O impacto psicossocial da disfonia e da disartria em...

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1 Diana Lisandra Cerqueira Fernandes O impacto psicossocial da disfonia e da disartria em pessoas com doença de Parkinson Dissertação elaborada com vista à obtenção do grau de Mestre em Terapia da Fala na área de especialização de Motricidade Oro-Facial e Deglutição Orientadora: Professora Doutora Isabel Guimarães, PhD, Terapeuta da Fala Co-orientadora: Mestre Rita Cardoso, Terapeuta da Fala Janeiro, 2016

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    Diana Lisandra Cerqueira Fernandes

    O impacto psicossocial da disfonia e da disartria em pessoas

    com doença de Parkinson

    Dissertação elaborada com vista à obtenção do grau de Mestre em Terapia da Fala na área de

    especialização de Motricidade Oro-Facial e Deglutição

    Orientadora: Professora Doutora Isabel Guimarães, PhD, Terapeuta da Fala

    Co-orientadora: Mestre Rita Cardoso, Terapeuta da Fala

    Janeiro, 2016

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    Diana Lisandra Cerqueira Fernandes

    O impacto psicossocial da disfonia e da disartria em pessoas

    com doença de Parkinson

    Dissertação elaborada com vista à obtenção do grau de Mestre em Terapia da Fala na área de

    especialização de Motricidade Oro-Facial e Deglutição

    Orientadora: Professora Doutora Isabel Guimarães, PhD, Terapeuta da Fala

    Co-orientadora: Mestre Rita Cardoso, Terapeuta da Fala

    Júri:

    Presidente: Professora Doutora Élia Maria Carvalho Pinheiro da Silva Pinto

    Professor Coordenador da Escola Superior de Saúde do Alcoitão

    Vogais: Professora Doutora Isabel Cristina Ramos Peixoto Guimarães

    Professor Coordenador da Escola Superior de Saúde do Alcoitão

    Professora Doutora Inês Tello Rato Milheiras Rodrigues

    Investigadora no Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica

    Portuguesa

    Janeiro, 2016

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    Nota

    O presente documento, elaborado no âmbito da 2.ª edição de Mestrado em terapia da fala

    na especialização de motricidade orofacial e deglutição, da Escola Superior de Saúde do

    Alcoitão (ESSA) em cooperação com o Instituto E.PAP, foi redigido segundo o novo acordo

    ortográfico, em vigor desde janeiro de 2009, e segue as normas estabelecidas pela ESSA para

    redação de trabalhos académicos e científicos (Conselho Científico, 2004) especificamente para

    relatório de pesquisa, mas relativamente às referências bibliográficas foram seguidas as regras da

    Revista Portuguesa de Terapia da Fala (www.rptf-aptf.com).

    http://www.rptf-aptf.com/

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    Agradecimentos

    A realização desta dissertação de mestrado contou com importantes apoios e incentivos

    sem os quais não se teria tornado uma realidade e aos quais estarei eternamente grata.

    À Professora Doutora Isabel Peixoto Guimarães, pela sua orientação, total apoio,

    disponibilidade, e por todo o empenho e dedicação demonstrados na realização deste trabalho;

    Agradeço à Terapeuta Rita Cardoso por toda a disponibilidade e total colaboração no solucionar

    de dúvidas e problemas que foram surgindo ao longo da realizaçãoo deste trabalho;

    Às pessoas que se disponibilizaram para fazer parte deste estudo, pois sem elas não seria

    possível tal realização;

    A todas as pessoas amigas que estiveram ao meu lado durante esta fase, pelo companheirismo,

    força e apoio em certos momentos difíceis;

    Aos meus pais, por serem modelos de coragem, pelo seu apoio incondicional, incentivo, amizade

    e paciência demonstrados e total ajuda na superação dos obstáculos que ao longo desta

    caminhada foram surgindo.

  • 5

    Resumo

    Objetivo: Verificar se existem diferenças no grau de impacto psicossocial da disfonia e da

    disartria entre as pessoas com DP e as pessoas saudáveis.

    Métodos: Participaram neste estudo, 44 pessoas com disartria e DP (grupo experimental) e 44

    pessoas saudáveis (sem disartria e sem DP – grupo controlo), tendo estas sido emparelhados por

    idades (63.3±11.2) e género (H-26; M-18). As pessoas do grupo experimental foram submetidos

    ao preenchimento dos questionários MMSE, VHI, DIP e MDS-UPRDS, enquanto as do grupo

    controlo apenas preencheram o MMSE, VHI e DIP.

    Resultados: Verificou-se que o impacto psicossocial da disfonia e da disartria é maior nas

    pessoas com DP do que nas pessoas saudáveis, sendo a diferença estatisticamente significativa.

    Conclusão: A disartria apresenta um impacto psicossocial relevante na Doença de Parkinson e,

    portanto, é relevante a utilização de instrumento de avaliação do impacto psicossocial durante o

    acompanhamento clínico desta população. Além disso, é de salientar a importância e necessidade

    de haver mais estudos acerca desta temática nas demais patologias.

    Abstract

    Aim: To verify the existence of differences in the level of psychosocial impact of dysphonia and

    dysarthria between people with PD and healthy people.

    Methods: In this study participated, 44 people with dysarthria and DP (experimental group) and

    44 healthy people (without dysarthria and without DP - control group), having these been paired

    by age (63.3 ± 11.2) and gender (H-26; M-18). The people belonging to the experimental group

    were submitted to questionnaires MMSE, VHI, DIP and MDS-UPRDS, while the control group

    was only submitted to the MMSE, VHI and DIP questionnaires.

    Results: It was verify that the psychosocial impact of dysphonia and dysarthria is higher on

    people with PD than on healthy people, being the difference statically significant.

    Conclusion: The dysarthria presents a relevant impact on psychosocial Parkinson's disease,

    therefore it’s important to use an instrument of evaluation of the psychosocial impact during the

    clinical follow up of this population. In addition, it is important and required to underline the

    existence of more studies surrounding this subject on the furthermore pathologies.

  • 6

    Índice

    I. INTRODUÇÃO 8

    II. ENQUADRAMENTO TEÓRICO 9

    2.1 Doença de Parkinson 9

    2.2 A voz e a fala na DP 10

    2.3 Respiração 11

    2.4 Ressonância 12

    2.5 Fonação e aspetos prosódicos na DP 12

    2.6 Articulação na DP 15

    2.7 Qualidade de vida 15

    2.8 Instrumentos de avaliação do impacto da voz e fala na qualidade de vida 19

    III. METODOLOGIA 25

    IV. RESULTADOS 28

    4.1. Amostra 28

    4.2. Autoavaliação da voz e nível de preocupação com a disartria 28

    4.3. Impacto psicossocial da voz e da disartria 29

    4.4. Relação do impacto psicossocial com a duração da doença e nível motor

    global 30

    V. DISCUSSÃO 32

    5.1. Autoavaliação da voz e nível de preocupação com a disartria 32

    5.2. Impacto psicossocial da voz e da disartria 33

    5.3. Relação do impacto psicossocial com a duração da doença e nível motor

    global 33

    VI. CONCLUSÃO 35

    VII. BIBLIOGRAFIA 36

    VIII. APÊNDICES 43

    8.1. Informação ao participante 43

    8.2. Consentimento informado 44

    8.3. Questionário sociodemográfico 45

    IX. ANEXOS 48

    9.1. Mini-Mental State Examination (MMSE) 48

    9.2. Voice Handicap Index (VHI) 50

    9.3. Resumo da comunicação oral submetida e aceite para o Congresso de Neurologia de 2015 – Sociedade Portuguesa de Neurologia

    53

  • 7

    Índice de tabelas

    Tabela 1 – Dados demográficos e clínicos 28

    Tabela 2 – Resultados da autoavaliação da voz e preocupação com a disartria 28

    Tabela 3 – Impacto psicossocial da voz e da disartria 29

    Tabela 4 – T test independente para VHI nos dois grupos 29

    Tabela 5 – T test independente para DIP total e os dois grupos 29

    Tabela 6 – T test independente para DIP-E menor preocupação e os dois grupos 30

    Tabela 7 – Coeficiente de correlação entre VHI e as diferentes variáveis em estudo nas

    pessoas com Doença de Parkinson 30

    Tabela 8 – Coeficiente de correlação entre o DIP e as diferentes variáveis em estudo

    nas pessoas 31

  • 8

    I. Introdução

    Uma das principais contribuições da Classificação Internacional de Funcionalidade,

    Incapacidade e Saúde (CIF), desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), tem sido

    encorajar os clínicos a realizar uma abordagem mais holística na avaliação e tratamento dos seus

    doentes1. Desde a adoção desta abordagem, os sentimentos pessoais físicos, psicológicos e

    sociais dos doentes receberam especial atenção no domínio da intervenção terapêutica2. Assim,

    os procedimentos clássicos de avaliação visam incluir atualmente as avaliações da qualidade de

    vida e bem-estar da população com dificuldades na comunicação3.

    As alterações na comunicação são quase inevitáveis para as pessoas com doença de

    Parkinson (DP). Cerca de 90% experienciam alterações na voz e 45-50% mostram alterações na

    articulação4. Muitas vezes estas alterações resultam na perda da independência das pessoas com

    DP contribuindo para a diminuição da qualidade de vida (QV) de cada um4.

    Este estudo tem assim como principal objetivo avaliar o impacto psicossocial da disfonia e

    da disartria em pessoas com doença de Parkinson através da aplicação dos questionários

    Dysarthria impact profile (DIP) e Voice Handicap Index (VHI), ou seja, avaliar as

    consequências psicológicas e sociais que a disartria e a disfonia trazem para a qualidade de vida,

    bem-estar e participação social da pessoa com DP e, desta forma, contribuir para o conhecimento

    acerca da experiência de ter disfonia e disartria.

    Dado o reduzido número de estudos que exploram o impacto que a disartria causa na pessoa,

    nomeadamente estudos realizados em Portugal, é de extrema importância desenvolver projetos

    que abordem este assunto. Além disso, é evidente que o impacto da disartria na vida de uma

    pessoa é subjetivo. Assim, a perspetiva do paciente vai-nos fornecer dados importantes para

    completar a avaliação e optimizar o acompanhamento terapêutico.

    O presente estudo encontra-se dividido em seis partes, sendo que a primeira diz respeito à

    introdução; a segunda ao enquadramento teórico, onde é realizada uma vasta pesquisa

    bibliográfica acerca da DP, da disartria, da voz e da influência na QV da pessoa; na terceira parte

    encontramos a metodologia, onde é descrito como foi realizado o estudo e qual o material e

    método utilizados; na quarta parte temos a apresentação dos resultados obtidos; enquanto na

    quinta podemos encontrar a interpretação e discussão dos mesmos; por último, na sexta parte, é

    realizada uma conclusão, onde são expostas as limitações do estudo e referido se o objetivo

    inicial do estudo foi ou não atingido.

  • 9

    II. Enquadramento teórico

    2.1 Doença de Parkinson

    A DP é uma doença neurodegenerativa crónica caracterizada pela perda progressiva de

    neurónios dopaminérgicos na substância nigra dos núcleos da base5-7

    . Este desequilíbrio entre a

    dopamina e a acetilcolina, causado pela deleção de dopamina no corpo estriado, é responsável

    pelo aparecimento dos sinais clínicos da doença8.

    Os núcleos da base estão localizados dentro dos hemisférios cerebrais. Estas estruturas

    incluem o corpo estriado, composto pelo núcleo caudado e putamen, e os núcleos lentiformes,

    compostos pelo putamen e globo pálido. A substância nigra encontra-se intimamente relacionada

    com os núcleos da base e estes por sua vez estão associados à ativação do sistema extrapiramidal

    que engloba as interconexões responsáveis pelo circuito dos mesmos9-11

    .

    As funções do circuito dos núcleos da base têm bastante importância devido à sua

    ligação à capacidade de falar e articular corretamente as palavras. Estas estruturas regulam o

    tónus e os movimentos musculares, ajustam o controlo postural durante os movimentos

    corporais, ajustam os movimentos mais precisos (ex: falar com o movimento mandibular

    adequado), e apoiam na sua iniciação, planeamento e execução7. Caso se verifiquem danos neste

    circuito, pode existir redução do movimento ou uma falha na inibição do movimento

    involuntário12;13

    .

    De entre os sintomas motores encontrados nas pessoas com DP podemos encontrar

    tremor, rigidez, bradicinesia e instabilidade postural. A rigidez é caracterizada pelo aumento do

    tónus muscular desencadeado durante o movimento passivo; a bradicinesia é descrita como uma

    lentidão na execução do movimento que traz como consequência uma expressão facial em

    “máscara”; o tremor, inicialmente assimétrico, é designado como tremor de repouso,

    observando-se uma diminuição do relaxamento muscular aquando a realização de movimentos

    voluntários envolvendo as mãos, pernas, mandíbula e lábios; e por fim, a instabilidade postural é

    caracterizada pela flexão involuntária da cabeça, tronco e membros, devido à alteração dos

    reflexos posturais9;13;14

    .

    Na DP são também encontrados sintomas não-motores que afetam a grande maioria dos

    doentes, contribuindo para um grau de incapacidade marcado e impacto negativo na qualidade de

    vida15

    . Desta forma, a DP é agora considerada uma síndrome complexa, não sendo apenas

    considerada uma alteração do sistema motor. Por exemplo, na DP avançada são frequentes

    problemas neurocomportamentais que incluem a depressão, demência, bradifrenia, apatia, medo,

    ansiedade, instabilidade emocional, isolamento social, deficiência visual espacial, distúrbios do

    sono e psicose. O envolvimento autonómico leva à prisão de ventre, bexiga e disfunção do

  • 10

    esfíncter e hipotensão ortostática. Problemas dermatológicos tais como a seborreia, problemas

    sensoriais, tais como dor e formigueiro, e perturbações sensoriais especiais como hiposmia e

    disfunção vestibular são também descritos como sintomas não-motores13

    .

    A Doença de Parkinson afeta cerca de 1% da população mundial acima dos 65 anos e

    2% das pessoas com idade superior aos 856. A média de idades de início dos sintomas é de cerca

    de 58 anos, no entanto os pacientes podem desenvolvê-los antes dos 40 anos de idade16

    . É

    importante referir que os sintomas não-motores são geralmente os primeiros a surgir, podendo

    ainda estar presentes mesmo antes da doença clinicamente manifestada15

    .

    2.2 A voz e a fala na DP

    Às alterações da voz e da fala consequentes de lesões periféricas e centrais do sistema

    nervoso, dá-se o nome de disartria. A disartria é uma característica proeminente na pessoa com

    doença de Parkinson12

    . É uma alteração no controlo motor da fala que afeta a respiração,

    fonação, articulação, ressonância e prosódia, sendo que as alterações da voz seguidas das

    alterações da fluência tendem a ser os primeiros sinais da presença de disartria na pessoa com

    DP8;17

    .

    O aparecimento das alterações da voz e da fala são de progressão lenta ao longo da

    doença. Clinicamente, o aparecimento destas alterações varia muito, e não está relacionado com

    a duração e/ou gravidade da doença18

    .

    Estudos anteriores estimam que 70-90% dos pacientes com DP apresentam alterações

    na voz e 45-55% alterações na fala. Apenas Coates e Bakheit estudaram a inteligibilidade,

    determinando que 65% dos 48 participantes apresentaram alterações neste parâmetro19-22

    .

    Às alterações na fala da pessoa com DP são chamadas de disartria hipocinética. Este

    tipo de disartria surge a partir da deficiente combinação na execução motora da fala, assim como

    nos défices de programação causados pelas alterações existentes nos núcleos da base7;17;23

    . Existe

    uma perda de dopamina no corpo estriado e por esta razão surgem os sintomas motores na

    pessoa com DP (rigidez, tremor de repouso, bradicinesia e instabilidade postural). A perda de

    dopamina afeta os vários subsistemas anatómicos responsáveis pelo controlo motor da fala,

    surgindo os efeitos da rigidez, redução da força e amplitude do movimento, lentidão nos

    movimentos, rigidez muscular e, em alguns momentos ocasionais, movimentos repetitivos

    rápidos9;18;23

    .

    Numerosos estudos19;23-28

    têm observado mudanças percetivas, fisiológicas e acústicas

    no mecanismo de produção da voz e fala destas pessoas. Entre essas mudanças encontram-se a

    diminuição da unidade neural para os músculos da laringe, a diminuição da amplitude dos

    movimentos dos lábios e músculos da língua, a diminuição do encerramento glótico e

  • 11

    velofaríngeo, a redução da capacidade respiratória e coordenação dos movimentos, e a redução

    da amplitude e velocidade dos movimentos mandibulares29

    . Estas alterações, por sua vez,

    resultam em sinais que frequentemente são associados ao monopitch1 e monoloudness

    2,

    qualidade vocal rouca e soprosa, instabilidade fonatória (níveis de pitch altos e baixos), tremor

    vocal, pausas inapropriadas, imprecisão articulatória em consoantes, frases curtas ou “fala

    acelerada”, disfluência (em forma de repetição de fonemas), dificuldade em iniciar a fala e graus

    variados de redução da inteligibilidade18;20;28;29

    .

    A DP demonstra ter impacto em todas as funções da fala incluindo a respiração,

    fonação, ressonância, articulação, e prosódia, em diferentes graus de severidade. Para melhor

    entendermos as alterações existentes nos vários subsistemas da fala nas pessoas com DP, passo a

    descrever mais especificamente os problemas relacionados com essas mesmas funções.

    2.3 Respiração

    As alterações na respiração ocorrem frequentemente e são a causa mais comum da

    morte nas pessoas com DP9. Embora esta função tenha recebido relativamente pouca atenção em

    estudos acústicos e fisiológicos da fala, a diminuição do suporte respiratório traz consequências

    importantes e características da DP, tais como a diminuição na loudness, alterações na prosódia,

    frases curtas, velocidade de fala aumentada e pausas inapropriadas30;9

    .

    Vários estudos9;17;31

    documentam a redução da capacidade vital, redução na amplitude

    dos movimentos da parede torácica durante a respiração, diminuição da força e resistência dos

    músculos responsáveis pela respiração, irregularidades nos padrões respiratórios e aumento da

    frequência da respiração, como algumas alterações na respiração da pessoa com DP.

    De relevância direta para fala são as tarefas de desempenho máximo. A redução nos

    tempos máximos de fonação (TMF), redução do volume de fluxo de ar durante o prolongamento

    das vogais, a produção de um menor número de sílabas por expiração, o uso de maior

    percentagem média da capacidade vital por sílaba, e o aumento dos grupos de respiração durante

    a leitura são algumas características que afetam a fala das pessoas com DP9;32

    .

    O suporte respiratório é de grande importância no ato fonatório, ao nível de fala e

    também ao nível da deglutição. Nas pessoas com DP observa-se um comprometimento em

    virtude da capacidade vital e do controle respiratório, ficando assim alterada a coordenação

    fala/respiração e deglutição/respiração 30

    .

    Tradução livre da autora: 1tom monótono 2intensidade subjetiva sem flexibilidade

  • 12

    2.4 Ressonância

    A fim de alcançar uma pressão intraoral adequada e ressonância oral, durante a

    produção de uma sílaba oral simples, o fluxo de ar deve ser dirigido através da boca, enquanto o

    fluxo de ar dirigido através da cavidade nasal não deve ser significativo33

    .

    A existência de uma adequada pressão de ar na cavidade intraoral é essencial para a

    fala, no entanto esta pressão encontra-se muitas vezes diminuída na DP. A velocidade do

    movimento do véu palatino encontra-se reduzida devido à presença de rigidez, o encerramento

    velofaríngeo diminui e existe um maior fluxo de ar nasal. Contudo, embora 10 a 40% dos

    pacientes possuam uma ressonância caracterizada como hipernasal, a hipernasalidade e a

    emissão nasal não são geralmente facilmente percecionadas no discurso das pessoas com

    DP9;17;33

    .

    Os défices na pressão intraoral e nas alterações ao nível das estruturas velofaríngeas

    podem contribuir para a redução da audibilidade da fala, inteligibilidade do discurso e

    consequente comprometimento comunicativo33

    .

    2.5 Fonação e aspetos prosódicos na DP

    Como já foi referido anteriormente, as alterações na voz são um dos primeiros sinais a

    aparecerem nas pessoas com DP, apresentando-se em cerca de 90% destas pessoas24

    . Diversos

    estudos acústicos e fisiológicos têm vindo a avaliar a função laríngea na disartria hipocinética.

    Em geral, eles confirmam as hipóteses geradas pelas análises percetivas e fornecem uma visão

    acerca dos mecanismos que estão subjacentes às alterações da voz e da fala destas pessoas9.

    O monopitch1 (acusticamente relacionada com a frequência fundamental (f0)) e o

    monoloudness2 (acusticamente relacionada com a intensidade) foram identificados como as

    alterações da voz mais encontradas neste tipo de disartria.

    Segundo alguns autores25;34-36

    , o loudness vai diminuindo ao longo do discurso devido

    ao reduzido suporte fonatório e respiratório na fala. Para muitas pessoas com DP, o loudness

    reduzido associado a uma fraqueza generalizada da laringe (hipofonia), é um dos sintomas mais

    frustrantes e debilitantes da doença devido ao impacto que isto tem na capacidade comunicativa

    da pessoa nas situações do dia-a-dia18

    .

    Existem vários estudos em que os investigadores avaliam o declínio da intensidade

    vocal na fala das pessoas com DP, contudo os resultados ainda são controversos no que respeita

    a esta temática. No estudo de Duffy, Rosen e Kent24

    , os autores concluíram que houve redução

    da intensidade vocal no discurso das pessoas com DP comparado com o discurso das pessoas

    sem qualquer tipo de patologia relacionada com a voz, tal como se observou no estudo de

    Cmejla, Rusz, Ruzicka e Ruzichova5. Por sua vez Bassi et al.

    20, analisaram a voz de mulheres

  • 13

    com DP e concluíram que os valores das medidas acústicas de intensidade não apresentaram

    diferenças significativas comparados com pessoas sem nenhuma alteração neurológica. Chen,

    Hanson, Jiang, O’Mara, Stern e Vlagos35;37

    , avaliaram as medidas aerodinâmicas em 24

    pacientes com DP e compararam os resultados com sujeitos normais. Neste estudo os autores

    constaram que as pessoas com DP necessitaram de maior pressão subglótica para oferecer

    resistência à laríngea e, consequentemente aumentar a intensidade vocal, no entanto, mesmo

    assim muitos dos pacientes com DP não atingiram um loudness tão alta quanto aquele que

    desejariam.

    Como pudemos descrever nos resultados dos estudos acima descritos, nem todas as

    pessoas com DP demonstram ter um loudness reduzido no momento da avaliação. Contudo, isto

    pode acontecer devido à fase em que a pessoa se encontra no que concerne ao desenvolvimento

    da perturbação da fala, à capacidade que cada um possui para aumentar o loudness enquanto a

    avaliação está a ser realizada, às próprias tarefas da fala, ou ainda ao contexto/ ambiente em que

    a avaliação se efetua18

    .

    Ainda relativo aos parâmetros acústicos da voz, contudo agora referente ao estudo da

    f0, segundo alguns autores, a extensão desta medida aparece aumentada ao longo da fala pela

    presença de rigidez na musculatura laríngea 25;34

    . Contudo, segundo Duffy38

    , nem sempre o

    aumento do valor máximo da f0 é estatisticamente significativo em relação às normas das

    mesmas idades, e no sexo feminino apresenta-se, por vezes, reduzida. Canizzaro, Harel e

    Snyder23

    , num estudo longitudinal sobre a falta de variabilidade da f0 (monopitch) a uma pessoa

    com DP, verificaram que houve uma diminuição da variabilidade da f0 no discurso, tendo início

    vários anos antes do diagnóstico e estendendo-se até ao início de qualquer intervenção

    farmacológica. Também Stepp39

    estudou a f0 em pessoas com DP, e concluiu que esta medida se

    encontra mais baixa nestas pessoas em comparação com sujeitos saudáveis. As razões para tais

    discrepâncias não são claras. Pode ser que exista variabilidade considerável na relação f0/pitch,

    que existam diferenças entre os géneros, ou que outros fatores para além da f0 levem a uma baixa

    perceção de pitch9.

    As alterações ao nível do pitch (f0) e loudness contribuem para a redução da

    inteligibilidade em todas as pessoas, com efeito exacerbado na pessoa com DP. Estes resultados

    suportam a perceção de monopicth na disartria hipocinética e valida o impacto que a f0 tem na

    inteligibilidade da fala9.

    Apesar do tremor vocal não ser uma das características mais percetivas na voz das

    pessoas com DP, diversos estudos confirmaram a presença de tremor ao nível da laringe e

    aritenoide quando examinados através da estroboscopia laríngea40-42

    .

  • 14

    As pessoas com DP podem também apresentar valores anómalos nas medidas de jitter

    e shimmer ou nas medidas relacionadas com a regularidade da vibração das pregas vocais,

    podendo isto refletir-se na redução do controlo neuromuscular do mecanismo de adução e

    abdução da laringe9.

    Alguns autores16;26;43

    , nos seus estudos em que analisaram acusticamente a voz, não

    encontraram diferenças significativas nos valores de jitter e shimmer quando compararam os

    valores das pessoas com DP com os dos sujeitos do grupo controlo (sem sintomas de distúrbios

    da voz e sem DP); já Jiang, Olszewski e Shen44

    , apesar de não terem encontrado diferenças

    significativas nos resultados correspondentes aos valores de shimmer, os valores de jitter

    apresentaram-se alterados demonstrando instabilidade no momento da fonação.

    As alterações na qualidade vocal são também consistentemente identificadas na fala

    das pessoas com DP. Desta forma, a voz na DP é percebida como hipofónica, possuindo como

    características percetuais a soprosidade, rouquidão, aspereza, intensidade baixa e presença de

    tremor vocal24

    .

    Relativamente à prosódia, a fala disfluente é mais uma alteração que a disartria

    hipocinética apresenta. A disfluência pode manifestar-se enquanto dificuldade em iniciar frases,

    pausas inapropriadas, repetição de fonemas e/ou de sílabas ou, menos frequentemente, palilalia.

    Palilalia refere-se à repetição compulsiva, sem esforço, de palavras e frases, ocorrida numa

    situação de aumento de taxa de elocução e diminuição da intensidade45;18

    .

    As alterações na velocidade da fala são, assim, uma distinta característica deste tipo de

    disartria. Até à data, investigadores na área da acústica e da fisiologia identificaram um leque

    bastante variável nesta alteração, embora estes resultados permaneçam inconsistentes. Existem

    estudos que evidenciam que a velocidade da fala pode ser normal, outros reduzida, e ainda

    estudos que a identificam como acelerada18;46;47

    .

    Allcoch, Burn, Hidreth, Jones, Miller e Noble19

    , estudaram a inteligibilidade da fala das

    pessoas com DP percebida por ouvintes familiares e amigos dos doentes. Neste estudo os

    ouvintes identificaram 38% da amostra como tendo alterações ao nível da velocidade de fala.

    Tjaden e Wilding48

    , realizaram um estudo onde tiveram como principal objetivo investigar a

    redução da velocidade da fala em pessoas com DP e Esclerose Múltipla, e concluíram que a taxa

    de elocução manteve-se nos parâmetros normais tanto numa doença como na outra. Cmejla,

    Rusz, Ruzicka e Ruzichova5, verificaram uma redução da velocidade na repetição de sílabas em

    pessoas com DP.

  • 15

    2.6 Articulação na DP

    As mudanças na fala são inevitáveis na doença de Parkinson (DP)20

    .

    Existem evidências que nos apontam para uma fraqueza nos músculos dos lábios,

    língua e mandíbula, e que podem estar relacionadas com as alterações na fala da pessoa com

    DP14;34;36;49

    . Este padrão de atividade reflete os efeitos da rigidez nos músculos orofaciais e

    contribui para a chamada imprecisão articulatória18.

    .

    Numerosos estudos acústicos e fisiológicos9:18:21;39

    têm investigado a imprecisão

    articulatória na disartria hipocinética. Muitos destes estudos empregam a expressão

    “undershoot” para se referirem a este tipo de articulação, uma vez que as pessoas com DP não

    são capazes de atingir a meta articulatória ou de a manter em contacto para articular de forma

    precisa um som da fala..

    As pessoas com DP apresentam alterações ao nível da articulação, tais como

    consoantes imprecisas e movimentos articulatórios reduzidos e descoordenados dos músculos

    agonistas e antagonistas da fala. Estas pessoas apresentam uma língua rígida, manifestando por

    isso grandes dificuldades no deslocamento ativo. Isto reflete-se num tipo de fala lenta, fraca, e

    sobretudo monótona14;50

    . A imprecisão articulatória das vogais demonstra também estar presente

    mesmo nos estadios mais ligeiros da DP, contribuindo para a ininteligibilidade da fala destas

    pessoas27

    . Grönheit, Sclegel, Skodda27

    e Munson, Watson39

    , analisaram a articulação das vogais

    nas pessoas com DP e verificaram que as vogais produzidas por estas pessoas apresentaram uma

    ininteligibilidade significativa quando comparadas com as produzidas pelo sujeitos normais. De

    acordo com alguns autores os fonemas mais prejudicados na articulação das pessoas com DP são

    os fricativos, sendo estes muitas vezes substituídos por fonemas oclusivos14

    .

    Não só a imprecisão articulatória afeta a inteligibilidade da fala nas pessoas com DP,

    contudo, já foram descritas anteriormente outras medidas que a influenciam, nomeadamente a

    velocidade da fala e disfluência.

    Os tremores orofaciais presentes nas pessoas com DP podem também ter um impacto

    sobre a articulação uma vez que podem interferir com a iniciação e com a qualidade da fala18;35

    .

    2.7 Qualidade de vida

    Tradicionalmente, o principal foco da investigação na área da saúde era a medição da

    mortalidade e morbilidade, no entanto, durante a última década, o interesse pela avaliação da

    QV, estado de saúde e estado funcional dos pacientes tem vindo a aumentar. Há um especial

    interesse no domínio das doenças crónicas, pois tem-se argumentado que uma maior atenção

    deve ser dada ao impacto da doença na QV da pessoa51;52

    .

  • 16

    O comprometimento físico-mental, emocional, social e económico associados aos

    sinais e sintomas e às complicações secundárias da DP interferem no nível de incapacidade da

    pessoa e podem influenciar negativamente a QV do mesmo, levando-o ao isolamento e à escassa

    participação na vida social20;29;53

    .

    Os aspetos físicos podem ser considerados um dos grandes responsáveis pela

    diminuição da QV das pessoas com DP, pois agem como precursores de limitações nas outras

    dimensões. As limitações físicas certamente afetam emocionalmente a pessoa, uma vez que este

    não consegue realizar as suas atividades ocupacionais e ainda as atividades da vida diária e,

    consequentemente, perde a sua independência54

    . Desta forma, a pessoa com DP começa a

    apresentar tendência ao isolamento e deixa de fazer as atividades que lhe proporcionam mais

    prazer, afastando-se assim da sociedade. Ocorre uma inversão dos papéis sociais na família, além

    de que passa a existir uma grande sobrecarga económica, já que a pessoa com DP se encontra,

    frequentemente, impossibilitado de trabalhar55

    .

    A qualidade de vida das pessoas com DP pode estar comprometida desde a perceção

    dos primeiros sinais, contudo, com a progressão dos sintomas observa-se um declínio gradual.

    Outro fator importante que altera de forma negativa a QV na DP é o tempo de doença. Sabe-se

    que quanto maior o tempo de doença pior o desempenho em todas as atividades, sejam elas

    alterações motoras ou cognitivas54

    .

    O principal foco de tratamento em pessoas com doenças crónicas, como a DP, deve ser

    a manutenção da QV, o que enfatiza a importância de se conhecer as dimensões que abrangem

    este conceito55

    .

    Segundo a Organização Mundial de Saúde56

    , saúde é definida como “[...] estado de

    completo bem-estar físico, mental e social e não somente pela ausência de doença ou

    enfermidade.” O conceito de qualidade de vida está relacionado com a perceção que a pessoa

    tem sobre a sua própria posição na vida, dentro do contexto dos sistemas de cultura e valores nos

    quais está inserido e em relação aos seus objetivos, expetativas, padrões e preocupações; reflete a

    avaliação subjetiva de satisfação pessoal em relação ao bem-estar físico, funcional, emocional e

    social. Assim, sendo a comunicação entendida como uma necessidade humana, é possível

    concluir que as alterações que limitam este processo afetam a qualidade de vida da pessoa com

    DP de uma forma negativa57;58

    .

    Todos os modelos do estado de saúde e funcionamento, tal como a CIF, proporcionam

    aos profissionais de saúde e investigadores um quadro para conceptualizar as medidas de

    avaliação, não só para as limitações nas atividades da doença ou lesão, como também para a

    participação social da pessoa. Além disso, o uso de modelos conceituais tem levado ao crescente

    reconhecimento de que estudar cada domínio (ou seja, a estrutura e função do corpo, a atividade

  • 17

    e a participação) fornece informações importantes acerca da capacidade da pessoa viver de

    forma independente56

    .

    A American Speech-Language-Hearing Association (ASHA)59

    recomendou a adoção

    do modelo da CIF. De acordo com esta associação, os profissionais de saúde devem tratar

    deficiências, limitações das atividades e restrições à participação social nas suas avaliações e

    tratamentos às alterações da comunicação. Além disso, sugere que os profisssionais de saúde

    estejam sensíveis a fatores pessoais e ambientais que possam ter um impacto sobre este tipo de

    alteração.

    A CIF define a comunicação como sendo um meio necessário à participação social,

    como a capacidade de "manter uma conversa: iniciar e manter um intercâmbio de pensamentos e

    ideias, realizadas através da fala, escrita, gesto ou outras formas de comunicação, com uma ou

    mais pessoas familiares ou estranhos, em contextos formais ou ambientes informais"56

    . Muitos

    dos fatores de participação na CIF requerem interações comunicativas bem sucedidas (por

    exemplo, interações interpessoais nas principais áreas da vida, tais como a educação, trabalho,

    emprego e vida económica).

    O impacto de uma alteração vocal na qualidade de vida depende da importância da voz

    em relação aos diversos fatores particulares entre os quais a personalidade, o grau de gravidade

    da disfonia e as necessidades diárias de uso da voz, por exemplo na profissão. O stresse

    psicológico é um exemplo de consequência que implica a diminuição da qualidade de vida social

    da pessoa com problemas na voz60-62

    .

    Atualmente há um grande interesse em desenvolver e utilizar medidas de resultados

    baseadas na opinião do paciente, tais como escalas de gravidade visuais analógicas e os índices

    de qualidade de vida e de desvantagem.

    Midi, Dogan, Koseoglu, Can, Sehitoglu, Gunal63

    , avaliaram as alterações da voz nos

    seus parâmetros acústicos e percetivos em pessoas com DP e relacionaram-nas com a

    componente motora do Unified Parkinson Disease Rating Scale (UPDRS). Utilizaram também o

    VHI para a autoavaliação da incapacidade causada pelas mesmas alterações vocais. Os

    resultados revelaram que as pessoas com DP tiveram mais desvantagem na vida diária devido às

    alterações da voz, e que, embora houvesse uma correlação positiva entre o valor total do UPDRS

    e do VHI, a relação não foi significativa. Estes resultados podem ser discutidos, uma vez que as

    pessoas incluídas neste estudo tinham uma duração máxima de doença de apenas cinco anos e

    por isso o índice de gravidade (UPDRS) era considerado ligeiro.

    Com o objetivo de tentar encontrar relação entre o VHI e a gravidade da DP,

    Karkheiran, Majdinasab, Moradi, Salehi, Shahidi64

    estudaram 23 pessoas diagnosticadas com DP

    e alterações vocais. Neste estudo foi possível verificar uma correlação positiva entre o total do

  • 18

    VHI e a gravidade da componente motora da doença (UPDRS-III), o que implica que a perceção

    da pessoa ao handicap da voz piora com o aumento da gravidade da doença.

    Também no estudo de Gerbin, Louis65

    se verificou um valor de VHI maior nas pessoas

    com DP do que nas saudáveis, tendo sido encontrada relação entre o total do VHI e a duração da

    DP.

    Segundo Hong, Lee, Lee, Lee, Sohn, Sunwoo66

    , a disfonia na DP está fortemente

    associada à depressão. Neste mesmo estudo a 147 pessoas com DP, foi encontrada correlação

    entre o índice de depressão e o VHI-10.

    Também a disartria hipocinética, especificamente, pode ter um efeito significativo

    sobre a capacidade de uma pessoa participar com sucesso nas atividades da vida diária. Até 90%

    das pessoas com DP podem, eventualmente, desenvolver alterações da fala que afetam não só o

    próprio, mas também as suas famílias50;67

    .

    Ao longo do tempo tem-se verificado o impacto negativo da disartria na realização das

    atividades diárias da pessoa com DP, na interação social, na sua autoestima, e na perceção que os

    outros têm sobre a sua fala, levando muitas vezes a uma perda progressiva da comunicação e ao

    isolamento social destas pessoas10;18;20

    .

    Na fase inicial da doença, as alterações da voz e articulação não são suficientes para

    causar grandes prejuízos na comunicação oral. Entretanto, à medida que a doença avança, o

    impacto negativo na comunicação também aumenta ao ponto de a tornar altamente

    prejudicada29;58

    . Assim, embora a abordagem clínica seja avaliar e tratar o comprometimento da

    voz e da fala, o que se pretende atualmente é que seja dada especial importância à avaliação das

    restrições na participação comunicativa, principalmente pela pessoa com disartria, a fim de

    refletir sobre a verdadeira natureza do problema68;69

    .

    O contexto em que a alteração motora da fala existe deve ser considerado na avaliação e

    intervenção das pessoas com este tipo de problema. A fadiga e a alteração cognitiva, que pode

    coexistir com a disartria em condições específicas (por exemplo, na DP), pode ter impacto sobre

    o desempenho nas avaliações motoras da fala, tornando-se difícil extrapolar o verdadeiro

    impacto da própria alteração da fala. Além disso, o estado de saúde, que deu origem à alteração

    da fala, pode agravar a alteração. Para as pessoas com DP, os problemas com a atenção e fadiga

    podem ter impacto na produção de fala e na comunicação70

    .

    Miller, Peach, Walshe1, examinaram as perceções das pessoas que adquiriram a

    disartria decorrente de uma série de perturbações progressivas e não progressivas. A partir desses

    resultados foi evidente que, embora a alteração da fala pudesse parecer um problema devastador

    para a pessoa, isso muitas vezes não se confirma. Uma forma de analisar esta área é perguntar às

    pessoas com DP de que forma se preocupa com o discurso e pedir para comparar com outros

  • 19

    problemas e preocupações. Isso fornece ao clínico a importância que a pessoa dá ao seu discurso

    e fornece uma perspectiva sobre a motivação e compromisso com a reabilitação. A importância

    do discurso contra a função física pode não permanecer constante durante o curso de uma

    doença. Por exemplo, no mesmo estudo, um dos participantes avaliou o discurso como sendo

    “muito importante”, particularmente no passado, contudo no momento da entrevista as suas

    dificuldades de locomoção e agilidades física foram de maior preocupação, pois afetam a

    realização de atividades mais do que a fala.

    A importância da perspetiva da pessoa com disartria para obtenção de um correto e

    abrangente quadro de limitações nas capacidades comunicativas causadas pela disartria, tem sido

    cada vez mais enfatizada e pode ser explorada usando tanto métodos quantitativos como

    qualitativos, em entrevistas ou questionários de auto-relato.

    2.8 Instrumentos de avaliação do impacto da voz e fala na qualidade de vida

    Tal como a qualidade de vida, o impacto de um problema de saúde específico é difícil

    de ser medido. Muitos investigadores têm-se dedicado ao desenvolvimento de instrumentos para

    avaliar a disfonia e o impacto que a mesma tem na vida da pessoa. Jacobson et al.71

    ,

    desenvolveram o Índice de Desvantagem Vocal (IDV) que pode ser usado para avaliar a

    efetividade das técnicas de tratamento vocal. Hogikyan, Rosen72

    , desenvolveram um instrumento

    para medir a relação da voz com a qualidade de vida (Qualidade de Vida e Voz - QVV).

    Gliklich, Glovsky, Montgomery73

    , desenvolveram e validaram um protocolo específico para a

    paralisia unilateral de prega vocal, o Voice Outcome Survey (VOS) para investigar a avaliação

    global da qualidade de voz e a autoavaliação sobre o impacto do problema vocal nas atividades

    da vida diária. Ma, Yiu74, relataram o desenvolvimento de uma forma de avaliação da perceção

    da disfonia, limitação nas atividades e restrição de participação (Voice Activity and Participation

    Profile – VAPP, atividade vocal e perfil de participação). O Voice Symptom Scale (VoiSS) foi

    desenvolvido e validado por Deary, Wilson, Carding, Mackenzie61

    e trata-se de uma escala de

    sintomas vocais capaz de refletir os sintomas físicos, de comunicação e emocionais implícitos na

    disfonia em adultos. O VHI (Voice Handicap Index), desenvolvido por Benninger et al.71

    em

    1997, tem com objetivo quantificar as consequências psicossocias das alterações da voz.

    No que diz respeito à avaliação do impacto da disartria na qualidade de vida, foram

    encontrados na literatura os seguintes instrumentos:

    O Situation Intelligibility Survey embora seja um protocolo de avaliação para as

    pessoas com deficiência auditiva, é frequentemente usado para explorar as barreiras ambientais à

    comunicação75

    . Desenvolvido por Berry e Sanders em 1983, é destinado aos pacientes e aos seus

    cuidadores e deve ser realizado no ambiente do próprio. Podem ser identificadas até 25 situações

  • 20

    diferentes, de acordo com as dificuldades apresentadas pela pessoa perante cada situação. Este

    protocolo tem como objetivo ajudar os clínicos a identificar as situações onde os pacientes e os

    seus cuidadores possam precisar de instruções ou suporte específico para melhorar a

    inteligibilidade76

    .

    The Communicative Effectiveness Survey é outro questionário que pode ser utilizado

    para avaliar a perceção do paciente à eficácia da comunicação em diferentes contextos,

    destacando as barreiras que possam existir para tornar a comunicação mais eficaz. Donovan,

    Kendall, Rosenbek, Young4, aplicaram o questionário a três grupos de pessoas (pessoas com

    disartria e DP; pessoas sem disartria e sem DP; e a familiares das pessoas pertencentes ao

    primeiro grupo), e puderam concluir que a média do score referente aos questionários aplicados

    às pessoas com DP e disartria foram significativamente mais baixos àqueles aplicados às

    pessoas sem DP. Estes resultados sugerem que as pessoas com DP e disartria apresentam uma

    menor consciência sobre a forma como cada um comunica.

    Barbour, Brady, Clark, Dickson, Paton77

    , elaboraram uma entrevista semi-estruturada

    composta por 58 perguntas agrupadas em nove categorias diferentes. Esta entrevista foi

    concebida com o objetivo de examinar as crenças e experiências das pessoas que tenham sofrido

    um AVC em relação à alteração da fala e explorar os impactos físicos, pessoais e psicossociais

    de viver com disartria. Neste estudo os autores puderam comprovar que, nestas pessoas, a

    reduzida capacidade para comunicar vai para além do que é fisiológico podendo causar

    mudanças na auto-identidade, relacionamentos, perturbações sociais e emocionais e sentimentos

    de estigmatização.

    O Communicative Participation Item Bank (CPIB) é um instrumento desenvolvido por

    Amtmann, Baylor, Eadie, Miller, Yorkston M78

    para medir a participação comunicativa da

    pessoa em situações quotidianas. É uma ferramenta de medição de resultados de auto-relato para

    adultos através de uma ampla gama de alterações da comunicação. Baylor, Britton, Burns, Eadie,

    Yorkston79

    , realizaram um estudo onde participaram 44 adultos com sete diagnósticos clínicos

    diferentes (disfonia espasmódica, esclerose múltipla, AVC, gaguez, DP, esclerose lateral

    amiotrófica e laringectomia) e constataram que existiam dois aspetos que as pessoas apontaram

    como tendo maior interferência na sua participação comunicativa. Um dos aspetos diz respeito às

    restrições na capacidade de realizar ou participar nas tarefas, e o outro está relacionado com a

    presença de emoções negativas sobre as experiências de cada pessoa. Embora alguns

    participantes relatassem que sentiam que já estavam adaptados à diferente forma de comunicar,

    todos eles compartilharam evidência do profundo impacto que a alteração da comunicação teve

    em muitos papéis durante os momentos da vida de cada um.

  • 21

    The Communication Outcome After Stroke (COAST) é uma escala constituída por 20

    itens que avalia tanto a compreensão como a expressão em certas situações da comunicação,

    incluindo cinco itens referentes à qualidade de vida. Este questionário foi utilizado num estudo

    randomizado realizado por Bowen et al.80

    , onde participaram 170 adultos com duas semanas de

    admissão no hospital devido a um AVC e a quem os terapeutas da fala consideraram a fala

    inteligível, e 135 cuidadores. O principal objetivo do estudo foi avaliar a terapia reforçada nos

    primeiros meses após o AVC em comparação com um cuidador atento. Os resultados obtidos

    ditaram que não houve nenhuma evidência de benefício adicional de intervenção da terapia da

    fala para além do controlo do contacto social sobre os participantes ou a perceção dos cuidados

    sobre a comunicação dos participantes, nem perceções dos cuidadores acerca do impacto sobre si

    mesmos em termos de sua própria qualidade de vida ou bem-estar

    “Living with Neurologically Based Speech Difficulties” é um questionário de auto-

    relato desenvolvido por Elmberg, Hartelius, Holm, Lövberg, Nikolaidis76

    , e tem como objetivo

    identificar se as pessoas com disartria percebem as suas dificuldades na fala, bem como a forma

    como eles se ajustam à situação. É um questionário de importante uso para a prática clínica, e

    considerado de fácil e rápida aplicação. Brady, Kelly, Mackenzie, Muir, Paton81

    , aplicaram o

    questionário a 55 pessoas com diferentes graus e tipos de disartia e os resultados sugerem que

    tanto o tipo como o grau das dificuldades comunicativas variam. Não houve relação entre o grau

    das dificuldades na comunicação e as variáveis como a idade, género, diagnóstico, duração da

    doença ou situação de emprego. No geral, foram relatados problemas relacionados com as

    restrições na participação comunicativa, com as possibilidades em participar ativamente no

    trabalho e em estudos, e com as dificuldades em expressar a sua personalidade. A comunicação

    foi também afetada por emoções, e pelo número de familiares presentes nos conflitos

    comunicativos.

    A fim de obter uma visão mais abrangente da disartria do ponto de vista das pessoas

    com esta patologia, Yorkston, Bombardier82

    desenvolveram o “Communication Profile for

    Speakers with Motor Speech Disorders”. Este questionário de auto-relato foi usado em inúmeros

    projetos de pesquisa e consiste em cem afirmações relativas às características percebidas da

    doença, dificuldade situacional, estratégias compensatórias utilizadas e reações dos outros. Em

    cada afirmação pede-se à pessoa para escolher as opções «concorda» ou «discorda», usando uma

    escala de cinco pontos. Umas das desvantagens deste questionário é o facto de ser extenso e

    como tal necessitar de um período de tempo maior do que, por exemplo, o questionário “Living

    with Neurologically Based Speech Difficulties76

    .

    O QoLDys é um questionário de auto preenchimento, composto por afirmações que são

    utilizadas por muitas pessoas para descrever a sua fala e o efeito nas suas vidas, publicado por

  • 22

    Yorkston, Bombardier, Hammen82

    . Está subdividido em quatro áreas – características da fala,

    situação difícil, estratégias compensatórias e perceção da reação dos outros. Todas as áreas são

    compostas por dez itens. A primeira aborda as características da disartria na perceção do

    individuo, a segunda refere-se às dificuldades situacionais tipicamente encontradas pela maioria

    dos adultos com disartria, a terceira expõe a perceção das reações dos outros. Por fim, a última,

    relata a reação dos outros à disartria, podendo sugerir excesso de preocupação pelo bem-estar do

    individuo ou expressar que os ouvintes o penalizam. Cattaneo, Piacentini, Schindler, Zuin83

    ,

    avaliaram a QV na disartria em pacientes com esclerose múltipla (EM), e concluíram que que

    estas pessoas mantêm a QV relacionada à disartria comprometida.

    Para elaboração deste estudo foi utilizado a versão português europeu do questionário

    Dysarthria Impact Profile desenvolvido por Miller, Peach, Walshe1 traduzida e validada por

    Cardoso, Guimarães e Ferreira (no prelo). Este questionário é uma ferramenta útil na pesquisa do

    impacto psicossocial da disartria na pessoa. Os pontos fortes da escala são de que a informação é

    fornecida pela pessoa com disartria, proporcionando assim aos clínicos uma prespetiva melhor

    daquilo que a pessoa com disartria sente. É fácil de administrar e permite que as pessoas com

    disartria adicionem dados qualitativos no final de cada secção. Também facilita a exploração da

    relação entre a comprometimento da disartria e o impacto psicossocial. Uma das limitações deste

    instrumento ao ser administrado pelos autores é que houve evidencias que mostraram que nem

    sempre existe uma relação direta entre estes dois, desta forma é pertinente realizar estudos com

    um maior número de participantes1.

    Segundo Lowit, Kent75

    , o termo "impacto psicossocial" é uma construção

    multidimensional. O termo é tomado literalmente como as consequências psicológicas e sociais

    de uma alteração motora da fala com QV, bem-estar, e participação na sociedade, visto

    predominantemente como consequências ou fatores que contribuem para o impacto psicossocial.

    O quadro de Byng, Pound, e Parr que examina os efeitos psicossociais é amplamente

    utilizado para direcionar a discussão acerca deste tema. Eles categorizam os efeitos segundo: (i)

    os efeitos sobre a pessoa, (ii) os efeitos sobre o estilo de vida, e (iii) os efeitos sobre os outros no

    contexto social imediato. Os efeitos sobre a pessoa incorporam efeitos psicológicos, efeitos na

    identidade, autoconceito, relacionamentos, e em papéis com consequente impacto sobre o

    comportamento da comunicação e participação social, bem-estar e QV. Os efeitos sobre o estilo

    de vida incluem mudanças na situação de emprego, atividades de lazer, redes sociais, e inclusões

    sociais, bem como a perceção de barreiras à comunicação. Estes efeitos resultam também em

    mudanças na participação social, bem-estar, e QV. Os efeitos sobre os outros no contexto social

    imediato, considera os efeitos psicológicos e sociais da alteração motora da fala noutras pessoas

    próximas (ou seja, família, amigos próximos, etc.)84

    .

  • 23

    Pessoas com alterações motoras da fala, especificamente com disartria, podem sofrer

    de ansiedade e depressão, experimentar uma série de emoções negativas em resposta às suas

    alterações na fala, e passar por modificações na auto-perceção. Embora estas pessoas possam

    não ter o diagnóstico clínico de depressão, elas podem sentir-se "deprimidas" e relatar

    sentimentos de tristeza ou solidão, e outras emoções negativas75

    .

    Estudos qualitativos3;70;77

    onde envolvem pessoas com disartria têm referido a presença

    de emoções negativas na vida destas pessoas. Contudo, nem todos os sentimentos são negativos.

    Allock, Burn, Miller, Noble85

    , estudaram uma pessoa com DP e com alteração na comunicação,

    e esta pessoa foi muito otimista em relação à sua comunicação. Esta recebeu o diagnóstico

    definitivo da doença e decidiu tomar uma abordagem positiva para a gestão da mesma. Barbour,

    Brady, Clark, Dickson, Paton77

    , exploraram o impacto psicossocial da disartria numa entrevista a

    24 pessoas com diferentes graus de gravidade da disartria pós AVC. Uma pessoa, que antes de

    ter sofrido o AVC trabalhava frequentemente fora de casa, relatou ter uma nova perspetiva mais

    sensível da vida. Estes sentimentos positivos, que não são incomuns na literatura da doença

    crónica, podem estar, de alguma forma, ligados à aceitação e adaptação da alteração da

    comunicação.

    A identidade é outro dos efeitos psicossociais prejudicados nas pessoas com disartria.

    Barbour, Brady, Clark, Dickson, Paton77

    , verificaram que a população em estudo teve mudanças

    negativas nesta vertente; assim como Miller, Peach, Walshe1, que exploraram o impacto

    psicossocial da disartria em 31 pessoas com disartria decorrentes principalmente de condições

    neurológicas progressivas, que também encontraram mudanças negativas na identidade.

    Juntamente com a identidade, as pessoas também têm uma grande quantidade de

    crenças ou conhecimento sobre si mesmos. Este é o chamado autoconceito. Essencialmente, o

    autoconceito envolve a forma como pensamos em “nós mesmos” agora, como nos imaginamos

    no futuro, e a forma como pensamos sobre “nós mesmos” no passado. Embora o autoconceito

    seja relativamente estável, também é suscetível a mudanças quando a pessoa encontra novos

    papéis, novas situações e transições na vida75

    . Estudos até à data sugerem que as pessoas com

    disartria têm alterações no autoconceito. Elmberg, Hartelius, Holm, Lövberg, Nikolaidis76

    ,

    avaliaram as dificuldades de fala percebidas por 55 pessoas com disartria decorrentes de uma

    série de condições progressivas e não progressivas, e descobriu que 53% dos participantes

    concordaram com a afirmação: "A minha dificuldade na fala afeta negativamente a minha auto-

    imagem". Pode-se concluir portanto, que o impacto da mudança no autoconceito tem

    implicações na interação e participação em situações comunicativas e na sociedade em geral.

    Um outro efeito psicossocial das alterações motoras da fala que pode ser associado ao

    impacto psicológico, são as alterações nos relacionamentos. Algumas pessoas com disartria, no

  • 24

    estudo de Barbour, Brady, Clark, Dickson, Paton77

    , referiram que não eram capazes de manter

    uma conversa com os amigos e familiares, incluindo cônjuges, durante um longo período de

    tempo, e como resultado sentiam-se "deixados de fora" e "diferentes". No estudo de Miller,

    Peach, Walshe1, muitas pessoas entrevistadas relataram alterações negativas no relacionamento

    com qualquer familiar ou amigo desde o início da sua disartria. Esta informação pode ser

    importante no planeamento de serviços de apoio e podem ajudar a compreender as reações

    psicológicas individuais nas alterações motoras da fala75

    .

    Mudanças nos relacionamentos podem surgir como resultado de mudanças de papel,

    particularmente perante o seio da família. Esses papéis podem envolver o assumir o papel de

    “dona de casa” enquanto o cônjuge ocupa outras funções que exigem interação verbal (por

    exemplo, assuntos financeiros, etc.)1. No estudo de Barbour, Brady, Clark, Dickson, Paton

    77,

    alguns participantes retomaram os papéis sociais e recreativos quando a fala melhorou. Contudo,

    isto pode não acontecer nas pessoas com disartria degenerativa e progressiva.

    As consequências psicológicas de uma perturbação motora da fala têm um impacto

    direto na produção da fala. No estudo de Elmberg, Hartelius, Holm, Lövberg, Nikolaidis76

    , 49%

    dos participantes concordaram com a afirmação, "As minhas dificuldades na fala aumentam

    quando estou com raiva ou triste.".

    A participação é influenciada diretamente por reações psicológicas. A redução dos

    níveis de participação pode estar associada a alterações na forma de comunicar e

    comportamento, bem como à hesitação de comunicar. A participação também pode ser afetada

    por tensões no relacionamento e mudanças de papéis dentro da família. Isso pode levar à solidão

    e isolamento. Por conseguinte, uma participação reduzida e mudanças nas relações e papéis

    dentro da família deverá ter um impacto negativo na qualidade de vida das pessoas com

    alterações na fala75

    .

    Este estudo tem como objetivo avaliar o impacto psicossocial da disfonia e da disartria

    em pessoas com DP, ou seja avaliar as consequências psicológicas e sociais que a disfonia e a

    disartria trazem para a qualidade de vida, bem-estar e participação social da pessoa com DP,

    através da aplicação do questionário Voice handicap índex (VHI) e do Dysarthria impact profile

    (DIP).

  • 25

    III. Metodologia

    Tipo de estudo

    Este estudo, do tipo caso-controlo transversal, é constituído por dois grupos (grupo

    experimental e grupo controlo). Pretende-se neste estudo verificar se existem diferenças no grau

    de impacto psicossocial da disfonia e da disartria enre os dois grupos em estudo e

    especificamente: (i) Determinar a autoavaliação da voz; (ii) Determinar o nível de preocupação

    com a disartria; (iii) Verificar a relação com duração da doença e o nível motor global.

    Amostra

    Os participantes deste estudo incluem 44 pessoas sem disartria e sem DP (grupo

    experimental) e 44 pessoas com disartria e DP (grupo controlo), emparceirados por idade e sexo.

    Foram definidos como critérios de inclusão para ambos os grupos: (i) sem demência (despistado

    através do Mini Mental State Examination, MMSE); (ii) terem a mesma idade e sexo.

    Instrumentos

    Para elaboração deste estudo foram utilizados o questionário para recolha de informações

    sociodemográficas, o Movement Disorders Society- Unified Parkinson's Disease Rating Scale

    (MDS-UPDRS), o MMSE, VHI e o DIP.

    O MMSE (anexo 9.1), constituído por 30 perguntas, é um questionário que avalia o

    estado mental/ severidade da perda cognitiva, e foi selecionado para este estudo com o objetivo

    de controlar as respostas não fiáveis que possam resultar de alguma pessoa com

    comprometimento ao nível da cognição. Cada resposta correta vale um ponto, cotando zero a

    cada errada. Quanto mais elevado o score do MMSE maior a perda cognitiva da pessoa86

    .

    A MDS-UPRDS87

    (os autores não autorizaram a inclusão em anexo uma vez que é um

    documento a aguardar publicação), é considerada uma escala de referência na avaliação dos

    sintomas motores e não motores da DP, analisando assim a gravidade da doença. É composta

    por quatro partes onde a parte I diz respeito às experiências não motoras da vida diária, a parte II

    às experiências motoras da vida diária, a parte III é relativa à avaliação motora, e a parte IV às

    complicações motoras. Cada questão é pontuada numa escala de zero a quatro, onde o zero

    corresponde a normal e o quatro a grave. Quanto maior o valor total da MDS-UPDRS, maior o

    índice de gravidade da DP, sendo que o valor total possível é de 260 pontos.

    A versão portuguesa do VHI (anexo 9.2), é considerado um questionário de referência

    construído para avaliar o impacto que uma alteração vocal tem na qualidade de vida das pessoas.

    Inclui 30 itens divididos em três domínios: o físico, o funcional, e o emocional. Estes itens são

  • 26

    pontuados em cinco níveis diferentes (nunca= 0 pontos; quase nunca= 1 ponto; às vezes= 2

    pontos; quase sempre=3 pontos; sempre= 4 pontos); quanto mais elevada a pontuação maior a

    desvantagem/handicap, sendo o valor 120 o máximo possível88

    .

    O DIP (os autores não autorizaram a inclusão em anexo uma vez que é um documento a

    aguardar publicação), traduzido e adaptado para o Português Europeu em 2013 (Cardoso,

    Guimarães e Ferreira, no prelo), contém cinco secções. Nas primeiras quatro secções do

    questionário, as pessoas respondem a cada afirmação usando uma escala de cinco pontos

    (concordo totalmente, concordo, não tenho opinião/ não tenho a certeza, discordo e discordo

    totalmente). Com o objetivo de testar a fiabilidade das respostas, o DIP contém duas questões

    similares em cada secção, formuladas de forma diferente. O DIP usa questões formuladas de

    forma negativa e positiva. Nas questões positivas, as respostas “concordo totalmente” recebem a

    pontuação cinco enquanto as de “discordo totalmente” recebem um ponto. Por outro lado,

    relativamente às questões negativas, as de resposta “concordo totalmente” recebem a pontuação

    de um, enquanto as “discordo totalmente” recebem cinco pontos. Na quinta secção, as pessoas

    listam e classificam (onde um corresponde áquilo que é a maior preocupação e cinco à menor

    preocupação) as cinco maiores preocupações, incluindo as alterações da fala. O DIP pode ser

    preenchido pela própria pessoa sozinha ou com ajuda. Todas as respostas foram incluídas com o

    objetivo de obter um valor para o impacto global; quanto mais baixo o resultado, maior o nível

    de impacto. O valor total do DIP é de 225 pontos e significa que a disartria não apresenta

    impacto psicossocial para a pessoa.

    Procedimentos

    O processo de investigação cumpriu os princípios éticos inerentes a uma investigação,

    assegurando o direito à privacidade, garantindo o anonimato e confidencialidade dos dados; o

    direito à participação voluntária das pessoas pela leitura e concordância do consentimento

    informado.

    Para a realização do presente estudo, os dados do grupo experimental foram obtidos a

    partir de alguns indivíduos que participaram no estudo de validação do DIP versão portuguesa

    (submetido para publicação), e os dados para o grupo de controlo resultam da aplicação do DIP,

    VHI e MMSE, pela autora principal, a pessoas saudáveis emparceirados por sexo e idade com o

    grupo experimental.

    Aos participantes do grupo de controlo foi-lhes entregue um documento onde puderam

    obter informação (apêndice 8.1) acerca do objetivo do estudo e verificar que todos os dados por

    eles fornecidos são de caráter confidencial, e que apenas serão utilizados para efeitos do presente

    estudo, de seguida procedeu-se à assinatura do consentimento informado (apêndice 8.2),. Depois

  • 27

    de assinado o consentimento informado, passou-se então à recolha de informação acerca dos

    dados sociodemográficos (apêndice 8.3) das pessoas saudáveis, à aplicação do questionário DIP,

    ao MMSE e ao VHI.

    Os instrumentos foram administrados apenas pela autora principal deste estudo, na casa

    de cada pessoa sem disartria e sem DP.

    Tratamento de dados

    Relativamente à análise estatística foi realizada estatística descritiva (medidas de tendência

    central e de dispersão). Para análise inferencial foram utilizados testes paramétricos, uma vez

    que os pressupostos para a sua utilização estavam cumpridos (N>30 e variáveis de natureza

    quantitativa). Quanto a análise comparativa foi realizado o t teste independente, e a análise

    correlacional foi através do coeficiente de Pearson.

    O programa informático utilizado foi o SPSS Statistics 22, e o nível de significância

    considerado foi de 0.05.

  • 28

    IV. Resultados

    4.1 Amostra

    A leitura da tabela 1 permite verificar que os sujeitos estudados são idênticos em termos

    de idade, sexo e estado mental (pelo facto de ser critério de selecção), mas são diferentes quanto

    ao nível escolar sendo menor no grupo de controlo.

    Tabela 1- Dados demográficos e clínicos

    O grupo experimental apresenta a DP em média há cerca de 11 anos e um estado motor

    global (MDS-UPDRS) moderado (tabela 1).

    4.2 Autoavaliação da voz e nível de preocupação com a disartria

    No dia do preenchimento do VHI todos as pessoas saudáveis e 61.4% das pessoas com

    DP auto-avaliaram as suas vozes como normais. Já 20.5% das pessoas com DP consideraram as

    suas vozes com alteração ligeira, 13.6% com alteração moderada e 4.5% como severa (tabela 2).

    Tabela 2- Resultado da autoavaliação da voz e preocupação com a disartria

    Em resposta à escala E do DIP (nível de preocupação com a disartria) para 50% das

    pessoas com DP a disartria representa a menor preocupação, 29.5% está ligeiramente

    preocupado, 9.1% está preocupado, 4.5% muito preocupado e para 4,5% é a maior preocupação

    (tabela 2).

    Pessoas com DP Controlo

    N 44 44

    Sexo Homens 26 (59.1%) 26 (59.1%)

    Mulheres 18 (40.9%) 18 (40.9%)

    Idade em anos (média±desvio padrão) /

    [intervalo de idades]

    63.3±11.2

    [42-87]

    63.3±11.2

    [42-87]

    Anos de escolaridade 7.9±5.18 5.3±3.64

    ISCED level 2±1.5 1.4±0.99

    MMSE total 27.6±2.13 27.9±1.93

    Duração da doença 10.8±6.99 ----

    MDS-UPDRS 73.2±33.9 ---

    Pessoas com DP Controlo

    N Normal

    27

    Ligeiro

    9

    Moderado

    6

    Severo

    2

    ------------- 44

    Normal

    44

    VHI

    total 18.56±23.66 35.44±16.67 58.67±16.42 80.5±19.09 ------------ 30.30±27.41 0.59±2.26

    N

    A menor

    preocupação

    23

    Ligeira

    preocupação

    13

    Preocupação

    4

    Muita

    preocupação

    2

    A maior

    preocupação

    2

    44 Normal

    44

    DIP

    total 202.8±25.6 197.8±23.75 194±35.2 191.4±28.28 187.5±10.61 184.3±26.3 217.3±26.3

  • 29

    4.3 Impacto psicossocial da voz e da disartria

    Na tabela 3 pode verificar-se que o impacto psicossocial da voz é superior nas pessoas

    com DP em relação às pessoas saudáveis (controlo) sendo a diferença estatisticamente

    significativa (t=7.163, gl=43.583, p

  • 30

    Na tabela 6 pode verificar-se que a diferença entre o grupo de pessoas com DP que consideram

    a disartria como a menor preocupação e o grupo de controlo é estatisticamente significativa (t=-

    7.763, gl=23.954, p

  • 31

    assim como com o VHI total (tabela 8). Ou seja, quanto maior a duração da doença maior

    preocupação os indivíduos com DP têm com a disartria. E ainda, quando os indivíduos com DP

    se auto-avaliam como tendo uma voz normal, menor preocupação deles com a disartria.

    Tabela 8- Coeficientes de correlação entre o DIP e as diferentes variáveis em estudo nas

    pessoas com Doença de Parkinson

    *p

  • 32

    V. Discussão

    5.1 Autoavaliação da voz e nível de preocupação com a disartria

    No presente estudo, as alterações na voz não foram tão evidentes quanto o que está

    descrito na literatura parâmetro4;19-22

    , uma vez que apenas 38,6% das pessoas com DP, ou seja,

    menos de metade do grupo experimental, avaliaram as suas vozes como tendo algum tipo de

    alteração. Contudo segundo Theodoros, Raming18

    , o aparecimento destas alterações são de

    progressão lenta ao longo da doença sendo que estes resultados podem estar relacionados com a

    fase em que a pessoa se encontra no que diz respeito à alteração da voz. Devemos ainda não

    esquecer de que o VHI é um questionário de autoavaliação, e portanto aquilo que as pessoas com

    DP perceberam da sua voz no momento da avaliação pode ou não estar de acordo com aquilo

    que realmente se verifica aquando uma avaliação clínica.

    De qualquer das formas, e comparando os resultados do grupo experimental (pessoas

    com DP) com os do grupo controlo (saudáveis), os resultados vão de encontro ao que vem sendo

    estudado por inúmeros autores64;66

    . Ou seja, é maior o número de pessoas que percebem ter

    alterações da voz no grupo das pessoas com DP do que no grupo controlo.

    A importância da perspetiva da pessoa com disartria para a obtenção de um correto e

    abrangente quadro de limitações nas capacidades comunicativas tem sido cada vez mais

    enfatizada. Assim, embora a abordagem clínica passe por avaliar e tratar o problema, hoje em dia

    pretende-se que seja dada especial importância à forma como a alteração da fala restringe a

    participação comunicativa e influencia na participação da pessoa nas tarefas do dia-a-dia29;58

    .

    Miller, Peach, Walshe1, no estudo onde examinaram as perceções das pessoas que

    adquiriam disartria concluíram que, embora a alteração da fala pudesse parecer um problema

    devastador para a pessoa, isto muitas vezes não se confirma. O mesmo se verificou no presente

    estudo, uma vez que das 44 pessoas com DP 23 avaliaram a preocupação da disartria como a

    menor preocupação e apenas 2 como a maior preocupação. Estes resultados podem ser

    explicados pelo facto de que a alteração física na DP afeta as pessoas de tal forma que a

    realização das atividades do dia-a-dia ficam altamente prejudicadas, agindo como precursores de

    limitações nas outras dimensões e sendo responsáveis pela diminuição da QV1;54

    . Assim, no

    momento da avaliação, as pessoas com DP consideraram que as alterações físicas são de maior

    preocupação e a disartria, na maior parte dos casos, de menor preocupação. Por outro lado, pode

    ainda estar relacionado com a aceitação e adaptação da alteração da comunicação, tal como se

    verificou em estudos anteriores 77;85

    .

  • 33

    5.2 Impacto psicossocial da voz e da disartria

    O impacto de uma alteração vocal na QV depende da importância da voz em relação aos

    diversos fatores particulares entre os quais a personalidade, o grau de gravidade da disfonia e as

    necessidades diárias do uso da voz, por exemplo a profissão60-62

    .

    Neste estudo, verificou-se que o impacto psicossocial da voz foi maior nas pessoas com DP

    do que nas pessoas saudáveis, sendo que à medida que o valor total do VHI aumenta, a

    autoavaliação da voz nas pessoas com DP piora. Estes resultados vão ao encontro aos diversos

    estudos descritos na literatura63-66

    , uma vez que neles se verificou que as pessoas com DP têm

    mais desvantagem na vida diária devido às alterações na voz do que as pessoas saudáveis.

    Verificou-se também que, mesmo comparando a autoavaliação da voz, referida como normal,

    das pessoas com DP com as do grupo controlo, o valor total do VHI permanece com uma

    diferença significativa entre este dois grupos. Ou seja, mesmo as pessoas com DP identificarem

    as suas vozes como normais, o impacto psicossocial é maior nelas do que nas pessoas saudáveis.

    Também para a disartria se verificou um impacto psicossocial maior nas pessoas com DP do

    que nas pessoas saudáveis, tal como aconteceu nos vários estudos encontrados na

    literatura1;4;76;77;79;83

    . Este impacto negativo da disartria na QV das pessoas com DP pode

    interferir na realização das atividades diárias, na interação social e na sua autoestima, podendo

    por isso levar muitas vezes ao isolamento social10;18;20

    . Esta afirmação é validada pelo facto de

    muitos estudos1;76;77

    compravarem que a reduzida capacidade para comunicar vai para além

    daquilo que é fisiológico, podendo causar mudanças negativas na autoidentidade, autoconceito,

    relacionamento com familiares e amigos, perturbações sociais e emocionais, participação e

    sentimentos de estigmatização.

    No presente estudo, o impacto psicossocial da disartria na DP foi aumentando à medida que

    o nível de preocupação com a mesma aumentou, o que sugere que quanto mais preocupante for a

    disartria para a pessoa com DP maior o impacto psicossocial na sua QV. Verificou-se ainda uma

    diferença estatisticamente significativa no menor nível de preocupação entre as pessoas com DP

    e o grupo controlo, continuando a disartria a ter um impacto psicossocial maior na QV das

    pessoas com DP do que nas saudáveis. Isto sugere que, apesar da maior parte das pessoas com

    DP identificarem a disartria como a sua menor preocupação, esta mantém um impacto

    psicossocial na QV de cada uma.

    5.3 Relação do impacto psicossocial com a duração da doença e o nível motor global.

    O nível de incapacidade da pessoa com DP pode ser prejudicado pelo comprometimento

    físico-mental, emocional e económico associados aos sinais e sintomas e às complicações

  • 34

    secundarias da DP, podendo ser responsável pelo isolamento e pela escassa participação na vida

    social 20;29;53

    .

    O presente estudo mostrou haver correlação positiva significativa moderada entre o resultado

    do VHI e a duração da doença e o valor total do MDS-UPDRS. Estes resultados mostram que o

    impacto psicossocial da voz nas pessoas com DP é tanto maior quanto maior a duração da

    doença; e ainda, que à medida que a DP vai agravando pior será a perceção da pessoa

    relativamente ao handicap da voz. Vários estudos64;65

    corroboram estes resultados, e sabe-se

    portanto que a duração da doença afeta negativamente o empenho em todas as atividades, sejam

    elas motoras ou cognitivas54

    .

    Brady, Kelly, Mackenzie, Muir, Paton81

    , não encontraram relação entre as dificuldades

    comunicativas percebidas pelos pacientes com diferentes tipos e graus de disartria e as diferentes

    variáveis (idade, género, diagnóstico, duração de doença e situação de emprego). Por outro lado,

    no estudo realizado por Letanneux, Pinto, Viallet, Walshe2, foi encontrada correlação forte entre

    o valor total do VHI e valor total do DIP. Os resultados do presente estudo vão ao encontro do

    que foi descrito no último, uma vez que a correlação encontrada na secção E do DIP (nível de

    preocupação da disartria) das pessoa com DP se relaciona de forma negativa e moderada com a

    duração da doença e com o score total do VHI. Significando estes dados que, quanto maior a

    duração da doença maior é a preocupação das pessoas com a disartria; e ainda que, quando as

    pessoas com DP identificam a sua voz como normal, a preocupação com a disartria é menor.

  • 35

    VI. Conclusão

    No presente estudo verificou-se que tanto a disfonia como a disartria têm impacto negativo

    na QV das pessoas com DP. Contudo, quando estas pessoas autoavaliam a própria voz, a maioria

    identifica-a como sendo normal, assim como o problema da fala (disartria) sendo o de menor

    preocupação comparado com outras preocupações.

    É importante referir que foram encontradas diferenças significativas entre os grupos, tanto no

    que diz respeito ao impacto psicossocial da voz e da disartria, como relativamente ao nível de

    preocupação da disartria, e ainda à autoavaliação da voz. Por outro lado, comprovou-se a

    existência de relação entre o valor total do VHI e a duração da doença e o valor total do MDS-

    UPRDS. Existiu também relação do sub-grupo “normal” da autoavaliação da voz com a duração

    da doença, e do nível de preocupação da disartria com a duração da doença e o valor total do

    VHI.

    Apesar de, hoje em dia, a intervenção terapêutica apresentar como principal objetivo os

    sentimentos pessoais físicos, psicológicos e sociais dos pacientes, incluindo por isso avaliações

    da QV e bem-estar da população, o presente estudo deparou-se com uma limitação acerca deste

    assunto2;3

    . A informação encontrada na literatura foi escassa e por isso a comparação de

    resultados com outros estudos limitada. Desta forma, é importante continuar a realizar estudos

    acerca desta temática, nomeadamente estudos em Portugal e nas demais patologias.

  • 36

    VII. Bibliografia

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