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Nome: Ingrid Santos Silva Curso: Terapia de Família Título: O papel do assistente social como terapeuta de família: limites e possibilidades. Capítulo I: A importância da família na constituição dos indivíduos Recentemente, o interesse em torno da ques tão da família vem ganhando espaço na atuação/intervenção de diversas áreas sociais; começa- se a dar uma atenção especial à família. Refletir sobre tal questão, significa pensar na interligação histórica, social e cultural, intersubjetivamente construída. “O termo família reveste-se da mais alta subjetividade” (Souza, 1997:19), pois é através dela (família) que se reproduz o espaço de sobrevivência, de desenvolvimento e de proteção aos seus membros, independentes de qual seja a forma em que esteja estruturada, seja no modelo mais tradicional, seja a partir dos “novos” arranjos familiares emergentes. Usualmente, conceituamos família como algo estático, definitivo e fechado, ligada por consangüinidade e/ou afinidade (casamento) dos sujeitos que compõem a mesma. A família surge como espaço de construção dos próprios sujeitos em que nela estão inseridos, que formulam tal espaço através do seu processo de vida, seus valores, suas condições emocionais, sociais e econômicas no contexto no qual se inscrevem, ou s eja, a família é uma construção sócio-cultural. Em sua formação, coube à família a principal função de ser responsável pela alimentação, proteção e desenvolvimento amplo de seus membros. Foi absorvido, então, pela família, através da estereotipagem, o rótulo de “lugar da felicidade”, mas notoriamente a família é um sistema que se transforma, agregando e desagregando elementos, modificando se os modelos e atitudes, contribuindo assim para as diversas definições de família. Em termos históricos, na década 40 houve uma transição demográfica que ocasionou uma queda rápida da mortalidade, atingindo intensamente a composição da família. Já na década seguinte (50), emergiu o acelerado processo de urbanização, acompanhado da industrialização e do crescimento econômico. A imagem em torno da família condensa-se na nuclearidade com vínculo indissolúvel. Posteriormente nas décadas de 60 e 70, houve um declínio de fecundidade que atingiu todas as camadas sociais. A família se complexifica, o vínculo torna-se vulnerável, surgem: divórcios, separações, recasamentos, etc. A família nuclear não é mais o único modelo. Tais acontecimentos contribuíram para que nas décadas de 80 e 90 surgissem novos modelos familiares, com vínculos transitórios, e a legitimação das organizações de famílias de baixa renda torna-se bastante notória. Em suma pode-se dizer que toda essa trajetória histórica afetou intensamente a composição, o tamanho das famílias, gerando uma redefinição dos papéis de gênero. Analisando a trajetória da família, percebe-se que houve, segundo Souza (1997), um desenvolvimento gradual e progressivo de um modelo

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Nome: Ingrid Santos Silva Curso: Terapia de Família Título: O papel do assistente social como terapeuta de família: limites e possibilidades. Capítulo I: A importância da família na constituição dos indivíduos Recentemente, o interesse em torno da questão da família vem ganhando espaço na atuação/intervenção de diversas áreas sociais; começa-se a dar uma atenção especial à família. Refletir sobre tal questão, significa pensar na interligação histórica, social e cultural, intersubjetivamente construída. “O termo família reveste-se da mais alta subjetividade” (Souza, 1997:19), pois é através dela (família) que se reproduz o espaço de sobrevivência, de desenvolvimento e de proteção aos seus membros, independentes de qual seja a forma em que esteja estruturada, seja no modelo mais tradicional, seja a partir dos “novos” arranjos familiares emergentes. Usualmente, conceituamos família como algo estático, definitivo e fechado, ligada por consangüinidade e/ou afinidade (casamento) dos sujeitos que compõem a mesma. A família surge como espaço de construção dos próprios sujeitos em que nela estão inseridos, que formulam tal espaço através do seu processo de vida, seus valores, suas condições emocionais, sociais e econômicas no contexto no qual se inscrevem, ou seja, a família é uma construção sócio-cultural. Em sua formação, coube à família a principal função de ser responsável pela alimentação, proteção e desenvolvimento amplo de seus membros. Foi absorvido, então, pela família, através da estereotipagem, o rótulo de “lugar da felicidade”, mas notoriamente a família é um sistema que se transforma, agregando e desagregando elementos, modificando–se os modelos e atitudes, contribuindo assim para as diversas definições de família. Em termos históricos, na década 40 houve uma transição demográfica que ocasionou uma queda rápida da mortalidade, atingindo intensamente a composição da família. Já na década seguinte (50), emergiu o acelerado processo de urbanização, acompanhado da industrialização e do crescimento econômico. A imagem em torno da família condensa-se na nuclearidade com vínculo indissolúvel. Posteriormente nas décadas de 60 e 70, houve um declínio de fecundidade que atingiu todas as camadas sociais. A família se complexifica, o vínculo torna-se vulnerável, surgem: divórcios, separações, recasamentos, etc. A família nuclear não é mais o único modelo. Tais acontecimentos contribuíram para que nas décadas de 80 e 90 surgissem novos modelos familiares, com vínculos transitórios, e a legitimação das organizações de famílias de baixa renda torna-se bastante notória. Em suma pode-se dizer que toda essa trajetória histórica afetou intensamente a composição, o tamanho das famílias, gerando uma redefinição dos papéis de gênero. Analisando a trajetória da família, percebe-se que houve, segundo Souza (1997), um desenvolvimento gradual e progressivo de um modelo

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“hierarquizado” a uma busca por um modelo “igualitário”, onde há uma transformação de organização e de valores, ou seja, uma horizontalidade de atribuição de gênero. Entende-se, então, que:

“a família hierarquizada caracteriza-se por estabelecer a uma ordem preestabelecida e, que homem e mulher considerados como intrinsecamente diferentes. O poder (..) era extremamente forte, com direito ao controle rigoroso da vida de todos os membros da família extensa. Sua autoridade incontestável funda-se no poder econômico.” (Souza, 1997: 24)

Diante do exposto, a família igualitária se diferencia, pois:

“a verticalidade das relações começa a ceder lugar à busca de uma horinzotalidade que caracteriza a ‘família igualitária’. As diferenças são mantidas, mas homem e mulher tende a se tornar iguais. (...) As diferenças tendem a ser negadas e há uma busca intensa das semelhanças.” (idem: 26)

Passa-se, então, a perceber a família como instituição que ultrapassa os laços biológicos, a heterossexualidade, para abranger assim vínculos afetivos, as preocupações com o cuidado, características essas que se tornam tão ou mais importantes a serem priorizadas. Diante disso Jay Haley (1971), um dos fundadores da terapia familiar, afirmou que família é um tipo especial de sistema, por possuir uma história, isto é, um passado e um futuro, não podendo assim, restringir a família aos relacionamentos consangüíneos. Completando tal conceito, Virgínia Satir (1972), a assistente social precursora do movimento de terapia familiar nos Estados Unidos da América, acrescentou que o grupo familiar é mantido unido por funções que se reforçam mutuamente, havendo a transmissão de valores culturais, que influenciam a natureza de todo sistema familiar. Diante do contexto mundial, falar de família significa entender o seu constante processo de transformação, compreendendo assim a sua pluralidade, característica que vem sendo legitimada através das modificações e estruturações que a família têm sofrido nos últimos tempos, impossibilitando identificá-la como um modelo único e ideal. O conceito de família não é mais unívoco para todas as épocas e culturas, pois:

“ mais importante que família definida é família percebida, quer dizer, as pessoas a quem consideramos como sendo da família em sentido próximo, aqueles com quem partilhamos vínculos de afeto e intimidade, aqueles em que confiamos mais ao longo dos anos, da distância, a partir de e para além de laços de sangue.” (Gimeno, 2001:39)

A pluralidade dos diversos modelos familiares, impossibilita-nos a atingir um consenso de definição única de família. Perceber tal diversidade abrilhanta

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a nossa perspectiva e contribui para redimensionarmos a nossa visão em relação a mesma, visto que:

“a diversidade de estruturas e de modelos familiares é evidente, quer numa perspectiva transcultural quer numa mera análise de todos os modelos predominantes no nosso contexto.” (idem: 19)

Atualmente, a situação da família é delimitada pelos problemas sociais de natureza diversa, que existe no contexto mundial. Tal fato manifesta a suscetibilidade da família, o que nos impõe um contínuo acompanhamento ao processo de mudança que afeta. A “nova definição de família tornou-se mais inclusiva e generalista, pois reconceituou e ampliou o espaço familiar, tornando-se o foco das atenções da multidisciplinaridade. Segundo Focault”:

“a família não deve ser mais apenas uma teia de relações que se inscreve em um estatuto social, em um sistema de parentesco, em um mecanismo de bens. Deve-se tornar um meio físico denso, saturado, permanente, contínuo, que envolva, mantenha e favoreça o corpo (...) (1979: 19)

A família continua a existir,mas na sua trajetória histórica a pluralidade tornou-se característica ímpar. Tal pluralidade é determinada pela multiplicidade étinico-cultural enraizada na história das mesmas. Segundo Rita de Cássia Freitas “o mundo familiar mostra-se, na realidade ‘vivida’, com variedade enorme de formas, de organizações, de crenças, valores e práticas.” (2000: 03). A multiplicidade dos arranjos familiares no Brasil se caracteriza pela trajetória da família nuclear extensa transformada em família nuclear, que transformou-se também, monoparental e/ou unipessoal. Pensar na família na pluralidade significa construir uma organização baseada na democracia e na aceitação das diferenças, ou seja, tolerar a diversidade do outro. Alguns modelos de família brasileira são:

· Família nuclear (pai, mãe e filhos). É o modelo que ainda predomina na organização familiar, embora dados do IBGE nos afirmem que houve uma diminuição significativa.

· Família monoparental, que vem alargando seus índices devidos às

mudanças no mundo do trabalho. Há uma prepoderânica das mulheres como chefes e/ou provedoras da casa, sem a presença do companheiro ou vice-versa.

· Família unipessoal. É cada vez maior o número de pessoas que optam

viver só. Os motivos são múltiplos, mas em suma pode-se dizer que a modernização assegurou-lhes essa opção.

· Família homossexual, que gradativamente tem conquistado o seu

espaço através da luta pelo reconhecimento como modelo familiar.

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· Família do recasamentos ou recomposta, que são formadas a partir da

segunda união. Tal arranjo gera uma estruturação formada por irmãos de pais diferentes ou meio-irmão, com vários avós, tios e outros.

· Família afeiçoada, que é caracterizada pelas ligações de afetividade, ou

seja, pelos vínculos dos sentimentos que unem pessoas com a mesma origem (vínculos consangüíneos) ou outra etimologia (desvinculando-se dos laços biológicos). Exemplo desse arranjo são famílias compostas por primos, amigos, “compadres”, etc.

· E assim sucessivamente.

(Mioto, 1997 e Souza, 1997)

Independente de qual seja o modelo familiar, todos buscam conquistar a

“felicidade” em suas próprias concepções, ou seja, a unidade e coesão familiar. Pois:

“Estas famílias, (...) tiveram de assumir o desafio que é necessário para viver de uma forma divergente, com uma composição e estrutura familiar diferente, com um modelo diferente de contribuir para o desenvolvimento pessoal e social dos seus elementos, com o fim de construírem uma sociedade diferente.” (Gimeno, 2001: 71)

Podemos afirmar que a definição de família hoje está para além do biológico, pois se legitima também pelos laços de amor, intimidade, sentimentos, etc. Obviamente que nem todos os modelos se encontram no mesmo nível de aceitação visto que:

“Face às muitas estruturas familiares novas afastadas da norma, não restam dúvidas que há um sem-fim de espectadores com diversas atitudes, indo da compaixão à rejeição, da indiferença ao respeito, da tolerância ao apoio.” (idem: 72)

Os novos modelos familiares terão que enfrentar as dificuldades normativas e as inerentes à sua própria peculiaridade, ou seja as família atuais têm muitos desafios para assumir e problemas para resolver, para manterem a própria identidade e coesão da família. A família busca a sua própria identidade, desenvolvendo elementos diferenciais que a faça sentir-se como unidade diferenciada do contexto e dos outros modelos familiares. Assim sendo, podemos dizer que a família é uma instituição universal, e aparentemente eterna, pois de acordo com Souza (1997) não foi descoberta outra formação humana capaz de substituí-la e não há quem não tenha família (ainda que não conviva com a mesma), e sempre estaremos inseridos em “várias famílias”. Tal termo é usado pela autora para “globalizar” o conceito de

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família, pois qualquer indivíduo em sua formação, crescimento e desenvolvimento, pertence às varias famílias. Em geral, podemos caracterizar essa variedade de famílias como uma totalidade dos sistemas que constituem um indivíduo, por exemplo: temos a família dos ancestrais, a da infância, a do ínicio do casamento, a da terceira idade, a da nacionalidade, a da religiosidade. Característica que pertencem a cada etapa do nosso ciclo vital, e que nos identifica ou nos “familiariza” com outros indivíduos que estam na mesma fase do ciclo. Quando estamos na infância nos relacionamos, nos “familiarizamos” com outras crianças, ou seja, nos identificamos com a maneira de agir, de vestir, entre outros. O mesmo acontece em relação a nacionalidade, religiosidade, que leva-nos a identificarmos com o nosso “irmão”, dando a possibilidade do surgimento de redes de solidariedade mútua. Esse espaço estabelecido por essa variedade, é um espaço que se alarga e se estreita, aumenta e diminui, totalmente mutável de acordo com o ciclo da vida do indivíduo. Pensar a família na realidade brasileira nos leva a fazer uma análise social, política e econômica do nosso contexto. O processo de industrialização e modernização no Brasil gerou uma alarmante desigualdade social, onde um contingente humano passou a ser excluído, perdendo o direito de exercer sua cidadania. A precarização da força de trabalho, a perda dos direitos sociais, a insegurança na renda, o desemprego estrutural, entre outras, são características que atingiram, também, a estrutura familiar. Muitas pesquisas demonstram-nos que os índices da pobreza têm crescido em proporções desumanas, dando-nos em ranking mundial, o título de um dos campeões das desigualdades sociais. O crescimento da pobreza é indubitável, e segundo Paiva & Oliveira & Gomes (2000) tal crescimento vem sendo produzido através: das contradições decorrentes das mudanças tecnológicas no processo produtivo, com seu impacto no mundo do trabalho; da hegemonia mundial do neoliberalismo; dos efeitos da globalização nos países do eixo sul; etc. Em suma, para essas autoras, a pobreza se constitui com uma das manifestações concretas da exclusão social como um fenômeno de abrangência mundial. A família passou, então a se organizar em torno da produção para seu próprio sustento. Nesse contexto, o Estado se posicionou de acordo com as forças dominantes, passando a manter os mecanismos do mercado e as relações capitalistas de produção, tentando (camufladamente) prestar serviços assistencialistas através das “falidas” políticas sociais, que não são universais devido a grande desigualdade social. De acordo com Faleiros: “as políticas sociais asseguram a manutenção do trabalho como forma de vida normal, isto é, não devem contribuir para desestimular os trabalhadores a viver da venda da força de trabalho e preferir benefícios.” (1991: 38 e 39) O que é notório é o caráter excludente dessas políticas em relação aos trabalhadores e suas famílias. Diante da descentralização das políticas sociais, cabe à família se fragmentar para a sua auto-sobrevivência em um sistema econômico inflexível. “A família passa a ser a principal força de sustentação do desenvolvimento da riqueza social do país” (Ferez, 1997: 51). Sendo assim, a relação social de exploração do capitalista em relação ao trabalhador é a condição do processo de acumulação. Por esse motivo, torna-se fundamental

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manter o trabalhador vivo e produtivo, através das políticas sociais que visam tornar disponível e operável a mão-de-obra em condições razoáveis de existência. Vale ressaltar que, diante de profundas transformações, a família passou a ser questionada como instituição falida, incapaz de ser “útil” nas relações dos seus membros. A família continua a existir e presta um serviço insubstituível para o desenvolvimento e apoio pessoais. Pois:

“a família não só não morreu como se mantém sendo principal espaço de proteção da integridade pessoal dos seus membros, (...) a família mantém-se como espaço-chave para a configuração da própria identidade. (Gimeno, 2001: 24)

Não sendo uma instituição falida, a família, em qualquer organização e com suas peculiaridades específicas, mantém vivo duas funções básicas: o desenvolvimento de seus membros e a socialização. O desempenho dessas funções dinamiza a vida familiar e leva a família viver em constante processo de transformação, possibilitando o desenvolvimento pessoal necessário e adequado, e uma socialização ativa de seus membros, mantendo assim, a sua própria identidade familiar. De acordo com Gimeno (2001) a socialização é um processo através do qual o indivíduo interioriza as normas do seu meio socio-cultural, se integra e adapta à sociedade convertendo-se num membro da mesma e sendo capaz de desempenhar funções que satisfaçam as suas expectativas. Sendo assim, a família não é o único agente de socialização, visto que a escola, os amigos, os grupos formais e informais também socializam. Mas a família mantém uma característica ímpar, pois influência de maneira direta na socialização, pois:

“é a família quem desenvolve na pessoa um sistema de valores, atitudes, crenças, reportados aos aspectos mais importantes da vida: trabalho, família, humanidade, sociedade, cultura, amizade, natureza, transcendência; de forma definitiva é ela quem contribui decisivamente para criar um modo de perceber a realidade física e social e um modo de se entender a si mesma. (idem; 61)

Diante disso, dizer que a família não cumpre com as suas tarefas básicas é entrar em uma análise extremista, pois o que se pode dizer é que a família não está “cumprindo” economicamente o que exigem dela, sendo tal fato uma imposição do sistema atual, acarretando conseqüentemente a “pauperização” das mesmas. A vida familiar depende efetivamente e eficazmente das condições para a sua sustentação. Logo, pode-se deduzir que o significado de família para a população mais empobrecida não é o mesmo que para as classes médias e eletizadas, isto porque: “as famílias pobres são marcadas por uma grande instabilidade familiar (Freitas, 2000: 18)”. Os papéis sociais exercidos por gênero foram dissolvidos e associados por ambos, surgindo uma flexibilização de funções sociais. A família pauperizada encontra-se obrigada a incorporar estratégias para garantir a sua sobrevivência e de seus membros. Nesse processo de sobrevivência, lhe é

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vetado o direito de atuar como cidadã, acarretando muitas vezes condições sub-humanas para a manutenção. Nesse contexto, a família pauperizada passa a depender dos serviços públicos e ou das instituições assistenciais da rede privada. Segundo Aciléia Ferez (1997), questionar as conseqüências dessas políticas públicas de assistência e o significado das instituições para esses segmentos pauperizados, constitui um desafio para as categorias sociais, visto que é necessário compreender a família nessa conjuntura. A família pauperizada se organiza como unidade de sobrevivência, em um espaço de solidariedade e de luta em comum. Os excluídos que compõem este arranjo familiar se articulam através de uma rede social com a existência de uma solidariedade mútua, onde se ajudam e se “fortalecem” reciprocamente. É importante destacarmos, também, que quanto mais pauperizada a família, maior a participação dos filhos na complementação da renda familiar, acarretando uma evasão escolar, direito que burocraticamente é assegurado pela Lei Suprema do País. Infelizmente, as políticas sociais para a família pauperizada não suprem as necessidades econômicas, corroborando para que os índices de precariedade no alcance das prerrogativas da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional sejam gradativamente aumentados. O que nota-se é que os pobres são desqualificados, ignorados ou tratados com inexistentes. Diariamente, inúmeras famílias enfrentam situações que ameaçam seus vínculos e sua subjetividade. Pode-se afirmar que, quando uma família vive tais situações, toda a sociedade e o próprio sistema malogram, pois tais famílias foram abandonadas pelas políticas públicas e pela sociedade. Caberia ao Estado ser uma alavanca para fortalecer este grupo, dando-lhes o apoio necessário para o seu bem-estar e execução das suas responsabilidades. Diante do exposto até aqui, podemos assegurar que as desigualdades entre ricos e pobres é notória no Brasil. De acordo com Maria do Carmo B. Carvalho (2000), o Brasil vive hoje um verdadeiro “apartheid social” entre ricos e pobres, que é legitimado pelo alarmante índice de desigualdade social. Em relação às famílias de classes média e alta, sua organização gira em torno de uma outra realidade, que possibilitam desempenhar com maior facilidade seus papéis na ordem familiar. Tais famílias têm inúmeros serviços especializados a seu dispor: empregos bem remunerados e aparentemente estáveis, direitos trabalhistas, acesso à escola, ao lazer, a assistência médica, à habitação, e outros, garantindo uma perspectiva de “totalização” das atenções aos seus membros. De acordo com Bilac (1995), o “fluxo de riqueza se orienta no sentido pais-filhos” o que é característica oposta na família pauperizada. Nas famílias de classe média e elitizada, os filhos são (primordialmente) os receptores de todo um conjunto de investimentos materiais, emocionais e simbólicos dos pais. Tal modelo., por outro lado reforça o individualismo, pois, desde cedo as crianças passam a ser o centro das atenções, e conseqüentemente carregam com si desejos e necessidades que passam a ser predominantes em suas relações sociais. Já nas famílias empobrecidas, o fluxo de riqueza se organiza no sentido pais-filhos-pais, principalmente na organização econômica, ou seja, nessas famílias os filhos são também provedores complementares. Percebe-se que,

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seja na estrutura atual, ou em outro período histórico, as famílias pauperizada sempre enfrentaram inúmeras dificuldades. Aqueles modelos de família (classe média/alta) não enfrentam de forma cruel e excludente as contradições do sistema econômico, logo, geralmente não convivem com a fragmentação da família e fragilização dos vínculos e da subjetividade, o que pode vir a ocorrer por outros motivos que não sejam econômicos. O bem-estar de tais famílias está assegurado ou tem essa probabilidade, pois o nível de rendimento é indubitável, ou seja, apesar das modificações e da crise no mundo do trabalho, a renda familiar necessária para a sobrevivência é atingida. Culturalmente enraizados, os modelos de família de classe média e alta são considerados modelos de família ideal, sem que haja qualquer questionamento sobre tais estruturas e sobre a perspectiva do cuidado ao seus membros, ou seja, a sociedade ainda é vinculada ao modelo tradicional de famílias, enfocando a relação pobreza-família irregular. O fato das famílias de classe média e elitizada apresentarem o fator econômico “a favor” das mesmas, isso não significa que não haja conflitos e problemas nessa esfera familiar. Cada ciclo da vida exige uma nova forma de lidar com o desconhecido, acarretando mudanças individuais, e de todo o grupo. Sem dúvida alguma, é necessário que o Estado priorize a família na agenda da política social, desenvolvendo com urgência uma política de qualidade com objetivos de erradicar a miséria, acoplando a um projeto política de compromisso ético para com as famílias brasileiras. Independente de qual seja a classe de origem da família, um fator é indiscutível: a importância da família na constituição do indivíduo. Ter ou pertencer a uma família significa compreendermos a nossa própria identidade social. “A família é estabelecida como valor comum a todos os seus membros” (Barros, 1997: 116). A presença da família na construção dessa identidade é um papel fundamental para reprodução social. O vínculo familiar é compreendido como “sistema comportamental a garantir a sobrevivência” (Vicente, 2000: 49). De acordo com Medina (1997: 14), “no Brasil, é preciso acentuar, a instituição familiar foi uma das instituições importantes da constituição de nossa sociedade, senão a mais importante.” Através do relacionamento intra e inter familiar, é possibilitada a ampliação do espaço de socialização e a restituição social dentro da família, fator que fortalece o indivíduo, assegurando ao mesmo a oportunidade de reforçar sua cidadania. Não estamos afirmando aqui que o espaço familiar será repletos de infinitos momentos de felicidade, mas por ser um espaço onde as diferenças individuais habitam, o mesmo constituirá de limitações, sofrimentos, sentimentos, o que indiscutivelmente é essencial para a construção do ser social. Pois:

“há uma preocupação com a família como reduto protetor dos sentimentos e emoções, mas há também a preocupação dela se transformar em um ambiente sufocador das iniciativas de seus membros fora de seu âmbito familiar. (Medina, 1997: 24).

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Segundo Mioto, “ainda não descobriram outra forma mais eficiente de ensinar gente a ser gente” (1997: 120) A família é a célula mater da sociedade, devido esta característica o grupo está interligado, sua origem, seu desenvolvimento e o seu crescimento, para que o mesmo possa a vir ser um sujeito de direito participante da sociedade. Em suma, podemos dizer que a família tem inúmeras especificações sócio-culturais indispensáveis para a formação e desenvolvimento do indivíduo. O indivíduo influência e é influenciado por seu grupo familiar diariamente, ocasionando características ímpares a cada família. A interdependência mútua que a família, indivíduo e sociedade tem gera um relacionamento de trocas imprenscidível para os três (indivíduo, família e sociedade), gerando um mecanismo de defesa, nutrição e crescimento. A proteção, a manutenção, o cuidado são características historicamente absorvidos pela família. Não importa a sua organização (modelo) a família ainda é uma instituição valorizada, que tem responsabilidades enraizadas na sua formação. Em suma, a família está sempre vinculada ao processo de estruturação e reestruturação do indivíduo, criando conseqüentemente seu “espaço de ação” (Bilac, 1995). A questão relevante então seria ampliar tal espaço de ação possibilitando a “cidadanização das famílias” (Mioto, 1997). Na verdade a família passa a ser julgada como instituição que tem a obrigação de satisfazer às necessidades individuais, ou seja, que cada membro tenha sua plena realização, o bem-estar individual. Mas o mais importante é tentar contribuir para que a família crie condições que lhe permitam descobrir-se, compreender e ampliar o seu espaço, possibilitando, assim, o redimensionamento de alternativas para a construção da sua própria identidade. A tentativa desse capítulo foi de refletir, diante das inúmeras modificações ocorridas na família, sua origem, sua estruturação e suas ambições, a importância da mesma na constituição do indivíduo. A idéia de contribuir para a elaboração de uma prática profissional que reconheça e compreenda a família na sua totalidade, como sendo atravessada constantemente pelos níveis históricos, sociais, culturais, econômicos e políticos; e que esteja embasada em um compromisso ético-político para a formulação e implantação de políticas sociais eficientes capazes de atender as necessidades da família brasileira. E é com esse olhar que buscaremos compreender a importância da percepção da totalidade humana para a construção de um novo olhar sobre a família, e conseqüentemente buscar enfrentar a realidade do “novo” que se apresenta-nos de forma efetiva e eficaz, objetivando o fortalecimento da esfera familiar para a legitimidade da sua identidade, autonomia e cidadania.

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Capítulo 2 – Família e Terapia Familiar: a percepção da totalidade humana 2.1 – A importância da interdisciplinaridade na construção da totalidade humana Pensar na trajetória histórica, social e cultural intersubjetivamente construída em torno da família, contribui para a compreensão e construção da totalidade humana, O relacionamento intra e inter familiar possibilita a ampliação do espaço de socialização reforçando a identidade social. A presença da família na construção dessa identidade é um papel fundamental para a reprodução social. No entanto, quando nos referimos à família devemos ter a sensibilidade de não difundir a reflexão. Para não cometermos esta atitude errônea devemos contextualizá-la, ou seja, inserir a família dentro do seu contexto histórico, social, econômico, cultural, étnico e religioso de sua época. Numa sociedade pós-industrial e pós-moderna, a família vem se adaptando diante das diversas mudanças: redefinições das funções e dos papéis dos seus membros, as relações de gênero, a reestruturação no mundo do trabalho, a retração do Estado, entre outras. Diante de uma política social que constantemente muda, segundo Maria de Lourdes Manzini-Couvre in Freitas (2000) “as pessoas vão, pouco a pouco se fazendo”, ou seja, estamos constantemente nos formando e contribuindo para a formação de diversas identidades sociais, Pois:

“... não temos uma identidade única, definitiva, mas somos compostos de vários’eus’; nem só o público nem o privado; nem apenas o trabalho nem a família.” (Freitas, 2000:3)

Pode-se afirmar então que:

“(...) o que caracteriza a família (...) numa sociedade pós-moderna é justamente a inexistência de um modelo dominante, seja no que diz respeito às praticas, seja enquanto um discurso normatizador das práticas”. (Vaistsman, 1994:19)

Pensar no individuo de forma isolada significa abster-se da compreensão da “totalidade humana” inter construída e relacionada, e enveredar-se para a tendência errônea da fragmentação do sujeito. Mas para a nossa sociedade contemporâneo a vida cotidiana é fragmentada, descontínua e heterogênea, Assim sendo:

“Ao valorizar as experiências particulares de grupos e indivíduos, as tendências pós-modernas rejeitam qualquer

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idéia de totalidade, desde a concepção de uma história universal da humanidade até o domínio de um único estilo ou soluça técnica”.(Idem: 43)

Compreender e legitimar a totalidade humana são uma tarefa árdua, visto que a fragmentação é um fenômeno social aportou de uma trajetória do pós-modernismo. Tendo em conta essas questões, “a família hoje pode ser vista como uma caixa de ressonâncias dos problemas e desafios deste século, que envolvem problemas de ordem ética, econômica, política e social. (Mioto, 1997:121)”. Dessa forma, pode-se dizer que:

“... em se considerando a história, todo o movimento que está ocorrendo no interior das famílias e nas suas formas de inserção no contexto social pode ser entendido como uma luta pela sua sobrevivência, não apenas no sentido estrito da palavra (uma vez que aumenta a cada dia o número de famílias em condições de miséria), mas especialmente no sentido de preservação do próprio grupo enquanto lugar de vida”.(Mioto, 1997:122)

Entende-se, então, que há uma necessidade de se estabelecer processos de atenção às famílias, que as auxiliem a enfrentar tais desafios e ensejem novas articulações que sejam presságios de uma condição humana melhor. Pensar nos processos de atenção às famílias exige-nos a compreensão de todo o conjunto de ações e propostas que interferem na vida familiar. Segundo Mioto (1997), tais processos poder ser articulados em três pilares: as políticas sociais, o modelo assistencial vigente nos espaços institucionais e as demandas específicas de cada grupo familiar. Quanto aos processos de atenção à família nos espaços institucionais estão estabelecidos para trabalhar na perspectiva do “usuário-problema”. Dessa organização deriva um modelo assistencial cujo objetivo é a resolução da problemática do usuário. Ou seja, o usuário atendido é o idoso, a criança, o adolescente, etc, e conseqüentemente suas situações específicas. Podemos dizer então, que esse modelo tem uma leitura limitada das demandas que lhe são colocadas. “A leitura que se faz da família nesta situação é a de auxiliar o ‘diagnóstico’ e o ‘tratamento’do indivíduo. Por isso ela tende a ser parcial e localizada. (Mioto, 1997:123)”. Nessas instituições trabalham com as famílias no sentido de atender o objetivo institucional, pois estas não conseguem perceber a família como um todo e não apenas um membro dela que necessita de atenção. Nessa leitura de que a família é uma unidade, os problemas apresentados pro ela devem ser analisados dentro de uma perspectiva de totalidade. O reconhecimento da família como totalidade implica também reconhece-la dentro de um processo de contínuas mudanças. Vale acrescentar que, sob esta ótica, é indispensável discutirmos sobre interdisciplinaridade, visto que a mesma é um instrumento de solidificação e

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legitimação do pensamento que apregoa a totalidade humana, contribuindo para op auxílio do indivíduo e da família na compreensão e aceitação da diversidade reafirmando, assim, suas identidades. A conceituação de interdisciplinaridade é, até hoje, uma tarefa inacabada. Ela é algo pressentido, desejado, buscado, mas ainda não atingido. Por isso que os profissionais de todos os campos de pensamento que acreditam na interdisciplinaridade diligenciam para ã constituição da mesma. Segundo Severino in Sá (2002) a interdisciplinaridade diz respeito a uma tentativa do Saber, pois buscar vias de interdisciplinaridade é tarefa que inclui um necessário acerto de contas com o Positivismo bem como uma reavaliação de sua herança, visto que:

“O Positivismo torna-se, portanto, no limiar da contemporaneidade, o maior responsável pela fragmentação do Saber e o maior obstáculo ã própria interdisciplinaridade. (Severino in Sá, 2002:15)”.

Diante desse pressuposto:

“Não se trata de substituir as especialidades por generalidades, nem o seu saber por um saber geral, sem especificações e delimitações (...), o que se busca é a substituição de uma Ciência fragmentada por uma ciência unificada”.(Idem: 15-16)

A visão fragmentada da ciência oriunda do Positivismo no contexto do mundo contemporâneo, relaciona-se com o processo de divisão técnica do trabalho, e conseqüentemente corresponde a divisão social do trabalho, Isso trouxe graves conseqüências na estruturação da sociedade e na alocação do poder político entre as classes sociais. É nessa linha que o problema da interdisciplinaridade se redimensiona, pois a visão interdisciplinar se faz necessário no âmbito da teoria e no âmbito da prática. Uma concepção unitária do Saber visando a totalidade do ser, não significa que deva ser constituída uma espécie de “superciência única”(Severino in Sá, 2002), nem que o real seja algo intrinsecamente homogêneo e indiferenciado, mas:

“Para se constituir, a perspectiva interdisciplinar não opera uma eliminação das diferenças: tanto quanto na vida em geral, reconhece as diferenças e as especificidades, convive com elas, sabendo contudo que elas se reencontram e se complementam, contraditoriamente e dialeticamente. (...) A atitude interdisciplinar exige ainda a superação da preconceituosa afirmação de incompatibilidade entre Ciência e a filosofia.”( Idem: 20-21)

Neste contexto, é preciso que a equipe multidisciplinar busque e pratique a interdisciplinaridade, uma postura político-ideológica, pois é através dela que as fronteiras entre as diversas áreas relativas ao homem ficarão dissolvidas.

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Não se pretende que a autonomia e a identidade de cada especialidade sejam ignoradas no processo de interdisciplinaridade, mas que tais características sejam respeitadas sem serem levadas ao extremo, para que não haja um isolamento inadequado da realidade humana. Pois:

“O homem é uma unidade que só pode ser apreendida numa abordagem sintetizadora e nunca mediante uma acumulação de visões parciais. De nada adianta proceder por decomposição de aspectos: esta soma não dará a totalidade humana. É preciso... praticar... uma dialética entre as partes e o todo, o conhecimento das partes fornecendo elementos para a construção de um sentido total”.(Severino in Sá, 2002:17)

E é sob esta ótica que se apregoa a co-participação da família no seu processo de tratamento. Nesse sentido, em vez de pautar-se na busca de soluções de cada especialidade para a problemática, preocupa-se em desenvolver a possibilidade de ajudar a família a identificar sua fontes de dificuldades e a realizar mudanças (dentro dos limites de cada especialidade) para que possam alterar sua situação. Em suma, pode-se afirmar que:

· A interdisciplinaridade é uma relação de reciprocidade, de mutualidade, que pressupõe uma atitude diferente assumida frente ao problema de conhecimento, isto é, substituir a concepção fragmentária pela unitária do ser humano.

· A interdisciplinaridade não se ensina, nem se aprende, simplesmente vive-se, exerce-se, e por isto exige uma nova pedagogia, a da Comunicação.

· A interdisciplinaridade é uma questão de atitude, e o que se pretende não é anular a contribuição de cada Ciência em particular, mas uma atitude que impeça o estabelecimento da supremacia de certas Ciências, em detrimento de outras.

(Sampaio in Sá, 2002) Constatamos, então, que a interdisciplinaridade é difícil e complexa, e traz em seu bojo a trajetória histórica de cada profissão, a postura ideológica, pessoal e profissional de cada elemento da equipe e as relações sociais que implicam a conquista de espaços e a competitividade, originárias da própria estrutura social, onde está presente a variável da divisão social do trabalho, vinculada ao modelo capitalista dependente.

Diante do exposto até aqui, pudemos compreender a importância da interdisciplinaridade na construção da totalidade humana, desmistificando algumas idéias errôneas em torno da mesma. Abordaremos, então, no próximo item o impacto da mesma na Terapia Familiar.

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2.2 – Breve considerações em torno da Terapia Familiar. Diversas áreas cientificas, voltadas para o estudo do comportamento humano, observava uma pessoa individualmente. A convergência das ideologias fez com que, na década de 50, nos Estados Unidos da América desenvolvesse a Terapia Familiar, com a sua multiplicidade de teorias e práticas. Mas, segundo Souza (1997) a primeira experiência de Terapia Familiar foi o atendimento do“Pequeno Hans”, por Freud em 1909, pois o mesmo utilizou o pai do paciente para transformar a dinâmica familiar. De acordo com a autora, em 1921 Flugel publicou o primeiro artigo específico: “The Psychoanalytic Study of the Family”. Ainda na década de 20surge um movimento nos Estados Unidos da América (EUA) conhecido como Child Guindace, que incitou os assistentes sociais a manifestar o interesse em atuar com as famílias. Já na década de 30, há o aparecimento nos EUA do aconselhamento conjugal. Paralelamente acontece no país o 9 Congresso Psicanalítico com a temática: “Neurose Familiar”, onde discutiu-se a influência da neurose individual no âmbito familiar. Na década de 40, com a consolidação dos conselheiros conjugais, surge a Associação Americana de Conselheiros Matrimoniais. Na Inglaterra paralelamente, surge um movimento semelhante. Segundo Souza (1997), o aconselhamento matrimonial foi extremamente relevante para o desenvolvimento da Terapia Familiar, pois enfatizou o caráter interdisciplinar devido a formação dos profissionais nas clínicas que era composta por: assistentes sociais, psicólogos, sociólogos, entre outros. Na década de 50, com a Segunda Guerra Mundial Bion desenvolve a grupoterapia para atender aos soldados. Alguns conceitos utilizados por Bion forma fundamentais para a Terapia Familiar. Nesta mesma época, com o crescimento da psicanálise, os terapeutas se conscientizaram do poder familiar influenciando o tratamento. No final da década de 50, o grupo liderado por Bateson explanou uma teoria que baseiava-se na analise da comunicação e uma de suas características essenciais é o “duplo vínculo”.Tais escritos contribuíram de forma direta na ampliação da Terapia Familiar, pois considerava a família como “unidade da disfunção” (Souza, 1997). Já na década de 60 é fundado o Ackerman Institute, onde publicou o primeiro periódico especializado: Family Process. Em 1964, Minuchim assume a direção da Philadelphia Child Guindance Clinic, pregando a importância da família no tratamento. Na década de 70 a Terapia Familiar conseguiu ocupar um espaço próprio com a grande divulgação da Terapia Familiar Sistêmica. Conforme os escritos de Souza (1997), a década de 80 pode ser considerada como os primeiros da Terapia Familiar enquanto método terapêutico, com uma teoria e prática específica. Houve um afloramento da temática, com o surgimento de cursos, instituições, pós-graduações, entre outros; voltados para o aperfeiçoamento dos profissionais ligados ao atendimento à família(dentro de uma linha de Terapia Familiar Sistêmica).

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2.2.1 - Teoria Geral dos Sistemas Com tudo que foi exposto até aqui, podemos dizer que, até a década de 60, o pensamento científico ligado ao estudo co comportamento humano, observava o ser individualmente. Sendo assim percebia-se que o tratamento individual trazia algum tipo de afetação na esfera familiar. Tal fato contribuiu para que os pesquisadores buscassem novas explicações, e conceituações, ou seja, outro referencial que desse subsídio à família. Em 1972, Ludwig Von Bertalanfly desenvolveu a Teoria Gera dos Sistemas (TGS). Nesta teoria, Bertalanfly apresentou uma visão circular de uma sistema aberto em estado de equilíbrio, ou seja:

“a família pose ser considerada como um sitema aberto, devido ao movimento de seus membros dentro e fora de uma interação uns com os outros e com sistemas extrafamiliares (meio ambiente – comunidade). A família tende também a funcionar como um sitema total. As ações e comportamentos de um membro influencia e simultaneamente são influenciados pelos comportamentos de todos os outros.” (Calil, 1987:17)

Diante disso é essencial sabermos que existem sistemas inanimados e sistemas vivos. Os sistemas inanimados, segundo Souza (1997), podem ser comparados aos aparelhos eletrônicos, onde se uma peca que compõem o mesmo não estiver em pleno estado de funcionamento acarretará a interrupção e/ou a inexistência do sistema. Já os sistemas vivos, de acordo com a autora, “dependem das trocas com o meio circundante para manter sua integridade e funcionamento (1997:62)”. Um exemplo de sistema vivo é a família que compõe um sistema de interação, composto por partes ligadas entre si, de forma que uma mudança em uma das partes acarretará mudança em todo o sistema e nos seus elementos. Conforme Souza (1997) o universo é composto de vários sistemas que variam de tamanhos. Aos sistemas menores denomina-se subsistema. Aos sistemas maiores chamamos de supra-sistema. Entender essa organização é perceber que a problemática desenvolvida na esfera familiar é resultado das inter-relações A visão sistêmica transcende a idéia de que a família é a soma dos indivíduos e/ou das partes pois:

“o sistema não é uma soma das partes, e sim uma organização interdependente, na qual o comportamento e a expressão de cada uma destas partes influencia e é influenciada por toas as demais, (...) e possui características próprias. O todo para ser compreendio tem que ser observado através de sua globalidade.”(Souza, 1997:72)

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Na esfera familiar é importante observar os subsistemas como uma totalidade, pois essa percepção possibilita subsídios para entender os conflitos intergeneracionais. De acordo com os pesquisadores a estabilidade familiar é proveniente da retroalimentacão que controla a esfera familiar definindo a estrutura do sistema, a função e o comportamento de seus membros. Quando o sistema familiar se sente ameaçado, ele busca uma auto-organizacão para desenvolver o equilíbrio ou a homeostase. A auto-organizacão se manifesta através da:

· Auto-renovacão: “capacidade de reciclar seus componentes sem a perda da estrutura global. Os filhos crescem, mudam e nem por isso perdem sua filiação.” (Souza, !997:72)

· Auto-transcedência: “envolve os processos de aprendizagem, desenvolvimento e evolução. A família ultrapassa suas fronteiras físicas”.(Idem: 72-73)

Nesses fenômenos podemos afirmar que a família muda, mas permanece a

mesma. A homeostase é um conceito anterior a Teoria Geral dos Sistemas e

significa “mesmo estado”, ou seja, “mecanismo regulador que garante a estabilidade do sistema”(Idem:73). Para muitos tal conceito implica na renúncia de incentivar o crescimento e a mudança. O conceito de homeostase é fundamental para avaliar a possibilidade de mudança no sistema familiar pois:

“A homeostase é essencial ao funcionamento do sistema familiar, quer seja ela adequada ou inadequada, e sua remoção ou ruptura conduz ao caos. A homeostase é essencial aos mecanismos interpessoais, como também não poder excluída dos mecanismos intrapsíquicos e intra-orgânicoa”.(Souza, 1997:74).

Outro conceito importante para a Teoria geral dos Sistemas é a causalidade, que é vista como um fenômeno sempre circular, sem começo ou fim, ou seja, a problemática apresentada pela família não tem origem e nem membro causador devido a sua circularidade. Esta circularidade opõem-se ã linear que acredita que “a etiologia de um fenômeno se move do passado para pó presente, o conhecimento do ponto inicial desta linha torna-se imprescindível.”( Idem: 74) Cada sistema possui o seu objetivo, e as usas deliberações de atuação, a isto denomina-se finalidade. A existência e a sobrevivência da família são regidas por tais propósitos que visam tentar preservar a existência do sistema. Mesmo que o sistema mude a família busca através da finalidade dar fundamento para a coexistência do sistema. Para compreender melhor todos esses conceitos que foram expostos até aqui, é importante conhecermos a teoria da comunicação. A teoria da comunicação nos explana que:

“É através do estudo de como as partes do sistema interagem (comunicação) que se poderá perceber as inter-

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relações entre os subsistemas e os supra-sistemas. O conhecimento da comunicação proporciona a avaliação dos processos de troca de informações”, (Souza, 1997:75).

Na teoria da comunicação aparecem-nos fenômenos tal como da retroalimentacão ou feedback, que é um mecanismo que determina a integração e interação das partes do sistema, legitimando a circularidade do mesmo, determinando, assim, a função e o comportamento dos membros. Para o terapeuta entender a leitura da dinâmica familiar possibilita a manifestação da identidade grupal, e conseqüentemente compreender o que acontece entre os membros, como eles se relacionam e interagem. A estrutura do membro isoladamente torna-se irrelevante. E é com esta visão que discutiremos no próximo capítulo a contribuição do assistente social nos conflitos familiares, seus desafios, limites e possibilidades, como um profissional que crie estratégias de ação, reconhecendo a problemática apresentada pela família como um espaço de fragilização, onde se manifesta a diversidade, a estereotipagem, a discriminação, a exclusão; objetivando o fortalecimento dos indivíduos enquanto sujeitos de direitos, para a legitimidade das suas identidades, autonomias e cidadanias. Cap. 3 – A contribuição do assistente social nos conflitos familiares: limites e possibilidades. Visto que o interesse em torno da questão da família vem ganhando espaço na intervenção de diversas áreas sociais, coube ao Serviço Social discutir a temática no âmbito da profissão. Tal discussão revela de maneira contundente um dos grandes impasses da categoria, que é a relação teoria/prática. Sabendo que a família foi constituída, ao longo da história da profissão , objeto de intervenção dos assistentes sociais, é fundamental ao profissional buscar uma nova direção social. Para entender o trabalhos dos assistentes sociais na dinâmica societária contemporânea é preciso situa-lo no interior do contraditório campo das relações sociais na sociedade capitalista, cujas direção e função social estão historicamente determinadas pela divisão sociotécnica do trabalho e para a reprodução da forca de trabalho. É indiscutível que toda reestruturação no mundo do trabalho atinge de forma direta e abrangente a esfera familiar. Diante destas condições e determinações, os profissionais de Serviço Social vêm reconstruindo sua prática, no sentido de imputar-lhe uma nova direção social e, o redimensionamento de suas funções socioinstitucionais. É importante compreender que esta direção social pretendida se realiza através de um projeto ético-político profissional que está ligado à crise capitalista contemporânea e às metamorfoses da questão social, demandando do Serviço Social novas exigências, condições e relações de trabalho. É nesta perspectiva que o assistente social busca uma qualificação profissional para intervir na problemática familiar incluindo ações direcionadas

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à formulações e à implantação de políticas sociais que dêem condições para a sobrevivência do grupo familiar. Diante desse quadro, cabe ao Serviço Social redimensionar a sua prática, estimulando estratégias que reconheçam o espaço de fragilização que a família se encontra, objetivando trabalhar ações para o fortalecimento dos indivíduos enquanto sujeitos de direitos. Nesta ótica torna-se imprescindível ponderarmos as inter-relações entre políticas sociais e família, e de como as mesmas estão organizadas. “As políticas sociais não incluem a idéia da família como uma totalidade; ao contrário, são implementadas em função de indivíduos”.(Mioto, 1997:126). A setorizacão das políticas sociais e a inexistência de canis de integração entre elas têm gerado uma inoperância em relação às famílias, que nunca são vistas como foco das atenções, visto que as mesmas são fragmentadas dificultando, assim, melhorar a qualidade de vida das famílias. A contribuição das políticas sociais, particularmente as públicas, é relevante, pois são elas que num contexto de pobreza, podem garantir condições objetivas de sobrevivência. Por isso, a viabilização de políticas assistenciais devem ser priorizadas e compreendidas no processo de atenção às famílias. Pode-se ver então que o profissional que estiver inserido no espaço de atenção à família, não pode perder de vista o processo global e sua importância. Ou seja:

“Se o objetivo é ter políticas sociais integradas que atendam as reais necessidades das famílias usuárias de nossos serviços, é necessários prática profissional competente, não só no sentido de atender às famílias dentro de suas especificidades, mas também no sentido de fazer da prática cotidiana uma prática de natureza investigativa”.(Mioto, 1997:127).

Isto poderá subsidiar a implementação e a avaliação de políticas e programas sociais que atendam as reais necessidades da esfera familiar.

“Para que o trabalho com famílias seja veículo de mudanças efetivas no espaço social, é necessário refletir sobre os modelos assistenciais dentro do quais este trabalho se desenvolve. Isto para avançar de uma posição de tutela e controle para uma condição de parceria e cidadanização das famílias”.(Idem: 128)

Em relação à “cidadanização das famílias”, verifica-se que muitos profissionais da prática não percebem a cidadania como objeto de reflexão mais complexa, que problematize toda a amplitude e conseqüência da ação profissional neste âmbito. Uma compreensão mais orgânica e total do sujeito como cidadão-usuário dos serviços profissionais e como sujeito de direito, inclusive da liberdade e subjetividade, transformaria as concepções de cidadania, de

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democracia e de participação política em formulações mais precisas e eficazes para a esfera profissional. Segundo Gentilli (1998), esta problematizacão é importante pois sinaliza para o limite concreto aos direitos. Não existe uma infinidade indeterminada de direitos absolutos. Existem, sim, direitos historicamente reconhecidos para algumas categorias de pessoas, em detrimento de outras, que, quando reconhecidos como direitos desejáveis, devem ter estabelecidas as garantias para seu reconhecimento. Isto implica que determinadas categorias de pessoas têm a obrigação de proteger os direitos declarados como passíveis de defesa. Os assistentes sociais estão entre aquelas categorias de pessoas que devem proteger os direitos dos usuários dos serviços das organizações em trabalham. Mais que isso: são também responsáveis pela criação de uma mentalidade moderna, entre os usuários, referente ao desenvolvimento pleno de suas vivências enquanto cidadãos autônomos, responsáveis e ativos. A prática profissional do Serviço Social, como qualquer atividade considerada trabalho, carece de precisões e discriminações em relação ao entendimento de como seus objetos de trabalho se transforma no processo de trabalho profissional e como geram seus produtos. Além de identificados, coletivamente, como profissionais, estes objetos e produtos necessitam ser discriminados como teleologias profissionais, que não estariam no cálculo das escolhas pessoais, mas no de uma ética plural que abarque a todos que permita ser impregnada dos discursos e das representações profissionais. Sem dúvida, o Serviço Social apresenta-se como uma profissão muito complexa, rica e densa, que está a exigir um maior refinamento teórico e técnico. Urge conseguir oferecer materialidade para sustenta-la na divisão sociotécnica do trabalho, discrimina-la da improvisação do bom senso, da manipulação política-institucional ou do mero aparelhamento político-partidário. Assim, na medida em que os assistentes sociais viabilizem, garantam ou ampliem o acesso e a fruição dos direitos de cidadania aos clientes da profissão, realizam plenamente a dimensão política da profissão. Esta dimensão assume exatamente a escolha e a preferência política-ideológica que cada um queira para si. Tal dimensão pode ser representada de diferentes formas, em diferentes prospectivas políticas, mas nunca poderá ser deixada de lado, pois se encontro no cerne dos conflitos entre liberdade e necessidade (básico da sociedade moderna), e que são enfrentados através dos diversos projetos políticos que expressamos diferentes padrões de bem-estar. Com isso, o assistente social assume e compreende a importância a atuação junto às redes sociais. À medida que o Serviço Social leva em conta a existência dessas redes e as oportunidades de instrumentalizar à prática profissional nelas inserido, o profissional amplia seus limites de ação. O trabalho com rede nasceu dos programas inovadores da Psiquiatria Comunitária do pós-guerra, nos anos 50. Essa pràtica se consagrou como recurso de desinstitucionalizar pacientes psiquiátricos, permitindo-lhes o retorno ao convívio com seu grupo de origem: família, amigos e sua rede social,ou seja, reforço nas relações do indivíduo com seu círculo social e familiar. Para melhor compreendermos o conceito de rede social, destacaremos algumas definições que Sluzki (1997) desenvolveu em suas pesquisas. São elas:

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· Conjunto de vínculos interpessoais do sujeito; família, amigos, relações

de trabalho, estudo, inserção comunitária e práticas sociais. Portanto as fronteiras do sistema significativo do indivíduo não se limitam à família nuclear ou extensa;

· A rede social possibilita organizar as experiências pessoais e/ou coletivas;

· A relação entre contexto cultural e familiar, sendo que o primeiro se organiza como a família se define, sistema em evolução constante;

· Sistema fluido de fronteiras móveis ou pouco definidas, em constante mudança.

O trabalho com redes expandiu-se em diversas áreas sócias, e vem

ganhando espaço na intervenção de diversos profissionais no âmbito assistencialista, terapêutico, educacional, entre outros,

Torna-se evidente a inserção cada vez maior de atuação na rede social dos indivíduos, buscando, assim, alicerce para uma prática profissional fundamentada na totalidade humana. Assim, o sujeito passa a ser compreendido como fazendo parte de uma cadeia cada vez maior de relações e informações,que lhe possibilitam alternativas de transformações no espaço pessoal e no contexto social, construindo sua cidadania.

Os assistentes sociais que atuam na família devem ficar atentos a isso, tentando utilizar as redes sociais como instrumentos de solidificação do pensamento sistêmico, contribuindo para o auxílio do indivíduo e/ou da família, na compreensão e aceitação da diversidade reafirmando, assim, suas identidades.

Assim sendo, à medida que se acessa as redes sociais com o objetivo de traçar as possibilidades de atendimento, exige-se dos assistentes sociais o ‘ “(re) descobrimento do novo”, que consiste em uma elaboração de um novo fazer profissional que se baseia na equidade, igualdade, justiça social e cidadania.

Com tanta capacidade da categoria de se “adaptar-se” ou “descobrir” o novo,surge na temática da família para o Serviço Social a necessidade de enfretamento da realidade socio-cultural para a compreensão de todo o fenômeno na esfera familiar, a fim de que não haja apenas uma intervenção minimizada ou focalizada somente no indivíduo que apresenta a problemática.

Nesta ótica é necessário que durante todo o processo de intervenção familiar, os sujeitos sejam vistos com cidadãos, sem que haja, uma verdade absoluta em torna do acolhimento, dominação e cuidados exagerados sobre a vida desses indivíduos, Pois essa dominação e essa verdade absoluta impossibilitam aos indivíduos “se reconhecerem como sujeitos de direitos (de livre expressão e ação)” (Veloso,2001:13).

Sendo assim, destacamos novamente a importância de uma atitude interdisciplinar para que haja uma compreensão e uma construção da totalidade humana. É notável que a interdisciplinaridade, apesar de ser desejada, ainda não foi atingida de forma satisfatória. Diante desse pressuposto cabe ao Serviço Social colaborar para a formação de uma equipe interdisciplinar, objetivando despertar nos indivíduos um percepção da

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totalidade de suas existências e da esfera familiar, sem que haja uma intervenção puramente técnica-buracrática da categoria.

Neste contexto:

“A preocupação com a família como unidade não implica, necessariamente, que se trabalhe com a família interia como um grupo o tempo todo, é um enfoque de trabalho, mas não, forçosamente, um método de trabalho.”(Jordan, 1974: 103)

Isto significa que, seja o que for que facapara tentar ajudarqualquer membro, o enfoque principal deverá ser as necessidades de todo o grupo e as dificuldades de qualquer indivíduo em satisfazer e atender essas necessidades. O assistente social que intervém junto às famílias, deve perceber a relevância de construir estratégias de ação solidificadas na assistência à família, que vislumbram a superação das relações de fragilização, pressão, discriminação e exclusão em busca do fortalecimento destes sujeitos em relação à suas identidade social, autonomia e cidadania. É imprescindível que o assistente social respeite a diversidade de cada sujeito sem perder a dimensão do humano, ou seja, o respeito ao diferente deve solidificar a intervenção da categoria. De certo que o Serviço Social encontra e encontrará diversas dificuldades para a atuação na esfera familiar, mas toda essa articulação possibilitará um trabalho mais efetivo com as famílias, buscando alternativas para correlacionar a teoria e a prática, com as novas demandas que surgem no campo de atuação da categoria.

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Considerações Finais

Ao finda este trabalho consideramos ter alcançado o objetivo proposto: refletir as contribuições do assistente social como terapeuta de família. Certo de que a literatura nesta temática no Serviço Social é escassa, vale salientar que este trabalho é um dos poucos que discute a importância da interligação da Terapia de Família com o Serviço Social.

Ao conhecer e reconhecer os espaços de fragilização onde se encontram as famílias percebe-se a busca de novas reformulações da intervenção por parte do Serviço Social, procurando assegurar o conceito de totalidade humana. Tais intervenções acopladas às redes sociais de suporte visam contribuir para o alargamento da cidadania, autonomia e identidade, propondo, assim, melhor níveis de vida familiar.

Percebendo que a necessidade de políticas de atenção às famílias vem crescendo gradativamente, é fundamental questionarmos e refletirmos se as nossas intervenções têm contribuído para dar o auxílio necessário que as famílias necessitam. Sendo assim: o que temos feito para o aprimoramento da nossa prática, visto que somos profissionais comprometidos com a igualdade, eqüidade e justiça social?

Esse é um grande desafio da profissão: enfrentar a realidade e o “novo” que apresentam para a categoria, se capacitando teórica, técnica e politicamente.

Assim sendo, esperamos que todas as considerações expostas neste trabalho tenham contribuído para a discussão da questão, pois devido à relevância do tema, o assunto não se esgotou-se e não se esgotará por muito tempo, pois não existe um consenso único em torna da Terapia de Família. Suponhamos que tal contribuição incentive todos aqueles que se interessem pelo tema e estejam comprometidos com o mesmo, pois de certo que estamos em busca de explicações em torno da problemática familiar, o que traz mais desafios para todos nós.

Sendo assim:

“É difícil dizer a verdade, principalmente quando não estamos absolutamente certos da verdade. Estamos buscando a verdade, e estamos apenas fazendo algumas marcas nesse processo de busca”.(Michael Schumacher in Beattie, 1998:274).

Esperamos ter marcado algumas verdades para você!

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Resumo Diante do incrível crescimento em torno das questões ligadas à família, percebe-se uma reflexão no Serviço Social buscando formular as contribuições nos conflitos familiares, elucidando seus limites e possibilidades. Pensar na trajetória histórica, social e cultural construída em torna da família,contribui para incentivar o profissional a se aproximar cada vez mais dos conflitos familiares intervindo de maneira que possibilite o fortalecimento da identidade, autonomia e “cidadanização”das famílias; legitimando, assim, a totalidade humana. Diante disso pretende-se desconstruir a visão pejorativa que surge em torno do papel do assistente social, que freqüentemente vem sendo confundido como uma mera atuação assistencialista.

Metodologia A metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho é a pesquisa bibliográfica, que é constituída de um acervo de obras que focaliza a importância da aptidão e/oi especialização dos profissionais para atuarem de maneira que se obtenham resultados auspiciosos.

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Introdução O presente Trabalho de Monografia foi desenvolvido com o intuito de fazermos uma análise em torno das questões na estrutura familiar. Pretendemos com tal trabalho discutir sobre a intervenção do Serviço Social nesse campo temático, buscando proposição para atuação da categoria. A escolha deste tema surgiu a partir do nosso interesse pela Terapia Familiar, e suas adjacências. Tal interesse foi despertado pela sensibilidade ao analisar a estrutura familiar dos usuários do Serviço Social, e perceber que as mesmas encontravam-se fragilizadas, necessitando de uma intervenção especializada de uma equipe multi e interdisciplinar. Diante dessa realidade, surgiu o interesse em pesquisar e aprofundar sobre Terapia Familiar, buscando as influências da mesma no relacionamento familiar/social. Reconhecendo a relevância do tema, esperamos que considerem a provisorieade e a incompletude das considerações aqui expostas, que visam repensar a intervenção do assistente social com famílias, buscando criar novas possibilidades parar a reformulação das estratégias de ação, objetivando a construção de um olhar sobre a realidade sócio-historica e cultural, na perspectiva de incentivar o repeito à diversidade, à discussão das diferenças e à ampliação da cidadania. A construção deste trabalho se baseou em três capítulos. No primeiro capítulo, serão abordadas as definições e o significados de família pensando na interligação histórica, social e cultural, intersubjetivamente construída, demonstrando a emergência de novos arranjos familiares. Chamamos a atenção para a percepção desses novos arranjos para uma intervenção baseada no respeito à pluralidade encontrada nas famílias. No segundo capítulo, explanamos sobre a importância da interdisciplinaridade na construção da totalidade humana. Almejando compreender melhor esses conceitos, destacamos considerações em torno da Terapia Familiar, focalizando a Terapia Geral dos Sistemas. Tais conceitos colaboram para a discussão e compreensão com mais êxito da intervenção do Serviço Social no sistema familiar. Já no terceiro capítulo fizermos uma análise das contribuições do assistente social nos conflitos familiares: seus limites e possibilidades, tentando contribuir na construção de melhores formas de enfretamento da questão, e ainda buscarmos incentivar os assistentes sociais a se especializar na temática familiar, encarando a especialização enquanto parceira na luta contra as problemáticas familiares. Almejamos com este trabalho dar mais subsídios para todos os interessados na temática, tentando, assim, proporcionar o fortalecimento da identidade, autonomia e cidadania dos indivíduos e das famílias.

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