O PROGRESSO DO HOMEMPoluição, Aquecimento e Política

Os países que mais poluem a Terra e que são os principais responsáveis pelo aquecimento global são, exatamente, os que menos assumem suas responsabilidades com o meio ambiente. O Protocolo de Kyoto, extremamente importante para garantir a redução das emissões globais dos gases que estão provocando o efeito estufa foi recusado pelos Estados Unidos. Agora, um alerta das Nações Unidas explica porque a humanidade está diante do impasse ambiental: os países desenvolvidos têm a ganhar com o aquecimento do planeta.

Um estudo da ONU denominado Mudanças Climáticas e Vulnerabilidade da Agricultura, assinado pelos especialistas Mahendra Shah, Gunther Fischer e Harrij van Velthutzen explica o impasse ambiental: precisamos aumentar a produção de alimentos para atender a uma população crescente, mas o aquecimento global ameaça a agricultura com a redução de terras cultiváveis por conta de mudanças climáticas que vão afetar exatamente os países mais pobres.

Aqui está chave para entender a política dos países ricos: os países mais pobres serão os mais prejudicados pelo efeito estufa, justamente os que precisam produzir mais, enquanto os países ricos serão beneficiados com as mudanças.

Segundo o estudo da ONU, as mudanças climáticas serão benéficas para boa parte dos países desenvolvidos e devastadoras para a maioria das nações em desenvolvimento. E os Estados Unidos da América serão os maiores beneficiados pelo aumento das temperaturas (exatamente os maiores opositores ao Protocolo de Kioto) porque muitas de suas áreas frias no norte tornar-se-ão agricultáveis, aumentando o potencial agrícola do país. O mesmo ocorrerá com o Canadá e com a Rússia, que também fazem oposição ao Protocolo.

Coordenador do Programa de Relações Internacionais das ONU, Shah afirma que nos países desenvolvidos o lobby mais forte costuma ser o agrícola, que exerce pressão considerável sobre os governos. Se os agricultores dos países ricos não são afetados e, melhor ainda, podem ganhar novas áreas de plantio, toda a pressão será contra o Tratado. Não importa que a África subsaariana (onde há, atualmente, 90 milhões de subnutridos) vá registrar as maiores perdas, podendo ficar com até menos 75% de terras para o plantio. Nem que a maioria das áreas áridas e semi-áridas do planeta venham a sofrer um aumento de 10%, inclusive no Nordeste brasileiro. O que tem importância, para eles é que os Estados Unidos da América devem ganhar mais 30% de terras para a agricultura e a Rússia mais 55%.

Segundo o estudo, os 40 países mais pobres do mundo (que em 2080 devem ter três bilhôes de habitantes) podem perder até 20% de seu potencial de produção de cereais.