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97 O PROCESSO DE SUPERVISÃO DE CAMPO NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIAL Ana Flávia Luca de Castro - UNESP Adriana Giaqueto - UNESP Bianca Nogueira Mattos – UNESP Introdução Esta pesquisa foi realizada com os estagiários do curso de Serviço Social da UNESP – Câmpus de Franca com a intenção de conhecermos a concepção deles a respeito do processo de supervisão de campo. Procuramos entender a supervisão de campo de forma crítica e em sua totalidade, ou seja, inserida no contexto econômico, social, cultural e histórico. Destacamos a concepção de estágio supervisionado, sendo visto como um momento único para formação profissional, onde o estagiário irá colocar em prática os ensinamentos teóricos da faculdade, fazendo a mediação necessária entre a teoria e a prática, tendo a oportunidade também de conhecer de perto os instrumentais da profissão e as expressões da questão social, analisando a realidade social de forma crítica. Atentamos para a supervisão de campo, fazendo também um percurso histórico para podermos compreendê-la nos dias atuais. A supervisão de campo já foi vista como um simples treino de estagiários para vida profissional, marcada por uma relação autoritária e hierárquica. No curso de Serviço Social ela existe desde a fundação das primeiras escolas, mas claro que vem se manifestando de formas diferentes de acordo com o contexto em que está inserida. O ato de supervisionar estagiários de Serviço Social é atividade privativa de Assistentes Sociais, sendo obrigatória a realização da supervisão de campo para constituição do estágio supervisionado. O supervisor de campo deve orientar o estagiário, estabelecer uma relação pautada no ensino e aprendizagem, deve ser o momento dedicado à reflexão da prática profissional que leve a compreensão crítica da realidade social. Ressaltamos a metodologia da pesquisa, que se baseou em uma abordagem qualitativa, em uma perspectiva histórica e dialética, com estudo de

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O PROCESSO DE SUPERVISÃO DE CAMPO NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO

EM SERVIÇO SOCIAL

Ana Flávia Luca de Castro - UNESP

Adriana Giaqueto - UNESP

Bianca Nogueira Mattos – UNESP

Introdução

Esta pesquisa foi realizada com os estagiários do curso de Serviço Social da

UNESP – Câmpus de Franca com a intenção de conhecermos a concepção deles a

respeito do processo de supervisão de campo. Procuramos entender a supervisão

de campo de forma crítica e em sua totalidade, ou seja, inserida no contexto

econômico, social, cultural e histórico.

Destacamos a concepção de estágio supervisionado, sendo visto como um

momento único para formação profissional, onde o estagiário irá colocar em prática

os ensinamentos teóricos da faculdade, fazendo a mediação necessária entre a

teoria e a prática, tendo a oportunidade também de conhecer de perto os

instrumentais da profissão e as expressões da questão social, analisando a

realidade social de forma crítica.

Atentamos para a supervisão de campo, fazendo também um percurso

histórico para podermos compreendê-la nos dias atuais. A supervisão de campo já

foi vista como um simples treino de estagiários para vida profissional, marcada por

uma relação autoritária e hierárquica. No curso de Serviço Social ela existe desde a

fundação das primeiras escolas, mas claro que vem se manifestando de formas

diferentes de acordo com o contexto em que está inserida.

O ato de supervisionar estagiários de Serviço Social é atividade privativa de

Assistentes Sociais, sendo obrigatória a realização da supervisão de campo para

constituição do estágio supervisionado.

O supervisor de campo deve orientar o estagiário, estabelecer uma relação

pautada no ensino e aprendizagem, deve ser o momento dedicado à reflexão da

prática profissional que leve a compreensão crítica da realidade social.

Ressaltamos a metodologia da pesquisa, que se baseou em uma

abordagem qualitativa, em uma perspectiva histórica e dialética, com estudo de

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caráter exploratório, aprofundando assim no tema proposto para melhor apresentá-

lo.

Dentro da abordagem qualitativa utilizamos a pesquisa bibliográfica,

documental e a pesquisa de campo.

A pesquisa bibliográfica foi realizada no sentido de conhecermos o que havia

sobre o assunto e nos respaldarmos teoricamente. Já a pesquisa documental foi

feita através da consulta de documentos referentes à Unesp – Câmpus de Franca,

ao curso de Serviço Social, ao setor de estágio e aos documentos referentes ao

processo de estágio supervisionado como um todo.

A pesquisa de campo teve como universo os campos de estágio de Serviço

Social vinculados à UNESP-Franca e como sujeitos os alunos do curso de Serviço

Social do terceiro e quarto ano que estavam realizando estágio supervisionado.

Como instrumental e fonte de coleta de dados utilizamos a entrevista semi-

estruturada com 08 estagiários do curso de Serviço Social, sendo quatro alunos do

3º ano, dois do diurno e dois do noturno, e quatro alunos de 4º ano, dois do diurno e

dois do noturno, sendo quatro estagiários de instituições públicas e quatro de

instituições não públicas.

Para análise dos dados utilizamos uma proposta dialética, situando a fala

dos sujeitos entrevistados com o contexto onde ela está inserida, fazendo uma

interlocução com a bibliografia pesquisada. Empregamos a análise de conteúdo para

interpretação da fala dos entrevistados a fim de ultrapassarmos as aparências

imediatas e chegarmos à essência dos fatos, ou seja, a realidade concreta.

Portanto nossa pesquisa partiu desses pressupostos e nossas

considerações efetivadas de forma a promover um debate reflexivo sobre a

formação profissional em Serviço Social, especialmente a supervisão de campo.

Concepção de Estágio Supervisionado

O estágio se constitui como uma atividade imprescindível e de fundamental

importância para formação profissional, por tal motivo, é essencial conhecermos

melhor a concepção de estágio supervisionado.

Para Buriolla (1995, p. 13, grifo do autor): “O estágio é o locus onde a

identidade profissional do aluno é gerada, construída e referida; volta-se para o

desenvolvimento de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica e, por isso, deve ser

planejado gradativa e sistematicamente.

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Encontramos também a concepção de estágio de Lewgoy (2009, p. 26):

A formação caracteriza-se não apenas como uma propriedade conferida pelo sistema educativo aos sujeitos sociais, mas como uma relação social que articula várias dimensões advindas das transformações e exigências do mundo e do mercado de trabalho.

Já para Oliveira (online, p. 10):

O estágio curricular, no curso de Serviço Social, tem como premissa oportunizar ao aluno o estabelecimento de relações mediatas entre os conhecimentos teóricos e o trabalho profissional, a capacitação técnico-operativa e o desenvolvimento de habilidades necessárias ao exercício profissional, bem como o reconhecimento da articulação da prática do Serviço Social e o contexto político-econômico-cultural das relações sociais.

No curso de Serviço Social, o estágio supervisionado se configura como

parte indispensável para formação, sendo uma atividade curricular obrigatória. É

concebido pela Política Nacional de Estágio da Associação Brasileira de Ensino e

Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) (2010, p. 14) como um espaço de apreensão

da realidade, que se caracteriza:

[...] pela atividade teórico-prática, efetivada por meio da inserção do (a) estudante nos espaços sócio-institucionais nos quais trabalham os (as) assistentes sociais, capacitando-o (a) nas dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico operativa para o exercício.

Concebemos o estágio como um espaço de troca, um momento de ensino-

aprendizagem, onde o aluno-estagiário vai fazer uma interlocução entre a teoria que

vem aprendendo na universidade, enquanto que o supervisor tem a oportunidade de

refletir e repensar a sua prática, estando assim em uma qualificação profissional

permanente.

Considerando que as organizações têm nos estagiários a oportunidade de estarem próximos do conhecimento acadêmico, bem como de idéias e abordagens inovadoras, e de verem despontar novos talentos. (BRASIL, 2008, online).

O processo de estágio envolve diversos sujeitos, dentre eles o supervisor

acadêmico, o supervisor de campo e o aluno-estagiário, que mesmo tendo os seus

papéis bem definidos estabelecem uma relação de troca, cada qual com suas

responsabilidades e competências.

Segundo a Resolução CFESS nº 533, de 29 de setembro de 2008, cabe ao

supervisor de campo: “Art. 6º. Ao supervisor de campo cabe a inserção,

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acompanhamento, orientação e avaliação do estudante no campo de estágio em

conformidade com o plano de estágio.”

O supervisor de campo é o profissional que vai acompanhar o estagiário no

cotidiano profissional da instituição onde se desempenha o estágio supervisionado,

no caso do Serviço Social é o (a) Assistente Social.

Já o Supervisor Acadêmico segundo a mesma resolução:

Art. 7º. Ao supervisor acadêmico cumpre o papel de orientar o estagiário e avaliar seu aprendizado, visando a qualificação do aluno durante o processo de formação e aprendizagem das dimensões técnico-operativas, teórico-metodológicas e ético-política da profissão. (CFESS, 2008, online).

O Supervisor Acadêmico é o professor que dentro das Unidades de Ensino

vai orientar o aluno quanto à prática de estágio, visando à garantia de aprendizado

por parte do estagiário. Sendo um momento de reflexão da prática realizada nos

campos de estágio.

Entendemos o estagiário como parte integrante do processo de estágio,

como alguém que tem muito a aprender, mas que também tem muito a ensinar, que

leva para o campo de estágio a teoria que vem aprendendo, e faz a mediação

necessária com a prática, é o vivido pensado. De acordo com a Política Nacional de

Estágio (2010, p. 23) o estagiário deve, entre outras coisas:

Observar e zelar pelos cumprimentos dos preceitos ético-legais e as normas da instituição campo de estágio. Realizar seu processo de estágio supervisionado em consonância com o projeto ético-político profissional. Comprometer-se com os estudos realizados nos grupos de supervisão de estágio, com a participação nas atividades concernentes e com a documentação solicitada.

O estagiário deve estar ciente da sua responsabilidade, enquanto parte

integrante do processo de estágio, para contribuir com uma prática de qualidade. É

através do estágio que o aluno vai compreender os desafios atuais da profissão, fará

a relação entre o conteúdo aprendido na sala de aula e a prática profissional

cotidiana, é um momento de extensão do aprendizado, que não se encerra dentro

da universidade.

No que tange à prática de estágio supervisionado, temos o estágio curricular

obrigatório e o estágio curricular não-obrigatório. Segundo a Lei 11.788 de 25 de

setembro de 2008: “Art. 2o O estágio poderá ser obrigatório ou não-obrigatório,

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conforme determinação das diretrizes curriculares da etapa, modalidade e área de

ensino e do projeto pedagógico do curso.”

Para definição de estágio curricular obrigatório temos: “§ 1o Estágio

obrigatório é aquele definido como tal no projeto do curso, cuja carga horária é

requisito para aprovação e obtenção de diploma.” (BRASIL, 2008, online).

Já o estágio curricular não-obrigatório é aquele: “§ 2o Estágio não-

obrigatório é aquele desenvolvido como atividade opcional, acrescida à carga

horária regular e obrigatória.” (BRASIL, 2008, online).

O estágio supervisionado dentro dos cursos de Serviço Social tem caráter

obrigatório, sendo concebido como um momento único para que o estagiário possa

ter contato com as diversas expressões da questão social, objeto de estudo e

intervenção do (a) Assistente Social, sendo o campo de estágio um local que

proporciona a vivência dessa realidade, em meio às contradições presentes na

nossa sociedade, que atingem diretamente o cotidiano profissional dos (as)

Assistentes Sociais. Como podemos ver dentro da Política Nacional de Estágio

(2010, p.11):

O estágio se constitui num instrumento fundamental na formação da análise crítica e da capacidade interventiva, propositiva e investigativa do (a) estudante, que precisa apreender os elementos concretos que constituem a realidade social capitalista e suas contradições, de modo a intervir, posteriormente como profissional, nas diferentes expressões da questão social, que vem se agravando diante do movimento mais recente de colapso mundial da economia, em sua fase financeira, e de desregulamentação do trabalho e dos direitos sociais.

Para que o estágio seja realmente um momento de reflexão e troca de

saberes, o estagiário deve ser visto como sujeito do processo educativo. Muitos

acreditam que o estagiário constitui-se mão-de-obra barata e delegam funções

administrativas e burocráticas para o estagiário desenvolver, essa questão deve ser

analisada com muito cuidado, pois o estagiário não deve ser visto como um

trabalhador, mas sim como um aluno que está em processo de formação

profissional. Nessa direção, Oliveira ressalta que:

Devido à situação socioeconômica imperante, sob a lógica neoliberal, os estágios estão adquirindo crescentemente o caráter de emprego para o estagiário, inclusive no Serviço Social: muitos alunos têm o estágio como fonte de renda, inclusive para pagamento das mensalidades escolares, e isto tem refletido diretamente na formação

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profissional. (OLIVEIRA apud POLÍTICA NACIONAL DE ESTÀGIO, 2010, p.07).

A questão central que deve ser levada em consideração é que o estágio

supervisionado não deve ser apenas um mero cumprimento de carga horária e uma

fonte de renda, o estágio supervisionado em Serviço Social vai muito além dessas

concepções.

Além do mais, o estágio, por ser o lócus propício para o treinamento prático-profissional, é também o espaço apropriado para o aluno traçar sua matriz de identidade profissional, por ser aí que ele desenvolve a sua aprendizagem, a sua responsabilidade, o seu compromisso e demais atitudes e habilidades profissionais. (BURIOLLA, 1995, p.24, grifo do autor).

No que diz respeito à apreensão de conteúdos e construção de

conhecimentos durante o processo de estágio, é de suma importância a troca de

experiências entre estagiário e supervisor de campo, além de proporcionar o

conhecimento acerca da história da profissão, as reais condições de trabalho com

suas facilidades e limites, a aproximação com o usuário e a compreensão das

políticas sociais, evidenciando o papel fundamental do estágio para o curso de

Serviço Social.

Assim, o processo de formação profissional e, particularmente o estágio supervisionado curricular, devem garantir a apreensão do significado sócio-histórico do Serviço Social; das condições de trabalho dos assistentes sociais; das conjunturas; das instituições; do universo dos trabalhadores usuários dos diversos serviços e das políticas sociais. (ABEPSS, 2010, p.12).

É preciso efetivar a dimensão educativa durante o processo de estágio, para

isso o estágio supervisionado precisa ser visto como um lócus que proporcione o

pensar crítico, estimule a criatividade do aluno-estagiário, instigue a intervenção

profissional pautada na apreensão crítica da realidade, com vistas à efetivação de

direitos e a transformação da ordem societária vigente.

Assim, um dos desafios de materialização desse processo organicamente vinculado ao projeto ético-político está na necessidade de o cotidiano romper com as ações reiterativas e fragmentadas, abrindo espaço para a elaboração de pensamento que siga movimentos lógico-dialéticos na interpretação da realidade com o objetivo de compreendê-la para transformá-la. (LEWGOY, 2009, p. 46).

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Portanto, o estágio deve proporcionar a aproximação com a realidade social,

mas uma aproximação que leve o estagiário a refletir sobre os movimentos

contraditórios da sociedade e que o faça problematizar o contexto social, econômico

e político em que está inserido, tendo em mente o nosso compromisso ético político

com a transformação da ordem vigente e o nosso comprometimento com a classe

trabalhadora.

A Supervisão de Campo

A palavra supervisão muitas vezes nos transmite a idéia de fiscalização,

vigia, controle sobre alguma tarefa, de acordo com Buriolla (1996, p. 21), a própria

etimologia da palavra nos remete ao pensamento de controle e fiscalização:

“Acredito que esta concepção advenha e tenha seus fundamentos na própria

etimologia da palavra supervisão, que é formada pelo prefixo latino “super” (por

cima, sobre) e do sufixo “videre”, “visere” (significando ver, olhar, mirar).”

Mas quando falamos de supervisão de estágio o conceito que deve

sobressair é o de orientação, de guiar, sendo algo muito mais complexo do que o

simples treinamento de estagiários para vida profissional.

O estágio supervisionado tem ganhado destaque para formação profissional

nos últimos anos, porém a discussão sobre a supervisão de campo ainda deixa a

desejar, sendo que poucas profissões tem dado o destaque que ela merece como o

Serviço Social tem feito.

Nesta perspectiva, a Supervisão de estágio é essencial à formação do aluno de Serviço Social, enquanto lhe propicia um momento específico de aprendizagem, de reflexão sobre a ação profissional, de visão crítica da dinâmica das relações existentes no campo institucional. Esta visão confere à Supervisão um caráter dinâmico e criativo, possibilitando a elaboração de novos conhecimentos. Considerados desta forma, a Supervisão e o estágio devem ser parte integrante da educação para o Serviço Social e não um apêndice! (BURIOLLA, 1996, p.16).

A prática de supervisão de estágio não é privativa do Serviço Social, outras

profissões também utilizam a supervisão. Dentro do Serviço Social ela existe desde

a fundação da primeira escola, claro que de formas diferentes de acordo com o

contexto histórico. Estudar a supervisão de campo pressupõe compreender o

contexto em que ela está inserida, não é uma categoria isolada, mas faz parte de um

todo muito maior, não está descolada do real e, portanto sofre influências dessa

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realidade que a cerca, como a realidade é dinâmica e está em constante movimento,

assim também ocorre com a supervisão de estágio.

Para a supervisão de estagiários de Serviço Social o supervisor deve ser

um Assistente Social, conforme preconiza a resolução CFESS nº533, de 29 de

setembro de 2008:

Art. 2º. A supervisão direta de estágio em Serviço Social é atividade privativa do assistente social, em pleno gozo dos seus direitos profissionais, devidamente inscrito no CRESS de sua área de ação, sendo denominado supervisor de campo o assistente social da instituição campo de estágio e supervisor acadêmico o assistente social professor da instituição de ensino.

Como vimos anteriormente o supervisor de campo é o profissional que irá

acompanhar e orientar as atividades do estagiário dentro da instituição onde se

desenvolve o estágio, já o supervisor acadêmico é o professor da faculdade que tem

a finalidade de refletir e debater com os alunos-estagiários aspectos relevantes do

processo de estágio supervisionado. Segundo a Política Nacional de Estágio (2010,

p.22) são atribuições do supervisor de campo:

Realizar encontros sistemáticos, com periodicidade definida (semanal ou quinzenalmente), individuais e/ou grupais com os (as) estagiários (as), para acompanhamento das atividades de estágio e discussão do processo de formação profissional e seus desdobramentos, bem como de estratégias pertinentes ao enfrentamento das questões inerentes ao cotidiano profissional;

As supervisões de campo e as supervisões acadêmicas devem acontecer de

forma conjunta:

Ressaltamos, ainda, o princípio que prevê a indissociabilidade entre estágio e supervisão acadêmica e de campo, em que o estágio, enquanto atividade didático pedagógica, pressupõe a supervisão acadêmica e de campo, numa ação conjunta, integrando planejamento, acompanhamento e avaliação do processo de ensino-aprendizagem e do desempenho do (a) estudante, na perspectiva de desenvolvimento de sua capacidade de investigar, apreender criticamente, estabelecer proposições e intervir na realidade social. (ABEPSS, 2010, p.13).

As supervisões de campo devem acontecer de forma planejada, onde se

tenha um momento especifico com horários e dias pré - estabelecidos para reflexão

dos conteúdos referentes ao estágio e a formação profissional, para que a

supervisão não acontece apenas em momentos de dúvidas no cotidiano profissional,

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sendo uma prática provisória e imediatista. A supervisão de campo deve promover a

reflexão sobre a aprendizagem significativa do estagiário:

Tem como matéria-prima para os supervisores o processo de aprendizagem, que vai se afirmando diante da intencionalidade, da orientação, do acompanhamento sistemático e do ensino, na perspectiva de garantir ao estudante o desenvolvimento da capacidade de produzir conhecimentos sobre a realidade com a qual se defronta no estágio e de intervir nessa realidade, operando políticas sociais e outros serviços. (ABEPSS, 2010, p.16).

Outro aspecto que merece destaque é a formação de identidade profissional

do estagiário através do contato com o supervisor de campo, onde o aluno –

estagiário possui uma referência de profissional, que pode tanto reafirmar essa

prática ou desaprovar. Porém a construção de identidade profissional não se encerra

com o processo de estágio e não sofre influência apenas dele, sendo algo dinâmico

e construído de forma contínua, assim como destaca Buriolla, (1996, p. 36):

A matriz de identidade profissional, neste contexto, não é só o supervisor, mas é o resultado de várias concepções de conteúdo. No contexto contemplado, ela é o somatório da concepção de homem-usuários do Serviço Social, da profissão, da prática profissional, do assistente social, da instituição de ensino e do campo de estágio, de educação, da realidade social, enfim, de todo o contexto sócio-econômico- cultural que circunda o aluno estagiário de forma mais imediata.

A supervisão de campo é de fundamental importância para o processo de

amadurecimento profissional do estagiário, principalmente porque no início do

estágio o aluno se mostra inseguro e com muitas dúvidas, com decorrer do tempo

essas dificuldades serão sanadas, e a construção da identidade profissional será

possível através do acompanhamento e diálogo na relação supervisor-estagiário,

diálogo esse que permita a construção de novos conhecimentos de forma conjunta.

O momento dedicado à supervisão de campo é um espaço de reflexão, de

troca de idéias e experiências, pois o estagiário tem muito a aprender, mas também

tem muito a contribuir com o campo de estágio através da teoria que vem

aprendendo na faculdade, sendo o supervisor de campo responsável por auxiliar o

estagiário a fazer as mediações necessárias entre a teoria e a prática.

Para o supervisor o contato direto com os estagiários pode contribuir para

uma atualização de seus conhecimentos, uma capacitação permanente, que

proporcionará maiores conhecimentos aos sujeitos envolvidos no processo de

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estágio, assim como discorre Pacchioni, (2000, p.154): “A aprendizagem não é

unilateral, mas um processo de interação mútua. Ensinar e aprender são

experiências indissociáveis do agir humano, se referem à continuidade do

aprendizado.”

Ensinar não é apenas transmitir conhecimento, mas sim partilhar

conhecimento, ter consciência do inacabamento dos seres humanos e do processo

de aprendizagem. Estar aberto para o diálogo e para o respeito às diferenças e a

autonomia dos educandos.

Para Freire (1996, p.60):

É neste sentido também que a dialogicidade verdadeira, em que os sujeitos dialógicos aprendem e crescem na diferença, sobretudo, no respeito a ela, é a forma de estar sendo coerentemente exigida por seres que, inacabados, assumindo-se como tais, se tornam radicalmente éticos.

Dito de outra forma, a supervisão de campo no estágio curricular de Serviço

Social, é um momento de reflexão da prática profissional, não é um mero

cumprimento de carga horária, deve ser gestado como um momento de estudo, de

ensino-aprendizagem, tendo um compromisso com o processo formativo dos alunos

estagiários.

De acordo com Buriolla (1996), o supervisor de campo pode assumir

diversos papéis, como o de educador, papel de transmissor de conhecimentos-

experiências e de informações, de facilitador, de autoridade e ainda papel de

avaliador. Papéis esses que não são excludentes, mas podem ocorrer de forma

conjunta. Acreditamos ser a supervisão um processo de ensino-aprendizagem,

portanto destacamos o papel de educador do supervisor de campo:

Como educador, o supervisor partilha com o supervisionado a responsabilidade pelo processo de ensino-aprendizagem. Desta forma, o desempenho do papel de educador faz com que o supervisor oriente e acompanhe todo o processo educativo junto com o estagiário desde o seu inicio. (BURIOLLA, 1996, p. 166).

O supervisor de campo visto como um educador nos remete à ideia de a

supervisão de campo ser uma prática pedagógica, uma relação pautada no

aprendizado tanto do supervisor como do estagiário, onde os sujeitos envolvidos no

processo de supervisão partilham suas experiências e de forma conjunta constroem

novos conhecimentos.

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Entende-se que o processo de ensino-aprendizagem pode vir a ser expressão de criatividade e de auto-realização, tanto do estagiário quanto do supervisor. Ambos vivenciam a aprendizagem a partir da busca de sentido dos próprios acontecimentos. A prática educativa abrange a aprendizagem do supervisor. A aprendizagem significativa reflete a estrutura da ação dos agentes, tanto da realidade do estagiário quanto do supervisor. (PACCHIONI, 2000, p. 41).

Apesar de não estar no espaço acadêmico o supervisor de campo também é

um professor, visto que ele ensina o estagiário através da sua prática profissional,

auxiliando na assimilação de conteúdos aprendidos na faculdade. Percebemos

então que a dimensão educativa é algo intrínseco ao processo de supervisão de

campo, já que o estágio supervisionado se insere no processo de formação

profissional.

Em suma, é indispensável que ele, como educador, seja, por sua vez, educado. Portanto, cabe ao supervisor ser um motivador, um facilitador do processo de ensino-aprendizagem. Ele e o supervisionado comprometer-se-ão com a reflexão, criando-a, provocando-a, permitindo-a e lutando continuamente para conquistar espaços outros que assegurem essa reflexão e uma nova visão e vivencia da Supervisão e do Serviço Social. (BURIOLLA, 1996, p.170).

Podemos compreender a importância da supervisão de campo para

formação profissional do estagiário, sendo o espaço que o estagiário tem para sanar

suas dúvidas, refletir sobre sua ação profissional e fazer a mediação necessária

entre a teoria e a prática. O debate acerca da supervisão de campo como elemento

fundamental para formação profissional é mais do que necessário, principalmente

quando concebemos a supervisão de campo como uma prática educativa, que leve

a uma reflexão crítica do cotidiano profissional e da realidade que o cerca com vistas

à transformação da sociedade.

O Processo Histórico da Supervisão de Campo

A supervisão não é uma atividade privativa do Serviço Social e nem uma

prática recente, ela acompanha o momento histórico da sociedade, assim como a

formação profissional também passa por mudanças com o decorrer da história:

Historicamente, a supervisão corresponde a uma das atividades mais antigas de ensinar e aprender. O ato de supervisionar pode ser examinado desde a Grécia antiga, quando era considerado treinamento para estudantes. (LEWGOY, 2009, p. 65).

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O supervisor tinha a tarefa de treinar os estudantes para prática profissional,

era ele quem mostrava ao aluno o que devia ser feito e como deveria ser realizado.

Apesar da supervisão não ser uma prática exclusiva do Serviço Social ela

está presente desde a fundação das primeiras escolas:

Um breve retrospecto histórico da Supervisão em Serviço Social permite ver que ela começou com a primeira Escola de Serviço Social, em 1898, nos Estados Unidos, quando se criou uma classe para treinamento filantrópico. (BURIOLLA, 1996, p.21).

No início do curso de Serviço Social o supervisor era responsável por

atividades administrativas, posteriormente a supervisão sofre grande influência da

psicanálise, com um olhar voltado para ajuda, o ato de supervisionar significava

ajudar o aluno:

Em resumo, as primeiras definições focalizam o supervisor, sua competência e conseqüente autoridade. As mais recentes focalizam o supervisado, acompanhando assim a evolução da pedagogia que passou da atenção dada ao professor para o estudante; tais definições referem-se à Supervisão como um processo educativo de formação, de desenvolvimento e de ajuda dinâmica dada pelo supervisor ao supervisado. (VIEIRA, 1974, p.42, grifo do autor).

Esse processo educativo de formação pautava-se na relação psicossocial, o

supervisor tinha o objetivo de ajudar o aluno a desenvolver suas capacidades, uma

relação hierárquica, onde o supervisor detinha o saber e por tal motivo encarregava-

se de ajudar o estagiário.

O supervisor também já foi visto como orientador da metodologia, dando

ênfase para as técnicas utilizadas no Serviço Social, sofrendo grande influência das

teorias de supervisão advindas dos Estados Unidos:

Para os norte-americanos, a supervisão era entendida como um conjunto de métodos que privilegiam a dimensão técnica do processo de ensino na formação, fundamentada nos pressupostos psicossociais cientificamente validados na experiência, na prática eficiente, ignorando o contexto social, político e econômico. (LEWGOY, 2009 p. 72).

Encontramos a definição mais antiga de supervisão, que também focaliza o

supervisor como um técnico, refletindo o pensamento da época:

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A mais antiga definição de Supervisão é atribuída a Virginia Robinson, de 1936: “Supervisão é o processo educacional pela qual uma pessoa possuidora de conhecimento e experiência prática toma a responsabilidade de treinar outra, possuidora de menos recursos técnicos”. (VIEIRA, 1974, p.38).

A supervisão de campo era vista como um treinamento prático para vida

profissional, o que se aprendia era o modo eficiente de se realizar uma tarefa

baseada em uma relação desigual entre supervisor e estagiário, onde o aluno não

tinha conhecimento algum e por tal motivo era apenas um receptor de informações.

Após o Movimento de Reconceituação a supervisão começa a ganhar

significados diferentes: “A mudança em relação ao conceito de supervisão indica

também a tentativa de romper com as praticas ligadas ás relações psicossociais.”

(LEWGOY, 2009, p.78).

Mesmo que essa ruptura não tenha acontecido de forma abrupta, o

Movimento de Reconceituação contribui para romper com os laços advindos dos

Estados Unidos e as teorias psicossociais ao longo da história. Lembrando que

nenhuma mudança acontece de forma repentina, por tal motivo de inicio a literatura

sobre supervisão de estágio não acompanhou muito os impulsos trazidos pelo

Movimento:

Nesta medida, a revisão teórica realizada pelo movimento de reconceptualização foi impossível de ser implementada imediatamente – pois uma teoria, para ser operacionalizada, passa por um conjunto de mediações e que demandam um tempo – ocorrendo a ausência de possibilidade de prática. (BURIOLLA, 1996, p.153).

Percebemos, então, que a supervisão de campo já passou por diferentes

momentos, refletindo o contexto histórico-social-cultural de cada época. Atualmente

a supervisão de campo em Serviço Social não é simplesmente uma tarefa técnica de

treinamento de estudantes para vida profissional, ela envolve muitos outros aspectos

relacionados ao processo educativo e formativo do estagiário.

Processo educativo este que já foi visto como uma “doutrinação” do

estagiário no início do curso de Serviço Social pautado na Doutrina Social da Igreja

Católica, onde se limitava a supervisão aos princípios religiosos. Também

encontramos conceitos de supervisão em que o estagiário já foi visto como um

depósito de conhecimentos, onde o supervisor tinha o papel de avaliador, como se

fosse um fiscal do trabalho desenvolvido pelo estagiário:

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Nesta medida, o papel do supervisor de aluno era o de educar e avaliar. Educar no sentido de o supervisor imprimir em seu aluno, tanto em sua formação acadêmica, como em seu estágio e na sua vida pessoal, a Doutrina Social da Igreja, embrenhando-se no fazer profissional e pautando-se pelos valores apontados. (BURIOLLA, 1996, p.147).

A educação dentro da supervisão de estágio era vista como uma educação

bancária, que segundo Paulo Freire (2006) se constitui por uma educação

dominadora, autoritária e alienante, onde a função do supervisor é de depositar seus

conhecimentos no aluno-estagiário, tolhendo toda a sua criatividade e espírito de

inovação.

Contrapondo à educação bancária, Paulo Freire apresenta a educação para

liberdade, a educação libertadora que vem para refletir e questionar a realidade com

vistas à transformação social. Dentro dessa concepção, estagiário e supervisor são

sujeitos do processo de supervisão e dividem as responsabilidades dentro do

processo de ensino e aprendizagem, onde ambos contribuem com suas

experiências e conhecimentos, diante disso: “o educador já não é o que apenas

educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao

ser educado, também educa.” (FREIRE, 2006, p.26).

E é essa concepção que deve sobressair quando falamos de supervisão de

campo, que como podemos ver já assumiu diversas formas e vem se modificando

junto com a profissão. Na contemporaneidade o supervisor de campo é visto como o

facilitador, o orientador que irá mediar o diálogo entre a teoria e a prática, visto que

ele possui um arcabouço teórico mais vasto do que o estagiário devido a sua

experiência, mas o aluno também participa desse processo como um sujeito ativo

que tem muito a contribuir.

A ação educativa deve permear a supervisão de campo, deve ser um

espaço de aprendizagem. Conceber a supervisão como um momento pedagógico é

um grande salto qualitativo para formação profissional, é reconhecer a importância

do estágio supervisionado e da supervisão de campo para a formação do aluno-

estagiário, é considerar que ambos são sujeitos desse processo e estão juntos na

busca por uma formação profissional que desvele as expressões da questão social,

objeto de estudo e intervenção do Serviço Social e ao mesmo tempo, seja

propositiva e que desperte a criatividade do estagiário - futuro profissional.

111 

 

Análise qualitativa dos dados

Para análise qualitativa dos dados utilizamos algumas categorias, escolhidas

com base na realidade apresentada pelos sujeitos da pesquisa, que seria o vivido,

articulando com o estudo teórico da temática abordada.

Foram duas grandes categorias elencadas: o Estágio Supervisionado,

trazendo o seu significado para formação profissional, as facilidades e as

dificuldades encontradas durante o processo de estágio.

A outra categoria seria a Supervisão de Campo na ótica dos estagiários

sujeitos da pesquisa, analisando a importância da supervisão de campo para

formação profissional, como é realizado o processo de supervisão de campo e a

relação entre supervisor e estagiário.

Ao analisar as entrevistas pretendemos compreender a realidade concreta,

procuramos apreender a totalidade dos fatos apresentados na fala dos estagiários,

por tal motivo, estabelecemos contextos diferentes, ou seja, os sujeitos

entrevistados pertenciam ao 3º e 4º ano de Serviço Social diurno e noturno e a

instituições públicas e não públicas.

Podemos perceber que os estagiários pertencentes ao 3º ano trazem mais

dúvidas e se sentem menos preparados para realização do estágio supervisionado.

O que é muito natural, visto que acabaram de ingressar no campo de estágio. Já os

estagiários do 4º ano por terem uma bagagem um pouco maior de prática de estágio

supervisionado sentem-se mais preparados e sabem lidar um pouco melhor com

situações cotidianas do estágio.

Em relação às instituições públicas e não-públicas notamos que as

dificuldades encontradas são as mesmas, dizem respeito aos aspectos relacionados

a formação profissional. O que diferencia são questões que pertencem ao próprio

campo de estágio, ou seja, são específicas da rotina daquela instituição. Como por

exemplo, as tarefas desempenhadas em uma instituição, que muitas vezes são

diferentes de outra instituição, levando em consideração também a área em que

atua aquele campo de estágio.

Portanto, podemos considerar que a supervisão de campo é essencial para

o processo de estágio supervisionado, independente da instituição onde se realiza o

estágio. Sendo o estágio supervisionado um pilar extremamente importante e

indispensável para formação profissional. E por tal motivo, merece uma atenção

especial, assim como a supervisão de campo, para termos uma formação

112 

 

profissional qualificada e que esteja em conformidade com as Diretrizes Gerais do

curso de Serviço Social e o nosso Código de Ética Profissional.

Apesar de o estágio supervisionado ser um momento imprescindível para

formação profissional, muitos estagiários encontram dificuldades na realização do

mesmo. Um fator estudado e de grande importância identificado na nossa pesquisa

foi a relação teoria e prática, que aparece em muitos momentos da nossa pesquisa

de campo, bem como na literatura estudada.

Um dos problemas apontados foi a falta de articulação entre teoria e prática,

dificultando a assimilação de conteúdos por parte do estagiário. Acreditamos que

faltam estratégias por parte da faculdade e do campo de estágio para efetivação da

práxis profissional. Muitos supervisores de campo não têm claro as concepções

filosóficas e ético-políticas que norteiam a profissão, realizando, assim, uma prática

profissional que não condiz com os pressupostos do Serviço Social.

Em contrapartida, a faculdade também não promove um respaldo para o

supervisor de campo ou estagiário, dando ênfase na parte teórica, com poucas

disciplinas que abordam a dimensão técnico-operativa e os instrumentais da

profissão.

Ressaltamos a importância da supervisão acadêmica para assimilação da

relação teoria e prática, o que ainda não acontece no curso de Serviço Social na

UNESP – Campus de Franca, sendo esse o momento para estabelecer a mediação

entre teoria e prática profissional, um espaço para refletir e dialogar sobre o

cotidiano de estágio supervisionado.

Outro ponto que merece destaque é o preparo dos alunos para ingressarem

no campo de estágio, pois muitos estagiários ficam perdidos quando se deparam

com a realidade social, esse preparo contribuiria também para que eles, como

futuros supervisores de campo, tivessem clara a função de supervisor de campo,

que muitos supervisores não possuem e desconhecem suas responsabilidades

enquanto tal.

O estágio supervisionado é sem dúvida um divisor de águas na formação

profissional do estagiário, que pode servir como um incentivo a mais na caminhada

profissional ou pode ser um momento de decepções e frustrações, como

acompanhamos na pesquisa.

A relação entre estagiário e supervisor de campo foi um fator que

ressaltamos no nosso estudo, e podemos encontrar relações baseadas na

113 

 

hierarquia e autoritarismo, chegando até à ações desrespeitosas e antiéticas, mas

vimos também relações baseadas no profissionalismo e no companheirismo.

Proveniente dessas relações, é que os estagiários desenvolvem a sua

identidade profissional, claro que ela é formada por diversos outros fatores, mas o

estágio supervisionado tem uma grande influência na construção da identidade

profissional do estagiário. Os supervisores são vistos como modelos a serem

seguidos ou não pelos estagiários.

Por isso é fundamental o papel educativo do supervisor de campo, para que

ele desenvolva a supervisão de campo em uma relação pedagógica que vise o

aprendizado por parte do estagiário e ele seja visto como um sujeito em processo de

formação profissional.

Pensando nas dificuldades encontradas pelos estagiários e percebendo os

equívocos que acontecem na realização do estágio supervisionado, acreditamos ser

de fundamental importância a elaboração do plano de estágio exigido pela

faculdade. Essa elaboração deve ser realizada em conjunto entre estagiário e

supervisor, esse plano deve servir para nortear o estágio, definir os seus objetivos e

as atribuições tanto do supervisor, quanto do estagiário.

Seria uma forma de deixar claras as concepções de estágio e supervisão de

campo que vão nortear aquele processo de estágio, contribuindo para que haja uma

segurança por parte do estagiário e fazendo com que essa prática tenha uma

intencionalidade bem definida, sendo ela o aprendizado do estagiário.

Efetivamente, a supervisão de campo é essencial para formação profissional

do estagiário, encontramos muitos desafios que precisam ser enfrentados pelos

supervisores de campo, estagiários e pela faculdade, mas também vimos através do

processo histórico da supervisão de campo que houve avanços, sobretudo no que

diz respeito às leis que norteiam o processo de estágio e a concepção da supervisão

de campo que vem sendo atrelada a um espaço de ensino e aprendizagem, não

mais apenas como um “treino” do estagiário para vida profissional.

Considerações Finais

Nossa maior intenção com a pesquisa foi promover uma reflexão acerca da

formação profissional em Serviço Social, em especial sobre a supervisão de campo,

analisada a partir da fala de um dos sujeitos partícipes desse processo, os

estagiários.

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Pesquisar a formação profissional em Serviço Social é sempre um desafio,

pois constitui-se uma profissão de caráter interventivo, que deve portanto estar

atenta às transformações da sociedade que atingem diretamente o agir cotidiano do

profissional e a formação profissional como um todo, sendo o estágio supervisionado

e a supervisão de campo um dos pilares dessa formação.

Não há dúvidas dos grandes avanços que alcançamos ao longo da história,

mas há certeza também que ainda precisamos trilhar um longo caminho, que nos

leve a uma visão pedagógica e educativa sobre a supervisão de campo e nos faça

compreender a mesma em sua totalidade.

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