10 avaliação das dificuldades de aprendizagem novas perspectivas para a avaliação psicoeducacional
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O processo ensino-aprendizagem e a avaliação psicoeducacional: reflexões
a partir da Teoria Histórico-Cultural
Maria Margarida Androvicis Abrunhoza1
Nilza Sanches Tessaro Leonardo2
RESUMO
O presente artigo aborda o resultado de estudos realizados no período de trabalho do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná – PDE. Foi desenvolvido trabalho de formação continuada para quinze professores, sendo estes da equipe pedagógica, direção, direção auxiliar, o qual teve por objetivo contribuir com a formação destes profissionais do Colégio Estadual Monteiro Lobato – Ensino Fundamental, Médio e Profissionalizante, do município de Umuarama, tendo como foco principal um ensino de qualidade na escola pública. Foi utilizado como recurso mediador, textos, filmes, material lido, pesquisado, produzido e apresentado em PowerPoint, proporcionando aos mesmos acessos a temas específicos, sendo todas as discussões realizadas sob a luz dos pressupostos da Teoria Histórico- Cultural e suas implicações para a educação na atualidade. Foi possível evidenciar, com base em L.S. Vigotsky (1897-1934) que todos podem compensar seus limites biológicos por meio de reequipamento cultural e tecnológico; todos deveriam ter uma educação baseada nas suas potencialidades e possibilidades; que a vivência social deve fazer parte da educação escolar. Concluímos que esta implementação contribuiu para a formação profissional dos participantes, principalmente por desmistificar velhas concepções arraigadas na cultura dos mesmos principalmente no que diz respeito à Avaliação Psicoeducacional.
Palavras-chave. Aprendizagem – Escola – Professor – Aluno – Avaliação Psicoeducacional. ABSTRACT
This article discusses the results of studies conducted in the period of working at Educational Development Program of the State of Parana - PDE . Was developed a continued job training for fifteen teachers , which are team teaching , direction, steering assist , which aimed to contribute to the training of these professionals in State College Monteiro Lobato - Elementary , Middle and Training - in the county of Umuarama , and the primary focus is quality education in public schools . Was
1 Professora da Rede Pública do Estado do Paraná
2 Professora Orientadora Doutora da Universidade Estadual de Maringá - UEM
used as mediator , texts , movies , reading material , researched , produced and presented in PowerPoint , providing them access to specific topics , all of the discussions in the light of the Theory Cultural-Historical and their implications for education today. It was possible to demonstrate , based on L.S. Vygotsky (1897-1934) that everyone can make their biological limits through cultural and technological re-equipment and all should have an education based on their potential and possibilities, that social life should be part of school education . We conclude that this implementation has contributed to the training of participants , especially for demystify old conceptions rooted in the culture of the same mainly regarding to the Psycho-educational Assessment . Keywords. Learning - School - Teacher - Student - Psycho-educational Assessment
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho tem a pretensão de aprofundar os estudos na Teoria
Histórico-Cultural, dando ênfase ao processo de aprendizagem e
desenvolvimento humano, considerando o meio social em que o sujeito da
aprendizagem está inserido, suas formas de agir, pensar e sentir. Isto nos permite
compreender os fenômenos envolvidos na Educação Escolar atual, e de forma
central os problemas no processo de escolarização, tais como as dificuldades de
aprendizagem e os problemas de comportamento dos alunos presentes no
cotidiano do trabalho pedagógico. Também tem por finalidade a contribuição com
a formação continuada e com a prática profissional de professores. E que dessa
forma forneça subsídios e possibilite conhecimento sobre o processo de
aprendizagem e desenvolvimento humano, visando um ensino de qualidade na
escola pública.
O trabalho, também compartilhado no Grupo de Trabalho em Rede, busca
promover estudos teóricos junto aos professores do Colégio Estadual Monteiro
Lobato – Ensino Fundamental e Médio, e enfoca o papel do social, da escola e do
professor no processo de escolarização.
O Colégio Estadual Monteiro Lobato – Ensino Fundamental e Médio
atende alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental nos períodos matutino e
vespertino. No período noturno são atendidos alunos do Ensino Médio nas
modalidades Regular e E.J.A. nas fases I e II. A problemática apresentada versa
sobre o grande número de encaminhamentos para avaliação psicoeducacional, de
alunos, principalmente do 6º e 7º anos, que apresentam problemas no processo
de escolarização. As queixas relatadas são de cinco espécies: problemas de
aprendizagem, problemas emocionais, problemas de comportamento, problemas
que envolvem questões familiares, relacionamento professor/aluno/escola
(desmotivação, desinteresse, indisciplina, entre outros). Percebe-se falta de
clareza aos professores sobre como se concretiza o processo ensino-
aprendizagem e, consequentemente, os mesmos têm dificuldade em apresentar
quais alunos e quando estes devem ser encaminhados para avaliação
psicoeducacional, psicológica, neurológica ou mesmo pediátrica. Também não
possuem nitidez sobre qual aluno necessita de atendimento em área da educação
especial em sala de recurso multifuncional em contra-turno.
Diante destas dificuldades, busca-se, portanto, com este trabalho realizar
junto a estes professores estudos de autores que pertençam à Psicologia
Histórico-Cultural. Principalmente se atendo aos textos que tratam sobre
aprendizagem e desenvolvimento humano para dessa forma possibilitar a eles
conhecimentos específicos sobre o processo ensino-aprendizagem e avaliação
psicoeducacional. Outro aspecto relevante no trabalho é a promoção de
discussões teóricas-práticas com o objetivo de levá-los a refletir sobre o papel da
escola e do professor na concretização do processo ensino-aprendizagem.
2. Desenvolvimento
Para compreendermos a educação escolar é necessário olhá-la como
elemento que recebe interferência da produção capitalista, do trabalho e das
transformações sociais permeando as mesmas. As políticas públicas e a
educação irão representar historicamente a sociedade e suas transformações
sociais. “Isso significa que tanto as diretrizes legais como a educação vinculam-se
ao mundo do trabalho, como expressão e, ao mesmo tempo, como reflexão das
relações sociais produzidas pelos mesmos” (ROSS, 1998, p.99).
A escola faz parte de uma totalidade que envolve o social, cultural,
histórico e econômico, sofrendo influência direta de uma sociedade heterogênea
rica, com desemprego, em um conjunto em que a pobreza se destaca e os
investimentos nas políticas públicas não é o foco principal. Para Galuch, (2011, p.
55),
O espaço privado do indivíduo, justamente a dimensão em que residia a possibilidade de resistência ao status quo, foi, também ele, invadido e regulado pelo aparato do controle social e semiformação. Nesse contexto, que aliena a um só tempo, o físico e o psíquico, o corpo e a mente, se estabelece a certeza de que a sociedade não pode ser diferente do que é, tanto no que concerne às relações sociais de produção, como no que diz respeito ao modo de vida decorrente dessas relações. Do ponto de vista da emancipação humana, vive-se, pois, um tempo de involução, a despeito de todo avanço tecnológico.
A escola nessa conjuntura, que recebe influência e ao mesmo tempo
influencia, não pode ser exclusivamente responsável pela transformação das
práticas sociais, como se esta fosse a portadora de todas as respostas ou
salvadora de todos os males. A escola precisa ser olhada como um espaço de
transmissão e apropriação de conhecimentos científicos, “[...] cujo papel consiste
na socialização do saber sistematizado” (SAVIANI, 2002, p.14) e no
desenvolvimento cognitivo da criança.
[....] a escola tem fracassado na tarefa de instrumentalizar os alunos com conhecimentos que os possibilitem estabelecer uma relação competente com o mundo. Tem fracassado, inclusive, na tarefa de desenvolver nos alunos capacidades fundamentais como a de ler, escrever e interpretar (GALUCH, 2011, p. 57).
Para Saviani (2.008, p.224), “considerando que a educação é uma
atividade especificamente humana cuja origem coincide com a origem do próprio
homem, é no entendimento da realidade humana que devemos buscar o
entendimento da educação”. Entendemos que nesta busca o trabalho é o cerne
da questão, considerando que educação é trabalho, e para contextualizar a
necessidade de pensar as bases teóricas da pedagogia histórico-crítica, Saviani
(2005, p.141) considera:
Quanto às bases teóricas da pedagogia histórico-crítica, é óbvio que a contribuição de Marx é fundamental. Quando se pensam os fundamentos teóricos, observa-se que, de um lado, está a questão da dialética, essa relação do movimento e das transformações; e, de outro, que não se trata de uma dialética idealista, uma dialética entre os conceitos, mas de uma dialética do movimento real.
Para Marx, nos Manuscritos econômico-filosóficos redigidos em 1844, a
essência humana é o trabalho. O trabalho é prática e a vivência do ensinar é a
teoria permitindo a prática. Pela dialética histórica compreendemos que a forma
como são produzidas as relações sociais e suas condições de existência é que
leva-nos a pensar e introduzir a educação.
(…) vejo a práxis como uma prática fundamentada teoricamente. Se a teoria desvinculada da prática se configura como contemplação, a prática desvinculada da teoria é puro espontaneísmo. É o fazer pelo fazer. Se o idealismo é aquela concepção que estabelece o primado da teoria sobre a prática, de tal modo que ela se dissolve na teoria, o pragmatismo fará o contrário, estabelecendo o primado da prática (SAVIANI 2005, p.141).
Saviani (2005, p.143) complementa afirmando que:
Se a educação é mediação no seio da prática social global, e se a humanidade se desenvolve historicamente, isto significa que uma determinada geração herda da anterior um
modo de produção. E a nova geração, por sua vez, impõe-se a tarefa de desenvolver e transformar as relações herdadas das gerações anteriores
A medida que o professor no processo ensino-aprendizagem transmite o
conhecimento científico faz a mediação entre o conhecimento e a prática social,
ou seja, permite que as novas gerações conheçam e incorporem o que foi
herdado das gerações anteriores, produzindo assim sujeitos ativos,
transformadores das relações sociais. Partindo desta premissa se faz necessário
entender o aluno empírico e o aluno concreto. Sobre isto Saviani (2005, p.143)
expõe:
Mostro o aluno concreto e apresento o concreto como a síntese de múltiplas determinações definidas enquanto relações sociais. Portanto, o que é do interesse deste aluno concreto diz respeito a condições em que se encontra e que ele não escolheu. Assim também as gerações atuais não escolhem os meios e as relações de produção que herdam da geração anterior, e a sua criatividade não é absoluta, mas faz-se presente. A sua criatividade vai expressar-se na forma como ela assimila estas relações e as transforma. Então, os educandos, enquanto concretos, também sintetizam relações sociais que eles não escolheram. Isto anula a ideia de que o aluno pode fazer tudo pela sua própria escolha. Essa ideia não corresponde à realidade humana.
Na atualidade é necessário pensar para separar o que é do aluno
empírico e do aluno concreto. O aluno empírico pode querer ou fazer
determinadas coisas ou ter interesses, que não condizem, enquanto aluno
concreto. É nesta situação que o conhecimento sistematizado aparece como
problema, pois foi produzido historicamente, formando os meios de produção.
Cabe então, a educação, a transmissão e a condição de acessibilidade a este
“saber”. Para Saviani, (2005, p.144),
Eis como a questão do conhecimento e a mediação do professor se põem. Porque o professor, enquanto alguém que, de certo modo, aprendeu as relações sociais de forma
sintética, é posto na condição de viabilizar esta apreensão por parte dos alunos, realizando a mediação entre o aluno e o conhecimento que se desenvolveu socialmente).
Entendemos que no processo de aprendizagem o professor ocupa no
espaço escolar o lugar de mediador, levando o educando à aquisição do
conhecimento científico e, consequentemente, à formação para a cidadania e à
formação para o desenvolvimento psíquico. Sobre estes aspectos, Sforni (2010, p.
98) contribuiu expondo que:
Com o argumento de que a formação para a cidadania e a formação para o desenvolvimento psíquico não são excludentes poder-se-ia afirmar que não é necessário dicotomizar as funções da escola. No entanto, essa aparente unidade parece ser possível apenas no discurso, já que, na prática educacional, ao se definir os conteúdos curriculares e os planejamentos de ensino, chega-se a uma encruzilhada que implica atribuição de prioridades. Entre os vários conteúdos possíveis e o tempo escolar disponível para a consecução do currículo, as opções se fazem com base no que se considera como o motivo central da existência da escola na vida dos sujeitos. Esse critério de escolha revela-se até mesmo na distribuição do tempo destinado a um ou outro conteúdo, no tipo de atividades realizadas e no que se espera como manifestação da aprendizagem por parte dos alunos.
2.1 Avaliação Psicoeducacional e o contexto avaliativo
Educação, processo ensino-aprendizagem, inclusão, diversidade,
dificuldades para aprender, são temas que produzem vários questionamentos e
seu entendimento, apesar de amplamente discutidos em várias esferas e também
na escola, ainda deixa muitos pontos cegos.
A princípio, a escola deveria atender a todos, “olhar” para o diferente.
Devido a isso, os alunos que possuem uma deficiência sensorial ou neuromotora
devem e serão atendidos pelas políticas públicas inclusivas. Entretanto, a
realidade dentro da escola mostra a necessidade de um olhar apurado sobre as
diferenças que lá aparecem.
De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Especial para a
Construção de Currículos Inclusivos (2006) no Paraná, a inclusão educacional
apresenta-se como um processo gradativo, dinâmica e em transformação onde:
É a preocupação da escola com o atendimento à diversidade social, econômica e cultural existente que lhe garante ser reconhecida como instituição voltada, indistintamente, para a inclusão de todos os indivíduos [...] o grande desafio dos educadores é estabelecer uma proposta de ensino que reconheça e valorize práticas culturais de tais sujeitos sem perder de vista o conhecimento historicamente produzido, que constitui patrimônio de todos (PARANÁ, 2005, p.12).
A educação na escola deveria ser planejada respeitando o direito do
cidadão, respeitando o momento em que está inserido, independentemente da
forma de aprendizagem de cada um. A Declaração de Salamanca (1994) leva a
entender que: “todas as escolas devem acolher todas as crianças,
independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais,
linguísticas ou outras”. Pensa-se então, que os educandos com interesses e
capacidades heterogêneas devem receber amparo legal (currículo adaptado), de
espaço e tempo de estudo de forma a sentirem-se incluídos em suas
necessidades.
As Diretrizes Curriculares da Educação Especial para a Construção de
Currículos Inclusivos (2006), traz que:
Assim, o insucesso na escola revela que não são apenas os alunos com deficiência os que apresentam necessidades referentes ao processo de aprendizagem e que devem ser beneficiados com recursos humanos, técnicos, tecnológicos ou materiais diferenciados que promoverão a sua inclusão. Não se admite, portanto, continuar-se a ouvir declarações em que a escola inclusiva seja caracterizada apenas como aquela que possuem matriculados em suas turmas, alunos com deficiências, ainda que continue a apresentar altos índices de evasão e repetência, grande número de analfabetos funcionais, ou alunos marginalizados por sua
condição de pobreza extrema ou pela cor de sua pele, entre outras situações de exclusão e fracasso. As escolas inclusivas são escolas para todos, implicando um sistema educacional. Que reconheça e atenda às diferenças individuais, respeitando as necessidades de qualquer dos alunos (CARVALHO, 2004, p. 26)l.
Torna-se necessário então, um questionamento sobre quem são esses
alunos que não aprendem e o que pode ser feito para reconhecê-los. O que
poderia ser pensado para avaliá-los e que instrumentos, métodos, poderiam ser
utilizados? Pensar a avaliação é um embate olhado por todos que de alguma
forma estão envolvidos no processo. É relevante refletir o que se quer avaliar: o
quanto se aprende, o nível intelectual, questões orgânicas, emocionais ou buscar
entender o processo de escolarização? Tessaro Leonardo, (2011, p 14) coloca
que:
Temos convivido com uma situação contraditória em relação à educação escolar, pois, por um lado, há uma reivindicação de expansão da educação, com qualidade, para todos, mas por outro lado, há uma tendência de esvaziamento e desvalorização, expressa pela falta de investimentos na educação e por concepções de que a escola é apenas uma entre as muitas formas de educação, sem ser a principal.
Entendemos que a educação deva promover o desenvolvimento do
indivíduo, e que através do processo educativo haja uma nova consciência, ou
seja, uma nova individualidade com capacidade de se transformar e de
transformar o mundo. Porém, nos defrontamos com uma produção em que
Machado (2007) coloca: “no Brasil, apenas cerca de 27% das crianças que
ingressam na primeira série concluem o primeiro grau . Muitas pesquisas e
trabalhos de intervenção têm-nos orientado para a produção social do fracasso
escolar, alertando-nos quanto à perigosa tendência de tornar natural aquilo que é
historicamente determinado”.
Ao pensarmos a função da escola devemos olhar para o trabalho com os
conceitos científicos, de forma que os conteúdos sejam organizados e
sistematizados, pois para Vigostski (2000), a apropriação destes conceitos, por
parte dos alunos, concorrem para a formação dos seus processos psicológicos
superiores. Sobre estes aspectos, Saviani (2003) esclarece socializando os
conteúdos já elaborados pela humanidade, de forma que os alunos possam
participar do processo de humanização. Na apropriação destes conceitos o
professor ocupa lugar primordial, ou seja, funciona como mediador dessa relação.
Facci (2004) destaca que este é o mediador entre o aluno e o conhecimento, por
isso lhe cabe intervir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos e conduzir
a prática pedagógica considerando a potencialidade de cada aluno. A mediação
do professor implica, necessariamente, em ensinar.
Tessaro, e colaboradores (2008. p.17) destacam que:
Para Vigotski, todos os indivíduos têm capacidade de se desenvolver desde que elaborem mediações diferenciadas. Considera-se este aspecto primordial; no entanto, a forma como as dificuldades de aprendizagem são compreendidas e avaliadas pode conduzir a estereotipias que nada fazem avançar na compreensão do desenvolvimento das funções psicológicas superiores dos alunos que apresentam queixas escolares, dificuldades essas que podem ser remetidas ao fracasso escolar.
As escolas no Brasil têm fracassado na sua função de proporcionar
aprendizagem e desenvolvimento a todos os alunos, e por entenderem que as
explicações para o não aprendizado centram-se nos próprios alunos, acabam por
encaminhá-los para avaliação. As idéias, portanto, de “falta”, “anormalidade”,
“doença” e “carência” dominam a formulação das queixas escolares. Para Chiodi
(2012, p. 74), “pensar na qualidade do ensino remetia também a pensar em
formas de avaliar aqueles alunos que estavam fracassando na escola”. Segundo
Bray, (2009, p69), “busca-se uma normatização dos comportamentos desviantes
sem levar em conta a sociedade excludente que estamos produzindo”. Sobre
estes aspectos Chiodi (2012, p.75) contribui ao afirmar que,
O entendimento e atendimento às queixas escolares ainda são norteados por uma visão tradicional da psicologia, tendo como encaminhamento final as Unidades Básicas de Saúde. Logo, o viés psicologizante ainda está presente nas explicações acerca do fracasso escolar, influenciado, sobretudo, por uma visão ideológica pautada no neoliberalismo, que coloca no indivíduo a responsabilidade por seu sucesso ou fracasso, desconsiderando a divisão de classes sociais, fruto do capitalismo, que, por meio das relações sociais estabelecidas, diferencia os indivíduos, não dando a todos as mesmas condições para o desenvolvimento de todas as suas potencialidades, até mesmo a de se apropriar do conhecimento. Perante o exposto, defende-se que a análise do desenvolvimento da criança, de suas dificuldades e potencialidades deve ser permeada por uma compreensão de que o sucesso escolar depende de mudanças estruturais que possibilitem dar destaque à educação e à escola na transmissão dos conhecimentos científicos.
Facci e colaboradores (2007, p.32) complementam expondo que:
(...) ao considerar a perspectiva Histórico-Cultural na avaliação psicológica das queixas escolares, é importante salientar como analisar a história da produção da queixa, o contexto em que ela foi produzida, as medidas pedagógicas tomadas para a superação das dificuldades e as superações que foram alcançadas em relação às dificuldades apresentadas pelos alunos. O envolvimento da equipe pedagógica, professores e pais no processo de avaliação é primordial, de forma que todos possam auxiliar na compreensão e na avaliação da potencialidade da criança, na utilização de testes psicológicos como complemento da avaliação e não como critério de classificação e discriminação.
Diante do exposto percebemos a necessidade de se rever as práticas
pedagógicas, educacionais, permitindo um olhar diferente perante a queixa
escolar. Neste momento, Facci, Eidt e Tuleski (2006, p.39) contribuem ao
asseverarem que:
(...) a avaliação psicoeducacional necessita ir além da avaliação do aluno, de seus conhecimentos e competências, como decorrentes de fatores orgânicos de desenvolvimento e maturação. Essa avaliação precisa também privilegiar a escola, avaliando suas metodologias, os conteúdos que se propõe a ensinar, bem como a qualidade das mediações. Logo, essa mesma avaliação deve constituir-se numa avaliação que ultrapassa o âmbito psicoeducacional para o âmbito de condições histórico-sociais. Deverá levar em conta a escola e a sociedade na qual a criança está imersa, sendo assim menos excludente e seletiva, tornando-se mais dinâmica e revolucionária. Sendo assim, faz-se imprescindível que essa avaliação contribua para o processo de ensino-aprendizagem da criança, pois de nada adianta apenas conhecer o que a criança não sabe, é preciso conhecer o que essa criança é capaz de aprender e, dessa forma, promover, da melhor forma possível, o desenvolvimento dessa aprendizagem.
Faz-se necessário, portanto, pensar uma avaliação psicoeducacional que
contemple além da avaliação do aluno, do seu conhecimento pedagógico, das
questões orgânicas e familiares, a necessidade da escola, seus conteúdos, a
metodologia trabalhada no cotidiano e, fundamentalmente, a qualidade da relação
professor – aluno, a existência de uma mediação realmente eficaz. Facci, Tuleski
e Eidt (2006, apud Chiodi, 2012, p.78) esclarecem também quando diz respeito à
avaliação psicoeducacional:
Uma avaliação psicoeducacional adequada necessita contemplar uma análise do desenvolvimento infantil de um modo prospectivo, indicando noções e conceitos que estão no nível de desenvolvimento próximo. É sobre essas noções e conceitos que se deve centrar o ensino, a fim de serem desenvolvidas as funções psicológicas superiores, as quais necessitam ser investigadas numa perspectiva histórica, pois essas funções foram constituídas por diversos processos elementares e primários do comportamento.
O que vai permitir a possibilidade de desenvolvimento dos alunos é a
escola, os procedimentos pedagógicos, a mediação do professor e presença da
família. Chiodi, (2012), enfatiza que “a boa escola e bom ensino são aqueles
capazes de projetar o indivíduo para além daquilo que lhe é apresentado de
imediato, levando-o a estudar não apenas os fatos e fenômenos, mas as relações
que eles têm entre si”.
2.2. Psicologia-Histórico Cultural e a Educação Escolar
Nos postulados da Psicologia Histórico-Cultural, a relação entre
desenvolvimento e aprendizagem se dá de modo processual e não se esgota ao
longo da vida. Desde o nascimento, há dependência e interação entre o adulto e
bebê. O ser humano nasce extremamente frágil e depende do outro para
sobreviver, essa dependência é que lhe permitirá no futuro a humanização, o ser
humano precisa crescer em um ambiente social e interagir com outras pessoas.
(ZAVADSKI, 2009)
Sobre isso, Shuare (1990, apud Bray, 2009 p.38), expõe sobre “a
importância que a Psicologia Histórico-Cultural atribui ao social para o
desenvolvimento do indivíduo, pois é na interação com o outro que este supera
sua condição biológica, sendo a transmissão da cultura, feita pela educação,
essencial para a constituição do homem”. Esta autora ressalta ainda, que todo
homem deve ter a possibilidade de acesso e apropriação da cultura humana.
Desde o nascimento, o bebê recebe influência de sua família, sua cultura,
educação, dos seus costumes e também objetos. A partir da relação primária com
o entorno, e a medida que existe a mediação com o mundo pelos adultos a
criança vai adquirindo informações que vivenciadas pelo ambiente familiar e
social, os processos psicológicos mais complexos começam a se formar. Ou seja,
suas ações, atos, o brincar, o fazer vão ganhando significados para a criança,
entrelaçando assim sua própria história (ontogênese), suas aquisições dentro da
cultura, sua educação e o social (sociogênese). Partindo dessa mediação, os
vários significados que podem ser dados pela criança fazem parte de sua
aprendizagem em seu desenvolvimento. Um exemplo disto é o significado que ela
dá para os afetos. Assim sendo, vemos então que a mente humanizada é
formada histórica e socialmente.
Tessaro e colaboradores (2007) destacam que entender o porquê de a
criança não aprender implica em analisar como se dá o processo inverso, ou seja,
como ela aprende. Ou seja, a criança aprende através do que os adultos
procuram passar, pelas informações relativas a sua cultura, dando significado aos
comportamentos, condutas, objetos culturais que foram se formando no decorrer
da história. O aprendizado é um aspecto necessário e fundamental para que as
funções psicológicas superiores se estabeleçam. Para as mesmas autoras, a
compreensão do ser humano depende do processo de internalização das formas
culturalmente dadas de funcionamentos psicológicos. E cada um dá um
significado particular as suas vivências. Por isso, afirma que a aprendizagem
precede o desenvolvimento.
Bressan (2005, p.17) esclarece que a “questão da mediação simbólica é
uma característica da relação do homem com o mundo e com os outros homens.
O homem criou um sistema de símbolos para desvelar as significações do
mundo”. O homem precisou criar através da cultura um sistema de linguagens, ou
seja, através dos signos e significados. Criando assim a mediação simbólica para
os acontecimentos e fatos da realidade.
(...) quanto ao pensamento das crianças, essas possuem leis próprias, sendo diferente da forma de pensamento do adulto, criado pela cultura. A criança pequena se concentra no próprio eu, nos seus interesses, e por isso se dissocia do mundo, no sentido de que o seu pensamento ainda não se confronta com a realidade. Além da criança se satisfazer substituindo a realidade pela fantasia, ela ainda possui uma lógica primitiva, por isso ela se contenta com explicações absurdas, mas que para ela fazem sentido, ao invés de dizer que não sabe ou que não entende algo (VIGOSTSKI & LURIA 1996, apud BRAY, 2009, p.45).
De acordo com Leontiev (2004, apud Silva, 2010, p. 26),
São os instrumentos e os sistemas de signos, em especial a linguagem, que possibilitam ao homem a transmissão histórica de suas atividades, pois é ele mesmo que fabrica, utiliza e conserva os instrumentos. Com isso a significação deste fixa-se na consciência humana e a modifica qualitativamente em relação ao psiquismo animal. Para o animal, por exemplo, o instrumento perde o seu significado após o seu uso; ele permanece como um objeto externo ao animal, servindo apenas para a satisfação imediata. O que explica por que os animais não constroem nem conservam seus instrumentos é que eles são desprovidos de sentido coletivo, têm função apenas localizada.
Para pensarmos a importância do conhecimento como alavanca para o
desenvolvimento psicológico, Facci (1998, apud Zavadski, 2009, p. 109) contribui
ao afirmar que:
As funções psicológicas superiores (tipicamente humanas, tais como a atenção voluntária, memória, abstração, comportamento intencional, etc.) são produtos da atividade cerebral, tem uma base biológica, mas, fundamentalmente, são resultados da interação do indivíduo com o mundo, interação mediada pelos objetos construídos pelos homens. Neste aspecto, o homem diferencia-se dos animais, embora todo comportamento humano parta de uma base biológica, o homem é um ser social e histórico, que produz sua ação para suprir necessidades criadas pelo meio em que vive e cria novas necessidades, que não são puramente biológicas.
Leontiev (2004, apud SILVA, 2010, p.31) complementa referenciando a
respeito de instrumentos, signos e linguagem que: a linguagem é uma forma da
consciência e do pensamento humano, tornando-se suporte da generalização
consciente da realidade. A respeito desse assunto Silva (2010) esclarece que na
relação desenvolvimento e aprendizagem, na formação dos processos
psicológicos superiores, o ensino escolar ocupa lugar de destaque, onde a criança
obtém as capacidades essencialmente humanas, especialmente se o ensino for
devidamente organizado. De acordo com Vigotski (2001, p.311),
Para consolidar a ideia de que entre aprendizagem e desenvolvimento existem relações complexas, superando as ideias de independência ou igualdade entre eles, Vigotski e seus colaboradores propuseram uma série de estudos e investigações para fundamentar suas hipóteses. A primeira série de estudos visa examinar o nível de maturidade das funções psíquicas em que se baseia o ensino das matérias escolares básicas, tais como leitura, escrita, aritmética e ciências naturais. Nessa investigação, comprovou-se que “(...) até o momento de início da aprendizagem, as crianças que as haviam estudado com muito sucesso não demonstraram o menor indício de maturidade naquelas premissas psicológicas que, segundo a primeira teoria, deveriam anteceder o próprio início da aprendizagem.
.
Ainda, a esse respeito, Vigotski (1977, apud Silva, 2010, p.38) continua
expondo que o desenvolvimento humano e a aprendizagem vão ocorrendo de
forma entrelaçada, o mesmo ocorre par a par, em dois níveis: o real, que acontece
de forma independente e o desenvolvimento próximo, o qual o sujeito humano
necessita de ajuda ou mediação/imitação do outro. Tessaro e colaboradores,
(2007, p.324), complementa, que, em suas pesquisas Vigotski (2000) identificou
dois níveis de desenvolvimento: o efetivo ou real, que vai se constituindo pelas
funções psicológicas amadurecidas e o potencial ou próxima que é definido como
aquelas funções em via de amadurecimento, próximas a resolução com auxílio do
adulto ou de outras crianças.
Enquanto que Silva (2010), ao focar mediação e trabalho pedagógico,
enfatiza que: o conhecimento é transformado o tempo todo, através das
informações recebidas e apropriadas, sendo que o processo de desenvolvimento
é contínuo e inseparavelmente ligado à aprendizagem, sendo por ela modificado.
Seguindo essa linha de raciocínio, Vigotski (1993, apud. Tessaro e
colaboradores 2007) esclarece que: o ensino deve incidir sobre a zona de
desenvolvimento proximal, portanto, a escola tem como função trabalhar com os
conceitos científicos de forma sistematizada, organizando os conteúdos, pois a
apropriação destes conceitos concorre para a formação dos seus processos
psicológicos superiores.
Silva (2010, p.39) propõe que: “A educação, quando organizada tendo em
vista a zona de desenvolvimento próximo, promove desenvolvimento intelectual, à
medida que propicia uma série de amadurecimentos de processos que sem a
educação seriam impossíveis de desenvolver”. A mesma autora destaca ainda
que assim sendo, a educação revela-se fundamental para o processo de
desenvolvimento e aquisição das características históricas do homem.
Petroviski (1985, apud Tessaro e colaboradores, 2007) assevera que a
escola deveria ter como um de seus objetivos desenvolver nos alunos as
atividades mentais necessárias para a apropriação do conhecimento.
Concordando com a autora, pensamos que a escola ao sistematizar o trabalho
pedagógico de forma efetiva proporciona a aquisição dos conteúdos científicos.
De acordo com Tolstij (1989, apud, Silva, 2010, p.47),
Enquanto na família valoriza-se a criança em suas particularidades e o tratamento dado a ela ocorre de forma pessoal, na escola as singularidades do aluno não só perdem importância, mas também devem dar lugar ao comportamento organizado. A disciplina passa a ser exigida e a criança tem que aprender a orientar-se de acordo com as normas da instituição escolar que a dirige e a orienta, proibindo ou elogiando seus comportamentos de acordo com as regras. Desta forma a escola exerce “[...] o papel de transição entre a família e a sociedade civil.
Na escola, na transmissão dos conteúdos, no estabelecimento de
normas, regras o professor ocupa lugar de suma importância sendo este, o
mediador na relação dialética família, escola, aprendizagem, neste sentido
Tessaro, e colaboradores (2007, p.325), expõe “onde o professor tem papel
destacado. Ele é o mediador entre o aluno e o conhecimento, por isso lhe cabe
intervir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos e conduzir a prática
pedagógica considerando a potencialidade de cada aluno. A mediação do
professor implica, necessariamente, em ensinar”. Para Davidov (1979, apud Silva,
2010, p.51),
O desenvolvimento da psique dos escolares pequenos se dá, fundamentalmente, com base na atividade que predomina nesta fase: o estudo. Ao incorporar as atividades de estudo, as crianças vão se subordinando às exigências do ensino, cujo cumprimento supõe o surgimento na psique de qualidades que não se encontravam nos pré-escolares. As novas características surgem e se desenvolvem nos escolares iniciantes à medida que se estruturam as atividades de estudo.
Nessa mesma direção há Elkonin (1969, apud Silva, 2010) afirmando que,
nem todas as crianças na idade escolar estão preparadas para a atividade de
estudo, muitas vezes relutam para desenvolver as atividades solicitadas, preferem
brincar, desenhar, o que se deve a falta de orientação por parte dos pais sobre a
função da escola, cabe ao professor suprir essa falta, diferenciando a atividade
estudo e a lúdica.
Finalizando, pensamos que a escola precisa ser um lugar onde possa
haver análise, reflexões e questionamentos sobre as possibilidades do ensino
aprendizagem levando em conta uma prática pedagógica efetiva com projetos
voltados a realidade de cada comunidade escolar.
3. IMPLEMENTAÇÃO PEDAGÓGICA NA ESCOLA
Com esse trabalho desenvolvemos um curso de formação continuada de
32 horas, distribuídos em quatro encontros de oito horas, certificado pela UEM.
Contamos com a participação de quinze professores da educação, sendo: diretor,
diretora auxiliar, professores e equipe pedagógica.
No primeiro encontro, foi vivenciada uma atividade psicomotora
objetivando autoconhecimento e familiarização entre as pessoas. Apresentamos
aos participantes, de maneira resumida, os objetivos do estudo e trabalho. A
apresentação das Bases teóricas e filosóficas da Psicologia Histórico
Cultural foi feita através de PowerPoint destacando Lev Vigotsky, e suas
principais idéias: zona de desenvolvimento proximal, aprendizagem mediada e
pensamento verbal. Este momento de estudo foi uma importante ação para
alcançarmos os objetivos propostos, uma vez que o dia a dia do trabalho docente,
na maioria das vezes de quarenta horas-aula, seguidos de mais uma série de
atividades decorrentes da prática educacional, faz com que nem sempre se tenha
tempo para pensar em estudar de forma efetiva e sistematizada.
Após a apresentação em PowerPoint foi trabalhada parte da tese de
Cristiane Toller Bray, que aborda A Psicologia Histórico-Cultural e a Educação
Escolar para compreensão da queixa escolar, o qual foi pesquisado no site:
www.ppi.uem.br/Dissert/PPI-UEM_2009_CrisBray.pdf
Este material permitiu que os professores visualizassem as concepções e
atuações acerca das queixas escolares (dificuldades escolares, problemas de
comportamento, outros) e os levou a entender a contribuição da psicologia na
compreensão dos fenômenos envolvidos, de forma direta ou indireta, nos
problemas de escolarização. Permitindo-os pensar que isso pode ser resultado
da formação do professor, de forma a-histórica, a-crítica, acerca da construção da
sociedade e da Educação Escolar.
No segundo encontro foi trabalhada uma vivência corporal envolvendo
relaxamento pela respiração. Foi um momento em que os profissionais
trabalharam relacionamento interpessoal, sensibilização, criatividade e
expressividade. Com a apresentação do filme Como estrelas na Terra, toda
criança é especial, que aborda os problemas enfrentados por uma criança
disléxica, a dificuldade da escola e da família em enfrentar o problema e o papel
da mediação para aprendizagem e desenvolvimento da criança, os professores
tiveram momentos de reflexão. O filme é um drama, vivenciado na Índia, e o
objetivo de apresentá-lo foi permitir que os profissionais da educação
conhecessem as possibilidades da relação professor aluno, relações familiares e
relações sociais. Também puderam analisar as práticas das escolas, o valor da
arte enquanto disciplina e o professor como mediador e transformador. Neste
estudo também ficou claro para os profissionais que cabe ao professor criar
condições para estabelecer interações que possibilitem a criança com dificuldade
desenvolver-se, ou seja, o desenvolvimento não é espontâneo, mas sempre
mediado (na zona de desenvolvimento proximal) pelo outro, principalmente no
âmbito escolar.
Nesse encontro também foi trabalhado o texto de Marilda Gonçalves
Facci que aborda a Periodização do Desenvolvimento Psicológico Individual
na Perspectiva de Leontiev, Elkonin e Vigotsky. O texto ajudou aos profissionais
entenderem que segundo os autores, cada período do desenvolvimento individual
humano é caracterizado por uma atividade principal, ou atividade dominante, a
partir da qual se estruturam as relações do indivíduo com a realidade social,
podendo também, correlacionar as dificuldades de aprendizagem de acordo com
o desenvolvimento humano. O referido material pesquisado no site:
http://www.vigotski.net/scielo/sci2004-02.pdf
O terceiro encontro foi trabalhado a partir do texto a “Construção dos
Conceitos Científicos em Sala de Aula, de autoria do professor João Luiz
Gasparin. Este material possibilitou aos profissionais um estudo partindo de
discussões e debates sobre a necessidade e importância do conhecimento
científico. O professor/educador foi levado a pensar um projeto para a construção
dos conceitos científicos em sala de aula, partindo do conceito inicial do aluno, em
seguida dos conceitos dos manuais didáticos, do conceito cotidiano do professor,
conceito científico, para finalmente o conceito final possível do aluno. Este
material estudado permitiu ao professor/educador ter uma base para a elaboração
de um projeto de construção dos conceitos científicos em sala de aula, ou seja,
levou os profissionais a pensarem no preparo, planejamento do trabalho do
professor no cotidiano da sala de aula, correlacionando-o também a alguns
elementos da Teoria Histórica-Cultural.
Em segundo momento, após este estudo, foi vivenciada uma dinâmica
corporal com o objetivo de trabalhar as primeiras sensações e o início da
linguagem. Posteriormente o desenvolvimento psicomotor e as primeiras
aprendizagens vivenciadas foram trabalhados utilizando papel crepom e fita de
seda, envolvendo o individual, a dupla, o trio e o grupo maior, visando o social e a
escola, e buscando a integração e a inclusão. Após essa vivência foi introduzido o
estudo do texto Inclusão Escolar: um Estudo acerca da Implantação da
Proposta em Escolas de Ensino Básico, escrito pelas professoras Nilza
Sanches Tessaro Leonardo, Cristiane Toller Bray e Solange Pereira Marques
Rossato, pesquisado no site: www.scielo.br/pdf/pee/v12n2/v12n2a14.p
O referido material teve como objetivo de estudo e discussão verificar
como estão sendo implantados os projetos de Educação Inclusiva no ensino
básico em escolas públicas e privadas do interior do Paraná. Este material
permitiu aos profissionais pensar o lugar do processo ensino aprendizagem, ao
revelar que tanto as escolas públicas como as privadas ainda não possuem
infraestrutura adequada para desenvolver projetos inclusivos, principalmente no
que diz respeito aos recursos humanos. Os profissionais, em sua maioria,
mostram-se sem conhecimento e preparo para lidar com a diversidade dentro da
sala de aula, ou seja, muitas vezes o ensino de qualidade buscado é
negligenciado.
No quarto encontro foi trabalhado o texto Contribuições da Teoria
Histórico Cultural para o Processo de Avaliação Psicoeducacional, de autoria
das professoras Marilda Gonçalves Facci, Nádia Mara, Silvana Calvo Tuleski,
pesquisado no site: www.scielo.br/pdf/pusp/
O estudo deste texto que serviu de apoio para discussão, debate e para a
análise crítica da avaliação psicoeducacional tradicional, partiu das contribuições
da Psicologia Histórico-Cultural. Buscou-se com este estudo levar o
professor/educador a pensar que historicamente os testes padronizados vêm
servindo como instrumento para atestar de forma científica a ideologia da
igualdade entre os homens na sociedade capitalista que se mantém pela
desapropriação ou pela exclusão. Este material levou os profissionais a refletirem
sobre uma avaliação que considere as intervenções sociais, levando em conta os
instrumentos e signos, como construtores das funções psicológicas, permitindo
aos educandos desenvolvimento/aprendizagem e não exclusão.
Em segundo momento, neste encontro, foi apresentado em PowerPoint
um esclarecimento do papel, dos objetivos e dos tipos de alunado que atendem a
função da Avaliação Psicoeducacional no Contexto Escolar. As diferenças de
encaminhamento para Ensino Regular com Apoio e Ensino Regular com
acompanhamento em Sala de Recursos também foram expostos.
Considerações Finais
Concluímos que o aprendizado foi significativo para todos os envolvidos.
Dúvidas foram sanadas, assim como angústias e incertezas iniciais, esclarecidas,
apontando uma direção de trabalho realmente efetivo.
Fazer uso de textos, filme, materiais produzidos em PowerPoint como
instrumentos mediadores de debates, estudos e discussões com profissionais da
educação, foram recursos que possibilitaram alcançar vários dos objetivos
propostos, dentre os quais aprofundar o estudo de autores que pertencem a
Psicologia Histórico-Cultural. Dessa forma foram fornecidos subsídios que
proporcionaram conhecimentos sobre o processo de aprendizagem e
desenvolvimento humano. E foram promovidos estudos teórico-práticos com os
professores sobre avaliação psicoeducacional, possibilitando reflexões sobre o
papel social da escola e do professor na concretização do processo ensino-
aprendizagem.
Estudar, discutir/debater cada um dos textos apresentados sob o olhar
dos autores da Psicologia Histórico-Cultural, principalmente os vigotskianos, abriu
a possibilidade de mudar o “olhar” dos educadores. Assim, buscando as
possibilidades ao invés de dificuldades, olhando para seu aluno de forma integral,
potencializada e humanizada e percebendo que o olhar atento do professor pode
valorizar a diferença, esses profissionais enfrentarão esse desafio que produzirá
crescimento para todos. E onde há diferença poderá haver a oportunidade de
contato com todos os aspectos da vida humana e o comprometimento frente ao
conhecimento.
Por meio da apresentação cinematográfica foi possível sensibilizar os
professores quanto às diferenças/dificuldades individuais presentes na sala de
aula. As várias cenas emocionantes, como verem a superação do aluno e a ação
de seu professor, foi de encontro com o que deve ser um dos propósitos do
verdadeiro educador. O filme permite fazer uma analogia com a teoria de
Vigotsky, no que se refere à defectologia, em que discute sobre o conceito da
compensação. Para ele, o defeito ou lesão de um órgão estimula no sistema
nervoso central todo um aparato psíquico a assumir a tarefa de compensar o
defeito. Consequentemente levando a criar condições para estabelecer interações
que possibilitem ao educando desenvolver-se. Quando o desenvolvimento é
sempre mediado, na Zona de Desenvolvimento Proximal e no âmbito escolar, a
aprendizagem é facilitada. Logo a ZDP, é o caminho que a criança deve percorrer
para o desenvolvimento de suas funções psicológicas superiores. Nesse processo
o professor assume papel de suma importância, na medida em que propõe
situações desafiadoras significativas e realizáveis, pois aquilo que a criança
consegue fazer com inferência, mediação e colaboração do outro, em momento
posterior, ela conseguirá realizar sozinha. É interessante ressaltar que nesta
concepção, Vigotsky valoriza a intervenção pedagógica bem como o trabalho do
professor na formação do sujeito e atribui a mediação como conceito
fundamental, pois dela originam-se as funções psicológicas superiores.
O Grupo de Trabalho em Rede em decorrência do presente trabalho
repensou o fazer pedagógico, os conteúdos propostos, os procedimentos, os
recursos utilizados e a forma como foi o processo educacional do nosso aluno
desde o início da escolarização. Também o relacionamento professor/aluno, seus
pares, estrutura familiar e relação família/escola/social. Porém, o mais significativo
é que houve a compreensão que cada educando tem seu tempo de
aprendizagem. Portanto, concluiu-se que a avaliação psicoeducacional nos
moldes tradicionais já não consegue atender de forma precisa como se supunha.
E que é preciso buscar uma avaliação que respeite a individualidade de cada
aluno submetido a ela.
REFERÊNCIAS –
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SILVA, Valéria Garcia da. Psicologia histórico-cultural e o desenvolvimento psíquico infantil: compreendendo o processo de escolarização / Valéria Garcia da Silva. -- Maringá, 2010. 157 f.tabs., quadro. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Maringá, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, 2010.
TESSARO, Nilza Sanches IN Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) – Volume 11, número2, julho/dezembro 2007. ZAVADSKI, Kelly Cristina, A atuação do psicólogo na formação do professor universitário:contribuições da psicologia histórico-cultural./ Kelly Cristina Zavadski; - 2009, 159f. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de