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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA O PODER EM AÇÃO: Um estudo sobre os comportamentos políticos no contexto organizacional RENATA QUINTAS SPINELLI Orientador: Dr. Filipe João B. de Azevedo Sobral Rio de Janeiro 2010

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS

CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA

O PODER EM AÇÃO:

Um estudo sobre os comportamentos políticos

no contexto organizacional

RENATA QUINTAS SPINELLI

Orientador: Dr. Filipe João B. de Azevedo Sobral

Rio de Janeiro

2010

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS

CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA

O PODER EM AÇÃO:

Um estudo sobre os comportamentos políticos

no contexto organizacional

Dissertação apresentada à Escola Brasileira de

Administração Pública e de Empresas da

Fundação Getulio Vargas para obtenção do grau

de Mestre em Administração Pública, sob

orientação do Prof. Dr. Filipe João Bera de

Azevedo Sobral.

RENATA QUINTAS SPINELLI

Rio de Janeiro

2010

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV

Spinelli, Renata Quintas

O poder em ação : um estudo sobre os comportamentos políticos no

contexto organizacional / Renata Quintas Spinelli. – 2010.

127 f.

Dissertação (mestrado) - Escola Brasileira de Administração Pública e

de Empresas, Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa.

Orientador: Filipe João Bera de Azevedo Sobral.

Inclui bibliografia.

1. Comportamento organizacional. 2. Política organizacional. 3.

Justiça organizacional. 4. Poder (Ciências sociais). 5. Tática política. I.

Sobral, Filipe. II. Escola Brasileira de Administração Pública e de

Empresas. Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa. III. Título.

CDD – 658.406

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À minha mãe, exemplo de dedicação.

Ao meu esposo, Gustavo, e meus filhos, Vitor e

Giovanna, cujo amor me sustém e impulsiona.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus porque tem me apresentado oportunidades e desafios, mas também pessoas

especiais que me apóiam, orientam e inspiram.

À minha família, Gustavo, Vitor e Giovanna, pelo incentivo e pela compreensão do tempo

ausente dedicado aos estudos.

À minha mãe, Marilena, e irmã, Helena, pelo amor e pelo apoio incondicionais.

À Zoé, pela torcida e pela afetuosa disponibilidade em me ajudar.

Aos professores do corpo docente do Mestrado em Administração Pública, que

compartilhando conhecimentos e incentivando o debate e a crítica, contribuíram para minha

formação profissional.

Aos colegas do curso, pelo convívio enriquecedor.

Ao meu orientador, Prof. Filipe Sobral, que ensinou com maestria e que, no processo de

orientação, deu inestimável suporte sem o qual não seria possível concluir esse trabalho. A ele

sou especialmente grata pela confiança, pela consideração e pelo apoio nesses dois anos de

convivência.

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RESUMO

Considerando que as organizações podem ser caracterizadas como sistemas de atividade

política, onde diferentes conjuntos de interesses, conflitos e jogos de poder moldam suas

atividades, faz-se necessário revelar e compreender os comportamentos políticos no ambiente

organizacional. As pesquisas empíricas têm fornecido evidências da relação entre esses

comportamentos e diversos efeitos, muitas vezes adversos, tanto para os indivíduos quanto

para as organizações. Esse estudo tem como objetivo, especificamente, examinar os efeitos

dos comportamentos políticos em relação às percepções de justiça e de confiança nas

organizações. A literatura majoritariamente associa os comportamentos políticos ao exercício

de influência e de poder, mas também estabelece uma distinção entre esses construtos.

Enquanto o poder é caracterizado como uma capacidade, a política é marcada pela ação, isto

é, os comportamentos políticos nas organizações são o próprio poder em ação. A ação política

muitas vezes traz como fim último o próprio interesse, mas devido à dificuldade de se

determinar a intenção presente na ação do outro, importa para essa pesquisa não a descrição

factual das táticas ou jogos empregados, mas a percepção dos sujeitos que vivenciam a

política no cotidiano organizacional. Assim, para a investigação do objetivo proposto, 188

profissionais responderam a um questionário contendo medidas válidas e consistentes dos

construtos selecionados. Os dados foram tratados estatisticamente, sendo submetidos a

análises descritivas e de regressão. Os resultados indicam que a política tem efeito negativo

sobre as percepções de justiça, bem como sobre as percepções de confiança na organização.

Apontam também que os comportamentos políticos variam em função tanto de fatores

individuais quanto fatores relativos à organização. Os resultados foram discutidos com base

na literatura pertinente. Por fim, foram explicitadas as implicações e as limitações dessa

pesquisa.

Palavras-chave: comportamentos políticos, política nas organizações, justiça organizacional,

confiança na organização.

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ABSTRACT

Whereas the organizations can be characterized as a political system, with different sets of

interests, conflicts and power that frame its activities, it is necessary to reveal and understand

the organizational politics. Empiric researches have given evidences of the relation among

organizational politics and various effects which are usually adverse for both individuals and

organizations. This study aims to investigate specifically the effects of organizational politics

on the perception of justice and trust in organization. Great part of the literature connect the

organizatonal politics to the exercise of influence and power, but also establish a distinction

between these two concepts. While power is characterized as a capacity, politics is identified

by action - organizational politics is exactly this power in action. Politic action often has the

self-interest as the final objective, but due to the difficulty of defining about the one´s

intentions, this research is not concerned with the description of tactics or games used in fact,

but with the perception of the individuals that have experienced politics in the organizational

life. Thus, in order to reach the objective of this study, 188 employees answered a

questionaire containing valid and consistent measures of the constructs. The data were treated

by statistical technics and submitted to descriptives and regressions analysis. The results

indicate that politics has negative effects on percepctions of organizational justice, as well as

on percepctions of trust in organization. They also point out that politics is influenced by

individuals and organizational factors. The results were analysed based on the theory

regarding the constructs. Implications and research limitations were finally discussed.

Key words: organiztional politics, politics in organizations, organizational justice, trust in

organization.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Definições de comportamento político ............................................................ 14

Quadro 2 Características distintivas do comportamento político .................................... 17

Quadro 3 Legitimidade dos comportamentos políticos ................................................... 25

Quadro 4 Tipologia dos comportamentos políticos ......................................................... 31

Quadro 5 Tipologia de jogos políticos segundo objetivos táticos ................................... 36

Quadro 6 Táticas políticas segundo aprovação da organização ....................................... 38

Quadro 7 Relação entre comportamentos políticos, fluxo e canais de comunicação ...... 39

Quadro 8 Consequentes dos comportamentos políticos .................................................. 45

Quadro 9 Antecedentes dos comportamentos políticos ................................................... 47

Quadro 10 Dimensões da justiça organizacional ............................................................... 57

Quadro 11 Definições de confiança ................................................................................... 69

Quadro 12 Tipologias das dimensões de confiança ........................................................... 75

Quadro 13 Distribuição dos itens do questionário ............................................................. 82

Quadro 14 Verificação das hipóteses ................................................................................. 100

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Relação entre comportamento e percepção de política ..................................... 27

Figura 2 O processo político ........................................................................................... 28

Figura 3 Tipologia multidimensional .............................................................................. 33

Figura 4 Tipos de política de acordo com dimensões do poder ...................................... 34

Figura 5 Modelo conceitual da pesquisa ......................................................................... 77

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Táticas políticas mais frequentes ...................................................................... 40

Tabela 2 Frequência de uso e aceitação social das táticas políticas ................................ 41

Tabela 3 Número de questionários válidos ...................................................................... 81

Tabela 4 Distribuição da amostra por dados demográficos ............................................. 86

Tabela 5 Distribuição da amostra por dados relativos à organização .............................. 87

Tabela 6 Estatísticas descritivas por variável .................................................................. 88

Tabela 7 Confiabilidade dos instrumentos para a amostra .............................................. 89

Tabela 8 Matriz de correlação (r de Pearson) entre as variáveis ..................................... 90

Tabela 9 ANOVA do modelo de regressão para a variável justiça ................................. 91

Tabela 10 Correlação entre as variáveis política e justiça organizacional ........................ 91

Tabela 11 ANOVA do modelo de regressão para a variável confiança ............................ 93

Tabela 12 Correlação entre as variáveis política e confiança na organização ................... 94

Tabela 13 Média da variável comportamento político por fator ....................................... 95

Tabela 14 Teste de homogeneidade das variâncias ........................................................... 96

Tabela 15 ANOVA de comportamento político para o fator gênero ................................ 96

Tabela 16 ANOVA de comportamento político para o fator idade ................................... 97

Tabela 17 ANOVA de comportamento político para o fator experiência profissional...... 97

Tabela 18 ANOVA de comportamento político para o fator nível hierárquico ................ 98

Tabela 19 ANOVA de comportamento político para o fator natureza da organizaçã ...... 98

Tabela 20 ANOVA de comportamento político para o fator tamanho da organização .... 99

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO ................................................................................................ 01

1.1 Contextualização do problema de pesquisa ............................................................. 02

1.2 Objetivos .................................................................................................................. 06

1.3 Delimitação do estudo ............................................................................................. 06

1.4 Relevância do estudo ............................................................................................... 08

2. COMPORTAMENTOS POLÍTICOS ................................................................. 10

2.1 Paradigmas de análise .............................................................................................. 11

2.2 Conceitos ................................................................................................................. 13

2.3 Características do comportamento político ............................................................. 17

2.4 Política nas organizações: comportamentos e percepções ...................................... 26

2.5 Comportamentos políticos nas organizações ........................................................... 28

2.5.1 Jogos e táticas políticas .................................................................................. 28

2.5.2 Tipologias dos comportamentos políticos ...................................................... 30

2.5.3 Pesquisas empíricas relativas ao comportamento ........................................... 39

2.6 Percepções da política nas organizações ................................................................. 42

2.6.1 Consequências da política nas organizações .................................................. 44

2.6.2 Antecedentes da política nas organizações ..................................................... 47

3. JUSTIÇA ORGANIZACIONAL ......................................................................... 54

3.1 Definições ................................................................................................................ 54

3.2 Dimensões da justiça organizacional ....................................................................... 56

3.2.1 Justiça distributiva .......................................................................................... 57

3.2.2 Justiça procedimental ..................................................................................... 60

3.3.3 Justiça interacional ......................................................................................... 63

3.3 Implicações da justiça organizacional ..................................................................... 66

4. CONFIANÇA NAS ORGANIZAÇÕES .............................................................. 68

4.1 Definições ................................................................................................................ 68

4.2 Características .......................................................................................................... 71

4.3 Dimensões da confiança .......................................................................................... 74

4.4 Implicações da confiança organizacional ................................................................ 76

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5. METODOLOGIA DA PESQUISA ...................................................................... 77

5.1 Modelo conceitual da pesquisa ................................................................................ 77

5.2 Tipo de pesquisa ...................................................................................................... 79

5.3 Amostra ................................................................................................................... 79

5.4 Coleta dos dados ...................................................................................................... 80

5.5 Instrumento de coleta de dados ............................................................................... 81

5.6 Tratamento dos dados .............................................................................................. 84

5.7 Limitações do método ............................................................................................. 85

6. ANÁLISE DOS RESULTADOS .......................................................................... 86

6.1 Análise descritiva dos dados ................................................................................... 86

6.2 Análises preliminares .............................................................................................. 88

6.3 Comportamentos políticos e justiça organizacional ................................................ 90

6.4 Comportamentos políticos e confiança na organização .......................................... 93

6.5 Antecedentes dos comportamentos políticos ........................................................... 94

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 101

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 104

APÊNDICE - Instrumento de coleta de dados ....................................................... 113

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1. APRESENTAÇÃO

Esse estudo a cerca dos comportamentos políticos no ambiente de trabalho foi motivado pela

crença de que as organizações são mais bem caracterizadas como sistemas de atividade

política e que os diferentes conjuntos de interesses, conflitos e jogos de poder, que moldam as

atividades organizacionais, permitem uma melhor compreensão do comportamento humano

nesse ambiente. Revelar e compreender as atividades políticas e suas implicações na dinâmica

organizacional tornou-se, então, o seu objetivo.

O estudo está estruturado em sete capítulos. O primeiro dedica-se a apresentar uma introdução

contextualizando o tema abordado e evidenciando o problema de pesquisa. Em seguida, são

explicitados os objetivos e as delimitações do estudo, assim como a sua relevância, o que

justifica a realização da pesquisa.

Os capítulos seguintes são destinados ao referencial teórico e apresentam, portanto, uma

revisão da literatura e das pesquisas relativas ao tema. O levantamento bibliográfico acaba por

revelar as inquietações e preferências da autora desse estudo, indicando a lente através da qual

são analisados os construtos do comportamento político, da justiça e da confiança nas

organizações.

O capítulo cinco trata da metodologia empregada para elucidar o problema, indicando o tipo

de pesquisa realizada, o universo e a amostra selecionada, bem como os procedimentos para

coleta e tratamento dos dados. Ainda que a metodologia se justifique adequada, o capítulo

também aponta as limitações que o método impõe aos propósitos da investigação.

No sexto capítulo, são apresentados os dados coletados na pesquisa de campo realizada por

meio de questionários e a análise dos resultados que leva em consideração o levantamento

bibliográfico. Por fim, o sétimo capítulo traz reflexões, as limitações e as implicações

referentes a esta pesquisa.

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1.1 Contextualização do problema de pesquisa

As investigações sobre a conduta humana em ambientes organizacionais e os estudos relativos

às características e às ações das próprias organizações estão inseridos, de acordo com Staw

(1984), em um campo de estudos multidisciplinar denominado comportamento

organizacional.

Rousseau (1997) destaca que as organizações contemporâneas estão mudando e o campo do

comportamento organizacional muda com elas, fazendo emergir novas dinâmicas e

características como importantes temas de pesquisa. Entre os temas que têm despertado o

interesse dos pesquisadores, podemos destacar os comportamentos políticos nas organizações.

Para Mayes e Allen (1977), as organizações podem ser vistas como entidades políticas, nas

quais as tomadas de decisão e o estabelecimento de objetivos são forjados em processos de

barganha. Por conseguinte, os autores enfatizam a utilidade de se adotar uma perspectiva

política para os estudos organizacionais.

Morgan (1996) também propõe que a análise organizacional seja realizada em termos

políticos. Entre outras metáforas, o autor entende que as organizações podem ser interpretadas

tanto como sistemas de governo quanto como sistemas de atividade política. Na primeira

perspectiva, as organizações são caracterizadas de acordo com os princípios políticos

empregados e com o estilo particular de liderança, sendo classificadas como autocracias,

burocracias, tecnocracias ou democracias, o que estabelece um paralelo com os sistemas

políticos de governo.

A segunda perspectiva se refere às organizações como sistemas de atividades políticas. Em

oposição à idéia de uma organização essencialmente racional, onde todos os membros atuam

no sentido dos objetivos comuns, a política se origina a partir da diversidade de interesses

que, por sua vez, promove conflitos, arranjos, negociações e coalizões.

Pode-se afirmar que foi essa última visão, a organização como lócus de atividades políticas, e

as idéias decorrentes dela que orientaram a realização do presente estudo. Mais do que estudar

a política sob a ótica da organização, seus princípios, normas e estruturas, a pesquisa está

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centrada no aspecto relacional desse mesmo fenômeno, situando o nível de análise no

indivíduo.

Para entender a natureza dessas atividades políticas, Mayes e Allen (1977) ressaltam que é

preciso considerar que muitas variáveis envolvidas podem ser comuns a outros construtos do

campo do comportamento organizacional, mas é uma combinação dessas variáveis que

compõe um processo singular denominado comportamento político.

Os comportamentos políticos são majoritariamente caracterizados na literatura pelo exercício

de influência e de poder em benefício próprio, como resultado da existência de conflitos de

interesses. Assim, se na dinâmica organizacional, que é marcada pela política, a perpetuação

ou a solução dos conflitos depende da relação de poder entre os atores envolvidos, torna-se

necessário estabelecer a distinção entre esses construtos, o que pode ser feito essencialmente

em torno da sua natureza: o poder como capacidade e a política como ação. Em outras

palavras, considera-se a política como o poder em ação.

Analisar a organização como um sistema de atividades políticas implica em aceitar que há

diversas fontes de poder e que os interesses concorrentes, conflitos e jogos de poder são

propriedades naturais da dinâmica das organizações. Enfim, como afirma Morgan (1996),

essa perspectiva de análise exige o reconhecimento de que a política é um aspecto inevitável

da vida organizacional.

No entanto, faz-se necessário ressaltar que, embora possa ocorrer em todos os níveis

organizacionais, nem todas as organizações ou grupos têm a mesma realidade política.

Robbins (2005) lembra que em algumas organizações fazer política é uma atividade explícita

e exuberante, enquanto em outras a política tem um papel menor.

Além do exercício do poder, um amplo conjunto de definições também associa os

comportamentos políticos ao auto-interesse, ou seja, o interesse próprio é considerado como

fim último da ação política individual e que justifica os meios empregados. Dada a

dificuldade de se determinar a intencionalidade da ação das outras pessoas, a política nas

organizações tem sido estudada a partir das percepções individuais desses comportamentos.

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Ainda que a percepção dos indivíduos, no sentido de caracterizar um comportamento como

político, não seja pautada pelos mesmos critérios, a literatura tem enfatizado ser

imprescindível reconhecer a experiência da política organizacional como um fenômeno

subjetivo, independente da sua existência real.

Para Cropanzano, Howes e Grandey (1997), a percepção individual da política é até mesmo

mais importante do que de fato a sua ocorrência nas organizações, pois os indivíduos

respondem àquilo que percebem, não necessariamente ao que é objetivamente real. Não se

trata de afirmar que a realidade organizacional objetiva é irrelevante, mas que há uma forte

relação entre a percepção dos comportamentos políticos e os seus efeitos no contexto laboral.

A noção de que a percepção individual da política nas organizações é extremamente

importante tornou-se, como sustenta Conner (2006), um tema comum na literatura. Dessa

forma, a maioria das pesquisas passou a buscar a determinação dos antecedentes e dos

conseqüentes dos comportamentos políticos a partir dessas percepções. Igualmente, o presente

estudo apóia-se nas percepções dos comportamentos políticos como preditoras de resultados

para a organização.

De acordo com Andrews e Kacmar (2001), as pesquisas contemporâneas apontam os

comportamentos políticos com conseqüências negativas para quem percebe o fenômeno.

Muitas vezes a ocorrência de comportamentos políticos, sejam reais ou percebidos, aparece

associada ao aumento do estresse e da intenção de rotatividade e, por outro lado, à redução da

satisfação, do comprometimento e da produtividade no trabalho.

Apesar de não qualificarem os comportamentos políticos explicitamente como negativos,

muitos autores dedicaram sua atenção a enquadrá-los do ponto de vista da ética e da

legitimidade. Assim, as atividades políticas nas organizações são principalmente

caracterizadas como inaceitáveis e fora dos sistemas legítimos de influência, o que as

tornariam disfuncionais por afetar a eficácia organizacional.

Para além dos termos da literatura, parece ser essa a reputação dos comportamentos políticos

também nas organizações: um fenômeno ao mesmo tempo inevitável e indesejável. Uma

pesquisa realizada por Gandz e Murray (1980) observou que a maior parte dos indivíduos

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considera a política uma atividade comum e até mesmo necessária para se alcançar o sucesso

nas organizações. Apesar de reconhecerem sua existência, também defendem que a política

deveria ser excluída, por ser prejudicial à efetivação de relações de acordo com as normas

formalmente definidas e aceitas.

Contudo, vale ressaltar que os limites entre os comportamentos legítimos e aqueles

considerados ilegítimos não são categóricos, modificam-se com o tempo, com as

circunstâncias e com os indivíduos envolvidos. De acordo com Cunha et al. (2006), as regras

do jogo, que determinam quais comportamentos são aceitáveis e quais são ilegítimos, são

definidas por quem detém poder.

Ademais, essa presunção ambivalente da política, ora vista como um jogo natural, ora

associada a praticas manipulativas, interesseiras e ilegítimas, pode ser conceitual e

operacionalmente limitadora à caracterização do construto do comportamento político nas

organizações. A delimitação da natureza desse fenômeno fica mais enriquecida e também,

deve-se reconhecer, bem mais difícil, se considerarmos que há outras matizes. Logo, é

importante supor que, assim como o poder, o jogo político não deve ser avaliado como bom

ou mau apenas por si mesmo.

Por todo o exposto, a essa pesquisa interessa estudar os comportamentos políticos nas

organizações não a partir da descrição factual das táticas ou jogos empregados, mas

considerando as percepções dos profissionais que vivenciam a política no seu cotidiano, uma

vez se tratar de um fenômeno inevitável da dinâmica organizacional.

Além disso, admitindo como pressuposto que a política não é necessariamente auto-

interessada, que seus jogos não se efetivam apenas através de meios não sancionados pela

organização e que seus fins nem sempre são ilegítimos, importa examinar os efeitos dos

comportamentos políticos na percepção dos indivíduos sobre o ambiente organizacional,

particularmente as relações entre política e os construtos de justiça e confiança nas

organizações.

Delineia-se, portanto, a questão norteadora do presente estudo: Quais os efeitos dos

comportamentos políticos na percepção do indivíduo sobre o ambiente organizacional?

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1.2 Objetivos

O objetivo final desse estudo é identificar a influência dos comportamentos políticos sobre as

percepções dos indivíduos em relação ao ambiente organizacional no qual estão inseridos,

especificamente em relação às percepções de justiça e confiança na organização.

Para alcançar esse objetivo, serão considerados os seguintes objetivos intermediários:

Delimitar o construto dos comportamentos políticos a partir dos conceitos apresentados na

literatura e dos principais elementos que os caracterizam.

Examinar na literatura as principais abordagens e representações da política nas

organizações, quais sejam, os comportamentos e as percepções.

Examinar os principais antecedentes e conseqüentes dos comportamentos políticos

conforme apontados pelas pesquisas empíricas realizadas nessa área.

Estudar os construtos de justiça organizacional e confiança, com base nas definições e

dimensões sugeridas na literatura.

Elaborar, testar e aplicar instrumento para a coleta de dados que permitam identificar as

percepções dos profissionais quanto aos comportamentos políticos, à justiça e à confiança

nas organizações.

Analisar a influência de fatores individuais e organizacionais nas percepções de

comportamentos políticos.

Analisar a relação entre as variáveis selecionadas.

1.3 Delimitação do estudo

Por ser a realidade extremamente complexa, o que impede analisá-la em sua totalidade, faz-se

necessário estabelecer a delimitação do presente estudo, esclarecendo os limites sobre o que

está contemplado ou não nessa investigação.

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O estudo se propõe a examinar a política dentro do campo do comportamento organizacional.

Considerando a amplitude do tema e as inúmeras abordagens, a pesquisa não tem a pretensão

de esgotar a análise sobre os comportamentos políticos nas organizações, limitando-se a

responder o problema anteriormente definido, qual seja, compreender como a percepção dos

comportamentos políticos no ambiente organizacional influencia a atitude dos profissionais.

É importante destacar que a perspectiva política dos estudos organizacionais pode comportar

diferentes níveis de análise, desde o menor nível, no qual se destacam os indivíduos e as

coalizões ou grupos de interesse, até um nível macro de análise, para o qual importa o

contexto onde esses atores operam, ou seja, o ambiente, a cultura, a estrutura e os processos

organizacionais. Entretanto, ao adotar uma perspectiva das organizações enquanto sistemas de

atividades políticas, esse estudo concentra-se no aspecto relacional do fenômeno, situando o

nível de análise no indivíduo.

A literatura tem oferecido ainda duas abordagens para o tema, sendo que uma enfatiza o

próprio comportamento, definindo política em função da natureza do ato, e a outra que sugere

tratá-la como um fenômeno subjetivo. Mesmo ciente das dificuldades decorrentes dessa

abordagem, o estudo focaliza a percepção subjetiva do funcionário da organização, isto é,

entende que a definição dos comportamentos depende da percepção individual sobre o que é

político.

Vale lembrar que muitos fatores podem moldar e, por vezes, distorcer o processo pelo qual as

pessoas organizam e interpretam suas impressões para dar sentido à realidade. No entanto,

conforme indicado pelas hipóteses, esse estudo se dedica a analisar algumas das

características do próprio indivíduo ou da organização que afetam essas percepções. Embora

outras variáveis do campo do comportamento organizacional, como cultura, clima

organizacional e estilos de liderança, sejam pertinentes e tenham relação com os fenômenos

abordados, não são objeto de análise dessa pesquisa.

Para o alcance dos objetivos aqui propostos, é necessário apenas reconhecer que os indivíduos

respondem àquilo que percebem independente da realidade factual, e que há uma relação

próxima entre a percepção dos comportamentos políticos e as suas conseqüências no ambiente

organizacional. Como sugerem as pesquisas empíricas descritas na literatura, muitos são os

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efeitos da política nas atitudes e nos comportamentos dos funcionários como, por exemplo, na

satisfação, no comprometimento, no desempenho e nas intenções de desligamento. Esse

estudo, porém, preocupa-se em analisar a influência dos comportamentos políticos

particularmente em relação às percepções individuais de justiça e confiança na organização.

1.4 Relevância do estudo

Os temas abordados nessa pesquisa são bastante explorados na literatura de outros países,

entre os quais podemos destacar uma história de mais de quarenta anos de pesquisa sobre

justiça organizacional. Apesar dos inúmeros estudos publicados em âmbito internacional e do

interesse que suscitam, os temas relativos aos comportamentos políticos, à justiça e à

confiança nas organizações permanece teórica e empiricamente pouco explorados no Brasil.

Observa-se que os estudos, em especial, sobre política nas organizações são realmente

escassos no país.

Se a política é de fato uma realidade na dinâmica organizacional, esse pressuposto já se

consubstancia suficiente para justificar a realização de pesquisas. Mesmo que o tema seja

cercado de conotação pejorativa e de juízos de valor geralmente negativos, o desenvolvimento

do campo do comportamento organizacional no Brasil não poderia se privar da análise sobre

os comportamentos políticos. Espera-se com a presente pesquisa contribuir para o

desenvolvimento teórico dessa área do conhecimento e para a validação de um instrumento

próprio à sua mensuração e adequado à realidade brasileira.

Ainda que potencialmente disfuncionais, é importante destacar que os comportamentos

políticos são capazes também de trazer benefícios tanto para os atores individualmente quanto

para os resultados da organização. Logo, esse estudo pode auxiliar os gestores, a partir do

alcance de uma melhor compreensão do fenômeno da política, a desenvolver práticas de

gestão que, de um lado, mitiguem seus efeitos negativos e, do outro, utilize-a em prol da

eficácia organizacional.

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Outro fator que justifica a realização dessa pesquisa é a análise da relação dos

comportamentos políticos com outras duas variáveis que, por si só, são caracterizadas como

influenciadoras do desempenho laboral, a justiça e a confiança nas organizações.

Os estudos sobre justiça contribuem para a compreensão das funções que tal conceito exerce

nos sistemas da sociedade e do mundo do trabalho. Segundo Assmar, Ferreira e Souto (2005),

os julgamentos sobre o que é justo e merecido estão na base dos sentimentos, atitudes e

comportamentos das pessoas em suas interações com os outros. Questões de ordem subjetiva,

como aquelas envolvidas nos julgamentos de justiça, representam foco de interesse primordial

no estudo das relações entre indivíduos e suas organizações, dado o reconhecimento de que a

justiça organizacional desempenha papel vital na saúde dessas relações. Esse construto

constitui requisito básico para o funcionamento eficaz das organizações e para a satisfação

pessoal de seus membros.

Do mesmo modo, a compreensão sobre o construto da confiança é essencial, visto que

contratos e controles formais não são suficientes para assegurar a tranqüilidade das partes

envolvidas em uma relação, principalmente quando se trata do vínculo entre o empregado e

sua organização de trabalho. Trata-se de um “meso” conceito que integra o menor nível de

processos psicológicos e dinâmicas de grupo como um nível macro de arranjos institucionais.

As pesquisas indicam que a confiança pode promover comportamentos cooperativos, formas

de adaptação organizacional, coesão do grupo, efetiva resposta a crises, além de reduzir

conflitos e custos de transação. Segundo Mayer, Davis e Schoorman (1995), a importância

desse construto pode ser verificado em temas como comunicação, liderança, gerenciamento

por objetivos, negociação, teoria dos jogos, avaliação de desempenho, relações laborais e

implementação de equipes auto-gerenciáveis.

Portanto, tanto a justiça como a confiança tem significativas implicações para o desempenho

do indivíduo e da organização, tornando relevante verificar como a percepção dos

comportamentos políticos no ambiente organizacional influencia a avaliação que os

profissionais fazem a respeito da justiça e da confiança nas organizações às quais estão

vinculados.

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2. COMPORTAMENTOS POLÍTICOS

Compreender as organizações como entidades políticas não é um fenômeno recente e, de

acordo com Mayes e Allen (1977), muitos autores destacam a conveniência de adotar essa

perspectiva nos estudos organizacionais. Mesmo que nem todas as organizações possam ser

igualmente caracterizadas como políticas, é possível identificar em diferentes graus

comportamentos políticos em qualquer organização. Não é de se surpreender que Ferris e

Kacmar (1992) afirmem que a política é um simples fato na vida das organizações.

Qualquer pessoa vinculada a uma organização eventualmente observa e, até mesmo, participa

de atividades consideradas políticas, porém esse termo pode não ter o mesmo significado para

todos os envolvidos. Se por um lado, a qualificação de um comportamento como político

depende da percepção individual, por outro lado, Mayes e Allen (1977) pontuam que o

processo de política organizacional também pode ser descrito em termos que o tornem distinto

dos demais e que não dependam apenas da avaliação do sujeito que o observa.

Embora muitas variáveis envolvidas na descrição dos comportamentos políticos sejam

familiares a outros conceitos do campo do comportamento organizacional, há uma

combinação dessas variáveis que constitui a política nas organizações como um processo

singular, que não pode ser descrito adequadamente por outros construtos existentes.

Segundo Harrell-Cook et al. (1999), esse processo único e denominado comportamento

político tem sido investigado com variadas perspectivas e níveis de análise. Assim, para

compreender a natureza desse fenômeno, primeiro serão apresentados os diferentes

paradigmas de análise e, em seguida, serão examinadas as definições sugeridas na literatura

bem como os principais elementos que caracterizam os comportamentos políticos.

Vigoda (2000) lembra que os estudos sugerem que a política, um fenômeno epidêmico nas

organizações, necessita de mais atenção e exames empíricos e, ainda, afirma que a

importância dos comportamentos políticos encontra-se nas conseqüências e efeitos potenciais

sobre o trabalho. Dessa forma, após definir e caracterizar o fenômeno, este capítulo

apresentará as tipologias dos comportamentos políticos e as pesquisas empíricas que

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evidenciam os fatores que propiciam a ocorrência e a proliferação dos comportamentos

políticos nas organizações e, ainda, as suas conseqüências.

2.1 Paradigmas de análise

Embora não haja consenso em relação à definição de comportamento político, Bradshaw-

Camball e Murray (2001) afirmam que a sua concepção é dominada por uma única

perspectiva teórica, a funcionalista. Os autores apresentam também as perspectivas de análise

interpretativista e radical, desenvolvidas segundo os paradigmas das ciências sociais

propostos por Burrell e Morgan. Cada uma dessas visões está fundamentada em diferentes

premissas, o que faz seu foco de análise se direcionar para alguns aspectos da política

enquanto se afasta de outros.

A perspectiva funcionalista assume como premissa que o poder é uma realidade objetiva e a

política se traduziria no exercício e utilização desse poder. Essa perspectiva distingue duas

grandes escolas de pensamento: a pluralista e a racionalista. A primeira analisa a dimensão

estrutural, os atores-chave do jogo político, o poder de que dispõem, bem como as bases de

poder que utilizam. A escola pluralista supõe que a influência dos atores principais é

determinada pelo controle das bases de poder, ou seja, pelo domínio dos recursos críticos da

organização.

A segunda escola concentra sua atenção na autoridade legítima da alta direção e na

racionalidade pretendida na tomada de decisão. A visão racionalista simplifica a dimensão

estrutural da política ao assumir que a alta direção detém poder baseado na sua autoridade

formal, legítima e técnica e desconsidera outras fontes de poder. Trata-se de uma visão

mecanicista do jogo político que, se por um lado fornece uma descrição detalhada de

estratégias políticas, apresenta uma descrição limitada da dinâmica do processo político e dos

seus efeitos (BRADSHAW-CAMBALL e MURRAY, 2001; CUNHA et al., 2006).

Enfim, para a perspectiva dominante na literatura, importa avaliar o comportamento político

em relação à sua funcionalidade. Quando adota uma visão mais abrangente, que concebe a

política como um processo de influência e inclui um amplo conjunto de comportamentos

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sociais, considera que essa ferramenta contribui para o funcionamento básico da organização.

Entretanto, quando opta por uma visão mais específica, que define o termo política por meio

dos comportamentos orientados para promover os próprios interesses, tende a tratar esses

comportamentos políticos como disfuncionais do ponto de vista dos objetivos da organização

(CROPANZANO et al., 1997; VIGODA e COHEN, 2002).

Nesse sentido, Poon (2003) defende que, embora as atividades políticas possam trabalhar ora

a favor, ora contra a organização, essas são geralmente consideradas disfuncionais devido ao

seu potencial para destruir a eficiência e a efetividade organizacional, além dos efeitos

prejudiciais aos seus membros.

Se os pluralistas trabalham com uma estrutura mais superficial do poder, a perspectiva

interpretativa analisa o poder mais profundamente e assume que a realidade é socialmente

construída. Assim, sugere que as partes envolvidas nos comportamentos políticos exercem

influência ao construir o significado do que os outros experimentam. A investigação enfatiza,

portanto, a construção da identidade de cada indivíduo ou grupo, bem como os padrões de

comportamento político identificados por meio do uso da linguagem, informação, metáforas,

símbolos, mitos e o humor. Em decorrência da profunda estrutura do processo político, essa

perspectiva ajuda a explicar o status quo e a natureza presumida como natural de muitos

elementos que constituem a cultura organizacional (BRADSHAW-CAMBALL e MURRAY,

2001; CUNHA et al., 2006).

Por fim, a perspectiva radical, que é marcada pela influência marxista, direciona seu foco de

atenção para um contexto maior, pois acredita que os indivíduos se estruturam dentro de um

contexto cujos limites são fornecidos por práticas previamente construídas por aqueles que

controlam os meios de produção. O poder não é visto como propriedade individual, mas

determinado pela estrutura social. A abordagem radical é útil para explicar os efeitos do

processo político em um nível macro de análise, particularmente em termos históricos.

Analisando a dimensão estrutural do construto dos comportamentos políticos, é possível

vislumbrar um continuum entre o nível superficial da perspectiva pluralista, o nível

intermediário da interpretativa e a estrutura muito aprofundada da perspectiva radical.

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Bradshaw-Camball e Murray (2001) concluem que um entendimento mais rico da política nas

organizações surgiria do uso simultâneo de todas essas perspectivas. Do mesmo modo, Cunha

et al (2006) também destacam que a compreensão aprofundada dos comportamentos políticos

demanda considerar múltiplas perspectivas, unidades de análise e abordagens metodológicas,

rejeitando a ilusória simplicidade das análises unidimensionais.

2.2 Conceitos

O termo comportamento político pode comportar diferentes significados, dependendo do

contexto ou do nível de análise no qual é empregado. Cobb (1986) afirma que um completo

diagnóstico político deveria contemplar todos os níveis de análise: micro, intermediário e

macro. No nível micro e intermediário de análise, destacam-se respectivamente os indivíduos

e as coalizões ou grupos de interesse, enquanto que em um nível macro de análise importa o

contexto no qual esses atores operam, ou seja, o ambiente, a cultura, a estrutura e os processos

organizacionais.

Nesse sentido, Andrews e Kacmar (2001) também sugerem que uma adequada definição deve

permitir tanto o micro quanto o macro nível de análise, considerando a política um fenômeno

individual e organizacional. Em uma perspectiva mais ampla, política é um importante

componente para a vida cotidiana das organizações, promovendo geralmente efeitos positivos.

No entanto, um nível de análise ainda menor também é possível, sendo os comportamentos

políticos muitas vezes definidos por ações individuais orientadas para a promoção de seus

próprios interesses.

Cunha et al. (2006) chegam a afirmar que, devido à complexidade do tema e à diversidade

paradigmática das ciências sociais, não existe consenso na literatura sobre política nas

organizações. Como demonstra o Quadro 1, ao longo das últimas décadas, muitos autores

propuseram definições variadas para o que se constituem os comportamentos políticos.

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Quadro 1 - Definições de Comportamento Político

Teóricos Definições Idéias principais

Wildavsky

(1964)

A política organizacional representa um conflito entre os

atores que desejam que as suas preferências na definição

de uma política prevaleçam sobre as preferências de

outros atores.

Conflito de interesses

Mayes e Allen

(1977)

Comportamentos políticos correspondem á gestão dos

processos de influência para alcançar objetivos não

aprovados pela organização ou para alcançar objetivos

aprovados, porém através de meios não aprovados.

Influência

Legitimidade

Allen et al. (1979)

Comportamentos políticos envolvem atos intencionais de

influência para promover ou proteger os interesses

próprios de indivíduos ou grupos.

Influência

Auto-interesse

Miles (1980)

A política organizacional é o processo mediante o qual os

indivíduos interdependentes ou grupos de interesse

exercem o poder de que dispõem, tendo como fito

influenciar os objetivos, os critérios ou os processos de

tomada de decisão, assim prosseguindo o cumprimento

dos seus interesses próprios.

Exercício do poder

Auto-interesse

Pfeffer (1981)

Comportamentos políticos envolvem aquelas atividades

que ocorrem dentro da organização para adquirir,

desenvolver e utilizar poder e outros recursos, visando

obter os resultados esperados em uma situação na qual há

incerteza ou divergência.

Exercício do poder

Conflito de interesses

Farrell e

Petersen (1982)

Comportamentos políticos são aquelas atividades que não

são requeridas como parte do papel formal, mas que

influenciam ou tentam influenciar, a distribuição de

vantagens e desvantagens dentro da organização.

Atividades extra papel

Mintzberg

(1983)

Política organizacional pode ser definida como o

comportamento individual ou de grupo que é informal,

ostensivamente paroquial, tipicamente divisionista e,

sobretudo no sentido técnico, é ilegítimo, isto é, não

aprovado pela autoridade formal, pela ideologia aceita na

organização ou pela autoridade técnica (embora possa

explorar algum desses).

Atividades extra papel

Auto-interesse

Conflito de interesses

Gray e Ariss

(1985)

Comportamentos políticos consistem de atos intencionais

de influência exercidos por indivíduos ou grupos para

realçar ou proteger seus próprios interesses quando

houver a possibilidade de conflitos.

Influência

Auto-interesse

Cobb (1986)

Comportamentos políticos se referem a como o poder é

usado para resolver incerteza e/ou divergência relativas às

ações e objetivos organizacionais.

Exercício do poder

Conflito de interesses

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Teóricos Definições Idéias principais

Ferris et al. (1989)

Política organizacional refere-se a um processo social de

influência no qual o comportamento é estrategicamente

desenhado para maximizar os próprios interesses de curto

e longo prazo, que podem ser compatível ou contrário ao

interesse de outros indivíduos.

Influência

Auto-interesse

Conflito de interesses

Cropanzano et

al. (1995)

Comportamentos políticos são tentativas de influência

social direcionadas àqueles que podem prover

recompensas que ajudarão a promover ou proteger o

interesse próprio do ator.

Influência

Auto-interesse

Christiansen et al. (1997)

Comportamentos políticos referem-se àquelas tentativas

de influenciar outros que são percebidas por sua natureza

de auto-interesse.

Influência

Auto-interesse

Kacmar e Baron

(1999)

Comportamentos políticos correspondem às ações de

indivíduos que estão diretamente orientados para o

objetivo de promover seus próprios interesses sem

considerar o bem estar dos outros indivíduos ou da sua

organização.

Auto-interesse

Ferris et al (2000)

Percepção dos comportamentos políticos pode ser

definida como a avaliação subjetiva do indivíduo a

respeito da extensão que o ambiente organizacional é

caracterizado por pares e superiores que demonstram

comportamento de auto-interesse.

Auto-interesse

Valle e Witt

(2001)

Comportamentos políticos correspondem às ações que (a)

são inconsistentes com as normas organizacionais aceitas,

(b) desenhados para promover o próprio interesse e (c)

efetivados sem considerar e, às vezes, à custa dos

objetivos organizacionais

Legitimidade

Auto-interesse

Byrne (2005)

Comportamentos políticos podem ser vistos como ações

intencionais (ocultas ou declaradas) de indivíduos para

promover ou proteger seus próprios interesses, às vezes à

custa de e sem preocupação com o bem-estar de outros ou

da sua organização.

Intencionalidade

Auto-interesse

Há ao menos dois conjuntos de definições largamente utilizados para a política nas

organizações. Algumas abordagens consideram um amplo conjunto de comportamentos

sociais, enquanto que outros trabalhos tratam os comportamentos políticos de forma mais

restrita (CROPANZANO et al., 1997; RANDALL et al., 1999).

No primeiro conjunto de definições, política é vista como um processo de influência que

ocorre dentro do ambiente de trabalho. Pfeffer (1981), por exemplo, indica que política é o

estudo do poder em ação. Esse tipo de definição, como ressaltam Randall et al. (1999),

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poderia incluir praticamente todos os processos de influência efetivados no ambiente

organizacional.

Porém, a visão mais freqüente define os comportamentos políticos de forma específica. O

termo política, segundo Cropanzano et al. (1997), está limitado a comportamentos que são

estrategicamente destinados a maximizar os próprios interesses, sejam de curto ou longo

prazo. Por sua vez, Randall et al (1999) entendem política como as tentativas de influência

não sancionadas que buscam promover os próprios interesses à custa dos objetivos

organizacionais.

Harrell-Cook et al. (1999) distinguem ainda dois grandes enfoques, sendo que um analisa o

comportamento político em si, enquanto que outros trabalhos têm se concentrado nas

percepções dos comportamentos políticos. No entanto, os autores ressaltam que a natureza e a

complexidade da relação entre essas duas perspectivas têm sido ignoradas.

Para Conner (2006), a distinção entre as diversas definições encontra-se no posicionamento

em relação aos efeitos da política. Alguns autores preferem enfatizar as circunstâncias nas

quais os comportamentos políticos produzem efeitos positivos e podem ser considerados

necessários para a vida organizacional como, por exemplo, servem de meio para atores não

privilegiados promoverem e realizarem suas agendas. Outros pesquisadores adotam uma

posição mais neutra que, a despeito da política ser positiva ou negativa, indicam que essa

existe e deve ser explorada. Contudo, os comportamentos políticos têm, com maior

freqüência, conotações negativas e uma série de questionamentos éticos. Nessa perspectiva,

pesquisadores vêem na literatura descrições de conflito por recursos, comportamento de auto-

interesse, bem como tentativas de exercer influência à custa dos outros indivíduos.

Diante da proposição pela literatura de conceitos diversos, o presente estudo foi conduzido

considerando que os comportamentos políticos são caracterizados por ser atividade extra

papel, pelo exercício do poder, pelo processo de influência e pela intencionalidade do ato.

Adotou-se, portanto, a seguinte definição: comportamentos políticos são as atividades não

formais de indivíduos ou grupos que, mediante o uso do poder de que dispõem, visam

intencionalmente influenciar atitudes ou valores e, assim, modificar a distribuição de

recursos e vantagens dentro da organização.

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2.3 Características do comportamento político

Ainda que não haja consenso, Bradshaw-Camball e Murray (2001) afirmam que praticamente

todas as definições indicam que a ocorrência de política nas organizações está condicionada a

observância de certas condições, quais sejam, a existência de duas ou mais partes (indivíduos

ou grupos) e de alguma forma de interdependência entre elas, bem como a percepção de

divergência de interesses de modo a possibilitar o surgimento do conflito. Uma vez que essas

condições existam, as ações subseqüentes das partes envolvidas seriam consideradas políticas.

Para Mayes e Allen (1977), as concepções até então propostas para comportamento político

poderiam ser caracterizadas como: reivindicações contra o sistema de distribuição de recursos

da organização, conflito a respeito das preferências políticas, relação de controle e influência

ou, ainda, comportamentos direcionados para ganhos pessoais.

Apesar da diversidade de conceitos sugeridos na literatura, é possível distinguir traços comuns

e identificar as idéias-chave do construto, conforme indicado no Quadro 2. Cada um desses

elementos será analisado a seguir e integra outras definições na área de comportamento

organizacional. Portanto, é somente a combinação desses que pode caracterizar de maneira

distintiva o comportamento político nas organizações (CUNHA et al., 2006; MAYES e

ALLEN, 1977).

Quadro 2 - Características distintivas do comportamento político

Característica Descrição

Atividade extrapapel Desenvolvimento de atividades no âmbito da organização informal.

Auto-interesse Interesse próprio considerado como fim último da ação individual e que

justifica os meios empregados.

Conflito de interesses Existência de interesses divergentes entre atores envolvidos, implicando

alguma forma de resistência ou oposição.

Exercício do poder Compreensão da política como o poder em ação.

Influência Exercício da influência para modificar ou condicionar atitudes, valores ou

comportamentos.

Intencionalidade Ação deliberada no sentido de exercer influência.

Legitimidade Avaliação dos fins e meios do exercício da influência em relação à

aprovação ou não reprovação explícita por parte da organização.

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a) Atividade extrapapel:

Segundo Cunha et al. (2006), a idéia de a atividade política ser, em larga medida, uma

atividade de bastidores desenvolvida no seio da organização informal é tanto comum na

literatura, quanto verificada empiricamente. Desse modo, Mayes e Allen (1977) esclarecem

que uma definição adequada deve permitir a exclusão do desempenho de atividades rotineiras,

pois os comportamentos políticos são atividades extrapapel formal. Um supervisor, por

exemplo, ao fazer a designação de trabalhos de rotina, influencia o comportamento dos seus

subordinados, mas essa forma de influência não pode ser considerada política.

Farrell e Petersen (1982) também afirmam que os comportamentos políticos residem na

estrutura informal ao invés de integrar os papéis formais regulados pelas normas e objetivos

organizacionais. Igualmente, Andrews e Kacmar (2001) acreditam que as ações políticas, que

são informais e não explicitamente proibidas pela organização, acontecem tipicamente atrás

das cenas e em organizações nas quais há poucas regras e regulamentos para orientar a

tomada de decisões.

Entretanto, Cunha et al. (2006) ressaltam que nem tudo o que acontece nos bastidores ou no

âmbito da organização informal é necessariamente político. Os autores ilustram com o

exemplo da pressão exercida informalmente pelo superior hierárquico a fim de fazer seu

subordinado trabalhar além da jornada normal de trabalho para atender os interesses da

organização. Mesmo sendo informal, este comportamento não pode ser considerado político,

exceto se a própria posição ou carreira do superior estiverem em jogo.

b) Auto-interesse:

Comportamento político tem sido definido por alguns autores como ostensivamente paroquial

e tipicamente divisionista (MINZTBERG, 1983), um processo de influência estrategicamente

desenhado para maximizar os próprios interesses (FERRIS et al., 1989), sem considerar o

bem estar dos outros indivíduos ou da sua organização (KACMAR e BARON, 1999).

Segundo Vigoda (2000) e Poon (2003), essas definições trazem claramente uma conotação

negativa que é consistente com a percepção geral de grande parte dos membros das

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organizações. Estudos que desenvolveram essa concepção descobriram que os

comportamentos políticos no ambiente de trabalho eram tipicamente associados a atividades

manipulativas e de auto-interesse, ou seja, eram percebidos pelos funcionários como

comportamentos que pretendiam alcançar interesses próprios, vantagens e benefícios à custa

dos outros indivíduos sendo, às vezes, contrários aos interesses de toda a organização ou da

unidade de trabalho. Para os autores, esses comportamentos são discricionários,

freqüentemente associados à manipulação, difamação, subversividade e abuso de poder para

alcançar os próprios objetivos.

Poon (2003) exemplifica que esses comportamentos políticos incluem desacreditar um rival

no trabalho para tomar a dianteira, não compartilhar informação útil com outros funcionários

visando aumentar o seu poder sobre os demais, bem como fazer favores para o superior a fim

de assegurar um aumento de salário maior.

Subjacente a essas concepções está a tentativa de influenciar a distribuição de vantagens e de

perdas com vista à satisfação de interesses próprios. De acordo com Cunha et al. (2006), na

atividade política a satisfação do interesse próprio é elevada à condição de fim último da ação

individual e um fim que justifica todos os meios. O indivíduo coloca, de forma egoísta, a

satisfação do interesse próprio no centro das suas atenções, tendendo a buscar a exclusão da

vantagem de outros indivíduos ou até mesmo o seu prejuízo. Vencer os adversários

recorrendo à mentira, ao jogo sujo e à transação de influências ilustra como os fins justificam

os meios.

Muito embora essa perspectiva seja intuitivamente atraente, aceitar como válido que a

variável interesse próprio integra em alguma medida todas as ações políticas, poderia sugerir

que todos os comportamentos, em última análise, são políticos. Se o ganho pessoal for a razão

subjacente para todos os comportamentos calculados, a inclusão dessa variável na definição

prejudica a sua clareza (CUNHA et al., 2006; MAYES e ALLEN, 1977).

Nesse sentido, Cunha et al. (2006) questionam se os comportamentos políticos são sempre

egoístas. Embora a presunção da natureza egoísta da atividade política nas organizações seja

operacionalmente útil, argumentam que é preciso supor também a existência de

comportamentos políticos com outras tonalidades.

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Para Rosen et al. (2009), os comportamentos políticos se referem a um grande número de

atividades associadas ao uso de táticas de influência para também melhorar interesses

pessoais e organizacionais. Por exemplo, gestores considerados bons políticos exercem

influência para adquirir recursos para o seu grupo de trabalho, motivar o desempenho dos

funcionários e, ainda, promover iniciativas que acreditam serem benéficas para a organização.

Gestores podem recorrer ao jogo manipulativo para a consecução bem sucedida de um projeto

ou política organizacional.

Cunha et al. (2006) concluem que estas considerações a respeito dos fins da atividade política

permitem compreender a dificuldade na delimitação de fronteiras claras do conceito e indicam

uma das razões pelas quais os pesquisadores divergem em relação ao tema e defendem lógicas

interpretativas diferentes e, às vezes, antagônicas.

c) Conflito de interesses:

Há concepções que entendem comportamentos políticos como uma forma de conflito e, em

algumas dessas, a idéia de conflito está relacionada a de auto-interesse. Segundo Gray e Ariss

(1985), comportamentos políticos são exercidos por indivíduos ou grupos para realçar ou

proteger seus próprios interesses quando há a possibilidade de conflitos. Nesse caso, trata-se

de um comportamento que, por ser designado para beneficiar a si mesmo ou ao seu grupo, é

de natureza potencialmente conflitiva. Para Cunha et al. (2006), a percepção de conflito,

quando um indivíduo ou grupo procura a satisfação dos seus interesses à custa dos interesses

de outros e o faz de forma que para estes é inaceitável, é uma condição para a ocorrência de

comportamentos políticos.

Por sua vez, Harvey e Mills (1970, apud MAYES e ALLEN, 1977) entendem os

comportamentos políticos como ações que reivindicam contra o sistema de distribuição de

recursos organizacionais. Há, nessa concepção, uma premissa de que mudanças produzem

conflitos por meio dos seus efeitos na distribuição dos escassos recursos entre as unidades da

organização e de que esses conflitos são resolvidos através de processos políticos como

formação de coalizões e barganha.

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Nas organizações, compostas por pessoas e grupos com diferentes valores, metas e interesses,

se estabelece uma base de conflitos potenciais em relação aos recursos organizacionais como

orçamentos das unidades, alocação de espaço físico, responsabilidade sobre projetos, ajustes

salariais entre outros. De acordo com Robbins (2005), se os recursos organizacionais fossem

abundantes, todos poderiam satisfazer seus próprios objetivos, mas, por serem limitados, os

conflitos potenciais podem se transformar em reais.

Mayes e Allen (1977) ressaltam que algumas demandas por recursos podem não configurar

um comportamento político. Por exemplo, a solicitação de um funcionário por aumento

salarial pode não ser considerada política, porém o uso de ameaças para obter o aumento pode

se constituir um ato político. As circunstâncias em torno desse processo devem ser

necessariamente consideradas na definição dos comportamentos políticos.

Ademais, os critérios utilizados para alocar os recursos são amplos e ambíguos. Por exemplo,

ao definir um bom desempenho ou uma melhoria adequada, os fatos raramente são objetivos

e a política floresce. Para Robbins (2005), a percepção de que a maioria dos critérios

utilizados para alocar esses limitados recursos é passível de diferentes interpretações

conduziria à política nas organizações.

Nesse sentido, pode-se destacar a definição de Wildavsky (1964) que entende política como

conflito entre os atores que desejam fazer prevalecer as suas preferências nas decisões

tomadas pela organização. Contudo, Mayes e Allen (1977) lembram que uma abordagem que

relaciona política e conflitos não pode se limitar somente a conflitos sobre a tomada de

decisões, deve incluir também os comportamentos políticos envolvidos no processo de sua

implementação.

Seja qual for a motivação que propicia o conflito, defesa dos próprios interesses, demanda por

recursos, critérios para alocação dos recursos ou desejo que suas preferências prevaleçam, os

comportamentos políticos, segundo Cunha et al. (2006), pressupõem, antes de mais nada, a

percepção de interesses divergentes entre os diversos atores, implicando alguma forma de

resistência e de oposição. A atividade política denota que a organização reflete esses

interesses conflituosos, ao invés de esconder e ignorá-la, sendo esta resistência um ingrediente

essencial do comportamento político. Pfeffer (1981) acrescenta que, se não houver resistência,

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não haverá a necessidade nem a expectativa de um comportamento de natureza política, ou

seja, de um esforço consciente no sentido de vencê-la.

d) Exercício do poder:

A política organizacional pode ser compreendida como o processo mediante o qual o poder é

exercido para obter a realização dos próprios interesses (MILES, 1980, apud CUNHA et al.,

2006) ou como o uso do poder para resolver incerteza ou divergência relativas às ações e

objetivos organizacionais (COBB, 1986). A despeito dos sistemas formais designados para

controlar o uso do poder, Cavanagh et al. (1981) afirmam que os membros da organização

podem e fazem uso do poder político para influenciar seus subordinados, pares e superiores.

Ademais, as coalizões podem empregar atividades políticas como reação às mudanças

organizacionais que ameaçam seus interesses.

No nível micro e intermediário de análise dos comportamentos políticos, onde prevalecem

respectivamente os indivíduos e as coalizões ou grupos de interesse, Cobb (1986) destaca que

é importante identificar esses atores políticos, o quanto de poder eles dispõem, suas bases de

poder, a habilidade ou disposição para utilizá-lo, bem como para quais fins o uso do poder é

direcionado.

No entanto, quando considerado o subsistema político de uma organização, composto por

recursos, posições e pelo fluxo de poder, Cobb e Margulie (1981) argumentam que sua

efetividade depende de determinar até que ponto poder suficiente pode ser acumulado e

transferido às posições na organização (por exemplo, indivíduos) para manter as operações

produtivas, resolver problemas e implementar soluções. Para os autores, o subsistema político

de uma organização é eficiente quando o poder é acumulado e transferido de forma rápida e

precisa.

Com efeito, os conceitos de poder e política estão intimamente relacionados, uma vez que o

sucesso na atividade política pode contribuir para um reforço do poder que, por sua vez,

potencializa as chances de sucesso na atividade política. Todavia, trata-se de uma relação

muito complexa, sendo simplista a redução da política ao exercício tático do poder. Por outro

lado, nem todo exercício de poder que visa influenciar o comportamento dos outros

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indivíduos pode ser considerado político. Apesar de conectados, poder e política são

construtos conceitual e empiricamente distintos (FARRELL e PETERSEN, 1982; CUNHA et

al, 2006).

Na literatura, essa distinção tende a ocorrer essencialmente em torno da sua natureza: o poder

como capacidade e a política como ação. De acordo com Pfeffer (1981), se poder designa a

força, o suprimento de influência através do qual os eventos podem ser afetados, por sua vez,

política envolve aquelas atividades ou comportamentos mediante as quais o poder é

desenvolvido e utilizado no ambiente organizacional. Assim, poder é uma propriedade do

sistema, enquanto que política é o poder em ação.

e) Influência:

Poon (2003) afirma que fazer política é uma das opções para aqueles que desejam influenciar

decisões. É comum encontrar membros da organização engajados em tentativas de influência,

como gerenciamento da impressão e desenvolvimento de coalizões de poder, para proteger ou

promover seus próprios interesses. Nesse sentido, Mayes e Allen (1977) sustentam que os

comportamentos políticos são um processo dinâmico de influência, que produz efeitos

relevantes para a organização além do simples desempenho das tarefas laborais.

Embora controle, poder e influência sejam elementos chave para a compreensão do construto,

os autores ressaltam que esse tipo de abordagem permitiria incluir também comportamentos e

formas de influência que não são políticas. Um exemplo de um meio não político de

influência diz respeito à avaliação periódica de desempenho, quando realizada de acordo com

as normas da organização definidas para esse propósito. Trata-se de uma forma de influenciar

ou controlar o subordinado, pois se espera que este corrija as deficiências do seu desempenho.

Apesar de o conceito de influência não se esgotar na dimensão política, as ações consideradas

políticas destinam-se fundamentalmente a exercer influência, ou seja, a modificar ou a

condicionar as atitudes, os valores ou os comportamentos de quem é influenciado. Assim,

Cunha et al. (2006) pontuam que a política pressupõe a influência, mas nem toda influência é

política.

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f) Intencionalidade:

Como indica a discussão anterior, a noção de influência é necessária e bastante freqüente nas

definições de comportamentos políticos, mas não é suficiente para identificar uma ação como

política. Mayes e Allen (1977) ilustram que, ao executar tarefas rotineiras, um supervisor

pode influenciar o comportamento dos seus subordinados, mas que algumas formas de

influência podem não ser intencionais. Para esses autores, política implica no manejo

calculado da influência e, sendo assim, afirmam que uma definição mais adequada de

comportamento político deve também considerar critérios observáveis da intenção do ator.

Cunha et al. (2006) lembram que a dificuldade operacional de considerar a intencionalidade

como elemento caracterizador de um comportamento político reside em detectar as intenções,

uma vez que estas não são necessariamente declaradas. A questão é saber se, por exemplo, um

presente oferecido pelo subordinado ao seu superior representa um simples gesto de amizade

e gratidão ou uma tentativa de influenciá-lo em seu proveito.

Farrell e Petersen (1982) concluem que a análise dos comportamentos políticos em uma

organização deve focar nas ações intencionais e observáveis dos seus membros, mesmo

reconhecendo que ações não intencionais, ou mesmo idiossincrasias pessoais, possam ter

conseqüências políticas. Por exemplo, amizades ou relacionamentos amorosos podem ter

conseqüências indiretas para a política na organização, porém não devem ser o primeiro foco

de atenção. Para os autores, é a intencionalidade da influência que caracteriza as ações como

políticas.

g) Legitimidade:

Para Harris et al. (2007), mesmo que os comportamentos políticos não sejam expressamente

proibidos, também não têm o indulto da organização. Mintzberg (1983) é mais categórico

nesse ponto. Para o autor, a política é um comportamento que está fora dos sistemas legítimos

de influência ou, ao menos, fora dos seus usos legítimos, e geralmente em oposição a eles.

Trata-se de um comportamento clandestino e, sobretudo, tecnicamente ilegítimo, pois não é

aprovado pela autoridade formal, pela ideologia aceita na organização ou pela autoridade

técnica.

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A definição de Mayes e Allen (1977) também traz a questão da falta de legitimidade

organizacional como elemento chave para caracterizar uma atividade como política, conforme

ilustra o Quadro 3. Os comportamentos são políticos quando a influência é exercida para o

alcance de objetivos não sancionados pela organização ou quando a influência utiliza meios

não sancionados, mesmo que os fins sejam legítimos. Por outro lado, no caso da organização

delimitar tanto os fins quanto os meios apropriados a cada posição de trabalho, as atividades

desenvolvidas dentro desses limites não são consideradas políticas. Para Cavanagh et al.

(1981), essa definição destaca a discricionariedade da natureza do comportamento político.

Quadro 3 - Legitimidade dos comportamentos políticos

Objetivos do processo de influência

Legitimados pela

organização

Não legitimados pela

organização

Meios pelos

quais se exerce

influência

Legitimados pela

organização Comportamento não político

Comportamento político

potencialmente disfuncional

Não legitimados

pela organização

Comportamento político

potencialmente funcional

Comportamento político

potencialmente disfuncional

Fonte: Mayes e Allen (1977)

Diferente da definição apresentada anteriormente, Chang et al. (2009) pontuam que, do ponto

de vista da organização, as atividades políticas podem ser legítimas ou não. Os indivíduos

podem se engajar em atividades políticas legítimas, organizacionalmente sancionadas, que são

benéficas para o grupo de trabalho e para a organização. É o caso dos gestores que são bons

políticos, desenvolvem largas bases de capital social e fortes redes de contatos, que permitem

incrementar os recursos disponíveis para sua equipe. Por outro lado, os membros da

organização podem se envolver em atividades políticas ilegítimas, como formação de

coalizões e decisões relativas à promoção baseadas em favoritismo, estrategicamente

designadas para beneficiar seus interesses sem levar em conta a organização ou seus pares.

De acordo com Cunha et al. (2006), o aspecto da legitimidade representa uma dificuldade

adicional na identificação dos comportamentos políticos, decorrente do fato de que a fronteira

entre a legitimidade e a ilegitimidade organizacional é, principalmente, determinada por quem

tem poder. A relação entre comportamento político legítimo e ilegítimo é complexa - por

vezes a ação ilegítima busca legitimar outra ação - e, para se estabelecer essa importante

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distinção, deve-se considerar as regras do jogo desenvolvidas pela organização mesmo

quando não são explícitas. A questão central é que todas essas fronteiras são fluidas, variando

com o tempo, as circunstâncias e os indivíduos envolvidos.

2.4 Política nas organizações: comportamentos e percepções

Os comportamentos políticos nas organizações podem ser definidos pela natureza do ato ou

pela percepção das pessoas sobre o que é político. Portanto, têm prevalecido duas abordagens

na literatura e nas pesquisas, sendo que uma enfatiza o próprio comportamento e a outra

focaliza a percepção subjetiva do funcionário a respeito dos comportamentos políticos

(HARRELL-COOK et al., 1999; VIGODA e COHEN, 2002; POON, 2003).

De acordo com Ferris e Kacmar (1992), as pesquisas focavam inicialmente nas condições sob

as quais ocorria a política nas organizações, bem como na natureza e nas conseqüências de

tipos específicos de comportamentos políticos, sendo quase que ignorada a questão das

percepções desses comportamentos.

A partir de 1989, surgiram trabalhos enfatizando a experiência da política organizacional

como um fenômeno subjetivo e que buscavam determinar os antecedentes e os conseqüentes

dessas percepções. A noção de que, independente da existência real dos comportamentos

políticos, a percepção da política nas organizações é extremamente importante tornou-se,

como sustenta Conner (2006), um tema comum na literatura.

Para Vigoda e Cohen (2002), grande parte dos estudos a respeito da política nas organizações

utiliza as percepções enquanto omitem os comportamentos de fato. Os autores sugerem, pois,

um modelo conceitual (Figura 1) que utiliza as duas dimensões do construto, estabelecendo

uma relação entre as táticas e as percepções de comportamentos políticos, mediada por fatores

que representam a congruência entre o indivíduo e o ambiente organizacional.

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Figura 1 - Relação entre comportamento e percepção de política

Fonte: adaptado de Vigoda e Cohen (2002)

De acordo com esse modelo, a formulação da percepção a cerca da política na organização é

afetada pelo sucesso ou fracasso do comportamento político do próprio indivíduo. Assim,

quando as táticas contribuem para a satisfação das expectativas do funcionário, as percepções

de política tornam-se menores e a organização é vista como íntegra. Por outro lado, quando as

expectativas individuais não são atendidas, surgem sentimentos de desajuste, as percepções de

política tornam-se maiores e todo o ambiente de trabalho é percebido como iníquo e político

por natureza.

Embora sejam conceitualmente diferentes, os autores concluem que os comportamentos e as

percepções são duas dimensões que constituem uma parte importante da política no ambiente

organizacional e estão positivamente relacionadas. Desse modo, tanto os comportamentos

quanto as percepções devem integrar os estudos que pretendem compreender e explicar a

política nas organizações.

Comportamentos

políticos

Expectativas

individuais

Percepções dos

comportamentos

políticos

Variáveis

pessoais

Influências

organizacionais

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2.5 Comportamentos políticos nas organizações

2.5.1 Jogos e táticas políticas

Quando os comportamentos políticos nas organizações são definidos em decorrência da

natureza do ato, a literatura e as pesquisas utilizam os jogos e as táticas políticas como objeto

de estudo. Autores, que sugerem investigar as atividades políticas através das táticas de

influência utilizadas pelos funcionários, consideram uma visão mais abrangente da política,

que a entende como parte de um amplo conjunto de comportamentos sociais que contribui

para o funcionamento básico de uma organização. Vigoda e Cohen (2002) destacam que essa

abordagem considera as táticas de influência como a melhor representação da política nas

organizações.

Mayes e Allen (1977) relacionam os comportamentos políticos nas organizações a um

processo de gestão da influência que proporciona a execução de táticas políticas. A Figura 2

ilustra o modelo proposto para explicar esse processo. Os autores lembram que é a

combinação dos objetivos e dos meios empregados que define a natureza política da

influência, pois o processo em si mesmo configuraria apenas uma abordagem tradicional para

solução de problemas.

Figura 2 - O processo político

Fonte: Mayes e Allen (1977)

De acordo com o modelo, ao formular objetivos políticos, um indivíduo primeiro avalia se os

resultados desejados são sancionados pela organização e se esses são alcançáveis por meio de

uma ação solitária ou se outras pessoas precisam ser envolvidas. Essa análise da relação dos

Formula

objetivos

políticos

Analisa

meios e

fins

Identifica

alvos de

influência

Identifica

incentivos

desejados

pelos

alvos

Mobiliza

incentivos

e recursos

Executa

plano e

monitora

resultados

Planejamento da estratégia Implementação das táticas

Feedback

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meios empregados e dos objetivos esperados conduziria á identificação dos alvos de

influência e dos estímulos requeridos para provocar o comportamento esperado. Esse modelo

implica em uma concepção da atividade política como um fenômeno organizacional perene,

uma vez que a execução da tática pode desencadear uma cadeia de ocorrências políticas.

Mintzberg (1983) também afirma que a melhor caracterização do sistema político das

organizações está na continuidade e nos jogos que ocorrem por meio das coalizões internas. O

autor adota a premissa de que os comportamentos organizacionais correspondem a um jogo de

poder através do qual vários jogadores buscam controlar as ações e decisões da organização.

Além dos sistemas legítimos de influência (autoridade, ideologia e expertise), os

influenciadores internos utilizam os jogos políticos para exercer poder ou influência.

De acordo com o autor, os jogos políticos não são desestruturados ou independentes, mas

definidos por regras implícitas ou explícitas, que estabelecem as posições, o canal de acesso e

o poder de cada uma delas e, ainda, que indicam se as ações são aceitáveis ou ilegais, imorais

e inapropriadas. Os jogos constituem, pois, mecanismos concretos com os quais os indivíduos

estruturam e regulam suas relações de poder e que, ao mesmo tempo, permitem certa

liberdade de ação (CROZIER e FRIEDBERG, 1977 apud MINTZBERG, 1983).

Esse jogo político, como lembram Cunha et al. (2006), não está circunscrito aos poderosos.

As táticas utilizadas para influenciar o decurso dos acontecimentos podem variar conforme os

meios disponíveis, as características de quem se pretende influenciar e a cultura da

organização. Porém, na política organizacional não há espectadores nem suplentes: todos

jogam.

Estudos, como o realizado por Gandz e Murray (1980), indicam que, embora os indivíduos

sejam participantes do jogo político ao menos em alguma ocasião, não deixam de defender

que a política deveria ser excluída das organizações. Acreditam que a política compromete o

que deveria ser um jogo limpo e de acordo com as regras estabelecidas. Apesar da má

reputação, o jogo político é percebido como freqüente, natural nas organizações e necessário

para o seu bom desempenho, ou seja, um elemento indesejável, mas inevitável na vida

organizacional.

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Nesse sentido, Cunha et al. (2006) destacam a hipocrisia com que os jogadores se relacionam

com a política organizacional. Ao agir politicamente, os indivíduos atribuem às suas intenções

motivos nobres ou acreditam atender os superiores interesses da organização legitimando,

assim, o seu comportamento. Contudo, geralmente vêem o comportamento dos outros como

os piores exemplos de manobras políticas.

Ao reclamar que os comportamentos políticos são estranhos e antagônicos aos esforços

laborais, Baun (1989) explica que o desconforto expresso pelos indivíduos envolvidos ocorre

por vários motivos: porque o jogo político demanda habilidades que lhes faltam, porque esses

indivíduos têm dificuldade em definir uma questão em termos de interesse e de confrontar

pessoas ou porque não são bons estrategistas.

Por conseguinte, o comportamento político, contra o qual muitos reagem, corresponde

particularmente a um determinado tipo de política, o conflito interpessoal ganha-perde. A

reação a essa política não leva simplesmente à reclamação, mas a afastar a idéia de que o

conflito pode ser produtivo. Assim, queixas sobre o jogo político podem implicar objeções

inconscientes a um mundo de diferenças, no qual há conflito, falta equilíbrio entre as posições

individuais e os resultados são incertos. Para o autor, trata-se de uma fantasia da organização

ideal, na qual a política poderia ser evitada posto que desnecessária.

Com a pretensão de conviver em uma organização onde não se faz política ou ao menos

ninguém deveria fazer, Cunha et al. (2006) concluem que os gestores perdem a oportunidade

de compreender aspectos importantes do seu ambiente de trabalho, como as táticas de

influência e os jogos de poder, e principalmente de aprender a lidar com eles.

2.5.2 Tipologia dos comportamentos políticos

Essa abordagem, que considera os jogos e as táticas como uma representação da política nas

organizações, também propõe uma variedade de tipologias ou categorizações para examinar

os comportamentos políticos (HARRELL-COOK et al., 1999; VIGODA e COHEN, 2002). O

Quadro 4 sintetiza algumas tipologias de comportamentos políticos presentes na literatura.

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Quadro 4 - Tipologia dos comportamentos políticos

Teóricos Critérios de classificação Tipos de comportamentos

Farrell e Petersen (1982) Escolhas táticas em relação

a recursos

Interno / externo

Vertical / lateral

Legítimo / ilegítimo

Mintzberg (1983) Objetivos táticos

Promover resistência à autoridade

Conter resistência à autoridade

Construir coligações

Derrotar rivais

Promover processos de mudança

Baun (1989) Fonte e objeto do poder

Subordinação

Isolamento

Conflito interpessoal

Colaboração

Zanzi e O´Neill (2001) Aprovação pela organização Táticas políticas aprovadas

Táticas políticas não aprovadas

Farrell e Petersen (1982) propõem três dimensões chave para classificar as atividades políticas

em uma organização: interna-externa, vertical-lateral e legítimo-ilegítimo. Essas dimensões

representam distinto continuum através do qual os comportamentos políticos podem ser

ordenados. Refletem as escolhas táticas que os membros da organização fazem ao buscar

recursos ou ao mobilizar os recursos disponíveis para influenciar a distribuição de proveitos e

perdas dentro da organização.

A dimensão interna-externa relaciona-se com o foco dos recursos perseguidos pelos

envolvidos em política nas organizações. Os comportamentos políticos internos empregam

recursos já existentes na organização enquanto que, nos externos os indivíduos tentam

expandir os recursos disponíveis avançando para fora dos limites da organização.

Segundo os autores, os indivíduos podem progressivamente migrar de atividades internas para

externas se acreditarem que o sucesso somente é possível quando os recursos externos forem

mobilizados. Assim, pressupõem que os comportamentos políticos externos sejam mais

freqüentemente utilizados por membros da organização que dispõem de poucos poderes,

porque, provavelmente, contam com uma derrota quando os conflitos se resolvem sem a

introdução de recursos externos.

Considerando que a hierarquia é uma característica importante para as organizações, a

segunda dimensão reconhece a diferença do processo de influência entre superiores e

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subordinados (vertical) e de influência entre pares (lateral). Alguns comportamentos políticos

como reclamar com o supervisor, preterir a cadeia de comando, ser bajulador, ter ou agir

como um protegido podem ser identificados como verticais. Em grandes organizações

piramidais, os gerentes de nível médio vêem mais oportunidades em se engajar em

comportamentos políticos verticais.

Por outro lado, os comportamentos laterais, que têm recebido menos atenção, incluem troca

de favores, oferecimento de ajuda e formação de coalizões. Esses podem ocorrer em todos os

níveis da organização, embora aqueles que estão nos níveis mais baixos da hierarquia sejam

altamente motivados a aumentar seu poder juntando forças com seus pares.

A terceira dimensão proposta por Farrell e Petersen (1982) indica que a distinção pode ser

efetuada entre comportamentos políticos comuns do cotidiano e comportamentos políticos

extremos que violam as regras do jogo. Há, nas organizações, um conjunto de normas morais

que regulam as relações e demarcam ações que sejam muito perigosas ou ameaçadoras.

Alguns comportamentos, como a troca de favores ou busca de patrocínio em níveis

superiores, são vistos como legítimos, porém delação e sabotagens são geralmente

consideradas menos legítimas. Espera-se que aqueles em níveis mais elevados da hierarquia

ou os mais fortemente comprometidos com a organização adotem comportamentos políticos

legítimos. Já os comportamentos ilegítimos são ações adotadas tipicamente por membros

isolados ou que não tenham nada a perder.

A partir do cruzamento das três dimensões analisadas, os autores desenvolveram uma

tipologia para as atividades políticas nas organizações com oito classificações. Os exemplos

da Figura 3 não são exaustivos, apenas pretendem ilustrar os possíveis tipos de

comportamentos.

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Figura 3 - Tipologia multidimensional

Fonte: Farrell e Petersen (1982)

De acordo com Farrell e Petersen (1982), os comportamentos políticos internos do tipo I

seriam mais freqüentes em organizações com diferenças importantes nas recompensas, em

organizações hierarquizadas e naquelas onde a participação no processo decisório é limitada.

Sob essas condições, a obstrução se tornaria uma tática comum entre os membros dos

menores níveis, que resistem por meio da inação ou excessiva adesão às regras.

Comportamentos políticos laterais do tipo II podem aumentar quando a supervisão é mais

folgada e há posições de poder mais equivalentes. Por sua vez, comportamentos externos

verticais (tipo III), como as ações judiciais, ocorrem em ambientes onde a legitimidade do

conflito está bem estabelecida. Há ainda os comportamentos do tipo IV que, através de

contatos informais com pessoas externas à organização, os indivíduos obtêm acesso à

informação e a outras fontes de poder. Embora não sejam requeridos, esses contatos são

comportamentos aceitos para os membros de alto nível hierárquico.

Diferente desses comportamentos aceitáveis, os autores destacam que as atividades ilegítimas

arriscam a manutenção da filiação ao grupo e a submissão de sanções extremas. Motins são

exemplos críticos de um comportamento vertical, interno e ilegítimo (tipo V), mas, ao

contrário, protestos simbólicos como usar vestimentas não convencionais são geralmente

tolerados. A denúncia (tipo VII) implica que um membro da organização torne público, por

meio da mídia, detalhes de conduta imprópria, negligente ou irresponsável que coloca em

risco o interesse público. Já a deserção (tipo VIII) ocorre quando um executivo segue para um

concorrente ou inicia seu próprio negócio, abandonando a lealdade à organização anterior. Por

fim, os casos de duplicidade significam dupla filiação a organizações e lealdade incerta.

Ex

tern

o

Inte

rno

Intern

o

Ex

terno

V Sabotagem

Protestos simbólicos

Motins

VI Ameaças

VII Denúncias

VIII Duplicidade

organizacional

Deserção

Legítimo

Vertical Lateral

Ilegítimo

Vertical Lateral

I Reclamar com o

supervisor

Preterir a hierarquia

Obstruir

III Ações judiciais

IV Contatar partes de

outras organizações

Atividade

profissional externa

II Formar coalizões

Trocar favores

Retaliação

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Assim como Farrell e Petersen (1982), Baun (1989) também utiliza o cruzamento de

dimensões para elaborar uma tipologia dos comportamentos políticos com quatro orientações

como demonstra a Figura 4. A dimensão da origem do poder pode ser externa (outra pessoa

ou um princípio) ou interna (o próprio indivíduo) e, de forma similar, o objeto do poder é

externo (influenciando ou controlando outros) ou interno (controlando e fortalecendo o

próprio indivíduo).

Figura 4 - Tipos de política de acordo com dimensões do poder

Ob

jeto

do p

od

er

Fonte do poder

Inte

rno

Externa Interna

“Deus, mãe, líder… outros me fortalecerão.” “Controlarei e direcionarei a mim mesmo.”

Ação: Ficar próximo à fonte de poder Ação: Coletar e acumular informações

Tipo de política: Subordinação Tipo de política: Isolamento

I II

Exte

rno

III IV

“Religião, leis, meu grupo… irão me

mobilizar para realizar minhas obrigações.”

“Tenho influência ou impacto sobre os

demais.”

Ação: Baseada em princípios e propósitos Ação: Afetar e competir com outros.

Tipo de política: Conflito interpessoal Tipo de política: Colaboração

Fonte: Baun (1989)

O tipo I expressa o desejo de se sentir poderoso trabalhando para alguém que seja poderoso.

Caracteriza aqueles que escolhem aconselhar os altos gerentes e se satisfazem com a

proximidade de alguém que detenha poder. Trata-se de uma política de subordinação, na

qual se procura por outros que sejam considerados mais fortes e de quem se possa depender.

Essa orientação corresponde à fantasia inconsciente de uma organização forte, que se importa

com seus membros e que é livre de política, bem como ao desejo de uma cultura integradora.

O tipo II relaciona poder à autonomia e o indivíduo se sente poderoso por ser independente e

por estar fora dos limites dos interesses e das ações dos demais. Pode caracterizar pessoas

que, coletando e gerenciando informação, sentem estar no controle do objeto que os dados

representam. Essa orientação conduz a uma política de isolamento, na qual as pessoas tentam

se tornar auto-suficientes acumulando todo recurso que for possível.

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O tipo III corresponde às pessoas que pensam em se tornarem poderosas por se encontrar em

conflito e derrotar outros em relação a seus recursos ou posições, podendo ser caracterizadas

como estrategistas. Trata-se de um tipo mais convencional de política, ou seja, uma

competição do tipo ganha-perde em relação a recursos e a oportunidades de carreira, que está

orientada aos próprios interesses. Essa política está mais preocupada em vencer do que em

colaborar, assim favorecendo a conspiração em detrimento da competência.

Finalmente, o tipo IV, proposto por Baun (1989), expressa o desejo se sentir poderoso ao

direcionar os demais em nome de princípios gerais ou de interesses coletivos. Nesse caso, as

pessoas tentam resolver as diferenças utilizando normas aceitas mutuamente e não interesses

individuais. Esse tipo envolve a habilidade de tomar a iniciativa de agir de forma competente

e próxima aos outros. Pode ser caracterizado por gerentes ou líderes, cujas ações estão

fundamentadas mais em interesses coletivos do que na lealdade individual. Uma vez que a

direção dos indivíduos ocorre em nome de princípios abstratos, as ações dos profissionais que

utilizam esse tipo de política são vistas como neutras. Um comportamento do tipo IV pode ser

a base para uma política sofisticada de colaboração para promover interesses e resolver

conflitos, que a política convencional apenas disfarça.

Em suma, Baun (1989) considera que a política pode ser definida como exercício do poder

para promover interesses e que há tantos tipos de política quanto tipos de poder. A concepção

mais comum de poder, que retrata a visão de um mundo de escassez e de conflito de

interesses, onde partes independentes posicionam-se para derrotar uns aos outros, corresponde

à política de soma zero: quando uma parte ganha, a outra perde. Contudo, há também as

concepções que entendem o poder como a habilidade de diferentes partes em alcançar juntas

objetivos que não poderiam obter individualmente. Esse poder orienta a política preocupada

em criar novas possibilidades em um mundo onde os recursos podem ser escassos, porém

alguns interesses podem se unir e criar novos recursos. Trata-se da política do ganha-ganha: a

vitória é do coletivo e a perda de uma parte derrota a todos.

Embora Mintzberg (1983) também relacione os conceitos de política e poder, considera que a

política é potencialmente disfuncional do ponto de vista da organização e esse pressuposto

baliza toda a tipologia que propõe. Como descrito no Quadro 5, o autor sugere categorias para

os jogos políticos a partir dos seus objetivos táticos. Além das razões que levam os

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influenciadores a jogar, o autor também está interessado em examinar os jogadores

envolvidos e os instrumentos utilizados nos jogos políticos.

Quadro 5 - Tipologia de jogos políticos segundo objetivos táticos

Objetivo Jogo

político

Principais

jogadores

Instrumentos

utilizados Caracterização

Con

stru

ir b

ase

s d

e p

od

er

Patrocínio Subordinados

ou juniores

Acesso

privilegiado

Indivíduo vincula-se a alguém em ascensão

ou que esteja bem posicionado. Pode ser o

superior ou profissional sênior. Implica em

um contrato de serviço em troca de parte

do poder.

Construção

de alianças

Gerentes de

linha

Vontade e

habilidade

políticas, uso dos

sistemas legítimos

de influência

Pares negociam um contrato implícito de

suporte uns aos outros. Implica em

estabilidade na filiação ao grupo de

interesse ao longo do tempo para dar

suporte mútuo em diferentes temas.

Construção

do império

Gerentes de

linha

Todos, mas

especialmente

acesso

privilegiado e

vontade política

Trata-se do jogo de um único indivíduo que

busca aumentar suas bases de poder

angariando subordinados e subunidades, ou

seja, demarcando seu território e

estabelecendo sua soberania.

Orçamento Gerentes de

linha

Acesso e

informação

privilegiados e

vontade política

Indivíduo procura aumentar suas bases de

poder expandindo os recursos, sejam mais

posições, mais espaço, mais equipamentos

ou maior orçamento.

Expertise

Operadores e

staff de

especialistas

Utilização da

expertise ou então

vontade e

habilidade

políticas para

simular a expertise

Quando não é possível construir bases de

poder com superiores, subordinados ou

pares, pode-se explorar a expertise como

meio de influência, enfatizando a

singularidade de habilidades e

conhecimentos, sua importância para a

organização e a dificuldade de substituí-las.

Governar

como um

lord

Operadores

não

especializados

e seus gerentes

Utilização da

autoridade (ou

expertise ou

ideologia)

Nesse jogo, o poder legítimo é explorado

de forma ilegítima. Usa-se a autoridade

para obter o que deseja.

Der

rota

r riv

ais

Linha

X

Staff

Gerentes de

linha e staff de

analistas

Utilização da

autoridade e

expertise, acesso e

informação

privilegiados

Conflito entre o poder formal (autoridade)

dos gerentes e o poder informal (expertise)

dos analistas para controlar o processo de

decisão.

Campos

rivais

Qualquer

aliança ou

império,

geralmente nos

níveis

hierárquicos

intermediários

Acesso e

informação

privilegiados, uso

do poder legítimo,

vontade e

habilidade

políticas

Como o anterior, esse é um jogo de soma

zero no qual se busca vencedores e

perdedores entre as diversas alianças,

impérios ou facções. Também pode ocorrer

entre unidades ou entre personalidades.

Page 49: O PODER EM AÇÃO: Um estudo sobre os comportamentos ... · contextualizando o tema abordado e evidenciando o problema de pesquisa. Em seguida, são explicitados os objetivos e as

37

Fonte: Mintzberg (1983).

Diferente das concepções que caracterizam os comportamentos políticos segundo um critério

de legitimidade, mas que os consideram apenas como organizacionalmente disfuncionais,

Zanzi e O´Neill (2001) propõem que a política seja vista tanto de forma positiva quanto

negativa. Apesar de a política ser tipicamente associada na literatura a comportamentos e

efeitos negativos, os autores ressaltam que também pode servir aos propósitos organizacionais

e que esses comportamentos não são inerentemente negativos. Preconizam, portanto, a

existência de duas categorias, que correspondem às perspectivas que consideram os aspectos

positivos e os aspectos negativos dos comportamentos políticos nas organizações: táticas

políticas aprovadas e táticas políticas não aprovadas (Quadro 6).

Objetivo Jogo

político

Principais

jogadores

Instrumentos

utilizados Caracterização

Resi

stir

à

au

torid

ad

e o

u

po

der

leg

ítim

o

Insurreição

Operadores

não

especializados,

gerentes de

baixo nível

hierárquico e

profissionais

Vontade e

habilidade

políticas,

informação

privilegiada

Ocorre na implementação das decisões

tomadas em níveis superiores, pois sempre

compete ao executor alguma

discricionariedade. Varia da resistência

branda ao motim.

Rea

gir

à

resi

stên

cia

à

au

torid

ad

e

Contra-

insurreição

Gerentes

seniores

Informação

privilegiada,

utilização da

autoridade e

habilidade

política

A inclinação natural ao lutar contra a

resistência é usar mais autoridade,

aumentar os controles, endurecer as regas e

as sanções. É possível também utilizar

meios políticos de influência e negociar

com subordinados.

Efe

tuar m

ud

an

ças

organ

izacio

nais

Candidatos

estratégicos

Gerentes de

linha,

executivos,

profissionais

do staff e

operadores

Vontade e

habilidade

políticas, acesso

e informação

privilegiados

O poder é redistribuído em períodos de

mudanças e aqueles que as provocam

obtêm grande parte dele. Indivíduo ou

grupo busca mudança estratégica para

promover, através do sistema legítimo de

poder, seu próprio propósito ou projeto.

Denúncia

Geralmente

operadores de

baixo nível

hierárquico ou

analistas

Informação

privilegiada

Jogador com informação privilegiada

denuncia a terceiros condutas que violam

as normas sociais ou mesmo a lei. Visa

efetivar mudanças, geralmente de natureza

não estratégica. Questiona o poder legítimo

a ponto de buscar alianças externas.

Jovens

terroristas

Gerentes de

alto nível e/ou

pessoal do

staff, às vezes

operadores

especializados

Acesso e

informação

privilegiados,

habilidade e

vontade políticas

Pequeno grupo, geralmente conduzido por

um líder carismático, busca mudanças

fundamentais nas bases da estratégia ou da

estrutura organizacional ou mesmo

derrubar a ideologia e a autoridade central.

Page 50: O PODER EM AÇÃO: Um estudo sobre os comportamentos ... · contextualizando o tema abordado e evidenciando o problema de pesquisa. Em seguida, são explicitados os objetivos e as

38

Quadro 6 - Táticas políticas segundo aprovação da organização T

áti

ca

s p

olí

tica

s a

pro

vad

as

Uso da expertise Fornecer habilidades particulares, conhecimentos únicos ou soluções para

exaltar a posição de alguém.

Objetivos super

alinhados

Tentativa de dar suporte a alguém ao relacionar o seu argumento ao bem

maior da organização.

Rede de

relacionamentos

Tirar proveito do acesso a uma rede de relacionamentos de profissionais,

especialistas ou atores poderosos da organização (laços especiais com grupos

profissionais, sociais e familiares).

Formação de

coalizões

Aliança temporária ou permanente com outros indivíduos ou grupos para

aumentar o suporte à posição ou para alcançar um objetivo particular.

Persuasão Procurar a adesão de outra parte ao seu ponto de vista por meio do uso

seletivo de argumentação racional.

Construção da

imagem

Criação e manutenção de uma imagem favorável junto a atores poderosos,

destacando seu sucesso, criando a impressão de fazer parte de eventos

importantes, desenvolvendo reputação de possuir os atributos considerados

desejáveis por membros influentes da organização.

Táti

cas

polí

ticas

não a

provad

as

Intimidação e

insinuações

Usar linguagem, situações ou alusões oblíquas para tornar a outra parte

tímida ou amedontrada diante do poder de alguém.

Manipulação

Procurar a adesão de outra parte ao seu ponto de vista por meio da distorção

da realidade ou das intenções, incluindo revelações e especulação objetivas a

respeito de indivíduos ou situações.

Cooptação Fusão ou incorporação de outro indivíduo ou de grupo poderosos, com o

propósito de controlar ou silenciar a parte contrária.

Controle da

informação

Uso seletivo da informação, determinando qual deve ser distribuída e para

quem.

Uso de

substitutos

Ter em outros uma aquiescência segura como, por exemplo, enviar o

assistente para reforçar um procedimento novo e impopular.

Lotação

organizacional

Controlar ou suportar a promoção de pessoas da sua confiança a posições

estratégicas ou isolar/remover potenciais oponentes.

Culpar ou atacar Culpar outras partes por suas falhas ou minimizar suas realizações.

Fonte: Zanzi e O´Neill (2001)

As táticas políticas aprovadas são aquelas consideradas aceitáveis porque fazem parte das

normas da organização, isto é, são toleradas e até mesmo encorajadas. A formação de

coalizões pode, por exemplo, contribuir para o sucesso de um projeto, bem como o uso da

persuasão por um gerente pode inspirar os seus subordinados a cooperar e a trabalhar para o

alcance dos objetivos esperados. Desse modo, as táticas políticas aprovadas pela organização

não são somente toleradas, como também afetam positivamente o seu desempenho.

Por outro lado, as táticas políticas podem ser consideradas não aprovadas, quando divergem

das normas da organização e envolvem comportamentos do indivíduo que não gostaria que

Page 51: O PODER EM AÇÃO: Um estudo sobre os comportamentos ... · contextualizando o tema abordado e evidenciando o problema de pesquisa. Em seguida, são explicitados os objetivos e as

39

outros soubessem do seu uso. Trata-se de táticas inaceitáveis, indesejáveis e negativas. Muito

embora negativas, as táticas políticas, não aprovadas pela organização, não são

necessariamente ineficientes ou disfuncionais. Sob certas circunstâncias, como emergências

ou crises severas, elas podem até mesmo ser úteis para alcançar os objetivos organizacionais.

2.5.3 Pesquisas empíricas relativas ao comportamento

Além da proposição de categorias para tipificar os comportamentos políticos, alguns autores

se preocuparam em realizar pesquisas empíricas a respeito desses comportamentos. Sussman

et al. (2002) realizaram um estudo para examinar a relação entre os tipos de política, os canais

de comunicação e os alvos para os quais esses comportamentos são direcionados. O Quadro 7

indica os resultados dessa pesquisa.

Quadro 7 - Relação entre comportamentos políticos, fluxo e canais de comunicação

Comportamentos

mais prováveis

Comportamentos

menos prováveis

Dir

eção

do f

luxo Descendente

(alvo: subordinados)

Desenvolver base de suporte

Criar imagem favorável

Informação como ferramenta

Atacar ou culpar outros

Elogios e bajulação

Ascendente

(alvo: superiores)

Elogios e bajulação

Atacar ou culpar outros

Desenvolver base de suporte

Criar imagem favorável

Lateral

(alvo: pares)

Desenvolver alianças/coligações

Atacar ou culpar outros

Informação como ferramenta

Desenvolver base de suporte

Can

ais

de

com

unic

ação

Pessoalmente Elogios e bajulação

Criar obrigações/reciprocidade

Informação como ferramenta

Criar imagem favorável

Memorando/Carta Informação como ferramenta

Criar imagem favorável

Elogios e bajulação

Criar obrigações/reciprocidade

Telefone Desenvolver alianças/coligações

Criar obrigações/reciprocidade

Elogios e bajulação

Criar imagem favorável

Correio eletrônico Criar imagem favorável

Informação como ferramenta

Elogios e bajulação

Criar obrigações/reciprocidade

Fonte: Sussman et al. (2002)

Por sua vez, Allen et al. (1979) realizaram entrevistas com 87 ocupantes de cargos gerenciais

aos quais foi solicitado descrever as táticas de comportamentos políticos a partir da

experiência acumulada em toda a trajetória profissional. A Tabela 1 aponta as táticas políticas

mencionadas com maior freqüência pelo corpo gerencial.

Page 52: O PODER EM AÇÃO: Um estudo sobre os comportamentos ... · contextualizando o tema abordado e evidenciando o problema de pesquisa. Em seguida, são explicitados os objetivos e as

40

Tabela 1 - Táticas políticas mais frequentes

Táticas políticas % de respondentes

Atacar ou culpar outros 54

Uso da informação 54

Construção da imagem 52,9

Construção de suporte para idéias 36,8

Elogios e bajulação 25,3

Coalizões e alianças 25,3

Associação com pessoas influentes 24,1

Criar obrigações / reciprocidade 12,6

Fonte: Allen et al. (1979)

Os autores utilizaram a teoria da atribuição para examinar os resultados encontrados. De

acordo com essa teoria, a maioria das pessoas tende a utilizar explicações disposicionais para

entender o comportamento dos outros. Atribuições podem se referir à natureza disposicional

do indivíduo observado (atributo individual que causa o comportamento observado) ou às

forças situacionais (fatores externos que explicam o comportamento).

Desse modo, Allen et al. (1979) avaliaram que o fato de os comportamentos de auto-interesse

terem sido mais freqüentemente percebidos do que os comportamentos considerados

legítimos parece indicar que os atores não foram bem sucedidos nas suas tentativas de criar ou

gerenciar impressão. Por outro lado, os autores apontam que a atribuição de motivos legítimos

seria resultado de bem sucedidas táticas de manipulação.

Zanzi e O´Neill (2001) também realizaram estudo empírico para verificar a freqüência de uso,

mas também a percepção de quanto as táticas políticas são desejáveis socialmente. Os

questionários, com itens mensurados por meio de um escala de cinco pontos, foram aplicados

a 288 estudantes de cursos de MBA.

Os resultados, que estão dispostos na Tabela 2, apontam que a percepção de aceitação social

das seis táticas sancionadas é maior do que a freqüência de utilização, ou seja, os indivíduos

não utilizam essas táticas com a freqüência que imaginam serem desejáveis. Os autores

avaliam que esse fato se deve a concepção que as pessoas fazem a respeito dos possíveis

efeitos positivos, tanto individuais quanto organizacionais, que podem surgir do uso desse

Page 53: O PODER EM AÇÃO: Um estudo sobre os comportamentos ... · contextualizando o tema abordado e evidenciando o problema de pesquisa. Em seguida, são explicitados os objetivos e as

41

tipo de tática política. No caso das táticas políticas não aprovadas como cooptação, uso de

substitutos e lotação organizacional, a percepção de aceitação social também é maior do que a

freqüência de uso, o que pode sugerir que os indivíduos vêem potencial valor nesses

comportamentos.

Ao contrário, táticas políticas não aprovadas como intimidação e insinuações, manipulação e

culpar ou atacar outros são mais utilizadas do que a percepção da sua aceitação social. Zanzi e

O´Neill (2001) analisam que, devido à forte conotação negativa associada a esses

comportamentos, os indivíduos não se sentem dispostos a admitir o uso, e até mesmo

procuram ocultar que estejam envolvidos em comportamentos dos quais têm consciência de

serem inaceitáveis.

Tabela 2 - Freqüência de uso e aceitação social das táticas políticas

Táticas políticas

Freqüência

de uso

Desejável

socialmente

Táti

cas

apro

vad

as

Uso da expertise 3,64 4,30

Objetivos super alinhados 3,24 3,75

Rede de relacionamentos 3,28 3,89

Formação de coalizões 3,04 3,61

Persuasão 3,33 3,92

Construção da imagem 3,14 3,48

Táti

cas

não

apro

vad

as

Intimidação e insinuações 1,96 1,81

Manipulação 1,98 1,70

Cooptação 2,08 2,85

Controle da informação 2,73 2,73

Uso de substitutos 1,95 2,22

Lotação organizacional 2,49 3,02

Culpar ou atacar 2,00 1,61

Fonte: Zanzi e O´Neill (2001)

De maneira geral, os resultados indicam que há diferença na percepção entre as táticas

aprovadas e as não aprovadas em termos de quanto são desejadas socialmente, e que a

freqüência de uso das táticas não necessariamente corresponde a essas percepções. Em outras

palavras, as pessoas podem ser inconsistentes em relação à utilização de táticas políticas e à

Page 54: O PODER EM AÇÃO: Um estudo sobre os comportamentos ... · contextualizando o tema abordado e evidenciando o problema de pesquisa. Em seguida, são explicitados os objetivos e as

42

avaliação que fazem desses comportamentos como socialmente desejáveis ou não. Os autores

concluem que esse tipo de pesquisa tem implicações para as organizações, uma vez que uma

melhor compreensão das táticas e do valor que a cultura organizacional atribui a elas pode

capacitar os indivíduos a melhor navegar no ambiente político.

2.6 Percepções da política nas organizações

Se por um lado a literatura aborda a política nas organizações, sob a ótica do próprio

comportamento por meio dos jogos e táticas políticas, por outro destaca a percepção subjetiva

a respeito desse fenômeno. Gandz e Murray (1980) sustentam que, mais do que um estado

objetivo, os comportamentos políticos seriam mais bem compreendidos como um estado de

espírito. Harrell-Cook et al. (1999) ainda ressaltam que não se trata de dizer que a realidade

objetiva não é importante, mas que a percepção subjetiva pode mostrar uma relação mais forte

com os efeitos desses comportamentos no trabalho.

A percepção subjetiva da política tornou-se, então, mais relevante para a organização do que

os comportamentos políticos por si mesmos. Isso se deve ao fato de que os indivíduos

respondem àquilo que percebem, não necessariamente ao que é objetivamente real, ou seja, a

percepção é tão importante quanto a realidade. Essa premissa é consistente com a noção de

Kurt Lewin de que as respostas individuais são baseadas na percepção da realidade mais do

que na realidade objetiva (CROPANZANO et al, 1997; VIGODA, 2000; CONNER, 2006;

MILLER et al., 2008).

Robbins (2005) considera a percepção como o processo pelo qual os indivíduos organizam e

interpretam suas impressões sensoriais para dar sentido ao ambiente. Entretanto, como há

muitos fatores no próprio observador, no objeto ou mesmo no contexto que podem influenciar

a percepção, aquilo que é percebido é, em geral, mas não necessariamente, diferente da

realidade objetiva.

Por conseguinte, embora se possa assumir que haja tipicamente uma forte correspondência

entre os comportamentos políticos de fato e o comportamento que é percebido como político,

Page 55: O PODER EM AÇÃO: Um estudo sobre os comportamentos ... · contextualizando o tema abordado e evidenciando o problema de pesquisa. Em seguida, são explicitados os objetivos e as

43

Ferris e Kacmar (1992) ressaltam que é preciso admitir que há diferenças perceptivas e que é

importante tentar compreender como e porque elas ocorrem.

Um comentário lisonjeiro ou atitude servil de um subordinado podem ser interpretados como

admiração e deferência (atividade não política) ou como bajulação (atividade política). Como

pontuam Cunha et al (2006), os comportamentos percebidos por alguns indivíduos como

políticos podem ser vistos de forma diferente por outros e, naquele caso, a definição da

dimensão política dependerá da percepção que o superior tenha dos motivos o subordinado.

Devido à dificuldade para um indivíduo determinar apuradamente a intencionalidade da ação

dos demais ou mesmo determinar se essa ação representa auto-interesse, os comportamentos

políticos têm sido estudados a partir das percepções individuais desses comportamentos

(HARRIS, ANDREWS e KACMAR, 2007; HARRIS, HARRIS e HARVEY, 2007).

Para Harrell-Cook et al. (1999), as percepções de comportamentos políticos envolvem uma

avaliação individual subjetiva de uma situação ou comportamento como político. Em outras

palavras, as percepções de comportamentos políticos são interpretações subjetivas da extensão

com que se pode caracterizar o ambiente de trabalho por colegas e superiores engajados em

comportamentos políticos ou por práticas organizacionais que estimulam esses

comportamentos.

Em decorrência da caracterização do construto ser dependente de uma avaliação subjetiva,

muitos autores têm defendido que nem todos os membros da organização percebem da mesma

forma os comportamentos políticos. As pesquisas realizadas nessa área justificam essa

variação a partir da identificação de fatores individuais, organizacionais e situacionais que

influenciam a percepção das atividades políticas.

Esses fatores afetam não somente as percepções como também propiciam a ocorrência e a

proliferação dos comportamentos, pois a política se promove a si própria. Quanto mais

elevada a percepção da política nas organizações, maior será a propensão dos indivíduos de se

envolverem em atividades políticas (FERRIS et al.,1989; CUNHA et al., 2006).

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44

Entre aqueles que percebem as atividades políticas nas organizações, nem todos as

consideram negativamente, uma vez que alguns indivíduos obtêm resultados favoráveis e

conseguem ser bem-sucedidos fazendo política. Todavia, os comportamentos políticos

ocorrem muitas vezes sem se preocupar com o bem-estar da organização ou dos demais

indivíduos, sendo assim considerados nocivos, divisivos e pejorativos. E, quando percebidos

de forma negativa, os comportamentos políticos podem resultar em uma série de efeitos

adversos. Portanto, as pesquisas têm se ocupado de explorar também os efeitos da atividade

política nos indivíduos envolvidos.

Considerando os objetivos desse estudo, cabe examinar as abordagens da literatura e os

resultados das pesquisas empíricas em relação às percepções dos comportamentos políticos e

que serviram de fundamentação à proposição das hipóteses1.

2.6.1 Conseqüências da política nas organizações

Ferris et al. (1989) sugerem que há três potenciais respostas às percepções de

comportamentos políticos: deixar a organização, permanecer mas não se envolver com a

política ou continuar sendo membro da organização e envolver-se com a política. Essas

respostas são similares à concepção de Hirschman de saída, lealdade e voz, respectivamente.

Poon (2003) lembra que, muito embora os comportamentos políticos possam ser empregados

a favor ou contra a organização, são geralmente considerados disfuncionais porque têm o

potencial de reduzir a eficiência e a efetividade organizacionais. Política consome tempo,

restringe o compartilhamento de informações, cria barreiras de comunicação e, ainda, tem

potenciais efeitos prejudiciais para os indivíduos. Um ambiente de trabalho abundante de

atividades políticas é visto como estressante, não promotor de atitudes positivas no trabalho e

propenso a ter altos índices de rotatividade.

Nesse sentido, Byrne (2005) afirma que, apesar de a política poder ser considerada tanto

positiva quanto negativamente, a maioria dos pesquisadores tem enfatizado seus efeitos

negativos, dada a gravidade das conseqüências para os indivíduos e para a organização. As

1 Todas as hipósteses estão consolidadas em um modelo conceitual da pesquisa apresentado na seção 5.1 logo

após o referencial teórico.

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45

percepções de comportamentos políticos são consistentemente associadas a efeitos adversos.

O corpo de pesquisas empíricas tem fornecido evidências da relação entre as percepções de

comportamentos políticos e uma variedade de efeitos para os indivíduos e as organizações,

conforme indicado no Quadro 8.

Quadro 8 - Conseqüentes dos comportamentos políticos

Variável Relação Pesquisas empíricas

Satisfação no trabalho negativa

Ferris e Kacmar (1992)

Cropanzano et al. (1997)

Harrell-Cook et al. (1999)

Randall et al. (1999)

Vigoda (2000)

Witt et al. (2000)

Poon (2003)

Harris, Andrews e Kacmar (2007)

Miller et al. (2008)

Chang et al. (2009)

Intenção de desligamento positiva

Cropanzano et al. (1997)

Randall et al. (1999)

Vigoda (2000)

Poon (2003)

Harris, Andrews e Kacmar (2007)

Chang et al. (2009)

Comprometimento organizacional negativa

Cropanzano et al. (1997)

Randall et al. (1999)

Vigoda (2000)

Miller et al. (2008)

Chang et al. (2009)

Envolvimento com o trabalho positiva Ferris e Kacmar (1992)

negativa Cropanzano et al. (1997)

Comportamentos de cidadania

organizacional negativa

Randall et al. (1999)

Vigoda (2000)

Chang et al. (2009)

Estresse no trabalho positiva

Ferris e Kacmar (1992)

Cropanzano et al. (1997)

Randall et al. (1999)

Poon (2003)

Miller et al. (2008)

As percepções de política estão geralmente associadas à redução da satisfação no trabalho, do

comprometimento com a organização, do envolvimento com o trabalho e dos

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46

comportamentos de cidadania organizacional. Por outro lado, os comportamentos políticos

aparecem relacionados com o aumento da rotatividade, da ansiedade e do estresse no trabalho.

Para Cunha et al. (2006), não é de se surpreender que a política nas organizações seja

apontada como negativa, tendo em vista os elementos que normalmente conformam o

conceito, quais sejam, manipulações e manobras intencionalmente desenvolvidas em favor do

próprio interesse, prejudicando os demais quando necessário e recorrendo a meios

inaceitáveis.

Apesar de tantos elementos negativos, seria esperado que os indivíduos evitassem envolver-se

em jogos políticos, mas o fato é que alguns jogadores obtêm resultados positivos com essas

atividades como avaliações de desempenho favoráveis, maiores salários e promoções mais

rápidas. De acordo com os autores, os comportamentos políticos podem realmente trazer

benefícios pessoais, dependendo da habilidade política do indivíduo e da cultura

organizacional. Contudo, essa lógica individual pode não necessariamente se traduzir em

melhores resultados organizacionais.

Vale acrescentar ainda que, de acordo com Ferris et al. (2000), quanto maior a percepção da

política organizacional, maior tende a ser a propensão dos indivíduos a se envolver em

atividades políticas, caracterizando um efeito circular e auto-reforçador do processo. Por todo

o exposto, Cunha et al. (2006) concluem que o tema dos comportamentos políticos nas

organizações é complexo, não cabendo interpretações lineares e do tipo receituário sobre os

seus efeitos.

Embora tenha um apelo intuitivo a idéia de que a percepção de política impacta dimensões

chave para o indivíduo e, conseqüentemente, para a eficácia organizacional, faz-se necessário

verificar empiricamente tal efeito. Levando em consideração as reflexões suscitadas na

literatura, o presente estudo pretende testar as seguintes hipóteses:

H1: A percepção de comportamentos políticos está negativamente relacionada à justiça

organizacional.

H2: A percepção de comportamentos políticos está negativamente relacionada à confiança

na organização.

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47

2.6.2 Antecedentes da política nas organizações

A literatura tem demonstrado interesse na experiência subjetiva da política nas organizações,

assim como nas variáveis que podem afetar essas percepções. Embora os resultados nem

sempre apontem para conclusões uniformes e consistentes, as pesquisas consideram três

grandes grupos de fatores que funcionam como preditores das percepções de comportamentos

políticos. Os antecedentes das percepções de política são, conforme ilustra o Quadro 9,

categorizados em individuais, organizacionais e situacionais (FERRIS et al.,1989; FERRIS e

KACMAR, 1992; PARKER et al., 1995; POON, 2003; ROBBINS, 2005; CUNHA et al.,

2006).

Quadro 9 - Antecedentes dos comportamentos políticos

Fatores individuais Fatores organizacionais Fatores situacionais

Motivação para o poder

Locus de controle

Maquiavelismo

Aversão ao risco

Propensão para autoritarismo

Automonitoramento

Gênero

Idade

Nível educacional

Experiência profissional

Grupo ocupacional

Centralização

Formalização

Níveis hierárquicos

Alocação de recursos

Clareza de papéis

Diversidade dos membros

Processo decisório

Processo de comunicação

Relação com pares e superiores

Autonomia e diversidade do

trabalho

Clima organizacional

Situações de sucessão

Mudança e inovação

Formulação de estratégias e

políticas organizacionais

Declínio organizacional

Aquisição de equipamentos

Contratações

Processos de avaliação de

desempenho e remuneração

Baseado nesse modelo de percepções de comportamento político, originalmente proposto por

Ferris et al. (1989) e largamente discutido na literatura, que considera como antecedentes os

fatores individuais, organizacionais e ambientais, são apresentadas as seguintes hipóteses:

H3: Fatores individuais influenciam significativamente a percepção de comportamentos

políticos.

H4: Fatores organizacionais influenciam significativamente a percepção de comportamentos

políticos.

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48

A primeira categoria de antecedentes à percepção dos comportamentos políticos são os fatores

individuais, na qual estão inclusas tanto características da personalidade, quanto

características demográficas. Segundo O´Connor e Morrison (2001), lócus de controle,

maquiavelismo e gênero foram os fatores que receberam maior atenção do ponto de vista

teórico e empírico.

Em relação aos traços de personalidade, as pesquisas validaram, empiricamente, que os

indivíduos com maior propensão a se engajar em atividades políticas e a perceber o ambiente

e os demais como políticos são aqueles que possuem elevada capacidade de

automonitoramento, centro interno de controle, grande necessidade de poder, elevados níveis

de maquiavelismo e baixo nível de aversão ao risco (FERRIS e KACMAR, 1992;

O´CONNOR e MORRISON, 2001; ROBBINS, 2005; CUNHA et al., 2006).

Quanto às características demográficas, pesquisadores que examinaram a relação entre gênero

e percepção de comportamentos políticos obtiveram resultados até mesmo contraditórios. Na

investigação realizada por Drory e Beaty (1991), na qual um relato de incidente envolvendo

influência política foi dado a 152 profissionais, foram considerados três fatores: gênero do

sujeito, gênero do influenciador e gênero da parte influenciada no relato. Os resultados

sugerem que os homens são, em geral, mais tolerantes aos comportamentos políticos do que

as mulheres. Indicam ainda que os sujeitos vêem os manipuladores políticos do mesmo sexo

de forma mais favorável e que são mais tolerantes a comportamentos políticos quando as

vítimas são do sexo oposto, isto é, os resultados apontam que há uma forte inclinação a

identificar-se com indivíduos do mesmo gênero.

Ferris et al. (1989) sugeriram que fosse mais provável que as mulheres percebessem o

ambiente de trabalho mais político, porque tipicamente ocupam posições inferiores nas

organizações. Por outro lado, Ferris et al. (1996, apud O´CONNOR e MORRISON, 2001)

reportaram um efeito significativo da variável gênero, sendo que nesse estudo foram os

homens que mais percebiam a política no ambiente organizacional. Já Ferris e Kacmar (1992)

não encontraram relação significativa entre gênero e comportamentos políticos. Uma vez que

não há na literatura evidências consistentes em relação às diferenças nas percepções de

homens e mulheres, formulou-se a seguinte hipótese:

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49

H3a: Não há influência do gênero na percepção de comportamentos políticos.

Outra característica investigada como um fator de influência sobre a percepção de política nas

organizações foi a idade dos indivíduos. No modelo proposto por Ferris et al. (1989), a

variável idade foi considerada um preditor dos comportamentos políticos. Os autores

sugeriram que os funcionários mais velhos são mais propensos a experimentar e ser

impactado pelos comportamentos políticos. Ademais, os indivíduos mais jovens podem

considerar o ambiente de trabalho de forma mais idealista do que os mais velhos. Porém,

estudo realizado por Ferris e Kacmar (1992) não encontrou evidências dessa relação.

A falta de estudos conclusivos levaram Witt et al. (2004) a apontar que a idade, assim como a

variável gênero, fosse melhor conceituada não como preditor, mas como moderador da

relação de política e seus efeitos. Os autores concluem que, por ser o contexto político mais

evidente para os jovens (a relevância das atividades políticas é maior e eles se sentem mais

ameaçados por elas), as percepções de política têm influências mais negativas nas

considerações dos jovens sobre o ambiente de trabalho. Nesse sentido, sugere-se a seguinte

hipótese:

H3b: A percepção de comportamentos políticos é mais significativa em indivíduos jovens que

em indivíduos mais velhos.

Além da variável idade, Gandz e Murray (1980) incluíram na sua investigação a experiência

de trabalho como antecedente das percepções de comportamentos políticos. Contudo, não

encontraram relação significativa entre essas variáveis. Por sua vez, utilizando uma amostra

mais específica que reunia profissionais de recursos humanos, Conner (2006) também

considerou o tempo de experiência profissional como um preditor a ser examinado. A autora

sugere que os anos de experiência estão negativamente relacionados às percepções de política

porque a experiência neutraliza a ambigüidade que tende a alimentar as avaliações dos

comportamentos políticos e, ao permitir uma maior compreensão desses comportamentos e

suas regras, pode favorecer que essas atividades sejam nomeadas como legítimas.

Considerando que a experiência passada modifica a forma como as pessoas selecionam e

processam as informações e a forma como elas respondem a novas situações, o presente

estudo adota a seguinte hipótese:

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H3c: A percepção de comportamentos políticos é mais significativa em indivíduos com menor

experiência profissional que em indivíduos mais experientes.

Embora as diferenças individuais tenham influência, Robbins (2005) afirma que as evidências

indicam mais fortemente que são certas situações e culturas que promovem a política. É mais

provável que os comportamentos políticos aflorem quando o padrão de recursos da

organização está declinando ou apenas sendo alterado e quando existem oportunidades de

promoção. Do mesmo modo, culturas marcadas por baixo nível de confiança, ambigüidade de

papéis, sistemas pouco claros de avaliação de desempenho, práticas de recompensas do tipo

soma-zero, processo decisório democrático, pressão para um alto desempenho geram

condições propícias para o surgimento das atividades políticas.

Segundo o autor, a política nas organizações é uma função mais das características

organizacionais do que das variáveis individuais, pois em qualquer organização há grande

número de funcionários com as características individuais analisadas e, mesmo assim, a

variação dos comportamentos políticos é ampla. Pesquisadores têm demonstrado que as

influências relativas à organização e ao trabalho afetam significativamente a percepção dos

comportamentos políticos. Para Conner (2006), as questões de poder e controle estão na base

desses fatores organizacionais.

Entre os fatores organizacionais mais investigados na literatura estão a centralização, a

formalização e os níveis hierárquicos. A centralização refere-se à distribuição de poder na

organização. Altos níveis de centralização indicam que a tomada de decisão está concentrada

nos maiores escalões da organização, enquanto que uma baixa centralização indica que as

decisões acontecem mais próximas de onde os problemas de fato ocorrem, nos níveis

hierárquicos menores. Ao concentrar poder e controle, a centralização aumenta a

probabilidade de que o indivíduo com pequeno poder legítimo utilize outras táticas de

influência e também de que avalie as decisões como se motivadas pelo auto-interesse. Por

essa razão, a centralização está positivamente relacionada à política (FERRIS e KACMAR,

1992; PARKER et al., 1995; ANDREWS e KACMAR, 2001).

Ao contrário, a formalização das regras, práticas e procedimentos na organização tem sido

apontada como uma forma de reduzir as atividades políticas, ou seja, está negativamente

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relacionada às percepções de comportamentos políticos. A explicação mais corrente na

literatura é de que baixos níveis de formalização implicam em altos níveis de ambigüidade e

de incerteza, elementos que conduzem a comportamentos políticos, bem como influenciam a

percepção de política dentro da organização (FERRIS et al., 1989; FERRIS e KACMAR,

1992; PARKER et al., 1995; ANDREWS e KACMAR, 2001; O´CONNOR e MORRISON,

2001; POON, 2003). Entretanto, Cunha et al. (2006) ressaltam que alguns estudos traçam um

panorama um pouco diferente, considerando que uma mais elevada formalização não conduz

necessariamente a uma redução da atividade política, mas a táticas políticas diferentes, mais

dissimuladas e sutis.

Em relação à variável nível hierárquico, ou seja, a posição que o indivíduo ocupa dentro da

organização, a literatura não alcançou a mesma coesão. O modelo de Ferris et al. (1989)

sugere que os comportamentos políticos são mais exuberantes nos níveis mais altos da

organização. Contudo, Gandz e Murray (1980) indicam que são os funcionários nos menores

níveis hierárquicos quem mais percebem a política. A relação inversa entre nível hierárquico e

percepção de comportamentos políticos ocorre porque os funcionários de menor escalão são

mais propensos a serem afetados pelas atividades políticas, bem como devido à falta de

controle que eles dispõem sobre essas atividades (FERRIS e KACMAR, 1992; O´CONNOR e

MORRISON, 2001). Desse modo, esse estudo pretende testar a seguinte hipótese:

H4a: A percepção de comportamentos políticos é mais significativa em indivíduos que

ocupam cargos não gerenciais que em indivíduos que ocupam cargos gerenciais.

Outras variáveis organizacionais, como o setor de atuação (se público ou privado) e o

tamanho da organização, também são exploradas nos estudos empíricos. Gandz e Murray

(1980) supõem que funcionários públicos sejam mais propensos a ver suas organizações como

políticas do que aqueles que trabalham no setor privado. Para os autores, isso se deve ao fato

de que as percepções de política ocorrem em torno de questões que não são guiadas por

princípios explícitos e que o processo de decisão nas organizações do setor público é menos

suscetível à aplicação de uma racionalidade técnico-econômica. Todavia, não encontraram

diferenças significativas entre os indivíduos do setor público e privado. Por sua vez, esse

estudo propõe que a maior competitividade e o menor nível de formalização na organização

privada favoreçam os comportamentos políticos e, assim, formula a seguinte hipótese:

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H4b: A percepção de comportamentos políticos é mais significativa em indivíduos que

trabalham em organizações privadas que em indivíduos de organizações públicas.

Quanto ao tamanho da organização, Conner (2006) lembra que é possível encontrar na

literatura diferentes resultados para essa variável. O tamanho da organização aparece

positivamente relacionado com algumas dimensões das percepções de comportamentos

políticos e negativamente relacionado com outras dimensões. Porém, em sua pesquisa, a

autora aponta que a percepção de política está positivamente associada com o tamanho

organizacional, uma vez que quanto maior a organização, maior será a ambigüidade, a

incerteza e a falta de informação com as quais os funcionários têm que conviver. Com base

nesses mesmos pressupostos, propõe-se a hipótese:

H4c: A percepção de comportamentos políticos é mais significativa em indivíduos que

trabalham em organizações de grande porte que em indivíduos de organizações menores.

Há ainda outro conjunto de antecedentes relacionados ao contexto de trabalho. As evidências

empíricas indicam que há menor percepção de política quando há mais autonomia, variedade

e feedback no trabalho, quando a organização provê oportunidades de crescimento

profissional, quando as recompensas são adequadas aos níveis de desempenho, quando o

clima organizacional é favorável, quando as relações com superiores são marcadas pela

interação, suporte e confiança e as relações com os pares são cooperativas (FERRIS e

KACMAR, 1992; PARKER et al., 1995; ANDREWS e KACMAR, 2001; O´CONNOR e

MORRISON, 2001).

Por fim, Cunha et al. (2006) destacam os fatores situacionais, isto é, situações que, por sua

relevância para os indivíduos e grupos, pela dependência de recursos, bem como pelos

elevados níveis de conflito, risco e incerteza envolvidos, são particularmente propensas ao

desenvolvimento de intensa atividade política. Sucessão, declínio organizacional, formulação

de estratégias organizacionais e, especialmente, de mudança e inovação, seja de natureza

organizacional ou apenas tecnológica, são exemplos de situações normalmente associadas a

altos níveis de politização. Nessas condições, qualquer ação é suscetível de produzir

alterações no equilíbrio do poder existente, sendo acompanhada de um aumento na atividade

política.

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Contudo, os autores lembram que os comportamentos políticos não estão presentes somente

em decisões e processos de grande importância para a organização. Muitas decisões de caráter

mais operacional, como contratações, promoções, transferências, avaliação de desempenho,

são também acompanhadas por intensa atividade política e podem ser consideradas como

fatores situacionais que antecedem os comportamentos políticos.

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3. JUSTIÇA ORGNIZACIONAL

3.1 Definições

De acordo com Mendonça e Mendes (2005), a justiça se constitui em um fenômeno humano

complexo e multifacetado, que abrange diversos domínios da vida e influencia ações

individuais e coletivas. Se, como fenômeno, a justiça permeia todas as atividades humanas,

enquanto objeto de estudo e reflexão também tem sido abordada desde os filósofos da

antiguidade por diversas disciplinas.

Foi a partir da década de 1960 que, segundo Assmar et al. (2005), cresceu a preocupação em

demonstrar o papel que os valores, crenças e sentimentos têm sobre a definição do que é justo

ou injusto nas ações humanas. Entre os principais marcos teóricos nas áreas de sociologia e de

psicologia social, destacam-se as contribuições de George C. Homans em 1961, e de John S.

Adams em 1965. Para as autoras, os estudos sociopsicológicos sobre justiça revelam que os

julgamentos sobre o que é justo e merecido, sobre direitos e deveres, sobre o certo e o errado

estão na base dos sentimentos, atitudes e comportamentos das pessoas em interação com

outros. Como afirma Greenberg (1996, apud REGO, 2001), “poucos conceitos como a justiça

são tão fulcrais à interação social humana”.

Com efeito, Rego (2001) sustenta que, estando a justiça idelevelmente inscrita na vida social

humana, não poderia deixar de estar presente também na vida das organizações. A justiça

organizacional representa um dos construtos mais profusamente pesquisados e,

provavelmente, subjaz a este interesse o reconhecimento de que a justiça denota, como

sustenta Greenberg (1990), um requisito básico para o funcionamento eficaz das organizações

e a satisfação pessoal dos seus membros.

Assmar et al. (2005) também destacam que o contexto organizacional é uma das áreas mais

férteis de aplicação desse construto e afirmam que, a partir de 1987, os estudos sobre as

concepções, percepções e reações dos funcionários à justiça ou injustiça em relação às

organizações onde trabalham foram reunidos sob a designação de justiça organizacional,

termo cunhado por Greenberg.

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Bies e Tripp (1995, apud ASMAR et al., 2005) propõem uma definição para o termo na qual

se referem à justiça organizacional como regras e normas sociais que governam dentro das

organizações o modo pelo qual os resultados são distribuídos, os procedimentos que devem

ser usados para tomar as decisões e o modo pelo qual as pessoas devem ser tratadas. Vale

destacar ainda a definição proposta por James (1993, apud LAM et al., 2002) segundo a qual

a justiça organizacional descreve a percepção do indivíduo ou do grupo em relação à justiça

do tratamento recebido da organização e suas reações a essas percepções.

Como afirma Assmar (2000), é importante notar que o estudo do fenômeno da justiça

comporta diferentes níveis de análise: individual, grupal e societal. No nível individual, o

interesse está voltado para a forma como os indivíduos adquirem o sentido da justiça, como

apreendem cognitivamente a complexidade do fenômeno e como reagem às suas violações.

No nível grupal e organizacional, a ênfase reside, por um lado, na distribuição dos recursos

em situações de competição e cooperação e, por outro, discute-se a influência das relações na

formação de normas grupais de justiça e a interface entre as reações individuais e grupais a

uma situação injusta. Por fim, no terceiro nível de análise, a preocupação volta-se para a

percepção das pessoas em relação à distribuição global de recursos e recompensas do sistema

social, isto é, em nível mais amplo o foco está na justiça coletiva.

Uma vez que as avaliações de justiça são determinadas tanto pela informação advinda de

fatores contextuais e socioestruturais como pelo indivíduo que recolhe e processa essa

informação, a justiça é tomada como um fenômeno social e cognitivamente construído e a

autora defende a necessidade de uma integração teórica entre as diferentes abordagens e

níveis de análise para uma compreensão mais rica da justiça. Nesse sentido, Colquitt et al.

(2001) também ressaltam que, no campo do comportamento organizacional, a justiça é

definida como socialmente construída e lembram que um ato é considerado justo se os

indivíduos o percebem assim.

Ocorre que o tema pode ser tratado a partir de dois planos: o da justiça objetiva e o da justiça

subjetiva. Como explicam Cunha et al. (2006), uma decisão organizacional é objetivamente

justa ou injusta, dependendo da sua aderência a critérios normativos e, por outro lado, é

subjetivamente justa ou injusta quando as pessoas a perceberem como tal. Assim, uma decisão

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pode ser considerada objetivamente justa à luz de um determinado critério normativo, porém

ser percebida como injusta pelos indivíduos afetados por ela ou vice-versa.

Para Assmar et al. (2005), o foco deve estar nos significados subjetivos de justiça, o que as

pessoas percebem como justo e injusto e como tais percepções são explicadas por elas, que

não se justificam necessariamente por referência a padrões particulares de conduta definidos a

partir de fontes objetivas, tais como autoridades religiosas, legais ou políticas. Consoante com

esse posicionamento, a presente pesquisa opera no nível de análise individual, sendo o

enquadramento do tema fundamentalmente o da justiça subjetiva, isto é, das percepções dos

indivíduos em relação à justiça organizacional.

3.2 Dimensões da justiça organizacional

Mendonça e Mendes (2005) lembram que a justiça tem influência determinante nas atitudes e

comportamentos que ocorrem no ambiente de trabalho e, na busca de compreender e desvelar

os aspectos principais desse conceito, diversos estudos foram desenvolvidos. Na literatura, a

abordagem do tema é realizada a partir das dimensões particulares que as percepções de

justiça organizacional comportam: a justiça da distribuição ou alocação de resultados e a

justiça de procedimentos utilizada para determinar a distribuição dos recursos. Essas formas

são tipicamente referidas como justiça distributiva e justiça procedimental, respectivamente.

Posteriormente, foi introduzida nos estudos sobre a justiça organizacional a consideração à

qualidade do tratamento interpessoal que os indivíduos recebem quando os procedimentos são

implementados, sendo esse aspecto identificado como justiça interacional. Para alguns

autores, a justiça interacional pode ser ainda desdobrada em justiça interpessoal e justiça

informacional.

Pesquisas anteriores com amostras de profissionais brasileiros e portugueses indicam que o

modelo de quatro dimensões ajustou-se melhor aos dados do que o modelo no qual as

dimensões interpessoal e informacional estão reunidas em um único fator (REGO, 2001;

ASSMAR et al., 2002; REGO et al., 2002). Assim, esse estudo adota a perspectiva de quatro

dimensões, conforme indicado no quadro que se segue.

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Quadro 10 - Dimensões da justiça organizacional

Dimensões Caracterização

Justiça distributiva

Focaliza-se no conteúdo, isto é, na justiça dos fins alcançados ou obtidos. Diz

respeito, por exemplo, aos salários, classificações obtidas nas avaliações de

desempenho, sanções disciplinares, promoções, aceitação/rejeição de

candidatos a emprego, resultados dos testes de detecção de consumo de drogas,

fatia orçamental atribuída às unidades organizacionais, lucros distribuídos aos

trabalhadores.

Justiça procedimental

Focaliza-se no processo, ou seja, na justiça dos meios usados para alcançar tais

fins. Concerne, por exemplo, aos procedimentos usados nos acréscimos

salariais, processo disciplinares, sistemas de avaliação de desempenho,

processos de recrutamento e seleção.

Justiça interacional

(social/interpessoal)

Incide sobre o grau em que o superior adota um tratamento digno e respeitador

para com os seus colaboradores.

Justiça interacional

(informacional)

Centra-se no grau em que o superior fornece informações e explica/justifica as

decisões que afetam as pessoas.

Fonte: Rego (2002).

3.2.1 Justiça Distributiva

A justiça distributiva faz referência à distribuição de resultados e à maneira pela qual o

individuo percebe a relação entre o seu investimento e as recompensas por ele recebidas. Esse

conceito encontra-se apoiado nos princípios aristotélicos de justiça, ou seja, de repartição das

honras e dos bens da comunidade segundo a noção de que cada um perceba o proveito

adequado a seus méritos, sendo considerado justo o que é proporcional. Recentemente, teorias

desenvolvidas a partir dos anos 1960 serviram de guia aos cientistas organizacionais

interessados nas questões de justiça (ASSMAR et al., 2005; CUNHA et al., 2006).

Mendonça e Mendes (2005) afirmam que o primeiro dos teóricos a abordar esse fenômeno foi

Homans (1961), que introduz o termo justiça distributiva e defende que uma distribuição só é

justa quando proporcional às contribuições de cada um. Segundo a teoria da justiça

distributiva, os homens tendem a reagir de alguma maneira quando submetidos à injustiça,

devido à expectativa de que as recompensas sejam recebidas de forma proporcional às

relações de troca com seus pares. Há, portanto, uma regra de proporcionalidade entre

investimentos e ganhos: quanto maior o investimento, maior o lucro ou quanto maior a

recompensa, maior o custo.

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Contemporâneo de Homans, as proposições de Adams (1965) para uma teoria da equidade

deram também grande impulso para os estudos sobre justiça, especialmente no contexto

organizacional. Colquitt et al. (2001) lembram que o autor utiliza uma abordagem pertinente à

teoria das relações sociais para analisar o fenômeno. Assim, uma situação pode ser

considerada injusta não apenas em razão de trocas econômicas ou de bens, mas também por

meio do processo de trocas sociais.

De acordo com a teoria da equidade de Adams, a preocupação dos indivíduos não concerne

apenas ao nível absoluto de resultados, mas se eles são justos em comparação com padrões de

referência. A idéia é que as pessoas comparam as suas razões (relação entre contribuições e

resultados) com as de outros indivíduos, como os colegas de trabalho. O autor postula que

uma dada distribuição de resultados é percebida como justa, se a razão entre as contribuições

(por exemplo, educação, inteligência, experiência) e os resultados (salário, promoções, status)

é igual a essa mesma razão de um referente com quem a pessoa se compara. Quando as razões

são desiguais, considera-se que há uma ineqüidade: favorável, se a pessoa é super-

recompensada, ou desfavorável, quando sub-recompensada (GREENBERG, 1987;

GILLILAND, 1993; COLQUITT et al., 2001; ASSMAR et al., 2005; CUNHA et al., 2006).

Ainda segundo a teoria, a percepção de ineqüidade gera tensão (culpa ou raiva, conforme o

caso), o que motiva a pessoa a buscar a eqüidade ou a reduzir a ineqüidade. A força dessa

motivação equivale diretamente à magnitude da ineqüidade experimentada. Diante da

percepção de ineqüidade, a pessoa dispõe de várias estratégias possíveis para eliminar a

tensão resultante (ASSMAR et al., 2005; CUNHA et al., 2006):

Restauração real da equidade através de ações para alterar as contribuições ou os

resultados. Assim, sentindo-se sub-recompensada (ineqüidade desfavorável), a pessoa

pode diminuir suas contribuições, reduzindo seu empenho no trabalho e adotando

comportamentos retaliatórios, ou pode melhorar seus resultados, aumentando a sua

produtividade. Sentindo-se super-recompensada (ineqüidade favorável), ela pode melhorar

a quantidade ou qualidade de seu trabalho, aumentando suas contribuições.

Restauração psicológica da equidade, ou seja, trata-se de uma distorção cognitiva a fim de

modificar o valor percebido das contribuições ou dos resultados. Por exemplo, diante da

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percepção de que seu salário não é justo, o indivíduo convence-se de que o fato de ter

melhores condições de trabalho do que seus colegas justifica um desnível salarial

favorável aos demais.

Abandono de campo por interrupção da relação (por exemplo, absenteísmo, abandono da

empresa ou rotatividade).

Mudança do padrão de referência, substituindo o objeto de comparação por outro que lhe

seja mais similar. Desse modo, quando a iniqüidade é favorável, a pessoa descobre

indivíduos que, para as mesmas funções, recebem salário maior do que o seu, ou quando a

iniqüidade é desfavorável, descobre quem receba salários inferiores ao seu.

Do ponto de vista da organização, as reações de um funcionário que se sente injustiçado

podem ser tanto negativas quanto positivas. Cunha et al. (2006) destacam que é precisamente

essa dificuldade em definir que tipo de ação será adotado uma das maiores limitações à

utilização da teoria da equidade.

Ainda assim, Greenberg (1987) sustenta que, por serem tão francamente apropriados às

relações no ambiente de trabalho, esses preceitos se tornaram largamente aplicados na

pesquisa organizacional. E, em geral, uma grande variedade de experimentos forneceu suporte

às prescrições da teoria da equidade: funcionários sub-remunerados tendem a ser menos

produtivos e menos satisfeitos e aqueles sobre-remunerados tendem a ser mais produtivos e

menos satisfeitos do que os funcionários equitativamente remunerados.

Independente do tipo de reação manifesta, tanto para a teoria da justiça distributiva de

Homans, quanto para a teoria da equidade proposta por Adams, importa é que os indivíduos

de fato respondem à injustiça. Desse modo, Greenberg (1987) conclui que ambas partilham

uma mesma orientação e podem ser enquadradas como uma abordagem teórica reativa, pois

explicitamente focam na forma como os indivíduos respondem a distribuições injustas de

recompensas e recursos.

Não se pode desconsiderar o valor dessas contribuições teóricas, porém críticas têm sido

feitas à concepção simplista que reduz justiça à proporcionalidade e prevê uma única resposta

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possível à ineqüidade, que é a restauração da eqüidade. No plano da justiça distributiva, a

equidade é apenas uma entre várias regras possíveis (COLQUITT et al., 2001; ASSMAR et

al., 2005; MENDONÇA e MENDES, 2005; CUNHA et al., 2006).

Nesse sentido, Deustch (1975) argumenta que a equidade não representa uma medida absoluta

para as recompensas, custos, contribuições e investimentos e outros princípios de distribuição

são abordados. O princípio da igualdade determina que todos devem receber os mesmos

resultados, independente das suas contribuições. Já o princípio da necessidade estabelece que

cada um receba de acordo com a sua necessidade, sendo que a aplicação desse princípio

requer informações sobre o caráter e a intensidade das necessidades individuais. Cada uma

dessas três regras - equidade, igualdade, necessidade - tendem a ser utilizadas em diferentes

condições. Colquitt et al. (2001) pontuam que estudos demonstraram que diferentes

contextos, objetivos organizacionais e motivação pessoal podem mobilizar o uso ou a

primazia de um desses princípios.

Embora seja útil entender como e porque as pessoas reagem às decisões de alocação de

resultados, o foco na justiça distributiva ainda deixa muitas questões não respondidas,

principalmente em relação aos meios utilizados para determinar os resultados e à forma como

os indivíduos são tratados. A perspectiva da justiça distributiva mostra-se incapaz de abarcar

por completo o fenômeno da justiça. Surge, pois, a justiça procedimental e a justiça

interacional (SCHMINKE et al., 2000; ASSMAR et al., 2005; MENDONÇA e MENDES,

2005).

3.2.2 Justiça Procedimental

A justiça distributiva foi a primeira dimensão que despertou a atenção dos cientistas

organizacionais e, sendo assim, a teoria da equidade de Adams orientava grande parte das

investigações sobre o tema. Porém, desde que a justiça procedimental foi introduzida nos

estudos organizacionais, tornou-se rapidamente o centro das atenções (GILLILAND, 1993;

CUNHA et al., 2006).

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Diferente da abordagem anterior, que se concentra no alcance dos fins, Greenberg (1987)

afirma que a justiça distributiva está focada nos meios empregados para alcançá-los, em como

os diversos resultados são determinados. Nesse enfoque, Assmar et al. (2005) destacam que a

ênfase está na justiça dos processos e procedimentos adotados para o estabelecimento de uma

dada distribuição ou, em outras palavras, na justiça dos meios de resolução dos conflitos ou

dos processos de tomada de decisão quanto à repartição entre os membros organizacionais de

recursos valiosos e/ou escassos. Subjacente a essa abordagem está a crença de que uma

situação é justa se os procedimentos de decisão são justos, independente dos resultados.

A teorização sobre justiça procedimental deve-se originalmente a Thibaut e Walker (1975)

que investigaram as reações das pessoas a procedimentos legais de resolução de conflito,

como mediação e arbitragem. Eles se referiam á quantidade de influência que as partes

conflitantes tinham em cada fase como uma evidência de controle do processo e de controle

da decisão. Os procedimentos vistos como mais justos eram aqueles que davam às partes

envolvidas a oportunidade de expressar suas opiniões (efeito de voz). Assim, os autores

concluíram que os indivíduos se preocupam não apenas com os resultados de uma decisão,

mas também com os critérios e procedimentos adotados para realizá-la. Mesmo que os

resultados sejam desfavoráveis, as pessoas acreditam serem tratadas com justiça quando têm

oportunidade de influenciar ou oferecer contribuição ao processo de decisão, ou seja, quando

percebem que os procedimentos para chegar à decisão foram justos (CONLON, 1993;

GILLILAND, 1993; SCHMINKE et al., 2000; COLQUITT et al., 2001; ASSMAR et al.,

2005).

Embora Thibaut e Walker tenham introduzido o conceito de justiça procedimental, coube a

Leventhal (1980) estender o termo a outros contextos que não fosse o legal. Para além da

concepção de controle do processo, o autor abordou o tema por meio da identificação de

componentes que estruturam a concepção cognitiva dos indivíduos a respeito do processo de

decisão. Destarte, a justiça procedimental pode ser definida em função da satisfação ou da

violação desses componentes ou regras procedimentais (GILLILAND, 1993; COLQUITT et

al., 2001).

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62

De acordo com os preceitos de Leventhal, os procedimentos são percebidos como justos

quando atendem aos seguintes critérios (SCHMINKE et al., 2000; ASSMAR et al., 2005;

MENDONÇA e MENDES, 2005; CUNHA et al., 2006):

- Consistência das regras e normas aplicadas ao longo do tempo e de modo que as mesmas

sejam adotadas, independente das pessoas que serão beneficiadas;

- Ausência de vieses e de interesses pessoais das pessoas que tomam a decisão;

- Veracidade e exatidão das informações utilizadas no processo decisório;

- Possibilidade de correção e modificação das decisões, através de mecanismos de recurso;

- Representatividade das pessoas afetadas no processo decisório, de forma que os valores e

interesses de todos sejam considerados;

- Ética e moralidade que devem pautar os procedimentos.

É importante destacar que, de modo geral, há duas perspectivas que impulsionam o interesse e

a pesquisa sobre a justiça procedimental: o modelo instrumental e o modelo do valor grupal.

O modelo instrumental sugere que os indivíduos buscam sempre defender ou maximizar seu

próprio interesse e, portanto, desejam controle sobre os procedimentos, porque as decisões,

nas quais têm voz, tendem a produzir resultados mais favoráveis. Ao justificar por que as

pessoas apreciam a justiça procedimental, esse modelo preceitua que elas não valorizam o

processo justo per si, mas porque esse configura um meio de se obter resultados melhores e

mais justos no futuro. À medida que os procedimentos promovem os próprios interesses ou

fornecem resultados favoráveis, a percepção de justiça cresce (CONLON, 1993; ASSMAR et

al., 2005; CUNHA et al., 2006).

Por outro lado, o modelo do valor grupal configura uma tentativa de explicar os efeitos da

justiça procedimental em termos do processo de identificação com o grupo. Segundo Conlon

(1993), esse modelo pressupõe que os indivíduos valorizam a sua afiliação ao grupo, uma vez

que ele fornece a seus membros uma identidade, bem como um mecanismo para validar e

reforçar a adequação de suas crenças e comportamentos. Desse modo, quando os

procedimentos correspondem aos valores fundamentais do grupo e de seus membros, a

percepções de justiça tendem a serem maiores.

Cunha et al. (2006) afirmam que vários estudos efetivamente sugerem que as pessoas

valorizam a justiça de procedimentos por motivos instrumentais. Contudo, há também

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63

evidências empíricas obtidas em diferentes contextos, inclusive organizacional, revelando que

os indivíduos são sensíveis às relações sociais de longo prazo e que suas percepções de justiça

são formadas independente da favorabilidade do resultado decisório ou do controle sobre o

processo. Para Lind e Tyler (1988, apud CONLON, 1993), os dois modelos não são

conflitantes, sendo antes complementares, pois juntos explicam grande parte dos preceitos da

literatura sobre justiça procedimental.

Greenberg (1987) sugere estender a aplicação da justiça procedimental ao contexto das

organizações, pois ela seria útil à compreensão de uma série de fenômenos organizacionais

não explicados de forma apropriada ou suficientemente convincente pela adoção exclusiva da

noção de justiça distributiva.

Muitos autores se interessaram em investigar se os tipos de justiça diferem na maneira como

influenciam as reações e comportamentos dos trabalhadores. Em geral, os resultados indicam

que a justiça procedimental pode ser um preditor mais importante do que a justiça distributiva

no que se refere à avaliação da organização e seus representantes, como comprometimento

organizacional, lealdade à organização e confiança no superior. Ao contrário, a justiça

distributiva está mais bem relacionada a resultados pessoais percebidos, tais como satisfação

com os salários. A pertinência da distinção entre justiça distributiva e procedimental está,

portanto, claramente demonstrada por diversos estudos, sugerindo que os efeitos das duas

dimensões são diferentes (McFARLIN e SWEENEY, 1992; REGO, 2001; MENDONÇA e

MENDES, 2005).

3.2.3 Justiça Interacional

A literatura sugere que a justiça não reflete simplesmente a existência de procedimentos

justos, sendo igualmente importante a forma como esses procedimentos são implementados.

Nesse sentido, Colquitt et al. (2001) afirmam que o mais recente avanço na literatura sobre a

justiça foi introduzido por Bies e Moag (1986) ao chamar a atenção para a importância da

qualidade do tratamento interpessoal percebidos pelos indivíduos durante os procedimentos

organizacionais, referindo-se a esse aspecto como justiça interacional.

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Assmar et al. (2005) explicam que a justiça interacional refere-se aos aspectos sociais

envolvidos nas relações entre as pessoas que decidem e as pessoas afetadas pelas decisões.

Quando os indivíduos são tratados nas relações interpessoais de maneira justa, Schminke et

al. (2000) lembram que eles tendem a ter relações de alta qualidade com seus superiores,

exercem comportamentos de cidadania organizacional e alcançam melhor desempenho no

trabalho.

Embora a importância do construto da justiça interacional seja relativamente consensual, há

controvérsia quanto a sua distinção em relação à justiça procedimental. De acordo com Bies e

Moag (1986), a justiça interacional deve ser considerada uma dimensão distinta da justiça

procedimental, uma vez que representa a implementação dos procedimentos e envolve a

justiça dos critérios de comunicação, enquanto a justiça processual trata da qualidade

estrutural dos processos de decisão. A argumentação a favor do caráter autônomo dessas

dimensões está assentada na necessidade de distinguir entre os procedimentos e a sua

respectiva implementação. A justiça procedimental refere-se ao grau com que procedimentos

formais são desenvolvidos e usados na organização, enquanto a justiça interacional diz

respeito à justiça do modo pelo qual os procedimentos são postos em prática (REGO, 2001;

ASSMAR et al., 2005).

Se, quando da proposta inicial do conceito de justiça interacional, esse era considerado como

uma terceira vertente da justiça, posteriormente alguns teóricos passaram a tratá-la como o

aspecto social da justiça de procedimentos. A forte correlação entre os aspectos estruturais e

interpessoais e a similaridade das conseqüências de ambas as dimensões têm servido como

justificativa para investigadores que se mostram inclinados a não estabelecer uma distinção

conceitual entre justiça processual e interacional, apresentando-as como manifestações de um

mesmo construto (SCHMINKE et al., 2000; REGO, 2001; ASSMAR et al., 2005;

MENDONÇA e MENDES, 2005).

Schminke et al. (2000) afirmam que atualmente o pêndulo parece estar se movimentando na

direção de separar conceitualmente os procedimentos e as interações em duas dimensões da

justiça, já que vários estudos têm encontrado diferentes antecedentes e conseqüentes para

ambas. Rego (2001) pondera que o fato de os resultados não serem consistentes quanto a

elucidar qual das duas vertentes de justiça relaciona-se a determinado efeito, isso não deve ser

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impeditivo para estabelecer a distinção entre elas. Para o autor, não podem ser ignoradas as

demonstrações empíricas de que as dimensões procedimental e interacional emergem como

componentes distintos no campo perceptivo das pessoas, exercem efeitos desiguais sobre

diversas variáveis atitudinais e comportamentais e, ainda, interagem na produção de efeitos.

Na dimensão interacional, é possível identificar diversos elementos: consideração pelos

direitos das pessoas, sensibilidade às necessidades pessoais, respeito pela dignidade

individual, relacionamento honesto e verdadeiro, explicação adequada das decisões e suas

bases, auscultação da opinião das pessoas, consistência nas decisões, fornecimento de

feedback adequado, avaliações baseadas em informação exata, imparcialidade nas decisões.

Com efeito, Rego (2001) sustenta que a contemplação deste amplo leque de aspectos convida

ao desenho de uma fronteira que distingue dois tipos de justiça interacional: a justiça

interpessoal e a informacional.

A primeira categoria, justiça interpessoal, também é identificada pela sensibilidade social.

Refere-se ao grau em que o superior adota um tratamento digno e respeitador em relação às

pessoas afetadas pelos procedimentos e decisões distributivas. Há evidência empírica que

sugere que, quando esse tratamento ocorre, as percepções de justiça são incrementadas, o grau

de aceitação das decisões aumenta e várias reações positivas emergem (GILLILAND, 1993;

COLQUITT et al., 2001; REGO, 2001; ASSMAR et al., 2005).

Por sua vez, a justiça informacional enfoca na justificativa das razões de se utilizar certos

procedimentos e das razões de se distribuir resultados de determinada maneira. A sua

relevância advém da expectativa dos funcionários de que seus superiores prestem explicações

adequadas, lógicas e sinceras para as suas decisões, particularmente quando os resultados são

desfavoráveis. Reflete, pois, o fornecimento de informações e a explicação das decisões. No

primeiro caso, espera-se que o tratamento justo eleve as percepções de justiça, aumente o grau

de aceitação das decisões e suscite outros tipos de reações positivas por parte dos empregados.

No segundo caso, presume-se que as explicações e justificações atenuem as reações negativas

dos empregados às percepções de injustiça ou à desfavorabilidade dos resultados obtidos

(GILLILAND, 1993; COLQUITT et al., 2001; REGO, 2001; ASSMAR et al., 2005).

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66

3.3 Implicações da justiça organizacional

A justiça organizacional está, como destacam Colquitt et al. (2001), entre os temas mais

freqüentemente pesquisados nas áreas de psicologia industrial, gestão de recursos humanos e

comportamento organizacional na última década. De acordo com Assmar et al. (2005),

questões de ordem subjetiva, afetivamente tonalizadas, como aquelas envolvidas nos

julgamentos de justiça, representam atualmente foco de interesse primordial no estudo das

relações entre trabalhadores e suas organizações. Todavia, a ampliação substancial do

interesse da literatura internacional em relação à justiça contrasta com a escassez de pesquisas

no Brasil.

Colquitt et al. (2001) afirmam que, à medida que o interesse pela justiça organizacional

cresceu, foram surgindo abordagens teóricas para delimitar e dimensionar o construto, mas

também grande número de estudos procurando relacionar as percepções de justiça a uma

variedade de efeitos no contexto organizacional. Segundo Rego (2001), os estudos empíricos

claramente sugerem que as pessoas que se sentem justamente tratadas pela organização e seus

superiores são mais comprometidas e satisfeitas na vida organizacional, manifestam menores

índices de absentismo e intenções de deixar a organização, adotam mais comportamentos de

cidadania organizacional, sentem mais confiança na organização e seus decisores, retraem-se

na prática de atos retaliatórios e expressam níveis superiores de desempenho individual.

Ainda na tentativa de aprofundar os conhecimentos sobre a justiça organizacional, Assmar et

al. (2005) lembram que os pesquisadores também discutem os seus antecedentes,

principalmente os fatores macro-organizacionais que potencialmente são capazes de suscitar

julgamentos de justiça distributiva, processual ou interacional dos funcionários. Sendo assim,

ao buscar elementos-chave que possam provocar avaliações de justiça, as pesquisas têm

documentado que mudanças organizacionais, cultura organizacional, comportamento dos

líderes, processos disciplinares, avaliação de desempenho, sistemas de remuneração e

processos de seleção podem ser considerados antecedentes especialmente relevantes nessa

matéria.

A pesquisa que examina a relação entre justiça e política é, como sustenta Byrne (2005),

esparsa. Ademais, embora os comportamentos políticos possam ser considerados a antítese da

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justiça organizacional, Ferris et al (1995, apud ANDREWS e KACMAR, 2001) sugerem que

eles tenham uma relação mais complexa.

Andrews e Kacmar (2001) sustentam que a política está nos olhos do observador e que uma

ação, vista por um indivíduo como política, pode ser considerada por outro como justa. Por

outro lado, se o processo de tomada de decisão dentro da organização é mais orientado pela

política do que por regras formais, então o ambiente organizacional pode ser considerado

injusto. A investigação realizada pelos autores indica que, embora os construtos partilhem um

tema subjacente comum, os conceitos de justiça e de comportamentos políticos são distintos e

os resultados apontam para uma correlação negativa entre a justiça distributiva e

procedimental e as percepções de comportamentos políticos.

Por sua vez, Harris, Andrews e Kacmar (2007) examinaram o efeito moderador da justiça na

relação entre comportamentos políticos e atitudes no ambiente de trabalho. Os resultados

indicam que a relação política e intenção de desligamento, bem como a relação política e

satisfação no trabalho, eram menores quando maiores as percepções de ambas as formas de

justiça. Os autores concluem que os indivíduos respondem menos negativamente aos

comportamentos políticos nas organizações onde há justiça.

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4. CONFIANÇA NAS ORGANIZAÇÕES

4.1 Definições

Tendo fundamental importância nas relações pessoais e sociais, a confiança tem despertado o

interesse de diferentes disciplinas. Para Rousseau et al. (1998), os economistas tendem a ter

uma concepção calculista ou institucional da confiança. Psicólogos geralmente a analisam em

termos dos atributos das pessoas envolvidas e seus focos estão no processo cognitivo. Já os

sociólogos compreendem-na como uma propriedade social das relações.

No campo dos estudos organizacionais, Hosmer (1995) lembra que a confiança também tem

sido considerada um importante conceito, tanto por acadêmicos quanto por gestores. O autor

chama a atenção para um paradoxo: enquanto há uma ampla concordância quanto à

importância da confiança para as condutas humanas, por outro lado, parece haver também

uma ampla falta de concordância quanto a uma definição adequada para o construto.

Segundo Hosmer (1995), as definições propostas parecem estar baseadas, ao menos em parte,

em uma pressuposição de obrigação moral com forte componente ético por parte da pessoa

que deposita confiança. É a presença dessa obrigação moral implícita, uma anomalia em

muitas teorias organizacionais, que acarreta justamente a dificuldade na definição precisa de

um conceito de confiança.

Ao analisar a diversidade de significados para a confiança, Bigley e Pearce (1998) desafiam a

idéia de que o uso de múltiplas concepções seja um obstáculo à compreensão do fenômeno

organizacional. Ao contrário, o conhecimento acumulado sobre o tema tem resultado em

diferentes abordagens teóricas, de modo que os estudos organizacionais deveriam reconhecer

ou tentar tirar proveito da variedade conceitual existente, ao invés de eliminá-la.

Nesse sentido, Hosmer (1995) afirma que a coexistência de diversas concepções sobre a

confiança, que parecem teoricamente desintegradas e incompletas, indica apenas que os

pesquisadores tomaram múltiplos caminhos na tentativa de chegar a uma definição, porém

cada uma delas pode adicionar insights e contribuir para uma compreensão mais clara sobre o

construto. O Quadro 11 apresenta algumas definições do construto destacadas da literatura.

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Quadro 11 - Definições de Confiança

Teóricos Definições

Rotter (1980) Confiança é uma expectativa generalizada de um indivíduo de que pode confiar

em uma palavra, promessa, afirmação oral ou escrita de outro indivíduo ou grupo.

Sabel (1993) Confiança é a convicção mútua de que nenhuma das partes de uma relação irá

explorar a vulnerabilidade da outra.

Hosmer (1995)

Confiança é a expectativa de uma pessoa, grupo ou organização da aceitação

voluntária por parte da outra pessoa, grupo ou organização de reconhecer e

proteger os direitos e interesses de todos os demais envolvidos em um esforço

conjunto ou troca econômica.

McAllister (1995) Confiança corresponde á extensão com a qual a pessoa confia e deseja agir

baseado em palavras, ações e decisões de outra pessoa.

Mayer et al.

(1995)

Confiança é a disposição de uma parte em estar vulnerável às ações da outra parte,

baseando-se na expectativa de que esta realizará uma ação importante para aquele

que confia independente da habilidade deste para controlar ou monitorá-la.

Cummings e

Bromily (1996)

Confiança é uma crença individual ou uma crença compartilhada entre um grupo

de que outro indivíduo ou grupo (a) esforçou-se de boa fé para agir de acordo com

qualquer compromisso seja explícito ou implícito, (b) é honesto em qualquer

negociação precedente a tais compromissos e (c) não toma vantagem excessiva de

outro mesmo quando há oportunidade.

Rousseau et al. (1998)

Confiança é um estado psicológico que compreende a intenção de aceitar a

vulnerabilidade baseado em expectativas positivas a respeito da intenção ou

comportamento do outro.

Zaheer et al.

(1998)

Confiança interpessoal é a confiança depositada no membro oponente. Confiança

interorganizacional descreve a extensão com a qual os membros da organização

estão coletivamente orientados a depositar sua confiança em uma organização

parceira.

Oliveira e Tamayo (2008) sustentam que o estudo sobre a confiança tem sido realizado nas

relações interpessoais, nas equipes de trabalho, entre unidades organizacionais e ainda entre

organizações. Portanto, há vários níveis de análise colocados para a sua investigação.

Embora o foco no indivíduo prevaleça entre pesquisadores do campo do comportamento

organizacional e o foco na organização predomine entre os economistas, Rousseau et al.

(1998) sustentam que teóricos de diferentes escolas transitam entre os níveis de análise

possíveis. A análise da confiança requer esses múltiplos enfoques, uma vez que tanto as

normas sociais modelam o comportamento das partes e suas crenças sobre as intenções dos

outros, como as instituições podem promover ou constranger relações de confiança. Assim, o

micro nível de análise das relações de confiança pode ser afetado por macro processos, sendo

que o caminho inverso de influencia também é verdadeiro. Portanto, os autores configuram a

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70

confiança como um meso conceito que integra os processos psicológicos e a dinâmica dos

grupos a níveis mais elevados de análise como os arranjos institucionais.

Jeffries e Reed (2000) associaram os níveis micro e macro à confiança interpessoal e

organizacional respectivamente. Porém, em geral, verifica-se que as definições de confiança

são indistintamente aplicadas a ambos os domínios, sendo necessário estabelecer uma

distinção entre confiança interpessoal e confiança organizacional.

Segundo Oliveira e Tamayo (2008), a confiança interpessoal é caracterizada pelas interações

freqüentes e face a face entre os indivíduos, dispensando o uso de recursos institucionais para

conhecer os interesses e preferências uns dos outros e para tornar uma parte segura e disposta

a agir com base nas palavras, ações e decisões da outra. Essas relações de confiança

interpessoais já constituíam foco de investigação no âmbito das organizações e, segundo os

autores, as mudanças sociais, econômicas e tecnológicas nesse domínio promoveram a

ampliação do interesse pelo tema. Assim, tornou-se necessário conhecer as relações de

confiança no contexto organizacional, pois contratos e controles formais não seriam mais

suficientes para assegurar a relação ou vínculo entre empregado e sua organização de

trabalho.

A confiança organizacional é concebida por Jeffries e Reed (2000) como uma extrapolação da

confiança mútua de dois atores para uma orientação coletiva de confiança na organização.

Gilbert e Tang (1998, apud FERNANDES, 2008) também a consideram um sentimento de

confiança e apoio ao empregador, baseado na expectativa de que esse é honesto e que honrará

seus compromissos. Dessa forma, definem a confiança organizacional como a crença nos

líderes organizacionais, no alcance dos objetivos corporativos e de que, ao final, a ação da

organização será benéfica aos seus funcionários.

De modo semelhante, Oliveira e Tamayo (2008) entendem que a confiança depositada na

organização fundamenta-se em um conjunto de crenças elaboradas pelo funcionário ao se

relacionar e processar as informações do contexto organizacional quanto à manutenção de

padrões éticos, à solidez econômica da organização e à capacidade de ela de reconhecer

esforços, honrar compromissos e seguir as leis e normas. Os autores propõem, portanto, o

conceito de confiança do empregado na organização:

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“conjunto de cognições interdependentes que integra crenças a respeito de

padrões éticos, credibilidade da comunicação, poder econômico da

organização e capacidade desta de reconhecer o desempenho do empregado, tanto financeira quanto profissionalmente” (OLIVEIRA e

TAMAYO, 2008, p. 100).

Embora se reconheça a importância de investigar a confiança em qualquer relação, seja entre

indivíduos, grupos ou mesmo organizações, e também que há efeitos interativos entre esses

níveis de confiança, é importante delimitar que o foco desse trabalho é a confiança

organizacional, entendida como as percepções dos funcionários a respeito da confiabilidade

da organização onde trabalha.

4.2 Características

De acordo com Rousseau et al. (1998), independente da abordagem teórica, os pesquisadores

parecem concordar fundamentalmente em relação ao significado da confiança. Ela não é um

comportamento (como a cooperação) ou uma escolha (como assumir riscos), mas uma

condição psicológica que resulta da disposição para ser vulnerável sob condições de risco e

interdependência.

Contudo, a identificação de um significado comum não implica que todas as

operacionalizações do construto tenham o mesmo sentido, apenas que os elementos

fundamentais de sua definição são comparáveis em pesquisas e teorias que enfocam tanto

relações dentro ou fora da organização, como também em investigações baseadas em

diferentes abordagens disciplinares. Os autores afirmam, portanto, que expectativa e

disposição para ser vulnerável são componentes críticos presentes nas diversas definições e

que a variação de qualquer uma das condições (risco e interdependência), no decorrer da

relação, pode influenciar o nível e a forma da confiança. O exame dessas características

possibilita individualizar o construto em questão.

a) Expectativa:

De acordo com Hosmer (1995), a confiança está relacionada a uma expectativa otimista a

respeito dos resultados de um evento ou do comportamento de outro indivíduo. Essa

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72

expectativa pelo melhor não fica imediatamente evidente no domínio das trocas econômicas e

estruturas sociais, onde predomina a idéia de que as pessoas devem se proteger dos resultados

e comportamentos dos demais por meio de contratos, controles hierárquicos, exigências legais

e obrigações informais. Entretanto, por ser oposta a essas presunções de suspeição e de

prevenção, a confiança pode ser identificada por uma expectativa positiva.

Brockner et al. (1997) também defendem que a confiança está baseada em uma expectativa de

que a parte em quem se confia (trustee) irá desempenhar certos comportamentos desejados e

importantes para aquele que confia (trustor). Os autores acrescentam que esse deve acreditar

que a outra parte possui tanto o desejo quanto a habilidade de realizar os comportamentos em

questão.

Nesse sentido, Mayer et al. (2005) relacionam as expectativas a respeito do comportamento

da outra parte com três características da pessoa em quem se confia: habilidade, benevolência

e integridade. O grupo de habilidades, competências e características capacitam a parte a ter

influência sobre um domínio específico. Outro fator que determina a confiabilidade de uma

pessoa é a benevolência que representa uma orientação positiva da pessoa em que se confia

em direção à outra parte. Por sua vez, integridade envolve a percepção de que a pessoa em

que se confia adere a princípios considerados aceitáveis por quem confia.

Segundo os autores, esses fatores parecem explicar a avaliação que se faz a respeito da

confiabilidade de uma parte. Quanto maior a percepção da habilidade, benevolência e

integridade, maior será a expectativa de que a contraparte seja confiável. Contudo, essa

expectativa não deve ser entendida como uma questão de determinar se a outra parte é ou não

confiável, mas como um continuum no qual esses fatores podem variar.

b) Vulnerabilidade:

Quando o termo confiança é empregado, Bigley e Pearce (1998) afirmam que ele está quase

sempre associado com a idéia de vulnerabilidade. A pesquisa sobre confiança está permeada

pela idéia de que os atores (indivíduos, grupos, organizações) tornam-se vulneráveis uns aos

outros à medida que interagem em situações sociais, relações ou sistemas.

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Aryee et al. (2002) sugerem que a vulnerabilidade se origina do risco ou da incerteza quanto à

intenção de a outra parte de agir apropriadamente. O grau de vulnerabilidade aumenta em

situações nas quais as partes são interdependentes, de modo que o interesse de uma das partes

não pode ser alcançado sem a outra.

Por ocorrer, geralmente, sob condições de vulnerabilidade do interesse individual e

dependência em relação ao comportamento de outra pessoa, Hosmer (1995) afirma que uma

parte essencial do construto corresponde à noção de que as perdas, quando a confiança é

quebrada, são maiores dos que os ganhos, quando a confiança é mantida. Também integra a

definição do construto a crença de que a probabilidade da confiança ser quebrada é tão

desconhecida, quanto fora do controle do indivíduo que confia. Caso contrário, a decisão de

confiar corresponderia apenas a uma simples racionalidade econômica.

Bigley e Pearce (1998) concluem que a idéia de vulnerabilidade foi incorporada de diferentes

formas pela literatura. Alguns teóricos referem-se à disposição para ser vulnerável, enquanto

outros concebem a confiança como uma decisão racional dada à possibilidade de que outros a

prejudiquem. Em outras palavras, a decisão de confiar está vinculada, ou à disposição para ser

vulnerável, ou à exposição a prejuízos potenciais.

Os autores ainda pontuam que a relevância da vulnerabilidade para o tema da confiança não

resulta, necessariamente, em uma concepção universalmente aceita, mas ajuda a estabelecer

os limites do tema, bem como sugere uma explicação para o incremento do uso do construto

nos estudos organizacionais.

c) Risco:

Rousseau et al. (1998) entendem o risco como a probabilidade de perda percebida pelo

tomador de decisão e afirmam que esse é considerado por diferentes disciplinas como uma

condição essencial para o surgimento da confiança, isto é, a confiança não seria necessária se

as ações ocorressem em um contexto de total certeza e sem riscos. Portanto, o risco cria a

oportunidade para a confiança que, por sua vez, conduz a assumir riscos.

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Nesse sentido, Mayer et al. (2005) propõem que o nível de confiança influencia o grau de

risco que aquele que confia está disposto a assumir em uma relação. Assim, se o nível de

confiança supera o risco percebido, o indivíduo irá se envolver em um relacionamento de

risco. Ao contrário, se o grau de risco percebido for maior do que o nível de confiança, a parte

que confia não se envolverá nessa relação.

Portanto, a confiança aumenta a possibilidade de se envolver em uma relação de risco, que os

autores consideram como a manifestação comportamental da confiança. A definição, se

determinado risco será assumido ou não, depende tanto do nível de confiança de quem confia

em relação à outra parte, quanto da percepção de risco inerente a esse comportamento.

d) Interdependência:

Assim como o risco, a interdependência é condição necessária para fazer emergir a confiança.

De acordo com Rousseau et al. (1998), a interdependência implica em que o interesse de uma

parte não possa ser alcançado sem a dependência de outro. A variação nos níveis de

interdependência realmente altera a forma da qual a confiança assume, sendo distintas, por

exemplo, a natureza da confiança que a organização deposita em trabalhadores temporários

em relação à confiança depositada em funcionários veteranos e estratégicos. Essa condição

fornece, assim, subsídios para uma abordagem que relaciona a confiança ao contexto das

relações.

4.3 Dimensões da confiança

Bigley e Pearce (1998) apontam que a extensa variedade de abordagens a respeito da

confiança está largamente relacionada às diversas perspectivas teóricas e aos interesses de

pesquisa dos acadêmicos que empregam o termo. Essa diversidade conceitual está refletida,

como ilustra o Quadro 12, nos trabalhos que sugeriram tipologias para organizar a vasta

pesquisa interdisciplinar.

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Quadro 12 - Tipologias das dimensões de confiança

Teóricos Dimensões Caracterização

McAllister (1995)

confiança baseada

na cognição

Descreve uma avaliação racional da habilidade de um

indivíduo em cumprir obrigações, refletindo a crença

sobre a sua confiabilidade e competência.

confiança baseada

no afeto

Reflete um vínculo emocional que se origina do cuidado

mútuo e preocupação existente entre os indivíduos.

Rousseau et al.

(1998)

confiança baseada

em cálculo

Baseia-se em uma escolha racional, característica de

interações em relações econômicas. A confiança surge

quando aquele que confia percebe que a outra parte

pretende realizar uma ação benéfica.

confiança

relacional

Refere-se à confiabilidade e dependência em interações

repetidas ao longo do tempo que fazem surgir uma

expectativa positiva sobre as intenções daquele em quem

se confia. Essas interações conduzem à formação de um

vínculo baseado no cuidado e na preocupação recíprocos.

confiança

institucional

Fatores institucionais dão suporte para assumir riscos e

para comportamentos de confiança, tanto no nível

organizacional quanto societal.

Kramer (1999)

confiança

disposicional

Envolve a predisposição para confiar, a crença na

natureza humana, podendo assumir a forma de uma

característica estável da personalidade.

confiança baseada

na história

Interações repetidas entre os indivíduos fornecem

informações úteis para a avaliação das intenções e

motivos dos outros, permitindo inferências a respeito da

sua confiabilidade.

confiança baseada

na categoria

Trata-se de uma forma de confiança presumida, sendo que

a filiação a um grupo social ou categoria organizacional

determina se o mesmo é digno ou não de confiança.

confiança baseada

nos papéis

A previsão sobre a confiabilidade de uma parte depende

do papel específico que essa ocupa na organização mais

do que o conhecimento sobre as suas capacidades,

motivações e intenções.

confiança baseada

nas regras

A inferência sobre a confiabilidade de uma pessoa ocorre

a partir da sua compreensão tácita ou explícita das

normas, rotinas e práticas

Ao analisar a tipologia proposta por Kramer, Oliveira (2004, apud FERNANDES, 2008)

sustenta que a confiança disposicional, isto é, a predisposição do indivíduo em confiar,

representa a primeira base do construto. A confiança baseada na história pode ser

correlacionada à confiança interpessoal, para a qual é necessário um conhecimento

personalizado entre o indivíduo confiante e o depositário da confiança.

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76

Por sua vez, a confiança baseada nos papéis e a confiança baseada nas regras são relacionadas

por Oliveira e Tamayo (2008) à confiança organizacional. Embora as dimensões de natureza

individual e social não tenham sua importância reduzida, papéis e regras podem ser

analisados, por suas características, como bases específicas da confiança na organização. Eles

não demandam conhecimento personalizado e auxiliam na estruturação e funcionamento do

sistema, configurando-se uma plataforma sobre a qual a confiança do funcionário no sistema

empregador possa se estabelecer e desenvolver.

4.4 Implicações da confiança organizacional

O interesse que o construto desperta entre os pesquisadores reside não só na discussão a

respeito da sua natureza e dimensões, como também na relação entre a confiança e outras

variáveis do campo do comportamento organizacional. Considerando o objeto de estudo dessa

investigação, faz-se necessário observar a relação entre confiança e política nas organizações.

Como sustenta Kramer (1999), um clima positivo de confiança na organização ocorre quando

seus membros têm expectativas positivas quanto aos motivos, intenções e ações dos outros

membros dos quais eles dependem. Quando há um alto nível de confiança no ambiente de

trabalho, há evidências empíricas relacionando-a ao comprometimento organizacional, à

intenção de permanecer na organização e aos comportamentos de cidadania organizacional

(ARYEE et al., 2002), enquanto que, por outro lado, os funcionários são menos propensos a

se engajarem em comportamentos políticos ou a perceberem a política como uma ameaça

(PARKER et al., 1995).

Ao contrário, há um clima negativo de confiança quando os membros organizacionais

desconfiam dos motivos, intenções e ações dos demais e, nesse caso, Poon (2003) afirma que

os níveis de comportamentos políticos disfuncionais, sejam reais ou percebidos, tendem a ser

maiores. Pesquisa realizada pelo autor encontrou evidências empíricas dessa relação inversa

entre clima de confiança e comportamentos políticos nas organizações.

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77

5. METODOLOGIA DA PESQUISA

5.1 Modelo conceitual da pesquisa

Este trabalho teve por objetivo testar um modelo teórico a respeito do impacto da percepção

dos comportamentos políticos sobre a percepção de justiça e confiança na organização. A

figura abaixo delineia o modelo conceitual que orienta essa pesquisa empírica e que foi

desenvolvido de acordo com o arcabouço teórico pertinente ao tema.

Figura 5 - Modelo conceitual da pesquisa

De acordo com Gil (2008), hipóteses são proposições testáveis que podem vir a ser a solução

do problema de pesquisa. Assim, com base na revisão de literatura apresentada, foram

elaboradas hipóteses que pretendem ser uma resposta para a questão principal desse estudo,

qual seja, examinar a influência dos comportamentos políticos sobre as percepções dos

indivíduos em relação ao ambiente organizacional no qual estão inseridos, especificamente

em relação às percepções de justiça e de confiança na organização. Portanto, as hipóteses

básicas apresentadas são:

H1: A percepção de comportamentos políticos está negativamente relacionada à justiça

organizacional.

H2: A percepção de comportamentos políticos está negativamente relacionada à confiança

na organização.

Comportamentos

Políticos

Confiança na Organização

Justiça Organizacional

Fatores Organizacionais

Fatores Individuais H3

H4

H1

H2

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78

De acordo com o modelo de percepções de comportamento político, proposto por Ferris et al.

(1989) e amplamente analisado na literatura, há ainda variáveis antecedentes que podem

influenciar as percepções de política e, conseqüentemente, os seus efeitos sobre os indivíduos

e a organização. Baseada nessa concepção, essa pesquisa também apresenta hipóteses

secundárias que permitem englobar aspectos e detalhes não especificados nas hipóteses

principais, além de apontar outras possíveis relações.

H3: Fatores individuais influenciam significativamente a percepção de comportamentos

políticos.

H4: Fatores organizacionais influenciam significativamente a percepção de comportamentos

políticos.

A fim de melhor compreender a influência desses fatores em relação à percepção de política

organizacional, as hipóteses secundárias estão subdividas de acordo com as variáveis

individuais e organizacionais selecionadas nesse estudo.

H3a: Não há influência do gênero na percepção de comportamentos políticos.

H3b: A percepção de comportamentos políticos é mais significativa em indivíduos jovens que

em indivíduos mais velhos.

H3c: A percepção de comportamentos políticos é mais significativa em indivíduos com menor

experiência profissional que em indivíduos mais experientes.

H4a: A percepção de comportamentos políticos é mais significativa em indivíduos que

ocupam cargos não gerenciais que em indivíduos que ocupam cargos gerenciais.

H4b: A percepção de comportamentos políticos é mais significativa em indivíduos que

trabalham em organizações privadas que em indivíduos de organizações públicas.

H4c: A percepção de comportamentos políticos é mais significativa em indivíduos que

trabalham em organizações de grande porte que em indivíduos de organizações menores.

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Os procedimentos para testar o modelo e verificar as hipóteses estão descritos nas próximas

seções desse capítulo.

5.2 Tipo de pesquisa

A classificação dessa pesquisa basea-se na taxionomia proposta por Vergara (2007), que

considera dois critérios: a classificação quanto aos fins e quanto aos meios.

Quanto aos fins, trata-se de um estudo descritivo, porque explicita as percepções dos

indivíduos a respeito dos comportamentos políticos nas organizações e as relaciona com os

fenômenos da justiça e confiança. Segundo Vergara (2007), a pesquisa descritiva busca,

primordialmente, a descrição das características de determinado fenômeno e, ainda, pode

estabelecer relações entre variáveis. Gil (2008) acrescenta que esse tipo de pesquisa é

geralmente realizada por pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática e “são

incluídas neste grupo as pesquisas que têm por objetivo levantar as opiniões, atitudes e

crenças de uma população”.

Quanto aos meios, o estudo também pode ser classificado como uma pesquisa de campo, por

se tratar de uma investigação empírica que, através da aplicação de questionários, busca testar

suas hipóteses.

5.3 Amostra

De acordo com Vergara (2007), população é um conjunto de elementos (empresas, produtos,

pessoas, por exemplo) que possuem as características que são objeto de estudo. Uma vez que

essa pesquisa se propõe a verificar fenômenos que são relativos ao campo do comportamento

organizacional, o seu universo é composto por indivíduos que vivenciam o ambiente das

organizações.

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Considerando que o universo de pesquisa é muito abrangente, faz-se necessário delimitar uma

amostra. Assim, os sujeitos desse estudo são os profissionais que, no momento da coleta de

dados, tenham vínculo com uma organização formal, seja pública ou privada. Para a

composição da amostra, buscaram-se profissionais que exercem tanto funções especializadas,

quanto aqueles em funções gerenciais, sem restrição quanto ao cargo ou ao nível hierárquico

do sujeito.

A amostra, não probabilística, foi selecionada livremente a partir dos contatos pessoais da

pesquisadora. Junto ao critério da acessibilidade, também foi utilizado o método chamado

snowball, ou seja, os profissionais contatados indicaram outras pessoas para participar da

pesquisa.

5.4 Coleta dos dados

A coleta dos dados necessários para viabilizar a realização desse estudo ocorreu em duas

etapas: bibliográfica e no campo.

A pesquisa bibliográfica foi realizada em livros, periódicos, teses e dissertações que, segundo

Vergara (2007), fornece um instrumental analítico para as demais etapas da pesquisa. Como

resultado dessa investigação, foi possível obter uma compreensão maior sobre o

comportamento político nas organizações, bem como sobre os construtos da justiça e da

confiança, criando-se referenciais para analisar os dados obtidos no campo.

No campo, a presente pesquisa utilizou o questionário estruturado por ser um instrumento que

permite coletar dados quantitativos de um maior número de indivíduos de maneira

relativamente rápida e conveniente. Foram aplicados questionários aos profissionais

selecionados de acordo com os critérios de amostragem indicados na seção anterior.

A fim de validar a forma e o conteúdo do instrumento e verificar sua capacidade de obter os

dados esperados, o questionário foi submetido a um teste antes do início efetivo da coleta dos

dados com dez profissionais representativos da população delimitada para o estudo. As

contribuições dos respondentes do grupo piloto, tanto em relação aos procedimentos de

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aplicação do questionário quanto ao vocabulário empregado nas questões, foram incorporadas

à formatação final do instrumento. Vale lembrar que os dados provenientes do pré-teste não

estão considerados na coleta de dados da pesquisa.

A coleta de dados foi realizada através de questionários impressos e aplicados pessoalmente

pela pesquisadora aos sujeitos da pesquisa, bem como através de questionários online

enviados por mensagem de correio eletrônico, a qual contava com um convite para a

participação na pesquisa e um link para acessar o questionário disponibilizado por um

provedor de serviços de survey.

Conforme a Tabela 3 demonstra, foram empregados nessa pesquisa de campo 265

questionários, sendo 96 deles impressos, aplicados em quatro turmas de diferentes cursos de

pós-graduação, e outros 169 questionários online, enviados por e-mail para profissionais em

diversas organizações. Desse total, não foram considerados os dados obtidos em 77

questionários, restando em um aproveitamento de 71% de instrumentos válidos. Os principais

fatores que justificaram a exclusão dos questionários foram:

- preenchimento do instrumento por sujeitos que não se enquadram nos critérios de

amostragem, isto é, profissionais que não tinham vínculo com uma organização formal no

momento da coleta de dados;

- preenchimento incompleto do instrumento, isto é, somente foram considerados válidos os

questionários que tivessem todas as questões respondidas.

Tabela 3 - Número de questionários válidos

Aplicados Válidos %

Questionários impressos 96 70 73

Questionários online 169 118 69

Total 265 188 71

5.5 Instrumento de coleta de dados

Para a coleta dos dados, foi utilizado um questionário que contempla três partes - carta de

apresentação, dados biográficos e medida das variáveis do estudo, conforme ilustra o modelo

disponível no Apêndice.

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A primeira parte do instrumento corresponde a uma apresentação e a um convite para a

participação da pesquisa. Buscando assegurar a segurança e a espontaneidade das respostas, a

carta de apresentação explicita os objetivos do estudo, destaca o sigilo dos dados e o

anonimato dos respondentes e ainda orienta o preenchimento do questionário sugerindo que

se indique a alternativa que melhor representa a percepção do indivíduo a respeito da sua

realidade na organização onde trabalha, mesmo quando essa não pareça ser socialmente

aceitável.

A segunda parte do questionário possibilita o levantamento de dados biográficos para

caracterização da amostra, por exemplo, sexo, idade, tempo de experiência e trabalho na

organização. A questão “está trabalhando no momento?” funciona como um filtro e critério

para considerar os dados coletados pelo instrumento.

Por fim, para examinar as variáveis desse estudo - comportamentos políticos, justiça

organizacional e confiança na organização - foram utilizados na terceira parte instrumentos já

validados na literatura (Quadro 13). Todas as questões foram disponibilizadas no formato

Likert, admitindo como resposta apenas uma das opções de uma escala com cinco pontos (1 -

discordo totalmente; 2 - discordo parcialmente; 3 - nem concordo nem discordo; 4 - concordo

parcialmente; 5 - concordo totalmente).

Quadro 13 - Distribuição dos itens do questionário

Variável Instrumento Referência Dimensões / Fatores Itens do

questionário2

Comportamento

político

Perceptions of Organizational

Politics Scale

(POPS)

Kacmar e

Carlson

(1997)

Comportamento político em geral 1 e 2

Colaborar para seguir adiante 3 a 9

Remuneração e promoção 10 a 15

Justiça

organizacional

Percepção de

justiça

organizacional

Rego e Souto

(2004)

Justiça distributiva 16 a 19

Justiça procedimental 20 a 22

Justiça interpessoall 23 a 25

Justiça informacional 26 a 29

Confiança na

organização

Organizational Trust Inventory

(OTI)

Cummings e

Broniley

(1996)

Agir segundo compromissos 30 a 33

Honestidade nas negociações 34 a 37

Não tomar vantagem do outro 38 a 41

2 Essa numeração refere-se ao questionário modelo apresentado no Apêndice. No questionário online, as

questões foram distruídas aleatoriamente para cada respondente.

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a) Escala de percepção de comportamentos políticos:

A mensuração da variável comportamento político foi realizada por meio do instrumento

Perceptions of Organizational Politics Scale (POPS), desenvolvido por Kacmar e Ferris

(1991). Essa escala foi posteriormente reexaminada e evidências no sentido de validá-la foram

apresentadas por Ferris e Kacmar (1992), Nye e Witt (1993), Kacmar e Carlson (1997), Miller

et al. (2009).

Esse estudo empregou a versão da POPS revista por Kacmar e Carlson (1997) que, utilizando

o modelo de equações estruturais em três estudos com nove amostras independentes,

analisaram a versão de doze itens proposta inicialmente. Os autores sugeriram descartar itens

que não obtiveram bons resultados e adicionar outros que fossem mais representativos de

comportamentos políticos, resultando em uma versão da escala com quinze questões cuja

consistência interna foi estimada em 0,87.

Na escala POPS, as questões podem ser agrupadas em três fatores: “General Political

Behavior” que reflete os comportamentos políticos que em geral ocorrem dentro das

organizações, “Go Along to Get Ahead” que está baseado em questões sobre como os

indivíduos se expressam, ou mesmo permanecem em silêncio a respeito da política percebida,

e “Pay and Promotion” que indica a percepção de como a organização emprega normas de

remuneração segundo critérios políticos.

b) Justiça organizacional:

Para mensuração da variável justiça organizacional foi empregada a escala proposta por Rego

e Souto (2004). Estudo realizado pelos autores aponta que o modelo com quatro dimensões da

justiça organizacional ajusta-se, de modo geral, mais satisfatoriamente aos dados do que o

modelo tri-dimensional, embora as diferenças entre os índices sejam reduzidas. Desse modo,

utilizou-se o modelo tetra-dimensional para examinar a percepção de justiça organizacional.

O questionário contendo quatorze itens apresenta para a amostra brasileira índices de

confiabilidade satisfatórios, sendo o alfa de Cronbach equivalente a 0,86 para a dimensão da

justiça distributiva, 0,74 para a justiça procedimental, 0,89 para a justiça interpessoal e 0,89

para a justiça informacional.

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c) Confiança na organização:

Para mensuração da variável confiança, foi utilizada a versão reduzida contendo doze itens do

instrumento Organizational Trust Inventory (OTI) proposto por Cummings e Broniley (1996).

A escala, originalmente com sessenta e dois itens, foi desenvolvida de modo a contemplar as

três dimensões do conceito de confiança apontado pelos autores: (1) esforço para agir segundo

compromisso adotado seja explícito ou implícito, (2) honestidade em qualquer negociação

precedente a tais compromissos e (3) não tomar vantagem excessiva da outra parte, mesmo

havendo oportunidade para tal.

Cummings e Broniley (1996) avaliam que a versão condensada do questionário propicia um

instrumento melhor aplicável sem sacrificar as propriedades da escala desenvolvida para

verificar o nível de confiança percebido pelo indivíduo em relação ao seu superior e à sua

organização como um todo. A confiabilidade da versão reduzida desse instrumento de medida

é de 0,9351 para a primeira dimensão, 0,9358 para a segunda dimensão e 0,9009 para a

terceira dimensão.

5.6 Tratamento dos dados

Para tratamento dos resultados, foram utilizados métodos estatísticos. Os dados oriundos tanto

dos questionários impressos quanto dos questionários online foram inseridos em uma planilha

do SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) e tratados nesse programa.

Inicialmente, os dados foram submetidos a análises estatísticas descritivas como média,

desvio-padrão e distribuição de freqüência. Como pressupostos para a avaliação do modelo

proposto por esse estudo foram analisados: confiabilidade do instrumento, casos omissos,

distribuição de valores extremos, normalidade, linearidade e correlação. O impacto da

variável independente (comportamento político) nas variáveis dependentes (justiça

organizacional e confiança na organização) foi testado a partir da análise de regressão e as

relações entre as variáveis verificadas por meio da correlação de Pearson. A partir da análise

estatística dos dados obtidos por meio do questionário e do confronto desses resultados com o

referencial teórico, foram formuladas as conclusões do estudo.

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5.7 Limitações do método

As seções anteriores visam justificar a adequação da metodologia aos propósitos da pesquisa.

Contudo, faz-se necessário ainda explicitar as suas limitações. A primeira limitação do

método adotado diz respeito ao instrumento utilizado. Ao adotar como estratégia

metodológica a coleta de dados de diferentes construtos na mesma fonte e simultaneamente,

Podsakoff e Organ (1986, apud REGO e SOUTO, 2004) alertam para o risco de contaminação

das relações entre variáveis dependentes e independentes, produzindo possíveis distorções nos

dados.

É preciso também ressaltar outra limitação pertinente à coleta de dados. Sempre há a

possibilidade de os sujeitos omitirem informações ou até mesmo de fornecerem respostas que

não retratam, de forma exata, as suas verdadeiras opiniões, mas que pareçam ser socialmente

aceitáveis, interferindo assim na qualidade dos dados obtidos. Essa limitação metodológica

pode ocorrer, tanto devido a alguma dificuldade na interpretação das questões formuladas no

questionário, quanto por receio do indivíduo sofrer retaliação, mesmo que se afirme

explicitamente o sigilo da pesquisa. Vale lembrar que, tanto a política, quanto a justiça ou a

confiança são temas especialmente delicados para se discutir dentro das organizações e muitas

vezes são eivados de tabus.

Outra restrição diz respeito ao não alcance de validade externa, ou seja, da possibilidade de

generalizar os seus resultados da pesquisa para toda a população através de inferência

estatística. Uma vez que se trata de uma amostra não-probabilística, escolhida com base no

julgamento pessoal e na conveniência da pesquisadora, as estimativas obtidas não são

estatisticamente projetáveis para a população.

Finalmente, do ponto de vista hermenêutico, é desejável que o pesquisador seja livre de

pressuposições, porém é inegável a presença dos seus valores e conceitos em todo o processo

de investigação, desde a formulação do problema à coleta e interpretação dos dados. Desse

modo, como lembra Vergara (2007), cabe ao pesquisador “minimizar a deformação da

realidade dos sujeitos em virtude de sua própria interpretação”.

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6. ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.1 Análise descritiva dos dados

Para a composição da amostra desse estudo, foram considerados os dados obtidos por meio de

188 questionários. Tabachnick e Fidel (2001, apud FERNANDES, 2008) sugerem que o

tamanho da amostra pode definido por uma regra de thumb: n = 50 + 8m, onde m equivale ao

número de variáveis independentes. Desse modo, o número mínimo deveria ser de 58 sujeitos,

porém essa pesquisa ultrapassou o limite, atendendo assim ao critério sugerido pelos autores.

Compõe essa amostra 77 homens (41%) e 111 mulheres (59%), com idade média de 33,8

anos. A Tabela 4 indica que o perfil predominante são indivíduos com alta formação escolar

(94,7% têm no mínimo formação no ensino superior) e boa experiência profissional (13 anos

em média).

Tabela 4 - Distribuição da amostra por dados demográficos (n = 188)

Variável Categorias Frequência % Média

Gênero Masculino 77 41,0%

Feminino 111 59,0%

Escolaridade

Ensino Médio 10 5,3%

Ensino Superior 104 55,3%

Pós-graduação 74 39,4%

Idade

20 - 29 anos 72 38,3%

33,8 anos 30 - 39 anos 72 38,3%

40 - 49 anos 32 17,0%

acima de 50 anos 12 6,4%

Tempo de

experiência

profissional

até 9 anos 73 38,8%

13 anos 10 - 19 amos 70 37,2%

20 - 29 anos 30 16,0%

acima de 30 anos 15 8,0%

Grande parte dos respondentes da pesquisa trabalha em organizações privadas (77,1%) de

médio e grande porte (60,1% delas têm mais de 500 funcionários), sendo o tempo médio de

vínculo com a organização onde trabalha de 5,9 anos, como indica a Tabela 5. Ademais, em

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consonância com o perfil escolar da amostra, 41,5% dos indivíduos ocupam cargos de nível

superior e 32,9% de indivíduos exercem funções de liderança (supervisão, gerência e direção).

Tabela 5 - Distribuição da amostra por dados relativos à organização (n = 188)

Variável Categorias n % Média

Organização Pública 43 22,9

Privada 145 77,1

Tamanho da

organização

até 50 funcionários 31 16,5

51 - 500 funcionários 44 23,4

501 a 1000 funcionários 14 7,4

acima 1000 funcionários 99 52,7

Tempo de

experiência na

organização

até 2 anos 75 39,9

5,9 anos 3 - 9 anos 78 41,5

10 - 19 anos 21 11,2

acima de 20 anos 14 7,4

Cargo /

Função

Técnico / Operacional 20 10,6

Administrativo 28 14,9

Analista / Técnico de nível superior 78 41,5

Supervisão 16 8,5

Gerência 32 17,0

Direção 14 7,4

Cabe ressaltar que as variáveis idade, tempo de experiência profissional e tempo de

experiência na organização foram coletadas através de questões abertas, nas quais os

indivíduos indicavam o tempo em número de anos. As categorias que aparecem nas tabelas

acima foram organizadas para a análise descritiva dos dados.

Por sua vez, as variáveis comportamentos políticos, justiça organizacional e confiança na

organização foram mensuradas por meio de uma escala de cinco pontos. Conforme demonstra

a Tabela 6, os índices obtidos nessa pesquisa estão próximo ao ponto médio da escala, sendo

de 2,786 para a política, de 3,192 para a justiça e de 3,434 para a confiança, o que aponta para

uma percepção moderada desses construtos.

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Analisando os resultados das variáveis de modo mais detalhado (Tabela 6), observa-se que os

índices médios por dimensão também seguem a tendência de uma percepção moderada.

Merecem destaque a justiça procedimental, que apresentou o menor índice de percepção, e a

justiça interpessoal, cujo ponto médio sugere uma dimensão com forte percepção para essa

amostra.

Tabela 6 - Estatísticas descritivas por variável

Variável / Fatores Mínimo Máximo Média DP

Comportamento político 1,133 4,400 2,786 0,681

- Comportamento político em geral 1,000 5,000 2,987 1,117

- Colaborar para seguir adiante 1,000 4,714 2,745 0,883

- Remuneração e promoção 1,000 4,667 2,768 0,736

Justiça organizacional 1,142 5,000 3,192 0,883

- Justiça distributiva 1,000 5,000 2,979 1,170

- Justiça procedimental 1,000 5,000 2,532 0,971

- Justiça interpessoal 1,000 5,000 3,754 1,231

- Justiça informacional 1,000 5,000 3,479 1,255

Confiança na organização 1,500 5,000 3,434 0,849

- Agir segundo compromissos 1,000 5,000 3,305 0,864

- Honestidade nas negociações 1,000 5,000 3,520 0,963

- Não tomar vantagem do outro 1,250 5,000 3,476 0,949

6.2 Análises preliminares

Segundo Hair et al. (2006), todas as técnicas de análise de dados têm suposições estatísticas e

conceituais que influenciam sua capacidade de representar relações. Desse modo, antes de

qualquer estimação do modelo, é preciso garantir que essas suposições estejam satisfeitas.

a) Confiabilidade do instrumento:

O Alfa de Cronbach é considerado um indicador adequado para análise da confiabilidade de

uma escala e, embora não haja um padrão absoluto, os autores afirmam que valores iguais ou

superiores a 0,70 refletem uma fidedignidade aceitável.

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A consistência interna dos instrumentos utilizados na coleta de dados foi testada por meio do

coeficiente, cujos resultados para a amostra dessa pesquisa estão dentro dos limites aceitáveis

e próximos aos resultados dos estudos originais, que foram apresentados na seção 5.5.

Tabela 7 - Confiabilidade dos instrumentos para a amostra

Variável Nº de

itens

Alfa de Cronbach

Original Amostra

Comportamento político 15 0,87 0,806

Justiça organizacional 14 0,74 a 0,89 0,901

Confiança na organização 12 0,90 a 0,93 0,905

b) Dados omissos:

Hair et al. (2006) lembram que os dados perdidos podem ser prejudiciais por suas tendências

potenciais sobre os resultados, bem como por seu impacto no tamanho da amostra. Assim,

embora a literatura disponibilize técnicas de reparo para a acomodação de dados omissos,

optou-se pelo tratamento mais simples e direto que é excluir os casos com dados omissos. A

opção por uma abordagem somente com observações completas é possível uma vez que o

tamanho resultante da amostra (188 sujeitos) ainda é suficiente para a realização do estudo.

c) Valores extremos (outliers):

Foram analisados também casos com valores extremos através da conversão dos dados em

escores padrão e da distância Mahalanobis. A literatura aponta que as observações atípicas

podem influenciar o resultado de qualquer análise multivariada, porém cabe ao pesquisador

decidir por manter ou excluir as mesmas. Nessa pesquisa, outliers foram mantidos por

entender que representam a diversidade de sujeitos e de percepções a respeito de fenômenos

do comportamento organizacional.

d) Normalidade:

Segundo Hair et al. (2006), para verificar o pressuposto da normalidade deve-se utilizar testes

gráficos e estatísticos. As estatísticas do teste de Kolmogorov-Smirnov (comportamento

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90

político = 0,054; justiça organizacional = 0,090; confiança na organização = 0,075) indicam

que nenhuma variável desviou-se significativamente da normalidade. Essa análise também foi

realizada através dos histogramas com sobreposição da curva normal, que ratificaram que as

distribuições das variáveis são próximas de uma distribuição normal.

e) Linearidade:

A linearidade entre as variáveis foi confirmada pelo exame dos gráficos de resíduos, que

comprovaram também a homoscesdaticidade.

f) Relação entre as variáveis:

O coeficiente r de Pearson indica o grau e a direção da associação entre duas variáveis

métricas. Os coeficientes apresentados na Tabela 8 indicam que há uma correlação moderada

entre as variáveis e que a percepção de política está negativamente relacionada com a justiça

organizacional (r = - 0,511) e com a confiança na organização (r = - 0,594).

Tabela 8 - Matriz de correlação (r de Pearson) entre as variáveis

Variáveis 1 2 3

1. Comportamento político 1

2. Justiça organizacional - 0,511* 1

3. Confiança na organização - 0,594* 0,619* 1

* nível de significância: p < 0,01; n = 188

Tendo em vista que os dados obtidos atendem aos pressupostos para a análise de regressão,

efetuou-se à verificação das hipóteses desse estudo.

6.3 Comportamentos políticos e justiça organizacional

Análises de regressão linear foram utilizadas para testar as hipóteses de que os

comportamentos políticos predizem as percepções de justiça organizacional (H1).

Examinando a Tabela 9, verifica-se que o modelo de regressão dos comportamentos políticos

diante da justiça organizacional é estatisticamente significativo. O valor-p (sig = 0,000) do

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91

teste realizado pela ANOVA indica que a regressão linear tem significado para qualquer nível

de significância, sugerindo a existência de relação entre as variáveis comportamentos

políticos e justiça organizacional.

Tabela 9 - ANOVA do modelo de regressão para a variável justiça

Modelo Soma dos

quadrados

Graus de

liberdade

Quadrado

médio F Sig

1 Regressão 38.075 1 38.075 65.668 0,000

Resíduos 107.846 186 0,580

Total 145.921 187

A tabela que se segue apresenta o resultado da regressão do comportamento político para a

variável dependente - justiça organizacional. Aplicando a regressão dos comportamentos

políticos para cada uma das dimensões da justiça em separado, observa-se que os coeficientes

de determinação R2

estão próximos, que não há uma dimensão que mereça destaque, e que o

melhor modelo, aquele com maior poder explicativo, ainda é a regressão da política diante da

justiça organizacional. Em outras palavras, a política nas organizações explica melhor a

variância da justiça como uma só variável que integra as quatro dimensões. Por ser o

coeficiente de determinação uma medida do poder explicativo do modelo utilizado, os dados

obtidos de R2 revelam que os comportamentos políticos explicaram 26% da variação no

construto da justiça organizacional para essa amostra.

Tabela 10 - Correlação entre as variáveis política e justiça organizacional

Variáveis 1 2 3 4 5 6

1. Comportamento político 1

2. Justiça distributiva -0,338 1

3. Justiça procedimental -0,439 0,432 1

4. Justiça interpessoal -0,421 0,303 0,328 1

5. Justiça informacional -0,379 0,310 0,352 0,797 1

6. Justiça organizacional -0,511* 0,696 0,640 0,814 0,844 1

* R2 = 0,261; nível de significância: p < 0,05; n = 188

Todas as dimensões da justiça organizacional estão negativamente relacionadas com os

comportamentos políticos, sendo essa associação mais próxima entre política e justiça

procedimental (β = - 0,439) e entre política e justiça interpessoal (β = - 0,421). Por outro lado,

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92

as variações nas percepções de política nas organizações provocam quedas menores nas

dimensões da justiça informacional (β = - 0,379) e na justiça distributiva (β = - 0,338). De

modo geral, o coeficiente angular assinala que para cada variação na percepção de

comportamentos políticos o índice de justiça organizacional declina 0,511.

Por fim, cabe ressaltar que com os valores resultantes do teste t e, ainda, com o valor-p

próximo de zero não se pode afirmar que a redução da percepção de justiça seja devido ao

acaso. Ao contrário, a variável política é estatisticamente significativa (Sig = 0,000) para

explicar essas variações em todas as dimensões da justiça organizacional.

Portanto, os resultados das análises de regressão evidenciam que os comportamentos políticos

estabelecem efeito negativo na percepção de justiça organizacional e em todas as suas

dimensões, corroborando a hipótese H1. Os dados sugerem que a percepção de

comportamentos políticos na organização influencia a forma como os indivíduos definem o

sentido da justiça nesse ambiente, bem como possíveis reações às suas transgressões. Cabe

lembrar que, mesmo atendendo a critérios normativos, uma decisão organizacional somente

será considerada justa quando as pessoas afetadas por ela a percebem como justa. Assim, a

política atua como um filtro que potencialmente modifica o julgamento que os indivíduos

fazem a respeito da justiça das normas que dirigem a organização, da justiça da distribuição

dos resultados e da justiça do tratamento que as pessoas recebem.

Analisando os resultados relativos às dimensões, observa-se que a justiça distributiva é aquela

que sofre menor impacto da percepção dos comportamentos políticos, enquanto que a justiça

procedimental tem a maior variação (negativa) provocada pela política. A justiça distributiva,

que diz respeito à alocação de resultados, depende de uma referência com a qual o indivíduo

se compara. A comparação que se estabelece entre a própria relação de contribuições e

resultados com essa relação em outros indivíduos parece funcionar principalmente como um

padrão de referência para mensurar a justiça dos resultados recebidos individualmente. Por

exemplo, a comparação com um referente serve para determinar a justiça e a satisfação com o

salário recebido ou com o desenvolvimento da carreira.

Ao contrário da justiça distributiva que está voltada à avaliação de resultados e fins, a

dimensão procedimental observa os meios empregados para a distribuição de resultados, para

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93

a tomada de decisões ou mesmo para a resolução de conflitos. Uma vez que a percepção de

justiça procedimental ocorre independente da favorabilidade dos resultados, torna-se mais

sensível às relações sociais, servindo como referência não apenas para a avaliação individual,

mas também para a avaliação da organização e de seus membros.

Por sua vez, a política acontece no campo do comportamento, da ação. Logo, a delimitação da

natureza política se faz mais perceptível nos meios empregados pelos indivíduos, sendo mais

difícil reconhecê-la no caráter e na intensidade das necessidades, dos objetivos e da motivação

dos indivíduos ao tomar decisões. Por estarem as percepções de comportamentos políticos

mais condicionadas a interpretações das práticas e procedimentos do que das intenções de

outrem, seus efeitos se fazem mais fortes justamente na dimensão procedimental da justiça.

Por outro lado, a justiça distributiva, enquanto mais afeita à avaliação de resultados recebidos

individualmente, parece afastar-se das conseqüências da atividade política na organização.

6.4 Comportamentos políticos e confiança na organização

A fim de testar as hipóteses de que os comportamentos políticos predizem as percepções de

confiança na organização (H2), foram realizadas análises de regressão linear. A Tabela 11

indica que o modelo de regressão dos comportamentos políticos diante da confiança na

organização é estatisticamente significativo. O valor-p (sig = 0,000) do teste realizado pela

ANOVA indica que a regressão linear tem significado para qualquer nível de significância,

sugerindo a existência de relação entre as variáveis comportamentos políticos e confiança na

organização.

Tabela 11 - ANOVA do modelo de regressão para a variável confiança

Modelo Soma dos

quadrados

Graus de

liberdade

Quadrado

médio F Sig

1 Regressão 47.595 1 47.595 101.490 0,000

Resíduos 87.227 186 0,469

Total 134.822 187

A tabela que se segue apresenta o resultado da regressão do comportamento político para a

variável dependente confiança na organização. O coeficiente de determinação é uma medida

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do poder explicativo do modelo utilizado. Sendo assim, os dados obtidos de R2 mostram que

os comportamentos políticos explicam 35% da variação na percepção de confiança na

organização.

Tabela 12 - Correlação entre as variáveis política e confiança na organização

Variáveis 1 2

1. Comportamento político 1

2. Confiança na organização - 0,594* 1

* R2 = 0,353; nível de significância: p < 0,05; n = 188

O coeficiente angular assinala que para cada variação na percepção de comportamentos

políticos o índice de confiança na organização diminui 0,594. Com os valores resultantes do

teste t, bem como o valor-p próximo de zero, não se pode afirmar que a redução da percepção

de confiança associada aos comportamentos políticos seja explicada pelo acaso. A política é

estatisticamente significativa para explicar a variação dessa variável dependente. Por

conseguinte, os resultados das análises de regressão demonstram que os comportamentos

políticos estabelecem efeito negativo na percepção de confiança na organização, confirmando

a hipótese H2.

Destarte, a percepção de comportamentos políticos na organização tem impacto negativo

sobre a confiança, um estado subjetivo resultante da disposição para ser vulnerável em

condições de risco. A confiança está fundada na expectativa de que a parte em quem se confia

desempenhará os comportamentos desejados e é exatamente desse modo que se dá a

influencia da política sobre as percepções de confiança. Os comportamentos políticos, em

geral, trazem consigo presunções de suspeição e interesses manipulativos, que alteram a

avaliação a respeito da integridade e da honestidade da outra parte e, por conseguinte, a

disposição para ser vulnerável. A variação dessas condições, integridade do confiado e

disposição para vulnerabilidade do confiador, modifica o nível e a relação de confiança.

6.5 Antecedentes dos comportamentos políticos

O objetivo dessa análise é testar as hipóteses H3 e H4 de que fatores individuais e fatores

relativos à organização podem influenciar a percepção dos comportamentos políticos. Os

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fatores individuais selecionados nesse estudo como possíveis antecedentes foram gênero,

idade e tempo de experiência profissional, enquanto que os fatores organizacionais foram o

nível hierárquico, a natureza e o tamanho da organização. Para a delimitação desses fatores,

buscou-se uma linha de corte que distribuísse os sujeitos em sub-amostras com tamanhos

mais homogêneos possíveis. A Tabela 13 apresenta distribuição da amostra e a média da

variável comportamento político para cada fator.

Tabela 13 - Média da variável comportamento político por fator

Fator n Média Desvio

Padrão

Intervalo para media*

limite

inferior

limite

superior

Gênero Masculino 77 2,728 0,665 2,577 2,879

Feminino 111 2,826 0,692 2,696 2,957

Idade até 30 anos 87 2,917 0,619 2,785 3,049

acima 30 anos 101 2,673 0,715 2,532 2,814

Experiência

profissional

até 10 anos 95 2,889 0,660 2,754 3,023

acima 10 anos 93 2,681 0,690 2,539 2,823

Nível

hierárquico

Não gerencial 126 2,943 0,631 2,832 3,054

Gerencial 62 2,468 0,673 2,297 2,639

Organização Pública 43 2,998 0,711 2,780 3,217

Privada 145 2,723 0,662 2,615 2,832

Tamanho da

organização

até 1000 funcionários 89 2,700 0,665 2,560 2,840

acima 1000 funcionários 99 2,864 0,690 2,726 3,002

*Nível de confiança: 95%

A percepção de comportamentos políticos é maior para mulheres (2,826), pessoas mais jovens

- com até trinta anos de idade (2,917), pessoas com até dez anos de experiência profissional

(2,889) e ocupantes de cargos não gerenciais (2,943). A média também é mais alta em

organizações públicas (2,998) e em organizações de grande porte, que possuem mais de mil

funcionários (2,864). Para examinar se esses valores médios são estatisticamente diferentes,

gerando efeitos sobre a percepção de comportamentos políticos, foi realizada a análise de

variância (ANOVA).

Como entre as premissas básicas do modelo de ANOVA estão as variâncias constantes e

iguais dos erros das observações, foi utilizada a estatística do teste de Levene para verificar a

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homogeneidade das variâncias. Para todos os fatores, o valor-p indica que esse pressuposto foi

atendido, conforme demonstra a Tabela 14.

Tabela 14 - Teste de homogeneidade das variâncias

Fator Levene gl1 gl2 Sig.

Gênero 0,027 1 186 0,869

Idade 1,690 1 186 0,195

Experiência profissional 0,121 2 185 0,886

Organização 0,470 1 186 0,494

Tamanho da organização 0,372 1 186 0,543

Nível hierárquico 0,601 1 186 0,439

A verificação das hipóteses H3 e H4, bem como de seus desdobramentos, se dá pela

interpretação das tabelas de ANOVA dispostas a seguir. Para o fator gênero (Tabela 15), o

valor de F calculado (0,945) é menor do que o valor de F tabelado (3,48) no nível de 5% de

significância. Isso significa que não podemos concluir pela existência de diferença das médias

de percepção de política entre os gêneros. Note que o valor-p é maior que o nível de

significância adotado de 0,05, o que ratifica essa análise.

Tabela 15 - ANOVA de comportamento político para o fator gênero

gl Soma dos

quadrados

Quadrado

médio F Sig.

Modelo 1 0,439 0,439 0,945 0,332

Resíduo 186 86,353 0,464

Total 187 86,792

Desse modo, a inexistência de efeito do fator gênero possibilita confirmar a hipótese H3a que

estabelecia não haver influência significativa do gênero na percepção de comportamentos

políticos. Gênero é um dos fatores que mais receberam atenção pelos pesquisadores, porém

todo esse interesse não produziu resultados consistentes em uma das possíveis direções. Há

trabalhos que sugerem que as mulheres têm maior percepção da política, como também há

pesquisas cujos dados indicam serem os homens mais percebem esses comportamentos.

Contudo, os resultados desse trabalho apontam, de modo semelhante à pesquisa realizada por

Ferris e Kacmar (1992), que não há relação significativa entre gênero e comportamentos

políticos, sendo plausível sugerir que as eventuais diferenças apontadas em pesquisas

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97

anteriores se devem mais às características amostrais do que propriamente às características

de gênero.

Para os demais fatores individuais, como idade (Tabela 16) e tempo de experiência

profissional (Tabela 17), o valor de F calculado (6,159 e 4,463 respectivamente) é sempre

maior do que o valor de F tabelado (3,48) no nível de 5% de significância. Isso significa que

podemos afirmar que existe diferença das médias de percepção de política entre indivíduos

com idades abaixo e acima de trinta anos, bem como entre indivíduos com tempo de

experiência profissional menor e maior que dez anos. Vale ressaltar que o valor-p para todos

esses fatores é menor do que o nível de significância adotado de 0,05, confirmando essa

análise.

Tabela 16 - ANOVA de comportamento político para o fator idade

gl Soma dos

quadrados

Quadrado

médio F Sig.

Modelo 1 2,782 2,782 6,159 0,014

Resíduo 186 84,013 0,452

Total 187 86,795

Tabela 17 - ANOVA de comportamento político para o fator experiência profissional

gl Soma dos

quadrados

Quadrado

médio F Sig.

Modelo 1 2,034 2,034 4,463 0,036

Resíduo 186 84,758 0,456

Total 187 86,792

Portanto, a existência de efeito da idade e do tempo de experiência profissional na percepção

de comportamentos políticos possibilita confirmar as hipóteses H3b (a percepção de

comportamentos políticos é mais significativa para os indivíduos mais jovens) e H3c (a

percepção de comportamentos políticos é mais significativa para os indivíduos com menor

experiência profissional).

O fator idade dos indivíduos demonstrou, para essa amostra, possuir efeito sobre a percepção

de comportamentos políticos, contrariando resultados como os obtidos por Ferris e Kacmar

(1992). Por sua vez, a existência de efeito do fator experiência profissional encontra eco na

pesquisa realizada por Conner (2006). Os resultados que evidenciam que a percepção de

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comportamentos políticos foi maior entre indivíduos com menor idade (até 30 anos) e com

menor experiência profissional (até 10 anos) podem ser explicados pelas mesmas razões.

A idade e a experiência passada podem afetar a extensão e a forma como as pessoas percebem

a natureza política do ambiente organizacional, pois os profissionais podem aprender com o

tempo a desenvolver habilidades políticas e a se protegerem dos seus efeitos negativos.

Desenvolvimento da carreira, promoções e avaliações de desempenho são processos

tipicamente sujeitos à atividade política, o que torna indivíduos mais velhos e experientes

alvos, até mesmo, mais freqüentes desses comportamentos políticos. Enquanto profissionais

mais jovens tendem a ser mais intolerantes, impacientes e idealistas em relação à alocação de

recursos e recompensas na organização, tornando-se mais sensíveis à política no ambiente de

trabalho, indivíduos mais experientes vivenciam os mesmos processos, porém são menos

impactados pelos aspectos políticos.

Tabela 18 - ANOVA de comportamento político para o fator nível hierárquico

gl Soma dos

quadrados

Quadrado

médio F Sig.

Modelo 1 9,378 9,378 22,532 0,000

Resíduo 186 77,414 0,416

Total 187 86,792

Tabela 19 - ANOVA de comportamento político para o fator natureza da organização

gl Soma dos

quadrados

Quadrado

médio F Sig.

Modelo 1 2,512 2,512 5,544 0,020

Resíduo 186 84,280 0,453

Total 187 86,792

Para os fatores organizacionais como nível hierárquico e natureza da organização, o valor de

F calculado (22,532 e 5,544 respectivamente) é também maior do que o valor de F tabelado

(3,48) no nível de 5% de significância, conforme demonstram as Tabelas 18 e 19. Isso

significa que podemos afirmar que existe diferença das médias de percepção de política entre

indivíduos ocupantes de cargos gerenciais e não-gerenciais, bem como entre indivíduos que

trabalham em organizações públicas e privadas. Vale ressaltar que o valor-p para ambos os

fatores é menor do que o nível de significância adotado de 0,05, confirmando essa análise.

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Portanto, a existência de efeito dos fatores nível hierárquico e natureza da organização na

percepção de comportamentos políticos possibilita, por um lado, confirmar a hipótese H4a (a

percepção de comportamentos políticos é mais significativa para os indivíduos em cargos não

gerenciais) e, por outro, rejeitar a hipótese H4b (a percepção de comportamentos políticos é

mais significativa para os indivíduos em organizações privadas).

Quanto ao nível hierárquico, os resultados indicaram que a percepção de política é maior em

cargos não gerenciais. A relação entre níveis hierárquicos e comportamentos políticos é

permeada por questões relativas ao poder formal e ao controle dos recursos da organização

que cada cargo disponibiliza para seu ocupante. Assim, a ocorrência de comportamentos

políticos pode se tornar até mais profusa à medida que as pessoas alcançam altos níveis na

organização. Ocorre que, por ter uma vivência tão próxima dos aspectos políticos do ambiente

organizacional, indivíduos em cargos gerenciais podem ver esses comportamentos de modo

mais natural e a entendê-los como legítimos. Ao contrário, pessoas em cargos de menor

escalão percebem a política de maneira mais significativa porque estão sujeitos a seus efeitos

enquanto dispõe de menor poder formal, menor controle e maior distanciamento das decisões.

Para o fator tamanho da organização (Tabela 20), o valor de F calculado (2,755) é menor do

que o valor de F tabelado (3,48) no nível de 5% de significância. Isso significa que não

podemos concluir pela existência de diferença das médias de percepção de política entre

organizações de tamanhos diferentes. Note que o valor-p é maior que o nível de significância

adotado de 0,05, o que ratifica essa análise.

Tabela 20 - ANOVA de comportamento político para o fator tamanho da organização

gl Soma dos

quadrados

Quadrado

médio F Sig.

Modelo 1 1,267 1,267 2,755 0,099

Resíduo 186 85,525 0,460

Total 187 86,792

A inexistência de efeito do fator tamanho da organização leva a rejeitar a hipótese H4c, que

previa ser mais significativa a percepção de comportamentos políticos para os indivíduos em

organizações de grande porte. Esse resultado também contraria as conclusões da pesquisa

realizada por Conner (2006), na qual o tamanho da organização está relacionado com as

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100

percepções de comportamentos políticos. Nesse caso, outros fatores relacionados ao contexto

do trabalho poderiam explicar essa aparente contradição entre resultados. É possível que, por

exemplo, ambigüidade, incerteza, autonomia e relações cooperativas, sejam até mais

determinantes para a percepção dos comportamentos políticos do que o porte da organização.

Por fim, vale destacar que a confirmação, mesmo que parcial, das hipóteses H3 e H4 se

coaduna com o modelo defendido por Ferris et al. (1989), que considera tanto fatores

individuais quanto fatores organizacionais como antecedentes das percepções de

comportamentos políticos. O Quadro 14 sintetiza a verificação de todas as hipóteses desse

estudo.

Quadro 14 - Verificação das hipóteses

Hipóteses Variável Posição Verificação Conclusão

H1 Justiça

organizacional consequente confirmada

Comportamentos politicos influenciam

negativamente a percepção de justiça

H2 Confiança na

organização consequente confirmada

Comportamentos politicos influenciam

negativamente a percepção de confiança

H3a Gênero antecedente confirmada Não há influência de gênero na

percepção de política na organização

H3b Idade antecedente confirmada Percepção de política é mais significativa

em indivíduos mais jovens

H3c Experiência

profissional antecedente confirmada

Percepção de política é mais significativa

em indivíduos com menor experiência

H4a Nível

hierárquico antecedente confirmada

Percepção de política é mais significativa

em indivíduos com cargos não gerenciais

H4b Natureza da

organização antecedente refutada

Percepção de política é mais significativa

em indivíduos de organizações públicas

H4c Tamanho da

organização antecedente refutada

Não há influência do tamanho da

organização na percepção de política

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As organizações não operam, como preferem transparecer, em uma perspectiva puramente

racional e seus membros não atuam sempre no sentido de alcançar os objetivos

organizacionais. Ao contrário, sua realidade está permeada pela diversidade de interesses,

pela ocorrência de conflitos, por processos de barganha e pela formação de coalizões, de

modo que, para se alcançar uma maior compreensão da conduta humana no contexto

organizacional, torna-se necessário adotar uma perspectiva política.

A política na organização se constitui em um processo complexo, que tangencia muitos outros

elementos do campo do comportamento organizacional como poder, influência, legitimidade

e interesse, porém é essa combinação que o torna singular. Mais importante é aceitar que

todos esses aspectos não são estranhos, mas propriedades naturais da dinâmica

organizacional. Vale lembrar também que aqueles que se envolvem em atividades políticas

dentro da organização não são apenas pessoas astutas e diabólicas. Nesse jogo, todos

participam.

Mesmo sendo a política uma atividade corriqueira na vida das organizações, isso não significa

que possamos prescindir de uma avaliação sob o ponto de vista ético. A dificuldade reside no

fato de que os atores, que geralmente qualificam os comportamentos políticos, são justamente

os detentores de poder dentro da organização. Logo, cabe o cuidado de não caracterizar os

comportamentos políticos como se fossem negativos, ilegítimos, inaceitáveis ou disfuncionais

por natureza. A análise desse fenômeno é mais rica (e difícil) quando reconhecemos que há

outras nuances.

A política nas organizações pode ser mesmo inevitável, mas nem sempre indesejável. É

possível obter a partir de comportamentos políticos resultados favoráveis para a organização e

principalmente para o indivíduo. Caso contrário, como se justificaria tanta adesão à política?

Se os comportamentos políticos envolvessem apenas aspectos reprováveis como jogos,

manipulações e ações auto-interessadas, normalmente se esperaria que essas atividades não

fossem tão profusas. Porém, dependendo da habilidade política do indivíduo e da cultura

organizacional, a ocorrência de comportamentos políticos pode ser bastante significativa.

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102

Ainda que a literatura empreenda esforços no sentido de definir e delimitar os elementos que

caracterizam um comportamento como político, trata-se de um fenômeno subjetivo que

dependem mais da percepção individual do que da realidade objetiva. Como sugerem

Andrews e Kacmar (2001), a política está nos olhos de quem vê.

Como vimos ao longo desse trabalho, as pesquisas empíricas demonstram que há uma forte

relação entre a percepção dos comportamentos políticos e uma série de efeitos no contexto

organizacional. Interessante também é lembrar que quanto maior a percepção da política

organizacional, maior é a inclinação dos indivíduos de se envolverem com ela.

Entendendo que os comportamentos políticos podem não ser sempre e necessariamente auto-

interessados, que suas táticas podem se valer até mesmo de meios sancionados e que seus fins

nem sempre são ilegítimos, esse trabalho buscou realizar a investigação sobre os

comportamentos políticos a partir de uma leitura do referencial analítico que não estivesse

balizada por tabus. O objetivo da pesquisa foi de examinar os efeitos dos comportamentos

políticos na percepção dos indivíduos sobre o ambiente organizacional, particularmente em

relação à percepção de justiça e de confiança nas organizações. E, como resultado, verificou-

se que a política está, de fato, negativamente relacionada a ambos os constructos.

Considerando as percepções como interpretações subjetivas da caracterização do ambiente de

trabalho e dos comportamentos como políticos, cabe admitir ainda a existência de diferenças

perceptivas entre os indivíduos. Ao procurar compreendê-las, a presente pesquisa também

indicou fatores que influenciam a percepção das atividades políticas como a idade, o tempo de

experiência profissional e o nível hierárquico no qual o indivíduo se situa na organização.

A análise dos resultados destacou que esses fatores não funcionam por si só como promotores

ou inibidores de comportamentos políticos. Por exemplo, uma pessoa não está mais sujeita à

política apenas porque ocupa determinado cargo ou tem determinada idade. Esses fatores não

modificam a ocorrência, mas a percepção, o modo como os indivíduos processam as

informações do ambiente e lidam com as relações.

Ao mesmo tempo em que o acesso à realidade dos comportamentos políticos na organização

acontece de modo mais enriquecedor através dos indivíduos, também traz à pesquisa certa

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103

limitação. Por adotar como estratégia metodológica a pesquisa desses construtos a partir da

percepção dos indivíduos, faz-se necessário alertar para o risco dos resultados sofrerem

possíveis distorções, devido ao fato de os indivíduos tenderem a dar respostas socialmente

aceitáveis, evitando maior exposição sobre si.

Outra limitação diz respeito à falta de alcance de validade externa, isto é, da possibilidade de

generalizar os resultados obtidos na pesquisa para toda a população, uma vez que se trata de

uma amostra não-probabilística, escolhida com base no julgamento pessoal e na conveniência

da pesquisadora. Portanto, como agenda de pesquisa, sugere-se a realização de outros estudos

com amostras nacionais envolvendo o constructo do comportamento político, principalmente

porque tem sido um tema escassamente explorado no país, tanto teórica quanto

empiricamente.

Embora tenha limitações, essa pesquisa também apresenta implicações teóricas e práticas. O

desenvolvimento do campo do comportamento organizacional não pode se furtar de discutir a

política nas organizações e esse trabalho espera ter contribuído para estimular uma análise

desses comportamentos que não precisa ter necessariamente um tom negativo ou mesmo

pejorativo. Como lembra Cunha et al. (2006), o tema dos comportamentos políticos nas

organizações é complexo e não comporta apenas interpretações lineares e do tipo receituário.

Em uma perspectiva prática, esse estudo contribui para se obter uma compreensão mais

completa do fenômeno da política a partir dos fatores que influenciam sua percepção, bem

como a partir dos seus efeitos sobre as percepções de justiça e confiança. Tanto os

comportamentos políticos quanto a justiça e a confiança têm forte influência sobre os

resultados da organização, sobre o desempenho laboral dos indivíduos, bem como sobre a

satisfação pessoal dos mesmos. Espera-se, assim, instigar o desenvolvimento de novas

práticas de gestão que considerem a realidade dos comportamentos políticos a fim de que, de

um lado, seja possível minimizar os seus efeitos negativos e, do outro, utilizá-los em favor da

eficácia organizacional.

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104

REFERÊNCIAS

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113

APÊNDICE - Modelo do instrumento de coleta de dados

Prezado(a) Sr.(a),

O questionário a seguir é parte de uma pesquisa acadêmica visando à conclusão do curso de

Mestrado Acadêmico em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/RJ).

Para responder o questionário não é necessário identificar-se, tampouco identificar a empresa

onde trabalha. Sua participação é muito importante e levará cerca de dez minutos.

Todos os dados fornecidos serão utilizados única e exclusivamente para o escopo desta

pesquisa acadêmica. Portanto, o questionário não prevê identificação e a análise dos dados

será feita de forma agregada (em conjunto com todos os questionários), assegurando o sigilo

das respostas e o anonimato dos respondentes.

Ao analisar as questões, procure indicar a alternativa que melhor representa a sua percepção

da realidade, mesmo que essa resposta não pareça ser socialmente aceitável. Por favor,

responda todas as questões sem deixar nenhuma em branco. Lembre-se de que para esse tipo

de pesquisa não há repostas certas ou erradas.

Caso tenha interesse em receber os resultados da pesquisa, favor enviar e-mail para

[email protected].

Agradeço, desde já, a sua valiosa colaboração.

Atenciosamente,

Renata Quintas Spinelli

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114

Favor informar:

Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

Idade: _______ anos

Escolaridade: ( ) Fundamental ( ) Médio ( ) Superior ( ) Pós-Graduação

Tempo de experiência: _________ anos (desde o início da sua trajetória profissional)

Está trabalhando no momento? ( ) Sim ( ) Não

Caso a resposta seja positiva, favor informar os dados relativos à organização onde

trabalha atualmente:

Organização: ( ) Pública ( ) Privada

Nº. funcionários: ( ) até 50 ( ) 501 a 1000

( ) 51 a 500 ( ) acima de 1000

Tempo de experiência: _________ anos (na organização atual)

Cargo/Função: ( ) Técnico / Operacional ( ) Supervisão

( ) Administrativo ( ) Gerência

( ) Analista/Técnico (Nível Superior) ( ) Direção

DADOS BIOGRÁFICOS

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115

Em seguida, são apresentados comportamentos típicos do cotidiano de qualquer organização.

Considerando a realidade da empresa onde trabalha atualmente, indique o quanto você concorda ou

discorda de cada uma das frases abaixo.

1 2 3 4 5

Discordo

totalmente

Discordo

parcialmente

Nem concordo

nem discordo

Concordo

parcialmente

Concordo

totalmente

1. As pessoas nesta empresa tentam crescer derrubando os outros. 1 2 3 4 5

2. Há sempre um grupo com influência neste departamento que ninguém consegue

se opor. 1 2 3 4 5

3. Os funcionários são encorajados a darem suas opiniões abertamente mesmo

quando criticam as idéias estabelecidas. 1 2 3 4 5

4. Não há lugar para bajuladores na empresa; boas idéias são bem-vindas mesmo

que isso signifique discordar dos superiores. 1 2 3 4 5

5. Concordar com as pessoas poderosas é a melhor alternativa para crescer nesta

empresa. 1 2 3 4 5

6. É melhor não mudar como as coisas funcionam (o status quo ) nesta empresa. 1 2 3 4 5

7. Às vezes é mais fácil ficar quieto do que lutar contra o sistema. 1 2 3 4 5

8. Falar o que os outros querem ouvir às vezes é melhor do que dizer a verdade. 1 2 3 4 5

9. É mais seguro pensar da forma como lhe dizem para você pensar do que ter

opiniões próprias. 1 2 3 4 5

10. Desde que trabalho neste departamento, nunca vi as normas de remuneração e

promoção serem aplicadas com critérios políticos. 1 2 3 4 5

11. Não me lembro de uma pessoa que tenha recebido aumento de salário ou promoção que fosse inconsistente com as normas divulgadas na empresa.

1 2 3 4 5

12. Nenhum dos aumentos que recebi estava de acordo com as normas de remuneração desta empresa.

1 2 3 4 5

13. As normas de remuneração não têm nada a ver com a forma como os aumentos e as promoções são determinados nesta empresa.

1 2 3 4 5

14. Nas decisões sobre aumentos e promoções, as normas nesta empresa são irrelevantes.

1 2 3 4 5

15. As promoções que aqui ocorrem não têm valor porque são determinadas por

critérios políticos. 1 2 3 4 5

16. Em geral, as recompensas que recebo são justas. 1 2 3 4 5

17. Se considerar os demais salários pagos nesta empresa, reconheço que o meu salário é justo.

1 2 3 4 5

18. Se considerar a minha experiência, sinto-me justamente recompensado. 1 2 3 4 5

19. Considerando o meu esforço, julgo que sou recompensado justamente. 1 2 3 4 5

QUESTIONÁRIO

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116

1 2 3 4 5

Discordo totalmente

Discordo parcialmente

Nem concordo nem discordo

Concordo parcialmente

Concordo totalmente

20. Esta empresa tem um mecanismo que permite aos funcionários apelarem das

decisões. 1 2 3 4 5

21. As questões que os funcionários colocam a respeito da remuneração e da avaliação de desempenho são normalmente respondidas pronta e satisfatoriamente.

1 2 3 4 5

22. Por meio de vários canais, esta empresa tenta compreender as opiniões dos funcionários relativas às decisões e às normas de remuneração.

1 2 3 4 5

23. O meu superior mostra interesse verdadeiro em ser justo comigo. 1 2 3 4 5

24. O meu superior é completamente sincero e franco comigo. 1 2 3 4 5

25. O meu superior trata-me com respeito e consideração. 1 2 3 4 5

26. O meu superior fornece-me informações acerca do modo como eu estou

desempenhando as minhas funções, permitindo-me aprender a fazer melhor o meu trabalho.

1 2 3 4 5

27. Ao decidir sobre o meu trabalho, o meu superior dá explicações que fazem sentido para mim.

1 2 3 4 5

28. O meu superior oferece justificativa adequada para as decisões relativas ao

meu trabalho. 1 2 3 4 5

29. O meu superior explica muito claramente qualquer decisão relacionada com as

minhas funções. 1 2 3 4 5

30. Penso que esta empresa se responsabiliza por suas obrigações negociadas com

o departamento onde trabalho. 1 2 3 4 5

31. Na minha opinião, esta empresa é confiável. 1 2 3 4 5

32. Sinto que esta empresa mantém sua palavra. 1 2 3 4 5

33. Sinto que esta empresa não procura cumprir seus compromissos. 1 2 3 4 5

34. As pessoas nesta empresa falam a verdade quando negociam. 1 2 3 4 5

35. Sinto que esta empresa negocia com honestidade. 1 2 3 4 5

36. Penso que esta empresa não tenta me enganar. 1 2 3 4 5

37. Acho que esta empresa negocia expectativas conjuntas de forma justa. 1 2 3 4 5

38. As pessoas nesta empresa têm sucesso quando usam outras como degraus. 1 2 3 4 5

39. Sinto que esta empresa tenta me explorar ao máximo. 1 2 3 4 5

40. Penso que esta empresa tira vantagem dos meus problemas. 1 2 3 4 5

41. Sinto que esta empresa leva vantagem em relação a pessoas que são vulneráveis.

1 2 3 4 5