergunta três do questionário. Ela aponta o

número de professores que realizam leituras com jornais:

Tabela 14- O professor lê jornais

Frequência %

Sim 51 94,44

Não 3 5,56

*Total 54 100 * Total refere-se ao número de participantes.

Os dados levantados demonstram que a maioria dos pesquisados, 51 professores, lê

jornais (totalizando, quase 95%) e, apenas três deles não realizam esse tipo de leitura (5,56%).

Podemos considerar que, possivelmente esses três professores que não lêem jornais, também

não o usam em sua prática em sala de aula. Mas, nesse contexto de uso das informações

72

jornalísticas em sala de aula, ressaltamos ser necessário saber se o professor tem condições

básicas para utilizar as informações jornalísticas como, por exemplo, no mínimo, se ele tem o

hábito de leitura, tempo e condição financeira para ser leitor assíduo que faz uso desse meio

de comunicação e, por extensão, fundamente nas leituras de jornais uma prática social como

foi analisado por L. Silva (2005), Kleiman (2002) e Zanchetta (2005).

Assim sendo, o docente que se propõe a trabalhar com o jornal em sua prática

pedagógica necessita estar familiarizado com essa mídia, para exercitá-la com seus alunos.

Quer dizer, deve conhecer a linguagem jornalística, na direção de identificar os gêneros

jornalísticos e, dessa forma, ampliar o conhecimento do aluno para que ele possa utilizar-se de

estratégias de leituras para a compreensão dos textos informativos, conforme analisado por

Pastorello (2005) e Solé (1998).

Os dados apresentados na Tabela 15 correspondem ao complemento à resposta da

pergunta três do questionário. Ela aponta os resultados sobre a preferência dos jornais mais

lidos entre os professores:

Tabela 15- Jornais mais lidos pelos professores

Preferência Professores %

Jornal da Região 21 38,89

Folha de S. Paulo 19 35,18

Estado de São Paulo 8 14,81

Impacto 3 5,56

Sem resposta 3 5,56

*Total 54 100 *Total refere-se ao número de participantes.

De acordo com os dados, a ordem de preferência foi a seguinte: Jornal da Região

(38,89%) , Folha de S. Paulo (35,18%) e Estado de São Paulo (14,81%). Há a predominância

da leitura do jornal local entre os professores. Ele é mais barato, de mais fácil acesso e com

assuntos locais tratados de maneira, em geral, pouco complexa e superficial.

A seguir, a Tabela 16, ainda corresponde à complementação à resposta da pergunta

três do questionário, a qual apresenta os resultados sobre a periodicidade das leituras dos

professores com jornais:

73

Tabela 16- Periodicidade de leitura realizada pelos professores

Periodicidade de leitura Professor %

Semanal 22 40,74

Diária 15 27,78

De vez em quando (esporádico) 13 24,07

Mensal 1 1,85

Sem resposta 3 5,88

*Total 54 100 *Total refere-se ao número de participantes.

De acordo com os dados elencados, três professores não responderam à pergunta,

(5,88%). Das 51 respostas obtidas, podemos constatar que 22 educadores leem jornais

semanalmente (40,74%), apenas 15 o fazem diariamente (27,78%). Treze professores

(24,07%), de vez em quando. Um lê apenas mensalmente (1,85%).

Os dados demonstram, portanto, que poucos professores têm nas leituras de jornais

uma prática social freqüente. Aqueles que o afirmam, quando aprofundamos a respeito dessa

periodicidade, identificamos uma baixa frequência de leitura. O que pode explicar que o uso

ainda limitado em sala de aula deve-se, possivelmente, ao fato de os educadores não terem

nos jornais uma prática de leitura significativa.

Na seqüência, a Tabela 17, corresponde à resposta da pergunta quatro do

questionário. Ela indica os resultados sobre o local onde, habitualmente, os professores

realizam as leituras que envolvem os jornais:

Tabela 17- Onde o professor costuma realizar leituras de jornais

Hábitos de leitura Professor %

Casa 32 59,26

Escola 12 22,22

Casa e escola 7 12,96

Sem resposta 3 5,88

*Total 54 100 * Total refere-se ao número de participantes.

O resultado do levantamento identifica que três participantes (5,88 %) não

responderam à questão. Entre as 51 respostas obtidas, 32 realizam leituras de jornais em sua

casa (59,26%), 12 o fazem apenas na escola (22,22%) e sete, além prática em casa,

complementam essa leitura nas escolas (12,96%).

Os dados demonstram que a maioria dos professores lê jornais em suas residências,

pois nem todas as escolas oferecem o acesso aos jornais, tanto para os professores como para

74

os alunos. O professor que quiser ser leitor desse gênero tem que assinar um periódico, caso

contrário fica sem essa leitura complementar para sua prática docente. Por isso, acreditamos

ser necessário que a Secretaria de Educação do município de Andradina, forneça jornais nas

escolas para aqueles que só realizam leituras nos ambientes escolares, porque, muitas vezes,

não têm condições financeiras para assinar jornais. Em consequência, fazem leituras apenas

no seu ambiente de trabalho. Além disso, muitas vezes, os jornais chegam aos professores

após circularem na sala da direção e coordenação. Significa que já foi bem manuseado, o que

pode resultar na falta de páginas e cadernos.

Já a Tabela 18 apresenta as respostas à pergunta cinco do questionário, em que

pedimos aos pesquisados que enumerassem os tipos de leituras que exercitavam com mais

frequência, estabelecendo a ordem de preferência:

Tabela 18- Tipo de notícia preferida pelos professores

Categorias Frequência %

1-Entretenimento 44 20,76

2-Cultura 36 16,97

3-Informações gerais do município 29 13,48

4-Economia 25 11,41

5-Notícias Policiais 23 10,24

6-Editoriais 22 9,99

7-Política 20 9,05

8-Esporte 18 8,1

*Total 217 100 *Total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

Os dados evidenciam a preferência pelos assuntos menos complexos, como

entretenimento, cultura e informações gerais do município, os quais ocupam os primeiros

lugares na indicação dos professores. Ao passo que as informações mais complexas, como

economia e política correspondem a percentuais bem mais modestos. Para os objetivos da

pesquisa, esse dado assume uma relevância significativa, porque indica que assuntos

importantes para o senso crítico não são do interesse dos professores participantes da

pesquisa. Consideramos ser importante o professor estar informado sobre os mais diversos

assuntos tratados no jornal, porque, dessa forma, o educador sabe o que realmente acontece no

país e no mundo, influenciando, assim, a formação do aluno, já que a leitura dos

acontecimentos atuais, segundo Silva (2005): “precisa ser completado pela escola, para que o

jovem possa compreender o que se passa no mundo e não simplesmente informar-se sobre o

75

que está acontecendo. A educação para entendimento complementa a função de socialização

da escola” (p.85).

A seguir, a Tabela 19 esclarece as respostas à pergunta seis do questionário, na qual

indagamos aos pesquisados sobre o uso das informações jornalísticas em sala de aula:

Tabela 19 - Se o professor usa o jornal em sala de aula

Frequência %

Sim 51 94,44

Não 3 5,56

*Total 54 100 * Total refere-se ao número de participantes.

Segundo os dados da Tabela 19, a maioria dos professores respondeu

afirmativamente quanto usar as informações jornalísticas em sala de aula, o que representa

uma visão positiva sobre sua utilização. Mas, quando perguntado sobre a frequência de uso

em sala de aula, (Tabela 20), percebemos a inexistência de uma periodicidade definida.

Tabela 20- Frequência de uso em sala de aula

* Total refere-se ao número de participantes.

Conforme os dados da Tabela 20, que se interligam com os dados da Tabela 16, a

frequência desse uso: 55,56% afirmaram usá-lo de vez em quando, sem uma periodicidade

definida. Dez professores (18,52%) usam-no uma vez na semana; sete apenas uma vez por

mês (12,96%) e quatro (7,41%), apenas uma vez por bimestre. Os dados obtidos permitem-

nos diagnosticar que, apesar de a maioria dos professores responder que faz uso das

informações jornalísticas em sala de aula, quando indagada sobre essa frequência de uso, os

dados demonstram que é muito baixa nas escolas.

Categorias Frequência %

De vez em quando

(sem tempo definido) 30 55,56

01 vez na semana 10 18,52

01 vez por mês 7 12,96

01 por bimestre 4 7,41

Sem resposta 3 5,55

Total 54 100%

76

Em seguida, a Tabela 21 apresenta as respostas para a pergunta sete do questionário,

indicando os resultados sobre a concepção dos professores sobre o uso do jornal em sala de

aula:

Tabela 21- O que o professor entende pelo uso do jornal em sala de aula

Categorias Frequência

1- Fonte de informação 37

2- Gêneros textuais 19

3- Metodologia diferenciada 11

4- Hábito e prática de leitura e escrita 7

*Total 74 *O total refere-se ao número de argumentos e não ao número de sujeitos participantes.

As respostas originaram quatro categorias. A primeira, fonte de informação,

evidencia que o jornal, quando utilizado em sala de aula, pode contribuir como fonte de

informação para a construção de conhecimentos. A segunda, gêneros textuais, apresenta as

respostas que enfatizam o uso do jornal em sala de aula como estímulo para a ampliação dos

vários tipos de texto. A terceira, metodologia diferenciada, indica que o professor, ao utilizar

o jornal em sala de aula, pode ter uma metodologia diferenciada. A quarta, hábito e prática

de leitura e escrita, aponta que o uso do jornal em sala de aula pode favorecer a formação do

hábito e da prática de leitura e escrita.

As respostas reunidas na primeira categoria, fonte de informação, expressam que o

uso do jornal em sala de aula funciona como fonte de informação para a construção de

conhecimentos, como exemplifica o Professor (P.2.4): Uma forma de fornecer informações

diversas através da leitura.

Como já vimos, no primeiro capítulo deste trabalho, não se deve confundir

informação com conhecimento. Apesar de os conceitos serem interligados, a informação,

conforme Martinez (2004), não assegura a possibilidade de transformá-la em conhecimento.

São as interações que o professor utiliza, enquanto mediador nesse processo de transformação

das informações em conhecimento lógico e juízo crítico, que desempenham o fator

preponderante. Semelhante opinião foi compartilhada por outros autores que estudam as

mídias na educação como: Citelli (2006), Guareschi & Biz (2005), Brunner (2004) e Kenski

(2007).

As respostas reunidas na segunda categoria, gêneros textuais, apontam que o

professor que faz uso do jornal em sala de aula pode contribuir para a ampliação dos vários

tipos de texto, como exemplifica o Professor (P.4.3): O jornal possibilita o trabalho com os

diferentes gêneros textuais.

77

Sampaio (2007) atesta que “as crianças precisam ter acesso, no cotidiano da escola, a

textos variados que circulam no mundo da escrita” (p.81). Assim, tendo em vista que o ensino

e o conhecimento são impulsionados por atividades que incluem situações significativas de

leitura e escrita, cabe aos professores oferecer aos alunos todos os veículos que se utilizam da

escrita como meio para a amplificação e circulação de idéias em sociedade, cujos diferentes

tipos de textos, incluindo os jornais impressos e digitais, ocupam uma posição de destaque.

Mas somente o jornal na escola não basta, o que o professor pode fazer é inserir o aluno na

prática social de leitura de jornais, como foi proposto freqüentemente neste trabalho, da

mesma forma que por Kleiman (2002) e Zanchetta (2007).

Ratificamos o entendimento de T. Silva (2007), que afirma que não existe leitor de

um texto só. Também não existe leitor de um gênero único. No mundo de hoje, com as

mídias, o leitor tem que se situar diante de uma diversidade muito grande de textos. Os jornais

impressos e digitais, pelas suas características, entre elas a de se apresentar como um mosaico

de configurações textuais (além se somar serviços, entretenimento etc.), podem ser um

importante coadjuvante no processo de formação de leitores críticos e autônomos. O

importante é que os ambientes leiturizados sejam constituídos por diferentes tipos de textos,

permitindo aos leitores um refinamento de suas competências através de práticas de leitura

para o atendimento de várias necessidades sociais. Dessa maneira, nos jornais encontramos

diferentes gêneros textuais, dos que normalmente são utilizados nas escolas (como: a

literatura, poesia, romance, etc.).

Os gêneros jornalísticos, conforme Pastorello (2005) são: notícia, artigo, editorial,

crônica, entrevistas e reportagem. O sucesso de sua compreensão depende, em grande parte,

de uma atmosfera estimulante que deve se instalar entre professor e aluno.

Solé (1998) aponta a necessidade de competência de professores e alunos para que

saibam diferenciar os gêneros textuais, pois a estrutura do texto informativo presente nos

gêneros jornalísticos oferece indicadores essenciais que permitem antecipar a informação que

contém. Portanto, identificá-los facilita enormemente sua interpretação. Assim sendo, não se

trata de ensinar que isto é uma narração e aquilo um texto comparativo ou informativo, mas

de ensinar o que caracteriza cada um desses textos. O professor, que utiliza jornais em sala de

aula, transmitirá aos alunos informações específicas de como esses gêneros se constituem e

seus elementos básicos, para que, no momento da leitura, essas informações ajudem a

compreensão e interpretação do conteúdo.

78

A terceira categoria, metodologia diferenciada, acena que o uso do jornal em sala

de aula pode contribuir para uma metodologia de trabalho diferenciada. Como conta o

professor (5.2): Os jornais provocam discussões e debates.

Segundo as concepções dos professores, essa metodologia diferenciada provoca

debates, enriquece as aulas, estimula criticidade dos alunos ou uma maneira diferente de

trabalhar. Nessa direção, L. Silva (2005) pondera que o professor necessita estar atento “aos

anseios e aos questionamentos dos alunos de forma a redirecionar metodologia de ensino

sempre que perceber que está centrando foco em aspectos que pouco ou nada dizem respeito

ao universo de interesse do aluno” (p.11).

Não se pode negar que o uso do jornal representa um material de referência para os

educadores, desde que estejam dispostos a lecionar com uma metodologia diferenciada,

contextualizada e de acordo com o interesse dos educandos. Em consequência, deixar de lado

as velhas práticas que não os estimulam a buscar uma vivência mais real dos conteúdos

trabalhados constitui um passo decisivo para enfrentar a necessidade da sociedade emergente,

fortalecendo condições para um ensino enriquecedor, como foi relatado por autores como

Zanchetta (2005 e 2007), Faria (1999 e 2004) e Pavani (1999 e 2007).

As respostas reunidas na quarta categoria, hábito e prática de leitura e escrita,

indicam que o uso do jornal em sala de aula pode contribuir para a formação do gosto de

leitura e escrita por meio de informações jornalísticas, como exemplifica o professor (2.3):

O jornal desenvolve o gosto pela leitura e ajuda na escrita dos alunos.

Nesse sentido, a leitura e a escrita na vida do ser humano devem constituir um

hábito, transformado em fonte de prazer. Para que o aluno seja um bom leitor e escritor, é

necessário que ele goste de ler. É evidente que todo hábito precisa ser praticado, já que do

exercício advém a descoberta do prazer. No contexto do hábito e do gosto pela leitura de

todos os gêneros textuais, inclusive o jornalístico, o prazer desenvolve-se através de três

processos: pela familiaridade (desde a infância com a experiência com adultos que fazem uso

de leituras no ambiente familiar), em decorrência da necessidade de se informar e manter-se

atualizado, quando adulto (vestibular ou atividade profissional) ou através das metodologias

de seu uso em apoio às atividades escolares (práticas desenvolvidas dentro do contexto

escolar). Por isso, acreditamos que o gosto e o hábito pela leitura jornalística só serão

eficazes, como foi analisado por Pavani (1999), se o aluno tiver garantido o acesso a esse

veículo de informação desde pequeno nas escolas com práticas educativas que valorizam o

interesse, a curiosidade, a imaginação, levando-o a pensar, a questionar, a criticar, a

79

posicionar-se perante as demais pessoas. Nas disciplinas de Português, História ou Geografia,

por exemplo, o professor pode utilizar-se das notícias veiculadas no jornal. Em razão do fácil

acesso, da atualidade e, ao mesmo tempo, de uma cobertura rica de assuntos e informações, o

docente pode tirar proveito pedagógico, tanto da linguagem jornalística, como da diversidade

de temas abordados, para a prática de leitura e escrita na sala de aula.

De maneira a facilitar a compreensão dos dados, usaremos o recurso de uma pequena

síntese dos dados obtidos como resposta ao objetivo específico de explorar e analisar as

concepções dos professores sobre o uso de jornais como meio de ensino e aprendizado em

sala de aula.

Percebemos que os profissionais pesquisados demonstram categorias semelhantes em

diferentes questões, explicitando que sua concepção sobre o uso de jornais é positiva,

colocando-o como fonte de informação, fonte de informação de conteúdo escolar, gênero

textual, metodologia diferenciada e prática de leitura e escrita. Apesar de relatarem que são

leitores de jornais, ao analisarmos a frequência de leitura realizada pelos professores e sua

constância de uso em sala de aula, constatamos que ela é baixa, não revelando um uso

periódico significativo, visto que as respostas às perguntas propostas denunciam o interesse

pelas informações menos complexas e superficiais, como aquelas gerais do município, cultura

e entretenimento.

Passaremos a seguir para a análise de concepções de práticas de uso das informações

jornalísticas em sala de aula.

4.2- Concepções de práticas de uso de jornais em sala de aula

As tabelas a seguir respondem às questões do objetivo específico de identificar as

concepções de práticas de uso de jornais em sala de aula. O Quadro I descrito na p. 59, (o

segundo bloco de questões 08 a 17) apontou dados que possibilitaram o levantamento do

seguinte aspecto: a verificação da presença/ausência de práticas dos professores que fazem

uso das informações jornalísticas em sala de aula.

A questão oito do questionário indagava se o jornal poderia contribuir na sua prática

docente. Os professores foram unânimes em dizer que sim. Até mesmo os três professores que

não lêem e não usam o jornal em sala de aula reconheceram seu potencial e responderam

positivamente à questão.

80

De acordo com os dados descritos na Tabela 22, as respostas dos professores foram

agrupadas em três categorias:

Tabela 22 – Quais práticas o jornal pode contribuir no trabalho docente

Categorias Frequência

1-Prática de leitura e escrita 32

2-Acesso à informação 29

3-Aprendizagem de conteúdo 7

*Total 68 *Total refere-se ao número de argumentos e não de participantes.

A primeira categoria, prática de leitura e escrita, aponta que o uso do jornal em

sala de aula pode contribuir nas práticas que envolvem a aquisição da leitura e escrita do

aluno. A segunda, acesso à informação, revela que o uso do jornal em sala de aula estimula

as práticas educativas como fonte de informação para a construção de conhecimentos. A

terceira, aprendizagem de conteúdos, indica que o uso do jornal em sala de aula, quando

trabalhado pelo professor de forma significativa, funciona como recurso metodológico

enriquecedor dos conteúdos escolares.

As respostas reunidas na primeira categoria, prática de leitura e escrita, enfatizam

que os professores acreditam que o jornal, ao ser utilizado em sala de aula, pode auxiliar nas

práticas de leitura e escrita, como exemplifica o Professor (1.1): Para complementar a

aprendizagem na escrita e leitura dos alunos.

Dessa forma, as práticas que envolvem leitura e escrita de informações jornalísticas

possibilitaram armazenar e propagar informações entre os agentes pedagógicos, contribuindo

na construção e no aperfeiçoamento de vários campos do conhecimento, trazendo benefícios

para a vida do ser humano. Hoje as práticas de leitura e escrita que envolvem jornais podem

ser consideradas como uma necessidade para a formação de um leitor crítico das mídias, pois

sempre tivemos a necessidade de nos comunicar e de nos manter informados. Mas,

geralmente, as práticas escolares de leitura e escrita com jornais conforme, Ferreira (2008)

limitam-se à decodificação de grafemas (escrita) em fonemas (fala). “Atribui-se o estatuto de

leitor ao aluno, quando ele lê perfeitamente cada palavra, respeita os sinais gráficos e não

comete erros. Portanto, associa-se o sentido do texto à oralização” (p.20).

Assim, com os avanços das pesquisas educacionais que envolvem leitura e escrita,

acreditamos que identificar sinais, oralizar e decodificar, não são condições para levar o aluno

81

à atribuição de sentidos de um texto, principalmente dos jornalísticos, conforme apontado por

Ferreira (2008).

As respostas reunidas na segunda categoria mencionada, acesso à informação,

evidencia os argumentos dos professores sobre o acesso à informação de maneira a aproximar

o aluno da realidade social em que eles (professor e aluno) estão inseridos. Como descreve o

professor (5.4): O jornal traz informação e muitos conhecimentos para o nosso dia a dia.

O jornal pode dar informação ao aluno e aproximá-lo de sua realidade social, tendo

em vista que ele lhe oferece os acontecimentos do dia-a-dia. Do lado oposto, enfrentamos o

aumento da difusão das informações e a velocidade da comunicação que podem atingir aos

nossos alunos. Para Cortella (2007) o mais importante, hoje, “não é apenas ter acesso à

informação porque ela está chegando com rapidez, mas como estabelecer critérios de seleção

para uma grande variedade de informações disponíveis. Dentre as fontes de informação, o

jornal é uma delas” (p.14).

Em razão dessa característica contemporânea, o educador pode em suas práticas com

jornais orientar os alunos a selecionarem o que mais lhes interessa nos meios de comunicação

para auxiliá-los na construção do seu conhecimento como forma de auxílio para a resolução

de possíveis problemas em sua vida prática, a fim de formar cidadãos mais preparados e

qualificados para um novo tempo.

A terceira categoria mencionada, aprendizagem dos conteúdos, refere-se aos

argumentos dos professores que avaliam como o uso do jornal em sala de aula pode contribuir

para atividade docente, enquanto recurso metodológico enriquecedor dos conteúdos escolares,

conforme o Professor (3.3): É um material rico onde os alunos encontram muito conteúdo

trabalhado na sala de aula e assim percebem a utilidade desses conhecimentos.

A relação interativa entre jornal e conteúdos escolares apenas será possível, a partir

do momento em que os conteúdos não sejam mais considerados como meros instrumentos de

cumprimento do currículo de forma mecânica. Eles, ao contrário, funcionam como elementos

essenciais de uma aprendizagem significativa e contextualizada, como apontou os estudos de

Toschi (1993).

Nessa direção, argumenta L. Silva (2005), a aprendizagem é significativa quando o

aluno é capaz de utilizar os conhecimentos advindos da ação pedagógica na vida prática. Sob

esse aspecto, as ações pedagógicas devem preocupar-se em potencializar o educando a

enfrentar situações novas, usando os conhecimentos adquiridos. Isso dificilmente ocorre em

uma perspectiva mecanicista e não significativa do processo de ensino-aprendizagem. O

82

professor que usa o jornal voltado para o enriquecimento dos conteúdos escolares ajuda o

aluno a construir uma visão mais consciente da realidade, despertando e aperfeiçoando nele o

senso crítico e a cidadania.

De maneira a exemplificar, quando analisamos a resposta do Professor (7.4),

deparamos com um desabafo que confessa: Enquanto profissional sei que falho, pois faço

pouco uso do jornal (Professor 7.4).

Não é difícil identificar nessa fala a contradição do professor com relação ao uso das

mídias, visto que, enquanto formador de opinião, sabe que o jornal pode contribuir para sua

prática docente, mas mesmo assim não o usa, pois não depende apenas dele, mas do material e

de uma formação adequada para seu uso. Semelhante reflexão aponta um índice relevante

para a nossa pesquisa: se o professor reconhece o potencial pedagógico do jornal, por que não

o utiliza? Ele não o faz, por não ter recebido instrumentação para tal prática nos cursos de

formação inicial, como também nos de formação contínua. Em consequência de tal lacuna, o

profissional não tem no jornal uma prática social, conforme analisado por Silva & Lima

(2008).

Por outro lado, não se pode deixar esquecer, porém, a constatação de Rosado (1999)

afirmando que muitos deles, mesmo sem a devida orientação, aprenderam sozinhos como

manusear o jornal em sala de aula.

A seguir, a pergunta nove do questionário traz para análise as formas de utilização

dos jornais em salas de aula (Tabela 23).

Tabela 23- Formas de utilização dos jornais nas aulas

Categorias Frequência

1-Completar a aprendizagem 55

2-Prática de leitura e escrita 41

3-Diversificar os tipos de texto 32

4-Levar assuntos variados 30

5-Provocar discussões 22

*Total 180 *Total refere-se ao número de argumentos e não o número de participantes.

De acordo com os dados, a primeira forma de utilização dos jornais, diz respeito ao

uso para completar a aprendizagem, quando as informações jornalísticas podem ser usadas

como complemento do ensino e do aprendizado dos conteúdos escolares de forma

contextualizada. Dessa maneira, o professor, ao utilizar as informações jornalísticas em suas

83

práticas poderá enriquecer, dinamizar os conteúdos escolares relacionando-os com a vida

cotidiana do educando, isto é, com acontecimentos que estejam de acordo com os interesses

dos alunos contribuindo, assim, para o desenvolvimento da leitura crítica, conforme propõe

Freire (1987). Os jornais oferecem conteúdos com informações atuais que podem ser

associados aos conteúdos escolares a serem ensinados nas escolas. As matérias jornalísticas

podem gerar debates, narrar fatos históricos que marcaram a sociedade, ao mesmo tempo em

que pode despertar a atenção dos alunos para questões de sua realidade e, conseqüentemente,

provocar interesse para outras informações.

Em segundo lugar, estão relacionadas funções quanto à prática de leitura e escrita,

considerando, porém, cabe ressaltar, que a escola pode oferecer a familiarização com os

jornais impressos e digitais através de práticas significativas de leitura e escrita. Como

sabemos, nem toda família brasileira tem condições de ser assinante de um jornal ou ter

acesso à Internet. Para suprir tal carência, a escola deveria criar espaços para a leitura das

informações jornalísticas, ou, as empresas jornalísticas poderiam doar os encalhes, por

exemplo.

A terceira forma mencionada, diz respeito às práticas para diversificar os tipos de

texto, contribuindo, assim, para a ampliação dos gêneros textuais do aluno. Os jornais

significam um material rico que pode contribuir para a diversificação dos textos que circulam

no âmbito social. Portanto, levar para a sala de aula as informações jornalísticas permite que

os alunos, segundo Bortone & Martins (2008), observem as características que distinguem

cada gênero, identificando que há elementos textuais que organizam e sustentam sua

composição, isto é, para cada gênero, há uma construção textual específica.

Em quarto lugar, aparece a prática de utilização para levar assuntos variados,

considerando que o jornal representa uma fonte de informação com assuntos variados como:

moda, comportamento, política, economia, entretenimento, etc. Professores podem (e devem)

utilizá-la em sala de aula para gerar e alimentar interesse e participação dos educandos nas

aulas.

Em quinto lugar, as práticas docentes mencionadas dizem respeito ao uso dos jornais

para provocar discussões, visto que as informações dos jornais servem como motivação para

iniciar um debate em sala de aula. Nessa direção, proclama L. Silva (2005): “esta prática

incentiva os alunos a se informarem, a virem preparados para a aula até porque o jovem gosta

de manifestar suas idéias e de não ficar alheio às discussões, principalmente quando se trata

de assuntos de seu interesse” (p.102).

84

Nesse contexto de práticas docentes e de uso das informações jornalísticas em sala de

aula, a análise das respostas dos professores permite-nos concluir que a utilização pouco

contribui para a formação de leitores e escritores críticos das mídias, conforme proposto pelo

autor que estudam a formação de alunos críticos Freire (1987 e 1997).

Essa constatação constitui um dado relevante em nossa pesquisa, porque demonstra

que há uma formação inadequada para o uso das mídias, confirmando avaliação de Belloni

(1998). É pertinente considerar, em decorrência, que sem uma formação adequada não se

pode esperar que o professor utilize os jornais, cuja complexidade o ultrapassa.

Dessa forma, a Secretaria de Educação da cidade de Andradina, para tentar sanar

esse uso inadequado dos jornais, poderia ofertar cursos de formação aos professores, de

acordo com a proposição de Toschi (2003), não apenas como orientação para a utilização na

educação, mas também como análise crítica de seus componentes ideológicos, além de

recursos, como o próprio jornal e acesso à Internet.

Ao perguntarmos, na questão 10 do questionário, a respeito de que forma fica a aula

ao utilizar os jornais, os professores em sua maioria responderam que a aula fica mais

participativa e apenas dois disseram que a aula fica igual, mas não justificaram sua resposta.

Vejamos as respostas na Tabela 24:

Tabela 24 – Como a aula do professor pode ficar ao utilizar jornais

Categorias Professor %

Participativa 51 94,44

Igual 2 3,71

Sem resposta 1 1,85

*Total 54 100%

*Total refere-se ao número de participantes.

Aos que justificaram, as respostas foram reunidas numa única categoria denominada,

motivação e envolvimento, recebendo uma indicação expressiva do papel do jornal como

peça motivadora da participação do aluno durante as aulas, gerando um maior interesse em

aprender, como exemplifica o professor (7.5): Participativa. Todos querem dar sua opinião,

dizer o que aprendeu.

Assim, pelos argumentos apresentados de acordo com os dados, fica evidente que os

alunos se demonstram bastante motivados e envolvidos nas atividades, quando o professor

traz o jornal para o espaço da sala de aula.

85

Toschi (1993) analisa que o uso do jornal pode ser o elo facilitador da relação

comunicativa que deve ocorrer no processo de uma aula, porque o jornal pode ligar o

conhecimento sistematizado que o professor detém e o senso comum trazido pelo aluno e ser

pertencente aos dois lados. Devido ao seu aspecto de mediador entre os leitores e os

acontecimentos da sociedade, o jornal pode colaborar para que a disposição comunicativa se

concretize na sala de aula. Esse elo facilitador da relação comunicativa funciona como

importante fator do processo de ensino e aprendizagem. Em razão desse vínculo, o aluno pode

ficar mais atento aos conteúdos a serem ensinados, aprendendo de forma mais expressiva,

como relata o professor (5.1): Pelo interesse e motivação dos alunos ao folhear um jornal,

eles buscam informações, novidades e fazem perguntas, questionam e querem tirar dúvidas

durante a aula.

A utilização do jornal como instrumento pedagógico transforma-o em uma

ferramenta para a motivação e envolvimento do ensino. O estudo e a leitura dentro de um

contexto pedagógico do conteúdo podem ser mais bem sucedidos do que o simples uso do

livro didático. O jornal estimula e fortalece a formação de cidadãos mais participantes e

motivados, como foi apontado por Toschi (1993).

As respostas da questão 11 do questionário trazem para a análise a reflexão acerca da

medida em que o uso de jornais em sala de aula pode contribuir para formação dos alunos.

Quatro professores não responderam à pergunta e não justificaram por quê. Aqueles que o

fizeram, possibilitaram a criação de três categorias (Tabela 25).

Tabela 25- O uso do jornal pode contribuir na formação de alunos

* Total refere-se pelo número de argumentos e não o número de participantes.

A primeira categoria, denominada leitores e escritores, expressa que o uso do jornal

em sala de aula pode auxiliar na formação de leitores e escritores. A segunda categoria, fonte

de informação, apresenta palavras ou argumentos que indicam que o uso do jornal em sala de

aula pode funcionar como fonte de informação para a construção de conhecimentos e a

terceira, crítico, indica que o uso do jornal em sala de aula pode contribuir para a formação de

alunos críticos.

Categorias Frequência

1-Leitores e escritores 52

2-Fonte de informação 15

3-Crítico 14

*Total 52

86

No espaço da primeira categoria, leitores e escritores, fica evidente que os

professores percebem mudanças positivas na leitura e, principalmente, na escrita dos alunos

após o uso das informações jornalísticas em sala de aula, como relata o Professor (2.2):

Formar alunos leitores, com senso crítico e habilidade diversificada para redação e

contextualização.

Diante do exposto, é possível que o jornal introduzido nas aulas signifique um fator

importante para o desenvolvimento das habilidades escritas, ratificando as afirmações de L.

Silva (2005) “palavras novas, formas de se expressar e estruturas textuais diferenciadas

passam a ser incorporadas às redações, proporcionando textos com menos erros gramaticais e

com mais riqueza de argumentos” (p.118).

Portanto, conforme Bortone & Martins (2008), quanto maior a interação do aluno

com o texto, mais ampla será sua habilidade de leitura, mais produtiva, sua produção textual,

a organização de suas idéias e o desenvolvimento de texto.

A segunda categoria descrita, fonte de informação evidencia que o jornal em sala de

aula pode ser usado como fonte de informação, como descreve o professor (1.2): O aluno

aprende a manusear as folhas e dar valor a leitura como fonte de informação.

Hoje, as mídias impressas ou eletrônicas fazem parte da vida dos alunos, influenciam

sua aprendizagem e diminuem distâncias. Uma das funções do educador é ensinar e orientar

os alunos para que estes, com autonomia e criticidade, como proposto por Freire (1996),

possam selecionar tudo de positivo que os meios de comunicação lhes oferecem.

Da mesma maneira, o professor não pode descartar a idéia do jornal como uma fonte

rica para aprofundar a informação sobre determinado fato ou acontecimento o qual pode ainda

ser ampliado, pesquisado e discutido em sala de aula, conforme analisado pelos autores que

estudam a importância da utilização das mídias nas escolas (BACCEGA, 2006 e CALDAS,

2002).

Dessa maneira, Libâneo (1998) pondera que “numa sociedade caracterizada pela

multiplicidade de meios de comunicação e informação, não teria lugar para escola

convencional, a escola do quadro-negro e giz” (p.63).

Já a última categoria, denominada crítico, indica que o uso do jornal em sala de aula

pode contribuir para a formação de alunos críticos, como demonstra o professor (3.2): O

jornal possibilita a formação de alunos leitores com senso crítico e habilidade diversificada

para redação e contextualização.

Desse modo, as práticas educativas desempenham papel importante na formação de

alunos críticos das mídias, quando desenvolvem nos alunos a conscientização da relevância de

87

compreensão das entrelinhas do discurso midiático, bem como as suas tentativas de

dominação, para depois partir para seu uso crítico pedagógico. (FREIRE 1987 e 1997).

Nessa mesma direção, L Silva (2005) aponta que a escola não pode simplesmente

reproduzir as mensagens dos meios de comunicação, sem fazer um estudo crítico delas. Ela

necessita formar jovens capazes de discernir as amarras ideológicas que muitos veículos de

comunicação trazem diariamente, já que a crítica em todo seu processo toma o visível como

ponto de partida. É a partir de tal visibilidade que o conhecimento se molda, permitindo que o

sujeito se aproprie do objeto que pretende apropriá-lo.

Na pergunta doze do questionário, indagamos se os professores acreditavam que a

utilização dos jornais contribui para a leitura dos alunos.

Eles foram unânimes em dizer que o jornal pode contribuir para a leitura dos alunos,

atingindo 100% a credibilidade sobre seu uso funcional em sala de aula. Onze apenas

disseram que sim, sem justificar sua resposta. Os demais que responderam à questão

possibilitaram a criação de duas categorias (Tabela 26).

Tabela 26 – A utilização de jornais pode contribuir para leitura

Categorias Frequência

1-Aquisição da leitura 35

2-Crítico e participativo 6

*Total 41 * O total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

De acordo com os dados, a primeira categoria denominada, aquisição da leitura,

contempla argumentos que indicam que o uso do jornal em sala de aula pode contribuir para

melhoria da aquisição da leitura e da compreensão dos diferentes tipos de texto. A segunda

categoria nomeada, crítica e participação, aponta palavras ou argumentos que indicam que o

uso do jornal em sala de aula pode contribuir para a formação da criticidade tornando o aluno

mais participativo.

A primeira categoria, aquisição da leitura, acena para os possíveis ganhos do jornal

na contribuição da aprendizagem da leitura, como demonstra a resposta do professor (1.1): É

um incentivo para sua leitura.

Conforme observa Freire (1987): “O ato de ler não se esgota na decodificação pura

da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas se antecipa e se alonga na inteligência do

mundo” (p.11).

88

Assim, embora os professores concordem entre si quanto à importância de criar

espaços para situações de leitura com jornais, muitos deles dão pouca abertura para esse tipo

de portador de texto, confirmando a reflexão de Pastorello (2005): “o jornal, como referência

de trabalho pedagógico, ainda é pouco explorado pelos professores que lidam diariamente

com alunos em fase de aprimoramento da leitura” (p.54).

Nas escolas pesquisadas, identificamos a carência de propostas e trabalhos que

abordam práticas de leitura de jornais em sala de aula. O principal eixo é a forma, em

detrimento do conteúdo. Nas propostas de leituras, verifica-se uma prática tradicional: ênfase

na oralidade, correção dos erros ortográficos, decodificação ou soletração, como demonstra o

professor (3.2): Mesmo com dificuldades contribui nas pesquisas no recorte de letras,

palavras.

Conforme Ferreira (2007): “nessas práticas, não são valorizadas as características dos

gêneros textuais, todos eles são tratados sem distinção” (p.14).

A aquisição de leitura há muito tempo vem despertando interesse cada vez mais

crescente, principalmente, entre aqueles que se preocupam com os problemas educacionais

como T. Silva (1983 e 1995), Kleiman (1989), Zilberman (1991).

Nesse sentido, não há fórmulas secretas e muito menos métodos milagrosos para

ensinar leitura, é o comportamento do professor diante de sua prática que faz a diferença. T.

Silva (1993) afirma que a maior pesquisa comparativa já realizada entre os diferentes métodos

de formação do leitor crítico veio mostrar que não é o método em si, mas sim o professor e o

uso que ele faz do método, o elemento mais importante para o encaminhamento de leitura

crítica na escola.

As respostas reunidas na segunda categoria, crítico e participativo, demonstram a

potencialidade do uso do jornal para a formação de alunos mais críticos e participativos.

Como ilustra o professor (3.4) ao dizer que: Eles aprendem a serem mais críticos e

participam mais das aulas.

Concordamos com Faria (2001), quando diz que a leitura do jornal, quando bem

conduzida, prepara leitores experientes e críticos para desempenhar seu papel na sociedade e

na construção da cidadania, pois o incentivo à criticidade do aluno ante as mensagens

apelativas das mídias deve estar presente nas aulas, visando a uma crítica que permite ao

aluno construir um conhecimento aliado ao prazer da leitura de textos midiáticos. Equivale

dizer que a construção da criticidade inclui a possibilidade de negação de determinados

assuntos ou que possibilita a escolha daquilo que realmente é relevante para o seu crescimento

como leitor-cidadão, ciente de sua inserção em uma sociedade influenciada por esses meios.

89

O jornal torna-se, portanto, um rico instrumento didático- pedagógico, quando é trabalhado

com criticidade, porque possibilita a transformação da informação em um dado significativo

na direção de um conhecimento mais aprofundado, (MARTÍN-BARBERO, 1999).

Ao fazermos a análise das respostas, notamos uma concepção negativa quando o

professor (5.2) relata que: Somente as terceiras e quartas séries podem utilizar as leituras dos

jornais. Na primeira série é mais complicada essa leitura.

Acreditamos que, antes mesmo da idade pré-escolar, as crianças devem ter contato

com todas as formas de leituras. Nas escolas, faz-se necessário que os livros e jornais saiam

da biblioteca escolar, entrem na vida dos alunos desde a educação infantil, fazendo parte das

atividades cotidianas da escola. Zilberman (1991) relata que “a criança conhece o livro antes

de saber lê-lo, da mesma maneira que descobre a linguagem antes mesmo de dominar seu

uso” (p.83).

Quando perguntados, na questão 13 do questionário, se a utilização das informações

jornalísticas em sala de aula pode contribuir para a escrita do aluno, todos os professores

responderam afirmativamente (100%).

As respostas obtidas criaram uma única categoria, aquisição da escrita, a qual

confirma que o uso do jornal em sala de aula pode contribuir para o ensino e aprendizado da

escrita. Conforme Bortone & Martins (2008) a escrita, além de uma tecnologia de

representação da própria fala, é um modo de produção textual-discursiva com suas próprias

intencionalidades. O que determina nossa competência na produção escrita é como

aprendemos a escrever, a importância que a escrita possui em nossa vida, quer seja na escola,

no trabalho e a frequência com que escrevemos. Portanto, quanto mais amplo o engajamento

dos alunos nas práticas sociais que envolvem leituras, como a dos jornais, provavelmente

mais ação se fortalecerá na direção da melhoria da escrita.

Assim, o aluno durante o processo de alfabetização, principalmente nas séries iniciais

do ensino fundamental, não adquire a escrita passivamente. Esta resulta de interações e de um

longo processo de desenvolvimento de funções comportamentais do qual o aluno participa e

com o qual interage. Por trás das hipóteses, existe um aluno atuante e capaz que, ao constatar

a eficácia e o significado da escrita, quer representá-la, pois ela significa uma prática social

fundamental, no contexto da língua materna ou de todas as disciplinas, como assevera Baltar

(2003):

Hoje, a escrita como prática social é indispensável para um número cada vez maior

de cidadãos dentro das instituições em que vivem. Do nível pessoal, familiar ao

nível profissional, cada vez mais as pessoas têm necessidade de desenvolver suas

90

capacidades em relação à linguagem escrita para seguir adiante seus projetos de vida (p.82).

O processo de aquisição da escrita sempre ocupou posição de destaque em pesquisas

de educação, referenciadas neste trabalho por autores como: Baltar (2003) e Faria (1999 e

2004).

A seguir, a Tabela 27 corresponde à resposta da pergunta 14 do questionário. Ela

esclarece se o professor usa a informação do jornal em sala de aula, como forma de

enriquecimento do conteúdo:

Tabela 27- O jornal pode contribuir para o enriquecimento do conteúdo escolar

Categorias Frequência

1-Acesso à Informação 17

2-Leitura e Escrita 4

*Total 21 * Total refere-se ao número de argumentos e não o número de participantes.

Ao analisarmos as respostas dos professores, encontramos 33 que apenas

responderam afirmativamente, sem, contudo, justificar sua avaliação. Para efeito de análise,

21 respostas com justificativas foram reunidas em duas categorias.

A primeira, acesso à informação, elenca argumentos para defender o uso do jornal

em sala de aula como ferramenta para o enriquecimento de conteúdo, o qual representa a

fonte de informação para a aquisição de conhecimento. Esse dado significativo evidencia-se

na fala do Professor (6.2), quando assim se expressa: Hoje temos que ampliar a visão de

nossos alunos com informações, eles vivem em um mundo tecnológico e globalizado e as

aulas precisam cada vez mais ser enriquecidas.

A segunda categoria, leitura e escrita, apresenta palavras e/ou argumentos que

indicam que o uso do jornal em sala de aula pode ser utilizado como forma de enriquecimento

do conteúdo para a melhoria da aquisição da leitura e escrita.

No mundo globalizado, é de fundamental importância o acesso às informações e aos

conhecimentos necessários para a formação e o desenvolvimento de todos os cidadãos. Morin

(2004) afirma que a informação é fundamental para a construção do conhecimento. Ela

representa um dado relevante para a nossa pesquisa, pois há uma concordância entre os

professores, quando encaram o jornal como uma rica fonte de informação.

Assim, o jornal pode ser muito mais que uma fonte de informação para o aluno,

desde que haja uma abordagem crítica desse veículo e um questionamento sobre o conteúdo

91

veiculado, visto que, quando o jornal é trabalhado pedagogicamente, o profissional visa a

estimular práticas educativas que levem ao questionamento para gerar novos conhecimentos.

A segunda categoria, leitura e escrita, reúne as opiniões dos professores sobre o uso

dos jornais como forma de enriquecimento de conteúdos na aprendizagem da leitura e escrita,

como exemplifica o professor (7.1): Geralmente lendo para eles as notícias que estão em

destaque e fazendo as discussões e produções de texto.

A leitura e escrita são práticas que se relacionam e se complementam. Conforme os

PCN de Língua Portuguesa, o trabalho com leitura tem como “finalidade a formação de

leitores competentes, a formação de escritores, pois a possibilidade de produzir textos eficazes

tem sua origem na prática de leitura, espaço de intertextualidade e fontes de referências

modelizadoras” (p.53).

Fica, portanto, evidenciado que o jornal quando é uma prática social constante em

sala de aula pode auxiliar para o enriquecimento do ensino e aprendizado da leitura e escrita.

Quando perguntados na questão 15 do questionário sobre o conhecimento o professor

a respeito dos suplementos infantis (caderno do jornal dedicado à leitura das crianças), 49

professores responderam afirmativamente (90,74%) e cinco disseram não conhecer os

suplementos infantis (9,26%). Entre os que o conhecem, 10 apenas afirmaram esse

conhecimento sem apresentar uma justificativa. Os 39 professores, que responderam

afirmativamente quanto ao conhecimento sobre suplementos infantis, possibilitaram a criação

de três categorias (Tabela 28).

Tabela 28- Contribuição dos suplementos infantis às práticas educativas

Categorias Frequência

1- Práticas de leitura e escrita 22

2- Metodologia diferenciada 7

3- Associação aos conteúdos 6

*Total 33 *O total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

De acordo com os dados, a primeira categoria mencionada, práticas de leitura e

escrita, reúne palavras e/ou argumentos indicadores de que os suplementos infantis podem

contribuir para a prática de leitura e escrita na sala de aula, como atesta o Professor (1.6):

Após a leitura e interpretação do jornal. No final fazemos montagem de painéis com as

produções escritas de notícias, interpretação de charges.

Para T. Silva (1993), o resultado de uma boa leitura com as informações jornalísticas

em sala de aula é aquela que, depois de terminada, gera conhecimentos, propõe atitudes e

92

analisa valores, aguçando, adensando, refinando os modos de perceber e sentir a vida por

parte do leitor.

A segunda categoria denominada, metodologia diferenciada, diz respeito à ligação

dos suplementos infantis às atividades diferenciadas que contemplam o lúdico. Como relata o

professor (3.2): Com palavras cruzadas, pinturas, estórias, dominó de palavras e outras

atividades recreativas e pedagógicas que as crianças amam.

Sem dúvida alguma, os suplementos infantis oferecem leituras e atividades que

despertam interesse nos alunos. Como atesta Ijuim (2005), os suplementos infantis promovem

o sentido lúdico, que proporciona a aproximação entre crianças e adultos, exercendo os papéis

sociais de educandos e educadores. O brincar e a fantasia para a criança, ou o espírito de

aventura para o adolescente, constituem atmosferas lúdicas favoráveis para envolver e

motivar os participantes.

A última categoria, associação dos conteúdos escolares, reúne argumentos que

classificam os suplementos infantis como elementos que podem ser associados aos conteúdos

a serem ensinados. Como exemplifica o professor (2.4): Aproveito os assuntos das

reportagens na sala de aula de acordo com os conteúdos trabalhados.

Dessa forma, a utilização da informação jornalística pode ser material didático para

introduzir, desenvolver e concluir conteúdos escolares, porque ela traz informações

esportivas, políticas, científicas e outros assuntos. Embora ofereça farto material para todas as

disciplinas, seu uso não pode ser visto como matéria ou disciplina na escola, mas como fonte

de informação para associação dos conteúdos escolares em qualquer disciplina, em especial,

Língua Portuguesa.

Na sequência, quando perguntados (questão 16), sobre a existência de parcerias de

empresas jornalísticas dentro da escola, os professores foram categóricos em dizer que ela não

existe a, atingindo 100% das respostas obtidas. Esse representa um dado relevante para a

nossa pesquisa, já que as escolas não possuem acesso aos jornais impressos. Para suprir tal

lacuna, a Secretaria Municipal de Educação de Andradina, poderia formar parceria com

alguma empresa jornalística da cidade.

Essa ausência dificulta o acesso ao jornal, bem como a eficácia das orientações sobre

material a ser trabalhado pelo professor em sala de aula, como analisou Zanchetta (2005 e

2007).

A Tabela 29 corresponde às respostas dos professores à pergunta 17 do questionário.

Elas apontam a existência de projetos pedagógicos que usam o jornal em sua escola:

93

Tabela 29 - Existe algum projeto pedagógico que faz uso de jornais em sua escola

Frequência %

Não 42 77,78

Sim 12 22,22

*Total 54 100 * Total refere-se ao número de participantes.

De acordo com os dados descritos, 42 (77,78%) professores afirmaram não existirem

projetos para uso de jornal em sala de aula. A minoria, apenas 12 professores (quase 23%)

confirmou que há projetos que utilizam informações jornalísticas em sua escola.

As respostas afirmativas reúnem os argumentos de que os projetos que envolvem o

uso do jornal em sala de aula podem contribuir para a melhoria da aquisição da leitura e

escrita dos alunos. Conforme ilustra o professor (5.8): A minha experiência é muito boa, pois

auxilia na produção de textos e na leitura dos alunos.

Para Faria (1999), as práticas de leitura e escrita que envolvem os jornais oferecem

contato direto com o texto autêntico (e não com textos preparados apenas para serem usados

na escola, apresentados nos livros didáticos). Desenvolve a capacidade leitora dos alunos,

estimula a expressão escrita dos estudantes, que aprendem com o jornal a linguagem da

comunicação para transmitir suas próprias mensagens e informações. Essa proposta de que os

jornais sejam levados na sala de aula de forma integral, sem recortes, como é visto nos livros

didáticos, também é compartilhada por Zanchetta (2007).

Ainda em complemento à pergunta 17, foram reunidas as respostas dos quarenta e

dois professores que negaram a existência de projetos que utilizam de informações

jornalísticas na escola. Vinte e quatro professores responderam apenas “não” sem

justificativa.

Dos dezoito professores que justificaram suas respostas foram criadas duas

categorias (Tabela 30).

Tabelas 30- Justificativas pelo não uso de projeto com jornais

Categorias Frequência

1- Falta de acesso 13

2- Preferência por outros projetos 7

*Total 20 * O total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

A primeira categoria, falta de acesso, reúne argumentos que indicam que projetos

não são trabalhados em sala de aula por falta de material ou difícil acesso a ele, como declara

o professor (2.5): Não recebemos nenhum jornal na escola.

94

Nesta última década, setores da educação têm recomendado que os professores

utilizem o jornal em sala de aula sem, entretanto lhes ofertar o próprio material, “o jornal”.

Aqueles que o utilizam em sua prática arcam com todas as despesas já que a própria escola

não recebe periodicamente assinaturas, como relata o Professor (4.6): Falta de acesso ao

jornal, uma vez que os professores da escola não assinam. Só recentemente a direção passou

a assinar um jornal de grande tiragem e um jornal da região.

Como utilizar o jornal em sala de aula, se o próprio professor não tem acesso a ele?

Sendo que, apenas um exemplar não basta para suprir a necessidade de uma escola inteira.

Problema como esse dificulta seu uso, por isso enfatizamos a urgência de a Secretaria de

Educação oferecer exemplares da mídia escrita a todas as escolas ou as próprias empresas

jornalísticas da cidade implementarem parcerias junto às escolas.

A segunda categoria, preferência por outros projetos, agrupa palavras ou

argumentos que indicam que o projeto do jornal em sala de aula não é desenvolvido em razão

de os professores preferirem outros tipos de projetos. Ela agrupa as justificativas que

privilegiam leituras de outros gêneros textuais que não sejam os jornais. Como relata o

Professor (5.9): Preferência por outras diversidades textuais, contos, fábulas, livrinhos de

literatura, além da dificuldade de arrecadar jornais atuais em nossa comunidade carente.

Não se pode esquecer que os professores no exercício de sua docência devem formar

leitores dos diversos gêneros textuais e não unicamente da literatura. Nessa direção há a

necessidade de trazer para aula textos teóricos, literários e informativos, assim como de a

Secretaria de Educação oferecer todos os recursos necessários.

Neste momento, de maneira a facilitar a compreensão dos dados, usaremos como

recurso uma síntese dos dados obtidos como resposta ao objetivo específico sobre identificar

as concepções de práticas de uso de jornais. Pois, percebemos que os professores pesquisados

apresentam categorias semelhantes em diferentes questões indicando que suas concepções

sobre as práticas de uso de jornais também é positiva, colocando-o nas práticas que envolvem

o ensino da leitura e escrita, metodologias diferenciadas como debates, discussões, ou seja,

como fonte de informação que pode completar a aprendizagem dos conteúdos escolares, para

contribuir na formação de alunos críticos, gerando no público discente motivação e

envolvimento nas aulas. Mas todas essas práticas são dificultadas em sala de aula, por falta de

acesso aos jornais. Ressaltamos que a Secretaria de Educação do município poderia fornecer

os jornais ou fazer parcerias com alguma empresa jornalística da cidade.

Após enfocarmos as concepções dos professores sobre os jornais em sala de aula e

identificar as concepções de práticas educativas com as informações jornalísticas, vamos

95

agora analisar de forma mais específica a formação desse profissional com relação ao uso das

mídias na educação.

4.3- A formação do professor para o uso crítico de jornais em sala de aula

Vamos agora analisar de forma mais específica a formação do professor para o uso

das informações jornalísticas em sala de aula. As tabelas a seguir respondem às questões do

objetivo específico de explorar e analisar a formação do professor para o uso dos jornais.

Conforme o Quadro I (descrito na página 59), o terceiro bloco de questões 18 a 21,

cujas falas dos professores possibilitaram o levantamento do seguinte aspecto: a verificação

da formação dos professores sobre o uso de jornais em sala de aula.

A Tabela 31 corresponde à resposta dos professores (pergunta 18 do questionário) e

indica se eles em sua formação inicial tiveram alguma orientação para usar o jornal em sala de

aula:

Tabela 31 - Orientação sobre o uso dos jornais na formação inicial

Frequência %

Não 43 79,63

Sim 11 20,37

*Total 54 100 * Total refere-se pelo número de participantes.

De acordo com os dados, há um baixo índice, já que apenas 11 professores

afirmaram que receberam orientação sobre o uso do jornal em sua formação inicial (20,37%).

Mas a maioria, com quase 80% deles, disse que não teve tal orientação.

Esse representa um dado relevante da pesquisa. Se poucos tiveram uma formação

inicial e a grande maioria não teve orientação alguma em cursos de formação continuada

sobre a utilização das informações jornalísticas, como que ele fará um uso significativo em

sala de aula para ter nas leituras uma prática social constante? Assim, para analisarmos esse

conteúdo, achamos melhor separar as respostas positivas dos professores que receberam

orientação na sua formação inicial daqueles que responderam que não houve orientação em

sua formação acadêmica.

Dos onze professores que receberam uma formação inicial para o uso das

informações jornalísticas, quatro professores não responderam à questão. As respostas

96

afirmativas, quanto à formação inicial sobre o uso dos jornais em sala de aula, foram reunidas

em três categorias (Tabela 32).

Tabela 32- Como se deu a orientação sobre o uso dos jornais

Categorias Frequência

1-Formação Inicial 5

2-Formação Continuada 3

3-Prática Pedagógica 2

* Total 10 * Total refere-se ao número de argumentos e não de participantes.

A primeira categoria denominada, formação inicial, reúne argumentos de que o

professor teve em sua formação inicial uma preparação sobre como utilizar o jornal em sala

de aula. A segunda, formação continuada, agrupa argumentos que indicam que o professor

teve na sua formação continuada a preparação de como utilizar o jornal em sala de aula. A

terceira, prática pedagógica, aponta argumentos de que o professor buscou em sua prática a

preparação de como utilizar o jornal em sala de aula.

As respostas reunidas na primeira categoria, formação inicial, demonstram que a

minoria que atua na rede municipal de ensino da cidade de Andradina recebeu alguma

preparação na sua formação inicial para a utilização dos jornais na educação, como demonstra

a fala do professor (5.7): O trabalho com jornais não foi tão enfatizado na faculdade.

É importante que os professores em formação inicial recebam orientação sobre o uso

crítico das mídias, conforme analisado por Rezende e Fusari (1995) e Zanchetta (2005-2007).

A formação de professores é um tópico de fundamental importância na pesquisa educacional,

porque é a partir dela que se inicia a construção de um ensino de qualidade em qualquer

licenciatura.

A possibilidade de refletir sobre a inserção de seu uso na escola permite aos cursos

de formação inicial de professores um olhar mais crítico para abordagem das mídias na sala

de aula, não apenas como forma de questionamento, mas principalmente, para saber lidar com

ela, sua linguagem, suas estratégias, suas formas de produção e dominação, conforme

analisado por Freire (1987).

Caldas (2006) confirma que não se trata de ensinar os professores a “lerem” os

jornais, mas de possibilitar a eles, num primeiro momento, uma leitura do mundo para melhor

compreenderem, eles próprios, o poder da mídia e o papel ocupado pelos diferentes veículos

no espaço público. Só então poderão fazer a leitura crítica da mídia e, consequentemente,

ensinar os alunos a pensar, a refletir sobre os conteúdos noticiosos e, então, desenvolver

formas autônomas de pensar o mundo.

97

A segunda categoria, formação continuada, aponta os argumentos dos professores

que tiveram orientação para o uso do jornal apenas na sua formação continuada, como ilustra

o professor (6.2): Aprendi em capacitações oferecidas pela secretaria de ensino de

Andradina.

A Secretaria de Ensino deve oferecer cursos para que os professores se atualizem de

acordo com as necessidades dos educandos, já que no ofício de ser professor a busca de

conhecimento é permanente e o aprendizado, constante. Sendo assim, o aprendizado depende

não só de um esforço pessoal. Sem dúvida alguma, o ato de aprender, além de contínuo e

constante, necessita ser flexível e aberto às mudanças que assumem ritmo vertiginoso. Dessa

forma, a formação continuada tem caráter de aperfeiçoamento ao longo da vida profissional,

não podendo ser reduzida a uma ação compensatória de fragilidades da formação inicial,

conforme descrito pelo MEC (2008).

A terceira categoria, prática pedagógica, esclarece que aquele professor que não

teve orientação sobre o uso do jornal quer na sua formação inicial, quer na continuada,

aprendeu a fazê-lo na própria prática, como ilustra o Professor (3.3): Na verdade, em minha

formação acadêmica eu muito pouco aprendi sobre a prática na sala de aula. Vi muita teoria,

pensadores, mas a prática foi quando já estava trabalhando. Para minha sorte, tenho uma

família de professores de português que me ajudaram muito, sorte dos meus alunos também,

pois devo ter cometido poucos erros.

Se o professor não encontrou destaque em sua formação inicial e nem continuada

para a utilização das mídias, como poderá fazer uso desse material pedagógico em apoio às

suas aulas, contribuindo, assim, para um ensino crítico e de qualidade?

De maneira a avançar nas análises, perguntamos (de acordo com as respostas da

questão 19), se o professor participou de algum curso de formação continuada referente ao

uso do jornal em sala de aula. A maioria respondeu negativamente à questão. Vejamos os

dados na Tabela 33:

Tabela 33 – Se o professor participou de algum curso de formação continuada

Frequência %

Não 39 72,22

Sim 15 27,78

*Total 54 100 * Total refere-se ao número de participantes.

A maioria (72,22%) dos professores não teve um curso específico sobre como

utilizar o jornal em sala de aula. Dos 15 professores que participaram de algum curso de

capacitação sobre o uso do jornal em sala citaram, dez citaram “O uso do jornal em sala de

98

aula”, com 20 horas. Cinco professores citaram “Recursos didáticos e paradidáticos”, com 20

horas. Mas ao aprofundarmos a questão, os professores não detalharam sobre as orientações, o

que pode indicar um desconhecimento sobre seu conteúdo.

A Tabela 34 corresponde às respostas do professores à questão 20 do questionário,

que indica se existe alguma orientação da Secretaria de Educação para o uso do jornal em sala

de aula no município.

Tabela 34 – Orientação sobre o uso do jornal

Frequência %

Não 45 83,33

Sim 9 16,67

*Total 54 100 * Total refere-se ao número de participantes.

A maioria dos professores respondeu que não existe uma orientação por parte da

Secretaria de Ensino sobre o uso de jornais. Apenas 16,67%, mencionaram ter tido essa

orientação.

Os dados apresentados encaminham-nos para a reflexão de Rosado (1998), que

analisa a solidão e o desamparo do docente no contexto de seu trabalho. Além disso, dele

exige-se competência no processo de condução de um ensino mais contextualizado, sem que

ele receba orientação alguma para assumir com segurança e autonomia esse papel.

Diante dos discursos analisados, foram identificadas lacunas no processo de

formação dos professores que atuam na rede de ensino da cidade de Andradina. Elas poderiam

ter sido preenchidas, se os participantes tivessem recebido uma formação adequada para o uso

das mídias na educação, como foi apontado por Zanchetta (2007), Belloni (2001) e L. Silva

(2005).

E, por fim, a última pergunta do questionário, pensada para completar as possíveis

lacunas e corrigir possíveis erros de elaboração. Ela propunha que o professor utilizasse o

espaço para descrever suas observações, críticas e sugestões sobre o uso do jornal em sala de

aula. As respostas obtidas foram agrupadas em quatro categorias (Tabela 35).

Tabela 35 – Observações apontadas pelos professores

Categorias Frequência

1- Difícil acesso ao jornal/ falta de recurso 13

2- Potencialidade de uso do jornal 8

3- Falta de familiarização 7

4- Capacitação (formação continuada) 6

*Total 34 *O total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

99

A primeira categoria, difícil acesso/falta de recurso, com maior número de

manifestações, apresenta argumentos que mostram a necessidade de as escolas oferecerem o

acesso aos jornais, porque os salários do profissional não lhe permitem arcar com o ônus de

providenciar os números de periódicos para usar em suas aulas. A segunda categoria

intitulada, potencialidade de uso do jornal, evidencia positivamente que o uso do jornal em

sala de aula enriquece a aprendizagem, possibilitando informações diversificadas, além de

servir de suporte para o professor na sua prática docente. A terceira categoria, falta de

familiarização, esclarece um fato já conhecido: professores e alunos não experimentam um

contato efetivo com jornais. Finalmente, a quarta categoria, capacitação (formação

continuada), destaca a importância e a necessidade de a Secretaria de Ensino de Andradina

oferecer cursos de formação continuada para a melhoria da qualidade do ensino.

As respostas reunidas na primeira categoria, difícil acesso ao jornal/falta de

recurso, demonstram que a maioria dos professores não tem acesso ao jornal, pois muitas

escolas não assinam tipo algum de jornal dificultando o acesso a essa mídia. A partir das

evidências coletadas, os professores reivindicaram que cada escola deveria ter assinatura de

jornais não só locais, mas também regionais e estaduais. É esse o discurso do Professor (5.1):

A escola deveria ter mais acesso ao jornal (da cidade e do estado) para que o professor

pudesse trabalhar com mais tranqüilidade e efetivamente usá-lo com mais frequência nas

salas de aula.

Diz L. Silva (2005): “antes de pensarmos na utilização da imprensa em sala de aula,

é necessário saber se este professor está preparado para esta utilização” (p.56). Se o professor

não tem garantido o acesso, seu uso torna-se impossível. Em decorrência dessa limitação, o

professor não pode ser responsabilizado pelo não uso dos jornais em sala de aula.

Apesar de reconhecer que o jornal é um meio de comunicação que pode auxiliar na

aprendizagem dos alunos, o Professor (1.6) relata: Infelizmente as camadas populares não

têm acesso e mais, infelizmente, ainda não podemos ter na escola a assinatura de um jornal

para podermos trabalhar em sala, pois acaba sendo um recurso caro. Quando trabalho em

sala, percebo a dificuldade que os alunos têm em manusear, entender e produzir textos

jornalísticos.

Dessa forma, por meio do acréscimo do uso dos jornais na escola, os alunos

perceberão que os conteúdos transmitidos na escola são instrumentos de compreensão e

transformação da realidade. E os professores com seu uso poderão fazer a relação entre o

conteúdo que se pretende transmitir e os que influenciam direta ou indiretamente a realidade

100

dos alunos. Portanto, podemos dizer que, se ao professor continuar sendo vedado o acesso ao

uso de jornais, a educação perderá um forte aliado no ensino e aprendizado dos alunos.

O professor (3.3) narra que: Apesar de a escola só assinar jornais locais e regionais,

muitas vezes quando o jornal chega à sala dos professores já está faltando página ou

recortado. Como não posso assinar um bom jornal, fico dependendo de pessoas que assinam

e me cedem o jornal que já leram para trabalhar com a classe toda.

Ao analisarmos o custo de uma assinatura de jornal com grande circulação, como O

Estado de São Paulo, que é o segundo jornal na preferência entre os professores, atinge, em

média, R$ 40,00 mensais. Relacionando o custo de uma assinatura, com o salário inicial do

professor de, em média, R$ 820,00 mensais, a renda desse profissional fica comprometida em

5%. Fica evidente, portanto, que não há condições financeiras para o professor adquirir esse

hábito, cabendo à Secretaria de Educação ofertar o material a todas as escolas.

As respostas reunidas na segunda categoria, potencialidade de uso dos jornais,

indicam que apesar de todas as dificuldades mencionadas como a falta de material e de

familiarização do uso do jornal em sala de aula, os professores veem o jornal como a

possibilidade de uma metodologia diferenciada, conforme indica a resposta do professor (7.5):

O jornal em sala de aula enriquece a aprendizagem, possibilita um mundo de informações e

notícias variadas e diversificadas que serve de suporte para o professor na sua prática

docente.

A potencialidade desse material para a aprendizagem parece ser identificada pelos

professores quando afirmam que: O uso do jornal dentro da sala de aula não é tão grande,

ele é restrito mais as 4ª séries. Isso deveria ser mudado, começar desde a Educação Infantil

(Professor 6.2).

É importante salientar a necessidade de que o jornal também faça parte dos textos

usados pelas crianças no cotidiano escolar, embora sua presença nas séries iniciais desde a

Educação Infantil ao ensino Fundamental seja pouco freqüente. Sampaio (2007) propõe:

As crianças precisam ter acesso, no cotidiano da escola, a textos variados que

circulam no mundo da escrita. E esses textos, incluindo e salientando o jornal, não

podem ser usados como pretexto para o ensino da ortografia, ou da gramática, ou

recortar letras e/ou sílabas, ou para o lançamento de palavras-chave com exercícios cujo objetivo seja identificação, repetição e memorização dos “conteúdos

programáticos” (p.81).

As respostas reunidas na terceira categoria, falta de familiarização, apresentam

argumentos que mostram que, se o professor não tem acesso ao jornal, conseqüentemente não

haverá contato, nem familiarização com seu uso, o que fica evidenciado na fala do professor

101

(7.6): Acredito ser muito interessante, mas não me sinto muito à vontade por não dominar o

conteúdo.

É inegável que o professor necessita dominar as informações antes de levar o jornal

impresso ou eletrônico para a sala de aula. Nesse sentido, aquele que não recebeu orientações

sobre o uso do jornal em sua formação inicial, deve recebê-las em sua formação continuada.

No agrupamento da quarta e última categoria, capacitação/formação continuada,

os professores relatam que faltam cursos de capacitação, como atesta o professor (5.9): É uma

idéia interessante, que infelizmente não praticamos seu uso habitual pela falta de orientação

e cursos de capacitações, além da inexperiência do manuseio em sala de aula.

De acordo com a análise dos dados, as respostas às questões propostas ao grupo de

professores demonstram que, entre aqueles profissionais, poucos receberam preparação, seja

na sua formação inicial, seja na continuada, sobre o uso do jornal em sala de aula.

Em consideração aos objetivos da pesquisa, esse é um dado interessante, porque

evidencia a reflexão feita por vários autores como: Belloni (2002), Rezende e Fusari (1995) e

Zanchetta (2007), de que é urgente e necessário investir na preparação dos professores para o

uso das informações jornalísticas em sala de aula.

Segundo esses autores, somente nos cursos de formação inicial e nos cursos de

formação continuada será possível uma preparação para um uso adequado dos meios de

comunicação. Semelhante formação permitirá o uso crítico do jornal em sala de aula,

eliminando sua precária utilização somente para cumprir uma exigência cobrada por diretores

e coordenadores, conforme reivindica o professor (4.7): É um recurso muito válido, porém

para que o trabalho seja eficaz e funcional é necessário orientação e recursos.

Consideramos fundamental que a Secretaria de Educação da cidade de Andradina

(SP) ofereça cursos de capacitação, além da disponibilização de jornais, aos professores.

Talvez assim, eles possam aumentar a frequência dessa leitura e de seu uso em sala de aula.

Ela ainda é baixa, conforme evidenciam os dados demonstrados nas tabelas anteriores.

Entre as respostas docentes, identificamos certa negatividade , quando o Professor

(5.3), relata: A elaboração e o estudo das partes que integram um jornal é um complemento

na escrita nos alunos já alfabetizados.

Essa fala apresenta-nos a compreensão de um ponto relevante, já mencionado: o

jornal, quando trabalhado desde a Educação Infantil, pode contribuir para a formação do leitor

crítico, em razão do desenvolvimento das autonomias individuais e das participações

comunitárias.

102

De maneira a facilitar a compreensão dos dados, usaremos como recurso uma

pequena síntese dos dados obtidos como resposta ao objetivo específico sobre explorar e

analisar as concepções da formação do professor para o uso dos jornais em sala de aula.

Percebemos que os professores pesquisados apresentam categorias semelhantes em

diferentes questões indicando que suas concepções sobre a formação para o uso de jornais

necessitam ser ampliadas em cursos de formação continuada dirigida àqueles que não tiveram

tal orientação nos cursos de formação inicial, já que os dados revelam que uma minoria

recebeu uma formação específica para o uso das informações jornalísticas. Cabe à Secretaria

de Educação ofertar essa formação e todos os recursos necessários aos professores da rede.

Após a discussão e apresentação das análises através das respostas obtidas pelo

questionário que representou a primeira fase da pesquisa, passaremos agora, a apresentar os

dados coletados através da entrevista, que corresponde à segunda fase.

4.4- Jornais impressos e digitais: fonte de informação

Esta segunda parte da apresentação e discussão dos dados coletados através da

entrevista, com sete professores que se prontificaram a participar dela, responde ao

aprofundamento do objetivo específico de analisar as concepções dos professores sobre o uso

de jornais em sala de aula como meio de ensino e aprendizado. A entrevista (conforme o

Quadro II p. 61, a pergunta 2 a 11) procurou explorar e verificar as concepções dos

professores sobre o uso de jornais impressos e digitais (da Internet) como meio de ensino e

aprendizagem.

Quando perguntados na questão número dois, sobre o hábito de leitura de jornais,

cinco dos professores responderam que costumam lê-los e dois dizem que o fazem, mas, às

vezes.

A Tabela 36 apresenta a preferência de leitura de jornais impressos entre os

professores pesquisados:

103

Tabela 36: Jornais mais lidos entre os professores

Categorias Frequência

1-Jornal da Região (jornal regional) 5

2-Estado de São Paulo (jornal nacional) 4

3-Jornal Impacto (jornal regional) 3

4-O Liberal (jornal regional) 2

5-Folha de S. Paulo (jornal nacional) 1

6- Sem jornal definido 1

*Total 16 *Total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

O jornal que aparece com maior destaque é o “Jornal da Região” que é o mais

tradicional da região de Andradina (SP), apresentando um panorama geral das notícias da

cidade e região. Em segundo lugar, na preferência da leitura entre os professores aparece o

“Estado de São Paulo”, de maior circulação e abrangência estadual, apresentando um

panorama geral das principais notícias do estado e do país. Em terceiro, temos outro jornal de

circulação regional o “Jornal Impacto”. Em quarto, “O Liberal” que também traz notícias de

Andradina e região. Em quinto, surge a “Folha de S. Paulo”, outro jornal de grande circulação

estadual e, em sexto, um professor diz realizar leituras de jornais, mas que não tem

preferência por um definido. Notamos aqui, a preferência de leitura de periódicos locais que

possuem uma abrangência menor de informações, se comparados a um jornal de grande

circulação como o “Estado de São Paulo” com informações do estado e do país.

Esses números reforçam ainda mais os dados da Tabela 18 que revela os tipos de

leituras com preferência por assuntos menos complexos como entretenimento. Para nossa

pesquisa, reside aí um referencial extremamente pertinente, porque indica que assuntos mais

complexos como política e economia, importantes para a formação do senso crítico, são

pouco lidos pelos professores.

A Tabela 37 corresponde ao complemento às respostas da pergunta dois da entrevista

e indica a baixa frequência de leituras dos jornais impressos:

104

Tabela 37 – A frequência de leitura de jornais

Professores Frequência

2 2 vezes na semana

1 Mensalmente

1 Sem frequência definida

1 Semanalmente

1 Diariamente

1 1 vez na semana

*Total 7 *Total refere-se ao número de participantes.

Semelhante constatação confirma os dados da Tabela 20, que revelam que as práticas

educativas com as informações jornalísticas pouco existem entre os professores pesquisados.

A frequência insuficiente não permite um trabalho voltado para a formação da leitura crítica

sobre os acontecimentos ocorridos na sociedade e no mundo.

Esse dado esclarece que, provavelmente, poucos professores utilizam das

informações jornalísticas para se manterem atualizados e transmitir seu conteúdo aos alunos

por meio de práticas utilizando os jornais, possivelmente por ausência de uma formação

específica para sua utilização em sala de aula, ratificando a análise dos autores como Rosado

(1998) e Zanchetta (2007).

A Tabela 38 apresenta as respostas à pergunta três da entrevista que revelam as

concepções dos professores entrevistados sobre os jornais impressos:

Tabela 38: As concepções dos professores sobre o jornal impresso

Categorias Frequência

1-Meio de comunicação 6

2-Fácil acesso e manuseio 3

3-Recurso didático 2

*Total 11 * Total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

As respostas reunidas na primeira categoria denominada, meio de comunicação

esclarecem as manifestações dos professores de que o jornal é um meio de comunicação que

pode ser utilizado em sala de aula por apresentar um material rico em informação e

atualidade, como exemplifica a seguinte informação: Ótimo meio de comunicação e

atualidades (Professor 1).

105

A necessidade de maior proximidade entre a escola e os meios de comunicação,

abordada na Lei de Diretrizes Curriculares e os Parâmetros Curriculares vigente pelo país,

deve ser considerada.

Conforme Citelli (2000), “o discurso pedagógico deve considerar os meios de

comunicação e as novas tecnologias no sentido de estabelecer um diálogo crítico com eles,

reconhecendo as possibilidades operacionais que abrem para a escola (p.30)”. Não se trata

apenas de cumprir as solicitações dos documentos legais que orientam a escola a aproximar as

linguagens que circulam nas mídias, além disso, se faz necessário refletir como o uso

pedagógico pode entrar em sintonia com tais linguagens sem perder suas características,

oferecendo assim, um ensino de melhor qualidade.

O jornal impresso, por ser um meio de comunicação, pode contribuir para o

aprendizado do aluno, por propiciar informações de fatos atuais ou marcantes em nossa

sociedade. L. Silva (2005) reafirma que ele pode potencializar a abertura de novos caminhos

para a aprendizagem dos alunos, a conexão da escola com o mundo e o acesso à sociedade do

conhecimento.

Vários autores que pesquisam Mídia e Educação, entre eles, Porto (2003), Belloni

(2002) e Citelli (2000), reforçam a relevância de a escola criar espaços para as informações

jornalísticas formando alunos críticos da mídia, contribuindo assim, para sua atualização e

construção do conhecimento por meio dos fatos do cotidiano.

As respostas reunidas na segunda categoria, fácil acesso e manuseio, indicam as

argumentações dos professores de que os jornais impressos são mais fáceis de ser encontrados

e manuseados dentro dos ambientes escolares ou sociais, como exemplifica o professor: Você

encontra os jornais na maior parte dos lugares. Esses dias eu fui e recebi um jornalzinho da

igreja que tinha algumas matérias interessantes (Professor 3).

O jornal constitui um instrumento de fácil acesso, atraente, de grande atualidade e

com cobertura rica de assuntos, conforme considerado por Pavani (2002). Os sujeitos desta

pesquisa argumentaram que os jornais são fáceis de ser encontrados e manuseados nos lugares

como: salas de espera de consultórios médicos e odontológicos e cabeleireiros, porém, seu

habitat natural são as escolas. Lá, eles praticamente inexistem, o que dificulta o seu acesso e

sua utilização em sala de aula. Outra dificuldade enfrentada pelos professores e alunos é o

acesso à Internet e conseqüente ao jornal digital.

Aqui, mais uma vez, ressaltamos a necessidade de a Secretaria Municipal de

Educação de Andradina (SP) viabilizar jornais e acesso à Internet aos professores,

democratizando, assim, o ato de ler, pois o problema para a educação na atualidade não é

106

onde encontrar informação, mas “oferecer acesso a ela sem exclusões e, ao mesmo tempo,

aprender e ensinar a selecioná-la, avaliá-la, interpretá-la, classificá-la e usá-la” (FILMUS,

2004, p.25).

Por fim, a terceira categoria, recurso didático, congrega as manifestações dos

professores de que o jornal impresso pode ser utilizado em sala de aula, em conjunto com

outros materiais como: livros, apostilas, dicionários e revistas para a construção do

conhecimento, entendimento expresso na seguinte fala: Um recurso didático que dá uma

visão, de um conhecimento maior do mundo (Professor 7).

Para os professores pesquisados, o jornal significa um dos muitos recursos didáticos

disponíveis, não demonstrando dar a ele “status” diferenciado, seja favorável ou não.

Pavani (2002) ratifica essa função por “trazer a realidade aos nossos jovens e

proporcionar uma releitura dos conteúdos propostos” (p.93).

O professor tem, nas práticas com utilização jornalística, um meio para vitalizar os

conteúdos atuais e mais relevantes em nossa sociedade e na vida prática dos educandos. Seu

uso e acesso atingem todos os espaços sociais e a instituição escolar não pode ignorá-los.

Faria (1999) também avalia que, para os professores, “o jornal é um excelente

recurso pedagógico (para todas as áreas) sempre atualizado, desafiando-os a encontrar o

melhor caminho didático para usar esse material na sala de aula (p.12).

Ao avançarmos sobre a questão quatro da entrevista, cujo enfoque são as concepções

dos professores sobre a Internet, identificamos nas respostas duas categorias (Tabela 39).

Tabela 39: Concepções dos professores sobre a Internet

*Total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

A primeira, mídia que possibilita a instantaneidade de acesso à informação dos

fatos que marcam a sociedade, reúne as falas de que o uso da Internet permite acesso mais

rápido às informações em relação ao impresso. Além disso, ela propicia um acompanhamento

dos fatos em tempo real. Tal concepção está marcante na seguinte fala: A Internet é uma

inovação e tanto, posso ter a noticia do que eu quiser na minha mão é só dar um clique e eu

já fico sabendo da noticia no momento que quero, dentro da minha casa (Professor 3).

Categorias Frequência

1-Mídia que possibilita à instantaneidade de acesso a informação

dos fatos que marcam a sociedade 6

2-Mídia que pode auxiliar no trabalho docente 1

*Total 7

107

A segunda categoria, mídia que pode auxiliar no trabalho docente, reúne as

opiniões de que o uso das informações da Internet pode contribuir no trabalho do professor

por fornecer acesso para diversas pesquisas, contribuindo na construção de conhecimentos,

como exemplifica o Professor (1): Adoro uma das maiores invenções, uma ferramenta útil

que auxilia no meu trabalho, que oportuniza pesquisas.

Sabe-se que, ao longo da história, a informação sempre foi escassa e de difícil

acesso, desde a invenção da escrita. Os conhecimentos estiveram depositados em textos que

só eram acessíveis para um grupo seleto de autoridades. Hoje,ao contrário, o quadro da

informação disponível e acessível é cada vez mais crescente, graças à Internet.

No setor educativo, há um grande desafio, como pontua Martínez (2004), de que o

uso das informações propagadas pela mídia “não gere mais diferenças entre aqueles que têm e

aqueles que não têm acesso a elas, tanto na comunidade como na escola” (p.95). Assim, seria

de suma importância se a Secretaria de Educação do município de Andradina (SP)

disponibilizasse acesso à rede, não só aos educadores, mas também aos educandos, já que

todas as escolas municipais possuem salas e aulas de informática, sem que se possa acessar a

Internet, conforme identificado na presente pesquisa.

Rosini (2007) avalia que a informação deve ser estendida a todos, não somente a

alguns. Hoje, segundo o autor, o professor não trabalha apenas com manuais e teorias

impressos, mas também com modelos computacionais, aperfeiçoados ao longo do processo.

Esses modelos vêm desestabilizando as antigas formas de representação do conhecimento,

fazendo com que novas estratégias e novos recursos sejam modificados na construção do

conhecimento. Não se deve esquecer, portanto, que o professor necessita ter o acesso à

informação e aos recursos computacionais para desenvolver um trabalho significativo com

relação aos meios de comunicação.

Um professor relatou que não faz uso da Internet, embora possua a máquina em casa.

Não faço uso da Internet, somente minhas filhas, eu não sei mexer (Professor 2).

Consequentemente, ele não utiliza o recurso prático e rápido de informações em

pesquisas para o preparo de suas aulas. Por isso, consideramos que, além de cursos de

capacitações sobre o uso do jornal em sala de aula, a Secretaria de Educação também ofereça

cursos sobre a utilização de computadores e da Internet aos professores da rede pública

municipal de ensino.

A rede de computadores abre amplas possibilidades de pesquisa tanto para os

professores quanto para os alunos. A facilidade de acesso aos serviços de busca com múltiplas

respostas para qualquer tema traz inúmeras vantagens, embora requeira habilidades devido à

108

rapidez com que são modificadas as informações nas páginas e à diversidade de pessoas e

pontos de vista envolvidos.

Diante de toda positividade da Internet, as escolas municipais não têm liberdade para

seu uso. Por isso, frisamos, mais uma vez, a necessidade de a Secretaria de Educação do

município de Andradina (SP) favorecer a democratização da rede a todos alunos e

professores, desfazendo a restrição da prática das secretarias das escolas para o

funcionamento administrativo.

Quando perguntado na questão cinco da entrevista, sobre os hábitos de acesso a

Internet, apenas um professor disse não fazer uso dela. Os outros seis, relataram que

costumam acessar Internet em casa, já que as escolas não oferecem essa possibilidade (Tabela

40).

Tabela 40: Frequência de acesso a Internet

Acesso Frequência

1-Finais de semana 2

2-Duas vezes na semana sem frequência definida 2

3-Diariamente 1

4-Quatro vezes na semana 1

*Total 6 *Total refere-se ao número de participantes.

As respostam comprovam que há uma frequência baixa com relação ao acesso da

Internet. Os professores, mesmo com uso restrito, apenas às residências, demonstraram grande

interesse para atividades como: entretenimento, pesquisa ou leituras.

Se a informação não entra por meio de jornais e nem por meio da Internet nas escolas

municipais, fica difícil o professor realizar um trabalho voltado para a criticidade das mídias,

conforme apontado por autores como Citelli (2000), Brunner (2004) e Guareschi & Biz

(2005).

Ao responder na questão seis da entrevista, se costuma ler jornais pela Internet,

quatro deles responderam afirmativamente. Três responderam negativamente. Apesar de a

maioria dizer que realiza leituras de jornais digitais, sua frequência de uso em sala de aula

inexiste, por falta de recursos e de uma formação adequada sobre sua utilização como

apontam os estudos de Zanchetta (2007 e 2008). A baixa frequência de leitura de jornais da

Internet entre os professores pode ser detectada na fala do professor: Especificamente o jornal

109

não. Eu gosto muito de entrar no site de busca de pesquisa porque já vou à fonte que eu

quero ler (Professor 3).

Diante desse conteúdo, podemos dizer que os professores acessam a Internet para

entretenimento e pesquisas das mais diversas modalidades. Poucos a usam para a leitura,

como prática social, para se manterem atualizados e conectados com as informações dos fatos

ocorridos no mundo.

L. Silva (2005) assevera que o professor “precisaria trabalhar melhor o uso das

informações para que os alunos pudessem identificar com propriedade os aspectos negativos e

positivos da atuação da imprensa, para conseguir tirar proveito do uso pedagógico desses

meios de comunicação” (p.127). Mas, para que esse uso seja mais efetivo na educação, faz-se

necessário que os professores sejam leitores assíduos dos jornais impressos ou digitais.

A Tabela 41 apresenta as respostas à pergunta sete que revela as preferências de

leituras de jornais digitais:

Tabela 41: Jornais mais lidos através da Internet

Categorias Frequência

1-Estadão 3

2-Folha de S. Paulo 2

3-O Globo 1

4-Sites provedores de conteúdos 1

*Total 7 *Total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

As preferências dos jornais mais acessados pelos professores foram: em primeiro,

Estadão e, em segundo, Folha de S. Paulo. Representam dois periódicos respeitados no país e,

principalmente, no Estado de São Paulo, pois apresentam um panorama geral das principais

notícias do estado e do país. Em terceiro, Globo seguido de sites de provedores de conteúdos.

Esses são acessados, quando o professor quer buscar alguma informação sobre

determinados assuntos, mas dificilmente são de fatos de jornais, para serem utilizados em sala

de aula como descreve o Professor: Depende da situação se eu quero determinado assunto eu

vou e digito no site de busca de pesquisa e digito aquilo que eu quero ler abre-se assim uma

imensa lista e eu vou tirando aquilo que eu quero (Professor 3).

Ao responder à questão oito da entrevista que solicitava esclarecer o motivo que leva

o professor a realizar leitura dos jornais pela Internet, dois professores relataram que não leem

jornais pela Internet. Se não o fazem, provavelmente também não o utilizam em sala de aula.

110

Um deles justificou sua negativa, por não acessar Internet, o outro foi por não ter interesse por

leituras de jornais digitais.

As respostas afirmativas cinco professores foram reunidas em duas categorias,

(Tabela 42).

Tabela 42: Por que os professores lêem jornais pela Internet:

Categorias Frequência

1-Fácil acesso à informação 5

2-Recurso econômico 3

*Total 8 * O total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

A primeira categoria, fácil acesso à informação, reúne as concepções dos

professores de que as informações dos jornais da Internet são mais fáceis de serem acessados.

Tem o acesso fácil. A Internet eu tenho aqui à vontade na minha casa enquanto que o jornal

impresso eu tenho que comprar (P.3).

Com o surgimento da Internet, o sistema de comunicação viu surgir uma nova mídia

que inseriu uma nova relação entre emissor-receptor, possibilitando uma maior interatividade.

Os jornais impressos no momento em que surgiram, propagaram as informações no

universo midiático. Já com o acesso a Internet, por sua natureza tecnológica, além de

possibilitar novas possibilidades com a linguagem jornalística quanto ao relacionamento entre

emissor e receptor, gerou grande interatividade, possibilitando uma maior participação do

público no processo comunicacional, abrindo-lhe um leque de possibilidades e escolhas maior

do que qualquer outra mídia até então surgida.

O fácil acesso e a economia democratizaram os conhecimentos dos conteúdos dos

jornais. Mas, atualmente, surge a necessidade de se implementarem discussões profundas

sobre a democratização de seu acesso a todas as pessoas, com ações que garantam aos

cidadãos o conhecimento e o provimento dos direitos de disponibilizar as informações.

Ainda, não são todos os professores da rede municipal que possuem computadores,

ou que fazem uso da Internet. Por isso, evidenciamos a urgência de a Secretaria de Educação

democratizar o acesso à Internet nas escolas municipais, bem como de promover cursos de

formação continuada para que os professores recebam uma formação em serviço de como

poder utilizar o recurso a favor da educação.

Dias & Filho (2003) ponderam que o uso das mídias, como a Internet, não pode ser

entendido apenas como técnica para ensinar como usar as informações por computadores,

111

quer dizer, apenas “uso tecnicista”. Ele requer professores adequadamente preparados e

qualificados para discutir e refletir sobre sua implicação em sala de aula . Reside aí uma

lacuna a ser suprida para um desempenho significativo das mídias nas escolas.

Na segunda categoria mencionada, recurso econômico, as respostas dos professores

indicam que os jornais da Internet são mais baratos e práticos de serem adquiridos. Para mim

é um recurso econômico já que não assino o impresso e a qualquer momento posso acessar

em casa (Professor 6).

Mas, mesmo diante de um pseudo fácil acesso à informação ou do fato de os jornais

da Internet serem mais baratos e cômodos aos professores, ou ainda, da possibilidade de

acessar várias fontes, o professor desconhece seu uso na educação, não oferecendo práticas

significativas com jornais digitais ou impressos. Uma das possíveis soluções para sanar o

problema, como analisado por Zanchetta (2007 e 2008), são os cursos de formação inicial e

continuada orientar a respeito de sua utilização na educação.

A Tabela 43 apresenta as respostas à pergunta nove da entrevista, que revela se o

professor acha que tem diferença entre os jornais impressos e o da Internet:

Tabela 43: Concepções dos professores sobre as diferenças entre os jornais da Internet

Categorias Frequência

1-Jornais da Internet são mais difíceis de serem utilizados em sala de aula 3

2-Jornais da Internet trazem maiores comodidades e facilidades no acesso

de informações 2

3-Jornais impressos são mais fáceis de serem utilizados em sala de aula 1

*Total 6 *Total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

A primeira categoria, jornais da Internet são mais difíceis de serem utilizados em

sala de aula, reúne argumentos dos professores de que as práticas com jornais da Internet

inexistem nas escolas, pois as escolas não têm acesso à Internet. A segunda, jornais da

Internet trazem maiores comodidades e facilidades no acesso das informações, envolve

opiniões dos professores de que as informações dos jornais da Internet são mais fáceis de

serem acessados com maior comodidade. A terceira, jornais impressos são mais fáceis de

serem utilizados em sala de aula, reúne o posicionamento de que as informações dos jornais

impressos são mais freqüentes pelos professores do que os digitais.

De acordo com os dados, a primeira categoria Jornais da Internet são mais difíceis

de serem utilizados em sala de aula, aponta as concepções dos professores que acreditam

que o contato com os jornais da Internet é mais restrito tanto para os professores como para o

112

aluno devido sua ausência nas escolas públicas municipais. Como relata o Professor: As

escolas têm computadores, mas não tem Internet, não dá para fazer um trabalho legal

(Professor 2).

Só evidenciando o que já foi apontado, da necessidade de implementar a Internet na

educação no município de Andradina (SP), para que os professores e alunos possam utilizar

de todos os recursos que essa mídia pode oferecer, como a democratização do acesso à

informação e ao conhecimento, assim como todos os recursos necessários, uma vez que todos

os custos saem do salário do professor, pois as escolas não oferecem nem cartuchos para

impressão de trabalhos. Dessa maneira, se o professor não tem uma formação adequada para o

uso das mídias, se faltam recursos como: jornais, o acesso a Internet, papel e tinta para

impressão, realmente como ele pode desenvolver um trabalho com jornal em sala de aula?

Cabe à Secretaria Municipal de Educação de Andradina ofertar todos os recursos necessários

para um uso significativo para o ensino crítico das informações jornalísticas em sala de aula.

A segunda categoria denominada, jornais da Internet trazem maiores

comodidades e facilidades no acesso das informações, agrega as opiniões dos professores

de que os jornais da Internet são mais fáceis de serem acessados com maior comodidade a

várias fontes de informação. A maior diferença que vejo entre o jornal impresso e o da

Internet é a comodidade e a facilidade ao acesso (Professor 3).

Conforme analisado por Rosini (2007), o novo cenário informacional vem

provocando grandes transformações na maneira como pensamos, conhecemos e apreendemos

o mundo. A nova cidadania da cultura informatizada requer novos hábitos. A informação mais

rápida propicia maior facilidade ao seu acesso: “Temos um mundo cada vez mais interativo e

interdependente, condicionado especialmente pelos avanços científicos impulsionados pela

indústria e pelo desenvolvimento das telecomunicações” (p.64).

Percebemos que a Internet necessita estar presente em nossas salas de aula. Afinal,

como foi analisado por Demo (2001), a educação não pode escapar dessa fascinação

tecnológica, porque é nos espaços educacionais que o conhecimento se desenvolve e as

tecnologias podem contribuir no ensino e aprendizado dos alunos de forma significativa e

prazerosa.

A incorporação da Internet nas salas de aula, conforme apontado por Tedesco (2004)

poderia considerar de forma prioritária, a formação dos professores que muitas vezes são

autodidatas, pois não possuírem nenhuma formação sobre sua utilização em sala de aula e

buscam sozinhos uma prática significativa. O que foi evidenciado também nos estudos de

113

Rosado (1998), os quais denunciam o professor às vezes se sente sozinho, sem uma devida

orientação para tais recursos em sala de aula.

A terceira categoria, jornais impressos são mais fáceis de serem utilizados em

sala, reúne os argumentos dos professores como exemplifica o Professor (5): O jornal

impresso é mais facilitador para trabalhar com o aluno. As escolas têm computadores, mas

não tem acesso à Internet.

Outro fator interessante nas respostas dos professores foi que os jornais impressos

podem ser manuseados, recortados, colados, amassados e levados para qualquer lugar. E o

jornal da Internet fica na tela o que dificulta seu contato, ainda mais se considerarmos que

não há recursos para a impressão.

As escolas municipais de Andradina (SP) nunca utilizaram prática alguma com

jornais digitais, tendo em vista que a falta de acesso à Internet a impossibilita.

A Tabela 44 esclarece as concepções negativas sobre os jornais da Internet nas

escolas em duas categorias:

Tabela 44: Concepções negativas sobre os jornais da Internet

*Total refere-se ao número de argumentos.

Primeira categoria mencionada, as escolas não disponibilizam Internet e recursos

para o trabalho com jornais aos alunos e professores, aponta a limitação dos professores

para trabalhar com a Internet. A segunda denominada, desconhecimento sobre os jornais da

Internet, demonstra o argumento de um professor que desconhece os jornais digitais.

De acordo com a primeira categoria, as escolas não disponibilizam Internet e

recursos para o trabalho com jornais aos alunos e professores, fica evidente o

impedimento de seu uso nas escolas aos professores, o que dificulta o aprendizado dos alunos.

As escolas em si não têm esses recursos, mas se tivessem contribuiriam muito sim na

formação do aluno (Professor 7).

Essa primeira categoria indica uma triste realidade vivida nas escolas municipais de

Andradina (SP): em plena sociedade da informação ou do conhecimento, segundo Martinez

Categorias Frequência

1-As escolas não disponibilizam Internet e recursos para o

trabalho com jornais aos alunos e professores 3

2-Desconhecimento sobre os jornais da Internet 1

*Total 4

114

(2004), os alunos e professores são privados do acesso à mídia digital para construção de

conhecimentos.

Caso o professor pesquise e busque informação algo interessante da Internet para ser

utilizado em sala de aula, ele mesmo terá que imprimi-lo de sua própria casa. Podemos

perceber que o uso da Internet para os professores é restrito, sendo possível apenas nas

secretarias das escolas para cumprir a parte burocrática da escola. Faz-se necessário a

incorporação do acesso à informação, assim como a disponibilização dos custos e recursos

aos professores da rede de ensino.

Devemos assegurar que não se percam de vista as finalidades maiores da educação,

formar cidadãos competentes para a vida em sociedade o que implica o uso de todos os

recursos técnicos disponíveis na sociedade, como foi apontado nos estudos de Belloni (2001).

A segunda categoria negativa, desconhecimento sobre os jornais da Internet,

aponta que o professor pesquisado não confere credibilidade aos jornais digitais. Os jornais

impressos têm um editor chefe, um redator tem mais detalhes e o da Internet são mais

sintetizadas, as informações são mais soltas (Professor 4).

Nessa afirmação, identificamos um desconhecimento do jornal digital, seja no campo

específico, como no funcionamento das mídias sob caráter amplo, uma vez que qualquer

jornal precisa ter os mesmos componentes, não importando sua natureza, impresso ou digital.

Sabemos que os jornais digitais de grande circulação como, por exemplo, Estado de

São Paulo e Folha de S. Paulo representam publicações tradicionais e respeitadas nos meios

jornalísticos, desfrutando a mesma credibilidade dos jornais impressos. Claro que como há

um leque maior de possibilidades, o professor pode encontrar jornais ruins, mas cabe a ele ser

um leitor crítico e fazer uma busca coerente do que é tido como verdade.

4.5 Jornais impressos e digitais: possibilidade de um ensino crítico

Esta parte da apresentação e discussão dos dados coletados responde ao objetivo

específico de identificar as concepções de práticas de uso do jornal em sala de aula. Conforme

o Quadro II (p.61) as perguntas 10 a 15 fizeram o levantamento dos seguintes aspectos:

verificação de como o professor compreende que sua prática pode contribuir na formação de

um leitor crítico e como o professor refere-se ao uso de jornais em sala de aula.

115

Quando perguntados sobre a frequência da utilização de jornais impressos em sala de

aula, quatro professores afirmaram o fazer sempre. Três deles informaram usá-los, mas às

vezes, sem uma frequência definida, como podemos constatar na Tabela 45:

Tabela 45: Frequência de uso de jornais impressos

*Total refere-se ao número de participantes.

Diante da baixa frequência de uso de jornais impressos em sala de aula, podemos

considerar que o professor ainda não enxerga o uso dos jornais como um importante recurso

para a formação de leitores críticos das mídias. Assim, conforme Zanchetta (2007), não há um

uso significativo de jornais nas práticas docentes e parece não haver uma legitimidade do seu

uso nas escolas e nem uma formação adequada para sua utilização em salas de aula.

A Tabela 46 apresenta as respostas à pergunta 12, as quais revelam as práticas

utilizadas com jornais em sala de aula:

Tabela 46: Práticas docentes utilizadas pelo professor:

Categorias Frequência

1-Prática de leitura e escrita 11

2-Diversificar os tipos de texto, além dos didáticos 4

3-Discussões e debates 3

*Total 18 *Total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

A primeira categoria, prática de leitura e escrita, corresponde à categorização das

respostas cujos emissores utilizam os jornais em práticas que envolvem o ensino e

aprendizado da leitura e escrita. A segunda categoria, diversificar os tipos de texto, além dos

didáticos, corresponde à categorização de que os professores utilizam os jornais em práticas

para ampliar os gêneros textuais, além dos textos apresentados nos livros didáticos. A terceira

categoria, discussões e debates, reúne as informações de professores cujas práticas podem

gerar discussões ou debates.

Uso do jornal Frequência

Bimestralmente 2

Sem frequencia definida 1

Semestralmente 3

2 vezes na semana 1

*Total 7

116

Cotejando os dados, a primeira categoria, práticas de leitura e escrita, reforça os

descritos nas Tabelas 22, 23, 25, 26, 27 e 28, que indicam as crenças docentes nas práticas

educativas, que envolvem jornais, como estimuladoras da leitura e da escrita dos alunos,

como foram analisadas por autores como Faria (1999 e 2004), Pavani (2002 e 2007) e Baltar

(2003).

É comum em referenciais sobre educação recomendar que os professores utilizem as

informações jornalísticas em sala de aula, contudo, sem lhes apontar instrumentos

pedagógicos eficazes para seu uso. Se pensarmos em atividades com jornais, emerge a urgente

necessidade de os professores se familiarizarem com essa mídia, desde a leitura à produção de

textos jornalísticos, uma vez que os meios de comunicação necessitam se fazer presente nas

práticas educativas que envolvam a leitura e escrita, para poder garantir a maior proximidade

entre a escola e as mídias, como preconizam a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, as Diretrizes Curriculares e os Parâmetros Curriculares Nacionais.

O jornal em sala de aula amplia as possibilidades de trabalho aos professores. Além

de estabelecer o paralelo entre o mundo, representado nas informações jornalísticas, também

permite aos alunos atividades relacionadas a diferentes interpretações, a produções escritas e

à análise crítica dos acontecimentos. O jornal em sala de aula pode contribuir para sugestões

de atividades que envolvam a crítica da leitura e escrita.

Segundo Hardagh (2007), a sociedade do conhecimento e o uso das diferentes mídias

para se comunicar, informar e formar, exigem cada vez mais a utilização da leitura crítica e da

expressão e comunicação escritas. O grande desafio do professor é direcionar sua prática

pedagógica às novas linguagens proporcionadas pela difusão das mídias, como recurso de

emancipação política e social e de inserção dos alunos no mundo globalizado, não como

destinatários submissos, e sim como sujeitos críticos.

Freire (1997) referenda que é preciso formar alunos que reajam à manipulação do

pensamento ideológico das mídias e à sua tentativa de alienação. Assim, cabe aos professores

incluírem as informações jornalísticas em práticas de leitura e escrita voltadas para formação

de alunos críticos desse meio de comunicação.

A segunda categoria, diversificar os tipos de texto além dos didáticos, reúne os

argumentos de que os professores utilizam os jornais em suas práticas para diversificar os

gêneros textuais, além dos apresentados nos livros didáticos. Esse recurso pode integrar o

aluno com práticas sociais de leitura e escrita como foi proposto por Kleiman (2002). Jamais

um texto jornalístico apresentado em um livro didático, irá substituir uma prática de leitura de

117

jornal, “utilizando-se dos meios de comunicação, esse aluno pode manifestar habilidade por

meio da relação de diversos tipos de texto como jornalístico, o literário e o cinematográfico,

que complementarão a execução do planejamento do ensino proposto” (KLEIMAN, 2002,

p.95).

Dessa forma, os jornais representam mais um dos diversos tipos de texto que

circulam na sociedade. E à escola faz-se necessário ensinar e informar sobre esse gênero

textual a fim de que os alunos se familiarizem com mais esse tipo de leitura e escrita nas salas

de aula e em suas vidas cotidianas, conforme apontado por Pastorello (2005).

Na terceira categoria, discussões e debates, reúnem-se os argumentos de que os

professores utilizam em suas práticas os jornais para promover uma metodologia diferenciada,

provocando debates e discussões em sala de aula. Esse dado reforça ainda os números da

Tabela 24, segundo os quais as discussões e debates estimulam a participação dos alunos.

Essa constatação tem relevância para a nossa pesquisa, pois o professor ao ofertar diversos

tipos de texto e abrir possibilidades de discussões ou debates, pode tornar o aluno mais

crítico, autônomo, participativo e informado nas aulas.

Conforme analisa Hardagh (2007), cabe o professor provocar discussões que

inspirem o aluno a interagir e a fazer uma leitura crítica das obras midiáticas, a partir de

polêmicas que despertam o interesse do aluno. Possibilitando, em decorrência, aos

interessados interagir como o próprio processo de produção de conhecimento, rompendo com

velhos modelos pedagógicos que só conhecem a comunicação unilateral, que privilegia o livro

didático e o professor no centro da aula, desconsiderando as peculiaridades de cada aluno.

As informações jornalísticas servem como eixo para relacionar os conteúdos

sistematizados em sala de aula. Semelhante prática incentiva os alunos a se informarem, a se

prepararem para a aula, visto que eles gostam de manifestar suas idéias, principalmente se são

assuntos de seu interesse. Por isso, reafirmamos que a escola deve oferecer um espaço de

leituras de jornais impressos ou digitais a todos os estudantes. Se a família não possui

condições de possibilitar o acesso ao contato direto com a informação, cabe a escola fazer

isso. Ao trazer os acontecimentos atuais para debates ou discussões o professor pode fazer

com que o aluno abandone a posição de ouvinte para participar de uma maneira mais ativa do

processo de ensino, como foi analisado por L. Silva (005).

Em seguida, ao perguntarmos na questão 13 da entrevista o que o professor entende

sobre aluno crítico, identificamos três categorias. A primeira, autônomo, contempla as

manifestações de que aluno crítico é aquele que tem opinião própria. A segunda,

118

participativo, contempla os argumentos de que aluno crítico é aquele que participa e interage

nas aulas. A terceira, questionador, contempla as observações de que aluno crítico é aquele

que discute e formula questões. A quarta, informado, contempla as manifestações de que

aluno crítico é aquele que está sempre interado dos fatos e acontecimentos ocorridos no

mundo (Tabela 47).

Tabela 47: O que é um aluno crítico

Categorias Frequência

1-Autônomo: aquele aluno que têm opinião própria 5

2-Participativo: aquele aluno que participa e interage nas aulas 4

3-Questionador: aquele aluno que discute e formula questões 3

4-Informado: aquele aluno que está sempre interado dos fatos e

acontecimentos 2

*Total 14

* Total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

Assim o Professor (4) caracteriza o aluno autônomo: O aluno crítico para mim é

aquele que nem sempre concorda, tem opinião própria.

O ensino crítico preocupa-se com os aspectos formativos que impedem que as novas

gerações sofram opressão e manipulação das mídias. Essa preocupação esteve presente nos

estudos de Freire (1987 e 1997). Segundo o autor, somente o professor possui propostas de

práticas necessárias à construção da automina dos educandos, valorizando e respeitando seus

conhecimentos. O cidadão, que tem informação, é capaz de se posicionar e argumentar, ser

crítico e construir seu conhecimento para atuar na sociedade emergente.

Ijuim (2005) é outro autor que acredita que o uso de jornais em sala de aula pode

contribuir na formação do leitor crítico, “pelo desenvolvimento das autonomias individuais e

das participações comunitárias. Essa possibilidade pode e deve iniciar-se desde as séries

iniciais do ensino fundamental” (p.115).

A partir da leitura crítica do jornal, é possível estimular o educando a pensar de

modo mais crítico não apenas sobre o assunto lido, mas sobre suas posturas diante dos fatos.

Diz Caldas (2006) “Aprender sobre o mundo editado pela mídia, a ler além das aparências, a

compreender a polifonia presente nos enunciados da narrativa jornalística, não é tarefa fácil,

mas desejável para uma leitura crítica da mídia” (p.122).

Com um ensino que possibilite a formação voltada para os acontecimentos atuais na

comunidade local e mundial, será possível formar um leitor crítico que tenha autonomia, já

119

que saberá fundamentar suas opiniões e críticas, contextualizá-las, destacando-se do senso

comum dos leitores.

Ao trabalhar a criticidade da leitura dos jornais, os professores podem fornecer

subsídios para tornar leitores críticos, não só dos textos jornalísticos, mas do mundo que os

rodeia. Segundo Libâneo, Oliveira & Toschi (2007) para que os indivíduos possam

compartilhar de uma situação comunicativa ideal, recomenda-se “o desenvolvimento da

autonomia, isto é, indivíduos capazes de reconhecer nas regras e nas normas sociais o

resultado do acordo mútuo, do respeito ao outro e da reciprocidade” (p.121). E não apenas o

cumprimento das normas sem uma reflexão favorável ou contrária a determinadas imposições

podem nos alienar dos nossos direitos enquanto cidadãos.

A segunda categoria, participativo, reúne argumentos de que aluno crítico é aquele

cidadão que participa e interage na sociedade, ou seja, que se envolve nas situações. É um

aluno interessado e participante, ativo em todas as atividades (Professor 6).

Este dado reforça ainda mais os números da Tabela 24, que enfatiza a motivação e

envolvimento dos alunos como resultado da presença dos jornais em sala de aula, além de

facilitar a relação comunicativa no processo de uma aula. Este elo da relação comunicativa

funciona como importante fator facilitador do processo ensino aprendizagem. Por meio dela,

o aluno pode se apropriar de forma mais participativa dos conteúdos a serem ensinados

(TOSCHI,1993).

As informações jornalísticas podem ser um canal aberto entre sala de aula e a

dinâmica da realidade social, levando o pensamento não à conformação, mas à crítica e à

participação. Conforme Libâneo, Oliveira & Toschi (2007), a formação para a cidadania

crítica e participativa “diz respeito a cidadãos-trabalhadores capazes de interferir criticamente

na realidade e transformá-la, e não apenas para integrar o mercado de trabalho” (p.119). Uma

das funções da escola é formar alunos críticos e participativos que se engajem na luta pela

justiça social, empenhando-se na mudança da realidade em que vivem e no processo de

desenvolvimento nacional.

A terceira categoria, questionador, reúne argumentos de que aluno crítico é aquele

cidadão que discute e formula questões. É aquele aluno que te questiona, buscando mais o

saber querendo aumentar os seus conhecimentos, debater suas idéias (Professor 7).

O uso do jornal em sala de aula pode contribuir para formação de um aluno crítico,

por possibilitar o questionamento, a comparação e análise de várias fontes de informação.

Possibilitando, assim, condições para o aluno compor seu conhecimento sobre determinados

120

assuntos tratados em sala de aula, fator importante para o desenvolvimento da criticidade do

aluno, já apontado pelos PCNs de Língua Portuguesa e Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº

9.394).

A quarta categoria mencionada, informado, reúne argumentos de que aluno crítico é

aquele cidadão que está sempre interado dos fatos e acontecimentos ocorridos. É aquele que

tem informações atualizadas, conectadas com o mundo (Professor 1).

Os jornais podem levar o aluno a posicionar-se frente aos desafios do mundo

moderno, tornando-o mais informado na sociedade. Por meio da pluralidade de informação, o

professor pode instigar o aluno a ler e se informar mais sobre a atualidade. Esse clima

favorece uma aprendizagem significativa a partir do momento que permite o aluno uma

interação no processo de ensino. Garantindo o que foi proposto por Aguiar (1996), “o ato de

ler só funciona quando parte do interesse do leitor. Esse varia segundo diversos fatores

pessoais e sociais, mas é sempre movido sempre por algumas intenções básicas” (p.26). E o

professor pode gerar nos alunos algumas intenções básicas, como adquirir, por exemplo,

conhecimentos sobre determinados assuntos através dos jornais.

Dessa maneira, as mensagens divulgadas pelas diferentes mídias exercem influências

na formação crítica de nossos alunos, principalmente os das séries iniciais (1º ao 5º ano do

ensino fundamental). Mas, eles não são passivos diante as mensagens, por isso a necessidade

de mantê-los informados diante os apelos de consumo, sexualidade ou sensacionalismo

(MARTIN-BARBERO, 1999), THOMPSON (1998) e GUARESCHI & BIZ (2005).

Reside aí a urgência de o professor incluí-las em suas aulas, oferecendo uma prática

voltada para a formação de alunos críticos, que ofereça condições para que o educando possa

compreender e interpretar “as entrelinhas” das informações midiáticas e a discernir os

interesses econômicos, políticos e sociais e assim, não ser controlado pelos meios de

comunicação e sim, utilizá-los como libertação e não alienação, como proposto por Freire

(1997).

A Tabela 48 corresponde às respostas dos professores à pergunta 14 da entrevista que

indaga se o professor considera que o uso dos jornais impressos em sala de aula pode

contribuir na formação de um aluno crítico. Eles foram unânimes em dizer que os jornais

impressos podem contribuir na formação de um aluno crítico. As justificativas para essa

unanimidade foram reunidas em três categorias:

121

Tabela 48: Concepções dos professores de como os jornais impressos podem contribuir

na formação de alunos críticos:

Categorias Frequência

1-Atualidade e acesso à varias fontes de informação 5

2-Argumentações para discussão ou produções escrita 3

3-Formador de opinião 2

*Total 10 *Total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

De acordo com os dados, a primeira categoria , atualidade e acesso a várias fontes

de informação, reúne as manifestações de que os jornais impressos podem contribuir na

formação de alunos críticos por fornecer acesso a várias fontes atuais de informação. A

segunda categoria, argumentações para discussão ou produções escrita, reúne os

argumentos de que os jornais impressos podem contribuir na formação de alunos críticos por

poder fornecer subsídios para argumentações orais ou produções escritas. A terceira,

formador de opinião, reúne as idéias de que os jornais impressos podem contribuir na

formação de alunos críticos por ser um formador de opinião.

De acordo com os dados presentes na Tabela 49, a primeira categoria, denominada,

atualidade e acesso a várias fontes de informação, reúnem as concepções de que os jornais

impressos podem contribuir na formação de alunos críticos, por ser um registro de fatos

históricos atualizados, cujo contato com várias fontes de informação pode desenvolver o

senso crítico dos alunos. Os jornais impressos contribuem e muito, devido à variedade e

atualidade de informações que encontramos neles (Professor 6).

Os estudiosos da Mídia e Educação, como Baccega (2006), Belloni (2002 e 2001),

Cortella (2007), entre outros, apontaram a necessidade de preparar alunos a lidar com o

impacto desse fluxo acelerado de informação e dar-lhes significado, ou seja, interpretando-o,

integrando-o à vida prática. No mundo da informação em tempo real, a instituição escolar não

pode ficar fora desse compromisso.

A segunda categoria, argumentações para a discussão ou produções escrita,

apresenta os argumentos dos professores entrevistados de que os jornais impressos podem

contribuir na formação de alunos críticos, por oportunizar o contato com diferentes fontes e

opiniões, para desenvolver a capacidade argumentativa nas produções escritas, como foi

apontado nos estudos de Baltar (2003), Faria (2004), L. Silva (2005) e Pastorello (2007). O

aluno tendo o acesso à leitura de jornais impressos, está sendo uma pessoa informada.

Assim, terá argumentos para discutir sobre determinado assunto. Quando o professor pedir

122

uma produção escrita ele terá conhecimento prévio, porque ele já teve a oportunidade de

estar informado (Professor 3).

O processo de escrita analisado por Baltar (2003) parece ser facilitado pelo uso das

informações jornalísticas, proporcionando também a prática de oralidade. O aluno passa a

expressar-se melhor, tanto nas produções escritas como nas argumentações orais, a partir do

momento em que lhe são oferecidos pontos de vista diferentes sobre fatos práticos ou

históricos,

Acreditamos que seria interessante que as escolas preparassem um ambiente onde o

aluno pudesse ter à sua disposição jornais impressos ou digitais, considerando que muitos só o

terão acesso se a escola lhes facilitasse. Tal medida indicaria um processo de reestruturação

dos sistemas de ensino, como foi apontado por Libâneo (2003), em razão do qual a escola

precisa articular-se e integrar-se à socialização dos conhecimentos, a fim de formar cidadãos

mais preparados e qualificados para o novo tempo.

Os jornais introduzidos nas aulas pode ser um fator importante para o

desenvolvimento das habilidades de escrita e oralidade do aluno. Vocabulário novo e

estruturas textuais diferenciadas passam a ser incorporados às produções textuais e ao léxico

dos alunos, proporcionando textos com maior coesão e coerência, além da riqueza de

argumentos e dados, conforme apontado por L. Silva (2005).

A terceira categoria mencionada, formador de opinião, apresenta as manifestações

segundo as quais os jornais impressos podem contribuir na formação de alunos críticos, por

oportunizar vários ângulos de uma mesma informação. Contribui se ele formar a sua opinião

através de diversas fontes, falo a eles que uma informação na mídia tem que ver vários

ângulos dessa informação (Professor 5).

A escola, como uma instituição encarregada de preparar cidadãos críticos, necessita

abrir-se para as novas linguagens que circulam socialmente propagadas pelas mais diferentes

mídias, oferecendo um ensino que forme opiniões. Dessa forma, ela não permitirá que os

educandos sejam manipulados pelas mídias, pois as mensagens divulgadas pelos meios de

comunicação exercem influência na vida de nossos alunos ditando modas, estilos e

comportamentos. Por isso, a necessidade do professor ofertar os vários ângulos e pontos de

vista de uma mesma informação para o aluno formar sua opinião sobre tal assunto.

Como foi analisado por Faria (1999), o jornal como formador de opinião quando

bem conduzido, prepara leitores críticos para desempenharem seu papel na sociedade, o que

não significa a formação para o consumo ou reprodução de danças sensuais, mas uma

formação crítica e participativa diante das possíveis influências ditadas como únicas e

123

universais pelos meios de comunicação. Quanto mais informação, mais nossos alunos terão

opiniões e condições de se impor diante de determinados fatos.

Mas como formar opinião pelos jornais, se é vedado ao professor este recurso dentro

das escolas, sendo que fora das instâncias escolares os alunos estão sendo bombardeados por

apelos midiáticos?

Surge um pensamento ainda difuso e tardio, relativo à urgência de se prepararem

alunos para a formação de leitores críticos das mídias, como foi dito pelos professores: os

jornais podem ajudar na formação de opinião. Entretanto, conforme analisado por Zanchetta

(2008), os discursos externos à escola, cuja força potencial tende a ser decisiva nos trabalhos

com os meios de comunicação, mostram-se fortes. Por outro lado, o discurso interno das

escolas mostra-se tímido. E essa timidez é percebida no fato, por exemplo, de que a Secretaria

Municipal de Educação de Andradina (SP) não fornecer acesso aos recursos como jornais

impressos ou digitais aos professores da rede.

Diante de tais condicionantes, cabe à escola formar os alunos diante da mídia e não o

oposto. Faz-se necessário a educação escolar preparar o aluno para compreendê-la e também

utilizá-la como meio de ensino e aprendizado.

Em uma sociedade em que as mídias exercem forte influência sobre a população de

um modo geral, a necessidade da percepção do papel da mídia na formação da opinião

pública e na geração de uma consciência crítica torna-se fundamental. Nesse sentido, refletir

sobre o trabalho com os jornais e seu papel na construção da cidadania é uma tarefa urgente a

ser tratada nos cursos de formação inicial e continuadas de professores.

Na sequência, na questão número 15 da entrevista, ao ser perguntado se o uso dos

jornais da Internet em sala de aula pode contribuir na formação de um aluno crítico, dois

professores não responderam a questão. A justificativa de um deles foi por não utilizar os

serviços da Internet. O outro professor argumentou não possuir uma opinião formada, por não

possuir o hábito de acessar jornais pela Internet.

As respostas dos cinco professores que responderam positivamente à questão foram

reunidas em duas categorias (Tabela 49).

124

Tabela 49: Concepções dos professores de como os jornais da Internet podem contribuir

na formação de alunos críticos:

Categorias Frequência

1-Difícil acesso nas escolas 3

2-Atualidade da informação com possibilidade de acesso à várias

fontes 2

*Total 5

*Total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

A primeira categoria mencionada, difícil acesso nas escolas, reúne as concepções

dos professores de que os jornais digitais podem contribuir na formação de um aluno crítico,

mas não são utilizados nas escolas, devido à falta de acesso. A segunda, atualidade da

informação com possibilidade de acesso a várias fontes, reúne as concepções dos

professores de que os jornais da Internet podem contribuir na formação de um aluno crítico

por possibilitar a atualização da informação dos fatos ocorridos na atualidade.

Assim, se expressa o profissional da primeira categoria: Considero que sim, mas a

escola em si não tem muito esse recurso, mas se tivesse contribuiria muito sim na formação

do aluno (Professor 7).

A educação torna-se fundamental na construção de uma sociedade que se

fundamenta no conhecimento e na totalidade do ser humano. Para que essa totalidade ocorra,

diferentes condições são necessárias como o acesso às informações das diferentes mídias e

das tecnologias de informação e comunicação. Todos os envolvidos no processo ensino

aprendizagem devem ter o direito à liberdade de expressão, com acesso às mais variadas fonte

de informações, quer sejam jornais impressos ou digitais, rádio ou televisão.

À escola, especialmente a pública, cabe atuar no sentido de compensar as enormes

desigualdades sociais e regionais que o acesso a esses recursos estão gerando, preparando as

novas gerações para a apropriação ativa e crítica dessas mídias, conforme analisado por

Belloni (2001). Por isso, a necessidade de todas as escolas do município de Andradina (SP)

facilitarem o acesso ao uso da Internet aos alunos, no sentido de compensar as desigualdades

sociais que a falta do recurso está gerando em nossa sociedade. Quanto mais amplos e

profundos forem os conhecimentos que a escola possa oferecer aos seus alunos, formação

mais competente eles terão para enfrentar os desafios da sociedade emergente.

O uso da Internet pode possibilitar aos professores e alunos o acesso a leituras dos

jornais digitais, abrindo-lhes possibilidades e oportunidades, antes, até então, inexistentes para

pôr em prática o direito básico dos nossos estudantes, que é o acesso à informação para a

125

construção de um conhecimento significativo, visto que a escola representa uma das

instituições encarregadas de proporcionar oportunidades a todos e de desenvolver habilidades

e capacidades de aprender nesse novo cenário de difusão e uso intenso das informações.

A segunda categoria, atualidade da informação com possibilidade de acesso a

várias fontes, reúne as manifestações dos professores de que os jornais da Internet podem

contribuir para a formação de alunos críticos por manter a atualidade das informações com

possibilidade de acesso a outras fontes. Os jornais da Internet podem contribuir sim, com

acesso a várias fontes e suas notícias estão sempre atualizadas. É no tempo real da

informação (Professor 4).

Os dados presentes nas Tabelas 48 e 49 reforçam as concepções dos professores de

que jornais impressos e/ou digitais em sala de aula abrem possibilidades de acesso a várias

fontes com atualidade de informações.

A Internet faz parte da revolução informacional que tem por fator determinante o

avanço das telecomunicações, das mídias e das novas tecnologias digitais da informação. Elas

possibilitaram encurtar distâncias, reduzir tempo para o acesso à informação com

possibilidades de várias fontes. A rede de computadores permite uma comunicação interativa

levando os alunos a se relacionarem de forma mais reflexiva com o conhecimento. A escola

não pode ignorá-la, devendo abrir-se para os novos meios de comunicação como forma de

construção de um conhecimento que leva em consideração a formação da criticidade do

aluno. Integrar a Internet no cotidiano escolar, na sala de aula de modo crítico e criativo

representa ultrapassar um fundamental desafio para a educação, como foi apresentado por

Belloni (2001).

Ao abordar temas atuais de grande repercussão na sociedade, a Internet permite o

acesso à instantaneidade da informação, que o professor atualizado pode utilizar em suas

aulas gerando motivação e interesse aos alunos ao aprender. Cabe ao professor aproveitar toda

essa riqueza de informação não ficando a reboque do mundo contemporâneo, conforme

analisado por Gadotti (2000).

Quem acessa Internet pode ter informações sobre quase tudo instantaneamente. Mas,

também é pertinente considerar a reflexão de Guareschi e Biz (2005), “a Internet pode dar

todas as respostas, mas não consegue fazer pergunta. O que é necessário é mostrar por onde

navegar, a que ponto chegar, quando parar. Falta a pergunta orientadora, a pergunta que

liberta” (p.40). Portanto, ela não substitui o professor questionador que sabe conduzir seus

alunos por áreas desconhecidas ou pouco exploradas.

126

4.6 A formação do professor neste contexto de informação

Esta parte da apresentação e discussão dos dados coletados responde ao objetivo

específico de explorar e analisar a formação do professor para o uso das mídias. Conforme o

Quadro II, as perguntas 16 e 17 fizeram o levantamento do seguinte aspecto: verificação de

como o professor analisa a sua formação sobre o uso das mídias e quais as possíveis soluções

para suprir a falta de formação para o seu uso.

As respostas da pergunta 16 da entrevista, reunidas em três categorias, revelam se o

professor teve em sua formação orientações sobre uso das mídias (Tabela 50).

Tabela 50: Você teve orientações sobre o uso das mídias:

Categorias Frequência

1-Não teve orientações 1

2-Formação inicial 1

3-Formação continuada 5

*Total 7 *Total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

A categoria, não teve orientação, verbaliza o argumento de um professor que disse

não ter tido nenhuma orientação sobre como utilizar as mídias na educação. A segunda,

formação inicial, esclarece que um professor teve orientação para o uso das mídias no curso

de formação inicial. E a terceira, formação continuada, reúne os argumentos de cinco

professores, que relaram ter recebido orientações sobre o uso das mídias em educação em

cursos de formação continuada.

De acordo com os dados da Tabela 50, a primeira categoria denominada, não teve

orientações, revela um dado extremamente significativo a respeito de orientações sobre o uso

das mídias. Não, porque há 16 anos nos cursos de formação nunca ouvi falar em mídias

(Professor 1).

Realmente, há dezesseis anos, os cursos de licenciaturas (tempo de formação do

professor) não elencavam em seus currículos disciplinas voltadas para o ensino das mídias na

educação. Porém, se ele não teve acesso a uma formação inicial sobre o seu uso, a Secretaria

Municipal de Educação poderia oferecer cursos a estes profissionais que estão em serviço

para melhor utilizar as informações jornalísticas em sala de aula.

127

Silva e Lima (2008) avaliam que a falta de formação adequada para o uso das mídias

muitas vezes faz com que o professor não considere questões importantes como as ideologias

e as muitas tentativas de alienação presentes nas mensagens desses veículos de comunicação.

Por isso, reiteramos que a Secretaria Municipal de Educação de Andradina ofereça

formação continuada para a utilização das mídias nas escolas, já que há profissionais que não

tiveram tais orientações nos cursos de formação inicial.

Na segunda categoria, formação inicial, um professor relatou ter tido orientações em

sua formação inicial. Desde quando estudei já tinha informação para quando ler uma notícia

saber interpretá-la buscando varias fontes ou opiniões sobre a mesma (P.5).

Diante dos dados coletados, percebemos que poucos professores tiveram formação

inicial do uso das mídias na educação. Nascem aí as dificuldades apresentadas no que se

refere ao seu uso em sala de aula. Para dar um salto significativo com relação à formação de

professores para o uso das mídias, é necessário integrar nos cursos de licenciaturas disciplinas

específicas voltadas para Mídia e Educação, como apontou Belloni (2001).

Outro avanço para a formação de professores para um uso efetivo das mídias na

educação seria integrar sua discussão nos cursos de formação inicial, pois muitos que

freqüentaram cursos de formação de licenciaturas, além de receber pouca orientação, sua

experiência necessita ser ampliada e debatida, como analisou Zanchetta (2007).

Do ponto de vista de Rezende e Fusari (1992 e 2001), atualizar os docentes para o

desempenho profissional competente, embasando-os de sólida formação desde os cursos de

graduação, representa obrigação inadiável do ensino superior.

Na última terceira categoria mencionada, formação continuada, cinco professores

relataram ter recebido orientações sobre o uso das mídias em cursos de formação continuada.

Somente em cursos de reciclagem oferecidos aos professores da rede municipal (Professor

6).

A análise das respostas reafirma que a maior parte dos professores da rede municipal

de ensino teve um primeiro contato com as mídias em cursos de formação continuada. Esse é

um dado relevante para a pesquisa, pois a formação inicial não contempla o uso das mídias na

escola. Assim, os cursos de formação continuada necessitam suprir essa deficiência, porque os

professores relataram não a ter recebido na formação inicial, fato que responde pelas

dificuldades no que se refere ao uso das mídias. Decorre daí a urgência do MEC (2008) em

fazer cumprir sua abrangência:

128

- A formação continuada é exigência da atividade profissional no mundo atual;

- A formação continuada deve ter como referência a prática docente e o conhecimento teórico;

- A formação continuada vai além da oferta de cursos de atualização ou

treinamento;

- A formação para ser continuada deve integrar-se no dia-a-dia da escola;

- A formação continuada é componente essencial da profissionalização docente (Brasil, 2008, p.1).

A presença das mídias na sociedade requisitou a proposição de novas estratégias

tanto para reorientar métodos e práticas didático-pedagógicas, como para implantar programas

de formação continuada aos professores que já estão no sistema, embora, genericamente,

todos expressem dificuldades para trabalhar com a leitura ou produções dos meios de

comunicação. A superação desse obstáculo pode ser buscada através de projetos envolvendo

as Secretarias da Educação, conforme apontado por Citelli (2006).

Junto aos problemas técnicos e funcionais do uso das mídias na educação, surgem

também, os problemas decorrentes da própria carreira do educador, como analisado por

Belloni (2003): “falta de tempo para realizar uma formação continuada dentro da jornada de

trabalho, formação inicial precária; falta de hábito de autodidatismo e conseqüente dificuldade

de aproveitar o que o próprio programa oferece” (p.299), atravancam o uso efetivo das mídias

na educação.

Não é possível impor aos professores um uso significativo das mídias sem lhes

ofertar uma formação, sem lhes dar remuneração, tempo e recurso necessários para sua

utilização. Concordamos plenamente com Kensky (2007) ao dizer que:

As imposições de mudança na ação docente precisam ser acompanhadas da plena

reformulação do processo educacional. Mudar o professor para atuar no mesmo

esquema profissional, na mesma escola deficitária em muitos sentidos, com grandes

grupos de alunos e mínima disponibilidade tecnológica, é querer ver naufragar toda

a proposta de mudança e de melhoria da qualidade da educação (p.106).

Conforme Prado & Almeida (2007), os usos das mídias precisam ser compreendidos

nos programas de formação continuada de forma crítica, uma vez que suas características

tanto podem contribuir para emancipação social ou aumentar as desigualdades sociais. Assim,

há um grande desafio a ser superado na formação de docentes para lidar com as diferentes

linguagens presentes nas mídias impressas ou eletrônicas, por isso é importante que o

professor esteja engajado em programas de formação continuada, cujo grupo em formação

possa analisar em conjunto as práticas em realização e encontrar diferentes alternativas para

avançar no trabalho de integração entre as linguagens que circulam no social.

129

Nesta mesma direção, Rezende e Fusari (2001) também acreditam que deve haver

uma articulação entre os cursos de formação inicial e os cursos de formação continuada, por

intermédio da reflexão e pesquisa para que o professor possa explorar de forma mais

significativa o uso das mídias na educação. Dessa forma, o processo de formação do professor

com relação ao uso das mídias faz com que se tome consciência de que os parâmetros para

sua profissão não advém somente dos conhecimentos teóricos, mas de seus saberes de suas

práticas, como analisou Porto (2003).

Os dados da Tabela 51 funcionam como complemento à resposta da pergunta 16 da

entrevista, que aponta os conteúdos dos cursos freqüentados pelos professores:

Tabela 51: Conteúdo dos cursos frequentados pelos professores:

Categorias Frequência

1-Gêneros jornalísticos 4

2-Relevância de comparar várias fontes de informação 2

3-O conteúdo do curso não foi colocado em prática 1

*Total 7 *Total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

As respostas dos professores possibilitaram a criação de três categorias. A primeira,

gêneros jornalísticos, revela os argumentos de que os professores tiveram orientações a

respeito dos gêneros jornalísticos em sala de aula. A segunda, relevância de comparar

várias fontes de informação, reúne os argumentos de que os professores tiveram orientações

a respeito da comparação entre as fontes das informações jornalísticas em sala de aula. A

terceira, o conteúdo não foi colocado em prática, reúne os argumentos de que os professores

não colocaram em prática os conhecimentos adquiridos por falta de recurso.

O conteúdo da primeira categoria expressa-se na seguinte fala: Eu achei que foi

muito importante para minha formação. Antes eu não tinha conhecimento de como é um

jornal. Por exemplo: eu não sabia o que era lido e os gêneros jornalísticos (Professor 2).

Conforme Barros (2002), os conhecimentos sobre os gêneros estão relacionados às

representações sobre o contexto social em que se processa a linguagem. Assim, conhecer um

gênero é conhecer suas condições de uso, sua adequação ao contexto. No transcorrer da

vida, os diferentes gêneros vão se introduzindo nas experiências de cada indivíduo, de modo

que uma pessoa pode não ter qualquer noção de teorias linguísticas, mas é capaz de

identificar – e reproduzir – características de certos gêneros que fazem parte de sua vida

cotidiana. Dessa forma, ao utilizar as informações jornalísticas em sala de aula o professor

130

necessita de informações básicas como familiarização das regras de construção da

linguagem jornalística, permitindo-lhe o reconhecimento e a operacionalização dos diversos

gêneros, incluindo elementos gráficos e imagens. Se o professor não conhece um jornal,

como ele é formado, como poderá ser um leitor crítico de jornais, capaz de utilizar

criativamente os recursos estilísticos, semânticos e expressivos da linguagem jornalística em

suas aulas se não a domina?

Rodrigues (2000) preconiza a entrada dos gêneros jornalísticos na escola como

objeto de ensino/aprendizagem pela necessidade de o educando compreender as formas de

domínio dos modos de produção e significação dos discursos da esfera jornalística. “Criando

condições para que os alunos construam os conhecimentos lingüístico-discursivos requeridos

para a compreensão e produção desses gêneros, caminho para o exercício da cidadania, que

passa pelo posicionamento crítico diante dos discursos” (RODRIGUES, 2000: 214).

Na segunda categoria, relevância de comparar várias fontes de informação,

reúne os argumentos de que no conteúdo do curso foi abordada a necessidade de se formar

sobre como proceder no sentido de recolher e validar as inúmeras informações junto a fontes

autorizadas. No curso falou-se da importância de comparar e validar as informações

jornalísticas (Professor 4).

Como relatado por Guareschi e Biz (2005), os estudiosos de Mídia e Educação,

concordam que a grande tarefa dos professores é preparar os alunos para discernir e selecionar

as inúmeras fontes de informação relevantes na construção de conhecimento. E a escola tem

papel vital nessa orientação, pois o aluno ao comparar e analisar várias fontes de informação

estará sendo crítico. Ao possibilitar a comparação de várias fontes de informações, sob

diversos pontos de vista, os educandos poderão exercitar argumentos mais consistentes e

assim participar de forma mais ativa no processo de aprendizagem .

A terceira categoria, o conteúdo não foi colocado em prática, reúne os argumentos

de que o conteúdo do curso não foi utilizado em sala de aula pelo professor, por falta de

recurso. Na verdade eu tive a informação, mas ela não foi colocada em prática por falta de

recurso que a gente não tem na própria escola (Professor 7).

Isso vem confirmar a precariedade de nossas instituições escolares e,

concomitantemente, do trabalho com a mídia, pois se o professor teve orientações para sua

utilização e não colocou em prática todos seus conhecimentos por falta de recursos nas

escolas, representa uma realidade que a Secretaria Municipal de Ensino necessita suprir e

superar para um uso mais efetivo e significativo das mídias nas escolas municipais de

131

Andradina (SP). Ou então, essas orientações foram tão superficiais que não ajudam em quase

nada aos professores.

Dessa forma, se reconhecermos a importância das mídias na sociedade

contemporânea e que elas têm como objetivo ser reconhecidas como a sociedade do

conhecimento, diante das análises do material, pode-se dizer que, os professores estão

distantes de um significativo uso didático-pedagógico do jornal em sala de aula no município

de Andradina (SP). Atingir tal nível de desempenho, apenas será possível, caso sejam

implementadas iniciativas da Secretaria Municipal de Educação para ofertar cursos de

formação continuada aos professores da rede e os jornais impressos ou digitais para serem

utilizados em sala de aula.

A última pergunta da entrevista buscou argumentos sobre as possíveis soluções para

suprir a falta de formação para o uso dos jornais, cujas respostas foram reunidas em quatro

categorias (Tabela 52).

Tabela 52: Possíveis soluções para suprir a falta de formação para o uso de jornal

Categorias Frequência

1-Cursos de capacitações 3

2-Jornais nas escolas 2

3-Professor preparado 1

4-Professor pesquisador 1

*Total 7 *Total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

A primeira categoria, cursos de capacitação, reúne as concepções de que os

professores acreditam que os cursos de formação continuada podem contribuir para suprir a

falta de formação da utilização das informações jornalísticas em sala de aula. A segunda,

jornais nas escolas, reúne as concepções de que os professores acreditam que os jornais no

ambiente escolar podem contribuir para solucionar a falta de formação das informações

jornalísticas. A terceira, professor preparado, reúne a concepção de um professor que se

sente preparado para a utilização das informações jornalísticas. A quarta, professor

pesquisador, reúne a concepção de um professor que acredita que o autodidata, pode suprir a

falta de formação das informações jornalísticas em sala de aula.

De acordo com os dados da Tabela 52, a primeira categoria denominada, cursos de

capacitação, reúne os argumentos de que os cursos de formação continuada podem suprir a

falta de formação para o uso do jornal em sala de aula. Conforme analisado por Belloni

(2002), Toschi (2003), Rezende e Fusari (1998) e Zanchetta (2007 e 2008) faz-se necessário

132

urgentemente investir em cursos de formação dos professores para o uso das mídias nas

escolas. De acordo com esses autores, uma orientação adequada se inicia nos cursos de

formação inicial e continua depois nos cursos de formação continuada, permitindo, assim, um

uso mais significativo das mídias na educação. Kleiman (2002) e Zanchetta (2007, 2008)

consideram tais medidas necessárias e urgentes.

Introduzir as mídias nas escolas requer professores adequadamente preparados.

Belloni (2001 e 2002) argumenta que o que leva o professor a atualizar-se são os

questionamentos de sua formação inicial originados do contraditório entre suas experiências e

suas relações ambivalentes com as mídias em sala de aula. Gera-se uma procura pela

formação continuada, demanda efetiva que os sistemas educacionais necessitam atender para

formar um profissional preparado para a utilização dos meios jornalísticos em sala de aula.

A segunda categoria mencionada, jornais nas escolas, reúne as manifestações de que

a solução para suprir a falta de formação para o uso de jornal seria a Secretaria de Educação

oferecer os jornais nas escolas.

Ijuim (2005) denuncia que sem o comprometimento de seu acesso por parte da

Secretaria de Educação “não há qualquer incentivo da equipe da direção ou da equipe da

administração da escola. Daí os jornais acontecem por pura persistência dos educadores”

(p.95). As dificuldades também decorrem da precariedade de recursos (jornais, impressoras,

Internet, cartuchos, etc.) e financeiros da escola, os quais imobilizam o profissional, porque

ele tem que arcar com todas as despesas.

A terceira categoria, professor preparado, reúne a opinião de um professor que se

sente seguro para utilizar as informações jornalísticas em sala de aula. Sinceramente não. Eu

me vejo bem preparada, por isso não tenho interesse em curso de capacitação (Professor 5).

Realmente, analisando as respostas dos professores, fica notório um diferencial nas

práticas de uso de jornais com esse professor. Notamos que, entre os sete professores

pesquisados, este realmente usa jornais em sala de aula. Ao mesmo tempo, faz das leituras de

jornais uma prática social cotidiana, pois ele é o único professor que lê diariamente as

informações jornalísticas. Apesar de acessar e ler jornais pela Internet diariamente, ele prefere

manusear o jornal impresso. Teve uma formação inicial e continuada sobre o uso das mídias

na educação, fato que ter sido o diferencial em relação aos outros profissionais.

Por isso, reafirmamos a necessidade de os cursos de formação inicial de professores

(licenciaturas, no geral, de todas as modalidades) incluirem em seus currículos disciplinas que

preparem para a utilização das informações jornalísticas impressas ou digitais em sala de aula,

devido a sua relevância para o ensino e aprendizado de leitura crítica das mídias. E aos

133

professores que não tiveram a possibilidade de ter tais informações nos cursos de formação

inicial, que a Secretaria de Educação possa disponibilizar tais conhecimentos nos cursos de

formação continuada.

A quarta categoria, professor pesquisador, expressa a concepção de um professor

sobre o autodidatismo na busca de novos conhecimentos sobre a utilização dos jornais em sala

de aula. O professor pode buscar informações e pesquisas em livros, Internet ou até os

materiais didáticos que também são ricos em informações ao professor quanto ao uso de

mídias. E pesquisando por meio próprio, por experiência própria (Professor 6).

Belloni (2003) considera que a falta de hábito de autodidatismo pode dificultar um

uso efetivo das mídias na educação, por isso cremos que o professor também é um

pesquisador construtor de seu próprio conhecimento, buscando aquilo que é de maior

relevância para compor sua prática com relação ao uso das mídias na educação. Toda busca

de conhecimento é válida quando é posta em prática. Por isso, acreditamos que uma das

funções do professor também é ser pesquisador para buscar informações para exercitar de

forma mais eficiente sua prática em sala de aula.

Tedesco (2004) e Rosado (1998), na mesma esteira, pontuam que muitos professores

por não terem uma formação voltada para o uso das mídias, são autodidatas, buscam sozinhos

uma prática significativa com a utilização dos jornais em sala de aula.

Ainda em complemento da questão 17 da entrevista, quando perguntado ao professor

se gostaria de fazer um curso sobre o uso de jornais, seis professores responderam

positivamente à questão. Apenas um professor relatou que não gostaria de o acompanhar,

porque se sente preparado: Sinceramente não. Eu me vejo preparada, por isso não tenho

interesse. Na minha o opinião os professores atuais estão bem preparados para trabalhar

com o uso de jornais, revistas e Internet (Professor 4).

As afirmativas desencadearam três categorias (Tabela 53).

Tabela 53 - Expectativas dos professores sobre cursos de formação continuada:

Categorias Frequência

1-Técnicas para se utilizar os jornais em sala de

aula 5

2-Gêneros jornalísticos 3

3-Oferecido por pessoas capacitadas 1

*Total 9 *Total refere-se ao número de argumentos e não ao número de participantes.

134

A primeira categoria denominada, técnicas para utilizar os jornais em sala de

aula, reúne os argumentos de que nesse curso se abordem as práticas dos jornais em sala de

aula. A segunda, gêneros jornalísticos, expressa o desejo de que o curso enfoque os

diferentes tipos de texto encontrados nos jornais. Na terceira, oferecido por pessoas

capacitadas, exprime a ânsia pelo encontro com especialista de linguagem jornalística, como

na fala: Eu gostaria que trouxessem técnicas, maneiras diferentes para trabalhar com os

jornais, com dinâmicas e atividades diversas para trabalhar com os jornais (Professor 2).

Para se ter um uso significativo de jornais, recomenda-se apontar alguns caminhos

com práticas educativas que envolvam as informações jornalísticas para que o educador possa

ter êxito em seu dia a dia profissional, ou seja, a Secretaria de Educação deve oferecer cursos

com materiais acessíveis a todos os professores, porque tem crescido no Brasil o interesse de

levar o jornal em sala de aula como instrumento didático- pedagógico. Decorre daí, a

necessidade de a Secretaria de Educação de Andradina organizar cursos de formação

continuada de atualização para os professores. Permitindo assim, troca de idéias e um diálogo

através dos textos e de relatos de experiências, atendendo aos professores com técnicas,

práticas de como o jornal pode ser utilizado pelo professor para enriquecer suas aulas como

demonstrado nos trabalhos de Faria (1999 e 2004) e Pavani (2002).

A segunda categoria, gêneros jornalísticos, indica que esse curso deve dar

orientações sobre como trabalhar os gêneros jornalísticos em sala de aula. Um curso que

trouxesse de preferência uma jornalista e explicasse como funciona um jornal, as partes de

um jornal. E que ajudasse a usar os gêneros jornalísticos em sala de aula (Professor 1).

O ensino dos gêneros jornalísticos pode trazer ao espaço da sala de aula textos que

circulam em esferas sociais diferentes da escolar. O professor, no trabalho com os gêneros

jornalísticos como recurso didático-pedagógico, tem a possibilidade de criar nas aulas um

espaço onde as opiniões possam ser debatidas. Principalmente, pode dar voz aos alunos,

possibilitando que eles leiam diferentes textos. Ou mais além, que eles possam ler também o

que não está escrito, “as entrelinhas” dos discursos, os significados de fatos e atitudes que

fazem parte da vida cotidiana. A utilização do jornal em sala de aula pode se constituir um

bom caminho para as aulas de linguagem, porque nele estão presentes todos os assuntos que

permeiam a vida, desde fatos históricos relevantes a curiosidades cotidianas.

É preciso considerar que um trabalho com os gêneros jornalísticos requer

investimentos na formação docente, uma reivindicação apontada pelos professores da rede

municipal de Andradina (SP), pois se fazem necessários aos professores espaços para

135

reflexão sobre a prática, para conhecimentos sobre o uso das informações jornalísticas, bem

como para acesso aos jornais. E, se, como resultado da reflexão, surgirem novos projetos de

atuação, que lhes sejam propiciadas pela Secretaria de Ensino da cidade de Andradina

condições objetivas e recursos materiais para o desenvolvimento do trabalho.

A terceira categoria nomeada, oferecido por pessoas capacitadas, propõe que o

curso deve ser repassado por pessoas que tenham experiências práticas e teóricas sobre o uso

das mídias. Curso é sempre enriquecedor. Que viesse ser oferecido por pessoas capacitadas,

que viesse de uma maneira agradável, renovada, para que a gente aprenda de forma

prazerosa e retorne isso na sala de aula (Professor 7).

Aqui fica patenteada a necessidade de o formador estar preparado para transmitir os

conhecimentos necessários aos professores do município de Andradina (SP).

Conforme analisado por Rosado (1998), dos cursos de atualização, de capacitação,

das ações que buscam implementar projetos marcados pela inserção da mídia no ensino,

poucos levam em conta o universo do professor, seus medos e suas expectativas.

Valente (2007) complementa essa idéia, afirmando que a possibilidade de sucesso

dos cursos de capacitações está em considerar os professores não apenas como executores

responsáveis pela utilização das diferentes mídias, mas principalmente como parceiros na

concepção de todo o trabalho. Além disso, os docentes devem ser formados adequadamente

para poder desenvolver e avaliar os resultados desses cursos. Dessa forma, pode-se evitar que

o conteúdo trabalhado no curso não seja posto em prática como discutido na Tabela 51.

Inúmeros estudos apontam para a necessidade de formar professores capazes de fazer

um bom uso das mídias e de prepará-los para assumirem um novo papel na sociedade do

conhecimento. Conforme reforçado por Gomes (2002), urge a necessidade de investimento na

formação do professor para que se possa fazer um uso coerente desse recurso didático

pedagógico, cuja utilização implicará mudança de atitude do professor frente à informação.

Isso só será possível se a Secretaria Municipal de Educação oferecer cursos de formação,

acesso aos jornais e Internet aos professores da rede.

De maneira a facilitar a compreensão dos dados, segue-se uma síntese como

resposta ao objetivo específico de analisar a formação do professor para o uso das

informações jornalísticas em sala de aula.

Fica evidente que os professores apresentam categorias semelhantes em diferentes

questões indicando que a maioria dos entrevistados teve alguma formação para o uso das

informações jornalísticas em sala de aula no campo da educação continuada. Os conteúdos

136

transmitidos foram a relevância do gênero jornalístico e a necessidade de comparar várias

fontes de informação. Não ocorreu a prática, em razão de alguns professores não terem a sua

disposição os recursos necessários para utilização em sala de aula. As possíveis soluções

apontadas pelos entrevistados para suprir a falta de formação para o uso das mídias foram

cursos de formação continuada e recursos na escola. Os professores expressam desejos de que

os cursos de formação continuada ofereçam técnicas para se utilizar os jornais em sala de

aula, a relevância dos gêneros jornalísticos e que o formador esteja capacitado.

137

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“O professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos que

uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo,

como seres históricos, é a capacidade de, intervindo no mundo, conhecer

o mundo. Mas, histórico como nós, o nosso conhecimento novo supera

outro que antes foi novo e se faz velho e se dispõe a ser ultrapassado por

outro amanhã”.

(Paulo Freire, 1996).

Para concluirmos esta dissertação de mestrado, faz-se necessário retornarmos aos

objetivos iniciais da pesquisa para verificar se conseguimos responder aos questionamentos

propostos. Acreditamos que tanto respondemos às indagações, como trouxemos contribuições

teórico-metodológicas que poderão subsidiar novas investigações que tenham a temática do

uso do jornal em sala de aula como meio de ensino e aprendizagem.

Respondendo ao primeiro objetivo específico, explorar e analisar as concepções dos

professores sobre o uso do jornal em sala de aula como meio de ensino-aprendizagem, o

conjunto dos dados coletados indica que o posicionamento dos professores com relação ao

uso dos jornais é favorável, demonstrando uma concepção positiva sobre o uso das

informações jornalísticas em sala de aula. Mas um aspecto importante trazido pela pesquisa é

que são poucos professores que têm nas leituras de jornais uma prática social como bagagem

cultural e uma formação voltada para o uso crítico das mídias na educação, o que pode indicar

que seu uso ainda é pequeno em sala de aula. Para que seu uso seja mais freqüente, a

Secretaria Municipal de Educação do município de Andradina (SP) poderia oferecer os

recursos necessários para o trabalho do professor (acesso à Internet e aos jornais impressos)

bem como, cursos de formação continuada para tentar garantir, assim, um uso mais

significativo das mídias na educação.

O levantamento das concepções dos professores com relação ao uso de jornais em

sala de aula indica uma forte crença de que os jornais impressos e digitais podem ser

utilizados como recurso didático, por poder contribuir como fonte de informação que pode

gerar conhecimentos com fácil acesso e manuseio, como fonte de conteúdos escolares que

pode contribuir para o enriquecimento dos conteúdos a serem ensinados, por permitir a

relação do conteúdo escolar com a realidade na qual o aluno está inserido, com temas atuais

que permitem uma análise crítica e discussões relevantes para uma leitura crítica e autônoma

e não a conformação, como analisado por Freire (1987 e 1997). Enfim, auxiliar, aprofundar e

ampliar o processo de ensino e aprendizado da escrita dos alunos.

138

Os professores pesquisados expressam que as principais diferenças nas concepções

entre os jornais impressos e digitais estão na dificuldade de acesso à Internet, visto que o uso

das informações jornalísticas por meios digitais em sala de aula inexiste, pois as escolas

pesquisadas não oferecem seu acesso. Apesar de reconhecerem que os jornais digitais trazem

maior comodidade, menor custo e rápido acesso em relação aos jornais impressos, são as

informações jornalísticas adquiridas por esses as utilizadas por serem mais fáceis de serem

adquiridas e manuseadas pelos alunos. Em relação ao jornal impresso, os professores

demonstram uma insatisfação, indicando que a escola deveria facilitar o acesso a ele por meio

de uma assinatura ou convênios que oferecessem sem custo o exemplar diário. Os professores

demonstram interesse em trabalhar com os jornais impressos e digitais, mas devido a seu

difícil acesso tanto aos professores como aos alunos, o uso significativo nas escolas torna-se

proibitivo

Em relação ao quesito credibilidade dos jornais impressos diante dos digitais,

identificamos um desconhecimento dos professores das exigências editoriais em ambas as

mídias. Para os professores pesquisados, os jornais impressos são mais dignos de

credibilidade por possuírem mecanismos editoriais, com a presença do editor, por exemplo,

que não são claros na mídia digital. Essa indicação denuncia um total afastamento dos

professores da mídia jornal e da linguagem jornalística, além de uma visão acrítica do jornal.

A presença funcional do jornal em sala de aula agrupa, portanto, limitações de

natureza diversa. Elas localizam-se no professor em razões, tanto emocionais, como

intelectuais. Também são de natureza externa a ele, já que envolvem obrigações da

administração pública, nem sempre atenta, comprometida e eficiente.

No contexto de uso de informações jornalísticas em sala de aula, facilitar a abertura

da escola na direção das novas linguagens presentes nas mídias para a construção de

conhecimentos continuará sendo urgência inadiável para o exercício dos novos modos de ler e

escrever, conforme os estudos apontados por Martín-Babero (1999). Essa interação entre

mídia e educação coloca ao educador o desafio de trabalhar com as diferentes informações e

linguagens que circulam no meio social. Os novos horizontes textuais não mais se ajustam ou

se limitam à tradição dos livros didáticos, cuja proposta conteudística e enciclopédica rege a

educação formal, como denunciam por (Citelli (2006), Baccega (2008), Belloni (2001, 2002 e

2006), Guareschi & Biz (2005)).

Ressaltamos, ratificando a análise de L. Silva (2005), que o educador que utiliza o

jornal em sua prática docente necessita estar familiarizado com essa mídia e proporcionar aos

alunos também essa familiarização. Conhecer os constituintes identificadores da linguagem

139

jornalística, na direção de identificar diferentes tipos de texto e ideologias e, dessa forma,

ampliar o conhecimento do aluno para que ele possa utilizar-se de estratégias específicas para

a compreensão crítica desse gênero textual. Mas, o aluno não é um ser passivo diante dos

apelos muitas vezes sensacionalistas das mídias. Ele é um ser em constante formação e cabe à

escola, principalmente a pública, a necessidade de formar alunos críticos desse meio de

comunicação para utilizá-lo como meio de libertação e não alienação.

No campo das leituras preferenciais dos professores, os dados coletados, apontam

que a escolha recai sobre assuntos menos complexos como entretenimento e cultura, ao passo

que as informações mais densas como economia e política correspondem a percentuais bem

menores. Esse foi um dado relevante trazido pela pesquisa, porque indica que assuntos

importantes para a formação do senso crítico dos alunos não são priorizados nas leituras entre

os professores.

Respondendo ao segundo objetivo específico, identificar as concepções de práticas

de uso de jornais em sala de aula, podemos dizer os profissionais atuantes nas escolas

municipais de Andradina não exercitam práticas periódicas e definidas com as informações

jornalísticas. Os professores demonstram não dominar uma teoria que apoie ou norteie uma

prática significativa de seu uso em sala de aula, provavelmente, conforme constatado por esta

pesquisa, por essa temática não ter sido trabalhada nos cursos de formação inicial e

continuada.

Apesar do alto índice dos professores que diz ler e utilizar jornais em sala de aula, a

pesquisa constatou diante da análise de dados, uma baixa frequência de sua utilização nas

escolas pesquisadas e os que dizem fazer o uso das informações jornalísticas não apresentam

práticas significativas que preparem os aprendizes para a leitura crítica das mídias, como

apontou os estudos de Zanchetta (2008), Martín-Barbero (1999) e Freire (1987 e 1997). A

consequência dessa ausência é que o jornal não é trabalhado em sala de aula ou , quando isso

ocorre, a prática é realizada de forma aleatória e sem objetivos definidos.

Para suprir tal carência, propomos que seja oferecido curso de formação continuada

aos professores da rede para que possam ampliar seus conhecimentos, teorias e práticas, com

o objetivo de atingir gradativamente um uso mais significativo das informações jornalísticas

em sala de aula, assim como, aprimorar a presença de outras mídias na escola. Não custa

repetir que não se propõem cursos que priorizem apenas a certificação, como muitos que

temos observado, mas aqueles que considerem a realidade das escolas e dos professores e

apresentem verdadeiramente uma proposta de formação para uso das mídias.

140

Portanto, os resultados da pesquisa apontam ser necessário que a Secretaria

Municipal de Educação ofereça formação continuada aos professores, que enfrentam

dificuldades para usar o jornal devido às lacunas em seu processo de formação inicial, as

quais permanecem na formação continuada como identificaram os estudos de PORTO (2003),

ZANCHETTA (2008), ROSADO (1998), REZENDE E FUSARI (2001) e TOSCHI (2003.

Essa constatação é um dos dados relevantes trazidos em nossa pesquisa, visto que eles

evidenciam uma formação inadequada para o uso das mídias. Os professores até tentam

utilizá-las em suas práticas em sala de aula, mas há restrições, pois sem uma formação

adequada e recursos necessários não se pode esperar que o professor trabalhe

competentemente com os jornais cuja complexidade o ultrapassa (BELLONI, 1998).Diante da

necessidade de atender aos professores sobre uma formação continuada para o uso das mídias,

a Secretaria de Educação da cidade de Andradina (SP), como possível caminho para tentar

sanar o uso inadequado dos jornais pelos professores, poderia fornecer cursos que orientem

para sua utilização na educação, com análise crítica de seus componentes ideológicos, além de

recursos como o próprio jornal, conforme já proposto por Toschi (2003).

Outro dado relevante com relação às concepções de práticas dos professores que

envolvem jornais em sala de aula foi a unanimidade quanto à contribuição das informações

jornalísticas para a prática de leitura e escrita e formação de alunos críticos. Essa avaliação

positiva deve-se à garantia de atualidade, ao acesso às várias fontes de informação, à

conseqüente construção de argumentações para discussões ou produções escritas, reforçando,

assim, o papel prioritário da escola, como foi apontado por Freire (1987).

Outro indicador apontado pela pesquisa, com relação às práticas que envolvem os

jornais, foi o de que, para os professores pesquisados, os jornais podem tornar a aula mais

dinâmica e participativa, favorecendo debates ou discussões que diversificam os tipos de

textos, além dos didáticos, tornando o aluno mais ativo. Essa preocupação com o ensino

contextualizado confirma as análises feitas por L. Silva (2005) e mostra a importância de um

trabalho múltiplo e enriquecido nas salas de aula, para além do livro didático.

Respondendo ao terceiro objetivo específico, explorar e analisar a formação do

professor para o uso dos jornais impressos e digitais, percebemos que os profissionais

pesquisados não tiveram uma formação inicial para o ensino das mídias na educação e nem

continuada, Esse é um dado relevante para a pesquisa, pois uma vez que constata que a

formação inicial de muitos professores não contemplou o uso das mídias na escola, indica à

rede pública que a formação continuada necessita atender a essa necessidade.

141

Diante dos dados, podemos concluir que, se reconhecemos a importância das mídias

na sociedade contemporânea e que elas têm como objetivo seu reconhecimento como

sociedade do conhecimento, pode-se dizer que os professores estão distantes de um

significativo uso didático-pedagógico do jornal em sala de aula no município de Andradina

(SP). Atingir tal nível de desempenho apenas será possível caso sejam implementadas

iniciativas da própria Secretaria Municipal de Educação para proporcionar formação

continuada aos professores da rede, além de acesso aos jornais impressos e aos digitais para

serem utilizados em sala de aula. Introduzir as mídias nas escolas requer professores

preparados, assim urge investir em cursos de formação dos professores para um uso mais

significativo e eficaz das mídias.

A pertinência das respostas aos objetivos específicos, conduz-nos ao objetivo geral

de analisar as concepções de professores sobre o uso do jornal em sala de aula, como meio de

ensino e aprendizado, como também as práticas docentes para o ensino e aprendizado da

leitura e escrita em escolas públicas municipais das séries iniciais do ensino fundamental (1º

ao 5º ano) do município de Andradina – S.P. Assim, a presente pesquisa constatou que os

professores apresentam uma visão positiva dos jornais impressos e digitais em sala de aula

com uma forte concepção de que os jornais podem contribuir como meio de ensino e

aprendizado, representando um auxiliar na complementação aos conteúdos a serem ensinados

pelos educadores. Porém, os docentes pesquisados não os utilizam com frequência em

práticas que envolvem o ensino e aprendizado da leitura crítica e escrita. A ausência dessa

mídia no espaço da sala decorre essencialmente de uma falta da formação específica para a

utilização crítica das mídias na educação, além da negação do acesso aos jornais impressos e/

ou digitais

Uma providência para tentar vencer tal limitação consiste no compromisso efetivo da

Secretaria de Educação do município de Andradina (SP) de proporcionar cursos de formação

continuada para os professores, bem como fornecer todo o material necessário para um ensino

mais significativo sobre as mídias nas escolas pesquisadas.

Finalizando, entendemos que outros trabalhos poderão completar e ampliar as

análises e discussões da presente pesquisa, que não representa o porto de chegada definitivo

de uma travessia. Ao contrário, sua continuidade pode ser empreendida por todos os que se

interessam pelo uso de jornais em sala de aula.

142

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ZILBERMAN, R. A leitura e o ensino da literatura. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1991.

150

ANEXOS

ANEXOS

151

ANEXO 1

Questionário aplicado aos professores do Ensino Fundamental Caro (a) professor(a), boa noite!

Estamos desenvolvendo uma pesquisa sobre o uso do jornal em sala de aula e a sua opinião é muito

importante para nós. Contamos com seu apoio.

Por favor, responda os itens marcando um (X) na resposta que você escolheu ou escrevendo o que é pedido.

Obrigada, que Deus o abençoe sempre!

1- Dados pessoais:

Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

Idade: _______ Há quantos anos você leciona: __________

Qual sua Carga Horária de Trabalho: ______

Carga horária em escolas do município: ____

Carga horária em escolas do estado: _______ Carga horária em escolas particulares: ______

Série que leciona: ________

Sua formação é: ( ) magistério ( ) CEFAM ( )Superior

( )completo ( ) em curso ( )incompleto

Caso seja superior, qual o curso? _____________________________________________

Ano de formação no ensino superior: ________ Você possui pós-graduação? ( )sim ( )não

Caso sua resposta seja positiva, qual foi o curso?_________________________________

2- Quando você pensa em jornal, o que vem a sua mente?

a- ____________________________

b-____________________________ c- ____________________________

d- ____________________________

e- ____________________________

3- Você lê jornais?

( )sim

( )não

3.1 -

Quais?________________________________________________________________________

3.2 - Caso a resposta foi positiva, qual a periodicidade dessa leitura?

( )diária

( )semanal ( )mensal

( )de vez em quando

4- Onde habitualmente faz essa leitura?

( )em casa

( )na escola

( ) outro: ______________________________________________________________________

152

5- Enumere conforme sua preferência de leitura. (Ex. 1º, 2º, 3º...) os tipos de notícias que você lê com mais frequência?

( )cultura

( )editoriais ( )economia

( )esporte

( )entretenimento (notas de novela, cinema, espetáculos, programação de TV ( )informações gerais sobre a cidade

( )notícias policiais

( )política

( )outras quais : _________________________________________________________________

6-Você usa jornais em sala de aula?

( )sim

( )não

6.1 - Se a resposta foi positiva, qual a frequência? ( )em todas as aula

( )uma vez por semana

( )uma vez por mês ( )uma vez a cada bimestre

( )de vez em quando

7- O que você entende por uso do jornal em sala de aula?

_______________________________________________________________________________

8- O jornal pode contribuir na sua prática docente?

( )sim ( )não

8.1 - Explique como:

_______________________________________________________________________________

9-Enumere em ordem de uso (Ex: 1ª, 2ª, 3ª...), como você utiliza o jornal em sala de aula: ( )complementar a aprendizagem

( )diversificar os tipos de texto, além dos usados dos livros didáticos

( )incentivar a aprendizagem ( ) levar assuntos variados para as crianças

( )prática de escrita

( ) prática de leitura ( )provocar discussões interessantes

outras_________________________________________________________________________

10-Quando você usa o jornal você percebe que sua aula fica:

( )monótona ( )participativa

( ) igual

10.1 - Explique como você percebe isso:

_______________________________________________________________________________

11- Você conhece algum projeto de jornal na escola promovido pelos jornais da cidade?

_______________________________________________________________________________

12- Existe algum projeto que usa o jornal em sua escola:

( )sim ( )não

153

12.1 - Se a resposta foi positiva, como é sua experiência na sala de aula? _______________________________________________________________________________

12.2 - Se não existe projeto que faz uso do jornal na escola, você poderia citar quais os motivos?

_______________________________________________________________________________

13- Você acredita que o uso do jornal em sala de aula contribui na formação dos alunos?

( )sim ( )não

13.1 - Explique sua resposta:

_______________________________________________________________________________

14- Você acredita que a utilização dos jornais em sala de aula contribui para a leitura do aluno?

( )sim

( )não 14.1 - Explique:

_______________________________________________________________________________

15- Você acredita que a utilização dos jornais em sala de aula contribui para a escrita do aluno?

( )sim

( )não

15.1 - Explique:

_______________________________________________________________________________

16-Você usa a informação do jornal em sala de aula, como forma de enriquecimento do conteúdo?

_______________________________________________________________________________

17-Você conhece os suplementos infantis? (caderno do jornal dedicado à leitura das crianças) ( )sim ( )não

17.1 - Quais:

_______________________________________________________________________________ 17.2 - Em algum momento fez uso dos suplementos? Conte sua experiência.

_______________________________________________________________________________

18- Em sua formação acadêmica (faculdade) você aprendeu a usar o jornal em sala de aula?

( )sim

( )não

18.1 - Faça um comentário sobre sua resposta: _______________________________________________________________________________

19- Já participou de algum curso de capacitação referente ao uso do jornal em sala de aula? Quantas horas foi esse curso? Qual conteúdo abordado?

_______________________________________________________________________________

20-A Secretaria oferece cursos sobre o uso do jornal em sala de aula?

( )sim ( )não

20.1 - Qual?

________________________________________________________________________ 20.2 - Explique sua resposta:

_______________________________________________________________________________

21- Utilize este espaço para descrever suas observações, críticas e sugestões sobre o uso do jornal em

sala de aula.

_______________________________________________________________________________

154

ANEXO II

Roteiro da entrevista realizada com os professores 1- Dados pessoais:

Nome:______________________________________________________

Série que leciona: ______ Tempo no magistério:________

Formação:_________________________ Escola que leciona:___________________

2- Você costuma ler jornais? Qual? Com qual frequência?

3- O que você acha do jornal impresso?

4- O que você acha da Internet?

5- Você costuma acessar Interne? Em casa? Quantas vezes na semana?

6- Você costuma ler jornais pela Interne?

7- Qual jornal você acostuma ver pela Internet?

8- Por que você lê jornais pela Internet?

9- Você acha que tem diferença entre os jornais impressos e o da Internet? Quais?

10- Você usa jornais em suas aulas?

11-Você já utilizou informações dos jornais da Internet ou impresso durante suas aulas? Qual a

frequência?

12-Conte como foi uma dessas experiências. Descreva os procedimentos usados.

13- O que é um aluno crítico para você?

14- Você considera que o uso dos jornais impressos em sala de aula pode contribuir na formação de

um aluno crítico? De que forma?

15- Você considera que o uso dos jornais na Internet em sala de aula pode contribuir na formação de

um aluno crítico? De que forma?

16- Você teve em sua formação orientações sobre uso das mídias? Caso tenha tido, conte um pouco

como foi sua experiência.

17- Quais as possíveis soluções para suprir a falta de formação para o seu uso? Você gostaria de fazer um curso sobre esse assunto? De que forma seria esse curso?

155

ANEXO III

Carta-convite Andradina, 26 de maio de 2008.

Caro(a) Professor(a)

Meu nome é Elaine Cristina Anhussi e sou professora de educação básica há 8 anos. Preocupada em continuar estudando e aprimorar continuamente minha prática pedagógica, estou desenvolvendo uma

pesquisa de mestrado cujo título é: O uso do jornal em sala de aula: sua importância e concepções de

professores. O objetivo do estudo é explorar e analisar as concepções de professores sobre o uso do

jornal em sala de aula e as práticas decorrentes em escolas públicas municipais das séries iniciais do ensino fundamental, do município de Andradina-SP.

Para o desenvolvimento do trabalho preciso de sua colaboração, respondendo a este questionário.

Quero ressaltar que o meu objetivo não é questionar os seus métodos ou práticas, mas compreender esse processo tão delicado no trabalho do professor compromissado com suas atividades docentes.

Tenho consciência de que ocuparei um tempo que certamente é valioso para o seu trabalho.

Entretanto, ressalto que mais valiosa ainda será a sua contribuição para a construção do conhecimento na área de Educação.

Suas respostas são livres e não sofrerão qualquer interferência ou questionamento de minha parte, bem

como de qualquer órgão oficial. Informo ainda que o Sr (a) tem a garantia de acesso, em qualquer

etapa do estudo, sobre qualquer esclarecimento de eventuais dúvidas. Todas as informações obtidas serão analisadas em conjunto com outros professores da rede, não sendo identificado nenhum dos

participantes. Os dados serão usados somente para pesquisa e apresentação dos resultados nunca

tornará possível a sua identificação. Em anexo, encontra-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para ser assinado caso não

tenha ficado qualquer dúvida.

Sinceros agradecimentos,

Elaine Cristina Anhussi: [email protected]

Programa de Pós-Graduação em Educação – UNESP/Campus de

Presidente Prudente

156

ANEXO IV

Termo de consentimento livre e esclarecido

Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser esclarecido (a) sobre as informações a respeito do trabalho em andamento, caso aceitar fazer parte do

estudo, assine ao final deste documento.

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:

Título do Projeto: Uso do jornal em sala de aula: sua importância e concepções de professores. Esta

pesquisa tem como objetivo geral explorar e analisar as concepções dos professores sobre o uso do jornal em sala de aula e práticas decorrentes em escolas públicas municipais das séries iniciais do

ensino fundamental, do município de Andradina-SP.

Pesquisador Responsável: Elaine Cristina Anhussi

Pesquisador Orientador: Profª Drª. Claudia Maria de Lima (Professora do Programa de Pós-

Graduação em Educação do Campus de Presidente Prudente)

Assinatura do pesquisador _______________________________________________

♦ CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO INFORMANTE

Eu, ___________________________________________________________, portador (a) do RG

______________________________, abaixo assinado, concordo em participar do estudo: O uso do jornal em sala de aula: sua importância e concepções de professores, como informante. Fui

devidamente informado(a) e esclarecido(a) pelo pesquisador Elaine Cristina Anhussi sobre a pesquisa,

os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação.

Local e data ____________________________________________________________

Assinado: ______________________________________________________________